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LUZES E SOMBRAS DA
ALVORADA
O que amigos e inimigos dizem da Alvorada e seu Orientador
UNIVERSALISMO
Luzes e Sombras da
Alvorada
Como afirmamos na 4.ª capa, este livro não é um livro escrito somente por
Huberto Rohden. Este livro É Huberto Rohden – seu trabalho, seu ideal, sua
vida. É a biografia do seu esforço cultural e espiritual.
Aqui, são os outros que contam, através de cartas, artigos, bilhetes, discursos
e testemunhos pessoais, como eles vivenciaram uma nova consciência de
vida, motivados pela própria vida e ensinamentos de Rohden.
Primeiramente informamos que essa palavra, talvez vinda da Índia, tão sonora,
com a letra “a” repetida três vezes, e que é o feminino substantivado do
particípio do verbo alvorar foi, num concurso nacional, proclamada a mais bela
palavra da língua portuguesa.
Advertência
Prefácio do Editor
Primeira Parte
Que é Alvorada
O Mestre e a Mensagem
Segunda Parte
Um Acróstico em 4 Línguas
Discurso de um Médico-Filósofo
Escreve um Suicida-Vivo
Semana de Conferências
Também em Portugal
O Poder Secreto
Encontro com o Cristo
Um Monsenhor Entusiasmado
Terceira Parte
Eu – e os Discos Voadores
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea nada se
aniquila, tudo se transforma”; se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa,
mas se escrevemos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Para nós, seus editores, esse evento será mais uma oportunidade para poder
trabalhar pela sua obra e expressar nosso eterno sentimento de gratidão a
esse ser excepcional que, mais que professor, foi um mestre de Vida.
Este livro, impresso pela primeira vez em 1969, pelos antigos editores de
Rohden, sai, agora, em sua segunda edição totalmente revista e modificada
pelo autor que, antes de partir do convívio físico de seus amigos e leitores,
havia preparado a redação definitiva da obra.
Martin Claret
Primeira Parte
O próprio Paulo de Tarso sentiu esta inconveniência, numa das suas epístolas;
mas resolveu ser “insipiente”, uma vez que outros o obrigaram a essa
“insipiência” – e, quem sabe? – talvez esta insipiência possa levar outros à
sapiência...
É o meu caso.
Nas páginas deste livro, tento reproduzir pensamentos e palavras que outros,
amigos e inimigos, externaram a meu respeito e sobre o movimento nacional
ALVORADA, que oriento.
Arrisco-me a essa aventura, quiçá desairosa, porque muitos dos meus leitores
necessitam de saber o que outros pensam de acontecimentos de âmbito
nacional. Diz Hermann Keyserling, no seu livro Reisetagebuch eines
Philosophen, que a maior parte dos homens só consegue consciência nítida
das suas experiências íntimas quando as vê refletidas no espelho da opinião
alheia; que a nossa inconsciente subjetividade exige uma conscientização
objetiva, para se tornar integralmente nossa.
Por isto, reproduzindo, neste livro, o que outros disseram, espero despertar no
leitor os seus próprios pensamentos, talvez dormentes ou semi-dormentes.
Há diversos decênios que escrevo e publico livros. Cerca de 65 dos meus livros
se acham espalhados pelo Brasil inteiro, em diversos milhões de exemplares.
Além destes, quase três dezenas foram por mim retiradas de circulação, e não
estão sendo reeditadas, pelo fato de não refletirem mais a minha mentalidade
de hoje; e eu considero dever de honestidade para comigo mesmo não dizer ao
público o que não mais digo a mim mesmo. Alguns dos meus livros foram ou
estão sendo traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive para o esperanto.
***
Hoje, neste quase ocaso do segundo milênio da era cristã, existe um terceiro
grupo de homens, equidistante dos que aceitam cegamente e dos que rejeitam
violentamente. Este terceiro grupo, dos que se aproximam da maturidade
integral, continua a usar os invólucros milenares da fé tradicional, mas dá novo
conteúdo a esses velhos contendores.
Esse novo conteúdo consiste numa experiência interna, num contacto direto
com a Realidade Cósmica, com a alma do Universo, com o grande UNO do
Infinito que se revela sem cessar no VERSO dos Finitos, formando esse
misterioso e fascinante UNI-VERSO, essa estupenda Unidade na Diversidade,
que é a Realidade Integral do Cosmos.
Em face disto, é óbvio que muitas pessoas queiram saber o que seja
ALVORADA.
***
A partir do século quarto (313, edito de Milão), num período de liberdade e paz,
começaram os cristãos a fazer teologia e filosofia sobre a mensagem do Cristo.
***
Em face de tão excelso ideal, era de esperar que apenas uma pequena elite de
alta compreensão crítica acompanhasse o nosso movimento. Verdade é que
centenas de pessoas aparecem às nossas aulas e exercícios de cosmo-
meditação; mas apenas um pequeno núcleo central é firme e coeso.
“Muitos são os vocados – poucos os evocados.”
Há quem pense que o que nós chamamos ALVORADA seja apenas uma bela
idéia, um lindo ideal, talvez uma utopia fantástica – mas sem nenhuma
realidade vital.
Antes de tudo, convém frisar que ALVORADA não pretende ser nenhuma
novidade, muito menos uma nova religião ou Igreja, nem mesmo uma nova
filosofia. É antes um esforço sincero e honesto de viver realmente, 24 horas por
dia, 365 dias por ano, a grandiosa mensagem do Cristo e de outros mestres
espirituais da humanidade. E de viver isto não como um compulsório “tu
deves”, mas sim como um espontâneo “eu quero”.
ALVORADA visa nada mais e nada menos que levar o homem, pela
compreensão da realidade, de uma virtuosidade sacrificial para uma jubilosa
sabedoria ou sapiência.
Ainda que apenas uma única pessoa tivesse encontrado esse caminho da sua
realização existencial, após tanta frustração existencial, ALVORADA teria
cumprido a sua grande missão – mas o fato é que são muitas e muitas
pessoas, em todos os recantos do Brasil, que encontram a luz no meio das
trevas.
Aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro, ALVORADA mantém cursos
permanentes de Filosofia Cósmica e Filosofia do Evangelho, horas de cosmo-
meditação e períodos de Retiro Espiritual, oferecendo a algumas centenas de
pessoas oportunidade para o autoconhecimento e a auto-realização.
Lá fora, por todos os Estados do Brasil, os meus livros, uns 60, estão
circulando em cerca de 5.000.000 (cinco milhões) de exemplares, alguns deles
também traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive o esperanto. Através
destes livros, milhares de pessoas encontram o seu caminho verdadeiro.
Este livro focaliza uma pequenina parcela dos resultados da ALVORADA que,
incidentemente, chegaram ao conhecimento de seu diretor espiritual.
Este livro não tem por fim justificar as atividades da ALVORADA; quer apenas
mostrar o que a palavra da Verdade pode produzir nas almas idôneas e
dispostas a assimilarem o seu conteúdo.
***
A todos eles posso declarar, com a mão na consciência, que, há muitos anos,
estou vivendo praticamente o espírito da filosofia que professo e leciono, em
aulas e livros: não sou dono de um único palmo de terra, de nenhuma casa,
nem sequer da porcentagem dos livros que meus editores me concedem – tudo
isto já passou às mãos da humanidade, em forma de beneficência espiritual e
material; tudo é da ALVORADA, que é uma Instituição Cultural e Beneficente, e
o que é da ALVORADA é do Brasil e é da humanidade. Eu sou apenas o
administrador temporário desta parcela do patrimônio de Deus em prol da
humanidade. Tranquilizem-se, pois, os que me julgam milionário e latifundiário.
Em nenhum cartório do Brasil existe documento que me dê como dono de
algum imóvel; em nenhum banco, nacional ou estrangeiro, existe um único
cruzeiro, velho ou novo, que seja realmente meu. Verdade é que alguns
“amigos” me têm convidado para fazer depósitos em bancos da Suíça, como
fazem milhares de brasileiros; mas os meus capitais estão unicamente nos
bancos de Deus e da Humanidade.
2. Onde quer que eu esteja, lá Deus está – e que mal me poderia acontecer lá
onde Deus está?
3. No meu íntimo SER eu sou o que Deus é – por isto, no meu externo AGIR,
quero também agir assim como Deus age.
7. Nenhum mal que os outros me fazem me faz mal, porque não me faz mau –
somente o mal que eu faço aos outros me faz mal porque me faz mau.
8. Nunca farei depender a minha felicidade de algo que não dependa de mim.
9. Não sou melhor porque me louvam, nem sou pior porque me censuram –
sou, na verdade, o que sou a Teus olhos, Senhor, e à luz da minha
consciência.
10. Deus, Tu que és Luz, Vida e Amor – manda-me através de todos os Teus
mundos, visíveis e invisíveis, como um raio da Tua Luz, como um sopro da Tua
Vida, como um brado do Teu Amor!
11. Guia-me, Luz Divina, por teus caminhos, para que nenhuma ingratidão me
faça ingrato, nenhuma amargura me faça amargo, nenhuma maldade me faça
mau, que eu queira antes sofrer todas as injustiças do que cometer uma só!
12. Ensina-me, Senhor, a sintonizar diariamente as antenas de minha alma por
Tuas ondas divinas, a fim de apanhar no meu receptáculo finito as vibrações da
Tua Vida Infinita!
13. Em Deus tudo está, de Deus tudo vem, para Deus tudo volta.
14. Não maldigo as trevas de ódio que me cercam – acendo em minha alma a
luz do amor.
15. Desde que me encontrei contigo, Senhor, faço com leveza as coisas
pesadas, com suavidade as coisas amargas, com alegria as coisas tristes – e
estendo o arco-íris da paz sobre todos os dilúvios das minhas lágrimas.
Não sei em que pecados estarei incorrendo, mas me parece muito saudável a
idéia dos orientais. Se nos conhecêssemos realmente que cada um de nós é
um pouco de Deus, quem sabe se as coisas não terminariam melhorando em
torno de nós?” (Abdias Silva – Folha da Tarde – Porto Alegre, 18-7-1961).2
2. Este conceito não é apenas da Índia e do Oriente longínquo, mas também do Oriente
próximo, da Palestina; permeia todo o Evangelho do Cristo e dos seus grandes discípulos. “O
Pai está em mim, e eu estou no Pai... O Pai também está em vós, e vós estais no Pai... Vós
sois deuses. Eu sou a luz do mundo, e vós sois a luz do mundo... O reino de Deus está dentro
de vós” – estas e outras palavras do Divino Mestre refletem a quintessência do seu Evangelho,
embora as nossas teologias eclesiásticas discordem.
“Não sabeis – pergunta Paulo de Tarso aos cristãos de Corinto – que vós sois templos do
Espírito Santo e que o espírito de Deus habita em vós?” E de si mesmo diz o apóstolo: “Já não
vivo eu, o Cristo é que vive em mim... O meu viver é o Cristo.”
No mesmo sentido escrevem os grandes místicos cristãos, sobretudo São João da Cruz, Santa
Teresa de Jesus e o rei dos místicos medievais, Meister Eckehart, que foi Superior Provincial
da Ordem dos Padres Dominicanos da Alemanha.
Nos meus livros, sobretudo O Espírito da Filosofia Oriental e A Grande Libertação, encontrará
o leitor abundante material sobre este ponto (H.R.).
Escreve um Intelectual
Espiritualista
Rohden transcende o conceito de seita e alça vôo a alturas que pairam bem
acima das divergências sectárias. Abandona o horizontalismo dos conceitos
analíticos que dividem, para expandir-se na verticalidade dos conceitos
sintéticos que unem.
O autor não é dogmático, nem espera que outros o sejam. No decorrer da sua
fertilíssima obra, ele mesmo se permitiu, de si próprio, várias vezes.”
Fala um Bancário do
Estado do Paraná
“Huberto, não pode fazer idéia de quanto lhe sou devedor, de quanto o amo e o
admiro. Já no ocaso da vida, deparei com aquilo que sempre buscava.
Cinco anos vivi num seminário; mas os ensinamentos ali recebidos não
satisfizeram aos anseios de minha alma. Frequentei por longos anos a Igreja
Presbiteriana, mas ainda sentia que algo de muito importante faltava à minha
alma, embora não soubesse o que fosse. Li inúmeras obras de Léon Denis,
Allan Kardec, Pietro Ubaldi, Hercílio Maes, C. Flammarion, Hugo Collarile,
Aléxis Carrel... Porém, já mais esclarecido, achava que ainda não estava no
caminho, muito embora adivinhasse que esse caminho existia. Ledor assíduo
dos Evangelhos, nunca me conformei com religiões dogmáticas, que com as
suas teologias nos colocam num dilema: a quem devemos dar crédito, aos
teólogos ou ao Cristo?
