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INTRODUÇÃO
2. FORMALIDADES DA PRISÃO
Mandado de prisão: em regra, é o título a viabilizar a realização da prisão.
Deve atender aos seguintes requisitos: ser lavrado pelo escrivão e assinado pela
autoridade competente; designar a pessoa que tiver de ser presa pelo nome, alcunha
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3. PRISÃO TEMPORÁRIA
A temporária é a prisão de natureza cautelar, com prazo preestabelecido de
duração, cabível exclusivamente na fase do inquérito policial, objetivando o
encarceramento em razão das infrações seletamente indicadas na legislação.
Decretação: a prisão temporária está adstrita à cláusula de reserva
jurisdicional, e, em face do disposto no art. 2º da Lei nº 7.960/1989, somente pode ser
decretada pela autoridade judiciária, mediante representação da autoridade policial ou
requerimento do Ministério Público. A temporária não pode ser decretada de ofício
pelo juiz, pressupondo provocação.
Cabimento: é essencial a presença do fumus comissi delicti e do periculum
libertatis para que a medida seja decretada. O art. 1º da Lei nº 7.960/1989 trata da
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4. PRISÃO EM FLAGRANTE
A prisão em flagrante é a que resulta no momento e no local do crime. É uma
medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e caráter eminentemente
administrativo, que não exige ordem escrita do juiz, porque o fato ocorre de inopino.
Espécies de flagrante:
Flagrante próprio (art. 302, I e II, CPP): o agente é surpreendido
cometendo a infração penal ou quando acaba de cometê-la. A prisão deve
ocorrer de imediato, sem o decurso de qualquer intervalo de tempo.
Flagrante impróprio (art. 302, III, CPP): o agente é perseguido,
logo após a infração, em situação que faça presumir ser o autor do fato. Não
existe um limite temporal para o encerramento da perseguição.
Flagrante presumido (art. 302, IV, CPP): o agente é preso, logo
depois de cometer a infração, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
presumam ser ele o autor da infração. Note que esta espécie não exige
perseguição.
Flagrante compulsório ou obrigatório (art. 301, in fine, CPP): as
polícias civil, militar, rodoviária, ferroviária e o corpo de bombeiros militar,
desde que em serviço, têm o dever de efetuar a prisão em flagrante, sempre
que a hipótese se apresente.–Flagrante facultativo (art. 301 CPP): é a
faculdade legal que autoriza qualquer do povo a efetuar ou não a prisão em
flagrante.
Flagrante esperado: a atividade da autoridade policial antecede o
início da execução delitiva. A polícia antecipa-se ao criminoso, e, tendo ciência
de que a infração ocorrerá, sai na frente, fazendo campana (tocaia), e
realizando a prisão quando os atos executórios são deflagrados. Nada impede
que o flagrante esperado seja realizado por particular.
Flagrante preparado ou provocado: o agente é induzido ou
instigado a cometer o delito, e, neste momento, acaba sendo preso em
flagrante. Ressalte-se, no entanto a Súmula nº 145 do STF: “Não há crime
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outro lado, sujeito aos excessos de suas atitudes. Conforme nos mostra Nucci: O
fundamento da prisão em flagrante é justamente poder ser constatada a ocorrência
do delito de maneira manifesta e evidente, sendo desnecessária, para a finalidade
cautelar e provisória da prisão, a análise de um juiz de direito. Por outro lado,
assegura-se, prontamente, a colheita de provas da materialidade e da autoria, o que
também é salutar para a verdade real, almejada pelo processo penal. Certamente, o
realizador da prisão fica por ela responsável, podendo responder pelo abuso em que
houver incidido. (NUCCI, 2018, p. 294).
A prisão em comento, realizada ao largo da existência de um mandado da
autoridade competente, sujeita-se ao crivo imediato do magistrado, conforme previsão
legal, poderá relaxar a prisão quando constatada qualquer ilegalidade à luz do (art.
5.º, LXV, CF). Cabendo a ressalva de que ao ser analisada e mantida pelo juiz, imbui-
se de conteúdo jurisdicional, configurando como a autoridade coatora o magistrado
que a deu sustentação.
A natureza jurídica da prisão em flagrante é de medida cautelar de segregação
provisória do autor da infração penal. Isto posto, a aparência da tipicidade por si só,
apresenta-se como elemento suficiente à sua realização, não se exigindo qualquer
valoração prévia em torno da ilicitude e a culpabilidade, que por sua vez configuram
como requisitos para a configuração do crime, a serem aferidos e processados ao
longo da instrução probatória processual. Trata-se a tipicidade como sendo o fumus
boni juris (fumaça do bom direito), fator autorizador da ação.
