Sunteți pe pagina 1din 8

Educação Unisinos

E-ISSN: 2177-6210
revistaeduc@unisinos.br
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Brasil

Lima, Licínio C.
A “escola” como categoria na pesquisa em educação
Educação Unisinos, vol. 12, núm. 2, mayo-agosto, 2008, pp. 82-88
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
São Leopoldo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=449644446003

Como citar este artigo


Número completo
Sistema de Informação Científica
Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
Educação Unisinos
12(2):82-88, maio/agosto 2008
© 2008 by Unisinos

A “escola” como categoria na


pesquisa em educação
“School” as a research topic in education

Licínio C. Lima
llima@iep.uminho.pt

Resumo: Neste artigo o autor reflete sobre os vários sentidos da escola, destacando a sua
relevância para o processo de institucionalização e generalização da “forma escolar moderna”,
típica da modernidade organizada e do projeto político de controle estatal sobre a produção
de educação escolar em grande escala.

Palavras-chave: concepções de escola, modernidade, gestão escolar.

Abstract: In this article the author reflects on the various meanings of the school, pointing
out its relevance for the process of institutionalization and generalization of the “modern
school format”, typical of organized modernity and the political project of state control over
the production of school education on a large scale.

Keywords: conceptions of school, modernity, school administration.

Um objecto de estudo O presente texto procura abordar zação da “forma escolar moderna”,
polifacetado essa questão, ainda que em termos típica da modernidade organizada
preliminares, referenciando alguns e do projecto político de controlo es-
A escola revela-se um objecto de conceitos e representações académi- tatal sobre a produção de educação
estudo complexo e polifacetado, cons- cas de escola, chamando a atenção escolar em grande escala, sob uma
truído sob variadas influências teóri- para as suas diferenças em termos agenda específica de formalização e
cas e tradições disciplinares. Referên- de significado, mas sobretudo em racionalização.
cia discursiva dotada de grande cen- termos de focalização disciplinar e de É interessante observar que a es-
tralidade na pesquisa educacional, abordagem teórica, certamente com cola, numa boa parte dos trabalhos
evidenciando mesmo uma certa he- implicações de ordem epistemológi- académicos, surge como uma cate-
gemonia face ao estudo de outros fe- ca e metodológica. No final, proce- goria omnipresente e de tipo aparen-
nómenos educativos não escolares e de-se a uma breve reflexão, mais cen- temente universal, de todos conhe-
não formais, a que nos referimos exac- trada sobre a escola como organiza- cida, como se tratasse de uma reali-
tamente quando mobilizamos a cate- ção formal e como acção organizada, dade objectiva para a qual bastasse
goria “escola” nos nossos trabalhos? destacando a sua relevância no que remeter o leitor para que a comunica-
Quais os seus distintos estatutos em concerne à compreensão do proces- ção entre autor e leitor se desse, sem
termos de análise? so de institucionalização e generali- dificuldades de maior. Presume-se,

