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Doutoramento em Ciência Política

Especialização em Relações Internacionais

Relações Internacionais na Época Contemporânea

Fim dos Impérios

Docente: Professor Doutor Luís Nuno Rodrigues


Aluno: Ana Lúcia Barracho Oliveira

Lisboa, janeiro de 2016


Fim dos Impérios

INTRODUÇÃO
No presente trabalho, que integra o bloco Fim dos Impérios, serão analisados três
artigos de autores diferentes, mas cujo percurso académico e profissional, se encontra
de alguma forma relacionado. À falta de melhor termo, atrevemo-nos a afirmar que
cada um, à sua maneira, se especializou na área das Relações Internacionais, seja por
via da História, dos estudos da Guerra, da Paz, da Segurança, das Sociedades e sua forma
de organização, demonstrando a importância crescente que esta disciplina tem vindo a
assumir nos panoramas nacional e internacional.
Enquanto seres humanos, temos uma necessidade premente de encontrar o
“porquê” do que nos rodeia, de perceber a sociedade em que nos inserimos e o mundo
em que vivemos. Procuramos entender os motivos que levam a que se reaja de
determinada forma perante dada situação, o que está na origem dos conflitos que,
quase de forma ininterrupta, têm assolado algumas regiões do globo, fazendo vingar
formas de violência de tal modo extremos que julgaríamos não ser humano quem por
elas opta…
Analisar-se-ão então os artigos:
• Hall, I. (2011). The Revolt against the West: Decolonisation and its Repercussions in
British International Thought, 1945–75. The International History Review, 33 (1): 43-64.
• Thomas, M. (2000). Divisive decolonization: The Anglo-French withdrawal from
Syria and Lebanon, 1944–46. The Journal of Imperial and Commonwealth History,
28 (3): 71-93.
• O’Sullivan, C. (2005). The United Nations, Decolonization, and Self-
Determination in Cold War Sub-Saharan Africa, 1960-1994. Journal of Third
World Studies, Vol. XXII, nº 2: 103-120.
Todos os artigos colocam como questão central do fim dos Impérios, o fenómeno da
Descolonização, incentivada pela ascensão de nacionalismos, a cuja necessidade de
autodeterminação dos povos é inerente, e tida pela Organização das Nações Unidas
(ONU), como bandeira e modo de garantir a tão ansiada paz, essencial para a garantia
de direitos humanos, “preserva[ndo] as gerações vindouras do flagelo da guerra” (Carta
das Nações Unidas, Preâmbulo).

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Fim dos Impérios

THE REVOLT AGAINST THE WEST: DECOLONISATION AND ITS REPERCUSSIONS IN BRITISH INTERNATIONAL THOUGHT,
1945–75
Da autoria de Ian Hall, Bacharel em História Moderna pela Universidade de Oxford,
Mestre em Estudos Internacionais e Doutor em Relações Internacionais pela
Universidade de St Andrews. É Professor na School of Government and International
Relations, na Universidade de Driffith, em Brisbane (Austália), dirigindo o Instituto da
Ásia de Griffith na mesma instituição. Apresenta como interesses de investigação:
História do Pensamento Internacional, Teoria das Relações Internacionais, Estudos de
Segurança, Políticas Externas e Securitárias da Índia.
Apresenta uma extensa produção académica e científica, da qual se realçam o livro
Hall, I. (2012) Dilemmas of Decline: British Intellectuals and World Politics, 1945-1975,
Berkeley Series in British Studies 2, Berkeley and Los Angeles, CA: University of California
Press, http://escholarship.org/uc/item/05g4n84c; os artigos Bevir, M. & Hall, I. (2014).
Traditions of British International Thought. International History Review 36 (5): 823-834.
Hall, I. (2014). Martin Wight, the Whigs and Western Values in International
Relations. International History Review 36 (5): 961-981 e os capítulos de livros Hall, I,
(2011). The Revolt against the West Revisited. Em Tim Dunne e Christian Reus-Smit
(edits.), The Globalization of International Society. Oxford: Oxford University Press; Hall,
I. (2015). Interpreting Diplomacy: The Approach of the Early English School. Em Robert
Murray (ed.), System, Society and the World: Exploring the English School of
International Relations, Bristol: e-IR.
O artigo em análise foi publicado em 2011, na The International History Review da
Routledge – Talor & Francis, editora bastante conceituada no meio académico, o que
confere ao artigo e seu autor a credibilidade indispensável a um bom artigo científico.
Atingiu o percentil 81 da Altmetric, a qual analisa fontes abertas e verifica a atenção
que é dada a cada artigo, mediante o número de vezes que este é pesquisado ou citado.
Assim, do total de pesquisas monitorizadas pela Altmetric, o artigo em análise encontra-
se muito bem posicionado, tendo chamado a atenção da comunidade científica,
académica e do público em geral (numa escala de 0 a 100, sendo 100 o melhor
resultado). É verdade que não deixa de acarretar alguma subjetividade, mas qualquer
forma de medição estatística o faz.

