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O NOVO DIREITO E DESENVOLVIMENTO:


ENTREVISTA COM DAVID TRUBEK

José Rodrigo Rodriguez (coordenação)


Ana Mara Machado, Luisa Ferreira, Gisela Mation, Rafael Andrade, Bruno Pereira
THE NEW LAW AND ECONOMIC DEVELOPMENT:
AN INTERVIEW WITH DAVID TRUBEK

I substantivas oferecidas a todas as nossas


O Professor David Trubek concordou perguntas, ficou a certeza de que um
em receber a Revista Direito GV para esta dos principais meios de expressão de
entrevista em um domingo, logo após nosso entrevistado é a ironia. Não uma
chegar ao Brasil de uma viagem do ironia negativa, de extração socrática,
Egito. Sua ligação com nosso país, que cujo objetivo é expor a ignorância do
remonta aos anos 60, inclui relações interlocutor,1 mas uma ironia positiva
com a academia, o mundo político e a que pretende explicitar as ambigüidades
iniciativa privada. Por isso mesmo sabía- do mundo em busca de novas alternati-
mos de antemão que sua agenda estaria vas para resolver os problemas sociais.
repleta de compromissos, inclusive uma Como ficará claro ao longo da
conferência na Escola de Direito da FGV entrevista, especialmente na análise da
de São Paulo. Por esta razão, o dia e as posição do Banco Mundial, Trubek usa
circunstâncias do encontro não provoca- seu o olhar de jurista e sociólogo para
ram nenhuma surpresa. O que sur- apresentar as questões que o preocu-
preendeu a todos naquele fim de tarde pam rente à ação e aos dilemas enfren-
do dia 27 de maio de 2007 foi o entu- tados pelos agentes sociais. Seu esforço
siasmo e o senso de humor que o entre- é fazer justiça às dificuldades do mundo
vistado demonstrou nas mais de duas prático sem reduzi-lo a regras univer-
horas da conversa que se seguiram. sais ou a teorias abrangentes, suposta-
Ao deixarmos o hotel em que fize- mente capazes de determinar completa-
mos a entrevista, além das respostas mente a ação em concreto.
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Seja no que se refere ao Direito e tomar decisões imerso em num mundo


Desenvolvimento, seja quanto aos diver- marcado pela diversidade de tradições,
sos problemas sociais que enfrentamos, etnias, posições políticas, concepções
Trubek não acredita em fórmulas pron- econômicas, etc. Num contexto como
tas, capazes de resolver em abstrato e esse, toda solução é parcial e temporá-
antecipadamente os problemas da vida ria, toda teoria é falível e necessita de
cotidiana. Para ele, é preciso construir revisão constante; nenhuma verdade
soluções contextualizadas a partir de um pode se pretender universal e definitiva.
certo ponto de vista (sempre limitado e Adotar a ironia é uma decisão arris-
parcial) e refletir sobre elas na esperan- cada, afinal, “No discurso irônico, toda
ça de alcançar respostas cada vez mais posição solapa a si mesma, deixando
eficientes, legítimas e justas. assim o escritor politicamente engajado
Nesse realismo desencantado que numa posição em que o discurso irônico
não abre mão da sofisticação teórica e poderia começar a desconstruir sua pró-
mantém o olhar focado na singularidade pria política”.3 Levar a ironia até o fim
do mundo em concreto, acreditamos pode significar abrir mão da defesa de
identificar a influência de Max Weber, qualquer posição, solapar qualquer
autor sobre o qual Trubek escreveu um crença e entregar-se à indiferença quan-
artigo clássico, central para o estudo de to aos rumos da humanidade.
sua Sociologia do Direito.2 No entanto, essa forma do discurso,
Como o leitor poderá perceber ao ler a “linguagem ambígua dos tempos
esta entrevista, Trubek mostra que os modernos”,4 aparece na voz de Trubek
dilemas do Direito e do Desenvolvimento para negar o dogmático, o unilateral,
não podem ser resolvidos com passes de sempre acompanhada da crença na
mágica. Trata-se de um trabalho árduo emancipação da humanidade. Para que
que exige reflexões constantes, alimenta- seja possível abrir espaço para pensa-
das por dados sobre as práticas reais e mentos novos, novas possibilidades,
capazes de avaliar as soluções adotadas na novas soluções, é preciso explicitar a
busca por novas possibilidades. Tudo isso, ambigüidade de argumentos e teorias
sem a garantia de verdades absolutas que inspiram autoridade e respeito5 .
sobre a relação entre Direito e o Nesse sentido específico, a ironia se
Desenvolvimento, eficiência e distribui- confunde com o pensamento, sempre
ção, igualdade e liberdade. em busca do novo, do inaudito.
Ao escolher a ironia como forma de Mais de 30 anos após escrever seu
expressão, Trubek nos remete a um uni- último texto sobre o assunto, o famoso
verso desencantado, órfão de respostas Scholars in self estrangement de 19746
inequívocas e condenado a construir o (em co-autoria com Marc Galanter),
próprio futuro sem qualquer garantia a David Trubek resolveu retomar o exame
priori. O sujeito (pós) moderno, premi- dos problemas do Direito e
do pelas necessidades práticas, precisa Desenvolvimento e ajudar a reabrir esse
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campo de estudos. Para compreender – Espanha, pesquisador visitante na


melhor a entrevista que se segue é London School of Economics –
importante traçar, ainda que brevemen- Inglaterra, na Maison des Sciences de
te, sua trajetória intelectual até o livro l'Homme – França, no Instituto
The new law and development lançado no Universitário Europeu 11 -Itália e na
final do ano passado. De fato, esta entre- Comissão da União Européia. Além
vista foi motivada, principalmente, pelo disso, conduziu projetos de agências
lançamento do livro e por nosso interes- internacionais em países como Rússia,
se na discussão da relação entre Direito Guiné Bissau, Cabo Verde e Brasil.
e Desenvolvimento. Após esta exposi- Seu trabalho acadêmico tem rele-
ção, que nos ocupará pelas próximas vância internacional, como atestam dois
páginas, seguirá a transcrição de seus prêmios que recebeu: o Harry Kalven
principais trechos.7 Prize, da Law and Society Association,
em 2002, e o Chevalier dans l’Ordre
des Palmes Academiques, do Ministério
II da Educação da França, em 2001. Boa
É difícil descrever a trajetória intelectual parte de sua produção acadêmica con-
do Professor Trubek em poucas linhas. funde-se com a ascensão, morte e atual
Em mais de 40 anos de vida acadêmica revitalização do campo de estudos
nosso entrevistado dedicou-se a vários “Direito e Desenvolvimento”.
assuntos, como se pode perceber por Desde sua graduação, pela
suas últimas publicações, que tratam de Universidade de Wisconsin em 1957, e
Teoria do Direito, Direitos Sociais e de a formação em Direito pela Yale Law
Direito e Desenvolvimento.8 Para fugir School em 1961, Trubek desenvolveu e
da superficialidade, após uma rápida dirigiu diversos projetos acadêmicos
exposição de sua formação, privilegiare- envolvendo o direito e os estudos inter-
mos sua atuação no campo do Direito e nacionais. Seu interesse pela área do
Desenvolvimento, que inclui uma passa- Direito e Desenvolvimento começou
gem pelo Brasil. Essas informações serão cedo. Após trabalhar por dois anos
úteis para que o leitor compreenda algu- como auxiliar de Juiz (law clerk) num
mas passagens da entrevista, que se tribunal de apelação,12 em 1962 Trubek
seguirá a esta breve apresentação. atuou como advogado consultor (attor-
David Trubek ocupa atualmente do ney advisor) do departamento de Estado
cargo de professor emérito da norte-americano na Agência para o
Universidade de Wisconsin-Madison e Desenvolvimento Internacional. 13
é “Senior Fellow” do Centro de Alguns anos depois, tem início sua his-
Negócios Mundiais e Economia tória em terras brasileiras: em meados
Global9 da mesma universidade. Foi da década de 60, nosso entrevistado
professor visitante do Instituto vem para o País trabalhar como advoga-
Internacional de Sociologia Jurídica 10 do do departamento de moradia e
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desenvolvimento urbano da USAID cenário nacional. Além do CEPED, a


