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Exercício de Acompanhamento
1. Explique o que Hobsbawm quer dizer ao ter afirmado que o mundo no século XVIII era
ao mesmo tempo menor e muito maior em relação a nosso tempo.
1
Cf. https://www.ufjf.br/ladem/2013/09/28/enxame-humano-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
possuidoras de portos; é assim que algumas cidades de continentes diferentes poderiam manter
um contato mais rápido do que cidades no mesmo continente. O historiador inglês traz um
exemplo flagrante, o da notícia da queda da Bastilha ter chegado à capital francesa muito mais
rápido do que a cidades significativamente próximas. O mesmo ocorria na América Portuguesa
nesse período, onde a comunicação interprovincial era mais difícil do que a comunicação com
a Metrópole, segundo apontamento do historiador José Murilo de Carvalho no seu Teatro Das
Sombras.
Hobsbawm apresenta, de forma geral, as relações de propriedade por toda a Europa, um mundo
fundamentalmente rural e onde a terra, à época da Revolução Francesa, em seus momentos
precedentes, ainda se afirmava como grande fonte de renda das “classes dominantes”. No ano
da Revolução, o autor aponta que havia um “consenso” entre os economistas, fisiocratas, sobre
a terra ser a grande fonte primordial da riqueza; isso reconhecido, o problema essencial que se
apresenta é sobre quem tem mais direito às riquezas produzidas, aqueles que detém a
propriedade ou os produtores diretos dessas riquezas. Na França, vamos encontrar os
camponeses numa situação de exploração crescente, ainda que as relações de trabalho não
estejam se dando, tomando em conta todo o reino, estritamente nos moldes feudais. A economia
na camisa de força das relações de propriedade e trabalho feudais se tornava deletéria aos bolsos
dos membros das classes dominantes francesas; os rendimentos dessas classes tornavam-se
insuficientes para a manutenção de padrões de vida alimentados pela economia capitalista
industrial que despontava – é esse o fato que leva a intensificação da exploração dos
camponeses. Os camponeses que já tinham escapado da camisa de força feudal explícita,
continuam sendo estrangulados, implicitamente, pelo mesmo sentido dessas relações.
A monetarização das relações de trabalho não liberto-os do feudalismo, apenas os fez reféns de
“um sistema de cobrança de alugueis e de outros rendimentos monetários”, impostos para o
estado monárquico, dízimos para a igreja, obrigações para com os senhores das propriedades
arrendadas; é assim que o próprio Marx, n’O Capital, já apontava que a monetarização das
relações de trabalho por si só não se traduziam na passagem para o capitalismo. Por outro lado,
aristocratas e nobres em geral passavam isentos de impostos sobre seus bens. Aqueles
indivíduos das camadas sociais mais altas que não possuíam grandes propriedades de terras ou
para quem essas propriedades eram insuficientes para a manutenção do padrão de vida que se
formava, passaram a abocanhar os cargos do estado monárquico e a impor obstáculos ao seu
acesso por parte dos “mal-nascidos” – a chamada reação feudal, sendo um dos elementos do
antigo regime que fizeram desencadear a revolução francesa.
Para Hobsbawm, o que sustentou o ideário iluminista, o que lhe deu força foram os avanços
concretos da “produção, do comércio e da racionalidade econômico científica”; a crença no
progresso não era gratuita, mas ancorada nos progressos reais. Também é importante
lembrarmos que nem todos os iluministas avaliavam positivamente o progresso da civilização
europeia nem eram crentes de um progresso indefinido; se, como sustenta Yuval Noah Harari
no seu “Sapiens”, a crença no progresso foi o que primeiramente destacou os europeus em
relação às grandes civilizações dos outros continentes, pois muitas possuíam uma tecnologia ao
nível europeu e podiam fazer, por exemplo, grandes viagens como a que os europeus fizeram,
não tomando isso por objetivo justamente pela limitação na crença do progresso e na sede de
expansão – pensadores europeus como como Russeau e Voltaire suspeitavam do limite do
progresso, o primeiro julgando o estado de civilização como decadente e o segundo acreditando
que a História não segue um progresso linear, sempre sofrendo fases de retrocesso. Contudo,
na prática, homens suficientes creram no progresso, e essa crença alimentava o progresso real
e este realimentava a crença em mais progresso, eis a fórmula que apresenta Harari, até que os
homens venham a se desencantar das possibilidades de paraíso na terra através da ciência e
tecnologia.