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Fim dos Impérios

Identifica-se como objetivo desmistificar a ideia, amplamente veiculada, que os


intelectuais britânicos ou foram indiferentes à descolonização ou procuraram minimizar
os seus impactos. Para isto, o autor analisa os pontos de vista de pensadores de três
correntes através das suas obras: Internacionalistas que confrontados com um futuro
diferente do esperado viam a descolonização como um revés para a ordem internacional
instituída, Whighs que a consideravam algo expectável e consequência da política
internacional no pós-guerra, e Radicais que, não só simpatizavam com o
anticolonialismo, como defendiam que o colonialismo não era mais que um sistema
organizado para explorar economicamente as colónias, alimentando os centros
imperiais. Defende ainda que a chamada “Revolta contra o ocidente” se constitui como
uma questão chave para a moldagem do pensamento britânico numa época em que a
disciplina de RI se estava a formar.
O artigo encontra-se dividido em cinco partes, nas quais se incluem três que
correspondem, cada uma delas, à análise de uma corrente de pensamento, antecedidas
por um resumo: Introdução, Internationalism Betrayed; The Revolt Against the West;
The Radical Repost, terminando com uma Conclusão, síntese dos resultados obtidos e
resposta aos objetivos.
As décadas da descolonização foram conturbadas aos mais diversos níveis. Época de
ascendência de nacionalismos, de reequilíbrios de poder, guerras, debates ideológicos
e académicos, que pelo lado positivo, permitiram lançar debates nas comunidades
académica e científica, sem os quais não se teriam verificado avanços tão notáveis nas
Ciências, na organização societária, na forma como olhávamos e encarávamos o mundo.
Os internacionalistas sentiram o impacto da descolonização talvez de forma mais
forte que qualquer outro britânico. A mudança de paradigma trazida por uma nova
ordem mundial, permitia-lhes antever a desgraça do Cristianismo e a rebarbarização do
mundo deixado às mãos dos muçulmanos que se uniriam contra o ocidente,
constituindo-se como uma ameaça à civilização como a conhecíamos, algo que décadas
depois, nos volta a assombrar.
Nesta linha, Gilbert Murray defende que são as elites que devem assumir a
manutenção do poder e não o homem comum, que não tem capacidades para tal, tendo
tendência a ver as nações ocidentais como inimigas.

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Fim dos Impérios

O processo de descolonização, não se tendo demonstrado tão negativo como


esperado, provocou divisões entre pensadores. Por exemplo, Margareth Perham
lamentou os movimentos independentistas mas considerou o desejo de
autodeterminação legítimo, sugerindo abertura para que, caso necessário, fosse
providenciada ajuda às antigas colónias para que materializassem a sua independência.
Pelo contrário, Carrington entendia a descolonização como uma liquidação do Império,
termo que numa época de totalitarismos não tinha um significado agradável, apontando
o dedo aos americanos que considerava pouco informados e à doutrina da
autodeterminação. Apontava a descolonização como uma revolução destrutiva que não
podia originar mais que destruição e era um fervoroso crítico do cada vez maior número
de Estados. Resistência à mudança? Provavelmente…
Steton-Watson encarou a descolonização como pouco menos que um desastre,
apontando-a como causa e sintoma das RI no pós-guerra, defendendo que a Grã-
Bretanha tinha obrigações para com os povos coloniais que não devia abandonar, razão
pela qual não havia motivo para aceder a sentimentos nacionalistas com tanta leveza,
aos quais apenas se acedia pela falta de confiança que os banhos de sangue resultantes
das guerras mundiais originaram.
Os pensadores da corrente Whigh não foram imunes às divisões: enquanto alguns
viam a “Revolta contra o Ocidente” como uma séria ameaça à manutenção de uma
política internacional “civilizada”, outros aceitaram-na como algo que vinha sendo
preparado há muito tempo e, como tal, expectável. A confluência de opiniões residia no
facto de ser uma característica da política internacional no pós-guerra e que deveria ser
aceite e incorporada como tal. Assim, Butterfield defende que esta Revolta é inevitável
quando se subjuga outrem, e, dúvidas existissem, bastaria que os ocidentais se
colocassem no lugar de árabes ou indianos.
Martin Wight, com uma visão mais pessimista, entendia o Nacionalismo como a
principal causa do declínio da “sociedade internacional” e esta Revolta era o estágio final
do declínio. Mais, defendia que as depredações causadas nas colónias pelas metrópoles,
sem que estas tivessem permitido a manutenção de uma identidade cultural, abriam
espaço para a emergência de totalitarismos, pelo que cabia aos Britânicos garantir que
as suas ex-colónias se tornariam, efetivamente, democracias, de longe mais importante
do que defender os interesses britânicos. A UN era vista como um órgão do

