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REFLEXÕES NO MEU

ALÉM DE FORA

Delphos (Huberto Rohden)


Luiz Antonio Millecco Filho
APRESENTAÇÃO

Ignoto amigo!

Eis-me, de novo, junto a ti.

Tão logo fui devolvido a mim mesmo, fiz profundas reflexões acerca de minha
última existência terrena. Experimentei incoercível necessidade de estar comigo
mesmo, com os meus pensamentos. Senti um impulso irresistível de entrar em
colóquio com Deus. Não que Deus me tenha voltado a ser longínquo, ao contrário,
agora, mais do que nunca, Ele me é propínquo.

Digo que experimentei profunda necessidade de dialogar comigo mesmo e com a


presença d`Ele dentro de mim. Recapitulei dias de tempestade, revi os
relâmpagos e os trovões de outrora, voltei a sentir as mesmas ânsias pelo Infinito,
retrocedi no tempo e revi minha trajetória.

Algumas de minhas experiências foram transformadas em oração. Algumas


reflexões converti-as em histórias, em contos. E concluo este livro, convidando-te
a reformularmos juntos antigas “verdades mais ou menos definitivas”, já que hoje
posso aprofundar certos dados.

O Curso de Paz foi inserido mais tarde nesta obra, dada a urgência de sua
mensagem. Ele também faz parte de minhas Reflexões no Além de Fora.

Consiga este livro chegar ao fundo do teu coração e ativar ou reativar nele a
necessidade da grande busca, a busca do Infinito, a busca de nós mesmos na
Divindade.

Delfos
I – QUANDO CHEGUEI

Quando cheguei, encontrei amigos queridos que me receberam e me confortaram


e que me iniciaram na nova senda.

Quando cheguei, encontrei paisagens tranqüilas e amenas que me reconfortaram


e me renovaram por dentro.

Quando cheguei, encontrei cariciosas vibrações de amor semelhantes às que me


tinham acompanhado da Terra na hora da partida.

Quando cheguei, encontrei como que a mesma Terra que eu havia deixado,
todavia, em dimensão diferente, sutil, e porque não dizer, bem melhorada.

No entanto, nada disso chegou a surpreender-me por completo. Eu já tinha


algumas noções do mundo astral e dele me haviam falado amigos que me
visitaram nos últimos dias de minha vida terrena.

O que me surpreendeu acima de tudo, foi encontrar-me a mim mesmo quando


cheguei. Nuances de mim mesmo que eu não havia percebido; arestas de mim
mesmo que eu não havia aparado, e também áreas luminosas de mim mesmo que
eu não havia percebido.

Tudo isso emergiu de dentro de mim. Tudo isso me fez viver momentos de
purgatório, inferno e céu. Tudo isso me disse sem palavras do quanto havia sido
feito, do quanto havia sido deixado para trás e do quanto havia ainda a fazer.

Ignoto amigo, busca encontrar a ti mesmo, hoje, aí e agora. Busca a comunhão


contigo e com Deus que está dentro de ti. Atravessa desde já os teus purgatórios.
Transita pelos teus infernos e pelos teus céus, e milhares de obstáculos serão
afastados dos teus passos, quando houveres chegado.

Sabe e compreende, desde já, que tu, e só tu, és o supremo artífice de teus dias e
de tuas horas. Compreende e sabe, desde já, que tua história é construída por ti
mesmo, dia a dia, minuto a minuto. Aprende a cortar o caminho e chegarás mais
depressa.

Aprende a limpar a estrada e teus pés não chegarão aqui sujos da poeira do solo.

Aprende a contemplar a ti mesmo e saberás remover empecilhos e não te


envergonharás de ti quando chegares.
II - MEU REGRESSO

Em geral, no Ocidente, os leitos de morte são cercados pelas mais dissonantes e


heterogêneas vibrações. Ao lado do amor de alguns paira e prepondera a
confusão de outros. Alguns choram a sinceridade de sua dor, outros vertem
lágrimas convencionais de hipocrisia.

Não foi assim comigo. Meu leito de morte foi cercado pelo silêncio e pelas orações
de um grupo de amigos que me sustentaram até o último alento. Meu leito de
morte contou com a música silenciosa da prece, com as emanações saudosas do
amor dos que ficavam, com a serena convicção de que eu apenas abandonava
uma veste para prosseguir eu mesmo com todas as minhas virtudes e com todos
os meus defeitos.

Rompido o último laço entre mim e o meu corpo de carne, pairei acima dele.
Despedi-me silenciosamente dos que ficavam e fui como que tomado por um sono
brando, qual brisa acariciante e renovadora.

Quando despertei, tinha o coração aliviado, mas permaneciam ainda alguns


resíduos do corpo físico. Ao meu lado, alguém a quem eu não conhecera na Terra,
mas de quem, estranhamente, me recordava. Rufus, que me seria mais tarde,
amigo, cicerone e até certo ponto, porque não dizê-lo, juiz.

Amigo e cicerone quando me falava das peripécias que eu teria de sofrer em nova
etapa de vida. Juiz, quando me auxiliava no reencontro de mim mesmo e na
descoberta daquilo que, embora dentro de mim, eu não pudera perceber enquanto
vestido de carne.

Nossos olhares se encontraram como olhares de velhos amigos que há muito não
se vêem. Rufus, ao contemplar-me, disse-me sem palavras:

- Sê bem-vindo, amigo. É verdade que não encontras um paraíso fácil, no qual


aliás já não acreditavas. Mas há ao teu lado corações dispostos a acolher-te e
ajudar-te nesta nova etapa. É verdade que prosseguirás aqui, enfrentando a ti
mesmo, no entanto, agora o teu corpo é mais sutil e tuas percepções poderão
apurar-se caso faças delas o uso adequado à tua nova condição.

Dentro de mim, duas forças se agitavam: a curiosidade e um tanto de cansaço. A


curiosidade me empolgava a mente com inúmeras questões que eu desejava
resolver. O cansaço me induzia a permanecer quieto. Sim, eu havia despertado,
mas algo me dizia que eu ainda necessitava de repouso.

Rufus, não sei se porque o houvesse percebido ou porque já soubesse disso,


falou-me com ternura:

- Amigo, permanece em silêncio e repousa. És eterno, e teremos muito o que


conversar.
Sim, eu repousei. O quarto era amplo, o leito alvo e confortador. O silêncio ao
mesmo tempo me falava e me calava.

Mais tarde, quando já refeito, fui novamente visitado por meu novo velho amigo.
Rufus e eu conversamos longo tempo. Examinei com ele minha última existência,
percebi arestas que necessitavam ser aparadas, revi conceitos, reformulei idéias e
preparei-me para nova fase, que se caracterizaria pelo estudo e pelo trabalho.

Hoje, devolvido a mim mesmo, quero dizer-te ignoto amigo, que não existe uma
outra vida. Não me suponhas um materialista no além-túmulo. Digo-te que não
existe uma outra vida, porque a vida é uma só, embora sejam várias as
existências, ou dimensões em que a vida se expressa.

Prepara-te, portanto, não para a “outra vida”, mas para as outras dimensões da
vida. Prepara-te para mais largo acesso a ti mesmo, às tuas realizações, aos teus
pecados, às tuas omissões. Não esperes uma coroa de santidade, que já não
tenhas ostentado desde a tua existência terrena. Não esperes um coro angélico
senão houveres aprendido a cantar com os anjos. Não reclames nem esperes o
paraíso, se já não o tiveres levado contigo.

Espera tão só a ti mesmo. Espera os amigos que hajas conquistado. Espera os


sonhos ou pesadelos que hajas semeado. Espera a paz ou a guerra que existam
dentro de ti. Espera a tua própria consciência. O mais, são as flores e os frutos
que tu próprio hajas semeado.
III - OS DOIS PEREGRINOS

Dois peregrinos se encontraram na curva do caminho. Um desejava escalar o


monte, o outro ia para o vale.

Como eram velhos amigos, e havia muito tempo que não se viam, pararam para
repousar e conversar. Perguntou o do vale:

- Que fazes tu, amigo?

- Dirijo-me para o monte.

- Mas que pretendes tu no monte?

- Quero iniciar-me lá. Lá aprenderei como conseguir que os tigres venham buscar
minhas carícias, qual se fossem gatos. Lá desenvolverei poderes para abandonar
meu corpo e regressar a ele, à vontade, para realizar milagres e manipular as
forças íntimas da matéria. E tu, amigo, para onde vais?

- Dirijo-me para o vale - respondeu o outro.

- Mas que queres tu no vale?

- Lá aprenderei a dominar os tigres que se agitam dentro de mim. Adquirirei o


poder de abandonar a velha “casca” do homem velho, de uma vez para sempre,
não mais devendo regressar a ela. Lá existem multidões famintas junto das quais
buscarei os milagres que só o amor realiza. Lá, em contato com as grandezas e
misérias do próximo, encontrarei minhas próprias misérias e grandezas e
aprenderei a dar sentido cósmico às forças íntimas do próprio ser.

A ti leitor, eu te pergunto: Quem era o verdadeiro candidato à iniciação? O do


monte que buscava a solidão exterior e pretendia os poderes que o tornavam
escravo de Maya? Ou do vale, que nas vastas e profundas solidões de si mesmo,
aprenderia a ser solidário com os homens?

Iniciação não se realiza de fora para dentro, busca-se de dentro para fora. Não
vem de um conjunto de atos cerimoniais, mas de firmeza de uma única e sincera
atitude espiritual.

Oh! Senhor, quando aprenderemos que não estás nos picos dos montes ou na
solidão dos mosteiros? Quando te buscaremos, afinal, dentro de nós e em
qualquer parte?
IV – DIÁLOGO COM A IRMÃ MORTE

- Irmã Morte, por que te olham os homens com tamanho terror?

- Porque não sabem que sou apenas uma outra face da VIDA.

- Mas não pode negar que é horrível o aspecto de um cadáver, mormente quando
apodrece.

- Não sabes, porém, que do próprio cadáver emerge a VIDA nos germes que o
povoam?

- Irmã Morte, não contente em libertar-me do invólucro físico, me revolveste as


profundezas do SER. Por que?

- Minha ação não se restringe aos corpos dos homens. Cauterizo-lhes também as
feridas da alma. Exponho perante eles mesmos suas próprias mazelas e as
transmuto como transmuto a matéria.

- Quando despertei para minha cidadania cósmica vi em ti uma irmã e uma amiga;
no entanto, logo que transpus a “Grande Fronteira” trataste-me quase com
crueldade de um carrasco. Por que?

- Como queres que precedam os amigos? Achas que devem deixar perecer na
estagnação aqueles a quem amam?

- Sim, Irmã Morte, quando te contemplo mais profundamente, não posso


estabelecer um limite rígido entre ti e a Irmã VIDA. As duas vos confundis numa
só. Em verdade não sois mais que manifestações de uma realidade absoluta, o
Uno a irradiar de si e a destruir os Diversos para renová-los infinitamente.
V - HISTÓRIA DE UM MENINO CHAMADO “HOMO SAPIENS OCIDENTALIS"

Num lugar chamado Ocidente havia um menino, cujo nome era Homo Sapiens.
Desde cedo se apaixonara por uma moça conhecida por Maya e que também
tinha o apelido de Matéria.

O menino Homo Sapiens estava muito apegado à sua mãe Eclésia. Ela era muito
severa e lhe dizia:

- Meu filho, Maya é indigna de você. Ela é mensageira do demônio. Se insiste em


segui-la, acabará estorricado nas chamas do Inferno.

O tempo foi passando e o menino Homo foi crescendo. No fundo, continuava um


menino, mas quem pode resistir ao impacto das mudanças produzidas pelas
informações, pela cultura? Aproveitando as distrações e os cochilos de sua mãe,
que envelhecia a olhos vistos, o menino Homo Sapiens Ocidentalis procurava dar
uma escapadela e fugir de casa para brincar nas vizinhanças.

Foi assim que travou conhecimento com a Serpente que alguns chamavam Lúcifer
e outros Intelecto. Sua mãe Eclésia já lhe falara desse anfíbio. Referia-se a ele
com “santa ira”. O menino Homo Sapiens, porém, já não era tão menino assim e
isso apenas lhe acirrava o desejo de conhecer e até fazer amizade com a velha
Serpente. Conversava assiduamente com ela. Isso, de alguma forma, o fascinava
e, de alguma forma, o atormentava. Afinal, a velha Serpente lhe falava de coisas
que, francamente, não se conciliavam com os ensinamentos por ele recebidos de
sua mãe.

Um dia, disse-lhe a Serpente com franqueza e atrevimento:

- Meu caro, tua mãe já te deu o que devia e podia dar. Esta velha morrerá em
breve, e então, o que será de ti?

- Que queres dizer? - perguntou o menino Homo Sapiens muito perplexo.

- Que deves aprender a caminhar por ti mesmo. - respondeu-lhe a velha Serpente.


E continuou: - Por exemplo: Essa menina Maya a quem tanto amas. Por que não a
procuras? Por que não te aproximas dela, como fizeste comigo?

- Mas minha mãe...

- Insistes, então, em ver pelos olhos já quase cegos de tua mãe? Não queres
atrever-te a usar teus próprios olhos?

E o menino Homo Sapiens acabou por ceder. Rompeu com sua mãe e foi ao
encontro de Maya.

No princípio tudo são flores. O casamento com Maya trouxe mil encantos. Aos
poucos, porém, foi percebendo que sua mãe Eclésia não deixava de ter certa
razão. Afinal, Maya era um tanto arisca, leviana e volátil. Quando Homo Sapiens
julgava ter-lhe penetrado todos os segredos, eis que descobria uma nova
particularidade que ainda não lhe fora revelada por Maya.

Sim, ela sempre lhe escapava e isso afinal o deprimia. Não podia voltar para sua
mãe Eclésia, que, a seus olhos, não mais era velha sábia de outros tempos. Aliás,
de certa forma, as duas se confundiam dentro dele. Maya era a superfície, forma
sempre mutante e variável; sua mãe era, também, superfície e forma, só que esta
se estratificara e parara no tempo e no espaço.

Estava Homo Sapiens desolado e sozinho, quando viu aproximar-se um velhinho


de barbas brancas que o abordou nesses termos:

- Aqui estou eu, meu filho.

Homo Sapiens ficou estranhamente surpreendido. Não conhecia esse velho. Não
o buscara, nem o chamara. De onde viera ele? Por que o chamava “filho” e lhe
dizia: “Aqui estou eu”?

O coração do Homo Sapiens, porém, concordava com seus pensamentos e


palpitava de maneira inusitada diante do ancião, como se realmente o esperasse.
Percebendo os conflitos íntimos de Homo Sapiens, o velho lhe falou:

- Sim, filho. Tu me buscas, apenas ainda não te apercebeste disto.

- Quem és? Como te chamas? - perguntou Homo Sapiens.

- Eu Sou, eis tudo que posso dizer-te a meu respeito. Mas, se quiseres, podes
chamar-me, também, Essência ou Espírito. De mim surgiu tua mãe, surgiu a
Serpente, surgiu Maya, surgiste tu. Tua mãe te falava a meu respeito, mas de tal
maneira se preocupava consigo mesma, que acabou por substituir-me dentro de ti.
A Serpente e Maya são minhas servas. A primeira, em meu nome, ensinou-te a
caminhar com os teus próprios pés. A segunda, a meu mando, mergulhou-te num
vácuo, para que em mim buscasses tua única e perene plenitude.

Homo Sapiens percebeu, então, coisas maravilhosas. Soube, por experiência


direta, pessoal, que, por intermédio daquele ancião, era Uno com todo o Universo.

O Velho desaparecera, mas, ao contrário de Maya, que sempre lhe escapava, o


ancião quanto mais sem forma, quanto mais invisível, tanto mais intimamente se
ligava a ele, Homo Sapiens.

