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Eating Disorders”, de Ruth Q. Wolever e Jennifer L. Best, publicado no livro “Clinical Handbook of
Mindfulness” (2009), editado por Fabrizio Didonna. A tradução foi realizada por Carlos Alberto Dorneles
Nonnenmacher, estudante de Psicologia da Universidade Feevale. A tradução visa apenas a divulgação do
conhecimento científico, de mindfulness e da TCC. Qualquer consideração: carlosdornelesn@gmail.com.
Introdução
Indivíduos sofrendo com TAs são tipicamente motivados por um desejo intenso de
conseguir um corpo magro ideal (Thomsen, McCoy, & Williams, 2001) e são
frequentemente caracterizados por possuírem imagens corporais distorcidas (Cash &
Deagle, 1997), preocupações com pensamentos relacionados a comida (Powell & Thelen,
1996) e autoconceitos que são excessivamente investidos no peso e forma corporal (APA,
2000). Adicionalmente, a recuperação de TAs é frequentemente complicada por conta de
comorbidades de patologias de Eixo I e/ou Eixo II (Fernandez-Aranda et al., 2008). O
desenvolvimento de TAs está relacionado à confluência de fatores biopsicossociais:
valores socioculturais dominantes e influência de pares (Hutchinson & Rapee, 2007),
dinâmica interpessoal da família de origem (Felker & Stivers, 1994) e diferenças
individuais em temperamento e estilo de personalidade (Franco-Paredes, MancillaDiaz,
Vazquez-Arevalo, Lopez-Aguilar, & Alvarez-Rayon, 2005), em conjunto com
vulnerabilidades biológicas estabelecidas (Becker, Keel, Anderson-Fye, & Thomas,
2004). Atualmente, a prevalência de perturbações alimentares clinicamente significativas
atravessa fronteiras socioeconômicas e demográficas (por exemplo, minorias étnicas,
homens, mulheres em meia-idade: Brandsma, 2007; Harris & Cumella, 2006; Striegel-
Moore, Wilfley, Pike, Dohm, & Fairburn, 2000). Os três principais TAs reconhecidos nas
comunidades clínicas e acadêmicas são a anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN)
e transtorno de compulsão alimentar (TCA) (APA, 2000).
Anorexia Nervosa
Um diagnóstico de AN reflete: (1) uma rígida recusa em manter o peso corporal de, no
mínimo, 85% do esperado para a idade e altura; (2) um medo intenso de ganhar peso ou
ficar gordo; (3) influência exagerada do peso ou forma corporal na auto-avaliação; e (4)
a ausência de, no mínimo, 3 ciclos menstruais consecutivos em mulheres em pós-menarca
(APA, 2000). Indivíduos diagnosticados com AN podem ser posteriormente classificados
como de tipo restrito ou tipo compulsão/purgação (APA, 2000). O atual ponto de
prevalência de AN é estimado em 0,3% da população dos EUA e da Europa ocidental
(Hoek, & van Hoeken, 2003), com uma prevalência em todo o ciclo de vida de 0,5 a 3,7%
entre as mulheres (APA Work Group on Eating Disorders, 2000). A AN tem uma idade
média de incidência entre 14 e 18 anos (APA, 1994), apesar de que sintomas de
alimentação desorganizada e imagem corporal pobre são emergentes em taxas alarmantes
de coortes prépúberes (Rohinson, Chang, Haydel, & Killen, 2001).
Devido a suas características emblemáticas de extrema perda de peso e mal
nutrição crônica, a AN apresenta riscos significativos a longo prazo para a saúde (Office
on Women’s Health, 2000; NIMH, 2001) e é considerada um dos transtornos
psiquiátricos mais letais (Sullivan, 1995). O prognóstico a longo prazo é difícil (veja
Berkman, Lohr, & Bulik, 2007 para uma revisão extensa); por exemplo, as taxas de
recuperação após dez anos variam de 27% em uma amostra dos EUA (Halmi, Eckert,
Marchi, Sampugnaro et al., 1991) a 69% em uma amostra alemã (Herpertz-Dahlmann,
Muller, Herpertz, & Heussen, 2001). Devido a esse cenário sombrio, uma revisão
sistemática de estudos clínicos randomizados e controlados (RCTs) sublinhou a
necessidade de fortalecer a eficácia da terapia cognitivo-comportamental e da terapia
familiar na prevenção de recaídas entre adultos com AN e com peso reestabelecido e na
resolução de sintomas de AN em amostras adolescentes, respectivamente (Bulik,
Berkman, Brownley, Sedway, & Lohr, 2007).
