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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE DIREITO

O ENTENDIMENTO DO STF SOBRE A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA

LINO MARQUES MARINS

ALCÂNTARA
2019
LINO MARQUES MARINS

O ENTENDIMENTO DO STF SOBRE A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Estácio de Sá como requisito para
colação de grau no Curso de Direito.
Orientador:

ALCÂNTARA
2019
RESUMO

O presente trabalho buscou analisar o julgamento da ADO nº 26 e do MI nº 4733, que tratam


da criminalização da homofobia, face a omissão legislativa do Congresso Nacional, para
verificar se a decisão não ultrapassa as atribuições do Supremo Tribunal Federal, o que violaria
o Princípio da Separação de Poderes. A pesquisa buscou ainda, identificar a necessidade de
criminalização da LGBTfobia através da análise de dados estatísticos, observando que a
violência contra LGBT’s aumenta a cada dia. Procurou, também, verificar quais os efeitos da
criminalização da homofobia no Brasil, considerando o julgamento da Ação Direta de
Inconstituicionalidade por Omissão e do Mandado de Injunção, por meio do qual aplica-se a
Teoria Concretista.

Palavras-chave: homofobia; criminalização; omissão legislativa; teoria concretista.

SUMÁRIO

1 Introdução 2 Análises do crescimento da violência 2.1 Princípio da Separação dos Poderes


2.1.1 Poder Executivo 2.1.2 Poder Legislativo 2.1.3 Poder Judiciário 2.1.3.1 Atribuições do
STF 2.2 Ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) 2.3 Mandado de Injunção
2.3.1 Mandado de Injunção Individual 2.3.2 Mandado de Injunção Coletivo 2.4 Ação de
inconstitucionalidade por omissão (ADO) nº 26. 2.4.1 Da analogia in malam partem 2.4.2 Quais
os efeitos no Brasil da criminalização da homofobia? 3 Conclusão 4 Referências.
3

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho, enquanto pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, valendo-se de


referencial teórico, buscou sintetizar a temática em questão, através do aporte de dados
estatísticos e da análise da jurisprudência do STF em relação a criminalização da homofobia.
Inicialmente, procuramos realizar uma análise dos dados sobre os casos de violência
contra a população LGBT, relatando como a ausência de dados estatísticos, motivou algumas
organizações a se mobilizarem para efetivarem registros oficiais, que motivaram a
implementação de diversas ações em prol dessa população, como também, serviram de base
para a impetração, junto ao STF, de duas ações no sentido de criminalizar a homofobia.
Em seguida, partindo do questionamento se seria ou não o STF competente para tal
ato, procuramos primeiro explicar o princípio da separação dos poderes, detalhando as
atribuições de cada um dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, para finalmente
falarmos, especificamente, sobre as atribuições do STF.
Prosseguimos conceituando a Ação Indireta de Inconstitucionalidade por Omissão
(ADO) e o Mandado de Injunção (MI), para enfim abordar, com maior atenção, a ADO 26 e o
MI 4733, que trataram da questão da criminalização da homofobia, tendo em vista dois
problemas emblemáticos; a analogia in malam partem e a impossibilidade de criação de um
novo tipo penal diante da inércia do Poder Legislativo representado nessa ocasião pelo
Congresso Nacional. Nesse sentido, explicamos que:
A Ação Indireta de Inconstitucionalidade por omissão é uma ação que só pode ser
manejada no Supremo Tribunal Federal e tem por objetivo o reconhecimento da morosidade do
poder legislativo para criação de uma lei em abstrato, ou seja, uma lei que teria sua criação
disciplinada pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ocasionando uma
omissão total ou regulamento de forma incompleta, gerando assim uma omissão parcial.
O Mandado de Injunção é um remédio constitucional cabível para o pedido de
regulamentação de uma norma constitucional, quando os poderes que deveriam fazê-lo, não o
fizeram. Pode ser um pedido individual ou coletivo para garantir o direito desses indivíduos ou,
de determinados grupos prejudicados com essa omissão.
Dadas essas conceituações, nos debruçamos sobre a Ação indireta de
inconstitucionalidade por omissão (ADO26) e o Mandado de Injunção (MI 4733) que foram
impetrados perante o Supremo Tribunal Federal pelo Partido Popular Socialista (PPS), e pela
Associação Brasileira de Gays Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais (ABGLBT),
4

respectivamente, em dezenove de Dezembro de 2013 e em dez de Maio de 2012.


