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1. Abertura da sucessão
A sucessão se abre com o óbito. No exato momento da morte há a abertura da
sucessão e a transmissão da herança (bens, dívidas, créditos e obrigações) deixada
pelo falecido aos herdeiros (princípio da saisine) – art. 1.784.
Não há herança de pessoa viva, embora possa ocorrer a sucessão do ausente.
São, portanto, pressupostos da sucessão:
a) que o de cujus tenha falecido;
b) que lhe sobreviva herdeiro.
Se o autor da herança estiver vivo, não há sucessão. Assim, só se abre a
sucessão havendo óbito real ou presumido.
Em termos de morte civil, existem três modalidades: a) morte real; b) morte
presumida sem declaração de ausência; c) morte presumida com declaração de
ausência.
a. Morte real
Aquela que se dá com corpo presente, ou seja, existe a materialidade (morte
natural, por atropelamento, por um tiro, cerebral, ....). Neste caso, necessário um
laudo médico, atestando a morte, para a elaboração do registro do óbito.
1TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
13.
Justiça e na plataforma de editais do CNJ, onde deverá permanecer por 1 ano. Não
havendo site, a publicação deve ocorrer, de dois em dois meses, no órgão oficial e
na imprensa da Comarca.
Passado 1 ano da arrecadação dos bens do ausente e da nomeação do
curador, a sucessão provisória poderá ser aberta pelos herdeiros. Se o ausente tiver
deixado representante, o prazo para abertura da sucessão provisória é de 3 anos
após a arrecadação. Essa é a previsão do art. 26, CC:
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente
a sucessão.
O CPC/2015, contudo, traz a previsão, no § 1.º do art. 745, que o edital fará a
previsão de prazo e, no final deste prazo, é que poderá ser requerida a abertura da
sucessão provisória.
§ 1o Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a
abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei.
2TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
14-20.
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na
sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo
competente.
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário
até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a
sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente
pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a
conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em
imóveis ou em títulos garantidos pela União.
3GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6.ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 34.
Do contrário, inexiste qualquer interesse jurídico nessa pesquisa. O principal
efeito da presunção da morte simultânea é que, não tendo havido tempo
ou oportunidade para a transferência de bens entre os comorientes,
um não herda do outro.
EXEMPLO:
Num mesmo acidente morrem marido e mulher sem filhos. Com a regra, a
sucessão de cada um é regulada como se o comoriente jamais tivesse morrido.
Venosa demonstra a vital importância da comoriência:
[...] já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no direito
sucessório. Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à mulher; se
ambos não tivessem descendentes ou ascendentes, e a mulher falecesse
depois, a herança iria para os herdeiros dela, ou seja, seus colaterais. O
oposto ocorreria se provasse que a mulher falecera antes. Tal situação pode
ocorrer em casos de catástrofes, acidentes ou mesmo por coincidência.
Para evitar os entraves das presunções de pré-morte, portanto, o Código
presume comoriência, isto é, o falecimento conjunto (VENOSA, 2012, p. 13)
A importância de saber o momento da morte é para que seja definida a lei que
regula a sucessão e a capacidade (legitimidade) para suceder, nos termos do art.
1.787, CC:
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao
tempo da abertura daquela.
Estrangeiro:
Na sucessão de bens de estrangeiros, há uma disciplina especial. No caso de
bens de estrangeiros, situados no Brasil, aplica-se, via de regra, a lei do último
domicílio do falecido (lei estrangeira), salvo se a lei brasileira for mais favorável ao
cônjuge ou filhos brasileiros (o benefício é para situações em que o falecido for
casado com brasileiro ou tiver filhos brasileiros). Significa dizer que a lei protege o
direito do cônjuge e dos descendentes em prejuízo de outros herdeiros
(ascendentes, colaterais).
5. Espécies de sucessão
O art. 1.786 define que a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última
vontade.
a. Legítima
Decorre da lei; obedece a ordem da vocação hereditária (1.829) - ab intestato
(bens fora do testamento, testamento nulo) – art. 1.788. A sucessão legítima será
sempre a título universal, pois os herdeiros recebem a totalidade dos bens do
falecido, ou, uma fração ideal (não localizada) do patrimônio. Desta forma, os
herdeiros participam da totalidade do ativo e do passivo.
b. Testamentária
Decorre da manifestação da última vontade - bens abarcados pelo testamento
(é válido apenas sobre a quota disponível – 50% da sua parte). O falecido não tem o
poder de dispor livremente e integralmente do seu patrimônio. Havendo herdeiros
necessários (cônjuge, ascendentes e descendentes – 1.845), fica limitado pela
liberdade de testar disposta no art. 1.789, CC. O poder de dispor integralmente só
ocorre na hipótese de herdeiros facultativos.
c. Simultânea:
A sucessão será simultaneamente legítima e testamentária quando houver
testamento e o extinto tiver herdeiros necessários.
RESUMO
Legítima Havendo herdeiros necessários, sem testamento.
Havendo herdeiros necessários, com testamento que tenha
caducado ou sido declarado nulo.
Testamentária Havendo testamento ou legado.
Simultânea Quando houver herdeiros necessários e, ao mesmo tempo,
testamento válido.
e. Sucessão contratual
Apesar de não existir herança de pessoa viva (art. 426), é possível a sucessão
contratual, sendo vedado o pacto sucessório. Porém, excepcionalmente, podem em
vida, a teor do art. 2.018, os ascendentes partilharem o seu patrimônio entre os
descendentes por escritura pública (com anuência de todos os descendentes):
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de
última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros
necessários.
f. Sucessões irregulares
Sucessão irregular ou anômala é aquela que não obedece às normas próprias
e à ordem da vocação hereditária. A CF/88 estabelece, no art. 5.º, XXXI o benefício
ao cônjuge ou filhos brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros situados no
Brasil, permitindo a aplicação da lei pessoal do de cujus, se mais favorável.
6. Espécies de sucessores
Herdeiro ou sucessor é aquele que será beneficiado com o patrimônio deixado
pelo falecido. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário.
a. Herdeiro legítimo:
O herdeiro legítimo é o que consta na ordem da vocação hereditária, indicada
pela lei. Art. 1.829, CC e 1.790 (união estável). Classificam-se como necessários
(descendentes, ascendentes e cônjuge) e facultativos (colaterais e companheiros ou
conviventes). É chamada a sucessão que resulta da lei.
i. Necessários (legitimário ou reservatário):
É o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC), isto é,
todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação
(ou renúncia). Os herdeiros necessários não podem ser privados por disposição de
última vontade. Sua existência impede que o testador disponha a totalidade de seus
bens. A eles é reservada a legítima (metade da herança).
Segundo o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens
da herança (legítima). A legítima corresponde, portanto a metade dos bens da
herança deixada pelo falecido, após a retirada da meação (se houver) e pagas as
dívidas e despesas de funeral. Assim, ao lado da expressão herdeiros necessários
surge a ideia de legítima e de porção disponível, conceitos que estão todos
interligados.
Nesse sentido, o art. 1.789 afirma que havendo herdeiros necessários “o
testador só pode testar a metade da herança”. Não existindo herdeiros necessários
(ascendente, descendente e cônjuge) o testador pode dispor de 100% de seus bens.
IMPORTANTE: durante a vida há a liberdade de alienar, onerosamente, todo o
patrimônio existente, não deixando nada de herança. O que não pode haver é
doação de todo o patrimônio ou excedendo a parte da liberalidade para um dos
filhos.
Nesse caso, algumas hipóteses podem ocorrer:
a) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro, em
detrimento dos demais, não mencionando que essa doação sai da sua parte
disponível o herdeiro que recebeu deverá, no inventário, trazer esses
bens recebidos por doação a colação, descontando da sua quota parte
(entende-se como adiantamento de legítima);
b) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro,
mencionando que se trata da sua parte disponível, não poderá exceder ¼
do patrimônio do casal (no caso de comunhão universal, ou seja, ½ de
meação e ½ de herança – dessa ½ da herança, somente a ½ (¼ do
patrimônio, portanto) pode ser disponível).
Cálculo da legítima
O art. 1.847 traz a forma de cálculo da legítima. A legítima é calculada sobre a
meação do falecido, representada pelos bens existentes a época da abertura da
sucessão.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da
sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida,
o valor dos bens sujeitos a colação.
i. Facultativos:
Ao lado dos herdeiros necessários, encontram-se os facultativos, que são os
colaterais até 4º grau. A existência de herdeiros facultativos não impede a
disposição em testamento de todos os bens pelo testador, assim considerado a sua
parte disponível.
Conforme se verá mais adiante, também é herdeiro facultativo o companheiro
sobrevivente, pois, ao contrário do cônjuge, que não pode ser excluído da herança
por ser herdeiro necessário, o companheiro pode ser excluído através de
testamento.
b. Herdeiro testamentário ou instituído:
É o herdeiro nomeado ou instituído, designado pelo testador por ato de última
vontade como uma parte do acervo, sem individualização de bens.
i. Legatário:
É o contemplado em testamento com coisa certa e determinada, singularizada,
precisa.
2. Herança e espólio
A herança é conjunto patrimonial que é transmitido em razão do falecimento de
alguém. Deve-se destacar que a herança inclui tanto os bens, quanto os créditos e
dívidas existentes em nome do falecido.
A herança constitui o espólio, que é o titular do patrimônio. O espólio é um ente
despersonalizado, uma massa patrimonial ou universalidade de coisas, até a
individualização pela partilha. É utilizado sob o prisma processual. Ao espólio é
reconhecida legitimidade ativa e passiva e o seu representante é o inventariante ou,
antes de sua nomeação, pelo administrador provisório (art. 75, VII, CPC/2015).
O espólio responde pelas dívidas do falecido até a partilha e dentro dos limites
da herança. O espólio tem legitimidade para propor ação de despejo de imóveis de
propriedade do falecido. Após a partilha, cada herdeiro responderá pela dívida,
dentro das forças de seu quinhão. Realizada a partilha, o espólio deixa de existir,
pois desaparece a universalidade patrimonial.
Forma e objeto
O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel e, nesse sentido, para
que seja realizada a cessão, deve ser feita por escritura pública, com outorga
uxória como condição de validade do negócio jurídico (art. 1.793; art. 1.647, I; art.
166, IV).
A escritura deve estipular se a cessão é feita de forma gratuita ou onerosa; se
estão sendo cedidos todos os direitos hereditários ou somente de parte do quinhão;
etc.
O objeto do contrato são os direitos hereditários.
O cedente: deve ter capacidade para alienar; garante a existência da herança,
não sua extensão.
O cessionário (aquele que adquire): recebe a herança no estado em que se
encontra, correndo o risco de ser mais ou menos, dependo da existência de dívidas;
sub-roga-se nos direitos do cedente, como se fosse ele próprio.
A cessão não pode ser feita quanto a um bem determinado, mas somente
quanto à quota parte do herdeiro cedente, sem individualização. Isto se dá em razão
da indivisibilidade da herança (todo unitário), de forma que é ineficaz a cessão de
bem individualizado (art. 1.793, § 2.º, CC).
§ 2o É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente.
Não quer dizer que a cessão não possa ser feita, mas dependerá da
concordância dos demais herdeiros. Ex.: “cede para Fulano de Tal os direitos
hereditários que tem por falecimento de XXX, sobre o imóvel Y”. Dependerá da
concordância/liberalidade dos demais co-herdeiros. Isto acontece, normalmente,
quando os herdeiros fizeram a partilha de forma amigável, dividindo entre eles os
bens existentes.
