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HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS Artigo Original

HOSPITAIS
OSPITAIS UNIVERSITÁRIOS: PASSADO, PRESENTE E FUTURO
A.C. M EDICI
TrabalhorealizadonoBancoInteramericanodeDesenvolvimento,Washington,D.C.

RESUMO – OBJETIVO. O presente artigo discute a evolução dos que se inserem e aos desafios impostos pelas mudanças
hospitais universitários, suas características, funcionamento e profundas atualmente em curso no sistema de saúde da
financiamento, e seu papel no ensino e pesquisa médicos. maioria dos países.
MÉTODOS. Baseia-se nas informações e conclusões de um semi- CONCLUSÃO. Conclui-se pela necessidade de reforma dos hospi-
nário organizado pela Organização Mundial da Saúde sobre os tais universitários, e algumas estratégias para essas reformas são
hospitais universitários de 22 países. apresentadas e discutidas.
R ESULTADOS . O artigo avalia que essas instituições estão
crescentemente inadaptadas à realidade do setor saúde em UNITERMOS: Hospitais Universitários. Educação Médica.

INTRODUÇÃO cada especialidade ou sub-especialidade cionalizar gastos com saúde têm fragilizado
médica. os hospitais de ensino, que costumam ser
Hospitais de ensino são tão antigos Porém, a partir dos anos setenta, novos muito dispendiosos, dado não apresenta-
como o conceito de saúde que surgiu com desafios começam a definir mudanças no rem uma relação eficiente entre custos e
o renascimento. No entanto, a medicina horizonte dos serviços de saúde, onde cabe resultados. Estes são apenas alguns dos ele-
flexeneriana e seu impacto no aumento da destacar: a) a atenção primária como prática mentos que “quebraram as vidraças” dos
especialização, a partir do início do século associada ao conceito de democratização hospitais universitários e trouxeram o deba-
XX, ampliou o escopo destas instituições, da saúde; b) as técnicas de prevenção que te acerca da formação em saúde para as
tornando obrigatório seu vínculo orgânico e ganham força como instrumento para pro- ruas.
dependência institucional junto as Faculda- longar a vida e reduzir custos dos sistemas Mas como as instituições de ensino em
des de Medicina. de saúde; c) o crescimento da atenção saúde têm recebido estas mudanças ao ní-
Ainda que mantidos, em muitos casos, médica baseada no conceito de seguro, vel mundial? Como médicos e professores
por verbas públicas, os hospitais universitá- mudando as práticas das instituições que universitários têm reagido aos novos con-
rios cresceram nos últimos setenta anos, administram os planos de saúde e subme- ceitos e proposições? A realidade é que o
em sua grande maioria, como instituições tendo a atenção médica a rotinas, procedi- debate apenas está começando, inclusive
independentes, distantes do perfil epide- mentos e práticas mais padronizadas, bem nos países desenvolvidos. Com base nestas
miológico das populações e dominadas pe- como a controles externos, com a perspec- preocupações, a Organização Mundial da
los interesses dos médicos especialistas. tiva de obter resultados mais custo-efetivos; Saúde realizou em 1995 um seminário in-
Estes os utilizavam, seja como meios de d) o aumento do conhecimento e da re- ternacional buscando avaliar o “estado da
experimentação de novas tecnologias mé- gulação do setor, estabelecendo-se um vín- arte” dos hospitais universitários. Os resul-
dicas, seja como loci de recrutamento de culo entre saúde, ambiente, trabalho, ali- tados foram publicados em um estudo que
novos médicos que iriam engrossar as filei- mentação e transporte; e) a multidisci- faz uma avaliação destas instituições em 22
ras das “guildas” de especialistas, aumentan- plinariedade crescente da atenção a saúde; países1.
do o poder social e econômico daqueles f) o crescimento dos mecanismos de defesa
que se encontravam no topo da pirâmide de do consumidor e do aparato judicial contra Hospital universitário: conceito e
práticas que antes eram inquestionáveis, formas de operação
por serem monopólio do saber da profissão A concepção tradicional define um hos-
*Correspondência:
8207 Lilly Stone Drive – Bethesda (MD) – 20817 – USA
médica, a qual nunca era posta em cheque. pital universitário (HU) como uma institui-
E-mail: andrem@iadb.org Por outro lado, as necessidades de ra- ção que se caracteriza: (a) por ser um pro-
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Tabela 1 – Indicadores sociais selecionados


