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Leitura e Imagem

Material Teórico
O que é imagem?

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Miguel Luiz Ambrizzi

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
O que é imagem?

• Imagem: Conceituações e Aspectos Históricos


• A Imagem na Arte
• A Relação Imagem-Espectador
• Metodologias: uma Introdução

OBJETIVO DE APRENDIZADO
Os objetivos desta Unidade são:
· Compreender os conceitos e as classificações da imagem.
· Conhecer os aspectos históricos da presença da imagem na arte.
· Refletir sobre a presença da imagem na cultura atual e a forma como nos
relacionamos com as quais.
· Compreender a importância de uma educação do olhar, voltada
ao aprimoramento da leitura das imagens através dos estudos mais
aprofundados da área.
· Refletir sobre as relações entre o espectador e a imagem e como essas
sofreram alterações no contexto contemporâneo da arte.

ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade abordaremos conceitos da imagem e seus aspectos históricos.
Veremos as diferentes concepções de imagem e suas classificações em imagem
natural e imagem artificial, além das particularidades que definem os parâmetros
dos estudos da leitura e compreensão das imagens. Em seguida, veremos a
presença da imagem na arte e nos dias atuais, identificando os momentos
históricos que marcaram as mudanças conceituais e técnicas da produção.
Em uma cultura fortemente marcada pela presença da imagem como mediadora
da relação do homem com o mundo, torna-se necessário um aprofundamento
do estudo das imagens, transformando os sujeitos e suas atitudes, tornando-
se, assim, mais críticos e reflexivos perante as imagens que os rodeiam. As
relações entre o espectador e a imagem foram se transformando ao longo da
história, tanto no que se refere às imagens artísticas quanto às midiáticas.
A partir destes pontos de reflexão concluiremos esta Unidade, apresentando
algumas introduções nas metodologias de estudo das imagens, contribuindo para
o início das abordagens detalhadas nas demais unidades subsequentes.
UNIDADE O que é imagem?

Contextualização
Nesta disciplina estudaremos as metodologias de leitura de imagens. Muito mais
que leitura, tais metodologias nos auxiliam na compreensão das obras de arte.

No que diz respeito à arte contemporânea, as manifestações artísticas são


muito mais do que linguagens bidimensionais – como a pintura, o desenho e a
gravura –, ou até mesmo tridimensionais – como a escultura. Há um hibridismo
de novas linguagens, conceitos, estéticas, movimentos e ideologias artísticas que
nos desafiam cada vez mais a sua compreensão. A arte não se distancia da vida,
como algo idealizado, mas dialoga e se insere na rotina da sociedade, incorporando
elementos que são reapresentados em diferentes perspectivas, questionando nossa
vivência de mundo e a própria compreensão do que é arte.

Para contextualizar os estudos desta Unidade, sugere-se que você assista ao documentário
Explor

Quem tem medo da arte contemporânea?, elaborado pela Fundação Nabuco, com
comentários de Fernando Cocchiarale, entre outros artistas e críticos e disponível em:
https://youtu.be/qpctlrIoenQ

Ao longo da exibição, observe as diferentes concepções e vertentes da arte


contemporânea apontadas pelos participantes do documentário, a fim de já se
inserir no contexto que aqui iniciaremos: compreender a arte.

Ao final desta Disciplina você, certamente, não terá mais medo da arte, muito
menos da arte contemporânea!

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Imagem: Conceituações e Aspectos
Históricos
Muitos de nós conhecemos a expressão: “uma imagem vale mais que mil
palavras”. No entanto, podemos dizer também que “uma imagem pode gerar mais
de mil palavras”. Mas em qual sentido? Uma imagem ou uma obra de arte possui
elementos que despertam o pensamento individual do seu observador, que reúne
uma série de conhecimentos que possui – históricos, sociais, estéticos, filosóficos
etc. – e, desta forma, pode verbalizar ou escrever infinitas palavras, frases e reflexões
a partir de uma única imagem.

Observemos a definição de imagem apontada por Laurent Gervereau (2007, p. 9):


“Imagem” é uma palavra. Uma palavra ligada a um fenômeno que pertence a outra
ordem. Entre a iconografia e aquilo que se julga traduzi-la com auxílio de um código
de comunicação diferente, eminentemente circunstancial e humano, a distância e a
dicotomia parecem irremediáveis. No entanto, esta palavra é também – vista como tal
– uma imagem. Tal palavra, de uma língua particular, evoca uma correlação imediata
com uma forma de representação para quem a lê ou ouve – a imagem existe em
função de um receptor – e, ao mesmo tempo, mostra-se pertencente à ordem da
mais total volubilidade. Isto porque toda a gente sente que a imagem tem que ver
com o imaginário, logo com o fugaz e com o imaterial. A imagem, aliás, não se pode
acantonar na reprodução: não é uma mera transposição do real; é também um real
intrínseco com as suas propriedades e os seus circuitos.

A palavra imagem tem origem no latim imago, que no mundo antigo significava
uma espécie de máscara mortuária, associada a manifestações ritualísticas. No
contexto em que surgiu, a palavra nasceu da morte e nos trouxe a ideia de prolongar
a existência através das noções de duplo e de memória.

Assim, a imagem possui diferentes interpretações e concepções desde os


filósofos Platão e Aristóteles, onde o primeiro a via como imitadora e enganosa,
que nos desvia da verdade e seduz as áreas mais frágeis da nossa alma. Já Aristóteles
compreendia a imagem de outra forma, como algo que nos educa e nos leva ao
conhecimento justamente pelo prazer que nos proporciona. Há, inclusive, autores
que afirmam que as imagens não nos dizem nada e que, na verdade, os sentidos
que afirmamos estar presentes nas imagens são os sentidos do nosso olhar, ou seja,
quando discorremos sobre imagens, referimo-nos a nós mesmos.