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Fim dos Impérios

anticolonialismo, que usava dois pesos, duas medidas. Elites decidem pelas massas sem
que tenham em conta a sua vontade, obrigando os que não concordam com o
estabelecido a escolher outro caminho por si mesmos, talvez noutro país. A
descolonização era, no seu todo, uma séria ameaça ao tecido da sociedade internacional
com resultados desastrosos.
Em contraposição, Hedley Bull com uma visão mais otimista encara a
autodeterminação como normal para qualquer povo em evolução, da mesma forma que
entende a existência de múltiplos Estados soberanos como benéfica nos assuntos
internacionais. Era um crítico acérrimo do uso da guerra como mecanismo de obtenção
e imposição de soberania dos Estados. Antes, defendia que a chave para uma
coexistência pacífica estaria na aceitação de diferentes valores e instituições mundo
fora. Afirmava também que as diferentes noções de justiça (ocidental e não ocidental)
obstavam à manutenção da ordem internacional, mas para isso contribuía também a
ideia do Ocidente que, por um lado, é possível uniformizar culturas, por outro, como
que numa luta de titãs entre modos de vida pelo mundo fora, seria o modo de vida
ocidental a vingar e não qualquer outro.
Por sua vez, Adam Watson, enquanto diplomata com atividade especialmente focada
em África, apresentava uma visão mais otimista, ou talvez, mais realista, defendendo
que os novos Estados não eram, nem seriam tão dependentes como se fazia crer e que
as ordens internacionais antes e pós-guerra não eram descontínuas, antes,
apresentavam importantes continuidades que não deviam ser olvidadas e que poderiam
até ser o pilar da esperança britânica. Afirmava ainda que a tão temida Revolta contra o
Ocidente, não servia para mais que esconder as importantes continuidades das relações
entre metrópoles imperiais e antigas colónias, não se constituindo os novos Estados
como ameaça à ordem internacional mas sim, sendo económica e politicamente mais
fracos, como contributos para a manutenção do poder económico e político
internacionais por parte dos Estados mais fortes.
Por fim, os Radicais afirmavam os Impérios como uma forma de exploração
económica das colónias, ideia que impactou na forma como se pensaram as RI,
essencialmente na década de 60. Pessoalmente a perspetiva apresentada não causa
surpresa pois, como já vimos anteriormente, era possível obter as matérias-primas e a
mão-de-obra a custos muito baixos, adquirindo os produtos valor acrescentado à

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medida que iam sendo processados, o que era feito nas metrópoles imperiais. As
colónias eram frequentemente forçadas a adquirir os produtos finais, o que, aliás, pode
hoje ser visto quando determinado país apoia o desenvolvimento de outro, fornecendo-
lhe, por exemplo, maquinaria, a qual só pode ser reparada pelo país fornecedor, ou
mesmo nos acordos de venda e revenda de material bélico.
Tinham assim posturas anticoloniais e defendiam a responsabilidade dos países do
hemisfério Norte, mais desenvolvidos, em apoiar o desenvolvimento dos países do
hemisfério sul, já que os tinham explorado e criado um ciclo vicioso de pobreza que
parecia perpetuar-se.
A descolonização seria o fim do Imperialismo Britânico? Os radicais consideravam
que não, que pouco ia mudar pelo que não se mostraram fortemente entusiasmados
com o processo. Mais, Michael Brown afirmava mesmo que com a sobrevivência do
capitalismo, e a redistribuição de riqueza defendida por muitos Radicais, o império
continuava, apenas de uma forma diferente, mais informal.
As divisões continuam: Se uma fração defendia que a resposta estava na resolução
pacífica de conflitos para a qual podiam contribuir UN e NATO, outra fração alimentou
sentimentos anticolonialistas, apoiando várias formas de violência como resistência
contra a opressão que o novo imperialismo causava e resposta às humilhações a que os
povos das colónias britânicas haviam sido sujeitos. Consideravam legítimo recorrer às
armas para lutar contra as ambições imperialistas da Grã-Bretanha, apesar de todas as
repercussões que tal pudesse trazer.
O artigo permite perceber, sem sombra de dúvida, que o assunto foi amplamente
debatido, pelo que não é possível, de facto, afirmar que os académicos e pensadores
Britânicos se mostraram indiferentes à descolonização ou mesmo que minimizaram o
seu impacto. Pelo contrário, o assunto dominou durante décadas o debate e teve um
peso preponderante na forma como a Escola Britânica se separou, por exemplo, da
Americana, não que esta não tenha influenciado a primeira. Os objetivos do artigo foram
assim cumpridos.
A estruturação do artigo facilita a leitura, todavia e apesar da tentativa de separação
de autores por correntes de pensamento, esta não é assim tão linear pois para o simples
leitor acarreta dificuldades. É possível perceber facilmente que pensadores há que
partilham crenças de diferentes correntes, e que foram mesmo veículo de transmissão

