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Difícil é educá-los

Santana Castilho

A epígrafe é título de livro. Simples, como o são todas as coisas importantes. O


livro que David Justino escreveu não será suficiente para catalisar um debate e um
compromisso social sem os quais continuaremos a estragá-los. Mas é mais um
passo nesse percurso meritório a que a Fundação Francisco Manuel dos Santos se
entregou. O livro é um contributo sério para que algum dia comecemos a educá-
los. Recomendo a sua leitura a todos os que se interessam por eles. Eles são os
nossos estudantes.

A amizade que me liga a David Justino foi construída, era ele ministro da Educação,
sobre discussões longas e francas que tivemos a propósito das medidas de política
que ia lançando. Muitas vezes fiquei perplexo, e assim lho dizia com frontal
franqueza, face à dissonância que encontrava entre o pensamento dele e as
medidas que acabavam por ganhar forma. A resposta era invariavelmente a
mesma: os constrangimentos de contexto político e os estranhos equilíbrios, que
nunca entendi, de que o ministro não podia dispensar o professor. Que pena tenho
que David Justino, ministro, não tenha feito aquilo que David Justino, professor,
hoje defende no seu livro. Estaríamos, sem qualquer dúvida, a educá-los melhor.

Na apresentação do livro, David Justino afirma haver uma pergunta decisiva por
responder em Portugal: o que queremos do sistema educativo? Parece retórica
recorrente, mas não é. Outrossim é chave para podermos fazer diferente. David
Justino clama pela necessidade de definirmos uma visão de futuro para o país, sem
a qual não poderemos orientar o sistema de ensino para o modelo de sociedade
que queiramos construir. E lamenta que o debate nunca se tenha libertado do
imediato nem ultrapassado o ambiente da polémica permanente, dominada pela “
busca obsessiva da acção, por mais efémera que esta se revele”. David Justino tem
razão. Portugal está no limiar de uma viragem. Ou se afunda e perde a pouca
soberania que lhe resta, ou muda de paradigmas para se regenerar. Mas não o
pode fazer sem refundar o seu sistema educativo. Há medidas imediatas que
podem alterar, de um dia para o outro, a penosa vida das escolas. Assim o próximo
ministro da Educação tenha reflexão produzida que lhe permita fazer rápido o que é
urgente. Mas o importante passa por um debate social que nunca houve e responda
à pergunta que David Justino formulou. Um ministro competente terá certamente
ideias fortes e formadas. Mas falhará se não perceber que as não pode impor. Terá
que demonstrar. Terá que liderar um processo de adesão colectiva, que acolha os
outros. Terá que transformar o confronto permanente em cooperação constante e
duradoira. Porque é esse o único caminho para educá-los.

David Justino volta a ter razão quando sublinha o papel determinante que o valor
que a sociedade atribui à escola tem nos resultados escolares. Cita o sucesso
educativo de países emergentes da Ásia e atribui-os a uma forte “tradição com
contornos éticos e religiosos de inspiração confucionista e budista, que valoriza o
ensino e o papel social dos letrados”. “A disciplina, a autoridade e o respeito pelos
mais sábios” são valores que o autor afirma fazerem “parte dessa dimensão ética e
moral, que sempre esteve presente no ensino público” daqueles países. E retoma a
ideia quando analisa os resultados de países como a Hungria, República Checa,
Polónia e Eslovénia, “fortemente identificados pelo papel concedido à educação nos
antigos regimes pro-soviéticos”. Eis outro dedo numa enorme ferida. Desde 2005
que a acção governativa se empenha em desvalorizar os professores aos olhos da
sociedade e em promover iniciativas que transformaram o sistema de ensino na
antítese dos valores citados. Há, assim, uma outra regeneração que urge: a do
Portugal dos valores. É urgente remover os vendedores de fantasias; dizer basta
aos que se apropriaram irresponsavelmente do Estado; despedir os que se serviram
e abrir portas aos que queiram servir. Esta proposição não é romântica. É
indispensável para devolver aos cidadãos a confiança no Estado.

David Justino tem ainda razão quando analisa os planos de estudo e os programas
(chegando a afirmar que no 1º ciclo do básico “poderemos estar perante uma clara
inadequação entre o que se pretende ensinar e o que é possível aprender”), o
ensino profissional, o fascínio pela tecnologia (que pode conduzir à desvalorização
do que é fundamental), a promoção da equidade social (cuja “melhor forma para
atingir esse fim não será descer ao aluno, mas fazê-lo subir a um nível superior de
capacidade intelectual”) e a autonomia das escolas.

Mas também há aspectos de que discordo. São vários e têm um fio condutor: a
valorização que David Justino confere a muitos indicadores económicos e,
sobretudo, as conclusões a que chega a partir de determinados dados estatísticos.
Quando as li, ocorreu-me mesmo o velho aforismo: há as mentiras sem
importância, as graves e … a estatística. Dou um exemplo: usando um gráfico da
OCDE, que apresenta a despesa anual por estudante em relação ao PIB por
habitante, David Justino afirma que somos o país que mais gasta em termos
relativos. Ultrapassamos todos os 37 do gráfico. Consideremos, porém, que um
livro, um computador ou um quilo de carne não são mais baratos em Lisboa que no
Luxemburgo. Então, existe um outro indicador, bem mais relevante, o PIB por
habitante em padrões de poder de compra … que inverte completamente a leitura
de David Justino. É que o nosso exprime-se pelo número 79 e o do Luxemburgo
pelo número … 255.

* Professor do ensino superior. s.castilho@netcabo.pt

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