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Direito dos contratos

Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão


RITA ISABEL BASTOS RAMALHO
Turma A
2017/2018
Direito dos contratos I
1. Noção e aspectos gerais

Contrato compra e venda: artigos 874º a 939. Para além de regulada no código civil a
compra e venda é ainda regulada no código comercial (artigos 463º a 476º).

A compra e venda constituí o mais importante contrato regulado no código, não apenas em
virtude da função económica essencial que desempenha, mas também porque a sua
regulação se apresenta como paradigmática em relação aos restantes contratos, tendo
assim a maior relevância no âmbito da construção dogmática dos contratos em especial.

Compra e venda (artigo 874º CC): compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a
propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço.

A compra e venda consiste essencialmente numa transmissão de um direito contra o


pagamento de uma quantia pecuniária, constituindo economicamente a troca de uma
mercadoria por dinheiro.

(ex: transmissão do direito de propriedade)

Mas pode abranger qualquer outro direito real e direitos que não sejam reais, como os
direitos sobre valores mobiliários, os direitos de propriedade industrial, os direitos de
propriedade intelectual, os direitos de crédito, os direitos potestativos, ou situações
jurídicas complexas, como a posição contratual ou as universidades de direito.

(A assunção de dívidas efectuada onerosamente não pode ser qualificada como compra e
venda, uma vez que a lei considera esta como um contrato translativo de direitos, mas não
de obrigações.)

(A simples posse, (Menezes Leitão) não constitui um direito subjectivo, não poderá ser
objecto de compra e venda, uma vez que a sua transmissão não corresponde à
transmissão de um direito).

 Sendo um contrato translativo de direitos a compra e venda pressupõe a existência


de uma contrapartida pecuniária para essa transmissão. Tem de haver um preço,
sempre.
 Se não existir uma contrapartida, o contrato é qualificável como doação (artigo
940º) e se a contrapartida não consistir numa quantia pecuniária, o contrato deixa
de ser uma compra e venda, e passa a ser um contrato de escambo ou troca.

2. Características qualificativas do contrato de compra e venda

A compra e venda é um contrato nominado, uma vez que a lei o reconhece como categoria
jurídica e típico porque estabelece para ele um regime, quer no âmbito do direito civil
(artigo 874º’ss), quer no direito comercial (artigo 463º’ss). Encontra-se ainda um regime
especial para a venda de bens de consumo no DL 67/2003.
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A compra e venda é regra geral um contrato não formal (artigo 219º), ainda que por vezes
a lei o sujeite a forma especial, como sucede na compra e venda de bens imóveis (artigo
875º) e noutras situações específicas.

A compra e venda é um contrato consensual (por oposição a real quoad constitutionem),


uma vez que a lei prevê expressamente a existência de uma obrigação de entrega por
parte do vendedor (artigo 879º/b), o que significa que não associa a constituição do
contrato à entrega da coisa, admitindo a sua vigência antes de a coisa ser entregue.
Efectivamente, é o acordo das partes que determina a formação do contrato, não
dependendo esta nem da entrega da coisa, nem do pagamento do preço.

Questão doutrinária: ao abrigo da autonomia privada as partes podem estipular a compra e


venda como contrato real quoad constitutionem, designadamente dependente da tradição
da coisa (traditio rei ou traditio pretti).

Doutrina italiana: resposta tendencialmente afirmativa, considerando não serem


propriamente contratos consensuais as vendas através de aparelhos automáticos ou as
vendas self-service. Da mesma forma que as partes podem estipular uma forma
convencional não exigida por lei para a celebração do contrato (artigo 223º), parece
admissível que possam igualmente fazer depender a sua constituição da existência da
tradição da coisa ou do preço.

Menezes Leitão: não parece existir num contrato real quoad constitutionem na compra e
venda com pré-pagamento, na medida em que a celebração do contrato se realiza com a
solicitação do produto, havendo apenas a imposição de que o preço seja pago antes da
sua entrega.

 A compra e venda é um contrato obrigacional, já que determina a constituição de


duas obrigações: a obrigação de entregar a coisa (artigo 879º/b) e a obrigação de
pagar o preço (artigo 879º/c). A compra e venda é por outro lado, um contrato real
quoad effectum, uma vez que produz a transmissão de direitos reais (artigo
879º/a).

A compra e venda é um contrato oneroso, uma vez que nele existe uma contrapartida
pecuniária em relação à transmissão dos bens, importando assim sacrifícios económicos
para ambas as partes.

A compra e venda não exige que haja uma equivalência de valores entre o direito
transmitido e o respectivo preço, não deixando por isso de se aplicar as regras da compra e
venda se o comprador consegue descontos.

No entanto se a intenção das partes é atribuir um enriquecimento ao alienante ou ao


adquirente, a situação já não corresponderá a uma verdadeira compra e venda, mas antes,
a um contrato misto indirecto de venda e doação.

A compra e venda é um contrato sinalagmático uma vez que as obrigações do vendedor e


do comprador constituem-se tendo cada uma a sua na outra, o que determina que
permaneçam ligadas durante a fase da execução do contrato, não podendo uma ser
realizada se a outra o não for.
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Aplicam-se à compra e venda as regras relativas ao sinalagma contratual (exceção de não
cumprimento, a caducidade do contrato por impossibilidade de uma das prestações e a
resolução por incumprimento).

A compra e venda é normalmente um contrato comutativo, uma vez que ambas as


atribuições patrimoniais se apresentam como certas, não se verificando incerteza quanto à
sua existência, nem quanto ao seu conteúdo. Em certos casos a lei admite que a compra e
venda de bens futuros, frutos pendentes e partes componentes e integrantes, a que as
partes atribuem esse caráter, na venda de bens de existência ou titularidade incerta, na
venda de herança ou de quinhão hereditário ou na venda de expetativas.

A compra e venda é um contrato de execução instantânea, uma vez que quer em relação à
obrigação de entrega, quer em relação à obrigação de pagamento do preço, o seu
conteúdo e extensão não é delimitado em função do tempo.

3. Forma do contrato de compra e venda

Artigo 219º do CC, a compra e venda é um contrato essencialmente consensual, uma vez
que regra geral não é estabelecida nenhuma forma especial para o contrato de compra e
venda. Esta regra geral, é, no entanto, objeto de muitas exceções das quais a mais
importante respeita à compra e venda de imóveis.

Artigo 875º quando o contrato de compra e venda tem por objeto bens imóveis, o contrato
só é válido quando for celebrado por escritura pública ou documento particular
autenticado. Esta regra é extensível a todos os atos que importem: reconhecimento,
constituição, modificação, divisão ou extinção dos direitos de propriedade, usufruto, uso e
habitação, superfície ou servidão sobre coisas imóveis.

Duas exceções: constantes de lei especial, em que a compra e venda pode ser celebrada
por simples documento particular.

1. Respeitante à compra e venda com mútuo, com ou sem hipoteca, referente a


prédio urbano destinado a habitação ou fração autónoma.

2. Procedimento especial de transmissão, oneração e registo de imóveis.

A compra e venda de bens móveis por vezes é sujeita a forma escrita, como por exemplo
na alienação de herança ou quinhão hereditário, quando não abranja bens sujeitos a
escritura pública ou documento particular autenticado.

A compra e venda de bens móveis sujeitos a registo, como é o caso dos automóveis, não
está sujeita a qualquer forma especial. Artigo 205º refere que às coisas móveis sujeitas a
registo é aplicável o regime das coisas móveis em tudo o que não seja especialmente
regulado.

Sempre que a compra e venda seja sujeita a registo a sua omissão acarretará a nulidade
do negócio (artigo 220º).

Para além da forma especial a compra e venda pode obrigar à realização de certas
formalidades.
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4.Efeitos essenciais

Artigo 874º: a compra e venda tem como efeitos essenciais:

1. A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito;


2. A obrigação de entregar a coisa;
3. A obrigação de pagar o preço.

A compra e venda é um contrato pelo qual se transmite uma coisa ou um direito contra o
recebimento de uma quantia em dinheiro.

O resultado final do negócio consistirá na aquisição por parte do comprador do direito de


propriedade sobre o bem vendido, à qual acrescerá como efeito subordinado a aquisição
da posse, bem como a aquisição por parte do vendedor do direito de propriedade sobre
determinada espécie monetária. A compra e venda só se encontrará definitivamente
executada quando se verificarem estas duas alterações na situação jurídica patrimonial
dos contraentes.

Artigo 874º dois processos.

Em relação à aquisição das quantias em dinheiro, bem como em relação à aquisição da


posse da coisa vendida, a lei socorre-se do instrumento da constituição de obrigações,
quer por parte do comprador, quer por parte do vendedor, apenas considerando definitiva
a aquisição após o cumprimento das mesmas.

Já em relação à aquisição da propriedade sobre o bem vendido esse processo deixa de ser
utilizado, a lei dispensa o cumprimento da obrigação, considerando a aquisição da
propriedade como uma simples consequência automática da celebração do contrato
(artigo 879º/a e 408º/1). Não há assim uma obrigação de dare, o efeito translativo
verifica-se automaticamente com a perfeição do acordo contratual.

Efeitos no contrato de compra e venda:

1. Um efeito real (transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito);


2. Dois efeitos obrigacionais (que se reconduzem à constituição das obrigações de
entregar a coisa e de pagar o preço).

4.2. Efeito real

Um dos efeitos da compra e venda é a transmissão da propriedade da coisa ou da


titularidade do direito.

Para essa constituição ou transmissão do direito real basta o acordo das partes, pelo que a
celebração do contrato de compra e venda acarreta logo a transferência da propriedade
(artigo 879º/a e 408º). A transferência ou constituição do direito real é consequentemente
imediata e instantânea. O efeito real verifica-se no momento da formação dos contratos.

Principio da consensualidade: a propriedade transmite-se com o simples consenso das


partes e verifica-se nesse momento.
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3 sistemas: sistema do título; sistema do título e do modo; sistema do modo

Sistema do título e do modo: para que o efeito real se produza é necessária a presença
simultânea de um titulo e de um modo adquirente, ou seja, não basta que exista uma justa
causa ou fundamento jurídico de aquisição, sendo ainda necessária a realização de um
segundo ato de transmissão.

Sistema do modo: a produção do efeito real depende apenas do modo adquirente, não
sendo necessário um título de aquisição. O contrato de compra e venda tem valor
meramente obrigacional, não produzindo qualquer efeito real.

Sistema do título: vigora o principio da consensualidade, a constituição ou transferência


dos direitos reais depende apenas da existência de um titulo de aquisição, ou seja, de um
ato pelo qual se revela a vontade de adquirir e transmitir em virtude de uma causa
reconhecida pelo direito. Esse titulo e só por si suficiente para produzir o efeito real. A
transmissão da propriedade verifica-se logo com a celebração do contrato de compra e
venda.

Principio da causalidade: a existência de uma causa justa de aquisição é sempre


necessária para que o direito real se constitua ou transmita. Vigora no sistema do título.

Pelo contrário, no sistema do modo vigora o principio da abstração, segundo o qual os


vícios no negócio causal não podem afetar a transferência da propriedade. No sistema do
modo após transferida a propriedade a sua recuperação só pode ser obtida através de
uma ação de enriquecimento sem causa.

Artigo 408º prevê a possibilidade de existência de exceções a esse sistema do título. A lei
admite a possibilidade de a transferência de propriedade não estar sujeita aos princípios
da consensualidade e da causalidade?

Caso a resposta seja afirmativa, teria que se concluir que ao lado da venda real o nosso
direito reconheceria também outro tipo de venda, existente nos sistemas do título e modo
e do modo, que se denomina venda obrigatória.

Venda obrigatória: caracteriza-se pelo facto de o contrato de compra e venda nunca


produzir efeitos reais, apenas tendo por função a constituição de obrigações, resultando a
transferência da propriedade de um segundo ato, que o vendedor se obriga a praticar, o
qual produz os efeitos reais. Assim pela compra e venda a propriedade não é transferida.
Apenas o vendedor obriga-se a transferi-la e o comprador a pagar o preço.

4.2.3. A publicidade da transmissão da propriedade

A compra e venda corresponde a um facto aquisitivo de direitos reais. Se essa compra e


venda for de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, a mesma terá de ser registada sob
pena de não ser oponível a terceiros. Principio da publicidade: sujeição a registo.

No sistema do modo a cognoscibilidade do direito real é mesmo o interesse fundamental


para salvaguarda da segurança e celeridade do contrato, e vigora uma publicidade
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constitutiva, segundo a qual é o próprio registo que determina a transmissão da
propriedade.

No sistema do título, como o nosso, atende-se ao interesse das partes, há um interesse na


regularidade na constituição do direito real. É uma publicidade declarativa e não
constitutiva, sendo apenas uma condição de eficácia relativamente a terceiros do direito
real constituído pelo contrato.

No nosso sistema o registo tem valor meramente declarativo.

4.2.4. O risco no contrato de compra e venda

O facto de a transferência da propriedade ocorrer logo no momento da celebração do


contrato atribui um importante benefício ao comprador, uma vez que tornando-se ele logo
proprietário da coisa vendida e não apenas credor do vendedor relativamente à sua
entrega, deixa de estar sujeito ao concurso de credores no património do vendedor em
relação a essa coisa (artigo 604º). Se o comprador adquire esse beneficio então também é
justo que seja ele a suportar o prejuízo caso a coisa se deteriore ou pereça após a
transmissão da propriedade.

Há uma transferência do risco, artigo 796º/1. Risco fica a cargo do comprador.

4.3. Os efeitos obrigacionais

1. Dever de entregar a coisa

Em relação ao vendedor, obrigação que surge do contrato de CV: dever de entregar a coisa.

A transmissão da propriedade ocorre por mero efeito do contrato: atribuído ao comprador


um direito de crédito à entrega da coisa pelo vendedor que concorre com a acção de
reivindicação (artigo 1311°).

Objeto da obrigação de entrega: coisa comprada

Venda de coisa específica Venda de coisa indeterminada


Artigo 882°/1 Artigo 539°’ss e 400°
Vendedor apenas pode cumprir Vendedor cumpre o contrato entregando
entregando ao comprador a coisa que ao comprador qualquer coisa do género.
foi objeto da venda;
não pode substituí-la, mesmo que não Vendedor tem de entregar as coisas
haja prejuízo para o comprador. correspondentes à quantidade e
qualidade convencionadas no contrato
A coisa deve ser entregue no estado em de Cv.
que se encontrava ao tempo da venda.
Dever de diligência de um bom pai de Incumprimento da obrigação (918°).
família (artigo 799°/2 e 487°/2).

Deterioração da coisa: responsabilidade


pelo vendedor por incumprimento da
obrigação (918°)(799°/1).
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Quanto ao tempo de cumprimento: se as partes não convencionarem prazo certo o


comprador pode exigir a todo o tempo a entrega da coisa, assim como o vendedor pode a
todo o tempo entregar a coisa (777°/1).

Vendedor em mora: quando interpelado pelo comprador (805°/1).

Se for convencionado prazo: vendedor tem de entregar a coisa até ao fim desse prazo, se
não entra em mora (805°/2,a)). Pode antecipar o cumprimento da obrigação.

Lugar de cumprimento

Coisas imóveis Coisas móveis

A entrega apenas pode ocorrer no Coisas determinadas, genéricas a


lugar onde o imóvel se encontra. serem escolhidas de um conjunto
determinado ou produzidas em certo
Porém pode aplicar se supletivamente lugar (773°) a coisa deve ser entregue
o domicílio do devedor (772°), apenas no lugar em que se encontrava ao
simbolicamente. tempo da conclusão do negócio.

Nos outros casos, a coisa deve ser


entregue no domicílio do vendedor
(772°).

Em caso de não cumprimento da obrigação de entrega por parte de vendedor: o comprador


pode intentar uma acção de cumprimento (817°).

4.3.3. O dever de pagar o preço

Último efeito essencial do contrato é a obrigação de pagar o preço. Não é necessário que o
preço se encontre determinado no momento da celebração do contrato, basta que seja
determinável.

Artigo 833° critérios supletivos: 1) o preço que o vendedor normalmente praticar à data da
conclusão do contrato; 2) o do mercado ou bolsa no momento do contrato e lugar em que o
comprador deva cumprir.

O primeiro critério prevalece sobre o segundo.

Se nenhum dos critérios poder ser aplicado, o preço será determinado pelo tribunal,
segundo juízos de equidade (artigo 883°/1). Artigo 1004° CPC para a fixação do preço
pelo tribunal.

O obrigação de pagamento do preço é sujeita a regras específicas quanto ao tempo e lugar


de cumprimento. Em relação ao tempo de cumprimento e a menos que haja estipulação
das partes, o artigo 885°/1 determina que o preço deve ser pago no momento da entrega
da coisa vendida. No entanto, essa Norma pressupõe que a transmissão da propriedade já
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se tenha verificado ou coincida com a entrega, uma vez que o preço é a contrapartida
dessa aquisição de propriedade.

A imposição do pagamento do preço no momento da entrega pressupõe que a obrigação


seja integralmente cumprida. Se a entrega foi feita por fases, a prestação do preço apenas
deve ser efetuada aquando da realização da última entrega, salvo se as partes
convencionaram o preço em função da quantidade de coisas vendidas, caso em que o
vendedor terá legitimidade para exigir o pagamento à medida em que for realizando as
sucessivas entregas.

Quanto ao lugar de cumprimento da obrigação de pagamento do preço: se as partes nada


tiverem estipulado determina o artigo 885º/1 que o preço deve ser pago no lugar da
entrega da coisa vendida, o que se impõe (porque a lei faz coincidir o lugar do
cumprimento da obrigação de entregar a coisa com o pagamento do preço).