Tem essa modalidade de prisão, inicialmente, o caráter administrativo, pois o
auto de prisão em flagrante, formalizador da detenção, é realizado pela Polícia
Judiciária, mas torna-se jurisdicional, quando o juiz, tomando conhecimento dela,
conforme afirmado anteriormente. Tanto assim que, havendo a prisão em flagrante,
sem a formalização do auto pela polícia, que recebe o preso em suas dependências,
cabe a impetração de habeas corpus contra a autoridade policial, perante o juiz de
direito. Entretanto, se o magistrado a confirmar, sendo ela ilegal, torna-se coatora a
autoridade judiciária e o habeas corpus deve ser impetrado no tribunal. Nesse
diapasão, Nucci assevera que: Quanto ao periculum in mora (perigo na demora),
típico das medidas cautelares, é ele presumido quando se tratar de infração penal em
pleno desenvolvimento, pois lesadas estão sendo a ordem pública e as leis. Cabe ao
juiz, no entanto, após a consolidação do auto de prisão em flagrante, decidir,
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flagrante o usuário de drogas, conforme prevê o art. 48, § 2.º, da Lei 11.343/2006 (Lei
de Drogas).
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste
Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as
disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.(...)
§ 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em
flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo
competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-
se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias
necessários art. 48, § 2.º, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas).
Em matéria penal e processual penal, deve-se elevado respeito aos prazos e
às consequências oriundas de sua inobservância. Aponta a legislação um período
máximo de 24 horas, contadas da efetivação da prisão, devendo-se dar nota de culpa
ao preso e enviar os autos da prisão em flagrante ao juiz competente. Na verdade, a
comunicação ao magistrado deverá ser imediata, conforme aduzem os arts. 306 e 307
do CPP, apontando de fora inequívoca a necessidade de submeter a prisão em
comento ao crivo jurisdicional. Como se vê: Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e
o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da autoridade, ou contra
esta, no exercício de suas funções, constarão do auto a narração deste fato, a voz de
prisão, as declarações que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo
tudo assinado pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido
imediatamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delituoso, se não o
for a autoridade que houver presidido o auto;
Esse prazo é improrrogável, pois a prisão, ato constitutivo de cerceamento
da liberdade, configura um natural constrangimento, motivo pelo qual não se devem
admitir concessões. Não se contam as 24 horas a partir do término da lavratura do
auto, pois isso ampliaria muito o tempo para que o indiciado ficasse sabendo,
formalmente, qual o teor da acusação que o mantém preso. O prazo se inicia quando
a prisão se concretiza, ainda fora da delegacia de polícia.
A nota de culpa é o documento informativo oficial, dirigido ao indiciado,
comunicando-lhe o motivo de sua prisão, bem como o nome da autoridade que lavrou
o auto, da pessoa que o prendeu (condutor) e o das testemunhas do fato. Aliás, é
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direito constitucional tomar conhecimento dos responsáveis por sua prisão e por seu
interrogatório (art. 5.º, LXIV, CF).
Se a nota de culpa não for expedida (ou for expedida fora do prazo),
entendemos configurar-se ato abusivo do Estado, proporcionando o relaxamento da
prisão em flagrante, bem como medidas penais – abuso de autoridade, se for o caso,
havendo dolo – e administrativas contra a autoridade policial.
Com isso não podemos aquiescer, já que essa modalidade de prisão, sem o
prévio aval do juiz, prescinde do mandado, mas tem uma série de formalidades
fundamentais a seguir. Não respeitadas estas, a solução é considerar ilegal a
detenção e não simplesmente tomar providência contra o agente do Estado. É preciso
juntar o comprovante de entrega da nota de culpa ao indiciado aos autos do inquérito.
(NUCCI, 2018, p. 302).
Quando o crime for cometido na presença da autoridade competente para a
lavratura do auto de prisão em flagrante – ou mesmo contra esta –, estando ela no
exercício das suas funções, não há cabimento em se falar em condutor, ou seja,
aquele que leva o preso até a autoridade encarregada da formalização da prisão. Por
isso, dada a voz de prisão, o auto se faz com menção a essa circunstância, ouvindo-
se as testemunhas e o indiciado (é preciso manter essa ordem, ainda que, da leitura
do art. 307 do CPP, possa-se crer deva o indiciado falar antes das testemunhas).