(United States Agency for International passagem de Trubek pelo Brasil foi mar-
Development), no Rio de Janeiro. cada por um período de docência na
No Brasil, Trubek encontra outros faculdade de Direito da Pontifícia
juristas, professores e advogados inte- Universidade Católica do Rio de
ressados em repensar o ensino do Janeiro, momento em que publicou o
Direito. Nesse mesmo período, um livro Mercado de capitais e os incentivos fis-
esforço do governo John F. Kennedy cais, em co-autoria com Jorge Hilário
(“Aliança para o Progresso”) viabiliza- Gouvêa Vieira e Paulo Fernandes Sá.
ria a cooperação entre os dois países Dos diversos artigos escritos por
em algumas áreas, entre as quais o Trubek sobre Direito e Desenvolvimento,
Direito. Nesse contexto, trabalhando além do livro co-organizado por ele,
como um dos advogados da “Aliança lançado no final de 2006, The new law
para o Progresso”, Trubek inicia as dis- and economic development e do verbete
cussões sobre um projeto, cujo objetivo “Law and Development”, publicado na
seria revolucionar o ensino das univer- prestigiosa International Encyclopedia of
sidades brasileiras, com o suporte the Social & Behavioral Sciences, destacam-
financeiro do governo americano. Estas se: Max Weber on law and the rise of
discussões culminaram em 1966 na capitalism (cuja tradução foi publicada
criação do Centro de Estudos e na Revista Direito GV número 5),Towards
Pesquisas no Ensino do Direito a social theory of law e Scholar in self-
(CEPED), afiliado à Fundação Getúlio estrangement, artigo polêmico, que faz
Vargas, que deveria funcionar como críticas severas ao movimento. Temos o
espaço para a experimentação de méto- prazer de publicar uma tradução deste
dos de ensino inovadores a serem disse- texto neste número da Revista Direito
minados pelo resto do País. GV. Convidamos o leitor a lê-lo antes da
A influência do CEPED sobre a entrevista, pois ele serviu de mote para
comunidade jurídica brasileira é um o começo da conversa, além de ter sido
assunto polêmico,14 no entanto é lícito amplamente discutido por Trubek em
afirmar que os métodos de ensino suas respostas.
desenvolvidos ali não tiveram o impacto Como já dito, de Scholars in self-
esperado, o que limitou o alcance da estranglement até o livro de 2006, pas-
experiência. Com o fim do financiamen- saram-se mais de 30 anos sem que
to americano, o projeto não conseguiu Trubek tocasse no assunto Direito e
se sustentar, a despeito de o CEPED Desenvolvimento. Compreender as
funcionar até hoje junto à Universidade razões para a retomada do tema foi uma
Estadual do Rio de Janeiro. De qualquer das principais motivações para a realiza-
forma, nesta época, o centro formou ção desta entrevista, no contexto de
uma geração de profissionais que ocu- uma visita de Trubek ao Brasil no ano de
pam até hoje posições de destaque no 2007. Acompanhado por um grupo de
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14 professores estrangeiros, nosso as instituições internacionais nada


entrevistado participou de eventos na faziam no campo do Direito.
Fundação Getulio Vargas em São Paulo e Em segundo lugar, embora o
no Rio de Janeiro, além da Faculdade de campo tenha sido encerrado pouco
Direito da USP, não para falar do passa- tempo depois de nosso texto (risos),
do, mas para dar notícias de um campo não fomos nós, necessariamente, a
de estudos em plena renovação. causa disso. Fomos, talvez, o vetor
desse fato, mas, na verdade, outros
* * * agentes o provocaram. Qual a causa do
fim do campo? A questão é: por que o
Após muitos anos, o senhor voltou ao campo foi encerrado como atividade
tema “Direito e Desenvolvimento”. corrente nas universidades norte-ame-
Em seu último artigo sobre o assunto: ricanas e européias?
Acadêmicos auto-alienados... (1974),15 É preciso compreender que a dis-
escrito em conjunto com Marc cussão sobre Direito e Desenvolvimento
Galanter, o senhor fez severas críticas no Brasil é contínua porque sempre
a este campo de estudos. O artigo haverá preocupação com esse problema
parecia afirmar que ele deveria ser no País. O que quer que se esteja fazen-
encerrado. Por que o senhor voltou ao do nas universidades de Cambridge,
tema e por que o fez neste momento? Massachusetts ou Harris, terá influência
Em primeiro lugar, é preciso dizer sobre os juristas e sobre a sociedade bra-
que a intenção do artigo de 1974 não sileira, pois aqui as pessoas se pergun-
era, absolutamente, encerrar este tam se devem ou não realizar mudanças
campo de estudos. Sua intenção era no Direito ou reformas nas instituições.
convencer todos os pesquisadores liga- Mas, neste caso, estaríamos real-
dos a ele a transformá-lo mais em um mente falando do estudo do Direito e
projeto acadêmico do que em um pro- Desenvolvimento nas universidades dos
jeto de assistência ao desenvolvimento países desenvolvidos? Esta é a minha
para torná-lo viável nas universidades preocupação no livro: o estudo de
norte-americanas. O projeto acadêmi- Direito e Desenvolvimento em univer-
co (e uso a palavra “projeto” com sidades estrangeiras. Este estudo desen-
muito cuidado) e não o campo do volveu-se nos Estados Unidos na déca-
Direito e Desenvolvimento, nos EUA da de 70 e teve um fim tempos depois.
e na Europa das décadas de 60 e 70, Por quê? Bem, acho que tivemos um
estava estreitamente ligado aos proje- pequeno papel neste acontecimento
tos de assistência ao desenvolvimento, porque deslegitimamos muito do que
em sua maioria, patrocinados por fun- havia sido feito até então, mas estáva-
dações (fundações norte-americanas) mos prontos a oferecer alternativas
e, em um grau muito menor, por agên- quando o contexto mudou tremenda-
cias governamentais. Naquela época, mente. Como isso se deu?
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Primeiro: os financiamentos foram mas provocamos, não intencionalmente,


encerrados e não percebíamos o quanto sua morte. Agora vem a segunda pergun-
o campo dependia deles. O governo ta: por que vocês deixaram que isso
começou a financiar estudos sobre acontecesse? Pessoalmente, voltei a me
Direito e Desenvolvimento no final da envolver com este campo porque ele
década de 60, mas tudo isso acabou por começou a ressurgir em universidades
razões bastante complexas. Parte disso norte-americanas, e em outras partes do
foi a desilusão com os projetos iniciais, planeta, como um campo acadêmico em
pois alguns deles facilitaram a ascensão universidades de países desenvolvidos.
de governos autoritários, não-demo- Ele começou a ressurgir e lá estava eu à
cráticos; e aquela era uma época de disposição, seu famoso assassino, mas
grande preocupação com os direitos também seu criador.
humanos. Nos Estados Unidos houve Supostamente, eu era um de seus
reação nas universidades contra as polí- criadores; também alguém acusado de
ticas de financiamento norte-america- matá-lo. Quando o campo começou a
nas em razão da guerra no Vietnã e uma ressurgir, não havia ninguém com expe-
reação dos estudantes contra a partici- riência sobre o assunto, pois passáramos
pação dos EUA em atividades no exte- um longo período em que nada aconte-
rior. O sentimento era de que os ceu; ninguém se aprofundou no assunto
Estados Unidos haviam cometido um e quase ninguém escreveu sobre países
terrível erro no Vietnã. em desenvolvimento. Então, repentina-
Assim, o campo terminou por mente, os estudantes começaram a se
várias razões, e penso que... Bem, ele interessar e os professores mais jovens
teria terminado mesmo sem o nosso queriam trabalhar na área e lá estava o
artigo. Seja como for, nós ajudamos a velho David Trubek. Alguns diziam:
exterminá-lo! Há uma categoria de “Nós nos lembramos dele, vamos ver o
direito penal nos Estados Unidos que tem a dizer!”. Esta foi uma das
segundo a qual se alguém rouba um razões por que voltei: porque as pessoas
banco e uma outra pessoa, digamos, se lembravam de mim.
fornece aos ladrões as plantas do prédio Em segundo lugar, uma das razões
ou a agenda de troca da guarda, esta pelas quais o campo cresceu na década
pessoa pode ser condenada por “auxi- de 60 e está ressurgindo agora foi a
liar e fornecer meios”. Marc grande quantidade de dinheiro investida
Gallanter16 e eu talvez tenhamos feito na reforma do Direito por agências de
exatamente isto, mas não fomos os ver- auxílio internacional; agências nacionais
dadeiros assassinos do campo de estu- e bilaterais, como a USAID, 17 a
dos, está bem (risos)? SEATO18 e agências canadenses, britâ-
Esta é a primeira pergunta: por que nicas, alemãs e holandesas. Estes orga-
o campo terminou e o que estávamos nismos criaram oportunidades para que
pretendendo? Tentávamos mantê-lo vivo, interessados de países desenvolvidos
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trabalhassem novamente em países em estudo de Instituições. Esta


