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Resumo
Abstract
1. INTRODUÇÃO
5 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 28-29.
6 Ibidem, p. 16.
7 Ibidem, p. 29.
8 Ibidem, p. 16.
9 Ibidem, p. 31.
violação do direito ao voto ou de outros direitos políticos ou civis), ou de oportunidades
inadequadas que algumas pessoas têm para realizar o mínimo do que gostariam
(incluindo a ausência de oportunidades elementares como a capacidade de escapar
de morte prematura, morbidez evitável ou fome involuntária)”.
Mister destacar a este ponto que, assim como Amartya Sen, que
definia o desenvolvimento focado na liberdade, decorrente da expansão das
capacidades, o economista brasileiro Celso Furtado, de igual sorte sustentava que o
desenvolvimento referir-se-ia diretamente à ideia de realização das potencialidades
humanas, de modo que o desenvolvimento aconteceria quando a expansão da
capacidade criativa dos homens conduzisse à sua autodescoberta, com a ampliação
de seu mundo em relação a valores materiais e espirituais10, conceito que se aproxima
do alargamento das capacidades humanas (Sen), ao passo em que ambos se
relacionam à ideia de desenvolvimento focado em uma dimensão humana e social.
Nesse passo, impende destacar que o conceito de desenvolvimento
de Furtado não somente refutava uma análise sob a prespectiva do “desenvolvimento
econômico”, calcado na acumulação de riquezas, mas ainda consignava que
justamente essa ótica reforçava, inerente ao sistema capitalista, demonstrava a ideia
de complementariedade entre o desenvolvido e o subdesenvolvido, relação
assimetrica que se caracterizava como a base do subdesenvolvimento11.
Pois bem, ao traçar tal definição de desenvolvimento, voltada à
eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das
pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente e, portanto, ao propor
o enfoque da expansão de liberdades, Amartya Sen mudou o conteúdo do
desenvolvimento, tornando-o mais complexo e adequado à avaliação da sociedade
atual.
Ora, a despeito da aparente simplicidade da noção de
desenvolvimento assentada por Sen, certo que por meio de uma análise crítica
10 FURTADO, Celso. El desarrollo como proceso endógeno. Enero - abril, 2011 apud SOUZA, Dellany
Maria Dantas et al apud O desenvolvimento como alargamento das capacidades humanas:
aproximações entre Amartya Sen e Celso Furtado; Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional,
Blumenau, v. 2, p. 47-58, 2014. Disponível em:
https://www.academia.edu/12746501/O_desenvolvimento_como_alargamento_das_capacidades_hu
manas_aproxima%C3%A7%C3%B5es_entre_Amartya_Sen_e_Celso_Furtado.
11 FURTADO, Celso. O Mito do Desenvolvimento Econômico; Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1974, p.
94.
depreende-se que tal concepção implica, em verdade, que cada indivíduo assuma a
responsabilidade por suas próprias escolhas, definindo em processos amplos de
discussão e decisão que espécie de vida deseja levar, a fim de que coletivamente se
promova o desenvolvimento.
Isso posto, depreende-se que a partir dessa concepção de
desenvolvimento, a condição de agente dos indivíduos torna-se elemento central no
que concerne ao trato dos problemas e privações a que estão submetidos,
destacando-se, entretanto, que a dita condição de agente se encontra limitada pelas
oportunidades sociais, políticas e econômicas de que o indivíduo dispõe.
Importante destacar que o termo “agente” adotado por Sen12,
consoante esclarecido pelo próprio, não se está sendo utilizado na concepção que
quem age em nome de outro, que lhe é empregada na economia e na teoria dos jogos,
mas sim em uma significação mais antiga e maior, no sentido “ [...] de alguém que age
e ocasiona mudança e cujas realizações podem ser julgadas de acordo com seus
próprios valores e objetivos, independentemente de as avaliarmos ou não também
segundo algum critério externo”.
Ademais, consoante assevera Porsse13, o termo “agente” utilizado por
Sen implica em uma acepção:
12 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 34.
13 PORSSE, Melody de Campos et al; A Abordagem das Capacitações: Um Modelo Alternativo para as
Ações Públicas In Redes, Santa Cruz do Sul, v. 13, n. 1, p. 159- 181, 2008., p. 142. Disponível em:
https://online.unisc.br/seer/index.php/redes/article/view/196/1483.