Bulimia Nervosa
Mindfulness oferece uma potente oportunidade para melhorar a regulação emocional. Ele
treina os indivíduos a se focarem em seu mundo interno em uma cultura altamente
orientada ao mundo externo, cultiva uma aceitação da emoção como parte da experiência
humana e permite aos indivíduos praticarem a sua identificação e experiência sem reagir
a elas. Ao mesmo tempo, as técnicas de mindfulness aplicadas especificamente à
alimentação permitem que os indivíduos diferenciem entre estímulos fisiológicos de
emoção e fome ou saciedade.
Populações com TAs são caracterizadas por cognições rígidas e distorcidas sobre padrões
de alimentação, perfeccionismo e pensamentos relacionados a aparências. Elas tentam
regular o comportamento através de uma rígida orientação cognitivo-comportamental de
restrição alimentar (Herman & Polivy, 1980; Polivy & Herman, 1985). Tal restrição é
óbvia na anorexia, mas também é proeminente naqueles com bulimia e transtorno de
compulsão alimentar. Indivíduos que realizam dietas para perder peso internalizam uma
série de regras rígidas relacionadas à dieta, resultando na ingesta calórica altamente
restrita que priva o corpo de nutrientes essenciais e energia. Em resposta a esse estado
crônico de “esfomeação”, alguns indivíduos experienciam uma vontade de comer
compulsivamente muito intensa para evitar (Polivy & Herman, 1985). Regras dietéticas
inflexíveis são anuladas por essa vontade fisiológica e o efeito de abstinência-violação
frequentemente resulta no ato de comer compulsivamente (Agras & Telch, 1998).
Consequentemente, a dieta e os padrões de pensamentos relacionados são inerentes à
origem e manutenção da patologia alimentar.
A restrição comportamental na forma de dietas tem também sido
longitudinalmente prevista por crenças relacionadas a aparências em modelos de equação
estrutural (Spangler, 2002). Similarmente, as crenças relacionadas a aparências
predisseram a insatisfação corporal e outras vulnerabilidades a patologia alimentar
através de pontos temporais em um grupo etnicamente diverso de adolescentes do sexo
feminino. Além disso, o modelo estatístico falhou em apoiar uma relação bidirecional
através do tempo (Spangler, 2002), sugerindo que as cognições distorcidas relacionadas
à aparência levam a restrição comportamental (por exemplo, dietas), que por sua vez leva
à psicopatologia alimentar.
Tais pensamentos relacionadas a aparências são uma forma de pensamento
perfeccionista comum aos TAs (veja Bardone-Cone et al, 2007 para uma revisão). No
perfeccionismo, os indivíduos mantêm exigências de performance extraordinariamente
altas (Bardone-Cone et al, 2007 para uma revisão). Ironicamente, já que as mensurações
de sucesso tendem a ser irrealistas, indivíduos perfeccionistas com TAs estão
cronicamente insatisfeitos, pois mantém metas inatingíveis de ingesta, peso e forma
(Steele, Corsini & Wade, 2007) e são conhecidos por frequentemente experienciar
sentimentos de vergonha (Swan e Andrews, 2003; Lawson, Waller & Lockwood, 2007).
Crenças perfeccionistas residuais observadas em pacientes em recuperação de TAs são
vistas como indicadores de risco de recaídas (Lilenfeld et al, 2000).
