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Contrato compra e venda: artigos 874º a 939. Para além de regulada no código civil a
compra e venda é ainda regulada no código comercial (artigos 463º a 476º).
A compra e venda constituí o mais importante contrato regulado no código, não apenas em
virtude da função económica essencial que desempenha, mas também porque a sua
regulação se apresenta como paradigmática em relação aos restantes contratos, tendo
assim a maior relevância no âmbito da construção dogmática dos contratos em especial.
Compra e venda (artigo 874º CC): compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a
propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço.
Mas pode abranger qualquer outro direito real e direitos que não sejam reais, como os
direitos sobre valores mobiliários, os direitos de propriedade industrial, os direitos de
propriedade intelectual, os direitos de crédito, os direitos potestativos, ou situações
jurídicas complexas, como a posição contratual ou as universidades de direito.
(A assunção de dívidas efectuada onerosamente não pode ser qualificada como compra e
venda, uma vez que a lei considera esta como um contrato translativo de direitos, mas não
de obrigações.)
(A simples posse, (Menezes Leitão) não constitui um direito subjectivo, não poderá ser
objecto de compra e venda, uma vez que a sua transmissão não corresponde à
transmissão de um direito).
A compra e venda é um contrato nominado, uma vez que a lei o reconhece como categoria
jurídica e típico porque estabelece para ele um regime, quer no âmbito do direito civil
(artigo 874º’ss), quer no direito comercial (artigo 463º’ss). Encontra-se ainda um regime
especial para a venda de bens de consumo no DL 67/2003.
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
Turma A
2017/2018
A compra e venda é regra geral um contrato não formal (artigo 219º), ainda que por vezes
a lei o sujeite a forma especial, como sucede na compra e venda de bens imóveis (artigo
875º) e noutras situações específicas.
Menezes Leitão: não parece existir num contrato real quoad constitutionem na compra e
venda com pré-pagamento, na medida em que a celebração do contrato se realiza com a
solicitação do produto, havendo apenas a imposição de que o preço seja pago antes da
sua entrega.
A compra e venda é um contrato oneroso, uma vez que nele existe uma contrapartida
pecuniária em relação à transmissão dos bens, importando assim sacrifícios económicos
para ambas as partes.
A compra e venda não exige que haja uma equivalência de valores entre o direito
transmitido e o respectivo preço, não deixando por isso de se aplicar as regras da compra e
venda se o comprador consegue descontos.
A compra e venda é um contrato de execução instantânea, uma vez que quer em relação à
obrigação de entrega, quer em relação à obrigação de pagamento do preço, o seu
conteúdo e extensão não é delimitado em função do tempo.
Artigo 219º do CC, a compra e venda é um contrato essencialmente consensual, uma vez
que regra geral não é estabelecida nenhuma forma especial para o contrato de compra e
venda. Esta regra geral, é, no entanto, objeto de muitas exceções das quais a mais
importante respeita à compra e venda de imóveis.
Artigo 875º quando o contrato de compra e venda tem por objeto bens imóveis, o contrato
só é válido quando for celebrado por escritura pública ou documento particular
autenticado. Esta regra é extensível a todos os atos que importem: reconhecimento,
constituição, modificação, divisão ou extinção dos direitos de propriedade, usufruto, uso e
habitação, superfície ou servidão sobre coisas imóveis.
Duas exceções: constantes de lei especial, em que a compra e venda pode ser celebrada
por simples documento particular.
A compra e venda de bens móveis por vezes é sujeita a forma escrita, como por exemplo
na alienação de herança ou quinhão hereditário, quando não abranja bens sujeitos a
escritura pública ou documento particular autenticado.
A compra e venda de bens móveis sujeitos a registo, como é o caso dos automóveis, não
está sujeita a qualquer forma especial. Artigo 205º refere que às coisas móveis sujeitas a
registo é aplicável o regime das coisas móveis em tudo o que não seja especialmente
regulado.
Sempre que a compra e venda seja sujeita a registo a sua omissão acarretará a nulidade
do negócio (artigo 220º).
Para além da forma especial a compra e venda pode obrigar à realização de certas
formalidades.
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
Turma A
2017/2018
4.Efeitos essenciais
A compra e venda é um contrato pelo qual se transmite uma coisa ou um direito contra o
recebimento de uma quantia em dinheiro.
Já em relação à aquisição da propriedade sobre o bem vendido esse processo deixa de ser
utilizado, a lei dispensa o cumprimento da obrigação, considerando a aquisição da
propriedade como uma simples consequência automática da celebração do contrato
(artigo 879º/a e 408º/1). Não há assim uma obrigação de dare, o efeito translativo
verifica-se automaticamente com a perfeição do acordo contratual.
Para essa constituição ou transmissão do direito real basta o acordo das partes, pelo que a
celebração do contrato de compra e venda acarreta logo a transferência da propriedade
(artigo 879º/a e 408º). A transferência ou constituição do direito real é consequentemente
imediata e instantânea. O efeito real verifica-se no momento da formação dos contratos.
Sistema do título e do modo: para que o efeito real se produza é necessária a presença
simultânea de um titulo e de um modo adquirente, ou seja, não basta que exista uma justa
causa ou fundamento jurídico de aquisição, sendo ainda necessária a realização de um
segundo ato de transmissão.
Sistema do modo: a produção do efeito real depende apenas do modo adquirente, não
sendo necessário um título de aquisição. O contrato de compra e venda tem valor
meramente obrigacional, não produzindo qualquer efeito real.
Artigo 408º prevê a possibilidade de existência de exceções a esse sistema do título. A lei
admite a possibilidade de a transferência de propriedade não estar sujeita aos princípios
da consensualidade e da causalidade?
Caso a resposta seja afirmativa, teria que se concluir que ao lado da venda real o nosso
direito reconheceria também outro tipo de venda, existente nos sistemas do título e modo
e do modo, que se denomina venda obrigatória.
Em relação ao vendedor, obrigação que surge do contrato de CV: dever de entregar a coisa.
Se for convencionado prazo: vendedor tem de entregar a coisa até ao fim desse prazo, se
não entra em mora (805°/2,a)). Pode antecipar o cumprimento da obrigação.
Lugar de cumprimento
Último efeito essencial do contrato é a obrigação de pagar o preço. Não é necessário que o
preço se encontre determinado no momento da celebração do contrato, basta que seja
determinável.
Artigo 833° critérios supletivos: 1) o preço que o vendedor normalmente praticar à data da
conclusão do contrato; 2) o do mercado ou bolsa no momento do contrato e lugar em que o
comprador deva cumprir.
Se nenhum dos critérios poder ser aplicado, o preço será determinado pelo tribunal,
segundo juízos de equidade (artigo 883°/1). Artigo 1004° CPC para a fixação do preço
pelo tribunal.
Se por estipulação das partes ou força dos usos o pagamento do preço não coincidir com o
cumprimento da obrigação de entrega, o mesmo deverá ser pago no domicílio que o credor
tiver ao tempo do cumprimento (885º/2).
Se tiver sido transferida a propriedade e entrega do bem, o vendedor não pode reverter
essa situação patrimonial por meio de resolução por incumprimento e reclamar por essa
via a restituição do bem. Pode fazer contra o comprador:
Este regime explica-se em virtude de não ser muito conveniente, por tornar indefinida a
situação jurídica dos bens, admitir que a transmissão da propriedade pudesse ser
facilmente revertida, sempre que o adquirente faltasse ao pagamento do preço.
