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Não posso mandar vir

um osso de dois metros


de comprimento da
China. Tenho que lá ir

ENRIC VIVES-RUBIO

52 • 6 Janeiro 2008 • Pública


Luís Rodrigues

Correr
mundo
atrás dos
dinossauros
É um dos três paleontólogos em Portugal que investigam
dinossauros. Quer saber como alguns adquiriram quatro patas
que suportavam corpos colossais? Texto de Teresa Firmino

U
ma certa foto - queixam-se: ‘Não queremos ver ossos, passa a (nos saurópodes). Uma tal mudança teve de
grafia com um parte dos ossos’.” implicar modificações na forma e nas propor-
enorme osso não Nem todos os ossos do esqueleto lhe interes- ções do esqueleto e nos músculos. Relacionada
poderia ser mais sam; só os das patas traseiras e dianteiras, como com o andar dos dinossauros há outra ques-
emblemática do o úmero da foto. E a sua atenção apenas recai tão, que fascina toda a gente: o seu gigantismo.
trabalho de Luís nos saurópodes, aquele grupo de dinossauros Como é que alguns puderam atingir tamanhos
Azevedo Rodri- com pescoços gigantes, e os prossaurópodes, tão colossais?
gues. Está lá tudo. os seus primos mais velhos. Surgidos há cerca É precisamente entre os saurópodes que se
O que investiga, as de 230 milhões de anos, os prossaurópodes, encontram os maiores animais que pisaram
dificuldades de um que nalguns casos chegavam aos dez metros de terra firme, de que o “Seismosaurus” dos
trabalho que é invulgar, até o sentido de humor comprimento, desapareceram há 190 milhões Estados Unidos, com 39 metros, é um dos
com que encara tudo isso. de anos. Quanto aos saurópodes, apareceram recordistas. Outro campeão é o “Argentino-
E o que se vê nessa foto? Um paleontólogo des- há 215 milhões de anos e extinguiram-se há saurus” da Patagónia, com 37 metros, embora
contraído, esticado no chão ao lado de um osso 65 milhões, como muitas formas de vida. Os também os houve bastante mais pequenos,
de dinossauro. Aquele úmero, o osso que vai dois grupos coexistiram cerca de 25 milhões como o “Neuquensaurus” da Patagónia tam-
do ombro ao cotovelo, é de “Brachiosaurus”, de anos. bém, com sete metros, ou o “Tazoudasaurus”
um dinossauro de 25 metros de comprimento Ambos eram herbívoros. Os dinossauros carní- de Marrocos, com nove metros, que é um dos
e 80 toneladas. Ao pé do úmero de 2,5 metros, voros, de que o T-rex é a espécie mais famosa, saurópodes mais antigos, com cerca de 190
o maior que estudou, é natural que Luís Rodri- não entram na história que Luís Rodrigues milhões de anos.
gues e os seus 1,75 metros pareçam diminutos. pretende contar na sua tese de doutoramento, “Para atingir tamanhos descomunais, tive-
“Decidi deitar-me no chão, porque era a única orientada por Jeffrey Wilson, da Universidade ram de sofrer mudanças anatómicas. Um ani-
maneira de tirar a fotografia.” Foi um paleon- do Michigan, e Angela Buscalioni, da Universi- mal pequeno e um grande não funcionam da
tólogo britânico que lha tirou, de cima de um dade Autónoma de Madrid. mesma forma. Mas que modificações tiveram
escadote. Encontrava-se no Museu de História O paleontólogo do Museu de História Natural, de ser feitas?”, quer saber Luís Rodrigues.
Natural de Berlim, um dos muitos locais com em Lisboa, procura respostas para alguns mis- Mas há ainda outro problema em relação ao
colecções de dinossauros que Luís Rodrigues térios sobre a evolução dos dinossauros, mais gigantismo. Os dinossauros tornaram-se gigan-
já visitou, desde o início de 2005, e das quais precisamente como é que a locomoção passou tes e depois necessitaram de quatro patas para
tem milhares de fotografias. “Os meus amigos de bípede (nos prossaurópodes) a quadrúpede ficarem mais estáveis? Ou foi por andarem
ENRIC VIVES-RUBIO

