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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL

FEDERAL CÍVEL DA SUBSEÇÃO DE XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

QUALIFICAÇÃO COMPLETA DO(s) CLIENTE(s), por seu


advogado que esta subscreve, vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
ajuizar

AÇÃO ORDINÁRIA DE CORREÇÃO DOS SALDOS DO FUNDO DE


GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS) COM PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA

Contra a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, instituição financeira sob a forma


de empresa pública, inscrita no CGC sob n. 00.360.305/0001-04, com
superintendência regional sediada à ENDEREÇO, gestora do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, conforme razões e pedidos a seguir
articulados:

I – SÍNTESE FÁTICA

O processo em tela trata de questão de extrema importância


para milhões de trabalhadores brasileiros e diz respeito ao Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

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foi criado na década de 1960 para proteger o trabalhador, como sucedâneo
da antiga estabilidade decenal. É constituído por valores depositados pelas
empresas em nome de seus empregados e possibilita que o trabalhador
forme um patrimônio.

A parte autora é titular de conta do FGTS.

Entre 1991 e 2012, tudo que foi corrigido pela TR ficou abaixo do índice de
inflação. Somente nos anos de 1992, 1994, 1995, 1996, 1997 e 1998, a TR
ficou acima dos índices de inflação. Isso causou uma perda na conta do
FGTS do autor.

Veja as perdas/ganhos anuais em relação ao INPC-IBGE.

Ano Diferença
1999 -2,49%
2000 -3,02%
2001 -6,54%
2002 -10,40%
2003 -5,20%
2004 -4,07%
2005 -2,11%
2006 -0,75%
2007 -3,53%
2008 -4,55%
2009 -3,27%
2010 -5,43%
2011 -4,59%
2012 -5,56%

Sendo assim, o autor tem tido prejuízo, o qual deve ser recomposto pelo
Judiciário.

Ocorre que, há muito tempo, a TR não reflete mais a


correção monetária, tendo se distanciado completamente dos índices
oficiais de inflação. Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009,
janeiro e fevereiro de 2010, fevereiro e junho de 2012 e de setembro de
2012 em diante, a TR tem sido completamente anulada, como se não
existisse qualquer inflação no período passível de correção.

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II - PRELIMINARMENTE

II.I - JUSTIÇA GRATUITA

O Autor não pode suportar os ônus do processo sem prejuízo do próprio


sustento familiar, conforme declaração inclusa, razão pela qual, requer que
se digne Vossa Excelência de deferir-lhe os benefícios da Justiça Gratuita.

III – DO DIREITO

III.I - O FGTS e a TR

Está em debate, a questão referente à adequação da forma de correção dos


saldos das contas vinculadas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço –
FGTS.

Esses saldos são provenientes dos depósitos mensais, em valor


correspondente a 8% do salário, feitos em nome dos trabalhadores e
constituem a base da formação do patrimônio do Fundo. Tal debate
considera, também, os resultados econômicos alcançados pelo Fundo, nos
últimos anos, através da aplicação de seus recursos “pela Caixa Econômica
Federal-CEF e pelos demais órgãos do Sistema Financeiro de Habitação –
SFH, exclusivamente segundo critérios fixados pelo Conselho Curador do
FGTS – CCFGTS”

A correção mensal dos depósitos do FGTS compreende a aplicação de duas


taxas que correspondem a diferentes objetivos. Uma dessas taxas diz
respeito à correção monetária dos depósitos nas contas vinculadas,
através da aplicação da Taxa Referencial –TR, que é o fator de
atualização do valor monetário, vigente desde 1991. A segunda
refere-se à valorização do saldo do FGTS por meio da capitalização de juros
à taxa de 3% ao ano.

III.II - A Taxa Referencial: novo indexador criado em 1991

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A Taxa Referencial (TR) foi instituída na economia brasileira no bojo da Lei
Nº 8.177, de 31/03/1991 - que ficou conhecida como Plano Collor II – e teve
como objetivo estabelecer regras para a desindexação da economia. À
época, foi extinto um conjunto de indexadores que corrigiam os valores de
contratos, fundos financeiros, fundos públicos, bem como as dívidas com a
União, entre outros.

Assim, foram extintos, a partir de 1º de fevereiro de 1991, o Bônus do


Tesouro Nacional (BTN) Fiscal, instituído pela Lei 7.799 de 10/07/89; o BTN
referente à Lei 7.777, de 19/06/89; o Maior Valor de Referência (MVR) e as
“demais unidades de conta assemelhadas que são atualizadas, direta ou
indiretamente, por índice de preço”, conforme o artigo 3º da Lei em
questão.

Simultaneamente, o artigo 4º determinou que “a partir da vigência da


medida provisória que deu origem a esta lei, a Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística deixará de calcular o Índice de Reajuste de
Valores Fiscais (IRVF) e o Índice da Cesta Básica (ICB), mantido o cálculo do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).”

Alternativamente a estes indexadores extintos, o Banco Central (Bacen)


passou a ter a incumbência de divulgar a Taxa Referencial (TR) sendo o seu
cálculo referenciado na “...remuneração mensal média líquida de impostos,
dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de
investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de
investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais,
estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo
Conselho Monetário Nacional, no prazo de 60 dias, e enviada ao
conhecimento do Senado Federal.”

A Lei determinou o prazo de 60 dias para o desenvolvimento da


metodologia do cálculo da TR pelo Bacen. Durante este prazo, cabia ao
Bacen “fixar” e divulgar a TR para cada dia útil. A nova orientação sobre os
mecanismos de correção indicava o rompimento com os índices baseados
em preços, com os novos indicadores passando a ser elaborados a partir da

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remuneração dos ativos financeiros praticados por instituições bancárias
conforme previsto na nova metodologia de determinação da TR.

Particular importância teve a definição metodológica de criação de um


Redutor aplicado no cálculo para determinação da TR. A Resolução nº 1.805,
de 27 de março de 1991, fixa o redutor em 2,0% e explicita que: “A TR para
o dia de referência será calculada deduzindo-se da média móvel ajustada
das taxas os efeitos decorrentes da tributação e da taxa real histórica de
juros da economia, representados por taxa bruta mensal...” .