2. Ainda não ter sido entregue a coisa (mesmo que já tenha ocorrido a transmissão da
propriedade);
Apesar de se ter já transmitido a propriedade para o comprador, o contrato ainda
não se encontra totalmente executado, podendo até o vendedor recusar a entrega
da coisa, enquanto o comprador não pagar o preço (artigo 428º). Nada obsta à
aplicação da resolução do contrato, em caso de se verificar o incumprimento da
obrigação de pagar o preço, até porque é mais favorável que prolongar
artificialmente a suspensão da execução do contrato até à cobrança coerciva do
preço.
3. Ainda não ter ocorrido a transmissão da propriedade (mesmo que a coisa já tenha
sido entregue).
O bem já pode ter sido entregue ao comprador, mas o vendedor, em ordem a
garantir a sua propriedade como forma de assegurar contra o incumprimento da
outra parte, reserva para si essa propriedade até ocorrer esse cumprimento (artigo
409º). Uma vez que o vendedor reserva a propriedade com fins de garantia, poderá
naturalmente em caso de incumprimento, proceder à resolução do contrato e exigir
a restituição do bem. 1
Não são abrangidas na regra do artigo 878º as despesas relativas a actos de execução do
contrato, como o cumprimento das obrigações do vendedor e do comprador que deverão
ficar a cargo do respetivo devedor.
5.Proibições de venda
1Ler regime especial da resolução do contrato de compra e venda, Professor Pedro Martinez,
páginas 255 e ss.
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RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
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5.1. Venda de coisa ou direito litigioso
O artigo 876º/1 “não podem ser compradores de coisa ou direito litigioso, quer
diretamente quer por interposta pessoa, aqueles a quem a lei não permite que seja dita a
cessão de créditos ou direitos litigiosos, conforme se dispõe no capítulo respectivo”.
Razão para esta proibição: receio de que as entidades possam actuar com fins
especulativos, levando, levando os titulares a vender-lhe os bens por baixo preço.
Artigo 877º/1 “os pais e avós não podem vender a filhos ou netos se os outros filhos ou
netos não consentirem na venda. O consentimento dos descendentes, quando não possa
ser prestado ou seja recusado é susceptível de suprimento judicial”.
Se a venda vier a ser realizada esta não é nula, mas apenas anulável.
A anulação pode ser pedida pelos filhos ou netos que não deram o seu consentimento
dentro do prazo de um ano, a contar do conhecimento da celebração do contrato (877º/2).
Justificação: evitar que sob a capa de compra e venda se efetuassem doações simuladas a
favor de algum dos descendentes, com o fim de evitar a sua imputação nas quotas
legitimárias, prejudicando os seguintes.
O consentimento não está sujeito a forma especial (219º) mesmo que essa forma venha a
ser exigida para o contrato de compra e venda e pode ser prestado tacitamente. A lei não
diz nada sobre isto, mas deve ser abrangida a situação de venda feita a descendentes
através de interposta pessoa.
5.3. Compra de bens do incapaz pelos seus pais, tutor, curador, administrador legal de
bens
Artigo 1892º/1
Se esta compra e venda for celebrada sem autorização do ministério público é anulável.
Apesar de não autorizada pode ser objeto de confirmação pelo MP (1894º/2), caso em que
se extingue o direito de anulação.
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5.4. Venda entre cônjuges
A venda de bens futuros ocorre sempre que o vendedor aliena bens que não existem ao
tempo da declaração negocial (ex: venda de uma fracção autónoma ainda por construir),
que não estão em seu poder (ex: venda dos peixes que vier a pescar nesse dia) ou a que
ele não tem direito (ex: um agricultor vende os cereais que lhe virão a ser fornecidos por
outro agricultor). Também pode ser considerada como venda de bens futuros a venda de
frutos pendentes, partes componentes ou integrantes de uma coisa, uma vez que estas
entidades podem ser incluídas num conceito amplo de coisa futura, que abranja as coisas
ainda não autónomas de outras coisas, mas que serão separadas delas.
Ao contrário do que sucede na venda de coisa alheia (892º) nenhuma das partes ignora
que a coisa não pertence ao alienante, ainda que haja necessariamente a expectativa de
ela vir a integrar, no futuro, o seu património. É sempre essencial à compra e venda a
existência de uma aquisição derivada do direito a partir do vendedor, pelo que não se
poderá aplicar o artigo 880º sempre que as partes convencionem que a transferência da
propriedade se realizará a título originário ou diretamente da esfera de um terceiro para o
comprador.
A transferência da propriedade não ocorre imediatamente pelo que a lei faz surgir, a cargo
do vendedor, uma obrigação de exercer as diligências necessárias para que o comprador
adquira os bens vendidos, segundo o que foi estipulado ou resultar das circunstâncias do
contrato.
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O vendedor estará assim obrigado a adquirir o bem vendido, após o que a transferência da
propriedade se processará automaticamente para o comprador, em virtude da anterior
celebração do contrato de venda (408º/2).
A venda de bens futuros pode ainda ser clausulada como contrato aleatório (880º/2), caso
em que o objeto da venda é a mera esperança de aquisição das coisas, como por exemplo
(alguém vende a produção futura de laranjas do seu pomar, independemente de esta
ocorrer ou não). Nesse caso uma vez que o objeto do negócio é a própria esperança, o
comprador está obrigado a pagar o preço, ainda que a transmissão dos bens não chegue a
ocorrer (ex: a colheita perde-se por questões atmosféricas).
Lei: artigo 880º/2 a venda de esperanças é um contrato aleatório, uma vez que o
comprador tem sempre de pagar o preço, mas não tem a certeza de existir qualquer
correspetivo patrimonial nesse contrato, uma vez que corre por sua conta e risco a
verificação ou não da transmissão da propriedade.
Emptio rei speratae: aqui o risco é na quantidade então se não vier nada, ou nada for
produzido, o preço não será devido, depende do que for combinado pelas partes.
Outra posição refere que se trata de um negócio sob a condição suspensiva de os bens
passarem para a disponibilidade do vendedor.
Outra posição refere tratar-se de uma modalidade especial de venda obrigatória uma vez
que o vendedor se obriga com carácter definitivo a realizar o que for necessário para que
se possa verificar a aquisição da propriedade pelo comprador.
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Menezes leitão: as duas primeiras posições estão erradas. Basta ver que apenas se
aplicam à emptio rei speratae, sendo insusceptíveis de traduzir a natureza emptio spei, já
que se nesta o comprador deve sempre o preço, haja ou não transmissão dos bens, não se
pode falar nem em negócio incompleto, nem em negócio sujeito a condição.
Esta não é um negócio incompleto uma vez que o consenso relativo ao contrato encontra-
se integralmente formado, sendo com base nele que se vai verificar a futura produção do
efeito real, sem necessidade de outras declarações. Também não é um negócio sob
condição, uma vez que a aquisição da propriedade pelo vendedor corresponde a uma
obrigação por este assumida, não se verificando assim a subordinação dos efeitos do
negócio a um efeito futuro e incerto.
Resta a última posição: devemos referir que a verdade bens futuros não constitui uma
modalidade específica de venda obrigatória, no sentido em que esta figura é entendida no
âmbito do direito alemão, na medida em que conforme se referiu, a celebração do contrato
já integra o esquema negocial translativo, que não fica dependente de uma segunda
atribuição patrimonial a realizar pelo vendedor.
É manifesto que aqui surge uma obrigação para o vendedor, de cujo cumprimento vai
depender a realização do efeito da transmissão previsto no contrato. Esta caracterização é
comum tanto à emptio rei speratae como em relação à emptio spes, apenas se
diferenciando porque nesta última o comprador assume ainda o risco da não verificação
do efeito translativo.