Levando-se em consideração o exposto deprende-se que, de acordo
com a abordagem de Amartya Sen, a expansão da liberdade (substantiva) se trata,
ao mesmo tempo, tanto do fim primordial quanto do principal meio do
desenvolvimento14, assumindo um papel ao mesmo tempo constitutivo e instrumental
na construção do desenvolviment e, em consequência, na construção do indivíduo
como agente transformador.
Como leciona Amartya Sen15, existem duas razões distintias para
determinação da liberdade individual como elemento central no processo de
desenvolvimento, relacionadas respectivamente a razão avaliatória, segundo a qual o
progresso necessita ser avaliado verificando-se se houve aumento da liberdade das
pessoas; e a razão da eficácia, de acorco com a qual o desenvolvimento depende da
livre-condição de agente das pessoas.
Mas então, quais seriam os fatores que determinariam o aumento da
liberdade individual?
Pois bem, segundo modelo téorico desenvolvido por Sen, a liberdade
se trata de uma função direta das capacidades, razão pela qual a expansão das
capacidades implicaria, por consequência, em uma expansão das liberdades, e
exatamente nesse ponto se encontra o fundamento de Amartya Sen ter elaborado seu
argumento central em torno da ideia do desenvolvimento como liberdade.
Os limites da expansão das liberdades (substantivas), que decorrem
das capacidades, são formulados consoante as desvantagens individuais existentes
em função da limitação das capacidades possuídas por cada pessoa. Assim, as
capacidades podem ser definidas como um conjunto de vetores de funcionamentos
que um indivíduo pode realizar, refletindo tanto a oportunidade quanto a restrição no
que concerne à escolha dentre diversos estilos de vidas possíveis e, nessa toada,
impende trazermos a baila a valiosa lição de Amartya Sen16 acerca da capacidades,
no sentido de que:
14 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 25.
15 Ibidem, p. 17.
16 SEN, Amartya Kumar; O Desenvolvimento como Expansão de Capacidades; Lua Nova, nº 28-29,
17 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 105.
18 SEN, Amartya Kumar; O Desenvolvimento como Expansão de Capacidades; Lua Nova, nº 28-29,
Ao avaliarmos nossas vidas, temos razões para estarmos interessados não apenas
no tipo de vida que conseguimos levar, mas também na liberdade que realmente
temos para escolher entre diferentes estilos e modos de vida. Na verdade, a
liberdade para determinar a natureza de nossas vidas é um dos aspectos valiosos
da experiência de viver que temos razão para estimar. 20
20 SEN, Amartya, Kumar; A Ideia de Justiça; 2. ed. Tradução por Ricardo Doninelli Mendes; Rio de
Janeiro: Record, 2008, p. 194.
21 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
que uma pessoa pode considerar valioso fazer ou ter. os funcionamentos valorizados podem variar dos
elementares, como ser adequadamente nutrido e livre de doenças evitáveis, a atividades ou estados
pessoais muito complexos, como poder participar da vida da comunidade e ter respeito próprio” in SEN,
Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São Paulo:
Companhia das Letras, 2016, p. 95.
23 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
24 SEN, Amartya Kumar; Desigualdade Reexaminada; 2. ed. Tradução por Ricardo Doninelli Mendes;
Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 39.
25 SEN, Martya Kumar; A Ideia de Justiça; 2. ed. Tradução por Ricardo Doninelli Mendes; Rio de
Competitive imbalance leading to boring games and the ruinous escalation of player
salaries play the dominant role among the dangers cited in all attempts to regulate
professional team sports since the introduction of the first professional leagues in
the USA. Throughout their history, American professional team sports have
employed a wide array of regulations against these dangers. Reserve clauses
limiting free agency of players were the most prominent example in this context. The
reserve clause dissolved in the 1970s, because of players’ unions, and the anti-trust
threats.30
26 DIETL, Helmut et al ;The Combined Effect of Salary Restrictions and Revenue Sharing in Sports
Leagues; Economic Inquiry Vol. 49, Issue 2, p. 447-463, 2011. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/102_ISU_full.pdf.