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Fim dos Impérios

de conhecimento durante gerações. A influência de cada um no pensamento Britânico


não se apresenta tão clara quanto o resumo do artigo faz crer, nem a exposição de ideias
é tão linear e simples. Todavia, não deixa de ser verdade a descolonização teve um papel
preponderante na forma como os académicos Britânicos pensaram as RI, sendo as
divergências de opinião entre os pensadores de cada corrente e até da mesma corrente
terreno fértil para a evolução da disciplina e para a definição de conceitos que se viriam
a revelar de extrema importância e utilidade para as RI. Todos contribuíram para a
consolidação de uma escola Britânica, diferente da Americana e foi esta troca de ideias
entre pensadores, por sua vez influenciados pelas crenças e pela conjuntura
internacional, que permitiram a diferenciação e o contributo da Escola Britânica para as
RI no seu período formativo.
Quanto às fontes, devido ao facto de o artigo não apresentar uma seção para
referências bibliográficas, mas apenas Notas, é possível vislumbrar a utilização
maioritária de artigos científicos, com pouco recurso a obras completas.

DIVISIVE DECOLONIZATION: THE ANGLO-FRENCH WITHDRAWAL FROM SYRIA AND LEBANON, 1944–46
Ligado ao artigo anterior e de forma, atrevemo-nos a afirmar, algo contraditória
devido à posição ambígua do Reino Unido a nível interno e externo, o segundo artigo
permite-nos uma incursão pela crise anglo-francesa por ocasião da descolonização da
Síria e do Líbano, no período compreendido entre 1944 e 1946.
O seu autor, Thomas Martin é licenciado em História Moderna e doutorado pela
Universidade de Oxford. Atualmente é professor na Universidade de Exeter (Devon) no
Reino Unido, dirigindo o seu Centro para o Estudo da Guerra, Estado e Sociedade. Os
seus interesses de investigação vão desde o Império colonial Francês e a descolonização
Europeia ao Nacionalismo anticolonial no norte de África passando pelos serviços de
segurança colonial e violência estatal, as insurgências coloniais e “guerras sujas”, e, por
fim, as políticas internacionais Francesas desde 1919.
Da sua ampla produção científica constam 8 livros, 27 artigos, e 13 capítulos de livros,
dos quais, por se encontrarem relacionados com o artigo em análise, destacamos
(2014). Fight or Flight: Britain, France, and their Roads from Empire. Oxford: Oxford
University Press; (2006). Anglo-French Imperial Relations in the Arab World: Intelligence
Liaison and Nationalist Disorder, Diplomacy & Statecraft, vol. 17, no. 1, 1-28; (2005)
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Colonial States as Intelligence States: Security Policing and the Limits to Colonial Rule in
France's Muslim Territories, 1920-40, Journal of Strategic Studies, vol. 28 (2): 1033-1060;
(2013). A path not taken? British perspectives on French colonial violence after 1945.
The Wind of Change: Harold Macmillan and British Decolonization. Basingstoke:
Palgrave-Macmillan, 159-179.
O artigo em análise foi publicado no The Journal of Imperial and Commonwealth
History, da Routledge - Taylor & Francis, no ano de 2000. Os exigentes requisitos e o
rigoroso processo de publicação conferem ao artigo a credibilidade científica
indispensável para a natureza deste trabalho.
É possível identificar como objetivo do artigo, analisar a crise anglo-francesa na
descolonização dos territórios do Levante, nomeadamente Síria e Líbano no pós II
Guerra Mundial. Enfatiza o processo de negociação e a relação Britânica com as
administrações Síria e Libanesa, permitindo lançar um olhar esclarecedor para esta crise
que tem sido vista como resultado da intransigência, fraqueza e humilhação gaulesas. O
autor defende que, se por um lado o Reino Unido, apesar de com um “amargo de boca”,
se ajustou paulatinamente ao domínio americano e ao novo equilíbrio de poderes, a
França, recusou aceitar as mudanças, depositando nos anseios imperiais a esperança
para a recuperação do país no pós II Guerra Mundial e para a projeção de poder
internacional. Esta persistência terá acabado por agudizar a antipatia dos países
ocupados, colocando o país numa posição frágil.
O artigo encontra-se dividido em 4 partes, às quais acrescem Introdução e Conclusão.
Sendo a zona considerada estratégica para ambas as partes, pelo poder de influência
que poderia dar no Médio-oriente, permitindo projetar poder internacionalmente, o
império Britânico incentivou a independência da Síria e do Líbano, não significando que
não tivesse interesses geopolíticos e estratégicos, tinha-os e apoiava a criação da Liga
Árabe (Síria, Líbano, Egipto, Transjordãnia, Arábia Saudita e Iraque). A França, nas
palavras do autor, enfraquecida, encarava a manutenção do império como pedra
angular do seu ressurgimento enquanto potência internacional no pós II GM e encarava
a perda do território como uma derrota face ao poder imperial Britânico que apenas
poderia sair reforçado com a sua influência na Liga Árabe.
Associados a uma forte presença militar e apoio Britânicos, o nascer de sentimentos
nacionalistas, a defesa de grupos étnicos e religiosos minoritários, os confrontos