A venda de bens futuros stricto sensu produz-se se o vendedor alienar bens inexistentes ao
tempo da celebração do contrato de compra e venda, que não estejam em seu poder ou a
que não tem direito. Mas pode igualmente ter-se por compra e venda de coisa futura os
outros contratos de compra e venda referidos no artigo 880º (venda de frutos pendentes,
partes componentes ou integrantes). Isto dado eles se referirem a coisas desprovidas
ainda de existência autónoma. A diferenciação entre as duas situações resulta do facto de
a transferência da propriedade se dar em momentos distintos dependendo de se tratar de
compra e venda de coisa futura stricto sensu (a transferência dá-se com a aquisição pelo
alienante da coisa), ou das outras hipóteses (a transmissão da propriedade dá-se com a
respetiva colheita ou separação).
A compra e venda de coisa futura distingue-se da compra e verdade coisa alheia (892º),
pois na primeira hipótese ninguém ignora não pertencer o bem ao devedor mesmo se
existe a expectativa de ela vir a ser do alienante.
Tendo sido realizada uma compra e venda de bens futuros, frutos pendentes, partes
componentes ou integrantes de um bem, o vendedor é obrigado a exercer as diligências
necessárias para o comprador adquirir os bens vendidos, segundo o estipulado ou
resultante das circunstâncias do contrato. Vendedor está obrigado a adquirir para si o bem
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alienado, dando-se a transferência da propriedade de forma automática com essa
aquisição nos termos do artigo 408º. Se não o fizer por facto imputável responderá por
inadimplemento2.
Responde então pelo interesse contratual negativo ou pelo interesse contratual positivo?
Raul ventura: entendendo a venda de bens futuros como um negócio incompleto, antes de
se operar a transferência de propriedade, entende dever ficar a indemnização limitada ao
interesse negativo.
Menezes Leitão: defende estar-se diante de um contrato validamente celebrado. Por isso, a
indemnização não poderia ser limitada pelo interesse contratual negativo.
Tem razão Raúl Ventura ao afirmar estar-se diante de um negócio incompleto. Mas
também tem razão Menezes Leitão ao sustentar tratar-se de um negócio validamente
celebrado, se com isso pretender expressar não haver aqui nenhuma forma de ilicitude.
O desvalor jurídico dos negócios incompletos afigura-se debatido. Não está impedida a
produção de alguns dos efeitos a que tendem os negócios incompletos. Afastada estará a
produção da totalidade dos respetivos efeitos. Com a compra e venda de bens futuros,
frutos pendentes e partes componentes, surge para o vendedor a obrigação de adquirir a
coisa, determinar o respetivo incumprimento culposo o dever de indemnizar pelo interesse
contratual positivo.
Artigo 880º/2: as partes podem atribuir natureza aleatória ao contrato de compra e venda
de bens futuros. O objeto da venda é inicialmente uma mera esperança, o preço será
devido mesmo se a efetiva transmissão da coisa ou bem futuro se não efectivar.
A venda de coisa futura distingue-se da compra e venda de uma simples esperança pelo
facto de na primeira o preço só ser devido se a coisa vier realmente a existir.
É difícil distinguir a compra e venda de coisa futura (emptio rei speratae) da compra e
venda com carácter aleatório (emptio spei). Na duvida deve presumir-se estar perante a
compra e venda de coisa futura.
2 Incumprimento
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
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Independentemente de se tratar de emptio rei speratae ou emptio spei, deve ser entregue
pelo vendedor a coisa estipulada. Se na segunda modalidade o comprador preferir receber
bem diferente em vez de nada, pagando mesmo assim o preço há uma alteração
voluntária do objeto do contrato.
Na compra e venda de bens futuros há lugar a garantia pelos vícios ou falta de qualidades
da coisa ou se o facto de a coisa ser futura, a afasta implicitamente.
Na emptio rei speratae: admite-se a subsistência da garantia sem prejuízo de poder ser
retirada por estipulação expressa ou implícita das partes, pela natureza da coisa ou pelas
circunstâncias previstas para a respetiva produção.
Artigo 918º CC: estabelece valerem, se a venda respeitar a coisa futura ou indeterminada
de certo género, as regras gerais do incumprimento mostra existir a garantia.
1) Teoria da condição
2) Teoria do negócio incompleto
3) Teoria do negócio obrigacional
Menezes leitão: defende não se poder falar em negócio incompleto. Pois a qualificação não
abrange simultaneamente à venda de esperanças e a venda de bens futuros. Restaria
assim a terceira orientação: por da venda resultar uma obrigação para o vendedor de qual
depende a aquisição da propriedade da coisa (compra e venda obrigacional) embora não
no sentido com que a expressão é utilizada no sistema do título e do modo, dado a
celebração do contrato já integrar o esquema negocial translativo, sem dependência da
tradição pelo vendedor, mas ainda assim de uma venda obrigacional. (Regente não aceita).
Regência: a venda de esperanças não pode ser obrigacional pois ela transfere
imediatamente a esperança. Não precisamos de submeter à mesma moldura dogmática a
venda de bens futuros e a venda de esperanças.
O artigo 881° admite a venda de bens de existência ou titularidade incerta. Basta fazer-se
menção dessa incerteza no contrato. Presume-se que as partes pretenderam atribuir
natureza aleatória ao contrato devendo o preço ser pago mesmo se os bens não existirem
ou não pertencerem ao vendedor. As partes podem recusar ao contrato natureza aleatória
e o preço só terá de ser pago se a coisa existir e pertencer ao devedor.
O vendedor não tem o dever de promover alguma atividade para dissipar o estado de
incerteza.
Apenas poderão ser objeto de venda as coisas que existem e pertencem ao vendedor, uma
vez que se a venda disser respeito a coisas inexistentes a venda é nula por impossibilidade
física ou legal do objeto e se as coisas não pertencerem ao vendedor.
Ex: no caso de alguém querer vender um tesouro que se supõe estar enterrado em
determinado terreno, mencionando a incerteza da existência do referido tesouro. A lei
presume que as partes quiseram celebraram contrato aleatório, pelo que será devido o
preço, ainda que os bens não existam. As partes podem elidir esta presunção, recusando
ao contrato natureza aleatória, caso em que o preço só será devido no caso de os bens
existirem e pertencerem ao vendedor.
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
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A venda de bens de existência ou titularidade incerta distingue-se da venda de vens
futuros, porque não toma por base a expectativa de uma futura aquisição ou
autonomização da coisa no património do vendedor, mas antes a incerteza de uma
situação presente, relativa à existência ou titularidade do bem objeto de venda. E
distingue-se da venda de bens alheios nula (892º) porque o vendedor não celebra o
contrato na qualidade de proprietário da coisa, excluindo assim qualquer garantia
relativamente a essa situação. Por esse motivo não existe na venda de bens de existência
ou titularidade incerta nenhuma obrigação de o vendedor praticar os actos necessários
para que o comprador adquira os bens vendidos (880º e 897º).
Se a venda de bens de existência ou titularidade incerta tiver sido celebrada como contrato
aleatório, o preço é devido pelo comprador, ainda que os bens não existam ou não
pertençam ao vendedor.
Não vale o regime desta modalidade de compra e venda às situações nas quais as partes
apenas se limita, a comprar certa quantidade de um determinado fruto ou tantos
quilowatts de eletricidade.
Em sentido oposto:
Mas os resultados são diversos se o preço tiver sido estipulado em razão de tanto por cada
unidade comprada ou tenha sido determinado para a totalidade ou conjunto de coisas
vendidas.