E coisa extraordinária! Unido ao Eu Sou, ou Essência, ou Espírito, Homo Sapiens


sentiu que de certa forma, recuperava os elementos positivos de sua mãe e, em
nível superior compreendia Maya, reconciliando-se com ela.
VI - ORAÇÃO AO DIVINO PERSEGUIDOR

Meu Divino Perseguidor. Quanto te louvo e te agradeço. Não chegara ainda a


primavera da juventude e já me colhias nas Tuas redes como o pescador colhe o
peixe incauto, e comecei a peregrinar pelos Teus caminhos. Não podia eu naquele
tempo conhecer os Teus abismos e as Tuas alturas. Devia contentar-me com as
baixadas e planícies que me ofereciam. Tu, porém, meu Divino Perseguidor,
astucioso e perseverante, agias dentro de mim, fazendo-me caminhar...

Houve na minha vida momentos de perplexidade e quase indecisão. De fora, os


homens me perseguiam para dar-me a morte, ao menos no plano psicológico e
social; de dentro me perseguias Tu para encher de vida os vazios da minha
existência.

Hoje, eu me pergunto: onde estarias Tu com mais veemência? No látego de meus


carrascos de fora ou no crepitar de meu incêndio de dentro? Como estabelecer
limites rígidos entre a Tua ação silenciosa e direta de dentro do Teu trabalho
ruidoso e indireto de fora? Sei enquanto me dirijo a Ti, nesses termos, que
dominas soberano em todo o Cosmos e tão grande é a força do Teu querer que
aqueles mesmos que se rebelaram contra Ti, na Terra ou fora dela, acabam por
servir-Te.

Meu Divino Perseguidor. Embora esteja eu infinitamente distante deles, foi assim
que trataste aos iluminados de todos os tempos e por isso Te louvo e agradeço
pela benção de Tua perseguição.
VII - ALTURAS E ABISMOS

Senhor! Que são os abismos? Que são as alturas?

Dia-a-dia, maravilhado e perplexo, descobri que és a síntese de todas as alturas e


de todos os abismos.

Quando Te encontro, subo, porque estás no píncaro deste monte que erigisteste
dentro de cada ser.

Quando Te encontro, desço, porque percebo que estás na mais funda das
cavernas de minha alma.

Quando Te encontro, subo, porque diante do infinito das Tuas alturas, todas as
montanhas não passam de abismos.

Quando Te encontro, desço, porque mergulho no eterno insondável de todas as


Tuas profundezas.

Nos Teus abismos, sou absorvido pelo vácuo da plenitude e nas Tuas alturas
descubro a incompreensível plenitude do vácuo. Afinal és ou não és, Senhor, a
síntese de todas as alturas e de todos os abismos?
VIII - O GRANDE NAUFRÁGIO

Ignoto amigo. Já sofreste um grande naufrágio? Já assististe ao demoronar dos


teus castelos milenares? Já viste trasformado em ruínas a casa de teus sonhos
caros? Se ainda não passaste por essa tão dolorosa experiência, talvez ainda não
conheças o vazio, consequentemente não sabes o que é plenitude.

Depois de viveres o "grande naufrágio", após experimentares a sensação de estar


perdido e submerso num oceano imenso e misterioso, só então serás lançado à
praia.

Já posso adivinhar teus protestos, o filósofo pessimista do outro mundo: Para que
melhor me realize não me acenas outras perspectivas a não ser a do sofrimento e
da frustração?

Não, meu ignoto amigo. Não te falo da dor como fatalidade inexorável, embora
seja ela o patrimônio de toda a Natureza. Se tiveres, desde já, coragem suficiente
para transpor a misteriosa fronteira e o aquém de fora e o além de dentro; se
puderes, aqui e agora, por um ato volitivo e consciente, romper o casulo que te
impede os grandes vôos; se fores bastante valente para descer aos teus abismos,
sem seres por ele tragado, então, não necessitarás grandes naufrágios já que por
ti mesmo terás aprendido a enfrentar e dominar as ondas revoltas dos teus
próprios oceanos.
IX - O ALÉM DE DENTRO

Ignoto amigo. Durante séculos e milênios as religiões te falaram de um além de


fora; ensinaram a conquistá-lo pelos ritos, pela fé, pelas boas obras. Começas
agora a perceber que é preciso ultrapassar as "religiões" rumo à Religião. Elas
são necessárias durante algum tempo, a fim de que possas trilhar com segurança
o caminho; mas cada uma delas é um rio a encaminhar-se para o grande oceano.

As religiões te falavam do além de fora, constituídos de céus, infernos e


purgatórios, que variam de acordo com as culturas em que são ensinadas.

A RELIGIÃO te levará ao grande além de dentro. Para atingi-lo terás de


ultrapassar o vasto conglomerado de todos os teus infernos e purgatórios, rumo
ao céu de ti próprio.

Quando houveres percorrido essas regiões sem permanecer nelas, aí, sim,
chegarás aos cumes dos teus "himalaias", onde se confundem todos os "aquéns"
e "aléns", onde o além de dentro e o de fora se fundem numa única e esplendente
realidade.
X - AO MISTERIOSO AMIGO

Meu Conhecido e Misterioso Amigo, mais conhecido que as pulsações de meu


sangue, mais misterioso que as profundezas das noites escuras. Debruçado sobre
luminosa escuridão do Teu mistério, continuo o mesmo de sempre - a desejar
ardentemente o Teu serviço, a entregar-me, angustiosamente, ao Teu amor para,
gloriosamente, integrar-me nele.

Meu Propínquo e Longínquo Amigo; mais propínquo que os dedos de minha


mãos, mais longínquo que a mais remota das galáxias, sinto infinita nostalgia de
Ti, e essa nostalgia é tanto mais profunda, quanto maior é a Tua proximidade.
Quantas tempestades já enfrentei! Quantos relâmpagos e trovões já hei sofrido!
Quantos mares encapelados ainda me restarão.

Tudo isso, porém, Senhor, soa aos ouvidos de minha alma como a mais solene
das sinfonias celestes, como o mais imponente dos coros angelicais, porque tudo
isso me aproxima de Ti, o que equivale a dizer, de mim mesmo.
XI - O DIVINO MAYEUTA

Ignoto amigo. Deixa que o Espírito Divino seja em ti o nascituro e o mayeuta, o


"parteiro". Sua "gestação" nas entranhas de tua alma durará milênios. Poderás até
mesmo provocar "abortos" provisórios, embora funestos.

Um dia, porém, Ele nascerá o quanto Lho permitas e quanto mais rejeites esse
Divino Infante, mais será a Vida obrigada a realizar em ti o "parto cirúrgico".
Depende de ti que o nascimento seja normal ou não. Compete ao teu livre arbírio
osbstá-lo ou facilitá-lo.

Se o quiseres deixar nascer, se o gozares e sofreres, como devem gozar e sofrer


as parturientes que são realmente mães, mais cedo descobrirás a ti mesmo.
Como quer que seja, quando soar a tua hora, perceberás que ao nascer Ele das
tuas entranhas mais profundas, foste tu próprio que nasceste - tu, o parturiente, tu,
o mayeuta, tu, o infinito e tu, uma parcela do Infinito.
XII - COSMIFICA O TEU CAOS INTERIOR

Um dia começaste a emergir da "unidade sem diversidade". Teve início, então, a


tua viagem rumo à consciência de ti mesmo. Foi longa a tua peregrinação, mas
era necessário que rompesses o ventre do macrocosmo. Do sensório passaste ao
instintivo. Do instintivo chegaste ao intelectivo. Veio, então, o teu "lúcifer" e te
convenceu de que teus olhos deviam abrir-se, que precisavas comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal. Começaram dentro de ti, as tempestades, os
relâmpagos e os trovões, as guerras e os rumores de guerra, e teu ser esfacelado,
confuso, não sabe, hoje, encontrar o caminho.

Emerges (de dentro para fora), mas não sabes imergir (de fora para dentro). Teu
cosmos inconsciente foi substituído por um caos mais ou menos consciente.

Imerge para as tuas alturas assim como imergiste para os teus abismos e
solucionarás todo esse tumulto em que te debates inutilmente.

Saíste da "unidade sem diversidade". Experimentaste a "diversidade sem


unidade". Agora precisas realizar em ti a unidade na diversidade. O "Uno" e os
"Versos" constituindo o Universo, a união da vertical e da horizontal na cruz eterna
e gloriosa que és tu.
XIII - BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO-SANTO

A palavra "Santo" possui dois significados principais: 1º) separado; 2º) íntegro,
total ou cósmico. Por sua vez, o termo "Espírito" pode ser entendido como sopro,
alento, psiquê ou alma.

Se juntarmos essas duas palavras, Espírito-Santo, poderemos entendê-las como


sopro cósmico, em outras palavras, alento ou energia divina.

Esse impulso vital e espiritual é latente em todos os seres vivos. O homem,


porém, pode percebê-lo plenamente em si mesmo. Pois bem! Quando um ou outro
buscador se deixa embriagar pela paixão do infinito, acaba por ser penetrado ao
menos por alguns feixes da luz cósmica. Esses raios alcançam os compartimentos
escuros de sua alma. Esses é, porém, o momento solene. Se o homem se deixar
desnudar pelo Espírtito Divino, é um bem aventurado, aqui e agora. Pode
contemplar sem horror as anomalias por ele mesmo geradas através dos milênios.
Se no entanto, resiste a esse impacto "de cima", se, por acomodação, recusa-se a
enfrentar a si mesmo, então, passa esse homem a mergulhar num processo
desintegratório, do qual, não raro, só consegue sair depois de milênios. Morreria
espiritualmente, se o Universo não abominasse a morte. Isto, porém, não
acontece em razão da Onisciência e da Misericórdia de Deus.

Foi essa verdade que percebi, quando encarnado, embora de forma distorcida. É
verdade sim; há um momento na evolução em que o homem se define: ou avança
e nasce pelo espírito, ou recua e cai numa espécie de atrofia de suas
potencialidades internas. Esse é o resultado de sua atitude de blasfêmia contra o
Sopro Cósmico ou Espírito-Santo.

Eis, porém, que o "Cirurgião Divino", amorosamente implacável e implacavelmente


amoroso, utiliza o bisturi da dor para que se cure a blasfêmia do rebelde. O
Universo é Cosmos, beleza, harmonia e sabe corrigir todas as desarmonias.
XIV - OS VENDAVAIS

Aproximam-se os tempos dos vendavais. Eles não terão os românticos nomes


femininos com que se pretende atenuar o caráter sinistro dos que açoitam os
países.

Os que se aproximam de toda a Humanidade não têm nome. Se quiséssemos,


poderíamos chamá-los "varredores", porque seu objetivo é varrer para além da
psicosfera a poluição causada pelo "ego luciférico" dos que habitam o planeta.

Estejamos firmes e vigilantes, porque depois desses vendavais outras auras


soprarão no planeta de norte a sul, de leste a oeste. Outros ventos igualmente
impetuosos mas não devastadores. Aqueles mesmos ventos que sacudiram os
Apóstolos na memorável manhã de Pentecostes.

Quem puder senti-los, vivê-los e saboreá-los, desde já será capaz de enfrentar


todos os vendavais da destruição. E mais, servirá de ponte espiritual para quantos
se beneficiem de sua presença.
XV - O CÉU É DEUS

Antigamente, Senhor, eu me aproximava de Ti como quem se achega a um Pai


exterior. Tu eras meu amigo. Eu era Teu amigo. Esperava, assim, que daquela
nossa camaradagem resultasse o meu ingresso, depois da morte, em algum céu
exterior onde eu seria regiamente compensado por amar-Te.

Eu não era ainda, Senhor, o filho pródigo, mas o mais velho; aquele que tudo
possuía, mas ignorava sua fortuna. Aquele que vivia em companhia do pai, não
pelo pai, mas ao menos, por um cabritinho que lhe permitisse regozijar-se com os
amigos.

Mais tarde, Senhor, rolaram dentro de mim, as águas impetuosas de uma


arrasadora tempestade. Fui poderosamente abalado por ventos, relâmpagos e
trovões, até que compreendi que Tu não és um Senhor externo e longínquo, mas
um Pai interno e propínquo. Percebi, então, que não mais Te buscava, esperando
um céu de dentro para fora.

Outrora, Senhor, Tu eras Tu e eu eras eu. Hoje, onde termina eu, onde começas
Tu? Não sei e não me importa sabê-lo. O que sei é que Tu és o meu céu, o meu
além de dentro. Invades e permeias os céus e os infernos de todos os meus
aquéns e aléns de fora.
XVI - DA ÁGUA PARA O ESPÍRITO

Quantas vezes, Senhor, nasci e renasci da água? Quantas vezes fui e voltei, sem
encontrar o caminho? Quantas vezes nasci e renasci sem viver?

Viandante das preiferias, não conseguia eu descobrir o caminho para o centro.


Acomodado com as superfícies, desinteressava-me das profundezas. Para que
me afadigaria eu em ultrapassar os aquéns de fora, se o além de dentro me era
tão ignoto e ameaçador? Como poderia eu abandonar a tão querida ilusão do
"ter", arriscando-me a uma aventura imprevisível no vasto, no infinito oceano do
Ser?

Um dia, porém, Senhor, cansei-me de nascer pela água. Decidi-me a não ser mais
o "objeto" dos acontecimentos de fora e passei a ser o "sujeito" de um grande e
definitivo acontecimento de dentro. Nasci pelo Espírito. Depois desse mergulho do
meu pequeno "eu" semi-animal e caótico no grande Tu Divino e Cósmico,
mudaram-se completamente, os panoramas dentro de mim. Percebi, então, que
não é suficiente nascer da água.

Pode-se mergulhar mil vezes na carne, mas se desses "batismos" na água, não
resultar um intenso desejo do "batismo" no Espírito, não passaremos de meros
marionetes, indo e voltando, repetindo experiências, brincando com vida sem vivê-
la.

Hoje, Senhor, sei que sou apenas um recém-nascido. Ainda me esperam inúmeras
crises de puberdade, da adolescência, da idade adulta. Mas também sei que não
me perderei de Ti porque a criança não volta à fase embrionária. Seu destino é
atingir a maturidade. Transpus a misteriosa fronteira entre o ontem que passou e o
hoje que é eterno. Emergi da água para o Espírito. Aleluia!
XVII - PROPÍNQUO E LONGÍNQUO

Um dia, Senhor, nós Te sentimos distante. Fomos, então, submetidos a um


processo de fragmentação interior. Nosso Ego e nosso Eu se colocaram em
campos irreversivelmente opostos.

Nosso Eu passou a ansiar por Tua Propinqüidade.

Nosso Ego se regozija com a Tua Longinqüidade.

Tua Propinqüidade é latente.

Tua Longiqüidade é presente.

Longínquo, não perturbas o nosso querido comodismo, a nossa bem-amada


preguiça espiritual.

Propínquo, revolves as entranhas de nossa alma, inquietando os nossos dias e


desassossegando o nosso sono milenar.

Longínquo, és apenas um ideal vago, inatingível.

Propínquo, és ao mesmo tempo uma presença e uma busca.

Longínquo, não te conhecemos; por isso, podemos viver ignorando a tua


presença.

Propínquo, nós te sabemos, nós te saboreamos e não mais conseguimos existir


sem Ti.

Ajuda-nos, Senhor, a realizar em nós a Tua Propinqüidade a fim de nascermos de


novo pelo Espírito.
XVIII - TEOCENTRISMO X EGOCENTRISMO

Em comunhão estão os teocêntricos, em promiscuidade estão os egocêntricos.

Os teocêntricos sabem conviver, porque seu convívio é estabelecido pelo clima


natural da convivência cósmica em que ingressaram.