País População PIB Esperança Índice de Taxa de Taxa de
(milhões) Percapita de Vida Desenvol. Mortalidade Urbanização
1994 (US$) 1994 (Anos)1994 Humano Infantil (0/oo) (%)
ALTA RENDA
Suiça 7 37930 78 0,978 6,8 60
Japão 125 34630 79 0,983 4,8 77
Suécia 9 23530 78 0,977 5,8 84
França 58 23420 78 0,971 7,7 74
Holanda 15 22010 78 0,970 6,8 89
Austrália 18 18000 77 0,972 8,7 85
Reino Unido 58 18340 76 0,964 7,0 89
MÉDIA RENDA
Coréia do Sul 44 8260 71 0,872 22,0 72
Chile 14 3520 72 0,864 17,0 86
Jamaica 3 1540 74 0,736 15,0 52
Colômbia 36 1670 70 0,770 38,0 70
Marrocos 26 1140 65 0,433 72,0 48
Filipinas 67 950 65 0,603 42,0 43
Albânia 3 380 73 0,699 - 35
BAIXA RENDA
Egito 57 720 62 0,389 59,0 47
Indonésia 190 880 63 0,515 68,0 31
Paquistão 126 430 60 0,311 101,0 32
China 1191 530 69 0,566 29,0 33
Benin 5 370 50 0,113 88,0 38
Nigéria 108 280 52 0,246 99,0 35
Tanzânia 29 140 51 0,270 104,0 33
Vietnã 72 200 68 0,472 39,0 22

longamento de um estabelecimento de en- Do ponto de vista prático, a realidade sados no que se refere a seus indicadores
sino em saúde (de uma faculdade de medi- dos 22 países analisados mostra que um econômicos e sociais (países de alto, médio
cina, por exemplo); (b) por prover treina- hospital universitário é entendido, antes de e baixo índice de desenvolvimento) e rela-
mento universitário na área de saúde; (c) tudo, como um centro de atenção médica cionados aos sistemas de saúde, assim
por ser reconhecido oficialmente como de alta complexidade que: (a) tem impor- como os dados relativos aos hospitais uni-
hospital de ensino, estando submetido à tante papel no atendimento médico de nível versitários. Neste último campo, as infor-
supervisão das autoridades competentes; terciário; (b) apresenta forte envolvimento mações são bastante incompletas, sobretu-
(d) por propiciar atendimento médico de em atividades de ensino e pesquisa relacio- do para os países de médio e baixo grau de
maior complexidade (nível terciário) a uma nada ao tipo de atendimento médico que desenvolvimento. Ainda que a importância
parcela da população. Mas nas últimas duas dispensa; (c) atrai alta concentração de re- dos hospitais universitários tenha alguma
décadas, ampliou-se nos países desenvolvi- cursos físicos, humanos e financeiros em relação com o nível de desenvolvimento,
dos a autonomia dos hospitais universitári- saúde e; (d) exerce um papel político im- algumas características destes estabeleci-
os, os quais passam a manter funções defi- portante na comunidade que está inserido, mentos são mais ou menos gerais. Os HU
nidas nos sistemas de saúde e a se subordi- dada sua escala, dimensionamento e custos. representam uma parcela importante do
nar progressivamente à lógica desses siste- As tabelas 1, 2 e 3 em anexo mostram gasto total com saúde, que pode variar de
mas. algumas das características dos países anali- 4,5% (Colômbia) até 21% (Coréia). A mé-

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Tabela 2– Indicadores do sistema de saúde selecionados


