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Resumo
Esta pesquisa tem como objeto de estudo os processos pedagógicos propostos pelo
fotógrafo e educador Miguel Chikaoka, fundador da FotoAtiva (PA). O artigo nasceu a partir
da participação da pesquisadora como aluna do curso “De Olhos Vendados” e como
observadora do Projeto “Fototaxia - Em Busca Do Elo Perdido” (2014), que tem como
objetivo trabalhar na formação de educadores, partindo da luz como potência para alcançar
desdobramentos transdisciplinares, como contribuição para a transformação da Educação. A
partir da pesquisa qualitativa, através observação participante, aliada à pesquisa bibliográfica,
este trabalho propõe uma breve análise sobre os processos educativos propostos por Chikaoka
e uma reflexão poético-científica da experiência, de como a fotografia pode atuar como
ferramenta de aprendizagem e produção de conhecimento, abordando temas para além do
mecanismo e resultado plástico, mas como uma dispositivo sensível no exercício da prática
para liberdade.
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Introdução
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ser considerado o primeiro grupo do Fototaxia. Hoje, o projeto não tem mais este formato,
mas seus multiplicadores continuam a propagar a ideia através de eventos, encontros,
cineclubes, debates e oficinas.
A pesquisa apresenta os principais eixos que conduzem o Fototaxia e as características
presentes na pedagogia proposta pela iniciativa. Traz como exemplos descrições de exercícios
e algumas percepções que emergiram da vivência observada, interpretadas de maneira
qualitativa. Faz-se necessário contextualizar, destacando a base da constituição da FotoAtiva,
Associação fundada por Miguel Chikaoka que atua na disseminação da metodologia. Como
também, apresentar um pouco alguns elementos que constituem a ação-reflexão do educador.
O trabalho ainda convida para um reflexão sobre os métodos de aprendizagem - que
tem como foco a experiência, o processo, a observação, a percepção, a intuição, as conexões,
as trocas de conhecimentos, os insights. Critica também o automatismo e o consumo
excessivo de informações. E revela a potência da fotografia para além da imagem e da
técnica, mas como uma linguagem, um meio de expressão, uma forma de aprender ver o
mundo.
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“A possibilidade de dialogar com o mundo sem a necessidade de palavras, mas
por meio de vibrações imagéticas permite-o projetar suas percepções para além
de seu corpo, para além de sua interioridade, permite-o exercer sua capacidade
comunicativa, sua expressividade, sua liberdade, de modo a lançar-se em outras
direções.”3
Essa decisão veio junto com a vontade de se auto-conhecer, a forma de como gostaria
de se projetar no mundo e alguns questionamentos: “O que eu quero? A benefício de quem?
[...] O que que viria ser da minha vida a partir daí enquanto individuo, ser humano, antes de
ser um engenheiro.”4
Voltou ao Brasil no inicio da década de 80, após “Anos de de Chumbo”5, e escolheu a
capital Paraense para se estabelecer como fotógrafo independente. Com propostas
experimentais coletivas, e novas formas de habitar a cidade (Foto-Varal, Foto-Oficina, Foto-
Pará) e atitude de educador, fundou a FotoAtiva em 1984, e também a agência Kamara Kó 6,
voltada a documentação das questões sociais e ambientais da Amazônia. A fotografia vem
então como uma forma de projetar-se no mundo, expressar seu interior, dialogar com a
realidade, aprender sobre a vida e sobretudo encontrar-se com o outro.
Segundo Paulo Freire “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: Os
homens se libertam em comunhão”.7 Para Chikaoka estar junto sempre foi sinônimo de
aprendizado, desde sua infância com a família, passando pelo foto-clube na França, a suas
oficinas em Belém, onde iniciou seu percurso pedagógico. A ideia de coletivo também esta
presente em seu trabalho artístico. Um exemplo é o projeto Urublues, painel que construiu a
convite da Fundação Cultural do Município de Belém, onde ele monta um grande mosaico a
partir de uma foto sua do Ver-o-Peso, mas especificamente do Mercado de Ferro, construído
por pequenas fotografias advindas de diversos olhares feitas em técnica pinhole. Ele fez um
convite aberto a população, e diversas pessoas anônimas contribuíram na obra. De longe se vê
a imagem base, e de perto, a fotografia revela diversos pontos de vista, revelando identidade
complexidade daquele lugar. A obra de autoria múltipla, também parte de uma ética, ao
3 VIANA, 2010.
4 CHIKAOKA Apud. VIANA, 2010.
5Expressão usada no Brasil para representar o período repressivo da ditadura militar, que durou até até o final do
governo Médici, em março de 1974.
