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CURSO DE PSICANÁLISE

HELLEN TEIXEIRA

A INCURSÃO DO PENSAMENTO FREUDIANO NO CONTEXTO


NACIONAL

Juiz de Fora
2019
HELLEN TEIXEIRA

A INCURSÃO DO PENSAMENTO FREUDIANO NO CONTEXTO


NACIONAL

Trabalho apresentado ao Curso de Psicanálise da SBPE


– Sociedade Brasileira de Psicanálise, para a disciplina
História da Psicanálise no Brasil.

Prof. Marina Tente Silva

Juiz de Fora
2019
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1 INTRODUÇÃO

Em 1909, Sigmund Freud desembarca na América


do Norte na companhia de seus colegas médicos
Ferenczi, Jung, Yung, Brill e Ernest Jones. Convidado por
Stuart Hall, Freud se dirige aos Estados Unidos para
ministrar palestras a nível introdutório sobre a psicanálise.
Tal viagem possibilitou a expansão da teoria freudiana no
novo mundo, estendendo seus domínios de conhecimento
para além do continente europeu. Tratava-se de um
deslocamento traçado com o intuito de atender à
aspiração freudiana de garantir a ampliação de sua
disciplina, fugindo da censura, das críticas e, por vezes,
da indiferença e hostilidade.

Conta-nos Roudinesco que, em 1955, numa


conferência proferida em Viena, o psicanalista francês
Jacques Lacan confessou ter escutado de Carl Gustav
Jung o relato de que na ocasião da viagem do grupo de
psicanalistas à América do Norte, Freud teria segredado
no ouvido de seu discípulo, ao avistar a Estátua da
Liberdade no porto novaiorquino, a seguinte
sentença: "Eles não sabem que lhes estamos trazendo a
peste.’’

Freud não faz uso do termo ‘’peste’’ em sua obra,


mas ressaltava que, uma aceitação imediata, abrupta de
sua teoria era do mesmo modo reveladora da ação da
resistência à sua doutrina, porque, acarretando uma
aceitação sem consequências subjetivas, tinha em seu
horizonte uma eficaz neutralização do que ele trouxera de
radicalmente novo. Talvez seja nessa medida que se pode
observar, hoje, em todo o mundo, paralelamente ao
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aumento da difusão da psicanálise junto ao público pelos


diversos meios da imprensa, um crescente
desconhecimento da especificidade do pensamento
Freudiano (JORGE, 2017).

O nascimento da recusa das teses freudianas


depende precisamente da verdade que está em jogo em
seus conteúdos, verdade inaceitável, insuportável para os
Homens, pois demonstra que há algo que age neles à
revelia deles mesmos e, mais do que isso, algo a partir do
que eles agem sem saber que o fazem. Assim, ‘’A peste’’
da Psicanálise teve, desde o início, a proposta fundante de
desvelar o que é invisível ou, dito de outro modo, o que está
inconsciente no comportamento humano tornando explícito
“aquilo que não queremos ver de nós mesmos” e, então, foi
considerada como anti-ciência que desmonta todas as
utopias sociais possíveis.

A peste Freudiana contaminou o novo mundo,


ultrapassando barreiras geográficas, logo chegando em
Terra Brasileira, ocorrendo entre as décadas iniciais do
século XX. Marcou-se um período privilegiado de
incorporação das ideias Psicanalíticas no Brasil, sobretudo
através de duas vias distintas, desencadeando uma
discussão de projetos para a nação brasileira com o intuito
de modernização do país, erguendo-o à condição de
civilização, que ecoava desde o final do século XIX.