Desta forma, desde a sua origem, a fórmula de cálculo da TR comporta um


fator Redutor que é arbitrado pelo Bacen.

No Gráfico 1, observam-se as médias anuais da relação das TRs com as


taxas básicas financeiras (TBFs), no período de 1995 à 2012. Como se vê, a
curva é declinante, indicando a queda da TR em relação à TBF. Este declínio
vai se acentuando com o passar do tempo, indicando que a TR aproximou-
se de zero, em 2012. Neste ano, em seis meses, observou-se uma TR igual a
zero. Também até o momento, em 2013, todas as taxas mensais da TR
foram zero, podendo assim permanecer no restante do ano.

GRÁFICO 1
Relação entre TR e TBF – média anual

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Fonte: Bacen
Elaboração DIEESE

III.III - Análise da correção monetária e do FGTS

A correção monetária existe entre nós desde a década de


1960. O principal teórico da Correção Monetária, o Advogado Tributarista
Bulhões Pedreira explica o seguinte:

’”Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos


dizer que o nível geral de preços é o padrão primário do
valor financeiro, enquanto que a unidade monetária serve
como padrão secundário – usado, na prática, para exprimir o
valor financeiro, mas que deve ser aferido pelo padrão
primário porque sujeito a modificações.” (BULHÕES
PEDREIRA, José Luiz, “Correção Monetária; Indexação
Cambial. Obrigação Pecuniária”, in “Revista de Direito
Administrativo”, c. 193 p, 353 a 372 Jul/Set 1993).

Ainda, o autor Letácio Jansen diz que Bulhões Pedreira teria


conseguido institucionalizar e colocar em prática a sua doutrina
principalmente através da Lei nº 4.357, de 1964, que criou o primeiro
indexador da Economia Brasileira – a ORTN (obrigação reajustável do
tesouro nacional), uma obrigação monetária cuja função era fazer variar,
periodicamente, a moeda nacional segundo a perda de seus respectivos
poderes aquisitivos
http://www.scamargo.adv.br/scripts/forum/textoTema.asp?
id=81&tema=nvalidade+da+taxa+referencial+(TR)
%3A+o+Significado+da+ADI+493-0-df).

Desde esta data, uma plêiade de índices de correção


monetária foi se sucedendo, até a entrada em vigor da Medida Provisória nº
294, de 31 de janeiro de 1991, que se transformou na Lei nº 8.177, de 1º de
março de 1991. Nesta oportunidade o Governo Collor pretendeu substituir a
série de indexadores tradicionais da correção monetária brasileira (ORTN,

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OTN e BTN) que eram vinculados à variação dos níveis gerais de preços,
pela Taxa Referencial, que tinha natureza financeira.

Ainda hoje permanece a perplexidade em relação à natureza


jurídica da TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a criou, que
ora a trata como taxa de juros (artigo 39) ora como indexador (artigo 18).

Taxas de juros objetivam promover a remuneração do


capital. São calculadas por quem disponibiliza o capital em benefício de
outra pessoa, física ou jurídica, para que empregue para satisfação de
determinada necessidade, na expectativa de lucro. Os indexadores, por
outro lado, podem ser entendidos como índices calculados a partir da
variação de preços de mercado em determinado período. O seu
objetivo está na correção dos efeitos inflacionários, quando se compara
valores monetários em diferentes épocas.

Pois bem. Quando o STF enfrentou o tema da natureza da


TR, disse através do voto vencedor da ADI 493-0/DF que:

A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária,


pois, refletindo as variações do custo primário da captação
dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que
reflita a variação do poder aquisitivo da moeda.

Não obstante, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco


Aurélio e Ilmar Galvão entenderam que a estrutura de cálculo da taxa
referencial não era suficiente para impedir sua utilização como parâmetro
de indexação da economia.

Mesmo assim, naquela oportunidade, o STF entendeu que a


TR possuía natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o artigo 18
da Lei nº 8.177/91, cujo texto original estabelecia que os saldos devedores e
as prestações dos contratos integrantes do SFH, passariam a ser atualizados
pela taxa aplicável à remuneração básica dos Depósitos de Poupança. Vale
a pena transcrever a ementa deste julgado:

Ação direta de inconstitucionalidade.- Se a lei alcançar os


efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela,
será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai
interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no

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passado.- O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição
Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional,
sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de
direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei
dispositiva. Precedente do S.T.F..- Ocorrência, no caso, de
violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não
é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações
do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo,
não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo
da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar
a questão de saber se as normas que alteram índice de
correção monetária se aplicam imediatamente, alcançando,
pois, as prestações futuras de contratos celebrados no
passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI,
da Carta Magna.- Também ofendem o ato jurídico perfeito os
dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste
das prestações nos contratos já celebrados pelo sistema do
Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional
(PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos
artigos 18, "caput" e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo
único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei
n. 8.177, de 1 de maio de 1991. (ADI 493, Relator (a): Min.
Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04-
09-1992 PP-14089 EMENT VOL-01674-02 PP-00260 RTJ VOL-
00143-03 PP-00724)

Por algum tempo, o próprio STJ rejeitou a TR como


índice de correção monetária, tanto para a poupança, quanto para
o SFH. Neste sentido:

COMERCIAL. MÚTUO RURAL. CORREÇÃO MONETÁRIA.


VINCULAÇÃO AO CRITÉRIO DE REAJUSTE DOS DEPÓSITOS EM
CADERNETA DE POUPANÇA. LICITUDE. SUBSTITUIÇÃO PELA
TR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91. PREVISÃO
DE UTILIZAÇÃO DA OTN. INDEXADOR CONTRATUALMENTE
ELEITO. SUBSTITUIÇÃO EX LEGE PELA TR.

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INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. ADOÇÃO DO INPC.
PRECEDENTES.