Ao acaso, numa livraria, simpatizei com o título de uma obra: Ídolos ou Ideal?
Iniciei a leitura dessa obra – e de um só fôlego a terminei. Estupefação, alegria,
lágrimas!... Tabus e dúvidas por terra!... Convicções abaladas!... Tudo isto senti
ao terminar a leitura de Ídolos ou Ideal? Hoje possuo em minha modesta
biblioteca 20 obras da sua autoria... Encontrei, através delas, o que durante 30
anos busquei ansiosamente. Ainda ontem, relendo De Alma para Alma, me
vieram lágrimas aos olhos, e minha esposa perguntou-me: “Por que está
chorando, Nahor?” Disse-lhe eu: “Choro, Aracy, porque sou feliz, porque
encontrei o Cristo, assim como realmente ele é.”
Amigo Rohden, o Sr. já imaginou quanto bem o Sr. tem feito? Já fez uma idéia
de quanta felicidade tem proporcionado aos seus ignotos amigos? Não essa
felicidade caricata almejada por nossos irmãos profanos, mas aquela felicidade
que nos torna bons por amor ao bem, que nos faz amar a Deus não por temor
nem tampouco por aguardar recompensa. Hoje sei que sou cidadão do
Universo, que sou eterno. Hoje sei que tudo está em Deus, tudo vem de Deus,
e a Deus tudo retorna. Hoje a minha vida é uma pleni-vida, uma vida
verdadeira.
A luta contra o ego luciférico é titânica, mas agora tenho certeza da vitória.
Encontro mais dificuldade junto aos meus familiares, pois eles não
compreendem que ser tolerante não significa ser covarde, que humilde não
significa servil. A distância geográfica que nos separa é enorme, porém todas
as noites, após as minhas horas de prece e meditação, o meu pensamento voa
para a pessoa tão querida de Huberto Rohden, e em pensamento lhe digo:
Muito obrigado, ignoto amigo! Como o estimo, admiro e amo! Que Deus o
inspire para que possa escrever muitas outras obras!...
Se, um dia, puder, irei a São Paulo, roubar-lhe-ei apenas um instante para lhe
dizer “muito obrigado” e ter entre as minhas as suas mãos, mãos essas que,
obedecendo aos ditames da alma, têm escrito obras magistrais, que nos
ensinam a amar em verdade e compreender em sua plenitude os
ensinamentos daquele que, ao expirar, nem sequer possuía um relógio de
baixo custo, uma caneta-tinteiro barata e uma tanga,4 mas possuía a
capacidade de dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
4. Referências a Mahatma Gandhi, que deixou esses objetos, quando Jesus, ao morrer, não
deixou nada. Gandhi, ao receber as balas mortíferas de seu assassino, fez-lhe a costumada
saudação hindu, juntando as mãos à altura do peito e dizendo namastê, cujo sentido é: o Deus
em mim saúda o Deus em ti.
Fala um Padre Católico,
Reitor de um
Seminário Diocesano
“Tenho lido vários livros da sua autoria e não posso resistir mais ao desejo de
lhe manifestar minha profunda admiração e, principalmente, minha gratidão
pelo bem imenso que os livros do Sr. me têm feito. A princípio, eu os lia com
certo receio; temia que pudessem afastar-me de Deus, por conterem algo
diferente do que se ensina comumente. Fui verificando, entretanto, tratarem
eles de elevadíssima e incomum espiritualidade própria para eliminar o
materialismo e consequente desespero, que nos cerca.
Gostaria de ter informações sobre o Centro “Alvorada” que o Sr. dirige. Já ouvi
falar alguma coisa sobre o assunto”.
Com data de 9 de janeiro de 1967, uns três anos depois da carta acima
transcrita, o mesmo sacerdote volta ao assunto da carta anterior, dizendo:
“Há cerca de três anos, dirigi-me a V. S., manifestando a minha satisfação pela
leitura de alguns dos seus livros.
Hoje volto à sua presença para lhe dizer que continuo a ler novos livros da sua
vasta seara. O entusiasmo aumentou, e aumentou muito. Que coisa admirável
é o Evangelho de Cristo e quão profunda a filosofia nele contida. Já havia lido e
estudado o Evangelho, mas ele continuava um livro fechado para mim, embora
eu julgasse conhecê-lo bem; agora tornou-se um livro aberto e, mais ainda, um
programa de vida e de felicidade. Tenho até procurado adaptar as pregações
dominicais de modo a espargirem tanta doutrina boa contida nos livros do Sr.
Como se vê, a alma humana continua a ser “crística por sua própria natureza”,
como escrevia Tertuliano no segundo século; não há teologias nem filosofias
humanas que consigam destruir esta cristicidade da alma humana, quando o
homem tem a honestidade e coragem de ser fiel a si mesmo, ao seu verdadeiro
Eu divino.
Fala um Idealista
Dinâmico
Assim como São Paulo renegou a sinagoga de Israel, Rohden também não
pôde continuar como padre por uma questão de fidelidade a si mesmo. Não
podia servir a dois senhores: a Deus e a Mamon.
“O que ouvi do Sr., nestes poucos dias em que aqui esteve, calou fundo no
meu Eu. Suas palavras e sua imagem seguem-me dia e noite. Parece-me que,
apesar dos meus pesares, minha vida passou a ser cor-de-rosa. Se bem que o
meu ego seja ultrateimoso, estou contudo fazendo um esforço tremendo.
Suas palestras estão causando enorme efeito naquele pequeno grupo que o
seguiu nos 10 dias em que aqui esteve. Todos estão combatendo o seu “irmão
burrinho”.5
5. Alusão ao fratel asino (irmão burrinho), como Francisco de Assis chamava o seu velho ego
humano, que teimava em desobedecer ao seu Eu divino.
Sr. Huberto, sua visita a Goiânia foi para mim muito propícia, pois nessa
ocasião, ou melhor, no dia anterior à sua primeira conferência, blasfemei
demais. Pensei até em suicidar-me. Por quê? Por motivos fúteis: considerava-
me ruim e inútil e causadora da infelicidade de todos os que me cercam: 1)
briguei com minhas irmãs; 2) discuti por motivos fúteis com meu noivo; 3) por
minha causa, papai discutiu com mamãe. Como vê, sou fraca. Não tenho
religião, embora seja espiritualista; também não tenho ilusão, apesar de contar
apenas 18 anos.
“Sr. Rohden. Estive em São Paulo à sua procura, mas não consegui encontrá-
lo. Queria apenas pedir-lhe um emprego no seu sítio, a fim de salvar-me da
situação desesperadora em que me encontro, criada pelos seus belos livros de
filosofia cristã.
Até que um dia, por artes do diabo, peguei num livro de sua autoria com o título
Em Comunhão com Deus. Então começou a minha odisséia...
O primeiro obstáculo que encontrei foi a minha companheira; pois a minha vida,
em relação a tudo, inclusive em minhas relações íntimas, mudou
completamente. Dizia-me ela que não podia mais me suportar; pois eu estava
ficando louco, lendo bobagens que não existem.
Mais calmo, refletindo, pensei que esta desgraça seria para o meu próprio bem,
e me conformei em perder tudo: conforto do lar e minha companheira. Ainda
me restava o carro para trabalhar.
Mas, em casa de minha mãe continuou o meu sofrimento. Meu padrasto, que é
espírita e diz que é médium, não compreendendo a filosofia que eu praticava,
entrou em conflito religioso comigo. Minha mãe, que acompanha a religião
dele, virou-se contra mim, tornando a minha presença em sua casa um
martírio.
No primeiro dia que passei no Sanatório sem os meus livros – pois não me
deixaram levá-los – notei que eu não estava internado para descansar, mas
sim como um verdadeiro louco. Reagi violentamente, pois isto significava o fim
da minha vida.
De acordo com os seus ensinamentos, suportei tudo com resignação, pois era
a vontade de Deus que eu sofresse tudo isso. Assim, depois de lutar tanto na
vida, profanamente, e de ter tido alguma coisa, morando confortavelmente num
apartamento com minha companheira, eu me via jogado num barracão de
madeira, sem água e sem luz, sozinho, considerado louco por todos, possuindo
apenas o meu carro e os meus livros.
Porém, os meus sofrimentos não terminaram aqui. Levei uma forte batida no
carro e, como não tinha dinheiro para consertá-lo e não podia contar com
ninguém para me ajudar, resolvi vendê-lo a um colega pelo preço de 40 mil
cruzeiros (velhos). Este carro valia mais de 300 mil. Pensei ser a vontade de
Deus que eu perdesse o meu carro.
E aqui começa o meu maior martírio. Como estou com quase 47 anos, como
lhe disse, ninguém me quer dar trabalho por causa da idade. Comecei então a
me desesperar. Como? Eu não servia mais para trabalhar? Sem trabalho, eu ia
terminar na miséria. Será que Deus me tinha abandonado?
Em São Paulo, quase de novo tentei suicídio. Mas, pensando melhor, resolvi
devolver todos os livros que me fizeram infeliz, ao seu autor, por intermédio do
Dr. (nomeia um advogado, meu aluno no Curso de Filosofia, no Rio), para que
os vendesse...”
Os meus livros, que a tantos deram profunda felicidade, também teriam tornado
feliz a esse motorista sincero, se não se tivesse isolado no seu entusiasmo
religioso, em vez de se associar a outros companheiros na mesma jornada
rumo a Deus).
Fala uma Poetisa,
Através de um Acróstico
ARAUTO DE DEUS
“Desde os tempos do Seminário sou leitor dos seus livros, e até hoje sou
discípulo seu incondicional. Os meus sermões são inspirados nos seus livros –
mas não o digo aos ouvintes, para não ser por eles acoimado de “herege”.
Pode o Sr. ter a certeza de que os melhores elementos do clero pensam como
o Sr., embora, por motivos de ordem externa, não ousem confessá-lo. Os seus
discípulos, por este Brasil afora, não são milhares, são milhões, porque os seus
livros despertam no homem o anima naturaliter christiana.”
Escreve um
Penitenciário em Vias
de Conversão
Há muito que venho confortando minha alma com as leituras escritas por
Vossa Senhoria. E, como não tenho palavras para expressar, aqui nesta carta,
o quanto meu coração deseja falar-lhe, rogo-lhe que, se for da vontade de
Deus, que Vossa Senhoria me envie os exemplares dos livros Porque
Sofremos e Deus e o Sofrimento Humano.6
6. O segundo livro mencionado não é da minha autoria.
Hoje reconheço as minhas culpas e misérias, que por espaço de 18 anos vivi
mergulhado na senda dos crimes e do vício. Vejo nas páginas do livro Porque
Sofremos os prós e os contras da minha vida desregrada. Vejo a minha
condenação e a minha absolvição.
Que Deus o inspire para escrever mais literaturas para “a legião imensa dos
sofredores anônimos.
Vosso criado...”
Jovem de 17 anos
Suicida-se por Causa
dos meus Livros
Sim, por causa dos meus livros – e também por amor a Deus e para estar mais
perto do Cristo.
“Não quero ofendê-lo, por amor de meu filho. Ele o admirava muito. Mas devo
dizer-lhe a verdade, para ser autêntico, como meu filho fora, além de santo e
sábio precoce (17 anos) – devo dizer-lhe que o seu gesto supremo, suicidando-
se, foi para viver as idéias que o senhor prega, mas não viveu (todos os grifos
são do autor da carta!). Ele foi maior do que todos os seus livros... Renunciou
até à vida pelo Cristo.”
– Jamais procures ver nos outros os seus possíveis defeitos, mas sempre as
grandezas de sua alma, porque todas as criaturas são potencialmente divinas.
– O fim da prece não é alcançar algum bem – é fazer-te bom. A prece te faz
melhor, mais paciente, mais humilde, mais caridoso, mais sereno, mais leve,
mais feliz, mais humano e mais divino.
– Seja tão potente a força do teu espírito, seja tão pujante a juventude de tua
alma que nenhuma ingratidão te faça ingrato, nenhuma derrota te faça
derrotista, nenhuma amargura te faça amargo, nenhuma injustiça te faça
injusto. Mas, para triunfar interiormente com o triunfo alheio, requer-se grande
heroísmo da alma.
– Faze bem a ti mesmo, na pessoa dos outros. Faze o bem por amor ao bem –
dentro de ti mesmo e aos outros. O único meio de fazeres bem a ti mesmo e
aos outros, é seres bom, intimamente bom.