Ao identificar as duas vias discursivas de


apropriação da psicanálise no Brasil (a medicina higienista
e a arte modernista brasileira), este artigo indica uma
sintetização que esses pontos de ancoragem deixaram no
processo de construção do movimento psicanalítico
nacional. Se, por um lado, a medicina psiquiátrica teria se
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apropriado das ideias freudianas para o aperfeiçoamento


de sua prática clínica, para diagnóstico e descrição de
doenças; por outro, intelectuais, artistas e pensadores da
cultura brasileira perceberam na psicanálise a
possibilidade inusitada de entendimento e discussão das
questões nacionais.
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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Entrada do discurso Freudiano no Brasil

A virada do século XIX para o século XX marcou as


duas grandes transformações da sociedade brasileira: a
abolição da escravidão e a implantação da República
implicaram o país e sua inteligência num movimento de
reformulação das ideias e concepções a respeito do Brasil
e de seu povo. No entanto, se a inscrição formal na ordem
republicana não foi capaz de alterar radicalmente o estado
geral da nação (Patto, 1999), a abolição da escravatura
representava uma questão mais aguda e preocupante,
uma vez que escancarava a dificuldade de integrar no país
um excesso populacional que representava um empecilho
concreto para o seu desenvolvimento e elevação à
categoria de nação moderna e desenvolvida. (Torquato,
2014)

Neste contexto, a questão do aprimoramento racial


surge como solução que se fazia urgente perante um
diagnóstico que atribuía à raça a existência das mazelas
que afligiam esta população desamparada. Contudo, a
inteligência nacional não era uníssona ao tratar dessa
questão, assumindo desde posições profundamente
autoritárias – que apontavam, por exemplo, para a
necessidade de constituição de uma nova raça através da
crescente incorporação de contingentes brancos - até
aquelas que propunham maior intervenção estatal para
fornecer à população padrões mais adequados e
satisfatórios de saneamento e educação (Ponte, 1999).
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Segundo a historiografia, no Brasil, as primeiras


referências às teses freudianas ocorrem no meio
psiquiátrico carioca. A primazia dessa difusão cabe a
Juliano Moreira, fundador da psiquiatria moderna no país,
que em 1914 apresenta um trabalho sobre o tema na
Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina
Legal. Desde então, além de comentar e eventualmente
aplicar algumas técnicas em sua clínica, juntamente com
outras personalidades da psiquiatria local, ele procura
estimular seus discípulos ao estudo da psicanálise.
Resultado: em 1915, o aluno de Antônio Austregésilo,
Genserico Aragão de Souza Pinto, publica sua tese de
medicina intitulada, Da Psychanalyse: a sexualidade das
neuroses. Mas, ao longo desse período a personalidade
carioca mais motivada pela psicanálise é sem dúvida Júlio
Pires Porto-Carrero. Adepto de primeira hora, a partir de
1919 ele se dedica ao estudo do alemão, como dizia, "para
ler Freud no original", iniciando sua clínica em 1923 no seio
da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM).

Ainda que não seja praticada de forma sistemática,


nesses primeiros tempos, a temática freudiana ocupa um
lugar particular no meio psiquiátrico carioca, sendo
comentada e discutida pelos principais expoentes desse
saber e merecendo as mais variadas interpretações,
apreciações e utilizações que oscilam entre a simpatia, a
adesão, mas também a recriminação, não raro pautadas
na ideia de pansexualismo, bastante em voga na Europa.
A psicanálise se apresenta menos como uma alternativa à
psiquiatria puramente organicista, classificatória e incapaz
de apresentar uma solução ao tratamento das psicopatias,
que como um método complementar às diferentes técnicas
de cura existentes.
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Já em São Paulo, o debate tem início um pouco mais


