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Valdir Stephanini

Aumento de Membresia ou reconfiguração eclesial?


Um estudo pastoral sobre Pequenos Grupos em Igrejas
Batistas do Estado do Espírito Santo
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

Tese de Doutorado

Tese apresentada como requisito parcial


para obtenção do grau de Doutor pelo
Programa de Pós-Graduação em Teologia
do Departamento de Teologia da PUC-Rio.

Orientador: Prof. Joel Portella Amado

Volume I

Rio de Janeiro
Setembro de 2016
Valdir Stephanini

Aumento de Membresia ou reconfiguração


eclesial? Um estudo pastoral sobre Pequenos
Grupos em Igrejas Batistas do Estado do Espírito
Santo

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção o grau


de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Teologia do
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

Departamento de Teologia do Centro de Teologia e Ciências


Humana da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora
abaixo assinada.

Prof. Joel Portella Amado


Orientador
Departamento de Teologia – PUC-Rio

Prof. Abimar Oliveira de Moraes


Departamento de Teologia – PUC-Rio

Prof. Cesar Augusto Kuzma


Departamento de Teologia – PUC-Rio

Prof. Elildes Junio Macharete Fonseca

Prof. Israel Belo de Azexedo

Profa. Monah Winograd


Coordenadora Setorial de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro
de Teologia e Ciências Humanas – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 02 de setembro de 2016.


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução
total ou parcial do trabalho sem autorização da
universidade, do autor e do orientador.

Valdir Stephanini

Graduou-se em Licenciatura Plena em


Pedagogia Magistério da Pré-Escola, Séries Iniciais do
Ensino Fundamental e Habilitação em Magistério das
Disciplinas Pedagógicas do Ensino Médio pela
Universidade Federal do Espírito Santo em 1998 e
em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,
em São Paulo, em 2016. Recebeu o título de Mestre em
Teologia pela Escola Superior de Teologia, de São
Leopoldo, em 2010. Atua como docente no Centro de
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Educação Teológica Batista do Estado do Espírito Santo


desde 1991 e na Faculdade Unida de Vitória desde
Fevereiro de 2015, onde também atua como coordenador
da Graduação do Curso de Teologia .

Ficha Catalográfica

Stephanini, Valdir

Aumento de membresia ou reconfiguração


eclesial? Um estudo pastoral sobre pequenos grupos
em Igrejas Batistas do estado do Espírito Santo /
Valdir Stephanini ; orientador: Joel Portella Amado. –
2016.
3v. ; 30 cm

Tese (doutorado)–Pontifícia Universidade


Católica do Rio de Janeiro, Departamento de
Teologia, 2016.
Inclui bibliografia

1. Teologia – Teses. 2. Igreja. 3. Pequenos


grupos. 4. Células. 5. Eclesiologia de comunhão. 6.
Reconfiguração. I. Amado, Joel Portella. II. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Departamento de Teologia. III. Título.

CDD 220
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Dedico este trabalho para minha esposa, Genilza Lemos Soares


Stephanini, com quem tenho compartilhado minha vida e a quem
devo todo o apoio dado ao longo desta edificante jornada
acadêmica.
Agradecimentos

Ao meu orientador, Professor Joel Portella Amado, pelo incentivo, apoio e


dedicação neste tempo.
À minha amada esposa Genilza, pelo companheirismo e apoio dado ao longo desta
difícil, mas muito edificante caminhada.
Ao meu filho Rodrigo e à minha nora Quézia, que me auxiliaram de tantas maneiras
ao longo desta jornada acadêmica.
À minha filha Stella, que acompanhou cada passo com carinho e preocupação.
Às famílias Stephanini e Lemos Soares, fontes de inspiração e incentivo ao longo
da jornada.
Aos membros da Primeira Igreja Batista da Cidade da Serra, pelas orações e apoio
neste empreendimento.
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À equipe pastoral da Primeira Igreja Batista da Cidade da Serra pela cobertura nos
momentos em que tive que me ausentar da comunidade para estudar.
Aos pastores e membros da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi e da Igreja
Batista em Morada de Camburi que me ofereceram espaço, apoio e participação nas
entrevistas.
Ao Centro de Educação Teológica Batista do Espírito Santo, desafio para a busca
de capacitação continuada.
À Faculdade Unida de Vitória, que me oportunizou experiências novas e me deu
espaço para a finalização dos estudos.
Aos funcionários da Paróquia Nossa Senhora da Vitória e da Catedral
Metropolitana do Rio de Janeiro que me receberam com tanto carinho e
consideração nos dias das reuniões do Grupo de Estudo.
Aos colegas do Grupo de Estudo, representados pelo companheiro Júlio Cézar de
Paula Brotto, grande incentivador e amigo, com quem partilhamos nossas pesquisas
e de quem recebi preciosas contribuições.
À CAPES e à PUC-Rio pelo apoio financeiro para custeio das despesas através das
bolsas de estudo.
Aos professores que aceitaram o convite para compor a Comissão Examinadora.
Aos docentes do Departamento de Teologia da PUC-Rio que contribuíram no meu
desenvolvimento acadêmico e pessoal.
Ao coordenador e secretário do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-
Rio, Prof. Abimar Oliveira de Moraes e Sérgio Albuquerque, respectivamente, pela
atenção e orientação nas demandas administrativas.
A Deus toda a honra, glória e louvor.
Resumo

Stephanini, Valdir; Amado, Joel Portella. Aumento de Membresia ou


reconfiguração eclesial? Um estudo pastoral sobre Pequenos Grupos em
Igrejas Batistas do Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro, 2016. 709p.
Tese de Doutorado – Departamento Teologia, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.

Esta tese visa investigar até que ponto a inserção de Pequenos Grupos em
duas Igrejas da denominação Batista no Estado do Espírito Santo tem sido utilizado
como ferramenta estratégica para a reconfiguração eclesial ou apenas como recurso
para o aumento de sua membresia. A tese está organizada em três capítulos. O
primeiro capítulo apresenta uma abordagem histórica sobre o surgimento do
movimento batista e de que maneira tradicionalmente se configuram as Igrejas
filiadas à Convenção Batista Brasileira. Este capítulo também se ocupa em
apresentar algumas experiências de Igrejas Cristãs que, ao longo da história do
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Cristianismo, têm adotado os Pequenos Grupos como estratégia de funcionamento


eclesiástico. Nesta discussão sobressaem dois modelos: Igrejas Dirigidas por
Propósitos e Igrejas organizadas de acordo com a filosofia do Ministério Igreja em
Células. A Igreja Batista em Jardim Camburi e a Igreja Batista em Morada de
Camburi, objeto material desta tese, são apresentadas a partir de suas histórias. O
segundo capítulo refere-se ao objeto formal, a saber, Eclesiologia de Comunhão.
Esta categoria teológica se fundamenta na relação existente entre as três pessoas
da Trindade divina, inspirado, sobretudo nas reflexões do Concílio Vaticano II. O
terceiro capítulo apresenta os resultados da Pesquisa Social realizada com os
membros das duas Igrejas Batistas já mencionadas. Foram destacadas doze
categorias da Eclesiologia de Comunhão. Analisou-se até que ponto estes valores
estão presentes nas igrejas pesquisadas, com o objetivo de indicar se os Pequenos
Grupos contribuem para uma reconfiguração das referidas Igrejas na direção da
Eclesiologia de Comunhão. O conteúdo das cento e vinte entrevistas realizadas com
os membros duas Igrejas pesquisadas foi transcrito na íntegra e apresentado em
forma de anexo.

Palavras-chave
Igreja; pequenos grupos; células; eclesiologia de comunhão; reconfiguração.
Abstract

Stephanini, Valdir; Amado, Joel Portella (Advisor). Increasing church


membership or ecclesial reconfiguration? A pastoral study on Small
Groups in Baptist Churches in the State of Espírito Santo. Rio de Janeiro,
2016. 709p. Doctoral Thesis – Departamento Teologia, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.

This thesis aims to investigate in which extent the insertion of Small Groups
in two Baptist Churches in Espírito Santo State has been used as a strategic tool for
the ecclesial reconfiguration or just as a resource for the increase of its membership.
The thesis is organized in three chapters. The first chapter presents a historical
approach on the emergence of the Baptist movement, and in what ways traditionally
are configured the churches affiliated in the Brazilian Baptist Convention. This
chapter also focuses on the presentation the experiences of some Christian Churches
throughout the history of Christianity that have adopted the Small Groups as a
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strategy of their ecclesiastical operation. This discussion brings out two models: the
Church model run by Purposes and Church model organized around the philosophy
of Church in Cells Ministry. "Jardim Camburi" Baptist Church and "Morada de
Camburi" Baptist Church, the material objet of this thesis, are presented alongside
their history. The second chapter refers to the formal object of the thesis:
Communion Eclesiology. This theological category indicates the relationship
between the three persons of the Trinity, inspired, especially by the reflections of
the Vatican Council II. The third chapter presents the results of the Social Research
conducted within the embers of the two Baptist Churches already mentioned. It was
highlighted twelve categories of Communion Eclesiology. It was analyzed the
extent to which these values are present in the churches surveyed, in order to
indicate whether the Small Groups contribute to a reconfiguration of such Churches
in the direction of Communion Eclesiology. The contents of the 120 interviews
conducted with the members of two churches surveyed were transcribed in full and
presented in the form of attachment.

Keywords
Church; small groups; cells; Communion Eclesiology; reconfiguration.
Sumário

1 Introdução 14

2 Igrejas Batistas e os novos jeitos de ser igreja 20


2.1. Origem e desenvolvimento das Igrejas Batistas 20
2.2. Configurações das Igrejas Batistas da Convenção Batista
Brasileira 27
2.3. Configuração de Igrejas Protestantes em Pequenos Grupos 31
2.3.1. Ministério Igreja em Células 31
2.3.1.1. Origem 31
2.3.1.2. Conceito 33
2.3.1.3. A Estrutura do Ministério Igreja em Células 34
2.3.1.4. Características de uma Igreja em Células 34
2.3.1.5. Visão da Igreja em Células sobre os Pequenos Grupos 35
2.3.2. Igreja Dirigida por Propósitos 35
2.3.2.1. Origem 36
2.3.2.2. Conceito 36
2.3.2.3. A Estrutura de uma Igreja Dirigida por Propósitos 37
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2.3.2.4. Características de uma Igreja Dirigida por Propósitos 38


2.3.2.5. Visão da Igreja Dirigida por Propósitos sobre os Pequenos
Grupos 38
2.3.3. Pontos convergentes e divergentes entre os dois modelos 39
2.3.3.1. Pontos convergentes 40
2.3.3.2. Pontos divergentes 41
2.3.4. Duas Igrejas Batistas que adotaram Pequenos Grupos 43
2.3.4.1. Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi 43
2.3.4.2. Igreja Batista de Morada de Camburi 46
2.3.5. Conclusão do capítulo 48

3 A Igreja entendida como comunhão 50


3.1. O ser humano criado para a comunhão 52
3.2. A Igreja de Cristo já nasceu comunhão 56
3.3. Os Pequenos Grupos nas Comunidades Cristãs Primitivas 59
3.4. O crescimento da Igreja, a oficialização e os pequenos grupos 62
3.5. Tentativas de resgate da comunhão através dos pequenos grupos 65
3.5.1. Algumas experiências de estruturas de comunhão 65
3.5.2. O Concílio Vaticano II rumo à comunhão 71
3.5.3. O período pós-conciliar 77
3.6. Os pequenos grupos entre os protestantes e os católicos 84
3.7. A fragmentação dos Pequenos Grupos: relato de uma experiência 86
3.8. Critérios para se aferir a eclesiologia de comunhão 89
3.8.1. Comunhão com o próximo 90
3.8.2. Comunhão com Deus 96
3.8.3. Comunhão consigo mesmo/a 99
3.8.4. Comunhão com a criação 99
3.9. Conclusão do capítulo 101

4 Pequenos Grupos: aumento de membresia ou reconfiguração


eclesiológica 105
4.1. Os resultados da pesquisa 105
4.1.1. Metodologia utilizada na pesquisa 106
4.1.2. Primeiros resultados: Como as igrejas são vistas por seus
integrantes 109
4.1.2.1. Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi 109
4.1.2.2. Igreja Batista de Morada de Camburi 118
4.2. Resultados finais da pesquisa: Vivência dos valores da
Eclesiologia de Comunhão nas Igrejas Batistas pesquisadas 123
4.2.1. As entrevistas em números 123
4.2.1.1. Em relação ao gênero das pessoas entrevistadas 123
4.2.1.2. Em relação à faixa etária das pessoas entrevistadas 124
4.2.1.3. Em relação aos valores da eclesiologia de comunhão 124
4.2.2. Vivência da Igreja de Comunhão 127
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4.2.2.1. Laços humanos primários 128


4.2.2.2. Exercício do poder (participação dos membros) 131
4.2.2.3. Caminhos da Comunicação 135
4.2.2.4. Consciência de missão (Evangelização) 137
4.2.2.5. Compromisso com a sociedade, com o social 141
4.2.2.6. Ecumenismo 150
4.2.2.7. Comunhão com as culturas na dinâmica da inculturação 155
4.2.2.8. Comunhão com o restante da criação (ecologia) 162
4.2.2.9. Sentido de pertença 170
4.2.2.10. Formação Espiritual 174
4.2.2.11. Integração (comunhão) das gerações 182
4.2.2.12. Comunhão com Deus 189
4.3. Questões decorrentes dos Pequenos Grupos para a
reconfiguração eclesial batista 194
4.3.1. Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi 194
4.3.2. Igreja Batista em Morada de Camburi 198
4.4. Riscos presentes no processo de reconfiguração eclesial
através dos Pequenos Grupos 199
4.5. Análise comparativa entre os Pequenos Grupos nas duas igrejas
pesquisadas 201
4.5.1. Semelhanças 202
4.5.2. Diferenças 202
4.6. Conclusão da Tese a partir da Pesquisa: Reconfiguração parcial 204
4.6.1. Em que sentido contribui 204
4.6.1.1. Criação, manutenção e aprofundamento de vínculos
primários (fraternidade) 204
4.6.1.2. Participação dos membros (Sacerdócio universal dos crentes) 207
4.6.1.3. Pastoreio mútuo 209
4.6.2. Em que sentido precisa avançar 210
4.6.2.1. Ecumenismo: Por uma fé dialogal 211
4.6.2.2. Ação Social: Por uma fé engajada 214
4.6.2.3. Ecologia: Por uma fé consciente 217

5 Conclusão final 220

6 Referências Bibliográficas 227


6.1. Livros 227
6.2. Artigos 233
6.3. Sites visitado 235

Anexo A Pequenos Grupos na Igreja Dirigida por Propósitos - Igreja


Batista de Morada de Camburi 237
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Anexo B Pequenos Grupos no Ministério Igreja em Células - Primeira


Igreja Batista de Jardim Camburi 326
Lista de Tabelas

Tabela 1 - Percentual de entrevistados/as em relação aos


participantes dos Pequenos Grupos. 108
Tabela 2 - Estrutura funcional do sistema de células da
Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi 109
Tabela 3 - Estrutura funcional do sistema de PGs da Igreja Batista de
Morada de Camburi 118
Tabela 4 - Gênero das pessoas entrevistadas 123
Tabela 5 - Faixa etária das pessoas entrevistadas 124
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Lista de Gráficos

Gráfico 1 - Vezes em que as categorias da eclesiologia de comunhão


são mencionados na Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi 125

Gráfico 2 - Vezes em que as categorias da eclesiologia de comunhão


são mencionados na Igreja Batista Morada de Camburi. 126

Gráfico 3 - Gráfico comparativo das vezes em que as categorias da


eclesiologia de comunhão são mencionados nas duas Igrejas
pesquisadas. 126
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Lista de Abreviaturas

ABB Aliança de Batistas do Brasil

CBB Convenção Batista Brasileira

CMI Conselho Mundial de Igrejas

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

DAp Documento de Aparecida

DD Declaração Doutrinária

FTL Fraternidade Teológica Latino-americana

IBMC Igreja Batista de Morada de Camburi

LG Lumen Gentium
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MM Manifesto dos Ministros Batistas

PGs Pequenos Grupos

PIBJC Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi

RELIDER Retiro de Líderes

UFES Universidade Federal do Espírito Santo


1
Introdução

Uma das crises vigentes na sociedade contemporânea é a chamada crise


comunitária1 ou crise de comunhão, em que as pessoas podem conectadas em tempo
real, mas distantes física e emocionalmente, com dificuldades para desenvolver
relacionamentos significativos e duradouros. Isso é comum na sociedade de um
modo geral e particularmente desafiador para a Igreja de Jesus Cristo, sobretudo a
partir do momento em que experimenta um crescimento quantitativo significativo.
O ritmo de vida alucinante neste início de milênio, a virtualização dos
relacionamentos, a supervalorização do quantitativo e a busca do crescimento das
comunidades cristãs apontam para o desafio do desenvolvimento de comunhão no
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contexto das igrejas cristãs, sejam elas católicas ou protestantes.


Esse trabalho visa investigar até que ponto a inserção de Pequenos Grupos
em Igrejas da denominação batista no Estado do Espírito Santo representa uma
reconfiguração eclesial ou apenas um recurso para o aumento de sua membresia. O
modelo de Pequenos Grupos tem sido utilizado como ferramenta estratégica para o
suprimento das necessidades que as pessoas têm de desenvolver relacionamentos
significativos para sua própria humanização. Não se nega que, em decorrência da
crise comunitária acima referida, as pessoas busquem experiências de comunidade.
Importa, no entanto, considerar a correspondência eclesiológica desta necessidade.
Isso significa investigar se as Igrejas que estão buscando Pequenos Grupos o estão
fazendo por se compreenderem como alternativas verdadeiramente cristãs, diante
da perspectiva do isolamento e do consumo, ou se, inseridas nesta lógica do
consumo, preocupam-se apenas com o aumento numérico dos seus membros.
A eclesiologia é uma das paixões do autor como líder de uma comunidade
protestante, tendo sido docente de um curso livre de teologia no Estado do Espírito
Santo por mais de vinte anos, capacitando líderes para as comunidades protestantes.
Ao pesquisar o surgimento de novas comunidades evangélicas no município da

1
AMORESE, R. M., Icabode, p.140-149.
15

Serra, Estado do Espírito Santo, durante a realização da dissertação de mestrado em


Teologia2, pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, o autor constatou a
importância da comunhão. Um dos aspectos vitais nas novas comunidades
pesquisadas, muito valorizado e enfatizado pelos entrevistados, era a comunhão que
havia entre os membros da nova comunidade e a acolhida que se fazia aos visitantes
que a elas acorriam.
Liderando uma comunidade batista no Estado do Espírito Santo, onde a crise
de comunhão é uma realidade, o autor passou a buscar caminhos que contribuíssem
para uma reconfiguração eclesial permitindo o aprofundamento da comunhão entre
os membros da sua comunidade. Deparou-se com a proposta dos Pequenos Grupos,
que são nomeados como células, grupos de comunhão, grupo familiares, etc.
Entretanto, as abordagens de obras protestantes escritas sobre Pequenos Grupos
apresentam, em sua maioria, um enfoque apenas pragmático, ressentindo-se de
fundamentação bíblico-teológica mais consistente.
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Diante dessa realidade, o autor passou a buscar em escritos de teólogos e


teólogas católicos/as, que desenvolvem o conceito de igreja como comunhão, à luz
Concílio Vaticano II, sobretudo do documento Lumen Gentium. Sua preocupação
foi encontrar fundamentação teológica para a edificação de uma igreja que
verdadeiramente coloque a comunhão em sua essência existencial, ainda que para
isso tenha que reconfigurar sua estrutura e redefinir sua filosofia de ministério.
Como desdobramentos do Concílio Vaticano II, o autor buscou na teologia
católica latino-americana pós-conciliar algo que oxigenasse o pensamento
teológico protestante, sobretudo com a experiência das Comunidades Eclesiais de
Base, tão fecundas na segunda metade do século passado, cuja prática encontra
paralelos nos Pequenos Grupos das Igrejas Protestantes, mormente nas Igrejas
Batistas pesquisadas.
Foi em busca também de teólogos e teólogas protestantes que o conduzissem
a uma reflexão suficiente para trazer contribuições relevantes para as comunidades
cristãs que tenham na comunhão seu ideal de vida cristã compartilhada e a vivência
dos valores do Reino de Deus como meta permanente.
A Trindade Divina vive e manifesta comunhão em todos os seus atos, desde
a eternidade, passando pela criação, história e redenção. Ao redimir o ser humano

2
STEPHANINI, V., Assim nasce uma igreja, 285p.
16

a fim de possibilitar comunhão consigo, a Trindade Divina se torna referência para


a Igreja, onde este possa desenvolver comunhão com seu semelhante, todos alvos
da graça e da misericórdia de Deus. A Igreja é, portanto, um lugar de comunhão e
de humanização através de relacionamentos significativos.
A vida em comunidade é, certamente, uma aspiração e uma necessidade de
todos os seres humanos, em todas as idades. E como afirma Panazzolo 3 “o que
existe de mais profundo entre as pessoas é a complementaridade, o relacionamento,
a comunhão. A pessoa é criada para a comunhão, a relação mais íntima que pode
existir entre os seres humanos”. Embora essencial para a felicidade e a realização
pessoal do ser humano a realidade da efetiva comunhão está cada vez mais escassa,
pelo menos no mundo Ocidental, profundamente marcado pela modernidade aguda
e pela perspectiva neoliberal consumista. Este fato atinge os diversos segmentos do
Cristianismo, particularmente em Igrejas Evangélicas que crescem em número de
membros, perdendo, entretanto, em profundidade nos relacionamentos
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interpessoais.
O problema reside no fato de as Igrejas Batistas, como as demais
comunidades cristãs, apresentarem dificuldades em desenvolver comunhão
profunda entre os seus membros, sobretudo quando experimentam crescimento
quantitativo, produzindo com isso uma espiritualidade fluida, isolada e sem
perspectiva de amadurecimento no discipulado e no exercício da mutualidade
cristã.4
Uma solução encontrada para o problema da escassez e da superficialidade
da comunhão nas Igrejas Batistas seria a implementação de Pequenos Grupos na
estrutura principal das comunidades aumentadas quantitativamente. O importante é
verificar se esta solução representa uma reconfiguração a ponto de aprofundar a
experiência de comunhão entre os seus membros e não apenas de estratégia de
marketing para o crescimento numérico das igrejas. Eclesiologia de comunhão não
é um privilégio ou especificidade de católicos ou protestantes. Ela pertence ao
discipulado de Jesus Cristo, tornando-se critério de julgamento da fidelidade ao
mestre (Jo 12, 34-35).

3
PANAZZOLO, J., Igreja, p.26.
4
Cf.: Anexo A – Pequenos Grupos na Igreja Dirigida por Propósitos: Igreja Batista de Morada de
Camburi e Anexo B – Pequenos Grupos no MinistérioIgreja em Células: Primeira Igreja Batista de
Jardim Camburi.
17

Além do âmbito bibliográfico, foi feita também uma pesquisa de campo, na


qual duas Igrejas Batistas que adotaram o sistema de Pequenos Grupos foram
estudadas: a Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi, que adotou o sistema de
células preconizado por Ralph Neighbour Jr, denominado “Ministério Igreja em
Células” e a Igreja Batista de Morada de Camburi, que adotou o modelo proposto
por Rick Waren, que denomina os Pequenos Grupos simplesmente de PGs dentro
da visão de “Uma Igreja Dirigida por Propósitos”. A pesquisa de campo foi
realizada por meio de entrevistas com membros das duas igrejas que utilizam os
Pequenos Grupos, visando investigar até que ponto a adoção dos Pequenos Grupos
seria apenas uma estratégia para aumento de membresia ou reconfiguração visando
proporcionar comunhão em todos os níveis e dimensões.
Optou-se pela técnica das entrevistas com perguntas semiestruturadas e
respostas gravadas, com horário previamente agendado com os/as participantes, a
fim de tornar a experiência mais agradável e bem descontraída. As entrevistas foram
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marcadas com pessoas indicadas pelos pastores e também tomadas aleatoriamente


no meio da Congregação, desde que participassem de um Pequeno Grupo, contando
também com a colaboração das secretarias das duas igrejas pesquisadas.
As entrevistas foram gravadas e armazenadas em CD não regravável e,
posteriormente, transcritas de maneira fiel ao conteúdo das gravações. Buscou-se
fazer uma transcrição com boa qualidade mantendo a forma de expressão de cada
personagem entrevistado, com pequenos ajustes para tornar a leitura das entrevistas
mais agradável. Nas transcrições das entrevistas não foram consideradas
interjeições e outras exepressões que, expressando apenas um tempo de organização
do pensamento, não coantribuem para o contexto das respostas. Exemplo de
expressões desconsideradas: Né, É, Ah! O total do conteúdo das entrevistas está
registrado nos Anexos A – Pequenos Grupos na Igreja Dirigida por Propósitos e
Igreja Batista de Morada de Camubi e Anexo B – Pequenos Grupos no Ministério
Igreja em Células – Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi. Como parte do
acordo feito com os participantes da pesquisa de campo, os nomes das pessoas são
mantidos no anonimato, sendo que cada entrevista recebeu um código como
identificação.
A sistematização dos dados segue a orientação da pesquisa de campo. A
análise do conteúdo das entrevistas e o resultado serão relacionados com o
embasamento teórico proveniente da pesquisa bibliográfica.
18

Foram entrevistadas pessoas do sexo masculino e do sexo feminino, com as


mais diferentes idades, tanto de nascimento como de frequência à Igreja Batista,
como pode ser constatado no conteúdo das entrevistas anexadas a este trabalho. A
ideia era identificar semelhanças e diferenças na visão que cada um tinha da
relevância dos Pequenos Grupos para os participantes e para as igrejas que os
adotaram.
Levou-se em consideração também a posição das pessoas nos grupos, ou seja,
se são apenas membros ou se ocupam alguma função de liderança. Com isso se
desejou observar como cada um percebe o Pequeno Grupo, de acordo com a posição
que ocupa dentro dele. Da mesma forma foram entrevistados os pastores das igrejas
e outros líderes que exercem influência na definição dos rumos seguidos pelas
igrejas bem como pessoas que não ocupam funções de liderança a fim de observar
como estes se veem dentro do processo.
Ao todo foram entrevistadas 100 pessoas da Primeira Igreja Batista de Jardim
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Camburi e 20 pessoas da Igreja Batista de Morada de Camburi representando, em


cada uma destas, o total de 10% do número de pessoas que frequentam
semanalmente os Pequenos Grupos das referidas igrejas. Este percentual é
estatisticamente bem representativo no universo de pessoas que fazem parte dos
grupos com regularidade.
Entende-se que este trabalho trará uma boa contribuição para a reflexão
teológica no campo da eclesiologia protestante, na medida em que busca na
comunhão trinitária a base para a comunhão eclesiástica. Trata-se de destacar
sobretudo o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis e significativos, que
sejam relevantes para o suprimento das necessidades dos/as discípulos/as de Jesus
Cristo que caminham na busca de uma completa humanização seguindo os passos
de seu Mestre.
Entende-se, igualmente, que o trabalho trará relevante contribuição no que
tange à reconfiguração eclesiástica e à comunhão, especialmente pela conexão com
o Concílio Vaticano II e com o conceito de eclesiologia de comunhão. Acredita-se
não ter sido por acaso que o protestante Bruce L. Shelley5, professor de História da
Igreja e Teologia Histórica no Denver Theological Seminary, nos Estados Unidos,
falecido em 2010, escreveu um livro enfatizando a Igreja como o povo de Deus,

5
SHELLEY, Bruce L., A igreja, 142p.
19

livro este publicado originalmente em 1978, apenas treze anos depois do


encerramento do Concílio Vaticano II. Poucos escritos protestantes fazem qualquer
conexão entre o Concílio Vaticano II e as novas eclesiologias protestantes, mas é
inevitável que se caminhe nesta direção e que se admita esta influência. Ao longo
deste trabalho se buscará evidências que mostrem esta conexão.
A eclesiologia de comunhão, preconizada pelo Concílio Vaticano II não se
limita ao catolicismo, mas abrange também as igrejas protestantes, mormente as
Igrejas Batistas, principal campo de estudos desta pesquisa. Requer estruturas de
comunhão, reclamando uma reconfiguração eclesial.
No primeiro capítulo será feito rápido resgate da história do movimento
Batista e a configuração das Igrejas filiadas à Convenção Batista Brasileira. A
seguir serão abordados os principais aspectos da eclesiologia de comunhão,
colocando-a como referencial teórico para a análise da pesquisa de campo. Esta será
apresentada e analisada no capítulo derradeiro em que serão apresentados os
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resultados da pesquisa de campo em conexão com a pesquisa bibliográfica.


2
Igrejas Batistas e os novos jeitos de ser igreja

Neste capítulo será apresentada uma síntese da história dos Batistas bem
como a influência dos movimentos que forjaram a Denominação Batista na
configuração das Igrejas, notadamente das Igrejas Batistas que pertencem à
Convenção Batista Brasileira 6, uma vez que as duas igrejas pesquisadas, que
adotaram os Pequenos Grupos em sua estrutura de funcionamento, fazem parte da
mesma.

2.1.
Origem e desenvolvimento das Igrejas Batistas
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Como a pesquisa será realizada em duas Igrejas Batistas, entende-se relevante


fazer uma rápida abordagem sobre a origem e o desenvolvimento do movimento
Batista e como isso interferiu na configuração das Igrejas pesquisadas.
Batista foi o nome dado a algumas igrejas cristãs, no início do século XVII,
na Europa. Isso aconteceu pelo fato destas igrejas batizarem pessoas adultas.
Significa aquele que batiza. A Bíblia fala de João, precursor de Jesus, que também
foi apelidado de batista ou batizador7.
Segundo José dos Reis Pereira 8 existem pelo menos três teorias quanto à
origem das Igrejas Batistas, que vem sendo divulgadas e sustentadas ao longo do
tempo pelos Batistas brasileiros.
A primeira é conhecida como Teoria JJJ (Jerusalém, Jordão, João), também
chamada de Teoria Sucessionista, afirmando que há uma linha ininterrupta de

6
A Convenção Batista Brasileira (CBB) é o órgão máximo da denominação batista no Brasil. É a
maior convenção batista da América Latina, representando cerca de 7.000 igrejas, 4.000 missões e
1.350.000 fiéis. Como instituição, existe desde 1907, servindo às igrejas batistas brasileiras como
sua estrutura de integração e seu espaço de identidade, comunhão e cooperação. É ela que define o
padrão doutrinário e unifica o esforço cooperativo dos batistas do Brasil (PORTAL BATISTA.
Convenção Batista Brasileira).
7
PEREIRA, J. R., Breve história dos batistas, p.9.
8
Ibid.
21

cristãos batistas desde os tempos em que João Batista efetuava seus batismos no
Rio Jordão. Esta teoria, que foi rejeitada pelos batistas ingleses, mas aceita pelos
batistas americanos do século 199, defende que sempre houve Igrejas Batistas, com
outros nomes, no decorrer dos séculos da história do Cristianismo. Muito divulgada
no Brasil, sobretudo com a publicação do livro O Rastro de Sangue, de autoria de
um pastor batista americano, J.M. Carrol, publicado em 1931, esta teoria recebeu
muitas críticas e rejeição.
Mesmo recebendo muitas críticas por parte até mesmo dos próprios batistas,
uma vez que não resiste a uma averiguação documental, esta teoria contribuiu muito
para a configuração das Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira,
especialmente no que tange à indisposição ao diálogo ecumênico 10 uma vez que a
ideia da sucessão eclesiástica, a partir das igrejas do Novo Testamento até as Igrejas
Batistas da atualidade, fez com que os Batistas se tornassem exclusivistas por muito
tempo, entendendo serem eles e somente eles os portadores do genuíno evangelho
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e da autêntica eclesiologia 11. Entre os Batistas pensava-se que “os batistas eram ao
mesmo tempo autônomos em suas igrejas individuais, mas também os únicos
autênticos habitantes do Reino de Deus e os legítimos descendentes da antiga
tradição cristã”12.
A segunda teoria é denominada Teoria Anabatista, que liga as Igrejas Batistas
com o movimento do Século XVI conhecido como Anabatista, ou rebatizadores.
Este grupo teve início quando alguns jovens liderados por Ulrich Zwinglio, em
Zurique, se submeteram a novo batismo, rejeitando a submissão a qualquer poder
eclesiástico, fosse católico ou reformado, defendendo total autonomia das
comunidades cristãs, em relação a qualquer hierarquia religiosa ou política.
Formado especialmente por camponeses que visualizavam na Reforma os
elementos necessários para a transformação da sociedade e da Igreja, este
movimento levou seus adeptos a examinarem mais criticamente a ordem social

9
SILVA, N. T., Do confronto ao Diálogo, p.65.
10
Embora não signifique que não existam batistas ou até mesmo igrejas batistas que se mantenham
abertas ao diálogo ecumênico, pois cada indivíduo e comunidade batista são livres para viver
ecumenicamente a sua fé e sua vida, entretanto o fato é que historicamente a relação dos Batistas no
Brasil com a questão ecumênica é marcada mais pelo confronto do que pelo diálogo (Ver
considerações importantes sobre este tema em SILVA, N T., op.cit.).
11
GRAVES, J.R. Old Landmarkism: what is it? Apud AZEVEDO, I. B., A celebração do indivíduo,
p.128.
12
AZEVEDO, I. B., A celebração do indivíduo, p.128.
22

estabelecida e a buscar uma mudança mais radical de ambos13. Apesar dos excessos
cometidos por este movimento, teria sido muito positiva esta visão de busca da
transformação da sociedade, o que não se vê na ênfase nem na configuração das
Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira, sobretudo nas igrejas pesquisadas.
Esta teoria foi defendida por historiadores como Albert Henry Newmann e
pelo iniciador do movimento conhecido nos Estados Unidos como Evangelho
Social, pastor e professor Walter Rauschenbusch14, mas não conta com a simpatia
da maioria dos teólogos e lideranças batistas brasileiras. Acredita-se, entretanto,
que os Batistas são descendentes espirituais do movimento Anabatista, tendo sido
por ele influenciados, mas não se vê continuidade histórica entre os dois grupos15.
A Teoria Separatista é a terceira maneira de interpretar a história dos Batistas.
Como o próprio nome sugere esta teoria “afirma que os batistas se originaram dos
separatistas ingleses, especialmente aqueles que eram congregacionais na
eclesiologia e insistiam na necessidade do batismo somente de regenerados”16. Esta
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é a teoria mais aceita pelos batistas atualmente, defendidas pelos americanos,


teólogo Augustus Hopkins Strong e historiador Henry C. Vedder que afirma
“depois de 1610 temos uma sucessão ininterrupta de igrejas batistas, estabelecidas
com provas documentais indubitáveis” 17. Sem dúvida é com o movimento
separatista inglês que as Igrejas Batistas Brasileiras melhor se identificam,
sobretudo no que tange aos princípios básicos defendidos e a configuração das
Igrejas Locais18.
Conquanto os batistas orgulhem-se de não ter nenhum líder fundador, além
de Jesus Cristo, dois nomes estão diretamente ligados ao surgimento do movimento
Batista: O pastor John Smyth, que nasceu em 1568, na Inglaterra, estudou na
Universidade de Cambridge e em 1594, foi consagrado ao Ministério da Palavra e
nomeado professor na Igreja Anglicana. Em 1558 deixou o Ministério oficial da
Igreja Anglicana por se casar. Em 1606 aliou-se a uma Congregação Separatista e

13
SILVA, N. T., Do confronto ao Diálogo, p.65-66.
14
PEREIRA, J. R., Breve história dos batistas, p.10.
15
PINHEIRO, J.; SANTOS, M., Os batistas, p.18.
16
PEREIRA, J.R., op. cit., p.10.
17
Ibid.
18
BEZERRA, B.C., Interpretação panorâmica dos batistas, p.20. Benilton cita Robert G. Torbet
que em sua obra A History of the Baptists, faz menção de seis princípios fundamentais dos Batistas:
As Sagradas Escrituras como única norma de fé e prática, a igreja neotestamentária composta de
crentes convertidos e batizados por imersão, o sacerdócio universal dos crentes, a autonomia das
congregações locais, a liberdade religiosa e a separação da Igreja e Estado.
23

logo foi escolhido como seu pastor. Eram tempos difíceis na Inglaterra. Havia muita
perseguição para quem pensasse de maneira divergente da Igreja Oficial, que era a
Igreja Anglicana. Em 1608, o grupo de crentes liderado pelo Pr. John Smyth
imigrou, inteiro, para a Holanda, a fim de escapar das perseguições do governo
inglês, estabelecendo-se em Amsterdam. Em 1609 o Pr. John Smyth batizou-se a si
mesmo e depois batizou os outros 40 membros da Congregação. Fez isso inspirado
nos ensinos da Bíblia, de que “quem crer deve ser batizado”. Deu-se origem a uma
igreja com todas as características de uma Igreja Batista. Smyth morreu pouco
tempo mais tarde, ainda na Holanda.
Outro nome que se destaca na gênese do movimento Batista é do advogado
Thomas Helwys. Era em sua casa, na Inglaterra, que se reunia a Congregação de
Separatistas antes de se mudar para a Holanda. Foi ele quem forneceu os recursos
financeiros suficientes para que o grupo todo se mudasse para a Holanda. Em 1611,
depois da morte de Smyth, retornou para a Inglaterra, liderando um grupo de 10
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pessoas. Localizaram-se nos arredores de Londres, num lugarejo chamado de


Spitalfields. Lá, em 1611, organizaram uma igreja com as mesmas características
daquela deixada na Holanda. Helwys foi preso por ter escrito um livro em que
defendia um dos princípios básicos dos batistas: a liberdade religiosa. Ele acabou
morrendo na prisão em 1615, logo depois.
A Igreja de Spitalfields e as que dela se originaram passaram a ser chamadas
de Igrejas Batistas Gerais, pois admitiam a redenção geral dos homens mediante a
fé e não aceitavam a doutrina da predestinação desposada por Calvino. Entre 1633
e 1638 surgiu outro grupo de Batistas na Inglaterra que defendia a doutrina da
predestinação. Em função disso, esses Batistas eram denominados de Batistas
Particulares. Há informações de que até o ano de 1640, o batismo praticado pelas
Igrejas Batistas era por aspersão. A partir desta data, entretanto, compreendendo
melhor a doutrina bíblica sobre o batismo, os Batistas passaram a batizar os crentes
por imersão. Só a partir de 1654 é que o nome “Batista” foi utilizado publica e
oficialmente.
Apesar de defender a autonomia da Igreja Local19 desde os seus primórdios,
os Batistas aprenderam a cooperar uns com os outros. Em 1644, sete Igrejas Batistas

19
Eis o que a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira afirma sobre Igreja: “Igreja é
uma congregação local de pessoas regeneradas e batizadas após profissão de fé. É nesse sentido que
a palavra “igreja” é empregada no maior número de vezes nos livros do Novo Testamento (Mt 18.17;
24

se reuniram em Londres, para publicarem uma declaração doutrinária (confissão de


fé). Daí em diante, as Igrejas Batistas fizeram causa comum e formaram
associações. Essas associações marcam o início da denominação Batista. Três
motivos levaram as igrejas a se organizarem em associações e, mais tarde,
convenções: A necessidade de relações fraternas com outras igrejas da mesma fé e
ordem, necessidade de consulta sobre questões doutrinário-disciplinares e
somatória de forças para a realização da Obra de Deus. Seguindo esta filosofia, em
1660 foi organizada a Assembleia Geral de todas as Associações Batistas da
Inglaterra. Nascia definitivamente a denominação Batista. Segundo John Landers20,
“os batistas surgiram por causa de seu consenso doutrinário sobre a natureza da
salvação, da igreja e das ordenanças”. A doutrina uniu os primeiros batistas, mas
estes irmãos também tinham diferenças entre si. Eles se uniram na base de seus
pontos comuns. Mesmo diante dos pontos comuns em relação a questões
doutrinárias, os Batistas sempre se mantiveram abertos no que tange à configuração
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das igrejas locais, bem como à liturgia, podendo esta ser aplicada de acordo com o
contexto onde as comunidades locais estivessem localizadas.
Fugindo da perseguição religiosa na Inglaterra, alguns colonos ingleses
imigraram para a América do Norte. Entre estes colonos estava Roger Willians,
homem de grande influência política na época da colonização americana, que
também comandou a organização em Providence, em 1639, da Primeira Igreja
Batista naquele país. 21 Nos Estados Unidos da América houve um rápido
crescimento do trabalho Batista, com a multiplicação de igrejas e a organização da
denominação.

At 5.11; 20.17-28; 1Co 4.17). Tais congregações são constituídas por livre vontade dessas pessoas
com finalidade de prestarem culto a Deus, observarem as ordenanças de Jesus, meditarem nos
ensinamentos da Bíblia para a edificação mútua e para a propagação do evangelho(At 2.41,42 ). As
igrejas neotestamentárias são autônomas, têm governo democrático, praticam a disciplina e se regem
em todas as questões espirituais e doutrinárias exclusivamente pelas palavras de Deus, sob a
orientação do Espírito Santo (Mt 18.15-17.3). Há nas igrejas, segundo as Escrituras, duas espécies
de oficiais: pastores e diáconos. As igrejas devem relacionar-se com as demais igrejas da mesma fé
e ordem e cooperar, voluntariamente, nas atividades do reino de Deus. O relacionamento com outras
entidades, quer seja de natureza eclesiástica ou outra, não deve envolver a violação da consciência
ou o comprometimento da lealdade a Cristo e sua palavra. Cada igreja é um templo do Espírito Santo
(At 20.17,28; Tt 1.5-9; 1Tm 3.1-13.4) Há também no Novo Testamento um outro sentido da palavra
“igreja”, em que ela aparece como a reunião universal dos remidos de todos os tempos, estabelecida
por Jesus Cristo e sobre ele edificada, constituindo-se no corpo espiritual do Senhor, do qual ele
mesmo é a cabeça. Sua unidade é de natureza espiritual e se expressa pelo amor fraternal, pela
harmonia e cooperação voluntária na realização dos propósitos comuns do reino de Deus (Mt 16.18;
Cl 1.18; Hb 12.22-24; Ef 1.22,23.5). (PORTAL BATISTA. Convenção Batista Brasileira .).
20
LANDERS, J. Teologia dos princípios batistas, p.55.
21
PINHEIRO, J.; SANTOS, M., Os batistas, p.27.
25

Dos Estados Unidos os Batistas se espalharam para várias partes do mundo,


chegando inclusive ao Brasil. Depois de algumas tentativas frustradas, no dia 10 de
setembro de 1871 foi organizada, na cidade de Santa Bárbara do Oeste, no Estado
de São Paulo, numa colônia de imigrantes americanos, a Primeira Igreja Batista em
solo brasileiro.22 De São Paulo os Batistas se espalharam pelo Brasil a fora,
chegando ao Estado do Espírito Santo onde, no dia 21 de agosto de 1903, na
localidade de Ribeirão do Firme, município de Afonso Cláudio, foi organizada a
Primeira Igreja Batista em solo capixaba. 23
Os Batistas definem sua identidade à luz de princípios e doutrinas que lhes
são comuns. Embora não haja um consenso de quais são os princípios básicos do
movimento Batista, Silva24 lista oito que estão presentes em toda a história do
movimento. 1º Princípio do senhorio de Jesus Cristo sobre tudo e sobre todos; 2º
Autoridade da Bíblia como única regra de fé e prática; 3º Igreja composta de
membros regenerados e biblicamente batizados que a ela se unem voluntariamente;
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4º Igreja como comunidade local, democrática e autônoma; 5º Separação entre


Igreja e Estado; 6º Liberdade religiosa e de consciência; 7º Competência do
indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus; 8º Missão da Igreja no mundo.
Landers25, por sua vez, acrescenta mais sete princípios: 1º O livre exame e a livre
interpretação das Escrituras; 2º Salvação pela graça; 3º O Espírito Santo em cada
crente a partir de sua conversão a Jesus Cristo; 4º O Ministério cristão composto
por servos dos servos de Deus; 5º As ordenanças (batismo e ceia) como símbolos
da salvação; 6º Cooperação entre Igrejas Batistas; 7º Restrições quanto ao
Movimento Ecumênico.
Em termos doutrinários os Batistas afirmam ter a Bíblia, as Escrituras
Sagradas, como única regra de fé e prática e que cada indivíduo tem o direito de
examiná-las e interpretá-las. Entretanto, ao longo de sua história, as Igrejas Batistas
foram elaborando documentos contendo conjuntos de doutrinas denominadas
confissões de fé. No início do movimento cada Congregação tinha a sua própria
confissão de fé. À medida que a obra espalhava-se pela Europa e América do Norte,
sentiu-se a necessidade de elaborar algo que expressasse os pontos comuns a todas

22
Ibid., p.33.
23
FARIAS, M., Pelos caminhos anunciai, p.20.
24
SILVA, R.A., Princípios e doutrinas batistas, p.27.
25
LANDERS, J., op. cit., p.9.
26

as Igrejas Batistas. Foi assim que surgiram as confissões de fé regionais. Entre as


principais confissões de fé Batistas, destacam-se: a Primeira Confissão de Londres
(1644 – Inglaterra), a Segunda Confissão de Londres (1689 – Inglaterra), a
Confissão de Fé New Hampshire (1833 - Estados Unidos) e a Declaração de
Mensagem e Fé Batistas (1925 - Estados Unidos).
Segundo Azevedo26 os Batistas no Brasil utilizaram por muito tempo a
tradução da declaração de fé New Hampshire 27, feita por Z.C. Taylor e que foi
oficializada nos anos trinta.
Em 1983, a Assembleia Anual da Convenção Batista Brasileira 28, ocasião em
que celebrava o centenário dos Batistas no Brasil, votou a nomeação de uma
comissão para elaborar uma declaração de fé dos Batistas brasileiros por Batistas
brasileiros. Em sua Assembleia Anual em 1985, aprovaram a nova declaração de
fé, a primeira e única elaborada por brasileiros, que recebeu o nome de Declaração
Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, com 19 de suas principais doutrinas
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apresentadas nesta ordem: I. Escrituras Sagradas; II. Deus; III. O Homem; IV. O
Pecado; V. Salvação; VI. Eleição; VII. Reino de Deus; VIII. Igreja; IX. O Batismo
e a Ceia do Senhor; X. O Dia do Senhor; XI. Ministério da Palavra; XII. Mordomia;
XIII. Evangelização e Missões; XIV. Educação Religiosa; XV. Liberdade
Religiosa; XVI. Ordem Social; XVII. Família; XVIII. Morte; XIX. Justos e
Ímpios29. Atualmente o parâmetro para medir a identidade das Igrejas Batistas, que

26
AZEVEDO, I. B., A celebração do indivíduo, p. 207.
27
A Confissão de Fé de New Hampshire foi redigida pelo Rev. John Newton Brown (1803 - 1868),
no Estado de New Hampshire, por volta de 1833, e publicada por uma comissão da Convenção
Batista daquele Estado. Ela foi adotada pela mesma Convenção, chegando a influenciar outras
confissões, sendo uma das mais largamente aceitas e amplamente usadas confissões de fé Batista
nos Estados Unidos, especialmente nos estados do norte e do oeste. Trata-se de uma confissão clara
e concisa da fé denominada Batista, em harmonia com as doutrinas de confissões mais antigas,
porém expressa em forma mais moderada. Ela é relativamente breve quando comparada com outras
confissões, contendo 18 artigos. De um modo geral, sua tendência é calvinista moderada e relembra
a fé dos protestantes ortodoxos. Com a chegada dos missionários americanos no final do Século XIX
ao Brasil, a Confissão de Fé de New Hampshire tornou-se a declaração dos Batistas brasileiros,
passando a ser conhecida como "Declaração de Fé das Igrejas Batistas do Brasil". (Cf. PORTAL
BATISTA. Declaração de Fé da Convenção Batista Brasileira .).
28
A Convenção Batista Brasileira (CBB) é o órgão máximo da denominação batista no Brasil. É a
maior convenção batista da América Latina, representando cerca de 7.000 igrejas, 4.000 missões e
1.350.000 fiéis. Como instituição, existe desde 1907, servindo às igrejas batistas brasileiras como
sua estrutura de integração e seu espa ço de identidade, comunhão e cooperação. É ela que define o
padrão doutrinário e unifica o esforço cooperativo dos batistas do Brasil. ( PORTAL BATISTA.
Convenção Batista Brasileira).
29
Ibid.
27

as possibilite fazer parte da Convenção Batista Brasileira é esta Declaração


Doutrinária.
Tendo feito um breve sumário do movimento Batista desde a sua origem na
Europa até se espalhar pelo mundo chegando ao Brasil, será feita agora uma
abordagem sobre a Convenção Batista Brasileira e a forma como as Igrejas Batistas
brasileiras vem sendo configuradas desde a chegada dos Batistas no Brasil para
depois abordar as duas Igrejas Batistas pesquisadas neste trabalho.

2.2.
Configurações das Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira

Uma vez que a pesquisa vai investigar as possíveis reconfigurações de duas


Igrejas Batistas, é relevante que se conheça os elementos que contribuíram para a
configuração das Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira, entidade em que
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as duas Igrejas pesquisadas fazem parte.


Ebenezer Soares Ferreira30, um dos ícones da eclesiologia batista brasileira
tradicional, caracteriza uma Igreja Batista enumerando 12 pontos:

1. É uma congregação local composta de pessoas regeneradas e batizadas, que,


voluntariamente, se reúnem sobre as leis de Cristo, e procuram estender o Reino de
Deus não só em suas vidas, mas nas de outros. 2. Cristo é o cabeça e seu único chefe
supremo. 3. Em matéria de fé e prática, a igreja se subordina, unicamente, às Santas
Escrituras. 4. Uma igreja é absolutamente livre e independente, não se sujeitando
hierarquicamente, ou de qualquer outra forma, a nenhuma organização
denominacional. 5. Uma igreja batista é completamente competente para dirigir seus
próprios atos e ações de acordo com os ensinos de Cristo. 6. O governo da igreja é
democrático. Cabe à congregação julgar os seus próprios atos. 7. A igreja é
essencialmente separada do Estado, em virtude de seu caráter e de suas funções
espirituais. 8. Todos os membros possuem direitos e privilégios iguais. 9. Cada
cristão é o seu próprio sacerdote. 10. Cada cristão tem completa liberdade de
consciência. 11. Uma igreja batista não possui sacramentos, mas aceita o batismo e
a ceia como ordenanças. 12. O pastor e os diáconos, como oficiais bíblicos, não têm
autoridade sobre a igreja, a não ser aquela da sua vida moral ilibada. Eles são
despenseiros, servos da própria igreja.

Note-se a ênfase que se dá à autonomia da igreja local, concedendo a esta a


liberdade de estabelecer sua própria estrutura de funcionamento, desde que
doutrinariamente esteja compatível com o que os Batistas creem, expresso em sua

30
FERREIRA, E. S., Manual da igreja e do obreiro, p.49-50.
28

Declaração Doutrinária. Como defende o próprio Ferreira 31, desde a sua origem, a
Igreja tem sido e será a mesma, entretanto, os métodos de trabalho, a maneira de
desenvolver o seu trabalho dependem de suas próprias necessidades e de seus
próprios objetivos, levando-se em conta a realidade da igreja e o contexto em que
está inserida.
Esta é também a posição de Jaziel Guerreiro Martins 32, teólogo batista,
entendendo que cada igreja tem sua forma de trabalhar no que tange às suas
responsabilidades. Entretanto, defende que uma das formas mais adequadas de
realizar a obra é a criação de departamentos pela Igreja, os quais são uma maneira
de mais pessoas estarem envolvidas no reino de Deus e, ao mesmo a tempo,
desenvolverem os seus dons. Embora a autonomia da Igreja Local seja uma das
marcas distintivas dos Batistas desde a sua origem, Martins33 entende que as Igrejas
Batistas da Convenção Batista Brasileira assumiram, desde o início de sua
caminhada no Brasil, alguns pontos que podem ser considerados básicos na
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configuração das comunidades locais. Obviamente, cada igreja pode e deve possuir
quantos departamentos quiser ou lhe convier, mas os mais comuns entre as Igrejas
que estão filiadas à CBB são: Departamento de Evangelismo e Missões, Educação
Cristã, Assistência Médico-Social, Música, Finanças, Assessoria Jurídica,
Comunicação, Introdutores, Patrimônio, Orçamento, História e Construção.
O tipo de governo adotado pelos Batistas brasileiros também deve ser
observado ao pensar sobre sua configuração eclesiástica. Segundo Israel Belo de
Azevedo34 para os Batistas

a igreja local não compõe um corpo maior, mas é um microcosmo do reino espiritual
de Cristo. Como tal, é autossuficiente e tem plena liberdade para tratar de todos os
seus assuntos, sem qualquer dependência de qualquer outro corpo eclesiástico. O
relacionamento fundamental é entre Cristo e o indivíduo, já que a salvação antecede
à membresia. A igreja é importante como um fator posterior à salvação.

O governo congregacional é uma das marcas distintivas das igrejas Batistas


desde o início do movimento Batista, na Europa, no início do século XVII.
Ferreira35 afirma que

31
Ibid., p.195.
32
MARTINS, J. G., Manual do pastor e da igreja, p.297.
33
Ibid., p. 297-311.
34
AZEVEDO, I. B., A celebração do indivíduo, p. 127.
35
FERREIRA, E. S., Manual da igreja e do obreiro, p.59.
29

à congregação cabe o direito de gerir os seus negócios, dentro da pura democracia.


Em suas relações para com Deus, a igreja é uma teocracia. Em suas relações com os
membros, é uma democracia. São os crentes que decidem, em assembleia, respeitam
a decisão da maioria e aceitam a decisão da igreja como a ação final. Todos os
membros têm direitos iguais. Os oficiais eleitos pela igreja apresentam-lhe relatórios
de suas atividades quando solicitados e todos podem opinar sobre eles.

Dentro desta perspectiva, cada Igreja Batista é autônoma e independente ao


tratar dos assuntos concernentes à congregação local, incluindo escolha de sua
liderança, utilização dos recursos financeiros arrecadados com os membros da
igreja, aplicação da disciplina aos membros faltosos, definição de sua liturgia e
outros assuntos do interesse das igrejas locais.
Em termos denominacionais os batistas brasileiros seguiram a configuração
das igrejas batistas americanas, de onde vieram os primeiros missionários.
Azevedo36 afirma que

os missionários aqui reproduziram o modelo de igreja que conheciam e repetiram


aqui a teologia que sabiam(...). À medida que as igrejas iam surgindo foram
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organizando a estrutura eclesiástica nacional, em torno de juntas executivas setoriais,


mantida a independência de cada igreja local, segundo o principio batista. O esforço
cooperativo visava apoiar as igrejas locais em duas tarefas básicas: a captação e o
treinamento de membros.

Desde o século passado até agora a configuração denominacional permanece


a mesma, com pequenos ajustes em sua estrutura. “O órgão máximo é a Assembleia
anual da Convenção, a que comparecem os membros (pastores e leigos) das igrejas
para deliberação”37. No interregno das assembleias a CBB dispõe de um Conselho
que responde pela denominação, conselho este eleito pela Assembleia. A mesma
coisa acontece em nível estadual, com as convenções estaduais, e, em menor grau,
em nível regional, com as associações. É bom esclarecer que as decisões
convencionais constituem-se apenas em recomendações para as igrejas locais, não
tendo estas a obrigação de seguir tudo, nem ao pé da letra, o que foi decidido pela
Assembleia.
Até hoje as Igrejas Batistas do Brasil deslizam sobre estes dois trilhos: a
autonomia da Igreja Local e a cooperação com outras Igrejas Batistas e com a
Convenção Batista Brasileira. Além disso, é relevante mencionar a influência que

36
AZEVEDO, I. B., op. cit., p.195.
37
Ibid.
30

as igrejas batistas brasileiras receberam do movimento Landmarkista38 que


contribuiu para uma visão exclusivista dos Batistas em algumas questões, como por
exemplo, a celebração da ceia do Senhor, que via de regra, é servida apenas para
membros de Igrejas Batistas da mesma fé e ordem, ou seja, de igrejas que pertencem
à CBB e em alguns casos só aos membros da Igreja Local39. Outra consequência da
influencia do landmarkismo norte-americano sobre as igrejas batistas brasileiras é
a sua relutância em dialogar com outras tradições cristãs e reservas que mantém
sobre o movimento ecumênico 40.
Embora a maioria dos batistas brasileiros reconheçam a autenticidade de
outras denominações cristãs, o diálogo com estes e a participação em conjunto
restringe-se ao nível pessoal e no envolvimento em projetos de cunho social.
Até aqui o trabalho procurou ver como se deu a configuração das Igrejas
Batistas filiadas à Convenção Batista Brasileira desde a sua origem até os dias
atuais, com pequenas mudanças, dependendo da localização e das características
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das Igrejas Locais. A partir de agora, será visto como os Pequenos Grupos foram
inseridos em duas Igrejas Batistas pertencentes à Convenção Batista Brasileira e
como isso repercutiu em sua configuração eclesial.

38
Landmarkismo é um termo disseminado a partir de 1856 pelo editor do jornal The Tennessee
Baptist, James R. Graves. Este termo é extraído da publicação de um panfleto de James M.
Pendleton: An Old Landmark Re-Set (“Um Antigo Marco Divisório Recolocado”), uma alusão a
Provérbios 22:28 : "Não removas os antigos limites que teus pais fizeram" .
(https://landmarkismobatista.wordpress.com. Acesso em: 8 nov. 2013). Os landmarkistas defendem
que: A igreja é somente uma congregação local e visível, não existindo a tal “igreja universal” ou
“igreja invisível”; o batismo só é válido quando realizado por uma igreja batista local corretamente
constituída; a Ceia do Senhor somente deve ser ministrada para membros da congregação local; as
cartas de Paulo eram [e são] destinadas exclusivamente a igrejas locais; uma “linhagem” batista
histórica pode ser traçada desde os tempos de João Batista ; os batistas não são protestantes, e não
devem aceitar ordenanças de outros grupos evangélicos. Além disso, a teoria sobre a origem dos
batistas defendido pelo landmarkismo é a teoria de sucessão apostólica postula que os batistas atuais
descendem de João Batista e que a igreja continuou através de uma sucessão de igrejas (ou grupos)
que batizavam apenas adultos, como os montanistas, novacianos, donatistas, paulicianos,
bogomilos, albigenses, cátaros, valdenses e anabatistas. (Disponivel em
<https://landmarkismobatista.wordpress.com>. Acesso em: 8 nov. 2013)
39
AZEVEDO, I. B., A celebração do indivíduo, p.129.
40
Ibid., p.130.
31

2.3.
Configuração de Igrejas Protestantes em Pequenos Grupos

Neste ponto da pesquisa serão apresentados dois modelos de Igrejas


Protestantes que se organizaram a partir de Pequenos Grupos. Não são experiências
necessariamente batistas, no entanto, foram incorporados pela experiência batista
na sua busca por se reconfigurar em pequenos Grupos, conforme será visto adiante,
tomando como base as duas Igrejas Batistas pesquisadas. Elas o fizeram de dois
modelos diferentes: 1) Igreja Dirigida por Propósitos e 2) Ministério Igreja em
Células. Vai-se analisar também a repercussão disso em suas configurações
eclesiásticas.
Para cada um dos modelos estudar-se-á a origem histórica, o conceito, a
estrutura ministerial e detalhes específicos acerca da configuração em Pequenos
Grupos.
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2.3.1.
Ministério Igreja em Células

A partir do ano 2.001, a Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi adotou


como filosofia de ministério a proposta do que se conhece por Igreja em Células.
Para entender onde o Pequeno Grupo se insere nesta proposta de configuração
eclesiástica, seguem algumas informações importantes:

2.3.1.1.
Origem

O movimento conhecido como Igreja em Células se vê reproduzindo a


experiência das igrejas mencionadas no Novo Testamento, que utilizavam os
Pequenos Grupos como base de sua estrutura41. Segundo definem os teóricos deste
modelo, a Igreja em Células é uma maneira de ser igreja que resgata valores do
Reino de Deus e práticas das comunidades do tempo do Novo Testamento.

41
NEIGHBOUR JR, R. W., Manual do Auxiliar de Célula, p.19.
32

Entretanto, sua inspiração maior está no pastor sul-coreano Yonggi Cho,


posteriormente autodenominado Paul Yonggi Cho e depois David Yonggi Cho42,
um pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus que no inicio dos anos setenta
do século passado, iniciou um ministério de Pequenos Grupos aos quais denominou
Grupos Familiares43, que causou um grande impacto no crescimento da Igreja
Central do Evangelho Pleno, em Seul, Coreia do Sul e que tem influenciado igrejas
protestantes de todas as matrizes teológicas ao redor do mundo.
Dentre os pastores que visitaram a Igreja de Cho para conhecer seu trabalho
esteve Ralph Neighbour44, um missionário batista americano. Depois de ter
permanecido na Coreia estudando e envolvendo-se com o ministério de Grupos
Familiares do pastor Cho, Neighbour empreendeu sua própria experiência,
plantando uma igreja organizada em células, Comunidade Faith Baptist Church,
que cresceu rapidamente e deu origem ao que se convencionou chamar movimento
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42
Devido à influência que causou com seu método de crescimento de igrejas, tornou-se conhecido
pelo mundo, o que o fez trocar seu nome para um de mais fácil assimilação pelos ocidentais.
Primeiro, mudou para Paul, depois achou melhor usar David. (NAPEC. Apologética Cristã).
43
CHO, P. Y., Grupos familiares e o crescimento da igreja, p.192.
44
Ralph Neighbour Jr nasceu em 01 de abril de 1929 em Michigan – EUA, filho de pastor batista.
Graduou-se em Teologia na Northwestern College e Doutourou-se em História Eclesástica no New
Orleans Baptist Theological Seminary, em Ministéiros no Seminário Luther Rice e Sagrada Teologia
no Southwest Baptist University. Atuou na plantação de mais de uma dezena de igrejas no nordeste
dos Estados Unidos, trabalhou para a Associação Billy Graham em suas cruzadas evangelísticas e
serviu no departamento de evangelismo da Convenção Batista do Texas. Entrou em crise ao
constatar que o cristianismo moderno estava confinando o povo de Deus em estruturas físicas e a
igreja já não tocava as pessoas nas comunidades à sua volta. Afastou-se da denominação Batista em
1969 e deu início à uma Igreja experimental em Houston. Estudou e envolveu-se com o ministério
de pequenos grupos do pastor norte-coreano Paul(David) Yonggi Cho. Viveu duas vezes em
Cingapura. Na segunda vez atuou como pastor na Comunidade Faith Baptist Church, desenvolvendo
um modelo de Igreja em Células, cuja igreja passou de 600 para mais de 5 mil membros (1990-
1995). Fundou o TOUCH(Transforming Others Under Christ’s Hand) Outreach Ministres, um
centro de treinamento que visa capacitar igrejas e obreiros interessados em implantação do sistema
de células, onde já participaram pastores da China, África do Sul, Cazaquistão, Mongélia, Russia,
Taiwan, Indonésia, Brasil, etc. Passou 3 anos na África do Sul (1996-1998) equipando pastores da
Fellowship Independente da Igreja Carismática e da Missão da Fé Apostólica, treinando seus
pastores a transição para igrejas em células. O curso produzido por Neighbour conhecido como
“Ano da Transição” já treinou e orientou mais de 17 mil igrejas no Brasil, ao longo dos últimos 15
anos. ele ainda escreve e é apaixonado sobre seu último livro, de Cristo Básico Corpos, que fala
para a necessidade de o grupo de célula a ser reconhecida como a comunidade mais sagrado da
Terra, a expressão da presença e do poder de Cristo, fortalecidos pelo Supremo para a colheita nesta
geração. Com mais de 86 anos de idade ainda atua como professor-assistente do Golden Gate Baptist
Theological Seminary coordenando o Programa de Doutorado e ainda viaja pelo mundo na
qualidade de consultor. Dentre os mais de 30 livros que escreveu destacam-se Were do we go from
here? (E agora? Para onde vamos?), The Shepherd’s Guidebook traduzido e publicado pelo
Ministério Igreja em Células no Brasil, NEIGHBOUR JR,R. W. Manual do líder de célula. Curitiba:
Ministério Igreja em Células no Brasil. 2000, 256p e mais recentemente escreveu Chtist’s Basic
Bodies também traduzido e publicado pelo Ministério Igreja em Células no Brasil. NEIGHBOUR
JR, R. W., Unidades básicas do corpo de Cristo, p. 259.
33

Igreja em Células e que no Brasil passou a ser representado pelo Ministério Igreja
em Células. Baseado em sua experiência bem sucedida, Neighbour fundou o
TOUCH(Transforming Others Under Christ’s Hand) Outreach Ministres, um
centro de treinamento que visa capacitar igrejas e obreiros interessados em
implantação do sistema de células, onde já participaram pastores da China, África
do Sul, Cazaquistão, Mongélia, Russia, Taiwan, Indonésia, Brasil, além de outros.
Joel Komiskey, um teólogo americano que atuou muitos anos na América
Latina como missionário, orientado por Neighbour, tornou-se um dos grande
teóricos da Igreja em Células, tendo feito pesquisas nas 8 igrejas que mais crescem
no mundo e escrito, como decorrência desta pesquisa, os livros “Crescimento
Explosivo da Igreja” e “Multiplicando a Liderança”. O pastor Robert Michael Lay,
da Igreja Evangélica Irmãos Menonitas, de Curitiba, fundou o Ministério Igreja
em Células no Brasil, viajando pelo Brasil e promovendo Módulos de estudo sobre
células, orientando líderes e igrejas interessadas em implantar o sistema de Igreja
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em Células.
Na virada do milênio a Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi, orientada
pelo Pr. Lay, deu início àquilo que se chamou de período de transição, que é o
processo de transição de uma igreja configurada tradicionalmente nos moldes da
denominação batista para uma igreja organizada em células.

2.3.1.2.
Conceito

O teólogo Joel Comiskey45 afirma que

células são grupos pequenos abertos focalizados no evangelismo que estão


embutidos na vida da igreja. Elas se reúnem semanalmente para que seus
participantes se edifiquem uns aos outros como membros do Corpo de Cristo, e para
anunciar o evangelho àqueles que não conhecem Jesus. O objetivo final de cada
célula é multiplicar-se à medida que o grupo cresce por meio do evangelismo e das
conversões que seguem. Dessa maneira os novos membros são acrescentados à igreja
e ao Reino de Deus. Os membros das células também são encorajados a participar
do culto de celebração da igreja inteira, quando as células se encontram para
adoração.

45
COMISKEY, J., Crescimento explosivo da igreja em células, p. 17.
34

Trata-se de pequenos grupos que se reúnem sistematicamente com o


propósito de edificação e cuidado mútuos, além de ir à busca daqueles que precisam
ser evangelizados, alcançados com a mensagem do Evangelho.

2.3.1.3.
A Estrutura do Ministério Igreja em Células

Embora exista mais de uma proposta de estrutura para uma igreja em células,
o modelo delineado por Ralph Neighbour e adotado pela Primeira Igreja Batista de
Jardim Camburi é chamado de G5. Isso porque, cada cinco células formam uma
supervisão, cada cinco supervisões formam uma congregação, também chamada de
rede, com cerca de vinte e cinco células. Cada célula conta com um líder e um líder
auxiliar que atua como pastor da célula e facilitador dos encontros da célula. Cada
conjunto de cinco células conta com o apoio de um supervisor e cada cinco
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supervisões recebe o acompanhamento de um pastor de congregação ou pastor de


rede. Os pastores de rede são orientados pelo pastor geral da Igreja. Semanalmente
são prestados relatórios pelos líderes que repassam aos supervisores que, por sua
vez repassam ao pastor de rede que compartilham com o pastor geral46.

2.3.1.4.
Características de uma Igreja em Células

Trata-se de pequenos grupos entre 10 a 15 pessoas, normalmente um grupo


misto, contanto com adultos jovens e crianças, podendo também ser constituídas
apenas de juniores, adolescentes, jovens, casais, homens ou mulheres, etc. São
grupos que trabalham para crescer e se multiplicar. Contam com um líder ou casal
de líderes e um líder auxiliar ou casal de líderes auxiliares. Quando a célula se
multiplica, uma parcela da célula continua sendo liderada pelo titular e a outra passa
a ser liderada pelo líder auxiliar. Tanto podem se encontrar em lares fixos ou em
sistema de rodízio, contemplando os membros da célula que desejarem recebe-la
em suas casas. Os encontros acontecem semanalmente num ambiente descontraído
e de cumplicidade.

46
NEIGHBOUR JR, R. W., Unidades básicas do corpo de Cristo, p. 30.
35

2.3.1.5.
Visão da Igreja em Células sobre os Pequenos Grupos

O Ministério Igreja em Células coloca a célula como a estratégia principal na


filosofia de ministério de uma igreja local. “O ministério em células não é ‘mais um
programa’; é o coração da igreja” 47. Faz-se uma diferença entre uma igreja com
célula e uma igreja em célula. Numa igreja com células estas são consideradas
apenas mais uma alternativa no conjunto de ministérios desenvolvidos pela igreja.
Numa igreja em células, as células são o ponto central da estrutura da igreja e
preconiza-se que cada membro da igreja deve fazer parte de uma célula e é na célula
que as principais atividades da igreja são viabilizadas como treinamento, preparo,
discipulado, evangelismo, oração, adoração, cuidado mútuo, acompanhamento de
cada membro da igreja.
Em função deste lugar privilegiado na estrutura da igreja, a célula é também
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chamada de Comunidade Cristã de Base ou Unidades Básicas do Corpo de Cristo48,


constituindo-se o bloco básico de construção na edificação da igreja 49. Entretanto,
diferente do que acontece no movimento “Igreja nas Casas”, as pessoas que
frequentam as células ao longo da semana são incentivadas a participar das
celebrações que reúnem todas as células da Igreja. As células não devem viver
isoladas, como o são no movimento “Igreja nas Casas”.

2.3.2.
Igreja Dirigida por Propósitos

A Igreja Batista de Morada de Camburi adotou como filosofia de ministério


a proposta de Uma Igreja Dirigida por Propósitos. Para entender onde o Pequeno
Grupo se insere nesta proposta de configuração eclesiástica, seguem algumas
informações tidas como relevantes:

47
COMISKEY, J., Crescimento explosivo da igreja em células, p.17.
48
NEIGHBOUR JR, R. W., Unidades básicas do corpo de Cristo.
49
Ibid., p. 27.
36

2.3.2.1.
Origem

O Movimento conhecido como Igreja Dirigida por Propósitos surgiu nos


Estados Unidos, por iniciativa do Pr. Rick Waren, fundador de uma mega-igreja na
Califórnia, denominada Igreja Saddleback, em 1980. Os cinco propósitos foram
exaustivamente explorados no livro que tem o mesmo título do movimento 50 e tem
sido apresentado através de seminários ao redor do mundo. Warren acredita que
uma igreja que conhece quais são e segue propósitos estabelecidos por Jesus para
ela, sabe para onde vai e é comprometida com os ideais bíblicos. Segundo Warren,
a Igreja tem basicamente cinco propósitos, ou seja, Amar a Deus com todo o
coração (Adoração), Amar o seu próximo como a si mesmo (Serviço), ir e fazer
discípulos (Evangelismo), batizar os/as discípulos/as de Jesus Cristo (Comunhão)
e ensinar os discípulos a serem obedientes (Discipulado)51.
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2.3.2.2.
Conceito

Igreja Dirigida por Propósitos é uma proposta de igreja saudável que prepara
a equipe de pastores com uma abordagem única, baseada na Bíblia para estabelecer,
transformar e manter uma igreja equilibrada e crescente que procura cumprir os
propósitos dados por Deus para a adoração, comunhão, discipulado, ministério e
missões52.
Rick Warren defende a tese de que “uma declaração de propósito clara
propiciará direção, vitalidade, limites e a força motivadora para tudo o que você
faz. Igrejas com propósitos serão as mais bem equipadas para o ministério durante
todas as mudanças que enfrentaremos no século XXI”53.

50
WAREN, R., Uma Igreja com Propósitos.
51
Ibid., p. 127-135.
52
Verificar: <http://igreja betesda.com>. Acesso em: 06 mai. 2015.
53
WARREN, R., op. cit., p. 135.
37

2.3.2.3.
A Estrutura de uma Igreja Dirigida por Propósitos

Igrejas e plantadores de igrejas precisam ter um processo intencional para


conectar os membros aos cinco propósitos bíblicos, a fim de que eles se tornem
discípulos que se reproduzem de maneira saudável.
Entende que as pessoas podem ter diferentes níveis de compromisso em
relação à igreja acreditando que as pessoas tem necessidades diferentes em cada
nível devendo ser conduzidas intencional e paulatinamente para um nível mais
profundo de compromisso.
COMUNIDADE: Aqueles vivendo em torno de sua igreja que nunca
participam, ou raramente participam, da vida de sua igreja. MULTIDÃO: Aqueles
que participam regularmente, mas ainda não são membros.
CONGREGAÇÃO: Aqueles que já foram batizados e estão comprometidos com
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ambos: Cristo e a membresia em sua família-igreja. COMPROMETIDOS: Aqueles


membros que levam a sério a questão de crescer em direção à maturidade espiritual.
NÚCLEO: Aqueles membros que servem ativamente a igreja através de um
ministério.
Cada grupo tem necessidades singulares, motivos, problemas e potencial! O
alvo desta perspectiva é ajudar os membros da Igreja a transformar a sua audiência
num exército. Isso é entendido como um processo simples que conduz uma pessoa
a cada estágio espiritual do caminho para tornar-se um discípulo reprodutor. Este
processo é baseado em princípios de tal maneira que igrejas, independentemente do
tamanho ou denominação, possam usá-lo. Os estágios neste caminho são:
COMUNHÃO: Através de um processo abrangente visando alcançar para
Cristo os que não frequentam uma igreja e assimilá-los em sua congregação.
DISCIPULADO: Através de um processo para avaliar o crescimento espiritual do
seu povo e conduzi-los em direção a maturidade espiritual. MINISTÉRIO: Através
de um processo para equipar e capacitar seu povo para o serviço, ajudando-os a
identificar o modo singular como foram criados para realizar o ministério.
38

MISSÕES: Através de um processo para arrolar seu povo em uma missão global de
compartilhar o evangelho a cada pessoa54.

2.3.2.4.
Características de uma Igreja Dirigida por Propósitos

Criam uma declaração de propósitos descrevendo seu compromisso em


construir a igreja ao redor dos cinco propósitos do Novo Testamento: adoração,
comunhão, discipulado, ministérios e missões. São intencionalmente dirigidas por
propósitos em suas estratégias para cumprir sua declaração. Organizadas ao redor
de uma estrutura dirigida por propósitos, mantendo uma ênfase igual e equilibrada
entre todos os cinco propósitos do Novo Testamento. Desenvolvem estratégias
ministeriais de acordo com cada propósito. Equipes de acordo com cada
propósito. São guiadas por pastores que pregam de acordo com cada
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propósito. Formam Pequenos Grupos com propósitos. Calendários de acordo com


cada propósito. Orçamentos de acordo com cada propósito. Constroem de acordo
com cada propósito. Avaliam de acordo com cada propósito. São melhores
construídas de fora para dentro, do que de dentro para fora55.

2.3.2.5.
Visão da Igreja Dirigida por Propósitos sobre os Pequenos Grupos

Rick Warren submete os pequenos grupos aos propósitos. Segundo ele, a


Igreja precisa começar pequenos grupos com um propósito 56 definido, não
necessariamente com a intenção de fazer as mesmas coisas. Ele sugere grupos de
que sejam criados grupos de não crentes, que visam exclusivamente evangelizar
aqueles que ainda não fazem parte da Igreja, grupos de apoio visando cuidar da
Congregação, desenvolver comunhão e adorar a Deus, grupos de serviço, que
normalmente são criados em torno de ministérios específicos, sobretudo na área de

54
Diponível em: <http://igrejabetesda.com>. Acesso em: 06 mai. 2015.
55
Ibid.
56
WARREN, R., Uma Igreja com Propósitos., p. 178-179.
39

ação social, grupos de crescimento, dedicados a nutrir, treinar discípulos e estudar


profundamente a Bíblia.
Partindo do princípio de pluralidade de propósitos, Warren insiste que, “em
vez de forçar as pessoas a se conformarem com a mentalidade ‘tamanho único’,
permita que elas escolham o tipo de grupo pequeno que melhor preencha as suas
necessidades, interesses, circunstâncias de vida e maturidade espiritual” 57.
Embora o movimento Igreja Dirigido por Propósitos tenha sido alvo de
muitas críticas como de pragmatismo, foco nos métodos e não nos propósitos,
evangelho centralizado no homem e não em Deus, ser marqueteiro e não bíblico em
suas estratégias, não é propósito deste trabalho averiguar o fundamento das mesmas
senão o de mostrar o lugar e a importância que os Pequenos Grupos tem na proposta
do movimento.
É bom que se diga que no caso de Igreja Dirigida por Propósitos o Pequeno
Grupo não é algo essencial dentro do movimento. Os PGs são apenas parte das
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estratégias para alcançar novos membros e levar os membros à maturidade


cumprindo os cinco propósitos definidos. O funcionamento dos grupos é bem
aberto, sendo apenas uma alternativa para os membros de uma igreja que adote os
princípios do movimento.
No Brasil uma das Igrejas que está mais avançada na transição para este
modelo é a Primeira Igreja Batista em São José dos Campos, em São Paulo. No
Espírito Santo, as Igrejas Batista de Morada de Camburi, em Vitória, e Primeira
Igreja Batista de Aracruz estão mais avançadas neste processo, sendo que a primeira
foi pioneira na adoção do sistema no Brasil, tendo contribuído para que outras
igrejas fizessem o mesmo.

2.3.3.
Pontos convergentes e divergentes entre os dois modelos

Para melhor compreensão da abordagem que será dada sobre os Pequenos


Grupos no sistema proposto pelo Minsitério igreja em Células e Igreja Dirigida por
Propósitos, serão apresentados aqui os principais pontos em que os dois sistemas
convergem e também em que divergem.

57
Ibid., p. 179.
40

2.3.3.1.
Pontos convergentes

1) Ambos se dizem bíblicos: os dois modelos afirmam que seguem o Novo


Testamento e buscam textos bíblicos não apenas para fundamentar, mas legitimar
suas propostas e estratégias. Por vezes critica-se tudo o que se fez até hoje e tenta-
se derrubar os pilares tradicionais para abrir caminho para a implantação do modelo
desejado.
Igrejas há que se isolam das demais, saem da denominação e ignoram todos
os valores e princípios até então adotados, rompendo definitivamente com sua
história e sua denominação em nome das mudanças e do retorno ao Novo
Testamento.
2) Ambos são interdenominacionais: se aplicam a qualquer denominação
cristã. Nota-se daí, que a questão básica é estrutural e não doutrinária. Isso vai trazer
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algumas situações novas. Haverá mais aproximação entre duas igrejas que adotam
um dos modelos propostos, mesmo sendo de denominações diferentes, do que
igrejas da mesma denominação, que tenham o mesmo corpo doutrinário, mas que
tenham modelos diferentes.
3) Ambos enfatizam os dons espirituais: há uma ênfase muito grande no
exercício dos dons espirituais, conquanto tenham algumas compreensões
divergentes, tanto no significado dos dons como na maneira de colocá-los em
prática.
4) Ambos enfatizam a mudança de paradigmas: os dois modelos ensinam que
para que haja a implantação de uma nova dinâmica de vida na igreja é necessário
que sejam quebrados quatro paradigmas básicos: templo, culto, domingo e clero.58
5) Ambos utilizam os Pequenos Grupos: ainda que com nomes e ênfases
diferentes, ambos utilizam a estratégia dos Grupos Pequenos, que se reúnem nas
casas, com o propósito de ministração e exercício da mutualidade e evangelismo.
6) Ambos praticam o evangelismo por amizade: a chave de evangelização
utilizada pelos dois modelos são os relacionamentos das pessoas. Através das

58
KIVITZ, E. R., Quebrando paradigmas.
41

amizades é que os crentes testemunham de Jesus, ganham pessoas e as discipulam.


Bastante ênfase no “estar junto”, ensino por observação59.
7) Ambos enfatizam a necessidade de um processo de transição: dizem que a
visão de igreja, dinâmica de trabalho e de vida em comunidade é muito diferente
entre as igrejas configuradas no modelo catedral, que contemplam apenas o atacado
e não o varejo. Por isso dizem que tentar implantar um novo modelo sem preparar
a Igreja através de um processo de reciclagem, conduzindo-a lentamente por uma
via de transição é um suicídio eclesiástico.
8) Produção de muita literatura: Os dois modelos produzem muita literatura
e incentivam o povo a lê-los. Cada Modelo tem seu pacote com todo o material
utilizado. Normalmente vem como pacote fechado, mas pode ser utilizado de
acordo com as necessidades da Igreja que desejar adotar o sistema.

2.3.3.2.
Pontos divergentes
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1) O nome e o lugar do Pequeno Grupo: enquanto na Igreja Dirigida por


Propósitos (IDP) dá-se o nome de Pequeno Grupo (PG), no Ministério Igreja em
Células (MIC) denomina Célula. Mais do que isso, na IDP o PG é apenas uma
ferramenta utilizada para alcançar os cinco propósitos. A participação nos grupos é
incentivada, mas não essencial, uma vez que existem outras ferramentas para que
os propósitos sejam alcançados. No MIC a célula é a tida como a Unidade Básica
da Igreja, é vital para a Igreja e quando o sistema é adotado tudo passa a girar em
torno da célula.
2) A estrutura do Pequeno Grupo: na IDP não há uma estrutura rígida nem
um acompanhamento mais próximo. Os relatórios são mais informais e o controle
de quem participa é mais livre. No MIC a estrutura é bem definida com a base que
são os membros da célula, líderes, supervisores e pastores de rede. Os relatórios são
semanais e o controle da participação é rígido. Embora sejam grupos abertos à
participação de convidados, a membresia do grupo é mais definida.

59
“Jesus escolheu doze homens para ficarem com ele e serem enviados para anunciar o evangelho”
(Mc 3,14).
42

3) Duração do Pequeno Grupo: na IDP os PGs funcionam por tempo


indeterminado e não tem como meta a multiplicação. Novos grupos podem surgir,
mas via de regra por pessoas que estão na Igreja, ainda não fazem parte de nenhum
grupo e desejam iniciar um. No MIC as células nascem com a visão de crescimento
e multiplicação. Embora não tenha um tempo determinado, espera-se que dentro de
um ano o número de membros aumente possibilitando a multiplicação do grupo.
Neste caso o líder auxiliar assume uma parte da célula e o líder fica com a outra.
Novos líderes auxiliares são definidos e o processo se inicia novamente com a meta
de multiplicação com a chegada de novos membros.
4) Dinâmica dos encontros: na IDP os encontros são mais voltados para
estudo bíblico e comunhão. O assunto estudado não está ligado, necessariamente,
ao que foi tratado na celebração do domingo. O foco está no cumprimento dos cinco
propósitos da igreja. No MIC os encontros visam o compartilhamento de
experiências, evangelismo e discipulado. Normalmente volta-se ao tema abordado
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na celebração do domingo e procura-se fazer uma aplicação na vida dos


participantes. Suprir as necessidades de cada crente através da ministração mútua
(comunhão) na célula e evangelizar através dos relacionamentos. O foco está na
multiplicação de células e de lideranças.
5) Visão de igreja: a IDP entende que a igreja existe para comunicar a Palavra
de Deus. Cada crente é embaixador de Cristo e sua missão é evangelizar o mundo.
É preciso refazer o planejamento da Igreja. Para o MIC a Igreja é a Família de
Deus. A congregação é o agrupamento de células e celebração é a reunião de todas
as células para adorar a Deus.
6) Visão do membro do Pequeno Grupo: A IDP entende que Deus quer que
as pessoas sejam membros de sua família, modelos de seu caráter, ministros de sua
graça, envolvidos em um ministério, sejam mensageiros do seu amor. O MIC vê
cada crente como um ministro para fazer o serviço cristão. Devem ser conduzidos
à maturidade (filhinhos, jovens e pais) até estarem totalmente comprometidos com
os valores do reino de Deus, fazendo discípulos de Jesus Cristo.
7) Visão do pastoreio: para a IDP os pastores são os principais agentes de
mudança para lidar com os problemas em nossa sociedade. Pastoreio é o trabalho
de líder como de um surfista experiente, que deve reconhecer as ondas do Espírito
de Deus e pegá-las. Não é sua responsabilidade criar essas ondas, mas reconhecer
como Deus está atuando no mundo e unir-se a Ele. Para o MIC Deus deu dons à
43

liderança da Igreja com o propósito de treinar os crentes para fazerem o serviço


cristão. O foco do pastoreio está nos líderes das células. Cada líder de célula é visto
como um/a pastor/a, mesmo sem ter passado por um concílio e cerimônia de
imposição de mãos.
8) Visão de Crescimento da Igreja: Entende que perguntar o que faz as Igrejas
crescerem é equivocado. A pergunta certa a ser feita seria o que está impedindo o
crescimento das igrejas. A chave para a Igreja do Século XXI será a saúde espiritual
da Igreja, não o seu crescimento. Quando as congregações estão saudáveis elas
crescem como Deus determinou. Igrejas saudáveis não necessitam de atrativos para
crescerem. Elas crescem naturalmente. Para o MIC o crescimento da Igreja é
conseguido pelo trabalho de evangelismo de cada membro da célula através de seus
relacionamentos e multiplicação das células.

2.3.4.
Duas Igrejas Batistas que adotaram Pequenos Grupos
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A adoção do sistema de Pequenos Grupos de acordo com o modelo do


Ministério Igreja em Células perpassa por praticamente todas as denominações
protestantes contemporâneas, alcançando, inclusive, Igrejas Batistas filiadas à
Convenção Batista Brasileira.
Para fins de observação, dentre as muitas igrejas batistas da CBB que
adotaram os Pequenos Grupos em sua eclesiologia, este trabalho volta o seu olhar
para duas Igrejas Batistas filiadas à CBB Grupos que o fizeram seguindo a proposta
dos dois modelos acima mencionados e que serão objeto de análise mais profunda
no capítulo 4. Aqui, para fins de contextualização, serão mencionadas algumas
informações sobre as ditas Igrejas.

2.3.4.1.
Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi

1) O bairro: localizado na parte continental da cidade de Vitória Jardim


Camburi é o bairro mais populoso de todo o estado do Espírito Santo, com mais de
70 mil habitantes. Faz fronteira com o município da Serra, ao norte. Também é
44

limitada pela Praia de Camburi e pela Rodovia Norte-Sul. É isolado dos demais
bairros de Vitória, pois é vizinho de uma grande área reservada, que compreende o
Aeroporto de Vitória, o Shopping Mestre Álvaro, grande área de restinga, a estação
de tratamento de águas da Cesan, Companhia Espirito Santense de Saneamento e o
Porto Tubarão, de propriedade da Companhia Vale do Rio Doce.
Surgiu de um loteamento aprovado em 1928 e que, somente em 1967, foram
construídas cem casas de um conjunto residencial visando abrigar os trabalhadores
da Vale. Este loteamento, de propriedade da Imobiliária Camburi, não apresentou
as obras de infraestrutura necessárias à ocupação. Dentro da área do bairro estão
inseridos vários conjuntos residenciais de prédios, Santa Paula, Vina del Mar,
Residencial Barras e Residencial Clube dentre outros. Trata-se de um dos bairros
que mais cresce no estado do Espírito Santo com a construção de inúmeros edifícios
formando conjuntos residenciais de prédios e casas.
Consta um loteamento complementar ao bairro feito em 1970: Balneário de
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Camburi, com área total de 809.991,00 m2. Devido à distância do bairro em relação
ao Centro da cidade e bairros vizinhos, surgiram instalações comerciais e de
serviços de uso cotidiano. Isso fez com que o bairro se tornasse bastante
independente em relação ao resto da cidade.
O bairro surgiu da construção de um conjunto, com edifícios com limites de
três e quatro andares. Na década de 90, a lei que restringia a altura dos prédios no
bairro foi modificada. Hoje, existem prédios com até 10 pavimentos, com
elevadores e áreas de lazer.
É um local com toda a infraestrutura necessária para uma boa qualidade de
vida. Possui um comércio autossuficiente, inclusive com um shopping center. Há
também no bairro muitas praças, feirinhas e ótimos restaurantes, dos mais variados
tipos, além de um parque municipal, o Parque da Fazendinha.
Uma pesquisa realizada pela Associação dos Moradores indica que 88% dos
moradores acham ótimo residir no bairro, 7% acham regular e apenas 5% gostariam
de deixar o bairro60.

2) A igreja: a Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi começou em 1974


com a compra dos terrenos, onde mais tarde, foi edificado o templo atual. Essa

60
Disponível em: <http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais>. Acesso em: 9 mai. 2013.
45

providência foi uma iniciativa da Convenção Batista do Espírito Santo. Em 1982,


com o apoio de um grupo batista do Texas (EUA), iniciou-se a construção do
templo e de um conjunto de 5 salas de apoio, sendo que a inauguração ocorreu em
outubro de 1983.
No dia 29 de setembro de 1984, a igreja foi organizada em um culto solene
sendo que na ocasião, foram batizados 13 novos convertidos. Pouco tempo após sua
organização, a igreja adquiriu terrenos anexos e ampliou o conjunto de salas para
uso dos ministérios. Em 1990, num desafio de fé, foi iniciada a construção do
edifício de multiministério – hoje concluído e sendo muito útil à igreja e à
comunidade.
Desde a sua fundação, a PIBJC organizou cinco novas igrejas: Jardim
Limoeiro, Serra Dourada I, Igreja Batista Central em Bairro de Fátima, Jardim
Carapina e Chácara Parreral. Além disso, mantém uma frente missionária em
Balneário de Carapebus.
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No ano de 2001, a PIBJC iniciou o Ministério em células. A partir de então


as células se reúnem semanalmente nas casas, envolvendo mais de 80% da
membresia. Cerca de mil pessoas se movimentam pelas ruas do bairro e outros
bairros da Grande Vitória, para encontrarem-se nas casas uns dos outros a fim de
desenvolverem relacionamentos mais próximos além de ajudarem-se mutuamente
e testemunhar do Evangelho de Jesus Cristo aos seus amigos, vizinhos e familiares.
A liderança conta com aproximadamente 160 pessoas, entre pastores, supervisores
e líderes de células.
O total de membros chega a 1.56361, num universo de quase 2 mil pessoas
que participam da vida da igreja, incluindo crianças e demais congregados 62.
No capítulo 4 deste trabalho serão registrados alguns depoimentos que
descrevem a Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi pela visão dos pastores,
supervisores líderes de célula e membros de célula, para constatar como cada um
desses segmentos diretamente ligados com as células vê a sua Igreja.

61
Número de membros no final de 2014.
62
Informações retiradas do site da PIBJC., Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi.
46

2.3.4.2.
Igreja Batista de Morada de Camburi

1) O Bairro: o bairro Morada de Camburi faz parte da região continental de


Vitória, Espírito Santo. A região compreende as proximidades da Avenida
Adalberto Simão Nader até o Canal de Camburi e da praia até a Universidade
Federal do Espírito Santo.
No início do século XX era uma área rural, ocupada por gados, córregos,
animais, mata atlântica e restinga. O projeto é retomado na década de 50 pela
Empresa Capixaba de Engenharia Civil. A ideia era inspirada na moderna cidade
de Belo Horizonte. O projeto é aprovado pela prefeitura em 1952 onde toda a região
entre a Adalberto Simão Nader e o Canal de Camburi seria convertida em largas
avenidas diagonais, que formavam 13 quadras com lotes de aproximadamente
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400m². Os primeiros lotes foram vendidos para armazéns, na região do bairro


Jardim da Penha.
No entanto, o atual bairro Mata da Praia, sofreu modificações em seu traçado
porque na década de 70 a empresa Sena Engenharia propôs diferenciar o projeto
daquela região. A antiga fazenda foi dividida na área onde é hoje a Av. Aristóbulo
Barbosa Leão.
Em 1977 foi feito um loteamento entre a Avenida Fernando Ferrari e a Mata
da Praia com área de 98.750m² de propriedade da Camburi Empreendimentos
Imobiliários, com o nome de Morada de Camburi. Com o fim do contrato com a
Sena no final da década de 80, o marido de uma das herdeiras da antiga fazenda, o
engenheiro Luiz do Carmo Bedran, assume a gestão criando o grupo Mata da
Praia/Dacaza, avançando para construções em outras áreas como a antiga fazenda
dos Meyrelles.
Além de casas e edifícios residenciais o bairro conta com comércio variado
além da Rede Bandeirantes de Televisão 63.

2) A Igreja: Igreja Batista de Morada de Camburi foi organizada como uma


igreja independente. Um pastor batista vindo de Minas Gerais, Governador

63
WIKIMAPIA. Morada de Camburi (Vitória).
47

Valadares, iniciou a igreja no bairro como uma Igreja Batista independente64 e aqui
ele fez o seu ministério progredir. Entretanto, as conjunturas chegaram num ponto
que em mil novecentos e noventa e nove, no mês de dezembro, eram só vinte e
quatro membros que faziam parte da Igreja, um número considerado pequeno para
uma Igreja que já existia há mais de uma década.
A “igreja dirigida pelos propósitos de Deus” foi a ferramenta utilizada para
revigorar a igreja. E, paulatinamente, a igreja foi tomando pé desses propósitos, os
prédios foram renovados com a ajuda de amigos que nem eram da igreja e alguns
deles nem eram cristãos, e muitas pessoas de outras igrejas começaram a vir, muitos
outros começaram a ser batizados e com isso a comunidade foi florescendo pouco
a pouco.
No mês de maio de dois mil, foram implantados inteiramente na igreja a ideia
de propósitos. E a partir daí tudo foi feito para que a igreja toda estivesse
estabelecida encima da ideia dos cinco propósitos bíblicos de Deus.
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A Igreja entende que os propósitos são bíblicos, tirados do grande


mandamento e da grande comissão. E os propósitos são: a comunhão, a adoração,
o discipulado, o evangelismo e o serviço. Toda a igreja foi a partir daí, administrada,
dirigida, orientada, todo o trabalho de espiritualidade, tudo afunilava nos cinco
propósitos. E, desde então, tudo que é feito precisa ter algum link com os propósitos.
A Igreja não faz absolutamente nada que não tenha uma direção e alcance de um
dos cinco propósitos. É conhecida no Brasil como a pioneira na direção de igrejas
dirigidas pelos propósitos de Deus. A Igreja, que conta com cerca de 250
membros65, continua firme nessa direção, e agora trabalhando com uma nova
identidade que além de igrejas com propósitos pretende-se simplificar tudo que está
sendo feito, para que a direção e a visão dos propósitos sejam cada vez mais claras,
cada vez mais dinâmicas, cada vez mais alinhadas, cada vez mais focadas. Essas
quatro estratégias são perseguidas a fim de ajudar a melhorar ainda mais a
observância e a vida plena dirigida pelos propósitos de Deus66.

64
Normalmente as Igrejas Batistas tem origem através de uma ação intencional e organizada de
outra Igreja Batista, conhecida como Igreja-mãe, que oferece todo o suporte para que a nova
comunidade se organize e cresça a ponto de receber total autonomia de funcionamento com liderança
e recursos próprios para se auto administrar, auto propagar e auto sustentar. (JUNTA DE MISSÕES
NACIONAIS. Plantação de Igrejas, p.51)
65
Nº aproximado de membros no final de 2014.
66
Conteúdo deste tópico foi colhido com o atual pastor titular da Igreja.
48

2.3.5.
Conclusão do capítulo

Na busca por discernimento a respeito da reconfiguração de Igrejas Batistas


em Pequenos Grupos, partiu-se da indicação de que ser batista implica forte
experiência de conversão a Cristo, feita necessariamente por alguém capaz de tomar
decisão consciente, mediante a pública profissão da fé e o batismo, necessariamente
por imersão. Os que vivem esta experiência formam comunidades ou passam a fazer
parte de comunidades já existentes com média de 200 pessoas. Tais comunidades,
quando comparadas a comunidades de outras denominações podem ser vistas como
pequenas comunidades. No entanto, o que se percebe, nos dias atuais, é uma busca
batista por encontrar sua identidade cristã. Essa busca mantém o caráter de
autonomia das comunidades batistas entre si, voltando-se para as comunidades
primitivas no desejo de viver ainda mais profundamente os valores do Reino de
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Deus, numa perspectiva cristã e batista.


Para a concretização desta busca as comunidades batistas necessitaram de
modelos, uma vez que não se faz a passagem pura e simples dos modelos
neotestamentários para os dias de hoje. Os contextos sócio culturais são diferentes.
Em consequência, as Igrejas Batistas e outras igrejas dentro do grande espectro
protestante tem buscado no pensamento, nas obras e nas práticas de David Yonggi
Cho inspiração. A partir daí, cada igreja vai concretizando suas formas de existir
em Pequenos Grupos. Ao lado das Igrejas em Células, inspiradas na experiência de
Cho, na Coréia do Sul, o modelo de Igreja Dirigida por Propósitos de Rick Warren,
tem igualmente repercutido sobre a busca por identidade cristã configurada em
Pequenos Grupos.
Dentro do amplo espectro batista esta pesquisa optou por estudar a realidade
de duas igrejas cuja história é marcada pelos Pequenos Grupos como característica
principal de sua configuração eclesiástica. São as Igrejas de Jardim Camburi e
Morada de Camburi. As duas estão geograficamente localizadas no território
continental do município de Vitória, acompanhando o fluxo de crescimento daquela
capital capixaba. São Igrejas de classe média em áreas tipicamente residenciais,
próximo ao aeroporto Eurico Sales, áreas que sofrem contínuo processo de
transformação que pode se sentido com o crescimento da atividade comercial.
49

Enquanto Morada de Camburi é um bairro mais antigo, Jardim Camburi representa


o que dentro dos processos de urbanização se costuma chamar de bairro planejado.
Por fim, como se vai detalhar no capítulo 4, são duas igrejas que trazem em si, desse
a origem, semelhanças e diferenças. A primeira diferença encontra-se exatamente
na origem. Enquanto a Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi nasceu a partir
do método batista tradicional de implantação de Igrejas, a Igreja de Morada de
Camburi viveu uma realidade peculiar e rara no mundo batista. O processo usual
batista de implantação e Igrejas se inicia com a ação missionária de uma igreja já
estabelecida, chamada de igreja-mãe, que acompanha o crescimento e orienta a vida
até que a nova igreja atinja sua autonomia própria da identidade batista. O
interessante na Igreja de Morada é que ela nasceu do próprio grupo de moradores,
os quais já sendo batistas começaram a se reunir para adorar a Deus para só então
buscar o apoio de uma igreja-mãe.
Diferente também foi a escolha do modelo a ser adotado. Conquanto ambas
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tivessem buscado uma alternativa que utilizasse os Pequenos Grupos, Jardim


Camburi buscou no Ministério Igreja em Células a sua referência, enquanto Morada
de Camburi buscou na Igreja Dirigida por Propósitos. Entretanto, o interessante,
para fins desta tese, é a percepção de que estas duas igrejas buscaram nos dois
modelos acima citados inspiração para se tornarem igrejas em Pequenos Grupos.
Nesse processo, essas duas igrejas estão se tornando referências para Igrejas
Batistas localizadas próximas no que diz respeito exatamente à experiência de
Pequenos Grupo.
Toda esta realidade interpela a reflexão teológica no sentido de se verificar se
a questão da reconfiguração em Pequenos Grupos, como forma de reencontrar a
identidade cristã e batista, é, na verdade uma recompreensão, reconfiguração da
experiência eclesial ou simples estratégia para aumento e arregimentação de
membresia, permanecendo, no entanto, a compreensão de igreja tradicionalmente
configurada, onde apenas foram acrescentados os Pequenos Grupos em adição a
uma estrutura já existente. Por isso o próximo capítulo necessariamente tratará do
conceito teológico de Igreja de Comunhão.
3
A Igreja entendida como comunhão

Esta tese pergunta se a organização de algumas Igrejas Batistas em Pequenos


Grupos significa efetiva reconfiguração da experiência eclesial ou somente
reorganização em vista do aumento da membresia, mantendo-se, no entanto, a
mesma concepção e a mesma prática de Igreja. Para a resposta a tal questão, torna-
se indispensável explicitar o que se compreende por reconfiguração da experiência
eclesial. É por isso que, neste capítulo, vai-se tratar do que se tem chamado de
eclesiologia de comunhão, procurando não apenas apresentar seus fundamentos,
mas também alguns critérios para que esta concepção e experiência de Igreja se
concretize. Será a partir destes critérios que, no capítulo seguinte, serão analisadas
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as duas Igrejas Batistas pesquisadas, para se poder responder à questão proposta


pela tese 67.
Por configuração, entende-se aqui o modo como a Igreja se autocompreende
e, em consequência, se organiza para cumprir sua missão. Ao longo de sua história,
a Igreja viveu diferentes configurações como decorrência do encontro entre a
missão que deve cumprir e os condicionantes históricos do momento. Estas
transformações têm sido estudadas 68, com a apresentação dos motivos históricos,
sociais e culturais. Importa reconhecer também que existe uma motivação oriunda
do campo teológico, que é a natureza escatológica da Igreja, não apenas enquanto
instância que aponta para o trans-histórico, mas como realidade que não encontrará
em cada configuração a plenitude de sua identidade. A Igreja é, portanto,
escatológica na medida em que é sempre chamada a rever as configurações
históricas e buscar compreensões e formas mais adequadas à vocação recebida, que
é a de serva e anunciadora do Reino de Deus em meio ao mundo. É, pois, neste

67
Sobre a eclesiologia de comunhão, ver, por exemplo: HACKMANN, G., “A Eclesiologia de
Comunhão em Santo Domingo”, p. 167-180; KLOPPENBURG, B., A Eclesiologia do Vaticano II.;
KUNRATH, P. A., “A Igreja, mistério de comunhão trinitária”, p. 39-52; LOSADA, J., “La
comunión en la Iglesia-comunión”, p. 38-47; RIGAL, J., L’Ecclésiologie de communion.
68
WIEDENHOFER, S., “Eclesiologia”, p.20-38
51

sentido que aqui se aborda a eclesiologia de comunhão como uma configuração da


Igreja.
A compreensão da Igreja como comunhão perpassou as preocupações tanto
de protestantes quanto de católicos ao longo do século XX, exatamente na busca de
se encontrar caminhos diferentes dos até então vivenciados. No campo católico, é
possível estabelecer o Concílio Vaticano II como marca fundamental para a
eclesiologia de comunhão 69, concílio aqui entendido não apenas como o evento
realizado entre 11 de outubro de 1962 e 8 de dezembro de 1965, mas como o período
que lhe antecedeu, bem como o período posterior, no qual as conclusões,
especialmente as constantes da Constituição Dogmática Lumen Gentium, foram
compreendidas e colocadas em prática.
No campo protestante, não é possível encontrar um evento referência, ao
estilo do Concílio Vaticano II, para marcar a busca pela eclesiologia de comunhão.
O caminhar das Igrejas Protestantes pode ser compreendido através da reflexão
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teológica e da publicação de inúmeros livros de natureza mais pragmática a respeito


dos Pequenos Grupos. Tais livros podem ser considerados mais como manuais de
funcionamento do que textos eclesiológicos no sentido estrito do termo. Entretanto,
subjacentes às indicações de funcionamento, encontra-se uma concepção de igreja
que cumpre investigar.
Por tudo isso, neste capítulo será feita uma abordagem teológica, a respeito
da compreensão da Igreja como comunhão, uma vez que esta pesquisa se propõe a
analisar a importância dos pequenos grupos para a configuração das Igrejas,
notadamente das igrejas batistas pesquisadas. O capítulo se divide em oito passos
com uma conclusão. Partindo da perspectiva antropológica, na qual se afirma que
o ser humano é um ser de e para a comunhão, considera a Trindade como fonte e
meta desta comunhão. Em seguida, busca recuperar a experiência de comunhão
como constitutiva da identidade da Igreja e ao longo da história desta mesma Igreja.
Neste processo, abordará especificamente o Concílio Vaticano II, como ponto
fundamental católico para o que aqui se chama de eclesiologia de comunhão,
recolherá a contribuição protestante, para, ao final do capítulo, estabelecer algumas
condições ou critérios para o que se pode compreender como igreja de comunhão.
Trata-se de uma busca parcial, dado ao grande volume de uma empreitada histórica.

69
TEPEDINO, A. M., “Eclesiologia de comunhão”, p. 175.
52

3.1.
O ser humano criado para a comunhão

A comunhão é uma realidade antropológica e teológica, no sentido mais


específico de cada um desses termos. Isso significa dizer que o ser humano, criado
à imagem e semelhança do Deus-Trindade é, em sua origem e em sua finalidade,
vocacionado irrevogavelmente à comunhão. Esta vocação se traduz na necessidade
que o ser humano tem de concretizar relacionamentos significativos, que podemos
chamar de primários, concretizados em ambientes efetivamente comunitários em
vista de se humanizar cada vez mais, rumo ao Deus da Revelação, isto é, o Deus-
Trindade. A comunhão de que tanto se fala nesta tese tem sua origem no Deus
kenótico e envolvente e, portanto, no Seu desígnio divino de se autocomunicar em
Jesus Cristo, pela força do Espírito Santo.
Um dos eixos centrais de toda a Revelação consiste na imagem de Deus que
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ultrapassa a do monoteísmo estrito, no sentido de um deus único, mas solitário,


isolado e sem relacionamento. O Deus cristão, ao contrário desse deus fechado em
si, revelou-se como relação, como mistério de amor, mistério de comunhão de
relação, de diferença aberta ao relacionamento. Este amor-relação se faz presente
em toda a criação, de modo especial no ser humano.
Criado à imagem e semelhança da Trindade divina, o ser humano tem, por
isso, sede de comunhão e vai em busca de relacionamentos significativos para o
suprimento de suas necessidades mais profundas. Como expressou Leonardo
Boff70, viver implica comungar, pois viver é sempre conviver, viver para e estar na
presença de outros. De acordo com Pannenberg 71

a personalidade está fundamentada na destinação do homem, a qual sempre excede


sua realidade empírica. Ela sempre será experimentada no outro, no Tu, como o
mistério de um ser-eu que não se resume em tudo o que é perceptível exteriormente
no outro, de modo que esse outro se me depara como um ser que não é ativo somente
a partir de si mesmo, mas também a partir de uma razão e de sua existência em última
análise subtraída a todo conhecimento (...) A integridade da própria vida, a despeito
de sua forma fragmentária em cada momento, é acessível somente na relação com
seu Criador. Sua peculiaridade, porém, ela adquire na justaposição a outras pessoas.
As duas espécies de relações são, deste ou daquele modo, constitutivas para o ser-
pessoa do indivíduo.

70
BOFF, L., A trindade, a sociedade e a libertação, p.162.
71
PANNENBERG, W., Teologia sistemática. vol. II, , p.287.
53

Em função desta necessidade, o ser humano procura constantemente se


relacionar com outras pessoas em busca de comunhão. Os relatos bíblicos da
criação afirmam categoricamente que “não é bom que o homem esteja só” (Gn
2,18). Por isso, segundo um desses relatos, foi tomada a iniciativa de criar alguém
para que estivesse ao seu lado e com ele estabelecesse comunhão. Também por isso,
a família é uma providência de Deus para oportunizar esta condição antropológica
de relação e convivência. No entanto, o núcleo familiar não é restrito a si próprio.
Abre-se necessariamente para outros relacionamentos. “À luz da Trindade, ser
pessoa à imagem e semelhança das divinas Pessoas significa manter-se como um
nó de relações permanentemente atuante”72.
Boff afirma também que “o espírito humano está sempre orientado para além
dele mesmo, para além da própria história, buscando um Absoluto em quem
repousar”73. Precisa também de alguém semelhante com quem possa dividir, somar
e multiplicar a sua vida. Para tanto é essencialmente necessário que o ser humano
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esteja aberto ao outro. Este “ser-em-abertura é um ser em liberdade, ser capaz de


amor que transfigura todo o universo. ”74 É comum ao ser humano não apenas
“viver, mas con-viver; não apenas ser, mas existir-em-comunhão com os
semelhantes, mesmo os mais distantes. É deixar-se penetrar pelos outros e penetrar
também os outros”75
É nesse sentido que se pode compreender a dimensão do que Alfonso Garcia
Rubio chama de co-humanidade 76. O ser humano, afirma este autor, é criado para,
ou seja, criado para Deus, para o próximo, incorporando-se aqui também o restante
da criação. No conjunto destas relações, sobressai a relação entre os seres humanos,
isto é, a relação co-humana, no sentido de que, mesmo estando em relação com o
restante da criação, o ser humano não encontra realização plena se não estiver em
relação com outros seres humanos. “Sem os outros, o homem se desumaniza” diz
Garcia Rúbio. Dito de outra forma, é nesta relação dialógica face-a-face77 que o ser
humano se realiza e se humaniza. Falando sobre isso Mondin 78 afirma:

72
BOFF, L., A trindade, a sociedade e a libertação, p.165.
73
Ibid.
74
Ibid.
75
Ibid.
76
RUBIO, A. G., Unidade na Pluralidade, p. 444ss.
77
BUBER, M., Eu e tu, p.17.
78
MONDIN, B., O homem, quem é ele?, p.155.
54

O homem é essencialmente sociável; sozinho não pode vir a este mundo, não pode
crescer, não pode educar-se; sozinho não pode nem ao menos satisfazer suas
necessidades mais elementares nem realizar as suas aspirações mais elevadas; ele
pode obter tudo isso apenas em companhia dos outros.

Em consequência, o próprio evento da salvação trazida em e por Jesus Cristo


pode e deve ser compreendido como inserção no processo de comunhão. O pecado,
do qual Cristo nos libertou, pode ser então compreendido como o fechamento do
ser humano em torno de si mesmo, fechamento esse cuja consequência final é a
morte. Texto bíblico significativo é o do fratricídio de Caim sobre seu irmão Abel
(Gn 4,9), em que o homicida, extremo da não comunhão, afirma-se como não
responsável, isto é, não relacional. Em superação ao pecado, Jesus Cristo se
manifesta como a comunhão de Deus presente em meio à humanidade. Em sua vida
pública, ao anunciar o Reino de Deus, Jesus promoveu contínuas atitudes de
comunhão, inserindo no convívio humano, social e religioso todos aqueles que a
mentalidade daquele tempo deixava de fora. Em sua morte, Jesus se solidarizou
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com todos os excluídos, isto é, com todos que não eram considerados dentro da
comunhão, conforme a mentalidade da época, construída a partir da Lei. Em sua
ressurreição, Jesus estendeu a comunhão a todas as criaturas, numa perspectiva
ampla e radical. É por isso que salvar-se implica necessariamente a acolhida do dom
de Jesus Cristo, acolhida essa que insere a pessoa na experiência de comunhão, a
tal ponto de se poder dizer que é pela comunhão que se acolhe e se põe em prática
o dom da salvação. Os salvos em Cristo devem ser, portanto, pessoas radicalmente
inseridas na experiência de comunhão, pois Jesus não salvou os seres humanos, um
a um, um ao lado do outro, no estilo de uma simples soma matemática. Ele salvou
a humanidade numa perspectiva de comunhão. A salvação é, deste modo, um ato
eminentemente de comunhão. O aspecto reconciliatório nela presente mostra que
se trata de um ato essencialmente comunitário.
Segundo Leonardo Boff79, “como há a koinonia trinitária, assim há a koinonia
eclesial. A definição primeira de Igreja é esta: comunidade de fiéis que estão em
comunhão com o Pai, pelo Filho encarnado, no Espírito santificador, em comunhão
entre si e com seus coordenadores”. De acordo com Boff80, igreja é comunidade,
que é o resultado das relações de comunhão e de compartilhamento. Implica em
convivência, valorização de cada um em sua individualidade, acolhida da diferença

79
BOFF, L., A trindade, a sociedade e a libertação, p.191.
80
Ibid., p.164.
55

porque significa riqueza comunicada, estabelecimento de relações nominais,


ausência de formalidades.
Jürgen Moltmann81 esclarece o tipo de abordagem sobre a Trindade dá base
para a eclesiologia de comunhão. Segundo ele,

diferentemente da Trindade substancial e da Trindade subjetiva, procuraremos


desenvolver uma doutrina trinitária social. Entendemos a Escritura como o
testemunho da história das relações comunitárias da Trindade, revelada ao mundo e
aos homens. Essa hermenêutica trinitária conduz a um pensamento relacional e
comunitário, dispensando o pensamento subjetivo, que só consegue produzir
mediante a separação e o isolamento de seus objetos. Vamos desenvolver aqui um
pensamento relacional e comunitário, a partir da doutrina trinitária, e instaurá-lo na
relação do homem com Deus, com os outros homens e com a humanidade, bem como
na comunhão com toda a criação (...) Procurar-se-á desenvolver e aplicar um modo
de pensar trinitário.

A ênfase dada à comunhão inspirada na Trindade, onde o relacionamento e a


comunicação são perfeitos, não deixa dúvidas de que precisam ser dados vários
passos para que a igreja de comunhão se estabeleça sempre mais, tanto no contexto
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do Catolicismo como também entre as Igrejas Protestantes. A comunhão não pode


ser apenas uma teoria abstrata distante da realidade e do mundo nem uma espécie
de ideologia eclesiológica 82, mas algo que se concretize na reconfiguração das
igrejas locais simplificando as estruturas e contemplando os relacionamentos.
Segundo Kasper, “a construção de uma cultura comunicativa, de um estilo dialogal
e de estruturas comunicativas, especialmente sinodais, constitui um desiderato
urgente”83. Por certo, a concretização da vida de comunhão é sempre um ideal
escatológico, ou seja, sempre aberto ao amadurecimento contínuo. O fato, porém,
de ser uma realidade escatológica, não significa que não deva ser buscada
incansavelmente, a todo o momento. O escatológico implica necessariamente a
contínua busca histórica.
Assim sendo, como afirma Shelley84 “as igrejas deveriam fornecer
oportunidades aos membros e seus amigos para manifestações íntimas de suas lutas
e vitórias pessoais”. Certamente esta é uma lacuna aberta nas igrejas cristãs
contemporâneas, carecendo, por isso mesmo, ir em busca de caminhos que a
preencham, como será feito no último capítulo deste trabalho.

81
MOLTMANN, J., Trindade e reino de Deus, p.33.
82
KASPER, V., A igreja católica, p. 49.
83
Ibid.
84
SHELLEY, B. L., A igreja.
56

3.2
A Igreja de Cristo já nasceu comunhão

Longe de aqui refletir sobre a específica questão da instituição da Igreja 85,


importa considerar que a Igreja de Jesus Cristo entra na história humana como
instrumento para a consolidação e expansão do Reino de Deus, o que, nos termos
desta tese, é comunhão, inclusão e relacionamento. De fato, ao se analisar a
caminhada de Jesus de Nazaré, constata-se que dificilmente ele andava sozinho. Era
comum ele estar cercado de muita gente. O Evangelho de Marcos, por exemplo,
afirma que “Jesus retirou-se com seus discípulos a caminho do mar, e uma grande
multidão, vinda da Galileia, o seguiu” (Mc 3,7)86. Neste caminhar sempre com
gente ao redor, Jesus escolheu um grupo de seguidores e caminhou com eles de
maneira ainda mais íntima. “Depois subiu à montanha, e chamou a si os que ele
queria, e eles foram até ele. E constituiu Doze, para que ficassem com Ele, para
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enviá-los a pregar” (Mc 3,13-14). Num anúncio sempre relacional do Reino de


Deus, Jesus chamou alguns para junto de si, para o convívio consigo, a ponto de,
no Quarto Evangelho, vermos seu espanto ao perceber que os membros deste
pequeno grupo, embora estivessem com Ele há tanto tempo, ainda não o conheciam
(Jo 14,9). A célula mãe da Igreja foi, portanto, o grupo de seguidores/as que Jesus
tinha no seu movimento, pessoas marcadas pela convivência e o relacionamento de
amor 87.
Depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo, na experiência que se seguiu
ao dia de Pentecostes (At 2,1-11), destacou-se igualmente a dimensão comunitária
dos/as discípulos/as de Jesus Cristo. A Igreja tomou gradativa consciência de sua
existência e passou a experimentar algo de extraordinário em termos de comunhão.
O autor dos Atos dos Apóstolos apresenta uma síntese catequética da rotina da
Igreja em Jerusalém afirmando:

Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à


fração do pão e às orações. Apossava-se de todos o temor, , pois numerosos eram os
prodígios e sinais que se realizavam por meio dos apóstolos. Todos os que tinham
abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e

85
Não é objetivo deste trabalho, nem seria isso possível por conta da complexidade do assunto, tratar
aqui do processo de institucionalização da Igreja.
86
Todas as citações bíblicas serão da tradução BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém.
87
WIEDENHOFER, S., “Eclesiologia”, p.61.
57

bens, e dividiam-nos entre todos, segundo a necessidade de cada um. Deia após dia,
unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando
o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam da
simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que
seriam salvos (Atos 2,42-47).

É notável o modo como a Escritura apresenta a comunhão e o envolvimento


que aquelas pessoas tinham entre si. O texto destaca que compartilhavam tudo o
que tinham, incluindo bens materiais, tempo, talentos, fé, amor, cuidado mútuo. A
preocupação precípua era o suprimento das necessidades de cada discípulo e
discípula de Jesus Cristo. O grupo ainda era pequeno, mas crescia a passos largos88,
com estrutura simples e funcional. Tratava-se de um movimento que nascia em
torno do Cristo ressuscitado e que visava proclamar a Boa Nova do Evangelho para
o maior número possível de pessoas.
Tepedino89 afirma que a comunidade que nasce em Pentecostes é movida pelo
encontro de três elementos: o Espírito, o testemunho apostólico que remete a Jesus
de Nazaré e a comunhão, a qual, portanto, fazia parte da essência constitutiva da
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Igreja. Segundo ela, assim como a vida física nasce da comunhão de um homem e
uma mulher, a vida espiritual nasce da comunhão entre o ser humano, Deus e a
Igreja. No dizer de S. Cipriano, nasce do abraço comunitário da comunhão do Pai,
do Filho e do Espírito Santo conosco90.
Marguerat91 denomina esta parte inicial da história da Igreja como época de
ouro do cristianismo com destaque especial para a vida em comunidade. Segundo
ele92,

os três sumários dos Atos dos Apóstolos (2,42-47; 4,32-35; 5,12-16) são o lugar
privilegiado para se afirmar a unidade da Igreja (...) estão carregados de um
vocabulário de unidade: os cristãos eram unânimes (2,46; 4,32), partiam tudo
segundo a necessidade de cada um (2,45), de modo que entre eles não havia nenhum
indigente (4,34).

88
Interessante observar a pedagogia dos Atos dos Apóstolos. Gradativamente o número de adeptos
vai crescendo com o caminhar missionário da Igreja. Em At 1,15, quando da ascensão de Jesus
Cristo, 3 mil em 2:41, como resultado dos desdobramentos do dia de Pentecostes e 5 mil em 4:4
quando o Evangelho se espalha por outras partes do mundo.
89
TEPEDINO, A. M., “Eclesiologia de comunhão”, p. 166.
90
Ibid., p.162.
91
MARGUERAT, D., A primeira história do cristianismo, p.125.
92
Ibid.
58

O referido autor entende a edificação da comunhão na igreja como obra do


Espírito Santo, derramado no dia de Pentecostes. Nesta mesma linha de
argumentação Tepedino 93, afirma que

a fundamentação teológica para uma Eclesiologia de comunhão é encontrada no


acontecimento de Pentecostes que opera a unidade entre todos e todas, através de
uma experiência comum da graça de Deus, que cria laços, estabelece um vínculo
entre aquelas pessoas, que as faz sentirem-se salvas. A palavra comunhão resume o
que é a salvação e é desta maneira que os Santos Padres e os Atos dos Apóstolos a
apresentam.

É mais do que isso. Falando sobre a importância do Pentecostes para vida de


comunhão na Igreja, Tillard94 afirma que é fácil concluir que a comunhão,
apresentada no início do livro dos Atos dos Apóstolos, é uma coisa bem diferente
do que uma simples soma de pessoas generosas ou de um aglomerado de crentes.
Trata-se do resultado da ação do Espírito que une as pessoas que passam a viver a
partir da perspectiva da esperança cristã.
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O que Marguerat chama de segundo sumário (At 4,32-35) é ainda mais


contundente na descrição da comunhão que o autor bíblico quer destacar no
cristianismo primitivo. Por isso torna-se paradigmática para a Igreja de todos os
tempos. No segundo sumário, já são mais de cinco mil pessoas. O autor dos Atos
dos Apóstolos é contundente ao afirmar:

A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém
considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Com
grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor, e todos
tinham grande aceitação. Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que
possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam os valores das vendas e os
depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se então, a cada um, segundo sua
necessidade. (Atos 4:32-35).

O que acontece no capítulo 5 dos Atos dos Apóstolos, a fraude de Ananias e


Safira e sua consequente extinção do meio do povo (At 5,1-11) é um atentado
exatamente contra a experiência fundamental de comunhão. Marguaret 95 afirma que
“Ananias e Safira não pecaram contra a moral, mas contra o Espírito em sua função
de construtor da unidade. Assim, Atos 5 é a figura do pecado original na Igreja, que
introduziria a comunidade cristã no regime do engano”. Ananias e Safira optaram

93
TEPEDINO, A. M., op. cit., p.165.
94
TILLARD, J-M. Chiesa di chiese, p. 16.
95
MARGUERAT, D., op. cit., p.126.
59

por voltar-se para si mesmos e para os bens, quando a experiência salvífica


primordial é a da comunhão, mesmo tendo que tudo largar.
Para estreitar os laços de amizade e cultivar a comunhão entre si, na medida
em que a Igreja ia crescendo em quantidade, os membros da comunidade adotaram
uma estratégia simples, mas eficiente. Utilizavam o templo dos judeus para as
celebrações da comunidade toda e as casas como lugar de aproximação e
comunhão. No final de Atos 5, encontra-se a síntese desta prática. “Cada dia, no
Templo e pelas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Boa Nova do Cristo
Jesus” (Atos 5,42).

3.3.
Os Pequenos Grupos nas Comunidades Cristãs Primitivas

Como já referido antes, existe direta correlação entre o modo como a Igreja
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se autocompreende e o modo como ela se autoorganiza. Na medida, portanto, em


que a Igreja dos primórdios se autocompreendia a partir do encontro com Jesus
Cristo, gerando novos relacionamentos. Estes relacionamentos encontravam-se
diretamente ligados tanto à missão quanto, como visto a pouco, à configuração das
comunidades. Os relatos bíblicos, mais preocupados com a mensagem teológica do
que com fatos históricos no sentido moderno de história, permitem que se recolha
uma configuração de Igreja normativa para qualquer tempo e lugar. O espírito de
comunhão deve sempre se concretizar em estruturas específicas de comunhão. De
fato, o encontro de seguidores e seguidoras de Jesus Cristo em ambientes
marcadamente relacionais, com objetivos comuns de adorar a Deus, desenvolver
comunhão e cuidar uns dos outros é uma realidade que remonta os tempos do Novo
Testamento. Esta é uma característica das comunidades cristãs primitivas.
As cartas paulinas, que se constituem no “mais antigo tipo literário teológico
básico de teologias eclesiológicas neotestamentárias” 96, refletem uma realidade
bastante comum na segunda metade do primeiro século. Trata-se das pequenas

96
WIEDENHOFER, S., “Eclesiologia”, p.67. “... Enviam-vos efusivas saudações no Senhor Áquila
e Priscila com a igreja que se reúne na casa deles” (I Coríntios 16:19). Alguns anos mais tarde Paulo
escreve aos romanos e afirma: “Saudai Priscila e Áquila.... e também a igreja que se reúne em sua
casa” (rom 16:3,5). Já na prisão, no final de sua carreira o apóstolo escreve a Filemom fazendo
menção da : “igreja que está em tua casa (Fl 2). Já, ao escrever aos Colossenses Paulo faz menção à
Ninfas e “à igreja que está em sua casa (Cl 4:15).
60

comunidades que se reuniam nas casas. Branick 97 faz menção de quatro saudações
feitas pelo apóstolo que ilustram bem esta realidade. Nelas o apóstolo “fala
explicitamente sobre igrejas domésticas: assembleias de cristãos que eram formadas
dentro e ao redor de famílias particulares”98. Note-se a naturalidade com que Paulo
fala destas comunidades domésticas evidenciando que se tratava de uma prática
comum no cristianismo primitivo. Os integrantes das famílias formavam uma
pequena comunidade e um ambiente favorável para a adoração e a proclamação da
mensagem evangélica. Além disso, se constituíam em locais mais seguros para que
várias famílias pudessem se reunir para compartilhar suas vidas e adorar a Deus.
Há evidências de que outros grupos de cristãos, fora do círculo Paulino,
também se reuniam em casa particulares. Um exemplo disso está na primeira
epístola de Pedro onde se podem encontrar muitas evidências indiretas de igrejas
domésticas. Branick99 afirma que

por cerca de um século a habitação particular moldou a vida da comunidade cristã,


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formando o ambiente o qual os cristãos se relacionavam uns com os outros, provendo


subestrutura econômica para a comunidade, plataforma para o trabalho missionário,
estrutura para a liderança e autoridade e, provavelmente, papel definido às mulheres.

Naturalmente os cristãos seguiam o exemplo do próprio Mestre Jesus Cristo


que tantas vezes utilizou o ambiente doméstico para curar enfermos, ensinar e viver
os valores do Reino de Deus e demonstrar amor de todas as formas que se possa
imaginar, vivendo e convivendo com todos os tipos de pessoas, sem discriminação
nem distinção alguma. Mais do que uma estratégia, este era um estilo de vida que
os/as discípulos/as de Jesus assimilaram e transmitiram para as gerações que os
sucederam.
Branick100 entende que foi durante a segunda metade do segundo século que
os cristãos começaram a dedicar seus lares às assembleias da igreja, reservando
determinados cômodos das suas casas para uso exclusivo das pequenas
comunidades que lá se reuniam. Faziam-se modificações na estrutura das casas
abrindo espaços maiores para abrigar o número cada vez maior dos que desejavam
se reunir para adorar a Deus e compartilhar suas vidas. Segundo o autor, só em 314
d.C., um ano após o Edito de Milão, surgirá a primeira basílica, uma construção

97
BRANICK, V., A igreja doméstica nos escritos de Paulo, p.11.
98
Ibid.
99
Ibid., p.13.
100
Ibid.
61

feita exclusivamente para servir de lugar da adoração para os cristãos. A partir daí
as reuniões cristãs receberam outra configuração. “A liderança passou a ser
concentrada em menos mãos: as mãos de uma classe especial de pessoas santas. As
atividades eclesiásticas tornaram-se rituais estilizados. O edifício, em vez de
comunidade, torna-se o templo de Deus”101. A experiência de Igreja caminhava
rumo a um outro tipo de institucionalização, diferente do inicial.
Durante os três primeiros séculos a grande ênfase esteve nas pequenas
comunidades domésticas. Até mesmo a terminologia utilizada pelos apóstolos
evidencia este ambiente familiar repercutindo na Igreja de Jesus Cristo. O apóstolo
Paulo dirige-se ou refere-se aos seus companheiros de caminhada como irmãos
(adelphos) 114 vezes102, evidenciando com isso o tipo de relacionamento que devia
caracterizar aqueles que se diziam seguidores/as de Cristo. Refere-se a si mesmo
como pai para as comunidades103. Chama Onésimo como “o filho que gerou na
prisão” (Fm 10) e considera Timóteo seu filho (Fl 2,22) na fé. Usa a metáfora da
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mãe grávida que gera os gálatas (Gl 4,19). Aliás, esta terminologia já vinha sendo
utilizada pelos judeus ao longo de sua história e o apóstolo Paulo apenas aplica para
as comunidades cristãs algo que já era comum nas comunidades judaicas,
evidenciando que a igreja começou com o relacionamento interpessoal íntimo e
intenso dos membros da família entre si e com Deus.
Meeks104 também afirma que as cartas do círculo paulino são ricas em
palavras e frases que denotam relacionamentos carregados de afetividade e emoção.
Palavras como alegria e regozijo, angústia, saudade, lágrimas mostram como as
comunidades se envolviam emocionalmente. Muitas vezes os destinatários das
cartas são denominados “santos” ou “sagrados”105 para distinguir daqueles que, não
aderindo a Cristo, não experimentavam essa relação tão próxima. Esses dois termos
denotam separação em relação aos cristãos, mas também denotam relacionamentos
muito íntimos comuns nas comunidades primitivas dos discípulos e discípulas de
Jesus Cristo. Afirma que a expressão “meus irmãos” aparece 65 vezes nas epístolas
de Paulo, o que indica intimidade entre ele e as comunidades cristãs do seu tempo
e dos próprios membros das comunidades entre si.

101
Ibid.
102
Ibid., p.14.
103
Como um exemplo pode-se citar 1 Ts 2,11.
104
MEEKS, W. A,. Os primeiros cristãos urbanos, p.191.
105
Cf.: 1 Cor 1,2; 2 Cor.1,1; Rm 1,7, Ef. 1,1; Cl 1,2 e outros.
62

Ainda que os grupos locais de seguidores/as de Jesus contassem com alto grau
de coesão e de identidade de grupo 106, tinham consciência de que pertenciam a um
movimento maior, que se espalhava pelo mundo conhecido de então 107. Em algum
momento eles tiveram que criar estruturas que mantivessem conexão entre aqueles
que se diziam seguidores/as de Jesus Cristo. Foi neste contexto que se
desenvolveram as formas essenciais da Igreja, que viriam ser ampliadas
posteriormente108: as primeiras declarações de fé (cânon da Escritura Sagrada,
credo, regra de fé), as formas básicas de culto a Deus (batismo e ceia), estrutura de
liderança (bispos, presbíteros, anciãos, diáconos) formas de comunicação da
mensagem de Jesus Cristo (pregação, ensino), sem, contudo, haver ainda uma
configuração uniforme da Igreja.
Segundo Meeks109, mesmo diante de tantas evidências de relacionamentos
profundos e significativos, as comunidades cristãs primitivas, como movimento
social, precisaram desenvolver suas próprias estruturas, fato que certamente trouxe
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benefícios, fortalecendo os laços entre os membros das comunidades e as próprias


comunidades entre si, mas ao mesmo tempo trouxe dificuldades para a manutenção
da comunhão. É isso que será tratado a seguir.

3.4.
O crescimento da Igreja, a oficialização e os pequenos grupos

O processo de configuração da experiência eclesial passou por significativa


transformação na medida em que o cristianismo ingressou no império romano. A
passagem de uma experiência periférica para a experiência de religião oficial do
Estado deixou marcas relevantes no modo de a Igreja se compreender e, em
consequência, se organizar. De uma experiência em comunidades em que se
atribuía grande valor aos relacionamentos humanos primários, próximos e
determinantes, passou-se à experiência de uma religião da sociedade, onde os
relacionamentos imediatos não mais contavam tanto para a vivência da Fé. Como

106
MEEKS, W. A,. Os primeiros cristãos urbanos, p.234.
107
Pode-se constatar isso lendo os dois primeiros capítulos de 1 aos Coríntios e outros textos
correlatos.
108
WIEDENHOFER, S., “Eclesiologia”, p.51.
109
MEEKS, W.A., op. cit., p.191.
63

religião oficial, tais relacionamentos eram pressupostos mais do que priorizados.


Valia a presença em toda a sociedade, pressupondo-se que, estando em tal
sociedade, a experiência de comunhão se daria como que automaticamente. Passou-
se do que se pode chamar de uma experiência de comunhão ou comunidade para
uma experiência de instituição.110
Como em toda configuração histórica, exatamente por ser histórica, há
valores e limites. Por um lado, a passagem para a experiência chamada de sociedade
pode ser vista como positiva. Por outro, seus limites se tornam igualmente claros.
Na verdade, este processo pode ser visto a partir de ângulos diferentes. Por um lado,
este tipo de institucionalização se fez necessário para que a Igreja pudesse se fazer
presente no mundo romano como decorrência da missão recebida de Cristo. Por
outro lado, esta transformação, levada historicamente ao extremo, constituiu-se em
elemento de fragilização da comunhão tal como descrita em relação às comunidades
primitivas.
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Boff, um dos críticos do que ele chama de igreja-instituição reconhece que


“nenhuma comunidade subsiste sem um mínimo de instituição que lhe confira
unidade, coerência e identidade. A instituição não é um objetivo em si, mas uma
função em favor da comunidade de fé” 111. Foi neste sentido que a Igreja Cristã
buscou alternativas para se defender das heresias e organizar as comunidades,
definindo as formas essenciais da igreja 112. As normas básicas da fé (cânon da
Escritura Sagrada, credo apostólico) as formas básicas de culto divino (batismo e
Eucaristia), as formas básicas de constituição eclesial (bispos e diáconos), as formas
básicas de veiculação (pregação, ensino, reflexão teológica, concílios ecumênicos).
Assim aconteceu ao longo da história do Cristianismo. Sempre houve e há
necessidade da instituição e, neste sentido, ela pode fortalecer e possibilitar a
comunhão daqueles que fazem parte das comunidades.
Por outro lado, é inegável que, quando a passagem para a configuração de
perfil mais institucional e societário que comunitário tornou a estrutura eclesial
mais complexa, pressupondo a existência dos relacionamentos primários como
decorrência de uma sociedade totalmente cristã. Este fato, na prática, levou à não
valorização dos relacionamentos primários como elementos importantes para a

110
BRUNNER, E., O equívoco sobre a Igreja, p.15.
111
BOFF, L., Igreja, p.76.
112
WIEDENHOFER, S., op. cit., p.71.
64

efetiva comunhão. Isso não ocorreu de um momento para o outro, nem na mesma
proporção em todos os lugares, mas ao longo do tempo, de maneira lenta e
progressiva, implantou-se como configuração da Igreja.
Segundo Brunner, em termos, por exemplo, de ministérios, isto é, no que diz
respeito à condução da Igreja, o modelo institucional acabou por distanciar os
líderes eclesiásticos do povo e a ênfase nos sacramentos foi se tornando a estrutura
dorsal da experiência eclesial, uma estrutura de aspecto mais legalizante, com
pouco espaço para a verdadeira comunhão dos/as discípulos/as de Jesus Cristo. “Da
comunhão pessoal desenvolve-se uma instituição, da koinonia a um coletivo, do
organismo – o Corpo de Cristo – desenvolve-se o aparato da autoridade
eclesiástica”.113
Vincent Branick114 faz um sumário das mudanças de paradigmas no processo
de institucionalização da Igreja de Jesus Cristo. Segundo ele

a ceia do Senhor mudara-se de uma refeição noturna para um ritual estilizado. A


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assembleia mudara-se da sala de jantar para um salão sagrado. A liderança dos


membros da família para um clero especial (...). Esse ciclo da igreja doméstica para
a basílica resume a dialética entre a visão original e a adaptação posterior, entre as
Escrituras e a Tradição. Jesus nos Evangelhos escolhia pessoas de várias tendências
para papéis de liderança. Ele reunia as multidões nas montanhas e praias dos lagos.
Os cristãos posteriores necessitavam de uma casa sacerdotal de líderes que
conduzissem os cultos nos santuários. Paulo escreveu sobre assembleias de pessoas
como o templo de Deus; os cristãos posteriores entenderam o templo como o
edifício.

São críticas duras, não se pode negar. Sua importância para fins desta tese
encontra-se no fato de que, se, por um lado, a Igreja precisa se configurar e
reconfigurar de acordo com o tempo e o espaço, por outro, há, em sua identidade
mais profunda, determinados elementos que não podem ser deixados de lado, nem
tampouco pressupostos. Um desses elementos é a comunhão. É verdade que o
processo de institucionalização se fez necessário e que o movimento iniciado por
Jesus Cristo não teria ido muito longe sem o contínuo transformar na organização
da Igreja. Entretanto, da forma como esta configuração aconteceu, no sentido de
Igreja-Sociedade ou Igreja-Instituição, é possível reconhecer que isso acabou
fragilizando os laços humanos que concretamente expressavam a comunhão.
Séculos depois, o que se vê hoje nas grandes comunidades são aglomerados de

113
BRUNNER, E., op. cit., p.86.
114
BRANICK, V., A igreja doméstica nos escritos de Paulo, p.135.
65

pessoas que não se conhecem e que se encontram, na maioria das vezes, para
celebrações, para ritos, mas sem genuína comunhão cotidiana de vida. No campo
católico, esta comunhão de vida ocorre, principalmente, com círculos pequenos, ao
redor do sacerdote, sem condições de atingir um número maior de pessoas. No
campo protestante, ocorre através da divisão e constituição de uma nova
comunidade eclesial, uma nova instituição ou, como se costuma dizer, uma nova
igreja.115

3.5.
Tentativas de resgate da comunhão através dos pequenos grupos

Na medida em que a comunhão faz parte integrante da experiência cristã e,


ao longo da história do cristianismo, os processos de oficialização alteraram esta
realidade, diversas tentativas de recuperação da identidade original, enquanto
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Pequenos Grupos, foram tentadas. Indicam-se aqui algumas consideradas


importantes. Partindo-se de uma experiência medieval, a dos valdenses, chega-se à
marcante realidade das comunidades eclesiais de base, no campo católico, e às
igrejas em células no campo protestante.

3.5.1.
Algumas experiências de estruturas de comunhão

Durante toda a história da Igreja podem-se constatar movimentos e iniciativas


de discípulos/as de Jesus Cristo em busca de estratégias que privilegiassem
relacionamentos e comunhão entre os cristãos, utilizando-se para isso a ideia das
pequenas igrejas ou pequenos grupos que se reuniam nas casas das pessoas, a
exemplo do que acontecia nas igrejas mencionadas no Novo Testamento. Aqui, são
mencionados alguns destes grupos, na consciência de que não esgotam o desejo
contínuo de busca pela comunhão. São alguns exemplos, dois anteriores à Reforma,
quatro diretamente ligados às Igrejas da Reforma e um ligado à experiência católica

115
Registro de algumas experiências nesse sentido foi feito na Dissertação de Mestrado na Escola
Superior de Teologia de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, apresentada e aprovada em Janeiro de
2010 e posteriormente publicada no livro Assim nasce uma igreja, obra já citada neste trabalho.
66

pós-conciliar. Com isso, acredita-se poder fornecer, ainda que historicamente


limitada, uma visão geral do processo de busca de estruturas de comunhão.
Dentre os movimentos que adotaram a estratégia dos Pequenos Grupos
podem ser mencionados os valdenses, cristãos europeus medievais seguidores de
Pedro Valdo116 (1140-1218). Neste movimento, não interessa tanto para efeitos
desta tese, a concepção teológica e as dificuldades encontradas no sentido da
ortodoxia. Importa mais perceber que, no desejo de buscar a vivência de um
cristianismo autêntico, os valdenses utilizaram as casas dos membros do
movimento e até mesmo lugares ermos como as grutas e cavernas locais onde os
grupos se reuniam para estudar a Bíblia e desenvolver comunhão de vida uns com
os outros.117
Ao lado dos valdenses e de outros grupos que, na busca por autêntica
identidade cristã, enfrentaram problemas no campo da ortodoxia, encontram-se
outras experiências que conseguiram articular ortodoxia e configuração
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comunional. As comunidades que surgiram com o movimento monástico podem


igualmente ser mencionadas como uma das tentativas de se viver em comunhão de
maneira mais profunda118. Muito embora os propósitos principais deste movimento
fossem a busca da santidade e a prática da devoção pessoal, a comunhão entre os
monges passou a ser um marco deste movimento que teve origem no Oriente, no
século IV, de onde se espalhou pelo Ocidente119 e marcou o Cristianismo, sobretudo
durante toda a Idade Média. Moltman120 afirma que

a vida comunitária dos mosteiros teve seu efeito também sobre os leigos. Formavam-
se fraternidades religiosas leigas que adotavam dos mosteiros a forma econômica da
comunhão dos bens. Outras fraternidades leigas dedicavam-se à assistência aos
enfermos, à assistência aos pobres, aos sepultamentos e a outras necessidades
sociais. Os irmãos da vida comunitária formavam células de comunas cristãs nas
cidades.

Um terceiro exemplo pode ser encontrado, séculos mais tarde, entre os


pietistas. Entre 1618 a 1648, a Europa se viu envolvida numa série de conflitos
sangrentos, conhecidos como a guerra dos trinta anos, marcada pela mistura de

116
Existem dúvidas sobre a verdadeira origem da expressão valdenses. Há quem acredite que o
adjetivo valdensis significaria habitante dos “valdes”, palavra que designa certa configuração do
território. (LACOSTE, J.-Y., Dicionário crítico de teologia, p.1811).
117
TUNALA, M., Pequeno grupo multiplicador, p.18.
118
WIEDENHOFER, S., “Eclesiologia”, p.127.
119
CAIRNS, E. E., O cristianismo através dos séculos, p.130.
120
MOLTMANN, J., A igreja no poder do Espírito, p.407.
67

motivos religiosos e políticos. O fato é que isso trouxe muito desconforto para os
cristãos que lutavam entre si para ocupar territórios, produzindo um cristianismo
nominal e apático na maioria das igrejas, tanto católicas como protestantes. Neste
contexto surge o movimento petista121, como uma tentativa de reacender nas
comunidades protestantes a chama de amor a Deus e ao próximo, depois de trinta
anos de demonstrações de ódio e rancor entre os cristãos. Neste sentido, destaca-se
o luterano Philipp Jacob Spener (1635-1705) que, desde a sua juventude, teve
contato e recebeu influência do misticismo pré-reformista, do puritanismo inglês e
dos anabatistas.122 Em 1663 tornou-se pastor em Estrasburgo, uma cidade que
tentava se recuperar das consequências da guerra que havia assolado a região.
Procurou fomentar em sua comunidade “uma vida cristã mais profunda”. Para tanto,

costumava reunir em sua própria casa um grupo com o objetivo de promover o


cultivo da vida cristã por meio da discussão do sermão dominical, a oração e o estudo
da Bíblia. O movimento se estendeu e os grupos chegaram a chamar-se collegia
pietatis, expressão que deu origem ao termo pietismo que deu nome ao
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movimento.123

Era uma tentativa de transformar em vida aquilo que se pregava nos púlpitos
das igrejas da época. Spener se ocupou com afinco em prol de uma reforma moral
e espiritual. Não estava tão preocupado com as áridas discussões teológicas muito
comuns em seus dias, tanto nas igrejas como nas universidades europeias. Queria
ver os cristãos vivendo os princípios do evangelho e superarando o formalismo
estéril dos cultos praticados na maioria das igrejas cristãs da época.
Embora não tivesse a intenção de utilizar os Pequenos Grupos como uma
estratégia eclesial, eles se espalharam por outras cidades europeias. A partir de
1676, Spener cunhou a expressão “igrejinha na igreja” (ecclesiola in ecclesia), o
que acabou se tornando uma marca do movimento petista. 124 Além da leitura das
Escrituras, nestes pequenos grupos acentuava-se a ajuda mútua para o crescimento
espiritual, permitindo identificar a presença dos relacionamentos primários.

121
O termo “pietismo” deriva da palavra latina pietas cuja tradução e “devoção” ou “piedade”. O
pietismo é considerado o maior movimento de renovação religiosa depois da Reforma. Fenômeno
inicialmente teológico, acabou influenciando todos os aspectos da cultura e da religiosidade alemã
até os nossos dias. LACOSTE, J.-Y., Dicionário crítico de teologia, p.1399.
122
LATOURETTE, K. S., Historia del cristianismo, p.257.
123
Ibid. (tradução do autor deste trabalho)
124
TESSNABB, M. F., “Pietismo”, p.788.
68

John Wesley125 (1703-1791) também é mencionado como alguém que


utilizou a ideia dos pequenos grupos de estudo. No final do Século XVIII Wesley
desenvolveu mais de 10 mil grupos pequenos, aos quais denominou classes.
Através destas classes, as pessoas eram evangelizadas e discipuladas,
desenvolvendo relacionamentos que lhes possibilitavam a comunhão cristã.
Compostos por cerca de 12 pessoas, esses Pequenos Grupos se encontravam
regularmente nos lares e, na medida em que iam crescendo, multiplicavam-se em
outros grupos tornando assim a expansão do reino de Deus sustentável em função
da comunhão e do discipulado que eram efetivados através destes grupos.
O próprio Wesley surpreendeu-se com o resultado dos seus grupos de estudo.
“Ele notou que os grupos tinham muito mais para oferecer, e então começou a usá-
los para crescimento espiritual. Os membros começaram a experimentar uma
comunhão muito especial, apoiando-se em suas lutas e levando os fardos uns dos
outros”126. Mesmo sem planejar isso, Wesley acabou organizando uma grande rede
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de cuidado em que os/as discípulos/as de Jesus Cristo experimentavam o amor


cristão, preocupavam-se uns com os outros e exerciam o pastoreio mútuo. Embora
originários da Igreja Anglicana, John Wesley, juntamente com seu irmão Charles
(1707-1788), acabaram dando origem a um movimento conhecido como
metodismo, que perdura até os dias atuais contando com mais de 60 milhões de
membros e de simpatizantes ao redor do mundo.127
Dietrich Bonhoeffer(1906-1945), teólogo e pastor luterano que acabou sendo
executado pelos nazistas pouco antes do final da segunda guerra mundial, escreveu
um livro128 relatando sua experiência ao longo de três anos (1935-1937) em que
dirigiu um seminário clandestino ligado à Igreja Confessante129. Vivendo em
reclusão com cerca de vinte estudantes de teologia, compartilhou uma vida
espiritual muito intensa diante da ameaça que representava a ditadura de Hitler. Em
1937, agentes da Gestapo fecharam o seminário, acabando com o experimento da
“vida em comunhão”. Depois disso, tornou-se cada vez mais difícil reunir-se para

125
COMISKEY, J., Crescimento explosivo da igreja em células, p. 23.
126
TUNALA, M., Pequeno grupo multiplicador, p.19.
127
LACOSTE, J-Y., op. cit., p.1128-1131.
128
BONHOEFFER, D., Vida em comunhão, 95p.
129
Igreja que criticava o regime nazista e por isso era perseguida.
69

celebrar o culto. O controle e a perseguição tornaram-se mais intensos, dando início


ao tempo da solidão na vida de Bonhoeffer e de seus alunos130.
Em 1938, em pleno calor da guerra, ao escrever o livro relatando sua
experiência e expondo conceitos básicos do que entendia por Igreja, o autor valoriza
sobremaneira a comunhão cristã, a vida em comunidade, o compartilhar de vida
entre irmãos e irmãs na fé. Segundo ele “comunhão cristã é comunhão por meio de
Jesus Cristo e em Jesus Cristo. Não há comunhão cristã que seja mais ou menos do
que isso (...). Pertencemos uns aos outros tão somente por meio de e em Jesus
Cristo”.131 “Bonhoeffer via no reconhecimento da realidade revelada da
comunidade de Deus o ponto de partida da teologia” 132. Impossível medir a
importância que Bonhoeffer dava ao desenvolvimento da comunhão entre os/as
verdadeiros/as discípulos/as de Jesus Cristo muito embora valorizasse também a
Igreja enquanto instituição. Acreditava que a Igreja não podia de forma alguma
contentar-se com aquilo que chamou de “graça barata”. Entendia que
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a graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a


disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a
absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça
sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado133.

Para esse teólogo que resistiu às tentações de um evangelho fácil,


submetendo-se totalmente a Cristo, a vida em comunidade era essencialmente
necessária no processo de discipulado cristão.
Como já foi lembrado neste trabalho134, Paul Yonggi Cho é tido como
precursor de todos os movimentos que utilizam, nos tempos atuais, a estratégia dos
Pequenos Grupos. No início da segunda metade do século passado, ele iniciou um
ministério de pequenos grupos aos quais denominou “grupos familiares” 135, que
causou um grande impacto no crescimento da Igreja Central do Evangelho Pleno,
em Seul, Coréia do Sul. O próprio Cho 136 afirma em relação à sua experiência:

130
BONHOEFFER, D., op. cit., p.5.
131
Ibid., p.12.
132
LACOSTE, J.-Y., Dicionário crítico de teologia, p.320.
133
BONHOEFFER, D., Discipulado, p.10.
134
Foi mencionado como referência para o Ministério Igreja em Células (2.3.1.1).
135
CHO, P. Y., Grupos familiares e o crescimento da igreja, p.57.
136
Ibid., p.58.
* Atualmente são cerca de 1.000.000 membros (2013), a maior congregação ou subdenominação
protestante na Coreia do Sul e em todo o mundo.
70

Gosto de descrever a Igreja Central do Evangelho Pleno como a menor igreja do


mundo e também a maior. É a maior porque no momento em que escrevo este livro
nossa congregação compõe-se de mais de 150.000 membros*. Mas é também a
menor igreja do mundo – porque todo membro faz parte de um grupo familiar
formado de quinze famílias ou menos.

A experiência de David Yonggi Cho acabou influenciando líderes cristãos de


todo o mundo que visitaram e estudaram o fenômeno da igreja organizada em
pequenos grupos. A partir destes estudos, várias outras propostas foram elaboradas
e praticadas ao redor do mundo. Atualmente a ideia dos pequenos grupos, que
recebe várias nomenclaturas como células, grupos familiares, grupos de comunhão
etc, já se espalhou por todo o mundo. Acredita-se que a China137 é onde existe o
maior número de igrejas em pequenos grupos do planeta. 138 Entretanto muitas
outras igrejas ao redor do mundo tem experimentado grande crescimento através
dos pequenos grupos. Alguns exemplos que podem ser citados são: Missão
Carismática Internacional, em Bogotá, Colômbia, liderada pelo pastor César
Castellanos, Missão Cristã Elim, em San Salvador, El Salvador, liderada pelo pastor
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Sergio Solorzano, Igreja Batista Comunidade da Fé, em Cingapura, liderada pelo


pastor Lawrence Khong 139, Centro Mundial de Oração Betânia em Baker,
Louisiana, Estados Unidos da América, liderada pelo pastor Larry Stockstill 140,
Missão de Fé Apostólica, na África do Sul, Missão Protestante Batista de
Yopougon, na Costa do Marfim, liderada pelo pastor Dion Robert, Igreja Masorete,
na Etiópia. As duas maiores Igrejas Presbiterianas, como também a maior Igreja
Metodista do mundo são igrejas em células, em Seul.141

137
Note-se que a China é um dos países mais perseguidos do mundo contemporâneo. Segundo a
missão Portas Abertas “todos os tipos de cristianismo são afetados pela perseguição na China, mas
os pequenos grupos de cristãos convertidos de origem muçulmana ou tibetana são perseguidos
duplamente. A perseguição parte principalmente da família e do ciclo social que o cristão está
inserido. Para esses novos convertidos de origem específica, também é muito complicado
amadurecer na fé, pois nem sempre conseguem ser acolhidos pela igreja para tratamento da vida
espiritual. Os líderes religiosos também são vistos com suspeita, isso por causa do crescimento da
nação cristã que parece crescer cada vez mais” (PORTAS ABERTAS. “China”)
138
CHO, P. Y., Grupos familiares e o crescimento da igreja, p.20.
139
Ibid., p.25-26.
140
STOCKSTILL, L., A igreja em células, p.120.
141
LAY, R. M., Manual do auxiliar de célula, p.20.
71

3.5.2.
O Concílio Vaticano II rumo à comunhão

Como já expressado antes, na introdução a este capítulo, não se pode pensar


a eclesiologia de comunhão no mundo católico sem que passe pelo Concílio
Vaticano II. Entendido não apenas como o evento que reuniu bispos católicos do
mundo inteiro, mas também como um caminhar histórico de preparação e um
período posterior de assimilação, o Concílio marcou decisivamente a Igreja
Católica Romana.
Ao longo de sua história, a Igreja Católica promoveu muitos concílios e
outros eventos com propósitos variados. Estes concílios, principalmente os
primeiros, buscaram resolver questões de natureza doutrinal, como, por exemplo, a
dualidade humana e divina de Cristo. Foi, todavia, o Vaticano II que deu um grande
passo na direção do resgate da comunhão entre os seus membros. Suas reflexões e
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decisões trouxeram mudanças significativas,

buscando atender às exigências do contexto social, cultural e religioso do século XX


até então, por meio de uma atitude dialógica da Igreja com o mundo. Isso implicou
dar à Igreja uma nova configuração conceitual, fundamentá-la na Palavra de Deus e
na celebração do mistério da fé e explicitar a necessária ação da Igreja em relação a
si mesma e em relação ao mundo. Ademais, esse Concílio não foi apenas um
acontecimento celebrado e realizado em sua formulação teológica, mas um evento
que teve continuidade nas Igrejas locais dispersas pelo planeta, mediante um
processo clarividente de adaptação.142

Ney de Souza143 faz um relato detalhado do que estava acontecendo no mundo


e na Igreja Católica quando o Concílio foi anunciado pelo papa João XXIII.
Menciona como as comissões preparatórias trabalharam elaborando textos para
serem submetidos à discussão e aprovação do Concílio. Menciona também os
quatro períodos vividos pelo Concílio, desde a sessão pública de abertura, que
aconteceu no dia 11 de outubro de 1962, até a de encerramento, no dia 08 de
Dezembro de 1965, incluindo a morte de João XXIII, no dia 03 de junho de 1963 e
a entrada de Paulo VI, no dia 21 de Junho de 1963.
Para Bruno Forte, “a eclesiologia católica no limiar do século XX
apresentava-se mais como fruto de reações e defesas que como o anúncio alegre e

142
GONÇALVES, P. S. L.; BOMBONATTO, V. I. (Orgs), Concílio Vaticano II, p.9.
143
Ibid., p.17-67.
72

libertador do “mistério” escondido desde todos os séculos e revelado em Cristo” 144.


E certamente este não era e não é apenas um problema da Igreja Católica, mas uma
dura realidade também nas Igrejas Protestantes.
Ghislain Lafont145 inicia sua obra exatamente neste contexto de crise
vivenciada pela Igreja Católica na metade do século passado, quando o papa João
XXIII ousou formular a pergunta: “O que fará a Igreja? A barca mística de Cristo
deve ficar agitada sobre as ondas e deixar-se levar à deriva? Não se espera dela
antes não apenas uma nova advertência, mas ainda a luz de um grande exemplo?
Qual poderia ser essa luz?” Deste diálogo surgiu a brilhante ideia de convocar o
Concílio Vaticano II, que acontece em meio a esta crise, sobretudo de declínio da
instituição Igreja e de todas as demais instituições e a carência de comunhão entre
os cristãos. Esta foi uma tentativa da Igreja Católica de resgatar, entre outros
aspectos, o elemento comunhão, entendendo que para isso, entre outros aspectos,
seria necessária uma reconfiguração das suas estruturas de funcionamento.
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Para Yves Congar, “foi a primeira vez que a Igreja se definiu a si mesma” 146.
Ele menciona que os Concílios anteriores trataram dos Sacramentos e do
Sacerdócio (Trento), da primazia do Papa (Vaticano I) e outros. Entretanto, os
Concílios anteriores “não haviam formulado uma eclesiologia completa” 147 como
o fez o Vaticano II, tocando a Igreja em profundidade e com desdobramentos que
certamente ocuparão muitas gerações, como tem ocorrido passados já mais de meio
século de sua realização e como serão destacados e aplicados no decorrer deste
trabalho.
Falando sobre aquele que considera o documento principal do Concílio, a
Constituição Dogmática Lumen Gentium, Alois Grillmeier148 afirma ser este

uma síntese do autoconhecimento da Igreja, resultante de épocas passadas e dos dias


de hoje, e é um fruto dos diversos movimentos do presente: o romper de novos rumos
deste século nos campos bíblico, litúrgico, pastoral, ecumênico e dogmático.
Também não devemos esquecer as novas orientações políticas e humanas do período
de pós-guerra: a valorização da pessoa e sua liberdade, a maior abertura para os
problemas sociais, o progressivo abandono das heranças da época feudal, a paulatina
separação do homem moderno da natureza e de seu simbolismo, a confiança na
técnica e enfim a vontade de união internacional e de convivência no plano mundial

144
FORTE, B., A igreja ícone da Trindade, p.13.
145
LAFONT, G., Imaginar a Igreja católica, p.11.
146
CONGAR, Y., “À guisa de conclusão”, p.1.285.
147
Ibid.
148
GRILLMEIER, A., “O Espírito, a concepção fundamental e as propriedades da constituição”,
p.252.
73

(...). A vontade de ter contato com as demais Igrejas cristãs e com as religiões não-
cristãs, e mesmo com o mundo e os tempos modernos, tomados como um todo,
manifestou-se no Concílio principalmente pelo fato de que foi e continua sendo
reexaminada a posição do ensino doutrinal eclesiástica, litúrgica e moral, no
indivíduo e na sociedade.

Mais do que isso, Grillmeier 149 destaca que ao contrário da maioria dos
Concílios anteriores, este não é motivado por riscos ou perigos de heresias ou
cismas, mas a própria igreja olhando para si mesma em busca de uma auto
avaliação, diante dos grandes desafios que se via envolvida. “Ao se encontrar em
um mundo radicalmente transformado, ela se perguntou por que estava no mundo
e qual a sua esperança”150. Sem ignorar nem romper com a tradição eclesiástica, o
Concílio vai além, buscando nas Escrituras e nos Padres Apostólicos subsídios que
pudessem resgatar um estilo de vida mais inclusivo, voltado para a comunhão entre
as comunidades e nas comunidades, o que veio a ser conhecido posteriormente
como “eclesiologia de comunhão”. Como afirma Yves Congar, um dos teólogos
mais brilhantes e colaboradores do Vaticano II desde o período de preparação,
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durante o próprio concílio e nos anos que dele se seguiram: “a comunhão é a


essência da Igreja – não é um modelo de Igreja, mas é o modelo para a Igreja” 151.
Congar152 afirma que

a Igreja é, em sua visibilidade, um sacramentum que corresponde à realidade


espiritual, res, à qual deve servir e, neste sentido prover. Comunhão em forma de
sociedade, a Igreja é, como sacramento da salvação e da união com Deus, o fruto da
‘economia’, que é ela mesma, por uma graça, um efeito e uma consequência, na
história, da ‘teologia’, isto é, do mistério da Santíssima Trindade (ver o capítulo I de
Lumen gentium). Esta contribuição dogmática do Concílio Vaticano II é fruto de
algumas décadas de retorno às fontes bíblicas, patrísticas e litúrgicas, de diálogo
ecumênico, enfim de redescoberta, pela Igreja católica de sua alma oriental. Pois no
Concílio esta ficou expressa. O resultado foi mais que um aggiornamento: foi uma
conversão, uma reforma.

Trata-se de um evento que muda a direção da Igreja Católica radicalmente, a


partir do seu próprio conceito ou teologia da igreja, passando de

uma Igreja-Instituição ou de uma Igreja-Sociedade-Perfeita para uma Igreja-


Comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-Poder
para uma Igreja-Pobre, Despojada, Peregrina; de uma Igreja-Autoridade para uma

149
GRILLMEIER, A., “O Espírito, a concepção fundamental e as propriedades da constituição”, p.
253.
150
MORAES, E. A. R., “A eclesiologia de comunhão de Yves Congar e sua relevância para a Igreja
de hoje”, p.183.
151
Ibid., p.200.
152
CONGAR, Y., Igreja e papado, p.68.
74

Igreja-Serva, Servidora, Ministerial; de uma Igreja Piramidal para uma Igreja-Povo;


de uma Igreja-Pura e sem mancha para uma Igreja-Santa-Pecadora, sempre
necessitada de conversão e de reforma; de uma Igreja-Cristandade para uma Igreja-
Missão, uma igreja toda ela Missionária.153

Como se pode ver por esta análise comparativa, o Concílio Vaticano II


procurou trazer a Igreja de volta para o meio do povo, de quem tinha se distanciado,
perdida nas estruturas institucionais. Fuellenbach caminha nesta mesma direção, ao
afirmar que “o concílio estava muito preocupado em apresentar uma imagem da
Igreja como ponto de referência para a tarefa de captar sua identidade e sua missão
no mundo de hoje”154. Mesmo não fornecendo uma definição específica e objetiva
da Igreja, “encontramos no documento sobre a Igreja um estimulante retorno à
compreensão bíblica de Igreja” 155 Dois documentos muito importantes sobre a
Igreja resultaram do Concílio do Vaticano II.

Lumen Gentium (luz para as nações) define a Igreja como luz para todas as nações
(embora o termo luz se refira, primeira e precipuamente, a Jesus) [...] Gaudium et
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Spes (Alegria e esperança) procura detalhar a relação da Igreja com o mundo. Ela
descreve a Igreja como uma comunidade cuja missão é a de proporcionar alegria e
esperança para o mundo que com frequência parece extremamente sóbrio e
desesperado, desprovido de real alegria e ignorante do caminho a tomar e da direção
a seguir.156

Por tudo isso, o Concílio Vaticano II assume a postura da Igreja como


comunhão de pessoas e de Igrejas, refutando toda redução da comunidade eclesial
a mera realidade espiritual ou a mera realidade visível, propondo o mistério da
comunhão que brota da Trindade e a ela se volta157, povo em marcha, entre o “já”
da primeira vinda de Cristo – que o reuniu – e o “ainda não” de seu retorno, que o
enche de esperança comprometida e jubilosa e que serve de motivação para a
vivência dos valores do Reino de Deus ensinados por Jesus Cristo, incluindo a
solidariedade, o amor, a mutualidade e o serviço cristão.
Segundo Valter Kasper 158, “a eclesiologia da communio (...), preparada muito
tempo antes do Concílio e aludida em várias partes do Concílio (...), forma o pano
de fundo de todas as imagens bíblicas aludidas para descrever a essência da igreja”

153
GONÇALVES, P. S. L.; BOMBONATTO, V. I. (Orgs), Concílio Vaticano II., p.7.
154
FUELLENBACH, J., Igreja, p.63.
155
Ibid.
156
Ibid., p.64-65.
157
FORTE, B., A igreja ícone da Trindade, p.15.
158
KASPER, V., A igreja católica, p. 47.
75

tornando-se a ideia eclesiológica norteadora do Concílio. Segundo Kasper 159, a


partir do Concílio do Vaticano II, “a eclesiologia da communio se tornou em grande
parte bem comum tanto da teologia católica como da ortodoxa e parcialmente
também da teologia evangélica”.
A eclesiologia de comunhão é fundamentada pelo Concílio Vaticano II na
comunhão intratrinitaria entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 160 Vista sob a ótica
da communio, a igreja passa a ser o retrato e o ícone da Trindade.161 Segundo Bruno
Forte162

a Igreja como comunhão vem da Trindade, reflete a comunhão trinitária, uma na


diversidade, e ruma para a Trindade, na recapitulação final de todas as coisas em
Cristo, para que ele as entregue ao Pai na comunhão da Glória. A comunhão eclesial
é o lugar de encontro da história trinitária de Deus e da história humana, onde uma
passa continuamente pela outra, para transformá-la e unificá-la e onde as vicissitudes
deste mundo são conduzidas para a conclusão de Deus. A condição de lugar da
aliança, de sinal da Trindade no tempo dos homens, exige que a Igreja esteja
concretamente situada no devir humano. A iniciativa e a fidelidade do Deus trinitário
não se dirigem a uma história abstrata, inexistente, mas à história concreta, às
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‘histórias’ bem cincunscritas no tempo e no espaço. Aqui se situa o movimento do


Espírito, que flui do Pai pelo Filho, e sempre em ato de retornar pelo Filho ao Pai. É
o Espírito que torna a Trindade presente aqui e agora; é no Espírito que cada átimo
de tempo e de espaço têm acesso ao mistério trinitário da origem.

Aqui se encontra a razão principal pela qual as comunidades cristãs de todos


os tempos devem buscar, a todo custo, viabilizar a comunhão entre os seus membros
ainda que para isso seja necessário uma flexibilização de suas estruturas. Como
afirma Almeida:163

Admitindo a premissa de que Deus é um Deus triúno, ou seja, Deus Pai, Deus Filho
e Deus Espírito Santo, e que Ele foi, é, e será, conforme o Salmo 90,2, pode-se dizer
que Deus e sua criação transpiram, inspiram e apontam, em todo o momento, para a
comunhão, para uma outra concepção de comunidade que supõe relações de amor,
partilha, doação.

É impossível exagerar na importância que se deu à imagem do Povo de Deus


na Constituição sobre a Igreja. Tanto que destinou um capítulo próprio ao tema(LG
9-10) dando-lhe prioridade ao capítulo destinado à constituição hierárquica da
Igreja(LG 18-29) não permitindo que a questão institucional prevalecesse como

159
Ibid.
160
Ibid.
161
Ibid.
162
Ibid., p.51-52.
163
ALMEIDA, P. F.T. “Pequenos grupos missionários: mãos, braços ou corpo de Cristo?”.
76

ameaçava acontecer o início do Concílio 164. A consciência democrática que se


evidenciava na sociedade nos tempos do concílio certamente contribuiu para que se
repensasse a identidade da Igreja como um povo, como uma comunidade.
Entretanto, a questão da comunhão expressa através da categoria Povo de Deus, não
foi apenas a apropriação eclesiológica de categorias sociais. Como destaca
Semmelroth165, unidade, comunidade e igualdade dentro da Igreja hierarquicamente
estruturada sempre fizeram parte da imagem da igreja pautada nas páginas das
Escrituras166. Nesta Igreja, a dimensão de povo constitui um dos grandes
diferenciais em relação às demais instituições históricas. Entretanto, o que
“diferencia esse povo, que é a Igreja, de tudo o que lhe possa ser tão parecido, é sua
pertença a Deus. A Igreja não é apenas povo, mas povo de Deus”167. Em outras
palavras, a dimensão de povo não tem sua origem apenas na adaptação de formas
sociais participativas, mas no modelo trinitário de ser.
Ao voltar às fontes - na Palavra de Deus, tanto no Antigo como no Novo
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Testamento, e no testemunho dos Padres da Igreja - e buscar fundamentos que


constroem e dinamizam a comunidade cristã, o Concílio Vaticano II resgata a
imagem da Igreja como o Povo de Deus, fundamento que passa a ser paradigmático
para a eclesiologia Católica pós-conciliar, resgatando seu caráter ministerial,
sacramental e missionário enquanto povo de Deus em comunhão.168
Yves Congar, que participou ativamente da preparação, discussão e aplicação
dos conceitos tratados no Concílio, também conhecido como “o teólogo do modelo
eclesiológico Povo de Deus”169, defende a tese de que reconhecer a Igreja como o
povo de Deus faz parte da essência da experiência cristã, tendo este conceito
nascido da comunhão pericorética intratrinitária e a ela chamado.170 Tanto que o
primeiro artigo, do primeiro fascículo da revista “Concílium”, fundada por um
grupo de teólogos notáveis visando cultivar os valores destacados pelo Concílio,
artigo escrito por Yves Congar tinha por título “A Igreja como Povo de Deus” 171.
Era a evidência de que os principais teólogos que participaram do Concílio

164
SEMMELROTH, S. J., “A Igreja, o novo povo de Deus”, p.479.
165
Ibid.
166
Ver a imagem claramente expressa pelo apóstolo Pedro em I Pedro 2,9-10.
167
SEMMELROTH, S. J., op. cit., p.482.
168
CAVACA, O., “A igreja, povo de Deus em comunhão”, p. 101.
169
Ibid., p.159.
170
Ibid.
171
COMBLIN, J., O povo de Deus, p.17.
77

entendiam que conceber a Igreja como o Povo de Deus deveria se constituir no


símbolo de toda a mudança que o Concílio desejava produzir.
Ao destacar a Igreja como Povo de Deus o Vaticano II visa à temática da
historicidade, da comunitariedade da salvação e da igualdade de dignidade e de
condições de todos os batizados.172 Destacando a importância do Concilio para a
igualdade de todos os membros da Igreja Osmar Cavaca 173 afirma que

colocando os batizados todos em um mesmo nível de dignidade, a Lumen Gentium


abriu um caminho importante para a superação dos binômios clero-laicato. À medida
que se articula uma sadia correlação entre substantividade e relatividade, as tensões
clero laicato e religiosos-seculares vão sendo superadas pelas relações ministérios-
comunidade e carisma-comunidade, dentro de uma compreensão de Igreja povo de
Deus

David Bosch174, missiólogo protestante, reconhece a importância do Vaticano


II para o resgate da ideia de povo de Deus para a Igreja. “A igreja é vista como o
povo de Deus e, implicitamente, como uma igreja peregrina”. Uma igreja a
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caminho, que precisa flexibilizar suas estruturas e suas estratégias para que possa
cumprir sua missão neste mundo.

3.5.3.
O período pós-conciliar

A partir do Concílio Vaticano II, isto é, da década de 1960, muitas iniciativas


começaram a ser tomadas, tanto por católicos como por protestantes no sentido de
fomentar comunhão entre os membros da Igreja de Jesus Cristo. Embora o Concílio
não tenha feito alusão a pequenos grupos, menciona, por exemplo, a importância
da família na educação religiosa de seus filhos, denominando-a de “Igreja
doméstica” (LG 11). Após o Concílio, famílias norte-americanas passaram a
celebrar missas domésticas em várias partes dos pais. “Na América do Sul,
comunidades eclesiais de base e outros tipos de grupos de famílias que se reúnem

172
CAVACA, O., “A igreja, povo de Deus em comunhão”, p. 103.
173
Ibid., p.126.
174
BOSCH, D. J., Missão transformadora, p.448. Trata-se de um dos mais brilhantes missiólogos
protestantes do final do século passado, que faleceu em 1992 num trágico acidente automobilístico
na África do Sul, aos 62 anos, um ano depois de ter sido lançado seu livro que já se tornou um
clássico entre os protestantes.
78

para ajuda social e eclesiástica desenvolveram-se, demonstrando o desejo de


175
recuperar, entre outros aspectos, a identidade comunional da Igreja.
Certamente estes paradigmas têm produzido mudanças significativas na
Igreja Católica Apostólica Romana ao redor do mundo. Recebeu uma resposta
extremamente significativa da Igreja da América Latina que entendeu que “a
comunhão dos fiéis e das Igrejas locais do povo de Deus se sustenta na comunhão
com a Trindade” (DAp 155) e que “o povo de Deus se constrói como comunhão de
Igrejas Particulares” (DAp 182).
Não deve ter sido por acaso que Bruce L. Shelley176, professor de História da
Igreja e Teologia Histórica no Denver Theological Seminary, nos Estados Unidos,
escreveu um livro enfatizando a Igreja como o povo de Deus, livro este publicado
originalmente em 1978, treze anos depois do encerramento do Concílio Vaticano
II. Poucos escritos protestantes fazem qualquer conexão entre o Concílio Vaticano
II e as novas eclesiologias protestantes, mas é inevitável que se caminhe nesta
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direção e que se admita esta influência. Ao longo deste trabalho serão apresentadas
evidências que mostram esta conexão.
Dentro do processo de implantação da eclesiologia conciliar na América
Latina, não se pode deixar de mencionar as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs,
sobre as quais muito se estudou, com ampla literatura 177. Entre os latinos, sobretudo
os brasileiros este conceito tornou-se uma realidade através das Comunidades
Eclesiais de Base, tendo sido ampliada pela Conferência de Aparecida,
reconhecidas como Pequenas Comunidades (DAp 178-180). “Trata-se de formas
eclesiais variadas, a partir da categoria de povo, que manifestam a verdadeira
concreção da Igreja de Cristo”178 a partir das bases, do povo, das pequenas
comunidades onde a comunhão é cultivada e desenvolvida com profundidade.
De acordo com a atual consciência evangelizadora católica, é possível
compreender a caminhada e, mais ainda a contribuição das CEBs a partir do
Documento de Aparecida. Este Documento trata diretamente do assunto das CEBs
no 5º capítulo, ao se referir aos lugares eclesiais para a comunhão. Na verdade, todo

175
BRANICK, V., A igreja doméstica nos escritos de Paulo, p.9.
176
SHELLEY, B. L., A igreja, 142p.
177
Por exemplo: AZEVEDO, M. C., Comunidades eclesiais de base e inculturação da fé; CNBB -
As comunidades eclesiais de base na Igreja do Brasil; BARAGLIA, M., Evolução das comunidades
eclesiais de base.
178
CAVACA, O., “A igreja, povo de Deus em comunhão”, p.129.
79

o 5º capítulo pode ser visto como a manifestação da eclesiologia de comunhão


presente na vida católica. Especificamente sobre as CEBs, o Documento fala que
elas “permitiram ao povo chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao
compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços
leigos e à educação da fé dos adultos” (DAp 178, citando Puebla 629). O
Documento de Aparecida não nega a possibilidade de outras formas de pequenos
grupos ou pequenas comunidades (DAp 180), assunto que volta a ser tratado, dentro
do mesmo Documento, no capítulo seguinte, o 6º, quando se refere aos lugares de
formação do discipulado missionário (DAp 307-310).
Intimamente ligadas à Teologia da Libertação estão as Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) que são o que mais se identifica com os Pequenos Grupos
nas Igrejas Protestantes, como pode ser constatado no capítulo 4 deste trabalho.
Falando sobre as Comunidades Eclesiais de Base (CEBSs), Frei Beto179
afirma que “são pequenos grupos organizados em torno da paróquia (urbana) ou da
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capela (rural), por iniciativa de leigos, padres ou bispos”. As primeiras teriam


surgido na década de 1960, em Nísia Floresta, arquidiocese de Natal e em Barra do
Piraí, estado do Rio de Janeiro. Nascem do desejo do povo de Deus por mais
comunhão, relacionamentos mais significativos em meio a uma sociedade anônima,
individualista e materialista. Trata-se de “uma reação no sentido de criar
comunidades onde as pessoas se conhecessem e reconhecessem, pudessem ser elas
mesmas em suas individualidades, pudessem dizer sua palavra e ser acolhidas e
acolher”180 É o povo de Deus assumindo o direito de ser protagonista de sua própria
história à luz de seu relacionamento com Deus. Trata-se de uma nova experiência
de ser Igreja, de ser comunidade, de viver a fraternidade, sem romper com a tradição
cristã nem com a instituição. “Uma nova experiência eclesiológica, um renascer da
própria Igreja e por isso uma ação do Espirito no horizonte das urgências do nosso
tempo”181.
Embora sendo um jeito novo de ser Igreja, nesse tempo, reconhece-se que não
é algo inédito na história do povo de Deus. Cook182 advoga que “o Novo
Testamento é, fundamentalmente, a verdadeira história do surgimento,

179
BETTO, F., O que é comunidade eclesial de base, p.16.
180
BOFF, L., Eclesiogênese, p.9.
181
Ibid., p.10.
182
COOK, G., As comunidades eclesiais de base e a missão integral, p.326.
80

desenvolvimento e reflexão das primeiras Comunidades Eclesiais de Base”.


Entretanto, as CEBs contemporâneas surgiram pelo mover do Espírito, a partir da
reflexão e da reação diante da opressão e das injustiças vividas pelos mais pobres.
“São as próprias Comunidades que, em seus pastores e em suas bases, começam
por refletir a fé em chave libertadora”183. Leonardo Boff184 entende que a
característica principal desta maneira de ser igreja é a vida em comunidade e a
prática da fraternidade. Todos são efetivamente irmãos, todos participam, todos
assumem os seus serviços. É a Igreja de Jesus Cristo vivendo o amor por ele
demonstrado e ensinado, pois a Igreja, mais que a organização, é um organismo
vivo, que se recria, alimenta e renova a partir de suas bases. Mas, apesar de todo o
seu entusiasmo em torno das CEBs, Leonardo Boff185 alerta para o fato de que,
conquanto as CEBS sejam uma legítima expressão comunitária do Cristianismo,
não podem pretender ser uma alternativa global à Igreja-instituição, mas seu
permanente fermento renovador.
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Com o passar dos anos as CEBs passaram por altos e baixos como todo e
qualquer movimento de renovação. Mas certamente isso tem contribuído para que
as pequenas comunidades se aperfeiçoem em sua metodologia no cumprimento da
missão da Igreja. O Documento de Aparecida é claro em afirmar que “a Igreja é
comunhão no amor. Esta é a sua essência e o sinal através do qual é chamada a ser
reconhecida como seguidora de Cristo e servidora da humanidade” (DAp 161). Esta
conferência reconhece a importância das Comunidades Eclesiais de Base fazendo
menção direta a elas cinco vezes (DAp 99c, 99e, 178, 179 e 180). Como exemplo
pode-se citar:

Na experiência eclesial de algumas Igrejas da América Latina e do Caribe, as


Comunidades Eclesiais de Base têm sido escolas que têm ajudado a formar cristãos
comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como testemunha
a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros. Elas abraçam
a experiência das primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos
Apóstolos (At 2,42-47). Medellín reconheceu nelas uma célula inicial de
estruturação eclesial e foco de fé e evangelização. Puebla constatou que as pequenas
comunidades, sobretudo as comunidades eclesiais de base, permitiram ao povo
chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em
nome do Evangelho ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos
adultos; no entanto, também constatou que não têm faltado membro de comunidade

183
BOFF, C.; BOFF, L., Como fazer teologia da libertação, p.16.
184
BOFF, L., Eclesiogênese, p.182-183.
185
Ibid., p.10.
81

ou comunidades inteiras que, atraídas por instituições puramente leigas ou


radicalizadas ideologicamente, foram perdendo o sentido eclesial (DAp 178).