País Empregos de Médicos por Percentagem Leitos Gasto em Gastos
Saúde por 1000 1000 de Médicos Hospitalares Saúde Hospitalares
habitantes habitantes Especialistas por 1000 (% PIB) (% gasto em
habitantes Saúde)
ALTA RENDA
Suiça - 3,0 70 10,2 7,5 43
Japão 16,7 1,7 43 13,6 6,5 60
Suécia 40,7 3,0 67 6,2 8,8 55
França 23,8 2,7 48 9,7 8,9 57
Holanda 23,7 2,2 57 5,9 7,9 55
Austrália 16,8 2,2 34 5,6 7,7 50
Reino Unido 17,6 2,0 49 4,8 6,1 51
MÉDIA RENDA
Coréia do Sul 10,0 1,1 55 3,0 6,6 52
Chile 6,5 1,0 - 3,2 4,7 48
Jamaica - 0,5 - 0,0 - -
Colômbia 3,6 1,0 41 1,3 4,0 -
Marrocos 1,3 0,3 49 1,2 2,6 -
Filipinas 10,3 1,1 - 1,4 2,0 -
Albânia - 1,8 25 3,0 4,0 -
BAIXA RENDA
Egito - 1,3 - 2,0 2,6 -
Indonésia 1,6 0,1 33 0,6 2,0 -
Paquistão - 0,4 - 0,6 3,4 -
China 4,4 1,5 - 2,4 3,5 -
Benin 0,7 0,1 37 0,9 4,3 58
Nigéria - 0,2 - 1,4 2,7 -
Tanzânia 0,9 0,0 27 1,1 4,7 55
Vietnã - 1,1 - 3,3 2,1 -

dia dos países europeus onde foram levan- médica basicamente curativa, havendo atendimento ambulatorial, etc. A vantagem
tadas as informações se situa entre 7% e pouca preocupação com a prevenção. desta integração estaria no fato de que,
12%. Os leitos dos HU representam entre No caso dos países desenvolvidos tal fato como instituições preocupadas com o ensi-
5% (Japão) e 21% (Coréia) do total de começa lentamente a mudar, especial- no e a pesquisa, os HU poderiam experi-
leitos do país e a participação no total de mente no que se refere ao gerencia- mentar, de forma pioneira, novas formas de
gastos hospitalares pode variar de 9% (Co- mento de enfermidades crônicas, como a micro-gerenciamento da saúde, as quais
lômbia) a 40% (Coréia). Assim, ao utiliza- diabetes e as enfermidades cardiovascu- poderiam ser transferidas para os demais
rem alta tecnologia e envolverem ensino e lares, onde a educação do paciente e da hospitais, uma vez testadas.
pesquisa, seu peso na despesa com saúde é família é condição sine-qua-non para a Ainda que alguns HU prestem serviços
o dobro de sua participação no volume de eficácia dos tratamentos. de atenção primária, sobretudo nos países
atendimento. São, portanto, hospitais ca- Há um certo consenso de que os HU de menor desenvolvimento, os participan-
ros. Como porcentagem do PIB, os gastos deveriam mudar suas estratégias e se inte- tes do encontro promovido pela OMS fo-
dos hospitais universitários podem variar de grarem mais com as comunidades onde se ram muito claros em defender a posição de
0,1% (Marrocos) a 1,4% do PIB (Coréia). baseiam, definindo novas formas de trata- que a função básica do HU é a prestação de
Os HU respondem por uma atenção mento e visitas domiciliares, aumentando o serviços de alta complexidade e tecnologia.

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Tabela 3 – Indicadores dos Hospitais Universitários (HU) selecionados