Segundo Martine Joly (2005, p. 13), “o termo imagem é tão utilizado, como
todos os tipos de significados sem ligação aparentemente, que parece muito difícil
apresentar uma definição simples e que abarque todas as maneiras de a empregar”.
A autora questiona o que haveria em comum entre um filme, uma pintura rupestre
ou impressionista, cartazes, ou ainda uma imagem mental.

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UNIDADE O que é imagem?

[...] o mais notável é que, apesar da diversidade dos significados desta palavra,
compreendemo-la. Compreendemos que ela designa algo que, embora não remetendo
sempre para o visível, toma de empréstimo alguns traços ao visual e, em todo o caso,
depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta, a imagem passa por
alguém, que a produz ou a reconhece (JOLY, 2005, p. 13).

A partir de tais questões, Martine Joly também indaga se as imagens são


forçosamente culturais e não somente propostas pela natureza. Ao citar Platão,
na sua definição de imagem: “Chamo imagens, em primeiro lugar às sombras;
em seguida, aos reflexos na água ou à superfície dos corpos opacos, polidos e
brilhantes em todas as representações deste gênero”. A autora chega à conclusão
de que a imagem se dá por uma relação de espelho e tudo aquilo que utiliza o
mesmo processo de representação. De acordo com Platão (apud JOLY, 2005), “a
imagem seria já um objeto segundo, em relação a uma outra que ela representaria
de acordo com algumas leis particulares”.

Figura 1 – Sombras. Figura 2 – Reflexos na água


Fonte: commons.wikimedia.org Fonte: commons.wikimedia.org

A retórica medieval definiu a imagem como algo que está no lugar de outra
coisa – aliquid stat pro aliquo –, abrindo a concepção para algo que pudesse ser
fabricado, ou seja, que não se encontrava no mundo ou que fosse gerado somente
pelo recorte do olhar do sujeito.

Porém, independente das posições teóricas que existem, a imagem sempre teve
uma concepção de ser algo feito para representar uma outra coisa em sua ausência
e, por isso, apresenta três dados intrínsecos, os quais:
• Seleção da realidade – que pode, inclusive, excluir qualquer representação da
própria realidade, como na pintura abstrata;
• Seleção de elementos representativos;
• Estruturação interna que organiza os referidos elementos.

Os teóricos da imagem destacam que há um fator universal de compreensão


das imagens, que vence a barreira da linguagem e, portanto, possibilita uma
compreensão imediata por pessoas de diversas culturas e línguas. No entanto, não
se trata de uma verdade absoluta, pois há uma infinidade de elementos gráficos
que possuem significados e simbologias específicas em cada cultura, interferindo,
assim, na sua interpretação e entendimento.

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Há ainda a concepção de que a imagem possui como vantagem a velocidade de
percepção e compreensão em relação ao texto escrito, tornando-se mais atraente
aos leitores. De fato, hoje em dia a imagem se torna um fator de atração, dado o
contexto de uma cultura eminentemente visual. No entanto, em muitos casos, uma
imagem demanda maior tempo para sua compreensão, dados os elementos mais
complexos na sua composição, exigindo uma atenção maior do observador.

Martine Joly (2005) afirma que há um aumento do prazer estético e comunicativo


quando os observadores analisam imagens, definindo-o como fator positivo e que,
quando há a desconstrução da imagem, é possível aguçar o sentido da observação
e do olhar, contribuindo assim para o aumento da quantidade e qualidade das
informações que temos na recepção espontânea de obras.

A imagem é compreendida como representação de algo por semelhança, tal


como podemos ver na acepção de Contrera e Hattori (2003, p. 26), a imagem é
“um termo que comumente utilizamos para designar representações gráficas ou
verbais de algo que existe ou poderia existir”.

Já na Iconologia, Ciência que estuda o discurso em imagens e sobre imagens,


temos uma classificação mais detalhada das imagens, tal como cita William J. T.
Mitchell (apud CONTRERA; HATTORI, 2003):

▪ Imagem gráfica – pintura, desenho, estátua;


▪ Imagem ótica – gerada pelo espelhamento e projeção;
▪ Imagem perceptual – que nos chega pelos sentidos e reconhecimento
de aparência;
▪ Imagem mental – realizada pelos sonhos, memória e ideias;
▪ Imagem verbal – descrita pelas palavras e sugerida por metáforas.

Apesar de Mitchell definir estes diferentes conceitos, há a possibilidade de uma


fusão entre vários para a compreensão do significado de uma imagem. Afinal,
podemos trabalhar uma imagem verbal, sugerida por uma metáfora, ou uma
imagem mental, gerando uma ideia ou um pensamento.

Ainda no que diz respeito à classificação das imagens, podemos defini-la


como imagem natural – produzida sem intervenção humana (reflexos na água,
por exemplo) imagem de Platão – e imagem artificial ou fabricada – que exige a
intervenção humana para sua existência.

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UNIDADE O que é imagem?

Figura 3 – Imagem natural – percepção Figura 4 – Imagem artificial (pintura) – Landscape (1680,
através do contato direto com a paisagem aproximadamente), Herman Saftleven.
Fonte: commons.wikimedia.org Fonte: commons.wikimedia.org

No estudo da leitura e compreensão de imagens, iremos nos dedicar às imagens


fabricadas, às imagens comuns e artísticas produzidas pelo homem, as quais podem
ser definidas de acordo com:

▪▪ A sua materialidade: imagens materiais – quadros, fotografias – ou imateriais


– imagens mentais ou projeções holográficas;
▪▪ A sua espacialidade: imagens bidimensionais ou tridimensionais;
▪▪ A sua temporalidade: imagens estáticas ou móveis;
▪▪ A sua intenção semântica: representativas ou não representativas –
figurativas ou abstratas;
▪▪ As condições de produção: meios mecânicos ou humanos.