Além das CEBs, abordadas no ponto anterior deste trabalho, há outras


experiências vividas na Igreja Católica que demonstram a busca da comunhão e da
reconfiguração da Igreja. Sobre isso os Bispos de Aparecida afirmaram: “Como
resposta às exigências da evangelização (...) existem outras formas válidas de
pequenas comunidades, inclusive redes de comunidades, de movimentos, grupos de
vida, de oração e de reflexão da Palavra de Deus” (DA, 180).
A CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, manifestou-se na
mesma direção dos Pequenos Grupos. Em Assembleia Geral, os bispos católicos
aprovaram o Documento 100 - Comunidade de comunidades: uma nova paróquia,
que coloca a paróquia como a comunidade de comunidades e não mais como um
único tempo, possivelmente grande em sua área, com a capacidade de acolher
grande número de pessoas nas celebrações, mas sem o relacionamento humano
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primário de que tanto se tem falado nesta tese. O Documento 100 entende a Igreja
como “sacramento (mysterion), sinal e instrumento de comunhão. Ela tem sua
origem na Santíssima Trindade. Na história ela se espelha na comunhão trinitária,
e seu destino é a comunhão definitiva com o Deus Uno e Trino”. 186 Para viabilizar
a realização de sua missão no mundo a Igreja precisa colocar a comunhão como
base, caracterizando todas as formas da vida eclesial. Sobretudo no mundo
contemporâneo, caracterizado pelo individualismo, é imperativo que se encontre
maneiras de se “recuperar as relações interpessoais e de comunhão como
fundamento para a presença eclesial”. Não há outro elemento de natureza teológica
mais importante para alimentar a configuração eclesial do que a comunhão. 187
Em termos de críticas à eclesiologia de comunhão, podem ser citados dois
autores, José Comblin e Gislain Lafont. Comblin188 acusa o Sínodo de 1985189 e o

186
CNBB. As comunidades eclesiais de base na Igreja do Brasil, p.31.
187
Ibid.
188
COMBLIN, J., O povo de Deus, p.17.
189
Sínodo dos Bispos foi instituído por Paulo VI com o Motu proprio “Apostolica sollicitudo” de
15 de setembro de 1965. Na Oração do Angelus Domini de domingo 22 de setembro de 1974, o
próprio Paulo VI deu a definição do Sínodo dos Bispos: “É uma instituição eclesiástica, que nós,
interrogando os sinais dos tempos, e ainda mais procurando interpretar em profundidade os desígnios
divinos e a constituição da Igreja católica, estabelecemos após o Concílio Vaticano II, para favorecer
a união e a colaboração dos Bispos de todo o mundo com essa Sé Apostólica, através de um estudo
comum das condições da Igreja e a solução concorde das questões relativas à sua missão. Não é um
Concilio, não é um Parlamento, mas um Sínodo de particular natureza”.(IMPRESA DA SANTA
SÉ. Sínodo dos bispos.). Em 1985, no 20.º aniversário do Conc. Vat. II, reuniu-se a 2.ª Ass. Geral
Extraordinária para reviver e reavivar o espirito conciliar, pôr em comum as experiências de
82

próprio papa João Paulo II, influenciado pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, de
substituir o conceito de Igreja como povo de Deus pelo conceito de Igreja de
comunhão. Segundo ele, esta mudança terminológica “consegue desacreditar e
descartar definitivamente o conceito de povo de Deus, como se não estivesse o
centro da eclesiologia conciliar” 190 Embora reconheça que o tema da comunhão
ocupe um lugar importante no Concílio, Comblin entende que este não exclui nem
deve substituir o tema do povo de Deus.191 Ele faz esta crítica à Eclesiologia de
comunhão baseado utilizando os seguintes argumentos: 1) O tema da comunhão
refere-se ao aspecto invisível, divino da Igreja, mas não expressa a natureza humana
da Igreja. E a igreja é feita de homens e mulheres e não somente de doutrinas,
liturgias e organizações. 2) Na teologia católica a comunhão é sempre ambígua, ou
seja, pode haver uma comunhão vertical, feita pela hierarquia e consiste na
submissão ao papa e outra horizontal, entre os membros da Igreja que nasce a partir
do acordo que as pessoas fazem entre si.
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Comblin entende que “afastando o conceito de povo de Deus, o que se queria


era voltar à eclesiologia anterior ao Vaticano II”192 o que segundo ele tem
acontecido nos últimos vinte anos, em que “a Igreja tem se afastado cada vez mais
do mundo, das suas esperanças, angústias, lutas e vitórias” 193. E Comblin não está
sozinho na crítica que faz à Igreja suspeitando desta releitura do Concílio do
Vaticano II. Ghislain Lafont 194 afirma que “na época do sínodo extraordinário sobre
os leigos, em 1987, o tema do povo de Deus conheceu um recuo devido ao receio
de que se fizesse dele um uso muito ‘político’, ‘democrático’, e se propôs substitui-
lo pelo de ‘comunhão’”. Caminha de maneira semelhante a Comblin no
entendimento de que o conceito de comunhão não parece totalmente satisfatório,
especialmente que, se ele sugere em a ‘sociabilidade’ própria da igreja de Deus, não
sublinha nem a realidade litúrgica, nem o aspecto histórico as vicissitudes, a

aplicação do Concílio e aprofundar a projecção deste na vida da Igreja. No relato final, depois duma
breve análise sobre a aceitação e aplicação do Concílio, focam-se os principais temas tratados:
mistério da Igreja, ministério da palavra, liturgia, comunhão eclesial, missão da Igreja no mundo,
diálogo ecuménico e inter-religioso, opção preferencial pelos pobre (FALCÃO, D. M. F., “Sínodo
dos Bispos”) Convocado pelo Papa João Paulo II reuniu-se em Roma.
190
COMBLIN, J. op. cit., p.115.
191
Ibid., p126.
192
Ibid., p.132.
193
Ibid., p.127.
194
LAFONT, G., Imaginar a Igreja católica, p.120.
83

inculturação, dados importantes na Lumen gentium, capítulo II. Lafont preconiza


uma “comunhão estruturada”, conforme será abordado mais adiante neste trabalho.
Parece exagero o posicionamento de Comblin e Lafont, sobretudo com o
início do papado de Francisco e sua visão de Igreja. Segundo ele

o Senhor quer que façamos parte de uma Igreja que sabe abrir os braços para abraçar
todos, que não é a casa de poucos, mas de todos onde todos podem ser renovados,
transformados e santificados pelo seu amor: os mais fortes e os mais fracos, os
pecadores os indiferentes, os que se sentem desanimados e perdidos. 195

Mais do que qualquer outro papa, Francisco trabalhou para aproximar a igreja
do povo, dos pobres e marginalizados, por isso conclama cada cristão e cada
comunidade cristã a se unir para ser instrumento de Deus a serviço da libertação e
promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade o que
implica em todos estarem atentos para ouvir os gemidos e o clamor dos pobres a
fim de agir para socorrê-los.196. Na verdade, torna-se-ia necessário fazer uma
reflexão semântica sobre os dois termos, povo de Deus e igreja de comunhão, para
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se analisar o que ocorreu em termos de possível transformação. Esta tarefa


ultrapassaria os limites propostos para a atual tese, pois ingressaria numa vertente
histórica, alterando a pergunta fundamental a respeito do que está ocorrendo com
duas igrejas batistas bem específicas. Para fins desta tese, importa reconhecer que
o perigo da compreensão incompleta ou desfocada dos conceitos de comunhão e de
povo pode sempre pode acontecer. Num caminhar histórico rumo à plenitude
escatológica, as conceituações se mostrarão continuamente limitadas e, com isso,
precisando de revisão constante. A acusação de idealização e desconexão com a
realidade da Igreja é real e deve se fazer presente no conjunto de preocupações de
pastores e teólogos. O caminho para a solução é, sem dúvida, um olhar sobre as
condições em que a comunhão se realiza. Este olhar, por sua vez, exige estruturas
eclesiais que permitam a comunhão.

195
PAPA FRANCISCO. A Igreja da misericórdia: minha visão para a Igreja. São Paulo: Paralela,
2014, p.32.
196
Ibid., p.25.
84

3.6
Os pequenos grupos entre os protestantes e os católicos

Foi dito acima que existem paralelos entre a experiência vivida pelos cristãos
católicos e cristãos protestantes no que diz respeito às pequenas comunidades.
Nesta parte do trabalho será feita uma abordagem comparativa entre estas duas
experiências procurando encontrar pontos de encontro e de distanciamento.
Entre os pontos de encontro, é possível destacar os seguintes:
A Linguagem - A linguagem utilizada para denominar as pequenas
comunidades e suas experiências comunitárias são muito semelhantes. Comunidade
Eclesiais de Base e Pequenos Grupos, também chamados de Comunidades Cristãs
de Base, estão muito próximas quanto à linguagem que utilizam ao justificar a sua
existência e a descrever a dinâmica dos seus encontros.
A reivindicação de originalidade - Tanto as CEBs como as CCBs reivindicam
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fundamentação no Novo Testamento para o seu surgimento 197. Apelam para as


Escrituras no sentido de afirmar que os cristãos primitivos se reuniam nas casas dos
irmãos e que essas casas ser transformaram em local de encontro e de apoio das
pequenas comunidades cristãs nascentes.
Relação com estruturas mais amplas - Tanto as CEBs como as CCBs
constituem-se em Pequenos Grupos dentro de uma estrutura maior. No caso das
CEBs, dentro das paróquias ou de uma diocese, no caso das CCBs, dentro de cada
congregação local, independente da denominação. Ambas enfatizam a importância
e a necessidade de haver vínculo com o grupo maior para que o grupo não perca
sua identidade e se desvie dos seus propósitos.
Época em que surgiram - Enquanto as Comunidades Eclesiais de Base
surgiram no Brasil na década de 60, as Comunidades Cristãs de Base também
surgiam neste período, só que na Coréia do Sul. Mas, é notório o fato de terem
surgido no mesmo período da história do Cristianismo, logo depois do Concílio
Vaticano II.
Ênfase no trabalho dos leigos - Tanto nas Comunidades Eclesiais de Base
como nas Comunidades Cristãs de Base, há uma ênfase muito grande na figura do

197
Algumas passagens mencionadas são: At 2,46 e 5,42, At 12,12 e 18,26, Rm 16:5, 1 Cor 16,19.
85

leigo, isto é, da pessoa comum da igreja, não ordenada como religioso, como líder,
supervisor ou animador da comunidade.
Entre os pontos de distanciamento, é possível destacar os seguintes:
Transformação da Sociedade x Transformação do Indivíduo - As
Comunidades Eclesiais de Base, desde a sua origem, receberam conotação mais
sociotransformadora, isto é, incluíram o empenho pela transformação das estruturas
sociais como uma de suas maiores prioridades. Ao contrário, as Comunidades
Cristãs de Base são, por natureza, de acomodação. Nestas últimas, não há a luta
pela transformação das estruturas sociais e sim uma luta pela transformação dos
indivíduos. A transformação da sociedade é vista como consequência da
transformação individual.
Templo x lares - Conquanto utilizem-se também de casas, as Comunidades
Eclesiais de Base concentram-se nas paróquias (zona urbana) e capelas (zona rural),
mesmos locais em que as celebrações são realizadas. Em contrapartida, as
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Comunidades Cristãs de Base utilizam as casas de seus membros para os encontros


dos Pequenos Grupos e das Células, destacando que é importante que os crentes se
reúnam em lugares diferentes que os das celebrações dominicais. Há uma grande
ênfase para que os encontros aconteçam nos lares, nas casas onde as famílias
residem.
Método ver-julgar-agir x Dinâmica dos 4 Es - Enquanto as Comunidades
Eclesiais de Base se utilizam da dinâmica do ver-julgar-ouvir, as células partem
sempre das mesmas bases, ou seja, dos 4 Es, de Encontro, Exaltação, Edificação e
Evangelismo.
Espontaneidade x Obrigatoriedade - Enquanto nas Comunidades Eclesiais
de Base as pessoas participam por iniciativa própria, espontaneamente, no caso de
uma igreja em células, cada membro precisa fazer parte de uma Comunidade Cristã
de Base. Sobretudo o sistema Igreja em Células estabelece o fazer parte de uma
célula como requisito para fazer parte o rol de membros da Igreja.
86

3.7.
A fragmentação dos Pequenos Grupos: relato de uma experiência

Embora, no processo de formação dos pequenos grupos eclesiais católicos, a


atenção sempre se volte para as CEBs, uma experiência se destaca como esforço
para buscar a concretização da eclesiologia de comunhão dentro das Comunidades
Eclesiais de Base, que, em virtude do crescimento numérico de seus membros,
podem ter perdido sua identidade. Por causa disso, uma Igreja Católica do Acre
repartiu as CEBs, organizado grupos menores dentro das CEBs. A iniciativa foi do
Pe Mássimo Lombardi, desde os anos 70 atuando em Rio Branco, Acre, no trabalho
com as Comunidades Eclesiais de Base. Mássimo 198 justifica a iniciativa dizendo:

a CEB precisa urgentemente ser descentralizada em pequenas comunidades que,


como vasos capilares entrem nas ruas e nos becos dos nossos bairros e quem sabe,
até nos ambientes de trabalho, escolas, hospitais, repartições públicas. Estes
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pequenos grupos podem ser chamados de Células de evangelização, para dar vida
nova às CEBs pela espiritualidade, pela criatividade, pela garra missionária e pela
alegria que entrará aos poucos no coração do povo, quando se sentir valorizado pelo
Reino de Deus.

Segundo Mássimo 199, “a igreja verdadeira é participação à vida divina das


três Pessoas da Santíssima Trindade: é dom que vem do alto: a Trindade é a
verdadeira Comunidade”. Na sua apostila intitulada do Ano da Transição200 e
destinada ao treinamento para a implantação de pequenos grupos, lemos:

Por que uma Trindade? Se Deus fosse UMA pessoa, poderia haver poder, se Deus
fosse DUAS pessoas, poderia haver amor, mas Deus é TRÊS... e com a Trindade,
agora há comunidade. A mais alta Forma de Vida no universo escolheu viver em
comunidade. A Trindade também nos mostra que comunidade começa com três.

Como já foi destacado neste capítulo, a Trindade Divina é a maior inspiração


e fundamentação para a existência das pequenas comunidades, que visam
aprofundar relacionamentos e fomentar comunhão profunda entre os filhos e filhas
de Deus que pertencem à comunidade maior. Para que aconteça a compreensão
existencial deste Deus-Trindade, é preciso, seguindo o pensamento de Massimo,
redividir continuamente.

198
MÁSSIMO P., CEBs, um novo jeito de ser a Igreja de sempre, p.22.
199
Ibid., p.7.
200
ANO DA TRANSIÇÃO. Vamos mostrar a você como fazer.
87

Nesta experiência, percebe-se uma passagem da motivação sociocultural


como preponderante para a motivação maior a partir dos relacionamentos humanos
primários. Mássimo 201 afirma que “hoje a evangelização se realiza através do
serviço (amizade), do diálogo pessoal, do anúncio e do testemunho pessoa para
pessoa”. Evangelização através da amizade ou através de relacionamentos é a
grande bandeira dos Pequenos Grupos Protestantes, sobretudo do sistema Igreja em
Células, como afirma Neighbour202: “toda reunião da célula deverá incluir o período
‘compartilhando a visão’ (...). Os membros são chamados, não só para usufruir da
presença de Cristo e experimentar o seu poder, mas também para levar adiante o
propósito de Cristo”.
A expressão “conhecem a Jesus como seu pessoal Salvador e Senhor” é
utilizada exaustivamente nas comunidades protestantes, sobretudo diante dos
apelos para a conversão a Cristo. Hoje é utilizada pequenos grupos existentes dentro
das CEBs. A expressão “oikos” é outra expressão utilizada pelas células
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protestantes e agora também usada pelas células Católicas.


A estratégia de implantação e multiplicação das pequenas Comunidades é
idêntica entre os católicos e os protestantes. Note-se o que diz Mássimo 203 sobre o
assunto:

O sistema das Células Paroquiais de Evangelização prevê que o nascimento das


mesmas não seja simultâneo, mas aconteça por multiplicação (...)formação de
Células provisórias com 1—12 membros)os que participaram da formação durante
três meses, calculadamente (...) Início da missão das Células, cada membro
evangelizando os familiares, os vizinhos, os colegas, os amigos (evangelização
oikos, de ambiente, pessoa para pessoa) conforme o método dos quatro eixos da
evangelização : serviço, diálogo, anúncio e testemunho (...) Multiplicação da Célula
quando esta tiver alcançado uns doze membros atuante(...). A proposta é a da
retomada da evangelização através dos pequenos grupos nas casas, nos ambientes de
trabalho, sendo escolas de evangelização pessoa para pessoa, como local de
catequese permanente, vivenciando os quatro eixos: serviço, diálogo, anúncio e
testemunho.. (...) a célula não prende os membros, pois deve se manter o pequeno
grupo de quatro a doze membros ao máximo. A solução é a multiplicação.

Neighbour204 afirma sobre o número de membros e o desafio da


multiplicação das células:

201
MÁSSIMO P., CEBs, um novo jeito de ser a Igreja de sempre, p.22.
202
NEIGHBOUR, R., Unidades básicas do corpo de Cristo, p.176.
203
MÁSSIMO, P., op. cit., p. 20-21.
204
NEIGHBOUR, R., op. cit., p. 60.
88

Na igreja em células, todos os membros adotam a mesma visão : uma célula de sete
ou oito pessoas, desafiada a multiplicar-se para 14 ou 15 em menos de um ano. Todos
os membros dessa célula são ministros, estendendo a mão para conduzir os perdidos
a Jesus Cristo e isso envolve contato direto com os não-evangelizados (...) essa
estratégia precisa concentrar em alcançar os não-alcançados por meio do ministério
de cada membro (...) os períodos de preparo devem treinar os membros a fazer
discípulos e não somente ser discípulos.

Tanto as Igrejas Protestantes que adotam o sistema de células quanto a Igreja


Católica mencionada são orientadas a criar Pequenos Grupos. Os protestantes
chamam de Célula Protótipo e os Católicos de Célula Provisória, mas o propósito é
o mesmo. Trata-se de células de experiência. Quanto ao número de membros e ao
processo de multiplicação há também plena semelhança. É a Igreja de Jesus Cristo
buscando novas alternativas para ser e viver o Evangelho do Reino num mundo em
mudança. Seguindo a perspectiva de Moltmann “é claro que a Igreja em sua
linguagem, seu culto, suas formas de viver e se organizar precisa levar em conta as
mudanças na sociedade. Ela precisa se abrir para os tempos que mudam”. 205
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Na esteira dos Pequenos Grupos e das Pequenas Comunidades, a Igreja vai


encontrando um novo jeito de ser Igreja, que ultrapassa as fronteiras
denominacionais, indo além, inclusive das barreiras entre o catolicismo e o
protestantismo, unindo ambos na estratégia de expansão do Reino de Deus. À luz
de tudo o que foi pesquisado, tanto na pesquisa bibliográfica quanto na pesquisa de
campo, parece ser este um caminho viável para a Igreja do presente e a Igreja do
futuro. Falando sobre a Igreja do futuro, Neighbour206 entende que esta não será
aquela que tem os melhores edifícios, nem uso sofisticado das novas tecnologias,
nem Igrejas que se estruturem levando em consideração as grandes megalópoles.
“Será a Igreja que Deus usará nas próximas gerações e que conterá os elementos de
todas as igrejas de séculos passados que têm sido edificadas por Deus, que penetre
eficazmente a cultura de seu tempo para Cristo”.
Moltmann207 é claro e objetivo no prognóstico que faz para as Igrejas Cristãs.
Para ele a Igreja do futuro precisa ser

a Igreja dos cuidados pastorais dispensados ao povo para uma Igreja-comunhão do


povo no povo” (...) Se for diferente, a Igreja não poderá exercer seus ministérios,
missões e serviços na comunidade, com a comunidade e pela comunidade. Igrejas
missionárias, Igrejas Confessionais, e ‘igrejas sob a cruz’ são ou se tornarão
inevitavelmente Igrejas-comunhão. Não acabam em isolamento social, mas se
205
MOLTMANN, J., A igreja no poder do Espírito, p.21.
206
NEIGHBOUR, R., La iglesia del futuro, p.22.
207
MOLTMANN, J., op. cit., p.16.
89

tornam uma esperança viva para o povo. A crise tantas vezes descrita de Igrejas de
membresia geral ou de Igrejas Regionais nos antigos países ‘cristãos’, sua perda de
função pública, a apatia de seus membros e a lentidão de sua burocracia são chances
para a construção de uma Igreja-comunhão e para a realização do princípio
“comunidade”.

Esta realidade, à primeira vista uma experiência pequena demais dentro da


complexidade histórica das CEBs vem, na verdade, indicar que, dentro da
eclesiologia de comunhão, um processo deve ser continuamente mantido. Na
linguagem do padre italiano-acreano, trata-se de fusão. Outros chamarão este
208
processo de recapilarização ou mesmo reparoquialização no sentido de que os
processos de comunhão acima mencionados devem ser contínuos, buscando-se
novas estruturas para os relacionamentos primários sempre que estes estiverem
ameaçados e se mantendo estes relacionamentos sempre abertos aos demais, a fim
de que se evitem grupos fechados em torno de si mesmos, sem incidência na
totalidade da vida da Igreja e na sociedade. A eclesiologia de comunhão, portanto,
é um processo de busca contínua de estruturas de convívio humano primário e
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abertura para as demais formas de convívio.

3.8
Critérios para se aferir a eclesiologia de comunhão

A partir das críticas de Comblin e Lafont, percebe-se a importância de se


identificarem alguns critérios bem concretos para se identificar a presença ou não
da eclesiologia de comunhão. Estes critérios ajudarão a verificar, nas duas igrejas
batistas estudadas como objeto material desta tese, se se trata de efetiva
reconfiguração eclesial na direção da comunhão ou apenas estratégia para aumento
da membresia no amplo espectro de religiões que caracteriza o atual momento do
Brasil e do mundo. Estes não são os únicos critérios para se identificar a comunhão.
Outros, dependendo do lugar eclesial, teológico e social, em que o pesquisador
estiver, poderão ser indicados. No entanto, estes critérios foram os escolhidos
porque, além da fidelidade à grande tradição cristã, encontram-se alinhados com a
reflexão teológica atual e permitem aplicação a qualquer igreja cristã, católica,
ortodoxa ou as decorrentes da Reforma.

208
AMADO, J. P., Ser comunidade hoje.
90

Um dos modos mais simples de se descrever a comunhão consiste em


concebê-la nos seus quatro âmbitos: com Deus, com o próximo, com a própria
pessoa e com a criação no seu conjunto. Os critérios para estabelecimento da
eclesiologia de comunhão precisam estar de algum modo inseridos nestes quatro
âmbitos, sob pena de perda da identidade comunional. Certamente, as comunidades,
no concreto do dia-a-dia, se destacarão por um ou outro aspecto, fato que é
humanamente compreensível. Porém, considerando a comunhão teologicamente, os
quatro aspectos precisam estar juntos, pois não é possível considerar, por exemplo,
a comunhão com os irmãos e irmãs, sem se considerar a comunhão com o restante
da criação. Esta separação agrediria a atual consciência ecológica do mundo e da
Igreja.209 Esta observação é importante porque se costuma restringir a dimensão da
comunhão às estruturas de participação, em especial no campo católico,
participação do laicato. Entretanto, a comunhão é um ideal escatológico e, por isso
mesmo, sempre mais abrangente, envolvendo a amplitude de relações nas quais os
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seres humanos vivem inseridos. Se, por exemplo, uma comunidade consegue
construir estruturas de maior participação de seus membros nas decisões, mas não
consegue transformar a concepção de Deus e, mais ainda, a relação de seus
membros com Deus, passando da perspectiva do medo para a de comunhão e
relação, o processo de implantação da eclesiologia de comunhão não se pode
considerar plenamente satisfatório. Haverá pontos de concretização, no caso, as
estruturas de participação. Deixará lacunas, porém, no que diz respeito à relação
com Deus. Esta preocupação atinge o conjunto das relações nas quais o ser humano
se acha envolvido. Por isso, é importante considerar cada um destes aspectos e seus
desdobramentos.

3.8.1.
Comunhão com o próximo

Em geral, este é o aspecto mais destacado quando se pensa em qualquer


aspecto relacionado à fé cristã. De fato, como diz a Escritura, “quem ama a Deus
ame também o seu irmão” (1 Jo 4,21). Nesse sentido, a comunhão com o próximo,

209
Ibid.
91

em vista da eclesiologia de comunhão, não pode ser pressuposta, não pode ser dada
como realizada pelo simples fato de as pessoas habitarem num mesmo território ou
frequentarem a mesma comunidade religiosa. A primeira condição, portanto, para
se analisar a eclesiologia de comunhão a partir da comunhão com o próximo implica
abandonar o pensamento de que o estar junto fisicamente venha a implicar em estar
junto existencialmente. Quanto mais o mundo avança nos processos de
transformação atuais, mais se percebe que estas duas realidades não se articulam
automaticamente.210 Pessoas podem habitar num mesmo local ou até frequentarem
a mesma comunidade religiosa sem que suas vidas se entrecruzem. Por isso, é
necessário que a comunhão de vida seja explicitada, que se invista sempre mais na
sua concretização.
Em consequência, a segunda preocupação que se deve ter quando se aborda
a eclesiologia de comunhão sob o ponto de vista da relação com o próximo é a
capacidade de uma comunidade de fé propiciar ou não relacionamentos humanos
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primários, isto é, de mútuo conhecimento e reconhecimento, de partilha de vida,


laços que podem até ser mais fortes que os laços de sangue numa família. Aqui se
manifesta a grande diferença da experiência cristã em face a outras experiências
religiosas e de sentido para a vida. Para a lógica do Reino de Deus, não se trata de
buscar coisas que Deus ou as pessoas possam fornecer, mas de estabelecer relações
tão profundas que sejam capazes de resistir até mesmo ao desaparecimento de todas
as coisas e explicações. Comunidades que ofereçam serviços, sejam eles quais
forem, desde as tradicionais promessas católicas, até as curas e prodígios que
marcam diversas igrejas cristãs de nossos dias, invertem a ordem de prioridades,
pois não colocam os relacionamentos como o primeiro lugar. Ao contrário, colocam
as dádivas recebidas como objetivo final. Neste caso, não se enquadram na
eclesiologia de comunhão, mesmo que estejam em fase de grande sucesso social e
cultural.
Em terceiro lugar, como consequência dos relacionamentos primários, a
eclesiologia de comunhão exige a sensibilidade para o acolhimento do diferente, no
sentido mais amplo que o termo diferente pode atingir. É a pessoa nova que chega,
portadora de novas experiências de vida, de caminhos espirituais diferentes, de
perspectivas e valores aos quais a comunidade local não está acostumada. É a

210
Ibid.
92

pessoa nova que chega até mesmo com linguagens, estéticas e éticas que não se
enquadram naquilo a que o grupo religioso está acostumado. A eclesiologia de
comunhão exige acolhimento, questionamento mútuo e recomposição das
compreensões, sem o que, como já dito antes para outros aspectos, ela se torna
capengante.
É importante que se diga que os encontros da comunidade religiosa
ultrapassem a condição de encontros meramente sociais. “Não se trata de uma
comunidade sociológica organizada e reunida, mas de um grupo que a partir da fé
tem profunda comunhão com Deus e entre si, fundamento de toda a experiência
cristã e eclesial”.211 Claro que há amizade, mas vai muito além disso. “A amizade
torna-se expressão da ágape, o centro da charitas cristã. Esta amizade se traduz em
compaixão pelos que sofrem; assim, nasce a missão: o Deus amigo convoca a
humanidade para derrubar as barreiras que impedem a fraternidade evangélica”. 212
Trata-se de discípulos e discípulas de Jesus Cristo que se comprometem em viver
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os princípios do evangelho em comunidade utilizando as reuniões dos grupos como


estratégia que possibilitem encontros sistemáticos.
A Igreja como sinal de salvação é autenticada não apenas pelas verdades que
proclama, pelos valores morais e éticos que defende ou pela obediência ao que
Cristo ordenou. “Ela o é, sobretudo, pelo testemunho de vida de seus membros,
pelos valores cristãos presentes na comunidade, especialmente o amor fraterno,
pelas relações humanas vividas diferentemente daquelas do mundo”213.
A quarta consequência diz respeito às estruturas de participação, aspecto que
costuma ser o mais destacado quando se aborda a questão da eclesiologia de
comunhão. Segundo Miranda 214 “não pode haver uma Igreja de comunhão e de
participação se não existem estruturas de comunhão e participação”. Neste aspecto,
convém sempre destacar o possível descompasso entre o discurso e as práticas. Em
geral, os grupos religiosos tendem a chamar as pessoas de irmãos e irmãs, aspecto
mais pessoal, e a afirmar que todos são participantes. Por sua vez, a autêntica
eclesiologia de comunhão deve levar a distinguir o que se pode chamar de
participação ativa e participação passiva. Na maioria dos casos, o que se percebe é

211
CNBB, As comunidades eclesiais de base na Igreja do Brasil, p.39.
212
Ibid., p.38.
213
MIRANDA, M. F., A igreja que somos nós, p.47.
214
Ibid., p.35.
93

a participação passiva, em que as pessoas se unem a um grupo religioso onde


conteúdos e formas já estão previamente estabelecidos e a pessoa se percebe sem
reais condições de sugerir alterações ou ingressar no fechado grupo dos que
efetivamente determinam os rumos dos conteúdos e das formas de vivência da fé.
Participar de uma comunidade que se configura a partir da eclesiologia de
comunhão não significa apenas efusividade no culto, com palmas, movimentos,
testemunhos e músicas. A eclesiologia de comunhão pede maior participação
também nas decisões maiores que afetam as compreensões dos conteúdos e as
formas com que os mesmos são vivenciados.
A participação chamada de ativa exige estruturas de estilo sinodal, com
corresponsabilidade do maior número de pessoas e diversidade de serviços e
ministérios. Ela rompe com as centralizações ministeriais, ou seja, com a figura do
ministro que concentra em si todas as funções e coordenações e leva a ingressar
numa estrutura onde cada um realiza sua parte numa rede de ações. Aqui entram os
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conselhos e as assembleias. Quer no âmbito da compreensão e da aplicação


doutrinal, quer no âmbito da gestão dos bens materiais, estes colegiados são
instrumentos muito concretos para se medir se um grupo religioso está efetivamente
inserido na eclesiologia de comunhão.
Em quinto lugar, podem ser colocadas as aberturas do grupo religioso para a
realidade social e cultural. Trata-se do compromisso sociotransformador. A fé
cristã, no mais profundo de sua identidade, não é voltada para si, mas é aberta à
transformação da realidade. Cada cristão/ã é sal, luz e fermento (Mt 5,13-14;13,33).
Estas imagens, dentre outras, ajudam a compreender que a experiência cristã não
pode ficar no nível do individual nem do grupal fechado em si mesmo. Como
anunciadora do Reino de Deus em meio ao mundo (LG 5), a Igreja de Cristo, em
qualquer de suas configurações, da Reforma, Católica ou Ortodoxa, não pode se
transformar em um grupo fechado, onde a comunhão de vida de seus membros seja
tão grande que o grupo já não se preocupe mais com a transformação da realidade.
A experiência cristã não é uma experiência de fuga do mundo, de construção de um
mundo à parte, em oposição dualista ao mundo dos outros, visto como mal, negativo
e do qual se deve fugir. A comunhão interna dos membros de um grupo cristão deve
ser a base e o alimento para o compromisso sociotransformador. Deve ser
igualmente o lugar para onde o/a cristão/ã se volta quando cansado/a, abatido/a e
fragilizado/a pelas dificuldades na transformação da sociedade. Não existe,
94

portanto, ruptura entre a comunhão interna e a comunhão externa. Existe uma linha
de continuidade ou de articulação, indicando que se trata de um caminho de mão
dupla. Quanto maior for a comunhão interna, maior deverá ser a preocupação para
que o mundo seja um mundo de comunhão, justiça, fraternidade e paz. Em caminho
inverso, quanto maior for a preocupação pela transformação do mundo, maior deve
igualmente ser o empenho para que a comunhão interna se fortaleça. Este é um dos
desafios mais angustiantes, por exemplo, para os cristãos que assumem o mundo da
política. A questão se torna ainda mais complexa, na medida em que um/a cristão/ã
se engaja, por exemplo, num partido político e participa de uma comunidade onde
os membros se identificam com outro caminho político partidário. Estas realidades
desafiam a implantação da eclesiologia de comunhão.
A abertura ao diferente fora do espaço da comunidade eclesial, no âmbito das
relações com o próximo, atingem também os aspectos ecumênico e inter-religioso.
Este é o sexto aspecto a ser considerado. Na medida em que a comunhão é uma
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dimensão que sempre quer ser mais, a comunhão interna entre os/as irmãos/ãs, com
o acolhimento do diferente, as estruturas de participação e corresponsabilidade,
com os serviços e ministérios, tende a crescer, a desejar amadurecer sempre mais e
a assumir o diálogo com pessoas cuja crença não é exatamente a mesma. É por isso
que não se pode pensar em eclesiologia de comunhão sem se considerar também a
dimensão ecumênica e o diálogo inter-religioso.
Congar215 entende que o Concílio, sobretudo através da Constituição Lumen
Gentium, revela um profundo valor ecumênico no sentido que atualmente se atribui
a este termo. Chega a colocá-lo no nível dos Concílios Ecumênicos de Nicéia, de
Calcedônia e de Trento. Está totalmente sintonizado com o Movimento Ecumênico
que, segundo Congar, marcou indelevelmente o Século XX. Sem dúvida, a partir
do Vaticano II a Igreja se abre para o diálogo com as outras comunidades cristãs e
de outras tradições religiosas. “A compreensão e a prática da eclesiologia de
comunhão nos conduz ao diálogo ecumênico”(DAp 227). Como resposta a esta
abertura cinco teólogos pertencentes à comunidades protestantes foram convidados
a se unir à uma equipe de teólogos de renome a fim de estabelecer comentários e
dar continuidade às reflexões advindas do Concílio, originando o precioso

215
CONGAR, Y., Igreja e papado, p.1.290.
95

compêndio “A Igreja do Vaticano II”, com mais de mil e trezentas páginas de


preciosas reflexões.
Bosh faz uma longa exposição sobre a maneira como o Concílio Vaticano II
abriu a Igreja Católica para o diálogo com outras igrejas cristãs e até mesmo com
outras tradições religiosas. Chega a classificar o que aconteceu no Vaticano II com
um milagre. “Um novo espírito permeou virtualmente todos os procedimentos e
documentos do Concílio”216. Miranda faz menção da Constituição Apostólica que
promulgou o Novo Código, no qual João Paulo II menciona o que considera
novidade para a Igreja, pautada no Concílio Vaticano II:

A doutrina da Igreja como Povo de Deus, a autoridade eclesiástica como serviço, a


Igreja como comunhão, o tríplice múnus de Cristo participado por todos os membro
do Povo de Deus, os direitos e deveres de todos os fiéis e expressamente dos leigos,
bem como o ecumenismo. 217

É verdade que o Concílio aconteceu num contexto de efervescência religiosa


no que diz respeito ao ecumenismo 218. A criação do Conselho Mundial de Igrejas
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(CMI), a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela


Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o fim da Segunda Guerra Mundial,
que levou a humanidade a rever algumas posturas de preconceitos religiosos e
raciais. Afirma o Decreto Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo: “Um dos
principais objetivos do Concílio, promover a unidade dos cristãos”219. Essa abertura
para o diálogo vem sofrendo altos e baixos, mas aos poucos vai evoluindo com
ações concretas de aproximação de todo o povo de Deus.
Ao falar sobre os novos desafios enfrentados pelos cristãos contemporâneos
o Documento da CNBB220 que fala sobre a importância das paróquias afirma:

A cultura do nosso tempo desafia nossos conceitos. Para compreender essa realidade,
é preciso considerar a mudança de época.221 Valores são questionados e novos modos

216
BOSCH, D. J., Missão transformadora, p.552.
217
MIRANDA, M. F., A igreja que somos nós, p.37.
218
BIZON, J., “A unidade dos cristãos”, p. 283.
219
Unitatis Redintegratio, n.1.
220
CNBB, As comunidades eclesiais de base na Igreja do Brasil, p.41.
221
Sobre o conceito de “mudança de época” o Documento de Aparecida nº 44 afirma: “Vivemos
uma mudança de época, e seu nível mais profundo é o cultural. Dissolve-se a concepção integral do
ser humano, sua relação com o mundo e com Deus; ‘aqui está precisamente o grande erro das
tendências dominantes do último século... Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito
da realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas. Surge hoje,
com grande força, uma supervalorização da subjetividade individual. Independentemente de sua
forma, a liberdade e a dignidade da pessoa são reconhecidas. O individualismo enfraquece os
vínculos comunitários e propõe uma radical transformação do tempo e do espaço, dando papel
96

de relacionamentos com a comunidade aparecem. O desafio que se impõe às


paróquias é evangelizar uma sociedade em rápidas, profundas e constantes mudanças
que geram comportamentos inéditos e apresentam novos problemas éticos. Não há
receitas prontas para a pastoral, nem fórmulas válidas para evangelizar todas as
situações. Conhecer a realidade das comunidades paroquiais é determinante para
identificar caminhos possíveis para a renovação paroquial e a consequente
revitalização das comunidades cristãs.

Neste novo contexto, a utilização dos Pequenos Grupos é de fundamental


importância e tem se mostrado uma saída interessante para a aproximação das
pessoas e a prática dos valores do Reino de Deus que são eternos e se aplicam ao
ser humano de todos os tempos.

3.8.2.
Comunhão com Deus

Estas sete condições se referem ao âmbito da relação com o próximo.


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Entretanto, como já afirmado antes, a perspectiva da comunhão atinge também a


concepção que se tem de Deus, passando da concepção de medo e competição, para
a amizade e o relacionamento. Não se trata de afastar a condição divina de Deus,
colocando-o no mesmo patamar do ser humano e do restante da criação. A
transcendência e a superioridade diante do criado serão sempre características da
divindade. A diferença a que aqui se deseja chamar a atenção está no fato de se
conceber a grandeza de Deus não em perspectiva de exclusão em relação ao ser
humano e ao restante da criação, mas, ao contrário, em perspectiva relacional. Na
linguagem coloquial das igrejas, passa-se do temor ao amor em relação a Deus, que
é então percebido como realização e não como ameaça. Neste sentido, a experiência
de comunhão se torna um dos mais fortes argumentos para o ateísmo, o qual, na
maioria das vezes, é uma revolta não diretamente contra Deus, mas contra as
concepções de Deus que entram em combate com o ser humano. Por isso, a
eclesiologia de comunhão atinge também a mudança na imagem de Deus. Olhando
a comunhão entre as pessoas, o compromisso social e a abertura ecumênica e inter-

primordial à imaginação. Os fenômenos sociais, econômicos e tecnológicos estão na base da


profunda vivência do tempo, o qual se concebe fixado no próprio presente, trazendo concepções de
inconsistências e instabilidade. Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à
realização imediata dos desejos dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários direitos
individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das enfermidades e da morte”.
97

religiosa, percebe-se também Deus como comunhão, percebe-se a comunhão como


caminho para Deus. A experiência visível de comunhão ilumina a relação com o
Deus invisível.
Em nono lugar, o encontro com o Deus-Comunhão, numa Igreja-Comunhão
implica também a capacidade de expressar esta relação em linguagem de
comunhão. Trata-se aqui das diversas de dizer Deus e de dizer a Deus, ou seja, de
celebrar o mistério agindo entre as pessoas. Consequentemente, a eclesiologia de
comunhão pede que se encontrem caminhos para que a alimentação e a celebração
da Fé sejam vividas mais nesta perspectiva. Isso acontece especialmente em duas
situações. Primeiro, no acesso à Palavra de Deus, que deve estar disponível não
apenas para alguns, mas, à luz da eclesiologia de comunhão, a Bíblia deve estar
sempre mais disponibilizada enquanto condição de leitura, compreensão e
aplicação à vida. Uma experiência eclesial que se quer conduzir pela via da
comunhão precisa ter como um dos resultados a familiaridade de seus membros,
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individualmente e em grupo, com a Bíblia. Além disso, há de se considerar também


as características da celebração, isto é, da liturgia, em que as pessoas são chamadas
a participar não como assistentes que reagem a provocações de um condutor de
auditórios, mas a um povo que se reúne para ouvir Deus e com ele interagir (Ne
8,1-6), dentro, certamente, da diversidade de serviços e ministérios atuando nesta
área.
Em consequência, a questão da liturgia emerge com todo o vigor. A
Constituição Sacrosanctum Concilium, primeiro documento do Concílio, composta
de sete capítulos, propõe uma reforma litúrgica, entendendo a liturgia como algo
vital para a Igreja tendo que contar com a participação de todo o povo. Estabelece
que “o espírito comunitário deve prevalecer como expressão da natureza da liturgia.
Celebrar é uma ação essencialmente comunitária” 222. Foi nesse sentido, por
exemplo, que um dos resultados do Concílio no que tange à liturgia foi a utilização
da língua vernácula nas celebrações, o que certamente trouxe muitas mudanças na
vida das comunidades no que tange à sua participação litúrgica. Não é propósito
deste trabalho se estender sobre o tema, mas é de real importância reafirmar o
quanto a reforma litúrgica tem contribuído para que se estabeleça efetivamente uma
eclesiologia de comunhão.

222
COSTA, V.S. “A reforma litúrgica”, p. 249.
98

A partir da relação com um Deus que se descobre cada vez mais como
comunhão, descoberta essa feita no meio de uma comunidade de irmãos que se
abrem para os que chegam, para os desafios da sociedade e para a diversidade
religiosa, descobre-se a vida como vocação, como chamado de um Deus que, por
amor, criou e, mais ainda, cumula cada um/a com uma vocação, uma missão, que
não destrói nem rebaixa o ser humano, mas, ao contrário, o/a exalta com algo a
fazer, conforme indicado no relato da criação em que é dada ao homem a missão de
dominar, de cuidar de toda a criação (Gn 1,28). A eclesiologia de comunhão altera
a imagem de Deus e também a imagem de ser humano.
Dentro do horizonte da comunhão com Deus, inclui-se também a desafiadora
questão da transmissão da fé. As pequenas comunidades constituem-se espaços em
que as pessoas podem viver a fé e transmiti-la em seu cotidiano. A base para a
transmissão da fé já não serão mais o curso nem a palestra, mas o Deus da Revelação
vivenciado em relacionamentos e serviços. É por isso que se diz que, “no sentido
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teológico-pastoral, a paróquia é a experiência de Igreja que acontece ao redor da


casa domus ecclesiae. É a Igreja que está onde as pessoas se encontram,
independentemente dos vínculos de território, de moradia ou de pertença
geográfica”223 Trata-se de casa-comunidade onde as pessoas se encontram para
vivenciarem e testemunharem de suas experiências vividas no cotidiano. Um local
acolhedor, que ampara, onde uns cuidam dos outros. Afinal, “uma Igreja sólida
como instituição, mas vazia de vida comunitária real, como casa ou família, não
está de acordo com a inspiração do Novo Testamento”.224
Bosch225 atribui esta aproximação da Igreja com o povo à mudança de
paradigma. Passando a ser vista como “sacramento, sinal e instrumento” a Igreja
reconhece seu papel de testemunha, ousando “ver-se a si mesma como o sinal da
unidade vindoura da humanidade”. Assim sendo precisa ter outra visão do mundo.
“A compreensão da igreja como sacramento, sinal e instrumento resultou em uma
nova percepção da relação entre a igreja e o mundo”226. Isso representa uma
abordagem nova na teologia, pois durante séculos a Igreja se via como algo estático,
em combate com o mundo. Agora passa a se ver como parte do mundo com a missão

223
CNBB, , As comunidades eclesiais de base na Igreja do Brasil, p.35.
224
Ibid., p.34.
225
BOSCH, D. J., Missão transformadora, p.449.
226
Ibid., p.451.
99

de transformá-lo com sua presença e missão. Esta ideia fica muito clara na
Constituição pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo:

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de


hoje sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo (GS 1,1).

3.8.3.
Comunhão consigo mesmo/a

A eclesiologia de comunhão permite que cada pessoa que vive numa


comunidade assim concebida se perceba valorizada e inicie um processo de
conhecimento de si mesmo/a, de seus valores e de suas limitações. Nestas
comunidades caracterizadas pelos Pequenos Grupos, onde acontecem os
relacionamentos primários, cada pessoa não é um número a mais, nos resultados
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sempre quantificados à semelhança do que acontece no mundo dos negócios e do


mercado. Nestas pequenas comunidades, as pessoas, por serem vistas como irmãos
e irmãs, descobrem-se acolhidas e valorizadas. Podem ouvir e ser ouvidas. São
aceitas e podem efetivamente aceitar. Vivem, portanto, um processo de significativa
humanização, em que a relação com Deus leva ao amadurecimento da relação com
o humano de cada um/a. Esta pode ser considerada a décima primeira consequência
da eclesiologia de comunhão.

3.8.4.
Comunhão com a criação

Seguindo documento do Papa Francisco, em que é feita a opção de se usar o


227
termo teológico criação em lugar do termo natureza , a eclesiologia de
comunhão, na medida em que é sempre aberta à inclusão, deve levar à sensibilidade
ecológica, ao respeito com o meio-ambiente. O termo natureza, diz o Papa em sua
encíclica, está carregado da mentalidade apropriativa, para a qual tudo pode ser

227
PAPA FRANCISCO, Encíclica Laudato Si’, 76.
100

utilizado a ponto de se chegar à degradação 228. Ao contrário, o termo criação remete


sempre a um Criador, lembrando que a terra, tem um dono e que somos todos seus
delegados não para destruir, mas para cuidar. É por isso que a dimensão ecológica
deve ser incluída como a décima segunda característica da eclesiologia de
comunhão, neste caso, uma característica bem recente. “Todo o universo material,
diz o Papa, é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós”
229
e, assim sendo, é uma condição para a vivência concreta da eclesiologia de
comunhão. Assim como, numa experiência de efetiva comunhão, se vivencia o
acolhimento e o respeito ao/à próximo/a e se percebe Deus como amor, comunhão
e relação, também a criação deve ser concebida do mesmo modo. Numa
comunidade fundada na eclesiologia de comunhão, aprende-se a respeitar “as leis
da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo” 230.
Em todas essas características, há de se ressaltar ainda a importância de se
construir uma espiritualidade de comunhão. Isso significa compreender a Boa Nova
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da Salvação não tanto na linha da individualidade, como muitas vezes se pregou no


passado e ainda se tem pregado em formas novas de religiosidade, mas de
considerar a comunhão e o comunitário como pontos de partida e não uma
consequência a mais dentre outras. Significa que o ponto de partida para a leitura
de qualquer realidade, desde Deus, como já se disse antes, até o contato com Ele
através do acolhimento da Escritura e dos cultos e demais celebrações, valorizando
o sentido de pertença comum, com tudo que isso implica. Trata-se do saber ver
Deus presente nas outras pessoas e no restante da criação, assim como em si
mesmo/a, saber encontrar a ação de Deus nos/as outros/as e também para os/as
outros/as. A espiritualidade de comunhão dá primazia ao nós em lugar do eu
isolado, fechado em si, não relacional. Como já visto antes, esta espiritualidade não
despreza a individualidade, mas, ao contrário, insere a individualidade na dinâmica
da relacionalidade e isto é visto como caminho de Deus, processo de salvação.

228
Ibid., 02.
229
Ibid., 84.
230
Ibid., 68.
101

3.9.
Conclusão do capítulo

Por tudo que até aqui foi apresentado, tornou-se possível compreender o
significado do que se denominou eclesiologia de comunhão, com sua origem
trinitária, sua condição antropológica e sua caminhada histórica, sempre em busca
de configurações mais adequadas. Na medida em que esta tese se pergunta pela
possibilidade de determinadas configurações serem ou não concretizações desta
experiência de Igreja, tornou-se necessário apresentar alguns critérios que permitam
um mínimo de objetividade para se aferir se tal eclesiologia está presente ou não.
Foi o que se fez neste capítulo. Além de indicar os fundamentos antropológicos e
trinitários para a realidade da comunhão, indicou-se também um conjunto de
critérios a partir dos quais é possível aferir se a eclesiologia subjacente é de
comunhão ou não. São critérios ligados diretamente à vida das pessoas e das
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comunidades, ali no conjunto de relações em que a comunhão se concretiza. A


comunhão não pode ser apenas um discurso ou um ideal. Ela precisa
necessariamente se encarnar em práticas muito concretas.
Assim foi desde o início do ministério de Jesus e depois teve continuidade
através de seus discípulos e discípulas, sobretudo depois do dia de Pentecostes,
quando a Igreja se entendeu como um movimento novo e com proporções mundiais.
Esta necessidade de relacionamentos imediatos, primários e, por isso, significativos
precisa ser suprida ao longo de toda a vida e vem sendo buscada ao longo da história
da humanidade. Em cada época, acontecem iniciativas nesta direção. Com o
advento das novas tecnologias, a possibilidade de relacionamentos virtuais vem
sendo celebrada como uma novidade que aproxima as pessoas e facilita amizades e
comunhão virtual. Entretanto, o que se observa é que ao mesmo tempo em que as
pessoas estão conectadas virtualmente, continuam sentindo falta do contato face-a-
face. Interessante observar a indicação que o Papa Francisco apresenta na Exortação
Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia a respeito da relação entre os laços
primários e a família. Depois de lembrar os riscos decorrentes de alguns fenômenos
que denomina como ambíguos, refere-se explicitamente aos efeitos destes
fenômenos junto à dinâmica familiar, a qual, na linguagem do Papa, se torna uma
102

“estrutura de passagem”, com o enfraquecimento exatamente dos vínculos


primários de relacionamento 231.
A Igreja foi a providência divina para que esta sede de comunhão seja saciada
numa dimensão que inclua mais pessoas além do círculo familiar e um nível mais
profundo que apenas questões sociais, que supra o ser humano na integralidade,
incluindo todas suas dimensões existenciais. Pessoas que partilham da mesma fé e
de experiências semelhantes com a Trindade divina, que desfrutam do mesmo amor
e se deleitam na mesma esperança.
Não existe cristão isolado. A fé cristã é essencialmente comunitária. Como
afirma Miranda: “Pelo fato de sermos cristãos estamos necessariamente vinculados
a uma comunidade de homens e mulheres que professam a mesma fé”. 232 E isto se
reveste de importância ainda maior quando sabemos, como afirma Bruno Forte233,
que “os lugares privilegiados nos quais o Espírito torna presente Jesus, Caminho
para ir ao Pai, são a comunidade da salvação, a Igreja, na variedade dos seus
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carismas e ministérios” e que “a comunhão e a corresponsabilidade dos crentes


constituem a forma mais densa da contemporaneidade de Cristo, Rei e Pastor, Servo
e Caminho de salvação, e devem ser vividas como empenho decisivo”. Trata-se de
um chamado ao diálogo e à uma participação efetiva na vida eclesial, sobretudo na
construção de relacionamentos saudáveis e significantes, que sirvam para saciar a
fome e a sede de comunhão profunda que todo o ser humano carrega dentro de si,
sobretudo quando se encontra com o Deus Trino, que é todo comunhão.
O Concílio Vaticano II produziu uma mudança de paradigmas no que diz
respeito à identidade e a função das comunidades eclesiais numa configuração mais
horizontal e participativa na Igreja Católica. Celebrou “a passagem do territorial
para o comunitário; do princípio único do pároco a uma comunidade toda
ministerial; e da dimensão cultual para a totalidade das dimensões da comunhão e
da missão da Igreja no mundo”234
Congar arriscou indicar quais valores do Vaticano II seriam pauta para os
cristãos, mormente os da Igreja Católica, nos anos seguintes ao Concílio, como de
fato tem ocorrido nas últimas décadas. A colegialidade é uma das apostas de

231
PAPA FRANCISCO, Exortação Apostólica Amoris Laetitia, 33-34
232
MIRANDA, M. F., A igreja que somos nós, p.10.
233
FORTE, B., Breve introdução à vida cristã, p.72 e 74.
234
CNBB, As comunidades eclesiais de base na Igreja do Brasil, p.32.
103

Congar. Embora, segundo ele, o Concílio tenha se contentado em afirma-la,


certamente estruturas colegiais concretas precisam continuamente surgir, radicadas
“na natureza comunional profunda da Igreja”235.
Logo depois do Concílio Karl Rahner afirmou que “a Igreja do futuro será
uma Igreja que se constituirá de baixo para cima, por meio de comunidades de base
de livre iniciativa e associação” 236
. Entretanto, já prevendo o desafio que isso
representaria, Rahner antecipou-se afirmando que “temos de fazer todo o possível
para não impedir esse desenvolvimento, mas antes promovê-lo e orientá-lo
corretamente”237. Não é possível haver comunidade sem estrutura nem organização.
Entretanto, estas estruturas precisam facilitar a participação do povo em todos os
sentidos.
Para fazer jus à expressão aggionamento, utilizada pelo papa João XXIII em
relação ao papel do Concílio Vaticano II para a Igreja Católica, é preciso entender
que esta expressão “não significa adequação ao dia de hoje, mas trazer o tradicional
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em sua novidade para o presente, para o dia de hoje(...). O Evangelho nunca é


simplesmente o velho conhecido, mas o eternamente novo” 238. Esta concepção de
renovação expressa bem o propósito do Concílio Vaticano II e lança luz sobre o que
se pretende neste trabalho, a saber, buscar alternativas para a igreja cristã neste
tempo presente e para o futuro, uma igreja que se mantenha firme e fiel aos
princípios das Escrituras, mas que ao mesmo tempo seja relevante para a sociedade
deste tempo presente. O Concílio apontou o caminho que leva de uma identidade
fechada e trancada em si mesma para uma identidade eclesial entendia como aberta,
relacional, dialogal239.
A nova época que estamos iniciando traz consigo enormes desafios, mas traz
também potencialidades que precisam ser identificadas e aproveitadas ao máximo
pela Igreja de Jesus Cristo. Neste caso é preciso olhar para frente e não pelo
retrovisor, como se “os atos decisivos da história já ocorreram, e que agora estamos
vivendo basicamente como o ‘P.S’ de uma carta já pronta, na última rodada de um
campeonato que já foi decidido há várias rodadas”. 240 Ao invés de se encolherem e

235
CONGAR, Y., Igreja e papado, p.1.291.
236
RAHNER, K., Cambio estructural de la Iglesia, p.132.
237
Ibid.
238
KASPER, V., A igreja católica, op. cit., p.37.
239
Ibid., p.39.
240
MCLAREN, B. D., A igreja do outro lado, p.216.
104

ficarem na defensiva, as igrejas cristãs precisam entender o que está acontecendo


com elas e com a sociedade onde estão inseridas a fim de se antecipar em
apontamento de soluções e não apenas reagir aos problemas já detectados.
Uma realidade que precisa ser identificada a fim de ser relevante na sociedade
em que vivemos é o que destaca Harvey Cox241 ao afirmar que “os moradores de
apartamentos, como a maior parte dos urbanitas, levam uma vida em que as relações
se baseiam na livre seleção e no interesse comum, desvinculados, geralmente, de
proximidade espacial”. Assim sendo, quando a igreja se organiza em pequenas
comunidades, isso favorece os valores do relacionamento interpessoal desde uma
perspectiva comunitária: “procurar criar novas comunidades a partir de grupos que
se reúnem para viver a sua fé, alimentar sua espiritualidade e crescer na
convivência”.242 Isso pode ser feito levando-se em consideração à localização
geográfica, até mesmo pessoas que residem num mesmo condomínio, a fim de
superar o problema da violência em grandes centros. Entretanto, pode-se respeitar
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a tendência da sociedade atual e viabilizar a formação dos grupos por afinidades,


sem delimitação territorial. “O importante é criar comunidades com pessoas que se
integrem para melhor viver a fé cristã”. 243
É sobre essa Igreja do presente e do futuro, capaz de resgatar os valores do
Reino de Deus presentes no ministério de Jesus Cristo e dos seus apóstolos, que
consiga resgatar a comunhão inspirada na Trindade divina e protagonizada por
Jesus Cristo e pelos cristãos primitivos, que se permita reconfigurar para que esses
propósitos sejam alcançados que este trabalho tratará no próximo capítulo,
apresentando os resultados da pesquisa de campo e, analisando mais
detalhadamente as duas igrejas batistas escolhidas para estudo e, dentro dos limites
da tese, indicar caminhos para o fortalecimento da eclesiologia de comunhão.

241
COX, H., A cidade do homem, p.56.
242
CNBB, As comunidades eclesiais de base na Igreja do Brasil, p.79.
243
Ibid.
4
Pequenos Grupos: aumento de membresia ou
reconfiguração eclesiológica

Neste capítulo é o momento de se estabelecer o confronto entre o objeto


material da tese, as duas Igrejas Batistas estudadas, e o objeto formal, isto é, a
eclesiologia de comunhão. Para isso foi realizada uma pesquisa de campo com
representantes quantitativa e qualitativamente capazes de permitir uma visão segura
da realidade estudada. Certamente, a partir das entrevistas, diversos outros pontos
poderiam ser enfocados. O rigor da tese, que exige a permanência na relação entre
objeto material e objeto formal, no entanto, exigiu que se mantivesse o foco da
pesquisa na indagação a respeito dos Pequenos Grupos como reconfiguração ou não
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da experiência eclesial.

4.1.
Os resultados da pesquisa

Tomou-se como referência duas Igrejas Batistas que pertencem à Convenção


Batista Brasileira, que adotaram os Pequenos Grupos em sua dinâmica de
funcionamento. Elas o fizeram a partir da proposta da Igreja Dirigida por Propósitos
e Ministério Igreja em Células.
A sistematização dos dados segue a orientação da pesquisa. A análise do
conteúdo das entrevistas e o resultado serão relacionados com o embasamento
teórico proveniente da pesquisa bibliográfica.
106

4.1.1.
Metodologia utilizada na pesquisa

Além da pesquisa bibliográfica, foi feita também uma pesquisa de campo, na


qual duas Igrejas Batistas que adotaram o sistema de Pequenos Grupos foram
pesquisadas:
Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi, que adotou o sistema de
células preconizado por Ralph Neighbour Jr 244, denominado “Ministério Igreja em
Células”.
Igreja Batista em Morada de Camburi, que adotou o modelo proposto por
Rick Waren245 que denomina os Pequenos Grupos simplesmente de PGs dentro da

244
Ralph Neighbour Jr nasceu em 01 de abril de 1929 em Michigan – EUA, filho de pastor batista.
Graduou-se em Teologia na Northwestern College e Doutourou-se em História Eclesástica no New
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Orleans Baptist Theological Seminary, em Ministéiros no Seminário Luther Rice e Sagrada Teologia
no Southwest Baptist University. Atuou na plantação de mais de uma dezena de igrejas no nordeste
dos Estados Unidos, trabalhou para a Associação Billy Graham em suas cruzadas evangelísticas e
serviu no departamento de evangelismo da Convenção Batista do Texas. Entrou em crise ao
constatar que o cristianismo moderno estava confinando o povo de Deus em estruturas físicas e a
igreja já não tocava as pessoas nas comunidades à sua volta. Afastou-se da denominação Batista em
1969 e deu início à uma Igreja experimental em Houston. Estudou e envolveu-se com o ministério
de pequenos grupos do pastor norte-coreano Paul(David) Yonggi Cho. Viveu duas vezes em
Cingapura. Na segunda vez atuou como pastor na Comunidade Faith Baptist Church, desenvolvendo
um modelo de Igreja em Células, cuja igreja passou de 600 para mais de 5 mil membros (1990-
1995). Fundou o TOUCH(Transforming Others Under Christ’s Hand) Outreach Ministres, um
centro de treinamento que visa capacitar igrejas e obreiros interessados em implantação do sistema
de células, onde já participaram pastores da China, África do Sul, Cazaquistão, Mongélia, Russia,
Taiwan, Indonésia, Brasil, etc. Passou 3 anos na África do Sul (1996-1998) equipando pastores da
Fellowship Independente da Igreja Carismática e da Missão da Fé Apostólica, treinando seus
pastores a transição para igrejas em células. O curso produzido por Neighbour conhecido como “Ano
da Transição” já treinou e orientou mais de 17 mil igrejas no Brasil e é apaixonado por seu último
livro, que mostra a necessidade de o grupo de célula ser reconhecido como a comunidade mais
sagrada da Terra, a expressão da presença e do poder de Cristo, fortalecidos pelo Supremo para a
colheita nesta geração. Com mais de 86 anos de idade ainda atua como professor-assistente do
Golden Gate Baptist Theological Seminary coordenando o Programa de Doutorado e ainda viaja
pelo mundo na qualidade de consultor. Dentre os mais de 30 livros que escreveu destacam-se Were
do we go from here? (E agora? Para onde vamos?), The Shepherd’s Guidebook traduzido e
publicado pelo Ministério Igreja em Células no Brasil, NEIGHBOUR JR, R. W., Manual do líder
de célula. e mais recentemente escreveu Chtist’s Basic Bodies também traduzido e publicado pelo
Ministério Igreja em Células no Brasil. NEIGHBOUR JR, R. W. Unidades básicas do corpo de
Cristo.
245
Rick Waren nasceu em San Jose em 28 de janeiro de 1954. Bacharelou-se em teologia pela
Universidade Batista da Califórnia, concluiu o Mestrado em Teologia pelo Seminário Teológico
Southwestern, no Texas, e doutorou-se em Ministérios pelo Seminário Teológico Fuller. Em 1980
fundou a Igreja Saddleback, na California, tendo iniciado com sua família e a de um corretor de
imóveis num total de sete pessoas. Com mais de 30 mil frequentadores (2016), é uma das maiores e
mais conhecidas igrejas evangélicas do mundo. Tem atuado em grandes conferências e fóruns ao
redor do mundo e tem exercido grande influência sobre pastores do mundo inteiro, tendo treinado
diretamente mais de 400 mil pastores e líderes nos EUA e no mundo. Tem acesso à classe política
americana tendo feito a oração dedicatória de posse do presidente Obama em 20 de Janeiro de 2009.
107

visão de “Uma Igreja Dirigida por Propósitos”. A pesquisa foi realizada por meio
de entrevistas com membros das duas igrejas.
Segundo Cruz, “o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de
conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e
estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no
campo”246. O propósito da pesquisa de campo foi buscar nas próprias Igrejas as
informações e as percepções sobre o fenômeno pesquisado, para se chegar à
conclusão desejada
Optou-se pela técnica das entrevistas com perguntas semiestruturadas e
respostas gravadas, com horário previamente agendado, a fim de tornar a
experiência mais agradável e bem descontraída. Para Cruz, “a entrevista é o
procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador busca
obter informes contidos na fala dos atores sociais [...] sendo entendida como uma
conversa a dois com propósitos bem definidos” 247.
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As entrevistas foram gravadas e armazenadas em mídia segura e,


posteriormente, transcritas. Buscou-se fazer uma transcrição com boa qualidade
mantendo a forma de expressão de cada personagem entrevistado, acompanhando
este trabalhos nos Anexos A e B. Como parte do acordo feito com os participantes
da pesquisa de campo, os nomes das pessoas são mantidos no anonimato.
Para classificação das entrevistas, foram indicados dois códigos: PIBJC,
relativo à Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi, e IBMC, relativo à Igreja
Batista de Morada de Camburi. Por sua vez, cada entrevista, recebeu um número
e cada resposta foi igualmente numerada, de modo que, por exemplo, a referência
PIBJC 85:06 deve ser entendida como a 85ª entrevista da Primeira Igreja Batista de
Jardim Camburi, na 6ª pergunta e sua respectiva resposta.
Gomes248 entende que a análise dos conteúdos de uma pesquisa de campo
presta-se a dois propósitos básicos:

É conhecido como um dos líderes mais influentes dos EUA. Publicou vários livros com destaque
para Uma Igreja com Propósito e Uma Vida com Propósito que já foi traduzido para mais de 50
idiomas com mais de 40 milhões de exemplares vendidos em inglês e mais de 800 mil cópias em
português. Como teólogo Rick Waren já apresentou palestras em Oxford, Cambridge, Harvard,
Evangelical Theological Society e em vários outros seminários e universidades.
246
CRUZ, O. N., “O trabalho de campo como descoberta e criação”, p. 52.
247
Ibid., p. 57.
248
GOMES, R., “A análise de dados em pesquisa qualitativa”, p. 74.
108

verificação de hipóteses e/ou questões, ou seja, através da análise do conteúdo,


podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também podemos
confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação. A
outra função diz respeito à descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos,
indo além das aparências do que está sendo comunicado.

Nesse sentido foram entrevistadas pessoas do sexo masculino e do sexo


feminino, com as mais diferentes idades, tanto de nascimento como de frequência
à Igreja Batista, como pode ser constatado no conteúdo das entrevistas anexadas a
este trabalho. A ideia era identificar semelhanças e diferenças na visão que cada um
tinha da relevância dos Pequenos Grupos.
Levou-se em consideração também a posição da pessoa nos grupos, ou seja,
se são apenas membros ou se ocupam alguma função de liderança. Com isso se
desejou observar como cada um vê o Pequeno Grupo, olhando do seu ponto de
vista, de acordo com a posição que ocupa dentro do grupo. Da mesma forma foram
entrevistados os pastores das igrejas e outros líderes que exercem influência na
definição dos rumos seguidos pelas igrejas bem como pessoas que não ocupam
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funções de liderança a fim de observar como estes se veem dentro do processo.


Ao todo foram entrevistadas 100 pessoas da Primeira Igreja Batista de Jardim
Camburi, sendo 04 pastores, 12 supervisores/as de célula, 32 líderes de célula e 52
membros de células. Da Igreja Batista em Morada de Camburi foram entrevistadas
20 pessoas, sendo 02 pastores, 01 coordenador dos PGs, 03 líderes de PGs e 13
membros de PGs. Tanto na PIBJC como na IBMC este número representa,
aproximadamente 10% do numero de pessoas que frequentam semanalmente as
células e os Pequenos Grupos das referidas igrejas. Entendeu-se que este é um
percentual bem representativo no universo de pessoas que fazem parte e que
frequentam os grupos com regularidade como pode ser visto na tabela a seguir:

Igrejas Nº estimado de membros que frequentam os Nº de membros


Pequenos Grupos entrevistados
PIBJC 1.000 100
IBMC 200 20
Tabela 1 - Percentual de entrevistados/as em relação aos participantes dos Pequenos Grupos.
109

4.1.2.
Primeiros resultados: Como as igrejas são vistas por seus
integrantes

O ponto de partida para o recolhimento dos resultados é a consideração de


como as Igrejas são vistas por seus integrantes. Trata-se de considerar, antes de
qualquer outro passo, o modo como os participantes percebem a si mesmos e a
experiência eclesial vivenciada. São relatos que ouvem os pastores, os supervisores,
os líderes e os demais membros. O detalhamento a respeito das características deste
recorte aparecerá mais adiante quando se abordar a questão das estruturas eclesiais.

4.1.2.1.
Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi
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A PIBJC adotou o sistema proposto pelo Ministério Igreja em Células. Daí


nomear os Pequenos Grupos de células, como pode ser contatado na maioria das
entrevistas. Neste sistema, a configuração prevê a existência do Pastor Geral,
também chamado de Pastor Presidente, que faz a gestão da Igreja como um todo,
Pastores de Rede, que fazem a gestão sobre determinado número de supervisões, os
Supervisores, que fazem gestão sobre determinado número de células, líderes que
coordenam uma célula de aproximadamente 10 pessoas, que contam também com
líder auxiliar e demais membros do grupo, como pode-se visualizar na tabela
abaixo.

Posição Função
Pastor geral (presidente) Pastorear os pastores de rede
Pastores de rede Pastorear uma rede de supervisores
Supervisor Pastorear um grupo de líderes de célula
Líderes de célula Pastorear um grupo aproximado de 10 pessoas
Membros das células Participar ativamente da vida da célula
Tabela 2 - Estrutura funcional do sistema de células da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi

Seguindo a linha estrutural definida pela PIBJC para sua configuração


utilizando o sistema de células, foram analisadas as falas, primeiramente dos
110

pastores, a começar pelo pastor geral (presidente), seguidos de supervisor e uma


supervisora, depois dos líderes entrevistados/as e finalmente dos membros das
células.

1) A igreja vista pelos pastores: ao falar sobre sua experiência com


Pequenos Grupos e como sentiu a necessidade de implantar o sistema de células o
pastor presidente249 da Igreja afirmou250 que, na medida em que a Igreja ia
crescendo, mais difícil se tornava o cuidado da sua membresia na configuração
tradicional da Igreja. Passou então a buscar um sistema, um caminho que
possibilitasse um compartilhamento do cuidado pastoral. À luz de sua experiência
até aqui, entendeu que um dos maiores desafios era de mobilizar e capacitar
lideranças com esta visão diferenciada, entendendo a liderança não no sentido de
administrar um grupo, mas no sentido de cuidado, de pastoreio, de identificar
necessidades das pessoas e procurar suprir essas necessidades. Segundo o Pastor
Presidente, embora tenha ainda muito que avançar neste sentido, já conta com grupo
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bastante significativo de pessoas envolvidas nesse processo.


Outro pastor, que faz parte do colegiado de pastores da igreja, disse 251 que
para ele tem sido uma experiência fantástica participar do processo de implantação
de células na igreja, desde o início, no final dos anos 90. Segundo ele, tem sido uma
experiência extremamente produtiva, uma vez que tem possibilitado a vivência de
valores que já cria e defendia, mas que, na estrutura tradicional das Igrejas Batistas,
isso seria impossível. Fez menção do sacerdócio universal dos crentes, uma
doutrina muito comum na teologia protestante, mas que, segundo o referido pastor,
ele tinha dificuldades de ver na prática, até mesmo em seu ministério enquanto
pastor. Através da visão celular, ele encontrou um espaço muito mais eficaz para
levar os crentes a praticar o sacerdócio universal de tal forma que cada um se
considere um ministro com dons e habilidades concedidas pelo Senhor para o
serviço cristão. Entende também que sua experiência de pastoreio passou por
mudanças profundas a partir das células, sobretudo do ponto de vista qualitativo
pois, através da estrutura de células, ele pastoreia uma equipe de líderes,

249
Nomeclatura utilizada para fazer distinção entre o pastor que responde legalmente pela Igreja,
tendo sido eleito pela Igreja para isso, e os demais pastores que fazem parte do colegiado de pastores
que atuam no pastorado da Igreja.
250
Cf.: PIBJC 30:01.
251
Cf.: PIBJC 28:01.
111

capacitando-os, investindo neles para que por sua vez pastoreiem o rebanho, uma
vez que estão mais próximos das ovelhas.
Perguntado sobre a configuração atual da Igreja, baseada em Pequenos
Grupos, o pastor presidente afirmou 252 que a estrutura básica da igreja atualmente
é de cuidado. Existem os pastores, os supervisores e os líderes, porém numa
dimensão mais horizontal e não tão vertical de hierarquia. Todo o pastoreio da
igreja, tudo o que diz respeito ao cuidado pastoral do rebanho passa por essa
estrutura. Afirma também que alguns itens da estrutura anterior foram suprimidos
e outros mantidos. A Escola Bíblica é um exemplo do que foi mantido. Entretanto,
hoje a Escola Bíblica recebe outra abordagem, mais dinâmica e voltada para o
discipulado. São apenas quatro períodos semestrais de estudos, com uma estrutura
curricular baseada em temas que os próprios membros da Igreja podem escolher
para estudar. Há também cursos mais rápidos e cursos que duram o ano todo. Os
outros ministérios que a Igreja implantou a partir das células são vistos como
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ministérios de apoio, suporte para as atividades das células: ministério de música,


ministério infantil, a gestão administrativa, todos e outros ministérios que a igreja
tem atualmente são vistos como ministérios que precisam dar suporte para que as
células funcionem satisfatoriamente.
Sobre a questão da reconfiguração da igreja, outro pastor253 afirmou que

as células realmente reconfiguraram a estrutura eclesiástica, elas nos conduziram a


uma remodelação da maneira como se faz a gestão ministerial, elas hoje estão
influenciando a gestão administrativa da igreja, as células provocaram a mudança no
orçamento da igreja, as células mudaram o estilo de ser igreja e elas estão mudando
nosso estilo de vida, então o impacto da vida em célula para a igreja Batista de Jardim
Camburi não tem como ser diminuído, porque influenciou tanto a parte
administrativa, financeira, estrutural como o estilo de vida das pessoas também.

Trata-se de uma reconfiguração total da igreja na visão deste pastor, que se


diz muito motivado por tudo o que tem acontecido na igreja a partir da implantação
das células, ou seja, dos Pequenos Grupos.
Falando sobre a importância dos Pequenos Grupos para o cultivo de
comunhão entre os membros da Igreja o pastor presidente foi enfático ao afirmar 254
que pode haver caminhos parecidos, mas não melhores do que as células para
desenvolver comunhão, sobretudo quando se pensa em comunhão num nível mais

252
Cf.: PIBJC 30:05.
253
Cf.: PIBJC 28:15.
254
Cf.: PIBJC 30:12.
112

profundo, que envolva caminhar junto, convivência, cuidado, relacionamentos mais


estreitos, a exemplo do que Jesus fez com o grupo dos doze (Mc 3,14). O pastor vê
a célula como uma ferramenta extraordinária para que as pessoas tenham comunhão
e pratiquem aquilo que a Bíblia orienta fazer, ou seja, chorar com os que choram e
se alegrar com os que se alegram (Rm 12,15). Segundo ele, não é possível se alegrar
com uma pessoa ou chorar com outra encontrando-se com ela apenas uma vez por
semana, num ambiente mais formal e engessado como é o ambiente de culto.
Entretanto, se aquela pessoa faz parte do seu mundo, encontrando-se mais vezes na
semana, sobretudo em ambientes e em conversas informais, a comunhão será mais
real e profunda, haverá cuidado mútuo e os valores do Reino de Deus serão vividos
de maneira mais plena. E a célula, no dizer do pastor, é uma ferramenta
extraordinária para proporcionar isso.
Ao mencionar a importância das células para o cultivo da comunhão na igreja,
outro pastor255 entende que há aprofundamento muito grande, sobretudo no bairro
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onde a igreja se localiza, Jardim Camburi, marcado pelo individualismo, classe


média crescente, onde há preocupação exagerada com o trabalho, estudos,
prosperidade econômico-financeira, muitas vezes jogando as pessoas no
isolamento. Neste contexto a célula se constitui num antídoto poderoso para evitar
o isolamento entre os membros da igreja. Com dificuldade para se conhecer melhor
frequentando apenas as celebrações do domingo, no grupo grande, as pessoas tem
a oportunidade de o fazer na medida em que se encontram em grupos menores, ao
longo da semana, nas casas. A célula acaba estimulando a criação e o
aprofundamento dos vínculos, possibilitando a ajuda mútua, extremamente
relevante na comunhão cristã.
Ao ser indagado sobre a sua visão da igreja a que serve hoje, o Pastor
Presidente afirmou256 que ela procura ser contemporânea na sua forma, nos seus
cultos, no seu modelo gerencial também, investindo bastante na área de
comunicação sem, contudo, deixar de ser fiel aos princípios da fé cristã, sem pressa
na transição para o modelo de células, sem abrir mão de valores que entende que
são princípios da Palavra de Deus e que não podem ser negligenciados. O pastor
faz menção do fato das pessoas sentirem-se mais livres para expressar sua adoração
nas celebrações coletivas, participando dos cultos e não apenas assistindo o que

255
Cf.: PIBJC 28:19.
256
Cf.: PIBJC 30:08.
113

acontece. Entende que a Igreja está antenada, sendo contemporânea, mas ao mesmo
tempo mantendo vínculo com a tradição cristã Batista, por exemplo, cantando
cânticos atuais, mas cantando também hinos clássicos. Entende até que, do ponto
de vista denominacional, a Igreja pode ser considerada uma igreja tradicional,
ligada à Convenção Batista Brasileira, mas ao mesmo tempo, é uma igreja renovada
em outros aspectos, sobretudo em sua configuração e filosofia de ministério.
Outro pastor257 entende que sua Igreja tem uma visão muito clara do que quer
e para onde vai, investindo em relacionamentos saudáveis e profundos com base no
amor de Deus em três direções. Primeiramente voltado para cima, através da
adoração, para fora promovendo a transformação das famílias e da sociedade no
poder do Espírito Santo e para dentro vivendo em Cristo e compartilhando seu
amor. Uma igreja em movimento, ainda em processo, mas com direção muito clara
e passando por mudanças profundas.
Como se pode notar, os pastores manifestaram-se extremamente positivos na
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avaliação que fizeram e otimistas quanto aos resultados, sem, contudo, ignorar os
desafios que ainda tem pela frente. Para os pastores não se trata de desafios
secundários, porém de desafios diretamente ligados à implantação dos Pequenos
Grupos, chamados de células, como outro estilo de ser igreja, mantendo, porém, a
identidade Batista.
Como pastores, com visão ampla do processo de implantação das células, eles
percebem que não se trata apenas de correções em detalhes periféricos. Os pastores
têm clareza quanto ao que precisa ser mudado a fim de se atingir uma eclesiologia
mais na linha da comunhão. A questão verdadeira diz respeito, portanto, a valores
e princípios eclesiológicos. Não são apenas questões estratégicas.

2) A igreja vista pelos supervisores de célula: Este sistema prevê,


indispensavelmente a presença de supervisores, que, sob a orientação dos pastores,
fazem a ponte com as células através de seus respectivos líderes. Para ilustrar a
visão que as pessoas que atuam na supervisão das células têm da igreja e das células,
foram destacadas falas de uma supervisora e um supervisor que participaram de
outras igrejas, sem a presença dos Pequenos Grupos, a título de exemplo. A
supervisora destacada participou de igrejas evangélicas desde a primeira infância,

257
Cf.: PIBJC 28:16.
114

conheceu e participou de igrejas que não tinham a experiência dos Pequenos Grupos
e agora faz parte da Igreja que adota as células como Pequenos Grupos de
comunhão. Ela afirma que a diferença entre as igrejas que adotam e as igrejas que
não adotam os pequenos grupos está no fato de que, embora as igrejas sem pequenos
grupos promovam a comunhão de várias maneiras, não tem a intencionalidade de
se promover comunhão, conforme se observa na igreja que ela faz parte hoje, com
o Pequeno Grupo.
Entende, entretanto, que no caso do sistema de Igreja em Células, o Pequeno
Grupo vai além da dimensão da comunhão, do relacionamento mais próximo. Neste
caso a célula passa a ser a unidade fundamental da estrutura da Igreja e é no contexto
da célula que as pessoas servem através de seus dons, onde elas se edificam
mutuamente, ensinam a Bíblia umas para as outras. A comunhão passa a ser mais
próxima, não só pela convivência, mas pela questão do pastoreio mútuo, do
compromisso um com o outro. Diferente da igreja que não tem o Pequeno Grupo,
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em que o pastoreio fica restrito ao pastor da Igreja, na igreja em células este


pastoreio é compartilhado entre os pastores, os supervisores e os líderes das células.
Isso facilita o pastoreio em função da proximidade que se dá entre os membros das
células e seus líderes.
Destaque importante feito pela supervisora é que as pessoas passam a ser o
fim e os relacionamentos mais estreitos e as atividades passam a ser as estratégias
utilizadas para alcança-las e edifica-las. Ela afirma: “Aqui a gente tá defendendo
uma ideia de que o fim são as pessoas. Acho que a grande diferença seria essa
percepção do quanto as pessoas são preciosas para Deus e o quanto que a igreja tem
que tá focando isso”.258
Outra observação a ser destacada é sobre a repercussão das células na
funcionalidade da Igreja. A supervisora menciona a dificuldade que a Igreja da qual
faz parte tem pela falta de espaço suficiente para acolher todas as pessoas que se
reúnem para as celebrações aos domingos, tendo que promover três celebrações em
horários diferentes259. Neste caso, nem todas as células frequentam os mesmos
cultos o que faz com que as pessoas tenham a sensação e não se conhecerem. Ainda

258
Cf.: PIBJC 22:05.
259
Esta realidade foi modificada com a inauguração em 2015, de um auditório maior, com
capacidade para mais de 5 mil pessoas, no mesmo bairro, o que possibilita apenas uma celebração
dominical.
115

assim, mesmo sabendo que não se conheça todas as pessoas que se reúnem ali, mas
“a gente sabe que alguém ali nos conhece em profundidade, em intimidade e isso é
muito bom”260
Destaca também a importância que o sistema de célula tem para o processo
de comunicação261 na igreja.

Todas as visões e as campanhas, o direcionamento que a liderança, que os pastores


querem passar pra cada indivíduo elas são canalizadas através das células, elas
chegam as células e lá elas são difundidas e quando vem pro grupo todo mundo que
participa de uma célula já tem conhecimento dessa visão pastoral e é assim que
funciona.

Apesar de ter participado de uma igreja onde havia os Pequenos Grupos um


supervisor sentiu-se impactado com a nova experiência em Jardim Camburi. Foi
surpreendido por uma experiência de grupo que ia muito além de encontros formais
de estudos bíblicos e oração. Como ele mesmo diz: “Era realmente um grupo que
caminhava junto no sentido de vida, no sentido de partilhar vida” 262. Jovens que
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fizeram da célula sua família e causaram grande impacto na igreja e na vida do


referido supervisor263, especialmente em seu relacionamento com Deus 264.
O referido supervisor vê a sua igreja num processo de aprendizado do que
realmente significa uma igreja em células. Entende que já avançou muito, mas que
há ainda muito a ser desenvolvido, sobretudo na área do discipulado cristão.
Segundo ele “a Igreja Batista já conseguiu avançar. E tem mesmo a visão da célula
como a principal ferramenta. A principal ferramenta de alcançar pessoas e de
expandir o Reino de Deus. Eu vejo”265.
3) A igreja vista pelos líderes de célula: No sistema de Igreja em Células,
adotado pela PIBJC, as lideranças dos Pequenos Grupos exercem papel
fundamental, uma vez que são os/as líderes que estão em contato direto com os
membros da Igreja e exercem sobre eles um pastoreio, sob a orientação de seus
supervisores. Uma líder de célula que conheceu bem a Igreja antes de adotar o
sistema, que esteve na Igreja e saiu por mudar de residência, passando pelo Rio e
outras cidades do Espírito Santo, vê a Igreja em processo de crescimento, não só

260
Cf.: PIBJC 22:12.
261
Cf.: PIBJC 22:12.
262
Cf.: PIBJC 56:01.
263
Cf.: PIBJC 56:02.
264
Cf.: PIBJC 56:03.
265
Cf.: PIBJC 56:11.
116

em número, mas também na qualidade da comunhão, dos relacionamentos. Afirma


que hoje “dificilmente a gente encontra alguém sozinho na Igreja” 266. Entende que
é a célula que proporciona essa possibilidade de integração daqueles que chegam
para a Igreja. Além de experimentar um crescimento maior, mais rápido, a líder de
célula vê a Igreja crescendo em qualidade de vida cristã e eclesiástica.
Embora veja as pessoas muito satisfeitas pelo fato de pertencerem a uma
célula, a líder vê também maiores dificuldades para administrar uma igreja que
adote o sistema de células, uma vez que a liderança compartilhada acaba trazendo
os problemas das pessoas mais rapidamente ao conhecimento dos pastores que
precisam administra-los. Entretanto, vê isso com bons olhos entendendo que assim
as pessoas são mais bem cuidadas, recebendo atenção mais próxima de seus
líderes267.
Solicitada a descrever a sua Igreja ela afirma que sua igreja “é uma igreja
dinâmica, é uma igreja acolhedora, tem que melhorar ainda, no acolhimento, mas
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já é muito acolhedora... E é uma igreja que eu vejo que tá buscando mesmo a agradar
ao Senhor”268. Sente-se orgulhosa em pertencer a essa Igreja.
Um líder jovem descreve com detalhes como foi sua inserção na célula e
como isso fez diferença na Igreja que faz parte hoje. Destaca a intimidade que há
entre os membros da célula e a importância de ser um Pequeno Grupo, com não
mais de 15 pessoas para que esta intimidade possa acontecer com os
desdobramentos disso como o cuidado mútuo269. Entende que as células não
exerceram influência significativa nas celebrações coletivas, mas o fizeram de
maneira perceptível “na forma de pensar e planejar as coisas, sim. A célula é, como
se fosse a base de tudo, pelo menos aqui” 270. Destaca também a importância das
parcerias no cuidado mútuo e na busca de relacionamentos mais profundos 271.
4) A igreja vista pelos membros das células: Os membros são o ponto
inicial e o ponto final do sistema de Células. É em função deles que toda a estrutura
se estabelece, a fim de que haja pastoreio, cuidado, participação, crescimento e
satisfação de suas necessidades. Então, para completar o quadro da visão que se

266
Cf.: PIBJC 27:02.
267
Cf.: PIBJC 27:04 e 05.
268
Cf.: PIBJC 27:06.
269
Cf.: PIBJC 31:03.
270
Cf.: PIBJC 31:13.
271
Cf.: PIBJC 31:04.
117

tem da PIBJC foram destacados depoimentos de dois membros das células, um do


sexo feminino e um do sexo masculino. Uma jovem de 20 anos, que é membro de
uma célula vê sua Igreja como muito grande e que as células são um recurso para
que ela receba auxilio em sua caminhada com Cristo, como se fosse uma mini-igreja
que ajuda na sua edificação272. Acha que as células ajudaram a integrar a sua Igreja.
Solicitada a descrever sua igreja utilizando adjetivos a jovem que é membro
da célula disse que sua Igreja é uma igreja forte, determinada, que tem fé, que busca
a orientação de Deus para o planejamento e o desenvolvimento das ações, alegre e
inclusiva, no sentido de atrair pessoas de todas as faixas etárias.
Outro entrevistado começa dizendo que sua experiência na Igreja, com as
células pode ser considerada cem por cento. Mesmo não tendo vindo para a Igreja
em função da célula admite que sua permanência na igreja, onde encontrou pessoas
amigas com as quais desenvolveu amizades mais profundas, foi de fundamental
importância a existência das células 273. Ao descrever a Igreja da qual faz parte
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afirma que a ama muito e que se sente com suas expectativas como cristão
atendidas, tendo dado várias oportunidade para que ele trabalhasse para o Reino de
Deus. Além disso, vê sua Igreja como uma Igreja solidária, que está sempre atenta
às necessidades das pessoas que dela fazem parte e dos moradores do bairro.
Entende que sua Igreja é uma Igreja que pratica o amor de Cristo, investe na obra
missionária quer sendo através de adoção de missionários ou apoiando seus
membros em seu esforço de participar da obra missionária.
Pode-se observar pelos depoimentos que a visão que os pastores, as demais
lideranças e os membros das células têm da igreja é muito parecida. A visão está
bem clara para todos, quanto à importância e o impacto das células em suas vidas e
na vida da Igreja. Há um consenso geral de que as células são fundamentais para
que haja comunhão e crescimento em todos os sentidos, sobretudo na busca do
seguimento de Jesus que é, em última análise, a principal preocupação demonstrada
por aqueles que tem a responsabilidade de liderar a Igreja direcionando-a na
estruturação em células.

272
Cf.: PIBJC 48:01.
273
Cf.: PIBJC 38:01 e 02.
118

4.1.2.2.
Igreja Batista de Morada de Camburi

Da mesma forma como foi feito com a Igreja anterior, serão registrados a
seguir alguns depoimentos para descrever a Igreja Batista em Morada de Camburi
pela visão dos pastores, coordenador dos PGs, líderes e membros de Pequenos
Grupos para constatar como cada um desses segmentos diretamente ligados com os
Pequenos Grupos vê a sua Igreja. Não foram mencionados supervisores, pois na
referida igreja, em função do sistema adotado, não existe a figura do supervisor,
somente uma pessoas que coordena o Pequenos Grupos, como pode-se constatar na
tabela abaixo.

Posição Função
Pastor Sênior Pastorear o coordenador de PGs
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Coordenador de PGs Pastorear todos os líderes de PGs


Líderes de PGs Pastorear um grupo aproximado de 10 pessoas
Membros dos PGs Participar ativamente da vida dos PGs
Tabela 3 - Estrutura funcional do sistema de PGs da Igreja Batista de Morada de Camburi

1) A igreja vista pelos pastores da Igreja: falando sobre a adoção dos


Pequenos Grupos na Igreja o pastor sênior274 relata que eles vieram através da
adoção do sistema de Igreja Dirigia por Propósitos. Ele afirma que esta foi a
ferramenta275 utilizada para revigorar a igreja que passava por momento muito
crítico, com número muito reduzido de participantes. Afirma que aos poucos a
igreja foi entendendo o sentido destes propósitos e isso trouxe crescimento em todas
as direções. Mesmo com alguma dificuldade para entender a proposta, o pastor
destaca que os propósitos são bíblicos, tirados do grande mandamento 276 e da
grande comissão277 como já foi descrito acima neste trabalho. O pastor afirma que
a partir da adoção deste sistema de funcionamento da igreja, “tudo que nós fazemos
tem que ter algum link com os propósitos. Aqui a gente não faz absolutamente nada

274
Expressão utilizada para identificar o pastor presidente, pastor titular ou pastor principal da igreja
nas Igrejas Dirigidas por Propósitos.
275
Cf.:.IBMC 01:01. Os cinco propósitos são: a comunhão, a adoração, o discipulado, o evangelismo
e o serviço.
276
Ver Mc 10, 33-37 e outros textos que relatam sobre o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo
como o grande mandamento.
277
Ver Mt 28, 10-20 e outros textos que narram o comissionamento da Igreja de fazer novos
discípulos de Jesus Cristo.
119

que não tenha uma direção e alcance de um dos cinco propósitos” 278. Menciona
ainda que a Igreja é tida como pioneira na adoção do sistema da Igreja Dirigida por
Propósitos no Brasil. Os Pequenos Grupos foram introduzidos como parte da
estratégia da igreja para o cumprimento dos cinco propósitos. A partir do momento
em que a igreja começou a crescer “nós procuramos uma estratégia que pudesse nos
ligar em termos de celebração da comunhão numa grande comunidade, mas a
verdadeira comunhão numa pequena comunidade (...). Iniciamos o processo de
abrir os chamados Pequenos Grupos”279.
O pastor menciona que o maior impacto que os Pequenos Grupos causaram
na igreja foi a criação de uma rede de ajuda, de apoio, de proteção, de cuidado
mútuo, criado a cultura da disponibilidade para ajudar produzindo satisfação e
segurança para os integrantes dos grupos280. Ilustra isso com fatos ocorridos em que
as pessoas foram apoiadas e cuidadas em momentos críticos em suas vidas 281. Fala
também que
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se a igreja se reúne em pequenos grupos com a mesma direção, com a mesma


unidade, esses pequenos grupos se tornarão fantásticos, porque aquilo que a gente
não vai ter nas grandes celebrações, a gente vai ter nos pequenos grupos, como que
suprindo um dos aspectos mais favoráveis pros dias de hoje, na medida em que as
pessoas estão literalmente anônimas, onde se encontram e, é, cada um por si. Então,
o pequeno grupo oferece a oportunidade da pessoa se sentir acolhida, importante,
aconchegada, protegida, orientada.282

O pastor sênior acredita que o Pequeno Grupo serve de desafio para que os
pastores busquem um padrão de excelência em seu testemunho cristão e em seu
ministério, uma vez que os pastores também estão envolvidos no processo. No
grupo os pastores não são líderes, apenas membros. Sentam para serem ministrados
e isso mostra como devem estar conectados com as pessoas. Serve de desafio para
se buscar um padrão de excelência nos relacionamentos e na forma de ministrar e
na medida em que as pessoas crescem os pastores também precisam crescer na
qualidade de vida cristã e no que ensinam283.
2) A igreja vista pelo coordenador dos PGs da Igreja: O pastor que
coordena os Pequenos Grupos na Igreja entende que atualmente os Pequenos

278
Cf.:.IBMC 01:01.
279
Cf.:.IBMC 01:02.
280
Cf.:.IBMC 01:03.
281
Cf.:IBMC 01:12.
282
Cf.:IBMC 01:13.
283
Cf.:IBMC 01:17.
120

Grupos tem perseguido apenas o propósito de comunhão e são mistos, reunindo


pessoas de gêneros e idades diferentes, mas que está num processo de transição para
que se tornem mais homogêneos e persigam os propósitos de discipulado,
comunhão e de evangelização284. Entende que os Pequenos Grupos tem contribuído
para que as pessoas vivam Igreja além dos dias de celebração e além das quatro
paredes do templo. Reconhece também a importância dos Pequenos Grupos para
jovens que são do interior e vivem no contexto da Universidade, tornando uma
maneira de acolhimento dessas pessoas como se fosse sua segunda família 285.
O pastor coordenador vê na igreja hoje três grupos diferentes de pessoas em
relação ao Pequeno Grupo. Aqueles que estão vivendo intensamente a experiência
de grupo, outros que fazem dos grupos apenas mais um programa, alternativo, mas
que não o considera essencial para suas vidas e aqueles que não querem fazer parte,
ou por não entender os objetivos e a importância dos grupos ou por dificuldades
com sua agenda e ainda outros por temerem uma interferência em suas vidas uma
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vez que o Pequeno Grupo cria laços e desenvolve relacionamentos mais estreitos
entre as pessoas.286 Falando sobre reconfiguração da Igreja, entende também que as
principais mudanças na Igreja não foram ocasionadas pelos Pequenos Grupos, mas
pelo fato de a Igreja ter adotado o modelo de Igreja Dirigida por Propósitos. Por
outro lado afirma que os Pequenos Grupos funcionam como o motor que coloca a
igreja em movimento na transição para ser uma Igreja Dirigida por Propósitos. É
nos Pequenos Grupos que as coisas acontecem287.
Outro destaque significativo feito pelo pastor que também é coordenador dos
Pequenos Grupos é que com a presença dos Pequenos Grupos a Igreja se tornou
mais proativa no que tange à identificação e solução dos problemas. Isso trouxe
benefícios para a própria membresia da igreja como também para a sua liderança 288.
Segundo ele os Pequenos Grupos permitem ao pastor focar seu ministério em
cuidar, capacitar, treinar pessoas ao invés de se desgastar em questões
administrativas e outras de menor importância que acabam sendo solucionadas nos
Pequenos Grupos289.

284
Cf.:IBMC 05:04.
285
Cf.:IBMC 05:05.
286
Cf.:IBMC 05:10.
287
Cf.:IBMC 05:12.
288
Cf.:IBMC 05:13.
289
Cf.:IBMC 05:14.
121

3) A igreja vista pelos líderes dos Pequenos Grupos: IBMC 11290 entende
que os Pequenos Grupos em sua Igreja possibilitam um pastoreio compartilhado.
Entende que seu pastor não tem condições de cuidar sozinho de cerca de
quatrocentos membros. Vê no Pequeno Grupo a oportunidade que a Igreja tem de
desenvolver relacionamentos, cuidar um do outro. Além disso, entende que o
Pequeno Grupo contribui pra Igreja ser mais unida e conseguir atender as
necessidades das pessoas291. Vê a Igreja crescendo em quantidade e qualidade292.
Vê a Igreja contribuindo para a transformação da sociedade através do trabalho que
o Pequeno Grupo faz com as famílias293.
IBMC 09294 entende que o Pequeno Grupo auxilia muito a Igreja no pastoreio
de sua membresia. Com o crescimento da igreja, os pastores não têm condições de
pastorear de perto suas ovelhas e o PG passa a ser estratégico para que o pastoreio
aconteça através de relacionamentos mais próximos. Vê a sua igreja preocupada em
capacitar lideranças295, mas entende que a Igreja tem se preocupado em capacitar a
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liderança de PGs, mas ao mesmo tempo sente falta de mais treinamento, reciclagem,
atualização. Ele mesmo sentiu essa necessidade na própria experiência 296, uma vez
que liderou um grupo que residia longe da sede da Igreja e teve dificuldades para
receber o apoio que necessitava. Conclui que a Igreja foi feliz em adotar os
Pequenos Grupos como estratégia de funcionamento297.

4) A igreja vista pelos membros dos Pequenos Grupos: também aqui são
utilizados depoimento de um membro do sexo masculino e um do sexo feminino
para ilustrar a visão que cada um apresenta da igreja com a presença dos pequenos
grupos.
O membro em destaque entende que o Pequeno Grupo trouxe uma dinâmica
diferente para a Igreja no que tange aos relacionamentos. Entende que os laços de
amizade foram estreitados e aprofundados uma vez que os Pequenos Grupos
possibilitaram um conhecimento mútuo mais profundo 298. Encontra dificuldades

290
Cf.:IBMC 11:03.
291
Cf.:IBMC 11:05.
292
Cf.:IBMC 11:05.
293
Cf.:IBMC 11:02.
294
Cf.:IBMC 09:05.
295
Cf.:IBMC 09:04.
296
Cf.:IBMC 09:02.
297
Cf.:IBMC 09:09.
298
Cf.:IBMC 04:03 e 23.
122

para integrar um convidado na Igreja pelo fato de ser um grupo grande, mas isso se
resolve com o Pequeno Grupo onde o ambiente é informal e as pessoas agem de
maneira mais natural299. Apesar de reconhecer a importância dos Pequenos Grupos
para a Igreja da qual faz parte, o entrevistado faz uma observação bem interessante.
Ele afirma: “eu vejo a igreja muito fechada dentro do âmbito dela” 300. Em função
disso o entrevistado está iniciando uma experiência nova, que é criar um Pequeno
Grupo incluindo membros de outras igrejas, com o devido acompanhamento do
coordenador de Pequenos Grupos de sua Igreja.
Outro membro301 de Pequeno Grupo destaca que já fez parte de igrejas que
não tinham o Pequeno Grupo e vê a questão da comunhão como grande diferencial
na Igreja de Morada de Camburi, exatamente pela existência do Pequeno Grupo.
Consegue ver muito mais afinidade, interação entre as pessoas na igreja de Morada
em função dos Pequenos Grupos. Afirma que há uma preocupação de cuidado
mútuo entre os membros do Pequeno Grupo no interregno dos encontros302.
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Reconhece que os Pequenos Grupos têm contribuído para seu crescimento


espiritual e que sua igreja tem crescido de maneira saudável 303 também, não só em
quantidade de membros, mas também em nível de espiritualidade.
A exemplo do que se viu nos depoimentos dos membros da Primeira Igreja
Batista em Jardim Camburi, também os da Igreja Batista em Morada de Camburi
fazem uma avaliação muito positiva dos Pequenos Grupos, entendendo que eles
contribuem para a reconfiguração da Igreja e para criar e aprofundar
relacionamentos, possibilitando uma comunhão mais profunda entre os membros
da Igreja, na perspectiva da prática dos mandamentos de mutualidade.304 Esses são
apenas algumas amostras, que representam a tônica de praticamente todas as
entrevistas, tanto na PIBJC como também na IBMC.

299
Cf.:IBMC 04:07.
300
Cf.:IBMC 04:29.
301
Cf.:IBMC 16:4.
302
Cf.:IBMC 16:12.
303
Cf.:IBMC 16:12.
304
Mandamentos de mutualidade refere-se às muitas vezes que aparece no Novo Testamento a
expressão “uns aos outros” , denotando uma vida em comunidade comprometida, com vínculos que
preveem relacionamentos mais profundos e a vivência dos valores do Reino de Deus.
123

4.2.
Resultados finais da pesquisa: Vivência dos valores da Eclesiologia
de Comunhão nas Igrejas Batistas pesquisadas

O trabalho passa agora a analisar os dados colhidos nas entrevistas em


comparação com os principais valores e princípios sugeridos pela eclesiologia de
comunhão. Quer constatar até que ponto os Pequenos Grupos tem contribuído para
uma reconfiguração eclesial à luz dos referidos valores ou se constitui simplesmente
uma estratégia de crescimento de Igreja, ou seja, de aumento da membresia das
igrejas.

4.2.1.
As entrevistas em números
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4.2.1.1.
Em relação ao gênero das pessoas entrevistadas

GÊNERO PIBJC % IBMC %


Masculino 52 52% 12 52%
Feminino 48 48% 08 48%
Tabela 4 - Gênero das pessoas entrevistadas

As entrevistas foram agendadas de maneira espontânea, com o auxílio de


algumas lideranças da Igreja, tais como pastores, supervisores e secretárias, que
concederam listas de pessoas que estão integradas nos Pequenos Grupos, o
pesquisador teve total liberdade na definição de quem queria entrevistar. Embora
não tivesse havido uma observação consciente e rígida das pessoas as serem
entrevistadas, o resultado final obedeceu a mesma lógica, tanto na PIBJC como
também na IBMC, ou seja, 52% de pessoas do sexo masculino e 48% do sexo
feminino, verificando-se aí um bom equilíbrio nos gêneros pesquisados.
124

4.2.1.2.
Em relação à faixa etária das pessoas entrevistadas

FAIXA ETÁRIA PIBJC % IBMC %


Adultos 81 81% 17 85%
Jovens 12 12% 02 10%
Adolescentes 07 7% 01 5%
Tabela 5 - Faixa etária das pessoas entrevistadas

Também aqui nota-se um equilíbrio na participação dos entrevistados se


comparadas as duas igrejas pesquisadas. Note-se que, em ambas as situações, o
percentual de adultos que participam é bastante significativo em relação aos jovens
e adolescentes. A partir de informações recebidas das lideranças das duas Igrejas,
este percentual corresponde ao que ocorre no cotidiano de ambas.

4.2.1.3.
Em relação aos valores da eclesiologia de comunhão
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No gráfico a seguir, consideram-se os itens pesquisados durante as entrevistas


Tais itens não correspondem diretamente ao número de entrevistados, uma vez que
apareceram mais de uma vez em várias entrevistas. Para bem compreender este
gráfico, é suficiente observar o número de vezes que aparece um determinado item,
sem que se tenha um teto objetivo para comparação. Os valores devem ser
comparados entre si.
125

Gráfico 1 - Vezes em que as categorias da eclesiologia de comunhão são mencionados na Primeira Igreja
Batista de Jardim Camburi
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Notem-se os extremos dos itens que aparecem nas 100 entrevistas com os
membros da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi. Em primeiro lugar,
disparado, aparece a importância das células para a criação e a conservação de laços
primários viabilizando a comunhão num nível mais profundo, na direção do que se
entende ser uma comunidade cristã pautada nos princípios do Evangelho do Reino.
Este fato pode ser explicado, entre outros aspectos, pela realidade do bairro
Jardim Camburi, que se estrutura como condomínios urbanos, fechados em si
mesmos. A mesma realidade vai ser percebida no bairro Morada de Camburi e
revela a tendência a que as pessoas se sintam isoladas, solitárias.
Em contrapartida, a questão ecológica, tão presente na vida das pessoas nesse
início de século, não aparece nenhuma vez nas falas dos entrevistados, denotando
uma apatia dos membros da Igreja diante de um problema tão sério, que ameaça a
todos/as os/as habitantes do planeta. Esta indiferença em relação ao aspecto
ecológico se torna, no caso dos moradores de Jardim Camburi, ainda mais gritante,
pois este bairro está localizado na fronteira com duas grandes empresas de
mineração no Estado do Espírito Santo, a saber, Cia. Vale do Rio Doce, incluindo
um porto de carga e descarga de minério de ferro e Arcelor Mittal Tubarão, ambas
com fortes desafios na área ecológica.
126

CATEGORIAS DA ECLESIOLOGIA DE
COMUNHÃO
Laços Primários 125
36
Comunicação 6
27
Ação social 23
7 IBMC
Inculturação 1
0
Pertença 21
23
Integração 14
27

Gráfico 2 - Vezes em que as categorias da eclesiologia de comunhão são mencionados na Igreja Batista
Morada de Camburi.

Na sequencia será feita análise das vezes que aparecem os valores da


eclesiologia de comunhão na Igreja Batista de Morada de Camburi, como pode ser
visto no gráfico acima.
É bom lembrar que na Igreja Batista de Morada de Camburi foram feitas 20
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entrevistas. Os/as entrevistados/as na Igreja Batista em Morada de Camburi


mencionaram a criação e manutenção de laços primários como o benefício mais
relevante na existência dos Pequenos Grupos. A questão ecológica não foi
mencionada em nenhuma entrevista.
A seguir um gráfico que mostra uma comparação na incidência dos valores
da Igreja de Comunhão de forma comparativa entre as duas Igrejas pesquisadas.

CATEGORIAS DA ECLESIOLOGIA DE
Laços… 125 790
Participaç… 229 COMUNHÃO
36
Comunica… 6 54
Evangeliza… 27 254
Ação social 23 107
Ecumenis… 57 PIBJC (100
Inculturaç… 12 entrevistas)
Ecologia 0
0 IBMC (20 entrevistas)
Pertença 2160
Formação 23 220
Integração 14 80
Relação… 27 188
Gráfico 3 - Gráfico comparativo das vezes em que as categorias da eclesiologia de comunhão são
mencionados nas duas Igrejas pesquisadas.
127

Observe-se que em ambas as comunidades a criação e o desenvolvimento de


laços primários aparece como o valor mais importante, com a maior incidência entre
os entrevistados, ao mesmo tempo que a questão da comunhão com o restante da
criação, ou seja, a questão ecológica, não recebeu menção alguma por parte dos
entrevistados. Isso significa dizer que a visão é praticamente a mesma em ambos os
modelos, em relação aos principais objetivos e expectativas das pessoas que se
engajam nos Pequenos Grupos. As diferenças são pequenas demais para se
considerar como duas realidades diferentes. Por outro lado, revela uma questão
lamentável, relacionada à comunhão com a criação. Embora seja pregado nas
Igrejas Batistas que Deus é o criador e o sustentador de todas as coisas e que os seus
filhos devem tomar conta, cuidar, zelar, preservar o mundo criado por Deus 305,
parece que os sérios problemas ecológicos vividos pelos habitantes do planeta Terra
não tem sido prioridade no rol de preocupações dos membros dos Pequenos Grupos,
como será desenvolvido melhor neste trabalho ao tratar da questão ecológica. Este
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fato é, como dito antes, bastante revelador de que a eclesiologia de comunhão ainda
precisa dar vários passos nas duas Igrejas Batistas pesquisadas. A realidade dos dois
bairros é marcada por gritantes situações de degradação ambiental, tais como,
poluição na praia de Camburi, interditada várias vezes no último verão, a presença
das duas siderúrgicas e a agressão aos manguezais com ocupação para moradia e
outros.
É bem verdade que nada foi perguntado especificamente nas entrevistas sobre
a questão ecológica, mas é certo também que nada foi perguntado especificamente
sobre a questão dos laços primários e, mesmo assim, foi alvo de muitas citações nas
duas comunidades pesquisadas.

4.2.2.
Vivência da Igreja de Comunhão

Nas entrevistas realizadas os principais elementos da igreja de comunhão


foram sondados, cujo resultado está registrado nas tabelas acima e cujas
considerações seguem a partir deste ponto da pesquisa.

305
KASCHEL, W., Não sou meu.
128

4.2.2.1.
Laços humanos primários

Este é, de longe, o item mais citado como diferencial dos Pequenos Grupos
em comparação com igrejas que não adotam este sistema. Nas 100 entrevistas feitas
na PIBJC 790 vezes é dito que fazer parte de uma célula significa desenvolver laços
de amizade, companheirismo, relacionamentos tão íntimos que possibilitem um
viver mais transparente e uma vida compartilhada. Na IBMC a situação não é muito
diferente. Em 20 entrevistas laços primários foram citados 125 vezes.
Mesmo reconhecendo que antes da adoção dos Pequenos Grupos a PIBJC era
uma igreja acolhedora, há uma compreensão de que foi a introdução dos Pequenos
Grupos que resgatou a ideia de relacionamentos mais íntimos a exemplo do que
acontecia na comunidade primitiva de Jerusalém, como afirma um dos
entrevistados, que já estava na Igreja antes da introdução das células e que
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vivenciou todo o processo de transição de uma igreja tradicionalmente configurada


para uma Igreja em Pequenos Grupos:

Mas a gente como igreja tradicional, a gente não aprendeu, como diz no livro de
Atos, viver naquele tempo de comunhão, onde os discípulos, as pessoas
compartilhavam o pão em oração e compartilhavam os bens e ninguém não tinha
necessidade de nada. Então aquele irmão que tinha mais poderia olhar pro irmão
menos favorecido de forma, com a compaixão de Jesus, poder ser diferente. 306

A tese recorrente ao longo da maioria das entrevistas é que só com os


encontros tradicionais dos cultos públicos é impossível desenvolver laços mais
profundos que possibilitem conhecer melhor o/a irmão/ã a ponto de poder ajuda-
lo/a em suas reais necessidades. 307 Além de possibilitar um estilo de vida mais
transparente, cria um ambiente favorável para o compartilhamento e o suprimento
das necessidades de cada membro do grupo, conforme compartilha uma das
entrevistas: “às vezes no início você não conhece as pessoas, não se sente a vontade,

306
Cf.: PIBJC 02:10, 25 e 30.
307
Cf.: PIBJC 02: 06 e 11.
129

mas ao longo do tempo é inevitável. Por você estar em contato com aquelas pessoas
toda semana, você vai criando um vínculo, uma confiança”. 308
Há que se observar também que a mesma sensação tem aquelas pessoas que
se agregam à Igreja depois que esta já está organizada em Pequenos Grupos e, até
mesmo, são alcançadas por esses Pequenos Grupos, como é o caso de uma jovem
que se converteu através do trabalho de uma célula. Ela afirma:

Porque se não fosse a célula talvez eu nunca tivesse entrado na igreja, por certo
preconceito talvez que eu tinha, mas eu acho bem importante essa questão do
relacionamento, porque como é uma igreja de dois mil membros, é muito difícil você
conhecer todo mundo, eu não conheço nem cem pessoas da igreja, eu to aqui tem
três anos. Então, eu acho bem importante, porque você tem um contato que é tipo o
que a Bíblia quer. É relacionamento. E você tem o contato direto com a pessoa, e
você pode chegar na célula, você pode chorar, você pode rir, você pode falar seus
problemas, você pode brigar com alguém, porque as pessoas estão lá pra se
relacionar. E eu acho que é interessante que com o tempo, não sei se é isso, ou se eu
estou fugindo da pergunta, mas com o tempo a gente vai adquirindo certa intimidade
com as pessoas e num é nem criar só uma amizade, assim, você cria um elo, uma
ligação espiritual. Porque as pessoas, você está lá toda semana, a pessoa conhece,
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sabe seus problemas, sabe o que você está passando, você pode ligar e falar assim:
"nossa, eu 'to ruim, eu preciso de oração. Eu, tipo, você pode me ajudar?". Então está
todo mundo lá.309

Laços que sejam os mais imediatos possíveis. Exemplo desses laços pode-se
encontrar em Atos dos Apóstolos onde é registrado o testemunho de que viviam em
plena comunhão, desenvolvendo vínculos primários. Este é também um dos valores
destacados na Eclesiologia de Comunhão proveniente do Concílio Vaticano II
como destaca Pinho 310:

A criação de um ambiente de relacionamento aberto e de acolhimento mútuo não


pode deixar de ser um dos objetivos e preocupações prioritários da comunidade
cristã, possibilitando que a experiência real das pessoas na vida inteira da
comunidade corresponda minimamente àquilo que se proclama e se celebra.

Quando laços primários são estabelecidos, a Igreja torna-se a “boa notícia


contra a solidão, a comunidade que nasce do alto em que se pode vencer a prisão
do sujeito fechado em si mesmo, incapaz de comunicar-se e de amar”311. Além
disso, supera-se a relação de prestação de serviços, sem vínculos eclesiásticos, onde
apenas se consome religião como se fosse um produto. Pelo contrário, acontece o
cuidado mútuo através de relacionamentos saudáveis. O que se propõe com a

308
Cf.: PIBJC 50:01.
309
Cf.: PIBJC 51:01.
310
PINHO, J. E. B., Critérios de comunhão e construção da comunidade, p. 216.
311
FORTE, B., A essência do cristianismo, p. 139.
130

implantação do sistema de Pequenos Grupos é que, na medida em que todos os


membros da Igreja estão inseridos neles, todos os membros da Igreja passem a
receber o cuidado que precisam.
Embora a missão da Igreja não se reduza a promover comunhão entre os seus
membros, este é um dos aspectos fundamentais da sua existência. Para tanto, só a
dimensão comunitária da igreja pode fazer frente aos grandes desafios
contemporâneos. É na vida de comunhão, alimentada por relacionamentos
saudáveis, que se pode vencer a tirania do mercado, possibilitando a construção de
uma realidade que vai além da ilusão do marketing religioso, onde o Evangelho do
Reino não é vendido nem comprado e sim vivido no poder e na graça de Deus. 312 É
na vida de comunhão que as instituições fazem sentido e recobram seu valor, na
medida em que os vínculos afetivos vão se formando e a solidariedade supre as
demandas da vida, tanto de ricos como de pobres.
É na vida de comunidade que cada pessoa sente-se gente e é convidada a
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contribuir para que outros também se sintam gente. Onde cada um/a é convidado/a
e desafiado/a a sair da zona de conforto individual e colocar-se a caminho do
encontro com o outro, na formação da coletividade. “É na vida de comunhão que o
Reino de Deus ganha densidade, e a agenda de justiça e fraternidade pode ser
concretizada como profecia contra todas as propostas ideológicas de saúde
social”313 É na vida de comunhão que são formadas redes através das quais as
necessidades de cada um/a são supridas, contribuindo para o fortalecimento da fé e
o encorajamento daqueles que passam por dificuldades de qualquer espécie.
Pode ser até mais fácil ministrar por atacado, em auditórios grandes e lotados
de gente dando uma falsa sensação de sucesso, mas é nos Pequenos Grupos que as
pessoas se conhecem melhor e se ajudam mutuamente. Talvez seja mais fácil
administrar coisas, programas, projetos, orçamentos e atividades agendadas do que
correr o risco de andar mais próximo, fazer a gestão de conflitos, mas aí está a marca
do verdadeiro discipulado cristão, como Jesus afirmou no Evangelho 314. Talvez seja
mais difícil conviver com o diferente, aceitar o/a outro/a como ele/a é, com suas
dores e dissabores, com suas qualidades e com seus defeitos, mas só assim é

312
KIVITZ, E. R., Outra espiritualidade, p. 82.
313
Ibid., p. 83.
314
Jo 13, 34-35.
131

possível cumprir a vontade de Deus de “alegrar-se com os que se alegram e chorar


com os que choram” (Rm 12,15).
Há uma percepção da necessidade de se encontrar caminhos para se chegar a
uma verdadeira comunhão tanto no contexto protestante como também no contexto
católico. Pode-se comprovar isso quando lemos o que disse Amado 315, discursando
na 47ª Assembleia Geral da CNBB, em Itaici, em maio de 2009.

A tendência hoje é a de acolher os diversos modos de concretizar a dimensão


comunitária: comunidades territoriais e comunidades não-territoriais. O que
permanece, como princípio historicamente inevitável, é a configuração em pequenas
comunidades. É tempo de intensificar ainda mais a capilarização ou nucleação
comunitária, ultrapassando os limites das relações burocráticas, da prestação de
serviços, da efetiva experiência comunitária apenas para alguns.

Claro que é mais desafiador ir além do abraço e da declaração de amor


superficial na hora do cântico na celebração. É mais penoso ter de parar para ouvir
o/a outro/a ao invés de só afirmar que está tudo bem. É muito mais exigente ajudar
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o/a outro/a na prática da partilha de tudo, incluindo o pagamento das contas. Mas
nisso consiste o fascínio de viver com significado, de praticar o amor como Jesus
Cristo ensinou e de viver a vida abundante que ele mesmo prometeu.

4.2.2.2.
Exercício do poder (participação dos membros)

Um grande problema enfrentado na sociedade contemporânea é o da


despersonalização dos seres humanos, em que as pessoas tornam-se apenas um
rosto a mais na multidão, sentindo-se alienados, solitários e impotentes quanto ao
futuro. Isso acaba acontecendo também no contexto das igrejas, sobretudo igrejas
maiores, em que os membros sentem-se apenas mais um número, sem
reconhecimento e sem uma participação ativa na vida da comunidade. Mesmo nas
grandes celebrações, onde cada um pode louvar a Deus e se expressar diante dele,
tem a sensação de que sua participação é limitada, sendo possível apenas cantar
hinos, orar e silêncio e ouvir a Palavra pregada pelas pessoas que estão conduzindo
a celebração.

315
AMADO, J. P., Ser comunidade hoje.
132

Um elemento importante na eclesiologia de comunhão que foi investigado


nas entrevistas foi a questão do exercício do poder, a participação dos membros das
células nas decisões que são tomadas, tanto no contexto dos Pequenos Grupos
quanto no contexto maior, da igreja como tal. Afinal, os Pequenos Grupos
representam uma oportunidade concreta de vivência da comunhão, tanto de
privilégios na participação dos debates e nas decisões, quanto de responsabilidades
assumidas por aqueles que participam na tomada de decisões.
Como pode ser visto no gráfico acima, a participação dos membros é muito
citada nas conversas, tanto da liderança quanto dos membros dos grupos. Na
IBMC316 esse item aparece como o segundo mais mencionado e na PIBJC317 como
o quarto, o que representa um alto índice de participação nas decisões e nas
programações do Pequeno Grupo por parte dos seus membros.
Na verdade este elemento não é estranho aos batistas. Tradicionalmente as
Igrejas Batistas primam por uma participação efetiva de seus membros em suas
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decisões. Tanto que adota o governo congregacional, em que a Congregação


participa, via Assembleia Geral de Membros, das principais decisões tomadas pela
Igreja. Os batistas adotam o governo congregacional318, entendendo ser este o tipo
de governo ensinado pela Bíblia Sagrada. Neste tipo de governo ninguém é chefe,
não há um indivíduo que manda, que toma as decisões. Cabe aos membros, reunidos
em assembleia, o privilégio e a responsabilidade de tomar as decisões e assumir
suas consequências. Todos os membros têm direitos iguais de participação e
aqueles que são eleitos para assumirem funções de liderança precisam prestar
contas de suas atividades através de relatórios que são apresentados à Assembleia
da Igreja e passam por criteriosa análise. Entretanto, o ponto negativo é que a
maioria das decisões são tomadas por votação e não por consenso, causando não
poucas vezes, divisões nas Igrejas Locais. É bom ressaltar que a Eclesiologia de
Comunhão é caraterizada por amplo espaço de diálogo interno em que busca-se o
consenso, deixando o recurso do voto como último recurso para uma tomada de
decisão.
Na verdade existem três tipos de Assembleias nas igrejas Batistas: as
ordinárias, também chamadas de regulares, realizadas em dias já estabelecidos com

316
Cf.: Gráfico 02.
317
Cf.: Gráfico 01.
318
FERREIRA, E. S., Manual da igreja e do obreiro, p.59.
133

antecedência, inseridos no calendário anual das Igrejas, aprovado pela própria


assembleia; as extraordinárias, que são realizadas conforme necessidades
circunstanciais que visam o tratamento de algum assunto urgente, sem condições
de esperar até o dia da assembleia ordinária ou por demandas do próprio estatuto da
Igreja que pode prever que determinados assuntos precisam ser tratados em
assembleias extraordinárias e as assembleias solenes, reservadas para momentos
especiais como a posse de novos pastores, e demais lideranças, como também para
ouvir a profissão de fé de novos membros e autorizar o seu batismo, além de outras
situações solenes que podem ocorrer.319 Mas quando se pensa em participação nas
celebrações, o grau de participação dos membros diminui muito, sobretudo em
Igrejas onde a liturgia é mais rigorosa e se preza pelo ritual mais rígido, em nome
da reverência.
Segundo os/as entrevistados/as os Pequenos Grupos possibilitam uma
participação efetiva de seus membros, tanto no planejamento dos encontros e
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demais atividades do grupo, como também nas reuniões propriamente ditas, quando
há uma distribuição de tarefas específicas e também espaço para o
compartilhamento de experiências, como afirma o entrevistado 30320: “A visão
celular, ela fundamentalmente distribui liderança, se você distribui liderança, isso
quer dizer que você distribui poder, autoridade sobre as pessoas”. Ao mesmo tempo
em que isso pode se constituir num risco também cria oportunidade para
participação efetiva dos membros dos Pequenos Grupos.
Isso não significa que não haja acompanhamento e certo controle daquilo que
acontece nos Pequenos Grupos. Na PIBJC há um sistema de relatório semanal que
cada líder apresenta aos seus supervisores. Estes, por sua vez, fazem o seu relatório
semanal e apresentam o resultado aos seus pastores de rede que fazem um relatório
e apresentam para o pastor geral. Embora não haja controle do que acontece nos
encontros dos Pequenos Grupos, há um acompanhamento via relatórios e reuniões
periódicas entre os vários segmentos de liderança. Reconhece-se também que “a
maior parte das decisões para o sistema são tomadas entre pastores e supervisores,
em seus encontros mensais” 321.

319
MARTINS, J. G., Manual do pastor e da igreja, p. 34.
320
Cf.: PIBJC 30:09.
321
Cf.: PIBJC 03:15.
134

Os Pequenos Grupos são colocados como espaço adequado para o


compartilhamento de experiências pessoais, tanto de celebração como de
lamentação. É preciso registrar isso como um benefício do Pequeno Grupo, uma
vez que nas grandes celebrações o participante limita-se em cantar e ouvir o que lhe
é dito desde a plataforma central. Nos encontros do Pequeno Grupo “as pessoas
realmente abrem o coração (...) Porque ali parece que é um momento propício pras
pessoas falarem mais de si mesmas elas se sentem aconchegadas”322.
Pelo menos uma vez por semana as pessoas se encontram nas reuniões que
acontecem nas casas, onde têm a oportunidade de adorar e exaltar a Deus, orar
juntos e aprender uns com os outros, experimentar a operação dos dons do Espírito
Santo, falar de suas experiências, suas dores e suas alegrias, suas derrotas e suas
vitórias, chorar juntos, rir juntos, desfrutar de relacionamentos de amor com seus
irmãos e irmãs em Cristo. Aí as pessoas não são apenas números, são pessoas,
indivíduos, que são notados, reconhecidos e valorizados em suas experiências e
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suas participações no grupo, em que podem dar e receber ajuda diante dos desafios
da vida.
É notório o papel dos líderes não ordenados neste processo, a exemplo
daquilo que destaca o Concílio Vaticano II. Daí a necessidade que surjam novas
estruturas eclesiais que favoreçam as manifestações da Igreja em sua essência
característica: ”comunhão com Deus através de Jesus Cristo e, enraizada nesta e
nascendo desta, comunhão ou fraternidade com o homem” 323. Neste ponto pode-se
concordar com Padilla324 ao firmar que “o fundamental para que a igreja cumpra
sua função de testemunhar de Jesus Cristo não é uma hierarquia, mas uma
comunidade de dons que se complementam entre si e contribuem igualmente para
o bem comum”, através da prática do sacerdócio universal dos santos. Nesse sentido
um entrevistado da PIBJC reconhece um avanço ao dizer que “um número maior
de crentes entende a sua responsabilidade individual no reino (...) Há uma crescente
consciência de que cada crente é um ministro e que é responsável, precisa ocupar o
seu lugar no reino”325.

322
Cf.: PIBJC 09:09 e 12.
323
BRUNNER, E., O equívoco sobre a Igreja, p.115.
324
PADILLA, C., “Uma eclesiologia para a missão integral”, p. 66.
325
Cf.: PIBJC 28:04.
135

O sacerdócio universal de todos os crentes é uma doutrina muito importante


que tanto a Reforma protestante326 como o Concílio Vaticano II327 tentou resgatar,
mas que continua sendo um grande desafio para todas as comunidades cristãs
contemporâneas no que diz respeito à sua praticidade. É preciso sair dos
documentos e se tornar vida, realidade nas comunidades. É essencialmente
necessário que se entenda definitivamente que a Igreja é o povo de Deus, cada
membro tem o direito e a responsabilidade de participar ativamente do
cumprimento de sua missão no mundo, pois a Igreja é o meio através do qual Cristo
continua realizando sua obra no mundo, fazendo-se conhecido, curando os
enfermos, sarando as feridas dos que sofrem, aliviando as dores e os sofrimentos,
acolhendo cada ser humano sem preconceito nem discriminação. Para tanto, a igreja
precisa levar a sério sua essência comunitária e os Pequenos Grupos se constituem
em estratégia poderosa para que cada membro possa receber cuidado, exercitar seus
dons e cumprir sua missão no mundo.
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4.2.2.3.
Caminhos da Comunicação

A eclesiologia de comunhão preconiza que o povo deva ser bem informado


sobre a vida da comunidade. O maior número de pessoas precisa ter acesso ao maior
número de informações numa comunicação aberta, transparente. “Não há
comunhão nem construção de comunidade sem uma comunicação ampla e
constante”328. Daí o imperativo da criação de uma cultura do diálogo, de
colaboração e de participação, de comunicação franca e aberta que transpasse todos
os segmentos da comunidade local.
Dos 100 entrevistados na PIBJC329 pouco mais da metade (54) fizeram
menção da comunicação como um elemento positivo no sistema de células,
aparecendo como o nono item mencionado. Entendem eles que as células facilitam
a comunicação na Igreja, fazendo chegar até os membros as informações com mais
agilidade e transparência330, o que também facilita o processo de mobilização dos

326
BAYER, O., A teologia de Martim Lutero, p.198.
327
VATICANO II., mensagens, discursos e documentos, p. 359-399.
328
PINHO, J. E. B., Critérios de comunhão e construção da comunidade, p.221.
329
Cf.: Gráfico 01.
330
Cf.: PIBJC 01:61.
136

membros da Igreja para determinadas atividades propostas, porque “as pessoas


sabem mais o que está acontecendo com a igreja” 331.
Claro que isso também representa riscos para a comunidade, “porque se essa
comunicação não for bem feita, a gente corre o risco de ter interpretações
particulares circulando entre grupos”332. Daí a necessidade de se ter uma
comunicação clara, que não seja truncada, sem ruídos, para que não haja mal
entendidos no meio do povo de Deus, causando prejuízos para a unidade do corpo.
Outro destaque que se fez está relacionado à comunicação de necessidades.
O Pequeno Grupo se constitui num ambiente propício para que as pessoas
exponham suas reais necessidades, a fim de que se busque o suprimento das mesmas
através de uma mobilização do grupo, seja uma questão de enfermidade,
desemprego, luto ou qualquer outra demanda 333, o que sem a existência dos
Pequenos Grupos, demora muito até chegar à liderança da comunidade, sendo que
muitas vezes as necessidades não são supridas por falta de informação, causando
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mais sofrimento e frustração.


Na IBMC334 a questão da comunicação aparece apenas como o décimo item
mencionado, tendo sido citada por apenas 06 dos 20 entrevistados. Um dos
entrevistados335 afirma que faz parte do ministério de comunicação da Igreja o que
lhe dá acesso a todos os demais ministérios, inclusive do setor responsável pelos
Pequenos Grupos. Outro entrevistado336 entende que os Pequenos Grupos
contribuem para o processo de comunicação na Igreja, aliviando a ordem do culto,
tornando-a mais leve e agradável. Segundo esse entrevistado, uma Igreja
organizada em Pequenos Grupos torna-se mais ágil, mais veloz, mais coesa, o que
acaba contribuindo para um crescimento mais dinâmico e veloz também. Tanto que
quem tem experiência com Pequeno Grupo estranha muito quando, por alguma
circunstância, acaba participando de uma Igreja em que não haja Pequeno Grupo.
Instado sobre o processo de comunicação dos membros dos grupos entre os
encontros, a pessoa entrevistada337 menciona a utilização das novas tecnologias,
sobretudo o sistema de redes sociais. O e-mail, telefone, mensagens, WhatsApp.

331
Cf.: PIBJC 15:08.
332
Cf.: PIBJC 22:13.
333
Cf.: PIBJC 28:11.
334
Cf.: Gráfico 02.
335
Cf.: IBMC 04:30.
336
Cf.: IBMC 13:05.
337
Cf.: IBMC 16:11.
137

Claro que a utilização desses instrumentos independe da existência do Pequeno


Grupo, entretanto, fica claro também que nos Pequenos Grupos até mesmo a
comunicação através das redes sociais entre as pessoas torna-se mais relevante indo
além das banalidades comuns na comunicação entre pessoas que não tem vínculos
primários estabelecidos.
Com o processo de globalização e com a revolução tecnológica, o mundo se
converteu numa aldeia planetária 338, na qual todos estão relacionados e são
dependentes uns dos outros.339 Naturalmente isso não significa que a comunicação
entre as pessoas, sobretudo quando inclui a comunicação entre pessoas e
instituições (Igreja/Pequenos Grupo) e vice-versa, aconteça com mais qualidade,
facilidade e espontaneidade. É preciso que haja uma intencionalidade na busca de
uma comunicação mais aberta e transparente, para que as pessoas que pertencem
aos Pequenos Grupos recebam as informações de que precisam para que tenham
uma participação efetiva e relevante, tanto para si quanto para os demais integrantes
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do grupo.

4.2.2.4.
Consciência de missão (Evangelização)

Refletindo nos critérios estruturantes de uma eclesiologia de comunhão


Pinho340 afirma que “a Igreja nasce, vive, cresce onde pessoas sob a ação do Espírito
Santo se convertem ao Evangelho de Jesus e são reunidas em comunidade”. Diante
disso a Igreja jamais pode perder de vista sua missão evangelizadora, seja no âmbito
da comunidade como um todo como também nos Pequenos Grupos.
É de fundamental importância que os Pequenos Grupos se mantenham abertos
para a chegada de novas pessoas, a fim de que estas também tenham a oportunidade
de conhecer o amor de Deus em suas vidas. Essa atitude deve ser adotada inspirada
na relação pericorética que existe na Trindade Divina em que um dança, se

338
ESTRADA, J. A., Comunión y colegialidade en la Iglesia en una época de tensiones y
globalización.
339
Segundo Estrada, “después de una época de cambios, como ha sido el siglo XX, asistimos a un
cambio de época. No se trata de un cambio de siglo, sino del final de una época y el comienzo de
otra(...). Nos encontramos en la época de la globalización, asistimos a la tercera revolución
industrial, bajo el símbolo de Internet, y nos preparamos para abordar los retos de un mundo
convertido en pequeño, interdependiente, plural y policéntrico” (ESTRADA, J. A., op. cit.).
340
PINHO, J. E. B., Critérios de comunhão e construção da comunidade, p. 205.
138

movimenta em torno do outro e transborda para o restante da criação. A Igreja deve


desenvolver relacionamentos pericoréticos que transbordem para a comunidade,
sempre aberta para novos membros. Mais que trazer pra dentro da bolha é
transbordar em direção ao outro, acolhendo calorosamente aqueles que dela se
aproximam. Os lares se constituem num ambiente favorável para o aconchego
daqueles/as que participam dos Pequenos Grupos.
A questão da evangelização como propósito do grupo é o segundo item que
mais aparece nas entrevistas realizadas em Jardim Camburi (254 em cem
entrevistas) e em terceiro lugar em Morada de Camburi (27 em 20 entrevistas).
Aliás, esta sempre foi uma preocupação dos batistas desde a sua origem, sobretudo
a partir das provocações feitas pelo jovem pastor sapateiro341, nascido em 1761, em
Northampton, Inglaterra, que revolucionou a visão missionária dos Batistas e dos
Protestantes de um modo geral, ao defender a tese da responsabilidade de cada
discípulo/a de Jesus Cristo para que todas as pessoas do mundo tenham
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oportunidade de ouvir falar do amor de Deus sendo considerado por alguns de “o


Pai das Missões Modernas”.
No contexto dos Pequenos Grupos, entretanto, o Evangelismo acontece
através de relacionamentos. Os membros dos Pequenos Grupos são incentivados a
desenvolver relacionamentos com pessoas de seu mundo, denominados de oikós342
e convidá-las para participarem dos encontros dos Pequenos Grupos. “A minha
visão de que evangelismo, do evangelismo relacional, de você trabalhar com
relacionamentos. Evangelizar pelo relacionamento, isso também mudou muito a
minha visão”343, disse uma entrevistada.
Segundo Michael Green, esta foi “um dos métodos mais importantes de
difusão do evangelho na antiguidade foi o uso das casas” 344. Green argumenta que
sendo um grupo pequeno contribuía para que houvesse uma interação entre os
participantes, o pregador ficava próximo aos seus ouvintes e o ambiente bastante

341
TUCKER, R. A. “... Até os confins da terra”, p.120.
342
Segundo Ralph Neighbour Jr., Cf.: NEIGHBOUR, JR. R., Unidades básicas do corpo de Cristo:
vivendo a presença, o poder e os propósitos de Deus em comunidades bíblicas, p. 29, o termo grego
oikos, usado para identificar uma casa, sempre descreve um grupo pequeno de pessoas intimamente
relacionadas, pequeno o suficiente para permitir prestação de contas máxima a elas. No caso dos
integrantes das células, o termo é utilizado para identificar pessoas amigas, que fazem parte de seu
circulo de relacionamentos primários, especialmente aquelas pessoas que ainda não são convertidas
a Jesus Cristo.
343
PIBJC 96:02
344
GREEN, M., Evangelização na igreja primitiva, p. 252.
139

informal e descontraído das casas derrubava barreiras e contribuía para que mais
pessoas se interessassem em conhecer melhor os ensinamentos relacionados ao
Evangelho de Jesus Cristo.
O próprio Jesus utilizou as casas para ensinar as pessoas acerca do Reino de
Deus. O vemos em várias ocasiões entrando nas casas e reunindo pessoas para ouvir
os seus ensinamentos345. O escritor de Atos dos Apóstolos registra vários encontros
nos lares, onde as pessoas se reuniam para ouvir a mensagem do evangelho 346. Nas
viagens missionárias que empreendeu o apóstolo Paulo se utilizou muito da casa
das pessoas para evangelizar347. A primeira comunidade cristã utilizava a casa de
Maria, mãe de João Marcos em Jerusalém. 348 Como afirma Green349 “não é de
admirar que a igreja no lar se transformou em fator crucial na difusão da fé cristã.
Nas entrevistas feitas as pessoas mencionam que é mais fácil um amigo
aceitar o convite para participar do encontro de um Pequeno Grupo do que uma
celebração nas dependências da Igreja, junto com toda a comunidade. 350
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Evangelizar é colocado como um dos principais objetivos da célula: “O principal


objetivo é trazer pessoas de fora, de preferência não crentes, porque esse é o
propósito da visão, da célula, é evangelizar a pessoa que não tem Jesus, trazer ela
para esse evento da célula”351. “A célula tem um propósito de evangelizar, de levar
a Palavra de Deus. Praticamente em todos os encontros se fala sobre evangelismo,
sobre levar a Palavra pra alguém que não conhece”.352
Evangelismo é um dos quatro momentos que cada célula desenvolve em seus
encontros: “aí nessa escala cada um fica responsável por alguma coisa: parte da
exaltação, a gente tem um tempo de quebra-gelo, um tempo de evangelizar...”353
“um momento em que a gente enfatiza a necessidade de evangelizar pessoas e de
destacar até a presença de um visitante no grupo, essa ênfase no evangelismo e o

345
Como exemplo pode-se citar a visita que fez a Zaqueu conforme registrado em Lucas 19.
346
Como exemplo pode-se mencionar a visita de Pedro à casa de Cornélio e a mensagem que pregou
ali para as pessoas que haviam se reunido para ouvir o que o apóstolo tinha para dizer, conforme
registrado no capítulo 10 de Atos.
347
A casa de Jason, em Tessalônica (At 17,5), de Tício Justo e de Estéfanas em Corinto (At 18,7/1
Cor 16,15), a de Filipe em Cesaréia (At 21,8), de Lídia e a do carcereiro em Filipos (At 16,15 e
32,34) e a casa do próprio Paulo em Roma (At 28,30-31).
348
Ao ser liberto da prisão o apóstolo Pedro soube onde encontrar os membros daquela comunidade,
exatamente na casa de Maria conforme registro de At 12,12.
349
Ibid., p.253.
350
PIBJC 02:12.
351
PIBJC 02:15.
352
PIBJC 75:04.
353
PIBJC 09:08.
140

momento da edificação”354 Várias pessoas mencionam esta dinâmica, incluindo o


evangelismo como algo intencional entre os membros das células.
Observe-se que a célula acaba resgatando a teologia do sacerdócio universal
dos crentes, associando isso à responsabilidade que cada discípulo/a de Jesus Cristo
tem de evangelizar:

Como resultado do aumento do sacerdócio universal, da consciência do sacerdócio


universal, mais crentes entendem que são responsáveis por ganhar pessoas pra
Cristo, por evangelizar, por dar testemunho pessoal. Antigamente o evangelismo era
muito centrado no pastor, no domingo, no templo. E hoje, eu posso dizer que um
número crescente de membros, entendem, que podem evangelizar de segunda a
segunda, que ele não depende do pastor, mas que ele pode com o testemunho pessoal
levar o amor de Cristo, essa é uma mudança muito significativa. 355

Sim, essa é uma mudança muito relevante no contexto das Igrejas cristãs, uma
vez que foi exatamente isso que Jesus deixou explícito para os/as seus seguidores
pouco antes de sua ascensão aos céus: “Mas recebereis uma força, a do Espírito
Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a
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Judéia e a Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8).


Um pastor de rede entende evangelizar como alcançar os perdidos, a começar
pelos próprios familiares:

a preocupação deve ser primeiro a ideia de você alcançar os perdidos, de que forma
o grupo pode alcançar por exemplo os familiares, porque o primeiro, o público
primeiro deve ser a casa, então, de que forma os membros da célula podem alcançar
os seus familiares, os seus cônjuges, filhos, pais, irmãos, então de que forma eles
podem fazer isso, a célula pode contribuir para isso. O segundo público são vizinhos
e a própria comunidade mesmo então, a primeira preocupação é a preocupação
evangelística de levar o amor de Jesus para essas pessoas que ainda não tem Jesus.
Então essa é a primeira preocupação.356

Algo semelhante acontece na IBMC, que adota o sistema de Pequenos Grupos


na linha de Uma Igreja Dirigida por Propósitos. Alguém afirmou que o Pequeno
Grupo contribuiu para “ganhar novas pessoas que é a evangelização,
proclamação”.357 Perguntado sobre a influência que o Pequeno Grupo exerce sobre
a Igreja como um todo, um entrevistado respondeu: “ajuda a evangelizar”358. Outro

354
PIBJC 22:09.
355
PIBJC 28:04.
356
PIBJC 29:12.
357
IBMC 05:04.
358
IBMC 19:12.
141

disse: “a gente já conseguiu evangelizar muita gente, muita gente mesmo, no


Pequeno Grupo”359.

4.2.2.5.
Compromisso com a sociedade, com o social

Segundo Tillard360

a igreja recebe do Espírito a missão de conservar atual, até o final dos tempos, na
história, a oferta da salvação. Por isso a igreja deve se manter em comunhão com o
drama e o grito da humanidade que suspira por outro mundo. Esta comunhão não é
uma questão secundária da identidade da Igreja. É essencial.

Certamente a Igreja de comunhão precisa ser uma Igreja engajada na solução


dos problemas sociais que a cercam, no mundo em que ela está inserida, o que nem
sempre ocorre quando se trata de Igrejas Batistas convencionais, que enfatizam a
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importância da transformação do indivíduo em detrimento da transformação da


sociedade.
Claro que a transformação do indivíduo é relevante, e muitas vezes acaba
repercutindo no meio em que vive, sobretudo nas pessoas que estão mais próximas.
Nesse sentido, as Igrejas Batistas tem exercido um papel muito importante ao longo
de sua história. Pregando um evangelho que transforma vidas 361 a Igreja tem
contribuído para a transformação de muitos indivíduos, que por sua vez contribui
para a transformação de famílias inteiras, muitas vezes envolvidas com drogas,
prostituição e muitos outros males sociais. Entretanto, isso precisa ser apenas uma
faceta do ministério da Igreja. É preciso ir além, desenvolver ações que contribuam
para a transformação da sociedade.
Shelly362 sugere três posturas possíveis para com a realidade social em que a
Igreja está inserida. Fala da preocupação social, do serviço social e da ação social.
Entende ele que preocupação social é uma atitude em que o ser humano é visto
como um todo, o que se poderia também chamar de salvação integral. Como serviço

359
IBMC 20:18.
360
TILLARD, J-M. Chiesa di chiese, p. 67
361
Uma passagem muito utilizada neste sentido é 2 Cor 5,17, que afirma que a pessoa que está em
Cristo torna-se uma nova criatura, ou seja, entra num processo de transformação produzida pelo
poder de Deus.
362
SHELLEY, B. L., A igreja, p.127.
142

social Shelly entende como sendo os serviços que as igrejas ou os cristãos prestam
às pessoas que são vítimas de problemas sociais, incluindo desde atendimento a
enfermos até recuperação de dependentes químicos, vítimas de tragédias, etc. Como
ação social o autor citado entende uma visão mais ampla por parte da Igreja, visando
influenciar para a transformação das estruturas e dos processos sociais e políticos,
atacando os problemas em suas raízes.
Conquanto tenha sido mencionado 107 vezes pelos membros da PIBJC e 23
vezes pela IBMC, a visão que os membros demonstraram de sua responsabilidade
com a sociedade é bastante assistencialista. É inegável que há uma preocupação dos
membros dos Pequenos Grupos quanto à realidade social, mas o engajamento na
solução dos problemas sociais reflete uma visão assistencialista da responsabilidade
social da Igreja.
Vários/as entrevistados/as mencionaram um projeto desenvolvido pela Igreja
denominado atos de compaixão, em que as células saem para ajudar as pessoas. Um
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diz: “A gente faz uns atos de compaixão. Nossa célula já fez doação de sangue, a
gente já juntou, já fizemos uma visita no lar de crianças” 363. Outro afirma: “apoio à
sociedade, visita a creches, a asilos, momento de evangelizar nas ruas.”364
Claro que houve também algumas pessoas que se mostraram preocupadas em
fazer diferença no meio em que vivem. “A gente sempre tenta frisar por meio das
nas nossas atitudes mesmo, de ser alguém diferente, pessoas diferentes que
influenciem no meio do que a gente vive, não importa onde esteja, mas que a gente
possa influenciar”. 365
Embora apareça numa incidência maior na IBMC, um dos entrevistados
entende que o PG não se envolve com questões sociais. Ele disse que “ação social
no Pequeno Grupo não tem. Isso aí é dentro da Igreja que tem um ministério de
Ação social que é outra coisa, desvinculado do Pequeno Grupo, que é outra
coisa”366. Outro disse algo nessa direção: “não, eu não vejo muita preocupação de
fazer algo social. Talvez seria até importante se preocupar com isso também” 367
Uma entrevistada lembrou de algo interessante que os Pequenos Grupos fazem:
“Com a comunidade gente faz dia de ação global. Faz um dia de brincadeira com a

363
Cf.: PIBJC 34:13.
364
Cf.: PIBJC 32:08.
365
Cf.: PIBJC 31:10.
366
Cf.: IBMC 10:15.
367
Cf.: IBMC 16:18.
143

comunidade. Aí corta cabelo, faz unha, quem tem esses dons, que se dispõe, faz
unha e várias coisas.”368
Desde os anabatistas, considerados por alguns como precursores do
movimento batista, alguns princípios foram determinantes para a construção de uma
sociedade mais livre e fraterna. Neste sentido, três princípios foram defendidos até
a morte pelos rebatizadores: “a igreja voluntária, a separação da Igreja e o Estado e
liberdade religiosa”.369 Foram sementes plantadas pelos anabatistas e regadas pelos
batistas, que os sucederam.
Os batistas tem um histórico de envolvimento em questões sociais desde a
sua origem, na Europa. Um dos princípios básicos e fundamentais dos batistas é a
liberdade de consciência, cujo desdobramento imediato é a liberdade religiosa, joia
preciosa do movimento batista desde o seu nascedouro, no século dezessete.370 João
Smith, um dos primeiros líderes batistas, em sua Confissão de Fé, proclamada em
1612, no artigo 84, defendia que:
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O magistrado não deve, em virtude de seu ofício, intrometer-se com religião ou


matérias de consciência, forçar ou compelir homens a esta ou àquele forma de
religião ou doutrina: mas deixar a religião cristã livre à consciência de todos os
homens, e encarregar-se apenas das transgressões civis, injúrias e faltas de homens
contra homem, em assassínio, adultério, roubo, etc., pois Cristo é o único rei e
legislador da Igreja e da consciência.371

Outro nome de destaque na origem do movimento batista, já destacado neste


trabalho, foi o do advogado Thomas Helwys, ardoroso lutador e defensor incansável
do princípio da liberdade religiosa. Escreveu uma obra que fez muito sucesso e
acabou custando-lhe a prisão, onde veio a falecer. Em Uma Breve Declaração do
Mistério da Iniquidade372, primeira defesa da liberdade religiosa publicada em
inglês, ele é taxativo: “Que o rei julgue: não é justíssimo que os homens escolham
sua própria religião uma vez que somente eles devem aparecer perante o trono de
Deus para responder por si mesmos?” Ousadamente Thomas Helwys toma a
iniciativa de enviar uma cópia da obra supra mencionada ao rei, com dedicatória 373,

368
Cf.: IBMC 18:22.
369
BAINTON, R., The anabaptist contribution to history, in the removery of anabaptist vision,
p.317.
370
BEZERRA, B. C., Interpretação panorâmica dos batistas, p.41.
371
MCGLOTHLIN, P., Baptist confessions of faith, p.82.
372
BEZERRA, B. C., op. cit., p.42.
373
A dedicatória ao rei, escrita no livro Uma Breve declaração do Mistério da Iniquidade, dizia o
seguinte: “ouvi, ó Rei, e não desprezeis o conselho dos pobres e permiti que suas queixas venham a
vós. O rei é um homem mortal e não Deus; portanto, não tem poder sobre as almas imortais de seus
144

vindo a ser preso por causa disso, morrendo na prisão. “Morreu o homem, não a
ideia. Esta floresceu. Começa, então, a luta dos batistas pela liberdade religiosa”. 374
O que dizer de Roger Williams, o pioneiro da liberdade religiosa no
continente americano, Walter Rauschenbusch, o arauto das implicações sociais do
Evangelho no Reino de Deus, Martin Luther King Jr., o grande lutador pelos
direitos da minoria negra oprimida, que com sua voz levantou uma revolução
pacífica e influenciou toda uma geração e outras que lhe sucederam, pagando com
a própria vida o preço por levantar bandeira tão perigosa 375. O que dizer de tantas
outras lideranças batistas que ao longo de sua história tem deixado marcas na luta
em favor dos valores do Reino de Deus a serem implementados na sociedade.
Em nível denominacional também houve algumas iniciativas por parte dos
Batistas no que tange ao seu engajamento nas questões sociais. Como exemplo
disso pode-se mencionar o Manifesto dos Ministros Batistas, fruto do encontro de
pastores batistas realizada em Vitória, em 1963 por ocasião da Assembleia da
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Convenção Batista Brasileira, quando mais de duzentos ministros, “inspirados nas


referências candentes que então foram feitas à realidade brasileira, unanimemente,
determinaram comunicar à Denominação e ao povo brasileiro a sua preocupação
com os problemas nacionais”.376 No referido manifesto, cujo documento ficou
conhecido como MM, os pastores batistas presentes, embora reconhecendo a
legitimidade, a importância e o significado das instituições, defendiam que a
legitimidade de qualquer regime governamental ou institucional está condicionada
às possibilidades que criam para o bem estar de cada indivíduo, contribuindo para
a plena realização da pessoa e de sua humanidade. Nesse sentido defendem a
liberdade em todas as suas formas de expressão: “liberdade de consciência, de
religião, de imprensa, de associação e de locomoção”377. Com esse manifesto
alertam a denominação Batista quanto aos graves problemas sociais, políticos e
econômicos do país e sugerem a necessidade de um exame objetivo com a

súditos para fazer leis e ordenanças para elas e dar-lhes senhores sobre elas. Se o rei tem autoridade
para fazer leis e senhores espirituais, então ele é um Deus imortal e não um homem mortal. Ó rei,
não sejais seduzido por enganadores a pecar contra Deus a quem deveis obedecer, nem contra vossos
pobres súditos que devem e obedecer-vos-ão em todas as coisas de corpo, vida e bens, ou mesmo,
deixarão suas vidas ser tomadas da terra”. (BEZERRA, B. C., Interpretação panorâmica dos
batistas, p.43).
374
Ibid., p.43.
375
PINHEIRO, J.; SANTOS, M., Os batistas, p.244.
376
LESSA, H. S., Ação social cristã, p.35.
377
PINHEIRO, J.; SANTOS, M., op. cit., p.244.
145

finalidade de uma reestruturação da sociedade nos moldes que possibilitasse o


atendimento das aspirações e necessidades do povo, como pode ser lido em parte
do manifesto:

Embora nos regozijemos pelas conquistas sociais do povo brasileiro, reconhecemos


a inadequação da presente estrutura social, política e econômica para a realização
plena da justiça social, pelo que insistimos na necessidade de um reexame corajoso,
objetivo e despreconcebido da presente realidade brasileira, com vistas à sua
reestruturação em moldes que possibilitem o atendimento das justas aspirações e
necessidades do povo. 378

Pena que o referido documento foi publicado pouco antes do Golpe Militar
de 1964.379 Com o golpe, a denominação como um todo se retraiu e o movimento
que defendia um engajamento maior dos batistas nas questões sociais foi perdendo
força e caminhou paralelo à visão mais conservadora de que a missão da igreja é
evangelizar, pensando estritamente no indivíduo e sua conversão a Jesus Cristo.
Os batistas também participaram do Congresso de Lausanne, que foi um
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marco na história dos Protestantes no que tange ao seu engajamento nas questões
sociais. Ao final do encontro foi produzido um documento conhecido como Pacto
de Lausanne380 preconizando: “o Evangelho todo para o homem todo e para todos
os homens”, numa visão de Missão Integral da Igreja 381. Para tanto é preciso um
engajamento maior, tanto das Igrejas Batistas como um todo e, particularmente, dos
Pequenos Grupos, que podem se constituir estratégicos no processo de

378
LESSA, H. S., Ação social cristã, p.74.
379
Cf.: Ampla exposição sobrea o engajamento social do protestantismo brasileiro na tese de
Wanderley Pereira da Rosa intitulada “Por uma Fé Encarnada: teologia social e política no
protestantismo brasileiro”, defendida em Agosto de 2015 na PUC-Rio.
380
Em Julho de 1974 foi realizado o Congresso sobre Evangelização Mundial, realizado em
Lausanne, na Suíça, com 2.400 participantes e mais de 1.000 observadores e jornalistas, de diversas
denominações protestantes, provenientes de mais de 150 nações durante dez dias de discussão,
adoração, comunhão e oração, considerado um dos mais importantes encontros internacionais do
Protestantismo. Dele saiu um documento conhecido como o Pacto de Lausanne, tendo como seu
principal redator o Rev. Anglicano John Sott. (CAVALCANTI, R. “A teologia da missão da igreja
no Brasil”; PADILLA, C. R., COUTO, P., Igreja, p. 27-28. Segundo Robinson Cavalcanti a revista
semanal norte-americana TIME considerou o Congresso Internacional para a Evangelização
Mundial, de 1974 – o Lausanne I – como “o Vaticano II dos Evangélicos”. Sem dúvida foi o mais
amplo em representatividade de países e de denominações e o mais importante encontro mundial
protestante do século XX. E o seu documento final, o Pacto de Lausanne, tem sido considerado, ao
lado do Credo Niceno e da Confissão de Westminster como um dos três mais importantes
documentos confessionais da História do Cristianismo. Cf. MOVIMENTO DE LAUSANNE. Pacto
de Lausanne.
381
PADILLA, C. R., Qué es la misión integral?. Nesta obra o autor esclarece o que significa a
missão integral da Igreja, uma visão de Igreja que encara o ser humano como um todo e o evangelho
do Reino de maneira integral.
146

transformação da sociedade a exemplo do que pretendem as Comunidades Eclesiais


de Base382, espalhadas por todo o mundo, particularmente na América Latina.
São muitos os problemas socioeconômicos que assolam a humanidade e que
precisam estar na agenda das comunidades cristãs. Um desses problemas é a fome.
Claro que esse não é um problema novo, mas é um problema grande e se agrava a
cada ano que passa. Thurmon Bryant 383 escreveu um livro no qual mostra um
quadro preocupante, relacionado à fome no mundo. Ele afirma que 25% da
população do mundo goza de 75% da produção da população do mundo. O chamado
terceiro mundo, África, Ásia e América Latina, vive com os 25% que sobram. O
resultado desta fórmula é que os povos do terceiro mundo são vítimas da pobreza
sem fim, com 12 mil dos seus semelhantes morrendo de fome cada dia, e a
perspectiva é que isso vai piorar.
Pior de tudo é que não faltam alimentos no mundo. Como afirmou Mahatma
Gandhi: “Há suficiência para suprir as nossas necessidades, mas não há para toda a
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nossa avareza”.384 Na verdade o problema não é a falta de alimentos, mas a má


distribuição e o desperdício. Enquanto uns jogam fora outros caçam restos nos
latões de lixo para saciar a fome. Por aí entende-se melhor o que Jesus quis ensinar
ao requerer que seus/suas discípulos/as recolhessem o que sobrou da multiplicação
dos pães e dos peixes para que nada se perdesse. Além disso, os órgãos competentes
da ONU informam que atualmente apenas a metade da área cultivável do mundo
está sendo aproveitada.385 Acontece o desmatamento, prejudica-se o ecossistema,
causa-se um estrago no meio ambiente e depois se larga de lado e vira pasto ou
simplesmente área baldia, sem aproveitamento nenhum. É preciso reconhecer que,
em última instância, o problema está no caráter egoísta do ser humano perdido em
sua avareza. A fome é um escândalo que só se explica pela escassez de amor no
mundo contemporâneo. A fome não é somente um problema social ou econômico;
é também um problema espiritual. 386
Dentre os muitos outros, pode-se mencionar também o problema das cidades,
que é exatamente onde as duas Igrejas Batistas pesquisadas estão inseridas. Quanto

382
AZEVEDO, M. C., Comunidades eclesiais de base e inculturação da fé, p. 58. Nesta obra de
fôlego sobre as Comunidades Eclesiais de Base Azevedo afirma que “as CEBs apresentam, na
verdade, um novo modo de viver a Igreja, de ser Igreja e de agir como Igreja no Brasil”, p.20.
383
BRYANT, T., O cristão e a fome mundial, p. 41.
384
Ibid., p. 42.
385
Ibid., p.42.
386
Ibid., p. 44.
147

maior for a cidade, maiores os desafios a serem enfrentados. Desde as megacidades


como Hong Kong, Cidade do México, São Paulo, Nova York, passando pelas
cidades de médio porte, como Vitória, até pequenas cidades, os problemas
ambientais estão em todos os lugares e por toda a parte.
Silva387 descreve em detalhes o caos em que nossas cidades se encontram.

A poluição veicular, causa de mortes nas grades cidades; a mobilidade urbana


centrada no automóvel, no privilégio do uso individual de meios de transportes em
detrimento de meios coletivos; a falta de arborização; a verticalização das moradias,
que só atende à sanha da exploração imobiliária dos espaços urbanos e sobrecarrega
vias estreitas com o aumento do tráfego de automóveis; a impermeabilização do solo
com o calçamento de quintais e o asfaltamento de ruas com sistema de esgoto
insuficiente e mal dimensionado, provocando inundações; o assentamento de
populações carentes em áreas sujeitas a deslizamento de terra ou em margens de rios;
a má distribuição dos serviços públicos de saúde e de educação, bem como sua baixa
qualidade; os problemas de segurança e cooptação da juventude pear ao vício e o
tráfico de drogas; a corrupção na gestão pública em todos os três poderes; a violência
das relações humanas nesse espaço urbano tão cheio de problemas.

Diretamente ligado ao problema das grandes cidades podem ser mencionados


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muitos outros enfrentados na atualidade como a violência urbana, a falta de


moradia, o tráfico e o consumo de drogas, o desemprego, Como se pode ficar inerte,
enquanto Igreja de Jesus Cristo, enquanto Pequenos Grupos, diante de um quadro
tão desolador?
Talvez este quadro possa começar a mudar quando tanto em nível individual
quanto em nível coletivo, através dos Pequenos Grupos, ficar claro que 388 há vida
antes da morte, que a fé cristã não é um crer apenas para o além, para o então e ali,
mas, também, para o aqui e agora. Como é possível ficar impassível face aos
grandes desafios sociais vigentes no mundo atual e então houver um engajamento
de cada cristão na luta em favor da transformação da sociedade. Afinal, como
afirma Henry389: “um cristianismo que não tem paixão para transformar o mundo e
virá-lo de ponta-cabeça não pode ser reflexo do cristianismo apostólico”.
Parece que a saída para o problema da fome também passa pelos cristãos, seja
em ações individuais como também em ações coletivas. Claro que se espera dos
governos políticas públicas que distribuam melhor a renda, ofereça oportunidade
de qualificação de mão de obra, acesso à educação, combate à corrupção e muito

387
SILVA, M., “O espaço urbano e os cristãos”, p.36.
388
O professor batista e pastor batista Darci Dusilek fazendo a apresentação do livro de BRYANT,
T., O cristão e a fome mundial, p.3.
389
HENRY, C. F. H., The uneasy conscience of modern fundamentalism, p.16.
148

mais. Mas cabe aos cristãos, individualmente, e como comunidades também


fazerem a sua parte. Não se pode ficar de braços cruzados enquanto pessoas ao lado
estão passando fome.
Bryant390 enumera algumas ações que certamente contribuiriam para a
mudança deste quadro. A primeira é não aceitar como normal o quadro que está aí
e lutar para que ele mude. A segunda é adotar um estilo de vida simples, entendendo
que o que é suficiente é suficiente. Como afirmou o apóstolo Paulo escrevendo a
Timóteo: “Se, pois, temos alimento e vestuário, contentemo-nos com isso” (1 Tm
6,8). É essencialmente necessário que se vença os apelos do consumismo que se
apresentam de maneira avassaladora diante das novas tecnologias. Uma terceira
ação mencionada por Bryant é compartilhar as riquezas adotando um sistema de
vida menos ostentador e competitivo. João Wesley391 defendia a tese de que “o
crente deve ganhar tudo o que puder, economizar tudo o que puder e dar tudo o que
puder”.
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Não se pode parar por aí. As comunidades cristãs, os Pequenos Grupos


precisam ser mais engajados nas questões sociais. Além disso, é preciso que os/as
discípulos/as de Jesus Cristo sejam fiéis em pregar o evangelho visando a expansão
do Reino de Deus. Mas um evangelho integral, que inclua todo o ser humano e
reconheça todas as obras de Deus. Como afirma Zabatiero392, comentando o pacto
de Lausanne: Um dos mais calorosos debates da reunião que firmou o Pacto de
Lausanne foi o da relação entre a evangelização e o compromisso social. Com muita
sabedoria, o conclave então reunido formulou sua compreensão dessa relação de
modo tal que veio a se tornar o grande elemento peculiar do evangelicalismo 393
contemporâneo: a integralidade da missão da Igreja, o evangelho todo, para o
homem todo, para todos os homens. Claro que isso inclui o ser humano num todo,
envolvendo todas as suas relações: Com Deus, com o próximo, consigo mesmo e
com a sociedade de um modo geral.

390
BRYANT, T., O cristão e a fome mundial, p. 63-71.
391
Ibid., p.68.
392
ZABATIERO, J.P.T. “Os desafios do Pacto de Lausanne para a igreja de hoje”, p.21-22.
393
Evangelicalismo é uma concepção originária de "evangélico", o Evangelicalismo é um
movimento teológico originário do Protestantismo, mas que não se limita a ele, que crê na
necessidade de o indivíduo passar por uma experiência de conversão ("nascer de novo", "aceitar
Jesus") e que adota a Bíblia como única base de fé e prática. Disponivel em:
<dicionario.sensagent.com/Evangelicalismo> Acesso em: 07 mai. 2016.
149

A própria DD da CBB afirma que “como o sal da terra e a luz do mundo, o


cristão tem o dever de participar em todo esforço que tende ao bem comum da
sociedade em que vive”. 394 Entretanto, logo depois afirma que “o bem-estar social
e o estabelecimento da justiça entre os homens dependem basicamente da
regeneração de cada pessoa e da prática dos princípios do evangelho na vida
individual e coletiva”395. Nota-se aí um paradigma que tem sido bastante comum
entre os Batistas da CBB: muda o indivíduo e a sociedade vai mudar. Mas a prática
tem demonstrado que este é um paradigma equivocado, como mostram as
estatísticas. Como afirma Torres, ao comentar esse item da DD da CBB. Diante do
interminável festival de denúncias de corrupção que assola a nação brasileira, o
quadro caótico de consumo e tráfico de drogas, o aumento da violência e do
esfacelamento das famílias, “onde estão as igrejas evangélicas – não cresceram
tanto? Onde estão os evangélicos?”396 que não fazem a diferença? Há um paradoxo.
Cresce o número de evangélicos e crescem também os problemas sociais. Torres
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pergunta ainda:

a conversão a Jesus Cristo e a transformação pessoal pelo poder do Espírito Santo


podem ter como resultantes a acomodação ou a indiferença escapista frente a uma
realidade tão grávida de pecados sociais e estruturais como a que assola nosso povo?
Pode ser coerente, como tem acontecido no Brasil, que as igrejas evangélicas e a
miséria, a má distribuição de renda e a desigualdade cresçam, lado a lado, por todo
o tempo? O evangelho que cremos tem algo a ver com isso? Transformação espiritual
e transformação social devem ou não andar juntas, como já ocorreu em muitos
momentos da história”

Diante de tais questionamentos e para vencer a postura de acomodação ou


conformista397, escapista ou absenteísta398 e adotar uma ação transformadora ou
encarnacional399 Torres propõe uma evangelização da cultura, uma nova teologia e

394
FERREIRA, E. S., (org). Comentários à declaração doutrinária da Convenção Batista
Brasileira, p.199.
395
Ibid.
396
TORRES, J. C., “Ordem social”, p. 201.
397
Torres entende que esta é uma opção que tem sido adotada pelas Igrejas Batistas da CBB,
escolhendo continuar fugindo da missão e, assim, continuar acomodada, conformada, alheia aos
problemas sociais, desfigurando-se pelas forças da cultura da sociedade de que é parte, sem realçar
os diferenciais próprios de sua espiritualidade e, assim, construindo e reforçando a sua crescente
irrelevância. (TORRES, J. C., op. cit., p. 206)
398
Neste caso a Igreja pode decidir atacar os problemas sociais, de forma ingênua, apenas no plano
individual e até mesmo no conjuntural, combatendo assim seus sintomas, mas sem o enfrentamento
das suas causas estruturais e superestruturais, isto é, das suas fontes ferradoras, onde residem os
grandes pecados seminais, contentando-se apenas com ações assistencialista e de serviço social.
(TORRES, J. C., “Ordem social”, p. 206)
399
Neste caso a igreja pode acolher e viver a missão cristã de forma plena e encarnacional,
enfrentando conscientemente a problemática envolvida em sua relação com a sociedade de que é
150

uma nova igreja, uma nova proposta educacional400, visando um engajamento dos
cristãos e das igrejas evangélicas, mormente as Igrejas Batistas, no processo de
transformação da sociedade.
É essa dimensão de engajamento nas questões sociais que assolam a nação
brasileira que deve retornar à pauta dos congressos e eventos dos Batistas
Brasileiros a fim de que o evangelho seja pregado e vivenciado em sua
integralidade, alcançando não só os indivíduos, mas contribuindo também para a
transformação das estruturas da sociedade. Essa também deveria ser uma
preocupação mais efetiva tanto da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi como
da Igreja Batista em Morada de Camburi.

4.2.2.6.
Ecumenismo
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A questão ecumênica apareceu apenas 5 vezes em 100 entrevistas feitas na


PIBJC e 07 vezes em 20 entrevistas feitas na IBMC. Por aí se vê que esta não é uma
questão comum entre os batistas de Igrejas da Convenção Batista Brasileira. Pode-
se notar também que em Morada de Camburi a questão é um pouco mais presente
do que em Jardim Camburi.
Vale destacar a experiência que um membro de um Pequeno Grupo de
Morada de Camburi está tendo ao iniciar um Pequeno Grupo com a participação de
outras Igrejas. Ainda está num estágio inicial da experiência, mas tomou essa
iniciativa em virtude de experiências ecumênicas anteriores. Compartilha que teve
essa ideia especialmente em função dos anseios da juventude. Ele diz que vê a Igreja
muito fechada em relação às outras igrejas. 401 Ele tem razão. Os Batistas tem
dificuldade de dialogar e se relacionar com outras tradições religiosas, pois desde

parte e com a cultura desta sociedade, transcendendo a sua realidade organizacional e institucional
e assumir sua dimensão profética e inconformada, tornando-se uma voz referencial na denúncia dos
descaminhos e imoralidades de toda a sociedade, e no anúncio das boas novas do evangelho e do
Reino de Deus, um tempo de perplexidade e desesperança. Implica na coragem de ser cristão até as
últimas consequências e na coerente rebeldia contra o pecado em suas múltiplas dimensões e formas.
(TORRES, J. C., “Ordem social”, p. 207).
400
Ibid., p. 207-209.
401
Cf.: IBMC, 04:29.
151

sua origem (separatista) tem característica de combate402. Nas Igrejas Batistas


filiadas à Convenção Batista Brasileira também há grande dificuldade na comunhão
com outras denominações. Como afirma Nilo Tavares Silva 403: “Ao contrário do
que ocorreu com os demais protestantes, eles foram sempre arredios quanto à
proximidade e colaboração com outros grupos”. Silva também atribui esta reserva
em relação ao movimento ecumênico à influência dos missionários que
implantaram as Igrejas Batistas no Brasil, que eram avessos ao ecumenismo por
influência do Landmarkismo 404, uma corrente radical que entendia as Igrejas
Batistas como as únicas detentoras da verdade405.
A influência Landmarkista trazida para o Brasil através de missionários
americanos pode ser vista pelos escritos destes missionários ao se comunicarem
com a missão americana: “Uma igreja batista não pode estar em absoluta
fraternidade com instituição alguma fora de outra igreja batista” 406. Note-se aí um
completo exclusivismo que levou as primeiras comunidades batistas ao
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isolacionismo em relação até mesmo às outras igrejas protestantes. Colocava-se


condições para que houvesse diálogo: “É preciso que a pessoa, instituição ou igreja
se harmonize primeiro com o evangelho, para que assim possa estar em completa e
absolutas relações fraternais com as igrejas batistas”. Por aí pode-se compreender a
aversão dos Batistas ao ecumenismo pois estas concepções fizeram parte da
definição da identidade das primeiras Igrejas Batistas, com influência direta na sua
historiografia, na sua concepção eclesiológica, seu engajamento político e na forma
como se relacionavam com outros grupos, dando origem a uma denominação
marcada pelo isolacionismo e o antiecumenismo. 407
Com o passar do tempo a influência landmarkista foi diminuindo e passou-se
a reconhecer as outras igrejas protestantes como igrejas, sem contudo, permitir que

402
Como exemplo disso pode-se mencionar o fato de a denominação Batista não fazer parte do
Conselho Mundial de Igrejas, órgão de criado em 1948 como uma importante expressão ecumênica
do protestantismo.
403
SILVA, N. T., Do confronto ao Diálogo, p.20.
404
Ibid., p.82.
405
Os velhos landmarkistas centralizaram sua eclesiologia na primazia da igreja local, que deve ser
composta de crentes batizados (por imersão), razão por que as igrejas pedobatistas (conforme o
vocabulário da época) não poderiam ser reconhecidas como igrejas verdadeiras, mas apenas como
sociedades religiosas; seus ministros não poderiam receber autoridade para pregar numa igreja
batista e nem deveriam ser chamados de ministros do evangelho. (AZEVEDO, I. B., A celebração
do indivíduo, p.129).
406
BAGBY, W.B. Carta à Foreign Mission Board, 29.08.1884, mss. Apud AZEVEDO, I. B., A
celebração do indivíduo, p. 212).
407
AZEVEDO, I. B., op. cit., p.213.
152

houvesse um envolvimento ecumênico. Neste caso, há uma comunhão a meio-


caminho, mais de respeito e menos de diálogo, por questão de princípio. Mais na
convivência entre os membros, no cotidiano, do que em ações desenvolvidas a fim
de cumprir a missão da Igreja através da unidade, como Jesus orou ao pai: “a fim
de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam
em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17, 21).
Um pouco mais tarde, já na década de 60, do século XX, a questão ecumênica
foi muito discutida pelos Batistas em suas assembleias. Na 50ª Assembleia Anual
da Convenção Batista Brasileira, realizada em 1968, na cidade de Fortaleza os
convencionais discutiram sobre o movimento ecumênico, então potencializado com
a abertura da Igreja Católica ocorrida no Concílio Vaticano II. A conclusão a que
chegaram revela um posicionamento contrário ao envolvimento das Igrejas Batistas
com o ecumenismo. O historiador Batista José dos Reis Pereira 408 escreveu um
artigo para comunicar aos batistas de todo o Brasil qual foi o posicionamento da
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referida assembleia:

São intensos os esforços das correntes ecumenistas no Brasil, que já tem conseguido
envolver vários grupos evangélicos, muitos pastores e, até mesmo pastores batistas.
Somos contra o movimento ecumenista porque visa uma união artificial dos cristãos,
que não nos parece ser aquela união ideal desejada por nosso Mestre Jesus Cristo.

Por outro lado, ao longo de toda a história das Igrejas Batistas do Brasil
pastores Batistas têm participado de Congressos e Movimentos
Interdenominacionais, como o Congresso de Lausanne e dado grande contribuição
na criação de órgãos de cunho ecumênico como a FTL. 409 É um ecumenismo
velado, que não conta com a simpatia da denominação, mas também não chega a
comprometer a participação destes pastores na denominação.
Ao longo de toda a sua história, os batista abrigaram em seu seio uma
diversidade de pensamentos, sem a preocupação de uniformização de seus
membros, até por conta do valor e da importância que dão às competências do

408
REIS, J. P., “Ligações perigosas”, p.3.
409
CAVALCANTI, R., O congresso de Lausanne e a missão integral da igreja. Texto produzido e
apresentado na Consulta da FTL realizada no Rio de Janeiro (RJ) em 03 de junho de 2010. Neste
texto Cavalcanti informa que em julho de 1970 é realizada uma pré-consulta preparatória para a
fundação da FTL, coordenada pelo missionário Richard Sturz (pai), a pré-consulta teve lugar nas
instalações da Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Em dezembro de 1970 foi realizada a
Consulta Teológica “A Bíblia na América Latina”, e a Assembleia de Fundação da entidade que foi
denominada de Fraternidade de Teólogos Latinoamericanos (FTL), no Seminário Jorge Alan, em
Cochabamba Bolívia. A delegação brasileira era formada pelos batistas Richard Sturz e César
Tomé...
153

indivíduo e à liberdade. Não existe apenas um jeito de ser batista e a diversidade é


uma marca que acompanha esse povo ao longo de sua trajetória, sendo vista por
alguns como a sua maior fraqueza e por outros como a sua maior riqueza. Como
afirma Walter B. Shurden410:

O que quer que se diga sobre os batistas, eles são muito diferentes entre si e que
embora ameaçadora para alguns e completamente devastadora para outros, a
diversidade flui naturalmente da preocupação batista com o direito de escolha.

Há batistas que são terminantemente contrários a qualquer movimento que


conduza o povo, as igrejas e a denominação em direção ao ecumenismo. Aliás, este
é um posicionamento que tem sido recorrente nas assembleias anuais da Convenção
Batista Brasileira há décadas. Desde a 50ª assembleia realizada em Fortaleza, em
Janeiro de 1968, ocasião em que foi votado uma longa moção antiecumenista, o
tema entra em pauta e o resultado é bastante semelhante. Na assembleia realizada
em 1969, na cidade de Niterói411, a decisão foi que os batistas do Brasil, fieis à
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Bíblia e coerentes com sua firme posição doutrinária e intransigentes na


manutenção de seus princípios recusam participar das atividades diretas ou indiretas
do movimento ecumênico pró-unidade cristã. Nas assembleias seguintes, o tema
voltou à tona, mas sempre com a mesma decisão convencional.
Mesmo diante da resistência da Convenção Batista Brasileira em relação ao
ecumenismo, há batistas que são abertos à esta ideia e sentem necessidade de que
haja uma abertura também em nível denominacional. Como exemplo disso pode-se
citar o surgimento da Aliança de Batistas do Brasil 412 “uma entidade batista de
caráter ecumênico, dedicada entre outras tarefas ao diálogo constante com outras
tradições cristãs e religiosas”. Este grupo, que nasceu na região Nordeste do Brasil,
tem proposta413 de uma

espiritualidade integral, celebrando a diversidade, o respeito às diferenças, a busca


constante do diálogo, a inclusividade e a hospitalidade a todos e todas, a
solidariedade com os pobres, o cuidado com o planeta, a luta incansável pela justiça,
a educação continuada, e a criação de um modelo de liderança marcado pela
equidade, colegialidade e diversidade.

410
SHURDEN, W. B., Quatro frágeis, p.17.
411
REIS, A. P. R., O ecumenismo e os batistas, p. 20.
412
SILVA, N. T., Do confronto ao Diálogo, p.141.
413
Ibid., p.145.
154

Note-se que muito além do aspecto estritamente ecumênico a ABB propõe


um cristianismo aberto ao diálogo, ainda que se mantendo fiel à identidade batista.
Claro que está pagando um alto preço por adotar essa postura. Além de muitas
críticas, a ABB tem enfrentado muitas incompreensões e retaliações por parte dos
batistas ligados à Convenção Batista Brasileira, sobretudo o não reconhecimento
como uma organização denominacional.
Em nível latino americano pode-se mencionar o diálogo que a União Batista
Latino-americana vem mantendo com outras Igrejas, inclusive com a Igreja
Católica. Tanto que o teólogo e escritor colombiano Harold Segura, Ex-reitor do
Seminário Teológico Batista Internacional de Cali, na Colômbia, e membro da
comissão teológica do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI), foi um dos
oito observadores não católicos convidados pelo cardeal Walter Kasper, presidente
do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, para participar
da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, realizada
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em Aparecida, SP, em maio de 2007,414 tendo participado com a chancela da União


Batista Latino-americana.
Há mais de 25 anos a Aliança Batista Mundial iniciou diálogos formais com
o Vaticano em busca de caminhos de encontro e reconciliação. O próprio teólogo
colombiano Harold Segura foi um dos participantes de um desses diálogos, em
Buenos Aires, em dezembro de 2.000, quando se reuniu com o cardeal Walter
Kasper e mais cinco representantes de João Paulo II.415
Por aí se pode ver que, mesmo que em nível denominacional haja resistência
quanto ao envolvimento dos Batistas em movimentos de cunho ecumênico,
refletindo nas Igrejas e nos Pequenos Grupos de um modo geral, dificultando a
comunhão na dimensão ecumênica, há sinais de abertura para o ecumenismo, ainda
que de forma discreta e muitas vezes sorrateira.

414
SEGURA, H., “Não ao analfabetismo bíblico”, p. 10.
415
Ibid.
155

4.2.2.7.
Comunhão com as culturas na dinâmica da inculturação

As culturas precisam ser respeitadas, sobretudo na realização da obra


missionária. Isso demandará um processo de inculturação da fé, em que os/as
discípulos de Jesus Cristo devem professar a sua fé levando sempre em conta as
particularidades culturais onde estão inseridos.
Nas 100 entrevistas realizadas na PIBJC a questão da inculturação apareceu
apenas 2 vezes,416 e nas 20 entrevistas concedidas pelos membros de Pequenos
Grupos da IBMC o fenômeno da inculturação da fé só aparece mencionado uma
vez417 denotando, assim, uma desconsideração com o assunto.
Pinho418 ressalta a importância da inculturação da fé quando se pretende
praticar uma eclesiologia de comunhão:
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A comunidade cristã, como “grandeza pública” que é, situa-se e realiza a sua missão
num espaço social concreto, os cristãos vivem a vida comum os outros homens e
mulheres, ainda que tenham um outro olhar sobre a realidade, uma diferente
valoração das coisas, um outro horizonte de sentido para as suas vidas. Não pode
haver comunhão sem uma apurada sensibilidade a esta inserção da comunidade
eclesial na sociedade humana envolvente.

Essa postura de respeito à cultura onde se vive e testemunha da fé é um dos


grandes desafios da evangelização, seja ela praticada em países estrangeiros, onde
a cultura é totalmente diferente, seja no próprio contexto em que a Igreja está
inserida, mesmo dentro do próprio país.
Por muito tempo, usando passagens bíblicas como argumento 419, as Igrejas
Batistas, como também outras comunidades protestantes, ensinaram que era
perigoso se relacionar com pessoas não convertidas, fazer com elas amizades. Isso
ocasionou um isolamento dos membros das igrejas em relação à sociedade onde
estavam inseridos e consequentemente também levando as igrejas para verdadeiros
guetos de onde olhavam de longe para tudo o que acontecia no mundo, entendendo

416
Cf.: Gráfico 01.
417
Cf.: Gráfico 02.
418
PINHO, J. E. B., Critérios de comunhão e construção da comunidade, p. 211.
419
Textos como Sl 1; Rm 12,1-3; 2 Cor 6,14-17 foram utilizados exaustivamente, praticando-se
uma hermenêutica questionável, não se levando em consideração o contexto.
156

que era o cumprimento das profecias e que nada se poderia fazer para modificar a
realidade.
Essa visão tem sido modificada a partir de iniciativas tomadas pelos
protestantes, como a realização do Congresso Internacional de Evangelização
Mundial em Lausanne, na Suíça, como já destacado neste trabalho 420
desencadeando conferências pós-Lausanne realizadas em diversas partes do mundo,
Congressos Latino-americanos de Evangelização (CLADEs) e os Congressos
Brasileiros de Evangelização (CBEs)421. Os participantes no Congresso de
Lausanne firmaram um pacto, conhecido como o Pacto de Lausanne, com 15 itens
que revelam uma visão renovada e revolucionária do que seja a vivência dos valores
do Evangelho no mundo. No primeiro item do pacto, denominado o Propósito de
Deus é dito:

Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai,
Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua
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vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao
mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo
de Cristo, e também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que
muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de
nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. 422

A partir daí muito se tem falado e escrito423 sobre a necessidade da


valorização das culturas com as quais o evangelho se encontra ao ser vivido e
testemunhado pelos cristãos. Praticamente todas as propostas de novas
eclesiologias protestantes424 tem enfatizado a importância da valorização da cultura
onde os crentes vivem e testemunham de sua fé. John Stott parte da Grande
Comissão dada por Jesus, como registrada pelo apóstolo João: “Como o Pai me

420
Ver 4.1.1.2, Vivência da Igreja de Comunhão, no ponto 5, quando se falou sobre o Compromisso
com a sociedade onde é feito um amplo relato detalhado do que foi e representou para as Igrejas
Protestantes, inclusive as Igrejas Batistas, a realização do Congresso Internacional de Evangelização
Mundial.
421
ZABATIERO, J. P. T., “Os desafios do pacto de lausanne para a igreja de hoje”, p.13.
422
Ibid., p.14..
423
O teólogo Anglicano John Stott escreveu muitas obras enfatizando a necessidade de se buscar o
equilíbrio entre a fidelidade à Palavra de Deus e a relevância para a sociedade onde o evangelho é
vivido e testemunhado. Como exemplo podem ser citados STOTT, J., Ouça o Espírito, ouça o
mundo., que foi escrito originalmente em Inglês e publicado em 1992. STOTT, J., Os cristãos e os
desafios contemporâneos., obra produzida entre 1978 e 1979, mas só publicada em inglês no ano de
1984 e em Português em 2014. Trata-se de um belíssimo texto abordando questões bem presentes
na sociedade com dicas muito relevantes em como o próprio John Stott diz, “se pode ser leal ao
passado e sensível ao presente”.
424
Como novas eclesiologias protestantes está se entendendo os movimentos Igrejas Dirigidas por
Propósitos, Ministério Igreja em Células, já mencionados neste trabalho e outros como a própria
Igreja Multiplicadora, proposta pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira.
157

enviou, também eu vos envio” (Jo 20, 21) afirmando que Jesus fez de sua missão
um modelo para a nossa, através do assim como, assim também. “Ele tomou sobre
si nossa humanidade, nossa carne e sangue, nossa cultura. Na verdade, ele se tornou
um de nós e experimentou nossa fragilidade, nosso sofrimento e nossas
tentações”425. Ainda longe de seguir o modelo de Jesus Cristo “para nós, é mais
natural gritarmos o evangelho às pessoas a certa distância do que nos envolvermos
com elas de forma profunda, pensarmos dentro de sua cultura e de seus problemas
e sentirmos suas dores com elas”. 426 É impossível que aconteça inculturação da fé
sem que haja encarnação na cultura. Isso corrobora com o que tem sido defendido
também pela Igreja Católica na recepção da visão do Concílio Vaticano II.