Compra e venda ad corpus: artigo 888º: na venda de coisas determinadas se o preço não
for estabelecido à razão de tanto por unidade o comprador deve o preço estipulado mesmo
se no contrato se mencionar número peso ou medida das coisas vendidas e a referencia
não traduzir a realidade.
Menezes leitão: em sentido oposto. Dado a vontade das partes se formar relativamente ao
preço global e não haver prejuízo. Norma do 889º limita o 888º/2.
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
Turma A
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(Prof.Pedro Albuquerque)
(Diretriz europeia, cláusula de reserva de propriedade deve ser feita de forma expressa,
Portugal não exige isso, há incumprimento da diretriz? Prof. Albuquerque acha que não. O
sentido da diretriz é o de os estados membros não pode negar efeitos a uma cláusula
expressa, mas nada os impede de aceitarem uma que seja tácita).
Por outro lado em caso de insolvência do comprador, os credores deste não poderão fazer-
se pagar pelo valor da coisa vendida com reserva de propriedade. Essa continua na
titularidade do vendedor que protege-se assim da insolvência do adquirente.
Forma
Pedro Romano Martinez: cláusula de reserva de propriedade tem eficácia inter partes mas
não é oponível a terceiros. Necessidade de tutela da aparência e o paralelo com o penhor
(669º); compra e venda a comerciante (1301º); relatividade dos contratos (406º/2). Sendo
a reserva de propriedade uma cláusula contratual, sem registo, não poderia ser oposta a
terceiros; não faz sentido que a reserva de propriedade no caso de bens imóveis
dependesse de registo para ser oponível a terceiros e no caso de coisas móveis fosse
oponível erga omnes; no caso de incumprimento pela falta de pagamento do preço, cabe
ao vendedor resolver o contrato (886º) (435º/1).
Ana Maria Peralta: Vendedor não pode servir-se da reserva de propriedade para obter a
declaração de nulidade da venda feita pelo comprador. (Prof. Regente não concorda).
Segundo a autora seria estranho permitir ao vendedor interpor uma ação declarativa de
nulidade do segundo negócio de alienação e antes ou imediatamente após a sentença o
comprador adquirir a propriedade sanando a falta de pressuposto necessário para a venda
ser válida.
AMP: a nulidade da compra e venda de bens alheios seria insusceptível de ser alegada em
virtude de o comprador adquirir o bem.
Em sentido oposto:
Salazar Casanova: a nossa lei não admite a reserva de propriedade a favor do mutuante,
mas apenas em benefício do alienante (409º/1). Não será portanto admissível que uma
instituição de crédito outorgue contrato mútuo com reserva de propriedade a seu favor
simultaneamente com a compra e venda do imóvel a favor do comprador.
Cura Mariano: o alienante só pode reservar para si a propriedade desse bem, não sendo
lícito reservá-la para o alienante uma vez que ele nunca foi proprietário.
Em sentido favorável: Isabel Menéres Campos, Pedro Romano Martinez, Pedro Fuzeta da
Pontre e Nuno Pinto Oliveira.
Numa linha diversa (reserva da propriedade apenas como uma cláusula contratual
determinante do deferimento da transmissão da propriedade para momento posterior ao
do contrato, e possivelmente subordinada a algo). Intransmissibilidade da reserva de
propriedade.
Não se pode dizer apenas que como se trata de uma cláusula de um contrato é por isso
insusceptível de transmitir. Antes da compra e venda o vendedor é proprietário. Depois da
venda passa a ter uma propriedade limitada a fins de garantia. Não há duplicação do
direito de propriedade. É um direito subjetivo e esse direito é transmissível. Os direitos
subjetivos de natureza pessoal não são livremente transmissíveis. Por isso na ausência de
uma norma a proibir a alienação ou transmissibilidade do direito do vendedor com reserva
de propriedade: a reserva de propriedade é perfeitamente transmissível.
É possível a sub-rogação efetuada pelo vendedor. Só não basta a entrega do preço peço
financiador. Nada impede nos termos do artigo 589º o credor que recebe a prestação de
terceiro, de o sub-rogar expressamente até ao momento do cumprimento da obrigação. A
sub-rogação opera (599º) a transmissão de garantias e acessórios.
Mesmo tendo havido pagamento pelo financiador, o alienante pode doar vender ou ceder o
direito de propriedade, transmitir o seu direito. Se se admite a transmissão da hipoteca e
do penhor por maioria de razão deve-se aceitar a transferência da propriedade do
alienante com reserva de propriedade a seu favor.
O financiador resolve o contrato de mútuo mas não pode exigir a restituição da coisa.
O vendedor não pode resolver o contrato de compra e venda pois não houve
incumprimento do adquirente relativamente a esse negócio (já recebeu a totalidade do
preço) e muito menos tem legitimidade para resolver o contrato de empréstimo.
O vendedor também não parece poder fazê-lo já que apesar de titular do registo não tem
motivo para propor a ação de resolução do contrato.
Alienante beneficiário da reserva pode nomear o bem para execução? Não parece
aceitável a possibilidade de execução de coisa própria do enxequente. Natureza da reserva
de propriedade.
Mora: o devedor está em mora quando decorrer o prazo estipulado pelas partes, se não for
estipulado prazo, então está em mora quando for interpelado pelo credor.
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
Turma A
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Não existe nada que retire ao vendedor a capacidade de exigir o cumprimento do contrato.
A mora nos contratos bilaterais não desencadeia por si só o direito de resolver o contrato.
Tem a mora de se converter em incumprimento definitivo. (808°/1).
As razões para a sua estipulação prendem-se com o facto de que ocorrendo entre nós a
transferência da propriedade sempre em virtude da celebração do contrato e normalmente
no momento dessa celebração a transmissão dos bens seja extraordinariamente facilitada
em prejuízo dos interesses do alienante.
A lei para facilitar a transmissão dos bens e evitar que esta seja revertida, através do artigo
886º retira ao vendedor a possibilidade de resolução do contrato por incumprimento da
outra parte (801º/2) a partir do momento em que ocorra a transmissão da propriedade e a
entrega da coisa.
A reserva de propriedade (artigo 409º) podendo ser definida como a convenção pela qual o
alienante reserva para si a propriedade da coisa, até ao cumprimento total ou parcial das
obrigações da outra parte, ou até à verificação de qualquer outro evento.
Regime
A reserva terá que obedecer à forma legalmente exigida para o contrato, podendo ser
consensual na casos em que o contrato de compra e venda não esteja sujeito a forma
especial.
RISCO
Tem vindo a ser sustentado com base na configuração como uma condição suspensiva,
que o vendedor continuaria a suportar o risco pela perda ou deterioração da coisa, ainda
que esta tivesse sido entregue ao comprador.
A solução de que o vendedor, na venda com reserva de propriedade suporta o risco pela
perda ou deterioração da coisa, mesmo após a entrega ao comprador é inaceitável
(Menezes Leitão) uma vez que a partir da entrega, o comprador fica já integralmente
investido nos poderes de uso e fruição da coisa, servindo a manutenção da propriedade no
vendedor apenas para assegurar a recuperação do bem, em caso de não pagamento do
preço.
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
Turma A
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Devendo o risco correr por conta de quem beneficia do direito, parece claro que a partir da
entrega é por conta do comprador que o risco deve correr, não ficando este exonerado do
pagamento do preço em caso de perda o deterioração fortuita da coisa.
RAISER: tanto o vendedor como o comprador são titulares da indemnização, pelo que o
lesante terá que satisfazer a indemnização conjuntamente a ambos à semelhança com o
regime do penhor de créditos.