Todos estes aspectos são relevantes e trazem informações específicas sobre


a imagem a ser estudada, conforme veremos a partir da próxima Unidade, nas
metodologias de análise e compreensão da imagem.
Martine Joly (1996) também afirma que a imagem é algo que se assemelha
a alguma coisa, definindo-a como analogia, que é o ponto comum entre as
diferentes significações da imagem. Até mesmo no sonho a imagem se assemelha
a algo concreto, portanto, insere-se na categoria das representações: parece-se
com alguma coisa, mas não a é. Trata-se de um signo analógico, que tem na
semelhança o seu princípio de funcionamento.
Para Joly, a imagem não se caracteriza apenas por ser um signo icônico ou
figurativo, já que pode intercruzar diferentes materiais que a compõem para
constituir uma mensagem visual. A mensagem visual pode ser construída com
signos icônicos, que dão a impressão de semelhança com a realidade, jogando
com a analogia perceptiva e com os códigos de representação herdados pela
tradição de representação ocidental, e com os signos plásticos, que correspondem
aos componentes da imagem, como a cor, as formas, a composição e a textura.
Tais códigos revelam também os aspectos históricos das imagens. A produção e
a compreensão das imagens acontecem segundo restrições temporais, ou seja, a
imagem sempre tem uma história.

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A Imagem na Arte
É com a Iconologia que verificamos a história das imagens. Iconologia é um
ramo da história da arte que se preocupou em estabelecer o conteúdo temático e
o significado das obras de arte enquanto algo distinto de sua forma. No entanto, a
história das imagens pode se dar por diversos prismas e filtros: pelas técnicas, pelas
intenções, pelos contextos culturais etc. Conforme vimos, as imagens possuem
diferentes classificações e, ao longo da história, foram produzidas em diferentes
contextos, tal como podemos ver na história da arte.

Apenas ressaltaremos alguns aspectos para compreendermos como surgem as


imagens e que a compreensão desses aspectos históricos é fundamental para o
entendimento e a leitura das imagens, sejam históricas, artísticas ou midiáticas.

As primeiras imagens surgiram em um contexto ritual, com o uso de materiais


naturais, como argila, sangue, gordura e excremento animal. Essas imagens nos
revelam objetivos associados aos desejos, crenças e culturas. São imagens que
variam de uma complexidade de representação voltada à semelhança em detalhes
anatômicos de animais – Paleolítico – e também à sintetização das formas, chegando
à constituição de elementos gráficos simples – Neolítico.

Figura 5 – Reprodução da caverna de Altamira, Museu de Moravia. Figura 6 – Gua Tambun (Malaysia) – Neolítico.
Fonte: commons.wikimedia.org Fonte: commons.wikimedia.org

As imagens geradas pelo homem foram seguindo sua evolução com o uso mais
complexo de materiais, em uma rica variação de pigmentos de diversas cores,
como no Egito (últimos 5000 anos a.C.), porém, as imagens ainda permanecem
associadas à ideia de eternidade, como as representações encontradas nos túmulos
dos faraós. Elementos visuais, como a linha, a cor e a forma, são marcados pela
forte presença do desenho descritivo, com acentuados contornos e preenchimento
com cores sem o modelado com a luz e sombra.

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UNIDADE O que é imagem?

Figura 7 – Arte egípcia.


Fonte: https://commons.wikimedia.org

Posteriormente, as imagens geradas pelos homens passaram a ser reflexões


acerca da ordem, da simplicidade, da proporção e da harmonia, com representações
associadas às narrativas da mitologia e dos representantes dos impérios. Nos
primeiros séculos depois de Cristo houve um grande avanço dos domínios das
técnicas pictóricas e escultóricas, além do uso de mosaicos – imagens geradas por
fragmentos de pedras. O homem foi aprimorando seus conhecimentos técnicos
e alcançando, principalmente na escultura, grande semelhança anatômica aos
modelos representados – fossem animais ou seres humanos.

Com o surgimento do cristianismo, a produção de imagens voltou ao contexto


religioso, mas agora também com o intuito de evangelizar os fiéis analfabetos, tal
como tivemos na circunstância da Idade Média. Dito de outra forma, através das
imagens era possível que esses conhecessem as histórias bíblicas.

Figura 8 – Arte medieval (século XII).


Fonte: https://commons.wikimedia.org

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A produção de imagens, que estava fortemente associada à Igreja Católica,
ampliou-se através de um resgate dos modelos clássicos.

Foram tais ciclos que marcaram a história das artes e das imagens, caracterizados
pelas oscilações entre razão e emoção, equilíbrio e exagero, objetividade e
subjetividade.

A partir da Idade Moderna, especificamente após o século XIII, tivemos na


Europa uma volta às influências greco-romanas, caracterizada pelos princípios de
razão e valorização do conhecimento científico, tendo o homem como o centro
das reflexões. As imagens passaram a ter características estéticas mais naturalistas,
com figuras humanas mais sólidas e ricos detalhes anatômicos, representações
humanas inseridas em cenários mais definidos e concretos.

As técnicas utilizadas eram a tinta à óleo, a xilogravura e a litogravura, as


esculturas eram esculpidas em mármore, material que permite uma riqueza de
detalhes. A produção das imagens não estava apenas associada à representação
de cenas bíblicas, históricas ou políticas, mas estava inserida em um contexto no
qual o conhecimento científico era valorizado e também tratado com prioridade
pelos artistas. Essas imagens, fossem pinturas, gravuras ou esculturas, eram
geradas a partir de um trabalho minucioso, paciente e prolongado, devido às suas
características técnicas.

Figura 9 – Xilogravura (século XV), Michael Figura 11 – Moisés (1513-1515),


Figura 10 – Escola de Athenas – detalhe (1510),
Wolgemut. Michelangelo.
Rafaello Sanzio. Fonte: https://commons.wikimedia.org
Fonte: https://commons.wikimedia.org Fonte: https://commons.wikimedia.org

Já nos séculos seguintes (XVII e XVIII), as imagens foram marcadas por


rebuscamento, com trabalhos minuciosamente estruturados, apresentando
exageros ornamentais e temas ousados. As figuras representadas trouxeram a
ideia de movimento e teatralidade, com variações de cores que foram dos tons
muito escuros até uma complexidade de cores intensas, com forte tratamento da
luz e sombra. Portanto, o equilíbrio clássico foi desprezado e os artistas buscaram
romper com as leis de composição estruturadas e simétricas.