Direito de acrescer
A cessão realizada abrange apenas os direitos hereditários existentes no
momento da cessão. Se depois de realizada houver, em favor do cedente,
substituição ou direito de acrescer (em razão de renúncia de um co-herderio, p. e.x.),
os direitos daí resultantes não estarão compreendidos na cessão realizada
anteriormente (GONÇALVES, 2012, p. 58).
Caso não tenha sido dado o direito de preferência à algum co-herdeiro, este
poderá, nos termos do art. 1.795, CC, exercer este direito a posteriori:
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão,
poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o
requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Este direito deverá ser exercido em até 180 dias após a ciência da alienação. E
se mais de um herdeiro quiser exercer o direito de preferência? Neste caso, segundo
Tartuce (2012, p. 18) deverá o quinhão cedido ser distribuído entre eles, na
proporção de suas quotas hereditárias:
Art. 1.795. Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a
preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das
respectivas quotas hereditárias.
4São Paulo: Lei Estadual 10.705/2000; Minas Gerais: Lei Estadual: 14.941/2003; Maranhão: Lei
Estadual .912/1998.
sucessão percebeu, tem direito ao reembolso das despesas necessárias e
úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa.
Mas quem será o administrador provisório? O art. 1.797, CC traz o rol daqueles
que podem ser administradores provisórios:
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança
caberá, sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da
abertura da sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver
mais de um nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos
incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave
levado ao conhecimento do juiz.
Para que alguém possa suceder, não basta invocar a ordem da vocação
hereditária. Devem ser preenchidas algumas condições (VENOSA, 2012, p. 53):
a) deve ser pessoa – animais não podem suceder. O que pode haver é o
testador impor ao herdeiro testamentário um encargo de cuidar de um animal em
específico.
b) deve estar viva – pode já estar concebido na época da morte e terá direito
se nascer com vida e, então, tornar-se-á herdeiro desde a concepção.
c) deve ser capaz – é a aptidão específica para a herança, a legitimação.
Assim não basta existir no momento da morte, tem de ser legítimo, pois se o autor
da herança tiver deixado descendente, os ascendentes, mesmo que vivos, não
serão legítimos;
d) não pode ter sido declarada indigna – aquele que praticar atos contra o
autor da herança, que sejam presumidos incompatíveis com os sentimentos de
afeição real ou presumida.
Deve ser destacado o § 4.º, que estabelece que se até dois anos após a
abertura da sucessão não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados
caberão aos herdeiros legítimos.
Quem deve existir no momento da morte do autor da herança são os pais do
beneficiado, não este, que, na hipótese, sequer precisa estar concebido
(GONÇALVES, 2012, p. 73).
IMPORTANTE: Também deve ser salientado que essa disposição do art.
1.799, I, CC, aplica-se tanto a filhos biológicos, quanto a filhos adotivos, em razão da
igualdade estabelecida pela CF, no art. 227, § 6.º.
Com relação aos filhos havidos em razão de inseminação artificial, a questão é
diferenciada (e, de certa forma, injusta). Gonçalves (2012, p. 75) explica bem a
situação:
Em princípio não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi
concebido por inseminação artificial post mortem, uma vez que a
transmissão da herança se dá em consequência da morte (CC, art. 1.784) e
dela participam as “pessoas nascidas ou já concebidas no momento da
abertura da sucessão” (art. 1.798).
A questão, no entanto, é tormentosa e cabe à doutrina e à jurisprudência
fornecer subsídios para sua solução. A doutrina brasileira se inclina no
sentido de negar legitimação para suceder aos filhos havidos por métodos
de reprodução assistida, quer na hipótese de a morte do ascendente
preceder à concepção, quer na de implantação de embriões depois de
aberta a sucessão. Solução favorável à criança ocorreria se houvesse
disposição legislativa favorecendo o fruto de inseminação post mortem.
[...]
[...]se o Código Civil de 2002 trata os filhos resultantes de fecundação
artificial homóloga,, posterior ao falecimento do pai, como tendo sido
“concebidos na constância do casamento”, não se justifica a exclusão de
seus direitos sucessórios. Entendimento contrário conduziria à aceitação da
existência, em nosso direito, de filho que não tem direitos sucessórios, em
situação incompatível com o proclamado no art. 227, § 6.º, da Constituição
Federal.
O inciso II, do art. 1.799, CC permite que também as pessoas jurídicas possam
ser beneficiadas no testamento. Desta forma, qualquer pessoa pode ser
contemplada no testamento, tanto física quanto jurídica, simples ou empresária, de
direito público ou privado.
O inciso III, do art. 1.799, CC permite que o testador beneficie uma fundação
que, nos termos do art. 62, pode ser criada por escritura pública ou testamento.
Neste último caso, segundo Gonçalves (2012, p. 77), “por ainda não existir a pessoa
jurídica idealizada pelo testador, aberta a sucessão os bens permanecerão sob a
guarda provisória da pessoa encarregada de instituí-la, até o registro de seus
estatutos, quando passará a ter existência legal”.
A doutrina admite que o testador deixe bens para uma pessoa jurídica existente
de fato, mas não de direito. São os casos das sociedades de fato, nos termos do art.
986, CC. O que se deve perceber é que estas pessoas jurídicas existem, já estão
atuando, ainda que não tenham seus documentos constitutivos registrados. O que
não se permite é que o testador beneficie pessoa jurídica que, sequer existe de fato.
Se, contudo, os bens destinados para constituir a fundação forem insuficiente e
o testador não dispuser de forma diversa, deverão os bens serem destinados a outra
fundação que tenha finalidade igual ou semelhante (art. 63, CC). OBSERVAÇÃO:
Já caiu questão no exame de ordem sobre esta situação!
Assim, mesmo com as proibições dos arts. 1.801, 1.798, 1.799, I, se forem
contempladas pessoas neles contantes, de forma direta ou mediante simulação, as
disposições testamentárias serão NULAS.
A nulidade da deixa testamentária pode revestir-se de duas formas: a) o
testador dissimulada a liberalidade sob a aparência de contrato oneroso; ou
b) recorre a interposta pessoa para beneficiar o proibido de suceder
(GONÇALVES, 2012, p. 84).
9. Aceitação da herança
Com o falecimento abre-se a sucessão e a transmissão opera-se desde logo. A
aceitação revela a anuência do beneficiário em receber a herança. Assim, o
recebimento da herança é facultativo, pois o beneficiário poderá deliberar (aceitar ou
renunciar) seu direito. A aceitação (ou adição) da herança é o ato pelo qual o
herdeiro concorda com a transmissão dos bens do de cujus, que ocorreu, por lei, no
momento da abertura da sucessão.
Obs: Enquanto não manifestada a aceitação, entrementes, não é definitiva
a transmissão, no que foi claro o Código em seu art. 1.804 CC. Embora se de a
transmissão imediata, a aceitação vem a ser uma confirmação da aquisição
que se dá a partir da abertura da sucessão.
Espécies de aceitação:
O art. 1.805, estabelece as duas formas de aceitação: expressa e tácita.
a) Expressa - É a manifestada por escrito, público ou particular, de que o
beneficiário deseja receber a herança.
b) Tácita - É a que prevalece (Art. 1805, segunda parte, CC). A aceitação
tácita resulta de qualquer ato que demonstre a intenção de aceitar a herança, atos
compatíveis com caráter de herdeiro:
a) se o herdeiro cede seus direitos hereditários;
b) se o herdeiro nomeia advogado e se faz representar como tal no inventário;
c) se o herdeiro concorda com a avaliação, ou contesta;
d) se o herdeiro efetua cobrança de dívidas do espólio;
e) se requer a abertura do inventário;
f) quando paga dívida dos de cujus com numerário proveniente do espólio;
g) quando doa bens da herança;
h) que pratica atos que vão além de simples atos de conservação e
administração e que impliquem, necessariamente, a intenção de aceitar;
i) o silêncio do herdeiro, quando notificado para se manifestar (art. 1.807).
Art. 1805, §1º, CC: “não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos,
como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e
guarda interina”. Esses atos são praticados de forma altruísta, sem o intuito de
aceitar a herança.
ATOS OFICIOSOS = praticados de forma desinteressada, com objetivo de
prestar favor.
ADMINISTRAÇÃO E GUARDA PROVISÓRIA = praticados pelo herdeiro para
atender a uma necessidade premente, sem intenção de tê-los para si.
Art. 1805, §2º, CC: a cessão pura e simples para os demais coerdeiros também
não importa aceitação da herança – equivale a uma renúncia (GONÇALVES, 2012,
p. 91).
c) Presumida - É o que ocorre no caso do art. 1807, CC, quando algum
interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança faz requerimento ao
juiz, após passados 20 dias da abertura da sucessão, para que lhe intime a dizer,
em prazo não superior a 30 dias, se aceita ou não a herança (GONÇALVES, 2012,
p. 91). Nesse caso, o silêncio é interpretado como manifestação da vontade
(aceitação presumida).
Percebe-se, então, que a aceitação tácita difere da presumida, pois esta
última depende da provocação de um terceiro interessado, enquanto que a
primeira resulta “de atos próprios da qualidade de herdeiro”.
Todavia, quem seriam esses interessados?
a) Os demais herdeiros;
b) As pessoas que, em caso de não aceitação, serão promovidas à condição
de herdeiros;
c) Algum credor.
Irrevogabilidade da aceitação
O Código Civil, em seu art. 1.812, define a irrevogabilidade da aceitação e de
renúncia. Assim, realizada a aceitação (expressa ou tácita ou presumida) não haverá
possibilidade de revogar tal ato, de modo que a aceitação gera efeitos imediatos e
definitivos.
Anulação da aceitação
Assim, depois de realizada a aceitação, se for verificado que o aceitante não é
o herdeiro, como por exemplo, chamar-se à sucessão os colaterais e, depois,
verificar-se a existência de filhos, deverá ser declarada a ineficácia da aceitação,
devolvendo-se a herança a quem de direito. Se, contudo, o inventário já tiver sido
julgado, como homologação da partilha, apenas com a ação de petição de herança é
que será possível reivindicar o que lhe cabe.
Características da Renúncia:
Rizzardo aponta as principais características da renúncia, acompanhando o
entendimento doutrinário dominante:
a) A unilateralidade, por não depender da vontade de outros herdeiros.
b) A abstratividade, isto é, a ausência de motivações. Não é colocada
nenhuma razão, e muito menos vem mencionado algum pagamento, posto que aí a
figura seria cessão.
c) A indivisibilidade, porquanto a renúncia se opera em relação à herança, e
não a um bem, continuando o herdeiro a concorrer na partilha do restante do
patrimônio. A lei não admite renúncia parcial (art. 1.808).
d) Ato jurídico puro, ou seja, sem depender de condições ou termo. Art. 1.808
CC.
e) Gratuita, jamais se permitindo algum pagamento ou uma compensação, sob
pena de confundir-se, então, com a cessão de direitos.
f) Efeito retroativo, valendo a contar da morte do autor da herança. Arts. 1.784
e 1.804.
g) O formalismo, que é de rigor, nunca se acolhendo que seja reconhecida à
renúncia por manifestação verbal, nem por instrumento particular. A renúncia deve
ser feita por instrumento público ou termo judicial (art. 1.806). Não há presunção de
renúncia ou renúncia tácita. Deve ser expressa e formal.