Caso 2 (1)
Tem o domínio Tem a propriedade O risco corre por
Já houve celebração conta do
do contrato, mas comprador
ainda não houve (796º/1)
entrega da coisa
Caso 3 (2)
Tem a propriedade Tem o domínio Divergência
Compra e venda com doutrinária
reserva de
propriedade e entrega
da coisa
Neste caso, o risco corre por conta de quem tem a propriedade e não por conta de
quem tem o domínio. No entanto, há que ter em atenção o facto de neste caso,
tendo o comprador a propriedade, é ele quem beneficia dos frutos do bem. O
vendedor, neste caso, apenas funciona como mero depositário, não tem o direito
de gozo e fruição do bem (1189º).
§1 O risco corre por conta do vendedor: por via do artigo 796º/3/2ª parte (a
reserva de propriedade é uma condição suspensiva) e o risco corre por conta do
proprietário do bem (796º/1).
Alguns autores consideram que ainda não se deu a transferência do direito real e
sustentam que o risco da perda fortuita corre por conta do alienante. Artigo 796°: princípio
de que o risco corre por conta do titular.
Quem usufrui o bem é uma pessoa diferente do proprietário (propriedade apenas como
garantia).
Não faz sentido que um alienante c reserva de propriedade fique pior do que sem a
cláusula de reserva. Dois direitos. O do alienante e o do comprador.
Logo cada um suporta o risco se o bem se vier a deteriorar na medida do seu direito.
Quem suporta o grosso do risco e o comprador porque tem de pagar o preço e ainda perde
a garantia de aquisição.
Quando o bem perece por facto imputável a terceiro: como resolver a distribuição do risco?
A natureza jurídica da venda com reserva de propriedade tem sido objeto de grande
controvérsia doutrinária. Posições principais:
Não há uma condição na venda com reserva da propriedade mas sim uma alteração da
ordem de produção dos efeitos negociais. Sem a reserva de propriedade a transmissão da
propriedade ocorre antes do pagamento do preço. Com a reserva ela passa a ocorrer
posteriormente a ele.
Argumentos contra:
Condição suspensiva (1)O pagamento do preço não é Corre por conta do vendedor
um facto futuro e incerto, é um (mesmo que a coisa já tivesse
elemento essencial. sido entregue) (796º/3)
Não se verifica
automaticamente o efeito
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translativo com a celebração do
contrato. Institui-se uma
Venda obrigacional obrigação para o vendedor de
fazer o comprador adquirir a
propriedade após pagar o
preço.
Vendedor e comprador
detentores de posições jurídicas
reais = distribuição do risco
conforme o proveito retirado
dessa situação jurídica.
Vendedor conserva a
propriedade do bem (função Vendedor (propriedade como
Venda com eficácia translativa apenas de garantia para o caso garantia, respondia apenas
com o pagamento do preço de o comprador não pagar o nessa garantia).
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preço). Propriedade já foi
transmitida. Comprador (tinha o proveito e
usufruto da coisa tem de
suportar o risco da sua perda
ou deterioração.
A teoria da condição suspensiva representa a posição tradicional. Ela não pode ser aceite
porque não está tecnicamente em jogo um evento condicional. O dever de pagar o preço
não traduz um facto exterior ao contrato nem futuro nem incerto. Ele é antes um efeito
essencial do contrato de compra e venda cujo cumprimento pode ser exigido judicialmente
e sujeito a execução coativa. O pagamento do preço não é uma condição mas sim uma
contraprestação. A aquisição da propriedade só se dá no momento do pagamento ou da
verificação de outro evento, e não retroage à data da celebração do contrato como
sucederia na condição suspensiva. A condição atinge todos os efeitos do contrato
enquanto a reserva de propriedade apenas afeta a transmissão da propriedade.
A teoria da condição resolutiva todas as razões acima valem para esta teoria. O artigo
409° depõe de forma oposta ao estabelecer conservar na eventualidade de reserva o
vendedor a propriedade da coisa ou direito.
Teoria da venda com eficácia obrigacional já foi afastada essa possibilidade. Porque tem
sempre de se pagar o preço se não não era compra e venda.
Os efeitos típicos de compra e venda não se produzirão enquanto isso não suceder (artigo
923° do CC)
Na primeira modalidade o nosso direito atribui valor jurídico ao silêncio desviando se assim
da regra geral. Na verdade o artigo 923°/2 dispõe julgar se a coisa aceite se o comprador
não se manifestar dentro do prazo de aceitação nos termos do artigo 228°/1. O ônus da
prova do silêncio do comprador já foi julgado pertencer ao vendedor.
O vendedor não tem nenhum direito a uma indemnização em virtude de um uso razoável
pelo comprador do objeto do contrato.
Os custos da avaliação devem na duvida incidir sobre o adquirente, o mesmo vale para os
encargos com a devolução na eventualidade de rejeição.
Nem é exigível que ele proceda ao exame da coisa para formular a decisão. Ele pode
dispensar a observação e a aceitação sem exame da coisa é eficaz.
A própria recusa de aceitação pode em certos cenários embora seja raro, mostrar se ilícita
ou abusiva. Por exemplo se no momento da celebração do contrato o adquirente tem o
propósito de recusar e tiver ocultado esse facto ao vendedor causando lhe danos. Mas nao
parece admissível pretender se uma venda a contento e estipular se um dever de
fundamentação. Isso seria uma venda sujeita a prova.
Questão: pedido de prolongamento do prazo: alguma doutrina acha que estamos perante
uma rejeição é nova proposta de negócio.
Professor regente não concorda. Não obstante a solicitação de alargamento do termo pode
o adquirente a todo o momento manifestar anuência assim se tornando perfeito de forma
definitiva o contrato de compra e venda. O pedido de adiamento equivale apenas a uma
proposta de alteração do negócio já celebrado.
Dado a compra ainda não produzir os respectivos efeitos típicos antes da aceitação a
atribuição do risco ao comprador só se dará com o vencimento do prazo estabelecido no
artigo 923°/2 ou com a aceitação expressa ou tácita. A aceitação não liberta o vendedor
dos efeitos que se dão na hipótese de compra e venda de coisa defeituosa ou onerada.
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Diferente do que sucede na venda a contento, onde não são relevantes para a produção
dos respectivos efeitos aspetos de natureza objetiva mas tão só a voluntas do comprador,
na compra sujeita a prova plena, a produção dos efeitos do contrato depende de aspetos
positivos susceptíveis de apreciação judicial.
Tal como na venda a contento representa obrigação negocial resultante da compra e venda
sujeita a prova o dever de o vendedor proporcionar a coisa ao comprador. Para a prova e
não apenas apreciação (925°/4).
A prova deverá ser feita dentro do prazo, segundo segundo a modalidade estabelecida pelo
contrato ou pelos usos. Se ambos forem omissos, observar se ão o prazo fixado pelo
vendedor e a modalidade escolhida pelo comprador, segundo critérios de razoabilidade
(925°/2).
Modalidade de venda a contento: não vinculação pelo comprador (não existe propriamente
uma venda mas uma mera proposta de venda). O destinatário não se prende: falta a sua
manifestação de vontade, traduzida na exteriorização do seu juízo sobre a res.
Por um lado a venda a contento pressupõe já um assentimento das partes para a sua
formação. De outro modo esta forma de compra e venda a contento não teria razão
nenhuma de ser. Por outro lado vimos mesmo antes da aceitação pelo comprador este
negócio já produz obrigações concretas a cargo do vendedor: a de a coisa ser facultada
para exame do comprador (923°/3). Por isso na eventualidade de o vendedor transmitir a
terceiro a coisa que devia submeter a prova, está se diante de um cenário de
incumprimento contratual.