6A trajetória de artística de Miguel Chikaoka pode ser lida na publicação “Navegante da Luz- Miguel Chikaoka
e o navegar de uma produção experimental”, lançada pela Kamara Kó em 2014 e escrita por Marisa Mokarzel.
7 FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013
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conceber a fotografia como prática social e democrática, experimentável por todos e qualquer
um.8
“Estar no mundo é também, não apenas estar para si, mas estar para os outros, estar
para os terceiros”.9 esta frase de Chikaoka revela seu processo como educador. A filosofia
budista, assim como a física quântica, ensina que nada existe por si só, nada existe por
natureza independente, tudo está inteiramente ligado e dependente do outro.”10
Edgar Morin traz a questão da complexidade, “o conhecimento é, portanto, um
fenômeno multidimensional, de maneira inseparável, simultaneamente físico, biológico,
cerebral, mental, psicológico, cultural e social”.11 Para Morin, complexo quer dizer “o
pensamento capaz de reunir (complexus: aquilo que é tecido conjuntamente), de
contextualizar, de globalizar, mas ao mesmo tempo, capaz de reconhecer o singular, o
individual, o concreto”.12. Ele coloca a importância de percebermos que a nossa lucidez
depende do grau de complexidade o qual organizamos nossas ideias. “Como modo de pensar,
o pensamento complexo se cria e se recria no próprio caminhar”. 13 Ramos (2015) resume:
8 ANDRADE, 2011.
9 CHIKAOKA apud. VIANA, 2010.
10 VIANA, 2010.
11 MORIN,2012, p. 18 apud. RAMOS, 2015.
12 MORIN; MOIGNE, 2000, p.207 apud. RAMOS, 2015.
13 MORIN, CIURANA e MOTTA, 2003, p. 52 apud. RAMOS, 2015.
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exercitar a nossa capacidade de construção do conhecimento amplo, sem a
ruptura da natureza rizomática dos sentidos e do sentido dessa construção”.
“Não acho apropriado falar de fotografia como disciplina de sala de aula, mas
introduzir essas abordagens como uma alternativa pedagógica potencializadora
do aprendizado amplo e irrestrito, voltado para a formação de base do cidadão.
Acho que a base do ensino fundamental, segmentada por disciplinas, desloca a
função da escola nessa fase da formação. O objetivo deve ser a formação para o
exercício pleno da cidadania de direitos e responsabilidades pautados numa
visão planetária. Não como modismo, por indução midiática, mas com
consciência plena”.
“Produzir imagem hoje é uma coisa absolutamente banal: não precisa nem
pensar nada, é só apertar o botão e a coisa acontece. Não tenho nenhum
problema que toda essa parafernália tecnológica exista, mas me preocupo sim
com sua apropriação inadequada. Acabamos sendo vítimas por não termos esse
lugar da prática de mergulho”.15
!14 Expressão Paulo Freireana referente ao ato de conhecimento. “A leitura do mundo precede a leitura da
palavra” (FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler, 1988).
15 CHIKAOKA, 2015.
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apropriamos muito mal porque temos uma formação péssima, deficiente.
Olhamos tudo como um objeto do desejo”.16
““As imagens não são conjuntos de símbolos com significados inequívocos [...].