27 Idem.
28 A cláusula de reserva se tratava de uma regulação contida no contrato de jogadores por meio da
qual este declarava que, ao final do contrato, seus direitos seriam retidos pela equipe contratante,
ficando impedidos de formalizarem contrato com outro clube sem a liberação de seu contratante, que
poderia, ainda, decidir por transferí-lo, negociá-lo ou vende-lo.
29 DIETL, Helmut et al; Salary Cap Regulation in Professional Team Sports; University of Zurich, ISU
dos salários dos jogadores desempenham um papel dominante entre os perigos citados em todas as
tentativas de regulamentar os esportes coletivos profissionais desde a introdução das primeiras ligas
profissionais nos EUA. Ao longo de sua história, os esportes de equipe profissionais americanos
empregaram uma ampla gama de regulamentações contra esses perigos. Cláusulas de reserva
limitando a livre agência de jogadores eram o exemplo mais proeminente neste contexto. A cláusula de
reserva foi dissolvida na década de 1970, por causa dos sindicatos dos jogadores e das ameaças
antitruste”. DIETL, Helmut et al; Salary Cap Regulation in Professional Team Sports; University of
Zurich, ISU Working Paper Series v. 86, 2010. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/86_ISU_full.pdf.
atletas tornaram-se free agents31 e, portanto, livres para a realização de novo contrato
com seus antigos clubes, ou então com outros que lhes oferecessem contratação.
Ocorre que, essa situação, que veio a ser denominada “Restricted
Free Agency”, acabou culminando com uma verdadeira guerra de lances pelos
melhores jogadores, situação que acabou por representar uma considerável
vantagem às equipes mais abastadas, denominados de large-market, que possuiam
maiores condições econômicas para a manutenção de folhas de pagamento
astronômicas, ocasionando desequilíbrio competitivo em razão do efeito de
“acumulação” de talentos esportivos.
Assim, justamente ante tal cenário, gize-se negativo ao próprio
desenvolvimento esportivo, fora implantada o instrumento de regulação denominado
salary cap, que pode ser conceituado como um teto salarial que limita o montante total
de salários pagos por um clube aos seus jogadores32, o qual geralmente é
estabelecidos com base na receita auferida pela liga esportiva33, e imposto aos clubes
por meio de acordos coletivos, os chamados Collective Bargaining Agreements (CBA),
que por sua vez decorrem de negociações entre sindicatos de representação de
classe dos jogadores e os órgãos de administração das respectivas ligas34.
Pois bem, ainda no tocante aos motivos que levam as ligas à adoção
do salary cap, importante consignarmos os esclarecimentos de Dietl Helmut35, para
31 O termo free agente, ou agente livre em vernáculo, trata-se de uma nomenclatura para designar um
jogador que não possui restrições de contratação e, portanto, pode livremente ser contratado por
qualquer clube ou franquia.
32 Além do salary cap que, como visto, se trata de um teto de gastos imposto aos clubes, muitos acordos
coletivos ainda preveêm o estabelecimento de um piso salarial mínimo aos atletas (floor). DIETL,
Helmut et al; The Effect of Salary Caps in Professional Team Sports on Social Welfare; The B.E.
Journal of Economic Analysis and Policy, v. 9, p. 129-151, 2009. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/72_ISU_full.pdf.
33 A despeito de ser mais usual que o salary cap seja fixado tendo como base em base da receita
auferida pela liga, existem outros modelos de paramatrização (v.g. a estipulação de limites individuais
aos clubes, com base em sua própria receita).
34 DIETL, Helmut et al; The Effect of Salary Caps in Professional Team Sports on Social Welfare; The
B.E. Journal of Economic Analysis and Policy, v. 9, p. 129-151, 2009. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/72_ISU_full.pdf.