A compra e venda sujeita a prova está qualificada pelo artigo 925º/1 do CC como uma
venda sujeita a condição suspensiva, excepto se as partes a tiverem por resolutiva.
Doutrina: aceitam a compra e venda sujeita a prova como um negócio condicional: Galvão
Telles; Baptista Lopes; Pires de Lima/Antunes Varela e Romano Martinez.
Regência não concorda com nenhuma das orientações. Menezes leitão: ha uma diferença
importante entre a compra e venda geral e a compra e venda sujeita a prova. O apelo à
condição também não nos parece vingar por se não estar diante de um acontecimento
futuro. Na venda sujeita a prova quando sucede é a mera averiguação no futuro, de um
estado de facto presente.
7. Venda a retro
O exercício deste direito do vendedor tem como efeito a aplicação do disposto nos artigos
432º’ss em tudo o não afastado pelo regime específico da venda a retro.
Não vale na retrovenda para o negócio de B para A o regime dos artigos 432º. Vale sim
para este negócio tal como para o primeiro, o regime da compra e venda, cabendo a A
todos os normais direitos de um comprador.
Este perigo pode ser afastado, artigo 928º cc, estabelece uma proibição de o comprador
exigir o reembolso de uma quantia superior à paga por ele próprio. No excesso é que
poderiam dissimular-se juros usurários, proibidos.
Ex da venda a retro: A precisa de dinheiro mas não quer fazer um crédito. Pede a B que lhe
empreste o dinheiro para comprar a casa e a casa fica com B até que A tenha o dinheiro
para devolver a B.
Artigo 929º: prazo improrrogável para o exercício do direito de resolução (dois ou cinco
anos a contar da data da venda consoante esta seja de bens móveis ou imóveis, salvo
estipulação de prazo mais breve). = como forma de evitar ser a eficácia real da cláusula de
venda a retro por tempo excessivo e indeterminado um entrave ao giro e transmissão de
bens.
Com ou sem termo inicial a resolução não poderá exceder as fronteiras temporais fixadas
no artigo 929º e deverá ser feita por notificação judicial.
Se a venda a retro respeitar a coisas imóveis a resolução terá ainda de ser reduzida a
escritura pública ou documento particular autenticado nos quinze dias imediatos, com ou
sem intervenção do comprador, à notificação do comprador os seus herdeiros, sob pena de
caducidade (930º cc).
No silêncio do contrato a resolução fica igualmente sem efeito se dentro do mesmo prazo
de quinze dias, o vendedor não fizer ao comprador oferta real das importâncias líquidas
que haja de pagar-lhe a título de reembolso do preço e das despesas acessórias (931º cc).
Se for vendida coisa ou direito comum com cláusula de venda a retro só em conjunto os
vendedores podem exercer o direito de resolução (933º cc). A regra aplica-se a hipóteses
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de venda por todos os comproprietários, da coisa em conjunto e por inteiro. Requisitos da
resolução: comprador tem a obrigação de entregar a coisa ao vendedor.
A resolução dos contratos ou negócios jurídicos não atinge os direitos adquiridos por
terceiros (435º/1). Se a coisa ou direito objeto de um contrato forem alienados ou
onerados antes de uma eventual resolução do referido contrato não são afetados os
direitos do terceiro subadquirente ou titular do direito novo.
Excepção a este princípio: artigo 932º: se a venda a retro tiver por objeto coisas imóveis ou
móveis sujeitas a registo, e a cláusula a retro tiver sido devidamente registada, a resolução
já é oponível a terceiro.
Cláusula de venda a retro só tem eficácia real tratando-se de bens imóveis ou móveis
sujeitos a registo. Nos restantes casos possui apenas eficácia inter partes, artigo 435º/1
cc.
Cláusula oponível a terceiros, os bens regressarão livres de ónus ou encargos (se tiver sido
registado).
Na recompra o direito de celebrar uma nova venda é dado ao vendedor, na nova venda é o
comprador quem pode forçar o alienante a adquirir de novo. As limitações para a venda a
retro valem também para a retrovenda.
O CC disciplina apenas a venda a retro. Mas as partes podem celebrar um contrato, seja
com a configuração de uma compra a retro seja segundo o modelo de uma retrocompra.
Valerá o regime da venda a retro, com as necessárias adaptações e ponderações.
8. Venda a prestações
Princípio geral regulador das dívidas cuja liquidação pode ser fraccionada (dívidas
liquidáveis em prestações) – artigo 781º.
Se uma obrigação puder ser liquidada em duas ou mais prestações, a não realização de
uma delas importa o vencimento de todas. Existem regras especiais para a compra e
venda. Artigos 886º, 934º e 935º.
Artigo 886º CC: vale de forma geral para todos os cenários de não pagamento do preço
pelo comprador. (Desvio ao 801º) não pode o vendedor transmitida a propriedade da coisa,
e feita a sua entrega resolver o contrato por falta de pagamento.
Artigo 934º CC: afasta-se do 781º, vale para as hipóteses de falta de pagamento de uma
das prestações relativas ao preço em contratos de compra e venda a prestações:
No preço estão abrangidas todas as quantias a pagar pelo comprador ao vendedor como
efeito da alienação mesmo se se tratar apenas de despesas, juros ou outras importâncias.
O mesmo princípio vale para o artigo 934° CC. Ou seja faltando o comprador a uma
prestação superior a um oitavo do preço ou duas prestações independemente do valor, o
vendedor pode interpela-lo exigindo o pagamento das prestações vencidas. A partir desse
momento o comprador estará em mora relativamente a todas as prestações não pagas,
podendo ela transformar se em incumprimento definitivo nos termos do artigo 808° CC.
Natureza supletiva ou imperativa do artigo 934º? (Na parte final da norma estatui-se ser a
regra ai definida aplicável sem embargo de convenção em sentido oposto) = isto significa
que será possível estipular o afastamento da regra do artigo 934? Ou vale esta norma e a
regra ai presente mesmo na eventualidade de as partes terem acordado afastá-la?
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A imperatividade do preceito tem sido definida pela doutrina (Menezes leitão e Menezes
cordeiro).
Vendida a coisa sem reserva de propriedade a falta de pagamento de uma das prestações
pode permitir ao vendedor a possibilidade de resolver o contrato nos termos do artigo 886º
CC?.
Pedro romano Martinez: não concorda. Pois entende que a imperatividade do artigo 934º
não parece ser ajustada com uma compra e venda sem reserva de propriedade, mas com
entrega da coisa com cláusula de resolução para a hipótese de falta de pagamento pelo
comprador.
Para este autor o texto da lei diria algo de bem diferente: o alienante só não tem o direito
potestativo de resolução do contrato de compra e venda a prestações:
Regência: não concorda com pinto oliveira. Para o comprador ter o direito potestativo de
resolução é necessário segundo o artigo 886º não ter entregue a coisa ou tendo-o feito, a
estipulação da possibilidade de resolução.
Não faz sentido não aplicar a limitação do artigo 934º às situações de ausência de reserva
de propriedade. Pode por analogia usar-se a regra dele para resolver hipóteses de
resolução de uma compra e venda a prestações em que não é estipulada a reserva de
propriedade?
Norma excepcional ao 801º, 802º e 886º. Impossibilidade de haver analogia para sujeitar
a resolução da venda a prestações, sem reserva de propriedade às limitações do artigo
934º.