– Para ser bom, deve o homem viver e sofrer a sua própria vocação. Deve
guardar absoluta fidelidade ao seu íntimo ser. Deve ser integralmente sincero
consigo mesmo. Deve prestar culto incondicional à Verdade e ao Bem. Deve
saber unir a Justiça ao Amor. Deve preferir a retilínea convicção às curvilíneas
convenções. Deve ter linhas definidas como o cristal, e não ser amorfo como a
argila. Deve imolar a farta escravidão na ara da liberdade austera. Deve ser um
eco do Eterno, no deserto do mundo efêmero. Deve ser um emissário de Deus
no meio da humanidade. Um sopro do Infinito...
– Faze da tua vida uma sementeira do bem – e será a tua morte uma colheita
de felicidade.
– É assim a vida de todo homem que vive o Evangelho: sofrendo, com grande
alegria... Gemendo, por entre aleluias... Luminoso, em plena noite... Sorrindo,
através de lágrimas... Sem posses, e tudo possuindo... Ultrajado, por entre
hosanas... Derrotado, e sempre vitorioso... Morrendo, e sempre renascendo.”
Esse exemplo trágico mostra, mais uma vez, como é necessário, pelo menos
no princípio da jornada ascensional, ter um mestre ou guru que leve pela mão
os viajores de alta potência – mas ainda sem orientação segura.
“O Sr. – escreve o advogado – nos abriu um mundo novo, creia. Se bem que,
por intuição, já possuísse alguns apagados traços dessa mística extraordinária,
sua presença entre nós veio aclarar nossos horizontes. O Sr. pode ter a
certeza de que, pelo menos, dois discípulos aqui deixou: Dr.a Antonieta e este
servo que ora lhe escreve.
Passei os dias a seu lado sem dar conta do tempo ou dos trabalhos que teria,
normalmente, desempenhado. Foram grandes dias de minha vida, e desejo
imensamente continuar a receber de sua pena brilhante os esclarecimentos
necessários para que continue na jornada.
O Sr. acha que se deve fazer uma vibração de paz, de harmonia e de luz, para
todos os sofredores, nessa hora, não é? Hoje vibrei para o Sr., e me senti
muito bem. Parece que, como diz Mouni Sadhu, em Dias de Grande Paz,
nosso guru nos imanta e nos fornece energias para vencer as dificuldades. O
Sr., nesses dias, estará em Retiro Espiritual e talvez, quando estiver lendo esta
carta, já se encontre em sua chácara,7 abismado no Infinito. Mas, mesmo
atrapalhando-o, tenho necessidade de me comunicar consigo.
7. O autor da carta se refere ao Sítio, perto de Jundiaí, Estado de São Paulo, onde nesse
tempo estávamos construindo um Ashram para que as almas desejosas de se encontrarem a
sós com Deus e sua alma, de permanecerem por tempo indefinido em silêncio e solidão,
tenham um lugar apropriado para realizar esse seu anseio. Como se trata de um ideal de alto
nível, não podemos contar com uma chuva de milhões, para a nossa Casa de Retiro Espiritual,
como certamente aconteceria se anunciássemos a fundação de uma boate ou dum campo de
futebol. A Casa de Retiro “Betânia” está funcionando desde 1970.
Por enquanto, como o Sr. sabe, nada senti senão uma calma intensa e uma
abstração das coisas terrenas; mesmo porque se não consegue o samadhi8
ainda. E isso está longe, eu o sei. Minha senhora, que é um tanto vidente,
percebe um vulto de branco. Nada mais.”
8. Samadhi é a palavra sânscrita para êxtase, que Paulo de Tarso chama “terceiro céu”, estado
de consciência espiritual absoluto.
10. Quem, como o autor das cartas acima, pratica meditação prolongada, como o Cristo e seus
verdadeiros discípulos, não comete o erro funesto de confundir as manifestações de entidades
do mundo elemental ou astral com o Espírito Único do Pai, centro de todos os ensinamentos do
Divino Mestre.
Também adquiri um sítio aqui, para que melhor possa entrar em contato com a
natureza. O Sr. me fez compreender que temos necessidade de trabalho braçal
nos campos. É o que faço agora. Tenho obtido ótimos resultados. Faço de
tudo. Trabalho duro e sinto-me muito feliz. Para mim é uma verdadeira
felicidade ir para o sítio, aos sábados. Até nisto a sua influência foi enorme em
mim. Quero fazer daquele logradouro um Shangri-lá espiritual. E Deus me há
de proporcionar a sua graça.11
11. Com estas últimas palavras focaliza o advogado místico um ponto de capital importância
para o aspirante à vida espiritual: o contato com a natureza e a necessidade do trabalho físico.
Tolstói, Gandhi, Schweitzer e outros iluminados eram grandes amigos de trabalhos pesados no
campo. Muitos pretensos candidatos à espiritualidade aproveitam o fim de semana e os
feriados para demandarem as praias, onde prosseguem na sua vida profana e na sua cômoda
indolência, levando consigo as auras negativas das cidades, cujo fundador e patrono foi,
segundo a Bíblia, Caim, o primeiro homicida da humanidade. Se esses grã-finos comodistas
das praias fossem realizar trabalhos físicos na terra, no campo, em plena natureza, veriam que
reina íntima afinidade entre esses trabalhos em plena natureza e a vida espiritual. Conheço
alguns deles que têm sítio, mas o contaminam com as misérias e sujeiras da civilização
urbana, como sejam rádio, televisão, “barulhinhos portáteis”, e até tabuleiro de xadrez e
baralho de cartas, contaminando assim a natureza de Deus com a prostituição dos vícios
humanos.
Tem a Palavra
uma Ex-Aluna
Norte-Americana
“O que o Sr. nos ensinou, nos cursos da universidade, teve para mim uma
significação profunda; ajudou-me a pensar, com clareza e lógica, sobre religião
e filosofia e, acima de tudo, sobre os meus problemas pessoais.
Agora, mais do que nunca, compreendo o que muitas pessoas deste mundo
não podem compreender: que sem Amor não há vencedor nem vitória.
Compreendo que o problema internacional poderia ter solução fácil se os povos
compreendessem que toda manifestação de força e violência entre os homens
é uma negação absoluta desse preceito.”
Essa jovem americana, como se vê, afina pelo mesmo diapasão que levou
Mahatma Gandhi a libertar a Índia sem a violência das armas, mas sim pela
benevolência das almas. E a consagração da ahimsa (não-violência) e a
apoteose da satyagraha (amor à verdade) – que é, aliás, também a
quintessência do Sermão do Monte: “Não vos oponhais ao maligno... Amai os
vossos inimigos.”
O crítico considera o meu livro como “panteísta”, por sinal que confunde
panteísmo com monismo (ou panenteísmo).
Paulo de Tarso escreve aos cristãos de Éfeso que Deus é “pánta en pâsin”
(tudo em nós), e aos filósofos de Atenas afirma solenemente que Deus é
aquele “no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”.
E, por isto, as auras não têm de vir de longe – elas estão sempre presentes,
quando devidamente conscientizadas. Consciência é presença – inconsciência
é ausência.
Meu antigo guru fala de “iniciação” – e todo o mundo deseja ser alo-iniciado,
mas poucos sabem que a verdadeira iniciação é uma auto-iniciação. O próprio
Cristo não fez alo-iniciação com seus discípulos mas deu ordem para que eles
mesmos se auto-iniciassem, como de fato aconteceu na gloriosa manhã de
Pentecostes, quando, como refere o mestre Lucas nos “Atos dos Apóstolos”,
120 pessoas, homens e mulheres, se auto-iniciaram no espírito da verdade.
Mas essa auto-iniciação só se deu depois de 9 dias de silêncio e meditação.
Nesta página aparece um acróstico que, lido de alto a baixo, dá o meu nome e
sobrenome; mas o mais interessante é que as rimas revezam em quatro
línguas – português, francês, inglês, alemão. Diz a poetisa em quatro línguas
que, por muito tempo, andou buscando, buscando, o que finalmente encontrou
em nossa ALVORADA.
Mahiru
Contemplando a Dança
das Libélulas
LAMPEJOS
O EGO E O EU
O Cristo, todos sabeis, não é esse homem barbudinho que desde criança nos
ensinaram a admirar e não imitar.
DO EVANGELHO
DO EGO
Há quem fale sem dizer; mas, também, há quem diga sem falar.
GRANDES OPOSITORES
12. O orador se refere ao caso, então em foco, em que Rohden fora convidado por uma das
grandes Rádio-Emissoras de São Paulo, para responder a uma série de perguntas feitas pelos
radiouvintes sobre “o diabo e o inferno”.
Mas os guias espirituais das Igrejas organizadas se alarmaram grandemente com as respostas
de Rohden, receando que rebanhos (seus bons rebanhos!) perdessem a crença no diabo e no
inferno.
Já viram, alguma vez, foguinhos, por exemplo fósforos acesos, precisarem ser
protegidos contra o vento, na concha de uma mão, para não se apagarem.
O que estou fazendo, talvez sejam soprinhos sobre brasas para que flamejem.
Nos últimos livros – eu já disse – Rohden vem falando cada vez mais uma
linguagem direta. Sem dúvida, Rohden tem obliquado menos.
Nota-se em Rohden uma evolução. Aliás, não é de admirar, nem ele mesmo se
admiraria, pois é agostinianamente evolucionista.
Deus criou tudo em sementes, em ovo.
Qual monumento?
Aliás, ele não nega essa possibilidade. E quer que o corrijam e o excedam.
Escotoma é uma mancha preta no campo visual. Vê-se tudo em torno, não se
vê o que está por trás da mancha. Ou vê-se tudo no centro, não se vê além de
uma certa fronteira. A mancha impede a visão.
A doutrina de Rohden diz que esse relâmpago, depois, permeia toda a nossa
vida, inunda o nosso comportamento, mesmo que o relâmpago nunca mais se
repita.
O que não importa em dizer que onde há um sonho ele sempre é o precursor
de uma verdade insabida mas breve saboreada, ou alguma vez saboreada,
embora longínqua no tempo essa vez.
Sonhar, para Nietzsche, é entrar pelo mistério que não podemos entender, mas
onde adivinhamos uma realidade ultra-intelectível.
É justamente este o sonho de que Rohden fala, no seu cosmorama, onde ele
faz dizer:
‘Eu gosto de tudo que tem mistério; mais me seduzem as coisas que
noturnamente adivinho e entrevejo do que as que meridianamente conheço e
analiso’ (pág. 41).
Um dia
Disse de mim para mim mesmo: Não!
Tudo que ele prega batendo e rebatendo teclas, é sobre o acordar da luz
interna.
Hoje mesmo.
PRESENTE A ROHDEN
Dr. Rohden, o que queremos dar-lhe agora não pode ser um presente qualquer
comprado com dinheiro.
Que não tem malícia, cândido, simples, inocente, puro, e, no seu caso,
poderíamos acrescentar: o que julga os outros à sua própria imagem e
semelhança.
Enfim: uma ovelha entre lobos.
15. Pode ser esta a opinião do médico-filósofo; mas outros sabem que Rohden é um grande
realista, embora possa não dar muita importância às facticidades ilusórias (como diria Victor
Frankl), precisamente por viver totalmente na realidade verdadeira. Quem leu os dois volumes
autobiográficos Por um Ideal, sabe que Rohden vive dentro duma “ingenuidade realista”, que
pode parecer irrealismo aos factualistas.
CONCENTRAÇÕES-MEDITAÇÕES-
CONTEMPLAÇÕES
OS LOBOS O SAÚDAM
Os lobos o saúdam.
Dr. Huberto, para mim não importa o credo que V. Exa. adota. Mas, de uma
coisa estou certo: que V. Exa. é um grande pensador espiritual. Creio
sinceramente que V. Exa., inspirado pelo Espírito Santo, tem lançado nos
vossos livros mais luz, que vem ao encontro das necessidades de muitos
sofredores como eu, que, por sorte, ou por um destino, expio no cárcere as
minhas culpas. E, nos vossos livros, tenho encontrado uma pista que,
apontando-me um caminho no qual estou enveredando, tenho encontrado
lenitivo nessas horas sombrias que passo aqui no cárcere.
Graças dou a meu Deus, por aqui no cárcere ter conhecido esses amigos
mudos, que me fizeram, com a graça de Deus, uma nova criatura. E sempre V.
Exa. terá, enquanto eu viver, um admirador e fã de vossas literaturas.”
Escreve um
Suicida-Vivo
De Teresina, capital do Piauí, recebeu meu antigo editor, anos atrás, uma carta
em que o remetente lhe pedia esclarecimentos sobre o boato que corria
naquelas zonas sobre mim. Constava que eu, de tão infeliz, me havia
suicidado. Meu editor me entregou a carta para que eu mesmo, o suicida, ou
pseudo-suicida, a respondesse.