Por fim, procuramos analisar como essas duas ações, que tiveram seus julgamentos
concluídos pelo Supremo Tribunal Federal no dia 13 de junho de 2019, utilizando a teoria
concretista, tendo considerado homofobia e transfobia como racismo nos termos da lei
7.716/89, provocaram reflexos na sociedade brasileira.

2 ANÁLISES DO CRESCIMENTO DA VIOLÊNCIA

Nos últimos anos, houve um significativo aumento do número de casos de violência


contra a população LGBT, mobilizando várias entidades que atuam em prol dessa população a
intensificarem sua atuação em diversas frentes (social, psicológica, jurídica, etc.). Mas, apesar
do importante serviço prestado por essas organizações, vários estudos apontam a ausência de
dados estatísticos oficiais que registrassem e divulgassem esses números.
Segundo Paulo Roberto Iotti Vecchiatti1, advogado responsável pela sustentação
oral, junto ao STF em favor da criminalização da LGBTI fobia, o primeiro registro oficial, foi
divulgado em dois de abril de 2012, pelo Grupo Gay da Bahia, na forma de um documento
conhecido como Relatório anual sobre assassinatos de homossexuais, travestis e lésbicas, com
o registro de 266 homicídios.2 O Brasil à época detinha o primeiro lugar no ranking mundial de
assassinatos homofóbicos, com um total de 44% das execuções de todo o mundo.3 No
ano de 2018 chegamos à marca de 420 mortes de LGBTs, sendo 320 homicídios e 100 suicídios
e, conforme aponta o relatório anual do Grupo Gay da Bahia, esses assassinatos nos dão a média
de uma morte de LBGT a cada 20 horas, confirmando o Brasil como campeão mundial de
crimes contra as minorias sexuais.4

1
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADO 26. Acompanhamento processual. STF. Disponível em:
<http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4515053> Publicado em 01 jul. 2019. Acesso em 10 set.
2019.
2
GGB. Grupo Gay da Bahia. Assassinatos de LGBT no Brasil. Relatório anual do GGB indica 266 homicídios em
2011. GGB. Disponível em: <https://grupogaydabahia.com.br/assassinatos/relatorios/relatorio-2011/> Publicado
em 02 abr. 2012. Acesso em 10 set. 2019.
3
Ibidem.
4
GGB. Grupo Gay da Bahia. Relatório 2018. Homofobia Mata. Disponível em:
<https://homofobiamata.files.wordpress.com/2019/01/relatorio-2018-1.pdf> Publicado em jan. 2019. Acesso em
10 set. 2019.
5

Foto 1 – Pessoas LGBT mortas no Brasil por ano – Relatório 2018 (GGB)5

Tendo como base esses dados alarmantes, a ABGLT (Associação Brasileira de Gays,
Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), pessoa jurídica de direito privado, em dez de
maio de 2012, impetrou no Supremo Tribunal Federal o Mandado de Injunção 4733, para obter
a criminalização de todas as formas de Homofobia (LGBT fobia), com fulcro na parte final do
artigo 5º, inc. LXXI, da constituição da república federativa do Brasil, na tentativa de garantir
o direito constitucional à cidadania para a população LGBT brasileira, bem como o direito
fundamental à segurança.
Dois pontos importantes motivaram essa ação, a saber: a violação do direito à segurança
da população LGBT no Brasil e a intenção de garantir o direito à livre orientação de gênero
conforme consta no artigo 5º, caput, e art. 3º, inc. IV, da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, ficando assim, demonstrado o cabimento do Mandado de Injunção.6 No
entanto, pairava ainda uma questão de ordem legal crucial: como o STF poderia atender a esse
pedido, de criminalização da homofobia, sem ultrapassar a esfera de sua competência e sem
ferir o princípio da separação dos poderes?

5
Ibidem.
6
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MI 4733. Acompanhamento processual. STF. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4239576> Publicado em 01 jul. 2019 Acesso em 10 set.
2019.
6

2.1 PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES

A ideia de dividir os poderes é bem antiga, remonta da época da transição das


monarquias absolutistas para os Estados e Nações.7 Assim, com o intuito de evitar a
concentração do poder na mão de uma única pessoa, ou de uma única instituição, foi instituído
o princípio da separação dos poderes, cujo sistema de pesos e contra freios, impede a
concentração do poder de elaborar as leis, do poder de executá-las e do poder de aplicar as
punições nas mãos de um único homem, evitando a tendência de abuso deste poder pelo homem,
ou nas palavras de Montesquieu, “Todo homem que tem o poder é tentado a abusar dele (…).
É preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder.”8