082a088_ART02_Lima[rev_OK].pmd 82 23/9/2008, 09:15


A “escola” como categoria na pesquisa em educação

em muitos casos, que todos sabem concretas, empiricamente referenciá- servação tenda igualmente a afastar-
daquilo que se está a falar quando se veis. Seja porque a escala de obser- se de concepções de escola de tipo
escreve e se lê sobre a escola em tex- vação transcende a escola e a invisi- stricto sensu, contribuindo agora
tos de pesquisa. Não somos todos, biliza enquanto unidade de análise, para representações mais genéricas
afinal, pesquisadores em educação, seja porque tal escala de observação, e panorâmicas sobre as escolas. Tais
para além de longamente escolariza- pelo contrário, se fixa em unidades olhares, por motivos distintos daque-
dos e, por essas razões, conhecedo- ou subunidades de análise de tipo les que referimos anteriormente a pro-
res profundos da escola? No limite, micro, podendo promover a diluição pósito das abordagens micro, podem
um conhecimento tão íntimo pode do objecto escola em múltiplos frag- contribuir para retirar centralidade à
chegar a revelar-se contrário à curio- mentos significativos, embora mais escola enquanto objecto de estudo
sidade epistemológica de quem in- dificilmente reconstituíveis em termos passível de uma abordagem analítica
vestiga e à sua necessária distância unitários ou integrados e mais rara- de tipo meso, isto é, intermediária en-
crítica, contribuindo para um certo mente reconduzíveis a uma represen- tre a abordagem de estudo de focali-
grau de naturalização do objecto de tação holística da realidade social. zação global e a abordagem de estudo
estudo que, pelo contrário, se encon- Se, por exemplo, o nosso olhar re- de focalização mais restrita e em torno
tra em processo de construção pelo cai especificamente sobre os fenóme- de unidades de análise mais circuns-
pesquisador. Com efeito, a escola não nos de interacção na sala de aula, critas e de escala mais reduzida.
é simplesmente um “dado” dado, uma sobre a planificação e execução do Ainda que exista uma tensão en-
realidade empírica de primeira ordem currículo, sobre as práticas de avali- tre abordagens analíticas de feição
que seja passível de “captação” ime- ação pedagógica, ou ainda sobre os global, ou de largo alcance, e pers-
diata, sem a mediação de teorias e métodos didácticos na aula de inglês, pectivas de análise mais circunscri-
conceitos, implícitos ou explícitos. a categoria escola é incontornável, tas e insulares, centradas no estudo
Todavia, a categoria escola (realida- embora possa apresentar estatuto da pequena dimensão e na compre-
de de segunda ordem) tende a surgir secundário em termos da matéria a ensão de processos específicos de
em muita literatura educacional com ser elucidada teoricamente e, sobre- interacção, localizados e, frequente-
o estatuto de categoria implícita, re- tudo, a ser caracterizada do ponto de mente, não generalizáveis em termos
metendo para uma concepção gené- vista empírico. Trata-se, frequente- estatísticos, é contudo possível es-
rica e necessariamente vaga ou, even- mente, de uma categoria implícita, su- tabelecer pontes entre ambas, ainda
tualmente, para uma espécie de tra- bentendida, por vezes de uma espécie que, no limite, sejam geralmente con-
ços universais que, uma vez reconhe- de subtexto, podendo a este propósito sideradas inconciliáveis.
cidos, dispensariam maiores esforços falar-se de uma escola lato sensu, ge- Em primeiro lugar porque, em ter-
de conceptualização e especificação. nérica, abstracta e relativamente indi- mos epistemológicos, não é legítimo
Em tais casos, não se encontrando a ferenciada. O foco da análise tende a associar imediatamente a grande es-
categoria escola minimamente expli- coincidir com abordagens de tipo mi- cala, bem como a maior amplitude das
citada em termos teóricos e concep- cro, com indivíduos, grupos e subgru- análises, a perspectivas nomotéticas,
tuais, só é possível deduzi-la por in- pos, e suas respectivas dinâmicas e à descrição estatística, ao modelo de
terpretação do contexto de análise, processos de interacção, atribuindo por investigação centrado em variáveis
do enfoque disciplinar, da focaliza- isso menor centralidade e atenção às e na busca da generalização estatís-
ção teórica adoptada por quem pes- dimensões de tipo estrutural, organi- tica. A análise das políticas educaci-
quisou e escreveu o texto. Trata-se zacional ou político, de escala supe- onais de âmbito nacional ou interna-
já de um exercício hermenêutico, pro- rior e de alcance mais vasto. cional, ou da macro-estrutura do sis-
curando, a posteriori, as concepções Se a pesquisa se centra em abor- tema escolar federal, estadual ou
e os significados que, implicitamen- dagens de análise de tipo macro, municipal, por exemplo, podem ser
te, foram atribuídos à categoria esco- como, por exemplo, os estudos que, realizadas a partir de perspectivas
la, sem no entanto a definir ou a pro- em geral, são realizados sobre a rede ideográficas, da investigação quali-
blematizar, isto é, sem lhe prestar escolar ou o sistema escolar munici- tativa e, mesmo, através de estudos
atenção digna de nota. pal, ou estadual, ou ainda sobre os de caso, em geral mais associáveis
Isto tende mais facilmente a ocor- processos de organização e adminis- ao conceito de “generalização natu-
rer, embora não exclusivamente, por tração do sistema educativo, ou so- ralística” (ver, entre outros, Ludke e
referência a certos objectos de estu- bre a produção de políticas educaci- André, 1986; Bodgan e Biklen, 1994; 83
do que, em geral, não coincidem com onais de âmbito nacional, é mais plau- Stake, 2007). Também a análise docu-
a análise de organizações escolares sível que a escala analítica e de ob- mental e de conteúdo, bem como a