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Artigo 934º limita o direito de resolução do vendedor a prestações, se existir reserva de
propriedade, no confronto com o determinado pelos artigos 801º, 802º e 886º: isto é não
obstante o vendedor reservar para si a propriedade ou titularidade da coisa, ele está
impedido de pôr termo ao contrato resolvendo-o.
Cláusula penal
935º: a indemnização estabelecida em cláusula penal, por o comprador não cumprir, não
pode exceder metade do preço, salvo a faculdade de as partes ajustarem a
ressarcibilidade de todos os prejuízos sofridos. Se o referido limite for ultrapassado a
indemnização estipulada em montante superior a metade do preço será reduzida a essa
metade do preço.
Limitação do artigo 935º vale para toda a situação de incumprimento ou apenas para as
situações de resolução pelo vendedor. O artigo 935º vale apenas para aqueles cenários
onde o alienante não obstante o incumprimento, exige do comprador o adimplemento da
prestação ou apenas se o vendedor resolver o contrato.
Regência: artigo 806º não é imperativo. É supletivo pois as partes podem estipular um juro
moratória diferente do legal.
935º apenas para as situações de resolução e não exigências de preço: Menezes leitão: o
artigo 935º deveria ser objeto de uma interpretação restritiva por a respetiva letra ir além
do seu espírito. A indemnização em virtude do comprador incumprir nos termos dos artigos
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798º e 801º/2 poderia respeitar ao interesse contratual negativo e ao positivo, segundo o
vendedor proceda ou não à resolução do contrato. Interesse contratual positivo: nao se
optou pela resolução do contrato, não haveria motivo para limitar a indemnização para
metade do preço. Se ele resolvesse o contrato fundado em incumprimento do comprador
ja podia limitar. Isto permitiria ao vendedor exigir a devolução da coisa entregue e ainda a
indemnização do interesse contratual negativo (801º/2). 935 valeria apenas para as
cláusulas penais relativas à indemnização a pedir na hipótese de resolução do contrato.
Artigo 936º: o regime da compra e venda a prestações vale para todos os contratos pelos
quais se pretende obter um resultado semelhante.
Artigo 934º: “Vendida a coisa a prestações, com reserva de propriedade e feita a entrega
ao comprador, a falta de cumprimento de uma só prestação que não exceda a 8/10 do
preço não dá lugar à resolução do contrato, nem sequer haja ou não reserva de
propriedade, importa a perda do benefício do prazo, relativamente às prestações
seguintes, sem embargo de convenção em contrário”.
Esta norma funciona como derrogação ao artigo 781º que previa que nas obrigações com
prestações fraccionadas, a falta de cumprimento de uma das prestações importa a perda
do benefício do prazo quanto às restantes.
A lei entende que é uma medida drástica: caso o comprador falte ao pagamento de uma
prestação não acarreta a perda do benefício do prazo para o comprador. Isso só acontece
se estiverem em falta duas prestações independentemente do seu valor.
Tendo a coisa já sido entregue a perda do benefício do prazo para pagamento do preço só
permite por força do artigo 886º, o recurso à resolução do contrato pelo vendedor, caso
tenha sido estipulada uma reserva de propriedade. Dai que o artigo 934º comece por fazer
referência à reserva de propriedade, uma vez que se refere à resolução do contrato.
801º/2 vendedor pode exigir indemnização por todos os prejuízos causados, incluindo a
deterioração do bem. É ao vendedor que compete a prova desses prejuízos.
A indemnização por o comprador não cumprir (artigos 798º e 801º/2) pode ter por base o
interesse contratual positivo e o interesse contratual negativo, consoante o vendedor
proceda ou não à resolução do contrato.
Interesse contratual positivo: (não se optou pela resolução do contrato) não há motivo para
limitar a indemnização a metade do preço. Esse limite só pode valer quando o vendedor
resolve o contrato com base no incumprimento do comprador, o que lhe permite exigir a
restituição da coisa entregue cumulativamente com a indemnização pelo interesse
contratual negativo (801º/2). Por isso o artigo 935º apenas se aplica às cláusulas penais
relativas à indemnização a pedir na hipótese de resolução do contrato.
Artigo 936º: estende este regime a todos aqueles que pretendam obter resultado
equivalente ao da venda a prestações.
A resolução do contrato de crédito pelo credor não obsta a que este possa exigir o
pagamento de eventual sanção contratual ou a indemnização.
Há um regime especial para o incumprimento, por isso é afastado o artigo 934º cc.
9. Locação venda
Artigo 936º/2 cc. Trata-se de um contrato em que as partes afirmam estipular uma
locação, mas aceitam passar a propriedade da coisa locada para o locatário de forma
automática, terminando o pagamento de todas as rendas ou alugueres acordados.
Por força do artigo 936º havendo incumprimento do locador, não se aplicará o artigo
434º/2 cc, em vigor para a generalidade das prestações periódicas. A resolução da
locação terá necessariamente efeito resolutivo e o vendedor-locador deverá proceder ao
reembolso ou devolução das prestações recebidas apenas podendo exigir uma
indemnização nos termos gerais ou fixar uma cláusula penal, artigo 935º.
Da locação-venda distingue-se a locação com opção de compra. Nesta existe uma efetiva
relação de locação estabelecendo-se apenas o direito potestativo de o comprador no final
do negócio dar vida a um contrato de compra e venda.
2. União alternativa de contratos: nao parece ser aceito por a própria locação já
compreender aspetos ligados à venda como se constata pelo facto de o valor das
prestações estipuladas tomar em conta a futura transmissão da coisa e nao
apenas o seu gozo.
Locação-Venda
Artigo 936º/2: quando se locar uma coisa, com a cláusula de que ela se tornara
propriedade do locatário depois de satisfeitas todas as rendas ou alugueres pactuados, a
resolução do contrato por o locatário nao cumprir tem efeito retroativo, devendo o locador
restituir todas as importâncias recebidas, sem possibilidade de convenção em contrario,
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mas também sem prejuízo do se direito a indemnização nos termos gerais e nos do artigo
anterior.
As partes declaram estipular uma locação, mas convencionam que a propriedade passará
para o locatário automaticamente no fim de pagamento de todas as rendas ou alugueres
convencionados.
Artigos 937º e seguintes: tem por objeto bens representados por títulos.
O vendedor não está obrigado a proceder à entrega da coisa vendida mas apenas dos
títulos representativos do bem em causa (937º). Em qualquer caso, o objeto vendido não
corresponde aos documentos, mas às coisas aos quais eles se reportam.
Regras gerais em matéria de transferência do risco são aplicáveis à compra e venda sobre
documentos. Existe uma regra especial quando a compra e venda sobre documentos se
reportar a uma coisa em viagem: artigos 938º/1 o risco do comprador desde a data da
compra se em jogo estiver a compra e venda de uma coisa em viagem.
As regras constantes das duas primeiras alíneas do artigo 938º nao serão porém aplicáveis
se ao tempo do contrato o vendedor já sabia encontrar-se a coisa perdida ou deteriorada e
dolosamente o não revelou ao comprador de boa fé (938º/2).
CC nao define exatamente a compra e venda de bens alheios: do seu regime verifica-se
traduzir ela à situação de alienação, por alguem, como própria de coisa cuja titularidade
pertence a terceiro, não tendo o vendedor legitimidade para realizar a venda. Oneração
mediante contrapartida de bens alheios. Pressupõe a compra e venda de bens alheios
sempre a ignorância de uma das partes a respeito da titularidade do sujeito em cuja esfera
se deveria repercutir o ato de alienação.
