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Sentença Cível

Alexandre Henry Alves

2* ediçSo

Porto Alegre
2011

&
Verbo Jurídico
editora
A474s Alves, Alexandre Henry
Sentença cível / Alexandre Henry Alves. - Porto Alegre :
Verbo Jurídico, 2011.
440 p.

ISBN 978-85-7699-186-1

1. Sentenças (Direito Processual Civil). 2. Processo Civil.


3. Código de Processo Civil - Brasil. I. Título.

CDDir 341.4652

Bibliotecária Responsável: Salete Maria Sartori,


CRB 10/1363

Verbo Jurídico
edilora
R ua Prof. Cri sti ano Fischer, 2012
Parto Alegre/RS (51) 307G.8G9G
A v. Pau l ist a, 1. 159 - C on j . 9D 7
São Paulo/SP (II) 32GG.2724
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Cu ri ti ba/PR (41) 3D2 3. 3D G 3
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www.verbojuridico.com.br
Agradeço aos colegas Juizes
Federais que se dispuseram a me man-
dar suas sentenças para compor esta
obra e, especialmente, aos meus amigos
Marcos Antônio Garapa de Carvalho e
Eduardo Nunes Marques, pela ajuda na
revisão técnica. Agradeço ainda a
Deus, pelo que sempre me proporcio-
nou, e à Rose, por me ceder um tempo
precioso de nossa convivência para que
eu pudesse me dedicar à escrita.
SUMÁRIO

Considerações iniciais...................................................................... 11
CAPÍTULO I - A sentença .................................................................. 15
1 Tio, o que é esse negócio de sentença?.......................................15
2 A sentençaem termos um pouco mais técnicos..........................18
3 A sentença na legislação e na doutrina........................................ 22
4 Como se aprende a fazer sentença?............................................ 26

CAPÍTULO
1 O relatóriIIo........................................
- Preparando os dados...........................
parajulgamento
o .................29
.................... 29
2 Utilizando um caso como modelo................................................32
3 O pedido......................................................................................34
4 Descobrindo quais são os pontos controvertidos........................46
5 O que diz o acervo probatório?.................................................... 52
6 E as datas?.................................................................................. 54
CAPÍTULO III - Técnicas de redação ..................................................57
1 A ordem das questões a serem analisadas.................................. 57
2 A boa redação............................................................................. 67
3 Citação de legislação................................................................... 72
4 Citação de jurisprudência............................................................ 75
5 Citação de doutrina......................................................................76
6 Um exemplo para auxiliar............................................................ 77
CAPÍTULO IV - Preâmbulo e ementa..................................................87
1 O preâmbulo................................................................................87
2 A ementa..................................................................................... 88
3 A expressão “Vistos, etc.”........................................................... 91
CAPÍTULO V - Preliminares............................................................... 93
1 Introdução...................................................................................93
2 Competência............................................................................... 94
3 Inexistência ou nulidade da citação............................................. 102
4 Conexão e continência................................................................ 104
5 Perempção.................................................................................. 105
6 Litispendência e coisa julgada..................................................... 106
7 Incapacidade da parte e processual............................................. 110
8 Legitimidade para a causa........................................................... 115
a) As condições de ação..................................................................115
b) Legitimidade ordinária................................................................. 117
c) Legitimidade extraordinária......................................................... 126
d) Legitimidadeem mandadode segurança ....................................134
9 Interessede agir.......................................................................... 138
10 Possibilidade jurídica do pedido.................................................. 143
11 Defeito de representação............................................................. 145
12 Falta de autorização..................................................................... 148
13 Convenção de arbitragem............................................................150
CAPÍTULO VI - Formação dos polos processuais.............................. 151
1 Litisconsórcio: considerações iniciais......................................... 151
2 Litisconsórcio ativo..................................................................... 155
3 Litisconsórcio passivo................................................................. 157
4 Assistência..................................................................................159

56 Int
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......
......
......
......
......
......
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1624
7 Intervençãode terceiros:denunciação da lide .............................166
8 Intervençãode terceiros:chamamentoao processo ....................172
CAPÍTULO VII - Prejudiciais de mérito................................................175
1 Introdução................................................................................... 175
2 Decadência..................................................................................177
3 Prescrição...................................................................................178
CAPÍTULO VIII - Contra-ação............................................................. 185
1 Introdução................................................................................... 185
2 Ações dúplices............................................................................ 188
3 Reconvenção.............................................................................. 189
4 Pedido contraposto..................................................................... 192
CAPÍTULO IX - Análise do mérito....................................................... 195
1 Confronto dos argumentos das partes.........................................195
2 Questões meramente de direito................................................... 196
3 Análise das provas...................................................................... 203
4 Antecipação da tutela na sentença............................................... 204
5 Correção monetária e juros..........................................................208
6 Ônus da sucumbência................................................................. 211
CAPÍTULO X ■ Dispositivo................................................................ 219
CAPÍTULO XI -Sentenças de concursos resolvidas ..........................223
TRF da 1a Região - XII Concurso para Juiz Federal (Caso-modelo) ....224
TRF da 1a Região - IX Concurso para Juiz Federal..............................232
TRF da 1a Região - X Concurso para Juiz Federal ..............................257
TRF da 1a Região - XI Concurso para Juiz Federal..............................264
TRF da 1a Região - XII Concurso para Juiz Federal .............................271
TRF da 2a Região - X Concurso para Juiz Federal..............................280
TRF da 4a Região - IX Concurso para Juiz Federal .............................285
TRF da 4a Região - X Concurso para Juiz Federal.............................. 296
TRF da 5a Região - VI Concurso para Juiz Federal............................. 301
CAPÍTULO XII - Sentenças de casos reais.........................................311
1 Ação cominatóriapromovidapelo MinistérioPúblicoEstadual....31 1
2 Ação CivilPública - Improbidade Administrativa..........................315
3 Mandado de segurança............................................................... 328
4 Execução fiscal - extintiva........................................................... 333
5 Juizado Especial Federal............................................................. 337
6 Ação cautelar- Indeferimentoda inicial .......................................342
7 Ação ordinária - Reconvenção.....................................................346
8 Ação de reintegraçãode posse...................................................356
9 Ação ordinária - Denunciação da lide...........................................359
10 Ação monitória............................................................................ 369
CAPÍTULO XIII - Propostas de sentenças aplicadas em
concursos.........................................................................................377
TRF da 1a Região - VIII Concurso para Juiz Federal ...........................377
TRF da 2a Região - XI Concurso para Juiz Federal .............................383
TRF da 3a Região - VI Concurso para Juiz Federal .............................385
TRF da 3 Região - VII Concurso para Juiz Federal
a ............................386
TRF da 3a Região - VIII Concurso para Juiz Federal ...........................389
TRF da 3a Região - IX Concurso para Juiz Federal .............................391
TRF da 3a Região - X Concurso para Juiz Federal ..............................393
TRF da 3a Região - XI Concurso para Juiz Federal............................. 398
TRF da 3a Região -XII Concurso para Juiz Federal ............................402
TRF da 4a Região - XI Concurso para Juiz Federal .............................406
TRF da 4a Região - XII Concurso para Juiz Federal ............................408
TRF da 5a Região - VII Concurso para Juiz Federal ............................411
TRF da 5a Região - VIII Concurso para Juiz Federal............................414
TRF da 5a Região - IX Concurso para Juiz Federal .............................415
TJ/GO- 512 Concurso para Juiz Substituto....................................416
(1)
TJ/GO - 51a Concurso para Juiz Substituto (2)................................... 418

TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2006 (Administrativo) ..........421


TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2007 (Administrativo) ..........423
TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2007 (Civil) ..........................425
TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2007 (Comercial) ................. 429
TJ/RJ - XXXVIII Concurso para Juiz de Direito ...................................432
TJ/RJ - XXXIX Concurso para Juiz de Direito .....................................432
TJ/RJ - XL Concurso para Juiz de Direito........................................... 433
TJ/RJ - XLI Concurso para Juiz de Direito .......................................... 434
Bibliografia........................................................................................ 437
Considerações iniciais

Eu nunca tinha feito uma sentença quando me aventurei a


fazer concursos para a magistratura. O que fiz então foi adquirir um
livro na área que me servisse de referência, ler a sua parte geral e
colocar a mão na massa, ou seja, fazer um monte de sentenças, ten
do como parâmetro as lições do livro. Deu certo, ainda bem!
Como sempre gostei de escrever e até já ministrei cursos
nessa área, aceitei com ansiedade e prazer o desafio de fazer uma
obra voltada para a redação de sentenças. Inicialmente, já falo que o
requisito principal é ser bom nas letras, pois o resto é técnica. As
sim, quem tiver a capacidade de redigir um bom texto, seja ele lite
rário, jornalístico ou jurídico, já tem mais da metade do que é neces
sário para proferir uma boa decisão, no que diz respeito à escrita.
Essa parte eu não ensino aqui, embora traga algumas lições impor
tantes que poderão facilitar a vida do leitor. De qualquer maneira, se
a sua dificuldade é colocar as ideias no papel, sugiro duas coisas.
Primeiro, tente praticar, pois só com o exercício regular da escrita se
consegue desenvolvê-la. Depois, se o seu texto continuar truncado e
esquisito mesmo depois de redigir mais de trinta sentenças, aconse
lho um curso de escrita, para que você se aprofunde nas técnicas
dessa arte.
Também não é minha preocupação nesta obra levantar
grandes questões doutrinárias a respeito do Direito em si. Trago
várias lições sobre temas processuais e materiais, mas o campo é tão
vasto e há tantos bons autores sobre processo civil que não me arris
caria, em uma obra voltada para outro foco, tentar atingir o mesmo
patamar de excelência.
Cabe ainda outra observação. O Direito não é uma ciência
exata na qual há uma resposta fixa e única. Se assim fosse, não ha
veria duas partes e uma terceira pessoa no meio, o magistrado, para
decidir quem está com a razão. Aliás, muitas vezes o juiz cria um
terceiro entendimento, diferente do que pensavam autor e réu. Com
isso, quero dizer que as resoluções de provas que coloquei aqui não
devem ser encaradas como as respostas corretas, aquelas que levari

am o examinador
dades a darcasos.
de solução dos nota máxima, mas apenas uma das possibili
Feitas essas observações, aproveite o livro, pois você pode
rá tirar dele importantes lições para desenvolver sua capacidade de
redigir sentenças. Sugiro que você utilize esta obra da seguinte ma
neira:
a) primeiro, dê uma lida geral: parte teórica, sentenças re
solvidas de concursos, sentenças reais e propostas de sen
tenças aplicadas em concursos; não deixe de ler esta última
parte, porque faço inúmeras referências a esses casos para
ilustrar cada um dos assuntos; se você ainda não os tiver li
do, poderá não captar completamente a informação que ten
to transmitir, bem como poderá, em certo ponto, até achar a
leitura cansativa;
b) resolva as sentenças de concursos que já trazem uma
resposta neste livro, comparando em seguida o que você fez
com o que eu decidi;
c) por fim, resolva as propostas de sentença transcritas no
final.

Por outro lado, não fique angustiado achando que a resolução


dos casos que coloquei no livro não é suficiente, pois eu transcrevi
mais de trinta propostas de sentenças cíveis, quantidade essa que
não cheguei a fazer em minha preparação para as provas que enfren
tei. Assim, se você conseguir resolver todas as sentenças deste livro,
creio que já estará bem encaminhado para fazer qualquer concurso
para a magistratura - é claro, desde que esteja afiado com os estu
dos. Sim, porque o difícil em uma prova de sentença não é simples
mente estruturar seu texto ou saber como se escreve um dispositivo
em um caso de denunciação da lide, mas, principalmente, saber
resolver o próprio problema em si, conhecer o direito material para
saber quem está com a razão.
Por falar em resolver as sentenças que trago aqui, sugiro
que você faça como eu fiz em meus estudos: mire no Tribunal ao
qual você deseja pertencer e faça suas sentenças utilizando a juris
prudência desse Tribunal como base. É um caso de responsabilidade
estatal em que a União Federal apresentou denunciação da lide em
relação
para ao qual
saber servidor que causoudominante
o pensamento o acidente? Então vá lá
no Tribunal. Ou,e caso
pesquise
pre
fira, concentre-se na jurisprudência do STJ e do STF, mas não deixe
de estudar o que nossos juizes, desembargadores e ministros já deci
diram, pois o Direito é muito mais do que um emaranhado de leis,
sendo reflexo, grande parte das vezes, do pensamento dominante nas
cortes do país.
Ao final da maioria dos tópicos, coloquei um modelo de
dispositivo, quando cabível no caso, pois sei que o mais difícil, de
pois de se resolver todo o problema proposto na sentença, é finalizá-
la corretamente. O dispositivo é essencial, pois é ali que estará o
comando do magistrado. Os modelos que eu fiz são apenas uma
referência, cabendo a cada um segui-los ou criar seus próprios pa
drões. O importante é que o dispositivo seja sintético e claro em
relação ao que foi decidido na sentença, não deixando de fora ne
nhuma das questões que gravitam em tomo da procedência ou im-
procedência do pedido, como juros, correção monetária, condenação
em custas, honorários, ofícios necessários para efetivar a decisão
judicial e por aí afora.
Enfim, não se desespere, pois o mais difícil é você ter um
bom conhecimento do Direito em geral. Quanto à sentença, tendo
esse conhecimento, dominando razoavelmente a escrita e sabendo
algumas técnicas e regras que tento transmitir neste livro, você não
terá dificuldade
nas provas em resolver
de concurso as propostas
ou mesmo de sentença
na prática forense.que
Só encontrará
não deixe
de exercitar, pois isso é fundamental para o desenvolvimento da sua
capacidade de redação.
Por fim, caso você não esteja se preparando para um con
curso, mas apenas querendo aprender ou desenvolver um pouco
mais seus conhecimentos sobre o tema, o enfoque dado pelo livro
não prejudicará esse objetivo, pelo contrário. Ao longo da prática
cotidiana, tendemos a abandonar a precisão técnica e a qualidade em
geral do que produzimos. Isso não se dá, em regra, por vontade do
operador do Direito, mas pelo volume monstruoso de trabalho. Em
um concurso, você tem um caso pronto para ser resolvido em seis
horas. Na vida real, você tem seis casos inacabados para resolver em
uma hora. Um juiz que tenha cinco mil processos sob seus cuidados,
se quiser manter um limite de dois anos de tramitação na primeira
instância, será obrigado a proferir ao menos dez sentenças por dia. A
quantidade acaba levando, infelizmente, ao prejuízo da qualidade.
Por isso, às vezes é preciso voltar às srcens, ao estudo apurado
imprescindível para a redação de uma sentença em uma prova de
concurso, na qual não se pode alegar nada em detrimento da quali
dade. Por essas razões, várias vezes eu volto aos meus estudos para
os exames que fiz, a fim de rever o que estudei com tanto afinco
naquela época e tentar resgatar a qualidade que eu visava, quando
ainda não estava assoberbado de processos. Em resumo, o que eu
quero dizer é que um material que traz todas as preocupações com a
precisão que temos no estudo para um concurso é uma boa fonte de
conhecimentos também para a aplicação no cotidiano.
■mm — r. i
Capitulo I
i

A sentença

1 Tio, o que é esse negócio de sentença?


Eu sempre achei que primeiro é preciso explicar uma coisa
com palavras simples, de maneira que qualquer pessoa possa enten
der. Depois, se for o caso, deve-se passar às explicações mais técni
cas, conceitos clássicos e modernos, teorias disso e daquilo. Só de
pois.
Sendo assim, o que é uma sentença?
Melhor imaginar que eu estou conversando com a minha so
brinha
Vamos Gabriela,
lá. que ainda está nos anos fundamentais do ensino.
— Tio, o que é esse negócio de sentença?
—Gabi, você faz redação na escola?
— Sim, por quê?
— Porque a sentença é uma redação que o seu tio tem que fa-
zer todo dia.
—A professora te manda fazer uma redação por dia?! Cre-
do!
— Não é a professora, Gabi, é o meu chefe.
— E quem é o seu chefe?
 É o Tribunal. E o povo. E você também.
- Eu?! Eu nunca te mandei fazer redação!
- Mandou sim, quando você comprou um sorvete, pagou um
imposto que está disfarçado nele e esse dinheiro virou meu salário...
- Não estou entendendo nada!
- Tudo bem, tudo bem. Deixa essa parte para depois, porque
ela é mais complicada mesmo. Você ainda quer saber o que é uma
sentença?
- Quero.
- Então, é um tipo de redação que eu faço todo dia.

SobreSobre
-- Não. as férias?
coisas que acontecem com outras pessoas.
- Com quem?
- Com pessoas que estão com problemas. Quando elas não
conseguem resolver as coisas sozinhas, então procuram a gente lá
no meu trabalho. E a gente tem que resolver o problema delas.
- Então é igual quando eu reclamo com a mamãe que a Cris
pegou minhas coisas...
 Sim, é mais ou menos isso. Você reclama com a sua mãe
ou com o seu pai. Mas, quando você crescer e tiver problemas com
um estranho, eles não poderão resolver mais nada. Aí, você vai
precisar procurar a Justiça, que é onde eu trabalho.
- E o que é que isso tem a ver com redação e com essa tal de
sentença?
 Calma que eu chego lá. Imagine que você já é adulta e tem
um carro bem bonito. Um dia, você sai de casa e um caminhão
daqueles grandões e verdes do Exército bate nele...
- Tadinho!
- É, mas o problema é que você estava certa, porque foi o
motorista do cáminhão que não parou no sinal vermelho. Só que ele
diz que não vai pagar. O que é que você faz?
 Conto para a mamãe!
- Mas você já é adulta e sua mãe não vai resolver nada,
porque ela não tem como mandar o motorista do caminhão pagar o
conserto do seu carro. É aí que você procura a Justiça para resol-
ver seu problema e conseguir o dinheiro para arrumar a batida.
- Essa tal de Justiça é bonita? Ela é loira ou morena?
 Ela não é gente. Justiça é o lugar onde eu trabalho, já te
disse. Pois então, você vai lá e conta a sua história, mas tem que ser
no papel. Você tem que fazer uma redação, dizendo o que aconte-
ceu, por que você acha que está certa e o que você quer. É simples:
conte que você estava na rua tal, que o sinal estava verde para você
e que o motorista do caminhão do Exército não parou, batendo no
seu carro. Conte na sua redação também que quem não para no
sinal vermelho e estraga o carro dos outros é obrigado a pagar o
conserto.
pagar todoNoo final, peça para a Justiça mandar o dono do caminhão
estrago.
- Isso é sentença? Se for, eu sei fazer também.
- Ainda não. Esse é o pedido que você faz lá no meu traba-
lho. Eles colocam sua redação em uma capa bonita e mandam para
mim. Eu vou olhar para ver se está tudo certo e vou fazer que nem a
sua mãe faz: chamar a Cris para ela explicar o que aconteceu e ver
se você realmente tem razão. O dono do caminhão vai ter que fazer
uma redação também, contando tudo e dizendo se concorda ou não
com o seu pedido. Normalmente, ele não vai concordar.
- Sei...
 Ai é que entra a sentença, ou seja, a minha redação. Eu
vou ler o que você escreveu, o que o dono do caminhão escreveu, e
decidir quem está certo, do jeito que a sua mãe faz. Só que, ao con-
trário dela, eu tenho que colocar tudo no papel, fazer a minha pró-
pria redação. É bem simples: primeiro, eu conto o que você pediu e
o que o dono do caminhão falou. Depois, eu conto o que aconteceu
nessa história depois de você procurar a Justiça, ou seja, se mais
alguém participou de tudo, se eu chamei você ou o motorista para
conversar pessoalmente comigo, se eu conversei com alguém que
viu o acidente, enfim, eu conto todos os acontecimentos. Mas, a
redação não acaba por aí. Em seguida, eu vou dizer quem está cer-
to e quem está errado, só que eu tenho que explicar direitinho por
que eu entendi que você, dona do carro, deve receber o dinheiro do
conserto dele. No final, eu termino a minha redação dizendo quem
ganhou a briga e quanto tem que receber do outro. Isso é a senten-
ça e é isso o que eu faço todos os dias.
- Você fica resolvendo briga dos outros todos os dias?
 É, mais ou menos.
- Tio, e eles te obedecem?
- Bem, isso já é outra história e bem mais comprida!

2 A sentença em termos um pouco mais técnicos


Brincadeiras à parte, a sentença é algo simples.
Basicamente, é o que eu falei no capítulo anterior: fazer um
relatório1, contando o que o autor pediu, o que o réu contestou, bem
como o que aconteceu no processo em seguida. Isso significa escre
ver, sempre de forma bem resumida, os principais andamentos pro
cessuais, se houve ou não audiência, se houve ou não perícia, bem
como as alegações finais. É lógico, sempre pode existir outras ques
tões relevantes, como uma impugnação ao valor da causa, uma ex
ceção de incompetência e por aí afora, mas o importante é saber que
o relatório é a parte da sentença na qual você vai contar o que acon
teceu no processo até ali, para que qualquer um que leia sua decisão
saiba exatamente o que você está julgando.
Em um concurso, normalmente você não precisa fazer refe
rência às folhas que contêm cada peça processual, mesmo porque
essa informação não costuma ser passada para o candidato. Mas, na
prática cotidiana, isso ajuda muito, principalmente quem vai ler o
processo lá na frente. Quando um desembargador for reexaminar a
sentença do juiz, ele lerá o relatório da sentença. Se lá constar que às
folhas tais foi ouvida a testemunha de defesa, terá muito mais facili
dade
não é em manusear
só para os autos se precisar
o desembargador que isso rever aquele
facilita, mas depoimento.
também paraEas
partes e para o próprio magistrado, especialmente no desenvolvi
mento da fundamentação, quando por vezes é necessário voltar às
provas e a outros atos processuais.
Depois de fazer o relatório, ou seja, o histórico do processo,
você vai examinar as questões que podem te impedir de julgar o
pedido principal em si. Normalmente, esses impedimentos são le
vantados pelo réu na contestação e se referem às seguintes situações,
entre outras (os itens abaixo não estão necessariamente na ordem
ideal de exame em uma sentença, servindo apenas como meros
exemplos de questões a serem levantadas):

1 Em alguns casos, o relatório é dispensável.


a) A petição está clara, com exposição dos fatos, fundamen
tos e pedido, ou ninguém entende o que está escrito ali? (i-
népcia da inicial - art. 267,12)
b) A petição está assinada por advogado com procuração nos
autos? (capacidade postulatória, pressuposto processual - art.
267,IV)
c) O autor, se for criança ou incapaz, está devidamente re
presentado? (capacidade processual - art. 267, IV)
d) O autor é mesmo o detentor do direito, ou seja, ele pode
pedir aquilo em juízo ou isso cabe a outra pessoa? (legitimi
dade ativa, condição de ação - art. 267, VI)
e) O réu está certo? Não seria outra pessoa que teria que res
ponder por aquela ação? (legitimidade passiva, condição de
ação - art. 267, VI)
f) O juiz é competente para julgar a causa? (jurisdição - art.
267,IV)
g) O réu foi comunicado corretamente sobre a existência da
ação, ou seja, foi devidamente citado? (pressuposto processu
al, art. 267, IV)
h) Esse pedido já não foi feito em outro processo? (litispen-
dência, coisa julgada - art. 267, V)
i) Esse pedido é tão absurdo que a própria lei o rejeita ex
pressamente? (possibilidade jurídica, condição de ação - art.
267, VI)
j) As partes não assinaram um contrato com cláusula de que
os problemas seriam resolvidos por um árbitro e não por um
juiz togado? (convenção de arbitragem - art. 267, VII)
k) Será que já não passou o prazo para o autor fazer esse pe
dido? (decadência e prescrição, art. 269, IV)
Se você observar, todos os impedimentos supracitados obs-
tam o juiz de entrar no mérito da causa. Levando em conta a fictícia
história contada à minha sobrinha, antes de decidir se a União Fede
ral vai ter que pagar o conserto do carro dela, que foi atingido por
um caminhão
anteriores. Emdo Exército,
regra, o réu éjápreciso
levantaaveriguar todas as questões
tais impedimentos em sua

!Sempre que for feita a referência a um artigo, sem especificar a qual lei ele pertence,
estamos tratando do Código de Processo Civil.
contestação, mesmo porque isso é um ônus que ele tem (art. 267, §
3o e art. 301). De qualquer maneira, várias dessas matérias, como as
condições de ação e os pressupostos processuais, podem e devem
ser analisados de ofício pelo magistrado, ainda que o réu não alegue
nada.
Tais questões são o que se convencionou chamar de prelimi
nares. Algumas delas, como a prescrição, são chamadas por vários
autores de questões prejudiciais de mérito 3 Todas elas devem ser
analisadas necessariamente antes de se julgar o pedido do autor em
si, visto que podem prejudicar esta última análise e até tomá-la des
necessária. Faz parte da sequencia lógica de toda boa sentença, seja
ela de concurso ou de um caso concreto. Se já passou o prazo para a
minha sobrinha pedir a indenização pelos prejuízos no carro dela,
por que o juiz vai perder tempo analisando quem atravessou no sinal
verde e quem atravessou no vermelho? Se eu, como juiz federal, não
sou competente para analisar a causa, já que o caminhão não era do
Exército, mas da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, qual a
razão de entrar em detalhes sobre o momento do acidente?
Com o exercício da magistratura, aprendi que uma sentença
de concurso é mais fácil do que uma “da vida real”, ao menos no
que diz respeito à análise dessas questões preliminares e prejudiciais
de mérito. Isso porque o examinador já traz tudo mastigado ali, já
detalha quais são as alegações do réu e quais os problemas proces
suais que existem. No dia a dia, o magistrado não encontra um re
sumo assim tão bem feito. Às vezes, quando ele vai fazer a sentença,
descobre que ainda ficaram diligências em aberto e o processo tem
que voltar para a secretaria. Outras vezes, tem que se esforçar para
entender o que o autor realmente deseja. E quando o réu faz uma
contestação absolutamente caótica, sem sequencia lógica, alegando
preliminares no final, embolando argumentos e deixando qualquer
um louco? Cabe ao magistrado descobrir quais são todos os pontos
3 Conforme leciona Antonio Carlos de Araújo Cintra: “Fala-se em questão para designar um
ponto duvidoso de fato ou de direito, ou seja, qualquer elemento objeto de afirmação rele
vante no processo, enquanto sujeito a incerteza ou controvérsia. Será principal, ou de
mérito, a questão que se refere imediatamente à existência da relação litigiosa e que se
resolve na resposta do juiz ao pedido formulado pelo autor na inicial. As demais são ques
tões prévias, cuja solução constitui antecedente lógico necessário ao julgamento da causa.
Essas questões prévias, por sua vez, bipartem-se em preliminares e prejudiciais, na confor
midade do tipo de influência que sua decisão exerce sobre a resolução da questão a elas
logicamente conseqüentes: são prejudiciais as questões de cuja solução dependerá o teor
ou conteúdo da decisão das prejudicadas; e preliminares aquelas cuja solução condicionará
asenecessidade
transformamou empossibilidade
fundamentosdodajulgamento
sentença”.deIn outras. Uma vez
Comentários resolvidas,
ao Código as questões
de Processo Civil,
vol. IV: arts. 332 a 475. Rio de Janeiro: Forense, 2003. (Páginas 283 e 284)
da contestação apresentada pelo réu, ainda que esses pontos não
estejam tão claros como seria desejável. Se não fizer isso, é possível
que posteriormente uma apelação seja provida, anulando-se a sen
tença de primeira instância, por conta do tal cerceamento de defesa.
Já no concurso, como dito, isso não acontece, pois o examinador
destaca claramente quais são os problemas, cabendo ao candidato
apenas não deixar de analisar nenhum deles, especialmente os que
são alegados pelo réu na sua defesa.
Pois bem, superadas essas etapas, vem a fundamentação rela
tiva ao mérito.
damente É a parte dadosentença
cada argumento autor e na
doqual o juiz vaiosanalisar
réu (exceto deti
que já foram
objeto das preliminares, é claro), para que possa decidir os pontos
centrais do caso sob o julgamento. Não há muito a ensinar quanto a
esse “capítulo” da sentença, pois aqui vale muito mais o conteúdo
do que a forma. É na fundamentação do mérito que o candidato ou o
profissional demonstra todo o conhecimento acerca do direito mate
rial, tudo aquilo que foi aprendido na faculdade e nos vários anos de
estudo posteriores. Em regra, não há muitos cuidados formais a
serem tomados, mas é de bom senso respeitar mais ou menos a se
quencia de argumentos do autor ou do réu. Eu prefiro ter como ro
teiro a peça de defesa, até mesmo para não me esquecer de nenhum
ponto e não ter a sentença anulada posteriormente, por cerceamento
do direito
mentos dode
réudefesa. Assim, enumero
e vou analisando-os. e destaco cada
Geralmente, tomoum dos argu
o cuidado de
separar, ao menos por meio de parágrafos, cada um dos pontos deci
didos, até para facilitar a leitura e a compreensão da sentença.
No final, toda sentença traz um dispositivo, que significa
simplesmente dizer quem estava com a razão ou, em alguns casos,
dizer que nenhum dos dois tem razão. Além disso, é importante
deixar bem claro o que foi objeto de declaração, constituição ou
condenação, para que a sentença não fique sujeita a embargos de
declaração. No mais, não se pode esquecer do que eu convencionei
chamar de “complementos do dispositivo”: quem vai pagar os hono
rários; quem vai pagar as custas; quais são os índices de correção
monetária e de juros do débito, bem como o período em que os en
cargos incidirão; quais as intimações devem ser feitas; se há reexa-
me necessário ou não; enfim, elementos que não podem ficar de fora
ou complicarão a execução posterior do julgado.
Sentença é isso, em um rápido resumo e não tão técnico como
sugeriu o título deste capítulo. Não complique o que não tem com
plicação. Separe sua “redação” em três partes (relatório; fundamen
tação - incluindo preliminares, prejudiciais de mérito e o mérito
propriamente dito; dispositivo), não se esqueça de analisar nenhum
dos pontos colocados pelo autor ou pela defesa e, acima de tudo,
utilize uma linguagem clara, objetiva, sem rodeios. Sentença não é
um livro e não deve conter dezenas ou centenas de páginas, a menos
que o caso específico realmente exija isso - e acredite, há processos
que demandam do juiz a confecção de um verdadeiro livro, mas isso
não é rotina nos gabinetes e muito menos em uma prova de concur
so. Sentença também não é lugar para demonstrar conhecimento
erudito, domínio de línguas estrangeiras, do latim, muito menos
citações filosóficas, psicossociais ou seja lá o que for. Às vezes,
essas coisas cabem em uma sentença, mas desde que sejam muito
bem dosadas e sem causar sombra ao principal, que é resolver os
problemas das partes em um texto que seja de fácil entendimento
para elas.

3 A sentença na legislação e na doutrina


Como o Direito tem como suporte estrutural a linguagem,
sempre gosto de buscar no dicionário o significado de algum termo
jurídico, como uma compreensão primária e básica do que aquilo
significa, antes de ir para as leis e obras doutrinárias. Nesse sentido,
o Dicionário Aurélio4 diz que sentença (Do lat. sententia.) é, entre
outras coisas: “1. Expressão que encerra um sentido geral ou um
princípio ou verdade moral máxima. 2. Julgamento proferido por
juiz, tribunal ou árbitro(s); veredicto. 3. P. ext. Qualquer despacho
ou decisão. 4 Palavra ou frase que encenra uma decisão irrevogá
vel”. De tais definições, a que talvez mais se aproxime do conceito
técnico é a que associa sentença a um julgamento, que a coloca
como um veredicto.
É preciso destacar, apenas a título de mero esclarecimento,
que sentença pode ter essa definição geral, englobando inclusive as
decisões proferidas em julgamentos colegiados, também chamadas
de acórdãos, ou se restringir apenas ao julgamento do juiz monocrá-
4 HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário Aurélio Eletrônico - Século XXI (versão
3.0). São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1999.
tico, ou seja, aquele que decide a causa sozinho. Assim, sentença é
gênero, tendo como espécies as sentenças propriamente ditas e os
acórdãos, que o próprio Código de Processo Civil define (art. 163)
como sendo “o julgamento proferido pelos tribunais”.
Antes da edição da Lei n°. 11.232/2005, o Código de Proces
so Civil definia a sentença como sendo o “ato pelo qual o juiz põe
termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”. Era um
conceito bastante simples e de fácil compreensão. O problema sur
giu quando a execução deixou de ser um processo autônomo para se
tomar uma fase processual. Como dizer então que o processo tinha
chegado a termo se ainda faltava a fase da execução? Por conta
disso, o Código foi alterado pela referida lei, para assim ficar em seu
art. 162:
§ 1° Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações
previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei.

O art. 267 trata das causas que extinguem o processo sem re
solver o mérito, normalmente ligadas a vícios processuais, ausência
das condições de ação, dos pressupostos de validade e desenvolvi
mento do processo, bem como a existência de convenção de arbitra
gem, entre outros. Neste caso específico, é possível utilizar a defini
ção anterior e dizer que tal sentença realmente porá termo ao pro
cesso, pois se ele foi extinto sem resolução de mérito, não haverá
execução. Isto é, em regra, pois o autor pode ter sido condenado nas
custas e honorários e o réu abrirá uma nova fase para executar tais
valores. De qualquer maneira, fica claro que é considerado sentença
o ato por meio do qual o juiz declara que não há como ser examina
do o mérito.
Já o art. 269 do CPC não fala em extinção do processo, mas
apenas em resolução do mérito. Assim, pode-se conceituar também
como sentença o ato por meio do qual o juiz decide o mérito da
causa e põe fim ao seu trabalho, só podendo alterar o que decidiu
nos estritos termos do art. 463, ou seja, “para lhe corrigir, de ofício
ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou lhe retificar
erros de cálculo”, bem como “por meio de embargos de declaração”.
Isso é o que diz a legislação processual civil sobre a sentença.
Já no campo doutrinário, podemos encontrar algumas definições
interessantes. Entre elas, a de que “a sentença é o ápice da vivifica-
ção da execução do poder judicante, ao qual incumbe, na tripartição
dos poderes do Estado, o poder dever de julgar, compondo as lides,
como um fato jurídico e como um ato de vontade, na qual o juiz
externa seu livre convencimento, conforme os elementos dos autos,
motivando-os, sem se transformar em legislador. Sem embargo, para
a sociedade a sentença judicial é a resposta aos conflitos gerados em
seu meio, como forma de debelá-los ou acomodá-los mas, em qual
quer caso, com justiça”5
Essa definição doutrinária é bastante completa, técnica e tor
na desnecessária a feitura de outras citações, especialmente porque a
pretensão desta obra é ser bastante objetiva, tal como se espera de
uma sentença.
Pois bem, a importância de se saber exatamente o que é uma
sentença reside, entre outras coisas, na necessidade conseqüente de
se saber qual o recurso cabível contra aquela decisão. Em regra, não
haverá dúvidas de que estamos diante de uma sentença, mas ocorre
rão casos específicos em que essa definição não será tão fácil, po
dendo a dúvida chegar aos tribunais, inclusive aos superiores. Ape
nas para ilustração dessas dificuldades, seguem algumas decisões
judiciais a esse respeito:
PROCESSUAL CIVIL - ILEGITIMIDADE PASSIVA DE LITIS-
CONSORTE - RECURSO CABÍVEL - AGRAVO DE INSTRU
MENTO. 1. Nos termos do art. 162, 8§do 1 CPC, sentença é o
ato judicial que põe termo ao processo. 2. Decisão que exclui li-
tisconsorte passivo não põe termo ao processo, mas somente à
ação em relação a um dos réus, sendo, portanto, passível de
impugnação via agravo de instrumento. 3. Recurso especial pro
vido. (REsp 675.885/PR, Rei. Ministra ELIANA CALMON, SE
GUNDA TURMA, julgado em 21.04.2006, DJ 10.05.2006 p. 175)
PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL -
EXTINÇÃO, POR MEIO DE COMPENSAÇÃO, DA EXECUÇÃO
MOVIDA PELA FAZENDA PÚBLICA PARA RECEBIMENTO DE
HONORÁRIOS - PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO DA
AUTORA PELO SALDO REMANESCENTE - RECURSO CABÍ
VEL: AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. Nos termos do art. 162, §
1Q do CPC, sentença é o ato judicial que põe termo ao processo.
2. O Tribunal de srcem determinou o prosseguimento da execu-

5POLONI, Ismair Roberto. Técnica estrutural da sentença cível: juízo comum e juizado
especial. 2a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. (Páginas 12/13)
ção da empresa pelo saldo remanescente, após a compensação
com os honorários advocatícios por ela devidos à Fazenda Pú
blica, extinguindo a execução movida pela Fazenda. 3. Decisão
passível de agravo de instrumento. 4. Recurso especial improvi-
do. (REsp 598.067/SP, Rei. Ministra ELIANA CALMON, SE
GUNDA TURMA, julgado em 23.08.2005, DJ 19.09.2005 p. 264)
PROCESSUAL CIVIL. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL
DE EXECUÇÃO DE SENTENÇA. RECURSO CABÍVEL. APE
LAÇÃO. 1. É sentença o ato de indeferimento da petição inicial
do processo autônomo de execução, sendo, por isso, recorrível

mediante
vido para apelação. Precedentes.
que a apelação 2. Agravo
seja remetida de instrumento
a este pro
Tribunal. â(TRF 1
REGIÃO - AG 2003.01.00.021883-5/DF, Rei. Desembargador
Federal João Batista Moreira, Quinta Turma, DJ de 05/10/2007,
p.72)

Se houver divergência no âmbito doutrinário ou na jurispru


dência, os tribunais tendem a aceitar o recurso com base no princí
pio da fungibilidade6, desde que respeitado o prazo do recurso efeti
vamente cabível na espécie, recebido pelo Tribunal. Assim, se a
parte apela quando o caso era de agravo, aplica-se tal princípio so
mente no caso do recurso ter sido protocolizado no prazo para agra
var, que é menor do que o da apelação.
Essas questões não são importantes para a resolução de uma
sentença de concurso porque, naquele momento específico, o candi
dato estará diante de um caso no qual não há dúvidas acerca do ato
judicial a ser expedido, visto que o examinador exige dele uma sen
tença. De qualquer maneira, na prática cotidiana esse tema angustia
muito não somente os advogados, mas também os magistrados, que
às vezes ficam em dúvida sobre como nomear a decisão proferida.

9 Sobre o principio da fungibilidade, ensina Ernane Fidélis dos Santos: “Embora a lei não
preveja, como ocorria no Código de 1939, é possível que um recurso seja conhecido por
outro. É o quemister
lungibilidade, se chama principio
se faz da fungibilidade
que ocorram dos recursos.
o erro escusável e a boa Para
fé. A que se admitados
fungibilidade a
racursos só tem cabida em primeira instância, pois, em razão das características peculiares
da cada um, os de instância superior não permitem o erro escusável. (...) Para que haja erro
•■cusável, basta que a doutrina e principalmente a jurisprudência não tenham pensamento
uniforme sobre o recurso apropriado”. Manual de direito processual civil - Processo de
oonhecimento. São Paulo: Saraiva, 1999. (Páginas 598/599)
4 Como se aprende a fazer sentença?
Agora que você já sabe, em linhas gerais, o que é uma sen
tença e o que ela contém, pode ainda assim querer saber como é que
se aprende a fazer uma. Eu respondo: fazendo. Tentativa e erro, em
um exercício de escrita, interpretação e aplicação do direito proces
sual e material.
Quando iniciei meus estudos para concorrer a uma vaga na
magistratura federal, eu nunca tinha feito uma sentença, como já
disse no início. Comprei então um livro que tratava da parte penal e
outro da parte cível, os dois ensinando o arroz com feijão sobre o
tema. De posse de tais livros, peguei propostas de sentenças feitas
em concursos e passei a tentar resolver cada uma delas. Na primeira,
você fica todo travado, esquece algumas coisas, troca as bolas em
outros pontos e não tem uma boa desenvoltura. Mas, na segunda as
coisas já começam a melhorar. Quando você chegar à sua décima
sentença, já terá aprendido a identificar rapidamente quais os pontos
controvertidos, enfrentado a maioria das preliminares e prejudiciais
de mérito, aprendido a desenvolver bem seu raciocínio na funda
mentação e, finalmente, acostumado-s um pouco mais com os dize-
res que sempre fazem parte do dispositivo.
Nessa trajetória de aprendizagem, livros como este são muito
importantes, pois dão um pequeno roteiro para que você não se per
ca. Além disso, servem como fontes de consulta muito convenientes
quando alguma
livro deixará pedra
você nova
pronto aparece
para no seu
fazer uma boacaminho.
prova deMas nenhum
concurso ou
exercer de forma satisfatória a profissão de magistrado. É mais ou
menos como ler um manual de ensino de piano: ele é essencial para
você ter as primeiras lições, saber ler uma partitura, acostumar-se às
notas, aos acordes, mas nunca te fará um bom pianista. Para isso, só
a prática mesmo. E o bom é que, quanto mais você treina, mais as
coisas se tomam simples e automáticas para você, além do seu cére
bro ficar mais livre para a aplicação do Direito em si, já que a forma
geral da sentença terá se tomado algo corriqueiro para você.
Isso vale não apenas para quem está estudando para concur
sos, mas especialmente para quem está iniciando na profissão. Ao
longo das semanas, meses e anos, você vai acumulando sentenças e
mais sentenças no seu currículo, aumentando tanto a velocidade de
redação quanto a qualidade dos seus julgados. Em resumo, não há
nada melhor do que a prática. Não condicione seu aprendizado à
leitura de vários livros sobre sentenças, nem a uma enorme quanti
dade de aulas com um bom professor, porque as lições sobre o as
sunto são simples e poucas. Aqui, mais vale o seu próprio suor.
■Capítulo II

Preparando os dados para o julgamento

10 relatório
Elpídio Donizetti ensina que o “relatório consiste numa expo
sição circunstanciada, um histórico de toda a marcha do procedi
mento. Constitui uma demonstração, por parte do juiz, de que en
tendeu a lide que lhe foi submetida. Deve identificar os elementos
da causa (partes, pedido e causa de pedir), bem como as principais
ocorrências do processo. Tudo de forma sucinta e objetiva” 7.
O art. 458 do Código de Processo Civil coloca o relatório
como um dos requisitos essenciais da sentença, ao lado dos funda
mentos e do dispositivo. Porém, nem toda sentença obrigatoriamen
te tem relatório. No caso de sentença proferida em sede de juizado
especial, a Lei n°. 9.099/1995 o dispensa (art. 38), o que não signifi
ca que o magistrado não possa fazer o relatório. Tendo em vista que
o art. 459 diz que “nos casos de extinção do processo sem julgamen
to do mérito, o juiz decidirá em forma concisa”, a jurisprudência
também afasta a necessidade de relatório em outros casos, como no

’ Curso didático de direito processual civil, p. 250.


da sentença que apenas homologa transação ou declara extinta a
execução8.
No decorrer desta obra, trabalharemos com um caso modelo,
que será a proposta de sentença cível da prova do XII Concurso para
Juiz Federal Substituto do TRF da I a Região. Por enquanto, porém,
vamos analisar a prova do X Concurso, também da aI Região, visto
que no nosso caso modelo a própria proposta de sentença já era o
relatório, cabendo ao candidato iniciar a resolução a partir dos
fundamentos.
Assim, para que possamos fazer o relatório, vá até a segunda
parte deste livro e dê uma lida com calma na proposta de sentença
do X Concurso do TRF da Ia Região. Recomendo a leitura duas
vezes antes de fazer qualquer coisa: a primeira, para você tomar
contato inicial com o problema; a segunda, para captar os detalhes
do caso.
Após a leitura, atenção para um detalhe muito importante: o
examinador exigiu que o candidato fizesse o relatório. A maioria das
provas atualmente não pede que assim seja feito, considerando a
própria proposta de sentença já como o relatório. De qualquer modo,
a primeira coisa que você deve fazer ao ler a prova é descobrir se é
preciso fazê-lo ou não.
No exemplo proposto, do X Concurso do TRF da Ia Região,
uma maneira de fazer um relatório bastante sintético, como deve ser
em uma prova
disponível para se(até mesmo
dar ao porque
luxo de você
fazer um não terá
relatório tanto tempo
completo), seria
assim:
Vistos, etc.
1. RELATÓRIO
Trata-se de pedido de indenização por danos materiais em
virtude de incapacidade laborai gerada por acidente que teria
sofrido a autora, em treinamento do Curso de Formação de
Agente da Polícia Federal. Pede a autora tanto o ressarcimento
dos gastos médicos e hospitalares, quanto do que deixou de
ganhar em virtude do acidente, que deverá ser pago por meio de
pensão vitalícia. Alega ter feito requerimento administrativo com
o mesmo objetivo, mas teve seu pedido indeferido.

8 TRF da 1a Região, AC 2000.38.00.024674-7/MG.


Citada, a União Federal apresentou sua contestação, na qual ar-
guiu, resumidamente: preliminar de prescrição, tendo em vista o
transcurso de cinco anos desde o acidente ou, em outra via, o
transcurso do prazo de dois anos e meio desde a ciência do in
deferimento administrativo até a citação da ré; no mérito, alega
culpa exclusiva; ausência de vínculo jurídico entre a União Fede
ral e a autora; desobrigatoriedade de indenizar, em virtude de
norma regulamentar e da existência de seguro de acidentes
pessoais para cobrir invalidez ou morte; pagamento de seguro
para a autora; ausência de provas quanto aos gastos alegados.
Foram juntadas as seguintes provas: pela autora, certidão da
Academia Nacional de Polícia consignando o acidente, certidão
consignando a internação da autora em virtude de fratura nas
pernas, comprovante do desligamento do Curso por motivos de
saúde; pela ré, comprovante do seguro e de sua liquidação em
favor da autora e demonstrativo de que a Academia manteve a
autora em seus alojamentos até janeiro de 1997, prestando-lhe
completa assistência.
Perícia realizada confirmou lesão traumática decorrente do refe
rido acidente, que causou incapacidade permanente e total, com
conseqüente impossibilidade de exercer qualquer atividade re
munerada.
Colhida prova testemunhai em que o depoente confirmou a ocor
rência do acidente, a falta de orientação para os alunos e que a
autora permaneceu até a recuperação do acidente em alojamen
to da Academia, sendo atendida em hospitais públicos e pelo
Corpo Médico da Polícia Federal.
É o relatório.

Você não vai copiar toda a proposta de sentença como se a-


quilo fosse o relatório, porque se o examinador te pediu para fazer o
seu, logicamente ele quer ver como é o seu resumo da causa. Por
outro lado, se não estivéssemos diante de um concurso, mas de uma
prática cotidiana da magistratura, você ficaria livre para decidir
como fazer o relatório. Normalmente, quem faz os relatórios são os
assessores, até mesmo porque o volume de processos é tão grande
que o juiz acaba ficando só com a decisão das questões novas e dos
pontos mais complexos da sentença. De qualquer maneira, é o juiz
que fará ou determinará como deverá ser feito o relatório. Em uma
Nentença criminal, eu prefiro algo mais extenso, detalhado, até por
que a narração dos fatos costuma ter papel decisivo na decisão final.
Em uma sentença cível, porém, prefiro relatórios mais sintéticos9,
como o feito acima, suficiente para o leitor da peça ter conhecimen
to do que está sendo julgado.

2 Utilizando um caso como modelo


Ao longo do livro, voltaremos ao caso do tópico anterior, pois
responsabilidade estatal é um tema absolutamente recorrente em
provas de concursos, não só na área federal (onde o assunto tem
uma frequência incrível), mas também na estadual (repare que, das
provas para juiz estadual transcritas ao final, várias são relativas à

responsabilidade estatal).
ça do XII Concurso do TRFPorém,
da Iaacredito
Região,que a proposta
embora seja dedeum
senten
tema
relativamente árido - custeio previdenciário -, traz uma gama muito
interessante de preliminares. Por conta disso, leia com atenção o
texto que o examinador forneceu, o qual já deve ser considerado
como relatório.
SENTENÇA CÍVEL: o candidato deverá considerar a exposição
a seguir como relatório, iniciando seu trabalho a partir da funda
mentação.
O Município A, por seu Prefeito Municipal; a Câmara Municipal
do Município B, por seu Presidente; e, em nome próprio, o Vice-
Prefeito e os vereadores do Município C ajuizaram em
25/10/2005, perante o Juiz Federal da Subseção Judiciária do
Município D, ao qual jurisdicionados os autores, ação de rito or
dinário contra a União e o INSS, objetivando verem-se eximidos,
desde então, da contribuição previdenciária sobre os subsídios
dos detentores de mandato eletivo (prefeitos, vice prefeitos e ve
readores).
Pediram, outrossim, que as contribuições recolhidas na vigência
da Lei n. 9.506 (art. 13), de 30/10/97, que introduziu a alínea "h"
ao art. 12, I, da Lei n. 8.212/91, de 24/07/91, porque declarada
inconstitucional pelo STF no RE 351.717-1/PR (DJ 21/11/2003),
e as ulteriores recolhidas a partir da EC n. 20/98, de 16/12/98, ou
na vigência da Lei n. 10.887, de 18/06/2004, que introduziu a a-
línea "j" ao mesmo artigo 12 da Lei n. 8.212/91, sejam compen
sadas com quaisquer tributos administrados pela SRF e pelo
INSS, corrigidos, tais indébitos, plenamente com expurgos infla
cionários, acrescidos dos juros de 6% ao ano contados do res-
9Aliás, a jurisprudência é bastante tranqüila quanto a aceitar relatórios sucintos, desde que
identifiquem corretamente o que está sendo julgado, nos termos do art. 458, I, do CPC.
Nesse sentido: TRF da 1fl Região, AMS 2002.34.00.009763-3/DF.
pectivo pagamento, a título de juros compensatórios pelo ilícito,
e da taxa SELIC (Lei n. 9.250, de 26/12/95), condenados os réus
nas custas e em verba honorária de 20% (per capita) sobre o valor
da causa (R$ 200.000,00).
Na contestação, a União arguiu a incompetência absoluta do juízo
federal da Vara interiorana, pedindo a remessa dos autos ao Juiz
Federal na Capital do Estado, ex vi do §2° do art. 109/CF88; ar
guiu, também, sua ilegitimação passiva, porque a causa é exclusi
vamente previdenciária com a legitimação exclusiva do INSS. No
mérito, alegou a decadência qüinqüenal para a repetição do indé

bito desde
ção, aduziuosque
pagamentos e, sustentando
esses indébitos a regularidade
previdenciários da exa
não podem ser
compensados com tributos administrados pela Secretaria da Re
ceita Federal - SRF.
O INSS, em contestação, arguiu que o Município Anada pode
pleitear em relação à contribuição pessoal dos ocupantes de cargo
eletivo municipal; que a Câmara Municipal do Município B não re
presenta o Município nem seus vereadores; que o vice-prefeito e
os vereadores do Município C não representam o Município e, pa
ra postularem em relação a suas contribuições pessoais, devem
ajuizar ação própria na Comarca do Município, conforme previsto
no § 3o do art. 109 /CF88; que o recolhimento da contribuição pa
tronal e das contribuições pessoais retidas pelos Municípios não
autoriza o litisconsórcio ativo unitário, razões pelas quais a Câma
ra Municipal do Município B e os autores pessoas naturais/físicas
devem
dos emser excluídos
custas da honorária.
e verba lide, com extinção
No mérito,do após
processo,
alegarcondena
a deca
dência da ação repetitória na forma da LC n. 118/2005, de
09102/05, sustentou que a inconstitucionalidade da Lei n. 9.506/97
declarada no RE 351.717-1 IPR só tem efeito entre as partes; que
a Resolução n. 26/2005, de 21/06/05, do Senado Federal, que
suspendeu a execução da alínea "h" do inciso I do art. 12 da Lei n.
8.212/91, só tem efeito para o futuro. Argumentou que a Lei n.
9.506/97 foi constitucionalizada pela EC n. 20/98 e, por isso, a
contribuição continuou devida, pelo menos desde sua promulga
ção, pois o texto constitucional trouxe para o seio da legislação
previdenciária os novos contribuintes, tal como já legislado na Lei
n. 8.212/91 (art. 15,1; art. 20 c/c 28; art. 22 e art. 30). De qualquer
sorte, embora a Lei n. 10.887/2004 apenas tenha explicitado o
contido na EC n. 20/98 e não padeça de qualquer vício de incons
titucionalidade,
pugnou o pedidoa decontribuição seria devida até
expurgos inflacionários e depela nova
juros lei. Im
compensa
tórios, por falta de previsão legal e por incabíveis na modalidade
de compensação; disse, também, incabível a compensação dos
indébitos com tributos administrados pela SRF, pois compensá-
Elpídio Donizetti Nunes, um autor que me agrada bastante
pela objetividade, clareza e simplicidade com que expõe as lições
básicas do processo civil, rememora os conceitos clássicos de sen
tença citra petita, ultra petita e extra petita. Guarde bem esses ensi
namentos e nunca cometa o pecado mortal de proferir uma sentença
com algum desses defeitos11.
Pois bem, o autor destaca que “sentença citra petita é aquela
que não examina em toda a sua amplitude o pedido formulado na
inicial (com a sua fundamentação) ou a defesa do réu”12. Isso não
significa não conceder tudo o que o autor pede, por exemplo, mas
deixar de analisar parte de seu pedido. No caso do X Concurso do
TRF
tença,daa autora
Ia Região, referente
efetuou aopedidos
quatro qual já fizemos o relatório
diferentes. da sen
Se o magistrado
analisar apenas o referente à indenização dos gastos médicos e hos
pitalares, nada falando sobre o pedido de pensão, terá proferido uma
sentença citra petita.
No caso de uma sentença ultra petita, “o defeito é caracteri
zado pelo fato de o juiz ter ido além do pedido do autor, dando mais
do que fora pedido”13 Se a autora pede que o valor da pensão a ser
paga pela União Federal seja equivalente à remuneração do Agente
de Polícia Federal, não pode o juiz estipular uma pensão baseada no
salário de um Delegado, que em geral é mais elevado. Seria ir além
do pedido e o art. 460 do CPC não permite tal decisão.

Por fim,
risdicional “a sentença
deferida é extra
é diversa petita
da que quando a providência
foi postulada; ju-
quando o juiz
defere a prestação pedida com base em fundamento não invocado;
quando o juiz acolhe defesa não arguida pelo réu, a menos que haja
previsão legal para o conhecimento de ofício (art. 267, § 3o)”14.

" Dinamarco vai direto ao ponto: “A interpretação estrita do pedido constitui norma funda-
mental, em tema de fidelidade da sentença a este. Não é lícito ao juiz optar por uma com
preensão maior, quando a demanda deixa dúvidas sobre sua própria amplitude (art. 293 -
supra - n. 454). A lei fala em i nterpretação restritiva, mas não é o caso de restringir; ou seja,
de diminuir a extensão do pedido. Interpretá-lo de modo estrito é não interpretá-lo ampliati-
vamente, ou seja, é não se aventurar pelo majus quando não se sabe se o autor está a
postular o majus ou o minus. Estará ultrapassando os limites jurídicos do pedido o juiz que
optar pela compreensão maior, nessa situação; e incorrerá no vício de citra petita aquele
que restringir a intenção do autor”. In Instituições de Direito Processual Civil - Volume III. 4a
ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 276.
12 NUNES, Elpídio Donizetti. Curso didático de direito processual civil. - 5. ed. - Belo Hori

zonte:
13 Idem.Del Rey, 2004. p. 255.
14 Idem.
Seria o caso de, diante dos pedidos de indenização por prejuízos
materiais e pagamento de pensão, o magistrado proferisse sentença
condenando a União Federal a pagar indenização por danos morais.
Isso não estava no pedido inicial e, portanto, não pode constar na
decisão final.
Porém, é preciso lembrar que toda regra tem exceção e, no
presente caso, as exceções são dadas pelo Código de Processo Civil.
Embora, como alertou Cândido Rangel Dinamarco em lição já
transcrita aqui, não seja “lícito ao juiz optar por uma compreensão
maior, quando a demanda deixe dúvidas sobre sua própria amplitu
de”, o magistrado encontra três exceções. A primeira delas, seguin
do os ensinamentos de Dinamarco, está descrita no art. 293 do CPC,
que determina a aplicação dos juros legais, ainda que não constem
do pedido. Também o art. 290 abre outra exceção, quando a obriga
ção consistir em prestações periódicas, pois nesse caso “considerar-
se-ão elas incluídas no pedido, independentemente de declaração
expressa do autor”. Por fim, o art. 461, que faculta ao juiz, nos casos
de sentença com condenação em obrigação de fazer ou não fazer, a
imposição de multa diária ao réu, independentemente de pedido do
autor.
No caso do X Concurso do TRF da 4a Região (leia a proposta
de sentença para conhecer o caso), por exemplo, temos uma ação
civil pública na qual há o pedido de uma obrigação de fazer, qual
seja revisar a renda mensal inicial de todos os benefícios previden-
ciários concedidos anteriormente à vigência da Constituição Federal
de 1988. Há também um pedido de antecipação dos efeitos da tutela.
Suponhamos (e isso é só suposição mesmo) que a demanda fosse
considerada procedente e o magistrado vislumbrasse a ocorrência
dos pressupostos para o deferimento da antecipação dos efeitos da
tutela. Para quem adota a corrente no sentido de que à Fazenda Pú
blica pode ser imposta a multa do art. 461 do Código de Processo
Civil, caberia deferir a antecipação, dando prazo à ré para cumprir a
obrigação, sob pena de incidência de multa diária de determinado
valor - ainda que não conste na proposta de sentença qualquer pedi
do nesse sentido. Também caberia uma exceção aos limites do pedi
do no caso do IX Concurso do TRF da 5a Região, no qual a empresa
autora pedia a restituição de um valor pago a título de IPI. Se você
observar, na proposta de sentença não há referências a um pedido de
Incidência de juros sobre tal valor. Porém, caso a pretensão realmen-
deverá ser deferido o primeiro requerimento (aposentadoria por
invalidez) ou o segundo (auxílio-doença).

Uma análise detalhada dos pedidos do autor (e do réu tam


bém, caso o processo conte com uma reconvenção ou um pedido
contraposto) é importante não apenas para marcar os limites do
julgamento. É preciso observar cautelosamente qual o tipo de pedi
do o autor faz, para poder classificar a ação e não errar lá na frente,
ao fazer o dispositivo.
A divisão clássica da doutrina fala em pedido mediato e ime
diato. O mediato seria o bem jurídico que a parte deseja, como, por
exemplo, o pagamento das despesas médicas e hospitalares, na pro
posta do X Concurso do TRF da Ia Região que já relatamos. Já o
pedido imediato é dirigido ao magistrado, no sentido de ele conde
nar, declarar ou constituir um direito15. Em nosso caso, o de conde
nar a União Federal a indenizar a autora.
E por que é tão importante descobrir o que é pedido, especi
almente em relação ao imediato? Para que você acerte no dispositi
vo, como eu já disse. Imagine que no nosso exemplo você entenda
que a autora tem razão e que a União Federal deve ressarcir os gas
tos hospitalares que ela teve. Porém, ao final de sua sentença, você
escreve de
autora simplesmente
receber R$ que, a título declara
diantedadoréexposto,
3.000,00 o direitopor
de indenização da
prejuízos materiais. Aparentemente, isso dá no mesmo lugar, mas
tecnicamente não é assim que as coisas funcionam. Já foram vistas
controvérsias gigantescas sobre a exequibilidade de uma sentença
meramente declaratória, seja na doutrina ou na jurisprudência, o que
poderia causar graves transtornos à autora no futuro, que teria em
suas mãos uma sentença do tipo “ganhou, mas não levou”16. E não é

19 Leciona José Carlos Barbosa Moreira: "Em termos gerais, é possível distinguir, no pedido,
um objeto imediato e um objeto mediato. Objeto imediato do pedido é a providência jurisdi-
cional solicitada (ex.: a condenação do réu ao pagamento de x); objeto mediato é o bem que
o autor pretende conseguir por meio dessa providência (ex.: a importância x). O objeto
imediato (de um pedido) é sempre único e determinado; não assim o mediato". In O novo
processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento. Ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Forense,
16 O art. 475-N 2007.incluído
do CPC, (Página 12)
em 2005, de certa forma pacifica o entendimento segundo o
qual as sentenças declaratórias podem ser executadas, pois diz ser título executivo a sen-
só por aí: cada tipo de ação, analisado conjuntamente com o pedido,
determinará um dispositivo distinto. Se uma pessoa ajuíza um man
dado de segurança contra o Procurador-Chefe da Fazenda Nacional
para que este se abstenha de incluir seu nome no cadastro de ina
dimplentes, você não poderá, ao final, condenar a União Federal na
obrigação negativa de não “negativar” o nome do autor. Um manda
do de segurança gera uma ordem judicial à autoridade impetrada.
Algo como: “Diante do exposto, concedo a segurança e determino à
autoridade impetrada que se abstenha de incluir o nome do autor no
cadastro de inadimplentes, em virtude dos débitos constantes no
processo administrativo n°. tal e qual”.
Assim, apenas para que nós recordemos as lições básicas do
direito, é bom relembrar que há inicialmente as ações declarató-
rias17, tratadas no art. 4o do Código de Processo Civil:
Art. 4o O interesse do autor pode limitar-se à declaração:
I - da existência ou da inexistência de relação jurídica;
II - da autenticidade ou falsidade de documento.
Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que te
nha ocorrido a violação do direito.

Dinamarco, falando de técnica processual ao invés de tipos de


ução, diz que “as crises de certeza, caracterizadas pela dúvida obje
tiva quanto a uma relação jurídica (quando desacompanhadas do
Inadimplemento da obrigação), recebem a solução eficiente median
te a sentença declaratória”18. São palavras sábias que dizem tudo:
quando o autor pede que seja declarado um direito seu, isso se dá
porque há uma crise de certeza, ou seja, porque não está indiscuti
velmente definido se aquele direito existe ou não, cabendo uma
Intervenção do Poder Judiciário.
Na esfera federal, é muito comum se deparar com ações tri
butárias meramente declaratórias. Peguemos o caso de uma coopera-
tença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não
fizer, entregar coisa ou pagar quantia.
S1 Dinamarco, Cintra e Grinover estão entre os autores que preferem falar em processo

doclaratório, constitutivo
Toorla Geral do Processo. -ou
20.condenatório, substituindo
ed. - São Paulo: Malheiros oEditores,
termo “ação”
2004. por “processo”
p. 301 a 306) {In
Imbora doutrinariamente essa seja uma questão interessante, não é intuito dessa obra
iprofundar em temas polêmicos, bastando ao leitor a compreensão das diferenças entre se
fjoolarar um direito, constituí-lo ou condenar o réu a alguma prestação.
_ DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil - Volume II. 4a ed.
iáo Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 37.
magistrado de acordo com o que foi pleiteado pelas partes, devem
ficar bem guardadas na memória não só dos candidatos a uma vaga
na magistratura, mas de todos aqueles que trabalham com o Direito.

Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1a Região


No nosso caso modelo, não há reconvenção ou qualquer forma
de pedido contraposto. Portanto, podemos nos concentrar apenas nos
pedidos dos autores. Em processos envolvendo litisconsórcio ativo,
geralmente é preciso individualizar os pedidos de cada um dos autores,
mas há casos, como o nosso modelo, em que isso não é necessário,
pois o pedido é idêntico.
Lendo a proposta de sentença que já serviu de relatório, é pos
sível perceber que há somente um pedido para as três partes autoras,
além das custas e honorários: compensação de contribuições previden-
ciárias. Porém, embora a pretensão seja única, é preciso destrinchar
cuidadosamente o que os autores desejam, pois há várias nuances
envolvendo esse pedido de compensação. Inicialmente, o tributo que as
partes querem ter de volta é a contribuição previdenciária incidente
sobre os rendimentos pagos a detentores de mandatos eletivos, não
vinculados a regimes próprios de previdência (art. 13 da Lei 9.506/97).
Basta saber isso? Não, porque há três “incidentes” legislativos que
precisam ser considerados na análise. Se você observar atentamente a
proposta de sentença, verá que os autores pleiteiam a compensação
dos valores pagos:
a) a partir da edição da Lei
n2. 9.506/97, em 30/10/97;
b) na vigência da EC 20/98, de 16/12/98;
c) na vigência da Lein2.10.887/04, de 18/06/2004.
É importante estar atento a esses três períodos porque os vícios
de legalidade e constitucionalidade em cada um deles precisam ser
analisados separadamente. Ao final, poder-se-á concluir pela lisura da
cobrança da contribuição em todo o período, em parte dele ou, ainda,
concluir que nenhuma das cobranças era procedente e, portanto, há o
direito à compensação. Esta última hipótese é a pleiteada pelos auto
res.
Há outro ponto que não está expresso no relatório da sentença,
mas que deverá ser considerado pelo candidato. É que a contribuição
previdenciária incide sob duas formas: a contribuição dita patronal, a
cargo de quem paga a remuneração, e a contribuição do trabalhador,
por este suportada. As duas têm como base de cálculo a remuneração,
mas os sujeitos passivos são distintos, bem como as alíquotas (sem
considerar, ainda, que os trabalhadores estão sujeitos a um teto). Per
gunto: o pedido de compensação é relativo às contribuições pagas pelo
empregador ou por aquelas pagas pelo empregado? Boa pergunta, pois
a proposta de sentença não esclarece claramente o caso. Por seguran
ça, o ideal então é entender que os pedidos de compensação são rela
tivos às duas contribuições, o que gera a obrigação de analisar o pedi
do sob esses dois aspectos.
Mas, não podemos parar por aí na análise dos pedidos. Esses
valores pagos nos três períodos acima são objetos de um pedido de
compensação com quaisquer tributos:
a) administrados pela SRFSecretaria
- da Receita Federal;
b) administrados pelo INSS.
Compreender essa diferença também é essencial, pois pode ser
que o direito à compensação abranja somente os tributos administrados
pelo INSS ou então aqueles sob o comando da SRF, fato que fará
grande diferença ao final.
Já a correção é dividia em três pontos:
a) aplicação dosexpurgos inflacionários;
b) juros de 6% ao ano, desde cada pagamento;
c) taxa SELIC (Leis.n9.250/1995).
Caberá ao candidato analisar cada um desses índices de corre
ção, no sentido de apurar não somente se são aplicáveis, mas em qual
percentual e durante qual período.
Quanto à condenação nas custas, é preciso analisar o pedido
sobre o aspecto do ressarcimento das custas adiantadas pelos autores,
bem como do pagamento das custas finais.

Por do
por parte fim,examinador,
os honorários.
pois Aqui, há umaque
ele destacou sutileza muitoé inteligente
o pedido de conde
nação em verba honorária calculada em 20% sobre o valor da causa,
per capita. Assim, temos três questões em discussão:
a) o índice realmente de
é 20%?
b) a base de cálculo realmente é o valor
da causa?
c) a condenação deve ser de 20% para cada um dos réus, sobre
o valor da causa ou de outra base a ser utilizada, ou de 20% divididos
para cada um dos réus?
Com isso, detalhamos cuidadosamente os pedidos e não corre
mos mais o risco de deixar nada de fora, gerando uma sentença omissa
passível de embargos de declaração. Além disso, podemos agora veri
ficar quais as defesas apresentadas pelas partes em relação a cada um
dos pontos do pedido.
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se
reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas par
tes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em cur
so; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida
por sentença, de que não caiba recurso.
§ 4o Com exceção do compromisso arbitrai, o juiz conhecerá de
ofício da matéria enumerada neste artigo.

Grave em sua mente, de uma vez por todas, esse último pará

grafo:Todo
juiz. só o ocompromisso
resto pode earbitrai nãoanalisado
dever ser será conhecido de ofícioainda
pelo julgador, pelo
que as partes não tenham alegado nada. Mais à frente, ainda falarei
que uma sentença de concurso dificilmente para nas preliminares.
Porém, parte dela pode parar. Imaginemos um caso em que o autor
esteja acionando o réu sob a alegação de que, após perder um jogo
de cartas, o réu tenha esbofeteado e xingado o autor na frente de
uma verdadeira multidão, causando-lhe um imenso prejuízo moral.
Por conta disso, o autor deseja receber a dívida do jogo e uma inde
nização por danos morais. Suponhamos que, na proposta de senten
ça, o examinador tenha colocado como contestação apenas a alega
ção do réu no sentido de que foi o autor que começou a briga. E aí,
quais os pontos controvertidos que você anotará ao fazer o seu ras
cunho?
um casoHá
emalguma preliminar?pátria
que a legislação É claro
vedaque há! Estamos
a cobrança diante de
de dívidas de
jogos, razão pela qual se trata de um pedido juridicamente impossí
vel, ou seja, é carência de ação quanto a essa matéria. Você deverá
enfrentar esse ponto nas preliminares, caso queira fazer uma senten
ça bem estruturada, como manda a boa técnica. E deverá também
conhecer dessa matéria de ofício, ainda que o examinador, como
dito, não tenha assinalado na contestação que o réu arguiu a inexigi-
bilidade da dívida de jogo.
Voltando ao estudo que estamos fazendo do X Concurso do
TRF da Ia Região, não foi arguida somente a prescrição. A ré tam
bém alega que:

a) aa autora
b) culpa foi
nãoexclusivamente
possuía vínculodajurídico
autora; com a Academia;
c) a legislação não contempla qualquer previsão de indeniza
ção por invalidez ou morte no curso de formação;
d) já existe um seguro para isso, de contratação obrigatória
pelos alunos;
e) a autora já recebeu R$ 6.000,00 (seis mil reais), como in
denização, mais R$ 3.000,00 (três mil reais) para fazer frente
às despesas com tratamento de saúde, tudo por conta do refe
rido seguro, razão pela qual não deve ser indenizada por con
ta das despesas de tratamento ou seria isso um bis in idem;
f) não houve prova das despesas com o tratamento e, por is
so, não pode a União Federal ser condenada nesse quesito.
Em síntese, pela leitura da inicial e da contestação (resumidas
na proposta de sentença), os pontos controvertidos são os expostos
acima. Note que, no caso sob análise, o examinador centrou-se mui
to sobre as matérias relativas ao mérito, o que não é tão comum
assim em concursos, especialmente para a magistratura federal. Em
regra, há uma avalanche de preliminares e o candidato deve ficar
bem atento para anotar todas, separadas por tópicos como fizemos
acima, para não se esquecer de analisar nenhuma delas. Pegue como
exemplo a proposta de sentença do IX Concurso para Juiz Federal
Substituto do TRF da 4a Região, transcrita na segunda parte deste
livro. É também um caso de responsabilidade estatal, mas lá o que
ocorreu foi a morte de uma pessoa em virtude do atropelamento por
um carro dirigido por um preso em fuga, que estava sendo persegui
do pela Polícia Federal. Se estivéssemos usando esse caso como
modelo, veríamos ao menos cinco preliminares ou questões parale
las: a) incompetência do juízo; b) inépcia da petição inicial; c) ilegi
timidade passiva; d) prescrição; e) antecipação dos efeitos da tutela
pretendida. E acredite em mim: quanto mais preliminares, mais
extensa e complicada fica a sentença.
Pois bem, a contestação pode trazer ou não todos os pontos
controvertidos do caso. No nosso exercício, pelas palavras da União
Federal já foi possível ver o que o candidato teria que resolver, uma
vez que as questões
levantaram informações seguintes
adicionais, massobre as auxiliaram
apenas provas produzidas não
na resolução
da causa. Porém, uma leitura cuidadosa até o final da proposta pode
revelar outros pontos de conflito que devem ser tratados na resolu-
5 O que diz o acervo probatório?
Lembremos que nós ainda estamos apenas fazendo um ras
cunho dos principais pontos da proposta de sentença, a fim de sa
bermos corretamente o que está em pauta para ser decidido.
Pois bem, se já anotamos os pontos chaves do pedido do au
tor e da defesa do réu, resta analisar quais as provas que o processo
traz e o que elas nos dizem. Saber quais os tipos de provas existen
tes e a função de cada uma delas é algo corriqueiro também, que se
aprende na graduação, mas muita gente não guarda essas lições e
acaba se equivocando na hora do exame.
Apenas para recordar, então, vejamos alguns pontos sobre es
se tema. Para começar, como não poderia deixar de ser, vamos dire
to à legislação, pois ela é a base de tudo. O Código de Processo
Civil traz os seguintes meios, após alertar no seu art. 332 que “todos
os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos
fatos, em que se funda a ação ou a defesa”:
a) depoimento pessoal;
b) confissão (na verdade, pode ser feita por petição e outros
meios, mas também pode ser um simples desdobramento do
depoimento pessoal da parte);
c) documentos;

d)
e) testemunhas;
perícia;
f) inspeção judicial.
Não vamos detalhar nenhum deles, pois nós estamos ainda
somente colhendo os elementos dos autos, como eu já disse. Para
quem está fazendo uma prova, a vida é mais simples do que no dia a
dia, visto que você deverá apenas analisar o resultado do acervo
probatório já trazido pelo examinador. Na vida real, há uma outra
tarefa às vezes mais complexa ainda para o magistrado, que é saber
quais provas são necessárias, quais são meramente protelatórias e
qual rejeição de um pedido pode configurar cerceamento de defesa
ou não. Mais do que isso, cabe ao juiz cuidar para que as provas

sejam produzidas
defesa de forma
e sem atrapalhar legal, sem
a marcha ferir o contraditório
processual. e a ampla
Aos estudantes, po
rém, a maioria dessas questões é irrelevante em uma prova de con
curso, pois são fases do processo que acontecem antes da prolação
da sentença.
Pois bem, logo após anotar os pedidos do autor e as teses de
defesa do réu, anote também o que os autos ou a proposta do exami
nador falam sobre as provas. Voltemos ao nosso caso de responsabi
lidade estatal da prova do X Concurso do TRF da Ia Região, para
ver o que o relatório diz:
a) Autora - documentos: 1) certidão consignando a ocorrên
cia do acidente; 2) certidão atestando que autora foi hospitali
zada.
b) Ré - documentos: 1) comprovante de seguro e de sua li
quidação em favor da autora; 2) documentos tratando sobre a
assistência que a ré teria dado à autora durante sua fase de
convalescimento.
c) Perícia: atestou que as lesões são permanentes; que a auto
ra está incapacitada para exercer atividades em que tenha que
permanecer de pé por longo período e fazer flexões com os
membros inferiores; que a incapacidade da paciente é seqüela
do acidente.
d) Testemunhas: Ia) confirmou que a autora sofreu o aciden
te em exercício obrigatório na Academia, não tendo recebido
as devidas instruções sobre como fazer tal exercício; 2a) que a
autora recebeu todos os cuidados da ré em sua recuperação;
que a autora não recebeu as devidas instruções para realizar
os exercícios.

Veja que eu já fiz um relatório resumido dos principais pon


tos das provas anotando aquilo que interessa, ou seja, as conclusões
capazes de levar ao deslinde do caso. Em seu rascunho, não precisa
ficar reproduzindo tudo o que o examinador colocou na proposta de
sentença, mesmo porque o seu tempo será curto. Muitos candidatos
acabam sendo reprovados porque, na tentativa de fazer um exame
perfeito, primam pelos detalhes e se esquecem dos ponteiros do
relógio, entregando uma sentença pelas metades, o que é pior do que
entregar uma sentença completa, embora não tão bem feita.
Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1* Região
Como dito, casos que envolvem alegação de prescrição sempre
demandam uma análise cuidadosa das datas. No nosso modelo de
estudo, a situação fica bem mais complicada, pois são várias datas que
poderão influenciar na sua resolução.
Em primeiro lugar, é preciso anotar com cuidado a data do ajui-
zamento: 25/10/2005. É ela que vai marcar a interrupção da prescrição,
nos termos do §fi1do art. 219 do CPC.
Embora o candidato possa fazer referência à edição das normas,
e não às datas específicas, é bom assinalar também quando foram
editadas a Lei n®. 9.506 (30/10/1997), a Emenda Constitucional n®. 20
(16/12/1998) e a Lei n®. 10.887 (18/06/2004). Além disso, é importante
ter em mente a publicação da Lei Complementar n®. 118/2005, ocorrida
em 09/02/2005, já que essa Lei trata justamente da prescrição. Ciente
de tais datas, é importante apenas lembrar que a edição de uma norma
não significa necessariamente a vigência de seus preceitos naquele
mesmo dia, especialmente em matéria tributária, cuja regra é respeitar
dois prazos, de acordo com o princípio da anterioridade (90 dias e ante-
rioridade de exercício).
Outras duas datas que eventualmente poderão influenciar no di
recionamento da sentença são a da decisão do STF que declarou in
constitucional o art. 13 da lei n®. 9.506/97, publicada no DJ de
21/11/2003, e a da Resolução do Senado n®. 26, de 21/06/2005.
O essencialé lembrarque, se o examinadorcolocouna proposta
de sentença uma data, inclusive com o dia, é porque há uma chance
dela ser necessária para a resolução do caso. Assim, seguindo o ditado
de que “canja de galinha não faz mal a ninguém”, anote todas as datas.
nmm , ...
Capitulo III

Técnicas de redação

1 A ordem das questões a serem analisadas


Em uma sentença, a ordem de análise dos pontos controverti
dos do caso é muito importante. Embora eu não me lembre de algu
ma norma determinando o que se examina primeiro, o certo é que
além das normas existe uma coisa chamada coerência, outra deno
minada bom senso e, por fim, há também o princípio da economia
processual. Por conta disso, analisam-se primeiramente os pontos
que podem tomar desnecessário o julgamento de outras questões
trazidas aos autos.
Poloni traz uma interessante distinção entre as preliminares,
falando em preliminares processuais peremptórias e dilatórias, bem
como preliminares de mérito20 também peremptórias e dilatórias21.

10 Emane Fidélis rejeita a utilização da expressão “preliminar de mérito”. Segundo o autor, “a


defesa do réu relacionada com matéria processual e matéria de ação deve ser arguida antes
()■ contestação de mérito e é, por isto, chamada de defesa indireta ou ‘preliminar’. Não
'prtllminar de mérito’, como fazia a antiga doutrina, pois, hoje, no sistema processual brasi
leiro, há apenas matéria de mérito (art. 269) e matéria referente às condições de admissibili
dade do julgamento de mérito". Obra citada, pg. 383.
Obra citada, pg. 85 a 87.
pagamento de horas extras, que compete à Justiça do Trabalho ana
lisar tal pedido específico. Assim, uma das demandas do autor será
aniquilada logo nas preliminares.
Mas, tome cuidado, pois pode ser o contrário: há matérias que
não podem ser conhecidas de ofício pelo juiz. Um bom exemplo é a
existência de compromisso arbitrai. Segundo o art. 267 do Código
de Processo Civil, a existência de tal compromisso leva à extinção
do processo sem resolução de mérito, mas essa não é uma matéria
que pode ser levantada de ofício pelo julgador, dependendo da ar-
guição das partes. Assim, por exemplo, é possível que o examinador
faça toda uma narrativa dos fatos, fazendo referência à existência de
um compromisso
aquelas arbitrai,
arguidas pela defesa.mas não
Pode enumerando
o juiz extinguir otalfeito
matéria entre
sem reso
lução do mérito? Entendo que não e isso pode ser uma grande “pe-
gadinha” do examinador.
Isso tudo é muito comum em provas de concursos: o exami
nador colocar um monte de pedidos, às vezes vários autores ou réus,
além de vários fatos em discussão, justamente para poder exigir em
um caso só que o candidato demonstre seus conhecimentos sobre
temas que considera importantes. Dê uma pequena lida na proposta
de sentença do XII Concurso do TRF da Ia Região e você entenderá
o que eu estou falando. Por isso, a importância de, já naquele exer
cício anterior do qual falamos, colocar em um rascunho quais os
pontos controvertidos, anotar especialmente todas as preliminares e
cuidar para que não fiquem de fora aquelas que o juiz conhece de
ofício, ainda que não alegadas pelas partes.
Em relação à ordem de análise entre as preliminares peremp
tórias e as dilatórias, entendo que isso também não é questão que
deverá afligir o candidato, pois não há prejuízo em inverter a ordem,
especialmente porque a regra é não se extinguir a causa em um con
curso por conta de uma preliminar. Assim, se houve alegação de que
o réu não foi citado e que o juiz é absolutamente incompetente, tanto
faz analisar uma ou outra, embora particularmente eu sempre prefira
começar qualquer sentença pela análise da competência. É algo
meio natural: primeiro, o juiz deve constatar se ele pode ou não
julgar a causa, já que isso é uma condição absolutamente necessária
até mesmo para ele falar sobre as outras questões que a envolvem.
Uno ocorre principalmente nos casos de competência absoluta, que
pode ser analisada inclusive de ofício pelo magistrado.
De qualquer maneira, há autores que firmam pela necessidade
de se obedecer a uma ordem lógica de resolução das preliminares.
Nesse sentido, vale transcrever trecho de interessante artigo de Ma-
rlu Aparecida Moreira Ribeiro e José Idemar Ribeiro22:
“Por ocasião do exame de cada relação processual (e também
do mérito, repetimos), terá prioridade a relação antecedente, de
que é exemplo clássico o julgamento prévio da oposição (que é
uma pretensão de exclusão das pretensões das partes princi
pais). Ainda em relação à cognoscibilidade apenas das questões
prefaciais, o juiz tem a seu dispor, objetivamente e em regra,
uma gradação de prejudicialidade nos diversos incisos do artigo
301 -CPC, assim explicadas em parte e resumidamente: — inciso
I (inexistência ou nulidade de citação): uma vezacolhida, preju
dica o exame das demais preliminares; inciso II (incompetência
absoluta): acaso não reconhecida de ofício por ocasião da deci
são de admissibilidade da ação (isto é, quando a relação ainda é
angular), essa preliminar só virá a ser conhecida por ocasião do
julgamento se antes for tida por regular a citação (inciso I); inciso
III (inépcia da petição inicial): ashipóteses legais previstas no ar
tigo 295 só serão enfrentadas se houver processo (citação váli
da, pois) e se o órgão jurisdicional for material, pessoal e/ou fun
cionalmente competente para apreciar e julgar o feito (inciso II);
inciso IV: — a lide só será julgada se inocorrentes as hipóteses
dos três itens anteriores e mais a do inciso IV; incisos V/XI: a e-
xemplo das situações anteriores e excetuando-se a ‘preliminar’
do inciso IX (convenção de arbitragem, que é, em veras, uma
exceção — modalidade de resposta, pois —, porquanto se trata
de um sucedâneo da jurisdição e, destarte, fato impeditivo ao
desenvolvimento da relação processual) — que não pode ser
conhecida de ofício —, o conhecimento e julgamento das maté
rias dos incisos V/XI deverá jungir-se ao mesmo sistema de pre
judicialidade, qual seja, a preliminar seguinte ou conseqüente só
poderá ser enfrentada acaso refutada a antecedente. Em suma,
o acolhimento da questão antecedente prejudica, de regra, o e-
xame e o conhecimento da questão conseqüente. Exemplo prá
tico dessa prejudicialidade é que, existindo duas preliminares,
uma de incompetência absoluta (inciso II) e a outra de carência
de ação, por ilegitimidade de parte (inciso X), não poderá o juiz
examinar, primeiramente, a ilegitimidade de parte (que está a-

" RIBEIRO, Maria


sentença. Aparecida
2001. Moreira;
Disponível em: <RIBEIRO, José Idemar. Exame e fundamentação
http://vmw2.correioweb.com.br/cw/2001 -03- da
19/mat_31191 .htm >. Acesso em: 10 jan. 2008.
o que pede para que você não perca tempo com o que é desnecessá
rio. Da mesma maneira, a sobrecarga de processos nas varas estadu
ais, federais ou do trabalho faz com que os juizes persigam uma
objetividade incomum caso não tivessem tanta pressão. Tudo isso
significa fazer uma análise mental do caso antes de decidir qual a
ordem a seguir. Eu te pergunto: a proposta de sentença deixou claro
se foi culpa exclusiva da vítima ou não? Se você olhar os depoimen
tos, verá que as duas testemunhas foram condizentes com o fato de
que houve omissão por parte do instrutor, que não ensinou correta
mente como o salto deveria ser feito. Ora, há aí uma conduta omis-
siva. O Estado responde por atos omissivos? Segundo parte da dou
trina, responde desde que tenha havido culpa. Houve culpa no caso?
O treinador deveria ter instruído os alunos corretamente? Sim, deve
ria. Então, ele agiu de forma negligente ao deixar que os alunos
efetuassem o perigoso exercício sem as informações necessárias
para evitar um acidente. Se houve omissão por parte da União Fede
ral, sendo uma omissão culposa, ela responde pelos prejuízos sofri
dos pela autora. Se responde pelos prejuízos, por que perder tempo
discutindo teses doutrinárias acerca do cabimento ou não da respon
sabilidade estatal nos casos de culpa exclusiva da vítima?
Você deve ler com atenção as peças do processo ou a propos
ta de sentença para construir uma sequencia de argumentos na sua
análise do mérito. Assim, em primeiro lugar, é preciso encontrar o
ponto inicial de todo o pedido de indenização e de pensão por parte
da
mia.autora.
Então,Qual
é pora aí
causa
quedisso
você tudo? O acidente
vai começar, masocorrido na Acade
sem muitas digres
sões, já que se trata de um fato incontroverso, como dito anterior
mente.
Tudo bem, o acidente ocorreu quando a autora estava em
treinamento na Academia de Polícia. Mas foi por sua culpa exclusi
va? Aí, sim, é preciso tecer maiores considerações, falar das provas
e concluir se houve ou não. Devendo a União Federal responder
pelos prejuízos, o passo seguinte é analisar os pedidos e aqui eu
prefiro fazer isso individualmente, seja separando por tópicos, seja
ao menos separando por parágrafos. Em primeiro lugar, há o pedido
de indenização pelos gastos médicos e hospitalares. Esse pedido foi
prejudicado pela prescrição? Se foi, basta uma linha para dizer que
deixa de analisar
prescrição. tal demanda
Caso contrário, em virtude
deve-se de restar
averiguar prejudicada
se a autora pela
conseguiu
tsomprovar os gastos, já que se trata de uma indenização por danos
materiais. Se há a obrigação de indenizar por parte da União (o que
nflo estamos afirmando ainda, mas apenas supondo), se não houve
prescrição e se a autora comprovou os gastos, conclui-se pelo dever
de indenizar aquele prejuízo. Outra questão é quanto ao pedido de
pensão, um pouco mais complexo, já que envolve várias questões
que deverão ser necessariamente respondidas pelo candidato. Há o
direito à pensão? Se há, a partir de quando? Até quando? Qual o
valor?
O intuito é chegar a uma decisão clara sobre o deferimento ou
nfio de cada um dos pedidos. Mas, especialmente no caso sob análi-
rc, esse não é o final de tudo, pois ainda é preciso analisar o cabi

mento dos juros e correção monetária, além de individualizar os


índices. Muita gente se esquece dessa parte ou a considera de menor
Importância, mas a prática acaba demonstrando que tudo o que se
busca em um processo judicial como esse é um bem da vida, que
deve ser individualizado em todos os seus aspectos, incluindo a
correção monetária e os juros, além das datas iniciais e finais de
Incidência desses índices. Se você não fizer isso, o examinador re
duzirá a sua nota. Na vida real, se houver silêncio quanto a esses
pontos, poderão ser opostos embargos de declaração, diante da o-
missão. Por outro lado, se as partes nada falarem a respeito da ques-
tlo, lá na frente haverá um problema enorme para executar a senten
ça, visto que cada uma das partes utilizará o índice que lhe for mais
favorável e a contadoria do juízo ficará sem um rumo a seguir para
ie posicionar acerca do caso. Assim, não se esqueça de verificar as
correções quando houver uma condenação de pagamento em pecú-
n ia .
Feita a análise do mérito e resolvida a causa, passa-se ao dis
positivo, que é aquela parte clássica em que se diz: “Em virtude do
exposto, julgo procedente a pretensão inicial, razão pela qual conde
no a União Federal a pagar...”. O melhor é deixar o dispositivo o
mais claro possível, mas ainda trataremos dele mais à frente. Aqui,
CHtamos preocupados somente com a sequencia dos elementos na
xentença. Por conta disso, feito o dispositivo, resta analisar a questão
da sucumbência, visto que uma das partes deverá pagar as custas ou
68 honorários, a menos que a sucumbência seja recíproca. Mas,
linda assim, é preciso falar dela para não deixar que a sentença
fique omissa.
Em penúltimo lugar, utilizando a expressão de Poloni que
achei muito interessante23, os “efeitos próprios e diretos” da senten
ça, que são as ordens dadas pelo juiz no final da peça, em regra
dirigidas à secretaria da vara: “Oficie-se tal e qual pessoa”, “Expe-
ça-se mandado de penhora”, e por aí afora. Às vezes, o examinador
não será exigente a ponto de diminuir a nota por conta do esqueci
mento de um ou outro comando final da sentença. Mas que a sua
sentença ficará muito mais bonita se você a fizer completa, isso
ficará. Na proposta de sentença do VIII Concurso do TRF da 5 a
Região, por exemplo, temos um caso de embargos à execução. Sen
do uma execução contra a Fazenda Pública e, mais do que isso,
havendo embargos, conclui-se que se trata de um processo em apen-
so, não de uma mera fase processual como é a regra agora do Códi
go de Processo Civil. Assim, o correto é juntar aos autos da execu
ção uma cópia da sentença proferida nos embargos, razão pela qual
ao final dessa sentença caberia colocar a seguinte frase: “Translade-
se cópia desta sentença para os autos da execução fiscal”. É um
comando simples, relativo a uma providência que talvez a secretaria
já tomasse mesmo que ausente. De qualquer maneira, não é peso
morto e sua presença ao final da decisão acaba por tomar a peça
mais completa.
Por fim, as palavras sobre a publicação, intimação e registro
da sentença, local e data e, até que enfim, a assinatura do magistra
do. Mas lembre-se: quem assina a sentença é o juiz, não o candida

to! Se você assinar


considerada seu nome
e você será na prova,
eliminado ela simplesmente será des
do concurso.
É isso. Essa é a sequencia básica de resolução de uma senten
ça, a qual veremos em detalhes ao analisarmos seus tópicos passo a
passo, com comentários da doutrina e referências jurisprudenciais.

Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1a Região


Como não há alegação de ausência ou vício na citação, o mais
recomendado seria começar a resolução do nosso caso-modelo pela
análise da alegação de incompetência do juízo, feita pela União Federal
em sua contestação. Na sequencia, analisar as alegações de ilegitimi
dade passiva e ativa, em conjunto com a alegação de impossibilidade
_______________________
de formação de litisconsórcio ativo unitário.

23 Obra citada. (Página 129)


Ultrapassada a fase das preliminares, é preciso entrar nas preju-
0ldais de mérito, que no presente caso são relativas à prescrição (as
dtfesas falam em “decadência”, mas entendo que o correto aqui é ana-
Rtsr a questão como sendo de prescrição). Isso porque, se acatada a
prescrição qüinqüenal, por exemplo, não será preciso avaliar a constitu-
©lonalidade da Lei n°. 9.506/97 antes da edição da Emenda Constituci
onal n°. 20/1998. É aquela repetida história da análise das matérias em
Uma ordem que aproveite a prejudicialidade de umas em relação às
eutras.
Em seguida, adentra-se no mérito propriamente dito, com a aná-

llie cada
•m da constitucionalidade
um dos momentosda- cobrança da contribuição
Lei n°. 9.506/97, previdenciária
EC n°. 20/98 e Lei n°.
10.887/2004. Se constatado realmente que algum recolhimento deve
•§r objeto de compensação, deve-se analisar então a possibilidade da
Oompensação ser feita com tributos administrados pela SRF e pelo
INSS, a fim de saber se ela poderá ocorrer nos dois casos ou somente
•m um deles.

Finalizando, passam-se às questões relativas à correção dos va


lores a serem compensados, bem como ao problema das custas e
também dos honorários.

2 A boa redação
Em termos de redação, acredito que os melhores profissionais
lio os jornalistas e os publicitários. No exercício de suas atividades,
lies são obrigados a buscar uma linguagem que respeite as normas
da língua, mas ao mesmo tempo consiga a maior eficácia possível
BB transmissão da mensagem. É preciso lembrar que um texto nada
Wais é do que um veículo para uma informação, que sairá de um
transmissor (no caso, quem o escreve) e chegará a um receptor (o
leitor).
No caso de um texto literário, de uma poesia, não somente o
conteúdo da informação tem relevância, mas o próprio veículo em si
vale muito. Em tais escritos, ganham destaque especialmente a for
ma, a maneira como frases e parágrafos são escritos, a musicalidade
•ntre as palavras. Pegue como exemplo José Saramago, escritor
português
•nciclopédiaganhador doWikipedia
eletrônica Prêmio Nobel
assimde Literatura.
comenta sobreAseu
inovadora
estilo de
iicrever: “José Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral,
ooevo dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da
comunicação é mais importante do que a correção de uma lingua
gem escrita. Todas as características de uma linguagem oral, predo
minantemente usada na oratória, na dialética, na retórica e que ser
vem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão pre
sentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontua
ção de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens
são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma
que não existem travessões nos seus livros. Este tipo de marcação
das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a
ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou
apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocu
pam
toresmais
usariadepontos
uma página,
finais. usando vírgulas
Da mesma onde
forma, a maioria
muitos dos pará
dos seus escri
grafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores.” . Leia a
24
maravilhosa obra “As intermitências da morte” e você comprovará
esse estilo peculiar de escrita. Diante disso, eu pergunto: Saramago
escreve errado? De jeito nenhum! O que ele faz é literatura, é arte e
escritores como Camões e Shakespeare ajudaram a moldar suas
línguas.
É claro que uma sentença que seja estruturada de maneira a
aproveitar de forma mais azeitada e bela o que a língua oferece é
uma sentença mais rica, o mesmo acontecendo com uma reportagem
jornalística ou uma peça publicitária. Só que, em todos esses casos,
não temos o peso da forma como vemos na literatura.
Isso significa que a compreensão da informação deve ser o
ponto principal em um texto jurídico. Como diferenças em relação
ao trabalho dos jornalistas, por exemplo, está a questão da lingua
gem técnica e, por vezes, científica, o que determina uma preocupa
ção maior do magistrado ao redigir uma sentença. Enquanto um
corpo estendido no chão pode ser retratado de diversas maneiras em
uma reportagem policial, uma denunciação à lide deve ter um trata
mento de linguagem mais técnico e uniforme por parte do juiz, a
quem não é permitido um equívoco de chamar tal intervenção de
terceiros de chamamento ao processo, por exemplo (embora o legis
lador eventualmente cometa deslizes técnicos, como no caso do
artigo 101, inciso I, do CDC). Outro paralelo que eu sempre faço é
quanto à área tributária. Nos jornais, é comum um texto se referir a
24 Disponível em hto://Dt.wikipedia.ora/wiki/José Saramago Acessado em 17 jun. 2011.
uma contribuição social como sendo um imposto ou vice-versa.
Bmbora não seja o mais correto, o que interessa ali é que o leitor
laiba que o jornalista está se referindo a um tributo, ou seja, a um
valor que o cidadão tem que pagar para o governo. Se tecnicamente
•quilo é uma contribuição e não um imposto, isso não interessa
muito. Já em uma sentença, essa diferença não pode passar desper
cebida. É preciso cuidar para que a linguagem técnica do Direito
ttão seja negligenciada a ponto de causar confusão no texto.
Mas, é só isso. De resto, ao menos na minha opinião, os ope
radores do Direito têm muito que aprender com os jornalistas e pu
blicitários. Um texto é para ser compreendido, é para fazer com que
a informação
era a intençãoali
de transmitida seja recepcionada
quem a redigiu. Isso significapelo leitor tal
ser direto, e qual
objetivo,
usar palavras de fácil compreensão por qualquer pessoa que leia o
texto (sem esquecer das expressões jurídicas de uso obrigatório,
como já dito), enfim, ter a clareza como um objetivo maior.
E como escrever uma sentença que contemple essa meta?
Duas coisas são a chave do sucesso de qualquer texto; coe
rência e coesão. Para o Direito, coerência é tudo. Eu sempre brinca
va com meus alunos da especialização que eles poderiam escrever o
que quisessem nos questionários, poderiam defender que se deve
pagar ou não pagar tal e qual tributo, desde que fundamentassem a
resposta e, acima de tudo, fossem coerentes. Se você diz que uma lei
ordinária não pode dispor sobre prazos prescricionais em matéria de
contribuições sociais, não pode, logo em seguida, dizer que a e stipu-
lação do prazo prescricional de dez anos para tais contribuições,
feita pela Lei n°. 8.212/91, está em consonância com o sistema tribu
tário nacional25 A incoerência mata qualquer argumentação e des
moraliza o escritor.
Já sobre o tema coesão, vale transcrever a lição tirada de uma
obra simples e muito interessante: “Quando escrevemos um texto,
uma das maiores preocupações é como amarrar a frase seguinte à
interior. Isso só é possível se dominarmos os princípios básicos de
coesão. A cada frase enunciada devemos ver se ela mantém um
vínculo com a anterior ou anteriores para não perdermos o fio do
pensamento. De outra forma, teremos uma sequencia de fraseis sem

** Esseo tema
onais tributário
parágrafo únicofoidopacificado pelo
artigo 5° do STF na súmula
Decreto-Lei vinculante
n° 1.569/1977 n°artigos
e os 08: “São
45i enconstituci
4(6 da Lei
n* 8,212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário1'.
sentido, sucedendo-se umas às outras sem muita lógica, sem ne
nhuma coerência. A coesão, no entanto, não é só esse processo de
olhar constantemente para trás. É também o de olhar para adiante.
Um termo pode esclarecer-se somente na frase seguinte. Se minha
frase inicial for Pedro tinha um grande desejo, estou criando um
movimento para adiante. Só vamos saber de que desejo se trata na
próxima frase: Ele queria ser médico. O importante é cada enuncia
do estabelecer relações estreitas com os outros a fim de tomar sólida
a estrutura do texto”26.
Enfim, coesão é aquilo que faz a gente achar um texto redon-
dinho, sem pontas, bem amarrado. É aquilo que toma a leitura muito

mais
frasesfácil,
vão sepois parece que
sucedendo as informações
de maneira vão conduzindo
harmônica, deslanchando, as
o texto
à conclusão.
Retirei um exemplo de uma decisão que fiz, sobre a penhora
de ativos financeiros nas execuções fiscais. Repare esse pequeno
parágrafo:
Além do mais. é preciso abandonar em nosso país a cultura ex
tremamente protetora do devedor, que só serve para aumentar a
inadimplência e contribuir para que as taxas de juros sejam man
tidas em patamares elevadíssimos. Foi com tal intenção que o
Legislativo editou a Lei n°. 11.382/2006, que promoveu importan
tes alterações na execução por quantia certa contra devedor sol
vente.

A expressão “além do mais”, que eu usei no início do pará


grafo, remetia ao anterior, que trazia outros argumentos a favor da
penhora de ativos financeiros. Eu poderia simplesmente começar a
frase com “É preciso abandonar...”, mas a expressão em referência
faz uma junção melhor com a ideia anterior. Já na frase seguinte, eu
a iniciei dizendo “Foi com tal intenção...”, amarrando-a ao que eu
acabara de dizer. Que intenção era essa? Justamente a de “abando
nar em nosso país a cultura extremamente protetora do devedor”.
A coesão textual, seja dentro da frase ou entre frases, é con
seguida por meio de vários recursos, como epítetos, nominalizações,
termo-síntese, pronomes, numerais e por aí afora. Também os co
nectores ou conectivos são “responsáveis pela coesão de nosso pen-
26VIANA, Antonlo Carlos (coord.). Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo:
Scipione, 1998. p. 28.
samento e tomam a leitura mais fácil e fluente. Por isso temos de
saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase quanto ao pas
sar de um enunciado a outro, se a clareza assim o exigir. Sem esses
conectores - preposições, advérbios, conjunções, termos denotati-
vos, pronomes relativos - o pensamento não flui, muitas vezes não
se completa, e o texto toma-se obscuro, sem nenhuma coerência” 27.
Infelizmente, não há tempo ou espaço aqui para trabalhar ca
da um dos recursos de coesão ou dos conectores, mesmo porque o
objetivo principal desta obra não é a redação por si mesma, mas a
construção de uma sentença. Assim, recomendo a leitura de uma
boa obra sobre o assunto. Às vezes, você já até tem essa obra: con
sulte aquele amontoado de livros velhos que você guardou quando
ainda estava no ensino médio e você provavelmente encontrará
algum manual de redação com excelentes dicas. Não se acanhe de
voltar aos livros de uma fase de sua vida já superada, pois aquelas
lições, às quais você não deu a importância devida antigamente,
agora são fundamentais para você conseguir fazer uma boa senten
ça.
Ainda falando sobre a redação, é importante saber separar os
parágrafos do texto, ao mesmo tempo em que é preciso fazer a liga
ção entre eles para manter a coesão. Já vi parágrafos imensos, cansa
tivos, confusos e com vários assuntos misturados. Isso não facilita a
comunicação, da mesma forma como parágrafos muito curtos, cor
tando o desenvolvimento de uma ideia, também não ajudam em
nada. É preciso saber que o parágrafo existe para delimitar o trata
mento de uma ideia particular. Respeitando esse princípio, o texto
ficará muito mais bem estruturado e de fácil compreensão.
Na prática judiciária, vejo muitos juizes numerarem cada ca
pítulo da sentença. Não vejo problemas nessa prática, embora esteti
camente eu acredite que não fica bom.
Eu teria diversas outras lições para falar sobre a redação de
um texto, mas não vou me alongar nesse tema por conta do foco do
livro. De toda sorte, guarde bem as lições sobre coerência e coesão
textual, bem como sobre a unidade dos parágrafos. Esses três pontos
já ajudam
tenha pore demais
fluidez o candidato
cuja estrutura na hora
não lembre um de criar um texto que
Frankenstein.

*' Viana, obra citada, p. 51.


3 Citação de legislação
Nem sempre é necessário transcrever um artigo de lei ou coi
sa similar. Mas quando for uma norma desconhecida ou quando o
raciocínio argumentativo envolver a análise de várias leis, então é
melhor transcrever.
Trago um exemplo de uma sentença que fiz, na qual entendi
absolutamente necessária a transcrição. Se você observar bem, verá
que há toda uma lógica construída sobre os textos legais, o que exi
ge a transcrição para que o leitor simplesmente não se perca nas
diversas citações:
Pois bem, os contribuintes do PIS sobre a folha de salários foram
definidos pela Medida Provisória n°. 2.158-35/2001, que assim dis
pôs:
Art. 13. A contribuição para o PIS/PASEP será determinada
com base na folha de salários, à alíquota de um por cento,
pelas seguintes entidades:
I - templos de qualquer culto;
II - partidos políticos;
III - instituições de educação e deassistência social a que
se refere o art. 12 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de
1997;
IV - instituições decaráter filantrópico, recreativo, cultural,
científico e as associações, a que se refere o art. 15 da Lei
no 9.532, de 1997;

V - sindicatos, federações e confederações;


VI - serviços sociais autônomos, criadosautorizados
ou por
lei;
VII - conselhos de scalização
fi deprofissões regulamenta
das;
VIII - fundações de direito
privado e fundações públicas ins
tituídas ou mantidas pelo Poder Público;
IX - condomínios de proprietários de imóveis residenciais ou
comerciais; e
X - a Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB e as
Organizações Estaduais de Cooperativas previstas no art.
105 e seu § 1o da Lei no 5.764, de 16 de dezembro de
1971.
No artigo acima transcrito, não há qualquer previsão de incidência
do PISem
Logo, sobre a folhaa razão
princípio, de salários
estariapara
comas
oscooperativas
impetrantes, de crédito.
pois so-
mente a lei pode instituir ou majorar um tributo (art. 150, inciso I, da
Constituição Federal).
Porém, a autoridade impetrada se socorre do art. 15 da mesma
Medida Provisória para justificar a cobrança do PIS também sobre
a folha de salários, no caso das cooperativas de crédito. Esse arti
go diz o seguinte:
Art. 15. As sociedades cooperativas poderão, observado o
disposto nos arts. 2o e 3o da Lei no 9.718, de 1998, excluir
da base de cálculo da COFINS e do PIS/PASEP:
I - os valores repassados aos associados, decorrentes da
comercialização
va ; de produto por eles entregue à cooperati
II - as receitas de venda de bens e mercadorias a associa
dos;
III - as receitas decorrentes da prestação,
aos associados,
de serviços especializados, aplicáveis na atividade rural, re
lativos a assistência técnica, extensão rural, formação pro
fissional e assemelhadas;
IV - as receitas decorrentes do beneficiamento, armazena
mento e industrialização de produção do associado;
V - as receitas financeiras decorrentes de repasseem de
préstimos rurais contraídos junto a instituições financeiras,
até o limite dos encargos a estas devidos.
§ 1 o Para os fins do disposto no inciso II, a exclusão alcan
çará somentevinculados
mercadorias as receitasdiretamente
decorrentesà da venda econômica
atividade de bens e
desenvolvida pelo associado e que seja objeto da coopera
tiva.
§ 2o Relativamente às operações referidas nos incisos I a
V do caput:
I a contribuiçãopara o PIS/PASEPserá determinada,
também, de conformidade com o disposto no art. 13;
II - serãocontabilizadas destacadamen te, pelacooperativa,
e comprovadas mediante documentação hábil e idônea,
com a identificação do associado, do valor da operação, da
espécie do bemou mercadorias e quantidades vendidas.
O raciocínio da autoridade impetrada é claro. § a2Odo artigo aci
ma transcrito estipularia que, quando as cooperativas aproveitas
sem as deduções previstas nos incisos I a V, referentes ao PIS so
bre a receita bruta, estariam sujeitas também ao PIS sobre a folha
de salários. É isso o que inferiu a autoridade impetrada a partir da
leitura do inciso I do §a. 2Apesar de ser um verdadeiro contorcio-
nismo hermenêutico, o pensamento revela certa coerência e, em
princípio, seria mesmo essa a regra estabelecida pela norma em
questão.
Ocorre que as cooperativas de crédito não realizam nenhuma da
quelas operações listadas nos incisos I a V do art. 15, da Medida
Provisória fin. 2.158-35/2001, razão pela qual a elas não se aplica o
inciso I, do §S2do mesmo artigo. Em suma, somente quem utiliza
as deduções citadas pela norma estaria sujeito ao PIS sobre a fo
lha de salários; como as cooperativas de crédito não realizam tais
deduções, não se sujeitam à referida contribuição.
Caso admitíssemos que as cooperativas de crédito realizam tais
deduções, ainda assim não estariam sujeitas ao PIS sobre a folha
de salários, mesmo existindo o8 §do 2 art. 15 da Medida Provisória
em questão. É que a legislação estaria criando uma aberração tri
butária quedeve
Um tributo feriria
teras mais uma
apenas simples
baselições desse pois
de cálculo, ramoesta,
do Direito.
segun
do lições dos mais modernos autores, é uma das características
que justamente define não só a espécie tributária, mas o próprio
tributo em si. Além disso, se uma cooperativa tem um faturamento
X, que está sujeito ao PIS, ainda que existam as deduções Y, esti
pular nesse caso a incidência também sobre a folha de salários fe
riria o princípio da vedação ao bis in idem. Parte do faturamento da
cooperativa vai para o pagamento dos salários. Se o faturamento já
foi tributado, tributar também a folha de salários é cobrar o PIS du
as vezes sobre o mesmo valor econômico. Ressalte-se que a nor
ma analisada não estipulou que haveria incidência do PIS sobre a
folha de salários no montante proporcional ao que foi deduzido nos
termos dos incisos I a V do art. 15 da Medida Provisória
a. 2.158-
n
35/2001, mas sobre toda a folha. Se houvesse a proporcionalidade,
embora ainda permanecesse a aberração tributária, ao menos não
seria possível falar em bis in idem.

Percebeu a necessidade de transcrição da legislação? Em uma


prova de concurso, se você estiver diante de um caso assim, que
demande uma análise apurada de vários artigos, bem como uma
confrontação entre eles, não tenha receio de fazer a transcrição, até
mesmo porque você terá a legislação seca à sua frente para permitir
tal trabalho. Apenas tome o cuidado de destacar o texto da lei do
restante da sentença, seja em um capítulo especial com margem
diferente, seja por meio de aspas. Porém, não faça a transcrição a
menos que isso seja absolutamente necessário. Primeiro, porque seu
tempo é curto na hora da prova. Segundo, porque o examinador

talvez
“encherconsidere
lingüiça”,que
na aquilo é apenas
linguagem o bom
popular. e velho
Enfim, exercício
transcrever de
textos
artigos legais é algo que deve ser feito na dose certa, em casos
cessários, como o uso de um antibiótico para curar um problema
saúde.
Fora dos casos de concursos, o operador do Direito é absolu-
nente livre para transcrever como quiser os artigos de lei, corren-
i apenas o risco de redigir uma sentença muito grande e, às vezes,
m a compreensão dificultada por conta do excesso de transcri-
es.

4 Citação de jurisprudência
Em se tratando da resolução de uma sentença em uma prova
concurso, é bobagem falar de citação de jurisprudência, porque
cê não terá uma fonte de consulta à sua disposição. Quer dizer,
bagem em termos, pois algumas súmulas a gente acaba decoran-
como a de n°. 105 do STJ, que afasta a imposição de honorários
vocatícios em mandado de segurança, além das súmulas vinculan-
Fora casos raros como esse, não se cita jurisprudência em con-
rsos, a não ser de forma genérica - algo como: “De acordo com
risprudência reiterada do STF, é passível a cobrança de contribui-
o previdenciária dos servidores inativos...”.
Fora dos concursos, são poucos os juizes que deixam de citar
5um
v, comojulgado em suas
os Estados decisões.
Unidos, Nãoa jurisprudência
no qual decommon
somos um paísacaba sendo
fonte primeira do Direito. Mas isso não impede que as decisões
iteradas dos tribunais sirvam de paradigma para os juizes de pri-
íira instância, até mesmo porque o sistema precisa de uma certa
gurança para funcionar. Nesse sentido, inclusive, a criação da
mula vinculante, que acaba por fazer da jurisprudência brasileira
STF realmente uma verdadeira e direta fonte do Direito.
Quais são os cuidados que devemos ter ao citar a jurispru-
ncia? Em regra, a transcrição é apenas da ementa, pois ela é o
sumo do que foi decidido no tribunal. Isso não impede o mapstra-
de transcrever também partes do voto do relator, especialmente
for necessário para uma melhor compreensão dos motivos da
cisão.
a nãoOserque
emnão se deve
casos fazer é transcrever
absolutamente um voto
específicos. Fora integralmen-
essas exce-
es, a cópia integral de um voto pode levar a uma sentença muito
iga e cansativa, abarcando temas desnecessários para a solução
daquele caso específico e prejudicando a própria compreensão do
texto. De qualquer maneira, o que não se pode esquecer nunca é
citar o tribunal, o número do processo e a classificação processual
relativos à ementa ou voto transcrito, para que o leitor possa identi
ficar a srcem do paradigma e, se quiser, consultar o acórdão na
integralidade. Nos casos em que transcrevo parte do voto, costumo
também destacar o nome do relator, até como forma de respeitar a
propriedade intelectual. Quando transcrevo somente a ementa, nem
sempre tenho essa preocupação, embora em textos científicos seja
mais correto o destaque do nome do relator, em qualquer caso.
Por outro lado, é preciso também tomar muito cuidado com

as ementas,
da decisão e,pois elasvezes,
muitas nem sempre
podemrefletem precisamente
dar a entender o conteúdo
justamente o con
trário. Por isso, procure sempre ao menos passar os olhos no voto do
relator ou do revisor, conforme o caso, para que você tenha seguran
ça de estar utilizando uma fonte que apoie a sua tese. Às vezes, o
seu pensamento é contrário ao que foi decidido, mas o voto vencido
é no mesmo rumo da sua decisão. Nesses casos, embora sempre seja
mais inteligente encontrar um acórdão totalmente favorável, é pos
sível transcrever parte do voto vencido.
Por fim, se você está estudando para concursos, procure fazer
seus exercícios de sentença citando jurisprudências. Embora na hora
da prova você não tenha sua fonte de consultas por perto, a pesquisa
anterior em seu treinamento irá ajudá-lo a recuperar o assunto na
memória
para e a terdomais
a solução segurança em relação ao caminho a ser tomado
caso.

5 Citação de doutrina
A citação de um posicionamento doutrinário também é com
plicada na hora da prova de um concurso, pelo simples fato de que
seus livros não estarão à sua disposição. O máximo que você terá
serão códigos e leis esparsas, sem qualquer comentário ou anotação.
Em virtude de tal fato, a sentença terá que ser resolvida como se
aquele fosse o primeiro caso sobre o tema, sem estudos doutrinários
ou decisões jurisprudenciais. Enfim, o doutrinador será você mes
mo.
Fora dos concursos, porém, a citação da doutrina também é
algo absolutamente comum e corriqueiro na praxe forense. Particu
larmente, não faço citações com tanta frequência, pois acabo me
apoiando mais na jurisprudência. De qualquer maneira, especial
mente em temas mais complexos, polêmicos ou recentes, é sempre
conveniente procurar a opinião de quem estudou o assunto a fundo.
Isso é um recurso muito importante em textos argumentativos, mui
to conhecido como “argumento de autoridade”28. Ao demonstrar que
determinada pessoa, de grande renome naquela área específica,
pensa de acordo com a tese que você defende, o julgador certamente
avaliará com mais cuidado o que você diz, pois você não estará
Nozinho
tante que naquele raciocínio.
você saiba escolherPor
um conta disso, éque
doutrinador absolutamente impor
realmente seja de
peso e muito respeitado no meio jurídico. Pode-se até não concordar
com José Afonso da Silva em questões constitucionais, mas não é
possível desprezar a sua opinião. Se o assunto for direitos difusos,
Hugo Nigro Mazzilli pode até ser controverso, mas é uma autorida
de na área. Autores assim dão credibilidade à sua tese e impõem um
maior peso ao seu raciocínio.
Apenas para finalizar, procure não transcrever longos trechos
de obras doutrinárias, pelos mesmos motivos já expostos em relação
à jurisprudência. Um bom texto jurídico é aquele que diz o essencial
para a compreensão do tema, sem falar além do preciso. Por isso, vá
ao ponto central da exposição do doutrinador e transcreva só o que
for absolutamente
forma completa a necessário, não se
fonte, inclusive esquecendo,
a edição é claro,
do livro de citarda
e o número de
página.

6 Um exemplo para auxiliar


Apenas para arrematar tudo o que dissemos, segue abaixo
uma sentença simples de um caso fictício, especificando cada uma
de suas partes29. Ressalto que alguns elementos constantes na íeferi-
da sentença geralmente só constam na prática judiciária, sendo dis
pensados em uma prova de concurso (como o preâmbulo e, eventu
almente, o relatório) ou até mesmo vedados (como a identificação
do candidato no epílogo). Além disso, em uma prova de concurso
dificilmente o candidato transcreverá uma jurisprudência, como foi
" Sobre o tema, ver interessante artigo de Vfctor Gabriel Rodríguez, disponível em
http://www2.oabsp.org.br/asp/esa/comunicacao/esa1.2.3.1. asp?id_noticias=31
H Essa sentença foi redigida em 2007, de acordo com a legislação vigente naquela época.
Por isso, não deve ser tomada como parâmetro em relação aos fundamentos jurídicos, mas
Apenas quanto à estrutura.
feito abaixo e conforme já explicado anteriormente. Todavia, como
o intuito aqui é apenas destacar a sequencia de redação de uma sen
tença, preferimos colocar uma peça completa, como se faz na práti
ca da magistratura.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1» RE
GIÃO
Seção Judiciária de Minas Gerais
Vara Única da Subseção Judiciária de Ipa-
tinga
Autos n8.: 2007.00.000000-0
Preâmbulo Autor: JOÃO SILVA
Ré: UNIÃO FEDERAL
Vistos, etc.
1. RELATÓRIO30
Trata-se de pedido de indenização por danos
materiais feito por João Silva em face da União
Relatório Federal. O autor alega que, quando tinha 14
anos e às vésperas de embarcar para um pro
grama de intercâmbio no Canadá, foi atropelado
por um veículo do Ministério do Trabalho, que
atravessou o cruzamento no sinal vermelho e
colheu o autor. Em razão disso, ele teria ficado
internado por quinze dias e em tratamento fisio-
terápico por seis meses, o que o fez perder todo
o valor investido no intercâmbio. Pede, então,
indenização correspondente a R$ 5.000,00
(cinco mil reais), relativa ao que havia pago pela
ida ao Canadá, bem como R$ 24.900,00 (vinte e
quatro mil e novecentos reais), referentes às
despesas hospitalares, com medicamentos e
fisioterapia. Juntou aos autos: cópia do compro
vante de pagamento do intercâmbio, carta da
agência de turismo recusando-se a devolver a
quantia paga, em virtude de cláusula contratual
nesse sentido; cópia de boletim de ocorrência
lavrado pela autoridade policial; receitas médi
cas; comprovantes de pagamentos de remédios,
hospital e recibos de tratamento fisioterápico.
Na contestação, a União Federal alegou a pre-
30 Há quem redija uma sentença sem separar os capítulos com títulos. Por questões de
estética e facilidade de leitura para as partes, prefiro utilizá-los.
liminar de falta de capacidade processual, visto
ter o fato acontecido quando o autor tinha 14
anos e, por tal razão, ser necessária a assistên
cia de seu responsável legal para atuar em
juízo. Alega ain da falta de interesse de agir,
visto não ser a União Federal responsável por
indenizar um acidente ocorrido com um pedes
tre que atravessava a rua fora da faixa e sem
atenção. Como prejudicial de mérito, diz que a
prescrição no presente caso é qüinqüenal e, por
conta disso, o autor não teria mais direito a
qualquer quantia. No mérito, alega culpa exclu
siva da vítima.
O autor não se pronunciou sobre a contestação,
apesar de intimado. Na fase de produção de
provas, foi juntado aos autos cópia da gravação
da câmera ns. 2.567 da Secretaria Municipal de
Trânsito, que estava posicionada no cruzamen
to onde aconteceu o acidente e registrou todo o
fato. A União Federal não questionou a veraci
dade do conteúdo da gravação, que comprovou
que o veículo Volkswagen Parati, do Ministério
do Trabalho, não respeitou o semáforo verme
lho e atropelou o autor, que se encontrava na
faixa de pedestres.
Nas alegações finais, o autor ressaltou que as
provas não deixaram dúvidas sobre a proce
dência do pedido, enquanto a União Federal
apenas reiterou os argumentos da contestação.
É o relatório.
Decido31.

