João Calvino, um nome bastante polêmico e importante para a história do

protestantismo, especialmente para a denominada teologia reformada, para a

qual os pensamentos de Calvino e de Zuínglio estão entre as principais
referências. O universo da teologia de Calvino é bastante extenso, contudo,
vamos nos concentrar em cinco pontos ou doutrinas dentre as mais discutidas
e polêmicas inspiradas em seus ensinamentos, denominadas de “Os cinco
pontos do Calvinismo”. o objetivo é de refletir sobre estas cinco doutrinas à luz
de sua principal antítese, os argumentos arminianos, um debate ainda presente
e que distingue opiniões e posições doutrinárias entre algumas denominações
eclesiásticas.

Calvino foi um dos mais importantes líderes da Reforma Protestante na Suíça.

Nascido na França em 1509, converteu-se ao cristianismo quando realizava
seus cursos universitários em Artes e Direito, em Paris. Escreveu diversos
comentários bíblicos; sua principal obra, “As institutas da religião cristã”, ainda
hoje é considerada um grande clássico da Teologia. Como já mencionamos,
nos próximos cinco temas e vídeos abordaremos “os cinco pontos do
Calvinismo”, denominação conhecida após o Sínodo de Dort, em 1619, que
afirmou ser este o sistema de teologia contido nas escrituras em relação à
doutrina da salvação. Atualmente, esta doutrina tem, no Brasil, o
presbiterianismo como um de seus principais representantes. A sistematização
em forma de cinco pontos inspirados no pensamento de João Calvino foi
elaborada em oposição à Remonstrância, estrutura apresentada em 1610 à
igreja da Holanda pelos arminianos, inspirados nos ensinamentos de Jacob
Arminius.

Tema 01: A total depravação x o livre-arbítrio

O sistema teológico dos cinco pontos do Calvinismo tem sido frequentemente
representado pelo tetragrama TELIP. Para começar, vamos abordar a letra T:

A letra T diz respeito à doutrina da TOTAL DEPRAVAÇÃO, segundo a qual a

natureza humana é totalmente corrompida pelo pecado – natureza herdada de
Adão e corrompida desde o pecado original. Dessa forma, sem a ação
exclusiva da graça de Deus através da eleição, o homem não tem condição de
escolher a salvação. É interessante que se faça esse debate à luz das
referências bíblicas, como, por exemplo: Romanos 3:9-18; João 8:34; 2
Coríntios 4:3-4; Efésios 2:1-6. Na visão arminiana, embora a natureza humana
tenha sido afetada pela queda, ela não ficou totalmente depravada, tendo ainda
resistido, pela graça de Deus, tendo a capacidade de receber ou de resistir à
graça salvadora. Assim, Deus respeita o livre-arbítrio humano, que precisa,
pela fé, aceitar a oferta de redenção feita a todos.
Tema 02: Eleição incondicional x eleição condicional
A letra E – ou U, no inglês – representa a doutrina da eleição incondicional, ou
seja, aqueles que chegam à salvação recebem-na pela incondicional e livre
escolha de Deus. Não há nada que o homem possa ou precise fazer para
receber a salvação, nem mesmo a fé, obediência ou arrependimento, pois é
Deus quem concede fé e arrependimento aos que elegeu. Portanto, a escolha
de alguns indivíduos para a salvação está baseada única e exclusivamente na
vontade soberana de Deus. Não é o homem que escolhe a Cristo. Antes, é
Deus que escolhe o pecador. Atos: 13:48; Efésios 1:4,5; 1 Tessalonicenses
1:4,5; Tm.1:9; Romanos 9:14-23; Romanos 11:7-10. Para a visão arminiana, a
eleição está condicionada à escolha do homem. Ele precisa exercer fé e
obediência ao chamado gracioso de Deus. A eleição de Deus, antes da
fundação do mundo, está baseada em sua presciência. Ele elegeu aqueles que
sabia que iriam aceitar ao chamado de Cristo.

Tema 03: Limitada expiação x expiação geral

O L do tetragrama representa a doutrina da LIMITADA EXPIAÇÃO, ou seja, a
obra redentora de Cristo visou salvar somente os eleitos. A expiação é limitada
àqueles que Deus, por sua escolha incondicional, elegeu. Para estes, a morte
de Cristo será eficaz, provendo-lhes fé e ação do Espírito Santo para que
cheguem à salvação. João 6:44 e 66; 10:24-27; 15:16; Mateus 22:14. Para os
arminianos, a expiação é geral, ou seja, está disponível a todo que crer e
aceitar a Cristo como único salvador. Dessa forma, a possibilidade de salvação
está aberta a todos que por sua livre vontade crerem e aceitarem o evangelho.
Assim, Cristo morreu por todos, mas sua morte só será eficaz aos que o
receberem.