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em quatro patas que aumentaram de tama- brados e Paleoantropologia, em Pequim, onde
nho? “É uma questão que sempre atraiu muitos foi recebido por Xu Xing, responsável pela des-
investigadores.” Mas ninguém procurou uma coberta de mais de 20 espécies de dinossauros.
resposta da maneira que Luís Rodrigues está Foi aí que viu um úmero de 12 centímetros, o
a procurar – através do estudo da morfologia mais pequeno que mediu, do prossaurópode
dos ossos em 3D. “Gyposaurus”.
É por isso que se tem dedicado a medir ossos. Por sorte, nessa altura estava em Pequim um
Fá-lo da maneira tradicional, com fita métrica dos pais da paleontologia de dinossauros na
e a registar dados como o comprimento e a China, Dong Zhi-ming, a quem Luís Rodri-
altura. Mas também escolheu um conjunto de gues falou do seu projecto. Acabou por ser
técnicas novas, a morfologia geométrica, que convidado a visitar o Museu do Dinossauro
permitem reunir dados estatísticos e visualizar de Lufeng, uma pequena cidade no Sul, onde
os ossos em 3D. quase nunca vão estrangeiros. Dong Zhi-ming
Para tal, muniu-se de um aparelho com um era quase a única pessoa com quem falava, em
braço articulado (um digitalizador Micros- inglês. “Estavam sempre a olhar para mim na
cribe), que obtém as coordenadas de áreas rua”, conta. “Estive cerca de uma semana a tra-
específicas dos ossos, por exemplo a zona de balhar em prossaurópodes, o mais famoso dos
inserção dos músculos nas articulações. Com quais é o ‘Lufengosaurus’.”
esses dados, vai comparar a variação de cada Foi em Lufeng que foi brindado com um manjar
uma das áreas em vários animais. entomológico pela equipa de Dong Zhi-ming.
Até agora, Luís Rodrigues já digitalizou ossos “Sou alérgico à picada de abelhas e vespas.
de quase 50 espécies. Quantas mais, melhor, Quando me puseram à frente um prato de lar-
pelo que tem visitado colecções pelos cantos vas e vespas adultas, ia caindo para o lado.”
do mundo. “Interessa-me ter a ‘foto’ da família Mas comeu-as, acompanhadas por aguardente
com o maior número de parentes. Como é uma de arroz. “Eu era convidado e estrangeiro, de
análise da evolução morfológica, temos de ter maneira que, de cinco em cinco minutos, levan-
uma amostra grande e com o maior número tava-se um chinês, fazia-me um brinde e bebía-
de exemplares distintos. Se não o fizéssemos, mos ambos um trago de aguardente de arroz.
seria como explicarmos a nossa família sem Como eles eram dez e eu o convidado, tive de
conhecermos a avó Rosa, o primo Joaquim ou efectuar vários brindes com aguardente.” No
a tia Maria.” dia seguinte, já se sabe...
Estados Unidos, Argentina, Marrocos, França, Aliás, Lufeng foi pródiga em peripécias. Também
Alemanha, China e Reino Unido têm sido os foi lá que, ao sair de um riquexó motorizado,
destinos. Só lhe falta estudar as colecções de reparou que o deixaram à porta de uma pensão
Portugal. “O trabalho com saurópodes não é que não era a dele. “Era de noite, não tinha o
prático. Não posso mandar vir um osso de dois nome do sítio onde estava, nem tão-pouco sabia
metros de comprimento da China. Tenho de ir onde me encontrava. Não esperava que alguém
aos sítios.” falasse inglês nem que o meu ultrabásico man-
Na mala leva o digitalizador. “Provoca sempre darim desse para me safar. Foram uns minutos
receio nos aeroportos. Quando abro a mala e de completa impotência, em que me senti ao
vêem um aparato electrónico que não estão mesmo tempo como uma criança perdida no
habituados, os polícias aproximam-se, fazem supermercado e um adulto imbecil.”
inúmeras perguntas, querem que mexa aqui e Saber a palavra “dinossauro” em mandarim,
ali”, conta o paleontólogo. “Quando digo que “kong-long”, salvou-o. Repetiu-a tantas vezes
é para trabalhar em dinossáurios, acalmam-se, que o condutor percebeu que queria voltar
sejam chineses, portugueses, argentinos ou ao museu. “É que a partir do museu sabia o
ingleses, e quase sempre acabo por ter de dar caminho. Terminei a noite com a cabeça de
uma mini-palestra aos seguranças.” fora da caixa motorizada, a gesticular ‘esquer-
Por vezes, as peripécias nos aeroportos são das e direitas’ até ao hotel. Já andei por grande
apenas a introdução de histórias mais rocam- parte do mundo e nunca me tinha sentido tão
bolescas. Na China, as visitas começaram pelo ‘perdido’ como naqueles cinco minutos.”
Museu do Instituto de Paleontologia de Verte- Também pôde ver o “Mamenchisaurus”, que