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1.1. Pressupostos da venda de bens alheios
Venda de coisa alheia, com resultado de nulidade, a transmissão onerosa, como próprios
de bens nao pertencentes ao alienante.
Não se aplica o regime da compra e venda de bens alheios aos negócios relativos a coisas
fora do comércio.
O regime da compra e venda de bens alheios previsto no artigo 892º vale assim apenas
para as hipóteses de alienação como própria de uma coisa que se não mostre fora do
comércio, especifica e considerada como presente, fora do âmbito das relações
comerciais.
Paulo Olavo cunha: admite apenas a validade deste contrato incidente sobre coisa alheia
se tiver sido afastada a execução específica.
Raul ventura e Paulo Olavo cunha: contrapõem lembrando o facto de o artigo 830º cc
permitir a execução especifica do contrato de promessa desde que nao haja convenção em
contrario e a isso nao se oponha a natureza da obrigação. Não havendo convenção em
contrario a natureza da obrigação nao se opõe à execução uma vez que a coisa foi
prometida vender como própria. Não pode nesta hipótese ter lugar uma sentença que
produza os efeitos negociais da declaração do faltoso, porque a decisao do tribunal teria a
força de uma compra e venda nula. Por isso o contrato promessa de compra e venda de
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coisa alheia deve entender-se nulo, exceto se existir convenção contrária à execução
especifica.
Artigo 892ºCC: nula a compra e venda de bens alheios quando o vendedor para além de
vender como própria a coisa alheia, careça de legitimidade para o fazer.
Por isso diz se que nao haveria compra e venda de bens alheios se o alienante dispusesse
de poderes para realizar o ato.
Regência: sempre que alguém vende bens de terceiro como próprios, se isso não resultar
de um erro na declaração, aplica-se o regime da venda de bens alheios.
Questão: aplica-se o regime da compra e venda de bens alheios às situações nas quais o
alienante declara atuar como representante de outrem mas sem possuir a legitimidade
necessária.
Alguns autores alegam não ter lugar a aplicação do regime dos artigos 982º ‘ss aos
cenários nos quais se vende algo pertencente a outra pessoa no âmbito da representação
sem poderes.
PA: apesar de os artigos 892º’ss se reportarem à compra e venda de coisa alheia como
própria, abrangem eles também as hipóteses em que o vendedor admite não ser titular do
bem, mas se arroga a legitimidade para alienar.
Sujeitas ao regime da compra e venda de bens alheios estão também as situações nas
quais o vendedor atua em gestão não representativa sem revelar a sua qualidade, excepto
se o dono do negócio vier a regularizar a situação.
Segundo o artigo 892º cc a compra e venda de bens alheios é sancionada com a nulidade
do negócio.
Trata-se de uma nulidade distinta do regime geral em diversos aspetos: legitimidade para a
arguição – 286º; a propósito da obrigação de restituição – 289º e na possibilidade de
convalidação.
Raul Ventura:
Raul Ventura: afirma a prioridade da nulidade sobre a ineficácia. A falta de produção dos
efeitos relativamente ao proprietário seria consequência da nulidade e não da ineficácia.
Proprietário tem legitimidade para interpor uma ação declarativa do seu próprio direito,
apesar do contrato celebrado entre outras pessoas.
Regência não concorda com o autor: a prova de que a ineficácia não resulta da nulidade é
susceptível de ser extraída do regime da compra e venda de bens alheios em comércio. O
contrato não é nulo mas nem por isso deixa de ser ineficaz relativamente ao proprietário.
Por outro lado sendo o direito do proprietário titular de um direito absoluto, na ação
declarativa do seu próprio direito.
Menezes cordeiro e Romano Martinez: dizem que sim, qualquer interessado pode arguir
nulidade.
Menezes leitão: diz que nao. Por entender ser a nulidade da venda de bens alheios
estabelecida no interesse apenas das partes nos termos definidos pelo regime da compra
e venda de bens alheios.
Sanção de nulidade: a coisa deve ser restituída pelo comprador ao vendedor esteja este de
boa fé ou má fé.
A coisa deve ser restituída a quem procedeu à sua entrega, com base no contrato e não ao
verdadeiro proprietário, exceto se tiver sido intentada ação possessória ou de reivindicação
por este.
Artigo 290º: obrigações recíprocas de restituição, pendentes sobre as partes por força da
nulidade do negócio, ser cumpridas simultaneamente, sendo extensíveis ao caso na parte
aplicável as normas relativas à exceção de cumprimento do contrato.
Havendo nulidade, o vendedor deve restituir o preço. O comprador tem de devolver a coisa
recebida. Na eventualidade de isso não ser possível fica obrigado a entregar o valor
correspondente.
Artigo 894: determina ter o comprador de boa fé, diante da nulidade da venda de bens
alheios, o direito de exigir a restituição integral do preço, mesmo se os bens se hajam
perdido, estejam deteriorados ou tenham diminuído de valor.
Menezes leitão: adquirente de boa fé beneficia por força do artigo 894º/1 cc de uma
proteção superior à do possuidor.
Regência: artigo 894º remete nos para o enriquecimento sem causa. “Se houver proveito
para o comprador em virtude da perda ou deterioração dos bens, ser o ganho abatido no
montante da restituição ou indemnização a pagar pelo vendedor”.
Segundo o artigo 903º/1 cc o disposto no artigo 894º tem natureza supletiva: ele cede
perante convenção em contrário, exceto se o contraente a quem a convenção aproveitaria
houver agido com dolo.
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1.7. Convalidação do contrato de compra e venda de bens alheios e a obrigação de
convalescença
Artigo 895º cc: logo que o vendedor adquira a propriedade da coisa ou do direito vendido o
contrato torna-se válido e a dita propriedade ou direito transfere-se para o comprador.
895º/1,d): contrato nao se convalesce se for feita declaração escrita, por um dos
contraentes ao outro, na qual se reconhece a nulidade do contrato.
897º: dever jurídico de validação do contrato de compra e venda de coisa alheia em caso
de boa fé do comprador.
898º: contraente de boa fé pode suscitar a nulidade do contrato, pode exigir da parte
dolosa o ressarcimento pelos prejuízos sofridos se o contrato fosse válido desde o início.
Se nao houve convalidação os danos reparáveis são todos quanto resultam da realização
do negócio nulo.
A expressão dolo referida no 898º deve ser estendida à má fé e nao com o exclusivo
alcance do 483º.
O incumprimento desta obrigação num passo que altera o regime da compra e venda de
bens alheios.
Artigo 901º: vendedor é garante solidário do pagamento das benfeitorias a reembolsar pelo
dono da coisa ao comprador de boa fé.
1273º: quer o possuidor de boa fé, quer o de má fé tem o direito de ser indemnizados das
benfeitorias necessárias por eles feitas. Se para evitar a deterioração do bem não houver
lugar ao levantamento das benfeitorias, pagará o titular ao possuidor o valor delas de
acordo com as regras do enriquecimento sem causa.
Se os bens vendidos só parcialmente forem alheios manda o artigo 902º aplicar o disposto
no artigo 292º. Se se mostrar que o negócio teria sido realizado sem a parte alheia, o
contrato é totalmente nulo, valendo as regras do 892º. Se o acordo tivesse sido celebrado
não obstante o caráter parcialmente reduz-se, artigo 902, proporcionalmente o preço
estipulado.
Direito dos contratos
Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
Turma A
2017/2018
Regime da compra e venda de bens alheios aplica-se a coisa indivisa, quando um dos
cotitulares vende uma parte especificada ou a totalidade da coisa sem consentimento dos
restantes.