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R.P. RANDI (1); L.C. ALMEIDA (2); L.M. TRAUTWEIN (3); F.S. MUNHOZ (4)
(1) Engenheiro Civil, Mestrando em Estruturas pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Estadual de Campinas, ricardo_randi@hotmail.com, Campus Zeferino Vaz – Av. Albert
Einstein, 951 – Campinas-SP - Brasil
(2) Engenheiro Civil, Professor Doutor do Departamento de Estruturas da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, almeida@fec.unicamp.br, Campus
Zeferino Vaz – Av. Albert Einstein, 951 – Campinas-SP - Brasil
(3) Engenheiro Civil, Professor Doutor do Departamento de Estruturas da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, leandromt@fec.unicamp.br, Campus
Zeferino Vaz – Av. Albert Einstein, 951 – Campinas-SP - Brasil
(4) Engenheira Civil, Professora Doutora, Faculdade de Tecnologia de Jahu,
fabiana.munhoz@fatec.sp.gov.br, R. Frei Galvão - Jardim Pedro Ometto, Jaú - SP, Brasil
RESUMO
O presente artigo analisa e compara o comportamento numérico e experimental de blocos de concreto armado
sobre duas estacas, submetidos à carga centrada. A comparação de resultados é realizada entre o modelo
experimental de Munhoz (2014) e a análise numérica não linear com o emprego dos elementos finitos
bidimensionais do programa computacional ATENA 2D. O programa computacional ATENA permite a
modelagem do comportamento dos materiais - concreto e aço - com seus valores obtidos experimentalmente,
considerando aderência perfeita entre ambos. A análise comparativa de resultados e a validação do modelo
numérico serão realizadas através da curva carga versus deslocamento, do panorama de fissuração, das
tensões no concreto e das deformações nas armaduras e, por fim, da carga última suportada pelo modelo. A
partir do modelo validado, será realizado um estudo paramétrico do comprimento de ancoragem das barras
do pilar no interior do bloco e os resultados obtidos serão aqui apresentados e discutidos.
Palavra-Chave:concreto armado, blocos sobre estacas, análise numérica, elementos finitos, fundações.
ABSTRACT
This paper analysis and compares the numerical and experimental behavior of two reinforced concrete pile
caps under concentrated load. Results are compared to Munhoz (2014) experimental model and 2D non-linear
numerical analysis performed with the package ATENA 2D. ATENA software allows to model concrete and
steel from experimental values and are considered perfectly adherent. Load - deflection relation, stress in
concrete, strains in steel bars, ultimate load and cracks were compared. A parametric study will be developed
to discuss the bar anchorage length inside the pile.
Keywords: reinforced concrete, pile caps, numerical analyses, finite elements, foundation.
2 Metodologia de análise
Foram realizadas comparações no comportamento de um bloco de concreto sobre duas
estacas. O programa computacional ATENA 2D (2015) foi utilizado para a modelagem do
bloco de concreto sobre duas estacas e as propriedades dos materiais, aço e concreto,
assim como a geometria do elemento foram baseados no modelo experimental
B110P125R2.5 de Munhoz (2014).
A Figura 1 mostra a geometria e a distribuição de armaduras do modelo analisado. O pilar
possui seção 12,5 cm x 12,5 cm e altura de 35,0 cm, para as armaduras longitudinais foram
utilizadas quatro barras de 12,5 mm, representando uma taxa de armadura de 2,5%,
utilizou-se ainda armadura de fretagem e estribos de 5,0 mm distribuídos ao longo do pilar.
O bloco possui geometria 110 cm x 15,0 cm x 40 cm e a armadura do tirante é formado por
quatro barras de 12,5 mm sobre as estacas, enquanto que a armadura superior é
constituída por três barras de 10,0 mm e a armadura do bloco é completada por estribos
horizontais e verticais de 6,3 mm. Por fim, as estacas possuem seção 12,5 cm x 12,5 cm,
altura de 40,0 cm (5,0 cm adentrando o bloco), armadura longitudinal (adentrando o bloco)
de 10,0 mm e estribos ao longo da estaca de 5,0 mm.