As imagens oferecem aos seus receptores um espaço interpretativo: são
símbolos ‘conotativos’” Através do olhar se estabelecem relações significativas,
seja do lugar do fotógrafo, seja do lugar do espectador, uma vez que as imagens
são mediações entre o homem e o mundo.”18
Para Chikaoka: “Você não precisa fazer a grande foto. O processo, a sensação de estar
fazendo aquilo é o que interessa”. 19 Em entrevista concedida a Maria Hirszman na Revista
Zum, Chikakoka (2015) explica sua analogia do exercício da construção da câmera obscura
como prática para liberdade:
Jorge Larrosa (2002) traz a ideia que silêncio e a pausa são momentos importantes
para construir esse ser sensível. As animações de Hayao Miyazaki são marcadas por esses
momentos de espaço e tempo. São momentos de contemplação, de respiro, quando os
personagens param e o espectador para junto. O critico americano Roger Ebert descreve: “os
16 CHIKAOKA, 2015.
17 FLUSSER, 2002, p.107.
18 FLUSSER, p.28 1998 Apud. ANDRADE 2011
19 Entrevista “Miguel Chikaoka, mestre do desenho com a luz”, publicada em 7 de março de 2010. Disponível
em: <https://docplayer.com.br/58529290-Mostra-fotografica-de-30-de-marco-a-30-de-abril-museu-da-ufpa-
terca-a-sexta-das-09-00-as-17-00-sabado-e-domingo-10-00-as-14-00.html>. Acesso em 21 Mar. 2019.
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personagens vão apenas sentar por um momento, ou vão suspirar, ou olhar um córrego, […]
apenas para dar uma sensação de tempo, de espaço e de quem eles são”. 20 Miayazaki
responde: “A gente tem uma palavra para isso em japonês. É chamada de “Ma”21 . Vazio. Isto
está lá intencionalmente”.22 É um conceito antigo presente na arte e cultura japonesa. Ele é
importante e tem significado. Ma é uma ausência que permite que algo se manifeste através
dela.23 O diretor complementa “O que realmente importa são as emoções subjacentes.”24
Para Maturana as emoções estão na base do ser humano. “As emoções são dinâmicas
corporais que especificam os domínios de ação em que nos movemos. […] Se queremos
entender as ações humanas não temos que observar o movimento ou o ato como uma
operação particular, mas a emoção que o possibilita.”25
Larrosa traz a ideia do “sujeito da experiência”, aquele que pausa para pensar, respirar,
refletir o que acabou de ouvir ou falar, sentir de que forma isso repercutiu nela mesma. Que se
deixa tocar, emocionar, que é atencioso, paciente, está passivo à paixão e aberto à sua própria
transformação.
“Para Dewey, toda experiência tem dois aspectos: o aspecto imediato de ser
agradável ou desagradável, e o relativo à sua influência em experiências futuras.
21 Seu ideograma (間) é a combinação de dois caracteres: um que significa Porta e outro que significa Sol.
22 Em entrevista a EBERT, 2002.
23 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Kyp3YV2t0gQ> Acesso 27 de Mar. 2019
24 Em entrevista a EBERT, 2002.
25 MATURANA, 2009.
26 LAROSSA, 2002.
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Para ele, a experiência é central no conhecimento que podemos ter do mundo.
[…] Assim, para o autor, o problema central de toda ação educativa baseada na
experiência, como uma força em movimento, “é selecionar o tipo de
experiências presentes que possam viver frutífera e criativamente nas
experiências subsequentes”.27
Neste sentido, Chikaoka afirma “O que importa acima de tudo não é a formação do
fotógrafo, mas a formação do ser humano. É o ser humano que sustenta o fotógrafo”.28
Chikaoka busca para si uma postura de facilitador do conhecimento. Segundo Rubem
Alves no documentário “Rubem Alves – O professor de espantos” (Dulce Queiroz, TV
Câmara, 2013), o facilitador seria “É um professor que não ensina nada. […] É um professor
de espantos. O objetivo da educação não é ensinar coisas porque as coisas já estão na Internet,
estão por todos os lugares, estão nos livros. É ensinar a pensar. Criar na criança essa
curiosidade.”
No livro Pedagogia da Autonomia (1996) - saberes necessários à prática educativa,
Paulo Freire chama a atenção para importância do exercício da curiosidade, diz que
independente da idade do educando, o caráter humano é de permanente busca, e por isso vale
a pena colocar alma, emoções, não reprimir sentimentos, dar valor as possibilidades de
mudança, estimular a autonomia, de analisar, intervir, entender, aprender fazendo. Tudo isso
corrobora para uma pedagogia transformadora, pois ser sujeito da aprendizagem, é ser
também o sujeito do conhecimento. Freire diz que o educador é um mediador que proporciona
diversas oportunidades de aprendizagem. E que o ato de aprendizagem não é a transferencia
de conteúdo, nem a memorização. Tem haver com reflexão metodológica de desvelar a
compreensão igualmente critico do educador e educando, adentrar no processo de
aprendizagem como sujeito ativo, e de forma suave, revelar que tudo está ligado.