I – NO CONTRATO DE MÚTUO RURAL É LÍCITO O PACTO DE


VINCULAÇÃO DA CORREÇÃO MONETÁRIA AO CRITÉRIO DE
ATUALIZAÇÃO DOS DEPÓSITOS EM CADERNETA DE
POUPANÇA, RESULTANDO DEVIDA A INCIDÊNCIA DO MESMO
INDEXADOR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91.
(ART. 13 DA LEI 8.177).

II – EM FACE DA POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL INADMITINDO A TR COMO FATOR DE
ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA SUBSTITUTIVO DO BTN, A
CORREÇÃO DOS VALORES, CUJA FORMA DE REAJUSTE
ESTAVA, POR LEI OU CONTRATO, ATRELADA A
VARIAÇÃO DO VALOR DE REFERIDO TÍTULO DA DÍVIDA
PÚBLICA, CUMPRE SEJA PROCEDIDA, A PARTIR DA LEI
8.177/91, COM BASE NO INPC (REsp. 40.777/GO, Rel.
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 13/11/1995, DJ 11/12/1995, p. 43225) (grifamos)

ADMINISTRATIVO - SFH - REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES E DO


SALDO DEVEDOR - PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL (PES)
- INAPLICABILIDADE DA TR – ADIN 493-0/STF - VANTAGENS
PESSOAIS INCORPORADAS DEFINITIVAMENTE AO SALÁRIO -
INCLUSÃO NO CÁLCULO - DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
NÃO COMPROVADA - RISTJ, ART. 255 E PARÁGRAFOS -
SÚMULA 13/STJ -PRECEDENTES STJ.- Nos contratos
vinculados ao PES, o reajustamento das prestações deve
obedecer à variação salarial dos mutuários, a fim de
preservara equação econômico-financeira do pactuado.- As
vantagens pessoais incorporadas, definitivamente, ao salário
ou vencimento do mutuário, incluem-se na verificação da
equivalência para fixação das parcelas.- Declarada pelo
STF a inconstitucionalidade da TR como fator de
correção monetária (ADIN 493-0), o reajustamento do
saldo devedor,a exemplo das prestações mensais,
também deve obedecer ao Plano de Equivalência

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Salarial.- Recurso conhecido e parcialmente provido(Resp
140.839/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 23/11/1999, DJ 21/02/2000, p.
112) (grifamos)

SFH. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS


PRESTAÇÕES. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. NULIDADE
DO ACÓRDÃO. INOCORRÊNCIA. VANTAGENS PESSOAIS.
INCLUSÃO. CORREÇÃO PELA TR. IMPOSSIBILIDADE.
PRECEDENTES.(...)4. Inaplicável a TR como fator de correção
monetária Entendimento consagrado nesta Corte na esteira
de orientação traçada pelo STF.5. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido.(REsp 209.466/BA, Rel.
Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 07/08/2001, DJ 17/06/2002, p. 231) (grifamos)

Todavia, a Corte de Justiça, fazendo uma releitura do voto do


Ministro Moreira Alves do STF, mudou de entendimento, e passou a adotar a
constitucionalidade da TR como índice de correção monetária, conforme
demonstra o seguinte julgado:

SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SALDO DEVEDOR.


ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TR.1. Não é inconstitucional a
correção monetária com base na Taxa Referencial -
TR. O que é inconstitucional é sua aplicação
retroativa. Foi isso o que decidiu o STF da ADI 493/DF,
Pleno, Min. Moreira Alves, DJ de 04.09.1992, ao
estabelecer o âmbito de incidência da Lei 8.177, de
1991.2. Aos contratos de mútuo habitacional firmados no
âmbito do SFH que prevejam a correção do saldo devedor
pela taxa básica aplicável aos depósitos da poupança aplica-
se a Taxa Referencial, por expressa determinação legal.
Precedentes da Corte Especial: AGEREsp 725917 / DF, Min.
Laurita Vaz, DJ 19.06.2006; DERESP 453600 / DF, Min. Aldir

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Passarinho Junior, DJ 24.04.2006.3. Embargos de divergência
a que se nega provimento.(EREsp 752.879/DF, Rel. Ministro
TEORI ALBINO ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL, julgado em
19/12/2006, DJ 12/03/2007, p. 184) (grifamos)

Em relação ao FGTS, há até a súmula do STJ sobre a


aplicação da TR como índice de correção monetária. Neste sentido:

A Taxa Referencial (TR) é o índice aplicável, a título de


correção monetária, aos débitos com o FGTS recolhidos
pelo empregador mas não repassados ao fundo. (Súmula
459, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2010, DJe
08/09/2010)

Como dito alhures, aplicação de índice de correção


monetária se presta para recuperar o poder de compra do valor
emprestado. Este poder de compra é diretamente influenciado por um
processo inflacionário. O próprio STJ reconhece a influência da inflação e da
deflação na composição do índice de correção monetária, senão vejamos:

PREVIDENCIÁRIO E ECONÔMICO. TÍTULO EXECUTIVO


JUDICIAL. DETERMINAÇÃODE CORREÇÃO MONETÁRIA PELO
IGP-M. ÍNDICES DE DEFLAÇÃO.APLICABILIDADE. OFENSA AO
PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS. NÃO
OCORRÊNCIA. PRESERVAÇÃO DO VALOR NOMINAL DA
OBRIGAÇÃO. PRECEDENTES.1. "A correção monetária nada
mais é do que um mecanismo de manutenção do poder
aquisitivo da moeda, não devendo representar,
consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus
em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação
representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de
compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias
positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a
obrigação levando em conta apenas oscilações positivas
importaria distorcer a realidade econômica produzindo um
resultado que não representa a simples manutenção do
primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no