35 Em tradução livre: “As ligas que adotaram o teto salarial geralmente o fazem porque acreditam que
o acréscimo de talentos por equipes mais ricas afeta a qualidade do produto esportivo que eles querem
vender. Se apenas um ou um punhado de equipes dominantes for capaz de vencer de forma
consistente e desafiar o campeonato, muitos dos competidores serão eliminados pela equipe superior,
reduzindo a atratividade do esporte para os torcedores no estádio e os telespectadores na televisão. A
receita da televisão é uma parte importante da renda de muitos esportes em todo o mundo, e quanto
mais equilibrados e empolgantes forem os concursos, mais interessante será o produto televisivo e
maior será o valor dos direitos de transmissão televisiva. Uma liga desequilibrada também ameaça a
viabilidade financeira dos times mais fracos, porque se não houver esperança de, a longo prazo, sua
quem o instrumento representa o mais recente estado de desenvolvimento na luta
pelo controle de custos e pela promoção do equilíbrio competitivo, e que por sua vez
consigna o seguinte, in verbis:
The leagues that have adopted salary caps generally do so because they believe
letting richer teams accumulate talent affects the quality of the sporting product they
want to sell. If only one or a handful of dominant teams are able to win consistently
and challenge for the championship, many of the contests will be blowouts by the
superior team, reducing the sport's attractiveness for fans at the stadium and viewers
on television. Television revenue is an important part of the income of many sports
around the world, and the more evenly matched and exciting the contests, the more
interesting the television product, and the higher the value of the television broadcast
rights. An unbalanced league also threatens the financial viability of the weaker
teams, because if there is no long-term hope of their team winning, fans of the
weaker clubs will gravitate to other sports and leagues.
The stated rationale for caps focus on two main objectives: increasing competitive
balance ainda maintaining financial stability. The concerne for competitive balance
describes one of the most important peculiarities of professioanl team sports. It is a
wideheld belief tha certain degree of uncertanty about the outcome is necessary to
ensure an entertaining competition. Salary caps prevent large-market clubs froem
becoming too dominant by helping small-market clubs to keepstar players who would
equipe vencer, os torcedores dos clubes irão gravitar para outros esportes e ligas.” DIETL, Helmut et
al; The Effect of Salary Caps in Professional Team Sports on Social Welfare; The B.E. Journal of
Economic Analysis and Policy, v. 9, p. 129-151, 2009. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/72_ISU_full.pdf.
36 Em tradução livre: “O raciocínio declarado para o teto concentrar-se em dois objetivos principais:
37 QUIRK, James; FORT, Rodney; Pay Dirt: The Business of Professional Team Sports; Princeton,
NJ: Princeton University Press,1992 apud DIETL, Helmut et al; Salary Cap Regulation in Professional
Team Sports; University of Zurich, ISU Working Paper Series v. 86, 2010. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/86_ISU_full.pdf.
38 FORT, Rodney; QUIRK, James; Cross-Subsidization, Incentives, and Outcomes in Professional
Team Sports Leagues; Journal of Economic Literature 33, 1995, 1265.1299 apud DIETL, Helmut et
al; Salary Cap Regulation in Professional Team Sports; University of Zurich, ISU Working Paper
Series v. 86, 2010. Disponível em: http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/86_ISU_full.pdf.
39 KÉSENNE, Stefan; The Impact of Salary Caps in Professional Team Sports; Scottish Journal of
sendo uma um clube de large-market e a outra de samll-market, e com a implantação de salary cap
do equilíbrio competitivo, mas também na distribuição dos salários dos jogadores e,
ainda, no aumento do lucro, tanto dos times grandes quanto dos pequenos.
Ocorre que tal objetivo, de aumento do equilíbrio competitivo, pode
ser observado tanto sob um viés primário e finalístico, quanto secundário e
instrumental, como meio para a realização de objetivos de caráter econômico. Explica-
se.
No primeiro caso, ou seja, por meio de uma análise pautada em uma
visão do salary cap como instrumento voltado ao aumento do equilíbrio competitivo,
verifica-se que como a regulação econômica tem o condão de promover a
maximização da qualidade esportiva e, em ultimos termos, culminando com o próprio
desenvolvimento da liberdade em decorrência da expansão das capacidades dos
clubes com menor poder econômico.
E, nesse passo, beira a ironia conceber que um instrumento que visa
a aumento de equilíbrio competitivo por meio de uma regulação do poder econômico
tenha sido concebido nos Estados Unidos, país tido como um dos expoentes – se não
o maior – do capitalismo e do liberalismo.
Entretanto, temos que levar em consideração que o equilíbrio
competitivo ainda pode ser observado por um viés secundário, ou seja, como meio
para concretização de um fim.
