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Eixo – Didática
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Introdução
Este artigo tem como objetivo descrever ao leitor a proposta didática da disciplina de
Ensino Religioso no Brasil. Cabe destacar que tal objetivo, ainda que pareça simples de realizar,
tem a sua complexidade, considerando o contexto histórico-cultural da disciplina no país e os
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Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná. Licenciado em Filosofia e Pedagogia pela Faculdade
Padre João Bagozzi. E-mail: humberto.herrera@faculdadebagozzi.edu.br
ISSN 2176-1396
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É importante destacar que essa redação atual foi dada pela Lei nº 9.475, de 22 de julho
de 1997 (BRASIL, 1997). A alteração foi motivada por professores e estudiosos, representantes
das diversas tradições religiosas e dos sistemas de ensino que participaram, desde 1995, do
Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER)2. Tal mobilização da sociedade
brasileira contribuiu na elaboração coletiva dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino
2Fundado em 26 de setembro 1995, em Florianópolis/SC, vem atuando na perspectiva de acompanhar, organizar e subsidiar o
esforço de professores, pesquisadores, sistemas de ensino e associações na efetivação do Ensino Religioso como componente
curricular. O FONAPER é um espaço de discussão e ponto aglutinador de ideias, propostas e ideais na construção de propostas
concretas para a operacionalização do Ensino Religioso na escola. Visite o site: <www.fonaper.com.br>.
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A palavra cultura vem do verbo latino “colere” que significa “cultivar, criar, tomar conta, cuidar”. O culto relacionava-se ao
cuidado com a terra, com o ser humano, com o transcendente e com as divindades. Representava a ponte que unia o mundo
material concreto ao mundo espiritual invisível (OLIVEIRA et al., 2007).
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Dessa forma, a disciplina do Ensino Religioso objetiva alargar a visão sobre o fenômeno
religioso, isto é, sobre o sagrado e suas manifestações, por meio da inserção de atividades e
conteúdos que contemplem as diferentes matrizes religiosas, a saber: nativas (indígenas),
africanas, ocidentais, orientais e a negação da religião (ateísmo e agnosticismo). Esse modelo
inter-religioso “lança o olhar para a diversidade cultural formadora do povo brasileiro e firma
em todo o território nacional tendo em vista transcender os muros divisórios geradores da
intolerância religiosa, bem como superar atitudes alicerçadas na falta de conhecimento e,
portanto, preconceituosas” (SCHLÖGL, 2010, p. 83).
A figura 2 mostra uma proposta de organização dos conteúdos básicos para os Anos
Finais do Ensino Fundamental, especificamente, para os 6º e 7º anos. Limitados de abordar em
profundidade uma descrição específica de cada um dos conteúdos básicos, queremos dar
sequencia ao artigo apontando algumas questões de caráter didático-pedagógicas,
principalmente, nos encaminhamentos metodológicos do professor. Os tópicos a seguir são uma
síntese dos PCNER (FONAPER, 2009), de Biaca et al. (2008), de Schlögl (2010) e de Oliveira
et al. (2007), principalmente:
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A figura 3 mostra a ideia de interação didática proposta por Oliveira et al. (2007, p.
115), organizada primeiramente a partir da “observação do que se constata, pela reflexão acerca
do que se observa e pela informação sobre o que se reflete”. Este percurso metodológico de
observar/refletir/informar precisa ser entendido de forma espiral, num processo contínuo e
concomitante de significação. Este percurso metodológico precisa ser encarado no convívio
social dos estudantes, considerando as relações com as culturas e tradições religiosas com base
em relações de respeito e admiração mútuas.
O Caderno Pedagógico do Ensino Religioso do Estado de Paraná recomenda que para
corresponder a esse propósito a linguagem a ser adotada nas aulas, referente a cada expressão
do sagrado, é a pedagógica e não a religiosa (BIACA, et al., 2008). A sala de aula é um espaço
inter-religioso, para troca, diálogo e convivência dos educandos, e o currículo da disciplina
“propõe-se a levar os alunos, por meio dos conteúdos, à compreensão, comparação e análise
das diferentes manifestações do sagrado, com vistas à interpretação dos seus múltiplos
significados” (BIACA, et al., 2008).
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Acredita-se que está práxis didática possibilita o alcance dos objetivos da disciplina do
Ensino Religioso. Este itinerário metodológico precisa ser compreendido na lógica de um
currículo contextualizado e significativo de tratamento dos conteúdos. Nesse sentido, o papel
do professor na transposição didática dos conteúdos bem como as estratégias metodológicas
sistêmicas a serem propostas são de extrema importância. Garantir experiências de contato com
fontes, documentos, filmes, estudos do meio, aulas-passeio e/ou turismo religioso aos lugares
sagrados são exemplos de possibilidades metodológicas que contribuem na construção de
significados, sempre e quando as mesmas forem orientadas numa linguagem e atitudes
interculturais e de entendimento de que o conhecimento religioso é patrimônio cultural.