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UNIDADE O que é imagem?

Figura 12 – Madona do Rosário (1607), Michelangelo Figura 13 – A conversão de São Paulo a caminho de Damasco
Caravaggio. (1600-1601), Michelangelo Caravaggio.
Fonte: commons.wikimedia.org Fonte: commons.wikimedia.org

Na segunda metade do século XVIII, com as descobertas das ruínas de Pompeia,


na Itália, o exagero ornamental entrou em declínio, dando lugar novamente
aos princípios de equilíbrio e elegância discreta dos gregos e romanos, período
conhecido como Neoclassicismo. No entanto, surgiram também – e em seguida
– imagens grotescas, fantásticas, de protesto social e contemplação da natureza
com os artistas do Romantismo, no século XIX. Mais uma vez, mostrando como os
ciclos se caracterizam por momentos de razão e emoção nas sociedades, em termos
gerais. As imagens trabalharam temas do sobrenatural, do amor, do patriotismo
e da história, colocando a emoção e a paixão acima da razão. Tratavam-se dos
assuntos mais triviais e populares, ou seja, do dia a dia.

Figura 14 – Pesadelo (1781), Johann Heinrich Füssli.


Fonte: commons.wikimedia.org

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Entretanto, foi no século XIX que surgiu uma tecnologia que mudou o rumo da
produção das imagens artísticas que, até o momento, eram produzidas pela mão
do homem, através da manipulação de materiais. A fotografia foi uma das grandes
descobertas e invenções científicas que abriram novas possibilidades e horizontes
expressivos na arte e na produção de imagens como um todo. Através dos
conhecimentos da ótica e da Química, Nicéphore Niépce (1765-1833) registrou,
pela primeira vez, uma imagem através de uma placa de estanho tratada por uma
emulsão de betume-da-judeia, mediante sua exposição ao Sol por oito horas.

Figura 15 – Vista da janela no Le Gras (1826), Nicéphore Niépce.


Fonte: <https://commons.wikimedia.org

Aos poucos, tal invenção foi aperfeiçoada, diminuindo o tempo de exposição,


criando equipamentos portáteis, filmes de rolo etc. Foi esse invento que permitiu
a criação de imagens fiéis à realidade, nas quais os artistas mudaram, aos poucos,
suas produções visuais. Esses questionavam as qualidades artísticas dessas imagens
fotográficas, uma vez que eram produzidas por um equipamento – e não pela mão do
artista. Contudo, ao longo do tempo, a fotografia foi incorporada pelos artistas em seus
processos de criação, até chegar à autonomia, enquanto linguagem artística.

Figura 16 – Thomas (1987), Robert Mapplethorpe.


Fonte: http://www.artnet.com

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UNIDADE O que é imagem?

Figura 17 – Beatrice (1866), Julia Margaret Cameron.


Fonte: commons.wikimedia.org

Após o surgimento da fotografia, os artistas buscaram encontrar sua própria


linguagem artística através da exploração criativa das técnicas e materiais, com
uma reflexão voltada à própria arte. Através da distorção das formas, do uso
diferenciado das cores, de exploração ótica e perceptiva, as imagens resultantes
fugiram da representação predominantemente imitativa, naturalística e realista.

Os artistas buscaram novos caminhos e revelaram o pensamento e o olhar


artístico diante do que procuravam representar. Tais explorações visuais chegaram
à produção de imagens abstratas, cujo interesse se dava pela investigação estética e
artística com os elementos visuais, em questões formais, compositivas e perceptivas.

Figura 18 – Suprematism Nr 65 Figura 19 –All Saints (1911)


(1915), Kazimir Malevich. Vasily Kandinsky.
Fonte: commons.wikimedia.org Fonte: commons.wikimedia.org

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Outro marco na produção das imagens foi o surgimento do cinema e das imagens
em movimento. Em sua origem, a projeção das diversas fases sucessivas de um
movimento, decompostas em fotogramas – imagens independentes – e projetadas
em uma velocidade de 24 imagens por segundo, criaram no espectador a ilusão de
movimento contínuo. No início (cerca de 1895), os primeiros filmes eram mudos,
em preto e branco e de curta duração. Com os avanços tecnológicos, o cinema foi
se desenvolvendo tanto em qualidade de imagem, quanto em questões de duração
e das imagens coloridas (1932). Em 1927 surgiu o primeiro filme falado, O cantor
de jazz, de Alan Crosland.

Figura 20 - Safety last (1923), Harold Lloyd.


Fonte: commons.wikimedia.org

Dentro da categoria das imagens em movimento ainda temos as animações e a


televisão. Até os dias atuais, temos essa categoria como forte influência e presença
na sociedade, a qual se caracteriza pela sua característica da cultura visual. A
velocidade dessas imagens pode dificultar uma análise mais detalhada e possui
teorias específicas associadas à semiótica. A forma como nos relacionamos com
tais imagens em movimento é totalmente diferente de como nos relacionamos com
as imagens fixas.

Por fim, outro marco na história das imagens foi o surgimento do computador e,
principalmente, das tecnologias de manipulação e criação de imagens. Os artistas
e produtores de imagens de diversas áreas estão cada vez mais aprimorando as
tecnologias que geram imagens virtuais que desafiam a mente humana acerca da sua
veracidade. Se antes a fotografia era uma tecnologia entendida como ferramenta
fiel à realidade, sem intervenção humana, agora as imagens digitais não precisam
de nenhum elemento capturado da realidade através de um equipamento como a
câmera fotográfica ou de vídeo.

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UNIDADE O que é imagem?

Figura 21 – Processo de criação digital para o filme O planeta dos macacos.


