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Reflexões de um Tuxá antropólogo sobre o Dia do Índio

Felipe Tuxá

O Dia do Índio tem sido caracterizado no país como um momento de visibilidade


e divulgação de pautas e temas referentes à questão indígena. Ao mesmo tempo,
nesta data, as escolas organizam danças e brincadeiras que remetem ao índio
romantizado que habita o imaginário nacional. As crianças se pintam e brincam
de índios em uma forte alusão às populações quinhentistas aqui encontradas,
quando da “conquista” das Américas. Durante o restante do ano, os conflitos
fundiários que envolvem os povos indígenas costumam ser veiculados na mídia
de forma diferente, através da minimização de suas pautas e de associações
controversas, a exemplo: “muita terra para pouco índio” ou “esses índios já têm
privilégios demais”. O que esse descompasso informa sobre a atual conjuntura de
vida dos diferentes povos indígenas do Brasil?

Quando sentei para escrever esse texto, tomei conhecimento da prisão do líder
Tupinambá Babau e de seu irmão Teity em 07 de abril de 2016. Babau é uma
forte liderança não apenas para o seu povo, mas representa também uma
importante figura no Movimento Indígena Nacional. Sua prisão gerou uma série
de manifestações contrárias ao processo de criminalização de lideranças
indígenas no exercício de retomadas e reivindicações de direitos, algo que tem sido uma constante. E é curioso que a
prisão tenha acontecido no Abril Indígena, mês durante o qual a questão indígena ganha destaque em torno do Dia do
Índio, com uma série de lutas e pautas reivindicatórias organizadas pelos povos. Os conflitos no cotidiano não cessam, no
entanto. Quando o mês acaba, deixam de ser noticiados pela mídia.
Para muitas pessoas o dia
19 de Abril representa uma
celebração do passado e
origem dessa nação, no
qual é ressaltada a figura
da ancestralidade sobre a
qual boa parte da
brasilidade repousa – o
índio do descobrimento.
Para nós indígenas é mais
um dia no qual esperamos
por uma resolução justa
dos males trazidos pela
colonização. Curiosamente,
já fui parabenizado nesse
dia: “Feliz Dia do Índio”,
mas me pergunto o que há para ser parabenizado de fato? Enquanto as crianças não-
indígenas estão brincando de serem índios nas escolas, revivendo a conquista das Américas e
incorporando o índio do descobrimento; índios de carne e osso estão (sobre)vivendo em
reservas minúsculas, muitas vezes envolvidos em conflitos fundiários, nos quais se encontram
à mercê de verdadeiras milícias locais. A minha comunidade, povo indígena Tuxá, por
exemplo, espera por mais de 25 anos o ressarcimento de nosso território inundado pela
construção da Hidrelétrica Luiz Gonzaga, em Paulo Afonso, na Bahia.

A prisão de Babau não é uma situação específica e isolada, pelo contrário, ela representa um
bom indicador do modo como a pauta indígena tem sido conduzida no país. O atual momento é
caracterizado pelo recrudescimento da truculência e descaso com os povos indígenas. Se
olharmos para a questão ambiental, temos a flexibilização da legislação vigente para facilitar o
desmatamento e implementação de hidrelétricas e atividade mineradora que afetam terras
indígenas. A PEC 215, por sua vez, configura-se como um forte ataque aos direitos
constitucionalmente adquiridos por estes povos, ao mesmo tempo em que está em curso as
CPIs do INCRA e da FUNAI, que atacam diretamente os – já morosos – processos de
delimitação e reconhecimento de terras indígenas. Dentro do cenário mais amplo, a visibilidade
proporcionada pelo 19 de Abril é incipiente e pouco reflexiva. Enquanto mero lembrete da
existência dos povos indígenas, esta data poderia ser dispensada. Isso porque, do modo como
tem sido feito, a “espetacularização” do dia do índio passa a falsa impressão de que tem
existido diálogo e que a nação está em vias de solucionar as mazelas que trouxe para os
povos indígenas.

Se há algo a ser comemorado,


podemos celebrar durante o Abril
Indígena, a participação desses
povos nas arenas políticas de
decisão; a luta cotidiana por
reconhecimento; a inserção
crescente na Academia,
contribuindo para a produção
científica sobre nós mesmos e
nossos grupos, a partir de questões
que nós consideramos
fundamentais; a busca, portanto,
pela nossa visibilidade e construção
contínua enquanto sujeitos de
nossa própria história.

Como já ouvi dizer muitas vezes, nessas terras, antes que houvesse Brasil, todo dia era Dia de
Índio. Sendo, portanto, o 19 de Abril muito pouco expressivo quanto ao reconhecimento da
existência desses povos. O descompasso entre o índio que é lembrado no Dia do Índio e o
indígena que é esquecido durante o resto do ano ocorre uma vez que o segundo segue
invisibilizado na mídia ou é criminalizado quando lembrado. É preciso que passado e presente
se encontrem e que as trajetórias dos sujeitos indígenas sejam valorizadas em sua diversidade
e totalidade, considerando a história dos mais de 500 anos de colonização que assolou esses
povos.

Se há de se dizer um “Feliz Dia do Índio”, que seja por reconhecer o caráter de luta e
persistência desses povos que, contra todas as adversidades, continuam a existir. Trata-se de
celebrar sua existência hoje, e não a lembrança caricaturada do índio do passado. Os índios
hoje estão nas aldeias, mas também nas Universidades e nas cidades – são reais e estão
próximos –, sendo indígenas cotidianamente.

Texto Publicado em http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br Abril de 2016.

Foto 1: Felipe Tuxá

Foto 2: Cacique Bidu e o conselheiro Antônio Vieira Cruz dançando Toré na Igreja de Rodelas.
Foto de Maria Beatriz Sotto Maior Cruz, mãe do autor.

Foto 3: Crianças Tuxá. Foto de Eduarda Tuxá, prima do autor.

Foto 4: O autor, ao centro, quando criança, junto com outras crianças em frente a uma maloca,
numa celebração ao Dia do Índio na Aldeia. Foto de Maria Beatriz Sotto Maior Cruz, mãe do
autor.

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