Se por estipulação das partes ou força dos usos o pagamento do preço não coincidir com o
cumprimento da obrigação de entrega, o mesmo deverá ser pago no domicílio que o credor
tiver ao tempo do cumprimento (885º/2).

Obrigação de pagamento do preço: prescrição de 20 anos (artigo 309º).

Obrigação de pagamento do preço em sinalágma com a entrega da coisa, o não


cumprimento da obrigação de pagar o preço poderia dar lugar à resolução do contrato por
incumprimento (artigo 801º/2 CC).

 O artigo 886º vem restringir essa faculdade de resolução do contrato: “transmitida


a propriedade da coisa, ou o direito sobre ela, e feita a sua entrega, o vendedor não
pode, salvo convenção em contrário resolver o contrato por falta de pagamento do
preço”.

Se tiver sido transferida a propriedade e entrega do bem, o vendedor não pode reverter
essa situação patrimonial por meio de resolução por incumprimento e reclamar por essa
via a restituição do bem. Pode fazer contra o comprador:

1. Acção de cumprimento para cobrança do preço (artigo 817º) e respetivos juros


moratórios (artigo 806º/1).

Este regime explica-se em virtude de não ser muito conveniente, por tornar indefinida a
situação jurídica dos bens, admitir que a transmissão da propriedade pudesse ser
facilmente revertida, sempre que o adquirente faltasse ao pagamento do preço.

A resolução do contrato por incumprimento da obrigação do comprador é possível nas


seguintes situações:

1. Haver convenção em contrário;


 É admissível face à natureza supletiva do artigo 886º. Da mesma forma que é
possível convencionar fundamentos contratuais para resolver o contrato (432º/1) e
estipular uma modalidade de venda em que se reconheça ao vendedor essa
capacidade (927º/1), nada impede as partes de estipularem também que o
incumprimento da obrigação de pagar o preço por parte do comprador constitua
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fundamento de resolução. “Cláusula resolutiva expressa” são derrogadas as
restrições do artigo 886º, sendo admissível a resolução por incumprimento.

2. Ainda não ter sido entregue a coisa (mesmo que já tenha ocorrido a transmissão da
propriedade);
 Apesar de se ter já transmitido a propriedade para o comprador, o contrato ainda
não se encontra totalmente executado, podendo até o vendedor recusar a entrega
da coisa, enquanto o comprador não pagar o preço (artigo 428º). Nada obsta à
aplicação da resolução do contrato, em caso de se verificar o incumprimento da
obrigação de pagar o preço, até porque é mais favorável que prolongar
artificialmente a suspensão da execução do contrato até à cobrança coerciva do
preço.

3. Ainda não ter ocorrido a transmissão da propriedade (mesmo que a coisa já tenha
sido entregue).
 O bem já pode ter sido entregue ao comprador, mas o vendedor, em ordem a
garantir a sua propriedade como forma de assegurar contra o incumprimento da
outra parte, reserva para si essa propriedade até ocorrer esse cumprimento (artigo
409º). Uma vez que o vendedor reserva a propriedade com fins de garantia, poderá
naturalmente em caso de incumprimento, proceder à resolução do contrato e exigir
a restituição do bem. 1

Artigo 878º: as despesas do contrato e outras acessórias ficam a cargo do comprador.


Recaem sobre o comprador os encargos com a celebração do contrato, como seja, as
despesas emolumentares relativa à celebração do contrato em documento autêntico ou
autenticado e ainda as despesas relativas ao registo da transmissão. Relativamente às
despesas acessórias, incluem-se os encargos fiscais relativos à transmissão.

Não são abrangidas na regra do artigo 878º as despesas relativas a actos de execução do
contrato, como o cumprimento das obrigações do vendedor e do comprador que deverão
ficar a cargo do respetivo devedor.

Correm por conta do vendedor as despesas relativas à guarda, embalagem, transporte e


entrega da coisa vendida e por conta do comprador as despesas necessárias para o
pagamento do preço.

5.Proibições de venda

A lei veda a celebração do contrato de compra e venda entre determinadas pessoas. É


uma venda que é vedada por razões atinentes às relações das partes entre si ou com o
objeto negocial.

1Ler regime especial da resolução do contrato de compra e venda, Professor Pedro Martinez,
páginas 255 e ss.
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5.1. Venda de coisa ou direito litigioso

O artigo 876º/1 “não podem ser compradores de coisa ou direito litigioso, quer
diretamente quer por interposta pessoa, aqueles a quem a lei não permite que seja dita a
cessão de créditos ou direitos litigiosos, conforme se dispõe no capítulo respectivo”.

As coisas ou direitos consideram-se litigiosos quando tiverem sido contestados em juízo


contencioso ainda que arbitral por qualquer interessado (579º/3). A lei proíbe este negócio
por interposta pessoa, considerando como tal tanto o cônjuge do inibido, como a pessoa
de que este seja herdeiro presumindo e qualquer terceiro tenha acordado m o inibido a
posterior transmissão da coisa ou do direito cedido (579º/2). Fora destes casos a venda de
coisas ou direitos litigiosos é plenamente admitida, devendo processar-se a substituição
processual do vendedor pelo comprador.

Razão para esta proibição: receio de que as entidades possam actuar com fins
especulativos, levando, levando os titulares a vender-lhe os bens por baixo preço.

Se apesar da proibição a venda for realizada, esta é considerada nula, e o comprador


sujeita-se à obrigação de reparar os danos causados (876º/2 e 580º/1). A nulidade não
pode ser invocada pelo comprador, se tal fosse possível o comprador celebraria um
negócio que poderia sempre declarar nulo se a operação não lhe corresse de feição.

5.2. Venda a filhos ou netos

Artigo 877º/1 “os pais e avós não podem vender a filhos ou netos se os outros filhos ou
netos não consentirem na venda. O consentimento dos descendentes, quando não possa
ser prestado ou seja recusado é susceptível de suprimento judicial”.

Se a venda vier a ser realizada esta não é nula, mas apenas anulável.

A anulação pode ser pedida pelos filhos ou netos que não deram o seu consentimento
dentro do prazo de um ano, a contar do conhecimento da celebração do contrato (877º/2).

Justificação: evitar que sob a capa de compra e venda se efetuassem doações simuladas a
favor de algum dos descendentes, com o fim de evitar a sua imputação nas quotas
legitimárias, prejudicando os seguintes.

O consentimento não está sujeito a forma especial (219º) mesmo que essa forma venha a
ser exigida para o contrato de compra e venda e pode ser prestado tacitamente. A lei não
diz nada sobre isto, mas deve ser abrangida a situação de venda feita a descendentes
através de interposta pessoa.

5.3. Compra de bens do incapaz pelos seus pais, tutor, curador, administrador legal de
bens

Artigo 1892º/1

Se esta compra e venda for celebrada sem autorização do ministério público é anulável.
Apesar de não autorizada pode ser objeto de confirmação pelo MP (1894º/2), caso em que
se extingue o direito de anulação.
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5.4. Venda entre cônjuges

Esta diretamente ligada ao princípio da imutabilidade das convenções antenupciais. Evita-


se também a simulação de uma compra e venda onde na verdade o objetivo seria a
doação.

5.5. Compra de bens da massa insolvente pelo administrador da insolvência

O CIRE proíbe ao administrador da insolvência a aquisição, diretamente ou interposta


pessoa, de bens ou direitos compreendidos na massa insolvente, qualquer que seja a
modalidade da venda (168º/1).

6. Modalidades específicas de venda

6.1. Venda de bens futuros, de frutos pendentes e de partes componentes ou integrantes

(Prof. Menezes Leitão)

Artigo 880º CC e 467º CCOM

A venda de bens futuros ocorre sempre que o vendedor aliena bens que não existem ao
tempo da declaração negocial (ex: venda de uma fracção autónoma ainda por construir),
que não estão em seu poder (ex: venda dos peixes que vier a pescar nesse dia) ou a que
ele não tem direito (ex: um agricultor vende os cereais que lhe virão a ser fornecidos por
outro agricultor). Também pode ser considerada como venda de bens futuros a venda de
frutos pendentes, partes componentes ou integrantes de uma coisa, uma vez que estas
entidades podem ser incluídas num conceito amplo de coisa futura, que abranja as coisas
ainda não autónomas de outras coisas, mas que serão separadas delas.

A autonomização desta última situação no âmbito do artigo 880º justifica-se em virtude do


artigo 408º/2 estabelecer a transferência de propriedade em momentos diferentes. Na
venda de bens futuros stricto sensu esta ocorre no momento da aquisição pelo alienante,
enquanto na venda de frutos pendentes, partes componentes ou integrantes, a
transferência verifica-se apenas no momento da colheita ou separação.

Ao contrário do que sucede na venda de coisa alheia (892º) nenhuma das partes ignora
que a coisa não pertence ao alienante, ainda que haja necessariamente a expectativa de
ela vir a integrar, no futuro, o seu património. É sempre essencial à compra e venda a
existência de uma aquisição derivada do direito a partir do vendedor, pelo que não se
poderá aplicar o artigo 880º sempre que as partes convencionem que a transferência da
propriedade se realizará a título originário ou diretamente da esfera de um terceiro para o
comprador.

A transferência da propriedade não ocorre imediatamente pelo que a lei faz surgir, a cargo
do vendedor, uma obrigação de exercer as diligências necessárias para que o comprador
adquira os bens vendidos, segundo o que foi estipulado ou resultar das circunstâncias do
contrato.
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O vendedor estará assim obrigado a adquirir o bem vendido, após o que a transferência da
propriedade se processará automaticamente para o comprador, em virtude da anterior
celebração do contrato de venda (408º/2).

Se deixar de cumprir essa obrigação responderá perante o comprador por incumprimento


(798º). Uma vez que está em causa uma obrigação emergente de um contrato validamente
celebrado, naturalmente que essa indemnização não ficará limitada pelo interesse
contratual negativo. Se se tornar impossível proceder a essa aquisição total ou
parcialmente pelo facto que não lhe seja imputável, o resultado será a extinção da
obrigação ou o cumprimento parcial, casos em que respetivamente o vendedor perderá o
direito à contraprestação (795º/1).

A venda de bens futuros pode ainda ser clausulada como contrato aleatório (880º/2), caso
em que o objeto da venda é a mera esperança de aquisição das coisas, como por exemplo
(alguém vende a produção futura de laranjas do seu pomar, independemente de esta
ocorrer ou não). Nesse caso uma vez que o objeto do negócio é a própria esperança, o
comprador está obrigado a pagar o preço, ainda que a transmissão dos bens não chegue a
ocorrer (ex: a colheita perde-se por questões atmosféricas).

Distinção entre a venda de bens futuros e a venda de esperanças reside no facto de na


venda de esperanças existir uma atribuição ao comprador do risco de não se verificar a
transmissão da propriedade clausulada no contrato. Uma vez que essa atribuição envolve
uma derrogação às regras normais de distribuição do risco, tem-se entendido que deve ser
expressamente clausulada.

Lei: artigo 880º/2 a venda de esperanças é um contrato aleatório, uma vez que o
comprador tem sempre de pagar o preço, mas não tem a certeza de existir qualquer
correspetivo patrimonial nesse contrato, uma vez que corre por sua conta e risco a
verificação ou não da transmissão da propriedade.

Emptio spei: é a compra de uma esperança, quando o comprador assume o risco da


existência da coisa (ex: pago 100 euros a um pescador para que o que ele pesque no fim
do dia seja meu), mesmo que não venha nada o preço é devido.

Emptio rei speratae: aqui o risco é na quantidade então se não vier nada, ou nada for
produzido, o preço não será devido, depende do que for combinado pelas partes.

Discussão doutrinária: natureza da compra e venda de bens futuros.

Uma posição sustenta que se trataria de um negócio incompleto ou em via de formação,


na medida em que o consenso das partes seria insuficiente para produzir a transmissão da
propriedade, enquanto faltasse a coisa, apenas se concluindo o negócio com a sua
aquisição pelo vendedor.

Outra posição refere que se trata de um negócio sob a condição suspensiva de os bens
passarem para a disponibilidade do vendedor.

Outra posição refere tratar-se de uma modalidade especial de venda obrigatória uma vez
que o vendedor se obriga com carácter definitivo a realizar o que for necessário para que
se possa verificar a aquisição da propriedade pelo comprador.
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Menezes leitão: as duas primeiras posições estão erradas. Basta ver que apenas se
aplicam à emptio rei speratae, sendo insusceptíveis de traduzir a natureza emptio spei, já
que se nesta o comprador deve sempre o preço, haja ou não transmissão dos bens, não se
pode falar nem em negócio incompleto, nem em negócio sujeito a condição.

Esta não é um negócio incompleto uma vez que o consenso relativo ao contrato encontra-
se integralmente formado, sendo com base nele que se vai verificar a futura produção do
efeito real, sem necessidade de outras declarações. Também não é um negócio sob
condição, uma vez que a aquisição da propriedade pelo vendedor corresponde a uma
obrigação por este assumida, não se verificando assim a subordinação dos efeitos do
negócio a um efeito futuro e incerto.

Resta a última posição: devemos referir que a verdade bens futuros não constitui uma
modalidade específica de venda obrigatória, no sentido em que esta figura é entendida no
âmbito do direito alemão, na medida em que conforme se referiu, a celebração do contrato
já integra o esquema negocial translativo, que não fica dependente de uma segunda
atribuição patrimonial a realizar pelo vendedor.

É manifesto que aqui surge uma obrigação para o vendedor, de cujo cumprimento vai
depender a realização do efeito da transmissão previsto no contrato. Esta caracterização é
comum tanto à emptio rei speratae como em relação à emptio spes, apenas se
diferenciando porque nesta última o comprador assume ainda o risco da não verificação
do efeito translativo.

(Prof. Pedro Albuquerque)

A compra e venda de bens futuros, de frutos pendentes e de partes componentes ou


integrantes de uma coisa está prevista nos artigos 880º CC. Há também uma referência à
venda de coisa incerta ou de esperanças no 467º/1 CCOM.

A venda de bens futuros stricto sensu produz-se se o vendedor alienar bens inexistentes ao
tempo da celebração do contrato de compra e venda, que não estejam em seu poder ou a
que não tem direito. Mas pode igualmente ter-se por compra e venda de coisa futura os
outros contratos de compra e venda referidos no artigo 880º (venda de frutos pendentes,
partes componentes ou integrantes). Isto dado eles se referirem a coisas desprovidas
ainda de existência autónoma. A diferenciação entre as duas situações resulta do facto de
a transferência da propriedade se dar em momentos distintos dependendo de se tratar de
compra e venda de coisa futura stricto sensu (a transferência dá-se com a aquisição pelo
alienante da coisa), ou das outras hipóteses (a transmissão da propriedade dá-se com a
respetiva colheita ou separação).

A compra e venda de coisa futura distingue-se da compra e verdade coisa alheia (892º),
pois na primeira hipótese ninguém ignora não pertencer o bem ao devedor mesmo se
existe a expectativa de ela vir a ser do alienante.

Tendo sido realizada uma compra e venda de bens futuros, frutos pendentes, partes
componentes ou integrantes de um bem, o vendedor é obrigado a exercer as diligências
necessárias para o comprador adquirir os bens vendidos, segundo o estipulado ou
resultante das circunstâncias do contrato. Vendedor está obrigado a adquirir para si o bem
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alienado, dando-se a transferência da propriedade de forma automática com essa
aquisição nos termos do artigo 408º. Se não o fizer por facto imputável responderá por
inadimplemento2.

Responde então pelo interesse contratual negativo ou pelo interesse contratual positivo?

Raul ventura: entendendo a venda de bens futuros como um negócio incompleto, antes de
se operar a transferência de propriedade, entende dever ficar a indemnização limitada ao
interesse negativo.

Menezes Leitão: defende estar-se diante de um contrato validamente celebrado. Por isso, a
indemnização não poderia ser limitada pelo interesse contratual negativo.

Tem razão Raúl Ventura ao afirmar estar-se diante de um negócio incompleto. Mas
também tem razão Menezes Leitão ao sustentar tratar-se de um negócio validamente
celebrado, se com isso pretender expressar não haver aqui nenhuma forma de ilicitude.

O desvalor jurídico dos negócios incompletos afigura-se debatido. Não está impedida a
produção de alguns dos efeitos a que tendem os negócios incompletos. Afastada estará a
produção da totalidade dos respetivos efeitos. Com a compra e venda de bens futuros,
frutos pendentes e partes componentes, surge para o vendedor a obrigação de adquirir a
coisa, determinar o respetivo incumprimento culposo o dever de indemnizar pelo interesse
contratual positivo.

Tratando-se de uma impossibilidade total ou parcial não culposa ou imputável ao


vendedor, o efeito será o da extinção do contrato ou o cumprimento parcial, hipóteses em
que ou o vendedor perde o direito à prestação (795º/1) ou a redução na medida da
impossibilidade (793º/1).

Artigo 880º/2: as partes podem atribuir natureza aleatória ao contrato de compra e venda
de bens futuros. O objeto da venda é inicialmente uma mera esperança, o preço será
devido mesmo se a efetiva transmissão da coisa ou bem futuro se não efectivar.

A venda de coisa futura distingue-se da compra e venda de uma simples esperança pelo
facto de na primeira o preço só ser devido se a coisa vier realmente a existir.

É difícil distinguir a compra e venda de coisa futura (emptio rei speratae) da compra e
venda com carácter aleatório (emptio spei). Na duvida deve presumir-se estar perante a
compra e venda de coisa futura.

 Na compra e venda de uma esperança, o preço é devido mesmo se o bem futuro


não se efetivar, mas isto não obsta à sua qualificação como compra e venda.
Independentemente de o bem futuro vir ou não a ter existência há sempre algo
efetivamente vendido: a própria esperança ou expectativa de aquisição.