Em seguida, segue-se o procedimento normal, enviando-se o auto ao juiz. Se
quem lavrou o auto foi o próprio magistrado – o que não é aconselhável fazer –
logicamente ele mesmo já conferiu legalidade à prisão. Se houver algum
questionamento, deve ser feito por habeas corpus, diretamente ao tribunal.
Registremos ser a remessa dos autos da prisão em flagrante à autoridade judiciária
competente, antes de tudo, uma imposição constitucional, pois somente o juiz pode
averiguar a legalidade da prisão, tendo o dever de relaxá-la, se for considerada ilegal
(art. 5.º, LXV, CF)” (NUCCI, 2018, p. 302).
Ao avaliar a prisão em flagrante, é preciso que o magistrado fundamente a
decisão de sua manutenção e, igualmente, o faça se resolver colocar o indiciado em
liberdade provisória, com ou sem fiança. Nessa ótica, está a lição de Antônio
Magalhães Gomes Filho: Daí a indispensável exigência de que essa decisão seja
integralmente justificada: quanto à legalidade, devem ser explicitadas as razões pelas
quais se entende válido o flagrante; quanto à necessidade, nos mesmos moldes em
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que tal dever é imposto em relação ao provimento em que se decreta uma prisão
preventiva (FILHO, 2001, p. 227).
Inexistindo autoridade policial no lugar onde a prisão efetivou-se, o preso deve
ser apresentado a do local mais próximo, conforme preconiza o Artigo 308 do código
de Processo Penal. Isto posto, infere-se que dado o caráter cerceador de uma garantia
fundamental, a prisão deve ser revestida de legalidade, elemento a ser aferido
inicialmente pela autoridade policial e por fim pelo magistrado, em sede jurisdicional.
7. PRISÃO PREVENTIVA
Enquanto não houver sentença condenatória transitada em julgado, ninguém
será preso, afinal, vivemos sob a égide de uma Constituição que veda a prisão de
inocentes. Contudo, em situações excepcionais, em prol de um bem maior, é essencial
restringir a liberdade de locomoção do acusado de um delito. Tal privação pode
ocorrer de duas formas: a) pela decretação da prisão temporária, nas hipóteses
previstas na Lei 7.960/89; b) pela decretação da prisão preventiva, quando necessária
à garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria. A preventiva pode ser decretada
em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, podendo ser
decretada, de ofício (durante a fase processual), pelo juiz, ou a requerimento do MP,
do querelante ou do assistente ou por representação da autoridade policial, desde que
presentes as hipóteses do art. 312 do CPP.
A prisão preventiva só será imposta quando o cerceamento da liberdade for
realmente necessário para que se alcance os objetivos descritos no CPP. Se for
possível alcançar o mesmo resultado com uma das medidas cautelares previstas nos
artigos 319/320 do CPP, a prisão não poderá ser imposta. Ademais, deixando de
existir o motivo que ensejou a sua decretação, o juiz deverá revogá-la imediatamente
- e, voltando a surgir motivo, o juiz pode novamente decretá-la. Para a decretação,
deve existir prova da existência do crime e de indício suficiente de autoria (fumus boni
iuris). A prisão preventiva não tem prazo, e pode ser mantida enquanto houver motivo
para a sua manutenção.
Além do fumus boni iuris, deve estar presente o intitulado periculum in mora,
ou seja, deve a prisão ser necessária para evitar que mal iminente ocorra. O art. 312
descreve, em rol taxativo, quais motivos podem causar a decretação da preventiva: a)
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garantia da ordem pública: busca impedir que o agente continue a delinquir, pondo
em risco a segurança da sociedade; b) conveniência da instrução criminal: visa
impedir que o agente perturbe ou impeça a produção de provas (ex.: ameaça a
testemunhas); c) garantia de aplicação da lei penal: busca impedir que o agente obste
a aplicação da lei (ex.: risco de evasão, inviabilizando futura execução da pena); d)
garantia da ordem econômica: é espécie de garantia da ordem pública; e)
descumprimento da medida cautelar imposta: caso a medida cautelar diversa da
prisão (CPP, arts. 319/320) não alcance o objetivo desejado, ocorrerá a sua conversão
para a prisão preventiva.
Com o advento da Lei 12.403/11, a decretação da prisão preventiva ficou
reservada a casos excepcionalíssimos. No art. 313 do CPP, há um rol taxativo de
hipóteses em que ela é permitida: a) nos crimes dolosos punidos com pena privativa
de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; b) se o acusado tiver sido condenado
por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado; c) se o crime envolver
violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo
ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência; d) quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta
não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a identificação. Jamais haverá a decretação de
preventiva se demonstrado que o crime se deu em hipótese de exclusão da ilicitude
(CP, art. 23).