A severidade clínica dos TAs também está relacionada a cognições severamente
distorcidas, rígidas e até mesmo mágicas sobre a relação entre pensamentos relacionados
a comida e o comer, o peso e forma corporal (Shafran et al, 1999; Shafran & Robinson,
2004; Spangler, 2002). Chamada de fusão pensamento-forma (FPF), essa característica
cognitiva reflete crenças de que o simples ato de pensar sobre comidas consideradas
“proibidas”: (1) aumenta a probabilidade de ter ganho de peso, (2) é moralmente
equivalente a realmente consumir essas comidas problemáticas e (3) leva o indivíduo a
experienciar a si mesmo como estando mais pesado (Shafran et al, 1999). Assim,
pensamentos sobre comidas difíceis são fusionados com a crença de que pensamentos
podem diretamente influenciar o peso ou a forma, bem como impactam a autoavaliação
como imoral e somaticamente mais gordos. De uma perspectiva autorregulatória, a FPF
tem sido associada à vontade de se envolver em comportamentos compensatórios
incluindo a checagem corporal, exercício físico e até mesmo purgação (veja Shafran &
Robinson, 2004 para uma discussão).
Como alguns modelos postulam que a cognição é utilizada para lidar com o
comportamento, outros sugerem que o comportamento é utilizado para lidar com a
cognição. Uma teoria bem aceita propõe que comportamentos de TAs são mantidos
através da evitação de autoconsciência (self-awareness) aversiva (por exemplo,
Haetherton et al, 1991); a teoria do controle mental (Wegner, 1994) aprofunda essa
abordagem. A preocupação com a imagem corporal, autoconceito negativo e com a
comida está fortemente relacionada à patologia alimentar (Dobson & Dozois, 2004;
Eldredge & Agras, 1996; Faunce, 2002; Lazarus & Galassi, 1994; Lingswiler, Crowther,
& Stephens, 1989; Marcus, Wing & Hopkins, 1988; Nauta, Hospers, Kok, & Jansen,
2000; Phelan, 1987; Powell & Thelen, 1996; Ricciardelli, Williams, & Finemore, 2001;
Shafran, Lee, Cooper, Palmer, & Fairburn, 2007). De fato, a patologia alimentar está
frequentemente enraizada em um autoconceito estrito e rigidamente guardado (ou
altamente acessível) centrado em peso corporal e forma (por exemplo, APA, 2000;
Dunkley & Grilo, 2007; Farchaus Stein, 1996; Hrabosky, Masheb, White & Grilo, 2007).
Indivíduos com TAs são conhecidos por possuírem baixa autoestima (por exemplo,
Jacobi et al, 2004) e tendem a manter crenças nucleares desadaptativas sobre o self e a
conexão interpessoal (Dingemans, Spinhoven, & van Furth, 2006; Hughes, Hamill, van
Gerko, Lockwood, & Waller, 2006; Leung & Price, 2007). Para complicar essa tendência,
aqueles com BN e TCA demonstram um viés atencional seletivo a estímulos ameaçadores
ao autoconceito (Jansen, Nederkoorn, & Mulkens, 2005; Meyer, Waller, & Watson,
2000). Com a atenção consistentemente direcionada para pensamentos desadaptativos, os
indivíduos estão subsequentemente inclinados a comer compulsivamente ou purgar como
uma maneira de evitar ou escapar de exposições prolongadas a eles (Lingswiler et al.,
1989, Powell & Thelen, 1996; Spranger, Waller & Bryant-Waugh, 2001). Isso é verdade
até mesmo em amostras em risco, e até mesmo quando a ameaça ao autoconceito é
subliminar (por exemplo, Waller & Mijatovich, 1998; Meyer & Waller, 1999). Além
disso, estados psicológicos parecem impactar essas tendências evitativas; o grau dos
jejuns influenciou os vieses atencionais em mulheres com maior patologia alimentar
autorrelatada. Elas demonstraram um maior viés atencional para com palavras
relacionadas a baixas calorias quando estavam em um estado de não-jejum e
demonstraram um padrão atencional oposto quando se privavam de comida (Placanica,
Faunce & Soames Job, 2002).