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valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação
de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da
Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em
contrário, "os índices negativos de correção monetária
(deflação) serão considerados no cálculo de atualização",
com a ressalva de que, se, no cálculo final, 'a atualização
implicar redução do principal, deve prevalecer o valor
nominal'" (Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min.
TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe18/4/12).2. No precedente da
Corte Especial, mencionado na decisão agravada, ficou
expressamente consignado que se, na atualização da dívida,
houver redução do principal, deve prevalecer o valor
nominal, em respeito ao princípio da irredutibilidade de
vencimentos,previsto nos arts. 7º, VI e 37, XV, da
Constituição Federal.3. A compreensão no sentido de que
não há violação ao princípio da irredutibilidade dos
vencimentos, quando preservado o valor nominal da
obrigação, encontra respaldo na jurisprudência do STF e do
STJ.4. Agravo regimental improvido.(AgRg nos EREsp
1252558/RS, Rel. Ministro SERGIO KUKINA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 13/03/2013, DJe 21/03/2013)(grifos nossos)

Não podemos nos esquecer de que a cultura da correção


monetária está de tal forma arraigada ao nosso sistema econômico, que o
próprio Código Civil de 2002, traz diversos dispositivos garantindo
atualização monetária:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor


por perdas e danos, mais juros e atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e
honorários de advogado.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua


mora der causa, mais juros, atualização dos valores
monetários segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado.

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Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento
em dinheiro, serão pagas com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem
prejuízo da pena convencional.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o


contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a
inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as
deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução
mais o equivalente, com atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e
honorários de advogado.

Art. 772. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à


atualização monetária da indenização devida segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos
juros moratórios.

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à


custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente
auferido, feita a atualização dos valores monetários.

Este retrospecto da evolução legal e jurisprudencial a


respeito da aplicação da TR como índice de correção monetária se fez
necessário para que pudéssemos chegar ao núcleo do argumento desta
ação.

Hoje, no país, há dois tipos de índices de correção monetária.


Índices que refletem a inflação e, portanto, recuperam o poder de compra
do valor aplicado, como o IPCA e o INPC, e um índice que não reflete a
inflação, e consequentemente não recupera o poder de compra do valor
aplicado – a Taxa Referencial/TR.

Historicamente, é preciso lembrar que a Taxa Referencial


nunca foi igual à inflação. Nem quando experimentamos hiperinflação, nem
quando experimentamos deflação. Todavia, os índices da TR, do INPC e do

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IPCA, sempre andaram próximos. Em outras palavras, imperava a
razoabilidade nos índices da TR para que pudessem atingir a finalidade de
correção do valor do capital.

ANO TR INPC IPCA


1991 335,51% 475,11% 472,69%
1992 1.156,22% 1.149,05% 1.119,09%
1993 2.474,73% 2.489,11% 2,477,15%
1994 951,19% 929,32% 916,43%
1995 31,6207% 21,98% 22,41%
1996 9,5551% 9,125% 9,56%

Não obstante, o cenário começa a mudar a partir de 1999. A


TR se distancia expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de hoje a
inflação superar 6% ao ano e a TR ser igual a zero. Logo, ela não se presta
para o fim de manter o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que são um
patrimônio do trabalhador.

O sentimento geral é que há muito tempo o FGTS é um


fundo iníquo por ele não ter recomposição inflacionária dos seus recursos.
Na verdade, o trabalhador não está financiando programas de habitação
popular, saneamento básico e infraestrutura urbana, ele está subsidiando.

Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo


de livre disposição por parte do trabalhador, não podendo ele decidir sponte
própria quais as aplicações que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O
trabalhador tem que se submeter a políticas econômicas e sociais que lhe
são altamente prejudiciais.

Ora, mas a própria Lei do FGTS diz em seu artigo 2º


que é garantida a atualização monetária e juros. Quando a TR é
igual a zero este artigo é descumprido. Quando a TR é mínima e
totalmente desproporcional em relação à inflação, este artigo
também é descumprido e o patrimônio do trabalhador é subtraído
por quem tem o dever legal de administrá-lo.

Em um cenário de TR zero e inflação pública e notória,


estamos diante de uma situação de confisco. O Governo Federal, através

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da Caixa Econômica Federal, está confiscando os rendimentos dos
trabalhadores, para subsidiar políticas públicas, sem a menor possibilidade
de ingerência destes trabalhadores.

Assim como em nosso Estado Democrático de Direito, a


Constituição veda que se utilize o tributo com efeito de confisco, o
trabalhador não pode ser punido com o confisco do que a própria Caixa
define em seu sítio eletrônico, como um patrimônio do trabalhador, e
definitivamente o é.

Quando se fala em patrimônio, imediatamente sobrevém


lição da Professora Maria Helena Diniz ao comentar o artigo 91 do Novo
Código Civil:

Art. 91. Constitui universalidade de direito o


complexo de relações jurídicas de uma pessoa,
dotadas de valor econômico.

Universalidade de direito. É a constituída por bens


singulares corpóreos heterogêneos ou incorpóreos
(complexo de relações jurídicas), a que a norma jurídica,
com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade, por
serem dotados de valor econômico, como p. ex., o
patrimônio (...) O patrimônio e a herança são considerados
como um conjunto, ou seja, como uma universalidade.
Embora se constituam ou não de bens materiais e de
créditos, esses bens se unificam numa expressão
econômica, que é o valor. O patrimônio é complexo de
relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis
economicamente. Incluem-se no patrimônio: a posse,
os direitos reais, as obrigações e as ações
correspondentes a tais direitos. O patrimônio abrange
direitos e deveres redutíveis a dinheiro. (Código Civil
Anotado, Ed. Saraiva, pag. 100) (grifamos).

Levando em conta que a relação jurídica entre os


trabalhadores e a Caixa é de direito pessoal, o artigo 233 do Código Civil se
torna inafastável, na medida em que determina que a obrigação de dar
coisa certa abrange os acessórios, ainda que não mencionados.

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Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os
acessórios dela embora não mencionados, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Ora, acessórios de dinheiro são os juros e a correção


monetária.

E então voltamos à Taxa Referencial.

III.IV - Desempenho financeiro do FGTS e remuneração dos cotistas

O desempenho da economia, desde a década passada, refletiu-se


positivamente no mercado de trabalho brasileiro. São diversos os
indicadores que revelam essa situação de melhoria, pois houve um
significativo crescimento do emprego; aumento real do salário médio da
economia; recuperação do poder de compra do salário mínimo; aumento da
formalização do emprego, entre outros fatores.

