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O poder sem responsabilidade – Mídia Sem Máscara

Elio Gaspari é colunista dos jornais “O Globo” e “Folha de São Paulo”. No ano passado, o UOL
(empresa controlada pelo Grupo Folha), recebeu do governo federal R$ 9,7 milhões em publicidade –
a segunda maior verba publicitária do governo na internet, logo atrás do Portal Terra, que lidera a
lista com R$ 9,8 milhões. Já o complexo digital da Rede Globo, que envolve o jornal “O Globo”,
recebeu R$ 7,7 milhões, a quarta maior verba, logo atrás do MSN, o terceiro colocado, com R$ 9
milhões. Somados, os gastos publicitários do governo federal com os grupos Folha e Globo na
internet (patrões de Gaspari) totalizam R$ 17,4 milhões de reais. São contratos governamentais.
Gaspari quis dizer, então, que há mais ladrões negociando esses contratos do que vândalos nas
manifestações? Levando em conta que, nos grupos Folha e Globo, há vários anunciantes privados que
fazem grandes negócios com todas as esferas de governos, podemos concluir que Elio Gaspari – a se
crer em suas próprias palavras – escreve para ladrões e é pago por ladrões.

Se Elio Gaspari acredita mesmo no que escreveu, deveria abandonar as redações e ir para as ruas
vestir a máscara do Anonymous e lutar por uma revolução total, que não deixe pedra sobre pedra. O
jornalismo, especialmente o impresso, deveria ser o lugar da razão; a demagogia é que se coaduna
com as ruas. O artigo de Gaspari no “New York Times” ilustra uma doença incurável do Brasil – a
terceirização da ética. O povo brasileiro é o mais sartreano do mundo: para ele, o inferno são os
outros. O brasileiro, em média, nunca se sente responsável por nada. É um saci existencial, saltitando
alegremente na perna dos direitos, sem o pé dos deveres no chão. Para o brasileiro, a culpa é sempre
da história, do ambiente, dos políticos. O que ajuda a explicar, inclusive, o vandalismo das
manifestações. Os promotores da baderna – que marcam os protestos, fecham as ruas, desafiam a
polícia e atacam a imprensa – nunca se sentem culpados por nada. Todas as depredações são
atribuídas à “minoria de vândalos”, com o estímulo da própria imprensa e o aval das autoridades, que
também referendam esse discurso.

Sociedade em rede
Até a sexta-feira, as manifestações já tinham matado, direta ou indiretamente, pelo menos 16 pessoas
no país, contando com as vítimas do recente protesto dos caminhoneiros. Mas a imprensa, a
academia, as autoridades e os organizadores da baderna continuam dizendo que tudo não passa de
manifestações pacíficas e democráticas, como se fosse democrático impedir uma pessoa de chegar ao
trabalho, voltar para casa ou buscar socorro num hospital. Mesmo se não houvesse nenhuma
depredação de patrimônio público ou privado, o movimento já não poderia ser considerado
democrático, pois cerceia o direito de ir e vir e, ao fazê-lo, conduz inevitavelmente ao quebra-quebra.
A não ser que a polícia abdicasse de sua missão constitucional e deixasse os manifestantes
sequestrarem as cidades. O que, aliás, ocorreu no ápice das manifestações, quando as polícias se
limitaram a proteger os prédios públicos e os estádios de futebol, deixando o resto da população,
pagadora de impostos, à mercê dos manifestantes e dos vândalos – seus cúmplices.

Essa conduta leniente das autoridades constituídas, induzida pela imprensa e pela academia, facilita
a proliferação de um mito da pós-modernidade – o mito da horizontalidade dos novos movimentos
sociais, que se autodenominam “coletivos” e funcionam de forma descentralizada, constituindo redes
sociais e virtuais dinâmicas. O espanhol Manuel Castells, um dos mais conceituados sociólogos da
atualidade, ao lado do inglês Anthony Giddens, é o principal teórico dessa “sociedade em rede”,
expressão que serve de título ao primeiro volume de sua ambiciosa obra “A Era da Informação”, em
três volumes, publicada em 1996. A obra consumiu 12 anos de trabalho do autor e a nova edição,
revisada e ampliada no segundo semestre de 1999, foi publicada em 2000, já com um balanço das
transformações que ocorreram na década. No Brasil, o livro foi publicado com um prefácio do
sociólogo Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, que ressalta a ousadia de
Castells em pensar a sociedade de modo integral.