Efeitos da Renúncia:
Muitas são as implicações do ato de renunciar, irradiando alguns efeitos, em
especial, a exclusão do herdeiro renunciante de forma ampla e definitiva.
a) Exclusão, da sucessão, do herdeiro renunciante: o RENUNCIANTE é
tratado como se nunca tivesse sido herdeiro (retroage à data da
abertura da sucessão, ou seja, desde o óbito). O renunciante é
afastado da sucessão (art. 1.810 e 1811). NÃO CABE, PORTANTO,
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO.
b) direito de acrescer: a parte do renunciante passa imediatamente à dos
outros herdeiros da mesma classe, nos termos do art. 1810, CC.
A e B recebem a cota de “C” – A herança será divida em duas partes.
Herdeiro renunciante
Herdeiro renunciante
H – herdeiro indigno.
A e B – herdarão por representação
(no lugar de seu pai, como se ele
nunca tivesse existido).
Com isto:
X – recebe 1/3
Y – recebe 1/3
A e B – dividem o 1/3 que caberia a
seu pai.
12.1 Deserdação
A deserdação é uma causa de exclusão pela qual o autor da herança, através
de disposição de última vontade – testamento – exclui de sua sucessão o herdeiro
necessário que tenha praticado atos moralmente censuráveis e previstos na lei civil.
IMPORTANTE: só se aplica aos herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge), que ficam privados de sua legítima, sem atingir a meação.
Trata-se de uma pena civil que é aplicada pelo próprio autor da herança,
através de testamento.
Características da deserdação
a) o arbítrio do autor da herança não é ilimitado (incondicionado); precisa
seguir os pressupostos legais e limites.
b) o autor deve mencionar a causa constitutiva e determinante da deserdação,
entre as indicadas na lei (para permitir a defesa e o contraditório);
c) deve ser clara e expressa; atendendo os requisitos legais;
d) não existe deserdação tácita, virtual ou implícita;
e) o testador pode retratar a deserdação (por testamento). EX: não vale
simples reconciliação; precisa cancelar, ou fazer um novo testamento, seguindo o
rito anteriormente adotado.
f) o testamento que é anulável (nulo), torna ineficaz a cláusula de deserdação;
g) condição ou termo são inconciliáveis com a deserdação;
ex: Ameaças, em relação ao herdeiro fazer ou deixar de fazer algo, sob pena
de ser deserdado, não têm o poder nem a legalidade para deserdar.
h) o excluído da sucessão não tem direito ao usufruto e à administração dos
bens (art. 1816, parágrafo único, CC);
i) não há proibição de deserdação parcial (sanção proporcional à gravidade da
ofensa, apesar de não estar pacífica tal posição);
j) o herdeiro que falece antes do testador não pode ser deserdado (implicaria
na quebra do princípio da pessoalidade, alcançando os descendentes do punido. A
pena é personalíssima). No entanto, existe a possibilidade de deserdar o neto,
vinculada a pré-morte do filho, condicionada aos mesmos requisitos supracitados.
Efeitos da deserdação:
O art. 1.816, CC afirma que os efeitos da exclusão são pessoais. Apesar de
não haver previsão expressa para a deserdação, aplica-se este mesmo dispositivo,
tendo em vista que o objetivo da indignidade e da deserdação é o mesmo.
- Privação em todo ou parte, da legítima, sendo o deserdado havido como se
morto fosse;
- É de índole pessoal a sanção;
- Aos ascendentes não cabe a representação;
- Os descendentes recolhem a herança por direito de representação;
Casos de jacência:
Para que se configure a jacência deve haver – art. 1.819, CC:
a) ocorrência do óbito;
b) sem deixar testamento conhecido ou ser este caduco. Neste caso,
tem-se duas situações:
Sem testamento:
a. Inexistência de herdeiros conhecidos
b. Renúncia da herança por todos os herdeiros
Com testamento
c. Herdeiro instituído ou testamenteiro não existir ou não aceitar a
herança
d. Falecido não tiver herdeiros necessários.
Cabe ao curador:
Art. 739, § 1o Incumbe ao curador:
I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do
Ministério Público;
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a
arrecadação de outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão.
§ 2o Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161.
Durante a arrecadação o juiz ou a autoridade policial que estiver cumprindo a
diligência (art. 740, § 2.º, CPC/2015) fará a inquirição dos vizinhos do falecido,
visando descobrir sua qualificação, existência de outros bens e o paradeiro de seus
sucessores.
A arrecadação será suspensa se aparecerem o cônjuge, companheiro ou
herdeiro do falecido para reclamar os bens (§ 6.º, art. 740, CPC/2015).
Finalizada a arrecadação, serão expedidos editais, nos termos do art. 741,
CPC/2015 – na internet, site do tribunal e na plataforma do CNJ, devendo
permanecer por 3 meses. Em não havendo o site, a publicação deverá ocorrer na
imprensa da Comarca, por 3 vezes, com intervalos de 1 mês entre cada uma.
Havendo herdeiro habilitado, a arrecadação converte-se em inventário (art.
741, § 1.º, § 3.º, CPC/2015).
Declaração de vacância
Não havendo herdeiro habilitado, após um ano da publicação do edital, a
herança será declarada vacante (art. 743, CPC/2015).
Será VACANTE a herança quando, depois de todas as diligências, inclusive
com a publicação de editais, passado um ano, não houverem herdeiros sucessíveis
habilitados. Há uma exceção: se todos os chamados a suceder renunciarem a
herança, será, desde logo, declarada vacante (art. 1.823, CC), sem que haja a fase
de jacência.
Uma vez sendo declarada, por sentença, a vacância, o cônjuge, companheiro
ou herdeiros só poderão reclamar seu direito através de ação de petição de herança
(art. 743, § 2.º, CPC/2015).
Após a declaração de vacância, podem os credores pedir o pagamento das
dívidas reconhecidas, nos limites da força da herança (art. 1.821, CC + art. 741, §
4.º, CPC/2015).
Mas essa declaração de vacância não faz com que os bens da herança se
incorporem, desde logo, ao patrimônio do Município ou Distrito Federal (se
localizados nos seus territórios) ou à União (se localizados em território federal).
Para tanto, o art. 1.822, CC prevê o prazo de 5 anos da abertura da sucessão.
O Código não deixa dúvida sobre a exclusão dos colaterais da sucessão
se não habilitarem até a sentença de vacância – art. 1.822, § único. Os demais
herdeiros têm o prazo de 5 anos.
Filho 1 = pré-morto.
Filho 2 = desaparecido – não se sabe da existência
Neto 1, 2 e 3 = herdarão por direito próprio, pois a classe anterior (dos filhos)
não existe = 1/3 para cada um.
Neto 1 = pré-morto sua quota parte será divida entre Bisneto 1.1 e 1.2.
Quanto o Filho 2 for “descoberto”, terá direito de pleitear a herança (sua quota
parte). Neste caso, ficará com a ½ da herança e a outra ½ será dividida entre os
herdeiros de Filho 1.
3. A herança é distribuída entre os herdeiros legítimos, e aparece testamento
do de cujus, em que outra pessoa é nomeada herdeira;
4. O filho não reconhecido ingressa com ação de investigação de paternidade
e, de forma cumulada, com a petição de herança.
Conceito:
A petição de herança é uma ação, oferecida pelo herdeiro preterido, no sentido
de que lhe seja deferida a quota parte que lhe cabe, por direito. Trata-se, pois, do
meio jurídico pelo qual o herdeiro (excluído por qualquer razão – não se sabia da
existência, por exemplo) pode se utilizar para garantir sua condições e o acesso aos
bens deixados pelo falecido (art. 1824, CC)
A ação visa, portanto, o reconhecimento da qualidade de herdeiro e a
satisfação quanto ao acervo hereditário, ou seja, contemplar o herdeiro – autor da
ação – com sua quota parte na herança. Necessita, contudo de uma ação de estado,
ou seja, de uma ação que objetive a declaração do parentesco.
A petição de herança tem dúplice objetivo:
a) o reconhecimento judicial da qualidade do herdeiro ou a condição de
herdeiro (qualidade sucessória);
b) a proclamação do princípio de que, sendo vários os herdeiros, qualquer
deles pode demandar a totalidade da herança.
LEGITIMIDADE PASSIVA: Será réu nessa ação, aquele que estiver na posse
da herança como se fosse herdeiro, aparentando uma qualidade e assumindo a
posição de herdeiro, sem o ser verdadeiramente.
a) Herdeiro aparente (possuidor dos bens hereditários);
b) Terceiro estranho à sucessão causa mortis;
c) Herdeiro que possua por outro título (usucapião).
d) Estado (quando há herança jacente)
Efeitos da sentença:
Reconhecida a qualidade hereditária do autor da petição de herança, transmite-
se a titularidade do patrimônio deixado em seu favor. Com a procedência da ação e
o trânsito em julgado há o reconhecimento da ineficácia da partilha em relação ao
autor da ação, sendo dispensada sua anulação. Bastará o requerimento de
retificação da partilha realizada anteriormente.
Esses efeitos também são diferentes com relação ao possuidor de boa e má-fé
e quanto ao terceiro adquirente:
Possuidor:
Aquele que possua os bens, com o julgamento da petição de herança, deverá
devolvê-los, com todos os acessórios. Responderá por perdas e danos e pelos frutos
que tiver colhido, salvo direito de retenção, se estiver de boa-fé.
Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do
acervo, fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado
o disposto nos arts. 1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há
de aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.
Já o possuidor de má-fé:
a) Art. 1216, CC – pelos frutos colhidos e percebidos (e pelo que deixou de
perceber por culpa);
b) responde pela perda e deterioração da coisa, a que não der causa (art.
1218);
c) não tem direito de retenção de benfeitorias (nem levantar as voluptuárias);
as necessárias serão ressarcidas (art. 1218, 1220, 1222).
Terceiro adquirente:
A questão que se discute é se a alienação feita pelo herdeiro aparente é válida
ou não.
Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em
poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário
pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé.
O art. 1.828 prevê que o herdeiro aparente de boa-fé tem seus atos protegidos
por lei em benefício de terceiros de boa fé:
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não
está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a
este o direito de proceder contra quem o recebeu.
QUESTÕES
EXAME IV - Rodolfo, brasileiro, engenheiro, solteiro, sem ascendentes ou
descendentes, desapareceu de seu domicílio há 11 (onze) meses e até então não
houve qualquer notícia sobre seu paradeiro. Embora tenha desaparecido, deixou
Lisa, uma amiga, como mandatária para a finalidade de administrar-lhe os bens.
Todavia, por motivos de ordem pessoal, Lisa não quis exercer os poderes
outorgados por Rodolfo em seu favor, renunciando expressamente ao mandato.
De acordo com os dispositivos que regem o instituto da ausência, assinale a
alternativa correta.
(A) O juiz não poderá declarar a ausência e nomear curador para Rodolfo, pois Lisa
não poderia ter renunciado o mandato outorgado em seu favor, já que só estaria
autorizada a fazê-lo em caso de justificada impossibilidade ou de constatada
insuficiência de poderes.
(B) A renúncia ao mandato, por parte de Lisa, era possível e, neste caso, o juiz
determinará ao Ministério Público que nomeie um curador encarregado de gerir os
bens do ausente, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores
e curadores.
(C) Os credores de obrigações vencidas e não pagas de Rodolfo, decorrido 1
(um) ano da arrecadação dos bens do ausente, poderão requerer que se
determine a abertura de sua sucessão provisória.