O ambiente de crescimento econômico também surtiu efeito positivo sobre


o desempenho do FGTS, devido à vinculação direta de sua arrecadação com
o emprego formalizado e o nível dos rendimentos da economia. No tocante
aos valores da arrecadação bruta do FGTS, observa-se que ela quase dobra
quando se compara o resultado de 2012 e 1999, anos em que
corresponderam a R$ 83,03 bilhões e R$ 42,02 bilhões. Por sua vez, os
saques, nestes mesmos anos, cresceram 53%, correspondendo a R$ 65,05
bilhões e R$ 42,54 bilhões. Observe-se que o valor do saque, em 1999,
supera um pouco o valor da arrecadação, indicando um resultado líquido
negativo no ano.

Conforme se vê no Gráfico 6, nos anos de 1997 e 1998, estes resultados


também foram negativos. A partir de 2000, a arrecadação líquida torna-se
positiva e crescente representando um indicador positivo do desempenho
do FGTS.

GRÁFICO 6
Evolução da arrecadação Real do FGTS (R$ bilhões de 2012)

16
O significativo desempenho financeiro do FGTS também pode ser visto
através da evolução do Patrimônio Líquido registrado no período de 1999 a
2012, como mostra o Quadro 1, no qual se observa que o crescimento
apresentado em seu valor real, que foi de 164% , no período.

QUADRO 1
FGTS: Patrimônio Líquido(*)

Anos Patrimônio Liquido


1999 17,72
2000 19,65
2001 18,86
2002 19,03
2003 23,12
2004 26,64
2005 28,70
2006 30,00
2007 30,72
2008 35,20
2009 36,81
2010 40,74
2011 43,45
2012 46,79
Fonte: FGTS
Elaboração DIEESE
Nota: (*) em reais 2012-IPCA

Com base em estudo elaborado pela Consultoria Legislativa do Senado,


valendo-se de informações fornecidas pela CEF é possível confrontar o

17
retorno recebido pelo FGTS e retorno pago aos cotistas, entre 2000 e 2011
(Quadro 2).

No quadro 2, ficam evidentes as diferenças entre o retorno das aplicações


do FGTS, e o retorno dos cotistas indicando claramente “que há uma forte
discrepância entre o rendimento do Fundo e o rendimento dos cotistas.” Ou
seja, o rendimento das aplicações dos recursos do fundo é bem superior ao
rendimento pago aos titulares do fundo. Além disso, o quadro mostra
também que o rendimento dos cotistas (Juros +TR) tem sido inferior à
inflação no período.

III.V - Do Posicionamento dos Tribunais Superiores

É posicionamento consolidado no STF de que a TR não serve como correção


monetária.

Ao julgar um caso de um credor do Instituto Nacional de Seguro Social


(INSS), em maio/2013, a ministra Cármen Lúcia reafirmou a posição da
Corte de que a Taxa Referencial (TR) - que remunera a poupança - não serve
para recompor a perda inflacionária da moeda.

18
DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
CONSTITUCIONAL. “ÍNDICE OFICIAL DE REMUNERAÇÃO
BÁSICA DA CADERNETA DE POUPANÇA”:
INCONSTITUCIONALIDADE DA EXPRESSÃO. ACÓRDÃO
RECORRIDO DISSONANTE DA JURISPRUDÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ÍNDICE DE CORREÇÃO
MONETÁRIA: OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Relatório 1. Recurso
extraordinário interposto com base na alínea a do inc.
III do art. 102 da Constituição da República contra
julgado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que
decidiu: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO.
EXECUÇÃO. PRECATÓRIO/RPV COMPLEMENTAR. EC N.
62/2009. ART. 100, § 12, DA CF. CONSTITUCIONALIDADE.
INCIDÊNCIA IMEDIATA. 1. O § 12 do artigo 100 da
Constituição Federal, introduzido pela EC n. 62, de
09/11/2009 (publicada em 10/12/2009), tem aplicação
imediata aos feitos de natureza previdenciária, sendo
constitucional. 2. Entendimento firmado no sentido de
que a TR mostra-se válida como índice de correção
monetária. 3. Nada impede o legislador constitucional
ou infraconstitucional de dispor sobre correção
monetária e taxa de juros e, em se tratando de relação
de direito público, não há óbice a incidência imediata
da lei, desde que respeitado período anterior à vigência
da nova norma (vedação à retroatividade), pois não
existe direito adquirido a regime jurídico” (fl. 68). 2. O
Agravante alega que o Tribunal a quo teria contrariado
os arts. 1º, inc. III, 5º, caput e incs. XXII, XXXVI, e 37,
caput, da Constituição da República. Argumenta que: “A
EC n. 62/2009, em seu art. 1º, § 12, instituiu que ‘A
partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a
atualização de valores de requisitórios , após sua
expedição, até o efetivo pagamento,
independentemente de sua natureza, será feita pelo
índice oficial de remuneração básica da caderneta de