Foto 2 – Esquema do Sistema de Freios e Contrapesos 9

7
OLIVEIRA, João Daniel Correia. O princípio da separação dos poderes e o controle judicial do motivo do ato
administrativo. Jusbrasil. Disponível em: <https://joaodanielcorreia.jusbrasil.com.br/artigos/501938605/o-
principio-da-separacao-dos-poderes-e-o-controle-judicial-do-motivo-do-ato-administrativo> Publicado em 27
fev. 2018. Acesso em 10 set. 2019.
8
MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat Baron de la. Do espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
p. 32.
9
VANIN, Carlos Eduardo. Princípio da separação de poderes na corrente tripartite. Jusbrasil. Disponível em:
<https://duduhvanin.jusbrasil.com.br/artigos/400382901/principio-da-separacao-de-poderes-na-corrente-
tripartite> Publicado em out. 2016. Acesso em 10 set. 2019.
7

No Brasil, a separação dos poderes foi adotada pela primeira vez na constituição de
1824, depois da declaração da Independência. Nessa época existiam quatro poderes: Executivo,
Legislativo, Judiciário e Moderador (que era exercido pelo Imperador). O Poder Moderador foi
extinto na constituição de 1889, sendo mantida a divisão, em três poderes, pelas Constituições
seguintes.10
Ao longo dos anos, as novas constituições, mantiveram a descentralização do poder,
atribuindo ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário, competências específicas, de forma que
cada um trabalhasse de maneira independente e harmônica entre si, procurando evitar abusos
do Estado, como preconiza o Artigo 2º, da Constituição da República Federativa do Brasil.11
As competências de cada poder que temos atualmente advém da Constituição da
República Federativa do Brasil de cinco de outubro de 1988. Atualmente somos divididos em
três poderes: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário, cada um com suas
atribuições específicas, conforme explicaremos a seguir.

2.1.1 Poder Executivo

O Poder Executivo, na esfera federal, é exercido pelo Presidente da República e seus


ministros de Estado. O presidente é o responsável pelas políticas públicas e pela administração
pública.12

2.1.2 Poder Legislativo

Com a promulgação da Constituição da República federativa do Brasil em 1988, adotou-


se, em âmbito federal, o sistema bicameral, conforme explica Masson:
A forma de estado federativa foi fator decisivo para determinar a

10
COURCEIRO, Júlio Cezar da Silveira. Princípio da Separação de Poderes em corrente tripartite. Âmbito
Jurídico. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/principio-da-separacao-
de-poderes-em-corrente-tripartite/> Publicado em: 01 nov. 2011. Acesso em 10 set. 2019.
11
Ibidem.
12
FIGUEIREDO, Daniel. A separação dos três poderes. Politize. Disponível em:
<https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e-judiciario/> Acesso em 10 set.
2019.
8

estrutura do Poder Legislativo no plano federal, haja vista termos


adotado um bicameralismo federativo, no qual uma Casa (a Câmara
dos Deputados) representa o povo, enquanto a outra (o Senado
Federal) compõe-se de representantes das ordens jurídicas parciais,
ou seja, dos Estados-membros e do Distrito Federal.13

Desta forma então, em âmbito federal, o Poder Legislativo passou a ser exercido pela
Câmara dos Deputados e pelo Senado, que compõem o Congresso Nacional, ficando
responsáveis pela elaboração, aprovação e fiscalização das normas jurídicas.14

2.1.3 Poder Judiciário

O Poder Judiciário tem por atribuição principal a administração da justiça para a


sociedade, cumprindo e fazendo cumprir as normas e leis em vigor no país.15 Mas quem compõe
o Judiciário em nível federal?

Foto 3 – Estrutura do Poder Judiciário.16

O Supremo Tribunal Federal ocupa o topo da justiça, sendo o responsável pela guarda
da Constituição, conforme o art. 102 da Constituição da República de 1988. É composto por

13
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Bahia: Jus Podivm, 2016. p. 601.
14
FIGUEIREDO, op. cit.
15
Ibidem.
16
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Estrutura e Atribuições. STF. Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfCooperacaoInternacional/anexo/STF__Brasil__Estrutura_e_Atribuico
es.pdf> Publicado em 2010. Acesso em 10 set. 2019.
9

onze membros que são denominados Ministros, devendo obrigatoriamente serem brasileiros
natos (art. 12, § 3º, inc. IV, da CRFB/1988). São escolhidos dentre os cidadãos com mais 35 e
menos de 70 anos de idade, de notável saber jurídico e de conduta ilibada (art. 101 da
CRFB/1988), sendo todos nomeados pelo presidente da república após sabatina e aprovação do
Senado Federal.