(D)Poderá ser declarada a sucessão definitiva de Rodolfo 10 (dez) anos depois de
passada em julgado a sentença que concedeu a sucessão provisória, mas, se
nenhum interessado promover a sucessão definitiva, nesse prazo, os bens
porventura arrecadados deverão ser doados a entidades filantrópicas localizadas no
município do último domicílio de Rodolfo.
EXAME V - Heitor, solteiro e pai de dois filhos também solteiros (Roberto, com trinta
anos de idade, e Leonardo, com vinte e oito anos de idade), vem a falecer, sem
deixar testamento. Roberto, não tendo interesse em receber a herança deixada pelo
pai, a ela renuncia formalmente por meio de instrumento público. Leonardo, por sua
vez, manifesta inequivocamente o seu interesse em receber a herança que lhe
caiba. Sabendo-se que Margarida, mãe de Heitor, ainda é viva e que Roberto possui
um filho, João, de dois anos de idade, assinale a alternativa correta.
(A) Roberto não pode renunciar à herança, pois acarretará prejuízos a seu filho,
João, menor de idade.
(B) Roberto pode renunciar à herança, o que ocasionará a transferência de seu
quinhão para João, seu filho.
(C) Roberto pode renunciar à herança, e, com isso, o seu quinhão será
acrescido à parte da herança a ser recebida por Leonardo, seu irmão.
(D) Roberto pode renunciar à herança, ocasionando a transferência de seu quinhão
para Margarida, sua avó, desde que ela aceite receber a herança.
EXAME XVI - Márcia era viúva e tinha três filhos: Hugo, Aurora e Fiona. Aurora,
divorciada, vivia sozinha e tinha dois filhos, Rui e Júlia. Márcia faleceu e Aurora
renunciou à herança da mãe. Sobre a divisão da herança de Márcia, assinale a
afirmativa correta.
A) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre
Hugo e Fiona, cabendo a cada um metade da herança.
B) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre Hugo,
Fiona, Rui e Júlia, em partes iguais, cabendo a cada um 1/4 da herança.
C) Diante da renúncia de Aurora, a herança ser dividida entre Hugo, Fiona, Rui e
Júlia, cabendo a Hugo e Fiona 1/3 da herança, e a Rui e Júlia 1/6 da herança para
cada um.
D) Aurora não pode renunciar à herança de sua mãe, uma vez que tal faculdade não
é admitida quando se tem descendentes de primeiro grau.
XVII EXAME - Ester, viúva, tinha duas filhas muito ricas, Marina e Carina. Como
as filhas não necessitam de seus bens, Ester deseja beneficiar sua irmã, Ruth,
por ocasião de sua morte, destinando-lhe toda a sua herança, bens que vieram
de seus pais, também pais de Ruth. Ester o(a) procura como advogado(a),
indagando se é possível deixar todos os seus bens para sua irmã. Deseja fazê-lo
por meio de testamento público, devidamente lavrado em Cartório de Notas,
porque suas filhas estão de acordo com esse seu desejo.
Assinale a opção que indica a orientação correta a ser transmitida a Ester.
A) Em virtude de ter descendentes, Ester não pode dispor de seus bens por
testamento.
B) Ester só pode dispor de 1/3 de seu patrimônio em favor de Ruth, cabendo o
restante de sua herança às suas filhas Marina e Carina, dividindo-se igualmente
o patrimônio.
C) Ester pode dispor de todo o seu patrimônio em favor de Ruth, já que as filhas
estão de acordo.
D) Ester pode dispor de 50% de seu patrimônio em favor de Ruth, cabendo
os outros 50% necessariamente às suas filhas, Marina e Carina, na
proporção de 25% para cada uma.
Desta forma, se “A”, solteiro, falece, deixando filho e pai vivos, a sucessão
regular-se-á da seguinte forma: o filho recebe toda a herança do pai e, seu avô (pai
do falecido), nada receberá, pois a classe mais próxima exclui a mais remota.
a. Descendentes
Os filhos herdam por direito próprio, por cabeça ou per capita, recebendo
quotas iguais e, os netos herdam por estirpe, a não ser que todos os filhos já
faleceram. Nesse caso, os netos, por estarem no mesmo grau, herdam por cabeça
ou direito próprio (sucessão avoenga).
EXEMPLOS:
1. Por direito próprio:
Cada filho receberá ¼.
2. Por estirpe:
Assim:
Filhos – sucedem por cabeça.
Netos – sucedem por estirpe. Se, contudo, os filhos forem todos falecidos, os
netos herdarão por cabeça, por serem todos de mesmo grau.
b. Ascendentes
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes. Não se
admite o direito de representação na linha ascendente (art. 1.852).
§ 1º - mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas;
Pai = ½ da herança.
Mãe = ½ da herança.
Se, contudo, A falece, deixando a mãe viva e sendo o pai premorto, mesmo
que tenha avós paternos vivos, sua mãe recolherá toda a herança.
- Patrimônio de R$100.000,00
- Meação: R$ 50.000,00
- Legítima: R$ 50.000,00
- A = R$ 25.000,00
- B = R$ 25.000,00
Art. 1.832
Cônjuge = 50% de meação + 1/4 da herança
em concorrência
Filhos = dividem ¾ da herança = 15% para
cada um
Pai = 1/3
Mãe = 1/3
- Pai = ½
Neste caso, mesmo que o bem seja deferido, pelo inventário, a outro herdeiro,
caberá ao cônjuge o direito real de habitação, sendo, então, vedada a venda deste
imóvel (desde que seja o único daquela natureza a inventariar).
2. Herdeiros necessários
O art. 1.845, CC estabelece quem são os herdeiros necessários:
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
1. descendentes
2. ascendente
3. cônjuge (o companheiro não é herdeiro necessário, mas sim, facultativo)
Assim, apenas se houver justa causa é que essas cláusulas poderão ser
estabelecidas pelo de cujus via testamento. Essa justa causa deve ser trazida pelo
de cujus no testamento. Ex.: incomunicabilidade, pois o cônjuge do herdeiro
necessário é um caçador/caçadora de dotes, pq o cônjuge do herdeiro possui filho
fora do casamento e, em razão do regime da comunhão universal, esse filho
acabará por herdar o patrimônio do de cujus, etc. Inalienabilidade e
incomunicabilidade, pois o herdeiro é consumidor compulsivo e aposta em jogos de
azar, etc.
Art. 1.849.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou
algum legado, não perderá o direito à legítima.
3. Direito de representação
Existem duas maneiras diferentes de suceder:
a) Por direito próprio/cabeça;
b) Por representação.
Pressupostos (requisitos):
1) A morte do representado: não há representação de herdeiro vivo. Exceção:
ter sido declarado deserdado, indigno ou ausente. Não cabe na renúncia.
2) Parentesco em linha descendente: o representante deve ser descendente do
representado, ou, EXCEPCIONALMENTE, colateral – filho do irmão (sobrinho) do
autor da herança. A descendência é a civil e não apenas a biológica (adoção,
também).
3) Capacidade sucessória do representante em relação ao representado:
(legitimação para herdar). Deve ter legitimação para herdar. Ex. O filho substitui o
pai morto na herança do avô (linha descendente); ou filho substitui o pai pré-morto
na sucessão de um tio (linha colateral). Importante ressaltar a isonomia
Constitucional: igualdade dos filhos.
4) Inexistir solução de continuidade no encadeamento de grau entre o
representante e o representado: não se opera per saltum et omisso médio. Ex. o
bisneto não representa o filho do autor da herança se ainda vive o neto deste.
5) Que reste, no mínimo um filho do de cujus ou, na linha colateral um irmão do
falecido. Se não a sucessão será por direito próprio.
Efeitos
A representação produz dois efeitos:
1) O representante (representantes) só pode herdar o que herdaria o
representado, se vivesse (se vivo fosse) (art. 1854, CC). A porção é a mesma;
2) O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes (art.
1855, CC).
3) O renunciante à herança de uma pessoa pode inobstante representá-la na
sucessão de outra. Na renúncia, os descendentes do abdicante não herdam
por direito de representação (art. 1856, CC). Assim, os efeitos da renúncia não
passam da herança à qual houve manifestação de repúdio.
4) Os representantes estão obrigados a trazer à colação os bens doados ao
representado pelo autor da herança (art. 1791); quando os netos, representando
os pais, sucedem os avós, serão obrigados a trazerem colação, para igualdade
de legítima;
5) O representante é considerado um herdeiro legítimo (e necessário...Colaterais,
não), com todos os direitos inerentes (direito da saisina – art. 1572 – 1.784),
sendo igualitária sua posição relativamente aos co-herdeiros.
6) A responsabilidade do representante por dívidas do espólio se sujeita ao
benefício do inventário – responde por elas até o limite do quinhão;
7) A quota hereditária do representante não responde pelas dívidas do
representado, mas pelas do autor da herança.
8) O direito de representação se opera na sucessão legítima (excepcionalmente, na
testamentária, quando será chamada de substituição.
EXEMPLOS:
1º Exemplo: Se o de cujus deixa três irmãos, sendo que um deles já falecido
com filhos, a herança será dividida em três partes, cabendo uma para cada irmão
vivo e a terceira deverá ser repartida entre os sobrinhos que herdarão por
representação. Receberão a parte que caberia ao pai, se vivo fosse.
2º Exemplo: o de cujus deixa um (1) irmão vivo; um irmão (pré-morto) com
dois filhos e outro irmão (pré-morto) com três filhos. Divide-se em três partes iguais,
correspondente às três estirpes.
3º Exemplo: o de cujus deixa 3 irmãos vivos, 1 irmão pré-morto com filhos e
outro irmão pré-morto sem filhos. Divide-se em quatro (4) partes.
4º Exemplo: o de cujus deixa três irmãos vivos; um irmão pré-morto com
filhos; outro irmão pré-morto, com um filho pré-morto que tem um filho vivo. Divide-
se em quatro (4) partes... sobrinho-neto não herda.
Linha Ascendente
Art. 1852: O direito de representação se dá na linha reta descendente; mas
nunca na linha ascendente. Se um filho, ao falecer, deixa o pai vivo e a mãe já se
encontra falecida, sem quaisquer herdeiros descendentes, o progenitor vivo será
contemplado com toda herança. Os progenitores maternos nada herdarão.
QUESTÕES
EXAME VI - José, solteiro, possui três irmãos: Raul, Ralph e Randolph. Raul era pai
de Mauro e Mário. Mário era pai de Augusto e Alberto. Faleceram, em virtude de
acidente automobilístico, Raul e Mário, na data de 15/4/2005. Posteriormente, José
veio a falecer em 1º/5/2006. Sabendo-se que a herança de José é de R$ 90.000,00,
como ficará a partilha de seus bens?
(A) Como José não possui descendente, a partilha deverá ser feita entre os irmãos.
E, como não há direito de representação entre os filhos de irmão, Ralph e Randolph
receberão cada um R$ 45.000,00.
(B) Ralph e Randolph devem receber R$ 30.000,00 cada. A parte que caberá a Raul
deve ser repartida entre Mauro e Mário. Sendo Mário pré-morto, seus filhos Alberto e
Augusto devem receber a quantia que lhe caberia. Assim, Mauro deve receber R$
15.0000,00, e Alberto e Augusto devem receber R$ 7.500,00 cada um.
(C) Ralph e Randolph receberão R$ 30.000,00 cada um. O restante (R$
30.000,00) será entregue a Mauro, por direito de representação de seu pai pré-
morto.