19
poupança, e, para fins de compensação da mora,
incidirão juros simples no mesmo percentual de juros
indecentes sobre a caderneta de poupança, ficando
excluída a incidência de juros compensatórios’. Como
se sabe, o índice de remuneração básico da poupança é
a Taxa Referencial – TR, índice controlado pelo Estado, e
utilizado como instrumento de controle da economia –
vide os sucessivos índices mensais zerados, a fim de
controle de aporte de capital nas poupanças. Tanto a TR
não se presta como índice de correção monetária, que o
STF já decidiu nesse sentido: ‘A taxa referencial (TR)
não é índice de correção monetária (...) não
constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda’ (ADI 493-0/DF, Relator Min.
Moreira Alves, Plenário, DJ 4.9.1992). (...) Assim sendo,
texto tão danoso ao cidadão não poderá ser tolerado
pelo Judiciário, merecendo a declaração de
inconstitucionalidade do § 12 do artigo 100 da
Constituição Federal, adicionado pela EC n. 62/2009.
(...) Assim, declarada a inconstitucionalidade do índice
aplicado ao precatório pago nos autos, deve ser tomado
como vigente e aplicado ao caso concreto o índice IPCA-
E” (fls. 72-73). Apreciada a matéria trazida na espécie,
DECIDO. 3. Razão jurídica assiste, em parte, ao
Recorrente. O Desembargador Relator no Tribunal
Regional Federal da 4ª Região afirmou: “Quando da
análise do pedido de efeito suspensivo, foi proferida a
seguinte decisão: ‘(...) Firmou-se na 3ª Seção deste
Tribunal o entendimento de que a Lei n. 11.960, de
29/06/2009 (publicada em 30/06/2009), que alterou o
art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, determinando a incidência
nos débitos da Fazenda Pública, para fins de atualização
monetária, remuneração do capital e compensação da
mora, uma única vez, até o efetivo pagamento, dos
índices oficiais de remuneração básica e juros da
caderneta de poupança, aplica-se imediatamente aos

20
feitos de natureza previdenciária, sendo constitucional.
Não há razão para tratamento diferenciado em relação
ao § 12 do artigo 100 da Constituição Federal,
introduzido pela EC n. 62, de 09/11/2009 (publicada em
10/12/2009), que trata especificamente da situação a
atualização de valores de requisitórios, após sua
expedição, até o efetivo pagamento. A Taxa Referencial,
segundo entendeu o Superior Tribunal de Justiça, pode
ser utilizada como índice de correção monetária. O que
não se mostra possível é sua substituição em pactos já
firmados, de modo a violar o direito adquirido e o ato
jurídico perfeito. A Súmula n. 295 do Superior Tribunal
de Justiça, a propósito, enuncia: A Taxa Referencial (TR)
é indexador válido para contratos posteriores à Lei n.
8.177/91, desde que pactuada. Colhe-se da
jurisprudência desta Corte: (...). A situação dos autos é
um pouco diversa, pois se discute sobre a incidência
imediata de norma que dispôs sobre os acréscimos
aplicáveis aos débitos previdenciários. Apropriada,
contudo, a aplicação do entendimento de que a TR
mostra-se válida como índice de correção monetária.
Por outro lado, nada impede o legislador constitucional
ou infraconstitucional de dispor sobre correção
monetária e taxa de juros. Em se tratando de relação
de direito público, nada obsta a incidência imediata da
lei, desde que respeitado período anterior à vigência da
nova norma (vedação à retroatividade), pois não existe
direito adquirido a regime jurídico. Assim, tratando-se
de norma nova que dispôs, para o futuro, sobre os
acréscimos aplicáveis a créditos previdenciários, não se
cogita de violação à cláusula constitucional que
assegura o direito de propriedade (art. 5º, XXII, CF), ou
mesmo àquela que protege o direito adquirido e o ato
jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, CF). Como não se cogita
de violação do princípio da isonomia, certo que
situações díspares podem receber tratamento

21
diferenciado, de modo que a utilização de indexadores
diversos, mas idôneos, para atualização de créditos de
naturezas diversas, não contraria o artigo 5º, caput, da
Constituição Federal. Da mesma forma, como a norma
produz efeitos para o futuro, não está a ofender a coisa
julgada (art. 5º, inciso XXXVI CF), certo que a coisa
julgada somente incide em relação às situações
especificamente na decisão judicial, de modo que a
definição do índice de correção monetária referente a
período posterior não está forrada ao advento de
mudança normativa. Consigno, por fim, que a norma
que validamente dispõe sobre os acréscimos aplicáveis
a débito do poder público evidentemente não está a
violar os princípios da moralidade e da eficiência (art.
37 da CF). Oportuna a referência a precedentes do
Superior Tribunal de Justiça: (...). Segue em sentido
assemelhado precedente do Supremo Tribunal Federal
que espelha a posição daquela Corte: ‘Agravo
regimental em agravo de instrumento. 2. Execução
contra a Fazenda Pública. Juros de mora. Art. 1º-F da Lei
n. 9.494/97, com redação dada pela MP n. 2.180-
35/2001. 3. Entendimento pacífico desta Corte no
sentido de que a MP n. 2.180-35/2001 tem natureza
processual. Aplicação imediata aos processos em curso.
4. Agravo regimental a que se nega provimento’ (AgR
no AI n. 776.497. Relator: Min. GILMAR MENDES
Julgamento: 15/02/2011. Órgão Julgador: Segunda
Turma STF). Diante de todo o exposto, defiro o pedido
de efeito suspensivo’. Não havendo novos elementos a
ensejar a alteração do entendimento acima esboçado,
deve o mesmo ser mantido por seus próprios
fundamentos, dada a sua adequação ao caso concreto”
(fls. 66-67 v. - grifos nossos). O acórdão recorrido
destoa da jurisprudência deste Supremo Tribunal, que
declarou a inconstitucionalidade da expressão “índice
oficial de remuneração básica da caderneta de

22
poupança”, constante do § 12 do art. 100 da
Constituição da República (acrescentado pela Emenda
Constitucional n. 62/2009): “o Tribunal julgou
procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade
da expressão ‘na data de expedição do precatório’,
contida no § 2º; os §§ 9º e 10; e das expressões ‘índice
oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança’ e ‘independentemente de sua natureza’,
constantes do § 12, todos dispositivos do art. 100 da
CF, com a redação dada pela EC n. 62/2009, vencidos
os Ministros Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Dias
Toffoli. Votou o Presidente, Ministro Joaquim Barbosa”
(ADI 4.357, Relator o Ministro Luiz Fux, Plenário, DJe n.
59/2013, de 2.4.2013 – grifos nossos). 4. Quanto à
determinação do índice a ser aplicado na correção
monetária do precatório, trata-se de matéria a ser
decidida com base em norma infralegal (Resolução n.
122/2010 do Conselho da Justiça Federal), não afeta a
este Supremo Tribunal: “AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. PRECATÓRIO.
ATUALIZAÇÃO. ÍNDICE DE CORREÇÃO. A REPERCUSSÃO
GERAL NÃO DISPENSA O PREENCHIMENTO DOS DEMAIS
REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS. ART.
323 DO RISTF C.C. ART. 102, III, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA
REFLEXA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 279 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. INVIABILIDADE DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. (...). 3. Deveras, entendimento
diverso do adotado pelo acórdão recorrido – como
deseja o recorrente – quanto ao índice de correção
monetária adequado para a atualização do valor do
presente precatório, demandaria a análise da legislação
infraconstitucional que disciplina a espécie (Resolução
n. 115/2010, do CNJ), bem como o reexame do contexto
fático-probatório engendrado nos autos, o que