desenvolvimento. Houve projetos, formulação não é vaga demais para
dinheiro e empregos. Fui convidado a dar conta do papel específico do
liderar uma equipe de peritos no assun- Direito e de seus acadêmicos neste
to para estudar a Rússia no começo da esforço de pesquisa? O senhor não
década de 90. Não que eu entendesse acha importante pensar qual o papel
algo da Rússia, mas eu sabia uma coisa específico do Direito nesta área de
ou outra sobre auxílio e Direito inter- estudos, especialmente se a intenção
nacional e contratamos muitos peritos foi atrair acadêmicos de tradições
russos. Assim, voltei à ativa. formalistas, que não são capazes de
As universidades começaram a orga- realizar trabalhos interdisciplinares?
nizar conferências e se uma conferência Em primeiro lugar, é preciso deixar
fosse organizada eu teria de estar pre- bastante claro que o livro fala da inter-
sente porque, no fim das contas, não secção entre Direito, Economia e
havia muitos nomes à disposição e eu Instituições, discute o que chamamos,
estava fazendo um trabalho na Rússia em no livro, de “doutrina do Direito e
nome do governo norte-americano. Isso Desenvolvimento.” Não é Direito e não
me trouxe de volta e, conforme o é Economia: é um tipo de empirismo; o
campo foi se desenvolvendo, fui sendo empirismo das agências. Em outras
puxado cada vez mais para o centro de palavras, o livro trata daquilo que os
tudo. Há um fato muito interessante de envolvidos na indústria do auxílio inter-
que vocês não sabem: decidimos que era nacional no Hemisfério Norte pensam
necessário realizar uma conferência que podem fazer para produzir desen-
sobre o assunto em Harvard. O livro do volvimento, seja lá qual for sua defini-
qual estamos falando foi, na verdade, ção para o termo.
resultado dela. Vários textos foram Quanto à idéia das três esferas às
encomendados e outros foram submeti- quais você se refere, sua intersecção
dos ao encontro. Os textos encomenda- deve ser compreendida como um esfor-
dos, que deram a pauta do encontro, ço para explicar de onde essas vêm
transformaram-se nos artigos do livro. idéias em diferentes momentos. No
O público foi muito bom: havia aproxi- livro, nos concentramos em dois perío-
madamente cento e cinqüenta pessoas dos, ou dois conjuntos de idéias. O pri-
na audiência, um sinal do crescente inte- meiro é o começo da década de 60 e a
resse no assunto. primeira idéia foi parte de uma prática
organizada de assistência ao desenvolvi-
The New Law and Economic Development mento, a que chamamos de “Direito do
afirma em sua introdução que o Estado em Desenvolvimento.” Esta foi a
Direito e Desenvolvimento é uma área primeira vez, no incipiente movimento
interdisciplinar que combina do Direito e Desenvolvimento, em que
elementos de Economia, Direito e do houve consciência de que pensávamos
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em tal noção; não no papel do Direito na era importante é que tudo começou. É
Economia, mas na relação entre Direito isso o que estamos estudando.
e Desenvolvimento. Se estudarmos teo- E quanto ao campo acadêmico? O
ria, vamos descobrir pensadores no assunto do campo é: como o Direito
século XIX falando sobre isso. Mas não é afeta a Economia, ou como se aumenta o
este o assunto do livro. alcance do Direito para que ele tenha
Não estamos estudando o campo efeito sobre as relações sociais e outras
intelectual do Direito e Desenvolvi- questões que a Economia concebe de
mento, embora isto seja, obviamente, maneira restrita. É difícil imaginar que
parte do que estamos fazendo. se possa efetivamente atuar como jurista
Concentramos-nos no modo como as neste campo se não se está, no mínimo,
agências se apropriaram de idéias aca- consciente das questões; ou se não se é
dêmicas. É por isso que achamos tão capaz de debater determinados proble-
importante incluir as agências. Há mas com representantes dessas outras
muitas idéias sobre muitas coisas cor- disciplinas. Assim, certamente existe
rendo soltas nas universidades. Esta é lugar para os juristas no campo, não é
uma característica maravilhosa da aca- preciso ter experiência em economia,
demia, mas nem todas as idéias sobre a sociologia ou antropologia para fazer
relação entre Direito e Desenvolvi- pesquisas na área. Mas é preciso ser
mento econômico tornam-se parte das capaz de dialogar com estas pessoas e
políticas seguidas pelo Banco Mundial entender argumentos para aperfeiçoar
ou pelo governo norte-americano. Um suas teorias.
dos filtros aos quais as idéias são sub- Portanto, a resposta à sua pergunta é:
metidas é a compreensão das agências para realizar pesquisas, escrever e teori-
sobre suas prioridades. Neste campo, zar sobre estas questões, é preciso ir além
as agências dão mais importância ao do formalismo. O formalismo passa a ser
que pensam os economistas do que ao um dos tópicos a serem estudados e não a
pensam os juristas. ferramenta por excelência para realizar
Uma das razões pelas quais, a come- os estudos. O formalismo é uma boa
çar do fim da década de 80 e durante idéia? É uma má idéia? Ele realmente faz
toda a década de 90 até hoje, as agências algum sentido; o direito realmente fun-
de desenvolvimento investem tanto em ciona como ele o descreve ou esta teoria
Direito é que os economistas decidiram, esconde a realidade? O que faz uma deci-
na década de 80, que o Direito era são ser tomada? O raciocínio formalista é
importante. Isso não teve nada a ver bom ou mau para o desenvolvimento?
com os juristas: eles sabem que o O formalismo é um tema do livro e
Direito é importante, mas ninguém os um tema no campo acadêmico do
escutava. Somente quando os economis- Direito e Desenvolvimento. Há muita
tas, particularmente os economistas do discussão sobre isso. Para que se enten-
Banco Mundial, decidiram que o Direito da a discussão é preciso estudar história.
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O Direito e Desenvolvimento como atrapalhe o funcionamento da econo-


campo acadêmico do Hemisfério Norte mia”. Assim, neste momento, as idéias
começou antiformalista. Dizia-se que o sobre Direito e Desenvolvimento – a
formalismo era um obstáculo ao desen- que chamamos de segundo momento,
volvimento. Lembre-se que, quando uso no livro – visavam a restringir o papel
os termos Direito e Desenvolvimento, do Estado. Nesse contexto, alguns
falo de um campo acadêmico do começaram a imaginar que o raciocí-
Hemisfério Norte; ou sobre as práticas nio formalista dos juízes poderia ser-
das agências e a inter-relação entre eles. vir para restringir a ação estatal.
Por que o formalismo é um obstá- Subitamente, o formalismo que se
culo ao desenvolvimento? O propósi- pensava ser algo ruim no primeiro movi-
to do Direito e Desenvolvimento mento do Direito e Desenvolvimento,
deveria ser a criação de regras jurídi- passava a ser bom. Alguns economistas,
cas que facilitassem a efetivação das que não entendem nada de teoria do
políticas econômicas. Presumíamos direito, imaginaram que talvez o forma-
que elas fossem benéficas em si mes- lismo não fosse o problema, mas a solu-
mas, portanto raciocínios formalistas ção. Assim, o formalismo se torna, de
seriam um entrave por não levarem certo modo, parte da visão da assistência
em conta os fins; não se preocuparem ao desenvolvimento da época. Evidente-
com seus efeitos. Ora, para criar leis e mente, sempre há professores de direito
aplicá-las para realizar objetivos eco- em todos os países do mundo que acre-
nômicos é preciso pensar instrumen- ditam que o formalismo é a resposta
talmente, por isso, culturas jurídicas para tudo.
altamente formalistas seriam uma Voltando à sua pergunta, gostaria
barreira ao desenvolvimento. de deixar claro que o formalismo é algo
Esse era o pensamento sobre o for- a ser estudado no campo do Direito e
malismo no momento em que nos Desenvolvimento. É uma variável a ser
concentrávamos em fortalecer o explorada. Quando se estuda o forma-
Estado como ferramenta para trans- lismo como uma variável para que se
formar a sociedade e promover o possam discutir se mais ou menos for-
desenvolvimento. Este era, então, o malismo é bom ou ruim para a econo-
objetivo do campo: desenvolvimento mia brasileira ou para a economia chi-
levado a cabo pelo Estado. Avancemos nesa, percebe-se que já estamos em um
agora para o começo da década de 90, campo interdisciplinar. Olhamos o for-
quando surge a visão neoliberal de malismo de fora: um sociólogo da reli-
Direito e Desenvolvimento. Para esta gião não precisa acreditar em Iemanjá19
visão, “o Estado não é uma ferramenta para estudar religiões afro-brasileiras.
que leva ao desenvolvimento, mas um Ele sabe que Iemanjá é importante, mas
obstáculo a ser removido. Precisamos não precisa acreditar nela para realizar
limitar seu papel para que ele não seus estudos.
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Seu livro aponta um grande diz “O Banco Mundial” não se tem cer-
descompasso entre as políticas e os teza de que esse alguém faz parte d’ “O
estudos acadêmicos sobre Direito e Clube”. “O Clube”, certo? (risos)
Desenvolvimento. De maneira “O Banco” segue as idéias propostas
bastante amarga, o senhor diz que, por economistas que se baseiam no estu-
no começo da década de 90, do de dados quantitativos. São estudos
conversou com dirigentes do USAID e quantitativos que envolvem diversos
sentiu que eles não haviam aprendido países e nações, mas que têm um funda-
nada com as experiências passadas. mento empírico muito fraco. Chegam a
O que explica esse descompasso? conclusões que parecem justificar qual-
As entidades acadêmicas estão quer concepção ultraneoliberal de
fazendo algo de errado? Seu papel é desenvolvimento econômico.
fornecer teorias para agências, como A academia teve grande influência
o Banco Mundial? sobre o Banco, mas não as faculdades de
Em primeiro lugar, é preciso dizer Direito. Dessas faculdades, até agora,
que a academia tem exercido muita saíram apenas críticas. E há dois tipos de
influência no pensamento atual sobre crítica, uma delas a que você mencio-
Direito e Desenvolvimento, mas não as nou, que é a crítica baseada em conhe-
faculdades de Direito. Parte do trabalho cimentos empíricos. Há muitos estudos
mais significativo sobre o assunto, signi- no campo feitos por pesquisadores trei-
ficativo no sentido de ter influência nados nas ciências sociais, mas que tam-
sobre o Banco Mundial e outras agên- bém são juristas e entendem dos vários
cias, foi feita por economistas que não sistemas jurídicos. Estes estudos tratam
entendem nada de Direito. Eles são do funcionamento de algumas das refor-
autores de estudos que provam exata- mas levadas a cabo pelos programas de
mente o que se queria que eles provas- Direito e Desenvolvimento. Na verda-
sem. O Banco Mundial queria ouvir exa- de, quando se examinam os detalhes,
tamente o que os estudos diziam e por vê-se que elas não funcionaram. De
isso os aceitou. qualquer maneira, este é um tipo de crí-
Álvaro Santos escreveu um capítu- tica; mas há também críticas baseadas
lo do livro sobre o “Projeto Doing em teorias. Adivinhe em qual categoria
Business”,20 um estudo em que teorias nosso livro se encaixa?
econômicas, sem qualquer participa- As universidades, até agora, funda-
ção; sem qualquer envolvimento de mentalmente, fizeram críticas e forne-
juristas, tiveram influência direta no ceram pessoal para trabalhar nos proje-
banco. “O Banco” significa o Banco tos. Uma nova geração do Hemisfério
Mundial, está bem? Nesse campo de Norte adquiriu experiência nos siste-
estudos, quando nos referimos ao mas de Direito do Hemisfério Sul
Banco Mundial, não dizemos “O Banco assim, seja lá o que se pense sobre as
Mundial,” e sim “O Banco”. Se alguém práticas e as ondas de investimento que
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vimos nos últimos quinze anos, elas ao Se você é apenas um banco, o que
menos tiveram o efeito de fazer com você sabe do mundo? Alguém quer um
que uma nova geração de estudiosos de empréstimo para, por exemplo, plantar
Direito e Ciências Sociais pensassem amendoins ou para exportar aviões:
na interação entre Direito e você precisa apenas pensar “será que isso
Desenvolvimento econômico. Há um vai dar dinheiro?” ou “será que vai dar
trabalho acadêmico, cujo volume é certo?”. Não é preciso fingir que se sabe
relativamente grande, que oferece mais do que aquele que está pedindo o
alternativas claras para substituir as empréstimo. Só é preciso saber se eles
estratégias que vêm sendo criticadas, sabem o que estão fazendo.
tanto a partir de um ponto de vista Mas, se você está no Banco Mundial,
teórico, quanto baseadas na afirmação sua função é corrigir políticas equivoca-
de que elas não funcionam. das. Não se esqueça de que o Banco é
mais importante (pelo menos tão
O livro critica políticas uniformes, importante) como fonte de idéias do
pensadas para todos os países do que como fonte de recursos financeiros.
globo, desenvolvidas por algumas Se olharmos o montante emprestado
agências e ressalta a importância pelo Banco, particularmente aos países
da participação local de acadêmicos em desenvolvimento mais avançados,
e agentes governamentais para evitar como Brasil, Índia, China, Rússia (os
etnocentrismo. O problema é: de um países do BRIC),21 , trata-se de uma
ponto de vista operacional, isso é pequena parcela do capital estrangeiro
possível? As agências têm os recursos que entra nestes países. Como esta
humanos e uma compreensão quantia não pára de diminuir, há quem
apropriada das peculiaridades dos diga: “Esqueça, isso é ridículo”. Há uma
diversos países com que trabalham grande discussão sobre a necessidade de
para operar desta maneira? empréstimos para países como o Brasil;
Considerando-se que as agências talvez o Banco devesse lidar somente
desenvolvem projetos em vários com países realmente pobres e, nesse
países, elas podem prescindir de caso, concederia bolsas já que estes paí-
fórmulas gerais para suas políticas? ses jamais poderiam pagar pelos
Boa pergunta. Essa é uma das empréstimos feitos.
razões pelas quais é tão difícil criticar, Mas é preciso ver o Banco Mundial
também uma das razões pelas quais as e outras agências tanto como fontes de
agências têm resistido tanto às críticas. idéias e políticas quanto como institui-
Para seus objetivos internos, as agên- ções financeiras. O Banco tem um
cias, precisam de idéias simples e fór- grande número de funcionários e pes-
mulas universais. Se você está no Banco quisadores. Há dúzias de pessoas que
Mundial... Nesse momento, posso usar não fazem nada além de estudar as rela-
a palavra “Mundial!” (risos). ções entre Direito e Desenvolvimento.
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316 : O NOVO DIREITO E DESENVOLVIMENTO: ENTREVISTA COM DAVID TRUBEK JOSÉ RODRIGO RODRIGUEZ...

