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O QUE É A UMBANDA?
Trajetória de uma Religião,
História,
Fundamentação Científica Sobre Sua Origem e Naturalidade
O que está na ponta da língua, é que a Umbanda é uma religião brasileira, sincrética, do índio,
do branco, do negro, enfim, é a manifestação do espírito para a caridade, Umbanda é coisa seria para
gente seria...
O que eu vejo na Umbanda ? As minhas respostas são formuladas a partir do que eu vejo e
estudo. O que é a religião de Umbanda ? A partir do que eu defino a religião de Umbanda ? É definida a
partir do seu ritual, da sua liturgia.
Liturgia é uma palavra que procura englobar tudo aquilo que faz parte do ritual da religião, no
caso da religião de Umbanda. O que é que tem a liturgia de Umbanda ? O que é que envolve o ritual de
Umbanda ?
O que eu encontro na Umbanda, na maioria das vezes (90, 95, 99% das vezes) é um altar
católico. No mínimo encontramos um quadro ou uma imagem de Cristo e na maioria das vezes
encontramos imagens de outros santos católicos. Imagens de santos católicos sincretizadas com Orixás
que tem origem na cultura africana Nagô, que fala a língua Yoruba. É assim que:
E assim temos um altar católico sincretizado com Orixás africanos. Uma manifestação
mediúnica, a própria palavra mediunidade é uma palavra cunhada por Allan Kardec. A manifestação
mediúnica umbandista é explicada e entendida à luz dos esclarecimentos do espiritismo. Os conceitos
filosóficos da Umbanda são demais voltados aos conceitos espíritas de Kardec: reencarnação,
evolução, mundo espiritual, mundo material, o que é o astral. Incorporação de espíritos na qualidade de
índio, índio brasileiro, Preto-Velho.
O Preto-Velho é um africano ? É o representante de uma cultura africana ? Sim, mas é um
Preto-Velho que define alguém que foi escravo no Brasil. O Preto-Velho é a figura do escravo batizado
Por que teologicamente, ou seja, religiosamente, o umbandista sempre entendeu que a sua
religião é brasileira.
Mas como defender essa tese, como defender esta idéia, como fundamentar ?
Roger Bastide é que teve dificuldade de entender a Umbanda. Não é a Umbanda que ainda não
havia nascido ou estava aparecendo, ele que teve dificuldade de entendê-la como tal por que os
estudos de Roger Bastide eram todos voltados para o Candomblé, Culto de Nação.
Ele foi professor de sociologia, um francês, que se tornou cadeira de sociologia na USP, os
estudos dele eram voltados ao Candomblé, então quando ele começou a olhar a Umbanda foi a partir
de um ponto de vista de um estudioso de Candomblé. Quando ele voltou para a França, ele teria
mudado de opinião. Depois de Bastide, Diana Brown teria dito:
Ou seja, multiforme. Lisias Nogueira Negrão, sociólogo também, publicou um livro pela editora
EDUSP chamado “Entre a Cruz e a Encruzilhada”, e teria dito:
E o que isso quer dizer ? Que a Umbanda não tem dogma, não esta enlatada, não está fechada, a
Umbanda continua em evolução.
O fato dela ser uma religião, de ter altar, na maioria das vezes católico, de ser uma religião de
manifestação mediúnica...Inclusive esta é a afirmação do também professor de sociologia Cândido
Procópio Ferreira de Camargo, que escreveu o livro “Umbanda e Kardecismo” também pela USP. Teria
afirmado:
E nós podemos estender isso para Umbanda, Kardecismo e Candomblé. Ele chegou a dizer que
a Umbanda e o Kardecismo fazem parte de um continoum mediúnico, de um movimento continuado, um
continoum mediúnico. Esse continoum pode pegar essas três religiões: Kardecismo, Umbanda e
Candomblé, mas guardando semelhanças e diferenças para que eu possa dizer o que é cada uma
delas.
No entanto, é claro e definido que Umbanda é religião, e uma religião mediúnica, então eu tenho
um altar, um ritual, uma sessão mediúnica, uma religião no qual a mediunidade aparece a olhos vistos
na manifestação e essa manifestação é identificada com a manifestação de um índio, de um Preto-
Velho, de um Baiano, Boiadeiro, Cigano, Linha do Oriente. Mas a Umbanda tem um fundamento
próprio, sua base teológica, a sua explicação de como, quando, onde e por que tudo isso acontece e é
feito. Por que de que o ritual da Umbanda é feito dessa forma ? Por que ele bebeu de várias culturas e
deu um sentido próprio ao existir desses elementos ritualísticos, dentro dela mesmo, da Umbanda. E
aqui a gente vai chegando na definição de Renato Ortiz.