Foram escolhidos cinco parâmetros de comparação para a validação do modelo. A curva
carga versus deslocamento, o panorama de fissuração do concreto, o fluxo de tensões no
concreto, as deformações e tensões nas armaduras longitudinais do pilar e, finalmente, a
carga última de ruptura suportada pelo modelo. No caso de proximidade dos resultados
citados a validação da modelagem numérica será feita a partir do modelo experimental.
Figura 2 - Curvas tensão versus deformação característica do concreto, tensão versus abertura de fissuras
e relaxamento linear segundo o critério de Drucker Prager (Cervenka Consulting (2015))
𝒆𝒇
𝑮𝒇 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟎𝟎𝟐𝟓. 𝒇𝒕 ′ ..........................(Equação 1)
Com relação às curvas tensão versus deformação das armaduras, foram utilizados os
dados experimentais obtidos por Munhoz (2014). O programa computacional ATENA 2D
(2015) permite a construção da curva tensão versus deformação a partir de pontos
conhecidos com a finalidade de simular o comportamento da barra de aço mais próximo à
realidade.
Para as chapas de aço dos apoios das estacas e do ponto de aplicação de carga sobre o
pilar foi escolhido um material com comportamento elástico isotrópico (tensões planas). As
chapas foram utilizadas no modelo para auxiliar a distribuição das tensões nos pontos de
aplicação e reação das cargas. Para a interface chapa/pilar utilizou-se ligação rígida,
enquanto que na interface chapa/estacas utilizou-se um elemento de interface com a
finalidade de conectar de forma adequada os elementos de chapa e concreto.
As Tabelas 1 e 2 trazem os parâmetros físicos dos materiais utilizados no modelo numérico.
Para os concretos, os valores de resistência à compressão, resistência à tração, módulo de
elasticidade e coeficiente de Poisson foram retirados de ensaios experimentais enquanto a
energia específica de fratura foi calculada segundo a equação 1.
No caso dos elementos de interface são utilizados seis parâmetros para simular o contato
e a rigidez entre os materiais adjacentes. Esses parâmetros são visualizados na Tabela 3.
Segundo observações de Munhoz (2014) a primeira fissura visível surgiu centralizada com
uma carga de 198 kN, equivalente a 34,31% da carga de ruptura do modelo, 577 kN. Em
relação ao surgimento das primeiras fissuras inclinadas, na direção das bielas de
compressão, ocorreu a uma carga de 220 kN, equivalente a 38,12% da carga de ruptura do
modelo. Através de régua apropriada acompanhou-se o desenvolvimento da fissura inicial.
A abertura inicial anotada foi de 0,05 mm (198 kN) e a última medida anotada foi de 0,80
mm (500 kN).
Em contrapartida, no modelo numérico as primeiras fissuras acima de 0,05 mm surgiram
com carga de 240 kN, equivalente a 41,03% da carga de ruptura do modelo, 585 kN, e
evoluíram até uma abertura de 0,84 mm no passo de carga anterior a ruptura. Nota-se que
surgiram fissuras verticais e inclinadas com a carga de 240 kN. Outra observação
importante é que a fissura vertical, diferentemente do modelo experimental, não surgiu no
centro do bloco, mas sim em seções descentralizadas em relação ao eixo de simetria do
modelo como se pode verificar na Figura 5(a), onde o panorama de fissuração é mostrado
ANAIS DO 58º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2016 – 58CBC2016
com escala de linhas de contorno. Para efeito comparativo rastrearam-se os passos de
carga até a abertura da primeira fissura centrada, com abertura acima de 0,05 mm, a qual
surgiu com a carga de 290 kN, equivalente a 49,57% da carga de ruptura do modelo, como
pode ser visto na Figura 5(b).