Em qualquer das configurações, a Igreja resulta sempre de um encontro específico


entre o Evangelho e a realidade social e cultural que envolve a vida dos crentes. A
Igreja local/particular sociocultural concreto, e esta particularidade sociocultural faz
parte da definição teológica da Igreja Local. 427

Seguindo esta mesma linha de raciocínio Miranda428 descreve o processo de


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inculturação desde os tempos bíblicos até o período pós-vaticano II, mostrando


através dos documentos produzidos pela Igreja Católica, um avanço na
compreensão de que “assim, como o Verbo de Deus se encarnou, assumindo a
história e a cultura de um povo, assim também a mensagem salvífica e a própria
Igreja devem se encarnar”429. Alerta, entretanto, para o fato de que é preciso que se
tome cuidado com este conceito, uma vez que “a fé, ao contrário do Verbo de Deus,
se encontra sempre já inculturada”. Daí a necessidade de diálogo e comunhão com
as culturas, afim de que a fé se torne relevante, sem contudo abrir mão de seus
pressupostos básicos e essenciais. Por isso que inculturação é

a realização da fé e da experiência cristã numa cultura, de tal modo que não só se


expresse com elementos culturais próprios (tradução), mas também se torne uma
força que anima, orienta e renova esta cultura (discernimento), contribuindo para a
formação de uma nova comunidade, não só dentro de sua cultura, mas ainda como
enriquecimento da Igreja universal (síntese). 430

Na experiência com os Pequenos Grupos a questão da inculturação precisa


ser levada muito a sério, o que nem sempre acontece como deveria. Isso se aplica

425
SOTT, J., A missão cristã no mundo moderno, p.29.
426
Ibid.
427
PINHO, J. E. B., Critérios de comunhão e construção da comunidade, p. 210.
428
MIRANDA, M. F., Inculturação da fé, p. 15-32.
429
Ibid., p.35-36.
430
Ibid., p.38.
158

desde o momento em que se busca nos exemplos registrados nas Escrituras do Novo
Testamento, referência para a utilização dos Pequenos Grupos como configuração
eclesial nos dias atuais. Obviamente é preciso levar em consideração o contexto em
que as Pequenas Comunidades vivenciaram a fé nos primórdios do Cristianismo,
quando a Igreja vivia ainda de forma embrionária em termos de organização,
vivendo numa situação e perseguição, primeiro pelos próprios judeus e depois pelo
Império Romano.
Os tempos são outros, mas a necessidade de comunhão e de aceitação por
parte do ser humano continuam as mesmas, como afirma Amado: 431

Por tudo isso, fica o desafio de anunciar o Evangelho a esta cultura globalizada, com
suas concepções referidas aqui a respeito de espaço, relacionamento humano e vida
comunitária. Ao lado do testemunho do amor pela vida, ao lado da presença solidária
junto aos mais pobres, outra contribuição indispensável que podemos dar para o novo
momento histórico que está surgindo é a capacidade de acolher o diferente, de
conviver sob diversas formas, afastando-nos seja do pluralismo não relacional, onde
o convívio perde sua força interpeladora, seja do fundamentalismo excludente.
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Quando se pensa em Pequenos Grupos nos tempos modernos, a partir da


experiência da Igreja do Evangelho Pleno, na Coréia do Sul, necessário se faz que
se reflita na realidade asiática, que é diferente da realidade brasileira. As
experiências de Seul tem causado empolgação em muitas igrejas brasileiras, sem
contudo se considerar que vive-se no Brasil uma outra realidade, que demanda
ajustes em qualquer que seja o modelo aqui aplicado.
É preocupante quando as Igrejas importam modelos estrangeiros, com
pacotes fechados, entendendo que estes podem ser aplicados em qualquer lugar, em
qualquer cultura, sem se levar em consideração as peculiaridades de cada
comunidade. Parece que esta tem sido uma dificuldade enfrentada por algumas
Igrejas Batistas que, encantadas com algumas experiências vividas por Igrejas fora
do Brasil ou em determinadas regiões do Brasil, sobretudo em termos de
crescimento quantitativo, entendem que podem aplicar as mesmas estratégias sem
se preocupar em contextualizá-las.
Entretanto, nas entrevistas feitas, apesar de se constatar alguns avanços, pode-
se notar ainda grandes dificuldades com a questão da inculturação. Um membro de
uma célula na PIBJC afirma que teve grandes dificuldades ao se mudar para uma
cidade do interior e passar a frequentar uma igreja diferente da que ele estava

431
AMADO, J. P., Ser comunidade hoje, p. 9.
159

acostumado. Teve dificuldades para relacionar-se com as pessoas daquela igreja,


embora tenha sido conduzido à liderança da mesma, quando da saída do seu pastor.
Ele afirma:

eram pessoas com quem eu não tinha um relacionamento social, não frequentava os
mesmos lugares que eles frequentavam, então estabelecer um relacionamento social
com aquelas pessoas eu não tinha como, eu não conhecia, eu não sabia o que que
elas frequentavam, o restaurante, a escola que meu filho estudava era outra, eu
morava em outro bairro e eu ficava: "o que que eu vou fazer? Não tem outra coisa,
vou ter que montar célula aqui". E aí montamos a célula com quatro pessoas. Eu me
emociono nisso. Que aí a gente começou em Janeiro, esse pequeno grupo na minha
casa. No final daquele ano tinha cinquenta e oito pessoas na célula. Foi muito lindo
o que Deus fez. E através da célula eu consegui ir na casa das pessoas, frequentar a
casa das pessoas, estabelecer um relacionamento de intimidade com elas. Que se eu
tivesse ficado lá no púlpito, pregando, não teria conseguido. 432

Observe-se que, neste caso, a célula se constituiu na porta de entrada para


inculturar-se naquele ambiente, um fator facilitador para que ele conseguisse se
identificar com as pessoas daquele comunidade. Não resta dúvidas de que o
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Pequeno Grupo facilita a inculturação, embora se saiba que isso não acontece
automaticamente. É preciso que se busque esta inculturação com intencionalidade
para tal.
Segundo o pastor presidente da igreja, com a célula a PIBJC conseguiu se
aproximar daquilo que John Stott diz ser o grande desafio do cristianismo
contemporâneo, sendo “leal ao passado e sensível ao presente”433. Perguntado sobre
como vê a igreja que pastoreia hoje ele afirma:

Eu diria o seguinte, essa igreja é hoje uma igreja que procura ser contemporânea na
sua forma, nos seus cultos, no seu modelo gerencial também, estamos investindo
mais recentemente bastante na área de comunicação, mas ao mesmo tempo, uma
igreja que tem se preocupado em manter fidelidade aos princípios da fé cristã, a gente
tem feito um esforço, que eu acho até bastante natural que seja assim, pra não
comprometer princípios. Pra que o fato de ser uma igreja contemporânea, que quer
ser uma igreja atual, atualizada, não signifique abrir mão de valores que a gente
compreende que são princípios da Palavra de Deus e que não podemos negligenciar.
Nossos cultos são muito espontâneos. Você vem a um culto nosso, você vai ver
pessoas que se manifestam com liberdade de gestos, de expressões, o culto é bastante
vivo, as pessoas são bem ativas na sua participação, pelo menos a maioria ou boa
parte delas. Pra mim a igreja é assim, é uma igreja que está procurando ser uma igreja
antenada, uma igreja contemporânea, mas ao mesmo tempo ela mantém um vínculo
com a tradição

432
Cf., PIBJC 08:19.
433
SOTT, J., A missão cristã no mundo moderno, p.09.
160

Podemos chamar isso de uma igreja que professa uma fé incultura, pois
consegue identificar-se tanto com a cultura da cidade, do bairro onde está
localizada, como também com a cultura do momento em que vive, aberta para
mudanças e inovações, sem contudo abrir mão dos princípios da Palavra de Deus
que são caros à PIBJC e aos batistas de um modo geral.
O entrevistado nº 14, da IBMC entende que o PG serve para o
compartilhamento de culturas. Falando sobre como acontecem os encontros do PG
ele diz que os encontros acontecem nas dependências da própria Igreja mesmo.
Afirma também que o PG é uma oportunidade de “fazer amizade, dividir sua
experiência, sua sabedoria. Dividir a sua cultura com as outras pessoas. Porque tem
gente de várias culturas. Por exemplo, eu tenho faculdade, mas faculdade não quer
dizer que eu sei de Bíblia entendeu?”434 Confessa que antes de se converter a Cristo
tinha preconceitos com quem andava na rua carregando a Bíblia, mas que agora
entende que isso é importante e também leva sua Bíblia por onde vai.
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Pensando na experiência dos PGs na realidade Católico Romana,


exemplificada pelas CEBs, Azevedo 435 destaca a importância do Concílio Vaticano
II e de seus desdobramentos ocorridos nas Conferências de Puebla e Medellín, para
o processo de inculturação na América Latina. O autor dedica o último capítulo de
sua tese436 procurando resolver o problema de “se sim ou não, como e em que
medida, as CEBs são um veículo ou um fator de evangelização inculturada” 437.
Embora não podendo dar uma resposta univoca 438 até mesmo pelo fato de haver
uma diversidade de CEBs no brasil e uma multiplicidade de regiões e contextos
soco ecológicos em que vive o povo brasileiro, entretanto, se comparado “o
processo de evangelização vigente antes do surgimento das CEBs e depois delas,
nelas e por meio delas, não há dúvida quanto a uma resposta positiva à pergunta
sobre se as CEBs são uma forma de evangelização inculturada”439 Entende-se daí
que as CEBs certamente se constituem num exemplo vivo de que é possível viver
uma fé inculturada, que respeita a cultura e a realidade dos povos.

434
Cf. IBMC 14:05.
435
AZEVEDO, M. C., Comunidades eclesiais de base e inculturação da fé; p.257-258.
436
O autor elaborou exaustivo estudo sobre as CEBs e a inculturação da fé, como requisito para
seu doutoramento em Missiologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, defendida em
02 de fevereiro de 1985, obtendo nota máxima, “Summa cum laude” (Informação tirada da nota do
editor do livro citado).
437
Ibid.
438
Ibid., p. 354
439
Ibid., p. 356.
161

Na conclusão de sua tese, Azevedo chega a algumas definiçõess bem


relevantes que certamente fazem das CEBs instrumento extremamente relevante na
reconfiguração da Igreja e na vivência da eclesiologia de comunhão, sobretudo no
quesito inculturação da fé. Afirma ele que as CEBs tem contribuído para mudanças
significativas e quebra de paradigmas milenares:

Da hegemonia eclesiástica do clero à presença ativa do leigo e da religiosa no


processo evangelizador; do enfoque marcadamente espiritualizante para a concepção
global da pessoa humana enquanto destinatária da evangelização; do fiel cristão
como objeto terminal do esforço evangelizador para o fiel cristão como sujeito
incoativo e progressivo de sua própria evangelização e de sua irradiação sobre o
mundo; de uma Igreja hierárquica e institucional, organizada de cima para baixo,
para uma igreja mais participativa, aberta à criatividade, de baixo para cima; do
primado da elaboração teórica para a atenção prioritária à experiência vivida,
concretizando a fé a partir da vida e iluminando a vida a partir da fé; de um modelo
multissecular de anúncio do Evangelho , para uma nova forma de evangelização e
vida cristã.440

Em maio de 2007 reuniu-se em Aparecida, a V Conferência Geral do


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Episcopado Latino-americano e do Caribe. Como fruto deste encontro foi elaborado


um documento no qual as CEBSs são mencionadas em 5 artigos. Sobretudo nos
artigos 178 a 180 as CEBs são colocadas como “escolas que têm ajudado a formar
cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor” (DAp
178). Fazendo menção a Puebla, o documento reitera que as CEBs “permitiram ao
povo chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social
em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé
dos adultos” (DAp 178). Num contexto de pobreza como vive a maioria do povo
brasileiro, as CEBs “demonstram seu compromisso evangelizador e missionário
entre os mais simples e afastados e são expressão visível da opção preferencial pelos
pobres, constituindo-se em fonte e semente de variados serviços e ministérios a
favor da vida na sociedade e na Igreja” (DAp 179). Afirma o documento ainda que
“como resposta às exigências da evangelização, junto com as comunidades eclesiais
de base, existem outras formas válidas de pequenas comunidades, inclusive redes
de comunidades, de movimento, de grupos de vida, de oração e de reflexão da
palavra de Deus” (DAp 180).

440
Ibid., p. 381-382.
162

Corrobora com o exposto acima artigo publicado no blog das Comunidades


Eclesiais de Base criado e administrado pelo Pe. Edegard Silva Júnior, Missionário
Saletino exercendo sua missão na cidade de Curitiba PR. No artigo afirma que

a inculturação tem sido objeto de muitos estudos nos últimos anos. O impulso inicial
nos foi dado pelo próprio Concílio Vaticano II. Embora a palavra inculturação não
apareça nos documentos do Concílio, podemos afirmar, de antemão, que
a“Sacrosanctum Concilium” ao falar sobre a adaptação da liturgia à índole e às
tradições dos povos (Cf. SC 37-40), nos sugere o mesmo sentido que damos hoje ao
termo “inculturação”, especialmente o nº 40 quando fala das “adaptações mais
profundas”. A inculturação deve ser um meio para que se chegue à “participação
plena, consciente, ativa e frutuosa dos fiéis” tão desejada pelo Concílio Vaticano
II.441

Tanto as CEBs como os Pequenos Grupos, na proposta da Igreja Dirigida por


Propósitos e também na do Ministério Igreja em Células, se constituem num novo
jeito de ser igreja, procurando respeitar a cultura do povo brasileiro, adequando sua
liturgia e procurando formas de estreitar os laços de amizade através da criação e
aprofundamento de vínculos primários, na busca de viver a fé cristã de maneira
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mais coerente com o seguimento de Jesus Cristo. Entretanto, como pode ser
constatado nas entrevistas feitas, há ainda muitos desafios a serem superados para
que se possa dizer que vivemos e proclamamos uma fé inculturada.

4.2.2.8.
Comunhão com o restante da criação (ecologia)

Em nenhum momento a questão ecológica foi mencionada pelos/as


entrevistados/as, tanto na PIBJC como também na IBMC. É bem verdade que nada
foi perguntado especificamente sobre o tema, entretanto, se fizesse parte da agenda
dos Pequenos Grupos, certamente as preocupações com a realidade ecológica
caótica que se vive hoje seria mencionada.
O papa Francisco442 trata das questões ecológicas com bastante propriedade
na Carta Encíclica Laudato Si’. Ele afirma que

nós e todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por
laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão
sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde. Quero lembrar

441
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE. “CEBS e Inculturação”.
442
PAPA FRANCISCO, Encíclica Laudato Si’, p. 58.
163

que “Deus nos uniu tão estreitamente ao mundo que nos rodeia, que a desertificação
do solo é como uma doença para cada um, e podemos lamentar a extinção de uma
espécie como se fosse uma mutilação”.

Diante da grande crise ecológica que se vive no momento é imperioso que a


Igreja de Jesus Cristo se volte para as questões que dizem respeito à preservação e
ao cuidado da natureza buscando, inclusive, o resgate de fontes que se secaram com
a exploração indiscriminada do insaciável mercado industrial e imobiliário.
Como alerta o Papa Francisco 443, isso não significa igualar todos os seres
vivos deixando de ver o ser humano em seu aspecto singular, como também não
significa que se deva divinizar a terra e o restante da natureza, como acontece em
algumas situações extremas, em que animais e plantas são protegidos e até adorados
em detrimento de situações deploráveis enfrentadas por seres humanos que vivem
em situação calamitosa. Entretanto, é indiscutível a relevância de temas como
poluição e mudanças climáticas, desperdício e escassez de água, desiquilíbrio da
biodiversidade, deterioração da qualidade de vida humana e degradação social, as
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desigualdades e muitos outros temas abordados pelo Papa Francisco em sua carta
pastoral444.
Padilla445 expressa com clareza a amplitude do que representa o fato de Jesus
ser o Senhor, incluindo questões relacionadas à ecologia.

Se Jesus Cristo é o Senhor de todo o universo, a quem foi dada autoridade no céu e
na terra, sua soberania se estende tanto ao âmbito econômico como ao político, tanto
ao âmbito social como ao cultural tanto ao âmbito estético como ao ecológico, tanto
ao âmbito pessoal como ao comunitário. Nada nem ninguém fica excluído de seu
senhorio.

Parece ser imperativo que se volte para a exortação pastoral do Papa


Francisco e se busque uma conversão ecológica.

A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Entretanto, temos


de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com
pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações com o
meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e
tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois uma conversão ecológica, que comporta
deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do
encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de
opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de
uma existência virtuosa.

443
Ibid..
444
Ibid., p 20-42.
445
PADILLA, C. R., “Uma eclesiologia para a missão integral”, p.49.
164

É bom que se diga que o esforço para a preservação do meio ambiente deve
superar qualquer barreira ideológica, política ou religiosa. Nesta batalha toda a
humanidade deve lutar do mesmo lado, cada um fazendo a sua parte para que a casa
comum seja preservada e mantida em ordem para as gerações futuras. Entretanto, é
preciso ressaltar que isso não vai acontecer espontaneamente. É preciso
mobilização da sociedade, procurando envolver cada habitante deste planeta,
independente de nacionalidade, raça, cor, ideologia política e condição religiosa.
Cláudio de Oliveira Ribeiro, pastor Metodista com doutorado na PUC-Rio
tomou iniciativa interessante ao solicitar a teólogos protestantes das mais diversas
denominações para fazer análise do documento “Laudato Si’, do Papa Francisco.
Nesse sentido é relevante registrar as palavras do teólogo batista Jorge Pinheiro: 446

‘Laudato Si’ protesta e nos remete à força do reino de Deus como intervenção real
no pensar e agir social, pois aqueles que têm o reino de Deus como objetivo devem
ter como práxis a indissolúvel aliança interior que coloca na espiritualidade o sentido
da existência, muitas vezes espoliada de sentido. Uma espiritualidade assim fundada
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tem suas raízes num conhecimento muito mais profundo do que aquele enraizado no
dogma. Mas, essa fé, unida à ação e à decisão, é ela própria um risco.

Se a visão que deve nortear o conceito de espiritualidade finca raízes no


paradigma transformador do Reino de Deus, certamente não se pode ignorar a
necessidade de um engajamento consciente e consistente, em perspectiva
ecumênica, na busca de soluções concretas para os grandes desafios do cuidado
com a terra. É nesse sentido que os teólogos protestantes convidados para apreciar
a Encíclica do Papa Francisco entendem o desafio da ‘Laudato Si’.
Segundo Pinheiro447 para o papa Francisco, a ação da Igreja deve priorizar a
comunidade, porque é onde as pessoas se aproximam livremente, desenvolvem
laços primários e se sentem responsáveis, descobrem e atuam nas diferentes áreas
de interesse comum, como a questão ecológica, por exemplo, que deve ser do
interesse de todos. Daí a importância das pequenas comunidades de base, pois é aí
que estão as lideranças formadoras de opinião, articuladoras de gente disposta à
ação. É nas bases que acontecem os relacionamentos primários das pessoas que se
conhecem, que se amam e se ajudam mutuamente.

446
PINJHEIRO, J., “A terra e o reino: Laudato si’ como alerta para a transformação”, p.134.
447
Ibid., p.131-132.
165

É inegável que as Igrejas Batistas têm ensinado ao longo dos séculos acerca
da mordomia cristã, que inclui o cuidado com a natureza. Kaschel 448 define
mordomo como “aquele que é incumbido da direção da casa, o administrador. É
aquela pessoa a quem é entregue tudo quanto o senhor possuiu para ser cuidado e
desenvolvido”. Embora mencione que o Universo pertence a Deus, que Adão tenha
sido colocado como o primeiro mordomo, o tomador de contas das obras criadas
por Deus, Kaschel aborda a mordomia da personalidade, da influência, das
oportunidades, do tempo, dos bens e da contribuição, mas não aborda a questão
ecológica. Claro que na época em que o livro foi publicado, na década de 60, as
questões ecológicas ainda não eram tão evidentes, mas o fato é que não houve
atualização deste assunto na maioria das Igrejas Batistas. A ecologia ainda é um
assunto omitido pelas igrejas em seus púlpitos, congressos, estudos bíblicos e
retiros, o que justifica a ausência das questões ecológicas nas entrevistas feitas pelos
membros dos Pequenos Grupos.
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Ao falar sobre o assunto, a Declaração Doutrinária da Convenção Batista


Brasileira449 afirma:

Mordomia é a doutrina bíblica que reconhece Deus como Criador, Senhor e dono de
todas as coisas. Todas as bênçãos temporais e espirituais procedem de Deus e por
isso devem os homens a ele o que são e possuem e, também, o sustento. O crente
pertence a Deus, porque Deus o criou e o remiu em Jesus Cristo. Pertencendo a Deus,
o crente é mordomo ou administrador da vida, das aptidões, do tempo, dos bens, da
influência, das oportunidades, da personalidade, dos recursos naturais e de tudo o
que Deus lhe confia em seu infinito amor, providência e sabedoria. 450

Tudo começa com a compreensão de que Deus criou todas as coisas para a
sua glória, como se lê nos primeiros capítulos do livro de Gênesis e colocou o ser
humano, criado à sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27) como o administrador,
ou seja, o mordomo de todas as coisas que ele havia criado (Gênesis 1,28-30, 2,15).
Não significa que o ser humano pode usar os recursos naturais ao seu bel prazer,
como se tudo fosse dele, pois, na verdade, tudo pertence ao Senhor (Salmos 24,1).
Deus não abriu mão de sua propriedade, apenas fez concessão de uso e atribuiu ao

448
KASCHEL, W., Não sou meu, p. 11.
449
Trata-se do documento oficial dos Batistas Brasileiros que baliza as questões teológicas e
expressa o corpo de doutrinas das Igrejas Batistas filiadas à Convenção Batista Brasileira.
450
FERREIRA, E. S., (org). Comentários à declaração doutrinária da Convenção Batista
Brasileira, p.157.
166

ser humano a responsabilidade para tomar conta, ser mordomo, administrar, a sua
criação.
Falando sobre a responsabilidade diante da criação Jonh Stott451 afirma que

o domínio que Deus nos deu é delegado, responsável e cooperativo; o ser humano
precisa expressar o mesmo cuidado com o ambiente que o seu Criador e sustentador
tem; longe de explorar a terra e suas criaturas, nós devemos usá-lo de maneira que
prestemos contas a Deus e sirvamos a outros (...). O domínio que Deus deu à raça
humana é uma administração escrupulosa e cuidadosa que envolve poupar os
recursos da terra. Seria ridículo supor que Deus primeiro criou a terra e, depois, a
passou a nós para que a destruíssemos.

É convicção da maioria dos cristãos, mormente dos batistas, que Deus é o


criador, sustentador e verdadeiro dono de todas as coisas (Rm 11,36). Os seres
humanos são apenas seus mordomos, encarregados de tomar conta da sua criação.
Deus não abriu mão de sua propriedade e cobrará a prestação de contas de seus
mordomos, da maneira como estão cuidando daquilo que é seu. Por esta razão é
preciso tomar muito cuidado com o que se faz com as coisas de Deus.
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Olhando para trás, pode-se ver a mão de Deus criando e sustentando todas as
coisas, contando com a cooperação dos seres humanos para preservar e cuidar das
obras por ele criadas. Olhando para frente pode-se vislumbrar acontecimentos que
marcarão profundamente todas as obras criadas por Deus, especialmente a vida dos
seres humanos que viverão eternamente ao lado de Deus ou longe dele, numa outra
dimensão, num outro grau de relacionamento com Deus, com o próximo e com a
natureza. Olhando para o presente, é incontestável a responsabilidade de todos os
seres humanos na preservação do meio ambiente.
Que a humanidade vive uma crise ecológica sem precedentes não há dúvida.
O desiquilíbrio dos ecossistemas que se vê na atualidade é gritante e afeta todas as
pessoas em todas as partes do mundo. Como exemplo pode-se citar o problema da
água. O uso indiscriminado dos recursos naturais aliado a estiagens prolongadas em
algumas partes do Brasil e do mundo produzem falta de água potável para uso da
população. Noutros lugares e momentos, excesso de chuvas causam verdadeiras
tragédias como se viu no estado do Espírito Santo em Dezembro de 2013, ceifando
muitas vidas prematuramente. Estes são apenas alguns sintomas de que a coisa não
vai bem quando se fala em respeito e cuidado com o meio ambiente. Segundo

451
STOTT, J., Os cristãos e os desafios contemporâneos, p.163-164.
167

Marina Silva 452 de toda a água existente no planeta, a água doce representa 2,5%
do total. Desses 2,5%, 70% estão em forma de gelo na Antártida e no Ártico. Os
lagos e rios representam 0,3% do total de água doce na terra. A humanidade usa
essa água doce distribuindo 70% para regar, 22% para produção industrial e 8%
para uso doméstico. No Brasil, temos 20% de toda a água potável disponível no
planeta localizada na Amazônia, e 45% da água subterrânea do país também estão
nessa região, conforme dados do IBGE. Essa mesma região vem sendo desmatada,
invadida e depredada sem preocupação com a manutenção do meio ambiente, sem
pensar no que um apagão de fornecimento de água para todo o país pode significar.
A Bíblia utiliza a metáfora da água 312 vezes para indicar plenitude,
criatividade. A começar de Gênesis 1,2 que descreve a água como a superfície sobre
a qual pairava o Espírito de Deus e de onde foram formadas as demais coisas. A
expressão “rios de águas vivas” é recorrente nas Escrituras. Entretanto, como afirma
Silva453 “temos transformado os rios de águas vivas em rios de águas mortas e
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produtoras de morte para as espécies que os habitam”. Temos conseguido fazer com
que a bênção da chuva vire chuva ácida sobre a terra, lagos e rios. O lixo amontoado
em aterros produz chorume, que se infiltra nas águas subterrâneas, envenenando-
as.
A falta de saneamento básico por falta de prioridade nas políticas públicas,
faz com que o esgoto de indústrias e domicílios seja despejado em rios, lagos e
oceanos. O lixo das praias tem contaminado oceanos e matado espécies marinhas
e aves aquáticas, que engolem pequenos artefatos de plásticos. E os agrotóxicos,
dos quais o Brasil é um dos principais consumidores mundiais, também são levados
pela chuva para os cursos d’água. O que dizer da tragédia que se abateu sobre os
estados de Minas Gerais e Espírito Santo no dia 05 de Novembro de 2015, com o
rompimento da barragem da Samarco, que poluiu o Rio Doce, matou peixes e
deixou milhares de pessoas sem emprego e sem água potável por meses.
Stott454, por sua vez, faz algumas ponderações preocupantes. Ele afirma que
há muito tem sido dito que, nos próximos cinquenta anos, a água será mais
importante ainda do que o petróleo como recurso escasso ameaçado. Alguns têm
até predito que haverá violência entre nações por causa do acesso à água e aos

452
SILVA, N. T., Do confronto ao Diálogo, p. 32.
453
Ibid.
454
STOTT, J., op. cit., p.146-147.
168

direitos sobre rios que cruzam fronteiras entre países. Em 2002, o acesso à água
limpa e ao saneamento adequado foi declarado ‘direito humano’. O Comitê das
nações Unidas sobre Direitos Econômicos, Culturais e Sociais declarou num
‘comentário geral’ que ‘a água é fundamental para a vida e a saúde. O direito à água
é indispensável para levar uma vida saudável e com dignidade humana. Isso é um
pré-requisito para a realização e todos os outros direitos humanos.
Francis A. Schaeffer 455 confessa: “A verdade é que, de uma forma arrogante
e egoísta, a natureza tem sido reduzida a uma ‘coisa’, para que o homem a possa
usar e explorar”. Claro que os problemas do meio ambiente não são causados pela
própria natureza e sim pelas ações dos homens sobre o meio ambiente. É preciso
reconhecer isso e agir de tal maneira a reverter este quadro. Afinal, “se amo Aquele
que ama, amo o que Aquele que ama tem feito. Se não amo o que Deus tem feito,
na área humana e da natureza, amo realmente a Deus?” 456 Stott faz menção de um
livro escrito por Ronald Higgins intitulado “O sétimo inimigo”. No livro o autor
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menciona que os primeiros seis inimigos da sustentabilidade são a explosão


populacional, a crise de alimentos, a escassez de recursos, a degradação ambiental,
o abuso nuclear e a tecnologia científica. Depois menciona o sétimo inimigo que é
o próprio ser humano em sua cegueira pessoal e inércia política à face do desafio
ecológico de hoje. Defende a tese de que a raça humana precisa de uma nova
autoconsciência, uma visão nova, um renascer de suas capacidades morais e
religiosas. Pode-se dizer que isso precisa partir dos cristãos, conhecedores da
Palavra de Deus e da sua vontade para a humanidade e para o universo, incumbidos
de cuidar da criação de Deus com desvelo e fidelidade.
Jesus não reconheceu qualquer distinção entre o material e o espiritual. Para
ele, tanto o espiritual quanto o material são aspectos do mesmo Reino de Deus. Os
seguidores de Cristo precisam caracterizar-se consistentemente conforme a verdade
que Deus é o criador e dono de todas as coisas e que, sob o senhorio de Cristo, todos
os valores, sejam materiais, sejam espirituais, devem cumprir os propósitos de
Deus. Como discípulos/as dele também é preciso parar de ficar olhando só pra cima,
esperando a volta de Cristo (At 1,11), postulando uma escatologia escapista, que
prega a fatalidade do quanto pior melhor porque indica que Jesus está voltando. Na
qualidade de mordomos de Deus há muito que ser feito em favor da sustentabilidade

455
SCHAEFFER, F. A., Poluição e a morte do homem, p.99.
456
Ibid., p.102.
169

do meio ambiente. É preciso arregaçar as mangas e adquirir coragem de agir,


mesmo que sejam pequenos gestos e ações que, somados, certamente farão toda a
diferença para a sociedade glorificando o nome de Deus e contribuindo para a
transformação da sociedade com a implementação dos valores do Reino de Deus.
Silva457 afirma que temos feito pouco como povo de Deus. Ainda nos falta
muito para sermos verdadeiros cuidadores do planeta. O jornal O Globo publicou,
em novembro de 2011, um estudo do centro de pesquisas americano Pew que
informa serem os cristãos dois bilhões e quatorze milhões de pessoas, um terço da
humanidade. Essa força social precisa se colocar como agente do princípio bíblico
de cultivar e guardar os recursos que Deus tão amorosamente confiou aos seus
filhos e filhas. Como se observa pelas entrevistas a consciência ecológica nos
Pequenos Grupos é muito limitada.
A saída para o problema da escassez d’água, como também os demais
relacionados à ecologia, é muito mais complexa do que parece. São necessárias
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ações individuais e coletivas, públicas e privadas, institucionais e pessoais, numa


somatória de esforços para que haja reversão deste quadro preocupante que foi
descrito acima. É preciso começar com pequenas ações dentro de casa,
economizando água e energia, lidando bem com o lixo, evitando desperdício,
lavando menos os carros e calçadas, captando a água da chuva e priorizando a
energia solar, usando meios de transporte altwernativos, construindo casas e prédios
com janelas maiores para que se use menos energia durante o dia. Mas é claro que
isso não basta. É preciso também ações em âmbito institucional, seja promovida
pela igreja, escola, governos, ONGS, empresas. É preciso acordar para a
necessidade de tratamento e reutilização da água por parte das empresas e
instituições. É uma questão de sobrevivência e deve envolver toda a sociedade.
Importante que se faça menção da iniciativa da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) em parceria com o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
458
do Brasil (CONIC) na definição do tema da Campanha da Fraternidade 2016
“Casa comum, nossa responsabilidade”, e o lema, “Quero ver o direito brotar
como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” com base na profecia de
Amós 5.24. Colocar o tema em debate nas comunidades certamente resultará em
grandes benefícios para o meio ambiente. Porque a denominação Batista não está

457
SILVA, N. T., Do confronto ao Diálogo, p. 32.
458
http://campanhas.cnbb.org.br. Acesso em: 05 de abr. 2016.
170

engajada na Campanha da Fraternidade 2016, aproveitando esta mobilização


nacional para somar forças e dar a sua contribuição para o cuidado do meio
ambiente? O mundo em que os Batistas vivem não é comum ao que as demais
Igrejas e Religiões vivem? A questão ecológica não é problema comum tanto aos
Católicos quanto aos Batistas?
Necessário se faz que as Igrejas Batistas também coloquem a questão
ecológica no topo de sua agenda de discussões, a partir da Convenção Batista
Brasileira, para que as discussões em torno da ecologia cheguem às comunidades
locais e aos Pequenos Grupos em particular. Uma vez o assunto sendo trazido para
os púlpitos das igrejas certamente os Pequenos Grupos poderão ser estratégicos no
que diz respeito à conscientização ecológica e no desenvolvimento de ações que
venham a contribuir para a preservação da natureza e demais questões relacionadas
ao cuidado da casa comum de toda a humanidade.
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4.2.2.9.
Sentido de pertença

O sentimento de pertencer a uma comunidade se evidencia na medida em que


as pessoas sentem-se valorizadas e aceitas como são. Pinho459 afirma que “é de
importância vital que os cristãos sintam a sua pertença a uma comunidade cristã
como autêntica experiência de comunhão”. Neste sentido, certamente os Pequenos
Grupos se constituem numa ferramenta de grande importância. Fazer parte de uma
célula e sentir-se pertencendo a um grupo pequeno foi mencionado 60 vezes pelos
entrevistados da PIBJC e 21 vezes pelos entrevistados na IBMC.
Mais de uma ocasião se faz menção de pessoas que são provenientes do
interior do estado e que, estando na capital, encontram no Pequeno Grupo a acolhida
e o sentimento de pertença. “Eu me sinto como se eu tivesse na minha família
mesmo. Porque a minha família é tudo do interior, então quando eu chego, eu sinto
o carinho de todo mundo, tanto comigo, quanto meu filho” 460. E isso acaba se
transferindo para a Igreja como um todo. Ao ser solicitada a caracterizar sua igreja

459
PINHO, J. E. B., Critérios de comunhão e construção da comunidade, op. cit., p. 216.
460
Cf.: PIBJC 77:08.
171

hoje, a entrevistada461 afirma: “Nossa! Maravilhosa! Uma família. É a minha


família. Porque a minha família é toda do interior. É a família. Eu me sinto muito
amada aqui, pelos membros”.
Escobar462 afirma que

a vida urbana, com sua carga de anomia e o consequente efeito de desintegração


familiar e secularização, criou uma fome de comunhão e de pertencimento, diante
da qual as igrejas surgem como lar dos desenraizados, família dos sem-família. A
experiência pastoral tem mostrado que muitos vêm à igreja em busca de comunhão
e, quando encontram abertura, compreensão e afeto, ficam. O amor de Cristo chega
a eles primeiramente por meio do ato de aceitação por parte da comunidade cristã.
Isso se chama koinonia em ação.

É o que acontece com os bairros das capitais, exemplificados por Jardim


Camburi e Morada de Camburi, que recebem muitas pessoas vindas do interior para
estudar e para trabalhar na capital. “Não é bom a pessoa ficar sozinha. Sozinha é
difícil levar a vida. Então em relacionamento com pessoas, em relacionamento
saudável, na busca pelas coisas de Deus as coisas vão se tornar mais fáceis” 463.
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Outro disse: “Eu que moro fora, eu não sou daqui. A nossa família é o grupo de
nossa célula”464. A observação de um dos líderes é muito clara: “Tem alguns
pequenos grupos que você vai ver o perfil, são de pessoas que não têm parentes.
Então, pra esse grupo, um benefício extraordinário é o Pequeno Grupo. Uma família
para aqueles que são de fora”465. Outro afirma: “Eu era novo, mas era numa célula
de rapazes de dezessete até vinte e dois anos, mas eu me senti o irmão mais novo
ali. Me senti em casa. Aí consegui identificar essa igreja aqui como a minha
igreja”.466 Uma das entrevistadas repetiu 4 vezes que a célula representa para ela
uma sensação de pertencimento.467 A necessidade desse sentido de pertença é cada
vez mais evidente na sociedade contemporânea, a ponto de alguns enxergarem
como lugar de aproximação maior até mesmo que a própria família de sangue, como
afirma um dos entrevistados468:

A minha família é grande, mas a gente não tem ou nunca compartilhamos e nunca
vivemos da forma que a gente vive na célula. Então, a minha família realmente é a

461
Cf.: PIBJC 77:18.
462
ESCOBAR, S., “A natureza comunitária da igreja”, p. 92.
463
Cf.: PIBJC 65:15.
464
Cf.: PIBJC 78:03.
465
Cf.: IBMC 05:05.
466
Cf.: PIBJC 67:01.
467
Cf.: PIBJC 84:03, 04, 08 e 14.
468
Cf.: PIBJC 88:01.
172

que tá na célula. Eu tenho a minha família de irmãos, que não tenho tanto contato,
não tenho tanta intimidade, não tenho tanta abertura, quanto a que eu tenho na célula
hoje.

O sentimento de pertencer a uma pequena comunidade certamente interfere


na escolha de que Igreja fazer parte. Nesse caso, o Pequeno Grupo exerce influência
determinante no crescimento da igreja, o que parece ser uma tendência na sociedade
contemporânea. Como afirma Richard Sennett “o sentido de lugar se baseia na
necessidade de pertencer não a uma sociedade em abstrato, mas a algum lugar em
particular; satisfazendo essa necessidade, as pessoas desenvolvem o compromisso
e a lealdade”469 Os Pequenos Grupos se constituem numa pequena comunidade
concreta, em que as pessoas tem nome, telefone, endereço e uma história de vida a
ser compartilhada. Como disse IBMC 09 470: “a melhor coisa do Pequeno Grupo
para mim é saber quem você é. Ciclano que mora em tal local, que frequenta tal
Pequeno Grupo. É muito importante pra pessoa se sentir bem, se sentir notada”.
Falando sobre a diferença de fazer parte de uma Igreja que tem e uma que não tem
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Pequeno Grupo IBMC 13471 disse que

a grande diferença é esse sentido de pertencer. Quando você tá no grupo pequeno,


você pertence, você tem pessoas que você sente que pertence a elas e elas pertencem
a você. Você faz parte do mundo delas e eles fazem parte de seu mundo. E uma
Igreja sem o Pequeno Grupo não tem tanta aproximação e pertencimento quanto a
que tem.

O sentimento de pertencer a uma comunidade não apenas é desejável por uma


questão ontológica, mas também por que isso de alguma forma dá segurança. Como
afirma Bauman472: “hoje em dia, a comunidade é procurada como abrigo contra as
sucessivas correntezas da turbulência global” que sobrevêm sobre a vida
independente do local onde se esteja, mas sobretudo quando de vive numa cidade
grande, marcada pela violência e pelo individualismo. “Sentimos falta da
comunidade porque sentimos falta de segurança, qualidade fundamental para uma
vida feliz, mas que o mundo que habitamos é cada vez menos capaz de oferecer e
mais relutante em prometer”473. Daí a importância da Igreja, sobretudo na
configuração dos Pequenos Grupos, em que a garantia do cuidado mutuo é capaz

469
SENNETT, R., “Growth and failure: the new political economy and its culture”, p.15.
470
Cf. IBMC 09:06.
471
Cf. IBMC 13:03.
472
BAUMAN, Z., Comunidade, p.48.
473
Ibid., p. 129.
173

de conceder segurança de que sempre haverá o suficiente para viver e conviver e


encher a vida de esperança.
IBMC 01474 afirma que “na medida em que as pessoas estão literalmente
anônimas, onde cada um vivendo por si, o pequeno grupo oferece a oportunidade
da pessoa se sentir acolhida, importante, aconchegada, protegida, orientada”. IBMC
05475 tem uma visão semelhante. Afirma que no Pequeno Grupo “você se sente
protegido, cuidado de várias formas (...). Cada membro da igreja tem um local onde
sente protegido, cuidado, amado, enfim pode repartir vida”. “O PG é uma família
para aqueles que são de fora. Uma família mesmo. Realmente eles sentem que ali
eles têm uma segunda família”. 476 Falando da experiência vivida na liderança de
uma célula de crianças IBMC 03477 afirmou que as crianças vibravam no grupo
dizendo “vou pro meu grupo, vou pra minha célula, lá eu comemorei meu
aniversário, na minha célula”
Outra questão relacionada ao sentimento de pertença está no fato de que
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“somos todos interdependentes neste nosso mundo que rapidamente se globaliza, e


devido a essa interdependência nenhum de nós pode ser senhor de seu destino por
si mesmo”478. Esta interdependência se torna ainda mais visível e palpável quando
se vive e convive de perto com as pessoas. O Pequeno Grupo é o lugar ideal para a
concretização dos mandamentos de mutualidade: “amem-se uns aos outros”(Jo 13,
34-35), “aceitem-se uns aos outros”(Rm 15,7), “saúdem-se uns aos outros”(1 Cor
16,20), “sujeitem-se uns aos outros” (Ef 5,18), “cuidem uns aos outros” (1 Cor
12,24-25), “suportem-se uns aos outros”(Ef 4,1-3), “edifiquem-se uns aos outros”(1
Ts 5,11), “ensinem uns aos outros”(Cl 3,16), “encorajem-se uns aos outros”(Hb
3,12-13), “aconselhem-se uns aos outros”(Rm 15,14), “sirvam uns aos outros”(Gl
5,13), dentre outros. São pelo menos 25 mandamentos recíprocos que mostram a
necessidade que os/as discípulos/as de Jesus Cristo tem de viver em comunhão.
O próprio Deus triúno, que existe e se manifesta na pessoa do Pai, do Filho e
do Espírito Santo, essência da comunhão plena, que criou o ser humano tal como é
afirmou que “não é bom que o ser humano viva sozinho” (Gn 2,18). “A comunhão
tem a ver com aquela relação pessoal que os cristãos gozam com Deus e uns com

474
Cf. IBMC 01:13.
475
Cf. IBMC 05:01-02.
476
Cf. IBMC 05:05.
477
Cf. IBMC 03:16.
478
BAUMAN, Z., Comunidade, p.133.
174

os outros, em virtude de serem unidos a Jesus Cristo”479. Não há outra maneira mais
prática de se desenvolver comunhão do que através dos mandamentos de
mutualidade. E não há lugar mais adequado para se vivenciar os mandamentos de
mutualidade do que nos Pequenos Grupos, onde as pessoas convivem de perto,
conhecem-se mais profundamente, sabem das dificuldades que cada um enfrenta.
Podemos afirmar que mutualidade é um estilo de vida afinado com os mandamentos
do N.T. a respeito daquilo que os cristãos devem fazer uns aos outros para expressar
seu amor e unidade480 e fortalecer o sentimento de pertencer a um grupo que se
importa com eles.

4.2.2.10.
Formação Espiritual

Outro valor presente numa eclesiologia de comunhão, como destacado no


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Concílio Vaticano II481 é a formação espiritual ou a construção de uma


espiritualidade de comunhão, entendendo com isso “uma atitude de espirito, um
modo de ser e de viver, de relacionar-se em Igreja e de construir comunidade
cristã”482. Não basta integrar a pessoa no grupo, mas é preciso criar oportunidades
para que haja crescimento e aprendizado na busca de um relacionamento cada vez
mais profundo com Deus.
No contexto dos Pequenos Grupos, como também nas Igrejas Batistas de um
modo geral, a este processo denomina-se discipulado cristão, que é o cuidado que
se deve ter em conduzir as pessoas que entram em contato com a mensagem do
Evangelho ao processo de crescimento e de serviço cristão. Falando sobre isso
Padilla483 afirma:

Os discípulos de Jesus não se distinguem por serem meros adeptos de uma religião
– um culto a Jesus -, mas por um estilo de vida que reflete o amor e a justiça do reino
de Deus. A missão da igreja, portanto, não pode se limitar a proclamar uma
mensagem de “salvação da alma”: sua missão é “fazer discípulos” que aprendam a
obedecer ao Senhor em todas as circunstâncias da vida diária, tanto privadamente
como em público, tanto no pessoal como no social, tanto no espiritual como no

479
BAILEY, L., 25 segredos para derrotar a crise de comunhão, p.21.
480
Ibid., p.24.
481
Decreto Perfectae caritatis sobre a renovação da vida religiosa, artigos 813 e 814.
482
PINHO, J. E. B., Critérios de comunhão e construção da comunidade, p. 212.
483
PADILLA, C. R., “Uma eclesiologia para a missão integral”, p. 52.
175

material. O chamado do evangelho é um chamado para a transformação integral


que reflita propósito de Deus de redimir a vida humana em todas as suas dimensões.

Pelas vezes que este item aparece nas entrevistas pode-se constatar uma
preocupação muito grande da parte dos Pequenos Grupos, com o discipulado. Nas
100 entrevistas da PIBJC questões relacionadas com a formação espiritual dos/as
novos/as discípulos/as são mencionadas 220 vezes. É o quarto item mais citado,
vindo atrás apenas de laços primários, evangelização e participação. Na IBMC, por
sua vez, das 20 entrevistas, questões relacionadas ao discipulado cristão aparecem
23 vezes, vindo também em quarto lugar, atrás de laços primários, participação e
evangelização.
Há uma consciência muito clara por parte dos membros dos Pequenos
Grupos, quanto à importância do discipulado cristão. “Discipulado é o ponto, dois
a dois, isso cresce a igreja, isso cresce as pessoas, isso é importante, um vai
aprendendo com o outro”484. Isso tanto para o processo de formação espiritual,
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enquanto discípulo/a de Cristo, como também na visão de se capacitar pessoas para


se tornarem líderes dos Pequenos Grupos. “Aí ele passa de bebê, vai dando os
primeiros passos, ajudando a caminhar. Ele sai do bebezinho espiritual, aí ele vai
crescendo. Quando ele chegar lá no jovem, aí a gente já ‘tá com ele pronto pra fazer
um líder”. 485
Padilla486 é taxativo ao afirmar que de acordo com os ensinamentos de Jesus
Cristo, que foram práticos e paradigmáticos

a missão dos discípulos não se limitaria a ganhar convertidos para aumentar o


número de membros da igreja, mas que estaria orientada a fazer discípulos cujo estilo
de vida reproduza o exemplo de Jesus Cristo – um exemplo de amor incondicional a
Deus e ao próximo, de serviço humilde e solidariedade com os pobres, de
compromisso com a verdade e intransigência com toda forma de hipocrisia.

Essa não é uma preocupação exclusiva das Igrejas que adotaram o sistema de
células, mas é certo também que em função dos vínculos que se cria, as células se
constituem numa estratégia interessante para que esse ideal se cumpra, como se
pode ver claramente nas entrevistas feitas, cujos destaques são feitos a seguir.
Na PIBJC, que adota o sistema de células, a formação espiritual acontece
tanto no encontro da célula como também nos encontros individuais, entre

484
Cf.: PIBJC 01:32.
485
Cf.: PIBJC 05:12.
486
PADILLA, C. R., “Uma eclesiologia para a missão integral”, p. 53.
176

discípulo/a discipulador/a. No próprio encontro há um momento que é chamado de


edificação, em que, seguindo um roteiro de perguntas feitas pelos pastores da igreja,
enviadas através de uma carta pastoral semanal às células, os membros da célula
são desafiados a aplicar a mensagem que ouviram na celebração do domingo
anterior. Não se trata de um estudo bíblico e sim um momento de aplicação da
mensagem, através do compartilhamento.
PIBJC 01487 descreve esse processo, afirmando:

Vem a carta do pastor e com essa dinâmica da edificação, as perguntas são


direcionadas à nossa vida, à vida de cada um (...). Através destas perguntas que são
aplicadas, as pessoas têm, elas têm toda condição de, como que fala, de dizer das
próprias experiências.

Por sua vez, PIBJC 02 entende que é importante que haja uma continuidade
entre o que se fala na mensagem do domingo com o que será aplicado no encontro
do meio de semana. Menciona o cuidado que as pessoas têm de anotar os principais
pontos da mensagem a fim de usa-los no momento da edificação, no encontro da
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célula:

Eu anotando a mensagem ali e ouvindo, eu tenho aquilo guardado em minha Bíblia,


a mensagem que eu ouvi na celebração, aquilo que eu assistir, eu vou aplicar na
minha célula lá na quarta-feira, aquele irmão que vai fazer a edificação anotou os
pontos principais da mensagem, ele tá ali aplicando na vida dele e ele vai usar esses
pontos principais da mensagem para trabalhar os irmãos juntos na célula, o visitante
que esta ali e fazer as pessoas refletir isso na vida deles, trazendo isso para nossa
vida e depois temos o momento de evangelismo, depois da edificação. 488

Uma das pessoas entrevistadas faz questão de ressaltar que não se trata de
uma reprodução da Escola Bíblica, mas de um compartilhamento que produz
aprendizagem através de múltiplos olhares a um mesmo texto. Isso auxilia as
pessoas a entenderem melhor a Bíblia e a aplicá-la em seu cotidiano.489
No discipulado um a um o processo se dá de maneira paulatina, de tal forma
que o/a discipulador/a, através do estreitamento dos vínculos de amizade vai
compartilhando sua vida e o conteúdo da Palavra de Deus de tal forma que o/a
discípulo/a vá crescendo. PIBJC 02 coloca esse ponto como fundamental. Ele
afirma:

487
Cf.: PIBJ 01:25, 30.
488
Cf.: PIBJ 02:12.
489
Cf.: PIBJ 34:05.
177

Discipulado é o ponto. Discipulado dois a dois, isso cresce a igreja, isso cresce as
pessoas, isso é importante, um vai aprendendo com outro (...). Discipulado vai fazer
com que esse cristão amadureça, ele vai sair de tomar o leitinho e vai começar a
andar um pouquinho, você começa dar um alimento mais sólido pra ele, o
discipulado é o ponto chave do crescimento da igreja, esse cristão que você trouxe,
essa nova pessoa ele não conhece a Jesus, no momento que você começa a ensinar
pra ele desta verdade, da Palavra, ele começa a crescer e ver que vale a pena trazer
outro amigo, a alegria que ele esta sentido, que ele esta recebendo aqui e dai a
pouquinho ele começa a crescer.490

Com essa abordagem, o processo de formação denominado discipulado inclui


todas as áreas da vida da pessoa, oportunizado o compartilhamento tanto de coisas
positivas como também negativas, tanto de conquistas como também derrotas491. É
desenvolvido num contexto de vínculos tão próximos que cria confiança. Trata-se
de um “relacionamento de parceria com a pessoa, de você poder contar com aquela
pessoa, se abrir, crescer, aprender junto, poder ter alguém pra quem você possa
confessar ali, que você possa falar dos seus problemas” 492. Em função dos vínculos
que se cria, as pessoas convivem mais intimamente e crescem juntas 493.
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Há sempre o crescimento, demora às vezes, alguns vêm muito machucados, muito


feridos, tanto que eu costumo dizer que a célula é também um pronto socorro, que
você faz um diagnóstico geral lá do púlpito, mas o tratamento é feito no Pequeno
Grupo, é ali que você vai tratar, curar as feridas abertas494.

Importante ressaltar que esse processo acontece na vida, ou seja, na rotina das
pessoas. Por isso a regra é que o discipulado aconteça entre pessoas do mesmo
gênero.

A gente vai se encontrar, sempre vai ser alguém do mesmo sexo, homem com
homem, mulher com mulher e não necessariamente têm que ser um estudo bíblico
ali, pode ser uma parceria, alguns dias é claro que não sempre, mas uma parceria.
Vamos nos encontrar para lanchar e conversar ou caminhar, mas também envolve
estudos bíblicos. Às vezes nosso encontro era de cunho social, mas na maioria das
vezes era estudo. A gente seguia um livro que a igreja aqui adota que é do ministério
de igreja em células. Então a gente seguia esse livro, a gente estudava as lições
semanalmente e se encontrava para debater sobre aquilo que tinha estudado.495

No processo de discipulado um a um há também uma dimensão de cuidado


mútuo, em que cada membro da célula se responsabiliza por outra pessoa e vice-
versa.

490
Cf.: PIBJC 02:32, 33.
491
Cf.: PIBJ 39:05.
492
Cf.: PIBJC 10:15.
493
Cf.:PIBJC 53:08.
494
Cf.:PIBJC 11:07.
495
Cf.:PIBJC 32:05.
178

Hoje no Pequeno Grupo, num grupo de dez pessoas, cada um é responsável pelo
outro. Nós formamos duplas de discipulado ou parcerias, em que eu me
responsabilizo por uma pessoa, minha esposa responsabiliza por outra pessoa, o João
se responsabiliza pelo Mateus, e assim cada pessoa cuida de outra, em oração, numa
amizade, num relacionamento. Então muitas mudanças eu percebo com a
implementação do pequeno grupo. 496

Na verdade há uma diversidade de estratégias que são utilizadas para que haja
a formação do/a discípulo/a de Jesus Cristo. “Essa conscientização é trabalhada
através do púlpito, das pregações, das campanhas que a gente faz de discipulado,
na leitura de livros, filmes que a gente propõe que favorece essa ideia de cuidar uns
dos outros”.497 O discipulado acaba motivando a pessoa a buscar em outras áreas
da igreja novas opções de crescimento. “Eu passei a fazer muito mais cursos na
igreja, a me interessar mais em aprender, e contribuir também. A gente está aí a
disposição sempre pra ajudar no que for preciso, então isso abriu meu coração
mesmo pra esse sentido”498.
Visando esse processo de discipulado, há uma preocupação em que as células
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sejam compostas por pessoas vivendo diferentes estágios no processo de


amadurecimento cristão. “Tem que haver assim também uma mistura de pessoas
mais maduras com pessoas menos maduras”. 499 “Aqueles que já estão firmes na fé,
já tomaram o leitinho, já tão começando a caminhar, andar(...). Ele sai do bebezinho
espiritual, aí ele vai crescendo... Quando ele chegar lá no jovem, aí a gente já tá
com ele pronto pra fazer um líder”. 500 “A pessoa nova amadurece mais rápido, ela
entende as coisas mais rápido, ela experimenta a vida de oração, a vida de
testemunho, tem experiências com Deus muito mais rapidamente e quando cai o
outro ajuda a se levantar”501.
Há um testemunho contundente neste sentido quando alguém diz: “O
discipulado é fundamental. Sem discipulado igreja nenhuma cresce. Eu to falando
de cadeira por minha causa, porque se eu não fosse discipulada eu ia largar no meio
do caminho”.502 Outra pessoa entrevistada afirma: “Então eu comecei o discipulado
dentro da célula, que foi de extrema importância para mim”. 503 Outra mostra a

496
Cf.: PIBJC 03:11.
497
Cf.: PIBJC 03:20.
498
Cf.: PIBJC 64:16.
499
Cf.: PIBJC 01:25.
500
Cf.: PIBJC 05:20
501
Cf.: PIBJC 33:05
502
Cf.: PIBJC 05:18.
503
Cf.: PIBJC 07:08.
179

importância do Pequeno Grupo no processo de discipulado: “Foi no Pequeno Grupo


que eu pude desenvolver o lado cristão, o lado do crescimento, o significado do
relacionamento com as pessoas da igreja. Pra mim é fundamental o Pequeno
Grupo”.504
Um pastor de rede505 afirma que de algum tempo para cá a Igreja tem
enfatizado muito o discipulado cristão. Tanto que chega a afirmar que a igreja está
vivendo uma segunda transição. A primeira foi de uma igreja tradicional par auma
igreja em células e a partir da igreja em células passa a ser uma igreja que vive o
discipulado. Entende que o desafio do discipulado é quebrar paradigmas, uma vez
que a maioria dos cristãos mais antigos não foi discipulado. Pensando nisso, a igreja
está “começando um processo de discipulado a partir da equipe pastoral pra modelar
uma nova estratégia de discipulado”.506 Entende que esse processo de discipulado
tem potencial de dar origem à novas lideranças dentro da própria célula. A liderança
surge dentro da própria célula 507. O líder começa a perceber, em determinados
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membros da célula, algumas atitudes que sinalizam que tem potencial de liderança,
sobretudo pelo compromisso que demonstra ao longo do processo de discipulado.
Fazendo esta identificação, o líder passa a treinar essa pessoa na própria célula,
oferecendo-lhe espaço de liderança até que se torne líder auxiliar. Paralelo a isso,
esse líder auxiliar passa a fazer o curso de capacitação de líderes, que é oferecido
pela Igreja. Uma vez capacitado, o líder auxiliar já está pronto para assumir a
liderança de parte da célula, quando esta se multiplicar. A partir daí passa a ser
acompanhado de perto por seu supervisor e pastor de rede, recebendo outras
oportunidades de crescimento e desenvolvimento na caminhada cristã.
Através do discipulado, a pessoa é levada a fazer um compromisso com os
valores que norteiam a vida da célula, através de um pacto 508, que enfatizam a

504
Cf.: PIBJC 11:01.
505
Cf.:PIBJC 28:07.
506
Ibid.
507
PIBJC 29:13.
508
Pacto da célula composto de 10 itens: 1. O pacto de afirmação da graça – Eu escolho amar,
aceitar e edificar todos vocês de modo incondicional, assim como Cristo fez comigo. Nada do que
fizeram ou farão me impedirá de amar meus irmãos. Mesmo quando eu não concordar com suas
atitudes, a edificação no amor de Deus prevalecerá. Rm 15.7; Mt 18.21-35; Cl 3.4-15 - 2. O pacto
da honestidade – Eu não esconderei meus sentimentos a respeito de vocês, para que as nossas
frustrações não se transformem em amargura. Procurarei, no tempo do Espírito, expressar minha
honestidade de maneira amorosa e sensível. Aceitarei o risco de sofrer, pois ao falar a verdade, em
amor, é que crescemos em Cristo. Pv 27.5-6; Ez 3.16-21; Mt 18.12-20; Ef 4.15, 25- 32 - 3. O pacto
da transparência – Prometo ser uma pessoa mais aberta, falarei sobre minhas lutas, alegrias e dores
de uma forma transparente. Farei isso com intensidade, porque sei que não conseguirei nada sem
180

mutualidade, o compromisso e a transparência nos relacionamentos dentro da célula


e na vida. 509
PIBJC 87510 sintetiza sua compreensão do que sejam os objetivos das células
ao afirmar: “Eu entendo a célula como um lugar de ensino, de cuidado e de
crescimento. São essas três coisas que tenho experimentado”. Mas discipulado não
é apenas uma preocupação dos Pequenos Grupos. A PIBJC tem uma preocupação
com o discipulado.

É uma igreja em que ela, vou falar pelo meu ponto de vista, que preza muito pelo
ensino. Preza muito pela qualidade do ensino. É uma igreja que tem uma dedicação
muito grande com as crianças, com os juniores, e também com os adultos. Tem
muitos cursos. Tem muitas possibilidades de crescimento. A pessoa que 'tá nessa
igreja, de Jardim Camburi e ela não crescer, é porque ela não quer. Porque tem a
qualidade das pregações nos cultos que é muito boa. E os cursos que são oferecidos
nas escolas dominicais temáticas são muito bons, então assim, se a pessoa tiver
interesse em se desenvolver, ela tem ferramentas que a auxiliam a nisso.511

Observa-se que a igreja não está voltada apenas para o crescimento


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quantitativo, mas também para a qualidade de sua membresia, preocupada com o


crescimento de cada membro no discipulado cristão, contribuindo para que cada um

vocês. Em outras palavras, eu preciso de vocês! Rm 7.15-25; Tg 5.16-18 - 4. O pacto da oração –


Eu faço um compromisso de orar por vocês regularmente. Nosso amado Pai deseja que oremos uns
pelos outros. Não serei um ouvinte passivo, pelo contrário, escolho ser um parceiro espiritual de
caminhada, desejoso de vivenciar a situação de vocês e de ajudar a levar os seus fardos em oração.
Gn 18.16-33; Ef. 5.18; I Ts 5.16-18 - 5. O pacto da sensibilidade – Assim como eu desejo ser
conhecido e compreendido, faço o pacto de ser sensível às suas necessidades. Tentarei ouvir e sentir
o que acontece com vocês. Evitarei dar respostas simplistas às situações difíceis nas quais vocês se
encontrarem. I Cor. 12.25-27; Fp 2.1-; Cl 3.12-17 - 6. O pacto da disponibilidade – Aqui estarei se
precisarem de mim. Tudo o que tenho tempo, energia e recursos estará à disposição de vocês, até o
limite das minhas possibilidades. Ofereço essas coisas a vocês como prioridade. Mt 25.31- 46; At
2.42-47; Gl 6.9-10 - 7. O pacto da confidencialidade – Prometo guardar em segredo tudo o que for
compartilhado com o grupo, mantendo um ambiente de confiança. No entanto, isso não proíbe o
meu líder de célula de compartilhar informações necessárias com o supervisor. Creio que tanto o
líder de célula quanto o supervisor têm autoridade espiritual. Eles devem prestar contas aos pastores
da igreja que prestarão contas ao Pastor Maior: Jesus Cristo. Pv 10.19, 11.13, 13.3; Hb 13.17 - 8. O
pacto da prestação de contas – Estudarei os materiais de discipulado e treinamento, e prestarei contas
ao meu parceiro de célula. Dou a vocês o direito de me desafiar, em amor, quando estiver falhando
em alguma área. Preciso de correção e repreensão para aperfeiçoar minha vida e o ministério que
recebi de Deus. Pv 12.1, 13.18, 27.17; Ec 4.9-12; Gl 6.1-2 - 9. O pacto da assiduidade – Considerarei
como prioridade o tempo que o grupo investe semanalmente sob a mão discipuladora de Cristo. Não
impedirei, pela minha ausência, o trabalho do Espírito Santo na vida dos meus irmãos, exceto em
casos especiais, como doença, viagens ou trabalho. Se acontecer, justificarei minha falta para que
os membros da célula fiquem cientes e orem por mim. Lc 9.57-62; Hb 10.24-25 - 10. O pacto de
alcançar outros – Buscarei todos os meios, e até me sacrificarei para alcançar os que não conhecem
Cristo. Trarei duas ou mais pessoas para a célula em cada ciclo a fim de cumprir a missão de
manifestar a glória de Deus e compartilhar o Seu amor com as pessoas do meu relacionamento. Mt
28.18-20; At 1.8; I Cor 9.19-27 <http://pibjc.org/pacto-da-celula>. Acesso: 14 Jun 2016.
509
Cf.:PIBJC 92:07.
510
Cf.:PIBJC 87:03.
511
Cf.:PIBJC 100:13.
181

se desenvolva rumo à maturidade cristã, à semelhança de Jesus Cristo. E os


Pequenos Grupos constituem-se em ferramenta indispensável nesse processo.
Nas entrevistas feitas na IBMC a incidência da formação espiritual é um
pouco menor, como pode ser visto no gráfico 3. Há também algumas diferenças no
processo de discipulado entre as duas igrejas, a começar da própria dinâmica dos
encontros dos Pequenos Grupos. Na IBMC é feito um estudo bíblico durante o
encontro. Perguntado sobre os objetivos dos Pequenos Grupos, alguém disse que o
estudo da Palavra mais de perto, em que as pessoas podem tirar suas dúvidas. 512
Depois do período de louvor tem um estudo, onde uma pessoa direciona aquele
estudo e os demais participam, comentam, colocam suas opiniões. Os estudos são
providenciados pelo coordenador dos PGs.513 Neste caso, o discipulado se dá muito
através destes estudos nos próprios encontros dos PGs.
Há uma preocupação no sentido de que cada membro da igreja seja
discipulado, como afirma o coordenador geral dos Pequenos Grupos: “o cerne de
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uma igreja local, além da proclamação do Evangelho do Reino, é que todas as


pessoas sejam discipuladas e discipulem outros”514
Na prática parece que quem assume essa responsabilidade são os líderes dos
Pequenos Grupos:

A igreja sempre instrui, tem os materiais de discipulado. Às vezes por tema, às vezes
de outras formas, mas a igreja sempre tem discipulado, principalmente os líderes e
os líderes auxiliares trabalham isso com as pessoas do Pequeno Grupo. De lá
qualquer dúvida que surgir depois das mensagens, durante o estudo em si, as dúvidas
podem ser tiradas. Assim como depois que surgirem, momentos que a vida traz
acerca daquele assunto. Você tem pessoas que você pode contar e o líder
principalmente, vai ta discipulando com esse sentido. 515

Note-se que aqui são principalmente os líderes que fazem o trabalho de


discipulado, através dos encontros dos Pequenos Grupos, embora os líderes do
processo reconheçam a necessidade de envolver todos os membros no discipulado
cristão.
Há um reconhecimento de que o PG contribui para o crescimento da igreja,
tanto quantitativo como qualitativo, fortalecendo-a.516 Além disso, a Igreja utiliza

512
Cf.: IBMC 07:10.
513
Cf.:IBMC 05:14:12.
514
Cf.:IBMC 05:14.
515
IBMC 04:20.
516
IBMC 11:05.
182

uma estratégia diferenciada em termos de formação espiritual de sua liderança.


Trata-se de um encontro denominado RELIDER, ou seja, reunião de liderança, que
acontece aos domingos pela manhã. Essas reuniões são periódicas e anualmente
acontece um grande evento com este nome, envolvendo todos os líderes da Igreja.517

4.2.2.11.
Integração (comunhão) das gerações

Outro valor de destaque na eclesiologia de comunhão é o respeito e o apreço


pelo outro, pelo diferente, pela diversidade. Um desses aspectos é a interação entre
as gerações, que contribui para a transmissão de valores do Reino de Deus e a
humanização das pessoas. Sendo a Igreja o povo de Deus, precisa contemplar e
conectar pessoas de todas as culturas, condição social, gênero e idades.
Embora se reconheça o desafio para que haja comunhão entre as gerações em
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função dos conflitos naturais que acontecem entre pessoas de diferentes idades,
sabe-se que é perfeitamente possível e desejável uma convivência pacífica e
harmoniosa entre as gerações, até para que cada geração cumpra sua missão, que
segundo Rosa518 é tríplice. Ele afirma que é tarefa de cada geração servir-se das
experiências válidas do passado, enriquecer esse patrimônio herdado mediante
ações conscientes e responsáveis e abrir linhas de frente que serão exploradas pelas
gerações futuras. “Assim, o ciclo evolutivo do espírito humano prossegue
indefinidamente”.519 Além disso, “é tarefa de cada geração preparar seus
substitutos, os líderes que tornarão possível o progredir da humanidade”. 520
Claro que é preciso que cada geração deve manter uma atitude crítica perante
a realidade histórica, para que a presente geração seja atualizada e corrija os erros
cometidos pelas gerações passadas. Entretanto, isso precisa ser feito com muito
cuidado, sem a necessidade de um desmonte ou uma desconstrução de tudo o que
se conquistou até o presente momento. É preciso identificar os pontos herdados das
gerações passadas, sempre tomando como referência os valores do Reino de Deus
e contribuir, através de uma fé engajada, com participação responsável, para que o

517
IBMC 01:07 e 05:09.
518
ROSA, M., A família e os desafios de um novo tempo, p.127-128.
519
Ibid.
520
Ibid.
183

venha o Reino de Deus hoje e amanhã, mais do que veio ontem. Para tanto, é
indispensável que se reconheça o caráter dinâmico do processo histórico,
entendendo que “na vida humana e na sociedade nada existe de permanente ou
eterno. Tudo muda, tudo se transforma”. 521 Daí a necessidade de uma educação para
as mudanças, pois elas são inevitáveis e muitas vezes necessários para o progresso
da humanidade. Mas isso precisa ser feito com atitude de mente aberta para o
diálogo. É necessário que indivíduos de diferentes idades tenham a capacidade de
comunicação pessoal e efetiva, com disposição mútua de ouvir o outro.
No contexto dos Pequenos Grupos essa postura de respeito consciente ao
passado e desejo de mudança do presente e do futuro é fundamental. Não dá para
imaginar o bom funcionamento dos Pequenos Grupos se não houver disposição de
quebrar alguns paradigmas que se estabeleceram ao longo dos séculos na Igreja de
Jesus Cristo. Para que haja reconfiguração eclesial necessário se faz que haja
disposição para mudanças, não apenas de questões periféricas, mas de questões
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mais profundas, de base. Mas isso não pode ser algo imposto pelas novas gerações,
mas algo que se dê pelo diálogo, comunhão e entendimento.
Para tanto, o processo de transição de uma Igreja que não adota os Pequenos
Grupos para uma Igreja que o faz, precisa ser feito de maneira muito criteriosa e
cuidadosa. Essa é a preocupação demonstrada pelos pastores presidentes das duas
igrejas pesquisadas. O pastor presidente da PIBJC 522 entende que todo o processo
precisa ser iniciado pelo pastor da igreja. Como se trata de mudança de paradigmas,
é necessário que se inicie pelo líder da Igreja, que vai conduzir o processo sem
pressa e sem precipitação a fim de não machucar a Igreja. O pastor deve estar bem
consciente do que está fazendo, estudar em profundidade os materiais, fazer todo o
treinamento necessário para ganhar condições de conduzir o processo com
segurança, sabendo para onde vai conduzir o rebanho. Também o pastor presidente
da IBMC523 ressalta a importância dos Pequenos Grupos para a Igreja, mas alerta
para o cuidado que se deve ter na sua implantação.
Os membros entrevistados mencionaram a integração das gerações com
incidência muito parecida. Na PIBJC a categoria aparece 80 vezes em 100

521
Ibid., p. 132.
522
Cf.: PIBJC 30:13.
523
Cf.: PIBJC 01:24.
184

entrevistas, ao passo que na IBMC 14 vezes em 20, como pode ser visto no gráfico
3.
PIBJC faz menção de famílias reunidas524. Afirma que em sua célula
participam adultos, jovens, adolescentes e crianças525. A essa presença de pessoas
de diferentes idades dá-se o nome de gerações integradas526. As crianças participam
do encontro com os adultos até o momento da edificação. Então elas são conduzidas
para outro ambiente onde recebem ministração numa linguagem compatível 527. As
crianças têm espaço na célula, pra falar, para orar, pra louvar e a crescer nesse
ambiente, de estar juntos, de buscar a Deus juntos.528 Ainda sobre o espaço que as
crianças tem nas células alguém disse que

as próprias crianças, hoje se veem como evangelistas dentro da escola. Se veem


como parte do corpo. As crianças antes se sentiam fora do corpo. E hoje as crianças
atuam dentro da célula. A gente tem um momento que a gente chama de quebra gelo,
que as crianças podem participar. Então, as crianças fazem os quebra gelos, elas
lideram. Elas se sentem parte integrante importante. Há um momento familiar
importante. Você não vê só os adultos querendo ir pra igreja, querendo ir pra célula.
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Você vê toda a família querendo se envolver na célula. Então você vê a célula


impactando famílias. Famílias impactando a célula. E vice e versa. E assim também,
por consequência, a igreja. Então isso é muito bom529.

Há uma consciência clara da importância desta comunhão e conexão entre as


gerações para o futuro da igreja em células e o êxito dos Pequenos Grupos.

A gente precisa ter a visão honradamente, a visão do futuro, o futuro pra mim é hoje,
é agora, eu e você aqui conversando, porque amanhã, a Palavra de Deus diz não
pertence a nós, mais eu preciso como igreja pensar que tem pessoas que estão sendo
trabalhadas pro futuro da igreja que são as crianças, essa visão precisa estar inserida
no coração deles, precisa dos novos pais, novas famílias que vão surgir, a igreja
precisa continuar avante, precisa o foco precisa estar na cruz, a igreja não pode tirar
o foco da cruz, é preciso estar focado, esse é o proposito530.

Segundo relato de uma entrevistada, essa integração de gerações tem


acontecido de maneira natural e edificante na maioria dos casos. Ela compartilha
como essa integração fez bem pra ela no processo de discipulado: “Logo que entrei
na célula, meu líder, a gente tinha uma diferença de cinquenta anos de idade, mas

524
Cf.: PIBJC 02:12.
525
Cf.: PIBJC 02:23.
526
Cf.: PIBJC 03:12..
527
Cf.: PIBJC 03:17.
528
Cf.: PIBJC 37:09.
529
Cf.: PIBJC 97:15.
530
Cf.: PIBJC 02:36.
185

foi interessante porque dentro da célula, sendo discipulado nessa parceria, ele me
ensinava bastante coisa e ele também podia aprender algumas coisas comigo”531.
Um determinado líder 532 compartilha que já participou de células só de jovens
e também de células mistas e prefere a segunda opção em virtude da troca de
experiências, pessoas mais velhas que viveram coisas diferentes do que as jovens
viveram podem dividir com elas e ensiná-las muitas coisas, ao mesmo tempo que
podem também aprender com a nova geração muitas coisas que são peculiares a
esta geração como as novas tecnologias, por exemplo. Neste caso, a comunhão de
pessoas de idades diferentes trouxe benefícios através da troca de experiências e de
visões de mundo, uma vez que, segundo Machado de Assis, “cada homem vê o
mundo com os olhos da sua idade”. 533 A grande maioria dos/as entrevistados/as vê
a presença de pessoas de idades diferentes como algo positivo. É o caso de uma
célula de jovens e adolescentes mesclada.

Nós somos em oito, são cinco jovens e três adolescentes, e apesar da idade ser
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bastante diferente, o mais velho tem vinte e cinco e o mais jovem tem quatorze, só
que o vinte e cinco e o quatorze conversam de igual pra igual, a gente participa tanto
com os menores, fazendo coisa pra eles quanto eles conversam cabeça com a gente,
então acho que a minha célula, graças a Deus é um link muito aberto, a gente
conversa sobre tudo. 534

Na PIBJC há uma diversidade de células, que são organizadas de acordo com


a necessidade de cada uma. Normalmene a integração de gerações é vista como algo
positivo. Falando sobre os riscos de uma fragmentação entre as gerações, um pastor
de rede afirma:

A gente percebe que em alguns casos é importante isso acontecer pra crescimento,
pra maturidade mesmo das pessoas, é importante. Agora nem todos os casos, como
nós temos células que tem gerações integradas tem grupos que os adolescentes estão
com os pais, tem pessoas mais idosas também, tem bebês de colo, tem isso também,
mas se separar demais sem nenhuma conexão, porque alguma conexão tem que ter,
às vezes não dentro da própria célula, mas na supervisão tem alguma conexão,
porque a ideia de que a célula de adolescentes, por exemplo, não seja o adolescente
que lidera os adolescentes, e sim o adulto que vai liderar o adolescente. Então isso
facilita também a integração desse adolescente com os adultos, com pessoas mais
maduras.535

531
Cf.: PIBJC 32:04.
532
Cf.: PIBJC 38:13.
533
ASSIS, M., A mão e a luva, p.66.
534
Cf.: PIBJC17:04.
535
Cf.: PIBJC29:15.
186

Um entrevistado chega a afirmar que o que ele mais aprecia na célula é


exatamente a possibilidade de entrar em contato com pessoas tão diferentes.
Perguntado sobre o que mais gosta na célula ele é taxativo:

A diversidade de pessoas São cabeças diferentes, principalmente minha célula hoje


são pessoas muito diferentes, de culturas muito diferentes, estilos diferentes, mas
quando a gente tá junto é como se a gente fosse o corpo. A gente consegue ter essa
harmonia, essa comunhão, falando da Palavra de Deus, numa só direção, num só
pensamento. Muitas vezes alguns têm uma opinião diferente, lógico, mas a base é
sempre a mesma. 536

Um jovem de apenas 24 anos descreve toda sua trajetória na experiência com


célula. Ele afirma:

A célula me abençoa muito. Nesses anos eu saí da célula de jovens, como eu falei no
início, e fui pra célula da minha mãe, uma célula de adultos, e na célula de adultos
você começa a ter uma visão de outras coisas. Eles compartilham muita coisa de
como é a vida a dois, no casamento. E depois eu passei pra uma célula de
adolescentes, e hoje eu estou numa célula de jovens, ajudando as pessoas que
chegaram assim como eu cheguei. Então eu me vejo em cada pessoa que entra na
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porta da casa que eu estou, da sala que eu estive pela primeira vez. A pessoa chega
como eu cheguei, meio assustada, com medo, sem saber o que ela pode esperar ali,
e o mínimo que eu posso fazer além disso é lhe dar um abraço, conversar com a
pessoa, e fazer o que fizeram comigo, me acolher. 537

É dito que atualmente os critérios para a organização dos grupos estão bem
flexíveis em termos de idade. Tem redes mais voltadas para adolescentes, outras
para jovens, casais, pessoas mais idosas, mas isso não impede que haja uma mescla
na formação dos grupos.538
O pastor presidente afirma que a igreja tem tido a preocupação de manter o
link com as pessoas mais idosas, que fazem parte da Igreja, pessoas que tem uma
história de vida na comunidade. Para tanto, mantém-se hinos na ordem das
celebrações públicas. 539 “Vem de todos os jeitos, porque é uma forma deles
conviver com todas as pessoas também, crescer e ver que tem todos os problemas
de modo geral”540 aprendendo a amar, a respeitar as diferenças, enriquecendo o
aprendizado.541

536
Cf.: PIBJC67:02.
537
Cf.: PIBJC67:17.
538
Cf.: PIBJC34:09.
539
Cf.: PIBJC30:08.
540
Cf.: PIBJC11:12.
541
Cf.: PIBJC42:01.
187

Claro que nem tudo é tão simples assim. Há também quem veja dificuldades
na comunhão entre as gerações integradas.

Eu acredito que depois que virou só célula de adolescentes, células de jovens, ou


células de famílias, eu acho que a igreja mais se acertou. Porque às vezes os filhos
não queriam falar, se abrir perto dos pais por causa daqueles bloqueios e os pais, às
vezes não sei se queriam falar algumas coisas perto dos filhos. Acho que algumas
células separadas e algumas juntas, eu acho que mesclou e deu certo. 542

Outro aspecto destacado são as dificuldades que são encontradas quando da


multiplicação das células. Cada líder tem seu estilo e quando acontece a
multiplicação, corre-se o risco de se fazer comparação dessas lideranças, seus
estilos, e isso pode trazer problemas para a comunhão dentro da célula.543
Sobre comunhão com o diferente e o impacto das células na celebração é dito
o seguinte:

Não sei, eu acho que, não sei se é isso, mas pelas experiências que eu tenho, não sei
se é isso, mas eu acho que une mais sim, então, quando o corpo ta mais unido, eu
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acho que tudo funciona de uma forma diferente, e é um corpo unido, são muitas
pessoas que pensam as vezes diferente, e que as vezes, eu acho muito legal, eu acho
muito bonito no culto que tem pessoas que tem atitudes diferentes das outras, um
gosta de louvar com a mão pra cima, outro gosta de ficar quietinho, outro gosta de
dar gloria a Deus durante todo o culto e o outro não, mas ninguém se importa com
isso, ninguém fica reparando no outro, a liberdade, eu acho que é isso, a liberdade e
eu acho que isso a célula tem uma força muito grande. 544

Pode-se entender porque é possível a comunhão entre pessoas tão diferentes.


É porque há um respeito e um desejo muito grande de entender o/a outro/a, o que
ele/a pensa, pois apesar de haver pensamentos tão divergentes, Deus é um só545, e
é ele que conecta as pessoas, independente de idade ou outro qualquer fator é a ele
que se deseja agradar.
Na IBMC são usados critérios diferentes. Pelo que se pode observar, lá é mais
comum os Pequenos Grupos organizados por faixa etária e por interesses. Como
afirma o pastor presidente: “nós temos grupos de faixas etárias, adolescentes,
jovens, como nós temos grupos também de mulheres, grupos de homens” 546. A
presença de crianças entre adultos parece causar constrangimento e dificuldades

542
Cf.: PIBJC12:12.
543
Cf.: PIBJC27:04.
544
Cf.: PIBJC16:18.
545
Cf.: PIBJC 24:05.
546
Cf.: IBMC 01:06.
188

para o funcionamento dos Pequenos Grupos547, sobretudo quando os pais não


estabelecem limites para o comportamento dos filhos548, o que acaba atrapalhando
o estudo. Mesmo havendo grupos mistos, com a presença de homens, mulheres,
casais, jovens, crianças, isso é colocado como um fator que trás dificuldades para
os encontros.549 Ainda assim, quando é possível, faz-se o momento de cânticos
juntos e depois são divididos em crianças adultos, jovens e adolescentes. 550
Saindo do âmbito das gerações, também na IBMC há comunhão entre as
pessoas com características diferentes. O Pequeno Grupo contribui para que tudo
fique harmonioso.

Existem diferenças sociais, diferenças financeiras, de parte cultural, de estudo e tudo.


Mas o Pequeno Grupo faz com que todo mundo se sinta igual. Porque pra Deus todo
mundo é igual. Aqui mesmo no nosso Pequeno Grupo tem pessoas que são bem de
vida, outras pessoas que não são bem de vida. Tem pessoas que no lar são bem
sucedidas tem outras que não são. Mas aqui todo mundo se sente igual, ninguém se
sente inferior. Então, o Pequeno Grupo é como se fosse igual o corpo de Cristo. O
Pequeno Grupo todo ele me dá uma unificação, uma homogeneidade. 551
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Como afirma Zoghby:

Foi-se o tempo em que a sociedade civil e religiosa julgava a diversidade


incompatível com a unidade. Os homens de todas as raças, de todas as cores e de
todas as religiões começam a acreditar na fraternidade universal e a renunciar ao
espírito separatista, fanático e sectário da Idade Média.552

Uma nova era de diálogo começou entre os povos do mundo. Mais do que
nunca a sociedade contemporânea é dialogal e os/as discípulos/as de Jesus Cristo
tem todas as razões imagináveis para adotar uma postura de abertura para o diálogo
com o diferente. Os Pequenos Grupos constiem-se numa ferramenta adequada para
isso.

547
Cf.: IBMC 02:10.
548
Cf.: IBMC 11:08.
549
Cf.: IBMC 05:04.
550
Ibid.
551
Cf.: IBMC 14:17.
552
ZOGHBY, E., “Unidade e diversidade da Igreja”, p.573.
189

4.2.2.12.
Comunhão com Deus

Toda a base da eclesiologia de comunhão está fundamentada na comunhão da


Trindade entre si e com a sua criação. O ser humano passa a ser desafiado a
aprofundar o seu relacionamento com Deus. O que se queria investigar era até que
ponto os Pequenos Grupos contribuem para que se passe de um Deus distante para
um Deus próximo, ou seja, até que ponto os Pequenos Grupos interferem na ideia
que as pessoas têm de Deus e afetam o seu relacionamento com Ele.
A incidência deste valor nas entrevistas da PIBJC foi bem significativa. Em
100 entrevistas, houve menção da comunhão com Deus 188 vezes. Na IBMC, em
20 entrevistas, comunhão com Deus foi mencionada 27 vezes, o que significa o
quinto valor mais mencionado na PIBJC e o terceiro na IBMC.
A própria dinâmica dos encontros dos Pequenos Grupos553 contribuem para
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que seus membros cultivem um relacionamento mais íntimo e profundo com Deus,
tanto na PIBJC como também na IBMC. Nos encontros das células há um momento
denominado exaltação, onde tudo é voltado para Deus. As músicas cantadas trazem
letras que destacam os atributos de Deus, as orações são de exaltação, os textos
bíblicos lidos também exaltam a pessoa e a obra de Deus. Nos encontros dos
Pequenos Grupos da IBMC são realizados estudos bílicos que visam aprofundar a
comunhão com Deus.
A busca de maior intimidade com Deus, aprofundamento do relacionamento
com Deus, crescimento em Cristo, foram expressões utilizadas que mostram a
importância das células na comunhão com Deus: “Acho que a célula existe pra isso,
pra levar as pessoas a viver em Cristo, a viver um estilo de vida que tenha
centralidade em Cristo e na Palavra de Deus. E aí a gente vai resumir isso com um
verbo, adorar, adoração como um estilo de vida”554.
Esta ênfase no relacionamento com Deus tem levado as pessoas a adorar a
Deus de maneira diferente, “de forma mais limpa, mais pura, mais espiritual”. 555
Perguntado sobre o que mudou na igreja a partir da implantação das células, alguém

553
Cf.: PIBJC 62:08.
554
Cf.: PIBJC 22:05.
555
Cf.: PIBJC 39:11.
190

disse que “ela se tornou uma igreja mais viva, mais vibrante, uma igreja mais
voltada pra Deus mesmo, que as pessoas começaram se transformar, eu acho que
houve até mais focadas em Deus realmente”556. Note-se que é dito que a própria
Igreja como tal melhorou o seu relacionamento com Deus em virtude da existência
das células.

A igreja tem se sensibilizado mais com a presença de Deus, quer dizer, os Pequenos
Grupos tem trago cura, tem trago libertação, tem trago conhecimento, tem trago sede;
e isso tem resultado nos encontros de domingo, até mesmo em outros momentos da
igreja, uma sensibilidade maior com o Espírito Santo, com a presença de Deus, uma
intimidade maior com o Senhor, uma santidade, possibilitando a presença de Deus,
possibilitando falar do Espírito, uma liberdade maior 557.

Através das células, a igreja passou a experimentar um crescimento


quantitativo e qualitativo, onde os membros são desafiados a buscar mais
intimidade com Deus, mais profundidade na sua vida espiritual e não serem só
cristãos domingueiros, que participam dos cultos apenas, mas que vivam juntas e
estejam mais íntimas com Deus. 558
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Essa maior intimidade com Deus é percebida também na vida dos pastores,
tendo sido eles mesmos mais submissos à vontade de Deus, permitindo a direção e
a ação de Deus sobre suas vidas e a vida da Igreja559. Um pastor de rede confirma
isso afirmando que a célula fez com que ele percebesse

a necessidade de ouvir a voz de Deus (...). A minha vida devocional foi elevada a
outro nível, porque eu entendi que a vida devocional não significava apenas cumprir
uma meta de leitura bíblica e um ritual de oração, mas eu precisava ter um
relacionamento dinâmico com Deus, e que implicava fundamentalmente em buscar
ouvir a voz de Deus. E isso a igreja em célula trouxe pra mim, a busca por ouvir a
voz de Deus, o exercício de aprender a ouvir a voz de Deus e de receber direção para
minha vida, então o relacionamento se tornou interativo.560

Não somente os pastores, mas várias pessoas entrevistadas mencionaram


como as células trouxeram nova dinâmica em seus próprios relacionamentos com
Deus naquilo que é chamado de quarto de escuta, um tempo separado
sistematicamente para oração, leitura da Bíblia e reflexão 561. A vantagem deste tipo

556
Cf.: PIBJC 01:15.
557
Cf.: PIBJC 07:14.
558
Cf.: PIBJC 29:17.
559
Cf.: PIBJC 08:14.
560
Cf.: PIBJC 28:02.
561
Cf.: PIBJC 06:25, 31:19, 65:04. 79:10.
191

de espiritualidade é que não se restringe a um lugar ou dia da semana, mas se


estende pela vida, como é testemunhado por alguém:

Você não vem na igreja só no domingo, e durante a semana você esquece e põe a
Bíblia lá. Você tem durante a semana o encontro onde você incentiva diariamente a
leitura, incentiva diariamente a comunhão com Deus. Então o domingo é uma
continuidade daquilo que já aconteceu durante a semana562.

Isso acontece, sobretudo na PIBJC, em que o mesmo texto utilizado na


celebração do domingo é também usado no encontro da célula, cujos ensinamentos
são aplicados de maneira bem objetiva na experiência de cada participante.
A presença de Deus é bastante destacada nos encontros das células. Isso fez
com que as pessoas percebessem a proximidade de Deus, não somente um Deus
distante, mas um Deus presente, que age no meio do seu povo563.
Há uma ênfase muito grande na prática da oração, tanto nos encontros das
células como também nas celebrações e na vida dos membros. Correntes de oração
são formadas quando acontece algo na vida de alguém da célula e isso tem sido algo
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inspirador. “Saber que tem um grupo dedicado à oração quando de alguma


necessidade específica fez toda a diferença 564 na vida das pessoas que pertencem às
células. Em função da afinidade e da preocupação que há entre os membros das
células com as dificuldades uns dos outros, correntes de oração são acionadas para
interceder quando alguém está passando por alguma dificuldade específica 565. Esse
envolvimento em oração é compartilhado e através do compartilhamento das
experiências vividas com Deus, vendo como Deus age na vida das pessoas, vidas
são edificadas e desafiadas a conhecer a Deus mais profundamente.566 Os
depoimentos sobre ênfase na oração são muitos:

A gente ora bastante mesmo. Leva as pessoas a orar, a clamar a Deus sabendo que
ele é Pai. Que ele realmente opera. E na nossa célula nós temos muitos, alguns
milagres que já aconteceram. E as pessoas podem ver mesmo o agir de Deus, seja
milagre em saúde, seja restauração de família. Então, pessoas que estão na depressão
e se levanta, depois de um longo período. E eles veem esse manifestar de Deus, e
quando as pessoas veem, não pelo que falam, mas quando vê operando, realmente. 567

562
Cf.: PIBJC 97:11.
563
Cf.: PIBJC 14:07, 19:07, 22:09, 52:04.
564
Cf.: PIBJC 03:05.
565
Cf.: PIBJC 05:23.
566
Cf.: PIBJC 10:04, 55:07, 63:01.
567
Cf.: PIBJC 68:21.
192

É feita uma comparação com o tempo em que a Igreja realizava um culto de


oração, em seu auditório, às quintas-feiras, prática muito comum nas Igrejas da
Convenção Batista Brasileira configuradas numa estrutura tradicional.

Eu vejo que há um crescimento espiritual maior sim. Eu vejo que há um crescimento,


porque entendem melhor. Antes era aquele encontro na quinta-feira, de oração, por
exemplo. Eram aquelas poucas pessoas. Na célula não. São pessoas que toda semana
estão ali, raramente não estão todos na célula. Quem falta é porque tem alguma
situação, mas fora isso, não. Então eu vejo que há um crescimento realmente. 568

Na realidade das células, são muitas que se encontram em vários dias da


semana, em vários lugares, dedicando-se à oração e desenvolvendo intimidade com
Deus. Entretanto, um líder de célula alerta para o fato de que “o meu relacionamento
com Deus independe da célula”569, ressaltando, porém, que através da célula isso é
facilitado em função de tudo o que já foi dito acima.
Outro aspecto interessante destacado é a dinâmica diferente que as células
trouxeram nas celebrações da PIBJC.
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Na igreja o que produziu foi um crescimento maior, foi uma interação maior do povo
em si, povo em célula. A gente sente que o povo fica mais a vontade pra se expressar.
Até a forma de ser, de se portar dentro da igreja, que era um negócio muito
engessado. Hoje não, hoje o povo se sente a vontade, se sente livre pra se expressar,
pra adorar a Deus. Bem diferente do que era antes. 570

Alguns classificam essa experiência de avivamento. É assim que entende um


membro571 de célula que entende a igreja em busca de um avivamento. Ele não se
vê pentecostal, nem com ideia pentecostal, mas anseia e vê que a igreja está à
procura de um genuíno avivamento. Entende que as células são importantes nessa
busca por avivamento. Outro membro de célula corrobora com essa ideia,
entendendo que “hoje a gente consegue deixar o Espirito Santo de Deus agir mais
no meio dos louvores, no meio do culto e isso tem sido maravilhoso 572.
Na IBMC a grande ênfase recai sobre os cinco propósitos573 e não sobre os
Pequenos Grupos. Isso, entretanto, não diminui sua importância para a vida da
Igreja, nem tampouco enfraquece sua relevância na busca de comunhão com Deus.
Como afirma um dos entrevistados: “O meu relacionamento com Deus veio só a

568
Cf.: PIBJC 68:17.
569
Cf.: PIBJC 88:05.
570
Cf.: PIBJC 91:05.
571
Cf.: PIBJC 94:12.
572
Cf.: PIBJC 98:09.
573
Comunhão, adoração, discipulado, evangelismo e serviço. Cf.: IBMC 01:01
193

crescer no sentido da comunhão com o corpo, no sentido do aprendizado, de


experiência”574.

Aprofundou o relacionamento com Deus. Esse livro também, Conhecendo Deus e


fazendo sua vontade575, foi um livro assim, que a gente estudou. A temática dele é
que Deus está agindo sempre ao nosso redor e a gente tem que descobrir onde ele
está agindo. Então a gente fica mais sensível à ação de Deus 576.

O PG tem incentivado as pessoas a orar e mais ler mais a Bíblia 577, buscar
mais intimidade com Deus e isso tem feito muita diferença na vida de seus membros
e na vida da Igreja de um modo geral. Há também a oração intercessória, uns pelos
outros, e isso cria um laço mais forte de comunicação com Deus 578.
Uma pessoa que foi líder de PG teve uma experiência interessante. Deixou
seu Pequeno Grupo e visitou todos os PGs da Igreja. E nessas visitas constatou que
“esses PGs tem uma sede de Deus tão grande. Eu senti esses PGs com uma
necessidade tão grande de ter gente ali ajoelhando com eles, intercedendo com
eles”579.
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Embora a dinâmica dos encontros dos PGs na IBMC seja diferente da


dinâmica das células na PIBJC, a questão do louvor e da adoração é um dos pontos
em que ambos se assemelham. Uma dos momentos indispensáveis num encontro
de PG é o momento de louvor e adoração a Deus580. Perguntado sobre a influência
do PG sobre sua vida alguém respondeu:

Primeiro temor a Deus, que é Provérbios 14, 26 e 27. O temor a Deus é seguir os
dez mandamentos direitinho. Andar em comunhão com Deus. Porque eu aprendi
através do Pequeno Grupo, que inclusive, que um segundo que você se irar contra
seu irmão, você já deu uma brecha pro inimigo. Então, o temor a Deus é muito
importante. Você ser temente a Deus. E eu estou usando, aprendi também usar os
momentos de fraqueza, as decepções da vida, que a gente não tá livre disso, pra usar
isso como crescimento espiritual. Graças a Deus eu estou sentindo que eu estou com
essa sabedoria. Eu estou trabalhando muito minha mente no sentido de me esvaziar
de exigência. Todo dia peço a Deus pra me dar renovo espiritual. 581

574
Cf.: IBMC 02:05
575
Nos PGs da IBMC acontecem estudos bíblicos. Este foi um dos livros estudados durante os
encontros dos grupos.
576
Cf.: IBMC 13:04.
577
Cf.: IBMC 16:16.
578
Cf.: IBMC 16:21.
579
Cf.: IBMC 07:03.
580
Cf.: IBMC 08:12.
581
Cf.: IBMC 14:06
194

Disse também que aprendeu a ser dependente de Deus em tudo582, inclusive


para participar da entrevista, orou a Deus pedindo sabedoria. Torna-se evidente que
os Pequenos Grupos contribuem de maneira relevane no aprodundamento da
comunhão com Deus, elemento fundamental na eclesiologia de comunhão.

4.3.
Questões decorrentes dos Pequenos Grupos para a reconfiguração
eclesial batista

A eclesiologia batista sempre primou pela autonomia das igrejas locais no que
tange à definição de sua estrutura de funcionamento, filosofia de ministério e outras
questões relacionadas à comunidade local. Entretanto, é notório que as igrejas que
adotam os Pequenos Grupos em sua configuração funcionam de maneira diferente
daquelas que não o fazem. A seguir serão apresentadas e analisadas as
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configurações das duas igrejas pesquisadas, que certamente representam as demais


que adotam os Pequenos Grupos.

4.3.1.
Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi

Serão apresentados aqui alguns depoimentos em que se observará a percepção


que os membros da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi entrevistados têm da
repercussão das células na configuração da igreja.
Indagada sobre as mudanças que as células produziram na Igreja a PIBJC 01
afirmou que houve uma abertura, uma leveza na igreja, pois as pessoas ficaram mais
alegres, mais felizes. Elas passaram a se comunicar melhor e a aprofundar seus
relacionamentos tornando a igreja uma igreja “muito mais leve” 583. Entende que
houve uma participação maior dos membros da Igreja. Menciona que os
supervisores e os líderes de células tem uma participação mais ativa nas decisões
da Igreja584. Mais do que isso, destaca que nos encontros das células não é só o líder

582
Cf.: IBMC 14:16
583
Cf.:PIBJC 01:09.
584
Cf.:PIBJC 01:21.
195

que fala, que decide, mas os membros das células também “tem o direito de decidir,
de falar, de opinar”585. Há aqui uma identificação com o que Miranda 586 afirma
sobre a participação dos membros da Igreja:

Sem dúvida o futuro reserva um protagonismo cada vez maior aos leigos e às leigas
no inteiro da Igreja no que diz respeito ao ensino, à santificação e ao próprio governo
da comunidade. Mas para isso temos que mudar nosso modo de estar na Igreja, temos
que lutar por um espaço de liberdade, temos que criar novas estruturas. É o que Deus
pede de nós neste momento histórico.

Ainda para a entrevistada acima mencionada, que é líder de célula, essa


reconfiguração tornou a “igreja mais relacional, porque tem mais comunhão” 587.
PIBJC 02, por sua vez, destaca a importância do líder conhecer bem o seu papel na
dinâmica da célula. Segundo ele, o líder deve ser apenas um facilitador. “Ele não
pode ser um dominador, ele não pode ser o cara que detém tudo pra ele (...). Tem
que ser o cara que faz a ponte”588 para que as pessoas superem os abismos e se
encontrem.
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PIBJC 03 acredita que a célula trouxe uma nova estrutura de organização para
a Igreja. Antes organizada em torno de ministérios com ênfase em faixas etárias
diferentes, com as células “surge uma ideia de grupos familiares” 589 trabalhando
com gerações integradas. Hoje a ênfase da Igreja está na célula. Tudo gira em torno
da célula. PIBJC 06 chega afirmar que hoje “a igreja não faz mais eventos que as
células não estejam envolvidas, as coisas que acontecem na igreja são provenientes
das células”590. “A célula é realmente a unidade fundamental da estrutura da
Igreja591. E cada célula tem um líder e um líder auxiliar. Quando a célula cresce e
se multiplica, o líder fica com um grupo e o líder auxiliar com o outro, dando início
a um novo processo, semelhante ao que aconteceu no primeiro grupo. Um grupo de
células forma uma supervisão e um grupo de supervisões forma uma rede. Hoje a
igreja funciona por redes e conta também com um pastor geral que supervisiona
todo o trabalho através dos pastores de rede592. Para esse acompanhamento
acontecem encontros mensais entre o pastor geral e os pastores de rede, pastores de

585
Cf.:PIBJC 01:29.
586
MIRANDA, M. F., Inculturação da fé, p.12.
587
Cf.:PIBJC 01:51.
588
Cf.:PIBJC 02:22.
589
Cf.:PIBJC 03:12.
590
Cf.:PIBJC 06:09.
591
Cf.:PIBJC 22:05.
592
Cf.:PIBJC 03:12.
196

rede e supervisores, supervisores e líderes e semanalmente os líderes se encontram


com suas células593. Como há uma cultura de pastoreio entre os líderes, estes se
tornam pastores de pequenos rebanhos que, juntos, formam a Igreja. Há também a
ideia de pastoreio mútuo, do compromisso um com o outro 594 e isso tudo acontece
com intencionalidade. Há uma estrutura de cuidado que acontece através das
células595.
PIBJC 06 entende que a Igreja hoje está mais aberta, funciona mais aberta.
Os canais de comunicação entre os membros e a liderança estão abertos. Com as
células os membros tem a oportunidade de se expressar, falar de sua dor, de sua
decepção, de sua alegria. No culto só um fala, mas nas células todos tem a
oportunidade de falar, de expressar de suas angústias e realizações596. Segundo
PIBJC 07 as células trouxeram de volta a ideia de que cada discípulo de Jesus é um
ministro. PIBJC 28 chega a dizer que a doutrina do sacerdócio universal dos crentes
é muito querida no meio Batista, mas que tinha dificuldades de praticar isso e levar
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outros a praticarem isso antes de conhecer a visão celular. As células oferecem


espaço para a prática desta doutrina 597. É verdade que o pastor tem uma função
muito importante na igreja, mas no contexto da célula ele se submete e permite ser
ministrado pelos membros da célula. Há, neste caso, uma descentralização de poder
no que tange à ministração da Palavra através do exercício da mutualidade 598. Claro
que isso também representa riscos e perigos para a Igreja de Jardim Camburi. PIBJC
10, por exemplo, testemunha de que ele e a esposa tiveram experiências traumáticas
na liderança da célula e ele atribui isso à falta de preparo quando assumiu a liderança
da célula.
É tido por várias pessoas entrevistadas que a célula trouxe uma
descentralização do dia dos encontros. PIBJC 17, por exemplo, afirma que sentia
falta da igreja durante a semana, que só o domingo era pouco para ela e que a célula
veio suprir essa necessidade que ela sentia 599. PIBJC 23, por sua vez, entende que
a célula permitiu uma inserção maior da igreja na comunidade tendo em vista que
ela acontece a semana inteira, em vários locais da cidade e até mesmo em cidades

593
Cf.:PIBJC 03:16.
594
Cf.:PIBJC 22:05.
595
Cf.:PIBJC 30:05.
596
Cf.:PIBJC 06:29.
597
Cf.:PIBJC 28:01 e 04.
598
Cf.:PIBJC 07:21, 22 ,23 e 24.
599
Cf.:PIBJC 17:01.
197

vizinhas. A igreja se torna mais presente na comunidade do que simplesmente tendo


um prédio central pra onde as pessoas se dirigem para cultuar a Deus uma vez por
semana600. PIBJC 29 também destaca bastante a superação da ideia de igreja num
prédio, num dia da semana, numa estrutura específica. A célula resgata a ideia da
Palavra de Deus de que a Igreja deve acontecer todos os dias, e onde as pessoas
estiverem, através de cada membro da igreja 601. Além disso, há quase uma
unanimidade que a célula permitiu uma participação maior dos membros da igreja,
pois a grande ênfase nos encontros das células é o compartilhamento de
experiências, o que não acontece nas celebrações comunitárias por ser inviável. Na
célula não só há oportunidade para a participação de cada membro, mas há também
um incentivo nesse sentido, respeitando-se o temperamento de cada um602.
PIBJC 12, que é líder de uma célula de jovens, faz menção de que sua célula
tem liberdade para alterar o roteiro proposto pelo pastor para o encontro da célula,
aplicando-o à realidade dos membros da célula, partindo das necessidades dos
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próprios membros da célula. Entretanto, a própria líder ressalta que não faz isso
com frequência e que o relato fica restrito a números e participações e não ao
conteúdo ventilado no encontro da célula 603. PIBJC 13, por sua vez, ressalta que a
célula tem autonomia para tomar iniciativas no que tange a ações que visem o
suprimento de necessidades, tanto do grupo quanto da comunidade 604.
Por sua vez, PIBJC 15 entende que as células trouxeram mudanças no
processo de informação entre os membros da igreja. Segundo ele, os eventos
promovidos pela igreja chegam com mais facilidade e rapidez aos seus membros
através das redes de célula, produzindo um engajamento maior dos membros da
igreja em suas programações605.
Vários entrevistados mencionam o fato de que as células se organizam a partir
da afinidade que há entre as pessoas, não se levando em conta, necessariamente, a
localização geográfica das mesmas606. Falam mais alto os relacionamentos e isso
também representa uma certa reconfiguração, causando impacto na igreja, fazendo

600
Cf.:PIBJC 23:07.
601
Cf.:PIBJC 29:19.
602
Cf.:PIBJC 19:08.
603
Cf.:PIBJC 12:19 a 21.
604
Cf.:PIBJC 13:19.
605
Cf.:PIBJC 15:08.
606
Cf.:PIBJC 15:20.
198

com que as pessoas saiam do egocentrismo e se voltem para o outro e suas


necessidades607.
PIBJC 28 é enfático quando fala de reconfiguração da igreja. Ele entende que

as células realmente reconfiguraram a estrutura eclesiástica, elas nos conduziram a


uma remodelação da maneira como se faz a gestão ministerial, elas hoje estão
influenciando a gestão administrativa da igreja, as células provocam mudança no
orçamento da igreja, as células mudaram o estilo de ser igreja e elas estão mudou
nosso estilo de vida, então o impacto da vida em célula pra Igreja Batista de Jardim
Camburi não tem como ser diminuído, porque influenciou tanto a parte
administrativa, financeira, estrutural como o estilo de vida das pessoas também 608.

A própria maneira de evangelizar mudou com o advento da célula, como


afirma PIBJC 30. Segundo ele, com as células, a evangelização passou a acontecer
através dos relacionamentos. Desenvolve-se relacionamentos intencionais com
pessoas que fazem parte da vida dos membros da igreja com vistas a testemunhar
de Jesus para elas. Cada crente sente o gosto de ser instrumento nas mãos de Deus
para levar pessoas a Jesus e isso produz entusiasmo, alegria, celebração na vida da
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igreja609.
Há, entretanto, pessoas entendendo que não mudou nada em termos de
estrutura, configuração, maneira de ser igreja 610. Mas a grande maioria aponta
elementos que sinalizam para mudanças na configuração da Primeira Igreja Batista
de Jardim Camburi a partir da implementação do sistema de Igreja em Células.

4.3.2.
Igreja Batista em Morada de Camburi

Através de depoimentos de entrevistados/as na IBMC pode-se observar a


percepção que os membros têm da repercussão das células na configuração da
igreja. Perguntado sobre o possível impacto causado pelos Pequenos Grupos na
configuração da Igreja, IBMC 02611 entende que não tem havido impacto
significativo. Faz menção de outras ferramentas que a igreja tem utilizado como
estratégia para configurar sua estrutura de funcionamento, mas entende que os

607
Cf.:PIBJC 19:17.
608
Cf.:PIBJC 28:15.
609
Cf.:PIBJC 30:03.
610
Cf.:PIBJC 14:10.
611
Cf.:IBMC 02:27.
199

Pequenos Grupos não fazem parte desta lista. Acredita que pode até ter havido em
algum momento, mas atualmente os grupos estão adormecidos e não conseguem
impactar a Igreja em termos de reconfiguração.
Por sua vez IBMC 13612 acredita que o Pequeno Grupo impactou a igreja no
que diz respeito à sua configuração. Para ela, o PG facilita a comunicação, torna o
culto mais leve, agiliza a comunidade permitindo que ela cresça com maior
velocidade. Além disso, torna a Igreja mais coesa.

4.4.
Riscos presentes no processo de reconfiguração eclesial através
dos Pequenos Grupos

Uma preocupação constante quando se trata de mudanças na configuração da


Igreja, sobretudo quando se pensa em Pequenos Grupos, é a questão dos riscos que
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isso representa para a unidade da Igreja, especialmente para o comprometimento da


comunhão.
Em função de as células incentivarem o aprofundamento nos
relacionamentos, com encontros frequentes e compartilhamento de experiências, a
possibilidade de haver conflitos aumenta e o risco da incidência de fofoca também.
Questões que são colocadas na células que sejam espalhadas fora da célula podem
trazer complicações para a Igreja. É mencionado também o risco de haver divisões
na Igreja, caso não haja um acompanhamento adequado por parte da liderança da
Igreja através de uma estrutura bem montada. 613 Há também o risco de a liderança
se desviar dos propósitos da igreja com relação à célula e levar a célula a se
perder.614
Outra dificuldade pontuada é a falta de acompanhamento de pessoas que
chegam para a célula com problemas emocionais aguçados. A escassez de tempo
para fazer um acompanhamento mais próximo prejudica o crescimento dessas
pessoas e pode trazer complicações até mesmo para o grupo.615 Um casal de líderes
acabou sendo prejudicado em seu próprio casamento em função da convivencia

612
Cf.:IBMC 13:5.
613
Cf.:PIBJC 03:22.
614
Cf.:PIBJC 05:25.
615
Cf.:PIBJC 09:07.
200

com muitos problemas dos membros da célula que liderava. Além disso, foi tão
desgastante para o casal que acabou ocasionando a sua saída. O casal compartilha
um grande cansaço em função da liderança de uma célula problemática. 616 O casal
reconhece, entretanto, que não estava devidamente preparado quando assumiu a
liderança da célula, o que leva a crer que lideranças não devidamente preparadas
também podem se constituir em grande perigo para a célula e para elas mesmas.617
Outro perigo mencionado é a criação de panelinhas, ou seja, tornar-se um
grupo fechado, sobretudo quando não se tem a preocupação de se trazer pessoas
novas para a célula. 618 O grupo se fecha e começa a viver uma rotina que o faz
perder o foco, os objetivos para os quais o grupo existe.
Se a visão pastoral e os objetivos da igreja como um todo não forem muito
bem comunicados os Pequenos Grupos podem trazer problemas. Daí a necessidade
de os líderes caminharem muito próximo de seus supervisores e estes de seus
pastores de rede.619 Diretamente ligado ao aspecto da transparência na comunicação
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está a necessidade de acompanhamento próximo, para que se evite os desvios de


liderança, podendo vir até a levar o grupo a se rebelar com a Igreja e iniciar uma
nova denominação.620
Outra dificuldade mencionada é o que fazer com os grupos que não crescem
e não se multiplicam. Há casos em que as células são desfeitas e os membros
encaminhados para outros grupos. A este processo se denomina de reengenharia de
célula. 621 O depoimento em relação a esta experiência não é positivo. Por outro
lado, forçar uma multiplicação colocando uma liderança despreparada também é
arriscado.622
O pastor presidente reconhece um grau de risco na formação das células, uma
vez que na visão celular, a liderança é descentralizada, distribuída com pessoas que
se apresentam para conduzir as células. Isso significa que o poder também é
distribuído. Caso a liderança não tenha maturidade para conviver com a nova

616
Cf.:PIBJC 10:10.
617
Cf.:PIBJC 10:14.
618
Cf.:PIBJC 16:05.
619
Cf.:PIBJC 22:13.
620
Cf.:PIBJC 24:15.
621
Cf.:PIBJC 20:09.
622
Cf.:PIBJC 33:05.
201

realidade, isso pode trazer problemas para a Igreja, tendo líderes e grupos
insubordinados.623
Pequenos Grupos que se isolam do restante da estrutura do Ministério de
células também se constituem num risco para a unidade da Igreja.624 A esse
fenômeno pode-se chamar de individualismo grupal e se constitui num perigo muito
grande para ele mesmo e para o todo da igreja. Neste caso o cuidado é para que a
célula não se torne um gueto.625
Uma dificuldade mencionada é quando a célula cai numa rotina, o que começa
a desmotivar as pessoas de participarem, em função de tudo passar a acontecer
automaticamente.626 Daí a necessidade de se usar a criatividade e trabalhar com
planejamento e na dependência de Deus, permitindo que o Espírito Santo controle
todas as coisas.
Nos Pequenos Grupos da IBMC os perigos são muito parecidos, com um
agravante. A estrutura dos Pequenos Grupos não contempla a figura do supervisor.
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Sendo assim, as células caminham muito mais soltas, o que representa um risco
ainda maior de desvios, além de os líderes se sentirem abandonados, sem
acompanhamento e orientação mais próxima.
Outro problema nos Pequenos Grupos da IBMC é o fato de que a ênfase não
está na evangelização, o que leva o grupo a permanecer por muito tempo o mesmo,
caindo na rotina. Incompreensão do que seja o Pequeno Grupo também traz
dificuldades. 627 Uma das evidências disso é quando as pessoas se apegam tanto
umas às outras que não querem passar pelo processo de multiplicação.628

4.5.
Análise comparativa entre os Pequenos Grupos nas duas igrejas
pesquisadas

Observando os dois modelos de Pequenos Grupos adotados pelas duas igrejas


pesquisadas, constatou-se que há pontos semelhantes, mas há também muitas

623
Cf.: PIBJC 30:09.
624
Cf.: PIBJC 40:03.
625
Cf.: PIBJC 67:09.
626
Cf.: PIBJC 60:11.
627
Cf.: IBMC 08:09.
628
Cf.: IBMC 12:02.
202

diferenças entre os dois sistemas. A seguir algumas dessas semelhanças e diferenças


encontradas.

4.5.1.
Semelhanças

Nos dois sistemas é enfatizada a participação de todos, com testemunhos e


experiências pessoais sendo compartilhadas. É um espaço privilegiado que os
membros tem de falar e de ser ouvido.
Semelhante também é o tamanho dos grupos. Nas duas Igrejas o número de
pessoas que fazem parte de um Pequeno Grupo fica em torno de 12 a 15 pessoas.
Passando deste número começa-se a trabalhar a multiplicação.
Sendo uma Igreja em células, a PIBJC trabalha com a perspectiva de ver toda
a sua membresia fazendo parte de uma célula, ao passo que na IBMC trabalhava-se
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com a perspectiva de ser uma Igreja com Pequenos Grupos, mas agora passou-se a
trabalhar com a mesma perspectiva da Igreja em Células.
Tanto nas células da PIBJC como nos Pequenos Grupos da IBMC as pessoas
encontram novas famílias, sobretudo pessoas que chegam do interior do estado e
precisam reconstruir suas vidas na capital.

4.5.2.
Diferenças

Enquanto na PIBJC tudo gira em torno das células, na IBMC tudo gira em
torno dos cinco propósitos (comunhão, adoração, discipulado, evangelismo e
serviço). Isso faz com que na IBMC os Pequenos Grupos sejam um pouco menos
valorizados pela Igreja.
A dinâmica dos encontros também é diferente. Embora tendo alguns pontos
em comum, o que mais se distancia é que nas células da PIBJC reflete-se em torno
da mensagem pregada na celebração do domingo, sendo no encontro da célula feita
apenas uma aplicação daquela mensagem, ao passo que nos Pequenos Grupos da
IBMC acontecem estudos bíblicos durante os encontros.
203

Nas células da PIBJC o critério básico para a formação dos grupos são os
vínculos entre as pessoas, ao passo que na IBMC leva-se em consideração a
localização geográfica.
A forma como os líderes são levantados e capacitados também é diferente.
Na PIBJC as lideranças surgem de dentro da própria célula e recebem uma
capacitação teórica, através de cursos, e prática, ao longo do ciclo de vida da célula.
Na IBMC os líderes são convidados e vem de fora do grupo para assumir a
liderança e a capacitação se dá através de cursos e eventos somente. Os encontros
das lideranças em exercício acontecem mensalmente na PIBJC e na IBMC são
realizadas quatro reuniões por ano, o que significa uma a cada três meses.
Para ingressar numa célula na PIBJC toda a membresia da Igreja foi preparada
através de um curso denominado ABC da célula, onde são trabalhados os principais
princípios que norteiam o funcionamento de uma célula e de uma Igreja em Células.
Para ingressar num Pequeno Grupo na IBMC não há um preparo preliminar dos
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membros.
A estrutura de funcionamento das células na PIBJC prevê a existência de
supervisores que cuidam dos líderes e de redes de células que tem pastores que
cuidam dos supervisores. Nos Pequenos Grupos da IBMC não há este
acompanhamento e cuidado próximos. Os líderes ficam mais soltos e caminham
mais sozinhos.
No sistema de células da PIBJC a questão dos relatórios é mais rigorosa. Os
relatórios são semanais e o controle da membresia das células é mais preciso. Há
um rol de membros que estão comprometidos com a célula. Só participam dos
encontros os membros da célula e seus convidados. Nos Pequenos Grupos da IBMC
os relatórios são mais flexíveis e não há um rol de membros do grupo. Qualquer
pessoa pode participar dos encontros, ainda que de maneira avulsa.
Nas células da PIBJC há uma continuidade maior nas lideranças ao passo que
nos Pequenos Grupos da IBMC há um grande rodízio de líderes.
Os contatos dos membros das células da PIBJC ao longo da semana, no
interregno dos encontros regulares, são mais estreitos ao passo que os membros dos
Pequenos Grupos na IBMC se encontram basicamente nos dias dos encontros
regulares.
A percepção das mudanças ocasionadas na Igreja, a questão da
reconfiguração eclesial, por exemplo, é mais clara para os membros das células na
204

PIBJC do que na IBMC, tanto que vários/as entrevistados/as da IBMC afirmam não
perceberem impacto algum dos PGs sobre a Igreja como um todo, ao passo que
pode-se perceber uma unanimidade nos/as entrevistados/as da PIBJC de que, de
fato, as células tem causado grande impacto sobre a igreja.
Pontuando as semelhanças e as diferenças dos Pequenos Grupos nas duas
Igrejas pesquisadas, conclui-se que as semelhanças são mais relevantes que as
diferenças.

4.6.
Conclusão da Tese a partir da Pesquisa: Reconfiguração parcial

A seguir serão apontados alguns aspectos em que a adoção dos Pequenos


Grupos pelas Igrejas pesquisadas contribui para uma reconfiguração eclesial a partir
da eclesiologia de comunhão e outros em que ainda se constituem desafios para as
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duas Comunidades pesquisadas e, por extensão, a todas as Igrejas filiadas à


Convenção Batista Brasileira.

4.6.1.
Em que sentido contribui

Ao analisar as entrevistas feitas à luz das categorias da eclesiologia de


comunhão, pode-se dizer que a presença dos Pequenos Grupos contribui para a
reconfiguração eclesial nos seguintes aspectos:

4.6.1.1
Criação, manutenção e aprofundamento de vínculos primários
(fraternidade)

Baseado naquilo que os teóricos afirmam e pela alta incidência dos vínculos
primários nas entrevistas das duas igrejas pesquisadas 629 pode-se concluir que os
Pequenos Grupos contribuem decisivamente para que sejam criados, mantidos e

629
Incidência de 790 vezes pelos/as 100 entrevistados/as na PIBJC e 125vezes pelos/as 20
entrevistados/as na IBMC (Ver Gráfico 03).
205

aprofundados laços de comunhão entre os seus membros e, por extensão, nas Igrejas
como um todo. E isso é fundamental para a vivência dos valores do Reino de Deus
e para a reconfiguração comunitária pois

a amizade é a paixão racional por uma comunhão verdadeiramente humana e a


simpatia mútua solidificada em lealdade. Quanto mais pessoas começarem a
conviver em amizade tanto mais pretensões de dominação e privilégios se tornarão
supérfluos. Quanto mais pessoas confiarem umas nas outras, tanto menos precisarão
se controlar mutuamente.630

Essa postura não só modifica a maneira dos membros dos Pequenos Grupos
de verem-se a si mesmos e de se relacionarem entre si, mas também contribui para
uma reconfiguração das Igrejas, que se organizam em função dos relacionamentos,
onde, muito mais do que se tolerarem entre si, os membros fazem da
solidariedade631, valor preponderante vivido e ensinado por Jesus na implantação
do Reino de Deus.
É neste sentido que Amado 632 defende a vida em comunidade ao afirmar que
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quando falamos em comunidade, estamos nos referindo à capacidade de gerar e


manter relações interpessoais, de sentir-se irmão e irmã, com laços às vezes mais
fortes que os laços de sangue. São necessariamente laços baseados em gratuidade,
amizade, cumplicidade e partilha de vida. E tudo isto só ocorre na efetiva vida de
comunidade e, como hoje dizemos, nas pequenas comunidades, onde o número de
membros é menor e a qualidade dos relacionamentos é diferenciada.

Não se trata de simples grupos de amizade, de cunho meramente sociológico.


Trata-se de grupos que se organizam e desenvolvem inspirados no amor e no
exemplo da Trindade divina e são impactados pelo amor de Jesus Cristo633 pois uma
vez que foi este que desobstruiu o caminho que leva a Deus e ao irmão.634 “A célula
tem o mesmo princípio da mente de Cristo, de quem é a pessoa de Jesus. Eu vejo
que isso é o ponto comum”.635
Isso está totalmente alinhado com o que afirma o Vaticano II: “Nos dias de
hoje, os homens estão profundamente ligados uns aos outros pelos laços sociais,
pela interdependência técnica e pela cultura. Torna-se então mais urgente o dever

630
MOLTMANN, J., A igreja no poder do Espírito, p.159.
631
SCHAPER, V. G., “A tolerância entre solidariedade e reconhecimento”, p.352.
632
AMADO, J. P., Ser comunidade hoje, p.2.
633
BONHOEFFER, D., Vida em comunhão, p.12.
634
Ibid., p. 15.
635
Cf.: PIBJC 83:03.
206

que tem a Igreja de promover a unidade perfeita de todos, em Cristo” (Lumen


Gentium, 284).
Também isso não é possível a menos que haja um completo e total
envolvimento entre as pessoas pois “nenhum agregado de seres humanos é sentido
como ‘comunidade’ a menos que seja ‘bem tecido’ de biografias compartilhadas ao
longo de uma história duradoura e uma expectativa ainda mais longa de interação
frequente e intensa”636.
Várias pessoas entrevistadas, nas duas igrejas, testemunharam a presença
desses vínculos primários tecidos através de relacionamentos solidários e marcados
pela mutualidade cristã. Isso tem causado impacto na maneira das comunidades
serem igrejas e feito tanta diferença que muitos disseram que não saberiam mais
viver em igrejas sem a presença dos Pequenos Grupos.
Vínculos primários são essencialmente necessários para uma vida saudável e
feliz. Como afirma Kivitz:637
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O fato de que Deus criou pessoas para viverem em profunda comunhão é


irrevogável. Não é sem razão que o Senhor Jesus determinou o amor como marca
característica e distintiva da comunidade cristã. Pessoas precisam de Deus, e pessoas
precisam de pessoas. Nada supera a relação pessoa-pessoa. A experiência de amar e
ser amado é insubstituível. O ser humano é, decididamente gregário. A vida humana
é pontilhada de momentos quando nada preenche a necessidade que somete pode ser
suprida por um abraço caloroso.

Com isso pode-se dizer que os Pequenos Grupos contribuem para uma
reconfiguração eclesial mais voltada para os relacionamentos, que contempla a
criação, a manutenção e o aprofundamento dos vínculos primários, oportunizando
experiências de comunhão e de companheirismo cristão, tanto que há uma
unanimidade, entre as pessoas entrevistadas, em recomendar que as Igrejas que
ainda não adotaram os Pequenos Grupos em seu jeito de ser Igreja que o façam para
o bem delas mesmas. Afinal,

as comunidades cristãs locais que farão diferença no futuro serão aquelas cuja ênfase
maior estiver nos relacionamentos interpessoais. Estruturas, programas e métodos
serão, como sempre foram, secundários, em uma comunidade de amor. A
comunidade que não estiver fracionada e não possuir mecanismos capazes de
aproximar pessoas umas das outras será apenas mais um item na agenda de tantos
que preenchem seus vazios com atividades e programas.638

636
BAUMAN. Z., Comunidade, p.48.
637
KIVITZ, E. R., Outra espiritualidade, p.86.
638
Ibid., p.87.
207

4.6.1.2.
Participação dos membros (Sacerdócio universal dos crentes)

A doutrina do sacerdócio universal dos crentes tem sido buscada ao longo dos
séculos por aqueles/as que entendem que em Jesus Cristo todos os filhos de Deus
foram feitos sacerdotes639, tornando-se o povo de Deus. Como já foi destacado neste
trabalho, este valor é caro tanto à Reforma Protestante como também ao Concílio
Vaticano II. Entretanto, entre a teoria e a prática dessa verdade teológica há uma
grande distância, muitas vezes acentuada pelas próprias estruturas das Igrejas.
Nos depoimentos colhidos, pode-se constatar com bastante facilidade que a
experiência dos Pequenos Grupos possibilita uma participação efetiva dos seus
membros, tanto nas decisões que definem os destinos da Igreja e dos grupos, como
também em seus encontros e dinâmica de funcionamento. O fato da dinâmica dos
encontros colocar sua ênfase no envolvimento dos membros dos Pequenos Grupos,
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faz com que haja uma participação efetiva dos seus membros.
Miranda640 afirma que “sem dúvida o futuro reserva um protagonismo cada
vez maior aos leigos e às leigas no interior da Igreja no que diz respeito ao ensino,
à santificação e ao próprio governo da comunidade”. Mas na sequência de sua
afirmação esclarece também que para que isso aconteça, é indispensável que haja
mudanças no modo de ser e de estar na Igreja, necessidade de se criar novas
estruturas e novas dinâmicas que abram espaços de liberdade de expressão dos
membros da Igreja.
Essa ideia é corroborada por um dos entrevistados que testemunha de que em
sua prática eclesiástica anterior, antes da existência das células, ele tinha muita
dificuldade em exercer ou até de viabilizar no contexto da Igreja a doutrina do
sacerdócio universal dos crentes. Foi através da visão celular que ele encontrou um
espaço muito mais eficaz para conduzir os crentes no exercício do sacerdócio
universal, para que cada crente fosse um ministro, conseguindo assim mobilizar os
crentes para o serviço cristão, auxiliando-os a descobrir seus dons e habilidades,
responsabiliza-los.

639
Cf.: 1 Pe 2, 9-10
640
MIRANDA, M. F., A igreja que somos nós, p.12.
208

No caso específico das células, essa verdade se torna ainda mais evidente,
uma vez que nos encontros das células a ênfase recai no compartilhamento de
experiências e na participação de todas as pessoas presentes, sendo o líder apenas
um facilitador do processo de participação. Nas grandes celebrações as pessoas se
limitam a assistir, tendo sua participação bastante limitada aos cânticos e hinos.
Como afirma Miranda641, “numa sociedade atravessada por tantos e tão diferentes
discursos que se relativizam e enfraquecem mutuamente, ganha importância o
testemunho de vida.” É o testemunho de vida, as experiências compartilhadas, o
evangelho vivido na prática, que faz dos Pequenos Grupos algo relevante e
diferente. Aí, ao invés de multiplicar cultos ao longo da semana, oferecendo mais
do mesmo, em que as pessoas mais ouvem do que falam, ter um encontro diferente
num Pequeno Grupo, num ambiente diferente, com dinâmica de participação dos
integrantes diferente, oportuniza uma experiência diferente e significativa.
Kivitz642 defende a tese de que se faz necessário que a Igreja supere quatro
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paradigmas específicos: o culto, o clero, o domingo e o templo. O desafio


permanente para a Igreja é fazer da vida dos seus membros um culto permanente,
da Igreja o povo de Deus com seus carismas, de cada dia da semana dia do Senhor
e da própria Igreja o templo do Espírito Santo. Fazendo isso, a Igreja terá
potencializado a capacidade de mobilização de todos os seus membros a partir dos
dons espirituais e ministérios pessoais.
É exatamente isso que se observa nas duas Igrejas Batistas pesquisadas. Em
todo o tempo é destacado a importância de seus membros terem nos Pequenos
Grupos espaço de participação, agilidade, mobilidade, movimento, engajamento,
mutualidade. Ao sair das quatro paredes, espalhar-se pela semana, envolver todos
os seus membros e dinamizar a experiência de adoração, a Igreja passa a viver os
valores do Reino de Deus 24 horas por dia, 7 dias por semana. Como afirma Mauro
Israel Moreira643, “a igreja tem de estar permanentemente aberta”, não o templo, a
Igreja tem de criar uma ambientação através da qual as pessoas percebam que
podem ministrar e receber ministração a qualquer momento e em qualquer lugar,
tanto quando estiver reunida, seja para o encontro do Pequeno Grupo seja para as
grandes celebrações, mas também quando estiver espalhada, sendo sal e luz por

641
Ibid., p.13.
642
KIVITZ, E. R., Outra espiritualidade, p.75-95.
643
MOREIRA, M. I., Chega junto, p.21.
209

onde passar. “A igreja tem de se perceber Igreja de Cristo em todos os momentos,


por toda a vida, em todas as circunstâncias, em todos os segmentos da sociedade” 644.
Só quando há uma participação efetiva de cada membro isso é possível. E esta
é uma realidade nas duas igrejas pesquisadas. Através dos Pequenos Grupos, as
pessoas são convidadas a ter uma participação ativa na vida da Igreja e isso faz toda
a diferença quando se pensa numa eclesiologia de comunhão. De fato, os Pequenos
Grupos, seja na modalidade proposta pelo Ministério Igreja em Células, seja pela
proposta da Igreja Dirigida por Propósitos, oportuniza uma participação integral
dos membros, independente de sua função dentro do corpo.

4.6.1.3.
Pastoreio mútuo

A PIBJC avançou muito no quesito cuidado mútuo, exercício da mutualidade,


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pastoreio mútuo. Diversas pessoas entrevistadas mencionaram que é totalmente


impossível acontecer o cuidado que as ovelhas precisam se isso depender apenas
dos pastores oficiais645 da Igreja. Mesmo contando com uma equipe de pastores,
isso não seria suficiente diante do grande número de pessoas que frequentam a
Igreja. Daí a importância dos supervisores, dos líderes de célula que exercem uma
função pastoral importante na liderança do grupo e do próprio pastoreio mútuo que
acontece no contexto da célula. É o que testemunha uma líder e supervisora de
célula, quando perguntada sobre os benefícios das células no contexto da Igreja.

Eu vejo que tem mais pastores pra cuidar, pra ajudar os nossos pastores. Então, a
gente está pastoreando, a gente está ajudando e levando os irmãos a ter esse mesmo
pensamento de também, da mesma forma uns pelos outros, se preocuparem uns com
os outros. Então não fica só para o líder de célula, mas na verdade, existe, assim,
uma unidade, onde as pessoas devem se preocupar uns com os outros. 646

Os Pequenos Grupos são caracterizados pelos encontros. Seja nos encontros


formais, nos lares, normalmente uma vez por semana, como também encontros de

644
Ibid., p.22.
645
Entenda-se por pastores oficiais aqueles que fizeram curso de teologia, passaram por um concílio,
receberam imposição de mãos e foram contratados pela igreja para pastoreá-la. Quando a Igreja é
menor só tem um pastor nesta categoria. No caso da PIBJC e IBMC existe uma equipe pastoral
composta de três ou mais pastores, mas ainda é pouco diante do grande universo de membros que
frequentam as igrejas.
646
Cf.: PIBJC 68:16.
210

discipulado, encontros sociais, encontros de comunhão, de lazer, de cuidado mútuo.


“A comunidade cristã é, por excelência, ambiente de encontro: pessoas com Deus,
umas com as outras e consigo mesmas, num processo cujas riquezas são
insondáveis”647 Inspiradas nas experiências dos cristãos primitivos a Igreja deve
voltar-se às origens e reafirmar-se como ambiente de encontros, relacionamentos,
aconchego, participação, ambiente família, vida comunitária. Nesse ambiente cada
membro há de se sentir à vontade para ministrar ao outro, como também receber
ministração do outro, vivendo os mandamentos de mutualidade, sempre numa via
de mão dupla, dando e recebendo, ensinando e aprendendo, ajudando e sendo
ajudado. “Uns ministrando aos outros com seus dons, capacitações. E o que Deus
quer é que esse seja um processo espontâneo nessa dinâmica de vida da igreja,
porque ela é o Corpo Vivo de Cristo e um corpo vivo exerce mutualidade”648.
Reunindo-se nas casas e/ou apartamentos cria-se um ambiente de partilha,
com espaço menor e acolhedor, tempo compartilhado para ouvir e ser ouvido,
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comer juntos, exercitar o aprendizado mútuo. Essa experiência tem criado


oportunidade para os membros dos Pequenos Grupos exercerem um pastoreio
mútuo nas duas igrejas batistas pesquisadas. Isso não elimina a necessidade de
pastores que sejam capacitadores, como afirma o apóstolo Paulo ao escrever aos
Efésios: “E ele é que concedeu a uns ser apóstolos, a outros profetas, a outros
evangelistas, a outros pastores e doutores, para aperfeiçoar os santos em vista do
ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até que alcancemos todos nós a
unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem
Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,11-13). Pastores,
supervisores e líderes, cada um desenvolvendo sua função no corpo de Cristo, para
que todos sejam cuidados/as e capacitados/as para o serviço cristão.

4.6.2.
Em que sentido precisa avançar

Pensando numa eclesiologia de comunhão como elemento motivador de uma


reconfiguração eclesial, pode-se constatar que tanto a PIBJC quanto a IBMC

647
KIVITZ, E. R., Outra espiritualidade, p.88.
648
MOREIRA, M. I., Chega junto, p.32.
211

precisam avançar muito mais em vários aspectos para que possam identificar-se
com os valores do Evangelho do Reino de Deus, na direção de se tornarem igrejas
de comunhão.
Como se pôde perceber ao longo de toda a pesquisa, a eclesiologia de
comunhão é ampla e abrangente, não deixando aspecto algum de fora. Ao observar
as duas Igrejas estudadas, verificou-se que a reconfiguração em Pequenos Grupos
avançou bastante nos aspectos internos da vida eclesial, notadamente no que diz
respeito aos relacionamentos humanos. No entanto, percebe-se, em sentido oposto,
que as relações ad extra, expressadas nas questões de ação social, ecumenismo e
ecologia encontram-se estacionadas, exigindo efetivo avanço para que se considere
maior presença da eclesiologia de comunhão. Este fato pode ser explicado por uma
possível identidade batista, nascida com base em um processo de exclusão ou
oposição. Como dito algumas vezes já ao longo da tese, os batistas, implícita ou
explicitamente, trazem consigo forte dificuldade em se colocar ao lado de outros
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que não façam parte das suas comunidades ou que tenham outra identidade eclesial.
É possível que uma das causas do pequeno avanço esteja aqui presente.

4.6.2.1.
Ecumenismo: Por uma fé dialogal

Embora se reconheça que direta ou indiretamente as duas igrejas pesquisadas


foram influenciadas por ideias e práticas que vieram de fora da denominação
batista, ambas tendo como raiz principal a Igreja do Evangelho Pleno da Coréia do
Sul, de linha pentecostasl, PIJC recebendo influência do Ministério Igreja em
Células, gestado no Brasil na Igreja Menonita de Curitiba, IBMC diretamente
influenciada pela Igreja de Sandebleck, nos Estados Unidos, sem vínculo
denominacional com os batistas americanos, o que já caracterizaria uma abertura
para o ecumenismo, não se percebeu na fala das pessoas entrevistadas, uma
consciência maior na direção de se buscar comunhão com outros cristãos visando a
construção de comunidades mais abertas ao diálogo e à solidariedade.
Talvez isso se explique pelas reservas que a CBB sempre demonstrou diante
do movimento ecumênico. Entretanto, pelo fato de as Igrejas Batistas serem
comunidades autônomas, nada impede que as igrejas pesquisadas envolvam-se
212

mais diretamente em ações ecumênicas que visem o bem estar das pessoas, a
disseminação da justiça e a construção de uma sociedade mais fraterna, marcada
pela solidariedade.
Entende-se que há espaço para o diálogo e o desenvolvimento de ações que
são do interesse da sociedade e comuns a todos os cristãos. Como exemplo disso
pode-se mencionar a causa ecológica, que é do interesse de toda a sociedade e
deveria envolver todas as comunidades cristãs em busca de soluções que visem o
bem comum relacionados ao meio ambiente. É inexplicável porque a CBB,
particularmente as duas igrejas pesquisadas, não estejam engajadas na Campanha
da Fraternidade promovida pelos cristãos católicos e protestantes em 2016.
Fica claro ao longo de toda a pesquisa que as duas Igrejas Batistas
pesquisadas, bem como as demais filiadas à CBB, precisam superar o espírito
separatista que esteve presente entre os batistas desde a sua origem, vencendo o
sentimento exclusivista tão presente desde a origem do trabalho batista no Brasil,
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por influência do landmarkismo americano, abrindo mão da postura de controvérsia


e de intolerância para criar uma cultura do diálogo, da aproximação e da
cooperação, não só intradenominacionalmente, mas também com outros cristãos
que creem e pregam o mesmo evangelho e são herdeiros da mesma fé.
Os estudos que vem sendo feitos pela CBB649 na busca de uma atualização de
sua estrutura funcional deveria incluir também a questão de um envolvimento maior
da própria CBB e das Igrejas a ela filiadas ao movimento ecumênico, que inclui a
maioria das igrejas cristãs no Brasil e no mundo. No mínimo deveria ouvir mais os
batistas que já estão caminhando nesta direção como a Aliança de Batistas do Brasil
que se preocupa em promover, dentre outras coisas, uma reflexão bíblica profunda
e ecumênica650, mais sintonizados com a visão da Aliança Batista Mundial que vem
mantendo diálogo com a Igreja Católica e outras Igrejas Protestantes há mais de
vinte anos.651 É importante que se diga, como afirma Oliveira 652, que atualmente
“a maior parte das convenções ou uniões da aliança Batista Mundial faz parte do
Conselho Mundial de Igrejas”653. Talvez se deveria voltar o olhar para os batistas

649
OLIVEIRA, Z. M., Um povo chamado batista, p.152-156.
650
SILVA, N. T., Do confronto ao Diálogo, p.149.
651
SEGURA, H., “Não ao analfabetismo bíblico" p. 10.
652
OLIVEIRA, Z. M., Liberdade e exclusivismo, p.126.
653
Conselho Mundial de Igrejas (CMI) é um órgão internacional, a principal organização
ecumênica em nível internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em
213

ingleses, de onde surgiu o movimento batista no início do século XVII, uma vez
que os batistas britânicos estão entre as convenções ou uniões que participam
ativamente no CMI, sendo estes os de mente mais ecumênica entre todos os
batistas”654, abertos ao diálogo e dispostos a cooperar no Reino de Deus não só se
unindo aos demais batistas, mas também aos demais cristãos.
É de extrema importância que, enquanto comunidade cristã, marcada pelo
amor de Deus, as Igrejas Batistas desenvolvam uma “cultura do diálogo” 655,
entendendo que, como afirmou Bruno Forte656, para que haja diálogo, algumas
posturas são indispensáveis, sem as quais não há diálogo: 1. Não há diálogo sem
humildade. Dialogar com os demais exige pôr-se humildemente à escuta do outro,
renunciando a toda pretensão sobre os demais, para abrir-nos à verdade a qual todos
devemos obediência. 2. Não há diálogo sem escuta. Escutar significa fazer calar os
preconceitos e os medos, estar abertos ao novo, no respeito à diferença, acolhendo
o outro com confiança como hóspede interior, no desejo de viver a mesma pertença,
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por causa da verdade e do amor que salva. 3. Não há diálogo sem estupor. O diálogo
cria desorientação, sobretudo interior: maravilhar-se, ver o mundo com outros
olhos, sentir-se parte e não o todo, pôr-se em jogo e viver o risco desorienta, porém
liberta das falsas resistências e nos torna capazes de acolher a verdade, qualquer
que seja sua procedência. Sem estupor o dom está perdido e nenhum diálogo torna-
se fecundo. 4. Não há diálogo sem uma língua comum. O diálogo não existe se não
se fala uma língua comum, entendendo as palavras do outro e, sobretudo, escutando
o coração e a vida de onde elas provem: em sua etimologia, diálogo significa
precisamente “encontro na palavra” (dia-logos). 5. Não há diálogo sem silêncio. O
diálogo necessita do silêncio tanto para escutar e refletir sobre o que o outro propõe,
quanto para manifestar uma autêntica proximidade, frequentemente, transmitida
pelo silêncio mais do que por muitas palavras. Nunca dirás palavras verdadeiras, se
antes não caminhas longamente pelos caminhos do silêncio! 6. Não há diálogo sem
liberdade. Para viver o diálogo temos que ser livres na relação conosco mesmos,
dispostos a questionarmo-nos; livres em relação aos demais, recusando os

Genebra, na Suíça o CMI congrega mais de 340 igrejas e denominações em sua membresia. Estas
igrejas e denominações representam mais de 500 milhões de fiéis presentes em mais de 120 países.
654
OLIVEIRA, Z. M., op. cit., p.126.
655
CLIFFORD, C. E., “O concílio do Vaticano II e o seu compromisso com o diálogo no século
XXI”, p. 315.
656
XA NOS TES AQUI. Blogue de catequese e música popular litúrgica em galego.
214

condicionamentos e os medos que, às vezes, eles nos impõem; livres para obedecer
somente à verdade que nos torna livres. 7. Não há diálogo sem perdão. Quem deseja
dialogar, deve libertar a mente e o coração de todo ressentimento pelas feridas
recebidas; fazendo memória, o coração deve ser purificado com o pedido e a oferta
do perdão. 8. Não há diálogo sem conhecimento. A ignorância do outro, de sua
cultura, de seu mundo vital, está na base de incompreensões e rejeições: para
dialogar, é necessário conhecer o outro e fazer-se conhecer por ele. 9. Não há
diálogo sem responsabilidade. Quem dialoga não deverá nunca se esquecer da rede
de relações humanas de onde procede e pela qual é responsável: o diálogo não
elimina, mas aumenta o sentido da responsabilidade que cada um deve ter em
relação ao bem comum. 10. Não há diálogo sem ser fiéis à verdade. Quem não
deseja compartilhar suas próprias razões para viver, crer, esperar, amar; quem não
tem paixão pela verdade e não é fiel à sua identidade mais profunda, nunca será
capaz de dialogar. No diálogo, o coração se abre a Quem é a verdade, o Deus
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vivente, que vem habitar naqueles que – dialogando com Ele – acolhem Seu amor.

4.6.2.2.
Ação Social: Por uma fé engajada

Numa das entrevistas feitas na PIBJC constatou-se uma visão equivocada


sobre a importância da conscientização e da ação política dos membros dos
Pequenos Grupos. Demonstrou-se uma hermenêutica questionável com relação ao
que seja respeito às autoridades constituídas. Uma pessoa, que lidera uma célula,
faz questão de orientar seus liderados a ficar de fora das discussões políticas. Ela
afirma:

O que a gente faz é orar. Eu oriento muito as minhas, meus meninos, que nós não
podemos entrar nessa, nessas manifestações, porque a Palavra de Deus é muito clara
quando diz que nós devemos orar pelas nossas autoridades e tê-las como pessoas
colocadas ali por Deus. Então não vamos nos rebelar contra isso. Se fomos nós que
votamos ou não. Vamos entregar nas mãos do nosso Deus. Então eu sempre oriento.
‘Gente, eu não quero saber’. Outro dia eu vi no 'face' uma pessoa lá, falando essas
coisas. Aí eu falei: ‘menos hein’. Menos porque nós não podemos ir contra as nossas
autoridades. O que a gente tem que fazer? Orar por eles, orar pela nossa nação, mas
não nos envolver como as pessoas estão se envolvendo. Isso aí eu não faço e sou
criteriosa mesmo quando vejo alguém querendo fazer 657.

657
Cf.: PIBJC 92:08.
215

É preciso avançar na conscientização das novas gerações e inserir nas novas


formas de ser igreja a consciência da responsabilidade social e política que cada
discípulo/a de Jesus Cristo tem no processo de transformação da sociedade e na
implantação dos valores do Reino de Deus, utilizando, inclusive, os instrumentos
de ação políticas existentes na sociedade organizada. Mas é de fundamental
importância que se entenda de que não é através do individualismo que as
conquistas serão significativas neste sentido. Como afirma Bittencourt Filho 658 é

nas formas organizacionais, nas estratégias missionárias, nas táticas pedagógicas,


elaborações doutrinárias, e na construção discursiva que as igrejas definem,
querendo ou não, seus respectivos papéis culturais, sociais e políticos. Portanto,
eclesiologia é justamente o campo de inflexão das relações entre Igreja e Sociedade.

Nesta perspectiva, é de extrema importância que a Primeira Igreja Batista de


Jardim Camburi e a Igreja Batista de Morada de Camburi, que corajosamente tem
buscado novos jeitos de ser Igreja na sociedade contemporânea, adotando os
Pequenos Grupos como filosofia de seus ministérios, também tenham coragem de
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avançar na conscientização de sua membresia, utilizando sobretudo os Pequenos


Grupos como estratégia principal, não só para conscientizar, mas também para
viabilizar uma inserção mais efetiva dos/as discípulos/as de Jesus Cristo no
processo de transformação da sociedade, incentivando-os a uma participação nas
atividades políticas, nos diálogos com os movimentos sociais, nos conselhos,
fóruns, sindicatos, associação de moradores, conferências e outras iniciativas.
Fazendo isso certamente haverá uma identificação com o transbordar do amor
659
pericorético da Trindade Divina que alcança a sua criação e que se manifesta
nos valores do Reino de Deus presentes na sociedade, sobretudo através da vida e
das obras dos filhos de Deus.
É imperativa a superação da cultura da assistência social, 660 conquanto esta
tenha seu lugar, ir além do serviço social e se chegar à ação social, atuando nas
estruturas da sociedade, onde se localizam as fontes e as verdadeiras causas dos
problemas sociais, tendo coragem de assumir a condição de discípulo/a de Jesus
Cristo até as últimas consequências, rebelando-se contra o pecado onde quer que
ele se encontre, em suas múltiplas dimensões e formas.

658
BITTENCOURT FILHO, J. Caminhos do protestantismo militante, p.14
659
MOLTMANN, J., Trindade e reino de Deus, p.182-182.
660
TORRES, J. C., “Ordem social”, p. 199-209.
216

É urgente a busca de uma fé engajada, resgatando-se uma visão de Reino de


Deus que contemple a missão integral da igreja661, que vá além da visão de que a
grande comissão dada por Jesus Cristo aos seus discípulos e discípulas implique
apenas na conversão de indivíduos e no estabelecimento de igrejas e sim num
chamado que o Senhor ressurreto faz à igreja para que ela se dedique a formar
homens e mulheres que reconheçam seu Senhorio universal, se integrem ao povo
de Deus e executem o mandato de Jesus, que inclui todos os aspectos da vida
humana, em todas as dimensões da vida.
Um dos caminhos nesse sentido seria um retorno ao documento produzido e
publicado pelos pastores batistas do Brasil às vésperas do golpe militar de 64, já
mencionado neste trabalho, conhecido como MM, que jamais deveria ter sido
abandonado pelos batistas brasileiros. Depois de identificar dimensões sociais da
crise vivenciada pela sociedade de então relacionados aos direitos da pessoa
humana, igreja e estado e justiça social, o documento conclama como
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recomendação final:

No cumprimento, pois, da missão profética que recebemos do Senhor, concitamos o


Povo Batista Brasileiro a integrar-se cada vez mais no processo histórico da nossa
nacionalidade, contribuindo para que o futuro corresponda aos desígnios de Deus
para a nossa Pátria. Debrucemo-nos, portanto, sobre a realidade brasileira,
procurando compreender-lhe os problemas, sentir-lhe as angústias, partilhando as
suas dores. Busquemos nas Escrituras as soluções divinas para os problemas do
homem. E, corajosamente, desfraldemos, em nome do Cristo, a bandeira da redenção
otal da criatura. Da redenção temporal e eterna do povo brasileiro 662.

Por aí se vê que há um atraso de mais de cinquenta anos no engajamento dos


batistas brasileiros no que diz respeito à uma ação mais efetiva no processo de
transformação da sociedade. As vozes que se levantaram corajosamente naquele
momento histórico vivenciado pelo povo brasileiro foram silenciadas pelos
acontecimentos que se seguiram ao golpe militar de 1964 e mantiveram os cristãos
batistas presos ao individualismo, enclausurados em seus templos, praticando um
cristianismo dualista e reducionista, entendendo que a ordem social e a ordem
espiritual se constituem caminhos paralelos e que o evangelho do Reino é destinado
ao indivíduo e não à sociedade. É preciso corrigir esta visão, comprometer-se com
a integralidade da missão da Igreja, entender que o todo o Evangelho do Reino
precisa ser pregado em todo o mundo, para o ser humano como um todo, pois

661
PADILLA, C. R., “Uma eclesiologia para a missão integral”, p.34.
662
LESSA, H. S., Ação social cristã, p.75.
217

“evangelizar com integridade de conteúdo e servir com integridade de compromisso


são as únicas saídas viáveis contra os fundamentalismos contemporâneos” 663. Até
porque,

a própria identidade da Igreja, sua razão de ser, lhe advém de sua missão de
proclamar o Reino de Deus, em palavras e ações, ao longo da história. E esse Reino
de Deus não se limita a uma dimensão espiritual ou religiosa do ser humano, mas à
sua totalidade. Esse fato abrange suas condições de vida, seu contexto cultural,
social, econômico, político. Assim, apara a fé cristã o Reino de Deus diz respeito
também à sociedade, ao pretender o advento de uma sociedade alternativa marcada
pela justiça, pela fraternidade, pela partilha dos bens.664

Os Pequenos Grupos podem se constituir numa estratégia extraordinária para


um engajamento dos seus membros nas causas sociais, uma vez que se encontram
espalhados pelos bairros da cidade, tanto nos ambientes mais sofisticados dos
grandes condomínios como também nas áreas de periferia, onde os problemas
sociais podem ser conhecidos mais de perto e atacados de maneira mais eficaz.
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4.6.2.3.
Ecologia: Por uma fé consciente

Como já foi dito neste trabalho, não foi constatada nenhuma preocupação com
a gravíssima crise ecológica por parte dos Pequenos Grupos. Ainda que nada tenha
sido perguntado sobre o assunto, essa deveria ser uma questão sempre presente,
sobretudo diante da situação extremamente perigosa que o planeta atravessa.
Segundo Rubio 665 “é pelo uso predatório e destrutivo do meio ambiente que
a Civilização Industrial tem sido mais contestada ultimamente. A reação contra o
mau uso da natureza por parte do homem é um dos pontos básicos que estão na raiz
o surgimento do mundo pós moderno”. E a Igreja tem sido acusada de ser omissa
em sua pregação, com relação ao cuidado com o meio ambiente, muito mais
preocupada com a salvação no “outro mundo” do que com a sobrevivência no
mundo concreto e real criado por Deus.
Não é possível, nem necessário, por não se tratar do objeto principal deste
trabalho, elencar os principais elementos que mostram a gravidade da crise

663
ZABATIERO, J. P. T., “Os desafios do pacto de lausanne para a igreja de hoje”, p.23.
664
MIRANDA, M. F., A igreja que somos nós, p.78.
665
RUBIO, A. G., Unidade na Pluralidade, p.534.
218

ecológica enfrentada pela humanidade na atualidade, que deveria estar na pauta dos
encontros realizados pelas igrejas, mormente pelos Pequenos Grupos. Entretanto,
pode-se dizer que é impossível conversar por alguns minutos sobre a presença e a
missão da Igreja de Jesus Cristo no mundo sem levar em consideração a
superpopulação e a insuficiência de alimentos, o esgotamento das reservas naturais,
a poluição do ar e dos rios, a devastação de florestas e a destruição da cobertura
vegetal em amplas regiões da terra, a corrida armamentista, a falta de saneamento
básico, espécies em extinção, as injustiças na distribuição dos bens elementares para
uma sobrevivência digna666.
Esta é uma lacuna que precisa ser preenchida pelas duas Igrejas Batistas
pesquisadas e, como de resto, pelas Igrejas Batistas filiadas à Convenção Batista
Brasileira e outras igrejas cristãs de um modo geral, a fim de que haja uma genuína
comunhão também com a criação de Deus, que Deus seja visto não apenas como
Salvador, mas também como Criador. “Conversão da pessoa e mudança estrutural,
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também no campo ecológico, devem estar mutuamente articuladas, mediante uma


relação e inclusão”.667 É preciso superar a teologia da criação que coloca o ser
humano apenas como o dominador e administrador dos recursos do meio ambiente.
É preciso acentuar a responsabilidade e o grande fracasso da humanidade em cuidar
da casa comum criada por Deus para a sua glória e para o bem de toda a sua criação.
Em função de uma postura isolacionista e preconceituosa, perdeu-se, como
batistas brasileiros, a oportunidade de engajamento na Campanha da Fraternidade
2016, de cunho ecumênico, que tem unido esforços no sentido de se buscar soluções
conjuntas para o grave problema da crise ecológica.
Uma visão adequada do Reino de Deus precisa resgatar, por parte da Igreja
de Jesus Cristo, um questionamento que tem sido omitido ao longo dos milênios
pelos cristãos, ou seja, o que tem sido feito com o planeta terra? É urgente a
necessidade se se “aprender a pensar ecologicamente, demonstrar arrependimento
da extravagância, da poluição e da destruição irresponsável” 668 com medidas
concretas de cuidado e zelo com a criação de Deus.
Stott cita obra de Ronald Higgins intitulada “O sétimo inimigo”. Na obra o
referido autor faz menção de seis inimigos cruéis que são “ a explosão populacional,

666
Ibid., p.535-542.
667
Ibid., p.572.
668
STOTT, J., Os cristãos e os desafios contemporâneos, p.165.
219

a crise de alimentos, a escassez de recursos, a degradação ambiental, o abuso


nuclear e a tecnologia científica. Entretanto, o sétimo inimigo somos nós, nossa
cegueira pessoal e inércia política à face do desafio ecológico de hoje”. 669 Eis um
aspecto que as Igrejas Batistas pesquisadas precisam avançar.
Leonardo Boff670 fazendo uma conexão entre a Teologia da Libertação e a
questão ecológica firma:

A teologia da libertação nasceu ouvindo o grito do oprimido. Seu mérito foi ter dado
centralidade ao empobrecido, fazendo-o sujeito de sua história e o lugar a partir do
qual se entende melhor a natureza de deus como o Deus da vida, a missão de Jesus
como promotor da vida em abundância e a natureza da Igreja como sacramento, vale
dizer, instrumento e sinal de libertação integral. Mas não só os pobres gritam. Gritam
as águas, gritam as florestas, gritam os animais, gritam os ecossistemas, grita a Terra.
Todos esses também são vítimas da mesma lógica que cria os empobrecidos. Por
isso a Terra e a natureza são explorados e devastadas(...). Uma teologia da libertação
somente será integral se incorporar, em sua reflexão e em sua prática, a libertação da
Terra como sistema de sistemas.

Em virtude da relevância da questão ecológica, é indispensável que as Igrejas


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Batistas pesquisadas, assim como todas as demais comunidades cristãs do mundo


coloquem a necessidade de uma fé consciente em relação aos problemas ecológicos
na pauta principal de suas discussões, utilizando os Pequenos Grupos como
estratégia para conscientização e desenvolvimento de ações concretas na direção da
busca do equilíbrio ambiental.

669
Ibid.
670
BOFF, L., Duas utopias urgentes para o século XXI. In: SUSIN, L.C. Teologia para outro
mundo possível. São Paulo: Paulinas, 2006, p.240.
220

5
Conclusão final

Esta tese teve como finalidade refletir sobre a eclesiologia de comunhão


concretizada em duas Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira.
Teologicamente, acompanhou a consciência eclesiológica das últimas décadas no
sentido de compreender a identidade da Igreja de Cristo como comunhão e, a partir
daí, repensar e instaurar estruturas de comunhão.
No primeiro capítulo foi feito um resgate histórico sobre a origem e o
desenvolvimento do movimento batista, na Europa, no inicio do século XVII, como
dissidência da Igreja Anglicana, tendo como distintivos principais forte experiência
de conversão a Cristo, feita necessariamente por alguém capaz de tomar decisão
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consciente, mediante a pública profissão da fé e o batismo, mantendo o caráter de


autonomia das comunidades batistas entre si, proclamando a liberdade religiosa e a
separação entre Igreja e Estado.
Na medida em que o movimento foi crescendo e se espalhando pelo mundo,
as comunidades batistas foram adquirindo configurações específicas e se
organizando em associações e convenções para viabilizar o trabalho de
doutrinamento dos seus membros, pregação do Evangelho e expansão do Reino de
Deus formando assim aquilo que se conhece como denominação batista.
Foi nos Estados Unidos da América que as comunidades batistas mais
cresceram, se configuraram e de onde se espalharam pelo mundo, levando um
evangelho com forte influência da cultura americana. De lá os batistas vieram pra
o Brasil onde plantaram igrejas e organizaram a Convenção Batista Brasileira, uma
entidade que agrega Igrejas Batistas na dimensão de cooperação denominacional.
No final do século XX e início do século XXI, influenciadas pela experiência
dos grupos familiares da Igreja do Evangelho Pleno, na Coréia do Sul, algumas
Igrejas Batistas do Brasil adotaram os Pequenos Grupos em sua filosofia de
ministério a fim de criar e manter vínculos primários, aprofundar a comunhão entre
os seus membros e buscar um crescimento mais significativo em suas comunidades.
221

Dentre as Igrejas Batistas do estado do Espírito Santo que adoram os


Pequenos Grupos como novo jeito de ser Igreja, estão a Primeira Igreja Batista em
Jardim Camburi, que adotou os Pequenos Grupos seguindo a proposta do Ministério
Igreja em Células, protagonizado pelo teólogo e pastor norte-americano Ralph
Neighbour e a Igreja Batista em Morada de Camburi, que adotou os Pequenos
Grupos seguindo a proposta de Igrejas Dirigidas por Propósitos, protagonizada pelo
também pastor norte-americano Rick Warren. As duas igrejas estão localizadas na
cidade de Vitória-Es e foram objeto de pesquisa desta tese.
A dúvida que norteou o desenvolvimento da pesquisa era se a questão da
reconfiguração em Pequenos Grupos, como forma de reencontrar a identidade cristã
e batista, é, na verdade uma recompreensão, reconfiguração da experiência eclesial
ou simples estratégia para aumento e arregimentação de membresia, permanecendo,
no entanto, a compreensão de igreja tradicionalmente configurada, onde apenas
foram acrescentados os Pequenos Grupos em adição a uma estrutura já existente.
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Para servir de fundamentação teológica para a pesquisa foi tomada como base
aquilo que se denominou eclesiologia de comunhão, com sua origem trinitária, sua
condição antropológica e sua caminhada histórica, sempre em busca de
configurações mais adequadas. Além de indicar os fundamentos antropológicos e
trinitários para a realidade da comunhão, indicou-se também um conjunto de
critérios a partir dos quais é possível aferir se a eclesiologia subjacente é de
comunhão ou não, escolhendo-se para isso a comunhão com o próximo, com Deus,
consigo mesmo e com a natureza, entendendo que a comunhão precisa se manifestar
de maneira objetiva nas relações multidimensionais dos membros dos Pequenos
Grupos.
A tese buscou no registro das Escrituras a prática vivenciada por Jesus Cristo
e a comunidade por ele iniciada, assim como nas pequenas comunidades cristãs do
primeiro século e ao longo dos dois últimos milênios, referência para a criação e a
manutenção de vínculos primários através dos relacionamentos em Pequenos
Grupos.
Com o advento das novas tecnologias, a possibilidade de relacionamentos
virtuais vem sendo celebrada como uma novidade que aproxima as pessoas e facilita
amizades e comunhão virtual. Entretanto, o que se observa é que ao mesmo tempo
em que as pessoas estão conectadas virtualmente, continuam sentindo falta do
222

contato face-a-face. Essa é uma realidade dentro e fora das Igrejas cristãs, tanto na
Igreja Católica como também nas Igrejas Protestantes.
Partindo do princípio de que a Igreja foi a providência divina para que esta
sede de comunhão seja saciada numa dimensão que inclua mais pessoas além do
círculo familiar e um nível mais profundo que apenas questões sociais, que supra o
ser humano na integralidade, incluindo todas suas dimensões existenciais, em que
as pessoas que partilham da mesma fé e de experiências semelhantes com a
Trindade divina, que desfrutam do mesmo amor e se deleitam na mesma esperança.
Baseada no entendimento de que embora a fé cristã possa ser individual, ela se
concretiza na dimensão comunitária, as Igrejas cristãs contemporâneas tem
buscado alternativas para suprir as necessidades de comunhão inerentes ao próprio
ser humano e à natureza da Igreja.
O Concílio Vaticano II produziu uma mudança de paradigmas no que diz
respeito à identidade e a função das comunidades eclesiais numa configuração mais
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horizontal e participativa na Igreja Católica. Propôs também um aggionamento da


Igreja entendendo com isso trazer o tradicional evangelho em sua novidade para o
presente, para os dias de hoje, o Evangelho que é inesgotável e que se renova em
cada nova época.
Paralelamente ao que acontecia na Igreja Católica através da realização e da
recepção do Concílio Vaticano II, as Igrejas Protestantes também buscavam novas
alternativas, com novos jeitos de ser Igreja, a fim de que, ao invés de ficarem na
defensiva, apenas lamentando os espaços perdidos, pudessem entender o que está
acontecendo com elas e com a sociedade onde está inserida a fim de se antecipar
com apontamento de soluções e não apenas reagir aos problemas já detectados.
Uma das alternativas foi se organizar em pequenas comunidades como
estratégia de ministério, numa tentativa de favorecer os valores do relacionamento
interpessoal desde uma perspectiva comunitária, respeitando-se a tendência da
sociedade atual e viabilizando a formação dos grupos por afinidades, sem
delimitação territorial.
Foi sobre essa Igreja do presente e do futuro, capaz de resgatar os valores do
Reino de Deus presentes no ministério de Jesus Cristo e dos seus apóstolos, que
consiga resgatar a comunhão inspirada na Trindade divina e protagonizada por
Jesus Cristo e pelos cristãos primitivos, que se permita reconfigurar para que esses
propósitos sejam alcançados que este trabalho buscou, numa pesquisa de campo,
223

verificar até que ponto os Pequenos Grupos proporcionam oportunidade para a


vivência dos valores da eclesiologia de comunhão.
No capítulo três deste trabalho foram apresentados e analisados os dados
colhidos nas 100 entrevistas feitas na Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi e
nas 20 entrevistas feitas na Igreja Batista de Morada de Camburi.
Para averiguar até que ponto os principais valores da eclesiologia de
comunhão estão presentes na vida das igrejas pesquisadas foi definida uma lista de
doze itens constando laços humanos primários, exercício poder, caminhos da
comunicação, consciência de missão, compromisso com a sociedade, relações
ecumênicas, comunhão com as culturas na dinâmica da enculturação, comunhão
com a criação, sentido de pertença, formação espiritual dos membros dos Pequenos
Grupos, integração das gerações e comunhão com Deus.
Foram destacados e analisados também alguns depoimentos feitos pelos
pastores, supervisores, líderes e membros dos Pequenos Grupos, em que falam de
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como enxergam a suas Igrejas e o impacto que os Pequenos Grupos tem causado
sobre a configuração das Igrejas e vivência dos valores do Reino de Deus.
Constatou-se que há um consenso de que as duas Igrejas vivem momentos novos,
com muitas mudanças, a partir da adoção dos Pequenos Grupos em sua
configuração eclesial.
Foram feitos algumas observações nas diferenças e nas semelhanças na
organização, funcionamento e acompanhamento dos Pequenos Grupos entre as
duas Igrejas, constando-se que as diferenças não afetam o resultado final a que os
Pequenos Grupos se propõem.
Pela análise na fala dos/as entrevistados/as foi identificado que os Pequenos
Grupos contribuem decisivamente para a criação, manutenção e aprofundamento
de laços primários, proporciona uma grande participação dos seus membros, com
excelente aproveitamento dos/as discípulos/as de Jesus Cristo no pastoreio mútuo.
Por outro lado, constatou-se também que é necessário que as duas Igrejas
pesquisadas continuem avançando no compromisso com a transformação da
sociedade, através da adoção de uma fé engajada, nas relações ecumênicas,
superando as barreiras que a denominação batista impõe ao ecumenismo através da
adoção de uma fé dialogal e um envolvimento maior na solução da grave crise
ecológica que se instalou no planeta, através da conscientização da responsabilidade
de cada habitante do planeta no cuidado da casa comum.
224

Ao término da pesquisa, verificaram-se indícios de reconfiguração eclesial,


em virtude da adoção dos Pequenos Grupos como estratégia para a vivência dos
valores da eclesiologia de comunhão na Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi
e na Igreja Batista de Morada de Camburi, embora isso ainda esteja em processo de
implementação nas duas comunidades.
A análise das duas Igrejas escolhidas como objeto material permitiu que se
concluísse que ambas se encontram num processo de reconfiguração a meio
caminho. Nas duas Igrejas, foram observados avanços no que diz respeito aos
aspectos internos da estruturação comunitária. Dentre estes aspectos, podem ser
destacados os vínculos primários, a participação de mais pessoas nas decisões e na
gestão e na corresponsabilidade ou mutualidade em relação ao pastoreio. Nestes
três casos, não se pode negar que a configuração em Pequenos Grupos representou
um avanço e não apenas uma estratégia para aumento de membresia.
Por outro lado, ao se considerar a comunhão como realidade ampla e infinita,
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percebeu-se também que a reconfiguração encontrou um teto que não conseguiu


ultrapassar. Este limite ou teto se manifestou nos seguintes aspectos: ecumenismo,
ação social e ecologia. Estas três realidades dizem respeito à comunhão ad extra,
isto é, com quem está fora do horizonte da comunidade, no caso, da comunidade
batista.
É provável que isso revele uma dificuldade que os batistas têm e sempre
tiveram de se relacionar com outras realidades que não sejam as próprias. Percebe-
se ainda forte presença do dualismo antropológico na medida em que desvaloriza
na prática o compromisso sociotransformador, a relação ecumênica e mesmo inter-
religiosa e a preocupação ecológica. O princípio batista da suficiência do indivíduo
acaba por exacerbar a preocupação com a conversão individual e o restante seja
visto como consequência. Daí o paradoxo que se está percebendo em vários locais
do Brasil, com o crescimento da presença evangélica em concomitância com, por
exemplo, a corrupção e, no caso do Estado do Espírito Santo, a violência contra a
mulher.
Importa ainda destacar que, já no início da tese, se pergunta se a questão dos
Pequenos Grupos seria apenas uma estratégia para aumento de membresia, com o
consequente incremento das condições financeiras para as comunidades, numa
perspectiva que se poderia chamar de guerra santa entre as igrejas. A pesquisa de
campo mostrou que, nos dois casos, não existe um ethos de competição, nem de
225

preocupação pelo aumento numérico de pessoas ao estilo da competição de


mercado. Ao contrário, o que se pôde perceber foi o desejo de se vivenciar de modo
correto a fé em Jesus Cristo e os valores do Reino de Deus, incluindo um
crescimento saudável como consequência ao mandado de Jesus Cristo aos seus/suas
seguidores/as. Se, por um lado, não se conseguiu avançar como desejado na prática
da eclesiologia de comunhão, isso não significa que existam outras intenções que
não a de viver o mais corretamente possível a experiência da Fé Cristã.
Como afirma Moltmann, “Igrejas missionárias, Igrejas Confessionais, e
‘Igrejas sob a cruz’ são ou se tornarão inevitavelmente Igrejas-comunhão”671. Isso
não significa, necessariamente que as Igrejas pesquisadas já tenham se tornado
Igrejas de Comunhão, nem que já tenham alcançado um patamar desejável de
reconfiguração eclesial. Entretanto, o que fica claro ao longo de toda a pesquisa é
que as duas igrejas pesquisadas caminham nesta direção, com maior ou menor
consciência de seus membros, mas com intencionalidade por parte de suas
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lideranças.
É indispensável que as Igrejas Batistas pesquisadas, bem como as demais
Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira se afirmem como Igreja-
comunhão, o que vai requerer cada vez mais presença e solidariedade ao mundo672,
com uma fé dialogal, engajada e consciente, que faça diferença, que atue
decisivamente na definição dos destinos das cidades e bairros onde estão
localizadas, pois “sem atuação histórica não há como a Comunidade de Fé tornar-
se sal da terra e luz do mundo”673.
Ao longo da pesquisa constatou-se a necessidade de outros estudos sobre
Pequenos Grupos, com outros enfoques que poderão ser dados em futuras
pesquisas: razões porque há pessoas que frequentam as duas Igrejas desde a
implantação dos Pequenos Grupos e ainda não se interessaram em fazer parte de
um deles; o que esses membros das Igrejas pesquisadas pensam dos Pequenos
Grupos; o que leva algumas pessoas a saírem dos Pequenos Grupos e não se
integrarem mais; o que leva determinados líderes a se sentirem desgastados e
desmotivados chegando ao ponto de abandonar a liderança, os Pequenos Grupos e
até mesmo as Igrejas. Cabe também uma pesquisa mais aprofundada sobre as razões

671
MOLTMANN, J., A igreja no poder do Espírito, p.16.
672
BITTENCOURT FILHO, J. Caminhos do protestantismo militante, p.98.
673
Ibid.
226

porque tanta indiferença relacionada à comunhão ad extra, expressada nas questões


de ação social, ecumenismo e ecologia e como este quadro pode ser modificado
sem o comprometimento da identidade cristã Batista das duas igrejas pesquisadas e
das demais Igrejas Batistas filiadas à Convenção Batista Brasileira.
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227

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<http://www.batistas.com>. Acesso em: 8 nov. 2013.

PORTAL BATISTA. Declaração de Fé da Convenção Batista Brasileira.


Site. Disponível em: < http://www.batistas.com/portal-
antigo/index.php?option=com_content&view=article&id=15&Itemid=15&sh
owall=1>. Acesso em: 8 nov. 2013.

IGREJA BETESDA. Lugar de gente feliz. Disponível em:


<http://igrejabetesda.com.br>.

PIBJC. Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi. Compartilhando o amor


de Deus. Disponível em: <http://www.pibjc.org>. Acesso em: 03 set. 2013

PREFEITURA DE VITÓRIA. “Regionais” Prefeitura Municipal de Vitória.


Disponível em: <http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais>. Acesso em: 9
mai. 2013.

COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE. “CEBS e Inculturação”. BLOG,


Inculturação. Disponível em: http://comunidade-cebs.blogspot.com.br>.
Acesso em: 10 jun. 2016.
236

XA NOS TES AQUI. Blogue de catequese e música popular litúrgica em


galego. Disponível em
<http://xanostesaqui.blogspot.com.br/2014/01/aprender-dialogar.html.>.
Acesso em: 21 jun. 2016

PORTAS ABERTAS. “China” Atualizado em 19/12/2015. Disponível em:


<https://www.portasabertas.org.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.

WIKIMAPIA. Morada de Camburi (Vitória). Fonte: Diagonal Urbana, Projeto


Terra, SEDEC / DIT / GEO. Disponível em:
<http://wikimapia.org/11005209/pt/Bairro-Morada-de-Camburi>. Acesso
em: 09 mai. 2015.

IMPRESA DA SANTA SÉ. Sínodo dos bispos. Disponível em


<http://www.vatican.va/news_services/press/documentazione/documents/
sinodo_indice_sp.html>. Acesso em 11 de Maio de 2015.
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Anexo A
Pequenos Grupos na Igreja Dirigida por Propósitos - Igreja
Batista de Morada de Camburi

FUNÇÃO: Pastor Sênior SEXO: Masculino DATA: 05/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
69 anos Morada de Camburi IBMC 01

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a história da Igreja Batista em Morada


de Camburi.
1r. Entrevistado: Eu cheguei aqui em dezembro de 99. E nesse, nesse tempo a igreja estava
passando por momentos de muitas dificuldades por situações administrativas e até mesmo
doutrinárias. Esta igreja foi organizada como uma igreja independente. Pastor ___ vindo
de ___ ele iniciou a igreja aqui como uma igreja Batista independente e aqui ele fez o seu
ministério que progrediu mas infelizmente, como disse, as conjunturas chegaram num
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ponto que em mil novecentos e noventa e nove, no mês de dezembro, quando aqui cheguei
eram só vinte e quatro membros e nós começamos o ministério com um desafio muito
grande. Felizmente, a igreja dirigida pelos propósitos de Deus foi a ferramenta que nós,
orientados por Deus, utilizamos para revigorar a igreja. E paulatinamente a igreja foi
tomando pé desses propósitos, os prédios foram renovados com a ajuda de amigos que nem
eram da igreja e alguns deles nem eram cristãos, e muitas pessoas de outras igrejas
começaram a vir, muitos outros começaram a ser batizados e com isso a comunidade foi
florescendo pouco a pouco. Nesse tempo então, no mês de maio de dois mil, nós
implantamos inteiramente em nossa igreja a ideia de propósitos. E a partir daí fomos só
dando a cobertura de ensino e de ajuda às pessoas para que a igreja toda estivesse
estabelecida encima da ideia dos cinco propósitos bíblicos de Deus. É interessante porque
as pessoas às vezes ficam meio perdidas com respeito à ideia dos propósitos. Mas os
propósitos, eles são bíblicos, eles são tirados do grande mandamento e da grande comissão.
E os propósitos são: a comunhão, a adoração, o discipulado, o evangelismo e o serviço.
Então, toda a igreja foi a partir daí, administrada, dirigida, orientada, todo o trabalho de
espiritualidade, tudo afunilava nos cinco propósitos. E, desde então, tudo que nós fazemos
tem que ter algum link com os propósitos. Aqui a gente não faz absolutamente nada que
não tenha uma direção e alcance de um dos cinco propósitos. Por isso que a nossa igreja é
conhecida aqui no Brasil como a pioneira na direção de igrejas dirigidas pelos propósitos
de Deus. Então, até hoje, depois de quinze anos, nós estamos ainda firmes nessa direção, e
agora trabalhando com uma nova identidade que além de igrejas com propósitos nós
queremos simplificar tudo que nós estamos fazendo, para que nossa direção e a visão dos
propósitos sejam cada vez mais clara, cada vez mais dinâmica, cada vez mais alinhada,
cada vez mais focada. Essas quatro estratégias vão nos ajudar daqui pra frente a melhorar
ainda mais a, a observância e a vida plena dirigida pelos propósitos de Deus.

2p. Entrevistador: Você falou que um dos propósitos é comunhão. Qual foi a
estratégia adotada pela igreja pra comunhão?
238

2r. Entrevistado: Quando nós começamos o pastorado aqui não havia tanta dificuldade
porque a quantidade de gente nos cultos era pequena e a gente conseguia fazer uma ligação
das amizades, do cunho fraternal, do cristão, isto é, da comunhão de uma maneira
relativamente fácil. A gente podia se conhecer um ao outro pelo nome, sabia onde morava,
sabia qual era a profissão, com quem era casado, quantos filhos tinham. Então, nós
tínhamos todas essas determinâncias feitas com facilidade pelo pequeno número de
membros. Mas já, quando nós chegamos em dezembro de dois mil, com a igreja com mais
de setenta membros, então a coisa começou a ficar difícil. Então, nós sabemos que não se
pode ter comunhão com uma igreja com mais de sessenta membros. E por conta disso nós
procuramos um estratégia que pudesse nos ligar em termos de celebração da comunhão
numa grande comunidade, mas a verdadeira comunhão numa pequena comunidade. Por
isso que a partir daí nós iniciamos o processo de abrir os chamados pequenos grupos ou
que para alguns são chamados de grupos pequenos ou células.

3p. Entrevistador: Qual foi o resultado, o impacto desses pequenos grupos na vida da
igreja?
3r. Entrevistado: Bom, em se tratando de comunhão, o maior impacto foi a possibilidade
que nós criamos de uma verdadeira rede de ajuda, de apoio, de proteção e especialmente,
muito especialmente, de dar às pessoas uma direção de que elas tinham a, outros que
estavam ali disponíveis, prontos para ajudar em caso de qualquer necessidade. Isso deu pra
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nossa comunidade um espírito de segurança muito bom porque a gente chegou a uma
conclusão que eu posso contar com aquela pessoa que está no meu pequeno grupo. É, esses
pequenos grupos, antigamente eles, eles se reuniam nos diferentes dias da semana, hoje nós
mudamos um pouco e concentramos nas terças-feiras à noite. Então eles se reúnem nas
casas, é, nos mais diferentes locais. Nós temos pequenos grupos é, em Vila Velha, em
Cariacica, na Serra, já tivemos pequenos grupos em Santa Tereza, aqui no interior do
Estado e aqui na nossa região nós temos vários deles.

4p. Entrevistador: Como é que acontece os encontros desses pequenos grupos?


4r. Entrevistado: Se você fala na estrutura das reuniões, é, normalmente a gente começa
às 20h e geralmente chega até as 22h. Então nós fazemos nas, nos encontros dos pequenos
grupos nada mais do que a realização em, em pequena quantidade de gente do que
normalmente a gente faz nas grandes celebrações. Então, no pequeno grupo nós temos
adoração com os cânticos, nós temos é, o discipulado com o ensino da Bíblia, é, nós temos
o serviço com as pessoas que arruma o local onde nós nos reunimos, providencia o lanche,
depois nós temos o evangelismo, quando convidamos pessoas que não são crentes para
chegarem lá e ouvirem a palavra. E nós temos é, a comunhão acima de tudo. Porque, é, nos
encontros semanais nós podemos compartilhar como é que foi a semana, compartilhamos
as dificuldades, ali temos a oportunidade de confessar os nossos erros, as nossas falhas,
então a comunhão se dá em um nível maior. Então a gente diz assim: os pequenos grupos
é o lugar da comunhão. Os outros quatro propósitos eles aparecem acessoriamente.

5p. Entrevistador: Sim. E queria que falasse um pouquinho mais exatamente sobre
isso, sobre essa oportunidade que os participantes do grupo, do pequeno grupo têm
pra compartilhar suas experiências.
5r. Entrevistado: Esse é o único lugar na face da terra onde as pessoas podem ter essa
chance. Porque mesmo noutros pequenos grupos da igreja, tipo, os pequenos grupos da
escola dominical, cuja estrutura é especialmente o ensino bíblico, isto é, o discipulado, ou
239

nos grupos de crescimento em que a gente tem para pais ou para mães, ou para casados,
nesses grupos a gente tem a oportunidade de compartilhar alguma coisa, mas é no pequeno
grupo, pelo fato de estarmos juntos e pelo fato de sabermos que o que se, o que acontece
ali permanece ali em termos de confiabilidade, é ali que as pessoas se sentem inteiramente
à vontade para revelar suas falhas, seus erros, confessar os seus pecados e até buscar
orientação pra determinados problemas da vida. Então, esta é uma oportunidade fantástica
para as pessoas fazerem uma coisa altamente necessária, mas que infelizmente não
encontram um lugar saudável, um lugar confiável pra expressar aquilo que sentem, suas
dores, suas queixas, suas necessidades. E o pequeno grupo dá essa oportunidade, o pequeno
grupo abre essa chance. Então, é de fato uma das estratégias mais abençoadoras. Essa
estratégia não é uma coisa nova, ela vem lá do início da igreja cristã quando encontramos
no livro de Atos que os cristãos se reuniam nas casas. Por isso nós simplesmente como que
voltamos a igreja primitiva, iniciamos um processo de abordagem que a comunhão se torna
fator principal.

6p. Entrevistador: Como é que esses grupos são, se organizam, como é que eles se
juntam?
6r. Entrevistado: Eles se juntam de diferentes perspectivas. A perspectiva mais comum
aqui é pela proximidade de onde moramos. Especialmente pelo fato de Vitória ser uma
cidade difícil de poucas ruas e muitos carros, então, nesses horários de sete e oito horas da
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noite quando as pessoas estão voltando pra casa, as ruas ficam intransitáveis, por isso a
maioria dos grupos funcionam na medida em que as pessoas estão próximas da casa onde
o grupo se reúnem. Mas nós temos grupos de faixas etárias, adolescentes, jovens, como nós
temos grupos também de mulheres, grupos de homens. Mas, na maioria é, é pela
localização geográfica. Quanto mais perto de casa, mais confortável fica chegar até aquele
grupo, que a gente pode ir à pé, sem necessidade de carro, sem ter problema de
estacionamento.

7p. Entrevistador: A liderança desse grupo, como é que essa liderança se, como é que
é levantada essa liderança, como é que é capacitada essa liderança, tem um líder, tem
dois líderes, como é que funciona isso?
7r. Entrevistado: A igreja tem um líder para cada um dos propósitos. Geralmente pastores
ou ministros ordenados. O líder do ministro de comunhão, do ministério de comunhão é
um pastor e é dele a responsabilidade do treinamento, do levantamento desses líderes.
Então isso se dá através de cursos ou de eventos, ou das reuniões administrativas da igreja,
que nós chamamos de reunião de liderança ou RELIDER ou RELIDER que é na verdade
um seminário de liderança e nesses seminários como no RELIDER, nós passamos
orientações sobre liderança e abrimos chance para que as pessoas se apresentem como
voluntárias para estes postos. Então, o que nós fazemos normalmente é, temos um líder,
cada grupo tem o seu líder e nós fazemos o treinamento colocando líderes auxiliares ao
lado desse líder. De modo que quando um grupo chega a ter é, em torno de 16 a 20 pessoas
a gente já trabalha a estratégia da multiplicação. E nesse caso, nesse caso o líder principal
fica com um grupo e o líder auxiliar fica com o outro grupo. E, e a partir daí nós procuramos
promover a, a, alguém pra ser líder auxiliar dos dois que agora estão trabalhando em dois
grupos novos. E por aí a gente tem um mecanismo com uma verdadeira rede de liderança.
240

8p. Entrevistador: Como é que a igreja acompanha esses grupos, que tipo de
acompanhamento esses grupos tem da parte desse líder do propósito de comunhão ou
da igreja como um todo?
8r. Entrevistado: O líder de propósito de comunhão ele tem a equipe que trabalha no
sentido de providenciar é, tudo o que os pequenos grupos precisam. É, e, estas coisas
geralmente elas são manifestas nos encontros especiais que nós temos. São pelo menos
quatro deles por ano que a gente chama de encontrão do pequeno grupo. Então, todos os
pequenos grupos se reúnem e então nesta, neste encontro a, a gente tem testemunhos como
tem as chamadas exposições de necessidades. Muitas vezes os grupos reclamam de que o
material de ensino poderia ser este ou aquele, dão sugestões e nós acolhemos todas, todas
essas exposições de necessidades e então no staf, nós trabalhamos junto com o pessoal do,
da equipe ministerial de comunhão pra atender tudo o que eles precisam. Como o pequeno
grupo pra nós é, talvez a ferramenta mais importante da igreja, é natural que a gente dê
todo o apoio e toda ajuda possível do que eles necessitam.

9p. Entrevistador: Tem alguma relação do que é tratado no pequeno grupo com
aquilo que é tratado nas reuniões gerais da igreja, nas celebrações que incluem toda,
toda a igreja ou que critérios são usados pra definir o que vai ser trabalhado nos
grupos?
9r. Entrevistado: Não. Geralmente a equipe do ministério de comunhão com seu líder,
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eles é que fazem o levantamento dessas necessidades e trabalham nos materiais, que
imprimem e mandam pra os líderes e geralmente dentro de um tema ou dentro de uma
situação específica. E todos os grupos, via de regra estudam o mesmo tema, o mesmo
assunto, a mesma lição nos domingos, perdão, nas terças-feiras quando nos reunimos.

10p. Entrevistador: E nesse caso, o pequeno grupo, na reunião do pequeno grupo tem
um estudo?
10r. Entrevistado: O estudo geralmente leva meia hora, bem interativo, bem, bem aberto,
não é um tipo de ensino, é, em que o professor fala todo o tempo, ele é bem diversificado,
bem animado, e com as participações. E o que acontece, por ser um pequeno grupo,
geralmente a gente tem os materiais teóricos, a gente dá liberdade de quando a gente está
tratando das questões teóricas, ou teológicas, ou doutrinárias, ou bíblicas, ou mesmo
comportamentais, as pessoas têm uma, a liberdade de dizer “eu estou passando isso, está
acontecendo isso, eu tenho um amigo que está sentindo isso, que houve isso”. Então a gente
sempre procura ilustrar a ideia do que está se ensinando com a vida prática, de maneira que
o pequeno grupo se torne não apenas saudável, mas atraente.

11p. Entrevistador: Você vê algum tipo de risco, algum perigo pra igreja, pra unidade
da igreja a existência desses pequenos grupos?
11r. Entrevistado: Pelo contrário. O pequeno grupo é um elemento de ligação muito forte.
O pequeno grupo é uma ferramenta que leva a igreja a ter uma comunhão cada vez mais
consistente, porque de certa maneira, todos nós estamos estudando os mesmos temas, e
quando há porventura alguma discrepância de alguma coisa, a própria equipe do ministério
de comunhão, sabedora disso, é, procura sanear isso o mais rapidamente possível pra não
dar margem a qualquer disparidade, a qualquer divergência, a qualquer distensão. Mas pelo
contrário, o pequeno grupo sempre tem sido elemento de aglutinar, de juntar o povo.
241

12p. Entrevistador: Qual o impacto que o pequeno grupo trouxe na estrutura


funcional da igreja?
12r. Entrevistado: Em todos os sentidos a gente sabe que o pequeno grupo tem feito coisas
maravilhosas na vida das pessoas. Por exemplo, no domingo passado tivemos no culto da
noite o testemunho de uma senhora que fez uma cirurgia que não deu certo, teve que voltar
à mesa de, de operações de novo, e ela voltou pela terceira vez. Nesse período ela estava
com uma sensibilidade muito machucada e por conta disso entrou numa tremenda
depressão. Então, o pequeno grupo sabendo disso, eles se reuniria numa outra casa, então
eles cancelaram tudo o que iriam fazer e o grupo todo foram na casa dela e ficou aquela
parte da noite com ela, eles levaram lanche, não houve estudo bíblico a não ser conversa, a
não ser apoio, a não ser... Divertiram-se muito, riram muito, deram pra ela todo o apoio
espiritual, com muitas orações. Então, a gente sabe que o pequeno grupo, ele estabelece
essa conexão de uma forma muito forte e por conta disso é natural que a gente entenda que
a influência do pequeno grupo na igreja, na comunidade, sempre, sempre é muito grande.