Explicações dos achados acima são mais facilmente compreendidos pela relação
paradoxal entre a ruminação e a supressão de pensamentos. A ruminação é um processo
cognitivo persistente no qual a atenção está focada na repetição mental de eventos
desagradáveis e/ou na repetição de um fluxo de cognições negativas e autocríticas (Nolen-
Hoeksema, 2000), em uma tentativa frequentemente ineficaz de evitar afeto negativo
intenso (veja Gross, 1998 para uma discussão) e extrair significado de situações nas quais
metas importantes não foram atingidas (Martin, Tesser & McIntosh, 1993). A supressão
de pensamentos é um comportamento autorregulatório velado utilizado para limitar a
exposição a pensamentos e imagens desagradáveis (Wegner, 1994). Contudo, tentativas
crônicas de suprimir eventos privados indesejados ironicamente geram um efeito rebote
no qual a imagem ou pensamento desagradável se torna mais intrusivo (isto é, o fenômeno
do urso branco; Wegner, 1994). Nesses casos, a ruminação poderia ser caracterizada
como um “fracasso” da supressão de pensamentos, pois a atenção se torna fixada em
cognições muito desagradáveis que o indivíduo preferiria evitar. Sendo assim, quando
mais se suprime pensamentos de comida ou autoconceito negativo, mais se foca em
comida ou autoconceito negativo. Presumivelmente, essa inabilidade de conscientemente
alternar a atenção para perto ou longe de certos conteúdos cognitivos é mediada pelo
superinvestimento na crença em tais pensamentos. O comer compulsivo e
comportamentos compensatórios, assim, parecem funcionar como tentativas
comportamentais para suprimir e controlar pensamentos desagradáveis ou negativos.
Contudo, nenhuma pesquisa até hoje examinou diretamente o modelo de controle mental
da patologia alimentar.
A DBT foi primeiro introduzida no início da década de 1990 para abordar os déficits de
autorregulação no transtorno de personalidade borderline (TPB) (Linehan, 1993a). A
DBT ajuda os pacientes a cultivar habilidades nucleares de mindfulness em conjunto a
outras habilidades de regulação emocional, efetividade interpessoal e tolerância ao
sofrimento (Linehan, 1993b). De uma perspectiva empírica, a DBT tem tido um impacto
encorajador na melhoria da sintomatologia clínica do TPB (Linehan, Armstrong, Suarez,
Allmond et al, 1991; Linehan, 1993a) e é a abordagem baseada em mindfulness mais
extensamente estudada em amostras com transtornos alimentares. Em uma análise
1
As siglas destas abordagens terapêuticas foram mantidas no original em inglês, uma vez que são mais
conhecidas desta forma, incluindo no Brasil (N. do T.).
seminal, Telch (1997) apresentou um estudo de caso aprofundado sobre a adaptação da
DBT para uma mulher obesa com TCA. A intervenção de 23 sessões (isto é, 19 encontros
semanais e 4 encontros mensais) foi estruturada para incluir três fases: (1) justificativa
teórica e racional do programa, (2) educação sobre os principais componentes da DBT e
(3) reforço e generalização dos ganhos (Telch, 1997). Essa abordagem rendeu melhoras
significativas na compulsão alimentar, apesar do peso e sintomas de humor não terem
estabilizado (Telch, 1997). Telch e colaboradores então testaram a eficácia da abordagem
em um programa de DBT grupal para TCA em um estudo inicial não-controlado (Telch,
Agras & Linehan, 2000); 82% da amostra atingiu a não-compulsão no final do programa
de 18 sessões (Telch et al, 2000; veja Wiser & Telch, 1999 para uma descrição detalhada
da intervenção) e as taxas de abstinência permaneceram altas aos três meses (80%) e seis
meses (70%) do pós-tratamento (Telch et al, 2000).