2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1 Preliminares
A União Federal alega incapacidade processual
do autor, visto que os fatos em questão ocorre
ram quando ele ainda era menor de idade, o que
levaria à necessidade de assistência ou repre
sentação por parte de seu responsável legal.

11 Essas duas expressões - “É o relatório” e “Decido" - também são tecnicamente desne-


msárias. Porém, utilizo-as como estilo de redação, apenas para delimitar claramente o final
do relatório e o início de minha fundamentação.
Ocorre que as condições de ação e os pressu
postos processuais devem ser averiguados no
momento da propositura da demanda. Por essa
razão, contando o autor com 20 anos de idade
na data da propositura da ação, não é necessá
ria a representação. Por outro lado, desde a
vigência do novo Código Civil, a maioridade
chega quando a pessoa completa 18 anos,
razão pela qual também não se fala em neces
sidade de assistência no presente caso. Assim,
Preliminares rejeito a preliminar de incapacidade processual.
Quanto à alegação de falta de interesse de agir,
uma das condições de ação, os fundamentos
da União Federal para sustentar esse argumen
to se confundem com o próprio exame do méri
to. Com efeito, o interesse de agir é verificado
pelo binômio necessidade / utilidade do provi
mento judicial. No presente caso, a necessida
de está evidente, visto que a União Federal não
tomou as medidas necessárias para reparar os
danos espontaneamente. Quanto à utilidade,
também é clara, posto que o autor será ressar
cido de quantia significativa, caso julgada pro
cedente a sua pretensão. Nesse sentido, verifi
car se o autor estava na faixa de pedestres ou
não no momento do acidente nada tem a ver
com a necessidade ou utilidade de se acionar o
Poder Judiciário, mas com a própria procedên
cia ou improcedência do pedido. Rejeito, pois,
também a alegação de ausência de interesse
de agir.

2.2 Prejudicial de mérito32


A União Federal alega a ocorrência de prescri
ção, visto que o acidente teria ocorrido há mais
de cinco anos da data do ajuizamento da ação.
À época dos fatos, o autor contava com 14
anos, tendo 20 anos quando a demanda foi
proposta. Em princípio, a razão estaria com a

32 A separação entre preliminares e questões prejudiciais de mérito não é absolutamente


unânime na doutrina e na jurisprudência, até mesmo porque é uma questão de menor
importância. De qualquer maneira, decidi fazer essa separação aqui por questões didáticas
e também para seguir a ordem lógica de redação da sentença. Porém, o candidato tem a
liberdade de escolher se fará essa separação ou não.
União Federal, visto que o Decreto n B.
20.910/32, que mantém até hoje a sua eficácia,
assim dispõe:
Art. 1a As dívidas passivas da União, dos
Estados e dos Municípios, bem assim to
do e qualquer direito ou ação contra a Fa
zenda federal, estadual ou municipal, seja
Prejudicial qual for a sua natureza, prescrevem em 5
de mérito (cinco) anos, contados da data do ato ou
fato do qual se srcinarem.
Porém, é preciso lembrar que o Código Civil
determina que não corre a prescrição contra os
absolutamente incapazes (art. 198, inciso I, c/c
art. 3a). Obedecendo a tal disposição, o prazo
prescricional aplicável ao caso sob análise
somente começou a correr quando o autor
completou 16 anos de idade. Em conseqüência,
daquela data até o dia do ajuizamento desta
ação não se passaram os cinco anos de que
fala o Decreto na. 20.910/32, razão pela qual a
arguição de ocorrência da prescrição deve ser
rejeitada.

2.3 Mérito
No mérito, entendo que o autor está com a
Mérito razão. A ocorrência do fato que srcinou a res

ponsabilidade da União
mente comprovada, poisFederal
a cópiaficou devida
da gravação
da câmera na. 2.567, da Secretaria Municipal de
Trânsito, que estava posicionada no cruzamen
to onde aconteceu o acidente, deixou claro que
o veículo do Ministério do Trabalho avançou o
semáforo vermelho e atropelou o autor, quando
este se encontrava atravessando a rua na faixa
de pedestres. Não é preciso nem tecer conside
rações sobre a responsabilidade estatal ser de
índole objetiva, visto que a culpa neste caso
ficou devidamente comprovada, o que só refor
ça o dever de indenização.
Em relação à comprovação das despesas,
entendo que os documentos juntados no mo
mento
para do ajuizamento
tanto. Com efeito, da
as causa são suficientes
gravações de vídeo
comprovaram a data do acidente, o que tam
bém ficou demonstrado por meio do boletim de
ocorrência policial. Como os recibos do hospital
atestaram a data de internação, que coincidiu
com a do acidente, não há dúvidas de que se
trata realmente das despesas efetuadas pelo
autor por conta do referido acidente. Da mesma
maneira, as receitas médicas estão condizentes
com os medicamentos comprados, bem como
com o tratamento fisioterápico realizado pelo
autor, todos com pagamentos devidamente
comprovados.
Cabe à União Federal arcar, assim, com todas
as despesas incorridas pelo autor com a sua
recuperação por conta do acidente sofrido. É o
que determinam tanto o art. 37, § 6 a da Consti
tuição Federal, ao falar da responsabilidade
objetiva das pessoas jurídicas de direito público
pelos atos de seus agentes, quanto o art. 927
do Código Civil, ao determinar àquele que, por
ato ilícito, causar dano a outrem, a obrigação de
repará-lo.
Por outro lado, tendo em vista que o acidente
foi cometido culposamente pelo agente da Uni
ão Federal, indo além da mera responsabilidade
objetiva, entendo que os juros aplicáveis ao
caso devem ser contados a partir da data de
pagamento de cada uma das despesas. É a
interpretação que se pode fazer a partir da
leitura do art. 398 do Código Civil, pois este
determina que nas obrigações provenientes de
ato ilícito, considera-se o devedor em mora,
desde que o praticou. Quanto ao percentual,
deve ser de 6% (seis por cento) ao ano até a
data de entrada em vigor do novo Código Civil,
a partir da qual o percentual será de 1,0% (um
por cento) ao mês. Aplico, em relação aos juros,
o seguinte precedente do Tribunal Regional
Federal da 1a Região (grifei):
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO,
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPON
SABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ES
TADO. ACIDENTE
DECORRENTE AUTOMOBILÍSTICO
DE BURACO NA PISTA.
DANOS MATERIAIS E MORAIS. PENSI-
ONAMENTO CIVIL E PREVIDÊNCIÁRIO.
POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. JU
ROS MORATÓRIOS E CORREÇÃO MO
NETÁRIA. 1. "Incide nos efeitos da res
ponsabilidade civil, por força da teoria ob
jetiva, o órgão público responsáve l pela
conservação das estradas de rodagem,
que não toma providência para sinalizar
buracos existentes na pista” (TRF - 1 â Re
gião, AC nfi.96.01.44285-5/DF), 4a. Turma,
DJ de 25/06/1999, relator Desembargador
Federal Mário César Ribeiro). 2. Compro
vado o nexo
resultado causaique
danoso entre a conduta
reclama eo
reparação,
emerge inequívoca a obrigação da União
relativa à recomposição dos danos expe
rimentada pela autora, que tivera a perda
irreparável de seu esposo, restando o de
ver do responsável minorar o sofrimento,
com a recomposição dos danos materiais
e morais experimentados. 3. Consideran
do que a vítima era vendedor, portanto,
profissional autônomo sem comprovação
de renda, se mostra razoável a fixação da
pensão mensal no equivalente a três salá
rios mínimos, ainda mais se a União não
se desincumbiu em nenhum momento de
desconstituir a alegação
à veracidade do valor da da autora
renda quanto
mensal
declarada. 4. Não se compensam, nem se
deduzem da indenização por ato ilícito na
forma de pensionamento, as quantias re
cebidas pela beneficiária da vítima dos
institutos previdenciários ou assistenciais,
haja vista que são verbas pagas sob títu
los e pressupostos distintos, sem relação
de causalidade entre si, podendo ser per
feitamente cumuláveis. 5. Já que o quan-
tum fixado para indenização do dano mo
ral não pode configurar valor exorbitante
que caracterize o enriquecimento sem
causa da vítima ou seus beneficiários,
nema consistir
zar valor
indenização irrisório mostra-se
almejada, a descaracteri-
justa e equânime a fixação do valor da in
denização por danos morais na quantia de
R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para a auto
ra, com a ressalva de que tão-somente
quanto ao valor da condenação por dano
moral o termo a quo para a incidência da
correção monetária é a data em que foi
arbitrado o valor definitivo, ou seja, na
sentença. 6. Quanto à correção monetária
e os juros moratórios, aplicam-se, respec
tivamente, os Enunciados de ns. 43 e 54,
do STJ, que dizem: "Incide correção mo
netária sobre dívida por ato ilícito a partir
da data do efetivo
moratórios fluem aprejuízo"
partir doeevento
"Os iuros
dano
so. em caso de responsabilidade extra-
contratual". com a ressalva de que tão-
somente quanto ao valor da condenação
por dano moral o termo a quo para a inci
dência da correção monetária é a data em
que foi arbitrado o valor definitivo, ou seja,
na sentença. 7. Os percentuais de iuros
moratórios devem ser fixados em 6% (seis
por cento) ao ano até a entrada em viaor
do novo Códiao Civil (11/01/2003) e 1%
(um por cento) ao mês a partir de então,
em conformidade com a leaislacão civil
(CC/1916. art. 1.062: e CC/2002. art. 406)
e com o Enunciado
Jornada n s. 20,
de Direito Civil, formuladopelo
organizado na I
Conselho de Justiça Federal. 8. A-
pelação da União e remessa oficial impro-
vidas. (AC 2001.38.00.016866-7/MG, Rei.
Juiz Federal Moacir Ferreira Ramos
(conv), Sexta Turma, DJ de 17/09/2007,
p. 102)

Quanto à correção monetária, que representa a


simples manutenção do poder de compra da
moeda, deverá incidir também a partir de cada
dispêndio que o autor realizou, de acordo com
os índices estabelecidos no “Manual de Orien
tação de Procedimentos para os Cálculos na
Justiça Federal”.
Dispositivo 3. DISPOSITIVO
Em razão do exposto, julgo PROCEDENTE a
pretensão do autor e, em conseqüência, conde
no a União Federal ao pagamento de indeniza
ção no valor de R$ 29.900,00 (vinte e nove mil
e novecentos reais), a serem corrigidos desde
as datas de cada um dos pagamentos compro
vados pelo autor, datas essas que também
servirão de início para a contagem dos juros
moratórios, calculados em 6% (seis por cento)
ao ano até a entrada em vigor do novo Código

aCivil (11/01/2003)
partir de então. e 1% (um por cento) ao mês
Ante a sucumbência, condeno a União Federal
a ressarcir as custas despendidas pelo autor,
bem como a pagar honorários advocatícios, que
arbitro em 10% (dez por cento) do valor da
condenação, nos termos do art. 20, § 4a, do
Código de Processo Civil.
Afeitos próprios e Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
diretos
Ipatinga, 24 de março de 2007.
Epílogo
Nero Augustus Germanikus33
Juiz Federal

19Lembre-se: na prova, não é necessário e nem permitido ao candidato se identificar. Assim,


•tqueça o epílogo da sentença.
Ju
i
Irr
8B
IN
"“TIÇ®
'««Capitulo IV

Preâmbulo e ementa

1 O preâmbulo
O preâmbulo é a parte da sentença que identifica o caso sob
gamento, trazendo o tipo ou natureza da ação, o número dos autos
i identificação das partes. É o conhecido cabeçalho e tem uma
portância muito grande, visto que, como dito acima, é ali que se
>erá qual a lide que será objeto da sentença. Algo mais ou menos
lim:
Ação Ordinária

Autos n2. 2003.38.02.000000-00


Autor: Mércio Térvius
Réu: Magdalena Timoteous

Poloni prefere a expressão “Introdução” e traz um modelo um


uco distinto34:
“Vistos e examinados estes autos de ação de_____ , tomba
dos sob n®. / deste juízo da _________ Vara Cível, desta co
marca de ______ , em que é autor________ , e réu_________
(qualificação.”

ibra citada, pg. 48.


A escolha de um ou outro modelo depende de cada um, pois
o importante é que fiquem destacados os principais elementos iden
tificadores do processo. O resto é questão de estilo. No meu caso,
prefiro o primeiro modelo por colocar em maior evidência os dados.
Em uma prova de concurso, porém, raramente o candidato te
rá que se preocupar com o preâmbulo. Primeiro, porque em muitos
casos a proposta de sentença constitui o próprio relatório, cabendo
ao candidato iniciar a sentença a partir da fundamentação. Segundo,
porque nem sempre os elementos necessários à feitura do preâmbulo
são fornecidos pelo examinador, já que, embora imprescindíveis em
uma sentença real, não são necessários para avaliar o nível de co
nhecimento doseestudante.
concurso, não preocupeAssim, se o seu problema
com a introdução é umaSeprova
da sentença. vocêde

atua na prática, sinta-se livre para redigir o preâmbulo como seu
estilo bem entender.

2 A ementa
O art. 563 do Código de Processo Civil diz que todo acórdão
deverá ter ementa. Ora, acórdão é a decisão proferida de forma co-
legiada, normalmente em tribunais e turmas recursais dos juizados
especiais. A pergunta que fica então é a seguinte: pode-se colocar
uma ementa em uma sentença? É claro que sim, embora a maioria
dos magistrados não utilize esse recurso, por conta do relativo traba
lho que dá construir umadeementa
receberbem
feita.processos,
Como as prateleiras
secretarias não param novos o excesso das
de
trabalho acaba por cortar tudo o que não é exigido pela legislação.
Em alguns lugares, porém, é tradição utilizar ementas em todas as
sentenças. Quando iniciei minhas atividades de magistrado na Justi
ça Federal de Sergipe, deparei-me com todo um histórico local nesse
sentido e, em conseqüência, também passei a utilizar as ementas,
embora a quantidade volumosa de processos no juizado especial
recomendasse o contrário. Tempos depois, já no TRF da I a Região,
abandonei o hábito por conta do excesso de processos e por não ter
encontrado por lá a mesma tradição de Sergipe.
Mas, o que é uma ementa? Em palavras bastante simples, é
um resumo da decisão, constituído de duas partes. Na primeira par
te, que muitos colocam em letras maiúsculas, itálicas ou destacadas
de alguma outra forma, são apresentadas palavras ou expressões-
chaves para que o leitor saiba quais os assuntos principais tratados.
Nu segunda parte, que pode ser separada por tópicos numerados ou
nflo, constroem-se algumas frases que resumem o conteúdo da deci-
ofio. Vejamos um exemplo do Tribunal Regional Federal da Ia Região:
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. ACIDENTE DE
TRÂNSITO CAUSADO POR PREPOSTO DA UNIÃO. RES
PONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO. INDENIZA
ÇÃO PELA MORTE DO CÔNJUGE E PELOS DANOS MATERI
AIS. TEMPESTIVIDADE DA APELAÇÃO DA UNIÃO RECO
NHECIDA PELO STJ. REDUÇÃO DO VALOR DA PENSÃO EM
1/3.
1. No julgamento do REsp 662.668/AM, decidiu o egrégio Supe
rior Tribunal de Justiça ser tempestiva a apelação interposta pela
União, em face de sentença proferida em embargos de declara
ção, ao fundamento de que o prazo para a interposição do re
curso começa a correr da data da juntada aos autos do mandado
de intimação, e não da data de intimação de seu representante
legal.
2. Comprovada a culpa do motorista, condutor de veículo oficial,
configura-se a responsabilidade civil do Estado em indenizar a
família da vítima e reparar os danos pessoais e patrimoniais, os
quais foram objeto de prova regular no âmbito do processo (CF,
art. 37, § 6a).
3. A jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça pacifi-
cou-se no sentido de que é devida a dedução, do valor da inde
nização, do terço correspondente às despesas que o falecido te
ria com seu próprio sustento, partindo do pressuposto de que, se
ainda estivesse vivo, parte dos seus rendimentos seriam desti
nados a gastos de natureza pessoal (REsp 826.491/CE, Quarta
Turma, Rei. Ministro Jorge Scartezzini, DJ de 05.06.2006, p. 295
e REsp 434.940/PR, Primeira Turma, Rei8. Ministra Denise Arru
da, DJ de 09.10.2006, p. 259).
4. Mantido o valor da indenização pelos danos causados ao veí
culo de propriedade da vítima.
5. Apelação da União parcialmente provida.
(AC 2000.01.00.062707-2/AM, Rei. Desembargador Federal Fa
gundes De Deus, Quinta Turma, DJ de 23/11/2007, p.63)
Pois bem, conforme se vê, no início há uma sequencia de pa
lavras e expressões que permitem ao leitor saber a área do Direito
envolvida, bem como se tratar de um julgamento de um acidente de
trânsito envolvendo pedido de danos morais e materiais, responsabi
lidade objetiva e quantificação da indenização. Isso é suficiente para
traçar um panorama geral da decisão, auxiliando em uma futura
catalogação ou algo semelhante.
Em seguida, o julgador detalha o que foi decidido. Observe
que não se trata de uma transcrição da decisão, mas de um resumo
mesmo - por óbvio. O que se deve ter em mente, para facilitar a
compreensão de quem lê a ementa, é que cada tema deve vir separa
do por tópicos. No primeiro, o julgador tratou do prazo do recurso,
ou seja, de uma preliminar. Isso porque a ementa deve seguir, se
possível, a ordem de disposição dos assuntos na sentença ou no
voto. Depois da preliminar, o tópico seguinte resumiu a decisão
sobre a responsabilidade estatal. Na sequencia, tratou-se da quantifi
cação da indenização para, finalmente, falar do resultado do julga
mento. Quanto aos dados da ação, que estão na última linha entre
parênteses, não são colocados nas ementas srcinalmente nessa
sequencia, visto que o que se transcreveu foi a ementa em uma for
matação feita justamente para transcrições. Nos acórdãos, a ementa
já vem precedida da identificação dos elementos principais do pro
cesso, como número dos autos, tipo de ação, julgador, partes etc. Já
na sentença, esses dados vêm no preâmbulo, razão pela qual a emen
ta deve conter apenas o conteúdo da decisão.
Sugiro a leitura de alguma obra específica sobre o assunto, ou
mesmo de artigos que podem ser encontrados na internet, para quem
deseja se aprofundar na redação de ementas. Na prática cotidiana, se
o tempo permitir, elas são bem-vindas, pois facilitam uma futura
catalogação e busca, conforme já dito. Em concursos, não são co
bradas, razão pela qual os estudantes devem fixar o estudo em ou
tros elementos da sentença.
Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1S Região
Se o preâmbulo é algo que se faz quase sempre em primeiro lu
gar, a ementa sempre fica para o final. Isso é bastante lógico, pois, se a
•menta é um resumo do julgamento, não há como fazê-la antes mesmo
de saber qual o rumo da sentença.
No nosso caso padrão, não há necessidade de fazer o preâmbu
lo. Quanto à ementa, como o examinador já trouxe a proposição como
■endo o próprio relatório, cabendo ao candidato continuar a partir da
fundamentação, também não há espaço para construí-la e, como já
dito, mesmo que houvesse isso não seria absolutamente necessário.

3 A expressão "Vistos, etc."


Nem todos os autores concordam com o uso da famosa ex
pressão “Vistos, etc.”.
Sobre o tema, assim se posicionou Elpídio Donizetti: “Quan
to à expressão ‘Vistos, etc.’, de larga utilização na praxe forense e
que significa que os autos foram vistos e examinados, é desnecessá
ria. Evidentemente que o juiz só pode conhecer do pedido do autor,
dando-lhe a adequada resposta, se houver procedido previamente ao
exame dos autos. A propósito, a decorrência lógica da praticidade

do
nãonosso
tiver tempo é deixar
finalidade. Forade
delado
modatudo o que
soaria não for útil,
a sentença que tudo que
iniciasse
com ‘Vistos e examinados estes autos no I dia do ano do segundo
o

milênio do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo sob a proteção


de Deus e de Sua Majestade Dom Fernando Henrique...’. (...) Ainda
»obre a expressão ‘Vistos, etc.’, a rigor, não deveria haver vírgula
antes da abreviatura, porque a expressão srcinal latina et coetera
dignifica ‘e outras coisas’. Sendo assim, por estar implícita conjun
ção coordenativa que expressa adição, não se usaria, como regra, a
vírgula. No entanto, o Acordo Ortográfico em vigor emprega etc.
lempre precedido de vírgula, o que terminou por oficializar a práti
ca’’35
Porém, o próprio Elpídio Donizetti diz que dificilmente o
uso ou a omissão dessa expressão causarão prejuízo ao candidato:
“O que se pretende deixar claro é que o candidato deve ter em mente
** Redigindo a sentença cível. - 3. ed. revista, atualizada, ampliada. - Belo Horizonte: Del
Rty, 2005. p. 4 e 5.
que pode usar a arcaica expressão se quiser, com ou sem vírgula
antes do etc., vez que o estilo de escrever é pessoal. O que não se
admite é reprovação em exame por essa filigrana”36.
Dfl minha parte, eu tenho o costume de usar essa expressão,
embora pc>ssa concordar com Elpídio Donizetti quanto a ela ser
arcaica e desnecessária. Mas é uma mania que trago e gosto de usar,
dispensando apenas quando estou atuando no Juizado Especial Fe
deral, cujas sentenças costumam ser mais sintéticas. Em concursos,
sempre coloquei, pois acho que, se não ajuda na nota, também não
prejudica. E vai que o examinador é como a expressão, ou seja,
arcaico? Aliás, é possível observar em alguns concursos que o pró
prio relatório proposto pelo examinador já traz o “Vistos, etc.”,
conforme se viu na prova do TJ/DFT, relativa ao concurso de 2007
(sentença cível). Percebe-se que, mesmo dispensável, a expressão
ainda continua com a bola toda.

36 Idem, p. 5.
^Capitulo V

Preliminares

1 Introdução
Até agora, vimos o que é sentença, lemos uma proposta de
Concurso e anotamos em um rascunho quais os pedidos da autora, os
pontos contestados pela ré e as provas produzidas. Além disso, vi
mos também qual a ordem mais coerente de se redigir uma sentença.
No capítulo anterior, tratamos rapidamente do preâmbulo,
ementa e da expressão “Vistos, etc.”. Pela lógica, deveríamos falar
agora do relatório. Porém, já tratamos dele quando discorremos
■obre a colheita dos dados para o julgamento, até porque a feitura do
relatório ajuda muito nesse trabalho. Por conta disso, apesar dessa
parte da sentença se inserir após o preâmbulo e antes da análise das
preliminares, não tocaremos novamente no assunto, deixando con-
lignadas as lições já expostas.
Sigamos em frente, colocando a mão na massa. Mas, como o
nosso caso modelo não é o mais completo, vamos tratar de todas as
principais preliminares processuais que são arguidas comumente em
provas e na prática do magistrado, às vezes fazendo referência às
propostas de sentença trazidas no final deste livro, às vezes tratando
de casos fictícios.
2 Competência
Pois bem, entendo que o melhor a se fazer é começar pela
questão da competência37, por dois motivos muito simples: a) se o
magistrado não for competente, não caberá a ele analisar mais nada
no processo; b) esse é um pressuposto processual absolutamente
recorrente nas provas de concursos para a magistratura. Com efeito,
se analisarmos as propostas de sentenças transcritas neste livro,
veremos a alegação de incompetência em inúmeros casos.
Elpídio Donizetti Nunes, sempre com o didatismo que lhe é
peculiar, traz um simplificado roteiro para se definir a exata38 com
petência. Para tanto, deve-se fazer algumas perguntas na sequencia:
a) Qual a justiça competente: nacional ou estrangeira?39
b) Definida a competência da justiça brasileira, resta saber: a
ação deve ser proposta na justiça comum ou especializada?40
c) Definida a competência da justiça comum, cabe indagar: a
demanda deve ser proposta na justiça comum federal ou na
justiça comum estadual?41
d) O conhecimento da causa cabe a órgão superior ou inferi
or?42
e) Definido que a ação pode ser proposta no Brasil, em órgão
inferior da justiça comum estadual, é de se indagar: em qual
comarca (foro) deve ser proposta?

f) Havendo
matéria, na comarca
das pessoas ou dovaras especializadas
valor emérazão
da causa, qual da
o juízo
competente?

“Competência é o conjunto das atribuições jurisdidonais de cada órgão ou grupo de


órgãos, estabelecidas pela Constituição e pela lei. Ela é também conceituada como medida
da jurisdição (definição tradicional) ou quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a
um órgão ou grupo de órgãos (Liebman). Considerando determinado órgão judiciário, ou
grupo de órgãos, sua competência é representada pela massa de atividades j urisdidonais
que a ele cabe realizar, segundo o direito positivo”. Dinamarco, obra citada, Volume l,p.411.
Obra citada, p. 84 e 85.
39 A respeito, ler os arts. 88 a 90 do CPC.
40 Ex.: uma reclamação trabalhista vai para a justiça do trabalho, considerada especializada.
41 O art. 109 da Constituição Federal é de leitura obrigatória para aprender sobre a compe

tência
42 Umada Justiça
ação Federal.
rescisória do julgado de um Juiz Federal, por exemplo, é de competência
srcinária do Tribunal Regional Federal.
Eu ainda complementaria as excelentes palavras de Elpídio
Donizetti com a seguinte indagação, embora ela caiba no item “f”: a
competência é da vara comum ou do juizado? Se for uma questão
federal, a competência dos juizados é absoluta (Lei n°. 10.259/2001,
art. 3o, § 3o); se for estadual, é relativa.
Pois bem, guardemos esse pequeno roteiro como um auxílio
nos casos em que for demandada a análise acerca do órgão compe
tente para analisar a causa. Nem sempre é preciso fazer todo esse
processo, aliás, em regra não o é, ao menos para o magistrado. Isso
porque, conforme se pode ver na prova do VII Concurso do TRF da
5* Região, em geral o réu já diz qual é o juízo que ele considera
competente, bastando ao juiz analisar se ele tem razão ou não.
Seguindo adiante, a primeira lição básica que devemos recor
dar é a de que existe a competência denominada relativa e a absolu
ta. Relativa é aquela que pode ser prorrogada, ou seja, a legislação
diz que determinado juízo não é competente para analisar a ação,
mas caso esta seja proposta perante ele, em não havendo oposição
das partes, não haverá nulidade alguma43. Da mesma forma, relativa
é a competência que pode ser alterada pelas partes, como acontece
nos contratos em que se elege um foro distinto daquele expresso no
Código de Processo Civil. Em regra, são relativas as competências
em razão
las que doadmitem
não valor e em razão do território.
prorrogação, Já as
ou seja, em absolutas
caso são aque
algum poderá ser
proferida decisão no juízo diferente do determinado pelas leis pro
cessuais e de organização judiciária. Em regra, são absolutas as
competências em razão da matéria, da pessoa e pelo critério funcio
nal.
Não vou entrar em detalhes, pois esta não é uma obra de pro
cesso civil, almejando apenas ser um simples roteiro para a resolu
ção de sentenças. Assim, recomendo uma boa leitura tanto da legis
lação, quanto da doutrina e da jurisprudência, para que o candidato
ou o profissional do Direito se inteirem desse assunto de extrema
Importância.

O que
absoluta nos interessa,
ou relativa, quanto
é a forma à questão
como de ser
ela deverá seraarguida
competência
pelas

u Lembrando que há até a Súmula n° 33 do Superior Tribunal de Justiça para deixar bem
Oltro: “A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.
partes. Sobre o assunto, vale transcrever dois importantes artigos do
Código de Processo Civil:
Art. 112 - Argui-se, por meio de exceção, a incompetência relati
va.
Art. 113 - A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício
e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, in
dependentemente de exceção.

Isso significa dizer que a incompetência absoluta, como no


caso de ser proposta na Justiça Federal uma ação de indenização por
danos morais entre particulares, pode ser alegada no corpo da con
testação,
uma peçacomo matériaempreliminar.
processual apartado, Já a incompetência
chamada relativa
de exceção, exige
que terá seu
julgamento em separado das demais questões do processo. Além
disso, como se viu, não há prazo para a arguição da incompetência
absoluta, embora a parte a quem caberia alegá-la, se não o fizer na
primeira oportunidade que tiver, responda pelas custas (art. 113, §
Io). Já a relativa deve ser oposta pela parte em 15 dias de seu conhe
cimento (art. 305), sob pena de preclusão. Isso significa, por exem
plo, que uma ação de cobrança proposta no domicílio do credor, ao
invés do domicílio do devedor, demandará do réu uma exceção de
incompetência em até 15 dias após a citação, sob pena de prorroga
ção da competência, ou seja, da ação permanecer no domicílio do
autor.
É muito comum que em provas de concurso o examinador co
loque um caso de incompetência relativa arguida no corpo da con
testação ou após o prazo para tanto. Pegue como exemplo a prova
do 51° Concurso do Tribunal de Justiça de Goiás, na sentença sobre
responsabilidade civil. Assim consignou o examinador:
A primeira requerida, em preliminar, argui a incompetência deste
juízo, pois embora tenha sua sede n esta cidade, o jornalista au
tor da matéria questionada e segundo requerido reside na cidade
de Aparecida de Goiânia e, por força do art. 94 do Código de
Processo Civil e da Lei de Imprensa, o foro de seu domicílio de
ve ser o determinante para a competência.

Percebeu a sutileza da questão? A competência citada é terri


torial e relativa, mas a ré a arguiu em sede de preliminar da contes
tação e não em uma exceção, como determina o Código de Processo
Civil. E aí, como resolver essa questão?
Primeiro, há uma divergência doutrinária 44 e jurisprudencial
sobre o tema. Assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSO CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMEN
TO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. COMPETÊNCIA RELATIVA. AR-
GÜIÇÃO EM PRELIMINAR DE CONTESTAÇÃO. PRINCÍPIO
DA INSTRUMENTALIDADE. FORO COMPETENTE. LUGAR
ONDE A OBRIGAÇÃO SERIA CUMPRIDA. ANÁLISE DO CON

TRATO.
sível a alegação deincompetência
- Apesarde se tratar de irregularidade formal, é admis
relativa em preliminar de con
testação, em virtude do princípio da instrumentalidade. - Não se
admite a interpretação de cláusulas contratuais em sede de re
curso especial. - É vedado o reexame fático-probatório em sede
de recurso especial. Negado provimento ao agravo. (AgRg no Ag
696.779/RS, Rei. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 08.11.2005, DJ 28.11.2005 p. 284)

No trabalho cotidiano, cabe ao magistrado decidir se adota a


letra fria do Código de Processo Civil ou se, aderindo às correntes
mais modernas que veem o processo como instrumento para a con
secução do direito material, admite a alegação de incompetência
relativa em sede de preliminar de contestação. O candidato até pode
fuzer sua escolha também, mas há que se tomar muito cuidado. Co
mo a competência é geralmente a primeira matéria a ser analisada,
aceitar que ela pode ser arguida no corpo da contestação é uma saída
viável desde que se conclua, ao julgar o mérito da questão, que não
há incompetência, seja ela absoluta ou relativa. Isso porque, se você
aceitar a arguição na contestação e depois verificar que realmente é
um caso de incompetência, obrigatoriamente terá que encerrar sua
sentença ali, sem resolução do mérito, declinando para o juízo com
petente. E aí? Será que era isso mesmo o que o examinador deseja
va? Será que ele colocou um caso amplo e complexo para você ter
minar a sua peça na análise do primeiro problema?

Dinamarco (obra citada, volume I, p. 449) parece adotar os ditames do CPC ao consignar:
“0 modo processual único e exclusivo, instituído para a parte arguir a i ncompetência relativa,
é a exceção de incompetência (CPC, arts. 112 304 ss.). É vedado ao juiz o controle espon
tâneo da competência relativa (Súmula 33, STJ) e, quando não oposta regular exceção no
prazo, ocorre a preclusão e a competência se prorroga”.
Caso você detecte desde já que o juízo é competente, eu acho
até interessante, caso realmente você adote a corrente expressada
nesse julgado do STJ, falar rapidamente do assunto, referindo-se à
jurisprudência e à instrumentalidade do processo. Demonstrará um
bom conhecimento das questões atuais do direito processual e enri
quecerá a sua sentença, mas se aparentemente o caso é de incompe
tência relativa mesmo, recomendo rejeitar a arguição no corpo da
contestação por afronta ao art. 112 do Código de Processo Civil.
A arguição de incompetência territorial é bastante comum em
concursos para a magistratura estadual. No âmbito federal, o que
ocorre muito é a arguição da competência ou não da Justiça Federal,
de caráter absoluto.
a competência Tal fato
da Justiça é justificado
Federal, trazidade
noforma bastante
art. 109 simples:
da Constitui
ção, é específica e não de natureza residual, como ocorre com a
estadual. Assim, o operador do Direito precisa saber em quais casos
específicos a demanda deverá ser apresentada a um Juiz Federal.
Raquel Femandez Perrini, em obra que recomendo sobre o
assunto45, gastou mais de 400 páginas para falar sobre as competên
cias da Justiça Federal Comum, o que desde já demonstra ser total
mente inviável ensinar aqui, em um livro de sentença, o que compe
te e o que não compete a essa instituição.
A leitura de uma boa obra sobre o tema, acompanhada de
uma imersão completa no art. 109 da Constituição, deve ser comple
tada
sobrepor uma busca na
competência quejurisprudência
estão sendo acerca dos casos
discutidos mais federal.
na esfera recentes
Além disso, o candidato deve ficar bastante atento aos detalhes, que
por vezes diferenciam a questão do que se vê no âmbito estadual.
Peguemos como exemplo o IX Concurso do TRF da 4a Regi
ão, em cuja proposta de sentença consta o seguinte:
Citada, a União ofereceu contestação, arguindo, preliminarmen-
te, a incompetência absoluta do juízo federal de Canoas, pois o
acidente que deu srcem à demanda ocorreu na capital do Esta-
do.

Novamente, percebe-se a sutileza da questão. Em primeiro


lugar, a União alega que a incompetência é absoluta, quando se vê
46 Competências da Justiça Federal Comum. São Paulo: Saraiva, 2001.
no caso um problema territorial de natureza relativa. Além disso, o
vício é arguido no corpo da contestação e não por meio de uma
exceção. Tudo isso poderia levar o candidato a simplesmente igno
rar tal fato, acreditando se tratar realmente de uma competência
absoluta, especialmente porque ao se falar em competência federal,
em regra o problema a ser analisado é de natureza realmente absolu
ta. Mas, nesse caso específico, não é e seria preciso tocar naquela
questão do uso das exceções ou da possibilidade de alegar a incom
petência relativa como preliminar da contestação.
Mas não é somente isso. Uma leitura incompleta do Código
de Processo Civil poderia levar o candidato a um equívoco, no sen
tido de que o art. 100 realmente determina a competência do lugar
do ato ou fato para a ação de reparação do dano, como é o caso pro
posto na prova do IX Concurso do TRF 4 a Região. Ocorre que há
uma exceção trazida pelo parágrafo único do mesmo artigo: “Nas
ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente
de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do
local do fato”.
Apenas com esses argumentos o candidato poderia resolver a
questão. Porém, em se tratando de um concurso para a magistratura
federal, a resolução mais completa do problema levaria ainda a outra
a
observação, conforme o julgado abaixo do TRF da I Região:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. COM
PLEMENTAÇÃO DE PENSÃO DE VIÚVA DE EXSERVIDOR
DA RFFSA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. POSSIBI-
LIDADE DE AJUIZAMENTO DA CAUSA NA SEÇÃO JUDICIÁ-
RIA DE MINAS GERAIS. ART. 109, § 2S, DA CF/88. AGRAVO
PROVIDO. 1. As causas Intentadas contra a União poderão ser
aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, na-
quela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu srcem à de-
manda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Fe-
deral. (Art. 109, § 2S, CF/88.) 2. No presente caso, tendo em vis-
ta que a União é parte na demanda proposta, podem os autores
ajuizar a ação na Seção Judiciária de Minas Gerais, nos termos
do artigo 109, § 2S, da CF/88. 3. Agravo a que se dá provimento.
(AG 2007.01.00.0050354/MG, Rei. Juíza Federal Sônia Diniz
Viana (conv), Primeira Turma, DJ de 13/08/2007, p.21)
Isso mesmo! Lembrou-se do § 2o do art. 109 da Constituição
Federal, soke o que ele diz? Sim, há uma diferença nesse ponto, em
se tratando de competência federal ou estadual. Nesta última, se for
uma ação <fe reparação de danos, a regra é o ajuizamento da deman
da no local dos fatos, com exceção para o caso de acidentes de trân
sito, nos quais cabe também o domicílio do autor46. Em sendo com
petência federal, o referido parágrafo da Constituição permite o
ajuizamento no domicílio do autor em qualquer hipótese, ainda que
não seja caso de acidente de trânsito.
Quei dizer então que se a Maria Barbosa mora em Salvador e
sofreu um acidente dentro do campus da Universidade Federal de
Goiás,
ela em Goiânia,
poderá ajuizar a por
açãoconta da queda mesmo,
em Salvador de um muro daláinstituição,
já que é sede de
vara da Justiça Federal? Não! O § 2o do art. 109 da Constituição
Federal é claro ao dizer que as causas contra a União Federal pode
rão ser ajuizadas no domicílio do autor, mas não as causas contra
outros entes de direito público, como autarquias e fundações.
Esses exemplos servem para demonstrar a importância de
um estudo sspecífico da competência da Justiça Federal para quem
vai enfrentar as provas dos TRF’s. Não adianta ficar só com o Códi
go de Processo Civil, pois há normas específicas e discussões juris-
prudenciaisque não dizem respeito à esfera estadual.

DISPOSITIVO: há alguns magistrados que redigem o dis


positivo fazendo referência às preliminares (“Em virtude do expos
to, ao tempo em que rejeito as preliminares, julgo procedente a pre
tensão formulada na inicial para...”), mas não vejo necessidade nis
so. Assim, se a alegação de incompetência absoluta for rejeitada (a
incompetência relativa é julgada na exceção), o dispositivo não
precisará tocar no assunto. Se a incompetência for reconhecida e o
caso for de declinação dos autos, então não estaremos diante de uma
sentença, mas de uma decisão interlocutória. É preciso observar,
porém, que o acolhimento de uma preliminar que tenha prejudicado

serNo âmbito dos


proposta juizados do
no domicílio especiais estaduais,
autor no também há
caso de qualquer uma
tipo de exceção,
reparaçãopois a ação
de dano pode
e não
apenas naqueles ligados ao trânsito, conforme diz o art. 4“, inciso III, da Lei n° 9.099/1995.
upenas parcialmente a resolução do mérito deve constar no disposi
tivo. Como exemplo, podemos citar a exclusão de um dos réus,
prosseguindo o julgamento quanto ao outro. Nesse caso, o melhor é
redigir o dispositivo fazendo referência a tal fato: “Diante do expos
to, acolho a preliminar de ilegitimidade passiva do INSS, razão pela
qual determino sua exclusão do processo, ficando o autor condenado
u pagar honorários advocatícios de R$ 500,00 à autarquia (CPC, art.
20, § 4o). Rejeitadas as demais preliminares, julgo procedente o
pedido inicial e, em conseqüência, condeno a União Federal...”.
Esse nãoaserá
nos que o caso quando
incompetência sejaoparcial),
problema forconvém
mas de competência
ressaltar (a me
a exce
ção para que fique registrada.

Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1® Região


Como é tradição em uma sentença para a magistratura federal,
a prova do XII Concurso do TRF da 1 a Região trazia uma preliminar
de incompetência do juízo, sob alegação de que deveria ser aplicado
ao caso o § 2fi do art. 109 da Constituição Federal. Assim diz tal nor
ma:
§ 2® - As causas intentadas contra a União poderão ser afora
das na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela
onde houver ocorrido o ato ou fato que deu srcem à demanda
ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
O próprio texto do parágrafo acima já faz cair por terra a argu
mentação da União Federal, já que a Constituição, conforme pacifica
do nos tribunais, permite ao cidadão ajuizar suas ações de competên
cia federal em mais de um lugar, à sua escolha. Por interpretação
mais do que razoável, permite-se, em havendo subseção judiciária
que abranja o domicílio do autor, que ele intente lá a ação. Essa é a
regra, ficando a possibilidade de ajuizar a demanda na capital como
uma excepcionalidade. Aliás, já se decidiu que, havendo subseção
judiciária, o autor deve obrigatoriamente prop or a ação lá, tendo como
alternativa apenas Seção Judiciária do Distrito Federal e não a capital
de seu Estado47
Também o INSS alegou incompetência do juízo, dizendo que o
vice-prefeito e os vereadores do Município C não o representam e,
para postularem em relação a suas contribuições pessoais, devem
ajuizar ação própria na Comarca do Município, conforme previsto no §
3a do art. 109 da CF/88.

47Nesse sentido, TRF da 1 a Região: AC 1998.38.00.005056-4/MG, Rei. Desembargadora


Federal Assusete Magalhães.
Esse parágrafo diz o seguinte:
§ 3S - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro
do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que
forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre
que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se veri
ficada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas se
jam também processadas e julgada s pela justiça estadual.
Para resolver a questão, o candidato poderia deixar o tema para
quando analisasse a legitimidade ativa do vice-prefeito e dos vereado
res, ou no momento da análise da possibilidade de litisconsórcio ativo
unitário. Porém, como a alegação de incompetência não é procedente,
o mais usual seria decidir tal preliminar juntamente com a outra anterior,
também sobre competência. E por que não há procedência em tal ale
gação?
uma Porque ejánão
faculdade estáuma
mais do que pacífico
obrigação que o § 3®Mais
para o segurado. transcrito trazo
uma vez,
que o legislador constituinte quis foi facilitar a vida do jurisdicionado, em
um momento em que a distribuição de varas federais pelo país era
absolutamente concentrada nas capitais. Assim, permitiu-se tal delega
ção de competência para a justiça estadual, bem mais próxima fisica
mente do cidadão. Porém, é uma opção que o segurado tem, não um
foro obrigatório, como há muito tempo já está pacificado na jurisprudên
cia48.
Além disso, o candidato poderia argumentar que, sendo a com
petência em questão relativa, o instrumento adequado seria a exceção
de incompetência, não cabendo ao réu questionar a competência do
juízo nas alegações da con testação. Por fim, se a ação era para com
pensação de contribuições previdenciárias, ainda caberia uma alegação
no sentido de que, relativamente ao período em questão, os autores
não eram
social, segurados
razão pela qualoua beneficiários do regimeas
eles não se aplicariam geral de previdência
disposições do § 3 S
do art. 109.
Enfim, argumentos não faltam para afastar essa preliminar le
vantada pelo INSS.

3 Inexistência ou nulidade da citação


Dois artigos do Código de Processo Civil merecem transcri
ção pelo didatismo que contêm, além da importância para todo ope
rador do Direito:

48 STJ: CC 2.186/RS, Rei. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO.


Art. 213. Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o
interessado a fim de se defender.
Art. 214. Para a validade do processo é indispensável a citação
inicial do réu.
§ 1o O comparecimento espontâneo do réu supre, entretanto, a
falta de citação.
§ 2o Comparecendo o réu apenas para arguir a nulidade e sen
do esta decretada, considerar-se-á feita a citação na data em
que ele ou seu advogado for intimado da decisão.

Sem que ocorra a citação do réu, a relação processual triangu


lar (autor-juiz-réu) não se forma, o que leva à nulidade de qualquer
sentença que obrigue a parte a uma ação ou omissão. Enfim, é preci
so se fazer a citação nos moldes da legislação que, por sua vez, traz
três modalidades: pelo correio, por oficial de justiça (pessoal ou por
hora certa) ou por edital.
Na prática cotidiana, vê-se um cuidado muito grande para não
dar andamento ao processo sem que tenha sido promovida a citação.
Os problemas costumam surgir normalmente quando se faz a cha
mada citação ficta, ou seja, por hora certa ou por edital. Isso porque
o réu tem o direito de receber a citação, em primeiro lugar, pelo
correio ou pessoalmente, por meio de oficial de justiça, conforme o
caso 49. Assim, citado por edital, por exemplo, é comum o réu vir ao
processo alegar que o autor sabia que ele havia mudado de endereço
e, portanto, não poderia o oficial de justiça ter tentado fazer a cita
ção em sua antiga moradia e, consequentemente, inválida é a citação
por edital.
Em concursos, às vezes também se depara com casos nos
quais se alega esse tipo de nulidade. Porém, o candidato também
deve saber que dificilmente essa preliminar será considerada proce
dente. Resta ver, então, qual é a razão da sua improcedência.
Ressalta Humberto Theodoro Júnior, com apoio no § Io do
art. 214 do CPC, que “a citação nula, ou mesmo inexistente, pode
ser suprida pelo comparecimento do réu ao processo. Mas este com
parecimento não dá eficácia à citação, mas sim a substitui e os efei
tos produzidos são do próprio comparecimento e só atuam a partir

49 Sugiro a leitura dos arts. 213 a 233 do CPC, que detalham o assunto.
dele, gerando inclusive reabertura do prazo de defesa. Em outras
palavras: o comparecimento do réu faz as vezes da citação válida”50
Esse é o caso mais comum que pode aparecer em um con
curso. Na proposta de sentença, você verá a arguição de nulidade
por ausência ou irregularidade de citação, mas seguida da contesta
ção apresentada pelo réu. A saída? Utilizar o art. 214 do CPC e
seguir adiante.
Porém, é bom estudar direitinho todas as modalidades de ci
tação, pois há casos em que a solução é um pouco diferente. Uma
execução comum de título extrajudicial não admite citação pelo
correio (art. 222, “d”), mas uma execução fiscal admite por expressa
o
disposição
ser essa umalegal (Lei que
questão n°. 6.830/80, art. 8aflições
cause grandes , I). Assim, apesar de para
em concursos não
a magistratura, é sempre bom estar por dentro de todas as exceções
às regras gerais sobre citação.
DISPOSITIVO: se não houve citação ou ela foi nula, o que
cabe é uma decisão interlocutória, “baixando os autos em diligên
cia”, para que a citação seja feita ou refeita, se não foi suprida pelo
comparecimento espontâneo do réu aos autos. Se a preliminar foi
rejeitada na sentença, o dispositivo não precisará fazer qualquer
referência a ela.

4 Conexão e continência
Segundo o Código de Processo Civil, “reputam-se conexas
duas ou mais ações, quando lhes for comum o objeto ou a causa de
pedir” (art. 103) e “dá-se a continência entre duas ou mais ações
sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o
objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras” (art. 104).
Essas duas questões podem levar ao que se convencionou
chamar de modificação de competência, ou seja, quando o magistra
do remete os autos para outro juízo, para que lá o julgamento seja
continuado.
Na prática cotidiana, essas questões costumam ser analisadas
antes do magistrado proferir a sentença. Em regra, se o réu alega
conexão com outra causa, que já teria prevenido o juízo, o problema
é solucionado na fase saneadora. Assim, se realmente houver cone
xão, o juiz proferirá uma decisão ao final da qual enviará os autos
50 Curso de Direito Processual Civil - Volume I. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 251.
para onde estiver o outro processo. Caso contrário, prosseguirá no
julgamento e, ao menos que o réu apresente sua irresignação por
meio do instrumento processual adequado, a questão estará preclusa
e não será necessário nem falar sobre ela na sentença, a não ser no
relatório.
Em uma prova de concurso, porém, o examinador poderá tra
zer o problema e dizer que ele ficou para ser solucionado na senten
ça. Aí, volto àquela dica que já dei anteriormente: a não ser em um
caso raro, a alegação de conexão ou continência não será proceden
te, ou a sentença terminaria por ali e a avaliação dos candidatos
ficaria prejudicada, visto que outros pontos importantes em uma
sentença deixariam de ser trabalhados.
DISPOSITIVO: valem as mesmas observações já feitas para
a alegação de nulidade ou inexistência de citação.

5 Perempção
Essa palavra para mim sempre soou meio esquisita, quase
como um palavrão. Mas, tecnicamente é algo simples e o próprio
Código de Processo Civil deixa claro o que é a perempção quando
diz: se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo por
não promover os atos e diligências que lhe competir, abandonando a
causa por mais de 30 (trinta) dias, não poderá intentar nova ação
contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretan
to, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito (arts. 268 c/c
267). Em melhores palavras, o autor é obrigado a promover o anda
mento do feito. Se não o fizer espontaneamente, o juiz normalmente
o intima para cumprir o ato. Não cumprido o ato e abandonada a
causa por mais de trinta dias, o processo é extinto sem resolução de
mérito, nos termos do art. 267, III, mas isso não o impede de ajuizar
novamente a causa, a menos que já existam três processos extintos
pelo mesmo motivo. Aí, ocorre a perempção e ele não mais poderá
ajuizar demanda com a mesma causa de pedir.
Nos concursos que fiz, nunca me deparei com uma alegação

dessas. Aliás,
cilmente até na prática
uma pessoa cotidiana
ajuíza três vezes isso
umaéação
meiopelos
raro,mesmos
porque difi
fun
damentos, abandonando-a seguidamente. Por conta disso, acho difí
cil o examinador trazer uma preliminar de perempção em uma prova
de concursos, a não ser que a hipótese abranja apenas parte do caso
que está sendo julgado agora. Se trouxer, e já partindo daquela pre
missa de que raramente a sentença terminará em tal preliminar,
cuide apenas para ver se o caso realmente se encaixa no que diz o
parágrafo único do art. 268 do CPC. Para tanto, faça as seguintes
indagações:
a) Os pedidos e causas de pedir eram os mesmos nas três a-
ções, ou seja, havia identidade entre elas? Lembre-se o que o
CPC fala em ação contra o mesmo réu e o mesmo objeto.
b) Todos os processos foram extintos por abandono do réu
ou algum deles foi extinto por outro motivo?
Com isso, creio que você poderá resolver esse tópico da sen
tença com facilidade. Isso, é claro, se você encontrar uma prova que
traga o problema da perempção.

MODELO DE DISPOSITIVO - PEREMPÇÃO


Em virtude do exposto, julgo extinto o processo sem reso
lução de mérito, nos termos do art. 267, inciso V, do Código de
Processo Civil.
Condeno o autor ao pagamento das custas finais e dos
honorários advocatícios, fixados em R$ 500,00 (quinhentos re
ais), nos termos do art. 20, § 4a, também do CPC.
P.R.I.

6 Litispendência e coisa julgada


Moacyr Amaral Santos destaca que “o problema da individu-
alização das ações é de suma importância, tanto do aspecto teórico
como do aspecto prático, pois que se traduz no da identificação das
ações, intimamente ligado a diversos e palpitantes temas processu
ais, quais sejam a coisa julgada, a litispendência, o pedido, a execu
ção e a própria conexão de ações, além de ser suscitado para o bom
entendimento de outras várias instituições processuais”51.
Também não precisamos de maiores divagações para definir
esses dois institutos52. Verifica-se a litispendência ou a coisa julga
51Primeiras linhas de direito processual civil -1a volume. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 159.
52 Se bem que, pela riqueza e até porque fazem uma ligeira crítica ao Código de Processo
Civil, convém
processo transcrever
considera-se as palavras
existente de Dinamarco
e, portanto, sobre
pendente. litispendência:
Pendente “Formado,
é algo que o
já foi constituí
do e ainda existe, não foi extinto. Processo pendente é processo em curso. Ele se considera
da, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada (art. 301, § Io).
Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma
causa de pedir e o mesmo pedido (art. 301, § 2o). Há litispendência,
quando se repete ação que está em curso; há coisa julgada, quando
se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba
recurso (art. 301, § 3o).
Resumindo: ações idênticas, correndo ao mesmo tempo - li
tispendência; ações idênticas, uma delas finda e com decisão de
mérito - coisa julgada.
A primeira coisa a se fazer diante de uma preliminar englo
bando qualquer um desses institutos, seja em uma prova de concur
so, seja em um processo real, é analisar se realmente há identidade
entre os elementos da ação. Para tanto, é preciso se perguntar:
a) Os pedidos são idênticos nas duas ações? Um mesmo aci
dente de trânsito pode gerar uma ação por danos materiais e
outra por danos morais, que terão as mesmas partes, causas
de pedir idênticas (embora se possa dizer que os fundamentos
jurídicos para uma indenização não sejam os mesmos da ou
tra) e, ainda assim, não são ações idênticas.
b) E a causa de pedir? Eu posso ajuizar duas ações de inde
nização por danos morais (mesmo pedido) contra a mesma
pessoa: a primeira, porque o cidadão proferiu ofensas contra
mim na imprensa; a segunda, porque me agrediu fisicamente
em uma festa, na frente de todos os convidados.
c) Por fim, as partes são as mesmas?
Na vida como ela é, apenas para lembrar a famosa expressão
de Nelson Rodrigues, as coisas costumam ser um pouco mais com
plicadas, pois o magistrado acaba tendo que pesquisar detalhada
mente os elementos da outra ação que não está com ele, às vezes
pendente desde o momento em que a petição inicial foi entregue ao Poder Judiciário (forma
ção) até quando se tornar irrecorrível a sentença que determinar sua extinção (trânsito em
julgado) - quer a extinção do processo se dê com ou sem julgamento de mérito. Mesmo o
processo suspenso existe e considera-se pendente. O estado de pendência do processo
chama-se litispendência (do latim litis-pendentia). Como entre os efeitos da existência do
processo está o de impedir a instauração válida e eficaz de outro processo para o julgamen
to deinc.
301, demanda
V e §§ idêntica (mesmas
1a a 3S), tem-se partes,demesma
a ilusão causa de pedir,
que litispendência seja mesmo pedido: CPC,
esse impedimento art.
- i.é,
o impedimento de outro processo válido, com a mesma demanda. Na verdade, litispendên
cia é o estado do processo que pende, não esse seu efeito. O próprio Código, cedendo ao
uso distorcido do vocábulo, diz que a citação válida induz litispendência (art. 219), com a
clara intenção de proibir que entre as mesmas partes seja proposta outra demanda com o
mesmo pedido e os mesmos fundamentos...”. Obra citada, volume II, p. 49.
tem que ler uma sentença já proferida, enfim, deve fazer um intenso
trabalho de pesquisa. Já em um concurso, essa pesquisa não será
necessária, mesmo porque inviável em uma prova. O examinador
certamente te dará os elementos necessários para descobrir se há
identidade entre as ações.
Quanto à coisa julgada, provavelmente não haverá em uma
prova de concurso, para não findar prematuramente a sentença do
candidato. Porém, é preciso estar atento. No caso do X Concurso do
TRF da Ia Região, por exemplo, cujo relatório elaboramos, imagine
que o examinador tivesse colocado na proposta de sentença a se
guinte preliminar da contestação da União Federal:
A ré alega também que foi ajuizada a ação n a. tal, junto à 24® Va
ra da Seção Judiciária do Distrito Federal - Juizado Especial Cí
vel, com idêntico pedido de indenização pelos gastos hospitala
res, sendo que a sentença julgando improcedente o pedido tran
sitou em julgado antes do ajuizamento da presente ação.

Nesse caso, cabe acatar a referida preliminar para julgar,


quanto ao pedido de indenização dos gastos hospitalares, extinto o
processo sem resolução do mérito, por ocorrência do fenômeno da
coisa julgada. Conclui-se, portanto, que esse instituto não se aplica
somente quando a ação for absolutamente idêntica a uma já finda,
mas também quando um ou mais pedidos já tiver sido julgado ante
riormente. Nesse caso, a extinção do feito sem resolução do mérito é
parcial.
Já em relação à litispendência, pode ser que ocorra e, muito
provavelmente, o caso que o candidato terá em mãos será o prevento
e, nesse caso, deverá ser extinto o outro processo. Para se chegar a
essa conclusão, porém, é preciso relembrar o que diz o Código de
Processo Civil sobre a prevenção, muito bem resumido por Elpídio
Donizetti: “Correndo em separado ações conexas perante juizes que
têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele
que despachou em primeiro lugar (art. 106). Tratando-se de compe
tência territorial distinta, a prevenção decorrerá da citação (art.
219)”53
Assim, verifique o que o examinador disse sobre as duas a-
Çfles. A outra corre em juízo que tem a mesma competência territo-
" Obra citada, p. 91.
Hal? Se afirmativo, deve :er sido despachada depois. Se corre em
Juízos com competências iistintas, o réu certamente terá sido citado
posteriormente à citação co caso analisado na prova. Além disso, é
importante verificar tambffn se não houve desistência no outro pro
cesso. Isso porque esse ouro pode até ser o prevento, mas, se houve
desistência já acolhida peb magistrado, não há que se falar em litis
pendência (afinal de conas, esse instituto só ocorre quando duas
ações idênticas tramitam to mesmo tempo, não quando uma já foi
extinta, especialmente porcausa da desistência).
Constatada a litispmdência e que o processo que você está
Julgando é o prevento, o qie fazer? Na minha opinião, o mais lógico
a fazer é rejeitar essa prelminar, fundamentando corretamente com
base nos dados fornecidos pelo examinador, que indicam ser o caso
sob análise o prevento. ABm disso, lá no dispositivo, na parte final,
eu colocaria uma das seguntes frases:
- Junte-se cópia da presente sentença aos autos n fi. (caso o
outro processo tenha sido distribuído ao mesmo juiz).
- Comunique-se o Juiz competente para o julgamento dos
autos n8. acerca da presente sentença, especialmente no que
diz respeito à ocorrência da litispendência, remetendo-lhe cópia
de seu inteiro teor (caso o outro processo tenha sido distribuído
a juiz distinto).

É apenas um procedimento de praxe, para que no outro pro


cesso conste a informaçãD sobre a litispendência. Isso porque não
são raros os casos em que o autor propõe a demanda mais de uma
vez, contando com a insuficiência de meios do Poder Judiciário para
detectar todos os casos de identidade entre demandas. Já verifiquei
isso principalmente em relação aos juizados e à justiça comum. O
cidadão vai lá no juizado, faz o pedido de pagamento de tal verba,
consegue a procedência dessa pretensão e recebe o valor (muitas
vezes, há até renúncia do que ultrapassar o limite do juizado, a fim
de que não ocorra problema de competência). Depois, ou até con-
comitantemente, mas com algum espaço de tempo, ajuíza a mesma
ação na justiça comum. Isso acontece muito quando a parte ré é um
ente público como a União Federal ou algum Estado, que respon
dem a milhares e até milhões de ações, sem meios necessários para
descobrir demandas idênticas. Por isso, o cuidado do magistrado em
informar no outro processo que já corre demanda idêntica àquela. E
o candidato, se dispuser informações para tanto e realmente for esse
o caso, poderá incluir tal comando na sentença, o que a deixará mais
completa.

MODELO DE DISPOSITIVO - COISA JULGADA


Em virtude do exposto, reconheço a existência de coisa
julgada, razão pela qual julgo extingo o proc esso sem resolu
ção de mérito, nos termos do art. 267, inciso V, do Código de
Processo Civil.
Condeno o autor ao pagamento das custas finais, que
deverão ser recolhidas no prazo de 15 dias (art. 16 da Lei n a.
9.289/96), e dos honorários advocatícios, fixados em R$
500,00 (quinhentos reais), nos termos do art. 20, § 4®, também
do CPC.
P.R.I.

7 Incapacidade da parte e processual


Ensina Caio Mário da Silva Pereira que, “se a capacidade de
direito ou de gozo é geminada com a personalidade de que natural
mente decorre, a capacidade de fato ou de exercício nem sempre
coincide com a primeira, porque algumas pessoas, sem perderem os
atributos da personalidade, não têm a faculdade do exercício pessoal
e direto dos direitos civis. Aos que assim são tratados pela lei, o
direito denomina incapazes. Como a incapacidade é uma restrição
ao poder de agir, deve ser sempre encarada stricti iuris, e sob a ilu
minação do princípio segundo o qual a capacidade é a regra e a
incapacidade a exceção”54.
A capacidade para os atos da vida civil é tratada nos arts. 3o a
5o do Código Civil, cuja leitura é obrigatória para todo operador do
Direito. Já a capacidade processual é tratada pelos arts. 7 o a 12 e,
embora tal instituto guarde muitas semelhanças e relações com a-
quele trazido pelo direito material, há diferenças que precisam ser
compreendidas, até mesmo porque existe ainda uma terceira expres
são que costuma freqüentar os livros de doutrina: capacidade de ser
parte.
Como esta obra pretende ser bastante prática, fiquemos mais
uma vez com as palavras didáticas de Elpídio Donizetti, que nos
54 Instituições de direito civil, Voi. I. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 166 e 167.
esclarece: “Como o processo é relação jurídica, aplicam-se a ele as
disposições do Código Civil acerca da personalidade jurídica. Tem
capacidade de ser parte, em regra, quem é sujeito de direitos e obri
gações na órbita civil, ou seja, as pessoas naturais e jurídicas (CC,
arts. Io e 40). Além dessas pessoas, reconhece-se a capacidade de
ser parte a certos entes despersonalizados55 Capacidade de ser parte
relaciona-se com a capacidade de gozo ou de direito. Capacidade de
ser parte não se confunde com a capacidade de estar em juízo (capa
cidade processual ou legitimação processual). Enquanto a primeira
relaciona-se com ea capacidade
adquirir direitos de gozo ou
contrair obrigações da de direito
vida (aptidão
civil), para
a segunda
guarda relação com a capacidade de fato ou de exercício (aptidão
para exercer por si os atos da vida civil). Os incapazes (CC, arts. 3o
e 4o) têm capacidade de ser parte, mas falta-lhes capacidade proces
sual ou capacidade de estar em juízo (legitimatio ad processum),
razão pela qual precisam ser representados ou assistidos pelos pais ou
representantes legais. Quem tem capacidade para estar em juízo tem
capacidade de ser parte, mas a recíproca não é verdadeira. Note-se
que os processualistas têm o péssimo vezo de dar diversos nomes a
um único ser. Capacidade processual (= capacidade de estar em juízo
= legitimatio ad processum), por exemplo, tem três denominações
distintas. Se podemos complicar, para que facilitar? Essa é uma das
56
razões por queúltimo
Esse a maioria dos manuais
comentário sãoa grossos
mostra razão dee complicados”
eu ser fã de tal
autor, sem desprezar os demais, é claro. Para mim, simplicidade
deve ser a meta de todo mundo que trabalha com o Direito, porque
os clientes finais da justiça em regra são pessoas que não precisam
de palavras complicadas, mas de soluções reais para seus problemas
de vida.

Sobre o assunto, complementa Elpídio Donizetti: “A capacidade processual não se restrin


ge aos entes personalizados (pessoas físicas ou jurídicas). A massa falida, o espólio, a
herança vacante ou jacente (arts. 1.819 e 1.822 do CC, e art. 12, III, IV e V, do CPC), a
massa do insolvente (art. 766, II), as sociedades sem personalidade jurídica (art. 12, VII) e o
condomínio
são pessoastêm capacidade
formais processual.
ou morais, dotadas Tais entes, segundo
de personalidade a doutrina
judiciária e a1/503).
(RSTJ jurisprudência,
Também
os órgãos públicos, como a Câmara de Vereadores, a Mesa das Casas Legislativas, o
Tribunal de Contas, o Tribunal de Justiça, etc., conquanto desprovidos de personalidade
jurídica, possuem capacidade processual para atuarem em defesa de suas prerrogativas”.
Obra citada, p. 28.
58 Obra citada, p. 27 e 28.
MODELO DE DISPOSITIVO - INCAPACIDADE
Em virtude do exposto, julgo extinto o processo sem reso
lução de mérito em relação à Câmara Municipal de Zucrilândia,
por incapacidade de ser parte e também processual, nos termos
do inciso IV, art. 267, do Código de Processo Civil. Condeno refe
rida autora a pagar honorários de sucumbência ao réu, fixados em
R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. 20, § 4 a, do CPC.
Julgo procedente o pedido feito pelo município de Hipinó-
polis e, em conseqüência, condeno o Instituto Nacional do Seguro
Social a restituir ao autor o valor das contribuições previdenciárias
patronais incidentes sobre o subsídio do prefeito municipal nos
anos de 1998 a 2002, corrigidas pelos mesmos índices da SELIC
desde cada recolhimento.
Réu isento de custas, nos termos da legislação vigente.
Condeno o INSS ao pagamento dos honorários advocatí-
cios, calculados em 10% (dez por cento) do valor a ser restituído,
já corrigido.
Sentença sujeita a reexame necessário.
P.R.I.

Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1a Região


A proposta de sentença cível do XII Concurso do TRF da 1 a Re
gião é muito boa para entender o que estamos falando. Naquela prova,
tivemos uma ação tratando de custeio previdenciário, com quatro auto
res distintos:
a) Município A, representado pelo seu Prefeito Municipal;
b) Câmara Municipal do Município B, representada por seu Pre
sidente;
c) Vice-Prefeito do Municíp io C;
d) Vereadores do Município C.
Como réus, tínhamos a União Federal e o INSS.
Os autores pediam a compensação dos valores recolhidos a títu
lo de contribuições previdenciárias incidentes sobre a remuneração dos
exercentes de mandato municipal, tendo em vista declaração de incons-
titucionalidade dessa exigência por parte do Supremo Tribunal Federal.
Essa era a questão de fundo, mas a prova trazia inúmeras preliminares
a serem apreciadas. De toda sorte, para compreender o que vamos
dizer adiante, inclusive no capítulo seguinte (sobre legitimidade de par
te), é preciso
patronal, que apenas relembrar
fica a cargo que existe ae contribuição
do empregador, previdenciária
a contribuição previdenciá-
ria do trabalhador, que é descontada da remuneração paga. _____
Pois bem, em primeiro lugar, a União Federal alegou ilegitimida
de passiva, porque a legitimação seria exclusiva do INSS. Já o INSS
alegou várias coisas, entre elas: a) o Município A não pode pleitear a
contribuição previdenciária pessoal dos ocupantes de cargo eletivo
municipal; b) a Câmara Municipal do Município B não representa o
Município nem seus vereadores; c) o vice-prefeito e os vereadores do
Município C não representam o município.
Há questões que envolvem a legitimidade de parte, a capacida
de para ser parte e a capacidade processual. Nós ainda estudaremos
no capítulo seguinte sobre a legitimidade da parte, razão pela qual
deixemos
como o itemde “a”
ladodaa contestação
análise da contestação
do INSS. da União Federal, bem
Inicialmente, analisemos a alegação de que a Câmara Municipal
do Município B não representa o Município nem seus vereadores. O
que diz o Código de Processo Civil a esse respeito? Vamos lá:
Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
I-(...)
II - o Município, por seu Prefeito ou procurador;
Então, já constatamos que é verdadeira a afirmação de que a
Câmara Municipal não representa o Município, porque cabe a este agir
em juízo em nome próprio, em defesa de seus próprios interesses,
representando por seu prefeito ou procurador. Mas, e se a Câmara
Municipal estiver pleiteando só as contribuições patronais que foram
pagas em relação à remuneração dos seus vereadores?
A transcrição de um julgado do Tribunal Regional Federal da 1 a
Região é bastante esclarecedora sobre o caso:
PROCESSO CIVIL. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. DETENTO-
RES DE MANDATO ELETIVO MUNICIPAL. VEREADORES. CÂMARA
MUNICIPAL. ILEGITIMIDADE ATIVA. Preliminar de ilegitimidade ativa
êcolhida. A Câmara Municipal não detém personalidade jurídica que a
possibilite figurar no polo ativo da ação. Apelo do INSS provido. Re-
messa oficial prejudicada. (AMS 2002.33.00.0032620/BA, Rei. Desem-
bargador Federal Hilton Queiroz, Quarta Turma, DJ de 27/11/2002,
p. 130)
Embora Elpídio Donizetti nos informe que por vezes é conferida
capacidade de ser parte às Câmaras Municipais, conforme transcrição
feita nas páginas anteriores, a verdade é que a regra é que tais institui
çõesésejam
tem o entedesprovidas deno
da federação, personalidade jurídica
caso o Município. própria,
E qual normapois
dizquem
isso?a
O art. 41 do Código Civil, que diz quem são as pessoas jurídicas de
direito público interno, entre as quais não se encontram as Câmaras
Municipais. Assim, falta à Câmara Municipal do Município B capacidade
de ser parte, pois só a tem, em regra (que neste caso específico não é
excepcionada pelo art. 12 do CPC), quem tem capacidade para os atos
da vida civil.
Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que “em
nossa organização jurídica, as Câmaras Municipais não têm personali
dade jurídica. Têm elas, apenas, personalidade judiciária, cuja capaci
dade processual é limitada para demandar em juízo, com o intuito único
de defender direitos institucionais próprios e vinculados à sua indepen
dência e funcionamento; (...) a ação movida pela Câmara Municipal é
carente de condição processual para prosseguir, ante a sua absoluta
ilegitimidade ativa”57
Veja que o referido julgado fala que a entidade em questão care
ce de capacidade processual, mas na verdade ela carece também de
capacidade de ser parte (exceto nos casos estritos referidos no próprio
julgamento acima) .
É em relação a isso que o candidato deveria estar absolutamen
te atento. Por outro lado, o art. 301 do CPC fala que cabe ao réu, antes
de discutir o mérito na contestação, alegar a incapacidade da parte,
sem especificar se esta é processual ou a capacidade de ser parte
propriamente dita. Mas tal fato não influi nada, pois as duas devem ser
levantadas pelo réu e podem ser analisadas inclusive de ofício pelo
magistrado, pois se tratam de verdadeiros pressupostos processuais.
No caso sob análise, verificamos a ausência de capacidade de ser
parte da Câmara Municipal do Município B, mas poderia ser o caso do
examinador falar em uma incapacidade processual, caso o Município A
viesse a juízo sem estar representado por seu prefeito ou procurador.
Ora, o CPC é claro (art. 12) ao dizer que o Município não atua em juízo
sozinho, mas por meio de um representante, assim como ocorre com
todas
não sãoas dotadas
pessoasde
não naturais (empresas,
capacidade autarquias)
para o exercício e asdanaturais
dos atos que
vida civil,
como uma criança que pleiteia alimentos do pai, devendo nesse caso
estar representada pela mãe ou por quem lhe fizer as vezes. Assim,
estaríamos diante não de um caso de incapacidade de parte, mas de
defeito de representação.
Voltando à prova do XII Concurso do TRF da 1a Região, temos
ainda a alegação do INSS no sentido de que o vice-prefeito e os verea
dores do Município C não representam o Município. Realmente, como já
vimos anteriormente, este ente da federação é representado por seu

57 REsp 946.676/CE.
58 Como exemplo dessa atuação excepcional em juízo das Câmaras Municipais, podemos
citar o RMS 12.068/MG julgado pelo STJ, que assim consignou: "O Município tem personali
dade jurídica e a Câmara de Vereadores personalidade judiciária (capacidade processual)
para a defesa dos seus interesses e prerrogativas institucionais. Afetados os direitos do
Município e inerte o Poder Executivo, no caso concreto (municipalização de escolas estadu
ais), influindo
tação ossubjetivo
de direito denominados direitos-função
público, (impondo
legitimando-se deveres),
a Câmara nãopara
Municipal há negar a manifes
impetrar manda
do de segurança”.
prefeito ou procurador. Porém, não precisaríamos descer a esses deta
lhes, visto ser possível entender a partir do enunciado da questão que
eles pleitearam a compensação das contribuições previdenciárias que
foram descontadas de suas remunerações, ou seja, não pediram nada
que fosse de direito do Município C em si. Logo, eles têm legitimidade,
capacidade de serem partes e capacidade processual.
Por sua vez, é preciso perguntar, apesar dessa questão não ter
sido levantada no enunciado da prova: e o INSS, ele tem capacidade de
ser parte ou mesmo processual? Sim. O Imstituto Nacional do Seguro
Social é uma autarquia, sendo esta considerada uma pessoa jurídica de
direito público interno (Código Civil, art. 41, IV). No caso, o INSS ape
nas é representado
vigente, porparte
mas pode ser seusem
procuradores,
juízo. de acordo com a legislação
Em resumo, fique bem atento ao enuinciado da prova. Em geral,
quase sempre há uma preliminar de ilegitimidade, tema que veremos no
próximo capítulo. Nos concursos estaduais,, especialmente em provas
que envolvam direito de família, o candidato também poderá encontrar
questões ligadas à capacidade processual., como uma ação em que
uma criança pleiteia, em nome próprio e sem representação por parte
da mãe, uma pensão alimentícia. Já a capacidade de ser parte é tema
mais raro, mas às vezes aparece, como ocorreu nessa prova do XII
Concurso do TRF da 1 a Região.______________________________

8 Legitimidade para a causa


a) As condicões de acão
Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legi
timidade (CPC, art. 3o). Ao lado da possibilidade jurídica do pedido,
essas são as três condições clássicas da ação adotadas pela doutrina.
Sobre o tema “condições de ação”,, trago as interessantes pa
lavras de Cintra, Dinamarco e Grinover: “Embora abstrato e ainda
que até certo ponto genérico, o direito de ação pode ser submetido a
condições por partte do legislador ordinário. São as denominadas
condições de ação (possibilidade jurídica, interesse de agir, legiti
mação ad causum)., ou seja, condições para que legitimamente se
possa exigir, na espécie, o provimento jutisdicional. Mas ainda que
a resposta do juiz sse exaura na pronúncia da carência da ação (por
que não se configuraram as condições de ação), terá havido exercí
cio
Hão da função jurisdlicional.
condições de e;xistênciaPara uma corrente,
da própria as condições
ação; para da ação
outra, condições
para o seu exercícic»”59
** Obra citada, p. 258.
Além da lição de Cintra, Dinamarco e Grinover, entendo per
tinente transcrever mais uma, dessa vez da autoria solitária de Di
namarco, tratando das condições de ação. É uma visão muito inte
ressante porque, em regra, especialmente por se encontrarem no
âmbito das preliminares, tendemos a ver as condições de ação como
meras questões processuais, quando representam mais do que isso.
Assim ensina Dinamarco: ‘Todas as três condições de ação consti
tuem faixas de estrangulamento entre o direito processual e o subs
tancial, sabido que é sempre da situação da vida lamentada pelo
demandante, em associação com o resultado jurídico-substancial
pretendido, que resultam a possibilidade jurídica do pedido, o inte
resse
campodedoagir e a legitimidade
direito de parte.constituem
processual, porque Essas condições situam-se
requisitos no
para que
o processo possa prosseguir e, consequentemente, para que possa o
juiz vir a ter o dever de prover sobre o mérito; mas, em cada caso, é
quase exclusivamente no direito material que se vão buscar elemen
tos para aferir se elas estão presentes ou não”60.
Ausente qualquer uma das condições de ação, ao magistrado
cabe desde logo extinguir o feito ou parte dele (quando existam
vários autores ou quando os pedidos forem plurais), conforme o
caso. Embora cada vez mais a chamada teoria da asserção 61 ganhe
relevo entre processualistas, vejo que a prática corrente ainda é a da
extinção pura e simples por ausência de uma das condições da ação,
ideia essa compartilhada por Dinamarco e com a qual concordo
plenamente. Se não há legitimidade, se falta interesse de agir ou se o
pedido é juridicamente impossível, não se deve considerar tais ques
tões como de mérito (ainda que tenham fundo material, conforme
visto no parágrafo anterior), devendo a questão ser decidida logo nas
60 Instituições..., Volume II, p. 300.
61 Embora este não seja um livro de discussões aprofundadas sobre doutrina processualista,
entendo relevante explicar o tema, visto ser algo novo e com grandes chances de ser cobra
do em uma prova de concurso. Dinamarco explica: “Goza no entanto de crescente prestigio
a teoria da asserção, que afirma o contrário. Segundo seus seguidores, as condições da
ação deveriam ser aferidas in statu assertionis, ou seja, a partir do modo como a demanda é
construída - de modo que se estaria diante de questões de mérito sempre que, por estarem
as condições corretamente expostas na inicial, só depois se verificasse a falta de sua con
creta implementação”. Dinamarco repudia veementemente referido pensamento, afirmando
que “uma condição da ação é sempre uma condição da ação e por falta dela o processo
deve ser extinto sem julgamento do mérito, quer o autor já descreva uma situação em que
ela falte, quer dissimule a situação e só mais tarde os fatos revelem ao juiz a realidade. Seja
ao despachar a petição inicial, ou no julgamento conforme o estado do processo ou em
qualquersentença
proferir outro momento
- o juiz éintermediário do procediment
proibido de julgar o - ou mesmo
o mérito quando afinal,de
se convence noque
momento de
a condi
ção falta” (Instituições..., Volume II, p. 316/317).
preliminares - isso quando não tiver sido decidida no recebimento
da inicial, após a contestação, no saneamento do processo ou em
qualquer momento antes da sentença - o que não ocorrerá nos con
cursos, é óbvio, mas que pode e costuma ocorrer na prática forense
cotidiana.
Pois bem, das três condições de ação, talvez a mais vista tan
to na prática cotidiana dos tribunais quanto nas provas de concurso
seja a alegação de que a parte não tem legitimidade para propor ou
responder pela causa. No polo passivo, então, essa é a preliminar
campeã de audiência - às vezes, em caso de litisconsórcio passivo,
todos os réus levantam a voz para dizer: eu não tenho nada a ver
com isso! Pegue-se como exemplo a prova do XLI Concurso do
TJ/RJ, na parte de direito administrativo, em que havia uma propos
ta de sentença relativa à responsabilidade estatal na qual tanto o
Estado do RJ quanto o Município alegaram falta de legitimidade
para responderem pela demanda.
Mas, quem é que tem legitimidade? Quem responde é o pró
prio Código de Processo Civil:
Art. 6fi Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio,
salvo quando autorizado por lei.

Nesse sentido, “em princípio, é titular de ação apenas a pes


soa que se diz titular do direito subjetivo material cuja tutela pede
(legitimidade ativa), podendo ser demandado apenas aquele que seja
fí)
titular da obrigação correspondente (legitimidade passiva)” . Como
o tema é bastante extenso e despenca em provas de concursos, va
mos dividi-lo em três partes: legitimidade ordinária, extraordinária e
em mandado de segurança.

b) Legitimidade ordinária
Para resumir, fala-se em legitimidade ordinária para se referir
àquela que tem o próprio detentor do direito. Se eu sou o proprietá
rio de um veículo e alguém bate no meu carro, tenho legitimidade
ativa ordinária para ingressar com uma ação contra o causador do

Cintra, Dinamarco e Grinover. Obra citada, p. 260.


acidente. Por outro lado, esse causador do acidente terá legitimidade
passiva para responder pela ação.
E quem não teria? Mantendo o caso do acidente, imaginemos
que eu tenha que viajar para a Europa, onde passarei dois anos fa
zendo um curso de doutorado. Como não terei tempo de ajuizar e
acompanhar a ação, meu irmão faz isso por mim, agindo em nome
próprio. Ele é o dono do veículo? Não. Ele estava na direção no
momento do acidente? Também não. Então, o que é que ele tem a
ver com tudo isso? Nada. Não é detentor de direito algum em rela
ção a esse caso e, por isso mesmo, não pode ajuizar ação para pedir
indenização por conta dos estragos no meu carro . Da mesma forma
ocorre se eu colocar no polo passivo a pessoa que estava meramente
pegando carona com o dono do outro veículo, que estava na direção.
A menos que eu alegue que esse carona foi responsável de alguma
forma pelo acidente, ele não terá legitimidade alguma para compor o
polo passivo.
É muito importante destacar que ter legitimidade para pleitear
o direito não significa, em absoluto, realmente ter direito ao acolhi
mento da pretensão. Como proprietário do veículo abalroado pelo
caminhão da Transportadora X, eu tenho legitimidade para acionar
judicialmente a empresa. Porém, isso não quer dizer que eu real
mente tenha direito à indenização em si, pois pode ficar provado no
processo que eu é que causei indevidamente o acidente. Essa ideia
deve ficar bem clara na mente de quem está operando o direito,
especialmente de quem está julgando ou fazendo uma prova de sen
tença. Não é raro pegar um caso em que o réu alega não ser parte
legítima porque não foi ele que causou o acidente, e sim o autor da
ação. Algo semelhante se viu no IX Concurso do TRF da 4a Região,
que trazia uma proposta de sentença na qual uma pessoa havia fale
cido em decorrência de um acidente automobilístico causado por um
preso em fuga. A União Federal alegou ilegitimidade passiva porque
o preso estaria recolhido em um presídio estadual (o que levaria à
legitimidade do Estado). Porém, como contava nos autos, no mo
mento do acidente o preso fugia da Polícia Federal, que tinha sido
designada para fazer a sua condução a um interrogatório judicial.
Logo, há um elo entre o fato e a União Federal, razão pela qual não

63 Nesse caso, meu irmão poderia pedir em nome próprio indenização por danos morais.
»e trata de uma preliminar de ilegitimidade passiva, mas de uma
questão que envolve o próprio mérito da causa.
Qual a saída? Ainda nas preliminares, faça referência a essa
alegação e explique, resumidamente, que não se trata propriamente
de um caso de ilegitimidade, mas do mérito em si, razão pela qual a
alegação será analisada após o julgamento das preliminares.
Voltemos aos casos práticos.
Outro problema de alegação de ilegitimidade ativa foi levan-
a
tudo
uma na prova
ação do IX por
ordinária Concurso do qual
meio da TRFadaempresa
5 Região. Tratava-sepor
B, sucessora de
Incorporação da empresa A, postulava a restituição do valor pago a
título de IPI por esta última. Não era um caso dos mais difíceis, ao
contrário, era bastante simples. Imagino que o examinador queria
apenas ver a atenção do candidato, se ele iria se esquecer de exami
nar ou não essa preliminar, bem como saber se ele tinha a mínima
noção de direito comercial. Bastava se lembrar do disposto no art.
1.116 do Código Civil, que diz:
Art. 1.116. Na incorporação, uma ou várias sociedades são ab
sorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obri
gações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os
respectivos tipos.

Nós não estamos falando que tem legitimidade ativa ordinária


aquele que é o detentor do direito? Pois então, se a incorporadora
sucede a incorporada em todos os direitos e obrigações, ela é titular
do direito e legitimada a pleiteá-lo em juízo.
Nesses dois exemplos, vimos que no primeiro a alegação tem
cabimento parcial; na segunda, deve ser rejeitada. É aquela velha
história que eu repito: uma preliminar, ao menos em prova de con
curso, pode ser até procedente, mas não pode afetar toda a causa a
ponto de finalizar a sentença do candidato por ali.
Seguindo adiante, temos o questionamento de legitimidade
que mais cai em concursos: a passiva ordinária. Pegue as propostas
de sentenças
razão. transcritas
Por isso, é muitoneste livro e estar
importante você verá que eudas
por dentro estou com a
questões
mais atuais sobre legitimidade passiva para não ter problemas na
hora da prova.
Além disso, é de se destacar um erro muito comum na praxe
cotidiana e que os examinadores sempre levam para as provas, espe
cialmente da magistratura federal. É a já citada personalidade jurídi
ca própria das autarquias e fundações públicas, além das empresas
públicas, normalmente ignorada pelos autores, que acabam por in
cluir a União Federal no polo passivo - às vezes sozinha, às vezes
em conjunto com a autarquia.
Peguemos como exemplo a prova do X Concurso do TRF da
2a Região. Vamos transcrever parte do enunciado, para clarear o
caso:
João postula indenização em face da União Federal e do Institu
to
rioNacional
ajuizada do
emSeguro Social
10/10/2004, na- Justiça
INSS, em ação sob
Federal o rito ordiná
do Estado do Rio
de Janeiro, por intermédio da qual veicula sua pretensão de ob
ter indenização por danos materiais, no valor do somatório dos
vencimentos e dos proventos que receberia até alcançar a idade
correspondente à sua expectativa de vida, e morais, no valor de
R$ 100.000,00 (cem mil reais), em decorrência da anulação, em
25/07/2004, do ato de sua nomeação, ocorrida em 08/05/2002,
para o cargo de provimento efetivo de Analista Previdenciário do
INSS. Requer, ainda, que a União seja condenada a promover a
sua reintegração no cargo anteriormente ocupado de Agente de
Segurança do Tribunal Regional Federal da 3a Região, com sede
na Cidade de São Paulo (SP), do qual foi exonerado, a pedido,
após 11 (onze) anos de efetivo exercício, para ocupar o novo
cargo.

Em síntese, João havia pedido exoneração do cargo de Agen


te de Segurança para tomar posse no cargo de Analista Previdenciá
rio do INSS, o que realmente ocorreu. Porém, tempos depois sua
nomeação para o cargo de Analista foi anulada, porque não precedi
da de concurso público, e ele ficou sem emprego algum. São dois
pedidos então: indenização e reintegração ao cargo de Agente de
Segurança.
Nesse caso específico, a causa dé pedir da indenização é o ato
de anulação da nomeação, de atribuição do INSS. Pergunto: o INSS
tem personalidade jurídica própria e está apto a responder judicial
mente pelos seus atos? Sim. Dessa forma, ao menos quanto ao pedi
do de indenização, entendo que não é possível falar em legitimidade
pussiva da União Federal. E aqui é um caso mais interessante ainda,
porque em princípio da União não é parte legítima em relação a um
dos pedidos, mas o é em relação ao outro, posto que o Tribunal
Regional Federal da 3a Região, ao contrário do INSS, não é pessoa
Jurídica de direito público interno e, por isso, a União Federal é que
responde pelo pedido de reintegração ao cargo de Agente de Segu-
runça.
Poderíamos formular, então, a seguinte argumentação na sen
tença:
Ilegitimidade passiva da União Federal
Argumenta a União Federal ser parte ilegítima no feito em rela
ção ao pedido de indenização. Razão lhe assiste nesse ponto.
Com efeito, a causa de pedir das indenizações está ligada ao ato
de anulação da nomeação do autor para o cargo de Analista
Previdenciário do INSS. Assim, percebe-se que a União Federal
não praticou tal ato, cabendo analisar se, ainda assim, poderia
responder por suas conseqüências.
O Decreto-Lei na. 200/67, em seu art. 5fi, define a autarquia co
mo sendo o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade
jurídica, patrimônio e receita próprios, para execu tar atividades
típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu me
lhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentra
lizada. Assim é o INSS, uma autarquia federal com personalida
de jurídica própria, diferente da União Federal.
Em razão dessa personalidade distinta, forçoso é concluir que a
União Federal carece de legitimidade para compor a lide no to
cante ao pedido de indenização, como bem arguido em sede de
preliminar. Quanto ao outro pedido, de reintegração no cargo de
Agente de Segurança do TRF da 3 a Região, por não ter o Tribu
nal personalidade própria e distinta, não há incorreção na inclu
são da União como ré na ação, devendo permanecer no feito pa
ra análise do mérito.
Assim, declaro extinto o feito em relação à União Federal, exclu
sivamente no tocante ao pedido de indenização, por ilegitimida
de passiva.

Conforme
exigível, quando se
forviu acima,
o caso é perfeitamente
- promover possível
a extinção parcial- do
e, aliás,
feito
lem resolução de mérito. Uma sentença não tem uma solução única
para todos os pedidos: cada um pode ser considerado procedente ou
improcedente, cada parte por ser considerada legítima ou ilegítima
para esse ou aquele pedido.
Ainda quanto à personalidade jurídica de outros entes além
da União Federal, Estados e Municípios, é saudável recordar que as
agências reguladoras criadas nos últimos anos, como a ANTT,
ANP64, ANATEL e outras são consideradas autarquias e, por conta
disso, também têm personalidade jurídica própria. Essa questão caiu
na sentença do XII Concurso do TRF da 4a Região e provavelmente
voltará em outras provas, lembrando que já há Estados que têm suas
próprias agências reguladoras65, razão pela qual o problema pode
aparecer também nas provas da magistratura estadual.

Por fim,
tura federal queresta alertar a quem
as empresas pretende
públicas uma vagade
e sociedades na economia
magistra
mista também têm personalidade jurídica própria. No XI Concurso
do TRF da 4a Região, por exemplo, a União Federal alega sua ilegi
timidade passiva sob o argumento de que quem deveria responder
pelos danos seria o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, uma em
presa pública federal. O que não se pode esquecer, apesar de não ser
o caso dessa proposta de sentença, é que as sociedades de economia
mista não são julgadas ordinariamente66 pela Justiça Federal.
Conforme se vê, o tema da legitimidade ordinária ativa ou
passiva é por demais recorrente na prática cotidiana e nos concursos
para que o candidato deixe-o de lado. É preciso um estudo aprofun
dado não só das questões processuais, mas do direito material ligado
aos casosreguladoras.
agências em evidência na jurisprudência, como esse último das

64 Assim já ficou reconhecido na AC 2000.01.00.021847-8/AP, julgada pelo TRF da 1*


Região, na qual ficou consignado: “A execução da aludida Portaria, que consubstancia
política econômica do Governo, está afeta à Agência Nacional de Petróleo, autarquia com
personalidade jurídica e representação próprias, parte efetivamente legitimada para o pro
cesso”.
65 Um bom exemplo é a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte
do Estado de São Paulo - ARTESP, autarquia de regime especial, vinculada à Secretaria de
2
Estado
66 dos Transportes
Extraordinariame de um
nte, em Sãocaso
Paulo,
decriada pela Lei passivo
litisconsórcio Estadualnecessário,
Complementar n .914/2002.
poder-se-ia ver uma
sociedade de economia mista como o Banco do Brasil sendo julgada na Justiça Federal.
MODELO DE DISPOSITIVO  ILEGITIMIDADE PASSIVA (XI
Çoncurso do TRF daa 4Região)
Em razão do exposto, indefiro a nomeação da lide aos médicos
f determino a exclusão da União Federal do processo, em virtude de
tu» manifesta ilegitimidade passiva. Em relação ao réu Hospital das
Clinicas de Porto Alegre, julgo parcialmente procedente a lide, com
nsolução de mérito, para condenar o réu ao pagamento de:
a) indenização por danos morais no montante de R$ 100.000,00
(cem mil reais), a serem divididos entre os dois autores, montante que
tofrerá correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês, a
ptrtir desta sentença;
b) despesas com medicamentos e funeral, em valores a serem
dtfinidos em liquidação de sentença e sobre os quais incidirá correção
monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês, desde cada um dos
pagamentos de tais despesas;
c) indenização mensal no montante de 2/3 (dois terços) de 2
(dois) salários mínimos, desde quando a vítima completaria 18 anos até
I Idade de 25 anos, a partir do que a indenização mensal será reduzida
p»ra 1/3 (um terço) de 2 (dois) salários mínimos, subsistindo tal obriga
çio até quando a vítima completaria 65 anos ou os autores falecerem, o
que ocorrer primeiro;
d) honorários advocatícios calculados em 5% (cinco por cento)
tio valor da condenação;
Deixo de condenar o réu a ressarcir as custas processuais, ten-
do em vista serem os autores beneficiários de Justiça Gratuita.
Sentença não sujeita ao reexame obrigatório, que somente se
nplica aos entes da Federação, suas autarquias e fundações.
P.R.I.

Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1S Região


Na sentença relativa ao XII Concurso do TRF da 1 a Região, o
(•ma da ilegitimidade é bastante explorado.
Do lado ativo, alega-se primeiramente que o Município A não
poderia pleitear nada em relação à contribuição pessoal dos ocupantes
de cargo eletivo municipal. O INSS está certo em tal alegação? Ainda
veremos os casos de legitimação extraordinária, mas já adianto que
•ntre eles não figura o Município. Se nós lembrarmos o que foi dito no
oapítulo anterior, veremos que as contribuições previdenciárias deste
Osso específicomais
uma linguagem subdividem-se emque
simplificada patronais
poderiaecausar
dos empregados, em
infarto nos espe-
Qlalistas na área. Mas tudo bem, o importante é a compreensão do
Osso. Assim, há uma contribuição cujo sujeito passivo é o empregador e
Outra cujo sujeito passivo é o empregado (utilizando o termo em sentido
amplo). Quem é que tem direito de pedir a restituição ou a compensa
ção de alguma coisa que pagou indevidamente? Em regra, quem esta-
va obrigado ao pagamento. E cuem é que estava obrigado ao paga*
mento no nosso caso? O Município A deveria pagar a sua parte, nor*
malmente calculada em 20% da remuneração total do ocupante de
cargo eletivo; esse ocupante, por sua vez, seja ele o prefeito, o vice-
prefeito ou os vereadores, deveria também pagar a sua parte, em regra
com limite máximo de 11% de sua remuneração, ficando o Município A
responsável apenas por fazer a retenção e recolher esse valor aos
cofres públicos. Mas, ao que tudo indica pelo texto da questão, o Muni
cípio A pleiteia a compensação de todos os valores pagos a título de
contribuição previdenciária, seja da sua parte, seja da parte dos ocu
pantes de cargo eletivo. Pergunto: ele tem legitimidade para tanto?
Não, mas apenas para o que ele recolheu na qualidade de sujeito pas
sivo direto ou de contribuinte, como quiser.
E o vice-prefeito e os vereadores do Município C, eles têm legi
timidade para pedir a compensarão dos valores? Se for observado no
texto da questão que eles pediram a compensação em nome próprio,
pressupondo-se que queriam eitão apenas a compensação do que
recolheram também na qualidade de sujeitos passivos diretos, então
eles têm legitimidade ativa ordinária, pois são detentores do direito
alegado.
Ainda no nosso caso de estudo, a União Federal alegou que não
era parte passiva legítima, já que as contribuições previdenciárias esta-
riam a cargo do INSS, uma autarquia com personalidade jurídica pró
pria, como já vimos antes. Não era uma questão simples de se resolver,
porque poucos meses antes da prova ser aplicada, havia sido editada a
Lei na. 11.457/2007, criando a Receita Federal do Brasil e transferindo
para
as ela a competência
atividades relativas àpara planejar,
tributação, executar, acompanhar
fiscalização, arrecadação,e cobrança
avaliar
e recolhimento das contribuições previdenciárias (art. 29). Isso sem
contar que, já havia algum tempo, o INSS deixara de ser responsável
pela parte do custeio previdenciário, que passara à atribuição da Secre
taria de Receita Previdenciária, ou órgão do Ministério da Previdência.
De toda sorte, quando as contribuições em questão, objeto do pedido
de compensação, haviam sido 'ecolhidas, a atribuição ainda era do
INSS...
E aí, o que fazer? Boa pergunta, cuja resposta dependeria não
somente de um conhecimento de todas essas nuances, mas também
de uma boa fundamentação por parte do candidato, já que não se trata
de uma questão absolutamente pacífica67.____________________

Apenas para não deixar o leitor sem una orientação sobre essa questão, indico que o
examinador que redigiu
bargador Luciano a proposta
Tolentino Amaral,de sertença
havia cíveltempos
sroferido do XII do TRFada
antes 1* Região,
seguinte Desem
decisão: PRO
CESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO - RECOLHIMENTO DE CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS -
Por outro lado, não seria um absurdo jurídico dizer que a União
'•deral é parte passiva legítima, tendo em vista o pedido de compen-

!
ição das contribuições com débitos administrados por um órgão seu,
0 caso a Secretaria da Receita Federal. Há, pois, um pedido concreto
ontra a União, embora se possa argumentar não ser ela a administra-
ora das contribuições. O fato da compensação poder ou não ser feita
om créditos da Receita Federal não é matéria de preliminar, mas diz
IBpeito ao próprio mérito. Assim, como dito anteriormente, poderia o
'Otndidato manter a União no polo passivo, sob o argumento de que,
fnesmo não administrando as contribuições, havia um pedido dirigido
diretamente contra ela, deixando para resolver no mérito acerca da
possibilidade de utilização dos débitos na Receita Federal para com
pensação.
Ressalto, como dito, que essa é uma das interpretações possí
veis para o caso. Não há certeza jurídica absoluta, tanto que a socieda
de precisa de juizes para decidir infinitas questões. Entre os juizes,
também não há unanimidade, tanto que foram criados os tribunais não
•ó para dar às partes uma segunda opinião, mas também para tentar
pacificar os entendimentos jurisprudenciais. Só que... os tribunais tam
bém não primam sempre pela coerência, havendo divergências entre
turmas, seções e por aí afora. Ponto final mesmo quem dá é só o STF,
• isso também é relativo, pois a obrigatoriedade de seguimento da
decisão só ocorreria nos casos de súmula vinculante ou controle con
centrado. Por fim, ainda que exista uma súmula vinculante, a própria
legislação prevê a sua reforma, o que às vezes acontece no STF com
•eus julgados, quando sua composição muda substancialmente - basta
lembrar o caso dos depósitos recursais em processos administrativos.
Em resumo, uma prova de sentença nunca é fechada, aceitando
mais de uma solução, a menos que o examinador seja radical e só
•ceite o ponto de vista dele. O que o candidato não pode deixar de lado
é a coerência e a boa fundamentação, além de não cometer aberrações
jurídicas.___________________ ______________________________

ILEGITIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM" DO DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE FISCA


LIZAÇÃO DA RECEITA PREVIDENCIÁRIA E DELEGADO DA RECEITA PREVIDENCIÁ-
RIA: LEGITIMIDADE DO CHEFE DA SECRETARIA DA RECEITA PREVIDENCIÁRIA EM
OOIÁS - SEGUIMENTO NEGADO - AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. O art. 8‘,
Inciso I, da Lei n s 11.098/2005 criou a Secretaria da Receita Previdenciária, órgão da estrutu-
r» do Ministério da Previdência Social. 2. Como a autoridade coatora é o chefe da Secretaria da
Receita Previdenciária em Goiás, órgão ligado ao Ministério da Previdência Social, a União é
que é parte legítima para agravar, e não o INSS. 3. Agravo interno não provido. 4. Peças
liberadas pelo Relator, em 24/10/2005, para publicação do acórdão. (AGTAG
2005.01.00.053765-1/MG, Rei. Desembargador Federal Luciano Tolentino Amaral, Sétima
Turma, DJ de 09/12/2005, p. 122). Por essa decisão, talvez se pudesse concluir que o exami
nador desejava do candidato que ele, ao invés de acatar a alegação de ilegitimidade passiva da
União Federal, declara-se a ilegitimidade passiva do INSS - tendo-se em mente se tratar de
uma condição
partes. de ação
De qualquer que o magistrado
maneira, pode
especialmente examinar
porque independentemen
no caso te da oalegação
do concurso havia das
problema das
oontribuições terem sido recolhidas quando a competência ainda era do INSS, e mesmo porque
0 examinador não a preliminar de incompetência da Autarquia Previdenciária, continuo em
dúvida acerca do que ele esperava do candidato quanto a esse ponto. Em casos como esses,
deve-se esmerar ainda mais na fundamentação de sua decisão, para que o examinador a
ícate, ainda que não esteja em consonância com aquilo que ele esperava.
c) Legitimidade extraordinária
Para explicar o tema, nada melhor do que recorrer a Hugo
Nigro Mazzilli, que assevera: “A legitimação exraordinária é a
possibilidade de alguém, em nome próprio, deferder interesse a
Iheio. Chama-se essa legitimação de extraordinárii por ser excep
cional e depender de expressa autorização legal. Qiando ela ocorre,
configura-se verdadeira substituição processual, inconfundível com
a representação. Na representação processual, alguém, em nome
alheio, defende o interesse alheio (como é o caso co procurador ou
mandatário); já na substituição processual, alguém, que não é procu
rador ou mandatário, comparece em nome próprio e requer em juízo
a defesa de um direito que admite ser alheio”68.
É bom recordar o que já dissemos: a substituição processual,
ou legitimação extraordinária, acontece quando alguém postula em
nome próprio um direito alheio. Isso é diferente de substituição de
parte ou sucessão processual, “que pode ocorrer quuido o bem liti-
gioso é alienado ou, necessariamente, com a morte ie uma das par
tes”69 E tudo isso também é diferente do caso qu€ tivemos no IX
Concurso do TRF da 5a Região, pois lá a sucessaj que houve da
Empresa B em relação à Empresa A se deu antes do ajuizamento da
ação, fato jurídico esse pertinente ao direito comercial e totalmente
alheio às questões processuais. Isso porque, no momento da proposi
tura da ação, a Empresa A já não mais existia, incorporada que fora
pela B. Logo, esta última pleiteou direito próprio, en nome próprio,
sem substituir ou suceder ninguém.
A própria Constituição Federal traz como cláusulas pétreas
alguns casos de legitimação extraordinária. A começar pelo inciso
XXI do art. 5o, estabelecendo que as entidades associativas, quando
expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente. Isso significa, por exemplo,
que uma associação comercial pode ajuizar uma ação declaratória de
inexistência de relação jurídica para que seus filiados deixem de
recolher determinado tributo.

A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural,
patrimônio público e outros interesses. - 15. ed. rev. ampl. e atual. - São Paulo: Saraiva,
2002.
69 p. 53Elpfdlo
NUNES, e 54. Donizetti. Curso didático de direito processual civil. - 5. ed. - Belo Hori
zonte: Del Rey, 2004. p. 31.
Também o art. 5o traz outra disposição, em seu inciso LXX,
especificando quem tem legitimidade para ajuizar mandado de segu
rança coletivo: a) partido político com representação no Congresso
Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
Por aplicação analógica do inciso LXX acima referido, o Su
premo Tribunal Federal passou a aceitar também a existência dos
mandados de injunção coletivos70, visão compartilhada também por
José Afonso da Silva71. Relembrando que tal instrumento processual
será utilizado sempre que a falta de norma regulamentadora tome
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania
(CF/88, art. 5o, LXXI).
Nesses casos, os autores ajuízam as ações em nome próprio,
mas o provimento judicial aproveitará, em regra, seus filiados e
associados.
Quanto ao habeas data, é uma ação de previsão constitucio
nal (art. 5o, LXXII), utilizada para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter pú
blico; e para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
por processo sigiloso, judicial ou administrativo. Porém, há séria
controvérsia acerca da possibilidade de legitimação extraordinária
no caso do habeas data. Alexandre de Moraes, ao defender o caráter
personalíssimo desse remédio constitucional, abre caminho para a
rejeição de um habeas data coletivo: “Através do habeas data só se
podem pleitear informações relativas ao próprio impetrante, nunca
de terceiros. O caráter personalíssimo dessa ação constitucional
deriva da própria amplitude do direito defendido, pois o direito de
saber os próprios dados e registros constantes nas entidades gover
namentais ou de caráter público compreende o direito de que esses

Nessea sentido:
admitir "Apelos
utilização, jurisprudência
organismos do sindicais
SupremoeTribunal Federal firmou-se
pelas entidades de classe,no
dosentido
mandadode de
Injunção coletivo, com a finalidade de viabilizar, em favor dos membros ou associados
dessas instituições, o exercido de direitos assegurados pela Constituição. Precedentes e
doutrina" (STF: Mandado de Injunção n g 20/DF. Relator: Ministro Celso de Mello).
71 Curso de direito constitucional positivo. - 17. ed. - São Paulo: Malheiros Editores, 2000. p.
461
dados não sejam devassados ou difundidos a terceiros”72. Nesse
mesmo sentido, Amoldo Wald e Rodrigo Garcia: “Na falta de previ
são legal, entendemos ser inviável o ajuizamento de habeas data
coletivo, embora seja possível a formação de litisconsórcio ativo se
as informações em questão forem do interesse dos vários impetran
tes”73. No âmbito trabalhista, porém, há posições em sentido diver
so, como a de André Araújo Molina 74, para quem é possível um
sindicato, desde que autorizado pelos seus filiados, impetrar habeas
data para obter informações da esfera laborai.
A Constituição Federal ainda traz em seu art. 5 o uma ferra
menta social de extrema importância, embora nem sempre utilizada
pelos cidadãos como seria de se esperar: a ação popular. Aliás,o
quando o texto constitucional fala logo no parágrafo único do art. I
em exercício direto do poder pelo povo, uma das formas de tal exer
cício direto é justamente a ação popular, por meio da qual há uma
participação do cidadão na administração da justiça75. Nos termos
do inc. LXXm do art. 5o da Constituição Federal, qualquer cidadão
é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesi
vo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histó
rico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência. Assim, agindo em nome
próprio, o cidadão defende um interesse de toda a coletividade, ca
racterizando uma legitimidade extraordinária.
Outro caso que convém estudar, pela importância que repre
senta atualmente no país, é o das ações civis públicas, amparadas
principalmente pela Lei n°. 7.347/1985. Esse valioso instrumento de
provocação do Poder Judiciário é utilizado para apurar a responsabi
lidade por damos morais e patrimoniais causados: ao meio-ambiente;
ao consumidor; à ordem urbanística; a bens e direitos de valor artís
tico, estético., histórico, turístico e paisagístico; por infração da or
dem econômica e da economia popular (art. Io da Lei n°.
72 Direito Constitucional. -15. ed. - São Paulo: Atlas, 2004. p. 157.
73 WALD, Amoldo>; FONSECA, Rodrigo Garcia da. O habeas data na Lei n. 9.507/97. 2006.
Disponível em: -<http://www.saraivajur.com.br/doutrinaArtigosDetalhe.cfm?doutrina=743 >.
Acesso em: 13 de>z. 2007.
74 MOLINA, Andrsé Araújo. O novo inciso IV do artigo 114 da Constituição Federal e a sua
aplicabilidade, abirangência e procedimento na Justiça do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina,
ano 14, n.
Acesso 2129,
em: 30 abr.
17 jun. 2011.2009. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/12724>.
75 José Afonso da Silva, obra citada, p. 150.
7.347/1985). Por meio da ação civil pública, algumas pessoas previ
amente designadas em lei pleiteiam, em nome próprio, a proteção de
Interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, neste último
caso não sem uma controvérsia jurisprudencial e doutrinária.
Como você deve ter percebido, em vários desses casos, seja o
mandado de segurança coletivo ou uma ação popular, por exemplo,
o autor também pode defender um interesse próprio. Se a prefeitura
da minha cidade vai construir um aterro sanitário em um local im
próprio, com prejuízo da fonte de abastecimento de água da popula
ção, eu tenho interesse direto no impedimento dessa obra, visto que
também utilizo em minha casa daquela água. Logo, entrando com
uma ação popular, eu posso até defender o interesse da coletividade,
Nem, no entanto, deixar de defender meu direito pessoal. Assim, fica
u pergunta: como compatibilizar essa questão com o instituto da
legitimação extraordinária? A resposta é simples, ao menos no meu
entendimento. Embora para mim seja importante ter uma água de
qualidade na minha casa, não se pode negar que o efeito maior da
ução popular será para a coletividade em geral. Por isso, cabe pon
derar qual o direito mais relevante defendido, se é que se pode falar
em relevância nesse caso. Mazzilli também defende essa ideia, ao
dizer que continua a “identificar na ação civil pública ou coletiva a

predominância
substituição do fenômeno
processual, da legitimação
pois esse extraordinária
fenômeno processual só nãoouocor
da
reria se o titular da pretensão processual estivesse agindo apenas na
defesa de interesse material dele próprio, por ele mesmo invocado.
Mas na ação civil pública ou coletiva, embora em nome próprio, os
legitimados ativos, ainda que ajam de forma autônoma e, às vezes,
também defendam interesses próprios, na verdade estão a buscar em
juízo mais que a proteção de meros interesses próprios: o pedido
formulado na ação civil pública ou coletiva não visa à satisfação
apenas do interesse do autor, mas sim de todo o grupo lesado...”76.
Não é objetivo desta obra aprofundar questões relativas às ci-
tudas ações, que são as principais77 quando se fala em legitimação

” Obra
11 citada,
Mas não sãop.as55.
únicas. Há inúmeras ações ajuizáveis pelo Ministério Público, como as de
Inltrdição de pessoas, nas quais o referido Órgão não defende interesse próprio, agindo por
legitimação extraordinária. Exemplo dessa exceção pode ser visto na prova do VI Concurso
doTRF da 5* Região, que trouxe um caso de ação de improbidade administrativa movida
ptlo Ministério Público Federal. Além disso, entendo ser cabível falar também em legitlmlda-
d» extraordinária nos casos de controle concentrado de constitucionalidade.
extraordinária. Sobre elas, ainda voltaremos a falar mais adianto,
apenas para identificar alguns problemas mais comuns que podem
aparecer. Por enquanto, vamos nos restringir a verificar alguns caso»
exigidos em concursos que demandam do candidato o conhecimento
da legitimação extraordinária.

Nas propostas de sentenças transcritas neste livro, encontra


mos um caso de ação civil pública, que foi pedido na prova do X
Concurso do TRF da 4 a Região. Nele, o Ministério Público Federal,
em litisconsórcio com o Ministério Público Estadual, pediu:
a) a revisão dos benefícios previdenciários concedidos ante-
riormente à vigência da Constituição Federal de 1988;
b) a declaração de nulidade de todos os procedimentos de
revisão de benefícios rurais que, instaurados com base no
art. 5o da Lei n°. 9.032/95, resultaram cancelados;
c) a condenação genérica dos réus ao pagamento de indeni-
zação em favor de todos os portadores do HIVpor transfusão
de sangue na rede de saúde pública.