Chikaoka (2015), faz um exercício de cartografia sobre as origens de suas reflexões e
apresenta alguns ingredientes que o alimentam o seu processo com a luz.
Câmera obscura: “em 1984, […] Rino Marconi que nos brindou com a
construção de uma câmera obscura utilizando uma caixa de papelão. Até então,
meu conhecimento sobre a formação da imagem era baseado no estudo da física
e da experiência de captura com a câmera pinhole. Enfiar a cabeça numa caixa
de papelão e ver a imagem projetada através de um furinho foi incrível. Logo
incorporei mais esse “momento pré-fotográfico” nas atividades das oficinas
como meio de instigar o entendimento da gênese do processo fotográfico.”
Segundo Suely Rolnik (2016), cartografar tem haver com acompanhar a latitude e a
longitude das intensidades dos afetos, marcar e remarcar a multiplicidade rizomática dos
movimentos. O cartógrafo, o que ele busca, são as potencialidades para a criação de mundos,
“que esteja mergulhado nas intensidades de seu tempo e que, atento às linguagens que
encontra, devore as que lhe parecerem elementos possíveis para a composição das cartografias
que se fazem necessárias. O cartógrafo é, antes de tudo, um antropófago30”.31Aquele que
busca absorver o outro, incorporar-lo e devolver de maneira transformada.
No Site Olhavê, na seção “A foto que eu queria ter feito”32, onde fotógrafos,
pesquisadores e curadores são convidados a mostrar a foto que queriam ter fotografado e o
porquê. Chikaoka responde: “Oi Alexandre, juro que, durante esse tempo que passou,
lembrei-me de muitas fotos que aprecio, mas curiosamente não se deu o “insight”… De
repente, O Vento! Portanto, se possível enquadrá-lo na seção, O Vento, do Manoel de Barros,
é uma foto que eu queria ter feito.”33
O Vento
30A Antropofagia foi um movimento cultural tematizado por Oswald de Andrade, celebrava como uma saída
para o problematização da identidade brasileira e antídoto contra o imperialismo.
31 ROLNIK, 2016 p. 23.
32 Disponível em: <https://olhave.com.br/category/a-foto-que-eu-queria-ter-feito/> Acesso em: 27 de Mar. 2019.
33Disponível em: <http://olhave.com.br/2010/03/a-foto-que-eu-queria-ter-feito-miguel-chikaoka/> Acesso em:
27 de Mar. 2019.
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Mas a forma do vento me fugia que nem as formas de uma voz.
Quando se disse que o vento empurrava a canoa do índio para o barranco.
Imaginei um vento pintado de urucum a empurrar a canoa do índio para o
barranco
mas essa imagem me pareceu imprecisa ainda
estava quase a desistir quando me lembrei do menino montado no cavalo do
vento - que lera em Shakespeare
Imaginei as crinas soltas do vento a disparar pelos prados com o menino
Fotografei aquele vento de crinas soltas.
Manoel de Barros 34
Fototaxia
Dinâmica de apresentação
Se solicita que cada um escolha um objeto afetivo que trouxe consigo, forme uma roda
e coloque o objeto no meio. Chikaoka inicia com um bate-papo informal falando sobre o
37Pedagogia da Luz também foi um grupo de estudos do NFE do FotoAtiva, criado em 2011 com objetivo de
reunir educadores e interessados em em compartilhar estudos e práticas educativas transdisciplinares pautados
nas abordagens filosóficas e científicas da fotografia e da pedagogia, assim como tem o caráter de formar
educadores multiplicadores com princípios que espelhem a filosofia do FotoAtiva. Mas hoje se encontra inativo.