13p. Entrevistador: Em termos de estrutura, de funcionamento da igreja, é,


configuração da igreja, que, qual a, o papel do pequeno grupo nessa configuração da
igreja?
13r. Entrevistado: A comunhão é um elemento indispensável pra que a comunidade se
mantenha unida. Uma igreja grande, com mais de cem membros, naturalmente essa
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comunhão se dilui, porque como as pessoas só se veem no domingo, elas não tem tempo
de compartilhar uns com os outros a sua vida. Na medida em que o Novo Testamento
estabelece um contato contínuo e a expressão uns aos outros é uma expressão encontrada
pelo menos quarenta e oito vezes nas escrituras, isso nos dá, nos dá margem a pensar que,
se uma igreja funciona apenas com os cultos de domingo, isto é, de celebrações maiores,
essa igreja ficará mais vulnerável a distensões, a, as dificuldades. Mas, se a igreja se reúne
em pequenos grupos com a mesma direção, com a mesma unidade, esses pequenos grupos
se tornarão fantásticos, porque aquilo que a gente não vai ter nas grandes celebrações, a
gente vai ter nos pequenos grupos, como que suprindo um dos aspectos mais favoráveis
pros dias de hoje, na medida em que as pessoas estão literalmente anônimas, onde se
encontram e, é, cada um por si. Então, o pequeno grupo oferece a oportunidade da pessoa
se sentir acolhida, importante, aconchegada, protegida, orientada.

14p. Entrevistador: E na, nessa celebração geral, qual a, a influência que o pequeno
grupo tem nessa celebração geral, quando todos os grupos se encontram pra celebrar?
14r. Entrevistado: Você fala nas celebrações dos domingos?

15p. Entrevistador: Isso!


15r. Entrevistado: Nas celebrações de domingo o pequeno grupo não tem tanta influência
porque ali eles se dissolvem. Eu gosto muito que isso aconteça porque nessa forma
dissolvida, eles fazem contato com outras pessoas e com isso os relacionamentos vão
crescendo. Eu não, não, não incentivo muito os pequenos grupos estarem no auditório da
igreja, nos domingos, todo mundo juntinho ali, porque eles já vão estar juntos nas terças-
feiras. Então, a minha sugestão é que eles se misturem com outras pessoas, façam contato
com outras pessoas, conheçam outras pessoas pra ampliar ainda mais a cadeia de conexão,
a cadeia de ligamentos fraternais.
242

16p. Entrevistador: Mas no ambiente, no ambiente do culto, da celebração do culto


de domingo, é, a, percebe-se alguma, alguma influência do pequeno grupo na, naquele
ambiente que se cria para a celebração do domingo?
16r. Entrevistado: Bom, a primeira coisa que a gente percebe que a tendência deles
sentarem juntos, né? E sentando juntos naturalmente eles vão celebrar de uma forma
semelhante ao que fazem as terças-feiras. Então, alguns grupos são mais dinâmicos, outros
são mais, é, emocionais né? Outros são mais racionais, e a gente permite que todos eles
estabeleçam a sua forma de adorar, sua forma de celebrar. Eles têm essa liberdade a partir
do que fazem nos seus pequenos grupos.

17p. Entrevistador: E, no ministério pastoral da igreja, qual a influência que os


grupos de comunhão exercem sobre o ministério pastoral da igreja?
17r. Entrevistado: O pequeno grupo, na verdade ele trabalha pra nós como um desafio de
buscarmos um padrão de excelência no ensino e muito especialmente na direção de
estarmos juntos. A figura daquele pastor que fica distante, a figura daquele pastor que, é,
só trabalha dentro das suas próprias formas personalizadas, não funciona bem quando a
igreja tem pequenos grupos porque ele mesmo precisa ter o seu pequeno grupo. Ele não é
o líder, ele simplesmente senta pra ser ministrado. Então, o exemplo dele na medida em
que ele participa, ele vai perceber que ele precisa estar dentro, é, dos, das celebrações mas
conectados com as pessoas. Então, há uma, um verdadeiro desafio pra gente ter esse padrão
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de excelência nos relacionamentos e na forma como nós ensinamos. Porque na medida em


que as pessoas crescem, nós precisamos crescer também na qualidade do que a gente
ensina.

18p. Entrevistador: E na sua vida, qual foi o impacto do pequeno grupo na sua vida,
no seu relacionamento com Deus?
18r. Entrevistado: Eu tenho o meu pequeno grupo que se reúne as terças às vinte horas,
na Paia do Canto, bem perto da minha casa, posso ir andando, tranquilo. E ali eu tenho
pessoas que fazem parte da minha família espiritual de uma forma especial. Então, ali eu
tenho condições de colocar as minhas queixas, as minhas frustrações, as minhas
reclamações, as minhas dores. E eu faço isso lá sem muita dificuldade, embora eu seja um
pouco fechado em mim mesmo, porque naturalmente a gente tem que se precaver pelas
más interpretações do que a gente possa dizer quando fala de si mesmo, mas ali no pequeno
grupo eu não tenho isso. Lá eu consigo falar abertamente e sou acolhido, sou abraçado, sou
amado pra valer mesmo. Isso me dá assim, no coração, uma alegria e sentir o grande
privilégio de fazer parte de um dos pequenos grupos de nossa igreja.

19p. Entrevistador: Hoje, qual seria o maior desafio para os pequenos grupos da
igreja de Morada?
19r. Entrevistado: É a implantação dessa nova perspectiva de clareza, da dinâmica, do
alinhamento e do foco. Porque essas quatro estratégias vão turbinar os propósitos e a
comunhão naturalmente vai ser o carro chefe pra que isso aconteça. E naturalmente fazendo
isso, esses pequenos grupos logo, logo, eles vão precisar ser multiplicados que em pouco
tempo nós vamos ter duas vezes menores grupos do que temos hoje. Isso tudo significa
crescimento da igreja em todos os sentidos.
243

20p. Entrevistador: Qualquer pessoa da igreja pode fazer parte desses pequenos
grupos, a igreja tem qual o percentual de membros da igreja hoje fazem parte dos
pequenos grupos, como é que a igreja trabalha isso?
20r. Entrevistado: Qualquer pessoa da igreja e fora da igreja pode participar do pequeno
grupo. Então, há muitos grupos com pessoas que não vem aqui aos domingos, mas não
perdem as terças-feiras nos pequenos grupos. Elas fazem daquilo um compromisso. E
mesmo quando a gente convida pra vir a igreja no domingo elas dizem que, é, mostram
alguma justificativa e nós não forçamos. O fato de estar no pequeno grupo pra nós já é
muito bom. Nosso alvo é chegar nesse final de ano com 70% da igreja em pequenos grupos
e nos tornarmos em vez de igreja em pequenos grupos, nos tornarmos uma igreja de
pequenos grupos. Isso significa que nós vamos dar ainda mais, é, força, ajuda, participação
e apoio a liderança dos pequenos grupos aqui em Morada.

21p. Entrevistador: Explique um pouquinho essa questão de igreja em e a igreja de


Pequenos Grupos.
21r. Entrevistado: A igreja que trabalha em pequenos grupos e a igreja que é de pequenos
grupos, a diferença é que uma ela trabalha tendo os pequenos grupos como uma ferramenta
como todos os outras áreas de atividades. Mas a outra, ela trabalha como se o pequeno
grupo seja a ferramenta principal para a consecução dos fins da igreja. Então, o DNA da
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igreja que são os cinco propósitos vai ser o mesmo DNA do pequeno grupo. E com isso
você vai ter um pequeno grupo que é na verdade uma pequena, uma pequena célula da
igreja que vai estar funcionando, cumprindo todos os cinco propósitos em clareza,
dinâmica, alinhamento e foco.

23p. Entrevistador: Tem um tempo de duração o grupo?


23r. Entrevistado: Não! Não. Nós não temos tempo. Apenas, é, nós damos uma pausa
nas férias, é, aquele período de Natal e Ano Novo e no mês de Janeiro, então nós damos
uma pausa e retornamos geralmente, como aqui se diz, nesse país tudo funciona depois do
Carnaval, então nós retornamos depois do Carnaval. A, a grande, o grande lance é a gente
chegar no final do ano com muitos grupos multiplicados. Isso aí é o que a gente mais deseja.
Mas também, a gente não multiplica por multiplicar. A gente só multiplica se tiver uma
casa onde o pequeno grupo possa se reunir e muito especialmente um líder devidamente
autorizado e autenticado pela igreja pra dirigir.

24p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre os pequenos grupos?
24r. Entrevistado: Apenas a ideia de que toda a igreja que se diga cristã deveria pensar
seriamente em iniciar o processo de pequenos grupos em sua comunidade para
experimentar de verdade qual é a influência deles. Porque quando a gente fala, a palavra
não tem a mesma direção, a mesma expectativa da realização da experiência. Então, a
minha sugestão é que experimente, abra um ou dois pequenos grupos. Experimente ver
qual é o resultado fenomenal, naturalmente que o pequeno grupo traz pra qualquer
comunidade cristã.

25p. Entrevistador: Muito obrigado.


244

FUNÇÃO: Pastor Sênior SEXO: Masculino DATA: 05/06/2014


IDADE IGREJA DENTIFICAÇÃO
53 anos Morada de Camburi IBMC 02

1p. Entrevistador: Quanto tempo você faz parte da Igreja?


1r. Entrevistado: Da Morada?

2p. Entrevistador: Da morada.


2r. Entrevistado: É, nove pra dez anos.

3p. Entrevistador: Quando você veio pra cá, já tinha o pequeno grupo ou ainda...?
3r. Entrevistado: Quando eu cheguei na igreja já existia essa ideia do pequeno grupo e eu
comecei a participar do pequeno grupo.

4p. Entrevistador: Como é que tem sido, pra você, a participação no pequeno grupo?
4r. Entrevistado: Rapaz, quando eu cheguei na, na igreja foi fundamental pra eu criar
vínculos com o pessoal da igreja. Porque senão ficaria só limitado a frequência aos cultos,
como também a gente tem um pouco de perfil de líder, a gente acabou se envolvendo pra
se envolver com o trabalho também, né? Então nós participamos assim, assiduamente no
pequeno grupo desde então.
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5p. Entrevistador: E como você, como isso repercutiu na sua vida, seu relacionamento
com Deus?
5r. Entrevistado: O meu relacionamento com Deus veio só a crescer no sentido da
comunhão com o corpo. Porque, no sentido assim, do aprendizado, de experiência. Eu já
tinha assim certa experiência e vivência com, com minha devocional, minha, meus
momentos às sós com Deus e já tinha já uma história cristã pregressa. Então, assim, foi
mais a nível de comunhão, de participação, de envolvimento, engajamento, inclusive até
de ajudar também no, na condução dos pequenos grupos.

6p. Entrevistador: Quando você veio pra essa igreja que tinha já pequenos grupos,
você veio de outra igreja que tinha Pequenos Grupos?
6r. Entrevistado: Não tinha pequenos grupos.

7r. Entrevistador: Não tinha pequenos grupos. Que tipo de diferença você constatou?
7r. Entrevistado: Bom, eu vi que eu gosto demais dessa ideia do pequeno grupo, célula,
eu já gostava antes, já tinha lido alguma coisa. Mas, vim do interior da Bahia então não
tinha esse, essa identidade comunitária lá. Quando eu cheguei aqui que me envolvi. Eu,
primeiro encontrei com aquilo que gostaria de ter numa experiência, justamente estar ligado
a uma comunidade, estar participando de pequenos grupos. Eu vejo então uma ferramenta
desde a igreja primitiva que funciona.

8p. Entrevistador: Como é que você falou que participa do pequeno grupo como líder.
Você já liderou ou lidera ainda?

8r. Entrevistado: Já liderei assim, esporadicamente a convite. Porque na função da gente,


como pastor e tudo, em algum momento você precisa, não assumir esses papeis, esses
lugares exatamente pra permitir que outros desenvolvam-se, E ao mesmo tempo cresçam
245

nessa experiência tanto com Deus quanto com a irmandade. Mas em algum momento faltou
e a gente sempre esteve disponível pra, pra suprir uma necessidade.

9p. Entrevistador: Que associação você faz entre o pequeno grupo e a comunhão na
igreja?
9r. Entrevistado: Rapaz, eu poderia dizer que acho que é uma comunhão diferente,
associada sim, porque tem a mesma identidade no sentido de comunidade e no sentido de
corpo. Porque você participa de uma mesma igreja que é uma comunidade. Quando você
tá no pequeno grupo é um nível, uma micro comunidade, uma micro igreja nesse sentido.
O oikos. 674 Mas, eu vejo que há uma diferenciação no sentido de comunhão porque nesse
momento de pequeno grupo, há um, um grupo menor de pessoas e então elas pode se
articular com observações, perguntas, respostas, participações ativas, expressando seu
ponto de vista, sua fé, suas necessidades e já num ambiente de comunidade, enquanto grupo
maior dificulta essa forma de diálogo, de abordagem, de troca.

10p. Entrevistador : Como é que acontecem esses encontros do grupo, do pequeno grupo?
10r. Entrevistado: Bom, os pequenos grupos, eu já passei aqui na, nessa igreja por três,
quatro especificamente. Quando eu cheguei aqui tinha um grupo assim, de uma faixa etária
tudo bem adulto, acima de trinta e cinco anos e pessoas que estavam ávidas pra falar de
Deus e eu pude contribuir de alguma forma e foi muito bom esse tempo, mas depois em
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função, justamente de questões estratégicas da igreja, comecei a frequentar um outro grupo.


Aí já era um outro perfil, o perfil que tinha muitas crianças e tudo e que funcionava também
com algumas dificuldades em função da presença das crianças, mas a coisa acontecia como
acontece até hoje. Depois eu fui pra um outro pequeno grupo mais elitizado e também lá
participava e ia com uma certa, com uma dificuldade maior porque as pessoas em função
da sua, de seu ritmo de trabalho impediam. E agora estou num outro pequeno grupo sendo
assim, participantes também efetivos já uns três anos e já é um perfil de casais com crianças
pequenas também, mais bebês.

11p. Entrevistador: Você falou elitizado. Existem pequenos grupos elitizados, como é
que é isso?
11r. Entrevistado: Não, eu disse elitizado pra poder assim diferenciar a classe né? Mas
não que houve uma diferenciação na formação. Mas até por questões geográficas e tudo.
Tem bairros que são bairros nobres aqui na cidade e nesses bairros nobres, as pessoas que
moram ali fica muito mais fácil delas se encontrarem ali do que se encontrarem num bairro
de periferia.

12p. Entrevistador: Então, quais seriam os critérios pra organizar os grupos?


12r. Entrevistado: Os critérios, primeiro é afinidade. Afinidade e uma situação geográfica
mais favorável.

13p. Entrevistador: E lá nos encontros do pequeno grupo, qual é a participação dos


membros do grupo, dos participantes do grupo, que tipo de espaço eles tem pra
compartilhar, pra falar deles mesmos, como é que funciona isso?

674
Termo utilizado para identificar o grupo de relacionamento mais próximo de uma pessoa, a
exemplo da família.
246

13r. Entrevistado: Esse espaço, de todos os que eu participei, eu vejo assim que houve
sempre uma flexibilidade, uma abertura. Não houve assim nada rígido, como alguém que
chegasse e trouxesse um estudo bíblico, trouxesse quase um sermão. Então, sempre as
pessoas que estavam dirigindo elas permitiam, e quando as pessoas ficavam um pouco
inibidas, elas aguardavam essas pra que essas pudesse se abrir, falar, compartilhar, trocar
experiências e falar das suas necessidades.

14p. Entrevistador: Então há um incentivo pra que as pessoas participem de fato no


pequeno grupo?
14r. Entrevistado: Há um incentivo.

15p. Entrevistador: E os líderes, como é que os líderes dos pequenos grupos surgem?
15r. Entrevistado: Rapaz, aí é uma questão da estratégia da igreja. Então não cabe a mim
assim, ficar falando muito, mas eu vejo que tem que nascer daqui de dentro da comunidade
mesmo, sendo estimulado pela liderança maior. Quem está assim mais a frente, quem está
mais designado pra esse trabalho de motivação pras pessoas assumir esse papeis.

16p. Entrevistador: Esses pequenos grupos, eles se reúnem numa casa só, é, mais de
uma casa, como é que é isso?
16r. Entrevistado: Aqui na igreja tem alguns que funcionam assim: em algum momento
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numa casa, outro em outra casa. Mas dos que eu participei e participo, todos eles eram em
residências fixas.

17p. Entrevistador: Então, residência fixa?


17r. Entrevistado: É.

18p. Entrevistador: Então tem um, alguém que recebe todas, é o que uma vez por
semana?
18r. Entrevistado: Casa hospedeira. Uma vez por semana. Tem um lar que hospeda o
grupo, e nesse, no caso desse e como nos anteriores também, a pessoa que hospedava era a
pessoa que conduzia.

19p. Entrevistador: Você vê algum tipo, algum perigo do pequeno grupo pra igreja
como um todo em termos de unidade da igreja?
19r. Entrevistado: Rapaz, a minha experiência nesse sentido eu não, não consigo enxergar
assim, um alcance desse jeito. Principalmente dentro da estrutura que nós temos. Mas eu já
fiz alguns cursos, já ouvi alguns pastores falando e me recordo agora de uma experiência
de outra igreja que eu conheci, que houve inclusive, até uma certa divisão por causa das
divergências de lideranças já dentro dessas estruturas, onde se multiplica muito os
pequenos grupos. E aí as pessoas começam a desenvolver algum tipo de inclinações que
acabam levando em alguma dificuldade. Mas dentro da nossa estrutura, da nossa igreja, eu
não enxergo aqui isso, pelo menos a médio prazo, não seria uma ameaça.

20p. Entrevistador: E benefícios pra igreja como um todo, eu tipo de benefícios o


pequeno grupo traz pra igreja como um todo?
20r. Entrevistado: Eu vejo que é um, só benefícios e não malefícios. Porque ela é o
pequeno grupo, acolhe as pessoas. Esse acolhimento traz um certo vínculo, esse vínculo é
247

conduzido pra comunidade. Então, como uma estratégia assim de uma igreja, vejo que é
essencial, a igreja pensar como a principal estratégia dela.

21p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos do pequeno grupo?


21r. Entrevistado: A meu ver seria ir ao alcance de outras pessoas, num segundo momento
a comunhão e terceiro momento o discipulado.

22p. Entrevistador: E na celebração do domingo. No domingo a igreja tem uma


celebração que inclui todos os grupos. Que tipo de influência você vê, ou de impacto
você vê, dos pequenos grupos nessa grande celebração?
22r. Entrevistado: Assim, no sentido de atividade dentro da celebração comunitária, não
vejo quase nenhuma, mas a título de participação como indivíduos que fazem parte desse
pequenos grupos é bastante, mas poderia ser melhor. Poderia ser assim, mais atuante, mais
pessoas participando dos cultos. Porque eu sei que alguns pequenos grupos tem pessoas
que participam dos pequenos grupos e que não participam da igreja nem como visitante.
Então, é uma questão assim de, se trabalhar alguns aspectos.

23p. Entrevistador: E quem que pode fazer parte desses pequenos grupos?
23r. Entrevistado: Qualquer pessoa. Qualquer nível social, qualquer gênero , qualquer
idade.
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24p. Entrevistado: E, no caso a igreja, ela deixa livre, participa quem quer, há um
incentivo da igreja que as pessoas participem, tem alguma meta nesse sentido?
24r. Entrevistado: Há um incentivo mas assim, a nível de sugestão do que assim um, uma,
uma abordagem que leve as pessoas a compreenderem que isso seria, se não missão do topo
da igreja parte dessa missão como igreja.

25p. Entrevistador: Alguma preparação dos membros da igreja pra eles participarem
dos pequenos grupos ou quem quer simplesmente vai?
25r. Entrevistado: Se você está falando de liderança...
26p. Entrevistador: Não. Pra participar.
26r. Entrevistado: Não. Qualquer pessoa, ela pode ser convidada por um dos membros ou
visitantes do, do pequeno grupo e ela, se ela sentir-se com liberdade pra trazer uma pessoa
ela traz sem nenhum problema.

27p. Entrevistador: Hum. E no caso, na estrutura de funcionamento da igreja que,


como... Você percebe ah, em que sentido o pequeno grupo é... Causou mudanças na
estrutura de funcionamento da igreja?
27r. Entrevistado: Rapaz, olhando assim a grosso modo, eu acho que não causou
mudanças. Assim, só hoje tô com outras ferramentas, estratégias que a igreja usa, então,
somar assim de causar um impacto, eu acho que, pelo menos agora não tem acontecido,
pode ter acontecido até antes de eu ter chegado aqui. Em algum momento nesse período
pode ter acontecido como... Um momento melhor, momento maior, no ápice digamos
assim. Mas no momento agora eu não to enxergando nada de tão estranho assim, bem,
quase que adormecido. Essa é a minha impressão.

28p. Entrevistador: Muito bem. Tem mais alguma questão que você gostaria de falar
sobre o pequeno grupo?
248

28r. Entrevistado: Eu vejo que, somente em cidades maiores, aliás, em qualquer cidade,
mas falando assim de cidades grandes. Vitória não é uma metrópole grandona, mas já não
é uma cidadezinha. E em função dessa mobilidade das pessoas de um lado para o outro, eu
vejo que é uma estratégia que a igreja teria que colocar como ordem do dia, não só pra
cumprir o ide de Jesus, mas também pra alimentar-se nesse processo de trazer pessoas pra
que elas possam ser alcançadas por Cristo e multiplicar, esse discipulado que é, que é o ide.

29p. Entrevistador: Como é que seria o discipulado no pequeno grupo?


29r. Entrevistado: Bom, aí depende como for a visão que a igreja, e especialmente a
liderança ou o líder. Entenda que deveria ser assim como prioritário, porque como eu falei,
você pode pensar em evangelismo, pode pensar em comunhão e pode pensar em
discipulado. Dependendo do perfil poderia ser inverso. O valor que o pequeno grupo tem
para uma estratégia de alcance vai depender na, que alcance esse vai ser, então a partir disso
que você vai dizer se é evangelismo ou se é mais comunhão, ou se é mais discipulado.

30r. Entrevistado: Ok. Muito obrigado.

FUNÇÃO: SEXO: Feminino DATA: 05/06/2014


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IDADE: 28 anos IGREJA DENTIFICAÇÃO


Morada de Camburi IBMC 03

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você chegou pra Morada?
1r. Entrevistada: Tem um mês. Completou um mês ontem.

2p. Entrevistador: Você vem de onde?


2r. Entrevistada: Eu fiquei quatro meses congregando na igreja______Tava trabalhando
lá no ________ e aí recebi o convite pra vir coordenar aqui.

3p. Entrevistador: Coordenar.


3r. Entrevistada: Isso.

4p. Entrevistador: Quando você veio pra cá então você estava coordenando.
4r. Entrevistada: Sim.

5p. Entrevistador: A igreja lá estava?


5r. Entrevistada: Estava lá como?

6p. Entrevistador: A igreja tinha pequenos grupos?


6r. Entrevistada: Não.

7p. Entrevistador: Você já teve alguma experiência com pequenos grupos em outras
igrejas que você participou?
7r. Entrevistada: Na verdade, na ______tinha sim. É porque na verdade lá eu não
participava como membro e sim como funcionária, então eu não participava lá. Mas a igreja
tem pequeno grupo sim. Acabo de me recordar.
249

8p. Entrevistador: Certo, mas você não chegou a fazer parte dos grupos?
8r. Entrevistada: Não cheguei a fazer parte.

9p. Entrevistador: Qual é a sua visão do pequeno grupo?


9r. Entrevistada: Na verdade eu tive uma experiência com o pequeno grupo em _____. E
lá eu gostava, eu liderava um pequeno grupo de crianças, juniores. É uma visão muito boa
porque, quando a igreja, quando se trata do pequeno grupo, a criança tem, lá, a pessoa tem
liberdade pra tá conversando, pra expor. Então, eu acho que o pequeno grupo ele aproxima
mais as pessoas da igreja. Ali você tem você não faz um pedido de oração, você compartilha
aquilo. Que tá fazendo diferença na sua vida. E outra coisa também, é que tira as suas
dúvidas, às vezes a pessoa ouviu a mensagem de domingo e ela não tem a oportunidade de
fazer nem um questionamento. Então, no pequeno grupo ela tem essa possibilidade. Então
eu acho que o pequeno grupo é algo muito válido fora que, às vezes a pessoa não vem a
igreja, mas vai lá no pequeno grupo se é na minha casa, se é um vizinho, então eu acho que
é muito válido. Tem né? Possibilidade de fazer aquilo, que no grupo abre.

10p. Entrevistador: Quando você foi convidada pra, pra vir trabalhar aqui, você
naturalmente sabia que a igreja aqui tinha o pequeno grupo?
10r. Entrevistado: Sim
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11p. Entrevistador: Foi dito isso pra você?


11r. Entrevistada: Sim, foi. Trabalho com o pequeno grupo sim.

12p. Entrevistador: Alguma sugestão, alguma reivindicação de que você participe de


um pequeno grupo?
12r. Entrevistada: Não... Tem isso. Hoje eu não estou participando, tenho interesse em
participar, hoje eu não estou participando porque eu moro em ______. Então, eu já fico
aqui durante a tarde e pra mim ficar até o período da noite, pra mim hoje não tem essa
possibilidade. Mas de repente havendo um pequeno grupo mais próximo de lá ou eu me
mudando pra cá, não vai ter nenhum impedimento. Gosto.

13p. Entrevistador: Você, na sua experiência de liderança de pequenos grupos de


crianças, qual foi o maior desafio?
13r. Entrevistada: Quando começa multiplicar. Que a gente tem de levantar líderes pra
isso. Porque vai surgindo criança, puxa a outra, ela não tem a dificuldade que o adulto tem
de chegarem pra convidar, então tinha um encontro, a gente fazia o encontro numa segunda-
feira com cinco, no outro podia esperar dez, no mínimo. Então era sempre assim, a
multiplicação, e a minha dificuldade maior foi de levantar líderes pra multiplicar. Pra tá
coordenando esses, porque a gente multiplicava muito rápido. E era muito bom. Muito bom
mesmo.

14p. Entrevistador: Eram grupos fechados ou qualquer pessoa podia participar.


Qualquer criança podia participar?
14r. Entrevistada: Qualquer criança. Sendo convidada, qualquer criança.

15p. Entrevistador: E como eram os encontros em si?


15r. Entrevistada: A gente tinha marcado durante a semana. Cada semana era numa casa
de um. Então a gente chegava, tinha o momento da dinâmica, do quebra gelo que eles
250

gostavam demais porque a gente sempre dava a oportunidade de um fazer esse momento.
Então, eles sempre traziam dinâmicas interessantes e tal. A questão de dar responsabilidade
pra eles, não, hoje é o meu dia. E o outro momento era a parte da mensagem, porque, na
aplicação do estudo, você passar pra criança um tema e ali ela ter a oportunidade de dizer
“mais é isso? Mas como é que é isso”? Tá debatendo, tá perguntando, era muito gostoso
porque a gente tinha que lembrar o nosso tempo tá acabando. Então era os dois momentos
assim que era mais interessante, o momento da chegada. Que sempre tinha uma dinâmica
de quebra gelo e o momento da mensagem, que era sempre muito marcante.

16p. Entrevistador: Como é que as crianças participavam do encontro?


16r. Entrevistada: Como que elas participavam? Elas participavam sempre com muita
alegria, sempre esperta. Como tinha sempre um na semana, toda semana era na casa de uma
criança, então, a expectativa ficava sempre de “ó como é que vai ser o outro? Eu posso
levar mais gente? Tia, o nosso grupo tá muito grande! Mas não tem problema. Não, não!”
E aí na hora “Não, mas eu quero ficar no grupo de fulano!” Então, e aí o que a gente fazia,
quando chegava num, na época de aniversário, então tinha as confraternizações né? No
grupo então eles a vibravam “vou pro meu grupo!” lá era célula no caso. “Vou pra minha
célula, lá eu comemorei meu aniversário, na minha célula, então foi muito legal!”

17p. Entrevistador: E aqui, o que você já sabe sobre o funcionamento dos pequenos
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grupos daqui?
17r. Entrevistada: Aqui, eu tenho acompanhado alguns, os pastores falando, tal, alguns
irmãos sempre comentam, sempre com muita disposição também. Eu percebo isso. Essa
proximidade, o pequeno grupo ele deixa as pessoas muito próximas. Então tem essa
questão, eu acho que a dificuldade do pequeno grupo é quando multiplica, porque você vai
pra um, vai pro lado, outro vai pro outro, mas é gostoso. Então assim, tem pouco tempo.
Então, como eu não participei de nenhum ainda, mas o que eu ouvi falar, pelo que a gente
tem ouvido falar, sempre é muito bom o pequeno grupo.

18p. Entrevistador: Alguém já convidou você pra participar de um pequeno grupo


aqui?
18r. Entrevistada: Eu acredito que não convidou ainda por saber dessa minha dificuldade.
Perguntaram se eu participo. Então, eu acho que esbarra nesse interesse, não é porque,
como a gente fala, não porque eu moro lá em ______ e tal, então, sempre, não teve essa
oportunidade de convite ainda.

19p. Entrevistador: Muito bem. E você vai aqui coordenar o trabalho com as
crianças?
19r. Entrevistada: Sim.

20p. Entrevistador: Nos cultos, na EBD, como é que funciona isso?


20r. Entrevistada: A princípio, tem o ministério infantil também no pequeno grupo, tem
quando faz, quando faz a divisão, sempre tem a parte das crianças. Só que eu não cheguei
ainda lá não. Eu já, algum material eu já cedi pro pastor pra tá ministrando lá, mas eu ainda
não consegui chegar lá, que a gente tá na fase de estruturar, formar a equipe, então, eu
pretendo também, aqui, ter o pequeno grupo infantil, porque tem uma necessidade, a gente
já vê que tem uma necessidade porque, nos encontros, geralmente, no mínimo duas ou três
251

crianças sempre têm. Então a gente vê, já vê essa dificuldade sim. Só que hoje, eu ainda
não tenho condição de tá mais próximo de como eu gostaria.

21p. Entrevistador: Que tipo de trabalho você faz hoje?


21r. Entrevistada: O trabalho aqui é mais a EBD, o culto infantil e o planejamento das
atividades que vão ser feitas no ano. Mas eu hoje eu tô mais preparando a equipe. Tô me
chegando na equipe, porque tem só um mês, então eu tô conhecendo a minha equipe,
preparando já o planejamento para a formação de líderes. Logo a gente tem as atividades
ai de dia das crianças, final de ano. Então a gente tá, hoje eu estou nesse aspecto,
preocupada em estruturar a EBD e o culto infantil com a equipe que eu tenho. E a gente tá
preparando material pra formação de líderes.

22p. Entrevistador: A EBD, as crianças funcionam em classes, por faixa etária?


22r. Entrevistada: Sim. Por faixa, dividido por etária. O culto infantil também. Do...
Berçário até os juniores, de doze anos.

23p. Entrevistador: Do berçário até?


23r. Entrevistada: Doze anos.

24p. Entrevistador: Doze anos?


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24r. Entrevistada: É. Doze anos.

25p. Entrevistador: Funciona também em classes?


25r. Entrevistada: Em classes também.

26p. Entrevistador: E que tipo de materiais vocês tem usado aqui?


26r. Entrevistada: A gente tem usado o material da Cristã Evangélica. Hoje mesmo, a
gente tá trabalhando, tá finalizando a revista falando sobre as festas, né? Festas bíblicas e,
que agradam a Deus ou não. E, só no berçário que não tem material que é mais a atenção e
o cuidado mesmo com os bebês. Mas os demais é o material da Cristã Evangélica.

27p. Entrevistador: Muito bem. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre pequenos
grupos?
27r. Entrevistada: Não!

28p. Entrevistador: Obrigada então.


28r. Entrevistada: Tá joia!
252

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 05/06/2014


IDADE IGREJA DENTIFICAÇÃO
26 anos Morada de Camburi IBMC 04

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro aqui, da igreja de Morada?
1r. Entrevistado: De Morada, eu sou membro há uns doze anos.

2p. Entrevistador: Quando você se tornou membro, a igreja já tinha pequenos grupos
ou ainda não?
2r. Entrevistado: Era diferente. Eram encontros semanais, variando a casa das pessoas.
Mas eram encontros da igreja toda. Então, não era, não tinha a frequência de um pequeno
grupo.

3p. Entrevistador: E como é que você vê hoje o pequeno grupo na igreja?


3r. Entrevistado: Eu acho que o pequeno grupo ele é fundamental no sentido de criar
laços. Que acho que é algo que durante as reuniões, tudo mais. É algo que não tem como
estreitar esses laços pessoais mesmo. Então, no sentido de você realmente conhecer as
pessoas. Você tem aquele contato e tudo mais, mas acho que acaba sendo algo um tanto
quanto superficial. E do pequeno grupo pra cá, acho que é um momento de estreitar isso
mesmo.
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4p. Entrevistador: Como é que foi a sua participação em pequenos grupos até agora
aqui na igreja?
4r. Entrevistado: Eu tive, no início do pequeno grupo, eu tive, isso na minha época já de
criança ainda. Tinha o que acontecia na minha casa, então eu tinha um contato com aquele
pequeno grupo. Nessa época eu não, um pouco por conta de ser adolescente, criança, não
era algo muito influenciável tanto na minha vida assim. Não influenciava. A partir do
momento que eu entendia como aquilo funcionava, já começou a fazer diferença nesse
sentido mesmo, dos laços, tudo mais, de você criar vínculos na igreja que acho que é algo
primordial.

5p. Entrevistador: Como é que influenciou a sua, o seu relacionamento com Deus, o
pequeno grupo?
5r. Entrevistado: Então, é um método que você tem pra tratar diretamente de assuntos não
tratáveis na igreja. Então, de repente, durante uma pregação você absorve muita coisa, mas
você não tem a troca. Acho que o pequeno grupo é esse momento de ter uma troca e de
você ter que colocar questões da sua vida que de repente estão em conflito com alguma
coisa e você receber de alguém que passou por aquilo, um contato direto com, com outras
pessoas e, e, creia mesmo que aquilo, que aquela experiência pode melhorar de forma bem
direta. O que a pessoa passou, a experiência que ela passou, a vida cristã dela pode
influenciar diretamente na sua.

6p. Entrevistador: Fale, como é que acontecem os encontros do pequeno grupo?


6r. Entrevistado: Então, aqui são encontros semanais. Duram coisa de duas horas, às vezes
se estendem até três horas, dependendo do assunto que for tratado e, de como aquilo se
desenvolve. Normalmente tem um período de louvor, escolhe algumas músicas, faz aquele
momento. O estudo direcionado já com debates e tudo mais, podendo ser influenciado ou
não pelas pessoas. Alguém dirige, mas todo mundo participa da forma que achar melhor.
253

E alguns momentos de oração. E isso varia de algumas, algumas, alguns modelos. Às vezes
um orando com outro, às vezes todos orando juntos, orando por uma pessoa, isso varia
bastante.

7p. Entrevistador: Qual a importância que você vê do pequeno grupo pra igreja como
todo?
7r. Entrevistado: Então, acho que esse sentido do pequeno grupo estreitar laços entre,
entre os membros da igreja. Quando elas tão no corpo, elas se sentem parte daquilo. E do
sentido de trazendo pessoas, às vezes um convidado que você traz, ele vem pra igreja, ouve
a palavra, mas ele se sente até um pouco deslocado. Em questão assim é. Quatrocentas
pessoas em um culto que ele não conhece ninguém e não tem muita possibilidade de
conversar, hoje em dia as pessoas. Tem muitos afazeres, então vem, fica pro culto, terminou
a mensagem, vai embora, não tem aquela proximidade. Então, acho que, pra mim assim,
maior, maior, é... Maior vantagem do pequeno grupo mesmo é você poder introduzir
alguém a um meio cristão. Ao meio de pessoas cristãs e eles perceberem, pessoas de fora
perceberem que são pessoas normais, que são pessoas que, que tem conflitos e, e
perceberem que acima disso tudo o Senhor está presente na vida dela de maneira, é...
Formidável e assim ajudando com isso tudo.

8p. Entrevistador: Que tipo de preocupação, há algum tipo de preocupação uns com
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os outros, de cuidado mútuo é, entre os membros do pequeno grupo?


8r. Entrevistado: Dentro do pequeno sim, dentro do pequeno grupo a, acaba a, o
relacionamento se torna além de relacionamento igreja. O sentido de irmão, acho que ali é
o que mais é bem apresentado assim, dentro do contexto de igreja. Realmente você tem
uma proximidade que, que você cria com aquelas pessoas, são pessoas que você pode
confiar, são pessoas que a qualquer momento você vai precisar de ajuda e eles vão ta
prontos a te ajudar. Porque vocês tem uma caminhada juntos assim, e isso é... Isso é
formidável assim também. Acho que a, a proximidade é muito boa.

9p. Entrevistador: Entre, entre os encontros, você falou que o encontro acontece uma
vez por semana.
9r. Entrevistado: Isso.

10p. Entrevistador: Entre os encontros, entre um encontro e outro, há algum tipo de


contato entre os participantes do grupo, do pequeno grupo?
10r. Entrevistado: Nada muito direcionado assim, não que tenha que, que haver o contato,
mas naturalmente acontece por conta desse vínculo criado lá naquele, naquele tempo. As
pessoas, já se, já se sentem próximas uma, umas das outras ao ponto de quando precisar
ligar pra alguém, quando precisar de um apoio, tudo mais, ela sabe que são aquelas pessoas
que ela pode contar.

11p. Entrevistador: Certo. E perigo, você vê algum perigo, algum risco no pequeno
grupo, ou do pequeno grupo para a igreja, para a unidade da igreja como um todo?
11r. Entrevistado: Não vejo como risco não. Não, não creio. É algo que eu não tenho
pensado assim, mas acredito que não.

12p. Entrevistador: Você não tem identificado nenhuma dificuldade, nenhum


problema que os pequenos grupos tenham causado pra igreja?
254

12r. Entrevistado: Pra igreja, penso assim, que pode haver, igreja que você diz enquanto
instituição?

13p. Entrevistador: É, a igreja.


13r. Entrevistado: Penso que pode haver no sentido de que, no caso de, se a igreja estiver
em desacordo com algo. Porque o pequeno grupo pode ser um lugar pra, pra ser.
Sentimentos, se sentimentos, se houver ressentimentos, em comum entre as pessoas, o
pequeno grupo pode ser um lugar que isso vai ser intensificado e bem trabalhado, mas não
vejo isso acontecendo por aqui. Não, nunca vi acontecer, mas pode ser uma situação.

14p. Entrevistador: Como, quais são os critérios pra se organizar os grupos?


14r. Entrevistado: Pra organizar no início?

15p. Entrevistador: Pra formar, pra se formar, pra se formar o grupo?


15r. Entrevistado: Ah! O princípio é por localidade. Acredito que são, que sejam feitos os
treinamentos diretamente com, com quem for liderar, com as pessoas que vão sediar as
casas. E deve haver um acompanhamento, Períodos, por período, não sei qual período
exatamente.

16p. Entrevistador: Esses grupos, eles tem um tempo de duração, como é que funciona
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isso?
16r. Entrevistado: O pequeno grupo?

17p. Entrevistador: É
17r. Entrevistado: Não. O pequeno grupo a ideia dele permanecer até, a ideia é dividir,
subdividir. Na medida em que ele vai crescendo, tanto que, se chama pequeno grupo. Na
medida em que ele vai crescendo ele tem que permanecer pequeno. Então ele se multiplica.
Então, o pequeno grupo na medida que passa de umas doze pessoas a ideia é que ele se
divida em dois e aí seriam duas frentes novas a, a receber novas pessoas e tá apto a já tá
instruindo mais pessoas e tudo mais.

18p. Entrevistador: Que tipo de associação você faz entre pequeno grupo e
comunhão?
18r. Entrevistado: Pra mim é algo bem direto, é o pilar assim, do pequeno grupo pra mim
é a comunhão. Apesar de haver estudo, apesar de cronograma estabelecido, entre aspas,
porque é algo que pode ser quebrado, mas acredito que a comunhão seja o pilar fundamental
assim, no pequeno grupo.

19p. Entrevistador: Muito bem. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre os
pequenos grupos?
19r. Entrevistado: Não, eu acredito que seja, foi bem completo assim, mas acredito que
seja momentos fundamentais para o crescimento de Qualquer igreja hoje em dia. Eu acho
que a tendência é as pessoas preocuparem muito com quantidade e tudo mais, mas às vezes
a qualidade, o pequeno grupo traz a qualidade pra o próprio ensino e pra toda essa dinâmica
de ser igreja.

20p. Entrevistador: Você poderia falar um pouquinho sobre o discipulado?


255

20r. Entrevistado: Sim. A igreja sempre instrui, tem os materiais de discipulado. Às vezes
por tema, às vezes, tudo mais, mas a igreja sempre tem discipulado, principalmente os
líderes e os líderes trabalham isso com, com as pessoas do pequeno grupo. De lá qualquer
dúvida que surgir depois nas mensagens, durante o estudo em si, as dúvidas podem ser
tiradas. Assim como depois que surgirem, momentos que a vida traz acerca daquele
assunto. Você tem pessoas que você pode contar, o líder principalmente, vai ta discipulando
com esse sentido.

21p. Entrevistador: E o evangelismo no pequeno grupo, como é que ele acontece?


21r. Entrevistado: Isso, eu acredito que acaba sendo pessoal, entre aspas, do pequeno
grupo. Então assim, cada pequeno grupo tem uma forma, não é nada muito direcionado,
mas eu sei de pequenos grupos que se reúne e sai pra fazer algo. Sem contar que o
evangelismo pessoal que é aquele de você levar um amigo pra dentro do pequeno grupo
como já disse, é algo mais forte lá dentro. Eu acho que esse evangelismo é o maior assim.

22p. Entrevistador: E o pequeno grupo tem uma preocupação também com pessoas,
com a sociedade de modo geral, tem, tem tido alguma ação no sentido de, contribuir
para melhorar, pra transformação da sociedade ou ele está focado mais nele mesmo?
22r. Entrevistado: Então, essa ideia caminha junto com a pergunta anterior do
evangelismo. Eu vejo nascer no coração de algumas pessoas dos pequenos grupos, eu vejo
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os pequenos grupos se organizarem pra isso, pra, inclusive pessoas social na igreja. Então,
a gente vê muito o contato de as pessoas de um pequeno grupo se uma delas está passando
por alguma dificuldade ou precisa de algo, a união é muito grande, no sentido de arrecadar,
se tiver que arrecadar alimento, grana, o que for. Há. Esse vínculo é muito forte. E da
mesma forma como os pequenos grupos fazem isso para a sociedade, pra fora, então eles,
eles se unem e promove alguma ação. Mas isso é... Não é algo muito direcionado pelo
grupo, é mais um acordo que se faz dentro daquelas pessoas, uma necessidade que elas
sentem.

23p. Entrevistador: Como você vê a influência do pequeno grupo pras celebrações de


um modo geral?
23r. Entrevistado: Eu acho que acrescenta bastante no sentido de as pessoas se
reconhecerem ali. Acho que um grande problema que algumas igrejas tem, talvez aqui
também é esse fato de tudo muito corrido e a gente acaba não tendo, você olhando pro
irmão do seu lado e as vezes não conhecendo tão bem. Já no pequeno grupo isso vai por
água a baixo porque você tem pessoas a quem identificar e essas, os amigos dessas pessoas
vão se tornar seus amigos e isso estreita muito o vínculo da igreja como um todo.

24p. Entrevistador: Você falou que está em processo de iniciar um grupo?


24r. Entrevistado: Na verdade é um processo meio paralelo ao de Morada. Então é um
grupo que não é diretamente ligado. É de Morada, mas não é diretamente ligado aos
conceitos que os membros daqui tem. É uma obra meio paralela.

25p. Entrevistador: Como assim, paralela?


25r. Entrevistado: Então, é um pouco diferente. É uma ideia de um pequeno grupo
envolvendo outras igrejas. Então, assim, a ideia de trazer um pouco de cada igreja e de cada
256

instituição, o que cada um vive naquele lugar e unir isso em um pequeno grupo que as
pessoas possam compartilhar além de sua vida espiritual, sua vida social, dentro do âmbito
igreja.

26p. Entrevistador: Foi feita uma tentativa nesse sentido ou ainda...?


26r. Entrevistado: Foi. A gente iniciou recentemente, tem um mês, mas o maior empecilho
é por ser pessoas de outras igrejas, cada um tem compromissos em horários diferentes.
Então, foi feita uma primeira reunião e pra segunda a gente acabou perdendo a questão de
horário. Alguns podiam sete horas da noite, outros podem onze, e aí o grupo meio que tá
caminhando pra uma resolução ainda.

27p. Entrevistador: E a liderança de Morada acompanha esse trabalho?


27r. Entrevistado: Sim. Quem eu tinha direto contato era o ________675 que é, que ele,
que eu estive mantendo contato com ele o tempo todo, mas não é algo que eu trouxe
feedback assim, é mais um projeto meu.

28p. Entrevistador: Uma iniciativa pessoal?


28r. Entrevistado: Sim.
29p. Entrevistador: A partir do que você teve essa, sentiu essa necessidade de fazer
esse grupo?
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29r. Entrevistado: Eu acho que principalmente falando pelo lado da juventude. Esse ideia
era de uma, era pra caminhar pela juventude. Eu tenho mais tempo daqui, são uns quinze
anos, mas nesse tempo já participei de muitas lideranças da juventude, inclusive lideranças
que fazem parte, lideranças que envolviam muitas igrejas, seis igrejas. Naquele tempo a
gente tinha um certo vínculo, então, a gente tinha contato direto com pessoas da Igreja ___
, _ e aquilo fluía de forma natural já por conta desse órgão e isso foi se perdendo com o
tempo. Então, hoje eu vejo a igreja muito fechada dentro do âmbito dela. Mas como eu
carrego, eu pessoalmente carrego comigo essa, esse tempo anterior, eu sei quão bem aquilo
fazia pra juventude e tudo mais. Eu acho que achei uma forma de ter cabeça chave e poder
refazer essa união entre igrejas.

30p. Entrevistador: Aqui em Morada, você tem alguma função de liderança?


30r. Entrevistado: Tenho algumas. Quer que cite? Sou, faço parte da liderança da
juventude, diretamente, faço parte da liderança direto do ministério de comunicação social
e a partir da comunicação social, participo direta e indiretamente de todos os outros
ministérios.

31p. Entrevistador: Muito bem.


31r. Entrevistado: E da adoração.

Entrevistador: Adoração também. Muito obrigado viu!

675
O entrevistado cita um líder da Igreja.
257

FUNÇÃO: Pastor/coordenador dos SEXO: Masculino DATA: 05/06/2014


Pequenos Grupos
IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
41 anos Morada de Camburi IBMC 05

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com pequenos grupos.
1r. Entrevistado: Minha experiência com pequenos grupos seja a que o for, sempre me
acompanhou quanto ao meu ministério. Minha primeira experiência com pequenos grupos
foi na universidade. Eu tinha entrado na universidade, era novo convertido, tava passando
por pressão e aí, é, entendi que se mantivesse sozinho naquela, naquela estrutura, a, teria
dificuldades quanto a minha fé, e, e, e, ia ser muito complicado. E aí eu comprei um violão,
peguei mais uns dois, três pessoas que eu sabia que eram evangélicas, bom, vamos começar
uma vez por semana, a nos reunir e falar daquilo que Deus fez no domingo na vida de cada
um. Ah, depois a gente adquiriu um, um livreto antigo, chamado, é, café com Deus, alguma
coisa assim, eu quero Deus, só ilustrações, a, e começamos a trabalhar então juntar outros,
outros homens e mulheres e jovens da universidade que quisessem participar disso. Eu fazia
administração na época e, e a coisa deu certo, a gente conseguiu outros campos dentro da
UFES676, Também ter esse momento, né? Pelo menos uma vez por semana cada campo
tava de alguma forma tendo um, um momento desses. A gente chegou a dezessete pequenos
grupos na UFES, a gente chamava de clube bíblico, a gente começou a chamar clube bíblico
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depois MPC, depois que a Mocidade Pra Cristo veio nos ajudar também. Implantamos
também em colégios secundaristas aqui no Estado, mais na grande Vitória. É... Então minha
primeira experiência foi fora, fora do reduto da igreja local e não com nome de células, PG,
era, era uma reunião de pessoas que queriam compartilhar da palavra e a gente alcançou
muitas pessoas também, muitas pessoas foram evangelizadas na universidade e nos
colégios. Com base nessa experiência, na igreja que eu fazia parte eu comecei a desenvolver
a mesma metodologia ah, com irmãos da igreja e a coisa foi andando depois a gente foi
saber que existia já o modelo chamado pequenos grupos, células, grupos familiares, que na
época eram muito forte. Ah, e a gente adotou mais um modelo de grupos familiares ah,
onde a gente estava e desenvolvendo também o mesmo projeto. Como minha formação era
administração, eu tive experiência com outras igrejas de fazer a mesma coisa, então, eu fui
a outras igrejas ajudar outras igrejas implantando o que a gente chamava de grupos
familiares. Então, ah, ah, até 1998, minha experiência de noventa e quatro a noventa e oito
foi assim, né? Com pequenos grupos, começando, mas fora do reduto, das quatro paredes
eclesiásticas, vindo também de uma igreja local e reproduzindo em outras igrejas locais.
Então, foi, foi uma experiência assim, muito joia porque, alguns valores. Acho que,
proteção. Você se sente protegido, cuidado de várias formas. A possibilidade de, de, de, de
compartilhar a sua vida, daquilo que Deus faz com outras pessoas, isso, esse vínculo em
repartir vida talvez seja o coração de qualquer modelo de pequeno grupo. Poderia ser
importante você repartir aquilo que Deus tem, tem te dado. E de alcançar outros que não
conhece a Jesus, talvez não iriam pra um, um, uma instituição, algo muito
institucionalizado, algo muito cara de religião, um grupo de relacionamento ele, ele sempre
é muito mais atraente, principalmente pra quem tem resistência. E aqui no Brasil que talvez
a maioria dos não resistentes já entraram, hoje talvez o desafio seja alcançar os semi
resistentes ou até mais resistentes também. Tem que ter outros modelos, e acho que os

676
Universidade Federal do Espírito Santo.
258

pequenos grupos podem ajudar também nisso. Mas saiba que não é o principal, acho que o
repartir vida.

2p. Entrevistador: E aqui em Morada?


2r. Entrevistado: Aqui em morada, minha experiência com o pequeno grupo foi de
basicamente de um ano e pouco pra cá. Mas já, basicamente já assumindo um grupo,
assumindo um grupo e assumindo a coordenação de PG’s daqui. Ah, os grupos aqui em
Morada, são grupos mais voltados pra comunhão. Não são grupos nem voltados muito pra
evangelismo, né? Nem grupos voltados muito pra edificação, no sentido de ensino, levar a
maturidade Num processo mais de discipulado. São voltados mais pra comunhão. Ah, até
pelo menos ainda esse ano. E a experiência que eu tive ah, que realmente é isso mesmo,
que até pelo menos a metade desse ano, o foco principal é a comunhão. Cada membro da
igreja tem um local onde sente protegido, cuidado, amado, enfim poder repartir, repartir
vida. Esse é o propósito, o objetivo dos PG’s. Na minha experiência cristã com os grupos,
eu visitei pelo menos 90% dos PG’s daqui de Morada né? Os pequenos grupos. A maioria
deles tem um, um, é, é, reparte mais conceitos do que vida ainda, tá ainda um processo
ainda de mais é, verbal de ensino do que, do material, do que ainda um processo de cuidar
do outro, mas ah, existe uma evolução a cada ano nesse processo, a cada semestre, as
pessoas ganhando mais a visão, os valores, que não é um programa, é realmente um, um,
um grupo de relacionamento, de vida. Mas ainda está num momento de programa pra, pra
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realmente ser algo que faz parte da vida cristã. Mas já está bem, bem avançado, acho que
tem os, os grupos que existem hoje, que devem alcançar aí, basicamente 30% da membresia
da igreja. Hoje, 30 talvez 40% da membresia da igreja, atualmente. Mas a experiência mais
de, voltada pra comunhão aonde a, as pessoas já tem a oportunidade de falar, compartilhar,
e não só de ir lá pra estudar a palavra de Deus e compartilhar o estudo.

3p. Entrevistador: E você viu você disse que pelo menos até o meio do ano a ênfase é
comunhão?
3r. Entrevistado: Isso.

4p. Entrevistador: Mas há alguma, uma perspectiva de mudar esse foco?


4r. Entrevistado: Sim, sim. Há uma perspectiva. Da virada do ano passado, da metade do
ano passado, dois mil e treze pra agora, dois mil e quatorze, é, toda uma reestruturação dos
pequenos grupos. Então nós tínhamos grupos mistos, homem, mulher, casais, jovens,
crianças, tudo no mesmo... e ainda é possível ter, e ainda vai continuar tendo. Só que a
gente percebe que há uma necessidade de ser, há uma necessidade de ser atendida. Existem
necessidades específicas que precisam ser atendias. Há especificamente, por exemplo, PG’s
de mulheres, PG’S de homens, PG’s de jovens, PG’s de adolescentes, PG’s de mães com
filhos pequenos, PG’s de crianças. Então, ah, já na metade do ano pra cá, do final do ano
pra cá, ah, a gente tem homogeneizado os pequenos grupos. Ou seja, a gente, num pequeno
grupo que tem já muitas pessoas, por exemplo, tem vinte e poucas pessoas de repente no
pequeno grupo onde se subdivide em três a quatro. Eles têm louvor junto, adoração junto,
né? O momento de cântico juntos e depois são divididos em crianças, adultos ficam, jovens
e adolescentes vão pra seus PG’s com líderes específicos. Às vezes são homens e mulheres
que vão com líderes específicos. Então são PG’s realmente que se reúnem no momento de
adoração, no momento de cânticos e depois eles, eles vão pra seus PG’s dentro da mesma
casa, mas em espaço diferentes. Eles funcionam independentes. De forma autônoma.
Outros grupos eles se multiplicam além do espaço físico, realmente já estão indo pra, sai
259

da última casa, então ali na casa fica homens ou casais e outra casa já jovens. Ouros já estão
nascendo já homogeneamente, já tá nascendo PG de jovens, PG de adolescentes, ah, sem
ser na multiplicação já nasce, nascedouro já é assim, ah, mães com crianças pequenas.
Todos são semanais. Ah, o desejo que todos continuem sendo semanais. Então, esse é um,
um modelo que isso, isso tem vindo e tem contribuído muito, tem dado uma nova vida para
os PG’s. Ainda os mistos continuam sendo mistos a, até sua multiplicação que pode ser
uma multiplicação mista ou homogênea. E aí o PG também vai ganhar, a partir do segundo
semestre outra cara, provavelmente. A gente tá caminhando, não sabemos se é no segundo
semestre ou em dois mil e quinze. Mas a gente já tá conscientizando gradativamente os
pastores, os líderes, ah, aonde o PG assume uma função que não só de comunhão, mas
também de maturidade, discipulado, levar as pessoas a maturidade e também a ganhar
novas pessoas que é a evangelização, proclamação. Como aqui é uma igreja com propósito,
e são cinco propósitos, então o PG, ao invés de somente atingir o propósito de comunhão,
atingiria três propósitos, seria uma estratégia pra atingir três propósitos. Propósito de
discipulado, propósito de comunhão e o propósito de evangelização. Não que estes três
propósitos só são alcançados através do PG, mas o PG teria essas três funções prioritárias.
O discipulado acontecia dentro do PG aonde cada pessoa discipula uma pessoa, duas, três,
no máximo cinco pessoas. Ah, esse é um, um desejo, é um ideal, então através do
discipulado um a um, e assim todo mundo é cuidado individualmente, o que a gente poderia
chamar também de micro célula, o micro MDA né? Que é a relação um a um. E essa
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relação, é mais discipuladora, bíblica, no sentido de compartilhar a bíblia, compartilhar a


vida espiritual, a vida devocional e também a sua vida, né? Com a família, com a sua
carreira, e assim por diante, mas nessa relação um a um. O PG enquanto grupo que se reúne
seria com o propósito mais da comunhão, do cuidado, mas também com o propósito de
atrair outras pessoas que não conhece a Cristo ser inseridas no PG e não só integradas a
partir da igreja. A, nosso alvo é que a gente dê um start nisso no segundo semestre desse
ano ou no mais tardar, no início de dois mil e quinze.

5p. Entrevistador: Hoje, qual o, quais os principais benefícios que o pequeno grupo
traz pra igreja como um todo?
5r. Entrevistado: Comunhão. Ter um local onde a pessoa sente que é uma igreja que se
reúne além da igreja macro. E hoje, nós somos uma igreja que temos a celebração que
funciona aos domingos. Isso é inviável que as pessoas simplesmente estejam, né?
Envolvidas como igreja, mesmo vivendo igreja na celebração. Então, o benefício principal
é viver igreja. Esse é o benefício principal. Segundo benefício é ter um grupo de amigos,
conhecidos, ganhar um vínculo mais forte, a, esse é o segundo, segundo vínculo. Terceiro
é, ainda que não é o propósito, o ensino da palavra como, como a coisa principal, mas é o
propósito, mas atinge também essa necessidade. Que a palavra tá, tá chegando de várias
formas, ah, ah, na vida das pessoas que não só através da estrutura é... Templocêntrica,
então, acho que são estes três benefícios. Ah, a comunhão e ser, ser igreja, é... Saber que
ali é... É a sua igreja menor, ah, e o terceiro é... É... É o discipulado. O quarto, que talvez
seja essa coisa da comunhão, mas talvez tenha uma característica muito forte, como Morada
é uma igreja mais metropolitana, com universidade, vem muitas pessoas de fora do Estado,
ou, de fora da grande Vitória pra cá. Que se mudam, que não tem parentes aqui. Então, tem
alguns pequenos grupos que você vai ver o perfil, são de pessoas que não têm parentes.
Então, pra esse grupo, um benefício assim, extraordinário é... É o PG. Uma família pra
aqueles são de fora. Uma família mesmo, né? Realmente eles sentem que ali eles têm uma
segunda família.
260

6p. Entrevistador: E perigo, você vê algum perigo do pequeno grupo pra igreja, como
instituição?
6r. Entrevistado: Olha, na minha experiência particular, é... Eu não vejo perigo. Perigo
tipo, ah o líder então assume o papel pastoral, e por exemplo, multiplicar, sair com a igreja,
dividir institucionalmente. Então, institucionalmente eu não, não vejo perigo, ainda que
isso possa acontecer, mas eu não considero como um risco porque esse risco acho que não
é por causa do PG ou uma célula. Esse risco é simplesmente porque poderia acontecer de
qualquer forma se tiver um líder ah, mais carismático, né? Que atraia mais líderes e mais,
e que, e que tenha outra direção. Ah, PG pode ser um espaço onde isso aconteça? Pode.
Mas, poderia ser outro espaço então, eu não daria valor a isso. Quanto à instituição. Eu vejo
o perigo quanto ao ensino, a, líderes não bem preparados, formados e cuidados podem,
tanto ao ensino quanto ah, ao cuidado de outras pessoas. Então, realmente a gente é... É...
repartir o cuidado pastoral é... E... Tem risco para as situações ali com as pessoas se eles
não forem bem, bem, bem orientados. Tipo, aconselhamento de crise, né? O casamento que
não tá muito bem e o líder, né? Age de uma forma inapropriada, ou dentro do PG sempre
tem pessoas que dão, né? Orientações que mesmo que não seja o líder que pode ser
absorvida por uma pessoa e tomar uma decisão, então, como é um espaço menor aonde isso
é conversado, então há um perigo quanto ao ensino, quanto a uma formação, É... Boa. Não
que ele tenha que ter um curso, alguma formação, mas pelo menos saber até onde ele pode
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ir, o líder né? Do pequeno grupo e até onde ele tem que retransmitir.

7p. Entrevistador: Como é que acontece esse preparo do líder do pequeno grupo?
7r. Entrevistado: Atualmente, atualmente, o preparo acontece através do que a gente
chama de escola de líderes e acompanhamento individual do coordenador ou supervisor,
que nós não temos ainda. Vamos ter a partir do segundo semestre. Ah, a gente percebeu
que, desde 2007/2008 pra cá, os supervisores também não eram, eram como se fossem um
bom líder do pequeno grupo que ascendeu então, poderia ajudar outros. Mas, a gente
percebe que o líder de pequeno grupo, ele precisa realmente de um, de um cuidado muito
mais qualificado. Ah, então a gente tá gradativamente, quem sabe até o final do ano, ah,
é... Consolidando que os pastores da própria igreja, o staf, sejam os supervisores dos
pequenos grupos. Por exemplo: nós temos pastores também aqui de faixa etária, pastores
de casais. Então, como tem PG’s de casais, homogêneos, então, ele seria o supervisor dos
líderes que coordena os PG de casais. Pastor de jovens e adolescentes, então, existem PG’s
de jovens e adolescentes. Então, pastores de jovens e adolescentes tem também esse papel.
Qual papel? De supervisionar os líderes de PG’s de jovens e adolescentes. Ah, PG, é... Ah,
PG de afinidades, né? Tem mães com crianças pequenas, de mulheres, de homens, são por
afinidades. Então, nós temos o pastor de comunhão. Pastor de comunhão é responsável por
supervisionar os líderes de PG’s de afinidades. Os PG’s mistos continuam sobre a
coordenação, supervisão do próprio coordenador. Ah, ainda que ele pode tá buscando
outras pessoas que a maioria dos PG’s pra ajudar, mas também tem uma formação pastoral
mais qualificada. Então hoje nós temos dois outros pastores voluntários, que tem me
ajudado ah, ah, supervisionar os, supervisionar informalmente, ainda pra ver se o pessoal
reage bem. Os líderes né? Realmente, né? Confiam. Ah, e saber se isso é... É o melhor pra
depois institucionalizar. Não institucionalizar pra depois falar agora. Então a gente tá
procurando viver primeiro todo esse processo, com dois pastores ai, voluntários, que tem
ajudado também nesse processo de supervisão informalmente até metade do ano. O pastor
de ministério infantil, agora tá chegando, deve gradativamente caminhar pra supervisionar
261

também os PG’s infantis. Mas, também ah, não vai ser algo que primeiro a gente
institucionaliza pra depois eles, a gente quer que eles já façam isso informalmente. Ouvir
então os líderes, como tem sido e a partir daí formalizar, né? Ah, ah, esses supervisores
liderando então esses líderes e não simplesmente dividir ah, por pessoa. Então...

8p. Entrevistador: São quantos grupos hoje?


8r. Entrevistado: Vinte e dois

9p. Entrevistador: E você tem você como coordenador, ou alguém outro, tem
encontro com esses líderes, como é que funciona isso?
9r. Entrevistado: Então, nós temos encontro com os líderes na escola de líderes, que
iniciou esse ano, né? Nos domingos pela manhã. Aos domingos pela manhã. E temos
encontros com os líderes a cada dois ou três meses, dependendo da, do ritmo deles. Já
tivemos o primeiro encontro que foi em março, que foi chamado de RELIDER. Então, ah,
foi pela manhã aqui. Envolve todos os líderes, não só de pequenos grupos. Mas nesse
RELIDER, como seria o primeiro, então tanto os líderes de ministério como os líderes dos
pequenos grupos. Teremos um segundo encontro agora, ah, em julho, só com os líderes de
pequenos grupos. Teremos um encontrão agora, que envolve líderes de pequenos grupos e
a membresia dos pequenos grupos. Quem também não quer, não, não faz parte ainda. Ah,
que vai ser agora, próxima sexta, em Junho. Então, nós temos encontro com, só com os
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líderes, todo domingo. Temos encontros esporádicos com os líderes de PG’s, ou líderes e
sua membresia, ou líderes e líderes de ministérios. Que acontece a cada ano. Nosso alvo é
que, com a supervisão sendo consolidada, formalizada, cada líder de PG agora tem esse
encontro mensal ou bimensal com o pastor de área, né? Ou pastor de afinidade, para o
segundo semestre. Hoje ele acontece ocasionalmente, a cada dois, três meses em média.
Com focos diferentes.

10p. Entrevistador: Qual a, o impacto do pequeno grupo na igreja como um todo?


10r. Entrevistado: Atualmente ele é visto, pela igreja, ainda como um programa. Um
programa que você pode fazer parte, que vai abençoar a sua vida. Como a igreja também
tem outros programas que abençoa muito, cursos e tal, ah, as pessoas sentem satisfeitas, às
vezes, com esses outros programas e não ainda só o pequeno grupo. Então, hoje, o impacto
pra quem faz parte de um pequeno grupo é importante porque ali ele tem vínculo, ali ele
tem relacionamento então, isso é um impacto que gera pra igreja. Esse espaço aonde ele
pode viver igreja. Benefícios pra igreja pra quem não faça parte, como é visto? Ah, é visto
como um programa ainda. Que vai ocupar um espaço a mais na agenda dele. Ah, e que
pode ser bom, pode ser um local que vai abrir a vida, e ele não quer. Pode ser um local
onde simplesmente vai ser mais uma reunião, que ele já tem tantas, principalmente quem
trabalha, né? Fora. E já tem tantas reuniões na vida. Então ele, ele não traz ainda um
benefício direto. Ele sabe que se precisar, tá lá. Esse é o segundo público, que vê o pequeno
grupo como programa. Existe aquele realmente não quer. Ah, porque, ou porque não
entende bem, ou por causa do ritmo de vida, ou porque acha que vai ser alguém que vai tá
interferindo na sua vida e ele não vai querer. Acho que são esses três.

11p. Entrevistador: E para a celebração, quando a igreja toda se reúne?


11r. Entrevistado: A gente percebe, ah, eu pelo menos percebo, como coordenador,
principalmente quando eu tenho uma ação lá da frente que dá pra ver as pessoas de fora,
que a maioria das pessoas do pequeno grupo, enquanto celebração, eles sentam
262

aproximadamente próximos. Ou seja, na mesma fileira, ou uma fileira, duas, três, né? Uma
na fileira da frente outra na, atrás, atrás. Ou pelo menos na mesma, a gente tem quatro
grandes áreas aqui na igreja, na celebração, quatro partes, né? Você percebe que eles estão
geralmente na mesma, no mesmo espaço. Então, eles acabam trazendo pra dentro da
celebração essa relação. Você percebe pós-culto, por exemplo, essa relação também. Então,
enquanto relacionamento eles acabam realmente se, meio que se juntando. Não se
fechando, porque eles ficam com espaço mas eles sentem, parece, mais seguros dentro da
celebração, um pouco mais próximos. Talvez não tão próximos, tipo, do lado do outro, mas
você percebe eles com uma proximidade. Desde jovens, adolescentes, casais, homens,
porque eles estão no mesmo espaço, PG’s estão no, no mesmo ambiente, né? Preenchendo
o mesmo espaço. E isso é favorável pra igreja porque eles respondem melhor, uma vez que
quem está falando, ou cantando, dando, ministrando qualquer parte, uma vez que eles estão
ali, eles se conhecem, eles respondem mais. Você percebe que as pessoas que respondem
mais, tanto o momento de cânticos, ao momento da palavra, ao momento do, são pessoas
que estão inseridas em pequenos grupos. Eu pelo menos percebo.

12p. Entrevistador: E como o pequeno grupo interferiu na reconfiguração da igreja?


12r. Entrevistado: Eu não tenho muito pra te dizer nesse aspecto, porque quando
implantou-se o pequeno grupo aqui, aqui na igreja, foi, acho que dois mil e seis, já no
modelo de propósito, né? Então acho que não foi o pequeno grupo que fez efetivamente
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uma reconfiguração, mas o próprio modelo de propósito. Então o modelo de propósito,


imagino, não era da época, reconfigurou a igreja, né? Enquanto estrutura, estratégia, modos
diário da igreja de viver. Ah, e o pequeno grupo cooperou, e eu acho que é um motor, se
fosse um carro, se a igreja fosse um carro, o pequeno grupo é o motor que faz o processo
andar, né? Que faz o carro se mover. Sem pequeno grupo, dificilmente uma igreja, por
exemplo, no nosso caso, modelo de propósito conseguiria girar, realmente fazer uma
transição. Porque ela, é aonde que as, são, é... As coisas são começadas, as conversas de
bastidores acontecem né? Há uma percepção se no final das contas as coisas estão indo
bem ou não, necessidades, chateações, as mudanças são vivenciadas ali. Então foi o
ambiente, o espaço onde as pessoas poderiam provavelmente falar, conversar sobre, sobre
ah, as transições, as mudanças da configuração da igreja. Imagino que tenha sido o motor
principal dentro do carro propósito que a igreja entrou. Mas o modus operandi, imagino,
foi o pequeno grupo, como ainda é. Qualquer estratégia, mudança, ela é conversada e no
final das contas ali, pelo povo. Não pela liderança, mas pelo povo que é conversado ali.

13p. Entrevistador: Você já fez parte e até já liderou igrejas que não tinham pequeno
grupo e agora faz parte de igreja que tem pequeno grupo. Qual a diferença que você
colocaria aí?
13r. Entrevistado: Acho que eu colocaria absurda. Ah, ainda que a gente saiba de igrejas
que tem pequenos grupos que dão a ênfase como exagerada, como modelo de produção,
fora isso é... Uma igreja sem pequeno grupo é uma igreja muito de atividades, vou chamar
de religiosas. Ah, que tão, que geram pouco vínculo contínuo, geram pouco cuidado. Ah, é
mais reativa. Uma igreja com pequenos grupos é uma igreja que não quer dizer que resolve
todos os problemas de cuidado, nada disso. É todo um, uma nova forma de andar, de agir,
que tem também seus próprios problemas e lutas. Ah, ah, e sempre também tem que se
reconfigurar. Porque nenhuma igreja com pequenos grupos, a meu ver, quatro cinco anos
ela permanece com seu modelo de pequeno grupo. Ela tem que se reinventar também como
qualquer outro modelo. No entanto, ela é proativa no cuidado. É proativa na assistência.
263

Ela é proativa, ah, ah, a igreja em si ela é mais proativa na expressão de fazer com que a
igreja seja igreja, e não reativa. Mesmo a igreja, que tenha 20% da sua membresia voltada
a pequenos grupos, ela já é mais proativa. Porque ela, ela previne mais. Previne mais várias
coisas. E aí, a consequência disso é... É... É enorme. Tanto para os pastores como para a
liderança. Seja uma liderança formal, remunerada ou uma liderança leiga. Uma igreja que
é pro ativa ela, ela acontece já mais naturalmente. Ela, ela já é mais natural do que uma
igreja reativa que você depende de programas, de esforços, de eventos pra fazer com que
ela ande. Quanto mais a igreja assimila pequenos grupos, mais proativa ela é. Mais reativa
ela é, ou, menos reativa ela é. É...É... ela faz com que a coisa aconteça de forma mais
natural. Ah, as coisas fluem naturalmente. Ah, e, a visão flui naturalmente, né? Os sonhos
que Deus envia para sua liderança acontece naturalmente, rapidamente, de uma melhor
forma. Tudo flui melhor porque existe um, um, contínuo que já faz parte do ambiente.

14p. Entrevistador : Como isso impacta o ministério pastoral da igreja?


14r. Entrevistado : Ah! Também acho que é absurdamente. Porque pastor que tem uma
igreja que não tem pequenos grupos ele, realmente ele, ele, a maioria deles às vezes, ele
tem que ser jogador, jogador de, de meio de campo, jogador de área, ah, centroavante,
goleiro, às vezes tem que apitar, as vezes tem que ser o próprio reserva. Enfim, pra ele sair
desse esquema, ele tem que montar um novo, uma nova estruturação e às vezes não é de
pequenos grupos. Uma estrutura que ele tem diáconos, presbíteros, coloca líderes de
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ministério, de departamento, reconfigura. Mas na prática ele reconfigura ah, atividades. Ele
divide o time, talvez que precisa de doze, em cinco, em quatro. Ele diminui ah, a demanda
dele mas não o suficientemente e ele tem, gera outras situações. Porque a grande questão
do, do, do, do, talvez do cerne de uma igreja local, além da proclamação do Evangelho do
Reino, é que todas as pessoas sejam discipuladas e discipulem outros. Fazer que o
mandamento Mateus, que o que Mateus 28, mandamento que Jesus estabeleceu o grande
mandamento, a grande comissão que Jesus estabeleceu, Mateus 28 aconteça. E que o
grande mandamento também aconteça. Amai-vos uns aos outros, amai-vos. Então, esses
duas esferas reconfigurando a igreja, não em pequenos grupos, dificilmente ela, ela
acontece de forma acho, proativa. Enquanto pastor que tem uma igreja de pequenos grupos,
ou com pequenos grupos ou em pequenos grupos, mas tenha algum modelo de pequenos
grupos ela, ela vivencia tanto a grande comissão Mateus 28, como o grande mandamento
de amar a Deus e amar ao próximo de uma forma mais proativa. E o papel do pastor se
torna Efésios 4 efetivamente. De que? Bom, o papel é, cuidar dos líderes. Treinar, capacitar,
formar os líderes para que esses cuidem dos santos. Ah, então, Efésios 4:11 a 16 é muito
mais vivenciado não só por conta do modelo de liderança como modelo de maturidade, né?
As pessoas não dependem do pastor sênior para serem levadas a maturidade, à imagem de
Cristo Jesus. E aí o pastor tem muito mais disponibilidade pra se habituar né? Ou se, se
inclinar, se voltar pra palavra, pra oração e para as pessoas principais que ele vai dedicar a
sua vida. Isso quer dizer, ele vai ser modelo pra esses, esses vão ser modelos pros demais
que vão ser modelos pros demais. Ah, e não só modelo disso, do púlpito, mas modelo
vivencial. Então, se ele consegue ser modelo vivenciando, né? Aquilo que ele recebe de
Deus, os outros vão reproduzir a mesma coisa. Então, a administração da, da igreja fica
muito mais fácil por vê-lo. Porque ele não tem que ficar cuidando de atividades religiosas,
mas vai cuidar de pessoas, de pessoas chaves. Ah, e também tem muito mais liberdade de
repartir vida em vez de ser um administrador, um gestor, ah, mesmo um teólogo. Ele, ele
realmente vai, vai se dedicar ao cuidado das pessoas, ah, de forma muito mais qualificada.
264

15p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre pequenos grupos?
15r. Entrevistado: Existem três formas de pequenos grupos, ao meu ver, que uma igreja
pode praticar. Ah, uma forma é uma igreja com pequenos grupos. Esse formato é... O
pequeno grupo acaba se tornando mais um programa, mais um tipo de ministério, uma
atividade da igreja. Ela já ajuda, mas não resolve. Dentro de três, quatro anos ela, ela, ela,
ela vai ser um, um, mais uma atividade dentre outras e não vai atingir plenamente seu, seu
propósito. É... Segundo é uma igreja de pequenos grupos. Uma igreja de pequenos grupos
é uma igreja que tem ainda atividades por ministérios ou departamentos, dependendo do
modelo da igreja. Mas principal é o pequeno grupo. Olha, se você tiver que fazer parte de
alguma atividade da igreja, além da celebração por exemplo, pequeno grupo. Qualquer
outra depois disso. Porque ali você é discipulado, você é cuidado e você reproduz. Terceiro
modelo é uma igreja em pequenos grupos. Uma igreja em células. Que as atividades extra
pequeno grupo são muito menores e realmente tudo funciona muito através das células ou
dos pequenos grupos. No entanto, pra pessoa, e todo o processo de multiplicação, mas o
ritmo é muito intenso pras pessoas acima de cinquenta anos. É... ah, outros pequenos grupos
são contínuos e não são as vezes por afinidade, como é possível numa igreja de e com, em
muito menos. Porque o foco é a multiplicação, ah, pessoas acima de cinquenta anos tem
dificuldade de permanecer numa igreja em células. De forma geral, depende do ritmo.
Porque elas tem um outro ritmo de vida, tem outras necessidades. E o que seria mais
adequado, ah, ao meu ver, é... É talvez células ou PG’s diferenciados. Mesmo que fosse
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uma igreja em células, num ritmo menor pra esse público que tem uma outra realidade.
Então, não é só PG que resolve, pequenos grupos. Uma igreja que não estabelecer pequeno
grupo não tá resolvido, não. De maneira nenhuma. Estabelecendo os pequenos grupos a
gente tá vivenciando aquilo que a gente entende que na igreja primitiva era, era uma prática
comum. Atos 2, é um exemplo talvez, mais viável disso. E a prática de Jesus com seus
doze, a pratica de Jesus com seus três. Vivenciar a igreja em, em relacionamentos mais
comprometidos e saudáveis e que se multiplicam. Mas não basta ter isso, não é um
programa. Tem que ser uma visão, tem que ser um valor. Pra isso, uma coisa pra mim é
essencial, pastor de qualquer igreja que queira implantar pequeno grupo ele deve fazer parte
de um pequeno grupo, no meu ver, de pastores, por quê? Porque ali ele vai conseguir
vivenciar o pequeno grupo, falar do seu coração e de sua vida. Não que ele não deva
participar de um pequeno grupo dentro da igreja local, é muito joia e importante isso
também. Mas aonde ele vai entender muito mais e ser valorizado, né? Receber cuidado,
receber vida, é no pequeno grupo de pastores, por exemplo. E aí vai poder reproduzir para
os seus pastores ou líderes principais num ambiente, num nível de relacionamento que eles
precisam. E ai esse processo vai acontecer. Mas simplesmente implantar o pequeno grupo
é... E eu só ser parte disso e não ter nenhuma experiência aonde eu sou cuidado também,
onde eu sou cuidado. Porque no pequeno grupo, na igreja, mesmo que o pastor seja sênior,
pastor é cuidado. Então ele precisa, porque ah, é... Todo o processo depende da
modelagem, de ser exemplo, de repartir vida. Então, pequeno grupo não deve ser um
programa, deve ser um lugar de a gente repartir vida, de relacionamentos autênticos. Isso
demora três, quatro anos pra igreja ganhar esse valor. Acho que é isso aí.

16p. Entrevistador: Muito obrigado.


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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 17/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
71 anos Morada de Camburi IBMC 06

1p. Entrevistador: Poderia falar um pouquinho sobre a sua participação no pequeno


grupo?
1r. Entrevistada: Atualmente uma participação assim, pequena, porque eu já chego no
grupo pra, pra usufruir. O líder planeja e a gente chega lá pra usufruir. Mas, tenho procurado
discutir bastante os assuntos. Mesmo quando eu vejo que o grupo tá meio calado então eu
procuro trazer polêmicas pra que a gente possa estar envolvendo todas as pessoas e tá
discutindo. E tá fazendo essa reflexão que foi dita agora mesmo, nós precisamos partir para
a reflexão. Então, essa reflexão no pequeno grupo é que é importante. A gente tem feito
isso.

2p. Entrevistador: Qual a importância do pequeno grupo pra você, pro seu
relacionamento com Deus, pra sua integração na igreja?
2r. Entrevistada: Então, eu acho que essa ideia do pequeno grupo é assim, maravilhosa.
Porque na igreja grande, você não tem um relacionamento com todos os membros e ali no
pequeno grupo, principalmente. Grupo que eu liderava, a gente além de estar presente
naquele dia da reunião, nós estávamos presentes em todos os outros dias. É um aniversário,
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é um casamento, é uma doença, é uma alegria, é uma tristeza, nós estávamos sempre
presente ali esse meu grupo agora, ele é pequeno. Ele ainda é muito tímido. Mas a gente
tenta ali trazer as ideias e tá discutindo.

3p. Entrevistador: Você já fez parte de uma igreja que não tinha pequeno grupo?
3r. Entrevistado: Já.

4p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o pequeno
grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
4r. Entrevistada: Não, aí eu nunca, eu nunca parei pra pensar nessa diferença não.
Entendeu? Realmente não. Mas com certeza se esses pequenos grupos fossem trabalhados
como na origem, é, seria uma vitória muito grande pro evangelho, entendeu? Porque, eu
participei de uma reunião, é, em _______, com um pastor que tinha talvez criado ou trazido
de algum lugar, não sei, a questão da igreja em célula, então nós fomos numa caravana,
acho de vinte pessoas, aqui do Espírito Santo, e participamos lá daquelas reuniões, daquelas
dinâmicas que foi muito bom. Mas chegando aqui, é, o que eu sei é que a igreja de Jardim
Camburi, ela aplicou na íntegra, entendeu? O pastor foi, a esposa do pastor foi, então eles
trouxeram e aplicaram, pelo que eu sei, não to dizendo que é absolutamente verdade, né?
Mas pelo que eu sei, eles aplicaram na íntegra o, os ensinamentos de lá. Agora, a igreja que
eu frequentava na época, era a ______, demorou muito pra ser aceito esse... Essa questão
de célula. Aí não trabalhou com o nome de Igreja em Célula, é, ficou como Igreja de Casa
em Casa, entendeu? E aqui a gente trata como, em Morada a gente trata como Pequeno
Grupo. Mas tudo é um pequeno grupo, seja célula ou seja, entendeu? E então, eu num,
como fiquei muitos anos lá __________ eu não posso dizer assim, que houve uma
diferença. Mas, gostaria de falar de uma coisa que eu achei e que, talvez seja só do meu
coração, mas há um pouco de rivalidade entre os grupos, pequenos grupos. Cada um quer
fazer melhor, cada um quer fazer de jeito diferente, por isso é que a liderança é
importantíssima, né? E essa liderança que vai direcionar o que os pequenos grupos podem
266

fazer, não é o que devem, mas o que podem, né? É, no grupo que eu liderava, eu mesmo
inventava mil coisas, entendeu? A gente inventava mil coisas. Pegava é, ensinamentos que
eu tive lá em _________, pegava ensinamentos que a gente teve nas aulas de discipulado,
porque muitos anos eu trabalhei com discipulado. E a gente trazia e aplicava no nosso
grupo. E era muito bom porque aí ficava diversificado. Sem fugir daqueles ensinamentos
que a gente aprendeu lá em _________.

5p. Entrevistador: Como é que funciona os pequenos grupos aqui em Morada?


5r. Entrevistada: Bem, eu vou dizer como funciona o meu. Não sei se os outros
funcionam, assim, a gente se reúne nas terças-feiras, as sete e meia e, faz o estudo, a
discussão, as vezes é mais longa as vezes mais curta. Até porque o grupo é muito pequeno,
depois a gente oferece um lanche, que não é obrigatório, mas sempre se oferece, faz parte
do, da sociabilidade do brasileiro, né? A gente oferece aquele lanche, pronto, aí vamos
embora. E durante a semana a gente não tem contato, entendeu? Não que a gente more
longe não. Mas é porque tá todo mundo ocupado. Cada um com a sua, com seus problemas,
com suas dificuldades. E então a gente não tem tido assim é, maiores contatos. E esse
contato eu sinto falta no pequeno grupo. Acho que o pequeno grupo não pode ser uma, por
exemplo, hoje é terça-feira, com certeza hoje não vai ter. Ao chegar em casa eu vou ligar
pro _____ que é o líder da minha cé... Do pequeno grupo, pra saber se vai ter. Mas eu acho
que não, porque vai ter o jogo, depois fica meio truncado aí a história. Tudo para as três
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horas. Então, aí nós vamos ficar quinze dias sem nenhum tipo de contato, entendeu?

6p. Entrevistador: Você falou que o grupo é pequeno. Seriam mais ou menos quantas
pessoas?
6r. Entrevistada: Nós somos seis pessoas. Eu, uma outra senhora da minha idade também
e dois casais. Que é um casal de líder, que é _____, e um outro casal.

7p. Entrevistador: Vocês se encontram numa casa só ou fazem um rodízio entre as


casas?
7r. Entrevistada: Pois é, nos é, era anteriormente era uma casa só. Mas agora a gente tá
fazendo o rodízio, hoje seria na casa de um desses casais. E sempre na primeira terça-feira
tem coincidido de ser na minha casa, entendeu? A dona _______, que é a outra senhora da
minha idade, ela também recebe muito bem, ela fica muito feliz. Todos ficam felizes, mas
a gente percebe que a dona ______ fica muito feliz quando é lá na casa dela, entendeu? Aí
às vezes eu não posso ir ou chego um pouco atrasada, ai ela “há, hoje eu tava esperando
por você, eu tava sentindo sua falta”. É sempre muito amável assim. Eu, particularmente,
não sei se é porque a minha raiz é a igreja de casa em casa e a gente se revezava assim, eu
acho muito importante este ir nas casas em vez de ficar numa casa fixa, entendeu?

8p. Entrevistador: Seria por causa, por que seria?


8r. Entrevistada: Então, pelas bênçãos que a gente recebe quando abre a porta pro povo
de Deus. Isso aí eu acho fabuloso. Segundo, pela preparação que a gente faz é, no antes e
no durante. Porque claro, se eu vou, é aquela história da marca, se eu vou receber o povo e
Deus na minha casa, eu quero limpo, eu quero uma flor, eu quero um lanche, eu quero uma
coisa. Então, eu já estou envolvida com o evangelho não com... A Palavra de Deus, mas
preparando pra receber essa Palavra e quando chega na hora de receber o grupo. É uma
benção imensa você poder abrir a porta pra que o povo de Deus entre na sua casa. Bom,
esse é um motivo que vai de casa em casa. Segundo, essa questão do lanche nem todas as
267

pessoas podem, estar oferecendo um lanche toda semana porque, nada, nada, fica caro.
Mesmo seis pessoas, imagina um grupo de vinte ou de quinze. A gente sabe que fica caro
e sabe da dificuldade financeira e da dificuldade da parte física. Então, isso aí também eu
acho que é importante que haja esse revezamento.

9p. Entrevistador: E, e vocês tem liberdade de chamar pessoas de fora, que não
pertençam ao grupo pra participar?
9r. Entrevistada: Há, sim! Sempre tivemos. Sempre tivemos. Embora eu seja muito
reservada nesse aspecto. Eu, pra falar a verdade, nunca chamo, entendeu? Nunca chamo.
Mas, não é que eu não queira que as pessoas vão a minha casa não. É que eu sou reservada
mesmo. Mas na casa da dona ____ sempre tem gente de fora. Que ela mora perto de outras
pessoas, de outras denominações, de gente que não seja evangélico ou de outras
denominações . Isso é muito bom.

10p. Entrevistador: E quais seriam os objetivos do pequeno grupo?


10r. Entrevistada: Então, eu penso que o objetivo do pequeno grupo, vamos falar, vamos
falar de dois grandes objetivos. O primeiro seria esse entrosamento com os membros do
grupo, os membros da igreja. Esse entrosamento pra que você saiba se você, é, precisar
você sabe a quem você vai recorrer naquela hora da necessidade. E o segundo que é um
estudo da Palavra mais de perto, em que eu, aliás, eu vou falar de três objetivos. O segundo
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seria esse, o estudo da Palavra em que você pode tirar suas dúvidas, Há, mas eu não
concordo com isso! Mas por quê? Aí tem aquele líder que vai explicar o porquê daquilo
naquela situação, tipo assim, Há, mas porque Abraão teve duas mulheres. Há, eu não
concordo com isso. Bom, não concorda. Então o líder tem que ter sabedoria de ta
explicando porque que naquela época Abraão tinha duas mulheres, ou três ou quatro, que
os líderes tinham e que era aceitável isso era aceitável. Por que hoje não seria aceitável.
Essas pequenas discussões que na hora do culto não se consegue fazer. Você vem no culto,
você vem se abastecer, lá você vai refletir, discutir, tirar suas dúvidas. E o terceiro objetivo
seria esse da gente estar se apoiando. Esse, eu falo do primeiro como social, do segundo
como espiritual e o terceiro objetivo como objetivo de apoio, entendeu? Agora, eu tenho
senti, eu não tenho sentido esse apoio. Não tenho sentido. Entendeu?

11p. Entrevistador : E esse grupo também tem a preocupação com, com a sociedade
de um modo geral, com as pessoas que estão, é, tem necessidades, fora do grupo?
11r. Entrevistada: Então, eu falo sempre de dois grupos. De um grupo até três anos atrás,
vamos dizer, e um grupo de agora. No grupo de até três anos atrás, nós fazíamos muitas,
como é que eu digo, muitas campanhas. Vamos fazer uma campanha para o orfanato tal,
assim, então nós íamos lá e fazíamos aquilo. Agora nós vamos fazer uma campanha pro
asilo dos velhos que tem lá em Laranjeiras, que é um pessoal muito carente e tal. Então nós
fazíamos. Que tá precisando? Há, tá precisando, seria bom se trouxesse assim, bijuteria,
esmalte, porque as vovozinhas gostam de tá pintando a unha, então vamos levar isso, né?
Não, nós estamos precisando é de sabonete, de pasta, de fralda descartável. Então vamos,
vamos levar isso. Aí a gente fazia essas campanhas, entendeu? Muitas... Mas aqui a gente
não tem feito não, entendeu? No meu pequeno grupo. A gente não tem feito. Eu acho que
precisava fazer, precisava se envolver mais. Porque a____ vocé é daqui? Não, então, a
_______é um bairro muito mais nobre do que esse e lá a gente fazia as campanhas. Não
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fazia para o povo ________, porque eles não precisam. Mas fazia pra fora, tá entendendo?
Então, aqui também, o pessoal daqui também talvez não precise, mas nós podíamos estar
trabalhando com o pessoal de fora. Mas aí não...

12p. Entrevistador: E esses grupos se organizam é, pela localização das pessoas, mais
próximas umas das outras ou tem outro critério que faz com que os grupos se
organizem?
12r. Entrevistada: Olha, eu acho que a gente se organiza mais por afinidade. Um pouco
pela localização, mas um pouco também pela afinidade, entendeu? Afinidade. Por exemplo,
eu estou neste grupo porque eu já conhecia o ____. O _____foi ______dos meus filhos
quando jovens. Era da igreja_____. Então eu já conhecia e quando eu tive que escolher,
que eu queria escolher um pequeno grupo, não conhecia ninguém mais, então fiquei no
grupo dele. Tô satisfeita, tô feliz de estar lá, mas eu queria ver um crescimento maior do,
daquele grupo. Eu gostaria de ver um crescimento bem maior.

13p. Entrevistador: E aqui, qual, qual seria a, a importância do pequeno grupo para
a comunhão entre os membros?
13r. Entrevistada: Ah! Eu diria uma total, uma total importância, no dia seis, teve um
encontro de todos os grupos aqui, mas eu não vim. Porque, o meu marido ele, ele não é
crente. E ele viaja de segunda às vezes à quinta, às vezes de segunda à sexta. E, quando ele
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chega na sexta-feira, aí eu fico meio envergonhada de dizer você chegou... Quando eu


trabalhava à noite, não. Às vezes ele chegava, estava estacionando eu dizia: olha to saindo.
Porque eu tenho que trabalhar. Que aí o trabalho é uma outra... a gente vê com um outro
jeito e a gente só ia se encontrar mesmo onze horas da noite quando eu chegasse. Mas agora
por eu não estar trabalhando, tenho, vai fazer dois anos que me aposentei e ele chegar e eu
sair sem ele ser crente, então pode criar uma animosidade. Então, a, muitas vezes eu não
venho. E, às vezes eu não venho nem na oração de manhã, porque ele vai viajar as oito
horas e a oração é sete e meia e aí eu fico chateada de sair. Hoje, ele viajou ontem, então
hoje eu tava liberada. Então, aí, tem, teve essa, essa reunião de grupos e eu penso que isso
deveria ocorrer mais vezes. Até pra troca de experiências, mas tinha que ter uma dinâmica
bem movimentada, uma dinâmica em que todos os grupos pudesse realmente estar se
colocando.

14p. Entrevistador: E como o pequeno grupo contribui pro crescimento pessoal dos
membros do grupo?
14r. Entrevistada: Ah! Então, eu acho que isso aí é muito importante. Eu penso que há
um crescimento em todos os aspectos, em todos os aspectos, espiritual, que é, com a palavra
e também do social, do modo de receber, um vai vendo como que o outro faz e vai
crescendo, entendeu? Eu acho que isso daí influi muito bem.

15p. Entrevistador: A senhora gostaria de falar mais alguma coisa sobre o pequeno
grupo?
15r. Entrevistada: Eu penso que é um... Uma situação que veio, que não pode ser é, mais
eliminada. As igrejas precisam trabalhar em pequenos grupos, mas esses pequenos grupos
precisam ter liderança, como a gente aprendeu lá em ________, né? Precisa ter liderança...
Então nós temos o líder lá, depois nos temos os supervisores, que é pras pessoas irem, os
supervisores irem nos grupos, estar visitando, estar até corrigindo. Porque na verdade, eu
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fui líder de grupo durante acho que uns oito anos, mas eu não sei se eu fiz a coisa certa.
Certa dentro dos padrões, diante de Deus eu tenho certeza que fiz. Não por soberbia, mas
porque a gente fazia o possível pra tá sobre a orientação de Deus. Mas será que era isso que
os outros grupos da igreja vinham fazendo? Será que era isso que tinha que ser feito?
Porque nunca recebi, é, um supervisor, pra tá orientando. E terça-feira eu senti na reunião
de terça-feira passada, eu fiquei o tempo todo pensando, gente, mas a gente não recebe
ninguém da liderança. Então, o dia que for lá em casa, eu vou pessoalmente, eu botei isso
no meu coração, o dia que for lá em casa, que é o mês que vem, eu vou pessoalmente
convidar o líder da... Pra estar lá em casa. Entendeu? Porque eu acho que isso é importante.
Porque nós somos falíveis, então vamos corrigir. De repente eu to lá pensando que tô
abafando e eu to errando. Então, nós precisamos corrigir.

16p. Entrevistador: Não há nenhum acompanhamento?


16r. Entrevistada: Não tem tido não. Esse ano, aqui na igreja, eles tem feito uma reunião
na hora da escola dominical, não sei se é todo domingo, e eu não sei se é esporádico. Mas
tem feito reunião dos líderes com o líder maior, que é o _______, acho que é ________ o
nome dele. Aí o líder da minha célula, que é do meu pequeno grupo, ele até falou:
Ah!_____eu queria que você estivesse sempre presente. Porque ele tem a ideia de que eu
assuma uma liderança de um pequeno grupo. Mas eu tô passando por um momento meio
difícil com meu pai e minha mãe, que é muito de idade, e agora eu não to, não to nem vindo
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de manhã na igreja porque eu to dando é, prioridade a estar com mamãe. Porque papai tá
acamado, e ela fica naquele sofrimento. Então eu to dando prioridade a tomar um solzinho
com ela, dar uma voltinha no quarteirão. Eu venho à noite. E, e então eu não quero assumir
mais compromisso do que eu já tenho. Porque embora aposentada, eu tenho uma porção de
compromisso. É, aí eu falei não_____, eu não vou na reunião não. Porque se eu for, eu
estou me colocando na brecha para ser um líder de grupo. Mas eu agora não posso. Agora
não posso mais assumir nada. Eu tenho que assumir, é, de peito aberto a questão de meus
pais lá, né? E então eu não tenho vindo. Mas tá tendo essas reuniões pra distribuir o
material, naturalmente pra dar alguma orientação, né? E, mas é lá no grupo, que eu acho
fundamental que fosse.

17p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


17r. Entrevistada: Nada.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 17/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
50 anos Morada de Camburi IBMC 07

1p. Entrevistador: Qual a sua participação no pequeno grupo?


1r. Entrevistada: É atualmente eu não participo efetivamente, hoje. Mas já fiz uma
caminhada bem profunda por esse agrupamento. Que aqui é chamado pequeno grupo. Já
participei bem profundamente e fiz a minha experiência e hoje eu não estou participando.
Talvez eu participe de um agrupamento desses, só que com outro nome e com outro
objetivo. É que é um... Hoje eu participo no mesmo dia de um programa de cura e
libertação. Que na verdade eu achava que isso também devia tá inserido dentro do pequeno
grupo, que é, pra mim, eu sempre entendi que esse seria o propósito do pequeno grupo.
Mas talvez nesse momento, é, a realidade que eu vivo aqui, que é esta igreja, eu não senti
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é, este conteúdo sendo tratado nesses pequenos grupos. Então eu me, me esvaziei e,
inclusive, o pequeno grupo que eu participava ele acabou dissolvendo, Infelizmente.

2p. Entrevistador: Quando você participava desse pequeno grupo o que achava mais
interessante?
2r. Entrevistada: Eu queria falar um pouquinho diferente, eu queria falar assim, quando
eu cheguei aqui. Quando eu cheguei aqui é, me falaram que a igreja tem pequenos grupos
e as pessoas que chegam aqui se ajeitam num pequeno grupo. É, como se fosse um, vamos
dizer assim, é, eu gosto de, eu gosto de tudo que você, renova questionando pra oxigenar,
quando tudo se transforma em pacote é meio perigoso. Então, quando eu cheguei aqui,
assim ó, a igreja tem pequenos grupos. Parecia um padrão da igreja. E a primeira entrada
já foi, eu já senti uns agrupamentos sequelados, com alguns dificuldades. Porque, a
primeira iniciativa de entrada é, eu recebi a resposta assim, não, mas nosso pequeno grupo
já tem muita gente, não tem como você entrar. Então eu já senti, assim, pela experiência.
Assim, um tanto, um pouco espiritual da, de uma... De já uma caminhada. Que a gente num
nasceu quando eu num nasci espiritualmente quando eu cheguei aqui. Então eu já senti ali
uma desestruturação. Então é, eu voltei, então já me pareceu uma característica de que os
pequenos grupos eram os grupos sociais. Sociais entre aspas. Então, já estávamos
confortáveis naquele grupo, necessidade de gente que vem, gente que recicla, gente que
mexe, mexe não. Já tá tudo fechadinho. Então, o grupo social é assim. É, e aí nós, eu fui
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caminhando até o pastor que são nossos adorados líderes que se entristecem com essas
coisas. Então, eu caminhei até outro agrupamento. E esse agrupamento foi, é interessante,
aliás, os agrupamentos são interessantes. Mais interessante é quando as pessoas dos
agrupamentos querem ouvir notícias novas, querem ser criticados, querem ouvir críticas.
Porque a gente que lida com isso, a crítica, ela é sempre bem-vinda. Eu transformo ela
numa crítica construtiva ou destrutiva, mas ela é sempre bem-vinda. Porque o momento
que eu me fecho pra ela, aí assim, logo em seguida morre, né? Então, é, o agrupamento da
Morada, é como se ele tivesse num estágio, nessa minha caminhada, “tava” sendo a cara
da igreja. É bom a gente falar sobre isso porque essas coisas as vezes ficam meio, nós, ali
dentro. E a gente vai falando e vai, tá parecendo a cara da igreja. Então, os agrupamentos,
o nosso tempo ele é resumidíssimo. Todos nós, acho que o meu um pouco mais resumido
do que todo mundo. Então, se eu me disponho a sair de dentro de uma empresa e ir para
um momento desse, é, com certeza, assim, um dos focos maiores é o espiritual. É o
espiritual. E, não é porque eu sou ligada no espiritual, ali, de oração, é, busca do espiritual,
não é. É porque de social, nós já “tamos” entupidos. De encontros, com conversa paralela,
também “tamo” cheio. A gente pode pegar internet, televisão tem bastante. Então, se o
povo de Deus se reúne é “pruma”, é “pruma” busca, né? Uma busca assim, muito profunda.
Através da Palavra, ler mesmo, palavra didática mesmo, intercessão, motivos de oração
sendo colocados e sendo... intercessão mesmo. Então, é, nessa caminhada desses
agrupamentos, é, eu...Sentia que eu parecia Noé, no meio do povo, assim. E também era
um momento da igreja. “Tava” no momento da igreja que agora nós estamos passando por
mudança. Por isso que vem a tempestade, né? Que a tempestade faz parte da mudança. É,
era um momento muito social da igreja. Extremamente social. Muito social. E talvez o PG,
ela, ele precisa de sofrer esse reflexo dessa mudança que a igreja tá acontecendo. Tá
pouquinho, a mudança? Tá. Mas faz parte. Porque se ela for muito grande também todo
mundo morre. Então ela tem que ser pouquinho mesmo. E o PG precisa receber essas
mudanças, nEla, e o PG precisa receber as mudanças. Porque esse agrupamento, ele precisa
ter um foco diferente. Porque, é, pra começar eu entendo que esses agrupamentos, as
271

pessoas que vão pra esses agrupamentos, elas precisam ser tratadas. Porque você tem que
ser tratado pra você juntar com as pessoas. Então, tratado gente, não é não ter problema.
Tratar é curar essa alma, né? Porque se um agrupamento as pessoas se colocam os
problemas e esses problemas, cada um dá uma opinião sobre esse problema, esse
agrupamento tem problema. Porque, se é um agrupamento pra se colocar dificuldades,
existe um Deus no centro desse agrupamento que vai adotar esses problemas é Deus. E eu
cheguei num ponto de falar assim, irmãos, vamos parar um pouquinho, tem muito Deusinho
nesse agrupamento. Porque cada um dá uma opinião na vida do outro. Nem psicólogo faz
isso, psicoterapeuta, quanto mais agrupamento de PG. Mas vem de que isso aí? Vem dum
espiritual fraco. Porque se é um desafio nosso, é pra gente baixar o joelho e interceder. Se
a gente entregar no altar, então, por essa falta dessa experiência, né? Do todo, da igreja
como um todo, leva pro PG. A igreja é o PG. Então o PG reflete isso aí. Então esse PG, ele
faz o quê? Então ele se junta, ele ouve as questões, e é muito sério isso, que tem pessoas
que abre as questões nesses lugares. E no lugar de você interiorizar esse problema, de você
fazer um choro sozinho desse problema, de você clamar por socorro, começa fazer uma
arena de ideias. Cada um dando uma ideia que o irmão deve fazer. Então, às vezes por falta
de sabedoria, por falta de cuidado, e o pior, é quando esses problemas começam a sair dali
e vazar pela igreja. Conclusão, que Deus nos ajude a tratar essa ideia que se chama pequeno
grupo. Mas talvez o pequeno grupo, coitado, é só um reflexo é, da realidade dessa igreja.
Pequeno grupo é um lugar que se junta gente pra se abrir. Programa de cura e libertação,
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lugar que se junta gente pra se abrir. Esses dias eu vi uma irmã falando assim, é muito
perigoso esse lugar. Porque as pessoas se abrem. E depois disso? Quando alguém se abre,
não é tratado, essa pessoa desiste e vai embora. E outra coisa, as pessoas estão tendo muita
dificuldade de se abrir. Quando começa a se abrir, aproveita. Aproveita, ajuda porque a
cada mais vez, mais gente se fechando nas suas dores, se isolando de tudo. Então,
precisamos de muita ajuda.

3p. Entrevistador: Tá. Como você vê que essas pessoas poderiam ser tratadas então,
no pequeno grupo?
3r. Entrevistada: Acho que, tudo se passa pela liderança, né? É um efeito, é um efeito de
liderança. É um efeito cascata de liderança. Porque assim, há, mas é só liderança? Não, mas
a liderança traz a raiz, traz o direcionamento. Então se esse espiritual toma posse da
liderança, e a liderança vai fazendo um efeito cascata nos outros líderes, o líder precisa ser
tratado. E o líder dos líderes, precisa ser tratado. E o líder dos líderes sabe que tratar líderes
mirins é muito trabalhoso. É muito trabalhoso. Esse tem acontecido um negócio aqui
interessante como exemplo. Um pastor trata do jovem. Aí o outro pastor trata dos pais dos
jovens. Oh! Que maravilha. Porque, basta eu tratar do problema? Não. Eu tenho que tratar
da causa. Então, esse, esse líder ele é tratado? Ele é tratado? Não, não é perfeito, que eu tô
perguntando. Eu tô perguntando se ele é tratado? Ele tem quantas horas por semana de
tratamento? Por semana, de tratamento? Então, assim, mostrar que se tem PG na igreja é
um negócio muito sério. Sabe, ou a gente dedica horas, ah! Mas os líderes não tem muito
tempo, bom, se não tiver tempo pra isso, então tem alguma coisa errada. Porque a partir do
momento que eu junto, né? Um exército, né? Junto soldados, e não tem general é
complicado, porque vão pra uma guerra e se matam. Então assim, quanto tempo esse líder
tá sendo tratado? Porque, depois, qual é o direcionamento? Há, mas aí não, mas a gente dá
esse direcionamento. Não tá acontecendo eu, depois que eu saí do meu PG, eu percorri,
visitei, eu fiz essa trajetória. Eu visitei todos os PG’s. Um por um. Passei uma terça em
cada PG. Eu vou falar uma coisa, assim bem, entre nós, eu senti esses PG’s com uma sede
272

de Deus tão grande. Eu senti esses PG’s com uma necessidade tão grande de ter gente ali
ajoelhando com eles, intercedendo com eles. E foi uma, eu fiz uma, essa viagem
missionária que eu fiz ente os PG’s foi um momento muito especial da minha vida. Primeiro
que, eu senti assim, que bom que o que a gente tem feito tem sido sentido dentro da igreja.
E depois eu vi que eles estão sedentos. Então, sinto muito, eles precisam de ajuda. E sinto
muito, nós fomos convocados pra ser líder, né? Eu falo que é igual pediatra, né? Pediatra
que se liga fora de hora e não quer atender, é porque não é pra ser pediatra. Então o líder,
ele é assim, se é trabalhoso, não tem problema não, tem várias funções que a pessoa bate
um ponto as oito e bate um ponto as dezoito. Tem vários trabalhos assim, né? Então se você
nasceu e você foi chamado, a seara é grande.

4p. Entrevistador: Você entende então, que precisa haver mais cuidado no pequeno
grupo?
4r. Entrevistada: Com certeza!

5p. Entrevistador: Como esse cuidado poderia acontecer?


5r. Entrevistada: Primeiro, é o cuidado do silêncio. O cuidado de ser mais ouvido do que
falar. Porque se eu estiver perto desse PG, precisa falar nada não, né? Fica ali quietinho.
Quem as pessoas que tão vindo? Como que elas fazem? Como que a pessoa que tá de frente
tá se portando? Essa pessoa que tá de frente, ela tá sendo tratada? Existe sabedoria
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espiritual? Existe compaixão nessa pessoa? Ou qualquer ataque de liderança já arrepia? O


PG é um território de domínio? Dá status ser líder de PG? Aí, essas perguntas podem ser
exemplo assim, de colocar assim, na lista dos líderes, do líder dos líderes. Conclusão, se
não tratar líder é difícil. Então é só... Dizer que tem agrupamentos. E outra coisa, e assim,
quando não se trata líder, se prepara pro pronto socorro. Porque aí você vai apagar incêndio,
né? Um incêndio, uma briga num lugar, uma briga em outro lugar, entendeu? Né? E
também, outra coisa, os outros ministérios estão sendo chamados pra tratar esse ministério
do PG? É uma boa pergunta. Agora eu tô até lembrando dessa pergunta. Porque a gente
não para muito tempo só pra ficar por conta de PG, né? Os outros ministérios estão sendo
chamados? É, como é que tá nossos casais nesses ministérios? Porque dizem que lá no PG
eu me abro. Ô, opa! Vamos aproveitar, né? Essa oportunidade. Já que lá a gente se abre,
vamos aproveitar então, né? Mas e aí? Porque existe conteúdo nos outros ministérios
também. Existe conteúdo no ministério de família. E tá, é, agregando aos PG’s? Tá tendo
ajuda ou não? Tem o território do PG, o território da família, o território da, do jovem, o
território... Vários territórios.

6p. Entrevistador: Você acha que o pequeno grupo promove comunhão entre os
membros?
6r. Entrevistada: Não muito...

7p. Entrevistador: E qual seria a razão disso? Por que não promove comunhão? O
que impede que haja comunhão nos pequenos grupos?
7r. Entrevistada: Olha moço, é, eu acho que assim, é... Porque, mesmo que a gente não
dê conta, mas meu coração é meio voltado pra humanidade. E eu acho que há muita gente
lá fora. Por que os PG’s, os vizinhos do prédio não se chegam nos PG’s? Por que no dia de
PG não pode ser uma visita num hospital? Eu tenho muita preocupação das nossas igrejas,
ramificando pelos PG’s, serem um clube social. Onde, quem tá ali, na realidade são os
tratados. Porque os doentes mesmo... Estão isolados em casa. Inclusive, eu tenho um, se
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for feito um estudo, a estatística vai provar isso, é que as pessoas quando adoecem, elas
saem dos PG’s. Aliás, quando as pessoas adoecem, elas saem das igrejas. Isso é muito sério.
Isso é muito sério.

8p. Entrevistador: Certo.


8r. Entrevistada: Porque isso não tem nada a ver, se, é tão diferente da missão de Jesus,
né? Porque pra ele chegava mais doente do que são. Aliás, ele não gostava muito do são
não. Gostava mais ele preferia os doentes. E, e o que tem acontecido? É, a gente acompanha
às vezes, é, irmão é, por que você não veio domingo? Por que você não veio quarta, sexta?
Porque eu tava doente. Mas não é doente da perna quebrada, né? Não. É doente da alma.
E... O que que é isso? Você tá doente da alma e você não tá na igreja? O problema é seu
ou o problema é da igreja? Né? Então assim, temos muita coisa pra rever e é bom um, uns
estudos desses porque assim, de pacote e de propaganda, nós já “tamo” muito cheio. A
gente precisa saber o que acontece na essência, né?

9p. Entrevistador: Você falou que seu grupo dissolveu. Como isso aconteceu? Como
ele dissolveu?
9r. Entrevistada: Porque os pés não estavam na rocha. E eu falei tantas vezes, né? Eu falei
tantas vezes. Eu falei, eu, a cada terça-feira que eu saia do pequeno grupo, eu chegava
muito, eu voltava muito angustiada. É, às vezes era o dia que eu perdia o sono. E eu, graças
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a Deus, ultimamente tem muito, coisas muito mais difíceis e eu não perco sono. E eu perdi
sono por angústia. Por, parecendo que aquilo que, como se você falasse pro deserto. Falasse
no deserto, né? Porque às vezes a... Liderança... Também que é outro cuidado que tem que
ter, as vezes a liderança é, delega pra outra liderança, dentro do próprio PG, se dissolve
liderança sem o pastor saber. Então lidera, um líder que passo pro outro. Porque o líder não
tá podendo muito naquele momento, então passa pro outro. E às vezes acontece de passar
por uma criança, pra uma criança espiritual. Que não teve nem experiência no momento.
Então, não tem experiência nenhuma, mas como é muito envolvente, tem uma liderança,
né? Uma pessoa que tem uma liderança vai tomando a frente, isso tudo acontecendo sem o
pastor saber de nada. E aí a gente vê, não por conta de irresponsabilidade dessa pessoa.
Mas assim, tem momentos que nós precisamos de ter um eixo. Qual é o objetivo disso aqui?
Né? Então o objetivo disso aqui é o que?

10p. Entrevistador: E no seu entendimento, qual seria o principal objetivo de um


pequeno grupo?
10r. Entrevistada: Crescimento espiritual. Porque assim, é, só pregação de domingo,
não... consegue. É, não consegue. Só pregação de domingo, não. Conclusão, então nós, nós
é, é crescimento espiritual. Porque, é, se tem esse crescimento espiritual... Conhecimento
da Palavra, libertação mesmo, trato, porque daí provém as outras coisas, né? E, e assim, aí
é um todo, aí quando vem a ventania, da crise pastoral, o PG passa a ser um, o centro de
discussões, sobre as críticas da igreja, dos pastores e tudo mais. O centro das, dos
acontecimentos.

11p. Entrevistador: Então você vê o pequeno grupo como um risco, nesse caso, pra
unidade da igreja?
11r. Entrevistada: Não. É oportunidade. Ele não pode ser risco. Né? É como a, é, se você
fizer um paralelo pra universidade, pro mundo secular, é como se fosse a universidade, não
é isso? Né? É um agrupamento, né? Principalmente de seres pensantes, que é o melhor que
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tem né? É risco? É risco “prum” regime militar, ditatorial, é risco. Mas ele é uma
oportunidade. É uma oportunidade de crescimento. Só que como toda, tudo que tá
acontecendo, como uma criança que tá se formando, um jovem que tá se formando, existe,
tem que ser trabalho, acompanhamento, tá junto. E dá ouvido, né? Assim, há, o pastor
chegou, vamos ficar quietinho, vamos fazer comportamento bonito? Não... Precisa a não
ser naquele dia. Como tá sendo no dia a dia? Quem as pessoas que tão participando? Vem
cá, essa pessoa aqui? E eu vou falar mais uma coisa muito séria, esse agrupamento que
acabou tinha pessoas ali, tá, a, mas as pessoas não participavam das igrejas. Tá certo, se eu
sou tratada, eu participo da igreja, eu sou tratada, qual é minha função? É ficar, é ficar
vendo quem vem no culto, dá presença na lista de presença? Ou não? E vou falar uma coisa,
desse agrupamento que acabou existe pessoas que hoje estão abandonadas. Então, tá pior
do que se não tivesse. Porque a igreja mostrou a cara, puxou essas pessoas, elas “tavam”
no jeito delas de crescer, elas “tavam” no jeito delas de ser. Ah! Elas não participavam, não
vinham nos cultos, não sei o que. Elas vinham sim. O problema é que quando chegavam
no PG, a própria igreja falava mal da igreja. Então essa pessoa que ela tá ali olhando, né?
Ela tá ali só olhando, fala assim, caramba, entre eles falam mal um dos outros! Pra que vou
pra esse lugar? E a realidade dessas pessoas, que a igreja foi lá falar pra elas que a igreja
trata, e elas iam, elas participavam. Essas pessoas hoje estão abandonadas.

12p. Entrevistador: Elas permanecem frequentando a igreja ou não?


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12r. Entrevistada: Não. Até porque uma delas tá com, tá doente, fisicamente.

13p. Entrevistador: E o pequeno grupo tem esse cuidado de acompanhar os doentes


diante das necessidades das pessoas que compõem o pequeno grupo?
13r. Entrevistada: Tem algumas, existem algumas experiências assim...

14p. Entrevistador: Você chegou a ser líder do pequeno grupo?


14r. Entrevistada: Não aqui, né? E assim, é, eu... Às vezes eu procuro é, me limitar um
pouco porque eu era meio um pouco da ajuda da liderança, em termos da oração, depois,
mais no final. Quando começaram a ver que o caminho era esse. Mas aí a tempestade da
igreja “tava” tão grande que acabou arrastando o PG e dissolveu tudo. Mas eu sempre
acreditei no núcleo de oração, PG, célula. Eu sempre acreditei. Agora, pastor nenhum
precisa ter medo de célula não. Aliás, se tiver medo, tem algum problema. Mas ele precisa
estar junto... Não é ele que precisa estar junto, é assim, aquele que é direcionado pra aquilo,
precisa. Estudar o que é esse agrupamento. Estudar mesmo, cientificamente. É, com
objetivo. A raiz da igreja tem que ser a raiz desse PG. Porque senão a igreja tá falando uma
linguagem e o PG tá falando outra. Aí às vezes pode falar que a, o PG e a célula vira um
motim, forma outra igreja. Que se formar outra igreja, que seja benção também no, nesse,
no reino de Deus. Mas porque esse medo? É a mesma coisa do... Governo com medo das
universidades, né? E... A tendência de terminando, de ser feitos estudos isolados pela
internet. Mesmo medo. Porque onde tem agrupamento de gente, tem que ter gente que se
dedica muito e muito a liderança. Porque gente junta pra ter ideia. Por isso que é gente, não
é máquina. Então assim, não menospreze esse agrupamento chamado PG. Não coloca, ele
é um ministério, não. Ele realmente ele, assim, né? É muito, ele precisa, requer uma
orientação, uma... Um tratamento muito profundo. Porque ele é uma ramificação. Ele é
uma ramificação da igreja. E mais uma coisa, ou o líder fala a mesma linguagem do pastor,
assim, não é concordar cem por cento com que o pastor fala, não é isso. Né? Porque não
precisa concordar cem por cento. Aliás, se concordar cem por cento tem problema. Mas ele
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tem que tá alinhado com a orientação. Porque se não tiver alinhado com a orientação, né?
Da igreja, ele cria outra igreja dentro do PG. Então assim, por isso que vem a oração, a
experiência, a Palavra de Deus, né? Porque assim, a Palavra de Deus ela mostra isso. Porque
se um ajuntamento, né? De um PG for centro de críticas em relação a, ao pastor ou a igreja.
Não é o alvo do PG fazer isso. Não é o alvo. Então assim, eu sinto muito assim, mas é, nas
minhas reflexões eu cheguei num ponto, eu cheguei, eu “tava” angustiante toda vez que eu
sentava, toda vez que eu juntava. E uma irmã chegou pra mim, ai um dia eu conversando,
uma irmã de oração, conversando. E eu não entendia, falei, gente tem alguma errada,
porque não saio leve, abençoada, tem alguma coisa. Ela falou uma coisa que é muito
profunda assim, muito simples é, você, como se você estivesse sentada à mesa dos
escarnecedores. Daí provém sua angústia. Aí eu, eu entendi profundamente. E eu vinha de
uma experiência de igreja que, eu falo que minha missão é chegar em igreja em crise. Aí
quando a igreja começa a se ajustar, né? Eu vou saindo pra outra.

15p. Entrevistador: Nessa igreja que você tinha, que você participou, tinha pequenos
grupos?
15r. Entrevistada: Tinha...

16p. Entrevistador: E lá eles funcionavam dentro dos objetivos?


16r. Entrevistada: Funcionavam. Não era muita quantidade, né? Não era muita quantidade
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não. É, mas começou a, começou a acontecer. E, e tinha uma coisa assim, muito
interessante. É, na realidade assim, na realidade eu já vinha com um histórico que pequeno
grupo é um lugar de, um lugar que, que é muito delicado. Porque assim, ele tem que ser
regado a muita oração. Porque nesse ajuntamento qualquer momento pode ter um estopim,
né? Então é... Quando esses PG’s passam por fases de crise pastoral, de crise de igreja, eles
são reflexos desse momento, lógico. Mas eu vim de uma experiência que nesse momento é
o momento que você dobra em termo de oração e de pedido de ajuda pela crise. E não você
passa a ser o centro da ativação da crise.

17p. Entrevistador: Através do pequeno grupo?


17r. Entrevistada: Sim. Então, às vezes a gente pergunta assim, por que um pequeno grupo
morre? Porque não “tava” com pé na rocha. Porque esse pequeno grupo ele é assim, há,
mas olha, o pastor é azul, o pastor é amarelo, ele é roxo, ele faz isso de errado, ele faz isso
de certo. Não é no pequeno grupo que é pra ser falado isso. Porque principalmente nesse
pequeno grupo tem pessoas que tão tomando leitinho espiritual, né? Um dia, eu cheguei
num momento desse pequeno grupo, que uma das pessoas que tomavam leite espiritual,
acho que ela não tomava nem leite ainda, ela tomava aguinha rala, ela falou assim, pare de
falar nesses assuntos. É tão bom quando a gente não fala desses assuntos aqui. E eu como
tinha, né? Já tinha um tempo maior assim, de participar de igrejas, aquilo me doeu muito,
assim. E aí eu tive, comecei a ter mais ousadia. Toda vez que começava o assunto eu
interrompia, né? Então, assim, é um agrupamento científico. Que seja feito vários
doutorados sobre ele, porque ele requer muito estudo.

18p. Entrevistador: Você participou de igreja sem pequeno grupo?


18r. Entrevistada: Não. Eu participei de uma igreja antes de “vim” pra “qui”, que “tava”
começando. É, nessa crise pastoral é, “tava”, assim, depois que, né? Que, ajusto... depois
que ajustou aquela crise, mudança do pastor, né? Assim, mudanças tremendas, né?
Profundas, com muita, muita intercessão, muito joelho ali, pra passar a tempestade, né? Aí
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logo em seguida começou a germinar os Núcleos de Estudos Bíblicos, que era o nome. E
eu lembro de livros preciosos pra minha vida que a gente estudou nesses livros como os, o,
o livro sobre os anjos, né? Sobre os anjos. Então eu, eu fico, eu guardei muito, assim, esses
estudos que eram feitos assim. E, era assim, estudos e oração, estudo e oração.

19p. Entrevistador: Então você acha que o pequeno grupo precisa enfatizar o estudo
e a oração. E não tanto o compartilhamento? Seria isso?
19r. Entrevistada: Não. Eu acho que tem que ter o testemunho, o compartilhamento, mas
assim, é, que ele não possa ser só um momento. Por exemplo, eu compartilho, eu abro o
assunto, tá, e que se, que abro o assunto e precisa ter pessoas de uma, um maior
conhecimento espiritual, maior profundidade mesmo, pra pegar esse assunto e levar pro
grupo com sabedoria. Porque assim, é, e outra coisa também, é, as ferramentas que são
usadas hoje, são ferramentas de contato das pessoas, são ferramentas, elas são boas e elas
são perigosas. Então, uma ferramenta que ela pode ser boa, mas ela precisa ter muito
cuidado se chama ferramenta chamada e-mail, né? Então, ou assim, tem casos que os
assuntos são tratados, os assuntos que foram abertos durante a reunião de PG, eles
continuavam sendo tratados durante a semana mas com e-mails entre duas pessoas só. E
não levado, quando era levado pro encontro geral do PG, o troço, a briga já “tava”
acontecendo. Porque se deixou duas pessoas sem experiência espiritual lidarem com o
assunto. Aí as duas pessoas foram lidar com o assunto sem experiência nenhuma, não é
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isso? Aí quando a guerra “tava” pronta, aí leva... a guerra “tava” feita, aí foi levado pro PG.
Aí o que que nós vamos fazer? O que nós todos agora vamos fazer? Falei ué, agora o que
nós todos vamos fazer? Começar a tratar na base. Porque um assunto desses não é pra virar
briga de internet entre dois irmãos dentro de um PG. Mas isso foi, é reflexo de que? Da
falta de experiência espiritual. Então, e a, e sim, experiência do grupo, e a liderança geral
tá aonde? Isso tudo acontecendo, né? Fazer igual, né? Isso tudo acontecendo e eu dando
milho aos pombos entendeu? Né? Isso tudo acontecendo. Então é o seguinte, se tem que
ter gente pra tratar, né? É igual você botar criança no meio da, atravessar uma BR, tem que
ter alguém pra acompanhar. Se é pra ter, então vamos trabalhar pra ter. Eu não acredito que
uma pessoa só consiga fazer isso não, tá. Acho que, é, precisa puxar, é, ajuda de toda a
equipe da igreja, entendeu? Não é, eu tô falando da liderança, não tô falando de participar
de PG não. Da liderança, né? Da liderança em si. Tá?

20p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


20r. Entrevistada: Fechô?
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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 29/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
41 anos Morada de Camburi IBMC 08

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre a sua experiência com pequenos grupos.
1r. Entrevistada: Eu só tive experiência com o pequeno grupo aqui em Morada. Nós
somos de Morada há muitos anos, mas nós ficamos um tempo, nós que eu falo, eu e minha
família. Nós ficamos um tempo morando em ____. Depois que a gente voltou de ___, meu
esposo começou a liderar um pequeno grupo lá em ___. E ele ficou liderando esse grupo
por um ano mais ou menos e a gente participando com ele. Eu e meus filhos. Só que aí ele,
no final do ano ele começou a trabalhar em ___, viajava, voltava, então ficou um pouco
inviável pra ele continuar na liderança do pequeno grupo e ao mesmo tempo eu não queria
assumir essa liderança desse pequeno grupo. E acabou que no final do ano ele conversou
com o pastor Marcelo e falou, olha, eu não vou ficar mais na liderança porque tá ficando
ruim, eu não tô podendo cumprir com meu compromisso, eu tô faltando e tal, e então vou
te solicitar que prepare um outro líder lá. E aí desse final do ano pra cá, a gente acabou que
não, que não se vinculou a nenhum outro pequeno grupo. Ficamos sem pequeno grupo. Eu
acho o pequeno grupo uma questão, um coisa bem legal, bem importante, acho que
fortalece laços e tal. Só que eu fico um pouco preocupada também pelo fato de ser muita
panelinha. Acaba que se a gente não tomar cuidado, vira muito panelinha, e panelinha com
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tampa. Porque você se aproxima muito daquele grupo, né? Cria realmente laços com aquele
grupo e acaba que a gente fica com um pouquinho de resistência de uma outra pessoa entrar
no grupo e tal, apesar da gente saber que não é o correto. Tem que convidar, tem que, o
grupo tem que crescer, dividir e tal. Mas essa questão da panelinha é forte, eu acho. É
complicado trabalhar isso.

2p. Entrevistador: Esse seria o perigo do pequeno grupo?


2r. Entrevistada: O meu ver é o grande perigo assim do pequeno grupo é a formação de
panelinha.

3p. Entrevistador: E quais os benefícios que o pequeno grupo traz pra, trouxe, né?
Pra você pessoalmente e pra igreja como um todo?
3r. Entrevistada: Eu não sei se é porque a gente tava, ficou pouco tempo, acho que um
ano, é pouco tempo de pequeno grupo sim. Isso tendo como um encontro por semana.
Nossa igreja adota a terça-feira, que é o dia do pequeno grupo. É um encontro só. Eu acho
que foi pouco tempo porque, apesar de eu conhecer as pessoas, conviver com elas ali e tal,
é, eu, criar laços mesmo, eu e minha família a gente criou com um casal desse pequeno
grupo. Eu tô tendo esse como referência tá? E esse casal é, tem, participa bastante da vida
da gente e a gente participa bastante da vida deles. Mesmo agora que a gente não tá mais
frequentando esse pequeno grupo. Então eu acho que faltou tempo pra eu ver esses
benefícios mesmo que o pequeno grupo poderia realmente trazer pra gente em termos de
contar com amizade, de socorrer numa hora, de orar, de ser parceiro. Eu, a gente conseguiu
isso só com um casal, com uma família. Com essa família a gente tem esses benefícios. De
poder orar junto, de poder compartilhar uma dificuldade, de saber que eles estão orando
pela gente, de se a gente precisar de alguma coisa, como eles já precisaram e a gente
socorreu de madrugada e tal. Isso a gente só criou com um casal. Acho que faltou um pouco
mais de tempo da gente criar também isso com os outros. Mas tem esses benefícios de
poder contar, de orar, de participar um da vida do outro mesmo, ativamente assim.
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4p. Entrevistador: E pra igreja, como você vê a importância do pequeno grupo pra
igreja como um todo?
4r. Entrevistada: A nossa igreja, pensando que a nossa igreja é uma igreja de um tamanho
médio assim, tem bastante membros, se eu não me engano tá em torno aí de uns
quatrocentos e pouco, quinhentos. O pastor, apesar daqui na nossa igreja a gente ter quatro,
geralmente é um só, a maioria das igrejas, só o pastor de líder da igreja e os demais são
líderes, não são pastores. Aqui a gente já tem que é privilegiado, temos outros. Eu acho que
meio que ajuda um pouco o pastor nesse sentido. Porque fortalece laços e o pastor não tem
como tomar conta de tudo, saber do que todo o rebanho tá passando. E o pequeno grupo, o
líder do pequeno grupo e os membros do pequeno grupo, eles são pessoas mais próximas.
Então, primeiro, acho que se a gente fosse colocar uma escada, seria o primeiro degrau que
a gente ia procurar. É o pequeno grupo, é a turma do pequeno grupo. Tanto pra nos ajudar
quanto pra compartilhar uma novidade, um pedido de oração, uma ajuda, um, uma
felicidade, uma comemoração. Uma vitória. Acho que o pequeno grupo, ele vem primeiro,
assim, quando você passa desse nível, não, o pequeno grupo já não tá dando conta, aí sim,
eu vou buscar o pastor e tal. Fora isso, vai primeiro no pequeno grupo. Isso ajuda a igreja
como um todo porque um fica fortalecendo o outro, ajudando o outro e às vezes passa por
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situações que o pastor nem tem conhecimento. Assim, graças a Deus já consegui resolver
ali.

5p. Entrevistador: Você fez parte de igrejas sem pequeno grupo?


5r. Entrevistada: Fiz.

6p. Entrevistador: E como você vê a, que diferença você percebe ou percebeu,


analisando, avaliando uma igreja sem pequeno grupo e uma com pequeno grupo?
6r. Entrevistada: Quando eu participei de igreja sem pequeno grupo, eu era bem mais
jovem. Na minha fase de, eu acho que tô um pouco mais madura hoje, um pouco mais
sábia, pela idade, pelas experiências. Não cheguei lá no patamar ainda não, mas já caminhei
um pouco. Quando eu participei de igreja que não tinha os pequenos grupos eu era muito
jovem ainda. Talvez eu ainda não tivesse essa consciência dessa importância e eu não
conseguisse assim, identificar como isso é importante. Mas, com essa igreja que eu
participei eu ainda tenho uma ligação muito forte assim, de apego mesmo. Aos membros e
ao pastor dessa igreja que é o mesmo até hoje. É uma igreja que eu visito sempre, e é uma
conversa que eu tido muito com esse pastor de lá. Porque ele é um pastor muito bom, muito
bom em muitos aspectos, mas ele tem uma cabeça muito fechada pra essas coisas um pouco
mais novas, porque na minha concepção o pequeno grupo é uma coisa nova. E ele tem essa
cabeça fechada e a gente tem conversado bastante com ele sobre isso. Pastor implanta o
pequeno grupo aqui, vai ser bom. Sua igreja tá crescendo, um vai ajudar o outro, você é
sozinho e é uma igreja que só tem ele como pastor e tem lideres o senhor não dá conta de
tudo. Então, eu acho que a grande diferença é exatamente essa, uma igreja que tem o
pequeno grupo, a ajuda mútua, oração, a parceria espiritual, talvez ela se fortaleça melhor
e se dê melhor do que uma igreja que não tem pequeno grupo. Uma igreja que não tem o
pequeno grupo, se um membro tá com alguma dificuldade por algum processo, né? Fugindo
de um pecado, tentando vencer aquilo, ele vai direto pro pastor. Pastor, tô com esse
problema, tô com essa dificuldade, não tô conseguindo, como é que eu faço? E a igreja que
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tem o pequeno grupo, de repente o membro vai primeiro ao líder do pequeno grupo. E aí
que acaba que alivia um pouco ou a resposta vem mais rápido, a ajuda vem mais rápida.
Talvez essa seja uma grande diferença de uma igreja que tem e uma que não tem.

7p. Entrevistador: Quando você pensa em comunhão na igreja, que tipo de benefício
traria o pequeno grupo para o desenvolvimento de comunhão na igreja?
7r. Entrevistada: Eu acho que o pequeno grupo, em termos de comunhão, é irrelevante.
Porque, se cada cristão se, cada pessoa que se converte realmente busca estudar a Bíblia,
ela vai ter na Bíblia ensinamentos de busca de comunhão. Isso independe de ter o pequeno
grupo ou não. Acho que o pequeno grupo de repente pode minimizar isso, mas num...
Transfere a responsabilidade da comunhão pelo fato de ter o pequeno grupo. Eu sou cristã
e eu convivi anos numa igreja que não era, não tinha o pequeno grupo e eu tinha comunhão,
e tenho até hoje. É uma igreja que eu visito até hoje, é uma igreja que eu ligo pras pessoas
e as pessoas me ligam, me convidam pras coisas. Eu ainda tenho comunhão com essa igreja
e não tem pequeno grupo. E tenho aqui que tem pequeno grupo. Então, acho que o pequeno
grupo é irrelevante nessa questão da comunhão em si.

8p. Entrevistador: Pensando em termos de comunhão uns com os outros ali.


Comunhão mais aprofundada entre os membros da igreja...
8r. Entrevistada: Então talvez a palavra não seria comunhão não. Na minha opinião. Então
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talvez seria intimidade. Porque, talvez o pequeno grupo traga uma intimidade que numa
igreja que não tem, fique só a nível de “eu estou bem com o irmão, eu conheço o irmão,
me dou bem com ele, posso até orar com ele, conversar, conviver, almoçar na casa dele,
mas talvez eu não tenha essa intimidade profunda e talvez isso o pequeno grupo me ajude,
a criar um pouco mais dessa intimidade. Porque é um grupo menor, o irmão vai ficar menos
preocupado em se expor naquele grupo de dez, quinze pessoas ao invés de se expor pra um
grupo de cinquenta, cem. Então talvez não seja comunhão, talvez seja intimidade.

9p. Entrevistador: Você disse que aqui a igreja adotou um encontro do pequeno grupo
por semana. Fale um pouquinho mais sobre como funciona o pequeno grupo.
9r. Entrevistada: Não, a igreja não adotou. Na verdade, é uma questão pessoal, eu tenho
trabalhado com Deus uma... Preparo para uma liderança de mulheres. E nesta questão,
Deus tem me falado muito a respeito disso, da necessidade da mulherada e as minhas
mesmo, né? Enquanto mulher. E eu tenho buscado me preparar pra... Assumir essa
liderança. Então, pensando nesta questão, eu penso sim, a partir desse mês até, já tá até
agendado, um encontro de mulheres por mês. E que na minha cabeça funcionaria muito
como pequeno grupo, porque a gente vai, vai dividir a mulherada em região. Vai ter um
encontro por mês da mulherada da Serra, um encontro por mês da mulherada de Vitória,
um encontro por mês da mulherada de Cariacica. Porque aqui em Morada tem membros de
todos os municípios. Então, na minha cabeça isso funcionaria como um pequeno grupo,
porque vai ser, a gente vai dividir em porções de mulheres, pequenos encontros, com
poucas pessoas, com poucas mulheres. E talvez a mulherada tenha um pouco mais de
liberdade de criar essa intimidade que eu falei. Porque comunhão tenho por todas, eu
conheço todas. Mas essa intimidade de saber realmente qual é a necessidade da mulher, eu
não tenho com todas. Então na minha cabeça, talvez, serviria como pequeno grupo. Por
isso que eu fiz a pergunta “será que um pequeno grupo uma vez por mês funcionaria?”
Porque é uma dúvida que eu tenho.
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10p. Entrevistador: Ok. No caso aqui funcionando uma vez por semana o pequeno
grupo, como é que funciona, qual é a dinâmica do encontro do pequeno grupo?
10r. Entrevistada: Bate papo. Cristão gosta sempre de comer. Então vai ser um bate papo,
um lanchinho depois, mas mais pra mulherada falar.

11p. Entrevistador: Sim, mas hoje, aqui, nos pequenos grupos que estão funcionando
aqui?
11r. Entrevistada: Os que estão funcionando?

12p. Entrevistador: Isto. Como é que funciona, é, tem música, tem estudo, tem
comunhão, tem como?
12r. Entrevistada: A gente, geralmente é um encontro de duas horas, uma vez por semana.
Vou falar do que eu participei no ano passado. É toda terça-feira, duas horas, de oito até
nove e quarenta, dez horas mais ou menos. Chega, tem um período de cânticos, um período
de louvor. Aí, depois daquele período tem um estudo, onde geralmente uma pessoa, é,
direciona aquele estudo e os demais participam, comentam. Colocam as suas opiniões.
Geralmente este estudo é enviado pelo pastor Fraga, e aí são, é o mesmo estudo pra todos
os pequenos grupos que acontecem na igreja. Depois desse estudo, geralmente tem um
lanche que a gente compartilha e aí é um período que a gente conversa, bate papo. Extra o
estudo. Geralmente uma vez por mês, uma vez a cada dois meses a gente faz um encontro,
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às vezes no fim de semana, às vezes num feriado, fora do dia da terça-feira, que é o dia do
encontro do pequeno grupo, pra fazer mesmo o social. Onde a gente vai fazer um almoço,
vai fazer um churrasco, vai só realmente fazer a parte social. Conversar, bater papo, ter
uma brincadeira, e a parte do churrasquinho que geralmente brasileiro gosta muito.

13p. Entrevistador: Qual a participação dos membros do grupo nos encontros? Que
tipo de participação, que tipo, que espaço eles tem pra compartilhar experiência, pra
falar?
13r. Entrevistada: No encontro de terça-feira, que é o formato, né? De pequeno grupo,
todos os membros do grupo tem liberdade pra expressar sua opinião, pra falar a respeito do
estudo, o que pensou, o que entendeu, o que não entendeu. Geralmente uma pessoa, ela
direciona pra ter aquela coisa de, de, é mais é de, ver a questão de tempo, um irmão só não
ficar falando, e o outro que quer falar, não falar. Mais essa coisa de organização, né? E ele
dá o ele... Dá assim, as impressões dele a respeito do estudo também. Mas todos os
membros tem liberdade pra falar, pra conversar, pra compartilhar, pra contar a lição através
de um exemplo prático na vida dele, se ele tem essa experiência. Geralmente é assim, bem
à vontade.

14p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre o pequeno grupo?
14r. Entrevistada: Não. Acho que eu falei bastante.

15p. Entrevistador: Então, muito obrigado.


15r. Entrevistada: De nada.
281

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 29/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
42 anos Morada de Camburi IBMC 09

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com o pequeno grupo?
1r. Entrevistado: Bom, eu já comecei com o pequeno grupo quando eu morava em
Goiabeiras, o pequeno grupo tinha aqui no bairro república. É... Aquele período foi muito
bom, pequeno grupo bem dinâmico. Era liderado pelo pastor _____ e a gente tinha bastante
entrosamento. Tinha as lições já, que a gente vinha pra fazer as reuniões já, com uma...
Noção do que a gente ia estudar, ia conversar e lá dentro, era como se as pessoas se
soltassem. Começavam a falar, pessoas que nem nunca tinham falado e começava...
Quando eu mudei pra Serra, nós começamos um pequeno grupo. Eram quatro, dois casais.
Era eu e minha esposa e outro casal. Aproximamos bastante. Ficamos um ano orando para
que nosso pequeno grupo crescesse, se expandisse. Foi um período assim, de cuidado muito
grande, acompanhamos um outro casal que eles estavam recém convertido. Aliás, eles já
eram convertidos, tinham se afastado, tinha voltado pra igreja. Conseguimos agregar outras
pessoas no nosso condomínio, mas não tinha aquele... Por não ser cristãos e não ter aquele
compromisso de estar na... De vir a igreja, também não tinha compromisso de estar sempre
no nosso pequeno grupo, mas sempre que iam gostaram. Fizemos uma confraternização
mostrando que o pequeno grupo não é só aquele estudo, que não é aquela leitura, aquele
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estudo ali. Tinha uma parte de confraternização, aproximação, o cuidado. E o ano passado,
o nosso grupo se expandiu. Nós saímos de um grupo de dois casais para é... Cinco casais.
Abençoando. Juntamos dois pequenos grupos. A igreja estava orando e começamos a se
reunir lá em Balneário de ____. Foi um ah, aí que foi um ano de bastante, de luta. Foi um...
Ano assim, começou, o pequeno grupo começou bom, muito empolgado, muito
empolgado, é... Todo mundo torcia pra chegar terça-feira pra gente se reunir e começar
por volta de sete e meia, oito horas. Dava onze horas e a gente tava lá ainda conversando.
Foi momentos bons. É... E aí, começamos entrar em processo de decadência, o pequeno
grupo. Eu, como líder, eu pedi várias vezes apoio da... Da liderança que fosse lá nos
socorrer, pra dar ajuda ao nosso pequeno grupo e o grupo foi se definhando. Foi cansando...
Nós terminamos, o ano passado, é... Com três casais.... E que também não eram assíduos.
Tinha final de semana, tinha dia que não iam os três, não ia um casal, ou ia um em cada. E
o grupo, é... Novembro do ano passado nós decidimos entrar de férias pra ver se conseguia
dois mil e quinze o grupo retornar. E eu acabei não retornando para o grupo. Porque surgiu,
é... Deixei que outra pessoa liderasse, já tinha condições e eu fui buscar outro pequeno
grupo pra tá retornando, pra tá participando. Não como mais líder, mas como participante
pra mim aprender um pouco mais e ficamos acho que um mês e pouco, dois meses, ai foi
quando recebemos o convite pra vim ta liderando o grupo de casais. Que também foram
três meses e meio, quatro meses muito bons e aí ficou.

2p. Entrevistador: Na sua avaliação, o que é que fez com que o grupo crescesse e o
que é que fez com que seu grupo fosse se cansando, como você disse, fosse em
decadência?
2r. Entrevistado: Acho que teve um, uma sequência de coisas. A igreja passou por uns,
passou por momentos, aí foi esfriando, as pessoas foram esfriando dentro do PG, Pequeno
Grupo. Não tinham mais comprometimento de pegar a lição, estudar a folhinha que eu
sempre procurei. Recebia da igreja, imprimia uma pra cada um, entregava, tinha gente que
nem nunca nem, nunca olhou aquilo dali. E foi ficando cansativo porque a gente procurava
282

que as pessoas inteirassem, falasse mais, e sempre tinha uma ou duas pessoas falando só
algum. Faltou um pouco de acompanhamento da liderança. Da liderança porque, socorro
nós pedimos, não só eu, mas todo o nosso grupo, chamei a líder, aqui do ministério,
chamamos pra que a equipe fosse lá nos socorrer, que eles nos dessem orientação, que
acompanhasse por um período a gente pra tentar reerguer, mas não houve resposta. E com
isso, falta de compromisso foi a principal coisa que levou o grupo a acabar.

3p. Entrevistador: Que tipo de acompanhamento a estrutura, a liderança da igreja


trabalha com os pequenos grupos? Que tipo de acompanhamento essa liderança
oferece para os pequenos grupos, para os líderes?
3r. Entrevistado: Vou falar do ano passado quando que eu tive mais à frente. Quando a
gente, nós tínhamos um pastor aqui que ele... Ele sempre procurava estar acompanhando
os pequenos grupos. E tinha uma reunião uma vez por mês, um... Encontrão que aqui tinha
testemunho de outros grupos, de outros líderes, pra ver como tinha sido, e tinha um... Bate
papo direto. Esse ano, a igreja entrou com a proposta de fazer é, treinamento de líderes do
pequeno grupo, pequena liderança. Só que eu acabei não, eu desmotivei um pouco, acabei
não vindo. Mas toda, Terça-feira, todo domingo tava tendo um treinamento de liderança
para o, os grupos. Aí que eu lembro disso.

4p. Entrevistador: Você falou de treinamento de líderes para pequenos grupos, para
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que a pessoa possa assumir a liderança de um pequeno grupo ela recebe algum tipo
de treinamento, algum tipo de formação?
4r. Entrevistado: Esse ano teve algumas orientações, outros anos também já teve, né?
Tinha assim uma... Anual, sempre tinha uma abertura do, fosse criar um novo pequeno
grupo o pastor ele ia, dava as orientações, tinha um manual que ele passava como que tinha
que ser as regras do pequeno grupo. O pequeno grupo não é independente da igreja, tinha
o apoio total da igreja. É... Como cadastrar cada pessoa, como motivar aquela pessoa, é...
O que falhou, que eu vejo, apesar de todo esse manual, toda essa, esse procedimento que
foi passado pra gente, um acompanhamento. É... E o treinamento que foi dado lá atrás, pra
gente, chega um momento que você precisa de mais coisas, precisa de mais uma atenção.
A reciclagem. As pessoas, se não reciclar, você vê onde você tá falhado ou, não vai, né?
Então faltou um treinamento melhor, um acompanhamento, um, trazer o povo pra, os
líderes para tá reciclando.

5p. Entrevistador: Qual a importância que você vê no pequeno grupo para o discípulo
de Jesus e para a igreja?
5r. Entrevistado: Olha, o pequeno grupo, você consegue se aproximar mais das pessoas.
Uma igreja quando está com uma estrutura muito grande, como que a nossa está, tá
crescendo, está crescendo. O nosso pastor, ele não consegue estar acompanhando todo
mundo, não consegue ter a visão de como tá cada pessoa. E você, dentro do pequeno grupo,
você acaba criando um vínculo melhor, uma aproximação, um cuidado melhor. Não só do
líder para com os liderados, mas também os liderados, eles procuram saber como que você
está. Tem uma preocupação de estar conversando com você. E pra mim como, Líder ali,
pra mim foi fantástico o período, né? Porque a gente tinha uma aproximação de a gente
chegar domingo na igreja, querendo ficar... Junto, querer saber, olhar na igreja cadê o...
Aquele componente do meu grupo que ele não está aqui, o que acontece? Pegar o telefone,
durante a semana ligar “ó você não teve lá, o que houve, tá precisando de ajuda, alguma
orientação?” Eu acho assim, pra igreja é muito bom. Só que também, ao meu ver não é,
283

falta, não é que falta, não tira a responsabilidade dos pastores. De estar sabendo como, de
tá lá no pequeno grupo também pra saber como é que tá a pessoa. Então, como, o PG pra
mim é uma das bases da igreja, tanto que o estudo, o estudo da... Palavra é como se fosse
uma escola. É uma escola ali. Você tá aprendendo, você como líder, você também, você...
Sente-se na obrigação de estar estudando, ou você levar informação a mais pra pessoa os
seus liderados, tem a curiosidade, porque o grupo é pequeno as pessoas conseguem se soltar
mais, falar mais, se abrir mais. Então quer dizer, acho que o pequeno grupo isso.

6p. Entrevistador: Que associação você faz entre pequeno grupo e a comunhão na
igreja?
6r. Entrevistado: A aproximação, a comunhão, acho que é ah, a base da igreja é o
relacionamento, é a comunhão. Você saber que você pode ir na igreja as pessoas vão te
reconhecer, vão te tratar bem, saber aonde, da onde que você é. Então quer dizer, a melhor
coisa do pequeno grupo para mim, é saber quem você é... Ciclano que mora em tal local,
que frequenta tal pequeno grupo, você é da minha igreja, você faz isso... Então, quer dizer
é... Se você entrar e sair da igreja que ninguém te... Enxerga, muitas vezes você não volta,
você não volta pra igreja. Eu fui um exemplo. Já frequentei várias igrejas. Quando eu tive
em outro Estado pra trabalhar. Eu frequentei a igreja durante quatro meses. Entrei e saí da
igreja, nunca fui notado por ninguém. Nunca fui notado. Então, quer dizer, a comunhão, o
cuidado, prende muito ali. É muito importante pra pessoa se sentir bem, se sentir notado.
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7p. Entrevistador: Como o pequeno grupo, quais seriam os benefícios do pequeno


grupo pra igreja?
7r. Entrevistado: Os benefícios? Eu acho assim é... Como é que é, pra mim é a questão,
cuidado é a maior, o maior benefício. Porque você, o pastor sabe que tem aquele pequeno
grupo que tem alguém que tá cuidando daquelas suas ovelhas, que ta acompanhando, tá
sabendo como é que tá a cada situação. E em algum momento de socorro você vai no seu
pastor e pede orientação. É... Você tá dando, o pastor dá pro PG, dando condições pra você
estar cuidando das ovelhas dele, né? Cuidando das ovelhas da igreja. É...Então eu acho que
pra igreja, é isso.

8p. Entrevistador: Tem. O pequeno grupo tem alguma preocupação com aqueles que
estão fora da igreja, fora do contexto cristão, com a sociedade de um modo geral?
8r. Entrevistado: Sim. Nosso pequeno grupo, o ano passado, nós levantamos um desafio
que era cuidar de pessoas que não eram de igreja, que não tinha família, que não tinha nada.
Nós, chegamos a levar um proposito para um outro pequeno grupo de chegando o tempo,
tempo de frio, é... Tem muitas pessoas na rua que não tem uma alimentação, não tem uma
roupa, não tem nada. E nós tínhamos o compromisso de pelo menos levar um café à noite,
se tivesse condições, fechar com algum estabelecimento pegar e fazer um sopão, e sair
cuidando e falando. Veja bem, frequentei um pequeno grupo que nós tínhamos esse
compromisso de toda quarta-feira, a gente ia pra pracinha e ali aquelas pessoas que ficavam
naquela pracinha a gente dava um café, um toddy e alguma coisa, chocolate quente pra que
as pessoas se aquentarem, aí eles perguntavam “Quem são vocês? De onde vocês vieram?”.
E nós tínhamos também o compromisso de doação de roupa, doação, cuidado de um asilo,
cuidado de um orfanato, cuidado de, cuidar de alguém, né? Porque acho que assim a igreja
vai parecer mais, a comunidade vai saber da existência de uma igreja que tá ali, que... Ela
cuida, que ela tá preocupada em cuidar da comunidade.
284

9p. Entrevistador: Gostaria de falar alguma coisa a mais sobre o pequeno grupo?
9r. Entrevistado: Eu sinto falta hoje do pequeno grupo. É... Devo voltar no segundo
semestre, procurar um pequeno grupo para que eu esteja alinhado. É... Nós tivemos
grandes momentos, muito bons de confraternização, de alegria, de estudo, de choro, de
chorar um pelo outro, se alegrar um com o outro. Então, quer dizer, é, são momentos o
pequeno grupo é um... Comunhão, é um os momentos muitos agradáveis que você passa
ali. Você saber que você tem um irmão que você pode contar, saber que você tem, é...
Como há irmãos que você pode tá se alegrando com eles, pra mim é, pequeno grupo é uma,
uma boa ferramenta que a igreja adotou.

10p. Entrevistador: Muito obrigado

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 29/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
60 anos Morada de Camburi IBMC 10

1p. Entrevistador: Você fez parte de igreja com pequeno grupo e fez parte de igreja
sem pequeno grupo.
1r. Entrevistado: Sim.
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2p. Entrevistador: Que diferença você vê aí?


2r. Entrevistado: Olha, eu acho que não tem diferença nenhuma não. Porque o pequeno
grupo, ele é tido como uma comunhão entre irmãos. E a igreja, por si só ela já é isso. Porque
o corpo de Cristo, ele é uma comunhão entre irmãos. Então eu não vejo muita diferença
não. É só uma reunião de irmãos, é tipo uma escola bíblica. Não vejo diferença, não vejo
diferença.

3p. Entrevistador: Então qual seria a razão de ser do pequeno grupo?


3r. Entrevistado: A razão de ser do pequeno grupo, eu volto a lhe dizer, é para a comunhão
entre irmãos. É para aproximar aqueles que estão ingressando na igreja. É para dar mais
calor humano, mais convivência, mais consistência. Mais nada.

4p. Entrevistador: Na sua participação no pequeno grupo, que benefícios o pequeno


grupo trouxe para você?
4r. Entrevistado: Agregar conhecimentos com as outras pessoas. Não conhecimentos
bíblicos e doutrinários, mas conhecimentos pessoais. Porque no pequeno grupo, a pessoa,
ela conversa e a gente ouve. Na igreja, a gente não conversa e não ouve, que quem fala é
só o pastor. Só quem tá no púlpito que fala. No pequeno grupo todos falam.

5p. Entrevistador: E pra igreja, de um modo geral, qual a contribuição do pequeno


grupo em relação à comunhão?
5r. Entrevistado: Olha, tem ponto positivo e tem ponto negativo. O ponto positivo, é que
o pequeno grupo vai trazendo mais visitantes. Que você no pequeno grupo convida as
pessoas, convida familiares, convida vizinho, no pequeno grupo. E no pequeno grupo,
como ele é numa casa particular, local particular, as pessoas aceitam o convite de forma
mais tranquila. Esse é o ponto positivo. O ponto negativo é que cria certas panelinhas dentro
285

da igreja. São facções. É o pequeno grupo tal, aí essas pessoas tem mais afinidade de um
tipo, aí vão pra um cantinho, outras vão pro outro, por aí vai. Você entende?

6p. Entrevistador: Como é que esses pequenos grupos são organizados? Que critérios
são utilizados pra formação do grupo?
6r. Entrevistado: Bom, o critério é o seguinte, tem um determinado número, que vai de
dez a quinze. Passou de quinze, já é preciso dividir e formar um outro pequeno grupo.
Então, nesse intervalo, são criados colidires, esses colidires passam a ser líderes dos novos
pequenos grupos que são tirados desses pequenos grupos que acontece.

7p. Entrevistador: Leva-se em conta aí, o aspecto geográfico, afinidade, idade, como
é que é?
7r. Entrevistado: Aqui na Morada, tem pequenos grupos de faixa etária. Mas no pequeno
grupo em si, não. Não leva em consideração a idade, geografia, porque vai do membro. O
membro que escolhe o endereço que ele quer ir.

8p. Entrevistador: Muito bem. É, em sua participação no pequeno grupo qual foi a
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coisa, a melhor experiência e qual foi a coisa mais complicada, mais comprometedora?
8r. Entrevistado: Não teve coisas comprometedoras não. Porque, eu... Atuei no pequeno
grupo, mas como conselheiro. Porque eu como teólogo formado, eu tenho uma visão de
mundo, uma visão de... Religião bem diferente. Então eu atuei mais como conselheiro,
como mediador. Eu não tive muitos problemas não.

9p. Entrevistador: Como é que a liderança dos pequenos grupos são formadas? Que
tipo de capacitação elas recebem?
9r. Entrevistado: Olha, não recebe muita não. Eu acho que a liderança do pequeno grupo,
aqui na igreja Morada, ela é tida mais por tempo de casa, conhecimento de Escritura,
entendeu? É só isso, mas não agrega muito, não é quem tem mais conhecimento, não é
quem tem curso superior, nada disso. É quem tem mais tempo de casa.

10p. Entrevistador: E, no caso, depois que o grupo está funcionando, que tipo de
acompanhamento esse grupo recebe? Existe uma estrutura na igreja que acompanha,
alguém que acompanha esses pequenos grupos, a, orienta?
10r. Entrevistado: Olha, eventualmente não tem uma periodicidade específica. Mas
eventualmente o coordenador visita os pequenos grupos, vai ver como é que tá
funcionando. A visita é de surpresa, não tem agendamento, pelo menos com os membros,
deve ter com os líderes. Então funciona assim.

11p. Entrevistador: E qual é o lugar da Bíblia nesses pequenos grupos? Que espaço
se dá pra Palavra nesses pequenos grupos?
11r. Entrevistado: Bom, aqui na Morada, é um espaço total. Não é? Porque, são lições
que pede-se que leia em casa, que estude em casa e que discuta opiniões no pequeno grupo.
Então é, tipo assim, uma hora de reunião, uns quinze minutos de oração. É desse modelo.
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12p. Entrevistador: E qual a participação dos membros do pequeno grupo durante o


encontro? Tem espaço pra compartilhar?
12r. Entrevistado: Tem. É dado espaço e é fundamental que pelo menos uma vez no mês
haja aquela sessão do passar a limpo. É a pergunta: Como você está no pequeno grupo?
Essa pergunta é dirigida a cada membro. E ele tem ali cinco, dez minutos pra falar.

13p. Entrevistador: Que tipo de, o pequeno grupo tem alguma preocupação com o
social, com a sociedade fora do pequeno grupo?
13r. Entrevistado: Sim... Tem que ter.

14p. Entrevistador: De que maneira ele se preocupa? Como ele age?


14r. Entrevistado: Ele se preocupa, ele se preocupa sim com a, com a comunidade quando
ele está inserido, com a vizinhança que ele está inserido, convidando essa vizinhança
sempre que tem um aniversário, uma... Festividade, convidar os vizinhos pra participar pra
eles verem que a coisa é saudável e familiar.

15p. Entrevistador: E ações sociais, que visam a transformação da sociedade, o


pequeno grupo tem alguma preocupação com isso?
15r. Entrevistado: Não... Ação social no pequeno grupo não tem. Isso aí é dentro da igreja
que tem um ministério de Ação social que é outra coisa, desvinculado do pequeno grupo.
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Que é outra coisa.

16p. Entrevistador: Mas o pequeno grupo não tem, não tem uma preocupação com,
com o que acontece fora da igreja, fora da, do âmbito do pequeno grupo?
16r. Entrevistado: Não sei aonde você quer alcançar com a sua pergunta. Eu não sei onde
você quer alcançar com sua pergunta. Diz que quem pergunta já tem em seu cérebro sua
lente. Eu vou responder no... Total. Ele tem a preocupação com o social, porque quando
um membro tá ausente, nós buscamos saber porque que ele tá ausente. Quando tem um
membro doente, nós vamos no hospital visitar esse membro. Então, tem “n” atividades que
podemos chamar de social. Mas isso é só dentro do grupo pequeno. De pessoas que
participam do pequeno grupo. Nós temos um vínculo social, com as pessoas que participam
do pequeno grupo.

17p. Entrevistador: Muito bem. Há um cuidado mútuo?


17r. Entrevistado: Lógico, com certeza! Senão, não seria comunidade.

18p. Entrevistador: Ok. Quando esse pequeno grupo vem para a celebração, para o
culto, em que o pequeno grupo contribui para a igreja como um todo?
18r. Entrevistado: Como vai, como o pequeno grupo vai contribuir? Como? Aí você teria
que definir como iria dar, contribuir. Porque, a oralidade dentro das igrejas, não deixa
ninguém se manifestar. O monólogo do púlpito ainda persiste desde o tempo da igreja
primitiva. Inclusive, tem que acabar com isso, com esse monólogo. Só um fala e todo
mundo fica escutando e ninguém tem direito a réplica, tréplica, nada. Então, como o
pequeno grupo iria participar?

19p. Entrevistador: Pensando em termos de conhecimento mútuo, pensando em


termos de comunhão...
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19r. Entrevistado: Não, aí... Comunhão já entra no... Na espiritualidade. Aí já é, já vai pra
outro campo. Porque na igreja, quando você tá no culto, você já está no espírito. Aí já entra
o termo espiritualidade e não comunhão, não pequeno grupo.
20p. Entrevistador: Sim, mas o pequeno grupo ele contribui ou não para essa
espiritualidade?
20r. Entrevistado: Lógico que contribui... Porque quando você explica a Palavra, explica
como que você ser íntimo com Deus, como você caminhar com Jesus Cristo, você já tá
ensinando o amor, o bem.

21p. Entrevistador: Sim, mas é exatamente nessa direção que eu estava perguntando.
Como é que, com essa contribuição para a espiritualidade do membro do pequeno
grupo, como é que o pequeno grupo contribui para que essa espiritualidade venha pra
dentro da igreja no momento da celebração, no momento do...
21r. Entrevistado: Estando em oração, em súplicas e petições que a gente ensina. A gente
ensina que o modo de chegar a Deus é a oração. E a oração é conversar com Deus. E a
gente ensina que o ouvir a Deus é ler a Palavra, ler a Escritura. Isso é o que a gente ensina
no pequeno grupo. E no culto é hora de botar isso em pratica.

22p. Entrevistador: Ok. E no caso do, dos pequenos grupos aqui na Morada, com
relação à multiplicação. Você falou dez pessoas, mais pessoas, como é que funciona
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isso? Tem um limite pra poder se multiplicar?


22r. Entrevistado: O limite aqui é quinze. Como a gente aprende na academia, na...
Faculdade, o limite é quinze, passou de quinze já tem que começar cortar e dividir. Porque,
passou de quinze, já não dá mais tempo de você ter tempo pra conversar com o irmão. Pra
explicar ao irmão.

23p. Entrevistador: E qual o papel desse líder dentro do pequeno grupo?


23r. Entrevistado: Coordenar, mais nada. Porque o pequeno grupo não é uma escola.
Pequeno grupo não é escola. O pequeno grupo é o, vamos dizer, o desengessamento, pra
pessoa se abrir. O pequeno grupo é mais pra pessoa se abrir, pessoa se mostrar. Então, o
líder não pode falar muito, ele não pode atuar muito, ele tem que fazer as pessoas se
abrirem.

24p. Entrevistador: Isso no encontro?


24r. Entrevistado: No encontro.

25p. Entrevistador: E no, interregno dos encontros, qual o papel do líder?


25r. Entrevistado: No o quê que você falou?

26p. Entrevistador: No interregno dos encontros. Entre os encontros. O encontro


acontece uma vez por semana? Entre um encontro e outro, o líder tem alguma função,
algum papel em relação a esses membros?
26r. Entrevistado: Ah! Só no dia mesmo. A não ser que alguém tenha uma dor de barriga
e liga pro líder. Aí não sei como é que funciona. Isso aí é outro caso.

27p. Entrevistador: Mas você mencionou agora a pouco, que quando um vai ao
hospital, quando um membro está doente, é...
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27r. Entrevistado: Mas isso aí na própria reunião já é delegado. Dentro da própria reunião.
Ah! Fulano de tal tá uma coisa, vamos orar ou vamos visitar, quem vai visitar? Ah! Gente,
vamos supor, a reunião é na terça, aí toda quinta-feira é visita na casa de alguém, ai, quinta-
feira quem é que vai? Aí é, não pode muitas pessoas, ai vai uma ou duas pra não causar
tumulto na residência da pessoa, que vai ver o cônjuge não é convertido, aquele negócio
todo. Tudo é conversado.

28p. Entrevistador: E essa ideia do líder contribuir no pastoreio daquele pequeno


grupo? O cuidado...
28r. Entrevistado: O que tem?

29p. Entrevistador: Ele tem essa função de ser?


29r. Entrevistado: Mas lógico, todo líder, em qualquer situação, em qualquer segmento
do mercado, ele tem de cuidar de quem ele dirige. Senão ele não vai dirigir nada.

30p. Entrevistado: Então o líder tem uma participação?


30r. Entrevistado: Tem que ter uai! Senão ele não é líder. Você já leu aquele livro, o
monge e o executivo?

31p. Entrevistador: Tá. Você teria mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre
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o pequeno grupo?
31r. Entrevistado: Não. Acho que é um lugar onde se faz amizades que se tornam laços.

Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 29/0862014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
44 anos Morada de Camburi IBMC 11

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com pequenos grupos.
1r. Entrevistado: Olha, eu estou aqui em Morada há quatro anos. A experiência que eu to
tendo com o pequeno grupo é muito importante pra mim, pra minha família. Porque é um
momento ímpar. Momento assim, muito abençoador. Não só pra mim, mas para as pessoas
que estão em nossa casa. Porque não é fácil você abrir uma casa pra receber pessoas. O
nosso pequeno grupo, ele é constituído por pessoas. São novos convertidos. Deus tem
abençoado muito neste sentido. São pessoas que tem nos procurado com problemas, é...
Vou colocar assim, uns... Uns oitenta por cento com problemas de separações. Por incrível
que pareça, nosso pequeno grupo, é... São membros da igreja, é... A família, né? Com, é...
Com a construir, uma família já estruturada. É... São pessoas que são separadas, são
pessoas que nos procuram através de outras pessoas “ó, seu pequeno grupo, posso ir visitar?
Pode visitar”. Chega lá, a gente começa a analisar, conversar, falar, ministrar a palavra,
“ah, estou separado, estou separando”, e eu tenho até buscado assim, com os pastores, com
o próprio Deus nosso, é... Estruturar, né? A palavra pra fortalecer essas pessoas. Nós
chegamos ao nosso pequeno grupo a mais ou menos vinte e uma a vinte e duas pessoas na
minha casa, mas o propósito mesmo é menor, né? O grupo tem que ser um grupo menor,
mas eu não posso fechar as portas. Porque as pessoas nos procuram. E isso, é... Me
incentiva pra mim mais, é... A comunhão, assim, é... A comunhão. As pessoas nos
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procuram pra ta junto com a gente, se sente bem perto da gente. Ontem mesmo, nós fomos
é... Programar esse mês da copa mesmo, né? E cada um faz na sua casa, ou se, é... Reunindo,
vai ter pessoas também que são fraca ainda, ela... Ela vai, ela manda mensagens de
estruturar, a gente manda mensagens bíblicas, incentivo, é... São pessoas que, que são
carentes mesmo. Agora, pra minha família, e pra assim, pra mim mesmo, porque eu nunca
participei de um pequeno grupo, sempre ouvi falar em pequeno grupo, né? Ou, vocês falam
de célula mesmo, mas eu falo de pequeno grupo, né? PG. É... Pra mim foi bom porque a
gente procura buscar mais a palavra. Principalmente como líder. A gente tem que estruturar
mais na palavra. Hoje mesmo estava com o pastor sendo já ministrado pra mim. Porque
ministrar pras pessoas a gente vai desgastando um pouco, a gente vai estudando e
desgastando. Quer dizer, precisa se alimentar. Isso é muito bom e tá fortalecendo muito
bem a minha família, é... Minha esposa, minhas filhas, né? Nossos próprios vizinhos, é...
Do prédio, que eu moro em apartamento, eles ouvem os louvores, eles falam “posso
participar? Eu sou Católico”, eu falei “pode não, deve participar”. Entendeu? Então, pra
mim, assim, tá sendo muito assim, gratificante. Não só como líder, porque a gente aprende
mesmo, né? E também como, como ouvinte também. Porque a gente, lá a gente não só fala,
a gente ouve também, troca de ideias.

2p. Entrevistador: Você participou de igrejas que não tinha pequeno grupo e agora
está participando de igreja que tem pequeno grupo?
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2r. Entrevistado: Sim.

3p. Entrevistador: Que diferença você vê nessas duas configurações de igreja?


3r. Entrevistado: Eu vejo o seguinte, que com o pequeno grupo, na igreja, é... ela, a gente
fica mais unido. Por quê? Porque um pastor, um pastor tomar é... No caso igual Morada
que são quatro pastores aqui e tem várias, vários, é... Ministérios. Eu participei de uma
igreja que lá só tinha um pastor. E esse um pastor toma conta de quinhentos, quatrocentos
membros, não consegue. Não consegue. A Bíblia muitas vezes, relata pra gente mesmo que
o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, ele teve doze discípulos. Por quê? Pra não
sobrecarregar. Moisés também dividiu em tribos, por quê? Pra não sobrecarregar. Então,
essa forma, essa forma é muito importante pra gente. Nós vemos na Bíblia mesmo, a forma
de Paulo, que ele pregava em vários lugares e ensinava as pessoas em suas, é... É aprender
da palavra e a gente vê que era em grupos. E hoje, não é o que está escrito, mas eu entendo
que era pequenos grupos também. E é o que fortificava as pessoas. Porque, se for analisar
hoje em Morada, nosso pastor, ele não consegue atender quinhentos membros durante um
ano. Não consegue. E o pequeno grupo é uma forma de se relacionar, é uma forma de
estruturar um ao outro, conhecer ao outro. É o que eu penso, é meu pensamento.

4p. Entrevistador: Qual o impacto ou, qual o benefício do pequeno grupo pra você,
pro seu relacionamento com Deus, pra sua caminhada como, como discípulo de
Cristo?
4r. Entrevistado: Bom, o crescimento pra mim. Eu, conversando agora há pouco com o
pastor, nós estamos... Nós estamos trabalhando com fase. Com estações. Pra mim, eu to
assim, numa fase já no inverno. Agora preparar pro outono e verão. Primavera e verão,
desculpa, primavera e verão. Por que, o que eu falei, a gente procura, é... Buscar mais a
palavra. A gente procura orar mais. Porque, se a gente não buscar a palavra e orar, na hora
que tiver no pequeno grupo, a gente fica vazio, é... O Espírito Santo de Deus só pode nos
usar se a gente estuda. Se a gente for fazer uma prova hoje numa universidade, numa
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faculdade, se a gente não estudar, a gente não vai lembrar de nada. Entendeu? Eu penso
assim, pra, pra mim, é... É, pra minha família, o pequeno grupo, ela vai servir de... De
crescimento espiritual. Porque nós temos que buscar mais. E se não buscar, a gente não tem
como é... É transmitir pras pessoas o alimento.

5p. Entrevistador: E pra igreja como um todo, que tipo de benefícios o pequeno grupo
traz pra igreja como um todo?
5r. Entrevistado: Olha, eu creio que ele traz. O pequeno grupo, ele traz pra igreja um
crescimento em duas principais partes. Em pessoas... Pessoas. Quantidade e qualidade.
Qualidade eu falo espiritual. Porque, se a gente se prepara pra entregar a mensagem,
discutir a palavra, tirar as dúvidas da palavra, aí a igreja fortalece mais. É um corpo. Ela
fortalece mais. Porque muitas vezes eu falei, eu posso ter quinhentos membros aqui, eu
posso está pregando, o pastor tá pregando, se todos estão ouvindo ali, mas ao mesmo tempo,
o pastor não consegue tocar em todas as pessoas ao mesmo tempo. Agora, no pequeno
grupo você consegue porque vocês se abraçam, você ora. Muitas vezes a gente repara no
pequeno grupo que uma pessoa está com problema. Então a gente é... É instruído para não
ter aquele momento de palavra, mas de, e... E, mas ter um momento de... De auxílio à
pessoa. A pessoa se abre, a gente chora junto, a gente ora junto e a gente se sente mais
assim, como a palavra de Deus nos ensina que nós somos um só corpo. Um corpo. Então,
pra igreja é muito importante porque, se a igreja toda, toda a igreja for em pequeno grupo,
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ela vai se fortalecer cada vez mais. Cada vez mais porque um vai incentivando o outro “ó,
o pequeno grupo, o pequeno grupo lá é bom, a gente estuda a palavra, lá a gente... A gente
faz um... Um lanchezinho é bom, a gente compartilha algumas coisas não só da palavra,
mas a parte do dia a dia, vamos marcar um encontro, vamos marcar um passeio, vamos
marcar sei lá, um churrasco”, mas isso é bom para o ser humano. Então, pra igreja eu tenho
a concepção de que é muito importante. É muito importante. Porque assim, na igreja,
porque a gente fica mais unido.

6p. Entrevistador: E perigo, o pequeno grupo, é... Representa algum perigo pra
igreja?
6r. Entrevistado: Depende de quem tá na frente. Porque eu sei, eu acabei de falar agora
com... Eu desci pra falar com o pastor, a gente escutou sobre esse assunto. A Bíblia, ela...
Ela nos relata várias pessoas que foram chamadas por Deus para serem líderes... Líderes.
Mesmo com seus problemas, deficiências, Deus escolhe. Então, acho que a igreja e os
pastores, eles tem condições, porque eu creio que são de Deus. É onde Deus, ele tem, ele
chama pessoas capacitadas para... Para liderar. Por quê? Porque sabemos que uma
querendo, forma o primeiro grupo, e chegou ao ponto de vinte dois e vinte três pessoas, né?
Aí tem uma brincadeira que fazemos aqui “ó tem uma congregação”, então muitas vezes,
algumas pessoas podem assim, ficar com medo, ah, vão pegar essas vinte e poucas pessoas
e montar uma igreja. E nem, não é o caso, mas pode acontecer, acontece. Então, se a
liderança da igreja tiver no Senhor, e o... O mesmo espírito e esse pensamento diante de
Deus, ele coloca pessoas adequadas, pessoas certas e não vai chegar a esse ponto. Porque
eu creio que o pensamento do... Do pequeno grupo, os frutos, não tem, é... Um só
propósito, é o projeto de Deus. Eu penso assim, como líder. Reino de Deus. Eu quero trazer
pessoas pra que Deus possa trabalhar através delas. E que as pessoas possam estar ou aqui
em Morada, ou outras igrejas. Que eu não penso assim, eu não penso na minha igreja, eu
penso que elas possam estar na igreja, que assim também, lógico, igrejas do Senhor. Eu
penso assim.
291

7p. Entrevistador: É, nos encontros da... Do pequeno grupo, qual é a participação


que os membros tem? Eles têm oportunidade de falar, de se, compartilhar suas
experiências, como é que isso funciona?
7r. Entrevistado: Sim. É instruído pela igreja, dessa forma. O pequeno grupo, não é pra o
líder fazer um culto, eu tenho que pregar, não! Eu tenho que fazer abertura, fazemos louvor,
né? Louvor. Depois nós entregamos a nossa oração semanal. Nós temos também esse...
Esse propósito de, o grupo, a gente faz assim, no papel, o nome e o pedido de oração, e é
sorteado. Essa semana a gente faz a oração em secreto diante de Deus pras pessoas. E antes
de começar a... O estudo aí a gente compartilha “ó, eu orei por João, eu orei por Maria”,
ali a gente ora, né? Entrega ao Senhor e agradece. E também tem o momento que a gente
fala que é, se alguém quer conversar sobre algum problema particular, que não possa ser
conversado em todo, no grupo todo. Tem, tem pessoas que falam “não, eu vou falar com
todo o grupo, não, eu quero falar com...” a gente separa os homens, as mulheres, a gente
compartilha um com o outro e aí a gente faz a nossa oração individual e começa o estudo.
Se voltando para o estudo. Estudo não. Todos compartilham. A gente lança, lança o estudo,
as perguntas, os questionamentos e cada um compartilha. Não quer dizer que todos falam.
Que tem uns que são meios tímidos não falam, mas a maioria fala, discute, coloca sua
interpretação, seu pensamento, a gente até aprende com isso, né? Porque até mexi com eles
aqui, por ser líder a gente tem mais conhecimento, não é assim. As pessoas falam “é isso...
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Isso e aquilo outro”, opa, eu não sabia assim, eu não pensava por esse lado. Então todos
compartilham não cem por cento, mas a maioria compartilha. Se não fica muito monótono.

8p. Entrevistador: E entre um encontro e outro, que tipo de envolvimento há entre os


membros do grupo? Entre um encontro e outro, tem alguma, alguma preocupação,
algum cuidado, um membro com o outro, como é que funciona isso?
8r. Entrevistado: Sim. Tem encontros, por exemplo, vamos é... Aconteceu um fato de
chover em Vitória, né? Chover em Vitória. Lógico, foi uma chuva assim, forte então tinha,
não vai vir todos, porque sair de casa pra, pro nosso pequeno grupo porque pode correr
riscos, né? Acidente fatal. Mas aconteceu um fato na minha casa, de um casal que nós
estamos trabalhando com eles, tão com um processo é... Processo com a esposa, com
discussões, mas a gente entende que além de ser espiritual tem o lado financeiro e por acaso
essa família foi sozinha lá em casa. Mas eu digo que foi de Deus porque nós tínhamos que
conversar, porque era um problema que estava gerando conflito no nosso pequeno grupo.
Por exemplo: no pequeno grupo não tem, não temos só pessoas adultas, temos crianças e
nós temos que saber como lidar com as crianças. E muitas vezes tem pais que eles não...
Eles não chamam a atenção das crianças com amor. Numa forma pra controlar porque senão
atrapalha nosso estudo. Então fomos vendo que eu falei com minha esposa e foi de Deus,
nós conversamos com eles, explicamos, que o marido tinha que auxiliar a esposa e vice
versa, é... Senão cansaria demais ela, por exemplo: ela tava, é... Conversando comigo, à
parte é... Que o esposo estava de forma assim... E eu conversei com ela e com minha
esposa pra intervir no sentido de que... Ela não poderia chamar, ou, desculpe a expressão,
tá, vomitar todos os problemas do nosso pequeno grupo no esposo, porque isso aí
envergonharia ele. Então é uma forma que a gente entender a pessoa de uma forma assim,
pra ela não fazer isso, ela vai auxiliar a pessoa. Cada... Semana no pequeno grupo, eu creio
que é diferente. Porque, tem vez que vem mais pessoas, tem vez que vem menos pessoas.
Menos pessoas. Mas cada um tem a sua própria dificuldade. Tem umas que tem problema
com o esposo ou vice versa. Tem uma moça no nosso pequeno grupo por exemplo, que ela
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tinha problema de, é... Não é rejeição, ela é uma pessoa, ela é engenheira, ela não aceitava
no caso, ela se formar e não ter emprego. Então era muito difícil ficar no pequeno grupo.
Ali foi um trabalho muito árduo. E o próprio esposo dela que nos auxiliava no pequeno
grupo, pedia ajuda pra gente. Então, a gente procura sempre trabalhar com calma. Essa
semana vamos trabalhar com uma pessoa que tá com problema. Nós. A gente não chama o
grupo pra conversar com essa pessoa. A gente chama à parte. À parte, porque, pra não ter
constrangimento. Dessa forma, entendeu?

9p. Entrevistador: Então, no interregno dos encontros, entre os encontros, o grupo


continua trabalhando? Seja através do líder, ou através dos próprios membros?
9r. Entrevistado: Sim.

10p. Entrevistador: Seria dessa forma?


10r. Entrevistado: Dessa forma. Então, por exemplo, se um do grupo estiver com
problema, não conversa no dia do nosso pequeno grupo. A gente marca à parte. Pra não
tomar tempo e muitas vezes as pessoas vem de suas casas para ouvir a palavra e aí tem que
intervir um pouco, parar. Não é que aqui não possa, mas a gente é orientado a marcar a
parte pra conversar. Se não chegar no nosso nível, a gente passa para o líder da igreja.

11p. Entrevistador: Você mencionou no início, que no seu grupo tem pessoas com
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problemas familiares etc.


11r. Entrevistado: Sim.

12p. Entrevistador: Que preocupação o, o grupo em si, ele demonstra com a sociedade
de um modo geral? Tem algum, alguma preocupação no sentido de transformação da
sociedade? Como é que funciona isso?
12r. Entrevistado: Sim, porque nós sabemos que hoje, a sociedade, cada vez mais, ela tá
assim, declinando, principalmente nessa parte família. Não é o caso agora de... Falar sobre
é... homossexualismo né? Então, é divulgando demais família, essas partes, homem é
homem, mulher é mulher. Há uma preocupação muito grande em nós como cristãos, não
para discriminar, mas no meu posicionamento bíblico, não aceitar essa posição, né? E, e
sempre explicar, sempre tá... Ali orientando as pessoas dentro da nossa casa sobre a família.
Somos bem taxativos, né? No entanto no meu prédio, são pessoas que, tem duas pessoas
que são é, homossexuais femininos, né? Que moram, nós convidamos pro nosso pequeno
grupo, mas a gente é orientado a saber como falar, né? Eu tenho outro vizinho meu também
que tem problema nessa forma espiritual e a gente é orientado pra não ferir essas pessoas,
mas orientar as pessoas, né? Mas pra sociedade pra mim é muito importante por quê?
Porque eu creio desde criança que a família é a base da sociedade, se não tiver família, a...
O próprio Estado, ele fica desestruturado. Procure observar hoje em dia, cada vez mais
pessoas estão levando a família assim, se deu certo, amém, deu certo. Não deu certo separa.
Isso não é foco da igreja do Senhor. Não é o foco. E o pequeno grupo, ele ta sempre ali pra
fortalecer isso. Retornando, as pessoas que vão lá em casa, uma tendem a separações e a
gente orienta, a gente nunca vai falar separa. A gente vai falar vamos restaurar. Foi aquilo
que nos aprendemos na igreja de Morada, Igreja Batista é restauração. O Senhor restaura.
E tem mostrado isso, na própria igreja nossa tem... Casais aqui que estavam no fundo do
poço e o Senhor restaurou. Então, nosso foco é esse, é restaurar pra que possa ter uma boa
sociedade.
293

13p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre o pequeno grupo?
13r. Entrevistado: Olha, pra mim, eu falei, to quatro anos em Morada, nunca participei do
pequeno grupo. Tá sendo assim uma experiência maravilhosa na minha vida. Uma
oportunidade que Deus está dando a mim e a minha esposa, minha família lidar com
pessoas. Porque não é fácil lidar com pessoas. Tem dia que a gente tá sobrecarregado de
trabalho e a gente tem que filtrar os problemas e preparar espiritualmente para, é levar a
mensagem para as pessoas e ao mesmo tempo ouvir. Muitas vezes até eu jogo mesmo, hoje
eu não vou falar, eu quero que vocês falem, que eu preciso ouvir também. Entendeu? Para
o meu crescimento espiritual ta sendo muito importante. Assim, digo, falo, afirmo. Às vezes
admiro um trabalho assim, independente de denominação, assim, é Batista, Adventista,
trabalhar com pequeno grupo que é muito importante. A gente se sente mais unido. Mais
unido, assim, mais fortalecido. Alguns querem que o pastor esteja presente constante. A
gente passa a base, mas os pastores que eles nos visitam pra dar apoio. Mas se a gente for
pensar bem, misericórdia pelo pastor, nosso líder. Tá em todo lugar ao mesmo tempo, ele
não sobreviveria, consegue. Então o pequeno grupo é muito importante pra fortalecer a
igreja.

Entrevistador: Muito obrigado.


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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 29/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
59 anos Morada de Camburi IBMC 12

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com o pequeno grupo.

1r. Entrevistada: Ah! Do PG? Bem, desde que eu vim pra morada, há 14 anos, que eu
conheci realmente os pequenos grupos. É onde a gente se reúne. Já participei de três
pequenos grupos na igreja, assim, diferentes. Em razão de, de residência, de troca de
residência. Aqui em Goiabeiras, em _____ e agora em ____. Então, a experiência com o
PG, eu acho fantástica, fantástica. Porque, é, você aprende realmente a, a conhecer a vida,
participar da vida de seu irmão, intensamente. Porque ali que nós podemos expressar, é, as
nossas alegrias, como também as nossa tristezas, as dificuldades até financeiras, como já
realmente aconteceram. E, a gente tem a oportunidade de ta estendendo a, a mão aos... Eu
acho que quem participa, né? De um, de um pequeno grupo, ele não está desamparado. Ele
passa a, a ter uma nova família. Uma família que pode contar com ela. Então, essa
experiência, além, claro, de estar conhecendo a palavra de Deus, de estar se aprofundando,
né? Então é um, um período de comunhão, né? E sempre depois do PG há aquela, aquela
comunhão, né? De, de, de de comermos alguma coisa, de tá ali batendo papo. Então eu
acho que a experiência do PG é mais, realmente, a comunhão.

2p. Entrevistador: Qual a, a importância do, do PG pra igreja como um todo?


2r. Entrevistada: É, eu acho o seguinte, como, como, como o pastor não pode, acho que
não dá conta realmente, de tomar conta de todas as ovelhas, ao meu ver, ovelha cuida de
ovelha, ao meu ver, ovelha cuida de ovelha. Então, os, os problemas que você está
convivendo ali no seu PG, até o momento que você dá conta de, de tá ajudando naqueles
problemas, eu acho que você descansa o seu pastor, a sua pastora, a igreja, a liderança. Até
o momento quando você também, há certos problemas que você precisa realmente. O líder
294

do PG levar até o pastor. Mas enquanto, enquanto isso, o pastor tem outros afazeres, Então
eu acho que as ovelhas são cuidadas pelas ovelhas, pelos irmãos, entendeu?