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Fim dos Impérios

violentos e manifestações que se verificaram em alguns períodos de ocupação francesa


na Síria, fizeram com que a França fosse perdendo credibilidade política e a
independência se tornasse inevitável. No entanto, não sem luta: a França opôs-se,
defendendo a autonomização dos territórios ocupados do restante mundo Árabe sobre
o qual o império britânico tinha influência.
A França procurava a manutenção de uma República Síria, mediante criação de uma
federação Sírio-iraquiana, que permitiria aspirar ao bloqueio da unificação dos países do
chamado Crescente Fértil e da divisão da Palestina com vista à criação do Estado de
Israel patrocinados pelo império britânico, que o fim da II GM permitia antever.
De relevar que França havia assinado Tratados de Independência com a Síria e o
Líbano em 1936, todavia, adiaram a efetivação.
A incapacidade do Império Britânico em ultrapassar a intransigência Francesa e a
questão Palestiniana levaram a que os países que integravam a Liga Árabe e a União
Soviética ameaçassem os Britânicos com a retirada do reconhecimento do Líbano como
estado independente o que comprometeria a estabilidade na região, impedindo a
passagem de meios para combater o Japão e exigindo dos Britânicos uma presença
militar na região superior à que podiam dar devido à participação na II GM.
Impôs-se assim a necessidade de ceder a algumas das condições impostas pela
França, como foi o caso da concessão de tratamento preferencial na negociação dos
tratados com a Síria e com o Líbano. Terminada a II GM, com interesses opostos, a
França exigia reforçar poder militar na região até concretização da independência,
alegando que apenas assim podia defender interesses comerciais, educacionais e
religiosos, todavia, a jurisdição francesa na região havia sido subjugada aos interesses
estratégicos britânicos no armistício Sírio de 1941, e o império Britânico defendia a
necessidade de rapidamente rearmar as forças Sírias e Libanesas.
Assistimos ao primeiro confronto entre a necessidade de descolonização e a defesa
de interesses estratégicos ocidentais, por dois titãs. Perante a dualidade de opiniões, os
Governos Sírio e Libanês optaram por criar forças armadas próprias, preparando a
independência, acabando os Britânicos por fornecer equipamento. Após um período de
violência política na Síria, que levaria a uma resposta bélica francesa e culminaria na
morte de centenas de civis, a França aceitava retirar as forças militares e apostar na via
diplomática, estreitando laços com Síria e Líbano.