Se me perguntarem onde estão sendo juristas sejam aceitas. Mesmo que consi-
feitas pesquisas sobre Direito e deremos corretas idéias que exigem que
Desenvolvimento, muitas delas estão se pense no contexto de cada país e que
sendo realizadas no Banco, onde há afastem fórmulas mirabolantes e unifor-
diferentes visões sobre o assunto: é isso mes, é muito difícil que elas sejam esco-
que Álvaro Santos tenta mostrar em lhidas e postas em prática.
seu artigo.
O Banco é um tanto projeto acadê- Como o senhor vê a relação entre
mico tanto quanto uma fonte de dinhei- o Banco, as elites internacionais e
ro. É claro, ele liga seu dinheiro às suas as elites locais? A participação local
idéias e é assim que ele se torna influen- na implementação de políticas de
te. Pense nas dificuldades que enfrenta desenvolvimento pode sobrepujar
de uma agência como essa: há 190 países a aliança entre elites locais e
na ONU22 (ou coisa parecida), e há 30 internacionais, uma aliança que é,
países na OECD.23 Portanto, se não em parte, responsável pelos modelos
levarmos em conta os países da OECD, políticos e econômicos que
restam 130 ou 140 países com os quais a perpetuam uma distribuição de
agência poderia lidar. É razoável imagi- poder e renda desigual na periferia?
nar que o banco tenha 140 planos dife- Essa é uma pergunta difícil.
rentes? Pensem no custo burocrático Enfatizo muito a participação local e o
envolvido. É claro, neste caso, não seria que se chama de via do “stakeholder”.24
possível fazer viagens de avião para Uma das razões para isso é minha falta
todos os países envolvidos e ficar em de confiança no conhecimento das ins-
bons hotéis, como seus funcionários tituições dos países em desenvolvimen-
fazem atualmente, e dizer, “Vejam, é isso to pelo Hemisfério Norte. Em outras
o que temos de fazer”. Afinal, eles não palavras, o que fizemos até agora foi
sabem nada sobre o país! criticar. Acho que os envolvidos nas ati-
Muita tensão cerca várias idéias que vidades relacionadas ao Direito e
saem da academia. As faculdades de Desenvolvimento entendem as críti-
Economia são muito próximas das polí- cas, pois vão até esses países e colocam
ticas do Banco. No mundo acadêmico, as mãos na massa. Embora possam pas-
juristas e economistas não falam uns sar muito tempo em hotéis cinco estre-
com os outros em virtude da grande las e nos equivalentes locais dos
diferença ideológica entre eles: o forte “Jockey Clubs”, ou almoçar com os juí-
neoliberalismo inerente à profissão de zes da Suprema Corte, Ministros da
economista e a posição, digamos assim, Justiças e tudo mais, mesmo assim,
“vagamente socialdemocrata de que se sem falar com o povo das favelas, eles
deve ser bonzinho com os pobres”, entendem que há uma tensão entre
muito comum entre os juristas (risos). suas fórmulas universais e as peculiari-
Há um dilema real para que as idéias dos dades de qualquer país.
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Eles sabem disso. Apenas não sabem criticado fortemente as políticas tipo
o que fazer com essa crítica que ameaça “peritos tecnocratas que almoçam no
sua identidade, sua experiência e seu Jockey Club”, e suas críticas transcen-
papel. Há consciência deste problema; é dem as elites. São idéias que pressio-
por isso que podemos ver atualmente, nam por uma visão mais ampla sobre
no Banco e em outras agências, o surgi- quem deveria ser chamado a fazer
mento de discussões sobre os “stakehol- parte dos projetos.
ders”. Hoje, já se reconhece que não faz A idéia de circulação de elites é a
muito sentido voar pelo mundo, pensar mais difícil de todas: se as elites são o
que se sabe tudo e dizer às pessoas o que problema e não a solução, é preciso
elas têm de fazer. Há o reconhecimento livrar-se delas; ou ao menos superá-las,
da importância do conhecimento sobre enfraquecê-las, transformá-las, ou
os contextos locais. Se buscarmos dis- obter, como se diz nos Estados Unidos,
cernir as forças que estão na base do uma “mudança de regime”. Esta é a
movimento que favorece a via do “stake- parte mais perigosa da idéia e também,
holder” – e esta não é, certamente, uma infelizmente, como você chamou muito
idéia apenas do campo do direito, na bem a atenção, talvez a mais importan-
verdade ela é muito mais desenvolvida te, porque, às vezes, as elites perpetuam
em outras áreas – há três dimensões a se um regime que funciona como um elo
considerar. Uma delas relaciona-se com em um sistema de hegemonia doméstica
a legitimidade democrática, outra com o e internacional. Em uma situação assim,
conhecimento e a última com o proble- trabalhar apenas com a elite não vai
ma da circulação das elites. resolver o problema, vai agravá-lo. Esta
A questão de circulação de elites, a é, atualmente, uma das discussões mais
questão que você levantou, é o aspecto importantes em pauta.
mais fraco deste assunto. As pessoas que O capítulo de Kerry Rittich26 afir-
gerenciam os projetos sabem o que há ma que a discussão sobre participação
de errado e como é possível consertá-lo. que ocorre no Banco (que faz parte da
Talvez eles não saibam sempre o que há estratégia abrangente de desenvolvi-
de errado; podemos ajudá-los nisso. No mento que ela analisa) é uma cortina de
entanto, estão em melhor posição para fumaça para defendê-lo de críticas à
perceber como resolver este problema, esquerda. O Banco não estaria falando
pois conhecem todos os obstáculos do sério sobre participação porque isso é
caminho e todos aqueles que devem ter muito perigoso, além de difícil para
seus interesses levados em conta. fazer funcionar.
Há também o problema da legiti- O Banco ainda é um banco, portanto
midade democrática, levantado pelas tem de fazer o dinheiro circular. Os ban-
ONGs25 que criticam as políticas de cos têm de fazer o dinheiro circular,
desenvolvimento e o modo como elas senão para que eles serviriam? Se o Banco
têm sido levadas a cabo. As ONGs têm constatar que as elites são resistentes a
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318 : O NOVO DIREITO E DESENVOLVIMENTO: ENTREVISTA COM DAVID TRUBEK JOSÉ RODRIGO RODRIGUEZ...