volume 12, número 2, maio • agosto 2008

082a088_ART02_Lima[rev_OK].pmd 83 23/9/2008, 09:15


Licínio C. Lima

entrevista, são recursos bastante uti- onde se exprime o debate educativo ção social. É também a maior capaci-
lizados naquele tipo de estudos. Por e se realiza a acção pedagógica” (Nó- dade, o poder e outros recursos en-
outro lado, a pesquisa de uma orga- voa, 1992, p. 20). Não se trata, para volvidos, isto é, as relações hierár-
nização de grande dimensão e ampli- nós, apenas da procura de um lugar quicas e de poder entre eles, bem
tude de acção como, por exemplo, o de encontro e de síntese que passa a como as diferenças de escala e de
MEC, pode ser levada a cabo a partir ser possível a partir das contribui- complexidade das suas transacções,
de abordagens de tipo micro-analíti- ções oriundas das abordagens ma- o alcance das suas macro-decisões.
co, incidindo sobre a acção de certos croscópicas e microscópicas das re- Não é, portanto, o objecto de estudo
actores individuais, sobre a sua inte- alidades educacionais. Mais do que que, imediatamente, pelos seus atri-
racção com outros actores individu- isso, valoriza-se um terreno específi- butos eventualmente objectivos, se
ais ou colectivos, sobre o poder exer- co que, uma vez devidamente articu- define, ou pode “naturalmente” ser
cido por certos grupos ou subgru- lado com os outros dois, que, embo- definido, por referência a uma daque-
pos, sobre a produção de micro-polí- ra em graus variados de presença e las categorias. É ao autor da pesqui-
ticas. Ao contrário, das interacções intensidade, não pode ignorar nem sa, ao sujeito cognoscente, que cabe
entre um ministro da educação e um dispensar, possibilitará uma forma de a construção teórica e metodológica
líder sindical, por exemplo em con- triangulação de perspectivas e a su- do seu objecto de estudo, desde logo
texto de negociação laboral, podem peração de algumas das limitações o tipo de abordagem em termos de
resultar macro-decisões, interpretá- mais típicas de qualquer uma delas, análise e de escala de observação e
veis pelo seu carácter estruturante, quando insularmente considerada interpretação dos fenómenos. A ques-
pelo impacto das suas consequênci- (Lima, 1996, p. 30). tão fica, portanto, mais dependente
as, pela amplitude do universo afec- Por todas as razões expostas, en- das opções teóricas e dos modelos
tado, etc. Em qualquer dos casos, os tende-se que um objecto de estudo de análise seleccionados por quem
fenómenos estudados em nível ma- complexo e polifacetado, como é o pesquisa, tal como das suas opções
cro não são meros agregados de in- caso da escola, exige, congruente- ontológicas, epistemológicas e me-
teracções em nível micro, nem estas mente, uma abordagem teórica de tipo todológicas (por exemplo, de raiz po-