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Fim dos Impérios

Mas o impasse entre os impérios levaria a que os novos governos acabassem por
escolher a América para treinar as forças armadas recém-formadas e que precipitaria
um acordo de retirada Anglo-Francês, naquela que se constituiu como uma imensa
derrota para os dois impérios.
O fim da II GM, a necessidade de reconstruir a Europa e o desinteresse dos titãs
(América e União Soviética) pelos territórios que consideravam de pouco interesse na
região, obrigou à cooperação Anglo-Francesa.
Governos Sírio e Libanês exigiam a retirada de forças dos dois impérios, aceitando a
presença Britânica e negando qualquer presença, civil ou militar, Francesa, o que fez a
França endurecer a sua posição: apenas se retiraria após a entrada da UN. Esta
exigência, em plena Guerra Fria era contrária aos interesses americanos pois podia dar
à União Soviética vantagens sobre o território e Damasco e Beirute sabiam-no, tendo
usado esse trunfo para conseguir a retirada desejada. Alegaram junto da UN que a
permanência das forças armadas criava dificuldades políticas e pressionaram EUA a
intervir por eles, aproveitando a pressão exercida pela UN para descolonização.
No fim, a França acabou por conseguir reabrir escolas nos dois países e estabelecer
relações diplomáticas, espelho da importância da herança cultural. A Inglaterra adquiriu
direitos de implementação e utilização de bases aéreas e espaço aéreo e os EUA
treinaram forças armadas.
O bastião da Síria e do Líbano? O direito a ter forças de segurança próprias. Sinónimo
de soberania, independência e elemento distanciador dos ocupadores. Algo similar ao
que vemos hoje na UE, em que as questões relativas à segurança interna são da
responsabilidade de cada país, bem como a decisão de restabelecer fronteiras para
conter ameaças, intervindo a UE apenas no combate a criminalidade transnacional com
o aval dos países e mediante implementação de operações conjuntas.
O objetivo do artigo foi cumprido, tendo sido possível perceber o que esteve na
origem da crise anglo-francesa e compreender os processos de negociação levados a
cabo, bem como a complexidade que os envolveu. É um artigo puramente descritivo, o
que torna a sua leitura algo complexa. É todavia, de compreensão acessível.
Verificamos a profundidade dos interesses estratégicos e económicos no domínio das
relações entre os Estados, permitindo reafirmar que “There is no such thing as a free
lunch” e que sabendo usar-se a via diplomática podem colher-se mais frutos.

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Fim dos Impérios

Quanto às fontes, o artigo não apresenta uma seção para referências bibliográficas,
mas apenas Notas, que permitem entrever a utilização maioritária de artigos científicos,
legislação e documentos diplomáticos com pouco recurso a obras completas.

THE UNITED NATIONS, DECOLONIZATION, AND SELF-DETERMINATION IN COLD WAR SUB-SAHARAN AFRICA, 1960-
1994
O último artigo surge-nos pela mão de Chris O’Sullivan, licenciado em História
Americana pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, Mestre e Doutor em História
Internacional pela Escola de Economia de Londres (Universidade de Londres). É
Professor de História na Universidade de São Francisco, tendo sido galardoado com o
prémio Inovação no Ensino em 2013. Foi Professor na Universidade da Jordânia e tem
como interesses de investigação História, Identidade, e conflitos étnicos e religiosos.
Da sua produção literária e científica, destacamos Sumner Welles (2008), vencedor
do prémio Guttenberg da Associação Histórica Americana, FDR and the End of Empire:
The Origins of American Power in the Middle East (2002); The United Nations: A Concise
History (2005); (2009). The Occupation: War and Resistance in Iraq. Peace & Change, 34
(4), 581-586; (2013). Colonialism in Asia. Em T. Zeiler & M. DuBois (edits). A Companion
to World War II (pp. 63-76); Oxford: Blackwell Publishing Ltd.
O objetivo identificado é dissecar a história da ONU e o seu papel nos processos de
descolonização e independência dos novos países da África Subsariana. Argumenta que,
a partir de 1960, a história das NU passa muito pela África Subsariana, crescendo a
organização à medida que os países desta região se iam tornando independentes, ao
mesmo tempo que enfrentava os maiores desafios da era da Guerra Fria e as falhas mais
expressivas. Confrontada com as consequências da má administração colonial,
subdesenvolvimento e exploração das colónias, atreveu-se a implementar missões de
manutenção de paz em cenários pouco propícios a qualquer paz.
Para atingir o objetivo, o autor divide o artigo em quatro partes, às quais acresce uma
Introdução. Esta estruturação e a linguagem simples permitem uma fácil compreensão
do exposto.
A natureza da descolonização, o subdesenvolvimento dos territórios desejosos de
independência, a violência que os povos haviam sofrido (escravatura, exploração
económica, genocídios), marcas indeléveis da brutalidade imperial europeia, e o