Fonte: http://nevertooearlymoviepredictions.blogspot.com.br

A computação gráfica torna-se uma ferramenta muito versátil na criação de


imagens bidimensionais e tridimensionais, permitindo a multiplicação automática
de desenhos, envio e captação de imagens via internet etc. No entanto, tais
ferramentas digitais não diminuem ou anulam a sensibilidade, imaginação,
conhecimento e inventividade dos seres humanos. Pelo contrário, são ferramentas
criadas por esses para ampliar as mesmas questões.

Todas as categorias de imagens que surgiram ao longo da história estão presentes


nos dias atuais. São diferentes formas de produção de imagens que necessitam
de um olhar atento, questionador e crítico quando são percebidas pelo humano.
Tais imagens chegam até nós de forma intensa, veloz e agressiva, exigindo que
busquemos formas de compreendê-las e de nos relacionarmos com as quais.

A Relação Imagem-Espectador
Atualmente, nas exposições de arte em museus e galerias, temos uma série de
atividades educativas que visam mediar a relação dos espectadores com as obras,
contribuindo, assim, para uma melhor compreensão dessas.

Tais atividades surgem em um contexto que entende o museu como um espaço


que une cultura, conhecimento e – por que não? – entretenimento. O ensino de
arte, nas últimas duas décadas, tem buscado desenvolver a alfabetização visual
desde a Educação Básica, tornando os estudantes cidadãos mais críticos, reflexivos
e atentos ao mundo visual que os cerca.

Hoje em dia, os meios de comunicação – televisão, internet e publicidade – usam


estratégias visuais para a sedução do consumidor, influenciando o comportamento da
grande massa no que diz respeito às suas atitudes pessoais, sociais, éticas e ideológicas.
Assim, as imagens possuem um forte poder de persuasão, são sedutoras.

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Segundo Anamélia Bueno Buoro (2003, p. 35), “a criança, atualmente, enfrenta
os sedutores apelos da sociedade de consumo” e cita o exemplo de que “as normas
ditadas pela televisão tornam a conduta infantil cada vez mais marcada por modelos
estereotipados que, muitas vezes, transformam-se em obstáculos para a construção
de um conhecimento mais significativo” (BUORO, 2003, p. 35).

Vivemos a Era da Imagem, dado que nunca se produziu e veiculou tantas imagens
como nos dias de hoje. Diariamente as pessoas se comunicam e consomem uma
quantidade significativa de imagens e, muitas vezes, deixam-se levar pelas quais,
sem um posicionamento crítico.

Com o desenvolvimento das tecnologias digitais, a manipulação das imagens


torna desconfiável a sua credibilidade, o seu fator de veracidade e realidade. Em
algumas imagens, por exemplo, torna-se praticamente impossível saber se se
tratam de criações virtuais, ou se realmente são registros da realidade, sem nenhum
tipo de alteração ou manipulação de elementos visuais.

No livro Seis propostas para o próximo milênio, Ítalo Calvino, em 1990 (p.
73, grifos do autor), já chamava a nossa atenção para a presença das imagens em
nosso cotidiano:
Vivemos sob uma chuva ininterrupta de imagens; os media todo-poderosos não
fazem outra coisa senão transformar o mundo em imagens, multiplicando-o numa
fantasmagoria de jogos de espelhos-imagens que em grande parte são destituídas
da necessidade interna que deveria caracterizar toda imagem, como forma e como
significado, como força de impor-se à atenção, como riqueza de significados possíveis.
Grande parte dessa nuvem de imagens se dissolve imediatamente com os sonhos que
não deixam traços na memória; o que não se dissolve é uma sensação de estranheza
e mal-estar.

Portanto, ao vivermos nesta Era das Imagens, identificamos a necessidade de


desenvolver competências que contribuam para um resgate do homem como ser
social e cultural, leitor e intérprete, criador e criatura. Dessa forma, o ensino de
arte busca aprimorar a experiência do indivíduo no mundo e especificamente na
relação com as imagens.
A obra de arte parece ser um objeto especialmente facilitador desse resgate, não só
porque aglutina múltiplas formas do saber, mas principalmente porque uma obra
de arte não é apenas objeto de apreciação estética; é fruto de uma experiência de
vida desvelada pelo processo de criação do artista e pelo sistema de signo da obra.
Partilhamos da sua criação quando no momento da leitura somos interpretantes,
criando signos-pensamentos, habitando a obra, recriando-a (BUORO, 2003, p. 31).

Os aspectos apontados por Buoro (2003, p. 31), nomeadamente a interpretação


e recriação da obra a partir da experiência vivenciada pelo espectador, apresentam
a necessidade de um sujeito que deixa de estar em uma relação passiva com as
imagens que lhe chegam. Ao mudar a postura e a atitude perante as imagens,
passamos a refletir sobre essas e podemos agir de forma mais consciente na
transformação da sociedade.

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UNIDADE O que é imagem?

As imagens veiculadas pela mídia chegam até nós como imagens prontas,
rápidas, efêmeras e sem tempo para serem digeridas, pensadas. Contrário a isso,
temos a arte e, especificamente, a arte contemporânea, que nos exige um tempo
maior para apreciação, digestão e compreensão de seus possíveis significados.

Não temos mais uma obra que se fecha em uma única significação, uma vez que a
arte possibilita uma infinidade de entendimentos. Entretanto, devido à falta de uma
alfabetização visual, consequente da fraca formação artística nas escolas, herdamos
um grande abismo entre o espectador e as obras contemporâneas, pela dificuldade
de quem vê em produzir efeitos de sentido. No entanto, conforme ressalta Karin
Zapelini Orofino, o regime da arte contemporânea pertence ao da comunicação.
A obra, muitas vezes, completa-se no espectador, de modo que não se trata mais
de uma contemplação da arte, mas de um diálogo questionador, abdicando-se do
caráter finito da obra.