se definem apenas como dimensões plural e multifocalizado, seja em ter- sitivista ou de raiz construtivista), do
elementares, ou unidades básicas, mos de abordagem analítica e de es- que simplesmente, ou imediatamen-
constitutivas do nível macro. cala de observação, seja ainda em te, dos atributos objectivos da reali-
Em segundo lugar, o estabeleci- termos de interpretação teoricamen- dade a ser estudada.
mento de articulações entre distintas te sustentada. Neste sentido, duas A segunda observação refere-se
escalas de observação e diferentes observações são ainda necessárias. ao protagonismo que, em todo o pro-
estratégias de abordagem analítica A primeira para precisar que o apelo cesso de investigação, é desempe-
pode ser facilitado pela ruptura com terminológico às categorias macro/ nhado por aquilo que temos vindo a
antinomias clássicas, por exemplo do meso/micro, a que de resto se pode- designar por “modelos organizacio-
tipo macro/micro, designadamente riam acrescentar outras (mega, por nais analíticos ou interpretativos”,
pela introdução de perspectivas de exemplo), não deve ser aqui entendi- isto é, pelos “corpos teóricos e con-
análise intermediárias ou mediadoras. do como uma remissão directa para ceptuais, abordagens, ou lentes, que
Trata-se de uma espécie de “meio- sectores ou subsectores da realida- nos permitem realizar leituras e en-
campo”, a partir do qual é possível de social, dessa forma empiricamen- saios interpretativos das realidades
reconstruir a totalidade do social, in- te dividida ou fragmentada. Não é a organizacionais escolares” (Lima,
tegrando as perspectivas relevantes, realidade social a ser estudada, nem 2003, p. 98). Tais modelos de análise,
e no entanto parcelares, das visões os objectos empíricos a serem anali- de resto, ao encontrarem-se profun-
macro e micro (Lima, 1996, p. 30-32). sados e interpretados, que se confi- damente conectados com as teorias
Estaremos perante o ensaio de uma guram intrinsecamente, ou se apre- sociológicas e com os paradigmas
meso-abordagem que, de acordo com sentam de forma imanente, com qual- sociológicos de análise organizacio-
Nóvoa (1992, p.15), nos permitirá “es- quer um dos estatutos mencionados nal (ver, entre outros, Burrell e Mor-
capar ao vaivém tradicional entre uma (macro, meso, etc.). Como a este pro- gan, 1979 e Morgan, 1986), não dei-
percepção micro e um olhar macro, pósito recorda Nicos Mouzelis (1991, xam de influenciar decisivamente as
privilegiando um nível meso de com- p. 80-94), o que confere a um dado formas como concebemos a organi-
84 preensão”. No caso do estudo da fenómeno o carácter macro não é zação-escola, bem como os concei-
escola, esta passa a ser assumida apenas a dimensão ou o número de tos e os níveis de análise que mobili-
“como uma espécie de entre dois indivíduos envolvidos numa interac- zamos para o seu estudo.