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Fim dos Impérios

enraizamento de estruturas sociais hierárquicas orientadas para a exploração dos


povos, fariam com que a UN se debruçasse com especial ênfase sobre esta região do
globo. Acresce o facto de os regimes pós-coloniais terem, em muitos casos, seguido as
linhas políticas implementadas.
As independências tardias, numa época em que a Guerra-Fria já se havia globalizado
(se é que assim o podemos dizer), acabou por colocar África debaixo dos holofotes das
superpotências sem que estas soubessem lidar com a situação da melhor forma.
Depois de uma década na qual os interesses ocidentais dominaram a agenda das NU,
o surgimento de países africanos, o seu reconhecimento e aceitação na Assembleia
Geral, foram vistos como ameaças aos interesses ocidentais, por um lado, e como
esperança, para a comunidade internacional, que finalmente se resolvessem os
problemas da região, promovendo o seu desenvolvimento. Não esqueçamos que as
fronteiras dos países haviam sido desenhadas pelos impérios coloniais segundo os seus
interesses, quase a régua e lápis, sem que houvesse preocupação com as sintonias
culturais e tribais, o que fomentou os conflitos na região.
A crise do Congo, que se tornaria independente sem que houvesse uma elite
governativa preparada (e há quem aponte este facto como propositado e inserido numa
estratégia belga de manutenção do território, devido à riqueza do país em recursos
naturais), levaria à implementação de uma missão multinacional de reposição de paz,
de cariz essencialmente militar, uma das maiores até à data, procurando não tomar
partidos, o que podia e deveria ter feito. Em vez disso, aceitou a permanência belga, o
que levaria a que o governo congolês afastasse a UN do território, ficando este
fragmentado, e à mercê de um déspota, revelando as fragilidades da Organização.
A tão proclamada autodeterminação não deixa de ser um chamado pau de dois bicos:
só importa quando os países com assento na Assembleia geral e poder de veto têm
interesse que assim seja. Em África isto era notório: numa região na qual a
independência pretendia fluir, os países governados por minorias brancas eram uma
realidade e tendo aliados ocidentais perpetuavam-se no poder sob ameaça de veto das
resoluções da Assembleia-geral, essencialmente do Reino Unido e dos EUA, com o
argumento que esses governos seriam bastiões anticomunistas.
Também aqui as batalhas da Guerra Fria tiveram influência. A África do Sul,
considerada essencial pelos EUA, e estando sob administração Britânica, não conseguia

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Fim dos Impérios

a sua independência, apesar do endurecimento de posição da ONU que procurou impor


sanções económicas: o veto chegava pelos EUA ou pela Inglaterra.
O Sudoeste Africano, agora Namíbia, antiga colónia alemã, reclamou das Nações
Unidas uma alteração no cariz das missões de paz: da reposição de paz, cariz
essencialmente militar, passou-se para a sua manutenção, através da introdução de
elementos de forças de segurança (cariz civilista), ajuda humanitária e missões de
observação eleitoral.
Angola revelou-se um verdadeiro desafio para a ONU, um povo profundamente
seccionado, com fações apoiadas por Cuba, URSS, Estados Unidos e África do Sul, cada
um manipulando os que apoiava em defesa dos seus próprios interesses. Foram 4 as
missões, com vista a promover retirada de tropas estrangeiras, a monitorizar a
implementação de acordos de paz, a promover a reconciliação entre fações, e um
convite para abandonar o país.
Com o fim da guerra fria abriram-se portas para intervenções mais profundas e
capazes por parte das NU, nomeadamente intervenção na prevenção de conflitos,
manutenção de paz e reconstrução das estruturas civis e políticas mais básicas, ao
mesmo tempo que chegavam novos desafios: o ampliar da globalização enfatizava o
fosso entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, com especial ênfase na questão
económica, o ressurgimento de sentimentos nacionalistas que reclamavam por novas
independências e conflitos étnicos, preocupação constante.
Depois do massivo sucesso na Namíbia, a Somália voltaria a mostrar a fragilidade das
NU: num país devastado e profundamente dividido internamente, no qual a lealdade
era devida a clãs e não a um Governo central, a morte do ditador governante, abriu uma
crise humanitária sem precedentes. Os interesses das superpotências no país e a sua
localização privilegiada no corno de África, permitiram que, sob a égide das NU, o poder
de veto dos membros permanentes e os seus interesses se sobrepusessem ao interesse
da comunidade internacional, obrigando a uma assistência humanitária massiva, e à
implementação da maior missão de paz de sempre, com cerca de 40.000 elementos nas
mais diversas vertentes que tornavam a gestão de meios difícil.
Após o problema Somali, o genocídio no Ruanda, massacre de cerca de 1.000.000 de
tutsis e hutus moderados por hutus extremistas, em parte causado pela inação das NU
devido à sobreposição de interesses dos membros permanentes ao interesse geral,