38 SILVA, 2013.
39 Disponível em: <http://www.fotoativa.org.br/?page_id=3825> Acesso 20 de Mar. de 2019.
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projeto. Depois pede que cada um pegue o seu objeto e através dele fale de si, e das
expectativas da formação. A proposta da dinâmica de apresentação é um primeiro desafio,:
fazer com que cada participante faça uma auto-reflexão de si, um exercício do conhecimento
que tem de si mesmo, de sua identidade. Na dinâmica cada um fala das coisas que gosta, da
forma como se comporta, acredita, se expressa e sonha. Como suas características estão
empregadas em um objeto e porque. Este momento que marca a individualidade e ao mesmo
tempo a diversidade do grupo.
Os materiais
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sem definição ou utilidade. Relação com as artes visuais. Apresenta harmonia, unidade, busca
movimento e complementaridade da cor. Grupo 5: Caixa, barco, porta retrato - Exercício de
memória. Construção a partir do que já haviam aprendido e tido experiência. Exploram o 3D e
a utilidade. Grupo 6: Ideia dos “cabeçudinhos”, cultura local “São João”, cada um faz uma
parte do corpo. Pensaram na criança e no brincar. Grupo 7: Se pensa na regionalidade,
relaciona com a cor do açaí e a flor da amazônia. Exploram a tecnologia do origami. Grupo 8:
Formas que se vê pela cidade, relação com artistas (Gaudi, Ligia Clarck, Arte Concreta), com
a matemática, volume com a cidade, impossibilidade e possibilidade (como juntar, encaixar,
deixar em pé).
O momento de trabalhar em grupo é um exercício muito importante, a interação entre
pessoas diferentes, o respeito ao tempo do outro, de pensar pelo outro para depois se incluir.
A potencialidades que se instaura em usar apenas um material. Que tudo é aproveitado e pode
ser encarado como uma brincadeira. A atividade convida a explorar a criatividade, trabalhar os
limites e a diversidade de possibilidades de construção. Tudo isso mexe com auto estima,
confiança e auto conhecimento dos participantes. Da margem também para a investigação
(origem, pesquisa, história).
Mãos para…
Chikaoka pede em 1 minuto fazerem uma lista com o assunto “Mãos para…”. Uma
infinidade de sentidos surge: sentir, olhar, tocar, se comunicar, cozinhar, esquentar, acariciar,
massagear, cutucar, empurrar rasgar, cortar, abrir, fechar, apertar, dedicar, harmonizar, pintar,
desenhar, escrever, moldar, coçar, alisar, conciliar, limpar, comer, pescar, apontar, apoiar,
fotografar, se pendurar, ritmar, conduzir, brincar, unir, cavar, escalar, trabalhar, carregar,
negar, afirmar, lavar, batucar, aplaudir, nadar, segurar, chamar, esfregar, misturar, plantar,
semear, sovar, simbolizar, dominar, transmitir entre outros. Um grupo começa ler. O que for
saindo cada grupo deve eliminar de sua lista e ler apenas o que ainda não foi dito.
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surpreendeu nessa experiência foi a rapidez e a precisão dos não-ouvintes em
executar os passos, enquanto muitos ouvintes pediam para repetir a explicação
sobre cada etapa e movimento demonstrados. Intrigado, resolvi, conduzir em
silêncio as atividades manuais, com grupos de ouvintes, servindo-me apenas de
movimentos corporais. Foi a oportunidade de integrar silencio e o deslocamento
da atenção para o fluxo de informações através do som para a luz, dos ouvidos
para os olhos. Sem alardes, com mais eficiência e precisão.”40
40 CHIKAOKA, 2015.
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O processo é conduzido com muita calma, de forma instigante e com brincadeiras.
Mas cada brincadeira tem um porque. O porque de se ajoelhar, para jogar peso quando se esta
vincando. O porque de pisar na dobra enquanto cola, porque a cola requer tempo para colar,
então enquanto pisa se faz de equilibrista, bailarina, aviãozinho. Fazer da espera um momento
prazeroso. O porque do papel alumínio, que veda a luz e do papel vegetal por ser translúcido
não se pode ver através, mas que absorve um pouco de luz, suficiente para formar a imagem.
