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ENRIC VIVES-RUBIO
Correr
mundo
atrás dos
dinossauros
É um dos três paleontólogos em Portugal que investigam
dinossauros. Quer saber como alguns adquiriram quatro patas
que suportavam corpos colossais? Texto de Teresa Firmino
U
ma certa foto - queixam-se: ‘Não queremos ver ossos, passa a (nos saurópodes). Uma tal mudança teve de
grafia com um parte dos ossos’.” implicar modificações na forma e nas propor-
enorme osso não Nem todos os ossos do esqueleto lhe interes- ções do esqueleto e nos músculos. Relacionada
poderia ser mais sam; só os das patas traseiras e dianteiras, como com o andar dos dinossauros há outra ques-
emblemática do o úmero da foto. E a sua atenção apenas recai tão, que fascina toda a gente: o seu gigantismo.
trabalho de Luís nos saurópodes, aquele grupo de dinossauros Como é que alguns puderam atingir tamanhos
Azevedo Rodri- com pescoços gigantes, e os prossaurópodes, tão colossais?
gues. Está lá tudo. os seus primos mais velhos. Surgidos há cerca É precisamente entre os saurópodes que se
O que investiga, as de 230 milhões de anos, os prossaurópodes, encontram os maiores animais que pisaram
dificuldades de um que nalguns casos chegavam aos dez metros de terra firme, de que o “Seismosaurus” dos
trabalho que é invulgar, até o sentido de humor comprimento, desapareceram há 190 milhões Estados Unidos, com 39 metros, é um dos
com que encara tudo isso. de anos. Quanto aos saurópodes, apareceram recordistas. Outro campeão é o “Argentino-
E o que se vê nessa foto? Um paleontólogo des- há 215 milhões de anos e extinguiram-se há saurus” da Patagónia, com 37 metros, embora
contraído, esticado no chão ao lado de um osso 65 milhões, como muitas formas de vida. Os também os houve bastante mais pequenos,
de dinossauro. Aquele úmero, o osso que vai dois grupos coexistiram cerca de 25 milhões como o “Neuquensaurus” da Patagónia tam-
do ombro ao cotovelo, é de “Brachiosaurus”, de anos. bém, com sete metros, ou o “Tazoudasaurus”
um dinossauro de 25 metros de comprimento Ambos eram herbívoros. Os dinossauros carní- de Marrocos, com nove metros, que é um dos
e 80 toneladas. Ao pé do úmero de 2,5 metros, voros, de que o T-rex é a espécie mais famosa, saurópodes mais antigos, com cerca de 190
o maior que estudou, é natural que Luís Rodri- não entram na história que Luís Rodrigues milhões de anos.
gues e os seus 1,75 metros pareçam diminutos. pretende contar na sua tese de doutoramento, “Para atingir tamanhos descomunais, tive-
“Decidi deitar-me no chão, porque era a única orientada por Jeffrey Wilson, da Universidade ram de sofrer mudanças anatómicas. Um ani-
maneira de tirar a fotografia.” Foi um paleon- do Michigan, e Angela Buscalioni, da Universi- mal pequeno e um grande não funcionam da
tólogo britânico que lha tirou, de cima de um dade Autónoma de Madrid. mesma forma. Mas que modificações tiveram
escadote. Encontrava-se no Museu de História O paleontólogo do Museu de História Natural, de ser feitas?”, quer saber Luís Rodrigues.
Natural de Berlim, um dos muitos locais com em Lisboa, procura respostas para alguns mis- Mas há ainda outro problema em relação ao
colecções de dinossauros que Luís Rodrigues térios sobre a evolução dos dinossauros, mais gigantismo. Os dinossauros tornaram-se gigan-
já visitou, desde o início de 2005, e das quais precisamente como é que a locomoção passou tes e depois necessitaram de quatro patas para
tem milhares de fotografias. “Os meus amigos de bípede (nos prossaurópodes) a quadrúpede ficarem mais estáveis? Ou foi por andarem
ENRIC VIVES-RUBIO
Saber dizer
“dinossauro” em
mandarim, “kong-
long”, salvou-o