verdadeiras mudanças, mas, mesmo O que no livro eu chamo de terceiro


assim, que elas querem emprestar dinhei- momento poderia ser dito o quarto
ro, ele entraria em conflito com seu pró- momento, se considerássemos o momen-
prio papel. Há um conflito inerente ao to do socialismo, mas não se trata pro-
papel do Banco que deve agir, por um priamente de um momento: o termo é
lado, como promotor de idéias e, de inapropriado. Quando falo em um
outro, como um Banco que simplesmen- “momento” estou me referindo a algo
te empresta dinheiro. cristalizado, relativamente consensual,
amplamente aceito, com um núcleo rela-
A versão neoliberal de Direito tivamente forte de idéias que foram utili-
e Desenvolvimento relaciona zadas amplamente. Isso não existe nos
desenvolvimento com crescimento dias atuais. Estamos em um período de
econômico. No período referido no preocupações e idéias conflitantes. É pos-
livro como o terceiro momento do sível impedir a consolidação de um
Direito e Desenvolvimento, este momento neoliberal, pois o establishment
conceito foi expandido para que mundial que produz as idéias sobre polí-
incluísse outros objetivos, tais como ticas econômicas – e algo assim certa-
justiça e distribuição de renda. mente existe – aceitou uma visão mais
O conceito de desenvolvimento, ampla de desenvolvimento que inclui a
portanto, mudou com o passar participação dos “stakeholders” e que vê o
do tempo. O atual conceito de papel do Estado num registro diferente
desenvolvimento é diferente do seu? do neoliberalismo.
A idéia de um terceiro momento No entanto, também é possível
não está muito clara para mim, embora encontrar neoliberais à moda antiga com
eu tenha escrito sobre ele. Há apenas muita influência, por exemplo, o proje-
dois momentos definidos, ou, na verda- to “Doing Business”. Se você realmente
de, três se contarmos “direito e socialis- quiser saber até onde o neoliberalismo
mo” como segundo. O livro não dá ênfa- pode chegar, entre no site do Banco
se a este momento, exceto no capítulo Mundial e estude o projeto. Você preci-
de Scott Newton,27 pois nos Estados sará de apenas duas horas para entendê-
Unidos essa não foi uma idéia muito lo, pois o site é excelente. Trata-se de
forte. Já na Inglaterra foi muito impor- neoliberalismo puro à moda antiga. Mas
tante, por isso Scott escreve sobre o há outras áreas no Banco fazendo outros
movimento inglês de Direito e estudos e outras atividades. Em suma,
Desenvolvimento na década de 70. estamos em um período de grande fluxo
Naquela época, as idéias socialistas cir- de pensamento. O momento atual não
cularam; houve um projeto de Direito e deveria ser chamado de “momento”.
Desenvolvimento ligado ao governo
Allende,28 além da publicação de mui- Baseado em experiências passadas,
tos textos sobre socialismo. o livro mostra como o conceito de
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desenvolvimento pode ser fazer a diferença; e esta idéia mudava


etnocêntrico. Houve progressos de acordo as circunstâncias. Mas o fato
neste ponto? Os atuais conceitos é que não se sabia o que fazer e, é
de desenvolvimento são menos claro, falava-se da necessidade de ape-
etnocêntricos do que os lar para a sensibilidade das elites.Vocês
conceitos passados? conhecem a expressão “elite compra-
Como acabei de dizer, não há um dora”? É uma expressão das teorias da
conceito único. Algumas idéias, que dependência. Os “compradores” na
enfatizam mais o pensamento contex- China eram os negociadores e os inter-
tual, a participação dos “stakeholders” e mediários entre o Império chinês e o
políticas de desenvolvimento pensadas imperialismo ocidental do século XIX.
de baixo para cima, são, por definição, Este termo foi utilizado pela teoria da
menos etnocêntricas. No momento dependência para se referir às elites
atual, é possível encontrar teorias dos países leais ao sistema mundial;
menos etnocêntricas; é possível encon- intermediários entre os interesses dos
trar pessoas menos etnocêntricas; é pos- capitais globais e nacionais.
sível encontrar agências e práticas A “elite compradora” apreciava a
menos etnocêntricas, mas também é modernização. Construía casas de
possível encontrar várias idéias etnocên- ópera, por exemplo. Sempre achei que
tricas. Isso nos remete, mais uma vez, ao um símbolo deste tipo de comporta-
lugar onde buscamos as idéias sobre mento da elite brasileira é o fato de as
Direito e Desenvolvimento. mulheres mais ricas do Rio de Janeiro
Dizíamos: de um lado estão os paí- usarem casacos de pele para assistir à
ses ricos e eles têm um sistema de ópera. Não existe estação do ano no Rio
Direito; aqui estão os países pobres e de Janeiro em que se possa usar um casa-
eles têm outro tipo de Direito... Assim, co de pele. Mas, como as mulheres os
concluíamos, a resposta é: pegar as usam nas óperas de Paris e a casa de
idéias e instituições de Direito dos paí- ópera do Rio é uma cópia da casa de
ses ricos, colocá-las em caixas e enviá- ópera de Paris, é preciso usar casacos de
las aos países pobres; assim como envia- pele no Rio. Se há uma casa de ópera, é
mos geradores de eletricidade e equipa- preciso usar casacos de pele; assim como
mentos para a construção de estradas. é preciso haver instituições jurídicas
Não tínhamos computadores naquela francesas, italianas, alemãs e, mais tarde,
época, mas, se os tivéssemos, os tería- norte-americanas.
mos enviado. Na verdade, hoje em dia A cumplicidade entre exportadores
enviamos computadores! e importadores assemelha-se a isso. A
Este tipo de pensamento etnocêntri- importação de idéias recentes e moder-
co foi uma reação a um completo vácuo nas sobre Direito reforçava o poder da
intelectual. Quando se começou a fazer elite, pelo menos enquanto não resultas-
tal coisa, a idéia era de que isso poderia sem nas mudanças que os exportadores
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queriam implantar. Pois os exportadores sobre administração pública, e de qual-


não apoiavam o domínio da elite, ao quer ponto de vista que enfatize que a
menos o pessoal técnico: talvez isso não capacidade técnica nunca é suficiente
fosse verdade entre os tipos cínicos e os para criar novas instituições e resolver
políticos. Este era um jogo complexo e problemas sociais complexos.
atingia a todos. Achávamos que sabíamos A capacidade técnica pode ser valio-
quais eram as respostas e as elites sabiam sa, mas há conhecimento encarnado nos
que podiam importar estas instituições. participantes. Nestes projetos, o partici-
Assim como os casacos de pele não eram pante é o “stakeholder” que sabe como as
necessários, as instituições provavel- coisas funcionam. Talvez ele esteja apri-
mente também não o fossem. Todo esse sionado no que os economistas chamam
processo talvez fosse dar em nada, mas de “armadilhas de equilíbrio de baixo
todos sentiriam que algo estava aconte- desempenho” e não consigam ver a saída
cendo; e se sentiriam mais importantes para seus problemas, no entanto ele sabe
ainda se conseguissem viagens para Paris quais são os problemas. Seu novo
ou para a Inglaterra. Ministro, Roberto Mangabeira Unger,29
escreveu sobre a desestabilização dos
O senhor acha a visão procedimental direitos. Ele fala muito sobre este assun-
do Direito pode ser útil para que se to, pois acha importante desestabilizar o
discuta a organização institucional sistema consolidado para liberar mais
das agências de desenvolvimento? potencial democrático da base na dire-
Faz sentido defender que se ção do topo. Agentes externos podem
construam instituições capazes desempenhar este papel.
de ouvir tantas vozes quantas forem Temos a via do “stakeholder” e a pos-
possíveis para definir a agenda sibilidade de desestabilizar o que está
do desenvolvimento? posto para criar novas idéias que surjam
Pensei que você fosse fazer uma per- da base e sigam na direção do topo: não
gunta diferente, por isso responderei precisamos de Günther Teubner30 para
primeiro à pergunta que você fez, e levar essas idéias ao Banco Mundial,
depois, à pergunta que pensei que você certo? (risos) Na verdade, é melhor nem
fosse fazer. Não é preciso referir-se à mencionar tais teorias porque eles fica-
teoria procedimental do Direito para riam confusos. Seria melhor falar sobre
fazer isso, pois temos a agenda da gover- de idéias mais comuns, mais acessíveis.
nança que tem sido aplicada a projetos No fim das contas, a pergunta que
que envolvem o Direito. Esta é a doutri- você fez é a seguinte: “estas idéias
na oficial do Banco. A via dos “stakehol- podem ser desenvolvidas?” Sim, é claro,
ders” é uma idéia sobre procedimentos, porque germes delas já estão presentes
muito próxima da teoria procedimental na agenda da governança. Neste novo
do Direito, mas que não vem da teoria momento esta é uma das idéias que
do direito, mas de uma discussão geral podemos apoiar, quer a chamemos de
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visão procedimental do direito ou não: é que os críticos tentaram deslegitimar


