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POSSÍVEL
RESUMO
O presente artigo traz uma revisão bibliográfica sobre uma forma de atendimento que vem
crescendo exponencialmente no Brasil e no mundo: o coaching. Ele é alvo tanto de críticas,
devido à falta de regras e normas claras para sua aplicação, quanto de aclamações, devido aos
resultados positivos observados tanto em pesquisas quanto empiricamente. O foco deste
estudo foi buscar nos estudos o embasamento teórico e técnico do coaching na psicologia. Os
estudos citam várias abordagens teóricas utilizadas como referência para o trabalho de
coaching e neste estudo, a opção foi pela teoria cognitivo comportamental, pois o processo de
coaching se assemelha muito com a técnica utilizada na Teoria Cognitivo Comportamental.
Os estudos também apontam esta teoria como a mais utilizada como base para o coaching.
1 INTRODUÇÃO
*
Discente do curso MBA Gestão de Pessoas e Liderança Coach da Universidade La Salle – Unilasalle,
matriculada na disciplina Projeto de Pesquisa. E-mail: isabeldias@isabeldias.com.br, sob a orientação do
Prof. Me. Jorge Ubirajara Gustavo Jr. E-mail: jorgegustavojr@gmail.com. Data de entrega: 23 nov. 2017.
disseminação do coaching estão surgindo modalidades que causam ainda mais preocupação
quanto à metodologia, embasamento teórico e formação, como por exemplo, o coaching
infantil, de casais, de grupos.
Esta liberdade de atuação nos mais diversos nichos, a falta de critérios para formação,
a falta de regulamentação e supervisão por parte de um órgão de classe, faz com que o
mercado do coaching cresça cada vez mais, com alguns profissionais sérios e qualificados em
suas áreas de atuação, mas com muitos indivíduos sem conhecimentos suficientes para
realizar um trabalho como este.
O objetivo deste estudo é falar da importância da exigência de uma formação em curso
superior como requisito para a formação em coaching, da utilização de bases teóricas sólidas
sobre o desenvolvimento da psique humana e da atuação com base em metodologias já
estudadas e amplamente aceitas cientificamente, visando dar mais consistência e credibilidade
a um processo que cresce mundialmente. A teoria de base e metodologia pesquisada foi a
Teoria cognitivo comportamental.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Coaching
Dois fatores foram decisivos para a escolha da teoria cognitivo comportamental como
possível base para o coaching. Em primeiro lugar a observação das semelhanças entre os dois
processos no que se refere a metodologia, estrutura das sessões, técnicas utilizadas, ênfase nos
pensamentos e emoções como propulsores da mudança, características da relação e aos
processos descritos como ativos, diretivos e focados na solução de problemas.
O segundo fator diz respeito às pesquisas que defendem a atuação de coaches com
formação em psicologia ou clinicamente orientados (KAMPA-KOKESCH E ANDERSON,
2001; HART et al., 2001; KETS DEVRIES, 2009; ASCAMA, 2004; MORAES, 2007) e à
ampla utilização da teoria cognitivo comportamental como base para o coaching referida na
literatura (VANDAVEER et al., 2016; KAUFFMAN; HODGETTS, 2016; GRANT, 2016;
GREEN et al., 2006; GRANT 2006; MOTTER, 2012; REIS, 2013). Inclusive, existe uma
nomenclatura citada em alguns trabalhos para definir este cruzamento de saberes: Coaching
Cognitivo Comportamental, ou CCC. (SARDINHA, 2012; FREITAS, 2014).
Abaixo, duas tabelas comparativas, com as principais diferenças e semelhanças entre
os processos de coaching e a teoria cognitivo comportamental:
Diferenças
Coaching Teoria Cognitivo Comportamental
Trabalha com populações não-clínicas, isentas
de psicopatologias (Whitmore, 2006; Kets Trabalha com transtornos mentais, mas
DeVries, 2009; Sardinha, 2012; Theeboom et engloba promoção de saúde (Freitas, 2014;
al., 2013; Green et al., 2006; Grant, 2006; Hart et al., 2001; Beck et al., 1997)
Motter, 2012)
Também atua no aqui e agora, porém
Trabalha com visão prospectiva, de presente e trabalha desenvolvimento na infância, a
futuro (Souza, 2007; Hart et al., 2001; história familiar, eventos marcantes de vida,
Whitmore, 2006; Kets DeVries, 2009) relacionamentos interpessoais (Wright,
Basco e Thase, 2008; Hart et al., 2001)
Coaching mais aceito que terapia (Sardinha, Carrega estigmas (Hart et al., 2001; Grant,
2012; Vandaver et al., 2016; Hart et al., 2001) 2006; Sardinha, 2012)
Atua fortemente na modificação de crenças
Trabalha com pensamentos auto limitantes, sem centrais e estrutura de personalidade (Freitas,
aprofundar em crenças centrais (Freitas, 2014) 2014; Caminha, 2003; McMullin, 2005;
Wainer et al., 2016)
Sessões de TCC ocorrem em geral uma vez
Sessões de CCC têm maior flexibilidade quanto
por semana, em consultório (Freitas, 2014,
à duração e local de realização (Freitas, 2014)
Beck et al., 1997)
Terapeuta pode atuar como coach (Hart et
Coach não pode atuar como terapeuta (Hart et
al., 2001; Kampa-Kokesch; Anderson, 2001;
al., 2001)
Grant, 2006; Ascama, 2004)
Coach não tem conhecimento técnico para Terapeuta pode diagnosticar, possui
diagnosticar patologias (Hart et al., 2001; Grant, conhecimento técnico (Hart et al., 2001;
2006) Ascama, 2004)
Quadro 1 – Diferenças entre coaching e teoria cognitivo comportamental
Fonte: elaborada pela autora, 2017.
