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I – Psicologia da Gestalt
Até 1912 as teorias da percepção eram baseadas na idéia de que a percepção resultava da
soma das partes de um elemento.
Wertheimer fez uma experiência usando duas linhas luminosas sobre um campo escuro, as
quais eram expostas sucessivamente. Se o tempo de exposição for longo (mais de 200
milhonésimos de segundo), você pode perceber as linhas uma após a outra. Se o intervalo
for menor de 30 seg., as linhas são percebidas simultaneamente e com intervalos entre 30 e
200 milhonésimos, são percebidas como uma única linha que se move de um lado a outro.
Esse experimento é aplicado na confecção de anúncios luminosos. Temos então que a
percepção é dada pela inter-relação dos elementos que configuram um todo.
Kurt Koffka e Wolfgang Köhler, continuando esses estudos, mostraram que formamos
padrões de percepção baseados em motivações e experiências anteriores, como
estruturamos um campo perceptivo destacando dele um elemento para o primeiro plano
(figura), contrastando com o resto do campo (fundo).
A palavra Gestalt é alemã e significa uma forma, uma configuração, o modo particular de
organização das partes individuais que entram em sua composição. A premissa básica da
psicologia da Gestalt é que a natureza humana é organizada em partes ou todos, que é
vivenciada pelo indivíduo nestes termos, e que só pode ser entendida como uma função das
partes ou todos dos quais é feita.
Campo – é o conjunto de tudo o que tem a possibilidade de ser objeto da nossa atenção num
determinado momento. Inclui a figura e o fundo. Quando dirijo, vou focalizando minha
atenção a cada momento. Vou mudando a minha “figura” a cada instante: no sinal que
fechou, no carro que brecou na minha frente, na música que toca no rádio, na placa de
contra-mão, no guarda, no pedestre atravessando a rua, na moto que passou chispando ao
meu lado, numa lembrança, numa vítima, numa emoção. O fundo inclui todos esses dados
sensoriais ou memoriais que podem cair do plano da consciência ou atenção com maior ou
menor facilidade.
1 – o que ocorre “lá fora” e pode ser percebido com os cinco sentidos.
2 – o que ocorre “aqui dentro”, que são as sensações corporais, esqueléticas ou viscerais e
as emoções.
Tudo isso só poderá ser percebido aqui e agora. Posso ter uma lembrança, mas isto está
sendo feito agora, no presente.
II – Gestalt – terapia
Origens e desenvolvimento
Fritz Perls – nasceu em 8 de julho de 1893 num bairro judeu de Berlim. Seus pais
pertenciam ao grupo de judeus alemães liberais, preservando algumas tradições religiosas,
mas engajados na vida cultural e social alemã da época. Fritz freqüentava com sua mãe
teatro, óperas e museus, enquanto a biblioteca do avô era o lugar predileto para satisfazer
sua curiosidade. Montava com um amigo, peças de teatro na sala de sua casa. Enquanto isso
seu pai se tornava mais distante da família.
Adolescente, Fritz era um menino difícil, foi expulso do ginásio, tornando-se instável e
rebelde. Foi admitido em um ginásio mais liberal, onde encontrou estimulação para o
teatro. Aos 16 anos fez papéis de figurante no Teatro Real de Berlim.
Aos 21 anos estudava medicina quando houve a 1º guerra mundial. Inapto para o serviço
militar, trabalhou como voluntário na Cruz Vermelha, podendo continuar os estudos.
Em 1916 passou nove meses como assistente médico, quando foi ferido. Os 40 anos
seguintes são uma busca de direção e enraizamento.
Começou a fazer análise com Karen Horney e foi para Frankfurt. Trabalhou como
assistente de Goldstein, que estudava as manifestações comportamentais de lesões
cerebrais, com base nas noções de psicologia da Gestalt de Wertheimer, Köhler e Koffka.
Assistiu seminários de Otto Fenichel e Paul Federn. Fez análise com Wilhelm Reich.