A obrigação de entrega a cargo do vendedor, segue os termos gerais.

2 Incumprimento
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Independentemente de se tratar de emptio rei speratae ou emptio spei, deve ser entregue
pelo vendedor a coisa estipulada. Se na segunda modalidade o comprador preferir receber
bem diferente em vez de nada, pagando mesmo assim o preço há uma alteração
voluntária do objeto do contrato.

Na compra e venda de bens futuros há lugar a garantia pelos vícios ou falta de qualidades
da coisa ou se o facto de a coisa ser futura, a afasta implicitamente.

Na emptio spei: o problema reside em saber se a natureza aleatória do negócio abrange os


defeitos da coisa. Resposta deve ir no sentido do afastamento, pois o comprador admite o
pagamento do preço mesmo se a coisa não chegar a existir.

Na emptio rei speratae: admite-se a subsistência da garantia sem prejuízo de poder ser
retirada por estipulação expressa ou implícita das partes, pela natureza da coisa ou pelas
circunstâncias previstas para a respetiva produção.

Artigo 918º CC: estabelece valerem, se a venda respeitar a coisa futura ou indeterminada
de certo género, as regras gerais do incumprimento mostra existir a garantia.

Qualificação jurídico-dogmática do contrato de compra e venda de coisas futuras

1) Teoria da condição
2) Teoria do negócio incompleto
3) Teoria do negócio obrigacional

Em posição à teoria da condição pode alegar-se o facto de na compra e venda de bens


futuros o vendedor estar já em regra obrigado a diligenciar para que o comprador adquira
os bens vendidos. Essa obrigação é inerente ao próprio contrato. A condição não pode
traduzir-se na falta ou existência de um elemento essencial (o objeto). Raul Ventura: vendo
uma coisa se ela vier a existir, não está a realizar um negócio sujeito a condição. Está sim
a fazer uma venda com espera de existência da coisa, uma venda desprovida de um
elemento essencial.

Menezes leitão: defende não se poder falar em negócio incompleto. Pois a qualificação não
abrange simultaneamente à venda de esperanças e a venda de bens futuros. Restaria
assim a terceira orientação: por da venda resultar uma obrigação para o vendedor de qual
depende a aquisição da propriedade da coisa (compra e venda obrigacional) embora não
no sentido com que a expressão é utilizada no sistema do título e do modo, dado a
celebração do contrato já integrar o esquema negocial translativo, sem dependência da
tradição pelo vendedor, mas ainda assim de uma venda obrigacional. (Regente não aceita).

Regência: a venda de esperanças não pode ser obrigacional pois ela transfere
imediatamente a esperança. Não precisamos de submeter à mesma moldura dogmática a
venda de bens futuros e a venda de esperanças.

6.2 Compra e venda de bens de existência ou titularidade incerta

Artigo 881°CC e 467°/1 CCOM venda de coisa de titularidade incerta


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Apenas podem ser alienados bens existentes e pertencentes ao vendedor. Os atos de
disposição de coisas inexistentes são nulos por impossibilidade legal do objeto (280°CC).
A mesma solução vale para as realidades que não pertencem ao vendedor (892°CC).

O artigo 881° admite a venda de bens de existência ou titularidade incerta. Basta fazer-se
menção dessa incerteza no contrato. Presume-se que as partes pretenderam atribuir
natureza aleatória ao contrato devendo o preço ser pago mesmo se os bens não existirem
ou não pertencerem ao vendedor. As partes podem recusar ao contrato natureza aleatória
e o preço só terá de ser pago se a coisa existir e pertencer ao devedor.

Esta modalidade de compra e venda diferencia-se da venda de bens alheios, pois o


alienante não realiza o contrato como se fosse o proprietário. Ao invés a situação de
incerteza é assumida pelas partes. (Aplica-se o regime dos bens alheios quando o
vendedor tenha a certeza da inexistência ou falta de titularidade e não assuma essa
circunstância).

Expressa ou tácita? A razão de ser no sentido de suprimir as dúvidas quanto à prova de um


estado subjetivo difícil de demonstração, há necessidade de uma declaração expressa. Se
a menção fosse tácita já resultava das regras gerais. Se há mesmo necessidade de
considerá-la então tem de ser expressa. Este tipo de contrato não pode ser realizado de
forma meramente verbal. “Recomendação” de que o contrato seja feito com cláusula
expressa. Presume se que as partes quiseram dar natureza aleatória então tem de se
pagar o preço independente de o bem pertencer ou não. Exemplo da aula do quadro já não
ser de A que o doou ao filho. Para não ser assim as partes tem de dizer que não querem
natureza aleatória. Esta visão e diferente da venda de bens alheios, porque o vendedor
vende o bem não sabendo que ele não é seu. Também se distingue da compra e venda de
bens futuros.

O vendedor não tem o dever de promover alguma atividade para dissipar o estado de
incerteza.

Artigos 881º CC e 467º CCOM

Apenas poderão ser objeto de venda as coisas que existem e pertencem ao vendedor, uma
vez que se a venda disser respeito a coisas inexistentes a venda é nula por impossibilidade
física ou legal do objeto e se as coisas não pertencerem ao vendedor.

Mas se se venderem coisas de existência ou titularidade incerta e no contrato se fizer


menção dessa incerteza, o contrato é válido (881º). Essa incerteza constitui um estado
subjetivo, que tem que se verificar em relação a ambas as partes.

Ex: no caso de alguém querer vender um tesouro que se supõe estar enterrado em
determinado terreno, mencionando a incerteza da existência do referido tesouro. A lei
presume que as partes quiseram celebraram contrato aleatório, pelo que será devido o
preço, ainda que os bens não existam. As partes podem elidir esta presunção, recusando
ao contrato natureza aleatória, caso em que o preço só será devido no caso de os bens
existirem e pertencerem ao vendedor.
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A venda de bens de existência ou titularidade incerta distingue-se da venda de vens
futuros, porque não toma por base a expectativa de uma futura aquisição ou
autonomização da coisa no património do vendedor, mas antes a incerteza de uma
situação presente, relativa à existência ou titularidade do bem objeto de venda. E
distingue-se da venda de bens alheios nula (892º) porque o vendedor não celebra o
contrato na qualidade de proprietário da coisa, excluindo assim qualquer garantia
relativamente a essa situação. Por esse motivo não existe na venda de bens de existência
ou titularidade incerta nenhuma obrigação de o vendedor praticar os actos necessários
para que o comprador adquira os bens vendidos (880º e 897º).

O vendedor tem apenas a obrigação de entregar a coisa.

Se a venda de bens de existência ou titularidade incerta tiver sido celebrada como contrato
aleatório, o preço é devido pelo comprador, ainda que os bens não existam ou não
pertençam ao vendedor.

Esse preço é devido logo no momento da celebração do contrato ou apenas no momento


em que se conheça a efetiva situação dos bens. Devemos concluir no sentido da primeira
solução, que o preço é devido logo no momento da celebração do contrato, uma vez que
desde essa celebração o comprador se constituiu nessa obrigação.

Se as partes negarem ao contrato natureza aleatória a obrigação de pagar o preço fica


dependente do cumprimento da obrigação de entrega (885º/1). Assim o comprador
apenas ficará definitivamente constituído na obrigação de pagar o preço após a resolução
da situação de incerteza em relação à coisa. Podendo recusar o cumprimento da obrigação
enquanto o vendedor não lhe efetuar a sua entrega.

6.3. Compra e venda de coisas sujeitas a pesagem, contagem e medição

Representa uma compra e venda de coisas determinadas, sujeitas a uma subsequente


operação: contagem, pesagem ou medição.

Não vale o regime desta modalidade de compra e venda às situações nas quais as partes
apenas se limita, a comprar certa quantidade de um determinado fruto ou tantos
quilowatts de eletricidade.

Aplicação do artigo 887º cc a contratos de fornecimento de energia elétrica:

Defendendo essa aplicação:

STJ: o fornecimento de energia elétrica emoldura-se na disposição do artigo 887º cc.

Lopes Pinto: para o contrato de compra e venda de coisa determinada no qual a


quantidade seja declarada por modo a que cada prestação singular fique concretizada pela
forma nele mesmo estipulada vale a preencherem-se os demais elementos da venda, o
disposto no artigo 887º cc. O contrato de fornecimento de energia elétrica concretamente
individualizada no negócio por elementos diferenciadores e que a definem. Esta é a coisa
móvel e determinada. A quantidade da coisa vendida ficou logo determinável no contrato,
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sendo determinada e facturada segundo a leitura mensal de aparelhos instalados e
controlados pelo vendedor.

Em sentido oposto:

STJ: o contrato de fornecimento de energia elétrica é um contrato de compra e venda


duradouro, unitário de coisa determinada no género mas indeterminada relativamente à
sua medida ou quantidade. É inaplicável àquele contrato o disposto nos artigos 887º cuja
previsão é a de venda tendo por objeto coisas determinadas com preço fixado por unidade.

Tratando-se da venda de coisa determinada e não de coisa genérica, a compra e venda


fica ajustada com a celebração do contrato, antes da pesagem, contagem ou medição. O
comprador adquire segundo o 408º/1 cc imediatamente a propriedade dos bens
alienados, transferindo-se para ele o risco da respetiva perda ou deterioração. A haver uma
divergência entre as quantias ou medidas referidas e o resultado da medição, pesagem ou
contagem, os efeitos apenas se fazem sentir ao nível do preço devido, artigo 887º.

Mas os resultados são diversos se o preço tiver sido estipulado em razão de tanto por cada
unidade comprada ou tenha sido determinado para a totalidade ou conjunto de coisas
vendidas.

Compra e venda ad mensuram: prevista no artigo 887º: preço devido proporcional ao


número, peso ou medida real da coisa vendida, sem embargo de no contrato se afirmar
diferente.

Compra e venda ad corpus: artigo 888º: na venda de coisas determinadas se o preço não
for estabelecido à razão de tanto por unidade o comprador deve o preço estipulado mesmo
se no contrato se mencionar número peso ou medida das coisas vendidas e a referencia
não traduzir a realidade.

Se a quantidade divergir da declarada em mais de um vigésimo desta, o preço sofrerá


redução ou aumento proporcional (888º/2).

Compensação sujeita aos limites do artigo 888º/2?

Pires de Lima e Antunes Varela: sentido afirmativo. Se efetuado o encontro se provar


exceder a diferença entre o preço global e o resultante dos preços unitários que os
contraentes tiveram ou deveriam ter em vista, um vigésimo daquele deve permitir-se o
aumento ou redução proporcional do preço.

Menezes leitão: em sentido oposto. Dado a vontade das partes se formar relativamente ao
preço global e não haver prejuízo. Norma do 889º limita o 888º/2.
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6.3.Venda com reserva de propriedade

(Prof.Pedro Albuquerque)

Celebrado um contrato de compra e venda, a coisa vendida passa a pertencer ao


comprador. É um resultado de eficácia real do contrato de compra e venda. O artigo
409º/1 permite ao vendedor reservar para si a propriedade da coisa até ao cumprimento
total ou parcial das obrigações da outra parte ou até à produção de algum outro evento.
(cláusula de reserva da propriedade faz parte integrante do contrato de compra e venda;
não se trata de convenção ou acordo acessório)

Depois de celebrado contrato de compra e venda é possível inserir no contrato uma


cláusula de reserva de propriedade? Os contratos são livremente alteráveis mediante
acordo das partes. À primeira vista poderia parecer possível, mas a compra e venda goza
de eficácia real. Uma vez celebrada a propriedade transmite-se. O vendedor não pode
reservar para si algo que já não lhe pertence, mesmo que o comprador aceitasse.

(Diretriz europeia, cláusula de reserva de propriedade deve ser feita de forma expressa,
Portugal não exige isso, há incumprimento da diretriz? Prof. Albuquerque acha que não. O
sentido da diretriz é o de os estados membros não pode negar efeitos a uma cláusula
expressa, mas nada os impede de aceitarem uma que seja tácita).

A reserva de propriedade é da maior importância para o vendedor. Nas hipóteses de venda


como pagamento pagamento diferido no tempo ela permite ao vendedor defender a sua
posição, em caso de incumprimento, o alienante conserva para si a propriedade da coisa
objeto do contrato de CV.

Por outro lado em caso de insolvência do comprador, os credores deste não poderão fazer-
se pagar pelo valor da coisa vendida com reserva de propriedade. Essa continua na
titularidade do vendedor que protege-se assim da insolvência do adquirente.

Oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade aos credores e adquirentes do


vendedor. Na hipótese de insolvência (artigo 104º/1 CIRE) pode o comprador exigir o
cumprimento do contrato se a coisa já lhe tiver sido entregue à data da declaração de
insolvência. A titularidade do vendedor é apenas para efeitos de garantia não lhe
assegurando a plenitude dos poderes contidos no seu direito.

Forma

A cláusula de reserva de propriedade está sujeita às mesmas exigências e formalidades


que o contrato no qual se acha inserida, podendo ser consensual se a própria venda o for.
(No caso de insolvência do comprador o artigo 104º/4 do CIRE impõe a forma escrita como
pressuposto de oponibilidade à massa insolvente).
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A reserva de propriedade pode ser pactuada na compra e venda de bens móveis e imóveis,
para ser oponível a terceiros ela terá de obedecer às regras de registo a que estejam
sujeitos os bens (409º/2 CC).

Oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade não sujeita a registo a terceiros

Bens não sujeitos a registo

Pedro Romano Martinez: cláusula de reserva de propriedade tem eficácia inter partes mas
não é oponível a terceiros. Necessidade de tutela da aparência e o paralelo com o penhor
(669º); compra e venda a comerciante (1301º); relatividade dos contratos (406º/2). Sendo
a reserva de propriedade uma cláusula contratual, sem registo, não poderia ser oposta a
terceiros; não faz sentido que a reserva de propriedade no caso de bens imóveis
dependesse de registo para ser oponível a terceiros e no caso de coisas móveis fosse
oponível erga omnes; no caso de incumprimento pela falta de pagamento do preço, cabe
ao vendedor resolver o contrato (886º) (435º/1).

(Professor Regente dá a razão à opinião comum)

Opinião comum: não havendo obrigatoriedade do registo, a cláusula de reserva é sempre


oponível a terceiros de boa fé.

Ana Maria Peralta: Vendedor não pode servir-se da reserva de propriedade para obter a
declaração de nulidade da venda feita pelo comprador. (Prof. Regente não concorda).
Segundo a autora seria estranho permitir ao vendedor interpor uma ação declarativa de
nulidade do segundo negócio de alienação e antes ou imediatamente após a sentença o
comprador adquirir a propriedade sanando a falta de pressuposto necessário para a venda
ser válida.

Porém essa transferência apenas se dará se se assistir ao evento ao qual as partes


subordinaram a transferência da propriedade. Ele pode dar-se ou não. O vendedor pode
intentar a ação para prevenir a hipótese de o evento não acontecer.

AMP: a nulidade da compra e venda de bens alheios seria insusceptível de ser alegada em
virtude de o comprador adquirir o bem.

Cláusula de reserva de propriedade a favor de terceiro

Estabelecimento de cláusulas de reserva de propriedade em contratos de crédito ao


consumo, a favor do mutante ou entidades financiadores que não procederam a nenhuma
alienação do bem para elas reservado.

Admitem esta cláusula:

Urbano dias: admite-se a validade de uma cláusula de reserva de propriedade a favor de


terceiro (o financiador) entendendo-se esta do ponto de vista do regime, equiparável à
reserva a favor do alienante.
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Sério Alves: o artigo 409º/1 abrange na sua letra e espírito a hipótese de conexão entre o
contrato de mútuo a prestações e o contrato de compra e venda de veículo automóvel por
virtude de o objeto mediato do primeiro constituir elemento preço do segundo. Constituído
a favor do mutuante, reserva de propriedade sobre o determinado veículo, os efeitos dessa
reserva são idênticos àqueles que derivariam de ela haver sido constituída a favor do
vendedor do veículo.

Pereira Rodrigues: verificando-se que um veículo automóvel foi vendedor mediante o


pagamento de determinadas quantias, a liquidar nos termos de um contrato de
financiamento celebrado entre o comprador e a entidade financiadores e que foi
constituída reserva de propriedade a favor da entidade financiadora com vista a garantir o
pagamento daquelas quantias, o não cumprimento do contrato de mútuo por parte do
comprador faculta ao financiador que requeira a apreensão do veículo por ocorrer situação
de incumprimento das obrigações.

Em sentido oposto:

Salazar Casanova: a nossa lei não admite a reserva de propriedade a favor do mutuante,
mas apenas em benefício do alienante (409º/1). Não será portanto admissível que uma
instituição de crédito outorgue contrato mútuo com reserva de propriedade a seu favor
simultaneamente com a compra e venda do imóvel a favor do comprador.

Cura Mariano: o alienante só pode reservar para si a propriedade desse bem, não sendo
lícito reservá-la para o alienante uma vez que ele nunca foi proprietário.

A nível doutrinal manifestam-se adversos à admissibilidade da cláusula de reserva de


propriedade a favor do financiador: Abrantes Geraldes, Gravato de Morais, Paulo Duarte e
Menezes Leitão.

Em sentido favorável: Isabel Menéres Campos, Pedro Romano Martinez, Pedro Fuzeta da
Pontre e Nuno Pinto Oliveira.

Regência: julga inadmissível a reserva de propriedade a favor do alienante. Não por


alguma razão atinente à letra da lei. Também se podia sublinhar a impossibilidade
conceptual e dogmática de uma reserva de propriedade a favor de quem não tem
propriedade nenhuma. Mas esse argumento por si só é insuficiente.