Semelhança
Coaching Teoria Cognitivo Comportamental
Processo de aprendizagem (Chiavenato, 2002; Natureza educativa, psicoeducação (Dobson
Whitmore, 2006; Souza, 2007; Sardinha, 2012; e Scherrer, 2004; Wright, Basco e Thase,
Kampa-Kokesch e Anderson, 2001) 2008; Rangé, 2001).
Conforme já citado, existe uma vertente do coaching que se nomeia como Coaching
Cognitivo Comportamental (CCC) (SARDINHA, 2012; FREITAS, 2014), pois tem como
base a teoria cognitivo comportamental, com sua metodologia de trabalho. Conforme
Sardinha (2012) o CCC é uma derivação do modelo cognitivo-comportamental que tem sido
aplicado com sucesso para modificação de padrões disfuncionais em uma série de situações
que transcendem o âmbito da psicoterapia para populações não clínicas, trabalhando no
desenvolvimento de indivíduos sem patologias.
Vandaveer (2016) identificou em sua pesquisa que a abordagem cognitivo
comportamental foi a mais citada como teoria de base para a prática do coaching. Grant
(2016) também cita esta abordagem como efetiva e prática nos processos de coaching, pois há
um grande número de medidas de resultado bem validadas que se alinham com a tradição
cognitivo-comportamental.
Mas afinal, qual a importância de embasar o coaching em uma teoria psicológica,
tendo em vista que muitos coaches atuam sem este embasamento? Talvez a justificativa esteja
justamente na afirmação encontrada nos estudos sobre coaching, de que este não trata
psicopatologias. Se o coaching não trata psicopatologias, como este profissional seria capaz
de identifica-las, já que o assunto não é explorado na literatura nem nas formações? Não são
apresentadas, sequer, as principais psicopatologias e nem noções básicas de como reconhecê-
las. Conforme Grant (2006, p. 14):
Embora o coaching seja dirigido a populações não clínicas, pode ser que alguns
indivíduos busquem coaching como uma forma de terapia mais socialmente
aceitável. Na verdade, estudos recentes descobriram que entre 25 por cento e 50 por
cento dos indivíduos que buscaram por coaching de vida preencheram critérios
clínicos de saúde mental. (GRANT, 2006, p. 14).
Segundo Kets DeVries (2009, p. 44): “Um coach de executivos clinicamente treinado
reconhecerá problemas que se situam além do escopo de sua experiência, e nesta condição
providenciará o encaminhamento do cliente a outro profissional.”
E ainda Freitas (2014, p. 2):
Além disso, apesar de o coaching ter como público-alvo populações não clínicas,
muitos clientes podem chegar ao coach com problemas psicológicos significativos,
tendo em vista que muitos deles buscam o processo por perceberem o coaching
como uma forma de terapia socialmente aceita. Assim, a atuação do psicólogo no
sentido de identificar possíveis transtornos mentais é um diferencial importante
desse profissional e, acima de tudo, um compromisso ético na área de
desenvolvimento de pessoas. (FREITAS, 2014, p. 2).
Com base nas citações acima, percebe-se que a demanda por coaching atravessa o
limiar do normal versus patológico, já que a população que busca pelo coaching nem sempre
tem ciência de seu diagnóstico ou da necessidade da intervenção de um psicólogo. Devido a
este fato torna-se tão importante que o coach seja capaz de reconhecer e identificar as
psicopatologias, para que possa dar o encaminhamento correto.
Nestas citações também é possível perceber que a população dita saudável aceita
melhor o coaching do que a terapia (SARDINHA, 2012; VANDAVEER et al., 2016; HART
et al., 2001), tendo em vista que esta ainda é bastante estigmatizada e associada como recurso
somente para transtornos mentais graves (HART et al., 2001; GRANT, 2006; SARDINHA,
2012). Sendo assim, muitos psicólogos estão migrando sua prática para o coaching, tendo em
vista que tem conhecimento teórico e técnico para identificar as reais necessidades e possíveis
patologias dos indivíduos que os procuram, podendo tanto tratar quanto redirecionar este
indivíduo conforme sua necessidade.
Além das questões apresentadas, existe outro ponto crucial que torna o coaching muito
propenso a críticas e à falta de credibilidade: as falhas nas formações e na literatura sobre
coaching no que diz respeito a: (a) definição e padrões, (b) propósito, (c) técnicas e
metodologias utilizadas, (d) comparação com aconselhamento e terapia, (e) credenciais de
coaches e a melhor maneira de encontrá-los, e (f) destinatários de serviços (KAMPA-
KOKESCH; ANDERSON, 2001). Segundo Vandaveer et al., 2016, em função de não haver
padrões acordados e poucas barreiras para entrada nesta área profissional, vem sendo
chamado de “oeste selvagem do coaching executivo”. Tanto no Brasil, quanto em países nos
quais os estudos sobre coaching estão mais avançados, a realidade é a mesma. Não existe
padronização do processo, da metodologia, do ensino, não há barreiras de entrada no mercado
de trabalho, nem órgãos reguladores e fiscalizadores das práticas.
3 CONCLUSÃO
ABSTRACT
This article presents a bibliographical review about a form of care that has been growing
exponentially in Brazil and in the world: coaching. He is the target of both criticism, due to
the lack of clear rules and norms for its application, and of acclamations, due to the positive
results observed both in research and empirically. The focus of this study was to seek in the
studies the theoretical and technical basis of coaching in psychology. The studies cite several
theoretical approaches used as a reference for the coaching work and in this study, the option
was by cognitive behavioral theory, because the coaching process closely resembles the
technique used in Cognitive Behavioral Theory. The studies also point to this theory as the
most used as the basis for coaching.
Keywords: Coaching. Cognitive Behavioral Theory.
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