Assim, percebe-se que a obra possui um aspecto desdobrável e que lhe afere
capacidade de se multiplicar, um dos motivos pelos quais é possível deslocar a
questão “o que é arte?”, para “quando é arte?”, já que não cabe mais uma definição
estanque sobre o atual conceito de arte.

Especificamente no que diz respeito à leitura e à compreensão de imagens, agora


não nos é apresentado um conteúdo claro, mas sugestões imagéticas que necessitam
e estimulam o raciocínio com base em nossos repertórios pessoais. A partir do
pensamento de Cauquelin (2005, p. 94, grifo nosso), podemos frisar que, “em relação
à obra, ela pode ser qualquer coisa, mas numa hora determinada”.

A arte contemporânea é questionadora em diversos sentidos: indaga a própria


história da arte; o objeto de arte enquanto produto; sua temporalidade; o campo
expandido habitado pela arte; o mercado; o sistema e o circuito de arte. Questiona
ainda, em um campo maior, o próprio mundo e suas estruturas, através de reflexões
baseadas na arte como ferramenta social, educacional e crítica.

Portanto, se a arte questiona esses diversos aspectos, um sujeito que não tenha
minimamente uma relação com a arte, ou mais atenciosa e crítica com o mundo
em que está inserido, ficará muito distante e com dificuldade de compreender a
arte contemporânea. Mas não se trata somente da arte produzida recentemente,
temos grande limitação em compreender as imagens, devido ao contexto em que
estamos habituados.

Em diversas circunstâncias históricas a arte esteve intimamente ligada à vida


humana, enquanto em outros contextos foi se afastando, revelando, assim,
diferentes formas de compreensão e relação com as mesmas. A arte contemporânea
transita muito entre aproximações, fusões e distanciamentos da vida. No entanto, é
caracterizada, comumente, por uma aproximação cada vez mais intensa.

Seguindo esse pensamento, arte e vida estão cada vez mais próximas e, segundo
Cocchiarale (2007, p. 67), não estamos acostumados a tal ideia: “habituamo-nos a
pensar que a arte é uma coisa muito diferente da vida, dela separada pela moldura e
pelo pedestal”.

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O caminho percorrido pela arte contemporânea pode ser identificado muitas vezes
como hermético, pois insistimos entendê-la, racionalmente. Hoje vivemos no mundo
dos fatos, onde tudo é efêmero e nada é perpétuo. A cada dia mergulhamos mais
no presente e nos desvinculamos do passado e tão logo do futuro, pois estamos no
tempo do agora, e este momento é fugaz. O que se noticia hoje aconteceu há pouco,
acaba que não se produz mais história, mas uma rede de acontecimentos simultâneos,
bombardeios de informações, onde é difícil construir memória (OROFINO, 2009).

É exatamente dentro deste contexto que a arte se insere, não somente a produzida
nos dias atuais, mas as artes de outras décadas, ou mesmo de séculos anteriores,
sofrendo com as características desse cenário marcado pela efemeridade, pelo
banal, pela dessacralização da arte e dos objetos. Insere-se ainda em uma Era onde
a interatividade se torna um aspecto forte nas relações entre obra e público, o qual
passa ser não mais o contemplador, mas o participante ativo da obra.

Além desses aspectos marcantes, temos as questões mais voltadas à ideologia e


atitude do artista, tais como a ironia, a crítica e as interrogações sobre a realidade vivida,
a qual se torna matéria-prima da arte, ressignificada por uma profusão de linguagens
apropriadas e que constroem novas realidades, essas que confrontam ou estão em
consonância com os efeitos de sentido produzidos pelo – e no – espectador.

Ainda no que se refere às relações entre imagem e espectador, há outras


características importantes e que influenciam nos modos de fruição e compreensão
das obras. Tradicionalmente, as obras de arte têm como seu local de exposição
a galeria ou o museu, que são espaços sacralizados, exigindo um “certo
comportamento” que envolve postura, silêncio etc. Nesse modelo tradicional
de exibição e relação da obra não há grandes problemas no que se refere à
contemplação da arte eminentemente visual, constituída por pinturas e desenhos,
mas há limites quanto à fruição de algumas obras contemporâneas. Tudo dependerá
das características que essa demandará para a sua plena fruição.

Em seu livro, No interior do cubo branco, Brian O’Doherty e Thomas McEvilley


(2002, p. 3-4) caracterizam de forma crítica o espaço modernista da galeria e
museu de arte:
A galeria ideal subtrai da obra de arte todos os indícios que interfiram no fato de
que ela é “arte”. A obra é isolada de tudo o que possa prejudicar sua apreciação de
si mesma. Isso dá ao recinto uma presença característica de outros espaços onde as
convenções são preservadas pela repetição de um sistema fechado de valores. Um
pouco da santidade da igreja, da formalidade do tribunal, da mística do laboratório
de experimento junta-se a um projeto chique para produzir uma câmara de estética
única. [...] A natureza sacramental do recinto torna-se clara, da mesma maneira que um
dos importantes preceitos de projeção do modernismo: à medida que o modernismo
envelhece, o contexto torna-se conteúdo. Numa inversão peculiar, o objeto introduzido
na galeria “enquadra” a galeria e seus preceitos. A galeria é construída de acordo com
preceitos tão rigorosos quanto os da construção de uma igreja medieval. O mundo
exterior não deve entrar, de modo que as janelas geralmente são lacradas. As paredes
são pintadas de branco. O teto torna-se a fonte de luz. O chão de madeira é polido,
para que você provoque estalidos austeros ao andar, ou acarpetados, para que você
ande sem ruído. A arte é livre, como se dizia, “para assumir vida própria”.

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UNIDADE O que é imagem?

Atualmente temos outras estruturas de exposição, algumas mais complexas e


que envolvem cenografias que reconstituem lugares e ambientam todo o espaço
expositivo, inclusive, interferindo significativamente em nossa fruição.