2.1.3.1 Atribuições do STF

O STF tem muitas atribuições, mas aqui vamos destacar somente duas, especificamente
relacionadas à temática desse trabalho. São elas: processar e julgar, originariamente:
- Processar e julgar, originariamente, as Ações Diretas de Inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal ou estadual e ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal;
- Processar e julgar, originariamente, o Mandado de Injunção, quando a elaboração da norma
regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal
de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal.

2.2 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO).

A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) é um remédio


constitucional exercido de maneira originária pelo Supremo Tribunal Federal para garantir o
controle abstrato da constitucionalidade de possíveis omissões do legislativo (Congresso
Nacional).17 Estando disciplinada pelo Art. 103, §2º, CRFB/88.
Tem por objetivo atacar as seguintes espécies de omissões: omissão total ou omissão
parcial. A omissão total ocorre quando não há o cumprimento constitucional do dever de
legislar. Já a omissão parcial, ocorre quando há. lei integrativa infraconstitucional, porém de

17
NL. Normas Legais. Ação Direta De Inconstitucionalidade Por Omissão – ADO. Normas Legais. Disponível
em: <http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/acao-direta-de-inconstitucionalidade-por-omissao.htm>
Acesso em 10 set. 2019.
10

forma insuficiente. A inconstitucionalidade por omissão parcial poderá ser parcial propriamente
dita ou parcial relativa. Na omissão parcial propriamente dita – a lei existe, mas regula de forma
deficiente o texto e a Omissão parcial relativa surge quando a lei existe e outorga determinado
benefício à certa categoria, mas deixa de concedê-lo a outra, que também deveria ter sido
contemplada.18

2.3 MANDADO DE INJUNÇÃO

Mandado de injunção é um instrumento jurídico a disposição do cidadão ou de uma


pessoa jurídica para garantir um direito declarado pela Constituição da República Federativa do
Brasil, à individualidade ou à coletividade, mas que não está sendo usufruído.19
De acordo com o artigo 5º, LXXI, da Constituição da República Federativa do Brasil,
“conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania”.

2.3.1 Mandado de Injunção Individual

Disciplinado pela Lei 13.300/2016, Art. 2º Conceder-se-á mandado de injunção sempre


que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania. Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem
insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente.

2.3.2 Mandado de injunção Coletivo

18
Ibidem.
19
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Injunção – um instrumento republicano para sanar eventuais
omissões legislativas. Notícias STF. Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=165753> Publicado em 15 nov. 2010.
Acesso em 10 set. 2019.
11

Disciplinado pela Lei 13.300/2016, Art. 12º e seu Parágrafo único. Os direitos, as
liberdades e as prerrogativas protegidos por mandado de injunção coletivos são os pertencentes,
indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe
ou categoria.

2.4 AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO) Nº 26.

Essa Ação de inconstitucionalidade por omissão foi impetrada no Supremo Tribunal


Federal em 19 de Dezembro de 2013 pelo PPS (Partido Popular Socialista), para a declaração
por parte deste egrégio Tribunal, referente à mora do Congresso Nacional em criar normas
legislativas no sentido de criminalizar as ofensas pessoais e coletivas, agressões,
discriminações, homicídios, ameaças, praticados por motivações de gênero ou por causa da
orientação sexual das supostas vítimas; com intuito de garantir a cidadania, os direitos
fundamentais à segurança e à livre orientação sexual, como também à livre identidade de
gênero, conforme preconiza a Constituição Da República Federativa do Brasil em seu artigo 5º
e incisos XLI, XLII ou LIV.20
As teses desenvolvidas nesta Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão (ADO)
versaram no sentido que existe ordem constitucional de legislar criminalmente, que obriga o
legislador a criminalizar a homofobia, tendo em vista que constituem espécies do gênero
racismo, pois racismo é definido por uma ideologia de pregar a superioridade de um grupo sobre
outro e a homofobia consiste na inferiorização da população LGBTQI +.21

2.4.1 Da analogia In malam partem

20
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. PPS pede declaração de omissão do Congresso por não votar projeto sobre
homofobia. Notícias STF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=256721> Publicado em 23 dez. 2013.
Acesso em 10 set. 2019.
21
Ibidem.
12