Os egocêntricos conseguem no máximo coabitar, suposto que essa coabitação


lhes satisfaça os interesses mesquinhos.

Os teocêntricos não sabem de guerras ou competições, porque já fizeram a paz


definitiva consigo mesmos e com todo o Universo.

Os egocêntricos não vão além de alguns armistícios e, ainda assim, muito


precários, porque eles mesmos são esfacelados por dentro, vivendo cada um em
guerra permanente em sua própria alma.

Os teocêntricos são felizes, porque proclamaram a sua absoluta independência


interior, já que conseguem vislumbrar o céu dentro deles aqui e agora, no meio de
todos os infernos do exterior.

Os egocêntricos decretam sua própria infelicidade, porque giram em torno dos


fatos de fora, esquecidos da grande realidade de dentro.

Todo esse pungente drama milenar do homem consiste nessa magna e


transcendente decisão: Optar pelo egocentrismo ou pelo teocentrismo.
XIX - RETIFICANDO E APROFUNDANDO

Ignoto amigo!

Se me leste, se és daqueles que freqüentaram comigo o Templo do Silêncio, ou


comigo voaram em demanda das grandes alturas e dos infinitos abismos, sabes
que sempre desconfiei de minhas verdades. Quero agora, reformular, ou antes
aprofundar uma delas.

Eu te disse que o Homem Cósmico é um afirmador do mundo que passou pela


negação do mundo. Disse-te, também, que talvez fosse necessário a jornada do
Homem Místico para o Homem Crístico.

Pois Bem. Venho dizer-te agora, o que aprendi a este respeito. Aprendi que não se
pode negar o mundo de maneira absoluta; quanto mais o negamos, mais ele se
insinua, de maneira sutil dentro de nós. Há, por aqui, muitas pessoas bem
intencionadas que se têm decepcionado, porque negaram o mundo apenas na
aparência, já que foram levadas a perceber que nunca o abandonaram.

Aprendi que o verdadeiro Místico não nega o mundo, mas, às vezes, recua
estrategicamente para armazenar forças, a fim de enfrentá-lo mais tarde. Esse
recuo pode durar uma existência inteira, mas o Místico sabe no íntimo de sua
alma, que apenas recua para avançar depois.

Aprendi que negar o mundo é apenas um ato, não uma atitude, porque o Uno está
em todos os Diversos e o homem é centralmente o Uno.

Aprendi que a verdadeira negação é antes desapego. O Homem Cósmico sabe


que nada lhe faz falta de fora, porque ele tudo possui de dentro. O Homem
Cósmico não se escraviza a nenhuma praia quando sabe que diante dele está o
oceano que, inclusive, contém todas as praias.

O Homem Cósmico não se contenta com migalhas porque participa do que há de


mais farto nas mais altas iguarias do Infinito Banquete Universal.
XX - O ANTICRISTO A SERVIÇO DO CRISTO

Desde os primeiros séculos da era cristã se proclama a vinda do Anticristo. Essa


figura misteriosa é anunciada por diversas vozes proféticas desde os Apóstolos
até Nostradamus. Quem será porém esse “arqui-inimigo” de Deus? Quem será
essa enigmática personagem que até hoje impressiona os místicos e os lunáticos?

O Anticristo não virá, porque já está entre nós. O Anti-cristo não é uma pessoa,
cujo advento se dará em data mais ou menos próxima ou remota. O Anticristo
introduziu-se no seio da igreja cristã logo que surgiram as primeiras divergências
entre os Apóstolos. O Anticristo usurpou o trono do Cristo desde que se fez adorar,
se proclamou infalível e se confundiu com César.

O Anticristo se apoderou da alma dos opressores de todos os tempos, mormente


os que tiranizavam e ainda tiranizam em nome da Verdade. O Anticristo opera hoje
como operava nos primeiros dias, fomentando guerras, nutrindo a fome e a
miséria, oprimindo os povos, colocando o lucro e o poder acima do homem.

O Anticristo é um estado de consciência. Não é uma pessoa, embora possa,


eventualmente, personificar-se na Terra ou fora dela.

No entanto, meu ignoto amigo, não te espantes se eu te disser que o Anticristo


acabará por colocar-se a serviço do Cristo. Não podem as trevas prevalecer sobre
a luz. Não pode a desarmonia substituir a harmonia. Não pode o caos sobrepujar
o Cosmos. Se uma só das criaturas de Deus se perdesse, perdida ficaria a Obra
Divina e frustrado todo o plano da Creação.

Quem quer que na Terra ou fora da Terra cometa a suprema loucura de opor-se a
Deus, perceberá um dia que se opõe a si mesmo, tentando, inutilmente, praticar o
“suicídio espiritual”. Optar pelo Anticristo é suprema esquizofrenia. Optar pelo
Cristo é dedicar-se pela união com o Cosmos, com o Universo, com o Uno em
Diversos.
XXI - MEIA-NOITE

Aproxima-se a meia-noite do mundo. A meia noite tem sido considerada pela


Humanidade como a hora das bruxas, dos duendes, dos fantasmas. É preciso,
todavia, não esquecer que, embora tenha ela essas conotações sinistras, a meia-
noite é transição de um dia para outro dia. É o momento zero em que tudo se
aniquila para recomeçar. É o encontro de um perigeu e início do que mais tarde
será um apogeu. Entre o abismo da morte e as alturas da Vida.

Entre o vácuo da escuridão e a plenitude da luz.

O ego-pensante verá na meia-noite a hora do caos; o cosmo-pensado conseguirá


perceber nela a abertura da sinfonia do Cosmos.

Mesmo que nos seja possível participar da luz meridiana do cosmo-pensado,


tentemos, desde já, a gloriosa aventura de ultrapassar a fronteira entre a crisálida
e a borboleta. Focalizemos intensa e diariamente o nosso pensamento na
realidade suprema do ser que somos e, cedo ou tarde, nos libertaremos do
cativeiro dos veículos que temos.

Aproxima-se a meia-noite. Estejamos acordados quando ela chegar a fim de


vislumbrar um novo dia.
XXII - IMERSÃO E EMERSÃO

Ignoto amigo. Convido-te a um duplo exercício de imersão e emersão

Imerge nos profundos labirintos de ti mesmo a ver se lá, em algum porão


escondido, em alguma gruta ignorada, encontrarás o tesouro pelo qual anseias
desde sempre, sem que o saibas.

Emerge para as lutas incessantes do dia-a-dia trazendo de lá, da clara escuridão


em que mergulhaste, a vitalidade necessária ao teu crescimento e ao dos que te
rodeiam.

Imerge nos tenebrosos abismos de tua alma para encontrares a luz única que
reside em todos os seres para a qual gravita toda a Creação.

Emerge para os testes que a Vida te impõe a fim de considerares o processo de


tua espiritualização.

Imerge no deserto insondável de tua solidão com Deus.

Emerge para a grandeza incomparável de tua solidariedade com os homens.

Ignoto amigo. Nos dias que correm, é indispensável esse exercício duplo a que te
convido, porque na imersão te conhecerás a ti mesmo, e na emersão consolidarás
esta conquista, conhecendo o mundo.
XXIII - O PODER CORROMPE

Diz um provérbio latino que o poder corrompe. Isto é uma superstição na qual o
homem se embaraça há milênios. Milênios de sua evolução em ziguezague. O
poder corrompe. Mas que pode me corromper de fora, se eu não me corrompo
internamente? O que pode me atingir de fora, se eu sou inatingível internamente?

O poder externo não corrompe, mas sim o poder de meu ego físico-mental-
emocional. O nosso ego físico-mental-emocional conduz-nos ao orgulho e à
vaidade. Pela falta de plenitude interna nós sentimos a vacuidade interna. Porque
nós não sentimos a nossa realidade interna, nós sentimos a nossa vacuidade
existencial; porque nós não sentimos a nossa unidade com o Absoluto, nós
sentimos nossa diversidade com todos os relativos. O poder que me corrompe não
é de fora, mas de dentro de mim. A lâmina que me atinge não está fora, mas
dentro de mim.

O mal que os outros me fazem, não me faz mau. O que me faz mau é o mal que
eu faço aos outros. Somente ele me faz mau.

Amigos, nós vivemos uma hora crucial no destino do mundo. As massas humanas
estão repletas de seu ego físico-mental-emocional, e elas estão vazias de seu eu
divino. Enquanto elas não se esvaziarem desta carga inútil, que elas mesmas
empilharam nos porões de suas almas, elas não permitirão o enchimento de suas
almas com a água viva, que está nelas.

É necessário vigilância, oração, união, tolerância, amor.

Enquanto não desejarmos a paz, a cada momento nós encontraremos barreiras,


que parecem ferir-nos de fora, mas que na verdade tocam nossa vulnerabilidade
interna.

A paz seja com todos e rearmonize todas as desarmonias físicas, mentais,


espirituais do Universo.
XXIV - ABNEGAÇÃO OU EGO-AFIRMAÇÃO

Após a entrevista com pobre irmã vítima por si mesma e pelos seus sentimentos
desencontrados lembrei-me de que na minha última existência havia aprendido
sobre uma ética compulsória e uma ética jubilosa ou espontânea.

No crescimento espiritual há uma fase de ética compulsória não deleitosa, uma


ética amarga como fel, mas necessária como preâmbulo para uma ética deleitosa,
doce e jubilosa. Há, porém, pessoas que não entendem bem essa ética
compulsória e julgam abnegação o que na realidade não passa de ego-afirmação
disfarçada. Essas pessoas aparentemente negam a si mesmas, renunciam em
benefício de seus entes queridos, ou mesmo da Humanidade. No entanto, sua
vida sacrificial as enfada. Elas muitas vezes sem saberem se proclamam a si
mesmas como mártires, no entanto o que está por trás dessa proclamação é uma
veemente afirmação de seu ego físico-mental-emocional. É uma eloqüente
reivindicação de seus direitos que lhes foram roubados, assim elas pensam, por
aqueles em favor de quem se sacrificam.

Tais pessoas de tal maneira se esvaziam dos conteúdos espirituais de sua


existência que acabam por comunicar esse vácuo ao corpo físico. Há, então,
como que uma desordem no cosmos celular. Não raro algumas células se
desenvolvem mais do que outras e essas pessoas acabam por ser vitimadas por
males como o câncer.

É evidente que não costuma ser essa a causa única de seus padecimentos. O mal
que as atormentam agora é apenas o resultado do somatório de forças que elas
mesmas deflagraram contra si. E porque não acreditam na eficácia de sua
renúncia e porque não sabem dar curso ao seu potencial de amor, e porque não
conseguem rejubilar-se na abnegação sem o saberem e entregam-se à ego-
afirmação. Tal desequilíbrio requer, às vezes, algum tempo para ser sanado.

Amigo, examina a tua renúncia. Penetra-lhe os meandros e as raízes. Observa se


realmente renuncias ou entras em conflito com a Vida. Se a renúncia é a tua
opção, certamente encontrarás no bem daqueles por quem renuncias a
sustentação de tuas forças e até da vida de teu corpo. Se no entanto, através da
renúncia aparente sobressai a afirmação do teu ego-mental, emocional e até
mesmo físico, revê tua posição, reformula teus propósitos e harmoniza-te contigo
mesmo, porque a Vida exige de nós o culto fiel à Verdade e à lealdade para
conosco mesmos.
XXV - A RENÚNCIA SEM PROVEITO

Tão logo me refiz do choque biológico provocado pela desencarnação, pus-me em


companhia de Rufus a estudar e observar. Percorri câmaras de preparo
reencarnatório, visitei hospitais e enfermarias, tive contato com enfermos
desencarnados das mais variadas procedências.

Um fato, porém, chamou de modo especial minha atenção. Uma senhora


aparentando pouco mais de meio século, jazia num leito sofrendo ainda algumas
seqüelas do câncer que a vitimara no corpo físico. Eram curiosas as vibrações que
dela partiam. De um lado sentia-se que possuía imensa capacidade de amar; do
outro lado, havia um quê de esvaziamento em seu psicossoma. Parecia que em
algumas áreas de seu corpo supra-físico havia ausência de vida. Algo não
circulava, ou se o fazia, era de modo incipiente.

Perguntei com discrição ao meu amigo Rufus se aquela nossa amiga sabia de sua
situação. Rufus respondeu-me que sim. Estava ela plenamente consciente de que
já não pertencia ao mundo dos chamados vivos. No entanto, não podia desfazer-
se de todo, ainda, de suas sensações físicas num mundo supra-físico.

Eu próprio havia constatado nos primeiros tempos de minha volta ao Mundo


Espiritual que, embora o ego físico seja, abandonado, restam, ainda, o ego mental
e o ego emocional a nos armar ciladas, a fazer com que experimentemos resíduos
do ontem, dos quais temos de fazer esforços para libertar-nos.

Sugeriu-me Rufus, que eu próprio conversasse com ela porque de boa vontade
ela me explicaria o que se passava.

Aproximei-me e entabulei o diálogo com palavras de simpatia e de saudação em


Cristo. Com a sua aquiescência interroguei-a sobre a situação que experimentava,
e ela me abriu o coração.

Ah! Meu amigo! Não amei como devia a mim mesma, nem o meu próximo mais
próximo. Fui mãe de cinco filhos e tive de trabalhar para sustentá-los, bem como a
um outro parente mais velho. Dentro de mim palpitavam anseios de vida. Todavia,
era preciso renunciar e eu renunciei, por isto estou assim.

Estranhei aquela declaração. Que eu sabia a abnegação e a renúncia produzem


resultados irreversíveis em termos de evolução espiritual e de crescimento interior.
Ali estava, no entanto, aquele Espírito desencarnado a dizer-me que por renúncias
estava sofrendo ainda seqüelas de seu mal físico.

Ela continuou:

Não se espante, meu amigo. Renunciei mas não renunciei. É verdade, sim, que
me doei quanto pude. É verdade, sim, que esqueci ou busquei esquecer a mim
mesma, no meu trabalho em benefício daqueles a quem me propunha assistir. No
entanto, irmão, ai de mim! Quantas vezes me surpreendi amarga, pessimista,
doentia, a lamentar aquela renúncia. Quantas vezes, desesperadamente, busquei
escapar ao turbilhão de paixões que se agitavam dentro de mim. Quantas vezes,
desprevenida, tentei ignorar a frustração que me roia por dentro. Não era por
prazer que me dava. Não era com satisfação que eu trabalhava o dia inteiro para
que nada faltasse aos meus. Não era alegremente que eu me colocava em último
lugar para que prevalecessem as necessidades deles. Resultado: Porque me
neguei à Vida, a Vida se negou a mim. Ao meu passado de sombras trouxe a
sombra do meu presente e o meu corpo físico sofreu as conseqüências dessas
vibrações desencontradas. O câncer, inevitável, surgiu e me corroeu o corpo como
a frustração que corroía a alma. Em suma, renunciei mas não me desapeguei.
Neguei-me à Vida mas não me neguei a mim mesma. Quem de fato renuncia
encontra alimento para os seus gestos no amor àqueles a quem se dedica. Quem
renuncia sabe canalizar a energia de seus desejos na direção de sua renúncia.
Quem renuncia não deixa de amar a si mesmo em amando o outro porque se
proporciona às alegrias desse amor através da renúncia. É, meu amigo, caí na
ilusão de amar o próximo sem amar a mim mesma. Essa foi minha desgraça.

- E agora? - perguntei. - Como pretende solucionar este problema?