Não vigora neste aspecto o princípio da autonomia privada. A reserva de propriedade


atribui ao comprador uma expectativa jurídica real de aquisição limitando do mesmo passo
o âmbito do direito de propriedade do alienante. Vale neste domínio o principio da
tipificado dos direitos reais, artigo 1306º CC.

O afastamento da reserva de propriedade a favor de terceiro não impede a sujeição da


transferência da propriedade ao pagamento de terceiro. Esta situação está
manifestamente abrangida pelo artigo 409º/1 ao admitir estar a transmissão do direito
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dependente do cumprimento integral ou parcial das obrigações da outra parte ou da
produção de um evento.

Mas é diverso uma reserva de propriedade a favor do vendedor subordinando ao


pagamento a terceiro, da estipulação de uma reserva em beneficio próprio. Só a primeira é
possível permitindo ao alienante em caso de incumprimento da obrigação, solicitar a
restituição da coisa para si e apenas para si.

Questão da transmissibilidade da reserva de propriedade

A posição jurídica emergente da reserva de propriedade pode ser transmitida?

Em sentido afirmativo: Nuno Pinto Oliveira. O alienante poderia sub-rogar o terceiro


financiador nos respetivos direitos. A sub-rogação importa a transmissão para o terceiro
das garantias e outros acessórios do crédito que não sejam inseparáveis da pessoa do
devedor (589º). A propriedade reservada transmite-se enquanto acessório do crédito para
o financiador. A possibilidade de sub-rogação e de transmissão é também defendida por
Maria Isabel Menéres Campos.

Numa linha diversa (reserva da propriedade apenas como uma cláusula contratual
determinante do deferimento da transmissão da propriedade para momento posterior ao
do contrato, e possivelmente subordinada a algo). Intransmissibilidade da reserva de
propriedade.

Não se pode dizer apenas que como se trata de uma cláusula de um contrato é por isso
insusceptível de transmitir. Antes da compra e venda o vendedor é proprietário. Depois da
venda passa a ter uma propriedade limitada a fins de garantia. Não há duplicação do
direito de propriedade. É um direito subjetivo e esse direito é transmissível. Os direitos
subjetivos de natureza pessoal não são livremente transmissíveis. Por isso na ausência de
uma norma a proibir a alienação ou transmissibilidade do direito do vendedor com reserva
de propriedade: a reserva de propriedade é perfeitamente transmissível.

É possível a sub-rogação efetuada pelo vendedor. Só não basta a entrega do preço peço
financiador. Nada impede nos termos do artigo 589º o credor que recebe a prestação de
terceiro, de o sub-rogar expressamente até ao momento do cumprimento da obrigação. A
sub-rogação opera (599º) a transmissão de garantias e acessórios.

Mesmo tendo havido pagamento pelo financiador, o alienante pode doar vender ou ceder o
direito de propriedade, transmitir o seu direito. Se se admite a transmissão da hipoteca e
do penhor por maioria de razão deve-se aceitar a transferência da propriedade do
alienante com reserva de propriedade a seu favor.

Estipulação de reserva de propriedade a favor do alienante, mas sujeita ao pagamento a


terceiro
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O artigo 409º/1 prevê a possibilidade de nos contratos de alienação, o alienante reservar a
propriedade para si até ao pagamento total ou parcial das obrigações ou à produção de um
outro evento.

Sobre o incumprimento: Gravato de Morais

O financiador resolve o contrato de mútuo mas não pode exigir a restituição da coisa.

O vendedor não pode resolver o contrato de compra e venda pois não houve
incumprimento do adquirente relativamente a esse negócio (já recebeu a totalidade do
preço) e muito menos tem legitimidade para resolver o contrato de empréstimo.

O financiador não pode socorrer-se do procedimento cautelar de apreensão do veículo


automóvel pois não é titular do registo de reserva de propriedade.

O vendedor também não parece poder fazê-lo já que apesar de titular do registo não tem
motivo para propor a ação de resolução do contrato.

Regência não concorda: pode exigir-se a restituição da coisa

Nomeação para execução pelo alienante do bem objeto da reserva

Alienante beneficiário da reserva pode nomear o bem para execução? Não parece
aceitável a possibilidade de execução de coisa própria do enxequente. Natureza da reserva
de propriedade.

Reserva de propriedade e a exigência de cumprimento do contrato

STJ: seria um desvio da finalidade do contrato e estaríamos a colocar de lado os interesses


do comprador admitir poder o comprador ser privado do direito do gozo da coisa e ao
mesmo tempo continuar obrigado ao pagamento integral do preço. Face ao incumprimento
do adquirente sob reserva de propriedade o contraente beneficiário da reserva tem de
optar por uma das vias: ou exige o pagamento de todas as prestações em dívida ou resolve
o contrato.

Regência: o vendedor pode ter interesse em exigir o cumprimento do contrato e manter a


reserva de propriedade. O facto de o credor ter optado por exigir o cumprimento não faz
caducar o direito de resolução. Contrário é que não é possível, não se pode exigir o
cumprimento de um contrato resolvido. Proposta a ação de cumprimento pelo vendedor
mantém-se a reserva de propriedade até ao pagamento do preço, pois só este gera a
transmissão da propriedade (não a exigência de pagamento).

A simples mora no cumprimento de um contrato não gera imediatamente o direito de


resolver o contrato. Para isso acontecer a mora tem de se transformar em incumprimento
definitivo. Se for obrigação pecuniária (808º/1 estabelece-se um prazo para o devedor
cumprir).

O nascimento do direito de resolução pressupõe uma interpelação ao devedor.

Mora: o devedor está em mora quando decorrer o prazo estipulado pelas partes, se não for
estipulado prazo, então está em mora quando for interpelado pelo credor.
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Prof. Pedro de Albuquerque e Menezes Leitão
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Não existe nada que retire ao vendedor a capacidade de exigir o cumprimento do contrato.

A mora nos contratos bilaterais não desencadeia por si só o direito de resolver o contrato.
Tem a mora de se converter em incumprimento definitivo. (808°/1).

Não se pode exigir o cumprimento de um contrato resolvido.

(Prof. Menezes Leitão)

As razões para a sua estipulação prendem-se com o facto de que ocorrendo entre nós a
transferência da propriedade sempre em virtude da celebração do contrato e normalmente
no momento dessa celebração a transmissão dos bens seja extraordinariamente facilitada
em prejuízo dos interesses do alienante.

Se for celebrado um contrato de compra e venda de um bem o comprador torna-se


imediatamente proprietário do bem vendido e pode voltar a aliená-lo mesmo que este não
lhe tenha sido entregue ou o preço respetivo ainda não esteja pago.

Ao vendedor resta apenas a possibilidade de cobrar o preço. Este é um mero direito de


crédito que não lhe atribui qualquer preferência no pagamento o que implica para o
vendedor ter de concorrer com todos os credores comuns do comprador sobre o
património deste (604º/1). Caso o comprador não possua bens suficientes para pagar a
todos os seus credores o vendedor não terá possibilidade de cobrar a totalidade do preço.

A compra e venda a crédito (venda a prestações ou venda com espera de preço)


apresenta-se como um negócio que envolve riscos elevados para o vendedor, pois a
celebração do contrato acarreta para ele a mudança de uma situação de proprietário de
um bem para a de um mero credor comum, sem qualquer garantia especial, nem sequer
sobre o bem vendido.

A lei para facilitar a transmissão dos bens e evitar que esta seja revertida, através do artigo
886º retira ao vendedor a possibilidade de resolução do contrato por incumprimento da
outra parte (801º/2) a partir do momento em que ocorra a transmissão da propriedade e a
entrega da coisa.

Em consequência dessas situações gravosas, tornou-se comum no contrato de compra e


venda e venda a crédito, a celebração de uma cláusula de reserva de propriedade.

A reserva de propriedade (artigo 409º) podendo ser definida como a convenção pela qual o
alienante reserva para si a propriedade da coisa, até ao cumprimento total ou parcial das
obrigações da outra parte, ou até à verificação de qualquer outro evento.

Através da venda com reserva de propriedade para um momento posterior ao da


celebração do contrato. Normalmente, o evento que determina a verificação dessa
transferência é o pagamento do preço, o que constitui a forma comum e típica de venda
com reserva de propriedade ainda que as partes ao abrigo da sua autonomia privada,
possam igualmente colocar a transferência da propriedade dependente da verificação de
qualquer outro evento, o qual pode ser o pagamento de uma dívida a terceiro.
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A compra e venda com reserva de propriedade já constitui um típico jurídico estrutural,
aplicável nas compras e vendas a prestações ou com espera-se preço, em que o vendedor
procede à entrega da coisa ao comprador, por forma a permitir-lhe o gozo dela antes que o
preço esteja pago.

Regime

A cláusula de reserva de propriedade tem que ser estipulada no âmbito de um contrato de


compra e venda, do qual não pode ser cindida. Assim se a venda já foi celebrada, não
poderá posteriormente ser nela inserida uma cláusula de reserva de propriedade, dado
que a propriedade nesse caso foi transferida para o comprador.

A reserva terá que obedecer à forma legalmente exigida para o contrato, podendo ser
consensual na casos em que o contrato de compra e venda não esteja sujeito a forma
especial.

A cláusula de reserva de propriedade pode ser celebrada em relação a quaisquer bens


móveis ou imóveis, mas estes terão que ser naturalmente coisas específicas e não
consumíveis.

No caso de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, só a cláusula constante do registo é


oponível a terceiros (409º/2).

Dúvida: oponibilidade a terceiros da reserva de propriedade quando ela respeite a bens


móveis não registáveis. A lei não exclui a estipulação da reserva de propriedade em relação
a esse tipo de bens, nem condiciona nesse caso a sua oponibilidade a terceiros de boa.

De acordo com os princípios da causalidade e consensualidade vigentes no nosso sistema,


a reserva poderá ser normalmente oposta a terceiros de boa fé. A lei só exige a publicidade
da reserva de propriedade nos casos de bens sujeitos a registo. Nos outros casos não será
exigida qualquer publicidade, para se poder opor a reserva a terceiro, mesmo que este
esteja de boa fé e tenha obtido a propriedade por transmissão do adquirente sob reserva.

No entanto, se o terceiro adquirir a propriedade a título originário, como sucede na


usucapião e na acessão, a reserva de propriedade extinguir-se-á.

A cláusula de reserva de propriedade implica que por acordo entre o vendedor e


comprador, a transmissão da propriedade fique diferida para o momento do pagamento
integral do preço. A função desse acordo não é permitir ao vendedor a continuação do gozo
sobre o bem (pois este é entregue ao comprador para que o comprador tenha o gozo do
bem), mas apenas defender o vendedor na eventualidade de haver incumprimento do
comprador.

A conservação da propriedade no vendedor até ao momento do pagamento do preço


impede os credores do comprador de executarem o bem podendo o vendedor reagir contra
essa execução através de embargos de terceiro (342º CPC).
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A lei não regula a questão da oponibilidade da posição jurídica do comprador na venda
com reserva de propriedade aos credores adquirentes do vendedor.

No caso de insolvência do vendedor, determina o artigo 104º/1 CIRE que o comprador


poderá exigir o cumprimento do contrato se a coisa já lhe tiver sido entregue à data da
declaração de insolvência, podendo o administrador recusar o cumprimento, caso em que
o comprador terá apenas direito à diferença positiva entre as prestações previstas até ao
final do contrato e o valor da coisa na data da recusa. Esta solução permite pôr em causa a
posição jurídica do comprador na hipótese de falência do vendedor tem natureza
excepcional, pressupondo que em condições normais os credores do vendedor não
poderão executar os bens alienados sobre reserva de propriedade.

Quando se tratem de bens sujeitos a registo, se forem ressalvadas as regras do registo, o


comprador poderá opor a sua expectativa real de aquisição aos credores do vendedor,
mediante o processo de embargos de terceiro, dado que é titular de um direito
incompatível com a penhora desses bens (342º CPC).

Relativamente, a adquirentes vendedor, é manifesto que este não pode legitimamente


tornar a dispor do bem, depois de ter constituído sobre ele uma expectativa real de
aquisição a favor do comprador.

Se o fizer, sendo a reserva oponível a terceiros, a posição jurídica do comprador


prevalecerá naturalmente sobre a segunda aquisição, devendo aplicar-se a esta o regime
da venda de bens alheios (892º).

Em caso de incumprimento do comprador, o vendedor continua a poder resolver o contrato


nos termos do artigo 801º/2, uma vez que a exclusão deste direito pelo artigo 886º só se
verifica se tiver ocorrido a transmissão da propriedade da coisa.

Em caso de venda a prestações, o artigo 934º exclui a possibilidade de resolução do


contrato se o comprador faltar ao pagamento de um única prestação e esta não exceder a
oitava parte do preço. Mas já haverá lugar à resolução do contrato, se o comprador faltar
ao pagamento de duas prestações, mesmo que as duas em conjunto não excedam a
oitava parte do preço.

RISCO

Tem vindo a ser sustentado com base na configuração como uma condição suspensiva,
que o vendedor continuaria a suportar o risco pela perda ou deterioração da coisa, ainda
que esta tivesse sido entregue ao comprador.

A solução de que o vendedor, na venda com reserva de propriedade suporta o risco pela
perda ou deterioração da coisa, mesmo após a entrega ao comprador é inaceitável
(Menezes Leitão) uma vez que a partir da entrega, o comprador fica já integralmente
investido nos poderes de uso e fruição da coisa, servindo a manutenção da propriedade no
vendedor apenas para assegurar a recuperação do bem, em caso de não pagamento do
preço.
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Devendo o risco correr por conta de quem beneficia do direito, parece claro que a partir da
entrega é por conta do comprador que o risco deve correr, não ficando este exonerado do
pagamento do preço em caso de perda o deterioração fortuita da coisa.

Se se vier a verificar a perda ou deterioração da coisa em resultado de um dano


culposamente causado por um terceiro, é manifesto que não pode o vendedor reclamar a
totalidade da indemnização, uma vez que enquanto conservar o crédito do preço, o
património do vendedor não sofre qualquer diminuição.

RUHL: haveria um fenómeno de sub-rogação real, adquirindo o comprador o direito de


ressarcimento apenas com o pagamento do preço.

RAISER: tanto o vendedor como o comprador são titulares da indemnização, pelo que o
lesante terá que satisfazer a indemnização conjuntamente a ambos à semelhança com o
regime do penhor de créditos.

BIANCA: é o comprador o principal titular da indemnização, mas o vendedor tem também


direito a alguma parte em consequência da frustração da garantia que possuía sobre o
bem, pelo que perante esta incerteza subjetiva o devedor deverá utilizar o regime da
consignação em depósito, sempre que não consiga obter a quitação de ambos.

O problema Geral da Transmissão do Risco

Casos típicos Vendedor Comprador Risco


Caso 1
Tem a propriedade e O risco corre por
Compra e venda tem o domínio conta do
sujeita a condição vendedor
suspensiva (796º/3)

Caso 2 (1)
Tem o domínio Tem a propriedade O risco corre por
Já houve celebração conta do
do contrato, mas comprador
ainda não houve (796º/1)
entrega da coisa

Caso 3 (2)
Tem a propriedade Tem o domínio Divergência
Compra e venda com doutrinária
reserva de
propriedade e entrega
da coisa

Caso 4 O risco corre por


Tem a propriedade e conta do
Contrato já concluído tem o domínio comprador (artigo
ou compra e venda 796º/3/2ªparte)
sujeita a condição
resolutiva
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(1) Poderá bulir com o princípio do domínio (quem tem domínio assume o risco)?

Neste caso, o risco corre por conta de quem tem a propriedade e não por conta de
quem tem o domínio. No entanto, há que ter em atenção o facto de neste caso,
tendo o comprador a propriedade, é ele quem beneficia dos frutos do bem. O
vendedor, neste caso, apenas funciona como mero depositário, não tem o direito
de gozo e fruição do bem (1189º).

(2) Várias posições para esta questão

§1 O risco corre por conta do vendedor: por via do artigo 796º/3/2ª parte (a
reserva de propriedade é uma condição suspensiva) e o risco corre por conta do
proprietário do bem (796º/1).

§2 O risco corre por conta do comprador (Menezes Leitão, Romano Martinez)


A) O risco corre por conta de quem adquire a vantagem: tendo em conta que o
comprador adquire o gozo e fruição do bem, adquire ele próprio a vantagem.

B) Princípio do domínio: verifica-se uma transmissão do domínio da coisa, logo,


nos termos do artigo 796º/3/2ª parte estipula que em caso de estipulação de
condição suspensiva, o risco corre por conta do alienante: no entanto este
preceito, ao contrário do que acontece na 1ª parte do mesmo, não esclarece
dos efeitos quando haja entrega da coisa: assim havendo entrega da coisa
(caso da reserva de propriedade) o caso já não é o estipulado mas o oposto
(risco corre por conta do adquirente).

§3 O risco é distribuído pelas duas partes: no caso de deterioração da coisa, na


compra e venda com reserva de propriedade, o comprador perde a coisa e continua
obrigado a pagar o preço; o vendedor por outro lado perde a sua garantia de
pagamento do preço.

(Prof. Pedro Albuquerque)

Alguns autores consideram que ainda não se deu a transferência do direito real e
sustentam que o risco da perda fortuita corre por conta do alienante. Artigo 796°: princípio
de que o risco corre por conta do titular.

Quem usufrui o bem é uma pessoa diferente do proprietário (propriedade apenas como
garantia).

Não faz sentido que um alienante c reserva de propriedade fique pior do que sem a
cláusula de reserva. Dois direitos. O do alienante e o do comprador.

Propriedade plena vs propriedade onerada (direitos reais)


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Propriedade onerada pelo usufruto: propriedade nua

Comprador: expectativa real de aquisição

Logo cada um suporta o risco se o bem se vier a deteriorar na medida do seu direito.