Figura 22 – Exposição baseada na obra de Gilvan Samico no projeto Paixão de ler, Gigi Barreto
e André Lasmar, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
Fonte: http://www.escritoriodearterio.com.br

Desde as décadas de 1960 e 1970 há produções que transgridem o espaço da


galeria e do museu, com trabalhos que vão desde performances e intervenções nos
espaços públicos, até obras de land art, que são realizadas em lugares remotos e
distantes, como desertos e paisagens inabitadas.

Figura 23 – Spiral jetty (1970), Robert Smithson.


Fonte: Wikimedia Commons

Essas obras efêmeras muitas vezes são conhecidas pelo público através de
registros fotográficos ou em vídeo, limitando a fruição e interpretação da obra em
si – em certos aspectos, pela redução da escala e ausência dos movimentos.

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[...] o espaço expositivo acompanha a multiplicidade da arte contemporânea. Além
dos modelos mais tradicionais, podem-se encontrar outros formatos de exposição.
Extrapolam-se os limites das paredes brancas dos museus. Novos lugares legitimam a
arte contemporânea; as ruas abrigam exposições ao ar livre, a natureza pode ser tomada
como suporte. A portabilidade da exposição é pensada também sobre a forma de
transgredir o lugar da apresentação das obras. Do mesmo modo, lugares inusitados,
nunca pensados antes como apropriados para exposições artísticas, são encarados como
espaços possíveis de se resolver a finalidade de expor, como bibliotecas, escolas, televisão,
publicações, quartos de hotéis, restaurantes, entre muitos outros (OROFINO, 2009).

São exatamente tais características do espaço expositivo que se configuram


como elementos importantes nas condições de fruição e compreensão das obras
e imagens. Através desses diferentes lugares que temos uma multiplicidade de
“encontros” entre espectador e obra. E será com o conhecimento de diferentes
abordagens acerca da leitura de imagens que o espectador poderá exercitar
vários níveis de aprofundamento nessas relações, atingindo outras camadas de
compreensão da obra.

Metodologias: uma Introdução


As imagens permitem uma multiplicidade de olhares e compreensões que
podem caminhar por diversas vertentes e perspectivas, as quais podemos chamá-
las de metodologias. São abordagens elaboradas por teóricos de diversas áreas
do conhecimento que vão para além dos estudos artísticos, como a História, a
Filosofia, a Sociologia, a Psicanálise, a Semiótica etc.

Nesta Disciplina conheceremos algumas dessas metodologias ditas principais, ou


seja, que têm se aplicado ao estudo das imagens e da arte, tanto nos seus aspectos
teóricos, quanto através de exemplos de análise para melhor compreensão.

Veremos que cada metodologia destaca um ou mais aspectos importantes aos


analisados, buscando compreender ou explicar a obra de arte. No entanto, importa
destacar que não há somente uma abordagem ou uma metodologia que consiga
compreender integralmente a obra, ou seja, fazê-lo por apenas um ângulo de visão.
Portanto, o conhecimento de diferentes perspectivas contribui para uma melhor e
mais completa leitura e compreensão das imagens e da própria arte. A integração
dessas metodologias nos leva à postura mais crítica, posição de contraposição e de
confronto, em atitude dialética.

Desta forma, veremos um instrumental que lhe permita aplicar em um estudo


específico, mas que possa também lhe capacitar na comparação entre as diferentes
metodologias, para que você, adiante, defina qual é a que resulta mais valiosa para
lhe aproximar à obra que pretende estudar.

Foi na área da comunicação e das artes que a leitura de imagens começou a ser
investigada, a partir da década de 1970.

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UNIDADE O que é imagem?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) compreendem o objeto artístico


como produção cultural, documento do imaginário humano, sua historicidade e
diversidade (BRASIL, 1997, p. 45). A prática artística é entendida como uma forma
de conhecimento que favorece o desenvolvimento intelectual para a racionalidade
cognitiva e, por fim, a racionalidade cultural compreende o fenômeno artístico
como uma manifestação cultural, sendo os artistas responsáveis por realizar as
representações mediadoras de significados em cada época e cultura.

As diversas Ciências que se debruçaram sobre os estudos das imagens e das obras
de arte possuem, cada uma ao seu modo e ponto de vista, diferentes abordagens que
enfatizam determinados aspectos – tais como veremos na Unidade II. Todavia, no
contexto do ensino de arte há algumas abordagens estéticas da leitura de imagens
que mesclam as diferentes metodologias em propostas aplicadas. Veremos duas
metodologias aplicadas ao ensino de arte para já começarmos a compreender
como se estruturam as bases para estimular, mediar, propiciar e/ou aprofundar as
relações entre espectador e obra.

As investigações dessa natureza têm origem em 1984, com Robert Willian Ott; em
1992, com Abigail Housen – doutora em Educação; e com um dos mais importantes
arte-educadores dos Estados Unidos, Michael Parsons, igualmente em 1992.

Ott, professor da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, apresentou seu


sistema de leitura de imagens no Brasil, no Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo (MAC USP), em 1988. Sua metodologia pretendeu
“estruturar” a relação do espectador/apreciador com a obra de arte e é conhecida
por image watching – olhando imagens. Essa metodologia foi baseada nos escritos
de John Dewey e Edmund Feldman e foi estruturada em termos/verbos no gerúndio,
ressaltando a ideia de processo, o qual se divide em seis momentos, a saber:

1. Aquecendo – ou sensibilizando: preparação do potencial de percepção e


de fruição. Momento em que é estimulada a percepção visual, o exercício do
olhar para a imagem em si, familiarizar-se com a qual;

2. Descrevendo: questionamento sobre o que vemos, perceber. Neste momento


começamos a verbalizar sobre o conteúdo do que observamos. Exemplo: é
uma pintura que retrata uma mulher sentada etc.;

3. Analisando: identificar aspectos conceituais da análise formal: linhas, cores,


formas, texturas. A partir da identificação desses elementos, associamo-los a
questões mais voltadas à linguagem visual e como essas geram possibilidades
de interpretação. Exemplo: podemos ver as texturas da pele da mulher,
revelando se tratar de uma senhora de idade avançada, com rugas no rosto.
Sua roupa é nobre devido à aparência dos tecidos, com luminosidade, cores
e texturas que lembram renda etc.;

