EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA SEÇÃO
CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA.1
URGENTE: PACIENTE PRESO
Autos de origem: 0000002-25.2019.8.05.0119
Paciente: UBIRACI PEREIRA GALO
Autoridade Coatora: JUIZO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE
ITAJUÍPE/BA
GABRIEL RIBEIRO SANTOS, brasileiro,
solteiro, advogado inscrito sob o nº 58.798 OAB/BA, titular de carteira de identidade Registro Geral n.º 1503006468,2domiciliado em Itabuna/BA, onde reside na rua Monte Alto, nº 373, Bairro Fátima, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência impetrar a presente ordem de
HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR
Em favor de UBIRACI PEREIRA GALO, brasileiro,
convivente, trabalhador rural, nascido em 31/12/1969, RG nº 05218771-30, residente e domiciliado na Rua Durval Rodrigues, s/n, Bairro Santo Antônio, Itajuípe/BA, atualmente custodiado no Conjunto Penal de Itabuna/BA, em razão de constrição ilegal à sua liberdade de locomoção, decorrente de ato oriundo do Juízo da 1º Vara Criminal da Comarca de Itajuípe/BA, consubstanciada nas razões de fato e de direito a seguir aduzidas: 1. DOS FATOS
I – O Paciente teve sua prisão preventiva decretada no
dia 19/11/2018, nos autos de processo nº 0000002- 25.2019.8.05.0119, por supostamente ter praticado crime de tentativa de homicídio em face de Sandra Souza dos Santos, sua companheira.
II – Foi formulado em favor do Paciente pedido de
revogação de prisão preventiva, que restou infrutífero. O MM. Juiz, ora apontado com autoridade coatora, manteve a prisão preventiva.
II – O Paciente foi preso no dia 02/01/2019.
2. A DECISÃO
I - Foi indeferido o pedido de revogação da prisão
preventiva pelo juiz a quo com os seguintes fundamentos:
“DIANTE DO EXPOSTO, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO, o que faço
com fulcro no art. 312 do Código de Processo Penal, mantendo a prisão processual do requerente, com fundamento para garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal.”
II – O nobre magistrado a quo desconsiderou totalmente os
fatos trazidos pela defesa, dando total credibilidade a representação policial, o parecer do Ministério Público e ao depoimento de testemunhas que não presenciaram o fato.
3. DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS
Os dispositivos de ordem Constitucional e legal, sob o prisma, eminentemente jurídico, militam em favor do paciente.
Verifica-se que o decreto de prisão preventiva expedido
pela autoridade coatora mostra-se totalmente desprovido de qualquer fundamentação válida, uma vez que os fundamentos utilizados para tal foram mencionados de forma genérica e abstrata, devendo o paciente ser posto em liberdade.
Fundamentar a prisão preventiva com as hipóteses de
“garantia da ordem pública” e “conveniência da instrução criminal” configura-se como inaceitável antecipação de juízo de culpabilidade, com flagrante violação ao princípio constitucional da presunção de inocência.
Ressaltando que a primeira hipótese sequer goza de um
referencial semântico no âmbito da legislação e da jurisprudência dos tribunais, ou seja, é um termo claramente “vago” e “indeterminado”, dificilmente compatível com a base constitucional e convencional do processo penal.
Afinal, o processo penal não admite que para a imposição
de mediadas restritivas de liberdade seja atuada pelo legislador uma formula legal genérica, sem que exista um referencial claro sobre o seu conteúdo.
Já a segunda hipótese, qual seja “conveniência da
instrução criminal”, não condiz com a realidade do caso e do Paciente, uma vez que este, espontaneamente, apresentou-se à autoridade policial para ser interrogado e dar cumprimento ao mandado prisional outrora decretado contra si, a fim de responder legalmente pela acusação existente. Ademais, não é reincidente, possui bons antecedentes criminais, não responde a outra ação penal, tem endereço fixo, é querido pela comunidade em que reside, não apresentando risco para a sociedade tampouco para as partes envolvidas no processo. Inclusive, o Paciente e sua companheira (vítima) reataram, sendo que esta se comprometeu a fazer um Termo de Declaração desfazendo todo o mal entendido que cerca o caso em epígrafe (cópia do termo em anexo).
In casu, a prisão preventiva está sendo utilizada como
antecipação de eventual pena o que, obviamente, é inadmissível.
Além das considerações acima tecidas, não podemos
esquecer que a Constituição Federal de 1988, introduziu em nosso Sistema Jurídico, um Código de Processo Penal, Garantista, de natureza acusatória, ou seja, visa proteger o acusado contra atos arbitrários perpetuados contra sua liberdade.
4. DA CONCESSÃO DE LIMINAR EM HABEAS CORPUS
Sendo o Habeas Corpus o remédio constitucional que
protege o mais valioso bem do indivíduo, sua liberdade, seria inconcebível um Sistema Processual Penal de natureza acusatória balizado por uma Constituição Garantista, negar a possibilidade da concessão de ordem de forma liminar, desprezando-se o Princípio da presunção de Inocência, negando ao acusado o seu direito fundamental de responder ao processo em liberdade e subjugando-o às amarguras do cárcere.