País Leitos de Gasto dos Gasto dos Duração do Duração dos Gasto com
HU/Total HU/Gasto HU/Gasto Curso de Cursos de Hospitais
de Leitos (%) Total e/ Hospitalar Medicina Especializ. Universitários
Saúde (%) (%) (anos) (anos) (% PIB)
ALTA RENDA
Suíça 11 8,3 19,2 7 5 0,6
Japão 5 6,6 11 - - 0,4
Suécia 19 11,7 21,2 6 7 1,0
França 17 11,7 24,8 6 5 1,0
Holanda 8 7,7 14,0 6 5 0,6
Austrália - - - 6 5 -
Reino Unido - - - 5 7 -
MÉDIA RENDA
Coréia do Sul 21 20,8 40 6 5 1,4
Chile - - - 7 - -
Jamaica - - - - - -
Colômbia 10 4,5 9,3 6 4 0,2
Marrocos 17 4,9 - 7 - 0,1
Filipinas - - - 5 - -
Albânia 20 - - 6 5 -
BAIXA RENDA
Egito 18 - - - - -
Indonésia - - - 7 4 -
Paquistão - - - 5 2 -
China - - - - - -
Benin 14 8,1 13,9 - - 0,3
Nigéria - - - - - -
Tanzânia 5 12,2 22,2 5 3 0,6
Vietnã - - - - - -

O argumento é basicamente de natureza (hospitais de menor complexidade, redes lia e Paquistão já vem experimentando o
econômica, isto é, seria um desperdício de de atenção primária, estruturas de saúde de ensino de atividades de atenção primária
recursos utilizar estruturas pensadas para família, etc.) como locais de ensino alterna- fora dos HU.
oferecer atividades de alta tecnologia como tivos para estas modalidades, de forma inte- Dada a tendência internacional à cres-
prestadoras de serviços básicos. grada aos planos curriculares das faculdades cente des(h)ospitalização da saúde, os HU
A posição atualmente defendida pelos de medicina, ou; passam a ter que se adaptar a novas formas
gerentes dos HU e diretores das Faculdades b) reformular o conceito de ensino em de cuidado como a internação domiciliar,
de Medicina, no entanto, não equaciona saúde sem vinculá-lo necessariamente a postos avançados em pequenas cidades,
questões fundamentais como a formação existência de hospitais universitários. Neste acomodações especiais para familiares, no
prática de médicos e equipes de saúde que último caso haveria o abandono da idéia de caso de hospitais pediátricos, uso de estra-
vão trabalhar em atenção primária e pre- HU, ainda que pudessem ser contratados tégias de ajuda voluntária em hospitais, etc.
venção, assim como sua relação com o hospitais terciários (com estrutura de pes- Poucos países, no entanto, vêm experi-
hospital. Algumas soluções práticas existem quisa) para o ensino de ações que envolves- mentando inovações neste campo, a partir
para o problema: sem procedimentos de alta tecnologia. Al- dos HU. As experiências de vanguarda são
a) utilizar outros estabelecimentos de saúde guns países, como Chile, Colômbia, Austrá- mais fáceis de encontrar, seja nas institui-