Foi o que fiz, pedindo ao destinatário que fizesse publicar na imprensa local
essa carta sensacional de um “suicida vivo”. Não sei se o fez.
Boatos dessa natureza, ou outros análogos, aliás, são muito comuns e revelam
bem a mentalidade de seus autores. Alguns dos meus antigos colegas do clero
não me perdoam o fato de eu ter abandonado a Teologia pelo Evangelho e,
apesar disto, continuar com vida, saúde e prosperidade.
Agora, finalmente, para encerrar o longo rosário de boatos clericais, consta que
o herege e apóstata Huberto Rohden resolveu abandonar a vida terrestre,
suicidando-se.
Nas Alturas da
Filosofia Mística
“Senhoras e Senhores:
Nesta hora, para nós melancólica, de despedida, nós nos perguntamos: será
este o final de nosso contato com ele?
Sentiu-se, aqui nesta sala, com a certeza que só a intuição outorga, que a sua
mensagem possui um cunho próprio, diferente, singular. Não é uma mera
repetição de palavras já pronunciadas, nem uma simples reprodução de
conceitos antes enunciados. Não se trata de academismo, de erudição, de
lógica, de intelectualismo. Há nela uma erudição invejável, mas não é apenas
erudição; revela uma inteligência brilhante, mas há mais que inteligência;
maneja uma lógica contundente, mas não é só lógica. Estes, usando suas
próprias palavras, são valores horizontais; são meritórios, sem dúvida, mas não
são fundamentais.
Por isso, a sua mensagem não é erudição – é Vivência; não são citações – é
Conhecimento; não é lógica nem academismo intelectual – é Experiência
Mística. As suas palavras têm Força – porque a Verdade tem força. Nos seus
conceitos se espelha a Sabedoria – porque o Conhecimento Espiritual é
sabedoria. Resumiríamos talvez essas características, dizendo apenas que
aquela tão falada “experiência pessoal de Deus” inunda a sua mensagem.
É uma simples caneta. Uma caneta comum, mas que, em suas mãos, poderá
tornar-se capaz de operar maravilhas e milagres.
Deus o proteja e o mantenha como nosso Mestre por muito tempo ainda.
Carta de uma Leitora
do meu Livro
De Alma para Alma
Permita-me chamá-lo amigo, pois para mim o senhor é uma pessoa querida a
quem amo como mestre e irmão em Cristo.
Agradeço sempre a Deus porque o senhor existe. Seus livros são alimento
amigo, onde procuro forças para dominar meu egoísmo.
Que Deus o abençoe. Para o senhor meus votos de muita paz. Peço-lhe que
me abençoe.
Maria Elza
Mais um Acróstico
à Luz da Alvorada
Seu exemplo foi muito perigoso para Roma.19 Diversas outras correntes
religiosas tentaram atraí-lo para suas fileiras. Ele não o disse mas assim
sentimos.
19. Para compreender o sentido e alcance destas palavras, queira o leitor abrir o meu livro
autobiográfico Por um Ideal.
Entretanto, é principalmente isto que me move a lançar mão da pena para vos
escrever: chegaram-me às mãos algumas obras vossas, como De Alma para
Alma, Por Mundos Ignotos, Problemas do Espírito, cuja leitura, na verdade, me
empolgou.
Desde aí tenho sempre diligenciado obter mais livros vossos, tendo já tido o
prazer de poder desfrutar a leitura de Em Espírito e Verdade, Alegorias,
Evangelho ou Teologia, Profanos e Iniciados, Em Comunhão com Deus. E por
ter achado vossas obras, cheias de luz, grande contribuição para a minha vida
espiritual, por isto senti-me compelido a vos enviar daqui, de longínqua e
pequena terra portuguesa, os meus profundos agradecimentos.
Não calcula o prazer que sinto ao ler as suas páginas plenas de inspiração.
Reúno frequentemente em minha casa alguns amigos e todos juntos gozamos
o prazer de ouvirmos a leitura em voz alta que um de nós faz de livros vossos.
20. Muitos conhecem e cantam “Maringá”. Mas poucos conhecem o autor desta e de dezenas
de outras maravilhosas canções populares, que é o insigne médico carioca, Dr. Joubert de
Carvalho, entusiástico e inteligente aluno dos nossos cursos de Filosofia, há diversos anos,
Ciência, Filosofia, Poesia, Música, Mística – parece que se estão diluindo cada vez mais as
linhas divisórias entre estas coisas; exemplo vivo disto é o poeta-compositor de “Maringá”,
nosso colega de Filosofia e Meditação.
Pois bem, preclaro mestre Huberto Rohden, essa palavra de fascínio e brilho
eloquente tem Vossa Senhoria à disposição de sua prodigiosa inteligência,
como um vinho que nos dá a beber e nos embriaga com a visão de Deus,
motivo constante de suas memoráveis conferências e de suas meditações,
quando nos fazem calar a voz e cerrar os olhos que se voltam para o interior,
no silêncio, essa dimensão incomensurável, onde Deus se refugia.
Quando, certa vez, me dirigia para uma de suas aulas, encontrei um amigo
que, ao saber de meu interesse pelas coisas do Espírito, por tudo que diz
respeito à Verdade, perguntou-me, como Pilatos, me gracejando: que é
Verdade? Num pedaço de papel deixei-lhe escrito: ... se perguntas a mim quem
sou eu, posso responder-te quem sou eu; mas, se a mim mesmo pergunto
quem sou eu, a quem devo responder? A mim mesmo? À minha consciência?
Quem és tu que dás testemunho de ti mesmo? – Sou a Verdade!
Somos a verdade, caro mestre, desde e até o momento em que somos “luzes
do mundo”. Em cada um de nós está instalada a usina energética, na forma de
“Cristo em nós”. Creio que é essa mesma força veemente que o impulsiona,
voando de norte a sul a fazer funcionar as turbinas de nossa inteligência,
manejadas por suas lições filosóficas de caminhada longa, mas de meta
segura para que o ensejo de iluminação se realize.
O mesmo jornalzinho O Domingo, dos Padres Paulinos, São Paulo, com data
de 28 de agosto de 1950, plagiou do meu livro De Alma para Alma o capítulo
“Tua alma”, assinando-o com o nome fictício de uma senhora, Elly Margot
Sauer. Além do crime de plágio, proibido por lei, acresce a seguinte agravante:
leitores do meu livro De Alma para Alma poderiam conceber a idéia de eu ter
plagiado o citado capítulo, assinando-o sub-repticiamente com o meu nome.
“Sou profundamente grato ao Senhor pelo fato de haver, depois de longos anos
de peregrinação, como filho pródigo, reencontrado a senda do Evangelho.
Tenho lido todos os seus livros com grande proveito, e a Metafísica do
Cristianismo causou-me profunda impressão, a ponto de quase curar-me de
desconcertante neurastenia por que vinha sofrendo de longos anos.
Vivo agora bem mais tranquilo comigo mesmo, e estou certo de ter encontrado
o caminho verdadeiramente ético, por meio do qual vou, até mesmo com
espanto, conduzindo o meu barco ‘em noite tempestuosa, batida por ondas, por
todos os lados’, noite escura, mas que agora, somente agora, vai se clareando,
em meio da fé cristã tão misteriosamente inoculada numa alma que vivia
sedenta da Verdade, de Deus e do verdadeiro Evangelho.
Faltam-me dotes literários para bem poder exprimir-me à altura das minhas
necessidades espirituais. Sinto-me hoje bem mais feliz do que outrora, e isto eu
lhe devo. Quero que o senhor saiba: Eu lhe devo esta tranquilidade e este novo
conhecimento de Deus e do seu Evangelho”.
O que um Reverendo
Evangélico diz do
Livro Paulo de Tarso
O meu livro Paulo de Tarso – cuja primeira edição saiu no mesmo dia em que
rompeu a Segunda Guerra Mundial – era fadado a se tornar o mais odiado
corpo de delito por parte de uns, e um dos mais amados dos meus livros, de
parte de outros. Neste livro procurei fazer ver, à luz da vivência do grande
bandeirante do Evangelho, o que era o cristianismo no primeiro século da
nossa era, e como ele foi deturpado, mais tarde, por pessoas mais
interessadas no poder do que na verdade. Em face desse tema, era inevitável
que os culpados dessa deturpação, através dos séculos, não gostassem do
espelho que Ihes refletia a fealdade; mas, em vez de corrigirem a sua própria
fealdade, investiram contra o espelho que lha revelava. Mas nunca faltaram
pessoas sinceras, dentro de qualquer grupo religioso organizado, que
aproveitassem o espelho do meu livro para fazerem um sincero exame de
consciência sobre a sua própria vivência ou não vivência crística.
Assim é que penso ser a sua inimitável biografia de Paulo de Tarso. Apresenta-
nos Paulo, verdadeiro, em carne e osso, na grandiosidade insuperável da sua
vida ímpar e singular.
Lápis em riste, vou-lhe marcando períodos e períodos onde, a par com a forma
peregrina, refulgem, de página em página, conceitos e pensamento de ouro e
luz.
Mais uma palavrinha sincera ao meu nobre amigo, autor da carta acima: depois
de publicar Paulo de Tarso, tenho escrito e publicado diversos livros que
focalizam com maior pureza ainda o espírito do Cristo, livros isentos de
qualquer teologia humana, mesmo paulina (que ainda existe em Paulo de
Tarso). Mas, para quem procura encontrar-se com o Cristo através de Paulo
(como, geralmente, acontece aos chamados “evangélicos”), e não com o Cristo
pelo próprio Cristo, é inconcebível um Evangelho puramente crístico: os
paulinos só concebem um Evangelho paulino. Todos os meus livros, a começar
com Metafísica do Cristianismo (1951) são, de preferência, evangélico-
crísticos, só admitindo ingredientes humanos, mesmo teológico-paulinos,
quando estes se acharem 100% harmonizados com a mensagem do Cristo.
Até que o “poder das trevas” seja derrotado pela “luz do mundo”.
No prefácio do meu livro Deus prevenira eu que este livro não devia ser lido por
pessoas para as quais Deus não fosse mistério, mas uma evidência meridiana,
pessoas que nunca tivessem sofrido a luminosa escuridão, o deserto sonoro, a
doce amargura, o céu infernal da Divindade.
E aconteceu-lhe o quê?
“Não venho à sua presença trazer encômios, que seriam ofensas, senão
desairosas e baldas de ética; todavia, cumpro um dever de lealdade para com
sua pessoa – se é que o senhor usou de lealdade para com seu Deus – para
dizer-lhe o seguinte, depois de haver lido o seu livro Deus, 3.ª edição: Nunca
jamais, outrora, em tempo algum, houve alguém que escrevesse com tanta
lábia, para dizer tão pouco – que acabasse por não dizer nada.
Esse seu enigmático de quantos enigmas angustiam o seu espírito não existe
senão como fruto de uma imaginação doentia.
Reanime-se e bata no peito: minha culpa, minha culpa, minha terrível culpa!
Prospere e menos angustioso em 1967!” (segue assinatura, de feitio fortemente
judaico).
Não é necessário que o homem viajor seja derrotado por suas angústias; pelo
contrário, ele deve, cedo ou tarde, superar esse estágio evolutivo, como o
próprio Cristo o superou, quando ele “entrou em sua glória”; mas, como ele diz
aos discípulos de Emaús, o Cristo tinha de sofrer tudo aquilo antes de entrar
em sua glória.
“Através das palestras que hei mantido com o Dr. W,., meu grande amigo,
aprendi a lhe querer bem, tomando conhecimento das verdades expressas em
suas obras magistrais, que, por serem verdadeiras, andam por aí, exaltadas
pela maioria, que, aos poucos, vai-se encontrando a si mesma, e criticadas
pela minoria, que segue e acredita ainda na deturpada doutrina dos falsos
profetas. Como faço parte dessa maioria, que a cultura, a inteligência e a sua
sinceridade vai ganhando, rumo dos grandes destinos, tornei-me, de pronto,
seu amigo, certo de me haver achado a mim mesmo, deixando de ser o que a
padrecada queria que eu fosse: uma criança grande, eternamente
amedrontadas com histórias de bicho-papão.
Tenho para mim que o irmão é um verdadeiro cristificado, e pedirei a Deus que
eu possa conhecer cada vez mais a Cristo e possa senti-lo dentro de mim, e
assim viva plenamente com Deus.
Sou da Igreja Presbiteriana desde 1928. Mas sinto que em nossas Igrejas,
como também na romana, imperam os dogmas e ritos, e às vezes nos
sentimos bem longe do espírito de Cristo.
Tenho 7 filhos; faço tudo para que eles se integrem no Evangelho, e por isto
faço parte da Igreja; mas tenho vontade de expressar melhor a vontade do Pai,
como elucida o seu livro Lúcifer e Logos. É maravilhoso!” (segue assinatura).
