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UFRJ
2019/2
FICHAMENTO SOBRE O TEXTO “A MÍDIA E O SEU LUGAR DA HISTÓRIA”
- “A tendência do senso comum, assim como a dos dicionários e de alguns livros didáticos, é
pensar a História como a ciência que estuda os fatos do passado. Entretanto, a História não
estuda todos os fatos ocorridos no passado, mas apenas os fatos históricos”. (p.63)
- “Qualquer manifestação da vida social do homem pode, em princípio, ser um fato histórico.
O termo não se refere apenas a acontecimentos particulares da vida ("os grandes
acontecimentos", como costumava a eles se referir a historiografia tradicional), mas a
qualquer categoria de fenômenos: um acontecimento singular (alguma coisa que aconteceu
alguma vez), um processo (no qual se manifestam certas regularidades), uma instituição, um
produto da cultura, um costume, uma crença, etc.”. (p.63)
- “Um fato, para ser considerado histórico, deve estabelecer inúmeras relações com outros
eventos, considerados num encadeamento causal”. (p.64)
- “Nenhum fato é em essência histórico, porque nenhum traz consigo um sentido já dado”.
(p.64)
- “Não existe fato histórico "bruto". Ele é sempre produto de algum tipo de elaboração teórica,
que o promove à categoria de histórico. Pressupõe um sistema de referência e uma teoria, nos
quadros dos quais operam-se a seleção e a valorização dos acontecimentos e processos.
Selecionar, relacionar e valorizar são operações de construção de sentido, impossíveis sem a
intervenção dos sujeitos – no caso da ciência histórica, os historiadores”. (p.64)
- “História é a ciência que estuda os fatos do passado. [...] mas somente daqueles que, através
de certos investimentos de sentido, foram elevados à categoria de históricos”. (p.66)
- “A separação entre o tempo passado e o presente não é tão simples quanto parece à primeira
vista. Mesmo porque o presente não pode limitar-se a um instante, a um ponto (Le Goff,
1994, p. 204). O presente é definido, pela operação histórica (e pela consciência comum),
como atualidade. Esta só toma forma – presentificando uma situação vivida – quando se
distingue de seu outro (o passado) em relação ao qual marca uma certa distância, não
meramente cronológica. E o que possibilita isso é a noção de mudança, de transformação”.
(p.67)
- “História deve ser definida como a ciência que estuda o processo de transformação da
realidade social”. (p.67)
- “No século XVI, por exemplo, período em que iniciou a formalização de um conjunto de
técnicas de crítica dos testemunhos históricos (chamado erudição), a História desempenhou
um papel fundamental na legitimação do poder do Estado e na consolidação de uma
identidade nacional”. (p.69)
- “Acreditamos, no entanto, que a História foi perdendo esse papel central na construção da
memória oficial com a inserção das tecnologias de comunicação no tecido das sociedades
industriais. Hoje, cada vez mais, são os meios de comunicação o locus principal em que se
realiza o trabalho sobre as representações sociais. A mídia é o principal lugar de memória
e/ou de história das sociedades contemporâneas”. (p.69)
- “Os meios de comunicação, neste século, passaram a ocupar uma posição institucional que
lhes confere o direito de produzir enunciados em relação à realidade social aceitos como
verdadeiros pelo consenso da sociedade. A História passou a ser aquilo que aparece nos meios
de comunicação de massa, que detêm o poder de elevar os acontecimentos à condição de
históricos. O que passa ao largo da mídia é considerado, pelo conjunto da sociedade, como
sem importância”. (p.70)
- “Se antes, o jornalismo havia sido o lugar do comentário sobre as questões sociais, da
polêmica de idéias, das críticas mundanas e da produção literária (Buitoni, 1990, p. 177),
agora, ele passa a ser o "espelho" da realidade. [...] O jornalista é definido, nesse contexto,
como um puro mediador, como um observador neutro, desinteressado”. (p.71)
- “O mito da objetividade [...] é um dos grandes responsáveis pela acolhida que o jornalismo
tem. Ainda hoje, o seu discurso se reveste de uma aura de fidelidade aos fatos que nos leva a
acreditar que o que "deu no jornal" é a verdade”. (p.71)
- “No jornalismo não costuma haver deformação ou mentira em relação aos fatos concretos.
Geralmente nomes, datas e acontecimentos não são criados ou inventados, mas possuem uma
realidade palpável que pode ser corroborada por uma comparação entre os diferentes jornais:
certamente todos trazem mais ou menos as mesmas informações. Mas, apesar de eles
remeterem aos mesmos fatos concretos, constroem universos de entendimento diversos”.
(p.71)
- “O jornalismo exerce um papel crucial na produção de uma idéia de história, não só porque
indica aqueles que, dentre todos os fatos da realidade, devem ser memoráveis no futuro (ou
seja, aqueles que teriam relevância histórica), mas também porque se constitui ele mesmo em
um dos principais registros "objetivos" do seu tempo”. (p.72)
- “Se antes eram considerados válidos apenas os documentos escritos que o historiador
pudesse, através da crítica interna e externa, certificar-se da sua autenticidade ou da sua
sinceridade e exatidão, agora, qualquer documento – falso ou verdadeiro, sincero ou não – é
passível de tornar-se uma fonte histórica”. (p.74)
- “Os historiadores, hoje, admitem que o fato não é um elemento objetivo, observável através
dos documentos, mas sim um produto de práticas significantes, entendida como práticas
sociais”. (p.74)
- “Uma página de jornal é um reflexo vivo das contradições da realidade social no corte de um
dia”. (p.77)
- “Não existe discurso da classe dominante ("burguesa", como a professora chama) que não
seja permeado por contradições. Na fala dos dominadores sempre está presente, de alguma
forma, a do seu outro, a dos dominados. Da mesma forma, a fala do operário é permeada pela
fala do patrão. Não existe discurso puro, monológico, seja burguês ou popular. O discurso é
uma zona tensional, na qual o sentido não é nunca dado”. (p.77)
- “Como se atribui sentido aos fatos? Através de quais operações se constrói uma idéia de
história no discurso jornalístico? Quais as diferenças relativas aos veículos? Estas são
algumas das perguntas que o historiador deve ter em mente ao se arriscar na fascinante
aventura que é ler a história através dos jornais. E para respondê-las, a semiologia, sem
dúvida, poderia ser-lhe de grande valia”.
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