Saber dizer
“dinossauro” em
mandarim, “kong-
long”, salvou-o

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tem um pescoço de 11 metros, o maior entre
os dinossauros, no Museu da Universidade
de Tecnologia de Chengdu, de onde trouxe
outras memórias gastronómicas (“era tudo tão
picante, de manhã à noite, que já tinha a boca
inchada, e eu gosto de picante”).
Ainda na China, há muito que queria ir a outro
museu de dinossauros, em Zigong. Paleontó-
logos britânicos e alemães, que já tinham ten-
tado estudar esses fósseis, disseram-lhe que era
quase impossível. Mesmo assim, entre Lufeng
e Chengdu, continuou a tentar, mas as respos-
tas aos “e-mails” eram sempre vagas, até que
se lembrou de um argumento: “Caros amigos,
estou a gastar dinheiro ao meu chefe e, se não
me deixarem estudar os materiais, vão colocar-
me a mim, ao meu chefe e à minha instituição
numa situação de vergonha!” Horas depois era
autorizado a estudar as colecções.
Onde quer que fosse estudar dinossauros,
coleccionou histórias, contornou dificulda-
des. Se os esqueletos estivessem montados
numa exposição, tinha de se encavalitar onde
calhasse para chegar aos ossos de cima (“e para
mais, na China, toda a gente queria fotos com o
ocidental”). Se os ossos estivessem guardados
nos armazéns dos museus, precisava de usar
empilhadoras para os movimentar.
No Museu de História Natural Carnegie, em
Pittsburgh (onde estão os ossos dos primeiros
dinossauros a ser montados a nível mundial,
um “Apatosaurus” e um “Diplodocus”, que
no final do século XIX serviram de modelo de
réplicas exportadas para museus da Europa)
não o deixaram trabalhar sozinho (“tinham
medo que eu ficasse debaixo de um osso, se
o porta-paletes avariasse”). Na Argentina,
podia fumar nas colecções. No Museu de His-
tória Natural de Londres, apareceram com
um contador Geiger, para medir a radioacti-
vidade, quando se preparava para digitalizar
uma parte das colecções oriundas da Tanzânia
(outra parte encontra-se em Berlim, incluindo
o osso de Brachiosaurus da foto).
“Preparava o digitalizador 3D para enfrentar
um ‘Dicraeosaurus’ na cave do museu, quando
entrou a responsável pelas colecções de rép-
teis. Disse-me: ‘Os ossos, além de muito gran-
des, são radioactivos! Ponha estas luvinhas
para manusear o material’.” Sabendo que as
rochas da região onde se recolheram os ossos
tinham minerais radioactivos, Luís Rodrigues
retorquiu: “’Madam’, fumo, não sou abstémio
nem vegetariano, estive dois meses na China e
em Berlim com o mesmo tipo de ossos... Acha
que é este mísero osso em que vou trabalhar na
próxima meia hora que me vai matar!?”
Aos 36 anos, ele que é um dos três paleontó-
logos que em Portugal investigam dinossau-
ros (Vanda Santos, do seu museu, e Octávio
Mateus, do Museu da Lourinhã, são os outros),
enfrenta agora um novo desafio. O seu museu
quer dispensá-lo. a
Luís Rodrigues,
1,75m, ao lado dos
2,5m do úmero do
“Brachiosaurus”

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