O principal objetivo desses homens ilustrados era a libertação dos homens de seus
grilhões da superstição, com a igreja, dos abusos que os privilégios concedidos a certas camadas
sociais produziam. Kant dirá, no seu clássico Resposta À Pergunta O Que É O Iluminismo
(1784), que o objetivo do iluminismo é tirar os homens de sua menoridade, da tutela dos padres,
dos reis, e trazê-los para a maioridade, para o ousar pensar por si mesmos e se conduzirem a
partir de suas capacidades. Mas como o texto do filósofo de Königsberg é posterior à
deflagração da Revolução Francesa, cabe a ressalva de que é uma resposta que já estava
formulada na boca de muitos pensadores antes da revolução.
Segundo Hobsbawm, o ideário iluminista não buscava a aniquilação das monarquias, ainda que
esse ideário implicasse a derrubada da ordem social e política vigente na maior parte da Europa
setecentista. O que boa parte dos iluministas queria era uma renovação da monarquia, não sua
destruição; é o caso clássico de Voltaire. A monarquia devia se ilustrar e o déspota esclarecido
se erguer; o resultado prático disso deveria ser, politicamente, algo semelhante à transformação
que sofreu a monarquia inglesa, e, socialmente, transformações que possibilitassem a
emancipação dos homens; sua felicidade, se nos permitirmos trazer Sérgio Paulo Rouanet, no
artigo Dilemas Da Moral Iluminista, a governança do monarca deveria zelar pela liberdade dos
homens e por sua felicidade individual. Podemos ver essa ânsia por uma regulação do poder
monárquico no Marquês de Sade também; em excetos de cartas, apresentadas por Fernando
Peixoto na sua biografia do libertino, podemos ouvi-lo reclamar algo como: Não quero a
abolição da monarquia, mas também não quero que o rei possa cometer seus abusos
irrestritamente; também não quero uma sociedade de três estados, pois o terceiro é inútil; quero
uma monarquia limitada por uma câmara parlamentar, como na Inglaterra. Podemos concluir
que o movimento iluminista e monarquia não eram inimigos; muitos pelo contrário, Hobsbawm
afirma que os iluministas colocavam sua fé na monarquia reformada pela ilustração.
5. Qual teria sido o fator que levou a Monarquia francesa a uma crise política da qual, seis
ano mais tarde, surgiria a Revolução?
Hobsbawm aponta a “rivalidade internacional”, ou seja, a guerra, como o fator que levou a
monarquia francesa à crise política que serviu de terreno à Revolução Francesa. A guerra, como
entende o historiador inglês, era o grande teste dos Estados; os estados que conseguiam
sustentá-la acabavam comprometidos, chegando mesmo a ruir. A Grã-Bretanha foi o grande
rival belicoso da França; uma série de conflitos vinha ocorrendo entre os dois, saindo a França
derrotado todas as vezes, com exceção de uma. Hobsbawm sustenta que essas derrotas, apesar
do poder e riqueza da França monárquica, são reflexos da superioridade das forças sociais e
econômicas que engendraram e foram engendradas pelo “modo de produção” emergente, já
avançado no reino inglês. Perry Anderson, em Linhagens Do Estado Absolutista, adiciona um
elemento explicativo para a belicosidade desses Estados modernos; essa tendência à guerra seria
uma continuidade do mundo feudal, onde a guerra era fator crucial para a conquista de riquezas,
muito mais do que a produção econômica. Como aponta Harari, com a emergência do
capitalismo, a guerra passa, quase sempre, a ser um entrave para a dinâmica da nova economia.