Em um RCT mais rigoroso (Telch, Agras & Linehan, 2001), 44 mulheres com
TCA reduziram os comportamentos de compulsão alimentar tanto sob a condição de DBT
quanto no controle de lista de espera (Telch, Agras & Linehan, 2001). Contudo, entre as
18 pessoas que concluíram o tratamento, aquelas em DBT demonstraram taxas de
abstinência significativamente mais altas ao final do tratamento quando comparadas ao
grupo controle (isto é, 89% versus 12,5%), apesar de que as melhoras duradouras foram
mais modestas (isto é, 56% abstinentes no follow-up de 6 meses). Aqueles que concluíram
a DBT também se caracterizavam por menores preocupações quanto ao peso, forma e o
comer, e em média reportaram uma vontade menor de comer em resposta à raiva do que
os participantes da lista de espera (Telch, Agras & Linehan, 2001). Análises post-hoc
subsequentes das mulheres que completaram a DBT nos dois estudos indicaram que o
início precoce da compulsão alimentar (antes dos 16 anos) e maiores escores de restrição
alimentar predisseram resultados mais pobres (Safer, Lively, Telch & Agras, 2002).
A aplicação da DBT para o tratamento de BN e AN é menos desenvolvido. Safer
et al (2001a) forneceram a primeira abordagem clínica de adaptação da DBT com
resultados positivos para BN resistente ao tratamento (Safer et al, 2001a). Ademais, um
único RCT de mulheres com BN demonstrou maiores reduções na compulsão alimentar
e purgação para participantes de DBT quando comparados ao grupo controle de lista de
espera (Safer, Telch & Agras, 2001b). Quanto à AN, McCabe e Marcus (2002) discutiram
a efetividade da DBT a partir de uma perspectiva clínica, apesar de virtualmente nenhuma
pesquisa ter testado empiricamente a utilidade da DBT para o tratamento de AN. A única
exceção é um estudo piloto não-controlado sendo conduzido na Alemanha com
adolescentes com AN e BN (Salbach et al, 2007).
Três direções para a pesquisa futura sobre DBT e TAs deveriam suplementar os
resultados promissores: (1) testar a abordagem protocolar e integrada contra ou como um
complemento à TCC tradicional, Terapia Interpessoal (TI) e intervenções baseadas na
família; (2) testar a DBT para a AN; e (3) explorar a generabilidade dos resultados ao
incluir homens e amostras etnicamente diversificadas.
A segunda abordagem baseada em mindfulness que pode ser facilmente adaptada aos TAs
é a ACT (Hayes et al, 1999). Conceitualizada para o tratamento de uma ampla gama de
transtornos psiquiátricos e comportamentais, sua filosofia nuclear sustenta que
comportamentos desadaptativos são propositalmente ou habitualmente realizados para
reduzir ou controlar experiências aversivas (por exemplo, cognições autocríticas,
emoções negativas, sensações corporais dolorosas; Hayes et al, 1999). O sofrimento e as
disfunções são mantidos por essa evitação experiencial bem como pela fusão cognitiva
(isto é, sustentar pensamentos como verdades absolutas como “Eu penso que sou gordo;
logo, eu sou”). A adaptação da ACT como um tratamento para TAs é teoricamente
apropriada, dada sua excelente adequação aos modelos explicativos proeminentes para a
patologia alimentar (teorias de restrição alimentar, regulação emocional e escape).
A ACT utiliza habilidades de mindfulness, metáforas e técnicas de defusão
cognitiva para reduzir a rigidez cognitivo-comportamental, melhorar a autorregulação e
a qualidade de vida (Hayes et al, 1999). Em essência, a ACT expõe os pacientes aos
aspectos de sua experiência que rotulam como problemáticos, mas a partir de um ponto
de vista descentralizado, mindful e aceitador. Esse componente baseado em exposição e
a clarificação de valores auxiliam os pacientes a se envolverem e se adaptarem mais
criativamente a uma ampla gama de circunstâncias de vida.
Apesar da ACT ter recebido apoio relevante para a melhora de sintomas em um
espectro de transtornos clínicos (Hayes, Luoma, Bond, Masuda & Lillis, 2006), há uma
escassez de trabalhos conduzidos com amostras de transtorno alimentares. A literatura
existente é composta de estudos de casos únicos com AN (Bowers, 2002; Hayes &
Pankey, 2002; Heffner, Sperry, Eifert & Detweiler, 2002; Orsillo & Batten, 2002). Wilson
e Roberts (2002) fornecem um importante panorama de questões a serem consideradas
na avaliação e tratamento de AN a partir de uma perspectiva da ACT. Claramente, estudos
clínicos de abordagens baseadas em ACT para a melhora de sintomas nucleares de
patologia alimentar são uma área promissora para a pesquisa científica futura.