não é preciso usar este termo. algumas idéias e os envolvidos no pro-
Seria possível pensar procedimental- cesso de deslegitimar as “cópias etno-
mente a via do “stakeholder”. Nesse sen- cêntricas das instituições jurídicas do
tido, podemos perguntar: o que real- Hemisfério Norte” não são necessaria-
mente precisamos é de um direito anti- mente simpáticos à procedimentalização
truste administrado por uma pequena e à governança.
burocracia em Brasília, que aplica de Essas pessoas costumam ter uma
maneira rigorosa regras altamente espe- visão social-democrata do mundo e,
cíficas e detalhadas, mas que chega a portanto, tendem a alinhar-se com
consensos pela consulta a todos os even- todos aqueles que temem que a procedi-
tualmente interessados? Precisamos de mentalização seja um disfarce para a
um direito ambiental altamente detalha- desregulação, ou seja, para o desmonte
do e específico e aplicado por uma gran- do Estado de Bem-Estar Social no
de burocracia? Em outras palavras, é pos- Hemisfério Norte. Talvez por isso seja
sível usar métodos participativos para se difícil ver a articulação; a combinação
chegar a uma visão não-participativa do entre estas duas idéias. É fácil olhar para
Direito, uma visão não-procedimental? a via do “stakeholder” e para a discussão
Por isso mesmo, há duas perguntas sobre governança e dizer: “Isto é muito
diferentes: “Quais são os desdobramen- parecido com a visão procedimental do
tos das idéias sobre Direito e Direito!”. No entanto, muitas destas
Desenvolvimento, sejam elas de esquer- conexões não foram feitas.
da ou de centro?” e “Por que ninguém
prestou atenção à visão procedimental O que particularmente o estimula
do Direito?”. Ambas são perguntas inte- neste compromisso com as questões
ressantes e a resposta à segunda pergun- de Direito e Desenvolvimento?
ta é: são idéias extremamente contesta- Os programas de milhagem! (risos)
das nos centros de pensamento sobre o Estou brincando. Continue!
direito no Hemisfério Norte e, portan-
to, não têm grande divulgação. Elas são Gostaríamos de saber se o senhor tem
como um bom vinho: não se dão bem uma agenda normativa pessoal; um
com viagens. Apenas quando as idéias se conjunto de crenças que o motiva...
tornam mais ou menos aceitas é que elas Vou lhe dar uma resposta honesta:
conseguem correr o mundo. faço-o em parte porque as pessoas que-
Outra razão é que a mentalidade rem falar sobre o assunto e, por acaso,
sobre temas de desenvolvimento está eu tenho muito a dizer sobre ele.
ultrapassada; é pré-moderna, é muito Quando você sente que tem algo a dizer,
tradicional. Temos que mudá-la e, nesse pois já fez uma série de trabalhos em
processo, há um “nós”, há um “agente da que pensou sobre certa questão e há
mudança” e há uma “visão.” O problema pessoas que querem aprender com você,
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322 : O NOVO DIREITO E DESENVOLVIMENTO: ENTREVISTA COM DAVID TRUBEK JOSÉ RODRIGO RODRIGUEZ...

não importa qual seja o assunto, você carreiras diferentes. Eu não sabia disso
percebe, a certa altura, que é muito gra- quando tinha vinte e quatro ou vinte e
tificante falar sobre ele. cinco anos. Mas, olhando para o passa-
Por que me envolvi e ainda penso do, de fato, havia duas carreiras. As pes-
sobre o tema? Apesar de todas as críticas soas que sabiam disso diziam, “Não
e de todas as supostas verdades que bus- desista do Direito Corporativo. Você
cávamos abarcar, pessoas como eu acre- pode fazer o que quiser a partir dele,
ditavam nisso. Quando começamos na mas uma vez inserido no campo de tra-
década de 60, o Direito e balho relacionado ao desenvolvimento,
Desenvolvimento não era um campo de você jamais poderá voltar ao Direito
estudos. Inicialmente, foi criado por Corporativo”. Eu respondia: “Tudo
juristas que acreditavam que o desenvol- bem”, embora na época não conseguisse
vimento era uma causa justa. Não ver tudo isso com clareza.
importava saber que aquela não era uma Entrei no campo do Direito e
boa maneira de ganhar dinheiro ou de Desenvolvimento pela causa: libertar os
construir uma carreira. Ninguém em povos da opressão e da tirania. Havia
seu juízo perfeito se envolveria nessa aspectos anticomunistas no projeto de
atividade. Eu me lembro de contar para desenvolvimento da década de 60. Ele
algumas pessoas minha dúvida entre era alardeado como uma alternativa ao
aceitar um emprego; uma oferta de Wall socialismo; como uma alternativa ao
Street, ou trabalhar para o programa de comunismo em uma época em que os
ajuda externa do governo dos Estados Estados Unidos e a Europa Ocidental
Unidos. Todos me diziam: “Você está estavam preocupados com a tomada do
maluco! É uma loucura! Vá trabalhar Terceiro Mundo e, mais tarde, da China,
para o escritório em Wall Street!”. pelos soviéticos.
Naquela época, a questão não era o Achávamos que o risco era o autori-
dinheiro ou a carreira, era sobre como tarismo da esquerda. Descobrimos que
você construiria uma carreira. o verdadeiro risco era o autoritarismo
Eu recusei a oferta de emprego de da direita. Mas éramos muito jovens e
um escritório chamado Covington & ingênuos e não conseguimos ver isso.
Burling e de um outro, hoje muito Queríamos lutar contra o autoritarismo
conhecido, chamado Cravath, Swaine & e queríamos fazer algo contra a distri-
Moore. Um sócio deste último ganha buição desigual de recursos entre as
mais ou menos um milhão de dólares economias de todo o mundo. Não usá-
por ano e um professor de Direito em vamos a palavra “eficiência” naquela
uma faculdade de Direito modesta ganha época; este não era um termo comum,
cento e cinqüenta mil por ano. É uma mas certamente sabíamos o que ele sig-
grande diferença. As pessoas que traba- nificava. Achávamos que a busca por
lham em agências de desenvolvimento “eficiência” era a maneira de chegar
ganham menos ainda, portanto há duas onde queríamos e pensávamos que um
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rápido crescimento econômico contri- escreveu artigos que diziam essas coisas.
buiria para a libertação política. Esta é uma explicação para a prática que
Sei que hoje, vocês olham para mim consistia em concentrar-se na Economia
e pensam: “Como você pôde ser tão e deixar de se preocupar com os direitos
idiota!” (risos). Mas realmente pensáva- humanos ou com a democracia.
mos assim. E realmente pensávamos Esta era a visão inicial. Passamos
que, se conseguíssemos fazer com que depois por um período de grande apren-
as faculdades de Direito da América dizado. Aprendemos que o auxílio inter-
Latina se parecessem cada vez mais com nacional poderia ser uma ferramenta
Yale, contribuiríamos para o desenvol- demoníaca. Aprendemos que as institui-
vimento da região. Eram idéias que ções jurídicas ocidentais poderiam ser
seguíamos com sinceridade. O Direito e importadas e postas a serviço da opres-
Desenvolvimento era uma causa. Era são e do autoritarismo. Aprendemos que
uma causa, e as causas últimas eram a a idéia mesma de exportar instituições
igualdade e a liberdade. Sem dúvida, poderia servir à manutenção das elites e
tratava-se de uma visão emancipadora e da dominação. Aprendemos o lado
todos os que a seguiram, compreenden- negro do Direito e Desenvolvimento, e
do-a por completo ou não, desistiram isso levou às críticas.
de carreiras lucrativas. Como opção na Eu confesso que, quando voltei a ler
carreira acadêmica, foi um erro terrível o artigo de 1974, tive dificuldades de
ter entrado neste campo na década de entender o que ele queria dizer. Era algo
60 porque as pessoas envolvidas torna- como: “Temos de voltar às idéias básicas
ram-se líderes de um campo em colap- e continuar com esta prática, mas temos
so e isso não é exatamente bom para de fazê-lo de modo a não incorrer em
uma carreira, exceto, talvez, trinta anos todos estes erros”. Pois, é claro, como
mais tarde, quando me dizem, “Oh, não sabíamos como evitar aqueles erros,
você é o cara que acabou com o havia apenas certa de esperança...
campo... eu sei quem você é, eu me Uma das missões mais difíceis, hoje
lembro de você!” (risos). em dia, e é isto que o grupo que escre-
O desenvolvimento era uma causa, e veu The new law and development deseja, é
era uma causa emancipadora. Pensáva- descobrir se há uma prática positiva.
mos que a exportação de instituições Quase todos os autores do livro estão no
jurídicas ocidentais fosse libertadora. Brasil neste mês. Francamente, não
Pensávamos que o auxílio estrangeiro tenho certeza de que encontrarão o que
fosse um empreendimento altruístico. querem. É uma questão muito difícil; é
Pensávamos que o crescimento econô- preciso mais do que o auxílio interna-
mico, por si mesmo, levaria à cional para desenvolver um país, até
Democracia e, portanto, não era neces- mesmo o Brasil. No Brasil, seria possível
sário preocupar-se com a política. Não atingir os objetivos em menos tempo,
estou dizendo que alguém sentou e mas há muitas distrações, tais como a
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324 : O NOVO DIREITO E DESENVOLVIMENTO: ENTREVISTA COM DAVID TRUBEK JOSÉ RODRIGO RODRIGUEZ...