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Uma das primeiras grandes transformações sociais da França revolucionário foi a abolição da
estrutura de propriedade feudal, em consequência a aristocracia e o clero tiveram seus
privilégios abolidos; outro desses grandes transformações sociais toma forma com a Declaração
Dos Direitos Do Homem e Do Cidadão, afirmando que todos os homens nascem livres e são
iguais perante as leis, e ainda que isso significasse apenas a recusa da sociedade de ordens e os
privilégios das duas primeira, é uma declaração que abre precedentes que marcam
profundamente a sociedade francesa. A mudança da fonte de legitimidade do monarca, do
direito divino para a “nação”, significou outra grande mudança; daqui em diante, as formas de
governo que buscassem “atender” às necessidades do povo, agora identificado com nação,
passam a tornar os governos ilegítimos – uma faca de dois gumes, como diz Hobsbawm, para
todos que se puserem a frente da “vontade geral”.
Hobsbawm trata das posições dos sansculottes e dos girondinos. Os primeiros defendiam que
somente o estado de guerra contra a tentativa de intervenção estrangeira poderia impedir que as
conquistas da Revolução não fossem perdidas, só assim a contrarrevolução poderia ser parada.
Os girondinos, já mais conservadores, viam com maus olhos aquilo que poderia advir da
combinação de uma revolução das massas com as mobilizações da guerra; contudo, tiveram
que ceder nos esforços bélicos, já que os rivais jacobinos estavam dispostos a fazer esses
esforços, apoiados pelos sansculottes. E, de fato, quando os girondinos fracassam na guerra,
foram os jacobinos, declarada a república jacobina, que conseguiram a vitória; a partir, segundo
o historiador inglês, da invenção da “guerra total”, uma forma de guerra com mobilização total
de homens e recursos.
A França revolucionário no período do Terror estava afundada nas guerras, contra a “maior
parte da Europa”. A guerra já vinha sendo tomada como ação necessária para a resolução dos
problemas internos da França, atribuídos às intervenções externas. Segundo Hobsbawm, essa
atribuição de culpa aos “tiranos estrangeiros” e aos emigrantes conspiradores serviria para
paliar os descontentamentos da população.
6. Quais foram as principais medidas adotadas pelos Jacobinos quando chegaram a direção
da convenção nacional e quais foram seus principais resultados?
No poder, o regime jacobino começou por promover uma mobilização das massas contra os
girondinos que se afastaram dos ideais mais radicais da revolução. Ao mesmo tempo, os
jacobinos buscaram manter o apoio dos sansculottes, cuja visão sobre o que seria necessário
dali para frente, um “esforço de guerra revolucionário”, coincidia com a visão jacobina. Sob o
regime jacobino também foi proclamada uma nova constituição, na qual garantia-se ao povo o
sufrágio universal, o direito à revolta e ao trabalho; a felicidade do povo era declarada o objetivo
do governo e o governo deveria agir para tornar tudo isso realizável e não apenas letra-morta.
A grande descoberta bélica da França revolucionária, como já citado, foi a “guerra total”;
os exércitos que travaram esse tipo de guerra eram formados por indivíduos muitas vezes
destreinados, homens comuns recrutados forçadamente. Contudo, esse exército precário,
alimentado de homens comuns, logo se tornaria uma força combatente de profissionais; são
os seus esforços que vão dar condições para algumas necessidades fundamentais da
burguesia, com as conquistas territoriais que realizaram, com as derrotas a varredura dos
exércitos de outros reinos europeus que os ameaçam. É essa força poderosa que Napoleão
liderou; homens mal treinados muitas vezes, sem um sistema de suprimentos e armamento
eficazes, com uma disciplina pouco ortodoxa, hierarquizados a partir do mérito – neste caso,
da coragem mostrada no campo de batalha. A escalada de Napoleão ao poder foi um
conjunto de casualidade com a excepcionalidade desse indivíduo; Napoleão havia apoiado
o estado jacobino, mas escapa da guilhotina quando da queda de Robespierre. O grande
momento de triunfo do general, depois de ter se mostrado indispensável à força militar
França, foi durantes as “invasões estrangeiras” que o país sofreu nos 1890, momento que
assume a posição de cônsul e depois torna-se Imperador.