Se você perceber que a sua mente divaga ou sua atenção é puxada por uma emoção, apenas observe
o que é isso... quaisquer sentimentos presentes são OK... e você não precisa fazer nada quanto a eles...
apenas observar sem julgá-los... apenas perceba o que quer que estiver experienciando... sem tentar mudar,
mas apenas perceber... o que quer que você experiencie é OK... apenas observe, o que quer que seja... você
pode até mesmo descobrir que as emoções vêm e vão... como folhas fluindo em um rio... você pode observá-
las chegando e passando sem se engajar com elas... e se você perceber que está fluindo junto com as folhas,
você pode voltar à margem e olhar novamente as folhas fluindo...
Pacientes com BN e TCA são relembrados de que o estômago está localizado logo
abaixo e à esquerda do esterno, já que muitas pessoas acreditam que esteja mais abaixo e
incorretamente focam a atenção aos estímulos na área intestinal. Eles são então ensinados
a se concentrar e cuidadosamente prestar atenção a áreas de sensações potenciais, com
instruções como:
Quando estiver pronto, você pode mover sua consciência às sensações no estômago... Note o que
há ali... Você até mesmo pode repousar uma de suas mãos no seu estômago para ajudá-lo a notar qualquer
coisa que seu corpo tem para compartilhar... se está lhe dando qualquer sensação de fome... Lembre que
elas podem ser muito sutis ou podem ser muito intensas e óbvias... Não há sensações certas ou erradas...
apenas note qualquer sensação física tomando lugar em sua barriga... em seu corpo... sentindo o que seu
corpo está lhe dizendo ou não está dizendo neste momento... Note agora mesmo com quanta fome ou cheio
você está, com 1 sendo o mais faminto possível, 4 sendo neutro e 7 sendo o mais cheio possível... [deixe
tempo suficiente para todos encontrarem um número]... Novamente, lembre que essas sensações podem ser
muito sutis ou fortes... fazendo sua melhor estimativa de seu nível de fome e saciedade. Qualquer contração
leve no estômago, fome leve, talvez um 3?... Ou sinais levemente mais fortes, fome moderada, talvez um
2,5 ou 2?... Ou você está com muita fome? Sente um desconforto mais forte, menor que 2?... Apenas tome
um minuto para notar o que seu estômago está lhe dizendo. Ninguém sabe essa informação melhor do que
você... Então, enquanto se torna mais consciente de sua fome ou saciedade, apenas pergunte a si mesmo
como você sabe disso?... Quais experiências ou sensações ajudam a encontrar o número/nível?
Você pode também perceber outras sensações, sentimentos ou pensamentos... Apenas note o que
quer que esteja experienciando. Não tente mudar isso, mas apenas note. Tente separar a emoção ou
pensamento das sensações de fome física... Ou talvez você não tenha sensação, sentimento ou pensamento
particular... Apenas treine se reconectar com seu corpo... o que quer que esteja experienciando é OK...
apenas note, o que for... E com a próxima respiração, ou logo depois da próxima, você pode começar a se
reorientar de volta à sala. E abra seus olhos.
Ensinar aos participantes como registrar a saciedade é parecido. Nos treinamentos
iniciais, contudo, eles recebem sugestões de sensação de estar cheio em vez de sugestões
sobre fome. Por exemplo:
Novamente, lembre que essas sensações podem ser muito sutis ou fortes... faça sua melhor
estimativa do seu nível de fome ou saciedade. Quão fisicamente satisfeito você se sente? Talvez seu
estômago pareça quente, moderadamente cheio – talvez um 5,5. Ou talvez esteja mais cedo no processo...
talvez sinta os primeiros sinais de dilatação... um 5 ou algo assim. Ou talvez pareça mais uma dilatação ou
uma pequena distensão, se você comeu mais que precisava – digamos um 6 ou algo assim. Quaisquer sejam
suas sensações físicas, apenas note. Também, note suas emoções e pensamentos. Esteja ciente da diferença
entre fisicamente e emocionalmente satisfeito. Talvez você esteja entediado e queira sair daqui. Ou talvez
você esteja surpreso de aprender algo sobre si. Qualquer seja a experiência, apenas observe, tentando não
julgar ou criticar.