Nos anos seguintes, esta mesma senhora me escreveu diversas cartas, pelas
quais verifiquei uma firme linha ascensional, rumo ao Cristo, real como ele
aparece nos Evangelhos, sem teologias deturpantes, em espírito e em
verdade.
Uma Voz Amiga
em Pleno
Campo de Batalha
Quando, decênios atrás, a luta duma parte do clero romano contra minha
pessoa e obra atingia o clímax da ferocidade, como expus no meu livro Por um
Ideal, um homem isento de preconceitos me escreve a carta seguinte:
Profundo admirador do homem que tem talento, do homem cujo cérebro vale
mais que todos os preconceitos humanos, que todas as grandezas terrenas,
curvo-me, reverente, diante de Você – permita a substituição do tratamento –
que sabe tão bem e tão profundamente dizer o que muitos não dizem por
safadismo e conivência com os preconceitos sociais.
Eu não tenho inveja dos triunfos alheios, antes satisfação, porque o triunfo de
um é um estímulo profundo aos que ficam, que querem e podem subir e ser
aplaudidos, desde que saibam, como o meu amigo, perscrutar a consciência
humana e sentir o anseio dos que sofrem e choram, dizer, com profundeza
quase que desconhecida no meu país, a Verdade, essa Divindade
desconhecida dos homens e dos deuses humanos.
Quero esquecer que Você é sacerdote, porque Você o é bem diferente dessa
casta que pulula por aí a vender santos de ouro e prata e a trocar rezas por
cruzeiros; quero ver em Você o talento de verdade, o homem que é meu irmão
em Ideal, o homem que sabe interpretar as dores alheias como se fossem sua
própria, que sabe compreender a Verdade do que o Mestre nos ensinou, com
grandiosidade e sabedoria.
Você, meu caro padre Rohden, presta um grande bem à humanidade,
ensinando-a a compreender a Verdade que os outros procuram tornar
desconhecida cada vez mais, ensinando-a a compreender as dores alheias.
Permita que o abrace e suplique um único favor: não esmoreça, meu caro
padre Rohden, porque a posteridade lhe fará a Justiça devida, que a patuléia
bípede que nos cerca não faz.
Sua última carta, que acabo de receber, nesta hora me entristece muito. Tanta
malícia satânica não esperava. Mas o inferno teme os seus livros, Padre
Huberto. Por isto, tanto ódio, tanta perseguição. Parece que os antigos fariseus
tornaram a viver. Coragem, porém, porque o bem sempre triunfa.”
Os que leram o meu livro autobiográfico Por um Ideal sabem a que o autor
desta carta se refere; são ecos da tremenda campanha que numerosos padres
moveram a meu livro Agostinho, apesar do “imprimatur” da autoridade
diocesana, chegando ao ponto de afirmar que o maravilhoso prefácio, de Mons.
Ricardo Liberali, então vigário geral da diocese de Uruguaiana, havia sido
inventado perversamente por mim.
Uma Freira Encantada
com De Alma para Alma
Talvez o mais conhecido e lido dos meus livros é De Alma para Alma, agora
em sétima edição, sendo que as edições deste livro são de 10.000 exemplares,
em vez de 5.000. São 100 capítulos de duas páginas cada um, focalizando
variados altos e baixos, luzes e sombras da vida de quase todo ser humano
que passa sobre a terra.
* N. Editor – Nesta data o livro De Alma para Alma está entrando na 14.ª edição. Já foram
impressos mais de 130.000 exemplares.
“De Alma para Alma ultrapassa tudo que jamais saiu da sua pena. O pessoal
cá da Secretaria está encantado com as idéias nele apresentadas. A cada
capítulo que eu leio e releio empresto, sem querer, a cadência e ritmo peculiar
do autor e penso e digo: por quantas agruras teve de passar o Padre Rohden,
para que pudesse interpretar com tal mestria o que muitas almas sofrem e
sentem.”
A autora dessa carta frisa duas coisas notáveis, por sinal que essa Irmã possui
grande sensibilidade psíquica e artística. Lembra a cadência e o ritmo deste
livro, o primeiro que saiu em forma colométrica, como os Salmos, terminando a
linha quando termina o pensamento. Mais tarde dei a mesma forma colométrica
a outros livros meus, como sejam Escalando o Himalaia, A Voz do Silêncio,
Imperativos da Vida (agora também em tradução de esperanto), bem como à
segunda parte de Em Comunhão com Deus.
Parece que a Irmã sentiu que De Alma para Alma nasceu no campo de
batalha, entre sangue e lágrimas, precisamente no auge da campanha
difamatória que parte do clero e do episcopado moveu aos meus livros, pelo
fato de frisarem mais a Cristo-redenção do que a clero-redenção.
O Poder Secreto
por Detrás dos Bastidores
da Minha Vida
Após o meu regresso ao Brasil, em 1951, perdi quase todo o contato com
Irineu Monteiro. Nem sabia que ele trabalhava no conhecido jornal de
publicidade Shopping News.
Grande foi, pois, a minha surpresa quando, um belo dia, esse jornalista me
aparece na minha verde solidão – então chamada “Cosmorama” (visão
mundial) hoje Nirvana (quietude) –, armado de câmara fotográfica e bloco de
papel, a fim de me entrevistar e fazer de mim publicidade nas páginas do
Shopping News, como se eu fosse algum campeão de futebol ou um astro de
cinema.
Qual não foi, porém, a minha surpresa quando, com data de 7 de abril de 1963,
o jornal Shopping News estampou quase uma página inteira cheia de
fotografias e com um espalhafatoso título em vistosas manchetes:
“As glórias do mundo pelo encanto da natureza”.
Depois disto, Irineu fala dos meus estudos na Europa, das minhas atividades
nos Estados Unidos, do meu encontro com Einstein, etc. Fala de mim como
arrojado alpinista, como campeão de natação numa competição no Mar
Mediterrâneo, da minha Filosofia Cósmica estreitamente relacionada com a
matemática e a mística, etc.
***
Não sou eu o “poder legislativo” de nada disto – sou, quando muito, o “poder
executivo”.
Eu não sou essa Fonte. Basta que eu mantenha os meus canais ligados com a
fonte Cósmica e conserve os meus canais limpos – e tudo vai bem; as águas
fluem, suave e espontaneamente, através dos meus canais.
“A finalidade da carta que lhe escrevo é apenas para lhe enviar, daqui do Rio,
meus agradecimentos pelo muito que o senhor me fez. Naturalmente, estou lhe
causando um certo embaraço, o que é justo; pois talvez o senhor não pudesse
supor que chegaria às suas mãos uma carta duma pessoa desconhecida,
agradecendo-lhe algo que o senhor desconhece que o tenha feito; mas, com o
decorrer da leitura, irá aos poucos tomando conhecimento do assunto e se
sentirá mais senhor da situação.
Sou uma criatura que, por princípio, recebi uma educação religiosa bastante
defeituosa, o que mais tarde, com o correr dos anos, viria me prejudicar
muitíssimo.
Ao completar 8 anos de idade, forçaram-me à 1.ª comunhão, que aliás fiz sem
nenhuma noção do que estava fazendo; minha família toda, quer da parte
materna, quer da paterna, exageradamente católica praticante, obrigava-me
também a cumprir com deveres religiosos, e eu lhe confesso que tudo isto era
feito por mim apenas como um dever de obediência à minha família, e
principalmente à minha velha avó, à qual eu devotava uma grande amizade.
Neste ambiente eu me tornei moça, sempre cumprindo com as minhas
obrigações religiosas, mas nunca as aceitando; sentia que não era bem aquilo
que eu praticava dentro de uma igreja católica que satisfizesse os meus
anseios espirituais; então eram as palavras dos sacerdotes que ouvia nas
missas todos os domingos que eu procurava para o alimento de minha alma;
saía das igrejas tão vazia como tinha entrado.
E comecei então a travar comigo mesma uma grande luta. Eu sentia que me
faltava qualquer coisa, e essa qualquer coisa eu não sabia o que era... Sabia
apenas que existia um Deus, esse Deus que eu vejo em todos os lugares, e, no
entanto, me ensinavam a encontrá-lo apenas dentro de uma igreja – e eu não o
sentia nessa igreja.
Vendo que não encontrava o que queria, desisti de tudo; afastei-me de tudo,
não lendo mais nada, e tornei-me liberta, vivendo apenas da grande Verdade,
que é Deus e o Universo que eu trazia dentro de mim desde criança; mas uma
educação religiosa malformada deturpou, criando em torno de mim essa
confusão tremenda de procurar lá fora o que eu trazia comigo, esse tesouro
imenso, maravilhoso, que é ter Deus dentro de si.
Pois é aqui, Sr. Rohden, que eu lhe agradeço. Foi durante a semana do livro,
na Cinelândia; estava eu observando a imensidade de belíssimos exemplares –
quando senti que caía a meus pés um livro; olhei e vi Evangelho ou Teologia,
de Huberto Rohden. – Apanhei-o e folhei-o – e deu-se o grande milagre! posso
assim dizer; estava ali, naquelas páginas, aquilo que eu há muito buscava.
Senti uma grande alegria. Comprei-o imediatamente e corri para casa; devorei
as páginas, bebendo palavra por palavra; pois em todas elas estava o meu
pensamento inteirinho, era aquilo justamente o que eu procurava em outros
autores, e não encontrava. Eu confesso, Sr. Rohden, eu tenho a impressão
(perdoe-me a pretensão) de que seus livros foram escritos por mim; o que o
senhor escreve é tão igual ao que eu penso que às vezes o meu entusiasmo é
tão grande com suas obras maravilhosas que só, no meu quarto, chego a falar
sozinha! Já comprei vários livros seus. Estou lendo, no momento, Maravilhas
do Universo. Por isto tomei a liberdade de lhe escrever, contando todas estas
coisas; porque vale a pena o senhor saber que as suas obras foram úteis a
uma alma errante que perambulava pelo mundo num verdadeiro caos, e que já
agora encontrou o que buscava... uma luz na escuridão! Por isso, Sr. Rohden,
eu lhe agradeço muitíssimo e lhe peço: escreva, escreva sempre, porque,
como eu, há de andar por este mundo de Deus muita gente sem bússola,
produto da nossa religião de família que, em vez de fazer o homem se
aproximar de Deus, o obriga a afastar-se dele.”
Resolvi reproduzir, na íntegra, esta carta, datada de 1955, porque sei que
nestas mesmas condições se encontram centenas, talvez milhares de pessoas.
Eu mesmo tenho nas minhas pastas algumas dezenas de cartas quase do
mesmo teor.
É fora de dúvida que a nossa educação religiosa – e isto vale não só da Igreja
a que a autora se refere – obedece, quase sempre, a um mecanismo obsoleto,
que aproxima a alma da Igreja A, B ou C, mas a afasta de Deus.
Quando, de acordo com o Evangelho de Cristo, afirmamos que Deus está em
vós – “o Pai está em vós”, “o reino de Deus está dentro de vós”, “o espírito de
Deus habita em vós” – acusam-nos de todos os lados de “panteísmo” (como
aconteceu ao célebre jesuíta Teilhard de Chardin). Infelizmente, desde o quarto
século, o grande monismo crístico foi substituído pelo dualismo teológico,
porque só neste ambiente dualista é que a hierarquia eclesiástica pode
prosperar e exercer o seu imperialismo de consciência. A teologia eclesiástica
substituiu a Verdade do Evangelho pelo Poder da Teologia. A Verdade é do Eu
divino, o Poder é do Ego humano.
Entretanto, a alma humana continua a ser “crística por sua própria natureza”,
no dizer do grande Tertuliano; a alma não é naturalmente eclesiástica,
teológica – isto pode ela tornar-se artificialmente – a alma é e continuará a ser
sempre crística por sua própria natureza divina. porquanto “o Pai que está em
mim também está em vós... eu sou a luz do mundo, e vós sois a luz do mundo”.
Não é possível adulterar radicalmente a alma humana; como a agulha
magnética se volta sempre para o norte, quando deixada em liberdade, assim a
alma humana, quando deixada ao seu impulso natural, se volta sempre para
Deus, a despeito de todas as imposições e falsificações que os “guias cegos”
tentem impingir-lhe.
É esta a grave acusação que me vem, em carta, de uma das capitais do sul do
País, onde eu havia dado uma série de conferências sobre a necessidade e os
processos da meditação espiritual. Um dos ouvintes tomou tão a sério o
assunto que resolveu fazer, cada manhã, das 5 às 6 horas, a sua meditação.