tarde, em 1920, com a publicação do livro O
pansexualismo na doutrina de Freud, de autoria de Franco
da Rocha. Mas, apesar de ter sido lançada pelo principal
expoente da psiquiatra local, o "Pinel paulista" como era
chamado carinhosamente pelos seus discípulos, não é
pela via psiquiátrica que a psicanálise vai se expandir
nessa cidade, mas graças a uma grande difusão no meio
intelectual e sobretudo literário através dos modernistas.
Leitores de Freud em francês, ainda que façam uma leitura
bastante particular, irreverente, e diferente da dos
escritores franceses, sobretudo aqueles ligados ao
movimento surrealista, suas interpretações são
profundamente marcadas pelas teses originárias da
psicologia francesa. O mais próximo dessa corrente é
Mário de Andrade, cuja influência já se verifica em seu
poema "Paulicéia desvairada", escrito em dezembro de
1920 e publicado em 1922. De uma maneira geral, os
modernistas tentam, a um só tempo, acomodar as teses
freudianas à problemática inerente à produção literária
deles e à reflexão que fazem sobre a questão da identidade
nacional.

A primeira Sociedade Brasileira foi fundada em São


Paulo, no ano de 1927, tendo como presidente Francisco
Franco da Rocha e Durval Marcondes como secretário. No
ano seguinte, 1928, na sede do Hospital Nacional de
Alienados, foram eleitos para a fundação da primeira
Sociedade no Rio de Janeiro: Juliano Moreira, presidente
e Porto-Carrero, secretário.

Todo o grupo de discípulos de Juliano Moreira


tornou-se membro dessa Sociedade, com o objetivo de
divulgar o pensamento Freudiano junto à criação de um
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centro de debates científicos, permanecendo ativa durante


três anos e logo após se extinguiu por inatividade pelo fato
de Durval Marcondes ter tomado conhecimento do sistema
de formação psicanalítica e considerar esse o principal
objetiva a ser alcançado no Brasil por ela, seguindo nessa
caminhada sem os demais membros.

Em 1928, Franco da Rocha, J. Ralph, J. P. Porto


Carrero, Durval Marcondes e Paulo José de Toledo
lançaram artigos no primeiro número da Revista Brasileira
de Psychanalyse. Tal revista se manteve inativa durante
anos retomando seu lançamento somente em 1967 e, a
partir de então, não mais interrompida. Desde a ocasião o
Grupo estabeleceu uma Comissão de Ensino para
organizar a formação de psicanalistas, conforme
estipulado pela IPA.

2.2 Psicanálise e Psiquiatria: uma enigmática junção

Para compreensão dessa aliança do saber médico


com a psicanálise, é fundamental considerarmos que, no
período em questão, o discurso médico nacional lançava
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sua tônica em uma concepção higienista, que operava com


ideias de desvios físicos e psíquicos e que ponderava suas
articulações em torno das noções de prevenção e
educação profilática. Essa geração da medicina no país se
incumbiu de estabelecer uma série de medidas profiláticas,
dispostas a “corrigir os defeitos do povo”, caucionando uma
“procriação mais saudável” que garantisse uma “formação
mais nobre” para o futuro do nosso povo. Assim, o controle
proposto pelo ideário da higiene mental objetivava expungir
a feição excessiva, degenerada e desregrada da formação
racial nacional, buscando um novo lugar, mais moderno e
sadio. Os médicos psiquiatras passam a ser convocados e
então se debruçam na gestão dessa perspectiva para a
nação. Um dos objetivos centrais da política higienista no
Brasil passou pela preocupação do negro se tornar o fator
primordial de degenerescência do povo brasileiro.
Restavam então as políticas do Estado, bem como a
participação efetiva tanto dos médicos quanto dos
educadores nesse processo.

Embora desde seu surgimento a prática


psicanalítica tenha sido associada à prática médica,
ambas, na verdade, não apresentam nada em comum e
requerem, outrossim, ser distinguidas em seus
fundamentos. Tendo ele próprio uma formação
universitária médica e neurológica, Freud sempre manteve
uma posição favorável à prática da análise leiga (por não
médicos), tendo mesmo dedicado um longo trabalho para
tratar desse assunto; mas sua palavra não foi, muitas
vezes, escutada e durante muitas décadas pudemos
encontrar muitos centros onde a prática da psicanálise se
encontrava restrita exclusivamente aos médicos (Jorge,
2017).
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Paradoxalmente, era, entretanto, justo no seio da