Educação Unisinos

082a088_ART02_Lima[rev_OK].pmd 84 23/9/2008, 09:15


A “escola” como categoria na pesquisa em educação

Algumas variações sobre dos), seja, especialmente, nas suas truturas, orientações e regras. Ainda
a categoria “escola” especificidades e diferenças, social- que algumas diferenças e diversida-
mente construídas ao longo do tem- des possam ser admitidas de escola
Sem quaisquer pretensões de po. Por estas razões, a escola jurídi- para escola, entende-se que, no es-
exaustividade de enumeração, são co-formal é singular, perfeitamente sencial, as escolas apresentam mais
seguidamente apresentados alguns definida dentro dos limites da lei, regularidades políticas, estruturais e
exemplos, contrastantes, da diversi- geral e abstracta, indiferente às dife- morfológicas do que diferenças, cons-
dade de representações académicas renças dos contextos, dos actores e tituindo-se como reflexos das referi-
e de concepções em torno da escola das suas dinâmicas de interacção. das sobredeterminações. Os actores
como categoria, presentes em traba- Tende a ignorar que, no momento da escolares, em consequência, surgem
lhos académicos. Tomando embora sua concretização empírica, extrava- como amplamente subjugados pelas
como referência um vasto corpus de sando já as fronteiras dos textos le- estruturas, com reduzida capacidade
trabalhos de pesquisa, o exercício gais, o seu carácter geral e singular é de intervenção autónoma e de mu-
apresentado é orientado mais segun- confrontado com a pluralidade de dança social. Deste modo, cada esco-
do uma lógica de construção de “ti- escolas concretas, em acção concre- la concreta, para além de tender a ser
pos-ideais”, de inspiração weberiana, ta. A Escola toda, jurídica e racional- representada como um todo homo-
relativamente estilizados e de nature- mente estabelecida a priori face às géneo, integrado e coerente, surge
za algo indirecta face aos textos, do suas materializações, é porém distin- ainda aos olhos do pesquisador numa
que numa lógica de confirmação ou ta de todas as escolas. Desde logo situação de forte articulação, ou co-
demonstração empírica. Embora se porque se trata da escola que deve nexão, relativamente às orientações e
admita que o aperfeiçoamento do pre- ser, segundo o legislador, servida normas superiormente produzidas, na
sente exercício possa vir a tornar pos- pela força das injunções e da impo- maioria dos casos por instâncias su-
sível o trabalho de levantamento, de sição jurídico-normativa, geralmen- praorganizacionais, isto é, situadas
confirmação/infirmação empírica, de te levada a cabo por aparelhos espe- acima e fora das fronteiras escolares
alargamento ou revisão das variações cializados de administração escolar, institucionalmente reconhecidas ou,
propostas, trata-se, neste momento, situados a distintos níveis hierárqui- quando no seu interior, em qualquer
de inventariar provisoriamente alguns cos e em diferentes lugares do pon- caso fora do controlo e da acção da
elementos teoricamente típicos de to de vista territorial. É a Escola (com maioria dos actores escolares subor-
certas “abstracções teóricas” (Parkin, maiúscula) inscrita na legislação es- dinados. As escolas-reflexo, em dife-
2000, p. 11-20). colar, nos estatutos e regulamentos rentes graus, resultam de abordagens
oficiais, nos normativos produzidos teóricas de feição estruturalista, for-
A escola como categoria pelas administrações, nos organigra- malista e racional-burocrática, conce-
jurídico-formal mas perfeitamente e metodicamente dendo pouca importância ao estudo
desenhados, mas não, certamente, da acção e dos actores. Os reflexos e
Trata-se de uma das mais tradici- cada escola que é e que está sendo as acções em conformidade, ou o pre-
onais categorias de escola, comum em cada contexto e a cada momento domínio do normativismo por parte
em abordagens de tipo jurídico, nos concreto, habitada por actores soci- dos actores, são considerados nor-
estudos sobre legislação escolar e ais e pelas suas respectivas acções. mais e expectáveis. São, de resto, sis-
nos estudos clássicos sobre admi- tematicamente procurados em termos
nistração educacional em vários pa- A escola como reflexo de análise, uma das razões por que
íses. O direito administrativo surge, tendem a ser confirmados, ignorando
geralmente, como a fonte legitimado- Sobredeterminada por instâncias sinais contraditórios, marcas de des-
ra desta categoria, baseada nas ci- situadas a uma escala superior, seja conexão relativa entre estruturas e
ências jurídicas. Este “enfoque jurí- do ponto de vista legislativo ou exe- acções e entre orientações políticas e
dico” (Sander, 1995, p. 7-11) é res- cutivo, seja do ponto de vista da ac- práticas, fenómenos de “infidelidade
ponsável por visões de tipo legalis- ção política e administrativa levada a normativa” (Lima, 2003), interesses e
ta e positivista, deduzindo da letra cabo por agências ministeriais, esta- práticas divergentes, conflitos, etc.
da lei as características de cada es- duais, municipais ou outras, até mes-
cola concreta, raramente estudadas mo de âmbito escolar, a escola é re- A escola como invólucro
do ponto de vista empírico, seja nas presentada como um locus de repro- 85
suas semelhanças jurídico-formais dução, mais ou menos perfeita e mais Cada escola é um contexto espe-
(em especial em regimes centraliza- ou menos integral, das referidas es- cífico de acção, certamente marcado