Com as câmeras construídas se fala sobre a fisiologia do olho. E algumas instruções
são dadas para a saída. De dar tempo para os olhos se acostumarem. A importância de ficar na
sombra ou em um lugar com menos luz. O cuidado de tentar vedar a entrada de luz nas
laterais, para tapar com as mãos. E para testarem um furo, um furo um pouco maior, dois
furos, e depois colocar uma lente (lupa) e observar a diferença.
“De olhos vendados” faz parte desse processo de busca pelo aprimoramento do
olhar para além do visível imediato, superficial. O nome é uma grande
provocação. De uma certa forma, se formos pensar do ponto de vista do olho,
seria um ‘não ver só com os olhos’ ou os sentidos da percepção, é o
desdobramento do que chamei um dia “fotografia sensorial”. Um exercício de
revelação dos sentidos da alma, um mergulho pra dentro de si. É estudar a foto
enquanto momento. E sabe, gosto de trabalhar com cada vez menos aparatos.
Hoje existem coisas por demais sofisticadas, câmeras de última geração... fico
pensando que isso é uma aberração, tanta informática, tanta tecnologia. As
pessoas acabam esquecendo as coisas simples. Vou fazer 60 anos e ainda lembro
da vida simples que minha mãe levava. Cuidava da horta, andava a cavalo. Era
um mundo diferente, né? Outra forma de vida. Hoje a gente quer uma coisa,
aperta um botão, e lá está.” 41
41 CHIKAOKA, 2015.
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Chikaoka propõe outras dinâmicas sensoriais, como vedar os olhos e ser conduzido
pelo outro, e depois trocar. Esses momentos são ambientados com música. Chikaoka sempre
coloca musica nos momentos de criação, nos intervalos e na chegada.
Pinhole e Fotogramas
42 CHIKAOKA, 2015.
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Uma folha é distribuída. Com espaço para 6 fotogramas e espaços para anotações em
baixo de cada fotograma. Tempo, Luminosidade, posição e observação. O exercício proposto
é fazer 3 fotos, na mesma posição com 3 tempos diferentes. Neste momento é reforçado que o
importante não é a imagem como resultado e sim as observações da luz, por isso 3 tempos
diferentes, a investigação.
Como é muita gente, para agilizar o exercício, no carregamento se escreve o nome do
participante atrás da folha e a numeração, e nos intervalos se descarga em uma caixa.
Posteriormente todos são revelados juntos. Não importa ver sua imagem e sim o processo de
revelação. Posteriormente cada um identifica sua imagem.
São dadas as instruções de saída. A contagem do tempo é feita, um carangueijo, dois
caranguejos, 3 caranguejos, para dar cadencia, se não a tendencia é contar 123456789. Se
ensina como colocar o papel dentro, identificar o lado sensível. Sair com o furo tapado, só
abrir quando estiver posicionado. Ver se esta bem tapado. Sobre quando estiver no quarto
escuro, não ter luz, cuidado com a luz do celular. A explicação que o papel não enxerga a luz
vermelha (como um problema auditivo, alguém que não escuta o grave, o grave é igual ao
silêncio). Mas o filme enxerga o vermelho, por isso tem q ser feito em total escuridão.
Cuidado ao sair, sair todos juntos, já com os potes fechados. O tempo que ficou aberto enche
o copinho de luz, o objetivo é encher na medida certa. Chikaoka diz “não existe erro, tudo é
teste de luz”, se saiu preto ou branco, é puro resultado da luz. Em primeira instancia olhar
para luz e não para imagem. Primeiro decidir onde colocar a câmera, olhar para luz, e proteger
do sol o furo, colocar na sombra ou colocar a mão em cima para que o sol não insira
diretamente no furo. Segundo pensar e escolher a direção da câmera.
No dia seguinte a proposta pode ser tema livre e com o exercício de anotar o máximo
de informação de cada fotograma. Ou sugerir trabalhar com zonas. Como por exemplo,
fotografar apenas mãos, sendo a mão a base de formação: mãos na sombra, mãos no sol, com
contraste, sem contraste, em cima, em baixo, de longe, de perto. Ou escolher um objeto que
traz para si e tirar foto dele em diferentes situações. Ou ainda fazer o exercício em duplas,
cada um fotografar o pé do outro, mas com percepções da luz. Fazer comparação da luz para
poder fazer leituras de imagem. Uma outra proposta sugerida seria o exercício com variantes,
trabalhando também com um mesmo objeto. Ângulos diferentes, mesmo tempo, mesma luz,
mesmo lugar. Lugares diferentes, mesmo tempo, mesma luz, mesmo ângulo. Tempos
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diferentes, mesma luz, mesmo lugar, mesmo angulo. E luzes diferentes (esperar, ou modificar,
com refletor, abrir e fechar janela), mesmo tempo, mesmo lugar, mesmo angulo.