Considerações finais
Por que e para que Ensino Religioso na escola? Ensino Religioso ensina-se? E, o que
ensina-se? Ensino Religioso aprende-se? E, como aprende-se? Decorrente dessas perguntas,
ainda é possível indagar: O que a escola entende por Ensino Religioso enquanto área de
conhecimento? Quais os objetivos de ensino e aprendizagem? O que desejamos que os nossos
alunos aprendam? Como vamos avaliar isso? O que os professores entendem de tudo isso? Qual
a formação que possuem? O que as escolas lhes orientam?
Questionamentos didáticos como estes dão sentido à proposta da disciplina. A
necessidade da sua compreensão crítica enquanto um saber específico necessário à formação
integral do educando, demandam um conhecimento docente com competência profissional e
honestidade científica, no sentido de seu aprimoramento investigativo constante no estudo da
complexidade do fenômeno religioso (OLIVEIRA et al., 2007).
O Ensino Religioso precisa ser orientado com base em uma concepção curricular
significativa e contextualizada, que valorize experiências metodológicas que perpassem a
transdisciplinaridade e interdisciplinaridade. Para tal implementação, é preciso ter clareza do
seu objeto, objetivos e fundamentos teórico-metodológicos, a fim de orientar um saber livre e
alegre do “fenômeno religioso”, em diálogo intercultural com a diversidade cultural religiosa
brasileira e universal.
A abertura para o conhecimento religioso precisa ser compreendida pela escola como
dimensão importante da formação integral do educando, da sua humanização, em vistas a
oferecer-lhe um saber que lhe permita conviver livremente e respeitosamente na casa comum4
(ecologia integral). Em 2015, a Unesco publicou um documento intitulado Educação para a
cidadania global: preparando alunos para os desafios do século XXI, no qual sugere uma
abordagem multifacetada da educação para a cidadania global, que englobe temas que reflitam
as necessidades sociais do mundo, um “currículo social” que seja significativo para a formação
dos cidadãos que precisamos para transformar os problemas sociais que nos acometem e
fragilizam a sustentabilidade da nossa sociedade. Entende que a educação para a cidadania
global precisa inculcar e/ou enraizar uma identidade coletiva nos alunos. O “mundo é comum”,
e nós somos “cidadãos do mundo” que precisamos assumir com responsabilidade a nossa
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“A paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado da ecologia e com o bem comum, porque, autenticamente vivida,
reflete-se num equilibrado estilo de vida aliado com a capacidade de admiração que leva à profundidade da vida”
(FRANCISCO, 2015, nº 225).
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missão de cuidar dele e de todas as formas de vida que nele habitam e compartilham do direito
da cidadania ecológica.
Na mesma perspectiva, em 2016, a Unesco publicou o documento Repensar a
educação: Rumo a um bem comum mundial?, no qual afirma uma abordagem humanista na
educação que priorize um modelo de desenvolvimento humano, preocupado com a paz,
inclusão e justiça social. Aponta que a aprendizagem precisa ir além da estreita visão utilitarista
e economista buscando integrar as dimensões da existência humana. Ao questionar-se sobre A
educação como um bem comum?, o documento refere-se ao apelo popular por maior
responsabilidade, abertura, equidade e igualdade, demanda que precisa impactar os marcos
curriculares e as políticas públicas para a educação. O documento afirma que a educação e o
conhecimento devem ser reconhecidos como bens comuns mundiais, e que o desafio de
reconhecimento passa por um processo participativo que recontextualize os princípios
fundacionais subjacentes à governança da educação como um direito e um bem público.
O ser humano é um ser relacional, que cria e fortalece vínculos consigo mesmo, com os
outros e com o Transcendente. Este saber precisa ser discutido na escola, com a intenção de
ampliar a consciência religiosa do aluno, isto é, contribuir na abertura ao diálogo, ao respeito e
à convivência humana, para que ele possa sentir e perceber que o fato religioso e as atitudes
religiosas são compartilhadas no cotidiano.
REFERÊNCIAS
BIACA, V., et al. O sagrado no Ensino Religioso. Curitiba: SEED-PR., 2008. (Cadernos
pedagógicos do Ensino Fundamental).
FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’ – Sobre o cuidado da Casa Comum. Documentos
Pontifícios 22. Brasília: Edições CNBB, 2015.
OLIVEIRA, L. B. de., et al. Ensino Religioso: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2007.