Comece colocando um único pedaço de Hershey’s à sua frente, longe das mãos. Permita que seus
olhos se fechem ou encarem o cão, caso seus olhos fiquem muito desconfortáveis. Apenas repouse suas
mãos sobre o estômago e convide 4-5 respirações profundas e fáceis. Sem forçar a respiração, mas apenas
convide o ar para o fundo de seus pulmões. Você pode sentir seu peito subir e descer. Você pode sentir suas
costelas expandindo para os lados e então relaxando. E, na medida que o ar gentilmente alcança o fundo
dos pulmões, você pode sentir seu abdômen expandir na inspiração e contrair na respiração. Então, apenas
permita que o corpo repouse enquanto você move a atenção ao estômago e a boca. Apenas perceba quais
sensações físicas você tem nesse momento. Note quaisquer pensamentos que tiver... quaisquer emoções. E
fique atento às diferenças entre as sensações físicas de um lado e os pensamentos ou emoções de outro.
Qualquer coisa que você experiencie, apenas observe, tentando não julgar ou criticar. Apenas perceba o
que quer que estiver experienciando. Não tente mudar nada, apenas perceba. Ou talvez você não perceba
nenhuma sensação, sentimento ou pensamento em particular. Isso é OK também. Nesse momento, apenas
perceba, o que quer que seja.
Na próxima respiração, ou na seguinte, apenas permita que seus olhos se abram inteiramente, mas
mantenha um olhar baixo. Pegando o pedaço de chocolate na mão, apenas desembrulhe gentilmente.
Continue atento a qualquer pensamento ou emoção que passem pela sua mente. Agora, apenas observando
o chocolate, segurando em sua mão, perceba ele como se fosse a primeira vez que viu um chocolate na
vida. Se você fosse um pintor, como você o pintaria? Repare a forma, tamanho, cores, a forma como a luz
reflete nele... (pausa longa).
Agora, mova a atenção ao cheiro do chocolate. Coloque ele abaixo do seu nariz e feche os olhos
novamente... apenas repare o aroma. Em que parte do nariz você sente o chocolate? Quais aspectos você
consegue sentir? O leite? A baunilha? Um toque de tabaco ou terroso? Apenas perceba tudo que puder
sobre o aroma... (pausa longa).
Agora, esfregue o chocolate em seus lábios de forma que consiga ter uma pista do sabor. Permita
que seus olhos permaneçam fechados... O que você sente? O que você nota quanto a textura? É suave ou
áspero? Se derrete ou não? Apenas fique atento de todas as complexidades nesse pedaço de chocolate.
Agora coloque o chocolate em sua língua e apenas segure em sua boca, sem morder. O que você
percebe quanto ao sabor? Desloque ele pela sua boca. Ele tem sabor diferente em diferentes partes de sua
boca? Permita que ele derreta em sua língua. O que você percebe enquanto ele derrete? Apenas se permita
estar completamente presente nesse pedaço. O que você percebe sobre sua saliva? Sobre sua boca? O sabor
muda com o passar do tempo, enquanto derrete? De que maneira? Tome o tempo que quiser para permitir
que o chocolate derreta e que você experiencie completamente as sensações de comê-lo. Consegue senti-lo
se mover em sua boca, em sua garganta? Pela sua garganta até o estômago? Fique ciente de qualquer
pensamento ou emoção que apareça, distinguindo um pensamento ou emoção de uma sensação como o
sabor... E se você comesse assim a maior parte do tempo?... Observe o que estiver presente para você agora,
sem jugar... (pausa muito longa)... e abra seus olhos quando estiver pronto.
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