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Fim dos Impérios

permitiu que os sucessos da ONU fossem desvalorizados e se revelasse necessário


repensar as intervenções.
Apesar de o panorama internacional se ter tornado mais acolhedor para a
intervenção da ONU, sem que me possa afirmar espantada, os interesses continuaram
e continuam ainda hoje a sobrepor-se ao interesse dos povos. O caso de Timor-Leste foi
um sucesso mas debatemo-nos atualmente com o caso Sírio, com um reacender das
hostilidades entre USA e Rússia, ambos membros permanentes com poder de veto que,
se entenderem, podem manipular a atuação internacional ao seu sabor. Deveria ser
possível? Talvez não, mas num mundo governado por seres humanos, parece-me um
cenário utópico.
Os objetivos foram cumpridos, tendo sido claro o papel da ONU enquanto defensor
da autodeterminação dos povos e facilitador da independência dos países, o impacto
que a Guerra Fria trouxe, os desafios que enfrentou, os sucessos e as derrotas. Apesar
de ser um artigo puramente descritivo, a linha expositiva usada é de fácil leitura e
compreensão, permitindo perceber as dificuldades do processo de descolonização (sem
que a sua necessidade seja colocada em causa) e o papel da Organização das Nações
Unidas, ator essencial neste processo, cujo papel se coloca talvez acima do papel dos
Estados, contrariando a perspetiva Realista do Estado enquanto único ator de relevo nas
Relações Internacionais.
À semelhança dos artigos anteriores, não apresenta uma seção para referências
bibliográficas, mas apenas Notas que permitem perceber a utilização maioritária de
artigos científicos, com recurso a obras oficiais das NU.

Comum aos três artigos é a necessidade apontada, de forma quase unânime (ainda
que por vezes quase como forma de expiação das atrocidades cometidas), de preparar
os países recém-formados para a independência, acompanhando-os na formação de
elites políticas, forças de segurança, implementação de estruturas governativas e no
fornecimento de equipamento bélico.
A UN apresenta-se como força motriz da luta pela autodeterminação dos povos,
independência dos países e promoção da paz. Ainda que com avanços e recuos, não
deixa de ser hoje uma pedra angular na manutenção de paz mundo fora.

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Fim dos Impérios

Sublinham a importância da existência de elites capazes para a boa governação dos


povos, e de forma positiva ou negativa, responsabilizam os países ocidentais pelo
acompanhamento do processo de descolonização, não sem que exponham as
atrocidades cometidas por muitos dos colonizadores que consideram responsáveis pelo
subdesenvolvimento dos territórios colonizados.
Apesar da visão geral da necessidade de manutenção da paz global, os artigos
mostram-nos que os interesses geoestratégicos, políticos e económicos dominam as
relações entre potências ou blocos de potências, e sobrepõem-se, mesmo no fórum de
uma organização supranacional, aos interesses globais, algo que não seria expectável
numa organização que se propõe a manter a salvo do flagelo da guerra as gerações
vindouras, apoiando o desenvolvimento de países de terceiro mundo na busca de um
mundo mais equitativo, onde a fome, a guerra e a pobreza sejam apenas uma
recordação triste.
Não posso deixar de sublinhar a ambiguidade de posições britânicas que, numa época
em que a disciplina de RI se está a formar, havendo um debate interno intenso sobre o
caminho que o império deverá tomar, sendo mesmo dos últimos países a abandonar as
suas colónias (apesar de haver quem afirme que nunca as abandonou verdadeiramente
devido ao estabelecimento da chamada Commonwealth) adota uma posição pró-
independentista no que toca a outros países, tendo, como vimos, apoiado a Síria e o
Líbano, desafiando o império Francês, mas não abdicou, por exemplo, da África do Sul.
Possivelmente verificaremos esta posição relativamente a outros impérios… No
fundo… é uma questão de poder….

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