Segundo o enunciado da questão, foi arguida a ilegitimidade


dos autores. Ocorre que há três pedidos distintos e é preciso verifi
car essa preliminar em relação a cada um deles. Por enquanto, dei
xaremos de lado a questão do litisconsórcio ativo entre o Ministério
Público Federal e o Estadual, pois isso ainda será estudado em outro
capítulo.
Em regra, quando um examinador pede uma sentença relativa
a uma ação civil pública de concurso, ele exigirá do candidato a
análise da legitimação extraordinária, pois esse é um dos pontos
mais polêmicos na jurisprudência e na doutrina. Um portador de
HIV ter direito à indenização porque a contaminação se deu por erro
da rede hospitalar pública é uma questão de mérito de fácil solução,
por exemplo, a menos que estejamos falando de dano moral coleti
vo, assunto bastante polêmico. Da mesma forma, o referido pedido
de
sobrevisão
análise dos
não benefícios previdenciários
traria ao candidato maiores trazidos peloseenunciado
problemas, superada a
Uestão da legitimidade do MPF, visto se tratar de questão pacifica-
• nos tribunais. Sendo assim, a regra é o problema maior de uma
çBo civil pública se concentrar na questão da legitimação ativa,
em como nos limites do pedido.
E como responder ao caso prático em questão? Em primeiro
Igar, há legitimidade do Ministério Público para demandar sobre
uestões relativas a benefícios previdenciários? Vejamos o que disse
STJ sobre o tema:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚ
BLICO. REVISÃO DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS. DI
REITOS INDIVIDUAIS DISPONÍVEIS. 1. A ação civil pública não
se presta à proteção de direito individual disponível, exceto
quando se refere a direito homogêneo e decorrente de relação
de consumo. 2. Precedentes. 3. Na espécie, não se aplica a ex-
cepcionalidade. 4. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp
414.737/PR, Rei. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA,
julgado em 03.10.2006, DJ 30.10.20 06 p. 423)

f Adotando-se essa corrente jurisprudencial, a preliminar seria


jatada e, quanto ao pedido de revisão dos benefícios previdenciá
rios, o processo seria extinto sem resolução de mérito, por carência

ação
Beocê me(já que a legitimidade
como é queéeu
uma dasnacondições de ação). Aí,não
ÍOra,inhonãoa internet
pergunta: faço hora da prova, já que
para poder consultar a jurisprudência e saber isso?
conte com a internet do momento da prova! É importante
bltudar jurisprudência, especialmente para os concursos da magis-
batura. Lendo previamente os entendimentos jurisprudenciais domi
nantes, você veria que várias decisões como essa do STJ são emba
ladas nos arts. 127 e 129 da Constituição Federal, que estabelecem
|Ue o Ministério Público tem poder para defender interesses difusos,
poletivos e individuais indisponíveis, sem fazer referência a interes-
' ís individuais disponíveis. Então, essa é a regra, só quebrada por
Kceções como a do Código de Defesa do Consumidor (art. 81). E,
amo consumidor não é o mesmo que contribuinte e nem beneficiá-
da previdência social, não haveria legitimidade nesse caso. Na
jva você pode até fazer uma referência à jurisprudência: “Con-
le jurisprudência dominante, o Ministério Público...”. Mas, é
ro, sem detalhar um julgado específico, a menos que você tenha
na memória extraterrestre que te permita gravar os cabeçalhos das
cisões que você leu enquanto estudava.
O interessante desse caso específico, do X Concurso do TRF
da 4a Região, é que a sentença acabaria nas preliminares, caso ado
tada a jurisprudência do Supeiior Tribunal de Justiça Assim decidiu
o STJ, sobre tema idêntico ao da prova:
PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FALTA DE INDICA
ÇÃO EXPRESSA DO DISPOSITIVO LEGAL APONTADO CO
MO VIOLADO. INDENIZAÇÃO POR CONTAMINAÇÃO PELO
VÍRUS HIV EM TRANSFUSÕES SANGÜÍNEAS. RELAÇÃO JU
RÍDICA ESTABELECIDA ENTRE A UNIÃO E O CIDADAO. NÃO
APLICABILIDADE, AO CASO, DA LEI Ns 7.347/85, POSTO
QUE A REFERIDA AÇÃiO PRESTA-SE À PROTEÇÃO DOS IN
TERESSES E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS,
QUANDO OS SEUS TITULARES SOFREREM DANOS NA
CONDIÇÃO
MINISTÉRIODEPÚBLICO
CONSUMIDORES. ILEGITIMIDADE
RECONHECIDA. ATIVA DO
PRECEDENTES
DESTA CORTE SUPERIOR. 1. O recurso, para ter acesso à
sua apreciação neste Tribunal, deve indicar, quando da sua in-
terposição, expressamente, o dispositivo e alínea que autorizam
sua admissão. Da mesma forma, cabe ao recorrente, ainda,
mencionar, com clareza,, as normas que tenham sido contraria
das ou cuja vigência tetnha sido negada (AG n s 4719/SP, Rei.
Min. Nilson Naves, DJU de 20/09/90, pág. 9762; REsp n8
4485/MG, Rei. Min. Nilson Naves, DJU de 15/10/90, pág. 11190;
REsp n8 6702/RS, Rei Min. Fontes de Alencar, DJU de
11/03/91, pág. 2399). Em assim não ocorrendo, ou se dê de mo
do deficiente, o recurso torna-se inadmissível. 2. Nos exatos
termos da Lei n8 7.347/85, a Ação Civil Pública é o instrumento
processual adequado para reprimir ou impedir danos ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, es
tético, histórico, turístico e paisagístico, protegendo, dessa for
ma, os interesses difusos da sociedade. 3. A jurisprudência des
ta colenda Corte de Justiça vem se firmando no sentido de não
ser cabível o uso da Ação Civil Pública para fins de amparar di
reitos individuais, nem se prestar à reparação de prejuízos cau
sados por particulares pela conduta comissiva ou omissiva da
parte ré, não revestindo o caso em apreço no conceito constante
da Lei na 7.347/85. 4. A Ação Civil Pública não se presta como
meio adequado a indenizar cidadãos que tenham sido contami
nados pelo vírus HIV erm transfusões sanguíneas realizadas em
quaisquer estabelecimentos do país. 5. Os interesses e direitos
individuais homogêneos, de que trata o art. 21, da Lei n 8
7.347/85, somente poderão ser tutelados, pela via da ação cole
tiva, quando os seus titulares sofrerem danos na condição de
consumidores. 6. Ilegitimidade ativa do Ministério Público reco
nhecida. Precedentes desta Casa Julgadora. 7. Recurso Especial
improvido. (REsp 220.256/SP, Rei. Ministro JOSÉ DELGADO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 14.09.1999, DJ 18.10.1999 p. 215)
Repare que a decisão é de 1999 e o concurso ocorreu em
2001, logo, a decisão do STJ já era conhecida. Isso demonstra duas
coisas. Primeiro, que aquela regra que eu vivo repetindo, no sentido
de que uma sentença de concurso nunca termina nas preliminares,
(em lá suas exceções e estamos diante de uma delas. Segundo, que a
questão da legitimidade extraordinária é tão complexa, rica e polê
mica, especialmente em relação às ações civis públicas, que o exa
minador poderia redigir uma proposta de sentença que terminasse
nas preliminares, sem fazer, com isso, com que o candidato fosse
precariamente
4“ Região, umavaliado.
Tribunal Éconhecido
claro, no caso do X Concurso
por inovar em váriosdotemas,
TRF da
o
candidato poderia defender uma tese diferente, acatando a legitimi
dade do Ministério Público e seguindo para a análise do mérito,
desde que fundamentasse bem sua decisão, obviamente. Mas pode
ria também, e isso era o mais natural, encerrar a questão ali.
Diante de tudo isso, a minha recomendação é que você estude
muito bem quem pode propor as ações como legitimado extraordi
nário, especialmente nesse caso de ação civil pública, tema muito
em voga devido à ampliação da atuação do Ministério Público. Mas
não é só. Na ação popular, há margem para o examinador testar o
candidato para saber se ele, por exemplo, sabe que apenas os cida
dãos podem ajuizar esse tipo de ação (Lei 4.717/65, art. I o). E se
houver um
jurídica, porlitisconsórcio
exemplo? Opassivo em entre
que fazer? um cidadão
O candidato e uma
deve saberpessoa
que
esse é um caso de acatar a preliminar de ilegitimidade ativa da pes
soa jurídica, extinguindo o feito quanto a ela sem resolução do méri
to. Essa e outras questões podem ser exigidas na prova e, para saber
respondê-las, não basta a leitura de um livro sobre sentenças, pelo
contrário: é fundamental ler algo específico sobre o tema ou, ao
menos, as leis que regem as principais ações que trazem a legitima
ção extraordinária.
Seguindo em frente, é preciso tomar muito cuidado com os
casos em que o examinador leva a crer que estamos diante da polê
mica sobre a existência ou não de uma legitimidade extraordinária,
quando na verdade o caso não passa pela análise desse instituto.
Peguemos a prova de sentença cível do TJ/DFT, relativa ao concur
so de 2007. Tínhamos ali um caso de responsabilidade estatal em
que a autora pleiteava valores do poder público em decorrência do
falecimento de seu companheiro, vítima de um acidente cuja res-
ponsabilidade poderia, em tese, ser imputada ao Distrito Federal. 0
que a ré arguiu na contestação? A ilegitimidade ativa “ad causam"
da Autora, vez que estaria pleiteando, em nome próprio, direito
alheio. O candidato não precisaria nem descer a detalhes sobre legi
timidade extraordinária para derrubar a preliminar, especialmente
porque a questão passava longe dessa análise. Bastava dizer que a
autora não estava pleiteando um direito alheio, mas um direito pró
prio, visto que seu companheiro participava da manutenção das
necessidades do lar e sua ausência acarretava prejuízos a ela, que
deveriam ser suportados por quem causara a referida ausência. Ali
ás, essa questão específica da prova do TJ/DFT até se confunde em
partes com o mérito. De qualquer maneira, caberia analisá-la em
sede de preliminar, ainda que rapidamente, apenas para dizer que o
que se pleiteava era um direito próprio.
DISPOSITIVO: reconhecida a legitimidade extraordinária do
autor, nada há a ser destacado sobre isso no dispositivo da sentença.
Caso contrário, extingue-se o processo sem resolução de mérito, nos
termos do inciso VI do art. 267 do CPC.

d) I .p.gitimidade em mandado de segurança


Às vezes, a sentença a ser resolvida em um concurso é relati
va a um mandado de segurança. Já dissemos que se trata de uma
ação do tipo mandamental, ao menos na tradicional classificação
doutrinária. Por conta disso, o dispositivo não declarará ou condena
rá ninguém, mas simplesmente, acatando a pretensão do impetrante,
ordenará à autoridade impetrada que faça ou deixe de fazer alguma
coisa.
Apenas a título de recordação, no mandado de segurança não
há contestação. A parte que ocupa o polo passivo da relação proces
sual, no caso a autoridade, é intimada para prestar informações. Em
seguida, o processo segue para parecer do Ministério Público, com
prolação de sentença no ato seguinte. É um processo de rito absolu
tamente célere, que não permite dilação probatória, ou seja, o que
tiver que ser provado deve ser feito por meio de documentos apre
sentados em conjunto com a inicial. Essa é a regra. Nada de perícia,
nada de audiência para ouvir testemunhas.
Pois bem, quando a autoridade impetrada78 presta suas infor
mações, uma das alegações mais comuns é relacionada à preliminar
de ilegitimidade passiva, razão pela qual é um tema que pode cair
cm uma prova de concurso e merece um pequeno detalhamento de
nossa parte.
Há dois erros muito comuns por parte dos impetrantes, na
prática forense relativa a esse tipo de ação. O primeiro deles é a
indicação do órgão para compor o polo passivo, ao invés da autori
dade. Imaginemos que Henrique tenha recebido um auto de infração
de imposto de renda, por meio do qual foi cobrado o tributo depois
de sua declaração anual ter sido retificada de ofício, com exclusão
de sua filha Carolina do quadro de dependentes (a fiscalização não
aceitara uma cópia reprográfica da certidão de nascimento, sem
autenticação em cartório, como comprovante da dependência). Após
conseguir uma nova cópia da certidão de nascimento de Carolina no
cartório, dessa vez srcinal, Henrique decide ajuizar um mandado de
segurança, já que se passou o prazo de 30 dias para recorrer admi
nistrativamente, mas não os 120 dias decadenciais da ação judicial.
Quem deveria compor o polo passivo do mandado de segurança? Já
vi muita coisa nessa minha vida jurídica, em casos bastante próxi
mos a esse. Já vi, por exemplo, o impetrante colocar no outro lado
da relação processual a Delegacia da Receita Federal. Vi também
colocar a Secretaria da Receita Federal e até a União. Está certo?
Não.
Isso nem seria tema de um livro sobre sentenças, porque está
ligado ao estudo desse tipo de ação. De qualquer maneira, por ser
uma preliminar bastante comum, não custa falar sobre ela.
Sendo assim, por que não está certo? Porque o mandado de
segurança é impetrado contra uma autoridade, não contra um órgão
ou uma instituição79. Esse é o primeiro erro comum e que pode ser
exigido em uma prova de concurso.
Outro equívoco comum é a incorreta indicação da autoridade.
Pegue a prova do VII Concurso do TRF da 5a Região e você se de

' Sempre
última preferi
indica queahouve
expressão “autoridade
uma coação, impetrada
quando ” a na
somente “autoridade
sentença écoatora”
que se ,confirmará
visto que esta
ou
não tal fato.
Há raras exceções na jurisprudência. O Tribunal de Contas da União, por exemplo, já foi
considerado parte legítima do polo passivo em mandado de segurança (TRF da 1a Região,
AMS 2002.34.00.029835-2/DF, Rei. Juíza Federal Sônia Diniz Viana, Primeira Turma, DJ de
30/07/2007, p.10).
parará com essa preliminar. Naquele exame, a autoridade impetrada
(Reitor da Universidade Federal de Sergipe) alegou ser parte ilegí
tima, devido ao fato de o ato combatido haver sido praticado pela
comissão processante (era um caso de punição disciplinar de servi
dores), limitando-se o impetrado a acolher as conclusões da comis
são. Como já vimos, o mandado de segurança é impetrado contra
uma autoridade, razão pela qual não se poderia falar, nesse caso, em
incluir a comissão processante no polo passivo80. Em conseqüência,
para resolver o caso sob análise, caberia ao candidato se lembrar da
lição firmada pela jurisprudência, no sentido de que, no mandado de
segurança, a autoridade coatora tem sua legitimidade medida tanto
pela possibilidade de fazer quanto de desfazer o ato indigitado coa-
tor81. Em resumo, esse tipo de ação visa combater um ato ilegal ou
abusivo. A pessoa incluída no polo passivo é autoridade com atribu
ição para fazer ou desfazer tal ato? Se a resposta for positiva, não se
fala em ilegitimidade passiva.
Por conta das dificuldades de se descobrir quem tem compe
tência para fazer ou desfazer o ato que se está combatendo, normal
mente os advogados costumam colocar um monte de autoridades no
polo passivo, para ver se sobra ao menos uma delas ao final. Essa
prática é estimulada pelo fato de não haver condenação em honorá
rios no caso de sucumbência (STJ, Súmula n°. 105), ou seja, se a
autoridade X for excluída da lide, o impetrante não será penalizado
financeiramente por isso. Consequentemente, se é um caso corri
queiro
não serna lide forense,naéhora
surpreendido bomda
o candidato
prova. Leiaestudar bem osobre
o que puder tema man
para
dados de segurança e, mais do que isso, procure na jurisprudência os
entendimentos sedimentados e aqueles que estão em discussão mais
evidente na atualidade.
Quanto ao polo ativo, impetrante deve ser quem sofrer ou pu
der sofrer as conseqüências do ato ilegal ou abusivo. Não tem muito
segredo. A única questão que pode eventualmente aparecer é no
caso de mandado de segurança coletivo, tema mais afeto à legitima-
80 Também aqui a jurisprudência traz exceções, aceitando que uma comissão ocupe o polo
passivo de um mandado de segurança, desde que representada pelo seu Presidente e
somente se a hipótese fosse de ilegalidade de ato da própria Comissão (TRF da 1a Região,
AMS 2000.37,00.008950-1/MA, Rei. Juiz Federal Manoel José Ferreira Nunes, Primeira
Turma, DJ de 04/12/2006, p. 19). Mas, repare que, ainda assim, exigiu-se a figura de uma
autoridade,
81 TRF da 1ano caso oAMS
Região, Presidente da comissão.
2000.34.00.019508-3/DF,
Rei. Desembargador Federal Leomar
Barros Amorim De Sousa, Oitava Turma, DJ de 04/12/2006, p.185.
Vão extraordinária que vimos no capítulo anterior. Nesse caso, basta
guardar o que diz o art. 5o, inciso LXX, da Constituição Federal
sobre os legitimados a promover a ação coletiva: a) partido político
com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em fun
cionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
inembros ou associados. O que se discute nos tribunais, e que pode
ser objeto de uma prova, normalmente é a questão da existência há
pelo menos um ano e da pertinência do interesse defendido em rela
ção aos objetivos estatutários do autor do mandado de segurança
coletivo. Mas isso é tema para ser visto em outra obra, pois foge ao
alvo deste livro. De resto, vale lembrar que, se em um caso de man
dado de segurança coletivo o examinador não tocou em nenhum
detalhe sobre a observância dos requisitos da alínea “b” desse citado
inciso LXX, como ocorreu na prova do XXXVIII Concurso para
Juiz de Direito do TJ/RJ, é porque ficou presumida a regularidade
na formação do polo ativo. Quanto à debatida questão da necessida
de ou não de autorização expressa dos associados, no caso de man
dado de segurança coletivo, essa questão será vista quando tratar
mos dos defeitos de representação ou falta de autorização.

MODELO DE DISPOSITIVO - ILEGITIMIDADE PAS


SIVA EM MANDADO DE SEGURANÇA
Em virtude do exposto, julgo extinto o processo, sem
resolução de mérito, em relação ao Chefe do Setor de Tributa
ção da Delegacia da Receita Federal em Uberaba, por ser par
te passiva ilegítima, nos termos do inciso VI, art. 267, do Códi
go de Processo Civil.
Concedo a segurança em definitivo, confirmando os
termos da liminar, para determinar ao Delegado da Receita
Federal em Uberaba que se abstenha de negar seguimento ao
recurso interposto pelo impetrante no Processo Administrativo
nfi. 10900.000000001-09, em virtude da ausência de depósito
recursal.
fi
105 doSem honorários
Superior advocatícios,
Tribunal de Justiça. nos termos da Súmula n .
Sentença sujeita a reexame necessário.
P.R.I.
Se a legitimidade é um tema extenso, mas de compreensão
relativamente simples, o mesmo não se pode dizer do interesse de
agir, uma outra condição da ação. Teoricamente, é fácil compreen
der seu significado, mas a aplicação prática revela muitos erros por
parte dos operadores do Direito.
Quando o art. 3o do Código de Processo Civil fala em interes
se, ele quer dizer que o acionamento do Poder Judiciário só deve
ocorrer naqueles casos em que realmente isso for necessário e, mais
do que isso, útil.
Quanto à necessidade, ela pode existir principalmente em
dois casos. Primeiro, quando há uma resistência ou inércia da parte
contrária em disponibilizar o bem jurídico pretendido. Traduzindo
em miúdos, isso significa dizer que há necessidade de agir quando o
sujeito que bateu no meu carro se recusa a pagar o conserto ou, acei
tando que estava errado e até concordando em me pagar, permanece
tranqüilo e o dinheiro não chega nunca ao meu bolso. Essas palavras
bastante coloquiais expressam bem o que significa necessitar da
intervenção do Poder Judiciário. Mas não é só nesses casos. Há
situações em que a lei prevê a obrigatoriedade de intervenção judi
cial, como na partilha de bens que envolve interesse de menores. O
herdeiro pode ter lá seus 15 anos, já compreender corretamente seus
direitos e concordar com os termos da divisão de bens, mas ainda
assim oEinventário passará
a utilidade? Didierpelas mãos
resume bemde aum juiz. ao dizer que “há
questão
utilidade da jurisdição toda vez que o processo puder propiciar ao
demandante o resultado favorável pretendido” 82. Assim, basta se
perguntar se o autor ganhará alguma coisa com aquela demanda -
um ganho de natureza econômica, jurídica etc. Se a resposta for
negativa, não haverá interesse de agir. Para que movimentar a má
quina judiciária se, ao final e mesmo que o autor tenha sua pretensão
considerada procedente, isso não vai adiantar de nada? A decisão
abaixo, do STJ, ilustra bem o que eu estou querendo dizer:
ARRENDAMENTO MERCANTIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
VEÍCULO FURTADO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. 1. Fur
tado o veículo objeto do arrendamento mercantil, o arrendante
62 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Direito Processual Civil: Tutela jurisdlcional e coletiva, volume 1.
- 5. ed. - Salvador: JusPODIVM, 2005. p. 199.
não tem interesse em propor ação de reintegração de posse
contra o arrendatário inadimplente, porque eventual sentença de
procedência não terá utilidade prática, até porque será logica
mente inexequível. 2. Quem não tem a posse, não pode ser de
mandado para reintegrá-la. (REsp 469.063/RS, Rei. Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julga
do em 20.03.2007, DJ 14.05.2007 p. 279)

Eu pergunto: em um caso como o que vimos acima, é neces


sário acionar o Poder Judiciário? Bem, se o arrendatário não devol
ver o veículo por livre e espontânea vontade, sim. Mas o resultado
do processo será útil, tendo em vista que o veículo foi furtado? É
óbvio que não! Falta ao autor, nesse caso, o interesse de agir. Outro
exemplo: uma empresa impetra um mandado de segurança para
continuar participando de uma licitação, por meio da qual será esco
lhida a fornecedora da aparelhagem de som a ser utilizada em uma
festa popular promovida pelo Governo da Bahia na virada do ano.
Só que o mandado de segurança foi ajuizado depois do réveillon,
quando não só a licitação já estava finalizada, mas a própria festa já
tinha ocorrido. Qual a utilidade de um provimento judicial nesse
caso?
Há autores que falam ainda de um terceiro requisito do inte
resse de agir, que seria o interesse-adequação83, ideia essa que en
contra abrigo também em alguns julgados84. Didier transcreve o
pensamento de Barbosa Moreira que repele tal entendimento: “A-
berra até o bom-senso afirmar que uma pessoa não tem interesse em
determinada providência só porque se utilize da via inadequada.
Pode inclusive acontecer que a própria escolha da via inadequada
seja uma conseqüência do interesse particularmente intenso; se al
guém requer a execução sem título, não será possível enxergar-se aí
uma tentativa, ilegítima embora, de satisfazer interesse tão-
premente, aos olhos do titular, que lhe pareça incompatível com os

“Interesse
Dinamarco, por exemplo,
de agir: acolhe
Instituições..., a adequação
Volume como um dos fatores da existência do
II, p. 305/306.
14 Nesse sentido, de ligar o interesse de agir à adequação da via eleita: STJ, AgRg no Ag
648.450/RS, Rei. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
02.02.2006, DJ 20.03.2006 p. 284. Se bem que a leitura da íntegra do acórdão não revela
totalmente a adoção da adequação como um dos elementos do interesse de agir, havendo
■penas uma rápida referência ao tema na ementa.
incômodos e delongas da prévia cognição? Seria antes o caso do
falar em excesso do que em falta de interesse...”85
Como não é objetivo nosso ficar aprofundando questões dou
trinárias do direito processual civil, vamos acatar a lição de Barbosa
Moreira e ficar com apenas aqueles dois requisitos para a existência
do interesse de agir: necessidade e utilidade do provimento judicial.
Pois bem, a prova do XI Concurso do TRF da aI Região trou
xe um caso envolvendo interesse de agir que é bastante comum na
prática das varas federais: a necessidade de ter havido prévio reque
rimento administrativo junto ao INSS para que o cidadão possa
ingressar em juízo pleiteando um benefício previdenciário. No texto
da prova, a expressão “interesse de agir” não foi mencionada, mas,
ao alegar a ausência de requerimento administrativo como prelimi
nar, o INSS estava dizendo que não havia necessidade de acionar o
Poder Judiciário se o benefício podia ter sido deferido administrati
vamente.
Nos tribunais, a questão desse caso específico ainda não é pa
cífica. Há julgados tanto no sentido da desnecessidade 86 do prévio
requerimento administrativo, quanto da sua necessidade87, como
condicionante do interesse de agir. Ocorre que o candidato precisava
decidir ali na hora da prova e acatar essa preliminar significaria
jogar todas as demais questões do caso no lixo. Suponhamos que
85 Obra citada, p. 201 e 202.
86
emSTJ, AgRg noDJ
12.12.2006, REsp 871.060/RS,
05.02.2007 Rei. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado
p. 371.
87 Nesse caso, parece que a exigência do prévio requerimento administrativo tem fundamen
tos mais práticos do que jurídicos, no sentido de viabilizar o funcionamento dos juizado»
especiais federais, impedindo que eles se tornem meros balcões de uma repartição prevl-
denciária. É o que se depreende do seguinte julgado da Turma Nacional de Uniformização
dos JEFs: “PREVIDENCIÁRIO - APOSENTADORIA ESPECIAL - TRABALHADOR RURAL
EM REGIME DE ECONOMA FAMILIAR - SENTENÇA QUE JULGA EXTINTO O PROCES
SO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO - FALTA DE INTERESSE DE AGIR - AUSÊNCIA DE
PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO - NECESSIDADE DE PRÉVIA CARACTE
RIZAÇÃO DE LIDE - PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO NÃO CONHECIDO. I - A Jurispru-
dência do C. Superior Tribunal de Justiça que afasta a necessidade de prévio requerimento
administrativo para que o segurado possa ajuizar ação de natureza previdenciária não tem
similitude fática com as hipóteses das ações previdenciárias que tramitam nos Juizados
Especiais Federais, tendo em vista que foram estabelecidos em processos previdenciários
de varas federais comuns, antes mesmo da criação dos Juizados Especiais Federais. II -
Nas ações previdenciárias no âmbito dos JEFs, é necessária a prévia caracterização de lide
para atender à condição da ação relativa ao interesse de agir, na sua modalidade de utilida
de/necessidade do provimento jurisdicional, o que se dá com o prévio requerimento adminis
trativo, em que haja indeferimento expresso do pedido ou demora injustificável para sua
apreciação. III - Entendimento contrário importa no aumento extraordinário do número do
demandas desnecessárias no âmbito dos JEFs, o que compromete a celeridade daqueles
processos
n. onde realmente Relator
2005.72.95.006179-0/SC. haja lideJuiz
e necessidade da intervenção
Federal Alexandre do Poder
Miguel. Turma Judiciário.
Nacional de (PU
Uniformização. Maioria. DJU de 21/11/2006)”.
você tivesse convicção de que realmente o prévio requerimento
administrativo é necessário, até porque o INSS tem direito de ter
submetido primeiramente a ele um pedido de benefício previdenciá
rio antes do ajuizamento da correspondente ação judicial, que gerará
custas e honorários para o perdedor da demanda. Qual a saída? Ado
tar um entendimento que eu mesmo já utilizei no exercício da ma
gistratura: “A ausência de requerimento administrativo caracteriza
lalta de interesse de agir, acarretando a prematura extinção do pro
cesso. Entretanto, no caso dos autos, a Autarquia Previdenciária
contestou o mérito da pretensão, fazendo crer que o pedido adminis
trativo seria indeferido. Dessa forma, havendo resistência por parte
do réu, não há que se falar em ausência do interesse de agir em juí
zo»88.
Quando eu falei em erro quanto ao significado da expressão
“interesse de agir”, no início deste tópico, eu me referia a casos
como aquele que constou na prova do XII Concurso do TRF da 4 a
Região. A autora seria uma empresa de transporte que por anos
explorara uma linha interestadual de ônibus, mesmo sem autoriza
ção para tanto, mas que em determinado momento recebeu um auto
de infração da ANTT por conta dessa conduta. Sob diversas alega
ções, especialmente da supremacia do interesse público, já que o
serviço prestado pela empresa era de relevância social, a autora
pedia um provimento para poder continuar operando a linha. Em
uma das suas alegações, porém, a ANTT arguiu a falta de interesse
de agir da autora, porque apenas após sagrar-se vencedora em licita
ção específica, poderia receber permissão para realizar serviços de
transporte terrestre. Tudo bem que, em termos de defesa, um erro
pode ser proposital e com uma intenção clara, mas, tecnicamente
falando, o fato da autora não ter obtido a concessão da linha por
meio de uma licitação específica não significava falta de interesse
de agir, até porque a empresa argumentava que a supremacia do
interesse público suplantava a necessidade de licitação.
Esse é um caso muito comum, da parte ré alegar falta de inte
resse de agir utilizando como argumento um fato que se refere na
verdade
Cabe ao mérito, ou,
ao magistrado ou no
seja, à em
caso improcedência do próprio
análise, ao candidato pedido.
repelir

* TRF da 1a Região, AC 1998.35.00.017874-2/GO, Rei. Juíza Federal Sônia Dlnlz Viana,


Primeira Turma, DJ de 01/10/2007, p.5.
essa preliminar sob o argumento de que se trata, em verdade, do
próprio mérito da causa.
Por fim, cabe falar também de algo muito comum na prática
cotidiana, embora nem sempre se veja em concursos. Refiro-me à
ausência do interesse de agir posterior ao ajuizamento da ação, tam
bém comumente chamada de “perda do objeto”. São inúmeros os
casos em que isso ocorre e normalmente estão ligados à ocorrência
de um fato que leva à perda da utilidade do processo. Repare na
seguinte ementa, de julgado do TRF da aI Região, e você compre
enderá o que estou falando:
DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. LICITAÇÃO 
INABILITAÇÃO. PERDA DE assinalado
te mandado de segurança, OBJETO. 1.no O objeto
pedidoexclusivo
inicial do des-
qual o
julgamento não pode transbordar, é a habilitação do Apelante
para que pudesse concorrerem certame licitatório. 2. Ocorre que
não foi deferida liminar e o Tribunal rejeitou agravo de instrumen-
to a respeito, com o que a licitação prosseguiu normalmente sem
a Apelante e já foi concluída há muito tempo. 3. Não é possível
voltar no tempo para habilitar o Apelante em licitação que não
mais existe e não há no processo pedido alternativo para anula-
ção da licitação e/ou da contratação resultante, portanto, houve
total perda do objeto, nada mais restando hoje para julgar (falta
de interesse de agir superveniente à propositura da ação). 4.
Processo extinto pela falta de interesse de agir, dando por preju-
dicada a apelação. (AC 2005.33.00.0231291/BA, Rei. Juiz Fe-
deral Cesar Augusto Bearsi (conv), Quinta Turma, DJ de
23/11/2007, p.86)

Nós demos anteriormente o exemplo de uma empresa que


impetrara um mandado de segurança após o réveillon, visando parti
cipar de uma licitação que escolheria um fornecedor para a festa de
final de ano. Não havia interesse processual. No caso acima, a situa
ção é parecida, só que inicialmente havia o interesse, que se perdeu
ao longo da lide. O único cuidado que se deve tomar, nesses casos, é
quanto aos pedidos subsidiários ou alternativos. Se a empresa pede
para ser mantida na licitação ou para ser indenizada pelos eventuais
prejuízos que teve por conta de sua exclusão indevida, ainda que a
licitação já tenha ocorrido e que não mais haja interesse em reinte
grar a empresa a ela, resta o pedido de indenização. Assim, o caso é
julgar prejudicado o primeiro pedido, por falta de interesse de agir
(ou perda do objeto, conforme a linguagem peculiar de cada um),
passando à análise do segundo pleito.
Casos de falta de interesse processual superveniente normal
mente ocorrem no julgamento da apelação, em virtude do transcurso
do tempo desde o ajuizamento da ação e a prolação da sentença.
Porém, como é possível que ocorra também já no curso dos autos na
Ia instância, vale a liçáo.
DISPOSITIVO: vale a regra geral, da qual já falei. Se a pre
liminar for rejeitada, não precisa ser mencionada no dispositivo. Se
for aceita, extingue-se o processo sem resolução de mérito, caso o
interesse de agir esteja ausente em relação a toda a demanda.

10 Possibilidade jurídica do pedido


Enrico Tullio liebman, jurista italiano de grande destaque,
disse que as condições da ação são o interesse de agir e a legitimi
dade - não mencionou nada sobre a possibilidade jurídica do pedi
do89. Liebman teve grande influência entre os processualistas brasi
leiros, especialmente na segunda metade do século XX, sendo certo
que um dos mentores do atual Código de Processo Civil, Alfredo
Buzaid, recebeu essa influência. Talvez por conta disso, o art. 3 o do
CPC tenha falado que para propor ou contestar ação é necessário ter
interesseque,
Ocorre e legitimidade,
se o Códigotambém silenciando
traz essa omissão, sobre o outro
o mesmo nãorequisito.
ocorre
com a doutrina dominante.
Mas o que é a possibilidade jurídica do pedido? Há muito e-
quívoco sobre o tema, pois em vários casos se lê em contestações a
alegação de que há carência de ação porque o pedido é juridicamen
te impossível, visto que a legislação não socorre o pleito do autor. O
caminho não é esse. Ter ou não ter direito à pretensão é matéria de
mérito. Para que falte a condição de ação relacionada à possibilidade
jurídica do pedido, é necessário não que a legislação em vigor não
dê razão ao autor, mas que ela expressamente diga que aquela pre
tensão é vedada.
Vamos a Dinamarco, que explica claramente a questão: “A
demanda é juridicamente impossível quando de algum modo colide
com regras superiores do direito nacional e, por isso, sequer com-

M Manual de Direito Processual Civil-Volume 1. Tocantins: Intelectos Editora, 2003. p. 138.


porta apreciação mediante exame de seus elementos concretos. Já a
priori ela se mostra inadmissível e o autor carece de ação por im
possibilidade jurídica da demanda. A possibilidade jurídica é a ad
missibilidade desta, em tese, e sem ela, sequer se indagará se o de
mandante é parte legítima, se o provimento que se pede é adequado,
se é apto a lhe trazer proveito ou se ele tem razão ou não, pelo méri
to (se venho cobrar um crédito decorrente do jogo, de nada importa
saber se ganhei honestamente, se realmente ganhei o quanto ganhei
-CC, art. 814)”90.
Em concursos, o que normalmente se verá é justamente aque
la confusão que eu citei. Repare na prova do X Concurso do TRF da
a
4civil
Região, na qual
pública, o Ministério
faz três Públicoconsta
pedidos. Assim Federal,
na por meio
parte de açãoà
referente
contestação:
Regularmente citados, os réus ofereceram resposta, arguindo,
preliminarmente, a incompetência do Juízo, a ilegitimidade dos
autores, a inviabilidade do litisconsórcio passivo e a impossibili
dade jurídica dos pedidos, pois todos eles dizem respeito a direi
tos individuais homogêneos plenamente disponíveis, além de
que não encontram correspondência no direito positivo.
O fato de serem direitos individuais homogêneos plenamente
disponíveis poderia levar à ausência de legitimidade ativa extraordi
nária do Ministério Público Federal, conforme já vimos. Por outro
lado, a ausência de correspondência no direito positivo tem como
conseqüência o não provimento do pedido em sua análise de mérito.
Não se fala aqui em impossibilidade jurídica do pedido, pois essa
ocorrência demandaria não uma falta de correspondência no direito
positivo, mas uma expressa vedação em tal direito. Caberia ao can
didato, então, dizer na redação da sua sentença que a matéria não era
uma questão preliminar, explicando rapidamente no que consiste tal
condição de ação, para dizer que a falta de previsão legal será anali
sada como matéria de mérito - se a sentença chegar até lá, é claro.
Ainda no TRF da 4a Região, o XII Concurso trouxe outra pre
liminar de impossibilidade jurídica do pedido. Tratava-se de um
pedido de uma empresa para explorar uma linha interestadual de
ônibus, com base no interesse público dominante, já que operava
aquela linha havia vários anos e não fora realizada licitação ainda.
90 Instituições..., Volume II, p. 301.
Na contestação, a União Federal alegou, entre outras coisas, a im
possibilidade jurídica do pedido, afirmando não ser possível conce
der judicialmente permissão de exploração de serviço de transporte.
Ora, mas isso é matéria de mérito, porque o que o réu quer é justa
mente suplantar a necessidade de licitação por conta da predomi
nância do interesse público.
Enfim, creio que um dos maiores cuidados do candidato é ve
rificar corretamente se a afirmação do réu acerca da ausência de
uma das condições de agir, sejam elas a legitimidade, o interesse de
ugir ou a possibilidade jurídica do pedido, não diz respeito na ver
dade a uma matéria de mérito. Frequentemente, mesmo magistrados
com uma boa prática se equivocam quanto a esse tema, extinguindo
o feito sem resolução do mérito, quando na verdade a questão que
levou à improcedência no pedido não foi meramente processual,
mas partiu da própria análise do mérito. Essa é a dica principal que
eu deixo quanto às condições da ação em geral91.
DISPOSITIVO: as observações são as mesmas do tópico an
terior.

11 Defeito de representação

O de procuração
xistência defeito denos
representação
autos ou denão abrange
vícios em talapenas casos de ine
instrumento,
mas vários outros. Segundo Emane Fidélis, “o defeito de represen
tação tanto se refere à relativa aos incapazes, abrangendo também os
Como exemplo de tal equívoco, gerando correção pelo Tribunal, caberia transcrever o
MQUinte julgado do TRF da 1 a Região: “PROCESSUAL CIVIL. INDEFERIMENTO LIMINAR
DA PETIÇÃO INICIAL (CPC, ART. 295, III). RAZÕES DE MÉRITO. ANULAÇÃO DA SEN-
TENÇA. 1. Pretendia o autor anulação do exame psicotécnico a que fora submetido, a fim de
assegurar sua permanência em concurso público para provimento de Cargo de Agente
Penitenciário Federal. 2. A petição inicial foi i ndeferida liminarmente, por carência do direito
ele ação (CPC, art. 295, III ), sob as seguintes considerações: a) "o autor vergasta a sua
desclassificação no exame psicotécnico sem que, contudo, solicite do Poder Judiciário seja-
Ihe deferida novel oportunidade de submeter-se ao referido teste"; b) "é vedado ao Juiz
apreciar questão que tanja os critérios de conveniência e oportunidade da Administração
Pública"; c) "o certame a que se submeteu o autor previu a realização do exame psicotécni-
eo, exigência esta lídima e de assento legal"; d) "ao pleitear, tão-somente, a reserva de
vaga, in limine, e a matrícula no Curso de Formação, no mérito, pretende-se que o Judiciário
declare a desnecessidade de o requerente não ser submetido ao exame profissiográfico, em
elara afronta ao princípio da harmoniosa separação dos Poderes da República"; e) "tal
provimento estabeleceria
lendo certo que flagrantdo
os concorrentes e desrespeito ao princípio
autor se submeteram da isonomia
à exigência porentre osinvectiva-
ele ora candidatos,
da". 3. As razões invocadas pelo MM. Juiz configuram apreciação do mérito. Não se trata de
matéria processual (ausência de interesse ou mesmo impossibilidade jurídica do pedido). 4.
lentença anulada de ofício, com retorno dos autos à Vara de srcem para novo julgamento,
ipôs instrução da causa. 5. Apelação prejudicada. (AC 2006.34.00.012487-5/DF, Rei.
Desembargador Federal João Batista Moreira, Quinta Turma, DJ de 05/10/2007, p.100)".
casos de assistência (art. 8o), como também à das pessoas jurídicas e
das entidades que, sem ter personalidade, têm capacidade de ser
parte (art. 12), e ainda à capacidade postulatória. Como exemplo de
necessidade de autorização, cita-se a hipótese do art. 10 do Código
de Processo Civil, que prevê a obrigatoriedade de consentimento do
outro cônjuge, ‘para propor (o autor) ações que versam sobre bens
imóveis ou direitos reais sobre imóveis alheios’, e a do art. 68 do
Código de Processo Penal, que dá legitimidade ao Ministério Públi
co para execução, no cível, de sentença penal condenatória, ou ação
civil, para reparação do dano, mediante requerimento, quando o
titular do direito for pobre”92.

si, masNão
de se está falando
problemas comaqui sobre incapacidade
a representação. de osercaso
Imagine partedeem
um
adolescente de 16 anos que ajuíze uma ação postulando uma indeni
zação por danos materiais. Ele pode ser parte? Sim, pois é titular de
direitos. Porém, se não for assistido por seus representantes legais,
haverá um vício processual capaz de levar à extinção do feito. Da
mesma maneira, um processo no qual não exista a procuração dando
poderes para o advogado sofrerá de defeito de representação. Como
exemplos, seguindo a linha traçada por Emane Fidélis, podemos
falar ainda de uma empresa que vai a juízo por meio de advogados
constituídos, mas com procuração assinada por um funcionário que
não tem poderes no contrato social para outorgar procurações; um
município, representado pelo presidente da Câmara de Vereadores;
um condomínio, representado por um morador que não seja seu
síndico etc.
Nas propostas de sentença que trouxemos a este livro é possí
vel observar um caso de defeito de representação. Na prova do X
Concurso do TRF da 2a Região, há a seguinte alegação da defesa:
“Ainda, preliminarmente, afirma existir defeito na representação
processual do Autor, tendo em vista que a procuração foi outorgada
ao advogado por instrumento particular, o qual, embora com cláusu
la ad judicia e assinado pelo outorgante, não contém a indicação da
ação e nem o nome do Réu contra quem deveria ser proposta”. Co
mo era de se prever, tal preliminar não levaria à extinção do feito
nesse caso específico de concurso. Bastava ao candidato dizer que o

92 Obra citada, pg. 389.


art. 38 do CPC não exige a discriminação do nome do réu e muito
menos da ação a ser proposta, sendo tal exigência cabível em casos
muito escassos.
Outro caso bastante comum na prática forense e que foi co
brado na prova do TJ/DFT de 2007 (Civil) é o da necessidade de
apresentação do contrato social quando uma das partes é uma pessoa
jurídica. É muito comum tal exigência, até mesmo por parte dos
servidores do protocolo ou mesmo do juiz, ao despachar a inicial.
Embora haja jurisprudência mantendo essa exigência, também há
decisões em sentido contrário, inclusive do próprio TJ/DFTgq , sob o
fundamento de que o contrato social somente deve ser exigido
quando houver fundada dúvida acerca da regularidade da represen
tação processual. No meu entendimento, tendo em vista se tratar de
uma prova de concurso e de não ser totalmente seguro extinguir o
feito por conta de uma preliminar, seguir essa última linha de pen
samento seria bastante aconselhável. Aliás, particularmente também
entendo que a arguição de uma nulidade por qualquer das partes
deve ter ao menos uma fumaça de procedência, sob pena de se colo
car em dúvida a lisura de qualquer ato ou documento processual. A
ética, a boa-fé e a lealdade das partes devem ser presumidas e so
mente afastadas quando houver algum indício em sentido contrário.

MODELO DE DISPOSITIVO - DEFEITO DE REPRE


SENTAÇÃO
Em virtude do exposto, não tendo sido juntada aos autos
cópia da procuração no prazo estipulado no art. 284 do CPC,
mesmo após a devida intimação do autor para tanto, indefiro a
petição inicial e julgo extinto o processo sem resolução de méri
to, nos termos do inciso I do art. 267 do CPC.
Condeno o autor nas custas finais. Sem honorários advo-
catícios, em virtude de não ter se completado a relação proces
sual, uma vez que o réu não chegou a ser citado.
P.R.I.

M6* Turma Cível - Processo: APC 2005.01.1.121348-6; 4* Turma Cível - Processo : APC
2001.01.1.001097-0.
12 Falta de autorização
A falta de autorização, matéria que deverá ser arguida pelo
réu em sua contestação, costuma ser um assunto muito comum nau
ações ajuizadas coletivamente ou em substituição processual.
Na prova do VIII Concurso do TRF da Ia Região, essa ques
tão foi levantada. O caso era de uma ação relativa ao Sistema Finan
ceiro de Habitação, tema que por anos encheu as prateleiras das
varas federais de todo o Brasil, e trazia um pedido de litisconsórcio
ativo de uma associação de mutuários. O ingresso da associação nos
autos foi refutado pela ré sob alegação de falta de autorização de
seus sócios.
Para se aprofundar sobre o tema, o melhor a fazer é ler o que
dizem os grandes doutrinadores e pesquisar a jurisprudência. De
qualquer maneira, é imprescindível ter em mente dois incisos do art.
5o e um do art. 8o da Constituição Federal:
Art. 59 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi
dentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autori
zadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação le
galmente constituída e em funcionamento há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
Art. 8S. É livre a associação profissional ou sindical, observado o
seguinte:
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos
ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;

Quanto às entidades associativas, Alexandre de Moraes des


taca que é “desnecessária a expressa e específica autorização, de
cada um de seus integrantes, desde que a abrangência dos direitos
defendidos seja suficiente para assumir a condição de interesses
coletivos. Dessa forma, não haverá sempre necessidade de prévia
autorização, no caso concreto, dos associados para que as associa
ções represente-os judicial ou extrajudicialmente, desde que a mes
ma exista de forma genérica na própria lei que criou a entidade, ou
cm seus atos constitutivos de pessoa jurídica”94. Porém, há diversas
controvérsias jurisprudenciais sobre o tema, razão pela qual eu re
comendo a quem vá fazer uma prova de concurso que analise deti
damente qual o posicionamento mais recente de nossos tribunais,
especialmente daquele para o qual está pleiteando a vaga de juiz.
Enquanto o assunto não virar objeto de súmula vinculante, cada
magistrado, desembargador ou ministro está livre para interpretar a
legislação da forma como seu conhecimento jurídico determinar, o
que só reforça tal conselho.
Quanto ao mandado de segurança coletivo, tendo em vista
não haver a exigência de autorização expressa igual à que consta no
inciso XXI do art. 5o da Constituição Federal, o Supremo Tribunal
Federal já afastou a necessidade de autorização dos membros do
sindicato ou associação95 Também pelo fato do art. 8o da Constitui
ção Federal não falar em autorização expressa para os sindicatos
ugirem em defesa de seus filiados, o STF já afastou essa exigência96.
De tudo isso, volto a frisar: na prática cotidiana, o magistrado
é livre para adotar o entendimento que achar mais correto; em um
concurso, a menos
vejo segurança que a lidetodo
em extinguir seja oextinta apenas
feito por contaparcialmente, não
de uma prelimi
nar como a da falta de autorização para atuar em juízo. No caso
especial em questão, conta ainda o fato da jurisprudência, mesmo
nos casos das entidades associativas atuando em representação aos
seus associados, não necessitar de autorização individual, bastando
autorização no estatuto ou em assembleia. Há correntes contrárias,
como visto, mas eu adotaria aquela que afasta a preliminar, caso
estivesse diante de um problema desses em uma prova de concurso.
DISPOSITIVO: no caso de falta de autorização, o dispositivo
se assemelha ao da ilegitimidade da parte, cabendo as mesmas ob
servações já feitas naquele tópico.

M Obra citada, pg. 104.


M RE 364.051/SP (Relator: Ministro Marco Aurélio) e RE-AgR 348.973/DF (Relator: Ministro
Cezar Peluso).
14 RE 210029/RS (Relator: Ministro Carlos Velloso).
13 Convenção de arbitragem
Há duas espécies de convenção de arbitragem, “quais sejam,
a cláusula compromissória e o compromisso arbitrai, que dão o ri*
gem a processo arbitrai, porquanto em ambos os ajustes as partei
convencionam submeter a um juízo arbitrai eventuais divergênciai
relativas ao cumprimento do contrato celebrado. A diferença entrp
as duas formas de ajuste consiste no fato de que, enquanto o com
promisso arbitrai se destina a submeter ao juízo arbitrai uma contro
vérsia concreta já surgida entre as partes, a cláusula compromissória
objetiva submeter a processo arbitrai apenas questões indetermina
das e futuras, que possam surgir no decorrer da execução do contra
to”97
A existência de convenção de arbitragem leva à extinção do
processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, VII, do
CPC. A intenção do legislador foi potencializar os efeitos benéficoi
de tal forma de solução de conflitos, de modo a agilizar a solução e
também a desafogar o Judiciário. Por conta disso, a menos que tenha
havido algum vício no nascimento da própria convenção, ela deverá
ser respeitada e o Judiciário não julgará o caso.
Esse é um tema que tem maior probabilidade de ser exigido
em provas para a magistratura estadual, visto que a possibilidade do
existência de convenção de arbitragem envolvendo a União Federal
e as demais entidades que estão sob a competência da Justiça Fede
ral é bastante
sobre reduzida.deve-se
a sua existência, Em todo caso,sehavendo
analisar realmentealegação do réu
esse argumento
é procedente, bem como se abrange apenas parte da questão discuti
da na causa, hipótese mais provável em se tratando de uma prova de
concurso.
MODELO DE DISPOSITIVO - ARBITRAGEM
Em virtude do exposto, havendo convenção de arbitra
gem entre as partes, julgo extinto o processo sem resolução do
mérito, nos termos do inciso VII do art. 267 do CPC.
Condeno o autor nas custas finais e em honorários ad-
vocatícios, fixados em R$ 400,00 nos termos do § 4 o do art. 20
do CPC.
P.R.I.________________________________________
97 Superior
Tribunal de Justiça, SEC 1210/EX, Rei. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
CORTE ESPECIAL.
^Capitulo VI

Formação dos polos processuais

1 Litisconsórcio: considerações iniciais


0 consórcio é uma reunião de interesses, uma verdadeira as-
íociação de pessoas. Assim, o litisconsórcio nada mais é do que essa
reunião em uma lide, em um processo judicial. Acontece sempre
Que há mais de uma pessoa, seja no polo ativo ou no polo passivo da
felação processual.
Esse conceito básico não apresenta grande dificuldade para o
pstudante ou o operador do Direito. O complicado é compreender as
classificações, bem como
jfSo de litisconsórcio. as hipóteses
Quanto em que
a esta última poderá
matéria, haver forma-
o próprio Códi
go de Processo Civil já é explícito:
i Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo proces
so, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
1 - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações rela-
| tivamente à lide;
II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamen
to de fato ou de direito;
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa
de pedir;
IV - ODorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato
ou dedireito.

Basicimente, é preciso ter alguma ligação entre as partes para


que elas atiem em juízo em litisconsórcio, seja na qualidade de
autoras, seja na qualidade de rés. Não é possível, de acordo com o
art. 46 acima, que eu e João ajuizemos uma única ação contra Ma
noel, eu pedindo indenização por danos materiais decorrentes de um
acidente de trânsito, João pedindo a rescisão de um contrato de pres
tação de ser/iços entre eles - a não ser na improvável hipótese de
haver uma conexão entre esses dois pedidos.
Não são comuns em concursos os casos em que há questio
namento acerca da formação de litisconsórcio. Ocorrem, como ve
remos no nosso caso-modelo, mas com uma frequência mínima. Em
geral, o que temos são alegações de ilegitimidade ativa ou passiva,
ou de incapacidade de parte ou processual, mas nada ligado ao litis
consórcio em si. Aliás, na lide cotidiana esse problema costuma ser
sanado no recebimento da inicial ou no despacho saneador. As ve
zes, inúmeros autores propõem uma ação em conjunto, em litiscon
sórcio facultativo, e o magistrado desde logo já determina o des
membramento do feito, para que a marcha processual não seja atra-
QQ

palhada, aplicando o parágrafo único do art. 46 (em alguns casos,


o magistrado simplesmente indefere a formação do litisconsórcio tal
como proposto, limitando o número de autores). Com isso, resolve-
se a questão antes da sentença.
No polo ativo, o litisconsórcio costuma ser formado quando
há comunhão de direitos (ex.: os coproprietários de um imóvel ajuí-
zam ação coitra o vizinho), bem como quando os direitos derivam
do mesmo fundamento de direito. Na esfera federal, são inúmeras as
ações de servidores públicos com pedidos relativos à remuneração
ou ao enquadramento na carreira, todos eles fundamentados no
mesmo ponto jurídico. A sentença costuma ser simples.
Já no polo passivo, o normal é ocorrer a comunhão de obriga
ções entre os réus. É o caso da prova do XI Concurso do TRF da a4

Parágrafo único. O juiz poderá limitar o l itisconsórcio facultativo quanto ao número de


litigantes,
pedido de quando
limitaçãoeste comprometer
interrompe o prazoa rápida solução do
para resposta, quelitígio ou dificultar
recomeça a defesa.
da intimação O
da deci
são.
Região, na qual os autores ajuizaram ação ordinária, na Justiça Fe
deral, contra o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e a União Fede
ral, requerendo indenização por danos materiais e morais sofridos
em decorrência da morte de seu filho João Roberto da Silva. Na
visão dos autores, que também formam um litisconsórcio, haveria
responsabilidade das duas partes. Na sentença desse caso específico,
não seria necessário que o candidato falasse diretamente sobre o
litisconsórcio, bastando afastar uma das partes da lide por ilegitimi
dade passiva, se fosse o caso. Aliás, na maioria das vezes a comu
nhão de obrigações
simples só existe no entendimento
pedido de indenização, por exemplo, do
emautor.
regraSeuma
for das
um
partes não terá legitimidade, como no citado caso.

Passemos à classificação do litisconsórcio, apenas para re


lembrar o assunto e preparar a resolução do nosso caso-modelo. Em
primeiro lugar, há o litisconsórcio facultativo e o necessário. Se
Carlos e Henrique são Agentes da Polícia Federal e entendem ter
direito a um determinado reajuste salarial, podem escolher se irão a
juízo juntos ou separados. Da mesma forma, especialmente em ca
sos relativos
cesso contra ao
umdireito do consumidor,
fornecedor ou contraeste
doispode optar entre
ou mais, o pro
juntos. Já o
litisconsórcio necessário é uma imposição da lei e o caso mais clás
sico citado pela doutrina é o dos cônjuges, que necessariamente
devem atuar em conjunto em juízo, quando o processo envolver
direitos reais imobiliários.
Em outra vertente, há o litisconsórcio simples e o unitário. No
primeiro caso, o magistrado pode decidir de maneira diversa em
relação às partes que compõem o mesmo polo. Imagine que Joaquim
venha com seu veículo por uma avenida e cause um acidente envol
vendo o carro de Felipe e o de Gustavo. Estes dois, por conta da
identidade dos fatos, podem ajuizar conjuntamente uma ação contra
Joaquim, mas o juiz pode entender que Felipe tem direito e Gustavo
não, pois o primeiro estava posicionado corretamente na via e foi
atingido imprudentemente pelo réu, que bateu em sua traseira, en
quanto o segundo autor dirigia pela contramão.
Decisões diversas assim não ocorrem no caso de
litisconsórcio unitário, que existe justamente quando o juiz tiver de
decidir a lide de modo uniforme para todas as partes. Decisões
embasadas em interpretações da lei costumam ser uniformes, como
no caso dos dois amigos que ajuízam uma ação de revisão de seua
vencimentos, pois determinada lei teria dado o aumento e o órgão
não teria cumprido essa norma. Cita-se também, com frequência, o
caso das ações de anulação de casamento propostas por um terceiro,
pois o resultado obrigatoriamente será idêntico para os cônjuges.
E há litisconsórcio necessário simples? Elpídio Donizetti cita
como exemplo as ações de divisão e demarcação. Também fala em
litisconsórcio
dos condôminos facultativo-unitário,
para reivindicar onobem
casocomum"
de ação proposta por um
Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1 a Região
Nosso problema de estudo traz um raro caso de concurso (na
prática diária, isso é até mais comum) em que a própria formação do
litisconsórcio é questionada. Segundo argumenta o INSS, o
recolhimento da contribuição patronal e das contribuições pessoais
retidas pelos Municípios não autorizaria o litisconsórcio ativo unitário,
razões pelas quais a Câmara Municipal do Município B e os autores
pessoas naturais/físicas deveriam ser excluídos da lide, com extinção
do processo em relação a eles.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que estamos diante de
um litisconsórcio ativo facultativo, pois as partes não estavam
legalmente obrigadas a ajuizarem a referida ação em conjunto.mas será
que era unitário? Partindo do pressuposto de que é unitário o
litisconsórcio quando o juiz deve decidir da mesma maneira para todas
as partes do mesmo polo, e considerando que o caso era meramente
de interpretação da legislação, realmente a decisão seria única para
todos os autores, no que se refere especificamente à possibilidade ou
não da compensação. Quanto a questões preliminares, cada parte teria
que enfrentar seus próprios problemas levantados pelos réus, mas o
cerne da questão, ou seja, o mérito, deveria ser decidido de maneira
idêntica, pois o questionamento da constitucionalidade da cobrança das
contribuições previdenciárias não fazia diferenciação entre patronais e
obreiras.
Agora, eu pergunto: isso influenciaria na formação do
litisconsórcio ativo? Entendo que não e, por essa razão, a alegação do
INSS nada mais é do que um recurso para conturbar o processo, pois
desprovida de qualquer fundamentação legal ou doutrinária. ____

99 Curso Didático de Direito Processual Civil, pgs. 38 e 39.


2 Litisconsórcio ativo
Vistas as questões teóricas, vamos apenas dar uma repassada
nas nossas sentenças transcritas ao final para identificarmos os casos
em que há litisconsórcio ativo. Como é possível observar, a maioria
das propostas de sentença traz mais de um autor. Por outro lado, a
maioria dos casos também é resolvida não pela análise da possibili
dade de litisconsórcio em si, mas pela legitimidade ou não de uma
das partes.
Como exceção à regra acima, temos a prova do VIII Concur
so do TRF da Ia Região, na qual a própria formação do litisconsór
cio ativo é questionada pela ré. No caso em questão, Pedro e Lúcia,
casados, adquiriam
mica Federal. Ocorreumque
apartamento
o contrato financiado pela Caixa
abrangia também Econô
a compra de
um imóvel por parte de Zacarias, que posteriormente o vendeu,
mediante o chamado “contrato de gaveta”, para Osvaldo. Posterior
mente, Pedro, Lúcia e Osvaldo ajuizaram ação contra a Caixa para
discutir questões relativas ao referido contrato. A ré alegou que não
caberia o litisconsórcio entre o casal e Osvaldo, por falta de base
legal, pois o contrato conjunto que celebraram não passava de uma
união meramente externa, contendo dois ajustes distintos. Como
resolver? Sob meu ponto de vista, a questão era simples, pois o art.
46 do CPC permite o litisconsórcio ativo pela simples razão de ocor
rer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito
- e em comum as partes tinham um mesmo contrato, além dos fun
damentos de parte
haveria motivos dosa pedidos
para vedaçãoserem semelhantes.
ao litisconsórcio Emfacultativo.
ativo resumo, não
Já no IX Concurso do TRF da Ia Região, não houve discussão
quanto ao litisconsórcio ativo, mesmo porque era formado por um
casal que discutia uma indenização por apossamento administrativo
de um imóvel seu, ou seja, questões que estão relacionadas a um
direito real imobiliário. Nesse caso, poderíamos até dizer, então, que
se tratava de um litisconsórcio ativo necessário, com fundamento no
art. 10 do CPC.
Deparamos também com litisconsórcios ativos nas provas dos
concursos VI, VII e X do TRF da 3a Região; IX, X e XI do TRF da
4a Região; VII do TRF da 5a Região. Nas provas para a magistratura
estadual transcritas neste livro, a regra é apenas uma pessoa como
autora. Pois bem, em todos esses exames, deparamo-nos com vários
casos de alegação de ilegitimidade ativa, mas não com problemai
relativos ao próprio litisconsórcio em si, o que só confirma a regri
geral que falei. A única dúvida que poderia surgir no candidato é em
relação à prova do X Concurso do TRF da 4 a Região, que traz um*
ação civil pública movida em litisconsórcio pelo Ministério Público
Federal e pelo Ministério Público Estadual. Porém, essa ação con
junta é prevista no § 5o, art. 5o da Lei n°. 7.347/1985, razão pela qual
a questão não trazia maiores dificuldades, nem tendo sido levantada
pelo examinador.
Enfim, creio que o tema, apesar de sua grande importância na
prática forense, não causa grandes transtornos, seja em provas de
concursos, seja no próprio cotidiano dos tribunais.
MODELO DE DISPOSITIVO - LITISCONSÓRCIO ATIVO
(IX Concurso do TRF da 4a Região)
Em razão do exposto, julgo parcialmente procedentes
os pedidos feitos na inicial e condeno a União Federal a pagar
aos autores:
a) indenização por danos morais no montante de R$
100.000,00 (cem mil reais), a serem divididos entre os dois au
tores, incidindo correção monetária e juros de 1% (um por cen
to) ao mês a partir da prolação desta sentença;
b) pensão mensal correspondente a 3 (três) salários
minimos para cada um dos autores, desde a data do faleci
mento da vítima, até quando os autores completarem 25 (vinte
e cinco) anos de idade, sendo que sobre os valores vencidos
incidirá correção monetária nos termos do manual de cálculos
da Justiça Federal, bem como juros de 1 % (um por cento) ao
mês.
Antecipo os efeitos da tutela quanto à implantação ime
diata da pensão, nos termos já expostos.
Condeno a ré ao pagamento de honorários advocatícios
calculados em 5% (cinco por cento) da condenação por danos
morais e dos valores vencidos a título de pensão, nos termos
do § 4° do art. 20 do CPC. Condeno, por fim, a ré a reembolsar
as custas aos autores.
Sentença sujeita a reexame obrigatório.
P.R.I.
3 Litisconsórcio passivo
Da mesma forma como foi dito no capítulo anterior, é ab
solutamente corriqueira a formação de um litisconsórcio passivo
em provas de concursos, refletindo o que os magistrados encon
tram na maioria dos processos. E, também da mesma forma, o
usual é haver um questionamento não quanto ao litisconsórcio
em si, mas quanto à legitimidade passiva de um dos réus.
Exceção ocorreu na prova do X Concurso do TRF da 4a Re
gião, em uma ação civil pública ajuizada contra a União Federal e o
INSS, que alegaram simplesmente a inviabilidade do litisconsórcio
passivo, sem maiores fundamentos. Nessa prova, havia argumentos
parade
ção extinguir o feitoativa
ilegitimidade sem do
resolução do mérito,
Ministério Público,com basesena
já que alega
tratavam
de direitos individuais - segundo corrente doutrinária e jurispruden-
cial. Mas, superada essa questão, não havia qualquer fundamento
para afastar o litisconsórcio passivo.
Já no VI Concurso do TRF da 5a Região, que trouxe um inte
ressante caso de improbidade administrativa, havia um pedido de
uma pessoa para ingressar no feito na qualidade de litisconsorte
passivo. Transcrevo parte da sentença que fiz quando estudei esse
caso, pois aborda de forma interessante o tema:
Pedro Celestino, ex-prefeito de Nazaré da Mata no período de
janeiro de 1997 a dezembro de 2 000, requer sua inclusão no po
lo passivo do feito, como litisconsorte, sob o argumento de con
siderar legais as condutas do seu Ex-Secretário de Administra
ção e Finanças, Sr. José Salustiano, réu na presente ação.
O litisconsórcio passivo é, em regra, dependente da discriciona-
riedade do autor da ação, exceto nos casos em que é necessá
rio, quando, não havendo inclusão de todos os litisconsortes na
lide, o juiz determinará ao autor que promova a citação dos de
mais, sob pena de extinção do feito, nos termos do art. 47 do
CPC. Por outro lado, haverá litisconsórcio unitário, segundo a
melhor doutrina, quando, por disposição de lei ou peia natureza
da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme
para todas as partes.
Pois bem, não vislumbro na presente lide a necessidade de for
mação do litisconsórcio passivo. Não há, por parte do Ministério
Público Federal, qualquer imputação ao Sr. Pedro Celestino de
atos arrolados na Lei n°. 8.429/1992, constando nos autos que o
único ordenador de despesas do município era o Sr. José Salus
tiano. Assim, o que aqui for decidido, a princípio, não afetará
qualquer direito individual do requerente, nem de forma direta o u
reflexa, nem influenciará em sua relação jurídica com os réus.
Portanto, ausente a necessidade de litisconsórcio passivo, cab*
analisar se seria o caso de litisconsórcio facultativo. Não vislum
bro, porém, qualquer incidência das hipóteses previstas no art,
46 do CPC. E, ainda que houvesse, conforme já dito anterior*
mente, não pode alguém pleitear sua inclusão em uma lide d«
maneira a obrigar o autor com ele litigar, sendo deste, repita-sa,
a liberdade de decidir se inclui ou não esta ou aquela pessoa na
lide, exceto nos casos previstos em lei - que aqui não encontram
abrigo.
Nesses termos, indefiro o pedido do requerente Pedro Celestino
para que passe a integrar a lide em litisconsórcio com os réus.

Como já asseverado em outras oportunidades, essa era uma


das possibilidades de resolução da questão, mas não a única. De
qualquer maneira, é importante porque aborda a questão da forma
ção do litisconsórcio passivo por vontade do réu ou de terceira pes
soa, e não do autor. Esse talvez seja um dos poucos temas que po
dem ser cobrados sobre o assunto em uma prova de concurso.

MODELO DE DISPOSITIVO - LITISCONSÓRCIO


PASSIVO
Em razão do exposto, julgo procedente a pretensão do
autor e, em conseqüência, condsno os réus ao pagamento de
indenização por danos morais arbitrada em R$ 2.000,00 (dois
mil reais)
mente paraincidência
e com cada um, de
montante
1% (umesse corrigido
por cento) monetaria-
de juros ao mês,
tudo calculado a partir da prolação da presente sentença.
Os réus arcarão com as sustas processuais e com ho
norários advocatícios de sucumbência, os quais fixo em 20%
(vinte por cento) do valor da condenação a que cada um ficou
sujeito.
P.R.I.

Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1a Região


Nossa sentença de estudo também traz um caso de li
tisconsórcio passivo, pois a açãD foi ajuizada contra a União
Federal e o INSS. Porém, como é a regra, não há questiona
mentos quanto ao litisconsórcio em si, embora sobrem dúvidas
sobre a legitimidade passiva de cada um dos réus.______
4 Assistência
Compreender a figura do assistente não é algo difícil. Basta
ter em mente que ele é aquela terceira pessoa que ingressa nos autos,
sem ter qualidade de parte, para ajudar o autor ou o réu, conforme o
caso, a sair vitorioso na causa. Em palavras bastante populares, ele
“dá uma força” a uma das partes.
O problema é saber quando uma pessoa pode ingressar no
processo na qualidade de assistente. Que ela precisa ter interesse na
causa para isso, não há a menor dúvida. Mas qual interesse? O art.
50 do CPC é expresso ao dizer que é o jurídico. Mas, o que é inte
resse jurídico? Dinamarco explica: “O interesse que legitima a assis
tência
dos do éprocesso
sempre representado pelos
possam projetar reflexos
sobre jurídicos
a esfera que os
de direitos doresulta
tercei
ro. Esses possíveis reflexos ocorrem quando o terceiro se mostra
titular de algum direito ou obrigação cuja existência ou inexistência
depende do julgamento da causa pendente, ou vice-versa”100. O
exemplo clássico, dado inclusive por Dinamarco, é o do fiador em
relação à lide entre credor e devedor. Se o credor for vencedor e a
obrigação for confirmada em juízo, tal fato terá reflexos jurídicos
para o fiador, razão pela qual ele pode ser admitido na lide como
assistente do devedor.
Cabe ressaltar uma pequena exceção a essa regra da necessi
dade de interesse jurídico para figurar como assistente. O art. 5o da
Lei n° 9.469/97 diz que a “União poderá intervir nas causas em que
figurarem, de
sociedades como autorasmista
economia ou rés, autarquias,
e empresas fundações
públicas públicas,
federais”. Até aí,
nenhuma novidade. Porém, o parágrafo único de tal artigo quebra a
regra e diz que “as pessoas jurídicas de direito público poderão, nas
causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natu
reza econômica, intervir, independentemente da demonstração de
interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, po
dendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da
matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de des
locamento de competência, serão consideradas partes”. Em síntese,
enquanto vigente o artigo acima transcrito, pode haver assistência
com base no mero interesse econômico, mas apenas por parte das
pessoas jurídicas de direito público.

100 Obra citada, Volume II, pg. 387.


Outro ponto que costuma ser relativamente complexo pau
quem não í versado sobre o assunto é quanto à assistência simples e
a litisconsorcial, também chamada de qualificada. Para saber o que
as diferencia o melhor é começar pela leitura do art. 54 do CPC, que
diz:
Art. $4. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente,
toda vez que a sentença houver de influir na relação jurídica en
tre eeeo adversário do assistido.

Quem dá um bom exemplo para entender o disposto no art.


54 acima é Elpídio Donizetti, que cita o caso da ação reivindicatória
promovida por um dos condôminos. Ora, sabe-se que qualquer dos
condôminos pode defender o bem em juízo, independente da atua
ção dos deraais. Assim, se o outro proprietário quiser ajuizar a de
manda em sonjunto, será litisconsorte, mas pode ser também que
ingresse na sausa em momento posterior, na qualidade de assistente,
Em qualquer dos casos, seja litisconsorte ou assistente, a sentença
judicial o afetará diretamente. Além disso, tal assistente mantém as
prerrogativas do art. 48 do CPC, ou seja, é considerado litigante
distinto coma parte adversa101.
Apesar de parecer ofensa a quem estudou o mínimo nos ban
cos da faculdade, não custa lembrar que o instituto do qual estamoa
tratando agora não tem nada a ver com a figura do assistente técni
co, como vemos na prova do IX Concurso do TRF da aI Região.
Este é um auxiliar da parte e atua em juízo especialmente quando há
uma perícia, apresentando também seu parecer. Muito menos tem
algo a ver com a assistência judiciária, que nada mais é do que um
pedido da parte para não ser obrigada a pagar as custas e nem res
ponder pelos honorários advocatícios, em caso de sucumbência.
Um caso sutil de assistência pode ser visto na prova do
TJ/DFT de 2006 (Administrativo). Veja o que o examinador colo
cou na proposta de sentença:
O Município de São Paulo tomou conhecimento da ação e, no
prazo da contestação, compareceu espontaneamente em juízo.
Defendeu que o ISS em questão ser-lhe-ia devido, em razão de
o serviço ser prestado na sede da autora por ocasião da coleta
de dados no mercado de capitais paulista.
101 Curso didático de direito processual civil, pg. 57.
Como a ação era de uma empresa que visava não ser obrigada
a pagar o ISS para o Distrito Federal, em virtude de ter sede na ci
dade de São Paulo, pode-se ver interesse jurídico do município pau
listano na procedência do pedido. Atrevo-me a dizer inclusive que
se trata de um caso de assistente litisconsorcial, pois não se pode
pagar ISS para dois municípios diferentes tendo como base o mes
mo fato gerador, ou teremos um caso de bitributação. Logo, se o
magistrado entender que o sujeito ativo dessa relação tributária é o
Distrito Federal, em tese o município de São Paulo não receberia
nada da empresa.
Como se pode ver nas propostas de sentença transcritas neste
livro, não são tão comuns em concursos os casos de assistência. O
mais importante, caso seja pedido pelo examinador, é saber se real
mente há interesse jurídico e qual o tipo de assistência, já que isso
terá importantes reflexos ao final. Já se decidiu, por exemplo, que
vencida a parte assistida, o assistente não será condenado a pagar
honorários de sucumbência, apenas as custas (art. 32 do CPC), exce
to se atuou na qualidade de assistente litisconsorcial102.

MODELO DE DISPOSITIVO - ASSISTÊNCIA


Em razão do exposto, julgo procedente a pretensão do
autor e, em conseqüência, condeno o réu ao pagamento de
indenização por danos materiais no montante a ser apurado
em sede de liquidação de sentença, com aplicação de corre
ção monetária e incidência de 1% (um por cento) de juros ao
mês, a partir de cada despesa efetuada pelo autor.
O réu pagará honorários advocatícios de sucumbên
cia, os quais fixo em 20% (vinte por cento) do valor da con
denação. Deixo de condenar o assistente do réu ao paga
mento de honorários, seguindo entendimento jurisprudencial
segundo o qual não cabe tal condenação nos casos de assis
tência simples, em virtude do disposto no art. 32 do Código
de Processo Civil103.
Condeno o réu e seu assistente nas custas processu
ais, que serão divididas igualitariamente.
P.R.I.
!** TRF da 1* Região: “PROCESSO CIVIL. ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL. HONORÁ-
RIQi 1. Mostra-se configurada a assistôncia litisconsorcial pois a sentença exerce influên-

É
m relação Jurídica prooassual existente entre o assistente e os adversários do assistido.
r@t§ a oondanaolo «m honorários. 2. Apelo Improvido. (AC 1999.01.00.106682-4/BA,
Juíi Hlllon Outiroí, Quarta Turma, DJ da 04/08/2000, p.370)”
itJ: Rlip 579739/DF, Rei. Mlnlitro Joaó Delgado
Quando estava estudando para concursos, procurei uma ex
plicação absurdamente simples para compreender e diferenciar as
modalidades de intervenção de terceiros. Primeiro, para guardar os
nomes, coloquei na cabeça que o CPC as trazia em ordem alfabética
decrescente: oposição, nomeação, denunciação e chamamento.
Quanto à oposição, criei na minha cabeça a imagem de alguém fa
lando para duas pessoas que estão brigando por um bem qualquer:
“Não adianta brigar, porque isso aí é meu”.
Realmente, a oposição é mais ou menos isso: duas pessoas li-
tigam por uma coisa ou direito e uma terceira intervém na lide, sob
alegação de que aquilo lhe pertence (art. 56 do CPC). Mas o opoente
deve fazer isso até antes de ser proferida a sentença, senão terá que
buscar seus direitos por outra maneira.
Para fins de feitura de uma sentença, seja na vida prática ou
em um concurso, o mais importante é guardar o que diz o art. 61 do
CPC:
Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a o-
posição, desta conhecerá em primeiro lugar.

Isso é bastante lógico. Se João e Pedro disputam a proprieda


de de um automóvel e Manoel intervém dizendo que o carro é dele,
é preciso primeiro saber se Manoel tem razão. Se tiver, a lide entre
João e Pedro fica prejudicada. Se não tiver, então o magistrado pas
sa a analisar a disputa inicial. Assim, na sequencia de resolução da
sentença, logo após a análise das preliminares se deve passar à opo
sição. Mas não são todas as preliminares que são analisadas antes do
julgamento da intervenção. Se for uma questão de competência do
juízo, por exemplo, deve vir em primeiro lugar. Porém, se for uma
alegação do réu de nulidade de citação para a ação principal, tendo
havido sua correta citação acerca do ajuizamento da oposição, en
tendo que esta última preliminar não deve ser analisada antes da
intervenção de terceiros, pois se aquela for procedente sua análise
ficará prejudicada. Enfim, o que se deve ter em mente é que a deci
são sobie a oposição deve vir antes de qualquer matéria, exceto
daquelas preliminares que podem influenciar inclusive na lide criada
pela intervenção do opoente.
Como dito, se julgada improcedente a oposição, passa-se ao
julgamento da causa srcinária, com condenação do opoente nos
ônus da sucumbência, ou seja, ele pagará honorários tanto para o
autor quanto para o réu. Caso contrário, procedente o pedido do
opoente, a sentença termina por ali, com condenação do autor e réu
nos ônus da sucumbência.
Um caso de oposição apareceu na prova do IX Concurso do
TRF da Ia Região. Um casal pleiteava indenização do INCRA, por
desapropriação indireta de um imóvel rural. Porém, outro casal ofe
receu oposição sob alegação de que havia adquirido o referido imó
vel do primeiro casal e, portanto, teria direito à indenização pleitea
da. A primeira questão a ser decidida era quanto à admissibilidade
ou não dessa modalidade de intervenção de terceiros em uma ação
de desapropriação indireta. Cabe ou não? Boa pergunta, com juris
prudência vacilante. No TRF da Ia Região, já tivemos dois votos
divergentes de um mesmo relator, o Desembargador Federal Touri-
nho Neto. Em um caso de desapropriação direta, seguindo jurispru
dência daquela Corte, não foi admitida a oposição104. Porém, em um
caso de desapropriação indireta foi admitida105. Não houve contradi
ção por parte do Desembargador, mas apenas decisões contrárias em
casos diversos. Ocorre que o candidato tinha que tomar uma decisão

edico
qualdedeveria ser?eBoa
cada um pergunta.
a sua Aqui,deentra
capacidade o conhecimento
fundamentação. jurída
Diante
existência de divergência na doutrina, o que não poderia ocorrer é o
candidato deixar de analisar a admissibilidade da oposição.
Embora tenhamos esse exemplo de concurso em que o exa
minador pediu conhecimentos sobre tal modalidade de intervenção
de terceiros, não é tão comum assim o tema cair em uma prova de
sentença. Na esfera federal, exceto um caso excepcional como o do
IX Concurso do TRF da Ia Região, a tendência é não abordar o as
sunto. Se for feita uma análise, a maioria das provas federais cobra
responsabilidade estatal, direito tributário, mandados de segurança
ou questões previdenciárias, temas com pouca incidência do institu
to da oposição. Mas, como toda regra tem exceção, o candidato deve
estar bem preparado para enfrentar a questão.

IW REO 2000.39.02.002509-9/PA
m AC 2006.35.01.002515-4/GO
MODELO DE DISPOSITIVO COM OPOSIÇÃO
Em virtude do exposto, julgo procedente a pretensão
formulada na oposição e, via de conseqüência, improcedente
a pretensão apresentada na ação principal, razão pela qual
declaro o opoente legítimo proprietário do veículo Ferrari F-40
de placa YXZ-0123. Em sede de antecipação de tutela, de
termino ao réu a imediata entrega do bem ao opoente, sob
pena de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais), nos
termos do art. 461 -A c/c art. 461, § 4a.
Condeno o autor e o réu a pagarem, em proporções
iguais, as custas do processo, bem como a pagarem os ho
norários advocatícios devidos ao advogado do opoente, na
quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para cada um.
Oficie-se o Departamento de Trânsito, para que pro
ceda ao registro do veículo no nome do opoente.
P.R.I.

6 Intervenção de terceiros: nomeação à autoria


Já falei sobre minha forma leiga de memorizar o que é uma
oposição. Quanto à nomeação à autoria, coloquei na minha cabeça a
imagem do réu dizendo: “Eu não tenho nada a ver com isso, Dr,
Juiz. O dono do negócio é o fulano de tal e é ele que tem que rei»
ponder pelo caso”. Pensei isso com base no que diz o Código da
Processo Civil:
Art. 62. Aquele
demandada em que
nomedetiver a coisa
próprio, em nomear
deverá nome alheio, sendo-lha
à autoria o proprl*
etário ou o possuidor.

Um exemplo comum é o do caseiro que é citado para respon*


der a uma determinada ação que envolve o imóvel de seu patrãOi
Ora, ele não é o dono, mas apenas detentor. Da mesma forma, 0
motorista que sofre um acidente com o veículo de sua patroa e é
demandado em uma ação de indenização. Em alguns casos específi
cos, havendo culpa por parte do detentor, poderá ele também com*
por a lide. Mas, não havendo qualquer ato a ele imputável, quem
deverá responder pelo caso é o proprietário ou possuidor do bem.
Em sentenças de concursos, o tema não é tão recorrente e é
fácil entender o motivo. Diz o CPC (art. 66) que se o nomeado reco»
nhecer a qualidade que lhe é atribuída, contra ele correrá o processol
se a negar, o processo continuará contra o nomeante. Em resumo, a
questão da correção dessa modalidade de intervenção de terceiros
cm regra é feita antes da sentença, até por questões lógicas. Não há
como, utilizando tal instituto, manter nomeante e nomeado na lide:
ou este último aceita a nomeação e substitui o primeiro, ou recusa e
aquele permanece como réu.
Isso não significa que o examinador não possa pedir em uma
Nentença um caso que envolva a nomeação à autoria. Na prova do
XII Concurso do TRF da 4 a Região, uma empresa pleiteava judici-
ulmente o direito de continuar explorando uma linha interestadual de
ônibus. Arrolou no polo passivo várias pessoas jurídicas de direito
público, entre elas o Estado do Paraná, que assim falou nos autos:
O Estado do Paraná apresentou contestação em que alegou sua
ilegitimidade para a causa, afirmando não ter contribuído de ne
nhuma forma para os fatos. Disse que apenas à União, ou à sua
Agência, caberia suportar eventual condenação em favor da au
tora. Nomeou à autoria a União, alegando que, apesar dela já in
tegrar a relação processual, guardava o ônus de provocar a in
tervenção, sob pena de responder por perdas e danos nos ter
mos do Código de Processo Civil.

Caberia ao candidato, inicialmente, verificar se era um caso


de nomeação à autoria ou apenas um erro grosseiro dos patronos do
Estado do Paraná. Uma simples análise do que diz o CPC a respeito
do tema revela que não era o caso de nomeação à autoria. Primeiro,
porque o Estado do Paraná não era detentor de qualquer bem em
nome da União Federal. Segundo, porque esta já era parte nos autos,
como ré. A intenção dessa modalidade de intervenção de terceiros é
justamente trazer para a lide alguém que ainda não faz parte dela,
nias que deve responder pelo que pede o autor. Se a pessoa já faz
parte da lide, não há como nomeá-la. O máximo que caberia ao
Estado do Paraná fazer, nesse caso, seria arguir a sua ilegitimidade
passiva e dizer que a responsabilidade era toda da União Federal,
tpresentando os fundamentos de tal argumentação.
É o que eu disse: a nomeação à autoria normalmente é uma
questão decidida muito antes da sentença. Se consta em uma prova
de concurso, há uma grande chance de não ser o caso de aplicá-la,
1'onforme se viu acima. Mas como eu sempre digo, toda regra tem
exceção. Então, muito cuidado com o assunto e uma boa preparaçlo
sobre o tema são fundamentais para se evitar qualquer surpresa.
DISPOSITIVO: como o nomeado, caso aceite, ocupa o lugar
do nomeante no polo passivo, não há qualquer especificidade em
relação a uma sentença relativa a um processo no qual tenha havido
nomeação à autoria. Assim, o dispositivo fará referência tão somen
te ao autor e ao réu (o nomeado, se aceitou, ou o nomeante, se aque
le negou tal condição).

7 Intervenção de terceiros: denunciação da lide

A denunciação
cotidiana e nas provas da
de lide é um tema
concursos. Paramais freqüente
entender o que na prátioi
significa,
também utilizei uma ideia “leiga”, imaginando o réu falar: “Tudo
bem, Dr. Juiz, eu até respondo pela ação, mas o fulano de tal tam*
bém tem que participar porque, se eu perder aqui, ele tem que m#
reembolsar pelo que eu tiver que pagar para o autor”.
Essa ideia simples, porém, mostra apenas uma das hipótese!
de cabimento da denunciação da lide. Melhor transcrever o que diz
o CPC, para uma compreensão plena:
Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:
I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo
dominio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer 0
direito que da evicção lhe resulta;
II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força dt
obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credOf
pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerçi
a posse direta da coisa demandada;
III- àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a In*
denizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a deman*
da.

Diferentemente dos casos de nomeação à autoria, aqui o autor


pode exigir diretamente do réu srcinário o que entende de direitOi
Peguemos o caso de um locatário, cujo imóvel causou infiltração no
do vizinho e este, para reaver seu prejuízo, ajuizou uma ação contll
o locatário. Este não é mero detentor, mas possuidor direto. Por
conta disso, pode ser demandado. Porém, caso entenda que a res
ponsabilidade é do proprietário do imóvel, que não cuidou de sua
manutenção estrutural apesar de avisado quanto a esses problemas,
deve denunciá-lo para que, uma vez sendo o locatário condenado,
nos mesmos autos já consiga se ressarcir de tal prejuízo.
Também nos casos de evicção, como visto, cabe e é obrigató
ria a denunciação da lide, além da já citada hipótese de responsabi
lidade pela indenização, tratada no inciso EI do art. 70.

E qual o cuidado que se deve ter ao se deparar com uma de


nunciação da lide? Em primeiro lugar, que há alguns procedimentos
nos quais ela não é cabível, como nos juizados especiais (art. 10 da
Lei n°. 9.099/95) e no procedimento sumário (art. 280 do CPC),
neste último caso admitida em face de uma seguradora. Também
não é cabível nos processos de execução de título extrajudicial.
Observar ainda que, na prática cotidiana, o ingresso da pessoa
na qualidade de denunciado é decidido antes da sentença, pois ela
deve ser citada para que possa: 1) aceitar ou negar a qualidade de
denunciada; 2) caso aceite, apresentar sua contestação em relação à
lide principal. Se negar sua condição, isso na verdade será uma con
testação à sua responsabilidade de indenizar o denunciante (art. 75,
II), a qual
caberá terá que serdecidir
ao magistrado analisada pelo magistrado.
a questão Aceitando
principal, para depoisou não,
decidir
u responsabilidade do denunciado frente ao denunciante. Em melho
res palavras, existirão duas demandas diversas e que deverão ser
analisadas na citada ordem, por questão de lógica. Sim, porque se o
autor não tiver razão em seu pedido, nada haverá que ser decidido
na relação entre os dois réus.
Agora, pode ocorrer também, especialmente em uma prova
de concurso, de o examinador colocar uma proposta de sentença na
qual ainda não houve decisão sobre a admissibilidade ou não da
denunciação da lide. É difícil, mas possível. Se o denunciado não foi
citado ainda, não é possível sentenciar e o processo tem que ser
baixado em diligência, conforme o jargão popular na prática foren
se. A menos, é claro, que de plano o magistrado já verifique não ser
o caso de cabimento dessa modalidade de intervenção de terceiros.
Um bom exemplo de denunciação da lide pode ser visto na
prova do Vü Concurso do TRF da 3 a Região. Naquele caso, os auto*
res pleiteavam indenizações por conta do falecimento de um ente da
família, em um acidente envolvendo um veículo da União Federal'
dirigido por um servidor seu. A União Federal, sob alegação de q u e
a culpa era toda do servidor e de que ele não estava em serviço no
dia, disse que era parte ilegítima e, caso assim não entendesse 0
magistrado, que o causador do acidente deveria integrar a lide, na
qualidade de denunciado. A primeira pergunta é: caberia denuncia*
ção da lide nesse caso? Examinando a proposta de sentença, é pos
sível perceber que o examinador não falou em citação do denuncia*

do,intervenção
de o que indicadeque ele não Como
terceiros. entendia como
dito, cabível
se fosse essa modalidade
cabível, seria o caso
de baixar o processo em diligência para que o servidor fosse citado.
Embora existam vários julgados admitindo a denunciação da lida
nos casos de responsabilidade estatal106, tese em princípio dominan*
te, também é verdade que os tribunais admitem a sua desnecessida
de, pois a responsabilidade estatal tem natureza objetiva e a do ser
vidor tem natureza subjetiva, podendo o Estado pleitear ação regres
siva posteriormente, sem perder seus direitos por conta da ausência
de denunciação107Diante disso, aconselhável seria dizer que a de
nunciação da lide era desnecessária, por causar atraso na marcha
processual, podendo a União Federal intentar posteriormente ação
regressiva contra o servidor. Isso porque, adotar tese contrária e

admitir
ofender tal intervenção
os artigos de do
71 e 72 terceiros,
CPC e já na fase
causar de sentença,
nulidade poderia
processual.
É preciso ressaltar, até porque isso leva à solução de inúme
ros casos, que já está praticamente pacífico o entendimento de que a
obrigatoriedade de denunciação da lide se dá apenas nos casos de
evicção (art. 70,1). Nos demais casos, ela é facultativa, e, uma vez
não intentada pelo réu, a única conseqüência é a impossibilidade de
se discutir a responsabilidade do terceiro naquele mesmo processo,
cabendo o ajuizamento em qualquer caso de uma ação regressiva
autônoma. Com isso, a jurisprudência tem aceitado a rejeição da

106 TRF da 3* legião: Apelação Cível, processo n® 2002.03.9904417-82 (Relator: Mairan


Maia).
107 STJ: REsp 866.614/AL (Rei. Ministro João Otávio de Noronha).
denunciação nos casos do art. 70, incisos ü e IH, sempre que ela
puder causar confusão ou atraso na marcha processual108.
Já na prova do IX Concurso do TRF da 3a Região, o denunci
ado compareceu aos autos para fazer sua defesa. Era um caso em
que uma associação de pescadores pleiteava indenização contra a
União Federal e a Petrobrás, por conta de um derramamento de
petróleo no mar em uma operação a partir de um petroleiro de pro
priedade de uma terceira pessoa. A Petrobrás, em sua defesa, “re
quereu ainda a denunciação à lide do armador ‘EL RATEAU’, que
transportava o petróleo no navio ‘EL SOPLITS’, uma vez que o
vazamento se dera por exclusiva responsabilidade e culpa de seus
prepostos, que não se houveram com o dever de diligência e obser
vância necessária para o procedimento. (...) O denunciado à lide
compareceu aos autos para alegar que a responsabilidade pelo aci
dente era da PETROBRÁS, porquanto não houvera a abertura a
tempo do tanque de recepção da barcaça, o que veio a ocasionar o
refluxo do petróleo com as conseqüências previsíveis, donde não
poderia este ser minimamente responsabilizado por fato de terceiro”.
Percebe-se aí uma lide entre a Petrobrás e o armador dono do navio,
lide essa distinta da inicial que envolvia a associação de pescadores.
Essa proposta de sentença era bastante complexa, não há co
mo negar, não somente pelo aspecto transcrito no parágrafo anterior,
como pelos diversos outros pontos cobrados pelo examinador. De
qualquer maneira, é possível visualizar precedentes e casos pareci
dos envolvendo a Petrobrás, terminando no afastamento da denunci-
ação da lide109 Aliás, havendo acidente de natureza ambiental, a
responsabilidade é objetiva, nos termos do art. 14, § I o, da Lei n°.
6.938/81. Além disso, é solidária. E, sendo solidária, o mais correto
tecnicamente seria o chamamento ao processo, nos termos do art.
77, inciso III, do CPC. Mas ainda se não se chegar a essa conclusão,
o STJ já decidiu que nos casos de responsabilidade solidária o litis
consórcio é facultativo e, por conseguinte, a denunciada à lide não
pode ser obrigada a participar do processo110. Enfim, havia funda
loe Nesse sentido, ver Fredie Didier Jr., Direito Processual Civil - Vol. 1, pg. 304.
109 STJ: REsp 67.285/SP (Relator: Ministro Castro Meira).
1,0 No citado REsp 67.285/SP, o Relator reproduziu o seguinte trecho do parecer ministerial:
"Constata-se, portanto, que no campo do direito ambiental, a responsabilidade é solidária, a
partir do próprio conceito jurídico do ente poluidor: 'a pessoa física ou jurídica, de direito
público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degra
dação ambiental' que ' estão sujeitas às penalidades previstas no ait. 14' da Lei n 5 6.93861.
Por conseguinte, em se tratando de responsabilidade solidária, o litisconsórcio é facultativo,
mentos para o candidato recusar a denunciação da lide no caso pro*
posto pelo examinador.
Ainda quanto a esse caso, a recusa à intervenção de tercei*
ros poderia ser feita utilizando um argumento já visto na doutrint,
também citado pelo Relator no REsp 67.285/SP: a análise da rei*
ponsabilidade da denunciada frente à denunciante poderia gerar um
atraso na marcha processual capaz de tomar ineficaz o provimento
jurisdicional para o ressarcimento dos prejuízos ambientais e tam*
bém o sofrido pelas pessoas que dependiam da pesca.
Finalmente, poderia ser aplicado o inciso II do art. 75 do
CPC, ou seja, diante da não aceitação por parte da denunciada desii
qualidade, a lide continuaria apenas com as partes srcinárias.
Por outro lado, se o candidato optasse pelo caminho de acel-
tar a denunciação, que no caso em questão em princípio não tinhl
vícios processuais, visto que a denunciada compareceu aos autos C
apresentou a sua defesa, deveria tomar o cuidado já citado de decidir
primeiramente a lide principal, para somente depois cuidar da res
ponsabilidade da denunciada.

Demonstrando que o tema é relativamente recorrente em

concursos,
ão tambéma trouxe
prova de
umsentença
caso dedodenunciação
XI Concursodadolide,
TRF envolvendo
da 4* Regi*
responsabilidade estatal. Face a um pedido de indenização formula
do contra a União Federal e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre,
este último denunciou da lide os médicos que realizaram o atendi
mento ao paciente, o qual teria sido a causa dos problemas. Houve
citação regular e defesa por parte dos denunciados, inclusive com
prova pericial concluindo pela culpa dos médicos. Nesse caso, en
tendo que não era o melhor caminho rejeitar a denunciação da lide
na sentença, seja porque o magistrado nada opusera sobre isso du-

podendo ser proposta a ação para reparação dos danos contra o causador direto, contra o
indireto, ou contra ambos. Assim, inexistindo expressa determinação legal nesse sentido, ou
unicidade na relação de direito material, o Poder Judiciário não pode compelir a empresi
contratada
impede queaaparticipar
PETROBRÁS da demanda, na qualidade
S/A promova de litisconsorte.
ação própria Demais
para reivindicar disso,direito
eventual nadl em
face da empreiteira”.
rante as fases postulatória e probatória, seja porque a alegação recor
rente de dificuldades de se provar a culpa, em um caso que srcina-
riamente era de responsabilidade objetiva, já estava sanada com a
perícia. Em conseqüência, concluindo o candidato que realmente
houve culpa por parte dos médicos, o mais indicado seria condenar
o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (a União Federal deveria ser
excluída da lide antes, já que o Hospital tem personalidade jurídica
própria) a indenizar a parte autora, bem como, ao final, condenar os
médicos a ressarcirem o Hospital, face à denunciação da lide.
Na prova de Comercial do Concurso para Juiz Substituto do
TJ/DFT, de 2007, apareceu mais um caso envolvendo o tema, com
denunciação da lide ao SERASA. De se ressaltar o que eu já disse:
se o examinador não colocou no relatório da sentença que o denun
ciado foi regularmente citado, a lógica é que a tal modalidade de
intervenção de terceiros será rejeitada, sob pena de nulidade proces
sual, diante da ausência de citação. No caso específico, por qual
motivo? Como a matéria era relativa a direito do consumidor, a
denunciação da lide poderia ser rejeitada com base na vedação a ela
feita pelo Código de Defesa do Consumidor em processos de tal
natureza (art. 88)111. Ou ainda pelo simples fato de que o SERASA
não pode ser responsabilizado nesse caso, pois nenhum ato irregular

foi cometido poroele.


Por fim, tema também apareceu na prova do XL Concurso
para Juiz de Direito do TJ/RJ, em um caso de denunciação sucessiva
(art. 73 do CPC): “o Município denunciou a lide aos servidores que
integram o departamento da prefeitura ao qual incumbe a fiscaliza
ção edilícia, os quais responderam que obedeciam orientação políti
ca do Prefeito, a quem denunciaram sucessivamente, ficando este
revel”. E aí, como solucionar o caso? Bem, esse problema eu deixo
em aberto, para treinamento e pesquisa de cada um!

Ressalte-se que assim já decidiu o STJ: “A vedação à denunciação à lide disposta no art.
88 da Lei n. 8.078/1990 restringe-se à responsabilidade do comerciante por fato do produto
(art. 13), não alcançando o defeito na prestação de serviços (art. 14), situação, todavia, que
não exclui o exame do caso concreto à luz da norma processual geral de cabimento da
denunciação, prevista no art. 70, III, da lei adjetiva civil.
(REsp 439.233/SP, Rei. Ministro Aldir Passarinho Junior)”.
MODELO DE DISPOSITIVO - DENUNCIAÇAO DA LIDE
Em razão do exposto, julgo procedente o pedido e, em
conseqüência, condeno o réu a pagar ao autor, a título de inda-
nização por danos morais, a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil
reais). Esse montante será corrigido a partir da sentença, apll>
cando-se juros de mora a 1 % (um por cento) ao mês.
Condeno o réu ao pagamento das custas processuais a
dos honorários advocatícios a favor da procuradora da autora,
no valor correspondente a 15% da indenização a ser paga, apól
apuração da correção fixada nesta decisão.
Por outro lado, julgo improcedente o pedido de denuncia*
ção da lide em face da empresa de seguros, tendo em vista a
cláusula de exclusão de cobertura para pagamento de indeniza*
ção por danos morais. Consequentemente, condeno o denunci
ante/réu da lide a pagar R$ 500,00 (quinhentos reais), a título da
honorários advocatícios a favor do procurador da denunciada.
Fica o réu, ainda, cientificado de que, havendo o trânsito
em julgado desta decisão, tem o prazo de quinze dias para o pa
gamento voluntário da presente condenação, sob pena de au
mento da multa de 10%, prevista no artigo 475-J do CPC.
P.R.I.

8 Intervenção de terceiros: chamamento ao processo


Por fim, para me recordar do chamamento ao processo, eu
imaginava
pede, se noofinal
réu dizendo: “Sr.
o Sr. achar Juiz,
que ele eu
temposso atéMas,
razão. pagar
seoisso
queaconte
o autor
cer, tem mais gente que vai ter que arcar com o prejuízo junto comi
go”. Esse meu pensamento é mais condizente apenas com a terceira
hipótese de chamamento ao processo, mas me ajudava a lembrar do
tema. Assim diz o CPC:
Art. 77. É admissível o chamamento ao processo:
I - do devedor, na ação em que o fiador for réu;
II - dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenai
um deles;
III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigir da
um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum.
É possível, em uma análise superficial, confundir esse institu
to com o da denunciação da lide. Porém, são sutilmente diferentes.
Na denunciação, o juiz decidirá duas lides. Na principal, a relação é
entre autor e réu srcinário. Já na secundária, da qual o autor não
participa, decide-se a relação entre o denunciante e o denunciado,
sendo que neste último caso a sentença vale como título executivo
assecuratório do direito de regresso do denunciante. Ou seja: este
último paga a conta, mas já tem em mãos um título para exigir do
denunciado o valor éque
mento ao processo, pagou.que
possível Porooutro lado,arque
chamado no caso do chama
primeiramente
com o montante exigido pelo autor e, assim, a sentença valha de
título executivo contra o réu srcinário, que o chamou ao processo.
Suponhamos que João, Pedro e Matias sejam devedores so
lidários em uma operação comercial envolvendo a empresa Jiló
Azul Ltda. O credor ajuíza uma ação contra Matias apenas, mas este
chama ao processo João e Pedro. Ao final, por uma circunstância
qualquer, João é quem paga para a empresa o valor total. Ele terá em
mãos, então, um título executivo para exigir a parte que cabe aos
demais. No caso da denunciação da lide, a empresa nunca poderia
exigir diretamente do denunciado o valor discutido na ação, pois a
relação é apenas entre autor e réu srcinário. No chamamento, a
relação do autor se estende para os demais réus.
Concluindo: o chamamento ao processo é a “modalidade de
intervenção de terceiros em que o chamante traz para o polo passivo
da demanda os demais corresponsáveis pela obrigação, que passam
a ocupar a posição de réus. Os chamados são devedores do credor
comum, não do chamante, ao contrário do que ocorre na denuncia
ção, em que existe vínculo jurídico direto, no plano material, apenas
entre denunciante, que exerce o direito de regresso, e denunciado,
obrigado pela garantia”112.
Algumas questões já decididas na jurisprudência: não cabe
chamamento ao processo nos embargos à execução (STJ, REsp n°.
691.235/SC); não cabe o chamamento ao processo na ação monitó-

"J TRF da 3* Região, AG n s. 23681/SP (Relator: Juiz Lazarano Neto).


ria, a requerimento do réu que não embargou (STJ, REsp nB,
337.683/ES); inexiste litisconsórcio necessário de devedores solidá*
rios: o ciedor escolhe de quem cobrará e este usará, se quiser, o
chamamento ao processo (TRF da Ia Região, AC n#.
199836000053334/MT); é inadmissível, na ação civil pública, o
chamamento ao processo (TRF da Ia Região, AG n®.
9601011820/DF); não se admite, na execução, o chamamento ao
processo, instituto próprio do processo de conhecimento (TRF da 1*
Região, AC n°. 9601147845/G0); o chamamento ao processo so
mente é admissível entre codevedores solidários (TRF da 4a Região,
AC n°. 9504158609/PR).
DISPOSITIVO: não há particularidades em relação ao dispo
sitivo de uma sentença que contém um chamamento ao processo,
Segundo o art. 80 do CPC, a sentença, que julgar procedente a ação,
condenando os devedores, valerá como título executivo, em favor do
que satisfizer a dívida, para exigi-la, por inteiro, do devedor princi
pal, ou de cada um dos codevedores a sua quota, na proporção que
lhes tocar. Isso significa que o chamado ao processo assume a con
dição de réu e, portanto, o dispositivo não precisa fazer referência &
sua forma de ingresso na lide.
SkCapítuloVIl

Prejudiciais de mérito

1 Introdução
Já falamos anteriormente que alguns autores dividem as pre
liminares em processuais e de mérito. A prática mais comum, po
rém, é chamar as primeiras simplesmente de preliminares e as outras
de prejudiciais de mérito. Adotando essa denominação mais comum,
podemos dizer que as preliminares se referem realmente a questões
processuais que impedem o juiz de analisar o pedido principal em si,
ou ao menos demandam que certas providências sejam adotadas
antes dessa análise. Já as prejudiciais de mérito não são ligadas a
questões
impedindoprocessuais,
que ele sejamas dizempor
analisado respeito
outrosdiretamente ao mérito,
motivos: satisfação do
crédito, decadência, prescrição etc.
Tomemos como exemplo uma ação de cobrança de indeniza
ção por danos materiais, por meio da qual o autor alega que o réu
causou um acidente automobilístico que destruiu completamente seu
veículo. Em conseqüência, pede exclusivamente uma indenização
do valor do bem destruído. O mérito, nesse caso, está ligado à análi
se da ocorrência ou não do acidente, bem como da responsabilidade
do réu em relação aos fatos. O réu, porém, antes de contestar a sua
obrigação de indenizar, pode alegar e comprovar que já pagou o
prejuízo do autor. Ora, qual a razão do juiz analisar a responsabili
dade do réu sem antes verificar se ele realmente já indenizou o au
tor? Há quem entenda que essa é uma questão de mérito, mas fico
com a opção pela prejudicialidade do mérito. Não se adentra, quan
do da análise desse argumento de pagamento, na análise do acidente
em si e da responsabilidade do réu. Essa é a questão principal pro
posta pelo autor na inicial e todas as que a antecedem ou serão pre
liminares ou prejudiciais de mérito. Como o pagamento não é uma
matéria processual, entendo que seja uma verdadeira prejudicial de
mérito. Acaso o magistrado decida que realmente a indenização já
foi
querpaga,
outroextinguirá o feito
ponto sobre ali mesmo,
o acidente, sem passar
a menos à análise
que o réu de qual
tenha apresen
tado reconvenção para excluir sua responsabilidade e ter de volta o
que pagou espontaneamente.
De qualquer maneira, essa questão não deve causar aflição no
candidato. Se você se sentir inseguro ou se não concordar com essa
classificação sobre as prejudiciais de mérito, simplesmente analise
as preliminares (processuais) em um capítulo da sentença e, no ou
tro, passe à análise do mérito, cuidando inicialmente daquelas ques
tões que podem prejudicar o julgamento das demais, como os fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos do pedido (art. 326 do
CPC), a prescrição ou a decadência. Na prática cotidiana, eu nem
sempre separo rigorosamente as preliminares processuais das preju
diciais de mérito e do mérito propriamente dito113. Em muitos casos,
eu apenas analiso as preliminares e, em seguida, já passo ao mérito,
onde vejo questões como a prescrição. Não acho que exista prejuízo
nesse caso, mesmo porque não há determinação legal alguma no
sentido de que a sentença seja dividida por tópicos. Assim, nem
mesmo seria necessário criar um capítulo numerado para as prelimi
nares e outro para o mérito. Basta que as matérias sejam analisadas
na sequencia correta, guardando a ordem de prejudicialidade de
umas em relação às outras, além da sequencia geral da sentença:
relatório, fundamentação e dispositivo.
Digo isso porque o próprio examinador às vezes não é muito
criterioso quanto a essa classificação. Pegue como exemplo a sen-
113 Dinamarco, por exemplo, coloca as questões impeditivas, modificativas ou extintivas do
direito do autor entre as questões de mérito. Obra citada, Volume III, pg. 36.
tença do X Concurso do TRF da Ia Região. Nela, o examinador
assim dispôs:
Contestação: Preliminar: A União vem arguir a prescrição do di
reito por decorridos mais de 5 (cinco) anos entre o acidente e o
ajuizamento da ação, 1996 - 2003, ou dois anos e meio entre a
data da ciência do indeferimento, 18.2.2001 e a citação
28.8.2003, súmula n. 383/STF.

Segundo tudo o que temos visto até agora, a prescrição não


seria uma preliminar propriamente dita (a menos que se adote aque
la classificação que fala em preliminares processuais e de mérito),
mas uma prejudicial de mérito. Que importância tem o nome que se
dá aos bois nesse caso? O que não pode é o candidato ou o magis
trado chamar uma ausência de pressuposto processual de matéria de
mérito, ou então a análise sobre a existência ou não do acidente de
trânsito de preliminar processual. Tirando isso, pequenas divergên
cias quanto às denominações certamente não prejudicarão a redação
da sentença. O que importa, friso mais uma vez, é respeitar a ordem
lógica de prejudicialidade das questões analisadas.
Pois bem, seguindo em frente, as prejudiciais de mérito que
mais aparecem em concursos são ligadas à decadência e à prescri
ção. Vejamos cada uma delas114

2 Decadência
Quanto à decadência, ela é uma alegação bastante comum em
sede de mandado de segurança, visto que o prazo para se ajuizar
essa ação de cunho constitucional é de apenas 120 dias. Dê uma
olhada na prova do VII Concurso do TRF da 5a Região e você verá
justamente essa alegação. Nesse caso específico, bastava dizer que o
prazo somente se inicia quando da ciência dos impetrantes acerca do
ato ilegal ou abusivo. Sendo um processo administrativo, em conse
qüência, o prazo não se inicia com a prolação da decisão, mas com
114 Caio Mario fala sobre os dois institutos: “Agora cuidamos dos efeitos do tempo nas
relações jurídicas, sob tríplice ângulo de visão. De um lado, e seguido de outros fatores, é
causa da aquisição de direitos, quando toma inatacável e inabalável a situação que o titular
vem exercendo continuamente {prescrição aquisitiva). De outro, conduz à extinção da
relação jurídica, que se não exercita por certo período, em razão da inércia do titular (pres
crição extintiva). E, finalmente, institui o requisito de validade de alguns direitos, que somen
te podem ser exercidos dentro em certo prazo, sob pena de perecerem (decadinclê ou
caducidade)". Obra citada, Volume I, pg. 433.
sua comunicação aos interessados, até por respeito ao princípio da
publicidade los atos administrativos (Constituição Federal, art. 37).
É preciso tonar muito cuidado também, em relação aos mandados
de segurança para saber se são preventivos ou repressivos, já que no
primeiro cas» não se fala em decadência do direito à impetração113,
tendo em visa que o ato ilegal ou abusivo ainda não foi cometido.
Mas, íão é somente o mandado de segurança que tem prazo
decadencial. Conforme se vê na prova do 51° Concurso do TJ/Goiás
(2), pode sei que o réu alegue essa prejudicial também em outros
casos, como se via nessa proposta, tratando da Lei de Imprensa. O
candidato de/eria, então, estar por dentro da jurisprudência da épo
ca, que recothecia a não recepção pela Constituição Federal de 1988
do prazo decidencial disposto na referida lei116.
Também na prova do XXXIX Concurso do TJ/RJ houve uma
alegação de decadência, dessa vez em relação ao direito de questio
nar a paternidade. Mais uma vez, a resolução do problema dependia
do candidato ter estudado a jurisprudência, para saber que os tribu
nais têm conãderado imprescritível tal ação117
Por fin, cabe destacar o Direito Tributário, área na qual o
tema decadêicia e prescrição é absolutamente recorrente. Não vou
tecer comentírios sobre os prazos relativos aos diversos tributos e às
formas de larçamento, pois não é esse o objetivo do presente traba
lho. Toco no assunto apenas para alertar ao candidato para não dei
xar
sejaessa matéia
quanto de ladoentre
àconfusão na hora dos estudos,
os institutos118. seja quanto aos prazos,

3 Prescrição
Em geial, diz-se que a prescrição (na modalidade extintiva) é
a perda do direito de exigir em juízo determinado bem da vida, ten
do em vista i inércia do titular do direito por determinado prazo

115 STJ: REsp 769599/RJ (Relatora: Ministra Eliana Calmon).


116 STF: RE 420.7J4/SP (Relator: Ministro Carlos Velloso). NOTA DA 2» EDIÇÃO: a Lei de
Imprensa foi julgaca incompatível com a Constituição de 1988, conforme decidido pelo STF
na ADPF n2130.
117 STJ: REsp 765479/RJ (Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros).

116 Na esfera tribuária, diferenciar decadência de prescrição é bem mais fácil do que na
esfera cível, visto que a primeira ocorre antes do lançamento e a segunda somente após o
crédito tributário jáestar constituído.
previsto em lei. É a velha máxima de que o direito não socorre a
quem dorme.
O Código Civil enumera diversos prazos prescricionais em
seu art. 206. Como as provas de sentença em concursos permitem
que o candidato consulte a legislação pura119, não há grandes preo
cupações quanto a essa questão, visto que bastará uma leitura de tal
dispositivo legal. De qualquer maneira, vale ressaltar que o prazo
geral é de dez anos, conforme o art. 205. Além disso, como ainda
estamos em um momento de transição em relação ao Código Civil
de 1916, recomendo um bom estudo nas regras de transição acerca
da prescrição, constantes nos artigos 2.028 a 2.030 do novo Código.
Por outro lado, algo que costuma pegar muito candidato des
prevenido são os casos de suspensão e interrupção da prescrição,
destacados nos artigos 197 a 204 do Código Civil. Quer um exem
plo? Dê uma olhada na prova do EX Concurso do TRF da 4a Região.
Ali, o essencial não era saber que a prescrição se dava em cinco
anos do acidente, mas que não corre prescrição contra os absoluta
mente incapazes, conforme determina o inciso I do art. 198 do Có
digo Civil. Na correria de uma prova, especialmente quando a pres
crição não atinge toda a causa, mas apenas parte dela, o candidato
pode ignorar essas suspensões ou impedimentos da prescrição e
extinguir o feito
Civil. Assim, com abase
atenção essenoponto.
art. 269, IV, do Código de Processo
Outro caso a ser analisado é em relação às prestações de trato
sucessivo, como as pensões alimentícias, previdenciárias, remunera
ções de servidores públicos e por aí afora. É bastante comum a ale
gação no sentido de que ocorreu a prescrição e, por vezes, o fato que
deu srcem ao pedido realmente aconteceu há mais tempo que o
prazo prescricional. Porém, especialmente em relação à administra
ção pública, o tema já foi objeto até da Súmula n°. 85 do STJ, que
diz:
“Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda
Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o
próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as presta
ções vencidas antes do qüinqüênio anterior à propositura da a-
ção”.

"9 Nesse sentido, ver a Resolução CNJ n s 75/2009.


Assim, a regra é, não tendo sido negado o próprio direito pos
tulado, só prescreverem as prestações anteriores ao prazo legal, mas
não do chamado fundo de direito120. Porém, como eu sempre digo, é
bom acompanhar as alterações jurisprudenciais, especialmente em
concursos para a magistratura, nos quais o pensamento dos tribunais
é cobrado com frequência. Nesse assunto que analisamos agora, por
exemplo, o STJ já decidiu de forma diferente, em um caso específi
co:
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMI
NISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. SUPRESSÃO DE GRATI
FICAÇÃO. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. ENTEN
DIMENTO DA TERCEIRA SEÇÃO. RESSALVA DESTA RELA
TORA. 1. No que se refere à supressão de vantagens pecuniá
rias da remuneração de servidor público, firmou-se na Terceira
Seção desta Corte entendimento de que o ato é comissivo, único
e de efeitos permanentes, não configurando, portanto, situação
de prestação de trato sucessivo, mas de prescrição do fundo de
direito. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg no Ag
467.614/MG, Rei. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOU
RA, SEXTA TURMA, julgado em 06.12.2007, DJ 19.12.2007 p.
1240)

Como eu venho ressaltando desde o início, este é um livro pa


ra ensinar a redigir sentenças, não para ensinar o direito material ou
processual em si. Nesse sentido, procuro apenas alertar o leitor so
bre os pontos que podem ser exigidos, cabendo ao candidato ou
operador do Direito um estudo à parte, mais aprofundado sobre cada
tema. No caso da prescrição, pela recorrência com que cai em pro
vas de concursos, não é seguro deixar o assunto de lado.
Tocando no assunto relativo às prestações de trato sucessivo,
é possível encontrar um problema assim na prova do TJ/DFT, relati
va ao Concurso de 2007 (Administrativo). Lá havia um pedido de
indenização por danos morais e de pagamento de uma verba mensal,
por conta de um acidente que vitimou o companheiro da autora.
Cabia ao candidato analisar, em primeiro lugar, se o prazo prescri-
cional seria contado a partir da data do acidente ou do falecimento
da vítima. Optando por esta segunda possibilidade, não se falaria em
120 STJ: AgRg no REsp 819.302/PE (Relator: Ministro CARLOS FERNANDO MATHIAS -
JUIZ CONVOCADO DO TRF 1* REGIÃO).
prescrição. Porém, caso o candidato entendesse que a prescrição
realmente deveria ser contada do dia do acidente, o passo seguinte
seria analisar sua ocorrência em relação ao pedido de pagamento de
verba mensal. No caso, uma boa solução seria justamente aplicar a
Súmula n°. 85 do STJ, para considerar prescritas apenas as parcelas
vencidas há mais de cinco anos do fato, mas não o direito a elas em
si. Isso, repito, deixando de lado a tese de que a prescrição começa
ria a contar da data do falecimento e não do acidente.

Analisando
é possível perceberasnão
propostas
somentedeessa
sentença apresentadas
recorrência do temaneste livro,
prescri
ção, mas também a sua riqueza e as suas diversas nuances. Onde há
uma exceção na regra geral, lá está o examinador a exigir os conhe
cimentos do candidato. Observe a prova do VI Concurso do TRF da
5a Região, que tratava de um caso de improbidade administrativa.
Um dos réus alegava a prescrição qüinqüenal em relação aos atos
cometidos havia mais de cinco anos do ajuizamento da ação. A
prescrição realmente é qüinqüenal nesse caso? Sim, mas cabia ao
candidato saber que a Lei n°. 8.429/1992 diz, em seu art. 23, que as
ações destinadas a levar a efeitos as sanções por conta de improbi
dade administrativa podem ser propostas até cinco anos após o tér
mino do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função
de confiança. Com isso, estaria afastada a prescrição.
Quer outro exemplo de como os examinadores aproveitam
cada uma das exceções e particularidades legais? Leia a prova do
VII Concurso do mesmo TRF da 5a Região e repare que lá há outro
caso de prescrição, agora ligado a processos administrativos disci-
plinares. Uma solução para esse caso poderia ser redigida assim:
Alegam os impetrantes que seria ilegal o ato de punição porque
a pena de suspensão prescreveria em dois anos, nos termos do
inciso II do art. 142 da Lei 8.112/90, sendo que a punição só foi
efetivada após esse lapso temporal.
Com efeito, a Lei 8.112/90 adota o prazo de dois anos em casos
como o presente. Porém, o § 3 8 do referido art. 142 é claro ao
dizer que a abertura de sindicância ou a instauração de processo
disciplinar interrompe a prescrição. Logo, aberto o procedimento
em 19 de abril de 2002, interrompida foi a prescrição. Poder-se-ia
questionar se haveria uma prescrição intercorrente nesse caso,
mas a legislação é clara ao dizer que o prazo prescricional fica
interrompido até a decisão final proferida pela autoridade compe
tente. Ou seja: durante o processo de apuração da falta, deter
mina o § 3S que não corre a prescrição.
Diante dessas conclusões, verifica-se que, entre o ato dos impe
trantes que deu srcem à punição e a instauração do processo
disciplinar, não decorreu o prazo de dois anos. Assim, não se
pode falar em prescrição do direito de punição que a Administra
ção tem no caso, razão pela qual rejeito tais alegações dos im
petrantes.

Já na prova de Civil do Concurso de 2007 do TJ/DFT, a pres


crição era arguida em uma ação monitória, sob a alegação de que,
expirado o prazo para execução de um cheque, bem como o da ação
relativa ao enriquecimento sem causa, não pode a pessoa ajuizar
uma ação monitória para receber o valor de um cheque. Caso relati
vamente complicado, bastante interessante, que só reforça a riqueza
do tema. Tendo em mente a jurisprudência do STJ, o candidato
poderia refutar a prescrição alegando que o cheque prescrito serve
como instrumento de ação monitória, mesmo vencido o prazo de
dois anos para a ação de enriquecimento (Lei do Cheque, Art. 61),
pois o art. 1.102a, do CPC exige apenas “prova escrita sem eficácia
de título executivo”, sem qualquer necessidade de demonstração da
causa debendi121. Mas vale observar também uma espécie de “pega-
dinha” feita pelo examinador dessa prova, já que nos embargos à
monitória o embargante alegou que havia passado o prazo de dois
anos
to para
sem o ajuizamento
causa, quando nada ação deo ressarcimento
verdade de enriquecimen
prazo do art. 206, § 3 o, IV, do
novo Código Civil é de três anos. É aquela história: muito candidato
bom fica para trás por falta de atenção, assim como muito magistra
do tem a sentença sujeita a embargos de declaração pelo mesmo
motivo.

Caso-modelo: XII Concurso do TRF da 1® Região


Em matéria tributária, a prescrição é tema bastante recor
rente, visto ser um instituto de fundamental importância e tratado
com grande destaque pelo CTN. No nosso caso-modelo, embora
o tema central seja o custeio previdenciário, as normas regentes
são as mesmas da esfera tributária, pois a jurisprudência já se
consolidou no sentido de que as contribuições sociais, incluindo
121 STJ: REsp 365.061/MG (Relator: Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS).
as previdenciárias, têm natureza de tributo. Por conta disso, a
exigência por parte do examinador de questões ligadas à pres
crição se mostrou bastante condizente com o que é visto pelos
magistrados na prática cotidiana.
Analisando a questão, temos um pedido de compensação
de contribuições previdenciárias pagas a partir de 30/10/1997,
sendo a ação ajuizada em 25/10/2005. A regra geral do Código
Tributário Nacional é a prescrição ocorrer em cinco anos da data
de extinção do crédito tributário (art. 168). Ocorre que, nos casos
de lançamento por homologação, o Superior Tribunal de Justiça
passou a entender que esses cinco anos só passariam a correr a
partir do lançamento, que nos casos de homologação tácita o-
correria cinco anos após o fato gerador. Em resumo, essa é a
conhecida
caso, visto tese dosdata
que na “cinco mais cinco”,daque
da propositura levaria
ação à solução
não teriam se do
passado mais de dez anos.
Porém, como consta na proposta de sentença, foi editada
a Lei Complementar nfi. 118/2005, que trouxe em seu art. 3 a uma
espécie de interpretação autêntica, para dizer que, nos casos de
lançamento por homologação, o prazo de cinco anos para o con
tribuinte pedir a restituição ou compensação deve ser contado a
partir do pagamento indevido e não do lançamento. Como a a-
ção apresentada pelo examinador foi ajuizada depois do início
da vigência dessa Lei Complementar nfi. 118/2005, ao candidato
cabia enfrentar também esse ponto. Nesse sentido, uma boa so
lução seria seguir o que decidiu o STJ, ou seja, que a referida
Lei Complementar, por trazer norma de natureza não somente
processual, mas também material (afetando direitos dos contri
buintes), seria aplicável apenas aos pagamentos efetuados após
a sua entrada em vigor . Com isso, o candidato julgaria insub-
sistente a alegação de ocorrência da prescrição, pois seria apli
cável ao caso a tese dos “cinco mais cinco”.

AgRg no REsp 929887/SP (Relator: Ministro Luiz Fux).


MMff- x. . .....

^««Capitulo VIII

Contra-ação

1 Introdução
Em um processo judicial que conte com autor e réu, a regra é
o primeiro fazer um pedido contra o segundo, que se manifesta nos
autos na tentativa de que seja mantido ostatus quo anterior. Se Hen
rique ajuíza ação para que Ricardo lhe entregue um veículo, o réu
buscará em sua defesa tão somente que o magistrado mantenha tudo
como está, ou seja, o carro em sua posse.
Essa é a regra, mas há exceções.

mas a Em algumas
resposta ações,
judicial o autor
pode levarformula um pedido
a uma situação contra
mais o réu,
prejudicial
ao autor do que se ele não tivesse ingressado em juízo. Isso se dá
basicamente por meio de três institutos: reconvenção, pedido con
traposto e ação dúplice. Por quase sempre desaguarem no mesmo
resultado, ou seja, na possibilidade do autor ter que responder por
um bem da vida perante o réu, nem sempre os três institutos são
compreendidos corretamente. Como não é intenção desta obra tratar
profundamente de questões de direito material ou processual, como
Já foi observado anteriormente, recomendo um estudo apurado para
quem quer se aprofundar no assunto, por meio da leitura de obras
específicas sobre o tema. Na internet há um interessante e conden
sado artigc de Daniel Amorim Assumpção Neves que procura fazei
essa difereiciação123. Recomendo a leitura.
De qualquer maneira, façamos um pequeno resumo sobre o
tema, segiindo em parte a linha exposta pelo professor Amorim,
Pois bem, i reconvenção é prevista em vários artigos do CPC, mas o
art. 315 trata de forma mais explícita o instituto:
Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda
vez que a reconvenção seja conexa com a ação principal ou com
o fundamento da defesa.
Parágrafo único. Não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir
ao ajtor, quando este demandar em nome de outrem.