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ções de seguro saúde e suas redes de os hospitais universitários são mais caros prática em saúde, é mais adequado condu-
atenção próprias ou contratadas, seja no por isto e não simplesmente por incorpora- zir o ensino em saúde pela prática do que
setor público de base local. rem atividades docentes-assistenciais, como proceder o caminho inverso, que é o
O fato de dispor de pessoal mais quali- se diz no senso comum. traçado pelos HU.
ficado ou mais recursos físicos e equipa- O fato de existir um sentimento comum A questão de quantos profissionais se
mentos não leva necessariamente os HU a entre a população de que “quanto maior e deve formar deveria ter um paralelo com as
prestar uma atenção médica de melhor mais complexo o estabelecimento, melhor necessidades de saúde. Mas isso não ocor-
qualidade. A experiência tem demonstrado o atendimento”, perpetua a mística de que re necessariamente. Mesmo os HU públi-
que os HU, a despeito de terem mais recur- os hospitais universitários resolveriam de cos respaldam-se na abstrata (e muitas ve-
sos físicos e humanos, apresentam, em forma mais adequada todo problema de zes anti-social) figura da autonomia univer-
muitos casos, forte deterioração de seus saúde que se apresente. Os dados não sitária para oferecer cursos e vagas em
padrões de atendimento. necessariamente confirmam essa crença profissões de saúde totalmente descoladas
Tal situação é particularmente grave, popular, a qual é fruto da assimetria de das necessidades, como ocorre no Uru-
porque o não cumprimento de padrões de informação característica do setor saúde. guai, Argentina e algumas partes do Brasil,
qualidade e de conduta médica adequada especialmente quando o financiamento da
O ensino e a pesquisa nos hospitais
podem deformar o profissional em treina- educação não provém do mercado, mas
universitários
mento por toda a sua vida. Há um consen- sim de fontes orçamentárias públicas, não
so, neste caso, de que os HU deveriam ser A análise do ensino nos HU envolve relacionadas com a demanda pela profissão.
instituições modelares, constantemente ava- uma série de aspectos, dentre os quais cabe Determinar quantos médicos ou profis-
liadas e acreditadas por instituições externas destacar: a) deveriam ser eles as únicas sionais são necessários, no entanto, não é
ao hospital. Muitos dirigentes dizem que instituições práticas de formação em saú- um processo trivial. A quantidade de variá-
isto não ocorre dada a inexistência de finan- de?; b) qual o tipo de treinamento que os veis necessárias e a subjetividade das análi-
ciamento e incentivos adequados. No en- HU deveriam prover? c) quantos médicos ses envolvidas pode estabelecer um sistema
tanto, o mau gerenciamento dos HU e a deveriam ser formados? d) que tipo de de equações com múltiplas hipóteses e re-
relativa estabilidade e impunidade de seus treinamento deveria ser dado a outros pro- sultados. O mesmo diz respeito a qual a
dirigentes têm sido, em todo o mundo, um fissionais? e) como financiar as atividades de proporção adequada entre médicos gene-
dos principais fatores responsáveis por esta Ensino no interior dos HU? ralistas e especialistas a se formar. Ao longo
deterioração. Ainda que os HU sejam as principais do seminário realizado pela OMS se estabe-
Se considerado válido o argumento de instituições que complementam, em ter- leceu que seria uma aproximação razoável a
que os HU devem ser somente unidades de mos práticos, o ensino acadêmico nas proporção de 50% para cada. Neste particu-
terceiro nível de atenção, o acesso a estes profissões de saúde, vem crescendo rapi- lar, países como Japão, França, Austrália e
hospitais deveria ter como “gate keeper” damente o número de hospitais e outros Inglaterra teriam menos de 50% de especia-
uma rede de referência, onde as unidades estabelecimentos não-universitários que listas enquanto que outros como Suíça, Sué-
de menor complexidade resolveriam a maior exercem estas funções. A realidade mos- cia e Holanda teriam mais do que essa pro-
parte dos problemas hoje tratados por estes tra que HU não são imprescindíveis. Ao porção. De qualquer forma, situações absur-
hospitais. Na prática, no entanto, não é isso contrário, são cada vez mais dispensáveis, das são as encontradas no Uruguai e Argen-
que acontece. Como os HU estão pouco quando se pensa que as atividades de saú- tina, com proporções superiores a 80%.
integrados aos demais níveis de atenção e de passam crescentemente pela interdis- Quanto ao financiamento dos HU, a mai-
têm, em geral, total autonomia gerencial em ciplinariedade das profissões e campos de oria deles está sob a administração de faculda-
relação aos sistemas de saúde, acabam conhecimento e pela mudança radical nas des de medicina ou universidades, isto é, de-
atendendo a todos os níveis de atenção, formas de atenção médica, as quais se pende do orçamento público para a sua manu-
com um alto risco de encaminhar os pacien- distanciam crescentemente do conceito tenção. Com isso, planejam suas atividades
te para níveis de complexidade assistencial tradicional de hospital. A prática do setor de forma independente da demanda e do
maiores e mais caros que os necessários saúde é muito mais rica e diversificada que mercado, praticando em larga escala o que é
para resolver os problemas relacionados ao o mundo dos HU. Portanto, ainda que ditado pelas necessidades do corpo docente.
diagnóstico que apresentam. Na verdade, deva existir uma interação entre ensino e Nos últimos anos têm crescido o núme-