Castells proferiu palestra no Brasil, no Projeto Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, justamente
no dia 11 de junho, quando as manifestações estavam atingindo o ápice na cidade e iriam se espalhar
por todo o País. No evento, promovido pela empresa Brasken, com o apoio de outras empresas e
instituições, inclusive a “Folha de S. Paulo”, Castells observou que “os movimentos sociais na história
são sobretudo emocionais” e falou sobre o perfil das manifestações contemporâneas: “O que muda
atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e
automobilização que não existia. Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era
ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo
negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é
novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem
depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no
espaço público”.

Mobilização na selva
Com a disseminação da internet e o advento das redes sociais, não resta dúvida que a tarefa de
mobilizar pessoas foi muito facilitada, dispensando os dispendiosos meios impressos, radiofônicos e
televisivos do passado. A propalada “Primavera Árabe”, prenhe de fundamentalismo islâmico, e a
“Primavera Brasileira”, muito próxima da patuscada, talvez nem tivessem se iniciado se não fosse o
Facebook. Mas a dimensão que alcançam, especialmente no caso brasileiro, se deve, sobretudo, ao
trabalho da imprensa, que, ao dar destaque à mobilização nas redes sociais, faz com que as
manifestações físicas ganhem mais e mais adeptos. A imprensa, especialmente a Globo News,
conclamou os jovens a participar das manifestações de rua, gravar vídeos e mandar para as redações.
Que jovem não quer ser repórter por um dia? Ainda mais que, hoje, na escola básica, é muito comum
a transformação das disciplinas tradicionais, como história ou geografia, em pautas de programas de
rádio ou TV, desenvolvidos pelos alunos. O próprio MEC incentiva essa prática, que tende a reduzir o
mundo a um eterno presente midiático.

É certo que as sociedades contemporâneas se articulam em torno da informação, tornando obsoletas


as antigas instituições que surgiram com a Revolução Industrial. Com a automação e a terceirização,
a indústria deixou de concentrar grandes massas de trabalhadores num só lugar, como ocorria no
passado. A agricultura também substituiu o trabalhador braçal pela máquina, reduzindo os
empregados na lavoura. Hoje, o comércio e os serviços são os setores da economia que mais geram
empregos. Mas nunca foi fácil mobilizar seus trabalhadores, dada à pulverização de sua mão-de-obra.
A única área do setor de serviços que tinha características industriais, sob o aspecto trabalhista, era o
mercado financeiro, representado pelos bancos. Mas, com a automação, sua mão de obra encolheu e
os sindicatos bancários perderam grande parte de sua força. Ou seja, o capitalismo atual é um terreno
pantanoso para os sindicatos tradicionais, especialmente para o sindicalismo brasileiro, dependente
do próprio Estado, por meio do imposto sindical e de outras benesses.

Foi nesse contexto que surgiram movimentos alternativos de mobilização, que tentam se diferenciar
de sindicatos, associações e grêmios estudantis. São os chamados “coletivos”, mais próximos do
anarquismo do que do marxismo tradicional. Todavia, por mais que as redes sociais facilitem o
trabalho desses coletivos, as mobilizações que ocorrem no Brasil e no mundo estão longe de ser
espontâneas, como parece acreditar Manuel Castells. No livro “O Anarquismo no Século XXI e Outros
espo tâ eas, co o pa ece ac ed ta a ue Caste s. No v o O a qu s o o Sécu o e Out os
Ensaios” (Rizoma Editorial, 2013), o antropólogo anarquista de esquerda David Graeber conta que o
grande protesto contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), deflagrado em Seattle, nos
Estados Unidos, em 30 de novembro de 1999, que se espalhou em mais de 100 cidades no mundo e é
considerado um marco nas mobilizações atuais, foi organizado pela AGP (Ação Global dos Povos).
Essa entidade surgiu em agosto de 1996, no Encontro Internacional pela Humanidade e Contra o
Neoliberalismo, realizado com a lama nos joelhos dos participantes, em plena selva de Chiapas, no
México, tendo como anfitrião o Subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação
Nacional, promotor do evento.