Normalmente, a reconvenção ocorre não somente quando ha


ja uma coiexão nos estritos termos da legislação processual, ma#
principalmente quando o esforço probatório empreendido nos autos
poder levar à conclusão tanto da ação quanto da reconvenção. É
uma questão de economia processual. Imagine que Augusto e Maci
el se envolveram em um acidente na pista do aeroclube da cidade,
com colisão dos ultraleves que cada um possui, sendo que o primei
ro ajuíza ação contra Maciel para cobrar os prejuízos. Como se trata
de um ilíc;to civil não amparado por nenhuma norma específica,
como o Direito do Consumidor, a solução do caso dependerá da
prova de que o réu agiu com culpa no acidente. Para tanto, serão
necessárias provas - inclusive periciais, conforme o caso. Ora, se
haverá um esforço probatório por meio do qual se apurará de quem
foi a culpa, qual a razão de se proibir que o réu também faça um
pedido coma o autor, para que este seja responsabilizado pela inde
nização? Nenhum. Por isso, a legislação processual permite que
Maciel, ao mesmo tempo em que se defende do pedido de Augusto,
contra este também apresente sua demanda.
A diferença básica entre a reconvenção e o pedido contrapos
to aparece aí: no procedimento ordinário, caberá a primeira; no su
mário, o segundo (CPC, art. 278, § Io). Aliás, também nos juizados
especiais o réu tem à sua disposição o pedido contraposto (Lei n°.
9.099/95, art. 31), mas há outras diferenças vitais. A mais visível é a
123 Disponível en http://www.Drofessorannorinn.com.br/amorim/dados/anexos/376.cloc
forma de manejo dos dois institutos. A reconvenção é apresentada
Juntamente com a defesa, em petição apartada (CPC, art. 299). Ali-
tís, pode ser apresentada independentemente da contestação. Já o
pedido contraposto é feito na mesma peça que a defesa, seja esta
escrita ou oral (neste último caso, bastante comum nos juizados
especiais). Terminamos por aqui com as diferenciações? Não. Há
um outro grande ponto de distinção: a reconvenção, embora presen
te no mesmo processo que a ação, é autônoma em relação a ela e
não é extinta mesmo se o autor srcinário desistir da sua ação ou
esta for extinta por qualquer motivo, ainda que por carência de ação
(CPC, art. 317). Ou seja: se Augusto desistir de cobrar de Maciel os
prejuízos que teve em seu ultraleve, a reconvenção de Maciel conti
nuará seu caminho normalmente. Nos pedidos contrapostos, isso
não acontece, pois eles são dependentes integralmente da ação. Em
um acidente de trânsito, cuja indenização pelos prejuízos na ordem
civil corre pelo rito sumário (CPC, art. 275, n, “d”), se o processo
for extinto porque o advogado do autor não apresentou a procuração
mesmo depois de intimado para isso, o pedido contraposto do réu
lambém morrerá ali.
A compreensão das ações dúplices é um pouco mais difícil,
até mesmo porque essa expressão é utilizada na doutrina e na juris
prudência
postos, ou normalmente
seja, às ações para se referir
nas quais o réuaos casos
pode de pedidos
apresentar um contra
pedido
contra o autor no corpo da própria contestação ou defesa. Daniel
Amorim Assumpção Neves, no já citado artigo jurídico, alerta que o
fato do tipo de ação permitir um pedido contraposto não a transfor
ma em ação de natureza dúplice. Vejamos:
“Em conclusão, nos parece que a atribuição de natureza de ação
dúplice deve levar em conta tão somente a natureza da relação
jurídica de direito material, nunca podendo s er fixada por normas
processuais. Como visto, há um aspecto que facilita a diferenci
ação da ação dúplice e de formas processuais de contra-ataque
do réu na própria contestação, que é justamente a necessidade
de pedido expresso nesse sentido pelo réu. Nas ações dúplices,
conforme já afirmado, não existe qualquer necessidade de pedi
do, já que a sentença de improcedência inevitavelmente repre
sentará ao réu a obtenção do bem da vida disputado. Já no pe
dido contraposto do sumário ou ainda no pedido reconvencional
anômalo previsto para as ações possessórias, o pedido expru>
so é imprescindível em respeito ao princípio da inércia da jurisdl*

O caso da ação de prestação de contas é emblemático. JolQ


ajuíza ação contra Gouvêa, pois este deve prestar-lhe contas por uni
motivo qualquer. Gouvêa presta as contas e, ao final, descobre-se
que João é que lhe devia. Nos termos do art. 918 do CPC, Gouvô*
terá o direito de executar o que foi decidido por sentença ainda quo
não tenha feito nenhum pedido contra João. Esse é um caso puro de
ação dúplice a que se refere Daniel Amorim, como também oéi
ação demarcatória.
Como eu disse, não vamos nos aprofundar no assunto, par#
não desviar o foco da presente obra. De início, basta lembrar que 01
três casos - reconvenção, pedido contraposto e ação dúplice - abrem
a possibilidade ao réu de conseguir algo mais do autor do que a
simples manutenção do status quo anterior ao ajuizamento da de
manda. Na reconvenção, há necessidade de um pedido expresso em
uma petição apartada da peça de defesa. No pedido contraposto, o
réu apresenta sua demanda no corpo da própria defesa. Já na ação
dúplice, o réu (ou requerido, conforme o caso) nada precisará pedir,
pois a própria natureza da ação poderá fazer com que, ao final, o
status quo anterior ao ajuizamento da demanda seja alterado, mas
em seu favor.
Vejamos, pois, o que cada um desses institutos nos interessa
em relação a uma prova de concurso.

2 Ações dúplices
Apenas para relembrar, “o réu não exerce direito de ação nas
hipóteses de ação dúplice. Nestes casos, sua pretensão já está inseri
da no objeto do processo desde a propositura da demanda pelo autor
devido à própria natureza do direito material controvertido. A prin
cipal implicação desta afirmação reside na eventual decretação de
carência de ação em fase procedimental posterior ao oferecimento
da defesa pelo réu; o processo será extinto sem julgamento de méri-

"4 Contra-ataque
<httD:// do réu: indevida confusão entre as diferentes espécies. Disponível
www.professoramorim.com.br/amorim/dados/anexos/376.doc em:21 jan.
>. Acesso em:
2008.
Io e não haverá possibilidade de o réu aproveitar os atos processuais
praticados para obter provimento favorável a sua pretensão. Sendo o
uutor carecedor de ação, a relação de direito material não será apre
ciada pelo Poder Judiciário e, consequentemente, não haverá qual
quer manifestação acerca da pretensão do réu (pois esta é decorrên
cia lógica da relação de direito material)”. Essas são as lições de
Juliana Demarchi125.
Pois bem, não serão tão comuns os casos de ações tipicamen
te dúplices em concursos, porque elas são limitadas. Em regra, a
doutrina traz como exemplo as possessórias - embora tenhamos
visto que, adotando as lições de Daniel Amorim Assumpção Neves,

us possessórias
contraposto. Emnaconcursos
verdade não
parasãoa dúplices, masfederal,
magistratura contêm será
um pedido
mais
raro ainda encontrar uma proposta de sentença que abarque uma
questão possessória. Raro, mas possível. Também são citadas pela
doutrina as ações demarcatórias e as divisórias, além da prestação de
contas. Outro caso de ação dúplice ocorre nas consignações em
pagamento, quando o réu alega que o depósito não foi integral. Nes
ses casos, ele não precisa pedir o complemento, pois isso está implí
cito pela natureza da demanda, sendo que a sentença que concluir
pela insuficiência do depósito já valerá como título executivo em
favor do réu (CPC, art. 899, § 2o).
Enfim, a chance de se deparar com uma ação dúplice é pe
quena. Porém, é preciso saber o que fazer no caso do examinador
pedir
cupar,uma sentença
porque assim. natural
o desfecho Em regra,
do não
casohápoderá
muito ser
comfavorável
o que preo
ao
autor ou ao réu, como já dissemos sobre as prestações de conta.
Quanto às possessórias, até mesmo porque não são puramente
dúplices, o juiz deverá consignar no dispositivo em favor de quem a
demanda é procedente - mas isso somente no caso do réu ter feito o
pedido contraposto ao autor, nos termos do art. 922 do CPC.

3 Reconvenção
A reconvenção é muito mais comum em concursos, especi
almente na esfera estadual. Inicialmente, o magistrado precisa ob
servar duas coisas. Primeiro, se não estamos diante de um procedi
125 In: DIDIER JR., Fredie (Org.). Leituras Compiementares de Processo Civil. 3a ed. rev.
ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2005. Pg. 40.
mento sumário ou dos juizados especiais, pois nesses casos caberá 0
pedido contraposto e não a reconvenção. Também nas ações dúpll*
ces não se utiliza tal instituto, mesmo porque falta interesse proces
sual ao réu, já que a sentença necessariamente poderá ser favorável
a qualquer uma das partes, independentemente de pedido do réu,
Segundo, sendo mesmo o caso de reconvenção, se ela foi feita em
petição separada e no mesmo momento que a contestação (embori
esta não seja absolutamente necessária). São requisitos fundamen
tais para o processamento da reconvenção.
Além disso, é preciso observar se a “contra-ação” do réu ó
conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa, noi

termos odoautor
contra art. que
315 não
do CPC.
tenha aNão poderelação
menor o réu com
apresentar um pedido
a demanda inicial,
Em assim sendo, caberá a ele ajuizar nova ação, totalmente desvin
culada daquela. Mais ainda, diz o parágrafo único do art. 315 que
não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao autor, quando este
demandar em nome de outrem. Caso clássico é quando o autor age
como legitimado extraordinário, não cabendo aí reconvenção por
parte do réu.
Outros detalhes importantes sobre o tema: o autor deve ser in
timado (e não citado) para contestar a reconvenção (art. 316), q u e
será julgada na mesma sentença que a ação (art. 318), sendoq u e
qualquer causa que leve à extinção desta última não atingirá a pri
meira (art. 317).
Vejamos então os casos de reconvenção em nossas sentenças
de estudo.
A prova do XII Concurso do TRF da 3* Região traz um inte
ressante caso, no qual uma Fundação mantenedora de hospitais ajui
zou demanda contra a União Federal, o INSS e o Estado de São
Paulo para manter em vigência um contrato de prestação de servi
ços. A União Federal não apenas contestou, mas também apresentou
reconvenção em face da Fundação, pleiteando a condenação do
Fundação Mantenedora em devolver os valores recebidos pelo»
Hospitais, sem ter havido a correspondente prestação dos exames 0
serviços médicos cobrados. A Fundação contestou a reconvenção,
dizendo que ela não era cabível naquele caso.
Pergunto: era cabível ou não? Em primeiro lugar, verifica-se
que é uma ação de conhecimento correndo pelo procedimento ordl*
nário, ou seja, em princípio cabia reconvenção. Além disso, o pedi
do da União Federal era conexo com o fundamento da defesa, visto
que a resilição contratual teria sido derivada justamente das cobran
ças indevidas por parte da Fundação. Assim, em princípio não have
ria problema processual quanto à utilização da reconvenção. Con
cluindo o candidato nesse sentido, deveria então passar à análise do
mérito em si, seja da ação, seja do pedido do réu.
Em síntese, havendo uma reconvenção, inicialmente é preciso
observar se ela preenche os requisitos de existência e validade, co
mo o procedimento correto e a conexão com a ação ou com os fun
damentos da defesa, além da apresentação em petição apartada. Isso,
logicamente, depois de apreciar o pedido do autor na sentença. Pro
cedente o pedido do autor e sendo ele excludente do que requer o
réu na reconvenção, bastará ao juiz explicar tal fato e julgar a im-
procedência da reconvenção, sem se esquecer da questão dos ônus
da sucumbência, que são independentes em relação à ação e à re
convenção.
Se o pedido do autor for julgado improcedente, a análise da
reconvenção deve ser mais aprofundada, mas nem sempre ela será
considerada procedente pelo simples fato de o autor não ter tido
Nucesso em seu pedido. Relembrando o caso da colisão entre os dois
ultraleves, é possível que a perícia conclua que o causador do aci
dente foi uma terceira pessoa, razão pela qual tanto a ação quanto a
reconvenção não terão seus pedidos julgados procedentes.
Outras decisões sobre o tema: a reconvenção é cabível na a-
ção monitória, após a conversão do procedimento em ordinário
(STJ, Súmula n°. 292); não cabe reconvenção quando a matéria
puder ser alegada com idêntico efeito prático em sede de contesta
ção (STJ, MC 12.809/RS); os honorários advocatícios, na reconven-
çflo, são independentes daqueles fixados na ação principal, razão
pela qual pode ser estabelecido percentual distinto para seu cálculo
(STJ, AgRg no REsp 753.095/DF);
MODELO DE DISPOSITIVO - RECONVENÇÃO
Ante o exposto, julgo improcedente o pedido feito pelo au
tor de restabelecimento do percentual de 28,86% (vinte e oito
vírgula oitenta e seis por cento), a incidir sobre a folha de paga
mento do autor, bem como recebimento das verbas atrasadas a
tal título, desde janeiro de 2003, data em que o percentual deixou
de integrar seu salário.
Julgo parcialmente procedente a reconvenção oferecida
pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - FMTM, hoje
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, para obrigar
o autor/reconvindo a devolver à UFTM os valores recebidos por
força da decisão judicial proferida nos autos n s. 95.0201992-0, de
outubro de 1995 a fevereiro de 2002 , corrigidos monetariamente
a partir de cada pagamento, de acordo com o manual de cálculos
da Justiça Federal, acrescidos de juros de 0,5% (cinco décimos
por cento) ao mês, a partir da intimação do autor/reconvindo a-
cerca da reconvenção, tudo conforme cálculos a serem apurados
em sede de liquidação de sentença. Ressalto que a reposição de
tal montante deverá ser feita mensalmente, respeitado o limite de
10% (dez por cento) dos vencimentos totais do autor/reconvinte,
nos termos do art. 46 da Lei nfi. 8.112/1990.
Tendo em vista a sucumbência na ação e na reconven
ção, condeno o autor nas custas processuais, bem como ao pa
gamento de honorários advocatícios calculados em 10% (dez por
cento) do valor a ser restituído à ré/reconvinda.
Retifique-se a autuação, para fazer constar como nome
da ré aPublique-se.
UniversidadeRegistre-se.
Federal do Triângulo Mineiro - UFTM.
Intimem-se.

4 Pedido contraposto
Conforme já dito, o pedido contraposto aparece, em regra, na
procedimento sumário e nos juizados especiais. Vale relembrar que
ele é totalmente vinculado à existência da ação, ou seja, se o autor
desistir da ação ou esta for extinta por conta de qualquer outro fatOf
processual, o pedido contraposto morrerá também.
Em concursos não é tão comum a existência de pedido con*
traposto. Isso porque a maioria das propostas de sentença é relativa
a ações ordinárias e mandados de segurança, nos quais não é cabível
essa forma
provocar de pedido do réu.
o conhecimento Claro, o inserindo
do candidato examinadorumsempre
pedido poderá
contra*
posto onde ele não é cabível, mas nesse caso basta falar da imperti
nência do pedido. De qualquer maneira, em sendo cabível esse insti
tuto processual, não haverá maiores dificuldades em analisá-lo. No
caso do procedimento sumário, o réu só poderá formular uma de
manda contra o autor se ela for fundada nos mesmos fatos referidos
na inicial (CPC, art. 278, § Io), ou seja, o campo é ainda mais estrei
to do que na reconvenção, que exige apenas uma conexão. Logo, se
os fatos da ação e do pedido contraposto devem ser os mesmos, a
Instrução probatória já levará à solução do caso, seja em favor do
uutor, seja em favor do réu, sem maiores dificuldades. Em resumo,
não háuma
cada necessidade
das partesobrigatória de sedistintos
em capítulos dividir adaanálise dos pois
sentença, pedidos
tudode
será decidido de uma vez só. No dispositivo, bastará ao magistrado
dizer quem teve sua demanda julgada procedente, especificando os
termos de tal dispositivo, bem como condenando o vencido nas
verbas de sucumbência.
Por fim, cabe falar de um caso que já apareceu nos tribunais e
que pode vir a ser cobrado em uma prova de concurso da magistra
tura federal. Falo da possibilidade de a União Federal, em uma ação
em que é ré no juizado especial, fazer um pedido contraposto em
fuce do autor. Como se sabe, a legislação vigente permite que a
União seja ré nos procedimentos do juizado especial, mas não auto-
ru. Em face disso, já se decidiu que não cabe nesses casos um pedi
do contraposto126. O tema é interessante e merece uma reflexão mais
apurada, mas admito a lógica da exclusão desse instituto processual
nos juizados especiais federais, embora o pedido contraposto não
Inaugure uma demanda relativamente independente da principal,
çomo no caso da reconvenção.
MODELO DE DISPOSITIVO - PEDIDO CONTRAPOSTO
Ante o exposto, com fundamento nos arts. 5 B e 6a da Lei
1.099/1995, julgo improcedente o pedido formulado pelo autor. Em
iontrapartida, julgo parcialmente procedente o pedido contraposto e
OOndeno o autor, MARCIUS TERCIUS, a pagar ao réu, CAIUS AU-
QUSTUS, a importância de R$ 300,00 (trezentos reais), a título de da
nos materiais, devendo incidir correção monetária a partir do ajuizamen
to da ação e juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação.
Itm custas e honorários advocatícios.
P.R.I.
is»
^Juizado Especial Federal da 1a Região, 1a Turma Recursal de Goiás: Recurso Cível n s.
100235007073116 (Relator: Lindoval Marques de Brito).
msmm
^pfCapítulo IX

Análise do mérito

1 Confronto dos argumentos das partes


Superada a fase de decidir as preliminares e demais questões
que antecedem o mérito, é hora de encontrar em relação a este os
pontos controvertidos, para analisá-los detidamente.
Como já dito anteriormente, meu método prático para isso é
leparar quais são os pedidos do autor e, em seguida, dar uma olhada
nas peças de defesa do réu para ver quais as alegações que ele traz
em relação a cada um dos pedidos. Isso é bom, entre outros motivos,
porque você acaba encontrando pedidos que não foram objeto de
questionamento por parte da defesa. Assim, se não for um direito
Indisponível (art. 320 do CPC), é possível presumir que os fatos
narrados pelo autor são verdadeiros. Na sentença, a conseqüência
disso é que caberá ao juiz apenas consignar o pedido e dizer, a res
peito dele, que não houve contestação por parte do réu, presumindo-
ie os fatos verdadeiros e, por fim, dando-se ganho de causa naquele
ponto específico ao autor. É bom ressaltar que a falta de contestação
individual a um dos pedidos não significa, necessariamente, aceita-
çfio em relação a ele, pois outros pontos da defesa podem levar à sua
improcedência. Às vezes, por exemplo, o réu nada fala sobre o aci-
dente de trânsito alegado pelo autor, o que indica uma aceitação doa
fatos. Porém, alega uma prescrição que pode levar à improcedêncil
de todos os pedidos do autor.
Vamos dividir o tema em questões meramente de direito e
questões que dependem da análise das provas constantes nos autos.

2 Questões meramente de direito


Na esfera federal, a maioria das questões é resolvida sem q u e
seja necessária uma produção de provas127 O que o autor e o réu
juntam
do caso.comIssoa se
inicial
devee ao
a contestação costuma
fato de a Justiça bastarcuidar
Federal para anasolução
esferi
cível de relações que obrigatoriamente envolvem uma pessoa jurídi
ca de direito público, em geral a União, cujo envolvimento com ai
demais pessoas é, em regra, previsto e vinculado à legislação em
vigor. Duas pessoas naturais podem manter uma infinidade de rela*
ções, sejam elas decorrentes de um contrato, de um ato ilícito ou d e
qualquer outro fato da vida. Já a União Federal e suas entidades d a
administração indireta mantêm vínculos com os cidadãos por melo
das leis, exceto nos casos derivados de algum ato ilícito de um ser
vidor público, por exemplo128. Com isso, a maioria das questões q U 6
chegam aos magistrados federais envolve justamente a mera inter*
pretação da lei, já que os fatos são incontroversos.
Essa é a regra. Em concursos federais, você verá uma bod
quantidade de exceções pelo fato de ser bastante exigida a questflfl
da responsabilidade estatal, normalmente decorrente de algum atQ
praticado por um agente público. Mas isso não deve causar angústil
no candidato, assim como não deve ficar angustiado quem pretendi
fazer uma prova para a magistratura estadual. Isso porque, como
falarei em seguida, um exame de concurso é muito mais tranqüila
em relação à fase probatória do processo do que na vida real.Mu
deixemos isso para o capítulo seguinte.

Essa observação nem sempre é válida para os processos que correm nos JuizadM
Especiais Federais, especialmente quando se trata de ações previdenciárias de aposenttdP
ria rural.
128 Também .
são vistas discussões judiciais envolvendo contratos decorrentes de licitaçOfh
por exemplo, mas não constituem regra e, sim, exceção.
A resolução de um problema trazido pelas partes que envolve
unicamente questões de direito não traz maiores dificuldades para o
julgador em termos processuais. O que se deve fazer é basicamente
colher os argumentos jurídicos do autor, a contra-argumentação do
réu e, a partir disso, procurar uma solução, no bom e velho esquema
da tese, antítese e síntese.
Vamos a um caso prático, pois o tema não demanda maiores
considerações teóricas. Peguemos a nossa sentença modelo, do XII
Concurso do TRF da Ia Região, pois ela traz somente discussões
jurídicas. Sugiro que
proposta exigida você
nesse faça uma
concurso, pausa
para não aqui
ficar eperdido,
releia novamente
pois trabaa
lharemos detalhadamente o caso.
O pedido dos autores é para que seja feita a compensação dos
valores pagos a título de contribuição previdenciária incidente sobre
os subsídios dos detentores de mandato eletivo. Façamos então o
confronto dos argumentos, deixando de lado as questões já decidi
das nas preliminares e prejudiciais de mérito. Dividiremos cada
ponto em um capítulo da sentença:
Autores Réus

1) 0 art. 13 da Lei 9.506/1997 foi a) A referida declaração de in-


declarado inconstitucional pelo constitucionalidade só tem efei

STF. Portanto,previdenciárias
contribuições a cobrança dasem tos entre
tratou de asumpartes, já que em
julgamento se
questão não encontra amparo sede de controle difuso.
constitucional. b) A Resolução n®. 26/2005 do
Senado Federal, que suspendeu
a execução da norma em ques
tão, só tem efeitos futuros.

2) 0 mesmo entendimento deve A Lei n2. 9.506/97 foi constitu-


ler aplicado em relação às co cionalizada pela EC 20/98 e,
branças feitas entre a edição da portanto, ao menos após a edi
EC 20/98 e da Lei n^. ção da referida EC as cobranças
10.887/2004. são corretas.

1) Também é aplicável o mesmo Se, ainda assim, a cobrança não


entendimento para as cobranças puder ser aceita após a edição
e
faltas após a edição da Lei n .
10.887/2004. da EC 20/98,
ilegal não há nada de
ou inconstitucional na
cobrança feita com base na Lei
ne. 10.887/2004.
4) A compensação deve ser feita Os indébitos previdenciários não
com quaisquer débitos dos auto podem ser compensados com
res perante o INSS ou a Receita tributos administrados pela
Federal. Secretaria da Receita Federal.

5) Os indébitos devem ser corri Não há previsão legal para a


gidos com expurgos inflacioná utilização dos expurgos e eles
rios. são incabíveis na compensação

6) Os indébitos devem ser acres Não há previsão legal para a


cidos de juros de 6% ao ano, incidência de juros compensató
contados do respectivo paga rios e eles são incabíveis na
mento, a título de juros com compensação.
pensatórios pelo ilícito.

7) Deve haver incidência ainda


da taxa SELIC.

8) O réu deve pagar as custas do O INSS é isento de custas.


processo.

9) A verba honorária deve ser de A verba honorária deve obede


20% (per capita) sobre o valor da cer ao § 49 do art. 20 do CPC.
causa (R$ 200.000,00).

Em uma prova de concurso nem sempre há tempo disponível


para montar um quadro assim, mas ele é bom para clarear as ideias e
não deixar de analisar nenhum dos argumentos de ambas as partes.

Observe
três períodos que o pedido
distintos, de compensação
cada um deles refutadopode
pelosser dividido effl
réus:
a) da edição da Lei n°. 9.506/97 até a edição da EC 20/98;
b) da EC 20/98 até a edição da Lei n°. 10.887/2004;
c) a partir da Lei n°. 10.887/2004.
Esse é o cerne principal da ação e, devido ao fato de cada um
desses períodos guardar suas próprias particularidades legais, é inti*
ressante analisá-los separadamente.
Em relação ao primeiro período, o examinador já deixou ex»
plícito que a cobrança foi declarada inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal. Os réus não questionam esse fato, mas apentl
alegam que a decisão do STF foi dada em controle difuso de constt*
tucionalidade e, por conta disso, vale apenas para as partes envolví*
das naquele Recurso Extraordinário n°. 351.717-1/PR. Para resolvil
u questão, o candidato poderia percorrer um caminho mais comple
xo e defender as ideias do Ministro Gilmar Mendes, no sentido de
que, uma vez decidida a questão pelo plenário do STF, não há senti
do em não estender seus efeitos erga omnes, ou seja, para todos,
ainda que seja uma decisão em controle difuso. Assim, a decisão do
STF que declarou a inconstitucionalidade do art. 13 da Lei n°.
9.506/97, que instituiu a contribuição previdenciária sobre os subsí
dios dos detentores de mandato eletivo, seria aplicável a todos os
casos e, portanto, estaria reconhecido o direito dos autores quanto a
esse período.
Porém, se na prática forense não costumo fugir das polêmi
cas, até porque o convencimento do magistrado, embora deva ser
motivado, ainda é livre neste país, em uma prova de concursos eu
nunca fui de arriscar por caminhos que ainda causam calorosas dis
cussões nos meios jurídicos. Assim, eu deixaria de lado a questão do
efeito erga omnes no controle difuso de constitucionalidade e parti
ria logo para a análise da questão em si. Isso porque, por óbvio, se o
STF declarou a inconstitucionalidade em controle difuso e essa
decisão não é automaticamente aplicável a todos os casos, isso não
significa que eu não possa, no meu caso específico, também declarar
u inconstitucionalidade.

STF noPara
RE tanto, poderiam citado
351.717-1/PR, ser utilizados os mesmoscuja
pelo examinador, argumentos do
ementa foi
assim redigida:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. PREVIDÊNCIA
SOCIAL. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL: PARLAMENTAR: EXER-
CENTE DE MANDATO ELETIVO FEDERAL, ESTADUAL ou
MUNICIPAL. Lei 9.506, de 30.10.97. Lei 8.212, de 24.7.91. C.F.,
art. 195, II, sem a EC 20/98; art. 195, § 42; art. 154, I. I. - A Lei
9.506/97, § 1fi do art. 13, acrescentou a alínea h ao inc. I do art.
12 da Lei 8.212/91, tornando segurado obrigatório do regime ge
ral de previdência social o exercente de mandato eletivo, desde
que não vinculado a regime próprio de previdência social. II. -
Todavia, não poderia a lei criar figura nova de segurado obriga
tório da previdência social, tendo em vista o disposto no art. 195,
II, C.F.. Ademais, a Lei 9.506/97, § 1® do art. 13, ao criar figura
nova de segurado obrigatório, instituiu fonte nova de custeio da
seguridade social, instituindo contribuição social sobre o subsídio
de agente político. A instituição dessa nova contribuição, que
não estaria incidindo sobre "a folha de salários, o faturamento e
os lucros" (C.F., art. 195, I, sem a EC 20/98), exigiria a técnloí
da competência residual da União, art. 154, I, ex vi do dispoato
no art. 195, § 4S, ambos da C. F. É dizer, somente por lei com*
plementar poderia ser instituída citada contribuição. III. - lnconstl>
tucionalidade da alínea h do inc. I do art. 12 da Lei 8.212/91, In*
traduzida pela Lei 9.506/97, § 1 a do art. 13. IV. - R.E. conhecido
e provido.

Na hora da prova não se terá à frente um computador par#


pesquisar a jurisprudência. Por isso é que não se passa em um con
curso sem estudar com dedicação e, nos casos da magistratura, sem
ao menos uma análise nas principais discussões jurisprudenciail,
Em resumo, caberia ao candidato saber acerca das discussões sobre
a inconstitucionalidade do art. 13 da Lei n°. 9.506/1997.
Resolvemos então uma das partes do pedido (levando em
conta o afastamento prévio da prescrição, já visto em outro capítu
lo): não é devida a contribuição previdenciária até a edição da EC
20/98.
Em seguida, temos uma questão que ficou nebulosa por um
bom tempo nos tribunais: uma lei inconstitucional pode ser constitu-
cionalizada posteriormente por uma Emenda? E mais: pode umi
Emenda Constitucional criar um tributo? Essa discussão não ocorreu
apenas em relação à Lei n°. 9.506/1997, mas também em relação à
COFINS e o art. 3o da Lei n°. 9.718/1998. Novamente, a resolução
desse pontoespecialmente
candidato, dependeria dadabagagem de conhecimentos
jurisprudência. por parteLu»
O Desembargador do
ciano Tolentino do Amaral, membro da Banca Examinadora do XII
Concurso do TRF da Ia Região, no qual foi cobrada essa sentença,
já tinha decisão no sentido da possibilidade da criação de tributol
por meio de Emenda Constitucional, ou seja, já tinha decidido favo
ravelmente à cobrança da contribuição previdenciária após a EC
20/98129 Posteriormente, provavelmente seguindo orientação do
Supremo Tribunal Federal no RE 346.084/PR (que refutou a tese da
constitucionalidade superveniente), a 7a Turma do TRF da Ia Regi
ão, vencido o Desembargador Luciano Tolentino, julgou em sentido

129 TRF da 1a Região: AGTAG 2005.01.00.066229-8/DF.


diverso, declarando a inconstitucionalidade da cobrança da contribu-
ição previdenciária, mesmo após a edição da EC 20/98110 .
Não vou entrar no mérito sobre quem está certo ou está erra
do, pois essa não é a meta deste livro. O importante, nesse caso, era
o candidato trabalhar muito bem os fundamentos de sua síntese,
ponderando os argumentos de ambos os lados, até mesmo porque
um dos examinadores do concurso adotava uma visão em princípio
diversa do STF. Não há perigo em ir contra o pensamento do exa
minador, exceto em casos excepcionais de examinadores radicais (e
esse não era o caso do Desembargador Federal Luciano Tolentino),
desde que se fundamente muito bem o seu ponto de vista, rebatendo
os argumentos que levariam a um entendimento contrário ao seu.
Aliás, isso não é algo que deve ser feito apenas em concursos, pois
se trata de um dos pontos centrais da atividade do magistrado na
redação de suas sentenças. Se estamos na vida real e não há um
examinador para nos aprovar ou reprovar, há um tribunal revisor
que poderá alterar sua decisão. Mais do que isso, há o bom direito
que sempre tem que ser embasado em uma fundamentação rica e
coerentemente desenvolvida.
Adotando a tese da constitucionalidade superveniente ou da
possibilidade de criação de tributos por meio de Emenda Constitu
cional, a viabilidade
após a edição da10.887/2004
da Lei n°. cobrança daestaria
contribuição previdenciária
praticamente resolvida.
Porém, adotando a tese contrária, ainda teríamos que enfrentar esse
ponto. Estando com a jurisprudência dominante na ponta da língua,
bem como com os princípios de direito em mente, o candidato fa
cilmente consignaria que a Lei n°. 10.887/2004, que tratou das refe
ridas contribuições previdenciárias, não padecia de nenhum vício de
inconstitucionalidade, visto que, quando de sua edição, já estava em
vigor a EC 20/98. O candidato poderia adotar uma tese contrária,
claro, mas estaria remando contra toda a orientação jurisprudencial
e, a menos que fosse capaz de expor argumentos fortes e convincen
tes acerca de sua tese, estaria percorrendo um caminho não muito
seguro.
Enfim, adotemos a tese de que a cobrança da contribuição
previdenciária não teve bases legais até a edição da Lei n°.
130 AMS 1999.36.00.009162-9/MT, Rei. Desembargador Federal Antônio Ezequiel Da Silva,
Rel.Acor. Desembargador Federal Antônio Ezequiel Da Silva.
10.887/2004. Como bons tributaristas, sejamos mais cuidadosos
ainda: apenas após 90 (noventa) dias da edição da referida norma é
que a cobrança pode ser efetuada, em virtude do princípio da anteri-
oridade nonagesimal das contribuições, de que trata o § 6o do art.
195 da Constituição Federal.
Utilizando a teoria dos capítulos da sentença, de que trata Di
namarco131, sendo tal pedido decomponível em três capítulos (em
relação aos três períodos distintos), havendo procedência em dois
capítulos, teríamos então uma procedência parcial do mérito.
Mas sigamos em frente que há outros capítulos a serem exa
minados. Sabendo que há um montante a ser compensado, outra
questão a ser decidida é a abrangência da compensação, ou seja, se
atingirá apenas débitos dos autores junto ao INSS ou também aque
les administrados pela Secretaria da Receita Federal. Pois bem, à
época em que a prova foi ministrada, estava em vigor o seguinte
dispositivo da Lei n°. 9.430/1996:
Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judici
ais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição
administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de
restituição ou de ressarcimento, poderá utilizá-lo na compensa
ção de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribui
ções administrados por aquele Órgão.

A norma acima não se aplicava diretamente ao caso em ques


tão, pois o crédito era de um tributo administrado pelo INSS e não
pela Receita Federal132. De qualquer maneira, sendo a compensação
tributária possível apenas nos estritos termos da lei, como determina
131 A teoria dos capítulos da sentença é bastante Interessante e não tão complicada quanto
parece. Na veirdade, divide-se a sentença em capítulos, sendo cada um desses relativo a
uma parte que pode ser decomposta, formando uma unidade. Complicado? Dinamarco
explica: “Em reisumo: a) a sentença pode ter um capítulo representado pela decisão sobre oi
pressupostos de admissibilidade do julgamento do mérito e outro, sobre este; b) na decisão
sobre o méritoi pode haver capítulos diferentes e autônomos, cada qual decidindo um dos
pedidos postos no processo; c) em relação aos pedidos decomponíveis, a procedência
parcial significa que um capítulo acolheu uma parcela dele e outro capítulo rejeitou a outra
parcela; d) a diisposição sobre o custo financeiro do processo é um capítulo distinto daquela
que julga o mérito principal. A doutrina dá às vezes o nome de sentença complexa àquela
que contém m^ais de um capítulo autônomo sobre o mérito (pedidos cumulados, reconven*
ção etc)” (Obrea citada, Volume 3, pg. 668). Essa teoria é bastante útil na própria estrutura
ção lógica da isentença, bem como em relação aos limites do recurso apresentado pelaa
partes.
132 Atentar paria o fato de que, após a prova de sentença do XII Concurso do TRF da 11

Região, Federal
Receita foi ediitada a Lei nfi 11.457/2007,
a administração que passou
das contribuições para a esfera de
previdenciárias. Secompetência
já estivesse da
em vigor
no momento da prova, essa lei mudaria a resolução do caso.
o art. 170 do Código Tributário Nacional, não havendo previsão
legal para compensação entre valores administrados por esses dois
órgãos diferentes, seria possível concluir, na esteira da jurisprudên
cia133, que a compensação pleiteada só seria possível com débitos
dos autores junto ao próprio INSS. Como tenho ressaltado reiteradas
vezes, essa era uma das soluções possíveis, cabendo ao candidato
decidir de acordo com seus conhecimentos jurídicos. O que ele não
podia é ignorar esse capítulo da sentença, como se os réus não tives
sem se oposto à compensação cruzada entre os dois órgãos.
Estão resolvidos os pontos centrais do mérito, restando ainda
a questão da correção dos valores a serem restituídos, bem como o
problema das custas e honorários. Veremos esses tópicos em outro
capítulo.

3 Análise das provas


O acervo probatório não costuma dar muito trabalho em uma
prova de concursos, porque já está pronto e o examinador deixa
evidente as conclusões sobre o que ficou provado na instrução. Na
prática cotidiana, porém, a fase da instrução do processo é justamen
te uma das mais complexas e também a responsável por grande
parte do tempo gasto no desenrolar de um feito.
Em primeiro lugar, cabe ao magistrado definir quais os pedi
dos de prova que serão deferidos. Se temos, de um lado, o direito
constitucional ao contraditório e à ampla defesa, por outro temos o
dever do magistrado de dar ao processo a celeridade, que já virou
direito fundamental do cidadão134, o que significa indeferir pedidos
de provas meramente protelatórias ou que não possam ajudar em
nada no deslinde do problema. São decisões delicadas. Mais do que
isso, o magistrado também deve conduzir de maneira eficiente as
audiências, seja para a oitiva das partes ou das testemunhas, fazendo
as perguntas que possam esclarecer realmente os fatos. Além disso,
há também a questão das perícias, não sendo raros os casos em que
dois peritos divergem e um terceiro apresenta um laudo diferente
dos iniciais. Enfim, em muitos casos é mais fácil resolver a questão
de direito em si do que chegar a uma conclusão sobre as provas
183 TRF da 1a Região: AMS 199801000712526 (Relatora: Eliana Calmon).
134 Assim diz o inciso LXXVIII, acrescentado ao artigo 58 pela Emenda Constitucional ns.
45/2004: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
produzidas no processo. Muitas ações nem dependem tanto da análi
se da legislação, dependendo em grande parte da sensibilidade e
discernimento do juiz quanto à interpretação dos depoimentos, do
cumentos, perícias e outras fontes de prova.
Em um concurso, como eu disse, isso está resolvido. Há al
gumas exceções, como sempre, pois o examinador pode destacar
provas que não sejam tão claras quanto a uma conclusão, como você
pode ver no exame do IX Concurso do TRF da 4a Região. Ainda
assim, se você observar esse caso específico, verá que há um dire
cionamento para um dos dois lados, ainda que sutil. Mas, a regra i
mesmo uma completa solução quanto ao conjunto probatório, como
a
pode
qual oserexaminador
visto na prova do X Concurso
transcreveu do TRF
os resultados da da I Região,
perícia na
e de um
testemunho que indicaram ter a autora razão quanto aos fatos ocor
ridos.
Enfim, o maior problema que se pode ter em um exame de
concurso é quanto à alegação de nulidade de alguma prova, mas isso
também não é tão comum e, em regra, tal problema não afetará a
solução do caso. Por isso, se o que você tem pela frente é uma prova
de concurso e não um caso real, fique tranqüilo quanto à análise das
provas, pois quase sempre essa será uma das partes mais fáceis da
sentença. Só não deixe de fazer referência na fundamentação ao que
o examinador falou sobre o conjunto de provas no relatório, para
que sua decisão deixe claro quais foram os elementos de sua convic
ção.

4 Antecipação da tutela na sentença


Para dar maior efetividade aos provimentos judiciais, sempre
muito prejudicados pela demora natural no desenrolar de um proces
so, o legislador modificou o Código de Processo Civil, a fim de
instituir a antecipação dos efeitos da tutela pretendida. O ditado de
que “a Justiça tarda, mas não falha” não sobrevive a uma análise
mais apurada em qualquer fórum do país, em que muitas das açõei
são julgadas procedentes tantos anos depois de seus ajuizamento*
que o autor já morreu, o bem já pereceu ou o réu já se desfez de todo
o seu patrimônio sorrateiramente. Por conta disso, em muitos casoi
o magistrado deve abreviar não o trâmite processual, mas a própria
concessão do direito pleiteado.
A antecipação dos efeitos da tutela pretendida, ou apenas an
tecipação de tutela, no linguajar prático dos tribunais, é utilizada
para dar à parte, antes do trânsito em julgado ou da execução, o bem
da vida pretendido. Não se confunde com as medidas cautelares, que
visam tão somente assegurar a eficácia do provimento judicial futu
ro.
Imaginemos o caso de uma viúva que esteja passando fome
após o falecimento do seu marido, vítima de atropelamento por um
carro de uma grande empresa, que está de posse de uma gravação da
câmera de vídeo da porta do estabelecimento que filmou o carro
saindo em alta velocidade e colhendo a vítima na calçada. Na inici
al, a autora pleiteia indenização por danos morais no montante de
R$ 100.000,00 e pensão vitalícia no valor de um salário mínimo. Ela
faz ainda dois pedidos de urgência: o pagamento imediato da pen
são, bem como a busca e apreensão do DVD que contém a gravação
do acidente, pois um funcionário da empresa entregou a ela um
documento confidencial da empresa determinando a destruição do
DVD. Qual a natureza de cada um desses pedidos urgentes? A apre
ensão da filmagem não confere à autora o que ela deseja, que são
pagamentos
clarecimentoem da espécie
verdade,por
ou parte
seja, da
temré,função
mas apenas assegura
processual o es
e natureza
cautelar. Já o pagamento antecipado da pensão é a entrega de parte
do próprio bem da vida pretendido pela autora, razão pela qual sua
natureza é de antecipação dos efeitos da tutela.
Importante ressaltar que o § 7o do art. 273 do CPC traz uma
fungibilidade entre as medidas de urgência, de maneira que se a
autora pedisse como antecipação de tutela a apreensão do DVD o
magistrado poderia deferir o pedido como sendo de natureza caute
lar, em caráter incidental.
Pois bem, tudo isso é lição básica de direito processual civil e
deve estar na cabeça de quem almeja um cargo como o de magistra

do federal.
reflexos Vejamos então
na elaboração os sentença.
de uma pontos emInicialmente,
que esse tema tem
cabe mais
falar da
redação de uma sentença que julga procedente o pedido do autor,
em um processo no qual já havia sido deferida a antecipação dos
efeitos da tutela. Pois bem, embora não seja necessário, é muito
comum redigir o dispositivo confirmando os efeitos da tutela já
concedida. Algo mais ou menos assim:
Ante o exposto, confirmando os efeitos da tutela já concedida
antecipadamente, julgo procedente o pedido da autora e conde
no a União Federal a pagar à autora pensão mensal vitalícia cal
culada em dois salários mínimos mensais.

Entendo que não é necessário consignar tal “confirmação” na


sentença, pois isso estará implícito, mas também não vejo defeito
caso o julgador prefira reiterar a antecipação da tutela. Aliás, é até
bom
ção deque assim seja
embargos de feito, para evitar
declaração, sob odúvidas e a conseqüente
argumento oposi
de que a sentença
foi omissa. Além disso, como a legislação diz que a apelação da
sentença que confirma a antecipação da tutela é recebida apenas no
efeito devolutivo, a presença da ratificação da tutela no dispositivo
da sentença espancaria qualquer dúvida quanto aos efeitos do rece
bimento de uma futura apelação.
Tema um pouco mais complexo e absolutamente freqüente,
seja na prática forense ou nos concursos, é a antecipação dos efeitos
da tutela na sentença. Lembremos que a regra é a concessão da tute
la no início do processo. Porém, há casos em que isso não é feito,
por um motivo qualquer, como em ações pleiteando o benefício
assistencial da renda mensal vitalícia, nas quais por vezes o autor
alega incapacidade para o trabalho, mas a prova de tal fato requer a
realização de uma perícia. Nesses casos, o magistrado pode indeferir
o pedido de antecipação da tutela, mas a perícia vir a confirmar a
total incapacidade. Conclusos os autos para sentença, o magistrado
poderia simplesmente julgar procedente o pedido, mas uma eventual
apelação da parte contrária poderia ser recebida nos efeitos devolu
tivo e suspensivo, levando a uma postergação no pagamento do
benefício. Outra solução poderia ser a procedência do pedido, se
guida do recebimento da apelação apenas no efeito devolutivo. Ain
da assim, haveria uma demora e, mais ainda, o réu poderia aguardar
que o autor promovesse uma execução provisória.
Enfim, por tudo o que foi dito, às vezes se chega à sentença
com a necessidade de analisar um pedido de antecipação dos efeitos
da tutela. Atualmente, a jurisprudência já está praticamente pacifi
cada no sentido do cabimento da antecipação em sede de senten-
ça 135
. Assim, se o autor tiver requerido (o art. 273 do CPC exige o
requerimento da parte) e na sentença o seu pedido for considerado
procedente, deve-se analisar se estão presentes os demais requisitos
do art. 273, como o fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação, para, em caso afirmativo, conceder a antecipação dos
efeitos da tutela pretendida. Vejamos um inodelo de dispositivo que
utilizei com bastante frequência em minha atuação no Juizado Espe
cial Federal:
Em razão do exposto, extingo o feitc com resolução de mérito,
julgando PROCEDENTE
ra, condenando o INSS aaimplantar
pretensãoemformulada pela parte
prol da autora auto
o benefício
pleiteado, com DIB na DER e DIP 136 no primeiro mês posterior
ao último incluso no cálculo dos valores retroativos.
Considerando a urgência ditada pela situação de contingência
social, pressuposto do benefício concedido, e a plausibilidade do
direito reconhecido por sentença, antecipo os efeitos da tutela,
determinando a implantação imediata independente de ofício.
Condeno o INSS a pagar, mediante RPV, o valor retroativo, con
forme cálculos do contador do juízo.
Concedo os benefícios da Justiça Gratuita, caso tenham sido re
queridos.
Havendo recurso, verifique a secretaria a tempestividade, sendo
o recurso tempestivo, fica este recebido em seu duplo efeito, ex
ceto em relação à antecipação ora concedida, devendo ser pro
,35 RECURSO ESPECIAL PROCESSUAL CIVIL. ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 520, VII,
DO CPC, INOCORRÊNCIA. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA CONCEDIDA NA SENTENÇA.
POSSIBILIDADE. 1. (...) 2. (...) 3. A doutrina e jurisprudência vêm admitindo a antecipação
dos efeitos da tutela na sentença, afastando-se, no momento do recebimento da apelação, o
efeito suspensivo com relação a essa parte do decisum. Arruda Alvim doutrinando acerca
das recentes reformas introduzidas no sistema processual civil, ressalta o seguinte: “Esta lei
é permeada pela intenção de realizar, no plano prático, a efetividade do processo. Colima
proporcionar que, entre a decisão e a real produção dos seus efeitos, benéficos ao autor, a
quem se outorgou proteção, decorra o menor tempo possível. Tende a que, entre a decisão
e a sua eficácia, não haja indesejável intervalo. Não há nela referências ao termo execução,
senão que a expressão usada é efetivação (art. 273, § 3. a), como, também, há referência a
descumprimento de sentença ou decisão antecipatória (art. 287), ao que devem suceder-se
conseqüência (s) coercitiva (s) por causa dessa resistência ilícita, mercê da aplicação do art.
461, § 4.® e 461 -A, com vistas a dobrar a conduta do réu, que se antagoniza com o direito do
autor e, especialmente, com a determinação judicial. Isto significa que se acentua o perfil do
caráter mandamental da disciplina destinada a realizar, no plano prático, o mais rapidamente
possível, os efeitos determinados pela decisão" (in Inovações Sobre o Direito Processual
Civil: Tutelas de Urgência”; Coordenadores: Arruda Alvim e Eduardo Arruda Alvim, Forense,
Rio, 2003, p. 3/4). 4. Precedentes do STJ: (Resp 648.886/SP, Rei. Min. Nancy Andrighi, DJ
de 06/09/2004;REsp ns 473.069/SP, Rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de
19/12/2003;REsp nfi 279.251/SP, Rei. Min. Ruy RosadO de Aguiar, DJ de 30/4/2001 ). 5.
Recurso julgado
TURMA, Especialemdesprovido.
13.09.2005,(REsp 706.252/SP,
DJ 26.09.2005 Rei. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
p. 234)
136 Embora o uso de siglas e abreviaturas não seja tecnicamente recomendável, a prática
cotidiana leva a tal “costume”, especialmente quando se profere uma quantidade enorme de
sentenças diariamente, como no caso dos Juizados Especiais Federais. No modelo de
dispositivo apresentado, DIB quer dizer data de início do benefício, DER significa data de
entrada do requerimento e DIP é o mesmo que data de início do pagamento.
movida a intimação da parte recorrida para apresentar contra-
razões,, encaminhando posteriormente os autos à Turma Recur-
sal, tudo independentemente de novo despacho. Não havendo
recurso, expeça-se RPV.
Expeça-se ofício para implantação, independentemente de novo
despacho.
Comprovando o INSS no prazo concedido o cumprimento da o-
brigação de fazer, mediante documento idôneo, vistas à parte
autora para se manifestar sobre o documento, concordando, ou
discorcUando fundamentadamente da implantação. A discordân
cia emi termos genéricos não será considerada. Não havendo
discordiância fundamentada, arquive-se.
Procedlimentos ordinatórios necessários para o implemento das
determiinações
temente de novoacima ficam a cargo da secretaria, independen
despacho.
Sem custas e honorários advocatícios (art. 55 da Lei 9.099/95).
P.R.I.

Um dos efeitos mais importantes da antecipação de tutela é


que eventual recurso será recebido apenas no efeito devolutivo,
conforme o imciso VII do art. 520 do CPC. Além, é claro, de conce
der ao autor <o bem da vida de que ele necessita com urgência. De
qualquer manieira, vale relembrar: não é porque o pedido foi julgado
procedente quie o autor tem direito à antecipação da tutela, pois são
necessários oís demais requisitos. Um aposentado que pede a revisão
de seu benefíício para que ele sofra uma majoração de 5% pode até
ter razão, mas dificilmente haverá receio de dano irreparável ou do
difícil reparação caso o julgado só seja executado após a finalização
do processo.

5 Corrreção monetária e juros


Quandco estamos estudando na faculdade ou para um concur
so, em regra nos preocupamos em resolver o cerne do mérito nos
casos que noss são apresentados, mas não nos preocupamos muito
com “questõeís menores” como os juros e correção monetária. Ocor
re que, em aç;ões envolvendo quantias em dinheiro, seja pelo paga
mento direto, restituição, compensação ou qualquer coisa do gênero,
esse ponto é crucial e muitos casos acabam se tomando até súmulas

dos principais!
das tribunais superiores.
discussõesPortanto, fique monetária
sobre correção atento e esteja por dentro
e juros.
Vamos ao nosso caso prático, relativo à prova do XII Con
curso do TRF da Ia Região, já que não há muita teoria a ser discuti
da sobre o tema em um livro de sentenças, cabendo ao candidato ou
operador do Direito buscar em outras fontes o conhecimento mais
aprofundado sobre o assunto. Se necessário, releia a proposta de
sentença.

Decidido que havia direito à compensação e que esta deveria


ser feita somente com débitos dos autores junto ao INSS, ainda fal
tava a questão da correção dos indébitos. Se você reparar no quadro
que montamos, relativo ao confronto dos argumentos das partes, em
momento algum os réus questionaram a correção pela SELIC, mas
apenas questionaram os juros de 6% ao ano e a aplicação dos expur
gos inflacionários.
Quanto a essa última questão, expurgo inflacionário é a repo
sição das perdas na correção de determinado valor financeiro, que
não foi devidamente corrigido para fins de manter seu poder de
compra. Normalmente isso se dá em épocas de planos econômicos,
em que são mudados os índices e indexadores econômicos. Se tiver
interesse,
sante temabusque uma leitura
de natureza mais aprofundada
econômica sobre em
que esteve muito esseevidência
interes
antes do lançamento do Plano Real, em 1994. Pois bem, dito isto, é
importante ressaltar algo que talvez eu ainda não tenha abordado:
nem sempre o magistrado deve necessariamente adotar a fundamen
tação feita por uma das partes. No caso em questão, o INSS refutou
u aplicação dos expurgos por falta de previsão legal. Ocorre que a
correção monetária, de forma a manter o poder de compra da moe
da, não demanda qualquer previsão legal específica, visto que a
nossa legislação já veda o enriquecimento sem causa. Ora, se temos
duas partes, uma com o capital da outra, e esse capital não foi devi
damente atualizado, quem tinha sua posse e futuramente o devolveu
nem a correção acabou enriquecendo sem causa para tanto. Em con
clusão, não há guarida para o argumento do INSS. E isso significa
que os autores têm razão? Não, ao menos no entendimento que pas-
#0 a explicar.
O juiz conhece a lei (iuris novit curia) e, portanto, não fica
adstrito ao que as partes disseram. O magistrado não pode ir além
das provas que estão nos autos, pois o que não está nos autos não
está no mundo jurídico (para gastar um pouco mais o latim: quod
non est in actis non est in mundo), mas ele pode ir além dos argu
mentos jurídicos, das leis e dos julgados citados pelas partes. Apli
cando esse preceito ao caso em questão, o candidato, ao redigir a
sentença, poderia negar o pedido pelo simples argumento de que,
durante o período em que as contribuições previdenciárias foram
pagas, não houve planos econômicos ou mudanças de índices que
pudessem provocar a necessidade de aplicação dos expurgos, visto
estarmos desdepartir
caso quisesse 1994para
em outra
uma fase de estabilidade
vertente, dizer que omonetária. Ou,
autor não de
monstrou quais as perdas provocadas pela inflação e quais os perío
dos ficaram sem a devida correção monetária, bem como os índices
aplicáveis. Simples assim.
Falta a questão dos juros compensatórios, além da SELIC, é
claro. Aqui, cabe destacar outro ponto: em muitos casos, a solução
de uma questão leva automaticamente à solução de outra. O candi
dato poderia decidir a correção do indébito a partir do que diz o § 4°
do art. 39 da Lei n°. 9.250/1995:
§ 4fi A partir de 1a de janeiro de 1996, a compensação ou restitu
ição será acrescida de juros equivalentes à taxa referencial do
Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC para títu
los federais, acumulada mensalmente, calculados a partir da da
ta do pagamento indevido ou a maior até o mês anterior ao da
compensação ou restituição e de 1% relativamente ao mês em
que estiver sendo efetuada.

Como dito, os réus não se manifestaram contra a correção pe


la SELIC, o que já era um indício da possibilidade de utilização
desse índice. Diante do texto legal acima, tem-se um fundamento
forte para a sua utilização e, via de conseqüência, para o afastamen
to da aplicação de qualquer outra correção, visto que a SELIC já
engloba correção monetária e juros. Assim, para pagamentos efetu
ados após a edição da referida lei, a correção se dá somente por esse
índice especial137

137 STJ: EDcl no REsp 247.962/DF (Relator: Ministro Humberto Martins).


6 Ônus da sucumbência
Em geral, não há processo da chamada jurisdição contenciosa
no qual o magistrado não tenha que se posicionar sobre os ônus da
sucumbência, que não são apenas as custas devidas ao Estado e os
honorários devidos ao advogado da parte vencedora. Há também
outras verbas, sendo que o próprio CPC fala delas no § 2 o do art. 20:
“as despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como
também a indenização de viagem, diária de testemunha e remunera
ção do assistente técnico”. Coloque nessa conta também o valor das
perícias
movimentare todos
seu os demais que a parte tenha que fazer para propor e
processo.
Quanto aos ônus de sucumbência, leia os artigos 19 a 35 do
CPC, que tratam sobre o tema. É o mínimo para quem deseja não
passar vergonha em uma prova ou na vida real.
A regra geral é simples: responde pelas despesas do processo
e pelos honorários quem foi vencido. Se a parte vencedora adiantou
qualquer despesa, o sucumbente deve reembolsá-lo. Se ficou qual
quer valor em aberto, como custas finais, o vencido deverá pagá-lo.
Quanto aos honorários, estes são do advogado e não da parte, mas
tal fato é implícito e não precisa ser destacado na sentença. Conde-
na-se o vencido nos honorários e ponto final.
A exceção ficaria por conta da aplicação do chamado “prin
cípio da causalidade”. Às vezes, uma pessoa ajuíza uma ação, mas
isso se deve por conta de um fato a ela mesma atribuível. Peguemos
como exemplo os embargos de terceiros em uma execução fiscal.
Em muitos casos, a Fazenda Pública pede a penhora de um imóvel
em nome do executado. Feita a penhora, um terceiro ajuíza os em
bargos alegando que o bem lhe pertence. Ao final, porém, constata-
se que a penhora somente foi feita porque o embargante, que real
mente havia comprado o imóvel, esqueceu-se de efetuar o registro
da transferência no cartório, impossibilitando que a Fazenda Pública
soubesse que o bem não mais pertencia ao executado. Em casos
assim, quem deu causa à instauração do litígio? Foi o embargante,
por óbvio. Assim, aplica-se o chamado princípio da causalidade
para, mesmo sendo os embargos procedentes, condenar-se o embar
gante nos ônus da sucumbência.
Quanto às despesas, a sentença não precisa se preocupar mui
to com valores, pois eles já estarão nos autos ou serão calculados
com base em tabelas já existentes nas secretarias judiciais. Só deve
haver preocupação quando algum montante deixou de ser estipulado
na fase adequada, como o valor de um honorário pericial, mas isso é
raro e revela, na verdade, um erro na condução do processo. Par*
fins de concursos, dificilmente o candidato se deparará com um
problema assim. Em conseqüência, bastará dizer na sentença que o
vencido arcará com as despesas do processo, incluindo custas e
todos os demais valores que compõem esse tópico.
A única dificuldade que costuma aparecer é quando há su*
cumbência apenas parcial do réu. Nesses casos, aplica-se o que dis
põe o CPC:
Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serào
recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre
eles os honorários e as despesas.
Parágrafo único. Se um litigante decair de parte mínima do pedi*
do, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários.

Outros detalhes a serem observados:


a) no caso de litisconsórcio, seja ativo ou passivo, os venci*
dos respondem pelas despesas e honorários em proporção
(art. 23);
b) nos procedimentos de jurisdição voluntária, as despesas
serão adiantadas pelo requerente, mas rateadas entre os inte
ressados (art. 24);
c) se o processo terminar por desistência ou reconhecimento
do pedido, as despesas e os honorários serão pagos pela parte
que desistiu ou reconheceu (art. 26);
d) as despesas dos atos processuais, efetuados a requerimen
to do Ministério Público ou da Fazenda Pública, serão pagas
a final pelo vencido - a isenção de custas (e não de honorá
rios periciais, de assistentes técnicos etc.), por exemplo, não
impede a condenação de tais entes, mas a condenação será
restrita ao reembolso do que o vencedor tiver pago (art. 27);
e) se o assistido ficar vencido, o assistente será condenado
nas custas em proporção à atividade que houver exercido no
processo (art. 32), mas não haverá condenação em honorários
no caso de assistência simples, pois não há previsão legal pa
ra tanto, já que o artigo fala apenas em custas;
f) cadaindicado,
houver parte pagará
masaserá
remuneração
ressarcida do
de assistente
tal gasto setécnico que
for ven-
cedora; a do perito será paga pela parte que houver requerido
0 exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes
ou determinado de ofício pelo juiz (art. 33);
g) aplicam-se à reconvenção, à oposição, à ação declaratória
incidental e aos procedimentos de jurisdição voluntária, no
que couber, as disposições constantes desta seção, ou seja, se
na sentença houver o julgamento de uma reconvenção, por
exemplo, também em relação a esse tópico deverá haver o
dispositivo quanto aos ônus da sucumbência (art. 34).

Feitas essas considerações, voltemos ao nosso caso prático do


XII Concurso do TRF da Ia Região.
Já resolvemos as questões principais do mérito, mas falta de
cidir quanto às custas e aos honorários advocatícios. Aparentemente
sem importância, essas duas questões muitas vezes arrastam, por si
só, um julgamento até as últimas instâncias em Brasília. Por isso, a
precisão do magistrado na resolução do tema é essencial, a fim de
não prolongar uma demanda que poderia ser resolvida às vezes ape
nas na primeira instância.
A primeira questão é relativa às custas e dou mais uma im
portantíssima dica aqui, se o seu estudo visa provas de concursos:
leve vez
uma o máximo
que, emderegra,
leis ea códigos
consultaque puder para
à legislação secao élocal da prova,
permitida. Isso
porque, para resolver esse tema, bastaria consultar a Lei n°.
9.289/1996, que é encontrada apenas em coletâneas legislativas
mais completas. Assim diz tal lei, que aqui vai com os meus desta
ques:
Art. 4 o São isentos de pagamento de custas:
1 - a União, os Estados, os Municípios, os Territórios Federais, o
Distrito Federal e as respectivas autarquias e fundações;
II - os que provarem insuficiência de recursos e os beneficiários
da assistência judiciária gratuita;
III - o Ministério Público;
IV - os autores nas ações populares, nas ações civis públicas e
nas ações coletivas de que trata o Código de Defesa do Consu
midor, ressalvada
Parágrafo único. Aaisenção
hipóteseprevista
de litigância
neste de má-fé.
artigo não alcança as
entidades fiscalizadoras do exercício profissional, nem exime as
pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de reembol
sar as despesas judiciais feitas pela parte vencedora.
Simples assim. Os réus eram isentos de custas na Justiça Fe
deral? Sim. Então, não caberia condenação deles nesse ponto. Mas e
o parágrafo único, que trata do reembolso das custas adiantadai
pelos autores? Bem, nesse caso os réus teriam que reembolsar ai
custas a eles. Aliás, os réus não, porque na linha seguida por nós •
União Federal não foi sucumbente (adotando o entendimento de que
ela deveria ser mantida na lide apenas para averiguação da possibi
lidade de créditos seus serem compensados com as contribuiçõea
previdenciárias).
Mas aí vem outra sutileza: só se reembolsa o que foi pago,
Todos os autores pagaram as custas ou algum deles era isento ou
beneficiário da assistência judiciária gratuita? O Município era isen
to, então não havia nada a ser reembolsado a ele. A Câmara Munici
pal já tinha sido excluída da lide, conforme vimos anteriormente,
razão pela qual arcaria com sua parte nas custas. Já o vice-prefeito e
os vereadores não eram isentos, cabendo então analisar se a sucum
bência foi recíproca ou se foi mínima para eles, neste último caso
devendo o INSS fazer o reembolso das custas.
Esses são detalhes que às vezes passam despercebidos na ho
ra da prova e que, no final, fazem uma diferença capaz de te colocar
algumas posições à frente ou atrás na ordem de classificação. Em
tribunais como o TRF da I a Região, um detalhe desses pode signifi
car o início da carreira em algum rincão do país ou perto de onde

você gostaria de estar.


Finalizando, temos a questão dos honorários. Em primeiro
lugar, destaco novamente que eles são devidos ao advogado da parte
vencedora e não à parte diretamente. Além disso, mesmo que o
autor ou o réu atuem em juízo sem advogado constituído, por terem
capacidade postulatória, têm direito aos honorários caso sejam ven
cedores na demanda (art. 20).
Como os honorários costumam render longos e calorosos de
bates nos tribunais, o STJ já editou várias súmulas sobre o assunto,
cuja transcrição das principais é conveniente:
• 105: Na ação de mandado de segurança não se admite con-
denação em honorários advocatícios. Essa súmula é muito rele
vante, pois o mandado de segurança é uma ação muito comum
na prática forense e nos concursos.
• 111: Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias,
não incidem sobre as prestações vencidas após a sentença. Nos
juizados especiais federais, as açõe s previdenciárias são maioria
e, talvez em razão desse fato, o tema tem sido muito cobrado
nos concursos. Sendo procedente uma ação de concessão de
aposentadoria por invalidez, por exemplo, os honorários terão
então como base as parcelas vencidas até a propositura da de
manda, bem como aquelas devidas até a prolação da sentença.
Ainda que haja recurso e o pagamento do débito somente seja
feito após o trânsito em julgado, não entram no cômputo as pres
tações vencidas após a sentença.
• 141:Os honorários de advogado em desapropriação direta
são calculados sobre a diferença entre a indenização e a oferta,
corrigidas monetariamente. Na desapropriação direta, pela via
judicial, o ente que promove a ação ofere ce determinado valor.
Se o dono do bem concordar com o montante ofertado, não há
lide e, portanto, não se fala em honorários. Se discordar, a lide
será restrita à diferença entre o ofertado e o pleiteado pela outra
parte, razão pela qual os honorários serão calculados somente
com base nessa diferença.
• 201: Os honorários advocatícios não podem ser fixados em
salários mínimos. A súmula apenas aplica o que determina o in
ciso IV do art. 7a da Constituição, que veda a vinculação ao salá
rio mínimo para qualquer fim.
• 303: Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com os honorários advocatícios. É a aplica
ção da conhecida teoria da causalidade, ou seja, quem deu cau
sa à movimentação da máquina judicial, ainda que seja vencedor
na ação, deve responder pelos honorários. É muito comum
quando o terceiro embargante alega a nulidade da penhora do
imóvel, por ser seu verdadeiro proprietário, fato esse desconhe
cido do credor porque o embargante deixou de fazer o registro
da compra no cartório de imóveis.
• 306: Os honorários advocatícios devem ser compensados
quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito au-
tônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimi-
dade da própria parte.
• 325: A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de to-
das as parcelas da condenação suportadas pela Fazenda Públi-
ca, inclusive dos honorários de advogado. Para quem está preo
cupado apenas com uma sentença em prova de concurso, esta
súmula não tem grande utilidade. Mas, na prática forense, é de
extrema relevância e surgiu a partir dos inúmeros casos em que
os tribunais reduziam, em sede de reexame necessário e mesmo
não havendo apelação, a condenação em honorários a que •
Fazenda Pública tinha ficado sujeita na sentença.
• 345: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pú-
blica nas execuções individuais de sentença proferida em açõe»
coletivas, ainda que não embargadas.
• 421: Os honorários advocatícios não são devidos à Defenso•
ria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito
público à qual pertença.

Sigamos em frente, analisando nosso caso-modelo no XII


Concurso do TRF da Ia Região. Aqui, é preciso dividir as relações
processuais, como também era preciso em relação às custas. Há,
pois, as• seguintes relações:
Município A x União Federal
• Município A x INSS
• Câmara Municipal do Município B x União Federal
• Câmara Municipal do Município B x INSS
• Vice-prefeito e vereadores do Município C x União Federal
• Vice-prefeito e vereadores do Município C x INSS

Uma sentença bem redigida deve analisar a questão dos ho


norários em cada uma das relações processuais. A União Federal
não sucumbiu em nada, razão pela qual tem direito a receber hono
rários dos três autores - isso ainda que se adote a tese de que ela
deveria ter sido excluída por ilegitimidade passiva. Já a Câmara
Municipal do Município
pois foi excluída da lideBjánão
nasfoipreliminares.
vencedora em nenhum
Assim, aspecto,
deve pagar
honorários para os dois réus. Quanto aos dois outros autores, obtive
ram sucesso parcial em relação à lide com o INSS. Quem deve arcaf
com os honorários nesse caso? Como o período em que a compen
sação não foi reconhecida foi muito pequeno (de setembro de 2004,
ou seja, 90 dias após a edição da Lei n°. 10.887/2004, até outubro de
2005, data do ajuizamento da ação), poderíamos aplicar o parágrafo
único do art. 21 do CPC: se um litigante decair de parte mínima do
pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários,
Em conseqüência, o INSS deveria pagar referida verba.
Mas não terminou ainda: qual o montante? De novo, uma so*
lução bem fundamentada poderia ser encontrada no § 4 o do art. 20
do CPC, justamente como citado pela defesa do INSS: nas causa»
em que for vencida a Fazenda Pública, os honorários serão fixados
consoante apreciação equitativa do juiz. Isso significa não ficar
adstrito ao limite de 10% a 20% do valor da condenação. Aliás,
outro detalhe sutil: os autores pediram que os honorários fossem
calculados em 20% sobre o valor da causa, mas a lógica jurídica e a
interpretação sistemática do CPC induzem à conclusão de que, ha
vendo condenação, seu valor é que servirá de base para os honorá
rios, ignorando-se o valor da causa. Juntando tudo isso com o co
nhecimento que o candidato deveria ter da jurisprudência, uma boa
solução seria condenar o INSS no pagamento de 5% (cinco por
cento) do valor da condenação, a título de honorários. E, claro, afas
tar o pedido dos autores para que esse percentual seja “per capita”:
primeiro, porque os 5% que cada autor receberá serão aplicados
sobre o valor que o INSS deverá compensar individualmente a cada
um deles, e não sobre o valor global. Segundo, porque também seria
dessa forma se tivéssemos uma condenação tomando como base o
valor da causa.
mmm-
* «^Capitulo X w

Dispositivo

Depois de tudo o que vimos, a redação do dispositivo não fi


cou tão complicada, até porque eu coloquei modelos em vários capí
tulos do livro. De qualquer maneira, façamos um apanhado geral
sobre o tema.
Em primeiro lugar, decida todas as relações processuais. Diga
se você julgou procedente ou improcedente a ação, bem como a
reconvenção, o pedido contraposto, a oposição, a denunciação da
lide etc. Não se esqueça no dispositivo de nenhuma dessas relações,
para não causar confusão às partes. Além disso, procure detalhar o
comando da sentença de maneira a fazer com que ele dê a exata
medida da sua decisão: não se esqueça de datas (ex.: reconhecimen
to de determinado período trabalhado como sendo período especial
para fins previdenciários), valores (ex.: montante da condenação em
danos morais) e outros referenciais, quando isso for imprescindível
para a execução do julgado.
Outra observação importante: a pretensão do autor só é to
talmente procedente se ele tiver obtido sucesso em todos os seus
pedidos. Se, por exemplo, o autor requer uma indenização por danos
materiais e você conclui que ele tem direito, mas discorda do índice
de juros aplicáveis, então o dispositivo deverá constar “Julgo parci
almente procedente a pretensão do autor”, visto que realmente os
pedidos forram deferidos apenas parcialmente.
Se houver mais de um autor ou réu, detalhe o comando da
sentença eim relação a cada um, se isso for necessário. Há casos em
que você p<ode simplesmente condenar todos os réus da mesma ma
neira, ou dlá o direito a todos os autores no mesmo sentido (ex.:
condeno a União Federal a promover o reajuste de 28,86% na remu
neração dos autores...). Mas às vezes é preciso especificar cada uma
das relações entre as partes.
Cuidado com o comando da sentença. Se a pretensão do au
tor é um pnovimento declaratório, não condene o réu: simplesmente
declare o diireito. Se é o caso de um mandado de segurança, também
não há condenação, mas uma ordem direta à autoridade impetrada.
Especifique a forma de correção do débito, caso seja uma
condenação» em prestação pecuniária. Veja se é o caso de correção
monetária, se cabem juros e se devem incidir os expurgos inflacio
nários. Deixe os índices explícitos: se é SELIC, se são juros de 1 %
ao mês etc.. Não se esqueça, também, das datas de início e fim de
incidência da correção, pois elas são fundamentais. Em regra, a data
final será a ido efetivo pagamento.
É o caso de uma obrigação de fazer ou não fazer? Lembre-
se que é possível haver um pedido de cominação de multa para 0
caso de atraso na prestação (CPC, art. 461). Aliás, em certas hipóte
ses nem é preciso haver pedido, podendo o juiz atuar de ofício, con
forme já ditto. Se for o caso de uma multa cominatória, estabeleça 0
valor e o prazo que a parte tem para cumprir a obrigação antes que a
penalidade comece a incidir.
Nãio se esqueça também de condenar o vencido a pagar u
custas e os honorários advocatícios, se for o caso, lembrando que é
preciso estiipular expressamente o montante dos honorários ou l
fórmula paira se chegar a esse valor exato (ex.: 10% do valor ds
condenação*).
É o> caso de reexame necessário? Se a resposta for afirmad*
va, isso tamibém deve ficar consignado no dispositivo.
Por fim, uma sentença precisa ser publicada, registrada e
com intimação das partes. Em regra, basta colocar a sigla P.R.I. ao
final, que significa justamente “Publique-se. Registre-se. Intime-se”.
Há discussões sobre a necessidade real desse comando, mas entendo
pertinente a sua utilização.
Capítulo XI

Sentenças de concursos resolvidas

A seguir, passo a transcrever algumas sentenças de concursos


que resolvi quando estava estudando para ingressar na magistratura
federal. A única sentença que não foi feita por mim é a do Xm Con
curso do TRF da Ia Região. A intenção não é trazer modelos prontos
e corretos, mas apenas demonstrar que sentenças não são bichos de
sete cabeças, podendo ser resolvidas em meio aos demais estudos
preparatórios para o concurso. Ressalto que procurei intencional
mente não fazer qualquer correcão ou alteração nas sentenças que
fiz à época, nem, na que foi feita pelo colega aprovado no TRF da Ia
Região, justamente para não apresentar um modelo fechado.
Assim, sugiro que você refaça as propostas de sentenças a se
guir, mas sem ler a resposta que transcrevi. Em seguida, veja as
divergências que você encontrou e busque na doutrina e jurispru
dência qual seria o caminho mais seguro, ainda que isso implique
em uma resposta totalmente diversa da que eu fiz. Lembre-se: quan
do você começa a ter uma opinião crítica em relação ao que algum
autor ou julgador disse, significa que você já está se tomando um
verdadeiro operador do Direito e, mais do que isso, que já está com
um excelente nível de estudo. Portanto, discorde do que escrevi, por
favor!
1TRF do lg Região -XII Concurso para Juiz Federal
(Caso-modelo)

Tema principal: Custeio Previdenciário

1. RELATÓRIO
(Dispensado)

FUNDAMENTAÇÃO

2. Preliminares
2.1 incompetência
A União Federal alega a incompetência absoluta deste juízo e requer •
remessa dos autos ao Juízo Federal da Capital do Estado, com base no § 2 2 do
art. 109 da CF/1988. Diz o citado dispositivo:
§ 2aAs causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção
judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido
o ato ou fato que deu srcem à demanda ou onde esteja situada a coisa,
ou, ainda, no Distrito Federal

Com base na norma acima, não vislumbro qualquer procedência na ar


gumentação
onde ajuizarãoda aré,ação.
pois No
a Constituição permite
presente caso, comoque os autores
todos escolham
os autores o foroà
pertencem
jurisdição desta Subseção Judiciária, não há que se falar em incompetência do
juízo. E, caso se entendesse de outra maneira, ainda assim não prevaleceria a
alegação, visto se tratar de uma competência territorial de natureza relativa,
que deve ser impugnada por meio de exceção de incompetência.
Por outro lado, o INSS argui que o vice-prefeito e os vereadores do Mu
nicípio C devem ajuizar ação própria na Comarca do Município, conforme pre-
visto no § 3S do art. 109 da CF/1988, que assim diz:
§ 3Q - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicl■
lio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituU
ção de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sedê
de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permi•
tir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiço
estadual
Não há razão no argumento do INSS.
Primeiro, porque a norma acima abre uma faculdade ao jurisdicionado,
não uma obrigação. Se ele preferir ajuizar a demanda na Seção ou Subseção da
Justiça Federal que englobe seu domicílio, problema não haverá. Isso porque a
norma visa facilitar o acesso dos segurados ao Poder Judiciário, somente isso.
Além disso, o que está em discussão nos presentes autos é justamente a
desòbrigatoriedade dos ocupantes de cargo eletivo de recolherem contribui
ções previdenciárias. Ora, se assim é, julgada procedente a demanda eles não
serão considerados segurados, ao menos no período em que for deferida a
compensação. Se não podem ser enquadrados como segurados, não se aplica a
eles as disposições do § 3 S do art 109 acima transcrito.

Pelo exposto, rejeito as alegações de incompetência deste juízo.

2.2 Ilegitimidade passiva


A União Federal alega que a causa é exclusivamente previdenciária, ra
zão pela qual a legitimidade passiva pertence unicamente ao INSS. Porém, foi
editada em 2005 a Lei n2 11.098, que alterou as normas sobre o tema, dispondo
da seguinte maneira:
Art Ia Ao Ministério da Previdência Social compete arrecadar; fiscalizar;
lançar e normatizar o recolhimento, em nome do Instituto Nacional do
Seguro Social  INSS, das contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e
c do parágrafo único do art. 11 da Lei ng 8.212, de 24 de julho de 1991, e
das contribuições instituídas a título de substituição, bem como as demais
atribuições correlatas e conseqüentes, inclusive as relativas ao contencio-
so administrativo fiscal, conforme disposto em regulamento.

Logo, a partir da edição da referida Lei, o INSS passou a cuidar apenas


da parte relativa aos benefícios previdenciários, razão pela qual é a União Fede
ral parte legítima para compor a presente lide, visto que o Ministério da Previ
dência Social é um órgão seu e não tem personalidade jurídica própria.
Por outro lado, tal norma não afasta a legitimidade passiva do INSS, vis
to que, apesar da administração das contribuições previdenciárias estar a cargo
da União Federal, os valores arrecadados ainda pertencem à Autarquia, que
deles utiliza justamente na concretização dos seus objetivos principais, ou seja,
a manutenção do sistema de seguro social do país.
Posto isso, rejeito a alegação de ilegitimidade passiva e mantenho os
dois réus na lide.

2.3
O Ilegitimidade ativa que o Município A nada pode pleitear em relação à
INSS argumenta
contribuição pessoal dos ocupantes de cargo eletivo municipal. Com razão,
visto que a contribuição previdenciária se subdivide em duas cobranças, uma a
cargo do empregador e outra a cargo do trabalhador. Nesse sentido, embora o
empregador seja responsável pela retenção e repasse dos valores devidos peloi
trabalhadores, estes é que têm legitimidade para pleitear restituição ou com
pensação de seus próprios indébitos. Logo, falece ao Município A legitimidade
em sua pretensão no que diz respeito às contribuições dos trabalhadores - no
caso, dos detentores de mandato eletivo.

2.4 Incapacidade de ser parte


Segundo o INSS, a Câmara Municipal do Município B não representa o
Município e nem seus vereadores, razão pela qual deve ser excluída da lida.
Inteira razão assiste à Autarquia, visto que o Código Civil (art. 41) não coloca o
legislativo municipal como detentor de personalidade jurídica, ou seja, a pessoa
jurídica de direito público interno é o Município, que responde por qualquar
demanda relativa aos seus órgãos, sejam eles do Poder Executivo ou Legislati
vo. Além disso, embora o art. 12 do Código de Processo Civil dê personalidade
judiciária a alguns entes que não têm personalidade jurídica, a Câmara Munici
pal não se encontra arrolada no citado artigo.
Por tais motivos, excluo da lide a Câmara Municipal do Município B, por
ausência de personalidade judiciária e incapacidade de ser parte.

2.5 Impossibilidade de litisconsórcio ativo unitário


O INSS alega ainda que o recolhimento da contribuição patronal e dai
contribuições pessoais retidas pelos municípios não autoriza o litisconsórcio
ativo unitário, razão pela qual a Câmara Municipal do Município B e os autoraa
pessoas naturais/físicas devem ser excluídos da lide, com extinção do processo,
condenados em custas e verba honorária.
0 réu, porém, deixou de apresentar os fundamentos para a vedação ao
litisconsórcio
Civil: ativo. Sobre o tema, assim diz o art 46 do Código de Processo
Art 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em con-
junto, ativa ou passivamente, quando:
1 - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamen*
te à lide;
II  os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento defatO
ou de direito;
III  entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum defato ou de dl*
reito.
Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto
ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do //■
tígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo pa ■
ra resposta, que recomeça da intimação da decisão.
No presente caso, os direitos pleiteados pelos autores derivam do
mesmo fundamento de direito, ou seja, a inconstitucionalidade das normas que
instituíram a contribuição previdenciária sobre o subsídio dos exercentes de
mandato eletivo. Vê-se, assim, que há plena compatibilidade com o instituto do
litisconsórcio, razão pela qual não vejo procedência na preliminar levantada
pelo réu.

3. Prejudicial de mérito
A União Federal e o INSS argumentaram, em sede de contestação, que
houve a "decadência qüinqüenal para a repetição do indébito desde os paga
mentos". Entendo que o caso não é de decadência, mas de prescrição. De qual
quer forma, a mudança terminológica não influirá na solução deste caso especí
fico.
A contribuição previdenciária em questão está sujeita ao lançamento
por homologação, mais especificamente ao que a doutrina convencionou cha
mar de "auto-lançamento", visto que o contribuinte é responsável por quantifi
car o tributo devido e recolhê-lo aos cofres públicos, antes de qualquer provi
dência da Administração Tributária. Em relação aos tributos sujeitos a esse tipo
de lançamento, aos poucos consolidou-se na jurisprudência, especialmente do
Superior Tribunal de Justiça, a tese conhecida como "cinco mais cinco". Segundo
essa tese, nos casos em que o contribuinte pleiteia a restituição ou compensa
ção de tributos lançados por homologação, o prazo para fazer o pedido se inicia
somente após cinco anos da extinção do crédito tributário, nos termos do inciso
I do art. 168 do Código Tributário Nacional. Como a extinção do crédito estaria
vinculada ao seu lançamento e este somente ocorreria em cinco anos após a
ocorrência do fato gerador, conforme determina o § 4 2 do art 150 do CTN,
quando não há homologação expressa. Com isso, teríamos um prazo de dez
anos a partir da ocorrência
Se a tese do fato
é questionável ou gerador.
não, o fato é que se consolidou na jurispru
dência e soa ineficiente e economicamente prejudicial contrariar um entendi
mento firme. Se assim é, não teria ocorrido a prescrição no presente caso, visto
que: a) as contribuições previdenciárias são sujeitas ao lançamento por homo
logação; b) os pagamentos mais antigos datam do ano de 1997; c) ainda não se
passaram dez anos do pagamento mais antigo.
Ocorre que o INSS levanta também a existência da Lei Complementar
ne. 118/2005, já em vigor na data do ajuizamento da ação (que se deu em
25/10/2005), visto que nela há as seguintes normas:
Art. 3S Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei no 5.172,
de 25 de outubro de 1966  Código Tributário Nacional, a extinção do
crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por
homologação, no momento do pagamento antecipado de que trata o §lo
do art 150 da referida Lei.
Art 4- Esta Lei entra em vigor 120 (cento e vinte) dias após sua publico-
ção, observado, quanto ao art 3g, o disposto no art 106, inciso I, da Lei no
5.172, de 25 de outubro de 1966  Código Tributário Nacional.

Pela interpretação literal dos artigos acima, o prazo prescricional apll-


cável no presente caso seria de cinco anos, razão pela qual vários dos pagamen
tos efetuados já estariam sob o manto da prescrição. Porém, seguindo o enten*
dimento também firmado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, entendo
que a norma acima afeta direitos materiais dos contribuintes, não se limitando
a ser uma simples regra processual ou de interpretação. Por conta disso, nflo
pode ter aplicação pretérita, até por respeito ao princípio da segurança jurídica,
Dito isto, aplico as disposições da Lei Complementar n2.118/2005 ape
nas aos pagamentos efetuados após a sua entrada em vigor, mantendo para 08
demais a prescrição em dez anos, conforme a citada tese dos “cinco mais cinco",

4. Mérito
4.1 A Lei n*. 9.506/97
O INSS argumentou que a declaração de inconstitucionalidade da Lei nB,
9.506/97, feita no RE 351.717-1/PR, somente tem efeito entre as partes. Ainda
que concorde com essa afirmação, visto se tratar de um julgamento em controle
de constitucionalidade difuso, tal fato não impede que aqui se declare da mel*
ma forma a inconstitucionalidade. E esse é o meu entendimento, visto que a
Constituição Federal, até a edição da Emenda Constitucional n2. 20/1998, não
previa a cobrança de contribuições previdenciárias dos exercentes de mandato
eletivo. Assim, a instituição de uma nova modalidade de contribuição somente
poderia ser feita por meio de lei complementar, conforme determina o § 42 do
art. 195 c/c art. 154,1, ambos da Constituição Federal. Como a Lei n 2. 9.506/97
era uma lei ordinária, não poderia instituir nova contribuição, sendo inconsti
tucional seu art. 13.
Em razão do exposto, entendo que todos os pagamentos efetuados com
base na Lei n2. 9.506/97 foram indevidos, sejam eles de contribuições patronall
ou pessoais dos exercentes de mandato eletivo.

4.2 A Emenda Constitucional ns. 20/1998


Em 1998, foi editada a Emenda Constitucional n2. 20/1998, que deu no
va redação ao art. 195. Assim, a contribuição previdenciária deixou de ser
devida apenas sobre a folha de salários e pelos trabalhadores, para ser exigidi
inclusive dos exercentes de mandato eletivo. 0 INSS alega, com base nessa
norma, que houve então a constitucionalização da Lei ns. 9.506/97.
Porém, não entendo dessa forma. Uma lei pode ser analisada sob dois
ângulos: a) quando
deve-se apurar ela foi editada
no momento de seujánascimento
na vigênciaa de
suauma norma constitucional*
compatibilidade com ô
sistema, declarando-se sua inconstitucionalidade em caso de ser ela incompatí
vel com a Constituição; b) quando, vigente uma ordem constitucional e não
havendo qualquer infringência da lei a essa ordem, são editadas novas normas
constitucionais, seja por meio de uma nova Carta Magna ou por meio de uma
Emenda, deve-se analisar a compatibilidade da lei para saber se ela será recep
cionada ou não pelas novas disposições constitucionais.
No presente caso, a Lei n3. 9.506/97 surgiu quando já estava em vigor a
Constituição Federal de 1988 e, por isso, com ela deveria guardar compatibili
dade desde o seu nascimento. Como vimos, quando a lei foi editada ela padecia
de um vício grave que a tornava inconstitucional e, portanto, não se pode dizer

que chegou
tucional a ter vida.nada
ns. 20/1998 Emreflete
conseqüência, a edição
sobre a Lei posteriorpois
n s. 9.506/97, da Emenda
a análise Consti
acerca
da recepção ou não de uma lei frente a uma Emenda Constitucional somente é
feita se aquela lei mantinha plena consonância com as regras da Constituição
então vigentes.
Tudo isso quer dizer que não se pode falar em constitucionalização de
uma lei. Ou ela já nasce de acordo com a Carta Magna ou não tem vida. Assim, é
de se rejeitar a alegação de que a cobrança da contribuição previdenciária
passou a ser possível com a edição da Emenda Constitucional n2. 20/1998, visto
que a Emenda não podia sanar a inconstitucionalidade que já existia na Lei n2.
9.506/97.
Por outro lado, entendo também que uma norma constitucional não
cria tributos, mas apenas define competências. Assim, a Emenda Constitucional
n2. 20/1998 não criou a contribuição previdenciária sobre a remuneração dos
exercentes de mandato eletivo, mas apenas deu poderes à União Federal para
que criasse tal contribuição.

4.3 A Lei n2.10.887/2004


Os autores pedem a compensação das contribuições pagas mesmo após
a edição da Lei n2. 10.887/2004. Adotando o raciocínio exposto no capítulo
anterior, porém, conclui-se que a referida lei foi editada já na vigência da reda
ção do art 195 dada pela Emenda Constitucional n2. 20/1998. Fazendo-se o
exame inicial de constitucionalidade a que toda norma está sujeita quando é
editada, podemos assegurar que não há qualquer vício maculando a Lei n 2.
10.887/2004.
Em razão do exposto, não há procedência no pedido de compensação
das contribuições pagas após a edição da citada lei, devendo ser respeitado
apenas o prazo de noventa dias de sua edição, nos termos do 6 2 do art 195 da
Constituição Federal.

4.4 Compensação
Os autores pleiteiam a compensação dos indébitos com quaisquer tribu
tos administrados pela Secretaria da Receita Federal e pelo INSS, pedido esse
refutado pela União Federal, sob alegação de que indébitos previdenciários não
podem ser compensados com tributos administrados pela SRF.
Razão assiste à ré. Segundo o art. 170 do Código Tributário Nacional, a
compensação tributária é efetuada nas condições e sob as garantias que a lei
estipular. Ocorre que não há previsão legal permitindo a compensação de indé
bitos previdenciários com tributos administrados pela SRF, conforme se conclui
da leitura do art 74 da Lei n9.9.430/1996, que em seu § 12 assim dispõe:
§ 12. Será considerada não declarada a compensação nas hipóteses:
II  em que o crédito:
e) não se refira a tributos e contribuições administrados pela Secretaria
da Receita Federal - SRF.

Logo, a compensação deverá ser feita apenas com débitos administra


dos pela Secretaria da Receita Previdenciária, antes administrados pelo INSS.
4.5 Correção do indébito
Os autores pedem que os valores a serem compensados sejam corrigi
dos com expurgos inflacionários, acrescidos de juros de 6% ao ano, contados do
respectivo pagamento, a título de juros compensatórios pelo ilícito, e da taxa
SELIC (Lei n2.9.250/1995).
Em sua defesa, o INSS alega que não são aplicáveis expurgos inflacioná
rios ou juros compensatórios, posto não haver previsão legal.
Com efeito, no presente caso incide apenas a SELIC, pois assim deter
mina o art. 39 da Lei n2.9.250/1995:
§ 4g A partir de l3 de janeiro de 1996, a compensação ou restituição será
acrescida de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial da
Liquidação e de Custódia - SELIC para títulos federais, acumulada men•
salmente, calculados a partir da data do pagamento indevido ou a maior
até o mês anterior ao da compensação ou restituição e de 1% relativa■
mente ao mês em que estiver sendo efetuada.

Como essa taxa referencial já engloba tanto a correção monetária como


os juros, nada mais há a ser acrescido, até mesmo porque em sede de compen
sação tributária não se fala em juros compensatórios à parte.
Quanto aos expurgos inflacionários, estes somente são aplicáveis quan*
do há mudanças de índices, especialmente em épocas de planos econômicos. Ol
autores deixaram de demonstrar as datas e percentuais aplicáveis relativos aof
expurgos. Junte-se a isso o fato de não ter havido mudança de moeda, de índicei
ou planos econômicos desde o início do pagamento dos indébitos e concluire
mos pela impossibilidade de incidência de qualquer expurgo.
4.6 Custas e honorários
Segundo o art 4S da Lei n2. 9.289/1996, a União Federal e suas autar*
quias são isentas de custas. Porém, o mesmo artigo adverte que a isenção nftO
exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de reembolsar as
despesas judiciais feitas pela parte vencedora.
Quanto ao Município A, ele não pagou qualquer valor referente a custas,
por estar isento, nos termos do mesmo art. 4Q. Se não pagou, não há o que ser
reembolsado.
Já o vice-prefeito e os vereadores do Município C, tendo adiantado as
custas por não serem isentos, e havendo sucumbência mínima de suas partes,
terão direito ao reembolso das custas, o que será feito em idêntica proporção
por ambos os réus.
Em relação aos honorários, os autores pedem que eles sejam calculados
em 20% sobre o valor da causa, que é de R$ 200.000,00. Porém, sendo conde
nada a Fazenda Pública, deve ser aplicado o § 4S do art. 20 do Código de Pro
cesso Civil, que determina que nas causas em que for vencida a Fazenda Públi
ca, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz. Apesar
da sucumbência dos autores, entendo que ela foi mínima, razão pela qual aplico
a citada norma e estipulo os honorários advocatícios em 5% (cinco por cento)
do montante a ser compensado por cada um dos autores, valor esse que será
pago proporcionalmente pela União Federal e pelo INSS.
Por outro lado, tendo a Câmara Municipal do Município B sido excluída
da lide, deve ser condenada a pagar honorários advocatícios aos réus, os quais,
seguindo a mesma norma, estipulo em R$ 1.000,00 para cada um.

DISPOSITIVO
Em razão do exposto, declaro extinto o processo sem resolução do mé
rito em relação à Câmara Municipal do Município B, que pagará aos réus hono
rários advocatícios arbitrados individualmente em R$ 1.000,00 (um mil reais).
Julgo parcialmente procedente a pretensão deduzida pelos demais au
tores, declarando o direito à compensação da contribuição previdenciária
patronal paga pelo Município A, até noventa dias após a edição da Lei ns.
10.887/2004, bem como da contribuição previdenciária pessoal paga pelo vice-
prefeito e vereadores do Município C, durante o mesmo período, com débitos
dos autores de natureza também previdenciária. Os valores a serem compensa
dos serão corrigidos exclusivamente pela taxa SELIC.
Condeno os réus a ressarcirem as custas pagas pelo vice-prefeito e pe
los vereadores do Município C.
Condeno os réus a pagarem honorários advocatícios aos autores, os
quais arbitro em 5% (cinco por cento) do montante a ser compensado, já corri
gido pela SELIC, arcando cada réu com 50% (cinqüenta por cento) dos honorá
rios.
Sentença sujeita ao reexame necessário.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.


Temo principal: Desapropriação

Levando em conta a hipótese abaixo, prolate sentença observando os re-


quisitos essenciais previstos em lei (art 458  CPC), examinando e decidindo todas
as questões postas pelas partes. Não ponha data nem assinatura. (0 relatório é
imprescindível)
ANTONIO
sários, casados ALBERTO
entre MONTINNI
si, residentes e ELVIRA
em Campinas  SP,BARRETO
ajuizaramMONTINNI,
ação de ritoempre-
ordinário contra o INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÀ •
RIA  INCRA, na 2a Vara Federal de Marabá  Pará, em 25 de agosto de 2000,
pedindo indenização por apossamento administrativo (desapropriação indireta)
de imóvel rústico de sua propriedade, situado no Município paraense de Concei-
ção do Araguaia. Dos fatos e segmentos processuais, destacamse os seguintes:
I - Fundamentos da petição inicial  0 apossamento, ocorrido em janeiro
de 1990, incidiu sobre a "Fazenda Cruzeiro do Sul", com 5.500 hectares, cadastra-
da no INCRA sob o ns. 1.047.017.255.0514, depois de invadido o imóvel por inte-
grantes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra  M5T, que, depois, ali vie-
ram a ser assentados pelo INCRA
0 Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural  ITRfoi pago normal-
mente pelos proprietários durante o tempo do apossamento, conforme compro-
vantes que anexaram à documentação instrutória.
Houve decreto declaratório de interesse social para fins de reforma agrá-
ria, editado antes da invasão por terceiros (integrantes do M5T)), porém a autar-
quia nunca providenciou a desapropriação, tampouco o pagamento aos proprie-
tários do imóvel, que registrava cobertura florestal nativa (em aproximadamentê
2.000 hectares, contendo pau d'arco, aroeira, cedro e outras madeiras de valor
econômico), 200 hectares de pastagens  o imóvel era utilizado essencialmentt
para a pecuária de corte  e acessões: casa sede, dois currais; galpões, 15.000
metros de cercas de arame farpado, duas barragens e outros equipamentos. A
indenização pleiteada, em dinheiro, foi orçada em R$1.100.000,00 (um milhão ê
cem mil reais) pela terra nua, à razão de R$200,00 (duzentos reais) o hectare; em
R$400.000,00 (quatrocentos mil reais) pela cobertura florística, também à razão
de R$200,00 (duzentos reais) o hectare; e em R$300.000,00 (trezentos mil reais)
pelas acessões e benfeitorias, valores expressos em laudo acostado à inicial, fir-
mado por engenheiro civil.
Foi afirmado, outrossim, que, mesmo situada a "Fazenda Cruzeiro do Suln
em Conceição do Araguaia, todo o seu movimento econômico era voltado para ã
cidade de Redenção  Pará, devendo ser considerados como elementos comparati-
vos e avaliatórios, por via de conseqüência; as pesquisas de mercado e os valores
das transações imobiliárias (e outros elementos: preço da arroba de boi gordo,
dados do crédito rural dos bancos oficiais) da respectiva microrregião.
0 pedido estendeuse, ainda, aos juros moratórios de 12% ao ano, conta-
dos a partir da citação; aos juros compensatórios de 12% ao ano, contados a
partir do apossamento; à correção monetária dos valores da indenização, a partir
da data do laudo judicial de avaliação; ao pagamento dos honorários devidos ao
seu assistente técnico, a ser indicado oportunamente; ao reembolso das custas do
processo e aos honorários advocatícios de 20% do total condenatórío.

competeFundamentos da contestação
à União desapropriar  0 INCRA
por interesse é parte
social parailegítima ad causam,
fins de reforma pois
agrária.
Foi confirmado o apossamento. Datando ocupação de janeiro/1990, arguiuse
prescrição qüinqüenal, à luz da regra geral do Decretolei ns. 20.910, de
06/01/1932, e mesmo decadência, também qüinqüenal, com base na Medida
Provisória n° 2.027 40, de 29 de setembro de 2000.
No mérito, foi afirmado que a indenização cobrada não tem base no mer-
cado de imóveis da região, onde o valor médio do hectare não passa de R$90,00
(noventa reais), ainda mais porque o imóvel ocupada tendo produção inexpressi-
va, não cumpria a sua função social, devendo, por outro lado, sofrer um redutor
(depreciação) de 20% (vinte por cento) do seu preço de mercado, pelo fato de
estar invadido por posseiros na data da ocupação.
A indenização pela terra deve ser paga em Títulos da Dívida Agrária 
TDA's (e não em dinheiro, como pretendido), nos termos do art 184 da Constitui-
ção, visto que o imóvel foi destinado inteiramente aos programas governamentais
de reforma agrária.
Como os Títulos da Dívida Agrária  TDA's já contêm cláusula de preser-
vação do valor real, como manda a Constituição, não se faz atendível o pedido de
correção monetária. (Seria um bis in idem atentatório ao patrimônio público.)
Os juros de mora, legalmente, são devidos apenas à taxa de 6% (seis por
cento) ao ano, a partir de 1 0 da janeiro do exercício seguinte àquele em que o
pagamento deveria ser feito, nos termos do artlOO da Constituição.
Os juros compensatórios, destinados a compensar a perda de renda com
provadamente sofrida pelo proprietário, como um substitutivo dos lucros cessan-
tes, não são devidos na hipótese, porque o imóvel nao gerava renda expressiva e
compatível com a sua potencialidade.
Se considerados devidos  ad argumentandum tantum , devem ser pagos
pela taxa de até 6% ao ano, como estipula a Medida Provisória nQ. 2.027 
40/2000, tendo como base a diferença eventualmente apurada entre 80% do
preço ofertado em juízo e o valor do bem fixado na sentença.
Não procede o pleito de pagamento dos honorários do assistente técnico
dos autores, pois a lei não lhes exige obrigatoriamente a indicação, que não passa
de uma faculdade da parte, de quem o assistente técnico é apenas um assessor.
Foi contestado também o preço buscado pelas acessões e benfeitorias, dado como
superfaturado.
Os honorários advocatícios devem ser pagos na escala percentual de 0,5%
a 5% (não se aplicando ao caso, consequentemente, os lindes do § 3o do art20 do
Código de Processo Civil) da diferença entre a oferta e a condenação, observado o
valor máximo de R$151.000,00 (cento e cinqüenta e um mil reais), a teor do
quanto dispõe a MP ns 2.027  40/2000.
Existência de oposição  EUGÊNIO PIACENTINNI DE ABREU e MARTA
CONCEIÇÃO DE ABREU, casados entre si, agricultores, residentes em Araçatuba 
ofereceram oposição logo depois da contestação.
Afirmaram  e comprovaram  que celebraram com os autores compro-
misso de compra e venda, por instrumento público, em 15 de junho de 1998, tendo
por objeto 1.200 hectares das terras da parte norte da "Fazenda Cruzeiro do Sul",
com cobertura vegetal proporcional à existente no restante da propriedade,
porém sem benfeitoras, desconhecendo a sua ocupação pelo INCRA pelo preço de
R$350.000, 00 (trezentos e cinqüenta mil reais), a ser pago em sete parcelas
iguais; e que, mesmo implementado o pagamento, os compromitentes vendedores
se recusaram a lavrar a escritura definitiva, alegando que o preço recebido não
correspondera ao de mercado e que a lei lhes permitia o arrependimento.
Pediram  em face da irreversibilidade da situação defato, com o imóvel
já afetado a programas de reforma agrária  que parte da indenização buscada
pelos autores, correspondente aos 1.200 hectares objeto do compromisso, lhes
fosse paga pelo INCRA, de acordo com a avaliação adotada pela sentença, acres-
cida, em proporção, de todos os itens financeiros que o julgador viesse a deferir
aos autores opostos.
Citados os opostos, o INCRA afirmou que a oposição era incompatível com
o processo judicial de desapropriação (indireta, no caso), que somente permite
discussão sobre vício processual e o preço ofertado.
Destacou, porém, que, se admitida a intervenção, não se opunha ao pedi-
do dos opoentes, exceto quanto ao pagamento proporcional dos itens financeiros
buscados por similitude com o princípio constitucional da justa indenização, visto
cuidarse de uma mera pretensão indenizatória entre compromitentes compra-
dores e compromitentes vendedores, sem nenhuma vinculação ou identidade com
o instituto da desapropriação.
Os autores opostos contestaram o pedido, afirmando que o compromisso
de compra e venda, mesmo irretratável, não fora registrado, deixando de propici-
ar o pleito indenizatório dos opoentes. pois também não lhes ensejaria a adjudi-
cação compulsória, segundo precedentes do Supremo Tribunal Federal.
Sustentaram, também, que o princípio da incoercibilidade das prestações
de fato, inscrito no art.1.088 do Código Civil, propiciaria aos opoentes, quando
muito, o direito a uma compensação por perdas e danos, e nunca ao pagamento
do preço
objeto donuma desapropriação indireta, como se proprietários fossem do imóvel
apossamento.
Replicaram estes; aduzindo ser cabível a sua intervenção, por não se tra-
tar de desapropriação em sentido estrito; e que a falta de registro imobiliário do
compromisso não lhes obstaculiza o pleito; que não tem natureza real mas pura-
mente obrigacional (pessoal), trazendo à colação, por semelhança, o teor da
Súmula ns. 84 do Superior Tribunal de Justiça.
Por fim, insurgiramse veementemente contra a restrição indenizatória
aventada pelo INCRA, realçando que o mesmo fato do apossamento, correspon-
dendo a uma desapropriação (indireta) do imóvel como um todo, não pode, sem o
cometimento de injustiça, ensejar efeitos diferentes para eles, os compromissários
compradores, e para os opostos, os compromitentes vendedores que não honra-
ram o contrato
restrição celebradoPediram
indenizatória, e pago,também
com relação aos quais
o reembolso dasa custas
autarquia não fez a
e o pagamento
de honorários advocatícios de 20% do valor (proporcional) da condenação.
Segmentos instrutórios  Replicados os fundamentos da contestação, o ju-
iz exarou despacho, irrecorrido, diferindo o exame das preliminares para o pórti-
co da sentença, dada a necessidade de melhor exame dos fatos do processo sobre
os quais se erguem, em face do conjunto da prova. Quanto à oposição, afirmou
que examinaria a sua admissibilidade também a final, com julgamento simultâ-
neo das duas ações, sendo o caso.
0 perito nomeado, um Engenheiro Agrônomo, apresentou laudo circuns-
tanciado avaliando o imóvel em R$1.017.SOO,00 (um milhão, dezessete mil e
quinhentos reais), à razão de R$185,00 (cento e oitenta e cinco reais) o hectare,
envolvendo a terra nua e a cobertura arbórea, afirmando que este item constitui
parte integrante do solo, e que. em face da realidade fundiária do mercado local,
não tem ele recebido avaliação e pagamento separados.
Sobre o redutor (depreciação) de 20% (vinte por cento) do seu preço de
mercado, buscado pelo INCRA pelo fato de estar invadido por posseiros na data
da ocupação, afirmou que não o adotava na sua sistemática de avaliação  embo-
ra adotado por alguns julgados , deixando o aspecto para o prudente arbítrio do
julgador.
As acessões e benfeitorias foram avaliadas em R$260.000,00 (duzentos e
sessenta mil reais), louvandose o perito, nas duas situações, em elementos
transações imobiliárias, informações de corretores de imóveis, preço da arroba de
boi gordo, dados da carteira de crédito rural do Banco do Brasil, custo estimado
da construção das barragens, das cercas de arame, do pasto mecanizado e das
instalações complementares - do mercado imobiliário da microrregião de Reden-
ção  Pará, onde se concentrava todo o movimento econômico da "Fazenda Cru-
zeiro do Sul". (Até o número do 000 do telefone da Fazenda  disse o perito para
realçar a sua opção  era o da cidade de Redenção.)
Os honorários
quinhentos dodepositados
reais), foram perito, arbitrados pelo juizpor
pelos autores, em determinação
R$7.500,00 (sete mil e e
judicial,
levantados ao cabo dos trabalhos.
0 assistente técnico do INCRA, também Engenheiro Agrônomo, avaliou o
imóvel em R$935.000,00 (novecentos e trinta e cinco mil reais), à razão de
R$170,00 (cento e setenta reais) o hectare, já levando em consideração a cobertu-
ra florística, também ao fundamento de que a dinâmica do mercado fundiário
não costuma avaliála em separado.
Também não adotou o redutor (depreciação) de 20% (vinte por cento) do
seu preço de mercado, buscado pelo INCRA pelo fato de estar invadido por possei-
ros na data da ocupação, afirmando que a desapropriação, em si mesma, já re-
presenta uma punição aos donos dos imóveis improdutivos. Todavia, consignou
que também devolvia o exame do aspecto  adotado por alguns precedentes  ao
prudente arbítrio do julgador.
As acessões (construções) e benfeitorias foram avaliadas em R$260. 000,
00 (duzentos e sessenta mil reais), porém com uma redução de 10% de deprecia-
ção, conforme praxe corrente em avaliações de imóveis rústicos, ficando a avalia-
ção final desse item em R$234.000,00 (duzentos e trinta e quatro mil reais).
Pautouse o expert em elementos  valor de transações registradas no
cartório de imóveis, dados negociais fornecidos pela carteira de crédito rural do
Banco do Brasil, informações de corretores imobiliários, custo estimado da cons-
trução das barragens, das cercas de arame, do pasto mecanizado etc -» coletados
na microrregião de Conceição do Araguaia  Pará da situação da propriedade,
levando em consideração: a mais disso, a sua localização geográfica, a funciona-
lidade e o estado de conservação das acessões e benfeitorias.
Na análise da localização, afirmou o assistente que o imóvel está a 1.184
km de Belém, Capital do Estado, principal centro consumidor do Pará, conforme
dados do Guia Brasill96  Quatro Rodas (Editora Abril  São Paulo, 1996, p.20S),
sendo também grande a sua distância (530 km) da cidade de Marabá, grande
cento consumidor do sul do Estado.
0 assistente
R$7.000,00 (sete mil técnico dos trabalho,
reais) pelo autores, conforme
um Engenheiro Civil, quenoscobrou
recibo inserido autos,
inclusive de recolhimento de IRPF, avaliou a terra nua em R$1.045.000,00 (um
milhão e quarenta e cinco mil reais), à razão de R$190,00 (cento e noventa reais)
o hectare. (0 engenheiro não foi o mesmo que subscrevera o laudo que instruiu a
inicial.)
A cobertura florestal  cerca de 1.900 hectares contendo várias espécies
de madeira de lei, conforme amostragem de inventário florestal foi avaliada em
separado, em R$380.000,00 (trezentos e oitenta mil reais), à razão de R$200,00
(duzentos reais) o hectare, destacando o profissional, por outro lado, o alto valor
daquela madeira no mercado. (Foram feitos estudos de volumetria e dos custos dê
extração e do transporte para a serraria.)
0 assentamento das famílias de trabalhadores, pelo INCRA, segundo afi■
ançou, não impediu uma avaliação criteriosa do valor econômico da mata no
momento do apossamento pela autarquia, em janeiro de 1990.
As acessões (construções) foram avaliadas em R$300.000,00 (trezentos
mil reais), tudo com base em dados  transações imobiliárias, informações de
corretores imobiliários, preço da arroba de boi gordo e dados da carteira de
crédito rural do Banco do Brasil, custo da construção das barragens, das cercas
de arame, do pasto mecanizado etc  da microrregião de Redenção  Pará Os
laudos foram discutidos em audiência de instrução e julgamento.
Alegações finais - Os autores reiteraram todos os pleitos vestibulares e,
invocando o princípio do livre convencimento, pediram a condenação com base
no laudo do seu assistente técnico, dizendoo elaborado com pontual e exata
atenção a todos os ditames do mercado de imóveis e à exploração econômica da
propriedade invadida.
Afirmaram, ainda, que vasta jurisprudência, inclusive do Supremo Tribu-
nal Federal, tem firmado o princípio de que as florestas naturais, como acessões
do solo, devem ser indenizadas separadamente, em atenção ao princípio da justa
indenização, de estatura constitucional, e mesmo à vista da proteção que a Cons-
tituição confere ao direito de propriedade (plena in re potestas).
Pediram, também, o ressarcimento da quantia de R$4.500,00 (quatro mil
e quinhentos reais) paga pelo laudo que juntaram à inicial, e o reembolso dos
honorários do perito, cujo depósito fizeram por determinação do julgador, reno-
vando, por fim, o pedido de ressarcimento dos honorários pagos ao seu assistente
técnico.
Os opoentes, da mesma forma, renovaram o pedido, destacando que a in-
denização deveria ser fixada com base no laudo ofertado pelo assistente técnico
dos autores opostos.
0 INCRA repudiou os laudos do perito e do assistente técnico dos autores:
aquele, pordo
Conceição levar em conta
Araguaia elementos
 PA, de mercado
onde se localiza alheios Cruzeiro
a "Fazenda à microrregião
do Sul"dee, de
resto, por não fazer uma avaliação criteriosa em face do mercado de terras na
própria microrregião de Redenção  PA tomada como parâmetro; este, por ter
incidido no mesmo equívoco (dados de mercado de outra microrregião), por
superfaturar a indenização, por avaliar em separado a cobertura florestal, infrin-
gindo a lei e os ditames do mercado imobiliário da região; e, por derradeiro,
porque firmado por um Engenheiro Civil, quando a lei exige a avaliação por um
Engenheiro Agrônomo. (Isso fora objeto de impugnação à época da indicação,
afastada pelo juiz do processo e irrecorrida.)
Em conseqüência, e igualmente invocando a regra da livre apreciação da
prova, pediu que a indenização fosse fixada com base nos valores do laudo do seu
assistente técnico, que expressam a avaliação correta e criteriosa do imóvel, com
suas matas naturais, suas pastagens e suas acessões (construções), tudo em sinto-
nia com o mercado de imóveis da microrregião de Conceição do Araguaia.
Insistiu no pedido de aplicação do redutor (depreciação) de 20% (vinte
por cento) do seu preço de mercado, pelo fato de estar invadido por posseiros na
data da ocupação, enfatizando se este, indiscutivelmente, um elemento de redu-
ção do preço de mercado dos imóveis rurais.
Renovou, da mesma forma, toda a sua irresignação, expressa na contesta-
ção, contra a forma de composição dos itens financeiros da indenização, tal como
buscada pelos autores e pelos opoertes. Os autos foram conclusos para sentença.

Vistos, etc.

1. RELATÓRIO
(0 relatório foi exigido nessa prova, mas não o fiz por questão de tempo
e porque não vem sendo mais exigido)

2. JULGAMENTO DA OPOSIÇÃO

Diz o Código de Processo Civil:


Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a oposição,
desta conhecerá em primeiro lugar.

Assim, passo à análise da oposição. Pois bem, quanto a tal modalidade


de intervenção de terceiros, o Tribunal Regional Federal da Ia Região não a tem
aceitado nos processos de desapropriação. É que diz o Decreto-Lei n2.
3365/1941:
Art. 31. Ficam subrogados no preço quaisquer ônus ou direitos que re-
caiam sobre o bem expropriado.

Por conta de tal disposição normativa, quando um terceiro se sentir


prejudicado em seu direito de propriedade, em uma desapropriação, o correto é
habilitar-se no processo expropriatório, para pleitear o valor da indenização.
Nesse sentido, já decidiu o TRF da Ia Região:
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL E AM
BIENTAL INTERVENÇÃO DE TERCEIRO. OPOSIÇÃO. INADMISSIBILI
DADE.
A oposição é ação autônoma, independente da principal, uma vez que o
opoente pretende fazer valer direito próprio, incompatível com o do au
tor e do réu. Por essa razão, não é possível oposição em processo de de
sapropriação.
REO 2000.39.02.002509-9/PA
DESAPROPRIAÇÃO. BEM PENHORADO EM EXECUÇÃO PROMOVIDA
POR AUTARQUIA. OPOSIÇÃO. INADMISSIBILIDADE. HABILITAÇÃO DO
CRÉDITO NO PROCESSO EXPROPRIATÓRIO. INOCORRENCIA DE DES
LOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. APELA
ÇÃO DESPROVIDA. 1. Se a autarquia (SUDAM) penhora bens imóveis e
parte deles é posteriormente desapropriada por órgão público, inad-
missível o oferecimento de Oposição, para se sub-rogar no direito ao
preço da parcela desapropriada, pois esse instituto, nos termos do Art.
56 do CPC, somente é possível se o opoente quiser para si o direito ou a
coisa sobre que contendem autor e réu. 2. O terceiro prejudicado não
tem direito a apresentar Oposição à desapropriação, medida incabível
nesse processo, e, se quiser resguardar seu crédito, poderá habilitar-se
no processo expropriatório e subrogar-se no direito ao preço do bem
(Art. 31 do Decreto-Lei nQ 3.365/41). 3. A simples habilitação de crédito
de autarquia em processo expropriatório, que corre na Justiça Estadual,
não desloca sua competência para a Justiça Federal. 4. Apelação des
provida. 5. Sentença confirmada. AC 93.01.07762-0/PA

No referido REO 2000.39.02.002509-9/PA, bem pontuou o Desembar


gador Federal Tourinho Neto:
É certo que a oposição é ação autônoma, independente da principal,
uma vez que o opoente pretende fazer valer direito próprio, incompatí
vel com o do autor e do réu. Tenha-se, assim, que não é possível a opo
sição em processo de desapropriação, porque deve ser ajuizada contra
autor e réu simultaneamente, no caso expropriante e expropriado.
O Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, em sessão de
11/05/77, apreciando a AP 47.569, tendo como relator o juiz Arthur de
Godoy decidiu que:
"É inadmissível o oferecimento de oposição manifestada em processo
expropriatório."
2. Ante o exposto, nego provimento à remessa nos dois processos (au
tos 2000.39.02.0025009-9/PA e 2002.39.02.00512-6/PA).
8. É o voto.

Por conta do exposto, sendo incabível o instituto da oposição de tercei


ros em sede de ação expropriatória, julgo extinta a oposição sem resolução do
mérito.

3. DAS PRELIMINARES
3.1 Alegação de ilegi.tiinLdâd.epagSÍ^a.dQ INCRA
Alega o INCRA que a competência para desapropriação para fins de re
forma agrária é da União Federal. Não é procedente tal alegação, pois, embora a
União
por Federal
meio sejapessoa
de outra competente para
jurídica tal matéria,
pertencente podeadministração
à sua exercer sua competência
indireta, no
caso o INCRA. Sobre o tema, já decidiu o TRF da l Região:
ã

AC 2000.38.00.030778-8/MG
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRE
TA. INVASÃO DO IMÓVEL POR TRABALHADORES RURAIS APÓS VIS-
TORIA. RESPONSABILIDADE DO INCRA. INOCORÊNCIA. ILEGITIMI
DADE ATIVA DA UNIÃO. AGRAVO RETIDO. 1. Não se conhece de agra
vo retido se a parte não requereu expressamente seu julgamento na
apelação ou nas contra-razões Art. 523, §12, do CPC). 2. A União é par
te ilegítima quando a ação versa sobre ato de competência exclusiva
de ente descentralizado, que detém personalidade jurídica própria. 3,
A invasão de propriedade rural por trabalhadores sem terra, após vis
toria do INCRA, não enseja, de per si, responsabilidade da Autarquia.
4. Apelações improvidas. Sentença confirmada.

Assim, tendo em vista que a União Federal repassou sua competência


quanto às desapropriações para fins de reforma agrária para o INCRA; tendo
em vista que
preliminar o INCRA oé Instituo
e mantenho uma autarquia
no poloe passivo
tem personalidade
da lide. própria, rejeito a

3.2 Alegação de. prescrição e decadência do direito dos autpre$


O réu defende-se alegando prescrição do direito dos autores. Porém, a
questão já foi sumulada pelo STJ, que decidiu pela prescrição em vinte anos,
conforme se vê na ementa abaixo, do TRF da 1 Região:
AC 1998.33.00.013098-9/BA
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRE
TA. FALTA DE PROVA DA INÉRCIA DA AUTORA EM RECEBER INDE
NIZAÇÃO. DESAPOSSAMENTO. INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO. 1. É
de 20 (vinte) anos o prazo para a propositura de ação indenizatória
em desapropriação indireta. Súmula 119 do STJ. 2. A Autarquia apela
da não provou ter realizado a desapropriação direta do imóvel, nem a
realização do pagamento administrativo. Ademais, não demonstrou a
inércia da autora em receber o que lhe era devido. 3. Admitido o de-
sapossamento, é o caso de desapropriação indireta. 4. Apelo provido,
para afastar a prescrição qüinqüenal e para determinar o retorno dos
autos à srcem para processamento do feito, como de direito.