volume 12, número 2, maio • agosto 2008

082a088_ART02_Lima[rev_OK].pmd 85 23/9/2008, 09:15


Licínio C. Lima

por dimensões políticas, jurídicas, cando alguns elementos superficiais dades organizacionais, de objectivos
formais e estruturais de diverso tipo, que envolvem os aspectos centrais e estratégias, de meios e de fins, de
mas também pelas capacidades de da pesquisa. Em tais casos, é da apre- alunos e professores. Não é, portan-
agenciamento e intervenção dos ac- sentação de um envoltório, de uma to, uma mera soma das partes que a
tores individuais e colectivos. Uma espécie de “membrana” que cobriria constituem, mas transcende o resul-
forma de escapar às sobredetermina- o nosso objecto de estudo, ou de tado do processo de adição dos seus
ções jurídico-formais e às aborda- um simples invólucro, que se trata, constituintes. Não é, finalmente, um
gens de tipo reflexo, anteriormente mas não de um ensaio de contextua- conglomerado de classes ou salas
referidas, é exactamente através da lização que leve minimamente a sério de aula, ou simplesmente um agre-
consideração das particularidades e o estudo e a interpretação da escola gado de relações entre professores
da concretude inerentes a cada con- enquanto contexto complexo. e alunos, de interacções verbais e
texto escolar. Porém, só aparentemen- não verbais, de textos produzidos, de
te a presente categoria consegue re- A escola como colecção decisões tomadas… embora também
alizá-lo, uma vez que, mais do que seja tudo isso, mas não apenas isso.
definir em profundidade um contex- A escola, enquanto categoria, as-
to, procurando a sua compreensão e sume aqui um estatuto resultante de A escola como mediação
interpretação aprofundadas e den- um processo de mera adição, ou
sas, limita-se à descrição genérica e soma, de certos atributos. Aparente- A escola não se apresenta como
superficial das suas características mente, o problema não reside na au- apenas um locus de reprodução po-
mais imediatamente evidentes. Tra- sência de uma perspectiva holística lítica e normativa, nem, muito menos,
ta-se, em muitos casos, de cumprir sobre a escola, mas antes no proces- como um reflexo ou cópia fiel das
uma rotina pouco expressiva, espe- so utilizado para a produção de tal estruturas sociais que a constrangem
cialmente quando a matéria substan- perspectiva. Porém, a escola nunca e definem. Constituindo uma organi-
tiva da pesquisa incide sobre ques- chega a ser abordada na sua totali- zação formal, dotada de objectivos,
tões de ordem pedagógica, sobre dade e complexidade, mas antes cin- recursos, estruturas, tecnologias,
comportamentos e interacções entre dida e fragmentada em múltiplos olha- etc., é necessariamente habitada por
actores educativos, sobre assuntos res cirúrgicos, de tipo micro-analíti- actores sociais concretos que são
didácticos ou sobre métodos de en- co, incidindo sobre objectos de es- responsáveis pela acção organizaci-
sino-aprendizagem, entre outros. O tudo insulares e atomizados, relati- onal, ou seja, por uma acepção de
contexto escolar surge, então, esbo- vamente independentes e desligados organização não só como unidade
çado a traços largos e imprecisos, uns dos outros. O individualismo social, mas também como actividade
instrumental face à centralidade do metodológico revela-se, portanto, de organizar e de agir – a organiza-
problema a pesquisar, raramente se capaz de subordinar a perspectiva ção em acção –, não apenas um nome
chegando a perceber as vantagens holística, tal como o protagonismo (organização) mas também um ver-
de tal exercício e, muito menos, as atribuído à micro-abordagem inibe as bo (organizar). Como categoria de
relações que seria possível estabe- abordagens analíticas de tipo macro mediação, a escola intervém na rela-
lecer entre o contexto organizacio- e meso. Em sentido semelhante, ope- ção entre meios e fins, que é afinal a
nal escolar e os fenómenos em ob- ra-se um grande desequilíbrio entre tarefa substantiva da administração
servação. É como se em vez de uma os termos da tensão estrutura/acção, escolar (Paro, 2007, p. 27-32), reve-
verdadeira contextualização, exigin- a favor de uma concepção volunta- lando-se amiúde um locus de produ-
do estudo específico e elaboração rista, e por vezes demiúrgica, do ac- ção de orientações e de regras, se-
própria por parte de quem pesquisa, tor social, representado com capaci- guramente condicionadas, mas não
em vez de mera reprodução de fac- dades ilimitadas de autonomia. Ten- determinadas. A própria relação en-
tos e dados genéricos, indiferentes de-se, por isso, à generalização de tre as estruturas organizacionais e
às especificidades e aos requisitos ocorrências específicas, de atributos administrativas, a organização peda-
daquele estudo em concreto, se op- pessoais ou, até, de traços de perso- gógica, as estruturas e os processos
tasse por uma visão muito simplifi- nalidade, ou ainda de elementos re- didácticos, revela uma função essen-
cada da realidade, indiferente à com- sultantes de ensaios de tentativa- cial de mediação na organização es-
preensão das relações mais comple- erro ou de experimentação social e colar, qualquer que seja a concep-
86 xas, entre as quais as relações de educativa. Contudo, a escola não é ção de articulação e coordenação de
poder, que ocorrem dentro e fora da uma mera colecção de indivíduos e tais elementos. Outra modalidade de
organização escolar, apenas desta- de grupos, de departamentos ou uni- mediação é a que releva dos encon-