E ela respondeu:

- Estou sofrendo sério tratamento para libertar-me dos últimos resíduos da doença
e, após algum tempo de exercícios de aprendizado, voltar ao mundo para
aprender amar-me e ama o outro. Não mais me amarei com egoísmo da última
existência. Mas reconhecerei em mim as potencialidades divinas de todo ser
humano e terei o que dar aos meus irmãos. Procurei estender minhas mãos
àqueles a quem julgava amar, todavia, minhas mãos estavam vazias, isentas de
calor, isentas de vida. E essa ausência de vida me perdeu. Compreende agora
porque estou nesta situação? Capacidade de amar não me faltava, faltava-me,
porém, vontade de amar. Preparo-me agora, para que, de alma lavada, e revestida
dessa energia nova, possa eu voltar ao mundo e dar aos meus o amor de que
necessitam sem esquecer que eu também existo e devo respeitar a mim mesma
como centelha divina e ao meu futuro corpo como um templo que servirá de
habitação a essa centelha.
XXVI - VELÓRIO E VELÓRIOS

Sugeriram-me alguns amigos que trouxesse para estas páginas idéias acerca dos
velórios que se realizam no mundo, embora na Terra já se tenha escrito o
suficiente a respeito do assunto. Creio que nunca será demais contribuir com
algumas idéias e sugestões, embora modestas.

Existem vários tipos de velório na Terra - os velórios-divertimentos, os velórios-


tribunais e os velórios-preces. Nos velórios divertimentos participam aqueles que
se horrorizam ante a idéia da morte e fogem dela como antigamente se supunha
que o “diabo” fugia da cruz. Estes falam sobre tudo: o carro do ano, a novela de
televisão, o político mais destacado na área dos escândalos nacionais e
internacionais, a Bolsa, a situação econômica do País, as confusões da
vizinhança. Tudo serve de pretexto para que a idéia da morte seja evitada e todos
se esqueçam de que estão diante de um cadáver.

Nos velórios-tribunais, permanecem as pessoas que se arvoram em juízes dos


que se foram. Estas comentam discretamente as pequenas e grandes faltas do
“falecido”, embora procurem, muitas vezes, atenuar o fel de sua crítica com mel de
sua hipocrisia.

Amigo! Como participas dos velórios? Se és juiz, sabes que com teus
pensamentos agravas imensamente os males de quem já se vê a braços com a
sua própria consciência e mal pode suportar esses momentos solenes e difíceis.
Se és um trânsfuga da morte, fica sabendo que teus pensamentos heterogêneos,
não raro, tornam difícil a situação dos que se vão. Eles se sentem como que
acoimados por vibrações contraditórias a lhes produzir no corpo sutil os mais
variados e desagradáveis choques.

Se participas dos velórios-orações, aí sim, prestas enorme serviço ao teu amigo


ou ao teu parente que se foi. Dás a ele o alimento, o remédio, o conforto de que
ele necessita para essa hora. Além disso, tu ajudas a transpor a difícil barreira
entre o mundo físico e o mundo suprafísico, entre a carne e o espírito, entre o hoje
e o amanhã.

Os velórios-preces são compostos por aqueles que levam a sério esses


momentos. Nada temem da morte ou de si mesmos. Não fogem à realidade, mas
permanecem contritos e silenciosos diante dela ajudando ao que se vai,
solidarizando-se com ele, sustentando-o com suas vibrações.
XXVII - TODOS OS PERVERSOS SERÃO UM DIA CONVERSOS

Durante minha última existência terrena por algum tempo julguei que os perversos
de tal maneira acabariam interiormente dispersos que perderiam a consciência de
sua individualidade. Continuariam a ser universalmente, mas deixariam de existir
individualmente.

Hoje, aprendi que os perversos serão um dia conversos. Enquanto forem


perversos ficarão dispersos entre suas ilusões. Enquanto forem perversos
tatearão na sombra, porque se ignoram a si mesmos e ignoram o Cosmos.
Enquanto forem perversos há confusão interior, o tumulto e o vazio o
caracterizarão.

Um dia, porém, o sofrimento, despertador e mestre, os convulsionará por dentro e


de perversos eles passarão a ser conversos. Sua divergência de ontem tornar-se-
á, aos poucos, a convergência de hoje. Os pedaços dispersos em que estão
dilacerados se irão reunindo aos poucos em torno de seu Eu central e eles
voltarão a uma realidade da qual tentaram fugir, mas pela qual foram perseguidos
até serem por ela alcançados, porque se tornaram alcançáveis.

O Universo abomina a dispersão e a morte. Diversidades sem unidade seria caos;


unidade sem diversidade seria monotonia. Unidade na diversidade é Cosmos, é
harmonia, é beleza.
XXVIII - COMO TRATAS OS CHAMADOS MORTOS ?

De que maneira lidas com os que se foram, sejam eles teus parentes, teu amigos,
ou apenas seres aparentemente privilegiados a quem admiras como santos,
guias, heróis?

Se os transformas em teus ídolos, não tens a idéia do tipo de sobrecarga que lhes
colocas nos ombros. Eles, muitas vezes, estão a braços com os seu próprios
conflitos, ou estão empenhados em trabalho muito mais amplos em benefício da
Humanidade. Quando lhes chegam os teus pensamentos egoístas, alguns se
apiedam de ti, fazem o que pedem orando por tua felicidade. Outros se afligem
porque não podem, ou nem sempre podem, de imediato, atender-te ao
chamamento e satisfazer-te às necessidades ou aos caprichos.

Se os relegas ao esquecimento, prestas um desserviço a ti mesmo, não tanto a


eles. É verdade que eles ficam privados de tua oração e do teu carinho. Tu,
porém, ao voltares a eles as tuas costas, na realidade estás rejeitando o fato de
que um dia estará entre eles.

Por certo, não estás impedido de recorrer a esse ou àquele amigo do Plano Físico
ou do Plano Espiritual encarecendo preces a teu favor. Quando, porém,
transformas teus amigos em muleta, quando os encarregas da solução de
problemas que te competem tão-somente a ti, transferes para outros a criação e o
refazimento do teu destino.

Ampara-te no Cristo, ampara-te na divindade que está dentro de ti e estarás unido


a todos aqueles a quem amas no mundo físico ou fora dele.
XXIX - COMO TRATAS OS TEUS MORTOS ?

Amigo, como tratas teu ente querido ou teu amigo que se foi? Como alguém que
deve estar a seu serviço? Como alguém que deve servir-te de muleta? Ou tão-
somente como a um irmão a quem deves amor e respeito?

Se o tratas como quem deve estar a teu serviço ou como quem deve ser tua
muleta, provocas sua piedade para contigo, ou fazes que fiquem acorrentados
junto a ti com o intuito de servir-te, sem no entanto nem sempre poder fazê-lo.

Nada te impede de, vez por outra, dirigires teus pensamentos a um amigo que se
foi, solicitando suas preces ou até seus préstimos. No entanto, sabe que ele é
mais ocupado que tu e enfrenta inúmeros deveres de cujas implicações sequer
podes suspeitar. Vive assoberbado de compromissos que não te passam pela
mente. Trata-o com o respeito com que desejas ser tratado quando te fores.
Entrega à Divindade os teus problemas e verdadeiros exércitos do céu virão em
teu auxílio, e quem sabe nesses exércitos não estarão teus amigos, teus entes
queridos, como soldados fiéis de tua causa?!
XXX - A FALSA PLENITUDE

Eis mais um dos fatos que me impressionaram em minhas andanças com Rufus,
logo após meu regresso ao mundo extra-físico.

Certo homem, aparentando meia idade, era cometido por crises muito estranhas.
Conversava natural e delicadamente. De súbito, empalidecia, tremia, encolhia-se,
adotando posição fetal e punha-se a choramingar ou, francamente a chorar
solicitando a mãe. Após uma dessas crises, autorizado e, mesmo, estimulado por
Rufus, dialoguei com a referida entidade.

Depois que lhe expliquei os motivos de minha “entrevista”, já que pretendia


transmitir ao mundo, quanto me fosse possível, sobre minhas vivências no além,
ele me falou, espontâneo, embora triste: - Sim, meu amigo. Diga ao mundo de
meus conflitos e me sentirei confortado, dividindo minha experiência com os
companheiros da Terra.

Entre os homens, eu era aquinhoado com o poder e com o status social. Todos me
bajulavam e, eu próprio, me idolatrava (era, pelo menos, o que eu supunha).

Qual Narciso, todos os dias, olhava-me no espelho, sentindo-me pleno e feliz.


Quanto tempo perdi com esta atitude... Quanta solidão causei a criaturas que me
amavam, sem que eu lhes adivinhasse o carinho... Um dia, meu amigo, a morte,
silenciosa, solene e inflexível, houve por bem visitar-me, arrancando-me todas as
máscaras...

O que, então, se passou comigo, é dessas coisas que não podem ser descritas,
mas, apenas sentidas. Primeiro, o vácuo, a solidão desesperadora, a pavorosa
sensação de um tédio que se multiplicava “ao infinito”. Depois, vozes que
gargalhavam à minha volta, escarnecendo-me e chamando-me “criança ridícula”.
A dureza dessas palavras me fez compreender o significado daquele vácuo
indescritível...

Ele já existia em mim. Estava apenas oculto sob o véu de minhas próprias ilusões.
Eu teimava em ignorá-lo, mas, persistente, ele se acumulava em minh’alma,
emergindo dela, tão logo a morte me libertou. É que sem o saber, durante minha
última existência, eu não passara efetivamente de uma criança grande. Era
carência afetiva o que eu julgava auto-idolatria, era vazio o que eu considerava
como plenitude. Esse vazio, aliás, não se justificava, já que eu dispunha de afetos
verdadeiros, aos quais, ingrato, não dava a devida atenção.

O epíteto, “criança ridícula”, se foi avolumando em meu cérebro perispiritual, até


que me impregnou todo o ser.

Deu-se, então, dentro de mim, fenômeno singular: minha mente se conservava


adulta, mas minha emoção me levava à atitude da criança. Como que subjulgado
por estranha força, encolheu-se meu corpo astral, embora permanecesse a
aparência viril. Durante muito tempo estive naquele estado, até que pude orar e fui
socorrido por mãos generosas que me trouxeram a este pouso.

- No entanto, interferi, parece que esse fenômeno persiste, embora atenuado,


não?

- É que minhas emoções ainda não se equilibraram de todo, respondeu ele.


Alegro-me, porém, que meus instrutores me garantam a cura para breve.

Despedi-me e fui ter com Rufus.

Conhecendo o caso, ele se antecipou:

- Delfos, nosso amigo, hipnotizado por si mesmo, julgou ser amado quando era
apenas bajulado. Pensou adorar a si mesmo quando, na realidade, se rejeitava.

- E qual a origem dessa auto-rejeição? - indaguei.

- Em parte, experiências reais vividas na infância e, em parte, fatos exagerados


por sua alma sensível. Sua atitude, porém, causou sérios desequilíbrios afetivos a
ele e aos outros, porque, rejeitando-se, ele rejeitava, também, os que
verdadeiramente o amavam. No fundo, não acreditava em ninguém, mas, preferia
as mentiras da bajulação às verdades da amizade sincera. Agora, deve ele
decifrar os próprios enigmas para, devolvido a si mesmo, recuperar a verdadeira
auto-estima, como cidadão infinito.

Amigo, se é preciso dizer-te mais alguma coisa, concluo que nosso irmão trocou a
Cosmo Plenitude pela Ego Plenitude. Ora, não podem permanecer num mesmo
recipiente, água cristalina e água poluída. Logo, como todos nós, deve ele
esvaziar-se de si mesmo, para tornar-se pleno de Deus.
XXXI - A BELEZA DA TEMPESTADE

Em minha última existência terrena, viajava eu certa vez em um navio. Rugia a


tempestade, todos apavorados se retiraram para dormir. Assistindo ao fenômeno,
ficamos apenas eu e uma criança, que não temia, porque seu pai era quem
comandava a embarcação.

O que faz a beleza da tempestade é que ela não ocorre ao acaso, ao arrepio das
leis cósmicas, à revelia da mente divina.

Enquanto presencias um temporal, observas apenas destruição, calamidade. No


entanto, ao passar a borrasca que leveza no ar!... Que frescor em tudo!... Que
harmonia na Natureza!...

Não há dúvida, a tempestade é bela. Ocorra ela dentro ou fora de nós.

Tenho visto por aqui, muita gente arrastada por vendavais, fulminada por
relâmpagos e trovões. Mas, só após tal experiência essa gente se conhece e se
encontra. Só após sofrer a impetuosidade e a violência desses fenômenos tais
Espíritos descobrem dentro de si o grande Númeno.

Amigo, não temas as tempestades; bebe-lhes as torrentes, sente-lhes a ventania,


admira-lhes os relâmpagos e trovões, porque tudo isto fará de ti alguém
infinitamente maior que todas as tempestades.
XXXII - OS TEMPLOS E O TEMPLO

Através dos milênios, o homem fabricou templos. Templos de pedra, templos de


ouro. Todavia, o Templo foi esquecido, porque o Templo é o próprio homem.

Que fazes de ti mesmo, ó templo eterno de Deus? Como te fabricas? Como te


constróis? Sabes que Deus te fez ao mínimo para que te faças ao máximo. De
que forma te usas, ó Templo eterno da Divindade? Como quem se conspurca?
Como quem se acomoda com as sujidades do exterior? Como quem se deixa
profanar, ou como quem se consagra ao Eterno? Como quem se deixa destruir
pelos profanos, ou como quem é, em si mesmo, um sacerdócio, uma doação
sagrada de Deus?

Homem, tu és o Templo de Salomão. Salomão o “homem da paz”, com todos os


seus serviçais (suas faculdades), com todas as suas concubinas (as energias do
seu ego físico, mental e emocional) é o homem de Deus. Por isso, nele habita o
grande geômetra, o supremo arquiteto do Universo, o grande anônimo de mil
nomes, a causa de todas as causas.
XXXIII - ENCARNAÇÃO NA REENCARNAÇÃO

Quantas encarnações tivemos até agora?

É certo que não podes recordar tuas existências pregressas; é certo que não
podes lembrar as inúmeras vezes em que nasceste pela carne para, mais tarde,
renasceres pelo espírito. Sim, já te fugiram à memória os avatares longínquos, as
inúmeras vezes em que foste amamentado, em que engatinhaste, andaste,
cresceste. No entanto, ignoto amigo, será o teu corpo atual exatamente o mesmo
de há dez ou vinte anos? Será o teu atual ambiente uma réplica daquele que te
cercava quando eras criança? Vivemos num universo de constante mutação, de
constante impermanência. Tudo é “maya”, inclusive o corpo físico que nos reveste,
porque este corpo se renova dia a dia. Dirás que as células do cérebro são as
mesmas; no entanto, renovam-se os átomos que as constituem. Teu corpo é hoje
totalmente diferente daquele que possuías durante a meninice. Não raros os
momentos em que te interrogas: Quem terei sido eu no passado? Pobre ou rico?
Nobre ou plebeu? Já te perguntaste, no entanto, o que estás fazendo das tuas
“encarnações” atuais?

A vida, de quando em quando, te situa em ambientes distintos, em distintas


circunstâncias, em diversas realidades. E que estás fazendo com todo esse
aprendizado?

Se buscares o permanente para além do impermanente, o imutável para além de


todos os mutáveis, o uno para além de todos os diversos, poderás atravessar
tranqüilo todas as “encarnações” de tua atual reencarnação; todas as fases de tua
vida eterna, porque, até quando caíres, recomeçarás a jornada de onde caíste e,
mesmo caindo, avançarás.
XXXIV - CASAMENTO DEFINITIVO

Em minha última existência terrena, mormente depois que rompi com a teologia
tradicional, passei a desconfiar de todas as minhas verdades. De quando em vez,
enamorava-me de uma que me parecia absoluta e definitiva. Esse “namoro”,
porém, jamais chegava ao “casamento”, porque logo me desiludia e a deixava de
lado.