Assim, tendo a ação sido promovida quando da vigência do Código Civil


de 1916, o prazo aplicado é de vinte anos, afastando-se a aplicação do Decerto
ns. 20.910/1932.
Quanto à alegação de decadência, por conta do disposto na Medida Pro
visória n2. 2.027-40/2000, também não assiste razão ao réu. Diz o parágrafo
único do art. 10 do Decreto-Lei 3.365/1941, incluído pela MP 2.138-56/01:
Parágrafo único. Extinguese em cinco anos o direito de propor ação que
vise a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público."
cm
A presente ação foi ajuizada antes da edição da referida norma, que não
se aplica à demanda, portanto. Porém, ainda que assim não fosse, a jurispru
dência tem afastado a aplicação do referido dispositivo, conforme se vê nos
julgados abaixo:
"Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade com pedido de
liminar. Art. ls da Medida Provisória 2.027-40, de 29 de junho de
2000, na parte que acrescenta parágrafo único ao art. 10 do Decreto-
Lei 3.365, de 11 de junho de 1941. De há muito, a jurisprudência des
ta Corte afirmou que a ação de desapropriação indireta tem caráter
real e não pessoal, traduzindo-se numa verdadeira expropriação às
avessas,
mento datendo o direito
garantia à indenização
constitucional que daí
da justa nasce o mesmo
indenização funda
nos casos de
desapropriação regular. Não tendo o dispositivo ora impugnado se
quer criado uma modalidade de usucapião por ato ilícito com o prazo
de cinco anos para, através dele, transcorrido esse prazo, atribuir o
direito de propriedade ao Poder Público sobre a coisa de que ele se
apossou administrativamente, é relevante o fundamento jurídico da
presente arguição de inconstitucionalidade no sentido de que a pres
crição extintiva, ora criada, da ação de indenização por desapropria
ção indireta fere a garantia constitucional da justa e prévia indeniza
ção, a qual se aplica tanto à desapropriação direta como à indireta
....

Já com referência à parte final do dispositivo impugnado no que tange


à 'ação que vise à indenização por restrições decorrentes de atos do
Poder Público', não se configura a plausibilidade jurídica de sua ar
guição de inconstitucionalidade. Liminar que se defere em parte, para
suspender,
expressões com
'açãoeficácia ex nunc por
de indenização e atéapossamento
o julgamentoadministrativo
final desta ação,
ou as
desapropriação indireta, bem como' contidas no parágrafo único do
art. 10 do Decreto-Lei 3.365/41, a ele acrescentado pelo art. I2 da
Medida Provisória 2.027-40, de 29 de junho de 2000, e suas subse
quentes reedições." (STF. ADI 2260 MC/DF. Rei.: Min. Moreira Alves.
Tribunal Pleno. Decisão: 14/02/01. DJ de 02/08/02, p. 56.)

"Ementa:.... I. A liminar requerida nos autos da Ação Direta de


Inconstitucionalidade 2.260/DF, em face da suscitada inconstitucio
nalidade do art 1Q da Medida Provisória 2.027-40, de 29 de junho de
2000, na parte que acrescentou o parágrafo único ao art. 10 do Decre-
to-Lei 3.365, de 11 de junho de 1941, foi deferida, em julgamento rea
lizado pelo colendo Supremo Tribunal Federal, para suspender o refe
rido parágrafo único, ao entendimento de que 'a prescrição extintiva,
ora criada, da ação de indenização por desapropriação indireta fere a
garantia constitucional da justa e prévia indenização, a qual se aplica
tanto à desapropriação direta como à indireta' (ADI - MC 2260/DF,
Rei. Min. Moreira Alves, DJ I de 02/08/02, p. 56)
Assirm, quanto ao prazo para propor a ação de desapropriação, temos a
seguinte defiinição por parte da jurisprudência:
- Desapropriação indireta: aplica-se o prazo de 20 anos, sem
defnnição ainda quanto à edição do novo Código Civil, se este teria
mutdado tal prazo. Por outro lado, o STF afastou a aplicação do prazo
quiinquenal estabelecido pela MP 2.183-56/01.
- Desapropriação direta: nos casos de desapropriação por uti
lidade pública, é vigente o prazo de cinco anos do art. 10 do Decreto*
Lei 3.365/1941, ou seja, a Administração deve propor a ação em cinco
ano>s a contar da expedição do decreto expropriatório.

Por c<onta do exposto, rejeito também a alegação de que o prazo para a


propositura s>eria decadencial de cinco anos, face à jurisprudência atual do STF.
4. ANJÁLISE DO MÉRITO
Preliminarmente à estipulação do valor devido a título de indenização,
várias questõies devem ser decididas, o que se passa a fazer agora.

4.1 A ;miçrQrregiãP a ser çonsiderada


Questtão a ser resolvida é a da microrregião a ser considerada para fins
de avaliação do imóvel. Encontra-se este na microrregião de Conceição do
Araguaia, mass os autores alegam que a avaliação deve levar em conta os valorei
praticados nai microrregião de Redenção, pois todo o movimento econômico da
fazenda era v<oltado para tal cidade.
Prescireve a Constituição Federal, em seu art. 5 S:

XXIV - aouleiutilidade
sidadee estabelecerá o procedimento
pública parasocial
, ou por interesse desapropriação por eneces
mediante justa pré--
via imdenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constí-
tuição;

Assirm, a justiça na indenização só será alcançada se aferido o real valor


do imóvel desapropriado. Em que pese não ter encontrado decisão jurispru*
dencial sobre o tema, entendo que deve prevalecer a tese exposta pelos autorei
e corroborada pelo perito, posto que ficou comprovado que todo o movimento
econômico do imóvel se dava na cidade de Redenção, inclusive o DDD de seu
telefone era nelativo a tal cidade.
Por conta do exposto, para que fique assegurada a justa indenização, fl*
xo como corneta a adoção dos parâmetros relativos à microrregião de Reden
ção, para fins de avaliação do imóvel.
4.2 A indenização da çpbertura, florestal
Outra questão a ser resolvida é quanto à indenização da cobertura flo
restal. Os autores entendem que ela deve ser feita de forma separada. Sobre o
tema, são relevantes as conclusões do Desembargador Federal Olindo Menezes,
na obra "Desapropriação - Doutrina e Jurisprudência" editada pelo TRF da Ia
Região:
Conquanto a questão em debate ainda comporte muita discussão e dis-
senso pretoriano, do que foi dito podem ser esboçadas as seguintes conclusões:
"A Constituição garante o direito de propriedade como um di
reito fundamental (art. 52, XXII), fazendo uma opção clara pelo siste
ma econômico-capitalista da livre iniciativa e da propriedade privada,
mas, em seguida, ainda no título dos direitos e das garantias funda
mentais, inserido, quiçá numa demonstração da sua importância, logo
no início da Carta, faz uma opção expressa pela sua inserção nos obje
tivos da justiça social, ao estabelecer que a propriedade atenderá a
sua função social (art 52, XXIII), voltando a enfatizar, no título da or
dem econômica, que esta, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados, entre outros prin
cípios, o da função social da propriedade (art. 170, III).
A desapropriação, como uma intervenção cogente da potesta-
de estatal na propriedade privada, não lhe pode acarretar redução pa
trimonial, ainda que indiretamente, mesmo quando praticada por in
teresse social para fins de reforma agrária, quando o imóvel rural não
esteja cumprindo sua função social, considerando-se que a expropria-
ção agrária, com o pagamento da terra nua em títulos da dívida agrá
ria, já consubstancia, em si mesma, uma punição ao proprietário desi-
dioso. A Constituição, garantindo o direito de propriedade, assegura
ao seu titular, no seu desapossamento cogente, o direito a uma justa
indenização, não podendo o instituto da desapropriação, concebido
com finalidades públicas nobres, ser praticado como um instrumento
de confisco, de opressão, de arbitrariedade.
A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo
correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício,
presumindo-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove
o contrário, toda construção ou plantação existente em um terreno
(arts. 1.229 e 1.253 - Código Civil). Tudo que é construído ou planta
do no solo a ele adere por acessão, passando a pertencer ao seu dono,
sendo a acessão, nessa dinâmica jurídica, uma forma de aquisição da
propriedade imobiliária. (Cf. arts. 1.248, V, e 1.253 - idem.)
As acessões, obras que criam coisas novas que aderem à pro
priedade preexistente - construções e plantações traduzem uma
forma de aquisição da propriedade imóvel (art. 1.248,V), nelas incluí
das as florestas e matas nativas, como acessões naturais. A cobertura
florística, pertencendo ao dono do imóvel por acessão natural, é sus
cetível de indenização, somente comportando discussão a forma de
fazê-lo, se em separado, árvore por árvore, com base em inventário
florestal, ou se como parte integrante do solo, embutida no valor de
mercado, numa relação de principal e acessório, pois inegavelmente o
potencial madeireiro valoriza o imóvel.
O Decreto-Lei 554, de 25/04/69, que dispunha sobre a desa
propriação agrária, ao explicitar o valor da justa indenização, fazia
menção somente à terra nua, cujo valor, não havendo acordo, seria
depositado em títulos especiais da dívida pública; e às benfeitorias,
cujo valor seria depositado em moeda corrente (art. 42, parágrafo ú-
nico), sem falar nas matas naturais, cujo pagamento começou a ser
imposto pela jurisprudência, e sim o princípio da justa indenização.
No momento, a lei incorporou o pagamento do item, tendo o 9
22 do art. 12 da Lei 8.629/93, que regula dispositivos constitucionais
relativos à reforma agrária, disposto que "Integram o preço da terra
as florestas naturais, matas nativas e qualquer outro tipo de vegeta
ção natural, não podendo o preço apurado superar, em qualquer hipó
tese, o preço de mercado do imóvel."
A jurisprudência tradicional - anterior à inovação legal a
partir de precedentes do (extinto) TFR-26 determinava, em atenção
ao princípio do justo preço, que a cobertura florestal, na desapropria
ção agrária, deveria ser indenizada de forma separada do valor da
terra nua, em razão do valor econômico autônomo que ostenta, de
vendo o item ser visto em cada caso, no que diz à possibilidade de ex
ploração, aos impedimentos legais, à vocação econômica do imóvel
etc.

vavam em O pagamento em separado,


conta, de forma técnica eembasado
realista, oem perícias
custo que não le
da infraestrutura
de exploração e as limitações legais ao uso das matas pelos proprietá*
rios - para não falar em atos mais graves -, passou a ensejar com fre
quência indenizações milionárias, em detrimento do interesse públi
co, que nunca seriam obtidas numa venda de mercado ou na explora
ção do potencial madeireiro; tudo isso, de forma paradoxal, pela de
sapropriação de imóveis que não cumpriam a função social!
A desapropriação agrária, praticada como uma pena ao pro*
prietário desidioso - ou assim tido - no cumprimento da função social
do bem, transforma-se paradoxalmente num negócio de alto porte
econômico, infinitamente mais atrativo do que um negócio comum do
mercado imobiliário da sua região, não sendo incomuns os casos em
que os proprietários procuram o INCRA para que os seus imóveis se
jam desapropriados!
No momento, a lei, pondo cobro a tais disfunções, estabelece
que "Integram o preço da terra as florestas naturais, matas nativas e
qualquer outro tipo de vegetação natural, não podendo o preço apu
rado superar, em qualquer hipótese, o preço de mercado do imóvel"
(art.12, § 2S - Lei 8.629/93), donde não mais admitir-se o pagamento
em separado, e sim como um dos elementos do valor de mercado do
imóvel.
Essa é a ordem natural das coisas. Quando um particular ven
de um imóvel rural para outro, o preço da mata natural, acaso exis
tente, não é cobrado separadamente, e sim como um elemento positi
vo da avaliação do hectare (solo e acessões) da terra no mercado. A
indicação de eventuais acessões ou benfeitorias não é feita para pa

gamento em separado, senão para que o hectare ou o alqueire receba


melhor valorização.
Se a terra tem madeira de lei ou outras espécies vegetais de
valor econômico, terá maior valor no mercado; se não as tem, terá va
lor menor. como é natural na dinâmica do mercado imobiliário, reali
dade que não se altera pelo fato de ser adquirente o Poder Público,
numa desapropriação, menos ainda a desapropriação agrária, que ti
pifica uma resposta/pena da Constituição ao imóvel rural - ao seu
dono, em realidade - que não esteja cumprindo a sua função social
{art 194-CF).
Nos casos em que o laudo pericial tenha avaliado a cobertura
florestal em separado, com base em inventário florestal, e nos quais a
sentença nada tenha mandado indenizar a esse título, tem-se admiti
do, para evitar uma injustiça - pois a lei mandou que o item fosse le
vado em conta, ainda que em conjunto e mesmo para evitar a reali
zação de nova perícia, que se propicie excepcionalmente aos expro-
priados, alguma compensação razoável pela vegetação natural não le
vada em conta na sentença, incremento que, pelos precedentes, tem
oscilado entre 10 e 20% do valor do hectare de terra nua, a depender
da expressão da cobertura.
Esta é a atual jurisprudência da 2ã Seção do TRF-1, somente
se admitindo o pagamento em separado em casos muito especiais,
quando houver exploração econômica autorizada - normalmente a
cargo de uma empresa constituída para tocar a atividade -, com a
comprovação do potencial madeireiro em inventário florestal, da via
bilidade econômica e jurídica de sua exploração, do plano de manejo
sustentado, aprovado pelo IBAMA, do estudo de impacto ambiental,
transporte e viabilidade de comercialização, devendo o pagamento, se
firmada a hipótese, ser feito na razão direta do proveito financeiro
frustrado pela desapropriação, devidamente demonstrado nos autos,
com a dedução dos custos de exploração. (O refinamento das condi
ções torna a hipótese praticamente teórica, não se registrando, no
âmbito do TRF-lã Região, nenhum precedente em que isso tenha o-
corrido.)
É importante anotar, contudo, que a jurisprudência do Supe=
ricr Tribunal de )ustiça registra precedentes, posteriores à inovaçli
legal da Lei 8.629/93, afirmando que a cobertura florestal pode eef
indenizada de maneira autônoma, havendo exploração econômici §«
fetiva da propriedade, certificada em avaliação circunstancial em cidi
caso, tendo um desses julgados (REsp 408.172/SP, Rei. Min. Ellani
Calmon, julgado em 07/08/03) positivado que ".... A jurisprudência
tem oscilado no entendimento quanto à indenização das matas natl*
vas, mas pacificou-se no sentido de indenizar as que possam ser ex*
pioradas comercialmente. O entendimento afasta a possível indeniza*
ção das matas situadas em área de preservação ambiental, por serem
beis fora do comércio...."
Pode-se afirmar, concluindo, que a questão do pagamento da
cobertura florestal na desapropriação, mesmo já disciplinada clara»
mente pela lei para os casos futuros, julgados a partir da nova redação
do§ 22 do art. 12 da Lei 8.629/93, ainda constitui um tema momento*
so,em discussão e sem consenso pretoriano, tanto mais que numero*
sas sentenças concessivas do pagamento autônomo são anteriores ft
incvação legal, fazendo com que a discussão seja retomada - com OU
sen razão - nos recursos excepcionais (especial e extraordinário) an*
tenormente interpostos, nas execuções de sentença e até mesmo em
açóes rescisórias, pois há quem entenda que tais sentenças podem ser
rescindidas por violação de literal disposição de lei (art. 485, V - CPC),
isto é, dos arts. 52, XXIV, e 184 da Constituição, que aludem à justa in
denização na desapropriação, que obviamente opera para os dois la
dos".

Assin, o TRF da lâ Região entende, embora não pacificamente, que o


valor da cotertura florestal já integra o da terra quando da avaliação. Se a
cobertura é ielevante, a terra será avaliada por um preço maior. Como exceção,
o Tribunal permite a indenização em separado nos casos em que a perícia
oficial assim procede.
No p-esente caso, percebe-se que a avaliação do perito nomeado já le
vou em conta o valor da terra nua e da cobertura arbórea. Assim, seguindo a
orientação dada pelo TRF da l â Região, entendo que o valor da indenização
deverá ser uio. Além do mais, não se vê o outro permissivo aceito pelo Tribu
nal, qual seja o da efetiva utilização da cobertura florestal (A cobertura vegetal
é indenizada separadamente da terra nua quando há efetiva exploração econô
mica, inocorientes na espécie - AC 2000.01.00.119757-5/BA).

4.3 Utilização de redutor

Alega
por cento), o réu
pslo fato que
de oaimóvel
indenização deve sofrer
estar invadido porum redutornadedata
posseiros 20% da(vinte
ocupa
ção. Sobre o tema, porém, o TRF da lâ Região já tem posição pacífica, afastando
tal redutor:
"Já com relação à depreciação em virtude de encontrar-se a
propriedade ocupada por posseiros, tenho que não deve prevalecer a
sentença no ponto. Não é de se levar em conta, como redutor de pre
ço, o fato de encontrar-se a propriedade ocupada por posseiros, como
têm proclamado os precedentes. O fato não autoriza a que o Estado,
invocando em seu favor a invasão ilícita, muitas vezes por ele direta
ou indiretamente estimulada, imponha ao proprietário, já punido com
a perda compulsória do bem por força do ato expropriatório, a desva
lorização do imóvel em função de ocupações não raro fomentadas e
patrocinadas por grupos políticos de pressão ligados à reforma agrá
ria. Reafirmo que esta Turma tem entendido que a presença de pos
seiros na área expropriada não serve de fator de depreciação do valor
do imóvel". AC 2002.39.01.001264-5/PA

Adotando as razões expostas no voto do Desembargador Olindo Mene


zes, acima destacadas, rejeito a utilização do redutor da indenização.

4.4 A deprecjâçgp da? çQnstruçqes


Necessário se mostra saber se, conforme exposto pelo assistente técni
co do réu, deve ser aplicada uma redução de 10% de depreciação na avaliação
das acessões e benfeitorias, conforme praxe corrente em avaliações de imóveis
rústicos.
Tenho por mim que correto está o assistente técnico, em que pese não
ter encontrado decisões dos tribunais relativamente a essa questão. Não se
pode avaliar um imóvel tão somente pelo seu custo de construção, pois há o
efeito do tempo que deprecia praticamente todo e qualquer bem, especialmente
as construções imobiliárias. Diante de tal fato, verificado o custo de construção,
há de ser aplicado sobre ele um percentual de depreciação, como fez o assisten
te técnico.

4.5 Sobre a forma de pagamento


Alega o réu que a indenização deve ser paga em Títulos da Dívida Agrá
ria, nos termos do art. 184 da Constituição, visto que o imóvel foi destinado
inteiramente aos programas governamentais de reforma agrária.
Ocorre que não foi respeitado o rito da desapropriação para fins de re
forma agrária. Ao contrário, houve apossamento da área sem qualquer proces
so, cabendo aos autores o recurso à via judicial para o recebimento da indeni
zação. Nesses casos, a jurisprudência do TRF da 1 Região já decidiu que a
indenização deve ser feita em dinheiro, via precatórios, e não em TDA's, con
forme decisão abaixo:
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. APOSSA
MENTO ADMINISTRATIVO: ERRO TÉCNICO. INDENIZAÇÃO EM DI-
NHEIRO, VIA PRECATÓRIO. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. VERBA
HONORÁRIA. LUCROS CESSANTES, DESPESAS COM DERRUBADA DE
MATO E BENFEITORIAS: DESCABIMENTO. TERRA NUA: VALOR DO
HECTARE. I - Se o próprio Instituto Nacional de Colonização e Refor
ma Agrária - INCRA reconheceu que houve apossamento administra
tivo, baseado em erro técnico, sobre lotes de propriedade comprova
da dos autores, é de ser reconhecida a desapropriação indireta, sen-
do-lhes devida indenização. II - Nesse caso, não se há de aplicar o art.
184 da Constituição Federal, o que rende ensejo a pagamento, pela
UNIÃO FEDERAL, em dinheiro, via precatório, nos exatos termos do
art 100 do Texto Magno, já que o desapossamento sofrido pelos ex-
propriados não respeitou o procedimento especial de rito sumário
previsto no § 32 do aludido art 184. REO 1998.01.00.016947-4/PA

Com razão. Diz o art 184 da Constituição Federal:


Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse socialpara fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função so-
ciai, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de ati
vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será
definida em lei.

Assim, entendo que só é possível falar em indenização em TDA's se esti


se der de forma prévia à desapropriação, em processo regular movido pelft
União Federal. A indenização posterior, em processo movido pelos desaproprl*
ados, não fica sujeita ao pagamento por TDA’s, mas em dinheiro, via precató
rios.

4.6 O valor da indenização


Esses foram os valores apresentados:
Valor da terra Cobertura Acessões e Total
florestal benfeitorias
Pedido inicial 1.100.000,00 400.000,00 300.000,00 í.soo.ooo^r
Perito nomea 1.017.500,00 0,00 260.000,00 1.277.500,00
do
Assistente 1.045.000,00 380.000,00 300.000,00 1.725.000,OÍ
autor
Assistente 935.000,00 0,00 234.000,00 1.169.000,Í0
réu
Conforme considerações anteriores, tenho por acertado o cá lculo do pe
rito nomeado por este juízo, excluindo o tocante às acessões e benfeitorlM,
pelos motivos já expostos quanto à depreciação dos imóveis rústicos.
E tenho por mais acertada a avaliação do perito porque:
a) de acordo com o exposto, a avaliação da terra foi feita de acordo
com a jurisprudência deste TRF da Ia Região, englobando a cobertura
florestal;
b) porque levou em conta a microrregião na qual na prática faz parte
o imóvel e foi feito com base na realidade fundiária do mercado local;
c) porque não utilizou redutor por conta da invasão sofrida pelo i-
móvel do expropriado;
d) porque apreciou o valor das acessões e benfeitorias de forma
prudente, com base em transações imobiliárias, informações de cor
retores de imóveis, preço da arroba de boi gordo, dados da carteira
de crédito rural do Banco do Brasil, custo estimado da construção das
barragens, das cercas de arames, do pasto mecanizado e das instala
ções complementares - com a única correção de ter desconsiderado a
depreciação citada.
Quanto à avaliação do assistente do réu, considero não ser a mais ade
quada, exceto quanto às acessões e benfeitorias, por conta da errônea escolha
da microrregião paradigma. Já em relação à avaliação do assistente dos autores,
considero que os valores apresentados não estão de acordo com a justa indeni
zação, especialmente por conta da avaliação à parte da cobertura florestal, além
da diferença relevante em relação às demais avaliações.
Posto isso, julgo cabíveis os seguintes valores a título de indenização:

Valor da terra Cobertura Acessões e Total


florestal benfeitorias
1.251.500,00
Indenização 1.017.500,00 Já incluída
valor no
da terra 234.000,00

4.7 Correção monetária


Quanto à correção monetária, incabível a argumentação do réu, no sen
tido de que o pagamento da indenização se daria por meio de TDA's e que estas
já contêm cláusula de preservação do valor real. Isso porque, conforme já deci
dido, a indenização aqui discutida deverá ser paga em dinheiro, por meio de
precatórios. Por outro lado, não seria cabível se falar em correção monetária
apenas no caso de desapropriação direta em que o valor depositado pela ex-
propriante fosse igual ou superior ao valor da avaliação.
Assim, deve incidir correção monetária desde a data de expedição do
laudo de avaliação, conforme jurisprudência pacífica do TRF da Ia Região, com
base em interpretação da súmula 345 do STF. Já os índices devem ser aqueles
do Manual de Orientação para os Cálculos na Justiça Federal, tendo como base o
valor da avaliação.
4.8 Juros compensatórios
(OBS.: POR CONTA DA ATUALIDADE DA MATÉRIA, REDIGI ESTA PAR
TE COMO SE A SENTENÇA ESTIVESSE SENDO PROFERIDA EM AGOSTO/2006)
Quanto aos juros compensatórios na desapropriação, assim diz o art
15-A do Decreto-Lei 3.365/1941, com redação dada pela Medida Provisória n®,
2.027/43 (grifei):
Art 15A. No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação por ne*
cessidade ou utilidade pública e interesse social, inclusive para fins de re-
forma agrária, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o
valor do bem, fixado na sentença, expressos em termos reais, incidirão ju-
ros compensatórios de até seis por cento ao ano sobre o valor da dife-
rença eventualmente apurada, a contar da imissão na posse, vedado o
cálculo de juros compostos.

§delorenda
Os juros compensatóriossofrida
comprovadamente destinamse, apenas, a compensar a perda
pelo proprietário.
§ 2o Não serão devidos juros compensatórios quando o imóvel possuir
graus de utilização da terra e de eficiência na exploração iguais a zero.
§ 3o 0 disposto no caput deste artigo aplicase também às ações ordiná•
rias de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação
indireta, bem assim às ações que visem a indenização por restrições de•
correntes de atos do Poder Público, em especial aqueles destinados à pro
teção ambiental, incidindo os juros sobre o valor fixado na sentença.
§ 4o Nas ações referidas no § 3o, não será o Poder Público onerado por ju-
ros compensatórios relativos a período anterior à aquisição da proprie-
dade ou posse titulada pelo autor da ação.

Ocorre que a limitação dos juros em seis por cento ao ano foi suspensa
pelo STF na ADI 2332. Assim, são devidos os juros compensatórios à taxa de
12% (doze
imóvel. por cento)
As decisões ao ano,
abaixo desdeo aentendimento
ilustram imissão da expropriante
do TRF da ls na posse do
Região:
Ao contrário do que afirma a apelante, são devidos
também os juros compensatórios, verba que, no formato
clássico da desapropriação, é destinada a compensar o pro
prietário pela perda antecipada do imóvel, decorrente da
imissão do desapropriante na sua posse (DL n e 3.365/41 -
art. 15-A, § 3S), e que é igualmente devida na desapropria
ção indireta, a partir da ocupação (Súmula 114 - STJ), no
percentual de 12% ao (Súmula 618 - STF).
Tradicionalmente, na desapropriação direta, os ju
ros compensatórios são pagos à razão de 12% (doze por
cento) ao ano, incidindo a partir da imissão na posse (cf,
Súmula nQ 69 - STJ) e calculados, até a data do laudo, pelo
valor simples da indenização e, desde então, sobre o referi
do valor corrigido monetariamente, nos moldes da Súmula
Q ô
nção74mais
- TFR; ou, nos
recente, termos
a partir dada Súmulanan posse,
imissão 113 - calculados
STJ, de edi
sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Na desapropriação indireta, como visto, é paga a verba a
partir da ocupação.
Esse percentual foi alterado para 6% pela Medida
Provisória ng 2.183-56, de 24/08/01, acrescentando o já
referido art. 15 - A ao Decreto-lei n Q 3.365, de 21/06/41 0
lei geral das desapropriações 0, não sendo devido o item
quando o imóvel não registrar produção, mas o preceito -
aqui citado apenas em relação ao percentual 0 foi suspenso
na sua eficácia pelo STF, ao examinar a ADin nQ 2.332-1/DF,
Rei. Min. Moreira Alves. (AC 1999.38.00.003056-8/MG)
Os juros compensatórios destinam-se a remunerar o
proprietário do imóvel pela perda de sua posse, ainda que
inexista produtividade. A redução prevista nas MP's 1.577
e 2.183
lo STF (de 12% 2.332-2,
(ADIN para 6%)rei.
foi declarada
Min. Moreirainconstitucional
Alves; e AG pe
373.872/RJ, rei. Min. Néri da Silveira, j. de 04.02.02), per
manecendo inalterado o percentual de 12% fixado na sen
tença. (AC 1997.38.01.003284-0/MG)

A exceção fica apenas no caso abaixo, que não guarda suporte com o dos
presentes autos:
Tendo a ação desapropriação indireta causa de pe
dir fundada na limitação da exploração econômica do imó
vel, em face de estar inserido em área de parque nacional, e
não pelo apossamento físico da área pela autarquia, por isso
sem imissão na posse, não são devidos os juros compensa
tórios, posto que têm destinação para compensar o proprie
tário pela perda antecipada do imóvel, o que não se dá na
hipótese, pois o imóvel ainda está na posse direta dos auto
res, com aproveitamento econômico pelos mesmos. (AC
2001.38.00.006072-1/MG)
Como não se trata de desapropriação direta, não incidem também as
regras abaixo:
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS
DE REFORMA AGRÁRIA. INDENIZAÇÃO. TERRA NUA. BEN
FEITORIAS. LAUDO ADMINISTRATIVO. JUROS COMPENSA
TÓRIOS. JUROS MORATÓRIOS. CORREÇÃO MONETÁRIA.
1. O laudo administrativo apresentado pelo INCRA é
sólido e bem fundamentado, tendo corretamente avaliado a
terra nua, bem como as benfeitorias existentes no imóvel,
levando em conta a localização, acesso, tipo de solo, clima,
hidrografia, realidade imobiliária etc. Trabalho que bem re
flete o valor de mercado da propriedade.
2. Juros compensatórios indevidos, uma vez que
não houve divergência entre o preço ofertado em luizo
e Q valor dQ tern flxadQ np sentença. Art. 15-A da Medida
Provisória 2.183-56/01.
3. Não incidência de juros moratórios quando o va
lor da indenização é o mesmo da oferta inicial.
4. Em desapropriação é permitida a aplicação da
correção monetária sobre o valor a ser pago em dinheiro.
Na hipótese dos TDA's, é possível apenas até o seu depósito,
(AC 1997.43.00.001648-7/TO]
Incidem juros compensatórios a partir da imissão
na posse do imóvel. A base de cálculo de tais juros é a dife»
rença entre 80% do preço ofertado em juízo e o valor
fixado para a indenização. (AC 1998.41.00.000951-5/RO)

Assim, apenas por questões didáticas (FIZ ESSA PARTE APENAS POR
CONTA DE SER UM ESTUDO), os juros compensatórios nas desapropriações são
calculados da seguinte forma:

Desapropriação direta:
a) só incidem se houver diferença entre avaliação e
oferta;
b) o termo inicial é o da imissão provisória na posse
do bem;
c) a base de cálculo é a diferença entre o valor fixa
do na indenização e 80% do preço ofertado (ou seja, incide
sobre a parte não levantada pelo expropriado, mais a dife
rença apurada em juízo);
d) o percentual é de 12%, não se aplicando o limite
do art 15-A do Decreto-Lei nQ 3.365/41, por decisão do STF
na ADin 2.332;
e) incide ainda que a terra não seja explorada, por
que, segundo a jurisprudência, os juros são uma retribuição
pela perda da propriedade, até que se dê a sua integral in
denização.
Desapropriação indireta:
a) incidem em qualquer caso, porque não houve o-
ferta inicial;
b) o termo inicial é o do apossamento por conta do
expropriante;____________________________________
c) a base de cálculo é o valor da indenização, corri
gido moietariamente;
0 o percentual é de 12%, não se aplicando o limite
do art. 15-A do Decreto-Lei ns 3.365/41, por decisão do STF
na ADin 2.332;
0 incide ainda que a terra não seja explorada, por
que, segundo a jurisprudência, os juros são uma retribuição
pela perda da propriedade, até que se dê a sua integral in
denização_______________________________________

Assim, rejeitam-se as argumentos da expropriante quanto à não inci


dência dos juros, pelo fato do imóvel não gerar, à época da desapropriação,
rendadaexpressiva
base e compatí/el
decisão do com aa estipulação
STF, rejeita-se sua potencialidade.
dos jurosDo
emmesmo
6% ao modo, com
ano, deven
do ser fixados em 12% ao ano.

4.9 Turos moratórios


Em relação aos juros moratórios, não há como dar abrigo ao pedido dos
autores. Querem eles que os juros moratórios sejam calculados em 12% ao ano,
a partir da citação. Isso porque o STF não afastou a constitucionalidade do art.
15-B do Decreto-Lei 3.365/1941, que diz:
Art. 15-B. Nas ações a que se refere o art. 15-A, os
juros mDratórios destinam-se a recompor a perda decorren
te do atraso no efetivo pagamento da indenização fixada na
decisão final de mérito, e somente serão devidos à razão de
até seis por cento ao ano, a partir de lo de janeiro do exer
cício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito,
nos termos do art 100 da Constituição.

Com base em tal norma, vem decidindo o TRF da §1 Região:


Na desapropriação indireta, os juros compensató
rios, à taxa de 12% (doze por cento) ao ano, são devidos a
partir da ocupação do imóvel.
Os juros moratórios são devidos no percentual de
6% (seis por cento) ao ano, a partir de l s de janeiro do e-
xercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser
feito. Art 15-B do Decreto-Lei 3.365/42, acrescentado pela
Medida Provisória 1.577/97, hoje Medida Provisória 2.183-
56/01. (AC 2000.38.00.037270-1/MG)

Assim,apenas
vendo incidir rejeitonos
a aplicação
termos o dos
art. juros
15-B moratórios a partir
do Decreto-Lei da citação, de
3.365/1941.
4.10 Honorários advocatícios
Os autores requerem a condenação do réu em honorários calculado!
em 20% da condenação. Em contrapartida, os réus alegam que os honorárlOI
devem ser de 0,5% a 5% da diferença entre a oferta e a condenação, observan*
do o valor máximo de R$ 151.000,00, a teor do que dispõe a MP n 2. 2027»
40/2000.
Diz a referida MP (que incluiu o art. 27 no Decreto-Lei n2. 3365/41):
§ loA sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior
ao preço oferecido condenará o desapropriante a pagar honorários dõ
advogado, que serão fixados entre meio e cinco por cento do valor da dfr
ferença, observado o disposto no § 4o do art. 20 do Código de Processo Cl
vil, não podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento ec/n-
quenta e um mil reais).

Analiso primeiramente a base de cálculo. Como se trata de uma senten


ça com condenação, a regra é que o valor desta seja a base de cálculo. Porém,
não é possível que seja ela calculada como querem os réus, porque não há
diferença entre o preço ofertado e o definido na sentença, como faz referência o
§ l 2 acima citado, simplesmente porque não se trata de desapropriação direta,
mas de ação de indenização por desapropriação indireta. Assim, os honoráriol
devem ser calculados sobre o valor total da condenação, conforme pacificado
no âmbito do TRF da lâ Região:
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPRO
PRIAÇÃO INDIRETA. INDENIZAÇÃO. PRESCRIÇÃO. PROVA
DE DOMÍNIO. LAUDO DO PERITO. COBERTURA FLORÍSTI-
CA. JUROS COMPENSATÓRIOS. JUROS MORATÓRIOS. HO
NORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

1. Ocorre
tempo prescrição
hábil, a rescisãoquando a autora
dos contratos não promove,
de alienação em
de terras
públicas.
2. Em desapropriação indireta, a prova de domínio deve o-
correr nos próprios autos.
3. Os honorários advocatícios incidem sobre o total da
indenização.
4. Somente é possível a indenização em separado da cober
tura florística quando for objeto de exploração autorizada
pelo órgão competente.
5. O laudo do perito, se elaborado com base em metodologia
aceita, deve ser adotado, tendo em vista a presunção de im
parcialidade do perito.
6. Apelação do INCRA desprovida e apelação dos expropri-
antes provida em parte.
(AC 2000.41.00.Q02287-1/RO)
Quanto ao percentual, o STF não considerou inconstitucional o limite de
5%, até mesmo porque o próprio CPC traz regra diversa para os casos de con
denação da Fazenda Pública (§4S do art. 20). De qualquer maneira, nas indeni
zações que não sejam por interesse social, bem nas ações de indenização por
desapropriação indireta, o TRF da Ia Região tem mantido a aplicação do CPC,
entendendo que a norma do Decreto-Lei n 2. 3365/41 é aplicada em conjunto
com o CPC:
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO
INDIRETA PRESCRIÇÃO. JUROS MORATÓRIOS. HONORÁ
RIOS ADVOCATÍCIOS.
1. É de 20 (vinte) anos o prazo para propositura de ação in-
denizatória em desapropriação indireta. Súmula 119 do STJ.
2. Manifestação por escrito, do particular à Administração,
reconhecendo a dívida, caracteriza-se como fato interrupti-
vo do prazo prescricional, nos termos do art. 202, V, do Có
digo Civil.
3. Os honorários advocatícios. em desapropriação indi
reta. são fixados em conformidade com o artigo 20. S 4g.
do CPC.
4. Os juros moratórios são fixados à razão de 6 % ao ano,
contados a partir de 12 de janeiro do exercício seguinte a-
quele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do
art. 100 da Constituição.
5. Apelação da União e Recurso Adesivo dos expropriados
desprovidos.

(AC 2003.38.01.003891-3/MG)
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CI
VIL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. INDENIZAÇÃO FIXADA
COM BASE NA PERÍCIA. JUROS COMPENSATÓRIOS. JUROS
MORATÓRIOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. Indenização fixada com base no laudo oficial, laborado
com base em pesquisa de mercado imobiliário na região.
2. A taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze por cen
to) ao ano e "na desapropriação indireta, incidem a partir da
ocupação, calculados sobre o valor da indenização corrigido
monetariamente" (Súmula 114 do STJ).
3. Aplicável à espécie o art 15-B do Decreto-Lei n2
3.365/1941, introduzido pela MP 1.901-31, de 26 de outu
bro de 1999, que alterou o termo a quo dos juros morató
rios para "a partir de l2 de janeiro do exercício seguinte à-
quele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do
art. 100 da Constituição". Precedentes desta Turma.
4. Honorários advocatícios regularmente fixados em
conformidade com o § 4S do art. 20 do CPC c/c o § l2 do
art. TI do Decreto-Lei 3.365/1941, com a redação dadi
pela Medida Provisória 2.183/2001.
5. Remessa oficial parcialmente provida.

Em razão do exposto, bem como tendo em vista o valor elevado da con*


denação, estipulo a condenação em honorários no percentual de 5% (cinco por
cento) sobre o valor total da condenação, corrigido monetariamente, incluindo
o montante dos juros, conforme súmula 131 do STJ:
STJ Súmula n2 131: Nas ações de desapropriação in*
cluem-se no cálculo da verba advocatícia as parcelas relati
vas aos juros compensatórios e moratórios, devidamentf
corrigidas.

4.11 Honorários do assistente do autor


Os autores pleiteiam o pagamento dos honorários de seu assistent#
técnico. Sobre o tema, o próprio CPC é claro, em seu art. 20:
§ 2a As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como
também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração
do assistente técnico.

Assim, perfeitamente cabível a condenação do réu vencido no pagamen


to dos honorários do assistente técnico.

5.PKSPQSmVQ
Em razão do exposto, julgo extinta a oposição, sem resolução do méritOi
por ser incabível tal modalidade de intervenção de terceiros na presente de
manda. Julgo improcedentes as preliminares de ilegitimidade passiva e dê
prescrição e decadência. No mérito, julgo parcialmente procedentes os pedidol
para condenar o réu, por conta da desapropriação da Fazenda Cruzeiro do Sul
(INCRA 1.047.017.255.051-4):
a) ao pagamento de indenização aos autores no montante de R$
1.251.500,00 (um milhão duzentos e cinqüenta e um mil e quinhento*
reais), sendo R$ 1.017.500,00 pela terra nua, incluindo a coberturâ
florestal, e R$ 234.000,00 pelas acessões e benfeitorias;
b) ao pagamento de honorários advocatícios calculados em 5% do
valor total da condenação corrigido monetariamente, incluindo os ju
ros;
c) a ressarcimento das custas processuais, inclusive dos honorário*
do assistente técnico dos autores.
Os juros compensatórios serão calculados em 12% (doze por cento)
ao ano sobre o valor da condenação, desde a imissão na posse por parte do
expropriante.
Os juros moratórios serão devidos no percentual de 6% (seis por cen
to) ao ano, a partir de l 2 de janeiro do exercício seguinte àquele em que o
pagamento deveria ser feito, caso este não ocorra.

Entendo que a necessidade de reexame de ofício apenas quando a con


denação se der no dobro da oferta (art. 13, §12, da Lei Complementar n 2.
76/1993) não é aplicável ao caso, por se tratar de ação de indenização por
desapropriação indireta. Assim, entendo aplicável o art. 475 do CPC e, sendo o
valor da condenação maior do que 60 salários mínimos, a presente sentença
está sujeita ao reexame obrigatório.
P.R.I.

Tema principal: Direito Administrativo - Respon


sabilidade Estatal

Elabore
natura ou sentença
qualquer outro, atendendo aos requisitos
sinal, julgando a questãodohipotética
art 458 doabaixo
CPC, exposta.
sem assi-O
relatório (síntese dos fatos relevantes do processo) é imprescindível, sob pena de
eliminação.
Petição inicial protocolizada em 15 de abril de 2003, na Justiça Federal:
Sifrônia Alves Pestana, brasileira, solteira, desempregada, residente e domiciliada
em Brasília, por seu advogado..., ingressa com a presente Ação Ordinária contra a
União Federal para obter indenização por despesas médicas e de hospitalização e
pensão vitalícia correspondente aos vencimentos de Agente da Polícia Federal,
nos termos da legislação de regência, pelos fatos e fundamentos que passa a
narrar: em 1996, após ter sido aprovada em concurso público, foi matriculada e
passou a freqüentar Curso de Formação de Agente da Polícia Federal, ministrado
a partir de abril daquele ano, pela Academia Nacional de Polícia, do Departamen-
to de Polícia Federal, Ministério da Justiça. Logo de início tomou conhecimento
das normas disciplinares, direitos e deveres dos alunos, onde ficou sabendo que,
dentre inúmeros
efetivamente deveres,
de todas estavaemobrigada,
as aulas todas as como todos
matérias, sobospena
alunos, a participar
de punição, que ia
de advertência até ao desligamento. Pois bem, no dia 23.4.1996, quando partici-
pava de uma aula de preparação física, sofreu gravíssimo acidente do qual resul-
tou incapacidade permanente irreversível (conforme laudos médicos nos Autos),
para o exercício da Junção policial, para a qual se habilitara em regular concurso
publico.
Em maio de 2000 requereu, administrativamente, a indenização e a pen-
são, pedido indeferido em fevereiro de 2001, conforme cartanotificação que
anexa, recebida em 18 de fevereiro de 2001.
Pede assim citação da ré, e decreto de procedência condenandose a Uni-
ão a indenizar pelas despesas médicas e de hospitalização e a pagar pensão no
valor correspondente à remuneração de Agente da Polícia Federal, desde abril de
1996, tudo acrescido de juros e correção monetária a partir de cada mês de refe-
rência.
Inicial despachada em 17 de abril de 2003, determinada a citação nesta
mesma data, mandado de citação cumprido em 28 de agosto, em virtude do ex-
cesso de mandados na Central de Mandados, juntado aos autos em 22 de setem-
bro de 2003, em face da burocracia na Secretaria da Vara.
Contestação: Preliminar: A União vem arguir a prescrição do direito por
decorridos mais de 5 (cinco) anos entre o acidente e o ajuizamento da ação, 1996
 2003, ou dois anos e meio entre a data da ciência do indeferimento, 18.2.2001 e
a citação 28.8.2003, súmula n. 383/STF.
Mérito: 0 acidente durante o treinamento ocorreu por culpa exclusiva da
Autora que não obedeceu às orientações do instrutor. Por outro lado, a Autora
não possuía nenhum vínculo jurídico com a referida Academia, conforme depre-
ende do art. 33, do Regulamento da referida Academia Nacional de Polícia, a
seguir transcrito: "A Bolsa de Estudos não configura qualquer vínculo empregatí
cio do aluno com o Departamento de Polícia Federal, constituindose apenas uma
ajuda transitória, durante a realização do respectivo curso." Fazse mister ainda
acrescentar que, como a legislação vigente não contempla os alunos da Academia
Nacional de Polícia com qualquer indenização em virtude de acidente provocado
de morte ou invalidez, são os mesmos obrigados a fazer seguro de acidentes
pessoais, para cobrir invalidez ou morte. Dada a existência do acima mencionado
seguro, percebeu a Autora, à época do acidente, a quantia de R$ 6.000,00 (seis mil
reais), como indenização, mais R$ 3.000,00 (três mil reais) para fazer frente às
despesas com tratamento de saúde. Assim, impõese o indeferimento do pleito da
Autora em perceber "indenização das despesas de tratamento", de vez que, em
assim não entendendo, estarseá deferindo à parte ativa deste feito o juridicQ'
mente condenável bis in iden dessa parcela. Além disso, verificase que, em mo*
mento algum, logrou a Autora demonstrar os gastos efetivamente realizados, fato
este mais que suficiente a ensejar o indeferimento do pedido. As partes juntam: A
Autora: Uma certidão da Academia consignando acidente durante exercício na
Pista de Obstáculos do Stand de Tiros, em 23.4.1996; outra certidão, onde consta
que nesse dia foi a Autora hospitalizada com fratura nas pernas. Comprova,
ainda, a Autora, que foi desligada por motivo de saúde. A União: Comprovante dê
seguro e de sua liquidação afavor da Autora. Demonstrativo de que a Academia
manteve a Autora, após o ccidente, em seus alojamentos até janeiro de 1997.
Durante este período deu toéa assistência possível, tendo em vista que seus fami-
liares residiam no Maranhão e a mesma encontravase sozinha nesta Capital.
Comprovando que a Autora;ó deixou a Academia quando as condições de saúde
lhe permitiram e após ter sido indenizada pela Seguradora.
Laudo Pericial em jiízo  1. Histórico: Paciente deu entrada no HRS na
unidade de Ortopedia e Traunatologia referindo ter pulado aproximadamente de
3 l/2m de altura durante o reinamento na Academia Nacional de Polícia. Apre-
sentava quadro de dor intenta, impotência funcional dos MMII (membros inferio-
res) que sedia.
no mesmo apresentavam
2  Examesen semiflexão.
:ealizados: Foi encaminhada
A paciente ao centro
foi examinada cirúrgico
por mim com
queixa de dor, impossibilidace de ficar em pé continuamente por 30 minutos e de
permanecer de cócoras. 0 exame físico evidenciava deformidade em varo dos
joelhos, déficit nos movimertos de flexoextensão. Solicitei RX dos joelhos que
evidenciava alterações degeierativas e deformidade anatômica. Em suma, apre-
senta deformidades que podirão ser corrigidas parcialmente com efeito estético,
não funcional. 3  Resposta cos quesitos solicitados pelos advogados das partes: I
 Lesão Traumática. II  Sin. Fratura de ambas as tíbias com afundamento dos
plateaus e assimetria dos memos. III - As lesões produzem incapacidade perma-
nente e total. Déficitflexão e extensão deformidade em varo. IV - A paciente
encontrase impossibilitada le exercer atividades em que tenha que permanecer
de pé por longo período efazr flexão completa dos membros inferiores. V - Pelo
item respondido acima, julg) impossível que possa exercer qualquer atividade
remunerada. VI A incapacilade da paciente é seqüela do acidente. VII  A paci-
ente pode ser
de esperar submetida
melhora a crurgia para melhora estética dos joelhos, não sendo
funcionai
Prova testemunhai cdhida na instrução: 1. Joaquim Silveira, que foi cole-
ga da Autora na Academia - Que os exercícios eram obrigatórios sob pena de
desligamento do curso. Que c Autora foi obrigada pelo instrutor a pular um obs-
táculo de aproximadamente! (três) metros de altura. Que não foi dada nenhuma
orientação sobre qual aforrm de se efetuar o pulo ou o preparo para a queda, se
frontal ou lateral. Que depoissoube que o correto seria “cair de lado", todavia não
houvera nenhuma explicação antes. Que a autora caiu de frente, sem realizar
movimento para os lados, dd ter sido projetada para a frente no solo, causando
as fraturas. 2. Antônio Carlimos Sobrera  Que a Autora permaneceu até recupe-
ração do acidente em alojanento da Academia, sendo atendida em hospitais
públicos e pelo Corpo Médio da Polícia Federal. Acredita não ter incorrido a
Autora em despesas médicas Que antes dos exercícios o instrutor da Academia
não deu nenhuma orientaçãcou explicação sobre a maneira de se realizar o pulo
e a travessia dos obstáculos.
Vistos, etc.
1. RELATÓRIO
Trata-se de pedido de indenização por danos materiais em virtude da
incapacidade laborai gerada por acidente que teria sofrido a autora, em treina
mento do Curso de Formação de Agente da Polícia Federal. Pede a autora tanto
o ressarcimento dos gastos médicos e hospitalares, quanto do que deixou da
ganhar em virtude do acidente, que deverá ser pago por meio de pensão vitalí
cia. Alega ter feito requerimento administrativo com o mesmo objetivo, mal
teve seu pedido indeferido.
Citada, a União Federal apresentou sua contestação, na qual arguiu, re
sumidamente: preliminar de prescrição, tendo em vista o transcurso de cinco
anos desde o acidente ou, em outra via, o transcurso do prazo de dois anos •
meio desde a ciência do indeferimento administrativo até a citação da ré; no
mérito, alega culpa exclusiva; ausência de vínculo jurídico entre a União Federal
e a autora; desobrigatoriedade de indenizar, em virtude de norma regulamen»
tar e da existência de seguro de acidentes pessoais para cobrir invalidez ou
morte; pagamento de seguro para a autora; ausência de provas quanto ao|
gastos alegados.
Foram juntadas as seguintes provas: pela autora, certidão da Academli
Nacional de Polícia consignando o acidente, certidão consignando a internaçlO
da autora em virtude de fratura nas pernas, comprovante do desligamento dff
Curso por motivos de saúde; pela ré, comprovante do seguro e de sua liquida4
ção em favor da autora e demonstrativo de que a Academia manteve a autori
em seus alojamentos até janeiro de 1997, prestando-lhe completa assistência.
Perícia realizada confirmou lesão traumática decorrente do referido ft
cidente, que causou incapacidade permanente e total, com conseqüente impo
sibilidade de exercer qualquer atividade remunerada.
Colhida prova testemunhai em que o depoente confirmou a ocorrênd
do acidente, a falta de orientação para os alunos e que a autora permaneceu a"
a recuperação do acidente em alojamento da Academia, sendo atendida a
hospitais públicos e pelo Corpo Médico da Polícia Federal.
É o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. Pa preliminar de prescrição
Alega a União Federal que teria ocorrido a prescrição. O primeiro
gumento é pela consideração do prazo de cinco anos entre a data do acide

(23sentido
no de abrildedeque,
1996) e oaajuizamento
após da ação (15 de
ciência do indeferimento abril de 2003).teria
administrativo, O segun
cor
o prazo de dois anos e meio até a citação na presente ação.
A prescrição, no presente caso, é regulada pelo Decreto
20.910/1932, que estipula o prazo de cinco anos para a cobrança de dívl
passivas dos entes da Federação (art. I 2). Ocorre que o referido Decreto tam
bém estipula os casos de suspensão desse prazo:
Art 4S  Não corre a prescrição durante a demora que; no estudo, no re-
conhecimento ou no pagamento da dívida, considerada líquida, tiverem
as repartições ou funcionários encarregados de estudar e apurála.
Parágrafo único. A suspensão da prescrição, neste caso, veriflcarseá pela
entrada do requerimento do titular do direito ou do credor nos livros ou
protocolos das repartições públicas, com designação do dia, mês e ano.

Assim, tendo a autora apresentado requerimento administrativo, em


maio de 2000, com pleito idêntico ao formulado na presente ação, deve-se
considerar que em tal data foi suspenso o prazo prescricional, que só recome
çou a correr quando da ciência do indeferimento do pedido, o que se deu em 18
de fevereiro de 2001. Por outro lado, não se aplica a contagem do prazo restan
te pela metade do srcinal, como alega a autora, tendo em vista a redação do
art. 92 do Decreto nQ. 20.910/1932, que diz:

Art. 9Ô  A prescrição interrompida recomeça a correr, pela metade do


prazo, da data do ato que a interrompeu ou do último ato ou termo do
respectivo processo.

Ora, a norma acima deixa claro que deve ser aplicada apenas no caso de
interrupção do prazo prescricional, o que não se vê na presente hipótese, pois o
art. 42 trata de suspensão, não de interrupção. Logo, após a ciência do indeferi
mento administrativo, recomeçou a contagem do prazo do ponto em que havia
sido suspensa.
Estaria então prescrito o direito da autora, em virtude do prazo superi
or a cinco anos desde a data do acidente, já considerado o período de suspensão
para análise do pleito administrativamente?
Tenho para mim que a resposta é negativa, ao menos em parte. Isso
porque é possível visualizar fatos geradores distintos para o dever de indenizar
da Administração: quanto à pensão vitalícia requerida, seria a data do acidente;
quanto às despesas médicas e hospitalares, seria cada uma das datas em que
tais despesas foram pagas pela autora. Logo, é preciso estudar o lapso qüinqüe
nal antes da propositura da ação para delimitar o período já decaído.
Nesse sentido, tenho para mim que o prazo de cinco anos deve conside
rar a data de propositura da ação, ou seja, 15 de abril de 2003. Isso porque,
embora a citação tenha se dado apenas em 28 de agosto de 2003, tal atraso não
pode ser imputado à autora e, por isso mesmo, é de ser aplicado o § l2 do art
219 do Código de Processo Civil, que determina a retroação dos efeitos da
citação, quanto à prescrição, à data do ajuizamento da demanda. Isto posto, a
data a ser considerada é, realmente, 15 de abril de 2003.
Em virtude disso, estão prescritos os valores relativos a fatos gerador»!
ocorridos antes de 15 de abril de 1998, especialmente quanto a despesas médi
cas e hospitalares incorridas antes de tal data.
Porém, em que pese ter sido dito que o fato gerador do direito à penslo
vitalícia se deu na data do acidente, que foi anterior a abril de 1998, estão prei-
critos apenas os valores relativos aos períodos anteriores a tal data. Isso por*
que estamos diante de uma prestação de trato sucessivo na qual, se o direito
srcinário não tiver sido negado, a prescrição atinge apenas o qüinqüênio ante*
rior ao ajuizamento da ação, conforme pacificado na jurisprudência.
Em virtude do exposto, acolho parcialmente a alegação de prescriçflo,
para declarar prescritos quaisquer valores relativos a gastos com despesM
médicas e hospitalares, assim como às parcelas a título de pensão eventualmen
te devidas, anteriores ao prazo de cinco anos da propositura da presente ação.

2.2. Das despesas médicas e hospitalares


Requer a autora, a título de indenização, o ressarcimento das despesai
médicas e hospitalares que incorreu em virtude do acidente em questão.
Não merece ser acolhido o pleito em virtude da ausência de prova!
quanto aos gastos aventados. Com efeito, a autora não juntou aos autos qual*
quer comprovante de que realmente tenha feito tais pagamentos. Além disso, a
testemunha ouvida nos autos corroborou a informação da ré no sentido de que
teria sido prestado todo o auxílio necessário à autora, bem como teriam 01
procedimentos médicos sido efetuados na rede pública.
Assim, em virtude da ausência de provas quanto ao alegado, tenho pol*
improcedente o pedido de indenização quanto às despesas médicas e hospitala*
res.

2.3. Pa pensáaYlíâllçjia
Para que seja deferido o pedido de pensão vitalícia, é preciso primeira*
mente averiguar a efetiva responsabilidade da União Federal quanto ao fató
ocorrido.
Inicialmente, cabe ressaltar que a ocorrência do acidente durante 0
treinamento da autora na Academia Nacional de Polícia é fato incontroveraOi
nos termos do inciso III do art. 334 do Código de Processo Civil. Cinge-se I
questão a saber se há alguma excludente de responsabilidade no caso.
A perícia foi conclusiva em atestar que o acidente gerou lesões perma*
nentes e irreversíveis na autora, que, por conta disso, restou impossibilitada dt
exercer qualquer atividade profissional. Temos então um fato (o acidente), U&
resultado (as lesões incapacitantes) e um nexo de causalidade entre eles, o qu#
é suficiente para a responsabilização objetiva, pela teoria do risco administrâtí*
vo, nos termos do § 62, art 37, da Constituição Federal.
Porém, é preciso verificar se não houve ruptura desse nexo de causali
dade, que se daria por algum caso fortuito ou de força maior, bem como por
culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. A alegação da ré, aliás, é justamente no
sentido de ter havido culpa exclusiva da autora, que não teria obedecido às
instruções a ela repassadas no treinamento.
Ocorre que tais excludentes devem ser provadas pela Administração,
pois são fatos impeditivos do direito da autora, nos termos do inciso II, art 333,
do Código de Processo Civil. Não foi o que se viu nos autos, pelo contrário, a
testemunha foi clara ao dizer que não foi dada nenhuma orientação sobre qual
a forma de se efetuar o pulo ou o preparo para a queda. Ora, como a autora
poderia desobedecer instruções que nem foram dadas? Impossível, pois, reco
nhecer a excludente de responsabilidade no presente caso.
Concluo, pois, pela obrigatoriedade da ré em responder pelos prejuízos
causados pelo acidente. Passo, assim, à análise do pedido de pensão vitalícia.
Tenho para mim que não estamos diante de um caso de pensão de natu
reza previdenciária, já que o curso de formação dos Agentes de Polícia Federal
se dá antes da nomeação. Ora, somente após a nomeação e posse, com o provi
mento do cargo, é que decorreria a responsabilidade da União Federal de cunho
previdenciário.
O que temos então é um caso de pensão de natureza alimentícia, em vir
tude da falta imputada à Administração. O caso é de lucros cessantes, do que
deixou a autora de ganhar em razão do acidente por ela sofrido. E o que deixou
a autora de ganhar? Certamente, sua remuneração no cargo de Agente da Polí
cia Federal, que deve servir de base para a pensão mensal a ser recebida pela
autora.
O marco inicial para o direito à pensão é a data do acidente, porém,
prescritas estão as parcelas devidas há mais de cinco anos da propositura da
presente ação, conforme já explicitado anteriormente. O marco final deverá ser
o falecimento da autora, quando este sobrevier.

7. DISPOSITIVO
Em razão do exposto, julgo improcedente o pedido de indenização no
que tange aos gastos com médicos e hospitais e, em relação ao pedido de pen
são alimentícia, julgo-o parcialmente procedente para:
a) declarar que a autora tem direito a receber uma pensão mensal vita-
líciia, equivalente à remuneração inicial integral no cargo de Agente de Polícia
Federal, devendo a União Federal implantar em folha o pagamento de tal renda,
dispensada, por conta dessa implantação, da constituição de outras garantias
ou cauções;
b) condenar a União Federal a pagar à autora os valores vencidos den
tro do período de cinco anos da propositura da presente ação, devidos a título
da referida pensão, havendo incidência de correção monetária a partir do ven-
clnnento de cada uma das parcelas, observados os índices decorrentes da apli-
cação da Lei 6.899/81, como enunciados no Manual de Orientação de Procedi
mentos para Cálculos da Justiça Federal. Sobre tais parcelas ainda incidirão
juros de mora, desde cada vencimento, à taxa de 1% (um por cento) ao mês,
tendo em vista a natureza alimentar da obrigação, conforme entendimento do
STJ;
Em face da sucumbência, condeno o réu a restituir à autora o valor das
custas, bem como a pagar os honorários de sucumbência, que serão calculados
em 5% (cinco por cento) sobre as parcelas vencidas até o momento de prolação
da sentença, não incidindo sobre qualquer parcela vincenda, de acordo com o
previsto no § 32 do art 20 do CPC e na Súmula 111/STJ, nos moldes da juris
prudência deste Tribunal e do STJ.
P.R.I.

Temo principal: Direito Previdenciário

ANA SILVA, brasileira, viúva, com 65 anos de idade pretende ver declara•
do tempo de serviço na condição de rurícola, para fins de benefício previdenciário
(aposentadoria), cumulado com pedido de pensão que não lhe vem sendo paga, a
partir da data do óbito, por morte de seu marido AULUS SILVA, a qual sustenta
ter sido trabalhador rural, por mais de 35 anos.
A autora traz como prova: certidão de casamento, celebrado em 20 dê
março de 1955, em que figura como doméstica e seu falecido marido como traba-
lhador rural; certidão de óbito do marido, ocorrido em 4 de setembro de 1994}
declaração do Ministério Público estadual, datada de 5 de fevereiro de 1990,
afirmando que ela e o de cujus eram trabalhadores rurais; cópia da carteira do
antigo marido, expedida em 1965, de associado do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais do Município de Conselheiro Lafaiete; cópia de escritura, pela qual seu
marido adquiriu pequena gleba de terra em 8 de maio de 1954, que até hoje é dê
propriedade da autora, por efeito de sucessão; declaração do fazendeiro FABRU
CIO PEREIRA, dizendo que AULUS SILVA foi seu empregado na Fazenda "Canto
Feliz", por cerca de 5 anos (1950 a 1955); rol de três testemunhas que, a seu
sentir, conhecem bem a situação da autora e do seu antigo marido.
Alega a autora que sempre trabalhou em regime de economia familiar e,
seu extinto marido, uma grande parte também nesse regime, e outra como em•
pregado, como, aliás, já aludido.
Requer ainda, assistência judiciária.
O a declaração
aceitar~se INSS alega que a prova
do Ministério é imprestável,
Público; quer porquer
não por não ser mais
ter qualquer valiapossível
a
declaração do dito exempregador; quer, ainda, por não ter havido prévio reque-
rimento administrativo e, ainda, por serem inacumuláveis os benefícios de que
cuida a pretensão. Por último, quanto à prova testemunhai, de que ela nada vale,
até por que em matéria previdenciária não se aceita a exclusivamente testemu-
nhai.
Quanto ao mérito, nega qualquer direito ou reconhecimento do tempo de
serviço pretendido, bem como da pensão pleiteada que, apenas para argumentar,
esta última, se houvesse o direito, só poderia ocorrer a partir da sentença.
Ademais, ad argumentandum, alega que a ser procedente o pleito da pen-
são, teriam de ser descontados os valores que corresponderiam às contribuições
previdenciárias não efetuadas opportuno tempore.

Pede a condenação da autora nas custas e na verba honorária.


Sentencie.
A sentença deverá, naturalmente, conter os elementos essenciais previstos
no CPC.
Vistos, etc.

1. RELATÓRIO
ANA SILVA ajuizou a presente ação visando: 1) ter declarado tempo de
serviço na condição de rurícola, para fins de benefício previdenciário (aposen
tadoria); 2) ver deferido pedido de pensão que não lhe vem sendo paga, a partir
da data do óbito, por morte de seu marido AULUS SILVA, a qual sustenta ter
sido trabalhador rural, por mais de 35 anos.
A autora traz como prova: certidão de casamento, celebrado em 20 de
março de 1955, em que figura como doméstica e seu falecido marido como
trabalhador rural; certidão de óbito do marido, ocorrido em 4 de setembro de
1994; declaração do Ministério Público estadual, datada de 5 de fevereiro de
1990, afirmando que ela e o de cujus eram trabalhadores rurais; cópia da car
teira do antigo marido, expedida em 1965, de associado do Sindicato dos Traba
lhadores Rurais do Município de Conselheiro Lafaiete; cópia de escritura, pela
qual seu marido adquiriu pequena gleba de terra em 8 de maio de 1954, que até
hoje é de propriedade da autora, por efeito de sucessão; declaração do fazen
deiro FABRÍCIO PEREIRA, dizendo que AULUS SILVA foi seu empregado na
Fazenda "Canto Feliz", por cerca de 5 anos (1950 a 1955); rol de três testemu
nhas que, a seu sentir, conhecem bem a situação da autora e do seu antigo
marido.
Alega a autora que sempre trabalhou em regime de economia familiar e,
seu extinto marido, uma grande parte também nesse regime, e outra como
empregado, como, aliás, já aludido.
Requer ainda, assistência judiciária.
O a declaração
aceitar-se INSS do
alega que a prova
Ministério é imprestável,
Público; querterpor
quer por não não servalia
qualquer maisapossível
declaração do dito ex-empregador; quer, ainda, por não ter havido prévio re
querimento administrativo e, ainda, por serem inacumuláveis os benefícios de
que cuida a pretensão. Por último, quanto à prova testemunhai, de que ela nada
vale, até por que em matéria previdenciária não se aceita a exclusivament
testemunhai.
Quanto ao mérito, nega qualquer direito ou reconhecimento do tempo
de serviço pretendido, bem como da pensão pleiteada que, apenas para argu
mentar, esta última, se houvesse o direito, só poderia ocorrer a partir da sen
tença.
Ademais, ad argumentandum, alega que a ser procedente o pleito da
pensão, teriam de ser descontados os valores que corresponderiam às contribu
ições previdenciárias não efetuadas opportuno tempore.
Pede a condenação da autora nas custas e na verba honorária.

2. A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Preliminarmente, cabe apreciar o pedido de assistência judiciária. Pois
bem, nos termos do parágrafo único do art 22, da Lei 1.060/1.950,
"Considerase necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situação
econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários
de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família".
A mesma Lei é clara:
"Art 4. A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante
simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condi-
ções de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem
prejuízo próprio ou de sua família. (Redação dada pela Lei ns 7.510, de
1986)"

Assim, tendo a autora afirmado que não tem condições de arcar com as
despesas processuais sem prejuízo de seu próprio sustento, defiro o pedido de
assistência judiciária.

3. O PEDIDO DE PENSÃO
Requer a autora que lhe seja deferida a pensão por conta do falecimen
to de seu marido, que teria exercido atividade laborai de âmbito rural pelo
prazo exigido legalmente.
Quanto ao direito de a autora constar como beneficiária de eventual
pensão deixada por seu falecido marido, não há maiores questionamentos,
tendo em vista o que diz a Lei 8.213/1.991:
"Art 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do
segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: (Redação da-
da pela Lei ns 9.528, de 10.12.97)
I  do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; (Inciso acres-
centado pela Lei ns 9.528, de 10.12.97)
II  do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso
anterior; (Inciso acrescentado pela Lei nQ 9.528, de 10.12.97)
III  da decisão judicial, no caso de morte presumida. (Inciso acrescentado
pela Lei ns 9.528, de 10.12.97)"
Sendo o cônjuge considerado dependente dos beneficiários da Previ
dência Social, nos termos do inciso I, art. 16, da mesma Lei, considerando-se
ainda que foi juntada a certidão de casamento, provado está o direito a eventual
pensão deixada pelo falecido marido.
A questão restringe-se, pois, a saber se o "de cujos" reunia as condições
de segurado da Previdência Social.
Primeiro, porém, é preciso analisar o argumento do INSS quanto à ne
cessidade de prévio requerimento administrativo. O antigo Tribunal Federal de
Recursos já editara a súmula n s. 213, segundo a qual "o exaurimento da via
administrativa não é condição para a propositura de ação de natureza previ
denciária". Por outro lado, a jurisprudência, com muita lógica, se firmou no
sentido de ser desnecessário o requerimento administrativo, especialmente
quando a ré, no caso o INSS, vem ao processo e contesta o direito do autor. Ora,
se judicialmente houve contestação de mérito, se a ré diz que o autor não tem
direito ao que pleiteia, é de se presumir que administrativamente também
questionasse o pedido e o indeferisse. Inútil, pois, seria enviar a autora para a
sede administrativa, pois lá teria negado o seu pedido e esta demanda seria
repetida. Por tais razões, rejeito a alegação do INSS no sentido de que seria
necessário o prévio requerimento administrativo.
Quanto ao mérito, alega o INSS que as provas trazidas aos autos são im
prestáveis e que, por conta disso, só restariam as provas testemunhais, razão
pela qual deveria ser declarado improcedente o pedido, uma vez que a legisla
ção vigente veda a utilização exclusiva de provas testemunhais para a compro
vação de tempo de serviço para fins previdenciários.
Porém, conforme pacificado na jurisprudência, quando a comprovação
de tempo é relativa a trabalho rural, até mesmo em respeito ao princípio da
razoabilidade, são aceitas as provas testemunhais em havendo um princípio de
prova material. Vejamos então as provas trazidas aos autos.
A primeira delas é a certidão de casamento, celebrado este em 20 de
março de 1955. Segundo a certidão, que, ressalte-se, é lavrada por oficial que
tem fé pública, o falecido era, naquela data, trabalhador rural.
Também merecedora de fé pública é a declaração do Órgão do Ministé
rio Público, datada de 5 de fevereiro de 1990, afirmando que a autora e seu
marido eram trabalhadores rurais. É de se destacar ainda que a redação srci
nal do art. 106, inciso IV, da Lei 8.213/1991, previa expressamente como prova
de tempo de serviço a declaração firmada pelo Ministério Público.
Quanto à cópia da carteira do antigo marido, expedida em 1965, de as
sociado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Conselheiro
Lafaiete, considere que ela comprova o exercício da atividade rural naquela
data. Não poderia ser de forma diferente, uma vez que os filiados a sindicato de
trabalhadores de uma determinada categoria, por presunção, pertencem a essa
categoria.
Todos esses elementos probantes são adicionados à aquisição de pe
quena gleba de terra em 8 de maio de 1.954, além dos três testemunhos que
afirmaram ter o "de cujos" exercido o trabalho rural por todo o período vindi-
cado. Isso sem levar em conta a declaração do ex-empregador, no sentido de
que o "de cujos" teria sido seu empregado na Fazenda "Canto Feliz" por cerca de
cinco anos, entre 1.950 e 1.955. Se a jurisprudência se firmou no sentido da
relatividade de tal tipo de prova, que deve ser analisada com extrema cautela,
não pode ela ser ignorada quanto todo o conjunto das demais provas demons
tram realmente ter o falecido exercido trabalho rural.
Há provas que são diretas. No presente caso, um exemplo seria a exis
tência de registro em carteira profissional que atestasse todo o tempo de servi
ço. Mas há também as provas indiretas, ou mesmo aquelas diretas que, embora
não comprovem um "todo", comprovam parte dele. E a soma dessas provas de
"partes” é capaz de provar o todo, como se vê no presente caso. Em melhores
palavras, foram produzidas provas materiais que demonstraram o exercício da
atividade rural pelo "de cujos" durante vários momentos da sua vida, provas
essas que, somadas às testemunhais, deixam clara a continuidade no exercício
da atividade laborai rurícola.
Exigir mais do que isso é ignorar a realidade brasileira, é ignorar que
até poucas décadas muitos e muitos brasileiros viviam em grotões, praticando
uma agricultura rudimentar de subsistência que nada mais permitia além de
uma parca sobrevivência, a única possível diante da distância do Poder Público.
Se não havia nessas condições a mínima ajuda que se espera de um Estado
solidário, como exigir de um trabalhador rural daquela época provas inquestio
náveis, materiais, absolutamente formais, de que ele era um rurícola? Certo é
que a Previdência Social deve ser protegida para que a todos possa continuar a
atender, mas também é certo de que não se pode alijar cidadãos de tal proteção
por excesso de formalismo.
É nesse sentido que se posicionou a nossa jurisprudência. Por isso é
que, havendo início de prova documental, corroborada com provas testemu
nhais, deve ser deferida a averbação do tempo de serviço do trabalhador rural.
Em razão do exposto, considero, pois, comprovado como tempo de ser
viço ruralde
fevereiro do1990,
falecido
datamarido da autoradoo Ministério
da declaração período dePúblico.
8 de maio de 1954
Deixo a 5 de
de conside
rar o período anterior a tal data em face da ausência de certeza do ex-
empregador quanto ao período em que o "de cujos" teria sido seu empregado.
Assim, mesmo que não tenha ficado comprovado que, à data do óbito, o
"de cujos" era segurado da Previdência Social, o certo é que, naquele momento,
ele já tinha direito à aposentadoria, pois ao trabalhador rural é assegurada
aposentadoria por idade, mesmo sem contribuição para a previdência social,
desde que comprove o referido exercício de sua condição profissional, median
te prova material, ainda que indiciária, complementada por prova testemunhai
(Lei n2 8.213/91, art. 39 e 55). E tendo ele direito à aposentadoria, seus depen
dentes têm direito à pensão em decorrência de sua morte.

4. O PEDIDO DE APOSENTADORIA
A autora requer ainda a concessão de aposentadoria.
Diz o inciso VII, art. 11, da Lei 8.213/1991, que são segurados obrigató
rios (grifei):
VII  como segurado especial: o produtor, o parceiro; o meeiro e o arren-
datário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que
exerçam suas atividades, individualmente ou em regime de economia fa-
miliar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, bem como seus
respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze)
anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com
0 grupo familiar respectivo.

No presente caso, ficou comprovado que o "de cujos" exercia atividade


rural. Tal comprovação é, pois, extensível à autora, pois a jurisprudência já
decidiu que "a qualificação profissional de lavrador ou agricultor do marido,
constante dos assentamentos de registro civil, é extensível à esposa, e constitui
indício aceitável de prova material do exercício da atividade rural".
Confirmando-se a condição de segurada da autora, é aplicável o art. 39
da Lei 8.213/1991, que diz:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 des-
ta Lei, fica garantida a concessão:
1  de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxüiodoença, de au
xílioreclusõo ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que
comprove o exercício de atividade rural, ainda que deforma descontínua,
no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual
ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido;
ou
II  dos benefícios especificados nesta Lei, observados os critérios e a for-
ma de cálculo estabelecidos, desde que contribuam facultativamente para
a Previdência Social, na forma estipulada no Plano de Custeio da Seguri-
dade Social.
Assim, concluo que a autora, especialmente por já ter atingido a idade
mínima para fruição do benefício acima identificado, tem direito à aposentado
ria por idade.

5. CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS
Argumenta o INSS que os benefícios de aposentadoria e pensão não são
cumuláveis. Ocorre que, no presente caso, temos dois benefícios de naturezas
distintas. Enquanto a aposentadoria é devida aos segurados, por terem essa
condição, a pensão é devida por outra condição, qual seja a de dependente de
segurado.
Diz a Lei 8.213/1991:
Art 124. Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimen-
to conjunto dos seguintes benefícios da Previdência Social:
I  aposentadoria e auxíliodoença;
II  mais de uma aposentadoria; (Redação dada pela Lei ng 9.032, de
28.4.95)
III  aposentadoria e abono de permanência em serviço;
IV  saláriomaternidade e auxíliodoença; (Inciso acrescentado pela Lei
n3 9.032, de28.4.95)
V mais de um auxílioacidente; (Inciso acrescentado pela Lei n3 9.032, de
28.4.95)
VI  mais de uma pensão deixada por cônjuge ou companheiro, ressalvado
o direito de opção pela mais vantajosa. (Inciso acrescentado pela Lei n3
9.032, de 28.4.95)
Parágrafo único. É vedado o recebimento conjunto do segurodesemprego
com qualquer benefício de prestação continuada da Previdência Social,
exceto pensão por morte ou auxfíioacidente. (Parágrafo único acrescen-
tado pela Lei n3 9.032, de 28.4.95)

Essas, pois, são as vedações à cumulação em termos de benefícios. No


inciso II,na
pacífico vemos a vedação aaposentadoria
jurisprudência, mais de uma não
aposentadoria.
é o mesmo Ocorre que, conforme
que pensão. Trata-se
de benefícios diferentes, como dito, um é devido aos segurados, outro aos de
pendentes.
Portanto, pacífico também na jurisprudência que pensão e aposentado
ria são cumuláveis, razão pela qual rejeito o argumento do INSS.

6. DESCONTO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS


Por fim, alega o réu que devem ser descontados os valores que corres
ponderiam às contribuições previdenciárias não efetuadas no tempo oportuno.
Ocorre que, no presente caso, já foi exposto que a legislação vigente confere aos
trabalhadores rurais direito aos benefícios independentemente de contribuição
para a Previdência Social, em relação ao período aqui discutido. Por essa razão,
não há que se falar em desconto de contribuições previdenciárias.

7. TERMO INICIAL DOS BENEFÍCIOS


Quanto ao termo inicial, não há nos autos comprovação de prévio re
querimento administrativo do benefício, de modo que a aposentadoria e a
pensão somente são devidas a partir da citação válida do INSS, quando se cons
tituiu em mora a autarquia, nos termos do art. 219 do CPC pátrio e da jurispru
dência reiterada do Tribunal Regional Federal da lã Região. Não procede, pois,
a alegação do INSS de que os benefícios somente seriam devidos a partir da
sentença, pois desde a citação a autarquia passa a ser considerada em mora.

8. DISPOSITIVO
Em razão do exposto, julgo procedente a presente ação para:
a) declarar como tempo de trabalho rural de Aulus Silva, marido
da autora, o período de 8 de maio de 1954 a 5 de fevereiro de 1990;
b) em conseqüência, declarar que a autora tem à pensão deixa
da por Aulus Silva, ficando a ré condenada a implantar o benefício a
partir da data de sua citação, sendo que as parcelas vencidas deverão
sofrer
rentes adaincidência
aplicaçãode
da correção monetária,
Lei 6.899/81, como observados
enunciados os
noíndices
Manualdecor
de 0-
rientação de Procedimentos para Cálculos da Justiça Federal. Sobre tais
parcelas ainda incidirão juros de mora, desde cada vencimento, à taxa
de 1% [um por cento) ao mês, tendo em vista a natureza alimentar da
obrigação, conforme entendimento do STJ;
c) declarar como tempo de trabalho rural da autora o período
de 8 de maio de 1954 a 5 de fevereiro de 1990, bem como seu direito de
perceber aposentadoria a partir da citação da ré, que deverá pagar as
parcelas vencidas nos mesmos moldes do item anterior.
Em face da sucumbência, condeno o réu a restituir à autora o valor das
custas, bem como a pagar os honorários de sucumbência, que serão calculados
em 10% (dez por cento) sobre as parcelas vencidas até o momento de prolação
da sentença,
previsto no §não incidindo
3Q do sobre
art. 20 do CPCqualquer parcela
e na Súmula vincenda,
111/STJ, nosde acordodacom
moldes o
juris
prudência deste Tribunal e do STJ.
P.R.I.

Tema principal: Direito Ambiental

* Sentença elaborada no momento do exame por um candidato aprovado no


XIII Concurso do TRF da lã Região, cuja nota ficou pouco acima do mínimo.
Sugiro uma leitura na proposta de sentença e sua posterior resolução, inclusive
com complementação dos pontos eventualmente não abordados pelo autor.

Em lei do município de Manaus  AM, foi instituída a demarcação de á


reas prioritárias de criação de animais em povoados situados dentro dos limites
do Parque Nacional da Amazônia e na zona de amortecimento dessa unidade de
conservação da natureza, tendo sido autorizado o desmatamento do referido
parque para a instalação de criatórios de gado bovino e para o plantio de soja
transgênica.
Em decorrência da aprovação da lei, cinco pessoas físicas e cinco pessoas
jurídicas, todas cadastradas e selecionadas pelo município, mediante prévio
licenciamento ambiental, instalaramse nessas áreas prioritárias e promoveram o
desmatamento necessário para o exercício de suas atividades de criação de gado
bovino, com a implementação de pastagens, casas de morada, cercas e currais,
tendo assim procedido durante o período aproximado de três anos. Entre as
pessoas físicas, três eram pequenos proprietários, oriundos da zona rural, que ali
passaram a residir e a trabalhar com suas famílias, em regime de economia de
subsistência, principalmente extrativista.
Inconformada com tal ação, por reputála atentatória ao Sistema Nacio•
nal de Unidades de Conservação da Natureza, a União ajuizou ação civil pública,
distribuída ao juízo federal da 2 V a r a da Seção Judiciária do Estado do Amazo-
nas, em face do município de Manaus e dos beneficiários do ato impugnado, re-
querendo, liminarmente, a antecipação de tutela inibitóría para que o município
e as pessoas autorizadas pela lei municipal, questionada por agredir o pacto
federativo, abdicassem de qualquer medida que favorecesse o desmatamento da
área ou o suporte técnico e material à construção de pastagens, cercas, currais,
criatórios de animais e ao plantio de soja nas áreas elencadas na mencionada lei,
sob pena de multa coercitiva no valor de R$ 10.000,00 por dia de atraso no cum-
primento dessa obrigação específica, sem prejuízo das sanções criminais cabíveis.
A União
obrigação requereu,
de fazer também,
consistente a condenação
na demolição dos as
de todas réus ao cumprimento
construções de
ali já exis-
tentes, em manifesta agressão ao meio ambiente, na remoção definitiva de cercas,
criatórios de animais e currais, bem como das plantações de soja transgênica.
Requereu, ainda, que se determinasse aos promovidos a apresentação, no prazo
de quinze dias, para a competente avaliação do Instituto Brasileiro do Meio Am-
biente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), de projeto de recuperação das áreas
degradadas, visando à revitalização dos ecossistemas e dos corredores ecológicos
agredidos, com cronograma definido pelos órgãos ambientais competentes,
devendo os promovidos ressarcir os prejuízos causados ao Parque Nacional da
Amazônia em razão da aplicação dos dispositivos da referida lei.
Finalmente, a União pediu a intimação do Ministério Público Federal e a
condenação dos réus em custas e honorários advocatícios. Protestou, ainda, pela
produção de provas documentais, periciais e testemunhais, requerendo a citação
dosR$
de réus para responderem na forma legal, atribuindo à causa o valor estimado
2.000.000,00.
Em contestação, os demandados alegaram, preliminarmente, ilegitimida-
de ativa da União para ajuizar a ação civil pública, como também incompetência
absoluta da justiça federal para processar e julgar a demanda, cujos autos, se-
gundo eles, deveriam ser remetidos à justiça do estado do Amazonas, juízo com-
petente em face do foro privativo de que dispunham. Os demandados requereram,
ainda, o indeferimento da petição inicial, sob o entendimento de não ser cabível o
controle de constitucionalidade de leis por meio de ação civil pública.
No mérito, os demandados alegaram que a lei impugnada atende às exi-
gências da ordem econômica e social, preconizada no art. 170 da Constituição
Federal (CF), visto que visa a uma existência digna para todos por meio de proje-
tos sociais sustentáveis, tal como o que desenvolviam. Destacaram, ainda, que a
CF outorga ao município competência comum e concorrente com a União em
matéria ambiental, e que, no caso em apreço, o município de Manaus, em defesa
do meiopublicidade,
ampla ambiente, exigira estudo prévio
para licenciar de impacto
o aludido projeto ambiental (EIA/RIMA),
socioeconômico com
no Parque
Nacional da Amazônia, objeto da lide. Os demandados pediram, assim, que fosse
declarada a improcedência da ação, com a condenação da parte autora no ônus
da sucumbência,, e protestaram, também, pela produção das provas necessárias à
solução da lide em seu favor. Sucessivamente, os demandados requereram que
fossem indenizados cabalmente por danos materiais e por todas as acessões e
benfeitorias edificadas nas áreas ocupadas, alegando que procederam de boafé e
que todas as atividades foram desenvolvidas com a permissão e sob o controle do
poder público municipal, respaldadas por estudos de impacto ambiental. Os de-
mandados também pediram, ainda em caráter sucessivo, que a eles fosse permiti-
da a realização de termo de ajuste de conduta, a fim de poderem concluir com
efetivo proveito seu projeto socioeconômico.
No que tange às preliminares, o juiz do feito, em caráter excepcional, re-
servouse para apreciálas na sentença final.
A instrução do feito deixou demonstrado que, efetivamente, o município
de Manaus exigira prévio estudo de impacto ambiental para licenciar aquele
projeto socioeconômico, e, mediante prova pericial, com a manifestação das
partes e do Ministério Público Federal, que os demandados, beneficiários do pro-
jeto socioeconômico, durante os três anos de atuação, desmataram o suficiente
para o exercício de suas atividades, tudo sob a supervisão do órgão ambiental
local, e que edificaram casas e construíram cercas, currais e aguadas nas suas
respectivas áreas, com exceção de três dos ocupantes, pessoas físicas, que edifica-
ram somente casas de morada, ali tendo passado a residir com suas famílias em
regime de economia de subsistência — cultivo de feijão, milho, mandioca etc. —,
inclusive extrativista, sem criação de gado. Foi constatado, ainda, que o projeto
socioeconômico localizavase efetivamente no interior do Parque Nacional da
Amazônia, há muito tempo criado por lei federal.
Constatouse, ainda, por meio de prova pericial, a existência de graves
danos à biota do Parque Nacional da Amazônia, em razão do desmatamento de
3.000 ha de floresta nativa para a instalação do referido projeto socioeconômico,
no qual não se identifica nenhuma referência a plano de manejo dos recursos
naturais ali existentes, o que implicou agressão à zona de amortecimento e ao
corredor ecológico daquela unidade de proteção integral, com impactos negativos
nos ecossistemas naturais de relevância ecológica e de beleza cênica, em prejuízo
de sua diversidade biológica, avaliandose os danos ali causados no montante de,
aproximadamente, R$ 1.500.000,00, que deveriam ser repartidos proporcional-
mente entre os seus responsáveis. No demonstrativo transcrito a seguir, regis-
tramse os valores referentes às benfeitorias realizadas na área bem como os
relativos aos danos causados ao meio ambiente.
NOME ATIVIDADE VALOR DANO AMBIENTAL
(em R$) valores indenizávels
(em R$)
)oão José da Silva Agricultura extrativista 10.000,00 20.000,00
Joaquim dos Anzóis Agricultura extrativista 8.000,00 20.000,00
Pedro Antônio Brasileiro Agricultura extrativista 9.000,00 20.000,00
ManoelFelicíssimo Pecuária 50.000,00 140.000,00
Felizardo Tristão Agropecuária 60.000,00 150.000,00
Nova Floresta Pecuarista Pecuária 90.000,00 200.000,00
Ltda
Renascer - Produtos Agro Agropecuária 120.000,00 200.000,00
pecuários Ltda
CamposBelosLtda Pecuária 150.000,00 250.000,00
Fazenda Verdes Ares Ltda Agropecuária 140.000,00 250.000,00
Fazenda Nova Esperança Agropecuária 160.000,00 250.000,00
Ltda

0 estado do Amazonas; o IBAMA, o ICMBio, a organização internacional


Greenpeace, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual pediram
para ingressar nó feito como litisconsortes ativos, do que discordaram os réus,
que alegaram quebra do princípio da isonomia das partes na relação processual.
Por decisão judicial irrecorrida, foi deferido o pedido deformação do litisconsór-
cio ativo em referência, cujos integrantes aderiram, integralmente, às razões
apresentadas pela autora.
0 representante do Ministério Público Federal prestigiou as razões e os
pedidos formulados pela autora e pelos litisconsortes ativos necessários, tendo
pugnado pela procedência da ação em suas razões finais.
Apresentadas as razões finais das partes interessadas, os autos foram
conclusos para a sentença.
Em face dos fatos apresentados, prolate sentença, com base nos requisitos
do art. 458 do Código de Processo Civil, examinando e decidindo todas as questões
manejadas pelas partes.

Poder Judiciário
Justiça Federal de 1- Instância
Seção Judiciária do Estado do Amazonas
2a Vara Federal

Autos n2
Autor: União
Litisconsortes: Estado do Amazonas, IBAMA, ICMBio, Greenpeace, MPF a
MPE/AM
Réus: Município de Manaus, João José da Silva, Joaquim dos Anzóis, Pedro
Antônio Brasileiro, Manoel Felicíssimo, Felizardo Tristão, Nova Floresta Pecua
rista Ltda, Renascer Produtos Agropecuários Ltda, Campos Belos Ltda, Fazendl
Verdes Ares Ltda e Fazenda Nova Esperança Ltda.

Vistos e examinados os autos.

Trata-se de ação civil pública ajuizada pela União em face do município


de Manaus e outros, todos devidamente qualificados nos autos, objetivando
tutela jurisdicional inibitória e condenatória em razão de supostos danos ambi

entais
em suacausados na Unidade de Proteção Integral Parque Nacional da Amazônil
zona de amortecimento.
Sustenta a autora em síntese, que o município de Manaus editou lei que
instituiu a demarcação de áreas prioritárias de criação de animais em povoados
situados dentro dos limites do Parque Nacional da Amazônia, unidade de con
servação da natureza de proteção integral, instituída há muito tempo por lei
federal. Assevera que em decorrência de aprovação da referida lei municipal,
restou autorizado o desmatamento da unidade de conservação para a instala
ção de criatórios de gado bovino e plantio de soja transgênica, o que vem ocor
rendo a cerca de três anos.
Posteriormente, cinco pessoas físicas e cinco pessoas jurídicas, também
réus no presente feito, foram cadastrados e selecionados pelo município, medi
ante prévio licenciamento ambiental, e instalaram-se nas áreas prioritárias
promovendo os desmatamentos necessários para o exercício de suas ativida
des.
Entende a União que os réus, ao assim procederem, causaram diversos
danos ambientais, atentando contra o sistema nacional de unidades de conser
vação da natureza.
Em sede de liminar, requereu a antecipação da tutela inibitória para
impor aos réus obrigação de não fazer consistente na abdicação de qualquer
medida de desmatamento dentro das áreas do Parque Nacional e de sua zona
de amortecimento, sob pena de multa de R$ 10.000,00 por dia de inadimple-
mento.
Ao fim, pugna pela condenação dos réus ao ressarcimento dos danos
causados na unidade de conservação, a demolição de todas as construções,
benfeitorias e plantações existentes, bem como a apresentação, no prazo de
quinze dias, dos projetos de recuperação das áreas degradadas visando à revi
talização dos ecossistemas. Requer, ainda, a condenação dos réus em custas e
honorários advocatícios.
Protestaram pela produção de provas documentais, periciais, testemu
nhais. Atribuiu à causa o valor de R$ 2.000.000,00 (estimado).
Os réus apresentaram contestação, suscitaram, em sede de preliminar,
a ilegitimidade ativa da União, a incompetência absoluta da Justiça Federal para
o processamento e julgamento do feito, que entendem caber à Justiça Estadual
em face de alegado foro privativo. Requerem, ainda, o indeferimento da inicial
sob o entendimento de não ser cabível o controle de constitucionalidade de leis
por meio de ação civil pública. No mérito, defendem a adequação da lei munici
pal de Manaus às diretrizes fixadas pelo art 170, CF/88, a competência concor
rente do município e a regularidade do projeto socioeconômico, que atendeu a
todos os requisitos estabelecidos pelos órgãos ambientais competentes, inclu
sive com a elaboração do EIA/RIMA. Por tais razões, requerem a improcedência
da ação.
Sucessivamente, os réus veicularam pedido indenizatório, sustentando
que todas as intervenções por eles realizadas ocorreram de boa fé, com a auto
rização e sob o controle do Poder Público municipal, além de respaldados por
estudos de impacto ambiental.
Ainda em caráter sucessivo, requereram permissão para a realização de
termos de ajustamento de conduta objetivando concluir com efetivo proveito
seu projeto socioeconômico. Prova pericial às fls... Alegações finais das partes às
fls...
O Estado do Amazonas, o IBAMA, o ICMBio, a organização internacional
Greenpeace, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual reque
reram ingresso no feito na condição de litisconsortes, o que foi deferido por
decisão judicial irrecorrida. O MPF pugnou pela procedência da ação em suas
razões finais.
Vieram os autos conclusos. É o breve relato do necessário.
Passo a decidir.

Antes de avançar sobre o "meritum causae", cumpre analisar as preli


minares trazidas pelos réus.
- Ilegitimidade ativa da União
Sustentam os réus que a União não é parte legítima para ajuizar ação ci
vil pública.
Sem razão os demandados. A competência da União para ajuizar ações
civis públicas decorre de previsão expressa no art. 52, III, da Lei 7.347/85,
dispositivo recepcionado pelo texto constitucional de 1988. Diante do exposto,
REJEITO A PRELIMINAR.

- Incompetência absoluta da J. Federal

Os réus defendem a incompetência absoluta da J. Federal para proces


sar e julgar a demanda. Segundo eles, os autos deveriam ser remetidos à Justiça
do Estado do Amazonas, em razão do foro privativo de que dispõem.
Novamente, sem razão os demandados. A análise dos autos revela que
os fatos narrados na inicial foram praticados no interior de unidade de conser
vação instituída pela União. Portanto, eventuais danos causados deslocam para
a Justiça Federal a competência para o julgamento e processamento do feito, tal
como disposto no art 109, I, da CF/88, em virtude da legitimidade da União
para proteger as unidades de conservação por ela instituídas, nos termos do
art. 225, III, também do texto constitucional.
Assim também tem se posicionado a jurisprudência dos tribunais supe
riores que, não obstante reconhecerem a competência da Justiça Comum Esta
dual como regra geral, tem destacado a competência da Justiça Comum Federal
nas hipóteses em que os danos ambientais noticiados tenham acontecido no
interior de unidades de conservação instituídas pela União. Por tais razões,
REJEITO A PRELIMINAR.

- Indeferimento da inicial
Ainda em sede de preliminar, os réus buscam o indeferimento da peti
ção inicial, sob o entendimento de não ser cabível controle de constitucionali-
dade de leis por meio de ação civil pública.
Considerando que a petição inicial já foi recebida, estando o feito apto à
prolação de sentença, entendo mais adequado apreciar a pretensão preliminar
dos réus à luz das condições da ação, mais especificamente quanto à possibili
dade jurídica do pedido (art. 295, § único, III, c/c 267, VI, CPC).
Ao assim proceder, entendo que a presente preliminar não merece
prosperar. A ação civil pública, como toda ação judicial, pode atrair o controle
de constitucionalidade difuso, cabendo a todos os juizes examinar, no momento
de aplicação da lei, sua constitucionalidade.
No caso dos autos, a União não busca exercer o controle abstrato de
constitucionalidade da lei, o que de fato não lhe seria permitido. 0 que se pre
tende atacar no presente feito são os atos concretos materiais derivados de
uma lei municipal, sendo a questão constitucional, portanto, incidental.
Essa linha de raciocínio tem sido reconhecida pelos tribunais superio
res, que admitem a possibilidade de controle incidental de constitucionalidade
nas ações civis públicas. Diante do exposto, REJEITO A PRELIMINAR.

- Questão prejudicial - Inconstitucionalidade da lei municipal de Ma


naus

Antes de avançar sobre o mérito, cumpre analisar questão jurídica rela


cionada à constitucionalidade da lei municipal de Manaus que instituiu a de
marcação de áreas prioritárias de criação de animais em locais situados dentro
dos limites do Parque Nacional da Amazônia, e em sua zona de amortecimento.
Os réus defenderam a constitucionalidade do dispositivo legal sustentando que
ele atende às exigências de ordem econômica e social (art 170, CF/88) e, ou-
trossim, que a Constituição outorga ao município competência comum e con
corrente com a União em matéria ambiental. Aduzem, ainda, que o município de
Manaus atuou em defesa do meio ambiente exigindo estudo prévio de impacto
ambiental (EIA/RIMA).
Não obstante as considerações feitas pelos réus, entendo que a legisla
ção municipal violou o pacto federativo (art 24, VI, e 30,1, e II), bem como o art.
225, caput, e III, também da CF/88. Inicialmente, destaca que a competência
comum da União e do Município é de natureza material, e não legislativa, desti-
nando-se a proteger o meio ambiente (art 23, VI, CF/88). A competência legis
lativa atribuída aos municípios pelo texto constitucional é de natureza suple
mentar e local, nos termos do art. 30,1 e II. Lado outro, a legislação municipal
também violou o art. 225, III, da CF/88. As unidades de conservação são espa
ços territoriais especialmente
comprometedora protegidos,
de sua integridade sendo
e de seus vedadaAssim,
atributos. qualquer utilização
tendo a União
estabelecido por meio de lei federal uma unidade de conservação de proteção
integral - O PARQUE NACIONAL DA AMAZÔNIA, nos termos do disposto no art
11, da Lei nQ 9.985/2000, qualquer alteração ou supressão em seu território e
respectiva zona de amortecimento somente seria possível por intermédio de
uma lei federal. A lei municipal, portanto, revela-se eivada de inconstitucionali
dade.

-MÉRITO

A questão de mérito posta nos autos consubstanda-se na demonstração


de ocorrência de dano ambiental provocado pelo município de Manaus e por
beneficiários de um projeto socioeconômico implementado nos limites de uma
Unidade de Conservação de Proteção Integral instituída pela União e denomi
nado Parque Nacional da Amazônia e em sua zona de anortecimento. Referido
projeto, desenvolvido pelo município de Manaus, autori:ou cinco pessoas físi
cas e cinco pessoas jurídicas, beneficiários e réus no presmte feito, a se instala
rem em áreas
diversas prioritárias,
atividades mediante causadoras
potencialmente prévio licenciamento nelas desenvolveram
de dano ambiental, como cria
ção de gado e construção de casas e cercas. Os fatos impitados pela União aos
réus ocorreram no interior de Unidade de Conservação de Uso Integral. 0 art.
11, da Lei 9.985/2000, estabelece diversas restrições na itilização do local. Em
seu interior são permitidos somente a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de
recreação em contato com a natureza e de turismo ecológi:o.
A atividade levada a efeito pelos demandados, portanto, infringiu os li
mites legalmente estabelecidos para o uso da Unidade de Conservação Parque
Nacional da Amazônia.
A responsabilidade civil-ambiental por danos cau>ados ao meio ambi
ente encontra assento no art. 225 da CF/88. Na legislaçã» infraconstitucional,
destaca o disposto na Lei 6.938/81, especialmente em seui artigos 42, VII, e 14,
§ ls. A análise de tais dispositivos revela que a respon:abilidade ambiental
caracteriza-se por ser objetiva
causados. Assentadas e buscarcumpre
tais premissas, a integral e total eparação
investigar dosautos
10 caso dos danosa
presença dos elementos caracterizadores da responsabiliiade civil-ambiental
objetiva, quais sejam, a ação/omissão, o dano e o nexo causil entre eles.
Os atos restaram sobejamente demonstrados nos autos. Os próprios
réus os reconheceram, apesar de pretender caracterizá-os como regulares.
Incide, portanto, o disposto no art 334, III, do CPC, vez que ncontroversos.
Os danos ambientais também foram devidamente provados por meio
de prova pericial, que os estimou em R$ 1.500.00,00 refirente à agressão à
zona de amortecimento e ao corredor ecológico da unidace de proteção, com
impactos negativos nos ecossistemas naturais de relevâicia ecológica e de
beleza cênica, tudo em prejuízo de sua diversidade biológica
A prova pericial produzida também concluiu que oj danos causados o-
correram em virtude do desmatamento de 3.000 hectare: de floresta nativa
para instalação do projeto socioeconômico desenvolvido pios réus. Entendo
caracterizado,
lidade por tais portanto, o dano
danos deverá serambiental
imputada provocado pelosa<s
solidariamente 'éus. A em
réus responsabi
razão da
necessidade de restauração completa dcs danos ambientais provocados, conso
ante jurisprudência dominante sobre o tema.
Por fim, destaco a impossibilidade de provimento dos pedidos maneja
dos pelos réus em caráter sucessivo. O pedido condenatório eqüivale à recon
venção, e como tal, não poderia ser veiculado em sede de ação civil pública, que
não se destina a tutelar referida pretensão (art. I 2, Lei 7.347/85). Quanto à
pretensão de realização de termo de a;ustamento de conduta, entendo igual
mente incabível à luz do disposto no art 5 2, § 62, da LACP e 79-A da Lei
9.605/98, que atribui aos órgãos públicDS discricionariedade para fazê-los sob
determinadas condições, ao que tudo indica ausentes em razão da natureza da
unidade de conservação, cuja proteção integral limitaria ou impediria a propo
situra de TAC.

- Tutela antecipada
Por considerar preenchidos os requisitos previstos no art. 273, CPC,
concedo a tutela antecipatória inibitória para determinar que os réus se abste-
nham de quaisquer medidas que impliquem no desmatamento do Parque Na
cional da Amazônia e sua zona de amortecimento, sob pena de multa diária que
fixo em R$ 10.000,00.

- Dispositivo

Diante de todo o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos contidos na


inicial para condenar os réus a demolirem todas as construções, benfeitorias e
plantações por eles realizados no interior do Parque Nacional da Amazônia,
bem como a encaminharem aos órgãos ambientais competentes (IBAMA, ICM-
Bio), no prazo máximo de 30 dias, projeto de recuperação das áreas degrada
das. Outrossim, CONDENO os réus solidariamente a pagarem indenização no
valor de R$ 1.500.000,00 que deverá ser corrigida monetariamente desde a
data da realização do laudo, conforme MANUAL DE CÁLCULOS DA JUSTIÇA
FEDERAL, e juros de mora de 1% ao mês a partir da data da sentença. Declaro
inconstitucional a lei municipal.
Condeno os réus ao pagamento das custas, observado quanto ao Muni
cípio, o disposto no art 42, I, da Lei 9.289/96, bem como ao pagamento dos
honorários sucumbenciais, que fixo em 5% sobre o valor da condenação.
Publiçue-se, registre-se, intime-se.
Manaus... de...
JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO DA 2â VARA

Tema principal: Direito Administrativo - Respon


sabilidade Estatal

SENTENÇA: João postula indenização em face da União Federal e do Insti•


tuto Nacional do Seguro Social  INSS, em ação sob o rito ordinário ajuizada em
10/10/2004, na Justiça Federal do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da
qual veicula sua pretensão de obter indenização por danos materiais, no valor do
somatório dos vencimentos e dos proventos que receberia até alcançar a idadê
correspondente à sua expectativa de vida, e morais, no valor de R$ 100.000,00
(cem mil reais), em decorrência da anulação, em 25/07/2004, do ato de sua
nomeação, ocorrida em 08/05/2002, para o cargo de provimento efetivo dê
Analista Previdenciário do INSS. Requer, ainda, que a União seja condenada a
promover a sua reintegração no cargo anteriormente ocupado de Agente dê
Segurança do Tribunal Regional Federal da 3 Região, com sede na Cidade de São
Paulo (SP), do qual foi exonerado, a pedido, após 11 (onze) anos de efetivo exerci'•
cio, para ocupar o novo cargo.
Em sua contestação, a União argui, preliminarmente, a sua ilegitimidadê
passiva ad causam, em relação ao pedido de indenização, por ausência de quaU
quer conduta imputável a seus agentes que pudesse resultar dano para a partê II
autora. Pelo princípio da eventualidade, alega a ausência de nexo de causalidade, 1
pois a exoneração ocorreu a pedido. Ainda, preliminarmente, afirma existir defeU
to na representação processual do Autor, tendo em vista que a procuração foi
outorgada ao advogado por instrumento particular, o qual, embora com cláusula
ad judicia e assinado pelo outorgante, não contém a indicação da ação e nem 0
nome do Réu contra quem deveria ser proposta. No mérito, defende a improce•
dência do pedido, por ausência de dano indenizável, já que o Autor é pessoa sadia,
apta a exercer outra atividade da qual possa auferir recursos para sua sobrevU _
vência. Quanto ao pedido de reintegração, sustenta que a pretensão do Autor i
corresponde à sua readmisSão sem concurso público, hipótese não albergada em .f
nosso ordenamento jurídico, e que não existe qualquer ilegalidade no ato que o
exonerou a pedido.
0 INSS contesta arguindo, na própria contestação, a incompetência da
Justiça Federal do Rio de Janeiro porque o Autor era funcionário do Tribunal
Regional Federal da 3 Região. No mérito, afirma a legalidade do ato de anulação
da nomeação, praticado em harmonia com o disposto no art 37,11, da Constitui •
ção Federal. Justifica a anulação do ato administrativo por não ter havido prévio Sj
concurso público, embora a nomeação e posse do Autor tenha ocorrido por neces-
sidade de serviço.
Diante da comprovação dos fatos narrados na petição inicial, elabore,
fundamentadamente, sentença para o caso, abordando os aspectos jurídicos
pertinentes, dispensado o relatório.

Vistos, etc.

1. RELATÓRIO
(Dispensado)

2. PRELIMINARES
2.1. Representação processual
Argui a União Federal preliminar de falha na representação processual
do autor, sob o argumento de que a procuração nâo contém indicação da ação
ou do nome do réu.
A procuração geral para o foro é prevista no art. 38 do Código de Pro
cesso Civil, que não traz como requisitos essenciais do instrumento o nome do
autor ou a ação. A procuração é ali definida como "geral para o foro", sendo
pacífico que basta ter sido aposta a assinatura do outorgante devidamente
qualificado, em texto que dê ao advogado devidamente identificado os poderes
gerais para atuar em juízo.
Por conta disso, rejeito a preliminar de defeito na representação pro
cessual.

2.2. Incompetência da lustica Federal do Rio de Taneiro


O réu INSS alega, também em sede de preliminar, a incompetência da
Justiça Federal do Rio de Janeiro, sob o argumento de que, como o autor era
funcionário do Tribunal Regional Federal da 3â Região, deste Tribunal seria a
competência.
Não procedem as alegações do réu. Em primeiro lugar, porque não vis
lumbro norma de competência em razão da matéria ou da hierarquia que de
termine ser o TRF da 3 â Região competente para analisar o feito. O autor não se
insurge contra nenhuma ação ou omissão reputada ao seu antigo empregador,
que não é parte na presente lide, nem por escolha do autor ou por determina
ção legal. No feito, encontram-se além do autor apenas o INSS e a União Federal.
Também não há nenhuma autoridade com foro privilegiado.
Por outro lado, territorialmente não há também incompetência. Segun
do o § 22ser
poderão do aforadas
art. 109 da
na Constituição Federal,
seção judiciária em que asfor
causas em que aoUnião
domiciliado autor, for ré
naque
la onde houver ocorrido o ato ou fato que deu srcem à demanda ou onde esteja
situada a coisa, ou ainda, no Distrito Federal. Logo, não há incompetência terri
torial.
Finalmente, ainda que houvesse incompetência territorial, esta é de na
tureza relativa e deve ser arguida por meio de exceção, conforme determina o
art. 112 do Código de Processo Civil, e não no bojo da contestação.
Pelo exposto, rejeito também a preliminar de incompetência.

2.3. Ilegitimidade passiva da União Federal


Argumenta a União Federal ser parte ilegítima no feito em relação ao
pedido de indenização. Razão lhe assiste nesse ponto.
Com efeito, a causa de pedir das indenizações está ligada ao ato de anu
lação da nomeação do autor para o cargo de Analista Previdenciário do INSS.
Assim, percebe-se que a União Federal não praticou tal ato, cabendo analisar se,
ainda assim, poderia responder por suas conseqüências.
O Decreto-Lei nfi. 200/67, em seu art. 5 2, define a autarquia como sendo
o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e
receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que
requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira
descentralizada. Assim é o INSS, uma autarquia federal com personalidade
jurídica própria, diferente da União Federal.
Em razão dessa personalidade distinta, forçoso é concluir que a União
Federal carece de legitimidade para compor a lide no tocante ao pedido de
indenização, como bem arguido em sede de preliminar. Quanto ao outro pedi
do, de reintegração no cargo de Agente de Segurança do TRF da 3 â Região, por
não ter o Tribunal personalidade própria e distinta, não há incorreção na inclu
são da União como ré na ação, devendo permanecer no feito para análise do
mérito.
Assim, declaro extinto o feito em relação à União Federal, exclusiva
mente no tocante ao pedido de indenização, por ilegitimidade passiva.
3. MÉRITO
3.1 Q pedido de indenfeação
A questão principal dos autos é o ato de anulação da nomeação do autor
para o cargo de Analista Previdenciário. Segundo se defende o INSS, a anulação
se deveu ao fato de não ter havido prévio concurso público, embora a posse do
autor tenha ocorrido por necessidade de serviço.
Em primeiro lugar, ressalto que o autor não se insurge contra o ato em
si, mas por conta de seus efeitos. E nem haveria razão para se insurgir mesmo,
uma vez que a própria Constituição Federal determina em seu art 37, II, que a
investidura em cargo ou emprego público depende imprescindivelmente da
aprovação prévia em concurso público, exceto nos casos de cargos em comis
são. Não é esta a hipótese dos autos, uma vez que o cargo de Analista Previden
ciário é de caráter efetivo, não em comissão. Por conta disso, de qualquer ma
neira considera-se legal e constitucional o ato de anulação da nomeação.
Por outro lado, é pacífico e até mesmo sumulado pelo STF que a Admi
nistração Pública pode rever seus próprios atos, revogando-os em caso de
interesse público e anulando-os em caso de ilegalidade. Nesta última hipótese,
os efeitos da anulação retroagem à data do ato, ou seja, são "ex-tunc", especial
mente porque atos ilegais não têm o condão de gerar qualquer direito, especi
almente quando relativos à patrimônio público.
Corretamente agiu, pois, a Autarquia ao anular o ato de nomeação. Res
ta saber se a aplicação no presente caso da responsabilidade estatal objetiva,
nos termos do § 62, art. 37, da Constituição Federal levaria a uma responsabili
zação do INSS quanto ao seu ato.
Para que o Estado seja responsabilizado, basta que seja demonstrada
uma ação ou omissão estatal, com nexo de causalidade suficiente para causar
prejuízo à pessoa, desde que não tenha havido caso fortuito, força maior, culpa
exclusiva haveria
princípio da vítima ou culpa exclusiva
responsabilidade de terceiro.
da Autarquia, poisDiante
houvedessa definição,
uma ação (anulaa
ção do ato de nomeação), que causou danos ao autor.
Ocorre que a norma do § 6Q, art. 37, da Constituição Federal não pode
ser interpretada em dissonância com o restante da Constituição. Ora, o próprio
caput do art. 37 estabelece que a Administração deve se pautar pelos princípios
da legalidade, moralidade e impessoalidade, entre outros. Temos aqui, pois, um
choque entre fundamentos constitucionais: o da responsabilidade objetiva do
Estado, de um lado, e do outro os referidos princípios. É ilegal (em sentido
estrito e lato) nomear alguém para cargo efetivo sem concurso público. É imo
ral, pois ofende a ética que deve pautar as contratações de servidores. Fere a
impessoalidade, ao privilegiar determinada pessoa.
Assim, temos um motivo de força maior, qual seja a determinação que a
Administração sofre no sentido de observar tais princípios. E tal motivo de
força maior rompe o nexo de causalidade entre a ação e o eventual dano. Em
regra, o Estadoé responde
quer maneira necessárioainda
que que ausente
possa haver ao culpa, como
elemento já dito,nomas
volitivo agirdeou
qual
no
omitir, elemento esse que não existe nos casos de força maior ou caso fortuito.
A Autarquia não agiu por vontade, agiu por imposição da Constituição Federal.
Ainda que quisesse, não poderia tomar outro caminho, sob pena de responsabi
lização pessoal de seus administradores ou mesmo da entidade. Ora, ninguém
pode ficar em uma situação em que, qualquer medida que tome, seja responsa
bilizado. Há que existir uma opção na qual o agir seja livre de ônus.
Enfim, entendo que não há, no presente caso, o nexo de causalidade ne
cessário para que a Autarquia seja responsabilizada pelo ato de anulação da
nomeação do autor.
Por outro lado, a própria jurisprudência já se consolidou no sentido de
que o exercício de cargo ou emprego público sem concurso, em franca ilegali
dade e inconstitucionalidade, não gera direito algum a quem o exerce. 0 ato de
nomeação, nesses casos, é absolutamente nulo e atos nulos, posto que revesti
dos de ilegalidade, não podem gerar quaisquer direitos. Seria, pois, um contras-
senso que uma ilegalidade gerasse direitos.
Ademais, ainda que não fosse adotado o entendimento acima, não seria
possível deferir a indenização.
Quanto ao pedido de danos materiais, o que o autor pleiteou, na verda
de, foi uma aposentadoria precoce, vitalícia. A indenização por danos materiais
não é regulada dessa maneira. Ela serve para repor algo que a pessoa perdeu ou
deixou de ganhar, mas nesta hipótese apenas nos casos em que ficou impossibi
litado de efetivamente ganhar. O autor não comprovou quais os danos materiais
sofreu com o ato de anulação, entendendo-se assim que o pedido é referente ao
que deixou de ganhar. Porém, aqui seria necessário que ele demonstrasse a
impossibilidade de auferir rendimentos até a data pretendida, impossibilidade
essa que deveria necessariamente decorrer do ato praticado pela Autarquia. Só
que não há tal prova e nem a situação se vislumbra pela análise dos autos. Não
ficou o autor impedido de trabalhar por conta da anulação de sua nomeação,
razão pelajáqual
conforme dito,não
na há que sesefalar
verdade trataem
de tal
uma espécie de "lucrosAcaso
aposentadoria. cessantes" que,o
deferido
pedido, por vias transversas estar-se-ia legitimando a nomeação sem concurso,
uma vez que o autor continuaria a receber seus rendimentos e, pior ainda, sem
oferecer sua contrapartida na forma de serviço.
Nessa mesma linha de raciocínio, incabível falar em danos morais. Estes
ou são provados ou são presumidos, mas sempre derivam de um ato que ofende
a lei ou a ordem pública. Inimaginável pensar que alguém possa ter sua honra,
seja ela objetiva ou subjetiva, ferida por um ato absolutamente legal, que nada
mais fez do que atender aos ditames do art. 37 da Constituição Federal.
Pelo exposto, considero que não há responsabilidade imputável à Au
tarquia, razão pela qual não pode ela ser obrigada a arcar com qualquer indeni
zação.

3.2 Q pçflido_<te reintegração


Requer o autor, ainda, que os réus sejam condenados a reintegrá-lo no
cargo de Agente de Segurança do Tribunal Regional Federal da 3â Região, com
sede na Cidade de São Paulo (SP), do qual foi exonerado, a pedido, após 11
(onze) anos de efetivo exercício.
Também não há procedência no pedido do autor quanto a esse ponto.
A exoneração rompe a ligação do servidor com o cargo público. A volta
do servidor a tal cargo só é permitida por recondução, quando ele foi inabilita*
do em estágio probatório relativo ao novo cargo; por reversão, quando o servh
dor já aposentado por invalidez volta a exercer suas funções; por readaptação,
nos casos de fatos que tenham influído na capacidade física do servidor; bem
como na reintegração, aqui pedida pelo autor.
Ocorre que reintegração, conforme definido na Lei 8.112/1990 e ado*
tado pela doutrina e jurisprudência, se dá apenas no caso em que o servidor»
demitido de seu cargo, consegue invalidar administrativa ou judicialmente eiH
ato de demissão, voltando ao "status quo" anterior. Mas esse não é o caso dei
auUtos. O autor deixou o cargo antigo não por demissão, não contra a sua vonta
des mas por um pedido espontâneo de exoneração. Tal ato de exoneração em
mcomento algum foi objeto de análise, de invalidação, de anulação. É um ato
jurrídico perfeito e acabado.
Assim, não sendo também o caso das demais hipóteses, o provimento
doD cargo somente poderá se dar por concurso público, nos termos do inciso II
doD art. 37 da Constituição Federal.

4. DISPOSITIVO
Em razão do exposto, julgo extinta a lide em relação à União Federal,
quaanto ao pedido de indenização, bem como declaro improcedentes tal pedido
de? indenização e o de reintegração ao cargo antigo. Condeno ainda o autor nos
9
hoDnorários advocatícios,
Prrocesso Civil, quepor
em 10% (dez arbitro, nosdotermos
cento) docausa,
valor da art 20,divididos
§ 4 , do Código de
"pro rata"
paara cada um dos réus.
Custas pelo autor.
P.R.I.

Tema principal: Direito Administrativo - Responsabili


dade Fstntnl

Prolatar sentença cível, considerando o texto anexo como relatório, de-


V tendo elaborar somente os fundamentos e o dispositivo da sentença.
José da Silva e Maria da Silva, brasileiros, menores, ele com 19 anos e ela
COom 14 anos de idade, residentes e domiciliados em Canoas, RS, por sua mãe, Geni
dca Silva, promoveram contra a União, perante a Vara Federal de Canoas, RS, uma
ÜÇção de indenização, alegando serem filhos de João da Silva, técnico em constru
çião civil, morto no dia 1 de abril de 1990, em conseqüência de atropelamento, na
Cliidade de Porto Alegre. Dizem que o seu pai voltava do trabalho, quando foi
ÇQolhido por um automóvel que trafegava em altíssima velocidade, dirigido por um
tfindivíduo que fugia da polícia, depois de ter conseguido iludir a vigilância da
ffuarda que o conduzia para uma audiência de interrogatório na Justiça Federal,
nnde respondia a processo por tráfico internacional de entorpecentes. Pedem a
mondenação da União ao pagamento de uma indenização de R$ 1.000.000,00 (um
jmilhão de reais), dividida em duas parcelas assim determinadas: a primeira, d$
R$ 780.000,00 (setecentos e oitenta mil reais), pela privação do sustento que o pai
lhes alcançaria até o final de sua vida, calculada em 65 (sessenta e cinco) anos, já
que percebia cerca de R$ 1000,00 (um mil reais) por mês, como autônomo, na sua
atividade profissional; a segunda, de R$ 220.000,00 (duzentos e vinte mil reais),
por danos morais, visto terem ficado órfãos ainda na mais tenra idade.
Citada, a União ofereceu contestação, arguindo, preliminarmente, a in-
competência absoluta do juízo federal de Canoas, pois o acidente que deu srcem
à demanda ocorreu na capital do Estado. Levantou, ainda, as seguintes prelimi-
nares: inépcia da petição inicial, que ora invoca a teoria da responsabilidade
objetiva ora sustenta a culpa dos agentes que permitiram a fuga do preso causa-
dor do acidente, dificultando dessa forma o exercício da defesa; ilegitimidade
passiva para a causa, pois o preso estava recolhido em presídio estadual.
No mérito, sustentou a prescrição por terem transcorrido mais de cinco
anos desde a data do fato; que a vítima não foi atropelada por veículo oficial; que
a Administração só responde objetivamente por danos que seus agentes, nessa
qualidade, causem a terceiros; e que, de resto, os policiais que perseguiam o fugi-
tivo estavam no estrito cumprimento do seu dever legal, não tendo concorrido de
nenhuma forma para o sinistro.
Impugnou, ainda, o valor pretendido, afirmando que a vítima não perce-
bia a renda mensal alegada; que ela já tinha 40 (quarenta) anos na data do
falecimento; que os filhos só têm direito a alimentos do pai, na melhor das hipóte-
ses, até atingirem a maioridade; que o dano moral não é indenizável; e que, de
resto, a quantia exigida era manifestamente exorbitante.
Intimados para falar sobre a contestação, os demandantes replicaram
todas as preliminares, reafirmaram a responsabilidade da União e insistiram nos
valores pretendidos.
0 Ministério Público Federal foi intimado e nada requereu, considerando
que os interesses dosomenores
Em seguida, estavam
juiz declarou quesendo bem atendidos.
as preliminares seriam decididas junta-
mente com o mérito e colheu a prova requerida pelas partes: as testemunhas dos
autores confirmaram as circunstâncias em que ocorreu o atropelamento da
vítima, destacando que uma viatura da Polícia Federal perseguia o fugitivo.
Disseram, também, que o falecido era um profissional conceituado na sua área e
que ganhava bem mais do que indicado na inicial; as testemunhas da ré, por sua
vez, informaram que o preso vinha da Penitenciária Estadud e estava sendo
conduzido por uma escolta composta por policiais civis e federais; que não houve
propriamente uma perseguição ao foragido, mas um acompanhimento à distân-
cia; que o acidente ocorreu por culpa exclusiva do atropelador, que perdeu o
controle do carro que dirigia.
Antes de terminar a audiência, o advogado dos autores pediu a antecipa-
ção da tutela, alegando que eles, por serem menores com baixo grau de instrução,
não encontram colocação para trabalhar e vêm passando necessdades, pois a sua
genitora está doente efoi demitida do seu emprego de empregadi doméstica.
Os autos foram conclusos para julgamento.
Obs.: para fins de análise da prescrição, ressaltase que o concurso foi rea-
lizado no ano de 2000.