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ro de HU que passa a ter parte do seu a distribuição de renda. Mesmo assim, eles serviços. Esta deveria ser a maneira pela
financiamento atrelado aos serviços que são podem oferecer serviços gratuitos a popu- qual poderiam financiar em parte seus orça-
prestados para a comunidade. Tal fato, em lações carentes que não poderiam, regular- mentos, de forma complementar às fun-
alguns países, tem gerado uma série de mente, pagar por serviços de saúde de alta ções de ensino e pesquisa, as quais poderi-
conflitos administrativos entre Ministérios complexidade. am ser remuneradas através de outras for-
da Educação e Saúde, a respeito de quais Como foi visto anteriormente, os HU mas de relacionamento com o setor público
deveriam ser as reais funções destes esta- são instituições caras, por concentrarem ou privado. As próprias universidades ou
belecimentos e a que tipo de lógica deve- atendimentos de alta complexidade, além faculdades de medicina deveriam ser enca-
riam responder: a do ensino ou a dos de atividades que mesclam atos médicos radas como “clientes” dos HU e não como
serviços. com procedimentos didáticos. Os estudos órgãos controladores ou gestores dos mes-
Os resultados do seminário da OMS realizados na Austrália mostram que, consi- mos. Todos esses aspectos, no entanto,
mostram que o tipo de pesquisa que se derando-se o tratamento de um conjunto envolveriam a busca por uma maior eficiên-
desenvolve nos HU é a pesquisa clínica, de enfermidades selecionadas, o custo dos cia e racionalidade na gestão destas institui-
através da observação dos pacientes. No hospitais universitários é 12% mais elevado ções.
entanto, nos países em desenvolvimento, a que o dos hospitais não-universitários de O estudo da OMS demonstrou que,
pesquisa não tem sido considerada uma alta tecnologia. É possível que atividades embora a maioria dos HU tenham persona-
atividade essencial dentre as tarefas dos que envolvam ensino incluam uma certa lidade jurídica pública, o fato deles serem
HU. Mesmo nos países desenvolvidos, boa dose de ineficiência técnica implícita ao pro- públicos ou privados não acarreta nenhuma
parte da pesquisa que se desenvolvia nas cesso didático. No caso dos Hospitais da diferença substantiva nos problemas que
décadas de sessenta e setenta nos HU é Coréia do Sul, a média de custos relativa aos em geral apresentam. HU privados também
hoje canalizada através dos Institutos de HU é 28% maior que a dos demais hospitais têm sido subsidiados de forma pouco custo
Pesquisa e das indústrias farmacêutica e de para um mesmo conjunto de enfermidades efetiva e aparentemente são tão ineficientes
equipamentos médicos. Os altos custos do tratadas e procedimentos clínicos selecio- como os públicos. Tal fato se apresenta
desenvolvimento científico e tecnológico e nados. mais como uma questão de falta de incenti-
os limites dos orçamentos públicos para a Por apresentarem custos mais eleva- vos e mecanismos adequados de financia-
pesquisa fazem com que os HU tenham dos, dificilmente os hospitais universitários mento e menos como um problema crôni-
cada vez menos capacidade institucional poderiam ser competitivos em sistemas de co de gerenciamento.
para se envolverem em processos comple- “fee-for-service” e seriam pouco atrativos Muitos países (em especial os países
xos de pesquisa básica e aplicada em saúde. aos planos de seguro médico. A tendência, desenvolvidos), ja começaram desde os
A tendência é que os hospitais universi- portanto, é que se mantenham sendo cus- anos oitenta a utilizar a definição de “stan-
tários possam participar como parceiros em teados pelo setor público, com boa parte dards” para acreditação, tecnologia, contro-
experimentos científicos, auxiliando os Ins- dos serviços prestados de forma gratuita ou le de qualidade e normas para referenciar
titutos de Pesquisa ou sendo financiados subsidiada. Mesmo assim, deveriam envidar pacientes aos HU. Mas nos países em de-
parcialmente por indústrias. Mas cada vez esforços para ter informação financeira rela- senvolvimento, os HU ainda não se inte-
mais estão longe de se envolver isolada- cionada aos custos, além de buscar fontes gram a uma rede de serviços hierarquizada
mente em linhas de desenvolvimento cien- alternativas de financiamento para a atenção e continuam sujeitos a grande irraciona-
tífico e tecnológico. médica de forma separada das distintas fun- lidade gerencial e assistencial. Tal fato tem
ções adicionais (ensino e pesquisa) que os implicações, inclusive sobre a eqüidade das
Aspectos institucionais e sociais dos diferenciam dos demais hospitais. ações promovidas pelos hospitais universi-
hospitais universitários Em outras palavras, os HU deveriam ser tários, já que fatores como localização do
A maioria dos países participantes não unidades de venda ou asseguramento de hospital, facilidades de transporte e meca-
considera que os HU devam ser orientados serviços de alta tecnologia em saúde para o nismos de acesso a informação tem influen-
para a solução de problemas sociais. Eles Governo, os planos de saúde e as pessoas ciado fortemente a natureza da demanda
não são instituições filantrópicas nem se físicas e jurídicas, especialmente nas ativida- por estes hospitais. Por outro lado, o fato de
orientam diretamente para cumprir ativida- des onde funcionam como centro de refe- oferecerem serviços gratuitos e manterem
des voltadas a mitigar a pobreza e melhorar rencia ou são monopolistas na oferta dos uma imagem positiva de resolutividade con-