praia no Rio de Janeiro ... (risos) De pequena, decepcionante. Influência


qualquer maneira, vamos ver o que sobre o meio acadêmico: muito satisfa-
resulta disso. De qualquer forma, há um tória. O meio acadêmico terá mais
esforço genuíno de manter a visão eman- influência sobre as agências no futuro?
cipatória, mesmo após todas as críticas. Espero que sim, mas é muito cedo para
É muito difícil fazer isso; distanciar- dizer. Estou muito satisfeito com o fato
se de fórmulas gerais supostamente uni- de que neste momento haja tanto inte-
versais e caminhar na direção da via do resse nas críticas. Mas estou mais satis-
“stakeholder”, da procedimentalização; feito que haja tentativas de partir delas
reconhecer o problema das elites e ser para construir novas práticas. Não
capaz lidar com ele; entender que talvez acredito que criticar seja suficiente.
haja um papel para a intervenção exter- Há quem diga que seu trabalho não
na, desde que não seja arrogante e se é buscar caminhos novos a partir das crí-
coloque em posição superior. Uma ajuda ticas. Não consigo aceitar isso, pois sou
externa que não queira dizer às pessoas o um reformador social à moda antiga.
que elas devem fazer, mas que se propo- Quero ir além das críticas para elaborar
nha a ajudá-las a entender o que desejam. novas práticas. Mas fazer isso é muito
Agindo dessa forma, talvez ela possa ser difícil, pois, como acredito no procedi-
um fator de desestabilização, nos termos mentalismo e na via do “stakeholder”,
de Mangabeira Unger. Mas seu papel não será preciso criar novas instituições e
pode ser definir, em última instância, o instituições novas não surgem do sonho
que deve ser feito. O grupo que está no de alguém sentado em uma biblioteca
Brasil busca maneiras de continuar a prá- em Paris, Londres, Nova York ou
tica emancipatória. Está lutando para que Madison, Wisconsin, mas de redes que
isso aconteça em razão de todos os bene- interliguem pessoas com diferentes pon-
fícios que estão ligados a esta visão. tos de vista.
A criação destas redes é um fato pro-
O senhor sempre desempenhou um missor. Uma das falhas no momento con-
papel ativo no movimento de Direito temporâneo do Direito e Desenvolvi-
e Desenvolvimento e sempre teve mento, assim como de todos os outros
muito contato com as agências de períodos, é a falta de qualquer informa-
desenvolvimento. Está satisfeito com ção empírica sobre como os sistemas de
seu trabalho pessoal e com sua direito realmente funcionam e quais os
influência, até agora? efeitos das reformas realizadas. Há pou-
Sim. Próxima pergunta? (risos) quíssima pesquisa sobre isso. Este tipo de
pesquisa, os professores de Direito, for-
Tudo bem. Esta é uma resposta malistas ou não; defensores do realismo
plenamente satisfatória! (risos) jurídico, do pós-realismo ou do pré-rea-
Espere, espere! Vou responder… lismo jurídico (risos), não sabem como
Influência sobre as agências: muito fazer. Eles não são treinados para estudar
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como o Direito funciona. Não é uma desenvolvimento de habilidades empí-


habilidade que faça parte de sua especia- ricas e sua aplicação a questões relevan-
lidade, é uma habilidade interdisciplinar. tes para a agenda do Direito e
Há um movimento mundial de apoio Desenvolvimento. Acabamos de contra-
e encorajamento a pesquisas interdisci- tar pessoas que pesquisam América
plinares. Nos Estados Unidos, o chama- Latina, Oriente Médio, Rússia, China e
mos de “Law & Society”, e outros países África. Temos em Wisconsin, provavel-
o chamam apenas de “Estudos Sócio- mente, o maior grupo de estudiosos
Jurídicos”.Teremos um grande encontro interdisciplinares de Law & Society dedi-
em Berlim31 neste verão que irá reunir cados aos países em desenvolvimento.
estudiosos deste campo. É muito gratifi- Acho que este projeto terá desdobra-
cante ver que há muitos pesquisadores, mentos muito promissores e tenho tra-
tanto do Hemisfério Norte quanto do balhado muito para fazê-lo decolar.
Hemisfério Sul, escrevendo monografias
sobre o Direito dos países em desenvol- O senhor escreveu um importante
vimento, auxílio estrangeiro e esforços artigo sobre Max Weber em 1972,
de reforma dos sistemas jurídicos; ou Max Weber sobre direito e a
seja, há muita coisa acontecendo relacio- ascensão do capitalismo, que é
nada a todas as questões que discutimos. claramente um esforço para dar
Há, atualmente, uma pequena, mas cres- consistência teórica ao Direito e
cente comunidade de interessados no Desenvolvimento. Max Weber ainda
assunto com capacidade de estudar tem um papel a desempenhar neste
empiricamente o que está acontecendo. campo de estudos?
Sessenta e oito brasileiros submete- Há um interesse renovado em Max
ram monografias para esta conferência. Weber hoje em dia em que sua obra
Nem todos serão selecionados e muitos tem sido utilizada negativamente, para
não poderão ir por falta de financiamen- dizer o que não se deve fazer. Há um
to. O Euro está muito forte e isso atra- artigo muito importante de Chantal
palha, mas tenho certeza de que pelo Thomas32 que trata do uso e do abuso
menos trinta ou quarenta brasileiros das teorias de Max Weber sobre Direito
estarão em Berlim, além de pessoas de e Desenvolvimento por intelectuais
mais de setenta e nove países. Um terço norte-americanos nas décadas de 60 e
dos participantes vem da América do 70. Ela se debruçou sobre uma nova
Norte, um terço vem da Europa; outro onda de estudos acadêmicos sobre
terço dos países em desenvolvimento. Weber. O artigo não é especificamente
Trinta e cinco da África do Sul e trinta e sobre Direito, mas sobre estudos em
um da China. geral que se dedicam a Max Weber.
Estou engajado neste processo e Chantal critica o trabalho sobre moder-
minha universidade está iniciando um nização de sociólogos norte-america-
grande projeto para encorajar o nos que se basearam ostensivamente
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em Weber. Apesar disso ter ocorrido pensamento no que ele alegava ser um
também em outras partes do mundo, estudo sobre Weber. Seu ponto de vista
trata-se de um projeto eminentemente é muito norte-americano: uma espécie
norte-americano. Estou me referindo de visão liberal otimista do mundo, que
ao que se costuma chamar de “teoria da também funciona como uma ótima
modernização”, um esforço de cientis- ideologia para um império incipiente.
tas sociais norte-americanos para expli- Sabemos que Weber era um pensa-
car por que alguns países são ricos e dor sombrio que dizia que o capitalis-
outros são pobres e o que o se pode mo e a modernidade eram projetos
fazer sobre isso. muito frágeis. Então aparece Pearson,
Adivinhe qual é a solução oferecida este norte-americano que simplifica o
por esta teoria? Ter instituições como as trabalho de Weber e descobre, ao
dos países desenvolvidos! Agora adivi- estudá-lo, o projeto etnocêntrico a
nhe quais instituições deveriam ser que se refere Chantal Thomas. Eu
reformadas? O Direito! Este projeto foi dirigi um projeto por cinco ou seis
divulgado e apoiado pelo establishment anos em Yale chamado: “Programa
norte-americano e notemos como ele Direito e Modernização”. O nome não
era congruente com a política externa é acidental. Atualmente, eu ministro
norte-americana: uma espécie de guru, uma disciplina chamada “Direito e
um dos líderes entre os pensadores Modernização no Mundo em
desse campo, cujo trabalho foi extre- Desenvolvimento”. A única razão pela
mamente influente, foi o sociólogo qual ainda temos este título estúpido
Karl Pearson,33 uma das grandes figu- é a burocracia de Wisconsin. É muito
ras na história da sociologia norte-ame- difícil mudar o nome de um curso.
ricana. Seu trabalho foi apropriado Acredite se quiser: para fazer isso é
pelos esforços que visavam a promover preciso passar por toda a universida-
desenvolvimento econômico, adminis- de; por um comitê universitário.
trativo e político nos países em desen- A idéia dominante na época era a de
volvimento. A Teoria da Modernização Direito e Modernização. No início do
era uma espécie de teoria geral da Direito e Desenvolvimento tentávamos
mudança social e se apresentava como desenvolver o que podemos denominar
alternativa ao socialismo. de “Teoria do Direito e Desenvolvimento”
Como eu já disse, a teoria era sobre estudando a literatura sobre Moderniza-
“por que alguns países são pobres e o ção. Achávamos que teríamos que nos
que pode ser feito em relação a isto”. encaixar nesta literatura porque ela era a
Para a teoria socialista, eu garanto, a narrativa mestra da Academia Liberal
resposta não era copiar a Faculdade de norte-americana da década de 60. Estou
Direito de Yale. Já a Teoria da me referindo à Teoria da Modernização e
Modernização levava inevitavelmente a aos estágios do crescimento econômico
esta conclusão. Pearson baseou seu de Rostow.34 Estas duas idéias foram
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combinadas e o Direito e Desenvolvi- de todos os grandes tratados europeus


