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20 de Novembro de 2019

Foucault, Deleuze e a visibilidade como armadilha funcional


às capturas

Por Guilherme Moreira Pires

Faça a linha e nunca o ponto! A velocidade transforma o ponto em


linha! Seja rápido, mesmo parado! Linha de chance, jogo de cintura,
linha de fuga. Nunca suscite um General em você! (Félix Guattari e
Gilles Deleuze)

Este escrito envolve a “visibilidade” como uma armadilha que hipnotiza as


forças progressistas na atualidade brasileira, o que, embora certamente não
explique totalmente a ascensão do autoritarismo (longe disso), é pertinente

/
ao se apontar como as capturas e ressonâncias do desejo de visibilidade,
desastrosamente mostraram-se funcionais à coesão e mobilização do ódio
por grupos autoritários [1].

Foucault

Na analítica e abolicionismo penal libertário tensionados por alguns


pesquisadores do Nu-Sol (Núcleo de Sociabilidade Libertária), como Edson
Passetti e Acácio Augusto, em uma potente articulação de autores que
multiplica as possibilidades de interceptação das capturas e das inscrições
em armadilhas ligadas ao poder, é importante destacar algo valorizado por
Michel Foucault, ainda mais atual e contundente hoje nas sociedades de
controle do que na época da publicação de Vigiar e Punir, e que
notadamente escapa e destoa, de forma majoritária, das sínteses dos grupos
progressistas no Brasil (difusores da centralidade de uma identidade rígida
e pesada como símbolo de luta, com poucas linhas de fuga aptas a
potencializarem precisamente a palavra “fuga”, inscrevendo-se, ao
contrário, em novas entradas nas capturas).

Essas resistências rígidas e manjadas (como em certos slogans “anti-golpe”


massacrados), como produto de fácil contenção, são facilmente devorados e
absorvidos nos fluxos que acreditam combater (o que funciona muito mais
favorecendo as capturas que lhes vencendo, e de modo extremamente
funcional à produção de coesão das forças autoritárias em ascensão). Foi
descartada a percepção, em muitas situações verificável, da rigidez e da
visibilidade como armadilhas, como problemas que despotencializam as
lutas.

Armadilhas que engendram uma brutal coesão das forças autoritárias ao


detectarem seus alvos, em suas fragilidades e movimentações estáticas,
previsíveis, pesadas, seduzidas pelo rótulo de resistências, mas que quase
nunca funcionam mesmo nesse sentido na atualidade.

Foucault e Deleuze

/
Na contramão dessas movimentações, recobrando e articulando autores
como Foucault e Deleuze (entre tantos outros), no abolicionismo penal
libertário, não passaram despercebidas as armadilhas, capturas e
limitações provenientes dessa crescente visibilidade frente aos controles,
que tanto atrai as forças progressistas. E que nas sociedades de controle
encaixa terrivelmente no desejo de participar, explorado pelas convocações
em prol da democracia representativa, assim abrangendo e mobilizando
amplas intenções de bradar e reafirmar as máscaras identitárias; pretensão
de ser absorvido nos fluxos acreditando perpetrar o contrário, o que possui
algumas ressonâncias supostamente interessantes (inclusive na afirmação
de si) [2], mas também consequências péssimas em nível molecular e
molar, rumo à inscrição em capturas que amplificam as ilusões de
resistência dos capturados, dentro dos fluxos instituídos e convocações
realizadas, direta ou indiretamente, com movimentações previsíveis ligadas
à noção de empoderamento (desprovidas de uma analítica e crítica radical
do poder).

Essas movimentações, reféns da universalidade da lei e um tanto


institucionais, que se pretendem resistências, não se dissolvem antes das
capturas. Frequentemente espalhafatosas, além de não minarem o que em
tese pretendem reformar e transformar (ou mesmo abolir e estancar), na
história recente do Brasil serviram para edificar uma extremamente
problemática coesão no campo das direitas, e em especial da extrema
direita, mobilizadora de muito ressentimento e ódio da multiplicidade, da
diferença.

A percepção da visibilidade como (também) armadilha foi anulada,


suprimida pelos militantes desse front, que optaram pelo desejo de se
converterem em um símbolo de resistência; e quanto mais detectável e
sólido, melhor, como erroneamente conjecturaram, e inclusive para fins de
demonstração e prestação de contas frente aos patrulhamentos e
policiamentos cotidianos dos próprios movimentos, em suas hierarquias e
disputas de ego. É dizer, o próprio policiamento das esquerdas por elas
próprias, contribui para a construção desse rumo, em que, mostrar-se
resistência, avocar para si uma imagem sólida enquanto resistência
cristalizada, inviabilizou toda potência de criar linhas de fuga e de
interceptar os microfascismos, inclusive em si.

/
E um problema é que essa decisão, ou melhor, esse rumo, deságua
precisamente nas explicações do funcionamento e ativação da coesão das
forças autoritárias no país, que se articulam exatamente contra essas
imagens duras e previsíveis, sem velocidade e potência para se desfazerem,
sem inventividade, que desejam se confundir com a própria palavra
“resistência”, operando uma fusão que apenas simula o que se deseja,
acorrentando-se, e acorrentando as esquerdas.

Nessa esteira, as forças progressistas ávidas por essa visibilidade, e por essa
fusão, que desencadeia ainda mais controles e monitoramentos (enquanto
anula e mata a potência), são facilmente detectadas e instrumentalizadas na
produção de coesão energizada a partir da mobilização do ódio às imagens
assinaladas, o que se multiplica facilmente nas redes sociais.