Sempre fui assim, “volúvel e infiel”, quando se tratava de minhas verdades.


Contudo, as pessoas volúveis e infiéis não raro encontram afinal o amor da sua
vida, o companheiro ou companheira de quem jamais se separará. Há também
aquelas pessoas que, mesmo levianas e inseguras, conservam-se leais a quem
consideram o favorito ou a favorita e com quem afinal se unem para sempre.
Talvez tenha sido esse o meu caso. Dentre todas as “verdades” às quais fui
incorrigivelmente infiel, uma me prendeu e ainda me prende eternamente o
coração: a da unidade central de toda a creação, a da identidade essencial do
Universo com Deus.

Hoje, como ontem, estou cada vez mais compenetrado de que a felicidade do
homem reside na consciência íntima de sua comunhão com o Deus de todos os
mundos e com todos os mundos de Deus.

O homem que faz dessa realidade o alimento de sua vida espiritual é um solitário
e ao mesmo tempo um solidário. Na solidão com Deus encontra ele os recursos
necessários para a solidariedade com os homens. Plenamente consciente de sua
integridade íntima, esse homem dispersa-se, distribui-se entre seus irmãos,
porque sabe que nada perde de si mesmo. Inteiramente uno por dentro, pode ele
expandir-se livremente entre os diversos de fora. Conservando intacta sua
unidade individual, consegue esse homem transformar sua vida em uma gloriosa
sinfonia de fraternidade universal.
XXXV - A MEDITAÇÃO E O DIA A DIA

Não creias que o esvaziamento necessário à tua implosão em Deus se realiza


apenas nos breves momentos da meditação. É verdade que nesses instantes
solenes teu psiquismo se move, graças a um impulso interior que visa a purificá-lo.
Todavia o homem é o supremo artífice de suas horas. Deve crear-se e recrear-se
a cada minuto. Isto o distingue dos outros seres da Natureza.

A estes evolução acontece, ao homem ela pode estar submetida.

Pergunta a ti mesmo, antes de mais nada, se a evolução ainda te acontece ou se


podes já comandá-la.

Procura saber de ti mesmo se estás a mercê do que te sucede de fora ou és, tu


próprio, o grande acontecimento cósmico de dentro.

Caso verifiques que és ainda conduzido e não condutor, aceita algumas


sugestões:

Torna-te senhor das tuas alegrias e das tuas tristezas, pois enquanto delas fores
escravo, serás apenas alo-determinado e não auto-determinante.

Aceita com gratidão o que te vier de fora, mas nada esperes do mundo, pois
enquanto girares em torno de tuas esperanças, não poderás ser tu mesmo a
esperança de teus irmãos - os homens.

Não cobres nada a ninguém, pois enquanto o fizeres, estarás aguilhoado às


algemas do toma-lá-da-cá e, conseqüentemente, não serás livre. Aprende a
ciência da verdadeira fé, aquela que vê o invisível, pois enquanto os olhos se
fixam tão somente nas coisas visíveis, não podes tornar-te um autêntico vidente
da alma do Universo.

Sê fiel a ti mesmo, pois enquanto estiveres disperso entre as opiniões e


conveniências do mundo, não poderás conhecer o UNO que liga todos os
diversos.

Banha-te no oceano divino, que está em tua própria alma, e emergirás desse
batismo renascido pelo espírito, pois só quando te impregnares da luz cósmica,
poderás saboreá-la para o mundo.
XXXVI - AS DUAS FASES DA MEDITAÇÃO

Dois conteúdos nem sempre cabem no mesmo receptáculo. Se quiseres encher


de água um copo cheio de leite, ou vice-versa, é preciso primeiro esvaziá-lo de
uma substância para que a outra o preencha. As duas substâncias misturadas não
te darão alimento ou não saciarão tua sede. É preciso, para que te alimentes, ou
para que te dessedentes, que o copo atravesse duas fases distintas: a do
esvaziamento e a da plenificação.

A meditação segue a mesma trilha. Numa primeira fase, o receptáculo, o espírito


humano, esvazia-se dos conteúdos externos do seu ego físico-mental-emocional.

Numa segunda fase, ele se torna pleno de seu eu crístico ou divino. Quando te
predispões à meditação, quase sempre és assaltado por uma espécie de
efervescência interior; essa efervescência se deve a dois fatores distintos.

Primeiro, o vácuo que tentas estabelecer em tua mente facilita a penetração de


toda a atmosfera psíquica à tua volta. Segundo, o próprio centro de tua alma
“pressiona” para fora, a fim de desembaraçar-se de tudo aquilo que o impede de
emergir.

Se não perseveras, se paras em meio à jornada, és uma semente que não vinga e
teu verdadeiro ser sofre uma espécie de “aborto”, pois ficas impedido de conhecer
o nascimento pelo espírito. Se, porém, fores um bandeirante de ti mesmo, se nada
te embaraçar os passos rumo a Deus, toda a vida será fecundada pelo sol divino
que está dentro de ti.

De início passarás por um processo de catarse ou purificação. Emoções


contraditórias farão de tua alma uma espécie de campo de batalha. Não
participes, porém, desse entrevero; observa-o, apenas e com paciência. Fixa-te no
centro de tua alma e procura perceber o que está por trás desse caos aparente.
No fim de um período, que será tanto mais curto, quanto mais longa for a tua
persistência, alcançarás a paz interior, porque a essência crística do teu ser
dominará todas as tuas periferias e te descobrirás a ti mesmo.

Não creias que ao reino de Deus se possa chegar por vias fáceis e diretas. Haverá
em teu íntimo algumas tréguas, certos armistícios; ainda não, porém, a paz
definitiva. De repente, as lutas recomeçam, até que o centro de tua alma tenha
levedado todo o teu ser como fermento leveda toda a massa.

Persevera, no entanto, porque todo esforço em prol da evolução será largamente


compensado.

Há inúmeros amigos espirituais que te assistem. Eles já passaram por esses


mesmos lances decisivos e solenes e, talvez mais que tu mesmo, desejam a tua
auto-realização.
XXXVII - A PALAVRA DE THOMAS EDISON

Um dos novos amigos que conquistei após o meu regresso ao Além foi Frederic
Figner. Quando de meus contatos com ele, visando à visita ao laboratório de
Edison, pudemos estabelecer uma amizade recíproca que nos felicita a ambos até
hoje.

Um dia trouxe-me ele um convite que eu não poderia recusar. Realizar-se-ia, em


breve, nas vizinhanças da Crosta, uma reunião à qual compareceriam
pesquisadores encarnados e desencarnados no ramo da Parapsicologia e do
Espiritismo no seu aspecto científico. Eles ouviriam as instruções de Thomas Alva
Edison, fundamente interessado, na atualidade, em aprofundar o intercâmbio entre
os chamados “vivos” e os chamados “mortos”. Com interesse e satisfação aceitei
o convite de Figner e não me arrependi.

Para estas páginas transcrevo o que me foi possível captar das palavras do genial
inventor:

- Irmãos! - disse ele - A Humanidade está vivendo um momento único e decisivo


de sua história. Aproxima-se a grande mutação. Avizinham-se os dias em que o
homem estará definitivamente num processo de inversão de seu centro de
consciência. Breve não mais estará ele identificado com o seu corpo; não mais se
confundirá com as superfícies e periferias do mundo que o rodeia. Durante este
século, buscou ele viajar para os mundos exteriores, agora, apresenta-se para a
grande viagem ao mundo interior. No entanto, é preciso auxiliá-lo, ajudando-o a
nós mesmos. É preciso apressar esse dia, porque os acontecimentos se
precipitam e, se o homem for entregue a si mesmo, ninguém pode prever até que
ponto descerá em sua loucura, em seu desatino. A Humanidade chegou a um
ponto em que não pode mais recuar. A grande seleção já se opera. Precisamos,
portanto, agir e viver segundo os tempos que correm, dinamizando nossas
potencialidades e atualizando, se for preciso, nossa própria linguagem e nossos
métodos de abordagem das criaturas terrestres. O que desejo, irmãos, é falar-vos
da necessidade de aprofundar nosso intercâmbio com os homens.

Até aqui, ele se fazia apenas através de médiuns humanos; ainda não podemos
dispensá-los de todo, mas já vislumbramos a possibilidade de transcender em
definitivo essa fase. A morte é ainda o grande fantasma. A morte é, por enquanto,
o mais terrível dos espantalhos. É preciso desmitificar este fantasma, destruir este
mostro. É chegada a hora em que os homens devem aprender a ver-nos e a
escutar-nos. É chegado o momento em que eles devem compreender a
transcendência da Vida em qualquer parte do Universo. Há que dizer-lhes que nós
também somos homens, com a simples diferença de que eles, nossos irmãos,
vestem ainda um corpo físico, compacto, e nós já o abandonamos, já o
devolvemos ao laboratório da Natureza, revestindo, agora, um corpo mais sutil.
Vários obstáculos nos aguardam na nova empreitada. De um lado, alguns dos
próprios espiritualistas dirão que a era dos fenômenos já passou, que é chegada a
era da transformação espiritual. Não estão de todo enganados esses
companheiros, mas perguntemos a eles se não estremeceriam de amor, caso
tivessem entre os braços um filho querido, um ente amado que se foi.
Perguntemos a eles se sua fé não se robusteceria, caso pudessem eles ouvir a
voz de alguém há muito ausente, alguém que os tenha deixado aqui, na saudade
e na lembrança imorredoura dos dias que se foram. Imaginai, irmãos, a alegria
esfuziante, embora um tanto medrosa, dos discípulos portas a dentro de uma sala,
quando diante deles surgiu o Mestre, sem nenhuma condenação, dizendo apenas:
“Paz seja convosco”. Imaginai o êxtase de um Tomé, que ao tocar as chagas de
seu Mestre, comprovando em definitivo o Seu ressurgimento dentre os mortos,
exclama: “Senhor meu e Deus meu!”. Não nos iludamos, os mais sensíveis e
receptivos, quando forem palpavelmente abordados por nós, quando forem
tocados de maneira concreta por nossa presença, despertarão para as grandes
realidades do espírito. Notai que vos falamos dos mais sensíveis.

Não nos referimos àqueles que querem sempre experimentar, investigar,


pesquisar, conjeturar, especular sem que isso os leve a qualquer caminho. Esses
também constituem obstáculos a serem vencidos, mas não nos preocupemos com
eles. Há quem precise de nós, eles estão satisfeitos consigo mesmos e com seus
divertimentos intelectuais. Entre os que poderão escutar-nos e ver-nos e
convencer-se da sua própria sobrevivência além da morte há aqueles que não
abrem mão dos seus padrões científicos de pensamento. Eles nos batizarão com
nomes diferentes. Que importa! Quantas vezes já fomos batizados e rebatizados.
Primeiro nosso nome era fraude, depois, passou a ser demônio. Hoje nosso nome
ainda é inconsciente. Que nos batizem como quiserem. Que nos dêem tantos
nomes gregos, tantas siglas que lhes aprazam. Não importa. O importante é que
nos percebam e nos compreendam. O importante é que saibam que um dia
estarão entre nós, porque como nós são Espíritos eternos. De que maneira,
porém, aperfeiçoar nosso intercâmbio com os homens? Perdoai-nos, irmãos, a
ousadia, mas aqui cabe uma advertência. É certo que a tecnologia nos ajudará:
gravadores, rádios, televisões, vídeos, já estão sendo utilizados, Novos aparelhos
surgem, outros surgirão, brevemente. Os homens se comunicarão conosco como
se comunicam entre si pelo telefone e por outros processos. No entanto, se não
tivermos cautela, corremos ainda sérios riscos. As máquinas são frias; a
tecnologia por si só é gélida. É verdade, sim, que sob muitos aspectos ela facilita a
vida no Planeta, mas vede também, o que há de negativo espalhado por ela, uma
vez mal utilizada. Aí está a corrida armamentista. Aí estão os poluentes da
atmosfera. Aí está toda uma gama de obstáculos, que é preciso vencer, se se
quiser garantir a própria vida, que a tecnologia se propõe facilitar. Do Mesmo
modo o emprego de recursos fisiotécnicos para a comunicação com os homens
poderá facilitar o acesso a eles por parte de companheiros nossos
desencarnados, cuja inteligência está pervertida.

É preciso, portanto, não cuidar apenas do aperfeiçoamento de aparelhos, mas


aperfeiçoar nosso próprio equipamento interior, para que nos possamos sintonizar
com aqueles que de Mais Alto assistem, supervisionam e impulsionam a evolução
dos homens. Quando eu estava no mundo físico, uma das coisas que pude
descobrir foi a lâmpada elétrica. Agora, quero descobrir outra espécie de lâmpada,
aquela que está no interior de cada um de nós. É preciso que encarnados e
desencarnados, ao buscarem aprofundar-se no intercâmbio, focalizem pelo menos
essa lâmpada, pequena que seja, a fim de que não se exponham a nenhum
perigo. Fé sem ciência é fanatismo; ciência sem fé pode ser loucura. Sei que
estão presentes aqui alguns cientistas que ainda não se iniciaram no contato com
o Plano Espiritual.

Dirijo a eles umas poucas palavras. Irmãos, é preciso renovar vossos métodos e
conceitos. A ciência das quantidades, da repetição indefinida dos fatos não serve
para a abordagem do nosso Plano. Não nos queirais escravizar aos vossos
caprichos. Não nos desejeis acorrentados à vossa necessidade de sensações
novas. Abordai-nos de maneira diferente. Não vos apegueis a idéia de que esses
fenômenos são produzidos pelos seres humanos apenas. O ser humano, já
começais a perceber, age mentalmente, inclusive na intimidade dos átomos. É
claro que de alguma forma estará sempre presente no intercâmbio com seus
irmãos que já se foram, e é normal e desejável que assim seja. Ou ele está
presente ou não há intercâmbio, há apenas mensagem unilateral. Não queirais,
portanto, a reprodução indefinitiva de um único fenômeno, já que sabeis hoje ser o
Universo um permanente fenômeno, sim, mas de mudança. As coisas que vedes
hoje não são exatamente as que vistes ontem. Vossas próprias percepções
mudam de instante a instante.

A cada novo contato com o ambiente externo vos transformais um pouco, ainda
que não o apercebais. Construamos, sim, a Nova Era, tornando concreto o nosso
contato com os homens, mas não nos esqueçamos de que esse contato não é o
fim, é apenas o meio. O fim é o despertar das potencialidades humanas; o fim é
convencer os homens da sua cidadania celeste; o fim é dizer a cada um, de boca
a ouvido, o que o Mestre disse há cerca de vinte séculos: “O Reino de Deus não
vem visivelmente, nem dirão ei-lo aqui ou ei-lo acolá. O Reino de Deus está dentro
de vós”.

Ignoto amigo! Se algo posso acrescentar ao que acabas de ler, digo-te que todos
os fatos dos mais corriqueiros aos mais aparentemente extraordinários, revelam
apenas a presença do grande “Númeno”, que está por trás de todos os
fenômenos. Que possamos encontrá-lo e teremos o Céu, aqui e agora.
MUSICOTERAPIA TRANSCEDENTAL - I

(Albert Schweitzer no Além-Túmulo)

Sempre admirei esses homens-luz que, de quando em quando, visitam o Planeta.


Eles passam como sóis, clareando tudo, iluminando quanto se ache em escuridão,
deixando em tudo o rastro luminoso de sua passagem; e o que se vê, e o que se
sente durante a permanência, entre nós, desses faróis de mais alto, nunca mais
se esquece.

Foi assim Albert Schweitzer. Abandonando o mundo, dirigiu-se a Lambaréné, na


África, onde foi dedicar seus últimos anos de vida terrena aos seus irmãos
enfermos, entre os quais os hansenianos, àquela época e naquela região,
duplamente infelizes.