Mas a esposa não se conforma com esse hábito de o marido deixar a tepidez
da cama a essa hora, tanto mais que ele não a convida a acompanhá-lo para o
exercício de meditação. E dona Isa acrescenta que há perigo de a situação
piorar, porque o marido “ameaça” levantar-se, futuramente, às 4 horas da
madrugada, uma vez que o exercício de meditação lhe faz um bem imenso.
Escrevi uma carta a dona Isa, perguntando se ela não achava melhor subir um
pouco rumo à altura do marido, em vez de o obrigar a descer às baixadas
dela... Não me respondeu, e até hoje nada mais ouvi do caso.
Entre estes últimos se destaca Monsenhor Ricardo Liberali, então vigário geral
da diocese de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, e secretário do bispado.
Escreveu-me ele, após o aparecimento da primeira edição do meu livro De
Alma para Alma, o mais lido de todos os meus livros:
Não escreva mais. Faça dele o seu CÂNTICO DE CISNE, porque outro livro
igual não escreverá.
Não escreva mais! Feche com esta chave de ouro a sua vida pública.
Faça-se ermitão. Desapareça do mundo, que não o quer. Seus livros farão o
seu trabalho. Vão-se os homens, e ficam as obras.
Chega, Rohden! Não escreva mais, que já não poderá superar a si mesmo.
Dei todos os exemplares recebidos. Guardo ciosamente o meu, no cofre de
ferro, qual se tratasse de uma Bíblia ricamente encadernada com ouro e
brocados. É que ele é a Bíblia apresentada com ouro e brocados.”
Note-se que esta carta é de 1943, tempo em que a campanha contra mim e
minha obra andava em furiosa maré. Monsenhor Liberali sentiu, nas
entrelinhas, que esta centena de capítulos concisos nasceu no meio de
grandes tempestades – e também de muita serenidade interior: Com efeito,
nesse período me consolidei grandemente na firmeza da linha reta da minha
consciência crística, indiferente aos ziguezagues da direita e da esquerda, a
vivas e vaias, a louvores e vitupérios, a aplausos e apupos. Durante todos
esses anos de difamações e calúnias, nunca respondi com uma única
palavrinha aos meus inimigos gratuitos; bastava-me o testemunho da
consciência de um dever cumprido.
Só muitos anos mais tarde, nos dois volumes autobiográficos do meu livro Por
um Ideal, é que ofereci ao público uma espécie de prestação de contas, uma
vez que muitos dos meus leitores queriam saber do porquê dessa luta contra
meus livros, genuinamente crísticos.
Escreve-me
“Uma Espiritualista Feliz”
É assim que uma antiga discípula minha, de Laguna, Santa Catarina, assina
uma carta, da qual passo a transcrever as seguintes palavras:
“Como admiradora das vossas obras, tive agora a satisfação de ler, meditar e
viver De Alma para Alma.
Nesse último, não está ao meu alcance dizer-vos quanta alegria íntima me,
proporcionou.
Alma como a vossa dispensa palavras como as minhas: mas calar-me não foi
possível.”
Uma Alma Crística da
Ocidental Praia Lusitana
Senhor Doutor. Não sei como começar. Talvez por lhe dizer que sou
portuguesa, admiradora dos seus livros. É pena que só agora, aos 38 anos,
tenha sabido da sua existência.
Agradeço-lhe reconhecida o bem que me tem feito através dos seus livros. Se
já amava o Cristo, agora, que O fiquei a conhecer mais e melhor, mais O amo e
tenho a ânsia de O seguir. Não sei como, nem para onde. Talvez aqui mesmo.
Sei lá?!
Deus é amor, e este é inventivo. Serviu-se dos seus livros para me fazer
crescer, para que visse claro o que tão emaranhado andava dentro de mim. Só
vivendo em Amor e no Amor se pode descobrir a maravilha da palavra Viver!
Através dos seus livros descobri, não um Deus teórico, racional, limitado a uma
idéia ou a um campo de idéias, mas o Deus real, empenhado no mundo, o
Deus amigo, o Cristo, o Senhor. Obrigada.
24. A autora da carta entende por “Evangelhos” a minha tradução do Novo Testamento, feita de
acordo com o texto grego do primeiro século, e com abundantes notas explicativas.
É pena que o Brasil seja tão longe! Tinha tanto para conversar.
Perdoe se o macei.
Se, um dia, quiser escrever a esta sua irmã, faça-o para... (segue nome e
endereço).
“É chegará o tempo em que todo aquele que vos matar julgará prestar um
serviço a Deus.”
Estas palavras do Cristo, por mais estranhas que pareçam, estão sendo
confirmadas através dos séculos. E acrescentou o Mestre: “Haverá discórdia
entre pai e filho, entre mãe e filha, entre marido e mulher, e os inimigos do
homem serão os seus companheiros de casa.”
Ocorre também, embora com menos frequência, o caso inverso. Certo dia, uma
jovem e formosa judia, recém-casada, depois de ouvir da nossa Filosofia
Cósmica, se entusiasmou grandemente por ela e resolveu frequentar as aulas
e meditações. Uma semana depois me apareceu toda murcha e triste, porque o
marido lhe proibira terminantemente esse “namoro” com algo que não fosse
ele, ele, o único senhor e deus do coração da sua deusa. “Para que filosofia? –
perguntou ele. – Então não te basto eu?”
Quando então um dos cônjuges leva a mal que a outra parte focalize o seu
amor em algo que não seja ele ou ela, começam as hostilidades, a guerra fria
ou a guerra quente, ou a descontente acha necessário desprestigiar a
“Alvorada” e seu diretor. Todos os doestos e impropérios são então despejados
sobre a nossa filosofia.
– Se não fosse tão fácil ser membro de uma das vossas Igrejas – disse o
quaker – eu me filiaria a uma delas.
– Tão fácil? – estranhou o reverendo. – O senhor quer dizer tão difícil, não é?
O quaker ainda fez ver ao pastor que o Cristo não exigia coisa fácil a seus
discípulos, quando dizia: Estreito é o caminho e apertada é a porta que
conduzem ao reino dos céus... O reino dos céus sofre violência, e somente os
que usam violência o tomam de assalto.
O ego virtuoso que cumpre o seu dever é, certamente, melhor do que o ego
vicioso que não o cumpre; mas, se este se acha no estágio antepenúltimo,
aquele está no plano penúltimo – o sapiente porém, o que age por um
espontâneo querer, por ter compreendido a verdade sobre si mesmo, a
“verdade libertadora”, este se acha no estágio último, na sabedoria do Cristo.
“Por Moisés (ego) foi dada a lei (tu deves) – pelo Cristo (Eu) veio a verdade,
veio a graça (eu quero, eu compreendo).”
Felizmente, há, na “Alvorada”, muitos casais que vivem à luz duma grande
compreensão bilateral, marido e mulher seguem, como duas linhas paralelas,
rumo ao mesmo ideal.
Respondi ao capitão C., portador desse recado do outro mundo, que dissesse
aos três corifeus que laboravam numa grande confusão.
– Como assim?
– Einstein escreveu, no seu livro Aus meinen spaeten Jahren, o seguinte: “Do
mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores;
porque estes vêm de outra região”.
Estou 100% de acordo com o grande matemático, com o qual, aliás, convivi por
mais de um ano, na Universidade de Princeton, em 1945/46. E o que vale na
Matemática vale também na Filosofia (no sentido em que nós entendemos a
filosofia).
Ora, é uma flagrante inverdade afirmar que eu não aceito a reencarnação como
fato: o que eu não aceito nem jamais aceitarei é a reencarnação como valor.
Se me for provado o fato histórico, objetivo, de uma reencarnação, não terei a
menor dúvida em aceitar o fato, como aceito outro fato qualquer.
É um tremendo erro de lógica querer derivar valor de algum fato, querer derivar
uma qualidade real de uma quantidade factual, como muito bem compreendeu
Einstein. Por mais que se repitam os fatos, no plano quantitativo, 10, 20, 50,
100 vezes, nunca resultará daí um valor na dimensão qualitativa. É como se
alguém somasse ou multiplicasse zeros, 000 000, para obter o algarismo “1”.
– Por que é que dos fatos não se pode derivar valores?
– Talvez sim, talvez não. Mas, em qualquer hipótese, essas reencarnações lhe
deram oportunidade para criar valores espirituais.
– Muito bem. E, se ele não reencarnasse, não teria tido essa mesma
oportunidade de valorização espiritual? Será que essa oportunidade resultou
do fato da reencarnação material? Será que o valor espiritual foi derivado da
presença da matéria do corpo físico, osso, carne, sangue, nervos, ou seja, da
presença de ferro, cálcio, fosfato, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, etc.? Se a
presença destes fatos materiais é indispensável para a valorização espiritual,
então é evidente que os valores são derivados dos fatos – e então é
radicalmente falsa a tese de Einstein de que “do mundo dos fatos não há
nenhum caminho para o mundo dos valores”. Então os valores não vêm de
“outra região”, mas vêm da região dos fatos, negando flagrantemente a lógica
do pai da Era Atômica, o qual, além de matemático, era também um grande
filósofo, e até um grande místico.
– Mais uma prova de que certos espíritas não sabem pensar logicamente.
– Como assim?
– Afirma o senhor que, para haver sofrimento, deve haver corpo material. Ora,
é falso atribuir sofrimento à matéria, ao corpo material. A matéria não sofre.
Quem sofre é o corpo astral. Um corpo, no necrotério, é anatomizado pelos
estudantes de medicina, e nada sofre. Por que não? Porque o corpo astral
sensitivo não está mais presente nesse corpo morto, e quem sofre é esse
corpo astral. Se, portanto, o espiritismo acha necessário o sofrimento para a
criação de valores espirituais, não necessita de apelar para a reencarnação,
porque o corpo astral não reencarnado é tão suscetível a sofrimento como o
corpo astral no corpo material.
Pelo menos neste ponto, os teólogos eclesiásticos têm certa razão, quando
localizam o inferno e o purgatório na região astral de após-morte, onde o
homem estaria sujeito a sofrimentos maiores do que aqui na terra, em corpo
material. Na parábola do rico avarento e do pobre Lázaro, o pecador
desencarnado se queixa de “grandes tormentos”, embora não tenha corpo
material. Reencarnar para poder sofrer – eis aí outro ilogismo da filosofia
espírita.
Tempos atrás, o capitão C., que era aluno do meu curso de filosofia, no Rio de
Janeiro, me pediu que fosse assistir a uma sessão em que apareciam Paulo,
Agostinho e o apóstolo Tomé, e davam mensagens de outro mundo.
Será que Agostinho não sabia qual era o nome da sua antiga companheira
fenícia? Ou, quem sabe, esse tal Agostinho não era o verdadeiro autor das
Confessiones e de tantos outros livros célebres?
***
Aparece então na Europa, em maio de 1875, uma mulher que, depois de haver
dado duas vezes volta ao mundo, funda em Londres o célebre ‘Clube dos
Milagres’. Possuidora de uma vasta cultura humanística, senhora de
conhecimentos ocultos até então desconhecidos do grande público e ainda
detentora de notáveis poderes psíquicos, causava sempre assombro, onde
quer que aparecesse. Era Helena Fadif Petrowna Blavátski.
Publica nessa época Ísis sem Véu, entrando em choque com todos e com tudo,
pois, em uma época de puro materialismo científico, falar de coisas tão
altamente espirituais e metafísicas, era uma verdadeira temeridade. Teve que
sustentar várias polêmicas, vencendo-as sempre com muito brilho, pois seus
conhecimentos eram muito avançados para aquela época.
Trava aí contato com seu guru ‘Tuitit Bey’ que entre outras coisas lhe diz: ‘Você
foi a escolhida por nós, para fundar uma grande sociedade que trará
incalculáveis benefícios ao mundo’.
Ao publicar a sua alentada obra de sete volumes: A Doutrina Secreta, faz com
que o Ocidente fique conhecendo o que até então ninguém ousara pôr em letra
de fôrma, pois era proibido falar dessas coisas.
Ex Oriente Lux!!!
Esse movimento espiritualista metafísico teve que ser criado, para neutralizar,
para frear o inócuo materialismo reinante e apontar à humanidade que existe
algo mais que a matéria; que existe uma ciência da vida mais avançada do que
a ciência ensinada nas academias.
***
Blavátski foi o João Batista de Yogananda. – Natura non facit saltus – era
necessário o advento da teosofia, pois, sem ela, seria impossível passar,
direto, da ciência acadêmica materialista à auto-realização; ou como ouvimos
na última aula: não podemos saltar de profanos a cósmicos, sem primeiro
fazermos um estágio na mística.
Em agosto de 1920, a bordo do navio City of Sparta, o primeiro da lndian-
American Co. a aportar nos Estados Unidos depois da Primeira Grande Guerra
Mundial, desembarca em terras de América um ser, cuja missão era implantar
no Ocidente a velhíssima ciência da Kriya-Yoga.