Vistos, etc.

1. RELATÓRIO
(Dispensado)

2. PRELIMINARES
2.1 Incompetência do juízo
Alega a União Federal a incompetência do juízo, sob o argumento que o
acidente que deu srcem à demanda ocorreu na capital do Estado. Pois bem, o
CPC é expresso ao dizer que a incompetência relativa, tal qual a em discussão
(posto que territorial), deve ser arguida por meio de exceção e não no corpo da
própria contestação. Em que pese tal fato, o TRF da Ia Região já aceitou a análi
se da questão sem a necessária exceção:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPE
TÊNCIA RELATIVA (TERRITORIAL). ARGUIÇÃO. PRELIMINAR, NA
CONTESTAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALI-
DADE DO PROCESSO. AUTARQUIA FEDERAL (ANS). FORO COMPE
TENTE. SEDE OU FILIAL. ELEIÇÃO DO DEMANDANTE. 1. A competên
cia em razão dp território, oh .competência de foro, é relativa, e deve
ser arguida mediante exceção de incompetência (CPC. art 112). mas,
considerando o princípio da instrumentalidade do processo, pode-se
admiti-la como preliminar da contestação, relevando-se o rigor for
mal. 2. A Agência Nacional de Saúde - ANS, autarquia federal, tem ju
risdição em todo o território nacional, sendo o recolhimento da taxa
instituída pela Lei n. 9.961/2000 (artigo 20,1) efetivado em qualquer
agência do Banco do Brasil, de modo simplificado, assim, a ação que
impugna a sua cobrança pode ser manejada no lugar do seu recolhi
mento. 3. "A regra basilar quanto à competência territorial, nas de
mandas contra a União e suas Autarquias, obedecendo a cláusula do
efetivo acesso à justiça é a de que compete ao foro da sede da pessoa
jurídica ou de sua sucursal ou agência, o julgamento das ações em que
figurar como ré, desde que a lide não envolva obrigação contratual.
(...) por força do mesmo princípio, cabe ao demandante a escolha do
foro competente em se tratando de controvérsia acerca de obrigação
instituída por lei." (Min. LUIZ FUX, EDREsp. n. 495.838/PR). 4. Agravo
de Instrumento provido. (AG 2001.01.00.015730-6/MG, Rei. Desem
bargador Federal
04/06/2004, p.178)Mário César Ribeiro, Oitava Turma, DJ de
Porém, ainda que pudesse a incompetência ser analisada no presente
caso, não poderia ser decretada, pois diz o § 2 Q do art 109 da Constituição
Federal:
§ 22 - As causas intentadas contra a União poderão ser afora
das na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde
houver ocorrido o ato ou fato que deu srcem à demanda ou onde es
teja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
Assim, embora o fato tenha ocorrido em Porto Alegre, se os autores re
sidem em Canoas, a norma em questão permite que a ação seja ajuizada em
Canoas. Pelo exposto, rejeito a preliminar de incompetência do juízo.

2.2 Inépcia da petição inicial


A ré alega que a petição é inepta, pois ora os autores se amparam na
responsabilidade objetiva, ora falam em culpa dos agentes públicos. Ora, não
vejo qualquer incoerência em tal fato. A responsabilidade estatal é, em regra,
objetiva. Porém, isso não impede que o autor levante a culpados responsáveis
pelo ato.
Por outro lapso, a inépcia se dá quando não é possíve. estabelecer uma
ligação entre os argumentos expedidos e o pedido, ou, como diz o art. 295 do
CPC, "da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão".
Não é o se vê no presente caso. Não há rompimento da lógica entre os
fatos expostos e a conclusão dos autores. No mais, o réu se defende dos fatos
trazidos aos autos e estes estão claros, pois ficou exposto o acidente, as suas
causas e conseqüências. A inépcia deve se dar apenas quando dificulte a defesa
por parte do réu. Se isso não ocorreu no presente caso, nada mais resta do que
rejeitar a preliminar.

2.3 Ilegitimidade passiva


Ainda no campo das preliminares, a ré alega que é parte ilegítima para
compor o polo passivo da lide, tendo em vista que o preso que causou o aciden
te automobilístico estava em presídio estadual.
A princípio, tal fato excluiria a responsabilidade da União Federal, pois,
embora a responsabilidade estatal seja de natureza em geral objetiva, isso não
afasta a necessidade do ato ter sido provocado por ação ou omissão de agente
público.
Porém, tanto as testemunhas dos autores quanto da ré afirmaram que a
escolta do preso estava sendo feita não somente por policiais civis, mas tam
bém federais. Além disso, o interrogatório do réu seria feito perante a Justiça
Federal.
Posto isso, não antevejo como decidir pela ilegitimidade passiva da ré
em sede de preliminar. Se nos fatos que deram srcem à causa houve participa
ção de agentes públicos federais, a questão passa a ser de mérito, pois é preciso
analisar se a ação ou omissão de tais agentes foi suficiente para a responsabili
zação da União Federal. De qualquer maneira, a legitimidade da União é paten
te, embora não se possa concluir de antemão sobre a procedência ou não do
pedido.
2.4 Prescrição
Por fim, também como impeditivo do direito dos autores, a União Fede
ral alega a prescrição do direito dos autores.
No caso, a prescrição se dá em cinco anos, conforme a legislação vigen
te. Assim, como o evento danoso ocorreu em abril de 1990, em tese a prescrição
teria ocorrido em abril de 1995. Porém, os autores têm idades reduzidas, sendo
um deles com 14 anos e outro com 19. Ora, tanto o Código Civil de 1916 (art.
169) quanto o de 2002 (art. 198) determinam que contra os incapazes não
corre prescrição.
Assim, para o autor José da Silva, hoje com 19 anos, a prescrição só co
meçou a correr quando ele completou seus 16 anos, posto que o Código Civil só
determina que não corre o prazo contra os absolutamente incapazes. Ainda
assim, passados três anos apenas, não se fala em prescrição. Da mesma forma,
ocorre com a outra autora, que ainda nem chegou à maioridade relativa.
Em razão do exposto, rejeito a arguição de prescrição.

3. MÉRITO
Antes de decidir sobre a procedência de qualquer dos pedidos dos au
tores, é necessário apurar se houve responsabilidade por parte da União Fede
ral no caso em questão.
Pois bem, a vítima faleceu em conseqüência de atropelamento. O carro
que a colheu trafegava em alta velocidade e era conduzido por um preso. Esse
preso só conseguiu dirigir o veículo porque iludiu a vigilância dos guardas que
o conduziam para interrogatório na Justiça Federal. Entre os condutores do
preso estavam policiais federais, com responsabilidade de mantê-lo sob vigi
lância e privado de liberdade, seja porque o crime é de natureza federal, seja
por conta da audiência ocorrer na Justiça Federal.
Ora, não creio que esteja afastada a responsabilidade da União Federal.
É certo que foi o foragido que causou o acidente, mas não o teria feito se os
agentes públicos não tivessem falhado em seu dever de vigilância. Além disso, o
acidente aconteceu em seguida ao descuido dos agentes, sendo que, segundo
testemunha, o preso era perseguido por veículo da Polícia Federal.
Afasto a alegação de que o preso estava abrigado em presídio estadual.
Conforme se conclui dos autos, no momento do acidente ele não estava no
presídio. Mais do que isso, sua fuga se deu quando ele já estava fora do estabe
lecimento estadual, sob vigilância, dentre outros, de policiais federais.
Não é necessário fazer maiores digressões sob a responsabilidade esta
tal, já que a questão é tranqüila na doutrina e na jurisprudência, uma vez que a
Constituição Federal expressamente adotou a teoria do risco administrativo.
Em face do exposto, concluo pela responsabilidade da União Federal,
tendo em vista que o dano em análise foi causado por fato imputável a ação ou
omissão de seus agentes.
Passo, pois, à análise de cada um dos pedidos dos autores.

a) Danos morais
Requerem os autores indenização no montante de R$ 220.000,00 (du*
zentos e vinte mil reais), a título de danos morais.
Quanto ao direito à indenização em si, entendo como procedente. Nfle
há como negar que uma criança não sofra pela perda prematura de seu genitor,
fato que, ainda mais a morte tendo se dado por fato trágico, causa grande abale
psicológico no infante. Nem se diga que uma criança de quatro anos, como era 0
caso de Maria da Silva na época dos fatos, não sofre abalo por não entender a
perda. Se hoje se sabe que até mesmo os bebês são capazes de, ainda que da
forma inconsciente, sofrer a perda ou distância de um dos pais, que dirá quandi
a criançacircunstância
própria já anda, falado
e está
filhoatécrescer
mesmo emoidade
sem pré-escolar.
pai, de a cada dia Não fosseseisso,
que dele lem*a
brar vier à mente a imagem da morte trágica, já é mais do que suficiente para
antever o dano moral, o abalo na saúde psicológica dos autores.
Porém, faço ressalva quanto ao valor pedido. É certo que a indenização
por danos morais é tema que angustia todo julgador brasileiro, pois não M
como aferir o quanto cada pessoa sofre. Além disso, certas perdas, como a da
um pai, não são substituídas por dinheiro, que se torna apenas uma compenaa*
ção meramente indireta pela dor sofrida. Por outro lado, a indenização nlo
pode ser fonte de enriquecimento ilícito, nem pode ser ínfima a ponto de calf
no ridículo.
Por conta disso, tenho por mim que o valor de R$ 100.000,00 (cem mil
reais), dividido entre os autores, está em consonância com o que vem conca*
dendo a jurisprudência nacional. Assim já dispôs o TRF da lâ Região (grifei):
CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ATO ILÍCITO DO PODER PÚ*
BLICO. NAUFRÁGIO DE EMBARCAÇÃO DE PROPRIEDADE MUNICh
PAL. CULPA "IN VIGILANDO" DA CAPITANIA DOS PORTOS. RESPON
SABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. LEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM DA UNIÃO FEDERAL. MORTE DE MENOR IMPÚBERE. DA*
NOS MORAIS E MATERIAIS. CUMULAÇÂO. CABIMENTO. CRITÉRI0I
DE FIXAÇÃO. I - Nos termos do Regulamento para o Tráfego MarítlmOi
aprovado pelo Decreto ne 87.648/82, vigente na época dos fatOfi
questionados nos autos, é da competência da União Federal, por In*
termédio da Capitania dos Portos, a fiscalização e a execução das ath
vidades de sinalização náutica (artigos 6 2, incisos II e IV, 121, § l8, a?
línea c, 269 e respectivo parágrafo único, e 32 do aludido Decreto),
revelando, assim, a sua responsabilidade objetiva pelos danos que
seus agentes, por ação ou omissão, venham a causar a terceiros, come
no caso. II - Caracterizado o nexo de causalidade entre a omissão a*
pontada e o evento danoso, a que se refere o artigo 37, § 62, da Conl8*
tuição Federal, impõe-se à União Federal o dever de indenizar o daRe
causado ao demandante, no contexto normativo da responsabilidade
civil objetiva do Estado. III - Nas famílias de baixa renda, há presurt.
ção de que os filhos contribuirão, direta ou indiretamente, para a
formação do orçamento familiar, afigurando-se devida, por isso, a in
denização por danos materiais, por força de naufrágio com resultado
morte de filho menor impúbere, ainda que este não exercesse ativ h
dade remunerada ao tempo do óbito. IV - Seguindo a linha do enten
dimento jurisprudencial já pacificado em nossos tribunais, é legítima
a fixação do quantum indenizatório, por danos materiais, em valc r
correspondente a 2/3 (dois terços) do valor do salário mínimo, a pa>-
tir dos 14 (quatorze) anos de idade, desde a data do evento danosb
até quando a de cujus completaria 25 (vinte e cinco anos), reduzind^.
se, a partir daí, para 1/3 (um terço), até o limite etário de 65 (sessen
ta e cinco) anos de idade, ou até a morte do titular da pensão, deven
do o quantum respectivo ser apurado em regular execução de senten
ça. V - 0 quantum fixado paramdenfoação. não pode configurar val<£
exorbitante que caracterize o enriquecimento sem causa da vítim L
como também, não pode consistir em valor irrisório a descaracteriz^
a indenização almejada, afigurando-se correta a fixação do seu valc£
em R$ 100.000,00 (cem mil reais), por se encontrar em sintonâ
com o princípio da razoabilidade. como forma compensatória do darQ
moral que dai resulte, em plexo de sofrimento, dor, mágoa e triste^
injustamente imposta ao demandante, com repercussão familiar e so
cial. (AC 2002.01.00.033556-0/PA, Rei. Desembargador Federal So\.
za Prudente, Sexta Turma, DJ de 29/05/2006, p.171)

Assim, estabeleço a indenização por danos morais em R$ 100.000,Q)


(cem mil reais), a serem divididos entre os autores.

bl Indenização pela privação do sustento


A privação pelo sustento também gera direito à indenização aos aut,.
res. Isso é tranqüilo e pacífico. Porém, o método de cálculo é que precisa s )r
revisto.
Pedem os autores o montante de R$ 780.000,00 (setecentos e oiten a
mil reais), correspondente à privação de sustento que o pai lhes alcançaria atég
final de sua vida, calculada em 65 anos de idade, já que percebia cerca de 1$
1 000 00
. , .

Primeiramente, atenho-me à forma de pagamento. Como o sustem 0


dos autores era feito de forma mensal e contínua; como, além disso, a ré éa
União Federal, cuja capacidade financeira diante de débito de tal monta é
questionável, entendo que a indenização não deva ser paga de uma vez só, rt\s
em forma de pensão mensal, como sói conceder a jurisprudência.
Vejamos, pois, os limites temporais de tal pensão mensal. Os autoril
desejam o recebimento da pensão como se o prazo de pagamento fosse de 6B
anos, correspondente a toda a vida do genitor. Porém, não é essa a forma corra*
ta de compensar de forma justa o prejuízo sofrido. Assim, para fins de pag|<
mento da pensão, é viável e correto adotar o termo inicial como o sendo dâ
fato gerador do dano. Assim, estabeleço o termo inicial da pensão como sendo
ls de abril de 1990, dia em que faleceu o pai dos autores. Quanto ao termo
final, dois são os limites. Primeiramente, a data em que a vítima completaria 61
anos de idade, posto ser essa a expectativa média de vida do brasileiro. Seguir
do, a data em que os beneficiários da pensão alcançariam 25 anos de idade, poli
a presunção é no sentido de que a dependência econômica em relação aos pall
cessa com tal idade. Nesse sentido, já decidiu o TRF da Ia Região (grifei):
PROCESSUAL CIVIL, CONSTITUCIONAL E CIVIL. REQUERI*
MENTO
FALTA DE DERECURSO.
RECONSTITUIÇÃO
PRECLUSÂO. DO ACIDENTE.
ACIDENTEINDEFERIMENTO,
DE TRÂNSITO. RES?
PONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. NEXO CAUSAL ENTRE O EVEN
TO LESIVO E A ATIVIDADE ESTATAL. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA
NÃO DEMONSTRADA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. FIXAÇÃO DO TERMO
FINAL DA PENSÃO MENSAL. 1. Se o juiz indefere a produção de do*
terminada prova e o interessado não interpõe recurso contra essa do*
cisão, verifica-se a preclusão. 2. Tratando-se de responsabilidade obs
jetiva do Estado, há presunção de comportamento ilegal da Adminll*
tração Pública, cabendo a esta fazer prova em contrário da incidêncll
de força maior ou culpa exclusiva da vítima. 3. O termo final da pjf*
cepcão da pensão mensal devida em favor dos filhos menores dj
vitima deve ser estabeleçidp em 25 aqps, idfrde na qual se pm
smue a cessaçfrp da dep.endênçia em.relâÇÃP ap de çujus. Preci-
dentes. 4. Apelação parcialmente provida. (AC 1999.01.00.017870*
0/AM, Rei. Juiz Federal Wilson Alves De Souza (conv), Terceira Turmi
Suplementar, DJ de 09/12/2004, p.74)

Resta analisar 0 montante da pensão. Os autores alegam que a remunfl5


ração média da vítima era na ordem de R$ 1.000,00. A ré alegou que não chegfit
va a tal montante, porém não fez prova do afirmado. Já as testemunhas dOi
autores alegaram que a remuneração da vítima era bem maior do que os Rf
1.000,00. Diante de tais discordâncias, tenho como mais seguro adotar 0 valOF
trazido aos autos pelos autores, ou seja, R$ 1.000,00 (um mil reais).
Porém, todo esse montante não era destinado aos autores, filhos do fÉ=
lecido. Os nossos tribunais, tendo em vista que toda pessoa dispõe de parte di
sua remuneração para a própria manutenção, têm adotado o patamar de 2/1
(dois terços) do que a vítima recebia. Vejamos (grifei):
CONSTITUCIONAL, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSA5
BILIDADE DO ESTADO. DESAPARECIMENTO DECORRENTE DE AH*
VIDADE POLÍTICA (MORTE PRESUMIDA). INDENIZAÇÃO POR DANfll
MATERIAIS E MORAIS (LEI Ne 9.140/1995). FIXAÇÃO DO QUANTUM?
RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO DE FUNDAMENTAÇÃO. NÃO
CONHECIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO MEDIAN
TE APLICAÇÃO DE CRITÉRIOS LEGALMENTE PREVISTOS. I - As ações
em que se busca o pagamento de indenização por responsabilidade
do Estado, em dlecorrência de atividade política, durante o regime de
exceção vigoranite no país (02 de setembro de 1961 a 05 de outubro
de 1988), confoirme reconhecido em lei específica (Lei n 2 9.140/95
com a redação (da Lei n2 10.536/02), não se tem aplicação o prazo
prescricional, por se tratar de direito fundamental ao exercício da ci
dadania e à digmidade humana. II - A fixação de indenização, por
danos materiaiis decorrentes de morte, em valor correspondente
a 2/3 fdois terços) da remuneração_aiiferida^ pelo de cujus.
quando em vidla. afigura-se compatível com o principio da razo-
abilidade e bas;tante à satisfação das necessidades familiares. III -
O pagamento d<e indenização, na esfera administração, não exclui o
reconhecimento) de danos morais, mormente quando o valor pago é
deduzido daqueile judicialmente fixado, como no caso. IV - A interpo-
sição de recurso) de apelação sem indicação dos fundamentos em que
se sustenta, coniduz ao seu não conhecimento, por violação do dispos
to no art. 514, imciso II, do CPC. V - Encontrando-se a verba honorária
fixada em prop«orções razoáveis com o conteúdo econômico da de
manda e o trabalho desenvolvido pelo patrono dos autores, com ob
servância da legislação de regência (CPC, 20, § 4 2), afigura-se-me in
devida a pretemdida elevação do valor inicialmente arbitrado em R$
20.000,00 (vinfce mil reais), por representar a justa remuneração dos
serviços despemdidos. (AC 1999.35.00.009405-3/00, Rei. Desembar
gador Federal Scouza Prudente, Sexta Turma, DJ de 17/11/2003, p.14)

aG^i, fixo a pemsão mensal dos autores em 2/3 (dois terços) de 6

(seis) salários mínimos, a ser paga, de forma igualitariamente dividida, até


quando os autores comp>letarem 25 (vinte e cinco) anos de idade, já que tal
termo ocorrerá antes da (data em que a vítima completaria 65 anos. Tal quanti
dade de salários mínimoss corresponde ao valor aproximado pedido pelas víti
mas, atualmente.
Esclareço que, ermbora o pedido não tenha sido feito srcinariamente
em salários mínimos, adoto tal "índice" por considerá-lo seguro à preservação
do valor real da pensão. Quanto à possibilidade de adoção do salário mínimo
em tais casos, transcrevo parte do voto do Desembargador do TRF da lâ Região
Fagundes de Deus (APELzAÇÃO CÍVEL N 2 2004.34.00.026762-2/DF):
No que tange à alegação de que o valor da indenização não
pode ser vincullada ao salário-mínimo, a teor do art. 7-, inciso IV, da
CF, já decidiu o) colendo Supremo Tribunal Federal que "a utilização
do salário-míniimo para cálculo da pensão não é ofensiva ao art. 72,
inc. IV, da Cons.tituição Federal, tendo em vista a finalidade de garan
tir ao beneficiário as mesmas necessidades básicas asseguradas aps
trabalhadores eem geral pelo texto constitucional" (RE n° 134.017/Rj,
Primeira Turma, Rei. Min. Ilmar Galvão, DJ de 13/05/94, p. 11.339),
Demais disso, incide, na espécie, a Súmula/STF n s 490, que assim enun
cia: Pensão correspondente à indenização oriunda de responsabilidade
civil deve ser calculada com base no salário mínimo vigente ao tempo
da sentença e ajustar-se-á às variações ulteriores.

Quanto à correção dos valores vencidos, entendo que, devido à natureza


alimentar, deve ser aplicado o percentual de 1% (um por cento) ao mês, a partir
de cada mês devido. Além disso, deve incidir correção monetária, na forma do
manual de cálculos da Justiça Federal.

4. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
Os autores requerem antecipação de tutela, tendo como b ase o seguin*
te:
• Ausência de trabalho para os autores.
• Necessidades materiais, tendo em vista doença e desempra»
go da genitora.
A antecipação de tutela em sede de sentença é possível, pois não há va«
dação legal em sentido contrário. Quanto aos requisitos, eles estão no art. 273
do CPC:
Art 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou par*
cialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde quê,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação
e:
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II - fique
sito caracterizado
protelatório do réu. o abuso de direito de defesa ou o manifesto propà■
§ lo Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro f
preciso, as razões do seu convencimento.
§ 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo d$
irreversibilidade do provimento antecipado.
§ 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e cofl1
forme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4o e 5o, $
461-A.
§ 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquê?
tempo, em decisão fundamentada.
§ 5o Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o procêUê
até final julgamento.
§ 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um M l
mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso,
§ 7 o S e o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de
natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressu
postos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajui
zado.

Por outro lado, há discussão se é possível o deferimento de tutela ante


cipada contra a Fazenda Pública. Porém, o TRF da l â Região parece já ter se
posicionado favoravelmente nesse ponto:
PROCESSUAL CIVIL - SERVIDOR PÚBLICO - ABATE-TETO -
EXCLUSÃO DAS VANTAGENS PESSOAIS - ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
2
CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
DO CPC - OCORRÊNCIA - LEI N 9.494/97
DOS REQUISITOS LEGAIS- -ART.
AGRAVO273, IIMPRO-
E II
VIDO. 1- Esta col. I3 Turma decidiu que: "De outra parte, esta Corte,
com fundamento em decisões do STF, já decidiu que as vedações im
postas à concessão de antecipação de tutela contra a Fazenda
Pública são aqtielas taxativamente previstas no art. l g da Lei
9.494/97 e que importem em: (a) reclassificação ou equiparação
de servidores pftblicos: fb) concessão de aumento ou extensão
de vantagens pecuniárias: ícl outorga ou acréscimo de venci
mentos; td) pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias
a servidor público ou (e) esgotamento, total ou parcial, do objeto
da ação, desde que tal ação diga respeito, jpxcliisivamente, a
qualquer das matérias acima referidas (trecho da decisão proferi
da pelo Ministro Celso de Mello na RCLMC-1638/CE, em julgamento
do dia 17/08/2000)" (in AG1999.01.00.046015-3/MG, Rei. Des. Fe
deral Eutáquio Silveira, Rei. Conv. Velasco Nascimento, in DJ de
07/07/2003). 2- À antecipação dos efeitos da tutela pressupõe prova
inequívoca que ccnvença da verossimilhança da alegação e o fundado
receio de dano irreparável ou de difícil reparação, ou que haja abuso
de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu (art.
273, incisos I e II, do CPC). 3- Ocorrência, "in casu", dos requisitos le
gais ensejadores da medida antecipatória. 4 - Decisão confirmada. 5 -
Agravo de Instrumento improvido. (AG 2004.01.00.011332-3/DF, Rei.
Desembargador ?ederal Luiz Gonzaga Barbosa Moreira, Primeira
Turma, DJ de 07/03/2005, p.84)

O presente caso não se enquadra em nenhuma das vedações. Por outro


lado, vejo presentes os requisitos para a antecipação de tutela, pois presente
prova inequívoca, verossimilhança da alegação e fundado receio de dano irre
parável. Porém, a antecipação dos efeitos da tutela não pode ser dada em rela
ção a toda a condenação da ré. Isso porque as verbas já vencidas ficam sujeitas
ao regime dos precatórios, segundo o art. 100 da Constituição Federal.
Pelo exposto, concedo os efeitos da tutela pretendida para determinar à
ré a imediata inclusão dos autores em sua folha de pagamentos, para que per
cebam a pensão mensal nos termos em que foi concedida.
5. DISPOSITIVO

Tema principal: Direito Previdenciário - Ações Coletivas

Em razão do exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos feitOl


na inicial e cóndeno a União Federal a pagar aos autores:
a) indenização por danos morais no montante de R$ 100.000,00
(cem mil reais), a serem divididos entre os dois autores, incidindo
correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês a partir dfl
prolação desta sentença;
b) pensão mensal correspondente a 3 (três) salários mínimos pifí
cada um dos autores, desde a data do falecimento da vítima, Iti
quando os autores completarem 25 (vinte e cinco) anos de
sendo que sobre os valores vencidos incidirá correção monetária nOI
termos do manual de cálculos da Justiça Federal, bem como juros dl
1% (um por cento) ao mês;
Antecipo os efeitos da tutela quanto à implantação imediata da penfllBi
nos termos já expostos. Condeno a ré ao pagamento de honorários advocatícttN
calculados em 5% (cinco por cento) da condenação por danos morais e
valores vencidos a título de pensão, nos termos do § 4 2 do art. 20 do CPC. Con*
deno, por fim, a ré a reembolsar as custas aos autores.
Sentença sujeita a reexame obrigatório.
P.R.I.

Prolatar sentença cível, considerando o texto anexo como relatório, d§*


vendo elaborar somente os fundamentos e o dispositivo da sentença.
Trata-se de ação civil pública proposta pelo Ministério Público FedêHll
em litisconsórcio com o Ministério Público Estadual, no Foro Federal de Flortaitê*
polis, Santa Catarina, contra a União e contra o Instituto Nacional do Segtgf
Social, pedindo a revisão da renda mensal inicial de todos os benefícios prevldti*
ciários concedidos anteriormente à vigência da Constituição Federal de m
mediante a correção dos 24 primeiros salários-de-contribuição integrantes±4$
período básico de cálculo pelos índices das ORTNs, OTNs e BTNs, bem com&§
declaração de nulidade de todos os procedimentos de revisão de benefícios
que, instaurados com base no art 5 S da Lei ns 9.032/95, resultaram canceladotm
ainda, a condenação genérica dos réus ao pagamento de indenização emfavàB
todos os portadores do HIV por transfusão de sangue na rede de saúde pública.
Nos dizeres ida peça vestibular; a renda mensal inicial dos referidos bene
fícios foi fixada pelai Administração Previdenciária com base em índices que não
garantem a sua corrreta atualização; implicando redução real dos valores devidos ,
pelo menos a partir < da Lei n5 6.423/77; o cancelamento dos benefícios ofendeu os
princípios da publiciidade, do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa, vulnerando ssituações jurídicas já consolidadas, pois a Autarquia limitou-
se a entrevistar reseervadamente os segurados, sem lhes oferecer nenhuma opor
tunidade concreta die defesa; e o Estado tem a obrigação constitucional de asse
gurar a saúde da poopulação hipossuficiente, devendo responder objetivamente
pela falhas do sisterma.

narmente,Regularmemte citados,
a incompoetência do os réusa ilegitimidade
juízo, ofereceram resposta, arguindo,
dos autores, prelimi
a inviabilidade
do litisconsórcio passsivo e a impossibilidade jurídica dos pedidos, pois todos eles
dizem respeito a difreitos individuais homogêneos plenamente disponíveis, além
de que não encontraam correspondência no direito positivo. No mérito, pediram a
improcedência da açção, defendendo a correção dos índices utilizados, a regulari
dade dos cancelameentos e a inexistência de responsabilidade pela contaminação
dos pacientes submeetidos a transfusões de sangue.
Invocando oo caráter alimentar dos pedidos, a penúria dos segurados da
Previdência Social e? a situação dramática das vítimas da AIDS, os autores reque
reram a antecipaçãoo da tutela.

Sem provas ■ a serem produzidas em audiência, deixei as preliminares e o


pedido de antecipaçcão para decidir juntamente com o mérito e determinei que os
autos me fossem connclusos para sentença.
É o relatórioo.
Observaçõess:
1. Art. S3 da i Lei n3 9.032/95:
"0 Instituto) Nacional do Seguro Social (INSS) iniciará a partir de 60 (ses
senta) dias e concluiiirá no prazo de até dois anos, a contar da data da publicação
desta lei, programa i de revisão da concessão e da manutenção dos benefícios da
Previdência Social, cconcedidos com base em tempo de exercício de atividade rural
a partir da data de vvigência da Lei n s 8.213, de 24 de julho de 1991, a fim de fazer
diligências e apurarr fraudes, irregularidades e falhas existentes."
2. A Lei n3 6.1423/67 estabeleceu base para a correção monetária.

Vistos, etc.
1. RELATÓRIO
(Dispensado)

2. PRELIMINARES
2.1 Incompetência do juízo
Em sua defesa, alegam os réus a incompetência deste juízo federal. Não
vejo como considerar procedente a preliminar. No polo passivo, temos a União
Federal e o INSS, autarquia federal. Ora, em consonância com o art. 109 da
Constituição, a competência para julgar ações que tenham tais pessoas no polo
passivo é da Justiça Federal. Quanto ao juízo competente ser de primeiro ou
segundo grau, ou mesmo dos tribunais superiores, é certo que a Constituição
Federal não prevê qualquer foro privilegiado nos casos de ação civil pública.
Logo, competente este juízo e improcedente a alegação preliminar.

2.2 Ilegitimidade ativa


a) Correção dos benefícios previdenciários
Quanto à alegação de ilegitimidade ativa, ela precisa ser analisada em
duas etapas distintas, pois a lide congrega dois pedidos diferentes. Atenho-me,
inicialmente, à atuação do Ministério Público no tocante à correção dos benefí
cios previdenciários.
Diz a Constituição Federal:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difu
sos e coletivos;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatí
veis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a
consultoria jurídica de entidades públicas.

Conforme se vê, em uma análise preliminar a Constituição Federal não


deu poderes expressos ao MP para defender direitos individuais, ainda que
homogêneos, ficando a questão a cargo da legislação ordinária, com base no
inciso IX do art. 129.
Pois bem, quanto à ação civil pública, diz a legislação:
Art ls Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popu
lar, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causa
dos:
I - ao meio-ambiente;
II- ao consumidor;
III - à ordem urbanística;
I V - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e pai
sagístico;
V - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
VI - por infração da ordem econômica.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pre
tensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias; o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza insti
tucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.

Abstraindo quanto ao parágrafo único acima, é importante ressaltar


que a lei da ação civil pública não coloca em seu rol os direitos individuais
homogêneos, como os em questão, nos quais se defende a correção dos benefí
cios previdenciários (que são direitos relativos a pessoas determinadas e não a
toda a coletividade).
A questão que se abre é quanto ao Código de Defesa do Consumidor,
que estendeu a ação civil pública aos direitos individuais homogêneos (artigos
81, 82 e 91). Ocorre que a jurisprudência já se pacificou no sentido de que
somente quanto às relações de consumo a ação civil pública se prestará a de
fender tais interesses individuais. Assim decidiu o STJ recentemente, em caso
perfeitamente aplicável ao que temos aqui (grifei):

Origem: STJ
RESP - RECURSO ESPECIAL - 506457
Processo: 200300312740/PR
Relator(a): FELIX FISCHER
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLI
CA. REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DIREITOS INDIVIDU
AIS DISPONÍVEIS. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE O
INSS E O SEGURADO. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. ILEGITIMI-
DADE ATIVA "AD CAUSAM". I - Trata-se de Ação Civil Pública objeti
vando, no âmbito da Circunscrição Judiciária de Francisco Beltrão/PR,
a condenação da autarquia previdenciária ao recálculo da renda men
sal inicial de todos os benefícios de prestação continuada da Previ
dência Social concedidos entre o advento da Lei n 2 6.423/77 e a pro
mulgação da Constituição Federal, com base no disposto na Súmula n2
02 do TRF da 4ê Região, em razão da correção dos benefícios previ
denciários concedidos anteriormente à CF/88 por índices não oficiais,
com a conseqüente implantação das diferenças nos benefícios previ
denciários, corrigidas monetariamente, com reflexo em todas as de
mais verbas devidas. II - A quaestio trazida à baila diz respeito a direi
to que conquanto pleiteado por um grupo de pessoas, não atinge a co
letividade como um todo, não obstante apresentar aspecto de interes
se social. Sendo assim, por se tratar de direito individual disponí
vel. evidencia-se a inexequibilidade da defesa de tais direitos por
intermédio da ação civil pública. Destarte, as relações jurídicas e-

xistentes entre aSocial


de Previdência autarquia previdenciáriarelações
não caracterizam e os segurados do regime
de consumo, sendo
inaplicável, in casu, o disposto no art. 81, III, do Código de Proteção e
Defesa do Consumidor. Precedentes. Recurso conhecido e provido.
Em razão do exposto, conclui-se, n a esteira da decisão acima:
- o direito à correção de benefícios previdenciários se insere na catego
ria dos individuais homogêneos (direitos individualizados decorrentes de
srcem comum);
- a ação civil pública somente pode ser utilizada para defender direitos
individuais homogêneos quando estes versarem sobre relação de consumo;
- a correção de benefícios previdenciários não tem pertinência com
qualquer relação de consumo.
Assim, acato a preliminar levantada quanto à ilegitimidade do Ministé
rio Público para defender o direito à correção dos benefícios previdenciários,
razão pela qual, quanto a tal matéria, dou por extinta a lide sem resolução de
mérito, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil.

b) Indenização
A por contaminação
ação traz outro pelo HIVdos réus ao pagamento de inde
pedido: condenação
nização em favor de todos os portadores do HIV por transfusão de sangue na
rede de saúde pública. Pois bem, decidindo questão análoga, o STJ emitiu o
seguinte pronunciamento:

Origem: STJ
RESP - RECURSO ESPECIAL - 220256
Processo: 199900558065/SP
Relator (a): JOSÉ DELGADO
PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FALTA DE INDICA
ÇÃO EXPRESSA DO DISPOSITIVO LEGAL APONTADO COMO VIOLADO.
INDENIZAÇÃO POR CONTAMINAÇÃO PELO VÍRUS HIV EM TRANSFU
SÕES SANGÜÍNEAS. RELAÇÃO JURÍDICA ESTABELECIDA ENTRE A
UNIÃO E O CIDADÃO. NÃO APLICABILIDADE, AO CASO, DA LEI N®

7.347/85,
DOS POSTO QUE
INTERESSES A REFERIDA
E DIREITOS AÇÃO PRESTA-SE
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS,À PROTEÇÃOQUANDO
OS SEUS TITULARES SOFREREM DANOS NA CONDIÇÃO DE CONSU
MIDORES ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO RECO
NHECIDA. PRECEDENTES DiSTA CORTE SUPERIOR. 1.0 recurso, pa
ra ter acesso à sua apreciação neste Tribunal, deve indicar, quando da
sua interposição, expressamente, o dispositivo e alínea que autorizam
sua admissão. Da mesma forma, cabe ao recorrente, ainda, mencionar,
com clareza, as normas que tenham sido contrariadas ou cuja vigência
tenha sido negada (AG nQ 4719/SP, Rei. Min. Nilson Naves, DJU de
20/09/90, pág. 9762; REsp n2 4485/MG, Rei. Min. Nilson Naves, DJU
de 15/10/90, pág. 11190; REsp n2 6702/RS, Rei. Min. Fontes de Alen
car, DJU de 11/03/91, pág. 2399). Em assim não ocorrendo, ou se dê
de modo deficiente, o recurso torna-se inadmissível. 2. Nos exatos
termos da Lei n2 7.347/85, a Ação Civil Pública é o instrumento pro
cessual adequado para reprimir ou impedir danos ao meio ambiente,
ao consumidor, a bens e dire tos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico, protegendo, dessa forma, os interesses difusos
da sociedade. 3. A jurisprudência desta colenda Corte de Justiça vem
se firmando no sentido de não ser cabível o uso da Ação Civil Pública
para fins de amparar direitos individuais, nem se prestar à reparação
de prejuízos causados por particulares pela conduta comissiva ou o-
missiva da parte ré, não revestindo o caso em apreço no conceito
constante da Lei n2 7.347/85. 4. A Ação Civil Pública não se presta
como meio adequado a indenizar cidadãos que tenhaiiL sido con
taminados pelo vírus HIV em transfusões sanguíneas realizadas
em quaisquer estabelecimentos do país. 5. Os interesses e direitos
individuais homogêneos, de que trata o art 21, da Lei n 2 7.347/85,
somente poderão ser tutelados, pela via da ação coletiva, quando os
seus titulares sofrerem danos na condição de consumidores. 6. Ilegi
timidade ativa do Ministério Público reconhecida. Precedentes desta
Casa Julgadora. 7. Recurso Especial improvido.

Logo, embora se trate de pedido distinto, a argumentação é a mesma e a


lide deve ser extinta também em relação a esse p onto.

3. DISPOSITIVO
Em razão do exposto, julgo extinto o processo sem resolução do mérito,
nos termos do art 267, VI, do Código de Processo Civil.
Custas e honorários incabíveis na espécie.
P.R.I.

Tema principal: Improbidade Administrativa

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação de improbidade em


7/1/2004, que foi distribuída para a 3.s Vara Federal da Seção Judiciária de
Pernambuco, tendo como réus José Salustiano, servidor público federal e ex-
secretário de administração e finanças do município de Nazaré da Mata - PE no
período de l.s/l/1997 a 31/12/2000; Pedro Salustiano, brasileiro, casado, co
merciante; e João Salustiano, brasileiro, solteiro, engenheiro e comerciante, esses

dois últimos
ções - ME. Osócios
MPFdas empresas
instruiu Salustiano
a inicial Alimentos
com cópia - ME e Salustiano
de representação Constru
formulada pelo
atual prefeito de Nazaré da Mata, na qual são apontadas irregularidades cometi
das pelo ex-secretário em benefício de seus primos, ora réus. Alegou o procurador
da República, em sua inicial, o que se segue.
• José Salustiano tornara-se o único ordenador de despesas do município
de Nazaré da Mata, de 3/1/1997 até 31/12/2000, em face do ato de delegação do
prefeito à época (Decreto Municipal n.3 2/1997), que lhe delegara todas as atri
buições referentes a licitações, contratos e ordenação de despesas. Tal situação
persistiu durante todo o período em que José Salustiano exerceu o cargo de secre
tário municipal de administração e finanças.
• Em 15/3/1998, invocando o art. 25, II, da Lei n.s 8.666/1993, José Salus
tiano entendeu inexigível licitação e contratou coma empresa Salustiano Alimen
tos - ME, pelo valor de cento e vinte mil reais, com verba federal oriunda do Fun
do de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério (FUNDEF), disciplinado pela Lei n° 9.494/1996, o fornecimento de
alimentos para a merenda de cinco escolas municipais. 0 fornecimento ocorreu
até julho de 1998. Houve um aditivo de prorrogação do contrato, com os mesmos
valores unitários, até setembro de 1998, o que representou acréscimo de trinta
mil reais, com a entrega dos produtos.
• Em janeiro de 1999, o município de Nazaré da Mata firmou convênio
com o Ministério dos Transportes (Convênio n.s 4/1999) para manutenção e
reparo de estradas municipais, no valor total de trezentos mil reais. Recebidos os
recursos, o primeiro réu resolveu aprovar trinta pequenos projetos no valor de
dez mil reais cada. Dispensou as licitações em face do pequeno valor de cada
contrato (art 24, I, da Lei n. s 8.666/1993) e contratou, para todos, a empresa
Salustiano Construções - ME. Afirmou o MPF que, além da irregularidade da falta
de licitação, nesse caso, só 60% dos serviços teriam sido efetuados, destacando,
ainda, que os preços estariam 25% superiores aos de mercado.

• Entendeu o procurador da República estar caracterizada a situação


prevista no art 37, § 4.s, da Constituição Federal e que teriam sido violados os
s 3

aarts 9. , 10 e 11
condenação dosdaréus:
Lei on.primeiro,
8.429/1992, requerendo
à perda do cargoa de
procedência do pedido
auditor fiscal com
do tesouro
nacional (AFTN), do qual é titular desde 3/2/1979 (tendo-se afastado apenas
para exercer o cargo de secretário municipal) e todos, à perda dos direitos políti
cos e ao ressarcimento do erário, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
Houve a notificação prevista no art. 17 da Lei n.3 8.429/1992, tendo os
réus se manifestado, sendo recebida a inicial.
Dessa decisão, houve agravo de instrumento improvido por decisão defi
nitiva do TRF.
Efetuadas as citações, todos contestaram tempestivamente.
Em sua defesa, José Salustiano (fls. 40/50) alegou, como preliminares, a
incompetência do juízo, afirmando ter praticado os atos por delegação do prefei
to, sendo, pois, atos a serem apreciados em sede de ação de improbidade perante
o TRF da 5.- Região e não perante o juiz de primeiro grau. Defendeu, ainda, a
ocorrênciahádemais
ocorridos prescrição
de cincoemanos
relação aos atos referentes
do ajuizamento da ação. àAfirmou,
compra ainda,
de alimentos
serem
questões impeditivas de apreciação de mérito o fato de as contas de 1997,1998 e
1999 do município terem sido aprovadas pelo Poder Legislativo municipal e o fato
de o Tribunal de Contas da União (TCU) ter considerado regulares os contratos.
Defendeu a inexistência de superfaturamento, a inocorrência de prejuízo para o
erário e o cumprimento integral dos contratos. Instruiu a resposta com documen
tos referentes à aprovação das contas e ao exame dos contratos pelo TCU.
Os demais réus apresentaram defesa conjunta; ratificando os termos da
defesa do primeiro réu, destacando, ainda, a regularidade da dispensa de licita
ção pelos valores de cada contrato (no tocante ao reparo e à manutenção de
estradas) e a inexigibilidade de licitação em relação ao fornecimento de alimen

tos em
mais de face da especialidade
20 anos. da empresa,o já
Defenderam, finalmente, no ramo dedos
cumprimento estivas e alimentos
contratos há
e a inexis
tência de superfaturamento e de prejuízo para o erário. Pleitearam a improce-
dência do pedido.
0 juiz decidiu deixar as preliminares para apreciação quando da sentença
e dispensou a oitiva das partes.
Testemunhas não foram arroladas.
Determinada a realização de perícias requeridas pelo Ministério Público,
foram tais provas produzidas. A perícia de engenharia concluiu que a realização
dos serviços de manutenção e reparo de estradas se dera pelo preço médio de
mercado; a contábil concluiu que os alimentos teriam sido vendidos ao município
por valores 25% superiores, em média, em comparação aos praticados à época.
Após a conclusão da perícia, cada um dos peritos requereu a fixação dos
honorários respectivos em R$2.000,00.
Intimadas as partes sobre as perícias, nada requereram.
Encerrada a instrução, peticionou nos autos, por advogado, Pedro Celes
tino, ex-prefeito de Nazaré da Mata no período de janeiro de 1997 a dezembro de
2000, alegando que, tendo tomado conhecimento da ação, por entender legal a
conduta de seu ex-secretário, requeria sua admissão como litisconsorte passivo,
com a conseqüente remessa dos autos ao TRF da 5.- Região e posterior improce-
dência do pedido.
0 juiz determinou a juntada da peça aos autos para apreciação na sen
tença.
Nas alegações finais, o representante do MPF opôs-se à admissão do litis
consórcio ulterior e requereu a procedência do pedido.
Os réus, em suas alegações finais, se posicionaram pelo deferimento do
pedido deformação de litisconsórcio, postulando o acolhimento das preliminares
e, caso fossem essas ultrapassadas, a improcedência do pedido.

Em face dosentença
dente à competente caso hipotético descrito,o julgue-o
(dispensando-se relatório).e redija o texto correspon

Vistos, etc.
1. RELATÓRIO
(Dispensado)

2. ANÁLISE DO PEDIDO DE FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSI


VO
Pedro Celestino, ex-prefeito de Nazaré da Mata no período de janeiro de
1997 a dezembro de 2000, requer sua inclusão no polo passivo do feito, como
litisconsorte, sob o argumento de considerar legais as condutas do seu Ex-
Secretário de Administração e Finanças, Sr. José Salustiano, réu na presente
ação.
O litisconsórcio passivo é, em regra, dependente da discricionariedade
do autor da ação, exceto nos casos em que é necessário, quando, não havendo

inclusão de
promova todos dos
a citação os litisconsortes na lide,
demais, sob pena o juiz do
de extinção determinará ao autor
feito, nos termos do que
art.
47 do CPC. Por outro lado, haverá litisconsórcio unitário, segundo a melhor
doutrina, quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o
juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes.
Pois bem, não vislumbro na presente lide a necessidade de formação do
litisconsórcio passivo. Não há, por parte do Ministério Público Federal, qual
quer imputação ao Sr. Pedro Celestino de atos arrolados na Lei n2. 8.429/1992,
constando nos autos que o único ordenador de despesas do município era o Sr.
José Salustiano. Assim, o que aqui for decidido, a princípio, não afetará qualquer
direito individual do requerente, nem de forma direta ou reflexa, nem influirá
em sua relação jurídica com os réus.
Portanto, ausente a necessidade de litisconsórcio necessário passivo,
cabe analisar se seria o caso de litisconsórcio facultativo. Não vislumbro, po
rém, qualquer incidência das hipóteses previstas no art 46 do CPC. E, ainda que

houvesse, conforme já dito anteriormente, não pode alguém pleitear sua inclu
são em uma lide de maneira a obrigar o autor com ele litigar, sendo deste, repi-
ta-se, a liberdade de decidir se inclui ou não esta ou aquela pessoa na lide,
exceto nos casos previstos em lei - que aqui não encontram abrigo.
Nesses termos, indefiro o pedido do requerente Pedro Celestino para
que passe a integrar a lide em litisconsórcio com os réus.

3. PRELIMINARES
3.1) Preliminar de incompetência do juízo
Argui o réu José Salustiano que este juízo monocrático seria incompe
tente para apreciar o feito, tendo em vista ter o citado réu praticado os atos por
delegação do prefeito, sendo, pois, atos a serem apreciados em sede de ação de
improbidade administrativa perante o TRF da 53 Região e não perante o juiz de
primeiro grau.
A alegação se funda no § 2Q do art. 84 do Código de Processo Penal, in
cluído pela Lei n2.10.628/2002, que determinou que as ações de improbidade
administrativa seguem o foro criminal privilegiado da autoridade. Assim, sendo
o prefeito municipal julgado por tribunal quanto aos crimes por ele praticados,
a presente ação deveria correr junto ao Tribunal Regional Federal.
Ocorre que o prefeito municipal não compõe a presente lide. Não há,
contra ele, acusação de improbidade administrativa pelos fatos em análise,
sendo que a delegação por ele dada ao secretário municipal certamente não
abrangeu poderes para cometer ilícitos. Não sendo ele, pois, acusado nesta
ação, não há qualquer foro privilegiado.
Ressalte-se, por oportuno, que o Supremo Tribunal Federal declarou in
constitucionais as disposições do § 22 do art. 84 do CPP, tendo em vista o fato
de que as competências por prerrogativa de função são apenas aquelas explici
tadas no texto constitucional. Assim, ainda que presente o prefeito nesta lide, a
competência para julgá-la não seria do Tribunal Regional Federal.
Pelo exposto, rejeito a preliminar de incompetência do juízo.

3.2) Preliminar de prescrição quanto à aquisição de alimentos pa


ra a merenda escolar
Defendem os réus a ocorrência de prescrição quanto aos atos referentes
à compra de alimentos, pois estes teriam ocorrido há mais de cinco anos.
De fato, o prazo prescricional aplicável ao caso é de cinco anos, nos
termos do inciso I, art. 23 da Lei n 2. 8.429/1992. Ocorre que, conforme expres
samente determina tal inciso, o prazo de cinco anos é contado após o término
do exercício do mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança.
Sendo o presente caso, pois, de réu que ocupou cargo em comissão, tendo dei
xado seu posto em dezembro de 2000, conclui-se que de tal data até a proposi
tura da ação, em janeiro de 2004, ainda não havia transcorrido o prazo de cinco
anos.
Por tais razões, rejeito também a preliminar de prescrição.

4. ANÁLISE DO MÉRITO
4.1) A aprovação das contas e dos contratos
Em suas defesas, alegam os réus terem sido as contas do município re
lativas aos anos de 1997,1998 e 1999 aprovadas pelo Poder Legislativo muni
cipal, bem como terem sido os contratos em análise aprovados pelo Tribunal de
Contas da União. Assim, esses dois fatos seriam impeditivos da análise do méri
to por parte do Judiciário.
Segundo o art 21 da Lei 8.429/1992, a aplicação das sanções por im
probidade administrativa independe da efetiva ocorrência de dano ao patrimô
nio público ou da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. Cabe entender, nesse caso, que
a expressão "contas" abrange os instrumentos jurídicos geradores de obriga
ções para o município, no caso os contratos firmados, razão pela qual a alegação
de que o Tribunal de Contas da União aprovou todos os contratos não tem o
condão de afastar a análise da causa pelo Poder Judiciário, até mesmo em nome
da consagrada separação dos poderes, estabelecida pela Constituição Federal.
Da mesma forma, aplica-se a norma acima, por analogia, à aprovação de
contas por parte da Câmara Municipal. Percebe-se a intenção do legislador de
não excluir da apreciação do Judiciário nenhum caso, mesmo havendo qualquer
tipo de aprovação das contas por outros órgãos - privilegiando, conforme já
dito, a separação de poderes.

Assim, não há que se falar em qualquer impedimento de análise do caso


por conta da aprovação de contas pela Câmara Municipal ou, como também
destacado, dos contratos por parte do Tribunal de Contas da União.

4.2) Análise dos contratos


ai Fornecimento de alimentos para a merenda escolar
A análise inicial quanto aos contratos de fornecimento de alimentos pa
ra a merenda escolar deve ser centrada na questão da inexigibilidade ou não da
licitação. Alegam os réus que não poderia ter sido feita a licitação porque a
empresa Salustiano Alimentos - ME já está no ramo de estivas e alimentos há
mais de 20 anos, sendo especialista em sua área.
Nos termos do art. 25 da Lei 8.666/1993, a licitação é inexigível quando
houver inviabilidade de competição. Não é o que se vê no presente caso. Oi
produtos fornecidos são comuns, facilmente encontrados em diversos estabele
cimentos atacadistas e de distribuição, não sendo produzidos por produtor
exclusivo. Também é inexigível a licitação para a contratação dos serviçol*
técnicos enumerados no art. 13 da referida lei, dentre os quais não se encontra
o fornecimento de mercadorias, até mesmo porque não se pode confundir o
comércio de mercadorias com a prestação de serviços. Por fim, não se trata
também da última hipótese de inexigibilidade de licitação, já que o caso não fo|
de contratação de artistas.
Assim, conclui-se que não havia respaldo legal para a inexigibilidade da
licitação.
Por outro lado, a perícia realizada concluiu que os alimentos foram
vendidos ao município por valores 25% (vinte e cinco por cento) superiores fc
média dos preços praticados à época.
Portanto, considero que o réu José Salustiano praticou ato de improbl»
dade administrativa que causou prejuízo ao Erário, nos termos do inciso VIII,
art. 10, da Lei 8.429/1992, não podendo, porém, considerar que praticou 01
atos descritos no art. 9 2 da mesma Lei por não ter sido provado que o réu enri*
queceu indevidamente por conta de tais atos.
Quanto aos réus Pedro Salustiano e João Salustiano, sócios da empreift
Salustiano Alimentos - ME, que se beneficiou dos atos, estão também sujeitoa *
aplicação da Lei 8.429/1992, por força do disposto em seu art. 32. Incorreram
na mesma infração imputada ao réu José Salustiiano, tendo em vista que pirtici-
param dos atos de dispensa indevida de licitaçção, cabendo a interpretado no
sentido de que, quando a lei fala em dispensa, iinclui também os casos emque a
licitação deveria ter ocorrido, mas foi consideratda inexigível.

bl Serviços de manutenção e reparo. dêJestradas municipais


No caso dos serviços de manutenção e reparo das estradas, a licitação
não foi realizada por ter sido considerada dispeensável, em virtude do redizido
valor dos projetos.
Analisando-se a Lei 8.666/1.993, verificca-se que a dispensa de lictação
no caso do art. 24, inciso I, requer não apenas o baixo valor das obras e seiviços
de engenharia, mas também:
- não se refiram a parcelas de uma mesima obra ou serviço;
- não se refiram a obras ou serviços da imesma natureza e no mesno lo
cal que possam ser realizadas conjunta e concormitantemente.
No presente caso, não foi feito apenas ium contrato, mas trinta. S< ape
nas um tivesse sido feito, não seria necessário íanalisar os demais requisiios da
citada norma. Porém, como esse não é o caso, faiçamos a análise.
Conforme comprovado nos autos, todojs os trinta contratos se destina
ram a serviços da mesma natureza, qual seja ai manutenção e reparo de jstra-
das. Além disso, todos os serviços deveriam ser prestados no mesmo local qual
seja o município de Nazaré da Mata, não havendo qualquer impedimentc para
suas realizações conjuntamente e concomitanteimente.

Assim, enquadramento
lise do possível concluo que foidoilegal a dispensa
ato nos ditaitnes de licitação.
da Lei Passo, então, à aná
8.429/1992.
Segundo concluiu a perícia, os serviços foram prestados pelo preç) mé
dio de mercado. Por outro lado, não ficou coimprovado que apenas 60% (ses
senta por cento) dos serviços foram realizados;, como afirmou o autor da ação.
Logo, não está configurada nenhuma das hipótteses dos artigos 92 e 10 da Lei
8.429/1992, pois nem os atos importaram e&m enriquecimento ilícito, nem
causaram prejuízos financeiros ao Patrimônio Público. Porém, cabe aqui a
aplicação dos preceitos do art. 11, pois os atos de dispensa de licitação alenta
ram contra princípios da Administração Públicai, pois:
- revestidos de ilegalidade, pois já ficou comprovado que não erc caso
de dispensa de licitação;
- feriram o princípio da impessoalidade- e da moralidade, pois beneficia
ram empresa pertencente aos familiares do Ex-!Secretário Municipal.

Pelo exposto, declaro que os réus cometeram atos de improbidade ad


ministrativa que atentaram contra os princípios da Administração Pública, nos
termos do art. 11 da Lei 8.429/1992.
4.3) Da pena de demissão do réu losé Salustiano
Requer o Ministério Público Federal, autor da presente ação, a conde
nação dos réus à perda dos direitos políticos e ao ressarcimento do erário, bem
como, em relação ao réu José Salustiano, a perda de seu cargo de Auditor-Fiscal
do Tesouro Nacional (AFTN).
Porém, os atos de improbidade administrativa foram praticados pelo
réu José Salustiano quando ele estava no exercício do cargo de Secretário Muni
cipal, afastado de suas funções de AFTN. É certo que a Lei 8.429/1992 veio para
proteger a moralidade administrativa, mas não trouxe ela hipóteses de afasta
mento do nexo de causalidade entre a conduta do agente e o exercício de seu
cargo. A pena de demissão deve atingir especificamente o cargo ou função
ligado diretamente à conduta do agente. Em momento algum o réu se valeu de
seu cargo de AFTN para praticar os atos de improbidade administrativa, mesmo
porque estava dele afastado. Assim, não há como considerar qualquer ligação
entre sua conduta e o exercício do cargo de Auditor.

5. DISPOSITIVO
Em razão do exposto, julgo parcialmente procedente a presente ação de
improbidade administrativa, por terem os réus praticados atos descritos noa
artigos 10 e 11 da Lei 8.429/1992, condenando-os nas seguintes penas:
a) Pelos atos descritos no art. 10 da Lei 8.429/1992, referen
tes aos contratos de fornecimentos de alimentos para a merenda es
colar, a ressarcirem ao município de Nazaré da Mata a quantia cor
respondente ao prejuízo sofrido pela municipalidade, quais sejam ai
parcelas dos preços pagos pelos alimentos que superaram os valorei
médios praticados à época, segundo apurado pela perícia, corrigidos
monetariamente e acrescidos de juros de 0,5% (cinco décimos por
cento) ao mês. Condeno os réus ainda: à suspensão dos direitos polí
ticos pelo prazo de oito anos, pela gravidade do ato, por se tratar de
verba destinada a despesa essencial para a população infantil (me
renda escolar); ao pagamento de multa civil no montante correspon
dente a duas vezes o prejuízo sofrido pelo município; e, por fim, à pro
ibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou in
centivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual sejam sócios majoritários, pelo
prazo de cinco anos.
b) Pelos atos descritos no art. 11 da Lei 8.429/1992, referen*
tes aos serviços de manutenção e reparo das estradas, á suspensflo
dos direitos políticos por três anos, pena estabelecida no mínimo
não ter havido prejuízo ao Erário ou comprovação de enriquecimento
ilícito. Condeno os réus ainda, nos termos do inciso III do art. 12 da
Lei em questão, à proibição de contratar com o Poder Público ou re*
ceber benefícios ou incentivos fiscais e creditícios, direta ou indlre»
tamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam
sócios majoritários, pelo prazo de três anos.
Tendo em vista a sucumbência dos réus, condeno-os ao pagamento das
custas processuais e aos honorários advocatícios calculados em 10% (dez por
cento) do valor total apurado nas condenações dos itens "a" e "b" acima, bem
como condeno os réus ao pagamento de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), pro
rata, referentes aos honorários periciais.
P.R.I.
Capítulo XII

Sentenças de casos reas

1 Ação cominatória promovida pelo Ministério Público


Estadual

JUÍZO DE DIREITO DA COMARCA DE ANDRADIHA/SP


Processo nB. 07/07
Vistos.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÂO rAULO. ajuizou AÇÃO
COMINATÓRIA em face do MUNICÍPIO DE ANDRADINV e de ERNESTO AN-
TOiNIO DA SILVA, com o pedido de: "determinar aos réus que determinem
imediatamente assistência médica ao interessado Alessaidro, já qualificado,em
sua residência ou onde for encontrado, para avaliaçãa e recomendação do
traltamento necessário, seja mediante internação ou regime ambulatorial, tor
nando o tratamento efetivo na conformidade da recomendação médica, com
fonnecimento de todos os medicamentos necessários, busca imediata de vaga
emi hospital da rede pública para o caso de tratamento mediante internação, e
trainsporte do paciente para o local em que vier a ser disponibilizada vaga para
inteernação, fixando-se multa diária para o caso de descimprimento da ordem
judlicial o importe de R$ 1.000,00 por dia, sem prejuízo das responsabilidades
civiil e criminal".
Sustenta o Parquet: é parte legítima, pois deve zelar pelo respeito do
Poder Público aos direitos assegurados na CR; Alessandro Teixeira é portador
de esquizofrenia, violento e necessita de tratamento; o MP já enviou ofício aos
réus requisitando atendimento médico, mas não houve resposta formal; a
saúde é direito de todos e dever do Estado (fls. 02/08).
Decisão concedendo os efeitos da antecipação da tutela jurisdicional à
fl. 16.
Contestação dos réus às fls. 26/67, em que alegam: é competência co
mum cuidar da saúde e assistência pública, não do direito individual, direito
fundamental; litispendência com mandado de segurança 252/06; deve haver
denunciação da lide relativamente ao Estado de São Paulo; ausência de legiti
midade ativa do MP; falta de interesse de agir, porque Alessandro já foi inter
nado, mas não dá continuidade a seu tratamento ambulatorial após as interna
ções, por ausência de empenho da família; ilegitimidade passiva do Prefeito, vez
que não há obrigatoriedade de pessoa natural fornecer medicamentos ou servi
ços de saúde; o exercício pleno da saúde por parte de um indivíduo é capaz de
produzir a exclusão de todos os demais; um dos limites para decisão em de
manda sobre saúde é a política pública adotada pelo administrador, e decisão
que disso destoa invade competências; os que ingressam com ação judicial
acabam tendo preferência, em detrimento dos outros; Andradina já gasta mais
do que o mínimo legal com saúde; as despesas imprevistas decorrentes de
ações judiciais, em 2006, ultrapassaram R$ 100.000,00; cabe ao Estado e à
União arcarem com os tratamentos de média e alta complexidade nos termos
de Portarias ministeriais; o orçamento municipal é limitado e deve atender a
vários outros setores.
Em réplica, o Ministério Público (fls. 364/369) impugnou as prelimina
res levantadas.
Em decisão saneadora às fls. 371/372, foram afastadas as preliminares,
à exceção da ilegitimidade passiva do Prefeito, que foi excluído da lide. Às fls.
375/378, o município de Andradina pediu a reconsideração do decisório de fls,
371/372.
Audiência para conciliação infrutífera, na qual se deferiu o prazo suces
sivo de 10 dias a cada parte, para apresentação de memoriais (fl. 438). Memori
ais às fls. 440/441, em que o MP requer a procedência do pedido. Malgrado
regularmente intimada em audiência (fl. 438), a patrona da municipalidade
quedou-se inerte, isto é, não apresentou memoriais (fl. 443).
Como o princípio do contraditório demanda ciência necessária e parti
cipação apenas possível, a causa está madura para julgamento, sendo defeso
que o tempo da marcha processual fique ao alvedrio da parte. Aliás, é dever do
magistrado velar pela rápida solução da lide.
É o relatório.
DECIDO.

f?ff gusçncHi tfe litispçnfânçiQ

versos,Oporquanto
mandadopertinente
de segurança apontado
a período como paradigma
pretérito, tratapela
não alcançado de fatos
presenti
ação. Assim, ante a diversidade de pedidos, descabe falar em litispendência, a
qual pressupõe tríplice identidade dos elementos identificadores da demanda.
Ademais, a propositura do writ não impede o ingresso da parte com a
ação de rito ordinário, ante a dicção do art. 15 da Lei 1.533/51 e o fato de que
esta possibilita ampla dilação probatória e aquele não. 0 impedimento acarre
taria indevida mitigação do acesso ao Judiciário e ofensa ao princípio da máxi
ma efetividade das normas constitucionais.

Pa presença tfp interesse fajagir


Há necessidade de propositura da demanda e consequentemente inte
resse de agir, tendo em vista que o tratamento do incapaz defendido pelo MP se
protrai no tempo, sem termo final, e há prova no sentido de que houve envio de
ofício à Prefeitura sem resposta acerca da realização do tratamento. Some-se a
isto o fato de que não é crível que a genitora tenha vindo ao Ministério Público
exigir a prestação sem necessidade.

Da ilegitimidade passiva do Prefeito.


Malgrado tal questão já tenha sido decidida, vale lembrar que não se
trata de mandado de segurança, sendo inadequado indicar a autoridade coatora
para ocupar o polo passivo. A presença simultânea de Município e seu Prefeito
(como pessoa física) acarreta superfetação, vez que aquele é pessoa jurídica e
este seu representante.
A municipalidade é quem possui titularidade para a prestação de servi
ços à saúde e portanto é quem deve integrar o polo passivo, isoladamente.
Mantida a decisão que excluiu Ernesto Antonio da Silva da lide.

Dutegitimidate atiygJsLMinislériQ PúbtiçQf


O Ministério Público possui legitimidade ativa, porque deve zelar pelo
efetivo respeito do Poder Público e do serviço de relevância pública aos direitos
assegurados na CF (dentre os quais a saúde e a vida humana), nos termos do
art. 129, II, da CF, bem como porque lhe incumbe a defesa de interesse indivi
dual indisponível (vida humana), de acordo com c art. 127 da CF.

Do (IçscgbimentQ tffl fànmçwãç rfff ffrfg.


Nos termos do art. 196 da CF e de decisões reiteradas de nossos Tribu
nais, a responsabilidade pela prestação de saúde à população é solidária entre
Município, Estado e União. Dessa forma, o autor pode requerer a prestação de
qualquer um deles e nenhuma das pessoas jurídicas pode suscitar direito re
gressivo em face da outra na mesma ação.
Mas não é só. Trata-se de relação de consumo na qual, por força de lei e
para evitar prejuízo à defesa do consumidor, é vedada a denunciação da lide.
Assim, esta deve ser afastada, com espeque no art 88 do CDC, interpretado
teleologicamente.

Po mérito.
Como regra, o Judiciário não deve determinar o modo como o Executivo
deve se desincumbir de seu encargo de prestar serviços de saúde à população,
sob pena de malferir a tripartição de pod eres.
Nada obstante, em situações especiais em que há ofensa à razoabilidade
e à proporcionalidade, como no caso presente, deve o julgador garantir o acesso
do ser humano à saúde e à vida.
É que, in casu, o hipossuficiente defendido pelo MP é portador de doen
ça gravíssima (esquizofrenia), com histórico de ameaças a seus familiares, os
quais também necessitam da medida. Diga-se, outrossim, que a moléstia de
manda tratamento sem solução de continuidade e medicamentos notória e
invulgarmente caros, cujos custos seguramente serão insuportáveis pelo núcleo
familiar em que vive a parte vulnerável.
Em suma: invocando-se o princípio da proporcionalidade, inserto no
art. 52, § 22, da CF (segundo prestigiado escólio de Paulo Bonavides), deve
prevalecer o direito à vida, em confronto com dificuldade orçamentária episó
dica e contornável (trata-se de caso isolado).
Nessa linha, ante a singularidade da situação versada, deve a municipa
lidade arcar com o tratamento pleiteado.

BQ-diSPQSitiVQ
Ante o exposto, julgo procedente o pedido articulado na inicial para
condenar o Município de Andradina/SP a prestar assistência médica a Alessan-
dro Teixeira, qualificado nos autos, para avaliação e recomendação do trata
mento necessário, seja mediante internação ou regime ambulatorial, tornando
o tratamento efetivo na conformidade da recomendação médica, com forneci
mento de todos os medicamentos necessários, busca imediata de vaga em
hospital da rede pública para o caso de tratamento mediante internação e
transporte do paciente para o local em que vier a ser disponibilizada vaga para
internação, sob pena de desobediência.
Deixo de condenar o réu ao pagamento de custas e despesas processu
ais, por se tratar de pessoa política imune. Condeno o réu ao pagamento de
honorários advocatícios, equitativamente, nos termos do art. 20, § 42, do CPC,
em R$ 380,00.
P.R.I.
Andradina, 15 de agosto de 2007.
ÉRICO ANTONINI
JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO
2 Ação Civil Pública - Improbidade Administrativa

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


Seção Judiciária de Pernambuco -18a Vara

AÇÃO CIVIL PÚBLICA n. 2 2006.83.03.000195-1


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: ARNALDO PEDRO DA SILVA E OUTRO
SENTENÇA
1. RELATÓRIO
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL propôs ação civil pública por ato de
improbidade administrativa, com pleito liminar de indisponibilidade dos bens,
em face de ARNALDO PEDRO DA SILVA e VALQUÍRIA ARAÚJO DA SILVA,
visando a condenação nas sanções do inc. II do Art. 12 da Lei 8.429/92 em
razão da prática de ato causador de prejuízo ao erário previsto no Art. 10, XI da
referida Lei.
Afirma que os réus, o primeiro na qualidade de Prefeito e a segunda na
qualidade de Secretária de Finanças, desviaram recursos públicos federais
repassados ao MunicípiD de Flores/PE, oriundos do Programa de Erradicação
ao Trabalho Infantil (PETI). Consta que, no dia 01.12.2004, foram realizados
dois depósitos correspoidentes ao mês de outubro de 2004, um no valor de R$
15.875,00 (quinze mil Ditocentos e setenta e cinco reais) referente à Bolsa
Criança Cidadã e outro no montante de R$ 12.700,00 (doze mil e setecentos
reais) referente à jornada estendida. Assevera, ainda, que, no dia 30/12/2004,
às vésperas do término do seu mandato de Prefeito, o l2 réu em conjunto com o
2- assinaram um cheque no valor de R$ 21.074,78 (vinte e um mil setenta e
quatro reais e setenta e Dito centavos) da conta corrente destinada aos recursos
do PETI, depositando-o tia conta corrente destinada ao pagamento dos servido
res públicos municipais.
Petição inicial instruída com o inquérito civil público acostado nas fls.
21/119.
Liminar deferida (fls. 120/122) para decretar a indisponibilidade dos
bens dos acusados, sendo registrado o gravame em um terreno e em veículo de
propriedade do Sr. Arnádo da Silva (fls. 142/150 e 156).
Notificados nas fls. 181 e 183, somente o l 2 réu apresentou manifesta
ção preliminar às fls. 185/193.
Recebida a inicial, foi determinada a citação dos requeridos (fl. 195),
apresentando as contestações de fls. 209/211 e 214/221 com conteúdo idênti
co. Alegaram, em suma que não praticaram o ato questionado com má-fé ou
dolo nem se apropriaram de dinheiro público, havendo "no máximo, uma irre

gularidade
mento a umformal consstente
fim igualmente na aplicação
público, de não
em que pese dinheiro público para
ser o indicado o "atendi
pela Lei (fl.
205). Sustenta também que houve uma falha de ordem formal, "pois o cheque
que era para ser depositado na conta do PETI em 30 de dezembro de 2004, (...), foi
colocado indevidamente na conta salário do Município" (fl. 204), o qual não pode
ser corrigido a tempo por ser véspera do último dia do mandato de Prefeito.
Defende, ainda, que a atuação do agente político não pode ser equiparada a de
um agente administrativo, não podendo ser exposto ao "risco de ressarcir os
danos provenientes de erro (omissivo ou comissivo), ainda que grosseiro, mas
praticado de boa-fé, sem que, com isso, lhes seja tolhida a sua ação enquanto
dignatário do Poder Público" (fl. 210).

Em sede de réplica, o órgão ministerial reiterou os termos da peça i-


naugural (fls. 234/236).
Na fl. 254, determinou-se o traslado de cópia do interrogatório como
prova emprestada (fl. 261/263), bem assim foi oportunizado prazo às partes
para requererem as provas que pretendessem produzir, tendo ambas deixado
escoar o prazo sem manifestação.
Foi determinada a intimação do Município de Flores/PE para se posi
cionar na demanda, nos termos do § 32 do art. 17 da Lei n.2 8.429/92.
É o relatório. Passo a decidir.

2. FUNDAMENTAÇÃO
0 mérito da demanda compõe-se de matéria fática e de direito, contudo
não necessita da produção de prova oral em audiência, circunstância que auto
riza o julgamento antecipado da lide, a teor do art. 330, inc. I, do CPC.
Antes de adentrar no mérito propriamente dito, isto é, a prática ou não
do ato de improbidade administrativa, impõe-se examinar algumas questões
previamente, tais como competência da Justiça Federal, legitimidade do Minis
tério Público Federal, a utilização dos elementos instrutórios contidos no in
quérito civil público, a responsabilidade do agente político por ato de improbi
dade.

1. Da competência da Justiça Federal


A competência cível da Justiça Federal possui assento constitucional,
distribuindo-se entre diversas hipóteses de incidência previstas nos incisos I, II,
III, VIII, X e XI do art. 109 da CF/88, cuja norma matriz é, sem dú vida, o art. 109,
I da Magna Carta. Por possuírem suportes fáticos distintos, as previsões conti
das nos referidos incisos são autônomas, não lhes sendo lícitas interpretá-las a
luz do art. 109,1 da CF/88.
Estatui o art. 109,1, da CF/88:
Art 109. Aos juizes federais compete processar e julgar:
1 - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública fe
deral forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opo-
nentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

A incidência desta regra pressupõe a conjugação de dois requisitos: 1) a


presença na lide da União, autarquia - as fundações públicas são equiparadas as
autarquias - e empresas públicas federais, na condição de autoras, rés ou inter-
venientes, não abrangendo, portanto, as sociedades de economia mista (Súmula
n.Q 42 do STJ), nem as concessionárias ou permissionárias do serviço público
federal; 2) demonstração da existência de interesse jurídico, a ser examinada
pelo Juízo Federal nos termos das Súmulas n.Qs 150,224 e 254 do STJ.
Considerando que o Ministério Público Federal constitui órgão da União
dotado de capacidade postulatória é evidente a competência da Justiça Federal
para processar e julgar as demandas aforadas pelo mesmo órgão, devendo o
Juízo examinar, em momento subsequente, a sua legitimidade ad causam.

2. Legitimidade do Ministério Público Federal


As atribuições do Ministério Público estão previstas, basicamente, na
Constituição e, detalhadamente, nas suas respectivas Leis Orgânicas, in casu,
Lei Complementar n.Q 75/93.
Embora a atribuição do Ministério Público da União esteja prevista de
maneira ampla no art 6Q da LC n.Q 75/93, tal dispositivo deve ser lido a luz dos
princípios constitucionais, principalmente o princípio federativo e a vocação
constitucional do Parquet Federal que, após a Constituição de 1988, assumiu a
importante função de órgão de defesa da coletividade. Com efeito, a circunstân
cia de a Justiça Federal ser competente para o exame de suas demandas propos
tas pelo Ministério Público Federal não o torna, simplesmente, parte legítima
para o ajuizamento de qualquer ação perante esta Justiça, devendo atuar dentro
de suas atribuições
CF/88) e somente constitucionais
quando estivere presente
legais (com fundamento
o interesse no artna129,
federal IX da
matéria.
Sobre o tema, invoco o brilhante precedente da lavra do Min. Teori Albino
Zavascki, verbis:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TUTELA DE DIREITOS
TRANSINDIVIDUAIS. MEIO AMBIENTE. COMPETÊNCIA. REPARTIÇÃO DE
ATRIBUIÇÕES ENTRE O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL. DIS-
TINÇÃO ENTRE COMPETÊNCIA E LEGITIMAÇÃO ATIVA. CRITÉRIOS.
1. A ação civil pública, como as demais, submetese, quanto à compe-
tência, à regra estabelecida no art 109, I, da Constituição, segundo a qual
cabe aos juizes federais processar e julgar "as causas em que a União, enti-
dade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição
de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de aciden-
te de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho". Assim,
figurando como autor da ação o Ministério Público Federal, que é órgão da
União, a competência para a causa é da justiça Federal.
3. Não se confunde competência com legitimidade das partes. A
questão competencial é logicamente antecedente e, eventualmente,
prejudicial à da legitimidade. Fixada a competência, cumpre ao juiz
apreciar a legitimação ativa do Ministério Público Federal para pro-
mover a demanda, consideradas as suas características, as suas finali-
dades e os bens jurídicos envolvidos.
4. À luz do sistema e dos princípios constitucionais, nomeada-
mente o princípio federativo, é atribuição do Ministério Público da U
nião promover as ações civis públicas de interesse federal e ao Ministé-
rio Público Estadual as demais. Considerase que há interesse federal nas a
ções civis públicas que (a) envolvam matéria de competência da justiça Es-
pecializada da União (Justiça do Trabalho e Eleitoral); (b) devam ser legiti-
mamente promovidas perante os órgãos Judiciários da União (Tribunais Su-
periores) e da Justiça Federal (Tribunais Regionais Federais e Juizes Fede-
rais); (c) sejam da competência federal em razão da matéria — as fundadas
em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo in-
ternacional (CF, art. 109, III) e as que envolvam disputa sobre direitos indí-
genas (CF, art. 109, XI); (d) sejam da competência federal em razão da pes-
soa — as que devam ser propostas contra a União, suas entidades autárqui-
cas e empresas públicas federais, ou em que uma dessas entidades figure en-
tre os substituídos processuais no polo ativo (CF, art. 109,1); e (e) as demais
causas que envolvam interesses federais em razão da natureza dos bens e
dos valores jurídicos que se visa tutelar.
6. No caso dos autos, a causa é da competência da Justiça Fede-
ral, porque nela figura como autor o Ministério Público Federal, órgão
da União, que está legitimado a promovêla, porque visa a tutelar bens
e interesses nitidamente federais, e não estaduais, a saber: o meio ambi-
ente em área de manguezal, situada em terrenos da marinha e seus acresci-
dos, que são bens da União (CF, art. 20, VII), sujeitos ao poder de polícia de
autarquia federal, o IBAMA (Leis 6.938/81, art.
18, e 7.735/89, art. 4°).
7. Recurso especial provido.138

No caso em comento, trata-se de ação civil pública por ato de improbi


dade administrativa, visando punir a aplicação irregular de verbas públicas
federais, oriundas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI,
realizada pelos réus. Ora, tratando-se de valores federais administrados pela
municipalidade, a legitimidade do Parquet Federal para propor ação de impro
bidade administrativa é ampla, com espeque no art 129, III da CF/88 e no art,
17 da Lei n.2 8.429/92, não estando submetido a qualquer condição ou inércia
da entidade política prejudicada (atuação subsidiária). Isto porque, consoante a
sua vocação constitucional, a defesa do patrimônio público (moral e patrimoni
al) constitui um interesse difuso de toda a coletividade que lhe incumbe velar. A

138REsp 440002/SE, 1® Turma, Rei. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, julgado


18.11.2004, DJ 06.12.2004 p. 195. Grifos acrescentados
propósito, é o entendimento do egrégio Superior Tribunal de Justiça cristaliza
do no verbete sumular n. 2 329:
“O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil públi-
ca em defesa do patrimônio público."

3. Utilização dos elementos instrutórios contidos no inquérito civil


público.
0 inquérito civil público objetiva coletar elementos instrutórios, visan
do subsidiar a atuação do Ministério Público e, com isso, evitar o ajuizamento
de lides temerárias. Tais elementos produzidos no curso procedimento de
natureza inquisitiva podem ser valorados pelo Juiz a luz do livre convencimen
to motivado, mormente as provas documentais e técnicas (perícias) e até a oral
quando confirmadas pelas duas primeiras, não podendo simplesmente despre
zar seu valor probatório.
No caso em exame, os réus tiveram ciência dos elementos contidos no
inquérito civil, não impugnando o seu conteúdo, nem apresentando contrapro-
va. Visando assegurar a ampla defesa e o contraditório, este juízo facultou na fl.
254 às partes indicarem os seus meios de prova, quedando-se os réus inertes.
Ademais, os réus confessaram o fato descrito na inicial, isto é, o depósito de
valores do PETI na conta geral da prefeitura, entretanto alegaram um fato
impeditivo, qual seja, tudo não passou de "uma irregularidade formal consisten-
te na aplicação de dinheiro público para o atendimento a um fim igualmente
público; em pese não ser o indicado pela Lei" (fl. 205) para em seguida afirmar
que "Houve tão somente, uma falha administrativa, pois o cheque que era para
ser depositado na conta do PETI em 30 de dezembro de 2004, conforme número
da conta PETI no verso do cheque (doc. Anexo 01), foi colocado indevidamente na
conta saláriopor
basicamente do documentos,
Município (...)
não" (fl. 205). necessidade
havendo Ademais, o fato pode serde
da produção provado
outras
provas.
No mesmo sentido, decidiu o egrégio Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSO CIVIL AÇÃO CIVIL DE REPARAÇÃO DE DANOS  INQUÉ-
RITO CIVIL PÚBLICO. NATUREZA INQUISITIVA. VALOR PROBATÓRIO.
1. O inquérito civil público é procedimento informativo, destinado a
formar a opinio actio do Ministério Público. Constitui meio destinado a co-
lher provas e outros elementos de convicção, tendo natureza inquisitiva.
2. "As provas colhidas no inquérito têm valor probatório relativo,
porque colhidas sem a observância do contraditório, mas só devem ser afas-
tadas quando há contraprova de hierarquia superior, ou seja, produzida sob
a vigilância do contraditório" (Recurso Especial n. 476.660MG, relatora Mi-
nistra Eliana Calmon, DJ de 4.8.2003).
3. As provas colhidas no inquérito civil, uma vez que instruem a peça
vestibular,
te valoradasincorporamse
pelo julgador.ao processo, devendo ser analisadas e devidamen-
4. Recurso especial conhecido e provido.139

PROCESSO CIVIL  AÇÃO CIVIL PÚBLICA  INQUÉRITO CIVIL: VALOR


PROBATÓRIO  REEXAME DE PROVA: SÚMULA 7/STJ.
1. 0 inquérito civil público é procedimento facultativo que visa co-
lher elementos probatórios e informações para o ajuizamento de ação civil
pública.
2. As provas colhidas no inquérito têm valor probatório relativo,
porque colhidas sem a observância do contraditório, mas só devem ser afas-
tadas quando há contraprova de hierarquia superior, ou seja, produzida sob
a vigilância do contraditório.
3. A prova colhida inquisitorialmente não se afasta por mera negati-
va, cabendo ao juiz, no seu livre convencimento, sopesálas.
4. Avanço na questão probatória que esbarra na Súmula 7/STJ.
5. Recursos especiais improvidos.140

4. Aplicação da Lei n.s 8.429/92 ao agente político


A atuação do agente político não pode ser equiparada a de um servidor
público (estatutário ou celetista) por estarem submetidos a regimes distintos.
Não se desconhece a lição do mestre Hely Lopes Meirelles citada pelo deman
dado que nunca é demais reproduzir:
agentes políticos são os componentes do Governo nos seus pri-
meiros escalões, investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por
nomeação eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições
constitucionais. Esses agentes atuam com plena liberdade funcional, de-
sempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidade
próprias, estabelecidas na Constituição em leis especiais. Não são fun-
cionários públicos em sentido estrito, nem se sujeitam ao regime estatutário
comum. Têm normas específicas para a sua escolha, investidura, conduta e
processo por crimes funcionais e de responsabilidade, que lhes são privati-
vos. Os agentes políticos exercem funções governamentais, judiciais e
quase judiciais, elaborando normas legais, conduzindo os negócios pú-
blicos, decidindo e atuando com independência nos assuntos de sua
competência. São as autoridades públicas supremas, do Governo e da Ad-
ministração na área de sua atuação, pois não estão hierarquizadas, sujei
tandose apenas aos graus e limites constitucionais e legais de jurisdição.
c..)
“Em doutrina, os agentes públicos têm plena liberdade funcional,
equiparável à independência dos juizes nos seus julgamentos e, para tanto,

139 REsp 644994/MG, 2a Turma, Rei. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, julgado em
17.02.2005,
140 DJ 21.03.2005
REsp 476660/MG, p. 336Rei. Ministra ELIANA CALMON, julgado em 20.05.2003, DJ
2a Turma,
04.08.2003 p. 274
ficam a salvo da responsabilização civil por seus eventuais erros de atuação;
a menos que tenha agido com culpa grosseira , má fé ou abuso de poder.

Realmente, a situação dos que governam e decidem é bem di-


versa da dos que simplesmente administram e executam encargos téc-
nicos e profissional, sem responsabilidade de decisão e de opções polí-
ticas. Daí porque os agentes políticos precisam de ampla liberdade fun-
cional e maior resguardo para o desempenho de suas funções. As prer-
rogativas que se concedem aos agentes políticos não são privilégios pessoais;
são garantias necessárias ao pleno exercício de suas altas e complexas fun-

ções
agentesgovernamentais e decisórias.
políticos ficariam tolhidos naSemsuaessas prerrogativas
liberdade de opçãofuncionais,
e de deci-os
são, ante o temor da responsabilização pelos padrões comuns da culpa
civil e do erro técnico a que ficam sujeitos os funcionários profissiona-
lizados"141

É cediço que a improbidade administrativa é voltada, basicamente, para


a punição de atos praticados sob o regime jurídico administrativo. Assim, se é
verdade, em princípio, não cabe a punição do agente político por atos pratica
dos no exercício da sua função típica, salvo quando ficar evidente a má-fé, o
abuso ou desvio na função (v.g, o juiz que vende sentenças ou parlamentar que
negocia o seu voto em troca de uma vantagem), característicos do dolo, e, ex
cepcionalmente, a culpa grave que é equiparada ao dolo nas hipóteses em que
for admissível. Também é certo não se pode unificar todos os seus atos sob um
único regime (regido pelo Direito Constitucional), visto que também praticam
atos de natureza administrativa.
Pois bem.
Na hipótese vertente, a realização da despesa, ainda que por convênio, é
regida pelo Direito Financeiro, que possui um regime jurídico próprio. Deste
modo, embora o orçamento no Brasil seja autorizativo, isto é, o Legislativo
concede uma autorização à Administração Pública para a realização da despesa,
podendo esta efetuá-la ou não, a sua consumação constitui uma atividade ad
ministrativa vinculada a um arcabouço constitucional e legal, cuja aplicação
irregular é amplamente sancionada pelas instâncias cível (improbidade que
abrange a pretensão de reparação de danos), penal (DL n.Q 201/67) e adminis
trativa (controle externo a cargo do Tribunal de Contas da União no caso de
recursos federais)
Quanto à aplicação da Lei n.Q 8.429/92 aos agentes políticos, é de se ob
servar que o Superior Tribunal de Justiça acolheu embargos de declaração no
Q
Recurso
tese Especial
de que n. 456.649/MG
os agentes para,
políticos estão sem modificar
excluídos o julgamento,
do âmbito excluir a
da Lei n. 2 8.429/92:

141Direito Administrativo Brasileiro - 14a edição atualizada pela Constituição Federal de


1988 - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1989. pp. 67/68
"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ART. 535 DO
CPC. ACLARAMENTO DO DECISUM (ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLI-
CA. EXPREFEITO. CONDUTA OMISSIVA. CARACTERIZAÇÃO DE INFRAÇÃO
POLÍTICO ADMINISTRATIVA. DECRETOLEI N.s 201/67. ATO DE IMPROBI-
DADE ADMINISTRATIVA. LEI N.Q 8.429/92. COEXISTÊNCIA. IMPOSSIBILI-
DADE. MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. VOTO DIVERGENTE DO
RELATOR).
1. Os Embargos de Declaração são cabíveis para o fim de esclarecer
o alcance da decisão, quando seus fundamentos, ainda que utilizados obter
dictum e sob a ótica subjetiva do relator não retrata o cerne da decisão pro-
ferida.
2. In casu, a Turma reconheceu que a conduta do prefeito em recu
sarse a responder determinado ofício não representava delito de improbi-
dade, por isso que, extravagante a discussão acerca do concurso aparente de
normas entre a ação típica do Decretolei 201/67 e a Ação de Improbidade,
tema, aliás, ainda pendente no Eg. Supremo Tribunal Federal.
3. Destarte, o Eg. Superior Tribunal de Justiça através da sua
jurisprudência predominante, admite a ação de improbidade nos ilíci-
tos perpetrados por Prefeitos, mercê de agentes políticos.
4. Embargos de Declaração acolhidos."142

De outro lado, embora o Supremo Tribunal Federal tenha julgado pro


cedente a Reclamação n.22.138-6, não pode conferir efeitos paradigmáticos a
esta decisão, uma vez que a egrégia Corte sofreu sensíveis alterações na sua
composição e os próprios Ministros têm se negado a suspender as ações de
improbidade em curso com base naquela reclamação.

5. Existência ou não de ato de improbidade administrativa que


causou prejuízo ao erário
Cinge-se a controvérsia em analisar a possível prática de ato de impro
bidade administrativa pelos demandados, pai e filha, que, na qualidade, respec
tivamente, de Prefeito e Secretária de Finanças do Município de Flores/PE.
Alega o autor que os recursos do PETI foram desviados para o paga
mento do funcionalismo público municipal. Já os réus sustentam que o dinheiro
foi empregado numa finalidade de interesse público, não existindo dolo ou má-
fé, bem assim houve uma falha de natureza formal nos depósitos dos valorei
que não pode ser corrigida a tempo, pois foi praticada na véspera do término do
mandado do l2 réu (30.12.2004).
0 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI - instituído pela
Portaria n.fi 458, de 04.10.2001 da Secretaria do Estado de Assistência Social -
142 EDcl no REsp 456649/MG, 1 fl Turma, Rei. Ministro FRANCISCO FALCÃO, Rei. p I

Acórdão Ministro
sentido: AgRg no LUIZ
REspFUX, julgado em
903.855/PR, Rei.24.10.2006, DJ 20.11.2006
Ministro FRANCISCO p. 273. PRIMEIRA
FALCÃO, No
TURMA, julgado em 10.04.2007, DJ 30.04.2007 p. 296
tem por objetivo geral: “Erradicar, em parceria com os diversos setores go
vernamentais e da sociedade civil, o trabalho infantil nas atividade perigosas,
insalubres, penosas ou degradantes nas zonas urbanas e rural"; e objetivos
específicos: "possibilitar o acesso, a permarência e o bom desempenho de
crianças e adolescentes na escola; implantar atividades complementares à
escola - Jornada Ampliada; conceder um complementação mensal de renda -
Bolsa Criança Cidadã, às famílias; proporcionar apoio e orientação às famílias
beneficiadas; promover programas e projetos de qualificação profissional e de
geração de trabalho e renda junto às famílias. Seu público-alvo é, prioritaria
mente, as famílias com renda per capita de até Vi salário mínimo, com crianças
e adolescentes de 7 a 14 anos trabalhando em atividades consideradas perigo
sas, insalubres, penosas ou degradantes", podendo atender também “os casos
de adolescentes de 15 anos de idade vítimas de exploração de sua mão de obra,
em situação de extremo risco" ou então "os casos de crianças e adolescentes de
7 a 15 anos, oriundos de famílias com renda per capita de até % salário mínimo,
vitimados pela exploração sexual comercial, cecorrentes de encaminhamento
do Programa Sentinela, com anuência expressados Conselhos Tutelares".
A linha básica de atuação consiste na piestação de um auxílio financeiro
às famílias carentes através da concessão mersal da Bolsa Criança Cidadã que
dependerá da frequência mínima da criança e do adolescente nas atividades do
ensino regular e da Jornada Ampliada, bem como a realização das Atividades da
Jornada Ampliada que busca aumentar o tempo de permanência da criança e do
adolescente na escola, incentivando um segundo turno de atividades nas uni
dades escolares ou de apoio. Almeja aumentar as potencialidades das crianças e
dos adolescentes mediante o desenvolvimento de atividade que visem o enri
quecimento do universo informacional, cultural, esportivo, artístico e lúdico e o
desenvolvimento da autoestima das crianças e adolescentes; o reforço escolar e
auxílio tarefa, sendo vedado a realização de atividade profissionalizantes, ou
ditas semiprofissionalizantes com as crianças e adolescentes do PETI, com
exceção dos casos de adolescentes de 15 anos de idade vítimas de exploração
sexual ou outras formas de exploração de sua mão de obra, em situação de
extremo risco.
O valor mensal da Bolsa para a zona rural é de R$ 25,00 por crian
ça/adolescente e para a manutenção da Jornada Ampliada para a zona rural é
de R$ 20,00 por criança/adolescente.
Em síntese, trata-se de um programa ds transferência de renda para as
famílias carentes, visando equalizar a igualdade de chance das crianças e dos
adolescentes mediante a sua frequência na escola e também atividades extras e
também o seu afastamento de atividade perigosas, insalubres, penosas ou
degradantes na zona urbana e rural, ou a exploração sexual.
Examinando a farta documentação que acompanha a petição inicial, ve-
rifica-se, inicialmente, que, no dia 01.12.2004, foram depositados na Agência n. 2
1060-X e Conta n.Q 58.063-5 os recursos do PETI correspondentes ao mês de
outubro de 2004, nos valores de R$ 15.875,00 [quinze mil oitocentos e setenta
e cinco reais) referente à Bolsa Criança Cidadá e de R$ 12.700,00 (doze mil e
setecentos reais) referente a jornada estendida (fl. 49). Já, na fl. 51, consta que,
no dia 30/12/2004, o Prefeito à época, Sr. ARNALDO PEDRO DA SILVA, junta
mente com a então Secretária de Finanças, VALQUÍRIA ARAÚJO DA SILVA,
assinaram um cheque no valor de R$ 21.074,78 (vinte e um mil setenta e quatro
reais e setenta e oito centavos), sacando tal valor da conta geral do PETI e
depositando-o na conta de pagamento da folha dos funcionários municipais,
conforme se infere dos extratos de fl. 34 e 105.
Ouvido no curso do Procedimento de Investigação Preliminar (PIP), ins
taurado pela Promotoria da Comarca de Flores/PE, e também em Juízo em sede
de ação penal, o Sr. Arnaldo Pedro da Silva prestou as seguintes declarações:
"que foi Prefeito do Município de Flores nos anos de 2001 a 2004;
que a pessoa responsável pela administração dos recursos do PETI era o Sr.
José Paulino; (...) que o declarante assinava todos os cheques referentes à li-
beração dos recursos
movimentação da conta dovinculada
PETI; que
ao oPETI
controle
erada realizado
entrada depela
recursos e de
Secretá-
ria de Finanças, Sra. Valquíria de Araújo da Silva, filha do declarante,
juntamente com a tesoureira, Sra. Francisca Alves dos Santos; que o decla-
rante acredita que assinava os cheques que eram entregues às famílias par-
ticipantes do PETI; (...) que reconhece a assinatura constante no cheque
acostado às fls. 28 do PIP n 9 02/2005 como sua; que a segunda assinatu-
ra constante no cheque acostado às fls. 28 é de sua filha, Valquíria; que não
se recorda a que se destinavam os recursos referentes ao cheque em questão;
que no mês de dezembro de 2004foram transferidos valores referentes
ao PETI para a conta folha da Prefeitura; que acredita que essa transfe-
rência foi realizada em razão de uma obrigação legal, pois as contas do mu-
nicípio são encerradas ao final da gestão (...)" (fls. 74/75 - Grifos acrescen
tados)
"que perguntado se era comum o interrogado assinar cheques sem
ler o destino do cheque, respondeu que eram apenas três assinaturas de che-
ques por mês, relativos a repasse de verbas federais à Prefeitura; que, re
perguntado, o réu afirmou que não era comum assinar cheques sem ler
o destinatário" (fl. 122)

Por sua vez, a segunda demandada afirmou na fl. 78:


"que foi Secretária de Finanças durante todo o mandato de seu pai,
Sr. Arnaldo Pedro; que quando as verbas referentes ao PETI eram transferi-
das pelo Governo Federal e depositadas na conta vinculada, o banco infor•
mava à tesoureira, Sra Hélia, que, por sua vez, informava à declarante; que a
declarante preparava o empenho para pagamento; que o ordenador de des-
pesa era o Prefeito; que havia uma conta específica para o recebimento
dos repasses do Governo Federal referentes ao PETI; que os valores eram
transferidos dessa conta específica para a conta folha da Prefeitura, que era
uma conta da Prefeitura na qual eram depositados todos os valores paro
pagamento de servidores da Prefeitura; que cada família cadastrada no PE■
TI recebia um contracheque e dirigiase ao banco para receber o pagamen-
to"
Mais esclarecedor é o depoimento da Sra. Francisca Alves dos Santos
que explica o funcionamento do sistema de pagamento do PETI:
"que exerceu o cargo de tesoureira durante o mandato do Sr. Arnal-
do Pedro, que durou de 2001 a 2004; que no mês de dezembro de 2004 a de-
clarante estava de férias; (...) que se recorda que os valores para o pagamen-
to do PETI referentes ao mês de outubro de 2004 apenas foram depositados
no mês de dezembro de 2004, sendo R$ 15.875,00 (quinze mil oitocentos e
setenta e cinco reais) referente ao pagamento das bolsas e R$ 12.700,00 (do-
ze
os mil e setecentos
valores reais) referente
eram depositados pelo ao pagamento
Governo da na
Federal jornada
Contaestendida;
Corrente nque
3
58063 do Banco do Brasil; que, através de uma operação bancária automá-
tica os valores eram transferidos para uma conta centralizadora, mas retor-
navam automaticamente para a referida conta corrente sempre que a mes-
ma era movimentada; que quando iria ser realizado o pagamento da
bolsa do PETI aos beneficiários, os valores eram transferidos para uma
conta corrente específica (CC n3 74551); que essa conta era específica
para pagamento dafçlM ÜQ.PIXl e nã<? ye ççnJUndiQ çQW fl ÇQMQfQlhQ
utilizada para o pagamento dos servidores da Prefeitura: (...) que no
mês de dezembro de 2004 os valores foram transferidos da Conta Cor-
rente ns 58063 para a Conta folha geral da Prefeitura (CC 7454), em
vez de serem transferidos para a Conta Corrente n- 74551, que era u
tilizada especificamente para o pagamento da folha do PETI; que não
sabe a razão desta transferência(fls. 111/112- Grifos acrescentados)

Sem dúvida, os réus agiram dolosamente. Com efeito, o dinheiro foi sa
cado e depositado na Conta n.2 7454 ao invés de ser transferido para a Conta
n.2 7455-1, específica para o pagamento dos beneficiários do PETI. Como repre
sentantes máximos do Município de Flores/PE (Prefeito e Secretária de Finan
ças) já seria difícil que um desvio irregular de recursos públicos passasse desa
percebido pelos mesmos, quando mais, no caso em comento, foram responsá
veis diretos pela movimentação irregular. Anote-se, ainda, que
Não resta dúvida, portanto, de que ao desviar verba FEDERAL, que ti
nha destinação própria e definida, para o pagamento da folha MUNICIPAL, os
agentes causaram prejuízo ao erário federal, realizando o ato de improbidade
previsto no art 10, XI da Lei n2 8429/92:
"Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbàratamento ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades referidas no art. 13 desta Lei, e notadamen
te:
c..)
XI “ hiberar verba pública sem a estrita observância das normas per-
tinenxtes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular

Dest%qUe-se que em suas peças contestatórias, os réus em nenhum


momento negaram o fato que lhe é imputado, ressalvando apenas que não
agiram de mzá-fé, não havendo dolo na transferência apontada, que merece ser
considerada <Como falha administrativa, fruto de uma "culpa leve".
Embora esteja comprovado que os réus aplicaram os recursos em um*
finalidade pública municipal, beneficiando a edilidade, tal conduta não se mos
tra menos r%pr0vável sob o prisma da Lei de Improbidade, podendo servir
como causa atenuante na aplicação das sanções previstas em Lei. Isto porque a
atividade fín2anceira está submetida ao princípio da legalidade e, em caso de
convênio, de autorização prévia do convenente. Na hipótese em testilha, nfio
ficou demons5trado uma situação de urgência que pusesse em risco o interessa
público, a vicjda, a propriedade e os bens da população, que justificasse a sua
conduta (Vidce RESP 480.387/SP, Ia Turma, Rei. Ministro LUIZ FUX, julgado em
16.03.2004, Ebj 24.05.2004 p. 163). Ressalte-se que o DL n.2 201/67 - Dispõe
sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores - só vem a confirmar 0
caráter ilegal e ímprobo ao criminalizar esta conduta:

Ibecreto-Lei n.2 201/67, Art. I2 - São crimes de responsabilidade


dos Preffeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, inde*
Pendentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
V - ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por lei, ou realizá*
< las em desacordo com as normas financeiras pertinentes;

No meesmo sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça:


"'ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE AD*
MINISTIfcATIVA. LEI N. 8.429/92. ATO DE IMPROBIDADE. REPARAÇÃO
DE DAN<os. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DOSIMETRIA DA PENA.
CABIMENTO.
ll. Funções burocráticas desenvolvidas por presidente ou tesourei
ro de Cârimara Municipal, tipicamente administrativas, que provoquem da*
no ao erçário público ocasionado por culpa, sujeitará o agente culposo fcs
sanções fprevistas na Lei n. 8.429/92, pois, como bem afirma Emerson Gaf*
cia, não hhá previsão legal de um salvo-conduto para que se possa dilapidar
o patrimônio público (In Improbidade Administrativa, 2ê edição, pág*
278).
22. Na reparação de danos prevista no inciso II do art. 12 da Lftl
n. 8.429^/92, deverá o julgador considerar o dano ao erário públtcOi
além dai observância da reprovabilidade e do elemento volitivo de
sua condduta, porquanto referida norma busca não só reparar o dano
público,, bem como punir a prática da conduta dolosa ou culposa pof*
petrada \ em ferimento ao dever de probidade.
3. Recurso especial aviado por Wilson Roberto Avelino parci
almente provido.
4. Recursos especiais aviados por Luiz Smargiassi Filho e pelo
Ministério Público do Estado de Minas Gerais improvidos."143
"CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE. CA
SO FORTUITO OU FORÇA MAIOR. NÃO CONFIGURAÇÃO. CONVÊNIO
1.173/94. UTILIZAÇÃO DAS VERBAS PARA OUTRO FIM. DESVIO DE FINA
LIDADE. PENAS. LEI NA 8.429, ART. 12. MÁ-FÉ. IRRELEVÂNCIA PARA A
CONFIGURAÇÃO DO ILÍCITO."144
Inconteste a prática do ato de improbidade, que merece ser punido nos
termos do art. 12, II e seu parágrafo único, da Lei n2 8.429/92, atentando-se
para as circunstâncias do caso e para o princípio da proporcionalidade. Embora
o legislador tenha previsto mais de uma sanção para o ato de improbidade, o
magistrado não está obrigado a aplicá-las cumulativamente, devendo a sanção
guardar uma proporção com o ilícito praticado.
Inicialmente, os dois réus tiveram igual participação no evento, deven
do ser apenados da mesma forma.
Logo, apesar de não ter se apropriado dos recursos, é certo que os be
neficiários do PETI, ou seja, as famílias carentes sofreram sérios prejuízos, pois
ficaram sem receber os recursos referentes ao mês de outubro de 2004, bem
assim consta informação nos autos de que o l 2 réu não prestou contas dos
recursos repassados. Note-se, ainda, que a verba estava disponível desde o dia
01.12.2004 a disposição do Município de Flores até ser desviada no dia
30.12.2004.
Contudo, considerando que os réus aplicaram numa finalidade de inte
resse público municipal que a beneficiou, não havendo proveito patrimonial
dos mesmos, não se afigura lícito condená-los a restituir os valores, sob pena de
enriquecimento sem causa do Município de Flores/PE.
Assim, são incabíveis as sanções de ressarcimento dos danos causados
ao patrimônio público e perda dos valores acrescidos ilicitamente ao patrimô
nio do agente, uma vez que não estão presentes os pressupostos fáticos que as
legitimam14S.
Outrossim, considero necessário afastar do cenário político pessoas que
demonstraram a inabilidade em gerir o erário público, mormente quando a
conduta é enquadrada como crime de responsabilidade impróprio de Prefeito
previsto no art l2, V do DL n.2 201/67.
Por fim, tendo em vista o parco patrimônio dos réus - somente o l2 te
ve alguns bens indisponibilizados -, é mais adequado e efetivo a espécie puni-
los com a suspensão dos direitos políticos do que a multa civil, proibição de
143 STJ, REsp 601935/MG, 1 a Turma, Rei. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SE
GUNDA TURMA, julgado em 12.12.2006, DJ 08.02.2007 p. 312
144 TRF 4a Região, AC 2001.71.00.036136-4, 3a Turma, Relator Carlos Eduardo Thompson
Flores Lenz, publicado em 18/10/2006
145 GARCIA, Emerson. “A Lei de Improbidade e a dosimetria de suas sanções” in RBCCRIM
58/2006, p. 47
contratar com o Poder Público ou de receber benefícios fiscais ou creditícios,
sob pena de ineficácia da sanção.

3. DISPOSITIVO
Diante do exposto, julgo procedente o pedido para CONDENAR os réus
ARNALDO PEDRO DA SILVA e VALQUÍRIA ARAÚJO DA SILVA pela prática do
ato de improbidade que causou prejuízo ao erário, previsto no art 10, XI, da Lei
ns 8.429/92, aplicando-lhes a SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS PELO
PRAZO DE 5 (CINCO) ANOS.
Havendo possibilidade de recursos de ambas as partes, mantenho, ex
cepcionalmente, eficácia da liminar de fls. 120/122 até o trânsito em julgado.
Condeno, ainda, o demandado ao pagamento de custas e em honorários
advocatícios no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), com fulcro no §42 do art.
20, CPC.
Após o trânsito em julgado:
1) oficie-se ao TRE/PE dando ciência da presente sentença para que se
proceda à suspensão ora determinada;
2) inexistindo reforma ou anulação desta sentença, levante a indisponi
bilidade dos bens gravados nas fls. 142/150 e 156.
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Serra Talhada, 25 de setembro de 2007

FÁBIO CORDEIRO DE LIMA


Juiz Federal Substituto da 18â Vara/PE
Subseção Judiciária de Serra Talhada

3 Mandado de segurança

Justiça Federal de Primeira Instância da Ia Região


Subseção Judiciária de Feira de Santana - Bahia - Vara Única

Processo n.9: 2007.33.04.000837-5


Classe: 2100 - Mandado de segurança individual
Impetrante: Bomboniere Mascarenhas Ltda.
Impetrado: Delegado da Receita Federal do Brasil em Feira de Santana
SENDENÇA
Tributário. PIS/COFINS. Conceito de faturamento. Exclusão
do montante relativo ao ICMS da base de cálculo das contribuições.
Imposto estadual que integra o conceito de faturamento para fins
de tributação. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Im
procedência da demanda. Denegação da ordem.

I. Relatório
A impetrante ajuizou mandado de segurança contra suposto ato abusi
vo e ilegal do impetrado, objetivando a exclusão do ICMS, imposto estadual
incidente sobre operações de venda de mercadorias ou serviços, das bases de
cálculo da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS e
do Programa de Integração Social - PIS.
Disse que o referido imposto estadual não poderia integrar a base de
cálculo das referidas contribuições, porque ele não pode ser enquadrado no
conceito de faturamento.
Pediu a exclusão mencionada e a declaração do direito a compensação
dos valores indevidamente pagos nos últimos cinco anos.
Juntou procuração e documentos (fls. 20/77).
A liminar foi indeferida (fls. 80/84).
Notificada, a autoridade coatora apresentou suas informações, alegando
que o ICMS integra o conceito de faturamento e, via de conseqüência, a base de
cálculo do PIS e da COFINS (fls. 126/138).
A União requereu sua admissão no feito, como interveniente (fls.
141/142).
Intimado, o Ministério Público Federal disse que não havia interesse
público que justificasse sua manifestação nos autos (fls. 144/147).
É o relatório. Passo a Decidir.

II. Fundamentação
O Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS é daqueles
denominados de indiretos, já que grava, economicamente, o elo final da cadeia
produtiva, qual seja, o consumidor.
Embora, no mundo fenomênico, quem suporte o ônus fiscal seja o ad-
quirente final do bem vendido, como de resto em todas as modalidades de
tributos e demais custos que oneram a produção, o sujeito passivo da relação
tributária é o vendedor da mercadoria, já que a hipótese de incidência assim o
elege. Ao contrário do que ocorre com o Imposto sobre Produtos Industriali
zados - IPI, o ICMS integra o preço da mercadoria vendida e o seu destaque, na
emissão da nota fiscal, constitui mera indicação contábil, sinalizando para o
comprador a quantia a ser eventualmente recuperada, nas hipóteses em que
cabível tal recuperação, dado que se trata de tributo não cumulativo. Ou seja, o
cálculo do ICMS é feito "por dentro" do preço do produto vendido, como afirma
o vulgo.
Já o IPI, imposto federal sobre produção e consumo comumente utiliza
do como parâmetro na análise do seu "primo" estadual, é imposto direto, ou
seja, quem suporta o ônus é o adquirente dos produtos industrializados, não a
unidade produtora. Assim, é que o IPI é calculado à parte, destacado do valor do
bem vendido em si, modalidade de cálculo dita vulgarmente "por fora".
Por exemplo, na venda de uma mercadoria qualquer pelo valor de R$
100.00 (cem reais), R$ 17,00 (dezessete reais) serão devidos a título de ICMS,
mas eles integram o próprio preço da venda. Se a mesma operação for também
fato gerador do IPI e a alíquota de tal tributo for de, por exemplo, 10% (dez por
cento), a fatura da operação será de R$ 110,00 (cento e dez reais), sendo R$
10.00 (dez reais) relativos a este último tributo e R$ 100,00 (cem reais) o preço
do bem, já integrado pelo ICMS.
Através deste exemplo simples, vê-se que o preço do bem recebido pelo
vendedor integra o patrimônio do sujeito passivo, que deverá realizar as opera
ções contábeis de débito e crédito relativas ao ICMS, a fim de encontrar o saldo
devedor a ser recolhido aos cofres estaduais, ou credor, a ser apropriado em
sua escrituração, para posterior abatimento.
No caso do IPI, ainda que ele também seja não cumulativo, o fato de seu
contribuinte de fato ser o adquirente, altera esta sistemática, de modo que o
valor destacado no documento fiscal não integrará o patrimônio do vendedor.
É por isso que o IPI, em regra, não está incluso na base de cálculo da
COFINS, diferentemente do que ocorre com o ICMS, pois o valor deste último,
diversamente do primeiro, integra o faturamento da vendedora.
Inclusive a fórmula de cálculo do custo da mercadoria vendida é uma,
para o caso do ICMS, e outra, para o IPI, em razão justamente desta diversidade
de natureza jurídica tributária.
Aliás, a prevalecer o entendimento de que os encargos tributários não
constituem receita, por pertencerem ao Estado, tal exegese haveria que ser
estendida inclusive para outras espécies tributárias, cuja base imponível tam
bém exija uma expressão econômica afeta ao contribuinte.
Assim, se formos descontar do preço dos produtos todos os elementos
que tiverem correspondência no passivo da empresa, compondo seus custos, na
realidade não teremos mais um tributo sobre faturamento ou receita bruta, mas
sobre o lucro da empresa.
Em outras palavras, teremos que entender inconstitucional qualquer
tributo que incidir sobre receita bruta, pois evidentemente a empresa, para
auferir a receita, tem seus custos, sejam eles financeiros ou tributários.
A posição aqui adotada encontra-se em plena sintonia com a jurispru
dência consolidada do STJ, no sentido de reconhecer que a parcela relativa ao
ICMS insere-se na base de cálculo do PIS e da COFINS, estando, portanto, res-
guardada de qualquer violação dos dispositivos legais tidos por malferidos.
Confiram-se, a propósito, os recentes julgados do STJ:
"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. PIS
E COFINS. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO. LEI Ns 9.718/98, ART. 3a, §
2* III. VALORES TRANSFERIDOS A OUTRA PESSOA JURÍDICA. NORMA
DEPENDENTE DE REGULAMENTAÇÃO. REVOGAÇÃO PELA MP NQ1991
18/2000. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 97, IV, DO CTN. INCLUSÃO
DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO. SÚMULAS NSS 68 E 94, DO STJ. PRECE-
DENTES.
1. Agravo regimental contra decisão que desproveu agravo de
instrumento
de exclusão daembase
face de cálculo
acórdãodoa quo
PIS esegundo o qualosnão
da COFINS são possíveis
valores repassados
a outras pessoas jurídicas. Asseverou, também, com base nas Súmulas
nss 68 e 94 do STJ, estar pacificado o entendimento de que a parcela re-
lativa ao ICMS se inclui na base de cálculo do PIS e da COFINS.
2. Se o comando legal inserto no art. 3 B, § 2Q, III, da Lei ns
9718/98 previa que a exclusão de crédito tributário ali prevista depen-
dia de normas regulamentares a serem expedidas pelo Executivo, é certo
que, embora vigente, não teve eficácia no mundo jurídico, já que não edi-
tado o decreto regulamentador, a citada norma foi expressamente revo-
gada com a edição de MP ns 1.99118/2000. Não comete violação do art.
97, IV, do CTN o decisório que em decorrência deste fato não reconhece o
direito de o recorrente proceder à compensação dos valores que entende
ter pago a mais a título de contribuição para o PIS e a COFINS.
3. In casu, o legislador não pretendeu a aplicação imediata e ge-
anérica da lei sem
recorrente, casoque lhe fossem
contrário, nãodados outros contornos
teria limitado seu podercomo pretende
de abrangên-
cia.
4. Pacífico o entendimento nesta Corte de que a parcela re-
lativa ao ICMS incluise na base de cálculo do FINSOCIAL (e, conse-
quentemente, da COFINS, tributo da mesma espécie) e também do
PIS. Súmulas nss 68 e 94/STJ, respectivamente: “a parcela relativa
ao ICM incluise na base de cálculo do PISH e "a parcela relativa ao
ICMS incluise na base de cálculo do Finsocial."
5. Precedentes desta Corte Superior.
6. Agravo regimental nãoprovido".
(STJ, Primeira Turma, AGA n.g 750493/ RS, rei. Min. José Delga-
do, decisão de 18/05/2006, fonte: DJ de 08/06/2006, p. 136, unânime e
os grifos são meus)

ART. 545"PROCESSUAL
DO CPC. ICMS. CIVIL E TRIBUTÁRIO.
INCLUSÃO NA BASEAGRAVO REGIMENTAL
DE CÁLCULO DO PIS E DA
COFINS. SÚMULAS N.?S 68 E 94 DO STJ.
1. Incluise na base de cálculo da contribuição ao PIS e da CO-
FINS a parcela referente ao imposto sobre a circulação de mercadorias e
sobre a prestação de serviços de transporte, interestadual e intermunici
pal, e de comunicação.
2. Inteligência dos enunciados sumulares n.3s 68 e 94 deste Supe-
rior Tribunal de Justiça.
3. Precedentes: REsp n.3 496.969/RS, Segunda Turma, Rei. Min.
Franciulli Netto, DJ de 14/03/2005; REsp n.3 668.571/RS, Segunda Tur-
ma, Rei. Min. Eliana Calmon, DJ de 13/12/2004; e REsp n.° 572.805/SC,
Primeira Turma, Rei. Min. José Delgado, DJ de 10/05/2004.
4. Agravo regimental improvido."
(STJ, Primeira Turma, AgRg no Ag n.3 623.163PR, rei Min. Luiz
Fux, DJ de 27.6.2005.)

"TRIBUTÁRIO - PIS E COFINS: INCIDÊNCIA - INCLUSÃO DO ICMS


NA BASE DE CÁLCULO.
1. 0 PIS e a COFINS incidem sobre o resultado da atividade eco-
nômica das empresas (faturamento), sem possibilidade de reduções ou
deduções.
2. Ausente dispositivo legal, não se pode deduzir da base de cál-
culo o ICMS.
3. Recurso especial conhecido em parte e improvido."
(STJ, Segunda Turma, REsp n. 668.571RS, rela. Min. Eliana Cal-
mon, DJ de 13.12.2004.)