Analogia, no campo juridico penal, consiste no ato de se aplicar uma solução de um


problema não previsto em lei, a um determinado caso, para outro caso semelhante. Neste
sentido, vários criticos afirmam que no Brasil essa prática é proibida pelo Código de Direito
Penal em seu artigo 1º “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
comunicação legal”. Portanto a criminalização da homofobia pelo Supremo Tribunal Federal,
teria afrontado o princípio da legalidade, não respeitando o trâmite legal. Mas então, segundo
essa corrente de pensamento, qual seria o procedimento correto a ser adotado?
Essa corrente defende que o debate sobre a criminalização da homofobia seria de
competência do Congresso Nacional, já que a função de elaboração das leis não cabe ao Poder
Judiciário e sim ao Poder Legislativo. "Querem dar uma interpretação que não cabe para
relativizar ou mitigar o princípio da legalidade", afirma Yarochewsky22
A corrente que é a favor da criminalização da homofobia pelo Supremo Tribunal
Federal, sustenta que o Supremo não criou lei através do Mandado de Injunção, que teve por
finalidade agir como controle de constitucionalidade difuso-concreto e foi manejado a fim de
suprir as necessidades das normas constitucionais de eficácia limitada, ou seja, normas que
embora estejam na constituição, necessitam de complementação, para que seus efeitos se
tornem eficazes e disponíveis para todos os sujeitos de direito. Sendo assim, o entendimento
desta corrente é de que foi usado pelo Supremo Tribunal Federal, neste caso, a teoria
concretista.23 Mas em que se constitui a teoria concretista?
A teoria concretista utilizada atualmente pelo Supremo Tribunal Federal para o
Mandado de Injunção, começou a ser adotada no julgamento dos (MI’s) 670, 708 3 712,
ajuizados, respectivamente, pelo Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do
Espírito Santo (Sindpol), pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município de
João Pessoa (Sintem) e pelo Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do
Pará (Sinjep). Onde o STF declarou por unanimidade a omissão do Poder Legislativo em
editar lei para regulamentar o direito reclamado por estas instituições; 24

22
VALENTE, Fernanda. Não cabe ao Supremo criminalizar homofobia, diz advogado criminalista. ConJur.
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-mai-24/nao-cabe-supremo-criminalizar-homofobia-
criminalista> Publicado em 24 mai. 2019. Acesso em 10 set. 2019.
23
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo nº 931. Informativo STF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo931.htm> Publicado em 22 fev. 2019. Acesso
em 10 set. 2019.
24
DINIZ, Scoty. A atual interpretação do Supremo Tribunal Federal sobre o efeitos do Mandado de Injunção e o
Princípio da Separação de Poderes. Jurídico Certo. Disponível em: <https://juridicocerto.com/p/advocacia-
diniz5/artigos/a-atual-interpretacao-do-supremo-tribunal-federal-sobre-o-efeitos-do-mandado-de-injuncao-e-o-
principio-da-separacao-de-poderes-3552> Publicado em 03 abr. 2017. Acesso em 10 set. 2019.
13

A partir dessas decisões o Supremo Tribunal Federal passou a adotar a teoria


concretista, como forma de suprir as omissões do Poder Legislativo, além de declarar tais
omissões.

2.4.2 Quais os efeitos no Brasil da criminalização da Homofobia?

São muitos os reflexos da criminalização da homofobia na sociedade brasileira. O


primeiro efeito que podemos destacar é o pedagógico, pois a partir da decisão do julgamento,
qualquer ato descriminatório contra a população LGBTI+, é considerado crime de racismo e
sendo punido assim até que o legislativo elabore uma lei específica para sanar essa falta. Assim,
valorizando a População LGBTQI+ , com uma declaração da ordem jurídica de que discriminar
em função de orientação sexual não será mais tolerada e que a liberdade sexual constitui bem
jurídico essencial.25
Um outro efeito é o estatístico, pois, a partir deste momento passam a ser quantificados,
oficialmente, os casos de homofobia, facilitando os estudos estatíscos que auxiliarão a
elaboração de políticas públicas, voltadas para esta população.26
Vale resaltar que a criminilização da Homofobia não criará a conscientização social ou
a tolerância com a população LGBTQI+, pois a lei tem um caráter no sentido de impedir
perpetração de condutas discriminatórias.27