Educação Unisinos

082a088_ART02_Lima[rev_OK].pmd 86 23/9/2008, 09:15


A “escola” como categoria na pesquisa em educação

tros e desencontros entre as políti- esse projecto corresponde a uma polí- estudo da acção em contexto escolar,
cas educacionais nacionais, regio- tica estatal que, entre outros objecti- seja qual for o seu domínio de inter-
nais ou locais e as políticas organi- vos, pretende assegurar o controlo le- venção e os sujeitos envolvidos na
zacionais, seja de âmbito geral, seja gítimo do estado sobre as escolas e a interacção social, remete, mediata ou
já no interior de departamentos, gru- educação escolar, isto é, perpetuar uma imediatamente, para a consideração
pos e subgrupos, formais ou infor- forma de dominação de tipo racional- da escola como organização em ac-
mais. Isto significa que o estudo da legal. Emergiu, por isso, um tipo novo ção. Por esta via, teórica e metodoló-
organização escolar em acção de- de organização formal, uma “forma es- gica, é possível atender, ainda que
manda também uma capacidade de colar moderna” que, à semelhança da com distintos graus de detalhe, às in-
mediação analítica, permitindo esta- organização industrial, se revelará in- tersecções entre os comportamentos
belecer articulações, mesmo que dé- dispensável à perpetuação de um po- e interacções de tipo micro-social, à
beis, entre olhares distintamente an- der, bem como à transmissão eficiente composição social e às relações de
corados do ponto de vista da escala e em larga escala, adoptando diversos poder em contexto organizacional e,
de observação, bem como da maior elementos de extracção racionalista, ainda, a elementos de mudança ma-
ou menor amplitude das interacções produtivista e industrial. Uma organi- cro-social (Albrow, 1997, p. 138-140).
sociais, dos fenómenos de poder, etc. zação metódica quanto ao tempo e aos Enquanto esfera própria de medi-
Este tipo de mediação meso-analíti- processos pedagógicos, de raiz meca- ação entre o contexto social mais
ca é que permite o trânsito teórico e nicista, surge já no projecto de ensinar amplo (a economia e a sociedade, por
a intersecção entre focalizações ma- tudo a todos e em todos os lugares, exemplo, tal como as políticas públi-
cro e micro das realidades escola- proposto no século XVII por Comé- cas e as estratégias educacionais) e
res. Neste sentido, a mediação, a cor- nio, na sua Didáctica Magna. À es- as interacções de pequena escala que
respondente coordenação e coope- cola irá o pai da “Administração Cien- ocorrem quotidianamente em espa-
ração mínimas exigidas, remetem ne- tífica”, Taylor, buscar o elemento legi- ços intersticiais (dos órgãos de ges-
cessariamente para o conceito de timador da tarefa, do método e da or- tão das escolas à sala de aula e às
organização e de acção organizada. dem para o justificar na organização relações pedagógicas entre profes-
industrial e na divisão técnica do tra- sores e alunos), sobressai a escola
O estudo da escola como balho. como organização especializada e,
organização em acção Ignorar, portanto, que a categoria necessariamente, como acção orga-
escola, seja qual for o contexto cien- nizada, isto é, sobressai a organiza-
A escola resulta de um longo pro- tífico da sua utilização ou convoca- ção escolar em acção. Aí, o pesqui-
cesso histórico de construção e insti- ção, remete também, e necessaria- sador confronta-se com uma miríade
tucionalização, incluindo as especifi- mente, para uma organização moder- de alternativas, de paradigmas de
cidades e as diferenças que evidencia na, formal e complexa, acarreta sem- análise sociológica das organizações
de país para país e de cultura para cul- pre consequências para a pesquisa. educativas, com modelos teóricos,
tura. A existência de muitos elementos Não se trata de fazer a apologia dos com imagens ou metáforas organiza-
comuns às escolas actuais resulta, em estudos organizacionais em torno da cionais de vocação compreensiva e
nosso entender, de um processo de escola, ou, menos ainda, de defen- interpretativa (Lima, 2006). Em tal
formalização e de racionalização, típi- der uma espécie de sobredetermina- quadro de referência, emergem no-
co da modernidade organizada, cen- ção organizacional que, no limite, vas categorias e concepções de es-
trado em variados elementos, tais impediria qualquer estudo sobre a cola, mas, nesse caso, já de natureza
como: a produção de educação esco- educação escolar e o processo de explícita e intencional, teoricamente
lar e de ensino em larga escala, o ensi- ensino-aprendizagem que não con- elaboradas e discutidas, mais resul-
no em classe, a especialização e frag- ferisse suficiente atenção aos dados tantes de opções bem informadas e
mentação do currículo, a especializa- da pesquisa organizacional. Mas tra- justificadas por parte de quem ela-
ção académica e profissional dos pro- ta-se de ponderar os sentidos diver- bora a pesquisa, constrói a proble-
fessores, o controlo do tempo e do sos, e frequentemente antagónicos, mática e o modelo de análise, do que
espaço escolares, a introdução de hie- que atribuímos à categoria “escola” de concepções implícitas ou de efei-
rarquias de tipo organizacional e de nos nossos trabalhos de pesquisa, tos não desejados. As concepções
actividades de suporte administrativo tantas vezes sem sequer reflectirmos de escola como “burocracia racio-
tendo em vista a consecução de um minimamente sobre o assunto. nal”, como “cultura”, como “arena 87
determinado projecto de educação. No Porém, mais do que o estudo das política”, como “sistema social”,
caso paradigmático da escola pública, estruturas e dos actores escolares, o como “anarquia organizada”, ou