Luz é…
Em uma roda, cada um fala o significado que tem da luz para si, e leva um conceito de
luz para alguém na sua direção oposta, simbolizando esse corpo cheio de luz. Com um rolo de
barbante na mão, para mostrar que a luz se propaga em linha reta, como a luz se comporta, a
pessoa percorre o caminho da luz e entrega o rolo para outra pessoa, e fica segurando a ponta
do barbante, o outro segue na mesma dinâmica, fala “Luz é…,” percorre a direção oposta, e
entrega o rolo e fica segurando parte do barbante, assim o rolo vai passando de mão em mão,
diversos significados vão surgindo: espiritualidade, revelação, brilho, caminho, imagem. No
final se tem uma grande Teia de Luz. Chikaoka fala da velocidade da luz, estrela que já
morreu e ainda a vemos, que sem luz não há vida, mas que também ela incomoda, queima,
que não a vemos e que ela não ocupa espaço.
43 CHIKAOKA, 2015.
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Outra dinâmica para demonstrar porque a luz se propaga em linha reta e porque a
imagem é invertida, é feita em trios. Antes, em outro momento, cada um desenha um olho,
qualquer tipo de olho em um pequeno pedaço papel cartão quadrado com um furo no meio de
2cm de diâmetro. Se usa materiais diversos: guache, pinceis, tesoura, cola, revistas. Chikaoka
faz dinâmica do “Pássaro, o Ninho e a Tempestade” e assim dividi o grupo em trios, para
fazer a atividade. Cada um pega seu papel cartão que desenhou o olho. Chikaoka demostra o
funcionamento da dinâmica. Em que um fica parado, segurando o olho, este representa o olho
em si, a frente, seria o exterior, e o verso seria, o interior, onde forma a imagem. Olhando
através de seu olho e do buraco do olho que está parado, quem fica do lado de fora, conduz o
movimento. E quem esta do outro lado o segue. Assim, se quem conduz vai para cima, o de
dentro para baixo. Buscando sempre o olho do outro, através do orifício. Depois entre eles, se
revezavam.
Percepções
Miguel Chikaoka sempre fecha seus encontros com as percepções do dia, e no dia
seguinte abre com as percepções do dia anterior, dando tempo a reflexão. O momento de se
falar sobre as percepções é muito rico, onde se abre para cada um se colocar da sua maneira,
se instaura um espaço de trocas de conhecimento. E no último encontro, em roda, se propõe
que cada um ajude a recapitular, tudo que foi dado, uma maneira de reforçar o conteúdo
aprendido.
Chikaoka, se coloca disponível para falar dos processos, de onde se quer chegar, o que
esta por de trás de cada dinâmica. Afirma que toda dinâmica está dentro de um contexto e que
tudo tem sentido, e que se para alguém algo não faz sentido, ele convida a discutir. Diz que
não se deve focar a atenção com que o aluno vai produzir e sim com o processo que ele vai
vivenciar. Ter menos preocupação com a imagem e sim com que esta detrás dela. A
provocação surge para mostrar os caminhos. Discutir o material antes de usar o material. Falar
sobre as mãos antes de usar as mãos (para construir a câmera). A partir da ideia de falar do
materiais antes de trabalhar com eles se pode tirar a lição de discutir antes o que é Ser
Humano. Para depois refletir o que é ser Professor. Sentir a mão do outro antes da semente.