medicina que Freud localizava a fonte de uma das maiores
resistências iniciais às descobertas psicanalíticas. Com
efeito, fortes contingências históricas pareciam vir a se
associar a uma resistência que é preciso ser concebida
enquanto estrutural: quando a psicanálise surge, trata-se
precisamente do momento em que a medicina começava a
se impor enquanto um campo de aplicação prática de
diversas ciências, fato que constitui a atualidade da
medicina moderna. A chegada da psicanálise não poderia
deixar de ecoar, para o moderno espírito médico nascente,
como uma espécie de retrocesso às especulações
filosóficas e místicas da chamada “filosofia da natureza”
nas quais a medicina estivera mergulhada numa época
imediatamente anterior.

...a psicanálise tira apenas desvantagens de sua posição


intermediária entre medicina e filosofia. Os médicos a veem como um sistema
especulativo, não querem acreditar que, como qualquer outra ciência natural,
ela se baseia na paciente e trabalhosa elaboração de fatos do mundo das
percepções; os filósofos, que a medem pelo padrão de seus próprios
sistemas artificialmente edificados, acham que ela parte de premissas
impossíveis e lhe reprovam o fato de seus conceitos principais – que se
acham em desenvolvimento – carecerem de precisão e clareza (FREUD,
2011[1925]:258).

No entanto, a construção do campo psicanalítico


não se restringiu às respostas freudianas às críticas e
resistências encontradas. De certo modo, as diferentes
sociedades ao redor do velho e novo mundo se
apropriaram criticamente e acriticamente do discurso
psicanalítico na medida em que este se difundia
internacionalmente.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma vez lançada, ao longo do decênio 1920, a


psicanálise vai rapidamente se tornar objeto de
comentários e análises da parte dos mais importantes
intelectuais das cidades do Rio de Janeiro e São
Paulo. Médicos, psiquiatras, cronistas sociais, intelectuais,
a favor ou contra, abordaram a temática freudiana pela
ideia de pansexualismo deslocando esse saber do quadro
clínico para o social. Eles se servem do termo tanto pelo
viés moralista e/ou nacional, de resistência à psicanálise,
quanto pelo seu aspecto inovador, moderno, para valorizar
os méritos da doutrina e de sua base psicológica, mas
igualmente no seu sentido filosófico, como sistema
explicativo do social.

Ao nos debruçarmos sobre os pontos de ancoragem


da psicanálise no Brasil, deparamo-nos com a
particularidade do caso brasileiro: aqui, a difusão da teoria
psicanalítica esteve intimamente ligada às demandas
da intelligentsia nacional para a construção do projeto de
nação e nacionalidade que ecoava no país desde o final do
século XIX. Nesse cenário de discussão de um projeto
nacional, no qual a conformação de um ideal de homem e
de povo era a questão central em pauta nos debates, a
psicanálise é trazida para o Brasil por setores específicos
da psiquiatria e da vanguarda artística. Vai, assim, se
desenhando como um novo saber, capaz de oferecer
novos procedimentos e meios de abordar a psicologia
humana, a formação da personalidade, método de
investigação, terapia alternativa, dispositivo rico para
investigações estéticas.
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REFERÊNCIAS

SALIM, Sebastião. A História da Psicanálise no Brasil e em Minas Gerais. Belo

Horizonte – Minas Gerais.

TORQUATO, Luciana. ROCHA, Guilherme (2016). A História da Psicanálise do

Brasil. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Departamento de Psicologia,

Belo Horizonte/MG, Brasil.

JORGE, Marco. (2017) Freud com Lacan: A Psicanálise hoje. Reverso vol. 39 no. 73

Belo Horizonte.

TORQUATO, Luciana (2014). A História da Psicanálise no Brasil: Enlace entre o

discurso Freudiano e o Projeto Nacional. Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG

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