Data vênia, entendimentos contrários a possibilidade de
concessão de liminar em sede de Habeas Corpus, ao analisarmos o Código de Processo Penal no capítulo referente ao remédio Jurídico processual em tela, deparamo-nos com dois dispositivos que explicitamente contemplam a outorga liminar, a saber: artigos 649 e 660, § 2º. Preconizam esses cânones, com efeito, que o juiz ou Tribunal “fará passar imediatamente a ordem impetrada” ou “ordenará que cesse imediatamente o constrangimento”.
5. DO DIREITO
O Paciente merece responder a todo o processo em
liberdade, podendo assim provar o que é alegado.
Conforme documentação em anexo, o Paciente é possuidor
de bons antecedentes criminais, é réu primário, possui residência fixa na Rua Durval Rodrigues, s/n, Bairro Santo Antônio, Itajuípe/BA, e no período de um ano trabalhou na Fazenda Vale das Águas, logo depois passou a fazer bicos em fazendas próximas (é trabalhador rural).
No dia e na hora exata do fato criminoso supostamente
praticado, não havia ninguém no local que pudesse presenciar e servir de testemunha ocular, a fim de confirmar que de fato o acusado incendiou a companheira. Só estavam presentes no local o Paciente e sua esposa (vítima), os quais faziam uso de bebidas alcoólicas. Mesmo assim, os termos de depoimentos das testemunhas, em especial o da filha do Paciente, incriminam o Paciente de ter despejado álcool e ter ascendido um fósforo, o que não é verdade.
A vítima, em seu termo de declaração, alega que o
Paciente despejou álcool em seu rosto, porém ressalta que não o viu acendendo um fósforo, ou isqueiro, ou algo que pudesse originar as chamas. Alega ainda que estava fumando. Logo, observa-se que a decisão do Magistrado tem sido injusta para o Paciente, pois está embasada em depoimentos mentirosos e unilaterais.
Uma prova significativa de que o Paciente em momento
algum atentou contra a integridade física e a vida de sua companheira, é o fato de ambos terem reatado o relacionamento duradouro de 23 anos mesmo após o ocorrido. Ambos tem em comum dois filhos.
Para ratificar o exposto acima, a vítima do suposto
fato delituoso elaborou um termo de declaração, conforme anexo.
O Paciente, sofrendo devido a injustiça que lhe é
aplicada, implora a este juízo para que aguarde em liberdade o transcurso da instrução, para que possa depor acerca da verdade dos fatos. Devido a fragilidade das provas testemunhais unilaterais produzidas no inquérito policial, e não havendo elementos concretos para justificar a medida, requer a liberdade. Acerca de elementos que justifiquem a prisão, o STJ concedeu HABEAS CORPUS no HC 312441 SP 2014/0338841-4 (STJ):
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE
HOMICÍDIO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRISÃO CAUTELAR. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR A MEDIDA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A prisão processual deve ser configurada no caso de situações extremas, em meio a dados sopesados da experiência concreta, porquanto o instrumento posto a cargo da jurisdição reclama, antes de tudo, o respeito à liberdade. In casu, prisão provisória que não se justifica ante a ausência de fundamentação idônea. 2. Ordem concedida, a fim de que o paciente possa aguardar em liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiver preso, aplicando-se, cumulativamente a medida cautelar prevista no artigo 319 , inciso III , do Código de Processo Penal , determinando a proibição do réu de manter contato com a vítima, sem prejuízo de outras medidas que o juízo de primeiro grau entenda pertinentes, de maneira fundamentada.
Ademais, não há nos autos elementos suficientemente
idôneos para se chegar a inarredável conclusão de que a liberdade do paciente causará alguma insegurança à sociedade, isso pelo fato de que o estado terá o controle sobre o indiciado, de forma eficiente, com a aplicação de medidas cautelares alternativas à prisão, uma vez que esta é ultima ratio.
6 . DA CONCESSÃO DE LIMINAR
Requer-se seja concedida a ordem de habeas corpus,
liminarmente, em favor de UBIRACI PEREIRA GALO, para o efeito de, reconhecendo-se a ilegalidade praticada, determinar a imediata expedição do ALVARÁ DE SOLTURA, para que possa aguardar o transcurso da instrução em liberdade. O cabimento da medida liminar justifica-se por ter ficado evidenciado o fumus boni juris (direito de permanecer em liberdade provisória) e o periculum in mora (o réu já se encontra encarcerado por decisão do juiz do feito).
Ante o exposto, distribuído o feito a uma das Câmaras
Criminais, colhidas as informações da autoridade coatora e ouvido o Ministério Público, requer-se a DEFINITIVA concessão da ordem de habeas corpus, mantendo-se a suposto acusado solto até a decisão final.