Quem suporta o grosso do risco e o comprador porque tem de pagar o preço e ainda perde
a garantia de aquisição.

Alguns autores: na compra e venda com reserva de propriedade partem do pressuposto


que a transferência do direito real ainda não aconteceu e por isso o risco da perda deve
recair no alienante. Mas não parece ser o melhor entendimento.

A reserva de propriedade visa justamente garantir a posição do vendedor perante o risco


de não pagamento do preço ou da não produção do evento a ela associado.

Risco suportado pelo adquirente:

Risco no comprador (Pedro Romano Martinez)

1) A Reserva de propriedade tem essencialmente uma função de garantia com efeitos


semelhantes aos da hipoteca, mas em que o comprador tem o gozo da coisa,
justificando-se ser ele a assumir o risco;

2) O artigo 796º CC transferência do domínio: ao associar a transferência do risco à


mudança do domínio sobre a coisa o preceito tem em vista a própria relação
material com o objeto ou direito vendido. Não obstante a reserva de propriedade a
partir da entrega da coisa o risco deve correr por conta do comprador não estando
exonerado da obrigação de pagamento do preço na hipótese de deterioração ou
perda da coisa;

3) A cláusula de reserva de propriedade seria em simultâneo uma condição


suspensiva e uma condição resolutiva; desta forma sendo a condição resolutiva e
tendo havido tradição da coisa, o risco corre pelo adquirente te;

4) O artigo 796°/3 para a situação da condição resolutiva, determina correr (tendo já


sido entregue ao comprador) o risco por conta deste. Com referência à condição
suspensiva não se prevê a hipótese de ter existido entrega ao adquirente por isso
nessa eventualidade a solução deverá ser oposta à estabelecida no preceito e
mesmo quando se trate de condição suspensiva, a tradição da coisa importa a
transferência do risco.

A simples transferência do domínio ou controlo material já importa a translação do risco.


796°/1 a reserva de propriedade importa sempre a transferência do risco de perda ou
destruição da coisa para o adquirente não o desonerando de pagar o preço mesmo se ela
vier a desaparecer ou a perecer.
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O perigo de perecimento fortuito da coisa incide sobre o comprador que não é desonerado
do pagamento do preço. O alienante esse suportará apenas o risco de perda da garantia
consubstanciada pela reserva de propriedade.

Quando o bem perece por facto imputável a terceiro: como resolver a distribuição do risco?

Se um terceiro destruir culposamente o objeto vendido com reserva de propriedade.


Poderia pensar se que o vendedor não poderia exigir do autor da lesão uma indemnização
por danos sofridos pois se conservasse o direito de crédito não teria sofrido nenhum
prejuízo. Mas o comprador já tem o usufruto, logo responderão os dois. Haverá repartição
do risco segundo o proveito próprio de cada um.

(Prof. Menezes Leitão)

Natureza jurídica da venda com reserva de propriedade

A natureza jurídica da venda com reserva de propriedade tem sido objeto de grande
controvérsia doutrinária. Posições principais:

1. Teoria da condição suspensiva: corresponde à posição clássica sobre a venda com


reserva da propriedade. Posição defendida na nossa doutrina por Galvão Telles,
Antunes Varela, Almeida Costa, Baptista Lopes e Nuno Pinto Oliveira. De acordo
com esta formulação, a reserva de propriedade deveria ser qualificada como uma
condição suspensiva, na medida em que a transmissão da propriedade ficaria
subordinada a um facto futuro e incerto (o pagamento do preço) o que permitiria
ver a posição jurídica do comprador como a de adquirente condicional.
Essa qualificação permitiria aplicar ao comprador o regime dos artigos 273º e
274º, daí resulta que o risco do perecimento da coisa durante esse período
ocorreria por conta do vendedor, ainda que a coisa já tivesse sido entregue ao
comprador (796º/3).
ML contra a solução de que o risco na venda com reserva de propriedade deve
correr por conta do vendedor, o que constitui um poderoso argumento contra a
tese da condição suspensiva. Mas existem outros argumentos contra a qualificação
de condição suspensiva, definindo-se esta como a cláusula acessória do negócio
jurídico que determina a subordinação dos seus efeitos a um acontecimento futuro
e incerto (270º).
1. Não é tecnicamente um evento condicional o cumprimento da obrigação de
pagamento do preço, dado que ele constitui um dos elementos essenciais do
negócio.
2. Essa obrigação de pagamento do preço é constituída logo no momento da
celebração do contrato, uma vez que o vendedor pode proceder à sua cobrança
em caso de não cumprimento, o que demonstra não existir suspensão dos
efeitos.
3. A aquisição da propriedade pelo comprador verifica-se no momento do
pagamento do preço e não retroage à data da conclusão do negócio, ao
contrário do que imporia o artigo 276º.
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Logo, na venda com reserva de propriedade não se subordinam os efeitos do negócio a um
evento exterior ao mesmo, faz-se é depender um dos efeitos do negócio do prévio
cumprimento de uma obrigação por ele instituída que constitui um dos efeitos essenciais
do negócio.

Não há uma condição na venda com reserva da propriedade mas sim uma alteração da
ordem de produção dos efeitos negociais. Sem a reserva de propriedade a transmissão da
propriedade ocorre antes do pagamento do preço. Com a reserva ela passa a ocorrer
posteriormente a ele.

2. Teoria da condição resolutiva: tese sustentada na pandectística por Windscheid e


em Portugal por Cunha Gonçalves. De acordo com esta tese, a propriedade seria
logo transmitida para o comprador, mas a partir do momento em que se verificasse
o incumprimento do pagamento do preço, ocorreria a resolução dos efeitos do
negócio, com eficácia retroativa, sendo assim recuperada a propriedade pelo
vendedor. Esta tese permitia uma distribuição do risco, face ao que dispõe o artigo
796º/3,1ª parte. É susceptível de todas as críticas que acima se apontou quanto à
reserva de propriedade como uma condição. E a solução entra em conflito com o
disposto no artigo 409º/1 que refere expressamente que o alienante reserva para
si a propriedade até ao pagamento do preço, quer com o disposto no artigo 304º/3
que determina que em caso de prescrição do crédito do preço (não verificação da
condição) o vendedor continua a exigir a restituição da coisa, quando o preço não
seja pago. Por esse motivo ML rejeita a qualificação da venda com reserva de
propriedade como condição suspensiva.

3. Teoria da venda obrigacional: defendida em Itália por Rubino e Gazzara. Na venda


com reserva de propriedade não se verificaria automaticamente o efeito translativo
com a celebração do contrato, mas instituir-se-ia uma obrigação para o vendedor
de fazer o comprador adquirir a propriedade após o pagamento do preço. É
criticável uma vez que a aquisição da propriedade pelo comprador na venda com
reserva de propriedade verifica-se logo que ele cumpra a obrigação de pagar o
preço, não ficando dependente de qualquer outra obrigação por parte do vendedor.

4. A teoria da dupla propriedade: após a celebração do contrato e até ao pagamento


do preço ambas as partes se devem considerar como proprietárias do bem,
constituindo a venda com reserva de propriedade um exemplo de surgimento de
novos tipos de propriedade especial. O comprador adquiriria já um tipo peculiar de
propriedade quem embora lhe permitisse o gozo da coisa, teria um conteúdo mais
reduzido do que a propriedade tradicional, na medida em que poderia perder o seu
direito no caso de falta de pagamento do preço. O comprador seria proprietário sob
reserva do pagamento do preço. Já o vendedor embora reservasse a propriedade
apenas a teria para efeitos de garantias no caso de incumprimento.

5. Teoria da venda com eficácia translativa imediata, associada à atribuição ao


vendedor de uma posição jurídica que lhe garante com eficácia real a recuperação
do bem em caso de não pagamento do preço: a venda com reserva de propriedade
destina-se apenas a atribuir ao vendedor uma situação jurídica real que lhe permita
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obter a recuperação da propriedade em caso de não pagamento do preço. Esta
situação jurídica não se confunde com a propriedade aproximando-se antes do
penhor, do qual se distingue apenas por não pressupor a entrega do bem, devendo
por isso ser incluída entre os direitos reais de garantia. Assim na venda com
reserva de propriedade apesar de onerada com um direito real de garantia, a
verdade é que a propriedade se transmitiria imediatamente para o comprador,
implicando o pagamento do preço, não a aquisição da propriedade, mas antes a
extinção dessa garantia real.

6. Teoria da venda em que o efeito translativo da propriedade é diferido ao momento


do pagamento do preço, obtendo, no entanto, o comprador logo com a celebração
do contrato uma posição jurídica específica distinta da propriedade (tese
maioritária): qualificada como uma expectativa real de aquisição. Parece ser a
melhor posição a teoria da atribuição ao comprador de uma expectativa real de
aquisição, conforme parece claro face ao exame das posições jurídicas do
vendedor e do comprador. Em relação ao vendedor, ele conserva naturalmente a
propriedade sobre o bem ainda que esta passe a ser onerada pela posição jurídica
do comprador bem como limitada pela função especifica da reserva de
propriedade. A conservação da propriedade no vendedor visa essencialmente
funções de garantia do pagamento do preço uma vez que o negócio translativo já
foi celebrado, permitindo ao vendedor em caso de não cumprimento pelo
comprador resolver o contrato e exigir a restituição da coisa. O vendedor apesar de
proprietário da coisa até ao pagamento do preço apenas pode exercer o seu direito
de propriedade sobre ela se for compatível com os fins da reserva. Se o comprador
através de atos de disposição material ou jurídica da coisa, puser em perigo a
garantia, vendedor pode exercer a ação de reivindicação ou providências
cautelares. A reserva de propriedade é oponível a terceiros.
Em relação ao comprador, até ao pagamento do preço, se ele ainda não é
proprietário mantém uma expectativa de aquisição do bem a qual deve ser
oponível a terceiros. Não podemos considerar o comprador como mero detetor uma
vez que a celebração da compra e venda torna-o possuidor em nome próprio. Ele
tem o poder de usar e fruir da coisa apenas lhe estando vedada a sua disposição
por tal ser incompatível com a função de garantia visada com a conservação da
propriedade no vendedor. O comprador durante a situação de reserva pode
desfrutar livremente da coisa e defender o seu direito de gozo sobre ela. Ambos
são titulares de posições jurídicas reais tem de se distribuir o risco de acordo com o
proveito que cada um tirava da respetiva situação jurídica. O vendedor apenas
conservava a propriedade como garantia, logo suporta apenas o risco dessa
garantia. O comprador tirava o proveito da coisa logo é a ele que compete suportar
o risco de perda ou deterioração da coisa. Logo o risco transfere-se para o
comprador logo que a coisa lhe seja entregue.
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Teorias Explicação Risco

Comprador como adquirente


condicional. Transmissão da
propriedade subordinada a um
facto futuro e incerto (pagar o
preço)

Argumentos contra:

Condição suspensiva (1)O pagamento do preço não é Corre por conta do vendedor
um facto futuro e incerto, é um (mesmo que a coisa já tivesse
elemento essencial. sido entregue) (796º/3)

(2)Não há suspensão dos


efeitos.

(3)O comprador adquire a


propriedade quando paga o
preço.

Propriedade logo transmitida


para o comprador, se houver
incumprimento do pagamento
do preço ocorre a resolução dos
efeitos e o vendedor recupera a
propriedade.

Condição resolutiva (1)Contradição com o 409º/1, Distribuição do risco (796º/3,


alienante reserva para si a 1ª parte)
propriedade até ao pagamento
do preço.

(2)E com o 304º/3, vendedor


pode exigir a restituição da
coisa quando o preço não seja
pago, mesmo em caso de
prescrição do crédito.

Não se verifica
automaticamente o efeito
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translativo com a celebração do
contrato. Institui-se uma
Venda obrigacional obrigação para o vendedor de
fazer o comprador adquirir a
propriedade após pagar o
preço.

(1)A aquisição da propriedade


pelo comprador na VCRP
verifica-se com o pagamento do
preço, não sendo preciso outra
obrigação.

Ambas as partes proprietárias


do bem (desde a celebração do
contrato até ao pagamento do
preço).
Venda da dupla propriedade Distribuição do risco

(1)O direito de propriedade é


um direito exclusivo (1305º)

Situação jurídica real atribuída


ao vendedor que lhe permita
obter a coisa de volta em caso
de não pagamento do preço.

(1)Esta situação não é a


propriedade mas sim quase o
Venda com eficácia translativa penhor (a diferença é que não Distribuição do risco (?)
imediata pressupõe a entrega do bem.

(2)A propriedade transmitia-se


logo para o comprador
implicando o pagamento do
preço, não a aquisição da
propriedade mas a extinção
desse direito real.

Vendedor e comprador
detentores de posições jurídicas
reais = distribuição do risco
conforme o proveito retirado
dessa situação jurídica.
Vendedor conserva a
propriedade do bem (função Vendedor (propriedade como
Venda com eficácia translativa apenas de garantia para o caso garantia, respondia apenas
com o pagamento do preço de o comprador não pagar o nessa garantia).
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preço). Propriedade já foi
transmitida. Comprador (tinha o proveito e
usufruto da coisa tem de
suportar o risco da sua perda
ou deterioração.

Transferência do risco para o


comprador com a entrega da
coisa.

(Professor Pedro Albuquerque)

A teoria da condição suspensiva representa a posição tradicional. Ela não pode ser aceite
porque não está tecnicamente em jogo um evento condicional. O dever de pagar o preço
não traduz um facto exterior ao contrato nem futuro nem incerto. Ele é antes um efeito
essencial do contrato de compra e venda cujo cumprimento pode ser exigido judicialmente
e sujeito a execução coativa. O pagamento do preço não é uma condição mas sim uma
contraprestação. A aquisição da propriedade só se dá no momento do pagamento ou da
verificação de outro evento, e não retroage à data da celebração do contrato como
sucederia na condição suspensiva. A condição atinge todos os efeitos do contrato
enquanto a reserva de propriedade apenas afeta a transmissão da propriedade.

A teoria da condição resolutiva todas as razões acima valem para esta teoria. O artigo
409° depõe de forma oposta ao estabelecer conservar na eventualidade de reserva o
vendedor a propriedade da coisa ou direito.

Teoria da venda com eficácia obrigacional já foi afastada essa possibilidade. Porque tem
sempre de se pagar o preço se não não era compra e venda.

Teoria da dupla propriedade alega se o facto de o direito de propriedade ser um direito


exclusivo. Decorre do artigo 1305. Proprietário tem o gozo pleno é exclusivo dos direitos de
uso, fruição e disposição das coisas. Logo é difícil admitir duas propriedades sobre o
mesmo bem. Ela ajusta-se mal ao artigo 409º CC. O artigo 409° é uma reserva a favor do
alienante. Podemos encontrar uma definição e explicação menos complicada. Logo
escolhemos a mais simples.

Teoria da eficácia translativa imediata associada à atribuição ao vendedor de uma posição


jurídica real que lhe garante a reaquisição do bem na hipótese de incumprimento, envolve
à semelhança do sucedido com a teoria da condição resolutiva, uma alteração estrutural
da compra e venda da reserva de propriedade face ao regime estabelecido no artigo 409º
onde apenas se admite ser lícito ao alienante reservar para si a propriedade da coisa. Ao
abrigo do artigo 886º é possível estipular-se na eventualidade do incumprimento do preço,
o vendedor resolver o contrato com fundamento no inadimplemento. Parece que há uma
alteração estrutural ao que é dito no artigo 409°. E se não a reserva de propriedade seria
igual as hipóteses normais do negócio jurídico.

Posição onde o efeito translativo é deferido ao momento do pagamento, comprador


permanece investido numa posição jurídica específica traduzida numa expectativa real de
aquisição. O vendedor detém uma garantia real destinada a assegurar o pagamento do
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preço. Na compra e venda com reserva de propriedade o comprador mantém a
propriedade. Passa o seu direito a estar restringido ou limitado pela posição jurídica do
comprador. O direito do vendedor é para assegurar o pagamento do preço. Há um direito
real de garantia e uma expectativa real de aquisição que depois se pode transformar em
direito de propriedade. Oponível a terceiros.

(Professor Pedro Albuquerque)

6.Venda a Contento e Sujeita a prova

Os artigo 923° e seguintes do CC reportam-se a modalidades de compra e venda


normalmente referentes a bens imóveis realizadas por fases, como sucede com a venda a
contento e a venda sujeita a prova. Em ambas se assiste à subordinação do contrato à
aprovação da coisa vendida por parte do comprador.

Diferença: na venda a contento o comprador reserva para si o direito de contratar ou de


resolver o negócio segundo entender. Na venda sujeita a prova o contrato está dependente
de uma avaliação objetiva do comprador relativamente às qualidades da coisa.

6.2. Modalidades de venda a contento

São duas modalidades de compra e venda a contento.

 Na primeira (ad gustum) é estipulado ter a coisa de agradar ao comprador.

Os efeitos típicos de compra e venda não se produzirão enquanto isso não suceder (artigo
923° do CC)

Na segunda concede se ao comprador o direito de resolver o contrato se a coisa não


agradar ao comprador (artigo 924°do CC).

Na primeira modalidade o nosso direito atribui valor jurídico ao silêncio desviando se assim
da regra geral. Na verdade o artigo 923°/2 dispõe julgar se a coisa aceite se o comprador
não se manifestar dentro do prazo de aceitação nos termos do artigo 228°/1. O ônus da
prova do silêncio do comprador já foi julgado pertencer ao vendedor.

Dado o artigo 923°/3 estabelecer a obrigatoriedade de a coisa ser proporcionada ao


comprador para exame, o prazo para aceitação não se pode iniciar antes de ela ser
entregue.