Conheceu Laura Posner, graduada em psicologia da Gestalt, psicanalista, com quem se
casou.
Na época do movimento antinazista (1931), Fritz refugiou-se para a África do Sul, onde ele
e Laura estabeleceram-se como analistas. Eram muito procurados e Fritz viajou para
participar do Congresso de Psicanálise na Tchecoslováquia com a teoria das Resistências
Orais. Sendo mal recebido por Freud e Reich, começou seus ataques à psicanálise.
A comunicação sobre Resistências Orais tornou-se núcleo de seu livro Ego, Hunger and
Aggression, influenciado pela teoria organísmica de Kurt Goldstein.
Após ter sido psiquiatra do exército sul-africano em 1942, Perls vai novamente aos Estados
Unidos, encontrando analistas como Paul Goodman, Erich Fromm e Karen Horney. Em
pouco estava bem estabelecido como analista.
Foi para o Japão, Israel. Em 1964 para Esalen (Califórnia), onde ensinou Gestalt-terapia.
Em 1969 foi para o Canadá onde fundou o Instituto de Gestalt do Canadá, onde passou os
últimos meses de sua vida, quando faleceu em 1970.
o uma concepção da relação corpo – mente que fosse integradora ao invés de dualista.
TEORIAS DE FUNDO
A pessoa humana funciona como um projeto e enquanto tal é o único ser que pode se ver
no amanhã e decidir sobre isto;
O tempo não é matemático, é funcional, é relacional, porque existem segundos que
parecem uma eternidade e eternidade que parece um segundo. À base destas sensações
estão nossas emoções, como fatores de diferenciação.
MÉTODO FENOMENOLÓGICO
Quando dizemos que empregamos a fenomenologia como método estamos dizendo que:
Vemos a realidade, a observamos com atenção, a descrevemos e explicamos de modo
cuidadoso. Estes são os momentos do encontro.
Trabalhamos o aqui e agora. Estamos atentos à temporalidade e à espacialidade na qual a
pessoa se movimenta e que se revela na vida como na terapia.
Entendemos que o sintoma é apenas a ponta do iceberg e por isso trabalhamos com os
processos que os mantêm. O sintoma implica desvio de uma energia que, originalmente
era saudável;
O psicoterapeuta está incluído na totalidade da relação cliente-mundo.
Esses pressupostos se aplicam não apenas à parte clínica da Gestalt, mas a todos os
campos de atuação da abordagem Gestáltica.
PSICOLOGIA DA GESTALT
E quando há encontro,
então eu me transformo
e você também se transforma (F. Perls)
Concepção de Homem
Gestalt – terapia
Alguns conceitos
Homeostase
É o processo através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Cada necessidade
perturba o organismo, que tem que se reorganizar para satisfazê-las. O processo
homeostático perdura o tempo todo. Quando o processo homeostático falha em alguma
escala, quando o organismo se mantém num estado de desequilíbrio por muito tempo e é
incapaz de satisfazer suas necessidades, está doente. Quando falha o processo homeostático
o organismo morre.
Ajustamento criativo
Awareness
Manter-se consciente de; estado de consciência. "O objetivo ( da awareness) é o paciente
descobrir o mecanismo pelo qual ele aliena parte dos processos do seu self e, assim, evita
estar consciente de si e de seu ambiente... Um experimento típico ( da awareness) é pedir
que os participantes formem uma série de sentenças começando com as palavras "aqui-
agora eu estou consciente de...". "Este continuum de tomada de consciência parece ser
muito simples; apenas tomar consciência do que se passa segundo após segundo...
Entretanto, assim que a tomada de consciência se torna desagradável, ela é interrompida
pela maioria das pessoas. Então, estas, repentinamente, começam a intelectualizar, usar
palavreado do tipo blablablá, voar em direção ao passado...".
Contato
Em todo momento estamos fazendo contato.