3p. Entrevistador: Você vê algum perigo do pequeno grupo para a igreja como um
todo?
3r. Entrevistada: Um perigo?

4p. Entrevistador: Algum risco, o PG representa algum risco pra unidade da igreja?
4r. Entrevistada: Olha, na verdade, se você pensar friamente eu até vejo do, do, do ponto
de vista, assim, como é que vou te falar, as pessoas se apegam muito umas as ouras, tá? E
aí, nós temos a experiência na igreja, de um PG imenso, que na realidade, o objetivo do PG
é ele se multiplicar, né? Só que certos, é, certos PG, isso não dá certo. Essa é a, é, é o fator,
não sei dizer nem se negativo, né? Ou risco. Eu não posso nem falar isso, mas eu também
vejo de um lado positivo. Ao invés de, de analisar apenas risco, aí chega lá na frente você,
eu acho que é um ponto positivo. Porque tem PG’s que não conseguem multiplicar, de tanto
que eles estão unidos. E, creio que o líder, né? Como é, como é o pastor da igreja, o Fraga,
ele fica impossibilitado de multiplicar esse PG. Outros PG’s eu, eu já, eu, eu, é, é, foi criado
PG, meu PG por exemplo, foi criado de outro PG que se multiplicou. A princípio foi difícil,
por que? Porque as pessoas estavam acostumadas, muito acostumadas com as outras
pessoas do outro PG. Aí, veio pra um PG totalmente desconhecido. Eu até que vejo, nesse
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sentido, mas eu vejo também um, o, o, o fator positivo porque eu acho que mais depende
de cada um. Eu acho que mais depende do, de mim, ovelha, tá? De mim, ovelha. Já que
realmente precisou multiplicar, porque tinha muita gente, vamos crescer, é, eu acho que
depende muito mais da maturidade espiritual das pessoas.

5p. Entrevistador: Quais seriam os, os objetivos do pequeno grupo?


5r. Entrevistada: Os objetivos do pequeno grupo, a meu ver, é justamente o cuidado.
Aquilo que eu disse no começo, o fato de você começar a participar da vida do irmão, saber
que o irmão está passando algumas necessidades, ajudar, encorajar alguns irmãos que não
tem esse hábito de, de ajudar, entendeu? Então o PG ele sempre tem que ter não só um
líder, mas eu acho que ele tem que ter pessoas dispostas, realmente, a tomar iniciativa. E
sempre tem. E sempre tem.

6p. Entrevistador: Qual seria o papel do líder num PG?


6r. Entrevistada: Líder, o papel dele? Bom, o papel dele, ele, o nosso líder, ele procura,
é, incentivar outros líderes dentro do PG, né? Então eu acho isso, bacaninha dele, ele nos
dá, as vezes a gente não quer, né? Mas ele fala “não, dá a lição. Semana que vem, porque
vai ser ótimo”. Então, o papel dele é conhecer, eu acho. Que é conhecer outros líderes né?
Justamente se aquele PG crescer muito. Ter a oportunidade de surgir mais um líder, que
um líder não surge todo dia. E acho que o principal papel dele, eu acho que é, é unir
realmente aquelas pessoas que estão ali, né? Como é o nosso papel como PG, convidar
algumas pessoas, que eu acho que daí é que pode, é que você pode levar várias almas para
conhecer ao Senhor. Então, eu acho que esse é, é, é realmente não sei nem se eu saí do
assunto. Mas também o principal motivo de, do, do, dos PG’s, também é por convite que
você faz a um vizinho, né? Eu acho que até por exemplo, é, é, de um PG pode nascer uma
igreja, viu? De um PG pode nascer uma igreja. Tenho esse, tenho esse, esse pensamento.
De um PG pode nascer uma igreja.
295

7p. Entrevistador: Como é que nasceria essa igreja?


7r. Entrevistada: Essa igreja nasceria, eu acho que nasceria uma igreja de dentro da, por
exemplo, de dentro de Morada. Porque hoje, por exemplo, lá de Laranjeiras, nós somos
várias pessoas de Laranjeiras, Colinas de Laranjeiras, se eu não me engano, nós temos uma
sessenta pessoas daquela região ali, porque muita gente mudou daqui pra lá. Eu fui uma
pessoa que mudei daqui para Colina de Laranjeiras. Talvez se possa até criar uma igreja
futuramente lá. Eu acho que pode nascer sim.

8p. Entrevistador: Nos encontros do PG, qual é a participação dos membros do PG,
eles têm espaço pra compartilhar experiências, como é que funciona isso?
8r. Entrevistada: Tem líderes e líderes. Tem líderes, eu já, como que eu já participei de
alguns. Tem líderes que te dão mais espaço, outros líderes são diferentes. Os líderes são
diferentes, mas e você tem, você tem oportunidade de participar. Sempre que você desejar,
você tem condição de participar. Porque também, se você abrir muito espaço. Você acaba,
você acaba uma, um, um, ficando duas, três horas. Então, o líder, ele tem que ser muito,
muito inteligente pra ele deixar você falar, mas também dar uma pausa. Ele tem que saber
ser, ele tem que ser sábio pra ele não deixar... Porque tem gente que gosta de falar. Tem
gente que gosta, tem gente que, que, que nasceu pra falar mesmo. Então, é isso.

9p. Entrevistador: Qual a contribuição do pequeno grupo pra você, pro seu
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relacionamento com Deus?


9r. Entrevistada: Realmente é muito bom! Eu acho que, quando vai dando a terça-feira,
que é o dia do PG, vai me, me dando uma alegria de realmente ir pro meu pequeno grupo
participar, orar, é, revê-los. Porque aqui na igreja, você vem para o, Escola Bíblica, você
vem para o culto, mas lá você tem condição de bater um papo, de, de expressar a sua alegria.
E vai nascendo realmente um elo muito grande. Como o nosso PG agora, nós temos uma
nova liderança, novo líder. Novo líder. Ficou meio assim no começo, meio truncado, mas...
Porque ninguém tinha assim, assim, muito conhecimento com ele, mas aí vai ficando
gostoso, entendeu? Vai ficando bom. Por isso é que você, quando você tá no pequeno
grupo, você tem essa experiência, esse laço estreitado, esse laço de amizade.

10p. Entrevistador: Como é que isso é trazido para dentro da igreja? Quando a igreja
se reúne, qual é a importância do pequeno grupo pra igreja como um todo?
10r. Entrevistada: Nós tivemos, nós temos sempre esses encontros dos PGs. Encontrão é
chamado e aí é uma alegria. É uma alegria apesar de que os PG’s, eles ali ficam unidinhos,
tá! Eles não se dispersam. Eles ficam ali, por exemplo, mas eu acho que pra igreja é muito
bom. Para a igreja. Porque aqueles laços eles se, se unem tanto que ali é meio difícil você
se dispersar. Por exemplo, pra ir pra outra igreja, entendeu? Acho que ficar, eu acho que
esse, é, é, a razão realmente de existir os PG’s é, é sensacional, eu acho. Pra saúde da igreja,
né? Porque, né? Se você, se, se a ovelha se vir desgarrada ela vai, ela vai procurar um lugar
onde ela é abraçada, né?

11p. Entrevistador: Entre os encontros, que tipo de preocupação, há alguma


preocupação entre os membros?
11r. Entrevistada: Com relação a igreja?

12p. Entrevistador: Em relação um ao outro.


12r. Entrevistada: Um ao outro.
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13p. Entrevistador: Algum cuidado, algum acompanhamento?


13r. Entrevistada: Existe. Existe sim, sempre tem as pessoas que enfrentam dificuldades
financeiras, sempre tem pessoas doentes. Então, é na doença que a gente mais se, se abraça.
Entendeu? Na doença que a gente mais ta fazendo visita, então é o PG que cuida realmente.
Além, além dos pastores claro, é o PG que cuida.

14p. Entrevistador: Tem um limite de número, de quantidade para o grupo poder se


multiplicar? Como é que funciona isso?
14r. Entrevistada: Olha, no meu conhecimento o ideal parece-me que seria até oito, dez
pessoas num PG. Daí ele começaria a se multiplicar.

15p. Entrevistador: Em que tempo, ele tem um tempo?


15r. Entrevistada: Tem.

16p. Entrevistador: pra se multiplicar?


16r. Entrevistada: Eu não participei ainda de nenhum pequeno grupo que se multiplicou.
Eu estou participando dos que se criaram. Tanto lá em ___, que se criou, como o de ___.
Então, eu ainda não estive num pequeno grupo que precisasse se multiplicar. Então, essa
experiência assim, eu realmente, eu não tenho. Essa experiência de ver o meu PG se
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multiplicar. Não saberia te, mas como eu já recebi meu PG quando se multiplicou, que aí
formou meu PG de Colinas, no começo, nossa, tinham dois, tinham dois casais que vieram
de outro PG para o nosso PG que tava nascendo, né? Nossa, no começo foi uma reclamação
tá?! Uma reclamação. No comecinho. Mas daí logo se adaptaram.

17p. Entrevistador: E quais seriam os maiores desafios desse começo?


17r. Entrevistada: É justamente a, a, a, a liberdade que eles já tinham no outro PG. A
liberdade de, de amizade. Já tinha criado um laço. Então, o PG são laços de amizade
mesmo. Laços de amizade profundo. Por incrível que pareça, é verdade. Porque você passa
tá ali todo dia com a pessoa, você vai conhecendo a pessoa mais e você vai dizendo “não,
essa pessoa eu posso confiar”. Que hoje tá muito difícil. Você confiar um problema, você
chorar no colo daquela pessoa. No ombro. “Ó, to aborrecida, to isso...” então, realmente,
eu, por exemplo, sou uma pessoa assim, que eu tenho muita dificuldade, é, assim, de abrir
os meus problemas com... então preciso conhecer a pessoa um pouquinho.

18p. Entrevistado: Quando o grupo se forma, tem algum pacto, algum acordo, algum
compromisso que o grupo faz?
18r. Entrevistada: O compromisso do PG, porque quando nós estamos no PG vários
problemas são ouvidos. De casais, de pessoas que estão ali. Então, o pacto realmente nós,
é o problema ficar dentro do PG. Ficar dentro. Não falarmos, em absoluto com nenhuma
outra pessoa, de alguma conversa que nós tivemos ali.

19p. Entrevistador: Muito bem. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre o pequeno
grupo?
19r. Entrevistada: Não. Acho que já falei tanto.

20p. Entrevistador: Muito obrigado.


20r. Entrevistada: Então tá.
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FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 29/06/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
40 anos Morada de Camburi IBMC 13

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com o pequeno grupo.
1r. Entrevistado: Minha experiência vem de, desde, é, 95, que eu participei do discipulado
e Conhecendo Deus. Foi bem interessante. Foi uma, é, foi um marco na minha, na minha
história cristã e aí, não era célula ainda, era, mas era, era, não era, era um grupo de
discipulado. E depois disso, eu, eu venho sempre Participando de, de, de grupos pequenos.
É, eu fui pastor, no caso de gru..., de, de grupos pequenos, liderando várias pessoas, 50
líderes, treinando os líderes uma vez por mês, visitando os grupos pequenos e, sempre eu
ia nos grupos, sempre ti...ti... tinha, era, era um momento muito agradável, de, de
comunhão, de edificação. Todos os grupos de forma geral, na igreja que eu era líder lá,
dessa área, esses, eu, a gente ia de uma maneira e voltava de outra que era bem interessante,
bem edificante. E eu vim também participar do grupo pequeno e, é, acho que a igreja, sem
é, aquele grupo pequeno não faria tanto sentido quanto fazia com eu participando daquele
grupo pequeno. Trazendo nossa família, sempre trazendo pessoas que a gente vai, tá mais
próxima, que a gente tem mais identificação pra poder tá na igreja. É, tem uma, uma aliança
mais forte do que um simples domingo de manhã aqui na igreja ou domingo de noite, dia
de semana, você ir pra casa, só ficar vendo a nuca do, um do outro, né? Ter essa interação
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que é interessante.

2p. Entrevistador: Qual a associação que você faz entre o pequeno grupo ou a célula,
o pequeno grupo, né? O PG, e a comunhão na igreja?
2r. Entrevistado: Acho que é fundamental. É, o pequeno grupo, pra comunhão. Acho que
sem, sem, eu arrisco a dizer que sem o pequeno grupo não há uma verdadeira comunhão.
Porque não tem como a gente viver o uns aos outros que Paulo fala cerca de 50 vezes na
Bíblia. Você vindo na igreja, participando dos cultos semanais ou de uma aula de EBD, é,
não existe essa possibilidade. A gente cumpre de fato o que diz a Bíblia, só se cumpre
mesmo essa comunhão que a gente vê na igreja primitiva, e vê nos evangelhos, e que Paulo
tanto exorta a igreja a exercitar, através do grupo pequeno. Pra mim, é fundamental pra
comunhão.

3p. Entrevistador: Você fez parte de igrejas sem grupos pequenos e fez parte da igreja,
de igrejas com grupos pequenos. Qual análise que você faria aí, comparando essas
duas realidades?
3r. Entrevistado: A igreja sem grupo pequeno, ela é uma igreja é, o, eu acho que mais
mecânica. É uma igreja, é, que, que perde muito potencial de um ajudar o outro de uma
maneira efetiva. É uma igreja que o crescimento também acaba não sendo tão efetivo
quanto as que tem grupo pequeno. Já, isso é comprovado em pesquisa, né? Que tem lá no
livro Desenvolvimento Natural da Igreja, fala muito isso, uns dos oito, uma das oito
maneiras da, da igre..., da igreja crescer é através dos grupos pequenos. E outras mais
características de uma liderança capacitadora e outras mais, mas eu vejo assim, vejo que a
grande diferença é mesmo é, esse sentido de pertencer. Quando você tá no grupo pequeno,
você pertence, você tem um, pessoas que você sente que você pertence a elas e elas
pertencem a você. Você faz pare do mundo delas e elas fazem de seu mundo. E de foram,
uma igreja sem o pequeno grupo não tem tanto aproximação e pertencimento quanto a que
tem.
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4p. Entrevistador: Você mencionou agora a pouco que houve um marco na sua vida.
E que benefícios, que impacto o pequeno grupo trouxe pra sua vida, pro seu
relacionamento com Deus?
4r. Entrevistado: Aprofundou o relacionamento com Deus. Eu, esse livro também,
Conhecendo Deus e fazendo sua vontade, foi um livro assim, que a gente, que a temática
dele é que Deus tá agindo sempre ao nosso redor e a gente tem que descobrir onde ele tá
agindo. Então a gente fica mais, fiquei mais sensível à ação de Deu, aumentou minha
comunhão com, com os irmãos também. Pude começar a participar da vida deles.
Responsabilidade também para com a igreja, para com o líder, no caso. Acho que de forma
geral é isso. Leva, conduz também, mais à oração, a ler a Bíblia.

5p. Entrevistador: Como é que o grupo pequeno influencia a organização da igreja?


O funcionamento da igreja? A configuração eclesiástica?
5r. Entrevistado: Acho que o grupo pequeno, ele facilita a comunicação. Se você,
especialmente fora dos, fora dos domingos, né? Uma igreja que tem grupo pequeno, não
precisa de ter tanto aviso durante o culto. Dá uma enxugada, dá pra dar uma enxugada nos
avisos. Você pode, se mandar um e-mail para os líderes e os líderes se comunicam com as
pessoas. É, ela é uma igreja mais, uma igreja mais ágil também, mais veloz, né? Cresce
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com maior velocidade. Ela, é, uma igreja mais, acaba sendo uma igreja mais coesa. Quem,
a gente vê que, quem tem essa experiência de pequeno grupo, quem vive em pequeno
grupo, quem vive em célula, sente muita falta quando, quando não tá mais em célula.
Porque realmente, uma experiência ímpar na vida da, do cristão essa, esse fato aí.

6p. Entrevistador: E você vê algum risco pra igreja, a existência do pequeno grupo,
ele representa algum perigo, algum risco para a igreja?
6r. Entrevistado: O risco é de, o risco é não ter (risos). No caso é arriscada a igreja não
ter grupo pequeno. Eu não vejo risco nenhum. Só vejo só benefício. Só, só, só impactos
positivos.

7p. Entrevistador: Aqui em Morada, como é que os grupos funcionam? Como é que
eles se organizam? Que critérios são usados para a organização dos grupos? Eles são
organizados de acordo com a localização, faixa etária, como é que é?
7r. Entrevistado: Tem alguns critérios. Tem a questão de localização. Tem uma, hoje não
tem um, vamos colocar assim, um formato padrão. É assim. Ou é por localização ou por
idade. Tem grupo, a gente tem grupo que, tem, funciona na mesma casa, grupo de criança,
um grupo de adolescentes e grupo de adultos. Então, no mesmo dia, no mesmo horário, no
mesmo, em espaços diferentes, no caso, salas diferentes. É, tem por afinidade. Tem por
faixa etária de jovens, tem o grupo de adolescentes, adultos. Basicamente é, é, é, por
afinidade mesmo. Localização não tem tanto assim por localização não. Tem gente que sai
daqui vai pra Laranjeiras, Laranjeiras, ou tá, mora em Jardim da Penha e vai pra Jardim
Camburi. É mais questão mesmo de faixa etária.

8p. Entrevistador: E quais seriam os principais desafios hoje para o funcionamento


dos pequenos grupos?
8r. Entrevistado: Hoje, a gente tá vivendo aqui, momento de mais restauração. Hoje a
igreja tem uma restauração retomada. Então, hoje, o pastor Marcelo treina mais a gente em
299

questão de, tá treinando os líderes pra poder colocar assim, capacitando ali os grupos.
Treinando os grupos para o próximo passo que seria a multiplicação. Hoje, o investimento
é mais nos líderes e no grupo em si. Não tá tanto pensando em multiplicar no caso, os
grupos. É mais uma solidificação do que já existe.

9p. Entrevistador: Quais são as principais dificuldades que se encontram para o


funcionamento dos pequenos grupos?
9r. Entrevistado: Tem grupo que tem, tem um grupo que se reúne aqui na igreja, acho
que, isso é uma dificuldade, que eles não tem ainda um, um, não tem um, uma casa, acho
que não é o ideal, né? Senão o grupo, o grupo pequeno é da igreja, porque faz parte desse
processo o abrir a casa, né? Vê a cortina rasgada do irmão, vê, enxergar às vezes uma
dificuldade que ele tem, ou, alguma, uma, uma potencialidade também. Então, esse grupo
específico tem isso na, dentro da igreja. Como nós estamos passando por um período de
restauração, por feridas de, saída de muitos líderes, né? Pastores e essas coisas assim, eu
acho que essa é uma, acaba afetando o grupo também. Então, às vezes enfraquece porque
os, muitos membros que saíram, isso aí eu acho que é um desafio de você é, manter o que
ta, através da, mesmo com todas essas perdas que tiveram aí nesse, ao longo desses últimos
meses e anos.

10p. Entrevistador: E no funcionamento do pequeno grupo qual a, existe um cuidado


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entre os membros ao longo da semana ou fica restrito a aquele encontro?


10r. Entrevistado: De vez em quando tem uma dinâmica que a gente tem que orar pelo
outro durante a semana, as vezes fazer uma ligação, é, avisar que tá orando. Chega no grupo
lá, as vezes, as vezes é tipo um amigo secreto de oração. Você ora por uma pessoa e a
pessoa não sabe que você tá orando por ela durante um mês e de repente você fala. Às vezes
é de falar mesmo, de, durante a semana, além de, fora do grupo, você fazer uma ligação,
passar um torpedo, passar uma mensagem avisando ou perguntando como a pessoa tá. Não
é grande. Hoje nós não temos ainda assim, companheiro de jugo, né? De se encontrar em
duplas, fora do grupo. Mas basicamente isso. As vezes tem esse cuidado sim.

11p. Entrevistador: Como acontece o discipulado dentro do pequeno grupo?


11r. Entrevistado: No caso, é o líder que vai, que vai tá, que tá ensinando ali, a Bíblia,
para os outros e treinando um, um líder emergente. Então, assim que acontece.

12p. Entrevistador: No caso para um grupo se multiplicar quais são os requisitos pra
poder se multiplicar?
12r. Entrevistado: Número de pessoas...

13p. Entrevistador: Que seria mais ou menos quanto?


13r. Entrevistado: Onde? Aqui na igreja que você tá perguntando? Tem grupo grande de
vinte, mas acho que o ideal seria, chegou aí em uns dezoito. Depende, vai depender também
da estrutura da casa que recebe. Mas, passou de mais de doze pessoas, aí fica grande, fica
quatorze assim, daí pra mais, vai ter que começar, acho que tem que começar a multiplicar.

14p. Entrevistador: Por que precisa multiplicar?


14r. Entrevistado: Porque multiplicando aumenta, dá pra aumentar a comunhão, porque
as pessoas tem necessidade de falar no grupo. Então, se tem muita gente, às vezes alguém,
um ou outro vai ficar, não vai conseguir falar, vai ficar inibido de falar. Porque com menor
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pessoas, as pessoas, menor número de pessoas, as pessoas tem a tendência de se abrir mais.
É, porque chega uma hora que se tiver muito grande, o próprio espaço físico, vai poder,
vai, vai atrapalhar crescer mais. Para também não engessar, ficar ali aquela, vou colocar
aqui, panela, né? E não querer se desfazer. Pra que tenha novos líderes. Para que outros
novos líderes possam, é, ter a oportunidade de trabalhar, né? De servir também. De ter essa
multiplicação de líderes. Basicamente isso.

15p. Entrevistador: E como é que esses líderes são levantados e como eles são
capacitados?
15r. Entrevistado: Tem escola de líderes todo domingo de manhã, nove horas. Através da
observação. A gente observa no grupo que seria, quem teria aquela facilidade, quem tem
aquele cuidado. Na verdade, acho que grupo pequeno você mais a, é, né? Nem o, acho que
o dom maior da pessoa não tem que ter o dom da fala, tem que ser mais o dom do
acolhimento, porque é, as vezes a potência tá em não falar tanto, deixar, suscitar outros a
reflexão, a fala também, abrir o coração. Então, acho que teria mais, a pessoa que, é,
sensibilidade pra, as pessoas que tem o coração voltado pras pessoas.

16p. Entrevistador: Com relação a, a preocupação do pequeno grupo com a sociedade


de um modo geral? O pequeno grupo tem alguma ação visando a transformação da
sociedade, no seu entorno, como é que é isso?
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16r. Entrevistado: Tem uma, em termos de pequeno grupo, a ação que tem é de divulgação
pelos amigos que são cristãos. Então, isso aí tem realmente. Oramos, Cada um tem a
responsabilidade de orar por uma pessoa que ainda não se converteu, que tá trabalhando na
vida dela pra poder, né? Alcançar pra Cristo. Ação social, pelo que eu saiba, ainda até tem,
mas não dentro, voltado pro pequeno grupo. Já outro ministério da igreja.

17p. Entrevistador: Alguma coisa a mais que você gostaria de falar a respeito do
pequeno grupo?
17r. Entrevistado: Tem uma experiência do Bill Hybels no livro Liderança Corajosa, que
eu li uma vez que achei, que é muito impactante. Ele tava uma vez pregando na igreja dele,
ai no final do culto chegou um casal com um bebê na mão. Esse bebê, ele, ela, tava coberto
o rosto, quando ele levantou quando ele tirou assim, a, a, tirou. Aquela fralda do rosto, tinha
uma criança toda, com o rosto todo desconfigurado, todo, né? Não tinha rosto ali, tinha, só
tinha buraco pra respirar mesmo, o olho. Então foi, foi uma experiência muito dura, né?
Um casal jovem, teve esse, essa criança. Aí ele começou a perguntar: ó, o que que nossa
igreja pode fazer por vocês? Com essa situação? Aí ele olhou para a criança, mas o que a
nossa igreja pode fazer por vocês? Pastor, a igreja tem feito muito. Nosso pequeno grupo
é, tava com a gente quando recebemos a notícia que essa criança ia nascer desse jeito, eles
estavam no hospital, é, durante todo o tempo, limparam nossa casa, cortaram nossa grama
na nossa casa, quando a gente tava ausente de lá, eles, é, tão conosco durante todo o tempo,
sempre que a gente vem no hospital, visitando, orando conosco, e inclusive, até o funeral,
né? A criancinha chamava Emilly, até o funeral da Emilly, eles, eles já prepararam, para,
é, pra ela. Então Bill Heibels fala é, né? O que seria desse, o que seria desse casal se não
fosse a igreja? Né? Que aconteceria com eles se não tivesse a igreja no mundo, se não
tivesse o pequeno grupo que acolhesse eles, dessa forma. Onde eles estariam? Qual a
solução que eles teriam para a vida deles? Pra situação tão, é, drástica, tão desafiadora que
foi essa experiência de ter essa criancinha, que saber que ela ia morrer. Nós, nós temos que
dizer que, que, há um desafio a ser feito. Então ele traz essa ideia, né? Do benefício, da,
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como a, como uma igreja funciona da maneira correta, de uma maneira bíblica, o benefício
que ela traz e o potencial que ela é pra sociedade de forma geral. Não só pra transformação
mas também pra poder é, encorajar, ajudar, abençoar, né? A vida da pessoa através das
palavras e das ações também.

18p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 12/08/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
62 anos Morada de Camburi IBMC 14

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre os pequenos grupos. Eu queria que
você começasse falando pra mim é, qual é sua participação no, no pequeno grupo?
1r. Entrevistado: Olha, minha participação é ativa. Toda terça-feira de oito horas até nove
e meia, eu to aqui sempre presente. Quando eu falto eu ligo pra, pra dona ___ que ela que
é a líder do grupo, aí eu comunico a ela que eu não posso ir por algum motivo. Mas a
prioridade é o pequeno grupo. Eu tenho aprendido muito com o pequeno grupo. No
pequeno grupo você tira, tira dúvidas. Se o pastor pregou domingo aí você, se você tinha
dúvida, entendeu? Tem, tem a apostila de estudos, é bem elaborado.
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2p. Entrevistador: Qual a importância do pequeno grupo pro seu, pro seu crescimento
espiritual?
2r. Entrevistado: No sentido de, no sentido de entender melhor o meu papel, a minha
identidade, entendeu? A minha identidade, qual é meu papel no, no lar, como sacerdote do
lar. Quando eu e minha esposa, as vezes, a gente é casado, a gente tem conflito, aí eu tenho
esse conflito aqui e a gente conversa com os irmãos, entendeu? São tudo considerado
irmãos mesmo. A gente vai, desabafa com os irmãos, conversa com os irmãos, aí já sai
daqui já, até, as vezes chega aqui brigado, igual uma vez que cheguei aqui, que eu tenho, é
eu e minha esposa, meu filho, não é dela, entendeu? Ela é madrasta dela, é madrasta. Então,
as vezes os dois brigam, aí eu entro no meio, entendeu? Então já houve caso de eu chegar
aqui, eu e ela sem se falar, eu e minha esposa, aí depois sai daqui depois se falando,
entendeu? Faz acerto de contas, né? Entendeu? E os irmãos oram, porque tem homens e
tem mulher no pequeno grupo. Aí eu fico no grupo de homens, eles oram por mim,
conversam comigo. Depois a gente faz as pazes, né? Entra em consenso. Sai daqui já em
paz um com o outro.

3p. Entrevistador: E nos encontros do pequeno grupo?


3r. Entrevistado: Você traz problemas de casa também, entendeu?

4p. Entrevistador: Você tem espaço pra compartilhar suas experiências?


4r. Entrevistado: Tem. A própria líder pergunta. Como é que foi seu dia? A líder pergunta
assim: Como é que foi seu dia ____? Ah! Hoje eu não to bem, hoje eu to de cabeça quente.
É, por que você tá. Eles participam dos problemas da gente, do lar também, entendeu? É
muito bom.

5p. Entrevistador:E nos encontros. Como é que acontecem os encontros?


302

5r. Entrevistado: Os encontros acontecem aqui na, aqui na própria igreja, né? O pastor
cedeu esse espaço aqui, graças a Deus. E, porque tem igreja Batista que trabalha em célula.
Aqui trabalha o pequeno grupo. É um motivo de você fazer amizade. Dividir sua, ser sábios,
dividir a sua cultura com as outras pessoas. Porque tem gente de várias culturas. Por
exemplo, eu tenho faculdade, por exemplo, mas faculdade não quer dizer que eu sei de
Bíblia entendeu? Antigamente eu, eu, eu andava na rua, eu via uma pessoa com a Bíblia,
nossa! Que coisa é essa? Bíblia debaixo do braço. Tem três anos e meio que eu tô firme na
igreja, hoje em dia eu não ando, eu não saio, não saio sem Bíblia. Onde eu vou, levo a
Bíblia. Entendeu? Onde ou vou, eu levo a Bíblia. Eu leio a Bíblia todo dia, eu, de manhã
cedo eu ajoelho eu oro, a noite... E tudo eu aprendo aqui no pequeno grupo, que, a palavra
de Deus é muito importante, entendeu? Andar em comunhão com Deus, entendeu? A
Bíblia, tiro minhas dúvidas todas. Eu não sabia, por exemplo, “E conhecereis a verdade e
a verdade vos libertará” E aí a líder me explicou o que quer dizer isso, entendeu? Eu ainda
tô, ainda tô engatinhando, entendeu? To aprendendo muito.

6p. Entrevistador: Qual foi a influência do pequeno grupo pra, pro, pro seu, pra sua
vinda pra igreja?
6r. Entrevistado: É, primeiro temor a Deus. Que é Provérbios 14, 26 e 27, o temor a Deus
é se fosse seguir os dez mandamentos direitinho, entendeu? Andar em comunhão com
Deus. Porque eu aprendi na, através do pequeno grupo, que inclusive, que um segundo que
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você se irar contra seu irmão, você já deu uma brecha pro inimigo, entendeu? Então, o
temor a Deus é muito importante. Você ser temente a Deus. E, e eu to, assim, usando,
aprendi também usar os momentos de, de, de fraqueza, as decepções da vida, que a gente
não tá livre disso, né? Pra, pra usar isso como crescimento espiritual, entendeu? Graças a
Deus eu to sentindo que eu to com essa sabedoria. Eu to trabalhando muito minha mente
no sentido de, de, me esvaziar, assim, de exigência, entendeu? Entendeu? Todo dia peço a
Deus pra me dar renovo espiritual, de manhã cedo eu acordo, antes, hoje, hoje, tenho
horário, faço parte desse grupo de oração, né? Aí, de manhã cedo, eu já venho aqui logo,
entendeu? Antes de sair de casa eu já ajoelho e oro, eu, eu, eu não, eu acordo, no começo,
antes em jejum, não faço nada sem oração, entendeu? Isso aqui foi ideia minha inclusive,
Mala Direta, ando pela rua distribuindo. Eu paro lá no banco e fico lá de onze horas até
meio dia, distribuindo pras pessoas. Aqui no Banestes, entendeu? Paro aqui, entendeu? Eu
também sou voluntário assim, faço com maior, com amor. Que uma fé sem obra é uma fé
morta, né? Eu, eu ajudo, eu, eu, eu consegui, todo mundo já me conhece, entendeu?
Doações, lá em casa, muitas pessoas, ó, tem, tem roupa lá em casa, aí eu vou né? Lá, de
carro, pego aquela sacola de roupas, entendeu? Aí eu vou e faço doação aqui, faço doação
pra um, pra um lar dos idosos lá de José de Anchieta. Domingo eu fiquei feliz, eu levei um
monte de roupa, levei três sacolas de roupas lá pro, lá pro lar dos idosos, lá pra terceira
idade, são quase quarenta idosos, então é, velhinha, velhinha, velhinha mesmo e, cheguei
lá, lá tem feira aos domingos, não sabia, é uma feira livre, eles aproveitam, abrem as portas
do lar dos idosos, bota um monte de, de barraquinha, igual barraquinha de feira e vende as
roupas que a gente doa, entendeu? Lá na casa, ele vão pra lá, eles selecionam as roupas e
fazem um bazar, entendeu? E faz um bazar. Entendeu? Então a gente, é, uma obra, né? De
Deus, né? Assim, me sinto útil.

7p. Entrevistador: Certo. O seu pequeno grupo se encontra toda semana?


7r. Entrevistado: Toda terça-feira feira. A prioridade é isso.
303

8p. Entrevistador: E ele se encontra aonde?


8r. Entrevistado: Aqui. Aqui na igreja de Morada. Aqui na garagem da igreja Morada.
Nesse escritório que nós estamos aqui nesse momento.

9p. Entrevistador: Ok. O senhor já fez parte de alguma igreja que não tinha o
pequeno grupo?
9r. Entrevistado: Eu rapaz, há dois anos e meio atrás, se você quer saber, pode falar o que
eu quiser? Pode né? Eu era uma pessoa que só, que bebia, que bebia muito. Fui internado,
entendeu? Três vezes. Até no Rio de Janeiro. Voltava e bebia de novo. Entendeu? E,
casamento meu foi por água abaixo, parte financeira, casamento, minha vida foi, foi um
horror mesmo, né? Separei da mulher, por isso que eu tenho essa minha esposa atual. E só
Deus é que me livrou de tudo isso, entendeu? Só através dele. Fui internado, voltava a
beber. Mas com Deus, eu me libertei. E aí eu frequentei a Assembleia de Deus. Mas meu
coração mesmo, fala mais assim, meu coração ele, ele gosta, ele se identifica, ele faz
mesmo, ele gosta é da igreja Batista. Entendeu? Porque eu fui membro da Assembleia de
Deus, Deus é Amor, aí eu fiquei pulando de igreja. A minha família é Católica, entendeu?
Mas ai eu ia pra igreja, ficava do lado de fora da, da igreja. Não entrava, não participava.
Eu comecei, eu fui pra Assembleia de Deus eu não me identifiquei muito com a
Assembleia. Deus. Deus é amor, também não me identifiquei. Mas já na igreja Batista eu
me identifiquei.
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10p. Entrevistador: E o pequeno grupo ajudou nisso? Em que sentido?


10r. Entrevistado: Exatamente! Porque muitas vezes o pastor prega, igual, você dá uma
cochilada, as vezes, entendeu? Você não fica 100% atento. Entendeu? Eu gosto, inclusive,
tem um detalhe, não vou falar muito de ninguém. Mas às vezes, tem domingo que eu vou,
assim, por exemplo, às vezes eu saio de casa mais cedo, e vou pra Guarapari. Aí eu tô em
Guarapari, aí a noite eu vou na igreja Batista de lá, igual já aconteceu isso comigo domingo.
Não gosto, domingo, eu gosto sempre, se tiver fora de minha casa, eu vou num, procuro
um igreja Batista perto, eu vou. Mas tem pastor que na pregação me dá sono. E o pastor
Erasmo, ele prega rapaz, de um jeito que não me dá sono. E consigo ficar ligado ali, o
tempo todo nele.

11p. Entrevistador: E aí, no meio de semana, vocês conversam sobre a mensagem dele
ou como é que é?
11r. Entrevistado: Sobre a mensagem. Sobre todos os assuntos.

12p. Entrevistador: No pequeno grupo você...


12r. Entrevistado: No pequeno grupo pode abordar todos os assuntos. Pode. Tem um, o
pequeno grupo é o seguinte, o pastor ___, ele elabora os estudos, entendeu? Como é o único
Deus, várias abordagens. Aí tem aquela, tem aquela tarefa, mas tem uns, hoje vai ter, na
Terça-feira retrasada, nos tava aqui orando, no pequeno grupo, ai uma irmã ligou, que não
podia vir, que ela tava em casa chorando muito, deprimida, ela tinha feito cirurgia, aí de
comum acordo aqui, com todo mundo, nós fomos pra lá pra orar na casa dela.
304

13p. Entrevistador: Aí o grupo se encontrou na casa dela?


13r. Entrevistado: Nós saímos daqui, a ___ consultou todo mundo, se tava de acordo, aí
nós interrompemos aqui, no local e fomos na casa da___, lá, orar por ela. Ela já se sentiu
bem melhor.

14p. Entrevistador: Como é que, como é que o grupo faz pra atender as necessidades
dos membros do grupo?
14r. Entrevistado: Tem que haver primeiro, entre a gente, já foi dito que o que, fica só
entre a gente mesmo, os problemas. É um grupo, isso é pra pessoa se sentir mais a vontade
de desabafar, de falar os problemas. A gente sabe o problema de todo mundo do pequeno
grupo. Como é que é a casa da pessoa, como vive, irmãos, irmãos, irmãos mesmo, de
verdade, entendeu? Tem um clima, é um clima confortável pra pessoa se abrir, desabafar.
Eu digo tudo que eu quero, tudo que eu penso. Se eu tiver gostando eu digo.

15p. Entrevistador: E como é que o pequeno grupo ajuda na comunhão entre os


membros?
15r. Entrevistado: Oração. Sempre quando, quando começa tem oração. E, e também a
tendência é bem especificado. Que, que, a gente com Deus, a gente tem, tem que, ter muita,
com fé em Deus a gente descansa na mão de Deus mesmo, entendeu?
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16p. Entrevistador: E o que mudou na sua vida depois que o senhor começou a
participar do pequeno grupo?
16r. Entrevistado: A minha vida mudou, mudança na minha vida total né? Hoje em dia
tudo que eu faço, não faço nada se pedir orientação a Deus. Eu oro de manhã e oro à noite
antes de dormir. Primeiro oro de manhã pedindo a Deus pra dirigir a minha vida e abençoar
a minha vida, porque eu sou dependente de Deus, entendeu? Aprendi que eu sou
dependente de Deus. Eu dependo de Deus pra tudo. Aí eu peço o Espírito Santo de Deus
pra me dá sabedoria, pra poder, discernimento pra lidar com as pessoas, saber como agir
com meu, na criação do meu filho, como agir com a minha esposa, como agir até com o
senhor aqui. Já orei e já pedi a Deus logo pra me dá discernimento pra conversar com o
Senhor. Eu não faço nada sem pedir orientação.

17p. Entrevistador: Como é que o senhor vê o pequeno grupo em relação a igreja.


Que benefício o pequeno grupo traz pra igreja de um modo geral?
17r. Entrevistado: Traz um, fica todo mundo homogêneo. Homogêneo. Porque tem, existe
diferenças sociais, diferenças, através de parte financeira, de parte cultural. De estudo e
tudo. Mas o pequeno grupo faz com que todo mundo se sinta igual. Porque pra Deus todo
mundo é igual, entendeu? Aqui mesmo no nosso pequeno grupo tem pessoas que, que são
bem de vida, outras pessoas que não são bem de vida. Tem pessoas que, que, que no lar é
bem sucedido tem outros que não são. Mas aqui todo mundo se sente igual, ninguém se
sente inferior, entendeu? Então o pequeno grupo é como se fosse, igual o corpo de Crist. O
pequeno grupo no, no, no todo ele me dá um, um, um unificação, um homogeneidade,
assim, de homogêneo, pra quando chega no culto, todo mundo senta junto. Aí é pequeno
grupo aqui, tem nosso pequeno grupo, a igreja é, é formada por pequeno grupo, entendeu?

18p. Entrevistador: Você vê algum perigo do pequeno grupo pra igreja?


18r. Entrevistado: Nenhum, de jeito nenhum. Só benefício. Eu acho que toda igreja tem
que ter ou célula ou pequeno grupo. Pra, pra poder, é como se fosse cada pequeno grupo
305

uma brasa viva, entendeu? Que ascende no lar de casa pessoa, entendeu? É igual a
formiguinha. A formiguinha ela faz como? A formiguinha ela faz, ela trabalha ali mas tem
aquelas turminha, né? A união faz a força, entendeu? Tipo assim. A união faz a, o pequeno
grupo é união que faz a força e fortalece a igreja num todo. Os membros todo da igreja. Aí,
toda igreja teria que ter um pequeno grupo, pra você se sentir em casa. Se você chegar
numa igreja, você passar na rua e você entrar na igreja, é muito difícil. Mas ó, eu já convidei
um casal, ele veio aqui no pequeno grupo, os dois, ele vai vir de novo, provavelmente, vou
ligar pra ele, lembrar ele. Veio no grupo, mas pra igreja ele não entrou, agora a, ele já veio
no pequeno grupo, ele já teve do..., foi no, no, ele já teve domingo na igreja, que nem eu
vi, ele falou: “ó tive no culto de domingo” porque ele veio no pequeno grupo, as portas se
abriram, ele se sentiu em casa, ai já ficou à vontade pra entrar na igreja.

19p. Entrevistador: E qual a preocupação do pequeno grupo com as pessoas de fora?


De fora da igreja?
19r. Entrevistado: Como assim?

20p. Entrevistador: As pessoas aí, que não fazem parte da igreja? Qual é a
preocupação?
20r. Entrevistado: A gente?
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21p. Entrevistador: Isso.


21r. Entrevistado: Ah, se a gente pudesse, a gente traria todo mundo. Esse papelzinho que
entreguei pro senhor, eu convido. Eu falo assim: além dessa oração... Aí eu falo que esse
convitezinho é mala direta. Eu vou no Perim, distribuo eu falo: “Ó, domingo nós temos
culto às dez e às sete”. Entendeu? Não perca. Se você puder ir lá, nos honrar com sua
presença lá, entendeu?

22p. Entrevistador: E ajudar essas pessoas, por exemplo, pessoas que tem
necessidades? O senhor mencionou, agora a pouco, que faz um trabalho de...
22r. Entrevistado : De caridade.

23p. Entrevistador: De social?


23r. Entrevistado: De social faço. Eu ajudo. E teria que já tá, eu to falando, tem esse,
pessoas que já, eu acho que deve ter falado pra outra, eu tenho umas roupas aqui, usadas,
que eu não to precisando, em bom estado, aí passa aqui e pega, eu vou lá e pego, entendeu?
Tá aumentando.

24p. Entrevistador: Que bom. O senhor gostaria de falar mais alguma coisa sobre o
pequeno grupo
24r. Entrevistado: Eu, o recado que eu tenho é que as pessoas que são membros da igreja,
que se porventura, não fizer parte de nenhum pequeno grupo, que façam. Que o pequeno
grupo é fundamental para o seu crescimento espiritual. Pra você, entendeu? Crescer.
Defeito, todo mundo tem, pra você ir dilapidando, entendeu? Você ir trabalhando sua
mente, pra você mudar, mudar sua, mudar interiormente a vida da gente, você pensar
diferente, você perdoar, aprender a amar as pessoas, perdoar as pessoas entendeu?

Entrevistador: Muito obrigado.


306

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 12/08/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
51 anos Morada de Camburi IBMC 15

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos. Qual a importância do
pequeno grupo na sua vida?
1r. Entrevistada: Na minha vida foi muito bom. Porque logo que entrei no pequeno grupo
eu tinha acabado de perdi meu, de perder meu filho assassinado. Coisa que ele não tinha
culpa, ele foi, o tal queima de arquivo.

2p. Entrevistador: E como o pequeno grupo ajudou a senhora?


2r. Entrevistada: Ajudou eu muito. Porque foi ali que eu encontrei o verdadeiro Deus. A
verdadeira união entre os irmãos.

3p. Entrevistador: E faz quanto tempo isso?


3r. Entrevistada: Tem de pequeno grupo eu tenho treze anos. Graças a Deus eu nunca
fiquei sem o pequeno grupo. Eu sinto até falta quando não tem. Quando eles entram em
férias e, pessoal que, que entra em férias, vijam, e as pessoas dá um tempo. Um mês mais
ou menos pra que as pessoas deixam de ir, mas faz muita falta. Muita falta mesmo.
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4p. Entrevistador: O que mudou na sua vida depois que...


4r. Entrevistada: Quando eu perdi o meu segundo filho, eu liguei pra igreja. Não, meu
parente lá, ligou pra igreja, no dia, na mesma hora, a noite, a minha casa tava repleta de
irmãos do pequeno grupo. Foi aí que eu não me desesperei porque eu sabia que meu filho
tava em paz. Ele tava no melhor momento da vida dele. Foi aí que eu encontrei mesmo o
verdadeiro Deus, verdadeiros amigos que a gente tem do pequeno grupo dentro da igreja.

5p. Entrevistador: A senhora já fazia parte da igreja?


5r. Entrevistada: Não. Eu era Católica.

6p. Entrevistador: E como é que esse pequeno grupo tem acompanhado a senhora de
lá pra cá?
6r. Entrevistada: Tem acompanhado muito bem. Graças a Deus! Se não fosse o pequeno
grupo e a igreja, eu não sei o que seria da minha vida. Porque o pequeno grupo é os irmãos
da igreja que me deu, me deu, me deu e me dá todo suporte pra mim suportar tudo o que
eu passei na minha vida.

7p. Entrevistador: Como o pequeno grupo contribuiu pro seu relacionamento com
Deus?
7r. Entrevistada: Muito. Muito e muito. Porque, antes eu não conhecia, eu não conhecia
o que era ler uma Palavra da Bíblia. Não falando mal de Igreja nem nada, mas a Igreja
Católica não tem essa responsabilidade. Das pessoas ensinar a ler a Bíblia.

8p. Entrevistador: E como é que o pequeno grupo faz isso?


8r. Entrevistada: Como é que o pequeno grupo faz isso? Dar textos de Bíblia pra gente
ler. A relação do trabalho. Porque tem o trabalho que eles dão pra gente ler em casa,
307

acompanhar na Bíblia, tudo direitinho. Eu não sei muito da Bíblia, mas o pouco que eu sei
dá pra me suprir.

9p. Entrevistador: O que acontece lá no pequeno grupo, nos encontros?


9r. Entrevistada: Acontece reunião de pessoas que ajuda um ao outro. Aconselhando,
dando uma base de apoio, dando uma palavra de conforto, dando, ajudando mesmo,
ligando, sabendo se a pessoa tá bem, como que tá o dia da pessoa, mas é muito bom. Não
tenho o que reclamar do meu pequeno grupo.

10p. Entrevistador: E se encontra aonde?


10r. Entrevistada: Se encontra aqui na igreja.

11p. Entrevistador: Uma vez por semana, como é que é?


11r. Entrevistada: Agora é todas as terças.

12p. Entrevistador: Todas as terças? É muito grande? Quantas pessoas fazem parte?
12r. Entrevistada: Agora no momento tá fazendo parte, depende, tem vez que se vem todo
mundo, tem vez que falta um, dois. Mas em relação tem umas sete ou oito pessoas.

13p. Entrevistador: Que fazem parte do pequeno grupo?


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13r. Entrevistada: É.

14p. Entrevistador: E qual a importância do pequeno grupo pra igreja, de modo


geral?
23r. Entrevistada: É o suporte que dá quando a gente tem problemas, também quando a
gente tá feliz. Eles ajudam, eles ligam, ele vão na casa da gente saber o que que acontece,
por que que tá faltando aos cultos, por que que tá faltando no pequeno grupo. Isso tudo
ajuda a gente trazer pra igreja.

24p. Entrevistador: E qual é o perigo do pequeno grupo? A senhora vê algum perigo


pra igreja, do pequeno grupo?
24r. Entrevistada: Não. Eu não vejo perigo nenhum não. Só vejo ajuda e como é que é?

25p. Entrevistador: Benefício?


25r. Entrevistada: É, benefícios. Pra igreja. Então eu não vejo o pequeno grupo. Não sei.
Tem gente que, que pensa de uma forma, tem gente que pensa de outra forma. Ninguém é
dono do pensamento de ninguém. Então, pra mim, é bom. E não vejo perigo nenhum.

26p. Entrevistador: Certo. Ajuda o pequeno grupo, ajuda a pessoa a ter comunhão
umas com as outras?
26r. Entrevistada: Ajuda. Muito.

27p. Entrevistador: E como é que o pequeno grupo faz isso?


27r. Entrevistada: É orando, indo procurando saber, onde que tá a pessoa, como eu já
disse antes, por que que faltou, por que que, se tem algum problema, o pequeno grupo vai
todo saber o que que aconteceu, o porquê que tá acontecendo. Procura ajudar de forma
muito boa. Porque tem dois irmãos da gente que tá com, que tá com familiares lá em São
Paulo e eles passam, faz parte do pequeno grupo. Estão lá porque as duas filhas deles tem
308

problemas. Problemas gravíssimo nos rins. E a igreja, e o pequeno grupo e a igreja tão
colaborando pra ajudar eles lá, porque eles estão... Ele deixou de trabalhar, ela deixou de
trabalhar, eles estão lá com a ajuda do SUS e é, e a igreja tá, e tá dando fundos, e os
pequenos grupos também, também tá dando fundos pra levar pra eles lá. Suprir as
necessidades deles lá.

28p. Entrevistador: Então, o pequeno grupo também se preocupa com o social?


28r. Entrevistada: É
29p. Entrevistador: Situação financeira das pessoas?
29r. Entrevistado: É. Tudo, tudo isso.

30p. Entrevistador: Quem faz parte do pequeno grupo? São pessoas da mesma idade,
são famílias, como é que é?
30r. Entrevistada: Não. Porque tem, são divididos. Tem os pequenos grupos dos jovens,
tem os pequenos grupos normal, que é de casas, que é de adultos. As vezes tem algumas
crianças. Tem muitos pequenos grupos que divide crianças e adultos. São muito bons os
pequenos grupos. Graças a Deus. Ajuda muito a igreja.

31p. Entrevistador: Todos eles se encontram aqui nas dependências da igreja?


31p. Entrevistado: Não. Cada um tem seu lugar. Cada um tem sua casa. Já. Tem uns dois
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pequenos grupos que fazem. Como é que é? Circulam.

32p. Entrevistador: Rodízio.


32p. Entrevistada: Rodízios. Mas o nosso é fixo.

33p. Entrevistador: E por que vocês se reúnem aqui e não nas casa?
33p. Entrevistada: Porque... isso é uma pergunta que eu não poso te responder. Então, a
gente preferiu se reunir aqui porque fica um lugar neutro. Entendeu?

34p. Entrevistador: Ok. Muito bom.


34p. Entrevistada: É um problema muito sério que aconteceu, então, a gente preferiu se
reunir aqui. Mas foi tudo resolvido. Na minha, da minha parte eu não considero perdoada.
Porque quando a pessoa perdoa mesmo, ela esquece. Não é dizer que esquece tudo, mas
esquece e vem participar. Eu acho que a pessoa tem que ter, tem que saber perdoar. As
pessoas hoje em dia tão muito, até os irmãos também de igreja tá muito difícil. O perdão,
deveria ser a melhor coisa que existisse dentro de uma igreja. Porque graças a Deus eu sei
liberar perdão. E libero e libero mesmo. Não tem nada disso de liberou e irmão pra lá, irmão
pra cá. Tem que ter união entre irmãos de igreja, principalmente de igreja, principalmente
entre a gente evangélicos.

35p. Entrevistador: Então acontecem também conflitos no pequeno grupo?


35p. Entrevistada: Acontece.

36p. Entrevistador: E como é que esses conflitos são resolvidos?


36p. Entrevistada: São resolvidos pelo menos só um, graças a Deus, graças a Deus foi só
um conflito que aconteceu entre o nosso pequeno grupo. Mas, foi chamado irmão, pastor,
os dois irmãos que, que entraram em conflito e, pra mim, não tá resolvido. Porque a pessoa
309

tem que se resolver definitivamente. E a pessoa é muito complicada. Tem pessoa muito
complicada.

37p. Entrevistador: Nos encontros do pequeno grupo é, qual é a participação dos


membros? Eles podem falar, podem compartilhar suas dificuldades, suas
experiências?
37p. Entrevistada: Pode, pode compartilhar tudo. É livre, aberto. Aberto livremente pra
falar o que quiser. O que tiver no seu coração, o que tiver passando por você.

38p. Entrevistador: Louva a Deus, também tem momento de adoração, como é que é?
38p. Entrevistada: Tem. Tem canto. Tem o momento do canto. Tem o momento de oração.
Tem o momento de bate papo, pra saber como foi o dia, como foi tudo, como você passou,
como você está passando, o que que tá acontecendo em sua vida, tudo isso.

39p. Entrevistador: A senhora gostaria de falar alguma coisa a mais, recomendaria o


pequeno grupo pra outras pessoas?
39p. Entrevistado: Eu recomendaria. Porque é muito bom, faz muito bem pra gente.

40p. Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado.


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FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 12/08/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICADOR
40 anos Morada de Camburi IBMC 16

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos. Queria que você
começasse falando pra mim sobre sua experiência com pequenos grupos.
1r. Entrevistado: A minha experiência com pequeno grupo começou aqui nessa igreja, em
Morada. Porque eu não conhecia esse... Esse modelo. É um modelo que vem da igreja com
propósitos e eu participei aqui já, nesse período de dez, onze anos que estou aqui, eu já
participei de, este é o terceiro pequeno grupo que eu participo.

2p. Entrevistador: E você chegou a fazer parte de outra igreja antes dessa que não
tinha pequeno grupo?
2r. Entrevistado: Sim. Eu era da Assembleia de Deus. Reuni lá por mais de vinte anos.

3p. Entrevistador: Lá não tinha pequeno grupo?


3r. Entrevistado: Não.

4p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o pequeno
grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
4r. Entrevistado: Ah, a diferença principal que eu vejo é a questão da comunhão. A igreja
que tem o pequeno grupo ela exercita melhor esta questão da comunhão, da afinidade entre
as pessoas da igreja, entre os irmãos. Isso ajuda muito nesse aspecto da interação das
pessoas, da comunhão em si. E a igreja que não tem isso, ela é uma igreja meio dispersa. E
eu vejo que a igreja que não tem, pelo menos a igreja que eu reunia, parece que era cada
um por si, então os irmãos não tinha aquela, muito aquela afinidade, então não tinha essa
oportunidade de se conhecer melhor. Uma coisa que o pequeno grupo proporciona.
310

5p. Entrevistador: E o que o pequeno grupo faz pra que haja essa comunhão?
5r. Entrevistado: Dentro do pequeno grupo existe o momento de comunhão. Além da
leitura bíblica, além das conversas informais que existe dentro do pequeno grupo, onde
cada participante. Fica mais íntimo das pessoas ali, então isso estreita bastante os laços de
amizade, e também, tem o momento da comunhão, onde a pessoas participam do lanche,
então tudo isso aí ajuda realmente a fortalecer mais esse laço de comunhão.

6p. Entrevistador: Além do, desses itens que você mencionou. Nos encontros do
pequeno grupo qual o espaço que o membro tem pra compartilhar as suas
experiências?
6r. Entrevistado: É o momento da reflexão. Cada membro ali tem uma oportunidade de
externar a sua opinião de uma forma bem democrática e bem liberal assim. E também,
muitas vezes as reflexões nem giram em torno da Bíblia, mas às vezes de assuntos do
cotidiano. Então, muitas vezes um membro está com algum problema, ele coloca esse
problema. E ali cada um passa a funcionar como um, um ajudador. Começa a discutir sobre
o assunto, a debater e dar aquela força que aquele irmão tá precisando e isso aí também é
uma questão importante que fortalece mesmo, mais ainda essa comunhão.
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7p. Entrevistador: Onde o seu pequeno grupo se encontra?


7r. Entrevistado: Em Jardim Camburi.

8p. Entrevistador: Nas casas.


8r. Entrevistado: Num apartamento.

9p. Entrevistador: Num apartamento. Quantas, com que regularidade se encontram,


uma vez por semana, uma vez por mês?
9r. Entrevistado: Toda semana.

10p. Entrevistador: Toda semana.


10r. Entrevistado: Terças-feiras

11p. Entrevistador: As terças-feiras. E entre os encontros, entre um encontro e outro.


Existe algum tipo de comunicação entre os membros do grupo?
11r. Entrevistado: Geralmente é por e-mail. Ou por telefonema, ou por um torpedo, pelo
celular ou WhatsApp, tudo isso. O líder utiliza pra comunicar com os demais membros
acerca da próxima reunião, o que vai ser discutido, o que vai ser tratado.

12p. Entrevistador: E há uma preocupação em um cuidar do outro, um se preocupar


com o outro, no sentido de ajudar um ao outro no interregno dos encontros?
12r. Entrevistado: Há sim. Existe. Isso é uma coisa que vem naturalmente, mas no próprio
encontro cada um é desafiado a realmente a agir dessa forma, a praticar essa preocupação
com o outro. Então é um dos fundamentos básicos do pequeno grupo é justamente isso,
praticar, buscando se preocupar com o irmão, buscando saber como está, se tem algum
problema que possa ser resolvido em grupo ou individualmente mesmo.
311

13p. Entrevistador: E, além da comunhão, que outros benefícios você vê que o


pequeno grupo traz pra igreja de um modo geral?
13r. Entrevistado: Ajuda a igreja a crescer de um modo saudável. Equilibrado. As pessoas
se conhecendo, se importando umas pelas outras. E isso na hora da adoração, na hora do
momento de comunhão na igreja isso aí é muito importante. As pessoas, a gente percebe
que fazem isso com mais liberdade.

14p. Entrevistador: E você vê algum perigo, algum risco, é, pra igreja, que o pequeno
grupo representa?
14r. Entrevistado: Olha não vejo nenhum risco não. Apesar de algumas pessoas
entenderem esse processo como uma célula, ou que isso vai dividir a igreja em grupos, mas
eu só, até hoje eu só tive experiências boas, benéficas a esse respeito. Enxerguei que teve
só mais é coisas positivas pra igreja.

15p. Entrevistador: Certo. E, pequeno grupo, ele tem... Ele tem, ah, nos encontros do
pequeno grupo, a Bíblia é utilizada, como é que funciona isso?
15r. Entrevistado: Sim. No nosso pequeno grupo a Bíblia é o centro do estudo. É usada
bastante a Bíblia. Textos bíblicos, algumas literaturas que venha trazer algum estudo, mas
tudo baseado na Bíblia.
16p. Entrevistador: Qual o impacto que o pequeno grupo trouxe pra sua, pra seu
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relacionamento com Deus, seu crescimento espiritual?


16r. Entrevistado: O pequeno grupo ele me incentiva a orar mais, a ler mais a Bíblia e a
me importar mais com o irmão, é o principal pra mim, até mesmo em questão de se importar
com a própria família. Minha própria família também. De dispor um pouco mais de tempo
pra ela. Então eu vejo que essa é a mais importante, é a coisa que o pequeno grupo me
incentiva.

17p. Entrevistador: Qual a preocupação que o pequeno grupo tem com as pessoas de
fora, de fora da igreja?
17r. Entrevistado: De fora da igreja? Existe sempre uma preocupação assim de cada um
membro do pequeno grupo, de trazer alguém, pra compor também ali, aquele pequeno
grupo. E, eu vejo isso como uma forma de evangelismo, porque você tá trazendo pro seu
convívio. É mais fácil de que você trazer pra igreja, às vezes. Quando você cria um laço
ali, dentro do pequeno grupo, depois se torna mais fácil pra você trazer para a igreja. Então,
eu vejo isso como uma coisa evangelística.

18p. Entrevistador: E há alguma ação social do pequeno grupo no sentido de, é...
Contribuir pra transformação da sociedade?
18r. Entrevistado: Olha, eu acho que nesse tempo que eu tô nos pequenos grupos, alguns
pequenos grupos tem essa visão. Outros não. Outros já é uma visão mesmo interna, uma
visão mais interna. Não, eu não vejo muita preocupação de fazer algo social. Talvez seria
até importante se preocupar com isso também.

19p. Entrevistador: E, e, quais são os critérios pra organizar o pequeno grupo? Quem
faz parte desse grupo? Pessoas que moram perto, pessoas que tem afinidade, como é
que funciona isso?
19r. Entrevistado: Geralmente é quem tem afinidade e quem mora mais próximo ali onde
o pequeno grupo é baseado, onde tem ali o centro do pequeno grupo. Geralmente é por
312

afinidade, às vezes pessoas que moram até um pouco mais longe, mas que tem mais, maior
amizade ali com, ou com o líder ou com alguma pessoa que tá participando também, faz
parte do grupo, mas na maioria das vezes são pessoas que moram próximo ali desse núcleo,
do pequeno grupo.

20p. Entrevistador: Que mais que você, você gostaria de falar mais alguma coisa sobre
o pequeno grupo?
20r. Entrevistado: Eu gostaria de falar que pra mim, na minha vida cristã, tem sido uma
experiência nova e que eu vejo como muito positiva. Para o crescimento espiritual, para o
crescimento da igreja de uma forma saudável. Então, eu tenho crescido muito
espiritualmente, e como pessoa também, depois que comecei participar do pequeno grupo.

Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 12/08/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
16 anos Morada de Camburi IBMC 17
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar um pouquinho sobre o pequeno grupo.


1r. Entrevistado: Hum!

2p. Entrevistador: Como é que você vê o pequeno grupo?


2r. Entrevistado: Uma reunião entre irmãos, de igreja no caso, onde nós discutimos sobre
assuntos que ocorrem no dia a dia, até mesmo em igreja e sobre palavras da Bíblia,
discutimos as mensagens.

3p. Entrevistador: Qual a importância que isso tem pra você?


3r. Entrevistado: Eu acho que a importância do pequeno grupo pra mim é porque você
tem um momento pra você conversar, mais assim pessoal, com as pessoas. Ao invés de ser
só escutar, você pode ter a sua opinião também.

4p. Entrevistador: Seu pequeno grupo é composto de pessoas da sua idade, como é
que é?
4r. Entrevistado: Não. De pessoas de idade maior que a minha. Porém, tem duas pessoas
da minha idade também.

5p. Entrevistador: Então, é um grupo misto?


5r. Entrevistado: Isso, misto.

6p. Entrevistador: Você faz parte do mesmo grupo dos seus pais, da sua família?
6r. Entrevistado: Mesmo grupo.

7p. Entrevistador: Como o pequeno grupo contribui, na sua maneira de ver, como o
pequeno grupo contribui pra comunhão entre os membros da igreja?
313

7r. Entrevistado: Bom, foi como eu disse, é um momento de mais que tá puxado mais pro
lado da amizade e não pro lado mais espiritual. Só que tem o tempo espiritual e também o
tempo da amizade. Juntou os dois. Aí forma a comunhão.

8p. Entrevistador: E pro seu crescimento espiritual, como o pequeno grupo tem
contribuído?
8r. Entrevistado: Com as mensagens que a igreja transmite através do pequeno grupo, que
pede pra passar nas reuniões.

9p. Entrevistador: Existe um estudo bíblico, como é que é isso?


9r. Entrevistado: Tem a parte que nós debatemos sobre o estudo que fizemos e a parte do
estudo bíblico antes. Tem um momento de oração, esses outros momentos assim, mais
espiritual.

10p. Entrevistador: Qual o benefício que você entende que o pequeno grupo traz pra
igreja como um todo?
10r. Entrevistado: É que cria grupos de amizade. Não cria, a igreja, algumas pessoas
pensam que é só sentar e ficar vendo um cara falando e, acaba por isso aí. Mas não, também
tem o pequeno grupo que você pode criar amizade. Onde você vai conseguir expandir o
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seu meio de convivência.

11p. Entrevistador: E você vê algum perigo do pequeno grupo para a igreja?


11r. Entrevistado: Não vejo não.

12p. Entrevistador: Algum risco?


12r. Entrevistado: Não.

13p. Entrevistador: Como é que as pessoas do pequeno grupo se relacionam, entre os


encontros?
13r. Entrevistado: Antes temos um momento de conversa e, conversamos coisas do dia a
dia. Aí, depois nós, às vezes lanchamos, fazemos um lanchinho da tarde lá. E durante o
estudo que nós fazemos, nós também podemos trocar opiniões diferentes que temos.

14p. Entrevistador: Pra você como jovem, qual a importância do pequeno grupo pra
juventude?
14r. Entrevistado: Foi o que eu disse que é um meio de amizade, meio de convivência
dentro da igreja. Porque não só apenas, que é importante, muitas vezes as pessoas criam
um círculo de amizade dentro da escola, porém, dentro da igreja eles acabam se afastando
um pouco. E eu acho que o pequeno grupo ele é importante nessa parte.

15p. Entrevistador: Qual a coisa mais chata do pequeno grupo?


15r. Entrevistado: Eu acho que é ouvir. Creio.

16p. Entrevistador: E a mais interessante?


16r. Entrevistado: A parte de se debater com os outros sobre o estudo.
314

17p. Entrevistador: Pra você como jovem, qual o maior desafio pra poder fazer parte
de um pequeno grupo?
17r. Entrevistado : Ir. Meio de transporte.

18p. Entrevistador: Meio de transporte?


18r. Entrevistado: É.

19p. Entrevistador: E qual a importância do pequeno grupo pra sua vida, fora do
pequeno grupo, fora da igreja?
19r. Entrevistado: Mesma coisa que eu disse que é esse círculo de amizade, você acaba
tendo uma convivência maior com pessoas, cria mais intimidade, é isso.

20p. Entrevistador: E como isso contribui para o seu crescimento espiritual?


20r. Entrevistado: Como você tem um círculo de amizade aqui, dentro e fora da igreja, eu
creio que isso pode te influenciar a querer buscar mais estar próximo dessa pessoa em
diversos momentos. Seja na igreja, no pequeno grupo ou fora do pequeno grupo ou da
igreja.

21p. Entrevistador: E como é que o pequeno grupo ajuda você a se relacionar com
Deus?
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21r. Entrevistado: Nesses momentos que fazemos de oração, um ora pelo outro, pedidos
de oração, você ora pelo pedido que a pessoa fez. Isso sempre cria um laço mais forte de
comunicação com Deus.

22p. Entrevistador: O pequeno grupo se encontra uma vez por semana?


22r. Entrevistado: Isso.

23p. Entrevistador: E os outros sete dias da semana, os outros seis dias da semana,
qual o benefício que os pequenos grupos trazem pra você, pra sua vida nos outros seis
dias da semana?
23r. Entrevistado: Você tem um, você pode contar com aquelas pessoas quando você
precisar. Dentro da igreja, às vezes, você pode conhecer uma pessoa por vista, mas não tem
nenhuma intimidade com ela que faça você ter um laço de amizade forte. Quando você
precisar você não possa contar com ela.

24p. Entrevistador: E com as pessoas que estão fora da igreja, qual a preocupação
que o pequeno grupo tem com as pessoas que não estão na igreja?
24r. Entrevistado: Muitos pequenos grupos visam fazer filantropias, através de, seja
gestos nobres ou até mesmo, sei lá, distribuindo folhetos. Pra diversas pessoas aí que não
conhecem, tão no mundo. Eles pensam sempre em trazer gente de fora para os pequenos
grupos. Depois, quem sabe, se agregar na igreja.

25p. Entrevistador: Esses gestos nobres seriam o que?


25r. Entrevistado: É, digamos, muitas vezes eu já vi, presenciei, grupos fazendo visitas a
centros de tratamento ao câncer, grupos que são necessitados, mais carentes. Seja de forma
financeira como forma espiritual. Eles sempre visam as pessoas.
315

26p. Entrevistador: Se você quisesse transmitir uma mensagem pros jovens da sua
idade, sobre o pequeno grupo, o que que você diria?
26r. Entrevistado: Eu diria que eles, que era pra eles virem. Porque é uma coisa muito boa
espiritualmente. E também, eu acho que até mesmo que sejam cansativas as reuniões, mas
é sempre algo que faz você crescer espiritualmente e ter mais laços de amizade. É isso.

27p. Entrevistador: Muito obrigado.


27r. Entrevistado: De nada.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 22/10/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
44 anos Morada de Camburi IBMC 18

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos. E eu queria que você
compartilhasse a sua experiência com o pequeno grupo.
1r. Entrevistada: Compartilhar como assim? Falar? Não sei se vou saber realmente falar.
Não sei falar, falar o que, pastor?

2p. Entrevistador: Faz tempo que você conhece o pequeno grupo, que você faz parte
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do grupo?
2r. Entrevistada: Tem pouco tempo que eu tô na igreja, nessa igreja aqui. Que eu morava
fora do país, Aí eu mudei, faz pouco tempo que eu tô na igreja e no pequeno grupo. Mas a
outra igreja que eu frequentava também tem o pequeno grupo. Lá chamava grupos
familiares, mas é a mesma coisa. E eu adorava. Nossa, eu ficava contando os dias pra chegar
o dia que tinha reunião do grupo.

3p. Entrevistador: O que você mais gostava no pequeno grupo?


3r. Entrevistada: Eu gostava assim da comunhão das pessoas. Era um dia que você podia
tá fora da igreja, porque na igreja às vezes, você não tem envolvido assim com todo mundo,
não dá tempo de você conversar com todo mundo, poder compartilhar as coisas do dia a
dia. Você, às vezes, não encontra as pessoas, às vezes não vai no culto. É muita coisa, muita
gente e nesse grupo menor pra você compartilhar é melhor, um grupo menor.

4p. Entrevistador: Em que sentido você acha que o pequeno grupo ajuda na
comunhão?
4r. Entrevistada: No sentido de você, eu acho que fica uma coisa mais, como se fala,
você fica mais a vontade. Porque a igreja é muito grande. No dia a dia do culto. E aquele
grupo que tá sempre com o mesmo grupo, com as mesmas pessoas, você vai pegando
intimidade com a pessoa, você vai confiando mais na pessoa. Eu digo assim, você
compartilhar assim, a sua vida com ela.

5p. Entrevistador: Como é que acontecem os encontros?


5r. Entrevistada: A gente ora, a gente discute o assunto que às vezes o pastor, o líder do
ministério, ele propõe pra gente discutir aquele assunto, ler a Bíblia e em cima da Bíblia a
gente discute aquele assunto e oramos uns pelos outros.
316

6p. Entrevistador: Vocês têm oportunidade, espaço nos encontros no pequeno grupo
pra compartilhar as próprias experiências?
6r. Entrevistada: Sim. Então, em cima daquele assunto mesmo, se você tiver alguma
experiência que aconteceu em cima daquele assunto, a gente compartilha. Mesmo se não
tiver também, às vezes a gente tá precisando. A gente para tudo às vezes nem faz o estudo
que é proposto no dia. Se tiver alguém com problema e tal a gente muda completamente o
rumo. Do negócio pra poder focalizar naquela pessoa que tá com problema.

7p. Entrevistador: Qual o vínculo que existe entre os membros do pequeno grupo?
Tem alguma parceria de oração, alguma coisa assim?
7r. Entrevistada: Tem sim. A gente propôs isso, várias vezes. A gente tem um amigo de
jugo, que fala. A gente tem até um sorteio, a gente fez é sortear o nome do outro, você vai
orar por essa pessoa que você sorteou durante um tempo. Dependendo a gente muda, que
dá a data de aniversário, dia do aniversário da pessoa você liga pra ela, ora com ela, e tenta
se amenizar com a vida dela, como é que ela tá, se tá precisando de alguma coisa, se não
tá,

8p. Entrevistador: Como é que um cuida do outro?


8r. Entrevistada: Então, é isso. Eu acho assim, um liga pro outro e pergunta: tá tudo bem?
Tá precisando de alguma coisa? Como é que você tá? E a gente se encontra sempre. Eu
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mesmo me encontro sempre com algumas pessoas. Que a gente é vizinhos. No mesmo
bairro, a gente tá sempre se encontrando. Então, é muito bom, eu gosto muito. Quando fala
que tem que multiplicar todo mundo fica doido. Não, ninguém quer multiplicar. Tem que
dividir, tem que separar.

9p. Entrevistador: Como é que funciona essa questão da multiplicação?


9r. Entrevistada: Então, tem um tempo que a gente não multiplica porque o grupo tá
pequeno, mas quando, teve uma época que o grupo tava bem grande, na época, quando eu
comecei a frequentar, eu acho que o grupo era grande e teve que separar, nossa, foi uma
tristeza! Ninguém queria separar, mas aí, com o tempo, as pessoas vão acostumando.

10p. Entrevistador: Normalmente são quantas pessoas no grupo?


10r. Entrevistada: Tem vez que são umas doze assim, cerca de dez, doze pessoas.

11p. Entrevistador: Tem um líder? Como é que funciona?


11r. Entrevistada: Tem o líder, tem a líder, que é a líder do nosso grupo e, geralmente
quando ela não pode, tem uma pessoa também que ela já tá preparando, quando ela não
pode vir nas reuniões, ela já pede essa pessoa pra preparar pra poder liderar a reunião e
tudo.

12p. Entrevistador: E como é que faz quando o grupo multiplica, quem que lidera?
12r. Entrevistada: Aí fica a cargo, acho que do líder do ministério, o pastor que é líder do
ministério. Eles que escolhem, não sei como é que eles fazem.

13p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de alguma igreja que não tivesse o
pequeno grupo?
13r. Entrevistada: Não.
317

14p. Entrevistador: Você vê alguma diferença entre uma igreja que tem o pequeno
grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
14r. Entrevistada: Eu sou, assim, posso dizer que eu sou nova convertida. Eu me converti
quando eu morava lá nos Estados Unidos, eu me converti lá fora. Lá eu fazia parte da __.
Então eu, lá eu já comecei na __ e já tinha um grupo familiar e eu não tive assim outras
experiências nesse sentido. Antes eu frequentava a __, mas a ___, agora que eu vejo que
minha mãe é da ___que tem reuniões, de vez em quando vai um grupo lá em casa, as amigas
dela lá, um grupo da igreja. Mas acho que antigamente não tinha isso também na igreja __.

15p. Entrevistador: Como é que você percebe que o pequeno grupo influencia a
igreja? A igreja como um todo?
15r. Entrevistada: Influencia?

16p. Entrevistador: Que benefícios que o pequeno grupo traz pra igreja como um
todo?
16r. Entrevistada: Eu acho que bate muito nessa tecla da comunhão mesmo. É o exemplo
que dá pras outras pessoas. Tanto que muitas vezes falam, o pastor mesmo fala de púlpito,
no dia de culto, sobre os pequenos grupos. Que às vezes uma pessoa, alguém do pequeno
grupo que tá doente, então todo mundo ajuda, ou ora por aquela pessoa, coloca ela em
público, sempre tá batendo nessa tecla. O pequeno grupo é muito importante nisso. Pra
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você não se sentir abandonado, só. Porque o pastor só, não dá conta, é muita gente pra
tomar conta. Então eu acho que têm que ter esses pequenos grupos mesmo.

17p. Entrevistador: E você vê algum perigo pra igreja a existência do pequeno grupo?
17r. Entrevistada: Eu creio que não. Mas se as pessoas forem pessoas mesmo assim,
amadurecidas espiritualmente, eu creio que não tem não. Eu já vi muitos casos que as
pessoas que tem se exaltado e tem dali formar na própria casa, vou lá formar um grupo na
minha casa, formar uma nova igreja na minha casa. Eu já vi falar de vários casos assim.
Mas acho que aqui não, aqui na nossa igreja nunca não, mas a pessoa tem que ser madura
mesmo, porque nesse caso eu já vi que a pessoa tentou fazer isso, se disse que era líder. É
uma pessoa que não tá muito com sabedoria e no Espírito, sem muita sabedoria espiritual.

18p. Entrevistador: E como é que você vê a sua igreja hoje? Como é que você
caracteriza a sua igreja hoje? Se você fosse descrever a igreja, você descreveria a sua
igreja como?
18r. Entrevistada: A igreja tá precisando muito de crescer mais um pouquinho. Assim que
digo, espiritualmente. Pelo que eu tenho poucas experiências, como te falei, de igrejas, não
sou de frequentar várias igrejas assim, eu era membro da igreja lá. E aqui, eu cheguei aqui
e frequentei algumas igrejas pra eu me ambientar, porque nunca fui evangélica no Brasil.
Pra eu experimentar como é que é, conhecer as igrejas e a que me identifiquei mais foi aqui.
Que encontrei também muitas pessoas conhecidas, muitos amigos. Então eu gostei daqui.
Era parecido assim, o esquema assim.

19p. Entrevistador: O que você gostou mais da igreja?


19r. Entrevistada: Da, como é que fala, pera lá, do pastor assim, da pregação, do jeito dele
pregar, de conduzir, de como é que fala a Palavra, de como é ministrado o culto. Assim, e
as pessoas também, são muito receptivas. Foram comigo. Eu é que, a gente que tem que se
abrir. Eu cheguei à conclusão, lá também, no começo era assim também, eu ficava no meu
318

cantinho, depois ia embora. Ah!, Ninguém quer saber de mim. Mas não é isso, você tem
que procurar. A pessoa não vai adivinhar que você ta com problema. Que você, que ela
nem te conhece, você é nova ali. Eu acho que assim, você também tem que se abrir um
pouquinho, você tem que procurar. A pessoa, procurar se entrosar, se engajar mesmo, se
quer fazer parte, da comunidade, da igreja, você tem que procurar se envolver.

20p. Entrevistador: O que você usaria de argumento pra convencer uma pessoa que
não está no pequeno grupo pra ir pro pequeno grupo?
20r. Entrevistada: Isso é mais difícil. Já tentei de várias formas. Eu assim, eu sou meio
assim, meio tímida assim, mas eu convido: Vamos lá que é legal, que as pessoas são boas,
a gente conversa muito a gente ora, bate papo também. Não é só oração. A gente tem
confraternizações também, as festinhas, aniversário, jantar, a gente faz jantares, almoços
assim, entendeu? Não é só aquela coisa chata. Eu falo pra eles como é legal, a gente brinca,
a gente conversa. Não é só ficar estudando e orando o tempo todo.

21p. Entrevistador: E o pequeno grupo tem alguma preocupação com a sociedade de


um modo geral?
21r. Entrevistada: Tem. A gente também já foi muito proposto nisto também. O pastor
mesmo, propõe pra gente de pegar um dia e a gente combinar todo mundo vamos visitar
um hospital, alguma coisa, uma creche, um asilo, qualquer coisa assim, entendeu? As
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pessoas que puderem, que tiverem disponibilidade de tempo, de ir, marcar junto, a gente
vai visitar, e às vezes tem as ações sociais também, a gente participa, o grupo, quem pode
ir, tem tempo pra ir.

22p. Entrevistador: Que tipo de ação social que vocês desenvolvem aqui?
22r. Entrevistada: Tipo assim, da comunidade, Com a comunidade gente faz dia de, igual
como tem a ação social que o SESI faz? Ação global, faz um dia de brincadeira com a
comunidade. Aí corta cabelo, faz unha, quem tem esses dons, que se dispõe, faz unha e
várias coisas.

23p. Entrevistador: Você gostaria de falar alguma coisa a mais sobre o pequeno
grupo?
23r. Entrevistada: Eu sempre gostei muito, desde que fui criada no pequeno grupo
praticamente e eu gostava muito do pequeno grupo, gosto muito. Às vezes eu fico assim
“ai, não vou não, tá chato hoje, aquele assunto tá chato, daquele estudo, não tô com vontade
nenhuma de ir”, mas se tem que ir, tem que forçar e ir. Igual essa semana mesmo, não tava
com vontade nenhuma de vir aqui. Mas o dia que você tá que tiver hoje eu tô com vontade
de ficar quieta, mas você tá lá, tá ali ouvindo seu irmão, você tá, eles oram, a gente ora,
eles oram por você. Tem dia que você não tá legal, mas eles entendem você, eu gosto.

24p. Entrevistador: Em que o pequeno grupo contribuiu pra o seu relacionamento


com Deus, pro seu crescimento espiritual, pra sua formação como Cristã?
24r. Entrevistada: Contribuiu muito. O que eu vejo assim, o exemplo também das pessoas,
que tem o testemunho de vida dos outros. Então, eu me espelho muito no exemplo de vida
das outras pessoas também. Os meus amigos do pequeno grupo também

Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


319

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 22/10/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
70 anos Morada de Camburi IBMC 19

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos. Vamos começar ouvindo
a sua experiência. Qual a sua experiência com o pequeno grupo?
1r. Entrevistado: Olha! Eu gostei muito de quando, aliás, esse pequeno grupo começou
aqui em casa. Quando a gente morava aqui nessa rua. Então, foi muito bom. Começamos
reunindo ali, depois parece que ficou pequeno e nós passamos lá pra casa de ___ que é
naquela rua de lá. Então, o pequeno grupo, eu acho que tem uma influência muito grande
pra igreja. Eu acho que funciona, funcionando bem, com tudo que pede o pequeno grupo,
eu acho que é muito bom pra igreja e pra gente também.

2p. Entrevistador: Que tipo de benefício traz pra pessoa que participa e pra igreja
como um todo?
2r. Entrevistado: Você ganha conhecimento da Palavra, porque a gente tem um estudo
muito bom. Toda reunião tem um estudo bom e a, como se diz, a comunhão que a gente
passa a ter uma comunhão mais íntima com os irmãos, eu acho que é... O forte é isso aí.

3p. Entrevistador: Em que sentido que o pequeno grupo ajuda na comunhão?


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3r. Entrevistado: A comunhão, a gente fala muito os problemas que a gente tem, a gente
ouve os problemas também de outros. E tudo isso ajuda na, ora muito também, um pelo
outro e, eu acho que funciona muito bem.

4p. Entrevistador: Qual o impacto do pequeno grupo na igreja como um todo?


4r. Entrevistado: Na igreja. Eu acho que ele é muito benéfico pra igreja. Porque, ajuda. A
gente traz também visitantes pra cá, que ajuda na evangelização. E tem alguns aí que
começaram e se converteram aqui. A minha filha, minha filha mesmo foi uma que se
converteu aqui. Apesar de hoje ela não estar na igreja, mas ela se converteu aqui, ela tomou
a decisão dela aqui. Se batizou em outra igreja, mas ela começou aqui.

5p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o pequeno
grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
5r. Entrevistado: Olha! Eu acho que tá perdendo quem não tem. Eu acho que toda igreja
tinha que ter um pequeno grupo. Tem a célula que funciona quase no nível do pequeno
grupo. A célula é quase que um culto, um mini culto na casa de alguém 677. Então, o pequeno
grupo ele já é mais recheado de coisas que a gente precisa.

6p. Entrevistador: E o pequeno grupo representa algum tipo de risco de perigo pra
igreja?
6r. Entrevistado: Olha! Eu acho que não. Acho que é o contrário.

7p. Entrevistador: E qual é a participação que os membros do grupo têm no dia do


encontro?

677
Esta compreensão que o entrevistado tem da célula não confere com as entrevistas feitas na
PIBJC.
320

7r. Entrevistado: Olha! Nós temos a líder. Ela inicia orando, iniciamos cantando alguns
hinos bons e depois oramos. Aí ela começa a leitura e pergunta como que está cada um de
nós, como passou a semana e coisa, depois a gente vai entrando ali. Cada um fala assim,
qual foi, o que aconteceu durante a semana, como foi.

8p. Entrevistador: E qual é a preocupação do pequeno grupo com a sociedade de um


modo geral, com as pessoas que não fazem parte da igreja?
8r. Entrevistado: Olha! Aí a gente lamenta aqueles que às vezes não aceita ir pro pequeno
grupo, fica por aí. A gente lamenta isso daí, que é uma pena.

9p. Entrevistador: E os problemas que estão aí, na sociedade, que tipo de preocupação
o pequeno grupo tem com os problemas sociais que a gente vive aí, no contexto que a
igreja está inserida, que tipo de preocupação o pequeno grupo tem com essa
sociedade?
9r. Entrevistado: Olha! São muitos, porque na vida de hoje, nesse mundo de hoje a gente
para pra pensar, tá tudo muito difícil. A situação não é bonita.

10p. Entrevistador: O que o pequeno grupo tem feito pra mudar essa situação?
10r. Entrevistado: Olha! Eu acho que tem feito pouco. Eu acho que tem feito muito pouco.
Se reúne, se fala, mas eu acho que aí tem feito pouco.
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11p. Entrevistador: O que poderia fazer a mais do que faz?


11r. Entrevistado: Ah! Tem muita coisa. O campo é muito grande, eu acho que é muito
grande. Tem muito espaço aí pra ser preenchido. Coisas boas.

12p. Entrevistador: Que tipo de influência o pequeno grupo produz na igreja como
um todo?
12r. Entrevistado: Olha! É o que eu te falei, ajuda a evangelizar. É um lado.

13p. Entrevistador: E interfere na maneira da igreja funcionar como igreja, na


estrutura da igreja?
13r. Entrevistado: Eu acho que sim. Porque a igreja daquele que bolou esse sistema, que
foi chamado pra colocar esse sistema aqui, o Rick Warren, então ele, a igreja dele cresce
muito, é uma igreja muito forte. Lá onde começou. E as outras também que seguem, tem
um crescimento muito grande. E quando cresce em todos os setores: espiritualmente, em
quantidade também, eu acho que tudo é válido.

14p. Entrevistador: E traz alguma diferença na maneira da igreja funcionar como


igreja, a maneira do povo participar?
14r. Entrevistado: Traz... Eu acho que deixa a gente mais, como se diz, eu as vezes sou
ruim pra expressar. Deixa a gente mais ativo. É porque, você não altera, mais uma reunião
que você tem durante a semana, que você se lembra de ir, você fica mais ativo dentro da
nossa vida. A vida do evangélico.

15p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje? A sua igreja hoje
é como? Se você tivesse que descrever a igreja usando algumas palavras assim?
15r. Entrevistado: Olha! Eu, pelo que eu vivo aqui na igreja, eu acho que a nossa igreja
ela tem avançado bem. Tem avançado sim, porque como estávamos antes do pastor
321

________ vir, porque ele é que trouxe esse sistema pra nossa igreja, antes dele vir, a nossa
igreja era uma igreja muito apagada. Muito fraca. E ele avivou isso aí.

16p. Entrevistador: Então, é uma igreja avivada?


16r. Entrevistado: É. Hoje é.

17p. Entrevistador: E você acha que o pequeno grupo contribuiu pra isso?
17r. Entrevistado: Contribui sim.

18p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar com uma pessoa que não tá no
pequeno grupo pra ela ir pro pequeno grupo, qual é o argumento que você usaria?
18r. Entrevistado: Ah! Eu falo logo, assim, eu uso logo a minha expressão "Ó, você tá
perdendo hein!" Porque lá se fala muita coisa boa, você vai chegar em um ambiente em
que você vai se sentir muito bem nele. Eu falo isso "você tá perdendo".

19p. Entrevistador: Mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre o pequeno
grupo?
19r. Entrevistado: Eu acho que eu falei o que precisava.

20p. Entrevistador: Então tá bom. Muito obrigado.


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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 22/10/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
60 anos Morada de Camburi IBMC 20

1p. Entrevistador: Vamos conversar um pouco sobre pequenos grupos. Queria que
você falasse um pouco sobre a sua experiência com o pequeno grupo.
1r. Entrevistada: O pequeno grupo pra mim é maravilhoso. Pertencer a um pequeno grupo
é maravilhoso porque pra mim é uma pequena igreja. Às vezes a igreja tem muitas pessoas,
formada por muitos membros, você passa já a não conhecer todo mundo. Não ter amizade
com todo mundo. Nós somos um corpo e é necessário que a gente tenha pelo menos um
grupo pra contar as nossas experiências, as nossas alegrias, as nossas dores, sempre a gente
conta no pequeno grupo.

2p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre pequeno grupo e comunhão, entre
os membros?
2r. Entrevistada: O pequeno grupo ele é, realmente vive uma comunhão. Porque tem a
comunhão espiritual, no pequeno grupo. Quando a gente ora junto, a gente canta, a gente
estuda a Bíblia ou estuda outros, outras coisas. E tem a comunhão fraternal, onde a gente
conta as nossas coisas, a gente participa das festas, dos aniversários e aquilo que as pessoas
têm pra colocar pra nós. A gente participa.

3p. Entrevistador: Qual é o vínculo que se cria ou a preocupação que se tem um com
o outro ao longo da semana, fora os encontros?
3r. Entrevistada: A gente, atualmente, com essa tecnologia aí do WathsApp, a gente se
comunica muito pelo Facebook, pelo WathsApp, telefone, se encontra também, pelo menos
os que moram perto. Porque cada região tem um pequeno grupo. E o nosso pequeno grupo
322

é aqui perto, todo mundo mora por aqui. Se tem uma pessoa doente a gente já tá lá. Alguém
já liga e a gente já está orando, já está acompanhando aquela pessoa em tudo. Tudo que
precisar.

4p. Entrevistador: O pequeno grupo tem alguma preocupação com a sociedade de


modo geral? Desenvolve alguma ação visando a transformação da sociedade?
4r. Entrevistada: Existe à medida que a igreja participa disso. Nós teremos a Morada
Ação, Ação Morada. Esses dias a gente, acho que é dia três de novembro, a gente, treze,
não me lembro mais o dia, a gente vai ter a Ação Morada, que é quando todos, as pessoas
que tem um, uma certa formação participa utilizando a sua formação. Na medicina, na parte
da saúde, jurídica e até mesmo professoras. Se precisar de, a gente vai ter agora um, estamos
querendo fundar na igreja, na igrejinha velha, aulas de reforço escolar, que a gente vai
participar e outras professoras aí, e os médicos que tem na igreja, terapeutas, vão fazer, vão
participar dando consultas de graça. Passando receitas, fazendo um trabalho de ação na
comunidade. Nós já fizemos algumas vezes. Outra vez a gente já fez um trabalho de ação
no bairro de pintar as casas. Aquelas casinhas que estavam bem ruinzinhas, a gente
consertou. Juntamos em mutirão, fomos pintar as casas, fazer paredes de novo, arrumar, Só
aquelas mais, as pessoas mais pobres, geralmente elas não são da igreja, geralmente são de
fora. E a gente tem um trabalho também, a gente participa com as “camaris” ali, os
recolhedores de lixo, eles tem um culto aqui uma vez por mês. Eles não são membros, mas
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eles gostam muito. A gente faz festas de Natal pra eles, cestas básicas, trabalhos assim,
social. E todos os pequenos grupos participam.

5p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o pequeno
grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
5r. Entrevistado: Os pequenos grupos eles ajudam muito a igreja, porque é uma maneira
da gente se relacionar. Os relacionamentos mais fortes e as igrejas que geralmente não tem
nada elas vão criar. Às vezes elas têm um crescimento bom, mas as pessoas não se
conhecem. Às vezes até um chama o outro de antipático, fulano passa por mim na rua nunca
me viu. Mas é porque, justamente por isso, porque geralmente não conhece mesmo. Porque,
aqui na igreja é um, é um entra e sai danado, eu não conheço todo mundo. Quando eu
começo a conhecer, entra muita gente nova. Sai de outras igrejas vem, fica uns dois três
meses e vai embora, vai embora pra outra igreja, vem outros. Então, tem sempre pessoas
desconhecidas. E o pequeno grupo é bom por isso, porque é aonde a gente pode se
relacionar melhor, conhecer melhor as pessoas. Eu acho, eu só acho assim, que os pequenos
grupos deveriam ser rodízio. Tem aquele, mas ele vai se dividindo. O nosso já vai se dividir,
porque já passa de vinte pessoas e é muito. E se fosse rodízio, eu pertenceria ao pequeno
grupo e pra eu conhecer outras pessoas, trocar de grupo. Essa é uma ideia minha só.
Ninguém pensa assim. Mas assim, a gente fazia um rodízio de pequenos grupos, você vai
pra aquele grupo lá, porque aí você conhece. Tem pequeno grupo aí que eu não conheço as
pessoas. Eu vejo ele na igreja domingo, mas eu não conheço ele.

6p. Entrevistador: Você acha que o pequeno grupo traz algum perigo, algum risco
pra igreja?
6r. Entrevistada: Até hoje não trouxe não. Mas eu penso que às vezes, se as pessoas não
forem bem orientadas, porque na igreja o pastor fala, orienta, e a gente fala no pequeno
grupo também. O pastor geralmente, de vez em quando faz um seminário aqui, pra quem
está nos pequenos grupos o que que é, como que deve agir, como que deve comportar-se.
323

Porque às vezes existe fofoca, muita fofoca de uma pessoa na igreja e aquilo espalha de
uma maneira caluniosa. Aí vira calúnia, vira coisa assim. Então esse tipo de coisa pode
prejudicar a igreja. No sermão o pastor costuma falar que às vezes acaba com uma igreja
uma pessoa que fica ali fazendo tudo, criticando tudo, não conta nada, não participa e outras
vezes não é verdade e as pessoas, ela conta alguma coisa no pequeno grupo que não é
entendido e aquilo vira calúnia, vira fofoca, atrapalha. Só nesses casos assim, eu acho que
pode prejudicar quando não existe uma, uma orientação certa.

7p. Entrevistador: E como o pequeno grupo influencia na maneira da igreja funcionar


como igreja?
7r. Entrevistada: A gente já, o nosso pequeno grupo, é através do evangelismo. Faz
crescer e funcionar a igreja, porque à medida que as pessoas vão contando as coisas, vão
falando, elas vão falando as decepções que elas tem com a igreja ou não, ali a gente fala
que igreja não quer dizer que ela é perfeita. Que existe o joio. Ela é uma coisa que foi
fundada por Jesus Cristo, vai até o fim. Mas ela é cheia de pessoas, de pecadores, cheias de
pessoas fracas, pecadores. Então a gente vai ensinando o que é a igreja pra pessoas que vão
chegando. E às vezes a gente tem visitantes no pequeno grupo. Nós já tivemos acho que
dezoito ou dez pessoas já se batizaram através do nosso pequeno grupo, que a gente
evangelizou.
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8p. Entrevistador: E o pequeno grupo mexe com a estrutura da igreja? A


configuração da igreja?
8r. Entrevistada: O pequeno grupo? Como assim?

9p. Entrevistador: A estrutura funcional da igreja.


9r. Entrevistada: O pequeno grupo? Eu acho que mexe. Porque todos os membros do
pequeno grupo trabalham numa ação na igreja. Ninguém fica parado. Todo mundo participa
de alguma coisa. Exemplo, eu participo do conselho fiscal da igreja. O outro já participa de
uma liderança de pequenos. Estudando pra ser líder de um pequeno grupo. Outro já é
membro de outro conselho, do staf. Outro já participa de outras coisas. Então acho que
forma uma, ajuda formar uma estrutura. Acho que ajuda formar uma estrutura.

10p. Entrevistador: E nessa estrutura você vê que os membros tem espaço pra
participar?
10r. Entrevistada: Os membros tem espaço pra participar sim. E, às vezes, essas pessoas
até são convidadas a participar de um certo movimento na igreja “nossa me chamaram, não
me chamaram e agora eu sei o que fazer” e tal, então aí o pequeno grupo orienta.

11p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


11r. Entrevistada: Eu, quando a minha igreja começou a linha com propósitos, eu falei
assim “eu não vou ficar aqui não”. Eu quero a minha Igreja Batista, que eu tô sentindo falta.
Se for pra mudar a estrutura, até falei, da igreja, se for pra mudar pra sair muito do, não
gosto assim, de ficar muito naquela coisa que era também, mas eu também não gosto de,
não quero ir pra outro lado. Aí eu falei, eu vou pra outra igreja. Eu não vou ficar aqui não.
Mas aí eu vi que não era isso. Ela está assim, ela não é muito, na nossa igreja entra muito
pentecostal. Vem, volta pra cá. Volta pra cá achando que é uma nova igreja. Eles, parece
que eles vivem mais andando do que os Batistas. Os Batistas mesmo não vem pra cá. Eles,
aqui entra famílias inteiras de pentecostais. Aí fica...“Ah! Mas aqui não fala língua não”?
324

“Não, não fala não”. Fala quem quiser, aí, a gente não precisa falar língua, pra que falar
língua? Então, mas aí fica. Mas aí vai compreendendo as coisas melhor e não sai. Muita
gente aqui, já não sai mais e vão aprendendo. Eu noto que eles vão aprendendo a ser
Batistas. Não sei se Batista tá certo, tão certo assim, mas eu penso assim, tá mais
equilibrado, mais equilibrado. Eu, eu assim...

12p. Entrevistador: Se você fosse usar adjetivos, você usaria: a igreja é uma igreja...
12r. Entrevistada: Mista. Ela é mista. Como diz o pastor, ela esta no meio do caminho.
Ela não é nem é pentecostal e nem é tradicional. Assim, porque, tem muita coisa da igreja
tradicional, que a gente chama de tradicional que a gente não tem aqui mais, que é o...
Como é que chama? Fugiu da minha cabeça agora. Os... Aquelas pessoas que lidera na
igreja? O... Depois do pastor, os, fugiu o nome!

13p. Entrevistador: Os diáconos.


13r. Entrevistada: Diáconos. Diaconato. Nós não temos diaconato. Aí eu já, eu já
conversei sobre isto no pequeno grupo. A gente coloca as dúvidas. Ah! Por que não tem
diáconos, não é bíblico, não é bíblico isso? Mas é porque todos nós somos diáconos.
Considerados ministros de Deus. Deus é, todos nós somos ministros, somos diáconos. Foi
uma boa explicação pra mim, parei aí. Talvez devesse pesquisar mais, mas eu parei aí.
Então, nós não temos aquelas sessões de igreja também. Todo domingo, todo mês.
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14p. Entrevistador: E como é que as decisões são tomadas?


14r. Entrevistada: As decisões são tomadas numa assembleia geral, uma vez por ano. Ali
indica todo mundo que vai trabalhar e pronto. Só se tiver algum caso urgente pra tratar.

15p. Entrevistador: E tem algum conselho?


15r. Entrevistada: Tem o conselho da igreja, que trata de todos os assuntos.

16p. Entrevistador: Que é escolhido pela assembleia?


16r. Entrevistada: Ah sim. Na assembleia. O staf da igreja. Tem o conselho fiscal todo
escolhido pela igreja.

17p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre o pequeno grupo?
17r. Entrevistada: Eu gosto muito do pequeno grupo. Às vezes, porque a gente não estuda,
assim, uma coisa só. Atualmente, eu até trouxe, a gente tá estudando isso aqui. Esse livro
todo, você já leu. (A entrevistada mostra um exemplar do livro “Uma Vida com Propósito,
de Rick Waren) A gente tá estudando cada capítulo no pequeno grupo. E é muito bom,
porque aí tem o sentido de igreja, de comunhão, de comunidade, de crescimento de fé,
crescimento de provação, tentação, tudo isso. Eu acho muito acessível esse livro, muito
bom. Todo mundo gosta.

18p. Entrevistador: Se você tivesse que usar um argumento pra convencer alguém pra
ir pro pequeno grupo, qual o argumento que você usaria?
18r. Entrevistada. Ah! Eu trouxe, eu já trouxe pessoas pra cá, eu falei assim “vamos pro
nosso pequeno grupo. Ah, lá é legal, a gente estuda muita coisa, a gente aprende muita
coisa, a gente conversa, não é só estudo da Bíblia, também tem o estudo da Bíblia, a gente
conversa muito, a gente faz festinha, a gente...” eu vou assim, mais como amizade. Depois
que eu faço amizade, aí eu trago, a gente traz pra cá, mas você, você não frequenta, mas eu
325

não vou à igreja, mas você não precisa frequentar a igreja não pra frequentar o pequeno
grupo. Você pode ser do nosso pequeno grupo, você vai ser muito bem recebido e tal, aí a
gente traz, depois de um tempo, a pessoa não aguenta, ela tem que vir pra igreja. E aí a
gente já conseguiu evangelizar muita gente, muita gente mesmo, no pequeno grupo. Pelo
menos o nosso, os outros eu nãosei. Também falam a mesma coisa. Tem uns que acabam.
Começa a ir, começa briga e acaba o pequeno grupo. Porque é no pequeno grupo que a
gente vai se conhecer, quem somos. A gente vai colocar quem somos mesmo. Quem são as
pessoas, como é que elas têm que ser tratadas. A gente é obrigada a perdoar. Na hora de
perdoar as pessoas tem dificuldade. Na hora de, quando uma pessoa tá falando do outro.
Não, você não tem que falar de ninguém não. Você tem que falar do problema. E a gente
tem que orar por essa pessoa. Aí a gente coloca ela no meio e ora. Outros choram, choram,
conta o que tá passando e a gente ajuda. Então assim, tem sido assim. Mas também tem
pequeno grupo que acaba. Aí rola fofoca, rola. As pessoas vão ficando com raiva uma da
outra e acaba aquele grupo. E numa daquelas, o líder já vai ter que arrumar outro pequeno
grupo. O nosso já vai dividir, já dividiu três vezes o nosso. Começou na minha casa, depois
foi pra casa da ____, depois foi pra casa de outro, já passaram quatro ou cinco casa e ai
veio pra aqui. Ficou sem casa. Agora tá sem casa de novo, porque tá muito grande, aí eu
falei “ó lá em casa não cabe todo mundo, mas aí vai dividir, vai participar de outro e o
grupo vai lá pra casa e quer que eu lidere. Eu ainda não sei se eu quero liderar. Se eu posso,
se eu tenho capacidade pra liderar. Às vezes eu acho que eu não tenho. Eu gosto de ser
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liderada, porque eu gosto de aprender, mas se não tiver ninguém pra liderar, eu vou ter que
receber lá em casa. Lá em casa é muito pequenininho. A gente comprou um apartamento,
mas é assim, é um ovinho.

19p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


326

Anexo B
Pequenos Grupos no Ministério Igreja em Células -
Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi

FUNÇÃO: Líder de célula SEXO: Feminino DATA: 10/10/2013


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
71 anos Jardim Camburi PIBJC 01

1p. Entrevistador: Quanto tempo a senhora é membro aqui na igreja?


1r. Entrevistada: Eu cheguei pra igreja há mais ou menos dezessete, dezoito anos, eu sou
membro ha mais ou menos também quinze a dezesseis anos, eu me batizei aqui. Me
converti e me batizei aqui na igreja de Jardim Camburi.

2p. Entrevistador: O que atraiu você pra vir pra essa igreja?
2r. Entrevistada: Na realidade, eu acho que foi mais uma obra de Deus mesmo na minha
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vida, porque já tinha vindo de São Paulo com meu marido e ele era evangélico também,
mas estava afastado e quando nós chegamos pra morar em Jardim Camburi, ele encontrou
uma pessoa aqui da igreja que o convidou pra vir, então assim não foi uma escolha nossa,
nós fomos escolhidos para vir pra cá. A gente morava aqui perto.

3p. Entrevistador: E quanto tempo faz que a igreja adotou o sistema de células?
3r. Entrevistada: Dois mil e um. Doze anos.

4p.Entrevistador: Doze anos?


4r. Entrevistada: Creio que é isso mesmo, doze anos. Provavelmente dois mil, dois mil e
um.

5p. Entrevistador: Sim


5r. Entrevistada: Eu já era convertida, já estava, já tinha sido batizada.

6p. Entrevistador: Quanto tempo mais ou menos, que a senhora já estava na igreja?
6r. Entrevistada: Há uns cinco anos mais ou menos.

7p. Entrevistador: Uns Cinco anos?


7r. Entrevistada: Quatro a cinco anos, eu não sou muito boa em data não, sabe?

8p. Entrevistador: Não tem problema não.


8r. Entrevistada: Riso

9p. Entrevistador: Que tipo de mudanças a senhora percebeu a partir do momento


da implantação dos pequenos grupos?
9r. Entrevistada: Eu acho que houve assim uma abertura, uma leveza na igreja, porque
parece que as pessoas ficaram mais alegres, mais felizes, houve uma maior comunicação
327

entre as pessoas, um relacionamento maior, na realidade isso mesmo, a igreja ficou uma
igreja muito mais leve.

10p. Entrevistador: Uma igreja mais leve?


10r. Entrevistada: É mais leve!

11p. Entrevistador: E com relação à comunhão. Fez alguma diferença?


11r. Entrevistada: Ah sim! Eu acho que essa leveza, essa questão de comunhão mesmo,
eu acho que houve uma comunhão muito grande e eu vejo isso até na minha vida, houve
um relacionamento muito grande, principalmente neste inicio, eu acho que neste inicio que
as pessoas foram entendendo o que era célula, o que era relacionamento, relacionamento
entre as pessoas, relacionamento com Deus, isso ai foi aproximando e houve uma
comunhão muito mais forte.

12p. Entrevistador: Com relação à implantação dos pequenos grupos, da célula, como
a igreja sentiu essa necessidade?
12r. Entrevistada: Eu vejo que a igreja sentiu essa necessidade porque a igreja estava
aquela igreja de, como que fala, tá faltando o termo, de programa, era uma igreja de
programa 678.
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13p. Entrevistador: E como é que era isso?


13r. Entrevistada: É que as pessoas vinham. Tinham outras atividades, mas as pessoas se
encontravam e não se relacionavam muito fora daquilo que a igreja promovia. E eu acho
que o pastor sentiu essa necessidade, de ter alguma coisa, eu acho não tenho certeza, que
ele sentiu essa necessidade de fazer alguma coisa pra a igreja, pra que a igreja fosse uma
igreja mais relacional, de mais comunhão. Por que era aquilo, as pessoas vinham,
participavam, participavam de um culto, participavam de um programa e iam pra casa, não
se relacionavam realmente.

14p. Entrevistador: E você acha que isso trouxe resultado neste sentido?
14r. Entrevistada: Eu acho pelo menos na minha experiência eu acho!

15p. Entrevistador: O que mudou na igreja a partir das células?


15r. Entrevistada: Eu acho que é isso, ela se tornou uma igreja mais viva, mais vibrante,
uma igreja que, uma igreja mais voltada mais pra Deus mesmo, que as pessoas começaram
se transformar, eu acho que houve até mais, mais focadas em Deus realmente.

16p. Entrevistador: Mais focadas em Deus?


16r. Entrevistada: Um cristianismo mais autêntico.

17p. Entrevistador: Mais autêntico?


17r. Entrevistada: Eu vejo muito isso.

18p. Entrevistador: Em termos de estrutura da igreja, mudou alguma coisa?

678
N.E. São consideradas Igrejas de Programa as Igrejas Batistas históricas tradicionais, estruturadas
em departamentos ou ministérios, que enfatizam os programas, eventos ao invés em detrimento de
outros aspectos como relacionamentos, comunhão, etc.
328

18r. Entrevistada: Como assim? Eu não...

19p. Entrevistador: Estrutura de funcionamento da igreja?


19r. Entrevistada: Mudou, agora...

20p. Entrevistador: Assim. Houve mais participação dos membros da igreja, na


própria igreja, como é?
20r. Entrevistada: Eu acho que sim, embora ainda tenha muitos membros que não
servem, não participam tanto, mais eu acho que houve sim, uma maior participação.

21p. Entrevistador: Em termos de decisões que são tomadas, os membros tem uma
participação?
21r. Entrevistada: Tem participação. Inclusive como supervisores de células. Os
supervisores têm uma participação maior, eles são mais chamados a opinar, os líderes, eu
vejo que isso. Houve uma mudança.

22p. Entrevistador: E como é que são os encontros das células?


22r. Entrevistada: Em que sentido assim?

23p. Entrevistador: Eles acontecem semanalmente?


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23r. Entrevistada: Ah tá! Eles acontecem semanalmente. Existe uma ordem que é seguida
mais ou menos e se promove também sociais. As pessoas se encontram muito mais porque
se visitam se conhecem mais, então não ficam também ligadas só naquela questão ali de
encontrar na igreja no domingo, na célula no dia da semana, as pessoas estão se encontrando
mais, estão se comunicando, vivendo mais em conjunto.

24p. Entrevistador: E os encontros regulares da célula, como é que funcionam, qual é


a dinâmica de um encontro?
24r. Entrevistada: Dinâmica de encontro. A dinâmica de encontro começa por um período
de adoração... Depois vem o período do evangelismo, em que se trabalha a questão dos
oikós679. A gente chama de oikós as pessoas que ainda não conhecem a Jesus, se trabalha
se ora, normalmente trazemos nomes das pessoas que a gente tá contatando, que agente tá
querendo, conversa-se sobre eles, ora sobre eles. Depois vem o período da edificação, que
é a aplicação da Palavra que é dita no domingo à noite.

25p. Entrevistador: No culto?


25r. Entrevistada: No culto. Então vem a carta do pastor e com essa dinâmica da
edificação, as perguntas são direcionadas à nossa vida, vida de cada um. E depois
normalmente a gente faz um lanchezinho, que é aquele período que a gente chama de
engorda, brincando, por que é o período que as pessoas ali então, têm aquela, uma
comunhão diferente, é assim já mais livre, então se conversa e toma um lanchinho, mais ou
menos isso.

26p. Entrevistador: E tem um líder? Como é que é?

679
N.E. São consideradas oikós as pessoas que fazem parte do círculo de relacionamentos dos
membros da igreja e que, no entendimento dos mesmos, ainda não são genuinamente convertidas a
Jesus Cristo. São alvos da evangelização dos membros da célula.
329

26r. Entrevistada: Tem um líder e esse líder, na realidade, ele é um facilitador. E esse
líder ele deve treinar uma pessoa, futuramente quando a célula se multiplica esse auxiliar
já tá treinado, já tá apto a assumir a direção da célula.

27p. Entrevistador : Você disse que ele é um facilitador, então significa que os demais
membros da célula também participam?
27r. Entrevistada: Sim! Participam! E o ideal é esse, que todos participem.

28p. Entrevistador: E que tipo de participação que os demais membros da célula têm?
28r. Entrevistada: Eu acho que essa questão é assim: No grupo não é aquela liderança,
uma liderança imposta, aquela liderança que só o líder é que fala que decide as outras
pessoas também elas tem o direito de decidir, de falar, de opinar.

29p. Entrevistador: E há, dentro do encontro da célula, um espaço para que as pessoas
compartilhem suas próprias experiências?
29r. Entrevistada: Sim, esse período da edificação é próprio pra isso.

30p. Entrevistador: Próprio pra isso!


30r. Entrevistada: Através destas perguntas que são aplicadas, as pessoas têm, podem,
elas tem toda condição de, como que fala, de dizer das próprias experiências.
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31p. Entrevistador: Das próprias experiências!


31r. Entrevistada: Das próprias experiências. É interessante que as pessoas que vem, que
ainda não são cristãs, que vem para célula, elas tem muito mais, elas falam muito mais e é
muito bom a gente ver isso, porque elas são mais abertas, eu percebo isso nas células que
eu já...
32p. Entrevistador: Certo!
32r. Entrevistada: Elas têm muito mais necessidade de falar e até de trazer mais pessoas,
porque tá sendo, elas tem uma experiência tão boa que elas querem também trazer outras
pessoas.

33p. Entrevistador: E entre os encontros, entre um encontro e outro, por exemplo,


que tipo de relacionamento que há entre os membros do grupo? Entre um encontro e
outro?
33r. Entrevistada: Você diz entre um encontro e outro da célula?

34p. Entrevistador: É!
34r. Entrevistada: Há sim, se comunicam através de telefonemas, muitas pessoas se
encontram também pra fazer uma, sei lá, ir ao shopping, fazer uma compra, faze um lanche,
então existe muito esse tipo de relacionamento entre os encontros.

35p. Entrevistador: E há algum tipo de preocupação, por exemplo, quando algum dos
membros da célula está passando por alguma situação diferente, ou de celebração ou
de dificuldade, há também esse tipo de preocupação?
35r. Entrevistada: Sim há isso aí diz muito respeito ao líder, de ele saber tudo que está
acontecendo, passar pra célula. Existem muitas situações em que a célula ajuda assim
pessoas de uma maneira muito grande mesmo. Sabe?
330

36p. Entrevistador: Ajuda em que sentido?


36r. Entrevistada: Por exemplo, se uma pessoa, se a gente sabe que uma pessoa tá
passando por uma, por exemplo, eu tenho hoje em minha célula uma pessoa que esta
desempregada, tá passando por um momento muito difícil financeiro, e a célula tem se
mobilizado pra ajudar essa pessoa, isso não acontece só na minha célula não, acontece em
várias células. Então, existe essa preocupação de cuidar da pessoa neste sentido até que ela
volte. Pessoas doentes, visitas, orações pela pessoa, ou familiares das pessoas, no caso das
celebrações, também a célula participa muito ativamente. Então eu vejo assim que a célula
realmente ela atua muito na vida das pessoas.

37p. Entrevistador: Ok! E como os grupos são organizados? Como as células são
organizadas? Que critérios são usados para iniciar um grupo?
37r. Entrevistada: É através da multiplicação. Porque na realidade aqui na igreja começou
com cinco células protótipo, quando estava ainda começando a implantar o sistema de
células. Foi feito um trabalho com quarenta pessoas, eu fiz parte, meu marido hoje é
falecido, mas ele também fez parte e depois todo mundo tava aprendendo o que era ser
célula.

38p. Entrevistador: E neste período, que tipo de, que critérios foram usados, por
exemplo, para saber quem vai ficar em que grupo?
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38r. Entrevistada: No inicio foi o pastor Juarez que realmente definiu, porque não se
conheciam muito, as pessoas não se conheciam muito bem e ele então, foi ele que usou
esse critério de dividir, foram oito células. Ele então escolheu os líderes, segundo a
avaliação dele, das pessoas que a gente já conhecia, agora a partir daí não, os lideres já
foram treinados também pra observar e levantar líderes. Então hoje é o líder que levanta
outro líder e a célula se multiplica, e que na realidade, a multiplicação é de líderes, e não é
da célula em si, pois se não tem líder a célula não se multiplica.

39p. Entrevistador: Não multiplica?


39r. Entrevistada: Isso!

40p. Entrevistador: E no caso, leva-se de alguma forma em consideração a localização


das pessoas? Como é que é isso?
40r. Entrevistada: Hoje, como tá crescendo mais a igreja já se estão pensando nisso, mas
até então não. Até pouco tempo não, porque as pessoas vinham, eram convidadas, vinham,
mas hoje já esta pensando, por exemplo, tem uma célula que funciona fixa no Bairro de
Fátima680, então normalmente se encaminha quem é de Bairro de Fátima, quem é ali
daquelas imediações, são mais encaminhados praquele lado, tem célula que funciona lá em,
eu acho que em Laranjeiras681, então é assim, hoje já tá começando a fazer isso, de acordo
mais com o local... E o ideal é esse mesmo, de acordo com a localização, para que as
pessoas não tenham que transitar muito.

41p. Entrevistador: Em relação à idade das pessoas que participam, também têm, as
células tem diferentes idades, são idades específicas, como é que são?

680
Bairro de Fátima é um bairro vizinho a Jardim Camburi, mas já no município da Serra, que
pertence à Grande Vitória.
681
Laranjeiras é um bairro que está localizado um pouco mais distante de Jardim Camburi, cerca
de 5 quilômetros, também no município da Serra.
331

41r. Entrevistada: Algumas células ainda estão assim, bem misturadas, mas a tendência
também já é essa, fazer células mais específicas. Então já tem célula de jovens, células de
pessoas mais maduras. Então hoje já está se partindo também pra isso.

42p. Entrevistador: Mas não há nada que impeça, por exemplo, de uma célula ter
pessoas das mais diferentes idades.
42p. Entrevistada: Não!

43p. Entrevistador: Ok.


43r. Entrevistada: Minha célula, por exemplo, tem uma senhora de setenta anos e um
menino, uma criança de dois anos, não impede. Mas já existe assim, uma tendência de se
aglomerar mais ou menos de acordo com a faixa etária, célula de casais, já existem células
de casais.

44p. Entrevistador: E qual tipo de, assim, qual o risco? Tem algum risco? A senhora
vê algum perigo nos grupos? Assim, algum perigo para a igreja? Algum perigo ou
não?
44r. Entrevistada: Nestes, nas células?

45p. Entrevistador: É!
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45r. Entrevistada: Francamente não!

46p. Entrevistador: Não?


46r. Entrevistada: Não vejo não.

47p. Entrevistador: E no caso, a questão de tempo que funciona o grupo, tem um


tempo limitado? Assim, quantos meses que o grupo vai funcionar?
47r. Entrevistada: Existe. O ideal é que a célula se multiplique depois de um ano.

48p. Entrevistador: Em um ano?


48r. Entrevistada: Esse é o ideal, mas algumas células se multiplicam, outras não.

49p. Entrevistador: E quando elas se multiplicam, quais são os critérios para saber
quem vai pra um lado e quem vai pro outro?
49r. Entrevistada: É muito questão de relacionamento, porque é isso que o líder tem que
observar. Ele tem que observar a questão de quem discipula quem, pra não dividir essas
pessoas, as pessoas que se relacionam melhor, tem também o critério de você não vai
mandar pra uma célula que está se formando, fazer uma célula só com pessoas novas na
igreja, que são convertidas há pouco tempo. Então, tem que haver assim também uma
mistura de pessoas mais maduras com pessoas menos maduras. É mais ou menos assim que
deveria ser para essa multiplicação.

50p. Entrevistador: Que tipo de mudanças a célula trouxe pra você? Na sua vida, na
sua família, no seu cotidiano?
50r. Entrevistada: Na minha vida foi uma maravilha, porque é essa questão do
relacionamento. Eu era uma pessoa extremamente fechada. Julgava muito as pessoas,
mesmo quando eu vim pra igreja, vim julgando, custei a vir, dei muito trabalho pra vir e a
célula pra mim, assim, foi uma mudança total. Hoje eu sou uma pessoa que me relaciono
332

com qualquer pessoa. Eu tenho um relacionamento enorme na igreja. Essa foi a principal
mudança que houve na minha vida, foi a questão do relacionamento.

51p. Entrevistador: E em termos de igreja assim, que tipo de mudanças a senhora vê


na igreja?
51r. Entrevistada: Eu vejo que é uma igreja mais relacional, porque tem mais comunhão.

52p. Entrevistador: E com relação à participação das pessoas que estão em células na
igreja de um modo geral, nas celebrações, nos cultos, houve algum tipo de mudança
também?
52r. Entrevistada: Houve, eu acho que poderia haver muito mais... Eu acho que a igreja
ainda tem que fazer com que as células sejam mais visíveis, que elas atuem mais. Já houve
uma mudança muito boa, mas eu, na minha visão, tem que haver um aprofundamento nesta
mudança.

53p. Entrevistador: Ainda tem que haver...


53r. Entrevistada: Ainda tem que mudar muito em relação a atuação das células na igreja.

54p. Entrevistador: E o que você acha que deveria ser feito, para que acontecesse essa,
que deveria ser feito para que acontecesse essa mudança?
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54r. Entrevistada: Eu acho que isso é uma visão dos pastores, não to criticando não, mas
eu acho que deveria, porque tem que partir de cima. Então por isso que eu falo tem, eu
sempre bati muito isso, a questão da visibilidade das células aqui na igreja, com os próprios
pastores mesmo. Então eu acho assim que essa visibilidade de células depende muito da
mudança que vem de cima.

55p. Entrevistador: Tem algum momento ou alguma oportunidade para que as


células se relacionem entre si, entre as células?
55r. Entrevistada: Tem.

56p. Entrevistador: Não se corre o risco de as pessoas que estão em uma célula, por
exemplo, ficarem fechadas naquele grupo em detrimento dos demais membros da
igreja?
56r. Entrevistada: Sim, corre esse risco sim, agora eu, na minha visão, eu acho que o
supervisor, ele é muito responsável por isso, porque o supervisor, ele pode fazer isso. Esse
entrosamento entre as células da supervisão dele, mesmo com outras supervisões. Agora,
existe também trabalho que às vezes, vão fazer, tipo, fazer um trabalho numa Igreja, numa
Congregação e que se leva células também, mais células e aí então, é visitas a hospitais,
existe esse trabalho.

57p. Entrevistador: Aí vão pessoas de várias células?


57r. Entrevistada: De várias células e dentro da própria supervisão também se pode fazer
isso, para que as nossas células e a supervisão se conheçam mais.

58p. Entrevistador: As pessoas que participam das células, elas são incentivadas a
participar de outras atividades da igreja como?
333

58r. Entrevistada: É normalmente, por exemplo, tem a casa do julgamento. A igreja pede
a contribuição. Eu vejo assim, que o líder de célula também, ele é muito responsável para
incentivar as pessoas pra participar das atividades da igreja.

59p. Entrevistador: O que é Casa de Julgamento?


59r. Entrevistada: A Casa do Julgamento é uma peça em que, aqui na igreja a gente
apresenta duas vezes no ano682, ou seja, uma viagem ao seu destino final, e a cada ano que
tem, a cada dois anos, se muda um pouco a história, mas a história é a mesma, é uma peça
interativa, que leva justamente a pensar no nosso destino.

60p. Entrevistador: Então é um teatro?


60r. Entrevistada: É um teatro, é...

61p. Entrevistador: Com uma mensagem?


61r. Entrevistada: Com uma mensagem que nos faz pensar sobre o nosso destino final.
Então eu citei a Casa do Julgamento entre outras coisas que a igreja pede a participação
dos membros. Hoje eu vejo assim que, principalmente quem esta em célula, porque a gente
tem uma comunicação muito grande com as pessoas da célula, quer dizer se o pastor pede
alguma coisa, não existe aquela, se pede na célula, cada pastor de rede, pode passar aquela
mensagem para o supervisor, os supervisores passam pros lideres de células. Então é muito
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mais fácil movimentar essas pessoas e trazer essas pessoas, é o que normalmente acontece,
quando existe a necessidade de se trazer pessoas para cá, para trabalhar. Agora, ainda
existem muitas pessoas que são acomodadas, que não se mexem.

62p. Entrevistador: Então existe uma rede de relacionamentos entre as células?


62r. Entrevistada: Sim.

63p. Entrevistador: Normalmente, se utiliza qual meio de comunicação?


63r. Entrevistada: É muito por email.

64p. Entrevistador: E-mail?


64r. Entrevistada: Telefone...

65p. Entrevistador: Telefone? Celular?


65r. Entrevistada: Às vezes até no facebook também já está sendo bem usado.

66p. Entrevistador: Você acha que vale a pena então que a igreja tenha os pequenos
grupos?
66r. Entrevistada: Nossa! E como vale! Vale sim!

68p. Entrevistador: Se você pudesse sugerir pra outra igreja que não tenha o pequeno
grupo, a senhora sugeriria que essa igreja implantasse?
68r. Entrevistada: Sim, com certeza. Com certeza. Eu assim, eu não me imagino
congregando em uma igreja que não tenha células, que não tenha pequenos grupos.

682
N.E. Na verdade a entrevistada equivocou-se. Na realidade a Igreja realiza esta programação
uma vez a cada dois anos e não duas vezes ao ano como ela disse.
334

69p. Entrevistador: Então fez muito bem pra você?


69r. Entrevistada: Fez muito bem, muito bem mesmo.

70p. Entrevistador: Ok, muito obrigado.


70r. Entrevistada: Obrigado.

FUNÇÃO: Supervisor/Líder SEXO: Masculino DATA: 11/10/2013


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
55 anos Jardim Camburi PIBJC 02

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro aqui desta igreja?
1r. Entrevistado: Desta igreja dezessete anos.

2p. Entrevistador: De Jardim Camburi?


2r. Entrevistado: Dezessete anos

3p. Entrevistador: O que trouxe você a fazer parte desta igreja?


3r. Entrevistado: Eu fui membro antes da Igreja Batista de ______ e neste tempo eu estava
morando aqui no bairro, tinha três anos que eu tinha casado, tinha um filho já. Aliás, cinco
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anos de casado e um filho de três anos e neste tempo meu sogro era pastor lá. Ele disse:
servir a igreja é você morar próximo, no bairro que você mora, é importante que você esteja
servindo a igreja onde você mora e você vem todo domingo, de manhã, de noite aquele
negócio todo, correndo risco e lá você vai poder servir muito mais.

4p. Entrevistador: Certo


4r. Entrevistado: E foi verdade, foi um conselho bom e neste tempo a gente já tinha
comprado apartamento, viemos pra cá e eu visitei essa igreja primeira vez. Gostei e vim
uma segunda, vim uma terceira e fiquei eu falava essa igreja é tudo que a gente quer uma
igreja boa, bem localizada, pertinho da nossa casa, especial, uma palavra especial, uma
palavra muito boa, era o pastor Juarez que era o pastor sozinho na época, depois veio algum
tempo depois o pastor auxiliar que é o pastor Marcelo. Mas tudo de bom, encontramos
aconchego, aconselhamento, as pessoas alegres, a gente, nós temos um bom
relacionamento com todo mundo, somos fáceis também de fazer amizade, e nós chegamos
e isso foi pra nós uma porta que Deus abriu, maravilhosa. A igreja, ela é em sim uma igreja
que acolhe as pessoas e nós nos sentimos acolhidos. Bastante.

5p. Entrevistador: Na época ainda não havia os pequenos grupos.


5r. Entrevistado: Não havia pequenos grupos ainda, pequenos grupos foi de doze anos pra
cá, eu já estava inserido aqui na igreja como membro ativo, eu era diácono na época. Fui
três anos e meio diácono e depois então na célula, quando veio o pastor Juarez convidou
sete irmãos para fazer uma visita em Belo Horizonte, nos módulos que ia ter em Belo
Horizonte com pastor Roberto Lay e eu fui um dos convidados a ir. Destes sete irmãos,
oito com o pastor Juarez, aí nós fomos e voltamos assim impactados com tudo que ouvimos,
é, de como servir as pessoas mais próximas, de poder amar, de poder estar disponível. E
quando voltamos no primeiro módulo, segundo, terceiro, quatro módulo, foi feito lá.
Quando voltamos, então colocamos as células protótipo, um ano de célula protótipo, cinco
células, com oito pessoas em cada célula, ou seja, quarenta pessoas. Durante esse ano da
335

célula protótipo, a célula não recebeu ninguém, nem entrou ninguém e nem saiu, então
reunia nas casas aprendendo como lidar com, aprendendo da visão, isso pra mim e pras
pessoas que estavam inseridas dentro da visão em célula, pra nós foi assim um marco
importante e a gente viu que não tinha nada de bicho de sete cabeças, tinha na verdade a
Palavra de Deus, uma coisa importante, que a gente fala até hoje isso, e a gente experimenta
ali a presença, o poder e o propósito de Deus nas nossas vidas e pra nós foi um tempo muito
especial, viemos só crescendo.

6p. Entrevistador: De acordo com a sua leitura, o que aconteceu que fez com que a
igreja percebesse a necessidade desses pequenos grupos, das células?
6r. Entrevistado: Muito bem, hoje a gente olha para as igrejas, é uma coisa que fala em
meu coração, sempre, na verdade. Eu vim de uma igreja tradicional 683, onde todo mundo
olha para o próprio umbigo, todo mundo olha em torno do pastor, em torno ali,
relacionamento só aquele domingueiro. E quando sai ninguém conhece ninguém, ninguém
sabe da necessidade de cada um, eu posso dizer que eu te amo, mas eu não sei qual sua
necessidade, você também no amor de Cristo, você pode dizer que me ama também, é
verdade, isso é real, porque a Bíblia fala que a gente precisa amar nossos irmãos e então, é
quando a gente passa a conhecer a necessidade da pessoa realmente, um relacionamento
mais íntimo, mais próximo, então eu vejo que aquela pessoa precisa muito mais do que
olhar para ele, ele precisa de um abraço, de uma palavra, de um conselho, uma pessoa que
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precisa de alguém pra caminhar de mão dada com ele. A Palavra de Deus diz que uma
varinha só quebra fácil, mas duas ela é mais difícil. Esta visão. Quando a gente estava aqui
em nossa igreja, neste tempo, a nossa igreja sempre teve uma visão de igreja tradicional. E
esse marco ali foi muito importante, que quando o pastor Juarez foi convidado para ir a
Brasília assistir um módulo, ele voltou de lá, e Deus falando no coração, impactado com
tudo aquilo, e veio trabalhando aquilo no coração, na mente dele, o Espírito Santo veio
falando com ele realmente, então ele convidou esses líderes, inclusive eu e outros para
compartilhar o que ele estava sentindo, por isso que se deu a ida em Belo Horizonte. Nesta,
que a gente estava na igreja, a igreja a partir deste, da visão em célula, uma coisa
importante. Antes no tradicional é uma coisa, depois disso, o relacionamento como igreja,
ele mudou, ele muda a visão, eu começo a olhar para o meu irmão de forma diferente, como
Jesus realmente olha pra nós.

7p. Entrevistador: Ok, mas você disse agora a pouco que a igreja já era uma igreja
que acolhia bem e era uma Igreja.
7r. Entrevistado: Era tradicional!

8p. Entrevistador: Mas era tradicional?


8r. Entrevistado: Era tradicional!

9p. Entrevistador: Hum!


9r. Entrevistado: Não podia bater uma palma, um glória a Deus, um aleluia.

10p. Entrevistador: Hum!

683
O entrevistado chama de Igreja Tradicional uma Igreja Batista configurada em torno de
departamentos e/ou ministérios, com estilo mais conservador, sem a presença de pequenos grupos e
com uma liturgia mais rígida.
336

10r. Entrevistado: A gente olhando pra visão de Jesus, e a gente pensando em termos de
que a gente vai ver um grande jogo de futebol do time nosso, um Fluminense, um
Flamengo, e a gente lá, a gente deita e rola, a gente torce muito, a gente grita, a gente bate
palma, e muitas coisas, mas quem criou todas as coisas, muitas vezes, a gente mal tira dois
minutos ou três, ou cinco minutos pela manhã para falar com ele, Senhor muito obrigado,
abençoe meu dia, meu trabalho, a gente só pede as bênçãos. Uma coisa, um marco
importante é esse relacionamento com Deus faz com que a gente pode adora-lo em espirito
em verdade de todo coração, isso é no tempo que a gente chama aqui de quarto de escuta,
tempo de oração, leitura da Palavra e também o tempo que você pode aplaudir o Senhor,
você pode dar um glória a Deus e experimentar o propósito e os milagres que Deus faz na
vida da gente, e usa a vida da gente com propósito, a gente é o canal da graça de Deus. Mas
a gente como igreja tradicional, a gente não aprendeu, como diz no livro de Atos, viver
naquele tempo de comunhão, onde os discípulos, as pessoas compartilhavam o pão em
oração e compartilhavam os bens e ninguém não tinha necessidade de nada. Então aquele
irmão que tinha mais poderia olhar pro irmão menos favorecido de forma, com a compaixão
de Jesus, poder ser diferente.

11p. Entrevistador: Você falou comunhão! Na sua visão, o que a célula trouxe para a
igreja em termos de comunhão?
11r. Entrevistado: Os relacionamentos! Que é comunhão por exemplo, esse grupo, a
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célula, eu por exemplo, eu e minha esposa somos líderes de uma célula e supervisionamos
mais sete células, nós somos supervisores de células, desde esta época, há doze anos. Todo
ano nossa célula multiplica, as outras células nossas que multiplicaram se encontram em
outra supervisão, em outras lideranças. Uma coisa importante, essa comunhão, eu posso,
eu discipulo várias pessoas hoje e eu posso conhecer melhor meu irmão, eu posso ver a
necessidade dele mais de perto. No templo, quando a gente vem no domingo à noite no
culto, a gente pode compartilhar ali na celebração, ouvir aquela palavra e aplicar na nossa
vida no decorrer da semana, na célula você desfruta desta comunhão, onde cada pessoa,
nós vamos aplicar aquele culto daquela celebração do domingo à noite e a gente pode
compartilhar aquela palavra na minha vida e não como igreja no coletivo e sim
individualmente. Essa comunhão acontece dentro da célula, de propósito para crescimento
e eu poso aplicar isso na minha vida, o meu irmão pode aplicar na vida dele, a irmã, e assim
vai, adolesceste, jovem, pode aplicar na vida dele. Esta comunhão faz com que a gente
sempre tem um evento, de poder sair em grupos, de vez enquanto eu junto a minha
supervisão e dá mais de 120, 130 talvez, e a gente faz um evento, é às vezes ali em Nova
Almeida 684, às vezes a gente faz em outro lugar, um salão de festa, um lugar onde todas as
pessoas com esse propósito leva aquele parente não crente, o parente que não vem à igreja
de jeito nenhum, aquele irmão que não gosta de vir à igreja, mais ele pode ir num evento
de minha célula, por exemplo, um aniversário. Esse é um tempo de comunhão muito
especial, a gente a cada 30 dias ou a cada 60 dias, a gente comemora os aniversariantes
daquele bimestre, ali eu tenho várias pessoas nos visitando, pessoas que já se converteu,
mais tem um parente, um esposo, ou pai, um irmão que não vem de jeito nenhum na igreja,
mas é o aniversario daquele irmão, é o aniversario do irmãozinho, aquele irmão, aquela
esposa vai convidar o esposo, o parente próximo que não vem à igreja, mas ele não vai para
igreja, ele vai para um evento de aniversário e lá a célula vai acontecer, ele querendo ou

684
Nova Almeida é uma praia no município da Serra, na Grande Vitória, onde algumas pessoas da
igreja tem casa de veraneio.
337

não ele vai ouvir a Palavra de Deus, ele vai ouvir tudo o que nós ouvimos no domingo, a
gente aplica isso nos eventos e essas pessoas ouvem então que ser crente é ser normal, não
há nada de... Têm pessoas, às vezes, que acha que ser crente agora vai parar de ver meu
amigo ali que bebe, não! Jesus se aproximou de pessoas que tinham mais necessidades.
Agora, desde que você se aproxime dessas pessoas, ou esteja, passar num bar, ou do lugar
do evento, desde que você esteja lá com um propósito, se não for com um propósito, não
serve para você, só que você precisa ser um instrumento de Deus lá.

12p. Entrevistador: E o encontro da célula? Qual é a dinâmica do encontro da célula?


12r. Entrevistado: A minha célula reúne toda quarta feira, minha célula é número ____.
E, ela começa oito horas. É uma hora e meia de encontro. E nesses primeiros minutos, dez
minutos, nós temos um quebra gelo, sempre a gente vai indicar, já tem uma tabelinha que
eu indico lá o Pedro pra fazer o quebra gelo, ninguém vai saber que é o Pedro, mas o Pedro,
quem sabe é eu e minha esposa como líder e ele, então você vai preparar uma brincadeira,
dinâmica rápida. Às vezes tem pessoas que chegam do trabalho cansadas, não riu o dia
todo, ficou lá triste, tá cansada. Alguma coisa constrangeu. O quebra gelo é uma dinâmica
onde você vai inserir aquela pessoa no contexto da célula, ai ela ri, ela participa, ela gostou
da brincadeira e daí a pouquinho a pessoa está sorrindo com você. Passou essa primeira
etapa, nós temos a segunda etapa que é o louvor, momento de adoração, também a gente
indica uma pessoa, cada quarta feira uma pessoa diferente faz o quebra gelo, outra vai fazer
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o louvor, todo mundo participa e todo mundo aprende, o tempo do louvor, a pessoa vai
separar duas ou três músicas, que sejam mais fáceis, que as pessoas saibam cantar, ou a
gente pode botar um CD, a gente acompanha o CD, ou quem toca violão, a gente usa a
pessoa que toca violão, isso tem sido bom, tem muitas pessoas na célula que tocam violão,
ele puxa o louvor e agente vai fazer um louvor animado, sempre em pé e com alegria, e as
pessoas cantam realmente. Neste momento do louvor a gente pode levar entre uma musica
e outra, levar as pessoas a falar uma palavra de adoração a Deus. Porque você está aqui?
Te adoramos pela salvação, pelo privilegio de estar na tua presença. Então a gente leva as
pessoas a levar uma palavra de adoração, quando termina esse louvor a gente faz um
momento de oração pelas famílias que estão ali, nós temos também inserido em nossa
célula as crianças, tem três, nós temos três, quatro crianças em nossa célula, a gente sempre
vai escalar uma pessoa toda célula para ficar com as crianças lá no quarto do lado para
ministrar aquelas crianças na linguagem delas, o qual nos temos uma revista, a igreja da
uma revista dentro da visão infantil, dentro daquela celebração e aquela irmã ou irmão que
esta preparado vai ministrar as crianças no outro quarto, na linguagem delas direitinho. E
ai terminou o louvor, sai com essas crianças, irmã que esta junto ou irmão, ai nós vamos
para edificação, também tem alguém escalado para fazer a edificação, quem vai fazer a
edificação tem que assistir a celebração, ele precisa anotar. Na nossa igreja já é uma tática,
já é uma característica dos irmãos da igreja anotar a mensagem, e antigamente em uma
igreja tradicional não tinha isso, era só ouvir o pastor Juarez falar, gravei em meu coração,
fui embora e amanhã eu esqueço. Eu anotando a mensagem ali e ouvindo, eu tenho aquilo
guardado em minha Bíblia, a mensagem que eu ouvi, a celebração, aquilo que eu assistir,
eu vou aplicar na minha célula lá na quarta-feira, aquele irmão que vai fazer a edificação
anotou os pontos principais da mensagem, ele tá ali aplicando na vida dele e ele vai usar
esses pontos principais da mensagem para trabalhar os irmãos juntos na célula, o visitante
que esta ali e fazer as pessoas refletir isso na vida deles, trazendo isso para nossa vida e
depois temos o momento de evangelismo, depois da edificação. O evangelismo é aquele
ponto importante, de motivar a pessoa, como diz lá Mateus 28: Ide e fazei discípulos. A
338

gente motiva a pessoa na próxima célula trazer um visitante e essa pessoa pensar no vizinho
de cima, o vizinho de baixo, vizinho da direita, da esquerda. E quando a célula acontece
em sua casa, seu vizinho não crente, você convida ele, não precisa dizer que a Igreja Batista
esta lá, entendeu, nós vamos fazer um evento aqui, nós vamos fazer um encontro, a minha
célula, vai ser muito bom, dai a pouquinho ele vai.

13p. Entrevistador: Então é...


13r. Entrevistado: E ai ele houve a Palavra.

14p. Entrevistador: Então é um grupo aberto?


14r. Entrevistado: Um grupo aberto! Tem que ser um grupo aberto.

15p. Entrevistador: Pode trazer pessoas de fora?


15r. Entrevistado: O principal objetivo é trazer pessoas de fora, de preferência não crentes,
porque esse é o propósito da visão, da célula, é evangelizar a pessoa que não tem Jesus,
trazer ela para esse evento da célula. Trabalhar com essa pessoa ali, ele vai vim a primeira
vez, vai vim uma segunda, uma terceira, uma quarta, numa quarta pra quinta vez ele pode
se tornar membro da célula. Os homens e as mulheres da célula, eu sempre digo, chegou
uma mulher visitante, as mulheres já são orientadas. De acordo com a Palavra, ela vai fazer
amizade com aquela mulher, vai trazer, vai inserir, no outro dia, vai ligar pra ela, ela vai
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sentir tão importante, ninguém nunca ligou pra ela pra dar os parabéns, e no outro dia, ou
aniversario, ou aquela pessoa chega “que bom que você foi em nossa célula ontem”, ela
vai se sentir o seguinte : “Poxa, ninguém nunca me ligou, quando eu cheguei na célula,
cantaram pra mim”. A gente canta uma musiquinha na célula, isso é característica da minha
célula. Muitas outras não fazem isso, mas a gente canta uma musiquinha que eu fiz até no
seja bem vindo, em nome de Jesus, esta célula ama. As pessoas se abraçam, sejam bem
vindas em nome de Jesus. Na hora dos comes e bebes, quando termina o evangelismo é a
hora da comunhão; um momento que eu posso tomar um refrigerante, comer um salgadinho
e me aproximar do irmão não crente, pra perguntar quem é você? Ah! Eu trabalho na Vale
do Rio Doce, é, poxa, que legal, eu sou corretor de imóvel e tal, nasceu ali uma nova
amizade com propósito. A mulher se aproximou do irmão lá, ou irmã para falar e saber
quem é, onde trabalha, daqui a pouquinho se aproximou, uma nova amizade, se ela for bem
acolhida na primeira visita, com certeza absoluta ela irá na segunda, terceira, quarta, ela vai
ver que algo está acontecendo na vida destas pessoas, que reúne toda quarta, ai vai falar
assim “sua igreja é todo domingo?” Pode ter certeza que ela vai estar na igreja com você.

16p. Entrevistador: E quando essa pessoa faz o compromisso?


16r. Entrevistado: Muito bem, eu já tive uma experiência muito especial, eu e minha
esposa e a nossa célula. A nossa supervisão então se caracteriza assim, toda vez, nós temos
no próprio manual de estudo nosso, nós temos um estudo que fala de João 3:16685. Eu
aprendi ele bastante, porque, de dois em dois meses ou três em três meses eu aplico ele em
minha célula. Como que é isso, a pessoa já tá visitando já tem umas cinco ou seis vezes, já
ouviu a Palavra, de repente até visitou a igreja, o pastor já fez mensagem, apelo, e ele nunca
levantou a mão na igreja, mas pode ser que ele esteja constrangido, tímido. O líder tem que
estar sempre atento, eu modéstia a parte procuro estar atento a isso, eu aprendi muito fazer
o João 03:16. Eu levo uma cartolina branca, prego na parede, ali nós vamos então mostrar

685
Organograma que mostra o plano de Deus para a salvação do ser humano.
339

que Deus ele nos criou para ter vida em abundância, vida plena com ele, mas o pecado nos
separou dele, e a gente então mostra a linha da vida e a linha da morte, a queda do homem,
e porque Jesus veio e mostrar a cruz pra ele, e como que a gente pode voltar a ter comunhão
com Deus, estar novamente em sintonia com Deus, somente através da cruz, só o sangue
de Jesus e as pessoas procuram muitas coisas para se aproximar de Deus, erradas, mas só a
cruz. Então eu aplico sempre isso na célula e naquilo eu vou colocando os versículos
principais, João 3:16 como outros e tal, tal e eu faço um apelo sempre no final. Neste
momento que a célula eu estou fazendo esse trabalho em João 3:16, eu, minha esposa ou
preparo um alguém já tarimbado um pouco mais na frente pra ele também aplicar isso, pra
ele não ficar centrado em mim, porque eu preciso que os outros cresçam também, eu quero
que meu futuro líder ou alguém, mesmo que ele não seja líder, mais que ele seja maduro
dentro da célula, então ele também pode aplicar o João 3:16, então, no dia eu falo você vai
aplicar João 3:16 e ele faz o apelo, ou eu faço o apelo, eu levanto não, todo mundo deve
esta sentado, eu já estou de pé explicando e eu vou até o meio da sala e levo a pessoa a
pensar no amor de Deus, neste sacrifício na cruz e eu faço o apelo “Quem gostaria de aceitar
Jesus?” Nós tivemos alguém da casa de julgamento que não se manifestou na casa de
julgamento recente, o senhor conhece o nosso teatro, e na primeira célula seguinte eu fiz o
apelo as pessoas que estavam lá, duas tinham se convertido lá e levantaram, eu fiz o apelo
e eles confirmaram e três que tinham vindo a casa de julgamento, não se converteram,
mas na célula seguinte eles se converteram comigo, aceitaram a Jesus, e eles disseram o
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seguinte: Tinha muita gente, eu estava meio tímido, mais eu quero aceitar Jesus!

17p. Entrevistador: E depois que ele aceita Jesus, o que é feito com ele?
17r. Entrevistado: Aí é hora do tratamento, do crescimento, eu como líder ou a pessoa que
esta preparada imediatamente você tem que pensar “bom, aceitou Jesus”. A Palavra de
Deus diz que quando a gente aceita a Jesus, o sangue de Jesus nos perdoa, nos livra, nos
purifica de todo mal e todo pecado, isso é real porque a gente conhece a verdade na Palavra,
mas ele está salvo, esse ponto é importante, mas ele precisa de algo mais, ele precisa de ser
alimentado, neste momento ele é o bebê espiritual, a gente chama como um bebê espiritual,
ele esta começando na Palavra, então ele precisa tomar leite e como é que agente faz isso?
Então eu já indico logo pra ele, dizendo: Qual dia você pode? A gente encontrar uma hora
por semana, qualquer dia da semana, a gente vai combinar, vai agendar, e eu quero fazer
um estudo bíblico com você, ou seja, nosso manual da célula, que ali é um bê-á-bá, no
primeiro manual, depois nós temos o segundo, um pouquinho mais profundo, o terceiro, o
quarto. Então, eu já indico alguém para discipular essa pessoa, para ele aprender, no
primeiro, no segundo, essa pessoa já vem feliz, ela já vem com o coração aberto e se a
pessoa que está discipulando, ou líder, a motivação maior da célula e a motivação deste
discipulado precisa ter a cara do líder, a cara do discipulador, ele precisa estar motivado,
ele precisa estar fazendo, não carregando um saco de pedra, ele precisa estar fazendo por
amor, ele precisa caminhar com a pessoa com alegria, se você observar que eu estou com
alegria, com certeza você vai ver que vale apena eu seguir.

18p. Entrevistador: Aí?


18r. Entrevistado: Então a gente vai fazendo discipulado vai crescendo espiritualmente.

19p. Entrevistador: Certo! E a célula também vai crescendo, e ai quando ela cresce
acontece o que?
340

19r. Entrevistado: Muito bem, é o nosso caso hoje. A célula para multiplicar ela precisa
ter 15, 16, 18, 20 pessoas. Assim, o limite do máximo do máximo, já estourou, eu estou
com 28 pessoas na célula, eu estou agora trabalhando exatamente já, de três meses pra cá,
preparando possibilidade de mais dois líderes dentro da célula, pra eu multiplicar minha
célula em duas, porque eu estou com intenção de não continuar na liderança, por causa da
supervisão, que eu visito, toda semana eu visito uma célula e na quarta feira é a minha
célula que reúne. A célula ___, eu falo a minha, mas não é minha, é de Jesus, eu falo a
minha é uma força de expressão, mas na verdade a gente reúne toda quarta feira, mas na
terça eu tenho célula de minha supervisão, na quinta tenho e na segunda também, tenho
duas na terça, duas na quarta, três na quarta e duas na quinta. Então uma semana eu visito
uma, outra semana outra, assim por diante, até visitar todas. E eu hoje estou preparando
uma liderança para chegar no final de novembro, metade do mês de dezembro, a gente fazer
nossa a multiplicação, a gente quer fazer nossa multiplicação com pelo menos com nove a
dez pessoas pra cada grupo, um casal de líderes que estamos preparando vai sair com um
grupo o outro casal vai sair com outro grupo.

20p. Entrevistador: Qual a maior dificuldade pra esse processo de multiplicação?


20r. Entrevistado: Eu vejo que não tem dificuldade na verdade, desde que é desde o início
da célula, quando a célula começa lá em janeiro pra fevereiro e tal, a gente já tem que ter
o propósito, a visão, a visão do reino é mostrar que a gente cresce e a gente precisa continuar
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crescendo, a gente precisa continuar caminhando, então o que vai acontecer, quando
começa o ano, eu já tenho que visualizar dentro do meu grupo, quem é o potencial líder
amanhã, daqui a seis meses, ou daqui nove ou dez meses, eu já tenho que ter essa visão e,
de preferência, que o líder discipule um casal que tenha uma possibilidade de sair líder,
porque você tem uma responsabilidade de preparar um novo líder. As pessoas que você ver
talvez que não tenha possibilidade de ser líder, você pode delegar pra um liderado seu, que
esteja capaz, para crescer junto com ele, porque o líder tem sempre pensar em fazer um
novo líder, porque a igreja continua crescendo.

21p. Entrevistador: E qual é o papel do líder na célula?


21r. Entrevistado: Facilitador! Ele não pode ser dominador, ele não pode ser o cara que
detém tudo pra ele, acha que é o cara, não é, ele ali tem que ser o facilitador, ele na verdade
tem que ser o cara que faz a ponte, ele tem que ser o cara que as vezes se der problema na
ponte, ele tem que descer e segurar ela nas costas para que os liderados possam passar, a
gente tem que ser na verdade “construidor” de pontes e se a gente centralizar muito no
líder, porque o líder faz, o líder sabe, eu fiz, eu faço, é assim que eu quero. O que vai
acontecer? Eu começo a construir muros, eu começo a construir barreiras entre meus
liderados, porque as pessoas são diferentes umas das outras, tem aquele liderado que vai
me amar sempre, independente do que eu fizer, mas tem aquele liderado que ele é muito
bom, cara bom, tranquilo, educado, mas não gosta da minha forma de dirigir, minha forma
de falar. Então eu tenho que aprender como lidar com Pedro, com Paulo, com a Maria, com
a Joana, com adolescente e com outro, então eu tenho que ser sensível, eu tenho que estar,
na verdade, sendo sempre guiado pelo Espirito Santo, não tem outra forma, então quer
dizer, ele precisa ser o facilitador.

22p. Entrevistador: E quais seriam os maiores desafios hoje para esse trabalho de
pequenos grupos, de células?
341

22r. Entrevistado: Sempre o maior desafio é preparar líderes, na verdade é, parece que
não, mas é por quê? Quando uma pessoa está numa célula e ver os compromissos, as
responsabilidades e as vezes a pessoa acha assim, ser líder, deve ser muito difícil, nossa,
tem que visitar, tem que fazer isso, tem que discipular a pessoa toda semana, se a pessoa
está centrada no eu, nele mesmo ali e achar que tem as coisas particular dele em casa, na
família, pode ser que ele não vai disponibilizar pra vir encontrar comigo aqui. Ou encontrar,
eu encontrar com ele na casa dele, ou ele na minha casa, então ele vai ficar com maior
dificuldade, na verdade a gente precisa é ser sensível a isso e ver a necessidade, de trabalhar
a dificuldade que essa pessoa porventura atrapalharia ele amanhã ser um líder, temos que
fazer um líder hoje é um desafio, porque eu preciso, a Palavra de Deus diz, esqueci o
versículo, ele diz que a gente precisa escolher homens de confiança, homem que faça a
coisa direita é assim que Jesus fez, é assim que Paulo aprendeu, é assim que Paulo dirigiu,
é assim que outros discípulos dirigiram, então é escolher pessoa de confiança, onde você
pode confiar, você pode ter certeza que ele está fazendo aquele papel, como se Jesus
estivesse no lugar dele, Jesus em meu lugar faria o que? Então, é assim que eu preciso
preparar esse líder para ele pensar dessa forma. É um desafio? É, mas eu tenho o ano inteiro
para pegar essa visão que esta no meu coração e mostrar pra ele que vale a pena liderar as
ovelhas ali.

23p. Entrevistador: Quais os critérios pra formação da célula, pra formação dos
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grupos?
23r. Entrevistado: Bom, de preferência, eu vou dar o exemplo da minha célula, o qual eu
participo, eu estou dirigindo a minha célula é uma célula que tem, eu tenho adolescente,
tenho jovens, tenho casais, né! E tenho crianças também, então a minha célula é bem, como
é que dá o nome! Bem, é misturada de pessoas, e a gente consegue atender todo mundo
tranquilamente. Mas nós temos algumas outras células na igreja que é só pessoas
divorciadas. Só de mulheres, nós temos algumas células da igreja que é de adolescentes e
jovens. Nós temos célula na igreja que é de idosos. Pessoas acima de cinquenta, sessenta
anos, e tal, sessenta e cinco, às vezes não da certo estar uma célula onde têm jovens e
adolescentes, então tem um casal de líder lá com esse perfil que vai dirigir e vai ser benção,
grande benção. Às vezes leva aquele irmãozinho mais idoso, a irmã que é vizinha, nunca
foi à igreja vai pra célula e aceita Jesus.

24p. Entrevistador: Observa-se aí, a localização geográfica?


24r. Entrevistado: Por exemplo, eu tenho algumas células dentro da minha supervisão,
que eu tenho sempre uma necessidade de multiplicação de ser com pessoas do próprio
bairro, por quê? É porque a maioria destas pessoas não tem carro. Então é importante a
gente observar esse ponto ai, eu tenho uma célula que reúne aqui no Verdes Mares e no
entorno ali, e ela tem doze, quatorze pessoas, as quatorze pessoas moram todos aqui no
entorno. O que nós fizemos? Essa multiplicação, ela veio com pessoas exatamente certinho,
nós pegamos a multiplicação e fizemos exatamente com essas pessoas próximas e ninguém
falta, todo mundo vai a pé, mas nós temos célula que reúne em Laranjeiras, eu tenho um
casal de minha célula, a esposa se foi, minha esposa trabalhou com eles, ela se converteu
com minha esposa, foi batizada, o esposo não veio, agora o esposo se converteu. Ele veio
na casa do julgamento, eu que estava lá junto com ele, ele se converteu e eu comecei o
discipulado com ele a duas semanas, ele mora lá em Morada de Laranjeiras e quando a
célula vai pra lá, a gente sai sempre meia horas antes, nós vamos em uma fila de carros,
leva os visitantes, leva tudo, e termina umas nove e meia, nove e quarenta, dez horas, e
342

volta todo mundo junto. Essa família a gente consegue abençoar, tá fora do geográfico da
gente, mas a gente vai lá com alegria, porque é um casal que veio de Minas, a família deles
aqui em Vitória somos nós, ou seja, é a igreja, é a célula, eu sou a igreja, você é a igreja,
cada liderado é a igreja de Jesus ali, então nós temos que ir lá com alegria.

25p. Entrevistador: Qual o impacto que as células produziram na igreja?


25r. Entrevistado: O impacto que a célula produziu na igreja foi assim uma coisa muito
importante, e positiva, porque com isso na verdade, veio muitas pessoas que nunca vieram
à igreja, vieram e aceitaram a Jesus, e estão inseridas no corpo da igreja hoje como o corpo
de Cristo. E com isso também a gente antes da visão, a gente, eu conheço o pastor Valdir,
mas não sei as dificuldades do Valdir, nem o Valdir conhece as minhas. E quando a visão
em célula leva a gente a esse relacionamento mais próximo um do outro, você é num ritmo,
de um, uma palavra de confiança, você passa a confiar em mim e eu em você, eu vou poder
abrir meu coração mais amplamente e dizer das minhas dificuldades, talvez o que há com
minha esposa. O que na minha família, na minha vida financeira, que meu filho esta longe,
no mundo, longe da igreja por isso. Ai você já começa a pensar qual palavra eu vou dar pra
ele, como que eu vou ajudar? E vice versa. A igreja em si trouxe essas pessoas, encontramos
mais dificuldades, mais problemas? Sim. Porque essa igreja que, quando a célula nossa
começou, eu acho que tinha quinhentos e poucos membros, nós temos mil e setecentos, ou
talvez, eu acho quase duas mil pessoas reunindo ai, eu imagino mais ou menos, não tenho
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bem certeza mais ou menos, essas pessoas trouxeram mais problemas na bagagem? Sim.
Mas onde é que quando estou doente, aonde eu vou busca a cura? No hospital, é no pronto
socorro! A igreja precisa ser o ponto socorro, a igreja é o hospital. E aqui precisa ter
enfermeiros, ter médicos, ter voluntários para abraçar a causa, nesta igreja hoje eu encontrei
pessoas que nunca imaginava o tanto de problemas que ela ia ter, e você pensa: “Meu Deus
do céu, o que caiu na minha mão”! Mais antes da visão, eu dizia que te amava, mas nunca
perguntei qual o problema, o que eu poderia fazer mais, então essa pessoa dizia: “Irmão
esteja orando por mim, que eu estou com um dificuldade assim, assim”. Tá bom irmão, eu
vou orar, bato na suas costas e vou orar, ok? Passou o tempo, você passa, às vezes, talvez
você até se lembre de orar uma ou duas vezes, mas talvez você esquece, porque você não
esta comprometido com ele, o irmão falou pra você, mas você não esta comprometido. Mas
quando o relacionamento é mais próximo um do outro, então você começa a contar pra
mim sua dificuldade e eu começo a olhar com os olhos espirituais, a visão do reino é que
eu olho pra você como Jesus está olhando pra você, então o que vai acontecer? Eu começo
a ver a necessidade do Valdir. Então eu começo, passa a amanhã e eu começo a orar, eu
tenho uma caderneta de oração irmão, que é essa caderneta de oração devido a célula, nós
temos, antes a gente não tinha esse costume, mas hoje eu tenho uma caderneta de oração,
eu tenho inúmeros casais, famílias que eu oro todo dia por eles, eu e minha esposa temos
um propósito. Tem um jovem, hoje está fora do país, tá no Uruguai, é missionário, com
dezenove anos, foi um fruto da célula. E então é essa pessoa a gente veio nos relacionando
e a gente vai descobrindo as necessidades, eu vou lá na minha caderneta e coloco ele, o
nome do irmão, a necessidade dele. Vira e mexe, na quarta feira eu lembro de perguntar:
“Irmão como está aquele caso?” Ou durante a semana eu ligo, ontem mesmo eu liguei, fui
mais a minha esposa visitar um casal, que eles estão com problema muito grande e eles
estão na nossa igreja há um ano e meio. Eles estão aqui na nossa igreja há um ano e meio,
mas devido à dificuldade deles, eles não se aproximaram de uma célula, mas Deus trouxe
a filha de quinze anos para nossa célula, ela se converteu na casa de julgamento. Ela esta
na nossa célula, sendo discipulada, uma benção, a menina é um benção de simpatia, uma
343

menina de oração, uma menina que estava fora do corpo de Cristo, ela está inserida hoje.
E a alegria dela é de estar. Ela falou: “Eu não sabia que essa célula, que seria desta forma”!
O que ela fez? Convidou os pais. Os pais vieram. Os pais hoje são uma benção, os pais hoje
estão diferentes. Ele falou assim: “Poxa vida, eu nunca quis uma célula, porque eu achava
que a célula tem uma panelinha”. Tem isso? Não, na célula eles foram acolhidos e ontem
nos convidaram para fazer uma visita e ontem nós pudemos chegar lá, ele comprou a pizza,
e tal, aquele negócio, nós conversamos bastante e aquele casal pode abrir o coração pra
mim e minha esposa diante da filha. Sabe o que é abrir o coração de você chorar junto, em
poder sentir a dor do teu irmão, é você ver que aquele casal esta abrindo o coração porque
confia em você, mais em outro tempo ele não faria isso. E quando ele viu, já é a sexta vez
que ele vai na célula, ele viu que pode confiar em mim e na minha esposa, no grupo que
está, que abraçou a filha dele. Ontem nos fez um convite, nós chegamos lá era oito e cinco,
saímos lá, teve que ser um pouquinho mais tarde, saímos de lá já era onze e vinte da noite,
mais ele chorou, ela chorou, abriu o coração, nos quebramos muita coisa que estava inserida
na vida dela, oramos juntos, abençoamos aquela família, aquela casa e é só alegria. Hoje
ele já me ligou dizendo assim: “Irmão nossa que tempo especial, eu nunca tive isso na
minha vida, eu não esperava tudo isso de vocês para comigo”. Mas em outra época ele não
teria essa chance de abrir o coração, de falar, de chorar, a célula permite isso. Agora o líder
e o liderado, ele precisa estar com o coração disponível, porque a obra não é minha, eu não
estou fazendo para o pastor Juarez, pra igreja, estou fazendo pra Jesus, essa direção que
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Deus nos dá. Ide e fazei discípulos por todo mundo. Então quando nós visitamos essa
família e ela falou: “Eu convidei vocês porque eu queria conversar com vocês, eu vi que
vocês são uma família decente, uma família de confiança, que abraçou minha filha de tal
forma, a minha filha é só alegria, alegria que eu, minha filha nunca foi assim, minha filha
está feliz da vida, tá sendo discipulada, eu fui lá pra ver exatamente o que é isso que ela
está vendo lá”. E eles vieram e estão impactados e estão inseridos em nossa célula e ontem
fomos fazer uma visita a essa família e foi um tempo muito especial com Deus, estão firmes
em nossa igreja e estão firmes aqui. Benção pura mesmo, entendeu? Então é isso. Precisa
estar disponível.

26p. Entrevistador: Então há um cuidado integral?


26r. Entrevistado: Integral!

27p. Entrevistador: Olha o ser humano como um todo?


27r. Entrevistado: Como um todo. A necessidade desta família é o que? Ser aconselhada,
ser dirigida, a casa sempre estava fora do lugar, a casa sempre fora do lugar, fora de tudo.
Nós já o visitamos outra vez, mas uma conversa assim, uma visita pra conhecer eles como
chegando pra membros da célula, mas ontem foi uma visita, ouvido aberto e coração
sensível, para apenas olhar pra eles com os olhos de Jesus, mas ouvir também com os
ouvidos espirituais, para saber aonde eu posso chegar, aonde eu posso ajuda-los. Essa
sensibilidade só Deus pode nos dar. Para ver que aquela família é uma família importante
pra Deus em primeiro lugar, e pra mim, para a igreja. Aquela família tem uma possibilidade
imensa de levar toda família pra Jesus e ser uma benção dentro desta igreja e fora das quatro
paredes. A igreja de hoje precisa não estar inserida nas quatro paredes, mas a igreja precisa
olhar lá pra fora, muitas vezes uma igreja tradicional, não falando igreja tradicional, não é
uma palavra de critica não, porque eu vim de uma igreja tradicional, eu louvo a Deus,
glorifico a Deus todo dia, porque minha família pertence a uma igreja tradicional em
Campo Grande e é benção na vida deles e é benção realmente, eu continuo sendo benção,
344

eles também, eu louvo a Deus porque mais dois irmãos meus aceitaram lá e é benção. Deus
age lá, Deus abençoa, Deus cuida e age em cada um, têm os irmãos, irmãs tem o coração
sensível independente da célula que ajuda, mas a célula em si, o que acontece? Faz com
que essa pessoa venha e uma coisa importante, a gente precisa nos dias de hoje. O mundo
tá inserindo tudo dentro da nossa igreja, nossos adolescentes e jovens estão fazendo o que,
hoje, na verdade? Até dentro da própria igreja às vezes você vê lá quem tá twitando,
passando e-mail, tá no facebook, tudo mais, tal. Mais quando ele vai pra casa, ele entra pro
quarto, qual o dialogo que ele tem com o pai? Nenhum! Porque o pai não aguenta mais, já
deu um computador pra ele e deixou ele lá no quarto, quietinho lá, por quê? É melhor ele
não me perturbar, ficar no quarto, tá inserido, deixa ele quieto lá. Já deu um computador.
Mas a igreja quando há um relacionamento com Deus, eu começo a olhar pra igreja, para
fora das quatro paredes, eu vejo que tem pessoas lá fora que precisam de mim, precisam da
igreja como um todo, a gente tem que sair das quatro paredes e onde estão estas pessoas
que precisam? Muitas vezes não estão ali no boteco, não estão no carnaval, não estão ali
sentado na calçada. É meu vizinho de porta que tem quinze anos que é meu vizinho e mal
mal eu dou um bom dia pra ele e ele nem sabe que eu sou crente, que eu sou da Igreja
Batista. Então eu preciso ser a diferença onde eu passar e onde eu estou.

28p. Entrevistador: A célula contribui neste sentido?


28r. Entrevistado: Cem por cento.
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29p. Entrevistador: Então de alguma forma, o irmão recomendaria a célula, ou


pequeno grupo para todas as igrejas?
29r. Entrevistado: Hoje sim, com essa visão, eu não sei mais, eu até um dia eu comentei
com pastor Juarez, estava na reunião do grupo, eu fui lá, eu não sei mais se eu for pra um
bairro, ou outro lugar, onde Deus me levar pra um lugar, viver em uma igreja tradicional,
é verdade! Assim sem a visão em célula, to falando que a igreja é ruim não, mais eu não
sei. Porque a igreja tradicional é aquela, terminou o culto, cada um pro seu canto. A igreja
da célula é assim, você tem sempre alguém pra falar, aquele oikos, aquela pessoa que você
trouxe na igreja, aquela pessoa que não tem Jesus, a pessoa está feliz por ter ouvido a
palavra e ali há um compartilhamento.

30p. Entrevistador: Então uma igreja que adota o sistema de célula tem mais
comunhão?
30r. Entrevistado: Muito mais, é cem por cento, a diferença é total. Eu recomendo a igreja
em célula exatamente pela comunhão, pelo relacionamento íntimo, mais no bom sentido,
com as pessoas, o amor realmente aparece e um detalhe importante, essa comunhão ela
começa a respingar em toda família que não tem Jesus, essa comunhão ela é como igreja
ela vai saindo rapidamente de dentro da igreja, ela vai saindo de mim, ela vai saindo, vai
atingindo as pessoas, esta comunhão ela é importante porque é assim que Jesus nos ensinou.

31p. Entrevistador: Muito bem.


31r. Entrevistado: A igreja de Atos, ela vivia, pregava o evangelho, eles oravam, estavam
em comunhão, partiam o pão no templo, tinham o tempo de oração, uns tinham mais, outros
tinham menos, mas quem tinha mais dava um pouco mais. Quem tinha menos contribuía
através de alguma coisa e ninguém tinha necessidade de nada. Essa é a igreja primitiva,
essa é a igreja que voltando hoje é a igreja que o Brasil precisa. Porque relacionamento
todo mundo tem por ai, mas um relacionamento sempre não diz respeito à vida eterna. A
gente precisa, porque a Palavra de Deus diz pra mim que é privilégio de estar salvo, vou
345

viver no céu em ruas de ouro, vou estar privilegiado e cantar louvores a Deus, vou estar
morando no céu. Porque então eu não me importo com meu amigo que não tem Jesus, se
lá é lugar da festa muito especial, porque que eu não posso? Eu preciso sair da minha zona
de conforto, da minha cadeirinha, eu preciso olhar lá pra fora, eu preciso pagar o preço, eu
preciso olhar pra aquela pessoa como Jesus olhou. Olhar para aquelas pessoas e ver que
vale a pena, eu não posso ser um cristão como diz “Jesus estava passando com seu burrinho
lá em Jerusalém e aquela multidão atrás de Jesus, a multidão estava atrás de Jesus,
ovacionando, aplaudindo, todo mundo querendo benção, e tudo mais, porque era uma festa,
era chamado domingo de ramos que eles chamam ai, então Jesus estava inserido naquele
contexto, mas era a multidão que estava atrás de Jesus, no dia da crucificação, quem é que
estava lá para dizer assim “crucifica-o” era a multidão, eu não posso ser um cristão a mais
na multidão, eu tenho que ser referência, eu tenho que ser a diferença e a diferença ela se
aplica exatamente onde a igreja tem relacionamentos, eu posso te conhecer melhor, me doar
melhor, eu posso estar sensível a tua palavra, sua necessidade, necessidade da igreja, do
irmão e assim por diante.

32p. Entrevistador: Muito bem.


32r. Entrevistado: Discipulado é o ponto, viu? Discipulado dois a dois, isso cresce a
igreja, isso cresce as pessoas, isso é importante, um vai aprendendo com outro.
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33p. Entrevistador: Então não é só aumentar o numero de membros da igreja?


33r. Entrevistado: Não, discipulado você vai fazer com que esse cristão amadureça, ele
vai sair de tomar o leitinho e vai começar a andar um pouquinho, você começa dar um
alimento mais sólido pra ele, o discipulado é o ponto chave do crescimento da igreja, esse
cristão que você trouxe, essa nova pessoa ele não conhece a Jesus, no momento que você
começa a ensinar pra ele desta verdade, da Palavra, ele começa a crescer, crescer e ver que
vale a pena trazer outro amigo, a alegria que ele esta sentido, que ele esta recebendo aqui e
dai a pouquinho ele começa a crescer... E vai trazendo mais pessoas e vê que vale apena,
esse evangelho precisa ser um evangelho de poder, um evangelho que realmente bota em
prática a autoridade, um evangelho audacioso, corajoso, porque se deixar, o mundo tem
coragem pra fazer tudo, tudo, ai o diabo entra na igreja e faz uma festa com as pessoas. E
tantas coisas estão sendo inseridas do mundo para dentro das igrejas, o que eu estou fazendo
para inserir da minha igreja para o mundo, e muitos cristãos não estão saindo da cadeira
para inserir esse evangelho lá fora, mais a gente recebe mais de fora do que levando dentro
pra fora. A gente tem que sair das quatro paredes, mais ser a igreja que Jesus vê para o
mundo de hoje.

34p. Entrevistador: Muito bem.


34r. Entrevistado: Precisa ser assim.

35p. Entrevistador: Uma ultima pergunta irmão. Na sua leitura, que tipo de
mudanças a célula trouxe para a estrutura da igreja, o funcionamento da igreja?
35r. Entrevistado: Administrativamente você diz?

36p. Entrevistador: É!
36r. Entrevistado: Mais ou menos por aí assim. Bom em primeiro que lugar o pastor
Juarez era só ele o pastor, os diáconos, apoiadores. Tinha ministérios e tudo e a igreja
começou a crescer, com a necessidade de ter um pastor auxiliar. Com certeza o pastor
346

Juarez sozinho não aguentaria. Então trouxe o pastor Marcelo que é filho desta igreja. Ele
foi pastor em outras igrejas, mas veio depois, a necessidade. E depois os ministérios
também foram sendo mais fortalecidos. Que, creio que o senhor já veio aqui, o senhor vê
o tanto de criança que é ministrada no culto das dezoito e vinte horas aqui, aquelas crianças
é a igreja amanhã, se eu não fizer por onde abençoar essas crianças, amanhã o mundo vai
leva-las e eu preciso segura-las aqui e fazer trazer as outras também. As famílias, muitas
famílias estão vindo à igreja devido a essas crianças está aceitando Jesus. Então
administrativamente teve que trazer o pastor Marcelo, depois teve a necessidade de mais
um, nós tivemos o Jefinho que esta em Minas, é um missionário nosso em Minas Gerais,
ele foi chamado pra lá. E depois nós tivemos o pastor Andrielli, que pastoreia os jovens e
adolescentes é da minha rede ele, meu pastor, eu chamo ele de meu jovem pastor que eu
amo muito, bacana. E depois o pastor Aederson que também cuida de famílias e o pastor
Marcelo também cuida de famílias. Pastor Juarez, ele cuida da igreja no todo, da
administração como presidente, mas também esta inserido em uma célula, cada pastor tem
uma célula, ele precisa estar inserido em uma célula, depois nós tivemos que pensar ai
administrativamente, foi o pastor Juarez e a equipe. Pensou num gestor, porque na verdade
tem quatro pastores pensando como fazer e isso aquilo, então precisa de alguém na
administração. Pra que? Pra dar uma direção na visão administrativa, então se pensou em
alguém da casa, pensou em muitas pessoas de fora, mas a gente tinha gente da casa, só pra
te dar um exemplo: O pastor Marcelo é gente da casa, é prata da casa, o Aederson é prata
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da casa, pastor Andrielli é prata da casa, é filho da casa, o nosso gestor que é o Anderson
ele é da casa, ele prata da casa também. Então se aproveita o corpo, o corpo que está
inserido aqui, aqui tem qualidade, nós temos advogados, nós temos administradores,
empresários. Então teve que aumentar esse pessoal da administração, mais também da visão
pastoral dos ministérios, por quê? Chegaram mais pessoas e também nós temos um CADEC
ali, que é a ação social que atende muitas pessoas questão aqui com dificuldades, no plano
psicológico. E tem que trabalhar essas pessoas com propósito, então essas pessoas que
ficam dentro da célula, que tem dificuldades psicologias, alguma coisa assim, a gente
trabalha no espiritual, mais a gente, o corpo e a alma pode ser trabalhado pelo nossos
psicólogos no CADEC ali, entendeu? Onde a Marineide, a esposa do pastor Herodiel que
dirige. Então isso tudo tem que pensar, porque a igreja cresceu, com certeza a igreja daqui
mais uns anos, nós vamos ter dez mil membros aqui, eu to glorificando a Deus desde já. A
gente precisa ter a visão honradamente, a visão do futuro, o futuro pra mim é hoje, é agora,
eu e você aqui conversando, porque amanhã, a Palavra de Deus diz não pertence a nós,
mais eu preciso como igreja pensar que tem pessoas que estão sendo trabalhadas pro futuro
da igreja que são as crianças, essa visão precisa estar inserida no coração deles, precisa dos
novos pais, novas famílias que vão surgir, a igreja precisa continuar avante, precisa o foco
precisa estar na cruz, a igreja não pode tirar o foco da cruz, é preciso estar focado, esse é o
proposito. Então a palavra que o pastor Juarez sempre diz, e eu sempre digo na célula,
nunca esqueci disso: “Ser cristão é como andar de bicicleta, se você olhar do lado, você
cai, então você tem que olhar pra frente” Esse é o alvo, não tem outra forma.

37p. Entrevistador: Ok, então muito obrigado por sua participação.


37r. Entrevistado: Amém!

37p. Entrevistador: Obrigado.


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FUNÇÃO: Pastor de rede SEXO: Masculino DATA: 21/01/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
33 anos Jardim Camburi PIBJC 03

1p. Entrevistador: Então, quanto tempo você é membro aqui na igreja de Jardim
Camburi?
1r. Entrevistado: Hoje eu estou com trinta e três anos, me batizei aqui aos nove. Vou
deixar você fazer a conta. (risos). Nove. Vamos lá, vinte e três, vinte e quatro anos...

2p. Entrevistador: Vinte e quatro anos.


2r. Entrevistado: Vinte e quatro anos aqui na igreja, eu nunca, nunca fui membro em outra
igreja.

3p. Entrevistador: Então você participou da igreja antes da implementação dos


pequenos grupos...
3r. Entrevistado: Sim.

4p. Entrevistador: E depois.


4r. Entrevistado: Exatamente.
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5p. Entrevistador: É! Primeiro o que levou a igreja a adotar os pequenos grupos?


5r. Entrevistado: Bom, pelo que eu me recordo e já ouvi também, né, do nosso pastor
principal que está aqui já há vinte e cinco anos. Foi em função, principalmente, do
crescimento da igreja. A igreja foi vivenciando um crescimento numérico e com esse
crescimento numérico. Não houve um acompanhamento do crescimento qualitativo, ou
seja, a igreja foi crescendo e as pessoas acabavam vindo para as reuniões semanais
dominicais e não tinham uma profundidade nos relacionamentos. Então a gente chama de
domingueiro, não é? Domingueiro, que só vem no domingo assiste, participa do culto ou
assiste o culto e depois vai pra casa e na semana seguinte volta... Então essa prática perde
muito. Perde muita qualidade do grupo, das pessoas, no relacionamento principalmente,
né! E aí as células, os pequenos grupos vieram pra auxiliar nessa necessidade com a ideia
de nós sermos uma igreja grande e ao mesmo tempo pequena conquanto ela se reúna em
pequenos grupos na semana, nas casas.

6p. Entrevistador: E qual o impacto que os pequenos grupos causaram na sua vida e
na vida da igreja?
6r. Entrevistado: Na minha vida criou, trouxe um impacto grande em poder experimentar
a igreja mais no sentido prático, quando a gente pode viver valores cristãos entre os irmãos,
entre as pessoas, então pra mim pessoalmente, ter pessoas que posso, que podem me ajudar,
me auxiliar em momentos de maior necessidade da minha vida, desenvolver amizades mais
íntimas e profundas, de ter pessoas que eu sei eu posso contar em oração, se eu ou minha
família precisa de alguma, passamos por alguma enfermidade, por exemplo, alguma
necessidade eu sei que posso contar com aquele grupo de pessoas, que aquele grupo vai tá
orando por mim, pela minha família. Então o senso de pertencimento foi uma grande
diferença na minha vida. Eu não vou à igreja e lá eu fico duas horas num culto dominical,
mas eu pertenço a igreja, eu sou igreja, eu tenho com aquele grupo de dez, quinze pessoas,
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eu tenho ali um compromisso de viver junto e saber que eles podem contar comigo e que
eu posso contar com eles também pra o que for preciso.

7p. Entrevistador: E que mudanças isso produziu na igreja de um modo geral?


7r. Entrevistado: Eu acho que à medida que cada pessoa vai vivenciando isso no
particular, no individual. Com o grande grupo vai ter uma consequência, um impacto
grande na qualidade dos relacionamentos como igreja, parece. A impressão que eu tenho é
que ela atrai outras pessoas, porque se eu vivencio uma coisa gostosa, agradável, num
pequeno grupo, dentro de uma casa. E eu trago amigos meus, eu convido amigos pra esse
grupo porque também ‘tão passando por necessidade, por dificuldades e precisam também
de relacionamentos mais íntimos, acho que com a experiência vivenciada no pequeno grupo
vai ser, vai se extrapolar no grande grupo, vai ter impacto no grande grupo em razão da, da
experiência no individual. O pequeno grupo vai extrapolar no grande grupo e a gente
percebe a igreja realmente sendo mais atraente pro bairro. A igreja vai atraindo novas
pessoas vão podendo também realizar ações que antes não realizava.

7p. Entrevistador: Por exemplo...


7r. Entrevistado: Por exemplo. Ações. A gente tem atos de compaixão. Uma vez por ano
gente realiza, cada pequeno grupo é encorajado a realizar, a se unir... Né! A usar sua união
do pequeno grupo e a sua força pra ajudar alguma instituição, pra ir em alguma comunidade
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carente e fazer alguma ação social. Pintar a casa de uma pessoa que, por exemplo, teve
desgaste em função das chuvas. Levar, fazer um culto na ACACCI, por exemplo, que é a
Associação de Crianças com Câncer. Ir ali passar uma tarde com as crianças, levar a eles
também mantimento, levar itens que eles precisam pra suprir as necessidades deles. Então
cada célula, se a gente pensar, cem células na igreja. Cada célula fazendo um ato de
compaixão, isso tem um resultado pra comunidade, pro nosso bairro que vai dar um
impacto na própria igreja. Quando a gente tá praticando aquilo que a gente tá aprendendo,
tá ouvindo. Dominicalmente. Então esse é um exemplo, outro também é um teatro
interativo que a gente faz, de dois em dois anos que é a ‘Casa do Julgamento’ em que as
células, cada célula têm uma contribuição, cada célula tem uma forma de participar. Seja
preparando o lanche, seja cuidando de uma cena do teatro, seja convidando pessoas. Então
isso tem em um grande impacto no pequeno grupo, na vida de quem participa porque está
envolvido, está fazendo algo em prol do outro e um resultado na própria igreja, no grande
grupo.

8p. Entrevistador: Qual a associação que você faz entre pequeno grupo e comunhão
entre os membros da igreja?
8r. Entrevistado: Então! Eu acho que a associação, a relação ela é inteira... né! Ela é total,
do pequeno grupo com comunhão, porque comunhão eu entendo que é ter relacionamento
entre pessoas, comunhão entre as pessoas e comunhão com Deus, relacionamento com
Deus e relacionamento entre as pessoas. Então! O pequeno grupo ele favorece o
relacionamento entre as pessoas na medida em que me comprometo a estar semanalmente
me reunindo nas casas. Que já é um lugar mais íntimo, com as mesmas pessoas durante o
ano inteiro, eu estou ali me abrindo, eu estou possibilitando e abrindo possibilidades pra
que possa me relacionar com pessoas. Então! O pequeno grupo ele me encoraja a estar com
aquelas pessoas, a conhecê-las, a conhecer mais do que o próprio nome delas, mas conhecer
um pouquinho da história de vida, da realidade familiar, dos desafios que elas vivem. E a
gente poder interagir. Então o pequeno grupo e comunhão pra mim é uma relação direta aí.
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9p. Entrevistador: Você tem percebido, na igreja, um aprofundamento da comunhão


depois da implementação dos pequenos grupos? São quantos anos que a igreja está
utilizando essa filosofia?
9r. Entrevistado: Se eu não me engano começou em dois mil e dez ou dois mil e onze.
Então a gente tá indo pra doze, treze anos que a igreja. Treze anos... né! Há catorze anos
que igreja começou os primeiros estudos a respeito dessa visão de pequenos grupos. A
implementação começou, a implantação começou há, eu penso no momento em que houve
um incomodo e uma busca por conhecer... o que é isso? Daí surgiu um primeiro grupo...
né! Então aproximadamente dois mil e dois começou o primeiro grupo, ele passou o ano
todo reunindo esse grupo depois multiplicou formando dois grupos e assim começou... Né!
De lá pra cá, o que eu observo? As pessoas elas hoje tem o direito de estarem juntas, se
relacionando. Ninguém pode falar assim: “Ah eu vou nessa igreja, mas não conheço
ninguém, ninguém me dá atenção, ninguém fala comigo” porque essa é a visão principal
da igreja: Sermos uma igreja de pequenos grupos de comunhão.

10p. Entrevistador: Ah!


10r. Entrevistado: Então todos hoje exercem comunhão, tem comunhão com outras
pessoas com seu pequeno grupo. Se a pessoa não quer, não tiver interesse, não tiver abertura
pra viver em pequenos grupos ela tem esse direito também de não participar, mas ela vai
ficar solta, perdida no meio do grande grupo. Mas isso a pessoa pode, se ela quiser, ela
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pode vivenciar assim, mas grande parte da igreja hoje vive nos pequenos grupos de forma
que ela é conhecida pelo seu nome, ela é conhecida pela sua história familiar, ela tem esse,
recebe esse cuidado. Esse cuidado individual, através dos líderes da célula, através dos
próprios membros da célula. Então dentro do grupo eu vejo que existe uma comunhão bem
íntima, bem profunda. O que eu percebo hoje de deficiência é a relação entre os grupos.
Então, do meu ponto de vista, aumentou a comunhão nos pequenos grupos, mas uma coisa
que eu acho até natural no grande grupo. Existem muitas pessoas que não se conhecem, o
que eu vejo com naturalidade porque num grupo de mil e quinhentas pessoas todos se
conhecerem? Não, não entendo que isso seja normalidade assim... né! Mas sim aquela
pessoa que tem um grupo ela conhece quinze, vinte, trinta pessoas dentro desse grande
grupo.