Cogitando sobre isto nos primeiros tempos após a minha desencarnação, eu me


perguntava: Onde estará o grande missionário? O que estará ele fazendo, a esta
altura, em nosso plano?

Tornei conhecidas de Rufus minhas reflexões, obtendo dele apenas uma resposta
lacônica: Em breve tua curiosidade será satisfeita.

***

Um dia fui convidado por Rufus para uma excursão a Lambaréné, não
propriamente à cidade terrena, mas às suas circunvizinhanças astrais.

Em lá chegando, encontrei algo que me parecia ao mesmo tempo um hospital, um


templo e uma escola. Não havia luxo e o mobiliário era sóbrio, o ambiente
agradável e ventilado; à volta muito verde. Pouca diferença havia naquela região,
entre o plano espiritual e o plano físico propriamente dito.

Ao penetrarmos o local, fomos recebidos por um africano de aspecto sereno e


imponente. Rufus expôs a ele o motivo de nossa visita, obtendo a resposta de que
naquele dia Schweitzer viria a Instituição.

Perguntei ao anfitrião, se poderíamos conversar um pouco acerca do grande


instrutor, e o africano acedeu com gentileza. Dando então, como sempre, vazão
ao meio-repórter que ainda sou, fiz-lhe a primeira pergunta:

- A que tipo de atividade se dedica Schweitzer neste local?

O bom homem respondeu:

- Exatamente a mesma a que se dedicava na Terra, um tanto expandida e


ampliada. Aqui continua ele a cuidar, quer de futuros hansenianos, ou seja,
daqueles que ainda necessitarão desse desafio em próxima encarnação, quer dos
outros, que desencarnando com esse mal ainda o estampam, nos primeiros
tempos, em seus perispíritos.

- De que maneira cuida ele desses irmãos? - Perguntei.

- O tratamento varia segundo cada situação. Os recém-desencarnados que ainda


se conservam com a impressão do mal, recebem remédios, se for o caso, além de
outros recursos terapêuticos. Quanto aos que vão sofrer de hanseníase no corpo
físico, esses são preparados para enfrentar o mal e, na maioria dos casos, vencê-
lo. Podem também ser equipados para mudar sua conduta mental e conjurar a
moléstia antes mesmo que se manifeste. Há, porém, um tratamento que é comum
a todos: a aplicação de recursos magnéticos e da “Terapêutica Musical”.

- “Terapêutica Musical”...

Aquelas palavras me empolgaram. Recordei o valor que os orientais davam ao


som. Lembrei-me também da logoterapia baseada, entre outras coisas, no
emprego correto da palavra, e o bom homem, antecipando-se às minhas
reflexões, prosseguiu:

- Sim, Schweitzer sabe, como ninguém, aplicar o som da manipulação de forças


do nosso plano e na administração de tratamento aos que necessitam. Continua
ele aqui o mesmo abnegado de sempre. Seu nível evolutivo já o credencia a
grandes alturas, ele, porém, não se julga em condições de bater asas, quando
tantos pássaros ainda permanecem caídos na estrada, feridos e impedidos de
voar.

Não estranhei aquela declaração; afinal, não podia surpreender-me o espírito de


abnegação do grande mestre. Em nosso plano continuamos a ser o que éramos,
só o tempo é capaz de modificar algumas das nossas predisposições. Mesmo
assim, as atitudes legítimas e espirituais que assumimos, vão conosco e se
aprofundam quando deixamos o corpo físico. Com Schweitzer não poderia ser
diferente; prosseguia ele apenas sendo o que já era: o farol a beneficiar com sua
luz excelsa àqueles a quem se propunha auxiliar.

***

Nosso anfitrião, interrompendo a conversa, levou-nos a um vasto salão onde, tudo


indicava, logo estaria entre nós o Santo de Lambaréné, como era chamado. Em
seguida, retirou-se o africano, deixando-nos à vontade.

Ali nos deparamos com grande multidão de seres espirituais, muitos


desencarnados, alguns, porém, pelo cordão prateado que ostentavam no alto da
cabeça, denunciavam sua condição de habitantes do mundo físico, que ali
compareciam graças ao fenômeno do sono. Intrigado, dirigi-me a Rufus,
perguntando:

- Por que não nos falou o amigo da presença de encarnados nestas paragens?
- Não sou adivinho, meu caro Delfos, mas, naturalmente, quis ele que
observássemos por nós mesmos. Além disso, creio que acha mais importante o
trabalho que Schweitzer faz com os desencarnados; aguardemos, no entanto.

Naquele momento Schweitzer chegava ao recinto. O mesmo olhar sereno e


transparente, o mesmo sorriso discreto, os mesmos cabelos já grisalhos.

Antes de mais nada dirigiu-se ele a cada um dos participantes da reunião;


entabulou ligeira conversação pessoa a pessoa, a todos distribuiu particularmente
um pouco de seu afeto. Depois colocou-se à frente de um grande órgão. Antes,
porém, de fazê-lo soar, disse algumas palavras.
MUSICOTERAPIA TRANSCEDENTAL - II

(Sons, Luzes e Cores)

- Irmãos, o que se vai passar aqui não é apenas um momento de lazer; é um


esforço para que entremos em comunhão com a Alma do Universo. Que cada um
de nós possa estar predisposto, porque só seremos beneficiados na medida que
aceitemos o benefício. Como sabeis, Deus não impõe suas dádivas ou suas
bênçãos. Cabe-nos abrir-nos a elas com gratidão, para que surtam efeito dentro e
fora de nós, e para que o plano de Deus, a nosso respeito, de fato se cumpra.

Após este breve recado inicial, Schweitzer se pôs a tocar. O que aconteceu, então,
é indiscutível... O grande missionário se transfigurou como Jesus no Tabor; sua
vestes emitiram uma luz que nos envolveu a todos. Seu olhar, erguido ao Céu, era
todo uma prece. Mas (coisa estranha...), dir-se-ia que o próprio Schweitzer, num
esforço supremo, apagou aquela luz ou reduziu-a ao mínimo.

Aconteceu, então, um outro fenômeno, que, por seu caráter extraordinário, só é


compreendido por quem o percebe: Os sons do órgão transformaram-se em
ondas luminosas; essas ondas como que percorriam todo o salão, entrando em
cada um de nossos organismos. Observamos que, ao penetrar o corpo espiritual
dos presentes, as ondas luminosas variavam de cores, de acordo, ao que pude
perceber, com as necessidades de cada órgão enfermo.

Alguns dos presentes choraram convulsivamente, outros prostraram-se de joelhos


e se puseram em muda oração; outros ainda, e entre estes, alguns encarnados,
sofreram estranhas convulsões, como se houvessem recebido um impacto em seu
organismo e em sua psique.

Por minha vez, não posso descrever o que senti. Lembrei-me de certa página que
escrevi ainda em vida terrena sobre a “Oração Trágica”.

Parece que naquele instante eu sofria uma espécie de cirurgia espiritual, da qual
não sabia “se ia sair para a vida ou para a morte”.

***

Concluída aquela atividade logo me veio o desejo de maior aproximação com


Schweitzer. No entanto, nem tudo estava acabado.

Os desencarnados permaneciam todos ainda no ambiente. Os encarnados,


porém, em sua maioria, regressavam, ao que supus, ao corpo físico, só
permanecendo ali dois dentre eles.

Foi então que Schweitzer encarregou seus assistentes de distribuir entre todos
alguns fones que eles colocaram nos ouvidos.
Logo percebi que estávamos diante da segunda fase daquela terapia, e não
estranhei o fato de Rufus e eu não ter recebido nenhum fone.

Os desencarnados presentes, quase todos, ostentavam ainda as marcas da


moléstia que os acometera; alguns entre eles, após colocarem os fones nos
ouvidos, em poucos minutos exclamaram: “Meu Deus, estou ficando totalmente
curado! Aleluia!”

De fato, os sinais, as marcas, os aleijões, tudo desaparecia como por encanto. O


corpo espiritual de cada um era devolvido à saúde e eles retiravam-se do local,
agradecendo a Deus, não sem antes tentarem prostrar-se perante Schweitzer, que
recusava essa homenagem.

Outros permaneciam silenciosos, em meditação. Igualmente os sinais da moléstia


os abandonavam. Eles, porém, preferiam expressar sua gratidão a Deus, através
da linguagem muda e veemente das lágrimas. Só um pequeno grupo permaneceu
sem reações aparentes, a não ser a serenidade do semblante, um tanto carregado
antes do tratamento.
MUSICOTERAPIA TRANSCEDENTAL - III

(Diálogo com Schweitzer)

Concluída a terapia, fui finalmente ao encontro de Schweitzer. Expressando um


entusiasmo ainda bem terreno, quis descarregar sobre ele os meus elogios. Não
que fosse esse o meu feitio, mas porque me sentia atraído pelo magnetismo
daquele gigante de espiritualidade.

Ele porém acenou para que me calasse, dispondo-se a responder às minhas


perguntas, desde que breves.

- Estimaria que me informasse sobre detalhes do que acabo de assistir. - solicitei


humildemente.

- Amigo, acabas de assistir uma sessão de “Musicoterapia Transcedental”. O som


aqui não é usado empiricamente. Aprendi o quanto ele é valioso, o quanto pode
ser utilizado na cura de enfermidades e no auxílio à evolução das criaturas
humanas. O Universo, irmão, é harmonia, e o homem está integrado nessa
harmonia; apenas falta-lhe ainda percebê-la.

- Como funcionam os acordes de sua música, a ponto de restaurar a saúde dos


doentes? - perguntei.

- Eles percorrem, célula a célula, os corpos espirituais e os corpos físicos das


criaturas; eles abrem o coração humano, aproximando-o, o máximo possível, da
chamada “Música das Esferas”.

- Fui informado de que o irmão, aqui, cuida não só de candidatos ao mal de


Hansen no próximo corpo físico, mas igualmente dos hansenianos desencarnados
que exibem ainda os sinais de sua antiga moléstia; entretanto, encontrei aqui
também espíritos encarnados.

- Como os demais, eles sofrem, ou são potencialmente predispostos ao mal. Aqui


recebem o conforto e a força necessários, ou, como os futuros hansenianos, são
estimulados a modificar sua mente, anulando a moléstia antes que apareça.

Eu sabia a que tipo de transformação se referia Schweitzer, no entanto, fazendo


questão de ouvir a sua palavra a respeito do assunto, perguntei:

- Como pode dar-se essa modificação?

- Que cultivem o amor e a fé, as maiores de todas as virtudes, que confiem em


Deus e em si mesmos, colocando-se acima do seu passado e fazendo jus à sua
herança como filhos da luz. Ainda quando não lhes seja possível uma cura total,
que não se rendam, mas se transformem em mensagens vivas de resistência,
tenacidade e esperança.
- O que é exatamente a “Música das Esferas”? - perguntei eu.

- É o conjunto harmonioso de todas as vibrações do Cosmos; é a majestosa e


imponente sinfonia composta por Deus ao criar e sustentar seu Universo.

- Pode o ser humano suportar semelhante música? - indaguei.

- Não. - respondeu ele. - Aqui, o que fazemos é como que reduzir a intensidade
dessas harmonias na medida certa para cada organismo e para cada psiquismo
humano. Como sabes, as potencialidades atualizadas do homem são ainda muito
restritas. Ele ainda está preso nas gaiolas do Tempo e do Espaço; essas
pequenas dimensões o impedem de voar mais alto, e, se tentarmos adiantar-nos à
Natureza, causaremos danos dificilmente remediáveis, ao invés de beneficiar.

- Disse o amigo, que sua música aproxima ao máximo o ser humano da chamada
“Música das Esferas”. É por isso que cada um reagiu de modo diferente?

- Nem poderia ser de outro modo. - respondeu Schweitzer - Dá-se aqui com o
som, em relação ao ser humano encarnado ou desencarnado, o que se dá com a
luz: Muito intensa, ela acaba por cegar; na medida adequada, ela ilumina e facilita
a visão.

- No entanto - acrescentei -, alguns sofrem estranhas convulsões.

- Natural - prosseguiu Schweitzer -, fazemos o possível para diminuir a intensidade


dos efeitos sonoros, todavia existem estruturas mórbidas estratificadas que
precisam de impacto, de choque, de abalo sério, para começarem a desintegrar-
se. (*)

- Gostaria de que me explicasse a dinâmica da última fase do tratamento. Por que


os fones?

____________

(*) Aqui, o amigo espiritual alude a impactos e choques vibratórios, nada tendo que
ver esse procedimento terapêutico com a chamada convulsoterapia na base da
eletricidade (Nota do Médium)
MUSICOTERAPIA TRANSCEDENTAL - IV

(Experiência intraduzível)

A essa altura, Schweitzer solicitou-me que experimentasse um deles. Ao fazê-lo,


confesso que quase enlouqueci. A beleza dos sons harmônicos e maviosos
empolgou-me todo e fui tomado por um espírito místico e devocional, que jamais
havia experimentado antes. A sensação que me invadiu foi de totalidade e
integração; dir-se-ia estar eu, naqueles instantes, em contato com o Absoluto.
Cessada a experiência, explicou Schweitzer:

- O que fizemos neste momento, foi tentar aproximar-te de todas as harmonias


com que o Universo repercute em ti. Amigo, o Universo não é exterior às creaturas
e as creaturas não são exteriores ao Universo. Há harmonias imperceptíveis
unindo o ser consigo mesmo e com todos os seres. No dia em que o homem
perceba até que ponto o seu destino está entrelaçado com o das estrelas, outra
será a sua vida. Não te falo de fatalismo astrológico, mas de ressonância cósmica;
não me refiro à escravização mecânica do Homem ao Universo, mas à interação
Universo-Natureza-Homem.

- Em que medida pode ser percebida pelo homem essa interação?

- Ele ainda não percebe - respondeu Schweitzer - por não dispor recursos que o
capacitem a tanto; inconscientemente, porém, ele as registra. À medida que
evolve na escala dos seres, vai cada vez mais assimilando as ressonâncias
profundas da interação entre ele e o Cosmos. Se auscultasses todas as vibrações
que incidiram sobre o teu corpo físico e partiram dele, as que interagem com o teu
corpo espiritual, célula a célula, molécula a molécula, átomo a átomo, ouvirias tua
própria sinfonia particular e perceberias tua luz individual, composta de todas as
luzes que emites e recebes.

- Estará um dia entre os homens a terapêutica aqui aplicada? - perguntei.

- Já existem por lá alguns ensaios. - respondeu Schweitzer - Brevemente a


Ciência avançará ainda mais, penetrando domínios cada vez mais sutis da
Natureza e do Universo e saberá utilizar esses conhecimentos em prol da
felicidade humana.

- Se já a sua música havia aproximado os ouvintes da “Sinfonia Cósmica”, por que


os fones e a música ouvida individualmente?

- Durante a primeira fase da terapia, minha música preparou-os para uma


aproximação posterior ainda maior entre eles e as vibrações cósmicas que
ressoam em cada um de maneira particular. Pudeste observar que, como na
primeira fase, na última cada um reagiu de um modo, porque cada um assimilou
como pôde sua própria gama de vibrações universais.

Nada mais tinha eu a perguntar, mas tinha algo a pedir. E o fiz.


- Amigo, pretendo transmitir estas informações aos meus leitores e gostaria de que
lhes dissesse alguma coisa a respeito de sua experiência atual.

***

- Só posso dizer - respondeu ele - o que já dizia: É necessário restaurar a


harmonia entre o Homem, a Natureza e o Universo; é necessário que o homem
estenda a solidariedade que o liga a todos os seres. Aos seres humanos, seus
semelhantes, ao componentes de todos os reinos da Natureza que lhes estão
abaixo na escala evolutiva e a seus irmãos que o assistem do mais alto, ansiosos
por que ele cresça e realize os seus gloriosos destinos.