0 egrégio Tribunal Regional Federal da Ia Região, de forma reiterada,


também, vem decidindo no sentido da inclusão do ICMS na base de cálculo do
PIS e da COFINS, conforme exemplifica o seguinte julgado:
"TRIBUTÁRIO  COFINS E CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS  EX-
CLUSÃO DO IPI DA BASE DE CÁLCULO DAS CONTRIBUIÇÕES  IMPOS-
SIBILIDADE.
1  É pacífico o entendimento no sentido de que o montante
recolhido a título de ICMS integra a base de cálculo da COFINS e da
Contribuição para o PIS, por integrar o montante do faturamento
das empresas (Súmulas 68 e 94/STJ).
2 Apelação improvida.
3  Sentença mantida
(TRF da 1 Região, Sétima Turma, AMS n.°
200238000240132/MG, rei. Desembargador Federal Catão Alves, decb
são de 20/3/2007, fonte: DJ de 27/4/2007, p. 69 e os grifos são meus)
Os demais pedidos, dependentes do pedido declaratório negado, resU»
ram prejudicados.
III. Decisão
Isso posto, rejeito o pedido do impetrante, julgo improcedente a
demanda e denego a segurança requerida.
Condeno o impetrante ao pagamento das custas sobre o valor da causa
retificado nos termos da pe:ição das folhas n.2 120 e 121. Sem honorários advo
catícios (Súmulas n.2 512, do STF, e n.2 105, do STJ).
Sentença em conformidade com as súmulas n.s 68 e 94 do Superior Tri
bunal de Justiça.
Publique-se. Oficie-se a autoridade impetrada, dando-lhe ciência da
presente decisão. Inclua-se a União Federal no polo passivo e intime seu procu
rador pessoalmente, acerca
Feira de Santana, ls desta decisão.de 2008.
de fevereiro

Marcos Antônio Garapa de Carvalho


Juiz Federal Substituto

4 Execução fiscal - extintiva

JUSTIÇA FEDERAL
SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE UBERABA/MG -1** VARA

PROCESSO n2.: 1997.38.02.003555-7


AÇÃO: EXECUÇÃO FISCAL / FAZENDA NACIONAL
EXEQUENTE: UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL)
EXECUTADO: WELLINGTON RODRIGUES COSTA
JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO: ALEXANDRE HENRY ALVES

SENTENÇA
Por meio do despacho de fl. 26, a exequente foi intimada para se mani
festar sobre possível ocorrência de prescrição intercorrente.
Por meio da petição de fls. 27/28, a União Federal refutou a ocorrência
de prescrição sob os seguintes argumentos:
a) nos casos de arquivamento de execuções por conta do baixo valor,
aplica-se o Decreto-Lei n2.1.569/77, que suspende a prescrição;
b) o §2 do art 40 da Lei ns. 6.830/80 se aplica somente aos casos de ar
quivamento por conta da não localização do devedor ou de bens penho-
ráveis;
c) impossibilidade de aplicação da prescrição de ofício às execuções
propostas antes da vigência da Lei n2.11.051/2004.
Aialisando os autos, verifico que a execução foi proposta em
13/10/1997 e arquivada em 05/06/2000 e, novamente, em 26/05/2002, após
pedido da exequente, por conta de seu baixo valor. Desde a suspensão inicial,
passaramse mais de seis anos sem qualquer movimentação objetiva em busca
de satisfação do crédito.
A referida suspensão encontrava fundamento, entre outros dispositi
vos, no art 5e do Decreto-Lei ne. 1.569/77, que diz:
An. 5S Sem prejuízo da incidência da atualização monetária e dos juros
demora, bem como da exigência da prova de quitação para com a Fazen-
da Nacional, o Ministro da Fazenda poderá determinar a não inscrição
cono Dívida Ativa da União ou a sustação da cobrança judicial dos débi
tosde comprovada inexequibilidade e de reduzido valor.
Pcrágrafo único  A aplicação do disposto neste artigo suspende a pres-
crição dos créditos a que se refere.
Nã) ignoro o parágrafo único acima transcrito, que fala sobre a suspen
são da prcscrição. Porém, entendo que o contribuinte não pode ficar sujeito a
ter contra si um débito ad eternum, para quem sabe ser cobrado algum dia,
quando ese débito alcance determinado valor. Embora justificável a medida
adotada pila Fazenda Nacional no sentido de levar em conta a relação cus
to/benefício, a fim de não ajuizar valores pequenos, o fato é que isso não impe
de a ocorrência de prescrição.
A jrescrição, em regra, começa a correr do lançamento tributário. Em
uma interpretação mais favorável à União Federal sobre dívidas não ajuizáveis,
como no (aso em discussão, poder-se-ia considerar que os débitos de baixo
valor não ijuizáveis ou aqueles com suspensão da execução deferida gozam de
uma "suspsnsão da prescrição" a partir da inscrição em dívida ativa ou da do
arquivamento provisório do feito, conforme o caso. Porém, essa suspensão não
pode sero siperior
atingiu ao prazo
\alor mínimo paradeser
cinco anos usual.
ajuizado, Findo
para que tal prazo,fiscal
a execução se o débito não
seja pro
movida ou para que ela prossiga, deve-se declarar a ocorrência da prescrição.
Repito: asíim é se for feita uma interpretação totalmente favorável à Fazenda
Nacional, om base no Decreto destacado.
En endo ser assim porque, como dito, uma dívida não pode ficar em a-
berto etenamente. O devedor deve ser cobrado ou então a dívida deve ser
extinta. Nã) pode ficar em estado de latência infinitamente.
Além disso, a própria jurisprudência reconhece esse entendimento e
reconhece, inclusive, a prescrição de débitos já ajuizados, mas arquivados por
baixo valoi, conforme se vê na seguinte decisão do TRF da Sê Região (grifei):
Acórdão: TRIBUNAL  QUINTA REGIÃO
Classe: AC  Apelação Cível  390450
Processo: 200083000113451/PE
Data da decisão: 22/08/2006
Relator(a): Desembargador Federal Napoleão Maia Filho
TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. VALOR REDUZIDO. ARQUIVA-
MENTO DO FEITO (ART. 20 DA MP 1.97363/00). DECURSO DE PRAZO
SUPERIOR A 5 ÂNOS. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO INTERCOR
RENTE DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE A PARTIR DA LEI 11.051/04. CON-
TRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. NATUREZA TRIBUTÁRIA. APELAÇÃO IM
PROVIDA.
1. A Execução Fiscal, ajuizada em 04.07.00, foi arquivada (fls.
18), em 05.09.00. com fulcro no art. 20 da MP 1.97363/00, por se tratar
de execução de valor reduzido; ressaltese que a exequente, em 29.09.05
(fls. 21verso), foi devidamente intimada a se pronunciar sobre a consu-
mação da prescrição intercorrente (conforme inovação trazida pela Lei
11.051/04), momento em que, aliás, não trouxe qualquer elemento que
possibilitasse o prosseguimento do processo executivo, cuja continuidade
representaria apenas o retorno dos autos ao arquivo em razão do baixo
valor da execução.
2. 0 STI já decidiu que. arquivado o feito sem baixa na dis-
tribuição. por se tratar de cobrança de pequeno valor, inexistindo.
üq diptoma legal que autor\m tal hipótese de arquivamento, regra
atinente à suspensão do prazo prescricional. aplicase o entendi-
mento pacificado no STI. reconhecendose a prescrição intercorren
tea se. a exeçuçãQ ficou paralisada por mm de çííiçq anos (REsp.
773.367RS, Rei. Min. TEORIALBINO ZAVASCKI, DJU20.03.06, p. 209).
3. 0 art. 40, parág. 4o. da LEF, acrescentado pela Lei 11.051/04,
autoriza o juiz a decretar de ofício a prescrição intercorrente, desde que
ouvida a Fazenda Pública (possibilitando que esta demonstre eventual
causa interruptiya/suspensiva da prescrição); tal alteração não é de direi-
to material, uma vez que não modifica o prazo prescricional, apenas per-
mite o reconhecimento de ofício pelo Juiz, sendo, portanto, de natureza
processual, tem aplicação imediata, alcançando os processos em curso
(STJ,REsp. 815.711RS, Rei. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJU 10.04.06,
p. 162).
4. A partir da CF/88 consolidouse a natureza tributária das con-
tribuições previdenciárias; a decadência e a prescrição de tributos consti-
tuem matérias reservadas à Lei Complementar (art 146, III, b, da CF/88),
sendo aplicáveis as normas do CTN, que prevalecem em relação ao prazo
decenal previsto pelo art. 46 da Lei 8.212/91 para a Seguridade Social co-
brar seus créditcs.
5. Apelação improvida; sem Remessa Oficial (parág. 2o. do art.
475 do CPC).
E ainda:
EXECUÇÃO FISCAL. PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE PRÉ
EXECUTIVIDADE. RECONHECIMENTO DE PRESCRIÇÃO. POSSIBILIDADE.
1. A exceção de préexecutividade é um incidente processual construído
pela Doutrina e pela Jurisprudência, e se revela como meio hábil ao reco
nhecimento da prescrição da ação de Execução Fiscal desde que não de-
mande dilação probatória. Precedentes do colendo Superior Tribunal de
Justiça  STJ. 2. Execução Fiscal que foi ajuizada depois do transcurso de
mais de 5 (cinco) anos, contados da efetivação do lançamento tributário,
incluindose a contagem dos 180 dias de suspensão previstos no art. 2a,
parágrafo 33 da Lei n3 6.830/80. 3. A edição da Portaria n3 289/MF, que
regulamentou o art 53 do DecretoLei n3 1.569/77 e o art. 65 da Lei n3
7.779/89, teve por escopo impedir o ajuizamento de Execuções Fiscais de
valores ínfimos, evitandose maiores ônus para a parte e prejuízos para a
Administração Pública. Não há a finalidade de suspender o prazo
prçççrjçjQnal dps çréditoç tril)utáriQS_até_que chegasse a um deter-
minado valor em que pudessem ser executados. Apelação improvida.
(TRF5, Processo: 200184000052882, UF: RN, Órgão Julgador: Terceira
Turma,
Data daRelator(a) Desembargadora
decisão: 24/11/2005, Federal Joana
DJ 17/02/2006, Carolina Lins Pereira,
p. 902).

Ressalte-se que o STJ editou súmula de n Q. 314 nos seguintes termos:


"Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo
por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição qüinqüenal intercorren
te". Percebe-se que não houve qualquer diferenciação por conta do valor.
Quanto à alegação de que a decretação da prescrição de ofício não pode
ser feita em relação às execuções promovidas antes da Lei n s. 11.051/2004, a
questão já foi pacificada no âmbito do STJ, conforme informa o julgamento a
seguir, do TRF da l â Região (grifei):
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO  EXECUÇÃO FISCAL EXTINTA
DE OFÍCIO PELA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE: POSSIBILIDADE APÓS A
PROMULGAÇÃO DA LEI N. 11.051, DE 29/12/2004, QUE ACRESCENTOU O
S
§4
ÇÃODO NÃOART.40 DA LEI N. 6.830/80  JURISPRUDÊNCIA DO STJ  APELA-
PROVIDA.
1. "A jurisprudência do STJ sempre foi no sentido de que "o re-
conhecimento da prescrição nos processos executivos fiscais, por envolver
direito patrimonial, não pode ser feito de ofício pelo juiz, ante a vedação
prevista no art. 219, § 53, do Código de Processo Civil" (RESP 655.174/PE,
2 Turma, Rei. Min. Castro Meira, DJ de 09.05.2005. Ocorre que o atual pa-
rágrafo 43 do art 40 da LEF (Lei 6.830/80), acrescentado pela Lei 11.051,
de 30.12.2004 (art. 63), viabiliza a decretação da prescrição intercorrente
por iniciativa judicial, com a única condição de ser previamente ouvida a
Fazenda Pública, permitindolhe arguir eventuais causas suspensivas ou
interruptivas do prazo prescricional. Tratandose de norma de nature-
za prççessmh tem qpljçaçãQ imediatUi. Qlcanç.mdQ inclwiyç çs pro-
cessos em curso, cabendo ao juiz da execução decidir a respeito da
sua incidência à hipótese dos autos." (STJ, REsp n. 926871/PE, Rei. Min.
TEORI ALBINO ZAVASCKI, Tl, ac. un., DJ 13/09/2007 p. 174).
2. À FN cabe o ônus de localizar e indicar bens da executada ou
de seus corresponsáveis para a quitação da dívida tributária. Se, ao invés
disso, requer a suspensão do feito e ele assim permanece por prazo supe-
rior ao estipulado na SÚMULA 314/STJ sem qualquer causa interruptiva
da prescrição, como no caso dos autos, inafastável que a culpa da sua pa-
ralisação é exclusiva da exequente, devendo ser extinto pela prescrição in-
tercorrente.
3. Apelação não provida.
4. Peças liberadas pelo Relator, em 26/11/2007, para publica-
ção do acórdão.
(AC 2007.01.99.0415883/MG, Rei. Juiz Federal Rafael Paulo Soa-
res Pinto (conv), Sétima Turma, DJ de 07/12/2007, p.134)

xecuçãoEnfim,
fiscal. é aplicável o instituto da prescrição intercorrente à presente e-

P1SPQSIT1Y.0.
Ante o exposto, nos termos do § 42 do art. 40 da Lei n2. 6.830/80, decla
ro de ofício a ocorrência da prescrição intercorrente, julgando EXTINTO o feito.
Sem reexame necessário (art. 472, § 22 do CPC). Após o trânsito em jul
gado, arquivem-se os presentes autos.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Uberaba, 18 de janeiro de 2008.
Alexandre Henry Alves
Juiz Federal Substituto

5 Juizado Especial Federal

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


Seção Judiciária do Ceará
19* Vara (Sobral)

PROCESSO N2 2005.81.03.500006-0
CLASSE: 169 - PROCEDIMENTO COMUM DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
AUTOR (A): MIGUEL SAMPAIO DO NASCIMENTO
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
TIPO: A
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE RENDA CONTINUADA.
LOAS. PORTADOR DE DEFIÊNCIA. SEQÜELAS DE POLIOMELITE.
INCAPACIDADE PARCIAL PARA O TRABALHO. CAPACIDADE
PARA A VIDA INDEPENDENTE. CONDIÇÕES PESSOAIS. MISERA-
BILIDADE. INÍCIO DO BENEFÍCIO.
1. A averiguação de capacidade para o trabalho deve
considerar não apenas o laudo pericial, que entendeu pela inca
pacidade parcial, mas também as condições pessoais do deficien
te, tais como grau de instrução e idade.
2. A verificação da incapacidade para a vida independen
te só faz sentido para o menor de dezesseis anos, impossibilitado
para o trabalho por força de determinação constitucional, de
modo que, estando ela presente, certamente implica a mobiliza
ção dos parentes
do-lhes nosdos
a obtenção cuidados exigidos
recursos pelo menor,
necessários dificultan
à manutenção do
grupo familiar.
3. A comprovação da renda familiar per capita inferior a
V a (um quarto) do salário mínimo, estando presente a Impossibi
lidade física de prover o próprio sustento, implica o direito à
percepção do amparo assistencial de renda continuada.
4. Tendo o laudo pericial judicial atestado a incapacidade
apenas parcial para o trabalho, o início do gozo do benefício de
ve coincidir com a data da prolação desta sentença, ocasião em
que foram ponderados outros aspectos para a configuração da
impossibilidade de o Autor prover o próprio sustento.
5. Pedido procedente em parte.

I - Relatório.
Dispensado, nos termos do art 38 da Lei n° 9.099/95, aplicado ao caso
por força do art Io da Lei n° 10.259/2001.

II  Fundamentação.
Dizendo-se portadora de deficiência física, que lhe incapacita para o
trabalho e para a vida independente, e sem condições de prover à própria sub
sistência ou de tê-la provida por seus familiares, a parte autora vem a juízo
requerer benefício assistencial de renda continuada no valor de um salário
mínimo.
Ausentes questões preliminares a examinar, passo à apreciação do mé
rito.
Dando cumprimento ao determinado pelo art 203, inciso V, da Consti
tuição Federal, que garantiu benefício mensal no valor de um salário mínimo à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, foi editada
a Lei 8.742/93 que delineou, em seus arts. 20 e 21, os parâmetros para conces
são e manutenção de referida prestação.
Assim a Lei de Organização da Assistência Social - LOAS - qualificou
como deficiente não apenas o incapaz para o trabalho, mas também para a vida
independente, não obstante a Carta Constitucional não tenha mencionado este
último requisito.
A correta interpretação a ser dada a essa noya exigência, trazida pelo §
22 do art. 20 da LOAS, de modo a conformá-la com os parâmetros constitucio
nais, é a de que ela só deve ser aplicável para os menores de dezesseis anos, em
decorrência de a eles já ser vedado o trabalho por força de determinação cons
titucional, salvo na condição de menor aprendiz a partir de quatorze anos.
Em tais circunstâncias, de fato, não faz sentido qualificar a deficiência
como incapacitante para o trabalho, motivo pelo qual a LOAS fez inserir o re
quisito de incapacidade para a vida independente cue, estando presente, cer
tamente implica a mobilização dos parentes nos cuidados exigidos pelo menor,
dificultando-lhes a obtenção dos recursos necessárias à manutenção do grupo
familiar. A respeito, reproduzo interessante julgado do Superior Tribunal de
Justiça:
RESP 360202. QUINTA TURMÀ. 04/06/2002. DJ DA
TA:01/07/2002 PÁGINA:377. Rei Min. GILSON DlPP.
PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.
ART. 20, § 2a DA LEI 8.742/93. PORTADOR DO VÍRUS HIV. INCAPACI-
DADE PARA O TRABALHO E PARA PROVER O PRÓPRIO SUSTENTO OU
DE TÊLO PROVIDO PELA FAMÍLIA. LAUDO PERICIAL QUE ATESTA A
CAPACIDADEROTINEIRAS
ATIVIDADES PARA A VIDA DOINDEPENDENTE BASEADO APENASDO
SER HUMANO. IMPROPRIEDADE NASÓ
BICEÀ PERCEPÇÃO DO BENEFÍCIO. RECURSO DESPROVIDO.
I  A pessoa portadora do vírus HIV, que necessita de cuidados
freqüentes de médico e psicólogo e que se encontra incapacitada, tanto
para o trabalho, quanto de prover o seu próprio sustento ou de têlo
provido por sua família  tem direito à percepção do benefício de pres-
tação continuada previsto no art. 20 da Lei 8.742/93, ainda que haja
laudo médicopericial atestando a capacidade para a vida independen-
te.
I I  O laudo pericial que atesta a incapacidade para a vida labo-
rai e a capacidade para a vida independente, pelo simples fato da pes-
soa não necessitar da ajuda de outros para se alimentar, fazer sua higi-
ene ou se vestir, não pode obstar a percepção do benefício, pois, se esta
fosse a conceituação de vida independente, o benefício de prestação
continuada só seria devido aos portadores de deficiência tal, que su-
primisse a capacidade de locomoção do indivíduo - o que não parece ser
o intuito do legislador.
III  Recurso desprovido.
Em consonância com esse entendimento, o próprio regulamento da LO
AS, aprovado pelo Decreto 6.214/2007, fixou, em seu art. 4e, § 22, que "para fins
de reconhecimento do direito ao Benefício de Prestação Continuada de crianças
e adolescentes até dezesseis anos de idade, deve ser avaliada a existência da
deficiência e o seu impacto na limitação do desempenho de atividade e restri
ção da participação social, compatível com a idade, sendo dispensável proceder
à avaliação da incapacidade para o trabalho".
Para efeito de aferir a miserabilidade do grupo familiar, considerado es
te o conjunto de pessoas elencadas no art. 16 da Lei 8.213/91, desde que vivam
sob o mesmo teto (Lei 8.742/93, art. 20, § l 2), a LOAS fixou como patamar
máximo a renda familiar mensal per capita de Va (um quarto) do salário míni
mo, devendo ela manter-se inferior a esse limite.
O § 82 do art. 20 da LOAS, por sua vez, determinou que "a renda familiar
2
mensal a que legal,
representante se refere o § 3 deverá
sujeitando-se aos ser declarada
demais pelo requerente
procedimentos ou seu
previstos no
regulamento para o deferimento do pedido".
No caso presente, consta, nos autos, declaração firmada por assistente
social, emitida pela Secretaria de Assistência Social do Município de Crateús,
atestando a miserabilidade do grupo familiar da parte autora (Doc. 3), não
tendo a Autarquia Ré infirmado tal realidade, muito embora o art. 13, § 32, do
regulamento da LOAS, tenha determinado que "o INSS verificará, mediante
consulta a cadastro específico, a existência de registro de benefício previdenci
ário, de emprego e renda do requerente ou beneficiário e dos integrantes da
família.".
O laudo pericial, realizado no âmbito deste processo, por sua vez, ates
tou ser a parte autora portadora de seqüelas de poliomielite, "com perda total
da capacidade laborativa no membro superior direito e perda parcial leve no
membro inferior direito, pois consegue deambular relativamente bem". Por
conta dessa deficiência, estaria parcial e definitivamente incapacitada para o
trabalho.
O Autor encontra-se com trinta e sete anos de idade, não possuindo
qualquer grau de instrução, uma vez que consta de seu RG a informação "não
alfabetizado". Diante dessas circunstâncias, entendo ser dever do Estado, com
provada a miserabilidade do deficiente, arcar com a sua subsistência e promo
ver, através da assistência social, a sua inserção no mercado de trabalho, dentro
de suas possibilidades.
De fato, a averiguação da capacidade para o trabalho de um deficiente
deve ser levada a efeito considerando não apenas o laudo pericial médico, como
também as suas circunstâncias pessoais. Nesse sentido, somos sabedores das
dificuldades que uma pessoa sã e instruída encontra para obter uma ocupação
laborativa, dificuldades essas que se tornam quase intransponíveis para um
deficiente físico analfabeto.
Desse modo, restando demonstrada a presença dos requisitos de mise
rabilidade e da incapacidade para o trabalho, evidencia-se o direito do Supli
cante ao benefício pleiteado, o qual deverá ser implantado de imediato, tendo
em vista que o art. 43 da Lei 9.099/95, aplicável aos Juizados Especiais Federais
por força do art. l s da lei 10.259/2001, determina que só excepcionalmente o
recurso seja recebido no efeito suspensivo, o que não é o caso.
Entendo, contudo, não ser cabível o pagamento de prestações atrasa
das, uma vez que a Administração, em face do laudo pericial desfavorável, ficou
impedida de deferir o beneficio requerido. Do mesmo modo, tudo está a indicar
a coincidência das conclusões médicas proferidas nos laudos periciais adminis
trativo e judicial, só tendo este juízo decidido pela procedência do pedido em
razão das condições pessoais do Requerente.
Assim, tendo o laudo pericial judicial atestado a incapacidade apenas
parcial para o trabalho, o início do gozo do benefício deve coincidir com a data
da prolação desta sentença, ocasião em que foram ponderados outros aspectos
para a configuração da impossibilidade de o Autor prover o próprio sustento.
Processo não sujeito a custas ou honorários advocatícios, no primeiro
grau, por força do disposto no art. I 2 da Lei n2.10.259/01, c/c os arts. 54 e 55
da Lei n2.9.099/95.

III - Dispositivo.
Diante de todo o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido, pa
ra condenar o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS - a conceder o benefí
cio de prestação continuada à pessoa portôdora de deficiência, com Renda
Mensal Inicial - RMI - no valor de um salário mínimo, e implantação a partir do
mês subsequente a este, no prazo de 90 (noventa) dias, contados da intimação
deste decisum, sob pena de cominação de multa diária, uma vez que eventual
recurso só será recebido no efeito devolutivo.

decisão.Oficie-se, com urgência, ao INSS para o imediato cumprimento desta


Sem custas e honorários advocatícios.
Publique-se, registre-se e intimem-se.
Interposto recurso voluntário, movimentem-se os autos para a Turma
Recursal de Fortaleza. Do contrário, proceda-se ao seu arquivamento, com
baixa na distribuição.
Sobral/CE, 29 de novembro de 2007.

RICARDO JOSÉ BRITO BASTOS AGUIAU DE ARRUDA


Juiz Federal Substituto da 19â Vara
6 Ação cautelar - Indeferimento da inicial

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


5a Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte
AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS
Autos de n* 2007.84.00.004411-5
Requerente: FRANCISCO VILMAR PEREIRA
Requerida: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

"Descabe exibição cautelar de extratos


bancários para instruir petição inicial de futura
ação de cobrança, visto que a juntada desses do
cumentos pode ser determinada pelo juiz nos au
tos do processo principal".

Vistos etc.
Trata-se de ação cautelar em que se pretende determinação judicial pa
ra a instituição financeira requerida juntar aos autos os extratos bancários dos
meses de junho e julho de 1987 e de janeiro e fevereiro de 1989 relativos às
contas de caderneta de poupança do requerente. Com isto, objetiva-se a obten
ção de elementos para poder-se ajuizar ação de cobrança das diferenças de
atualização monetária expurgadas pelos Planos Bresser e Verão (fls. 03/06).
Porém, entende o juízo ser desnecessário o ajuizamento de ação caute
lar, porquanto os referidos documentos podem ser apresentados pela Caixa
Econômica Federal nos autos do processo de conhecimento.
Não obstante, ao invés de indeferir a petição inicial por manifesta falta
de interesse processual (CPC, artigo 267, I; artigo 295, III), houve por bem o
juízo determinar à parte requerente que emendasse a peça inaugural para
adequá-la ao procedimento comum ordinário do processo de conhecimento
(fls. 11/12).
Fê-lo por princípio de economia processual.
Contudo, disse a parte autora que ajuizará a ação principal (fl. 15).
Na tentativa de aproveitarem-se os autos já praticados, novamente o ju
ízo determinou a emenda da petição inicial (fls. 16/17).
Contudo, em vão: a parte requerente insiste na via cautelar e entende
ter a faculdade de eleger a via que lhe pareça mais adequada, porque a Caixa
Econômica Federal teria oposto resistência à pretensão (fls. 19/20).
É o relatório.
Decido.
0 processo civil brasileiro conhece três espécies de exibição (cf. SILVA,
Ovídio Araújo Baptista da. A ação cautelar inominada do direito brasileiro. 4. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 366-379; idem, As ações cautelares e o novo
processo civil. Rio de Jineiro: Forense, 1974, pp. 141-145; THEODORO JR.,
Humberto. Processo cautelar. 19. ed. São Paulo: LEUD, 2000, pp. 275-278): (a)
exibÜçãQ QÇQUtelQtoriQ (CPC, arts. 844 a 845); (b) exibição probatória (CPC, arts.
355 a 363 e 381 a 382); íc) exibição como direito material autônomo.
A exibição cautelar - que é sempre uma ação cautelar preparatória -,
não tem natureza proba:ória. Não há aqui a produção de prova documental ou
entrega de coisa. Por meio dela é assegurada, simplesmente, "a pretensão a
conhecer
risco os dados
de uma de una
ação mal ação" (Pontes
proposta de Miranda).
ou instruída Quer-se com
deficientemente, a fimela
de evitar
que o o
requerente não se depare, no curso do futuro processo, com uma situação de
prova impossível ou inexistente. Daí por que cabe ação exibitória cautelar, p.
ex., para a prévia exibição de coisa a ser objeto de futura reivindicação, para
que o autor afaste dúvidas sobre a sua identidade ou posse por parte do réu.
Tem ela cabimento, p. et., para a prévia exibição de coisa a ser examinada em
perícia preventiva. Logo no âmbito de um processo cautelar de exibição docu
mental, não pode haver pretensão de direito material satisfeita, mas meramen
te assegurada.
Já a exibição probatória não é uma ação. Trata-se de medida de instru
ção tomada no curso do processo. É mero inciden:e probatório implantado no
decorrer da lide, sem qie se tenha de ajuizar uma outra demanda de natureza
cautelar incidental. Enfim, não há aqui atividade acautelatória, mas atividade
probatória. Mediante essa espécie exibitória, não se assegura prova; tampouco
se
se protege
desde já.preventivamente
Aqui, há produção pretensão dedocumental
de prova direito material. Faz-se
mediante mais: prova-
exibição inciden
ter tantum no transcorrer processual (ordenada ex offlcio pelo magistrado ou
então a requerimento da parte).
Por fim, tem-se exibição ligada a pretensão autônoma de direito mate-
riâl- Trata-se de uma ação condenatória principaliter, sem ter-se de ajuizar
outra ação principal. Não se trata de ação cautelar, porquanto não se pretende
simplesmente assegurar pretensão de direito material, mas satisfazêla. Tam
pouco se está diante de um expediente probatória o interesse na produção de
uma prova é meramente mediato. Em verdade, há aqui exercício de pretensão
autônoma a ver o documento, examiná-lo e conhecer seu conteúdo preciso. É a
exibição dos livros e papéis de escrituração empresarial a que se tem direito
(CC de 2002, art. 1.191). É a pretensão exibitória do depositante contra o depo
sitário, do herdeiro contra inventariante, do dono dos bens contra quem os
administra. É a pretensão que o credor tem à prévia exibição, nas obrigações
alternativas, para depois proceder à escolha. Daí o motivo pelo qual a exibição
judicial aqui é satisfativa, e não meramente assecuratória.
Pois bem, no caso concreto, lendo-se detidamente a petição inicial, no-
ta-se que a parte requerente não exerce "pretensão a conhecer os dados de uma
ação". Noutras palavras: embora não disponha dos extratos bancários necessá
rios para o dimensionamento aritmético dos valores expurgados, a parte não
propôs a demanda cautelar para certificar-se preventivamente da efetiva inflic-
ção dos expurgos às suas contas de caderneta de poupança (evitando com isto o
risco de uma ação mal proposta). Em verdade, a parte requer exibição dos
extratos bancários para instruir a petição inicial de sua futura ação de cobrança.
Enfim, a parte requer concessão de tutela jurisdicional de cunho eminentemen
te probatório, não de cunho acautelatório. No entanto, para forçar a Caixa Eco
nômica Federal a produzir a prova documental pretendida, a parte requerente
não necessita da via processual cautelar. Basta-lhe requer ao juiz que determi
ne a juntada desses documentos pela instituição financeira no curso do proces
so de conhecimento.
Logo, não se trata de ordenar cautelarmente a exibição de documentos
em ação preparatória,
mencionada mas de
prova no curso da imputar incidentalmente o dever de produzir a
ação principal.
Ora, conquanto o art 330 do Código de Processo Civil esteja estrutura
do sob um modelo rígido, analítico e mecanicista de imputação a priori de ônus
probatórios, a doutrina e a jurisprudência têm evoluído para um modelo flexí
vel, pragmático e adaptativo. De acordo com esse novo modelo, cabe ao juiz
atribuir o encargo processual a quem tenha casuisticamente melhores condi
ções de dele desincumbir-se. Em outras palavras: após uma análise dos contor
nos da lide, cabe ao juiz dizer quem tem mais facilidades para a produção da
prova necessária para o deslinde da causa (= teoria das "cargas probatórias
dinâmicas") (sobre o tema, p. ex., DALL'AGNOL JR., Antônio Janyr. "Distribuição
dinâmica dos ônus probatórios". In RT 788, pp. 92-107). Logo, no caso em tela,
se a instituição financeira tem sob a sua custódia todos os extratos bancários
indispensáveis para a prova e a quantificação dos expurgos infligidos à remu
neração das cadernetas de poupança, nada mais razoável que lhe seja impingi
do o dever processual (não se podendo mais falar, simplesmente, em ônus) de
juntar aos autos do processo de conhecimento os aludidos extratos.
Como se não bastasse, a relação jurídica de direito material controver
tida rege-se pelo Código Nacional de Defesa do Consumidor. Assim, diante da
verossimilhança das alegações contidas na petição inicial da ação de cobrança e
da hipossuficiência da parte autora, pode o juiz aplicar ao caso a regra do inciso
VIII do art. 6S da Lei 8.078/90, ou seja, pode "inverter o ônus da prova", sem
que a parte tenha de propor ação cautelar preparatória ou incidente para a
exibição judicial dos extratos bancários.
De acordo com o Superior Tribunal de Justiça:
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PROVA. JUNTADA.
DOCUMENTOS. O Juiz pode ordenar ao banco réu a juntada de cópia
de contrato e de extrato bancário, atendendo aos princípios da inver
são do ônus da prova e da facilitação da defesa do direito do consu
midor emart.
multa do Juízo.
538Art.6o,
do CPC. VIII, do CDC.
Recurso Art. 381emdoparte
conhecido CPC.e provido
Exclusão(STJ,
da
4â Turma, RESP 264.083-RS, rei. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, j.
29.05.2001, DJU 20.08.2001, p. 473, in RSTf 154/438).
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINARIA. FGTS. CORREÇÃO
MONETARIA. SALDO NAS CONTAS VINCULADAS. PROVA. REQUISI
ÇÃO A CEF DOS DOCUMENTOS PERTINENTES. DEFERIMENTO.
I - Cabendo à CEF, por lei, a obrigação de "emitir regularmente
os extratos ind viduais correspondentes às contas vinculadas", pode o
juiz requisitar tais documentos à instituirão financeira, indispensá
veis ao julgamento da causa, se a parte tem dificuldade em obtê-los.
I - Ofensa aos arts. 282, VI, 283 E 333,1, do CPC, não caracte
rizada.
II - Recurso especial não conhecido.
(STJ, 2* Turma, RESP 107.025-PF, rei. Ministro Antônio de
Pádua Ribeiro, j. 16.05.1997, DJU 01.09.1997, p. 40.801).

Assim, por todas essas razões, resta patente a desnecessidade da outor


ga de tutela jurisdicionalacautelatória à parte requerente.
No mesmo sentido a jurisprudência:
PROCESSO CIVIL - MEDIDA CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DO
CUMENTOS - FALTA DE COMPROVANTE DA RECUSA DA CAIXA E-
CONÔMICA FEDERAL EM FORNECER GS EXTRATOS BANCÁRIOS
PLEITEADOS - NECESSIDADE PARA SE CONFIGURAR INTERESSE DE
AGIR - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JILGAMENTO DO MÉRITO -
ART. 267, VI, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - APELO IMPROVIDO.
1. A nãD comprovação da recusa em fornecer os extratos ban
cários afasta o interesse de agir em virtude da ausência de resistência
da Caixa Econômica Federal, necessário para demonstrar a insatisfa
ção da parte aitora com relação à pretensão deduzida face ao credor.
2. Essa comprovação da recusa da empresa pública em forne
cer os documentos pleiteados não configira condição da ação, ante o
princípio da inafastabilidade do controle jidicial (art 5S, XXXV, Cons
tituição Federei), pois o que se exige é quea parte demonstre a neces
sidade de obter um provimento jurisdicioial para evitar um prejuízo
e no caso dos autos essa necessidade ficaria comprovada com a nega
tiva da Caixa Econômica Federal em forrecer os referidos extratos;
não se pretende impor aos apelantes o prévio esgotamento da via
administrativa, ou seja, o interessado não precisa esgotar todos os re
cursos administrativos, mas simplesmente provocar a Caixa Econô
mica Federal para atender ou não o seu pleito.
3. Apelação improvida.
(TRF da 3à Região, 1* Turma, AC200361090003514-SP, rei.
Juiz Johonsomdi Salvo, j. 29.11.2005, DJU L0.01.2006, p. 133).
PROCESSO CIVIL. CAUTELAR INCIDENTAL DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. FGTS. EXTRATOS BANCÁRIOS. NÃO CABIMENTO.
I - A Medida Cautelar de exibição, prevista no artigo 844, do
Código de Processo Civil, é procedimento preparatório, ou seja, obje
tiva viabilizar a instrução de ação a ser proposta futuramente.
II No caso, inexistindo o caráter preparatório da Medida
Cautelar pleiteada (exibição dos extratos fundiários) e sendo a reque
rida parte na relação processual (CEF), o pedido de exibição de do
cumentos deverá ser formulado na própria ação ordinária em curso,
nos termos dos artigos 355 e 363, do Código de Processo Civil.
III - Apelação provida, para reconhecer a carência da ação, pe
la inadequação da via eleita, com a conseqüente extinção do processo,
sem o exame do mérito.
(TRF da 3^ Região, 5â Turma, AC 199903990467423-SP, rei.
Juiz Fábio Prieto, j. 08.04.2003, DJU 05.08.2003, p. 636).

Ademais, o documento de fl. 21 não demonstra resistência da requerida


à exibição dos extratos, mas impossibilidade de fazê-lo face à falta de dados
para localização das contas bancárias.
Ante o exposto, indefiro a petição inicial (CPC, art. 295, III) e extingo
o processo sem resolução do mérito (CPC, art. 267,1).
Sem honorários, visto que não houve triangulação da relação processual.
Custas na forma da lei.
P.R.I.
Natal, 09 de julho de 2007.

EDUARDO JOSÉ DA FONSECA COSTA


Juiz Federal Substituto da 5 a Vara

7 Ação ordinária - Reconvenção

JUSTIÇA FEDERAL
SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE UBERABA - Ia VARA
PROCESSO N2.: 2003.38.02.002949-7
AÇÃO: ORDINÁRIA
AUTOR: WALTER ANTÔNIO CUNHA
RÉ: FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULO MINEIRO - FMTM
SENTENÇA
WALTER ANTÔNIO CUNHA ajuizou a presente ação ordinária, com pe
dido de tutela antecipada, em desfavor da FACULDADE DE MEDICINA DO
TRIÂNGULO MINEIRO - FMTM, objetivando o restabelecimento do percentual
de 28,86% (vinte e oito vírgula oitenta e seis por cento), a incidir sobre sua
folha de pagamento, bem como recebimento das verbas atrasadas a tal título,
desde janeiro de 2003, data em que o percentual defrou de integrar seu salário.
Para tanto, aduziu: a) o Ato Administrativo EM n 2. 01/93 incorporou à
folha de pagamento dos servidores públicos civis da Faculdade de Medicina do
Triângulo Mineiro - FMTM o percentual equivalente a 28,86%, referente ao
reajuste salarial
revogou concedido
o benefício; c) em aos militares;dab)edição
decorrência a Portaria n 2. 174/95,
da citada Portaria,todavia,
houve
ajuizamento de mandado de segurança individual pelo médico Wilson Roose-
velt Gaia, sendo que a Associação dos Médicos da FMTM ingressou posterior
mente na lide, na qualidade de assistente litisconsorcial, encontrando-se o
processo em grau recursal; d) restou sedimentado ros Tribunais de todo o país
que a vedação quanto ao direito ao benefício refere-se tão-somente aos servi
dores públicos civis concursados como professores da entidade; e) porém, não
é concursado como docente da FMTM, fazendo jus ao restabelecimento do
benefício; f) o pleito encetado pela Associação dos Médicos da FMTM não lhe
gerará nenhum efeito, eis que a maioria dos associados representados pela
associação médica são professores universitários; g) deixou de receber a im
portância desde o mês de janeiro de 2003.
Instruiu a inicial com a procuração e documentos de fls. 18/62 e 68.
O pedido de tutela antecipada foi deferido (fls. 64/65).
A Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - FMTM, às fls. 86/119,
apresentou reconvenção, aduzindo, em síntese, que: a) o autor/reconvindo
recebeu o percentual de 28,86% entre os meses de outubro de 1995 a dezem
bro de 2002 por força de liminar concedida no mandado de segurança n2.
95.0201992-0, impetrado por Wilson Roosevelt Gaia, porém, já havia obtido o
mesmo reajuste em data anterior ao deferimento da liminar, sendo que o pa
gamento determinado em razão daquela decisão constituiu-se em verdadeiro
bis in idem; b) por força da Lei n2. 8.627/93, o autor/reconvindo recebeu rea
juste salarial de 33,09%, superior, portanto, aos 28,86% pleiteados; c) o autor
deve à autarquia reconvinte a importância de R$89.627,29 (oitenta e nove mil,
seiscentos e vinte e sete reais e vinte e nove centavos), a título de restituição
das verbas pagas a maior.
Às fls. 120/153, a ré apresentou contestação, aduzindo, preliminarmen
te, que a tutela antecipada deferida ao autor foi integralmente cumprida, apesar
de nãojáter
ativo, produzido
que, na parte nenhum acréscimo
final da decisão, financeiro
restou aos vencimentos
determinado do polo
que o pagamento do
percentual de 28,86% deveria ser compensado com eventual aumento já con
cedido ao autor a mesmo título e, como o autor/reconvindo já obteve o reajuste
de 33,09%, não houve repercussão em seus vencimentos. No mérito, salientou
que o autor/reconvindo nada tem a receber a título de reajuste de 28,86%, mas
sim devolver os valores recebidos em razão da liminar deferida no mandado de
segurança n2. 95.0201992-0.
A resposta à reconvenção veio nas fls. 155/161 e a impugnação à con
testação às fls. 162/171.
Instada a cumprir a liminar (fl. 176), a FMTM carreou a petição e do
cumentos de fls. 178/207, aduzindo, novamente, ter cumprido integralmente a
liminar, já que o autor obteve reajuste maior do que o percentual postulado na
inicial.
Às fls. 209/210 a FMTM apresentou impugnação à contestação do re-
convindo e, às fls. 212/214, o autor/reconvindo apresentou resposta à impug
nação.
A decisão de fl. 215, ao tempo em que reconheceu ter sido o autor bene
ficiado com o reposicionamento decorrente da Lei 8.627/93, no percentual de
33,09%, e, consequentemente, ter a ré cumprido a liminar, declinou prazo às
partes para especificação de provas.
O autor/reconvindo postulou pelo depoimento pessoal do representan
te da FMTM, prova documental e perícia contábil (fls. 222/225).
A impugnação ao valor da causa relativa à reconvenção da FMTM foi
julgada improcedente (fls. 232/235).
A FMTM, à fl. 236, aduziu não ter provas adicionais a produzir.
A decisão de fl. 281 indeferiu o pedido de gratuidade judiciária do au
tor, bem como o depoimento pessoal do representante legal da ré e a perícia
contábil.
Posteriormente (fl. 287), tanto a gratuidade judiciária como a prova pe
ricial foram deferidas, facultando-se às partes a formulação de quesitos e a
indicação de assistentes técnicos.
Os quesitos do autor vieram nas fls. 289/292 e os da ré às fls. 295. Às
fls. 298/413, o autor apresentou quesitos suplementares e outros documentos
a fim de serem periciados pelo expert.
A FMTM, às fls. 416/417, rechaçou a alegação de extemporaneidade da
apresentação de seus quesitos e juntou cópia de demonstrativo de compensa
ção.
O despacho de fl. 421 acatou os quesitos apresentados pela ré, bem co
mo determinou a juntada de novos documentos pela ré, conforme solicitado
pelo perito nomeado à fl. 418. O documento foi juntado pela FMTM à fl. 423.
O laudo pericial foi juntado às fls. 423-B/475, tendo o autor se manifes
tado às fls. 480/485 e a ré às fls. 487/488.
O perito apresentou esclarecimentos às fls. 491/494 e 503/507, mani
festando-se novamente as partes: autor: fls. 509/513; ré: fls. 517/518.
O pedido do autor de substituição do perito nomeado foi indeferido (fls.
519/521).
Memoriais do autor às fls. 522/540 e da ré à fl. 542.
Então, os autos vieram-me conclusos {ara sentença.
É o relatório.
Decido.

Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, e já e-


xaurida a fase probatória, passo ao julgamentc do mérito.

a) Ação
Postula o autor o restabelecimento dopercentual de 28,86% (vinte e oi
to vírgula oitenta e seis por cento), a incidir sobre sua folha de pagamento, bem
comoem
data o recebimento das deixou
que o percentual verbas atrasadas
de integrara seu
tal título,
salário.desde janeiro de 2003,
No Supremo Tribunal Federal, a questão referente ao reajuste de
28,86%, inicialmente concedido exclusivamente aos militares, foi objeto de
decisão no Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n.s 22.307-7/DF, rei.
Ministro Marco Aurélio, reconhecendo-se a revisão geral de vencimentos, com
extensão aos servidores públicos civis. Mas, ao se julgar os embargos declarató-
rios interpostos contra a referida decisão, atribuindo efeito modificativo ao
recurso, a Suprema Corte determinou a conwensação dos percentuais de rea
juste, em razão do reposicionamento funcional concedido aos servidores públi
cos federais civis, pelos artigos l.Q e 3.Q da Lein.Q 8.627/93.
A propósito, transcreve-se a ementa dos Embargos de Declaração em
Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n. 2 22.307-7/DF, redator para o
acórdão Min. Ilmar Galvão:
"EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDORES DO MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL. REAJUSTE DE VENCIMENTOS DE 28,86%, DE-
CORRENTE DA LEI N2. 8.627/93. DECSÃO DEFERITÓRIA QUE TERIA SI-
DO OMISSA QUANTO AOS AUMENTOS DE VENCIMENTOS DIFERENCIA-
DOS COM QUE O REFERIDO DIPLOMA LEGAL CONTEMPLOU DIVERSAS
CA TEGORIAS FUNCIONAIS NELE ESPE:iFICADAS.
Diploma legal que, de efeito, beneficiou não apenas os servidores
militares, por meio da "adequação dospostos egraduações", mas também
nada menos que vinte categorias de tervidores civis, contemplados com
"reposicionamentos" (arts. 18 e 3Q), entre as quais aquelas a que pertence
a maioria dos impetrantes.
Circunstância que não se poderia deixar de ter em conta, para fim
da indispensável compensação, sendo certo que a Lei ns. 8.627/93 contém
elementos concretos que permitem calcular o percentual efetivamente
devido a cada servidor.
Embargos acolhidos para o fln explicitado."
0 autor exerce o cargo de médico, regido pelo regime jurídico único dos
servidores públicos civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas
Federais (fls. 19/22).
Conquanto alegue tratar a variação de 33,09% de promoção à categoria
profissional posterior, o certo é que o egrégio STF determinou a compensação
daqueles valores havidos por meio de reposicionamento a algumas categorias
de servidores civis com o percentual de 28,86% concedido pela Lei 8.622/93 e
8.627/93. Ressalto que o Supremo Tribunal Federal, ao decidir assim, não
ignorou que os 33,09% referiam-se à promoção na carreira, ou seja, o STF
decidiu que, mesmo assim sendo, deve ser feita a compensação.
Também não procede a alegação de não ser concursado como docente,
já que sua categoria também foi beneficiada com o reposicionamento, conforme
se verifica do documento acostado à fl. 186.
Logo, seguindo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, inexiste
razão para o restabelecimento do referido percentual.

b) ReçpnvençãQ.
No tocante ao pedido de reconvenção alinhavado pela FMTM, para que
o autor/reconvindo seja condenado a restituir a importância recebida indevi
damente em decorrência do mandado de segurança ns. 95.0201992-0, impe
trado por Wilson Roosevelt Gaia e cujos efeitos se estenderam a toda categoria
médica da FMTM, tendo em vista já ter o mesmo recebido reajuste salarial de
33,09%, superior, portanto, aos 28,86% pleiteados, o autor/reconvindo se
defende alegando: a) o reajuste de 33,09% não substitui os 28,86%; b) natureza
alimentar da verba; c) prescrição qüinqüenal.
Com relação ao argumento de que o reajuste de 33,09% não substitui os
28,86%, desnecessário tecer maiores considerações, visto que o assunto já foi
exaustivamente tratado no julgamento da ação.
Em relação à prescrição, tenho por mim que ela não ocorreu. A Facul
dade de Medicina do Triângulo Mineiro - FMTM, hoje Universidade Federal do
Triângulo Mineiro - UFTM, foi obrigada por decisão judicial proferida nos autos
950201992-0/MG a pagar o reajuste dos 28,86% a todos os servidores da
instituição, embora a referida ação fosse um mandado de segurança de caráter
individual. Tendo em vista esse fato, o Tribunal Regional Federal da 1 Região
reformou a sentença monocrática para determinar que o pagamento se limitas
se ao impetrante (AMS 1998.01.00.021922-5/MG). A ementa foi nesse sentido
(grifei):
CONSTITUCIONAL - ADMINISTRATIVO - REAJUSTE DE VENCIMEN-
TOS  LEIS mS. 8.622/93 E 8.627/93.
I. O direito pretoriano inclinouse pela concessão do reajuste de
28,86% (Leis n3s. 8.622/93 e 8.627/93) também aos civis, com arrimo no
art. 37, inciso X, da Constituição, exceto aos professores (q.v. EIAC nQ.
95.01.270696/DF, ACn* 96.01.S33583/PA eACnl 96.01.000720/MG);
II. Impõese ajustar o decisum ao julgado nos Embargos de Decla-
ração no ROMS nQ. 22307/7DF, pelo STF (Rei. Ministro limar Galvão);
III. Forçoso limitar os efeitos da sentença tãosomente ao im-
petrante. nos termos do art 472 do CPC.
IV. Apelos e remessa parcialmente providos.
(AMS 1998.01.00.0219225/MG, Rei. Juiz Carlos Fernando Mathias,
Segunda Turma, D] de 27/02/2002, p.69)
Tal decisão do Tribunal Regional Federal da Ia Região foi publicada em
27 de fevereiro de 2002, sendo que a intimação da União Federal acerca do
acórdão foi juntada aos autos em 04/03/2002, tudo conforme consulta proces
sual na página eletrônica do TRF da I a Região.
Isso significa que, até ser intimada da decisão que limitou o pagamento
dos 28,86% apenas ao impetrante daquele mandado de segurança, a FMTM
estava obrigada a efetuar tal pagamento e, portanto, impedida de cessá-lo e, em
conseqüência óbvia, de pedir a restituição dos valores já pagos. Em melhores
palavras, até 04/03/2002 a FMTM não podia acionar administrativa ou judici
almente os seus servidores para devolver os valores já pagos a título dos
28,86%.
Aplica-se ao caso, então, o chamado princípio da "actio nata": a prescri
ção começa do dia em que nasce a ação ajuizável. Se somente em 04/03/2002 a
FMTM passou a ter direito de acionar o Judiciário para exigir de volta o que
havia pagado aos seus servidores, somente nessa iniciou-se o prazo prescricio
nal de cinco anos. Em conseqüência, como a reconvenção foi proposta em 012
de agosto de 2003 (fl. 86), não havia transcorrido naquele momento o prazo
qüinqüenal e, portanto, não se pode falar em prescrição.
Por outro lado, apenas para complementar o raciocínio e não deixar
margem para omissões, ressalto que a FMTM tinha cinco anos, contados a
partir de 04/03/2002, para exigir judicialmente dos seus servidores a devolu
ção dos valores pagos a título de 28,86% durante todo o prazo de vigência da
medida judicial proferida nos autos 950201992-0/MG, e não apenas relativa
mente aos cinco anos anteriores à reconvenção. Tudo com base no já citado
princípio da "actio nata".
Pelo exposto, rejeito a alegação de prescrição feita pelo au
tor/reconvindo.
Com relação ao argumento de que a verba foi recebida de boa fé e tem
natureza alimentar e, por conta disso, não haveria obrigação de devolução, é
preciso tecer algumas considerações. A jurisprudência pátria é praticamente
uniforme no sentido de que o servidor não é obrigado a devolver verbas rece
bidas da Administração
o pagamento quando
com base em as recebeu
uma razoável de boa-fé e da
interpretação a Administração
legislação. efetuou
Merecem destaques as Súmulas n2.106 e 249 do Tribunal de Contas da
União, in verbis:
"Súmula 106: 0 julgamento, pela ilegalidade, das concessões de re-
forma aposentadoria e pensão, não implica por si só a obrigatoriedade da
reposição das importâncias já recebidas de boafé, até a data do conheci-
mento da decisão pelo órgão competente".
"Súmula 249: É dispensada a reposição de importâncias indevida-
mente percebidas, de boafé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas,
em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do ór-
gão/entidade, ou por parte de autoridade legalmente investida em função
de orientação e supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato admi-
nistrativo e do caráter alimentar das parcelas salariais".
Ocorre que o pagamento do percentual de 28,86% ao autor/reconvindo
não se deu em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do
órgão/entidade, mas por força de uma decisão judicial.
Reconheço que a maioria dos julgados atuais entende que, mesmo nos
casos de decisão judicial, os valores não devem ser devolvidos. Nesse sentido,
segue recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (destaquei):
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA - DESCONTO
DE VALORES RECEBIDOS DE BOA FÉ POR SERVIDOR PÚBLICO EM DE-
CORRÊNCIA DE LIMINAR OBTIDA EM AÇÃO JUDICIAL  IMPOSSIBILIDADE 
RECURSO PROVIDO.
1. O requisito estabelecido pela jurisprudência, para a não devolu-
ção de valores recebidos indevidamente pelo servidor, não corresponde ao
erro da Administração, mas, sim, ao recebimento de boafé.
2. Mesmo que o servidor tenha recebido determinado valor, de
maneira indevida, por força de decisão judicial, se acreditou que o re-
cebimento era legítimo  e ressaltese que a boafé é presumível, en-
quanto o dolo há de ser comprovado  não cabe falar em dever de res-
tituição.
3. Não bastasse, os descontos, uma vez admitidos, deverão ser efe-
tuados, observandose o percentual máximo de 10% dos rendimentos ou
dos proventos do servidor, por força dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, e deverão ser precedidos das garantias do contraditório
e da ampla defesa.
4. Recurso ordinário provido.
(RMS 18.121/RS, Rei. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA,
julgado em 13.12.2005, DJ 08.10.2007 p. 367)
Ocorre que, apesar de majoritário, esse pensamento não é unânime. No
específico julgamento acima transcrito, houve voto divergente que assim con
signou (grifei):
O SENHOR MINISTRO PAULO GALLOTTI (PRESIDENTE): Esse re-
conhecimento em caráter liminar  e aí é que está, no meu modo de ver, a
distinção há ser feita - é de caráter provisório. A liminar é de caráter provi
sório. Se o direito não vier a ser reconhecido ao final é evidente; com a de-
vida vênia de V. Exas., que os valores percebidos desde então devem ser de-
volvidos, sob pena. sim . de enriquecimento indevido. Por esse motivo,
pedindo vênia a V. Exas., entendendo, repito, que a questão não é de boafé,
mas, sim, da precariedade do ato que reconheceu o direito, que o meu voto
nega provimento ao recurso em mandado de segurança.
Entendo que o Ministro Paulo Gallotti, embora vencido nesse caso espe
cífico, está com a razão. Uma medida judicial, enquanto não transitar em julga
do, tem o caráter provisório e os seus efeitos são passíveis de reversão, caso
não seja confirmada ao término do processo. É de se ressaltar o que diz o Códi

go de Processo
Art.Civil:
4750. A execução provisória da sentença farseá, no que cou-
ber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: (In-
cluído pela Lei nQ. 11.232, de 2005)
I  corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que
se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado
haja sofrido; (Incluído pela Lei n3.11.232, de 2005)
II  fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a
sentença objeto da execução, restituindose as partes ao estado anterior e
liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento; (Inclu-
ído pela Lei ns. 11.232, de 2005)
O cumprimento de uma liminar, ou mesmo de uma sentença que conce
de a segurança, não difere de uma execução provisória e tem os mesmos efeitos.
Se o Código de Processo Civil determina que e\entual reforma da sentença leva
à obrigatoriedade
visória, de lógica
qual a razão restituição do quepara
ou jurídica foi recebido em sede
nso se aplicar de execução
o mesmo pro
raciocínio
ao presente caso? 0 que se está tentando preíervar é a vedação ao enriqueci
mento sem causa, um princípio basilar de todo d sistema jurídico nacional.
Ressalto que o argumento expedido m transcrito RMS 18.121/RS, do
Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que o que importa é a boa-fé e não a
existência ou não de uma medida judicial determinando o pagamento de verbas
ao servidor, não se sustenta diante do que diz o Código de Processo Civil, com o
devido respeito àquela Corte. Mais do que isso, sempre haverá boa-fé por parte
do servidor quando o pagamento é feito devid) a uma ordem judicial. Assim, a
questão não deve ser centrada nesse aspecto, nas na provisoriedade da liminar
ou da sentença reformável.
Não se trata aqui do que se convencionou chamar de "rebeldia da ls
Instância", tendo em vista que a questão não é pacífica nem mesmo no âmbito
do STJ, conforme se viu no posicionamento do Ministro Paulo Gallotti.
Também não entendo que a simples natureza alimentar da verba afaste
a obrigatoriedade da sua devolução. Isso porcue ninguém é obrigado a pagar
verbas alimentares sem que a lei assim o detemine e, se pagou, ainda que em
virtude de uma decisão judicial posteriormente reformada, tem direito à resti
tuição dos valores, sob pena do já citado enriquecimento sem causa. E mais: o
que o autor/reconvinte recebeu e agora é pleiteado pela FMTM não é toda a sua
remuneração de 1995 a 2002, mas tão somente uma parcela dela, correspon
dente ao aumento posteriormente julgado indevido. Como as verbas alimenta-
res são aquelas necessárias ao mínimo existencial do cidadão, em tese nem
seria possível falar em natureza alimentar propriamente dita no caso sob análi
se, devido aos valores bem acima da média nacional recebidos pelo au
tor/reconvindo.
Para proteger o servidor em caso de obrigatoriedade de devolução de
quantias recebidas indevidamente, a Lei n2. 8.112/1990 já previa na redação
srcinal de seu art. 46 que "as reposições e indenizações ao erário serão des
contadas em parcelas mensais não excedentes à décima parte da remuneração
ou provento, em valores atualizados".
Todo esse pensamento, como dito, não é isolado e encontra apoio na ju
risprudência, embora em caráter minoritário. Nesse sentido, já decidiu o Tribu
nal Regional Federal da 2â Região:

Acórdão: TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2* REGIÃO


AMS  APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA  50219
Processo: 200151010077172 UF: RJ
Relator (a) JUIZA VERA LÚCIA LIMA Decisão
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - APELAÇÃO EM MANDA-
DO DE SEGURANÇA - SERVIDOR PÚBLICO  REPOSIÇÃO DE VALORES RE-
FERENTES AO ÍNDICE DE 84,32% (PLANO COLLOR) CONCEDIDOS POR LI-
MINAR  ART. 46 DA LEI Ns. 8.112/90  POSSIBILIDADE  OBSERVÂNCIA
AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO NA APURAÇÃO
DO "QUANTUM" DEVIDO.
- Tratase de mandado de segurança impetrado objetivando que a
autoridade apontada coatora se abstenha de promover administrativamen-
te o desconto dos valores recebidos pelos impetrantes , como devolução; de-
correntes da aplicação do índice de 84,32%, em razão de decisão exarada
em processo judicial, que teria sido posteriormente reformada.
- Quando py uutorçs obtiveram medida iimtmKjwai&cLsai
biam da prQviMríetfadejdQ prQvimeato pjxlantQ, Unham plena
consciência da possibilidade de serem obrigados à ressarcir os cofres
públicos.

 Muito embora a verba em litígio tenha natureza alimentar,


isto não obsta o direito da Administração em proceder os descontos.
desde quenwliwdQS ÚentTQ ÚQS limita teguis Depreendese dos autos
que os Impetrantes foram notificados regularmente de acordo com a exi-
gência do artigo 46 da Lei ns. 8.112/90.
- Precedentes citados.
- Recurso desprovido.
Além de tudo o que foi dito, a própria Lei n2. 8.112/1990 traz dispositi
vo que diz respeito à devolução dos valores recebidos por servidores em decor
rência de medidas judiciais. Assim diz o § 3 2 do art. 46, em redação dada pela
Medida Provisória n2.2.225-45/2001:
§ 3o Na hipótese de valores recebidos em decorrência de cumpri-
mento a decisão liminar, a tutela antecipada ou a sentença que venha a ser
revogada ou rescindida, serão eles atualizados até a data da reposição."
Por conta do exposto acima, rejeito o argumento de que, por ser verba
alimentar recebida de boa-fé, não está sujeita à devolução.
Porém, nem por isso pode a Administração reaver toda a quantia exigi
da na reconvenção, pelo simples fato de que, a partir de 04 de março de 2002 a
União Federal
28,86% foi intimada
não se aplicava a todosdeosque a decisão
servidores determinando
da FMTM, o reajuste
mas somente de
ao autor
da ação 950201992-0/MG. Assim, a partir de tal data, a FMTM pagou o reajuste
aos seus servidores de livre e espontânea vontade, sem qualquer decisão judi
cial que a obrigasse a tanto, razão pela qual, aqui sim, incide a Súmula 249 do
Tribunal de Contas da União.
Além disso, a parcela a ser restituída deve ser limitada mensalmente em
10% (dez por cento) dos proventos do autor/reconvindo, conforme determina
a Lei n2.8.112/1990.

DISPOSITIVO
Ante o exposto, Julgo improcedente o pedido feito pelo autor de resta
belecimento do percentual de 28,86% (vinte e oito vírgula oitenta e seis por
cento), a incidir sobre a folha de pagamento do autor, bem como recebimento
das verbas
tual deixouatrasadas a tal
de integrar seutítulo, desde janeiro de 2003, data em que o percen
salário.
Julgo parcialmente procedente a reconvenção oferecida pela Facul
dade de Medicina do Triângulo Mineiro - FMTM, hoje Universidade Federal do
Triângulo Mineiro - UFTM, para obrigar o autor/reconvindo a devolver à UFTM
os valores recebidos por força da decisão judicial proferida nos autos n2.
95.0201992-0, de outubro de 1995 a fevereiro de 2002146, corrigidos monetari
amente a partir de cada pagamento, de acordo com o manual de cálculos da
Justiça Federal, acrescidos de juros de 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, a
partir da intimação do autor/reconvindo acerca da reconvenção, tudo confor
me cálculos a serem apurados em sede de liquidação de sentença. Ressalto que
a reposição de tal montante deverá ser feita mensalmente, respeitado o limite
de 10% (dez por cento) dos vencimentos totais do autor/reconvinte, nos ter
mos do art 46 da Lei n 2.8.112/1990.

146 Tendo em vista que a União Federal foi intimada em 04/03/2002 acerca da limitação dos
efeitos de tal ação às partes envolvidas.
Sem custas e honorários advocatícios, tendo em vista a gratuidade judi
ciária concedida ao autor à fl. 287.
Retifique-se a autuação, para fazer constar como nome da ré a Univer
sidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Uberaba-MG, 29/11/2007.
ALEXANDRE HENRY ALVES
Juiz Federal Substituto

8 Ação de reintegração de posse

JUSTIÇA
SUBSEÇÃOFEDERAL
JUDICIÁRIA DE UBERABA - Ia VARA
PROCESSO: 2003.38.02.006411-4
AÇÃO: REINTEGRAÇÃO DE POSSE
AUTOR: CONSÓRCIO DA USINA HIDROELÉTRICA DE IGARAPAVA
RÉU: ANTÔNIO SANTOS RODRIGUES

SENTENÇA
O CONSÓRCIO DA USINA HIDROELÉTICA DE IGARAPAVA ajuizou a
presente ação em desfavor de ANTÔNIO SANTOS RODRIGUES, buscando, já
em sede de liminar, a reintegração de posse do autor da área invadida pelo réu.
Para tanto, aduziu que: a) adquiriu a área delimitada no processo de
desapropriação promovido contra Sebastião Gallis e outros em ação que trami
ta perante o Juízo da 1- Vara Federal de Uberaba (autos n s 1998.38.02.000586-
9), tendo sido imitido na posse da referida área, conforme mandados de imissão
devidamente cumpridos; b) o requerido, em total má-fé e clandestinidade,
invadiu parte da área e nela construiu um rancho de lazer; c) ao descobrir a
invasão, em fevereiro de 2003, promoveu a notificação judicial do requerido,
mas este não se dispôs a desocupar a área; d) a invasão se deu com extrema
má-fé, visto tratar-se de área desapropriada e onde não se pode erguer qual
quer tipo de construção, por ser de preservação permanente.
Instruiu a inicial com os documentos de fls. 15/71.
O pedido de liminar foi indeferido (fl. 108). Na oportunidade, designou-
se audiência de justificação.
Posteriormente (fls. 113/114), a audiência de justificação anteriormen
te designada foi cancelada, bem como deferida a liminar e determinada a expe
dição de mandado de reintegração de posse.
A União Federal postulou sua admissão à lide, na qualidade de assisten
te litisconsorcial do requerente (fls. 134/136).
O autor foi reintegrado na posse (fl. 143).
O prazo para contestação transcorreu in albis, conforme certidão de fl.
154.
À fl. 155 a União foi admitida no processo, oportunidade em que dei-
xou-se de agregar o IBAMA como parte no processo.
Na fase de especificação de provas (fl. 155), a União Federal requereu
fosse decretada a revelia do requerido, bem como o julgamento antecipado da
lide (fl. 161). As partes, embora intimadas, quedaram silentes (fls. 158/159-
verso).
Foi decretada a revelia do requerido, bem assim determinada a apre
sentação de memoriais pelas partes (fl. 162).
Instado (fl. 155), o Ministério Público Federal manifestou-se pelo pros
seguimento do feito (fls. 163/164).
Memoriais do autor à fl. 166 e da União às fls. 168/169.
Então, os autos vieram-me conclusos para sentença.
É o relatório.
Passo a decidir.
Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, passo ao
julgamento do mérito.
Pretende o Consórcio da Usina Hidrelétrica de Igarapava a presente a-
ção de reintegração de posse de área situada às margens da Usina Hidrelétrica
de Igarapava.
Alega que adquiriu a área descrita no decreto expropriatório, que en
globa as áreas delimitadas no processo de desapropriação promovida contra
Sebastião Gallis e outros, em ação que tramita perante a lâ Vara Federal de
Uberaba, autos nQ 1998.38.02.000586-9, tendo sido imitido na posse da referi
da área.
Aduz, ainda, que o requerido, em total má-fé, invadiu uma parte que se
situa numa área de sua propriedade e nela construiu um rancho de lazer.
Sobre a questão dos autos, dispõe o art. 927 do Código de Processo Ci
vil, verbis:
"Art. 927  Incumbe ao autor provar:
/ - a sua posse;
I I  a turbaçâo ou o esbulho praticado pelo réu;
III  a data da turbação ou do esbulho;
I V  a continuação da posse; embora turbada, na ação de manutenção; a
perda da posse; na ação de reintegração".
Ora, o decreto expropriatório de 2-05-1996, publicado no Diário Oficial,
em 3-05-1996, página 85 (fl. 25) declara de utilidade pública para fins de desa
propriação em favor do Autor a área descrita nas fls. 06/10 da exordial, a qual
engloba área delimitada no processo de desapropriação promovido contra
Sebastião Gallis, conforme já mencionado, tendo sido imitido na posse, conso
ante mandados de imissão de fls. 37/50.
O requerente juntou fotos, planta baixa de localização, imagem de saté
lite e descrição da área invadida para demonstrar que se trata da mesma área
que foi alvo de desapropriação.
No afa de solucionar a questão, o Consórcio-Autor notificou judicial
mente o réu sobre a ilegitimidade da conduta por ele perpetrada, ou seja, inva
dir área de preservação permanente de sua propriedade, visando constituir em
mora o requerido, caso não desocupasse o terreno.
Como visto, o autor tomou providência, oportunizando ao réu desocu
par a área litigiosa, porém a tentativa amistosa restou infrutífera.
Impende destacar, que a União, ao apresentar suas razões finais (fls.
168/169), defende a reintegração de posse requerida pelo Consórcio-autor,
haja vista ser "inquestionável a posse irregular do réu em relação aos terrenos
marginais do Rio Grande, sendo inadmissível a edificação de rancho de lazer na
área em questão".
Pelo exposto, julgo procedente o pedido, determinando a reintegra
ção do Consórcio da Usina Hidrelétrica de Igarapava, na posse da área descrita
na inicial e aditada às fls. 76/106, bem como, nos termos do art 921, III, do CPC,
condeno o requerido a desfazer a construção erguida na referida área, no prazo
de 60 (sessenta) dias, o qual transcorrido fica o requerente autorizado a desfa
zê-la às expensas do requerido. Ficará o requerido sujeito ao pagamento de
multa cominatória, no valor de 1 (um) salário mínimo vigente à época, em caso

ademulta
turbação na posse será
cominatória do requerente
de 2 (dois)(art. 921 do
salários CPC). Se
mínimos porocorrer
mês denovo esbulho,
privação da
posse, em valores vigentes à época.
Condeno o requerido no pagamento de custas e honorários advocatí
cios, estes arbitrados em 10% (dez por cento) do valor da causa.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Uberaba, 05 de setembro de 2007.
ALEXANDRE HENRY ALVES
Juiz Federal Substituto
9 Ação ordinária - Denunciação da lide

AÇÃO ORDINÁRIA / SERVIÇOS PÚBLICOS - CLASSE 1300


PROCESSO N2: 2000.00.00.000000-6
AUTORA: xxx
RÉUS: UNIÃO (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS) E OUTRO
SENTENÇA TIPO A

SENTENÇA ns. /2009

I - RELATÓRIO

Trata-se de ação ordinária proposta por xxx em face da UNIÃO (INSTI


TUTO EVANDRO CHAGAS), figurando como denunciado à lide MUNICÍPIO DE
BELÉM, objetivando a condenação ao pagamento de indenização por dano
moral, no valor de R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais).
Narra que, por se encontrar grávida, realizou exames de acompanha
mento médico pré-natal, dentre eles o de sorologia Anti-HIV, expedido em
17/08/2001 na Fundação Nacional de Saúde Instituto Evandro Chagas, pelos
médicos Cristal dos Anjos e Feliciano Tristão (Chefe da Seção de Sorologia).
Aduz ter sido encaminhada ao COAS - Centro de Orientação e Apoio So-
rológico, para realização do exame de HIV, quando, para sua surpresa, lhe foi
apresentado o resultado "positivo", após o que, segundo narra, entrou em esta

rdo
eudeporpânico, vindode
intercessão a tentar cometer o suicídio, situação que apenas não ocor
seus familiares.
Relata que, após conversa com o assistente social do COAS, submeteu-
se a exame confirmatório, quando, então, o resultado foi "negativo".
Sustenta ter ocorrido atitude negligente dos funcionários públicos en
volvidos nos exames sorológicos, que resultaram em sérios problemas de or
dem psicológica e emocional.
Devidamente citado (fl. 22), o Instituto Evandro Chagas apresentou
contestação às fls. 23/34, suscitando, em suma, a preliminar de ausência de
pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo.
No mérito, requer a improcedência do pedido. Sustenta que a respon
sabilidade do Instituto Evandro Chagas está adstrita ao recebimento de amos
tra, análise e diagnóstico do material, para posterior emissão do resultado, pelo
que não pode ser responsabilizado com possíveis falhas na coleta, identificação
e transporte do material destinado ao exame, procedimentos feitos pelo COAS.
Afirma
positivos, o queque
podealtaocorrer
proporção de doadores
por causas de sangue
biológicas, apresenta
a exemplo resultados
de infecções por
outros vírus, uso de drogas endovenosas.
Assevera que o exame possui margem de erro. Aduz, em face do expos
to, a inexistência de nexo de causalidade e a excludente de culpabilidade, em
virtude de margem de erro de testes Anti-HIV, já que, por se tratar de ato omis-
sivo, a responsabilidade da contestante, em tese, seria subjetiva.
Denunciado à lide pelo réu, o Município de Belém apresentou contesta
ção às fls. 62/72.
Sustenta, em síntese: a prescrição trienal, nos termos do Código Civil de
2002, a prescrição qüinqüenal em relação tão apenas ao Município de Belém e,
no mérito, a ausência de responsabilidade do ente municipal.
No mais, argumenta, também, que há possibilidade de resultados de e-
xames do tipo se apresentarem falsamente positivos, argumentando, ademais,
que eventual dano deve ser reparado pelo exclusivamente pelo IEC - Instituto
Evandro Chagas, que teria deixado de apor as observações necessárias no co
municado dos exames, de modo a esclarecer à autora de possível erro no resul
tado.
Réplicas
O às fls.
Município de48/54 e 81/82.
Belém, às fls. 85/86, manifestou desinteresse em produ
zir provas. A União requereu prova pericial, por ocasião da contestação e peti
ção de fls. 58. A autora, por sua vez, pleiteou produção de prova testemunhai.
O pedido de prova pericial foi indeferido à fl. 112, tendo havido inter-
posição de agravo de instrumento (fls. 108/113).
As provas testemunhais requeridas pela autora, embora deferidas, não
foram produzidas, tendo em vista que a parte demandante não conduziu as
testemunhas à audiência, independente de intimação, embora nesse sentido
tenha se comprometido.
É o relatório. Decido.

II - FUNDAMENTAÇÃO

Vale asseverar, de início, que o Decreto nQ 3.450/2000 estabeleceu uni


dades
Evandrodescentralizadas,
Chagas. nas quais estão incluídas, entre outros, o Instituto
Em 9 de junho de 2003 (Decreto n2 4.726), o IEC passou a integrar a es
trutura da Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS do Ministério da Saúde,
como unidade gestora independente (órgão), devendo, portanto, figurar no
polo passivo a União, razão pela qual determino a retificação da autuação.

PRELIMINARES DE MÉRITO

DA AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E


REGULAR DO PROCESSO

A preliminar apontada não encontra guarida, não só em face do princí


pio da unidade que rege a instituição Defensoria Pública, conforme estatuído no
art. 32, caput, da LC n2 80/1994, bem como pelo fato de a DPU ter ratificado os
atos praticados pela Defensoria Pública do Estado do Pará (fls. 48/54).
De todo modo, a questão suscitada perde relevância quando levado con
ta que a parte autora constituiu advogados particulares no feito, consoante
petição e procuração às fls. 90/91, restando superado qualquer entrave quanto
à representação judicial da parte autora.

PREJUDICIAL DE MÉRITO. PRESCRIÇÃO.

O Município de Belém suscita a prejudicial de mérito de prescrição. A


uma, porque da data do evento danoso até o ajuizamento da ação teria decorri
do três anos. A duas porquanto, ainda que se considere que o prazo prescricio-
nal aplicado à reparação civil em face da Fazenda Pública seja de cinco anos, em
relação ao Município, teria escoado o prazo prescricional, no caso ora em apre
ço, já que, ocorrido o evento danoso no ano de 2001, somente em 2007 o se
gundo réu teria sido citado regularmente.
Quanto à aplicação da prescrição trienal disposta no art. 206, § 3 2, V do
CC/2002, entendo incabível em se tratando de ação de indenização movida em
face da Fazenda Pública, não assistindo razão ao Município de Belém, já que
incidente ao caso, pelo princípio da especialidade, o art. I 2 do Decreto n.2
20.920/19332, no qual assim está disposto:

"Art. I3 As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios ; bem


assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual
ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em (cinco) anos,
contados da data do ato ou fato do qual se srcinarem."

abaixo: Nesse sentido são os julgados do Egrégio Superior Tribunal de Justiça

"ADMINISTRATIVO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS SOFRIDOS DU-


RANTE O REGIME MILITAR. PRESCRIÇÃO. PRAZO. TERMO A QUO.
1. A divergência jurisprudencial, ensejadora do conhecimento do recurso
especial pela alínea c, deve ser devidamente demonstrada conforme as e
xigências dos arts. 541, parágrafo único, do CPC e 255 do RISTJ, o que não
ocorreu no caso. (REsp 796272/MS, 1 3 Turma, Min. Denise Arruda, D] de
02.08.2007; REsp 897839/MG, 2à Turma, Min. João Otávio de Noronha, DJ
de 06.08.2007). 2. É de cinco anos o prazo prescricional da ação de inde-
nização contra a Fazenda Pública, nos termos do art. l s do Decreto
20.910/32, que regula a prescrição de "todo e qualquer direito ou ação
contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, seja qual for a sua na-
tureza". Na fixação do termo a quo desse prazo, devese observar o uni-

versal
3. No princípio da actio
caso, a ação foi nata.
ajuizada em 06.08.2003, cerca de trinta e nove anos
após a ocorrência do evento danoso que constitui o fundamento do pedi-
do, o que evidencia a ocorrência da prescrição.
4. Recurso especial a que se nega provimento."
(REsp 972.770/RS, Rei. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 18/09/2007, DJ 08/10/2007 p. 244).

Assim, inaplicável a prescrição trienal ao caso ora em exame.


Porém, vale argumentar que, mesmo se aplicável fosse o triênio previs
to no Código Civil de 2002 ao caso ora em exame, ainda assim não estaria confi
gurada a prescrição, pois ocorrido o evento danoso em agosto de 2001, imperi
oso o reconhecimento da incidência da regra de transição prevista no art. 2.028
do Código Civil de 2002, a saber:

"Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este
Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido
mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada."

Reduzido o prazo prescricional pelo Novo Código Civil de 2002, antes


de transcorrida a metade do prazo ditado pela lei revogada, como no caso em
exame, em que houve a redução do prazo prescricional de 20 anos (art. 177 do
Código Civil de 1916), para 3 três anos (art. 205, § 32, do CC/2002), aplica-se o
prazo do novo Código, a contar da entrada em vigor do referido diploma legal,
que se deu um ano após a sua publicação, ocorrida em 11/01/2002 (art. 2.044
do CC/2002), ou seja, em 11/01/2003.
Como se observa às fls. 03, a autora ajuizou a ação em 05/04/2005,
portanto, dentro do triênio prescricional, considerando que a prescrição so
mente estaria configurada após três anos, a contar de 11/01/2003, quando
entrou em vigor o CC de 2002, ou seja, a prescrição somente dar-se-ia em
11/01/2006.
No tocante à prescrição qüinqüenal aduzida, sob o fundamento de que a
citação do Município de Belém ocorreu somente em outubro de 2007, enquanto
omerece
fato que rendeupois
guarida, ensejo à ação
o art. 219, de
§ l 2indenização se deu
do CPC é claro aoem agosto
dispor que,decom
2001, não
a citação
válida,"a interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação".
No caso, a ação foi proposta em 05/04/2005, data em que ainda não
havia fluido o qüinqüênio prescricional.
Assim, rejeito a prejudicial de prescrição.

DA DENUNCIAÇÃO A LIDE

Compulsando os autos, entendo não merecer guarida o acolhimento da


denunciação à lide, razão pela qual torno sem efeito o despacho de fls. 59, ex
cluindo o Município de Belém.
A uma, tendo em vista a ausência de dispositivo legal ou contratual a
garantir o regresso na hipótese, afastando-se a incidência do disposto no art
70, III do CPC.
A duas, levando-se em conta que a denunciação à lide, " não será admis-
sível quando o reconhecimento da responsabilidade do denunciado suponha seja
negada a que é atribuída ao denunciante. Em tal caso, se acolhidas as alegações
do denunciante, a ação haverá de ser julgada improcedente e não haverá lugar
para regresso. Desacolhidas, estará afastada a do denunciado" (RSTJ 84/202).

MÉRITO

No mérito, razão assiste à autora.


Em se tratando de processo cujo ponto crucial da lide recai sobre res
ponsabilidade civil de pessoa jurídica de direito público, é cediço que a respon
sabilidade ora em discussão é de índole objetiva, nos termos do art. 37, § 6 fi da
Carta Magna que assim dispõe (grifo):

"Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Pode-


res da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
c..)
§ 6a. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado presta-
doras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nes-
sa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso con-
tra o responsável nos casos de dolo ou culpa"

Pública Diante
Direta,deste
pelospreceito, a responsabilidade
danos que dos entes da Administração
causarem aos administrados independe de
culpa em sentido amplo, ou seja, não há necessidade de que, para obter repara
ção do dano, a vítima demonstre dolo ou culpa em sentido estrito do agente,
bastando a comprovação do dano e do nexo de causalidade entre este e a atua
ção administrativa.
É a consagração da responsabilidade objetiva do Estado, com base na
teoria do risco administrativo. Nada obstante, pode a pessoa jurídica interessa
da, a fim de afastar sua responsabilidade, comprovar que o evento se deu por
culpa exclusiva da vítima ou por motivo de força maior, em que é dispensada
qualquer incursão em aspectos intrínsecos da conduta do agente público, con
cernentes a dolo ou à culpa.
A verificação da referida responsabilidade objetiva, no caso ora em e-
xame, deve ser feita à luz de três requisitos extraídos a partir do mencionado
dispositivo constitucional, quais sejam: a) existência do dano; b) ação adminis
trativa; c) nexo causai
Quanto entre requisito,
ao primeiro o dano e aconsiste
ação administrativa.
na demonstração da lesão efeti
vamente sofrida pela autora, ou seja, que, de fato, tenha sido vítima de erro de
exame Anti-HIV.
0 segundo constitui na demonstração de que, no contexto fático abar
cado pela causa de pedir, está inserta uma conduta da Administração Pública.
Por fim, o terceiro requisito envolve a necessária demonstração da rela
ção de causa e efeito entre a conduta da Administração e a lesão supostamente
sofrida pela vítima do dano, que, no caso, é a demonstração de relação da con
duta inserta no serviço público executado pelo Instituto Evandro Chagas, en
volvendo o invocado erro no resultado de exame Anti-HIV, com a ofensa moral
sofrida pela autora.
Trazendo os sobreditos conceitos para o caso concreto sob exame, dian
te das provas existentes nos autos, entendo que resta configurada a responsabi
lidade civil do Estado, de modo a render ensejo ao pagamento da indenização
pretendida.
0 réu, em meio à peça contestatória, confessou os fatos narrados pela
autora, queseaclaram
consoante observaa às
ocorrência
fls. 24/26de(grifo):
sua conduta administrativa lesiva à moral,

"A demandante alega que, em razão de sua gravidez, submeteuse a vá-


rios exames constantes de seu prénatal, dentre eles o de Sorologia Anti HIV,
emitido em 17/08/2001 pelo Instituto Evandro Chagas.
Segue a demandante alegando que obteve o resultado do exame HIV posi-
tivo, conforme laudo apresentado pelo COAS  Centro de Orientação e Apoio
Sorológico, constatandose mais tarde, por outros exames, que a autora não é
portadora do vírus.
Em razão do equívoco, a autora aciona o Instituto Evandro Chagas, ale-
gando ter sofrido grandes transtornos por conta do ocorrido, razão pela qual
pleiteia indenização por danos morais.
Ocorre MM. Juiz, que a responsabilidade do Instituto Evandro Chagas res
tringese ao recebimento da amostra, análise e diagnóstico do material para
posterior
mandado comemissão do deresultado,
o Centro Orientaçõesinexistindo qualquer convênio do instituto de-
e Apoio COAS.
O réu apenas submetese a determinadas diretrizes e orientações impos-
tas pelo Ministério da Saúde, não arcando com possível falha na coleta, identifica-
ção e transporte do material coletado destinado á pesquisa.
Defato o Instituto Evandro Chagas (IEC) recebeu, através de memorando,
amostras de soros encaminhados pelo Centro de Orientações e Apoio sorológico -
COAS, Órgão de Coordenação Municipal de DST/AIDS do município de Belém,
para análise por testes sorológicos e testes confirmatórios antiHIV1.
Entre as amostras recebidas pelo réu, constava a da autora, Rosângela
Mendes, uma colhida em 07/08/2001 e outra em 16/10/2001. Quanto a l2 amos-
tra de soro foi processada no laboratório de virologia do IEC, presumese que o
COAS atua com total acuidade na coleta do material a ser examinado, obedecen
dose todos os procedimentos criteriosos, como a correta identificação e cautela
no transporte dos referidos espécimes ao laboratório.
(...)
Na ocasião foram realizados dois testes imunoenzimáticos (ELISA), nos
quais constatouse para HIV, em ambos os testes; ressaltese. Em seguida, reali
zouse o teste confirmatório denominado Imunofluorescência indireta (IFI) e,
diante do resultado das análises repetidamente reativas pelos ELISAs, somadas a
confirmação; restou claro resultado POSITIVO.
Na ocasião da análise da 2ê amostra e seguidos os mesmos procedimentos
laboratoriais; constatouse um resultado totalmente contrário ao encontrado na
1 amostra da autora, concluindose pelo resultado NEGATIVO para HIV1."

Do trecho transcrito supra, percebe-se que a ré admitiu ser a responsá


vel pela análise e diagnóstico do material sanguíneo coletado da autora e que a
demandante, de fato, realizou os dois exames, o primeiro com resultado positi
vo e o segundo com diagnóstico de negativo. Os documentos acostados às fls. 13
e 37/44, ademais, confirmam as alegações trazidas na inicial.
O documento de fls. 13 revela que no resultado de sorologia Anti- HIV
não constou qualquer ressalva quanto à margem de erro do exame, o que pode
ria, pelo menos, alertar a examinada da conveniência de realização de exames
confirmatórios. Tal aspecto rechaça a argumentação de exclusão de responsabi
lidade, sob o fundamento de margem de erro do exame.
Assim, entendo restar configurada a conduta ensejadora do dano, per
petrada pela, o abalo moral sofrido pela autora e o nexo de causalidade entre
ambos.
No caso do dano moral, sua comprovação é despicienda, vez que se tra
ta de hipótese em que se aplica a presunção hominis, significando dizer que a
situação vivida pela demandante é apta a causar transtorno psicológico, capaz
de alterar o dia-dia do homem-médio, considerando a gravidade da doença
AIDS, ainda letal e incurável, e o preconceito que ainda hoje cerca a referida
moléstia.
Neste ponto, vale destacar, por oportuno, que a prova pericial requerida
pela ré não teria o condão de afastar a sua responsabilidade. A uma, tendo em
vista que já se passaram oito anos do ocorrido. A duas, tendo em vista que a
prova pericial se mostraria inútil para os fins desejados pela autora, qual seja, a
demonstração do local troca do material examinado, incidindo, na hipótese, o
disposto no art. 420, parágrafo único, III do CPC. Outro, aliás, não foi o entendi
mento exarado em sede de audiência de instrução, conforme se vislumbra do
termo acostado às fls. 102.
Caracterizada a responsabilidade civil, passo à fixação do quantum in-
denizatório. Levando-se em conta a capacidade econômica da autora e réu, o
fato de a autora não ter demonstrado maior transtorno, além daquele inerente
a situação de um resultado positivo desse tipo de doença, bem como não ter
restado provado divulgação do resultado a terceiros, o que poderia ensejar
maior sofrimento, em virtude de discriminação ainda vigente em relação à
multimencionada doença, entendo, como necessário e suficiente para o cum
primento das funções sancionatória e reparatória da indenização por dano
moral, o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
Corroborando o entendimento ora explicitado, vale conferir preceden
tes do Egrégio TRF da lâ Região:

"DANOS MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO.


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO. ERRO DE DIAGNÓSTICO. EXAME DE HIV
FALSO POSITIVO. MULHER GRÁVIDA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. CONDENA-
ÇÃO EM MONTANTE RAZOÁVEL E PROPORCIONAL 1. A responsabilidade
objetiva do Estado; disposta no artigo 37, §6 9 da atual Constituição Fede-
ral, prescinde da prova do dolo ou da culpa, bastando perquirir o nexo de
causalidade entre o dano e a conduta comissiva do ente público.
2. Caso em que a autora, à época adolescente de 15 anos e grávida, obteve
do Hospital Universitário da UFMT, por duas vezes consecutivas, resulta-
do de HIV falso positivo para si e negativo para seu companheiro. 3. Cabí-

vel a que
HIV indenização por dano moral
indica equivocado em positivo.
resultado caso de Precedentes
comunicação desta
de exame
Corte dee
do STJ. 4. Excludente de responsabilidade  caso fortuito - não caracteri-
zada, por ser insuficiente a alegação de que o exame de HIV pelos méto-
dos Elise e Western Blot não é isento de erro. Se havia probabilidade de
erro, este deveria ter sido evitado quando a apelada se submeteu ao se-
gundo teste, mas com inexatidão igual ao anterior apontoua como sendo
soropositivo. Tal argumento não ilide a responsabilidade objetiva da
UFMT, vez que comprovados o dano e o nexo de causalidade. 5. Os valores
arbitrados a título de danos morais  R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) em
favor da apelada e R$ 6.000,00 (seis mil reais) para o apelado  mostram
se justos e adequados para reparar os danos causados aos autores. 6. Sen-
tença confirmada. 7. Apelo da Universidade Federal de Mato Grosso e re-
messa oficial improvidos."
(AC 1999.36.00.006117-3/MT, Rei. Desembargadora Federal Selene
Maria De Almeida, Quinta Turma,e-DJFl p.281 de 21/02/2008).
"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO RETIDO. PROVA PERICIAL. DESNECESSI-
DADE. APTIDÃO FÍSICA PARA ADMISSÃO. POSSE JÁ EFETIVADA POR ATO
ADMINISTRATIVO. AGRAVO DESPROVIDO. SERVIDOR PÚBLICO. NOMEA-
ÇÃO. PROFESSOR TITULAR. POSSE. RETARDAMENTO ALÉM DO PRAZO
LEGAL ATO IMPUTÁVEL À ADMINISTRAÇÃO. EXIGÊNCIA DE PROVIDÊN-
CIAS DESPROVIDAS DE FUNDAMENTO LEGAL DANO MATERIAL. POSSE
RETROATIVA. DANO MORAL SUBMISSÃO A CONSTRANGIMENTO. SUB-
MISSÃO A SITUAÇÃO VEXATÓRIA. EXAME HIV. EXIGÊNCIA PROIBIDA
POR ATO NORMATIVO. DANO MORAL VINTE MIL REAIS. CORRESPON-
DÊNCIA A 167 SALÁRIOS MÍNIMOS AO TEMPO DO ARBITRAMENTO.
ELEVAÇÃO. AUSÊNCIA DE MOTIVOS. AGRAVO RETIDO E APELAÇÕES
DESPROVIDAS. REMESSA OFICIAL PARCIALMENTE PROVIDA. 1. Agravo
retido a que se nega provimento. Além de competir ao julgador avaliar a
utilidade
da e necessidade
após exaustiva daprocessual,
instrução prova, no testemunhai
caso, a decisão agravada
e documental. foi proferi-
Ade
mais, a finalidade perseguida com a prova pericial restou prejudicada na
medida em que a situação de fato, ao tempo de seu requerimento, não era
a mesma existente à época da nomeação do Autor ao cargo público. Ade-
mais, a própria Ré já efetivara a posse do Autor ao cargo para o qual fora
nomeado, independentemente de parecer do Serviço de Assistência Medi-
ca. Sob outro aspecto, o objeto da controvérsia não é a aptidão para as-
sunção ao cargo público em si, mas as seguidas exigências realizadas co-
mo condição à posse, em face dos fundamentos legais que a motivaram e
das providências já atendidas pelo Autor. 2. Os elementos de instrução
processual autorizam a convicção quanto a existir o dano alegado como
fundamento para a pretensão indenizatória, qual seja, haver a posse do
Autor no cargo de professor Titular, ocorrido seis meses da data legal-
mente estabelecida, tendo atendido todas as exigências legais. Assim, ao
invés de ser empossado em setembro, após atender as necessárias provi-
dências para a admissão, somente foi empossado em março de 1.996. E
durante todo este período, não pode perceber os efeitos financeiros decor-
rentes do exercício do cargo para o qual fora nomeado. 3. Resta compro-
vada a relação de causalidade entre o retardamento da posse, o prejuízo
decorrente deste fato e o comportamento atribuído ao órgão de avaliação
médica da UFMG  Serviço de Assistência Medida e Social  em face das
reiteradas exigências de providências para a admissão, as quais, ou eram
desnecessárias em face da comprovada aptidão já demonstrada pelo Au-
tor, ou eram ilegais em razão de expressa vedação administrativa, como
no caso do exame HIV. 4. Relevante acrescer a estes elementos, o fato de
já ser o Autor servidor da UFMG, na condição de professor adjunto do
mesmo Departamento, desde 1.975 e estar no pleno exercício do cargo
mesmo durante o período em que aguardava posse no cargo de professor
titular, condicionada pela resistência do Serviço de Assistência Médica e
Assistencial em lhe reconhecer aptidão para a admissão. 5. Caracteriza-
da, igualmente, a responsabilidade relativamente ao dever de indenizar
pelos danos morais sofridos em razão do retardamento para a posse em
cargo público e de todo o comportamento imputado à Ré, relativamente
às exigências indevidas e constrangedoras impostas ao Autor. A posterga-
ção da posse do Autor, em virtude da simples suspeita de que o mesmo era
portador do vírus HIV, de conhecimento público no meio acadêmico, como
se vê dos depoimentos colhidos na Audiência de Instrução e Julgamento,
comprovam, inequivocamente, o constrangimento moral sofrido pelo Au-
tor. No período em que se viu impedido de tomar posse, o Autor passou
por situações vexatórias e especulativas sobre a sua vida privada, sua pre-
ferência sexual, se era usuário de drogas injetáveis, se era ou não promís-
cuo, etc.” 6. A dor moral indenizável, porque íntima à pessoa não é passí-
vel de ser comprovada. No caso, somente o Autor, vítima do procedimen-
to, atípico, para ele estabelecido, no qual se evidencia situação reveladora
de indesejáveis sentimentos provocadores de insatisfação, tanto pessoal,
quanto nas relações sociais e profissionais, pode avaliar as conseqüências
do dano moral cuja indenização postula. 7. Valor da indenização arbitra-
da em 20 vezes o valor da causa, sendo este definido em RS 1.000.00. As
$im, arbitrada a indenização em R$ 20tQQQ,QQ e. considerando o valor, do
salário mínimo vigente ao tempo em que ajuizada a ação, chega 167 sa-
lários mínimos. Valor razoável à míngua de outros critérios objetivos. 8.
Agravo retido; Apelação do Autor, do Réu desprovidos e remessa oficial
parcialmente provida para fixar os juros de mora em 1% (um por cento)
ao mês, a partir da citação, até o advento MP n s 2.18035, de 2001, quan-
do devem incidir no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês."
(AC 1997.38.00.013698-8/MG, Rei. Desembargador Federal Luiz Gon
zaga Barbosa Moreira, Primeira Turma,DJ p.2 de 02/07/2007).

III- DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo parcialmente procedente o pedido, para condenar a


União a pagar à autora a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a título de
reparação por dano moral, corrigidos monetariamente, a contar da data da sen
tença, tendo em vista tratar-se de indenização por dano moral, acrescidos de
juros de mora fixados em 0,5% (meio por cento) ao mês, incidentes a partir da
citação.
Em face da sucumbência recíproca entre autor e réu condenado, honorários
advocatícios compensados. Custas pro rata pela autora e réu, sendo certo que o réu
goza de isenção legal e a autora litiga sob o pálio da justiça gratuita.
Rejeito a denunciação à lide, extinguindo o processo sem resolução do mérito,
em relação ao Município de Belém, porém deixo de fixar verbas de sucumbência, em
face da ausência de resistência pelo Município, no que concerne à denunciação (STJ -
3a T, RESP 142.796-RS, rei Ministro Pádua Ribeiro, DJU 7.6.01, p. 215).
Retifique-se a autuação para que conste do polo passivo a União, excluindo-se
o Município de Belém.
Sentença não sujeita ao reexame necessário (art. 475, § 2 2 do CPC).
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Belém, ___/___/_________ .

ARTHUR PINHEIRO CHAVES


luiz Federal Substituto,
na titularidade da 5a Vara
10 Ação monitoria

PROCESSO N2: 2007.39.00.000000-0


CLASSE: 5124 - AÇÃO MONITORIA
REQUERENTE: UNIÃO FEDERAL
REQUERIDO: ESTADO DO PARÁ
JUÍZA FEDERAL SUBSTITUTA: C ARI NA CÁTIA BASTOS DE SENNA

SENTENÇA nl /2010

RELATÓRIO:

Trata-se de ação monitória ajuizada pela UNIÃO em face do ESTADO


DO PARÁ, objetivando a cobrança de valores devidos pelo Estado do Pará, no
montante de R$ 209.343,19 (duzentos e nove mil, trezentos e quarenta e três
reais e dezenove centavos), a título de ressarcimento de valores despedidos
com servidor público estadual cedido a União, acrescidos de juros, por meio de
expedição de mandado no prazo de 15 (quinze) dias, ou, no mesmo prazo que o
requerido, querendo, ofereça embargos, e caso sejam opostos, julgados impro
cedentes.
A inicial veio instruída com documentos de fls. 12/49.
Regularmente citado, o requerido opôs embargos monitórios (fls.
52/64), alegando, em suma, preliminar de ausência de interesse de agir; preju
dicial de prescrição do fundo de direito e prescrição qüinqüenal; e, no mérito,

inocorrência
refere de responsabilidade
ao pagamento do Tribunal
ao servidor Mário de Justiça
Kobayashi do Estado
e ausência no queor
de previsão se
çamentária para fazer face ao pagamento das supostas diferenças pleiteadas
pelo autor, protestando pela improcedência do pedido.
Em decisão de fls. 66 foi recebido os embargos monitórios e determina
do a suspensão da eficácia do mandado inicial.
A requerente apresentou impugnação aos embargos às fls. 68/73, asse
verando a adequação do instrumento processual da tutela monitória contra a
Fazenda Pública, a ausência de prescrição e que a cessão foi realizada com ônus
total.
Vieram os autos conclusos.

FUNDAMENTAÇÃO:

Considerando que a questão deduzida nos autos é eminentemente de


direito,
CPC. anuncio o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330,1, do
Visa, o procedimento monitório, transformar a prova escrita, configu-
radora de presumível prestação de pagar ou de dar, em efetivo título 9jcecuti-
vo, mediante cognição sumária.
0 desdobramento do procedimento dependerá da formulação ou não
de embargos.
Se o requerido, reconhecendo a obrigação, não opõe embargos, consti-
tuir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, convertendo-se o manda
do de pagamento ou de entrega em mandado executivo, passando-se, em
seguida, ao procedimento executório (CPC, 1.102c).
Se, ao contrário, a parte ré opõe embargos, a eficácia do mandado ini
cial fica suspensa e instaura-se a lide autônoma, que se processará pelo proce
dimento ordinário, nos termos do §2 do art 1.102c.
No presente caso, verifica-se a lide autônoma, cujo ajustamento ora se
impõe, tendo em vista a oposição de embargos pelo requerido.
Inicialmente rejeito a preliminar de falta de interesse processual
suscitada pelo Estado - inadequação da utilização da tutela monitória contra a
FazendaEmbora
Pública.aja dissenso na doutrina e jurisprudência acerca do cabimento
de ação monitória contra a Fazenda Pública, perfilho entendimento daqueles
que são favoráveis ao manejo da ação monitória: a uma, porque a norma que
introduziu a ação monitória no direito digesto não vedou expressamente a
utilização da ação frente à Fazenda Pública, sendo certo que, com exceção das
prerrogativas expressamente estabelecidas em lei, submete-se o ente estatal
as normas processuais gerais; a duas, porque a natureza jurídica da sentença
prolatada em sede de ação monitória é cognitiva, que comina com a formação
de um título executivo, o que se dá com todas as ações de conhecimento, de
vendo-se, apenas, adaptar o procedimento monitório as prerrogativas da
Fazenda Pública; a três, porque nada impede que quando da intimação para
pagamento ou entrega da coisa, à Fazenda, ao invés de oferecer embargos,
pague voluntariamente a dívida, o que implicará ausência de condenação
judicial, logo, não há que se falar em necessidade de precatório.
Com relação
tória, leciona à natureza
Alexandre Freitas jurídica
Câmara147da que
sentença prolatada em
o procedimento ação moni
monitório é de
natureza cognitiva, destinando-se a proporcionar o mesmo resultado que se
alcançaria pelo procedimento comum: a obtenção de título executivo. Encerra-
se, pois, o procedimento monitório com a formação do título executivo -
quando se tratar de obrigação pe:uniária - ou com a efetiva satisfação do
credor - quando se tratar de obrigação de entrega de coisa móvel.
Ademais, ao oferecer embargos o procedimento monitório converte-se
em procedimento ordinário, assegurando-se amplamente o contraditório, que
cominará com a prolação de sentença, que, em respeito à prerrogativa estabe
lecida no art 471, do CPC, poderá estar sujeita ao duplo grau de jurisdição,
seguindo-se, doravante, após o transito em julgado, na hipótese de procedên
cia da ação monitória, o procedimento prescrito no art. 730 e seguintes do
CPC.

147 CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. III. 16. Ed - Rio de
Janeiro. Lúmen Júris. 2010. pg. 487.
Destarte, a execução das obrigações pecuniárias vai se desenvolver,
no sistema jurídico-processual brasileiro, em outro módulo processual, da
mesma forma como acontece com as execuções de títulos judiciais referentes a
obrigação dessa natureza.
O que não se pode impedir, através de uma interpretação restritiva, a
possibilidade do ente público, ao ser intimado via mandado executório, reco
nheça voluntariamente um débito, independentemente da existência de título
executivo, e pague-o.
Ressalte-se que a adoção da ação monitória, desde que, respeitadas as
prerrogativas da Fazenda Pública, não traz qualquer prejuízo ao ente público.
Por outro lado, prestigia o princípio da razoável duração do processo, inscul
pido no art. 52, LXXVIII, da Constituição Federal de 1988, eis que ocasionará
uma rápida formação do título executivo, o que implica ganho de tempo.
Outro não é o entendimento do suso doutrinador148, para quem nada
impede a utilização do procedimento monitório contra a Fazenda Pública. 0
pagamento espontâneo da obrigação pela Fazenda (ainda que se trate de
obrigação pecuniária) não irá contrariar a exigência de observância da ordem
dos precatórios porque não se trata de pagamento em cumprimento de con
denação, mas de pagamento espontâneo.
Continua lecionando o eminente jurista que, a omissão da Fazenda
Pública em oferecer embargos dará srcem a título judicial, cuja execução será
feita através do procedimento próprio (execução contra a Fazenda Pública).
Nesse sentido há jurisprudência do STJ, abaixo transcrita:

PROCESSUAL CIVIL. INEXISTÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. 0-


MISSÃO NO TRIBUNAL A QUO NÃO SANADA POR EMBARGOS DE DE
CLARAÇÃO. ADUÇÃO DE VIOLAÇÃO A DISPOSITIVOS LEGAIS AUSEN
TES NA DECISÃO RECORRIDA. SÚMULA Ns 211/STJ. AJUIZAMENTO
DE AÇÃO MONITÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. POSSIBILIDA
DE. ART. 1.102A, "B” E "C", E PARÁGRAFOS, DO CPC. PRECEDENTES. 1.
Recurso especial contra acórdão segundo o qual "é cabível o procedi
mento monitório contra a Fazenda Pública, máxime se apresenta a de
fesa de embargos, oportunizada a ampla produção de prova e a obser
vância dos demais trâmites legais". 2. Ausência do necessário preques-
tionamento quanto aos arts. 475 e 730 do CPC, l 2, 2 S e 62 da Lei n2
8.666/93 (com as alterações da Lei n 2 8.883/94), e 60 da Lei n2
4.320/64. Dispositivos legais indicados como afrontados não aborda
dos, em nenhum momento, no âmbito do voto-condutor do aresto hos
tilizado. Incidência da Súmula n2 211/STJ. 3. A norma que introduziu a
ação monitória no Código Processual Civil (art. 1.102a, 'b' e 'c', e pará
grafos) revelou-se absolutamente omissa quanto à possibilidade de ser
utilizada frente à Fazenda Pública, ou por ela. Pelo fato do regime bra
sileiro de execução contra o Estado possuir características especiais,
conferindo-lhe privilégios materiais e processuais que são indiscutí-
148 Obra citada, pg. 493.
veis, evidencia-se, não obstante tais peculiaridades, que os preceitos
legais instituidores do procedimento monitório não comportam uma
leitura isolada, necessitando que sejam cotejados com os demais co
mandos do nosso ordenamento jurídico a fim de que se torne viável a
aplicação do mesmo em face dos entes públicos. 4. Não havendo óbice
legal expresso contra a sua utilização perante a Fazenda, não cabe ao
intérprete fazê-lo, face ao entendimento de que é regra de hermenêu
tica jurídica, consagrada na doutrina e na jurisprudência, a assertiva
de que ao intérprete não cabe distinguir quando a norma não o fez,
sendo inconcebível interpretação restritiva na hipótese. 5. A decisão
proferida em sede do procedimento monitório (art. 1.102b, do CPC)
tem eficácia de título executivo judicial, mesmo quando não haja inter-
posição de embargos. A necessidade de observância da disciplina do

art. 730,
título do CPC,
judicial não induz
(REsp o raciocínioRei.
n2 42.774-6/SP, de que a execução
Min. pressupõe
Costa Leite, DJU
19/09/94). 6. Embora parte da doutrina irresigne-se contra a expedi
ção initlo litis do mandado de pagamento ou de entrega da coisa con
tra o Estado, tal argumento deve sofrer atenuações em sua interpreta
ção. Nada impede que a Fazenda reconheça o seu débito e efetue a
obrigação exigida pelo credor, cumprindo voluntariamente a ordem
injuntiva, sem desrespeitar o sistema do precatório. Para tanto, basta o
reconhecimento da condição de devedora. 7. Não cumprido o mandado
para pagamento ou entrega da coisa, à Fazenda é facultado o ofereci
mento de embargos (art. 1.102c do CPC). Tal hipótese evidencia-se
mais tranqüila, eis que estes serão processados pelo procedimento or
dinário, assegurando-se amplamente o contraditório e ensejando a
possibilidade de farta discussão dos fatos, ampliando sobremaneira o
âmbito cognitivo do magistrado e a defesa da devedora. Se rejeitados

os embargos, aapós
prossegue-se submissão
execução, da sentença
em caso ao duplo
de quantia certa, grau de jurisdição,
de acordo com os
termos do art. 730 e seguintes, do CPC, e em obediência ao sistema dos
precatórios previsto no art. 100, da CF/88. 8. Se a Fazenda não apre
sentar embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo ju
dicial, convertendo-se o mandado inicial em mandado executivo, pros
seguindo-se, igualmente, no caso de quantia certa, o rumo traçado pelo
art. 730 e seguintes, devendo adequar-se, no particular, às regras do
art. 1.102c, caput, parte final, e § 3 2, parte final, todos do CPC, pro-
traindo-se o pagamento pelo precatório nos termos do art. 100, da
CF/88. 9. Na hipótese de não interposição de embargos, com a conse
qüente conversão do mandado de pagamento em título executivo, co
mungo do entendimento que defende a possibilidade de, nos casos em
que a Fazenda figurar no polo passivo da demanda, haver reapreciação
da decisão pelo Tribunal. Assim, resguardadas estarão as prerrogati

vas
ta e do Estado dedos
a incidência queefeitos
contra da
elerevelia,
não prevalece a regra
por se tratar deda confissão
direito fic-
indispo-
nível (art. 320, II, do CPC). 10. Precedentes desta Corte Superior. 11.
Recurso especial não provido. (STJ. RESP 200400243873 - RESP - RE-
CURSO ESPECIAL - 631773. Rei. JOSÉ DELGADO. PRIMEIRA TURMA.
DJ DATA:09/08/2004 PG:00194).

Também não merece prosperar a prejudicial de prescrição da pre


tensão da autora, eis que, ao contrário do quanto sustentado pelo Estado, em
se tratando de condenação a ser imposta à Fazenda Pública, prevalece o prazo
prescricional estabelecido no art. 1Q do Decreto 20.910, pois, sendo lei especi
al, prevalece sobre a lei geral (Código Civil), para hipótese de perda da preten
são do fundo de direito.
Nos termos do art. 1Q do Decreto-Lei nQ 20.910/32, "as dívidas passivas
da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou
ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua nature-
za, prescrevem em 5 (cinco) anos, contados da data do ato ou fato do qual se
srcinarem".
Por outro lado, consoante o disposto no art. 3o do mesmo diploma legal,
"quando o pagamento se dividir por dias, meses ou anos, a prescrição atingirá
progressivamente as prestações, à medida que completarem os prazos estabeleci-
dos pelo presente decreto." Em outras palavras: nesses casos, a prescrição não
fulmina toda a pretensão, atingindo apenas as prestações que se venceram nos
5 (cinco) anos que precederam a propositura da ação.
A propósito, esclarecendo o significado da referida norma federal, o Su
perior Tribunal de Justiça editou a Súmula 85 com o seguinte enunciado:

Súmula n3 85. Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda


Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio di-
reito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes
do qüinqüênio anterior à propositura da ação.

In casu, pretende a União se ressarcir de valores que pagou, indevida


mente, a título de remuneração e encargos de servidor federal cedido pelo
Ministério Público do Trabalho ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará, no
período de 31/08/2000 a 18/02/2005.
Ao contrário do quanto sustentado pelo Estado, a pretensão da União
de ressarcir-se dos valores pagos indevidamente, não se deu na data da cessão
(22/08/2000), eis que, em tal data não houve pagamento de quaisquer valo
res. A pretensão da União nasceu a partir de cada pagamento indevido, tratan-
do-se de típico caso de relação de trato sucessivo.
Sob tal fundamento, rejeito a prejudicial de prescrição do fundo de di
reito, e acolhoema prescrição
ação ocorreu 31/01/2007,qüinqüenal, considerando
restando alcançada que o ajuizamento
pela prescrição da
qüinqüenal
a pretensão ao recebimento de valores pagos anteriores a 31/01/2002.
No mérito, sustenta o Estado do Pará que o ônus assumido pelo Tri
bunal de Justiça do Estado teria sido parcial, referente à complementação
salarial do cargo de srcem para o cargo exercido no Tribunal, o que implicaria
em inocorrência de responsabilidade do Tribunal de Justiça do Estado no que
se refere ao pagamento efetuado ao servidor federal Mario Kobayashi.
Todavia, os documentos de fls. 18; 20 e 22 ratificam a tese sustentada
pela União, de que o ônus foi total, na medida em que o Presidente do Tribunal
de Justiça/PA, mediante oficio de n.2 0514/2000 solicitou a Procuradora - Chefe
do Ministério Público do Trabalho da 8â Região, que se coloca à disposição do
Tribunal de Justiça o servidor Mario Itya Vieira Kobayashi, para que o mesmo
exercesse função de Assessor Jurídico, junto ao Gabinete da Exma. Dra. Roma
Keiko Kobayashi, Juíza de Direito da 9 Vara Penal da Capital, "com ônus para
este Poder Judiciário", sem qualquer ressalva ou restrição.
Por outro lado, o Procurador - Geral do Trabalho manifestou concor
dância em colocar à disposição do Tribunal de Justiça do Estado do Pará o
servidorRessalte-se
suso, "comque
ônuso para essedoPoder
Estado Judiciário".
Pará não apresentou quaisquer provas de
suas alegações.
Assim sendo, é de se reconhecer que efetivamente o servidor federal
Mario Itya Vieira Kobayashi foi cedido ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará,
com ônus total para este Tribunal, que durante o período da cessão beneficiou-
se do serviço prestado pelo servidor, porem não ressarciu o Ministério Público
Federal, embora tenha o mesmo encaminhado mensalmente demonstrativo de
remuneração e encargos do servidor para a Divisão de Administração de Pes
soal do TJ/PA, com pedido de ressarcimento, conforme se observa às fls. 28
usque 40.
Nos termos do art. 927 do Código Civil aquele que, por ato ilícito, causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo; restando caracterizado, o ato ilícito,
na medida em que o Estado não ressarciu, por ato voluntário e consciente,
administrativamente à União, os valores efetivamente pagos pela mesma a
servidorPorcedido
outrocom ônus
lado, total paradeoprevisão
a ausência órgão deorçamentária
srcem, causando-lhe prejuízo.
para fazer face ao
pagamento das supostas diferenças pleiteadas pelo autor não constitui óbice ao
ressarcimento, que deverá se dá, independentemente de previsão orçamentá
ria, toda vez que a Administração Pública, ao praticar ato ilícito, causar dano a
outrem, sob pena de a ausência de previsão orçamentária implicar salvo condu
to para que o ente federativo pratique ilicitude e não seja responsabilizado por
ele.
Caberá ao ente federativo responsabilizar o servidor que deu causa ao
ilícito, nos termos do art. 212 da Constituição do Estado do Pará.
Com relação aos juros aplicáveis, todavia, tratando-se de ação de res
sarcimento, os valores pagos deverão ser corrigidos pela taxa SELIC, conforme
art. 406 do CC, contado a partir da data de cada recebimento indevido, confor
me art 398 do CC, em obediência, inclusive, as Súmulas 43 e 54 do STJ.
DISPOSITIVO:

Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a demanda monitó


ria e determino a conversão do mandado inicial em executivo em face do Esta
do do Pará, nos termos do art. 1.102-C, §3 Q, do CPC, após o trânsito em julgado,
adotando-se, em seguida, o quanto disposto nos arts. 730 usque 731, do CPC,
determinando, todavia, que quando da execução do julgado seja observada a
prescrição qüinqüenal, e aplicada à taxa selic, para recomposição dos juros e
correção monetária, contado a partir da data de cada parcela remuneratória
paga, conforme arts. 398 e 406 do CPC.
Custas ex lege.
Condeno o requerido ao pagamento de honorários advocatícios, que ora
arbitro em 5% do valor da causa, nos termos do art 20,§4 2, do CPC.
Sentença sujeita a remessa necessária, nos termos do art 475,1, do CPC.
Registre-se. Intimem-se.

Belém/PA, 14 de Julho de 2010.