11p. Entrevistador: Que outras mudanças você percebe na igreja a partir dos
pequenos grupos? A partir do momento que foram implantados os pequenos grupos,
que outras mudanças?
11r. Entrevistado: Olha só, mudanças bem radicais. Por exemplo, vida com Deus
individual. O pequeno grupo ele fortalece a visão, a ideia de que cada pessoa precisa ter o
seu momento com Deus, diário. Então, se antes a ideia do momento a sós com Deus,
momento de comunhão com Deus era mais no culto, no domingo, isso se passou pra vida
íntima da pessoa com Deus, seu “quarto de escuta”, que a gente chama. Então as células, o
pequeno grupo trouxe essa visão da vida íntima com Deus, que antes não tinha. O pequeno
grupo, na visão celular que nós adotamos, traz também uma mudança na visão nossa sobre
evangelismo. O que é evangelismo? Nada mais é do que você compartilhar a sua
experiência de fé, sua vida com Deus, seu relacionamento com Deus com outras pessoas.
Antigamente o evangelismo era feito nos cultos de domingo através da pregação pastoral.
Hoje com a visão dos pequenos grupos, a visão de evangelismo passa pra cada pessoa como
uma luz de Deus pra brilhar onde ela está. Então essa é outra mudança que a gente tem,
passando do grande grupo pro individual. Nós vemos que o pequeno grupo, ele além de
350

ser, além de fomentar essa visão do evangelismo individual, ele também fomenta o
evangelismo do grupo. O grupo se unindo, criando estratégias para alcançar pessoas pra
Jesus. Então é o grupo também juntando a sua força de grupo pra promover, como atos de
compaixão, que eu mencionei, que vai ser também uma estratégia pra compartilhar o amor
de Deus com outras pessoas. O pequeno grupo também, ele traz uma mudança grande com
relação ao cuidado mútuo da igreja. Antigamente o cuidado era feito através dos pastores
e diáconos. Então distribuía a membresia da igreja, pro corpo diaconal e ali a igreja era
cuidada assim. Hoje no pequeno grupo, num grupo de dez pessoas, cada um é responsável
pelo outro. Nós formamos duplas de discipulado ou parcerias, em que eu me responsabilizo
por uma pessoa, minha esposa responsabiliza por outra pessoa, o João se responsabiliza
pelo Mateus, e assim cada pessoa cuida de outra, em oração, numa amizade, num
relacionamento. Então muitas mudanças... né! Eu percebo com a implementação do
pequeno grupo.

12p. Entrevistador: Em termos de configuração da igreja, em termos estruturais,


funcionais, que tipo de mudanças isso trouxe?
12r. Entrevistado: Bom... Pequeno grupo, ele cria uma nova estrutura de organização. E
de liderança. Então a estrutura da igreja antigamente, ela era formada por diretoria de
adolescentes, diretoria de jovens, diretoria de ação social, de mulheres, de homens. Tinha
uma diretoria que era eleita, e a igreja trabalhava muito pelos ministérios, focava nas faixas
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etárias. Com a implementação dos pequenos grupos, primeiro, essa questão de faixas
etárias é enfraquecida, porque surge uma ideia de grupos familiares. Então se antigamente
era muito focado em grupo de adolescentes, grupo de jovens, grupo de adultos, grupo de
solteiro, grupo de homem, grupo de mulheres, agora é focado na célula, o grupo que não
tem como a gente controlar ser só de homem, ser só de mulheres. Então houve o que a
gente fala de gerações integradas. É o homem com a mulher, com o filho, com o colega do
filho... né! Então hoje se dá muito mais ênfase ao pequeno grupo. Esse pequeno grupo, ele
se organiza com uma liderança, com um auxiliar de líder, que são voluntários na igreja.
São servos e servas que se prontificam a exercer essa função de liderança e esse líder, esse
auxiliar, eles durante o ano tem como objetivo multiplicar esse grupo. Então eles precisam,
o líder precisa treinar o auxiliar pra que o grupo cresça se desenvolva e se multiplique,
como qualquer ciclo natural de vida. Quando um grupo se multiplica e formam-se dois
grupos e depois esses dois grupos se multiplicam e formam outros dois, formando um grupo
de quatro, aí nasce uma supervisão, que a gente chama, dentro da estrutura de pequenos
grupos forma uma supervisão de células, aí você terá então quatro líderes, cada líder com
uma célula, e aí um supervisor que vai acompanhar cada um desses líderes e o andamento
da célula. Um grupo de supervisões, quatro, cinco, seis, sete supervisões formam uma rede.
Tem que dar o nome de rede ou congregação, já foi dado esse nome também, que então
compõe aí a rede, por várias supervisões. Dentre essas redes, juntando as redes, um grupo
de redes forma a igreja, que nós somos. E temos a liderança de um pastor geral, que faz a
coordenação, o acompanhamento da igreja toda através então das redes, das supervisões e
das células, que tem os seus membros ali.

13p. Entrevistador: Que tipo participação o membro tem nas decisões que são
tomadas? Como é que isso acontece?
13r. Entrevistado: O membro da igreja, ele tem...

14p. Entrevistador: Não, o membro da célula, do grupo, do pequeno grupo.


351

14r. Entrevistado: O membro do grupo participa das decisões da própria célula, do próprio
grupo. Então o grupo vai priorizar naquele ano, por exemplo, acompanhar, dar suporte a
uma instituição, pra estar indo mensalmente, fazendo o trabalho específico, o grupo pode
resolver, o grupo tem autonomia pra tomar essas decisões. O grupo pode opinar, pode
sugerir questões para a própria célula ou pra própria supervisão ou pra igreja como um
todo, como um grande grupo.

15p. Entrevistador: As decisões relacionadas ao sistema em si, elas são tomadas como?
15r. Entrevistado: A maior parte das decisões para o sistema são tomadas entre pastores
e supervisores... Né! Temos encontros mensais de liderança, que envolve líderes,
supervisores e pastores. Ali é um momento em que os pastores passam a visão para a
liderança e também os supervisores e líderes podem opinar, podem perguntar, podem
sugerir. Nesses encontros mensais da liderança da igreja. Mas a maior parte das decisões,
do direcionamento para esses grupos é tomada pelos pastores, pela equipe pastoral.

16p. Entrevistador: E como é que essa equipe pastoral, com supervisores, como é que
eles captam as demandas, os anseios do povo, das pessoas que fazem parte das, dos
grupos?
16r. Entrevistado: Então, cada supervisor se reúne com os seus líderes mensalmente. E
fora esse encontro mensal, o supervisor tem um encontro com todos os líderes. Se eu
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supervisiono quatro células, eu vou me encontrar mensalmente com esses quatro líderes.
Nesse encontro com o supervisor eu vou ouvir o que ‘tá passando no pequeno grupo.
Algumas necessidades, algumas sugestões que líder pode dar. E aí o supervisor no seu
encontro com o pastor da rede vai transmitir essas demandas de forma que os pastores então
reunindo entre si eles podem pensar, podem estudar estratégias pra solucionar. Um
exemplo, na minha rede, que é a rede conecte que a gente chama, nós temos duas
supervisões com vinte e cinco casais, jovens casados, em cada supervisão, ou seja, são
cinquenta casais jovens casados que nós temos na nossa rede. Ouvindo esses supervisores,
eles trouxeram dificuldades quanto aos primeiros anos de casamento, como é que é a
dificuldade que surge em função de um primeiro filho, como isso afeta o relacionamento
conjugal. Ouvindo então os supervisores que ouviram essas demandas dos seus líderes, nós
preparamos uma série de reflexões, de encontros para essas duas supervisões de jovens
casados, abordando essa temática. Como viver os primeiros anos de casamento, como lidar
com a chegada de um filho, e por aí vai. Então é um exemplo de uma demanda que surgiu
lá nas células, alcançou o supervisor, chegou no pastor de rede, podendo então oferecer
essa ferramenta aí.

17p. Entrevistador: Muito bem. E nos encontros dos pequenos grupos, que tipo de
participação... Como é que funcionam esses encontros?
17r. Entrevistado: Sim. O encontro ele tem uma dinâmica de ter o início com um quebra-
gelo. Que é um momento mais de descontração, em que o grupo, o grupo, ele responde a
uma pergunta. Como é que foi sua semana? De zero a dez, qual tem sido seu relacionamento
com Deus? Alguma pergunta assim pra o grupo todo participar, depois segue com um
momento de cânticos, louvores que é feito em torno de vinte minutos, em que uma pessoa,
um membro da célula, ele dirige esse momento. Ele é convidado a conduzir esse momento
previamente, obviamente. Depois disso segue com um momento de evangelismo na célula,
em que outro membro é escalado, é oferecida a ele essa oportunidade de conduzir o
momento de evangelismo, em que ele vai propor pra célula uma estratégia de
352

compartilhamento da Palavra de Deus com amigos de fora da igreja, amigos que não tem a
fé em Jesus. Então ele vai conduzir o momento do evangelismo. Depois, por fim, o
momento da edificação da célula, em que outro membro da célula, também previamente
comunicado e preparado, ele vai conduzir o momento da edificação, em que a bíblia aberta
e lida um texto bíblico, e normalmente utiliza um roteiro que o pastor preparou, baseada na
mensagem pregada no domingo anterior. E o pastor então, ele coloca algumas perguntas
referentes aquele texto bíblico e a pessoa, o membro da célula vai conduzir esse momento,
vai ler o texto bíblico, vai orientar aquele período através das perguntas que foram
propostas pela equipe pastoral. Assim, cada membro pode participar de cada uma dessas
partes, de cada uma dessas partes do encontro; e um membro também pode participar na
célula infantil, quando a célula tem crianças, as crianças se reúnem nesse momento da
edificação num outro ambiente. Os membros da célula podem também, são convidados
também a liderar esse encontro com as crianças. Então o membro da célula ele pode
participar de várias formas do encontro: tocando instrumento, lendo um texto bíblico,
fazendo uma oração, fazendo algum pedido de oração, conduzindo a exaltação, o
evangelismo, a edificação. Várias formas de participar.

18p. Entrevistador: O... A questão da formação dos grupos, que princípios ou que
critérios são utilizados na formação dos grupos?
18r. Entrevistado: O grupo ele vai se formando à medida que novas pessoas vão entrando
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nesse grupo. Um amigo meu que eu convido pra ir à minha casa naquele dia do encontro e
ele gosta, passa a frequentar. Aí ‘vi’ outro vizinho que também vai, e passa a se reunir aqui
na minha casa. Então o grupo vai se formando assim, aleatoriamente. De acordo com os
nossos relacionamentos, na maioria das vezes. Quando esse grupo cresce, ele chega a um
ponto com vinte pessoas, por exemplo, que já fica inadequado pra uma casa; você já tem
dificuldade de receber na sua sala. Na sua casa, no seu apartamento. Então esse grupo, ele
vai. É necessário que ele se multiplique. Até porque um grupo já com vinte pessoas, com
trinta pessoas já não tem a mesma qualidade na comunhão, no relacionamento entre as
pessoas, como um grupo de dez pessoas. Então esse grupo, ele se multiplica e aí então, na
multiplicação é que se avalia a proximidade geográfica, avalia, considera na hora de
multiplicar, de dividir o grupo em dois, considera o, a intimidade entre as pessoas,
considera também o nível de maturidade espiritual. Ou seja, eu não posso manter numa
célula, num grupo, num grupo que multiplica pessoas maduras espiritualmente, já
vivenciadas, e no outro grupo só bebezinho espiritual, só pessoas recém-convertidas, por
exemplo. Tem que haver um equilíbrio.

19p. Entrevistador: Quais as principais dificuldades que vocês tem detectado ao longo
desses anos aí de funcionamento dos pequenos grupos?
19r. Entrevistado: Grandes dificuldades. Por exemplo, mudança dos valores individuais.
A pessoa, querendo ou não, é muito mais cômodo você, a pessoas vir ao domingo, prestar
um culto a Deus e depois ela passar a semana toda focada no seu trabalho, nas suas
prioridades, preferências e depois voltar no domingo. Então a primeira dificuldade é a
pessoa entender a necessidade de aprofundar o relacionamento com Deus e com as pessoas.
Então num mundo que a gente vive com o individualismo, com falta de tempo. Prioridades
no trabalho, nos estudos, na carreira profissional. Cada vez mais você tem menos tempo
pra relacionamento, pra vida com Deus. Então o grande desafio é esse, essa mudança de
valores individuais, a pessoa se convencer de que ela precisa se relacionar com outras
pessoas de modo mais profundo, e não somente na superficialidade. Convencer as pessoas,
353

trabalhar esses valores de que a pessoa precisa investir tempo pra ela estar com outras
compartilhando o amor de Jesus e que essa é uma responsabilidade dela, e não mais do
pastor que vai pregar no domingo. Então ela precisa viver um cristianismo, viver, dar
testemunho de um cristão pra ela poder falar com outras pessoas. Ah... O valor do
discipulado, que é quando uma pessoa nasce de novo. Tem a conversão dela, ela passa pelo
segundo nascimento, convencer que alguém precisa cuidar desse bebê espiritual ; e que
não vai ser uma classe da escola bíblica que vai cuidar dela, mas vai ser outra pessoa, um
pai espiritual, uma mãe espiritual. Então convencer que alguém precisa cuidar, dedicar
tempo, ir às vezes à casa da pessoa de madrugada, orar com ela por alguma dificuldade que
ela tá passando. Então essa é uma das dificuldades. A mente, a transformação da mente de
cada um. Nesses valores e princípios.

20p. Entrevistador: E como é que vocês estão, como é que a igreja está trabalhando
essa conscientização?
20r. Entrevistado: Essa conscientização é trabalhada através do púlpito mesmo, das
pregações, das campanhas que a gente faz de discipulado, na leitura de livros, filmes que a
gente propõe que favorece essa ideia de cuidar uns dos outros. Então é sempre na pregação,
no ensino, em cursos, em leituras de livros. Essa tem sido nossa estratégia.

21p. Entrevistador: E qual o lugar da bíblia nesse, nesse, nesse processo aí, de
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conscientização?
21r. Entrevistado: Então, quando eu falo no ensino e no púlpito, é exatamente utilizar
textos bíblicos, que a gente entende ser, serem muito claros nesse sentido. Que Jesus
mesmo nos ensinou a cuidar uns dos outros, “fazei discípulos de todas as nações”... Né!
Foram as últimas palavras que Jesus deixou para os seus discípulos. Ah... Textos como
Paulo e Timóteo, Paulo e Tito, que mostra essa relação de cuidado e de ensino mesmo,
vivenciar o relacional, não o ensino numa escola, numa academia, mas no relacionamento.
Paulo fazendo discípulos de Jesus. Então a bíblia, ela é sempre utilizada, porque ela é na
verdade, a gente só tá falando do que ela ensina. A gente não quer transmitir as pessoas
valores nossos pra que elas sejam iguais a nós, mas a gente olha na bíblia e vê que Jesus
ensinou esses valores e princípios; e a gente usa então a bíblia, a Palavra de Deus, pra que
as pessoas se tornem mais parecidas com Jesus e façam aquilo que ele nos deixou pra fazer.

22p. Entrevistador: Quais os perigos que você vê na utilização do sistema de células?


Os perigos para a igreja?
22r. Entrevistado: A gente tem hoje perigos, por exemplo, de como você lida com
pequenos grupos, você está trazendo as pessoas pra mais perto umas das outras. Quando as
pessoas se aproximam umas das outras a possibilidade de conflitos aumenta. Quer dizer, é
muito mais fácil, eu vivo muito bem com você, eu aqui você lá na Serra. Agora a partir do
momento que eu me relacionar com você todos, toda semana que a gente tiver encontros
também individuais de cuidado mútuo. E eu começo a desfazer aquela imagem que eu tinha
de você, e você de mim; e aí a gente começa a identificar dificuldades, falhas, defeitos.
Esse é o perigo: a pessoa, um perigo que eu acho saudável. Porque as pessoas vão se
conhecer melhor, os conflitos vão surgir, mas o que a gente vai fazer? Vai aprender a amar
o outro, a aceitar o outro como ela é. A gente vai aprender a se relacionar. Então perigo de
que a gente vive aí? De problemas, de conflitos que a gente vai precisar lidar com eles,
perigos de fofoca. Porque a partir do momento que a gente passa a abrir nossa vida, a gente
pode, a gente tá sujeito a outras pessoas compartilharem aquilo que a gente tá abrindo pra
354

outras fora do grupo. E isso acontece, infelizmente. Como um motivo de oração que a gente
compartilha na célula e que depois pessoas tão sabendo. Perigo também de um líder que
possa perder o seu, o seu foco na liderança e conduzir o grupo pra um mau caminho. Eu,
por exemplo, tive que intervir num caso assim, de um casal de líderes que estava vivendo
muito mal no casamento, estava liderando uma célula e eu percebi que os outros casais
estavam vivendo problemas semelhantes. Então eu precisei conversar com esse casal de
líderes, pedi pra eles deixarem a liderança, porque eles estavam influenciando
negativamente outros casais. E, quer dizer, é o fermento que vai tomando toda massa. Que
vai prejudicando o grupo. Então são perigos que a gente corre. Algumas igrejas
vivenciaram, várias igrejas na verdade, vivenciaram divisões na igreja porque não
acompanharam, os pastores não fizeram um bom acompanhamento da sua liderança; então
se perde o controle do que está sendo ensinado, do que está sendo falado. Então pode ser
semeado aí discórdia e divisão. Então é um perigo que existe. Então existem vários riscos,
mas nós temos tido uma experiência nesses doze, treze anos de muita coisa boa, muita,
muita coisa favorável. É um ambiente propício pra novas pessoas crescerem na liderança,
experimentarem o pastoreio, o cuidado de pessoas, um lugar onde muitos talentos são
descobertos, enquanto um irmãozinho está tocando um violão, tocando um teclado, uma
gaita no momento do louvor. Ela tem a oportunidade de se apresentar ali e pode tá
crescendo também nesse dom, nesse talento. Enfim, muita coisa favorável acontece,
positiva.
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23p. Entrevistador: Então se fizer um balanço, você vê coisas mais positivas ou mais
negativas?
23r. Entrevistado: Muito mais positivo.

24p. Entrevistador: Mais vantajosas?


24r. Entrevistado: Muito mais vantagens do que desvantagens. Hoje a gente tem, só pra
você ter uma ideia, hoje a gente tem um grupo de duzentos líderes que auxiliam no pastoreio
do rebanho. Enquanto se fossemos pensar na estratégia de quinze anos atrás, nós teríamos
um grupo de quatro, cinco pastores e dez, doze diáconos que estaria cuidando de todo o
rebanho. Então hoje nós temos um grupo de duzentos líderes, aproximadamente, que com
dez pessoas, quinze pessoas, eles fazem o cuidado de toda a congregação, de todo o
rebanho; e as pessoas entre si, elas também vão exercendo um cuidado mútuo, uma
amizade, que vai nascendo e que vai brotando, e que vai gerando bênçãos pra todo mundo
que participa.

25p. Entrevistador: Como é que você caracteriza a Primeira Igreja Batista em Jardim
Camburi hoje?
25p. Entrevistado: Bom, é uma igreja que a gente, a gente diz “investindo em
relacionamentos”.É o nosso lema. Então a gente percebe isso aí, a gente percebe uma igreja
em que as pessoas se relacionam, é uma igreja muito do bairro, muito bairrista... Né! Não
sei se eu posso usar essa palavra, acho que sim, pessoas aqui da comunidade que se ‘tão
caminhando no calçadão, se encontram; vão fazer compra no supermercado, se encontram
e conversam; tem a feirinha na sexta-feira, as pessoas ‘tão ali, bate um papo, então uma
igreja de relacionamentos. Essa tem sido nossa, esse tem sido nosso foco por muitos anos,
investindo em relacionamentos saudáveis. E eu vejo a Igreja Batista em Jardim Camburi
como uma igreja de relacionamentos.
355

26p. Entrevistador: Muito obrigado.


26r. Entrevistado: Risos

FUNÇÃO: Supervisora SEXO: Feminino DATA: 21/01/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
55 anos Jardim Camburi PIBJC 04

1p. Entrevistador: A senhora poderia me dizer quanto tempo faz que é membro da
igreja?
1r. Entrevistada: Ah!... Doze anos.

2p. Entrevistador: Doze anos. Então a senhora chegou pra igreja antes das células?
2r. Entrevistada: Sim, na realidade eu frequento a igreja há trinta anos.

3p. Entrevistador: Ah!


3r. Entrevistada: Mas eu me tornei membro há doze anos e comecei a frequentar a célula
há dez anos.

4p. Entrevistador: Muito bem! E o que motivou a senhora a escolher esta igreja aqui
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pra frequentar?
4r. Entrevistada: Bom, porque a minha mãe já é da Igreja Batista. Então eu fui criada num
lar evangélico, num lar Batista. A minha mãe é Batista, meu pai é Católico e eu sempre
fiquei ali, né! Observando. Sempre fui uma jovem rebelde(risos) que nunca gostei de
assumir compromissos. Depois quando eu mudei pra cá, foi quando eu me casei, há trinta
anos também. Eu passava, pra lá, eu passava, o ponto de ônibus era aqui. Eu passava, ficava
olhando, ficava olhando, falei assim: “Eu preciso, agora eu to casada, eu preciso, eu to
ficando mais velha, eu preciso arranjar uma igreja e vai ser essa”. Aí eu comecei a
frequentar.

5p. Entrevistador: A senhora!


5r. Entrevistada: Mas demorei muito tempo pra ainda pra. Frequentava, frequentava, mas
demorei muito ainda a me decidir a permanecer mesmo. Tem doze anos só que eu sou
convertida.

6p. Entrevistador: Certo! A senhora conheceu, frequentou a igreja antes dos grupos,
antes das células.
6r. Entrevistada: Justamente! Claro!

7p. Entrevistador: Hum! Que diferença a senhora percebe de lá pra cá na igreja?


7r. Entrevistada: Muita! Muita! Porque a igreja, a igreja né! O auditório né! No geral você
tem mil, muitos membros e não tem aquele, sabe! Como eu vou dizer? Aquela intimidade
com o irmão. Você pode conhecer, mas não tem aquela intimidade. Já a igreja em célula
você tem essa ponte que são os grupos menores, que você se encontra mais tempo, que
você tem mais intimidade. Eu acho que é muito melhor.

8p. Entrevistador: Ah! Então a senhora quer dizer que a célula, o pequeno grupo
contribui para a comunhão ou não?
356

8r. Entrevistada: O estreitamento também das amizades, a comunhão maior entre os


membros. Porque, por exemplo, eu penso assim: Tem uma célula, a gente é estreito ali mas
de repente a gente faz amizade com a outra célula e vai, vai se estreitando, daqui a pouco a
igreja toda já tá, quer dizer não é tão simples assim mas já melhora muito a comunhão entre
todos.

9p. Entrevistador: E como é que, o que que mudou na igreja depois que foram
estabelecidas as células?
9r. Entrevistada: Maior comunhão, maior comunhão entre os membros.

10p. Entrevistador: Afetou outras áreas da igreja, além da comunhão?


10r. Entrevistado: Não vejo isso.

11p. Entrevistador: Como é que a senhora descreveria a sua igreja hoje?


11r. Entrevistada: Eu não sei viver mais sem minha igreja hoje. Não sei. Não me
encaixaria em outra igreja, entendeu? Porque a minha família, por exemplo, como eu te
falei, minha mãe é da Igreja Batista, meu pai é Católico, eu tenho igreja, irmãs na Igreja
Presbiteriana, na Igreja Maranata.

12p. Entrevistador: Ah!


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12r. Entrevistada: E quando tem alguma festividade, alguma coisa, eu sou convidada eu
vou, mas eu percebo que (risos) eu não largaria a minha igreja do jeito que ela é, entendeu?
Por uma outra denominação.

13p. Entrevistador: Certo. Como é que a senhora descreve a sua igreja, como é que
a senhora caracteriza a sua igreja hoje?
13r. Entrevistada: Minha família, uma família muito bacana onde eu tenho meus pastores
que são pessoas que me acompanham, tem muitos irmãos que eu também tenho muita
amizade, tem uns que eu ainda não conheço, porque, né! Aqui tem quase dois mil membros,
tem uns que eu ainda não conheço, mas eu vejo essa igreja como uma família...

14p. Entrevistador: Que tipo de mudanças produziu na sua vida, depois que a senhora
passou a fazer parte de uma célula?
14r. Entrevistada: Eu tive mais misericórdia das pessoas, entendeu? Porque eu comecei a
prestar atenção mais no que as pessoas falavam, no que as pessoas tavam sentindo.

15p. Entrevistador: Ah!


15r. Entrevistada: Eu, a partir desses pequenos grupos, eu comecei a ter mais
misericórdia das pessoas.

16p. Entrevistador: Como é que funciona esse pequeno grupo?


16r. Entrevistado: Bom, a gente aqui na Igreja Batista de Jardim Camburi, a gente tem
uma carta do pastor semanalmente pra seguir, né! Que a célula é composta de quatro E’s,
comumente, que é o quebra-gelo, a exaltação, a edificação e o evangelismo. Tá mais ou
menos nessa ordem. Sempre quase nessa ordem. Então a gente tenta seguir por ali, mas a
gente tem um respaldo da igreja com essa carta pra gente seguir isso, mas isso não impede,
entendeu De a gente fugir algumas, assim, bem pouco, fugir bem pouco, porque se fugir
muito também não, não.
357

17p. Entrevistador: E qual, o que que acontece com a célula fora dos encontros? Tem
alguma atividade? Como é que funciona?
17r. Entrevistada: É! A gente costuma fazer uma comunhão assim, uma vez por mês
fazer um churrasco, um piquenique, uma viagem pequena, né! Tipo assim, vamos todo
mundo pra Jacaraípe686 passar o domingo em Jacaraípe na casa de um irmão né! Faz um
churrasco ou faz um jantar na casa de outro irmão.

18p. Entrevistador: Ah! Essa participação nesses encontros assim, que tipo de
critérios tem sido usado pra se formar um grupo?
18r. Entrevistada: Bom, aqui na igreja quando começou, acho que em dois mil e dois, não
me lembro exatamente se foi dois mil e dois ou dois mil e um, teve os grupos, aí vou te
explicar da minha célula. Eu comecei em dois mil e quatro, na célula que eu comecei,
aquela célula multiplicou então eu saí daquela e fui pra outra, aquela segunda célula em
que estava multiplicou de novo e vai multiplicando assim.

19p. Entrevistador: E como é que ela multiplica? O que é feito pra que ela se
multiplique?
19r. Entrevistada: Vou te explicar assim: a primeira célula minha eu multipliquei porque
eu fui convidada por uma pessoa, essa pessoa que vai vir falar com você depois, eu fui
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convidada por ela, comecei a frequentar a célula dela. Quando multiplicou ela era a líder
então eu vim com ela, certo? Na segunda célula aí a célula dela multiplicou, eu sendo a
líder, então eu levei comigo todas as pessoas que eu levei pra célula. A gente costuma fazer
isso porque durante o período que a célula tá um convida, o outro convida, então vai quando
tá grande, aí que se fala em multiplicar, né! Então o líder carrega todos os seus liderados e
o outro fica com a primeira célula então que nós multiplicamos, eu fiquei com mais do que
ela eu fiquei com treze pessoas, eu acho que foi, e ela com onze, aí a minha célula começou
aí. A gente coloca um pra fazer o curso de liderança, aí vai multiplicar. Aí aquele que ele
trouxe vai com ele e eu fico com os outros, assim sucessivamente.

20p. Entrevistador: E que tipo de pessoas vocês trazem pra célula, vocês convidam,
a senhora convida pra célula?
20r. Entrevistada: A gente procura convidar as pessoas que não conhecem Jesus, as
pessoas do nosso relacionamento que não conhecem Jesus. Então a gente convida pra uma.
Ah! “Eu vou fazer uma reunião lá em casa hoje, nós vamos falar da Palavra do Senhor e é
muito legal, você vai gostar, é uma hora de duração a célula. Ah! Se você quiser pedir
oração pela sua família”. Normalmente se você já convida você já sabe que aquela pessoa
tem algum probleminha, aí tá, a pessoa vai.

21p. Entrevistador: E como é que se dá o evangelismo na célula?


21r. Entrevistada: Olha, o evangelismo depende do que foi, as vezes de alguma sugestão
na carta do pastor. Essa semana por exemplo eu que fiz até. Foi dada a sugestão pra você
ver nos seus relacionamentos. É! A parte de família, vizinhos, amigos, aquele que está mais
distante de Jesus e quais são aqueles que estão mais perto. Então eu conduzi como na nossa
célula? Essa foi a sugestão que veio na carta. Então eu falei assim: “Bom, eu, na minha

686
Jacaraípe é um bairro do Município da Serra, onde se localiza uma das praias mais frequentadas
da Grande Vitória. Vários moradores de Vitória tem casa de veraneio no balneário.
358

família eu tenho meu irmão, a família do meu irmão que ‘tá precisando se chegar a Jesus e
o meu marido. É! Agora quem tá pertinho, quem num tem, os que já receberam Jesus, já
‘tão aí. Agora num tem aquele que vai receber Jesus ainda, entendeu? Eu percebo que vai.”
Aí perguntei: “E vocês?” Aí cada um falou, anotei ok? Todo mundo, então vamos orar. Aí
nós oramos por aquelas pessoas.

22p. Entrevistador: E como é que você sabe se a pessoa está perto ou está longe de
Jesus?
22r. Entrevistada: Olha, a pessoa está longe, como meu irmão por exemplo... eu acho
porque ele, ele era, ele tinha Jesus no coração, tal, tal. Casou com uma pessoa também bem,
bem centradinha que era da Igreja Presbiteriana, mas era bem centradinha. Depois ele
perdeu o emprego, começou a beber, pronto não quer mais saber. E a esposa num, né!
Invés de, de ‘tá orando, tá orando ela começou a malhar ele, xingar: “Seu vagabundo, você
num quer trabalhar, você não quer nada. Aí ele fala assim: “É, você é engraçada. Vai pra
igreja, bota a auréola”. Ele fala: “chega da igreja, começa a me chamar de vagabundo.”
Fica até complicado eu comentar isso com você, porque é família, entendeu? Mas, ela num
tá sendo sábia.

23p. Entrevistador: E como, que tipo de material está sendo usado pra evangelizar,
pra discipular? A bíblia é usada?
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23r Entrevistada: Isso.

24p. Entrevistador: Como é?


24p. Entrevistada: Só a bíblia.. Tem células que eu já percebi aqui na igreja que usa
aqueles panfletinhos. Mas a minha supervisão, que é a supervisão do pastor Andrielly 687, a
gente usa mais só a bíblia.

25p. Entrevistador: Ah! E como é que vocês fazem os estudos assim? Tem algum tema,
alguma coisa?
25r. Entrevistada: Normalmente a igreja dá pra gente, já você num viu, não tem nenhuma
carta do pastor. A carta do pastor, ela dá uma.

26p. Entrevistador: Ela já traz o tema?


26r. Entrevistada: Já traz, já traz o tema.

27p. Entrevistador: Pra ser usado ali no estudo?


27r. Entrevistada: No estudo.

28p. Entrevistador: No encontro?


28r. Entrevistada: No encontro. A edificação do dia é também o que foi feito no culto de
domingo. Então o pastor, por exemplo, o pastor pregou no domingo, então as perguntas
que vem na carta da edificação, é as perguntas relacionadas ao culto de domingo.

29p. Entrevistador: Quem fala mais no encontro de célula?

687
Um dos pastores chamados pastores de rede, ou seja, que supervisiona cerca de cinco supervisões
de cerca de cinco células cada.
359

29r. Entrevistada: Olha, a gente procura – ah, esqueci, não trouxe minha bíblia – a gente
faz um cronograma. Então como eu te falei, a gente chama aquilo de quatro E’s. Encontro
(quebra-gelo), exaltação, edificação e evangelismo.

30p. Entrevistador: Tudo bem?


30r. Entrevistada: Tudo. Então a gente faz, vai começando a célula, a gente vai treinando
as pessoas: Olha, o quebra-gelo. Pra você quebrar o gelo, se... Principalmente se tiver
visitantes.

31p. Entrevistador: No encontro mesmo, no encontro em si?


31r. Entrevistada: Então! No encontro a gente vai treinando as pessoas. Aí a cada, a cada
célula, por exemplo, nós fizemos a célula terça-feira, minha célula é terça-feira. Então a
gente faz pro mês inteiro. Por exemplo, a próxima célula vai ser no dia vinte e sete, dia
vinte e sete, terça-feira. Então esse põe exaltação: fulano, edificação... Cada um faz. Cada
um faz o seu.

32p. Entrevistador: E na hora da edificação, qual é a ênfase que se dá? Faz-se um


estudo bíblico?
32r. Entrevistada: É o que eu expliquei. Já vem na carta do pastor.
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33p. Entrevistador: Sim.


33r. Entrevistada: A edificação normalmente... Normalmente, não... Toda célula, é o que
foi falado no culto de domingo. Aí supõe que é eu que vou fazer, que assim... Começa tudo
bonitinho, você sabe né? Começa o quebra-gelo, o líder dá uma olhadinha pro... pro... pro...
pra quem vai começar a coisa, aí o... “Vamos... Gente, boa noite, vamos lá!”... Aí o rapaz
da exaltação já começa lá com o violãozinho deles, e ‘tá lá... aí começa e tal, tal... aí entra
o evangelismo, porque agora é o evangelismo primeiro. Aí na hora da exaltação faz...
Edificação suponha que sou eu, aí eu peço assim: “Gente, vamos abrir o texto em... em
Gálatas 1:5”, por exemplo. Aí é o texto que foi falado domingo.

34p. Entrevistador: Ah!


34r. Entrevistada: Aí todo mundo abriu, tal... Aí eu, se eu quiser eu leio o texto, se for só
Gálatas 1:5; agora se for um texto grande eu posso pedir pra todo mundo... Cada um ler um
versículo. Lemos. O texto. Acabou de ler o texto a gente ora. Aí eu que to conduzindo o
evangelismo, a edificação, eu comento alguns tópicos, eu não faço uma pregação. Porque
nós já vimos a pregação no domingo. Eu comento alguns tópicos, pergunto se alguém tem
alguma questão pra colocar do texto, então aí eu deixo a vontade. Assim, deixo a vontade
assim de comentar alguma coisa do texto, se tiver alguma coisa pra (comentar)... Se não
tiver eu já venho com as perguntas que veio pra mim fazer. As perguntas que normalmente
são da nossa vida cotidiana que são baseadas no texto.

35p. Entrevistador: São então ah... Perguntas bem práticas?


35r. Entrevistada: Práticas, isso.

36p. Entrevistador: E elas são dirigidas pro grupo todo!


36r. Entrevistada: Pro grupo todo. E a gente procura não forçar. Porque assim, se eu,
como eu te falei, to conduzindo a edificação; aí eu assim, a primeira pergunta: “ah! Gente.
Isso, isso, isso e isso.” Aí eu perguntei. A pergunta veio pra gente responder: mas eu sou a
360

primeira que respondo, porque o que eu vou dizer, entendeu? Se eu quero que o negócio se
exponha, eu não... Mas eu vou em poucas palavras, digo o que eu penso. Aí todo mundo
vai dizer. Que tem que ser umas respostas curtinhas. Lógico que sempre tem um, que às
vezes chega um visitante e aí se o negócio aí isso vai depender de todo um contexto, de
repente tem um visitante que começa a chorar, aí você tem que parar aquilo tudo e ir lá dar
atenção, orar por aquele visitante.

37p. Entrevistador: E tem algum critério pra... Pra guiar o grupo? Tem algum...
Algum acordo que o grupo faz? Porque ali no grupo também se compartilha alguma...
Alguma experiência pessoal à luz das perguntas?
37r. Entrevistada: Sim. Agora depende muito, porque, por exemplo, eu tenho um... Uns
cinco anos que eu ‘to só com adolescente e jovem. Então às vezes eles são mais... Eu ‘num’.
Às vezes eu ‘num’ vou poder colocar uma coisa da minha vida particular. Porque quando
eu tava em célula de adulto, eu tinha essa liberdade, entendeu? De colocar alguma coisa da
minha vida particular, quando era adulto. Mas assim de jovem e de adolescente eu procuro
não falar. E eles também, entendeu? Às vezes não consegue falar. Eu atualmente tenho
mais, agora, liberdade porque meus filhos são jovens, então eles frequentam muito a minha
casa; então eles são... Tipo assim, eu sou a ‘tiazona’.

38p. Entrevistador: Que tipo de perigo a senhora vê na célula?


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38r. Entrevistada: Olha, eu não vejo perigo. A única coisa que eu tenho medo, que às
vezes eu vejo de alguns líderes que tem célula de jovem e de adolescente, que às vezes
fazem um churrasco. Eu já até to com um pouquinho de conflito com um líder meu, porque
ele gosta muito de... De fazer churrasco. Célula de jovem e adolescente. Já falei com ele
domingo, falei com ele assim: “olha...”; domingo passado ele falou comigo que terça-feira
agora que é a célula dele também, que ele ia fazer um churrasco. Falei: “Querido,
churrasco? Não é a mesma coisa que célula! A hora que você vai fazer um churrasco, ‘tá
ali a carninha queimando. E como é que você vai fazer a célula se tem... Se tem que vigiar
a carne?” – “Não, mas... por quê? A gente ficou dois meses fora... Que não sei o que...”.
Falei assim. “Tem muitos jovens novos não convertidos”... Falei assim: “mais um motivo”.

39p. Entrevistador: Mas se quisesse fazer, por exemplo, uma noite pro encontro e uma
outra noite pro churrasco?
39r. Entrevistada: Isso... É.

40p. Entrevistador: Aí não teria problema?


40r. Entrevistada: Com certeza. E a outra coisa, porque às vezes, aí fica lá no churrasco...
Fica lá no churrasco... Aí vai embora, em vez de terminar o encontro nove horas, vai embora
onze horas. Entendeu? Esses meninos jovens, aí pelo meio da rua (risos)... Eu acho isso,
sabe? Eu falei com ele: “olha fulano”... Falei assim: “eu num sou muito a favor... porque
você não faz esse churrasco no sábado? Entendeu? Faz a célula na terça, aí no sábado... faz
o churrasco no sábado. Depois... na hora do almoço! Porque aí acaba o churrasco é de dia,
cada um vai embora pra sua casa. O meu medo...”, eu falei assim: “o meu medo é esses
meninos saírem da sua casa, por exemplo,” – que ele mora lá perto da praia. Menino que
mora aqui, vir esse pedação aqui tudo. São rapazes, mas são rapazes novos. Eu não gosto
que os meus filhos de vinte anos, de vinte e quatro anos fica na rua até tarde. Eu to tendo
muito problema com isso, viu?
361

41p. Entrevistador: Muito bem. E os benefícios. Que tipo de benefícios a... fazer parte
de um célula proporciona na vida de uma pessoa?
41r. Entrevistada: Bom, eu acho que pro jovem é bom que ele esteja ali, do que se estiver
em outro lugar. Eles não... Eles não faltam, né? Que tem células de jovens aqui no sábado.
Então que é melhor eles estarem numa célula, no convívio, entendeu?... Com os irmãos, do
que ‘tá no carnaval de rua; que antigamente tinha um carnaval aqui na praia, agora não tem
mais, graças a Deus. (Risos). Então é melhor um jovem tá numa célula, do que no carnaval
ou num barzinho.

42p. Entrevistador: E para os adultos?


42r. Entrevistada: E pra os adultos? Essa história que eu... Quando eu falei no início,
entendeu? De você ter mais liberdade de falar, porque você tá num momento de oração, de
confraternização, sabe? Você consegue botar pra fora, de falar... Isso é, você sabe que isso
faz bem pra alma. A gente não pode ficar guardando tudo pra gente.

43p. Entrevistador: Muito bem. Então eu queria que a senhora só resumisse. Pra
senhora então, qual a importância de fazer parte de um pequeno grupo?
43r. Entrevistada: Pra mim. Olha, pra mim é a melhor coisa que já me aconteceu, dentro
da Igreja Batista de Jardim Camburi. Eu não sei mais viver, a não ser de uma célula. Se eu
tivesse que frequentar, mudar de lugar, mudar de cidade e ter que conviver com uma outra
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Igreja Batista, que não fosse igreja em célula, eu não ia me sentir a vontade. Eu ia tentar
conversar com a liderança, ia falar: “Gente, vamos escolher essa igreja em célula?” E
colocaria como é que é, porque eu conheço uma outra igreja no interior, a igreja da minha
mãe, que é igreja de células, que a minha mãe não gosta, a minha mãe tem oitenta anos, ela
não gosta porque tem muita coisa que desagrada a ela e eu, pelo que ela me falou também,
não é a igreja em célula que acontece lá.

44p. Entrevistador: Muito bem, obrigado pela sua participação!


44r. Entrevistada: De nada, querido. Foi um prazer!

FUNÇÃO: Supervisora SEXO: Feminino DATA: 21/02/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
65 anos Jardim Camburi PIBJC 05

1p. Entrevistador: Quantos anos faz que a senhora é membro da igreja?


1r. Entrevistada: Quantos anos? Olha eu vim pra célula, eu tinha... Eu vim pra célula do
meu filho. E eu não tinha cinquenta e cinco anos ainda. Eu tinha um pouco menos, eu tinha
uns... Eu acho que eu devia ter uns cinquenta e três, por aí. E logo depois eu aceitei a Jesus
e me batizei. Aí quando eu me batizei eu já tinha cinquenta e cinco, né. Abandonei tudo...
Cinquenta e cinco anos de Igreja Católica, e fui pra... Vim pra célula que ele me levou, que
ele era meu pai espiritual, entendeu? Aliás, nem é ele... Nem era ele, era minha nora... Que
ele foi pra namorar com a minha nora, e eu acabei sendo a neta dela, né. E ele o meu pai
espiritual.

2p. Entrevistador: Então a senhora já veio pra igreja através da célula?


2r. Entrevistada: Da célula. E... E vim por insistência e de oração da minha nora, que
orava pela sogra com a cadernetinha desde doze anos de idade. Foi muito lindo quando eu
362

vi aquilo. E no dia do meu batismo eu... Quando eu fui batizar, eu fiquei cheia da culpa.
Porque eu ‘tava saindo de uma igreja, com cinquenta e cinco anos já de igreja. A minha
mãe dizendo que não era pra eu batizar, que ela já tinha me batizada. Eu falei: “Mãe, mas
agora eu preciso porque meu coração já tá dizendo isso! Eu preciso fazer as coisas que
Deus tem colocado no meu coração. E aí ainda duvidei um pouco, porque eu fiquei
apavorada. Fiquei preocupada com ela ficar aborrecida comigo. Aí ele disse assim... Aí
minha nora disse assim: “Oh, tem um fundamento. Leia esse negócio aqui. Aí “a sogra que
eu queria ter”. Letrinha de doze anos. Aí ainda fiquei na dúvida... Aí meu... meu filho falou:
“mãe, abre sua bíblia como você faz e vê o que Deus fala com você.” Aí eu abri a minha
bíblia, aí Deus falou comigo em Isaías... se não for quarenta e quatro... acho que quarenta
e quatro, dois. Falou bem assim: “Eu, o seu criador, o tenho abençoado desde o dia em que
você nasceu” – aí – “Israel, meu servo.” Aí eu troquei: “______, minha serva, não tenha
medo, eu te amo e te escolhi pra ser minha.” Aí pronto... aí eu fiquei apaixonada. Aí eu
falei: “bom, agora ninguém me segura mais”. Aí me batizei no dia doze de outubro, que
era o dia da criança, de dois mil e três.

3p. Entrevistador: O que mudou na sua vida depois que a senhora veio pra célula?
3p. Entrevistada: Tudo, tudo, tudo. Eu cheguei na presença de Jesus, eu experimentei do
poder dele pra cumprir o propósito que ele tinha na minha vida. Foi muito assim... Muito
claro, muito claro, sabe? Eu percebi isso muito claro mesmo. E eu sempre... Aí depois, foi
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que a gente começou no quarto de escuta. Que todo dia você tem que orar, todo dia, todo
dia pra tudo, né. E ali Deus falava tremendamente comigo e eu fui me equilibrando, e eu
fui embora.

4p. Entrevistador: Antes disso a senhora não tinha essa prática?


4r. Entrevistada: Não tinha. Rezar terço, ‘num’ sei o que, aquelas ‘bobeirada’ tudo
repetido, entendeu? E eu ‘num’ dava mais pra mim, não. Quando eu percebi que aquilo
tudo era... Era difícil pra mim, pra eu entender mais, aí falei: “bom, chega! Então parei”.

5p. Entrevistador : Além disso, qual a importância da célula pra senhora?


5r. Entrevistado : Olha, pra mim a célula agora é tudo. Eu estou aqui já pra cumprir um
propósito de Deus na minha vida como uma trabalhadora dele, como a gente percebe nas
palavras que ele passa pra gente sempre, né. Em: “vá até os confins dos tempos”, “fazei
discípulos”; isso ‘tá bem claro na minha mente. E depois que a ___, que foi a primeira
célula, multiplicou, aí a gente saiu multiplicando688. Aí a gente começou a trabalhar junto
pra não perder o vínculo, e nós trabalhamos juntinho assim, ó, direto.

6p. Entrevistador: E como é que faz discípulo na célula?


6r. Entrevistada: Fazer discípulo na célula? É você falar do amor de Jesus com o seu
testemunho, principalmente com o seu né. E mostrar nas mensagens bíblicas onde ele nos
resgata de todo mal do pecado. E a igreja aqui, Igreja Batista em Jardim Camburi, ela faz
isso com uma sabedoria muito grande. E nós vivenciamos todas as coisas boas que a igreja
tem, e a gente costuma colocar em prática. Tanto é que a ____689, depois que ____

688
A entrevistada está mencionando o processo de multiplicação de células que acontece na Igreja
a partir do momento em que a célula alcança determinado número de membros que são alcançados
pelos seus membros através do evangelismo e do discipulado.
689
Os nomes das pessoas mencionadas são omitidos a fim de não identificar a identidade da
entrevistada.
363

multiplicou:____, ____, de ____ pra... É... ____... Aliás, eu, ____, ____, depois de ____ é
‘pro’... Pra esse último que ____ tem. E desse pra cá, nós já multiplicamos umas oito vezes.
Nós não; Jesus através de nós.

7p. Entrevistador: E o que é necessário pra poder multiplicar?


7r. Entrevistada: É muita oração. É orar, é orar mesmo com vontade; é testemunhar o
amor de Deus ‘pras’ pessoas. É participar da igreja em todas as atividades que a igreja
promove pra fazer discípulo, que é: “cultão” 690, “casa do julgamento”691. A gente sempre
trabalhou muito ali. A última “casa do julgamento”, nós tivemos a alegria de ter umas
setecentas pessoas aceitando a Jesus. E ali é um trabalho muito rico com... com relação
aquele cuidado com aquelas pessoas, pegar o leitinho, botar na mamadeira, ajudar a
levantar, dar os primeiros passos, e por aí a fora; é pegar o bebê e ensinar a caminhar.

8p. Entrevistador: Quantas pessoas a célula precisa ter pra poder multiplicar?
8r. Entrevistada: A gente considera umas quinze pessoas. Mas geralmente a gente passa
desse número. Por exemplo, a última célula que nós tivemos, o nosso último encontro, nós
tínhamos trinta e nove pessoas junto com os visitantes. Então, daqueles... Aí você...
“Aqueles que já estão firmes na fé, caminhando já; já tomaram o leitinho, já ‘tão começando
a caminhar, andar”. Aí você para com aqueles, que eles vão cuidar de outros e você pega
outro grupo. E aí...
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9p. Entrevistador: E quais são os critérios pra poder... Por exemplo, em um grupo de
trinta e nove, quem vai pra que lado?
9r. Entrevistada: Ah sim. É a multiplicação é quem vai pra o curso de liderança. Vai ‘pro’
curso, faz um treinamento, e vai ser líder.

10p. Entrevistador: Sim, isso pra liderar. Mas... Para e para os membros?
10r. Entrevistada: Para os membros.

11p. Entrevistador: Assim, critérios...


11r. Entrevistada: A não... O critério é assim: Nós temos o filhinho; o jovem, aí o mais
maduro, entendeu? Aí aquele que a gente manda.

12p. Entrevistador: Então as pessoas são organizadas nos grupos de acordo com os
vínculos que ela tem, por conta desse trabalho de discipulado?
12r. Entrevistada: Sim. Aí ele passa de bebê ‘pro’... Aí vai dando os primeiros passos,
ajudando a caminhar. Ele sai do bebezinho espiritual, aí ele vai crescendo... Quando ele
chegar lá no jovem, aí a gente já ‘tá com ele pronto pra fazer um líder.
13p. Entrevistador: Como é que...
13r. Entrevistada: Aí vai pra sala do líder. Porque aqui tem a escola de liderança e tipo
assim, Ana Gilda 692 que geralmente promove isso, aí a gente já: “Ana Gilda, fulano já tá
preparado. Pode botar pra fazer o curso”. Aí ela vai, termina aquele estágio com eles, né.
Aí a multiplicação acontece, e já se faz lá na frente o...

690
É uma referência às celebrações que acontecem de tempos em tempos onde ocorrem os batismos,
celebração da ceia e outras atividades evangelísticas.
691
Trata-se de uma atividade da Igreja para alcançar pessoas da comunidade através da mensagem
do evangelho dramatizada através de cenas de teatro que ilustram o dia a dia das pessoas.
692
Pessoa responsável pela capacitação dos líderes de célula.
364

14p. Entrevistador: Nos encontros da célula qual a participação das pessoas?


14r. Entrevistada: Ai... Total. Total. Muito boa mesmo. A gente é orientado também pela
igreja, que a gente vem pro culto, a igreja prepara o culto do domingo juntamente com a
célula, e ali já vem tudo praticamente especificado pra nós, né. Você tem que fazer a
adoração primeiro, na igreja você precisa olhar primeiro pra cima; depois você olha pra
dentro. Depois você olha pra frente; você não pode voltar. Pra frente e depois pra fora, que
é a multiplicação.

15p. Entrevistador: Ah...


15r. Entrevistada: Então é pra cima, pra dentro, pra frente e pra fora. Inclusive nós temos:
“Melhorando as dinâmicas de célula”, um livrinho que nos ajuda a fazer isso, a caminhar.
E quando alguém tá se esquecendo a gente vai lá, senta e forma um grupo, e trabalha aquilo
de novo...

16p. Entrevistador: As pessoas moram próximas umas das outras?


16r. Entrevistada: Moram próximas. Aqui moramos próximos uns dos outros. Essa
semana... No mês de janeiro nós fizemos um “melhorando dinâmicas de célula” com um
grupo todo. Assim, bem rapidinho. Aí logo depois a igreja tomou a direção de também estar
fazendo esse trabalho. Nós estamos no... Terminamos o evangelismo, entramos na
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adoração, e vamos terminar as outras partes agora. Domingo passado foi o evangelismo.
Não, primeiro foi o evangelismo. O segundo foi adoração, porque nós estamos na fase de
acordo com os critérios que a igreja tem nos orientado a cumprir.

17p. Entrevistador: Além dos encontros da célula, que tipo de atividade ou que tipo
de envolvimento as pessoas tem ao longo da semana?
17r. Entrevistada: Primeiro, discipulado, que é muito importante. Sem ela... Sem
discipulado ela não cresce. Então você tem que acompanhar aquele seu filho na fé até o
terceiro livro693, pra que ele fique bem maduro pro batismo e depois você entra no quarto
livro que nós temos pra trabalhar.

18p. Entrevistador: Como é que senhora descreveria a sua igreja hoje?


18r. Entrevistada: A minha igreja... A nossa Igreja Batista em Jardim Camburi, uma igreja
que já tá ficando muito grande, pro número de pessoas que tem. Porque as bênçãos aqui
são muitas, são tremendas. É muito batismo, é muita conversão, graças a Deus. E os
pastores, eles nos acolhem e cuidam, entendeu? Cada grupo é cuidado por cada pastor de
rede, entendeu? A nossa rede é de adolescentes e jovens. No domingo... No sábado passado
nós tivemos o encontro dos “mais dezoito” 694, nós ficamos assim... Eu vim junto com meu
grupinho pra fazer um cachorro quente pra umas sessenta pessoas, eu falei: “uns sessenta
jovens, vamos falar sessenta pra Jesus nos mandar sessenta”. Quando nós chegamos lá em
cima que eu fui contar, já tinha mais de oitenta. Nós tivemos que descer comprar mais pão
e mais salsicha pra poder dar o lanche pra. Pelo menos um cachorro-quente pra cada um.
Então esta é a nossa igreja. Esse sábado agora vai ter “mais dezoito”. Então são
adolescentes e jovens cantando, pregando, louvando a Deus e fazendo discípulos da

693
A entrevistada está se referindo a um conjunto de cinco livros utilizados pela Igreja nos estudos
de discipulado.
694
Trata-se de um encontro jovem para quem já tem mais de 18 anos, abordando temas da atualidade
com o propósito de evangelizar, orientar e unir a juventude da igreja.
365

maneira deles, com aqueles... Com aquelas pessoas que vem visitante pra poder ver o culto
deles. E fica no... No sábado passado foi assim tremendo, foi tremendo. Muitos aceitaram
Jesus. E ali a gente já foi entregando: “os líderes jovens favor pegar o documento pra anotar
o nome de quem vai discipular quem”. Então o discipulado é fundamental. Sem discipulado
igreja nenhuma cresce. Eu ‘to falando de cadeira por minha causa, né, porque se eu não
fosse discipulada eu ia largar no meio do caminho. Mas tive que enfrentar a minha família,
né, meus pais, né, na época. “Porque eu te batizei” – “Mamãe, mas eu preciso de novo”.
Agora minha mãe, que tem noventa e um anos, ela veio ontem, aceitou Jesus também. Ela
tá acamada, eu falei: "mãe, tá na hora", "não minha filha, faz... pode fazer, que 'cê tem que
fazer pra eu falar?". Daí eu falei com ela direitinho. Peguei o livro, não me lembro se foi
Romanos dez, nove dez ou dez nove, eu não me lembro agora. Mas peguei a bíblia
direitinho e falei com ela: "agora eu vou falar e você vai fazer oração que eu vou... repetir
a oração que eu vou falar com você e quando você terminar eu vou dizer qual é a surpresa
que Deus tem pra você". Aí eu falei com ela: "agora o nosso nome, o meu e o seu, 'tá escrito
no livro de Deus". Eu coloquei bem certinho pra ela, que ela já tá com noventa e um anos,
pra ela não se confundir muito. "Isso aqui é a vida... é o livro da vida eterna. Você crê que
você pode ser salva e tá aqui?". Ela disse: "eu creio" -- "então tá bom". E ela... Se você
chegar dentro do quarto dela, onde que ela tá agora, onde que; ontem até que eu cheguei lá,
tem imagem pra tudo quanto é lado, sabe. Mas agora ela não tem mais condição, que ela tá
acamada e deitada. Mas ontem, quando eu cheguei lá, aí eu falei assim com ela: "o Senhor
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é o meu pastor", ela: "nada me faltará". Aí eu: "glória a Deus por isso". E agora eu tenho
uma, duas, três, quatro, cinco, seis irmãs evangélicas lá.

19p. Entrevistador: Muito bem. Na célula que a senhora frequenta como é que são
destacados os líderes?
19r. Entrevistada: Pelo desempenho que ele tem durante a célula. E a disposição do
trabalho pra Deus. A gente deixa bem claro: nós estamos aqui pra cumprir um propósito.
Nós não viemos, não 'tamo' aqui de qualquer maneira, pra nada, né. Quem quiser chegar
até o céu, vai ter que cumprir o propósito que Jesus veio fazer aqui. Jesus veio aqui pra nos
deixar os trabalhadores. Nós somos os trabalhadores dele. Então ele veio e ele vai voltar e
nós vamos ter que prestar conta disso. Lá em Apocalipse trinta e três fala isso. Nós temos
que tá prontinhos, esperando Jesus voltar.

20p. Entrevistador: Quais os benefícios que a célula tem trazido pras pessoas?
20r. Entrevistada: Oh... Paz, segurança, harmonia e muito amor, viu. Que a gente se ama
de vontade, de verdade, entendeu? Não tem esse negócio de... É um amor verdadeiro. Tipo
a ____ que saiu daqui, eu encontrei ____ sentada no banco. Aí eu vim toda feliz da vida
porque eu falei: "nossa, que bom". Porque o marido dela é... Tomava cerveja junto com
meu marido. Aí eu fui e falei: "Ai meu Deus, que bom que ____ tá ali". Aí eu cheguei lá,
aí ____ tava sentada no banco atrás. Aí eu falei: "____, É... eu vim pra igreja, eu queria que
você me ajudasse". Ela... Eu vi que ela ficou meia... Assim parada, não teve reação,
entendeu? "Aí eu queria ficar nessa igreja", aí ela não falou nada. Aí depois que eu fui
conversar com ela, descobri que tinha vinte anos que ela tava ali sentada no banco. Aí eu
falei: "Ah não, você vai pra minha célula". Aí ela falou: "Olha, eu não gosto muito desse
negócio de célula, não. Gosto de ficar na igreja aqui quietinha no meu canto." "Ah não,
mas Deus não mandou você vir pra cá pra ficar parada, quietinha, não". E acabou que ela
foi pra célula, e no dia do batismo dela foi muito lindo, viu. Aí eu discipulei, fiz o
discipulado com ela, e ela no dia do batismo, no dia da profissão de fé, aí o pastor perguntou
366

pra ela: "por que"? "Ah, porque uma negona chegou do meu lado, e ela insistiu muito pra
que eu batizasse, e ficou falando de Jesus pra mim, e acabei vindo". E ela com a família
evangélica e vinte anos sentada no banco. Desde lá, de onde ela morava pra cá, entendeu?
Aí o filho batizou, hoje é um levita695 da igreja, um dos melhores baixistas que a igreja tem,
e na nossa primeira célula ele começou a tocar violão pra ajudar na célula, entendeu? Nós
compramos um violão na época e ele tinha dez anos. De setenta reais nós compramos; um
violão todo velho e depois... Hoje ele já comprou o baixo dele. No dia em que ele comprou
o baixo, ele me ligou e disse assim: "____, eu hoje já até orei por você". Aí falei: "é mesmo?
Mas por quê?" Ele: "eu consegui comprar o meu baixo". Eu falei: "Ah que beleza. E aí a
gente tem esses meninos, que eu sou muito apegada aos adolescentes e jovens porque eu
trabalhei com eles muito tempo, né, quando eu trabalhava em escola; mas hoje o trabalho
que eu fazia lá dando aula de geografia, ele é muito melhor pra Deus, né, e pra mim também
do que o que eu tinha antes... Antes de eu conhecer Jesus, né. Porque hoje já fica muito
mais gratificante você ver o ____ tocando baixo ali com aquele... Aquela vontade, tipo
assim: falta um lá o pastor fala: "____, dá pra você cobrir?", ele: "dá sim". Ele vem e cobre.
Aí tem o ____, tem o ____, todos vieram do mundo, e 'tão tudo aí, servindo a Deus.

21p. Entrevistador: Que influência a célula tem pra desenvolver comunhão na igreja?
21p. Entrevistada: Eu creio que pra desenvolver comunhão você tem que ter um amor,
uma paixão, mas uma paixão muito grande por Jesus e pelo seu irmão. E isso a gente vê
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aqui. Então, se você é apaixonado por Jesus e apaixonado pelo seu irmão, você vai fazer
discípulo.

22p. Entrevistador: Em que a célula ajuda nisso?


22r. Entrevistada: Em tudo. Porque nós temos nosso encontro, né, que a gente chega. Tem
o nosso encontro primeiro com Deus, depois a gente tem uma comunhão com o grupo, e
depois a gente tem até um lanche depois, na comunhão. Aí depois que você tem a comunhão
total com Deus e com o irmão, aí que você vai pro final da célula que é o lanche, né. Aí ali
a gente ora por aqueles irmãos que a gente quer trazer de volta. Tipo assim, se eu tenho
parente que não é evangélico, nós sentamos pra orar pelos oikós696, que a gente chama, né,
aqueles que não aceitaram Jesus como Salvador e Senhor, que é a última parte que é o
evangelismo. Agora não, agora nós 'tamos numa... Numa reforma total aqui na igreja, que
a gente começa pela... A gente tem que ter adoração, né, primeiro, porque primeiro é Deus,
né. E depois a gente vai fazendo as etapas que a igreja vem nos conduzindo a trabalhar
entendeu? E é muito lindo, muito lindo o trabalho do pastor Aederson, do pastor Andrielly,
do pastor Joarês, da Ana Gilda, principalmente também, Ana Gilda trabalha pro pastor
Carlos Marcelo e todos...

23p. Entrevistador: Como é que... Que tipo de relacionamento, de envolvimento as


pessoas tem durante a semana? Os membros da célula?
23r. Entrevistada: Toma café junto. A gente sempre sai né. Saímos pra... "vamo' pra
feira?" -- "Vamos bora", "vamos tomar café junto?", "vamos"... Tipo assim: um irmão tá
doente, como nós 'tamos com um agora no hospital, todo mundo pra lá. Corrente de oração,
tipo assim: você vai fazer uma cirurgia amanhã; trinta em trinta minutos, um termina aqui

695
Pessoas responsáveis pela música na Igreja.
696
Expressão utilizada para identificar pessoas dos relacionamentos dos membros das células que
ainda não pertencem à Igreja e que são alvos da evangelização dos membros.
367

de orar, liga pro outro, fica mais trinta, liga pro outro, fica mais trinta, pra cada um tá se
unindo um com o outro e no final todos chegarem a um consenso de que Jesus quer de nós,
que é fazer o propósito que ele nos deu pra fazer. Sem sair da presença dele. É essa a minha
ideia de...

24p. Entrevistador: E qual o perigo que a célula tem?


24r. Entrevistado: Perigo? É de um se afastar e a gente não correr atrás e ele parar no
inferno. Quando um se desliga, 'cê tem que correr atrás dele. Pelo menos você tentou fazer
isso pra que ele não se perca. E tem que trazer de volta.

25p. Entrevistador: E pra igreja em si, a célula representa algum perigo?


25r. Entrevistada: A célula não representa um perigo pra igreja. Só benção. A célula só
representa perigo pra igreja se o líder não for capaz de liderar essa célula com amor. Porque
se ele desviar os propósitos da igreja com relação a célula, com certeza a célula vai se
perder. Agora se você trabalha todos os princípios que estão ali, determinados pra uma
liderança com amor fazer, aí sim, aí você vai fazer a igreja crescer. E a produção, a colheita
pra Deus é muito grande. Por isso que a gente fala: "saia da sua zona de conforto. Vai fazer
discípulo", né. Não foi assim que Deus falou pra Abraão? "Saia, olha pra cima, vê a
quantidade de estrela que tem no céu". Então se a gente fizer isso, a gente vai conseguir.
Agora se a gente ficar: "ah, hoje eu não posso", "ah, a célula hoje num vai ser legal, eu num
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quero, hoje eu to com isso, eu to com aquilo". "Ah, tá chovendo, não vai ter célula", nada
disso. Tá chovendo, se Jesus chegasse hoje, ele ia deixar de salvar alguém porque tá
chovendo?

26p. Entrevistador: Então os membros da célula fazem algum tipo de compromisso?


26r. Entrevistada: Faz, faz um compromisso.

27p. Entrevistador: Que tipo?


27r. Entrevistada: De fazer discípulo em qualquer situação. Num tem essa de tá longe, tá
perto. "Hoje eu não vou porque é longe". Nós temos células em... É... Cidade Continental
e em Jardim Limoeiro e aqui. Então quando tem que ir pra Cidade Continental, junta um
comboio de carro e vamos embora pra Cidade Continental. Aí lá achamos os, nós fizemos
batismos, dois batismos de Cidade Continental, nesse ano, né. Um daqui. Esse ano nós
batizamos... nós batizamos não, Deus batizou através de nós três pessoas. Que a gente fez
até um banner, né. A Deus cabe... a nós cabe trazer pra igreja, mas multiplicação depende
de Deus. Não depende nada de nós. Nós só fazemos a nossa parte, que é ir, ide e fazei
discípulo. Agora, quem multiplica e quem faz o batismo é Deus, através do Espírito Santo
que habita naquela pessoa, como um direito adquirido na cruz através de Jesus.

Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado por sua participação


368

FUNÇÃO: Supervisora SEXO: Feminino DATA: 08/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
53 anos Jardim Camburi PIBJC 06

1p. Entrevistador: Qual é a sua função na Igreja?


1r. Entrevistada: Supervisora de célula.

2p. Entrevistador: Supervisora de célula. É...quanto tempo faz que você é membro
aqui da igreja?
2r. Entrevistada: Desde mil novecentos e noventa e oito...

3p. Entrevistador: Noventa e oito...


3r. Entrevistada: Ano que eu me batizei, noventa e oito...

4p. Entrevistador: Então você, já era membro da igreja quando iniciou-se o processo
de células?
4p. Entrevistada: Sim... Já era membro da igreja

5p. Entrevistador: qual a diferença que você vê...é...na igreja de antes e na igreja de
depois de célula?
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5r. Entrevistada: Convivência, a intimidade, porque antes, eu sempre gostei de


participar... Então, logo que eu me tornei membro...né, através do batismo, eu já comecei
a trabalhar no ministério infantil, mas era diferente, porque havia uma escala, eu me
preparava, né...e mesmo quando tinha um evento ou outro. Agora, a questão da célula não,
eu tenho intimidade com as pessoas, a minha casa é outra casa depois da célula, porque eu
sempre sou... Tudo que eu faço, eu vou comprar um móvel, eu penso na célula, então, as
pessoas quer ver, quando eu tô orando, quando tô fazendo alguma coisa são sempre as
pessoas da célula.

6p. Entrevistador: O que, na sua maneira de interpretar, levou a igreja a adotar o


sistema de células?
6r. Entrevistada: Eu penso que, a preocupação com o carinho, o cuidado, na verdade o
cuidado, porque a igreja percebe que as pessoas agora estão mais próximas, tem amigos.
Né?... Se relacionam mais, certamente.

7p. Entrevistador: Como as células repercutiram na questão da comunhão da igreja?


7r. Entrevistada: Eu penso que, favoravelmente, porque a maioria das pessoas está na
célula. As pessoas conversam, já vai logo perguntando, conhece, conversa, e você tá em
célula? Já qualquer coisa que fala, já pergunta, então, eu penso que repercutiu
positivamente.

8p. Entrevistador: Na questão da comunhão?


8r. Entrevistada: Na questão da comunhão, claro.

9p. Entrevistador: Que outras mudanças você percebe na igreja depois da célula?
9r. Entrevistada: Ai que outras mudanças, por exemplo, nas atividades, né? Nos eventos.
A igreja não faz mais eventos, que as células não estejam envolvidas, as coisas que
acontecem na igreja, são proveniente das células.
369

10p. Entrevistador: E na sua vida, o que mudou depois da célula?


10r. Entrevistada: Olha, tem uma coisa assim que eu sempre gosto de lembrar, na minha
vida, é depois que, essa coisa da célula, foi quando eu comecei, a primeira célula que eu
participei, era aos sábados, meus filhos eram pequenos, e o primeiro encontro começou no
horário, era em fevereiro, horário de verão, aí eu me lembro que eu colocava um
chapeuzinho nos meninos, e eu ia com eles, aos sábados pra rotina mesmo, e uma outra
coisa também que eu percebo que marcou também é o dia do encontro, o dia do encontro
da célula pra mim é um dia especial e eu meu lembro que eu sempre trabalhei o dia todo,
saía de manhã e chegava de noite, e na minha casa é meio que um ponto fixo, as células,
independente de eu ser supervisora, mesmo antes, sempre as pessoas escolhiam que poderia
ser lá em casa, as pessoas concordavam, até eu, e tinha dia, há dias que você tá indisposto,
mas hoje eu tô tão cansada, eu tô chateada com problema familiar, eu tive um dia péssimo
no trabalho, mas quando as pessoas vão chegando, eu sempre tenho aquela coisa de, de orar
antes, de me preparar, as pessoas vão chegando, a célula tá acontecendo, eu não lembro
nada que eu tava mal, que eu tava chateada, não lembro nada.

11p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre o encontro da célula.


11r. Entrevistada: O encontro, o encontro a gente sempre é organizado, as pessoas não
faltam, dão satisfação, a gente tem a responsabilidade de conduzir isso, dificilmente esqueci
que era eu. Os encontros são, são animados, não animados no sentido de que as pessoas
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estão lá mesmo aquele mais quietinho ou aquele outro mais, mas as pessoas estão lá, as
pessoas tão lá toda quarta-feira, toda sexta, e gostam de, não tem jeito, é um momento
assim, muito bom, momento calmo, da leitura da Palavra, eu acho que as pessoas, é
diferente, porque quando vem na igreja né? É muita gente, é aquele meio que ritual, não
sei, mas lá na célula tá sentado no chão, outro tá de chinelo, outro tá descalço, é criança
que tá ali, então.

12p. Entrevistador: E como é que as pessoas participam do encontro?


12r. Entrevistada: As pessoas participam, primeira coisa, eu acho que é, com a presença
delas, como elas vão do jeito, aí tem momentos que a gente nitidamente que a pessoa foi
mal, e ela chora, então eu acho que elas participam, e não é contra gosto, que se for contra
gosto a pessoa não vai, quando quem vai, vai, querendo participar, tem aqueles que não
medem as palavras, falam mesmo o que tá sentindo, que foi chateado, ah mas essa célula
podia tá assim, né? Tem aqueles, então, eu acho que as pessoas participam mesmo, do jeito
delas.

13p. Entrevistador: Elas têm oportunidade de compartilhar experiências?


13r. Entrevistada: Tem.

14p. Entrevistador: Funciona isso?


14r. Entrevistada: Tem, tem, principalmente isso, eu, eu, eu penso que...eu to sempre
falando da experiência da minha célula né, eu, as pessoas compartilham experiência, agora,
uma coisa que eu acho muito legal é que a gente percebe que tem aquelas pessoas, um
identifica com outro, tem aquele que é por motivos né, ele identifica com outro, então, com
aquele ali ele abre o coração dele, ele abre o coração dele, isso eu acho bom.

15p. Entrevistador: e como é que os grupos se organizam? Quais são os critérios pra
organizar o grupo?
370

15r. Entrevistada: Olha, normalmente as pessoas se organizam, ou, é afinidade, em que


sentido? A minha célula, reunia às sextas feiras, porque? Porque o grupo, dos casais, mães,
e os filhos, estas pessoas, também se reuniam, numa célula no horário de sexta feira, então,
é... Se reuniam por causa de, na sexta feira é a célula do meu filho, do mesmo horário, eu
estou reunida, ele também tá reunido, a pessoa, ou, meu marido, pode ir lá na, aonde eles
tão reunidos, e trazer nossos filhos, o filho da ____, o filho da ____, quando a gente faz um
evento, né, vamos comemorar o dia das mães, os nossos filhos, vem também, a gente faz,
então as pessoas se organizam, não é nem porque, ah...fulano tá naquela célula, eu vou pra
lá não, mas é por conta dessa questão do horário, né! É quem é o líder? Ah é aquele casal,
ah...legal, eu, meu marido não vai na célula, mas, ele é...com aquele casal eu posso ficar
mais à vontade e o meu marido ir, porque eles são mais, é mais ou menos assim, que as
pessoas se organizam.

16p. Entrevistador: Questão de localização, faixa etária, não tem alguma


interferência?
16r. Entrevistada: Olha, tem, mas não acho que é fundamental, não. Tem gente que ele
tá aqui... É aqui no bairro... A célula dele lá um pouco mais afastado. Acho que
principalmente essa questão do dia e do horário. Porque eu estudo, por causa do meu
trabalho, né. Claro que isso vai chegando, mas... Por exemplo, na minha célula, nós temos
casais, tem senhoras que não são casadas, né, e flui bem. Já teve jovens também, muitos
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jovens. Já participei de célula que tinha senhoras, tinha jovens.

17p. Entrevistador: E a célula se encontra quantas vezes por semana?


17r. Entrevistada: Olha, a célula se encontra uma vez por semana. Esse é o normal, mas
nós temos é... Eventos, fazemos eventos. Por exemplo, agora no carnaval, fizemos um
churrasco, um almoço. Então se reúne pra tratar de algumas coisas, alguns assuntos. Mas
basicamente é uma vez por semana.

18p. Entrevistador: Muito bem. Então a célula trouxe, no seu entendimento, mais
benefícios ou mais prejuízos pra igreja?
18r. Entrevistada: Mais benefício.

19p. Entrevistador: Que tipo de benefícios?


19r. Entrevistada: Olha, eu penso que a convivência, eu acho que até... Posso dizer
seguramente, o estudo da Palavra de Deus, mais conhecimento, mais debruçar sobre a
Palavra de Deus e aplicabilidade da Palavra de Deus. Porque é muito interessante que
quando você chega lá, por conta dessa coisa que você não vai pela afinidade, você chega
lá, você vai encontrar um irmão que você não conhecia ele de sentar perto no banco, de ir
lá você vai ver realmente que aquele irmão não come carne, que aquele irmão é mais
fechado, e que aquela outra é mais que gosta de festa, que gosta de comemorar.

20p. Entrevistador: Os membros da igreja. E prejuízo? Perigos tem algum perigo à


célula?
20r. Entrevistada: Eu acho que tem. O perigo que tem é a pessoa, eu acho, ela não
conseguir deixar ali aquilo que ela viu. Eu acho que isso é o maior perigo. Porque você
pode depois falar alguma coisa, fazer alguma coisa que possa vir magoar. E aí isso é mal.
371

21p. Entrevistador: Como os membros da célula são incentivados a aprofundar o


relacionamento deles com Deus?
22p. Entrevistada: Olha, primeiro que todos tem um compromisso que é, de fazer, dar sua
contribuição, todos nós participamos do culto, nós sabemos que naquele dia a Palavra vai
ser ministrada ali, né, a gente já tem previamente, a gente já sabe. Então as pessoas não vão
assim sem saber o que tá acontecendo. Ocorre? Ocorre, mas ninguém vai assim. Então, é...
Mesmo o louvor, ele que vai preparar o louvor, ele não vai pura e simplesmente: "ah, vou
escolher esse, que...". Não é isso. Nós temos um... Quando a gente foi pra célula todo
mundo participou do treinamento, onde você, né... Se você vai fazer o evangelismo, né,
que é aquele momento que você vai falar do alcance de Jesus, vai orar por essas pessoas,
você não vai assim. Vai pegar a bíblia, você vai ler, e fica alguma coisa meio que, como é
que eu falo? Terminou esse encontro, acabou aqui, vai cada um... Não. Fica alguma coisa
que eu vou fazer o meu quarto de escuta, que pra semana que vem, eu to na escala, eu vou
fazer alguma coisa na célula. Então eu vou ler, eu vou. Nós temos, eu acho que isso é uma
coisa.

22p. Entrevistador: Qual o lugar da Bíblia, a Palavra de Deus, nos encontros?


22r. Entrevistada: Olha, eu penso que é um lugar fundamental. Porque todo mundo leva
sua Bíblia. É difícil, é difícil, eu não me lembro de assim de ter uma célula, só eu tá com a
Bíblia. Normalmente as pessoas estão com a Bíblia. É normalmente tem muita leitura da
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Bíblia, tem muita leitura sempre. Porque tem aquela indicação que foi do culto, mas não é
só isso. Além dessa nós temos, sempre tem, muita leitura e muita oração.

23p. Entrevistador: Nos encontros.


23r. Entrevistada: Nos encontros.

24p. Entrevistador: E entre os encontros, há algum incentivo pra pessoa ler a bíblia,
estudar a bíblia, tem algum...
24r. Entrevistada: Ah, tem.

25p. Entrevistador: Algum estudo, alguma coisa? Como é que funciona isso?
25r. Entrevistada: Porque a gente sempre reporta na, na, na célula o quarto de escuta. Que
é um momento nosso a sós com Deus, e a igreja dá uma orientação pra você fazer esse
quarto de escuta. É então... Não tem jeito. Não dá pra ficar só fazendo aquele encontro,
abre a Bíblia ali, lê ali e claro que a gente sempre fala disso nos encontros.

26p. Entrevistador: E como acontece o discipulado na célula?


26r. Entrevistado: Então, por exemplo, eu já combinei com a minha líder que na segunda-
feira nós vamos sentar e nós já vamos... Porque esse ano sempre tem alguém novo, sempre
muda, já pra escolher os pares. Quem vai estar com quem, quem vai discipular quem. E aí
nesse caso, claro que a gente tem que organizar de forma que haja uma identificação, haja
uma proximidade. Você não vai ter um discipulado, eu moro aqui em Jardim Camburi, uma
pessoa lá. Então, é o discipulado já foi mais difícil, já foi mais difícil. Eu lembro quando
eu ia, tinha dificuldade, porque, além daquele encontro da célula, você tem que ter esse
outro momento, pra discipular. Aí você chega do trabalho, aquela coisa toda, tem que ter
um momento, mas é mais difícil, é mais difícil. Mas eu penso que à medida que você vai
encontrando numa célula, que você vai lendo a Bíblia na célula, que você vai,
necessariamente o discipulado tem que acontecer.
372

27p. Entrevistador: Qual. o quê... Qual a influência da célula para o seu entendimento,
o seu conhecimento de Deus?
27r. Entrevistada: Olha a influência da célula pra mim é com relação ao meu
conhecimento de Deus, são os testemunhos. Por que eu, o meu marido era convertido, eu
não era. Então, à medida que eu fui convivendo com as pessoas, né, as pessoas dando os
testemunhos delas, abrindo a Bíblia -- meu marido faz muito disso -- e fala ali na Palavra.
Então eu fui, meus olhos foram mesmo abrindo, e aí eu fui conhecendo melhor.

28p. Entrevistador: E a sua concepção de igreja hoje?


28r. Entrevistada: Olha, a minha concepção de igreja hoje não é só essa desse templo
aqui. A igreja somos nós. E na minha casa, a igreja está na minha casa. Por exemplo,
semana passada, antes do carnaval, na quinta-feira a igreja 'tava lá em casa, porque nós
estávamos na mesa em cinco pessoas, com a Bíblia, com oração, com compartilhamento.
Quando foi na sexta-feira, a igreja 'tava lá em casa novamente, que foi uma outra pessoa
que não pôde 'tá naquele encontro e foi novamente com Bíblia, com papel, com caneta. E
depois outro momento, a gente 'tava fazendo um café da manhã. Eu, pra mim é assim.

29p. Entrevistador: Que tipo de mudanças a célula trouxe pra estrutura da igreja?
Funcionamento da igreja como tal?
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29r. Entrevistada: Eu penso que, mais aberta, a igreja funciona, mais aberta. Eu penso
que, desmistificação. Pra nós, membros, daquela coisa fechada, não, eu tenho que 'tá lá aos
domingos, tem que vir, que com a, a questão da célula hoje, a gente chega, o pessoal da
minha célula 'tá lá eu vou pra lá, a gente demanda que a igreja seja diferente, a gente
demanda que a igreja seja diferente. Porque, aquilo que a gente 'tá vivenciando nos grupos,
necessariamente a gente traz pra igreja. Não, não tem jeito, não é separado. Eu, a igreja, eu
acho que ela é... Quando eu falo igreja, são principalmente os pastores, que eles também
'tão em célula, e nós supervisores e líderes, nós trazemos pros pastores, as coisas que 'tão
acontecendo lá na célula. Outro dia, eu falei uma coisa assim pro pastor, aí ele falou bem
assim. A _____ me falou, me deu um puxão de orelha, com muito jeitinho, mas nem era
essa intenção, mas o que, lá na célula, a gente 'tá mais a vontade, então as pessoas falam
mesmo, se colocam, da sua dor, da sua decepção, da sua alegria, que eu 'to, que Deus, hoje
'tá saindo isso pra mim, Deus me abandonou, enfim. E aí, eu 'tava falando, eu falei assim,
eu penso, eu fico preocupada, quando a gente 'tá na, no culto, e que o pastor 'tá falando
sobre o pecado, né, o pecado do homossexualismo e aquela coisa, eu ainda falei assim, 'tá
batendo, e ali do meu lado, se 'ta bem do meu lado, tem uma irmã, uma mãe, que 'tá
chorando, sofrendo, porque ela tem um filho assim. E na célula, isso, a gente abraça né,
aquela pessoa, a gente acolhe. ______ eu fui na festa da irmã tal, e eu acho que aquela
filha daquela irmã. E ela, a irmã 'tá sofrendo, então na célula, a gente ora com essa irmã e
a gente toma conta. Então, eu acho que a igreja muda, não é? Muda a palavra, não distorce
o que Deus colocou, que tá, que é o que a gente crê. O que a gente quer seguir, mas é a
forma de falar pra gente.

30p. Entrevistador: E o que mudou nas celebrações da igreja, com as células?


30r. Entrevistada: Então, eu penso que as celebrações, quando o pastor, vai preparar a sua
fala, sua pregação, ele lembra da célula, ele lembra das células. Num, certamente, que
aquilo ali vai, porque, teve uma semana antes do carnaval, que precedeu o carnaval, foi na
terça, quarta e quinta. Teve um evento aqui de avivamento, que pra mim aquilo ali foi, pura
373

e simplesmente o pessoal da célula, pura e simplesmente então, o que mudou nas


celebrações foi isso. O cara, os pastores, necessariamente.

31p. Entrevistador: E em relação à participação do povo nas celebrações, o quê que


mudou?
31r. Entrevistada: Olha, com relação à participação, eu acho que as pessoas tem mais
vontade de vir, eu penso que as pessoas têm mais vontade de vir, até porque não dá pra ser
diferente, a, na célula a gente faz assim e no culto é totalmente diferente, então, a gente
vem, porque aqui, digamos é uma célula maior. Porque, o que é que eu observo? Eu, eu
____ sei, que muitas coisas que eu 'tô vivenciando na minha célula, o outro 'tá também,
porque lá, eu sei que na minha tem, eu tenho pessoas que tem dificuldade em algo, que tem
então eu tenho desemprego, que tem aquele filho que é rebelde, então, eu 'tô vivendo isso,
a o outro também 'tá, e não é mais o pastor que 'tá lá, que ele sabe desses assuntos porque,
eu marquei uma audiência, eu fui lá, chorei com ele, falei com ele, né? Ele visitou aquele
enfermo, ele 'tá sabendo dessa ou daquela situação, então, o que os diáconos colocaram,
então ele vai preparar ali. Agora, aquilo que a gente traz, é aquilo que a gente vive na célula,
e os pastores sabem disso. Que não foi de ouvir falar. Nós visitamos as pessoas. Eu sei que
'tá acontecendo alguma coisa, eu vou lá. Meu irmão, fulana, -- não, eu tive com fulano,
com o irmão--. É diferente, então, a, as, as celebrações, são diferentes, por causa desse
bloqueio, que a gente 'tá com todo mundo, os supervisores, os líderes, os pastores, os
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diáconos, aquilo que a gente 'tá vivendo, é, nós 'tamo vivendo nas nossas células, tem como
fugir não.

Entrevistador: Muito bem, obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 08/03/2014


IDADE IGREJA SIGLA IDENTIFICAÇÃO
28 anos Jardim Camburi PIBJC 07

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro da igreja?


1r. Entrevistado: Faz oito anos. Me converti em dois mil e cinco, e faz uns oito anos, oito
pra nove anos.

2p. Entrevistador: Quando você se converteu a igreja já estava vivendo células?


2r. Entrevistado: Já estava vivendo em células, já.

3p. Entrevistador: Qual foi a influência que a célula teve pra sua conversão?
3r. Entrevistado: A célula, pra minha conversão, nenhuma, né. Eu conheci a célula depois
da conversão. Que a minha conversão foi outro processo que teve. Depois que eu me
converti que aí eu fui conhecer a célula.

4p. Entrevistador: Como é que você veio pra essa igreja?


4r. Entrevistado: Eu recebi um convite, né... Na verdade eu creio que várias outras pessoas
já estavam orando pela minha vida, ministrando a Palavra, até que eu recebi um convite
pra participar do... Do “cultão” que a igreja faz né. É um culto que eles fazem duas vezes
ao ano, num domingo, e é um culto de colheita, né. Aí nesse culto eu levantei minha mão,
aceitei a Cristo, eu tive uma experiência com Deus, né. Eu senti o sangue de Cristo me
374

lavando. No outro dia já tava como uma pessoa diferente, já tava, eu percebia que tinha
algo diferente dentro de mim, e a partir daí eu, foi minha conversão, que aí comecei a mudar
meus hábitos, buscar entender a palavra, daí então, mais pra frente eu vim conhecer a célula.

5p. Entrevistador: E você foi convidado por alguém? Como é que foi que você foi pra
célula?
5r. Entrevistado: Fui convidado. Um amigo meu, que na época quando eu aceitei a Cristo
ele que me ajudou a ir à frente, se tornou hoje o meu amigo. E ele me convidou, né, pro
discipulado e logo em sequência para a célula. E, de antemão, no começo eu não queria
muito, de repente é porque às vezes nós estamos com várias coisas na nossa vida, e aí esse
expor ainda não é tão normal, né. Então num primeiro momento a célula, eu dei uma
negada. Mas depois quando eu frequentei a primeira, segunda vez, aí eu... Quase... É difícil
eu faltar.

6p. Entrevistador: Você tinha reservas em relação à célula, é isso?


6r. Entrevistado: Na verdade, eu não conhecia a célula, né. Me convidaram pra célula, eu
não conhecia, então eu achava, num sei, no meu eu ainda, que não tinha sido transformado,
que aquela situação ia me expor, entendeu? Então eu tinha um pouco de receio. Mas depois
que eu vi que era um ambiente muito acolhedor, amoroso. Então você começa a ter, às
vezes é coisa da nossa mente mesmo, nosso eu que ainda não conhece as coisas do Reino.
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7p. Entrevistador: E qual é a sua visão hoje da célula?


7r. Entrevistado: Hoje, pra mim, a célula, como mesmo o pastor disse, independente do
nome de célula, pequenos grupos, eu acho que é bíblico, é princípio bíblico. Hoje a igreja
sem esses pequenos grupos, não é uma igreja em movimento. Eu acho que pode ser que
tenha o templo, tenha pessoas, mas de repente é uma igreja morta, sem esses pequenos
grupos, porque o relacionamento não é trabalhado, não é. Eu acho, pra mim, que a célula é
fundamental, o pequeno grupo. Uma igreja sem célula pra mim é uma igreja não tá em
movimento.

8p. Entrevistador: Você falou em discipulado. Como é que se deu esse discipulado?
8r. Entrevistado: Esse discipulado começou na célula, que aí dentro da célula eu conheci
pessoas, e o meu líder falou: "____, o ____ vai estar te ensinando, né. Você se converteu
agora, você tá nesse primeiro amor, você tá nessa vontade de conhecer, e ele vai ser a
pessoa que vai te ajudar nesse caminhar". Então eu comecei o discipulado dentro da célula,
que foi de extrema importância pra mim.

9p. Entrevistador: E hoje, você continua na célula e qual... Qual a... A sua função
dentro da célula hoje?
9r. Entrevistado: A minha função hoje dentro da célula eu acredito que é mais pra
fortalecimento dos meus irmãos. Hoje eu não sou mais discipulador, mas por eu ter sido já
discipulador, hoje eu não sou mais, mas eu tenho grandes parcerias dentro da célula,
pessoas que eu busco a presença de Deus junto, irmãos que eu compartilho momentos, né.
Então a célula pra mim é um momento de edificação e também é um ponto em que eu posso
'tá convidando amigos, pessoas pra 'tarem conhecendo também a Palavra de Deus.

10p. Entrevistador: E como é que é a participação dos membros da célula?


10r. Entrevistado: Em qual sentido?
375

11p. Entrevistador: No encontro da célula.


11r. Entrevistado: Como funciona?

12p. Entrevistador: Isso. Como é que funciona? A célula se encontra quantas vezes
por semana?
12r. Entrevistado: Perfeito. O nosso encontro é uma vez por semana. Nós procuramos
sempre ter o momento de louvor, que nós vamos 'tá adorando a Deus. Nós procuramos
sempre ter o momento em que nós vamos 'tá meditando na palavra, na maioria das vezes é
a palavra que foi pregada no último domingo, às vezes Deus direciona outra palavra, a
gente tá meditando. A gente 'tá sempre nos pequenos grupos orando um pelo outro,
conhecendo a vida do outro, sabendo as dificuldades, as alegrias. E não somente 'tá se
encontrando dentro da célula, mas fazendo com que esse relacionamento seja algo o quanto
mais natural, prazeroso, e esses encontros também aconteçam fora da célula,
individualmente ou em três, em quatro.

13p. Entrevistador: Como é que acontecem esses encontros?


13r. Entrevistado: Eles têm mais ou menos o horário de duas horas, que a gente procura
fazer. Ele tem... Hoje a gente trabalha com rodízio de casa. Uma semana na casa de um
irmão, outra semana na casa de outro irmão. A gente também tem por prática é... 'tá sempre
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fazendo um lanche no final, que pra minha. Pro meu ver é muito importante, porque você
tá ali partindo o pão junto, aquilo tudo tá criando uma comunhão, 'cê tá indo junto no
momento final, às vezes no início também. Então o encontro acontece dessa forma.

14p. Entrevistador: E qual a repercussão dos pequenos grupos, das células na vida da
igreja?
14r. Entrevistado: Desses anos que eu tenho estado aqui, dos oito anos, eu tenho sentido
que a célula na vida da igreja tem sido tremendo, porque a igreja tem se sensibilizado mais
com a presença de Deus, quer dizer, os pequenos grupos tem trago cura, tem trago
libertação, tem trago conhecimento, tem trago sede; e isso tem resultado nos encontros de
domingo, até mesmo em outros momentos da igreja, uma sensibilidade maior com o
Espírito Santo, com a presença de Deus, uma intimidade maior com o Senhor, uma
santidade, possibilitando a presença de Deus, possibilitando falar do Espírito, uma
liberdade maior. Assim, um exemplo, eu não quero aqui julgar nada, mas é um exemplo
que eu vejo que quando eu me converti as pessoas tinham muita dificuldade de se
manifestar no culto, às vezes pra dar um "aleluia", pra dar um "glória a Deus", ou às vezes
pra levantar a mão, ou mesmo se sente no coração de exaltar a Deus em pé, né. Havia um
receio muito grande, porque a religiosidade tava muito forte. Então a célula tem trago na
igreja essa liberdade, as pessoas tem estado mais próximas de Deus e quando um irmão se
levanta ou quando o irmão se quebranta na presença de Deus, não tem sido algo pra se
chamar a atenção, mas as vezes você vê como a igreja ali se prostrando diante de Deus, né.
Não sendo algo anormal, mas sim mais normal.

15p. Entrevistador: E no relacionamento entre as pessoas, o que que você acha que a
célula contribui?
15r. Entrevistado: Contribui porque você chega no domingo, você não tá sentando do lado
de uma pessoa que você só vê ao domingo; mas você está sentando do lado de uma pessoa
que você compartilha da sua vida, né, é uma pessoa que conhece, sabe quando você está
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triste, quando você está alegre. Então assim, acaba que você é... Consegue trabalhar melhor
esse relacionamento no domingo também.

16p. Entrevistador: Qual a ligação que você vê entre célula, igreja e comunhão entre
os irmãos?
16r. Entrevistado: Na verdade eu vejo que a célula é onde gera comunhão. Se amanhã,
num sei, o nosso país hoje tem uma liberdade religiosa, se amanhã de repente ele não tivesse
essa liberdade, o que sobreviveria não eram os encontros de domingo, mas sim os encontros
em células. Então pra mim a comunhão é a célula. Acho que domingo, o encontro global é
fundamental, é de suma importância, mas pra mim o fundamental é a célula. Os pequenos
grupos pra mim é que é igreja.

17p. Entrevistador: Que tipo de cuidado acontece entre os membros da célula?


17r. Entrevistado: Cuidado em qual sentido?

18p. Entrevistador: Um cuidando do outro.


18r. Entrevistado: Aí é... Quer dizer, quando você começa um grupo, você vai gerando
relacionamento, e à medida que você vai gerando relacionamento a amizade, comunhão,
eu acho que cada vez mais esse cuidado vai aumentando, que você começa a fazer parte da
vida da pessoa. Você vê que você tem algo em comum com ele, trabalha numa mesma
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empresa ou frequenta o mesmo local, aí você começa a tomar um café junto, mais vezes,
começa a 'tá visitando a casa dele mais vezes. Então acho que isso aí acaba trazendo. A
pessoa não fica sozinha, ela já não começa a ficar sozinha, ela começa a ficar sempre em
grupo. Ela começa sempre andar em grupo, que sempre nós passamos pelo dia mal, sempre
nós temos o dia que a gente 'tá um pouco mais carente de uma palavra, de um abraço.

19p. Entrevistador: E a participação dos membros do grupo nos encontros, nas


decisões que são tomadas. Como é que acontece isso?
19r. Entrevistado: Normalmente nós trabalhamos com um líder que direciona. O líder
direciona quem vai fazer o momento, quem vai 'tá trazendo a palavra, ele faz um convite,
"oh, _____, essa semana você vai 'tá trazendo a palavra"... "oh, essa semana você vai 'tá
escolhendo os louvores", de repente uma pessoa toque, o grupo, né, escolhe uma pessoa
pra 'tá tocando ou mesmo bota um CD, uma música. Então as decisões são tomadas em
grupo. O líder, ele serve pra dar uma referência, pra direcionar.

20p. Entrevistador: Você entende que houve algum tipo de influência dos pequenos
grupos na maneira como a igreja se organiza?
20r. Entrevistado: Em qual sentido? Como assim?

21p. Entrevistador: Em termos funcionais, em termos de estrutura.


21r. Entrevistado: Eu acho que influenciou sim. Eu acho que influenciou, porque a minha
visão é o seguinte, uma coisa que nós precisamos sempre aprender, na célula nós
precisamos entender que mesmo sendo líderes, nós somos ministros, todos ali. E às vezes
a igreja também precisa ver isso, né. Porque o pastor, ele tem uma função muito importante
pro corpo. Como o evangelista, como o apóstolo, como mestre. Então às vezes, quando o
pastor se submete a entender que o outro irmão tem uma característica que Deus usa da
forma dele, eu acho que a célula começa a trazer essa visão também pro corpo maior, né;
porque lá na célula você consegue ver isso melhor. Você vê o líder se submetendo e tal. E
377

às vezes num é por questão, não é nada negativo do pastor fazer isso, mas às vezes o pastor
acaba puxando a responsabilidade pra ele. E outras pessoas estão ali também pra auxiliar.

22p. Entrevistador: Você está pensando em ministração mútua?


22r. Entrevistado: Justo. Eu acho muito importante o pastor 'tá ministrando a palavra, mas
eu não acho que necessariamente teria que ser ele. Eu já vi pastores pregando de forma
tremenda, e tem outros pastores que já tem uma facilidade mais de cuidado, o outro irmão
prega melhor até que ele entendeu? Ele tem o dom da palavra, né, dado pelo Espírito, e às
vezes o pastor poderia 'tá pregando menos, 'tá focando em outras situações, mas isso não
tiraria a importância, se é que deveria ter do pastor no corpo.

23p. Entrevistador: Mas valoriza a participação de cada membro.


23r. Entrevistado: De cada membro, justamente. Às vezes claro, nós temos muitas pessoas
às vezes como eu, como outros irmãos, que às vezes 'tamos lá, sentado e 'tamos precisando
dar um passo a mais pra Deus nos usar. Mas às vezes também, em algumas situações, nós
'tamos lá sentados, e 'tamos querendo dar um passo a mais, mas as pessoas que estão à
frente não deixam porque elas querem às vezes tomar um pouco a rédea da igreja, que na
verdade não deveriam.

24p. Entrevistador: E em que a célula ajuda nisso?


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24r. Entrevistado: A célula, como o líder é um líder, não é o pastor, ele não toma um
pouco essa responsabilidade, vamos dizer. Aí ele consegue destrinchar mais isso. "Ah, eu
não sou um pastor eu sou um líder, então eu to aqui só pra influenciar".

25p. Entrevistador: Você vê algum perigo na existência dos pequenos grupos pra
igreja?
25r. Entrevistado: Não, não vejo perigo nenhum.

26p. Entrevistador: Até aqui você não tem observado nada que traga algum tipo de
risco pra unidade da igreja...
26r. Entrevistado: Pode ser que uma pessoa vai dizer bem assim: "ah, ____, na minha
célula tem muitos conflitos, muitas coisas acontecem", mas pra mim isso é benéfico, porque
o conflito pode trazer uma intimidade entre os irmãos, aumentar a comunhão. E aí você vai
até aprender a aceitar o outro, a diferença do outro. Pra mim, então...

27p. Entrevistador: Que tipo de recomendação você faria pra uma igreja que não tem
o pequeno grupo?
27r. Entrevistado: Olha, eu já conheci um pastor que na igreja dele não tinha o pequeno
grupo. Mas quando ele compartilhou pra mim a forma que a igreja dele vivia, eu falei: "não
é nem necessário o pequeno grupo, porque eles já se encontravam em casas, assim, creio
guiado pelo Senhor, automaticamente. Então, assim, independente da igreja ter ou não o
pequeno grupo, eu acho que o importante é ter o hábito de se encontrar em casas e partir o
pão... se encontrar em casa e partir o pão. A forma como vai fazer -- ah, vai ser sempre
numa casa, vai ser em casas diferentes, mas vamos lá só estudar a palavra, vamos lá só
louvar ao Senhor, nós vamos fazer uma vigília. Eu acho que cada igreja tem que sentir a
direção do Senhor, na obra. Mas pra mim é importante esses encontros.

28p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


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28r. Entrevistado: Obrigado ao senhor.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 08/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
47 anos Jardim Camburi PIBJC 08

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro da igreja?


1r. Entrevistado: Me converti em dois mil e um, dois mil e dois. Fiquei fora um tempo,
porque eu morei fora de Vitória por quatro anos, morei na Bahia, depois voltei pra cá. Fui
dois mil e dois até dois mil e cinco, aí eu me mudei em dois mil e cinco. Fiquei fora até
dois mil e oito, final de dois mil e oito, e retornei pra cá.

2p. Entrevistador : Quando você veio pra igreja, a igreja já tinha adotado os
pequenos grupo?
2r. Entrevistado: Já. Já tinha pequenos grupos. Eu me converti num pequeno grupo.

3p. Entrevistador: No pequeno grupo. Poderia falar um pouquinho como é que foi?
3r. Entrevistado: Eu sou fruto de um pequeno grupo. Na realidade, eu nasci num lar
cristão. Meus pais sempre foram evangélicos, sempre foram batistas. E eu me afastei da
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igreja com doze anos, quando eu tinha doze anos. E aí fiquei fora por vinte e três anos. E
aí em dois mil e dois, dois mil e um, final de, meados de dois mil e um, minha esposa se
converteu num retiro daqui dessa igreja, e, num retiro de carnaval que a gente foi, ela se
converteu lá. E aí ela começou a participar de um pequeno grupo. Encaminharam ela pra
célula, e aí eu comecei a ir com ela em algumas reuniões e depois com mais frequência, e
aí de certa forma, eu acho que... Eu não sei... Ouvir falar da Bíblia, ouvir falar de Jesus,
isso eu ouvia sempre. Lá em casa era prática, orava na hora das refeições, vinha ao... pra o
culto de vez enquanto, mas a mensagem num era pra mim, era muito distante, assim. E
acho que no pequeno grupo me pegou desarmado, porque eu não tava indo lá pra falar
disso, tava indo lá pra um encontro social, e de repente me tocou, acho que profundamente.
Então eu falava, talvez se eu não tivesse tido assim um acompanhamento tão próximo, tão
de perto, tão diferenciado, acho que eu não seria, talvez eu não tivesse sido alcançado,
porque num era falta da Palavra, num era falta de conhecimento, era falta, era dureza de
coração mesmo. Eu me acostumei com o evangelho. Eu fiquei acostumado com o
evangelho, sem 'tá sensível a ele. Eu perdi a sensibilidade. Minha célula acho que
possibilitou isso.

4p. Entrevistador: De alguma forma então o pequeno grupo foi um instrumento pra
alcançar o seu coração, que outras formas não conseguiram.
4r. Entrevistado: Não conseguiram. Com certeza. Isso com certeza. Que ela... E não
trouxe nenhum conhecimento novo pra mim, ele só me mostrou que eu também precisava
daquilo.

5p. Entrevistador: E como aconteceu o processo de discipulado?


5r. Entrevistado: Aí eu já tava frequentando, há uns dois meses, esse pequeno grupo, aí
uma pessoa da célula me perguntou: "você não quer fazer um estudo bíblico? Que tal?" Aí
eu falei: "vamos lá". Eu sempre achava que eu não tinha mais nada pra aprender, que num
precisava de nada daquilo, mas também não corri, não. Deixei acontecer. E como eu tava
379

muito resistente assim, eu queria mostrar de que eu não ia largar minha vida: "oh, não vou
parar de beber, num vou...” “Não, não precisa. Qual horário que você pode?", aí eu falei:
"meia noite, é horário que eu tenho disponível." -- "Tá bom, então. Meia noite, quinta-feira,
eu vou 'tá na sua casa." Eu falei: "Ah, vem nada. Ninguém vai na casa de você meia noite
pra saber, ah." Pra minha surpresa, a meia noite tocou a campainha... era ele. E aí foi, aí
nós ficamos nessa. E aí eu nos primeiros encontros, pra provocar um pouquinho mais, eu
abria uma garrafa de cerveja, fazia um café pra ele -- "não, a cerveja é pra mim". E aí,
fomos, fomos... aí aquilo de certa forma foi me tocando, tipo fez o discipulado; começamos
no livrinho um, bem básico. E eu achava aquilo muito bobo, porque, na verdade, em termos
de conhecimento assim, eu achava muito bobo. É... mas só que foram falando, acho que
essa... talvez essa simplicidade tenha me desarmado, eu num tava armado pra ela, eu tava
armado pra outras coisas. E aí eu acho que foi exatamente aí que me tocou realmente, né.
E aí com o tempo, com uns três meses de discipulado, e aí já mudou o horário, já passou
pra horários normais, convencionais, já arrumei horário na agenda. Pra ser em horários
convencionais, já não era mais de meia-noite a uma. A gente manteve meia-noite a uma
por uns dois ou três meses. E aí foi então eu comecei o discipulado em junho, em outubro
eu me converti. Numa reunião da célula, eu me converti.

6p. Entrevistador: Na própria reunião da célula?


6r. Entrevistado: Na própria reunião da célula.
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7p. Entrevistador: Você conheceu bem então a igreja antes dos pequenos grupos e
depois.
7r. Entrevistado: Conheci, eu nasci nela.

8p. Entrevistador: Sim. E como é que você...


8r. Entrevistado: Na verdade eu fiquei até os doze anos.

9p. Entrevistador: Que tipo de mudanças você vê na igreja depois da introdução dos
pequenos grupos?
9r. Entrevistado: Eu diria que, eu cheguei a ser batizado quando criança, liderei, na época
tinha Embaixador do Rei697, liderei algumas organizações, fui bem ativo, meu pai era muito
ativo, então eu, mas eu acho que na realidade, o trabalho era pelo trabalho. Era a atividade
que eu tinha na igreja, eu classifico que ela era como um, eu tava fazendo pra mim,
exercitar. Não porque eu tinha uma causa, não porque eu tinha uma motivação. E esse
distanciamento da igreja convencional é que permite a gente fazer isso. Tá lá trabalhando,
envolvido sem tá realmente envolvido com a alma, com a mente, com o coração, com a
motivação correta. E eu acho que a célula faz exatamente o contrário. Você não aparece,
você não tem exposição, você tá trabalhando, ninguém te vê, e tá lá no canto. E ela começa
a te dar as motivações corretas, né... pro trabalho, pro estudo, pro envolvimento. Acho que
ela permite um relacionamento mais íntimo com Deus; permite um relacionamento mais
íntimo com as pessoas e aí tem uma prestação de contas que na igreja convencional você
não tem. Você fica na igreja lá um ano, ninguém sabe se você tem problema, num tem
problema, se você tá bem, num tá bem, brigou com a mulher, num brigou com a mulher. E

697
Embaixadores do Rei é uma organização de meninos, juniores e adolescentes, que se reúnem para
estudar a Bíblia, a vida de missionários, praticar esportes, etc. A estrutura é semelhante à dos
escoteiros, com postos a serem superados e conquistados até chegar à liderança.
380

a gente quando abre a casa da gente, às vezes, você num consegue esconder muita coisa
por muito tempo. E algumas pessoas começam a te conhecer, às vezes você até fala que 'tá
bem, mas no final o cara fala: "Po, bicho, tá na cara que num 'tá bem. Que que tá pegando?"
Então eu acho que a intimidade provoca isso. E eu acho que a célula é que é esse
instrumento. Eu acho que na igreja convencional é mais fácil você se esconder, mais fácil
você não ter intimidade, você não ter relacionamento com Deus, não ter relacionamento
com o irmão. Um encontro ali de uma hora, de duas horas, uma vez por semana, duas vezes
por semana é muito pouco pra que você realmente desenvolva um relacionamento assim.

10p. Entrevistador: E como é que você relaciona o pequeno grupo com comunhão?
10r. Entrevistado: Então, da mesma forma que eu falei do relacionamento, a comunhão
num grupo reduzido, você não consegue fingir uma comunhão com Deus. Na igreja é muito
fácil você tá ali pensando em outra coisa, às vezes você tá cantando uma música sem prestar
atenção numa letra, num verbo daquela música. Na célula não, você num tem como 'tá de
cara a cara. As pessoas conseguem te sentir ali. Se você distrair é até perigoso alguém te
fazer uma pergunta e você num tá ligado e num saber o que responder. Então eu acho que
isso exige realmente uma comunhão, porque você num tem como fingir pro Espírito Santo;
você consegue fingir 'pras' pessoas. A partir do momento que você não consegue mais fingir
'pras' pessoas, você precisa entrar nessa comunhão. E o fato de 'tá nesse grupo, convivendo,
encontrando semanal, é... lá, três, quatro horas, com mais algum outro encontro social, isso
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dá uma intimidade, dá uma necessidade de encontrar com as pessoas, uma vontade de servir
as pessoas, e isso eu acho que estimula uma comunhão diferente do que é a igreja. Eu acho
que o próprio Espírito Santo começa a produzir isso na gente, a partir do momento que
você não consegue mais fugir da ação dele, você tá ali entregue a ele, acho que ele começa
a alimentar essa vontade de comunhão, essa necessidade de comunhão.

11p. Entrevistador: Como isso repercute no todo da igreja?


11r. Entrevistado: Eu entendo que como são, isso é desenvolvido lá nos pequenos grupos,
quando você chega, quando você chega na reunião de todo mundo junto, você não consegue
mais viver sem aquilo. Aquilo faz tanta falta pra gente. Aquilo faz tanta... tanto bem pra
gente, que se eu chego numa reunião de domingo, eu não consigo entrar na igreja e sair
sem cumprimentar pelo menos umas cinquenta pessoas. Abraçar, beijar, cumprimentar.
Porque você desenvolve aquele hábito e num consegue mais ficar sem.

12p. Entrevistador: As celebrações de toda comunidade então sofreram que tipo de


mudanças com a introdução dos pequenos grupos?
12r. Entrevistado: Na minha visão, eu acho que elas passaram a ser mais autênticas, mais
verdadeiras. Em função do relacionamento desenvolvido com Deus e com as pessoas do
meu grupo, quando eu chego num grupo maior a tendência é que eu vou manter o mesmo
padrão de relacionamento. Então eu venho pra um culto, realmente eu venho e me relaciono
com Deus, me relaciono com Jesus. Entro em comunhão com ele, e não tem como não me
relacionar com o irmão que 'tá do lado, porque isso passa a fazer parte do dia a dia da gente.
Eu não consigo mais ficar numa celebração sem abraçar alguém, sem cantar junto, sem orar
junto, sem me envolver, sem chorar com alguém que 'tá ali chorando, de repente, por algum
motivo. Esse afastamento num consegue mais. Então eu acho que tem um impacto direto
nisso.
381

13p. Entrevistador: Como é que você classificaria a igreja hoje, com os grupos
pequenos?
13r. Entrevistado: A igreja de Jardim Camburi? Você diz classificaria em que sentido?

14p. Entrevistador: Em termos de funcionalidade, funcionamento, estrutura.


14r. Entrevistado: Eu acho que a gente hoje, apesar que eu acho que ainda tem um
caminho longo pra seguir nesse processo, mas eu acho que a gente já alcançou um estágio
de intimidade com Deus, de intimidade entre as pessoas, que apesar de sermos uma igreja
de mil e trezentas, mil e quatrocentas pessoas, se você vir pra porta do templo aqui quando
'tá acabando o culto, parece uma igrejinha de cento e cinquenta a duzentos membros, que
fica todo mundo lá na porta conversando, abraçando e fica aqui uma hora depois do culto.
E isso numa igreja... Se ela não fosse em célula, isso nunca ia acontecer. Então eu acho que
exatamente esse relacionamento, essa intimidade com Deus, tem levado a igreja a
realmente buscar a direção de Deus, os pastores estão mais submissos à vontade de Deus.
Eu acho que a igreja é realmente uma oficina de Deus aqui na terra. Porque ela tá
subordinada a vontade de Deus. Eu acho que Deus fala mais forte, fala mais intimamente
com as pessoas, e aí onde tem Espírito Santo não tem trevas.

15p. Entrevistador: Você vê algum risco no pequeno grupo?


15r. Entrevistado: Vejo. Primeiro é como depende do líder, no fundo o líder quem
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multiplica, quem direciona; então você tem célula mais ativa, menos ativa, e é muito a cara
do líder, porque ele é quem... Célula que tem mais evento social, tem célula que é mais
introspectiva, tem célula que serve mais, tem célula que serve menos. Eu acho que no fundo
o líder que dá muito essa cara. E eu acho que se ele não for bem preparado, ele vai
multiplicar coisas erradas. Então se ele tem uma orientação errada sobre qualquer coisa que
seja, ele vai multiplicar isso pro grupo dele. Seja de forma de adorar, seja de ser dizimista,
não ser dizimista, seja de doutrinas, seja de qualquer coisa, qualquer... Eu acho que se o
líder num 'tá bem preparado, existe o risco dele multiplicar isso e isso crescer na igreja.
Então é um risco; foge do controle do pastor, por exemplo, num é só ele que tá ministrando
na vida das pessoas, num é só ele que tá orientando as pessoas, as suas ovelhas. Ele tá meio
que dividindo essa missão com outros pastores, que são os líderes. E aí se você tem um
líder que num tá bem preparado, ou tá mal intencionado, ou num foi convertido... Tem
muito líder que num foi convertido... Você corre o risco de multiplicar isso.

16p. Entrevistador: Mas no balanço entre riscos e benefícios...


16r. Entrevistado: O benefício é muito maior. Você pode ter uma, duas, três, sei lá, em
cem células você vai ter três ou quatro que podem estar doentes; mas que se tiver de repente
o acompanhamento de um supervisor, do pastor você consegue identificar isso também
fácil. A célula num multiplica, a célula num cresce, tem problema entre eles, briga entre
irmão, consegue identificar e monitorar isso e ter uma ação eu acho.

17p. Entrevistador: Que que mudou na sua vida depois que você passou a fazer parte
de um pequeno grupo?
17r. Entrevistado: Pra mim mudou muito. A minha conversão foi uma história muito
bonita, assim, do que Deus fez. A minha história com a igreja, a história do meu pai com a
igreja, da minha família com a igreja... Então foi um negócio muito impactante. Mas eu
digo que das melhores coisas que aconteceu, primeiro, salvou meu casamento. Eu fui pra
célula por uma crise conjugal, minha esposa converteu e salvou meu casamento. Restaurou
382

minha família. Mudou meus valores, mudou princípios. Era um cara distante da família,
viciado em trabalho. Nas primeiras reuniões eu vi uma senhora, que compartilhou na célula,
falou de uma briga que ela teve com o esposo, os dois se agrediram e tal, e aí botaram ela
no centro, oraram por ela, tal, tal. Eu fiquei pensando: "Senhor, eu nunca vou 'tá ali falando
da minha vida pra essas pessoas que eu nem conheço". Três ou quatro meses depois era eu
que tava lá no meio, de repente, orando, falando, contando. Então eu acho que mudou isso,
amoleceu o coração, entre outras coisas.

18p. Entrevistador: E em relação a Deus, o que mudou da sua visão de Deus?


18r. Entrevistado: Eu acho que colocou Deus no lugar certo da minha vida, colocou no
centro. Hoje eu 'to cem por cento submisso a vontade de Deus. De vez enquanto até pego
o controle, aí ele: "Não. Sou eu que mando, num é você". "Tá certo, é o Senhor que manda".
Então eu acho que botou Deus no lugar certo. Eu aprendi a me relacionar com Deus de uma
forma diferente. Uma forma íntima, uma forma de 'tá do lado, de 'tá no meu carro
conversando e a gente conversando com ele... 'tá ali, 'tá dentro do carona, vamos supor:
"tenho isso pra decidir hoje, tem isso, o que o Senhor pensa disso? Que que acha disso?
Fala comigo. Mostra pra mim." E de ficar quietinho, se eu não ouvir, eu fico quietinho
esperando ele falar.
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19p. Entrevistador: Recomenda então pequeno grupo para as igrejas?


19r. Entrevistado: Com certeza. Eu acho que é uma arma contra o inimigo. Contra o
avanço, do inimigo, da promiscuidade, do que 'tá acontecendo no mundo aí... É uma arma
da igreja. Pra sair de dentro da igreja. Eu tenho uma história de servo, que quando eu fui
daqui pra ____, eu não... Dá tempo? Na realidade eu fui entendendo que era a vontade de
Deus que 'tava me levando pra _____. Eu recebi uma oportunidade profissional, mas tinha
um problema na consciência de que não era por isso que eu 'tava indo pra lá, eu tava indo
pra alguma coisa. Cheguei lá comecei a procurar uma igreja e tal. Levei uns três, quatro
meses... Uns três meses, eu e minha esposa visitamos uma igreja, outra igreja, outra igreja,
e não conseguimos achar um lugar, a gente não se sentia bem nas igrejas. E aí nós
começamos a orar, falamos: "Senhor, o Senhor me trouxe pra cá pra que?" E aí de repente
mostrou, mostrou... A gente ficou sabendo de uma igreja, e aí fomos visitar a igreja, e
quando nós saímos da igreja, falamos: "é, é essa daí mesmo". E aí começamos a frequentar
a igreja, e aí Deus... A gente tinha um chamado, a gente entende que pela nossa história de
casamento, de restauração, de casamento e família, Deus vai usar isso de alguma forma
com famílias, com casais. E começamos a fazer um trabalho na igreja que a gente achou
que Deus tinha levado pra lá... A igreja tinha muito problemas de casais, casais não formais,
separados e segundo casamento, terceiro casamento, a gente ia fazer um trabalho como?
Comecei a trabalhar, outubro, novembro, o pastor me chamou, perguntou se eu aceitava a
indicação pra ser o vice-moderador da igreja, vice-presidente. Eu orei e entendi de Deus,
aceitei, assumi, fui eleito em dezembro, né. Janeiro o pastor foi embora. Teve um problema
com a igreja, o pastor foi embora, eu virei o presidente da igreja. Nunca tinha dirigido um
culto, eu nunca tinha pregado, eu nunca tinha... eu 'tava sendo preparado aqui pra ser líder,
eu 'tava como auxiliar de liderança de célula, eu não tinha nem liderado célula ainda. E aí
uma igreja que não me conhecia, me conhecia há quatro, cinco meses, a igreja ficava num
bairro mais humilde da cidade de ____, em______, eram pessoas com quem eu não tinha
um relacionamento social, não frequentava os mesmos lugares que eles frequentavam,
383

então estabelecer um relacionamento social com aquelas pessoas eu não tinha como, eu não
conhecia, eu não sabia o que que elas frequentavam, o restaurante, a escola que meu filho
estudava era outra, eu morava em outro bairro e eu ficava: "o que que eu vou fazer? Não
tem outra coisa, vou ter que montar célula aqui". E aí montamos a célula com quatro
pessoas. Eu me emociono nisso. Que aí a gente começou em Janeiro, esse pequeno grupo
na minha casa. No final daquele ano tinha cinquenta e oito pessoas na célula. Foi muito
lindo o que Deus fez. E através da célula eu consegui ir na casa das pessoas, frequentar a
casa das pessoas, estabelecer um relacionamento de intimidade com elas. Que se eu tivesse
ficado lá no púlpito, pregando, não teria conseguido.

Entrevistador: Muito bom. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 08/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
30 anos Jardim Camburi PIBJC 09

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro da igreja?


1r. Entrevistada: Eu me batizei aqui em dois mil e oito. Fiquei dois anos, aí casei, fiquei
um ano na _______ Retornei. Em média, quatro anos aí, esse tempo.
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2p. Entrevistador: Como é que você conheceu célula?


2r. Entrevistada: Na verdade, uma pessoa aqui da igreja me chamou pra ir ver como era.
Eu nunca tinha frequentado, minha família é luterana, bem tradicional. Aí eu fui mesmo
pra ver como era ter mais amigos no meio cristão. E quando eu cheguei na célula eu fui
muito bem recebida. Tava passando por uma fase muito grande de conflitos na minha vida
e tudo. Tinha vinte e cinco anos. E aí as pessoas me receberam muito bem. A pessoa que
me levou, ela me disse na oração, né, que... Se eu queria conhecer uma pessoa que poderia
transformar a minha vida. E aí eu falei que queria e me falou de Jesus. E eu aceitei Jesus
na célula, frequentei a célula durante três meses como frequentadora mesmo, visitante; e
na célula eu decidi que eu queria me batizar e vir pra igreja de fato.

3p. Entrevistador: Muito bem. Como se deu o processo de discipulado?


3r. Entrevistada: O discipulado? Na verdade o que aconteceu? Essa pessoa que me trouxe
tinha um contato também de uma moça, e como ele era um rapaz ele falou: "olha, eu não
posso te discipular. Eu vou te passar pra essa pessoa, essa mulher, que ela vai 'tá te
acompanhando". Foi muito bom, porque eu entrei e a gente traz muita coisa de fora, alguns
padrões que é colocado na gente, costumes que a gente tem. Quando eu comecei a ser
acompanhada no discipulado, essa pessoa que me acompanhou, essa mulher, ela... Nossa
realmente... Aplicar a bíblia na... Pra mim foi muito importante, a gente aproveitava assim
o tempo de café, e ela fazia o livro do discipulado comigo, me mostrando o plano de
salvação. Então foi ali que eu tive realmente maior contato com a Palavra de Deus. Nesse
tempo de discipulado.

4p. Entrevistador: Como é que você vê a célula hoje?


4r. Entrevistado: Hoje... Eu gosto da minha célula, muito. Porque é uma célula bem perfil
meu e do meu marido. Mas a do ano passado, eu achei um célula complicada pra gente.
Era uma célula que mesclava solteiros... Na verdade, solteiras, tinha mais mulheres, e
384

poucos casais. E os casais também com questões muito específicas. E a gente tinha passado
pela perda de um bebê. Então a gente não teve tempo pra se cuidar dessa perda, e tinha essa
célula com muitas questões específicas. E aí a gente ficou, decidiu deixar a célula, dissolveu
a célula; cada um foi pra um canto, e a gente parou de ir, a gente teve uma decepção com a
célula. Aí a gente pensou em não voltar mais pra célula, até pela questão de exposição, né,
que a gente se coloca muito ali pras pessoas. Mas a gente começou a se sentir incomodado
também, ao mesmo tempo. E aí a gente resolveu retornar e agora 'tá sendo assim,
fundamental pra nossa caminhada. Meu marido tem passado pelas dificuldades da
confiança, de colocar as questões dele e tudo, mas a gente sente que a gente não tem como
caminhar sozinho.

5p. Entrevistador: Nessa superação dessa dificuldade que você mencionou, qual o
papel que a célula tem desempenhado nisso?
5r. Entrevistada: É fundamental. Porque eu percebo que quando a gente 'tá sozinho num
problema, parece que o problema fica maior ainda. Quando você tá ali no meio daqueles
casais, muitas vezes o casal não passou pela mesma situação que você, no nosso caso da
perda do bebê, são casais que ainda não tão planejando ter filhos e tudo. Mas quando você
se coloca ali, a sua dor, as pessoas praticamente elas abraçam essa dor, e elas querem junto
te colocar pra cima, elas querem que você fique bem, que você volte a... Tente melhorar,
que você saia desse foco, num fique ansiosa e tudo. Eu acho que é fundamental.
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6p. Entrevistador: Como você percebeu ou percebe a igreja em células em


comparação com uma igreja que não está em célula?
6r. Entrevistada: Eu percebo que as pessoas são mais próximas. Existe uma afinidade
maior entre as pessoas. Antes eu visitei outras igrejas que não tinha célula, grupos
pequenos, e até na integração, de se conhecer, manter uma amizade, estabelecer um
vínculo, num tinha muito ali. E quando tem uma célula você já: "não, você vai ficar com
essas pessoas aqui, você pode desenvolver uma relação de amizade", e isso até é um
incentivo pra você voltar pra igreja. Então pra mim, eu acho que é muito importante assim.

7p. Entrevistador: Qual o risco, qual a dificuldade que você vê numa célula? Uma vez
que você já compartilhou que teve uma decepção na célula. Qual o maior risco do
pequeno grupo pra igreja?
7r. Entrevistada: Eu percebo que existem muitas pessoas que vem com um grau
emocional bem complicado, vamos dizer assim. Parte emocional desestruturada. Eu mesma
quando cheguei na célula, eu tinha muito isso, mas eu tinha o discipulado. Então a pessoa
que me discipulava, ela praticamente trabalhava, eu chegava na célula, mas gora, nessa
nova célula eu tenho percebido que as pessoas têm vindo com essas questões emocionais
aguçadas. Aí não tem tido discipulado, porque as pessoas têm vivido uma roda gigante de
não ter tempo, e aí o tempo passa, e aquilo vai ficando, ninguém é acompanhado, e aí você
como líder tá ali na célula, as pessoas chegam muito acumuladas, elas projetam em você
que você deve dar uma direção pra elas. E na verdade a ideia não era essa. A gente entendeu
ao longo do processo aí, que não tava sendo saudável isso pro nosso relacionamento, que a
gente tava levando problemas de pessoas pra dentro de casa, não tinha mais aquela
separação. Então o risco que nós, eu identifico, não sei se é o mesmo do meu marido, mas
eu percebo que foi realmente isso daí.
385

8p. Entrevistador: Ok. E como é que acontece o encontro da célula? Como é que a
célula se encontra uma vez por semana, como é que é?
8r. Entrevistada: É uma vez por semana, todas as semanas. Normalmente a gente se
encontra no apartamento de uma pessoa, pode ser do líder da célula ou de cada membro.
Tem feito uma escala; aí nessa escala cada um fica responsável por alguma coisa: parte da
exaltação, a gente tem um tempo de quebra-gelo, um tempo de evangelizar, a gente 'tá
estimulando isso daí, e também tem a parte da edificação, que é a palavra que o pastor dá
no domingo, a gente medita nela, ali novamente. E tem a opção de se aprofundar ali, porque
na igreja a gente não tem como falar ali nada do que aquilo mexeu na gente. Então na célula
esse tratamento é bem diferente, é um grupo pequeno que tem um tratamento maior.

9p. Entrevistador: E qual é a participação dos membros da célula no encontro?


9r. Entrevistado: É muito boa. As pessoas realmente abrem o coração. Tem algumas
pessoas que tem uma reserva. Que eu acredito que tanto quanto a gente deve de alguma
forma ter se decepcionado com outras pessoas. Mas normal é as pessoas realmente virem
muito sedentas, com vontade de aprender.

10p. Entrevistador: E que diferença isso faz pra você em relação, por exemplo, ao seu
relacionamento com Deus?
10r. Entrevistada: Ah, eu acredito que é como se tivesse sempre um estímulo assim pra
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você não ficar longe de Deus.

11p. Entrevistador: Com relação a sua comunhão com o grupo, você entende... Qual
a relação que você colocaria entre igreja, célula, em termos de comunhão uns com os
outros? Estimula, facilita, dificulta?
11r. Entrevistada: Eu acho que facilita muito. Se não tivesse acredito que seria bem pior
a aproximação das pessoas.

12p. Entrevistador: Entre si.


12r. Entrevistada: Isto. Porque ali parece que é um momento propicio pras pessoas
falarem mais de si mesmas, elas se sentem aconchegadas: "não, realmente as pessoas que
'tão aqui eu posso de alguma forma falar do que eu 'to passando e tudo". Eu acredito que se
fosse por uma abordagem individual, chegasse pra pessoa e tentasse desenvolver um
relacionamento com ela, acho que ficaria bem mais complicado. Ali no grupo são pessoas
que tem os mesmos, normalmente, deveria ser assim, com o mesmo perfil, casais novos,
no nosso caso. Então as pessoas vêm com questões muito parecidas. Então é um
aprendizado um com o outro também.

13p. Entrevistador: Então você entende que quando o grupo se organiza com pessoas
de perfil semelhante, isso traz uma contribuição para...
13r. Entrevistada: Muito grande.

14p. Entrevistador: Pra comunhão?


14r. Entrevistada: Pra comunhão.

15p. Entrevistador: Identificação do grupo?


15r. Entrevistada: Isto.
386

16p. Entrevistador: E a igreja? Como é que você vê a igreja hoje? Igreja Batista de
Jardim Camburi, como é que você vê a igreja? Como é que você classificaria ou
caracterizaria a igreja hoje?
16r. Entrevistada: A igreja tem passado por um tempo de mudanças. A gente percebe que
algumas células que existiam já há muito tempo acabaram também, os líderes 'tão passando
por uma fase também que 'tão se cuidando. Têm surgido poucos líderes novos. Eu acredito
que essa vida que a gente tem tido de muita correria também tem impedido as pessoas de
estarem mais se dedicando também no ministério de liderança. Então eu acho que isso aí
tem sido um empecilho pra Igreja de Jardim Camburi, mas acredito que não seja só aqui,
local; seja geral. Mas eu percebo que a igreja tem procurado ferramentas pra estimular isso
na gente; eles não têm deixado simplesmente: "não, você deixou de ser líder ou você é um
membro que num 'tá satisfeito, que fique desse jeito". Não. Eles 'tão sempre buscando
formas de trazer gente de volta, de tratar.

17p. Entrevistador: Como você foi cuidada no momento de crise?


17r. Entrevistada: Muito próxima. A pessoa que esteve comigo, ela se dedicou realmente.
Ela teve o tempo que, como se ela abdicasse das coisas dela pra realmente 'tá me ensinando
a 'tá seguindo assim. E era muito pelo exemplo também, né. Eu via muito nela uma pessoa
com muitas coisas que eu via na bíblia. Então isso me facilitou muito no exemplo. Mas
chegou o momento também que ela também não pode me acompanhar, que ela viu que eu
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já caminhava. Então o que achei mais importante, que eu não consegui aplicar na minha
célula, é questão dos limites, que as pessoas precisam de limites e que isso faz parte do
crescimento. E isso aí que eu percebi que se eu colocasse pra determinadas pessoas, isso
geraria uma frustração, porque essas pessoas não estão acostumadas a receber esses limites,
como eu não estava, mas aprendi. Depois de um tempo eu entendi que aquilo ali era pro
meu crescimento.

18p. Entrevistador: Que que mudou na sua vida depois da célula?


18r. Entrevistada: Ah, muita coisa. Eu antes eu tinha muitos amigos na vida que eu levava,
fora da igreja. Muitas... Eu atraia muitas pessoas erradas, eu percebo que dentro da célula
eu tive mais aproximação com Deus, que eu tinha um tempo a mais de edificação com a
palavra do Senhor, pude falar também daquilo que mexia comigo com as pessoas e buscar
em oração tratamento pra isso. E a comunhão. A comunhão que eu acho muito importante,
porque no corpo de Cristo... Com o passar dos anos, como a gente é humano, parece que a
gente tem épocas que esfria, que fica meio morno, às vezes tá demais assim. A célula te
traz assim pra uma coisa mais equilibrada. Às vezes tem um que 'tá: "Ah, to meio
desanimado". Isso é muito importante pra mim.

19p. Entrevistador: Você recomenda célula para outras igrejas que...


19r. Entrevistada: Recomendo.

20p. Entrevistador: Você participou de uma igreja...

20r. Entrevistada: Da _______.

21p. Entrevistador: Da _______.


21r. Entrevistada: Lá também eram pequenos grupos.
387

22p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de pequenos grupos lá?


22r. Entrevistada: Fizemos parte de um pequeno grupo e também era a mesma questão.
Ficamos num grupo pequeno que eram pais com filhos e nós casais novos, um ano de
casado. Então aquilo era meio tumultuado, a gente não compartilhava muito da gente, a
gente mais recebia experiência deles do que falava da gente mesmo.

23p. Entrevistador: E qual é a sua perspectiva daqui pra frente em relação a célula?
23r. Entrevistada: Olha, eu penso que sem não tem como ficar. A gente já percebeu isso
nesse tempo que a gente ficou longe da célula. Mas a gente também quer tempo de
qualidade, porque sem qualidade, ficar ali como um encontro social, a gente também não
quer. A gente quer 'tá num lugar que realmente a gente se sente acolhida, que a gente pode
falar da Palavra de Deus, mas que a gente tenha o desenvolvimento também, que a gente
não fique estagnado.

Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 08/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
34 anos Jardim Camburi PIBJC 10
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1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro dessa igreja?
1r. Entrevistado: Cerca de três anos.

2p. Entrevistador: Como é que você veio pra cá?


2r. Entrevistado: Foi através da minha esposa. Ela, a gente começou a, eu conhecia aqui,
né, que a minha irmã era membro aqui da igreja, mas eu não frequentava aqui não. 'Tava
na época assim meio afastado, e aí eu conheci ela, a gente começou a frequentar, época de
namoro, assim, e noivado. Aí pouco antes da gente casar, voltamos pra _____, que onde
meus pais moram. Aí nós ficamos lá dois anos, aí há uns três anos atrás a gente voltou já
como membro, pra igreja aqui. Pra igreja de Jardim Camburi.

3p. Entrevistador: E qual a participação da célula nesse processo?


3r. Entrevistado: Pra minha esposa foi fundamental porque ela se converteu numa célula.
As primeiras amizades dela... Tinha uma pessoa da igreja que estudava com ela, mas dentro
da igreja foram através da célula. Eu também, as minhas amizades, meu círculo, através
dela, que eu acompanhava ela, foi na célula também. Então começaram... Hoje
praticamente dessa primeira célula, há uns três anos atrás eu tenho, eu mantive essa... São
as pessoas que eu sou mais próximo hoje. Consegui uma maior proximidade.

4p. Entrevistador: Qual a importância da célula pra igreja, na sua visão?


4r. Entrevistado: É muito... Eu considero bastante importante, pra igreja. Olhando assim
pro que aconteceu comigo e com ela, ela veio através de uma célula. A questão da
proximidade, do grupo pequeno, ele ajuda assim a, que às vezes a pessoa chega, eu era
muito tímido, então isso me ajudou bastante, porque, eu, por exemplo, eu vim nessa igreja
aqui já, há muitos anos atrás. Em 2001, quando eu vim morar em Jardim Camburi uma
época aí. E eu entrava na igreja e saia, num conversava com ninguém. Então acaba que esse
calor, esse achego assim das pessoas da igreja, você fica um pouco, fica meio frio. E aí
388

você na célula, você consegue se envolver mais com as pessoas, né, você consegue
caminhar mais com as pessoas. E aí você acaba se aproximando, através do relacionamento
você começa a conhecer mais, de que Deus fez na vida das pessoas. E isso eu acredito que
seja muito importante.

5p. Entrevistador: Como afetou isso no seu relacionamento com Deus?


5r. Entrevistado: Afetou bastante. Afetou bastante nesse início, principalmente, de que eu
falei, de poder 'tá em contato com essas pessoas, que eram da célula, de poder 'tá
vivenciando algumas experiências com eles aí. Coisas deles, que eles passavam, aí você
começa a ver que você não é o sofredor isolado no mundo, você vê que as pessoas tem
problemas, as pessoas buscam, a ajuda de Deus. E isso te traz pra, realmente pra uma
realidade que às vezes a gente não vive. Vive no meio, "só eu", "porque comigo", e esse
tipo de coisa. E a gente aprende no caminho. Que é buscar o caminho, o lado espiritual.
Isso foi assim, pra mim foi mais esse aprendizado. Eu conhecer de fato, assim, não só pela
vida da igreja, ali de você ir no domingo. Eu era da igreja do interior, então eu tinha que no
domingo de manhã na escola, ficar no culto e depois ir de tarde, ou durante a semana, era
aquela coisa meio religiosa assim. Tinha que 'tá. E aí na célula você aprende o outro lado
da, num fala o outro lado da moeda, mas você começa a ver um outro tipo de
relacionamento com Deus, vamos dizer assim.
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6p. Entrevistador: E pra Igreja?


6r. Entrevistado: Você falou pra igreja.

7p. Entrevistador: Isso.


7r. Entrevistado: Então pra igreja é importante por conta desse contato que o... Igual uma
igreja principalmente grande, que as pessoas, às vezes você vem, e você participa de uma
vigília ou de um curso... "ah, que legal, cara, você é o ____", aí você olha, você nunca viu
a pessoa... Às vezes você viu, mas, por exemplo, que aí as vezes a gente é afastado na
escola, não é, seis horas. Aí a gente ia sempre no culto das oito. Quando a gente não tava,
período de férias, que que a gente fazia? Com eles assim, "poxa, vamos no culto das seis?
Que aí a gente 'tá mais cedo mais em casa, amanhã a gente vai dormir mais tarde". Então a
gente meio que mudava a rotina assim um mês, dois meses. Aí já era o tempo pra todo
mundo assim: "vocês não 'tão vindo, que que 'tá acontecendo? Vocês 'tão...". Então acaba
que esse... Essa proximidade das pessoas, acho que é o corpo. Começa a causar essa... e aí
você conhece, né, do outro. E eu acho que a gente cresce muito. Tem um amigo que ele
fala muito do 'cê 'tá em ferro com ferro, se afiando. E a gente cresce assim, um com o outro,
participando da dificuldade do outro, e a dificuldade com outro, quando tem um
relacionamento. Eu nunca estudei essas antropologias, esses negócios aí, mas acho que 'cê
viver isolado não é uma coisa boa não.

8p. Entrevistador: Lá no encontro da célula, como é que acontecem as coisas lá?


8r. Entrevistado: Então, com o encontro?

9p. Entrevistador: Isso.


9r. Entrevistado: O encontro hoje basicamente ele é... Vou falar a parte formal assim,
como é que deveria acontecer, que nem sempre acontece. Ele tem uma parte inicial, onde
as pessoas chegam, também tem um lanche, quando tem muita gente nova, uma quebra-
gelo ali pra criar um ambiente mais propicio assim pras pessoas conseguirem falar e tudo.
389

Mais íntimo. Depois tem o período do... Da exaltação, canta algumas músicas e ora ali e
tudo, aquele período de louvor. Depois tem a parte da Palavra, que é um estudo. A gente
tem uma carta, que a igreja através do pastor envia, uma carta direcionando o estudo ali.
Claro que tem encontros que às vezes você não consegue seguir a carta, depende muito.
Mas normalmente tem a carta ali pra ser seguida pra quem tem mais dificuldade. E um
monte de reflexão. Depois no final tem momento de oração. Ah, desculpa, esqueci. Tem
um momento da célula que a gente faz o evangelismo, que a gente fala. Leva nomes, aí faz
alguma dinâmica, anota, um leva o nome do outro, as mulheres oram pelas mulheres,
alguma dinâmica pras pessoas que ou que você tem contato, 'cê quer apresentar, Jesus pra
elas; ou que você não tem, mas que você quer 'tá orando por elas.

10p. Entrevistador: E qual é a participação dos membros da célula nos encontros?


10r. Entrevistado: Olha, a gente, não sei se a minha esposa comentou, mas a gente
participou assim, três ciclos de célula nós participamos. O primeiro ciclo foi diferente de
todos. Foi esse que eu falei que até hoje a gente tem laços de amizade, de junto, pessoas
que a gente pode contar, que liga, que 'tá junto na nossa caminhada, nas nossas dificuldades.
A gente conseguiu fazer esse, sei lá, é o segundo ciclo, foi um ciclo já meio morno. A
participação era pouca. Poucas pessoas queriam se envolver, poucas pessoas queriam ter
responsabilidade. Poucas pessoas sabiam do verdadeiro sentido da célula. Então queria ali
como encontro, uma conversa, como um lanche, eu canto umas músicas e acabou. O
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relacionamento se resumia aquilo ali. Não tinha nada mais além. E o terceiro foi o que nós
fomos líderes. Esse foi meio traumático pra gente assim, porque nós pegamos uma célula
que já tinha dois anos que ela tava mesmos membros, e ela tinha uma característica, o
seguinte: eram, tinham muitas mulheres na faixa de trinta anos, solteiras. E aí era muita...
As necessidades eram muito parecidas; aquela questão de encontrar uma pessoa, de 'tá
sozinha, de já serem independentes, de ter muito problema de relacionamento. Então era
uma característica que nós não estávamos preparados pra lidar. E aí essa foi menos
envolvimento ainda. Então foi assim, uma célula que era todas as pessoas envolvidas, já
tinha uma certa, não sei se é maturidade a palavra, mas já 'tavam mais, 'tavam bem
resolvidas. A outra que foi meio morna, as pessoas não queriam se envolver muito. E essa
que nós fomos líderes que teve essa experiência meio traumática, que a gente tinha essa
característica, e acabou que sobrecarregou a minha esposa na liderança. E a gente resolveu
até sair da liderança. Começou a afetar casamento, essa coisa toda. Eram, a gente não tinha
tempo pra gente assim.

11p. Entrevistador: Desses três tipos de célula que você mencionou agora, você
colocaria qual dos três como a célula ideal?
11r. Entrevistado: Olha, a que mais nós aprendemos foi a última. Aprendizado assim...

12p. Entrevistador : O que que vocês aprenderam?


12r. Entrevistado: Ah, várias coisas que a gente... A impor limite. Não tinha muito limite.
De saber que a gente não consegue abraçar o mundo. De saber que tem que pedir ajuda, de
saber que às vezes nós estamos ali, mas a pessoa não é só "eu vou na célula, minha vida 'tá
resolvida". Às vezes a pessoa tem que procurar um tratamento, não sei se terapêutico,
alguma coisa desse tipo. Uma visão, algo muito sério, e que nós aprendemos assim nessa
experiência aí. Foi um aprendizado muito grande. Saber que a gente tem que ter o tempo
nosso, que a gente tem que 'tá... Não adianta a gente, 'tá na célula, 'tá na igreja, 'tá bem, e a
gente 'tá mal em casa como família, eu e ela. Então assim, a gente começou a valorizar
390

essas coisas, saber que a gente tem que ter nosso momento, tem que ter nossa... Momento
eu e ela. Nossa vida junto, como casal, família ali, as coisas de família e as questões
espirituais também. Agora a melhor assim, mais gostosa de participar foi a primeira, sem
dúvida.

13p. Entrevistador: E o que que você destacaria nessa primeira que trouxe esse gosto?
Esse prazer de participar?
13r. Entrevistado: Então, eram pessoas um pouco mais maduras, espiritualmente assim
falando, nós que estávamos chegando e tudo. Eram pessoas que gostavam de participar,
tavam envolvidos, não é. Eram pessoas que queriam ajuda... Se ajudavam, queriam ajuda,
pediam ajuda e também aceitavam ajuda. Não que mais que eu posso te falar. Num sei
assim, tavam mais afim assim, de realmente tava ali pra um, acho que entendendo a
proposta daquilo ali tudo.

14p. Entrevistador: Qual o perigo ou, você vê algum risco das células pra igreja como
um todo?
14r. Entrevistado: Eu vejo assim, eu vejo alguns riscos; por exemplo: nós, assim, depois
disso tudo que aconteceu a gente viu que assim, a gente não tinha uma preparação adequada
pra ser líder. Aí a gente pensa assim: poxa, são quantas células? Né, porque na época era
noventa e seis, não sei quantas que tem hoje. Mas não sei, cem células na igreja. Eu não sei
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assim, eu poderia, dentro do nosso grupo ali tinha em torno de quinze a vinte pessoas, como
a gente vê acontecendo em igreja por aí, criar uma, eu era o líder ali, eu tava conduzindo
aquele pedacinho do barco ali. Aquele reminho ali do barco eu tava conduzindo, então eu
podia falar: "oh, põe a mão pra trás, que pra trás é o...". Então o risco que eu vejo é isso,
desse despreparo, de você pegar, tá lidando com pessoas também despreparadas, e poder
causar alguma situação ali que não seria o mais correto pra igreja.

15p. Entrevistador: E os benefícios? Quais os benefícios que a célula trás pra igreja?
15r. Entrevistado: O benefício foi um pouco do que eu falei no começo. A questão da
proximidade, do vínculo. De você criar uma, um relacionamento ali de parceria com a
pessoa, de você poder contar com aquela pessoa, se abrir, crescer, aprender junto, poder ter
alguém pra quem você possa confessar ali, que você possa. Falar dos seus problemas,
resolver a sua vida, Acredito que com os membros mais resolvidos a igreja, ela é um pouco
diferente. Então eu acredito que o principal seria isso assim pra igreja.

16p. Entrevistador: Como é que você descreveria hoje uma célula ideal?
16r. Entrevistado: Ideal? Acho que com líderes sabendo o papel deles ali, preparados e
qualificados. Claro que tem todo um lado espiritual, mas a gente sabe que a preparação é
importante. Pessoas envolvidas também, entendendo o que que é uma célula, porque de tá
ali. E pessoas que querem., querendo participar, se envolvendo. Querendo caminhar junto,
fazer parceria, querendo fazer discipulado, querendo crescer, querendo mais do evangelho
do que só ele ir pra um encontro social. Acho que, tendo isso aí acho que as coisas fluem.

17p. Entrevistador: Você fez parte de uma igreja sem célula, sem pequeno grupo?
17r. Entrevistado: Uma igreja que eu fiz parte no interior não tinha. Era uma igreja muito
pequena e não tem essa visão de célula. E eu fiz parte de uma outra igreja um pouco maior,
que ela era lá no____ Era um pouco diferente. Acho que era pequeno grupo, que chamava
mesmo, pequeno grupo. Mas não tinha essa... Era voltado pros membros da igreja. Não é,
391

por exemplo, igual aqui hoje, que tem essa questão do visitante, da gente poder trazer
pessoas através ali daquele, do convívio menor, criar uma intimidade, pra assim trazer pra
igreja. A visão era mais pra dentro. Era só com membros, não tinha ninguém de fora. Então
participei desses dois modelos.

18p. Entrevistador: E a luz destas experiências todas, você recomenda a igreja que
tenha o pequeno grupo? Ou não?
18r. Entrevistado: Eu recomendo.

Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 12/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICACÇÃO
48 anos Jardim Camburi PIBJC 11

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com os pequenos


grupos.
1r. Entrevistada: Bom, em primeiro lugar eu diria que se eu tivesse que ir para uma igreja
onde que não trabalhasse com os pequenos grupos eu não conseguiria ir, porque pra mim
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foi fundamental, o pequeno grupo pra mim é, como é que eu vou falar, pra mim é, conceber
o que é a vida cristã. Não foi só conhecimento, não foi só discipulado, mas foi no pequeno
grupo que eu pude desenvolver o lado cristão, o lado do crescimento, o significado do
relacionamento com as pessoas da igreja. Pra mim é fundamental o pequeno grupo.

2p. Entrevistador: A senhora chegou a fazer parte da igreja antes da igreja ter
adotado o pequeno grupo?
2r. Entrevistada: É, sim, não aqui, não no Espírito Santo. Em ________. E confesso que
eu me sentia meio que perdida dentro da igreja, não tinha muito, muito espaço. Porque eu
acho que hoje, o pequeno grupo ou célula, como a gente chama aqui, ele meio que faz o
papel da, que o pastor não consegue abranger todos os seus, todas as suas ovelhas, então a
gente consegue desenvolver melhor, crescer mais espiritualmente, porque além do grupo,
além de ser o pequeno grupo mais uma família, mais resumida, ainda tem o discipulado ali
entre uma ou outra pessoa, no máximo três pessoas, que nos dá o crescimento.

3p. Entrevistador : Quais seriam os objetivos de um pequeno grupo?


3r. Entrevistada: Eu creio que, levar a pessoa a ter um conhecimento maior do que é o
ministério em Jesus Cristo. Eu acho que eu, esse, pra mim, assim, pessoal, eu acho que
não teria um, um sentido, se nós não tivéssemos a célula, o pequeno grupo e sim, pra mim
o fundamental é isso, é levar a pessoa a conhecer a pessoa, é tratar da pessoa, porque
também é um, é um momento de tratamento, é um momento que eu acho que as pessoas se
sentem mais à vontade, né? De estar umas com as outras, elas se abrem mais, elas se
colocam mais os seus problemas e a onde a gente pode ser tratado, digamos que, né, porque
a gente não consegue ter uma vida cristã sem deixar de lado os ferimentos, as coisas do
mundo secular.

4p. Entrevistador : O que que mudou na sua vida depois que a irmã, que a senhora é,
passou a fazer parte de um pequeno grupo?
392

4r. Entrevistada: Tudo. Antes eu sinceramente eu não me considerava uma cristã,


digamos assim, então eu conheci Jesus melhor, eu entendi o significado do perdão, é uma
coisa que pra mim era uma incógnita, liberar perdão, doar perdão, receber perdão então foi
através do pequeno grupo que eu realmente conheci isso, então pra mim hoje, ser cristão é
igual eu falei no início, não conseguiria tá dentro de uma igreja, dentro de um ministério
de uma igreja sem que fosse através e com o pequeno grupo. Acho que é fundamental.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você faz entre o pequeno grupo e a comunhão?
5r. Entrevistada: Eu acho que o pequeno grupo é que nos leva a comunhão. A meu ver é
isso. Porque eu acho que hoje, por exemplo, as células, nós somos em cento e poucas
células, grupos aqui na igreja, então, quando a gente tem esse celulão que hoje nós somos
aqui dividido em, como é que fala, supervisão, então as vezes, nem sempre a gente encontra
todas as células, então uma vez no mês a gente faz um celulão, que junta todas as células,
daqui, os pequenos grupos daquele, então a gente vê a importância dessa comunhão, a
importância da união, a importância da troca de conhecimento, do discipulado, do que Jesus
tem feito nas nossas vidas, a gente troca ali os milagres, as coisas que tem vivido e, dentro
da igreja num comum, normal, você não tem isso, a gente não consegue ter essa vivência,
a gente não consegue ter, então pra mim, isso é fundamental, é muito importante essa...

6p. Entrevistador: E qual a influencia que o pequeno grupo causa na igreja como um
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todo? Que mudanças ela, o pequeno grupo produz na igreja como um todo?
6r. Entrevistada: Olha, eu creio, o que eu vejo, o que eu sinto muito é a união. A união, o
relacionamento de umas com as outras, porque, a igreja, como o senhor me perguntou antes,
a igreja sem o pequeno grupo ela não tem essa união entre as pessoas. É oi, bom dia, boa
tarde, como vai, até logo, passe bem, até o próximo domingo. Já com os pequenos grupos
não, a gente tem essa convivência, esse relacionamento durante a semana, quando chega
no domingo sempre tem o que ser discutido, se tem um evento ou outro, sempre tem um
irmão de uma célula, da outra, e sempre temos coisas a compartilhar e sempre um busca
um no outro alguma, entendimento, pra pode ter esclarecimento, discernimento pra poder
ajudar ao outro, então eu acho que isso faz a diferença dentro da igreja, é o crescimento, é
o desenvolvimento cristão.

7p. Entrevistador: Como é que funciona o pequeno grupo, como é que funciona uma
célula?
7r. Entrevistada: Bom, eu lidero e trabalho só com adolescentes, esse foi outro também...
Rodei nos pequenos grupos de adultos, de pessoas mais velhas mas o meu chamado, meu
ministério é adolescentes. Então já to há oito anos liderando célula de adolescentes. E, a
gente tem uma, nós temos aqui, nosso pastor nos dá semanalmente uma carta, na qual ele
costuma deixar claro que nós não temos que seguir exatamente, mas é um modelo de como
se funciona a célula, o pequeno grupo. Como eu trabalho com adolescentes, na faixa etária
de doze a dezessete anos, dezoito anos, então eu tenho uma, eu tenho, às vezes a gente, eu
trabalho muito visando os problemas que eles têm, de cada um, então procuro com meu
pastor de rede, qual assunto, como abordar, como conversar. E normalmente, às vezes,
uma vez ou outra, às vezes, a célula começa do início ao fim apenas oração, choradeira,
desabafo, outras vezes ela trabalha, flui assim com muito louvor, muita adoração, e eu
costumo colocar também, trabalhar como se uma vez de cada três meses, coloca os
próprios, faz um rodízio, cada semana tem um adolescente que é o líder da célula, do
pequeno grupo pra já ver, conhecer e sentir o que é, tá vivendo, tá vivenciando aquilo ali,
393

pra que eles cresçam no amor, então, pra mim, o andamento ali é uma grande família, às
vezes a gente, já tive pessoas que falam assim, há, não pode se envolver muito, eu não
consigo, eu sou razão, coração e emoção tudo ao mesmo tempo no pequeno grupo. E pra
mim eu definiria dessa forma, há sempre o crescimento, demora às vezes, alguns vêm muito
machucados, muito feridos, então, eu costumo dizer que a célula também é um pronto
socorro, que você faz um diagnóstico geral lá do púlpito, mas o tratamento é feito no
pequeno grupo, você vai tratar, você vai curar, tem feridas, feridas abertas, outras que são
abertas durante o tratamento, e eu costumo dizer que isso, até pra gente mesmo nós que já
estamos acostumados às vezes.

8p. Entrevistador: Qual o maior desafio pra liderar uma célula de adolescentes?
8r. Entrevistada: É um grande desafio! Mas é um desafio que eu acho que ele é acima de
tudo com oração, eu acho que independente do número de que tipo, adolescente e adulto, a
gente tem que primeiro se dedicar muito a Deus em oração e o maior dos desafios é estar
sempre aberto. Porque adolescente ele sente, ele sente quando ele é bem recebido e quando
ele não é bem recebido. Então, no pequeno grupo, o líder não pode se dar ao luxo de chegar
lá de cara fechada, chateado, então esse é o desafio, porque nós acima de tudo somos seres
humanos, e também temos o nosso cotidiano nosso, então, o desafio maior é você estar
sempre bem, então você tem que estar muito revestido do Espírito Santo pra poder chegar,
porque cada um ali tem um probleminha, todos querem falar, todos querem compartilhar,
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e eles falam. Quando eles sentem segurança, e a agente passa essa segurança pra eles, eles
conversam, eles falam, eles falam dos problemas que tem em casa, com os pais, com a
namorada, com a vida, com a escola, enfim, então o desafio maior é estar, é chegar toda
semana, naquele dia na célula ali, na nossa reunião, estar revestido do Espírito Santo,
porque você não pode chegar lá também fingindo que ta bem, porque não adianta, a
transparência é fundamental.

9p. Entrevistador: E como é que é a participação dos adolescentes, como é que eles
participam no encontro da célula?
9r. Entrevistada: Total. Na verdade eu costumo dizer que eu estou ali apenas como uma
facilitadora. Então eu costumo geralmente distribuir todos, toda semana, cada um deles faz
uma coisa, e às vezes a gente coloca: há você vai fazer o louvor, você vai fazer a edificação,
você vai fazer o evangelismo, você vai cuidar disso... E às vezes naquele encontro não
acontece nada daquilo. Alguém chega ali “tia posso falar isso hoje?” Então, muda, porque
a gente já chega nesse encontro aberto deixando que Deus aja então nós costumamos dizer
que quem manda ali na célula, quem dirige, quem determina, como vai ser ou não é o
Espírito Santo de Deus.

10p. Entrevistador: E como é que acontece o discipulado na célula de adolescentes?


10r. Entrevistado: Geralmente o mais velho, por exemplo, a minha vice-líder da célula
ela tem 16 anos, e a gente costuma colocar que ela também é a intercessora da célula,
digamos assim, todos tem a obrigação, mas ela é oficialmente a intercessora. E se eu parar
e olhar pra ela, ela sabe, é uma menina que você não fala nada, mas tem o dom da palavra,
tem o dom da oração, então é uma pessoa que está pronta a discipular um outro adolescente
que está chegando. E assim a gente vai pegando o que está mais preparado que já passou
por isso e geralmente eu levo todos os visitantes, os batizados, os não batizados a
participarem de todos os ministérios dentro da igreja. A gente sempre tem retiros, a gente
sempre tem cantinas pra levantar fundos para algum ministério, então eu procuro, tem a
394

Casa do Julgamento, todos os eventos no geral, então, porque eu acho que, você está dentro
de uma igreja, nós somos a igreja, se for pra gente estar dentro de um ministério, que é um
espaço físico, você tem que estar atuando, só estar na igreja ali, pra receber a palavra, acho
que é uma coisa de gente egoísta. Então, eu procuro passar isso pra eles porque é assim que
eu me sinto, foi assim que eu criei minha filha, que hoje é líder de célula, é líder de _____ 698,
é líder de _____ na igreja, só tem 19 anos, então assim, a mesma coisa eu faço com os
outros, com todos os adolescentes.

11p. Entrevistador: Entre os encontros, durante a semana, entre os encontros, existe


alguma atividade, que tipo de atividades que os adolescentes desenvolvem?
11r. Entrevistada: Olha, nós temos esporte, nós temos passeios, nós fazemos uma vez no
mês encontro com as outras células que já multiplicaram, nessa mesma célula, então uma
vez no mês o encontro com as outras três, que saíram dessa, que é a célula ___ e já saíram
mais três, e aí a gente, e eu deixo pra eles mesmo, pra eles então, sugerem, as vezes, a célula
sempre foi fixa na minha casa, apesar de que agora a igreja já colocou isso como fixo num
lugar só, eu já tenho, já tem quatro anos que trabalho com ela fixa na minha casa justamente
por ser com adolescente e nem sempre chegar na casa de um de outro e ter aquela liberdade
na casa, ou sempre ter alguma coisa meio com a família. Então, nós sempre temos
atividades extras, pode ser um passeio, por exemplo, nós tivemos semana passada, que foi
semana de carnaval, por exemplo, nós não fizemos o encontro de célula convencional, nós
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fomos ao ______, então um grupo de células, cada um levou mais convidado, levamos mais
adolescentes da igreja, e se transformou num movimento grande, mas foi um momento
assim, então a gente sempre tá fazendo isso, as vezes vamos fazer uma visita no hospital,
as vezes vamos visitar um amigo doente, enfim, sempre tem, mas sempre com esse objetivo
da célula, do pequeno grupo.

12p. Entrevistador: Quais os princípios que norteiam o funcionamento, a organização


do grupo, como é que, como é que o grupo se organiza, que critérios para definir esse
grupo?

12r. Entrevistada: Quais os critérios? Não tem exatamente um critério. Se for falar disso
especificamente vai ter que falar assim, o grupo em si determina, não! Depende muito da
pessoa que ta vindo. Ele chega, por que vem de todos, não posso colocar, só vai entrar
pessoas assim, eu só posso aceitar se for assim, não pode se for daquele jeito, não. Vem de
todos os jeitos, porque é uma forma deles conviver com todas as pessoas também, crescer
e ver que tem todos os problemas de modo geral. Então a gente não tem essa, o critério é:
pontualidade, não falta, se faltar a gente vai atrás pra saber o que que tá acontecendo e um
critério que a gente coloca é que os não batizados tem que ter o discipulado, faz discipulado,
sim ou não já batizados, a gente tem os livros de sequencia aqui, então tem alguns como já
são mais, mais desenvolvidos espiritualmente falando, então a gente sempre adquire um
outro tipo de estudo, a gente pega um livro por exemplo, a igreja tá sugerindo naquele mês,
então a gente vai estudar aquele livro e vai trabalhar aquele livro como discipulado, e
também pegar um livro bíblico e vai fazer aquilo como discipulado, ai os outros que estão
ainda no leitinho a gente vai na sequência normal. E o critério seria esse, o discipulado é
obrigatório.

698
As funções que a filha exerce na Igreja foram omitidas para não identificar a entrevistada.
395

13p. Entrevistador: Vão chegando pessoas novas, a célula cresce, qual o número,
limite, e o que acontece depois que esse limite chega?
13r. Entrevistada: Eu venho desde o início de célula, de pequeno grupo, trabalhando com
a multiplicação. Talvez o primeiro ano, segundo ano, pra mim, quando eu comecei lá, há
quinze anos atrás com célula, foi meio difícil ver essa história de multiplicação, então eu
não olhava a multiplicação não, trabalhava a separação, Então, isso também aprendi com
célula, com líderes que conheci posteriormente, e então, desde o início que se chega um
membro novo na célula ele já entra sabendo que a célula é multiplicada, então a gente usa
os critérios de escola, equipes, essa coisas todas e vai trabalhando dessa forma do que que
é uma célula. Não significa que as pessoas vão se separar, não, ao contrário, elas vão
continuar juntas, só dando mais espaço para que outras cheguem. O limite de número a
gente não estipulou, mas a minha nunca passou, já chegou a 28 porque os líderes na época
não queriam, né, foram preparados, mas não estavam, foram preparados nos cursos e tudo
mas não estavam preparados para assumir, mas depois disso chega nos 17, 18, já começa,
porque já tem muito novo líder, no meio do ano já tem muitos lideres novos.

14p. Entrevistador: E as novas lideranças que vão assumir as células que se


multiplicam, elas nascem dentro das células ou vem de fora?
14r. Entrevistada: Não, dentro da célula. Dentro da célula, porque eu acho que isso é
fundamental. Tem que ser fruto daquilo ali.
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15p. Entrevistador: E como é que é feita a capacitação dessas lideranças?


15r. Entrevistado: A gente trabalha desde o início, todos, e aí, é igual eu falei, eu costumo
colocar, vai pondo cada um, estimulando e vai desenvolvendo. Tem uns que tem o dom,
outros não tem dom nenhum, outros só trabalham, outros cantam, outros adoram servir.
Tem meninas ali que adoram ir pra cozinha e me ajudar a preparar o lanche. Isso já é nítido
qual que é o ministério. Então você vê o desenvolvimento e você começa a observar por
ali, eu acho que isso é muito importante pro líder, ele ter essa visão de observar quem é
cada um dentro do pequeno grupo e ir trabalhando, e aí você vê, tem uma pessoa que é
voltada para aquele ministério, que tem aquela, aquele chamado de tá liderando então você
começa a trabalhar, você indica pros cursos, fazendo o auxiliar de célula, depois vai pra
liderança, e aí é assim que funciona.

16p. Entrevistador: Então existem cursos que preparam os líderes?


16r. Entrevistada: Existe sim. A ___ tem outros pastores aqui na igreja que eles dão esses
cursos.

17p. Entrevistador: A senhora vê algum, algum perigo nas células pra igreja, algum,
algum risco, as células se constituem em algum tipo de risco para a igreja?
17r. Entrevistada: Não! De forma nenhuma. Muito pelo contrário. Eu acho que é só
benéfico, não tem nada de risco. Muito pelo contrário mesmo. Eu acho que todas as igrejas
deveriam ter, porque eu acho que é uma forma de se ver menos divisão de igrejas, menos
pessoas invadindo ou evadindo as igrejas como vem acontecendo. Eu acho que a célula é
uma forma de manter os fiéis na própria igreja, de trazer pessoas, de crescimento e de cura
mesmo, de cada um.

Entrevistador: Muito obrigado!


396

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 12/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
20 anos Jardim Camburi PIBJC 12

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com célula


1r. Entrevistado: É eu tive experiência com célula muito tempo, porque eu sou membro
da Igreja Batista há muito tempo aqui na igreja e foi em 2004 que eu e minha mãe
começamos a frequentar as células e a partir daí eu comecei a me interessar mais a ter
crescimento, muitas experiências com Deus e hoje, dez anos depois eu viro um líder de
célula depois de um tempo de preparação, um tempo de, de entrega mesmo para Deus e
Deus me deu a oportunidade de ta pastoreando uma célula.

2p. Entrevistador: Como é que está sendo essa experiência como líder de célula?
2r. Entrevistado: Olha, tá sendo muito bom, é, tem me animado mais a buscar a Deus
porque eu tenho que zelar pela, pela minha célula, tem que zelar por ação, tem que exercer
discipulado, parceria, tá sendo, por enquanto tá sendo muito bom pra mim.

3p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte da igreja antes da igreja é, implementar
as células?
3r. Entrevistado: Sim
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4p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê na igreja de antes de célula e depois
de célula?
4r. Entrevistado: Acho que a grande diferença que eu vejo que é muito mais fácil eu além
de conhecer as pessoas, que na igreja grande é muito difícil você conhecer todo mundo e,
é bom que você conhece, a vida do pequeno grupo você consegue conhecer todo mundo,
consegue conhecer, consegue um vínculo de amizade, parceria, as vezes você pode
confessar uma coisa para uma pessoa do pequeno grupo que você não confessaria para um
grupo grande. É uma, foi uma maneira que, eu vejo que a igreja fez pra aproximar os
membros e, é uma igreja mais unida.

5p. Entrevistador: Nesse caso então, você entende que, é, o pequeno grupo, a célula,
contribui para a comunhão entre os, entre as pessoas, ou não contribui? E se
contribui, de que maneira?
5r. Entrevistado: Olha, eu acredito que contribui mesmo pra a comunhão porque
geralmente as pessoas se, além de se encontrarem na reunião em dia de semana ou de final
de semana, geralmente nos cultos, eles tentam sentar sempre perto, sempre tentam marcar
coisas junto, eventos sociais, ou, há, vamos viajar, tenta chamar todo mundo da célula, ou
ir pra um retiro, vão a célula todo mundo, e é um meio importante sempre de todo mundo
tá perto, acho, acho um grande...

6p. Entrevistador: Além da, da comunhão, que outros objetivos têm a célula?
6r. Entrevistado: Eu acredito que o crescimento espiritual, eu acredito que o espírito, o
crescimento espiritual, a maturidade, o cristão precisa de maturidade, acho que isso aí você
tendo no pequeno grupo pessoas que tem o mesmo foco, com certeza, com o foco lá em
cima, em Deus e Deus dirigindo a cada vida, há crescimento.

7p. Entrevistador: Qual a média de idade dos, dos seus liderados na célula?
397

7r. Entrevistado: Uma média de 22 anos, 20 anos. Essa média de 22 a 20 anos.

8p. Entrevistador: Qual o maior desafio pra liderar jovens com essa faixa etária aí,
uma vez que eles tem tantos compromissos com escola, com trabalho?
8r. Entrevistado: Olha, eu acredito que o grande desafio é fazer muitos, muitos não são,
acredito que muitos jovens são tentados, igual, um rapaz deixou de ir na minha célula ontem
porque ele foi ver um filme no cinema, é, eu acho que o maior desafio é fazer eles
entenderem que é preciso ter esse momento, um momento assim com os irmãos de
comunhão, de adoração, porque se a pessoa só ficar olhando pro eu dela, ela não vai viver
a vida, ela vai viver a vida dela e não a vida que Deus quer para ela, que ela tem a vida de
Deus, eu acredito que é isso.

9p. Entrevistador: Como é que é a participação dos jovens nos encontros da célula?
9r. Entrevistado: Olha, geralmente eles são bem participativos, tem sempre opiniões
próprias, opiniões geralmente dentro da Palavra de Deus eles participam bastante.

10p. Entrevistador: E, qual a, quais seriam, você vê algum tipo de perigo, de risco na
célula pra igreja?
10r. Entrevistado: Olha, risco na igreja?
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11p. Entrevistador: Pra igreja.


11r. Entrevistado: Pra igreja. Eu acredito, eu acredito que não, mas é a única coisa que eu
às vezes eu percebo que, quando a célula fica muito tempo a mesma célula eles se fecham,
viram uma panela, eu acho que isso não é uma coisa agradável entendeu? Pra igreja.

12p. Entrevistador: E benefícios pra igreja, que tipo de benefícios trouxe as células
pra igreja de um modo geral?
12r. Entrevistado: Eu acredito que é um, a célula, de um modo geral pra igreja benefícios,
é, que a célula se tornou uma ferramenta. Porque muitas pessoas que não conhece a Deus
prefere muito mais ir à célula do que na igreja, por causa do bloqueio, ou alguma coisa da
vida delas, eu acho que é uma forma acredito que ajude como uma ferramenta, que a partir
da célula eles começam ir na igreja por causa da célula, porque eles conhecem e vê a vida
das pessoas e assim começam a amar e frequentar também a igreja. Eu acho que, eu acho
também, outro benefício, além disso, eu acho que é a comunhão, que é criada, geralmente
os irmãos oram uns pelos outros durante a semana, além do líder auxiliar também fazer
isso, eu acho que, o que eu to lembrando aqui.

13p. Entrevistador: E que mudanças você percebeu na igreja em termos assim de


funcionamento da igreja, estrutura da igreja, que mudanças você observou a partir
da implantação de células?
13r. Entrevistado: Olha, eu percebi que a partir da implantação de célula, toda a visão da
igreja mudou. A visão que a igreja tinha antigamente era uma e agora a visão é totalmente
voltada pra célula, os investimentos que eu percebo, trazendo preletores são para fortificar
a liderança, pra trazer a igreja mais por meio das células, que é a base da igreja hoje.

14p. Entrevistador: E na celebração, no culto, mudou alguma coisa?


14r. Entrevistado: Olha, eu acredito, eu acredito que tenha mudado, porque na, na igreja,
como é uma igreja grande, eu não posso dizer o que mudou ou não mudou, mas teve uma
398

grande mudança. Eu percebo que a juventude, porque antigamente as células, teve uma
época que as células eram só de adolescentes, de jovens, aí depois juntou. Eu acredito que
depois que virou só célula de adolescentes, células de jovens, ou células de famílias, eu
acho que a igreja mais se acertou. Porque às vezes os filhos não queriam falar, se abrir perto
dos pais por causa daqueles bloqueios e os pais, às vezes não sei se queriam falar algumas
coisas perto dos filhos. Acho que algumas células separadas e algumas juntas, eu acho que
mesclou e deu certo.

15p. Entrevistador: Qual a importância que você vê da célula na vida de um jovem?


15r. Entrevistado: Olha, depende do ponto de vista. Se for um crente, se for um jovem
que serve ao Senhor e que tem sede da Palavra dele, vai ser muito importante, porque ele
vai ta, além de ter comunhão com os irmãos, ele vai refletir sobre a Palavra de Deus, que a
palavra dele também fala isso, que nós devemos refletir, meditar na palavra dele, vai ser
um momento que ele vai adorar a Deus, ele vai buscar mais a Deus, e acredito também que
vai ser um momento pra ele, de ele se, como é mesmo, dedicar a Deus ali naquele momento,
se ele dedicou uma ou duas horas aqui na célula, pô, glória a Deus, ele tá ali dedicando sua
adoração, dedicando seu tempo, ele podia tá fazendo qualquer outra coisa mas ele separou
esse momento pra Deus. Mas acho que se for um cristão que tá indo por ir e não quer ter
um compromisso sério, eu acho que talvez não faça tanta diferença. Eu acredito nessas duas
visões aí.
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16p. Entrevistador: E como é que a sua célula, a célula de jovens se forma, tem algum
critério, como é que ela começa, como é que ela se forma? Na definição, nos
componentes dela?
16r. Entrevistado: Olha, geralmente, pelo menos na minha célula é mesclado, tem mulher
e tem homem. E geralmente é opção, algumas pessoas aqui da igreja que tem convívio, e
às vezes, por exemplo, o pastor liga pra mim e aí vamos mandar um jovem pra sua célula
porque ele tá sem célula, às vezes mesmo não conhecendo ele manda, aí ele vai ser inserido
no meio da galera, ele começa, a gente começa a puxar ele pros encontros de jovens, nos
cultos pra sentar com os jovens pra entrar no clima também da galera pra se enturmar. Mas
geralmente é assim, às vezes a gente leva convidado, leva, há, vem aqui, um rapaz da minha
faculdade, vamos lá na minha célula, aí você traz um convidado, as vezes o pastor manda
alguém, ou as vezes algum membro de outra célula tem algum imprevisto que só pode
fazer, é, participar da minha célula porque ela é no dia e no horário que ela pode, tem uma
coisas assim.

17p. Entrevistador: Sua célula se encontra que dia e que horário?


17r. Entrevistado: Terça-feira às 19h30.

18p. Entrevistador: E, qual a ligação que você vê entre a célula e a questão dos estudos
dos jovens, a célula ajuda de alguma maneira por exemplo, nos desafios que os jovens
tem na faculdade, na universidade, com as teorias que ele ouve lá, que tipo de ajuda
a célula oferece para esses jovens?
18r. Entrevistado: Olha, eu, igual na minha célula, de vez em quando a gente meio que
foge do que o pastor propõe pra gente, eu pego, eu e nossos outros membros, a gente pega
textos, a gente pega reflexões e medita. A gente já meditou sobre postura de cristão, a
questão de faculdade, e isso, querendo ou não, isso eu, eu acho que ajuda, às vezes não
tanto se seguir o cronograma que o pastor sugere, mas, ter uma coisa mais flexível porque,
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pra nós que somos jovens, eu acho que acredito que sempre ter todas as células algo novo,
é motivo de animação, de estar mais empolgado.

19p. Entrevistador: E vocês tem essa liberdade de introduzir estudos diferentes


daqueles que são enviados pela carta?
19r. Entrevistado: Olha, eu não, geralmente eu não faço isso com frequência, mas de vez
em quando a gente introduz algum, alguma reflexão, algum livro ou algum irmão tem
alguma mensagem que Deus mostrou pra ele, aí a gente dá um, aí na semana a gente não
propõe, não faz o que o pastor propôs e dá a palavra pro irmão falar, as vezes até o irmão
que iria fazer, iria dar a palavra a gente dá a oportunidade e ele fala, e a gente é edificado
assim também.

20p. Entrevistador: E essa, essa, prática, ou essa experiência, esse acontecimento, esse
encontro, ele é relatado em algum lugar?
20r. Entrevistado: Olha, geralmente a gente conversa entre nós mesmo, a gente não fica
falando com os outros, a gente faz pro nosso crescimento, pra quem tá lá.

21p. Entrevistador: Certo, mas vocês precisam dar relatório pra, pra alguém?
21r. Entrevistado: Então, o relatório que nós temos é relatório de membros, de quantos
membros foram, quantos visitantes foram, se teve, esse relatório de, como se fosse pauta
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de escola, de quem fez cada, cada “E”, coisas assim.

22p. Entrevistador: E as lideranças, como é que surge a liderança na célula?


22r. Entrevistado: Em qual sentido?

23p. Entrevistador: Como é que a célula, é, como é que a célula, é, atende as demandas
em relação as lideranças, é, surgem líderes de dentro da célula, vem líderes de fora?
23r. Entrevistado: Olha, geralmente igual, quando a célula tá próxima a se multiplicar,
geralmente como toda célula tem um auxiliar, esse auxiliar em tese, quando há a
multiplicação ele sempre é preparado, ele é levado ao curso de liderança pra ser preparado.
Caso ocorra a multiplicação, ele multiplica gerando uma outra célula, mas também pode,
pode acontecer também, da célula se multiplicar e uma outra pessoa ser, as vezes o pastor
pode conversar e achar melhor colocar uma outra pessoa, aí, fica a critério da liderança que
tá em cima, mas geralmente é um membro da mesma célula que vira, sempre é bom o líder
sempre preparar novos líderes, se uma célula multiplicou ele já tem que preparar uma outra
pessoa porque quando a próxima célula multiplicar, tem um líder para exercer a liderança.

24p. Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado pela entrevista.


24r. Entrevistado: Ah, de nada!

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 12/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
44 anos Jardim Camburi PIBJC 13

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com célula.


1r. Entrevistado: Nós iniciamos na célula logo depois que nós viemos pra igreja de Jardim
Camburi. Nós havíamos nos casado, nós éramos do interior, já éramos, membro de igreja,
400

já conhecíamos a Cristo e quando nós chegamos aqui na igreja Batista de Jardim Camburi
a gente não conseguia se enturmar, a gente via que a igreja já era grande e a gente não tinha
muitas pessoas conhecidas. Até que, então, nós participamos primeiramente de um curso
de células e, após esse curso, nós fomos inseridos numa célula. E neste momento assim, foi
muito interessante, porque abriu oportunidades de a gente se relacionar com pessoas. E foi
muito interessante também porque nossa primeira célula nós tínhamos, eram todos casais
jovens, isso tem, foi em 2002, eram todos casais jovens, sem filhos ainda e nós tínhamos
muitas afinidades, foi um momento muito especial, isso foi o começo de tudo.

2p. Entrevistador: Na sua experiência então, o que mudou na sua vida a partir do
momento que você passou a fazer parte da célula?
2r. Entrevistado: Apesar de já fazer parte de igreja desde praticamente quando eu nasci, a
visão de célula me abriu muito o espírito, a mente, o coração para um compromisso de
corpo de Cristo, de uma forma que eu não havia experimentado ainda, e posteriormente
quando eu fui líder, eu entendi muito bem essa situação de você como líder, ser pastor,
porque na verdade quando você é crente e nasce na igreja evangélica, Batista, você, certo
ou errado, mas na verdade é que o que acontece é que você tem muito essa visão, de que
você tem o pastor, aquela pessoa que cuida da sua igreja, que você tem todo respeito, é o
seu líder espiritual, mas nós sabemos, nessa visão de célula eu percebi muito essa situação,
no momento que eu fui líder, a responsabilidade que eu tinha de cuidar de pessoas,
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independente depois da liderança você, por ser um grupo menor, você tem mais contato
com as pessoas, você tem mais liberdade com as pessoas, você passa a desenvolver hábitos
de se preocupar com aquela pessoa, de repente você ter, não ter nenhum tipo de restrição
de ligar pra aquela pessoas e falar assim olha, to te ligando pra te desejar um bom dia, ou
até mesmo hábitos de você ter a liberdade de orar com aquela pessoa, de participar muitas
coisas e essa questão ai também se desdobra na questão de companheiro de jugo, a gente
tem isso daí, muito bom, eu gostei muito dessa experiência e de discipulado também, que
você, eu tive oportunidade de discipular pessoas na célula e essas pessoas hoje em dia estão,
tão muito firmes na igreja, inclusive até pessoas de histórico difícil, de vim de dependência
química, de problemas familiares e a gente tem a oportunidade na célula de ta com essas
pessoas.

3p. Entrevistador: Então você, você experimentou, fez parte de igreja que não tinha
célula?
3r. Entrevistado: É.

4p. Entrevistador: E agora faz parte de uma igreja que tem célula, o pequeno grupo?
4r. Entrevistado: Hum.

5p. Entrevistador: Qual a diferença que você percebe aí, esses dois, esses dois modelos
de igreja?
5r. Entrevistado: É, digamos assim, é aquilo que eu havia falado, quando eu era da minha
igreja, digamos originária, que era de uma cidade do interior, igreja menor, não tão menor
assim, na época a igreja já tinha uns duzentos e tantos membros, trezentos membros, eu era
o filho da família da dona ______ do seu ______ que já tava lá na igreja, conhecido por
todos, e acaba que eu tava ali dentro daquela igreja, eu tinha atividades, mas era uma
questão assim, como eu disse pro senhor anteriormente, eu não tinha, não me sentia
responsável por nada, a não ser realmente de fazer as coisas que me cabia e de cultuar a
401

Deus, de louvar e tal, agora, a partir do momento que eu venho pra uma igreja em que eu
sou desconhecido, a princípio, logo quando a gente chegou, foi uma forma de inserção na
igreja e uma forma de crescimento, em vários aspectos importantes. Então eu acho que uma
situação não exclui a outra, mas eu acho que a realidade de um modelo de pequenos grupos,
de célula, principalmente com uma igreja como a nossa de Jardim Camburi, inserida num
bairro grande, e que não tem só membros do bairro, tem pessoas de outros bairros, é
fundamental.

6p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos das células?


6r. Entrevistado: No meu entender, os objetivos da célula são comunhão, relacionamento,
comunhão com o irmão e relacionamento, crescimento espiritual, de você experimentar
essa vivência de uma igreja de Cristo, mais próxima das pessoas mesmo, como a gente
tem assim a experiência das igrejas primitivas, principalmente lá em Atos, a gente vê aquela
experiência ali, pra mim, esse é o objetivo.

7p. Entrevistador: Comunhão. Você mencionou a comunhão. Em que sentido o


pequeno grupo contribui para a comunhão entre as pessoas?
7r. Entrevistado: Por ser pequeno grupo, você tem proximidade com as pessoas, você
conhece as pessoas, você cria afinidades, você acaba tendo, a pessoa cria a confiança em
tratar de certos assuntos com você, você tem a oportunidade de realmente participar da vida
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daquela pessoa. Igual, eu não me lembro de antes eu ter experimentado, digamos de ligar
para uma pessoa e orar com ela por telefone e na célula existe essa comunhão, de você falar
assim, irmão eu to ligando pra você, você podia orar comigo? Isso pra mim era algo
estranho. A minha experiência é assim, a experiência que a gente tem que me parece que
em célula, aquilo que eu falei, você chama a responsabilidade também. Eu acho que no
passado de repente, eu falaria bem assim, liga pro pastor, faz alguma coisa desse tipo, e aí
essa comunhão, essa proximidade. Eu passei por várias células, não posso deixar de dizer
que tenho afinidade maior com algumas pessoas. Outro dia agente tava até brincando num
aniversário, eu falei bem assim, ah, se eu pudesse escolher uma célula eu ia pegar várias
pessoas assim, mas isso aí é impossível as vezes você não pensar nisso. Mas eu não me
arrependo de nenhuma célula que eu tenha participado, nenhuma situação e entendo
algumas coisas que aconteceu, alguns conflitos, não guardo mágoa, não tenho rancor, não
tenho nada, eu vejo assim, de uma forma muito especial.

8p. Entrevistador: Como é que são trabalhados os conflitos nas células?


8r. Entrevistado: Os conflitos na célula, alguns conflitos existem realmente, uma
reciprocidade e na verdade isso se desenvolve, é tratado de uma forma bastante
transparente, é tratado de uma forma bastante transparente, eu particularmente nas minhas
vivências de célula não existiram grandes conflitos em pessoas que se consideravam assim
adversárias e tal, a gente via mais conflitos eu participei mais de conflitos de pessoas que
estavam com algum problema e até se colocavam na condição realmente de ser ajudadas,
mas muitas vezes, apesar de dizer que queriam ser ajudadas, elas se comportavam de uma
forma que não demonstravam exatamente isso, de você ter que confrontar a pessoa de falar
olha, veja bem, isso tá acontecendo e você não, não tá sendo honesto com você mesmo, eu
te respeito, porque eu te respeito eu preciso te falar isso, e acima de tudo, eu sinto no meu
coração, após ter orado, após ter colocado isso diante de Deus que a gente deve tratar esse
assunto.
402

9p. Entrevistador: Então há um, há uma possibilidade, há um ambiente favorável na


célula pra esse tipo de confronto com amor?
9r. Entrevistado: Isso. Com amor. Existe.

10p. Entrevistador: E célula representa algum risco para a igreja, que tipo de risco?
10r. Entrevistado: Particularmente eu não vejo essa possibilidade. Eu acho que qualquer
tipo, alguém que pudesse imaginar que uma célula poderia representar uma forma de
rebelião, de se, eu acho que isso aconteceria de qualquer forma, são as pessoas, pessoas
que pensam dessa forma. Acho que não, não representa não. Eu não vejo dessa forma.

11p. Entrevistador: E como é que é a participação dos membros da célula, do grupo


nos encontros?
11r. Entrevistado: No princípio era uma coisa assim, bem formal, digamos assim, bem
formatada, melhor dizendo. Tinha os “Es”, ai cada um fazia de uma forma, tal, passado os
anos a gente foi assim, se liberando um pouco disso e é até algo não exatamente só de uma
célula ou outra, me parece que é algo até que a igreja foi entendendo que poderia ser dessa
forma. Então existem, existia uma participação já direcionada de todas as pessoas fazerem
todos os momentos da célula, sempre existiu pessoas que falam mais, pessoas que falam
menos, mas assim, o que é muito interessante é que do nada aconteciam, e acontecem,
coisas que não estava no script. Deus tocar numa pessoa de forma especial e ela ter uma
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participação diferente naquele momento. E existem dias que você vê uma total, assim,
frieza, e existem pessoas também que acham que todo dia tem que ter fogo caindo do céu,
é aquela coisa diferente e tal e não é assim, tem dia que é, a gente tem é, que tá refletindo
mesmo, de uma forma mais tranquila, né, como os problemas podem ser tratados na célula,
às vezes tem uma pessoa que chega muito mal, aí ela vai falar, ah, sei lá: “minha tia tá com
um problema sério, ela tá com câncer, e a minha outra tia já morreu”, e tal, então, ela narra
isso, e de repente externa um sentimento de um conflito, de até mesmo de não tá entendendo
aquele assunto, porque que Deus faz isso, ai você, você acaba, como célula participando
daquele momento, e abraçando essa pessoa.

12p. Entrevistador: As pessoas tem liberdade de expressar sentimentos, compartilhar


experiências no encontro?
12r. Entrevistado: Tem. Tem sim. Tem liberdade.

13p. Entrevistador: E os líderes, as lideranças das células, como é que elas são
preparadas?
13r. Entrevistado: Como elas são preparadas ou como elas estão assim?