23
inviabiliza o extraordinário, a teor do Enunciado da
Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal, que
interdita a esta Corte, em sede de recurso
extraordinário, sindicar matéria fática, ‘verbis’: (...).
(Precedentes: RE n 404.801-AgR, Relator o Ministro
Cezar Peluso, 1ª Turma, Dj de 04.03.05; AI n. 466.584-
AgR, Relator o Ministro Nelson Jobim, 2ª Turma, DJ de
21.05.04, entre outros). 4. ‘In casu’, o acórdão
originariamente recorrido assentou: ‘AGRAVO DE
INSTRUMENTO – PRECATÓRIO – NÃO INCIDÊNCIA DE
JUROS DE MORA – INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 17, DO
STF – ATUALIZAÇÃO – ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA
CADERNETA DE POUPANÇA – RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1) É vedada a incidência de juros no cálculo
da atualização dos valores de precatórios, exceto se
houver mora no seu pagamento (STF: Súmula
Vinculante n. 17). 2) Após o advento da emenda
Constitucional n. 62/2009, a atualização de valores de
precatórios, após sua expedição, até o efetivo
pagamento, independentemente de sua natureza,
passou a ser feita pelo índice oficial de remuneração
básica da caderneta de poupança (CF/88: art. 100, §
12º). 3) Recurso conhecido e parcialmente provido’. 5.
Agravo regimental a que se nega provimento” (RE
684.571-AgR, Relator o Ministro Luiz Fux, Primeira
Turma, DJe 30.10.2012 – grifos nossos). 5. Pelo exposto,
dou parcial provimento a este recurso extraordinário
(art. 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil e art. 21, §
2º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal)
para reafirmar a inconstitucionalidade da expressão
“índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança”, constante do § 12 do art. 100 da
Constituição da República e determinar que o Tribunal
de origem julgue como de direito quanto à aplicação de
outro índice que não a taxa referencial (TR). Publique-
se. Brasília, 13 de junho de 2013. Ministra CÁRMEN

24
LÚCIA Relatora

(RE 747706, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, julgado em


13/06/2013, publicado em DJe-124 DIVULG 27/06/2013
PUBLIC 28/06/2013)

No dia 27 de maio, o ministro Castro Meira, do STJ, proferiu decisão


semelhante, favorável a uma credora da União que teve a indenização
reconhecida pela Justiça por violação de direitos fundamentais. E foi além:
determinou a aplicação do IPCA para atualizar o valor dos precatórios. A
União recorreu da decisão alegando que a decisão do Supremo ainda não
havia sido publicada. No dia 26 de junho, a 1ª Seção do STJ rejeitou o
recurso.

EXECUÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 11.761 -


DF (2008/0132683-2)
RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO
EXEQUENTE : HELIANA CALMON DOS REIS INÁCIO DE
SOUZA
ADVOGADO : MARCELO PIRES TORREÃO E OUTRO(S)
EXECUTADO : UNIÃO
DECISÃO
A Coordenadoria de Execução Judicial-CEJU prestou a
seguinte
informação:
Transitada em julgado a decisão que homologou os
cálculos apresentados pela União nos embargos à
execução e remetidos os autos a esta Unidade,
conforme decisão de fl. 124 dos embargos, procedeu-se
atualização da conta de liquidação.
Apurou-se como devido à exequente, em abril/2013, o
valor de R$ 971.061,57 (novecentos e setenta e um mil,
sessenta e um reais e cinquenta e sete centavos),
conforme demonstrado na planilha anexa.

25
No cálculo do quantum debeatur foram mantidos os
critérios empregados na conta elaborada pela União e
homologada na decisão de fls. 40-43 dos embargos,
quais sejam:
" Incidência de juros de mora no percentual de 0,5% ao
mês, até
o trânsito em julgado dos embargos, ocorrido em
agosto/2011;
" Correção monetária pelo IPCA-E/IBGE.
Destaque-se que estendeu-se a utilização do IPCA-E
para atualização da conta até a data corrente, tendo
em vista ter sido esse o índice empregado na conta
homologada e, ainda, porque o Supremo Tribunal
Federal, no julgamento da ADI 4357, acórdão pendente
de publicação, julgou parcialmente inconstitucional o §
12 no tocante às expressões "índice oficial de
remuneração básica da caderneta de poupança" e
"independentemente de sua natureza" e, por
arrastamento, essas mesmas expressões constantes no
art. 1°-F da lei n. 9.494/1997, alterado pelo art. 5° da lei
n. 11.960/2009 (Ata n° 5, de 14/3/2013, publicada no
DJe n. 59, de 1/4/2013), excluindo, desse modo, a Taxa
Referencial - TR como fator de atualização das
condenações impostas à Fazenda Pública.
Registre-se, ainda, que nessa ADI também foi declarada
a inconstitucionalidade dos §§ 9° e 10 do art. 100 da
Constituição Federal, que tratam da compensação de
débitos dos beneficiários de precatórios junto á Fazenda
Pública devedora.
Diante do exposto, submetemos estes autos à
consideração de Vossa Excelência com a proposição de
que sejam intimadas as partes para se manifestarem
sobre o cálculo atualizado por esta Unidade para
expedição do respectivo precatório (e-STJ fl. 343).
Instadas, as partes manifestaram-se. A exequente
aprovou os cálculos (e-STJ fl. 352), enquanto a União