Extremistas e fisiológicos
No Brasil, as manifestações foram organizadas por coletivos como Movimento Passe Livre, Revolta da
Catraca, Catraca Livre, entre outros. Aparentemente, esses coletivos não têm uma direção
hierárquica. Pregam a “horizontalidade” e dizem que todos os seus membros são iguais. Mas, se até
em centros de excelência, como institutos de pesquisa e orquestras de virtuoses, sempre é necessário
um líder, como acreditar que um bando de jovens inexperientes e impulsivos são capazes de dividir
equitativamente a racionalidade e a responsabilidade de suas decisões? É óbvio que todos esses
coletivos têm líderes. Eles vêm da esquerda acadêmica, com o aval de professores. E são ligados a
partidos de esquerda, como PSol, PSTU, PCO, PPL e até o PT. Os coletivos fingem não ter hierarquia
para escapar da lei. Um sindicato tradicional, com diretoria reconhecida e endereço físico, precisa
cumprir uma série de requisitos legais para deflagrar uma greve, sob pena de pesadas multas. Já um
coletivo, que só existe virtualmente, não tem como ser responsabilizado por seus atos. Como seus
líderes se escondem na irresponsabilidade do anonimato, fica fácil atribuir qualquer problema à ação
de vândalos. Essa estratégia nem é nova – sempre foi usada com muito sucesso pelo MST, que
também não existe legalmente.

A princípio, o PT e a própria presidente Dilma Rousseff viam com bons olhos os protestos. Achavam
que poderiam canalizá-los contra os governos tucanos, especialmente o de São Paulo. Quando as
manifestações saíram de controle, o alvo dos petistas mudou – passou a ser o Congresso Nacional.
Dilma, no embate com o peemedebista Michel Temer, seu vice-presidente, mostrou que não desistirá
facilmente da ideia golpista de reforma política por meio de plebiscito. Mas antes terá que lidar com
os estragos das manifestações, sobretudo em sua popularidade. Na semana passada, com o rosto cada
vez mais tenso, ela resolveu apelar para o lema da Bandeira Nacional e disse que seu governo, para
garantir o progresso, não abrirá mão de manter a ordem. O que não é verdade. Ela foi a primeira a
flertar com o caos, ao tentar jogar os manifestantes contra os governos de oposição, além de receber
em palácio os estudantes de passeata que acenderam o estopim da baderna. Já o PT – provavelmente
a serviço de Lula e não de Dilma – decidiu, em reunião de sua executiva nacional na última quinta-
feira, convocar o “Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações”, marcado para a próxima quinta-
feira, 11 de julho.

Manifestação terá rédeas?


Resta saber se o PT conseguirá pôr rédeas nas manifestações que ocupam caoticamente as ruas. Essa
é a indagação mais comum. Mas existe outra, mais sutil: o PT quer mesmo pôr rédeas nesse
movimento? Desde a “Carta ao Povo Brasileiro”, apresentada por Lula em junho de 2002, durante a
disputa presidencial que o levou ao poder, o PT se tornou um partido da “ordem e progresso”, mas
sem esquecer o “quanto pior melhor”, dependendo da conveniência. A expulsão de Heloísa Helena e
outros dissidentes petistas no final de 2003 deu a impressão de que o PT abandonara seu viés
revolucionário. Mas a aparente guinada à direita do partido foi para inglês ver – Lula precisava dar
satisfação aos mercados, mostrando-se capaz de conduzir o bem-sucedido Plano Real que herdara de
Fernando Henrique Cardoso. A prova de que o PT nunca abandonou seu viés revolucionário é o fato
de que o próprio Lula passou seus oito anos de governo satanizando as elites, mesmo fazendo parte
delas nos conchavos de gabinete. Lula manteve as ruas como um permanente exército de reserva, o
que provavelmente o salvou de uma possível cassação.

Os dissidentes do PT, que fundaram o PSol e se espalham por outras agremiações de esquerda, como
a Rede de Marina Silva, fazem parte do exército de reserva petista. Na política brasileira,
infelizmente, só há lugar para o fisiologismo desavergonhado e o radicalismo de esquerda. Não há
uma sólida ideologia de centro. Prova disso é que o PSDB e seu esquerdismo moderado, representado
pela social-democracia, só foi viável eleitoralmente enquanto durou o Plano Real. Hoje, o partido só
existe fora de São Paulo às custas de chefes regionais, como Aécio Neves, em Minas Gerais, e Marconi
Perillo, em Goiás. Talvez, por isso, os três mais novos partidos do País, fundados entre 2010 e 2011,
oscilem entre a fisiologia desbragada (PSD), o extremismo de esquerda (PPL) e a irrelevância
cartorial (PEN). Todos gravitam ao redor do governo petista – a exemplo de sindicatos, empreiteiras,
fundos de pensão, movimento estudantil, universidades, ONGs, etc. O que, sem dúvida, aumenta o
risco de uma reforma política bolivarista no País – feita com o poder irresponsável das ruas e seu
anonimato de conveniência.

José Maria e Silva é jornalista e sociólogo.

Publicado no Jornal Opção, de Goiânia.

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