14p. Entrevistador: É, como elas são preparadas elas, elas, normalmente a liderança
surge de dentro da célula, como é que ela é preparada pra liderar a célula?
14r. Entrevistado: É, surge, é, no princípio a gente tinha muitos cursos, tem ainda, mas é,
ai então os lideres geralmente faziam os cursos, até porque tava começando, hoje em dia
surge de dentro da célula mesmo, na célula.

15p. Entrevistador: E a célula visa o crescimento do grupo, traz pessoas de fora?


15r. Entrevistado: Visa, visa isso. É difícil tá, é bem difícil. Não é da forma que a gente
espera não, eu acho muito difícil. Não sei, pode ser uma limitação nossa, das células que
nós passamos, mas acho bem complicado, assim, entendeu? Trazer pessoas de fora. Até
403

porque existem fases da célula, então tem fases que a célula têm que se voltar pra ela
mesma, conhecer as pessoas. Aí depois é uma fase de uns aos outros, então nesse momento
ai a gente teria que realmente trazer pessoas, só que a visão assim, é muito de, num
determinado momento dessa história toda, tipo assim, de desenvolver relacionamentos, até
mesmo de forma intencional, e num determinado momento trazer essa pessoa pra conhecer
o grupo, pra ela poder entender, se abrir e se inserir.

16p. Entrevistador: E, e o discipulado, como é que acontece dentro da célula?


16r. Entrevistado: O discipulado geralmente, ele existe, a gente não, mesmo você sendo
crente, tem vários tipos de crentes, tem o bebê, tem o mais maduro, existe esse discipulado
aí também, que é feito através das parcerias e existe o discipulado também do novo
membro, do crente que tá chegando pra célula, que é feito pelos próprios membros através
de encontros que não são os encontros da célula, então quer dizer, você teria que
desenvolver algumas coisas e alguns pilares como por exemplo o quarto de escuta, os
encontros de discipulado, encontro de parceria, se você realmente levar, você, você teria
uns quatro dias aí, trabalhando isso, com certeza, assim, o numero de encontro de célula,
mais alguns outros dias pra você fazer isso.

17p. Entrevistador: As células, os membros da célula, eles tem a preocupação de


cuidado mútuo, um cuidando do ouro?
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17r. Entrevistado: Sim.

18p. Entrevistador: E isso também acaba vazando pra fora da célula na comunidade
de um modo geral, tem tido alguma preocupação da célula em atender alguma
demanda da comunidade de modo geral?
18r. Entrevistado: Sim, direcionado pela igreja. Tem, tem sim. É, atos de compaixão por
exemplo. É uma, é o que a igreja direciona. Através da liderança, dos pastores, os lideres
de célula e os supervisores, chega ao líder e a gente faz isso, assim, em determinados
momentos tem sim, e muitas células assimilaram isso e fazem, já incorporaram, digamos
assim, essa prática de fazer isso.

19p. Entrevistador: E se tornam ações na comunidade e visam o benefício da


comunidade de modo geral?
19r. Entrevistado: De modo geral tem coisas assim, que eu nunca tinha imaginado, não
foi comigo que aconteceu isso não, mas tem uma célula que faz café da manhã para os
feirantes, nunca passou pela minha cabeça que essas pessoas tavam aqui, que a feira é aqui
atrás, que eles chegam, sei lá, antes das quatro, que vem dos lugares trazendo tudo, tal, eles
foram lá, levaram café com as coisas, e falaram, simplesmente pra desejar um bom dia,
cantaram louvores, e beberam café e foram embora. E eu achei assim, muito interessante,
porque às vezes você não pensa nisso, é legal que apesar de a igreja dar um start para muitas
coisas, depois você tem uma estrutura mais ou menos digamos difícil, porque a igreja é
maior, então, tudo que é maior você tem menos mobilidade, mas a célula por ser menor,
ela tem muito mais agilidade, então, a nível de célula, surge uma ideia como essa, você vai
e faz.

20p. Entrevistador: A célula tem autonomia pra isso?


20r. Entrevistado: Tem autonomia.
404

21p. Entrevistador: Pra tomar essas iniciativas sem precisar autorização?


21r. Entrevistado: Exatamente. E outras coisas mais. A gente, eu já, nós já, as células,
agente organiza café da manhã, aí traz as pessoas, pode convidar, sei lá, jantar de
namorados, eventos, eventos, faz sim e também de orar, a gente teve uma experiência muito
interessante de oração no sentido de você ter aquela liberdade de ligar e falar assim, vamos
fazer oração? Aí você vai orar, sei lá, de, a partir de, de tal, um dia, 24 horas, vamos colocar
assim, aí estabelece, de alguém ligar pra você uma hora da manhã e falar bem assim “agora
é a sua vez” aí você vai orar, aí quando for duas horas, você vai ligar pra outra pessoa “olha,
acabei meu horário, agora é você”, aí vai fazendo isso. Foi muito bom, do tipo, eu me
lembro de um episódio que um amigo nosso bem no começo de célula “vocês são doido,
ligaram pra minha casa, onze horas da noite pra falar que o neném de fulano tinha nascido”
aí, é um conflito, não deixa de ser um conflito, ele teve liberdade pra falar isso, aí todo
mundo ficou meio assim “nossa tava todo mundo feliz, porque...” lembra-se que eu falei
que era uma, no começo era uma célula de casais sem filhos, então quando nasceu o
primeiro bebê assim, todo mundo “olha, nasceu o neném, tal, não sei o que...”, aí uns foram
para o hospital, aquela coisa, e ele teve liberdade de falar isso, aí depois ele mesmo chegou
a conclusão e falou assim “poxa como fui idiota, assim, eu não tava entendendo, eu
preocupei assim pô que coisa besta, me ligar pra falar um negócio desse”. Então assim, tem
muita experiência bacana, tem sim.
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Entrevistador: Obrigado pela participação.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 12/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
36 anos Jardim Camburi PIBJC 14

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre sua experiência com célula.


1r. Entrevistada: Bom, eu frequento célula desde dois mil e dois, quando eu vim pra
Jardim Camburi, eu morava no interior, em __, me casei em dois mil e um e vim pra cá.
Fizemos o ABC699 da célula, e desde então estamos em célula. Célula pra mim é
relacionamento, é aproximação de pessoas, um ajudando outro, é amizade e
aprofundamento no conhecimento da palavra e no relacionamento com Deus.

2p. Entrevistador: Você fez parte de alguma igreja que não tinha o pequeno grupo,
que não tinha célula?
2r. Entrevistada: Sim, anteriormente, antes de me casar e vim pra Vitória eu pertencia a
igreja, a_____, e lá ainda não é, havia grupos pequenos, porque hoje não é célula, mas lá
tem grupos pequenos.

3p. Entrevistador : Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o pequeno
grupo, a célula, e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
3r. Entrevistada: Eu vejo assim, você chega numa igreja que não tem o pequeno grupo,
você olha aquele monte de gente lá, você não conhece todo mundo, então você vai, participa
do culto e depois você vai embora, e numa igreja em célula, desde que você esteja

699
ABC da célula é um curso de preparação de membros de igrejas evangélicas mais antigos para
ingressar numa célula.
405

frequentando, você chega e você já procura “cadê meu grupo, cadê minha célula?”, você
quer estar junto, quando termina o culto você quer saber “e aí, como você tá?”, as pessoas
ligam, as pessoas procuram saber de você, sempre tem um orando por você, você orando
por alguém, então é aquela preocupação de cuidado, eu vejo essa diferença que tem cuidado
das pessoas, umas com as outras.

4p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


4r. Entrevistada: Alcançar as pessoas que ainda não aceitaram a Cristo. É você tentar
trazer pessoas do seu relacionamento né, fora da igreja, que não tem, né, relacionamento
com Deus, pra se reunir ao seu grupo, ali a pessoa se sentir a vontade e ali naquele grupo
ela conhecer Deus, conhecer né, o amor de Deus, como que Deus cuida, é, uns dos outros.
Esse é o objetivo.

5p. Entrevistador: E como é que acontecem esses encontros?


5r.aEntrevistado: É, uma vez por semana. E, o líder divide assim, é, cada semana na casa
de uma casal, aí o casal é responsável por receber é, as pessoas, é, e a célula é dividida é,
nos 5 “Es” né, que é o quebra gelo, a exaltação, a edificação e o evangelismo, e depois tem
o, a outra parte que é a confraternização.

6p. Entrevistador: Certo. E a participação nos encontros, como é que é essa


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participação das pessoas?


6r. Entrevistada: Sempre tem um que é mais tímido que fala menos no início né, mas
depois, é, conforme a carta, que o pastor né, envia uma carta toda semana de acordo com,
com o último culto, então conforme a carta, conforme a pergunta, a, um vai respondendo,
aí vai, vai perguntando e você, como que é pra você isso, ai vai puxando, ai as pessoas
acabam se soltando, mas logo no início, as pessoas que frequentam desde, é, na primeira
vez, ficam mais travadas, depois, pegando confiança, aí vai falando né, do eu, que a
princípio fala do outro, mas depois vai falando né, é, de você mesmo.

7p. Entrevistador: O que mudou na sua vida depois que você passou a fazer parte de
uma célula, do pequeno grupo?
7r. Entrevistada: Eu ah, o que mudou pra mim, é, que antes, pra mim, Deus era assim, ele
tava lá no céu, eu tava aqui, e eu ficava “Senhor, como o Senhor está longe”, depois da
célula parece assim nossa, Deus está aqui comigo, e assim, poxa, tem um irmão aqui do
meu lado que ora por mim, se preocupa comigo, vamos nessa, vamos juntos, eu acho que
isso que mudou pra mim.

8p. Entrevistador: E na igreja, o que mudou na igreja?


8r. Entrevistada: Ah, na igreja é, cada ano você conhece mais e mais pessoas né, porque
cada ano você tá mudando, você tá é, multiplicando, são pessoas novas entrando, pessoas
indo pra outras células e o seu relacionamento você vai aumentando então, a minha célula
do ano passado não deixei de ter relacionamento, então, eu chego na igreja, eu não conheço
mais cinco, dez pessoas, eu já conheço 100 pessoas.

9p. Entrevistador: E que tipo de mudanças a célula produziu nas, nas celebrações, nos
grandes encontros da igreja?
9r. Entrevistada: Eu acho que mais união, comprometimento, compartilhamento.
406

10p. Entrevistador: E na maneira de funcionar a igreja, assim, a estrutura mudou


alguma coisa?
10r. Entrevistada: Não. Eu, no meu ver não.

11p. Entrevistado: As questões doutrinárias da igreja mudou?


11r. Entrevistada: Também não. Nada. Em relação a isso não.

12p. Entrevistador: Então a igreja continua sendo uma igreja Batista?


12r. Entrevistada: Sim

13p. Entrevistador : Sem fugir daquele perfil doutrinário de uma Igreja Batista?
13r. Entrevistada: Sim, exatamente.

14p. Entrevistador: Mudou mais a parte de relacionamento mesmo?


14r. Entrevistada: Relacionamento.

15p. Entrevistador: Como é que a, como é que a célula, além dos encontros, as células
tem algum tipo de atividade...
15r. Entrevistada: É, a gente é, o que a gente procura fazer, é pra que as pessoas né, que
não são do, da, é, do nosso relacionamento, aqui da igreja, ouras pessoas de fora, a gente
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tenta criar é, um dia vamos fazer uma confraternização diferente pra você poder chamar
um amigo. Então a gente procura fazer eventos que possa envolver outras pessoas.

16p. Entrevistador: E o, e o cuidado, como é que acontece o cuidado das pessoas que
fazem parte da célula?
16r. Entrevistada: E o telefonema, tem o, agora é o whatsApp, e-mail, é isso.

17p. Entrevistador: E o discipulado, como é que acontece o discipulado na célula?


17r. Entrevistada: O discipulado, por exemplo, se alguém é novo convertido, né, é, o líder
vai ver qual é a pessoa que vai cuidar desse novo convertido. Então nós temos os livrinhos
que a gente toda semana faz com eles. E, nós que já somos membros mais antigos, a gente,
quem já fez todos os livrinhos, a gente tenta é, rever algumas coisas dos livrinhos e a
mesmo, compartilhamento do, entre, entre duas pessoas. O que você não abre pra célula,
no grupo, pra todo mundo, você vai abrir com o seu discipulador.

18p. Entrevistador: E as lideranças, como é que elas surgem?


18r. Entrevistada: Bom, muitas vezes, acho que na maioria das vezes, os líderes já tem
um chamado. Quem tá na célula, geralmente o líder, ele já vai, ele tem aquele olhar pra ver
assim, qual, qual é o casal, qual é a pessoa que tem potencial e investe nessa pessoa, que
nós temos um curso de líder aqui na igreja e assim, e durante esse momento o que que se
faz, a pessoa vai orando pra Deus confirmar se é isso mesmo e assim surge o líder e as
multiplicações.

19p. Entrevistador: Você vê algum tipo de risco, algum tipo de perigo pra igreja no
pequeno grupo, na célula?
19r. Entrevistada: Não. Eu creio que o pequeno grupo, ele só veio pra abençoar a igreja,
pra ajudar no crescimento e no relacionamento das pessoas.
407

20p. Entrevistador: Muito bem. Obrigado.

FUNÇÃO: Líder/Supervisor SEXO: Masculino DATA: 19/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
41 anos Jardim Camburi PIBJC 15

1p. Entrevistador: Quantos anos faz que você é membro da igreja aqui, de Jardim
Camburi?
1r. Entrevistado: 30 anos.

2p. Entrevistador: 30 anos


2r. Entrevistado: 30 anos

3p. Entrevistador: Então você foi membro da igreja antes dela estar em célula e agora
é membro da igreja depois de você está em célula?
3r. Entrevistado: Sim

4p. Entrevistador: Na sua opinião, o que é que levou a igreja a adotar o pequeno
grupo?
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4r. Entrevistado: Eu acho que foi uma, uma carência detectada de problema de
relacionamento, de as pessoas se conhecerem umas as outras, acompanhar umas as outras,
é, ter mais intimidade umas com as outras, até mesmo fora do ambiente de culto, né, tornar,
criar laços mais reais, mais concretos que não fossem uma vez por semana.

5p. Entrevistador: E na, na sua avaliação, ao longo desse tempo que a igreja já está
vivenciando, são quantos anos que a igreja está vivenciando o pequeno grupo?
5r. Entrevistado : Se não me engano é desde 2000.

6p. Entrevistador: Desde 2000. São quatorze anos?


6r. Entrevistado: Quatorze anos.

7p. Entrevistador: Então, nesses quatorze anos você percebeu que tipo de mudanças
na igreja?
7r. Entrevistado: Eu acho que as pessoas tem mais liberdade nos cultos, por exemplo. Que
eu vejo até como uma consequência do relacionamento mais é, constante. Porque se eu
conheço aquela pessoa, eu sei quais as qualidades as deficiências, eu posso sentar do lado
dela, e eu posso, eu sei que se eu tiver um problema com ela eu posso resolver, então isso
me dá liberdade, por exemplo, de sentar ao lado daquela pessoa no culto e louvar a Deus
sem nenhum pesar. Ou até, se eu gosto muito daquela pessoa, eu tenho muita satisfação de
sentar do lado dela, eu sei que ela me aceita, eu sei que ela me ama, eu sei que eu posso
louvar a Deus sem, sem o pesar de que sei lá, ela vai tá me julgando, ela vai tá me, me
avaliando como eu, como eu adoro, como eu louvo, eu acho que traz liberdade.

8p. Entrevistador: Além desse aspecto da celebração, a implantação dos pequenos


grupos produziu um outro tipo de mudança na igreja?
8r. Entrevistado: Sim. Eu acho que as pessoas estão mais engajadas. Porque, por exemplo,
informação, as pessoas sabem mais o que está acontecendo com a igreja. Então, por
408

exemplo, se tem uma campanha, se tem um, um tema, um congresso, um, um, sei lá, um
ministério, um, qualquer, um seminário, as pessoas ficam sabendo mais rápido, porque a
informação passa mais rápido, não é só aquela coisa de domingo, né, as pessoas comentam
e convive e vive aquela informação durante a semana, então acho que acaba gerando
também um engajamento maior nas atividades, nas campanhas, na missão da igreja.

9p. Entrevistador: No caso do pequeno grupo, quais seriam os objetivos do pequeno


grupo?
9r. Entrevistado: Olha, objetivos do pequeno grupo é realmente conhecer e se tornar
conhecido.

10p. Entrevistador: Pros membros?


10r. Entrevistado: Pros membros, sim. E obviamente, numa relação mais familiar, mais
íntima, você tem a liberdade de chamar, por exemplo, um não crente, que a gente chama
de oikos700, pra sua casa e não necessariamente pra igreja, templo. Então, isso traz mais
liberdade, traz mais flexibilidade, eu acho.

11p. Entrevistador : Qual a relação que você vê entre o pequeno grupo e a comunhão?
11r. Entrevistado: Ah! É mais fácil de detectar. Por exemplo, se você se dá, vai se dar
bem com uma pessoa, você tem, no pequeno grupo você tem condição de se relacionar bem
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com aquela pessoa, se você não se relacionar bem com aquela pessoa, você tem a, a,
oportunidade de detectar porque, de repente é alguma coisa que Deus quer tratar em você,
ou uma coisa que Deus quer tratar na outra pessoa, então eu acho que essas coisas ficam
mais evidentes, tanto pro muito positivo quanto pro não tão positivo, mas não passa, nada
passa despercebido.

12p. Entrevistador: Pra você, que significou pra você, é, fazer parte, passar fazer
parte de um pequeno grupo?
12r. Entrevistado: Eu acho que o fato de você ter pessoas que estão ali pra você, no
sentido, por exemplo, eu to passando por uma, uma alegria muito grande, eu tenho com
quem compartilhar durante o dia. Por exemplo, a minha célula tem um, a gente usa os
recursos de multimídia, a gente usa o celular, todo mundo tem whatsApp, tal, então de uma,
de uma maneira muito rápida e fácil eu, eu consigo ligar pro meu irmão, mandar uma
mensagem pra ele e falar meu irmão eu tenho uma reunião agora, eu tenho um cliente agora,
eu tenho uma prova agora, ora por mim e aquela pessoa imediatamente ela responde sim,
to orando por você agora, to muito feliz por isso que aconteceu, parabéns, que legal, vamos
glorificar a Deus por conta disso. Então, eu acho que saber que tem essas pessoas
disponíveis assim, que dão suporte pra você em oração, espiritualmente, pra mim é muito
gratificante porque, esperar por exemplo, de domingo a domingo pra, pra você se sentir
alimentado, ou forte nesse sentido, é pouco. Porque a gente enfrenta tantas batalhas ou
mesmo dificuldades durante a semana, e saber que tem gente próximo que te conhece, sabe
das suas dificuldades, já estão orando por você, e naquele momento que você está passando
por aquilo e precisa daquele suporte presente, não vai chamar uma pessoa que não te
conhece, que não te acompanha, que não tá perto de você, você vai chamar uma pessoa da

700
Pessoas que fazem parte dos relacionamentos do membro da igreja: um colega de trabalho, um
vizinho, um parente, etc.
409

sua célula, seu parceiro, seu líder que já te conhece, e fala olha eu sei o que você tá passando
e to orando por você agora.

13p. Entrevistador: Certo. E, riscos, você vê algum risco no sistema de células pra
igreja, algum tipo de perigo?
13r. Entrevistado: Risco. Tem que ter né, algum risco tem que ter. Eu acho que as pessoas
se aproximarem mal intencionadas. Não sei, eu... Riscos? Não consigo ver riscos.

14p. Entrevistador: E como é que funciona o pequeno grupo, como é que funcionam
as células, tem o encontro, qual é a periodicidade dos encontros, como é que funciona
nas casas, como é que é?
14r. Entrevistado: Os grupos funcionam nas casas, semanalmente, uma vez por semana,
com a duração de, da reunião, de proposta de uma hora, uma hora e meia, e, o que é
conversado ali na verdade é o que a gente ouve é, na igreja, no culto, através do pastor,
bom, enfim, uma, o que esteja na orientação da igreja naquela semana, geralmente é isso
que é comentado. E obviamente de uma maneira muito dirigida, assim, no caso, o líder
pode perguntar diretamente e ver como aquilo tocou na sua vida, como, como Deus te
apontou alguma coisa que você precisa mudar. É um mini culto sim, mas de uma maneira
muito mais íntima, muito mais dirigida, muito mais pessoal.
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15p. Entrevistador: E entre os encontros, que tipo de engajamento existe entre os


membros da célula entre os encontros?
15r. Entrevistado: Entre um encontro e outro?

16p. Entrevistador: É.
16r. Entrevistado : Então, na minha célula, a gente usa esses, os recursos de multimídia
assim, é e-mail, é whatsApp, e um, pra publicações mais rápidas, então a gente sabe o que
que vai acontecer com aquela pessoa durante a semana, ou o que está acontecendo, ou se
aconteceu alguma coisa extraordinária, então a gente mantém contato sim, né, frequente,
digamos assim, fora aquela reunião uma vez por semana, fora as ligações telefônicas, a
gente mantém contato sim.

17p. Entrevistador: E desenvolve algum outro tipo de atividade além do encontro?


17r. Entrevistado: Sim. É., atividade sociais. Esporadicamente a gente marca um
encontro, um passeio no parque, que a gente já fez, ou o aniversário de alguém, porque de
repente, o aniversário daquela pessoa, em que ela, é uma oportunidade em que reúne a
família, é uma oportunidade pra célula se, é, ser inserida, né. Digamos os familiares daquela
pessoa não é, não tem Jesus ainda, como Salvador, há, vou chamar minha célula, que é
minha família espiritual, que são meus amigos. Então ali, de uma maneira sutil é uma
oportunidade de você pregar o evangelho, de orar, falar pra aquela pessoa, abençoar. A
gente faz algumas coisas do tipo, ah, é a cadeira da benção, aniversário da pessoa, elas vão
sentar sobre a cadeira da benção. Se for aniversário, se for numa festa, por exemplo, é a
oportunidade da gente demonstrar que tem muito mais do que uma festa ali, né.

18p. Entrevistador: Que que seria essa cadeira da benção?


18r. Entrevistado: Cadeira da benção é uma pessoa que a gente coloca em foco pra orar
ou pra abençoar. Por exemplo, se for aniversário da pessoa, a célula toda se manifesta do
tipo, eu vou abençoar aquela pessoa: eu abençoo você, eu desejo isso pra você, que Deus
410

faça isso pra você, que a sua vida seja assim, eu louvo a Deus porque você é assim, pelo
que você já fez. Então, essa é a cadeira da benção, a pessoa fica em foco, tanto pra abençoar
como pra elogiar.

19p. Entrevistado : A célula também se preocupa com algum tipo de ação


comunitária, alguma ação em benefício da comunidade, alguma ação social?
19r. Entrevistado: Acho que deve se preocupar. Assim, de uma maneira mais individual,
de repente a pessoa tem, conhece alguém do relacionamento dela que esteja passando por
uma necessidade, nesse sentido, então a célula se move pra atender, né, como célula. Se
for, por exemplo, uma pessoa por quem a célula já está orando, então a pessoa já tem o
conhecimento daquela necessidade, então não fica só orando a gente além de orar, atende
de alguma forma, visita se tiver no hospital, né, se tiver precisando de acompanhante, tal.
Agora, se for uma direção da igreja, do tipo, uma, um momento de, uma campanha social,
e aí sim, já aconteceu da gente escolher uma, um, uma instituição carente, enfim, é, sugerido
pela igreja ou não, às vezes é sugerido por alguém da própria célula, e ai sim, a gente faz
uma, uma ação maior, né, e a gente leva donativos e, além disso, faz alguma atividade
social e até mesmo espiritual se for o caso, se for permitido, se for da área infantil ou área
de idosos, como a gente já fez algumas vezes.

20p. Entrevistador: Como é que a célula se organiza, é, como é que ela é composta,
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tem algum critério pra definir quem vai fazer parte daquela célula?
20r. Entrevistado: Olha, o critério principal é relacionamento, se tem algum
relacionamento anterior a célula, por exemplo, se a pessoa se converteu por meu
intermédio, eu trouxe pra célula, então, aquela pessoa de alguma forma, por algum tempo
é acompanhada é, por mim, então se a célula multiplica, aquela pessoa vem, continua
comigo, até que enfim, um certo grau de maturidade a pessoa numa outra multiplicação,
em outro ciclo, aquela pessoa vá pra uma outra célula, a intenção não é quebrar os
relacionamentos, manter os relacionamentos.

21p. Entrevistador: Como é que acontece o evangelismo e o discipulado na célula?


21r. Entrevistado: O evangelismo, a gente menciona os nomes das pessoas com as quais
a gente tem relacionamento, ou já tem relacionamento ou procura ter de uma maneira
intencional, a gente escreve o nome dessas pessoas no coração da célula, que
simbolicamente é um, uma cartolina forrada que a gente vai colocando em pequenos
corações os nomes daquelas pessoas pelas quais a gente vai orando e acompanhando. É, se
eu tiver algum contato com ela durante a semana naquela oportunidade de reunião da célula
tenho né, um momento chamado evangelismo, eu partilho, eu compartilho sobre, sobre esse
encontro, como foi e aí a gente consegue determinar se aquela pessoa por quem eu to orando
ela tá mais próxima, eu posso convidar pra um evento de, de colheita que a gente chama,
um culto grande ou, ou mesmo um culto na igreja, ou essa pessoa ainda tá muito distante
então eu não posso ser tão direto e eu chamo pra uma, pra uma, aniversário, por exemplo,
né, que não faria menção, é, num primeiro plano não faria menção de nenhuma igreja, então
a gente vai aproximando essas pessoas, orando e criando oportunidades, esse é o
evangelismo.

22p. Entrevistador: E o discipulado?


22r. Entrevistado: O discipulado tem as parcerias. No começo de cada ciclo a gente
procura estabelecer as parcerias que é o que, cada, cada irmão, cada membro é
411

acompanhado por um outro membro, seja por oração, a gente incentiva que essas duplas e
as vezes até trios se encontrem durante a semana para orar, para compartilhar, mais ou
menos num período de uma hora, que se gente sugere né, as parcerias, é discipulado.
Quando são novos cristãos...novos crentes, aí a gente acompanha com, mais diretamente,
com um texto sugerido ou um material sugerido pra gente acompanhar até que aquela
pessoa é, esteja madura o suficiente pra se batizar.

23p. Entrevistador: E depois do batismo, tem ainda algum tipo de acompanhamento,


como é que é?
23r. Entrevistado: Tem. Continua acompanhando. A ideia que se acompanha por algum,
ah, na verdade cada um vai, vai amadurecendo de uma maneira, no seu ritmo, mas em
torno de três anos até que aquela pessoa seja um crente maduro.

24p. Entrevistador: No encontro da célula propriamente dito, qual é a participação


das pessoas, como é que elas participam do encontro?
24r. Entrevistado: Nós fazemos escala. É, pra cada momento da célula a gente deixa uma
pessoa responsável e aí a gente vai fazendo um, um, um rodízio, fazendo um rodízio
semanal, obviamente a gente vai percebendo que algumas pessoas tem mais facilidade em
alguns momentos do que outros e aí a gente faz do lado daquela pessoa, por exemplo, se
ela tem, não tem tanta facilidade com a Bíblia, e eu coloco pra ela fazer a edificação, então
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eu acompanho aquela pessoa no texto, o que que ela entendeu, o que ela compreendeu, se
ela tava no culto, se ela não tava, se ela precisa de um texto adicional, né, e ainda há algumas
sugestões pra que essa pessoa compartilhe embora também a própria igreja já forneça a
carta né, que é um guia né, uma orientação, mais no sentido... mais de uma orientação geral,
assim, não pra que se siga à risca o que tá ali.

25p. Entrevistador: E então é dada oportunidade pra que as pessoas falem delas
mesmas, das experiências delas, como é que é isso?
25r. Entrevistado: As pessoas não são é, obrigadas a falar ou deixar de falar. É muito livre.
Às vezes de acordo com a, a, com a pessoa que tá dirigindo ela pode fazer uma pergunta
mais pessoal, mas depende muito de célula pra célula, ou da, da maturidade da célula,
porque dependendo do estágio a célula já tem crentes mais maduros, eles já compartilham
de uma maneira mais profunda, quando tem crentes mais novos ou a célula ainda não é
muito conhecida ou uns aos outros não se conhecem muito bem, então a profundidade ainda
não é tanta, depende muito do tempo que a célula tá se reunido, mas é muito aberto, às
vezes umas perguntas mais dirigidas outras mais superficiais deixa aberto pra que a pessoa
se manifeste.

26p. Entrevistador: Valeu a pena a igreja ter implementado os pequenos grupos?


26r. Entrevistado: Muito, muito. Valeu muito. Eu acho que sair do, das quatro paredes da
igreja, entender que igreja não é estar domingo no culto, é, aqui naquele templo, não é só
isso na verdade, eu acho que levou esse tempo pra igreja entender, e eu acho que a igreja
tá muito mais ativa, muito mais engajada, a gente tem muito pra fazer, mas eu acho que só,
só de entender, de as pessoas chegarem nesse nível de entender o que é igreja, é, já valeu
muito a pena. Sem dúvida.
412

27p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 19/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
47 anos Jardim Camburi PIBJC 16

1p. Entrevistador: O que a célula representa pra você?


1r. Entrevistada: Tenho que resumir isso em palavras. O que a célula representa pra você,
pra mim. Ai Senhor, nosso Pai, eu sei o que é mas, mas colocar palavras aí, o que representa
pra mim, pra mim representa muita coisa assim, é uma oportunidade da gente tá, é, ao
mesmo tempo que acolhendo pessoas, ajudando, sendo ajudado né, acho que assim, é um
aprendizado mútuo, porque você, como eu, a liderança hoje é de jovens, jovens e
adolescentes, eu to com um adolescente só agora, mas, então, assim, eles tem muito pra
ensinar pra gente também, então eu digo que é um aprendizado mútuo de relacionamento
com Deus né, e com as pessoas e eu acho que pra mim representa isso aí mesmo, é uma,
uma troca né, uma oportunidade que a gente tem de, de, de resgatar pessoas para o reino de
Deus né, e de tá aprendendo cada dia mais também com as pessoas que ali estão.

2p. Entrevistador: Você fazia parte da igreja antes da igreja adotar o pequeno grupo?
2r. Entrevistada: Não. Eu era de uma outra Igreja Batista. ____ lá eles não trabalham em
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células né, e aí eu vim pra cá em dois mil e seis, por volta de Abril de dois mil e seis eu
comecei a frequentar a igreja Batista de Jardim Camburi né, e aí logo depois eu conheci a
___, que trabalhava comigo no hospital, era um médica lá do hospital, que era membro da
igreja já, e me convidou pra ir pra célula dela. Eu fui, eu não sabia, na verdade eu conhecia
célula mas de outra igreja, na casa de uma amiga minha que eu conheci _______, ai eu
comecei a frequentar essa célula a convite dela e eu sempre gostei muito de tá junto, né,
então assim, não deu nenhum tipo de dificuldade de estar com as pessoas ali, de
compartilhar, de, de me abrir ali com as pessoas, e aí.

3p. Entrevistador: E qual a diferença que você percebe entre uma igreja que está em
célula e uma igreja que não está em célula?
3r. Entrevistada: É, assim, visivelmente é o crescimento. Até do numero de pessoas né,
que é um crescimento muito maior, gradativamente muito maior. E, e, eu, eu, eu pelo
menos, no meu caso, eu, é, um meio de um crescimento espiritual maior, daquele que se
dispõe a crescer, claro, né, porque, se ficar mais ou menos ali você não vai.

4p. Entrevistador: Como é que acontece esse crescimento espiritual numa igreja que
adota célula, ou o pequeno grupo?
4r. Entrevistada: Exatamente porque você consegue estar mais perto, é, vamos colocar,
aqui na igreja nós temos mil e quinhentos membros, quase dois mil membros, tem muita
gente aqui que eu cumprimento eu não sei quem é, porque eu tô falando de relacionamento
porque faz parte do crescimento espiritual, que as vezes tem uma pessoa do meu lado, aqui
no banco que ela tá passando por dificuldades que, que tem atrapalhado a vida dela
espiritualmente ou a minha, mas se tem alguém que tá do meu lado, que toda semana eu
encontro, que eu posso me abrir, que eu posso conversar, que eu posso estudar a Palavra
de Deus com ela, com certeza eu vou ter mais oportunidade de tá, mais possibilidade de tá
crescendo espiritualmente também, não é, também eu vejo assim, crescimento espiritual
413

revela o cuidado mútuo que existe que pelo menos tem que existir, é o que a gente espera
dentro de uma célula.

5p. Entrevistador: Além do cuidado mútuo, que outros objetivos uma célula tem?
5r. Entrevistada: Que outros objetivos? Ah, o principal como eu falei é o resgate, de
pessoas, porque o objetivo principal da célula é trazer vidas pra Cristo, não é só a reunião
do grupo. Sexta-feira mesmo, a gente tava até falando de, cria-se muita panelinha, não só
na célula, em todos os grupos tem isso né, mas se você não, não agrega outras pessoas,
valores, essas coisas assim na célula, se torna só um grupo, um encontro social toda semana.
Eu falo muito isso pros meninos da célula e eu falei muito isso pra Deus, no início do ano
passado, porque eu não sei se porque. Falei assim eu tava me sentindo assim muito parada
assim, sabe quando você pensa que não tá acontecendo nada, você só pensa, Deus tá
trabalhando, eu falei Deus, tem que acontecer alguma coisa esse ano e eu tenho ficado
muito feliz com os últimos acontecimentos.

6p. Entrevistador: Você falou em valores, que valores são trabalhados na célula?
6r. Entrevistada: Valores espirituais assim como, como é que eu vou explicar valores, que
valores, valores morais, valores espirituais, a gente, a gente acha assim, porque eu não sei,
quem não trabalha com jovens as vezes fala : Ah, não gosto porque jovem é complicado,
jovem é isso, jovem nada disso, menos complicado que o adulto. E a gente, a gente tem
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que prestar atenção na questão do valor, dos valores morais principalmente porque eles
estão numa fase de muita transição, de muita coisa, um mundo que oferece muita coisa, pra
mim, pra você, pra eles, mas mais pro jovem, né, falando em jovem agora, é, então assim,
se você não tiver muito centrado ali, questão dos valores, valores morais, valores de família,
valores espirituais, você perde aquele jovem pro mundo, não tem jeito, né, porque vai ser
arrastado, é muita coisa, então assim, a questão de valores na célula, que acho que tem que
ser, que tem que ser trabalhado é a questão moral, espiritual, a questão de valor familiar,
eu acho que tem muito problema familiar no meio da gente, então a gente precisa trabalhar
muito esse valor ai.

7p. Entrevistador: Como é que a célula promove comunhão?


7r. Entrevistada: Comunhão? Ah, eu posso falar em relação a minha a gente tem uma,
uma afinidade assim muito grande, graças a Deus eu, eu tenho dois filhos também, jovens
também, então assim, minha casa é bem cheia então a gente, a gente cria muita afinidade
com eles, e a comunhão. Você tá querendo dizer em relação a eventos na célula? Ah tá!
Você marca um almoço, você marca um passeio, agora a gente tá organizando um passeio
de trem, mas assim, marca um almoço, um passeio, aí tem o aniversário de alguém, eu faço
um bolinho, tal, canta parabéns, e às vezes to em casa de bobeira, to fazendo almoço no
domingo, eu ligo pra um, ligo pro outro, não todos, mas assim, ah, vem almoçar comigo,
vai, e tal, então assim, acho que isso ali, você cria uma certa, é, como é que fala é, família,
vamos colocar né, uma noção de família, porque eu acho que célula tem que ser isso né,
que é o que é pregado e é o que eu acho que tem que ser, família, e normalmente assim, no
meu caso, no nosso caso, as pessoas que estão ali, elas tem que ter liberdade pra falar assim,
pro grupo né, inclusive é, até besteira que me fala, entendeu, outro dia uma jovem tava até
falando: “olha, já fiz muita besteira mas a tia”, me chama de tia, não tem jeito né, “nunca
deixou de saber, eu falava pra ela, ó, fiz isso”, entendeu, então assim, não é passar a mão
na cabeça, você precisa ter amor, não tem jeito.
414

8p. Entrevistador: Mas eles têm liberdade nos encontros da célula de compartilhar
sobre as experiências deles?
8r. Entrevistada: Sim, com certeza, tem, tem. Só não compartilha se não quiser né, a gente
dá essa abertura, de estarem compartilhando, de tá falando, alguns falam, outros não, tem
sempre aqueles mais tímidos né, que não, que não se abrem, às vezes até falam tipo assim:
“ah, ora por mim tá acontecendo alguma coisa, tá acontecendo assim...” mas não, né, não
se abrem totalmente, e tem aqueles outros que te procuram pra conversar em particular:
“ah, preciso falar com você, posso ir na sua casa?” Pode, sempre pode, tem que poder né,
a gente como líder na célula a gente tem que ter essa disponibilidade.

9p. Entrevistador: E entre eles, entre os membros do grupo, existe uma preocupação
um com o outro, um cuidado mútuo entre eles durante a semana, entre os encontros,
como é que funciona isso?
9r. Entrevistada: Ó, existe. Eu diria que, que não é ainda, é, da forma que eu acho que
deveria ser, né, não sei se por eles não terem também muito essa coisa de ficar se ligando
muito e tal, tem sempre aquele que tem mais afinidade, não tem jeito, sempre aqueles dois
ou três tem mais afinidade, aqueles outros três tem mais, todos são amigos, todos se juntam,
né, quando tem programação todo mundo tá junto, mas sempre tem aqueles que tem, um
tem mais afinidade com o outro né, porque eu não sei, eu acho que eu não chamaria de
panelinha.
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10p. Entrevistador: Mas daí nesse caso, um...


10r. Entrevistada: Vou chamar de afinidade.

11p. Entrevistador : Um está ajudando o outro né?


11r. Entrevistada: Sim, isso, de afinidade. Tipo: ah, eu preciso falar com você. É, no nosso
caso, assim, tem, os próprios jovens entendeu, discipula o outro igual, meus filhos tem um
que discípula, um outro ta na classe de batismo, aí tem outra moça que discípula outra
menina né, então assim, o discipulado na célula, não sei se você vai falar sobre isso, mas,
o discipulado na célula, ou em qualquer lugar, mas assim, tipo na célula, ele é
importantíssimo, é preciso, a pessoa tem, eu tenho uma moça na minha célula, que ela é
assim, ela num... ela andou meio sumida da célula, de frequentar, não da igreja, da célula,
de frequentar, mas ela é assim, ela continua, qualquer coisa... “você pode conversar comigo
um pouquinho hoje?” Sim, aquele, aquele vínculo comigo continuou, ela ficou quase um
ano assim, sem vir, aí quando é esse ano ela falou: Tia, tem célula sábado? Tem. Aí então
eu vou, aí foi. Aí sábado passado foi de novo, assim, então ela já tá buscando de novo, mas
assim, a gente não pode é, fechar, entendeu?

12p. Entrevistador: E como acontece esse discipulado?


12r. Entrevistada: Esse discipulado? O discipulado ele é um estudo bíblico, nós temos os
livrinhos que a igreja tem, mas o discipulado não é o livrinho, você tem outros argumentos,
e não que o livro não seja bom, mas faz parte mais de uma rotina, de um negócio da igreja,
a gente pode, a gente tem outros, no caso da __ dessa, eu falei o nome, mas tudo bem,
você... dessa moça, ela, eu nunca usei esse, com ela, to sendo sincera, ela já é batizada, ela
ficou um tempo afastada, voltou porque a nossa conversa é muito pessoal, é muito
problema, é muito assunto dela, entendeu, então assim.
415

13p. Entrevistador: Mas a Bíblia é sempre utilizada, qual o papel da Bíblia nesse
trabalho?
13r. Entrevistada: Aconselhamento. Ah, o papel da Bíblia é, diante, eu acho que a gente,
diante do que tá se passado ali, do assunto que foi abordado, você buscar dentro da Palavra
de Deus, no, né, a tá aconselhando dentro da palavra de Deus, porque também se for por
mim, não vai adiantar nada.

14p. Entrevistador: Como é que você descreveria a igreja, uma igreja em célula? O
que é uma igreja em célula?
14r. Entrevistada: Que que é uma igreja em célula pastor? Que perguntinha pastor... o que
é uma igreja em célula?

15p. Entrevistador: Sim. Como, você olha pra igreja hoje, o que você vê, como é que
você enxerga a igreja hoje, qual é o seu conceito de igreja?
15r. Entrevistada: Não sei se uma palavra resumiria, família? No meu caso, que eu penso
de igreja é isso, tem sido pra mim, né, e acredito pra muitas pessoas e é o que eu vejo que
tem que ser, porque assim, principalmente em igreja em células a gente se baseia muito na
igreja primitiva, dos apóstolos, que que é, famílias, famílias, testemunho de casa em casa,
tal, então assim, a igreja num todo é uma família.
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16p. Entrevistador: Como as células é, causam impacto na congregação maior, na


igreja de modo geral?
16r. Entrevistada: Como as células causam impacto.

17p. Entrevistador: Tornam a celebração diferente, não faz diferença nenhuma, como
é que é?
17r. Entrevistada: Faz. Da experiência que eu tenho de igreja que não é em célula com
uma igreja em célula, eu creio que torna sim, diferente.

18p. Entrevistador: Que tipo de diferença?


18r. Entrevistada: Não sei, eu acho que, não sei se é isso, mas pelas experiências que eu
tenho, não sei se é isso, mas eu acho que une mais sim, então, quando o corpo ta mais
unido, eu acho que tudo funciona de uma forma diferente, e é um corpo unido, são muitas
pessoas que pensam as vezes diferente, e que as vezes, eu acho muito legal, eu acho muito
bonito no culto que tem pessoas que tem atitudes diferentes das outras, um gosta de louvar
com a mão pra cima, outro gosta de ficar quietinho, outro gosta de dar gloria a Deus durante
todo o culto e o outro não, mas ninguém se importa com isso, ninguém fica reparando no
outro, a liberdade, eu acho que é isso, a liberdade e eu acho que isso a célula tem uma força
muito grande.

19p. Entrevistador: E na sua vida, o que a célula produziu na sua vida?


19r. Entrevistada: Meu Deus! Na minha vida? Ah, tudo. Assim, é, eu vim pra essa igreja
em célula, num momento de, tipo quando você acaba com uma coisa e você começa outra?
Foi nesse meio. Então assim, o recomeço, ali foi crucial esse relacionamento em célula, foi
crucial, porque é, eu estava passando por uma transição em todos os sentidos na minha
vida, uma mudança, né, radical, na minha vida pessoal, emocional, e, mudança de igreja,
mudança de tudo, então assim, pra mim, é, a acolhida que eu tive, na célula que eu fui
recebida, a liberdade que eu tive de tá fazendo um discipulado com uma pessoa que me
416

ajudou muito na época, isso foi muito especial pra mim e pra vida de meus filhos, é, meus
filhos tinham, um tinha dez anos outro tinha treze anos, nessa época, passaram por um
período muito difícil também, então assim, é, foi resgate mesmo assim, no meu caso.

20p. Entrevistador: Se você tivesse que sair dessa igreja e mudar de cidade, pra uma
outra cidade, e aí você vai procurar se integrar numa igreja lá, é, levaria em
consideração se a igreja está ou não está organizada em pequenos grupos?
20r. Entrevistada: Sim. Eu acho que não sei mais, não sei, eu acho que não sei mais viver
numa igreja de culto de domingo e, e pronto. Eu não saberia mais não. E nem, acho que
nem, sei lá, acho que ninguém que gosta, é, porque não sei, às vezes tem pessoas que
frequenta célula por, porque a igreja é em célula, né, mas eu gosto de célula, né, eu gosto
de ocupar os meus sábados à tarde com célula,

21p. Entrevistador: A sua célula se reúne no sábado a tarde?


21r. Entrevistada: Sábado a tarde. Porque são jovens, a maioria faz Faculdade, Ensino
Médio, e isso, e aquilo, não tem como reunir na semana né, sábado cinco horas minha casa
tá cheia, então assim, é uma, eu acho que eu não teria outro, outro, procuraria com certeza,
só se não tivesse, eu não deixaria, mas aí a gente dava um jeitinho né, de, de mudar, dava
umas ideias pro pastor.
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Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 19/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
19 anos Jardim Camburi PIBJC 17

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre a célula na sua vida.


1r. Entrevistada: Olha a minha célula, eu comecei tem mais ou menos quatorze anos que
eu to aqui, quase quatorze anos que eu to nessa igreja. Mas eu já era da ____, em _____,
quando eu morava em ____eu ia muito na igreja ___ que era do meu avô, pastor de lá. Eu
era muito pequena, naquela época tinha menos de sete anos, mas a gente não vivia em
célula lá, frequentava com eles aos domingos, mas só que era aquela coisa muito perdida,
eu sabia que era como se fosse um ritualzinho, não era uma coisa contínua, vivida todo dia,
só aquela preocupação de ir no culto domingo. Aí, quando eu vim pro _____que eu tomei
cristã, na ______ tinha um pequeno grupo, a célula ainda nem era célula, denominada
célula, pequeno grupo e aí era com a família né, eu e minha mãe no caso, e a gente
participava, era no sábado, com jovens, a gente lidava com vários tipos de problemas e aí
eu fui começando a ver que a igreja não é vivida só no domingo, foi quando eu mudei
minha visão de igreja não domingo, pode ser vivida durante a semana toda. E aí eu comecei
a participar das coisas da igreja e da célula, aí foi que mudou pro nome de célula né, que
veio pro Estado, veio essa coisa toda de célula, quando eu tive noção disso, foi quando eu
comecei a trabalhar em dança que é meu ministério aqui na igreja, em dança, ______e a
gente, tudo nosso é muito em grupo e a nossa igreja é muito grande aqui, lá também era
mas é bem menor do que aqui. Hoje em dia também é. E aí começou essa coisa de ser, ser
liderada em um pequeno grupo eu conseguia falar, eu conseguia conversar e foi a partir daí
que eu comecei a ver quais eram os meus pontos na, na igreja, foi através da célula que eu
comecei a ver o que eu tinha capacidade pra liderar um grupo, que eu não, não que eu tinha
417

o dom da palavra mas que eu poderia usar de outra forma não só conversando entre a célula,
mas eu poderia falar lá fora, foi através da célula que eu fui pro projeto missionário em
_______ e lá nós fizemos vários grupos de células e fomos as casas das pessoas, visitar as
pessoas, falar da palavra, foi assim, eu sempre gostei muito de crianças e foi assim também,
através da célula que eu consegui mais, me identificar com crianças aqui dentro da igreja,
____________a célula pra mim, eu sentia falta da igreja durante a semana né, quando eu
era pequenininha, era só, a igreja era só domingo mesmo, a noite, culto, quando veio a
célula, começou a perceber que eu realmente precisava, que só o domingo pra mim não
tava satisfeito, precisava durante a semana, e ai eu vim pra cá, e eu tava, eu fiquei afastada,
não num jeito ruim, mas me afastei mesmo por causa de escola, mudei de escola, e aquela
coisa de meio que adolescente começando a precisar não ter mais amigos pro resto da vida
e aí eu mudei pra cá e comecei a ir numa célula, e, foi ai onde de novo eu me abri, voltei a
me abrir, voltei a conviver mais com a Palavra de Deus e foi com o estudo que eu fui
vivendo de novo, sempre através da célula, aí ano passa..., ano retrasado eu fiz o curso de
vice liderança, de auxiliar de célula, e aí a Mírian aqui da igreja né, que ela dava o curso e
a Ana Gilda a mulher do pastor Joarês, elas, falaram ó ____, você tem muito potencial, fiz
o disc701 de célula essas coisas todas, e tem, tinha, se é muito pra ser líder, aí fiz o curso de
liderança e ano passado eu assumi a minha célula de jovens e adolescentes.

2p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem a célula ou
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o pequeno grupo e a igreja que não tem?


2r. Entrevistada: Eu vou falar pela do meu avô. Hoje em dia eu não sei como é que tá lá,
eu não, eu acho que já deve ter célula lá sim, o pequeno grupo, mas é uma falta que faz,
porque, senão vira uma, eu, eu, na minha visão vira muito rotina porque geralmente tem
né, tem igrejas que tem culto de manhã, segunda né, aí tem outro na quinta, de oração, mas
fica aquele vazio ainda, porque em culto de oração você vai pra orar, você não tem muito
compartilhamento, você pede oração, você pode chegar, você pode ter reunião com o pastor
pedir oração, mas eu acho que a célula é um culto que chega à pessoa porque aqui, no nosso
domingo, o pastor fala né, começa muito de, no, na hora do, do, do clamor, do pedido né,
há se você tá mal, se precisa de oração levanta, muita gente fica inibida já na célula não,
você pode chegar e falar “eu to precisando disso, daquilo”, eu acho que é uma forma melhor
ainda de se aproximar, então eu acho que muitas igrejas que não tem, até o pastor ___ veio
aqui esses dias na reunião de liderança e falou com a gente que quando ele não tinha, era
uma igreja que não conhecia muito os seus problemas, depois começou a se reconstruir
porque tava ainda lá na raiz da célula, procurar cada pessoinha, cada pedaço da célula pra
poder construir, então eu acho que faz muita falta.

3p. Entrevistado: Como é que acontece a participação das pessoas, dos membros de
uma célula, como é que acontece essa participação?
3r. Entrevistada: Na minha célula, é o seguinte, a gente tem os 5 Es né, a edificação, a
exaltação, evangelismo, e a gente faz todos eles, a edificação, dá a palavra, e graças a Deus,
todas as células que eu participei, agora a minha, que eu lidero, eu nunca tive problema
com ninguém, só problemas corriqueiros da vida mesmo, precisavam de oração, de
acompanhamento, mas nada que que interferisse não, mas eu acho assim, é o que eu to, a
minha mãe sempre me ensinou, todos os meus auxiliares, todos os meus líderes sempre
falaram a mesma coisa, a célula não é o líder e o grupo, a célula são vários líderes

701
Trata-se de um teste que visa identificar os dons e habilidades que cada um tem.
418

aprendendo a Palavra de Deus. Então, eu penso muito a forma disso, são vários evangelistas
que estão ali para aprender um pouquinho mais fora do culto. Acho que é mais ou menos
por aí.

4p. Entrevistador: E as experiências pessoais problemas, dificuldades, podem ser


compartilhadas no encontro da célula?
4r. Entrevistada: Pode. A gente, a gente tem, a minha célula são todos amigos, fora da
igreja, digamos assim né, é, meu vice também, acabou de chegar de ___, tava num projeto
de ____ e ele também trouxe experiências lindas, virou um líder, um líder de célula lá
através da nossa aqui entendeu? Então eu acho que a nossa célula, a minha célula, falando
da minha, nós somos em oito, são cinco jovens e três adolescentes, e apesar da idade ser
bastante diferente, o mais velho tem vinte e cinco e o mais jovem tem quatorze, só que o
vinte e cinco e o quatorze conversam de igual pra igual, a gente participa tanto com os
menores, fazendo coisa pra eles quanto eles conversam cabeça com a gente, então acho que
a minha célula, graças a Deus é um link muito aberto, a gente conversa sobre tudo.

5p. Entrevistador: E entre os encontros, que tipo de vínculo vocês é, estabelecem entre
os membros da célula, entre os encontros?
5r. Entrevistada: Ó, a gente, a gente sai, a gente faz sempre células diferentes, né, e a
gente tem muita, esse negócio de tecnologia deixa a coisa muito mais fácil né, então a gente
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tá sempre junto, é, durante a semana toda, tanto que duas da minha célula são do meu
ministério, é, dois da minha célula fazem discipulado com meu vice, a minha melhor amiga,
assim, de vida mesmo, lá, de fora da igreja, é a minha outra vice líder que eu sempre contei
com ela, que veio pra minha célula também, e então, a gente com... o nosso relacionamento
de célula é contínuo, ele não para, ele não é só na célula, ele não é uma coisa momentânea
ali, porque á, vamos para o grupo, vamos ser com eles, não, é o tempo inteiro junto, é o
tempo inteiro conversando, o tempo inteiro compartilhando, então acho que, célula também
não pode, é igual a igreja, a gente não pode, o pastor não pode vir no domingo pregar e
desligar durante a semana, ele tem que ter um contínuo, a nossa célula também é assim.

6p. Entrevistador: Como é que acontece o discipulado na célula?


6r. Entrevistada: O discipulado eu faço com a minha vice,, a ___ a gente faz um encontro
durante a semana, a gente faz ou o livro, ou livros específicos que a gente tem, a igreja,
compartilha livros com a gente, indica livros pra gente, então a gente faz sobre esses livros,
as vezes estamos com problemas em algum outro tipo de coisa dentro da célula então a
gente vai procurar estudos em relação a isso pra se fortalecer e eu to fazendo o discipulado
com duas também que vão se batizar agora na nossa célula que é do ministério, então nesse
discipulado eu uso um instrumento como a dança __e os livros comuns de discipulado é
um, dois, caminhando com Deus, e são, cada um marca, uma vez durante a semana, é um
passeio, um piquenique a dois, vai na padaria tomar um café ou faz lá em casa normal
mesmo, geralmente é assim.

7p. Entrevistador: A sua célula se encontra em que dia da semana?


7r. Entrevistada: Sábado
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8p. Entrevistador: E quais são os principais desafios pra você como líder e pra célula
de um modo geral pra poder se encontrar, pra poder viver os valores de célula?
8r. Entrevistada: A minha célula é como que eu falei, são adolescentes e jovens, a minha
vice por exemplo, ela trabalha em ___entendeu? Então, ela trabalha de segunda a segunda,
ela quase nunca tem folga e aí, é um desafio muito grande e agora a mãe dela tá passando
por um problema, ___, e a gente tem, a gente se surpreendeu, que a gente conseguiu tempo
da onde quando tudo estava bem, tudo tava comum e as vezes ela faltava muito mas a gente
não achava falta a gente tá pegando todas as dificuldades eu tenho um outro rapaz na minha
célula que tem muito problema com, não sei, acho que é, querer poder estar no lugar do
outro não é inveja mas é querer muito tá lá, só, tem o potencial só que tem mas não tem a
oportunidade de tá na frente fazendo aquilo que gostaria de fazer. Então, a gente tem muitos
desafios né, muita gente com, que veio do mundo agora e tá chegando agora e tá
trabalhando a questão de orgulho, de, de inimizade de tudo pegando a coisa ruim da
situação e guardar, não saber se abrir, botar pra fora, então a gente tem esse, é muita questão
de cada um ter um, um programa, programação, um tipo de vida né, uma, uma rotina e
saber que todos naquele momento tem que separar aquele momento pra gente se encontrar
então, eu acho que esse aí é um, um, motivo, uma preocupação maior de todos e esse, a
gente saber que tem aquele horário que a gente tem que se encontrar, mas tem me
surpreendido muito pra todos nós porque a gente achava que ia complicar mais ainda agora
com, alguns começaram a trabalhar, outros estão estudando durante a semana porque tão,
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vão fazer pré vestibular esse ano e ela tá trabalhando muito e eu também e, mas não, a gente
conseguiu controlar isso, acho que essa questão de tempo nos concentramos muito na célula
assim.

9p. Entrevistador: Quais são os benefícios que a célula traz pra igreja como um todo?
9r. Entrevistada: Como um todo? Eu acho que começando com o pastor, acho que ele
consegue controlar muito os, os liderados deles né. Eu acho muito engraçado que nosso
pastor aqui, que é o Juarez, ele, assim, ele não vê todo mundo a semana toda, mas se você
passar por ele cinco vezes no corredor, as cinco vezes que você passar vai ter várias pessoas
passando juntas e ele conhece o nome de cada um, entendeu? Então, eu acho isso muito
bonito e acho que é uma forma da igreja se aproximar de cada um. Porque aquilo que eu
falei, a igreja é muito grande, são mil e um monte membros então, a gente, a gente se sente
mais próximo, a gente se sente mais acolhido e é com certeza uma forma da gente abraçar
todo mundo porque é aquele ___ é líder, é os liderados, é o supervisor, é o pastor de rede é
um pastor que vai receber todas as informações pra saber dos seus liderados, então acho
que é uma forma do liderado que tá chegando agora até o pastor, pastor já chegar ____seu
problema, então a pessoa que tá chegando vai sentir acolhida, puxa, aquele cara que nem
me conhece sabe meus problemas, pô, ele tá interessado em mim, que igreja é essa que
sabe, que eu mal cheguei e já tão me, me, me colocando pra dentro desse corpo, de célula,
então eu acho que se não fosse a célula seria uma coisa muito perdida, as vezes as pessoas
poderiam entrar e sair da igreja e a gente não ia vê.

10p. Entrevistador: Na celebração de um modo geral, qual o impacto da célula na


celebração?
10r. Entrevistada: Na celebração? Acho que total, eu, a minha célula, como eu sou de
_____ e tem muitos no meu, na minha supervisão, na maioria é adolescente e jovens, e a
maioria é voltado pra música, pro ministério de música. Então quando a gente faz
celebrações ou faz encontrões, acho que é um momento muito bonito que e o que mais
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pega, louvor e adoração, é o que mais pega, e, a gente, a gente consegue se envolver muito,
a minha célula mesmo é toda musical, a gente foca muito no louvor e foca muito na palavra
voltada pro louvor também, então em relação ao culto a minha célula e da minha mãe
também e a antiga que era nós duas lideradas por outra pessoa, a célula se juntou muito, se
concentrou muito no culto, todos juntos, todos unidos porque um ou dois ou três ou eu
estava _____, no meu caso, então eu acho que a célula tá sempre acompanhando esse ritmo,
e se um falta, fica desfalcado o grupo, então acho que essa união também faz muito
diferença.

11p. Entrevistador: E perigos pra igreja, algum risco pra igreja a célula, qual o risco
que a célula representa pra igreja?
11r. Entrevistada: Eu acho que o risco, não é risco não. Não é bem a palavra risco, acho
que seria talvez um descuido, não é deixar nunca que aquele novo que chega se sentir
desamparado, porque ah, igual, mais uma vez no meu caso que são adolescentes e jovens,
a gente tem uma segunda ___ aqui na igreja, muitas, muitos adolescentes vem pra segunda
_____não se encaixa porque geralmente tem várias pessoas que são amigas e a gente já se
conhece e às vezes entra e sai e não vê, já na célula não acho que se isso acontecer na célula
por a célula ser tachado aqui na igreja por exemplo, de família, acho que se acontecer isso,
desse cheguei, ninguém me notou, fui embora, aí seria um descuido, agora risco não tem
risco não.
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12p. Entrevistador: Pra igreja de um modo geral, pra estrutura da igreja?


12r. Entrevistada: Nenhuma. Acho que não, não tem risco não. E questão de descuido.
Acho que a igreja nunca pode, com certeza que nunca vai acontecer, que é impossível,
todos nós estamos né, sujeitos a errar, mas acho que risco a célula não traz nenhum não,
não traria não.

13p. Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 19/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
19 anos Jardim Camburi PIBJC 18

1p. Entrevistador: Fala pra mim o que é célula pra você?


1r. Entrevistado: Célula é a base de uma igreja, basicamente. É como se fosse a extensão
daquilo que Deus quer pra igreja. Eu penso que na célula o nível de proximidade maior.
Ela permite, ela garante a intimidade mais que na igreja, porque na igreja, assim falando o
que geralmente todo mundo acha, na igreja as pessoas normalmente vem com a mente
voltada pra Deus, pra receber mais, infelizmente é isso que acontece, mas na célula, naquele
grupo pequeno, onde rola intimidade e todo tipo de coisa, a pessoa sente mais a vontade
pra compartilhar, ela sente mais a vontade pra ouvir, então ela recebe, compartilha mais.
Então, a célula, tipo assim, dentro da igreja ela é fundamental pra que a pessoa não somente
receba no culto, mas que ela possa, tipo assim, ela possa processar aquilo que ela recebeu,
ela entenda aquilo que ela tá estudando e recebendo, porque ela compartilha, ela ouve a tua
opinião, ela dá a opinião dela, ela questiona. Então, a célula pra mim é uma questão
fundamental.
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2p. Entrevistador: Nos encontros da célula há espaços para as pessoas


compartilharem suas experiências, como é que funciona isso?
2r. Entrevistado: A gente tem aqui no nosso processo de, os quatro E’s da célula, acredito
que você conhece. Mas, igual a nossa célula, ela é mais livre, ela é mais, mais flexível, aí,
dependendo do tema que a gente trata, cada pessoa, com certeza, tem a sua oportunidade e
seu tempo de expor e compartilhar é bem dinâmico, todo mundo fala, todo mundo ouve, se
for um algo que rola discordância a gente discute, chega a um ponto comum, é bastante
livre, bastante dinâmico.

3p. Entrevistador: Você falou que sua célula é mais livre, mais flexível, o que é isso?
3r. Entrevistado: Flexível

4p. Entrevistador: Flexível como?


4r. Entrevistado: Ela não segue um padrão único de exaltação, evangelismo, edificação e
comunhão. Ela, a gente escolhe um tema, estuda sobre ele antes, passa pros nossos
liderados e ai a gente discute mais em cima do tema, a gente tem nosso momento de louvor,
tem nosso momento de adoração, tem nosso momento de oração, mas não segue um padrão
único.

5p. Entrevistador: E tem conexão com o que acontece no culto de domingo na igreja?
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5r. Entrevistado: Tem sim senhor.

6p. Entrevistador : Você já fez parte de uma outra igreja que não estava em células?
6r. Entrevistado: Já. Eu sou, eu me considero um novo convertido ainda. Já tem três anos,
eu acho, que to aqui na PIBJC, mas até então eu era Católico, então lá, era um Católico não
praticante. Aí, não era em célula e eu não tinha um contato cristão tão desenvolvido igual
eu tenho aqui.

7p. Entrevistador: Como é que você vê a diferença entre uma, uma igreja que adota
o pequeno grupo, a célula ou uma igreja que não adota?
7r. Entrevistado: A célula como eu falei, ela é fundamental pra essa questão da intimidade,
você cria um laço com as pessoas que você vai à igreja, então, eu acredito que, não que seja
um chamariz, mas que estimule a pessoa, no caso, eu me sinto estimulado a vir pra igreja
junto com meus, eles são meus irmão, posso chamar de irmãos da célula, essa intimidade
ela se torna legal, porque você sabe o que a pessoa tá passando, você pode orar por ela.

8p. Entrevistador: E por falar nisso, entre os encontros, que tipo de vínculos você
desenvolve entre os encontros da célula?
8r. Entrevistado: Entre as pessoas da célula ou fora da célula?

9p. Entrevistador: Não. Entre as pessoas da célula.


9r. Entrevistado: Durante a célula?

10p. Entrevistador: Não. Entre os encontros.


10r. Entrevistado: Há sim!

11p. Entrevistador: Entre vocês que fazem parte.


11r. Entrevistado: Se a gente mantém contato?
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12p. Entrevistador: Isso, que tipo de contato, que tipo de preocupação há um com
outro, como é que funciona isso?
12r. Entrevistado: Sempre perguntando: tá tudo bem? Porque, como a gente já sabe quais
são os problemas a gente acompanha, pergunta se tá tudo bem, se precisa de alguma coisa,
há um, rola esse contato assim próximo, a gente tá sempre junto.

13p. Entrevistador: E o discipulado, como é que acontece o discipulado na célula?


13r. Entrevistado : Eu sou novo, cheguei agora, mas quando eu fui discipulado pela minha
ex-líder, lá na célula, antes de multiplicar, é, no caso ela é, basicamente ela quem
discipulava, que ela era líder e a vice líder. Então ela me chamou para o discipulado, eu já
tinha aceitado antes a Jesus. Já tinha minha confirmação, já tinha começado o discipulado
antes na minha célula anterior, mas ela fez o passo a passo todo comigo, me explicou e a
gente foi estudando o discipulado todinho até chegar o momento da confirmação mesmo
que foi o batismo. Mas agora, eu acredito que na nossa célula atual, que foi multiplicada, a
gente vai, a partir do momento que, no meu caso, eu me sentir maduro pra isso, suficiente,
eu vou com certeza pegar, uma liderada pra discipular também.

14p. Entrevistador: Qual a importância da Bíblia nos encontros de vocês?


14r. Entrevistado: Total, eu acredito. Porque ela é a base do nosso estudo, é ela que a
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gente estuda pra poder desenvolver o nosso caráter cristão então, ela é fundamental, é a
base.

15p. Entrevistador: E qual é o lugar de Jesus na célula?


15r. Entrevistado: Primeiro, ao alto, sempre.

16p. Entrevistador: Você fez uma viagem?


16r. Entrevistado: Sim, pra ____.
17p. Entrevistador: É?
17r. Entrevistado: Sim.

18p. Entrevistador : Foi uma viagem, algum tipo de intercâmbio, alguma coisa assim?

18r. Entrevistado: Foi mais ou menos um intercâmbio. Eu estudei na escola técnica, ____.
Quando eu tava no último ano, me formando já, apareceu um projeto de um estaleiro de
___que tava abrindo uma filial aqui no Espírito Santo, que precisava de mão de obra local
e como a gente já tinha uma, uma base especializada na área de mecânica, que é mais ou
menos a área de metal pesado que é estaleiro, eles selecionaram esse alunos de escola
técnica, que no caso foi o __, houve um processo de seleção, pra levar a gente pra
Singapura, estudar sobre a área naval mesmo, sobre a construção de navios, ter uma
experiência de estaleiro de lá deles, que e a matriz, pra depois de um ano voltar e trabalhar
no estaleiro daqui. Aí foi um intercâmbio de trabalho e estudo ao mesmo tempo.

19p. Entrevistador: E você teve algum contato com a igreja lá?


19r. Entrevistado: Sim. Eu participei da igreja ___.
423

20p. Entrevistador: E é uma igreja que adota o sistema de células?


20r. Entrevistado: Sim, eu participei. Eles chamam de smowhouse, que é célula também.
Eu participei na célula de jovens lá.

21p. Entrevistador: Como é que foi a experiência?


21r. Entrevistado: Foi muito boa também. Quando, logo que eu cheguei lá, eu já tava
preocupado com essa questão, na verdade eu fui pra lá com medo, por ouvir muito falar
disso, do ____, ali, de perseguição cristã, eu não sabia se ia ter igreja lá, mas graças a Deus
é um país que não tão liberal em relação a religião, mas que também não persegue. E havia
outras igrejas lá, todo tipo de igreja, todas as religiões e denominações, mas foi muito fácil
já achar a igreja Batista lá, graças a Deus foi tranquilo. E a experiência com célula lá foi
boa também. Porque, logo no primeiro dia assim, no primeiro culto, os jovens já vieram
pra gente, que a gente era diferente né, gringo, heim, vocês são da onde tal, já chamaram,
a gente tem um, um grupo pequeno que se reúne nas sextas e tal, vocês querem fazer parte,
participar, queremos, tal, não sei o que, aí vão, teve essa aproximação muito rápida lá, foi
basicamente o que aconteceu aqui na PIBJC também, aí aconteceu lá.

22p. Entrevistador: E o que que você aprendeu sobre célula lá?


22r. Entrevistado: Sobre célula, eu posso dizer a minha impressão, mas que eu aprendi
foi, na verdade, por ter sido no exterior e ainda mais num país que eu esperava uma
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perseguição, eu vi que o amor cristão ele supera, supera qualquer tipo de coisa, ele tá lá pra
te mostrar e te ensina onde você tem, onde você tá, encontra um, se tem Jesus no coração,
você tá em casa. Quando eu ia pra igreja era o lugar que eu sentia mais a vontade lá.

23p. Entrevistador: Você ficou quanto tempo lá?


23r. Entrevistado: Eu fiquei onze meses.

24p. Entrevistador: Onze meses. E nesse período você fez parte de um grupo
específico ou você visitou vários grupos?
24r. Entrevistado: Não. Eu participei, eu congreguei na _Batista _e fiz parte desse smow
grup que é a célula lá. Então, eu ia lá nos cultos aos domingos e participava da célula na
sexta.

25p. Entrevistador: Na sexta-feira.


25r. Entrevistado: É

26p. Entrevistador: E qual a diferença da dinâmica da célula de lá com a dinâmica da


célula daqui?
26r. Entrevistado: A célula de lá, ela era muito, não vou dizer que era uma aula, mas o
estudo era muito aprofundado, da palavra mesmo. Eles tinham um cronograma de
perguntas e respostas sobre o texto do dia e seguiam um, um roteiro, igual, o mês que eu
cheguei, eles estavam já começando Romanos, aí, a gente passou por esse estudo todo sobre
o livro de Romanos, com perguntas e respostas e discussões. Tinha momento de louvor,
era muito interessante.
424

27p. Entrevistador: E lá, os, os estudos que são ministrados na, na célula, no pequeno
grupo eles estão relacionados com o que é trabalhado no domingo também?
27r. Entrevistado: Sim. É, só que eu também eu tive oportunidade de participar de, porque
eles, simultaneamente ao culto principal, eles tinham culto de adolescentes. Esse culto de
adolescentes seguia um, era um plano de estudo diferente. Aí, eu participei também de um
smowgrup de adolescente, sem ser de jovens, aí era o, do culto deles, era diferente. Mas o
nosso era o, era o mesmo, mesmo texto do culto.

28p. Entrevistador: Do culto de adultos


28r. Entrevistado: Sim.

29p. Entrevistador: Muito bem. E aqui, em Jardim Camburi, qual é a sua perspectiva,
quais são seus planos relacionados com célula?
29r. Entrevistado: Primeiro, é esse retorno meu para o Brasil, a gente já tinha conversado
antes enquanto eu ainda estava lá em ___, que eu voltaria pra assumir essa vice liderança
com ela e me despertou muito uma vontade de aprender mais. Essa responsabilidade de tá
assumindo a vice-liderança da célula eu comecei o curso de auxiliar e to lendo materiais
diferentes, então essa, esse retorno meu foi bem avivador pra mim, falando de uma maneira
cristã assim, na minha vida cristã foi estimulante.
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30p. Entrevistador: E você vê no pequeno grupo, na célula algum tipo de perigo pra
igreja?
30r. Entrevistado: Não, muito pelo contrário. Talvez, porque eu já senti, não agora, mas
há um tempo atrás, porque na célula você mais liberdade, você conversa num grupo menor
sobre um assunto que foi tratado na igreja então, se há uma discordância na célula sobre o
que foi tratado na igreja, não que seja perigo, mas que talvez a célula tenha uma ideia
diferente da igreja e as vezes não há essa comunicação de, há, eu não penso assim, mas não
que isso seja perigo porque o que move o mundo são perguntas né, e duvidas, então, acho
que, é válido.

31p. Entrevistador: E, quais são os principais desafios que você vê na sua célula uma
vez que é uma célula de jovens, adolescentes?
31r. Entrevistado: Antigamente seria o compromisso, mas hoje em dia graça a Deus a
nossa célula tem, tem acontecido regularmente, todo mundo participando, tá bem melhor.

32p. Entrevistador: E vocês tem algum tipo de ação comunitária, alguma ação, ação
em benefício da comunidade de um modo geral?
32r. Entrevistado: Eu não participei ainda não, mas é, é um plano né, na nossa célula
antiga a gente tinha isso, antes de multiplicar, tem uma época aqui na nossa igreja que a
gente chama de Atos de Compaixão também, que é todas as células fazem alguma coisa
pela comunidade também, mas até agora ainda não, na nossa célula não acontece.

33p. Entrevistador: Obrigado.


33r. Entrevistado: Eu que agradeço a oportunidade.
425

FUNÇÃO: Líder/Supervisor SEXO: Masculino DATA: 26/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
57 anos Jardim Camburi PIBJC 19

1p. Entrevistador: Poderia me dizer quanto tempo faz que você é membro da igreja?
1r. Entrevistado: Em Jardim Camburi, vinte e dois anos. Ah, mais onze anos em outra
igreja, então são trinta e quatro anos.

2p. Entrevistador: Muito bem, então você conheceu a igreja antes de adotar os
pequenos grupos, as células e conhece a igreja depois, na sua maneira de entender, o
que levou a igreja a adotar os pequenos grupos?
2r. Entrevistado: É um modelo relacional, trabalhando com a ideia de que o homem é, por
natureza ele é egocêntrico, então no pequeno grupo, a, as pessoas são levadas a ir em
direção do outro, indo na direção do ouro, obviamente também está em direção a Deus
então pra trabalhar omandamento que Jesus deixou “ame ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração e ao teu próximo como a você mesmo”, numa igreja frequentada dominicalmente,
isso não, ir em direção do outro fica mais difícil porque a própria exigência do nosso tempo
hoje isso, isso, não, não permite, só uma vez na semana, e sem esse envolvimento com as
pessoas.
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3p. Entrevistador: E o que mudou na igreja a partir da implantação dos pequenos


grupos?
3r. Entrevistado: Ah, mudou muita coisa, a, mas eu acho que a, a igreja tem condições
agora de fazer uma, uma espécie de uma, de uma radiografia de onde estão os seus
membros, o que fazem, a, como estão, a, isso pra mim foi, foi importante também no
sentido de, de, de, de poder prestar conta pra, pra outra pessoa, a, e ser ajudado e ajudar
outra pessoa. Uma igreja que não tem pequenos grupos, isso fica quase impossível, de um,
de um viver, de cuidar de um grupo de membresia significativa como é a nossa igreja.

4p. Entrevistador: Teve alguma interferência no grau, no nível de comunhão entre as


pessoas, o pequeno grupo trouxe algum resultado nesse sentido?
4r. Entrevistado: Sim, a, aumentou e muito essa percepção porque, a comunhão sem o, é,
sem o relacionamento ela deixa de ser comunhão né, é ate redundante falar isso, mas a, a,
quando eu conheço a, o outro, o meu irmão, eu aproximo dele e fico conhecendo a, a
dificuldade que ele tem, como ele, a, fica mais fácil da gente, de manter, estreitar esse
relacionamento.

5p. Entrevistador: Na sua vida, o que mudou na sua vida a partir do, da, da
experiência do pequeno grupo uma vez que você já é, vivia dentro da igreja, com o
evangelho já há muitos anos depois que foi estabelecido o pequeno grupo?
5r. Entrevistado: Eu penso que a conversão, e, e, quando a gente tem é, a entrega do nosso
eu para Deus, e ele controla a nossa, nossa vida, isso é, isso é conversão. Ah, quando,
quando se fala em igreja de pequenos grupos, esse eco ele é, ele é ainda mais destronado
porque é, a, a gente presta conta um pros outros, um para os outros e quando a gente faz
isso a gente tá na verdade tá se submetendo, ou está aberto as mudanças e transformações
que a gente não percebe na nossa vida, precisa desistir.
426

6p. Entrevistador: Com relação aos, aos encontros do pequeno grupo, poderia falar
um pouquinho como é que eles acontecem?
6r. Entrevistado: Sim, as reuniões são reuniões informais, onde é compartilhado as vidas
a, a, das pessoas e também compartilhado a, o, a palavra de Deus e os membros são
incentivados a colocar em prática aquilo que a palavra de Deus recomenda, é mais ou
menos, é uma reunião bem informal mesmo.

7p. Entrevistador: Qual a, o lugar de Deus e da Bíblia nesse encontro?


7r. Entrevistado: Ah, sim, a promessa de, de Jesus Cristo é onde dois ou três se reunir em
meu nome eu estou no meio deles, a, essa percepção e essa consciência é bem, e sentida e
experimentada, a, quando há um convite para que Deus esteja presente na reunião e a
Palavra é aberta então Deus fala através da, da sua Palavra.

8p. Entrevistador: E os membros do grupo, que tipo de participação eles tem nas
reuniões?
8r. Entrevistado: São incentivados a ter participação integral. Agora, a, a gente percebe
que dependendo do temperamento, da, de algumas pessoas, elas são mais a, tímidas né, e
às vezes, mas aos poucos elas vão se abrindo e vão colocando mais a, as suas necessidades
né, vai apresentando ao grupo e aquilo que o grupo pode ajudar, auxilia e é colocado
aquelas dificuldades também diante de Deus, para que possa ser auxiliado pelo Senhor.
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9p. Entrevistador: E entre os encontros, que tipo de envolvimento, de relacionamento


se desenvolve entre os membros do grupo entre os encontros?
9r. Entrevistado: E estimulado também, incentivado que a, os encontros ele não
aconteçam só nas reuniões, uma vez na semana, mas que durante a semana, a, também se
mantenha um contato, a, mais frequente pra, pra acompanhamento e pra, também prestação
de contas.

10p. Entrevistador: E, o grupo tem algum tipo de ação comunitária, na comunidade


além do grupo, que dos membros que fazem parte do grupo, esse grupo tem alguma
ação pra fora, pra comunidade também?
10r. Entrevistado: Sim tem, tem, tem, tem ações, tem ações ela, ela, são estimulados pra
ter essas ações, que a gente chama de atos de compaixão, é, as vezes é direcionado pela
igreja mas também estimulado pelo, pelo modo, estilo de vida de um, de um filho de Deus.
Ah, naquilo que Jesus já, nós falamos no início, que é voltar para o outro.

11p. Entrevistador: Independente desse outro ser ou não membro do grupo?


11r. Entrevistado: Membro de igreja, de, da, do grupo ou da igreja.

12p. Entrevistador: Ou da igreja. E na celebração, a, que tipo de impacto o pequeno


grupo trouxe para, pra celebração da igreja?
12r. Entrevistado: Mais entusiasmo, mais festa, mais alegria, a, mais, deixou também de
ser uma reunião tão formal, e se torna, as vezes um pouco até informal, isso propicia a
participação da membresia no culto.
13p. Entrevistador: Você vê algum, algum perigo, algum risco no pequeno grupo pra
igreja?
13r. Entrevistado: Não. De forma alguma. O homem é um ser gregário, ele portanto,
quando ele se isola ele se prejudica a si mesmo.
427

14p. Entrevistador: E quais seriam os objetivos do pequeno grupo, quais seriam os


objetivos da célula?
14r. Entrevistado: Crescimento mútuo e alcance das pessoas ainda que não foram, a,
foram tocadas pelo, por Deus, que precisam passar pelo processo de transformação.

15p. Entrevistador: A participação dos grupos, ou a participação dos membros do


grupo dentro do encontro é mais voltado pra experiência das pessoas, ou tem um
estudo, como é que funciona isso, qual o espaço que o membro do grupo tem pra
compartilhar as experiências dele nos encontros?
15r. Entrevistado: É dado a oportunidade para é, compartilhar experiência mas também é
dado, é solicitado uma, uma, uma, além de prestação de conta também voltar para, para o
outro, para o vizinho, para o colega de trabalho, a, nessa direção, então a, para cumprir o
ide de Jesus.

16p. Entrevistador: Certo. E o discipulado, como é que acontece o discipulado na, no


pequeno grupo?
16r. Entrevistado: O discipulado, ele é feito, a, né, com as pessoas que estão chegando
pra igreja, que ainda não tem um contato com a Palavra de Deus, então a, é designado a, a
algum membro do grupo pra fazer esse discipulado, esse acompanhamento até que a pessoa
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esteja a, também madura pra discipular outro.

17p. Entrevistador: Qual a, o impacto que o pequeno grupo causou na configuração


da igreja, na estrutura na funcionalidade da igreja?
17r. Entrevistado: Ah, o impacto é de, de, de, dessa percepção de, de, de sair desse
egocentrismo né, de voltar na direção do outro, como foi dito, eu acho que o impacto maior
é esse, na direção do outro e na direção de Deus. Quando eu amo a Deus, também
naturalmente eu vou amar o meu irmão e tenho que ir na direção dele.

18p. Entrevistador : E em termos de estrutura da igreja?


18r. Entrevistado: A estrutura ela a é voltada sim para o pequeno grupo, é, a, o pequeno
grupo não é o fim mas ele é o, é um meio de, de crescimento da igreja, e meio de alcance
dos, das pessoas ainda que não foram alcançadas pra Jesus.

19p. Entrevistador: Recomendaria pequeno grupo para igrejas que não tem o
pequeno grupo?
19r. Entrevistado: Sim, com certeza. Bom, acho que o pequeno grupo é uma necessidade
não só de uma, de uma igreja local, mas de qualquer instituição, acho que é, esses, esses
encontros de pessoas eles sempre são encontros produtivos que tem ganhos dos dois lados
né.

20p. Entrevistador: Saindo daqui e indo para outra cidade procuraria uma igreja que
tivesse o pequeno grupo ou isso não faria diferença?
20r. Entrevistado: Faria toda diferença o pequeno grupo. Com certeza procuraria uma
igreja com o pequeno grupo.

21p. Entrevistador: Obrigado!


428

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 26/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
62 anos Jardim Camburi PIBJC 20

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho pra mim sobre célula, o que célula representa
pra você?
1r. Entrevistada: Eu acho que célula, ela representa assim, no caso nosso aqui, da nossa
igreja, daqui da igreja ser assim, ter muitos membros, a gente faz célula questão assim, de
ser grupos pequenos, a gente se reúne como um grupo pequeno então nós se tornamos uma
família. Então, os benefícios da célula pra nós é assim, é porque a gente pode ter uma
pessoa com quem a gente fala, com quem a gente chora, com quem a gente sorri, entendeu?
A gente tem liberdade de conversar um com o outro. E, porque às vezes a igreja é muito
grande, tem membro aqui que eu não conheço. Então, a célula, ela traz muito bem pra
gente, porque as pessoas elas falam aquilo que tão sentindo, entendeu? E a gente tá ali pra
ajudar um ao outro, eu acho, as pessoas tem assim, tem confiança e é um lugar que elas vão
e ali elas se falam um com o outro, problema de um, problema de outro, pede, ora pedindo
a Deus, alguém que tá com problema de saúde ou mesmo problema em casa, com a família
e a gente tem sentido resultados fantásticos.
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2p. Entrevistador: Quantos anos faz que você é membro da igreja?


2r. Entrevistada: Aqui da igreja? Tem oito anos.

3p. Entrevistador: Oito anos.


3r. Entrevistada: Mas eu nasci num lar evangélico, meu pai era pastor.

4p. Entrevistador: Sim. Então você conhece bem a igreja sem o grupo pequeno e com
o grupo pequeno?
4r. Entrevistada: Sim.

5p. Entrevistador: É, o que mudou na igreja a partir dos pequenos grupos?


5p. Entrevistada: Eu acho assim, por exemplo, na época que meu pai era pastor, ele fazia
os cultos ao ar livre e ele sozinho tinha que, as pessoas decidiam, era muita gente, e ele
sozinho tinha que ficar correndo atrás das pessoas, hoje a igreja aqui, ela é grande demais,
mas na época ela era até pequena, hoje a igreja é grande, mas devido às células a gente tem
mais condição de receber as pessoas, entendeu, a gente tem mais, o relacionamento aqui,
ainda mais a nossa igreja que se preocupa com o relacionamento, isso é muito bom, porque
na igreja a gente tem que ter relacionamento. Não adianta a gente vim na igreja, sentar no
banco e ir embora. A gente tem que ter uma participação.

6p. Entrevistador: E como é que é feito esse trabalho de discipulado na célula?


6r. Entrevistada: Discipulado é o seguinte, a pessoas por exemplo, chega um, tem uma
pessoa na minha célula que ela ainda não é crente, então ela tá interessada, o que que a
gente começa, a gente começa com o discipulado, pra explicar pra ela desde o início,
entendeu? O plano de salvação, pra ela ir entendendo, pra depois ela ficar preparada pra ir
pro batismo.

7p. Entrevistador: E depois do batismo?


429

7r. Entrevistada: Ela continua na célula, não é mesmo, ela continua na célula, aí ela já vai
começar a participar, porque quando não é membro não pode fazer nenhuma tarefa, por
exemplo, nós temos, é, o período de adoração, que é o período de louvor, temos o período
de evangelização, de edificação, então ela só pode falar a partir do momento que ela fica
sabendo com é aquilo ali. Então depois que ela é batizada, ela começa a ter as tarefas na
célula.

8p. Entrevistador: E nos encontros das células, as pessoas que frequentam o grupo,
que frequentam o pequeno grupo, a célula, eles tem que tipo de participação nos
encontros?
8r. Entrevistada: Têm, eles fazem parte, é o que eu to falando. Por exemplo, amanhã eu
vou ter minha célula, eu sou líder, mas amanhã eu já coloquei a tarefa pra cada um fazer.
Um vai fazer o louvor, outro vai fazer o evangelismo, a parte de evangelismo, outro vai
fazer a edificação, semana passada eu fiz a edificação. Então, cada semana um é incumbido
de fazer alguma coisa, primeiro, pra eles desenvolverem, né? Porque às vezes tem muita
gente que chega, eu tive problema, por exemplo, meu marido, meu marido eu orei por ele
trinta anos, tem cinco anos que ele é da igreja. Hoje ele é uma pessoa que participa, ele
participa. Ele demorou ir à célula, ele só ficava na célula quando era na minha casa, depois
um dia ele começou já ir à casa das pessoas, hoje ele é uma pessoa que já tá direcionando
uma célula.
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9p. Entrevistador: Além daqueles que tem uma tarefa dentro do grupo, dentro do
encontro, que vai liderar alguma parte do encontro, que tipo de participação os outros
tem no encontro?
9r. Entrevistada: Oração, eles podem, quando a gente pede pra orar, entendeu? Quando
às vezes, a gente faz alguma pergunta dentro do texto que a gente vai ler, eles respondem,
eles têm participação, eles dão opiniões, entendeu? Todo mundo participa, de uma forma
ou de outra todo mundo participa.

10p. Entrevistador: E durante os, no interregno dos encontros, entre um encontro e


outro, que tipo de relacionamento ou de contato os membros da célula tem?
10r. Entrevistada: Na verdade, quem tem mais contato é o líder, entendeu? Por exemplo,
amanhã, eu já começo a passar uma mensagenzinha, ela sabe que amanhã é dia célula, mas
eu acho, eu como líder, cabe a mim lembrar que as vezes a pessoa esquece, aí ou eu ligo
falando: ó, amanhã é célula, vai ser na casa de fulano, que as vezes a gente esquece, ou eu
passo uma mensagem, entendeu? Eu sempre to em contato com eles.

11p. Entrevistador: E há algum tipo de preocupação, em termos, por exemplo, de um


cuidar do outro, um ajudar o outro entre os encontros?
11r. Entrevistada: Não!

12p. Entrevistador: É, qual a ação do grupo em relação à comunidade de um modo


geral, fora o, fora as pessoas que fazem parte do grupo, tem alguma ação também pra
fora do grupo, pra comunidade, ajudar a comunidade?
12r. Entrevistada: Na verdade, o pastor de vez em quando lança uma campanha, por
exemplo, uma campanha das células visitar asilos, creches, entendeu? Então, a gente age
mais de acordo com a direção dele, a gente não faz nada se não for orientado pelo pastor.
430

13p. Entrevistador: A senhora vê algum, algum perigo na, no pequeno grupo pra
igreja?
13r. Entrevistada: Na verdade, perigo no ser humano é assim, não é só dentro da igreja,
não é só na célula. Porque a gente na célula, também a gente tem problemas, sérios, às
vezes, por exemplo, eu to com um rapaz, que a minha célula é mais de casais, eu to com o
marido da minha amiga, que ele agora tá assim, tem uns três meses que ele não tá indo à
célula e nem indo na igreja. Então, agora, começou a célula novamente, eu to em outra
supervisão e eu vou começar a trabalhar ele, eu e meu marido, entendeu? Já vai ter agora o
encontro com Deus e vou ver se a gente manda ele, pra pode ele, que ele foi batizado, é o
tal negócio né? Que muitas vezes a pessoa é batizada e é deixada de lado. Ah, batizou tá
bem, não! Batizou aí que você tem que começar a acompanhar. E tem muitas pessoas que
não gosta muito de cobrança, entendeu? Não gosta de cobrança. A minha líder anterior, ela
era assim, se chegasse uma pessoa pra minha célula, a minha supervisora, a primeira coisa
que ela perguntava se a pessoa tem que fazer discipulado, não é assim, a pessoa quando
chega no meio cristão, a gente tem que ir devagar, que as vezes você espanta a pessoa e aí
a pessoa depois é difícil demais pra você trazer ela de volta pra célula, e esse é um deles,
que nós vamos começar agora a ver se ele volta pros cultos, pra célula, entendeu? Porque
ele tá com um problema sério, de bloqueio. Porque, porque tem crente que cobra demais,
acha que a pessoa tem que transformar da noite pro dia. Outro dia o pastor fez uma
mensagem muito bonita ele falou que Deus não tem pressa, de fato não tem pressa. Eu orei
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pelo meu marido trinta anos, não é assim que você vai conseguir evangelizar uma pessoa
assim, rápido não, é complicado, é muito detalhe. Então, problema nossa célula tem, todas
tem. Mas essas coisas, essa coisa de algum evento que a gente vai fazer, tudo é o pastor
que direciona, entendeu? É o pastor que é o comandante, de todas as células, de
supervisores, de líderes, entendeu? O pastor de rede é ele que faz. Por exemplo, nós vamos
ter uma comemoração, nós tivemos uma comemoração agora, um chá pras mulheres.
Agora, parece que lá pra maio, maio, não sei, não sei se é o dia das mães, não sei, mas ele
já tá vendo também uma coisa diferente, que aí a gente traz pessoas que não são crentes,
entendeu? É um tipo de evangelização, assim que a gente faz.

14p. Entrevistador: E risco pra igreja propriamente dita, a célula tem algum risco pra
igreja como instituição?
14r. Entrevistada: Eu acho que não, acho que não. A célula, ela só traz benefício.

15p. Entrevistador: E que tipo de benefício ela traz?


15r. Entrevistada: Ah, eu acho que a pessoa, a pessoas fica mais, participa mais, tem mais
vontade entendeu? De fazer alguma tarefa na igreja, de tá presente nos cultos mesmo, a
gente vê que, ele já fala na célula, oh domingo, até domingo hem, Domingo nós estamos lá
na igreja, quer dizer, isso faz com que eles vêm à igreja, porque ele tem esse compromisso.

16p. Entrevistador: E na sua vida, o que a célula produziu na sua vida em termos de
mudança?
16r. Entrevistada: Ah, na minha vida muito. Primeiro pelo meu marido, pra mim foi
assim, tudo de bom. Meus filhos foram criados na igreja, mas estão afastados, e eu continuo
orando por eles e eu sinto que eles vão retornar. Eu não deixo de orar. E a célula, me traz
muito bem estar, eu to ali, a gente tá sempre ali conectado entendeu? Lendo a Bíblia,
praticando aquilo que a gente ouve no domingo aqui, então é, e colocando em pratica
também no dia a dia nosso, porque não adianta a gente ouvir uma mensagem e sair e aquilo
431

que você ouviu você faz tudo errado lá fora, não adianta. Então, a célula eu acho que ela,
ela, ela coloca a gente mais em conexão com a palavra, entendeu? Responsabilidade que a
gente tem com Deus, né? Isso a gente passa a sentir isso, não é cobrança de ninguém, mas
a gente sente isso. Por exemplo, eu sinto muito bem quando eu to na igreja, quando eu to
na minha célula, quando eu to ligando pra um irmão meu, entendeu? Isso me faz bem, né?
Eu tenho uma irmã que nós somos parceira de oração, então, tudo que acontece, às vezes,
um probleminha que acontece a gente liga uma pra outra, ora junto, ou por telefone, ou eu
vou pra casa dela, isso é muito bom, isso é gostoso, então eu acho que isso é fruto de célula,
você ter um ombro pra você encostar, entendeu? Eu acho.

17p. Entrevistador: E pra igreja como um todo, pros encontros da igreja toda, que
tipo de beneficio ou que tipo de mudanças isso trouxe pra igreja?
17r. Entrevistada: Ah, eu acho que pra igreja eu acho que ta tendo mais facilidade das
pessoas se encontrarem e as pessoas sentem bem em tá junto ali na igreja, entendeu?
Porque, hoje a igreja é o seguinte, se ela não tiver algum ponto de apoio, as pessoas vão se
dispersando, vem uma vez ou até um mês vem, e aqui na nossa igreja é uma igreja que o
pessoal é assíduo mesmo, todo domingo a gente vê as mesmas caras aqui, tá sempre todo
mundo, sabe? E eu acho que pra igreja foi muito bom, porque, o relacionamento melhorou
muito dos crentes, entendeu? Eu acho.
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18p. Entrevistador: Qual a associação que a senhora faz entre célula e comunhão?
18r. Entrevistada: Célula e comunhão?

19p. Entrevistador: É, comunhão entre os membros da igreja.


19r. Entrevistada: A célula é uma comunhão, só que em pequenos grupos, só que são oito,
nove, dez pessoas, é uma comunhão aquilo ali. E aquilo ali a gente já traz pra igreja, porque
a gente já faz aquilo, a gente já vive, convive aquilo, em célula, então automaticamente
você leva pra igreja.

20p. Entrevistador: Então a célula contribuiu pra aprofundar a comunhão da igreja?


20r. Entrevistada: Eu acho, muito. A espiritualidade. Eu acho.

21p. Entrevistador: E o lugar da Palavra e o lugar de Deus no encontro da célula?


21r. Entrevistada: Lugar da Palavra?

22p. Entrevistador: É, da Bíblia.


22r. Entrevistada: Tem o, tem a hora, da gente, que a gente fazer a edificação, que a gente
lê que a gente fala, que a gente comenta, ouve cada uma, a opinião de cada um, entendeu?
Que isso fez na sua vida, que isso mudou na sua vida, entendeu? Que de bom isso trouxe
pra você, isso que é importante a gente saber, só ler a palavra, não adianta, você tem que
viver a palavra.
22p. Entrevistador: Obrigado.
432

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 26/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
61 anos Jardim Camburi PIBJC 21

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre a sua experiência com célula, pequeno
grupo.
1r. Entrevistado: Pra falar de célula tem que falar do lado espiritual, é, célula foi uma das
ferramentas que me levou até Cristo. Eu tenho sete anos que fui batizado aqui na igreja. A
minha esposa, ela vivia relutando, relutando, com família e álcool, e tudo dentro e casa, e
eu era uma pessoa que vivia afastado completamente de Deus. Dizia-se Católico, mas na
igreja só ia a casamento ou coisa parecida. Então, quando nos mudamos pra Jardim
Camburi a __ veio pra essa igreja e começou frequentar a célula. E um dia ela me perguntou
se podia acontecer lá em casa, e eu disse não, perfeitamente. E lá em casa, em sinal de, não
de respeito, mas de chefe de família e tudo, eu frequentava as reuniões e ouvia o que eles
falavam. E, foi um passo muito grande pra mim aceitar Jesus. Porque dali, eu vim pra igreja,
no princípio eu falava que ia fazer companhia pra minha esposa e dar exemplo pros meus
filhos e quando eu descobri que aquilo tava me trazendo um bem, eu tava fazendo bem a
minha pessoa e a minha vida mudou completamente, então, célula pra mim é tudo.

2p. Entrevistador: Você já chegou frequentar alguma vez a igreja antes de frequentar
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célula?
2r. Entrevistado: Não.

3p. Entrevistador: Então, quando veio pra igreja já veio através da célula?
3r. Entrevistado: Num vim através da célula, mas a célula foi mais ou menos um elo que,
é, no princípio a gente tinha muitos problemas dentro de casa, então, eu vim pra igreja pra
dar exemplo pros meus filhos, nós temos uns problemas dentro de casa com filho, hoje, nós
temos sido muito abençoado, talvez com meu exemplo, com as minhas orações, hoje eu
sou uma pessoa que ora, mas não foi o principal degrau pra vir pra célula, mas ela é na vida
de qualquer um, ela não foi na minha pela nossa necessidade, nossos problemas internos
dentro de casa, então, como lhe disse, eu vim pra igreja pra dar exemplo pros meus filhos
e pra servir de companhia pra minha esposa e hoje tá servindo, edificou minha vida e tá
servindo pra edificar minha casa. Não foi propriamente através da célula.

4p. Entrevistador: O que você mais gosta na célula?


4r. Entrevistado: Eu gosto de tudo. Os louvores, a edificação, porque a edificação eu vivo
pedindo: “Senhor meu Deus conceda-me um pouco de compreensão da tua palavra”. Então,
a edificação é onde você tem a oportunidade de, não de ficar falando da palavra, mas você
tá lendo a palavra, tá falando entre os irmãos, da palavra, e você ali, é uma maneira muito
prática de você aprender. Eu gosto de tudo.

5p. Entrevistador: Que que mudou na sua visão, no seu conceito de Deus a partir do
momento que você começou a se aproximar mais, frequentar a célula, frequentar a
igreja?

5r. Entrevistado: Eu, no passado eu dizia que me importava com Deus, mas eu acho que
eu não me importava. E hoje, Deus pra mim é o único que dirige a minha vida. Então, no
passado eu vivia é, bebedeira, e essas coisas hoje num faz parte mais da minha vida. Afastei
433

das coisas que eu acho que não agrada a Deus e hoje eu vivo pra servir a Deus e minha
família, depois.

6p. Entrevistador: Quem é Deus pra você hoje?


6r. Entrevistado: Ah, Deus é uma criatura perfeitíssima. E, no passado, às vezes eu que
me achava uma pessoa perfeita e eu sou um pecador e o único perfeito é Deus. Além de
criador, é, só de se falar que você é, acreditar em Deus só pela fé, porque é uma coisa que
você não vê, você já vê o grau de perfeição de Deus, não existe nada que tenha que ser
plantado.

7p. Entrevistador: O que Ele mudou na sua vida?


7r. Entrevistado: Na minha vida? Eu sou uma pessoa com os mesmos problemas, eu luto,
eu não consegui mais dinheiro, não consegui nada, mas eu sou uma pessoa feliz, e até com
minha família hoje, muito feliz mesmo!

8p. Entrevistador: Durante, entre os encontros das células, dos membros das células
né, membros do pequeno grupo, qual o tipo de contato que vocês têm entre os
membros da célula?
8r. Entrevistado: De verdadeiros irmãos, de proximidade, é, a gente vive às vezes o
problema do irmão, a gente tenta ajudar de uma maneira que não venha feri-lo, de uma
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maneira que você pode, que você é solicitado. E isso traz muita aproximação, muito amor.
E eu acho que é tudo isso, relacionamento, cada vez mais, muito mais próximo, muito mais
confiança, embora a gente disperse, porque a célula é, como se diz, como se fosse uma
árvore de crescimento, então, às vezes você se afasta de um irmão porque a célula se
multiplica, vai pra ali, vai pra aqui, mas você tá sempre em contato. O que você adquire
nunca perde. O amor, a proximidade, nunca perde.

9p. Entrevistador: Na sua visão, qual o benefício que a célula traz pra igreja?
9r. Entrevistado: A visão hoje, da maioria das igrejas é de crescimento, e a visão da célula
teria que ser, tem que ser de crescimento. É, não de crescimento de você arranjar irmão já
crente, também é uma maneira de se recuperar, mas principalmente aqueles que não
conhecem a palavra de Deus. Você oferecer isso gera crescimento.

10p. Entrevistador: Isso gera crescimento da igreja em termos de membresia, em


termos de membros, né? E, que outro tipo de crescimento traz pra pessoa?
10r. Entrevistado: O maior, o espiritual, o conhecimento da palavra, conhecimento da
verdade.

11p. Entrevistador: E isso acontece no contexto da célula como?


11r. Entrevistado: A gente vive louvando e falando da palavra de Deus e a palavra de
Deus é a coisa mais perfeita. Quisera nós vivermos mediante a palavra de Deus, nós
estaríamos muito próximos da perfeição, e isso, nada melhor, traz um crescimento muito
grande pras pessoas, o conhecimento da palavra de Deus, você não precisaria de mais nada.
12p. Entrevistador: Muito bem.
434

FUNÇÃO: Supervisora SEXO: Feminino DATA: 26/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
46 anos PIB Jardim Camburi PIBJC 22

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro da igreja?


1r. Entrevistada: Eu estou aqui desde dois mil e sete e membro da igreja desde dois mil e
oito.

2p. Entrevistador: Dois mil e oito. Como você veio pra igreja?
2r. Entrevistada: Eu mudei pra Vitória, do ____ pra cá em dois mil e cinco e naquela
ocasião eu era membro de uma outra igreja no Estado. Mesmo residindo em Jardim
Camburi, já era uma igreja com quem a gente mantinha contanto desde o tempo que a gente
vivia no ___ ainda, e eu fui junto com meu esposo integrar uma equipe ministerial nessa
outra igreja. Só que a distância inviabilizou. E aí, em dois mil e sete nós passamos a
frequentar aqui e nos tornamos membros em dois mil e oito. Lá nessa igreja, a gente já
fazia parte de um ministério em grupos pequenos. Era uma outra visão ministerial, não era
o ministério igreja em células, mas existia essa perspectiva dos pequenos grupos de
comunhão e a gente já integrava esse ministério lá. E vindo pra cá, a igreja já vinha num
processo de transição para igreja em células e não foi difícil então pra gente se adequar a
esse modelo.
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3p. Entrevistador: Então você não chegou a fazer parte de uma igreja evangélica sem
o pequeno grupo?
3r. Entrevistada: Antes disso, porque eu sou, eu nasci num lar evangélico e fiz parte de
Igrejas Batistas tradicionais durante a minha vida toda. A minha experiência com pequeno
grupo ela começa em dois mil e cinco, nessa igreja já aqui no Espírito Santo. Enquanto eu
residia no Rio, a gente era membro de uma igreja, passamos por várias inclusive, mas
sempre dentro de uma estrutura mais tradicional mesmo.

4p. Entrevistador: Sem o pequeno grupo?


4r. Entrevistada: Sem o pequeno grupo.

5p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja sem o pequeno
grupo e uma igreja com o pequeno grupo?
5r. Entrevistada: A diferença que eu vejo é que numa igreja sem o pequeno grupo, embora
essa comunhão aconteça por várias maneiras, ela não tem a intencionalidade que a gente
observa na igreja com pequeno grupo. É, o pequeno grupo ele pode servir sim, só pra essa
dimensão da comunhão. No caso da célula, especialmente no modelo igreja em célula, o
pequeno grupo ele vai além dessa dimensão da comunhão, do relacionamento mais
próximo, a célula ela é realmente a unidade fundamental da estrutura da igreja. Então, a
célula vai ser o lugar em que as pessoas servem através de seus dons, onde elas se edificam
mutuamente, onde elas ensinam a Bíblia umas para as outras. Pelo menos, em tese, o
modelo que a gente defende, ou aquilo que a gente crê, seria isso. Essa comunhão é mais
próxima, mas não só pela convivência, mas pela questão do pastoreio mútuo, do
compromisso um com o outro, é algo mais profundo. E na igreja que não tem o pequeno
grupo, acaba que a referência para esse pastoreio é do pastor, dos líderes, e acaba sendo
mais distante, até pelo número de pessoas, esse contato ele não é tão próximo. Quando
alguém tem algum problema é mais difícil que isso seja tratado lá na origem, acaba que
435

isso só é tratado quando isso se torna público, a vinculação acaba sendo com as atividades
e não com pessoas. Então eu integro um ministério e o que me dá proximidade com as
pessoas naquele ministério é a atividade que é realizada ali. Quando que no pequeno grupo,
a atividade não é o fim, a atividade é o meio. O fim são as pessoas, são os relacionamentos,
é alcançar as pessoas e as atividades elas se tornam em estratégias para alcançar as pessoas.
Eu acho que essa é a grane diferença. Que numa igreja estruturada em função de programas
e atividades, a atividade é o fim e as pessoas são o meio para que essas atividades sejam
realizadas. E aqui a gente tá defendendo uma ideia de que o fim são as pessoas, alcançar e
edificar pessoas e as atividades é estratégia para alcançar isso. Acho que a grande diferença
seria essa percepção do quanto as pessoas são preciosas para Deus e o quanto que a igreja
tem que tá focando isso.

6p. Entrevistador: Como você definiria os objetivos, então, das células?


6r. Entrevistada: Acho que a célula existe pra isso, pra levar as pessoas a viver em Cristo,
a viver um estilo de vida que tenha centralidade em Cristo e na palavra de Deus. E aí a
gente vai resumir isso com um verbo, Adorar, adoração como um estilo de vida. É, alcançar
pessoas, a célula precisa ser fundamentalmente evangelística e edificar, edificar
mutuamente as pessoas através do ensino, do estudo da palavra de Deus, mas um ensino
vivido. A proximidade nos leva a fazer isso, a permitir que as pessoas vejam como é que a
gente vive a palavra de Deus, e aí, os menos, os mais, os menos maduros, os mais novinhos
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na fé, vão seguindo aqueles que já estão um passinho mais a frente, então acredito que a
célula tem como objetivo isso, enfatizar a adoração, o alcance de pessoas e a edificação
mútua.

7p. Entrevistador: Como se dá esse evangelismo e esse discipulado na célula?


7r. Entrevistada: Fundamentalmente pelo relacionamento. Então, as pessoas que a gente
visa alcançar são aquelas do nosso relacionamento mais próximo, vizinhos, parentes,
colegas de trabalho, são as pessoas que já fazem parte dos nossos círculos de
relacionamento.

8p. Entrevistador: Como se dá isso na prática, vocês utilizam algum material, é só a


Bíblia, como é que funciona isso?
8r. Entrevistada: Nós temos um material didático, vamos dizer assim, que seria nosso
trilho de discipulado. Aqui na igreja a gente adota esse material até pra facilitar, porque ele
é uma sequência de conteúdos bíblico muito fácil de aplicar, que trata do plano de salvação,
que trata da inserção desse novo crente na comunidade, no corpo de Cristo, que trata de
questões mesmo de maturidade espiritual. Então, a gente usa esse material, mas eu costumo
dizer que ele é mais um pretexto pra gente estabelecer um relacionamento com a pessoa,
porque na conversa, às vezes a gente percebe que o que a pessoa realmente necessita estudar
é outro assunto, é algo que diga a respeito a uma necessidade mais específica que ela esteja
atravessando, mas esse material é útil e a gente costuma utilizar. Agora, a gente tem
enfatizado também que cada grupo defina estratégias bem próximas da sua realidade
concreta. Então, de repente é um grupo de jovens que vai querer alcançar outros jovens,
então ele vai ter umas atividades sociais, e alguma coisa bem próxima daquele grupo, ou
casais ou mulheres, então, as estratégias pra envolver essas pessoas mais próximas da gente
vão depender muito das características de cada grupo.
436

9p. Entrevistador: No encontro da célula, como é que as pessoas participam do


encontro das células?
9r. Entrevistada: O encontro da célula é um momento que a gente tenta fazer muito
informal, então, ele tem algumas, vamos dizer assim, algumas etapas que a gente tenta
cumprir, que é o que agente chama, aqui a gente costuma chamar de os “És” da célula. O
momento da exaltação, o momento do evangelismo, o momento da edificação. Isso tenta
nos fazer lembrar daqueles objetivos que eu fale mais atrás. Necessariamente, no encontro
da célula a gente precisa separar um tempo pra lembrar de que Deus está presente, que a
gente precisa adorá-lo e exaltá-lo por quem ele é, pelas obras dele na nossa vida, um
momento em que a gente enfatiza a necessidade de evangelizar pessoas e de destacar até a
presença de um visitante no grupo, essa ênfase no evangelismo e o momento da edificação,
em que a gente traz, normalmente, o tema que foi abordado no sermão do domingo anterior
e ali a gente tenta fazer uma discussão bem informal, com a participação do grupo, em que
cada um tenta dizer quanto que aquele sermão, quanto que aquele tema bíblico se aplicou
a sua vida, e as necessidades pessoais de cada um, então é um momento de muito
compartilhamento, de muita informalidade, que a gente ora uns pelos outros, conversa,
tenta se conhecer um pouco mais a fundo, lancha e pronto, não é algo tão demorado mas
acaba sendo muito agradável.

10p. Entrevistador: E entre os encontros, que tipo de vínculo os membros do grupo


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mantém?
10r. Entrevistada: A gente enfatiza muito que os grupos estabeleçam, é, uma relação de
parceria um a um. É, que cada um na célula seja ao mesmo tempo discípulo e discipulador.
Então, que tenha alguém, um crente mais maduro, como referência e alguém menos
maduro, mais novo, que ele esteja também cuidando. Nem sempre a gente consegue
estabelecer esse vínculo. Mas a gente entende que esse vínculo ele precisa ser profundo e
ele precisa ser duradouro. Na verdade, a comunhão, a cumplicidade maior ela se dá nesse
nível micro do discipulado, mais do que no nível do encontro. O encontro seria esse
momento da comunhão, seria esse momento de atrair pessoas novas, seria esse momento
de traçar estratégias de alcance, mas o relacionamento mais profundo, ele se daria nesse
momento do discipulado, quando individualmente as pessoas teriam que desenvolver um
relacionamento profundo a ponto de estarem bem à vontade pra compartilhar fraquezas,
dificuldades, falar das suas lutas pessoais e serem ministradas pela palavra de Deus nesse
espaço bem reservado né? De, de intimidade.

11p. Entrevistador: O grupo tem também alguma ação pra fora dele, pra comunidade
no entorno onde o grupo reside?
11r. Entrevistada: Isso é muito enfatizado. É, como eu disse, vai depender da
característica de cada grupo o tipo de ação a ser empreendida, né! Então, existe um
momento no ciclo de vida da célula, em que aqui na nossa igreja são realizados os atos de
bondade, ou os atos de compaixão em que isso é muito enfatizado mesmo. Mas durante
todo o ano, as células são motivadas a pensar em atividades dessa natureza. Ou a célula
como um todo ou algumas pessoas que tenham mais facilidade para desenvolver atividades
externas assim, a minha célula mesmo tem pessoas que são que dão aulas de artesanato em
locais beneficentes e vão fazer visitas a hospitais, a asilos, eu não vou dizer que é o grupo
todo que faz isso, mas frequentemente a gente desenvolve atividades dessa natureza.
437

12p. Entrevistador: Qual a repercussão do grupo na igreja como um todo, nas


celebrações, na funcionalidade da igreja?
12r. Entrevistada: Nós somos, quando nos reunimos em celebração, a soma de todos esses
pequenos grupos. O corpo seria, é, uma unidade formada por todas essas células mesmo,
então, quando nós nos vemos aqui, nós estamos vendo um grande conjunto de células, no
caso daqui, de Jardim Camburi, a gente tem a dificuldade de não cabermos todos num
mesmo espaço físico, então nós temos hoje três horários de celebração então, nós não nos
encontramos todos os grupos, mas, isso é ruim porque a gente fica com a sensação de que
a gente não conhece todos os membros da igreja, pra algumas pessoas que tem referência
naquela igreja que todo mundo conhece todo mundo, isso dá até uma certa nostalgia, um
saudosismo assim: “Puxa, em igrejas menores a gente consegue cumprimentar todo mundo,
a gente conhece todo mundo”. Só que a gente sabe que esse conhecer todo mundo é meio
fictício porque a gente conhece todo mundo sem conhecer ninguém em profundidade. E
numa igreja em células a gente pode não conhecer todo aquele grupo de centenas e milhares
de pessoas que se reúnem ali, mas a gente sabe que alguém ali nos conhece em
profundidade, em intimidade e isso é muito bom. Então, o grupo é isso, o grupo é o conjunto
de todas essas células e ele reflete a visão conjunta que a gente recebe nos grupos. Todas
as visões e as campanhas, o direcionamento que a liderança, que os pastores querem passar
pra cada indivíduo elas são canalizadas através das células, elas chegam as células e lá elas
são difundidas e quando vem pro grupo todo mundo que participa de uma célula já tem
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conhecimento dessa visão pastoral e é assim que funciona.

13p. Entrevistador: Você vê algum risco pra a igreja, o pequeno grupo, a célula, se
constitui, traz algum risco para a igreja?
13r. Entrevistada: Eu acho que traz algum risco se a visão pastoral e os objetivos da igreja
como um todo não forem muito bem comunicados. Porque se essa comunicação não for
bem feita, a gente corre o risco de ter interpretações particulares circulando entre grupos.
Então, é muito importante ter a garantia de que aquela visão que Deus tem dado ao pastor
e a liderança ela vá chegar com fidedignidade lá no grupo, que quem tá transmitindo lá, a
liderança que tá transmitindo esse recado lá no seu grupo, tá muito afinada com essa visão
pastoral, tem muita clareza dessa visão pastoral, pra que o grupo tenha unidade, porque se
houver algum ruído nessa comunicação, a gente não tem, a gente pode ter problemas de
uma comunicação truncada, e aí isso ferir a unidade do corpo. Então, pra caminhar juntos,
pra que estejam todos sintonizados, a questão da comunicação eu acho que é fundamental.
E preparo da liderança, liderança de célula, compartilhar o pastoreio não é uma coisa difícil,
mas também não é simples. Ser líder de célula requer maturidade espiritual, requer
submissão, requer afinidade com a visão pastoral, requer uma proximidade com pastores
que demanda da gente um tempo, uma dedicação pra que essa comunicação se estabeleça
e flua com tranquilidade.

14p. Entrevistador: Como se dá a capacitação dessa liderança?


14r. Entrevistada: Hoje, essa capacitação, ela se dá em cursos e ela se dá muito na prática.
Nós temos semanalmente, todos os supervisores, encontro com nosso pastor de rede e nos
encontramos, os supervisores se encontram com os líderes das células, e nessa cadeia de
mentoreamento a gente entende que é onde se dá realmente a formação na pratica. E existe
uma formação digamos teórica, que acontece promovida pelo ministério de ensino, com
um conteúdo básico pra capacitar os novos líderes. Mas nós temos entendido que essa
438

formação, ela vá se dando mesmo é no convívio dos supervisores com os pastores, dos
líderes com os supervisores e assim a gente vai mentoreando uns aos outros.

Entrevistador: Muito obrigado!

FUNÇÃO: Supervisor SEXO: Masculino DATA: 26/03/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
50 anos Jardim Camburi PIBJC 23
1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre célula
1r. Entrevistado: Célula, a minha visão é a igreja acontecendo na realidade. É aqui que a
gente conhece cada membro, que a gente cuida, é cuidado, que agente tem oportunidade de
viver o evangelho um pouco mais na sua essência.

2p. Entrevistador: Você fez parte de igreja que não tinha célula nem o grupo
pequeno?
2r. Entrevistado: Sim, desde criança.

3p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja com pequeno
grupo e uma igreja sem o pequeno grupo?
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3r. Entrevistado: A diferença é essa que falei. Conhecer as pessoas de perto, é você
conhecer um pouco mais as necessidades das pessoas, você poder falar das suas questões,
das suas necessidades, é, ter mais proximidade mesmo, é, a igreja é, que você vive mais
junto, a diferença pra mim é essa. Quando eu era membro de uma igreja sem grupo
pequeno, eu por mim mesmo já procurava, alguém, desde criança eu tinha esse jeito né, de
procurar alguém pra me aconselhar, pra compartilhar, mas sempre era uma iniciativa
minha. Porque na igreja sem o pequeno grupo, eu recebia as mensagens, ouvia as
mensagens, eu recebia o ensino da escola, mas dificilmente eu era confrontado sobre a
minha vida espiritual mesmo, de verdade. Então, eu tinha muito mais oportunidade, muito
mais chance de ter máscara do que tenho hoje. Não que isso não seja possível, mas eu acho
mais difícil, porque a gente se reúne toda semana, e você sabe, acaba conhecendo a pessoa,
né! Então, aquele dia você vê que ela tá diferente, então, pra mim, a diferença é essa, e essa
percepção que a gente passa a ter sobre nós mesmos e sobre os outros.

4p. Entrevistador: Como acontece os encontros da célula?


4r. Entrevistado: No nosso caso, a gente chega, conversa, bate papo, ri descontraído e ali
já fica sabendo de algum problema, de algo que alguém conquistou, essas coisas bem
pessoais, depois a gente ora, canta, lê a palavra e procura na edificação tentar com que as
pessoas se expressem, sobre sua percepção sobre a Bíblia na vida delas, daquele assunto
que está em pauta ali, sobre a percepção dela, o efeito daquilo na vida dela. E, há pedidos
de oração, a gente ora e depois volta a bater papo, conversar.

5p. Entrevistado : Qual o lugar da Bíblia no encontro da célula?


5r. Entrevistado: A Bíblia é central, no nosso caso. Porque, desde o início, mesmo no
começo lá, que eu falei daquele bate papo informal, que a gente sempre chega e a gente
estimula muito isso, esse congraçamento, essa comunhão, pra gente perceber realmente a
vida mesmo um do outro, como que as pessoas estão passando, porque ali a gente percebe
se há alguma dificuldade, algum problema, alguma tristeza, coisas assim, que dá pra ser
439

exposto ali no grupo. E ali a gente já estimula que a palavra seja o norte para cada situação.
E quando a gente vai louvar a Deus, quando a gente tem um tempo mais de contemplação,
mais de adorar a Deus, nesse sentido né! Louvar a Deus né! Ali a Bíblia tem uma posição
bastante central. É, quando a gente fala sobre alcançar pessoas, pauta na Bíblia e quando a
gente fala desse crescimento espiritual que todos devem ter, sempre é confrontar a vida
com a palavra. Então, eu penso que a posição da Bíblia ela é central, cara, é ela que norteia
todo o encontro.

6p. Entrevistador: E no interregno dos encontros, entre um encontro e outro, que tipo
de vínculos são criados entre os membros do grupo?
6r. Entrevistado: A gente estimula muito que duplas se encontrem pra que haja esse
confronto da vida, maior com a Bíblia ainda. Porque, no grupo, algumas questões não são
ali trazidas, né! Mas com essa questão de duplas, é, cria-se uma intimidade maior e ali, é,
mais situações vem a barra, vem à tona, que podem ser tratadas. Além disso, a gente se fala
muito por e-mail, muito, por mensagens, é, a gente acompanha a vida familiar uns dos
outros, com muita, eu passei por isso, minha mãe faleceu, esse cuidado que eu recebi foi
tremendo né! Quando eu cheguei pra célula eu tava com um filho com problemas muito
sérios, e a célula, assim, me abraçou, ligava todo dia e acompanhou a situação de meu filho
até que ele ficasse bem, então, vira meio que uma família. No dia a dia a gente não fica
preso só no encontro, a gente continua se falando por e-mail, por.
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7p. Entrevistador: E qual a repercussão que isso traz para a igreja como um todo?
7r. Entrevistado: Pra igreja, penso que a igreja torna-se mais forte no sentido de não ter
tanto problema sem tratar ou escondido pessoas que estavam assim, habituadas a uma outra
igreja as vezes sentem falta daquela figura do líder máximo, tá ali com eles e tal, mas as
pessoas que vão nascendo já nesse, pra vida espiritual nesse sistema, elas se sentem muito
mais cuidadas, muito mais assistidas, então, pra igreja o reflexo é, que ela tem uma inserção
muito maior na comunidade, que ela se reúne a semana inteira em vários locais do bairro.
Então, ela, a igreja, se torna mais presente na comunidade do que simplesmente tendo um
prédio central pra onde as pessoas vêm, então, ela vai até as pessoas, isso expande a igreja.
Eu penso que o maior efeito, na minha visão é a igreja se tornar mais inserida na
comunidade, mais presente na comunidade.

8p. Entrevistador: Como esses grupos atuam na comunidade, olhando pra fora do
próprio grupo?
8r. Entrevistado: Eles atuam na, porque eles estando, eles sendo a igreja mais presente, é,
mais espalhada na comunidade a igreja passa, através desses grupos, a enxergar melhor as
situações da comunidade, a conhecer mais a comunidade, né! Então, várias questões que a
igreja talvez tomasse conhecimento assim por notícia ou por algum membro que falou de
alguma situação, a igreja é, está presente, então, é, vários grupos, tem pessoas com
problemas de vícios que tão sendo atingidas, alcançadas, assistidas não é! Vários grupos
cuidam de pessoas que estão desamparadas, desassistidas financeiramente, então, eu penso
que a igreja atua muito mais, é, em todas as áreas mesmo, assim, as que eu tenho visto
principais são essas né! Essas questões de vícios, e vários grupos em vários locais ajudando
pessoas com essas questões, pessoas com dificuldade financeira e algumas coisas assim,
estão sendo beneficiadas. Eu penso que esses grupos atuam bastante na comunidade.
440

9p. Entrevistado: E você vê algum risco pra igreja, essas células, elas trazem algum
perigo, algum risco pra igreja como um todo?
9r. Entrevistado: Poderia trazer, poderia trazer se não fosse bem administrada, porque
assim, parece ser uma necessidade natural do homem, é, autossuficiência, a independência
e tem sempre pessoas seguem alguém que tem essa tendência numa forma maior, mas, eu
não tenho, eu via muito mais isso, é, em igrejas não formada por pequenos grupos do que
vejo agora, igreja em células, então, a igreja com dois mil membros, no nosso caso,
chegando aí a dois mil membros, e, células e supervisões espalhadas no bairro inteiro e em
outros bairros e em outros municípios e eu não tenho notícia de que algum grupo desse
tenha manifestado o desejo de ficar independente, então, o desejo é sempre de tornar
conhecida a igreja, no caso, a nossa igreja, entende? Então, me parece que melhora até essa
questão da, da... o que parecia ser um risco, eu pensava assim tá, quando comecei a
conhecer igrejas em pequenos grupos, então, por causa daquele pensamento de uma outra
igreja e vi várias vezes né! E vivi essas situações, então, eu ficava preocupado com isso,
mas quando eu me inseri, passei a participar e a viver em célula, é, comecei a viver em
pequeno grupo antes né! O nome não era célula, na outra igreja era pequeno grupo, e depois
vindo pra cá, aqui célula, então eu vi que esse risco não era tão grande, sabe, eu pensava,
eu tinha mais medo do que a coisa é, pensando cruamente assim, é um risco, por causa da
situação do homem né! De querer, mas, vivendo em célula, e por causa das supervisões,
por causa, é, do acompanhamento, né! O líder prestando conta pro supervisor, o supervisor
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pro pastor de, no nosso caso aqui, pro pastor de rede, o pastor de rede para o pastor titular,
então, esse acompanhamento minimiza bastante este risco.

10p. Entrevistador: Como é que você classificaria a sua igreja hoje, a Igreja Batista
de Jardim Camburi, como é que você caracteriza essa igreja hoje?
10r. Entrevistado: Uma igreja inserida na comunidade, na vida da comunidade, uma igreja
com o desejo muito grande de alcançar a comunidade, uma igreja que, ainda luta pra
conseguir implantar plenamente essa visão de grupos, pequenos grupos, é, na sua finalidade
mesmo né! Mas uma igreja que, que tá buscando alcançar mesmo, a comunidade.
11p. Entrevistador: Obrigado!

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 02/04/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
42 anos Jardim Camburi PIBJC 24

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com célula.


1r. Entrevistado: Então eu já tenho uma experiência com célula desde dois mil e três,
dois mil e quatro, desde a minha igreja anterior, onde eu congregava ___ e com a visão do
pastor ___que hoje ele está no Rio de Janeiro, começou o processo de células com jeito.
Toda a igreja foi incentivada, motivada a trabalhar com células, nós tivemos todos os
treinamentos tanto de líderes quanto de auxiliares e nesta eu comecei a liderar uma célula
jovem, aos sábados, e, foi aonde começou as experiências, os motivos, a necessidade das
pessoas estarem interagindo, a gente sabe que dentro de uma igreja você só vê nuca e o
pastor lá na frente, mas o decorrer da semana é aonde se trabalha os pequenos grupos e os
momentos individuais, então, este momento. Aí, com a minha vinda pra cá, em dois mil e
oito, dois mil e nove, nós começamos a interagir em células só que com uma visão
totalmente diferente, a visão aqui foi a visão de casais, a visão de família e trabalhar esse
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lado. Eu já tinha essa experiência, minha esposa não tinha tanto e quando o convite veio,
eu fui muito claro com ela, eu falei com ela assim, olha antes eu liderava uma célula jovem
que é totalmente diferente de liderar uma célula de casais, hoje, casais precisam de cuidado,
precisa de tá lado a lado e eu não quero fazer uma liderança só, então, nós precisamos de
tá junto, então, célula de família e de casais tem que tá junto, não é só o marido na frente
ou a esposa na frente. Então, esse é o processo, então, fomos os auxiliares aqui, de célula,
de __, foi aonde eles me indicaram para a liderança, né! Como o trabalho de Deus necessita
de pessoas e de disponibilidade pra isso, eu me coloquei a disposição e estamos até hoje aí,
no nosso, no segundo, terceiro ano de célula.

2p. Entrevistador: Você fez parte de Igreja Batista sem a presença do pequeno grupo?
2r. Entrevistado: Sim

3p. Entrevistador: E agora faz parte de uma igreja com a presença do pequeno grupo?
3r. Entrevistado: Sim

4p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê?


4r. Entrevistado: A diferença que você vê é uma igreja mais avivada. Uma igreja onde
você conhece a dificuldade do outro, conhece o problema da caminhada do outro, e na
igreja grande corpo, grande, é, é, culto, você não consegue saber em mínimos detalhes esse
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ponto, o que o outro está passando, o que o outro está necessitando, e nos pequenos grupos,
você passa a olhar frente a frente com a pessoa. Só de você olhar pra pessoa você sabe o
que a pessoa tá sentindo. E quando você tem esse olhar, com esse, mais apurado, você sabe
que a pessoa tá passando necessidade, você traz ela pra cadeira da benção e nós vamos
interceder por ela naquele momento. Então, a diferença que eu vejo é essa, uma dispersão
no grande corpo, no grande, na grande celebração, é lógico que tem aquele momento é, de
todo mundo tá junto, mas cabou o culto vai cada um pra suas casas, cada um tem os seus
problemas, eu não revelo com ninguém. E no pequeno grupo é diferente, eu compartilho
com o outro, eu compartilho com você, aquilo que eu to sentindo, aquilo que tá me
machucando, aquilo que pode ser, é, é, trabalhado, aquilo que eu to errando, eu confesso
pra você um pecado, eu errei nisso, eu sei que eu errei, eu to querendo pedir perdão, como
que eu faço isso, como que a gente trabalha isso, então, os pequenos grupos trabalha essa
parte, esse avivamento, esse lado a lado, próximo, entendeu?

5p. Entrevistador: E como é que vocês trabalham o grupo pra que se construam uma
relação de confiança a ponto de poder abrir o coração como você está dizendo?
5r. Entrevistado: Então, é, no nosso primeiro encontro a gente revela que tudo o que nós
formos, comentado ali no grupo, que fique dentro do grupo. Então, a palavra sigilo ela tem
que ter essa presença dentro da célula. Porque, o que foi falado ali precisa ser tratado ali,
senão acaba ficando na boca de todo mundo e as coisas não se resolvem assim, né? O
momento de tá intercedendo e na cadeira da benção, eu creio que é um momento muito, é,
é, apropriado “praquilo”, e a palavra sigilo ela tem que fazer parte disso, ela não pode ficar
de fora, então a gente pede que aquilo fique ali, nós tivemos é, um momento deste, de
casais, de um casal querendo se separar na nossa célula, então nós nos comprometemos,
nós ficamos de jejum, nós colocamos a nossa oração em prol daquele casal e os frutos nós
estamos colhendo agora, o casal passou a dar mais uma chance, então, eu mais __, nós
fomos conversar com eles, e apesar de nós termos nove anos de casados, a gente enxerga
que qualquer coisinha pode ser um estopim pra um, um momento de fúria, um momento
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de raiva, um momento, entendeu? Então, se a gente tiver próximo disso e tratar dessas
coisas, a gente vai colher essas, esses frutos, e o discipulado, o tá próximo, a parceria, saber
do outro, entendeu? Entender como que o outro pensa, cada um tem uma cabeça diferente
do outro, mas o Deus é um, o Deus é um só. E o que ele falou pra gente que é pra gente
amar o outro como a ele mesmo, né! Então, são dez mandamentos que se transformaram
em dois, né! “Amarás o teu Deus sobre todas as coisas e amaras o teu próximo como a ti
mesmo” então, isso eu tenho levado essa bandeira junto com a nossa célula.

6p. Entrevistador: Você falou em cadeira da benção, o que é cadeira da benção?


6r. Entrevistado: Cadeira da benção é quando uma pessoa tá passando por uma
necessidade, por uma é, dificuldade, ela já, quando às vezes você chega na célula, ela já
chega aos prantos, pedindo ajuda, então naquele momento a gente joga, as vezes, todo o
roteiro pra fora e vamos orar. Então, nós intercedemos por ela, erguemos nossas mãos, e
fazemos nossa, nosso movimento de fé em saber que Deus vai tratar daquilo, que Deus vai
curar aquele coração angustiado, machucado e Deus vai fazer a diferença ali. Basta, a
pessoa que tá na cadeira da benção, também, abrir o coração. Porque, o coração, eu entendo
que ele é uma, ele tem uma porta de uma fechadura só, e é por dentro. Se você não deixar
Deus trabalhar, ele não vai arrombar não. Então, a cadeira da benção, ela tem essa
finalidade de nós intercedermos, em célula, em grupo, por aquela pessoa que tá
necessitando naquele momento. Já aconteceu várias vezes de nós pegarmos o roteiro de
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célula, deixar de lado, orarmos, depois louvarmos, orarmos novamente, louvarmos e depois
compartilhar, lanchar e concluir a célula.

7p. Entrevistador: Como é a participação dos membros do grupo nos encontros da


célula?
7r. Entrevistado: Então, eu, é, a nossa célula, eu divido em escalas, eu tenho uma escala
que eu posso tá colocando pra que todos participam. Não só, não só uma, uma regra, mas
eu coloco a parte de evangelismo e tento fazer um equilíbrio entre essas pessoas, porque eu
quero que todas as pessoas passem por todas as áreas, pra você entender o que que é
evangelismo, pra você saber o que que é louvor, pra você fazer uma edificação, pra você
ter um trabalho com as crianças, que é muito importante, enquanto que nós estamos em
reunião, as crianças estão na sala delas tendo um trabalho específico pra isso também.
Então, é, é, eu promovo essa integração dentro da nossa célula, eu faço esse planejamento.
É lógico que, por exemplo, hoje a, um membro da célula não vai poder fazer a edificação,
ela já me antecipou e falou “você pode fazer pra mim?” Que, enquanto eu faço, eu, essas
trocas, ah, por problema de saúde, ah, por problema de trabalho, a gente não consegue
prever tudo.

8p. Entrevistador: Certo


8r. Entrevistado: Pra não ficar furado a gente tem uma escala.

9p. Entrevistador: Tá. Mas, além da, da pessoa que tá dirigindo uma parte do
encontro diretamente. No encontro, que tipo de participação há, existe liberdade pras
pessoas compartilharem as experiências delas, como é que acontece o encontro?
9r. Entrevistado: O encontro acontece dessa forma que você está falando. Ela tem a
oportunidade de compartilhar dentro daquele propósito que nós estamos, que, por exemplo,
é, nós vamos trabalhar a célula hoje o que aconteceu no culto de domingo. Então já tem
todo um roteiro, toda uma, uma tratativa do que nós vamos conversar. E dentro daquilo a
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pessoa pode sentir a vontade de compartilhar algo e ela fica a vontade com relação a isso.
As, as oportunidades aparecem, porque nós temos várias perguntas, às vezes são perguntas
diretas e às vezes são perguntas que eu posso levar pra mim responder no meu quarto de
escuta, no momento a sós com Deus então, essa parte é, que há uma interação com a célula.

10p. Entrevistador: E entre os encontros, que tipo de vínculos são criados entre os
membros da célula, durante, entre os encontros, entre um encontro e outro durante a
semana?
10r. Entrevistado: Então, é, nossa célula ela sempre age em promover eventos sociais,
fora disso às vezes um aniversário, às vezes um churrasco num clube, pra ter esses
momentos não só dentro das casas, né! Às vezes um momento de lazer também eu acho
que, acho não, é muito importante, e é neste momento que às vezes a gente pode convidar
os nossos oikós, os nossos visitantes, e saberem, mostrar pra eles que ser um cristão não é
só igreja, ou não é só a célula em si, cristão também chora, sorri, toma banho de piscina,
joga bola, gosta de carne, então, essas coisas todas, e essa é uma forma de interação que
nós ajustamos junto com a célula.

11p. Entrevistador: Alguma preocupação do grupo também com problemas sociais,


com a comunidade de modo geral, pra fora da célula?
11r. Entrevistado: Então, é, nós nos comprometemos a sempre tá levando convidados pra
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célula. Essa parte de, de tá preocupado com o outro, é o mandamento de Deus, né! Que nós
deveremos amar o nosso próximo como a nos mesmos. Como é que eu tenho uma coisa tão
gostosa dentro de mim, uma coisa que eu posso falar, uma coisa que eu posso expressar, e
não vou compartilhar com o outro, então, esse é um ponto que é a preocupação não só da,
da, da liderança da igreja, é uma preocupação acho que geral né! Eu acho que isso é geral.
E essa coisa tem sido trabalhada, isso tem sido trabalhado.

12p. Entrevistador: O que mudou na sua vida depois que você experimentou a célula?
12r. Entrevistado: Então, é, eu posso expressar pra você que mudou muita coisa, mas é
liderando uma, eu não tô sozinho, eu não tô sozinho, além da minha esposa eu tenho uma
rede de relacionamento, uma rede de amigos, onde eu tenho uma cobertura espiritual do
meu supervisor, onde o meu supervisor tem uma cobertura espiritual do pastor de rede, que
é o pastor de rede, e por aí vai, por isso que tem que ser aquele efeito guarda-chuva, né!
Essa cobertura espiritual, eu tenho posso sabe, eu tenho a plena certeza que o meu
supervisor, ele preocupa comigo, ele me liga, ele quer saber como que estão os andamentos.

13p. Entrevistador: O que seria essa cobertura espiritual?


13r. Entrevistado: É, ele tá intercedendo pela vida de seus liderados e essa cadeia sendo
formada, né! E tá próximo e todo mundo o mesmo objetivo, o objetivo de pregar a palavra
de Deus.

14p. Entrevistador: Como é que acontece o discipulado na célula?


14r. Entrevistado: O discipulado, ele acontece de forma, é, quando a pessoa, ela é uma
nova convertida, ela precisa passar pelos estudos, né! Então ela tem o acompanhamento da
pessoa, quando ela vem de outras igrejas, ela precisa de passar por esses mesmos estudos
também, ah, e depois ela pede carta e faz a transferência, a _ vai contar melhor que ela tá
fazendo estudo de discipulado com a _, então ela vai poder falar bem melhor esse estudo.
Na célula passada eu fiz o estudo com um casal, eu fiz com o rapaz e a minha esposa fez
444

com a moça e depois eles se batizaram. Então, o discipulado é mostrar o caminho cristão,
as evoluções, as mudanças que você tem que acontecer normalmente.

15p. Entrevistador: Qual o perigo. O risco, você vê algum risco da célula pra igreja,
que a célula representa pra igreja?
15r. Entrevistado: Olha, é, só se esse perigo que a gente pode sinalizar é se as vezes tiver
uma ruptura, uma ruptura de pensamentos diferentes ou deturpados, né! E a pessoa tentar
levar fiéis ou cristãos para uma outra denominação ou ele fundar a própria, mas eu creio
que dentro do padrão que é estipulado aqui na nossa igreja, eu vejo que nós temos um
cuidado muito especial e uma liberdade muito grande de eu poder compartilhar isso com
nossos pastores. Pra você ter uma ideia, nós temos uma reunião mensal com nossos pastores
onde nós trabalhamos tudo isso.

16p. Entrevistador: O que mudou na igreja com a célula?


16r. Entrevistado: Eu vejo a igreja mais avivada, uma igreja mais forte, uma igreja mais
determinada, uma igreja mais, é, sabendo aonde quer chegar, com uma visão e com uma
missão, então e vejo uma igreja determinada em pregar a palavra.

17p. Entrevistador: Obrigado.


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FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 02/04/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
30 anos Jardim Camburi PIBJC 25

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com célula


1r. Entrevistada: Bom, eu conheci a célula faz uns doze anos. E assim, tem me ajudado
muito a entender mais, a ter mais relacionamento com as pessoas, sabe, a ter mais amizades,
às vezes a gente entra na igreja a gente fica meio perdido, então, a célula serve pra isso,
serve pra gente conhecer pessoas. A partir do momento que a gente tá lá dentro. Experiência
minha, que eu entrei, meu foco agora é convidar pessoas, pra que ela cresça, para que mais
pessoas possam conhecer mais a Palavra de Deus e tem me ajudado muito.

2p. Entrevistador: Você fez parte de igreja, Igreja Batista sem células, sem o pequeno
grupo, ou não?
2r. Entrevistada: Se eu comecei?

3p. Entrevistador: Não, se você chegou a fazer parte de uma igreja que não tinha o
pequeno grupo.
3r. Entrevistada: Não. Quando eu entrei, quando eu conheci a Batista ela já fazia parte, já
tinha célula, então eu já entrei na igreja e já comecei a participar.

4p. Entrevistador: Célula contribuiu de alguma maneira pra você vir pra Igreja
Batista?
4r. Entrevistada: Não. Eu conheci a Igreja primeiro pra depois eu entrar na célula. Quando
eu conheci a Igreja, sempre falavam “vamos participar de célula” entendeu? E eu não sabia
o que que era. E aí quando eu fui conversar com o pastor na época, ele me explicou que
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eram os pequenos grupos que estavam ali pra oração, pra ajudar, relacionamento e tal e eu
comecei a participar.

5p. Entrevistador: Como você, é, descreveria a igreja hoje, a igreja que você faz parte?
5r. Entrevistada: Uma benção. Nossa, eu descreveria ela como uma casa de Deus mesmo.
Achei pessoas muito ali que, pessoas abençoadas demais, claro existem pessoas que deixam
a desejar, mas o meu foco na verdade é Deus, e as pessoas aqui, com quem eu convivo,
nossa uma benção! Eu descreveria a igreja como uma igreja correta, que visa mesmo a
presença de Deus, sabe, que visa fazer a vontade de Deus é como eu sinto aqui, como eu
me sinto.

6p. Entrevistador: Como a célula contribui pra isso?


6r. Entrevistada: Pra tudo isso?

7p. Entrevistador: É.
7r. Entrevistada: Pra eu... Nossa...

8p. Entrevistador: Pra igreja cumprir a sua missão, como você tá dizendo
8r. Entrevistada: Nossa, como que ela contribui, nossa, tantas coisas! Olha, na verdade
assim, quando eu vou no culto, as vezes a gente contribui, pra mim, falando pessoalmente,
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às vezes eu não assisto tanto o culto que eu fico com as crianças. Então, assim, ela, ali
dentro da célula ela me ajuda a ver vários focos que às vezes eu não vi na palavra, que eu
não ouvi, então assim, ela me ajuda a ter vários amigos. Porque às vezes a pessoa vai na
igreja e a igreja é tão grande, a nossa pelo menos é enorme, mais de mil e duzentos, sei lá,
membros, então não tem como a gente falar as nossas experiências, contar o que que a
gente passa. É muito rápido ali no culto, então a célula contribui a isso, ela me ajuda a
conversar, a ter...

9p. Entrevistador: E como acontece esse compartilhar de experiências nos encontros


da célula?
9r. Entrevistada: Como que funciona a célula que você tá perguntando? Bem, a gente
chega, a minha, por exemplo, começa sete e meia, a gente lancha primeiro, foi uma
mudança que nós fizemos, as pessoas estavam chegando com fome, então a gente lancha,
ali compartilha momentos, do dia a dia, depois começa o louvor. Que a gente louva a Deus,
canta os cânticos para Deus, depois tem o evangelismo, que é falado sobre o nosso oikós,
oikós são pessoas que a gente tá ali orando por eles, cada um escolhe uma pessoa pra orar,
e ali é compartilhado, a gente ora, buscando pessoas, ora pelas pessoas que são, que não
são do nosso meio, que não conhece a palavra e tem a edificação, que é falado sobre o culto
do domingo e as experiências pessoais, é assim que funciona.

10p. Entrevistador: Como é que se organiza uma célula, que critérios são usados pra
definir quem vai fazer parte de que célula?
10r. Entrevistada: Como assim?

11p. Entrevistador: Que critérios são usados pra definir os membros, os integrantes
daquela célula especificamente?
11r. Entrevistada: Vou te falar o que aconteceu comigo. Quando eu entrei aqui na Igreja
Batista, que eu vim de ____, eu já cheguei na igreja falando que eu queria participar de
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uma célula, então eles me colocaram numa célula que eu conhecia uma pessoa e logo depois
essa célula se multiplicou e eu fui entrar numa célula que inclusive minha prima estava
nela, sem eu saber, que minha prima também era nova aqui. Então eles encaixaram quatro
casais que eles viram que talvez poderia dar certo, e ai começou a nossa célula, com quatro
casais, e aí ela foi crescendo, eu convidei um casal na época, ela cresce através de pessoas
que a gente chama, de convidados. A minha célula hoje, desses quatro, desses quatro casais
que eu participei, ela já multiplicou duas vezes, virou duas, e depois cresceu de novo e
virou mais duas, e agora nos começamos no final do ano passado com dois casais e três
mulheres que os maridos não participam e hoje já tem outro casal, já tem a mãe de uma
outra menina, já tem mais três convidados que eu chamei. Então...

12p. Entrevistador: Quantas pessoas são necessárias pra célula poder se multiplicar?
12r. Entrevistada: A partir de, vamos supor, uns seis casais ou umas sete pessoas, mas
geralmente fica maior, porque até a gente achar um líder, que eu tenho, eu como líder eu
tenho que buscar um outro líder, então, as vezes eu tenho dificuldade em treinar as pessoas,
porque as vezes eles não querem.

13p. Entrevistador: Como surgem as lideranças?


13r. Entrevistada: Oração. No meu caso é oração, porque é o que mais a gente tá
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precisando. As pessoas às vezes não querem essa responsabilidade. Então, pra mim, eu
estou orando porque eu tenho um casal que é o único, pra mim, a meu ver, é o único casal
que eu posso indicar, então eu estou orando porque eles não estão querendo agora. Então,
no meu caso, no caso da nossa célula, eu oro a Deus, eu pergunto quem seria, eu vejo quem
tá mais estável, pra ter uma base também, na célula tem que ser uma casal que se trata com
amor, com carinho, que esteja estável, que consiga ouvir, que consiga liderar também, essas
coisas.

14p. Entrevistador: Qual é o espaço, como a Bíblia é utilizada no encontro da célula?


14r. Entrevistada: Bem, a gente sempre abre na hora do louvor, a gente não só canta, mas
ali sempre dá uma palavra, uma palavra que seja voltada para o louvor e na edificação
também, palavra que seja voltada pra buscar pessoas, pescar pessoas pra Jesus, e a
edificação a gente geralmente abre no texto que o pastor abriu e algo semelhante também,
algo que você, porque a edificação você fala a respeito do texto que o pastor mas a gente
dá uma experiência pessoal, então muitas vezes a gente busca também textos que sejam
semelhantes com o texto do pastor e que possa descrever a experiência que nós tivemos.

15p. Entrevistador: E o discipulado, como é que acontece, na célula, o discipulado?


15r. Entrevistada: O discipulado é assim, vamos supor, entrou uma pessoa na minha
célula e essa pessoa se converteu ali, ou num culto, ou através da nossa célula, então eu
começo o discipulado com ela, faço uns três, quatro livrinhos que a igreja, ela indica e aí,
eu estou até fazendo um discipulado com uma menina, eu comecei a fazer com uma menina
da minha célula e assim, toda semana eu encontro com ela, então, a gente estuda o livro, e
ali ela me faz perguntas, quando eu não sei responder eu busco e no outro dia eu respondo,
só.

16p. Entrevistador: Qual o tipo de preocupação, como é que os membros da célula se


preocupam um com o outro ao longo da semana?
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16r. Entrevistada: Bem, a correria às vezes faz com que a gente esqueça de ligar. É, a
gente tem um whatsapp, um grupo da célula que nós criamos semana passada, então, ali a
gente conversa durante a semana entre si, a gente tem e-mail, um grupo no e-mail também
que ali a gente vai conversando, esse e-mail até já faz parte há mais tempo, whatsapp é
novo, o grupo, e a gente liga toda vez que a gente vai sair sexta, eu sempre procuro sair
com alguém, eu sou muito receptiva na minha casa, então, eu sempre chamo, uma semana
ou outra eu sempre to chamando um casal pra ficar ligado neles.

17p. Entrevistador: Como é que a célula contribui para o aprofundamento da


comunhão entre as pessoas, ou não contribui, como é que você vê isso?
17r. Entrevistada: Se reunir toda semana contribui.

18p. Entrevistador: Então a célula de modo geral contribui pra que haja um
aprofundamento na comunhão entre os membros?
18r. Entrevistada: Ah, com certeza, pra mim contribui.

19p. Entrevistador: Só para o grupo ou inclui também outras pessoas?


19r. Entrevistada: Olha, como eu te falei, na célula eu sempre, eu não quero, eu sempre
tenho o foco de não ficar dentro de uma panela, entendeu? Então, eu sempre falo com as
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pessoas, gente, vamos chamar convidados, a edificação da semana passada fez o que, era
pra dar um bombom pra pessoa que você tivesse orando, então assim, a gente sempre quer
que novas pessoas cheguem. Eu quero que minha célula multiplique mesmo, eu quero que
ela cresça, porque quanto mais ela crescer, mais pessoas vão ta conhecendo a Palavra de
Deus. Então ela ajuda muito e nós queremos sim, não queremos ficar em panela, mas nós
queremos viver em comunhão e buscar mais pessoas.

20p. Entrevistado: Como é que, que tipo de contribuições a célula traz para a igreja
como um todo?
20r. Entrevistada: Que tipo de contribuição a célula traz para a igreja... Eu acho que
quando você tá vivendo em comunhão ali nos pequenos grupos, ajuda você a crescer de
uma tal forma, através dos relacionamentos e de experiências de outras pessoas que quando
você chega no culto você tá mais preparado, você vivendo a comunhão entre as pessoas
que é o que Deus pede, ajuda você a ter assim, um foco espiritual melhor pra você também
ali no culto, no culto saber conversar com a pessoa, eu sempre chego perto das pessoas no
culto mesmo perguntando se ela já participa de alguma célula, se ela já está aqui há mais
tempo, eu acho que se não tivesse a célula dentro de mim, como um foco, de ver, ganhando
pessoas pra Cristo, talvez eu nem chegaria nem na pessoa no culto, então ajuda você ter
mais assim, a visibilidade do que Deus quer pra sua vida, entendeu? Eu acho bom.

21p. Entrevistador: E traz algum perigo, pra igreja, a célula?


21r. Entrevistada: Não. Porque a pergunta? Acho que não. Eu acho que quando você, eu
acho que o perigo existe quando você deixa de colocar Deus como seu foco. Eu acho que
uma célula pode trazer perigo se você não estiver vivendo de acordo com a vontade de
Deus. Então assim, se você não tá vivendo, e seja em célula ou no culto, de qualquer forma
vai trazer o perigo porque você não tá vestidas como, como se você não tivesse vestido
com as armaduras do Senhor, então, perigo por esse lado, se você não tiver vivendo de
acordo com a presença do Senhor, sim.
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22p. Entrevistador: Obrigado!


22r. Entrevistada: Nada!

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 03/04/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
34 anos Jardim Camburi PIBJC 26

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você é membro da igreja?


1r. Entrevistada: Eu, eu venho de uma outra igreja, que é a _, lá eu fiquei por sete anos,
quando meu filho mais velho não tava querendo participar mais dos cultos, não tava
querendo ir. E aí meu marido não é evangélico, não é batizado e aí ele ficava batendo de
frente comigo, deixa ele em casa, e eu queria levar, deixa em casa e eu queria levar, até que
ele pegou e falou que se eu ficasse obrigando, que não era pra ninguém ir mais, que não
achava certo isso, levar ele por obrigação. Até que o filho da ____, que é o __da sala dele
convidou pra vir a um evento de crianças aqui na igreja, e meu filho veio, e foram quatro
dias de evento, todos os dias ele participou, nós participamos, e aí, meu filho, no último dia
falou: mãe, eu quero ser dessa igreja. Isso tem um ano mais ou menos, mas que eu comecei
a participar da célula tem mais ou menos uns oito meses, não tem tanto tempo assim.
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2p. Entrevistador: E como é que está sendo sua experiência com, fazendo parte desse
grupo?
2r. Entrevistada: Maravilhosa! Só tenho coisas boas pra falar. Principalmente no ano
passado que era rodízio, cada semana era em uma casa. Meu marido ele é bem resistente,
era, não tá sendo mais, ele era bem resistente a isso não gostava muito dos cultos na minha
casa, mas mesmo assim eu sempre pedia a autorização dele pra que tivesse a célula em
casa, ele aceitava, e começou a participar. No começo ele fugia, depois ele começou a
participar até acontecer alguns momentos dele tocar na célula, nos louvores, e hoje ele tá
participando, não assiduamente, mas de vez em quando vai e até gosta muito quando vai.

3p. Entrevistador: Que benefícios a célula trouxe pra você?


3r. Entrevistada: Eu antes, achava que o crente mão tinha problemas, achava que só eu
tinha. Eu via todo mundo muito maravilhado, todo mundo sorrindo, todo mundo muito
feliz, e eu pensava: só eu que tenho problemas? Eu não conseguia ver, e na célula a gente
compartilha muito tudo que, todas as nossas experiências, tanto boas quanto ruins, então
eu comecei a perceber que todo mundo é normal, que todo mundo tem dificuldades, que
todo mundo tem suas felicidades, e acrescentou muito a minha convivência na minha casa,
tanto com meus filhos quanto com meu marido também, fez muita diferença.

4p. Entrevistador: E no seu relacionamento com Deus, que tipo de benefícios o


pequeno grupo trouxe?
4r. Entrevistada: Me aproximou mais. Eu não tinha muito o hábito de orar, assim, orar
mesmo aos pés do Senhor, me entregar, assim, abrir meu coração, era uma coisa mais
mecânica, era mais, ah Senhor, se for da tua vontade, era uma coisa mais, assim, superficial,
não tinha muito aquela intimidade que eu estou tendo agora, ainda estou aprendendo, to
caminhando, é como se eu tivesse me batizado agora sabe, parece que agora que eu to
começando a entender as coisas, acho que a célula acrescentou muito isso.
449

5p. Entrevistador: Em termos de igreja, você participou de uma igreja que não tinha
o pequeno grupo e agora você participa de uma igreja que tem o pequeno grupo. Que
diferença você vê entre uma igreja que tem e uma igreja que não tem o pequeno
grupo?
5r. Entrevistada: Eu fiquei resistente vindo aqui, pra essa igreja, pelo tempo do culto,
achava duas horas muito tempo, nossa, ficar duas horas sentada, não, sabe, fiquei um pouco
resistente e também a quantidade de pessoas, achava assim, ah mil e quinhentos membros,
eu vou ser o que ali? Um grãozinho de arroz, ninguém vai me notar e, não querendo falar
mal da denominação que eu vim, que foi onde eu conheci Deus, onde me entreguei, mas
assim, eu me sinto muito mais acolhida aqui, eu me sinto muito mais amada, eu me sinto
muito mais abraçada mesmo sabe, eu tenho muito mais amigos aqui do que eu tinha antes,
antes meus amigos eram mais do mundo mesmo assim, eu não tinha amizades dentro da
igreja, eram só pessoas de fora, na igreja era só eu e Deus mesmo, não era eu e as pessoas
não, era eu e Deus.

6p. Entrevistador: Então você vê diferença na forma como as pessoas são acolhidas?
6r. Entrevistada: Muita diferença. Tem muita preocupação, muito carinho,
companheirismo, oração; a oração faz toda diferença eu acho sabe, quando a gente ora ali
abraçado, uns pelos outros, eu sinto muito, muito carinho mesmo, me sinto acolhida ali.
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7p. Entrevistador: No pequeno grupo, na célula, que tipo de, o que você mais gosta na
célula?
7r. Entrevistada: Eu gosto de muita coisa, acho que cada pedacinho é bem importante,
mas eu acho que quando a gente compartilha as nossas experiências ali na célula, eu acho
que é o que eu gosto mais assim é onde eu vejo mais a transformação nas vidas das pessoas,
na minha, a gente tem sempre essa preocupação em ta falando as nossas, os nossos
testemunhos na célula, eu gosto muito.

8p. Entrevistador: Que tipo de relacionamentos vocês estabelecem como grupo, entre
os encontros tem algum tipo de preocupação uns com os outros, com é que funciona
isso?
8r. Entrevistada: A gente sempre expõe, se alguém tem algum motivo especial de oração,
ou se alguém quer falar, dar um testemunho, a gente se preocupa em fazer convites também
pras pessoas que não são batizadas, que não conhecem Jesus, e aí a gente, assim, acho que
é um conjunto de fatores mesmo, cada coisa assim que vem, que acontece forma a célula,
então, acho que tudo isso é muito importante.

9p. Entrevistador: E qual a preocupação que a célula tem com a sociedade de um


modo geral, há uma preocupação de olhar pra fora do grupo, pra se envolver, se
engajar em alguma causa social, como é que funciona isso?
9r. Entrevistada: Ano passado teve, é porque quando eu entrei na célula ela já estava em
andamento, assim, não estava começando igual agora a nossa já é, já foi feita uma
multiplicação, da que eu participava o ano passado já foi multiplicada, então agora a gente
tá com outra mais novinha, o pequeno grupo que era muito grande e o ano passado teve
450

sim uma ação social, não me lembro o bairro agora, mas era num bairro bem distante assim,
do centro __, tipo, quase uma rocinha, assim, na roça, bem agropecuário, sei lá, bem
distante mesmo do ___, e lá foi feito evangelização, foi levado mantimentos, foi levado
roupas, calçados, muitas coisas pras pessoas que moram lá e passam dificuldades. E foi o
que a nossa célula participou no ano passado, esse ano a gente ainda não teve nada parecido.

10p. Entrevistador: Ok! Você falou em multiplicação, como é que funciona essa
questão da multiplicação na célula?
10r. Entrevistada: É porque o líder de célula, ele precisa, ele precisa dar atenção pra todo
mundo, todo mundo precisa dele e ele vai ter que conduzir. E quando esse grupo cresce
muito, eu não sei exatamente a quantidade de pessoas que tem, que pode ter, mas eu sei
que quando cresce muito ela não vai conseguir dar conta de dar essa atenção pra todo
mundo então ai, multiplica-se, não divide, muita gente fala há dividiu nossa célula, mas
não, ela multiplicou, então a célula, algumas pessoas ficam em uma e outras vão pra outra
e ai, torna-se, dali vão sair novos líderes, dali vão sair novos...

11p. Entrevistador: Esses novos líderes, eles nascem de dentro da célula mesmo, como
é que eles são preparados?
11r. Entrevistada: Então, ai eu acho que agora a __ que vai saber te explicar melhor,
porque ela ainda o ano passado era, ela era minha líder, e esse ano continua sendo, então,
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eu acho que ali dentro ela já tá preparando pessoas pra ficar no lugar dela.

12p. Entrevistador: Muito bem. E o discipulado, como é que acontece o discipulado


na, na célula?
12r. Entrevistada: O discipulado é a _ que é a minha líder, ela vai na minha casa ou eu
vou na casa dela, mas na maioria é na minha casa porque eu tenho criança pequena e
geralmente tá num horário que tá dormindo, ai ela vai na minha casa e ai juntas nós oramos,
nós compartilhamos ainda das nossas necessidades, tanto ela pra mim quanto eu pra ela, e
ali a gente confessa nossos pecados uma pra outra, a gente faz uma troca muito legal e ali
ela também me dá todo o aparato, assim, pra poder caminhar melhor, nas coisas.

13p. Entrevistador: Certo. E a questão da Bíblia, qual o lugar da Bíblia tanto no


discipulado como no encontro da célula, como é que a Bíblia é usada?
13r. Entrevistada: A gente usa bastante, assim, na abertura da célula, a gente lê versículos,
nos louvores, na edificação, no final também a gente sempr se baseia em algum versículo
da Bíblia pra fazer a célula, o encontro. E no discipulado é o tempo todo também, a gente
usa bastante a Bíblia, a gente faz bastante o estudo da Bíblia também, a gente se baseia o
tempo todo na Bíblia.

14p. Entrevistador: Muito bem. E, com relação ao funcionamento da igreja, como é


que você vê que a célula influencia o funcionamento da igreja, da igreja como um
todo?
14r. Entrevistada: Ah, eu nunca parei pra pensar nisso. Deixa eu ver agora... como que a
célula influencia no funcionamento da igreja...

15p. Entrevistador: Que benefícios a célula traz pra igreja como um todo?
15r. Entrevistada: Eu acho que algumas pessoas que se sentem inibidas de vir ao culto,
passa na frente da igreja, pensa em entrar e se sente coagida assim, não vou entrar não, na
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célula, na casa, das pessoas onde a célula acontece, um vizinho escuta um louvor, escuta
um pouquinho, às vezes a gente tá falando um pouco mais alto, dá pra escutar o testemunho,
e eu acho que ali ela pode se aproximar mais, através da célula ela pode vir a igreja e
começar a participar.

16p. Entrevistador: Hum! E você, a, quais são suas expectativas daqui pra frente em
relação a célula?
16r. Entrevistada: Bem, as minhas expectativas em relação a célula é mais voltada pra
minha família mesmo porque a minha mãe, o meu marido, o meu irmão, a cunhada, a minha
cunhada, esposa do meu marido, do meu irmão, ela, eles eventualmente participam da
célula, quando eles participam elas falam muito bem, gostam muito e através da célula eles
começaram a vir ao culto também, então assim, sempre convido, sempre, então, eu acho
que a célula vai ajudar a ganhar essas vidas ai. Através da célula eu vou conseguir trazê-
los pra Igreja.

17p. Entrevistador: O que você diria pra uma pessoa que faz parte da igreja, mas
não faz parte de uma célula?
17r. Entrevistada: Ah, eu falaria que é pra fazer, porque principalmente em relação ao
relacionamento com as outras pessoas, porque como a igreja tem muitos membros, você
não consegue fazer uma amizade assim, sei porque hoje senta uma pessoa do seu lado no
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banco, amanhã vai sentar outra, amanhã vai sentar outra, então, pra você fazer uma amizade
na igreja, é muito difícil, pode acontecer, mas é muito difícil. E a célula nos proporciona
isso, um relacionamento, amizade.

18p. Entrevistador: Muito obrigado.


18r. Entrevistada: Então tá.

FUNÇÃO: Líder de célula SEXO: Feminino DATA: 03-04-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
43 anos Jardim Camburi PIBJC 27

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre célula na sua vida.


1r. Entrevistada: Na minha vida, ela sempre foi muito, muito importante, nos momentos
difíceis, pra trazer alegria também né, a comunhão, eu to em célula, tive fora de Vitória
uns três anos mas to em célula desde que começou né, dois mil foi minha primeira célula,
fiquei um ano, dois, depois fui pro Rio, depois voltei, morei em ____, ____E agora faz
cinco anos que eu to aqui de volta, eu to em célula, pra mim sempre foi muito importante,
porque a gente encontra uma segunda família, o povo de Deus, que apoia a gente, fica com
a gente, que a gente também pode servir, ajudar, servir a Deus. Ser útil.

2p. Entrevistador: Você conheceu bem, você fez parte, conheceu bem uma Igreja
Batista sem célula e agora conhece uma com célula, qual a diferença que você vê?
2r. Entrevistada: Então, eu fiz parte daqui também, no tempo que não tinha célula. Em
___ também. Eu vejo que a igreja cresceu, eu vejo que a qualidade da comunhão, dos
relacionamentos cresceram, hoje, a gente dificilmente a gente encontra alguém sozinho na
igreja. Então a célula, ela proporciona muito isso, ela proporciona a integração daqueles
que chegam, daqueles que se convertem, logo eles encontram é... Amigos né? Uma
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comunidade onde eles podem fazer parte, mesmo que seja bem pequeno, de vinte, de
quinze, mas aquilo lá é parte disso, acho que isso ajuda muito na permanência da, da pessoa
lá na igreja, com Jesus, na vontade de crescer, então eu acho que esses pequenos grupos
eles são importantes nisso, eu vejo essa diferença. Jardim Camburi cresceu muito, depois
das células o crescimento dela foi, foi mais rápido do que os anos anteriores.

3p. Entrevistador: Além do crescimento, o que aconteceu na igreja depois de célula,


qual o impacto que célula causou na igreja em termos, por exemplo, de funcionamento
da igreja?
3r. Entrevistada: Bem, funcionamento que você fala das pessoas?

4p. Entrevistador: Em termos estruturais.


4r. Entrevistada: Ah, bem, eu vejo que já falei a questão das pessoas, isso pra elas é
importante, a gente vê o povo muito satisfeito de falar que pertence a uma célula agora, do
ponto de vista estrutural, de dentro, que você tá falando assim, da estrutura
administrativa.Eu acho, minha opinião que é muito, eu acho mais difícil de administrar, eu
acho que a liderança tem mais trabalho assim, porque, porque as pessoas são muito
diferentes. Então, cada líder, por exemplo, na nossa igreja tem mais de cem líderes de célula
aí, cada líder desses tem um estilo, tem um jeito, então, o que acontece, as pessoas sai de
uma célula e às vezes vão pra outra, quando há multiplicação, há um novo líder, é questão
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de comparação né? Então começa criar problemas, às vezes tem problemas, às vezes um
líder que não tá liderando direito e uma outra coisa que eu tava até em casa hoje pensando,
não sei porque que eu pensei nisso, acho que eu lembrei de um amigo que disse que não
queria célula na igreja dele é a questão de que os problemas individuais das pessoas,
pessoais, aparecem mais, chega lá no pastor, porque ele tem uma pessoa cuidando dele.
Então ele tem um líder mais perto que cuida dele que comenta esse problema com o
supervisor, o supervisor comenta com o pastor então o pastor tem condições de cuidar
melhor, mas gera muito mais trabalho.

5p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja a existência do pequeno grupo, a
existência da célula, você vê algum perigo, algum risco pra igreja como um todo?
5r. Entrevistada: Não. Como um todo não. Na igreja muitos incêndios, mas não um risco
como um todo. Eu acho que se for bem administrado esses problemas, os conflitos
interpessoais, se houver coerência da liderança, ajuda da liderança, participação na
resolução disso, vai bem. Agora o pastor tem que ter muita, pastor chefe mesmo, os
pastores, tem que ter muita sabedoria na administração disso porque às vezes nenhuma das
partes tem razão, as duas partes tem razão, a gente vê isso acontecendo aqui, e às vezes há
rachas, sai da igreja depois volta, acontece, mas o crescimento, o envolvimento, a
produtividade. A satisfação é tudo muito maior do que isso, então assim, vale a pena o
trabalho, vale a pena o trabalho pastoral.

6p. Entrevistador: Como você descreveria a sua igreja hoje?


6r. Entrevistada: Minha igreja. É uma igreja dinâmica, é uma igreja acolhedora, tem que
melhorar mais ainda no acolhimento, mas já é muito acolhedora. E é uma igreja que eu vejo
que tá buscando mesmo a agradar ao Senhor. Eu tenho orgulho, de, assim, orgulho santo
de pertencer a essa igreja. Então, eu vejo ela assim, se eu olhasse de fora, acho que eu veria
assim.
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7p. Entrevistador: Na sua vida, qual o impacto que a célula causou na sua vida?
7r. Entrevistada: Bem, eu tive dois, foram dois tempos na minha vida, um em que eu
precisei muito da célula, então eu tava com muitas feridas, com muita sede, então a célula
me alimentou. Depois eu tive um período em que eu fiquei desanimada, mas então um dia,
o Senhor falou comigo que não era mais tempo de eu receber, era tempo de eu dar, então,
eu já tinha sido realimentada, eu estava fortificada e agora a minha, meu foco deveria se
dar, doar. Então, hoje, a célula pra mim é isso. É de dar entendeu? É um tempo de eu ser
usada, de eu ser usada pelo Senhor na vida das pessoas.

8p. Entrevistador: Como é que as pessoas participam numa célula, que tipo de
participação elas tem?
8r. Entrevistada: Na reunião ou num todo? Num todo né?

9p. Entrevistador: Na reunião e num todo.


9r. Entrevistada: Tem uma, tem uma coisa que eu acho muito legal na célula que é o
desenvolvimento dos dons da pessoa. Então, se ela é uma pessoa tímida ela acaba tendo
que lutar contra isso e pra fazer uma edificação, pra dirigir um louvor, isso é muito legal, a
gente vê a pessoa se desenvolvendo, se soltar pra fazer a edificação, por exemplo, e então
a participação delas durante as reuniões acredito eu que gera isso e gera aquela
sensibilidade para o Espírito. Pra se deixar ser usado e na família como amigo assim, a
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gente também vê esse tipo de crescimento de comunhão então, a participação delas, a gente
tá em células que são desanimadas, tem células que são mais animadas e a gente vê que
essas células mais, que saem mais, que comungam mais, as pessoas são mais alegres, mais,
mais divertidas.

10p. Entrevistador: De que forma a célula contribui para um aprofundamento da


comunhão entre os irmãos?
10r. Entrevistada: O fato da gente se encontrar, mesmo que seja duas horas por semana,
começa a gerar na gente uma amizade, um calor assim, entre a gente, a gente começa,
telefona durante a semana, se tem alguém doente a gente liga, a gente ora, a gente pergunta,
a gente se preocupa, a gente se importa uns com os outros, então, esse grupinho, eu não sei,
eu penso que esse grupinho de vinte, vamos supor, começa a acontecer isso, não é uma
coisa da noite pro dia, a minha célula por exemplo, essa que eu to agora, multiplicou agora
a dos meninos, mas eu tava na célula da _, já são um ano que a gente, nós demoramos mais
ou menos um ano pra dizer assim eu tenho, agora eu tenho intimidade, agora eu to solta
perto dessa pessoa. Então, não é uma coisa assim rápida, mas e aí o que acontece quando a
gente cria isso, a gente aprende a criar isso, a gente começa a ver que isso é possível que
chegar e cumprimentar um irmão, uma pessoa que acabou de entrar na igreja, eu to mais,
eu fico mais solta pra isso, eu vejo isso acontecendo também.

11p. Entrevistador: As pessoas têm oportunidades na célula, agora pensando mais no


encontro, de compartilhar as suas experiências, como é que isso acontece nos
encontros da célula?
11r. Entrevistada: A gente tem oportunidade, a questão é tempo, porque, o que a gente
tem vivido, o que a gente tem vivido é uma correria, é um tempo corrido, a célula no
máximo duas horas, isso levando em consideração o início . A gente conversa um
pouquinho e no final que a gente tem o lanche e também conversa de novo. Então, são mais
ou menos duas horas, precisava, precisaria de mais tempo porque a gente, quando a gente
454

começa falar, na edificação, a célula, você envolve um pouco mais algum problema que as
pessoas estão passando, um ou dois tem a oportunidade de falar, se tiver ainda, se tiver, a
gente entende que é um momento pra isso, mas ao mesmo tempo tem a questão do tempo.
Por exemplo, a minha, essa célula tem, todo mundo tem filhos, crianças, então, a gente faz
tudo pra acabar dez horas porque, tem que ir pra casa ainda, botar filho pra dormir, no outro
dia trabalhar. Então existe essa oportunidade, mas ela é muito corrida, ela não tem muita
qualidade, hoje é o que a gente vive aqui.

12p. Entrevistador: E entre os encontros, tem algum tipo de vínculo que se fortalece
entre os membros da célula entre os encontros?
12r. Entrevistada: Tem. Tem sim. Nós já fizemos vários passeios, parte da célula. Na
maioria deles são parte da célula, nem todo mundo consegue ir, nós temos também os
encontros de parceria ou de discipulado a gente encontra. Um fica com dois, se encontra
durante a semana, então a gente acaba desenvolvendo mais ainda intimidade com essa
pessoa que a gente se encontra, a gente tem esse tipo de, a minha célula tem.

13p. Entrevistador: E o cuidado mútuo, como é que acontece?


13r. Entrevistada: Ah, cuidado mutuo acontece. A gente acaba, se alguém tá passando por
algum problema a gente liga, a gente manda e-mail, a gente vai até a pessoa pra ajudar
cuidar dessa pessoa. Em dias alegres também a gente também partilha, aniversário, uma
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vitória que a pessoa alcançou então, mais assim, eu também acho que ainda precisa, que a
gente precisa melhorar muito, ainda tem um bom chão pra caminhar pra isso virar uma
coisa assim de fluir.

14p. Entrevistador: Se você pudesse apenas citar, quais seriam os objetivos de uma
célula?
14r. Entrevistada: Os objetivos, cuidado mútuo, eu acho que esse é o essencial, é o que
faz a igreja crescer, tanto em quantidade quanto em qualidade. O evangelismo e o
discipulado. Esses três.

15p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja o pequeno grupo, a célula?
15r. Entrevistada: Não, não vejo. Eu vejo que os problemas que tem são bem menores se
comparado aos resultados que podem trazer, os resultados positivos que podem trazer.

16p. Entrevistador: Você lidera uma célula de juniores, como é que acontece o
discipulado na célula de juniores?
16r. Entrevistada: Então, é uma célula protótipo. Começou, tá começando comigo e meu
esposo e agora, faz um mês que nós estamos nos reunindo porque ela foi uma multiplicação
da minha célula. A minha célula tava com trinta pessoas, mais de trinta, desses trinta, onze
eram juniores então nós multiplicamos. E agora a gente vai acontecer, eu vou fazer o
discipulado com as meninas, mas as meninas que não tem uma família evangélica ou que
é oikos. Que ainda é alguém que tá começando. Meu esposo vai fazer o discipulado com
os meninos, de quem não tem pais evangélicos e alguns nem tem. Alguns são divorciados,
os pais moram longe. Agora, o discipulado mesmo deles, quem faz, dos crentes dos
cristãos, aqui da nossa igreja mesmo, são os pais, cada pai faz seu discipulado.

17p. Entrevistador: Até que idade?


455

17r. Entrevistada: Aqui na igreja? Até ele alcançar uma maturidade que ele possa fazer
com outro sozinho. Então, aqui na igreja, até adolescente, lá pelos seus quatorze anos ainda
é o pai, a gente tá trabalhando nisso. Não é uma coisa ainda também é... Como eu vou
dizer, que tá assim, na alma de todo mundo não, a gente tá trabalhando, sempre falando
sobre isso.

18p. Entrevistador: E como a Bíblia é utilizada no encontro de célula?


18r. Entrevistada: A gente usa a mesma ministração do domingo, o mesmo texto bíblico.
O pastor manda a carta da célula, com os pontos que ele anotou na mensagem de domingo.
Na minha célula, a gente pega a bíblia e lê, a gente lê o texto e depois a gente fala e depois
a gente compartilha através de perguntas e respostas.

19p. Entrevistador: Você recomendaria célula para qualquer igreja?


19r. Entrevistada: Recomendaria

20p. Entrevistador: E quais seriam os seus argumentos?


20r. Entrevistada: Ah, os argumentos, todos esses que te falei. A comunhão, o cuidado,
porque numa igreja que de cem membros um pastor e alguns diáconos podem tomar conta
do povo, saber de todo mundo, individualmente, que na questão, mas chegou nos duzentos
esses, esses pouquinho já não vão mais alcançar, então, aquela pessoa, algumas pessoas
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vão começar a ficar sem esse acompanhamento, sem o cuidado e poxa, a Bíblia fala tanto
disso. Do relacionamento, da comunhão, da igreja, da confissão, de orar uns pelos outros.
E a gente vê que o pastor não tem condição de fazer isso então, eu recomendaria por isso,
porque a gente quer ver o povo de Deus crescendo, as igrejas crescendo, brilhando na
comunidade, ajudando a comunidade e a célula. Agora, não é fácil. Foi bem, foi um tempo
esses quatorze anos aí foi bem. Agora que tá, que a gente pode dizer que tá bom, ainda tem
muito pra melhorar.

21p. Entrevistador: Ok, obrigado!

FUNÇÃO: Pastor de rede SEXO: Masculino DATA: 09-04-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
43 anos Jardim Camburi PIBJC 28

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com células


1r. Entrevistado: Bom, a minha experiência com células já tem doze anos, o tempo que
eu estou aqui nessa igreja, como pastor auxiliar, e eu pude entrar aqui bem no início do
processo, o processo estava acontecendo perto de um ano quando eu cheguei, e participei
de alguns dos primeiros grupos de células que foram formados aqui. Então eu participei
dos intensivos de reciclagem, do processo de transição de uma igreja tradicional para uma
igreja em célula, fui membro de uma célula, e eu pude passar por quase todas as etapas, ou
por todas eu posso dizer, porque eu fui líder de célula e hoje sou líder de célula ainda,
supervisor de célula, pastor de rede e pastor de congregação, então, atualmente estou com
umas trinta e cinco células debaixo de meu pastoreio. A minha experiência com esta visão
celular nesses doze anos tem a ver com o exercício de quase todas as atividades no âmbito
de uma célula, todas elas, e todas as atividades ligadas a liderança também, das células, e
tem sido uma experiência fantástica, extremamente produtiva, porque me permitiu a prática
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de valores que eu já cria e já defendia, mas que, em outra estrutura e em outro estilo de
igreja eu não encontrava espaço para esse exercício. Então, a prática do sacerdócio
universal dos crentes, essa é uma doutrina muito fundamentada no nosso meio Batista, mas
que na minha prática eclesiástica anterior havia muita dificuldade de exercer ou até de
coordena-la como pastor. Então, através da visão celular, eu encontrei um espaço muito
mais eficaz para conduzir os crentes pra um sacerdócio universal, para que cada crente
fosse um ministro. Mobilizar as pessoas para o serviço cristão então, foi muito melhor,
ajudá-los a descobrir seus dons e habilidades, responsabilizar os crentes. A experiência de
pastoreio também muda completamente, porque se torna muito mais pessoal, intensificam
então a nossa experiência, a nossa vivência como pastor junto ao rebanho, eu acho que ela
melhora significativamente, do ponto de vista qualitativo, a qualidade do pastoreio
melhora, porque você tem um envolvimento muito mais próximo com as ovelhas, através
do trabalho de liderança, porque não quer dizer que eu diretamente consiga atingir
quinhentas pessoas, mas quando eu pastoreio de perto um grupo de líderes e os capacito,
porque pra mim isso está muito mais de acordo com o Novo Testamento, que é Efésios
quatro de onze a dezesseis, quando eu faço isso, quando eu cumpro essa missão que está
em Efésios quatro de onze a dezesseis, eu viabilizo o pleno exercício do corpo, porque eu
pastoreio uma equipe de líderes, capacito essa equipe de líderes, invisto neles e eles vão
estar próximos de todo o rebanho. Então a minha experiência tem sido muito positiva no
sentido de concretizar e realizar o que eu entendo serem os valores do Novo Testamento
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para a igreja, coisas que eu sempre acreditei, mas que eu não encontrava espaço nem uma
metodologia adequada ou eficaz para vivenciá-las.

2p. Entrevistador: O que a célula trouxe para você em termos de relacionamento com
Deus?
2r. Entrevistado: Bom, ela trouxe pra mim, especialmente, a percepção quanto à
necessidade de ouvir a voz de Deus. Eu fui criado na Igreja Batista, e desde o início eu fui
orientado acerca da importância de práticas devocionais, participei de várias organizações
eclesiásticas muito saudáveis como os Embaixadores do Rei e outras pra mim. Em todas
elas eu fui fortemente encorajado a fazer a leitura bíblica, leitura anual, mas em trinta anos
de caminhada cristã nunca ninguém me falou que eu precisava ouvir a voz de Deus, nunca.
E quando eu comecei a conhecer a igreja em células, há doze, treze anos atrás, o que me
chamou muito a atenção foi a experiência do quarto de escuta. Uma expressão baseada
naquilo que Jesus ensinou no sermão do monte “quando fores orar ao Pai, entra no teu
quarto e fecha a porta e o teu Pai então vai te recompensar”. A minha vida devocional foi
elevada a outro nível, porque eu entendi que a vida devocional não significava apenas
cumprir uma meta de leitura bíblica e um ritual de oração, mas eu precisava ter um
relacionamento dinâmico com Deus, e que implicava fundamentalmente em buscar ouvir a
voz de Deus. E isso a igreja em célula trouxe pra mim, a busca por ouvir a voz de Deus, o
exercício de aprender a ouvir a voz de Deus e de receber direção para minha vida, então o
relacionamento se tornou interativo.

3p. Entrevistador: Como acontece esse quarto de escuta?


3r. Entrevistado: O princípio do quarto de escuta é a busca por ouvir a voz de Deus. Então,
o que eu percebi nesses doze anos é que há várias maneiras, há vários métodos, há várias
possibilidades. Mas o que se destaca fundamentalmente é a necessidade de você ter
constância, ou seja, em reservar tempo diário e o lugar exclusivo para estar a sós com Deus.
Então, o que muda em relação às minhas práticas devocionais anteriores, é que diariamente
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eu procurava ter um tempo com Deus, mas não era um tempo para ouvir. Era um tempo só
para ler a bíblia, orar e cantar e acabou. E aí o tempo, o quarto de escuta, ele deve na verdade
ser um local exclusivo, um tempo específico pra que, ou um local específico e um tempo
exclusivo, melhor dizendo, para que eu aprenda ouvir a voz de Deus. Então, esses dois
aspectos, a partir daí, na minha dinâmica de oração e leitura bíblica eu posso desenvolver
diferentes estilos de vida devocional.

4p. Entrevistador: Muito bem, e a igreja, você conheceu a igreja que não tinha célula
e ai, e agora você conhece a igreja que tem célula, que tipo de mudanças a igreja
experimentou a partir do momento que se estabeleceram as células?
4r. Entrevistado: Bom, algumas mudanças a gente pode perceber, uma delas é o
crescimento dessa consciência do sacerdócio universal. Um número maior de crentes
entende a sua responsabilidade individual no reino. Acho que ainda temos muito pra
avançar pastor, muito pra avançar, mas há uma crescente consciência de que cada crente é
um ministro de que é responsável, de que precisa ocupar seu lugar no reino de Deus. Outra
mudança que eu percebo é o aumento do interesse pelo evangelismo. Como resultado do
aumento do sacerdócio universal, da consciência do sacerdócio universal, mais crentes
entendem que são responsáveis por ganhar pessoas pra Cristo, por evangelizar, por dar
testemunho pessoal. Antigamente o evangelismo era muito centrado no pastor, no
domingo, no templo. E hoje, eu posso dizer que um número crescente de membros,
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entendem, que podem evangelizar de segunda a segunda, que ele não depende do pastor,
mas que ele pode com o testemunho pessoal levar o amor de Cristo, essa é uma mudança
muito significativa. Então, a mudança também eu acho que em relação a consciência do
discipulado, ainda precisamos crescer muito nessa área, mas ainda há uma pouca ala de
crentes hoje que entendem que é responsável por fazer discípulos, por cuidar pessoalmente
da próxima geração, é um outro acento que eu percebo; bom, há uma maior preocupação
de cuidado mútuo, ainda precisamos avançar, mas eu vejo que hoje mais crentes se sentem
responsáveis por cuidar uns dos outros, então o efeito não é só do evangelismo, não é só
pra fora, mas pra dentro, eu percebo que há uma mudança, que as pessoas cada vez mais
se sentem responsáveis por cuidar umas das outras, acho que a célula permite isso, porque
quando alguém falta a célula o outro percebe e procura saber o que está acontecendo, então,
há uma mudança no comportamento horizontal de mutualidade entre os crentes.

5p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos de uma célula?


5r. Entrevistado: Bom, depois desses caminhos que nós desenvolvemos aqui, depois de
doze anos de caminhada em célula, é, uma coisa que eu posso perceber assim muito, muito
clara, é que as células nesta igreja, na primeira Igreja Batista de Jardim Camburi tem um
objetivo tríplice: adorar, alcançar, edificar. Pra cima, pra fora, pra dentro. As células
trabalham essa três dinâmicas, inclusive aqui em Jardim Camburi agora as células só tem
esses três momentos essenciais, o momento da adoração, o momento do evangelismo, o
momento da edificação, nessa ordem. Em relação a estrutura da transição de célula nós
mudamos, nós não temos mais quatro “E’s”, só três “E’s” obrigatórios, e o evangelismo
vem antes da edificação aqui, o quebra gelo e o lanche são opcionais. Trabalha-se de acordo
com a necessidade. Então, nós aqui trabalhamos com objetivo tríplice, adorar, alcançar
edificar, pra cima, pra fora e pra dentro, com forte acento evangelístico, nós estamos
mudando a orientação, mudando o acento da célula nessa igreja pra que elas enfatizem
muito mais o evangelismo.
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6p. Entrevistador: Como é que acontece o evangelismo através da célula ou na célula?


6r. Entrevistado: É! Nós temos um momento na célula que é o momento de evangelismo,
momento de alcance, hoje nós orientamos que esse momento aconteça antes da edificação,
pra que ele não seja comprimido, exprimido e perca seu sentido, então ele acontece antes
de nós termos a edificação e aí esse momento ele vai consistir de intercessão pelos perdidos
ou planejamento e prestação de contas das estratégias feitas pelos indivíduos, então nesse
tempo nós, nas carta da célula tem umas orientações especiais de como fazer o
evangelismo, de como fazer esse momento de célula, e essa orientações vão ter a ver com
intercessão e com realização. Na realização nós vamos buscar o que a célula pode fazer
para alcançar pessoas, então nós tentamos incentivar, tanto ações individuais, as vezes nós
distribuímos para as células folhetos que cada um pode usar no seus relacionamentos, como
ações daquele pequeno grupo e de demais grupos, por exemplo, na próxima Páscoa, a
Páscoa dois mil e quatorze, nós estamos encorajando cada célula a fazer um encontro
especial, um encontro pré evangelístico, as células estão sendo desafiadas a comprar torta
capixaba e convidar os amigos não crentes, os familiares para um encontro especial, uma
refeição especial, onde eles vão comer juntos, compartilhar e vão dar uma palavra sobre o
significado da Páscoa. Então, nós incentivamos as células a criarem estratégias de alcance
adequadas para cada realidade.