Ele teve aula com Roger Bastide na França e é quem afirma que quando Roger voltou para a
França, depois de escrever obras no Brasil, lá ele reconhece que Umbanda é uma religião brasileira.
Não é algo do qual nós desconhecemos ou não sabemos o que é, algo afro-brasileiro ou sincretismo,
Umbanda é uma religião brasileira.
A Umbanda é uma religião brasileira porque ela é uma síntese brasileira, a Umbanda é um
espelho da cultura e da religiosidade brasileira na qual muitas outras culturas se encontraram para
formar esta cultura. Se o brasileiro tem uma identidade própria, que é a sua brasilidade, e essa
identidade do brasileiro foi formada a partir de muitas culturas e ainda assim ele é brasileiro, a Umbanda
também é brasileira com uma identidade formada por muitas culturas.
Renato Ortiz diz também que a Umbanda é brasileira e quer ser brasileira. O discurso dos
umbandistas é um discurso de religiosos brasileiros que tem orgulho de pertencer a uma religião
brasileira. Inclusive no contexto histórico, a Umbanda participa de um processo de identificação e
orgulho de nacionalidade. A Umbanda conviveu com os governos populistas, com o governo de Getulio
Vargas, ditadura militar, conviveu com as afirmações “Brasil, ame-o ou deixe-o”, que teve motivos
políticos que não cabem aqui agora, mas que a Umbanda e os umbandistas na década de 50, 60, 70,
tiveram sim um discurso forte de orgulho de ser brasileiro, de religião do índio, do negro, de religião
brasileira.
E é o umbandista que afirma se a religião dele é ou não é brasileira. E são acadêmicos que
reconhecem hoje por meio do método e do estudo, seja do estudo sociológico, seja do estudo
antropológico, seja do estudo etnológico: Umbanda é uma religião brasileira. Faltou aqui a antropóloga
Maria Helena Villas Boas Concone. Antropóloga que também desenvolveu uma tese na USP
chamada: “Umbanda: Uma Religião Brasileira”. É uma tese só para dizer que Umbanda é religião
brasileira.
Então eu me orgulho de pertencer a uma religião brasileira. É uma religião que para ser
compreendida é necessário muito estudo por que a Umbanda bebeu em fontes, culturas e informações,
como a africana por que o Orixá vem de uma parte da África.
No entanto, a Umbanda também tem influência Banto que vem de outra parte da África,
influência Jeje que vem de outra parte da África, a Umbanda também tem certa influência,
semelhanças, também com os Malês, com a religiosidade dos mandingas que são os africano-
muçulmanos que estiveram aqui no Brasil.
Eu creio que para entender a Umbanda é preciso estudar um pouco da cultura africana, do
Espiritismo, a obra de Kardec, cultura indígena e que possa compreender em que águas tudo isso
navega por um único sentido e esse sentido de ser e existir de uma religião brasileira chamada
Umbanda. No passado e por muitos ainda, a Umbanda é considerada uma religião de gente ignorante,
a Umbanda é e foi considerada macumba no sentido pejorativo da palavra, foi considerada como uma
religião de gente que não sabe o que está fazendo ou praticamente um folclore, um atraso
religioso...Pois eu digo que é justamente o contrário.
Umbanda é uma religião complexa e ao mesmo tempo simples. Simples porque fala de forma
simples ao homem simples e complexa porque também oferece respostas ao homem Intelectual ou
intelectualizado. Ela é complexa porque ela tem uma riqueza de informações e elementos muito vastos.
O homem racional e questionador que começa a perguntar o porquê de cada um dos infinitos
elementos que compõe a Umbanda, ele tem condições de começar um aprofundamento nessa riqueza
ritualística e litúrgica na religião de Umbanda e vai encontrar uma complexidade de elementos,
Muito obrigado
Axé, Axé, e Axé
Amém, amém, e amém
Sarava, Sarava e Sarava
E até nossa próxima aula !
Digitação: Danaíra S. M.
Aluna do Curso de Teologia de Umbanda Sagrada