Ora, sendo certo que o equilíbrio competitivo tem o condão de
maximizar a qualidade esportiva, por certo que, a contrariu sensu, o desequilíbrio
importa na minimização da qualidade das ligas, objeto que, sob a ótica de mercado,
se trata de um produto a ser vendido e, desse modo, certo que a redução na
competitividade importa em perda de atratividade aos olhos dos torcedores – e
consumidores – que, frente a resultados esperados em consequência da existência
de clubes dominantes, podem vir a perder interesse e migrar para outras ligas,
gerando grandes perdas financeiras, não somente decorrentes da redução na venda
de ingressos aos estádios, mas, de igual sorte, na venda de produtos e,
principalmente, de espaço nas grandes mídias, ou seja, quanto mais equilibrados e
empolgantes forem as competições, mais interessante será o produto e, em
nos moldes utilizados pela NBA, isto é, definido-se o limite em relação a porcentagem fixa das receitas
totais da liga na temporada anterior. In KÉSENNE, Stefan; The Impact of Salary Caps in Professional
Team Sports; Scottish Journal of Political Economy 47, 2000, 422.430. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/1467-9485.00171.
consequência, maiores serão os lucros.
Outrossim, há de se destacar a existência de outro argumento de
cunho econômico para a implantação do salary cap, qual seja, evitar o aumento
excessivo do salário dos principais jogadores, haja vista que, inexistente um limite de
gastos, certamente o cenário esportivo tornaria a vivenciar período similar àquele
entre o fim das reserve clausules e a implantação do teto de gastos, forçando clubes
a investirem cada vez mais em salários, em uma espécie de leilão, até que os custos
se tornassem insustentáveis41.
Justamente nesse diapasão Késenne42 sustenta que o salary cap não
tem somente o condão de promover um aumento no equilíbrio competitivo, mas
também uma melhor distribuição salarial, ainda evitando a falência dos clubes em
decorrência de gastos com folha de pagamento, importando, na prática, em
manutenção de um percentual de lucro, encourajando a continuidade de
investimentos.
Ademais, certo que, ainda que sob esse viés instrumental, as
constatações tecidas importam, mesmo que tacitamente, no reconhecimento de que
um ambiente equilibrado seria economicamente mais fértil, razões que poderiam
justificar, guardadas as devidas proporções, os benefícios econômicos de um
equilíbrio social.
Assim, por meio desse breve escorço pudemos apresentar a ideia
geral relacionada ao salary cap e, principalmente, sua utilização como instrumento de
regulação econômica para aumento da capacidade competitiva dos clubes e, desse
modo, tecidas tais questões iniciais, impende promovermos uma abordagem do
instituto em comento sob a ótica da teoria de Amartya Sen, em especial no que
concerne ao desenvolvimento como processo de expansão das capacidades para
aumento da liberdade, o que passamos a fazer.
41 Processo que tem sido observado nas ligas européias de futebol, consoante destacado por Dietl
Helmut in DIETL, Helmut et al; The Effect of Salary Caps in Professional Team Sports on Social
Welfare; The B.E. Journal of Economic Analysis and Policy, v. 9, p. 129-151, 2009. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/72_ISU_full.pdf.
42 KÉSENNE, Stefan; The Impact of Salary Caps in Professional Team Sports; Scottish Journal of
43 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 28.
44 Ibidem, p. 29.
45 Em sua obra “Desenvolvimento Como Liberdade” Amartya Sen cita 5 (cinco) tipos de liberdades
instrumentais: i. Liberdades políticas; ii. disponibilidades econômicas; iii. oportunidades sociais; iv.
garantias de tranparência; e v. proteção social. In SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como
Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 25.
de um meio em proveito de alguma outra coisa, Sen cita Aristóteles 46, que em sua
obra Ética à Nicomaco destacou que a riqueza “[...]” evidentemente não é o bem que
estamos buscando, sendo ela meramente útil e em proveio de alguma coias”, ou seja,
apenas uma liberdade instrumental que, ligada às demais liberdades instrumentais,
pode contribuir para o aumento da liberdade em geral (substantiva).