3 CONCLUSÃO

Este trabalho, que se iniciou como uma pesquisa bibliográfica e jurisprudencial sobre a
questão da criminalização da homofobia, pelo STF, sofreu alguns desdobramentos ao longo de

25
FREIRE, Lucas; CARDINALI, Daniel. O ódio atrás das grades: da construção social da discriminação por
orientação sexual à criminalização da homofobia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-64872012000600003> Acesso em 10 set. 2019.
26
PLATINI, Michel. A criminalização da LGBTFobia pelo STF e os efeitos na vida prática da população LGBTI.
Congresso em Foco. Disponível em: <https://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunas/a-criminalizacao-da-
lgbtfobia-pelo-stf-e-os-efeitos-na-vida-pratica-da-populacao-lgbti/> Publicado em 17 jun. 2019. Acesso em 10 set.
2019.
27
FREIRE; CARDINALI, op. cit.
14

sua execução, já que, o questionamento inicial, que seria, se o STF é competente ou não para
tal ato, mostrou-se completamente solucionado, com os estudos e debates preliminares, com
alguns colegas e professores.
Nesse sentido, o entendimento da utilização da Teoria Concretista, pelo STF, como
recurso para criminalização da homofobia, acabou por redirecionar a pesquisa.
Assim, explicamos os dois remédios constitucionais que foram manejados perante o
Supremo Tribunal Federal para que a população brasileira LGBT pudesse ter seus direitos
constitucionais à cidadania e à segurança, garantidos pelo Estado brasileiro, ou seja, explicamos
a ação indireta de inconstitucionalidade (ADO), e o Mandado de Injunção (MI), conceituando-
os e justificando sua aplicação.
Falamos sobre a divisão dos poderes constituídos no Brasil, detalhando suas
atribuições, em nível federal, dando um enfoque maior ao Poder Judiciário, mais
especificamente ao STF, no tocante a questão do julgamento da ADO 26 e do MI 4733, alvos
de nossa análise nessa pesquisa
Mostramos que no direito penal brasileiro não se pode utilizar o instituto da analogia in
malam partem e que o Poder Judiciário não pode ultrapassar suas atribuíções e invadir a
competência do Poder Legislativo para criar leis, em regra geral, mas notamos que os três
poderes acabam, por vezes, tendo a necessidade de funcionarem de forma atípica a sua função
originária.
Ao falarmos sobre a teoria concretista utilizada pelo Supremo Tribunal Federal , diante
desse caso de extrema relevância para a sociedade brasileira, percebemos que o mesmo se viu
em uma situação com um grau elevado de pressão, pois qual fosse a decisão que tomasse, iria
desagradar boa parte da sociedade.
Consideramos de suma importância destacar que, a decretação do ADO 26 e do MI
4733, acarretou alguns reflexos na sociedade brasileira com repercusões na maneira de tratar e
na maneira de enxergar a população LGBTQI+, de forma que deva ser dever de todos o respeito
à diversidade, criando punição para aquele da sociedade que ainda insistir em desrespeitar esta
parcela da população.
Por acreditar que este tema tem uma grande relevância no meio acadêmico, seja pela
discussão se o Supremo Tribunal Federal estaria extrapolando suas atribuições e estaria
invadindo as atribuições do Congresso Nacional, com isso acabando com a isonomia entre os
poderes constituidos, seja pela análise dos instrumentos utilizados para concretização de suas
ações ou seja pelo aprofundamento dos estudos sobre a teoria concretista, acreditamos ser esse
trabalho de suma importância.
15

A título de encerramento, é importante destacar que o estudo desse tema proporcionou


um enorme crescimento como ser humano, pois ao verificar, como os dados estatísticos, que
apontam para a violência contra a população LGBT, vêm apresentando números alarmantes, foi
possível, associar esses dados a diversas notícias que acompanhamos diariamente nos
noticiários, nos aproximando, através da empatia e da solidariedade, da dor e do medo que eles
enfrentam, ao serem privados de seu direito de ir e vir com liberdade e em segurança. Da
mesma forma, vale destacar o imenso crescimento profissional, que só a pesquisa de todas as
fases de um processo de grande relevância para a sociedade brasileira, pode proporcionar.

4 REFERÊNCIAS

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Estrutura e Atribuições. STF. Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfCooperacaoInternacional/anexo/STF__Brasil__Estr
utura_e_Atribuicoes.pdf> Publicado em 2010. Acesso em 10 set. 2019.

______. Mandado de Injunção – um instrumento republicano para sanar eventuais omissões


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