(D) Ralph e Randolph receberão R$ 30.000,00 cada um. O restante, na falta de
outro colateral vivo, será entregue ao Município, Distrito Federal ou União.
EXAME VII - Edgar, solteiro, maior e capaz, faleceu deixando bens, mas sem deixar
testamento e contando com dois filhos maiores, capazes e também solteiros, Lúcio e
Arthur. Lúcio foi regularmente excluído da sucessão de Edgar, por tê‐lo acusado
caluniosamente em juízo, conforme apurado na esfera criminal. Sabendo‐se que
Lúcio possui um filho menor, chamado Miguel, assinale a alternativa correta.
A) O quinhão de Lúcio será acrescido à parte da herança a ser recebida por seu
irmão, Arthur, tendo em vista que Lúcio é considerado como se morto fosse antes da
abertura da sucessão.
B) O quinhão de Lúcio será herdado por Miguel, seu filho, por representação,
tendo em vista que Lúcio é considerado como se morto fosse antes da
abertura da sucessão.
C) O quinhão de Lúcio será acrescido à parte da herança a ser recebida por seu
irmão, Arthur, tendo em vista que a exclusão do herdeiro produz os mesmos efeitos
da renúncia à herança.
D) O quinhão de Lúcio se equipara, para todos os efeitos legais, à herança jacente,
ficando sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor
devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância.
1. Conceito:
A noção de testamento está clara no art. 1.857 e 1.858 do Código Civil, sendo
considerado um “ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém dispõe da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte”
(GONÇALVES, 2012, p. 228).
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade
dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento.
§ 2o São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial,
ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a
qualquer tempo.
2. Características:
a) Ato personalíssimo: é privativo do autor da herança. Não se admite
testamento por procuração.
b) Ato revogável (mudado a qualquer tempo): a expressão revogável é mais
adequada e correta; é a principal característica dos testamentos. A
revogabilidade é da essência do testamento.
c) Negócio jurídico unilateral: aperfeiçoa-se com a vontade única do testador.
Não há a necessidade de manifestação da vontade do beneficiário.
d) Unipessoal: um só agente pode testar, num só ato. O testamento de mão
comum é defeso em lei, visa garantir a liberdade das disposições e evitar o
pacto sucessório - proibido art. 1.863 CC. Assim é vedado o testamento
conjuntivo (mão comum), feito por duas ou mais pessoas, seja simultâneo
(disposição conjunta para beneficiar terceira pessoa), recíproco (instituindo
benefícios mútuos) ou correspectivo (disposições em retribuição de outras
correspondentes). Nada impede, contudo, que o casal faça cada um seu
testamento em que um deixa os bens para o outro. O que não pode é isso ser
feito em um mesmo ato. Podem fazer, no mesmo momento, mas em atos
diferentes.
e) Solene: é um negócio jurídico não apenas formal, mas provido de formalidades
essenciais, prescritas em lei. A solenidade assegura a existência, a validade e
a eficácia. O formalismo constitui garantia e salva-guarda à liberdade de testar.
Exceção: testamento nuncupativo (de viva voz), admissível como espécie de
testamento militar (art. 1.896).
f) Gratuito: não exige do contemplado qualquer correspectivo, contrapartida ou
reciprocidade, ou seja, não há vantagens para o testador. Mesmo que haja
encargo para o beneficiário, o testamento segue sendo gratuito. Está contida
na unilateralidade. Não existe contra-prestação (exigível). Entretanto, o
herdeiro responde pelas dívidas (arts. 1.792 e 1.821).
g) Revogável: a vontade testamentária é essencialmente revogável (art. 1.969), é
ato de última vontade, desde que não tenha sido modificado; A revogabilidade
é conceito legal e da essência do testamento. É irrenunciável a liberdade de
revogar ou modificar o testamento. Toda renúncia é considerada não escrita.
Pode, contudo, o testador, modificar o testamento a qualquer momento e
quantas vezes quiser (art. 1.858). Exceção: o testamento é irrevogável com
relação a cláusula na qual eventualmente o testador tenha reconhecido filho
fora do matrimônio (art. 1.609, III). Se houverem vários testamentos
sucessivos, feitos pelo mesmo testador, com seu falecimento, terá validade
apenas o último, a não ser que sirva para completar o anterior.
h) Patrimonialidade não necessária: serve para dispor de parte ou de todo
patrimônio (parte disponível), bem como para instituir herdeiros, deserdá-los ou
retratar a deserdação (1.857, § 2º).
i) Ato causa mortis: a morte do testador é condição de eficácia do testamento,
com imediata abertura do processo sucessório. Assim, o testamento só produz
efeitos com a morte do testador. A abertura da sucessão é essencial para o
cumprimento das disposições contidas no testamento.
O dispositivo legal dispõe sobre os que não podem testar, por não terem
discernimento, de forma que se subentende que todos os demais possuem
capacidade para testar. Assim, podem testar os cegos e os analfabetos, por
exemplo. A norma do art. 1.860 é restritiva e só abrangem os casos específicos, não
permitindo interpretação extensiva.
Observação:
A capacidade deve ser verificada no momento da elaboração do testamento.
Na dúvida, decide-se pela validade do ato, em respeito ao princípio do in dubio
pro capacitate.
Os Tribunais (STF, especialmente) têm entendido que para a decretação da
nulidade de testamento deverá haver prova inequívoca da incapacidade do
testador.
Requisitos:
O art. 1.868, CC estabelece os requisitos e formalidades do testamento
cerrado. O testamento cerrado se compõe de algumas fases:
a) a elaboração do testamento. O Tabelião pode escrever e aprovar o
testamento (1.870). Assinatura do testamento é imprescindível. Entrega ao
Tabelião, acompanhado de 2 testemunhas. Requer a lavratura do auto de
aprovação (art. 1.869).
b) entrega do testamento. O testamento deve ser entregue pessoalmente pelo
testador ao tabelião, constituindo-se de ato personalíssimo, não admitindo a
utilização de portador.
c) Participação das testemunhas. As testemunhas participam do ato de entrega
do testamento, mas não precisa que conheçam o seu conteúdo.
d) Lavratura do auto de aprovação pelo Tabelião. Depois de aprovado, o auto
de aprovação será lido pelo oficial e assinado pelas Testemunhas, Testador
e Tabelião. O auto de aprovação deve vir, conforme o art. 1.869, CC, logo
após a última palavra do testador. A solenidade de aprovação deve ser feita
sem interrupções.
e) Cerramento. Trata-se da última fase do testamento cerrado. O tabelião
dobra a cédula e costura-a com cinco pontos de retrós e lança pingos de
lacre sobre cada um. Se houver o rompimento do lacre pelo testador, não
terá validade o testamento. Se for feito o rompimento contra a vontade do
testador, deverão os interessados demonstrar ao juiz tal fato, para que não
anule o ato.
Requisitos:
O art. 1.876 apresenta os requisitos e formalidades do testamento particular.
a) Deve ser escrito e assinado pelo testador.
b) Inquirição das testemunhas em juízo (confirmar o testamento);
c) Pode ser feito em idioma estrangeiro;
d) A lei permite que terceira pessoa redija, pois pode ser datilografado;
e) Se for escrito a mão, deverá ser feito pessoalmente pelo testador.
f) Uma testemunha pode confirmar (Leite, 393).
g) Leitura e assinatura de 3 testemunhas
e. Testemunhas instrumentárias
A atuação das testemunhas no testamento tem a função de conferir validade
ao ato.
Em princípio, todas as pessoas capazes, podem ser testemunhas. Contudo, o
art. 228, CC determina as pessoas que não podem ser testemunhas (cuidado com
as alterações do Estatuto da Pessoa com Deficiência):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o
terceiro grau de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o
depoimento das pessoas a que se refere este artigo.
§ 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de
condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os
recursos de tecnologia assistida. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
Formas:
- é hológrafo; simplificada; sem formalidades;
- é válido datilografado, desde que datado e assinado pelo testador;
- não exige testemunhas;
- pode ser escrito por meios mecânicos (jurisprudência dominante);
- deve ser escrito pelo disponente ou por terceiro;
- não exclui a forma pública, embora indique a particular.
Execução:
As mesmas regras do testamento particular. Se público ou cerrado, segue-se
as normas de execução destes (art. 737, § 3.º, CPC/2015).
Art. 1885 – Se fechado, para manter secreto, a abertura se processa como o
testamento cerrado: será aberto pelo juiz que fará registrar.
Consequências:
Art. 1.882 – O codicilo pode ser autônomo, ou pode existir como parte
integrante de um testamento.
- Não revoga testamento. Por este é revogável (1.884);
- É revogável por outro codicilo;
- Mais de um codicilo: Na dúvida, vale a última disposição;
- É válido exista ou não testamento;
- Sendo o codicilo parte integrante ou complementar do testamento,
anulado ou revogado este, deixa de existir aquele;
- As regras da capacidade no testamento valem para o codicilo.
Seu registro e cumprimento se dará de acordo com o art. 737, § 3.º, CPC/2015,
obedecendo as regras do testamento particular.
a. Marítimo
É a declaração de última vontade, feita a bordo de navios, embarcações: em
alto mar. Pode ser feito pelos tripulantes ou pelos passageiros (art. 1.888). Justifica-
se em caso de emergência e necessidade. Não prevalece se a embarcação estiver
em local onde o testador poderia ter desembarcado e testado de forma ordinária (art.
1.892). Caducará se o testador não morrer em viagem, nem nos 90 dias
subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária,
outro testamento (art. 1.891).
Requisitos
- viagem realizada em navio nacional (extensão do território nacional);
- navio de guerra ou mercante (transporte de pessoas de um porto a outro).
- testador esteja a bordo do navio.
- cédula testamentária seja registrada no diário de bordo.
- testamento fique sob a guarda do comandante.
Formas
- na forma do Público ou cerrado;
- exige apenas duas testemunhas;
- será lavrado, em regra, pelo Comandante;
- se o testador não puder assinar, alguém assina a rogo;
- o registro do testamento será no diário de bordo: parágrafo único, do art.
1888.
Formas e requisitos
- público ou cerrado, nos termos do art. 1.888, CC
- requisitos: os mesmos do marítimo.
- o comandante não se envolve na elaboração do testamento pois está
conduzindo a aeronave.
Caducidade: Efemeridade
Art. 1.891 – Caducará: Tem eficácia temporal e condicional:
a) não morrer na viagem;
b) 90 dias subsequentes ao desembarque não testar da forma ordinária
c) É nulo o testamento feito em portos – neste caso, poderia ser feito através
de uma forma ordinária de testamento. Tem que ser em alto mar (Art. 1892).
Requisitos
- Que a Força esteja “em campanha” (dentro ou fora do país) – mesmo missão
de paz.
- Que o testador esteja participando da guerra, em campanha, sem
possibilidade de se afastar para realizar o testamento pela forma ordinária.
- Qualquer pessoa envolvida – civil ou militar.
- Que não haja, no local, um tabelionato onde o testador possa dispor de seus
bens através de testamento público.
- Que a situação de perigo seja real.
Formas
Pode ser de 3 formas: público, cerrado ou nuncupativo.
- Público: o comandante da tropa ou diretor do hospital ou oficial de saúde
funcionará como tabelião. Lavrado perante duas testemunhas ou por três, caso o
testador não saiba assinar (uma delas assinará a rogo).
- Cerrado: o testador entregará o escrito, devidamente assinado, ao oficial de
patente mais acima, que o datará, indicará o lugar em que lhe foi apresentado,
assinando-o com as duas testemunhas, devolvendo-o ao apresentante.