8. PRISÃO DOMICILIAR
Como o preso é autorizado a ir para a sua casa, muitos imaginam que a prisão
domiciliar é medida cautelar diversa da prisão. Contudo, isso não é verdade.
Presentes os requisitos da prisão preventiva, o juiz pode decretá-la, sem que isso viole
o princípio da presunção de não culpabilidade (ou presunção de inocência).
Entretanto, em algumas situações específicas, o envio do preso ao presídio ou a
estabelecimento semelhante pode gerar efeitos desastrosos. É claro, considerando a
falta de higiene e de segurança dos presídios brasileiros, qualquer preso está sujeito
a doenças, lesões e, até mesmo, à morte. No entanto, em alguns casos, é quase certo
que algum mal será sofrido pelo preso.
Portanto, para essas situações excepcionais, pode o juiz autorizar o
encarceramento domiciliar. Ou seja, a pessoa estará presa, mas dentro de sua casa,
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só podendo dela sair mediante autorização judicial. Frise-se que, aqui, estamos
falando em prisão provisória (preventiva ou temporária), e não aquela decorrente de
sentença condenatória, tema tratado em diploma próprio. A prisão domiciliar será
possível quando o preso (CPP, art. 318): for maior de 80 (oitenta) anos; for
extremamente debilitado por motivo de doença grave; for imprescindível aos cuidados
especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; for gestante
a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo está de alto risco. A prisão domiciliar
é contabilizada para fins de detração.
Em regra, insere o art. 393 da Lei Adjetiva Penal, entre os efeitos da sentença
condenatória recorrível, o recolhimento do réu à prisão, "assim nas infrações
inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança´´. Por seu turno, o
art. 594 do mesmo diploma legal, com a redação preconizada pela polêmica "Lei
Fleury´´, destaca que "o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão ou prestar
fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença
condenatória ou condenado por crime de que se livre solto´´.
“Art. 393. São efeitos da sentença condenatória recorrível: I – ser o réu preso
ou conservado na prisão, assim nas infrações inafiançáveis, como nas infrações
inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança;”
“Art. 594. O réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança,
salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença
condenatória, ou condenado por crime de que se livre solto.”
Salienta-se de todas, com efeito, a defesa que Afrânio Silva Jardim elabora a
respeito do assunto, destacando suas objeções sobre considerar-se cautelar a
natureza jurídica da prisão mencionada, bem como as vantagens que enumera a
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Isso não significa dizer, alerta o autor, que o fato de se negar à prisão em tela
seu caráter cautelar importa em interditar a custódia do condenado primário e de bons
antecedentes, nos casos em que livre, por exemplo, possa pôr em risco a execução
da sanção. Fazendo-se necessário prender o agente condenado, apesar de se lhe
reconhecer, na sentença, a primariedade e bons antecedentes, quando se observar o
cometimento de atos compatíveis com o propósito de se subtrair à aplicação da pena,
é possível faze-lo, decretando-lhe a prisão preventiva.
Por isso é que, na esteira dos ensinamentos de Hélio Tornaghi, o citado autor
rebate as críticas formuladas e acentua as diferenças entre a prisão provisória e a
definitiva, ressaltando o que já teria sido demonstrado há tempo pelo primeiro, isto é,
que a pendência de recurso ordinário ou extraordinário nos leva à situação em que a
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decisão a ser proferida cumprirá o papel de mera condição resolutiva, sem que se fira
a disposição constitucional da presunção da não-culpabilidade, estatuída no artigo 5°,
inciso LVII, da Carta Magna, quando se prende a título de condenação, mesmo que
carecendo do trânsito em julgado, pois que “presumir é aceitar um fato como
verdadeiro, tendo em conta aquilo que geralmente acontece”, e na prisão que então
se verifica não há qualquer presunção. Segundo Afrânio, exigir-se o recolhimento à
prisão, como pressuposto de cabimento do recurso, isto, sim, atingiria o preceito
constitucional.
pela qual, no art. 2o., se estabelece que a "jurisdição penal dos juízes ou tribunais da
justiça ordinária, em todo o território nacional, será exercida, no processo de
execução, na conformidade desta lei e do Código de Processo Penal". Por lado consta
no 17: "A igualdade da aplicação da lei ao preso provisório e ao condenado pela
Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição
ordinária, assegurado no parágrafo único do art. 2o., visa impedir o tratamento
discriminatório de presos ou internados submetidos a jurisdição diversas". Ressalve-
se, que os negritos são nossos. Ora, não se pode extrair do texto retro mencionado,
que o parágrafo único do art. 2o. da Lei de Execução Penal, admite a execução
provisória. Nele se nota explicitamente que a expressão "igualdade da aplicação da
lei ", esta direcionada apenas e tão somente para evitar-se a discriminação de forma
genérica. Mesmo porque quanto a execução da pena, a lei se mostra bem clara.