A entrega do bem para se apreciado representa uma obrigação autónoma do vendedor. O


seu cumprimento é susceptível de ser exigido judicialmente pelo comprador. O vendedor
não se pode eximir ao adimplemento deste dever afirmando serem as coisas tão mas que
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certamente o comprador as teria rejeitado. Na eventualidade de algum defeito impedir a
apreciação da coisa tem o vendedor de proceder à sua substituição ou reparação.

O comprador deve actuar de forma prudente durante o exame. Se a apreciação da coisa


supuser uma utilização parcial da mesma ela deve ter se por admissível. A boa de em
certos casos leva a admitir se poder o exame ser feito por terceiro encarregue pelo
comprador de o fazer.

O vendedor não tem nenhum direito a uma indemnização em virtude de um uso razoável
pelo comprador do objeto do contrato.

Os custos da avaliação devem na duvida incidir sobre o adquirente, o mesmo vale para os
encargos com a devolução na eventualidade de rejeição.

Se dentro do termo o comprador se manifestar no sentido da rejeição, a venda julga se


como não celebrada. Até à aceitação ou vencimento do respectivo prazo os efeitos típicos
do contrato não se produzem.

A manifestação de rejeição não depende de nenhuma fundamentação. O comprador


reservou se a liberdade de dizer a última palavra e vincular se à ou não se lhe aprouver de
forma absolutamente livre não sendo a sua decisão sindicável judicialmente.

Nem é exigível que ele proceda ao exame da coisa para formular a decisão. Ele pode
dispensar a observação e a aceitação sem exame da coisa é eficaz.

A própria recusa de aceitação pode em certos cenários embora seja raro, mostrar se ilícita
ou abusiva. Por exemplo se no momento da celebração do contrato o adquirente tem o
propósito de recusar e tiver ocultado esse facto ao vendedor causando lhe danos. Mas nao
parece admissível pretender se uma venda a contento e estipular se um dever de
fundamentação. Isso seria uma venda sujeita a prova.

Na eventualidade de o comprador manifestar uma aceitação mas sujeita a condições ou


impondo novos termos contratuais na realidade a sua declaração é uma não aceitação.

Questão: pedido de prolongamento do prazo: alguma doutrina acha que estamos perante
uma rejeição é nova proposta de negócio.

Professor regente não concorda. Não obstante a solicitação de alargamento do termo pode
o adquirente a todo o momento manifestar anuência assim se tornando perfeito de forma
definitiva o contrato de compra e venda. O pedido de adiamento equivale apenas a uma
proposta de alteração do negócio já celebrado.

Dado a compra ainda não produzir os respectivos efeitos típicos antes da aceitação a
atribuição do risco ao comprador só se dará com o vencimento do prazo estabelecido no
artigo 923°/2 ou com a aceitação expressa ou tácita. A aceitação não liberta o vendedor
dos efeitos que se dão na hipótese de compra e venda de coisa defeituosa ou onerada.
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 Na segunda modalidade de venda a contento, ao invés do sucedido na primeira a


venda torna se imediatamente eficaz.

O comprador adquire o objeto e contrai a obrigação de o pagar mas tem o direito de


desfazer o negócio, dando os efeitos por não produzidos se o objeto o não satisfizer. Valem
nessa hipótese as regras dos artigos 432°’ss (924°/1) e deverá ser exercida dentro do
prazo estabelecido ou resultante dos usos. Se nenhum for estabelecido pode o vendedor
fixar um limite razoável para o exercício do direito de resolução (924°/3).

Nesta modalidade de compra e venda a contento produzem se todos os efeitos no contrato


logo de início. Nomeadamente a transferência do risco de perda ou deterioração da coisa
na pendência do prazo para o exercício do direito de resolução. Se esta se danificar ou
destruir em termos de o comprador já não poder proceder à respectiva devolução ao
vendedor o comprador já não poderá exercer o direito de resolução (432°/2).

Problema: a transferência do risco depende da entrega da coisa, nos moldes definidos no


artigo 796°/3. A aplicação deste preceito pressupõe todavia estar se na segunda
modalidade de venda a contento perante uma condição resolutiva. Regente não concorda.

6.3. Venda sujeita a prova

A venda sujeita a prova está presente no artigo 925° do CC.

Diferente do que sucede na venda a contento, onde não são relevantes para a produção
dos respectivos efeitos aspetos de natureza objetiva mas tão só a voluntas do comprador,
na compra sujeita a prova plena, a produção dos efeitos do contrato depende de aspetos
positivos susceptíveis de apreciação judicial.

Por estipulação das partes a eficiência do contrato é subordinado à objetiva idoneidade da


coisa para satisfação do fim ou fins a que se destina e à existência nela das qualidades
asseguradas pelo vendedor. Se se preferir ela é sujeita ao resultado de um exame a fazer
cujo fim é o de apurar aptidão do objeto.

Tal como na venda a contento representa obrigação negocial resultante da compra e venda
sujeita a prova o dever de o vendedor proporcionar a coisa ao comprador. Para a prova e
não apenas apreciação (925°/4).

A prova deverá ser feita dentro do prazo, segundo segundo a modalidade estabelecida pelo
contrato ou pelos usos. Se ambos forem omissos, observar se ão o prazo fixado pelo
vendedor e a modalidade escolhida pelo comprador, segundo critérios de razoabilidade
(925°/2).

Em virtude do artigo 925°/3 o comprador tem o encargo de transmitir ao vendedor o


resultado da prova antes de expirar o prazo sob pena de o negócio produzir definitivamente
todos os seus efeitos.
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Na eventualidade de dúvida sobre a modalidade de venda que as partes elegeram de entre


as previstas nos artigos 923° a 925° presume se terem adotado a primeira (926° CC):
venda sob a reserva de a coisa agradar ao comprador (923°).

6.4.Natureza da venda a contento e da venda sujeita a prova

Modalidade de venda a contento: não vinculação pelo comprador (não existe propriamente
uma venda mas uma mera proposta de venda). O destinatário não se prende: falta a sua
manifestação de vontade, traduzida na exteriorização do seu juízo sobre a res.

O contrato formar se ia com o resultado do encontro da proposta e da aceitação. Artigo


923°, ao estabelecer valer a compra e venda feita sob reserva de a coisa agradar ao
comprador como proposta.

Regente: não parece estarmos perante uma mera proposta contratual.

Por um lado a venda a contento pressupõe já um assentimento das partes para a sua
formação. De outro modo esta forma de compra e venda a contento não teria razão
nenhuma de ser. Por outro lado vimos mesmo antes da aceitação pelo comprador este
negócio já produz obrigações concretas a cargo do vendedor: a de a coisa ser facultada
para exame do comprador (923°/3). Por isso na eventualidade de o vendedor transmitir a
terceiro a coisa que devia submeter a prova, está se diante de um cenário de
incumprimento contratual.

Alternativa possível: estar se diante de uma condição de a coisa agradar ao comprador,


negócio condicional. Mas não parece estar o negócio sujeito a uma condição. Não e
possível julgarmos desde logo estar-se perante uma condição resolutiva. Dado o negocio
não produzir efeitos enquanto não se der a aceitação. Também não parece poder falar-se
em condição suspensiva, pois a venda a contento já produz a obrigação de fornecer a coisa
para exame na medida em que o critério condicionante está situado na dependência da
vontade de uma das partes não se poderia aludir jamais a uma verdadeira condição.

A nosso ver a venda a contento na sua primeira modalidade representa um contrato


preliminar constitutivo de um direito típico de opção: do negócio resulta a vinculação
definitiva de uma das partes (o vendedor) associada à obrigação de fornecer o exame da
coisa. Isto enquanto a outra se reserva a faculdade de aceitar ou rejeitar.

Qualificação da segunda modalidade de venda a contento: o próprio artigo 924º/1 fala a


este respeito em resolução. Pode então julgar-se estarmos perante uma condição
resolutiva? A resposta por nós dada ao problema do emolduramento dogmático da
primeira modalidade de venda a contento já permite antever uma resposta negativa. A
condição a existir seria imprópria, por potestativa.
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Partindo do entendimento da decisão do comprador, na segunda modalidade de venda a
contento, como uma condição potestativa, alguns autores julgam estar-se diante de um
contrato de formação imediata, mas sujeito à revogação unilateral do comprador.

Em sentido inverso: o facto de na eventualidade de a coisa não agradar ao comprador a


extinção do vínculo contratual se dar com eficácia retroativa. Na verdade isso acontece por
remissão expressa do artigo 924º/1 para o regime do 432º’ss. Significa isto traduzir a
segunda modalidade de venda a contento uma compra em que o adquirente tem um
direito de resolução do contrato a exercer, também de forma discricionária e sem
possibilidade de sindicância judicial (mas não a uma condição).

A compra e venda sujeita a prova está qualificada pelo artigo 925º/1 do CC como uma
venda sujeita a condição suspensiva, excepto se as partes a tiverem por resolutiva.

Doutrina: aceitam a compra e venda sujeita a prova como um negócio condicional: Galvão
Telles; Baptista Lopes; Pires de Lima/Antunes Varela e Romano Martinez.

Em sentido inverso: Menezes Leitão. Segundo este, os requisitos da compra e venda


sujeita a prova referidos no artigo 925º, não se distinguem dos requisitos de conformidade
da coisa estabelecidos no artigo 913º para o contrato e compra e venda em geral. Por isso,
nao haveria que defender estar-se perante uma compra e venda sujeita a uma condição,
mas antes diante de uma modalidade de compra específica cujos efeitos estariam
dependentes da averiguação positiva de uma qualidade da coisa que a torna adequada à
sua utilização pelo adquirente. No confronto com a compra e venda sem mais ter-se-ia
apenas de adicionar um teste de conformidade.

Regência não concorda com nenhuma das orientações. Menezes leitão: ha uma diferença
importante entre a compra e venda geral e a compra e venda sujeita a prova. O apelo à
condição também não nos parece vingar por se não estar diante de um acontecimento
futuro. Na venda sujeita a prova quando sucede é a mera averiguação no futuro, de um
estado de facto presente.

7. Venda a retro

Na venda a retro o vendedor reserva para si o direito de reaver a propriedade da coisa ou


direito vendido mediante a restituição do preço. Na venda a retro o vendedor tem a
possibilidade de resolver o contrato de compra e venda (artigo 927º).

O exercício deste direito do vendedor tem como efeito a aplicação do disposto nos artigos
432º’ss em tudo o não afastado pelo regime específico da venda a retro.

Os efeitos da resolução do contrato de compra e venda serão semelhantes aos efeitos da


anulação ou declaração de nulidade. O comprador tido por possuidor de boa fé na
pendência do negócio deverá restituir a coisa comprada. O vendedor terá de entregar o
preço recebido (298º). Se por algum motivo não imputável ao comprador o vendedor não
puder ou não estiver em condições de reembolsar o preço, o contrato não pode ser
resolvido.
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Distinção: venda a retro do pacto de revenda (retrovenda): na primeira ha uma única


convenção ou venda, onde se insere como disposição acessória a faculdade, para o
vendedor de chamar de novo a si o objeto, devolvendo o preço. Diversamente na segunda
A vende a B e B no mesmo instante volta a vender a A, permanecendo a venda posterior
como simples proposta sujeita à aceitação de A ou como venda completa subordinada à
condição de anuência posterior.

Não vale na retrovenda para o negócio de B para A o regime dos artigos 432º. Vale sim
para este negócio tal como para o primeiro, o regime da compra e venda, cabendo a A
todos os normais direitos de um comprador.

A venda a retro foi censurada: entendia-se disfarçar na generalidade das situações um


contrato de usura ou um pacto comissório. Galvão Telles.

Este perigo pode ser afastado, artigo 928º cc, estabelece uma proibição de o comprador
exigir o reembolso de uma quantia superior à paga por ele próprio. No excesso é que
poderiam dissimular-se juros usurários, proibidos.

Ex da venda a retro: A precisa de dinheiro mas não quer fazer um crédito. Pede a B que lhe
empreste o dinheiro para comprar a casa e a casa fica com B até que A tenha o dinheiro
para devolver a B.

Artigo 929º: prazo improrrogável para o exercício do direito de resolução (dois ou cinco
anos a contar da data da venda consoante esta seja de bens móveis ou imóveis, salvo
estipulação de prazo mais breve). = como forma de evitar ser a eficácia real da cláusula de
venda a retro por tempo excessivo e indeterminado um entrave ao giro e transmissão de
bens.

Vencido o prazo deixa de ser possível proceder à resolução da venda, mesmo se o


comprador der o seu assentimento a essa resolução.

Com ou sem termo inicial a resolução não poderá exceder as fronteiras temporais fixadas
no artigo 929º e deverá ser feita por notificação judicial.

Se a venda a retro respeitar a coisas imóveis a resolução terá ainda de ser reduzida a
escritura pública ou documento particular autenticado nos quinze dias imediatos, com ou
sem intervenção do comprador, à notificação do comprador os seus herdeiros, sob pena de
caducidade (930º cc).

No silêncio do contrato a resolução fica igualmente sem efeito se dentro do mesmo prazo
de quinze dias, o vendedor não fizer ao comprador oferta real das importâncias líquidas
que haja de pagar-lhe a título de reembolso do preço e das despesas acessórias (931º cc).

Se for vendida coisa ou direito comum com cláusula de venda a retro só em conjunto os
vendedores podem exercer o direito de resolução (933º cc). A regra aplica-se a hipóteses
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de venda por todos os comproprietários, da coisa em conjunto e por inteiro. Requisitos da
resolução: comprador tem a obrigação de entregar a coisa ao vendedor.

A resolução dos contratos ou negócios jurídicos não atinge os direitos adquiridos por
terceiros (435º/1). Se a coisa ou direito objeto de um contrato forem alienados ou
onerados antes de uma eventual resolução do referido contrato não são afetados os
direitos do terceiro subadquirente ou titular do direito novo.

Excepção a este princípio: artigo 932º: se a venda a retro tiver por objeto coisas imóveis ou
móveis sujeitas a registo, e a cláusula a retro tiver sido devidamente registada, a resolução
já é oponível a terceiro.

Cláusula de venda a retro só tem eficácia real tratando-se de bens imóveis ou móveis
sujeitos a registo. Nos restantes casos possui apenas eficácia inter partes, artigo 435º/1
cc.

Cláusula oponível a terceiros, os bens regressarão livres de ónus ou encargos (se tiver sido
registado).

Risco de perda ou deterioração da coisa (Pedro Romano Martinez) incide sobre o


comprador (artigo 796º/3). Responde apenas pela perda ou deterioração da coisa se tiver
procedido com culpa (1269º). Havendo negligência ou dolo, se o vendedor pretender
exercer o direito de resolução do contrato pode demandar o comprador pelos prejuízos
produzidos (não resolve o artigo 432º/2).

Tratando-se de perda fortuita o que sucederá é o vendedor não exercer o direito de


resolução por não ter nisso nenhum interesse terminando a propriedade por se firmar na
esfera jurídica do comprador que tem de suportar o risco de perda da coisa mas por motivo
diferente do 796º/3.

Se o vendedor por um motivo estranho pretender resolver o contrato então pertencer-lhe-á


suportar os efeitos da perda ou destruição.

No direito alemão, onde se admite a disciplina da recompra, com a configuração de uma


retrovenda, tem-se posto também o problema da admissibilidade de uma nova venda.

Na recompra o direito de celebrar uma nova venda é dado ao vendedor, na nova venda é o
comprador quem pode forçar o alienante a adquirir de novo. As limitações para a venda a
retro valem também para a retrovenda.

Será admitido que o comprador chame a si o preço devolvendo a coisa?

Este raciocínio também é válido no direito português.

O CC disciplina apenas a venda a retro. Mas as partes podem celebrar um contrato, seja
com a configuração de uma compra a retro seja segundo o modelo de uma retrocompra.
Valerá o regime da venda a retro, com as necessárias adaptações e ponderações.

Natureza da venda a retro:

Segundo alguma doutrina estaríamos perante uma condição resolutiva potestativa.


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Há quem entenda que se está perante um simples direito de resolução do contrato pelo
vendedor, mas sem eficácia retroativa.

Outros entendem estarmos perante uma propriedade temporária, revogável ou resolúvel


por força de um direito potestativo conferido ao vendedor.

Regência: não há razão para distanciarmo-nos da qualificação do artigo 927º. Trata-se de


um contrato atributivo e direito de resolução a exercer pelo comprador e dotado de eficácia
retroativa (432º).

8. Venda a prestações

Artigo 934º’ss. As vendas a prestações são negócios dotados de prestação dividida ou


fracionada.

Princípio geral regulador das dívidas cuja liquidação pode ser fraccionada (dívidas
liquidáveis em prestações) – artigo 781º.

Se uma obrigação puder ser liquidada em duas ou mais prestações, a não realização de
uma delas importa o vencimento de todas. Existem regras especiais para a compra e
venda. Artigos 886º, 934º e 935º.

Artigo 886º CC: vale de forma geral para todos os cenários de não pagamento do preço
pelo comprador. (Desvio ao 801º) não pode o vendedor transmitida a propriedade da coisa,
e feita a sua entrega resolver o contrato por falta de pagamento.

Artigo 934º CC: afasta-se do 781º, vale para as hipóteses de falta de pagamento de uma
das prestações relativas ao preço em contratos de compra e venda a prestações:

1. Vendida a coisa a prestações com reserva de propriedade e feita a sua entrega ao


comprador a omissão de uma prestação cujo valor exceda a oitava parte do preço
ou de duas ou mais prestações independentemente do seu valor dá ao vendedor o
direito de resolver o contrato de compra e venda.

2. Em qualquer dos cenários com ou sem reserva de propriedade, a falta de


pagamento de uma prestação de montante inferior a um oitavo do preço não
determina a perda do benefício do prazo.