- Nuncupativo: é feito de viva voz, perante duas testemunhas, por alguém que
esta empenhada em combate ou ferida, ou seja, a pessoa está exposta a risco de
vida e impossibilitada de usar a forma escrita. Se findar a guerra ou o testador
convalescer, cessarão os motivos que autorizam esta forma de testamento.
As declarações são feitas a duas testemunhas: que devem escrevê-las e
confirmar em juízo. É exceção e possui o risco, pois se o testador falecer, ficará
nas mãos das testemunhas.
a. Interpretação do testamento:
Quando da interpretação das cláusulas testamentárias, deve-se atentar para
buscar a verdadeira intenção do testador, ainda que não tenha se saído bem com as
palavras escritas. É nesse sentido a determinação do art. 1.899, CC.
b. Regras proibitivas:
Nomeação a termo: Art. 1898
A designação do tempo: é vedada, com exceção do Fideicomisso. É cláusula
não escrita. A herança se transmite imediatamente, a partir do óbito. Aberta a
sucessão o herdeiro não tem o que aguardar.
Reafirma o princípio da saisine – a herança transmite-se com a morte.
Nesse caso, não há o prejuízo da nomeação em si, mas sim da designação do
termo (inicial ou final).
Instituição de herdeiro sob condição captatória: Art. 1.900, I
Não admite nenhuma espécie de pacto sucessório (vedação de contrato que
tenha por objeto herança de pessoa viva – art. 426, CC).
Essa condição captatória “é a que representa um induzimento, mediante
nomeação e favorecimento de outrem, como herdeiro, para que este também inclua
o captador, ou terceiro, em suas disposições testamentárias, como beneficiário”
(Gonçalves, p. 331).
Ex.: lego tal quantia para Fulano se ele me contemplar em seu testamento.
Ex.: deixo a Fulano, que instituo como meu herdeiro, o quanto ele me transmitir
em seu testamento.
Essa vedação é em razão de que a instituição de herdeiro deve ser através da
plena liberdade e vontade do testador e, sendo possibilitada essa hipótese, poderia
haver influência do captador sobre o testador.
Referência a pessoa incerta: Art. 1.900, II
Não há como ser cumprido um ato de disposição de última vontade se o
beneficiário não puder ser identificado. Nesse sentido, não é válida a disposição
testamentária em que conste: “beneficio meus amigos” ou “beneficio a pessoa mais
digna da cidade”. Trata-se de expressões vagas, de forma que não há como precisar
quem é a pessoa que o testador pretende beneficiar.
Quanto mais claro, melhor será. Contudo, não é preciso indicar o nome da
pessoa, desde que existam características possíveis de identificar o beneficiário.
Ex.: deixo x% dos meus bens para o primeiro filho da minha irmã Fulana, que
nascer após a minha morte.
Beneficiar pessoa incerta, a ser identificada por terceiro: Art. 1.900, III
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido,
mas sim do terceiro, que determinaria quem seria beneficiado.
Beneficiar ao herdeiro, ou a outrem, da prerrogativa de fixar o valor do
legado: Art. 1.900, IV
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido.
Quem deve fixar o valor do legado é o testador e não terceiro, ainda que a sua
ordem.
Ex.: A, B e C são meus herdeiros, cada um com a proporção que Fulano
decidir.
Beneficiar às pessoas indicadas nos arts. 1.801 e 1.802: Art. 1.900, V
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os
seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato
do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim
como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a
suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.
c. Regras permissivas:
Nomeação pura e simples: art. 1897
Puro e simples: não tem condição suspensiva e nem resolutiva. Não há
qualquer encargo, condição ou contraprestação.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, que receberá x% da minha herança.
Nomeação sob condição: art. 1897
Condição é acontecimento futuro e incerto do qual depende a eficácia do
negócio jurídico.
Ex.: deixo minha casa para Marcelo se ele me sobrevier.
Se houver uma condição suspensiva a aquisição do direito pelo herdeiro
dependerá do implemento da condição. O implemento da condição terá efeito
retroativo (ex tunc). Se não houver o implemento da condição, a cláusula
testamentária caducará.
Ex.: Fulano receberá “x valor” mensal enquanto for estudante de direito
Neste caso, havendo uma condição resolutiva, se Fulano parar de estudar,
não mais receberá o valor definido pelo testador.
Nomeação com a imposição de encargo: art. 1897
A herança pode vir subordinada a um encargo que o beneficiário deverá
cumprir, caso aceite a herança.
Ex.: instituo Fulano como meu herdeiro, que receberá x% do meu patrimônio,
com o encargo de alimentar Cicrano até os 24 anos de idade.
Há discussão doutrinária e jurisprudencial quanto ao descumprimento do
encargo e a perda da validade da disposição testamentária. A maioria da doutrina
entende que, descumprido o encargo, os interessados deverão propor ação judicial
para que seja declarada a ineficácia da deixa testamentária.
Disposição motivada: art. 1897
É possível a nomeação de herdeiro por certo motivo. O testador ao nomear
alguém como seu beneficiário não é obrigado a indicar o motivo, mas, caso queira,
não pode haver a confusão com obrigação modal (de encargo), pois se trata de fatos
passados.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, pois foi ele quem salvou a vida do meu
filho no acidente de carro sofrido em 2006.
Disposição com cláusulas de inalienabilidade: art. 1.911
O art. 1.911 dispõe sobre a possibilidade de o testador estabelecer ônus ou
gravame sobre os bens que integram a herança. Essa cláusula de inalienabilidade
que pode ser imposta, traz como consequência a impenhorabilidade e a
incomunicabilidade desses bens.
Trata-se, portanto, da transferência do domínio de forma limitada.
Quando se faz a interpretação do art. 1.911 em conjunto com o art. 1.848,
verifica-se que a restrição imposta ao testador de justa causa, refere-se tão somente
a imposição de cláusulas para a legítima. Quanto ao testamento ou legado, não há a
imposição de justa causa.
8. Rompimento do testamento
Ocorre a ruptura do testamento quando “há a superveniência de uma
circunstância relevante, capaz de alterar a manifestação de vontade do testador,
como, verbi gratia, o surgimento de um herdeiro necessário” (Gonçalves, p. 457)
Enquanto a revogação depende da vontade do testador, o rompimento
independe de sua vontade, sendo determinado pela lei.
a. Espécies de revogação
REVOGAÇÃO EXPRESSA: dá-se mediante a confecção de novo testamento,
onde é indispensável mencionar a revogação do anterior, ou parte dele. Observa-se
a mesma solenidade pra a celebração (art. 1.969 CC). Não é necessário que a
revogação seja efetuada por outro testamento da mesma modalidade, mas,
necessariamente, tem de ser feita por outro testamento. Ex: testamento marítimo
pode revogar público; cerrado pode revogar particular.
REVOGAÇÃO TÁCITA: decorre do surgimento de novo testamento, cujos
dizeres e o conteúdo apresentam-se incompatíveis com o anterior. Ante a
contradição, permanece sempre a disposição mais recente. O simples fato de existir
novo testamento não significa que tenha revogado o anterior. Ambos podem
coexistir, desde que não sejam contraditórios, ou seja, desde que se complementem.
b. Formas de revogação:
Segundo o art. 1.970, CC, a revogação do testamento pode se dar de forma
total ou parcial.
1) Total = revogação pura e simples: declara-se, em novo testamento, a
revogação do anterior, não fazendo qualquer limitação ou reserva.
2) Parcial: limita-se ao tópico atingido – art. 1.970 CC
3) A revogação de um testamento, mas existindo outro, sem que a este haja
alguma referência, leva a concluir quanto à revogação de apenas um, perdurando o
outro.
4) A revogação do testamento de reconhecimento de filho é válida.
Contudo, revoga-se o testamento, não a declaração de reconhecimento – esta
é intangível – única forma irrevogável do testamento.
5) O novo testamento não atinge os legados, pois estes são especificações dos
bens.
c. Efeitos da revogação:
- priva-se o testamento de qualquer eficácia, se total, ou da eficácia na parte
atingida, se parcial;
- passa a vigorar a sucessão (legítima) hereditária, em todos os seus efeitos.
a. Situações OU Classificação:
Legado de coisa alheia – não pode o testador legar coisa certa que não lhe
pertença no momento da abertura da sucessão (art. 1.912).
Exceções:
Art. 1.912 – será válido o legado de coisa alheia, se a coisa, mesmo não
pertencendo ao testador na época do testamento, após o testamento, vier a integrar
o patrimônio do testador.
Art. 1.913 – o testador determina que o herdeiro entregue bem seu (dele
herdeiro) a terceira pessoa. Trata-se, na verdade, de um encargo que, se não
cumprido, equivale à renúncia.
Art. 1.915 – confuso. Como deve o herdeiro cumprir o legado.
Legado de crédito. Art. 1.918 – trata-se de uma cessão de crédito, em que o
legatário substitui o testador e primitivo credor e pode promover a respectiva
cobrança.
Legado de alimentos. Art. 1.920 – engloba o sustento, a cura, o vestuário e a
casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. Via de regra,
cabe ao testador fixar o valor. Caso não o faça, o Juiz deverá fixar estes alimentos,
atendendo para as forças da herança e para as necessidades do alimentário.
Exemplo: compelir herdeiro a pagar alimentos a terceiros.
c. Direito de Pedir:
Desde a morte do testador o legatário tem direito de pedir a coisa deixada por
legado.... art. 1.923 CC.
Sucessão testamentária:
Se o falecido tiver deixado 10% de seu patrimônio (ou uma casa) para A e B, a
herança será dividida: 90% (por sucessão legítima), entra A, B e C (30% para cada
um); 10% entre A e B. Como, neste caso, o testador não deixou expresso como
seria a divisão dos 10% entre A e B, caso B faleça, A receberá todos os 10% (pelo
direito de acrescer). Diferente será se o falecido disser: “Deixo 10% do meu
patrimônio para A e B, em parte iguais” (ou em qualquer percentual definido). Neste
caso, não haverá o direito de acrescer.
b. Fundamentos:
a) Decorrência da vontade presumida do testador – quando nomeia vários
beneficiários pela mesma disposição testamentária, para toda a herança ou
parte dela, sem determinar a porção de cada um; ou quando deixa a vários
legatários a mesma coisa ou parte dela. Presume-se que ele desejava que
se um faltasse, os demais ficassem com a herança.
b) Quando ocorre o direito de acrescer, o acréscimo é forçado, pois não pode o
beneficiário (co-herdeiro ou co-legatário) aceitar sua parte e renunciar ao
direito de acrescer. Ademais, nos termos do art. 1.943, § único, os co-
herdeiros ou co-legatários, aos quais acresceu o quinhão daquele que não
quis ou não pôde suceder, ficam sujeitos às obrigações ou encargos que o
oneravam.
c. Pressupostos:
Para que ocorra o direito de acrescer, alguns pressupostos ou requisitos
devem estar presentes:
a) Nomeação de vários herdeiros ou legatários na mesma disposição
testamentária;
b) Atribuição sem discriminar as porções ou o quantum, no mesmo bem ou
porção de bens.
c) A falta ou impossibilidade de herdar de um herdeiro ou legatário instituído no
testamento.
d) O testamento não pode ter indicado uma pessoa determinada para que, na
falta do herdeiro ou legatário, receba sua parte – não pode haver substituto.
e) Indivisibilidade do bem, no caso de legados.
f) Indeterminação das quotas hereditárias.
g. Legado de usufruto
Testamento institui o exercício do usufruto em favor de duas ou mais pessoas.