CARINA CÁTIA BASTOS DE SENNA


Juíza Federal Substituta da 5ã Vara/PA
a«-u» waf- Capítulo XIII

Propostas de sentenças aplicadas em concursos

TRF da Ia Região - YIQ Concurso para Juiz Federal


Tema principal: Sistema Financeiro de Habitação____

Levando em conta a hipótese abaixo, prolate sentença, obser


vando os requisitos essenciais previstos em lei (art. 458 do Código
de Processo Civil), examinando e decidindo todas as questões postas
pelas partes, preliminares e de mérito. Não ponha data e nem assina
tura.
Pedro e Lúcia Barreto, marido e mulher, bancários; e Zacari
as Azevedo, servidor público federal, firmaram contrato conjunto
(instrumento único) de compra e venda, mútuo e outras avenças com
a Caixa Econômica Federal - CEF, em 15/05/96, para a aquisição da
casa própria pelo sistema financeiro da habitação, com vinculação
ao Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional -
PES/CP, sem cobertura do Fündo de Compensação de Variações
Salariais - FCYS, com prazo de quinze anos ( 180 prestações) e
garantia hipotecária, incidente sobre os imóveis financiados.
Os dois primeiros adquiriram um apartamento de quatro pe
ças e Zacarias uma casa, situados os dois imóveis em Taguatin-
ga/DF. Em 15/03/99, Zacarias cedeu o seu contrato a Osvaldo Porto,
economiário, fazendo-o por instrumento público, na operação co
nhecida no comércio jurídico como "contrato de gaveta", tendo o
cessionário sequenciado o pagamento das prestações com utilização
dos camês emitidos em nome do mutuário cedente, sem regularizar
a transferência perante o agente financeiro mutuante.
Em dezembro de 1999, Pedro, Lúcia e Osvaldo ingressaram
com ação de rito ordinário contra o agente financeiro, em litiscon-
sórcio, afirmando os dois primeiros:
Que ambos participaram da composição inicial de renda (ele
com 80% e ela com 20%) que srcinou a relação prestação/renda e
gerou o valor do primeiro encargo [prestação]; Que, todavia, a mu
tuária foi despedida do emprego em março de 1999, fato que, reper
cutindo substancialmente na relação prestação/renda, deve importar
a alteração do contrato [redução subjetiva], com a exclusão da sua
parcela (20%) na composição da renda e recálculo da equação fi
nanceira, pois somente assim poderá ser cumprido; Que, mesmo
assim, com muito esforço e sacrificando necessidades familiares,
vinham honrando os seus compromissos contratuais; e Que, a partir
de julho de 1999, isso não mais se fez possível, considerando que a
suplicada passou a descumprir o ajuste, ao cobrar o encargo mensal
(prestação de amortização + seguro + juros) reajustado em 25%,
mesmo não tendo havido alteração na sua (deles) evolução salarial.
Alegaram, ainda, que o saldo devedor vem sendo indevida
mente reajustado pela Taxa Referencial- TR, já declarada inconsti
tucional pelo STF; e que, a cada mês, o abatimento (amortização) do
valor da prestação paga somente é feito depois da correção do saldo
devedor, quando o correto seria o inverso - abatimento do valor
pago e, depois, a correção do saldo -, para evitar o acréscimo inde
vido e injusto na dívida.
Por fim, afirmaram que a hipoteca que grava o apartamento
está a lhes causar prejuízos, pois, com a não-alodialidade do imóvel,
ficam impedidos ou em dificuldade para vendê-lo ou para oferecê-lo
em garantia de outro financiamento, devendo a garantia real, por via
de conseqüência, ser substituída por garantia pessoal, expressa em
duas Apólices da Dívida Pública de números 056767 e 056768, de
sua propriedade, emitidas pela República dos Estados Unidos do
Brazil em 1911, na valor atual de R$250.000.00, conforme laudo de
avaliação emitido pela Fundação Getúlio Vargas - FGV.
Pediram,em nível principal, e em face da perda do emprego,
que seja compelido o agente financeiro a alterar subjetivamente o
contrato, a partir de março de 1999, permanecendo como devedor
apenas o mutuário varão, seguindo-se o refazimento da equação
financeira da avença na base de 80% da composição inicial de renda
e o reajuste da prestação apenas pelo seu salário [maior renda]; e
que seja condenado, por outro lado, a dar baixa na hipoteca que
grava o bem, recebendo como garantia do financiamento as referi
das apólices da dívida pública, tudo acrescido de honorários advoca
tícios de 20% do valor da condenação e do reembolso das custas.
Em ordem sucessiva, pediram: que seja a demandada conde
nada a recalcular as prestações do financiamento, a partir de julho
de 1999, para excluir o reajuste indevido de 25%, com a devolução,
em dinheiro, dos valores cobrados irregularmente, atualizados mo
netariamente e acrescido de juros moratórios e compensatórios; que
o saldo devedor seja também reajustado pela equivalência salarial,
posto não ser possível, sob nenhum critério lógico, a adoção de
mecanismos
vedor; que o diversos
descontopara os reajustes
da parcela da prestaçãoa ecada
de amortização, do saldo
mês, de
seja
feito antes do reajuste do saldo devedor, desde o início do contrato,
igualmente com a restituição dos valores cobrados em demasia,
atualizados monetariamente e com juros (moratórios e compensató
rios); e, por fim, que também seja substituída a garantia do financi
amento, nos moldes aludidos, com os mesmos ônus sucumbenciais
requeridos no pedido principal.
Osvaldo Porto, por sua vez, alegou, na condição de cessioná
rio do contrato, que tem direito a regularizá-lo no seu nome pura e
simplesmente, por cuidar-se de contrato perfeito e acabado (ato
jurídico perfeito), independentemente de alteração nas condições do
financiamento, como costuma exigir a CEF, invocando a Lei n°.
8.004, de 14/03/90; e que, assim, pretende também amortizar extra
ordinariamente trinta e seis prestações (R$10.800,00), no valor da
última já quitada (R$300,00), segundo previsto em cláusula especí
fica do contrato cedido.
Pediu que seja a ré condenada a regularizar o financiamento
em seu nome, a partir de 15/03/99, sem nenhuma alteração no saldo
devedor contábil e nas condições de amortização, com a emissão de
novos camês, bem como a receber os valores da amortização extra
ordinária, sem nenhuma atualização pro rata die, com redução pro
porcional do tempo contratual (três anos) e a devida imposição da
verba de honorários na base de 20% sobre o valor da condenação,
além do reembolso das despesas do processo. As prestações (dos
três suplicantes) continuaram a ser pagas normalmente, nas bases
exigidas pela credora.
Juntaram documentos alusivos aos contratos e aos demais fa
tos alegados: perda do emprego, prova da evolução salarial de cada
qual, camês de pagamento, planilha contendo a projeção das presta
ções exigidas e das julgadas devidas, no período considerado, cópias
das apólices e dos laudos de avaliação, além de outros documentos.
Antes da citação, e invocando o inciso XXI do art. 5 o da
Constituição Federal, ingressou nos autos a Associação dos Mutuá
rios Explorados, entidade sediada no Distrito Federal, pedindo a sua
admissão como litisconsorte do casal de mutuários no pedido de
redução subjetiva do contrato, à conta do fato de representar cin
qüenta casais de mutuários na mesma situação jurídico-contratual
[perda do
posição emprego
inicial por conta
de renda], de um deles,
relacionados que participara
em anexo da com
à sua petição. Jun
tou cópia dos seus estatutos e a documentação de todos os mutuários
que pretende representar. O pedido foi deferido.
A contestação alegou, preliminarmente, impossibilidade do
litisconsórcio (do casal e do cessionário), por falta de base legal,
pois o contrato conjunto que celebraram não passa de uma união
meramente externa, contendo dois ajustes distintos; e ilegitimidade
ativa ad causam da Associação dos Mutuários Explorados, por falta
de autorização expressa dos filiados que pretende representar, nos
termos constitucionais invocados.
No mérito, alegou, quanto aos dois primeiros: Que, celebrado
o mútuo dentro das peculiaridades do caso [valor do financiamento,
prazo de resgate, condições de reajuste, equação financeira, idonei
dade cadastral dos mutuários etc], não se faz possível a sua alteração
subjetiva à revelia do credor sem o seu completo desvirtuamento,
como contrato típico e nominado, tanto mais que não prevista em
nenhuma das suas cláusulas; Que a pretendida alteração subjetiva,
com a redução da composição de renda inicial em 20%, implicaria,
em verdade, se admitida por absurdo, a celebração de novo contrato,
com financiamento menor, tendo por objeto, naturalmente, um imó
vel de padrão inferior; que o contrato, perfeito e acabado, deve ser
observado nos seus exatos termos [pacta sunt servanda], não haven
do possibilidade de intervenção judicial na sua economia interna;
que não procede a alegação de aumento incorreto da prestação, pois
o reajuste praticado, da ordem de 20%, e não de 25%, como alega
do, levou em conta aumento salarial obtido pelos suplicantes, con
forme detectado no monitoramento da categoria profissional dos
bancários, sendo repassado à prestação dois meses depois; Que o
saldo devedor deve ser corrigido pela TR - que não foi declarada
inconstitucional pelo STF -, tendo em vista que os agentes financei
ros do SFH emprestam recursos do FGTS e da poupança, que são
corrigidos pelo mesmo índice; que somente a correção do saldo
devedor, com o subsequente abatimento do valor da prestação, a
cada mês, é que dão a possibilidade de liquidação do financiamento,
sem resíduo, no seu termo final, ressalvado o eventual saldo em
função da incidência do PES/CP; que, cuidando-se de contrato sem
cobertura do FCVS, não é devido, sequer em tese, o pedido de devo
lução de valores eventualmente pagos a mais, menos ainda com
juros compensatórios; e que não há sentido em abdicar de uma ga
rantia real do financiamento (a hipoteca do próprio imóvel), devi
damente contratada, em troca de uma garantia pessoal, menos ainda
tendo por objeto apólices da dívida pública, cuja validade é contes
tada no mercado, inclusive pela pretensa devedora [a União], que
não está na relação processual, e tem alegado estarem tais títulos
irremediavelmente prescritos.
Em relação a Osvaldo Porto, disse que com ele não celebrou
nenhum contrato, cuidando-se de um estranho ao ajuste discutido;
que a venda
mento do imóvel
antecipado hipotecado,
da dívida, peloprevisão
conforme mutuário,
daimporta
cláusulao 258
venci
do
contrato, não podendo a cessão ser oposta ao agente financeiro que
com ela não anuiu; e que a celebração do contrato com o mutuário
Zacarias Azevedo levou em conta, como é natural, as suas condi
ções econômico-financeiras, não podendo, sem violência à ordem
jurídica, ser obrigada a aceitar um mutuário estranho aos seus con
troles operacionais.

Pediu a completa rejeição do pedido, inclusive o de amortiza


ção extraordinária, destacando que a previsão contratual nesse senti
do em nenhuma hipótese beneficia a terceiros; e que, em respeito
técnico à equação financeira do ajuste, jamais pode ser praticada
(nos casos em que admitida) sem atualização proporcional (pro rata
die) do valor da prestação que se pretende amortizar.
Em réplica [pelos mutuários e cessionário] foi dito que o li
tisconsórcio facultativo tem fundamento no Código de Processo
Civil, tendo a Associação dos Mutuários Explorados afirmado, por
seu turno, que os seus estatutos contêm autorização permanente para
que possa representar quaisquer filiados judicial ou extrajudicial-
mente, restando satisfeito o referido preceito constitucional (autori
zação expressa), conforme entendimento prestigiado pelo Supremo
Tribunal Federal.
O exame das preliminares foi diferido para o pórtico da sen
tença. Não houve prova oral. A prova pericial, realizada sem a indi
cação de assistentes técnicos, demonstrou que ocorreu o reajuste
objurgado da prestação, salvo nos meses de agosto e setembro/99,
quando
nanceira,o reajuste foi deoapenas
tecnicamente 20%; (amortização)
abatimento que, à luz da matemática fi
do valor pago
pelo mutuário a cada mês deve ser feito após o reajuste do saldo
devedor; que, nas amortizações extraordinárias, é indispensável a
atualização pro rata díe do valor da prestação, levando em conta os
meses que faltam para o novo reajuste, sob pena de enriquecimento
ilícito do mutuário; e os suplicantes (o casal), ao contrário do ale
gado, tiveram aumento salarial de 20% em maio/99, data-base de
sua categoria profissional. (O perito ancorou a afirmativa em avisos
de pagamento emitidos pelo empregador.)
Contestando o laudo, os mutuários afirmaram que não tive
ram o reajuste de 20%, não tendo o perito examinado corretamente
os documentos; e Que o monitoramento de uma categoria profissio
nal à distância não constitui meio seguro para aferição da evolução
salarial dos seus integrantes.
Em alegações finais, as partes reafirmaram as teses sufraga
das nos autos, tendo Pedro e Lúcia requerido, ainda, a condenação
da CEF nas penalidades da litigância de má-fé, por ter negado a
aplicação do reajuste de 25% na prestação, confirmado pela perícia,
o mesmo fazendo o agente financeiro, no que toca ao casal de mutu
ários, por ter sonegado ao juízo a informação pertinente à obtenção
do aumento salarial de 20%. Os autos foram conclusos para senten
ça.

TRF da 2a Região - XI Concurso para Juiz Federal


Tema principal: Direito Administrativo  Responsabilidade
Estatal

INSS ajuíza execução fiscal aparelhada, em agosto de 2007,


em face da sociedade “XY” Ltda, na sua filial, e do sócio Xisto,
distribuída a 99a Vara Federal de Execução Fiscal, Seção Judiciária
do Rio de Janeiro, para cobrança de valores registrados, e não reco
lhidos de contribuições sociais dos empregados, sobre a folha de
salários, acrescidos dos consectários legais, inclusive penalidades
respectivas, apuradas em decorrência de atividade fiscalizatória,
referentes aos meses de janeiro a julho de 2002.
Citados os executados, opuseram embargos do devedor, após
garantido o juízo, mediante o oferecimento de precatórios da União,
arguindo as seguintes questões:
a. ) que o exequente não poderia ajuizar a respectiva co
brança, pois os pretensos valores devidos, foram apurados pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, inclusive com violação ao si
gilo da escrituração empresarial, o que só se admite, por parte das
autoridades, no exercício da fiscalização de imposto;
b. ) que a demanda deveria tramitar perante às Varas Fede
rais de São João de Meriti, com jurisdição sobre o Município, a-
onde sediada a executada;
c. ) que requeriam a citação dos demais sócios Mévio e Tí-
cio para comporem o polo passivo, dada a solidariedade legal;
d. ) que não foram notificados previamente dos valores e-
xigidos, após a fiscalização, além de já ter sido ultrapassado o
prazo para tanto;
e. ) que já vencido, outrossim o prazo para cobrança dos
mesmos;
f. ) que os valores reclamados se fundavam em legislação
inconstitucional, por vulnerarem a exigência de lei complementar,
o princípio da livre iniciativa, bem como o princípio da isonomia,
ao estabelecer alíquota específica, para todas as sociedades.
Opôs a executada, também, exceção de incompetência, sob a
alegação de que já havia ajuizado, preteritamente, ação cautelar de
oferecimento de caução, para efeitos de obtenção de certidão tribu
tária positiva, com efeito de negativa para fins de participação em
licitações perante a 88 Vara Federal de Execução Fiscal da Seção
Judiciária do Rio de Janeiro, tendo sido deferida liminar, pelo que
deveria ser o feito declinado para aquele juízo, além do que a medi
da judicial referida, impediria o trânsito desta demanda.
Impugnando os embargos, bem como a exceção, o exequente
refutou os argumentos, acoimando-os de protelatórios, asseverando
a impossibilidade de se garantir o juízo por meio de precatórios.
Posteriormente, o juízo federal da 99 Vara, foi oficiado pela
Vara Empresarial da Comarca da Capital do RJ, de que havia sido
decretada a falência da executada, tendo sido nomeado como admi
nistrador judicial o INSS; interpôs, então a executada petitório no
sentido da extinção da execução, ou da remessa do feito à aquela
Vara, ou, ao menos, a suspensão do trâmite deste feito executi
vo,com o que não concordou o exequente.
Profira sentença, na qualidade do juízo competente, aprecian
do todas as questões, inclusive de mérito, com indicações de even
tuais dispositivos normativos, tendo os fatos articulados como devi
damente comprovados.
TRF da 3a Região - VI Concurso para Juiz Federal
Tema principal: Tributário
As empresas X, Y, T e Z, as duas primeiras com sede em
São Paulo, Capital, as duas outras em Uberlândia, Minas Gerais e
Campo Grande, Mato Grosso do Sul, propuseram perante uma das
varas da Justiça Federal em São Paulo ação pelo rito ordinário con
tra a União e o Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS vi
sando compensar os valores pagos a maior a título de contribuição
ao F1NSOCIAL
2,0%) à alíquota
fora declarada de 2,0%,pelo
inconstitucional cujaSupremo
majoração (de 0,5%
Tribunal Fedea
ral, com o imposto de renda pessoa jurídica (IRPJ), COFINS, PIS e
contribuição sobre a folha de salário. As empresas X e Y instruíram
o pedido com cópias autenticadas dos documentos de arrecadação
fiscal (DARFS) e as empresas T e Z, prova de serem contribuintes
tanto do FINSOCIAL quanto dos tributos a serem compensados.
Pediram, ainda, a tutela antecipada fundamentando com a verossi
milhança da alegação e o receio de dano de difícil reparação, nos
termos do artigo 273 do Código de Processo Civil.
Citadas, contestaram as rés, o pedido.
A União arguiu preliminar de incompetência de foro quanto
às empresas T e Z, que, por se encontrarem sediadas em outras se
ções judiciárias não poderiam demandá-las em São Paulo e, ainda,
quanto às mesmas, de falta de documentos indispensáveis à proposi
tura da ação. Outrossim, que nenhum pedido administrativo havia
sido feito pelas autoras, razão que inviabilizaria duplamente a pre
tensão, tal seja, impossível saber o "quantum debeatur" e, além dis
so, a impossibilidade de extinção do crédito tributário pela proce
dência da ação antes de verificação pela Fazenda. E, que, ademais,
não pode o Judiciário extinguir o crédito tributário, pois tal somente
caberia à Administração.
De seu turno, o INSS alegou as mesmas preliminares, bem
como a impossibilidade jurídica do pedido ao fundamento de que o
tributo pago a maior (FINSOCIAL) não poderia ser compensado
com a contribuição sobre a folha de salários.
O juiz conheceu diretamente o pedido e proferiu sentença.
Proferir sentença decidindo todas as questões propostas.
TRF da 3a Região - VII Concurso para Juiz Federal
_____ Tema principal: Administrativo  Responsabilidade Estatal
Marina Torres, viúva, e seu filho Vitor Torres, menor impú-
bere, domiciliados na cidade de São Paulo, invocaram a tutela juris-
dicional, através da propositura de ação de reparação de danos, com
o rito sumário, em face da União Federal e do Ministério da Justiça,
aduzindo para tanto que, no dia 23 de março de 1995, na rodovia BR
163, Km 445, o veículo marca Chevrolet C-10, placa OF-8100,
conduzido pelo agente de Polícia Federal Alceu Neves, invadiu a
pista contrária de direção, vindo a colidir violentamente com o veí
culo dirigido
ocasião por Márcio
com quarenta Torres,
e cinco anoscônjuge e pai
de idade, dosveio
o que requerentes, na
a ocasionar-
lhe a morte cinco dias após o evento.
Sustentam, assim, estar caracterizado o ato ilícito, ensejador
do dever de indenizar, destacando, ainda, que os danos decorrentes
do acidente não estão circunscritos aos de natureza patrimonial, mas
são, também, de ordem moral, face à dor sofrida em razão da perda
do familiar.
Desta forma, pleiteiam sejam os requeridos condenados, soli
dariamente, ao pagamento de indenização pela morte prematura de
Mareio Torres, além do pagamento das despesas com o tratamento
da vítima, funeral, luto de família, pensão alimentícia mensal às
pessoas dependentes do morto correspondente à importância que
percebia em vida, bem como o equivalente aos prejuízos causados
no veículo e, ainda, requerem o ressarcimento pelo dano moral, a ser
apurado em liquidação por arbitramento, tudo, no entanto, acrescido
de juros de mora, correção monetária e verba de sucumbência. Foi
atribuído à causa o valor de R$ 500.000,00.
Com a inicial veio o instrumento de mandato outorgado por
Marina Torres, em seu nome e representando o filho menor, bem
como certidão de casamento e de nascimento relativa aos autores,
certidão de óbito, constando que Márcio Torres deixou bens a parti
lhar e sucessores, expressos na viúva e em um filho menor. Ainda,
foram anexados o documento de propriedade do carro sinistrado em
nome do falecido, notas fiscais das despesas com o conserto do
veículo, com o hospital e funerária, além de declaração do emprega
dor de Márcio Torres no sentido de que este percebia, quando em
vida, R$ 3.000,00 ao mês. Também foi juntada cópia autenticada da
sentença criminal, com trânsito em julgado, onde Alceu Neves foi
condenado pela prática de homicídio culposo, em razão da morte de
Márcio Torres. Por fim, foi anexado um laudo médico, onde atesta
que os requerentes estão sob tratamento em razão de trauma psico
lógico decorrente da morte atingindo membro da família.
Na audiência designada, não houve conciliação, tendo a Uni
ão Federal apresentado contestação escrita, onde argui, preliminar
mente, ser parte ilegítima para figurar no polo passivo da relação
jurídica processual, sob o fundamento de que o condutor do seu
veículo não estava em serviço no dia do acidente, mas sim atenden
do a compromissos de ordem particular, pelo que não poderia ser
chamada a responder por esse ato. Entretanto, não sendo esse o
entendimento, pleiteia seja denunciada a lide ao condutor, Sr. Alceu
Neves, nos termos do artigo 70, EU, do CPC.
Ainda, em preliminar, destaca não estarem os autores legiti
mados a pleitear o ressarcimento das despesas com o conserto do
veículo, dado que estava o carro em nome do “de cujus” e não
consta tenha havido inventário, bem como sustenta não terem sido
anexados documentos essenciais ao exame do pedido, expressos em
três orçamentos dos danos havidos no carro, não bastando para esse
fim a nota fiscal de realização dos reparos.
Também, sustenta a impossibilidade jurídica do pedido no
que concerne aos danos morais, face à inexistência de critérios le
gais para a aferição desses prejuízos, bem como argui, na contesta
ção, a incompetência do Juízo Federal, face entender que a ação
deveria ter sido proposta não no lugar do domicílio dos autores, mas
sim na Seção Judiciária do Distrito Federal, onde tem sede a União
Federal.
No mérito, sustenta que inexistem nos autos elementos segu
ros que levem ao reconhecimento da culpa do condutor do veículo
da União Federal, dado que o acidente não foi presenciado por qual
quer testemunha, sendo assim indevida a indenização em sua totali

dade. Entretanto,
nização pela mortecaso sejaficar
deve outra a conclusão,
circunscrita posiciona
à pensão que a inde
alimentícia, no
montante de 2/3 daquilo que percebia a vítima em vida, a ser dividi
do entre os autores, não podendo, ainda, ter caráter de vitaliciedade,
face ser devida somente até o tempo em que a vítima completaria 65
anos.
Aduz, ainda, que no momento em que o autor menor comple
tar a maioridade, a sua parcela na pensão não pode ser revertida em
favor da mãe, devendo ser extinta.
Destaca, também, ser indevido o ressarcimento das despesas
com o hospital, dado que deveria ter o tratamento sido realizado
através do SUS, já que a vítima era contribuinte da Previdência
Social, nada justificando, por conseguinte, a opção pelo tratamento
com médicos particulares. Ainda, posiciona que as avarias ocorridas
no veículo não podem ser indenizadas, dado não ter sido comprova
do que o conserto foi realizado pela oficina que oferecia menor
valor.
Ressalta, por outro ângulo, que os danos morais são inacumu
láveis com danos materiais, além de que somente são devidos quan
do demonstrada a repercussão econômica, não podendo ser a ques
tão relegada para a liquidação de sentença, bem como entende inde
vida a correção monetária e juros de mora.
Pede, também, no final da contestação, seja alterado o valor
da causa, face ser exorbitante e não guardar correspondência com o
montante da indenização pleiteada, culminando, assim, em requerer
a extinção do processo sem julgamento de mérito ou, quando não, o
julgamento pela improcedência, com a imposição dos ônus da su
cumbência.
A contestação da União Federal não veio acompanhada de
documentos. O Ministério da Justiça não foi citado e também nada
manifestou nos autos.
Não houve a realização de provas em audiência, face a au
sência de requerimento nesse sentido e, também, em razão do Juiz
ter entendido não ser necessária a determinação de provas, de ofício.
Sentencie, enfrentando todas as questões suscitadas.
TRF da 3a Região - VIII Concurso para Juiz Federal
_____ Tema principal: Constitucional - Mandado de Seguran a
Tendo em vista as questões de fato e de direito indicadas
abaixo, elaborar SENTENÇA apontando seus requisitos essenciais.
A Associação Movimento Comunitário Rádio Comunitária
"Liberdade de Antena" ingressa com mandado de segurança, com
base no que estabelecem o artigo 5 o, inciso LXIX, da Constituição
Federal e Lei Federal n° 1.533 de 31/12/51, em face de ato do Se
nhor Delegado Regional do Ministério das Comunicações em São
Paulo, com pedido liminar, para o fim de que lhe seja reconhecido o
direito de manter-se em funcionamento. Alega a impetrante, cuja
sede e antena foram lacradas por ordem da autoridade coatora, que,
na consecução dos seus objetivos sociais, busca prestar serviços de
radiodifusão operando em frequência que não ocasiona congestio
namento do espectro eletromagnético, com programação e noticiá
rios de caráter predominantemente educativo, cultural, histórico,
recreativo, informativo, de lazer, esportes e infantis, voltados à co
munidade local.
Sustenta seu direito com base no que estabelecem os artigos
215e216da Carta Magna (fundamentos de proteção ao Meio Am
biente
leiros eCultural), destacando,
estrangeiros inclusive,
residentes no paísque
de atergarantia dada ao brasi
assegurado pleno
exercício dos direitos culturais encontra sua fonte primeira em cláu
sula "pétrea" vinculada à Constituição Federal, na medida em que o
artigo 5o, incisos IV, IX e XIV garantem o direito de livre manifes
tação do pensamento, bem como expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independentemente de censu
ra ou licença, assegurando a todos acesso à toda e qualquer informa
ção (direito de informar e de ser informado).
Entendendo que o ato da autoridade impetrada teria violado
direito líquido e certo, pede concessão de liminar e da segurança
para que se determine ao impetrado a imediata deslacração dos
equipamentos, devolução do material apreendido, assim como ma
nutenção e continuidade das atividades colimadas nos objetivos
sociais da entidade, elidindo os termos do auto de lacração e apreen
são dos equipamentos. Pede, ainda, honorários advocatícios em face
do que estabelecem os artigos 22 e seguintes da Lei n° 8.906/94,
recepcionada pela Carta Maior.
Notificada, a autoridade impetrada defende o ato impugnado
argumentando que os referidos equipamentos encontravam-se insta
lados sem a devida autorização do poder concedente, constituindo
crime previsto no artigo 70 do Código Brasileiro de Telecomunica
ções, instituído pela Lei n° 4.117/62 com nova redação dada pelo
Decreto-lei n° 236/67. Aponta que o Ministério das Comunicações e
a Polícia Federal têm empreendido ações bem sucedidas no combate
às "Rádios Piratas" no Estado de São Paulo, na medida em que há
rádios ilegais, como no caso em tela, interferindo nas ondas das
emissoras
Além disso,legais, ocasionandoilegal
o funcionamento verdadeira baderna
da Rádio eletromagnética.
"Liberdade de Antena"
estava ocasionando poluição eletromagnética nas residências da
comunidade, provocando nos lares situações de desconforto, tais
como aparelhos de TV invadidos por vozes de locutores, som de
rádio distorcido etc, violando direitos metaindividuais, em decorrên
cia do que estabelece a legislação em vigor. Argumenta, outrossim,
antes de discutir o mérito da lide, não ser competente a Justiça Fede
ral para processar e julgar o feito, vez que a matéria discutida é de
competência da Justiça Estadual (artigo 125 da Constituição Fede
ral), destacando ser ainda a autora carecedora da ação, na medida
em que a Associação Civil não tem legitimidade ativa visando de
fender em juízo interesses individuais homogêneos de seus associa
dos utilizando-se de mandado de segurança individual, bem como
inexistir possibilidade jurídica do pedido, em face da proibição do
ordenamento jurídico em vigor de utilização de instrumentos pro
cessuais individuais (Lei n° 1.533/51) para lides metaindividuais.
Sustentando a legalidade do ato impugnado, pede a autorida
de impetrada o acolhimento das preliminares apontadas (artigos 301,
incisos II e X, do Código de Processo Civil, por duplo fundamento)
com extinção do processo sem julgamento do mérito, ou mesmo, a
improcedência da ação com julgamento do mérito.
Instado a se manifestar, o Ministério Público Federal ratifica
e reitera os argumentos trazidos pela autoridade coatora.
TRF da 3a Região - IX Concurso para Juiz Federal
Tema principal: Ambiental — Responsabilidade Estatal
Navio de bandeira alienígena "EL SOPLITS" na entrada da
barra de porto nacional, procedeu ao descarregamento de petróleo
bruto de seus tanques, transpondo-o para a barcaça HANAPS, de
propriedade da PETROBRÁS S/A, ocasião em que ocorreu o vaza
mento de parte substancial do produto, que foi lançado ao mar, espa
lhando-se rapidamente, vindo a atingir várias regiões costeiras.
A Associação dos Pescadores da Aldeia de Criméia ingressou
na Justiça Federal, com ação em face da União Federal e da PE
TROBRÁS S/A, pleiteando o ressarcimento dos danos decorrentes
da paralisação da atividade pesqueira de seus associados, bem como
a indenização dos bananais lindeiros à propriedade que fazem parte
da economia de subsistência dos associados e ainda, pelos estragos
causados ao manguezal atingido em decorrência do acidente ambi
ental.
O Ministério Público Federal ingressou no feito na qualidade
de assistente litisconsorcial da Associação, requerendo de plano, a
convolação da ação em Civil Pública, ratificando em todos os seus
termos a inicial.

A Uniío Federal
sua ilegitimi<iade respondeu
"ad causam" à ação,
posto que alegando preliminarmente
a co-ré é dotada de perso
nalidade jurídica própria que não se confunde com a dela, União
Federal; adenais, assim reconhecida e acolhida a preliminar, pede
sua exclusão da lide, bem como desaforamento do feito à d. Justiça
Estadual, por falecer à Justiça Federal competência para conhecer
do pedido. Aduziu mais que a Associação autora não detém legiti
midade processual para figurar no polo ativo da ação, porquanto não
havia prova de ter sido constituída há mais de ano e tampouco que
houvera assembleia que autorizasse o ajuizamento da demanda.
Caso superacas as preliminares, no mérito alegou não ter havido
participação ie qualquer agente federal no episódio do indigitado
Vazamento e que tampouco está obrigada, quer por lei, quer por
contrato a responder pelas conseqüências desse acidente, não ha
vendo que se afirmar sua responsabilidade, pedindo em decorrência
o decreto de improcedência do pedido.
Por seu turno, em resposta, a PETROBRÁS deduziu a in
competência de foro do Juízo acionado, uma vez que a empresa tem
sede em outro Juízo para o qual deverão os autos serem necessaria
mente remetidos; requereu ainda a denunciação à lide do armador
"EL RATEAU", que transportava o petróleo no navio "EL SO-
PLITS", uma vez que o vazamento se dera por exclusiva responsabi
lidade e culpa de seus prepostos, que não se houveram com o dever
de diligência e observância necessária para o procedimento. Quanto
ao mérito, aduziu a co-ré que os terrenos de marinha atingidos não
poderiam ser objeto de apropriação, mediante a plantação de bana
neiras, por serem insuscetíveis de prescrição aquisitiva, bens da
União
ção dasFederal. Demais
atividades disso, no
pesqueiras, tocanteimprocede
também à obrigatoriedade
o pedidodeeiscessa
que
nesta época do ano, a pesca é vedada, por se tratar de época de aca
salamento e desova das espécies marítimas e se a situação aventada
com a inicial for verdadeira, tanto os pescadores quanto a autora que
os representa estariam cometendo crime ambiental, o que afastaria,
ante a ilicitude da conduta, a responsabilidade indenizatória dela,
PETROBRÁS; no que se refere ao manguezal alegou não haver
provas de que o ecossistema houvesse sido, sequer remotamente
afetado.
O denunciado à lide compareceu aos autos para alegar que a
responsabilidade pelo acidente era da PETROBRÁS, porquanto não
houvera a abertura a tempo do tanque de recepção da barcaça, o que
veio a ocasionar o refluxo do petróleo com as conseqüências previ
síveis, donde não poderia este ser minimamente responsabilizado
por fato de terceiro.
Houve réplicas às respostas, bem como manifestação ministe
rial, tendo o juiz determinado a apreciação oportuna das prelimina
res arguidas.
Produzidas provas e encerrada a instrução as partes ofertaram
memoriais, vindo os autos conclusos para sentença.
Elabore a sentença partindo deste relatório, enfrentando todas
as questões suscitadas.
TRF da 3a Região - X Concurso para Juiz Federal
_____ Tema principal: Tributário___________________________
A empresa Biarron Marques S.A., com sede na capital de
Mato Grosso do Sul e filiais na cidade de São Paulo, bem como o
seu diretor presidente, Leandro Biarron, domiciliado em Campo
Grande - MS, impetraram mandado de segurança, perante a Segunda
Vara Federal da Subseção Judiciária de Campo Grande/MS, acoi-
mando de inconstitucional, ilegal e abusivo o ato do Delegado da
Receitan°Federal
fiscais 309-01 em Campodeterminou,
e 310-01, Grande/MS,comque, nos procedimentos
substrato na autoriza
ção contida na Lei Complementar n° 105, de 10 de janeiro de 2001,
e Lei n° 10.174, de 9 de janeiro de 2001, a intimação dos impetran
tes para que apresentassem os documentos relativos às movimenta
ções bancárias realizadas tanto pela empresa, como pelo seu diretor,
individualmente, nos anos de 1999 e 2000, e para que demonstras
sem a srcem dos valores movimentados.
Assim, aduzem os impetrantes que a legislação invocada pela
autoridade impetrada para instaurar os procedimentos fiscais e em-
basar as intimações está eivada de inconstitucionalidade, tendo em
vista que o acesso aos dados relativos a operações bancárias está
protegido por sigilo, que somente pode ser quebrado por meio de
decisão judicial, o que não ocorreu na espécie, porque, na realidade,
a Receita Federal ter-se-ia valido de informações enviadas pelas
instituições financeiras para fins de recolhimento da CPMF, a im
portar em ofensa aos direitos constitucionais da privacidade e da
intimidade, garantidos pelos incisos X e XH do artigo 5o da Consti
tuição Federal.
Destacam, também, que o direito ao sigilo bancário represen
ta uma garantia fundamental, de caráter absoluto, dado proteger a
esfera de intimidade do cidadão, somente podendo ser quebrado
para fins de investigação criminal e mediante decisão judicial, ja
mais por ordem de autoridade fiscal, ainda mais para fins de lança
mento tributário, conforme asseguram a Constituição Federal, em
o
seu
qualartigo 5 , inciso
a prova colhidaXII,
com e oinfração
art. 38 da Lei primados
a tais n° 4.595/64, razão pela
caracteriza-se
como ilícita e não pode ser utilizada para quaisquer fins, em face do
que dispõe o artigo 5o, LVI, da Carta Magna e a teoria dos frutos da
árvore proibida.
Sustentam, ainda, que estão sendo aplicados dispositivos le
gais de forma retroativa, a violar o princípio da irretroatividade da
lei, tendo em vista que as leis apontadas somente passaram a vigorar
em 2001 e, no entanto, está a autoridade impetrada se utilizando de
dados relativos a 1999 e 2000, quando estava ainda em vigor o arti
go 11, parágrafo 3o, da Lei n° 9.311/96, sem a alteração procedida
pela Lei n° 10.174/01, sendo que esse dispositivo resguardava o
sigilo das informações prestadas pelas instituições financeiras para
fins de CPMF e vedava sua utilização para constituição do crédito
tributário relativo a outras contribuições ou impostos.
Desta forma, entendem que, como as operações bancárias fo
ram realizadas no período anterior à vigência da legislação invoca
da, o ato da autoridade impetrada está a afrontar o artigo 5 o, inciso
XXXVI, e artigo 150, III, da Constituição Federal, a reclamar, tam
bém por esse fundamento, correção pela via mandamental.
Pleiteiam seja declarada a inconstitucionalidade dos disposi
tivos legais citados e decretada a ilegalidade dos atos praticados pela
autoridade impetrada, pelo que requerem a concessão de liminar,
para impedir, desde logo, o acesso aos dados relativos às movimen
tações financeiras dos impetrantes, por estar presente o "periculum
in mora", pois iminente a violação ao sigilo, com conseqüências e
prejuízos
definitivo irreparáveis. Pedem,
para que sejam também,
anulados a concessão fiscais
os procedimentos da ordem em
instau
rados.
Com a inicial, foram anexados documentos, evidenciando a
instauração dos procedimentos fiscais e o envio de requisições de
informações sobre movimentações financeiras às instituições bancá
rias, além das intimações recebidas pelos impetrantes, os instrumen
tos de mandato e atos constitutivos da empresa.
A liminar foi deferida, sob o fundamento de estarem presen
tes os requisitos legais ensejadores.
Devidamente notificada, a autoridade impetrada prestou in
formações, arguindo, preliminarmente, a falta de legitimidade ativa
"ad causam"
inexistir da àimpetrante
direito Biarron
privacidade Marques
e intimidade S.A., ao argumento
conferidos de
à pessoa jurí
dica, por se tratar, na verdade, de garantia individual prevista consti
tucionalmente, pelo que jamais poderia uma empresa utilizar esse
fundamento para impugnar o procedimento fiscal instaurado.
Argui, também, sua ilegitimidade passiva "ad causam", ao ar
gumento de que o Secretário da Receita Federal em Brasília expediu
uma instrução normativa, em que restou estabelecido que deveriam
ser instaurados processos fiscais em relação às pessoas físicas e
jurídicas que tivessem tido movimentações financeiras elevadas nos
últimos anos, pelo que somente deu cumprimento a essa regra e,
assim, entende ter sido o presente mandado de segurança dirigido
contra quem não tem condições de corrigir os atos inquinados de
inconstitucionais, ilegais e abusivos, além de que, pelas mesmas
razões, sustenta estar caracterizada a incompetência absoluta do
Juízo Federal em Campo Grande e pede seja assim reconhecido,
com a conseqüente extinção do processo ou, então, a remessa para o
Juízo Federal do Distrito Federal.
Aduz, ainda, estar ausente a possibilidade jurídica do pedido,
tendo em vista buscarem os impetrantes a declaração de inconstitu-
cionalidade da Lei Complementar n° 105/01 e Lei n° 10.174/01, o
que não é viável em se tratando de mandado de segurança, somente
podendo esse provimento jurisdicional ser dado pelo Supremo Tri
bunal Federal, em sede de ação direta de inconstitucionalidade.
Argui, ainda, o descabimento do mandado de segurança, sob
o fundamento de que não há lesão ou ameaça de lesão a direito lí
quido e certo, configurando, na verdade, a pretensão deduzida um
verdadeiro ataque à lei em tese, o que não é viável nesta via.
Realça, também, não ser caso de mandado de segurança, em
face de a matéria exigir dilação probatória, o que não se apresenta
cabível na via estreita adotada, em virtude do que pede a extinção do
processo.
Destaca que o valor dado à causa, de R$ 1.000,00, está incor
reto, em razão de o benefício pleiteado pelos impetrantes ser superi
or a R$ 230.000.000,00, razão pela qual as custas não foram reco
lhidas nos valores
pressupostos devidos eeassim
de constituição entende estar
desenvolvimento ausente
válido um dos
e regular do
processo.
No mérito, sustenta a autoridade impetrada que o direito ao
sigilo de dados não é absoluto, mas tem caráter relativo, podendo ser
quebrado sempre que presente o interesse público, o que ao seu
entender está evidenciado, na situação em tela, em razão de ter a
empresa impetrante movimentado nos anos de 1999 e 2000 mais de
R$ 200.000.000,00, ao passo que em sua declaração de renda con
signou ter tido prejuízos, além de que o seu diretor realizou opera
ções bancárias nesse mesmo período, individualmente, superiores a
R$ 30.000.000,00, e ao Fisco apresentou declaração de imposto de
renda como se estivesse isento.
Defende a constitucionalidade das normas autorizadoras da
quebra de sigilo previstas na Lei Complementar n° 105/01 e Lei n°
10.174/01, sob o fundamento de que a Constituição Federal somente
preservou o sigilo das comunicações e não o relativo aos dados e
que sob o pálio da intimidade e privacidade não podem ser acober
tados ilícitos administrativos e fiscais, pois o interesse público deve
prevalecer sobre o particular, sendo que sustenta estar esse princípio
insculpido no artigo 145, parágrafo Io, da Carta Magna, que também
autoriza a administração tributária, nos termos da lei, a identificar o
patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribu
inte.
Sustenta, ainda, que o acesso a dados relativos às contas ban
cárias e operações financeiras pode ser realizado pela autoridade
fiscal, sem necessidade de prévia decisão judicial, dado neste parti
cular não adotar a Constituição Federal a reserva do juiz, além de
que a Lei n° 4.595/64 veio a ser alterada pela Lei Complementar n°
105/01, sendo que seu artigo 5o, parágrafos 4o e 5o, permitem que a
autoridade fiscal exija a apresentação dos dados e documentos rela
tivos às movimentações bancárias do contribuinte.
Aduz, também, não contar com substrato constitucional a a-
legação de ser somente possível a quebra de sigilo bancário para fins
de investigação criminal, tendo em vista não ser essa a exegese cor
reta do inciso XII do artigo 5o da Constituição Federal.
Destaca, ainda, que não está havendo violação ao princípio da
irretroatividade da lei, tendo em vista que a legislação que rege o
lançamento fiscal é anterior ao período que se pretende investigar e
em relação ao qual não houve o recolhimento dos tributos devidos
pelos impetrantes, sendo que a Lei Complementar n° 105/01 e a Lei
n° 10.174/01 não vieram a instituir qualquer tributo, nem tampouco
majorá-lo, tendo, exclusivamente, permitido a realização de uma
prova necessária à constituição do crédito tributário no tocante a
contribuintes desonestos, que sonegam os impostos devidos, não os
recolhendo ao erário, causando, por conseguinte, grandes prejuízos à
sociedade, que se vê tolhida desses recursos, que poderiam ser apli
cados em atividades essenciais.
Enfatiza, assim, que os dispositivos da Lei Complementar n°
105/01 e da Lei n° 10.174/01, ao autorizarem a quebra do sigilo
bancário diretamente pela autoridade administrativa, têm a natureza
de normas processuais, dado disciplinarem a prova, pelo que para
efeito de aplicação da lei no tempo, a sua incidência é imediata, não
havendo, destarte, que se falar em ofensa a direito adquirido, ao ato
jurídico perfeito ou à coisa julgada, ainda mais porque pretendem os
impetrantes simplesmente obter a ocultação de rendimentos tributá
veis, devidos em exercícios anteriores, e em relação aos quais não
houve ainda decadência do direito do Fisco proceder ao seu lança
mento.
Ademais, posiciona que o Código Tributário Nacional, artigo
144, parágrafo Io, autoriza os agentes tributários a fiscalizar os con
tribuintes
dados, aléme acessar
de que sua escrituração,
ninguém documentos,
alega quebra bem
de sigilo comoda
quando outros
en
trega de sua declaração anual de imposto de renda, o que revela o
quão despropositada é a argumentação expendida na inicial.
Realça, por fim, que o acesso aos dados relativos às opera
ções financeiras dos impetrantes não quer significar divulgação
dessas informações a qualquer pessoa, dado que o sigilo é transferi
do aos agentes públicos responsáveis pelos processos fiscais, que
devem resguardá-lo sob pena, inclusive, da perpetração de ilícito
penal, pelo que não há qualquer violação à privacidade ou à intimi
dade, mas, isto sim, a correta aplicação da lei.
Culmina, desta forma, pleiteando sejam acolhidas as prelimi

nares suscitadas,
267, IV e VI, dojulgando-se
CPC, e nãoextinto
sendo oeste
processo, na forma doque,
o entendimento, artigo
no
mérito, seja denegada a ordem.
O Ministério Público Federal emitiu parecer, reeditando as
preliminares suscitadas pela autoridade impetrada e acrescentando
que, no tocante às filiais da empresa impetrante, o mandado de segu
rança deveria ser impetrado em São Paulo e não em Campo Grande,
a evidenciar a incompetência absoluta do juízo.
No mérito, opina seja denegada a ordem, sob o fundamento
de que o direito à privacidade e intimidade não é absoluto, devendo
ceder espaço quando presente o interesse público, no caso caracteri
zado pelas vultosas quantias que transitaram pelas contas dos impe
trantes sem que tivessem sido declaradas ao Fisco.
Posiciona, também, que na esteira da "teoria das esferas",
consagrada pela doutrina constitucional alemã e defendida por A-
LEXY, o direito à intimidade e à privacidade é assegurado tomando-
se em consideração a existência de vários graus de proteção da vida
privada, pelo que, somente na esfera mais interna, que diz respeito
exclusivamente à vida pessoal, a quebra do sigilo depende de prévia
autorização judicial, hipótese essa que não se registra na situação
presente. No caso em tela, por se tratar de dados pertinentes ao pa
trimônio dos impetrantes, que interessam não só aos seus titulares,
mas também ao Estado, que precisa cumprir suas funções sociais e
que tem como um de seus instrumentos justamente a tributação, a
intromissão na esfera privada sofre uma proteção de menor intensi
dade, podendo ocorrer a sua quebra através de decisão da autoridade
administrativa, ainda mais porque encontra abrigo não só na legisla
ção invocada pela autoridade impetrada, mas, principalmente, no
próprio artigo 145, parágrafo 4o, da Constituição Federal, que permi
te à administração tributária identificar o patrimônio, os rendimentos
e as atividades econômicas do contribuinte.
Tomando a questão acima enunciada como relatório, passe à
fundamentação e ao dispositivo da sentença.

TRF da 3a Região - XI Concurso para Juiz Federal


_____ Tema principal: Tributário___________________________
A empresa agropecuária Mirante Ltda., sediada na capital de
São Paulo, proprietária de terras situadas na Amazônia insurge-se,
por do
ral, meio de ação
INCRA de IBAMA,
e do rito ordinário,
contraproposta em facededa80%
o coeficiente União
de Fede
reserva
legal introduzido pelo artigo 16 da então M.P. n° 1956-50/2000,
atualmente remunerada como M.P. 2.166-67/2001, cujo dispositivo
tem a seguinte dicção:
“Art. 16 As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressal
vadas as situadas em área de preservação permanente, assim
como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou
objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão,
desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo:
I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de flo
resta localizada na Amazônia Legal;
II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área
de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte
por cento na propriedade e quinze por cento na forma de com
pensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma
microbacia, e seja averbada nos termos do § 7® deste artigo;
III - vinte por cento, na
propriedade rural situada em área de flo
resta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas de
mais regiões do país; e
IV - vinte por cento, na propriedade rural área
em de campos ge
rais localizada em qualquer região do país”.

Tal coeficiente, anteriormente, era de 50%. Sustenta, nesse


ângulo, que a majoração do percentual caracteriza desapropriação
indireta e que o artigo 225, § Io, inciso I, da C.F., impõe a responsa
bilidade de preservação da área de forma onerosa exclusivamente ao
Poder Público e à sociedade apenas a preservação de forma não
onerosa. Nesse passo, pleiteia indenização correspondente a não
utilização da área, visto que, caso contrário, o proprietário arcaria
com ônus pessoal e exclusivo, decorrente do impedimento de explo
rar 4/5 da área de sua propriedade, conformados em reserva. Consi
dera a autora da ação haver violação ao princípio da isonomia e o
efeito confisco, sobre atingir a legislação mencionada, o direito
adquirido, visto que a reserva pretérita era de 50%.
Também, como causa de pedir da ação, alega que a proprietá
ria é responsável pelo pagamento de ITR sobre a área total do imó
vel, o que, no mínimo, caracterizaria imposição tributária desmedida
em razão da impossibilidade de utilização plena da propriedade,
pois embora pagasse tal imposto sobre 100% da área somente pode
ria utilizá-la em 20% , o que implicaria a tributação sem causa legal.
Além do que, em relação ao ITR que lhe é cobrado no presente ano,
houve decadência do crédito fiscal, uma vez que decorrente de fatos
geradores ocorridos há mais de 05 (cinco) anos relativos à cobrança
da dívida, eis que o declarou no exercício de 1998. Tendo em vista
os fundamentos jurídicos estampados na ação, a autora declinou
pedidos cumulativos no sentido de que seja considerada inaplicável
a legislação provinda da M.P. supracitada por ser inconstitucional, a
inexigibilidade do ITR sobre a área objeto de reserva, seja ela con
siderada 80% ou 50%, e o reconhecimento da decadência do tributo
que lhe é exigido no exercício corrente; ainda que, caso não seja
possível o reconhecimento dos pedidos anteriores, em ordem suces
siva,a ser
vel seja-lhe reconhecida
preservada, a indenização
na diferença de 50% pela
para perda
80%. da área explorá-
Citados, os réus responderam à ação. A União Federal, em
preliminares, alegou falta de pressuposto processual à ação, tendo
em vista que a autora, embora tenha juntado o mandato procurató-
rio, deixou de anexar o estatuto e a ata que comprovassem que os
seus outorgantes fossem os representantes da empresa e a sua ilegi
timidade “ad causam” passiva, tendo em vista que os pedidos só
poderiam ser deduzidos em face dos entes autárquicos, eis que eles
detêm personalidade jurídica própria e diferenciada da União; no
mérito, alega que não há direito a ser reconhecido à autora, uma vez
que a legislação atacada, embora tenha força de lei, ainda é provisó
ria, dependente da aprovação do Congresso Nacional, o que não
daria direito a qualquer pleito de indenização; além do que a medida
é plenamente constitucional, pois baseada nos princípios constitu
cionais de que a propriedade tem função social e o meio ambiente
prepondera em favor da coletividade ao mero aspecto privado da
queles que querem explorar regiões que servem ao “pulmão do
mundo”. No tocante à demanda tributária, argumenta que não ocor
reu a decadência frente à constituição do crédito tributário e que não
há de se falar de imposto sem causa, pois a propriedade permanece
no domínio da empresa, somente havendo restrição quanto a sua
utilização.
O INCRA, em preliminares, argui a incompetência do Juízo
Federal de São Paulo, pois a autarquia tem sede em lugar diverso e
somente nele poderia ser demandada, devendo de imediato ser de
clinada a competência ou extinto o feito quanto a ela, pois há pedi
dos contra réus diferentes, não tendo a inicial respeitado o artigo
292, do CPC; também, declina a ilegitimidade ativa da autora, por
que nos cadastros registrais da autarquia consta como proprietária da
área outra empresa que não a autora, sendo esta só compromissária-
compradora da gleba; além disso, a sua ilegitimidade passiva à ação
é patente, porquanto nenhum dos pedidos declinados poderia atingi-
lo, eis que nada tem a ver com a indenização pleiteada e muito me
nos com a questão tributária discutida. No mérito, caso ultrapassa
dos tais óbices processuais, alega que a legislação é constitucional e
o tributo exigível, donde a ação deve ser considerada improcedente.
O IBAMA, em preliminares, destaca a ilegitimidade ativa da
autora para a ação, posto que o órgão autárquico contra ela não to
mou qualquer medida, sequer de fiscalização; aliás, por esse mesmo
motivo, também se vê a sua ilegitimidade passiva, acrescido de que
somente compete-lhe formular, coordenar, executar e fazer executar
a política nacional do meio ambiente e da preservação, conservação
e uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais
renováveis, nos termos do artigo 2o, da Lei n. 7.735/89, não podendo
arcar com as conseqüências da ação; ainda, o pedido contra si é
juridicamente impossível, pois não lhe compete indenizar ou tributar
proprietários rurais.proibição
4.771/65, já previa No mérito, diz que o Código
de exploração Florestal,
das florestas Lei n.
primitivas
da bacia amazônica, no percentual de 50%, sendo que a M.P. ques
tionada somente amplia a área possível de exploração, nunca tendo
havido alguma indenização em face da restrição anterior, donde a
ação em tela deve ser considerada totalmente improcedente. Por fim,
diz que se recusa a discutir a questão tributária, pois tal matéria não
lhe pertence.
A autora replicou os obstáculos processuais e meritórios a-
ventados pelas partes-rés, solicitando o prosseguimento da ação.
Na sequencia, instados, todos os partícipes da relação proces
sual pediram o julgamento antecipado da lide, eis que a matéria
discutida assim possibilitava, sendo que a autora, no tocante ao pe
dido de indenização requereu, caso fosse em sucessão reconhecido,
na sentença fixasse o magistrado a sua forma de liquidação nos
termos do artigo 603 e seguintes do CPC.
Tomando como base e relatório a proposição acima aventada,
profira sentença (fundamentação e dispositivo) quanto às matérias
ao deslinde da ação.

TRF da 3a Região - XII Concurso para Juiz Federal


_____ Tema principal: Administrativo  Contratos______________
A Fundação Anastácia, mantenedora dos Hospitais Santa
Gertrudes e Santa Joana, propôs ação de conhecimento em face da
União Federal, do Estado de São Paulo e do Instituto Nacional de
Seguro Social
contrato - INSS,deobjetivando
de prestação a manutenção
serviços celebrado da vigência doa
e, sucessivamente,
indenização por perdas, danos e lucros cessantes, decorrentes da
indevida e imotivada resilição contratual ou ainda a manutenção do
contrato por prazo razoável em função dos investimentos realizados
em 2003.
Segundo alega teria celebrado contrato com o Ministério da
Saúde para a prestação de serviços médico-hospitalares vinculados
ao SUS. Em setembro de 1996, foi pactuado contrato-padrão, para
tratamento, cirurgia ortopédica e traumatológica e atendimento clí
nico ambulatorial. Posteriormente, foram firmados aditivos contra
tuais ampliando os serviços prestados pelos Hospitais vinculados à
Fundação. O primeiro aditivo celebrado em 1998 acrescentou a
prestação de serviços médico-hospitalares de urgência, compreendi
dos o regime ambulatorial de casos de pequenas cirurgias, traumato-
ortopedia, consultas e odontologia. O segundo, celebrado em 2000,
inseriu a realização de perícias médicas, nos casos indicados pelo
INSS, necessárias à concessão de benefícios previdenciários. Em
fevereiro de 2003 foi celebrado o terceiro aditivo contratual, de
molde a compreender a prestação de serviços laboratoriais e de e-
xame de imagens, inclusive a realização de ressonância magnética e
tomografias computadorizadas.
Referidos contratos foram celebrados pelo prazo de doze me
ses, prorrogáveis automaticamente por mais doze meses, até forma
lização de denúncia por uma das partes, observado o prazo mínimo
de trinta dias da data
descumprimento de seu término,
de cláusula, condiçãoprevendo-se
ou obrigaçãopara os casosasde
contratual,
sanções consistentes em suspensão temporária dos serviços, multa e
resilição, de acordo com a cláusula 12a do contrato padrão. Tais
sanções só poderiam ser impostas após o devido processo legal,
assegurada a ampla defesa, devendo, outrossim, ser a resilição con
tratual precedida da imposição de multa.
Alega que em razão dos sucessivos aditivos contratuais au
mentou o número de servidores, bem como de médicos contratados,
reformou o espaço físico disponível, construiu novas salas de aten
dimento e exame médicos, e adquiriu novos equipamentos e instru
mentos cirúrgicos. Ressalta ter realizado consideráveis investimen
tos na importação dos mais novos e recentes equipamentos de res
sonância magnética e tomografia computadorizada, no ano de 2003,
sendo de rigor a observância do disposto no art. 473, parágrafo úni
co, do Código Civil de 2002, aplicável a todos os contratos.
Aduz, outrossim que apesar de apresentar a natureza de con
trato administrativo, o contrato celebrado insere-se entre os denomi
nados contratos particular da Administração, pois seu objeto não diz
respeito à atividade monopolizada pelo Estado, e destarte, não pode
ria ser rescindido unilateralmente, incidindo os princípios contratu
ais gerais.

Esclarece
des indicadas terequipe
pela sanado,
detempestivamente,
fiscalização, e tertodas as irregularida
a resilição contratual
desrespeitado os princípios da ampla defesa e do contraditório, bem
como as cláusulas contratuais.
Pede a antecipação da tutela, nos termos do art. 273 do CPC,
para o fim de manter a vigência e eficácia das disposições contratu
ais enquanto não decidido o mérito da causa.
Com a inicial junta cópia dos contratos e aditivos formulados,
os documentos referentes à importação dos equipamentos de resso
nância magnética e de tomografia computadorizada, bem como das
suas manifestações no procedimento administrativo. Protesta pela
realização de prova pericial e posterior juntada de outros documen
tos.
Citada a União Federal, aduziu, preliminarmente, irregulari
dade da capacidade postulatória, já que ausente cópia dos atos cons
titutivos da Fundação, de molde a comprovar possuírem os outor-
gantes da procuração os necessários poderes para representá-la. No
mérito refutou as alegações de violação aos princípios da ampla
defesa e do contraditório, uma vez que a resilição contratual fora
precedida de procedimento administrativo, instaurado para apurar
irregularidades denunciadas no cumprimento dos serviços prestados
pelos Hospitais da Fundação, tais como cobrança de cirurgias, con
sultas e exames não realizados e cobrados da Administração, retor
nos indevidos de pacientes, e superfaturamento. Reforçou a natureza
administrativa do contrato padrão e dos subsequentes aditivos, sen
do, assim, passível sua resilição unilateral. Ademais, as sanções
previstas no contrato-padrão são de natureza alternativa, dependen
do, exclusivamente, da gravidade das irregularidades apuradas.
Sustentou, ainda, não haver a autora demonstrado a existência
de perdas e danos, bem como de lucros cessantes, sem embargo de
não ser aplicável o disposto no art. 473, parágrafo único do CC, por
tratar-se de contrato administrativo. Requereu a improcedência do
pedido e a condenação da autora como litigante de má-fé por omitir
fatos relevantes para a solução da causa em sua inicial. Com a defe
sa apresentou cópia integral do procedimento administrativo.
Cumulativamente entrou com Reconvenção pleiteando a con
denação da Fundação Mantenedora em devolver os valores recebi
dos pelos Hospitais, sem ter havido a correspondente prestação dos
exames e serviços médicos cobrados, acrescidos de juros e correção
monetária desde a data do
mentos comprobatórios dosrecebimento.
pagamentosCom a inicial juntou docu
realizados.
A Fazenda do Estado, na contestação apresentada, alegou,
preliminarmente, ilegitimidade passiva "ad causam", pois se tratan
do de ação visando à manutenção do contrato celebrado, apenas as
partes contratantes são legitimadas a figurar nos polos da relação
processual. Requereu seu ingresso na lide como assistente simples,
em razão de participar do custeio do SUS.
Por seu turno, o INSS, alegou, em preliminar, ilegitimidade
passiva "ad causam", por não ser parte contratante, e não ter interes
se jurídico na solução da demanda. No mérito, reconheceu ter a
autora efetuado algumas perícias médicas para fins de concessão de
benefício previdenciário, contudo, como se constatou posteriormen
te vinte e sete por cento das perícias cobradas pela autora não foram
efetivamente realizadas, razão pela qual adequada e correta a resili
ção do contrato. Requereu sua exclusão da lide e a improcedência
do pedido.
Citada para responder a reconvenção, a Fundação alegou,
preliminarmente, não ser cabível reconvenção no presente caso. No
mérito, negou a existência de cobrança indevida, bem como reiterou
a correção dos procedimentos adotados e dos serviços prestados.
Requereu a produção de prova pericial.
Em réplica, a Fundação autora rejeitou as preliminares alega
das pelos réus, e reiterou os termos da inicial, em particular a inci
dência dos princípios gerais do contrato, notadamente o princípio da
isonomia contratual, a obstaculizar sua resilição unilateral.
Por decisão o magistrado determinou especificassem as par
tes eventuais provas a produzir, bem como regularizasse a autora
sua capacidade postulatória, no prazo de dez dias.
Em atenção à r. decisão a União Federal requereu o julga
mento antecipado, posto estarem os autos bem instruídos documen
talmente. A Fazenda do Estado e o INSS não se manifestaram.
A Fundação requereu a realização de prova pericial contábil,
bem como reiterou o pedido de antecipação de tutela. Ainda que
intempestivamente, regularizou sua capacidade postulatória juntan
do aos autos as Atas de eleição da diretoria da Fundação.
O Juiz indeferiu a prova pericial e determinou a conclusão do
feito para sentença, não tendo havido interposição de recurso da
decisão.
Considerando os elementos apresentados elabore SEN
TENÇA (fundamentação e dispositivo), analise as questões a-
presentadas e requerimentos formulados nas manifestações das
partes, aprecie e decida os pedidos deduzidos na ação e recon
venção.
TRF da 4a Região - XI Concurso para Juiz Federal
Tema principal: Administrativo  Responsabilidade estatal
Profira sentença cível, considerando o texto adiante como re
latório, devendo elaborar somente os fundamentos e o dispositivo.
Maria da Silva e José da Silva ajuizaram ação ordinária, na
Justiça Federal, contra o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e a
União Federal, requerendo indenização por danos materiais e morais
sofridos em decorrência da morte de seu filho João Roberto da Sil
va, de 11 anos de idade. Alegaram que o menor foi internado no
Setor de Emergências daquele Hospital com fortes dores abdomi
nais. Após atendimento de emergência, levado ao Centro Cirúrgico,
foi submetido à cirurgia abdominal, sendo-lhe extirpado o apêndice.
Decorridos três dias, o menor recebeu alta, tendo retomado, após
quatro dias, ao mesmo Hospital onde ficou internado por quatro
meses, quando veio a falecer na CTI.
Requereram a condenação dos réus em: a) pagamento de R$
300.000.00 (trezentos mil reais) a título de reparação por danos
morais; b) ressarcimento pelos prejuízos patrimoniais referentes aos
valores despendidos com alimentação, educação e manutenção de
seu filho até a data do óbito; c) ressarcimento dos gastos com medi
camentos e faneral; d) indenização correspondente ao auxílio do
filho na renda familiar a partir da sua maioridade até a morte natu
ral,
reramprevisível
perícia, dentro datestemunhas
oitiva de média de vida do cidadão brasileiro.
e condenação Reque
em honorários de
20% sobre o valor da condenação. Requereram, ainda, o benefício
da assistência judiciária gratuita. Atribuíram à causa o valor de R$
30.000.00 (trinta mil reais).
Citado, contestou o Hospital de Clínicas, alegando culpa ex
clusiva dos autores que teriam levado o menor a atendimento quan
do o quadro infeccioso com febre alta já estava deflagrado há mais
de três dias. Impugnou o valor dado à causa, bem como o pedido de
assistência judiciária gratuita, porque não comprovada a insuficiên
cia de recursos dos autores. Requereu, em preliminar, a decretação
da prescrição, por ter sido a ação ajuizada há mais de cinco anos do
dia do internamento de João Roberto, ocorrido em 01/03/1995 e a
ação ajuizada em 01/05/2000. Repeliu a exorbitância do valor do
dano moral e a inexistência de prova de despesas com a manutenção
e educação do filho.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre denunciou da lide os
médicos André e Marcelo que realizaram o atendimento. André,
médico residente, atendeu no setor de emergências e Marcelo, cirur
gião contratado do Hospital, realizou a cirurgia.
A União Federal contestou, alegando, em preliminar, sua ile
gitimidade passiva para o feito, já que o Hospital de Clínicas é uma
empresa públicaadministrativa.
do e autonomia federal com personalidade
E, mais, em jurídica de feito
tendo sido direito priva
o aten
dimento pelo Sistema Único de Saúde, é o hospital o único respon
sável pela prestação do serviço. No mérito, reiterou as alegações de
culpa exclusiva dos autores no retardamento da busca de atendimen
to ao menor.
Replicaram os autores pela inteira responsabilidade do Hospi
tal de Clínicas e da União Federal, tendo em vista a universalidade
de atendimento da saúde. Juntaram alguns recibos referentes a gas
tos em supermercado e material escolar sem data precisa.
Citados, os denunciados contestaram, aduzindo suas condutas
técnicas corretas para o quadro, a debilidade do paciente quando
chegou ao hospital;
mentos referentes juntaramdos
à evolução a anamnese
sintomas do
do atendimento
menor. e docu
Todas as partes requereram perícia que foi regularmente rea
lizada, tendo sido elaborado laudo detalhado com base na necropsia
e em todos os exames e documentos referentes às internações, bem
como no atestado de óbito. Concluíram os peritos, em conjunto, que
o menor, baixado na Emergência do Hospital de Clínicas, com dores
abdominais foi, imediatamente, encaminhado à cirurgia, em face do
diagnóstico de apendicite; submetido à cirurgia com sucesso, rece
beu alta após três dias; foi trazido ao Hospital, quatro dias depois,
com febre alta e calafrios, sendo submetido à laparotomia explora
dora pela qual foram encontrados alguns corpos estranhos que, e-
xaminados, foram definidos como gazes cirúrgicas. Nesse transope-
ratório, o menor apresentou quadro de parada cardiorrespiratória,
tendo sido reanimado por cerca de vinte minutos. O pós-operatório
evoluiu com seqüelas de anóxia cerebral, permanecendo o paciente
na CTI por quatro meses, vindo a falecer de broncopneumonia aspi-
rativa que não respondeu ao manejo clínico executado. Concluíram,
ainda, os peritos que o menor estava deitado de costas na hora da
morte, o que não corresponde ao procedimento médico adequado.
Realizada audiência, foram ouvidas as seis testemunhas arro
ladas pelas partes. Todas circunstanciais que apenas confirmaram a
baixa do menor na emergência e o seu óbito nas datas mencionadas
nos autos.
Feitos os debates orais, as partes reiteraram suas razões, ten
do os autores requerido a antecipação de tutela para que fosse defe
rido, no mínimo, o pagamento das despesas comprovadas nos autos
quanto aos medicamentos e funeral do filho.
Os autos foram conclusos para sentença.

TRF da 4a Região - XII Concurso para Juiz Federal


Tema principal: Administrativo - Concessão de Serviço Pú-
blico
Cuidam os autos de ação de procedimento ordinário proposta
por Movetur Transportes Ltda. contra a União, a Agência Nacional
de Transportes Terrestres - ANTT, autarquia federal, e os Estados
do Rio Grande do Sul e Paraná, pela qual pretende a autora obter
autorização para continuar a exploração de linha de ônibus ligando
as cidades de Rio Grande-RS e Curitiba-PR.
Alega a autora, em síntese, que:
a) é empresa regularmente constituída, realizando serviço pú
blico de transporte rodoviário coletivo regular de passageiros e car
gas mediante autorização da União, outorgada pelo Ministério dos
Transportes;
b) possui autorização para explorar — e está efetivamente
explorando — linhas interestaduais entre Paraná e Santa Catarina
(Curitiba a Blumenau) e entre este Estado e o Rio Grande do Sul
(Florianópolis a Porto Alegre);
c) também faz funcionar, há mais de 10 anos e sem permissão
específica, linha de ônibus entre as cidades de Rio Grande, no Esta
do do Rio Grande do Sul, e Curitiba, no Estado do Paraná;
d) recebeu auto de infração emitido pela Agência Nacional de
Transportes Terrestres - ANTT, fundado na necessidade de licitação
para a permissão do serviço;
e) a conduta da referida Agência seria ilegal, violadora do ar
tigo 5o, inciso n, da Constituição Federal, por ausência de suporte
legal, ofendendo também a garantia da livre concorrência (artigo
170, inciso IV, da Lei Maior), bem como a regra da não intervenção
do Estado na atividade econômica (artigo 173 da Constituição Fede
ral), além, outrossim, de vulnerar o princípio da supremacia do inte
resse público;
f) sendo a referida entidade reguladora um órgão da União,
deveria esta compor a relação processual, pois que responsável, em
última análise, pelos atos da ANTT;
g) os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul ter-se-iam
omitido, ao não lhe garantirem o direito, que já vem exercendo, de
realizar transporte regular de passageiros entre seus municípios.

Requer os
jam proibidos a concessão de provimento
réus de obstaculizar, antecipatório
de qualquer modo,para que se
a continu
idade da exploração da linha de ônibus entre as cidades de Rio
Grande-RS e Curitiba-PR, sob pena de multa diária de R$ 20.000,00
(vinte mil reais); e que, ao final, sejam os réus condenados à absten
ção de prática de quaisquer atos tendentes a impedir a atividade de
transporte regular de passageiros na linha Rio Grande a Curitiba.
Pleiteia, também, a anulação do auto de infração emitido pela ré
ANTT, e, subsidiariamente, caso não concedida a medida liminar, a
condenação de todos os réus, de forma solidária, ao pagamento de
indenização relativa aos lucros cessantes pelo período em que esti
ver impedida de explorar a referida linha de transporte, na base do
valor equivalente ao de 30 (trinta) passagens por dia, que aponta
como a média de ocupação para o mesmo trecho. Postula, mais, a
citação dos réus e a condenação destes nas despesas processuais e
honorários advocatícios em 20% do valor da causa, valorando a
demanda em R$ 100.000,00 (cem mil reais), juntando documentos.
O juiz federal que então dirigia o processo antecipou os efei
tos da tutela jurisdicional, inaudita altera parte, proibindo aos réus
que turbassem a exploração da linha, com imposição de multa diá
ria, para o caso de descumprimento, de R$ 10.000,00 (dez mil re
ais); e ordenou a citação de todos os réus.
A União alegou, em preliminar, impossibilidade jurídica do
pedido, afirmando não ser possível conceder judicialmente permis
são de exploração de serviço de transporte. Suscitou, também, sua
ilegitimidade passiva para a causa, apontando competir à ANTT a
regulação da atividade, com completa autonomia. Asseverou, mais,
ser incabível a concessão de antecipação de tutela contra pessoa
jurídica de direito público, além de não haver prova inequívoca que
autorizasse a providência. No mérito, disse ser improcedente o pedi
do porque a exploração de serviço de transporte depende de permis
são outorgada por ela própria, União, precedida de licitação, que não
houve no caso, e que, na hipótese de ser judicialmente autorizada a
exploração, ela somente poderia ter vigência até a realização do
procedimento licitatório. Por fim, aduziu ser indevida qualquer in
denização, eis que o lucro cessante reclamado não teria base jurídi
ca; mas, se porventura houvesse condenação, ela não poderia ter por
base a presunção apresentada pela autora, e sim deveria ficar sujeita
à liquidação por arbitramento.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT adu
ziu a ilegitimidade
do Paraná, para a de
ao argumento causa
quedos Estados
a matéria dedo Rio Grande
transporte do Sul e
interestadu
al seria de competência federal, sem qualquer tipo de poder ou res
ponsabilidade de Estados-membros, cabendo a ela, ANTT, velar
pela preservação da competência federal na matéria. Apontou, tam
bém, falta de interesse processual da autora, porque apenas após
sagrar-se vencedora em licitação específica, poderia receber permis
são para realizar serviços de transporte terrestre. No mérito, disse
que a autuação tinha base legal, porque a exploração da atividade
pela autora seria irregular pela inexistência de permissão, bem como
de decreto específico criando a linha de ônibus Rio Grande a Curiti
ba. Sustentou, outrossim, que o pedido condenatório seria improce
dente, à falta de dano; e, ainda, porque agiu em exercício regular de
direito ao impedir a autora de exercer o transporte na referida linha.
Para a hipótese de ser outro o entendimento do magistrado, reputou
descabida a condenação solidária, cabendo apenas à União suportar
a obrigação.
O Estado do Paraná apresentou contestação em que alegou
sua ilegitimidade para a causa, afirmando não ter contribuído de
nenhuma forma para os fatos. Disse que apenas à União, ou à sua
Agência, caberia suportar eventual condenação em favor da autora.
Nomeou à autoria a União, alegando que, apesar dela já integrar a
relação processual, guardava o ônus de provocar a intervenção, sob
pena de responder por perdas e danos nos termos do Código de Pro
cesso Civil.
O Estado do Rio Grande do Sul não ofertou contestação no
prazo, o que foi devidamente certificado, nem se fez presente em
momento posterior nos autos.
Houve agravos, de parte da União e da ANTT, contra a deci
são que antecipou a tutela, que não receberam efeito suspensivo.
Intimada, a autora manifestou-se sobre as contestações, ale
gando revelia e confissão ficta do Estado do Rio Grande do Sul,
pedindo sua condenação na integralidade do pedido. Afirmou que a
antecipação de tutela seria plenamente possível contra pessoas jurí
dicas de direito público, “nos termos da jurisprudência consolidada
nos tribunais pátrios”. Sustentou a permanência dos réus no feito,
rechaçando as preliminares apresentadas nas contestações e pugnan
do pelo acolhimento integral dos pedidos.
Os autos foram conclusos para sentença, com requerimento
de todas as partes pelo julgamento antecipado da lide.

TRF da 5a Região - VII Concurso para Juiz Federal


Tema principal: Administrativo - Processo Administrativo
Disciplinar - Mandado de Segurança________________________

João Romão de Morais e Antônio Capela da Silva, servidores


ocupantes de cargos de Agente Administrativo, ambos lotados no
Departamento de Direito Privado da Universidade Federal de Sergi
pe (UFSE), tiveram contra si instaurado, mediante portaria firmada
pela diretora do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, procedimento
administrativo disciplinar por suposta infração ao art. 117,1, da Lei
n.o 8.112/1990, em virtude de, nos dias 20 e 21 de março de 2002,
terem faltado ao serviço para, juntamente com outros colegas de
repartição, aderirem ao movimento grevista patrocinado pela enti
dade sindical de sua categoria, com vistas à obtenção de melhores
salários, defasados pela ausência de reajuste nos últimos cinco anos.
Considerando que a ausência dos mencionados servidores ao
serviço causara prejuízo ao interesse público, dadas as dificuldades
durante a realização de concurso para professor titular de direito
civil decorrentes da ausência do indispensável apoio de pessoal
administrativo ao Departamento de Direito Privado, o reitor da alu
dida instituição federal de ensino superior, acolhendo as conclusões
dos integrantes da comissão processante, aplicou àqueles servidores
pena de suspensão de noventa dias.
Inconformados com a punição, os mencionados servidores
impetraram, em l.o/2/2005, mandado de segurança perante a Seção
Judiciária de Sergipe, apontando como autoridade coatora o reitor
da Universidade Federal de Sergipe.
Com o propósito de respaldar sua pretensão, os impetrantes
argumentaram, em síntese, o seguinte:
a) o ato impugnado violou o art. 37, VII, da Constituição Fe
deral, o qual,
de norma que por
não veicular direito fundamental,
é auto-aplicável, mesmoque
possui a qualidade, se tratando
a doutri
na denomina como eficácia defensiva, de impedir que tanto o legis
lador quanto o administrador editem atos capazes de esvaziar o con
teúdo do direito fundamental que consagra, como ocorreu na aplica
ção de pena disciplinar pela falta ao trabalho em razão de adesão a
greve;
b) ocorreu a prescrição do direito da administração de aplicar
a referida pena, porquanto, instaurado o procedimento administrati
vo disciplinar em l.o/4/2002 (data da publicação, no boletim interno
da UFSE, da respectiva portaria), a sua conclusão foi ultimada em
10/9/2004, com a imposição de pena;
c) a aplicação de pena de suspensão no grau máximo, pela
ausência ao serviço durante dois dias para aderir a movimento por
reivindicação legítima, descumpriu a regra da proporcionalidade.
Em suas informações, o impetrado aduziu preliminares de:
a) incompetência da justiça federal, porque, versando a impe-
tração matéria conexa ao direito de greve, o seu processo e julga
mento era da justiça do trabalho;
b) ilegitimidade passiva, devido ao fato de o ato combatido
haver sido praticado pela comissão processante, limitando-se o im
petrado a acolher suas conclusões;
c) decadência do direito à impetração, dado que a edição do
ato coator datava de 10/9/2004, de modo que já havia sido ultrapas
sado o período de 120 dias, previsto no art. 18 da Lei n.o
1.533/1951, não obstante o fato de os impetrantes somente terem
sido cientificados pessoalmente da decisão em 20/10/2004, não
socorrendo os impetrantes a publicação do ato punitivo no Boletim
Interno da IJFSE também em 20/10/2004;
d) inexistência de liquidez e certeza do direito, por serem as
teses jurídicas invocadas pelos impetrantes minoritárias na doutrina
e na jurisprudência.
No mérito, o impetrado pugnou pela denegação da ordem, re
portando-se, inclusive, ao art. 142, § 3.°, da Lei n.o 8.112/1990.
Em seu parecer, o representante do Ministério Público Fede
ral opinou, em preliminar, pela remessa dos autos à justiça do traba
lho, ressaltando que as normas que introduzem modificação de
competência possuem incidência imediata, e, no mérito, pugnou
pela denegação da segurança.
Em face da situação hipotética descrita, elabore sentença ten
dente a solucionar o litígio exposto, com fundamentação e parte
dispositiva, dispensados ementa e relatório.
TRF da 5a Região - VU1 Concurso para Juiz Federal
_____ Tema principal: Previdenciário - Embargos à Execução
João, empregado vinculado ao sistema previdenciário co
mum, aposentou-se em setembro de 1989 (data do requerimento do
benefício), aos 68 anos de idade e contando com 39 anos de serviço
e de contribuição previdenciária. Ao ensejo do cálculo de sua RMI,
somente foram atualizados os 24 primeiros dos 36 últimos salários
de contribuição considerados. Com arrimo na auto-aplicabilidade do
art. 201 da Constituição Federal vigente, João postulou a revisão de
seus proventos, exigindo a correção monetária de todos os salários
de contribuição considerados na conta. Encontrando resistência no
INSS, promoveu ação ordinária objetivando a modificação preten
dida e obteve êxito. O dispositivo da sentença condenou o INSS a
revisar os proventos da aposentadoria do autor, mediante o ajuste do
valor atual e o pagamento das diferenças relativas ao período preté
rito.
Mais adiante, ao promover os cálculos de liquidação da sen
tença, o autor, agora exequente, observou que, em razão dos valores
de seus salários de contribuição e da data da alteração do salário
mínimo (SM), seria mais vantajoso para ele calcular-se a RMI em
abril de 1989, visto que, desde muito antes (quatro anos), preenchera
os requisitos para o gozo da inatividade, daí porque poderia escolher
livremente a data da apuração dos proventos.
Na execução, ao efetuar os cálculos de seus novos proventos
e do total dos atrasados, o autor considerou a legislação de regência
na data escolhida, abril de 1989, inclusive quanto ao teto dos pro
ventos: 20 SR. Corrigiu monetariamente pela SELIC o total encon
trado e aplicou juros de mora de 1% ao mês, a partir da data do de
ferimento administrativo do benefício, embora de tais acréscimos
não cuidasse a sentença que resolveu o processo de cognição.
Irresignado, o INSS embargou a execução, sustentando que o
teto a ser observado teria de ser o da data do requerimento do bene
fício, ou seja, 10 SM. Sustentou, ainda, a impossibilidade do início
da execução quanto à obrigação de pagar os atrasados antes do en
cerramento da execução da obrigação de fazer, concernente à revi
são do valor atual do benefício. Com arrimo na pretensa iliquidez do
débito, advogou a tese de que a execução da obrigação de pagar
deveria ser precedida da realização de perícia, visto que definir o
valor dos proventos pretéritos não dependeria apenas de cálculos de
aritmética. Ao fim, apresentou seus cálculos, observado o limite de
10 SM e apanhando os atrasados apenas até a data da conta. De seus
cálculos, o INSS excluiu a atualização monetária e os juros, sob o
fundamento de que a sentença não os impusera.
Em réplica, o embargado esgrimiu a tese da impossibilidade
de aplicação do teto, dado que a sentença (coisa julgada) não a im
pusera, daí ser vedado ao INSS, na fase da execução, agregar à dis
cussão assunto estranho à lide srcinária. Sustentou, também, que a
correção monetária e os juros decorrem da lei, sendo desnecessária
expressa referência na sentença para que sejam incluídos na conta.
Ao fim, mencionou a natureza protelatória da perícia sugerida pelo
embargante.
Com relação à situação hipotética apresentada, julgue os em
bargos e elabore a sentença, dispensando, para isso, o relatório.

TRF da 5a Região - IX Concurso para Juiz Federal

Tema principal: Tributário


A empresa A importou uma aeronave dos Estados Unidos da
América, em 18 de setembro de 1987, que recebeu autorização de
voo para o Brasil em 30 de dezembro de 1988 e ingressou no territó
rio nacional em 15 de janeiro de 1989. A guia de importação foi
expedida em 18 de janeiro de 1989, tendo sido cobrado e recolhido,
em 5 de fevereiro de 1989, o correspondente imposto sobre produto
industrializado (IPI), uma vez que o art. 10 do Decreto-Lei n.°
2.434, de 20 de maio de 1988, revogara a isenção do referido tributo
para ingresso de mercadoria estrangeira no território nacional.
Em 4 de fevereiro de 1994, a empresa B, sucessora por incor
poração da empresa A, ajuizou, na Seção Judiciária do Ceará, ação
de rito ordinário em que postulava a restituição do valor pago a
título de IPI, sob a alegação de que a aquisição da aeronave ocorrera
quando ainda vigia a isenção, tendo sido o empreendimento efetua
do em razão de tal benefício fiscal. Assinalou que a expedição da
guia de importação ocorrera com atraso por culpa do serviço da
Receita Federal, cujos funcionários haviam realizado movimento
grevista.
A Fazenda Nacional contestou, arguindo, em preliminar: a)
ilegitimidade ativa para a causa, porquanto o IPI não fora recolhido
pela autora; b) irregularidade na representação, porque foram ane
xados à inicial, sem autenticação, os instrumentos de alteração do
contrato social da empresa autora e da incorporada; c) prescrição,
porquanto decorridos mais de cinco anos da data da expedição da
guia de importação. No mérito, sustentou que a restituição era inde
vida, em face do art. 10 do Decreto-Lei n.o 2.434/1988, que assim
dispõe: "Ressalvado o disposto neste decreto-lei, ficam revogadas as
isenções e reduções, de caráter geral ou especial, do Imposto de
Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados incidente
sobre bens de procedência estrangeira, exceto: I - as comprovada-
mente concedidas, nos termos da legislação respectiva, até a data da
publicação deste decreto-lei; e II - as importações beneficiadas com
isenção ou redução, na forma da legislação anterior, cujas guias de
importação tenham sido emitidas até a data da publicação deste
decreto-lei". Desse modo, segundo a Fazenda Nacional, expedida a
guia, quando extinto o benefício, o imposto era devido.
Com base nessa situação hipotética, elabore sentença com a
resolução das questões processuais e de mérito acima indicadas,
dispensando o relatório.

TJ/GO - 51° Concurso para Juiz Substituto (1)


_____ Tema principal: Comercial___________________________
José da Silva é sócio de Manoel de Sousa na empresa COM-
PRAFÁCIL MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA., cuja consti
tuição jurídica e legal data de 07 de maio de 1998. Recentemente,
em 05 de outubro de 2003, José da Silva intentou uma ação judicial
visando a dissolução da sociedade empresária.
Na petição inicial, alegou a quebra da affectio societatis, por

descumprimento
monobras ilegais.da finalidade
Essas social
condutas forame imputadas
o uso da pessoa ficta
ao sócio para
Manoel
de Sousa. Com a inicial vieram vários documentos, além de que foi
requerida a produção de prova oral e pericial.
Em contestação, que foi apresentada dois dias após o término
do prazo legal previsto (intempestiva, portanto), Manoel de Sousa
refutou os argumentos de fato e de direito contidos na peça vestibu
lar, concentrando sua defesa no fato de que o princípio de continui
dade da empresa impediria a pretensão do autor. Apresentou docu
mentos.

Houve
da Silva impugnação
suscitou à contestação,
a intempestividade oportunidade
da defesa em que
apresentada José
e reque
reu a decretação da revilia com a conseqüente incidência de seus
efeitos legais.
Observou-se a completa instrução probatória, com a colheita
de prova testemunhai, depoimentos pessoais e perícia técnica contá
bil. As provas colhidas em juízo formariam a convicção sobre a tese
esboçada pelo autor da ação.
Nos memoriais escritos apresentados por ambas as partes, ca
da uma delas ratificou as suas respectivas teses.
Os autos foram conclusos para sentença.

OBSERVAÇÕES:
01-0 (a) candidato (a), diante deste caso concreto, deve pro
ferir a sentença cabível, observando todas as normas de direito que
permeiam o caso, em especial aquelas que regulam o ato processual
a ser elaborado nesta prova, bem como o direito material próprio.
02 - Os fatos que envolvem o caso concreto são apenas os
que constam do enunciado acima, ressalvando-se que todos ele de
verão ser considerados para efeito de proferimento da sentença. Não
será portanto, admitida divagação por parte do candidato (a).
TJ/GO - 51° Concurso para Juiz Substituto (2)
Tema principal: Constitucional / Civil - Responsabilidade
Civil___________________________________________________
PENÉLOPE STANKIS, domiciliada nesta cidade, move ação
indenizatória em face da SOCIEDADE INFORMATIVA ANULA-
TESE LTDA (REVISTA FALA TUDO), e do jornalista ARISTIÁ- /
COLIS XERAFONTIS, com fundamento nos artigos 5o, V, X, XTV
e 220, da Constituição Federal e artigo 186 do Código Civil, sob a
seguinte argumentação:

Na condição
- "A Lógica" de atriz, aMadalena,
- interpretando autora integra
uma oprostituta
elenco daque
peça teatral
chega ao
ápice da sociedade onde vive, graças às informações recebidas de
seus "clientes", pessoas influentes na Corte, num pais imaginário,
cujo reinado era caracterizado pela desorganização total. Salienta
que tem vinte anos de exercício da profissão artística, recebendo
várias premiações e durante esse período jamais ficou desemprega
da, a ponto de adquirir, fruto de seu trabalho, considerável patrimô
nio, além de elevado conceito internacional como atriz. Relata que,
a pretexto de comentar sua atuação na peça exibida nesta cidade
(Goiânia), local em que fixou residência há três anos, à procura de
melhor qualidade de vida, por ironia do destino, a primeira requeri
da publicou sua fotografia na capa da REVISTA FALA TUDO -
36a edição,
DE?", com do
de autoria a seguinte chamada: com
segundo requerido, "FICÇÃO OU nacional
circulação REALIDAno
dia 25 de dezembro de 2003.
Considera o conteúdo da matéria veiculada como altamente
ofensiva à sua pessoa, pois teve sua honra, a intimidade, a vida pri
vada e a imagem desprezadas pelos requeridos. À guisa de se co
mentar sua atuação na peça teatral, a matéria questionada tece con
siderações descabidas, preconceituosas, gratuitas, migrando para o
ataque pessoal. Cita trechos da publicação:
"A atriz Penélope interpreta tão bem a personagem Madalena
graças aos seus dotes físicos, negra poposuda, faladeira, dissimula
da, íntima de políticos da República, ficando à vontade para exterio-
rizar no palco aquilo que faz muito bem na realidade..."
Contam que a Pê (como era conhecida na noite carioca),
costumava levar filhos de homens influentes ao seu lupanar, uma
cobertura na zona sul, para iniciá-los na vida sexual..."
Discorre sobre várias considerações injuriosas e difamatórias
veiculadas na matéria sob enfoque, fatos que possibilitam a repara
ção por dano moral e à imagem, além dos reflexos de ordem eco
nômica, pois teve seus contratos de publicidade cancelados, além da
rescisão do seu contrato de trabalho com a Companhia Theatral Lux
Ltda., por conta do escândalo deflagrado a partir da nefasta e irres
ponsável matéria jornalística.
Ao final, após arrolar lições doutrinárias e precedentes juris-
prudenciais acerca do tema, roga o acolhimento dos pedidos, com a
condenação dos requeridos, solidariamente, à indenização por danos
morais e à imagem na ordem de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de
reais), além dos danos materiais, lucros cessantes e danos emergen
tes, a serem apurados por liquidação de sentença, custas e honorá
rios.
A documentação de fls. 45/108 acompanha a inicial.
Citados, os requeridos ofertaram resposta próprias, por advo
gados distintos. A primeira requerida, em preliminar, argui a incom
petência deste juízo, pois embora tenha sua sede nesta cidade, o
jornalista autor da matéria questionada e segundo requerido reside
na cidade de Aparecida de Goiânia e, por força do art. 94 do Código
de Processo Civil e da Lei de Imprensa, o foro de seu domicílio
deve ser o determinante para a competência. Aduz, também, a deca
dência, pois na data da publicação da matéria ao exercício da ação
(protocolização dia 02 de abril de 2004) demandou tempo superior a
três meses. No mesmo passo, salienta que é parte ilegítima para
figurar no polo passivo da ação, já que não pode ser responsabiliza
da por ato de terceiro, o jornalista que assinou a matéria. No mérito,
pondera que a Carta Magna consagra a liberdade de expressão e que
o conteúdo da matéria questionada não pode dar ensejo à qualquer
indenização, pois é conforme o direito (artigo 5o, IX, IV, XIV e 220,
parágrafo Io da Constituição Federal).Verbera que a autora, como
pessoa famosa, célebre, não deve ocultar nada de sua vida ao conhe
cimento público, nem tampouco a sua imagem. Ademais, é papel da
imprensa noticiar fatos de interesse da coletividade, em detrimento
do interesse individual, como na hipótese. Requer, pois, caso supe
radas as preliminares, que os pedidos sejam julgados improcedentes,
com as conseqüências da sucumbência.
O segundo requerido, em sua contestação, articula as mesmas
preliminares, com exceção da ilegitimidade ad causam passiva, pois
entende que quem deve responder pela eventual responsabilização é
apenas a primeira requerida. No mérito, assevera que não praticou
ilícito algum. Diz que seu comportamento está amparado no artigo
5o, IX, IV, XIV e artigo 220, da Constituição Federal. Lembra que a
liberdade de expressão é sustentáculo maior da democracia. Critica
alguns julgados citados na inicial como retrógrados, jamais vistos
sequerinvestigativo,
lismo na pior fase da ditadura militar.
informador, Articula que
livre, possuindo vastarealiza jorna
contribuição
ao aprimoramento das relações sociais. Reafirma o que disse na
matéria questionada, fruto de sua investigação acerca dos fatos junto
a fontes fidedignas (sobre as quais não está obrigado a revelar).
Pede, também, na eventualidade da superação das preliminares, que
no mérito seja desacolhida a pretensão exteriorizada na inicial. A-
ponta, de outro passo, que a indenização pleiteada é exorbitante,
positivando intenção de enriquecimento sem causa, fora dos parâ
metros estabelecidos pela Lei de Imprensa (tarifária), legislação
infraconstitucional que disciplina a espécie.
Houve réplica, ocasião em que a autora se mostrou irresigna-
da com a forma utilizada pelos requeridos para a arguição da in
competência relativa.processual,
laridade da marcha A seu juízo, istorejeição
cuja reflete ato
eraatentatório
imperativoàlegal.
regu
Refuta, também, tanto a questão prejudicial como as preliminares,
porque inocorrentes no caso. Por outro lado, entende como extem
porâneas as contestações dos requeridos, pois a citação de ambos
ocorrera no dia 12 de abril de 2004, enquanto que as peças de res
postas foram protocolizadas coincidentemente no dia 28 de abril do
mesmo ano, ou seja, no 16° (décimo sexto) dia de fluência do prazo.
Assim, finaliza, impostergável o reconhecimento da revelia.
Instaladas a que se manifestassem sobre eventual necessidade
de dilação probatória, as partes requereram o julgamento do proces
so conforme o seu estado.
É o relatório. Decido.
TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2006 (Adminis
trativo)
_____ Tema principal: Tributário___________________________
Prova de sentença. Valor: 6 (seis) pontos. Elabore a funda
mentação e a parte dispositiva. Não precisa repetir o relatório. A
matéria é de discussão exclusiva de direito.
RELATÓRIO
A empresa Solartec Teleinformática Ltda. ajuizou ação decla
ratória de inexistência de relação jurídico-tributária, pelo rito ordiná
rio com pedido de liminar, contra o Distrito Federal, o Banco do
Brasil S/A e o Banco Regional de Brasília (BRB).
A autora tem sede em São Paulo (SP) e atua no ramo de
transmissão de informações via satélite ou por telefone.
Afirma que, em agosto de 2005, celebrou contrato com o
Banco do Brasil S/A e o BRB para o fornecimento de informações,
transmitidas aos dois clientes via satélite.
Pelo contrato, a Solartec se obriga a coletar informações a
respeito da cotação de moedas estrangeiras e do mercado de capitais
em
meioSão Paulo (Bovespa)
de satélite, ao Banco edoa Brasil
retransmiti-las,
e ao BRB,em tempo
ambos real, por
localizados
no Distrito Federal. Para tanto, instala, sem ônus, nos edifícios da
Direção Geral dos bancos-réus, equipamentos de sua propriedade e
“softwares” destinados à recepção de informações.
Os dados são enviados de São Paulo para os equipamentos da
autora localizados em Brasília e, em seguida, repassados aos depar
tamentos de câmbio das referidas instituições financeiras.
A autora menciona que os bancos-réus, por exigência da le
gislação do Distrito Federal, no momento em que efetuam o paga
mento devido a ela em razão do contrato, retêm, a título de Imposto
sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), 5% (cinco) por cento do
valor de cada fatura paga e, depois, os repassa aos cofres do Distrito
Federal. Alega que emite notas fiscais em São Paulo, onde o serviço
é realizado, e que, por conseqüência, recolhe o ISS para o fisco
paulistano. Além disso, a autora sustenta que a circunstância de não
ter sede ou filial no Distrito Federal afasta a possibilidade de exi
gência do ISS pelo fisco distrital.
Por fim, com o escopo de justificar a legitimidade passiva dos
bancos réus, diz a autora que a legislação distrital determina a res
ponsabilidade dos tomadores de serviço pela retenção do ISS, além
de requerer a procedência da pretensão para declarar que o tributo é
devido ao Município de São Paulo.
Art. 8o - Fica atribuída a responsabilidade pela reten
ção e recolhimento do imposto, quando vinculados ao fato
gerador, na condição de contratante, fonte pagadora ou in

termediário, e cujo local de prestação do serviço situe-se no


Distrito Federal:

IV - aos bancos, instituições financeiras e caixas e-


conômicas, bem assim à Caixa Econômica Federal, inclusi
ve pelo imposto relativo à comissão paga aos agentes lotéri-
cos;
A autora pediu a declaração de inexistência de relação jurídi
ca de natureza tributária com o Distrito Federal, Banco do Brasil e
BRB, em relação ao ISS, na medida em que as informações são
transmitidas, via satélite, diretamente de sua sede em São Paulo,
local onde, per sua ótica, ocorre o fato gerador do tributo.
A liminar foi deferida inaudita altera parte, tendo sido deter
minado o depósito do ISS em juízo a partir do ajuizamento da ação.
O Distrito Federal, na contestação, sustentou sua capacidade
de exigir o tributo e pugnou pela improcedência do pedido.
O Município de São Paulo tomou conhecimento da ação e, no
prazo da contestação, compareceu espontaneamente em juízo. De
fendeu que o ISS em questão ser-lhe-ia devido, em razão de o servi
ço ser prestado na sede da autora por ocasião da coleta de dados no
mercado de capitais paulista.
O Banco do Brasil arguiu sua ilegitimidade passiva, bem as
sim requereu a improcedência do pedido.
O BRB, apesar de regularmente citado, não ofereceu contes
tação.
As partes, apesar de intimadas, nada requereram a respeito da
produção de provas em juízo.
É o relatório.

TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2007 (Adminis


trativo)
Tema principal: Responsabilidade Estatal
Elabore sentença a partir das premissas fincadas no relatório
abaixo transcrito.
Em 22.06.2002, nas cercanias de obras realizadas pelo Distri
to Federal, o Sr. Antônio Martins, então com 40 (quarenta) anos de
idade, em pleno gozo de sua saúde física e sem qualquer histórico de
distúrbios psicológicos, ao escorregar de uma escada construída pelo
Poder Público, sofreu queda de graves proporções e conseqüências.
Foi imediatamente socorrido e encaminhado a hospital especializado
da rede pública. Mesmo submetido a competente cirurgia de emer
gência, ficou definitivamente tetraplégico e alijado de suas faculda
des mentais. Exatamente um ano depois do evento, veio a falecer,
sem deixar filhos, em decorrência de complicações médicas ainda
ligadas ao acidente.
Sua ex-companheira, Sra. Margarete Silva, que convivia com
a vítima, à moda de união estável, nos últimos 15 (quinze) anos, e
que havia sido nomeada sua curadora por decisão judicial proferida
pouco depois de acidente, ingressou em juízo com ação de reparação
de danos, em 22.04.2007, fundada em responsabilidade civil do
Estado, pleiteando, além dos acréscimos de juros e correção monetá
ria: (a) indenização de R$ 100.000,00 (cem mil reais) por danos
morais; (b) indenização de 3 (três) salários-mínimos, por mês, até o
limite de vida provável do falecido (65 anos); (c) custas e honorários
advocatícios.
recortes Foramcópias
de jornais, juntados
doinúmeros documentos,
prontuário dentre
médico e do os quais
atestado de
óbito, radiografias e laudos.
Não houve a pretendida concessão de Justiça Gratuita.
O mandado de citação, devidamente cumprido, foi juntado
aos autos 10 (dez) dias após o ajuizamento da ação.
Em sua defesa, o Distrito Federal articulou, preliminarmente:
(a) prescrição, em face do transcurso de significativo lapso temporal
entre a data do acidente e a do ajuizamento da ação, e (b) ilegitimi
dade ativa “ad causam” da Autora, vez que estaria pleiteando, em
nome próprio, direito alheio. Alegou, ainda, que a vítima percebia
de seu empregador apenas um salário-mínimo mensal, não sendo
legítimo o montante requestado. Disse, mais, que nada indicava
dependência econômica. Por fim, argumentou que a responsabilida
de civil do Estado, em casos que tais, é de índole subjetiva, cabendo
à Autora a prova da omissão e do ilícito omissivo de caráter prejudi
cial, fatos constitutivos de seu alegado direito.
A prova testemunhai deferida pelo Juízo indicou, com a cla
reza necessária, que a vítima percebia mesmo 1 (um) salário-
mínimo mensal e que Autora era sua dependente econômica. Além
disso, ficou evidente que o companheiro da Autora não caiu em via
pública, de acesso facilitado aos pedestres, mas sim em galeria de
drenagem e escoamento de águas pluviais, tendo optado por “cortar
caminho” pela aludida galeria, ao invés de trilhar o trajeto mais
demorado, embora fosse este último de todo seguro e adequado à
circulação de transeuntes.
A prova pericial, noutro giro, atestou que o local do acidente,
justamente uma escada de acesso à galeria de escoamento de águas
pluviais, estava suficientemente iluminado e protegido do trânsito de
pedestres, muito embora, por se tratar de local restrito ao público em
geral, não se fizesse ornado com corrimões e/ou rampas especiais.
Em alegações finais, Autora e Réu se reportaram, sem srci
nalidade, às peças processuais anteriormente produzidas.
TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2007 (Civil)
Tema principal: Direito do Consumidor  Ação Monitória
A partir do relatório que se segue, o candidato deverá com
pletar a sentença, com clareza e objetividade na abordagem dos
temas.
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓ
RIOS
38a VARA CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL DE
BRASÍLIA-DF.
Vistos etc.
CASTOR & TATU LTDA ajuizou ação em face de AR-
QUIMEDES KALISTO dizendo, em síntese, que, selecionada em
pregão eletrônico, celebrou com o DISTRITO FEDERAL contrato
de prestação de serviços de remoção de entulho de prédio demolido,
comprometendo-se fornecer ao contratante três caminhões, tipo
caçamba, com capacidade de dez toneladas cada veículo. Pelos ser
viços receberia R$ 600,00 por viagem.
Dispondo apenas de dois caminhões, necessitou adquirir ou
tro veículo. Atraído por anúncio de jornal -- que informava ser a
capacidade do veículo anunciado dez toneladas — interessou-se por
caminhão usado, marca Mercedes Benz, oferecido por VEÍCULOS
PESADOS & CIA, veículo que o réu entregou a essa empresa e a
autorizou vendê-lo.
Compareceu à loja da vendedora e comprou o veículo por R$
120.000,00. Em pagamento emitiu dois cheques de R$ 50.000,00
cada, nominais à vendedora, um para ser descontado de imediato
(que a vendedora descontou), e o outro para ser descontado 30 dias
depois. O restante, R$ 20.000,00, comprometeu-se a pagar, à vende
dora, no prazo de 60 dias, conforme constou do recibo de compra e
venda, emitido pela vendedora em nome desta.
Levou o veículo e continuou os serviços que até então eram
prestados com os outros dois caminhões. No entanto, no segundo
dia em que utilizava o veículo, encarregados do Distrito Federal,
responsáveis pelo acompanhamento dos serviços, ao constatar que a
capacidade de carga do veículo não era dez toneladas, mas sete,
disseram que o veículo não poderia ser usado por não atender as
especificações de capacidade (dez toneladas), constantes do contra
to.
Comunicou o fato à vendedora e solicitou que o veículo fosse
substituído por outro com capacidade de dez toneladas, conforme
asseguram normas de proteção ao consumidor. A vendedora se re
cusou, dizendo que recebeu o veículo do réu para venda, não tendo,
portanto, responsabilidade quanto ao fato da menor capacidade de
carga do veículo.
segundo cheque Em decorrência
e informou da recusa,
a ela, sustouque
vendedora, o pagamento do o
não pagaria
resto do preço, R$ 20.000,00.
Como, com cada veículo, realizava oito viagens por dia, pas
sou a suportar prejuízo diário de R$ 4.800,00, que, no término do
serviço, realizado em 10 dias, alcançou R$ 48.000,00.
Argumentou que, solidária a responsabilidade nas relações de
consumo, todos os envolvidos na colocação do produto no mercado
de consumo e na comercialização respondem pelos vícios e inade
quação do produto ao fim que se destina, assim como pelos danos
causados. E o consumidor pode exercer sua pretensão contra todos
envolvidos ou, se optar, contra apenas um deles.
Aduziu que, dada a transparência que deve presidir as infor
mações sobre produtos e serviços oferecidos, a informação de capa
cidade do veículo, que constou no anúncio que a atraiu e acabou
resultando no negócio, por não espelhar a verdade, acabou viciando
o contrato de compra e venda, que, em conseqüência, comporta
rescisão, com a restituição dos valores que pagou e devolução do
veículo ao réu, sobretudo porque a vendedora se recusou substituir o
veículo por outro. E, pelos prejuízos que sofreu, deve ser indeniza
da.
Pediu a rescisão do contrato, restituição do valor que pagou,
R$ 50.000,00, e indenização pelos prejuízos que suportou, no mon
tante de R$ 48.000,00.

Contestou o réu. Arguiu, em preliminar, irregularidade da re


presentação processual da autora, feita por instrumento particular,
com firma reconhecida de um dos diretores dela, que, contudo, não
se sabe se a representa, pois não instruída a inicial com ato constitu
tivo ou contrato social.

Nulidade da citação que, realizada pelo correio, a carta, regis


trada, foi recebida e assinada por sua esposa, e não por ele. E, na
dicção do Código, “deferida a citação pelo correio”, pressupõe que,
para se efetivar a citação por esse meio, que o autor a requeira. A
autora não a requereu.
Inépcia da inicial, pois, da narração dos fatos não decorre lo
gicamente o pedido. Descreve-se vício ou inadequação do produto
fornecido que, caso existisse e a relação fosse de consumo, ensejaria
a anulação do contrato, e não a rescisão, rescisão que, perfeito e
acabado o contrato, só seria admissível se precedida de notificação,
especialmente porque acena a autora com a intenção de devolver o
veículo, mas nem mesmo se propôs depositá-lo em juízo.
Ilegitimidade passiva, vez que não teve culpa pelo ocorrido e
nem contribuiu para os fatos. E a relação não é de consumo e inexis-
te a decantada solidariedade.
No mérito, disse que a capacidade de carga do veículo, pró
pria de sua categoria, não poderia ser ignorada pela autora, empresa
que, atuando na prestação de serviços de transporte de carga, dispu
nha de conhecimentos suficientes a respeito da capacidade do veícu
lo.
Em réplica, sustentando que regular a sua representação pro
cessual e refutando as preliminares arguidas pelo réu, insistiu a auto
ra na procedência do pedido inicial.
O réu, ARQUIMEDES KALISTO, ajuizou ação monitória
contra a autora, CASTOR & TATU LTDA, dizendo que entregou
para venda, a VEÍCULOS PESADOS & CIA, caminhão de sua
propriedade.
Após a venda, feita à ré (Castor & Tatu Ltda), recebeu da
vendedora, Veículos Pesados & Cia, parte em dinheiro e cheque, no
valor de R$ 50.000,00, nominal à vendedora e endossado a ele,
autor, emitido pela ré (Castor & Tatu Ltda), para ser descontado no
prazo de 30 dias.
Na data, apresentou o cheque ao banco que o devolveu por
que sustado o pagamento pela emitente, a qual, além do valor repre
sentado pelo cheque, ainda deve R$ 20.000,00, conforme recibo de
compra e venda, emitido pela vendedora, Veículos Pesados e Cia,
em nome desta.
O cheque perdeu a força executiva, em razão da prescrição.
Inviável a execução com base nele. E decorrido o prazo prescricio
nal de dois anos para a ação de enriquecimento, o autor não pode se
valer dessa ação contra a emitente.
Mas o cheque e o recibo de compra e venda do veículo, emi
tido pela vendedora em nome dessa, servem de início de prova es
crita para fins de ação monitória.
Pediu a expedição de mandado de pagamento no valor de R$
84.000,00 (valor do débito atualizado monetariamente e acrescido
de juros de mora).
A ré opôs embargos à monitória. Disse, em síntese, que exis
tindo conexão entre as ações, deveria o autor se valer da reconven
ção, e não da monitória, via inadequada. E que o autor é parte ilegí
tima ativa no tocante ao valor de R$ 20.000,00, porquanto o recibo
foi emitido pela empresa que vendeu o veículo, em nome dessa,
sendo que nele não aparece o nome do autor e nem que ele era o
proprietário do veículo.

Aduziu
do cheque, que, comoaprazo
e decorrido perda,prescricional
pela prescrição, da força
de dois executiva
anos da ação de
enriquecimento contra a emitente, não pode o autor se valer da mo
nitória, que não serve para afastar prescrição consumada - a da exe
cução e da ação de enriquecimento.
Acrescentou que sustou o pagamento do cheque e não pagou
o restante do preço porque o veículo que adquiriu não tinha a capa
cidade de carga que constou no anúncio de venda que a atraiu, irre
gularidade que afronta normas de proteção ao consumidor, as quais
exigem transparência nas informações sobre produtos anunciados à
venda.
Aduziu que, se não julgados procedentes integralmente os

aembargos, quando menos


inclusão indevida emdeparte
de juros mora,devem
pois,ser
nãoacolhidos,
deu causapara afastar
a mora.
O autor, intimado, não impugnou os embargos. A ré, embar-
gante, manifestou, dizendo que os embargos, tendo natureza de ação
(do contrário, não passariam de contestação, e na monitória não há
contestação, argumentou), pediu fossem aplicados ao autor, embar
gado, os efeitos da revelia.
Os processos, nas duas ações, foram reunidos para julgamen
to em sentença única. Os fatos são incontroversos. Estão provados
ou foram admitidos.

É o relatório.
Decido.

TJ/DFT - Concurso para Juiz Substituto 2007 (Comercial)


Tema principal: Comercial
Elabore sentença com base no relatório abaixo apresentado,
analisando todas as questões suscitadas, de natureza processual e de
direito material. Serão consideradas a estrutura da sentença, a clare
za e precisão da fundamentação e correção da linguagem.
ADROALDO CAMPOS MATOS propôs ação indenizatória,
por perdasPÉe danos
ÇADOS materiais
GRANDE, e morais,CLÁUSIO
ANTONIO em face deSOUTO
LOJA DE CAL
e BANCO
DO TRABALHADOR S/A, aos argumentos seguintes:
Que em 20 de dezembro de 2006 adquiriu vários artigos na
LOJA DE CALÇADOS PÉ GRANDE, conforme notas fiscais que
fez acostar aos autos, emitindo, para tanto, cheque pós-datado, no
valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais), com vencimento previsto para
20 de fevereiro de 2007.
Contudo, para sua surpresa, o título que entregou à primeira
ré foi depositado na conta-corrente do segundo réu, Sr. ANTONIO
CLÁUSIO SOUTO, no dia 28 de dezembro de 2006, tendo o seu
pagamento sido autorizado e regularmente efetivado pelo terceiro

réu, o BANCO
ção aposta DO do
no verso TRABALHADOR S/A.,
título, asseverando queem que pese
o mesmo nãoa observa
poderi-
a, de qualquer forma, ser pago antes da data prevista para o seu
vencimento.
Em razão do precipitado depósito e do correspondente saque
procedido em sua conta, o autor sofreu prejuízos diversos, eis que,
não possuindo saldo suficiente para tanto, teve de se socorrer do
valor que lhe foi creditado pelo terceiro réu em razão do contrato de
cheque especial, sendo obrigado a arcar com o pagamento de taxas
bancárias e com altíssimos encargos moratórios.
Alega, mais, a ocorrência de danos morais, eis que, em razão
do ocorrido, deixou de arcar com outros compromissos perante ter
ceiros, tendo sido devolvidos outros cheques que emitiu, o que deu
ensejo, inclusive, à negativação do seu nome perante o SERASA,
sendo notório o constrangimento e o aborrecimento que lhe foram
causados pela precipitação do depósito ocorrido.
Encerra por pleitear a procedência do pedido, condenando-se
os réus, solidariamente, a indenizar-lhe os danos materiais causados,
estes estimados em R$ 3.200,00 (três mil e duzentos reais), e em
danos morais, que pede sejam fixados em valor correspondente a
dez vezes o valor do título em questão, além das custas processuais
e honorários advocatícios.
Regularmente citados, somente compareceram aos autos os
primeiro e segundo réus, deixando transconrer, in albis, o terceiro
réu, o prazo para contestar.
Em sua contestação, aduz o primeiro réu, que se faz necessá
rio, ab initio, o chamamento do SERASA à lide, uma vez que foi o
mesmo quem incluiu o nome do autor em seus cadastros, acrescen
tando que não pode responder a ação, considerando que, a partir de
quando o depósito foi realizado em nome do segundo réu, não pode
o mesmo, por via de conseqüência, ser responsabilizado por ato
praticado por outrem.
Argumentou, mais, que o pedido formulado não procede: a
uma, porque em se tratando de cheque, poderia a empresa contestan-
te apresentá-lo imediatamente para liquidação, de modo que, se
assim poderia fazer, igualmente poderia transmiti-lo a terceiro para
honrar suas obrigações; a duas, porque os danos materiais buscados
tiveram ensejo no pagamento realizado pelo banco sacado, ora ter
ceiro réu, quando o mesmo não possuía fundos para tanto, de modo
que não
partir depode responder
quando por tais
fez circular supostos
o título, prejuízos;
deixou a três,
de existir porque,
relação que oa
ligasse ao autor, passando esta a ocorrer em relação ao segundo réu,
o qual, efetivamente, foi quem se beneficiou do depósito realizado;
a quatro, porque, no tocante aos danos morais, a inscrição do nome
do autor junto ao SERASA decorreu de relação outra que não a
estabelecida inicialmente com a primeira ré, de vez que tal se deu
em função de outros cheques emitidos e que teriam sido devolvidos
por insuficiência de fundos, faltando, pois, ao autor, nexo de causa
lidade.
Encerra por pedir a extinção do feito, em relação à sua pesso-
a, e, alternativamente, a improcedência do pedido, com o estabele
cimento dos ônus sucumbenciais.
Por seu tumo, o segundo réu contestou, asseverando que não
poderia ser demandado pelo autor, uma vez que não participou da
relação negociai entabulada entre o autor e a primeira ré, destacando
que em se tratando o cheque de um título para pagamento à vista,
não estaria obrigado a aguardar o prazo aposto na cártula, tanto mais
quando, segundo a Lei do Cheque, é de 30 dias o prazo para sua
apresentação em se tratando de emissão na própria praça, o que
ocorre na hipótese, ou seja, se aguardasse o vencimento da data
impropriamente registrada no cheque (20.02.07), perderia o prazo
referido, uma vez que o negócio que o srcinou se realizou em 20 de

dezembro de 2006.
Afirmou ser possuidor de boa-fé, pelo que não poderia res
ponder pelos supostos prejuízos causados ao autor e que este não
teria demonstrado o nexo de causalidade entre a negativação do seu
nome e o depósito pelo mesmo realizado, pugnando pela improce
dência dos pedidos, com a imposição dos ônus da sucumbência ao
autor.
Em réplica, o autor reiterou os argumentos expendidos na ini
cial, pugnando pela decretação da revelia em relação ao terceiro réu.
Chamadas a especificar provas, as partes manifestaram-se no
sentido de nada mais ter a produzir, oportunidade em que a primeira
ré renovou o pedido de denunciação à lide do SERASA.
É o relatório.
Decido.
Tema principal: Tributário  Mandado de Segurança Coletivo
A Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro, re
presentando as empresas de importação e exportação baseadas no
Estado, impetrou Mandado de Segurança Coletivo, com pedido de
liminar, contra ato do Sr. Diretor da Receita Estadual, objetivando
suspender os efeitos da portaria especial do drawback sobre a expor
tação do produto com insumo importado a ele agregado, para exigir
a comprovação de exportação das mercadorias para fruição do bene
fício na importação, com a conseqüente isenção tributária. Argu
menta
possívelquecom
a exigência é ilegal
o simples e abusiva,
registro pois odebenefício
no sistema drawback isentivo
Afirmaé
que a exigência fazendária caracteriza bis in iden . Deferida a limi
nar, a autoridade coatora prestou as informações pedindo a revoga
ção da liminar e a denegação do writ, defendendo a legalidade da
resolução sob o fundamento de que o regime de drawback impõe
operação real de exportação, não se coadunando com ato fictício, e
não se caracterizando bis in iden . O representante do M.P., em ofí
cio, opina desfavoravelmente à pretensão do impetrante.
Sendo este o relatório, fundamente e decida, na forma de sen
tença.

TJ/RJ - XXXIX Concurso para Juiz de Direito


_____ Tema principal: Civil  Família_______________________
Tendo desaparecido dos locais que costumava freqüentar,
bem como de seu domicílio, Tício teve declarada, por sentença, a
ausência, sendo Mévio, seu filho, nomeado Curador. No exercício
da função, Mévio, representando o ausente Tício, ajuizou ação nega-
tória de paternidade em face de Lívia, de 19 anos de idade, nascida
na constância do casamento de Tício com Pompéia, esta também já
falecida. Sustentou o autor que pouco antes de morrer, Pompéia
confessou, em escrito particular, que Lívia não era filha de seu ma
rido, Tício, e sim de Semprônio, com quem, na época, mantinha ela
uma relação extraconjugal. Citada, Lívia ofereceu defesa, arguindo a
decadência do direito de contestar a paternidade, bem como que era
inverídica a confissão de sua mãe, fruto de represália por ela feita,
para constranger o marido, com quem, estava em conflito. Dispen
sando-se o relatório, profira a sentença.

TJ/RJ - XL Concurso para Juiz de Direito


_____ Tema principal: Administrativo - Responsabilidade Estatal
O Município requereu ao Juízo competente medida cautelar
de demolição
morro, porque,deà vista
prédiodeedificado
laudo de clandestinamente, em havia
seus setores técnicos, encosta de
risco
de deslizamento. O Juiz, após colher o parecer ministerial, indeferiu
o pleito liminar porque se tratava de ato provido de auto-
executoriedade. O ente público interpôs recurso de agravo de ins
trumento, postulando que fosse recebido com eficácia suspensiva
ativa, o que foi indeferido pelo relator e mantido pelo órgão fracio
nário, em agravo regimental. Antes do julgamento final do recurso,
e após parecer da Procuradoria da Justiça no sentido de seu provi
mento, sobreveio o temido deslizamento, de que resultaram danos
materiais e morais. Familiares de vítima fatal ajuizaram ação de
responsabilização civil, remetendo-a, em litisconsórcio passivo: (a)
ao Estado, em razão de alegado erro judiciário, configurado na re
jeição
(b) ao da liminar requerida
Município, pelo Município
que se omitira naquela
de oportuno medida
exercício cautelar;
do poder de
polícia edilícia, tanto que o prédio, de onze pavimento, fora constru
ído na clandestinidade e contrariamente às normas que conformam o
direito de construir, a par de a Procuradoria Municipal não haver
esgotado as vias recursais para garantir a prevalência do interesse
público; (c) ao juiz de primeiro grau e aos componentes da Câmara,
que negaram a liminar na mencionada cautelar, pela evidente expo
sição dos moradores a situação de risco; (d) ao promotor de justiça
que funcionou em primeiro grau, por omissão de dever funcional.
Citados: (a) o Estado arguiu sua ilegitimidade passiva porque a ma
téria é da competência municipal e o Poder Judiciário goza de auto
nomia; (b) o Município denunciou a lide aos servidores que inte
gram o departamento da prefeitura ao qual incumbe a fiscalização
edilícia, os quais responderam que obedeciam orientação política do
Prefeito, a quem denunciaram sucessivamente, ficando este revel;
(c) os magistrados sustentaram a soberania da jurisdição; (d) o pro
motor suscitou a sua liberdade funcional na emissão de pareceres.
Profira sentença, adotando como relatório o enunciado da questão, e
considerando que as provas produzidas confirmaram todos os fatos
alegados.

TJ/RJ - XLI Concurso para Juiz de Direito


Tema principal: Administrativo  Responsabilidade Estatal
Vendedor autônomo, ambulante de doces, ajuíza ação contra
o Estado do Rio de Janeiro e do Município de Vai Vem com a pre

tensão de obter indenização por danos materiais e morais.


Alega que, na praça principal do município onde reside, foi
alvejado por projétil de arma de fogo disparada por sargento da
Polícia Militar conhecido da comunidade, pois serve no posto da
Polícia Militar local.
O sargento deixava o seu local de trabalho ao término do ex
pediente laborai e se dirigia para a residência. Estava sem farda, mas
portava arma da corporação, autorizado por seu superior. Na Praça,
alguns amigos conversavam sobre política, até que dois deles, exal
tados, iniciaram calorosa discussão, que acabou por levá-los ao
confronto físico. O sargento, que a tudo assistia, açodadamente,
sacou da arma, e vozeirando sua qualidade de policial, determinou
que parassem, mas não foi acatado. Transtornado, atirou aleatoria
mente, mas o projétil ricocheteou e acabou por atingir o fêmur do
autor, que se feriu,tendo sido levado para o Hospital Municipal onde
permaneceu internado por dez dias.
No hospital, por precariedade de atendimento, foi acometido
por infecção no ferimento, deixando-lhe uma cicatriz. Ficou total
mente incapacitado para o trabalho por 60 dias e deixou de auferir
rendimentos para seu sustento, na média de dois salários mínimos
mensais. A perícia constatou uma incapacidade permanente na or
dem de 30%. Pede uma pensão mensal e vitalícia desde o evento, no
valor de dois salários mínimos, com juros e correção monetária,
além de indenização por dano moral arbitrada a critério do juiz.
O Estado do Rio de Janeiro contesta e admite os fatos com as
conseqüências relatadas, mas deduz preliminar de ilegitimidade
passiva, ao fundamento de que no momento do fato o militar não
exercia o múnus para o qual estava investido. No mérito, diz não ter
culpa pelo evento danoso e alega que o agravamento da lesão se deu
em razão da infecção hospitalar. Questiona o pedido vitalício de
pensão. Pede, ao final, a improcedência dos pedidos.
O Município também apresenta preliminar de ilegitimidade
passiva. No mérito alega que não deu causa aos danos experimenta
dos pelo autor.

Profira sentença, dispensado o relatório.


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