É necessário que o homem rompa de uma vez, com a sede de poder, com os
preconceitos de qualquer natureza. Estes, na atualidade, constituem uma das
principais causas de opressão. Entre estes, destaco o preconceito racial e o
religioso.

Fui aprendendo aos poucos, que o valor humano não se mede pela cor da pele ou
pelas vestes; a cor da pele nada significa; estética e beleza são produtos de
padrões sócio culturais, e estes nem sempre correspondem aos padrões do
Universo.

O que importa é o homem em si mesmo, integral, uno e único. Quanto ao


sectarismo, preconceito religioso, ideológico, que nos desfaçamos dele,
imediatamente. Ninguém é monopolizador e possuidor exclusivo da verdade.
Percebi que o “Céu” não é habitado por cristãos, maometanos, judeus ou budistas;
o “Céu” é habitado por aqueles que vivem a religião Cósmica do Amor, e,
pasmem, os ciosos de pseudo-privilégios espirituais “garantidos” por sua igreja ou
por sua religião, entre esses “habitantes do "Céu” encontram-se, inclusive, ateus.
E não é só: encontrei por aqui muita gente que eu considerava supersticiosa,
muitos sacerdotes de “religiões pagãs”, emitindo luzes que estou longe de
ostentar.

Em minha última encarnação minha atividade visava, entre outras coisas, a


arrancar aquela pobre gente supersticiosa às garras do feiticeiro. Aqui, porém,
compreendi que muito do que eu considerava como feitiçaria não passava de
manipulação das forças da Natureza.

Existia, sim, muita superstição, mas existia também muita sabedoria oculta, muita
verdade mal compreendida e distorcida.

Que todos nos abramos uns aos outros, caminhemos ao encontro uns dos outros,
nos integremos uns com os outros, e o “Céu” será nosso em qualquer parte do
Universo.

Retirei-me em profundo silêncio. De nada mais necessitava eu, senão de


comunhão comigo mesmo e com Deus, para que tudo aquilo fosse digerido e
transmitido a ti, que me lês.
XLII - ECOLOGIA NO ALÉM E NO AQUÉM

Digeridos os ensinamentos obtidos em minha conversa com Schweitzer, pus-me a


refletir sobre as relações Homem-Natureza-Universo.

Qual a dinâmica da interação Homem-Natureza em nosso plano?

De que maneira se relacionam aqui esses inimigos aparentes, que tanto se


guerreiam lá - no mundo físico?

Lembrei-me, então, de que em minha visita às cavernas, encontrei uma Natureza


árida, um céu cinzento, um ar sufocante, um clima a prenunciar tempestades, que
nem sempre chegavam a deflagrar-se!...

Rufus sugeriu-me, de novo, observar o “meio ambiente” das cavernas. Sem


demora pusemo-nos a caminho. Desta vez não se tratava de nada que se
relacionasse com meu íntimo, propriamente dito. Queria, como já disse, observar
a Natureza dos ambientes trevosos.

Na medida em que fomos descendo, as características do meio ambiente


variavam.

Eu diria: mudando para pior.

Aqui, um céu cinzento e carregado anunciava a aproximação de tormentas, que


não vinham.

Ali, o “uivar” do vento se misturava ao gemido lancinante de Espíritos sofredores,


que pareciam mergulhados no sofrimento eterno.

Acolá, a tempestade era desordenadamente furiosa e incontrolável.

Aconselhou-me Rufus a observar os agrupamentos espirituais que se


aglomeravam em cada ambiente.

Nos locais onde o ar era pesado, sem que houvesse tempestade, notei a
existência de criaturas como que “debruçada sobre si mesmas”. Elas próprias
eram tempestades que não explodiam. Silenciosamente viviam seus pesadelos.
Seus gritos eram mudos, interiores, porque receavam a própria sombra, embora
estivessem imantadas umas às outras, não podendo fugir das companheiras nem
de si mesmas.

Nos locais onde o vento uivava, misturando-se a gemidos soturnos, observei que
os sofredores davam vazão à dor que os martirizava, mas permaneciam girando
em torno dela, incapazes também de perceber outra realidade - a não ser a
pavorosa loucura em que estavam envolvidas.
Finalmente, nas regiões em que a tempestade explodia devastadora, notei que as
paixões também explodiam, transbordando do interior dos que habitavam aquelas
zonas sombrias.

Pensei: Que diferença entre esses ambientes e o da instituição que nos abriga.
Lá, há como que um diálogo entre nós e a Natureza. Nós lhe damos o nosso amor
e ela, em troca, nos revela os seus segredos. Nós a respeitamos e ela se oferece
a nós.

Captando minhas reflexões, Rufus declarou:

- Sim, Delfos. Em qualquer parte do Universo a Natureza revela o homem e o


homem revela a Natureza. Observaste os locais onde o céu é cinzento? Eles
refletem a profunda depressão em que está mergulhado aquela pobre multidão de
aflitos. Quanto aqueles outros, onde os gemidos dos ventos e das creaturas nos
dão a impressão de uma orquestra dissonante e sinistra, ali, por incrível que
pareça, a situação é um tanto melhor, porque o sofrimento se extravasa, como no
caso das regiões onde a tempestade explode. Quando a dor ou as paixões
extravasam, torna-se mais fácil e rápida a queima desse material inútil.

Mas, indaguei:

- E quanto às almas em depressão? Por que, afinal, não explode ali a


tempestade? Por quanto tempo ficarão elas ali naquele estado deplorável?

- A tempestade explodirá, Delfos, porque a Natureza sabe rearmonizar-se e não


aceita as desarmonias que o homem, consciente ou inconsciente, lhe imponha.
Enquanto regressávamos, lembrei-me do que havia escrito em meu livro “O
Sermão da Montanha”, comentando o “bem aventurados os mansos, porque
possuirão a Terra”. De fato, para que o Homem possua a Natureza, há que haver
um acordo mútuo, um “sim nupcial” entre ambos.

Até agora homem e Natureza constituem um casal que tenta acertar o passo, mas
não o consegue, porque ele busca escravizá-la e ela aproveita todas as
oportunidades para vingar-se dele, fugindo-lhe ao jugo tiranizante.

Em meio a esses pensamentos, tive a idéia ousada de tentar um novo encontro


com Albert Schweitzer, a fim de entrevistá-lo sobre o assunto e fui bem sucedido.
XLIII - NOVA ENTREVISTA COM SCHWEITZER

De novo, nas vizinhanças espirituais de Lambaréné, fui bem recebido por


Schweitzer.

Expus-lhe os assuntos de minhas reflexões e, quando falava do casamento


“homem Natureza”, ele se riu, sonoramente, porque embora seu sorriso seja
discreto, sua risada é franca.

Em seguida aprofundou o assunto:

- Gostei da comparação, amigo! Repara o que acontece entre um casal. Nenhuma


união conjugal é possível sem compreensão mútua e mútuas concessões... Se um
dos dois é infiel, o outro ainda que não reaja, exteriormente, acaba por tornar-se
uma pessoa amarga e, não raro, se destrói, impregnando o organismo de suas
angústias e criando enfermidades, por vezes de caráter irreversível. É assim com
a Natureza em nosso plano. Reparaste que nas cavernas a plantação em geral é
mirrada e pobre? Também mirrado e pobre é o ser humano que se deixa vulnerar
pela ingratidão do outro e não sabe ou não quer reconstruir-se. Por outro lado,
Delfos, a manutenção da União conjugal requer certas sutilezas. Um e outro
precisam conquistar-se e reconquistar-se, dia-a-dia, aprofundando sua comunhão.
Também é assim nas relações Homem-Natureza, quer no nosso plano, quer no
plano físico. Há que cultivar uma interação cada vez maior de um com o outro.
Mas essa interação é absolutamente impossível fora dos parâmetros do Amor. A
Natureza não tolera infidelidade ou insinceridades. Ela é recatada, tem seus
pudores e só dá, integralmente, a quem a merece. Altiva, ela sabe impor seus
direitos, quando o homem, desabusado, ousa violentá-los. Ciumenta, ela sabe
punir-nos, quando ousamos contrariá-la, desviando-nos de nossa fidelidade a ela.
Em geral, Delfos, o casamento Homem-Natureza “não dá certo” por causa do
próprio homem. Ele é que a obriga a divorciar-se, “expulsando-o de casa”.

Após esta última expressão, Schweitzer deu nova e sonora risada. E eu interferi:

- Disse o amigo, que a interação Homem-Natureza é a mesma em nosso plano e


no plano físico. Lá, no entanto, a posição mental e emocional do homem não
produz efeitos tão imediatos, não é assim?

- Sim, Delfos. Aqui, é claro, tudo é mais sutil. A matéria é maleável e plasticizante,
recebendo o impacto direto de nossas vibrações. Lá, no entanto, as circunstâncias
são mais ou menos as mesmas, embora a longo prazo. Além da poluição do
ambiente físico, por lá pode-se observar a poluição da psicosfera. Mente e
emoções provocam sujidades no ambiente físico, por lá pode-se observar a
poluição da psicosfera. Mente e emoções provocam sujidades no ambiente e são
capazes de causar danos que apavorariam a qualquer ecólogo, que fosse
suficientemente sensitivo para percebê-las.

- Qual conselho daria o amigo, - perguntei - a fim de que melhorasse esse quadro
na Terra?
- Atualmente não dou conselhos. - respondeu Schweitzer. - Descobri que só
consigo ser conselheiro de mim e, ainda assim, nem sempre com bons resultados.
Posso, no entanto, oferecer sugestões. Aliás, já as ofereci, lembras-te? No
entanto, ei-las: - Que o Homem se lembre de que ele próprio é a Natureza. Sobre
ele, portanto, incidem todas as atitudes para com ela. Ele é a primeira vítima e o
primeiro beneficiário dessas atitudes. - Que, enfim, o Homem volte à Natureza, da
qual se separou por necessidade e capricho. Que este namoro tumultuado e
multimilenar entre ele e ela se transforme, afinal, em casamento. Mas casamento,
não o esqueçamos, é integração e interação, e não domínio.

Finda a conversa, lembrei-me dos grandes iluminados que um dia visitaram o


mundo: Gandhi, Francisco de Assis, o próprio Schweitzer e principalmente o
Cristo. Eles se casaram com a Natureza.

Que possamos imitá-los, porque isso é urgente e inadiável. Ou nos casamos com
a Natureza ou com ela nos destruiremos.
XLIV - PAZ? QUE PAZ QUEREIS?

Desde o começo do mundo reina junto aos homens uma lei que até hoje nos
infelicita e reduz nossas melhores forças. Em latim ela diz: Se vis pacem, para
bellum (“Se queres a paz, prepara a guerra”)

Eu vos digo, que até mesmo aqueles que se elevam acima do cotidiano do
homem comum, até aqueles que em certo grau superaram as ilusões de seu ego
físico-mental-emocional, ainda se orientam por esta lei. E eu vos digo, talvez para
maior admiração, que assim deve ser.

Que paz nós queremos? A paz do mundo, que se adapta, ou a paz do Cristo, que
não cede? A paz do mundo, que se adapta, ou a paz do Cristo, que não se
adapta? A paz do mundo, que lucra, ou a paz do Cristo, que diariamente se
completa?

Que paz nós queremos? Se queremos a paz do mundo, estejamos tranqüilos,


porque nada, ninguém nos perturbará. Se queremos a paz do mundo, podemos
dormir tranqüilos, porque respiramos juntamente com aqueles que se
acostumaram com o ar infecto das planícies.

Mas se queremos a paz do Cristo, tudo será diferente. É preciso que estejamos
atentos à batalha. Se vis pacem, para bellum. Mas esta batalha não acontecerá do
lado de fora. Ela não é de homem contra homem, mas de homem consigo mesmo.
Ela não acontece nos campos de batalha de fora, mas no vasto campo de batalha
de dentro. Ela é a mesma de Arjuna, que teve de lutar contra seus parentes e
amigos para vencer a injustiça. Propriamente não se batalha contra a injustiça,
mas contra a não justiça, o não ajustamento de nosso ser ao Cosmos. Esse não
ajustamento nós devemos combater obstinadamente e com todas as forças de
nosso ser, se queremos de fato nos auto-realizar.

Meus amigos, o mundo vive um momento único de sua história. Nunca mais viverá
de novo. E devemos aproveitar este momento.

Quem quer se auto-realizar, esse receberá poderosos impulsos do alto, porque


mais do que ele as potências cósmicas desejam seu crescimento.

Mas aqueles que decidirem dar voltas em torno de si mesmos, aqueles que estão
contentes consigo mesmos, aqueles que estão adaptados, permanecerão no
labirinto de Maya, da ilusão, e serão presas de seus próprios erros.

A paz fique convosco.


UM CURSO DE PAZ - I

Estava eu ocupado em minhas atividades rotineiras em Cosmorama, quando


recebi um convite que sobremaneira me emocionou: Mahatma Gandhi, aludindo à
entrevista que me dera, chamava-me para freqüentar um ciclo de palestras que
ele faria para um grupo de pacifistas (*) encarnados e desencarnados. Tema: A
Paz.

O que vivi durante esses dias não posso descrever em palavras; tentei, então,
resumir estas palavras naquilo a que intitulei “Um curso de Paz”. É uma
mensagem aos pacifistas de todos os quadrantes da Terra. Possa esta
mensagem, ignoto amigo, penetrar-te para que te tornes um deles e para que
conosco lutes pela paz, dentro e fora de ti.

Eis o que nos disse o Mahatma, resumidamente:

- Irmãos, densas massas de pensamentos negativos se acumulam nos céus de


todo o planeta. Além disso, hordas de Espíritos inferiores, pertencentes a várias
confrarias do mal, estão em franca atividade buscando dominar as mentes dos
que dirigem o mundo e confundir os corações dos idealistas. Estamos tentando
neutralizar a ação corrosiva de todas essas forças, mas, para isso, precisamos
contar convosco. Queremos convidar-vos a uma luta séria, abnegada, decisiva,
em prol da paz. Estareis conosco?

Antes de mais nada, perguntai a vós mesmos onde e quando começam, as


guerras.

Onde e quando começam as guerras

Um dia fostes expulsos do paraíso de vossa ignorância. Foi a hora em que raiou
em vós o intelecto. Vossa consciência, então, se fragmentou. Vosso Eu, até ali
quase indiferenciado, se transformou em vários “eus”; cada um de vós é uma
cidade povoada de muita gente heterogênea. Vosso ser se transformou, então, no
campo de batalha a que se refere o Bhagavad Gita, “A Canção do Senhor”. Arjuna
teve que lutar contra o usurpador e essa luta continua até hoje. Inúmeras
potências se digladiam dentro de vós, buscando apoderar-se de vosso ser. É aí, e
não em outra parte, que começam as guerras. Qual é a conseqüência dessa
conflagração interior? Qual é a conseqüência desse esfacelamento em que vos
encontrais? Se não estais bem convosco, não estareis bem com o mundo. Ainda
sois o animal de ontem que disputa a caça ou o sexo oposto. Ainda estais com o
pé fincado no reino do bruto, que busca sobreviver a qualquer preço, que ataca e
se defende para auto afirmar-se.

Várias frentes de luta

Hoje essa luta de todos contra todos dá-se em várias frentes; dá-se através da
luta armada, dá-se através da competição econômica e dá-se através das
disputas religiosas. Tudo é motivo para que vos atireis uns contra os outros. Até o
esporte, que devia unir-vos, separa-vos, às vezes de maneira irreversível.

Compreendeis, agora, por que só viveis em guerra?