mento foi construído neste universo, de Teoria do Direito. Já o estudante de
caracterizado também pelo anticomunis- Direito médio não conseguia encontrar
mo da Guerra Fria e pela política externa nada, certo? Sem muito esforço, era
norte-americana, marcada pela Aliança impossível obter qualquer informação
para o Progresso.35 sobre o que acontecia fora do Brasil.
Assim, o que temos atualmente são Hoje, basta estar sentado em casa, de
estudos sobre Weber que buscam obter pijamas, acessar a internet e obter tudo
respostas para os problemas do Direito e o que foi publicado nas revistas jurídi-
Desenvolvimento, mas que percebem cas norte-americanas desde 1845.
que ele não as tinha e que as respostas A possibilidade de um diálogo
encontradas por alguns são interpreta- Norte-Sul genuíno aumentou substan-
ções questionáveis de seu trabalho. cialmente nos últimos vinte anos em vir-
Duncan Kennedy,36 um dos autores no tude de melhorias no aprendizado do
livro The new law and economic develop- Direito em instituições como a FGV.
ment, escreveu um artigo absolutamente Isto não está ocorrendo em todo o Brasil
brilhante37 que trata do lado sombrio e ou na América Latina, mas, mesmo
de Weber. Weber compreendia a crítica assim, há possibilidades promissoras,
ao formalismo tão bem quanto qualquer potencializadas pela tecnologia da infor-
outro estudioso de seu tempo. Esta crí- mação e pela tremenda redução nos cus-
tica teve início na Alemanha mais ou tos de comunicação.
menos ao mesmo tempo em que Weber Quando estive na embaixada
escrevia seu livro sobre sociologia.38 norte-americana no Rio de Janeiro na
O artigo de Duncan é absoluta- década de 60 não era fácil fazer uma
mente brilhante, leitura imprescindí- chamada telefônica. Tratava-se de um
vel para os interessados em Weber e projeto de grandes proporções.
em Direito. Foi publicado no livro que Tínhamos nossos próprios troncos
editei, mas também é acessível na telefônicos, afinal, o governo dos
Harvard Law Review, que se pode obter Estados Unidos nos apoiava, mas nin-
on-line. Gostaria de dizer o seguinte: guém mais as tinha. Hoje, o fato de eu
vocês são capazes de perceber a dife- ter dito “vocês não precisam de
rença entre o seu aprendizado do Teubner” e vocês terem rido do meu
Direito e as condições que eu encon- comentário significa que vocês sabem
trei no Brasil há trinta anos, quando fui do que estou falando. Este é um sinal
apresentado a Roberto Mangabeira de incrível sofisticação, impossível há
Unger, ainda estudante no Rio de trinta anos. A possibilidade de um diá-
Janeiro? Ele tinha, em casa – não sei logo genuíno, em vez da via de mão
como ele conseguia, sendo um estu- única que promovíamos, aumentou
dante de Direito – uma coleção de bastante, ao menos no que diz respei-
trinta anos da Harvard Law Review, além to a suas possibilidades materiais.
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NOTAS

1 Søren Kierkegaard, O conceito de ironia, São of Law e professor de estudos sul-asiáticos da Faculdade de
Paulo: Vozes, 1991. Direito da Universidade do Wisconsin.

2 Max Weber sobre direito e ascensão do capitalis- 17 United States Agency for International
mo, Revista Direito GV 5, t. 3 v. 1, p. 151-186, 2007; pub- Development – Agência Norte-Americana para o
licado originalmente na Wisconsin Law Review, Desenvolvimento Internacional.
1972(3):720-753.
18 Southeast Asia Treaty Organization –
3 Tori Moi, Sexual/textual politics, London/New Organização do Tratado do Sudeste Asiático.
York: Methuen, 1985, p. 40.
19 Um orixá importante para muitas religiões afro-
4 Mikhail Bakhtin, Speech genres and other later americanas; originalmente da religião Yorubá.
essays, Austin: University of Texas Press, 1986, p. 132.
20 Álvaro Santos,The world bank’s uses of the “rule
5 Sigmund Freud, Jokes and their relation to the of law” promise in economic development, In: David M.
unconscious, London: Penguin Books, 1976. Trubek; Álvaro Santos,The new law and economic develop-
ment: a critical appraisal, Cambridge, 2006, p. 253-300.
6 Marc Galanter; David Trubek, Scholars in self
estrangement, 1974: 4, Wisconsin Law Review 1062, cuja 21 BRIC é um termo usado para se referir conjun-
tradução é publicada nesta edição da Revista Direito GV. tamente a Brasil, Rússia, Índia, e China.

7 A transcrição completa desta entrevista foi pub- 22 Organização das Nações Unidas.
licada nos Cadernos Direito GV n.19 (Setembro 2007), jun-
tamente com o original em inglês, disponível on line no 23 The Organization for Economic Co-operation
site www.direitogv.com.br. and Development – Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico.
8 The new law and economic development: a critical
appraisal (2006): organizador com Álvaro Santos; Max 24 Literalmente “pessoas interessadas”. O termo
Weber at the millennium: economy and society for the 21st cen- originalmente concerne ao mundo dos negócios, mas tem
tury (2005): organizador com Charles Camic e Philip sido usado para se referir a políticas que levam em conta
Gorski; além de Governing work and welfare in a new econo- os interessados como sujeitos ativos, que precisam ter sua
my: European and American experiments (2003): organizador voz ouvida pelos mecanismos de tomada de decisão .
com Jonathan Zeitlin.
25 Organizações não-governamentais.
9 Center for World Affairs and the Global Economy.
26 Kerry Rittich, The future of law and develop-
10 International Institute for the Sociology of Law, ment: second-generation reforms and the incorporation
em Onati. of the social, In: David M. Trubek; Álvaro Santos, The new
law and economic development: a critical appraisal.
11 European University Institute, em Florença. Cambridge, 2006, p. 203-252.

12 US Court of Appeals, 2nd circuit. 27 Scott Newton, The dialectics of law and deve-
lopment, In: David M.Trubek; Álvaro Santos, The new law
13 Agency for International Development. and economic development: a critical appraisal, Cambridge,
2006, p. 174-202.
14 Para este ponto, ver James A. Gardner, Legal
imperialism. American lawyers and foreign aid in Latin 28 Salvador Allende (1908-1973) foi o presidente
America, Madison: University of Wisconsin Press, 1980. socialista do Chile entre 1970 e 1973, morto em 11 de
setembro de 1973 durante um golpe de Estado de extre-
15 David Trubek; Marc Galanter, Acadêmicos auto- ma-direita levado a cabo pelos militares.
alienados: reflexões sobre a crise norte-americana da disci-
plina sobre direito e desenvolvimento, Wisconsin Law Review, 29 Professor da Faculdade de Direito de Harvard, um
p. 1062, 1974.Traduzido nesta edição da Revista Direito GV dos fundadores do movimento Critical Legal Studies e impor-
tante teórico social. Foi indicado para ocupar o cargo de
16 Marc Galanter é John and Rylla Bosshard Professor Ministro das Ações de Longo Prazo do Governo Lula.Autor,
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entre outros, de O direito na sociedade moderna (1977), The década de 60, foi um fiel oponente do comunismo, e era
critical legal studies movement (1986), O direito e o futuro da conhecido por sua crença no Capitalismo como empreen-
democracia (2004), Política: os textos centrais (2001). dimento livre. Autor de The stages of economic growth: a
non-communist manifesto (1960). Publicado no Brasil
30 Professor de Direito Privado e Sociologia do pela ed. ZAHAR
Direito, Universidade de Frankfurt/Main, e Centennial
Professor, Faculdade de Economia de Londres. Autor de 35 Movimento iniciado em 1962 pelo então
O direito como sistema autopoiético (1993); Direito, sistema e Presidente norte-americano John F. Kennedy, que visava
policontextualidade (2005); editor ou co-organizador de estabelecer cooperação econômica entre a América do
Contractual networks (2007), Paradoxes and inconsistencies Norte e a América do Sul para combater a ameaça comu-
in the law (2006), Transnational governance and constitutio- nista na região.
nalism (2004).
36 Duncan Kennedy é Carter Professor de Teoria
31 Encontro anual da Law and Society Association Geral do Direito na Faculdade de Direito de Harvard. Um
(LSA) e do Research Committee on Sociology of Law dos criadores e figura-chave dos Critical Legal Studies, é
(RCSL of ISA) – Comitê de Pesquisa sobre Sociologia do autor de The rise and fall of classical legal thought (1975), A
Direito, Universidade Humboldt, Berlim, de 25 a 28 de critique of adjudication [fin de siècle] (1998), Legal education
julho de 2007. and the reproduction of hierarchy (2007) e Three globaliza-
tions of law and legal thought: 1850-2000, In: David M.
32 Chantal Thomas, Max Weber, Talcott Parsons Trubek; Álvaro Santos, The new law and economic develop-
and the sociology of legal reform: a reassessment with ment: a critical appraisal, Cambridge, 2006, p. 19-73.
implications for law and development, 15 Minnesota
Journal of International Law, p. 383, 2006. 37 The disenchantment of logically formal legal
rationality, or Max Weber's sociology in the genealogy of
33 Karl Pearson (1857-1936) estabeleceu a the contemporary mode of Western legal thought, 55
matemática estatística como disciplina. Em 1911, fundou Hastings L. J., p. 1031 (2004), republicado in: Charles
o primeiro departamento de estatística de uma universi- Camic; Philip Gorski; David Tubek, Max Weber's economy
dade, na University College de Londres. and society: a critical companion (2005).

34 Walt Whitman Rostow (1916-2003) foi um eco- 38 Trubek refere-se, aqui, a autores como Rudolf
nomista norte-americano e teórico político que serviu von Ihering (1818-1892), Georg Jellinek (1851-1911) e
como Assistente Especial para Assuntos de Segurança ao austríaco Eugene Ehrlich (1862-1922), que integraram
Nacional. Proeminente por seu papel na formação das elementos sociológicos ou adotaram uma visão sociológi-
políticas norte-americanas no Sudeste asiático durante a ca ao estudo do Direito.

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