Embora respeitáveis sejam os pontos de vista contrários, temos para nós, que
a execução provisória, além de não trazer benefícios, praticidade etc., conturba e até
fere o espirito da lei.
Não traz benefícios, porque toda pena cumprida na fase processual, pode ser
abatida da pena final, em obediência ao princípio da detração penal, art. 42, do Código
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Penal. Ora, se a lei assegura, tal possibilidade, nenhum prejuízo, decorrerá da espera
do trânsito em julgado, da sentença condenatória, não havendo motivos para se
apressar a execução, sob o título da provisoriedade.
A finalidade desta medida tem como foco tanto privar o indivíduo de atividades
que tenham relação com o crime do qual é acusado como poupar a sociedade de sua
iminente e nova incidência. É uma medida é genérica, podendo ser aplicada a
qualquer delito, ou mesmo cumulada a outra medida. A linha geral da medida se
concentra na possibilidade de evitar acirramento de ânimos entre as pessoas nos
locais em que deva ser proibido o acesso ou frequência.
Novamente, percebe-se que o legislador nada mais fez do que estender uma
medida já prevista no art. 22, III, a e b, da Lei 11.340/2006. O Código de Processo
Penal, agora abrange várias situações com este inciso, em particular, focando nos
crimes que o autor e vítima se conhecem, motivo pelo qual podem continuar seus
conflitos, após o início da investigação ou do processo.
Monitoração Eletrônica
Tal modelo surgiu, nos Estados Unidos, para substituir prisões juvenis (de
menores e adolescentes). Essa medida se inspira no propósito de descongestionar os
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CONCLUSÃO
Existirão diversos casos em que o réu poderá interferir no andamento
processual de forma prejudicial. A fim de garantir que não haja qualquer imbróglio, a
própria legislação trouxe medidas cabíveis.
Para cada caso concreto existirá a medida cabível: quando o sujeito é
encontrado no momento ou logo após o cometimento da infração, será decretada a
prisão em flagrante; quando se necessite garantir a ordem pública ou econômica, ou
quando for conveniente para a instrução criminal, ou ainda para garantir a aplicação
da pena, a prisão preventiva deve ser decretada; ou, ainda, quando for cometido um
dos crimes elencados na lei n.7.960/89 e houver necessidade para as investigações
ou quando o réu não possuir identidade clara ou residência fixa, poderá ser decretada
sua prisão temporária.
Porém, a legislação adotou como princípio basilar manter os direitos e
garantias individuais do homem, como a liberdade. A liberdade é imprescindível a
qualquer indivíduo e, por isso, foram criadas as medidas cautelares diversas da prisão,
tais como comparecimento periódico em juízo e proibição de frequência a
determinados lugares, como forma de substituir a prisão e, ainda assim, garantir o
rumo das investigações.
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REFERÊNCIAS
Pacelli, Eugênio Curso de processo penal / Eugênio Pacelli. – 21. ed. rev., atual. e
ampl. – São Paulo: Atlas, 2017.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5. ed. rev.,
atual. eampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
Távora, Nestor Curso de direito processual penal/ Nestor Távora, Rosmar Rodrigues
Alencar - 12. ed. rev. e atu- Salvador: Ed. JusPodivm. 2017.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 12. ed. São Paulo: Malheiros,
2002.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
GOMES, Luiz Flávio. Prisão e Medidas Cautelares. 2.ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais RT. 2011.
Op. cit., p. 393: “Importa salientar, portanto, que a efi cácia suspensiva da apelação
do réu impede tão-somente a sua prisão como efeito da sentença impugnada
(execução provisória da pena), não vedando a custódia cautelar caso esteja presente
algum motivo que autorize a decretação da prisão preventiva do réu, conforme
deixamos escapar acima.”
TORNAGHI, Hélio. Instituições de Processo Penal, São Paulo, Saraiva, 1978, vol. 3,
p. 167: “A prisão como pena imposta em sentença recorrível é definitiva, embora
sujeita a condição resolutiva, que é a reforma da sentença. E o próprio fato de a
decisão da instância superior funcionar como condição resolutiva está a mostrar que
a prisão não era provisória.”