O homem, enquanto não se une ao seu princípio espiritual, não é senão uma
consciência limitada e temporária.
***
Caros colegas: nós temos uma grande responsabilidade sobre os ombros. Uma
grande responsabilidade com nós mesmos. Nós somos as sementes
privilegiadas de uma raça que há de eclodir na América do Sul, encerrando um
grande ciclo evolutivo, para o dealbar de uma nova era para a humanidade.
Isto já foi profetizado e está escrito em vários livros secretos do Oriente e muito
bem interpretados, talvez por intuição, ou por um ‘estado de graça’, do grande
filósofo e sociólogo mexicano José de Vasconcelos: ‘É dentre as bacias do
Amazonas e do Prata que há de nascer a raça cósmica, realizadora da
concórdia universal, pois será filha de todas as dores e de todas as esperanças
da humanidade.’
Huberto Rohden sabe disso, razão pela qual não olha tempo nem distância,
intempéries ou confortos, lucros ou sacrifícios, para cumprir, com todo o
entusiasmo e proficiência, a sua gloriosa missão. Missão além do mais
dificultada pela precariedade de recursos com que luta ALVORADA, pela
incompetência administrativa que há anos vem assolando o nosso País, que
deveria considerar a obra de Huberto Rohden uma instituição benemérita e de
utilidade pública; e também, pela cegueira não só de quase todos os brasileiros
como também de parte da humanidade que não consegue sequer vislumbrar o
que atrás foi dito, preocupando-se exclusivamente com diversões, dinheiro e
sexo.
A mestres assim tão eminentes, que dão tanto de si, para o bem de uma Pátria
e para a evolução da Humanidade, a palavra “agradecimento” não faz sentido.
AUM!”
Terceira Parte
Perguntas sem
Respostas
Por que não Morri
em 1963
A viagem era assaz longa, de diversas horas. Pelo caminho andei pensando
comigo mesmo: Como identificar esse Pierre, que nunca vi?... E que quererá
ele de mim?...
Entramos no jipe dele e rumamos para a Fazenda Monte Tabor, fora da cidade.
– Nunca nos vimos? – replicou Pierre. – Eu vi você em 1951 pela primeira vez,
nos desertos da Judéia, para além do Mar Morto. E mais uma vez, em 1952, no
Egito, ao pé da grande pirâmide de Quéops.
Pouco a pouco, Pierre me foi contando algo da sua vida estranha. Falava
devagar, com muitas intermitências. Nascera em Jerusalém, filho de pais
judeus, de nacionalidade francesa; seu pai se convertera ao catolicismo; a mãe
continuava na fé israelita, mas havia perfeita harmonia no lar. Seu pai era
cônsul e, como se ocupava muito com arqueologia, fora mandado, a pedido
dele, a Jerusalém e, mais tarde, foi transferido para o Cairo.
– Por causa das brigas na igreja do Santo Sepulcro, onde diversos grupos de
cristãos, como também um grupo de árabes, celebravam o seu culto. Certo dia,
sacerdotes de diversas confissões altercaram com veemência por causa de
seus dogmas, pegaram nos castiçais dourados do altar e quebraram-nos nas
cabeças uns dos outros. Escandalizado, abandonei tudo que se chamava
religião e me associei a uns beduínos que, montados em seus camelos,
viajavam de cá para lá, mercadejando e meditando. Foi o período mais feliz da
minha vida. Apaixonei-me pela mística solidão dos desertos. Sintonizei-me com
o espírito desses beduínos...
– Foi numa dessas viagens que me encontrei, pela primeira vez, com o Cristo –
que me deu ordem de falar com você...
Depois disto, Pierre me contou como, numa noite de luar, quando os seus
companheiros estavam dormindo em cavernas próximas, e os camelos
repousavam na branca areia, ia ele andando, sozinho, deserto adentro.
Sentou-se numa pedra – e teve o seu primeiro encontro com o Cristo...
Olhei para Pierre, duvidando da sua presença física. Mas ele estava
fisicamente ao meu lado, dirigindo o jipe.
– Sim – prosseguiu ele –, foi em 1951 que recebi ordem de falar com você.
Mas não obedeci. Meu pai foi transferido, a pedido seu, para o Cairo.
Matriculou-me no colégio dos jesuítas dessa cidade; mas fui expulso após
alguns meses e resolvi trabalhar com meu pai. Entendo um pouco de
arqueologia e de hieróglifos.
– Lá mesmo.
Eu estava ansioso por saber desse misterioso recado; mas, não sei por que
motivo, não tive a coragem, ou a vontade, de lhe perguntar.
Fui hospedado, sozinho, numa casa nova, confortável, com luz elétrica e água
encanada, à beira de um rio. Pierre me ofereceu esta casa, exclusivamente
minha. Ocupei-a até sexta-feira da semana santa, mas não tomei posse,
porque eu já me havia despossuído de todas as posses. Pierre e sua esposa,
com uma filhinha recém-nascida, moravam em outra casa. Tomávamos as
refeições em comum. Era tudo tão estranho, tão irreal...
Havia dias que eu estava com esse homem enigmático, sem que ele me
tivesse revelado o verdadeiro motivo dessa inesperada chamada. Só no último
dia, na sexta-feira santa, quando me acompanhava até à estação de ônibus, é
que ele resolveu falar-me do motivo da chamada; assumiu uma atitude quase
solene e hierárquica e me disse pausadamente:
– Nosso Pai e nosso Cristo resolveram chamar você para trabalhar em outros
mundos; o seu estágio terrestre terminou.
– Quer dizer que vou morrer? – respondi calmamente, sem a menor surpresa.
– É isto mesmo, em linguagem comum. Mas não tem importância. Você vai
mudar de cenário de trabalho. Sua missão nesta terra terminou.
– Quando?
Era no mês de abril, e eu tinha de partir deste mundo pelo fim do ano. No sítio,
fiz alguns dias de silêncio e meditação. Numa dessas noites, quando eu estava
submerso em sono profundo, no meu quarto, na chamada “Torre do Silêncio” –
acordo subitamente e vejo ao lado da cama uma grade de cadeia e uma voz
nítida dizia e repetia, através da grade: “Aquilo não vai acontecer mais... Não
vai acontecer”...
Voltei-me para o outro lado, e a voz vinha deste lado agora, mas não mais
através de grades de prisão, repetindo: “Aquilo não vai mais acontecer”...
Mas, nesse tempo, não tinha eu a menor idéia do que se ocultava por detrás
desses acontecimentos; enxergava o que ocorria no palco dos fatos históricos,
mas ignorava o que havia por detrás dos bastidores da realidade. Somente
mais tarde, em princípios de 1964, quando aconteceu o resto, é que comecei a
compreender a trama total, a secreta entrosagem das coisas. Eu, pelas leis
físicas, devia morrer em 1963 – mas o fator-metafísico modificou a física...
***
Pensei em Pierre. Como é que ele sabia disto, da presença da morte no meu
sangue?... Sabia?... Sabia, não por análise, como o médico, mas por intuição...
Sabia que eu, normalmente, devia morrer ainda em 1963... Mas o meu Eu
superior também sabia, antecipadamente, que, por certos motivos, a morte ia
ser superada: “Aquilo não vai mais acontecer”...
O tempo, entre 1963 e 1964, existia para o meu ego – não existe para o meu
Eu. O ego vive no mundo das ilusões – o Eu vive no mundo da verdade. Do
ego ilusório pode-se apelar para o Eu verdadeiro.
Desta situação mortífera nada suspeitava eu, embora me sentisse mal nos
últimos tempos; e, por obra de forças elementais maléficas, originadas por uma
entidade macumbeira, me foi acintosamente ocultada essa situação. Eu era
condenado a morrer – e teria morrido em 1963, de uremia, que já estava em
inícios e me levaria à morte dentro de poucos dias, como me disse mais tarde o
médico – se não tivesse havido outra força neutralizante, que ajudou a quebrar
o feitiço da macumbeira.
Mas... aqui entramos em regiões penumbrais e que, por motivos especiais, são
tabu e não podem ser postos em letra de fôrma e apresentados em público.
Pessoa, dentro do nosso movimento cósmico da “Alvorada”, atuou como força
catalisadora, quebrando as forças maléficas, que queriam a minha morte.
Cheguei a saber, mais tarde, que a minha morte era decretada pelas forças
maléficas e que até o lugar do meu sepultamento já estava marcado. Mas, “a
luz brilha nas trevas, e as trevas não a prenderam”.
O médico que fez a análise de sangue me deu uma injeção cavalar para que
eu atingisse, vivo, uma cidade onde pudesse ser operado – pois eu me achava
numa estação de águas, no interior. Receava o médico que eu, com essa
sobrecarga de uréia, não resistisse à viagem.
Resisti. E ainda no mesmo dia da chegada fui submetido aos preparativos para
a operação, que me libertou dos venenos e restituiu à normalidade orgânica.
Inúmeras vezes tenho sido interrogado sobre a realidade ou irrealidade do
“destino”.
Eu, porém, ninguém sabe por que, optei por outra alternativa e regressei ao
sansara da vida agitada, em vez de me isolar no Nirvana da vida contemplativa
– e nos separamos para sempre.
Parece que também aqui atuaram aqueles poderes secretos que, como
sempre, atuaram por detrás dos bastidores invisíveis da minha vida histórica.
Alguém perguntou-lhe por que usava aquele esquisito capacete branco, que
parecia ser de matéria plástica, ao que o desconhecido respondeu:
Alguns se riram destas palavras; outros queriam saber donde ele era. O
estranho, porém, nada revelou, limitando-se a afirmar que não era daqui, da
nossa Terra.
Alguém perguntou por que usava aquele aparelho com antenas. Respondeu
que dele necessitava para receber e mandar mensagens de lá para cá e de cá
para sua gente.
A situação se tornava cada vez mais enigmática. Quando alguns achavam que
estava abusando da credulidade dos passageiros, o estranho se prontificou
para dar uma demonstração da verdade do que dizia.
Neste momento, disse Dra. Odete, aconteceu algo que ninguém pôde explicar.
O estranho correu o olhar em derredor, emitindo algo corno vibrações
magnéticas, que partiam dos olhos dele e entravam pelos olhos dos que o
fitavam. Houve momentos de pânico; alguns pediram que deixasse de fazer o
que planejara; receavam que a barca fosse a pique, ou houvesse desmaios a
bordo.
– Mantenho relações com muitas pessoas da vossa terra, inclusive com seu
conhecido Professor Huberto Rohden, que reside em São Paulo.
Mensagens mentais eram, ainda há pouco, objeto de crença. Hoje fazem parte
da parapsicologia. Mas essas mensagens sempre foram possíveis e, para
determinadas pessoas, são reais. Depende do grau da receptividade cerebral.
O nosso planeta Terra parece ser uma espécie de escola primária, ou mesmo
um jardim de infância, em comparação com outras entidades, que talvez se
achem no plano de Universidade Cósmica.
Será que algum de nós tem certeza da paternidade exclusiva das suas idéias e
das suas intuições?
Será que nós não somos “inspirados” – mesmo sem ter relações conscientes
com seus colegas cósmicos?...
Mas, na próxima noite, ela ouve novamente a voz da falecida filha, que, desde
o dia da morte, lhe falava de noite, enquanto a mãe dormia. (Dona K. não é
espírita, ela é oficialmente católica, embora raras vezes vá à igreja). Nessa
noite, a voz da filha foi mais incisiva do que nunca:
– ?...
– Por que mamãe se sente tão infeliz, quando eu sou tão feliz?
– ?...
– Infeliz é aquela mãe que você vai encontrar amanhã, porque a filha dessa
mãe é muito infeliz.
E este era, precisamente, o meu dentista. Dona K. pede que a atenda com a
máxima urgência, e explica as razões. Mas o meu dentista costuma ter todas
as horas tomadas já com duas semanas de antecedência. Entretanto, diz a
secretária do dentista, ocorreu uma desistência justamente nesse dia; Dona K.
pode vir às 9,30 hs.
E antes das 9,30 dona K. está sentada na salinha de espera, ao lado de outra
senhora. E essa outra senhora, desconhecida, vendo que dona K. está de luto,
pergunta se faleceu seu marido.
– Não – responde dona K. – Faleceu minha única filha... minha filha adorada...
– É porque a Sra. não sabe o que aconteceu com minha filha. Ela era noiva de
um médico, aqui em São Paulo. Quase em vésperas do casamento, ela foge
para o Rio com um aventureiro, de quem se apaixonou... Isto foi no ano
passado. Agora foi abandonada pelo aventureiro, e estava grávida. Praticou
aborto, e está respondendo a um processo por causa desse aborto. Não seria
melhor mesmo que morresse duma vez?