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tinua atraindo as populações pobres para gestão, em muitos casos, como aparelhos rios e secundários, duplicando esforços com
utilizá-los na solução de qualquer problema sindicais; seja pelo lado da classe dos “pro- a rede pública de saúde já existente.
de saúde, sem que haja uma triagem prévia fessores universitários”, seja pela própria Uma alternativa para solucionar este
dos tipos de problemas a serem tratados classe médica. Isto os transforma em insti- problema consiste em mudar a lógica de
nestes hospitais. tuições de difícil manejo e controle social, financiamento das atividades docentes em
Neste sentido, as populações de menor fazendo com que sejam vulneráveis ao ve- saúde, submetendo-as progressivamente a
renda poderiam ser melhor servidas, com lho dilema da apropriação privada do espa- processos onde sejam remunerados pelo
menor custo, maior efetividade e maior ço público por grupos de interesse, sem o lado da demanda, de forma competitiva
eficiência alocativa dos recursos em unida- controle social que muitas vezes poderia com outras instituições que poderiam cum-
des de menor complexidade, caso fosse ser exercido através da regulação pública ou prir atividades docentes. Trata-se neste
possível fazer com que os HU se submetes- do mercado. caso de desenvolver redes docentes-assis-
sem a uma adequada integração com a rede tenciais não-universitárias que respondam
O futuro dos hospitais universitários
de serviços de forma hierarquizada. às demandas sociais por serviços, docência
e sua integração com as redes assis-
Em geral, toda a nação se orgulha de ter e tecnologia, especialmente em atividades
tenciais
um hospital universitário (ou se envergonha mais ligadas aos níveis primário e secundá-
quando ele se encontra em franca deterio- Apesar de todos os problemas coloca- rio de atenção.
ração). Um exemplo que comprova esta dos, é difícil considerar que os hospitais uni- Outra necessidade é a mudança do es-
afirmação gira em torno do debate sobre a versitários estão em extinção e serão substi- tilo gerencial destas instituições. Os HU
reforma do Hospital das Clínicas do Uru- tuídos por instituições mais eficientes a curto devem ser administrados tendo em vista sua
guai, ao longo dos anos noventa, onde a má e médio prazo. Como é natural, os médicos integração com redes de provisão de cuida-
qualidade da atenção médica prestada pelo exercem forte poder gravitacional em todas dos primários e secundários, através:
referido Hospital tem gerado forte mobi- as instituições de saúde, especialmente nos a) da formalização e da subordinação aos
lização de corações e mentes em todo o HU e dificilmente deixariam que estes esca- sistemas de referência e contra-referência
país, sem que haja uma solução de consen- passem dos interesses coletivos dos grêmios existentes, sejam eles definidos pelo plane-
so. Com taxas de infecção hospitalar supe- de especialistas médicos, de professores uni- jamento das redes públicas de saúde, sejam
riores a 20% em algumas alas e com bai- versitários ou simplesmente de funcionários organizados em função das necessidades de
xíssimo nível de resolutividade em face dos do hospital. O grande debate nos dias de hoje mercado pelas instituições mantenedoras
quase 3.000 funcionários do hospital, ele é, portanto, dados os conflitos de interesses de serviços de saúde;
tem sido considerado um mau exemplo por existentes, como tornar os HU instituições b) da reorganização de suas funções de
todos, embora a Universidade venda sem- que, no marco de suas atribuições, possam forma integrada com as necessidades de
pre a imagem de que o problema do hospi- se integrar à rede de saúde e contribuir para saúde de cada região;
tal não é sua gestão ineficiente e sua inade- a eficiência e maior racionalidade no funcio- c) da introdução de mecanismos que mu-
quada inserção na rede de serviços, mas sim namento desses sistemas. dem as práticas gerenciais e o comporta-
a falta de recursos. Como um estabeleci- Integrar os hospitais universitários em mento dos médicos e dos profissionais de
mento encarado como de “tecnologia de redes de referência e contra-referência pode saúde que nele participam;
ponta”, falhas na qualidade de um hospital ser muito difícil, particularmente quando se Em muitos países tais soluções já vêm
universitário podem ferir a auto-estima na- leva em conta os interesses das corporações sendo adotadas, seja através da integração
cional associada a um dos aspectos mais médicas universitárias em manter a des- dos HU com Health Manteinance Organi-
vulneráveis do imaginário social de uma vinculação entre as funções do hospital e as zations (modelo americano); seja através de
nação: sua inteligência. reais demandas por saúde, com base em sua relação com os sistemas de referência e
Como último aspecto institucional rele- argumentos científicos e acadêmicos, con- contra-referência administrados por insti-
vante, vale a pena destacar que os hospitais servando seu poder sobre os rumos dos HU. tuições de atenção primaria ou médicos de
universitários são fontes de prestígio e po- A tendência, nas regiões onde os HU são família, como é o caso dos GP’s fund
der da classe médica e estão sujeitos ao financiados pelo lado da oferta com recursos holders (modelo inglês).
forte controle dos grêmios de profissionais públicos, consiste em que estes hospitais Por fim, a integração dos HU com
de saúde, os quais podem manipular sua criem suas próprias redes de cuidados primá- redes de atenção primária e secundária
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MEDICI A.C