No preço estão abrangidas todas as quantias a pagar pelo comprador ao vendedor como
efeito da alienação mesmo se se tratar apenas de despesas, juros ou outras importâncias.

O artigo 934° parece absolutamente peremptório no sentido de a limitação, seja da


resolução, pelo vendedor, seja da perda do benefício do prazo, dado ao adquirente
depender da entrega da coisa. Faz sentido a restrição do artigo 934° tratando se de uma
resolução.

Desprotegeria o comprador na eventualidade de não ter beneficiado da tradição da coisa


no confronto com o adquirente favorecido pela traditio. Proteção diferente para o vendedor
caso ele tivesse procedido ou não à entrega da coisa ao comprador.
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Regência: não viu nenhum impedimento em aplicar também a restrição imposta pelo artigo
934° no respeitante ao vencimento antecipado, aos cenários nos quais não se assistiu à
tradição da coisa.

Questão: apurados os pressupostos do artigo 781°, está se perante uma verdadeira


situação de vencimento antecipado ou perante uma simples situação de exigibilidade
antecipada.

Regente: segundo termo (situação de exigibilidade antecipada). De outro modo poder se ia


chegar a resultados desrazoaveis na perspectiva do credor: impor se lhe ia a aceitação de
todas as prestações em falta, atribuindo-lhe um benefício porventura por ele não
pretendido. O credor deve dispor da faculdade de exigir e de não exigir o pagamento
imediato. Enquanto o não fizer o devedor não está constituído em mora.

O mesmo princípio vale para o artigo 934° CC. Ou seja faltando o comprador a uma
prestação superior a um oitavo do preço ou duas prestações independemente do valor, o
vendedor pode interpela-lo exigindo o pagamento das prestações vencidas. A partir desse
momento o comprador estará em mora relativamente a todas as prestações não pagas,
podendo ela transformar se em incumprimento definitivo nos termos do artigo 808° CC.

O artigo 934° refere se apenas à falta de pagamento. Tratando-se da exigência do


cumprimento da totalidade das prestações basta a mora. Estando em jogo o exercício do
direito de resolução apenas após o Incumprimento definitivo, operado nos artigos 808º ele
pode ser atuado.

Questão: saber se a exigência de 1/8 do preço ou de duas ou mais prestações acumuladas


(independemente do valor) parece representar sempre um incumprimento grave – artigo
808º/2. Se o for sendo definitivo não tem de passar por mais nada.

Artigo 934º de um lado e os artigos 801º/2 e 802º do outro.

 Se o comprador faltar a uma prestação não superior a 1/8 do preço o vendedor


não tem o direito de resolver o contrato.

 Se o comprador faltar a uma prestação superior a 1/8 do preço ou a mais de uma


prestação independentemente do valor, deixa de funcionar a restrição do artigo
934º e passa a valer o regime geral do 801º/1 e 802º.

Natureza supletiva ou imperativa do artigo 934º? (Na parte final da norma estatui-se ser a
regra ai definida aplicável sem embargo de convenção em sentido oposto) = isto significa
que será possível estipular o afastamento da regra do artigo 934? Ou vale esta norma e a
regra ai presente mesmo na eventualidade de as partes terem acordado afastá-la?
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A imperatividade do preceito tem sido definida pela doutrina (Menezes leitão e Menezes
cordeiro).

Regência também concorda com a imperatividade do artigo 934º ( tem um regime


restritivo do regime geral e visa defender o comprador perante o vendedor e o perigo da
venda a prestações).

Vendida a coisa sem reserva de propriedade a falta de pagamento de uma das prestações
pode permitir ao vendedor a possibilidade de resolver o contrato nos termos do artigo 886º
CC?.

Não havendo reserva de propriedade mesmo perante a entrega da coisa, os contraentes


podem inserir no acordo negocial uma cláusula resolutiva para a hipótese do comprador
faltar ao pagamento de alguma prestação (pires de lima, Antunes varela).

Pedro romano Martinez: não concorda. Pois entende que a imperatividade do artigo 934º
não parece ser ajustada com uma compra e venda sem reserva de propriedade, mas com
entrega da coisa com cláusula de resolução para a hipótese de falta de pagamento pelo
comprador.

Nuno pinto oliveira: só se poderia alegar a imperatividade do artigo 934º se se entendesse


dispor este só ter o vendedor o direito potestativo de resolução do contrato de compra e
venda a prestações:

- se tivesse reservado para si a propriedade da coisa;

- se alem disso tivesse entregue o bem ao comprador;

- e se o comprador faltar ao cumprimento de uma obrigação superior a oitava parte do


preço ou duas ou mais prestações independemente do seu valor.

Para este autor o texto da lei diria algo de bem diferente: o alienante só não tem o direito
potestativo de resolução do contrato de compra e venda a prestações:

- se tiver entregue a coisa ao comprador;

- e se o comprador faltar ao pagamento de uma só fração do preço que não exceda a


oitava parte do preço.

Regência: não concorda com pinto oliveira. Para o comprador ter o direito potestativo de
resolução é necessário segundo o artigo 886º não ter entregue a coisa ou tendo-o feito, a
estipulação da possibilidade de resolução.

Não faz sentido não aplicar a limitação do artigo 934º às situações de ausência de reserva
de propriedade. Pode por analogia usar-se a regra dele para resolver hipóteses de
resolução de uma compra e venda a prestações em que não é estipulada a reserva de
propriedade?

Norma excepcional ao 801º, 802º e 886º. Impossibilidade de haver analogia para sujeitar
a resolução da venda a prestações, sem reserva de propriedade às limitações do artigo
934º.
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Artigo 934º limita o direito de resolução do vendedor a prestações, se existir reserva de
propriedade, no confronto com o determinado pelos artigos 801º, 802º e 886º: isto é não
obstante o vendedor reservar para si a propriedade ou titularidade da coisa, ele está
impedido de pôr termo ao contrato resolvendo-o.

 Indamissibilidade da convenção de uma cláusula de resolução na compra e venda


a prestações, com entrega da coisa, mas sem reserva de propriedade, para a
hipótese de se não se assistir a um incumprimento de uma prestação superior à
oitava parte do preço ou à falta de duas independentemente do seu valor.

Cláusula penal

Artigo 935º CC define o regime da cláusula penal na eventualidade de o comprador não


cumprir. A estipulação de uma cláusula penal é admitida para os diversos contratos e de
forma geral no artigo 810º cc como meio prévio de fixação de uma indemnização pelo não
cumprimento de obrigações.

935º: a indemnização estabelecida em cláusula penal, por o comprador não cumprir, não
pode exceder metade do preço, salvo a faculdade de as partes ajustarem a
ressarcibilidade de todos os prejuízos sofridos. Se o referido limite for ultrapassado a
indemnização estipulada em montante superior a metade do preço será reduzida a essa
metade do preço.

Se se tiver estipulado perder o comprador na eventualidade de incumprimento as


prestações já pagas e estas excederem metade do preço, não poderá o vendedor fazer seu
o excedente.

Limitação do artigo 935º vale para toda a situação de incumprimento ou apenas para as
situações de resolução pelo vendedor. O artigo 935º vale apenas para aqueles cenários
onde o alienante não obstante o incumprimento, exige do comprador o adimplemento da
prestação ou apenas se o vendedor resolver o contrato.

935º limita-se apenas na eventualidade de se resolver o contrato: obrigações pecuniárias


(886º natureza imperativa) diz respeito à mora e ao incumprimento definitivo. Artigo 935º
viria a derrogar para a venda a prestações o regime geral do 886º? Vasco lobo xavier diz
que não. Pois em primeiro lugar, não parece aceitável o vedado na venda comum (sujeição
do contraente m falta na obrigação de satisfazer o preço, a pagar uma indemnização
diversa da traduzida na remuneração dos juros respectivos) admitido na venda a
prestações, exatamente onde se legitima uma especial proteção do comprador. Em
segundo lugar o 935º/2 mostra que o subjacente à norma é apenas a indemnização na
eventualidade de resolução do contrato.

Regência: artigo 806º não é imperativo. É supletivo pois as partes podem estipular um juro
moratória diferente do legal.

935º apenas para as situações de resolução e não exigências de preço: Menezes leitão: o
artigo 935º deveria ser objeto de uma interpretação restritiva por a respetiva letra ir além
do seu espírito. A indemnização em virtude do comprador incumprir nos termos dos artigos
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798º e 801º/2 poderia respeitar ao interesse contratual negativo e ao positivo, segundo o
vendedor proceda ou não à resolução do contrato. Interesse contratual positivo: nao se
optou pela resolução do contrato, não haveria motivo para limitar a indemnização para
metade do preço. Se ele resolvesse o contrato fundado em incumprimento do comprador
ja podia limitar. Isto permitiria ao vendedor exigir a devolução da coisa entregue e ainda a
indemnização do interesse contratual negativo (801º/2). 935 valeria apenas para as
cláusulas penais relativas à indemnização a pedir na hipótese de resolução do contrato.

Regência não concorda com ML: aplicação do 935º às situações de exigência do


cumprimento por parte do vendedor.

Pedro Martinez: 935º só se legitimaria perante a resolução do contrato.

Aplicação do regime da compra e venda a prestações a outros contratos

Artigo 936º: o regime da compra e venda a prestações vale para todos os contratos pelos
quais se pretende obter um resultado semelhante.

(Professor Menezes Leitão)

8.4. Venda a prestações

Artigo 934º: “Vendida a coisa a prestações, com reserva de propriedade e feita a entrega
ao comprador, a falta de cumprimento de uma só prestação que não exceda a 8/10 do
preço não dá lugar à resolução do contrato, nem sequer haja ou não reserva de
propriedade, importa a perda do benefício do prazo, relativamente às prestações
seguintes, sem embargo de convenção em contrário”.

Esta norma funciona como derrogação ao artigo 781º que previa que nas obrigações com
prestações fraccionadas, a falta de cumprimento de uma das prestações importa a perda
do benefício do prazo quanto às restantes.

A lei entende que é uma medida drástica: caso o comprador falte ao pagamento de uma
prestação não acarreta a perda do benefício do prazo para o comprador. Isso só acontece
se estiverem em falta duas prestações independentemente do seu valor.

Tendo a coisa já sido entregue a perda do benefício do prazo para pagamento do preço só
permite por força do artigo 886º, o recurso à resolução do contrato pelo vendedor, caso
tenha sido estipulada uma reserva de propriedade. Dai que o artigo 934º comece por fazer
referência à reserva de propriedade, uma vez que se refere à resolução do contrato.

Discussão: natureza supletiva ou imperativa do artigo 934º, em virtude do carácter


ambíguo da expressão “sem embargo de convenção em contrário”.

A posição predominante na doutrina: vai no sentido da imperatividade da norma.


Consistindo esta numa norma de proteção do comprador a crédito, normalmente a parte
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mais fraca do contrato, não faria sentido admitir-se que essa proteção fosse retirada por
simples estipulação negocial.

Na venda a prestações a resolução do contrato pelo vendedor depende da circunstância


de ter sido celebrada uma cláusula de reserva de propriedade. No entanto, deve-se referir
que essa resolução não consiste na tutela adequada dos interesses do vendedor, uma vez
que tem como efeito a restituição de tudo o que tiver sido prestado ao abrigo do contrato.

801º/2 vendedor pode exigir indemnização por todos os prejuízos causados, incluindo a
deterioração do bem. É ao vendedor que compete a prova desses prejuízos.

Estipulação de cláusulas penais para a hipótese de incumprimento por parte do vendedor:


verificados abusos levaram o legislador a estabelecer limites máximos à estipulação de
cláusulas penais; artigo 935º/1 prevê: “indemnização estabelecida em cláusula penal não
pode ultrapassar metade do preço”.

Tem de haver adequada interpretação restritiva.

A indemnização por o comprador não cumprir (artigos 798º e 801º/2) pode ter por base o
interesse contratual positivo e o interesse contratual negativo, consoante o vendedor
proceda ou não à resolução do contrato.

Interesse contratual positivo: (não se optou pela resolução do contrato) não há motivo para
limitar a indemnização a metade do preço. Esse limite só pode valer quando o vendedor
resolve o contrato com base no incumprimento do comprador, o que lhe permite exigir a
restituição da coisa entregue cumulativamente com a indemnização pelo interesse
contratual negativo (801º/2). Por isso o artigo 935º apenas se aplica às cláusulas penais
relativas à indemnização a pedir na hipótese de resolução do contrato.

Artigo 936º: estende este regime a todos aqueles que pretendam obter resultado
equivalente ao da venda a prestações.

Venda a prestações no âmbito de relações de consumo

DL 359/91 que transpôs as diretivas 87/102 CEE e 90/88 CEE

Atualmente: DL 42-A/2013 que transpôs a diretiva 2011/90 UE

Contrato de crédito ao consumo: sempre que a venda a prestações seja efetuada no


âmbito de relações de consumo; pessoa singular atua com objetivos alheios à sua
atividade profissional ou comercial.

Situações em que um credor concede ou promete conceder ao consumidor um crédito


sobre a forma de diferimento de pagamento, inclui a situação da venda a prestações
efetuada no âmbito das relações de consumo.

Se for qualificada como contrato de crédito ao consumo, a venda a prestações tem um


regime especial, destinado a proteger o consumidor, normalmente considerada a parte
mais fraca.

TAEG = Taxa anual de encargos efetiva global


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Dever de prestar informações e de publicidade.

Ficha: informação normalizada europeia em matéria de crédito a consumidores.

Dever de o credor avaliar a solvabilidade do consumidor antes da celebração do contrato


de crédito. O crédito ao consumo é sujeito à forma escrita, em papel ou noutro suporte
duradouro e em condições de inteira legibilidade.

A sanção pela inobservância dos requisitos é a nulidade do contrato de crédito, podendo o


consumidor prova-lo desde que não tenha invocado a nulidade.

Direito de arrependimento ou livre resolução: concedido durante um período de reflexão. O


consumidor dispõe de um prazo de 14 dias de calendário para revogar o contrato de
crédito sem necessidade de indicar qualquer motivo. O consumidor deve pagar ao credor o
capital e os juros vencidos a contar da data de utilização do crédito em prazo não superior
a 30 dias após a comunicação.

Em caso de incumprimento do contrato de crédito pelo consumidor, o credor só pode


invocar a perda do benefício do prazo ou a resolução do contrato se ocorreram
cumulativamente as seguintes situações:

A) Falta de pagamento de duas prestações sucessivas que exceda 10% do montante


total do crédito.
B) Ter o credor sem sucesso concedido ao consumidor um prazo de 15 dias para
proceder ao pagamento das prestações em atraso, acrescidas de indemnização.

A resolução do contrato de crédito pelo credor não obsta a que este possa exigir o
pagamento de eventual sanção contratual ou a indemnização.

(Professor Pedro Albuquerque)

8.4. Venda a prestações efetuada no âmbito de relações de consumo

Venda a prestações efetuada no âmbito de relações de consumo: sujeita a regime


especial: maior proteção do consumidor. Proteção: estabelecimento sob pena de nulidade
ou anulabilidade consoante os deveres violados, de determinadas obrigações de
informação e pela sujeição à forma escrita de certas menções. Concedido ao comprador
um prazo de reflexão onde ele pode revogar a declaração negocial.

O comprador pode realizar antecipadamente o cumprimento.

Há um regime especial para o incumprimento, por isso é afastado o artigo 934º cc.

Incumprimento pelo consumidor: credor só pode alegar a perda do beneficio do prazo ou


resolver o contrato se:

- houver falta de pagamento de duas prestações sucessivas que ultrapasse o 10% do


montante total de crédito;
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- ter o credor sem êxito dado ao consumidor um prazo adicional mínimo de 15 dias para
realizar o pagamento das prestações em falta, acrescidas de indemnização devida.

9. Locação venda

Artigo 936º/2 cc. Trata-se de um contrato em que as partes afirmam estipular uma
locação, mas aceitam passar a propriedade da coisa locada para o locatário de forma
automática, terminando o pagamento de todas as rendas ou alugueres acordados.

Por força do artigo 936º havendo incumprimento do locador, não se aplicará o artigo
434º/2 cc, em vigor para a generalidade das prestações periódicas. A resolução da
locação terá necessariamente efeito resolutivo e o vendedor-locador deverá proceder ao
reembolso ou devolução das prestações recebidas apenas podendo exigir uma
indemnização nos termos gerais ou fixar uma cláusula penal, artigo 935º.

Não esta o locador-vendedor obrigado numa situação de incumprimento a resolver o


contrato, ele pode mantê-lo.

Da locação-venda distingue-se a locação com opção de compra. Nesta existe uma efetiva
relação de locação estabelecendo-se apenas o direito potestativo de o comprador no final
do negócio dar vida a um contrato de compra e venda.

3 orientações quanto à natureza jurídica da locação-venda:

1. Qualificá-la como compra e venda sujeita a reserva de propriedade: mas nao


parece ser assim. Na venda com reserva de propriedade se o comprador nao pagar
a totalidade do preço ha naturalmente incumprimento da compra e venda. Na
locação-venda nao sendo pago todo o preço mantém-se o contrato como uma
locação, se o locador-vendedor assim o entender.

2. União alternativa de contratos: nao parece ser aceito por a própria locação já
compreender aspetos ligados à venda como se constata pelo facto de o valor das
prestações estipuladas tomar em conta a futura transmissão da coisa e nao
apenas o seu gozo.

3. Modalidade especifica e típica da compra e venda (Menezes leitão): sendo deferida


a transmissão da propriedade até ao pagamento do preço, o vendedor se obriga a
proporcionar ao comprador o gozo da coisa, como locatário desta.