Contato é toda experiência humana: viver é contato. Ver é contato, ouvir é contato, pensar é
contato, ter consciência é contato, mover-se é contato, manipular, falar, lutar, qualquer tipo
de relação é contato. Contato é o processo contínuo de reciprocidade em que o homem e o
mundo se transformam. O contato ocorre na fronteira eu – não eu.
Suporte
É o que dá sustentação para o contato. Por exemplo, para falar preciso de um substrato
anatômico de boca, língua, cordas vocais, de um substrato fisiológico de respiração e
circulação e de um substrato cultural, que é uma língua e de um substrato intelectual que
possibilite a articulação do meu pensamento.
mobilização de energia
(awareness)
percepção ação
sensação contato
retração
retração
O cliente experimenta-se, vive sensações, toma contato com seu corpo, revive emoções e
pode tornar figura sensações e sentimentos que faziam parte do fundo do seu campo.
Atendimento 2
Cliente: - Antes de vir aqui, eu estava na casa da minha mãe, mas havia muito trânsito de lá
para chegar até aqui. Por isso eu pedi a minha mulher, digo, minha mãe para ligar para você
dizendo que eu iria me atrasar...
Gestalt-terapeuta: - Você percebeu alguma coisa diferente na sua fala?
Cliente: - É... (rindo), eu troquei... Falei minha mulher ao invés de dizer minha mãe...
Gestalt-terapeuta: -Há algo engraçado nisso?
Cliente: - A idéia absurda de trocar as palavras, falando “mulher” ao invés de mãe...
Gestalt-terapeuta: - O que o faz achar que é um absurdo?
Cliente: - Ora, a própria idéia de considerar minha mãe como minha mulher! (Neste
momento, o cliente demonstra uma certa irritação).
Gestalt-terapeuta: - Estou percebendo que há alguma coisa que parece lhe trazer um
incômodo... Você está se sentindo incomodado?
Cliente: - Sim, estou irritado... com essas... perguntas.
GT: - Você poderia fazer uma frase inteira e dizê-la diretamente para mim?
C: (espera uns instantes, respira e fala) - Fico muito irritado por sua insistência em querer
saber por que eu troquei minha mãe por minha mulher.
GT: - Mas em momento nenhum perguntei o porquê de nada...
O cliente fica momentaneamente surpreso e, depois, em silêncio...
GT: - Você estaria disponível para fazer um trabalho sobre isso?
C: - Sim, acho que estou sim...
GT: - Proponho que você entre em contato com essa irritação, certo? O que o está deixando
irritado agora?
C: - Estou irritado comigo mesmo e com essa história de ficar trocando os nomes...
GT: - Você poderia dizer a seguinte frase, para você mesmo: eu fico irritado comigo
quando troco a minha mãe pela minha mulher! É possível?
O cliente concorda e, após repetir a frase algumas vezes, parece ainda muito distante e
inexpressivo.
C: - Está difícil pensar na minha mãe agora...
O Gestalt-terapeuta pergunta se o cliente deseja continuar o trabalho. A partir de sua
concordância, sugere um outro experimento.
GT: “- Gostaria que você olhasse para essa cadeira, e imaginasse sua mãe sentada ali,
olhando para você. (O cliente concorda.) – E agora você dirigirá a frase para ela: Eu fico
irritado comigo quando troco você pela minha mulher”.
Após algumas repetições, o cliente começa a mudar a expressão do seu rosto. Ao final, fica
com uma expressão facial visivelmente triste.
GT: - O que está acontecendo?
C: - Estou percebendo que ainda não consegui sair do jugo da minha mãe... Mesmo já
sendo casado e saído de casa há anos, ainda me sinto dependente dela...
Bibliografia
- RODRIGUES, Hugo Elídio. Introdução à Gestalt-terapia. Petrópolis, Vozes, 2000.
_ POLSTER, Erving e Miriam – Gestalt terapia integrada. São Paulo, Summus, 2000.