O usufruto é o direito de usar e gozar da coisa, por tempo certo ou vitaliciamente.
Haverá o direito de acrescer quando a nomeação for conjunta, sem especificação
das quotas. Assim, são requisitos: a) que haja a nomeação conjunta, sem especificar
as frações em que incide o usufruto; b) sempre sobre um bem individuado.
a. Substituição vulgar
Quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocupar o lugar do
herdeiro ou legatário que não quiser ou não puder aceitar o benefício.
Trata-se de uma instituição condicional (que só ocorre que o beneficiário não
puder ou não quiser receber) e subsidiária (só produz efeitos se a disposição
principal não produzir efeitos). Estabelece a vocação direta, pois o substituto herda
diretamente do falecido.
A substituição vulgar pode ser:
a) Simples ou singular, um só substituto para um ou muitos herdeiros
instituídos
b) Coletiva ou plural, quando há mais de um substituto a ser chamado
simultaneamente
c) Recíproca, quando são nomeados dois ou mais beneficiários,
estabelecendo que reciprocamente se substituam. Neste caso, os herdeiros
recolherão a cota do que faltar.
b. Substituição fideicomissária
Trata-se das situações nas quais o testador estabelece um beneficiário, mas
com a incumbência de, após, por sua morte, ou em vida, transmitir o bem a outra
pessoa, inclusive sob certa condição.
Existem três figuras: a) Fideicomitente – o instituidor, testador, doador; b)
Fiduciário (ou gravado) – que recebe o bem para, após, efetuar a transmissão; c)
Fideicomissário (ou substituto) – pessoa que recebe o bem quando da morte do
fiduciário.
O testador fixa o tempo do fideicomisso: vitalício (até a morte do fiduciário); a
termo (em tempo prefixado pelo testador) ou condicional (se depender de
implementação de alguma condição resolutiva).
Trata-se de uma vocação dupla, pois tanto o fiduciário, quanto o fideicomissário
se tornam titulares da herança. O fiduciário enquanto estiver vivo ou não ocorrer a
condição ou termo. O fideicomissário após estes períodos.
Há direito de acrescer – art. 1.956, CC: Se o fideicomissário aceitar a herança
ou legado, terá direito a receber também aquilo que acresceu aos fiduciários.
14. Testamenteiro:
Testamenteiro é o executor do testamento. É a pessoa que o de cujus
encarrega de fazer cumprir suas disposições de última vontade.
O testador pode nomear um ou mais testamenteiros, conjuntos (quando a
atuação é conjunta, cumulando funções) ou separados (quando o exercício da
testamentaria é feito uns em falta dos outros).
Testamentaria – conjunto de funções que são realizadas pelo testamenteiro, o
complexo de direitos e obrigações.
Trata-se de encargo complexo na execução do testamento – não é múnus ou
função pública, mas encargo de ordem privada, de caráter facultativo. Há ampla
liberdade de escusar-se à testamentaria. Um ou mais, conjuntos ou separados, para
cumprir a última vontade.
a. Espécies de testamenteiro:
O testamenteiro pode ser:
Instituído: quando o testador o nomeia
Dativo: quando não havendo testamenteiro nomeado ou, se o nomeado
recusar a testamentaria, o juiz nomeia alguém para o encargo – art. 735,
§ 4.º, CPC/2015.
Testamenteiro universal: a quem se confere a posse e a administração
da herança ou de parte dela, caso não haja herdeiros necessários – art.
1.977. O art. 1.978 determina que o testamenteiro universal pode
requerer o inventário e cumprir o testamento.
Testamenteiro particular: não desfruta do direito de posse ou
administração da herança por não tê-los ou por tê-los perdido.
b. Nomeação do testamenteiro:
O testamenteiro pode ser nomeado no próprio testamento ou codicilo. O
testador pode, ainda, instituir um ou vários testamenteiros para atuar em conjunto ou
em separado. Se não houver testamenteiro, o cumprimento do testamento deverá
ser cumprido pelo cônjuge ou companheiro sobrevivente ou qualquer herdeiro. Se
não houver testamenteiro, o juiz nomeará dativo, obedecendo a ordem (§ 4.º, art.
735, CPC/2015).
c. Aceitação do encargo:
A pessoa que é nomeada testamenteira pode aceitar ou não o encargo. Em se
tratando de um múnus privado ninguém é obrigado a exercer.
d. Atribuições do testamenteiro:
1.979, CC – Registro do testamento – como o testamenteiro é o detentor (em
regra) do testamento, a ele incumbe (compete/pode) levá-lo a registro.
1.980, CC – Obrigação do Testamenteiro: cabe ao testamenteiro a execução
do testamento. Para tanto, deve:
1. apresentar o testamento em juízo para o registro.
2. depois de registrado o testamento, dar cumprimento, ou seja, executar as
disposições nele constantes – prazo – 180 dias.
1.982, CC - O testamenteiro – executor da última vontade – age de acordo com
os poderes conferidos pelo Testador.
1.983, CC - Prazo de 180 dias: suficiente. O prazo pode ser prorrogado (§
único)
1.984, CC – Na ausência de nomeação de testamenteiro, a execução
testamentária, compete a um dos cônjuges ou herdeiro nomeado pelo juiz.
3. defender a validade do testamento – art. 1.981, CC
1.981, CC - Propugnar a validade do testamento: deve defender a validade do
testamento, contra quem impugnar em juízo.
4. exercer as funções de inventariante, se estiver na posse e na administração
da herança ou se não houver cônjuge, nem herdeiros necessários.
1.990, CC - O testamenteiro exerce as funções de inventariante, na hipótese do
testador “tiver distribuído toda a herança em legados”.
5. prestar contas – art. 1.980.
QUESTÕES
EXAME X - Rogério, solteiro, maior e capaz, estando acometido por grave
enfermidade, descobre que é pai biológico de Mateus, de dez anos de idade,
embora não conste a filiação paterna no registro de nascimento. Diante disso,
Rogério decide lavrar testamento público, em que reconhece ser pai de Mateus e
deixa para este a totalidade de seus bens. Sobrevindo a morte de Rogério, Renato,
maior e capaz, até então o único filho reconhecido por Rogério, é surpreendido com
as disposições testamentárias e resolve consultar um advogado a respeito da
questão.
A partir do fato narrado, assinale a afirmativa correta.
A) Todas as disposições testamentárias são inválidas, tendo em vista que, em seu
testamento, Rogério deixou de observar a parte legítima legalmente reconhecida a
Renato, o que inquina todo o testamento público, por ser este um ato único.
B) A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é
válida, devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; a
disposição testamentária relativa aos bens deverá ser reduzida ao limite da
parte disponível, razão pela qual Mateus receberá o quinhão equivalente a 75%
da herança e Renato o quinhão equivalente a 25% da herança.
C) Todas as disposições testamentárias são inválidas, uma vez que Rogério não
poderia reconhecer a paternidade de Mateus em testamento e, ainda, foi
desconsiderada a parte legítima de seu filho Renato.
D) A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida,
devendo ser incluída a filiação paterna no registro de nascimento; é, contudo,
inválida a disposição testamentária relativa aos bens, razão pela qual caberá a cada
filho herdar metade da herança de Rogério.
EXAME XV - Mateus não tinha mais parentes, nunca tivera descendentes e jamais
havia vivido em união estável ou em matrimônio. Há alguns anos, ele decidiu fazer
um testamento e deixar todo o seu patrimônio para seus amigos da vida toda,
Marcos e Lucas. Seis meses depois da lavratura do testamento, por força de um
exame de DNA, Mateus descobriu que tinha um filho, Alberto, 29 anos, que não
conhecia, fruto de um relacionamento fugaz ocorrido no início de sua faculdade.
Mateus reconheceu a paternidade de Alberto no Registro Civil e passou a conviver
periodicamente com o filho. No mês passado, Mateus faleceu.
Sobre sua sucessão, assinale a afirmativa correta.
A) Todo o patrimônio de Mateus caberá a Alberto.
B) Todo o patrimônio de Mateus caberá a Marcos e Lucas, por força do testamento.
C) Alberto terá direito à legítima, cabendo a Marcos e Lucas a divisão da quota
disponível.
D) A herança de Mateus caberá igualmente aos herdeiros.
EXAME XX – Antônio deseja lavrar um testamento e deixar toda a sua herança
para uma instituição de caridade que cuida de animais abandonados. O único
parente de Antônio é seu irmão João, com quem almoça todos os domingos.
Antônio não possui outros parentes nem cônjuge ou companheiro. Antônio
procura você na condição de advogado e indaga se a vontade dele é tutelada
pela lei. Diante da indagação de Antônio, assinale a afirmativa correta.
A) Antônio pode deixar toda a herança para a instituição de caridade, uma
vez que seu irmão não é seu herdeiro necessário.
B) Antônio não pode testar em favor da instituição de caridade que cuida de
animais, uma vez que a herança cabe inteiramente a parente vivo mais próximo,
no caso, seu irmão.
C) Antônio pode deixar por testamento apenas metade da herança para a
instituição de caridade, uma vez que a outra metade pertence por lei a seu irmão,
a quem deve alimentos.
D) Antônio pode deixar para a instituição de caridade 3/4 de seu patrimônio, uma
vez que é preciso garantir no mínimo 1/4 da herança a seu irmão bilateral.
IV – INVENTÁRIO E PARTILHA
1. Inventário
Aberta a sucessão com o falecimento do autor da herança, seu patrimônio é,
desde logo, transmitido aos herdeiros legítimos e testamentários, de acordo com o
art. 1.784, CC. Como a herança é transmitida “como um todo unitário”, é preciso que
seja feita a individualização de cada quota parte dos herdeiros, a fim de terminar
com o estado de comunhão. Nesse sentido, deve-se instaurar o processo de
inventário, para que seja possível realizar a partilha dos bens e individualização dos
quinhões hereditários.
Inventário significa achar, encontrar. Utilizada juridicamente no sentido de
enumerar e catalogar aquilo que “foi encontrado”, que pertence, neste caso, ao
falecido.
O procedimento de inventário é previsto no art. 610 e seguintes do CPC/2015.
2. Inventário negativo
Mesmo que não existam bens, é possível que seja feito o processo de
inventário. Serve, tão somente, para comprovar que aquele que faleceu não possui
bens a inventariar.
Ex.: art. 1.523, I – causa suspensiva – viúvo que não deu partilha aos filhos não
deve casar – regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, I). É possível que
esta penalidade não seja imposta se restar comprovado que não haverá prejuízo
aos filhos. A forma de fazer essa prova é o inventário negativo.
Será dada abertura ao inventário, feita a pesquisa de bens e a sentença judicial
declarará a inexistência de bens a serem partilhados.
3. Inventário conjunto
Em situações excepcionais é possível que seja realizado o inventário de duas
pessoas ao mesmo tempo, no mesmo processo, visando a economia processual.
HIPÓTESES: Art. 672, CPC/2015 – identidade de herdeiros, herança deixada pelos
dois cônjuges ou companheiros ou dependência de uma das partilhas em relação à
outra.
4. Dispensa de Inventário
Dependendo dos bens que componham o acervo hereditário o inventário pode
ser dispensado – Lei 6.858/80 - Pagamento, aos Dependentes ou Sucessores, de
Valores Não Recebidos em Vida pelos Respectivos Titulares – FGTS (Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço) e PIS-PASEP (Fundo de Participação) – art. 666,
CPC/2015.