volume 12, número 2, maio • agosto 2008

082a088_ART02_Lima[rev_OK].pmd 87 23/9/2008, 09:15


Licínio C. Lima

como “sistema debilmente articula- As Organizações Escolares em Análise.


do”, entre muitas outras, revelam-se Lisboa, Dom Quixote, p. 15-43.
alternativas a exigir estudo e opção PARKIN, F. 2000. Max Weber. Oeiras,
Celta, 98 p.
justificada.
PARO, V. 2007. Gestão Escolar, Democra-
O estudante das organizações cia e Qualidade do Ensino. São Paulo,
educativas, ao menos numa perspec- Ática, 120 p.
tiva sociológica, dificilmente poderá SANDER, B. 1995. Gestão da Educação
dispensar-se de conhecer e de deba- na América Latina: Construção e Re-
ter tais categorias de análise. Quan- construção do Conhecimento. Campi-
to aos outros, se certamente não lhes nas, Autores Associados, 209 p.
STAKE, R.E. 2007. A Arte da Investigação
é exigível grau semelhante de espe-
com Estudos de Caso. Lisboa, Fundação
cialização, é pelo menos desejável Calouste Gulbenkian, 187 p.
que reflictam criticamente sobre os
contornos teóricos e sobre as impli- Submetido em: 14/07/2008
cações que para as suas pesquisas Aceito em: 23/07/2008
terão as suas opções, implícitas ou
explícitas, em torno da categoria “es-
cola”, afinal algo que tende a reve-
lar-se tanto mais complexo quanto,
aparentemente, de todos conhecido
e sem mistério.

Referências

ALBROW, M. 1997. Do Organizations


Have Feelings? Londres, Sage, 157 p.
BODGAN, R.; BIKLEN, S. 1994. Investiga-
ção Qualitativa em Educação. Porto,
Porto Editora, 336 p.
BURRELL, G.; MORGAN, G. 1979. Socio-
logical Paradigms and Organisational
Analysis. Guilford, Gower, 432 p.
LIMA, L.C. 1996. Construindo um objecto
de estudo: para uma análise crítica da in-
vestigação portuguesa sobre a escola. In:
J. BARROSO (org.), O Estudo da Esco-
la. Porto, Porto Editora, p. 15-39.
LIMA, L.C. 2003. A Escola como Organi-
zação Educativa: Uma Abordagem So-
ciológica. São Paulo, Cortez, 189 p.
LIMA, L.C. 2006. Concepções de escola:
para uma hermenêutica organizacional.
In: L.C. LIMA (org.), Compreender a
Escola. Perspectivas de Análise
Organizacional. Porto, Asa, p. 15-69.
LUDKE, M.; ANDRÉ, M.E.D.A. 1986. Pes-
quisa em Educação: Abordagens Qua-
litativas. São Paulo, Editora Pedagógica
e Universitária, 99 p.
MORGAN, G. 1986. Images of Orga-
nization. Londres, Sage, 421 p.
MOUZELIS, N. 1991. Back to Sociological Licínio C. Lima
Universidade do Minho
88 Theory. The Construction of Social
Orders. Londres, Macmillan, 214 p.
Instituto de Educação e Psicologia
Campus de Gualtar
NÓVOA, A. 1992. Para uma análise das insti- 4710-356, Braga, Portugal
tuições escolares. In: A. NÓVOA (coord.),

Educação Unisinos

082a088_ART02_Lima[rev_OK].pmd 88 23/9/2008, 09:15

S-ar putea să vă placă și