26
discordou no ponto em que "foi considerada a variação
do IPCA-e para correção monetária para todo o período
quanto o correto seria aplicar a variação da TR a partir
de julho de 2009, nos termos da Lei 11.960/2009 e
Manual de Cálculos da Justiça Federal" (e-STJ fl. 355).
É o relatório. Decido.
Corretos são os cálculos apresentados pela CEJU,
porquanto, além de ter sido o IPCA-E o índice
empregado na conta homologada, olvida-se a União de
que o Supremo Tribunal Federal, na ADI 4.357/DF, em
14.3.2013, declarou a inconstitucionalidade, por
arrasto, das expressões "independentemente de sua
natureza" (para efeito de correção monetária) e "índices
oficiais de remuneração básica", contidos no art. 1º F
da Lei 9.494/97, com a redação da Lei 11.960/2009.
Significa dizer que, no tocante à correção monetária,
mesmo a partir de julho/2009, continuará sendo
adotado o IPCA-E/IBGE, e não mais o índice previsto no
Manual de Orientação de Procedimentos para os
Cálculos na Justiça Federal.
Ante o exposto, expeça o precatório nos termos da
planilha de cálculos elaborada pela CEJU às e-STJ fls.
343-344.
Publique-se. Intime-se.
Brasília, 27 de maio de 2013.
Ministro Castro Meira
Presidente da Seção
(Ministro CASTRO MEIRA, 31/05/2013)

Sendo assim, Excelência, é pacífico nos Tribunais Superiores que não se


aplica a TR como índice de correção.

IV - CONCLUSÕES

A Taxa Referencial, enquanto índice de correção monetária


assim considerada pela atual jurisprudência pátria, não pode ser reduzida a

27
Zero, como tem sido nos últimos meses, pois afronta flagrantemente o
artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que garante atualização monetária aos
depósitos feitos no FGTS.

Como índice de correção monetária, a TR deveria garantir o


poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que se perfaz levando em conta os
índices de inflação. Desde janeiro de 1999, a TR se distanciou
sensivelmente dos índices oficiais de inflação, impingindo profundas perdas
aos depósitos do FGTS, tornando-se inidônea para garantir a reposição de
perdas monetárias.

A inidoneidade da TR como índice de correção monetária


decorre de mudanças introduzidas na sua metodologia de cálculo pelo
Banco Central do Brasil/CMN que, através do mecanismo econômico de um
redutor, vem nitidamente manipulando o índice para que ele se desprenda
da inflação até anulá-la completamente, a despeito de um quadro de
inflação persistente no País.

A Caixa Econômica Federal está se prestando ao papel de


espoliador do FGTS, na medida em que dispõe do patrimônio do trabalhador
sem a devida contraprestação. A correção monetária aplicada ao FGTS tem
sido há muito tempo menor que a inflação registrada, de forma que
descumpre não só o artigo 2º da lei nº 8.036/90, artigo 233 do Código Civil,
mas também toda a lógica e princípios do mercado econômico.

Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a


totalidade da correção monetária. O trabalhador não pode ser obrigado a
subsidiar ainda mais os projetos do Governo Federal. O “ainda mais” decorre
do fato de os juros de 3% do FGTS serem os menores do mercado, o quê,
por si só, demonstra que ele já está fazendo sua parte sob a perspectiva
social.

Negar o direito de correção monetária aos depósitos do


FGTS, Fundo do qual o trabalhador não pode simplesmente sacar seu
dinheiro para aplicar em outro fundo mais rentável, configura ato de tirania,
incompatível com um Estado Democrático de Direito e deve ser de pronto
rechaçado.

28
Se o Governo Brasileiro remunerasse os investidores
internacionais com TR mais 3% a.a, como faz com os trabalhadores, haveria
um fuga em massa dos investimentos no País, e certamente estaríamos
experimentando uma tsunami econômica e não uma simples “marolinha”.

Sendo a TR índice inidôneo para restabelecer o poder


aquisitivo dos depósitos do FGTS, sua substituição por outro índice que
melhor recomponha as perdas monetárias se torna imperioso, a fim de fazer
prevalecer o artigo 2º da lei nº 8.036/90 e artigo 233 do Código Civil.

Posto que desde janeiro de 1999 o redutor criado pelo


Banco Central/CMN promoveu o completo distanciamento da TR dos índices
oficiais de inflação, temos que desde então ela perdeu sua condição de
repor as perdas inflacionárias dos depósitos do FGTS, devendo desde esta
data ser substituída pelo INPC, alternativamente, pelo IPCA.

VI - DOS PEDIDOS

Isto posto, pede-se:

I. a condenação da Ré a proceder a correção monetária dos


valores depositados em favor da parte autora, a partir de 1999,
em índice diferentes do da TR, utilizando para a correção
monetária o INPC, ou sucessivamente, IPCA-e, ou algum outro
índice que efetivamente recomponha o valor monetário, perdido
pela inflação;

II. condenar a Ré proceder essa correção desde 1999, data em


que a TR parou de recompor as perdas com a inflação;

III. condenar a Ré no pagamento dos valores ao final apurados,


promovendo o crédito respectivo na Conta Vinculada do FGTS da
parte autora;

IV. condenar a ré ao pagamento de custas e honorários


advocatícios no montante de 20% do valor da causa.

29
Requer a citação da CEF - Caixa Econômica Federal, no endereço de sua
sede, para responder no prazo legal, querendo, a presente
ação.

Requer a juntada dos contratos de honorários advocatícios, requerendo, ao


final, antes da liberação dos valores para a conta vinculada ao FGTS, valores
esses que a ré for condenada a pagar ao autor, que o montante pactuado
no instrumento contratual anexo seja liberado diretamente para este
patrono, através de alvará, conforme art. 22, §4º do EOAB.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito,


principalmente prova documental.

Atribui-se à causa o valor de R$ _______________

Xxxxxxxxxxxxxxxxx, xxxxxx de xxxxxxxxx de 2014.

ADVOGADO

30

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