poderia ainda ajudar a redefinir e preser- SUMMARY profound changes currently taking place in
var o principal valor agregado que os UNIVERSITY HOSPITALS: PAST, PRESENT the health system of most countries.
hospitais universitários ainda podem tra- AND FUTURE
C ONCLUSION . A reform is needed, and
zer para os sistemas de saúde: o de se- P U R P O S E . This article discusses the the article presents a few possible strategies
rem centros de referência e alta tec- evolution of university hospitals, their for reforming these hospitals. [Rev Ass Med
nologia, contribuindo para o progresso characteristics, functioning and financing Brasil 2001; 47(2): 149-56]
técnico em saúde, especialmente nos pa- and their role in medical education and KEY WORDS: University hospitals. Medical
íses em desenvolvimento, onde as em- research. Education.
presas e instituições científicas são débeis METHODS . Data come from a work-
e desfinanciadas. Reduzir o papel dos HU shop organized by the World Health REFERÊNCIAS
a meros competidores da rede de saúde O rganizatio n on university hospitals in 22
existente, duplicando de forma descoor- co untries. 1. Institute for Health Policiy Studies - IEPS/World
Health Organization. The Proper Function of
denada e não-integrada todas às funções RESULTS. The main finding is that these Teaching Hospitals Within Health Systems -
existentes nos sistemas de saúde, é um institutions are increasingly inadequate to September, 1995.
2. Médici, A.C. A Economia da Demanda em Saúde.
mau uso dos recursos que estão sendo the reality of the health sector in which they In A Economia Política das Reformas em Saúde.
destinados a estas instituições. operate and to the challenges posed by the Cap. 1, Ed. IAHCS, Porto Alegre (RS), 1997.

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