4. Interpretando: expressar suas sensações, emoções e ideias, oferecendo


suas respostas pessoais à obra de arte. Trata-se de um momento onde
o observador emite juízo de valor com base em suas memórias, em seu
repertório visual, estético, social etc.;

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5. Fundamentando: buscar elementos da história da arte para ampliar o
conhecimento e não convencer a respeito do valor da obra. Momento
em que ampliaremos o conhecimento da obra, ao entender o contexto de
sua produção – histórico, social, estético, ideológico etc. – para também
compreendermos seus originais significados e simbologias;

6. Revelando: por meio do fazer artístico, o educando revela o processo


vivenciado. Esta última etapa seria uma forma criativa de o espectador ou
estudante de arte responder sua perspectiva perante a obra analisada. Trata-
se de etapa mais conhecida como releitura.

Outra abordagem de um estudo mais aprofundado da leitura da imagem é a


de Abigail Housen (1992), que parte do postulado que o desenvolvimento em
determinado domínio se faz na direção a uma maior complexidade do pensamento,
configurando estágios desse desenvolvimento. Para essa teórica as habilidades à
compreensão estética crescem de forma cumulativa e mediante a evolução do leitor
ao longo dos seguintes estágios:
• Narrativo: “o que é isto?”
• Construtivo: “como isto é feito?”
• Classificativo: “por quem e por que?”
• Interpretativo: “quando?”
• Recriativo: “o que, como, quem, por que e quando?”

Na verdade, esses autores se referem a estruturas do pensamento muito


semelhantes e têm base em diferentes Ciências que estudaram a arte.

Para este primeiro momento foi possível termos um inicial contato com
metodologias estruturadas, condição que já amplia nossa forma de observar obras
de arte. Sugere-se que, com base nessas duas abordagens, você realize exercícios
de leitura de imagem, buscando identificar os itens apontados por cada um desses
dois teóricos. Certamente você terá uma surpresa com o resultado de compreensão
das obras e, aos poucos, ampliará seus conhecimentos acerca da arte.

Nas próximas unidades desta Disciplina veremos com maiores detalhes as


metodologias de forma isolada, conhecendo seus autores e princípios teóricos,
conceituais e metodológicos.

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UNIDADE O que é imagem?

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte (1ª a 4ª
séries). Brasília, DF, 1997.

BUORO, Anamélia Bueno. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem


da arte na escola. São Paulo: Cortez, 2003.

CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. Trad. Rejane Janowitzer. São Paulo:
Martins Fontes, 2005.

COCCHIARALE, Fernando. Quem tem medo de arte contemporânea? Recife, PE: Massangana, 2007.

CONTRERA, Malena Segura; HATTORI, Osvaldo Takaoki. Publicidade e Cia. São Paulo:
Thompson, 2003.

HOUSEN, Abigail. Validating a measure of aesthetic: development for museums and schools.
ILVS Review, Massachusetts, USA, v. 2, n. 2, 1992.
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 1996.

NOVAES, Adauto. Herança sem testamento? In: Mutações. Rio de Janeiro; São Paulo: Agir;
Sesc, 2008.

O’DOHERTY, Brian; MCEVILLEY, Thomas. No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da


arte. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

OROFINO, Karin Zapelini. O distanciamento do público em relação à arte contemporânea: a


ação educacional em espaços expositivos. In: CICLO DE INVESTIGAÇÕES DO PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS (PPGAV), 4., Florianópolis, SC, 2009. Anais...
Florianópolis, SC: Udesc, 2009.

OTT, Robert William. Art in education: an international perspective. Pennsylvania, USA:


Pennsylvania State University Press, 1984.

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Referências
ARGAN, G. C.; FAGIOLO, M. Guia de história da arte. Lisboa: Editorial
Estampa, 1994.
AUMONT, J. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 2011.
BOSI, A. Reflexões sobre a arte. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Arte (1ª a 4ª séries). Brasília, DF, 1997.
BUORO, A. B. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem
da arte na escola. São Paulo: Cortez, 2003.
CALVINO, Í. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia
das Letras, 1990.
CAUQUELIN, A. Arte contemporânea: uma introdução. Trad. Rejane Janowitzer.
São Paulo: Martins Fontes, 2005.
COCCHIARALE, F. Quem tem medo de arte contemporânea? Recife, PE:
Massangana, 2007.
CONTRERA, M. S.; HATTORI, O. T. Publicidade e Cia. São Paulo: Thompson, 2003.
COSTELLA, A. F. Para apreciar a arte: roteiro didático. 3. ed. São Paulo:
Senac, 2002.
FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2010.
GERVEREAU, L. Ver, compreender e analisar as imagens. Portugal: Edições
70, 2007.
HOUSEN, A. Validating a measure of aesthetic: development for museums and
schools. ILVS Review, Massachusetts, USA, v. 2, n. 2, 1992.
JESUS, V. G. El comentario de la obra de arte. España: UND, 1993.
JOLY, M. Introdução à análise da imagem. 9. ed. Campinas, SP: Papirus, 2005.
______. Introdução à análise da imagem. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 1996.
O’DOHERTY, B.; MCEVILLEY, T. No interior do cubo branco: a ideologia do
espaço da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
OROFINO, K. Z. O distanciamento do público em relação à arte contemporânea:
a ação educacional em espaços expositivos. In: CICLO DE INVESTIGAÇÕES
DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS (PPGAV), 4.,
Florianópolis, SC, 2009. Anais... Florianópolis, SC: Udesc, 2009.
OTT, R. W. Art in education: an international perspective. Pennsylvania, USA:
Pennsylvania State University Press, 1984.

TREVISAN, A. Como apreciar a arte: do saber ao sabor. Uma síntese possível.


3. ed. Porto Alegre, RS: Age, 2002.

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