(Professor Menezes Leitão)

Locação-Venda

Artigo 936º/2: quando se locar uma coisa, com a cláusula de que ela se tornara
propriedade do locatário depois de satisfeitas todas as rendas ou alugueres pactuados, a
resolução do contrato por o locatário nao cumprir tem efeito retroativo, devendo o locador
restituir todas as importâncias recebidas, sem possibilidade de convenção em contrario,
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mas também sem prejuízo do se direito a indemnização nos termos gerais e nos do artigo
anterior.

As partes declaram estipular uma locação, mas convencionam que a propriedade passará
para o locatário automaticamente no fim de pagamento de todas as rendas ou alugueres
convencionados.

Imposto ao vendedor que em caso de resolução por incumprimento, a devolução das


prestações recebidas, apenas podendo exigir uma indemnização ou estipular uma cláusula
penal, artigo 935º.

Indemnização: apenas permitido metade do valor total das prestações.

(Professor Pedro Albuquerque)

10. Compra e venda sobre documentos

Artigos 937º e seguintes: tem por objeto bens representados por títulos.

O vendedor não está obrigado a proceder à entrega da coisa vendida mas apenas dos
títulos representativos do bem em causa (937º). Em qualquer caso, o objeto vendido não
corresponde aos documentos, mas às coisas aos quais eles se reportam.

Regras gerais em matéria de transferência do risco são aplicáveis à compra e venda sobre
documentos. Existe uma regra especial quando a compra e venda sobre documentos se
reportar a uma coisa em viagem: artigos 938º/1 o risco do comprador desde a data da
compra se em jogo estiver a compra e venda de uma coisa em viagem.

Alíneas a e b do mesmo artigo atribuem ao comprador o risco de deterioração ou


perecimento desde a data da entrega da coisa ao transportador mesmo se em momento
anterior ao da data da compra.

As regras constantes das duas primeiras alíneas do artigo 938º nao serão porém aplicáveis
se ao tempo do contrato o vendedor já sabia encontrar-se a coisa perdida ou deteriorada e
dolosamente o não revelou ao comprador de boa fé (938º/2).

Compra e venda de bens alheios

CC estabelece como regra a nulidade da compra e venda de bens alheios. Em sentido


inverso, o código comercial permite, no artigo 467º/2 a compra e venda do que seja
propriedade de outrem.

CC nao define exatamente a compra e venda de bens alheios: do seu regime verifica-se
traduzir ela à situação de alienação, por alguem, como própria de coisa cuja titularidade
pertence a terceiro, não tendo o vendedor legitimidade para realizar a venda. Oneração
mediante contrapartida de bens alheios. Pressupõe a compra e venda de bens alheios
sempre a ignorância de uma das partes a respeito da titularidade do sujeito em cuja esfera
se deveria repercutir o ato de alienação.
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1.1. Pressupostos da venda de bens alheios

Venda de coisa alheia, com resultado de nulidade, a transmissão onerosa, como próprios
de bens nao pertencentes ao alienante.

Na eventualidade de as partes entenderem os bens, não pertencentes ao vendedor, como


alheios, o negócio é sujeito ao regime da compra e venda de coisa futura (893º).

Tratando-se de compra e venda comercial a venda de bens alheios é válida.

A venda de coisa genérica nao é necessária a qualidade de proprietário ao tempo da


estipulação do contrato (539º ss).

Em todas estas hipóteses incide sobre o vendedor a obrigação de aquisição e entrega ao


comprador das coisas que prometeu vender não valendo em virtude disso o regime da
venda de bens alheios.

Não se aplica o regime da compra e venda de bens alheios aos negócios relativos a coisas
fora do comércio.

O regime da compra e venda de bens alheios previsto no artigo 892º vale assim apenas
para as hipóteses de alienação como própria de uma coisa que se não mostre fora do
comércio, especifica e considerada como presente, fora do âmbito das relações
comerciais.

O regime da compra e venda de bens alheios só se aplica existindo realmente vontade de


vender como própria coisa alheia.

1.2. Admissibilidade ou não do contrato-promessa de compra e venda de coisa


alheia

Posição maioritária: sentido de admissibilidade do contrato promessa de compra e venda


de coisa alheia.

Paulo Olavo cunha: admite apenas a validade deste contrato incidente sobre coisa alheia
se tiver sido afastada a execução específica.

A favor da primeira orientação (CP admissível) alega-se o facto de que no contrato


promessa de compra e venda de coisa alheia o objeto não é legalmente impossível, uma
vez que o comprador pode adquirir a coisa até ao momento da celebração do contrato
definitivo. E caso não adquirisse o objeto prometido vender haveria incumprimento do
contrato e nao nulidade.

Raul ventura e Paulo Olavo cunha: contrapõem lembrando o facto de o artigo 830º cc
permitir a execução especifica do contrato de promessa desde que nao haja convenção em
contrario e a isso nao se oponha a natureza da obrigação. Não havendo convenção em
contrario a natureza da obrigação nao se opõe à execução uma vez que a coisa foi
prometida vender como própria. Não pode nesta hipótese ter lugar uma sentença que
produza os efeitos negociais da declaração do faltoso, porque a decisao do tribunal teria a
força de uma compra e venda nula. Por isso o contrato promessa de compra e venda de
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coisa alheia deve entender-se nulo, exceto se existir convenção contrária à execução
especifica.

1.3. A falta de legitimidade para a venda

Artigo 892ºCC: nula a compra e venda de bens alheios quando o vendedor para além de
vender como própria a coisa alheia, careça de legitimidade para o fazer.

Maioria da doutrina: pressuposto do regime de compra e venda de bens alheios a falta de


legitimidade do alienante; ele não dispõe poderes para a prática do ato.

Por isso diz se que nao haveria compra e venda de bens alheios se o alienante dispusesse
de poderes para realizar o ato.

Regência: sempre que alguém vende bens de terceiro como próprios, se isso não resultar
de um erro na declaração, aplica-se o regime da venda de bens alheios.

Questão: aplica-se o regime da compra e venda de bens alheios às situações nas quais o
alienante declara atuar como representante de outrem mas sem possuir a legitimidade
necessária.

Alguns autores alegam não ter lugar a aplicação do regime dos artigos 982º ‘ss aos
cenários nos quais se vende algo pertencente a outra pessoa no âmbito da representação
sem poderes.

PA: apesar de os artigos 892º’ss se reportarem à compra e venda de coisa alheia como
própria, abrangem eles também as hipóteses em que o vendedor admite não ser titular do
bem, mas se arroga a legitimidade para alienar.

Sujeitas ao regime da compra e venda de bens alheios estão também as situações nas
quais o vendedor atua em gestão não representativa sem revelar a sua qualidade, excepto
se o dono do negócio vier a regularizar a situação.

1.4. Efeitos da venda de bens alheios

Segundo o artigo 892º cc a compra e venda de bens alheios é sancionada com a nulidade
do negócio.

Trata-se de uma nulidade distinta do regime geral em diversos aspetos: legitimidade para a
arguição – 286º; a propósito da obrigação de restituição – 289º e na possibilidade de
convalidação.

1.5. Legitimidade para arguir a nulidade

A legitimidade para a invocação da nulidade da compra e venda de bens alheios está


fortemente limitada: o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé; o
comprador doloso não pode opor a nulidade ao vendedor de boa fé.
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O termo dolo deve aproximar-se da boa fé em sentido ético: há boa fé se se ignora sem
culpa a alienabilidade do bem, má fé se esse facto for sabido ou ignorado de modo
culposo.

Raul Ventura:

- vendedor e comprador de boa-fé: o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador


mas este pode invocá-la perante aquele.

- vendedor de má fé e comprador de boa fé: só o comprador pode suscitar a nulidade.

- vendedor de boa fé e comprador de má fé: só o vendedor pode arguir a nulidade.

- vendedor de má fé e comprador de má fé: a nulidade pode ser suscitada por qualquer


um.

Questão: o proprietário que pretenda clarificar a situação resultante da venda de um bem


por terceiro, que lhe pertence, deve servir-se de uma ação de declaração da nulidade do
negócio ou a uma ação declarativa de ineficácia?

Raul Ventura: afirma a prioridade da nulidade sobre a ineficácia. A falta de produção dos
efeitos relativamente ao proprietário seria consequência da nulidade e não da ineficácia.

Proprietário tem legitimidade para interpor uma ação declarativa do seu próprio direito,
apesar do contrato celebrado entre outras pessoas.

Regência não concorda com o autor: a prova de que a ineficácia não resulta da nulidade é
susceptível de ser extraída do regime da compra e venda de bens alheios em comércio. O
contrato não é nulo mas nem por isso deixa de ser ineficaz relativamente ao proprietário.
Por outro lado sendo o direito do proprietário titular de um direito absoluto, na ação
declarativa do seu próprio direito.

Tribunal deve entender improcedente uma ação de declaração de nulidade do contrato de


compra e venda proposta pelo proprietário da coisa. Antunes Varela: o juiz tem o poder
dever de corrigir o erro na qualificação juridica do efeito prático pretendido e declarar a
ineficácia do contrato.

Nulidade em causa pode ser arguida por qualquer interessado?

Menezes cordeiro e Romano Martinez: dizem que sim, qualquer interessado pode arguir
nulidade.

Menezes leitão: diz que nao. Por entender ser a nulidade da venda de bens alheios
estabelecida no interesse apenas das partes nos termos definidos pelo regime da compra
e venda de bens alheios.

Oposição à admissibilidade do conhecimento oficioso: Menezes cordeiro; Menezes Leitão;


Romano Martinez.
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1.6. O efeito da nulidade: obrigação de restituição do preço e da coisa vendida

Sanção de nulidade: a coisa deve ser restituída pelo comprador ao vendedor esteja este de
boa fé ou má fé.

A coisa deve ser restituída a quem procedeu à sua entrega, com base no contrato e não ao
verdadeiro proprietário, exceto se tiver sido intentada ação possessória ou de reivindicação
por este.

Artigo 289º/1 cc estabelece ter a declaração de nulidade ou anulabilidade efeito retroativo,


devendo ser restituído tudo quanto houver sido prestado se a restituição em espécie não
for possível, o valor correspondente.

Artigo 290º: obrigações recíprocas de restituição, pendentes sobre as partes por força da
nulidade do negócio, ser cumpridas simultaneamente, sendo extensíveis ao caso na parte
aplicável as normas relativas à exceção de cumprimento do contrato.

Havendo nulidade, o vendedor deve restituir o preço. O comprador tem de devolver a coisa
recebida. Na eventualidade de isso não ser possível fica obrigado a entregar o valor
correspondente.

Obrigação de restituir o preço: em caso de nulidade resultante de uma compra e venda de


bens alheios, obedece porem a um regime algo distinto do imposto pelo artigo 289º: varia
segundo exista boa fé do obrigado, ou não.

Artigo 894: determina ter o comprador de boa fé, diante da nulidade da venda de bens
alheios, o direito de exigir a restituição integral do preço, mesmo se os bens se hajam
perdido, estejam deteriorados ou tenham diminuído de valor.

Maioria da doutrina: argumento a contrario. Não poder o comprador de má fé pedir


restituição integral do preço.

Menezes Cordeiro: necessidade de conjugar o artigo 894º/1 com a regra estabelecida no


artigo 1269º, relativa à perda ou deterioração da coisa por parte do possuidor de boa fé. O
possuidor de boa fé responde pela perda ou deterioração da coisa se tiver procedido com
culpa.

Menezes leitão: adquirente de boa fé beneficia por força do artigo 894º/1 cc de uma
proteção superior à do possuidor.

Regência: artigo 894º remete nos para o enriquecimento sem causa. “Se houver proveito
para o comprador em virtude da perda ou deterioração dos bens, ser o ganho abatido no
montante da restituição ou indemnização a pagar pelo vendedor”.

Segundo o artigo 903º/1 cc o disposto no artigo 894º tem natureza supletiva: ele cede
perante convenção em contrário, exceto se o contraente a quem a convenção aproveitaria
houver agido com dolo.
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1.7. Convalidação do contrato de compra e venda de bens alheios e a obrigação de
convalescença

Artigo 895º cc: logo que o vendedor adquira a propriedade da coisa ou do direito vendido o
contrato torna-se válido e a dita propriedade ou direito transfere-se para o comprador.

Regra é um desvio ao regime geral da anulabilidade. Dado o efeito translativo do artigo


897º nao se poder produzir atendendo à circunstância de o bem nao pertencer ao devedor,
tornado este proprietário = compra e venda válida.

896º cc estabelece limitações à possibilidade de convalescença da venda de bens alheios.

895º/1,d): contrato nao se convalesce se for feita declaração escrita, por um dos
contraentes ao outro, na qual se reconhece a nulidade do contrato.

896º: justificação do impedimento da convalidação baseia-se na vontade implícita ou


expressa em todos esses cenários de uma ou ambas as partes, de fazerem prevalece a
nulidade do contrato.

Validação automática: artigo 895º.

897º: dever jurídico de validação do contrato de compra e venda de coisa alheia em caso
de boa fé do comprador.

Regência: dever de convalidação, pertence à autonomia privada.

1.8. Indemnização fundada na nulidade do contrato

Artigos 898º e 899º: impõem um dever de indemnizar em virtude da nulidade do contrato.


898º: necessário um dos contraentes ter atuado com dolo e outro em boa fé. Artigo 899º:
aplicável se o comprador se encontrar de boa fé.

898º: contraente de boa fé pode suscitar a nulidade do contrato, pode exigir da parte
dolosa o ressarcimento pelos prejuízos sofridos se o contrato fosse válido desde o início.

Se houve validação os prejuízos reparáveis sao a totalidade de quantos resultam de o


negócio nao ser válido.

Se nao houve convalidação os danos reparáveis são todos quanto resultam da realização
do negócio nulo.

A expressão dolo referida no 898º deve ser estendida à má fé e nao com o exclusivo
alcance do 483º.

899º: estabelece em relação ao vendedor, uma responsabilidade objetiva pelos danos


causados ao comprador, mas que nao institui uma reparação integral. Vendedor obrigado a
indemnizar o comprador de boa fé mesmo se tiver agido sem dolo nem culpa.
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1.9. Indemnização fundada na obrigação de convalidar o contrato

Em caso de boa fé do comprador, o vendedor é obrigado a sanar a nulidade da venda.

O incumprimento desta obrigação num passo que altera o regime da compra e venda de
bens alheios.

Conjugação do artigo 898º, 899º e 900º: não se assistindo à convalidação:

- havendo boa fé de ambos os contraentes o vendedor não pode opor a nulidade do


contrato à outra parte; responde pelo risco e pelo interesse contratual negativo nos termos
do 899º e pelo interesse contratual positivo, segundo o 900º.

- se o vendedor estiver de má fé no momento da celebração do contrato e o comprador de


boa fé só o comprador pode suscitar a nulidade; o alienante responde de acordo com o
artigo 898º pelo interesse contratual negativo e por força do 900 pelo contratual negativo.

- se ambos estiverem de má fé qualquer um pode suscitar a nulidade do contrato, mas não


se aplica nem a obrigação de convalidação (897º) nem qualquer das indemnizações
constantes dos artigos 898º a 900º. Regime aplicável será o geral, artigo 570º.

- se o alienante se encontrar de boa fé e o comprador de má fé só o primeiro pode suscitar


a nulidade; aplica-se apenas o regime do artigo 898º indemnização pelo interesse
contratual negativo a cargo do comprador.

2. Garantia de restituição por benfeitorias

Artigo 901º: vendedor é garante solidário do pagamento das benfeitorias a reembolsar pelo
dono da coisa ao comprador de boa fé.

1273º: quer o possuidor de boa fé, quer o de má fé tem o direito de ser indemnizados das
benfeitorias necessárias por eles feitas. Se para evitar a deterioração do bem não houver
lugar ao levantamento das benfeitorias, pagará o titular ao possuidor o valor delas de
acordo com as regras do enriquecimento sem causa.

Comprador de ma fé continua a poder exigir do proprietário da coisa a devolução ou


reembolso das benfeitorias 1273ºcc. Já nao beneficiará face ao vendedor da garantia
contemplada no artigo 901º.

901º: natureza parcialmente supletiva, cede perante convenção em sentido contrário, se


reunidos os requisitos do artigo 903º/1.

3.Vendas de bens parcialmente alheios e de quota indivisa

Se os bens vendidos só parcialmente forem alheios manda o artigo 902º aplicar o disposto
no artigo 292º. Se se mostrar que o negócio teria sido realizado sem a parte alheia, o
contrato é totalmente nulo, valendo as regras do 892º. Se o acordo tivesse sido celebrado
não obstante o caráter parcialmente reduz-se, artigo 902, proporcionalmente o preço
estipulado.
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Regime da compra e venda de bens alheios aplica-se a coisa indivisa, quando um dos
cotitulares vende uma parte especificada ou a totalidade da coisa sem consentimento dos
restantes.

4. Supletividade e declaração contratual de que o vendedor não garante a sua


legitimidade ou estipulação de não responder pela evicção

Caráter parcialmente supletivo de algumas das disposições do regime de compra e venda


de bens alheios. Artigo 903º determina ceder o disposto nos artigos 894º, 897º, 899º e
900º perante convenção em contrário.

Apenas se o contraente a quem a convenção aproveita não tiver agido de má fé e de boa fé


o outro estipulante.

As cláusulas derrogadas das disposições supletivas mencionadas são válidas, não


obstante a nulidade do contrato onde se encontram inseridas, se a nulidade proceder da
ilegitimidade do vendedor (903º/2).

A declaração contratual do vendedor no sentido de não garantir a sua legitimidade ou de


não responder pela evicção envolve derrogação de todas as disposições mencionadas no
artigo 903º, com excepção do do preceituado no 894º.

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