A antropologia é uma disciplina que somente se consolida enquanto tal
no século XIX, intimamente ligada no seu surgimento a uma descrição da história natural. Sendo que outros aspectos passam a se tornar importantes, outras dimensões da vida, como a organização social, o parentesco e etc.
1.1 O método, a escrita e a reflexibilidade
Os métodos clássicos da etnografia são a observação participante e
o trabalho de campo. O trabalho de campo consiste na ida do pesquisador até o local no qual a comunidade que pretende estudar vive, ou seja, ele mesmo, pessoalmente entre em contato com o seu objeto de estudo. A observação participante por sua vez, pressupõe que o pesquisador passe um tempo prolongado no local, interagindo com a comunidade. Aprendendo a língua, vivendo com costumes. Ou seja, a observação participante pressupõe uma integração do antropólogo com a comunidade, participando da vida diária. Caracteriza-se por ser uma experiência pessoal do pesquisador, reconstrói o que observa da comunidade, estar imerso no ambiente, permite fazer conexões e explicar as relações sociais, permite uma descrição detalhada da comunidade, e as conexões com a teoria são importantes.
A reflexibilidade deve estar presente, pois possibilita que os
pesquisadores percebam que eles não são neutros em relação à comunidade que estudam. Dessa forma, a coleta de dados também não é neutra e não deve ser interpretada de forma objetiva. Existem entre o pesquisador e os pesquisados posições diferentes e assimétricas de poder, elemento que deve estar presente na reflexão do pesquisador.
A Etnografia é um método da antropologia do século XX, uma forma de
se aproximar da realidade para compreendê-la e estudá-la.
1.2 Os/as antropólogos/as: testemunhos do terreno
Tudo o que o pesquisador observa e relata em seu estudo pode não
ser um material que represente a totalidade daquela sociedade. O terreno de estudo do pesquisador impõem limitações, das quais ele dever estar atento, pois influenciará na coleta dos dados, na interpretação, na escrita e nas correlações que irá desenvolver.
Tema 2 – Percursos: das etnografias clássicas às abordagens
contemporâneas
2.1 O contexto e concepção de um terreno: do colonialismo ao
transnacionalismo
A origem da etnografia está intimamente ligada ao fenômeno do
colonialismo, ou seja, do processo pelo qual diversas comunidades foram dominadas pelos Europeus através das expansões marítimas. A etnografia desenvolvida neste período tem como exemplo clássico o livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, escrito por Bronislaw Malinowski, e caracterizado pelo extenso tempo que o pesquisador permaneceu com a comunidade estudada. A etnografia transnacional, já se desenvolve em um contexto de pós colonialismo e em sociedade contemporâneas.
2.2 Críticas e novos cenários: o local e a voz em etnografia
Críticas pós-modernistas A contemporaneidade da etnografia é
marcada pela crítica pós-moderna. A etnografia clássica se preocupava em descrever os modos de vida, os modos de pensar. A crítica pós-moderna se constitui em questionar os limites da compreensão do pesquisador. É um processo de que expõem as dúvidas, os questionamentos, as inquietações do pesquisador, que fazem parte do material de pesquisa. Demonstram como a pesquisa nunca é imparcial, o pesquisador é elemento ativo e essencial na pesquisa etnográfica, sua voz aparece na pesquisa, ela nunca será calada, mesmo que por vezes o pesquisador se esconda, para garantir a objetividade científica.
2.3 (Re)descobrir objetos e terrenos: arquivos, corpos e ciberespaço
A etnografia que antes se encontrava dentro de um lugar delimitado,
dentro do espectro do estudo de sociedades distantes, nas quais viviam os nativos, com seus costumes e modos de vida próprios, já não mais se constata na atualidade. Em função disso, a ideia de lugar antropológico deve ser estendido, a Etnografia agora é multi-situada, não é possível mais pensar em comunidades locais, as conexões entre local, regional e global devem ser realizadas.
O nativo não é mais a única voz a ser ouvida na etnografia, a
Etnografia que se desenvolve agora é multivocal. Não se limita a uma só voz, considera que as inquietações do pesquisador também são importantes para a pesquisa, pois são resultado da interação dele com a sociedade pesquisada.
Outra característica identificada na etnografia contemporânea constitui
na descoberta e exploração de novos terrenos. Os novos terrenos da antropologia agora se expressam em estudos que não mais estão restritos as temáticas anteriores. Hoje novas expressões são objeto de estudo, o corpo e as relações que estabelecemos com ele. Os objetos materiais e os significados que damos, os sentidos que atribuímos, até mesmo os ambientes virtuais são novos terrenos de estudo, pois modificaram de forma acentuada a forma como nos relacionamos uns com os outros.
As questões éticas são sempre questões presentes nos estudos
etnográficos. Em geral, quatro princípios éticos norteiam as pesquisas etnográficas. O primeiro diz respeito ao consentimento informado que determina que o grupo de pessoas, a pessoa, a comunidade a ser estudada devem ser informados e estarem consentes da pesquisa que será desenvolvida, e de todas as informações que envolvem, quem é o solicitante, o contexto no qual ela foi projetada, também deve estar cientes dos riscos e dos benefícios que podem surgir. O segundo princípio ético norteador é o princípio do modelo clínico de informação consentida que consiste em um documento que informa que comunidade está ciente ou que é escrito pelos próprios estudados que eles estão cientes das informações necessárias.
O terceiro princípio se refere a confidencialidade e aos direito pessoais
à privacidade, ele assegura que os pesquisados tenham seus nomes verdadeiros retirados dos relatórios ou dos resultados publicados. Por fim, o quarto princípio está relacionado à disseminação de conhecimentos, que consiste na divulgação do trabalho antropológico em meios não acadêmicos. Tema 3 – As etnografias portuguesas: encruzilhadas coloniais e terrenos contemporâneos
3.1 Etnografias, usos e costumes, em Portugal e nas colônias
Tradição portuguesa – em Portugal a interesse pelos estudos
relacionados ao folclore consistiram em significativos obstáculos para que as disciplinas antropológicas se desenvolvessem, persistindo esse entrave até meados do século XX. Inicialmente o foco dos estudos foi a vida local, a vida cotidiana das pessoas simples. A identidade nacional foi produzida e reproduzida constantemente. A partir de 1960 a antropologia se consolida, livre das influencias do regime autoritário e se estabelece.
Na antropologia portuguesa houve um interesse tardio em relação aos
terrenos coloniais portugueses. O caminho da antropologia portuguesa é marcado por fases distintas, uma fase marcante em especial, se dá a partir de 1970 no qual a antropologia pode se desenvolver com base em novos atores. As ruralidades, as vivências rurais características da primeira metade do século XX foi objeto de estudos etnográficos. Estudos que se voltavam para as relações familiares, para o papel que a terra tinha no cotidiano das comunidades.
3.2 Etnografias contemporâneas
As produções etnográficas contemporâneas são marcadas a partir dos
estudos realizados a partir dos anos 1970. As pesquisas apresentam um quadro local, mas são marcadas por realizarem uma conexão das dinâmicas socioeconômicas locais com as interações com o exterior.