Observa-se nas curvas dos extensômetros E13 e E14, que após determinada carga
(aproximadamente 500 kN) as medidas de deformações, no modelo experimental,
aumentam de forma brusca, contrariando o modelo numérico, onde as deformações
aumentam de forma suave e com pouca variação. O comportamento brusco é característico
do escorregamento entre armadura e concreto que ocorre em modelos experimentais
enquanto que no modelo numérico, onde a aderência é considerada perfeita, não se verifica
o fenômeno de escorregamento. Nota-se também, pelo início da curva do extensômetro
E15, a acomodação do modelo experimental, fato também verificado anteriormente na
curva carga versus deslocamento. No extensômetro E16 foi verificado o escoamento da
armadura longitudinal do pilar para o modelo experimental. Segundo dados da autora
Munhoz (2014) a deformação no escoamento da barra de 12,5 mm é 3,42 ‰ e esta
deformação máxima foi atingida com aproximadamente 572 kN, menor que a carga última
do ensaio de 577 kN. Pelas curvas da Figura 8 nota-se que a deformação atingiu 3,5 ‰.
No caso do modelo numérico não foi constada escoamento da armadura longitudinal do
pilar.
4 Conclusão
A partir das análises realizadas conclui-se que a utilização do método dos elementos finitos
implementado no programa computacional ATENA 2D (2015) para análises não lineares
resulta em comportamentos semelhantes ao comportamento experimental para o bloco
analisado.
A observação do início de abertura de fissuras assim como a propagação das mesmas
levou a resultados positivos. O panorama de fissuração final dos dois modelos,
experimental e numérico, foi próximo, visto que o término de propagação das fissuras
(vertical e horizontal) para as cargas de ruptura ficaram relativamente próximas. Estes
resultados colaboram para um melhor entendimento do funcionamento de blocos sobre
estacas solicitadas por cargas centradas.
Relativamente às curvas carga versus deslocamento e carga versus deformação observou-
se pequenas disparidades nos resultados apresentados. No entanto, o comportamento das
curvas é similar, comprovando comportamentos semelhantes para os modelos. Nota-se,
como já discutido anteriormente, uma maior rigidez para o modelo numérico visto que os
deslocamentos e deformações são menores.
Os resultados provenientes do fluxo de tensões comprovaram, novamente, as observações
de Blévot & Frémy (1967) sobre a conformação das bielas de compressão em blocos sobre
estacas. Ainda conclui-se que a transmissão de esforços entre a região nodal superior e a
região nodal inferior acontece com certo ângulo de inclinação e também que existem
regiões das estacas que são mais solicitadas, notavelmente, as regiões mais próximas ao
pilar.
Quanto à ancoragem e transferência de esforços pilar-bloco, para os dois modelos, nota-
se uma diminuição brusca nas deformações e consequentemente nas tensões das
armaduras longitudinais do pilar, contrariando assim, a necessidade de ancorar as
armaduras até o fim do bloco. A rápida dissipação destas tensões é explicada por uma
influência positiva das bielas de compressão que se formam na região nodal superior do
bloco, ou seja, a ação confinante das tensões auxilia na transferência dos esforços das
barras para o concreto.
Finalmente, nota-se que os resultados relativos às cargas de ruptura dos modelos foram
próximos.
5 Agradecimentos
Primeiramente, agradecimento à Agência da CAPES pelo fomento que tornou viável a
realização deste trabalho de pesquisa e pelo apoio, que torna possível, esta publicação. E
agradecimentos também à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
UNICAMP, assim como ao Departamento de Estruturas e seus professores pelo apoio dado
e pela disponibilização das ferramentas e programas computacionais que viabilizaram este
trabalho.
6 Referências
ANAIS DO 58º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2016 – 58CBC2016
ACI COMMITTEE 318 ON STANDARD BUILDING CODE. Building code requirements
for structural concrete - ACI 318R-14, American Concrete Institute, 2014.
BLÉVOT, J. L.; FRÉMY, R. Semelles sur pleux. Institut Technique du Bátiment et des
Travaux Publics. Paris, França, 1967.
FUSCO, P.B. Técnica de armar as estruturas de concreto. Editora PINI Ltda. São Paulo,
Brasil, 1994.
MAUTONI, M. Bloco sobre dois apoios. Grêmio Politécnico. São Paulo, Brasil, 1972.