– Estou, sim, porque faleceu minha única filha, minha filha adorada. Já estou
um pouco consolada, porque encontrei um livro maravilhoso, que me dá forças.
Desejaria tanto falar com o autor deste livro; mas já me informaram que o autor
é um filósofo alemão falecido há muito tempo.28
28. Muitos me consideram alemão, por causa do meu sobrenome “Rohden”, quando, na
realidade, sou brasileiro nato, embora nato, embora neto de antepassados alemães. Dona K.
julga que meu livro Porque Sofremos seria tradução de algum original alemão.
– Que livro é esse, e qual o autor? – perguntou a secretária.
– Como? Que está dizendo? Esse homem vive ainda? E mora em São Paulo?
A Sra. tem o telefone dele?
Nessa mesma tarde fui chamado a me encontrar com a ex-suicida dona K.,
que, no meio de muitas lágrimas, me contou tudo que acabo de escrever, e
muito mais, porque ela fala que nem cachoeira.
***
1 – Mentalidade materializada
Anos atrás, fui convidado para dar uma série de conferências em Campo
Grande, Estado de Mato Grosso. Numa dessas palestras havia eu mencionado
a estranha magia mental de Moisés, que, segundo a Bíblia, materializou, pelo
poder da mente, forças imateriais (“matéria descongelada”, diria Einstein), a fim
de obrigar o faraó a deixar partir o povo hebreu escravizado. Mas os magos do
Egito neutralizaram nove das dez pragas lançadas por Moisés. Por fim
conseguiu Moisés materializar o chamado “anjo exterminador”, entidade astral
mente-guiada que, numa única noite, matou todos os primogênitos dos
egípcios, fazendo phase (omissão) com os hebreus, cujas portas estavam
assinaladas com sangue de cordeiro.
Expliquei à vidente de que se tratava, pois ela de nada sabia. Mas o que fazer?
Deixei de ser ego-pensante por uns momentos e permiti ser cosmo-pensado:
aceitaríamos para o grupo dos devocionais mais uma pessoa, caso alguém se
apresentasse espontaneamente como o décimo segundo. Daí a pouco, um
homem da nossa turma veio ter comigo, indagando de que se tratava e,
sabendo da idéia da Santa Ceia mas ignorando o resto, perguntou se podia
tomar parte na cerimônia. Aceitei-o. E ele, até hoje, não sabe que preencheu o
lugar de Judas Iscariotes, o ex-traidor.
No dia seguinte, ainda bem escuro (pois era em pleno inverno) o grupo
devocional de 12 pessoas, mais eu, cada um com a sua velinha acesa dirigiu-
se para o fundo do mato, onde, ao pé da gruta, ao som da fonte borbulhante,
fiz a consagração do pão e do vinho, consoante a ordem do Mestre “fazei isto
em memória de mim”, e distribuí aos presentes os elementos consagrados.
Por muitos anos, depois de regressar ao Brasil não mais tomei parte em
reuniões dessa natureza, que faziam parte da nossa filosofia e parapsicologia.
Não encontrava, aqui no Brasil, oportunidade de estudar cientificamente,
filosoficamente, fenômenos dessa natureza; e reuniões de outro caráter não
me interessavam.
Nesses últimos anos, porém, voltei a tomar parte em algumas dessas reuniões,
a fim de completar o quadro dos meus estudos de Filosofia Univérsica. Durante
anos a fio, realizava eu, semanalmente, e depois quinzenalmente, aulas de
Filosofia Cósmica e Filosofia do Evangelho no Rio de Janeiro. Certo dia, atendi
ao convite de uns amigos para tomar parte em reuniões de estudo, que, para
mim, faziam parte integrante de parapsicologia, embora para outros talvez
tivessem outro caráter.
Fiz, e fizemos, todo o possível para termos plena certeza da realidade objetiva
da presença desses fenômenos, porque o que nos interessava sobretudo não
era esta ou aquela doutrina ou interpretação, mas a objetividade dos próprios
fenômenos; e esta, posso afirmar, está fora de qualquer dúvida. Não se tratava
de truques, nem de auto-sugestão, como, aliás, eu já sabia em virtude das
nossas experiências em Graz e Braunau, presididas então pelo nosso
professor de Cosmologia, padre Aloísio Gatterer, jesuíta, autor de diversas
obras sobre o assunto. Tenho aqui o livro dele, em alemão: O Ocultismo
Científico e suas Relações com a Filosofia Moderna. O padre Gatterer admite a
realidade objetiva dos fenômenos, embora lhes dê interpretação que não é a
mais corrente aqui no Brasil.
Quando Atanásio vinha ter comigo, eu tomava entre as minhas as mãos dele e
lhe fazia uma série de perguntas, que ele respondia, com aquela voz meio
assobiada. Uma noite lhe perguntei por que ele falava assim, ao que me
respondeu que Yolanda, que lhe fornecia o material, não lhe dera material
suficiente para formar uma boca perfeita. Atanásio aparecia sempre só com as
mãos e parte do rosto perceptíveis; o resto ficava na zona astral, da energia
imaterial não-congelada”.
Numa dessas noites perguntei a Atanásio se tinha morrido, pois constava que
perecera no campo de futebol, em consequência de um acidente. Respondeu-
me, galhofeiro como sempre, que, se tivesse morrido, não estaria aí a falar
comigo; só perdera a sua roupagem material, mas não a vida, pois a vida não
pode morrer.
Quis saber de Atanásio se, lá no mundo dele, a gente comia como aqui, ao que
ele me respondeu que todos comiam, mas não como aqui, onde o nosso corpo
tem de se alimentar com substâncias materiais. A comida deles era de outro
caráter. Para ajudá-lo, perguntei se o alimento dos astrais era algo como geléia
real (sou apicultor e lido muito com essa substância misteriosa). Respondeu-
me que era algo parecido. Depois acrescentou: “Aliás, isto de geléia real é
apenas uma das muitas substâncias que os homens da terra ainda vão
descobrir para sua alimentação”.
É por esta razão que, anos atrás, respondendo a uma entrevista da imprensa
de Recife, eu disse que não acreditava na “filosofia” do espiritismo, afirmação
essa que muitos nunca me perdoaram. Afirmar que a reencarnação oferece
nova oportunidade para a criação de valores, é falta de lógica, de filosofia, de
coerência. Como se essa oportunidade não existisse sem a reencarnação!...
Será que os valores dependem da matéria, do corpo físico, que é ferro, cálcio,
fosfato, hidrogênio, oxigênio, etc.? A criação de valores depende unicamente
do meu livre-arbítrio, quer dentro quer fora da matéria. Em qualquer parte do
cosmos, em qualquer ambiente – material, etérico, astral, causal, mental, etc. –
funciona o meu livre-arbítrio. O respectivo ambiente pode facilitar ou dificultar o
exercício do meu livre-arbítrio, criador de valores, mas nenhum ambiente o
pode impossibilitar. Em qualquer ambiente, dentro ou fora do mundo material,
posso afirmar, como o poeta inglês do “Invictus”: “Eu sou o senhor do meu
destino, eu sou o comandante da minha vida”.
Certa vez, pedi a Dolores que me buscasse, como prova da sua presença real,
um botão de rosa; ela hesitou por uns momentos; mas, em breve, me entregou
dois botões, de tamanho diferente, que levei para casa. Colheu-os, certamente,
no jardim da casa do nosso amigo onde estávamos, mas ninguém compreende
por onde os tenha introduzido, quando todas as portas estavam fechadas, e as
chaves conosco. Nem janela aberta havia. Desmaterialização e
rematerialização? Em teoria, sabemos que “matéria é energia congelada”, mas
ignoramos como o congelado se descongela e se recongela.
É voz geral que o médico alemão Fritz, falecido há anos, é que realiza as
estranhas operações através do veículo de Arigó.
***
Nenhum homem sensato nega estes e outros fatos – mas ninguém os sabe
explicar satisfatoriamente. As duas hipóteses mais conhecidas – a espírita e a
científica – continuam a ter os seus grandes pontos de interrogação. A própria
equipe americana confessou esse impasse. A dificuldade está no seguinte: o
homem continua a ser o grande “desconhecido”, de que escreveu Aléxis Carrel.
Por mais que se tenha dito e escrito sobre o homem, ninguém sabe até hoje o
que é, afinal de contas, esse ser estranho. Não conhecemos a nossa
verdadeira origem. Não sabemos por que só nós, e mais ninguém, possuímos
inteligência analítica. Não sabemos, pela ciência, qual o nosso futuro e qual o
nosso destino. Uns poucos sabem o que é homem, mas esses poucos não o
dizem; porque o que se pode dizer ou pensar não é a verdade; a verdade é
aquilo que não se pode dizer nem pensar – os árreta rémata (ditos indizíveis)
de que fala Paulo de Tarso, depois de ter sido arrebatado ao “terceiro céu”.
Se, algum dia, a Filosofia Univérsica tiver lucificado o homem, ainda hoje tão
opaco, ou, apenas ligeiramente iluminado – então talvez possamos projetar luz
mais abundante sobre esses problemas penumbrais do presente.
Cristo Histórico
ou Cristo Interno?
Foi então que me apareceu – caído do céu –, um antigo leitor e aluno meu, do
Rio Grande do Sul, mas que há anos estava morando aqui em São Paulo,
oferecendo-se para editar os meus livros. Dei-lhe o manuscrito das minhas
viagens ao Oriente Minhas Vivências na Palestina, no Egito e na Índia.
Por decisão do editor o livro foi lançado na Associação Cristã de Moços – ACM,
da rua Nestor Pestana, em São Paulo, em julho de 1970, com um jantar para
180 talheres, e cujas fotos estão guardadas aqui em casa.
“Professor Rohden, à noite passada tive um sonho muito estranho. Penso que
é simbólico. Parece ter relação com o meu trabalho de editor. Sonhei, com
incrível nitidez de imagens, que eu havia chegado a uma estalagem antiga, à
beira da estrada. Era uma casa de madeira, grande, muito sólida. Tinha um
clima de construção da Idade Média. Vi-me dentro de uma sala muito ampla,
parecida com um refeitório de mosteiro, onde havia uma mesa tosca, de
madeira, muito comprida, talvez com uns 20 metros. Eu entrei por trás e vi,
sentado à cabeceira da mesa, de costas para mim, um homem vestido com um
hábito de monge, de cor cinza. Um capuz cobria-lhe a cabeça. Eu estava atrás
da pessoa. Não lhe via o rosto. Mas sentia que aquele ser sentado à minha
frente era alguém diferente, de uma dignidade impressionante.
Não havia mais ninguém na grande sala. Então compreendi, de repente, que
aquele ser, sentado à cabeceira daquela mesa, com grande majestade
espiritual, de costas para mim, leve e ao mesmo tempo sólido como uma rocha,
era Jesus, o Cristo. Eu ‘sentia’ a certeza disso. Em seguida ouvi uma voz
silenciosa, saída de dentro de mim, mas era o homem à minha frente que
pronunciara: ‘Sente-se. O banquete está servido.’ Eu me admirei, pois não
havia nada sobre a mesa. Então eu compreendi, no sonho: é uma mensagem,
é uma mensagem de plenitude e colheita. E isso se relaciona com os livros do
professor Rohden. Depois, tudo se esvaziou. De manhã, ao acordar, as
imagens do sonho não saíam da minha cabeça, até agora. Parecia tudo muito
real. Eu estou cheio de um grande espanto.”
Ficamos longo tempo em silêncio. Depois eu lhe disse algumas palavras e logo
o carro, que me levaria ao ashram, chegou. Despedimo-nos e cada um foi para
o seu lado.
Hoje, muitos anos depois, conto o que naquela manhã não contei ao meu
editor e a ninguém:
Huberto Rohden
Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil
em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia
e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg
(Holanda) e Nápoles (Itália).
Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e
dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.
Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado
para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University
(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade
japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi
nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não
tomou posse.
Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia
alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos
definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com
a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.
Maravilhas do Universo
Alegorias
Ísis
Por mundos ignotos
Coleção Biografias
Paulo de Tarso
Agostinho
Por um ideal – 2 vols. autobiografia
Mahatma Gandhi
Jesus Nazareno
Einstein – o enigma do Universo
Pascal
Myriam
Coleção Opúsculos
Catecismo da filosofia
Saúde e felicidade pela cosmo-meditação
Assim dizia Mahatma Gandhi (100 pensamentos)
Aconteceu entre 2000 e 3000
Ciência, milagre e oração são compatíveis?
Autoiniciação e cosmo-meditação
Filosofia univérsica – sua origem sua natureza e sua finalidade