Alimentação

E mais: vossa obstinação em permanecer no reino animal obriga-vos a usardes o


corpo de vossos irmãos menores para vossa alimentação. Não podeis
compreender ainda o que isto significa em termos de sofrimento e desespero para
as vossa vítimas. Não podeis compreender ainda o quanto a matança a um só ser
inocente agrava os vossos débitos perante a Lei Universal. Não vos quero
conclamar a um vegetarianismo forçado, com estas palavras. Aprendi que todas
as grandes realizações se dão espontaneamente, de dentro para fora, não falo
apenas a orientais, mas a ocidentais milenarmente acostumados a esse tipo de
alimentação, do qual não poderão libertar-se de um momento para outro. Voltarei
a este assunto mais adiante.

_______________

(*) O autor espiritual preferia quando encarnado, e ainda prefere, o termo


pacificador. Aqui, porém, em respeito a quem transmitiu e aos que participaram do
Curso de Paz, Delfos conservou o termo pacifistas por eles empregado.

Nota do autor espiritual: Convém lembrar que entre os orientais há também


quem faça uso de carne, como, por exemplo, os muçulmanos.
UM CURSO DE PAZ - II

Relação com o próximo e com Deus

O fato de estardes ainda, como vos disse, com os pés fincados nos reinos
inferiores, vos fez desconfiar uns dos outros e leva cada um de vós a considerar o
próximo como o seu inimigo.

E quanto às vossas relações com Deus? Que é feito delas? Na maioria dos casos
as religiões, especialmente as religiões ocidentais, vos ensinaram a portar-vos
diante de Deus como quem teme um juiz que deve ser aplacado, bajulado. É esse
o vosso Deus? Ensinam-vos também essas religiões que este juiz está num céu
distante e isso crea dentro de vós a ilusão de que vossas súplicas, vossas
orações, lá não chegam porque ainda estais muito presos às férreas gaiolas de
espaço e de tempo. Resultado: porque Deus é por demais transcendente para
vós, não o adorais, nem sequer o amais. Na maioria dos casos, apenas o temeis.
Isso agrava sobremaneira a luta de vós contra vós mesmos, porque vos sentis
culpados diante de Deus e a culpa faz com que a vossa alma se fragmente mais e
mais. Compreendeis agora por que tudo vos leva à guerra? Compreendeis agora
por que tendes todos os motivos, pelo menos na aparência, para estar
constantemente em atrito, para vos lançardes em conflitos intermináveis que, mais
e mais, vos dividem e infelicitam? Compreendeis agora que é necessário fazer
uma verdadeira reviravolta neste caos?

Que é a Paz?

Que é a paz? Estais contentes com este estado de coisas? Agrada-vos essa
trepidação constante em que vive a vossa alma? Será que vos satisfaz essa
angústia que ninguém consola?

É preciso buscar a Paz. Mas, que é a Paz?

Paz é inteireza, e só Deus é inteiro.

A Paz é o Absoluto e só Deus é o Absoluto.

Que dizer então? Que jamais obteremos a Paz? Claro que a obtereis. E a obtereis
gradativa e infinita, porque vós sois finitos e o finito há de sempre abrir-se para o
Infinito. O Infinito nunca cessa de derramar-se sobre o finito. Mas o finito só pode
conter o Infinito na medida em que se infinitiza. A Paz é, portanto, a reunião de
todos os fragmentos em que está dividido o vosso pobre ser. E essa reunião só
pode ser obtida mediante um mergulho no centro de vós mesmos. Buscai a Paz.
Mesmo que não acrediteis num Deus transcendente, despertai para a existência
dentro de vossa psique, de um centro de equilíbrio, de coordenação de tudo, um
centro em que tudo se unifica, se rearmoniza, se reconcilia.

Luta pela Paz


Mas eu vos convidei a uma luta pela Paz. Em que consiste essa luta? Apenas
nisto? Em meditar? Em buscar a presença de Deus ou de centros de equilíbrio
dentro de nós? Isto? Só isto, e nada mais que isto, seria rematada loucura.

É preciso abrir duas frente de luta contra a guerra. Uma dentro, outra fora de vós.
É preciso que de dentro compreendais o que a guerra simboliza e provoca. Que
fizeram as guerras até hoje? É verdade, sim, que houve um progresso a partir
delas, porque a harmonia do Cosmos sabe aproveitar as desarmonias do caos e
sabe fazê-las redundar em benefício do conjunto. Em outras palavras, o Universo
sabe aproveitar as próprias desarmonias para rearmonizar-se consigo mesmo e
para avançar, para seguir adiante.

Isto não quer dizer que as guerras sejam indispensáveis ou necessárias. É claro,
tivesse, por exemplo, Hitler dominado o mundo e seria bem outra, hoje, a sorte da
Humanidade, mas, por outro lado, perguntai a vós mesmos: Hitler foi vencido. Mas
foi vencido o totalitarismo?

Não, ele ainda ressurge, aqui e ali, algumas vezes declarado brutal. De outras
vezes cinicamente disfarçado. Mas ei-lo de cabeça erguida após cada golpe.

É claro, pois se ainda não foi banido de dentro de vós, como quereis vencê-lo
fora?

Hitler foi vencido, mais foi vencido o racismo? Atentai para o que se passa em
várias partes do Globo e vós mesmos respondereis silenciosamente a esta
pergunta. É preciso que a guerra vos canse e apavore. É preciso que tenhais uma
indigestão de tudo aquilo que vos separa dos outros. E é o que está acontecendo.
Buscai a meditação e todas estas coisas serão uma realidade dentro de vós. Eu
vos falei da frente que deve abrir-se em vossa alma. Agora vos falo, ainda que
levemente, do que deve ser feito fora de vós.
UM CURSO DE PAZ - III

O verdadeiro pacifismo

Em primeiro lugar não confundais o pacifismo baseado na verdade com o


pacifismo baseado no desespero. Não é pacifista quem ateia fogo às próprias
vestes, porque está eliminando com as suas próprias mãos uma vida que seria útil
ao seu próximo. Não é pacifista quem apedreja, quem pratica o terrorismo, porque
está querendo apagar o fogo com o próprio fogo.

Pacifismo é opção pela paz.

Pacifismo é aceitação da paz.

Pacifismo é luta pela paz.

Uma coisa é vos colocardes na frente de veículos que transportam a morte para
evitar que ela atinja os vossos irmãos. Isto é sublime sacrifício em bem da
Humanidade. Outra coisa é praticardes, livre e espontaneamente, a violência
contra vós mesmos e contra os outros. Isto é suicídio e assassinato.

O pacifismo deve estar baseado na verdade central de que vós mesmos sois Paz,
apenas ainda não o quisestes descobrir. Oponde-vos de todos os modos e por
todas as maneiras pacíficas à guerra. Resisti a qualquer ordem no sentido de
violentardes o preceito da paz. Não acrediteis nas bandeiras filosófico-ideológicas
com que os poderosos vos procuram atirar uns contra os outros. A guerra só
interessa a eles que desejam dominar o mundo. Só interessa aos que vendem
armas. Conscientizai-vos disto e vos será mais fácil resistir. Protestai por todos os
meios contra a guerra e tudo o que a provoca.

Sobre o jejum

Não vos aconselho o jejum. Pelo menos a vós ocidentais, porque vos faltam as
técnicas necessárias para a absorção do prana. Podeis, no entanto, fazer coisa
melhor, podeis jejuar no pensamento, na palavra, na ação. Podeis abster-vos de
tudo aquilo que prejudique os vossos irmãos, ou que prejudique qualquer ser vivo,
por exemplo, o uso da carne para o vosso sustento. Se não vos for, no entanto,
possível abolir de todo a alimentação carnívora, abençoai todos os dias os irmãos
menores que se sacrificam para que pudésseis existir. Comprometei-vos a guiá-
los quando eles atingirem a esfera humana da evolução, porque, ao que tudo
indica, e assim o espero, ao chegar essa época estareis muito à frente deles.
Fazei isto e breve vos será fácil abdicar de todo da alimentação animal, ainda que
tal abdicação se dê na próxima existência.

Pacifismo - Atividade constante

Não vos limiteis, no entanto, à ação coletiva e civil nas ruas, nas fábricas, nos
escritórios.
Pacifismo é atividade constante. Deve ser exercido na condução, dentro de casa
com os amigos. Sim, com os amigos

Encontrai-vos - insistimos muito neste assunto -, encontrai-vos para orar e


encontrai-vos para vos conhecerdes uns aos outros e para conhecerdes a vós
mesmos.

Encontrai-vos para trocar impressões.

Encontrai-vos para derramar pensamentos de paz sobre o mundo.

Encontrai-vos para começar a entronizar dentro de vós aquele mundo do futuro


que esperais, no qual o cordeiro há de apascentar com o leão e o menino dormirá
ao lado da fera.

Fragmentos da Verdade

Quando vos falei das religiões tradicionais, não quis, em absoluto, desrespeitá-las.
Todas elas contêm fragmentos da Verdade. E, na medida em que vos aprofundeis
em cada uma delas, ultrapassareis os fragmentos e encontrareis a Verdade.

A Verdade é Deus, e Deus não se estoca, não se guarda, não se retém, como
quem retém o vapor.

A Verdade é Deus e Deus está em tudo.

É preciso, portanto, que cada grupo religioso ou filosófico se abra aos outros
grupos. Que haja diálogo. Há muito que nos esquecemos de conversar.
Precisamos reaprender esta arte. Conversar é alternativamente falar e ouvir, mas
nós só queremos falar. Falar de nós. Falar de nossas idéias. Expor nossos pontos
de vista. Somos como peixes que, concentrados numa poça d`água, julgam que
essa poça é o oceano. Somos como alguém que conseguisse concentrar um só
raio de luz solar e afirmasse que aquele raio é todo o Sol. É preciso dialogar. É
preciso aprender ou reaprender o que cada um tem a ensinar. É preciso que cada
um busque as riquezas do seu irmão e se enriqueça com elas.

Amai o vosso semelhante, apesar das diferenças que há entre vós e até mesmo
por causa dessas diferenças. Se amardes apenas o que vos ama, que
recompensa tendes? - disse-vos o Cristo. Por que rejeitais o vosso irmão? Só
porque ele é diferente de vós? Acaso não exiges para vós o direito de serdes vós
mesmos? Por que quereis para vós o que recusais ao outro? Não sois ambos
água da mesma fonte? Sede vós mesmos, e deixai que vosso irmão seja ele
mesmo. Amai-o por causa disso e não apesar disso. Aprendei a ver nele aquilo
que vos falta e a dar a ele aquilo que lhe falta.

Compreendeis, agora, que a paz é construção de todo o dia e de toda a hora?


Começais a perceber que viver em paz é realmente crescer e enriquecer-se?
UM CURSO DE PAZ - IV

Hora grande e solene

Não vos iludais. A hora que passa é por demais grave e solene. Os poderosos
jugam-se com o direito de brincar com o mundo, como quem brinca com uma bola
de bilhar. Pensam que a sociedade humana pode ser dividida em dois grupos:
eles e os outros; julgam, é claro, que os importantes são apenas eles, e notai que
cada um dos poderosos quer ser mais importante que os outros. Engolem-se
todos e pretendem engolir e digerir o mundo. Erguei a cabeça contra esses
tartufos, contra esses zombadeiros e sabei que os dias deles estão contados. Não
vos regozijeis com isto. Amai-os, porque no futuro vereis que também cumpriam o
seu papel. Ficai certos de que o pacifismo os deterá desde que esteja baseado no
ahimsa e no satyagraha. Digo a vós o que disse a meus irmãos da Índia, quando
estive preso. Enquanto a ahimsa ou a “não violência” for a vossa bandeira, tereis
um verdadeiro exército invisível a vosso lado, e acrescento agora - mas se, por um
só instante, fizerdes o jogo dos poderosos, então não me posso responsabilizar
pelo que aconteça à vossa vida espiritual.

Que nos espera no futuro?

Eu seria mentiroso se vos enchesse de falsas expectativas quanto ao futuro


imediato.

A iniqüidade se multiplica. O armamentismo é uma das pragas do século e o


próprio medo pode pôr tudo a perder em poucos minutos. No entanto, se nos
ajudardes, ainda é possível deter, ou pelo menos atenuar essa loucura. O Cosmos
não está à matroca e breve as Potências Cósmicas interferirão de maneira
decisiva para mudar o curso da civilização. Digo-vos mais: Desde o fim da
primeira metade do século o Cristo, o maior dos avatares, está dirigindo mais
intensamente a História. É claro que isto não pode ser percebido, se nos
obstinarmos no apego à superfície, se nos voltarmos para as aparências. Disse-
nos o autor bíblico: “O mundo jaz no maligno”; e realmente na superfície é assim.

”O mundo jaz no maligno”. Mas na essência eu vos afirmo: O mundo permanece


em Cristo. Sua presença harmonizadora acabará por colocar tudo em seus
lugares. Ai dos que se opuserem à renovação que no momento se opera. Ai dos
que se atrelarem às carruagens do passado. Cairão com elas em tremendo
desastre. Não vos quero enganar. Depende muito de cada um de vós que as
coisas mudem mais rapidamente o seu rumo. Uni-vos e lutai pela paz - eu vos
repito -, por todos os meios e modos. Oponde-vos à guerra de todas as maneiras.
Dizei aos poderosos que eles não têm o direito de brincar com o vosso destino,
nem mesmo com o deles. Cada indivíduo é parte de uma unidade cósmica e essa
unidade não pode, não deve e não será desarmonizada.

Concluo dizendo-vos que contamos convosco, porque a paz é muito, é realmente,


é absolutamente necessária
***

Não transcrevi eu para estas páginas nem uma terça parte do que se passou;
naqueles dias muitas instruções ainda foram transmitidas a encarnados e
desencarnados. Vários grupos, em dias e locais diferentes, foram reunidos para
este curso. E breve o mundo conhecerá as conseqüências da palavra do Mahatma
aos pacifistas. Por enquanto, ignoto amigo, estejamos juntos, vigilantes e atentos,
porque a hora da renovação é chegada.
XLIX - ONTEM EU TE DISSE, DIGO-TE HOJE

Ignoto amigo, quando abandonei as vestes sacerdotais, e me tornei um livre


pensador no terreno do Espírito, algumas das minhas antigas “verdades” se
esboroaram como um castelo de cartas. Outras, já latentes em minha alma,
emergiram pouco a pouco, favorecidas pelo influxo espiritual dos mestres que me
instruíram. Meus passos, porém, não foram tão rápidos e largos, quanto seria de
se desejar, e meus pés se embaraçaram no meio-conhecimento, às vezes pior
que o não-conhecimento.

Hoje, conduzido a mim mesmo, fora da carne, sou obrigado a reformular algumas
“verdades provisoriamente definitivas”. Por isso venho a ti para estabelecer um
confronto resumido entre minhas descobertas de hoje e algumas das minhas
teorias de ontem.

Ontem eu te disse que o homem era imortalizável; digo-te, hoje, que o homem é
imortal.

Ontem eu te disse que a reencarnação era apenas um fato e que do “mundo dos
fatos não conduz nenhum caminho ao mundo dos valores”. Reafirmo-te, hoje, que
a reencarnação é um fato, mas também te digo que os fatos podem crear o clima,
a condição necessária para a percepção ou emersão dos valores.

Ontem eu te disse que, desfeito o veículo físico da planta ou do animal, o princípio


vital que o constituía voltava ao Todo Universal. Hoje, eu te digo que, para além
desse princípio vital há um ser espiritual em construção, que esse ser parece
também imergir no Todo mas algo dele permanece para mais tarde entrar, em
definitivo, na zona da auto-consciência e da individualização.

Enfim, ontem eu te disse muitas coisas; hoje, falo-te pouco e te convido a


silenciarmos juntos para que Deus fale em nós.

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