Sentir e falar sem ver. Observar para além de olhar. Observar sem falar. A relação de depois
de sentir a semente, desenhar o que sentiu, a árvore a qual ela faz parte. De onde vem esta
!20
imagem? O que é imagem? Quantas imagens tem na mente de uma pessoa? Ela entra somente
pelo olho?Chikaoka busca desconstruir e se questionar sobre a ideia de necessidade de
inclusão:
Propõe religar os sentidos, colocar para fora o que se pensa, o que se sente, o que se
pode criar e modificar a realidade. Propõe com a câmera obscura, olhar exaustivamente como
a luz entra. Observar através da câmera obscura, a noite, a luz artificial, o amanhecer, o sair
do sol. Chikaoka acredita que o trabalho com Arte contribui neste processo de construção de
um olhar mais livre.
No pinhole, mergulhar no processo fotográfico pela latência, pelas possibilidades, pela
imprevisibilidade, pelo inacabamento. Chikaoka sugere sair fora do trilho, do controle
imediato, diferente do senso comum que busca ter controle absoluto e acertar sempre.
Chikaoka costuma repetir que não existe erro45, tudo é experimentação. Se saiu tudo preto, ou
tudo branco, tudo é resposta da luz. E quando perguntam sobre a melhor câmera, responde
que não existe melhor câmera, existe melhor relação fotógrafo-câmera. E sempre coloca que
nada é problema, tudo é desafio.
Chikaoka acredita que a fotografia pode ser bastante útil como ferramenta de
aprendizagem na sala de aula.
44 CHIKAOKA, 2010.
45 Morin em Os sete saberes necessários à educação do futuro também valoriza o erro como enquanto
instrumento de aprendizagem.
46 Disponível em: ,https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/fotografia-para-
educar-1.409563>.
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Considerações Finais
“Educar significa lançar convites aos outros; mas o que cada um fará – e se fará
– com estes convites, foge ao controle daquele que educa. Para educar, portanto,
é necessário ter o desprendimento daquele que não deseja discípulos, que
mostra caminhos, mas que não espera e muito menos controla os caminhos que
os outros seguem. E mais: que tenha ainda a humildade de mudar seus próprios
caminhos por aquilo que também recebe dos outros”.51
Portanto, “educar com a luz, para a luz” são convites que Miguel Chikaoka lança para
a educação para a liberdade. “Segundo ele, a luz é mais do que luz propriamente dita, está
numa perspectiva de plano aberto, é repetindo o olhar na direção dela que se leva a planos que
anteriormente não tinha.”53 Chikaoka (2014) fala que tudo é uma questão de ponto de vista, se
está esta cansado é porque esta olhando da mesma maneira. Que é preciso desdobrar, para não
perder o dom da investigação, como a criança, estar sempre em uma via pulsante, como poeta
Manuel de Barros que reinventa as palavras.
A Pedagogia da Luz nos ensina a expandir o olhar acerca dos fragmentos, reivindica o
conhecimento e educação como algo abrangente e trabalha com a imagem fora dos valores
dominantes. No exercício da complicada arte de ver, tentar revelar o Eu, o Outro e a História
que a história não conta54. Através da ‘escrita da luz’ 55, a ação tem como base a engrenagem
do sentir, observar, olhar para dentro, refletir, encontrar o outro, trocar ideias, entender o
mundo, depositar anseios, inventar, explorar possibilidades, absorver saberes, experienciar o
caos, experimentar o imprevisível e tirar suas próprias conclusões.
“Na verdade somos todos uma luz efêmera, mas uma luz que está aqui e agora e
que, ao se “apagar” vai se transformar, para os que ficam, no que chamamos de
morte. Essa ausência de luz é na verdade um outro estado de luz. […]
precisamos estar do outro lado da luz para ver a luz. É como morrer para ver a
vida. Há um provérbio zen que diz: “Só encontrará a vida quem a perdeu”.
Considero que a percepção e contato com a luz nesse processo é uma
oportunidade para expandirmos a leitura da luz para além da matéria. Não é por
nada que, em todas as culturas, a luz se faz e desfaz
simbolicamente” (CHIKAOKA, 2010)56
54Samba-enredo da Mangueira, campeã do carnaval carioca de 2019 que diz: “Tem sangue retinto pisado, atrás
do herói emoldurado. Mulheres, tamoios, mulatos. Eu quero um país que não está no retrato”
55 Como podemos traduzir o termo grego fotografia.
56 Entrevista. MESTRE do desenho com a luz. Publicada no jornal Diário do Pará, 2010.
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