Tema 04: Irresistível graça x graça resistível

A letra I do tetragrama representa a doutrina da irresistibilidade da graça. Além
de um chamado geral e externo a todos os que ouvem o evangelho, o Espírito
Santo chama internamente os eleitos, convencendo-os de seus pecados e
levando-os ao arrependimento e à fé que resultam, inevitavelmente, em
salvação. A graça oferecida aos eleitos torna-se irresistível, não dependendo
da vontade ou cooperação humanas, mas somente do Espírito Santo. O
sistema calvinista também pode ser denominado de monergista, ou de
monergismo, no sentido de que a salvação depende inteira e exclusivamente
de Deus, que proverá tudo o que for necessário para que o pecador eleito
chegue à salvação. João 6:44; João 10:28; Filipenses 1:6; Gálatas 1.15-16;
Atos 16:14. Para o arminiano, a graça é oferecida igualmente a todos, mas
pode ser e frequentemente é resistida pelo livre-arbítrio humano. Assim, o
Espírito só levará a Cristo aqueles que não resistirem à sua obra e graça.

Tema 05: Perseverança dos santos x possibilidade de cair da

graça
A letra P corresponde à doutrina da perseverança dos santos. Pelo cuidado de
Deus, aqueles que foram eleitos resistirão até o fim. Se verdadeiramente
salvos e regenerados por Cristo, estão eternamente salvos. João 6:39 e 10:28-
29; Romanos 8:38,39; Judas 6: 24. Especificamente neste quesito, não
necessariamente os arminianos diferem dos reformados tradicionais. Alguns
arminianos, como os batistas, em sua maioria, creem na perseverança dos
santos. Assim, entre os arminianos, há alguns grupos que creem na apostasia,
ou seja, creem que o redimido pode apostatar da fé e perder sua salvação, se
não obedecer e perseverar em sua salvação, e outros grupos que acreditam
que, uma vez eleitos e salvos, Deus guardará os redimidos até o fim.

Na prática, estas doutrinas podem ser usadas para distinguir igrejas e cristãos
de teologias reformada e arminiana e, de acordo com nossa exegese das
escrituras, optarmos por uma igreja de confissão teológica coerente com
nossas convicções bíblicas. Contudo, independente da posição teológica com a
qual mais nos identificamos, devemos respeitar o ponto de vista alheio, ainda
que diferente do nosso, pois é possível perceber que ambos os lados dessa
discussão são capazes de respaldar seu ponto de vista em referências bíblicas,
variando, na maioria das vezes, nos viés exegético.

Este é um debate clássico na história da teologia, portanto, é importante que

todo estudante de teologia se interesse por esse assunto, conhecendo a
história e as bases bíblicas dessas doutrinas, podendo ensinar ou discutir
esses temas, se necessário, de forma respeitosa.

Para encerrar, poderíamos resumir uma relação lógica entre os cinco pontos do
calvinismo da seguinte forma: em função da queda em Adão, a raça humana
se encontra totalmente depravada, corrompida e contaminada pelo pecado.
Escravo do pecado, portanto, sem livre-arbítrio nesse sentido, o homem por si
só não é capaz de escolher o bem, mas apenas o pecado. Dessa forma, Deus
elegeu, independentemente da decisão humana, alguns para serem salvos.
Para esses, Jesus morreu e promoveu redenção, e eles serão chamados tanto
externamente pela pregação do evangelho quanto internamente pelo Espírito,
com uma graça irresistível. A estes eleitos e redimidos em Cristo, Deus
conservará salvos eternamente.
Referências
CAIRNS, Earle. O Cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova,
1995.

GONZALEZ, Justo . A era dos reformadores. 2. ed. São Paulo: Vida Nova,
1986.

HOUSE; Wayne. Teologia cristã em quadros. São Paulo: Vida, 2000.

NATEL, Angela. Teologia da Reforma. Curitiba: Editora Intersaberes, 2016.

TILLIC, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 2000.

TIMOTHY, George. Teologia dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993.