Nesse mesmo sentido podemos citar a ideia de Ignacy Sachs47, que
assim como Amartya Sen, também afirma ser o crescimento econômico insuficiente
para assegurar o desenvolvimento, que, por sua vez, deve ser socialmente includente,
ecologicamente sustentável e economicamente sustentado, visando promover o bem-
estar e a realização das potencialidades humanas.
Atentos à tal perspectiva, certo que as facilidades econômicas
caracterizam-se como liberdades instrumentais, e que, portanto, não podem ser
concebidas como um fim em si mesmas, ao passo em que devem se traduzir em
meios para o aumento da liberdade geral, e assim, as liberdades econômicas somente
terão real relevância ao passo em que puderem influenciar e contribuir positivamente
na expansão das liberdade substantiva, de modo que, a contrariu sensu, uma vez
constatada a ausência de contribuição nesse sentido, certo que não terá atendido seu
papel, sendo, destarte, inócua a análise de de desenvolvimento calcada em tal
indicador.
Ora, como destacado anteriormente, a diferença entre as facilidades
econômicas dos clubes de ligas esportivas, ou seja, a desigualdade na extensão da
liberdade econômica de clubes considerados large-markets daqueles denominados
small-markets se trata de um exemplo que nos demonstra um cenário no qual a
liberdade instrumental não milita, de fato, em favor da expansão da liberdade, ao
passo em que, como se verificou, uma vez desregrado o mercado as facilidades
econômicas conduzem ao desequilíbrio competitivo e, em consequência, à diminuição
da própria liberdade esportiva, acarretando prejuízos à liga.
Pois bem, destarte depreende-se que o fio condutor da celeuma em
pauta se trata justamente da análise do efeito negativo das facilidades econômicas,
46ARISTOTELIS; The Nicomachean Ethics; ed.rev. trad; D. Ross, Oxford University Press, 180, p,7. in
SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 28.
47 SACHS, Ignacy; Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado; Rio de Janeiro:
48 SEN, Amartya Kumar; Desenvolvimento como Liberdade; Tradução por Laura Teixeira Motta; São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 146-147.
49 SEN, Amartya Kumar; A Ideia de Justiça; 2. ed. Tradução por Ricardo Doninelli Mendes; Rio de
50 SEN, Amartya Kumar; A Ideia de Justiça; 2. ed. Tradução por Ricardo Doninelli Mendes; Rio de
Janeiro: Record, 2008, p. 247-249.
51 Ibidem, p. 249.
da desigualdade de capacidades, certamente tem apelo sobre nossa atenção, mas
o mesmo acontece com o avanço geral das capacidades de todos. Ao negar a
concentração exclusiva na igualdade de capacidades, ou em considerações gerais
baseadas na capacidade, não desqualificamos o papel extremamente significativo
das capacidades na ideia de justiça (discutido acima, em especial nos capítulos 11-
13). A busca arrazoada de um elemento muito importante da justiça social, que não
desloque todo o resto, ainda pode ter um papel crucial no empreendimento de
melhorar a justiça.
52 DIETL, Helmut et al; The Effect of Salary Caps in Professional Team Sports on Social Welfare; The
B.E. Journal of Economic Analysis and Policy, v. 9, p. 129-151, 2009. Disponível em:
http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/72_ISU_full.pdf.
53 KÉSENNE, Stefan; The Impact of Salary Caps in Professional Team Sports; Scottish Journal of
54 KÉSENNE, Stefan; The Impact of Salary Caps in Professional Team Sports; Scottish Journal of
Political Economy 47, 2000, 422.430. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/1467-9485.00171.
somente possa ser traçada dentro de um mesmo universo.
Por fim, resta patente que a ideia em tela representa, em verdade,
efetiva demonstração de uma aplicação exitosa da teoria do desenvolvimento como
liberdade, exposta por Amartya Sen, e, em especial, de expansão das capacidades
na busca pela liberdade substantiva.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DIETL, Helmut et al; The Effect of Salary Caps in Professional Team Sports on
Social Welfare; The B.E. Journal of Economic Analysis and Policy, v. 9, p. 129-
151, 2009. Disponível em: http://www.isu.uzh.ch/static/ISU_WPS/72_ISU_full.pdf.
Acessado em: 22/12/2018.
________. A Ideia de Justiça; 2. ed. Tradução por Ricardo Doninelli Mendes; Rio
de Janeiro: Record, 2008.