Outros bens:
- bens que o de cujus tenha apenas a posse – não é necessário fazer
inventário – aquisição originária da propriedade – uscucapião.
- contas poupança – se o de cujus tiver um segundo titular na conta, este
poderá sacar os valores, ainda que a jurisprudência tenha uma tendência a deferir
só a metade dos valores.
- Alvará judicial: em sendo necessário o levantamento de importâncias em
dinheiro ou venda de algum bem antes de completado o inventário, é possível que
as partes façam requerimento em juízo de alvará judicial para tal fim. Normalmente a
justificativa utilizada é o pagamento das custas do inventário, impostos, taxas, etc.
5. Inventário Judicial
O inventário judicial é divido em:
a) inventário judicial pelo rito tradicional – arts. 610 a 658, CPC/2015;
b) inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário – art. 659, CPC/2015;
c) inventário judicial pelo procedimento do arrolamento comum – art. 664,
CPC/2015.
Foro competente
O foro competente para processamento do inventário é o foro do último
domicílio do de cujus, mesmo que os herdeiros residam em localidade diversa (arts.
1.785 e 1.796, CC e art. 48, CPC/2015).
Administrador provisório
Até que seja nomeado inventariante e este preste compromisso, a
administração da herança ficará a cargo do administrador provisório nomeado pelo
juiz (art. 613, CPC/2015). Este tem a função de representação do espólio, devendo
trazer ao acervo frutos percebidos, tendo direito de ser reembolsado pelas despesas
necessárias. Responde por danos a que der causa (art. 614, CPC/2015).
Nomeação de inventariante
Ingressando os herdeiros com o processo do inventário, o juiz despachará e
nomeará o inventariante, que prestará compromisso e as primeira declarações
(prazo de 20 dias) (art. 620, CPC/2015). A função do inventariante é administrar os
bens do espólio, sendo seu representante legal até que a partilha seja efetivada.
A ordem preferencial6 de pessoas que podem ser nomeadas inventariante é
trazida pelo art. 617, CPC/2015:
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou
se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
6 O STJ entendeu que esta ordem é preferencial e não absoluta (REsp 402.891)
qualquer momento, se comprovada a prática de determinados fatos, descritos no art.
622, CPC/2015:
Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:
I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas
infundadas ou se praticar atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados ou
sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de
cobrar dívidas ativas ou se não promover as medidas necessárias para
evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.
Primeiras declarações
Com a nomeação do inventariante, deverá prestar as primeiras declarações no
prazo de 20 dias. Essas primeiras declarações deverão conter (art. 620, CPC/2015):
I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o
lugar em que faleceu e se deixou testamento;
II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos
herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos
respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união
estável;
III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado;
IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,
inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios
que nele forem encontrados, descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se
encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem
dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais
distintivos;
d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,
declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de
sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a
origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.
Fase de impugnações:
Concluídas as citações as partes poderão impugnar alguma declaração
prestada pelo inventariante, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 627, CPC/2015.
Se a impugnação for julgada procedente, o juiz determinará que as
declarações sejam retificadas.
Em caso de haver uma questão que demande produção de provas que não a
documental, especialmente no que se refere ao art. 627, III, CPC/2015 – contestar a
qualidade de herdeiro – o juiz deverá remeter o impugnante para as vias ordinárias
(dilação probatória) e suspender o inventário (art. 627, § 3.º, CPC/2015).
Últimas declarações:
Depois de aceita a avaliação dos bens ou resolvidas possíveis impugnações à
avaliação, o inventariante deverá prestar as últimas declarações (art. 636,
CPC/2015), quando poderá descrever bens que, porventura tenham sido esquecidos
(mesmo que por desconhecimento). As partes serão ouvidas sobre as últimas
declarações, podendo alegar a sonegação de bens pelo inventariante somente
depois da última declaração feita por ele, de que não existem outros bens a
inventariar (art. 621, CPC/2015).
6. Inventário administrativo:
A lavratura da Escritura Pública de Inventário trata de uma forma facultativa.
Não há obrigatoriedade da partilha extrajudicial. Assim, se todos forem capazes e
concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos no Tabelionato de Notas (art.
610, § 1.º, CPC/2015).
Requisitos/pressupostos:
Todos capazes (capacidade de todos os interessados) e de acordo (ausência
de litigiosidade). Não pode envolver incapazes, nem existir testamento. Objetiva
desburocratizar e agilizar o procedimento judicial de inventário e partilha.
Se o testamento já foi anulado, pode ser feito o inventário extrajudicial, fazendo
constar da Escritura as informações da ação anulatória transitada em julgado.
Os herdeiros e meeiros são representados por advogado (indispensável,
conforme art. 610, § 2.º, CPC/2015) e devem assinar a Escritura.
Se por todos reconhecida a União estável do falecido, poderá o companheiro
sobrevivente promover o inventário extrajudicial. Do contrário, via judicial e com
reconhecimento.
A opção pela via extrajudicial, poderá, inclusive, ser solicitada durante o trâmite
do procedimento judicial do inventário (arrolamento), mediante a suspensão ou
desistência.
Na via judicial existe a fixação da limitação em face da competência territorial:
local do óbito/último domicílio do de cujus. No âmbito extrajudicial, a escolha do
Tabelião é liberalidade das partes, não se condicionando ao domicílio, situação dos
bens ou local do óbito.
7. Sonegados:
Aberto o inventário, é dever do inventariante apresentar as primeiras e últimas
declarações, com a indicação e caracterização dos bens a serem partilhados. Caso
o inventariante ou algum herdeiro não descreva algum bem, intencionalmente, de
forma a desfalcar o ativo do espólio, cometerá o delito civil de sonegação,
sujeitando-se às penas dos arts. 1.992 e 1993, CC.
“Sonegados são os bens ocultados maliciosamente, enquanto sonegação é
a conduta de quem age deste modo, negando informações necessárias ao
conhecimento do monte-mor, com isto, desviando ou deixando de restituir os bens
da herança. (Nader, 2007, p. 577)”.
São diversas as hipóteses de sonegação.
Sonegação – omissão ou ocultação dolosa;
Intenção maliciosa de ocultar os bens do espólio e fraudar a expectativa dos
herdeiros.
Penas:
Os arts. 1.992 e 1.993 do CC determinam as penas aplicadas; ao herdeiro que
sonegar – perderá o direito que teria sobre o bem, devendo restituí-lo, bem como
aos seus frutos; se o sonegador for o inventariante, ainda será removido da
inventariança.
A pena é civil. Remoção do inventariante (art. 622, VI, CPC/2015) e perda do
bem sonegado, que é imposta por sentença.
A pena só poderá ser imposta em ação ordinária (LEITE, p. 724). Se o
sonegador for testamenteiro perde direito à vintena e é removido do cargo de
inventariante.
Para que tenha cabimento a ação de sonegados não é preciso que o
sonegador negue a restituição dos bens, mas que tão somente não os descreva,
estando tais bem em seu poder, ou em poder de terceiros, com sua ciência.
Art. 1.994 – ação de sonegados.
O prazo prescricional é de 10 (dez) anos. Foro é do inventário
9. Colação
Instituto de origem romana, a colação é reunião dos bens recebidos pelo(s)
descendente(s), a título de liberalidade (doação), antes da abertura da sucessão.
O que exceder a metade disponível, para cálculo das legítimas, devem ser
conferidos na parte indisponível.
Art. 2.002 - Apenas os descendentes estão sujeitos a colação.
Art. 2003 - A colação visa igualar as legítimas dos descendentes e do cônjuge
sobrevivente.
Art. 621, § único, CPC/2015 – os bens a serem colacionados terão seu valor
calculado pelo valor do tempo da abertura da sucessão (para óbitos ocorridos após
a entrada em vigor desta lei). No caso de óbitos ocorridos antes de março de 2016,
aplica-se a regra do art. 2004 – O valor da colação é aquele atribuído na
liberalidade; se não tiver valor, por ocasião da partilha, se estimará o valor da época
da liberalidade( os bens serão avaliados com base no valor do tempo da
liberalidade); as benfeitorias, frutos e rendimentos são do donatário, “que responde
pelos danos e perdas que eles sofrerem”(§§1º e 2º, do art. 2004).
a. Dispensa da colação.
“O doador pode dispensar o donatário da colação, determinando que a
liberalidade saia de sua metade disponível, contanto que a doação não exceda o
valor da quota disponível, comutado o seu valor ao tempo da doação” (Gonçalves, p.
542).
ART. 2005 – Contanto que não excedam a parte disponível (sua metade),
computada ao tempo da liberalidade (doação).
Deve ser expressa tal condição, em que pese inexistir forma sacramental.
Se a doação não exceder a parte disponível, não há que falar em colação. Se
exceder, o excesso deve ser colacionado. (Cf. LEITE, p. 770).
10. Partilha
Terminado o inventário, partilham-se os bens entre os herdeiros e cessionários,
separando-se a meação do cônjuge sobrevivente. É a forma de terminar com a
comunhão dos bens, com o condomínio (salvo se não for possível dividir o bem –
quando deverá ficar em condomínio, sendo, apenas, definido o percentual de
propriedade de cada herdeiro sobre o bem).
Se houver apenas um herdeiro, providencia-se a adjudicação dos bens, pois
não haverá partilha dos bens, nem divisão, de forma que poderá haver o inventário
simplificado.
Procedimento: ver arts. 647 a 658, CPC/2015
b. Forma de partilha:
ART. 2014 –ART. 2015 –
a) Escritura Pública;
b) Termo nos autos do inventário;
c) Escrito particular homologado;
c. Plano de partilha:
Melhor critério: bom senso, equilíbrio, igualdade possível.
Sempre que os herdeiros divergirem as partes formularão ao juiz pedido de
quinhão e o juiz deliberará. Deverá ser apresentado o esboço da partilha que deverá
ser efetivada pelo juiz.
ART. 2017 – Igualdade possível: quanto à natureza, valor e qualidade.
Igualdade é equidade. Princípio fundamental da partilha.
Neste caso, se o juiz tiver de decidir a partilha, normalmente optará pela mais
justa e equânime possível (provavelmente, dividir tudo entre todos).
d. Partilha em vida:
A partilha em vida é aquela feita pelo pai ou qualquer ascendente, via escritura
pública ou testamento, mas que não pode prejudicar a legítima dos herdeiros
necessários.
ART. 2018 – Partilha em vida: possibilidade de ser fazer a partilha em vida ou
por testamento, reservada a legítima dos herdeiros necessários.
Art. 2019: Divisão Cômoda: Venda Judicial: Divisão do valor apurado:
“Dos bens insuscetíveis de divisão cômoda”: bens que não o couberem na
meação do cônjuge (ou companheiro) ou no quinhão do herdeiro, serão vendidos
judicialmente.
a) venda judicial;
b) cessão de direitos;
c) partilha-se o valor apurado.
d) Parágrafo Primeiro: adjudicação a todos. Um, dois ou três podem requerer a
adjudicação (total das quotas). Não se fará a venda se os herdeiros
requerem a adjudicação.
e. Sobrepartilha:
ART. 2022 –
a) Os bens sonegados ficam sujeitos a sobrepartilha;
b) quaisquer outros que se tiver ciência após a partilha.
Se a partilha foi feita com dolo ou outro vício de consentimento, cabe ação de
anulação e, não sobrepartilha.