Assim, a etiqueta de uma única imagem de resistência rígida é suficiente


para engendrar uma grande coesão das forças autoritárias, unidas para
esmagar essa imagem, representante das fissuras que não toleram, e que
lhes ameaçam.

Essa promoção de visibilidade como um ideal, almejando uma fusão com a


palavra resistência, tornando-se dela uma extensão rígida, verificável e
legível, detonou as possibilidades de sobrepujar no nível molar um grande
autoritarismo no Brasil, com ressonâncias desastrosas no nível molecular
[3].

Essa fusão apontada no artigo, desejada conscientemente ou não, segue


uma armadilha. É preciso ser menos para ser mais; ser mais leve
para voar além das capturas, ainda que delas não escapando
totalmente; livrar-se do peso de máscaras rígidas e sujeições
contraproducentes para pensar em reinvenções potentes que
não favoreçam e/ou refaçam os territórios enfrentados.

Não uma dissolução absoluta da rigidez e visibilidade [4], o que é


impossível. Mas funcionando com maior mobilidade e versatilidade frente
aos controles e capturas, contra a ilusão da aposta na demarcação de
corpos, e contra o sequestro da revolta capturada pela linguagem da
representação.

/
Deslizar perfurando a previsibilidade das bolhas e seus fluxos pré-
estabelecidas no presente, sem refazer o que se pretende abolir, com menos
policiamentos no âmbito micropolítico e mais potência no enfrentamento
macropolítico [5].

NOTAS:

[1] Grupos esses, que exploram o ressentimento e o terror à multiplicidade


acriticamente, em uma produção de medo que não cessa, utilizando os
ingredientes visíveis (que se colocam rigidamente como resistências), como
justificação e legitimação interna para seus feitos. Isso, mantendo uma
coesão inflamada energizada desde as bases, e assim conferindo
significativa energia em nível molar, na confecção e identificação de uma
unidade salvadora, messiânica, que costura sua centralidade atrelada ao
princípio da autoridade, enquanto simula dissolvê-la, entre delírios de
movimentações apartadas de ideologia e delírios de movimentações puras,
límpidas, transparentes, da Justiça (do soberano).

[2] Essa afirmação de si, muitas vezes é também a afirmação de um


soldado de subjetividade policial programado para movimentar-se
“enquanto resistência”, de certos modos delimitados, atrelados a
universalidades e centralidades indissociáveis dos poderes estabelecidos. O
cidadão-polícia apontado por AUGUSTO (2013) não remete a marionetes
com grau zero de possibilidades de frustrar e romper com tais
direcionamentos, evidentemente, sempre existindo algo destoante que
escapa, falha, anarquiza desde o referencial desses investimentos,
materializando rupturas. Mas infelizmente a tendência segue como um
elevado nível de condicionamento às convocações, que demandam certos
sujeitos, não apenas “punitivos”, mas crentes em algum falso dever-ser
programacional, e cada vez mais ligado ao senso comum democrático,
produtor de tanta miséria, e “anjos” cruéis, retomando BEY (1985) sobre a
arte de governar.

[3] Isso tornou-se notadamente problemático e mais acentuado no Brasil a


partir de 2013 nas movimentações de esquerdas e direitas nas redes sociais,
tornando-se claro que, no ataque mútuo de ambos, a extrema direita
/
experimentou certo sucesso na produção de sua coesão, gradativamente
energizando seus produtos, o que foi confirmada nas urnas. A mobilização
do ódio descarregado contra identidades rígidas e máscaras identitárias foi
funcional na ascensão das forças autoritárias, estimulando capturas e no
limite a supressão e destruição dessas resistências, enquanto engendrava
coesão. O dinamismo dos embates de forças foi permutado por identidades
orbitando símbolos congelados, de modo despotencializador das lutas, cada
vez mais circunscritas em capturas que anulam a versatilidade, velocidade e
imprevisibilidade da revolta; as identidades rígidas reivindicam um
horizonte de eventos e desejos colonizados pela linguagem da
representação ao pautar o que interessa e o que não interessa, o que não
importaria à “luta real”, em uma leitura hierárquica do “real” inimiga das
diferenças e da complexidade rizomática desprezada. O desejo de uma
identidade rígida que precisa ser exposta todo o tempo,
aprisiona e despotencializa uma imprevisibilidade de
velocidades e efeitos possíveis que poderiam energizar mais
revolta e produzir mais versatilidade na interceptação das
capturas e produções autoritárias.

[4] A visibilidade em certos contextos específicos até pode blindar, é claro,


mas nas sociedades de controle, é bastante comum o contrário: expandir
policiamentos, monitoramentos e aprisionamentos.

[5] Sem depender da fé na política prisional para destronar deuses


autoritários com pés de barro (VIPs condutores de vidas). A linguagem
criminal captura a revolta em seu território estéril e pernicioso, enquanto
simula dissolver injustiças.

Leia também:

Estado liberal em Foucault e a expansão da figura de garante no


direito penal (aqui)

Justiça e psiquiatria: resenha crítica sobre Pierre Rivière, de Michel


Foucault (aqui)

/
REFERÊNCIAS

AUGUSTO, Acácio. Política e polícia: cuidados, controles e penalizações


de jovens. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2013.

BEY, Hakim. T.A.Z.: Zona Autônoma Temporária. 1985.

Fonte: Canal Ciências Criminais

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Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/710515901/foucault-deleuze-e-


a-visibilidade-como-armadilha-funcional-as-capturas

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