7p. Entrevistador: E o discipulado, como é feito o discipulado nas células?


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7r. Entrevistado: Bom, nós estamos tentando, de algum tempo pra cá, encorajar
fortemente o discipulado um a um, eu acho que essa é nossa área mais deficiente. Pastor
Juarez702 costuma dizer que a gente vai ter uma nova transição aqui, a primeira transição
foi sair de uma igreja tradicional para uma igreja em células, ele agora entende que nós
vamos sair de uma igreja em células para uma igreja que vive discipulado. Hoje nosso
discipulado ele acontece, mas de maneira inconstante e de maneira heterogenea, ou seja,
há células em que o discipulado acontece, há células em que não acontece. Então, nós temos
diferentes realidades ocorrendo nessa igreja. O que nós queremos e o que nós planejamos
é que cada crente seja discipulado individualmente. Então, nós começamos um processo de
mudança aqui que o pastor geral agora discípula os pastores auxiliares, ele se encontra
semanalmente com esses pastores por duas horas individualmente e os pastores auxiliares
estão encontrando-se com cada supervisor individualmente, ou uma hora por semana ou
uma hora por quinzena, para iniciar o processo de discipulado porque a gente entende que
ninguém pode dar o que não tem, então, a maioria desta geração não foi discipulada, nós
detectamos que a maior dificuldade dos discipuladores aqui é que eles não foram
discipulados e ninguém pode dar discipulado se não recebeu então nós estamos começando
um processo de discipulado a partir da equipe pastoral pra modelar uma nova estratégia de
discipulado.

8p. Entrevistador: Qual o tipo de participação que os membros da célula têm nos
encontros?
8r. Entrevistado: As responsabilidades pelas partes do encontro são divididas. Como eu
falei, nós temos três partes principais que é o Adorar, a exaltação, o Alcançar que é o
evangelismo e o Edificar que é a edificação. Essas partes são distribuídas entre os membros.
Quando temos quebra gelo, em algumas células nós temos, também podem ser distribuídas

702
Pastor titular da Igreja, também chamado de pastor presidente.
459

até por não membros, podem fazer o quebra gelo. Então, o líder costuma distribuir essas
partes em regime de rodízio, e eles podem liderar essa diferentes partes do encontro.

9p. Entrevistador : E, que espaços eles tem, os membros das células têm para
compartilhar as experiências deles?
9r. Entrevistado: Isso normalmente acontece na edificação, porque o foco da edificação é
a aplicação do sermão de domingo, então nós enviamos para as células um roteiro, um
direcionamento prático, vivencial e a nossa orientação prévia, antes dessas perguntas que
estimulam o compartilhamento, caminham nessa direção, para que haja interação entre os
membros, o abrir do coração, o compartilhamento da vida, e depois disso o lanche também
permite, não é, o aprofundamento de conversas.

10p. Entrevistador: Entre os encontros, que tipo de vínculo, existe algum tipo de
vínculo, não existe?
10r. Entrevistado: Varia de célula para célula, a situação é heterogenia, nós encorajamos,
não é, nós encorajamos que se alguém faltou no encontro, em até vinte e quatro horas o
líder e os membros da célula faça um contato com essa pessoa. E entre um encontro e outro
deve acontecer o discipulado, a nossa proposta é que encontros individuais de discipulado
aconteçam entre um encontro e outro, essa é uma estrutura formal né, nós encorajamos que
toda célula além de ter o encontro semanal tenha encontros de discipulado, além dessa
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estrutura formal de encontros entre as reuniões da célula e encontros individuais de


discipulado nós encorajamos que haja eventos especiais. Eventos que podem ser de
adoração, reuniões de oração, vigílias, eventos de alcance, de evangelismo, onde aquele
grupo se reúne pra alcançar pessoas para Cristo ou eventos de edificação, comunhão e
ensino, o pessoal faz piquenique, o pessoal passeia, o pessoal assiste filme, mas esses
eventos dependem da dinâmica de cada célula.

11p. Entrevistador: Como acontece o cuidado entre os membros da célula?


11r. Entrevistado: A partir dos relacionamentos que se firmam e que se fixam ao longo
do tempo, especialmente quando há uma estrutura de discipulado que permite um
aprofundamento no relacionamento, então cria-se intencionalmente uma rede de
relacionamentos e de contatos e de troca de ideias, de experiências, então o pessoal se fala
por telefone, pessoal troca e-mail, pessoal fica sabendo do que tá acontecendo, e aí a rede
de mutua ajuda, essa é uma maneira muito preciosa de ver o sacerdócio universal
funcionando, porque quando alguém adoece essa notícia corre rapidamente pela célula você
tem pessoas da célula que estão se revezando na ajuda, no hospital, quando alguém tem
uma necessidade de ajuda para um aniversário, a célula se junta pra ajudar fazer o
aniversário, então, isso acontece de maneira informal mas intencional.

12p. Entrevistador: E pra fora da célula, que tipo de preocupação a célula tem, os
membros da célula tem, com a sociedade de um modo geral, em termos de
transformação da sociedade?
12r. Entrevistado: Nós encorajamos essa preocupação de maneira contínua, no momento
de evangelismo, o ano inteiro. Porém, durante quatro meses do ano, que é o período da
estação alcançar, o período em que nós destacamos muito mais o evangelismo e o
evangelismo vem com formas de servir, então nós realizamos inclusive uma campanha
especial, aqui, durante o período que vai de Abril a Julho que é a campanha Atos de
Compaixão, nessa campanha nós encorajamos cada célula a escolher um grupo carente,
460

uma instituição ou pessoas que precisam de uma manifestação do amor de Deus pra serem
alcançadas com atos de serviço, atos de compaixão. Tem células que visitam orfanatos,
células vão fazer tarde de cuidado e beleza em lar de idosos, células vão em instituições
que atendem crianças com câncer, a gente tem um movimento Casas que oferece apoio a
dependentes químicos, então a gente tem dezenas de células que fazem movimento de
serviço.

13p. Entrevistador: Você falou em estação alcançar, o que seriam essas estações?
13r. Entrevistado: Como eu falei que a célula tem três direções, pra cima, pra fora e pra
dentro, e consequentemente o programa de uma reunião gira em torno desses três
momentos numa reunião, o programa da igreja como um todo hoje, o calendário
eclesiástico hoje é dividido em três estações. Assim como a reunião da célula tem três
tempos, o calendário anual de toda a igreja funciona em três direções principais. A primeira
direção é a estação Adorar de Dezembro a Março, quatro meses em que se encoraja
fortemente o aprofundamento da relação com Deus, a vida pessoal, devocional, o quarto de
escuta como as dimensões coletivas da adoração. A próxima estação é a estação Alcançar,
pra fora, de Abril a Julho, onde então, todas as células, toda a igreja é levada a atos de
serviço, atos de compaixão, de evangelismo, atividades especiais de evangelismo são
produzidas para que todos voltem o seu olhar para fora, é a segunda estação. E a terceira
estação, de Agosto a Novembro, a estação Edificar. Focada então no ensino e na comunhão,
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no aprofundar dos relacionamentos entre os crentes. O fundamento de tudo isso está no


grande mandamento. A verdade, o que Deus fez entre nós foi permitir um processo
profundo de reflexão e oração há dois, três anos atrás, onde nós entendemos de Deus a
necessidade de fazer uma revisão, uma revisão e uma releitura de toda a visão celular
adequada ao nosso contexto, nós reorientamos todo o planejamento da igreja, tanto macro
corporativo como do nível celular e do nível individual para esses três movimentos, amar
a Deus sobre todas as coisas, amar ao próximo como a si mesmo. Então amar a Deus é
adorar, amar ao próximo e alcançar e amar a si mesmo é edificar. Com isso a gente cumpre
em três movimentos o que outro modelo celular fala em cinco movimentos, os cinco
propósitos da igreja com propósitos. Então, nós entendemos que nossa maneira de fazer
isso, alcançar o propósito da igreja através desses três movimentos.

14p. Entrevistador: Isso significa que as células trouxeram uma reconfiguração da


igreja.
14r. Entrevistado : Total.

15p. Entrevistador: Poderia falar um pouquinho mais sobre isso?


15r. Entrevistado: As células realmente reconfiguraram a estrutura eclesiástica, elas nos
conduziram a uma remodelação da maneira como se faz a gestão ministerial, elas hoje estão
influenciando a gestão administrativa da igreja, as células provocaram a mudança no
orçamento da igreja, as células mudaram o estilo de ser igreja e elas estão mudando nosso
estilo de vida, então o impacto da vida em célula pra a igreja Batista de Jardim Camburi
não tem como ser diminuído, porque influenciou tanto a parte administrativa, financeira,
estrutural como o estilo de vida das pessoas também.

16p. Entrevistador: Como você caracterizaria ou descreveria a Igreja Batista de


Jardim Camburi hoje?
461

16r. Entrevistado: Uma igreja que tem uma visão muito clara, descrita na sua declaração
da visão que é ser uma igreja de relacionamentos saudáveis e profundos com base no amor
de Deus, é adorar, pra cima, pra gerar autênticos servidores de Jesus Cristo, pra fora, e
promover a transformação das famílias e da sociedade no poder do Espírito Santo, pra
dentro, uma igreja que tem uma declaração de missão muito grande e muito clara também,
que é viver em Cristo e compartilhar seu amor com o mundo. Então eu percebo hoje, a
igreja de Jardim Camburi em movimento. Não é uma igreja pronta, não é uma igreja
acabada, e uma igreja em processo, mas eu vejo ela como uma igreja em movimento, com
uma direção muito clara e um processo de mudanças profundas, quer dizer, a gente percebe
hoje que a visão celular ela não deve ser um método rígido, uma estrutura fixa, mas uma
abertura para o que Deus quer fazer a cada momento.

17p. Entrevistador: Teria algum risco no sistema de células para a igreja?


17r. Entrevistado: Acho que pode ter riscos sim, no processo de transição, você pode ter
riscos de rupturas de relacionamentos e rupturas de liderança, na medida em que esse
processo precisa ser conduzido a partir de valores e de princípios, a partir da condução de
relacionamentos, se isso faz, se isso acontece, os riscos são mínimos. Mas, como às vezes
alguns de nós, pastores e líderes, somos tentados a priorizar uma mudança institucional,
estrutural, primeiro, sem mudanças de valores, então, mudanças precipitadas na estrutura
de uma igreja, mudanças que não sejam precedidas de uma preparação do ponto de vista
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de ensino e pregação por valores e por uma mudança no estilo de vida da equipe pastoral e
da liderança, isso traz um risco de rupturas. Rupturas pessoais ou rupturas institucionais.
Eu acho que pode trazer.

18p. Entrevistador: Então, quais seriam as recomendações que você faria para líder,
para uma igreja que pretenda estabelecer os pequenos grupos?
18r. Entrevistado: Acho que eu faria as recomendações, a primeira recomendação foi a
que eu ouvi quando entrei nesse processo de transição, essa recomendação não é minha,
mas foi dos líderes do movimento igreja em células, ouvi isso da boca do pastor Roberto
Lay703 há mais de dez anos atrás, comece a transição pelos valores, pelos princípios, pelo
ensino da palavra e dos princípios do Novo Testamento que fundamentam uma visão
celular porque são princípios Bíblicos, não pertencem a igreja em células, a igreja em
células é só uma maneira de viabilizar a sua prática. Então, a primeira recomendação que
eu daria pra qualquer pastor é não fale sobre célula, não fale sobre mudar a estrutura, não,
primeiro ensine a palavra, ensine o Novo Testamento, ensine os princípios basilares da
igreja. E a segunda recomendação é que depois de um ou dois anos de ensino consistente
dos princípios do Novo Testamento, comece você a viver essa visão e a implementá-la nos
seus relacionamentos íntimos de igreja, ou seja, comece você com uma seja protótipo. O
que eu não recomendaria é o pastor dividir a igreja em pequenos grupos e transformar
aquilo em célula, eu sugeriria fortemente um pastor de, não importa quantos mil membros,
se ele fosse começar uma igreja em células, comece com apenas uma célula protótipo
liderada por ele e ele vai viver aquela célula, gerar aqueles líderes, se ele quiser ter mais
células protótipos, apenas aquelas que ele possa pessoalmente liderar e modelar pra que ele
viva os princípios antes, as pessoas pra viver a vida em célula, pra liderar grupos na vida

703
Líder do Ministério Igreja em Células no Brasil, pastor da Igreja Menonita de Curitiba-PR, que
viaja pelo Brasil inteiro oferecendo capacitação para as igrejas que desejam conhecer melhor a
filosofia de ministério baseada em células.
462

em células precisa primeiro ser ministradas, pastoreadas, discipuladas. Eu não acho que
faça sentido alguém dar o que não tem. Então, o pastor precisa primeiro praticar com seus
discípulos, viver e provar a eficácia daquilo, e quando a igreja ver na vida deles resultados,
a igreja será encorajada a seguir.

19p. Entrevistador: Qual a influência da célula para a comunhão entre os irmãos?


19r. Entrevistado: Há um aprofundamento muito grande. Ainda mais no contexto de
Jardim Camuri, que é um contexto de muito individualismo, classe média crescente onde
há preocupação com o trabalho, estudo e ascensão financeira muito grande, então, a
tendência ao isolamento é enorme. Então, nesse caso, as células são um antídoto poderoso
pra evitar o isolamento entre os membros. Eu acho que ela, isso ainda pode melhorar, mas
eu acho que ela serve mesmo pra que durante a semana alguém se encontre, saiba o nome,
saiba o que está acontecendo porque se não for a célula, as pessoas mal vão se encontrar
no domingo. No pequeno grupo você sabe o nome, sabe a história, se tá bem, se está
desempregado, a empregada está doente, se está saudável, e isto estimula a criação de mais
vínculos.

20p. Entrevistador: E o impacto das células na celebração?


20r. Entrevistado: Há um aumento do entusiasmo, um aumento do interesse, da vibração.
As celebrações de batismo aqui ganharam outro sentido e cada batismo aqui é uma festa.
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Porque as células celebram o fruto alcançado por qualquer dos seus membros, participa, e
traz balão, e grita, e faz faixa, então, as celebrações ganharam um novo estilo de interesse
e entusiasmo porque as pessoas trazem as pessoas de seu relacionamento, se envolvem
quando eles se convertem então as celebrações são muito mais carismáticas, no melhor
sentido da palavra.

Entrevistador: Muito obrigado!

FUNÇÃO: Pastor de rede SEXO: Masculino DATA: 10-04-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
35 anos Jardim Camburi PIBJC 29

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com célula.


1r. Entrevistado: Bom, a minha experiência com célula começou em 2004 quando eu
cheguei a essa igreja e eu estava bem afastado, distante de igreja, de relacionamento com
Deus. Em 2004 eu conheci uma pessoa no meu trabalho que era uma líder de célula, aqui
na nossa igreja, e ela me chamou pra conhecer o grupo, pequeno grupo, e ter uma
experiência nova no grupo e eu fui e nunca mais saí. Comecei lá em 2004 a frequentar o
grupo dessa irmã, e fiquei apaixonado por aquela reunião, a dinâmica, como que
funcionava, as pessoas depois me ligando. Como minha família não é daqui, eu vim pra
estudar em Vitória, depois acabei ficando, então eu não tinha muitos vínculos, e acabou
que a célula ganhou um vínculo muito forte na minha vida, pessoas me ligando, pessoas
querendo sair, tendo programação, então isso foi minha primeira experiência.

2p. Entrevistador: O que mudou na sua vida, a partir do momento em que você,
porque você já pertencia a uma igreja antes?
463

2r. Entrevistado: Eu pertencia mas estava desviado há quatorze anos, pertencia a igreja
de São Gabriel da Palha, mas estava desviado há quatorze anos. Então foi na célula que eu
retornei, na célula que eu me firmei novamente e tive minhas experiências com Deus. Então
eu percebi que antes, quatorze anos antes eu não tinha, eu ia à igreja, eu ia à igreja, mas
como religioso, a partir da célula que eu comecei a ter experiência com Deus, com o
Espírito Santo, de ouvir a voz de Deus, de experimentar mesmo o que estava escrito na
Bíblia, a pratica, porque a Bíblia eu lia só como um livro legal, mas na célula eu comecei
a experimentar isso de forma pratica as pessoas, se ajudando, as pessoas conversando,
caminhando juntos, o discipulado também, então uma pessoa me discipulou, então isso foi
o que mais me impactou essa experiência de ver uma igreja viva mesmo.

3p. Entrevistador: Uma diferença que você vê entre uma igreja que tem e uma igreja
que não tem um pequeno grupo?
3r. Entrevistado: A minha impressão assim, impressão e entendimento da diferença é a
comunhão mais intima, porque eu vim de uma igreja que era uma igreja de programa, uma
igreja que tinha o culto no domingo, tinha EBD, tinha o culto de oração na quinta-feira e
cultos esporádicos durante a semana. Então eu só via aqueles irmãos nesses dias, no culto,
eu era um cristão dominical, então, era meu convívio com eles era este, então a minha,
entendo que a maior diferença é o relacionamento mais profundo e mais íntimo com o corpo
de Cristo mesmo, e essa ideia de você poder ajudar e ser ajudado entre pessoas que estão
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próximas ali o tempo todo e não precisar recorrer o tempo todo a um líder espiritual, ao
pastor da igreja, mas você ter um líder ali, próximo a você que você pode fazer o que está
na palavra de Deus chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram.

4p. Entrevistador : Como é que a célula fomenta essa comunhão?


4r. Entrevistado: Bom, ela fomenta através do próprio encontro, o próprio encontro já é
uma forma de fomentar isso, porque você passa o ano todo se encontrando semanalmente
com essas pessoas, então naturalmente você já tem uma comunhão com essas pessoas, com
seu pequeno grupo e além disso tem as sociais que as células fazem, os encontros extras,
sai junto e normalmente a gente, a gente fazia muito isso, a gente ainda faz, de fazer
churrasco no final de semana, viajar juntos, passar o fim de semana em algum lugar junto,
vai fazer compras, faz compras juntos, vai pra praia, vai pra praia junto, vai almoçar,
almoça junto, então isso vai fomentando muito, e o discipulado também, como você tem
uma pessoa mais próxima ali, você tá tendo comunhão também mais profunda.

5p. Entrevistador: Como é que acontece o discipulado na célula?


5r. Entrevistado: Então, quando eu cheguei na célula, foi por intimidade mesmo, por
empatia. Tinha um rapaz que eu tive mais empatia com ele, é uma pessoa mais madura na
fé, então ele me adotou como discípulo, então começamos a fazer o discipulado, além do
estudo, com estudo bíblico, tem um material de apoio, o suporte, é conviver junto, então às
vezes eu ia, tava solteiro, às vezes eu dormia na casa dele ele dormia na minha casa, a gente
viajava junto, fazia as coisas junto a gente tinha uma ligação e até hoje, a gente não tem um
discipulado formalmente, mais, mas até hoje a gente tem contato de se encontrar, de orar
junto, dele me aconselhar em algumas coisas, então esse vínculo acaba sendo um vínculo
muito, muito, forte nessa relação.
464

6p. Entrevistador: E como acontecem os encontros da célula?


6r. Entrevistado: Bom, a célula tem um único encontro formal, vamos dizer assim né,
semanalmente, que é o encontro do pequeno grupo. Na nossa célula por exemplo, a gente
começa com o lanche, então a gente começa com um momento ali de comunhão , de lanche,
de bate papo, depois a gente tem um momento de adoração, momento de louvor, cânticos,
oração, leitura bíblica, depois a gente tem um momento de evangelismo, que a gente
começa a pensar em estratégias para alcançar as pessoas, de que forma a célula vai fazer,
possibilidades para alcançar familiares, amigos, vizinhos, então a gente pensa sobre sociais
evangelísticas, churrasco, ou individualmente, ou também orar por essas pessoas e por
último a gente faz um momento de edificação. Aqui a gente utiliza uma carta na célula, que
a gente recebe semanalmente do pastor e ali a gente trabalha com o sermão do domingo
anterior, com a palavra que foi ministrada no domingo anterior na igreja, ali a gente tem
oportunidade de voltar para este texto bíblico, de fazer uma dinâmica de compartilhamento,
e também aplicar aquilo na vida de cada um, então, e aí a gente fecha com um momento de
oração. As crianças tem um momento delas também, que elas têm a edificação delas,
separadamente, um momento delas.

7p. Entrevistador: Como é que os membros da célula participam do encontro, qual é


o espaço que eles têm para falar?
7r. Entrevistado: Na verdade o membro da célula pode participar o tempo todo da célula,
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ele deve participar, quem está ministrando, quem está liderando o momento, ou se for o
próprio líder ou alguém que for escalado para liderar, ou seja, o momento de adoração,
momento de evangelismo, momento de edificação, ele tem que provocar isso o tempo todo
nas pessoas, para as pessoas falarem, as pessoas cantarem, as pessoas orarem, as pessoas
ler um versículo bíblico, e principalmente na parte da edificação, as perguntas, elas são
planejadas de uma forma que leva as pessoas compartilharem dentro do texto que está
sendo trabalhado, então a ideia é que o membro da célula participe do encontro do inicio
ao fim, na verdade a gente até muitas vezes a gente faz uma escala onde o próprio membro
está ministrando também, então quando ele ministra ele tá ali trabalhando com essa ideia
de levar as pessoas a compartilharem, falarem, quando outro estiver ministrando ele já sabe
que ele tem que falar também que ele tem que participar, ninguém é obrigado a falar, mas
é um ambiente que é tão livre, um ambiente tão informal, um ambiente em que as pessoas
estão tão à vontade, que naturalmente as pessoas vão falando, vão compartilhando.

8p. Entrevistador: E entre os encontros, no interregno dos encontros, que tipo de


vínculos existem entre os membros da célula?
8r. Entrevistado: Então, vínculos de telefone, e-mail, facebook, redes sociais, se encontrar
também para ir a praia junto, pra, sair pra lanchar junto, fazer alguma coisa junto, então
isso acontece frequentemente, fora do encontro ter outros momentos pra ta junto. Além
disso, tem as parcerias dos disciplulados que quando funcionam, quando estão caminhando,
então, as pessoas estão se encontrando também fora do encontro da célula, mas é mais
sociais, encontros extras, mesmo, estar junto.

9p. Entrevistador: Você falou agora a pouco que as células se encontram um ano, qual
o tempo de duração da célula, qual é a perspectiva desse grupo, ele vai ficar
indefinidamente junto, como é que funciona isso?
9r. Entrevistado: Então, a ideia é que a célula, ela tenha um tempo, um período, a gente
normalmente não determina seis meses, um ano, um ano e meio, não determina, mas cada
465

pastor de rede, de área, vai trabalhando com seus supervisores, seus líderes, para que essa
célula multiplique em pelo menos um ano, no período, no final de um ano essa célula ela é
desafiada a multiplicar, agora tem casos e casos, tem célula por exemplo que multiplica em
seis meses, tem célula que multiplica três vezes em um ano, e tem células que demoram
um ano e meio para multiplicar, então não tem nenhuma regra “tem que multiplicar em um
ano”, mas a ideia que a célula não fique comemorando aniversário, não fique muito tempo
com o mesmo grupo, a gente espera, tem células que acabam por exemplo, que fazem
reengenharia.

10p. Entrevistador: Qual seria o inconveniente de permanecer por mais tempo juntos
o mesmo grupo?
10r. Entrevistado: O problema é que acaba virando um clube, um clubinho, uma
panelinha, um grupo fechado, porque se a célula, ela se mantém com os mesmos membros
é porque eles não estão trazendo pessoas novas, ai perde o foco e o objetivo da célula,
porque a célula, a visão da célula é ser um grupo evangelístico não é um grupo de comunhão
e nem de edificação somente, mas o primeiro, a visão principal da célula é ser um grupo
evangelístico, então se o grupo tem um ano, um ano e meio e ele não tem pessoas novas
para uma multiplicação para um crescimento pode ter alguma coisa errada nesse grupo,
tem que se avaliar, então o inconveniente é que a célula acaba se fechando e não atraindo
pessoas novas, ai perde o propósito da visão celular.
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11p. Entrevistador: Além do evangelismo, quais seriam os outros objetivos da célula?


11r. Entrevistado: Além do evangelismo tem a comunhão, a própria comunhão entre os
membros da célula, com uma intimidade mais profunda, tem a intimidade com Deus, então
tem o momento de adoração por exemplo, onde as pessoas são desafiadas mesmo, ali, junto
com o grupo de adorar ao Senhor, de quebrantamento e além do grupo, também no dia a
dia, então tem esse foco também de comunhão com Deus, de intimidade com Deus, a gente
trabalha aqui com a ideia do tempo a sós com Deus chamado quarto de escuta, onde as
pessoas são desafiadas a praticarem o quarto de escuta diariamente, a ter o seu tempo a sós
com Deus, não só pra falar mas para ouvir a voz de Deus, então: evangelístico, adoração,
comunhão e edificação também, edificação ali com o grupo, com o corpo santificado, as
pessoas recebendo também o alimento, também da palavra, através de uma palavra de um
membro da célula mesmo, uma exortação, um conselho, uma orientação, que acontece, é
comum acontecer.

12p. Entrevistador: Qual a preocupação da célula com a sociedade de um modo geral,


ou seja, o grupo olhando para fora dele?
12r. Entrevistado: Então, a preocupação deve ser primeiro a ideia de você alcançar os
perdidos, de que forma o grupo pode alcançar por exemplo os familiares, porque o
primeiro, o público primeiro deve ser a casa, então, de que forma os membros da célula
podem alcançar os seus familiares, os seus cônjuges, filhos, pais, irmãos, então de que
forma eles podem fazer isso, a célula pode contribuir para isso. O segundo público são
vizinhos e a própria comunidade mesmo então, a primeira preocupação é a preocupação
evangelística de levar o amor de Jesus para essas pessoas que ainda não tem Jesus. Então
essa é a primeira preocupação. A segunda preocupação que nós temos é com o serviço a
comunidade, é servir a comunidade de alguma forma, então, a gente trabalha intensamente
numa época do ano com o serviço a comunidade, em instituições carentes, a própria
466

associação, o bairro mesmo, necessidades, então tem essas duas preocupações, de


evangelizar e servir a comunidade.

13p. Entrevistador: E a liderança, como é que, de onde vem essa liderança da célula,
como é que ela é preparada?
13r. Entrevistado: A liderança surge dentro da própria célula, o membro comum da célula,
que ele começa a perceber, o líder começa a perceber nesse membro de célula umas atitudes
diferenciadas de liderança, alguns sinais, começa perceber algumas atitudes que são
atitudes de um possível líder, de um líder em potencial, mas, e principalmente a pessoa
mesmo começa a identificar que ela está sendo chamada, sendo levantada para assumir uma
liderança, então ela é do próprio grupo. O líder que está atuando, ele percebendo isso, ele
já pega essa pessoa e começa a treinar, essa pessoa se transforma num auxiliar da célula,
então algumas atividades administrativas ou não que o líder tenha no grupo ele começa a
delegar para o auxiliar, pra que ele possa começar a participar na liderança da célula e
paralelo a isso ele começa a fazer o curso, o treinamento de auxiliar e líder de célula, que é
um treinamento que nós temos que ele vai e faz o treinamento, uma capacitação para se
transformar num líder de célula, então os líderes surgem dentro do próprio grupo, no final
daquele período se o grupo já está pronto pra multiplicar, já tem um líder que foi levantado
ali, acontece a multiplicação e aquele líder assume a liderança da célula filha, que é o
resultado da multiplicação desse pequeno grupo.
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14p. Entrevistador: Quais são os critérios para a formação de um grupo, formação de


uma célula, que critérios, geográfico, enfim?
14r. Entrevistado: É, tem alguns critérios né, tem o critério de afinidade, de interesse
mesmo, da faixa etária, se tem filhos se não tem se é adolescente, se é jovem, então tem
alguns critérios assim. Então se tem um grupo de casais, jovens casados, por exemplo, sem
filhos, a gente tenta agrupar essas pessoas dentro de uma célula, casados com filhos, a gente
tenta agrupar em outro grupo, pessoas mais idosas, dentro de outro grupo, adolescentes,
jovens, também, agora claro a gente tem células também com gerações integradas, onde
você tem um bebê de colo, mas tem um ancião também na célula.

15p. Entrevistador: Você vê algum risco de segregação na formação dos grupos?


15r. Entrevistado: Sim há um risco, se separar demais, separar demais as gerações. A
gente percebe que em alguns casos e importante isso acontecer pra crescimento, pra
maturidade mesmo das pessoas, é importante. Agora nem todos os caso né, como nos temos
células que tem gerações integradas tem grupos que os adolescentes estão com os pais, tem
pessoas mais idosas também, tem bebês de colo, tem isso também, mas se separar demais
sem nenhuma conexão, porque alguma conexão tem que ter, às vezes não dentro da própria
célula, mas na supervisão tem alguma conexão, porque a ideia de que a célula de
adolescentes, por exemplo, não seja o adolescente que lidera os adolescentes, e sim o adulto
que vai liderar o adolescente. Então isso facilita também a integração desse adolescente
com os adultos, com pessoas mais maduras.

16p. Entrevistador: A condição sócio econômica da pessoa tem influência na formação


dos grupos?
467

16r. Entrevistado: Não, não, não tem influência não. Hoje isso é bem misturado mesmo.
O que acontece as vezes é a questão geográfica também, então nós temos células
geográficas são células em Vila Velha, por exemplo, tem células na Serra, e por aí vai.
Então aí, pessoas que moram naquela região ficam naquele grupo por questão de logística
mesmo, então, mas a questão social e econômica não, pode ser que de repente uma célula
num bairro mais carente né, distante, ele alcance as pessoas ali, com aquela realidade, então
aquela célula vai ser uma célula com aquela realidade, como nós temos uma célula, por
exemplo, em Jardim Carapina na região mais carente, então o grupo lá, é um grupo que tem
o perfil de pessoas daquele bairro, então, mas não tem isso intencional assim não.

17p. Entrevistador: Você vê algum risco das células para a igreja como um todo?
17r. Entrevistado: Não, pelo contrario, eu acho que a célula é uma força muito grande
para a igreja, é uma ajuda muito grande para a igreja, principalmente quando a igreja toma
um porte, não adianta você ter alguns líderes, alguns pastores cuidando de todo o rebanho
que não dá conta, não consegue, então a célula pelo contrário,ela ajuda bastante ao
desenvolvimento da igreja, ao crescimento da igreja, não só o crescimento quantitativo mas
também o crescimento qualitativo, onde os membros são desafiados a buscar mais
intimidade com Deus, mais profundidade na sua vida espiritual, e não só cristãos de
domingo, um cristão que venha somente no culto, presta seu culto e vai embora e depois
só vem no domingo seguinte, então a célula tem desafiado as pessoas a viverem juntas e
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também a estarem mais íntimas com Deus.

18p. Entrevistador: Qual o impacto da célula na celebração, na igreja como um todo?


18r. Entrevistado: É muito legal, a gente percebe que os cultos, os eventos da igreja, são
mais festivos, são mais alegres, pela comunhão das pessoas mesmo, um exemplo disso é
quando acontece batismo por exemplo, quando as células estão celebrando os batismos,
as células se juntam levam bolas, faixas, soltam serpentinas, enfim, os grupos ali estão
celebrando, estão festejando e a célula provoca isso nos cultos dominicais também, porque
normalmente as pessoas sentam juntas, estão ali celebrando juntas também então isso ajuda
muito e nos eventos também da igreja, em outros cultos, fora do domingo, quando acontece
a multiplicação por exemplo, a gente está fazendo as multiplicações no culto, então isso
causa um impacto muito positivo para toda a congregação, toda a comunidade, isso é muito
positivo.

19p. Entrevistador: Reconfiguração eclesial, você percebe algum tipo de mudança na


maneira da igreja funcionar, na estrutura?
19r. Entrevistado: Sim, eu percebo que nos moldes contemporâneos em que a igreja
estava acostumada a viver, o estilo de uma igreja, a ideia de pequenos grupos ela acaba
mexendo um pouco com o dia a dia da igreja, com o dia a dia da igreja, agora, isso está
muito de acordo com a palavra de Deus, uma igreja que tá, que descentraliza né, que não
está num prédio, uma igreja que não está num dia da semana, então se você for pensar nos
últimos anos a igreja ela foi centralizando as suas atividades eclesiásticas, as suas atividades
de busca a Deus, de enfim, de vida espiritual em dias da semana, em locais específicos, em
uma estrutura específica, então a célula perde um pouco isso, porque a célula, a ideia é que
realmente isso aconteça todos os dias, e aonde as pessoas estiver, a gente entende que tem
uma igreja acontecendo ali naquela casa, esta acontecendo naquele ambiente. E outras
práticas também, como o próprio discipulado, como o próprio ensino, onde os líderes, os
membros das células são responsáveis também, senão fica somente na figura do pastor, ou
468

dos diáconos ou do grupo de lideres da igreja, então você tem a ideia que os líderes de
célula desenvolvem também um ministério pastoral, um ministério de cuidado, um
ministério de aconselhamento, um ministério de estar junto com a ovelha no dia a dia. Então
isso é um pouco diferente daquilo que a gente vinha caminhando há anos, da centralização
de uma pessoa, de algumas pessoas, centralização de uma estrutura, a centralização de
alguns dias. Hoje por exemplo, quando nós levamos pra dentro do batistério o discipulador
para batizar o discípulo, junto com o pastor ali dentro, então isso também é uma quebra de
paradigmas, e a gente acha que isso é super saudável porque quem ganhou, quem
discipulou, quem levou a pessoa a Jesus foi o discipulador, ou o líder, então ele mais do
que ninguém ele deveria estar ali, ter aquela honra de batizar aquela pessoa.

20p. Entrevistador: Quais seriam as bases bíblicas e teológicas para os pequenos


grupos?
20r. Entrevistado: Bom, a gente percebe muito a igreja de Atos, nós temos Moisés, e a
experiência de Moisés e Jetro, seu sogro, quando ele estava ali com aquela multidão, e
resolvendo o problema de todo mundo, tentando resolver o problema daquela multidão e
não estava conseguindo, porque estava centralizando tudo nele, e Jetro, seu sogro orientou
ele a dividir em grupo, a multidão em pequenos grupos, ou grupos menores e colocar líderes
para cada um desses grupos, e problemas maiores situações que eles não conseguiriam
resolver chegaria até Moisés, mas até chegar em Moisés tinha outros líderes para resolver,
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a gente entende que isso é uma base bíblica, e a igreja primitiva mesmo, uma igreja que a
gente percebe tantas vezes Paulo enviando cartas para a igreja que se reunia na casa de
Áquila e Priscila, a igreja que se reunia na casa de fulano de tal, então, era uma igreja que
estava além do templo, estava também nas casas, estava crescendo infiltrada na sociedade
daquele tempo. Então penso que essas experiências, essas histórias que nós temos na Bíblia
são experiências que nos podem contribuir pra a gente caminhar nessa visão de pequenos
grupos.

21p. Entrevistador: Obrigado!

FUNÇÃO: Pastor Geral SEXO: Masculino DATA: 23-04-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
61 anos Jardim Camburi PIBJC 30

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com os pequenos


grupos, com as células.
1r. Entrevistado: Bem, na verdade eu comecei o meu envolvimento com os grupos
pequenos ou com as células, a partir da minha visão da necessidade de um pastoreio mais
eficiente pra igreja. Na medida em que a igreja crescia a gente tinha mais pessoas e também
maior deficiência no cuidado, no acompanhamento. Então eu estava buscando um sistema,
buscando um caminho que me permitisse compartilhar esse cuidado, ter mais pessoas
envolvidas no cuidado com a igreja. E, depois desses anos que a gente tem caminhado
dentro da visão celular, na visão de células, eu compreendo que num grau, que eu diria
razoável, a gente tem conseguido isso. É extremamente desafiador, porque a maior
dificuldade que a gente enfrenta é exatamente na mobilização de liderança de encontrar
pessoas que tenham disponibilidade, que tenham disposição em exercer essa liderança. Já
que é uma liderança diferente, não é uma liderança no sentido de administrar um grupo, é
469

uma liderança no sentido de pastorear, de cuidar, de identificar necessidades das pessoas e


procurar suprir essas necessidades, a gente tem um grupo bastante significativo de pessoas
envolvido nisso hoje, por isso eu posso dizer que meu grau de satisfação é bastante
razoável.

2p. Entrevistador: O que mudou na sua vida e no seu ministério com a célula?
2r. Entrevistado: Bem, uma das coisas que a gente tem na visão celular é esse
acompanhamento mais próximo da equipe, no caso, no meu caso como líder principal da
igreja, eu sempre tive as reuniões naturalmente pra tratar das questões, pra todo o processo
de gestão da igreja, mas a visão celular, ela fez com que esse relacionamento com a equipe
se tornasse muito mais pessoal, muito mais de acompanhamento da vida, sem deixar os
aspectos que tem a ver com o trabalho, mas passou a envolver numa proporção muito mais
alta o relacionamento, esse contato muito mais pessoal, muito mais acompanhamento da
vida da pessoa, no caso dos meus líderes, dos meus pastores. Então isso mexeu muito com
minha agenda. Hoje, por exemplo, eu dedico o meu tempo prioritariamente com os
pastores, com os outros pastores da igreja, e com essas lideranças que são estratégicas. Eu
hoje, eu não tenho condições de ter um ministério muito voltado para visitas, por exemplo,
pra um atendimento digamos assim, a um grande número de pessoas, pra audiências
pastorais, porque eu me concentro mais na liderança. Então mudou bastante a maneira de
fazer o ministério. E é lógico que isso acaba alterando também a sua, o seu próprio estilo
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de vida. Então, hoje eu tenho muito assim, tomo o café da manhã um dia com um, almoço
com outro num outro dia, porque é um tempo mais de compartilhamento e de investir na
vida dessas pessoas.

3p. Entrevistador: E na igreja, que mudanças você viu ou vê na igreja a partir da


implantação das células?
3r. Entrevistado: Algumas coisas, algumas mudanças elas são bastante visíveis. Por
exemplo, hoje a igreja, a gente centraliza, ou a gente prioriza o evangelismo da igreja, o
trabalho de evangelização da igreja através do relacionamento. Relacionamento intencional
com pessoas que fazem parte da vida da gente, mas ainda não são convertidas, com vistas
a alcançá-las, pra ter uma experiência com Jesus, a uma conversão. Então, isso acaba
trazendo alguns desdobramentos. Você tem uma congregação mais motivada, porque os
frutos, eles são, digamos assim, colhidos individualmente, não é tanto por atacado, mas
individualmente. Consequentemente isso gera um entusiasmo maior, uma alegria maior na
igreja. Os batismos, por exemplo, eles se tornam muito celebrativos, muitas festas, porque
é alguém em quem se investiu durante um bom tempo e tal, e agora aquela pessoa tá ali
dando testemunho da sua fé através do batismo. Eu percebo também, a gente tem percebido
também, que o fato das pessoas estarem juntas nos grupos cada semana, gera um maior,
maior, maior comunhão entre as pessoas, porque, como todos nós sabemos, quanto maior
o grupo menor a intimidade, quanto menor maior pode ser a intimidade e não tem como se
desenvolver a intimidade sem convivência. E o que acontece numa igreja que não tem
células, é que a convivência, ela, boa parte das vezes é dominical, vai-se para o culto no
domingo e terminado o culto cada uma vai para a sua vida não há mais envolvimento, não
há mais contato entre as pessoas, o pequeno grupo, ele necessariamente gera convivência,
e a convivência produz a intimidade. Pessoas íntimas geralmente, se preocupam umas com
as outras, pessoas íntimas, geralmente, elas se envolvem quando a outra pessoa está com
problemas, está com dificuldades. Então, isso acaba gerando um cuidado mútuo espontâneo
dentro da igreja. A gente percebe isso muito, as nossas, os nossos atendimentos como
470

pastores, eles tiveram uma redução drásticas, então, eu me lembro de uma época, em que
você tinha, geralmente a sala de espera para os pastores atenderem muita gente. Mas hoje,
essas pessoas conseguem compartilhar isso umas com as outras, compartilhar seus
problemas umas com as outras, com os líderes de células, e de um modo que alguns desses
problemas acabam vindo pra cá, mas não são tantos, então, isso enxuga muito, isso diminui
muito a tarefa pastoral, é, em alguns sentidos como esse, de dá atendimento, às vezes uma
pessoa tá com problema que não é uma coisa tão grave, tão séria, mas ela não tem ninguém,
ela, então ela marca pra vim falar com o pastor uma coisa que numa troca, numa conversa
com uma pessoa íntima, bem próxima, poderia ser resolvido.

4p. Entrevistador: E na igreja como um todo, na congregação, que tipo de


repercussão a célula trouxe para a igreja como um todo, na celebração?
4r. Entrevistado: Bem, eu acho que um dos fatores que é bastante perceptível, no nosso
caso, é os nossos cultos. Eles se tornaram muito festivos, porque, é aquela história. Quando
você chega num ambiente onde estão pessoas muito próximas e amadas por você, isso
geralmente traz alegria, se isso vai se multiplicando na congregação, essa, esse clima
evidentemente acaba sendo dominante. Então, há muita alegria, muito entusiasmo no meio
da congregação. Pensando assim num todo, no contexto geral, isso acabou abatendo por
exemplo no ministério de ação social da igreja, as demandas sociais, elas foram reduzidas
também, porque? Porque muitas delas são atendidas particularmente, elas não chegam a
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necessitar que a igreja como um todo atenda aquela necessidade porque pessoas próximas
da mesma célula estão intervindo na realidade daquela pessoa, procurando ajudar. Um fato
que a gente tem percebido também é que a igreja hoje, ela recebe um número bem mais
expressivo de visitantes, convidados. Porque são essas pessoas que fazem parte do mundo
dos membros da igreja com quem eles estão se relacionando que acabam sendo trazidas,
convidadas. E como há um relacionamento mais próximo, evidentemente a resposta é
melhor no sentido de aceitar o convite e virem participar com, participar com a gente.

5p. Entrevistador: Como a célula influenciou a configuração da igreja em termos


estruturais, funcionais?
5r. Entrevistado: A nossa igreja, no nosso caso hoje, a estrutura básica da igreja é a
estrutura de cuidado, ou seja, é a estrutura das células. Então, temos os pastores, temos os
supervisores, temos os líderes. E as questões que tem a ver com pastoreio, as questões que
tem a ver com cuidado, com atendimento de necessidades, isso tudo de um modo geral
passa por essa estrutura. É, com essa estrutura a igreja evidentemente pode, é, digamos
assim, ou acabou aposentando algumas organizações que existiam né? Por uma questão de
não ter sobreposição, de não ter sobreposição. Agora, algumas outras coisas a gente
mantém. Como a escola bíblica, que eu compreendo que é muito importante a igreja ter a
escola bíblica. Só que ela hoje trabalha com temas. A gente oferece quatro meses a cada
semestre, a gente oferece uma grade com curricular com temas diversos que as pessoas
escolhem e optam por qual tema que quer estudar. Oferecemos cursos menores de um mês.
Cursos de dois meses ou de quatro meses ou até cursos que são feitos em dois semestres,
por exemplo. Cursos com uma carga horária maior. É, com os outros ministérios que nós
temos em atividade na igreja são todos eles hoje, vistos como ministérios de apoio,
ministério de suporte. Então, ministério de música, ministério infantil, a gestão
administrativa, todos e outros ministérios que a gente tem todos eles são vistos como
ministérios que precisam dar suporte para que as células funcionem satisfatoriamente.
471

6p. Entrevistador: E como as células influenciaram o orçamento da igreja?


6r. Entrevistado: Nós não adotamos um sistema, nós não mudamos o nosso sistema que
tenha a ver com ofertas por exemplo. Então, nossas ofertas continuam sendo feitas
diretamente nos cultos, depósitos bancários também, e então, na maneira de proceder nós
não alteramos, mas nós percebemos um crescimento bastante significativo na receita da
igreja. A nossa compreensão, é que o aspecto de prestação de contas, que faz parte da visão
das células, embora a gente não tenha uma maneira específica de lidar com isso, o que eu
quero dizer é o seguinte, se eu e você compartilhamos a vida, não significa necessariamente
que eu vou ficar te perguntando todo mês: cara você entregou seu dízimo? Dificilmente
isso vai acontecer, mas enquanto a gente tá compartilhando eu ouço a respeito da sua vida,
da sua vida financeira, como está sua vida financeira, como é que estão as coisas, seu
orçamento, se tá tudo bem, tal, e nisso evidentemente acaba entrando o aspecto da
fidelidade a Deus, inevitavelmente. Então, eu creio que o resultado que a gente tem de um
melhora no orçamento, na receita da igreja tem a ver com isso, com essa maneira de
encorajar uns aos outros na fidelidade a Deus.

7p. Entrevistador: E na forma da igreja investir esses recursos que advém de dízimos
e ofertas, maneira da igreja investir?
7r. Entrevistado: Eu acho que nesse sentido a gente teve algumas mudanças bem
significativas. Por exemplo, hoje nós investimos alto em treinamento. Investimos alto em
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treinamento. É, investimos com eventos de capacitação e também em pessoas. Nós temos


pessoas que querem se capacitar melhor pra fazer o ministério, e também, nós investimos
na própria, é, digamos assim, na própria agenda das células, então, as células, as vezes, tem
eventos que estão dentro do objetivo, e elas precisam de algum suporte financeiro, todos
os nossos líderes sabem que dependendo do evento que eles estão planejando fazer, a igreja
tem a disposição de apoiar financeiramente a realização daqueles, daqueles eventos. A
gente investe também, bastante, em literatura. Por exemplo, dos materiais que nós usamos,
da célula, o primeiro deles é o material que é usado para se fazer o estudo com um não
convertido. Desde que nós começamos, nós oferecemos este material gratuitamente.
Qualquer membro da igreja pode procurar a secretaria e retirar um, dois, três, pra poder
fazer este estudo com o não convertido e esse material é oferecido gratuitamente. Então,
isso mudou bastante o perfil de investimento da igreja. E também até no fato da igreja ter
hoje uma equipe pastoral maior e também onde ela evidentemente tem mais investimento
pra fazer.

8p. Entrevistador: Como é que você classificaria a igreja hoje? Como é que você
caracterizaria a igreja hoje?
8r. Entrevistado: Eu diria o seguinte, essa igreja é hoje uma igreja que procura ser
contemporânea na sua forma, nos seus cultos, no seu modelo gerencial também, estamos
investindo mais recentemente bastante na área de comunicação, mas ao mesmo tempo, uma
igreja que tem se preocupado em manter fidelidade aos princípios da fé cristã, a gente tem
feito um esforço, que eu acho até bastante natural que seja assim, pra não comprometer
princípios. Pra que o fato de ser uma igreja contemporânea, que quer ser uma igreja atual,
atualizada, não signifique abrir mão de valores que a gente compreende que são princípios
da Palavra de Deus e que não podemos negligenciar. Nossos cultos são muito espontâneos.
Você vem a um culto nosso, você vai ver pessoas que se manifestam com liberdade de
gestos, de expressões, o culto é bastante vivo, as pessoas são bem ativas na sua participação,
pelo menos a maioria ou boa parte delas. Pra mim a igreja é assim, é uma igreja que está
472

procurando ser uma igreja antenada, uma igreja contemporânea, mas ao mesmo tempo ela
mantém um vínculo com a tradição, eu acho que um exemplo que eu posso usar quanto a
isso é que nós cantamos, por exemplo, hinos, normalmente nos nossos cultos aos domingos,
nós temos três cultos no domingo, nós temos geralmente dois hinos dentro da ordem de
culto, temos cânticos, os mais modernos, os mais novos, mas a gente faz esse link com as
pessoas mais idosas, pessoas que tem história, a gente não abre mão, por exemplo, dos
hinos, lógico que são hinos que são mais cantáveis, são mais, de linha melódica mais fácil
pra congregação cantar. É, na igreja, do ponto de vista denominacional, nós somos uma
igreja tradicional, estamos ligados a Convenção Batista Brasileira, mas eu entendo que é
uma igreja tradicional e renovada ao mesmo tempo, tradicional em alguns aspectos, mas
renovada em outros aspectos.

9p. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo para a igreja como um todo nas
células, as células se constituem em algum perigo para a igreja?
9r. Entrevistado: Eu não diria que elas se constituem um perigo, mas eu diria que isso
pode acontecer. Na minha compreensão o estratégico quanto a isso, é a maneira como a
igreja se torna uma igreja em células, porque a visão celular, ela fundamentalmente
distribui liderança, se você distribui liderança, isso quer dizer que você distribui poder,
autoridade sobre as pessoas. Então, qual o risco? O risco é, se uma igreja não se prepara
adequadamente, e isso é um problema porque há igrejas que querem implantar células em
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três meses, e há muitos problemas com isso, muitas igrejas tem tido problemas com a isso,
se não há uma preparação, se não há todo um trabalho pra se desenvolver uma cultura
dentro da igreja, eu acho que esse risco é um risco presente, é um risco grande, porque você
realmente pode ter aquelas pessoas que tendo algum sucesso na liderança, ela acabem se
insubordinando, criando rebeliões, começando a se tornar insubordinadas, ou se tornando
insubordinadas, algumas coisas assim, e isso evidentemente pode se tornar um grande
problema, naturalmente pode se tornar uma grande dificuldade pra igreja.

10p. Entrevistador: Nesse período que vocês têm experimentado os pequenos grupos,
tem ocorrido alguma experiência nessa direção?
10r. Entrevistado: Eu diria a você que pela graça de Deus, nenhum, nós não tivemos por
misericórdia de Deus nenhuma dificuldade nesse sentido, nenhuma dificuldade. Nós temos
líderes que lideram durante algum tempo, e temos vários líderes que lideraram depois
preferiram deixar a liderança e tudo mais, ao longo desses anos tivemos várias células que
não foram a frente, elas não conseguiram engrenar, não conseguiram caminhar, mas graças
a Deus, nenhum problema, nenhum foco de rebelião, nenhuma situação de ter que tratar
com um líder que se tornou insubordinado que criou uma dificuldade pra gente.

11p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos das células?


11r. Entrevistado: Eu posso falar sobre nosso caso aqui. Porque há igrejas que elas usam
as células, antes de qualquer coisa com o objetivo evangelístico, e eu não acho que esteja
errado, mas nós começamos mais com a visão de pastoreio e até hoje a gente preserva essa
visão de pastoreio. Eu sei que a visão de pastoreio acentuada, se a gente não tomar cuidado,
ela pode impedir que a visão de evangelismo cresça, se desenvolva, e aí você tem um
problema seríssimo, gravíssimo, que é a célula se tornar uma panelinha, a célula se torna
um grupo de amigos, pessoas que adoram estar juntas, mas passa um ano sem levar um
visitante, dois anos sem ganhar uma pessoa, é, então, se o nosso foco está colocado no
pastoreio, é preciso haver todo esse cuidado pra focalizar também o evangelismo, ou seja,
473

a célula não pode perder a ideia que ela existe pra ganhar outros, pra alcançar outros. Mas
existe um raciocínio que na minha compreensão é muito simples, que se aplica a esse caso,
é o de que, se as pessoas aprendem a cuidar uma das outras dentro do grupo, e elas são
encorajadas a alcançar os de fora, elas tem melhores condições de alcançar do que aquelas
pessoas que estão só pensando em evangelismo, mas algumas delas muito traumatizadas,
com muitas questões da alma que precisam ser resolvidas, precisam ser tratadas e tudo
mais. Então, eu penso que essas duas pernas elas precisam estar em boas condições. A do
pastoreio e a do evangelismo também. No nosso caso, até porque nós começamos dentro
de uma necessidade de cuidar do rebanho, a gente destaca muito, a gente encoraja muito a
questão do pastoreio mútuo, mas a gente procura não abrir mão também da visão da célula
como uma ferramenta evangelística.

12p. Entrevistador: Fale um pouquinho mais sobre a importância da célula pra


desenvolver comunhão na igreja?
12r. Entrevistado: Sinceramente, eu penso que pode haver caminhos parecidos, não
melhores do que as células, não melhores pra desenvolver comunhão. Porque a gente tem
confundido comunhão com tomar um cafezinho juntos após o culto, no meio do culto:
agora dá um abraço no seu irmão, troca duas palavras com ele. Isso é bom, isso não é ruim.
Só que a gente sabe que isso não funciona assim, comunhão não é isso, comunhão é muito
mais do que isso, comunhão é eu saber realmente sobre a vida daquela pessoa, como é que
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ela está, é eu ter um relacionamento tão próximo com aquela pessoa que eu possa ler no
rosto dela se ela tá bem ou se ela não está, e isso você não ganha se não for, tendo intimidade
com a pessoa e como disse ainda há pouco, a intimidade é fruto de convivência, se não há
convivência não vai desenvolver intimidade, se não há intimidade não tem como haver uma
comunhão no sentido mais, melhor, que essa palavra possa ter nesse sentido. Então, eu
penso que a célula é uma ferramenta extraordinária pra que as pessoas tenham comunhão
e pratiquem aquilo que tá em Romanos doze quinze: chorar com os que choram e se alegrar
com os que se alegram. Eu não tenho como me alegrar com uma pessoa ou chorar com uma
pessoa que eu vejo uma vez por semana apenas há alguns metros dentro do mesmo
ambiente de culto. Mas se aquela pessoa faz parte do meu mundo, nós nos encontramos
pelo menos uma vez por semana, estamos juntos, num ambiente informal, onde tudo é
muito natural, as conversas, tudo mais, abrir coração e tal, aquela pessoa será uma pessoa
que eu realmente terei comunhão. Então, acho que a célula é uma ferramenta muito preciosa
para isso.

13p. Entrevistador: À luz da sua experiência, qual a sua recomendação para uma
igreja que não tem o pequeno grupo, não tem a célula, mas que deseja implantar
célula?
13r. Entrevistado: Eu ou seguir aquilo que é um lugar bastante comum pra quem lida com
células, dizer o seguinte, tem que começar com o pastor e tem que começar com o pastor
titular da igreja. Não acho que a visão celular possa ser iniciada com um pastor auxiliar,
com um pastor convidado pra fazer isso na igreja. Porque como é uma mudança de cultura,
como é um processo, é muito importante que a igreja entenda que o pastor está
completamente comprometido com aquilo. Eu creio que mais tarde, o pastor pode começar
a se liberar de algumas das suas tarefas. Como por exemplo, no meu caso aqui, no início
eu oferecia o curso para líderes, eu oferecia o treinamento para os membros que estão
chegando pra irem pra célula, mas já tem um bom tempo que eu não faço mais isso, já tem
um bom tempo que eu não faço, são outras pessoas que fazem, e não há problema com isso,
474

mas o pastor tem que ser o primeiro, o pastor tem que ser o guardador da visão, e aquele
que as pessoas percebem que ele está envolvido nisso, que ele, ou lidera uma célula ou
participa ativamente de uma célula, e que ele é quem conduz o processo na igreja. E esse
pastor precisa buscar treinamento. Eu acho que um pastor nunca deveria começar um
processo tão profundo de transformação numa igreja sem conhecer o caminho pra onde ele
tá indo, então, precisa estudar os materiais, fazer todo o treinamento necessário, pra ele
ganhar condições de conduzir isso. E eu acho que isso é fundamental para o pastor. Então,
a minha recomendação é essa, começa com o pastor.

14p. Entrevistador: Obrigado!

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 02-10-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
21 anos Jardim Camburi PIBJC 31

1p. Entrevistador: Fale um pouquinho sobre a sua experiência com célula.


1r. Entrevistado: Então, eu comecei a ir à célula quando eu tinha 14, 15 anos. Eu era
adolescente e eu tinha uma célula com pessoas mais adultas e ai eu fui. Percebi que era um
grupo de pessoas com o mesmo objetivo, com a mesma ideia, ideologia, e eu fui sendo
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cuidado. E a liderança foi cuidando da gente, e a gente ia crescendo, e a cada semana, os


encontros, e ai foi passando o tempo e depois eu fiz o curso de liderança pra célula e ai foi
indo e foi tudo acontecendo.

2p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte da igreja antes da célula?


2r. Entrevistado: Fazia, mas eu era bem pequeno, então eu nem lembro direito, só sentava
lá no culto.

3p. Entrevistador: Quais os benefícios que a célula trouxe para a igreja?


3r. Entrevistado: Acho que é intimidade, assim, entre as pessoas. Porque é uma igreja
grande onde eu sento num canto da igreja e não conheço quem senta do outro lado. Então,
se for uma célula, um grupo menor, eu acho que até que um grupo, acho que uma célula
mais de 15 pessoas já fica ruim, já perde o, não o controle, mas a intimidade então traz essa
intimidade, poder conhecer as pessoas mais a fundo, saber os problemas que elas tem, o
que que elas passam, que, saber que tem alguém comigo também, que eu posso contar, que
erra igual a mim, então é isso.

4p. Entrevistador: Que tipo de, que tipo de relacionamento, de vínculo vocês
estabelecem durante a semana entre os encontros?
4r. Entrevistado: No meu caso, a minha célula tem 21 pessoas, 23, entrou mais dois agora.
Não tem como eu falar com todo mundo, então a gente separou todo mundo tem o seu
parceiro, então é uma coisa bem mais específica, bem mais fechada, cada um é responsável
por uma pessoa e essa pessoa é responsável por outra pessoa. Então é só liga pro parceiro
e fala com todo mundo em geral, mas é uma coisa rápida, tá tudo bem, tá precisando de
alguma coisa, to aqui, qualquer coisa é só me ligar. É com o meu parceiro, é uma coisa
mais íntima, e com o grupo em geral já é uma coisa mais trivial.
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5p. Entrevistador: Qual o benéfico que a célula traz pra você enquanto discípulo de
Jesus?
5r. Entrevistado: Ah, acho que, é o que eu falei, de poder saber que tem pessoas que erram
igual a mim, entendeu? E tem gente que pode me ajudar e tem gente querendo melhorar
junto comigo, entendeu? Eu não to sozinho, sabe?

6p. Entrevistador: Nos encontros da célula, como é que as coisas acontecem?


6r. Entrevistado: Bom, começa com oração. A gente ora, a gente tenta fazer uma coisa
bem, pelo fato de ser uma célula de jovens a gente tenta fazer uma coisa bem mais leve,
livre, a gente começa orando, ai depois vai, toca algum louvor, algumas músicas, e vai
deixando seguir, e vai orando enquanto isso, aí tem a mensagem da edificação, a passagem,
ah, a vez da edificação, que é pra seguir a carta né? Que é o que o pastor falou no domingo,
e o evangelismo, que é a hora que a gente para, senta e ora pro, pelas coisas que a gente
pode fazer, às vezes pensa em alguma coisa que a gente pode tá fazendo pra trazer mais
gente para a célula.

7p. Entrevistador: E as, as pessoas que estão participando do encontro, elas, elas tem
espaço pra falar delas, como é que funciona isso?
7r. Entrevistado: Sim, é uma coisa bem aberta. E principalmente na edificação eu procuro
falar, eu falo, eu oriento a quem, a quem tá dando a edificação pra ser uma coisa bem, bem
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largada, largada entre aspas, porque, pra deixar todo mundo falar, então é só mesmo,
condução mesmo. Fala e dá o início, da uma introduçãozinha e aí vai, para de falar pra o
pessoal poder participar, e quando vai ver tá todo mundo falando. E ainda mais que todo
mundo é amigo, mais próximo assim, que vai tendo assim intimidade.

8p. Entrevistador: Que critérios são utilizados pra formação desses grupos?
8r. Entrevistado: Da minha célula tem que ser jovem. Pra não fugir do perfil da célula. Só
até aí, e só ter disponibilidade de horário no sábado, é uma célula no sábado, porque
normalmente dia de semana as pessoas trabalham, faculdade à noite, e ai sobra o sábado,
então é o que a gente tem.

9p. Entrevistador: Normalmente qual o horário que se encontra?


9r. Entrevistado: Cinco horas. Cinco e meia, por ai.

10p. Entrevistador: E, as... As células né? Os membros da célula, vocês tem alguma
ação pra fora da célula, à sociedade de modo geral, existe alguma mobilização do
grupo, alguma preocupação da célula pra de alguma maneira interagir com a
sociedade?
10r. Entrevistado: A gente tenta chamar, o que a gente mais fala, não tem nada específico
assim, uma ação que a gente faça, mas a gente sempre tenta frisar e meio que nas nossas
atitudes mesmo, entendeu? De ser alguém diferente, pessoas diferentes que influenciem no
meio do que a gente vive, não importa onde esteja, mas que a gente possa influenciar onde
a gente esteja. Ou chamando alguém, algum amigo que não é, que não é crente, que não é
cristão, ai a gente “pô, você é diferente, não sei o que, vamos lá, vai criando...”.

11p. Entrevistador: Alguma coisa em termos de ação social?


11r. Entrevistado: Não, nada.
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12p. Entrevistador: Na igreja, como você entende, como você vê a influência da célula
para as celebrações, para as atividades da igreja como um todo?
12r. Entrevistado: A célula, quando ela tá unida e a gente tem um objetivo, vamos fazer
alguma coisa pra a igreja, a gente é responsável por alguma coisa, todo mundo ajuda. Então,
pra igreja se torna uma ferramenta, quase. Porque, são, querendo ou não, vinte pessoas que
você mobilizou pra tá ajudando a fazer alguma coisa.

13p. Entrevistador: Você acha que a célula interferiu ou interfere na maneira como a
igreja adora a Deus, louva a Deus, participa das celebrações?
13r. Entrevistado: Nos cultos não. Mas na forma de pensar e planejar as coisas, sim. Tem,
a célula é, como se fosse a base de tudo, pelo menos aqui.

14p. Entrevistador: Você falou em objetivo, quais seriam os objetivos, os principais


objetivos da célula?
14r. Entrevistado: Da célula, acho que primeiro, é caçar as pessoas, tentar ajudar as
pessoas que já estão dentro, e pra mim a célula seria ideal nesse sentido. Todo mundo bem,
dentro dela, cada um cuidando de cada um e ai a gente começar a olhar pra fora, por
influência mesmo, não precisamos fazer muita coisa, mas por algumas influencias e sendo
realmente diferença e pra alcançar as pessoas que estão fora.
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15p. Entrevistador: Você vê algum perigo, algum risco para a igreja, a existência da
célula?
15r. Entrevistado: Não. Não vejo. Perigo não. Só se, sei lá, se juntasse umas três e
formasse uma outra igreja, mas acho que é pouco, muito pouco provável de isso acontecer.
Não vejo perigo não.

16p. Entrevistador: Muito bem. Como você, qual a relação que você estabelece entre
célula e comunhão?
16r. Entrevistado: Qual a relação?

17p. Entrevistador: Você acha que a célula contribui pra que haja comunhão na
igreja?
17r. Entrevistado: Há sim! Eu acho.

18p. Entrevistador: Como ela contribui?


18r. Entrevistado: Porque quando você separa uma coisa grande em pedaços pequenos
então é mais fácil de se ter comunhão. E aí se junta umas, algumas células diferentes, aí
tem a, existe a supervisão que, a supervisão toma conta de umas cinco células, que a
maioria, eu nem conheço todo mundo assim, entendeu? Mas aí, se junta e aí tem essa coisa
também de irmão, eu não te conheço direito, mas eu sei que você é meu irmão em Cristo,
então a gente tá junto, e eu acho que contribui por isso.

19p. Entrevistador: Como a célula incentiva o relacionamento de seus membros com


Deus?
19r. Entrevistado: Acho que incentiva, acho que na própria célula, com a experiência dos
outros, tem gente que chega que tá muito mal, tá muito triste, e vê alguém falando “nossa,
essa semana foi, foi muito difícil ou foi muito boa, foi com Deus, eu fiz meu “quarto de
477

escuta”704, e aí a pessoa que tá mal escuta experiências muito boas da pessoa que ta bem,
ta firme, e ai ela “poxa eu quero isso”. E vai indo, e aí tem alguém pra ajudar essa pessoa
que ta mal também, e a pessoa vai saindo da zona de conforto dela e vai melhorando.

20p. Entrevistador: Que argumento você usaria para outro jovem da igreja que não
está em célula para que ele pudesse se integrar numa célula?
20r. Entrevistado: Cara, se você quer ter um relacionamento mais profundo, poder
conversar sobre o que foi falado, o que foi, o que você tá passando, o que você ta sentindo,
você pode, você vem pra célula que você vai ser muito bem-vindo.

21p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre o pequeno grupo, sobre
a célula?
21r. Entrevistado: Não. É isso.

22p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Auxiliar de Líder SEXO: Masculino DATA: 02-10-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
26 anos Jardim Camburi PIBJC 32
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

1p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você participa de célula, pequeno grupo?
1r. Entrevistado: Eu participo desde meados de 2006.

2p. Entrevistador: Você já estava na igreja quando começou a participar da célula ou


não?
2r. Entrevistado: Sim, sempre fui da igreja. Quando vim pra vitória em 2006 e ai eu
comecei a participar da igreja de Jardim Camburi e aqui já tinha a visão de célula, então fiz
o ABC da célula e depois entrei numa célula,

3p. Entrevistador: Então você fez parte de uma igreja que não estava em célula e
passou a fazer parte de uma que estava em célula. Qual a diferença que você
observou?
3r. Entrevistado: A diferença que eu observei, foi acho que mais, talvez a intimidade com
as pessoas da célula, embora a outra igreja que participei era no interior, então mesmo assim
já tinha bastante contato, só que por chegar em Vitória e não ter esse contato toda semana,
todos os dias da semana, que nem é no interior, acho que isso aproximou também mais,
assim, agregou assim.

4p. Entrevistador: Pra você enquanto discípulo de Jesus, qual foi os benefícios que a
célula trouxe?
4r. Entrevistado: Eu pude fazer o discipulado. Logo que entrei na célula, meu líder, a
gente tinha uma diferença de cinquenta anos de idade, mas foi interessante porque dentro
da célula, sendo discipulado nessa parceria, ele me ensinava bastante coisa e ele também
podia aprender algumas coisas comigo. E também é legal ter o apoio da, das pessoas, você

704
Momento devocional em que o membro separa um tempo diário para ler e refletir na
Bíblia, orar e meditar.
478

tá passando por algum momento de dificuldade, é, você pede oração e todo mundo tá ali,
preocupado, junto com você, isso é importante.

5p. Entrevistador: Você falou em discipulado, como é que acontece esse discipulado
no pequeno grupo?
5r. Entrevistado: O, o discipulado a ideia é, não acontecer claro, durante a reunião da
célula, gente vai se encontrar, sempre vai ser alguém do mesmo sexo, homem com homem,
mulher com mulher e não necessariamente tem que ser um estudo bíblico ali, pode ser uma
parceria, alguns dias é claro que não sempre, mas uma parceria. Vamos nos encontrar para
lanchar e conversar ou caminhar, mas também envolve estudos bíblicos. Às vezes nosso
encontro era de cunho social, mas na maioria das vezes era estudo. A gente seguia um livro
que a igreja aqui adota que é do ministério de igreja em células. Então a gente seguia esse
livro, a gente estudava as lições semanalmente e se encontrava para debater sobre aquilo
que tinha estudado.

6p. Entrevistador: Como isso contribui para o seu relacionamento com Deus?
6r. Entrevistado: Isso me ajuda a, a manter firme e também a aprender mais. Porque às
vezes só lendo a bíblia eu posso na ter uma interpretação ali correta ou não ter
entendimento. E normalmente os livros já são de pessoas mais capacitadas e, e eles te dão
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uma, uma visão diferente, talvez aquilo que eu nunca tinha pensado isso ai contribui pra
meu entendimento da Bíblia e é claro, quanto mais a gente estuda, mais busca as coisas de
Deus, a gente tende a ficar mais próximo de Deus.

7p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos da célula?


7r. Entrevistado: Na minha visão, é manter o grupo em comunhão mesmo, e através desse
pequeno grupo atrair mais gente, porque quem vem de fora, normalmente, normalmente
não sei, mas pelas, pessoas que eu já ouvi dizer, tem dificuldade pra entrar na igreja e se
adaptar ou fazer parte de algum grupo. Então, as vezes você vem na célula, um grupo
menor, é quase uma reunião de amigos, então fica mais fácil de uma pessoas vim pra célula
pra depois ela entrar no meio da igreja.

8p. Entrevistador: Como é que são os encontros da célula?


8r. Entrevistado: Os encontros são semanais. Cada célula define o seu dia que é melhor,
de acordo com seus integrantes. E tem pré-estabelecida uma certa ordem, pra ser seguida.
Um momento de, de quebra gelo ali, fazer uma dinâmica, depois a gente faz um momento
de exaltação com música, lê alguns textos referente a aquilo que a gente vai cantar, tem,
tem o momento da edificação que é o momento que faz realmente um estudo, ali, ou, a
maioria das células seguem o, a mensagem do último domingo. Mas tem células que as
vezes quer levar uma lição de um, de um livro, alguma, alguma outra alternativa sem ser a
da, da mensagem. E por fim tem o, a parte do evangelismo que é mais focado tanto na, pra,
como é que fala, evangelismo, tanto pra gente buscar, tá trazendo mais pessoas e também
pra nos policiar, tipo assim, as vezes a gente coloca como é que tá o nosso relacionamento,
nosso devocional, então são nesses momentos que a gente traz esses assuntos.

9p. Entrevistador: Seriam mais as questões de valores?


9r. Entrevistado: Isso.
479

10p. Entrevistador: E qual é a participação dos membros das células, do pequeno


grupo, durante os encontros, que tipo de participação eles tem?
10r. Entrevistado: Nós definimos uma escala antes da célula acontecer pra cada pessoa ta
sendo responsável por um parte dessa que vai acontecer na célula. Então toda semana
alguém tá responsável por fazer alguma coisa, ou quebra gelo, ou edificação. E assim, é,
dentro do mês a gente também faz o rodízio das casas, pra não sobrecarregar uma pessoa.
A, o mesmo rodízio das casas é o rodízio da escala. Então, todo mundo algum dia tá
participando de alguma coisa.

11p. Entrevistador: E nos encontros assim, é, os membros das células tem a


oportunidade de compartilhar suas experiências, como é que acontece isso?
11r. Entrevistado: Sim, é o momento maior assim, de compartilhar é quando a gente vai
discutir a lição porque, na verdade não é uma não é um culto e nem uma palestra que alguém
fica falando direto. É só um breve momento que alguém lança uma ideia inicial, ou seja,
da mensagem ou da onde for, e depois que lançou essa ideia inicial, ai lança-se as perguntas
e essas perguntas são justamente para as pessoas compartilhassem, compartilharem, a, o
que elas pensam e, o, talvez dependendo da pergunta o que elas tão passando naqueles dias,
naqueles meses, e nesse momento que elas compartilham né, as coisas pessoais.

12p. Entrevistador: E que tipo de vínculos são criados ou fomentados entre os


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membros das células entre os encontros?


12r. Entrevistado: Não, não entendi. O vínculo é mais de parceria mesmo, de, de
irmandade, porque tanto quando a gente compartilha, então a gente tem também, no final
a gente pede pra quem precisa, não quem precisa, todo mundo precisa de oração mas quem
que tem algum motivo especial, então a gente sempre tá orando uns pelos outros ou pelos
familiares dos outros, então, cria esse vínculo de, de, de irmão mesmo, de um tentar ajudar
o outro.

13p. Entrevistador: E, há também algum tipo de cuidado mútuo quando alguém tiver
passando por alguma dificuldade ou celebrando alguma vitória, tem algum tipo de
participação na vida um do outro fora do encontro da célula?
13r. Entrevistado: Dependendo do nível de intimidade das pessoas sim. Por exemplo lá,
se tá comemorando um aniversário, normalmente é celebrado dentro da célula esse
aniversário. Mesmo que a pessoa vai fazer isso junto com sua família e convide o, as
pessoas da célula, mas, em, no dia da reunião da célula já é comemorado. E se alguém tá
passando por alguma dificuldade quando a pessoa compartilha os membros assumem esse
compromisso de ta orando, mas se não compartilha dependendo do, do sentimento do
próprio líder ou de alguém que perceber isso, que alguém tá passando por momento de
dificuldade, então, eu sei disso porque como sou aconselhado e o líder me conta então ele
fala assim, há, tal pessoa tá um pouco sumida, a gente podia chegar junto, perguntar o que
que tá acontecendo, pra não manter as pessoas afastadas.

14p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, a existência das células, dos
pequenos grupos?
14r. Entrevistado: Um perigo não, mas é, tem que ter os seus cuidados. Por, a questão de,
dependendo de como o grupo é, manter o vínculo entre um e outro, pode manter esse, esse
grupo muito fechado e aí acabar não entra ninguém dentro desse, desse relacionamento.
Seria acho que, mais, teria, esse cuidado, mas não seria um perigo, é mais uma questão pra
480

nem pessoas se afastarem e nem pessoas não conseguirem entrarem dentro da igreja por
causa de ter uma certa panelinha assim.

15p. Entrevistador: E que critérios são utilizados pra formação do grupo?


15r. Entrevistado: Bom, essa parte eu não sei específico porque, quem, pelo que eu sei,
por alto, é que isso, por exemplo, a célula tem um ciclo então quando chega, ela vai começa
a crescer e já ta com, com outro líder é, em visão, então eles começam a orar pra ter a
multiplicação. E, se eu não me engano, há uma reunião entre o pastor, o supervisor daquela
célula junto com o líder, porque o líder, como ele já ta mais junto com a célula, eles conhece
cada um e pode é, dar esse feedback pro seu supervisor e pro seu pastor. E aí, entre eles, eu
acho que é assim, entre eles, eles dividem é, quem vai pra uma célula quem vai pra outra,
é assim que se forma as células.

16p. Entrevistador: Qual o impacto que você da célula, do pequeno grupo pra igreja
como um todo?
16r. Entrevistado: Pra igreja, é, tem a questão que eu já comentei aqui, eu acho que é mais
fácil pra pessoas estarem fazendo parte da igreja e eu também acho que quando existe
algum evento ou alguma programação que precisa de, de envolvimento de muitas pessoas,
é mais fácil você fazer a mobilização dessas pessoas, porque você vai direto numa
supervisão, numa célula lá. Igual aconteceu num culto especial domingo passado. Então
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tinha várias equipes, equipe que mexe, que mexia com, é, sonorização, multimídia, música,
ministério infantil. Então você estabelece mais ou menos quais são as supervisões que vão
cuidar de cada área e assim eu acho que é muito mais fácil você ter essa mobilização das
pessoas. Há...acho que... não to lembrando de outra coisa.

17p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria uma igreja em células ou uma
igreja em pequeno grupo, sua igreja, como você descreveria sua igreja?
17r. Entrevistado: É uma igreja que procura ter relacionamentos próximos. Nessa visão
de pequenos grupos então a questão é, ninguém ficar sozinha, ninguém ficar isolado la
dentro da igreja, alguém tem alguém mais próximo dela. Porque quando você participa de
uma igreja que é muito grande e no caso de ser uma cidade grande também, como as
pessoas tem muitas atividades hoje em dia, então tendem elas ficarem isoladas, então, tendo
uma igreja em células, ou em pequeno grupo, é uma igreja que valoriza o relacionamento
e procura não deixar ninguém desamparado.

18p. Entrevistador: Sua igreja, sua célula é uma célula mais de jovens, ou também
tem adultos como é que é?
18r. Entrevistado: Só minha supervisora que é mais velha, mas os outros são todos jovens.

19p. Entrevistador: Se encontram em que dia da semana?


19r. Entrevistado: Na terça-feira

20p. Entrevistador: O pessoal não estuda?


20r. Entrevistado: Eles fazem faculdade. A maioria, só que de manhã ou à tarde
dependendo do horário.

21p. Entrevistador: O que você diria pra um jovem pra convencê-lo a fazer parte de
uma célula, um jovem que está na igreja, mas que não faz parte de uma célula?
481

21r. Entrevistado: Pra convencer?

22p. Entrevistador: Que argumentos você usaria em favor da célula?


22r. Entrevistado: Eu diria que ele ia ter pessoas com quem contar, pessoas que poderiam
ajudar ele se ele tivesse passando por alguma dificuldade, que seria, nós teríamos
momentos de descontração, que a gente poderia ajudá-lo na caminhada cristã, essa questão
de se alguém levanta, se alguém cai outro ajuda levantar, então ele poderia encontrar um
lugar que poderia fazer amigos, parceria de pessoas que é, dividem a mesma fé que ele.
Acho que é mais ou menos por ai.

23p. Entrevistador: E como a célula, o pequeno grupo influencia na, na organização


da igreja, na estrutura da igreja, na configuração da igreja?
23r. Entrevistado: Como que ela configura? Não sei explicar assim.

24p. Entrevistador: Há alguma outra coisa que você gostaria de falar sobre célula?
24r. Entrevistado: Eu acho que é importante pra igreja, na igreja ter esses pequenos
grupos. Tendo atenção pra questão que eu mencionei de, de não manter o grupo muito
fechado. Mas eu acho, eu depois que comecei a participar gostei muito dessa abordagem,
acho que agrega muito pra igreja, pro crescimento da igreja, acho que muitas pessoas
conseguem é, entrar dentro da igreja através da célula, acho que mais fácil do que se não
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tivesse esses pequenos grupos. E eu acho que é válido.

25p. Entrevistador: Ok. Obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 02-10-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
38 anos Jardim Camburi PIBJC 33

1p. Entrevistador: Queria que você me falasse um pouco sobre a, a sua experiência
com os pequenos grupos, com célula.
1r. Entrevistado: Eu tenho tido uma boa experiência, assim, não necessariamente cem por
cento maravilhosasa. Cada pessoa que a gente encontra é sempre uma surpresa do que
agente vai ter, de contato. Alguns contatos são bons, fantásticos, alguns tem uns certos
problemas, mas no ambiente de célula, são problemas que são tratados até você vê a forma
como que Deus age na vida das pessoas pra gente superar esses problemas. Então, eu vejo
como um ambiente de aprendizado.

2p. Entrevistador: Você fez parte da igreja antes da célula ou veio depois da célula,
como é que foi?
2r. Entrevistado: Eu já tive uma experiência, tive uma experiência de conversão antes da
célula. A igreja que eu fiz, tive a experiência de conversão, ela não tinha ambiente de célula,
comecei a ser discipulado, mas antes de eu ter uma compreensão assim, da vida com Deus
realmente, eu cheguei a lar...largar a igreja. Fiquei um tempo sem frequentar nenhuma
igreja, depois eu tive um outro momento de arrependimento tal, que eu voltei a buscar a
Deus, que foi justamente nesta igreja aqui, e logo em seguida, na segunda semana que eu
já estava frequentando a igreja eu fui convidado, pela pessoa que tava lá, sentado ao lado
482

no banco, pra participar de uma célula, e a partir daí não saí nem mais da igreja nem da
célula.

3p. Entrevistador: Qual a diferença que você nota, que você vê, entre uma igreja que
tem a célula, o pequeno grupo e uma igreja que não tem?
3r. Entrevistado: Bom, felizmente a igreja que eu participei antes, que não tinha célula,
tinha um núcleo de acolhimento, nem toda igreja tem, mas aquela igreja tinha pessoas no
ministério de acolhimento, de acompanhamento, e logo me encaminhou para o discipulado,
ok, foi importante. O ambiente da célula, também tem essa mesma função, de certa forma,
de um acolhimento, você também faz o discipulado, mas, por ser mais, mais pessoas eu
acho que você faz um vínculo também de amizade mais fácil, não só rígido ali, de
discipulado, discipulado, discipulado, não sei se tá claro pra você, por ser esse ambiente
mais familiar, ele facilita pra tratar esses problemas de relacionamento pessoal. Entendeu?
Então pra mim, é melhor o ambiente com os pequenos grupos.

4p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos de uma célula?


4r. Entrevistado: No meu entendimento hoje isso veio crescendo, já tem três anos que eu
conheço a Palavra do Senhor, e que eu venho crescendo. Hoje eu vejo que é uma
necessidade das igrejas terem pequenos grupos, eu vejo como uma realidade, porque nós
somos feitos pra relacionamento. Relacionamento com Deus, relacionamento com as
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pessoas. Sem o ambiente da célula, aonde, não por causa do horário, do encontro semanal,
entendeu? Quando a célula, eu vejo que ela tá madura quando ela consegue extrapolar essa
questão de horário, de um encontro certo toda semana, quando as pessoas da célula já são
quase que amigas e família mesmo. Um ajudando o outro e tal. Isso é o diferencial. Isso é
viver realmente a Palavra.

5p. Entrevistador: E como é que acontece isso?


5r. Entrevistado: Então, é uma coisa natural, mas eu vejo assim, há necessidade de você
ter uma liderança capacitada. Eu já tive, desde, de três anos pra cá, eu já entrei numa célula,
essa célula se multiplicou, eu acabei indo pra uma célula filha, dessa célula filha eu tive
infelizmente uma experiência, justamente com o líder da célula, de um problema, quando
eu busquei ajuda, não tive ajuda, mas depois eu precisei com outro pastor que, de uma outra
célula, que me acolheu numa outra célula. E essa outra célula se multiplicou também, e
hoje to numa terceira, numa quinta célula já. O que eu percebi é o seguinte: você tem muita
diferença desse crescimento quando a liderança tá realmente capacitada ou a liderança foi
simplesmente colocada como líder pra forçar uma multiplicação. É muito diferente, a célula
mais madura, sempre quando entra uma pessoa nova, a pessoa nova ela amadurece mais
rápido, ela entende as coisas mais rápido, ela experimenta a vida de oração, a vida de
testemunho, experimenta experiências com Deus muito mais rapidamente.

6p. Entrevistador: Isso que eu queria que você falasse. Como é que a célula contribuiu
pra o seu crescimento espiritual, ou pro seu relacionamento com Deus?
6r. Entrevistado: Com o exemplo. Vamos falar assim, com o exemplo. Eu vendo aquelas
pessoas, que quando eu entrei na célula já tinha pessoas que já estavam lá há mais tempo,
vendo o exemplo delas, a vida delas, as propostas: Ah! Vamos fazer oração essa semana?
No início eu não tinha experiência de oração, não sabia pra que. Ah! Mas vamos, se vamos,
vamos. Não era uma obrigação, mas era um convite, eles faziam, então você vai fazendo
igual, imitando, e ai você acaba percebendo a diferença e aprendendo com isso. Então pra
483

mim eu cresci muito no ambiente de célula. Antes de participar de uma célula, antes de me
converter, eu vou ser, várias pessoas eu achava que já conhecia tudo de Deus, eu achava
que eu, que minha vida agradava a Deus. Só quando eu percebi que isso era tudo um
engano, que eu vim pra igreja e a célula ajuda a você a quebrar esses enganos que tem na
mente da gente, entendeu? Mostrando a realidade de quem experimenta a vida com Deus,
a vida em oração, a vida em comunhão, em serviço. É por isso que eu até citei a questão de
você ter a liderança realmente capacitada, faz toda a diferença, que ai você realmente tem
exemplo.

7p. Entrevistador: E como é que acontecem os vínculos, como é que são alimentados
ou fortalecidos esses vínculos entre os membros das células, fora dos encontros, além
dos encontros. Como você disse, vazando, extrapolando os encontros?
7r. Entrevistado: Sim. Então, eu vejo como, de forma natural, assim, a pessoa quando ela
tem uma vida com Deus, que ela experimenta Deus verdadeiramente, ela não tem bloqueio
pra ter intimidade, ter relacionamento com a outra pessoa. Quem chega na célula como eu
cheguei, as vezes chega todo bloqueado, não ta preparado nem pra um abraço. Às vezes
não tá preparado pra falar da sua própria vida. Então isso acontece naturalmente, à medida
que essas pessoas que já não, que já não tem, que já são mais experientes, vão quebrando
esses receios, esses medos, essas travas ai. É, pra mim, foi muito assim, natural. Sabe?
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8p. Entrevistador: Certo. E a célula tem também uma preocupação em vazar, em


extrapolar para a sociedade? O grupo em si, como é que ele interage com a sociedade?
8r. Entrevistado: Então, aí acho que talvez até o que você tá tentando buscar na pergunta
anterior, que vem a pouco ser, assim, não ocorre somente os encontros de estudo bíblico
semanais. Ocasionalmente um casal convida outro pra poder tá, pra comer uma pizza
juntos, ter um momento de lazer, fazer um passeio no final de semana, são todo que você
não deixa de ta falando de Deus, mas são momentos desvinculados daquela cultura de local
específico, horário específico pra cultuar a Deus. Que traz ate a ideia, ensina que na verdade
a gente cultua a Deus a todo momento, a toda hora, esteja aonde você estiver. Então, a gente
marcava sempre churrascos de final de semana, que ia pessoas da célula, a gente convidava
amigos, era uma coisa assim, não fechada totalmente em padrões cristãos, religiosos assim,
de cantos, de oração. A gente tava tranquilo, sem ofender a Deus, sem desagradar ao
Senhor, mas é um ambiente que as outras pessoas também se sintam confortáveis, não
quebrar muito o padrão do dia a dia deles, daqueles, daquelas pessoas que não conhecem a
Deus, da sociedade. E a gente, nós também já programamos diversos momentos assim, de
apoio a sociedade, visita a creches, a asilos, momentos de evangelizar nas ruas, a gente fez
um, até em Vila Velha, num local mais humilde lá, em apoio a uma igreja que tava se
lançando lá, então tudo isso ai foi um momento de experiência que a gente sente até
gratificante, vamos falar assim, o presente maior é pra gente que participa do que pras
pessoas que tão recebendo ali um apoio, uma palavra.

9p. Entrevistador: Qual o impacto que a célula tem, na sua maneira de ver, qual o
impacto que a célula tem pra igreja como um todo?
9r. Entrevistado: Eu vejo assim. Tem muitas pessoas até que um dia ou outro não podem
participar da igreja, mas ela participa da célula. Então, as informações que são divulgadas
na igreja, ou de interesse da igreja, elas fluem melhor sendo também divulgadas dentro da
célula. O fato de um irmão da célula participar de um evento da igreja encoraja os outros
irmãos da mesma célula a participar. Que talvez se ele tivesse no público da igreja como
484

um todo, ele não participaria. Então esse vínculo de proximidade, eu acredito que faz aquela
pessoa que talvez não participaria dentro da igreja comum, por ele estar dentro da célula
entre pessoas próximas, que já tem o hábito de fazer coisas junto no final de semana, não
só a questão de sair pra comer uma pizza, mas que tem o hábito de estar junto mesmo, ir
no shopping, passear, ir na casa um do outro, bater um papo apenas, e essa atividade quando
um que já ta mais disposto faz, aquele que talvez não faria, dentro da igreja, ele acaba
participando também.

10p. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo para a igreja a existência do
pequeno grupo?
10r. Entrevistado: Eu vejo que a igreja, no caso, o pastor responsável pela igreja, as
lideranças, eu acho que assim, não um risco, mas eu acho que tem que haver um cuidado.
Não pode ser uma coisa que vamos fazer célula, vamos multiplicar, e de certa forma que a
liderança, que o pastor não está acompanhando, não tenha a visão do que que tá
acontecendo lá dentro da célula, seja em qual extremidade que essa célula tiver. Igual, que
te falei, infelizmente eu já tive casos de participar de uma célula que, por mais novo na fé
que eu seja, eu percebi que aquela liderança, até mesmo por comparar com outras lideranças
que eu já tive, ela não estava preparada para ser um líder. E isso podia, da mesma forma
que a célula afeta positivamente todo o grupo, pode afetar negativamente também todo o
grupo. Teve um desses casos até, que o casal que era o líder da célula, sem citar nomes,
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não é necessário citar nomes, eles eram um casal muito participativo, muito ativo dentro
da igreja, tanto o marido quanto a mulher dava cursos dentro da igreja, era ativo em outros
grupos de oração, era ativo no grupo de louvor, também administrava a célula, além disso,
é uma coisa até que é ruim, a questão do peso, sobrecarrega pela pessoa, na célula eram
bons lideres, mas eles estavam vivendo um problema no casamento, e esse problema no
casamento, eles como líderes, eles não estavam se tratando, então, acabou que virou como
se fosse uma máscara e uma hora a máscara cai. O casamento se desfez, afetou toda a
célula, vamos dizer assim, teve pessoas que deixaram de participar da igreja após esse
momento, entendeu? Porque essa pessoa que era líder, ele queria ser líder a qualquer custo,
e a igreja entendeu que naquele momento que ele estava passando problema que ele tinha
que deixar a liderança, que ele não estava num momento saudável para ele ser um líder, e
ele queria ser líder a qualquer custo, a liderança era mais importante pra ele do que seguir
a hierarquia da igreja. Então, é um risco.

11p. Entrevistador: E como é que se resolveu isso?


11r. Entrevistado: Então, não sei se foi da melhor forma, mas esse caso específico, a igreja
deu todo apoio, o pastor deu todo apoio. O pastou orientou tanto o líder separadamente
quanto orientou a célula. Mas esse líder contrariado, ele se afastou da da igreja, algumas
pessoas da célula se afastaram, a esposa dele então, já tinha saído antes, porque o casal
separou e ela foi embora pra outra igreja. As outras pessoas foram distribuídas em outras
células, e nós ficamos numa célula temporariamente, com uma pessoa da própria célula
que não estava capacitada para ser líder ainda, sendo líder até poder remanejar, depois as
pessoas foram pra outras células. Aqueles que sobreviveram, vamos dizer assim. Mas,
graças a Deus, hoje esse líder voltou pra igreja. Depois de um tempo, nós oramos por ele,
tal, ele percebeu e voltou, mas houve, houveram pessoas perdidas, houveram vida que
foram perdidas. Foi tratado da melhor forma? Não sei, talvez tinha que sido tratado antes,
alguma coisa falhou antes que não percebeu isso antes.
485

12p. Entrevistador: Muito bem. Mas os conflitos acontecem independentes de ter


célula ou não.
12r. Entrevistado: É, a gente não pode, não tem como provar que teria sido melhor que
dessa forma.

13p. Entrevistador: Agora, em relação a celebração em si, da igreja, quando a igreja


se reúne para adorar. Você acha que a célula contribui de alguma forma, na maneira
como a célula, como a igreja celebra?
13r. Entrevistado: De uma forma quase casual, as pessoas que são de uma mesma célula
tendem a sentar próximas durante a celebração. E se você está mais confortável num
ambiente que você tá entre amigos, eu acredito que contribui sim, analisando dessa forma
agora, porque você vai estar ali mais a vontade pra louvar ao Senhor, pra participar daquela
celebração.

14p. Entrevistador: E a maneira da célula, da igreja se organizar em termos


estruturais? Você tem formação em Administração então você sabe questão
estrutural, funcional, aliás, você vê que a célula traz alguma influência, contribui pra
uma configuração diferenciada da igreja, como é que é?
14r. Entrevistado: Na nossa igreja, da igreja que eu participo como membro, eu não vejo,
eu não consigo perceber essa influência da célula. Eu sei que é natural que as lideranças,
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os líderes das células acabam sendo envolvidos mais, de forma mais rápida nos ministérios.
E, talvez, dentro da célula, um membro poderia ser tão melhor ou quanto envolvido,
porque, como eles tem mais campo, existe um contato especial dos líderes com os pastores
da igreja, então assim, quando o pastor ou quando uma outra liderança de ministério já
lembra é mais fácil lembrar de quem tá próximo que acaba sendo os líderes. Então assim,
de certa forma isso acaba direcionando a participação maior dos lideres nos ministérios da
igreja. O que acaba, talvez, sobrecarregando, se isso é sadio ou não, eu não sei te dizer.

15p. Entrevistador: Mas em nível de célula, todo mundo tem oportunidade de


participar?
15r. Entrevistado: Todo mundo tem oportunidade. Mas eu gosto de falar assim, quando é
como algumas participações são por convites, você acaba convidando aquele que tá mais
próximo de você, então você, a pessoa acaba lembrando dos líderes.

16p. Entrevistador: Como você descreveria a sua igreja hoje, caracterizaria,


descreveria a sua igreja?
16r. Entrevistado: A minha igreja hoje ela tem os ministérios tradicionais, existe a igreja
tradicional em paralelo a igreja em célula. Acho que um não atrapalha o outro, os dois
sobrevivem bem. Ela é uma igreja em célula.

17p. Entrevistador: E, se você quisesse argumentar pra alguém, pra fazer parte dessa
igreja, que argumentos você usaria, utilizaria?
17r. Entrevistado: Então, eu vejo assim, eu não chamaria a atenção porque lá tem igreja
em célula. Não. Eu não, igual tem algumas igrejas, eu vou até mudar pra outro assunto,
desculpa tá. Tem algumas igrejas que vendem assim “venha pra nossa igreja...”, vendem
Deus, na verdade, “venha pra nossa igreja que aqui você vai ter a solução pra todos os seus
problemas, que aqui a sua vida financeira vai, vai resolver”, isso é forma de vender Deus.
Então, eu acho que não é a estrutura da igreja, não é o nome da igreja que vai chamar a
486

pessoa pra conhecer a Palavra de Deus ou não, a minha visão pessoal. É lógico que, eu vejo
assim, a minha, eu não conseguiria viver hoje, mesmo que eu fosse, que tivesse que mudar
pra outra cidade onde não tivesse igreja em célula, com certeza lá eu ia criar meu
nucleozinho de amigos e ia acabar virando uma célula. Porque eu não vejo que isso é, eu
vejo que isso é uma coisa natural, é uma coisa como deveria ser, entendeu? Até ficar assim,
falando assim, tem que ter igreja em célula, gente é uma coisa tão natural, a gente tem que
viver em família, tem que viver junto, então, se a célula tem dez membros ou tem cinquenta
membros, acho que isso não importa muito. Acho, mas eu, igual to te falando, tem pessoas
que eu falo do Senhor, que eu discípulo, mas eu não falo sobre a questão de “venha pra
minha igreja porque ela tem cem células”, as vezes eu chamo a pessoa pra vir na igreja, já
teve pessoas que eu convidei pra vir pra igreja e vieram, e tem pessoas que eu convido pra
ir pro encontro das células e elas vão, eu não tenho nenhuma, não tenho a mente presa pra
um assunto específico.

18p. Entrevistador: Muito bem. Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar
sobre célula?
18r. Entrevistado: Única coisa que assim, hoje, que eu vejo célula é positivo, pequenos
grupo é muito positivo, é sadio, ajuda as pessoas a amadurecer mais rápido, ajuda a pessoas
a ter experiências com o Senhor mais rápido, experiências verdadeiras, vai ter o apoio pra
tirar duvida, eu acho que isso é muito sadio. Eu acho que todas as igrejas deveriam
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experimentar dessa forma, não porque é pensando que existe conflito entre a igreja
tradicional e a igreja em célula, eu não vejo que existe conflito, nem acho que seja
necessário falar separando realmente, pra mim é tudo uma coisa só. Mas eu vejo assim, o
pastor que é o responsável pela igreja, uma igreja em célula, uma igreja tradicional, com
esse encontro ali, todo domingo, ou seja, que eventos que a igreja tenha pra encontrar o
público, ele tá sendo, ele público falando pro público, então ele tem o controle da
orientação. Nem todo mundo aprende da forma que ele, que ele espera. E isso a gente
percebe na célula, e na célula ajuda muito a gente a tratar essas, essas divergências de
entendimento, e alinhar. É muito saudável pra isso. Mas o pastor tem que acompanhar de
alguma forma, porque a liderança da célula às vezes, eu percebo assim, tem que tomar
cuidado com a pessoa que ocupa a posição de liderança que da mesma forma que tem
algumas igrejas, independente da denominação, que a, a liderança sobe a cabeça da pessoa,
na célula, a liderança também, eu já percebi pessoas que sobe a cabeça. A questão de “eu
sou líder” e muitas vezes a pessoa até impede a multiplicação porque ele não quer perder
os liderados. Ele não quer perder aquelas pessoas debaixo dele. Então, isso eu acho que é
mau, é ruim pra célula. Então, isso tem que tá perceptível. Tem que ter uma forma, igual
eu até pensei, eu mesmo sozinho, vou até registrar aqui, eu acho assim, depois de um tempo
que a pessoa é líder, ela tem que ser uma coisa assim, olha, agora você vai deixar de ser
líder, você vai participar da mesma célula, antes da multiplicação, e aquela pessoa que você
tá preparando pra líder, ela que vai assumir a liderança com o seu apoio. Porque se ela não
for, se a pessoa não tiver na mente que ela, ela não é líder pra sempre, ela pode acabar com
a célula. Você tá entendendo? O fundamento da célula é a multiplicação. Então a pessoa
pode se apegar a essa liderança. Tem que ser um, falar assim ó, você é líder, é temporário,
aquela coisa de servir. Deixa de ser líder um tempo, pra você ensinar outro a ser líder, aí
depois multiplica. Aí não ,vai os dois, vocês são líderes, forma, deixa de ser líder um tempo
pra ensinar o outro a ser líder com seu acompanhamento e ai depois multiplica. Eu acho
que assim é mais saudável pra pessoa não ter o apego a liderança.
487

19p. Entrevistador: Muito bem. Obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 02-10-2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
50 anos Jardim Camburi PIBJC 34

1p. Entrevistador: Queria que você me falasse sobra sua experiência com pequeno
grupo, com a célula. Desde quando você faz parte?
1r. Entrevistada: Olha eu faço parte tem uns dez anos.

2p. Entrevistador: Você já estava na igreja quando ela começou com os grupos, com
as células?
2r. Entrevistada: Não, eu já estava na igreja, quando a igreja começou.

3p. Entrevistador: Você já era membro da igreja?


3r. Entrevistada: Não. Eu frequentava a igreja, mas não era membro ainda.

4p. Entrevistador: Você vê alguma diferença na igreja depois da célula?


4r. Entrevistada: É diferente. A gente tem mais união, tem mais assim, comunhão. Porque
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é uma igreja grande, então você não tem oportunidade de conhecer muitas pessoas, de
conviver muito com as pessoas, então os pequenos grupos facilitam essa intimidade, facilita
essa aproximação, que a gente muitas vezes vem pra igreja. Oi, bom dia, boa noite', não
tem vínculo. E com os grupos, e também tem, tem a multiplicação, com essa multiplicação
a gente fica conhecendo muita gente, vai criando intimidade com muita gente na igreja.
Que você participa às vezes, cada ano você participa de um grupo, está sempre mudando o
grupo, então facilita você conhecer as pessoas, tem intimidade, tem tempo, todo mundo.
Interação.

5p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


5r. Entrevistada: Como vou dizer! Primeiro a palavra. Em primeiro lugar, é a gente, como
é que eu vou te dizer! A gente estudar a palavra, conhecer a palavra. Meio discutir a palavra,
assim, o que é bem básico a pregação do pastor no domingo. A célula tem esse objetivo.
Tem a carta, que a gente acompanha a sequência da carta, então é pra gente compartilhar,
o que, o que Deus falou com a gente em relação à pregação, em relação ao texto que a gente
leu no domingo anterior. Então assim, tem essa oportunidade que a gente tem de
crescimento, da palavra de Deus mesmo. Não é uma escola bíblica, porque não, a gente
não fica ali estudando, a bíblia como vou dizer em missões. Mas é um, é um entendimento,
é uma aprendizagem, porque você ouve a opinião de todo mundo, como todo mundo ouviu,
as pessoas viram e observaram aquele texto ali, e a gente compartilha o que a gente nem
tinha percebido, de alguma forma, que viu, que algum outro membro viu. Aí você passa,
você compartilhando você às vezes você tem outra visão, te clareia, te ajuda.

6p. Entrevistador: Então a ênfase é o compartilhamento?


6r. Entrevistada: Tá no compartilhamento.

7p. Entrevistador: As pessoas tem liberdade de compartilhar experiências?


7r. Entrevistada: Tem.
488

8p. Entrevistador: Como é que funciona isso?


8r. Entrevistada: Funciona assim. Você tem liberdade de falar, no seu entendimento. Tem
algumas perguntas que você meio que direciona. Mas também é muito livre. Entendeu? As
pessoas falam, falam de experiências que elas têm, em relação ao que "tá" proposto. É o
que aquilo falou pro coração dela. O que ela vai fazer diante disso. Qual é o propósito dela
a partir daquilo ali. O que mais tocou. Então assim, são várias opiniões. São opiniões
diferentes. E todo mundo participa. Existe o líder, mas ele só direciona. Todo mundo dá
opinião, o líder não fala sozinho. Mesmo porque cada, cada parte dos "Es" que compõem
o encontro, é cada pessoa do grupo, que faz uma parte, não é o líder que faz tudo. O líder
direciona, então às vezes nem o líder, nem sempre é o líder que faz a edificação, então as
pessoas têm oportunidade de falar o que entendeu, de compartilhar, de trocar idéias. É uma
coisa muito gratificante.

9p. Entrevistador: E como é que os grupos se formam?


9r. Entrevistada: Olha! Os grupos se formam. Na igreja há vários tipos. Idade, interesses.
Às vezes tem pessoas que "tão" solteiras. Às vezes pessoas mais idosas, mais de certa idade,
então, a princípio, quando começou o grupo, era mais assim, mais direcionado, hoje em dia
"tá" tudo, "tá" mais mesclado, mas tem assim, tem área de família, hoje tem as redes. Tem
rede de família, tem rede de jovens, mas não quer dizer que é só jovem que reúne. Tem,
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então não só aquele grupo ali. A minha rede, por exemplo, chama rede conecte. É
direcionada às mães de adolescentes, de juniores, mas não é só isso também, eu sou mãe
solteira, então eu tenho um filho de 15 anos, tem pessoas na minha rede, na minha célula,
que não tem filhos. Tem pessoas que tem filhos, tem casais, tem pessoas solteiras, então
assim, é bem misturado o grupo.

10p. Entrevistador: Certo. E a questão da comunhão?


10r. Entrevistada: Comunhão...

11p. Entrevistador: Comunhão. Como é que a célula faz para desenvolver a


comunhão no grupo?
11r. Entrevistada: Olha a gente assim, a gente ora uns pelos outros. Existe um caderno de
oração, onde as pessoas colocam os pedidos ali. Existem os encontros também de duplas,
a gente tem duplas de oração, que fazem parcerias, têm duplas de discipulado, duplas de
discipulados, então isso vai criando um vínculo um com o outro. Tem momentos de
descontração, tem festas de aniversariantes, tem às vezes a gente sai pra ir ao cinema, a
gente faz às vezes vai ao parque, faz um piquenique, faz um café da manhã. Então assim,
são várias atividades, não é só aquela coisinha formal, dentro de casa, não. Tem, têm várias,
vários modelos de encontros que a gente faz. Então a gente "tá" sempre modificando pra
também não ficar aquela coisa muito maçante.

12p. Entrevistador: Como é que um cuida do outro?


12r. Entrevistada: Um cuida do outro através da oração e da intimidade. Que, a partir do
momento que eu sou sua parceira de oração, eu me encontro com você determinado dia, eu
tenho mais intimidade com você. Aí eu vou saber mais dos seus problemas, mais da sua
vida. Entendeu? Porque eu tenho um tempo só com você. E o discipulado é a mesma coisa.
Às vezes tem uma pessoa que entrou na célula, ou tem uma pessoa que ainda não é
evangélica, que "tá" visitando, então a gente tem o interesse. Então a gente vai fazer um
489

estudo bíblico com essa pessoa, que é o discipulado. A gente tem os livrinhos que a gente
vai direcionando, às vezes também a gente não faz o livrinho. A pessoa vem bater um papo,
a pessoa quer desabafar, conversar, a gente também deixa às vezes o livrinho de lado. Não
é uma coisa assim, muito certinha, não é que é muito certinha né? Errado também não é.
Mas não é assim uma coisa muito regular. Não é regra. Existe uma regra sim, a gente tem
os tópicos a seguir, tem os direcionamentos, mas a gente não tem que seguir aquilo ali à
risca. A gente pode também um dia ou outro, eu sair com a minha parceira e ir ao cinema
com a minha parceira, tomar um sorvete, ir à pizzaria, entendeu? Nem por isso eu "to"
deixando de fazer a parceria. "Tô" conversando com ela, "to" compartilhando com ela
minha vida, ela compartilha a vida dela comigo, e aí essa comunhão, essa intimidade se dá
assim. E também tem o grupo. No grupo de célula tem as duplas.

13p. Entrevistador: E a célula em si, os membros das células? Também têm uma
preocupação com a sociedade de um modo geral? Como é que, como é que a célula se
preocupa com o social?
13r. Entrevistada: Bom, a gente de vez em quando, a gente faz uns atos de compaixão.
Nossa célula já fez doação de sangue, a gente já juntou, já fizemos uma visita no lar de
crianças. A gente já juntou e fez, fizemos cachorro quente, aí cada um leva o, leva os, por
exemplo, é objetos de higiene pessoal pra quem "tá" precisando, a gente liga, a gente liga
pra saber o que que precisa, a gente faz a campanha em um grupo, de alimentação a gente
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já fez, já deu cesta básica, nesse sentido.

14p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, a existência do pequeno grupo?
14r. Entrevistada: Não, muito pelo contrário. Perigo?

15p. Entrevistador: Isso, e benefícios?


15r. Entrevistada: Ah! Eu só vejo benefícios.

16p. Entrevistador: Que tipo de benefícios seria?


16r. Entrevistada: É, porque a igreja, muitas vezes, muitas pessoas chegam na igreja e
vão, vai de manhã na EBD, vai no culto, mas não conhece um ao outro, não tem tempo,
não tem esse elo. Então esse pequeno grupo facilita isso. E às vezes você ir à igreja, sentar
no banco, louvar, adorar e depois ir embora pra casa, sem nenhum vínculo com ninguém.
Com um tempo isso desgasta. Você chega lá, senta, fica uma coisa muito formal, muito
cética.

17p. Entrevistador: O pequeno grupo causou algum impacto na sua vida?


17r. Entrevistada: Nossa! Mudou.

18p. Entrevistador: No seu relacionamento com Deus?


18r. Entrevistada: Mudou tudo na minha vida. Porque assim, eu, eu vivo muito em função
das coisas da igreja, graças a Deus. Gosto, muito disso. Então assim, eu, a vida da gente é,
é direcionada pelas coisas da célula, as outras coisas do pequeno grupo, as coisas da igreja.
Eu sei, a gente tem vida fora da igreja? Tem. A gente conhece um monte de gente, tem
trabalho, tem um monte de coisa. Mas assim, mudou assim, as opções, a suas opções. Se
hoje eu tenho, um grupo, eu tenho a oportunidade de ir num aniversário de uma pessoa que
não é da igreja, mas eu tenho alguma coisa da igreja, eu prefiro ir nas coisas da igreja.
490

19p. Entrevistador: E na igreja de um modo geral, que impacto a célula produziu na


igreja?
19r. Entrevistada: Eu acho que deu mais alegria, mais prazer, é mais prazeroso de
participar das coisas. Porque você "tá" em grupo, você "tá" em grupo, tudo o que você faz
"tá" em grupo. Você não faz nada individual. Tudo o que você faz "tá" concentrado no
pequeno grupo.

20p. Entrevistador: E como é que você descreveria sua igreja hoje? Como é que você
vê? A minha igreja é: É isso é aquilo. Como é que você descreve a sua igreja?
20r. Entrevistada: Olha! Eu amo a minha igreja. Eu descrevo a minha igreja, lá a gente
"tá" num caminho de aprendizado né? Tudo é aprendizado, a gente, mas eu acho, eu acho,
eu gosto muito da igreja, eu gosto do direcionamento da igreja, dos pastores, da maneira
como eles conduzem as coisas, eu acho uma igreja muito organizada, muito séria nas coisas
que faz muito responsável. É tudo assim, muito organizado. Eu acho uma igreja muito séria
nas coisas. O pastor Juarez conduz as coisas com muita seriedade e o grupo que trabalha
com ele também, a diretoria, eu creio que segue a mesma linha dele, entendeu? Eu acho a
igreja séria. Uma coisa assim que, vamos dizer, não é, não é assim, de qualquer jeito. Ah!
Vamos fazer isso, vamos fazer e vamos fazer, sem um planejamento, sem um
direcionamento. Eu sinto assim que, tem firmeza, tem alicerce, tem base.
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21p. Entrevistador: Que argumentos você usaria, pra incentivar alguém, que está na
igreja, mas não faz parte de célula? Que argumento você usaria pra que essa pessoa
fosse fazer parte de um pequeno grupo?
21r. Entrevistada: Olha! Primeiro eu conversaria com ela, falava pra ela que num pequeno
a gente nunca "tá" sozinho. Primeiro passo é esse. Porque acho que ninguém é uma ilha. A
gente precisa das pessoas. Preciso contar com a oração do meu amigo. Do meu parceiro.
Do meu grupo. Eu preciso disso. É o que me move. É a oração dos meus irmãos, dos meus
companheiros. Então, eu acho que é a primeira coisa que e, eu ia conversar com ela, é nesse
sentido de, não estar só. Compartilhar a vida dela com alguém, dividir com alguém. Porque
muita gente às vezes não quer participar de pequeno grupo, porque acha que tem que expor
a vida. Não é isso. Não tem que expor sua vida. Você tem que sentir movida, né? E, e assim
ficar à vontade. Não é controlar a vida de ninguém, pra vigiar a vida de ninguém. É um
momento de solidariedade eu acho. Compartilharia porque a gente, às vezes tem gente que
precisa "tá" precisando de uma determinada coisa, mas não tem o orgulho não deixa contar.
Fica guardando aquilo ali dentro dela, eu vou contar, vou falar isso da minha vida assim e
assim? Depois fulano vai pensar de mim, não sei o que, não sei o que lá mais. Ninguém é
perfeito. A gente precisa um do outro. Então eu acho que a célula é um local onde a gente
pode compartilhar isso aí e um ajudar ao outro. Eu acho que é o local. Porque na igreja
você não vai falar nunca, pra um montão de gente. Tem que ser onde? No pequeno grupo.
Ou às vezes só a parceria. Tem coisas que se você não se sente seguro, pra falar pro grupo
de outra pessoa, isso daí, sei lá. Mas você pode falar com seu parceiro. Confiar só nele. E
um ajuda o outro. Que às vezes você não precisa falar pra todo mundo. Se você não tem
esse desejo. Então você tem pra alguém. Porque eu acho que a pessoa que não "tá" em
célula fica muito sozinha. E acaba desanimando. Porque o grupo é assim. O grupo senta
sempre junto, faz as coisas junto, então a pessoa sente de fora, pouco de fora do, do, do
grupo da igreja.
491

22p. Entrevistador: Muito bem. Tem mais alguma coisa, que você gostaria de falar
sobre célula?
22r. Entrevistada: Ah! Eu, eu, eu creio que a célula é o caminho. É o caminho pra, pra
consolidar, pra unir os relacionamentos da igreja. Eu acho que é tudo. Tá bom?

23p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
32 anos Jardim Camburi PIBJC 35

1p. Entrevistador: Fala pra mim sobre a sua experiência com pequenos grupos, com
células.
1r. Entrevistada: Bom, eu comecei com pequenos grupos, com células, logo quando eu
me converti que tem sete anos. Eu já vim direto aqui pra Primeira Igreja Batista de Jardim
Camburi. Aí nos dois primeiros anos eu fiquei só como participante, aí nos dois anos
seguintes eu fiquei como auxiliar de liderança, e tem três anos que eu... Três anos, né, vai
completar três anos que eu lidero célula. E pra mim foi muito importante. A convivência
da célula porque a gente pode tratar as coisas mais pessoais que a gente tem com a gente,
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com as nossas dificuldades, até mesmo buscar o entendimento de algumas coisas que
acontecem pelo compartilhamento que a gente faz, nos pequenos grupos e as vezes no culto
isso não é possível por ser muita gente.

2p. Entrevistador: Qual foi a influência da célula, do pequeno grupo, pra você vir pra
igreja?
2r. Entrevistada: Na verdade, eu vim pra igreja primeiro, e depois que eu comecei a
participar da célula. É não fui convidada primeiramente pra vir pra uma célula e depois
participar.

3p. Entrevistador: Você participou de alguma igreja antes de vir pra cá, alguma igreja
que não tivesse o pequeno grupo?
3r. Entrevistada: Eu era Católica. Eu fui Católica a minha vida toda, era Católica
praticante, mas pela minha irmã mais velha ser evangélica, ela sempre me influenciou me
dava livro, me dava as coisas, e eu comecei a questionar algumas coisas do Catolicismo
que não se adequavam mais ao meu entendimento do que era salvação e das coisas que se
relacionavam com Deus. Por isso que eu saí da Igreja Católica e como minha irmã
frequentava aqui, eu gostava muito daqui, gostava dos pastores que pregavam aqui, aí
passei a vim aqui. E aí procurei o pastor pra me direcionar pra uma célula de jovens e tal,
e foi assim que eu comecei a participar.

4p. Entrevistador: Como a célula, qual foi o benefício que a célula trouxe pra você
iniciando numa nova jornada na fé?
4r. Entrevistada: Me deu a possibilidade de compartilhar as minhas dificuldades,
principalmente porque a minha mãe sendo muito Católica não aceitava. Hoje ela entende e
respeita. Até hoje eu acho que ela num aceita muito bem. Mas me deu a oportunidade de
compartilhar esse drama, essa dificuldade com as pessoas, junto com a célula foi o
discipulado e a minha parceria, que me fizeram entender também muitas coisas que eu
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ainda não entendia por ter vindo do Catolicismo. Então eu passei a ser cuidada melhor
nesse sentido de entender o que Deus queria da gente, o nosso propósito diante da vida,
porque é muito mais fechado, as pessoas podem te acompanhar mais, te liga e pergunta
como você tá, se você falta. Realmente um cuidado especial que é diferente na célula.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você faz entre pequeno grupo e comunhão?
5r. Entrevistada: Olha, na célula a gente pode ter comunhão com as pessoas mais de perto,
porque às vezes a gente tem comunhão quando a gente vem no culto, mas é uma coisa mais
rápida. Porque você vem aqui, fica no culto, presta atenção no culto, a gente interage pouco.
E na célula a gente pode interagir melhor, se conhecer melhor, ajudar as pessoas, ser
ajudado. Então a comunhão é maior, você cria vínculos maiores dentro da célula assim com
as pessoas do que num culto, num grupo maior.

6p. Entrevistador: No encontro da célula, a célula se encontra uma vez por semana?
6r. Entrevistada: Uma vez por semana.

7p. Entrevistador: Nesse encontro, como é a participação dos membros da célula?


7r. Entrevistada: Então, têm pessoas que participam mais. Algumas pessoas que estão
mais interessadas realmente em participar, em se abrir, compartilhar. E existem algumas
pessoas que vão pra cumprir uma tarefa, porque, vamos por assim: ela tá numa igreja que
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é em células, que é o propósito da nossa igreja, relacionamento e tal. E aí ela vai porque ela
precisa tá em célula, porque a igreja direciona pra isso. Mas ela participa pouco, se envolve
pouco, muitas vezes não tem comprometimento de vir à célula. Qualquer motivo é motivo
dela não participar. Então, assim, eu já participei de seis células de lá pra cá. Seis ou sete
células de lá pra cá, e sempre tem aquelas pessoas que participam mais e aquelas menos
envolvidas.

8p. Entrevistador: Sim. E dentro do encontro em si, qual espaço que as pessoas têm
pra compartilhar as experiências? Tem estudo? Como é que funciona?
8r. Entrevistada: Geralmente o que a gente tem de proposta é a carta do pastor, onde a
gente tem um momento de exaltação, tem a parte da edificação e a parte do evangelismo.
E dentro das perguntas que são direcionadas na maioria das vezes de acordo com a
mensagem que foi ministrada no domingo, a gente consegue compartilhar, compartilha
sobre a nossa conversão, sobre a nossa dificuldade, o que a gente tem feito pra buscar
pessoas pra Cristo, e dentro disso falar dos nossos problemas, nossas dificuldades, o que a
gente enfrenta pra poder conseguir ou não conseguir, ou não tá tendo um bom quarto de
escuta, ou tá tendo um bom quarto de escuta; e acaba uma pessoa fala de uma experiência
que acaba servindo pra você como direcionamento.

9p. Entrevistador: E entre os encontros, que tipo de vínculos vocês criam, como é que
acontece o contato entre vocês entre um encontro e outro?
9r. Entrevistada: Olha, o grupo que eu lidero, a gente tem um grupo no WhatsApp, então
a gente se comunica, marca de ir a praia, marca de sair, pergunta porque o colega não foi.
Às vezes as pessoas mandam no grupo um pedido de oração, às vezes pra ele mesmo, às
vezes por uma pessoa que ele quer que a gente ore. E aí a gente se fala hoje, devido o
WhatsApp, mais por WhatsApp do que por telefone. Antes, uma pessoa faltava no grupo,
'cê acabava ligando: "Ah, fulano, porque você não foi, tal! Teve algum problema?" Hoje a
gente mais trabalha com o grupo de WhatsApp mesmo pra se comunicar.
493

10p. Entrevistador: Você falou que lidera uma célula. Como é que você assumiu essa
liderança? Isso partiu de você? Alguém incentivou você? Como é que aconteceu de
você assumir a liderança?
10r. Entrevistada: Então, desde a minha terceira, acho que terceira célula, eu já fui
encaminhada pro curso de auxiliares, porque as pessoas que lideravam viam em mim a
disposição de ajudar, os momentos são divididos, os momentos de exaltação, edificação, e
eu tava sempre comprometida em participar e sempre fazia alguma tarefa, cumpria com a
minha tarefa sem dificuldade. Então, eu fiz o curso de auxiliar de liderança, aí fiquei
auxiliando mais um ano, e depois que uma líder saiu, eu fui, me chamaram pra liderar junto
com essa outra líder. E aí a gente ficou liderando um tempo. Depois ela saiu e eu fiquei
liderando sozinha. Depois veio uma pessoa pra me auxiliar. Então foi mesmo por indicação
assim, que as pessoas acho que viram que eu tinha a capacidade de liderar e me
direcionaram.

11p. Entrevistador: Qual a preocupação da célula com as pessoas fora do grupo, fora
da célula, as pessoas da sociedade, as pessoas do bairro, da comunidade de um modo
geral? A célula também tem alguma ação para atender as necessidades dessas pessoas
ou ela está voltada somente para o grupo em si?
11r. Entrevistada: Na verdade o objetivo nosso muitas vezes é trazer pessoas que não
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conhecem a Cristo pra célula. Porque às vezes é o momento menos, acho que ela sentiria
menos pressão do que ir a um culto dentro de uma igreja, de um templo, e tal. E ali seria
um momento dentro da casa de alguém, acho que ela se sentiria mais confortável. Então a
preocupação da célula é em trazer essas pessoas que estão perdidas, que não conhecem a
palavra, ou que estão enganadas ou desviadas, e trazê-las pra célula pra que elas conheçam
a Cristo e através da célula possam passar a frequentar o culto, se converter, se batizar,
enfim.

12p. Entrevistador: Isso. E com relação às questões sociais, problemas sociais do


bairro, o grupo tem alguma preocupação em atender a essas necessidades? Como é
que é?
12r. Entrevistada: Eventualmente a gente participa de alguns programas que a igreja faz.
Às vezes visitar um asilo, fazer uma visita a um grupo de viciados, buscar evangelizar ali,
ir a um orfanato. Mas alguma coisa assim específica que a minha célula faça hoje, não tem,
mas a gente se envolve nas coisas que são direcionadas pela igreja.

13p. Entrevistador: Você acha que o pequeno grupo representa algum risco, algum
perigo para a igreja como um todo?
13r. Entrevistada: Não. Eu acho que é uma forma da igreja até mesmo crescer e se
fortalecer, porque as pessoas passam a ter uma família mesmo ali dentro, ela às vezes não
tem um cuidado que elas deveriam ter, por exemplo, num ambiente familiar, elas são
cuidadas aqui no pequeno grupo, porque se fosse... Imagina se fosse o pastor que tivesse
que cuidar de uma igreja de dois mil membros? Ele não conseguiria cuidar de todo mundo.
Então, eu acredito que não ofereça risco, só benefício.

14p. Entrevistador: E qual impacto que a célula causa na igreja de um modo geral,
em termos, por exemplo, de organização da igreja, os cultos?
494

14r. Entrevistada: Eu acho que por cada célula ter o seu líder e cada grupo de célula ter o
seu supervisor, e um pastor que é direcionado pra essa organização, fica mais fácil a
comunicação e a organização, porque as vezes você direciona a supervisão de fulano vai
cuidar da ornamentação, a supervisão de fulano vai cuidar das crianças, então acaba que
você descentraliza as tarefas, as coisas e torna isso. Acho que flui mais fácil.

15p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre a célula, a
importância da célula na sua vida?
15r. Entrevistada: Eu acho que a gente só tem a crescer com a célula, a gente deveria
investir mais nisso. E que mais pessoas conhecessem a célula, mais igrejas investissem
nisso. Porque eu vejo, eu por ter sido Católica muito tempo, eu sentia que a gente era muito
afastado uns dos outros. Era aquele momento ali e depois você não tinha contato com
ninguém, a não ser que você fosse na próxima missa, no próximo domingo. E acaba que
isso dispersa as pessoas. E quando hoje a gente precisa trazer as pessoas pra dentro da
igreja, porque é o melhor lugar que elas podem estar.

16p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 13/10/2014


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IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO


43 anos Jardim Camburi PIBJC 36

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre a sua experiência com célula, com
pequeno grupo.
1r. Entrevistada: A minha experiência começou desde a primeira célula, porque aqui não
tem tempo que eu estou em célula. Na primeira célula eu tinha um... Eu tenho um filho de
catorze anos, eu batia até muito nele. Eu era nervosa, agitada. E eles começaram a trabalhar
isso comigo, desse comportamento, eu e o meu filho. E aí eu fui me acalmando, fui
acalmando, né. Minha líder na época era ____, e ela me ajudou muito nisso. O grupo na
célula em si, me ajudou muito nisso, em oração e até conversando também. Porque quando
você não confia no seu grupo, não adianta você ficar. Se você confia e dá autoridade pra
eles conversarem com você, chamar sua atenção: "não ___, num bate muito ___", "___
pára de bater ___", "___não faz isso" e tal, então você tem o caminho certo.

2p. Entrevistador: Você já estava na igreja quando entrou pra célula?


2r. Entrevistada: Sim, há muitos anos.

3p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre a igreja que não tinha célula e
a igreja agora com célula?
3r. Entrevistada: Eu vejo no cuidar. Porque igual eu, essa célula de hoje que eu estou, tem
tempo que eu to nela. No cuidado mútuo, um cuida do outro. Igual eu tinha uma amiga
minha que não estava em célula, e o filho dela tava usuário de droga, e precisava de cesta
básica. Ela não tinha ninguém que o ajudasse. Então o grupo da minha célula se juntou e
começou a ajudar. E através desse grupo da célula, até uma amiga minha lá na outra escola
começou a me dar a cesta básica durante um ano pra ele. Porque se não tem célula, a gente
não sabe o que que tá acontecendo com a outra pessoa. Que que vai acontecer, você conhece
a pessoa por conhecer. Eu conheço muita gente da igreja como eu sou há muitos anos, agora
495

uma pessoa que chega nova e não conhece ninguém, a gente não sabe o que que tá
acontecendo com ela, como vai cuidar dela, como vai tá com ela, né, junto com ela.

4p. Entrevistador: Como é que você descreveria sua igreja hoje?


4r. Entrevistada: Hoje? Acho que o cuidado mesmo, cuidado mútuo mesmo da célula.
Porque o pastor não pode tomar conta de mil e quinhentos membros, é impossível isso. Se
você tem uma liderança firme, como minha líder é, uma supervisão boa, como eu tenho,
não precisa chegar até a ele. Pode acontecer em outros casos, se você não tiver essa
liderança, essa supervisão que cuida de você. Mas quando você tem, ele não precisa nem...
Vai saber por elas, que tem que passar o relatório, mas fora isso, tudo é resolvido ali.

5p. Entrevistador: Como acontece o encontro da célula?


5r. Entrevistada: Acontece todas as quartas-feiras, às vinte horas. Agora foi criado aqui
que tem que ser num lugar fixo, pras pessoas não ficarem se deslocando muito. Então, tipo,
é na casa da nossa líder. Aí lá a gente se encontra toda quarta-feira. Todo mundo sabe que
vai ser lá na casa dela.

6p. Entrevistador: E o encontro em si, como é que ele acontece? Como é que vocês
participam do encontro?
6r. Entrevistada: O encontro em si é uma coisa muito natural já como as pessoas estão
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acostumadas. Então já vai acontecendo já natural, tem os cânticos, depois tem a edificação,
depois tem o evangelismo. As crianças já sabem, acabou a música, as crianças sabem que
tem que ir pra salinha, que elas vão ser edificadas, até elas mesmas sabem. Mas elas catam,
a gente dá a folinha pra elas, elas cantam com a gente. Acabou a música, até eles já sabem,
já vão andando automaticamente. E aí tem a edificação, né, a leitura bíblica falando o que
aconteceu... Perguntando que foi falado no culto, né, o que mais... Tem algumas perguntas,
né, na carta da célula: o que mais você gostou? O que mais tocou em você? E aí as pessoas
vão falando, vão compartilhando, e assim vai fluindo.

7p. Entrevistador: Como a célula ajuda na comunhão entre as pessoas do grupo?


7r. Entrevistada: A gente é na comunhão a gente se encontra na quarta-feira. E quando
acontece assim: "vamos fazer hoje uma noite da pizza!", aí as pessoas se encontram, chama
algum oikós pra tá junto com a gente, a gente tá junto, igual a noite do cachorro-quente, aí
se encontra, vamos conversar, trazer o oikós, a gente começa a conhecer as pessoas. Tem
o... a gente também tem o grupo do WhatsApp, também, tá conversando, aí um pede oração:
"ah, eu queria oração pelo meu amigo que tá doente", aí todo mundo começa a orar, entra
em oração. Quando o resultado sair, é falado, né, na célula.

8p. Entrevistador: Você mencionou que a célula ajudou uma amiga sua.
8r. Entrevistada : Ah!

9p. Entrevistador: Que tipo de ajuda a célula dá pra pessoas que não são do grupo?
9r. Entrevistada: Nós ajudamos... Ela pediu. Foi, no caso, a cesta básica. Tinha um rapaz
também que ele não tinha ajuda das pessoas do bairro dele, nós juntamos, cada um dava
um pouco de roupa e levamos pra essas crianças. A gente ajuda em evangelismo também.
Nós vamos lá, fazemos leitura bíblica, cantamos alguns cânticos. Quando tem alguma
pessoa que tá doente, a gente vai lá, ora, faz a visita, fica com ela lá um certo tempo, leva
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as crianças. Sempre de idade assim, eles gostam muito de criança. Leva as crianças pra tá
junto deles. Isso é o que nós fazemos.

10p. Entrevistador: Você vê no pequeno grupo, na célula, algum risco, algum perigo
pra igreja?
10r. Entrevistada: Não. A minha não, acho que depende muito de cada célula. Depende
da sua liderança, depende do seu supervisor. Se abrir brecha pra fofoca, intriga, confusão,
tem os seus confrontamentos. Que isso é uma coisa que acontece naturalmente, os
confrontamentos. Que tem as etapas da célula, que tem aquela etapa do namorar, do
conhecer, do namorar, e depois de tipo tá casado mesmo. E começa os confrontamentos.
Quando acontece esse tipo de confrontamento, há esse tipo de confrontamento, ali mesmo
vai ser perdoado, orado e é conversado... Que acontece.

11p. Entrevistador: E benefícios pra igreja, que tipos de benefícios o pequeno grupo,
a célula, traz pra igreja como um todo?
11r. Entrevistada: Benefício que traz tipo, um exemplo, a pessoa que não quer
compromisso com a igreja, mas começa a frequentar a célula, nós começamos a fazer o
evangelismo e começamos mostrar pra ele que você, pra você vir pra igreja num precisa
você ser um beato, assim, em igreja. 'Cê vem pra célula, sem compromisso, e aí ele começa
a ter um compromisso quando a gente começa a dar, "faz um louvor", "faz uma edificação,
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um evangelismo", e o benefício é trazer mais pessoas pra igreja, né, e aceitando Jesus como
seu salvador.

12p. Entrevistador: O que você mais gosta na célula?


12r. Entrevistada: Na minha célula? Eu sou festeira igual Jesus, eu adoro festa. Mas o que
eu mais gosto é a confiança e ajuda mútua. Que quando um tá doente lá, todo mundo tá. A
minha célula é assim. É muito unida, muito unida mesmo. Tanto que a gente hoje tava
orando pelo meu pai, né, e pelo esposo da nossa amiga que é da nossa célula, pra eles se
converterem. E vai acontecendo coisas maravilhosas. Eles, meu pai nunca foi em célula,
mas vai e participa quando é lá em casa. O marido da minha amiga vai quando é dia dos
pais, alguma festa, e ele tá sempre presente. Ele tá vendo essa diferença.

13p. Entrevistador: Que mudanças a célula trouxe pra igreja?


13r. Entrevistada: Ixi. Cresceu. Cresceu muito... Muito mesmo. Muita gente, muita gente.

14p. Entrevistador: E além do crescimento?


14r. Entrevistada: Além do crescimento, acho que a comunhão também, pessoas
diferentes, diversas. Que antes a gente tinha um biotipo de pessoas era assim, a _____, o
____, fulano, ____, nananana. A gente não conhecia as pessoas. Hoje não, são pessoas
diversas, são jovens, adolescentes, maior idade e todos os tipos de pessoas, né, também.

15p. Entrevistador: A sua célula, ela é composta por pessoas da sua vizinhança ou tem
pessoas de mais distante?
15r. Entrevistada: Tem uma do centro da cidade. Pessoas mais distantes.

16p. Entrevistador: Como é que a célula se organiza, qual o critério pra organizar a
célula? Quem vai fazer parte?
497

16r. Entrevistada: Ah tá! É feito uma escala. Então a gente já sabe as pessoas, acaba agora
no final do mês, aí dá as escalas das pessoas, o que vai fazer, o que não vai fazer. Igual tem
um amigo nosso que ele trabalha de escala, então a gente tira par ou ímpar a gente já não
coloca ele, porque sabe que ele não vai poder ir na célula. Aí por escala.

17p. Entrevistador: Isso pra dirigir alguma parte do encontro, né?


17r. Entrevistada: Sim, é. Que é criança, edificação, evangelismo e louvor.

18p. Entrevistador: Certo. E como é que a célula se organizou, como é que chegou a
essas pessoas que fazem parte da célula hoje? Como é que houve essa escolha dessas
pessoas? Qual os critérios?
18r. Entrevistada: Exemplo. Eu que sou mais velha de igreja posso fazer todas as etapas.
Igual tem uma pessoa... Uma amiga... Uma oikós nossa, que chegou agora a pouco, tem
três, quatro meses. Ela faz o louvor, fica com as crianças, lê a carta da bíblia. Então vai
por... Não sei como dizer... você é um bebê, uma criança, um adulto. Então é conforme o
crescimento da pessoa da célula.

19p. Entrevistador: E são pessoas mais ou menos da mesma idade?


19r. Entrevistada: É variado, igual... Agora são da mesma idade. E temos três crianças,
de sete, oito e... Duas de seis e uma de oito.
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20p. Entrevistador: Se você tivesse que é convencer uma pessoa que está na igreja,
que não está em célula, qual argumento você usaria?
20r. Entrevistada: Ia falar que é meio diferente. Mas em que é diferente? O que eu falaria
pra ela? É diferente na comunhão, no você tá ali. A gente não vai falar de ninguém, num
vai falar de vizinho, num vai falar de beltrano ou fulano, nós vamos falar só de uma pessoa,
que é o amigo da gente, que é Jesus, mais nada. E você pode ir sem compromisso, pode ir
visitar, pode ir a hora que você quiser. A hora que você tiver a disposição. Mas se você não
quiser até lá, nós vamos até você, a hora que você quiser.

21p. Entrevistador: E quais os benefícios que você diria pra pessoa que iria trazer pra
pessoa?
21r. Entrevistada: O benefício que ela ia ter é de não se sentir mais sozinha, ia se sentir
numa família.

22p. Entrevistador: Muito bem. Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre
célula?
22r. Entrevistada: Não.

23p. Entrevistador: Obrigado.


23r. Entrevistada: Obrigada a você.
498

FUNÇÃO: Líder e SEXO: Masculino DATA: 13/10/2014


Supervisor
IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
46 anos Jardim Camburi PIBJC 37

1p. Entrevistador: Queria que você me falasse um pouquinho sobre a sua experiência
com pequeno grupo, com célula.
1r. Entrevistado: Ok. É já lidero células há uns cinco seis anos mais ou menos. Cada novo
ciclo é uma nova experiência. Pessoas, muitas das vezes, diferentes. A gente tem aprendido
muito a trabalhar com essas pessoas. É um ensinamento de mão dupla. Tenho certeza que
a gente acaba ajudando, e nós também somos bem ajudados, bem trabalhados. A gente
trabalha num ambiente muito assim, de um ajudar o outro. Tá sempre junto, buscando estar
juntos mesmo pra superar as adversidades juntos, tem sido uma experiência muito boa.
Nesse período que estamos aí.

2p. Entrevistador: Você fazia parte da igreja antes de célula?


2r. Entrevistado: Não. Eu quando eu cheguei aqui à igreja, a igreja já era em célula. Logo
no primeiro ano já entrei numa célula, da qual foi se multiplicando, criando novos grupos
e num desses grupos nós saímos como líderes.
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3p. Entrevistador: E fez parte de alguma outra igreja antes de vir pra essa igreja?
3r. Entrevistado: Eu nasci num lar evangélico, num lar cristão. Fiz parte da igreja, que
não tinha, não participava, não tinha esse conceito. Mesmo porque também, já tem um bom
tempo, e depois disso eu acabei desviando, tal. E quando eu me reencontrei, reencontrei
com Deus já foi aqui nessa igreja. Nessa nova, e hoje eu não, dificilmente eu me
acostumaria numa igreja que não tivesse essa visão. Virou hábito você conviver, assim,
semanalmente, às vezes diariamente com aquela pessoa que você está discipulando, que
você está trabalhando junto.

4p. Entrevistador: Que diferença você vê entre uma igreja que não tem o pequeno
grupo e uma igreja que tem o pequeno grupo?
4r. Entrevistado: Bom, hoje eu não posso dizer que eu não... Não sei assim... O dia a dia.
Mas eu imagino que seja um ambiente de uma igreja que não vive em pequeno grupo, seja
um ambiente muito, assim, distante entre as pessoas. Não tem aquela comunhão, aquela
participação, aquela interação, aquele conhecimento realmente assim, de que eu posso dizer
assim: ah! Eu conheço aquela pessoa. Já no entanto, nesse conceito dos pequenos grupos
não. Aquele grupo que a gente convive, a gente está junto, a gente luta junto, a gente ri
junto, a gente chora junto, a gente brinca junto. Eu acho que, realmente, é uma visão de
Deus isso aí.

5p. Entrevistador: Quais os objetivos, quais os propósitos que você vê numa célula?
5r. Entrevistado: Objetivo principal é. Eu entendo assim que você expandir o reino de
Deus, através desse compartilhar, através de você conhecer pessoas e trazer pra o seu, pra
próximo de você. É fica mais fácil você trabalhar com essas pessoas. Fica mais fácil você
alcançar, levar essas pessoas a Deus. Porque você está próximo deles, dessas pessoas, você
convive. Então, o objetivo principal da célula existe a questão da comunhão entre nós,
existe a questão assim do fortalecimento da palavra entre nós. Mas a gente, eu, na minha
499

visão e pelo que eu tenho visto, tenho aprendido que é você evangelizar, é você conquistar
alguém, mais alguém, mais pessoas pra Cristo.

6p. Entrevistador: Você falou em comunhão. Qual a relação que você vê entre o
pequeno grupo e comunhão?
6r. Entrevistado: Qual a relação que eu vejo entre pequeno grupo e comunhão? Essa
proximidade. É você estar próximo da pessoa ali, é você estar disponível, você estar mais
fácil. E aí, com certeza, a comunhão entre os irmãos entre os irmãos é maior. E com certeza,
comunhão de nós com Deus também passa a ser maior, porque você acaba, viver aquilo
que Deus, que Jesus viveu aqui. De ajudar, de estar juntos.

7p. Entrevistador: Qual a repercussão da célula na igreja como um todo em termos


funcionais, em termos de adoração comunitária, como é que a célula repercute na, na
igreja?
7r. Entrevistado: Ah! Eu acho que repercute de várias maneiras. Repercute no avivamento
melhor, as pessoas estão mais próximas, as pessoas se conhecem mais, as pessoas vivem
mais. E isso faz com que a igreja cresça de uma maneira diferente. Mais próxima de todos,
com a comunidade. Estar mais acessível vou falar assim. Não é um algo que, o pastor 'tá
bem distante. Os pastores. Porque nós, às vezes, os pastores, muitas das vezes fazem parte
das nossas células. Então nós estamos juntos. Então isso aí leva também para a comunidade
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uma forma assim, que a igreja não 'tá com aquela, aquele distanciamento, que em algumas
situações a gente vê.

8p. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo pra igreja como um todo na
célula. A célula se constituindo em algum perigo, algum risco pra igreja?
8r. Entrevistado: Nunca pensei, não tem, não imagino qual o risco. Eu acho que a célula,
ela é um facilitador, é uma ferramenta que Deus colocou na mão de homens assim, com
essa visão de Deus, pra que implementassem isso na igreja. E que realmente fosse alguma,
uma ferramenta que trouxesse mais familiaridade, mais proximidade, como eu falei a
minutos atrás, da igreja como um povo.

9p. Entrevistador: Nos encontros do pequeno grupo, nos encontros da célula, qual o
espaço que os membros têm pra se, pra se manifestar?

9r. Entrevistado: Bom, eu posso falar dos meus grupos, a gente... Nós temos previamente
um roteiro definido pela igreja. Muitas das vezes a gente pode fazer, ou não pode fazer.
Depende do momento que o nosso grupo esteja. É assim que eu trato o nosso grupo. Mas
o tempo também, é um tempo que cada um tem ali pra expor o que entendeu, o que não
entendeu, o que compreendeu, o que tem dúvida, ou, ou o momento que está passando. O
que aquilo ali que ouviu no, na pregação na igreja falou, que Deus falou com ele. Então
assim, no nosso grupo, todos têm, inclusive as crianças, que, como nós lideramos um grupo
de casais, jovens casais, vamos falar assim. Todos tem crianças, e as crianças têm espaço
também na célula, pra falar, pra orar, pra louvar, e já crescer nesse, nesse conceito, de estar
juntos, de buscar Deus juntos, que é mais fácil, que é melhor. Então, isso aí que a agente
também direciona pros pequenos.

10p. Entrevistador: Como é o vínculo dos membros da célula fora os encontros


propriamente dito?
500

10r. Entrevistado: Na maioria das vezes acontecem vários eventos fora. A gente chama
de sociais aí. Um churrasco, umas coisas, mais assim uma pizza, um futebol. Então assim,
isso também a célula não se restringe somente ali naquele dia. É... Naquele momento social,
naquele momento mais formal, vamos falar assim. Muito pelo contrário, então assim,
existem momentos assim, a... Tem um teatro ali e tal... Uma peça teatral, 'vamos? Tem um
futebol ali. Então isso aí acaba também direcionando pra, pra formação de uma amizade
mais, mais firme, mais próxima assim, entre os membros. Existem aquelas pessoas que por
natureza elas são mais, é... Preferem ficar mais... Tem outro ritmo, mas na maioria das
vezes acontecem bastante coisa fora.

11p. Entrevistador: E a célula tem alguma preocupação com as pessoas que não estão
na célula? Pessoas de fora, pessoas da comunidade.
11r. Entrevistado: Mencionei inclusive antes, que o objetivo da célula é a gente conquistar
quem está fora. Então assim, é uma responsabilidade nossa a gente buscar por essas
pessoas. Que sejam parentes, que sejam amigos de trabalho, que sejam vizinhos que sejam
colegas de escola. Então a responsabilidade 'tá, também é nossa. E é um... Um dos pontos
que eu acho interessante na célula, é que, às vezes as pessoas tem uma certa resistência de
ir à igreja. Por determinadas circunstâncias. Mas quando fala que é em casa vai, e, com o
passar do tempo ela começa a se abrir, se abrir, e perder aquela... Aquele sentimento que
tem a respeito do crente, a respeito disso, a respeito da igreja. Inclusive, estamos
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vivenciando um caso desses agora, em nossa célula. Ele nunca veio à igreja. Ele, né? É um
esposo de uma amiga nossa. Nunca veio. Mas na célula, é um dos primeiros que confirmam
a presença. Então aos poucos, ele está se abrindo, de chegar e compartilhar coisas que ele
mesmo fala assim: "olha eu nunca falei isso pra ninguém, já to falando". Então assim, a
gente não pode ter pressa, não podemos fazer da nossa maneira. É Deus agir da maneira
Dele, no tempo Dele, das, do jeito, das circunstâncias que acha que deve ser. É claro que a
gente vai delineando, a gente vai dando uma certa direção, ó não vai muito por aqui, 'vamo
aqui, 'vamo aqui. Porque o objetivo disso tudo é ver, no caso, ver essa outra pessoa aos pés
da cruz, aos pés de Deus. Então assim e... Tenho certeza, quer dizer, imagino que essa
pessoa que eu 'tô falando ela não viria direto aqui na igreja. 'Que já falou assim né? Que:
"ah, se fosse pra ter ido lá não teria ido não, mas aqui e tal". Até por ser em casa, eu acho
que, cria outro ambiente.

12p. Entrevistador: Mais duas perguntas. Primeiro: se você tivesse que falar com
alguém da igreja que não está em célula, que não está se reunindo no pequeno grupo,
se você tivesse que falar pra ele, argumentar a favor da célula, o que você utilizaria
como argumento?
12r. Entrevistado: Bom, primeiro é vocês não sabem o que 'cês 'tão perdendo. Porque a
experiência é muito boa. São momentos assim que a gente cresce muito. Não vou falar que
não tem problema, porque tem, nós somos humanos, nós somos passíveis de tantas coisas,
de tantas adversidades. Você estar junto e conviver junto com alguém, e andar junto, às
vezes num momento que você 'tá passando que não tem a quem se recorrer e tal, você sabe
que numa igreja em célula, você estando numa célula, você vai ter uma pessoa que vai te
ouvir. Não necessariamente um pastor, mas é um pastor. Não é um pastor de PR na frente,
mas é uma pessoa que Deus 'tá colocando ali pra ouvir. E isso faz diferença. Eu se por
ventura, por força de trabalho ou alguma coisa, tiver que sair daqui, de Vitória, tal, eu tenho
que ir pra... Eu gostaria muito de ir pra uma igreja com com pequenos grupos, com célula,
porque a gente não entende. Meus filhos hoje são criados assim, na célula. Então assim, ele
501

é o mais velho ele... Ele convida os coleguinhas da escola pra ir à célula, entendeu? Então
assim, se não tiver a célula que eu vou fazer com ele? Vão falar assim.

13p. Entrevistador: Que idade ele tem?


13r. Entrevistado: Ele tem quatro anos e meio.

14p. Entrevistador: E já participa convidando os coleguinhas.


14r. Entrevistado: Já, tal. Ele: "oh, hoje vai ter célula lá em casa, você vai lá na célula".
Assim, convidar, convida, mas aí a gente precisa fazer um trabalho com os pais, mas é um
exemplo que a gente vê, que assim já 'tá enraizando de pequeno. Então pra ele tem que ter
um igreja em célula. É muito bom viver em célula.

15p. Entrevistador: Muito bem. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
15r. Entrevistado: Não. Eu acho que Deus deu essa visão e não foi à toa. Não foi assim
pra engrandecer homem nenhum. Porque é como eu te falei, já vivi muitos problemas
pessoal, problema de enfermidade, com a minha esposa, e antes de tudo quem esteve ao
lado nosso foi a célula. Até mesmo da família. Até mesmo porque a família assim, no caso
dela, não conhece a Cristo ainda. Então assim, e a gente sabe, a gente sentiu a diferença,
sentimos assim, realmente sermos cuidados por alguém. E isso realmente, eu costumo dizer
muito na minha célula: nós temos que nos permitir a Deus fazer as coisas conosco. Então
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assim, não adianta eu estar em célula se eu não me... Chego lá, entro mudo e saio calado.
Não que também eu tenha que, expor tudo... Mas eu acho que a gente tem... Pra gente dar
a gente tem que receber. Então assim, foram momentos e tem sido momentos muito
gratificantes estar em célula.

16p. Entrevistador: Muito obrigado.


16r. Entrevistado: Nada.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
25 anos Jardim Camburi PIBJC 38

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre a sua experiência com célula, com
pequeno grupo.
1r. Entrevistado: A minha experiência com célula é cem por cento positiva. Eu passei por
algumas células desde que eu cheguei na igreja, tem uns sete anos aproximadamente, e a
célula da qual eu faço parte hoje foi a que eu mais me identifiquei. Eu gosto muito dessa
visão da igreja de células, justamente por ser uma igreja com uma membresia muito grande.
Então nos pequenos grupos os líderes conseguem ter algumas percepções da gente que às
vezes o pastor não consegue ter por conta de só encontrar nos cultos e ser uma coisa bem
corrida. Os meus líderes em especial são pessoas que eu admiro muito, são exemplos pra
mim, são pais espirituais, e eu gosto muito de participar das reuniões. Eu precisei me
ausentar de algumas reuniões nos últimos tempos, por conta da graduação, depois da pós-
graduação. E hoje, esse ano eu fiz o propósito de não marcar mais compromissos no dia da
célula, que é quarta-feira à noite, pra priorizar isso.
502

2p. Entrevistador: Qual a influência que a célula... A célula teve alguma pra você vir
pra igreja?
2r. Entrevistado: Não, porque quando eu vim eu não conhecia a visão de célula, fui
conhecer depois. Mas teve bastante influência pra eu continuar nessa igreja, porque eu vim
de uma... Eu fui criado na _______________, era uma igreja com uma membresia menor,
então a gente não trabalhava com célula.

3p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tenha célula,
o pequeno grupo, e uma igreja que não tem?
3r. Entrevistado: Acredito que tenha uma comunhão maior entre os irmãos. Você acaba
tendo um relacionamento mais próximo com aquele grupo, e é bom você caminhar com
outras pessoas.

4p. Entrevistador: Como é que acontece essa comunhão?


4r. Entrevistado: Nessa célula da qual que faço parte hoje, essa comunhão é bem mais
próxima do que nas outras células de que eu participei. A gente se liga diariamente, troca
e-mails. Tem uma, eu chamaria de comunhão e também de solidariedade muito grande, ter
as pessoas se preocupando com os problemas dos outros, orando, procurando saber como
'tá. É uma família, literalmente.
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5p. Entrevistador: Qual, na sua visão, qual a importância que a célula tem pra igreja
como um todo, pra igreja como comunidade maior?
5r. Entrevistado: Eu acredito que essa proximidade entre os membros faz com que a
fraqueza de um seja suprida na presença do outro por conta dessa questão de estar sempre
mais próximo, conhecendo, sendo amigo de verdade, como irmãos, família. E quando a
gente 'tá num grupo maior é bem provável que a intimidade seja menor. Quanto mais
próximo, mais íntimo. Então eu acho que a célula permite isso, que seja mais próximo.

6p. Entrevistador: E no encontro da célula? Qual espaço que você tem como membro da
célula de participar?
6r. Entrevistado: A gente tem escalas de pessoas que lideram alguns momentos... Alguns
dos momentos: edificação, louvor, palavra. E também sempre tem perguntas. A gente
trabalha no texto que foi usado na mensagem de domingo, e geralmente são duas ou três
perguntas relacionadas ao texto; como minha célula é grande, a gente divide na própria
célula alguns grupos. Grupos de casados, não casados, mulheres, a gente procura colocar
homens, mulheres, pra que a pessoa se sinta mais a vontade.

7p. Entrevistador: Sua célula tem quantos membros mais ou menos?


7r. Entrevistado: Hoje a minha célula tem, aproximadamente, trinta membros. A gente
vai fazer a multiplicação depois de amanhã, quarta-feira.

8p. Entrevistador: E ela se reúne aonde?


8r. Entrevistado: Ela se reúne nas casas dos membros aqui, a maioria deles em Jardim
Camburi.

9p. Entrevistador: E o que é a multiplicação?


9r. Entrevistado: A multiplicação, a ideia de multiplicação, a gente procura evitar de falar
divisão, porque de uma célula surge outra. Então vão ser duas células originárias de uma.
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E na divisão tem uma ideia de diminuição e não de aumento. Então a multiplicação vai
fazer com que uma célula se torne duas, e assim sucessivamente.

10p. Entrevistador: E como é que surgem as lideranças das células?


10r. Entrevistado: As pessoas são convidadas pra fazer o curso de preparação -- eu,
inclusive, recebi o convite dos meus líderes -- e aí a gente vai orando, pedindo a orientação
de Deus até o momento em que a pessoa está preparada pra, com a multiplicação, liderar
outro grupo.

11p. Entrevistado: Você vê algum risco, algum perigo pra igreja a existência desses
pequenos grupos?
11r. Entrevistado: Não, nenhum. Acredito que traz muitos benefícios e num enxergo
nenhum risco.

12p. Entrevistador: Que benefícios?


12r. Entrevistado : A comunhão, a proximidade e isso permite o crescimento espiritual,
o acompanhamento de perto das pessoas que acabaram de chegar à igreja. É muito comum
que as pessoas que recebem os visitantes, aqueles que aceitam Jesus, quando vão lá na
frente acompanhar, convidam pra ir pras suas respectivas células, e aquilo vai propiciando
um crescimento da pessoa dentro da membresia e dentro do reino de Deus.
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13p. Entrevistador: Quais são os critérios pra esse grupo de organizar? Tem o critério
da localização geográfica, da idade, como é que funciona isso?
13r. Entrevistado: Na minha célula em específico não tem nenhum critério. As pessoas a
medida que são encaminhadas pras células, passam a fazer parte do grupo. Eu já participei
de uma célula só de jovens, e já participei de células mistas. E eu, particularmente, prefiro
as células mistas por conta da troca de experiências, pessoas mais velhas que viveram
coisas diferentes do que os jovens viveram.

14p. Entrevistador: Tem alguma preocupação com os que estão de fora, com a
comunidade de um modo geral?
14r. Entrevistado: Sim, nós fazemos campanha de oração pelo bairro, pelo estado, pelo
país.

15p. Entrevistador: E com relação aos problemas da comunidade de um modo geral,


qual... Além de orar, a célula tem feio mais alguma coisa pra ajudar na transformação
da sociedade?
15r. Entrevistado: Nossa igreja tem uma campanha de atos de compaixão, e a gente, cada
célula fica encarregado de praticar um ato de compaixão. Aí a gente faz visitas a um
orfanato de meninas lá em Vila Velha, algumas células fazem visita a asilos, levando a
palavra e conforto.

16p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer um membro da igreja que não está
em célula, pra que ele viesse pra uma célula, que argumentos você usaria?
16r. Entrevistado: Que na célula ele vai poder crescer muito mais espiritualmente por
conta do acompanhamento de um líder que vai ter ali o conhecimento das necessidades
dele, se ele se abrir, obviamente, e vai poder compartilhar experiências. Os líderes são
504

pessoas que já tem uma certa bagagem, uma certa experiência no reino e isso possibilita
que aqueles que não tem esse crescimento, essa bagagem.

17p. Entrevistador: Como você descreveria a igreja hoje?


17r. Entrevistado: Eu descreveria como uma igreja que eu amo muito. Que atende as
minhas expectativas como cristão, você pode se envolver em várias áreas, em vários
ministérios e trabalhar pro reino. A gente tem muitos eventos, recentemente a gente teve a
celebração de aniversário da igreja, de trinta anos, foram dois cultos muito abençoados, no
sábado e no domingo. Quem quer trabalhar pro reino tem essa possibilidade em diversas
alternativas.

18p. Entrevistador: Se você fosse usar algum adjetivo pra descrever a igreja, quais que
você usaria?
18r. Entrevistado: Eu usaria, diria que a igreja é uma igreja solidária, 'tá sempre atenta às
necessidades das pessoas, dos moradores do bairro. Uma igreja que pratica o amor de
Cristo, que investe em missões. Eu recentemente fiz uma viagem missionária, durante meu
período de férias, e fui muito bem encaminhado pelo pastor, que organizou tudo. A igreja
adota missionários em todo o país, e aí a gente conversou sobre um destino, e ele me
apresentou várias opções. Foi um momento muito precioso.
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19p. Entrevistador: Quer dizer mais alguma coisa sobre célula?


19r. Entrevistado: Eu amo minha célula. Eu amo meus líderes, meus irmãos de célula. E
amo essa igreja por ter essa visão de célula.

20p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
46 anos Jardim Camburi PIBJC 39

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre sua experiência com pequenos grupos,
com célula.
1r. Entrevistado: Então, eu tenho aprendido, eu vim de um convite pra uma célula. Um
amigo_____ e eu fiquei com eles dois ou três anos lá na célula, e aprendi lá, como foi
exaltado, como fui tratado bem as questões mais íntimas da gente, foram bem tratadas,
então quando eu saí da célula dele, eu já tinha uma ideia assim de querer ser líder de célula,
pra poder tratar de pessoas. Então hoje a gente tem a célula, minha célula tem... São nove
ou dez membros, e a gente faz esse trabalho com as pessoas, e eu acho muito interessante,
porque eu fui resgatado por esse meio, através de uma célula, uma pessoa que me ligava,
insistia comigo. Então pra mim foi, eu acho que é mínimo assim que eu posso fazer, é pelas
pessoas.

2p. Entrevistador: Que diferença você vê entre uma igreja que tem célula ou pequeno
grupo e uma igreja que não tem?
2r. Entrevistado: Uma igreja em célula, acho que ela vai agregar muito mais à vida do
cristão, do membro da igreja, porque dentro de uma célula essas questões, como eu falei,
são bem mais tratadas. Numa igreja, às vezes, você vai frequentando o culto que não tenha
505

uma célula essas questões não são tratadas de forma tão íntimas como dentro de uma célula,
aonde você tem alguém que tem uma parceria com você, de fazer o estudo bíblico de te
acompanhar. Então essas questões tratadas de face a face, eu acho que elas são mais
resolvidas, então te ajuda a melhor forma de você tratar com as barreiras, com os traumas
que todos nós passamos. Nessa dupla, nessa parceria dentro da célula, ela consegue ser
melhor tratada. A gente mesmo consegue se abrir melhor.

3p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula, ou pequeno grupo, e
comunhão?
3r. Entrevistado: Eu acho que necessário combina, a célula, ela leva você à comunhão.
Porque você, a partir do momento que você consegue, que você alcança os objetivos do
coração, e você se derramar e realmente você conhecer de Deus mais perto um pouquinho,
você alcança sua comunhão, porque os traumas são tratados, as barreiras que evitam, no
dia a dia que podem te atrapalhar na conquista dessa salvação. Então na célula você
consegue essa comunhão mais fácil ou com melhor êxito, porque você trata melhor as
feridas, traumas, então acho que a comunhão fica mais completa.

4p. Entrevistador: Como acontece essa dinâmica dentro do encontro da célula?


4r. Entrevistado: Então, a gente, as pessoas são, a gente tem um, por exemplo, eu tenho
muito essa coisa às vezes de convidar as pessoas. Na minha célula a gente convida as
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pessoas: "Ah, vamos lá bater um papo, um café". Como é feito de casa em casa, então tem
essa possibilidade de você... Às vezes nem falo que é uma célula voltada muito pra... Falo:
"ah, 'vamo' lá tomar um café". Então as pessoas vão, tomam café e lá a gente tem esse bate
papo e vai entrando nesse mérito de poder passar pras pessoas o que Jesus quer. Então é
uma coisa assim bem informal, que vai, você vai criando aquela amizade, a pessoa se sente
segura, vê que é uma lugar agradável, um lugar bom, que lá você pode encontrar amigos,
pode falar de problemas que talvez num relacionamento fora você não tem, então lá a gente
dá essa liberdade. Então acho que tem um êxito bacana, uma coisa bacana.

5p. Entrevistador: "A gente dá essa liberdade", você disse. Como é que isso funciona?
Cada uma fala da sua experiência, como é que é isso?
5r. Entrevistado: Sim, cada um fala da sua experiência e muitas vezes é necessário... A
gente troca experiência, eu falo minhas experiências positivas e negativas, e isso leva
também a pessoa a falar das experiências negativas e positivas que ela tem na vida. Então
isso atrai. E quando a gente 'tá embasado na bíblia, na palavra, né, que é esse negócio que
falar da verdade, das verdades com base na palavra, isso fica mais fácil porque a gente vê
que a bíblia tem solução pra tudo. Pra todos os problemas ela consegue enxergar uma
solução. Então fica bem dinâmico essa parceria, porque há quebrantamento, a pessoa
consegue ser quebrantada e falar.

6p. Entrevistador: A célula, o grupo, ele tem preocupação também com a sociedade
de um modo geral? Pessoas que estão fora do grupo?
6r. Entrevistado: Sim. Na verdade, a célula, ela tem... Na verdade ela tem que buscar as
pessoas que estão fora da igreja. Esse é o intuito da célula, buscar quem ainda não é crente,
não conhece a Cristo. Então esse é o foco principal da célula, de buscar pessoas que estão
fora da igreja, porque numa visita que vai à casa, por exemplo, já aconteceu de a gente 'tá
em célula, ah, tinha um primo, um irmão, um tio e as pessoas ouviam a palavra lá e verificar
de fato como lindo, como é bom ouvir a palavra de Deus, saber como é o nosso Deus. Então
506

isso é, com certeza, é o foco maior: alcançar pessoas que estão fora da igreja, pessoas que
não acreditam, que não tem uma fé tão linda, tão bonita, como é o nosso Deus. Então acho
que esse é caminho, acho que a célula, o propósito maior dela é esse: alcançar pessoas que
estão fora da igreja.

7p. Entrevistador: E com os problemas da comunidade, com os problemas da


sociedade de um modo geral, qual o envolvimento que a célula tem?
7r. Entrevistado: Trata... Na verdade, como a célula ela muito... Ela é individual, você
quando faz uma parceria fico muito naquela coisa individual, você discipula uma pessoa,
então são duas pessoas ali falando. Mas por intermédio daquela pessoa você consegue
chegar... Por exemplo, uma pessoa, ela tem problema, muitas vezes ela fala do problema
com a família, de traição, de adultério, de roubo, de outras coisas que estão na sociedade,
então, esse um jeito de fazer aquela pessoa melhor, pra ela ser inserida, voltar dentro da
sociedade onde ela tava. Por exemplo, já houve caso uma vez, uma pessoa que ela tinha o
hábito de trair, né, a esposa e... O adultério... E ela conseguiu ver, né? Foi mostrado pra ela
que na bíblia isso é condenado e o que isso pode atrapalhar no mundo espiritual pra ela.
Então de uma forma direta, a célula tem uma participação muito grande na vida fora da
igreja ou na sociedade, porque um pessoa que muda, que deixa esses hábitos, com certeza
melhora a vida da família, da esposa, filhos e é em frente. Então, é um segmento
pequenininho, que vai, mas tem uma grande ação na frente, na família, na sociedade, acho
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que tem. Essa compreensão do mundo bíblico, ela tem uma... Apesar de ser um
caminhozinho pequeno, começa ali com duas pessoas, mas ela alcança a família,
sociedades, segmentos, acho muito bacana.

8p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja a existência da célula, do pequeno
grupo?
8r. Entrevistado: Não. Pelo contrário. Porque as pessoas vão pra célula, quando a gente
tem a ideia de fazer a célula, de falar de Deus, é sempre embasado na comunhão, naquela
coisa: preciso partilhar isso com outras pessoas. Então, quando a gente vai pra célula, pelo
menos eu não lembro de um caso que fale: "ah, eu to indo na célula, num preciso ir a igreja
aos domingos". Nunca vi um caso. Pelo contrário, é a oportunidade de a gente vir e 'tá
conversando, conhecendo mais pessoas, se relacionando com outras células, outros grupos,
isso acontece dentro da igreja.

9p. Entrevistador: E qual o impacto que a célula causa na igreja como um todo?
9r. Entrevistado: Um impacto positivo, porque vai crescer no reino. Então acho que a
célula é fundamental pra qualquer igreja nesse sentido dela poder levar na palavra de Deus,
e como eu disse, na igreja às vezes a pessoa vai, senta num banco e, às vezes é a primeira
ou segunda ou terceira vez que ela vai, e ela não é abordada. E numa célula, se a gente
consegue fazer isso, ela consegue... A pessoa, ela é direcionada a um mundo espiritual mais
rápido. Então acho que a célula tem um espaço, assim, fundamental.

10p. Entrevistador: E ela influencia no funcionamento da igreja, como uma


instituição? O funcionamento da igreja?
10r. Entrevistado: A célula? Sim. Já que ela trata de pessoas e a igreja ela precisa de
pessoas, ela... Isso que... A função da igreja são melhorar vidas, fazer o trabalho social dela
e 'tá envolvida com pessoas. Então quanto mais pessoas entendendo o mundo... O reino de
Deus, sim, é favorável pra igreja.
507

11p. Entrevistador E pra adoração, pra celebração de um modo geral, tem alguma
influência... A célula tem alguma influência na adoração?
11r. Entrevistado: Sim. Porque ela consegue fazer a pessoa ficar mais entronizada com
Deus, então ela consegue adorar de forma diferente. Eu sou exemplo disso. Muitas vezes
eu vinha pra igreja e não tinha um conhecimento melhor da palavra, adorava por estar ali.
E hoje a gente consegue se colocar mais em espírito e saber que a gente 'tá na igreja, que é
um lugar pra gente 'tá em adoração. Então essa adoração, ela é... Ela chega a ser um patamar
melhor. Você consegue adorar a Deus de forma mais limpa, mais pura, mais espiritual.

12p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer um membro da igreja que não está
em célula, pra ele vir pra uma célula, o que que você diria pra ele?
12r. Entrevistado: É, 'tá perdendo tempo, porque, como eu falei, bem vivo disso, eu fui
tratado em uma célula. Porque eu pude compartilhar minhas vitórias, minhas derrotas,
minhas alegrias, minhas tristezas, dentro de uma célula, coisa que talvez eu não conseguiria
só a questão de eu ir pra uma igreja, indo todos os domingos na igreja talvez eu não
conseguiria. Apesar de ter uns sermões que faz a gente refletir muito a palavra, ela é
edificadora, mas é importante essa participação pequena da célula, mas como ela liga, ela
faz... Ela tem um intuito maior de que é fazer toda igreja, o corpo de Cristo. Então,
exatamente como um corpo, as células são... Precisam 'tá movimentando, estarem
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colocando uma na outra, assim a célula também, acho, que dentro da igreja precisa fazer
esse trabalho de 'tá conversando com pessoas, atraindo, mostrando mais do reino de Deus
pra igreja, o corpo de Cristo, crescer.

13p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


13r. Entrevistado: É isso. A célula ela... Eu não conhecia, né? Como eu disse antes. E ela
tem um efeito muito positivo na vida das pessoas. Eu tenho visto na minha célula, às vezes.
Sim há pessoas que tenham, talvez, um pouco descompromissadas, mas é um trabalho de
formiguinha. Realmente as feridas, os traumas, são melhores tratados dentro de uma célula.
Eu acho positivo, acho que todas as igrejas deviam ter, porque você consegue tratar melhor
as pessoas.

14p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
47 anos Jardim Camburi PIBJC 40

1p. Entrevistador: Queria que você falasse um pouquinho sobre a sua experiência
com célula.
1r. Entrevistada: Bem, eu vim aqui pra igreja de Jardim Camburi em dois mil e cinco,
aproximadamente, e foi quando a gente começou a conhecer... Conhecemos a igreja através
da célula. Nós conhecíamos um casal, começamos a frequentar a casa deles, mas a gente já
era de outra igreja, a gente era de outro bairro, a gente era de ___________, quando a gente
mudou pra cá, a gente foi procurar um lugar pra se congregar. E acabamos entrando na
célula desse casal e era da igreja Batista de Jardim Camburi, nos identificamos e ficamos.
Então nossa experiência começou assim. E aí a gente veio caminhando como membro um
508

tempo e aí a gente vai adquirindo o perfil da célula, porque a nossa célula foi um tempo
geração integrada, pai, mãe, né? Todo mundo junto. Foi um tempo por idade e agora 'tá
tendendo... Tendendo a voltar de novo às idades. Então, assim, hoje a minha experiência
que eu mais gostei de trabalhar é com a célula que eu tenho trabalhado nos últimos quatro
anos, que é de adolescentes e jovens.

2p. Entrevistador: Você fez parte de uma igreja que não tinha pequenos grupos, não
tinha célula. E agora faz parte de uma igreja que tem. Qual a diferença que você vê
aí?
2r. Entrevistada: Ah! A igreja que eu fiz parte, que não tinha pequenos grupos, era uma
igreja pequena. Então, por ser uma igreja pequena, todas as coisas praticamente a gente
fazia junto. A questão de estar se reunindo e cuidando uns dos outros, sem dúvida a célula.
É essa a diferença que eu vejo.

3p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre pequeno grupo e comunhão?
3r. Entrevistada: Pequeno grupo, ele pode se tornar solitário o grupo, fora da comunhão
dos outros grupos. Isso pode acontecer. Eu tenho a minha célula, o meu pequeno grupo, e
eu faço dali um cercadinho e eu fico aqui e eu não me comunico, não tenho comunhão com
os outros grupos. Eu vejo que isso pode acontecer e isso em algumas situações acontece.
Acho que a liderança que tem que 'tá trabalhando, permeando isso aí. Mas eu vejo também
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que a comunhão se facilita com o pequeno grupo. Porque você, quando você junta todas as
células você consegue fazer uma grande celebração, igual a gente faz no Pacheco 705. É um
grande evento de comunhão. E todo mundo abre mão de seus interesses pra 'tá num... Num
objetivo só. Mas trabalhando em grupos, em células. Mas eu acho que, eu penso, eu vejo
em algumas situações: "ah, a minha célula", e acaba dificultando a comunhão com o outro.

4p. Entrevistador: Seria esse um risco da célula para a igreja como um todo?
4r. Entrevistada: Eu acredito que isso tende a ser um risco se isso não for muito bem
trabalhado e observado pela liderança.

5p. Entrevistador: E comunhão dentro do grupo? A célula tem alguma influência no


cultivo de comunhão entre os membros do grupo?
5r. Entrevistado: Com certeza. Cem por cento.

6p. Entrevistador: Como é que acontece isso?


6r. Entrevistada: Cem por cento. Você começa, por exemplo, vou te dizer, agora, esse
ciclo que eu comecei com adolescente. Eu tinha uma menina pra cuidar dela, só que eu não
conhecia essa menina. Então eu falei assim: "faz o seguinte? Vem na célula pra 'mim' ir te
conhecendo". Aí ela começou a frequentar a célula, então algumas, o que aconteceu? Eu
comecei já a compartilhar algumas coisas com ela de família, é, coisas que ela... Que eu
não conhecia e que na célula, de acordo com os temas, com as coisas que a gente vai
abordando ali dentro, as pessoas vão se abrindo, e é claro, né? De acordo com a afinidade
vai ficando mais com um ou com outro, de acordo com seu parceiro de jugo. Mas realmente
ali dentro na célula, você consegue estabelecer esse vínculo de comunhão muito bom
porque você tem quinze pessoas, vinte, pra viver. E como é que a gente pode, a gente faz,

705
Nome de um colégio do Bairro Jardim Camburi onde a Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi
se reúne para uma grande celebração em que acontecem batismos e celebração da ceia.
509

por exemplo, não precisa ser só nas questões, nas reuniões oficiais das células. Às vezes a
gente marca pra sair pra assistir um filme, marca pra ir num churrasco, 'vão' fazer um
passeio final de semana.

7p. Entrevistador: Você falou que lidera e gosta de liderar grupo de adolescentes e
jovens.
7r. Entrevistada: Ah!

8p. Entrevistador: Quais seriam as peculiaridades numa célula de jovens e


adolescentes?
8r. Entrevistada: É ímpar, porque você vê o desejo que os jovem e o adolescente têm de
acertar na vida. Então ele tem essa sede querer, de querer crescer bem, apesar de a gente
pensar que não, que ele acha que a gente, a maioria dos adultos pensa que os jovens vivem
de forma aleatória, e adolescente. Mas não, eles querem, eles querem trilhar um caminho
bom. Então eles vêem na gente, quando a gente, nós somos líderes deles, eles vêem na
gente esse reflexo do pai e da mãe às vezes, que não dá essa abertura pra ele falar sobre
assuntos que ele gostaria de falar como: trabalho, "eu não quero fazer esse curso, eu quero
fazer esse outro", sobre namoro, sobre sexualidade. Então a gente vê a sede e o desejo que
eles têm de crescer e de fazer o negócio certo. E nós já sabemos, às vezes alguns
buraquinhos, então a gente vai colocando as plaquinhas nos buraquinhos pro sujeito não
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cair naqueles buraquinhos. Então isso nos dá muita alegria de ver essa...

9p. Entrevistador: E quais são os maiores desafios pra liderar uma célula de jovens e
adolescentes?
9r. Entrevistada: Estar sempre... Discernimento do Espírito. Acho que o grande desafio
do líder, ele tem que ter discernimento pra entender o que aquele jovem 'tá vivendo naquele
momento, e aquele adolescente. Porque de determinadas rebeldias, ou porque de
determinados sumiços. Porque eles dão sumiços de vez em quando. Então a gente não pode
culpá-los, tem que primeiro discernir, trazê-lo pra junto, adquirir a confiança, porque o
jovem e adolescente eles odeiam a hipocrisia. Eles são muito autênticos. Então quando ele
vê no adulto o adulto hipócrita, você faz, fala, mas você não vive, ele perde a confiança e
ele não faz. Então isso existe muito na igreja. Infelizmente, existe muito que falam, mas
não fazem. E eles estão de olho. Essa é a peculiaridade, eles querem vida autêntica.

10p. Entrevistador: Qual o impacto da célula ou do pequeno grupo na igreja como


um todo? Na adoração, na funcionalidade da igreja?
10r. Entrevistada: É aquilo que eu falei, por exemplo, quando a gente vai fazer uma
grande celebração. Teve um tempo que o pastor falou que a gente ia realmente trabalhar
em questão de células, supervisões estariam liderando alguns cultos. Mas a gente ainda não
trabalha assim. A gente ainda trabalha com questão de ministérios. 'Cê quer... 'tá... 'tá
falando em questão de eventos da igreja? Por exemplo, culto de domingo. Ele não funciona
como célula. Célula tal vai fazer a mensagem, célula tal vai trazer o louvor. Não. Ele
funciona ainda como ministério. Tem o ministério de louvor, tem o grupo de diáconos, tem
toda essa parte. A célula nesses eventos ela não permeia muito. Mas ela permeia na questão
de batismo. Porque quem leva, quem traz os novos convertidos, quem traz os novos
membros pra igreja são as células. Então não é mais aquele culto de apelo que depende do
apelo do pastor pra poder chegar. Pras pessoas se converterem. A célula traz esse novo... E
quando acontece de se converter na igreja a célula já acolhe. A célula discipula e leva pro
510

batismo. A célula às vezes tem aquela pessoa que precisa de ajuda pra casamento, pra
aniversário, então ela proporciona aquela situação que talvez se tivesse numa igreja que
não tivesse célula, não teria essa... Essa situação, essa ajuda. Eu vejo que nessa situação, a
célula ela é um grupo que 'tá ali um segurando no outro, pra poder caminhar.

11p. Entrevistador: E com relação a sociedade de um modo geral, a célula tem alguma
preocupação também com os problemas sociais, tem alguma ação nesse sentido?
11r. Entrevistada: Bom, nós temos na nossa igreja, ela é dividida por estação. Estação
adorar, edificar, alcançar. Então essa três estações que a gente, que é dividido, na estação
alcançar sempre tem o projeto de "atos de compaixão". E nesse projeto de "atos de
compaixão", que a gente estabelece pro ano todo, só que nesse... Nesses três meses é o que
a gente mais trabalha, aí realmente as células adotam é... Casas de repouso, abrigos,
hospitais, penitenciárias. O pastor até traz, os supervisores 'traz' as instituições que querem
as visitas e querem serem adotadas pelas células, e assim os líderes da células escolhem.
Acacci706: "Ah, eu vou uma vez por mês, vou fazer um trabalho na Acacci". "Uma vez por
mês eu vou fazer um trabalho lá no dependente químico". Então, existe essa preocupação.

12p. Entrevistador: A dinâmica dos encontros. Como é que acontecem os encontros


de uma célula?
12r. Entrevistada: A forma, vamos dizer, por liturgia tradicional, seria: uma vez por
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semana, e aí dentro dessa célula teria um quebra-gelo, teria um louvor, uma evangelismo
que seria falar ou trazer algumas pessoas, ou dizer como que é a questão de 'tá
evangelizando, e a edificação. E a gente costuma sempre ter um lanchinho depois. É o
quinto passo aí. Mas a célula que eu lidero, por ser de jovem e adolescente, a gente não
segue muito essa liturgia. A gente segue aquilo que o pastor... O tema que ele... Eles nos
manda através duma carta semanal, que ele solta pra gente. Então ali tem um tema, tem os
versículos bíblicos, tem o que a gente vai trabalhar. Mas dentro desse formatinho
quadradinho, não. E as vezes a gente nem faz a reunião propriamente dita. A gente: "gente
'vão'... 'Vão' sair sábado todo mundo junto. Ninguém marca nada, a gente vai sair sábado.
A gente vai na pizzaria, a gente vai em algum lugar”. Então é um pouco diferente, mais
dinâmica.

13p. Entrevistador: E a participação deles. Eles compartilham as experiências, eles


fazem perguntas? É os jovens tem esse espaço pra se manifestar nos encontros?
13r. Entrevistada: Nesse formato que a gente está trabalhando o último ciclo. Porque foi
de adolescente, cresceu, jovem. Eles ficaram jovem, agora 'tão começando outro ciclo.
Eles... É incrível, mas eles falam cada coisa que a gente fica até assim: "nossa, como que
ele confia de abrir isso pra gente?" Como ele confia. Aquele que começa às vezes quietinho,
caladinho, né? Que sempre ficou junto com a mãe. Um exemplo, teve um rapaz nessa célula
nossa que sempre ficou junto com a mãe, e agora ele 'tá é... Querendo ir pra célula de
adolescente sem o pai e a mãe. E a gente... Aí eu conversei com a mãe: "você autoriza" e
tal, ele 'tá indo pra célula. A mãe: "____, é isso mesmo que eu gostaria, porque ele vai
crescer com isso". E quando chegou a gente achou que ele num tava gostando muito e tal.
No último... Na última célula ele foi orar, e foi o que ele falou. A oração dele foi
agradecendo a Deus porque ele estava num lugar que ele podia se expressar, como ele é.

706
Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil, localizada no Bairro Jardim Camburi e que recebe
apoio das Igrejas, inclusive da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi.
511

Então isso pra mim foi muito le... Muito gratificante ouvir isso dele, porque às vezes ele 'tá
com o pai e a mãe, então ele tem que expressar aquilo que ele acha que o pai e a mãe vai
aprovar. E quando ele 'tá lá na célula se ele falar qualquer besteira, ele falou qualquer
besteira e a gente se tiver que pegar e acertar, a gente num vai acertar ali. A gente vai acertar
depois.

14p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer uma pessoa que 'tá na igreja, que
não está num pequeno grupo, que não está numa célula, convencê-la a ir pra uma
célula, que argumento você usaria?
14r. Entrevistada: Ah! O que eu falei do começo, a questão da intimidade, da comunhão,
da gente estar junto, da gente dividir problemas, que às vezes a gente não consegue, se tiver
numa igreja de dois mil membros, perdida, só entra no culto e sai.

15p. Entrevistador: Quer falar mais alguma coisa sobre célula?


15r. Entrevistada: Olha, eu estranhei bastante quando eu cheguei, eu achei assim que era
tipo, coisas de manipulação. Então eu fui, eu sou muito curiosa, então primeiro eu fui ler
bastante algumas coisas, li as literaturas que o pastor deu, olhei algumas coisas. Vi. E não
me adaptei muito nas células de adulto, porque eu acho que eu tenho um pouquinho do que
o adolescente e que o jovem tem, eu gosto das pessoas que sejam verdadeiras. Então eu via
algumas coisas que às vezes é... Tava até fazendo mal pra mim. Então depois que eu
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comecei a trabalhar com adolescente, comecei a amar bastante a célula, comecei ver como
era diferente pra eles. Então assim o que eu tenho a dizer realmente é que tem que haver
uma direção do perfil daquela igreja pra que aqueles grupos sejam, bem direcionados. Pra
não fazer o pacote. Porque cada um, cada situação é uma situação, então a gente não pode
ter pacote. "Vou te tirar da Igreja Batista de Jardim Camburi e colocar na Igreja Batista da
Praia do Canto". Não vai dar certo. "Eu vou tirar da Praia do Canto e vou botar na Praia da
Costa". Não vai dar certo. Acredito que é isso que tem que ser avaliado.

16p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
32 anos Jardim Camburi PIBJC 41

1p. Entrevistador: Fala pra mim sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência com célula é, assim, uma experiência nova. Porque
logo que eu entrei na igreja ainda não tinha esse grupo pequeno, então me adequando a essa
experiência nova foi muito difícil. Foi uma fase que eu 'tava chegando pra conhecer a igreja
e aí me encaminharam: "oh! Você quer ir até uma célula?" Eu tava numa loja, uma
papelaria, e aquela comunicação, "num sei... Quero vamos... Vamos ver". Aí fui, gostei, já
'to já há bastante tempo, deve ter lá uns dez anos, ou mais um pouquinho que eu 'to em
célula e...

2p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de alguma igreja que não tivesse célula
ou pequeno grupo?
2r. Entrevistada: Já.
512

3p. Entrevistador: E qual é a diferença que você vê?


3r. Entrevistada: Muita... Assim, por conta dos pequenos grupos, de você 'tá conhecendo
as pessoas e 'tá aprendendo, vendo, tendo mais intimidade na vida da pessoa. A igreja que
eu frequentava anteriormente era uma igreja pequena, então, automaticamente tava ainda
nesse suporte ainda, legal ainda, de você conhecer todo mundo, mas não de ter essa
socialização que é a célula, de uma família, de você conhecer as pessoas, de saber o que 'tá
acontecendo e fazer esse estreitamento, de companheiro de julgo. Essas coisas mais...

4p. Entrevistador: Como é que acontece isso, essa comunhão, esse cultivo da
comunhão na célula?
4r. Entrevistada: Bom, a gente organiza isso além do culto, do horário que a gente tem
que a gente faz o cronograma ou até mesmo a gente dá uma improvisada em alguma coisa.
Que tudo é Deus que vai agindo no momento que a gente tá no grupo. E, além disso, a
gente tem o encontro, a gente faz, né? Durante as semanas, assim, quando dá a agenda de
cada um pra 'tá se encontrando, 'tá se estreitando porque acho que a base do relacionamento.
É essa de você 'tá junto, 'tá perto, fazer-se presente, 'tá comunicando com a pessoa, 'tá
próximo, porque aí vai estreitando, vai criando essa intimidade, e quando chega no grupo
a gente 'tá só somando ali, só deixando as coisas acontecerem da forma que o Senhor
manda.
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5p. Entrevistador: Sua célula é composta de pessoas de que idade? É mista, é idade
variada?
5r. Entrevistada: É idade variada. Tem pessoas idosas, tem pessoas nessa fase de trinta
vinte anos tem muita criança. Tem mais criança do que adulto. Graças a Deus.

6p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


6r. Entrevistada: Eu acho que os objetivos da célula é estreitar, não só o relacionamento
com Deus, mas a comunhão com os irmãos, da igreja, você conhecer. Quando eu cheguei
na igreja que não tinha o grupo ainda em célula, eu fiquei muito assim perdida. As pessoas
não comunicavam, não falavam, entrei muda e saia calada. E aí eu achei estranho, falei que
não ia voltar mais. E depois quando você tá na célula, você conhece as pessoas. Então
através das células que eu já passei, eu conheço muita gente na igreja, então... Porque a
igreja é grande, então até você conhecer todo mundo também é círculo muito prolongado,
assim. Então às vezes não dá, porque é o culto que você começa, aí acaba. Então na célula
você tem esse estreitamento de ter mais essa coisa de ficar mais a vontade, né? De conhecer
um pouquinho.

7p. Entrevistador: Lá no encontro da célula, no encontro do pequeno grupo, qual o


espaço que os membros do grupo têm pra falar de si, compartilhar suas experiências?
7r. Entrevistada: O espaço que a gente dá pra eles é tanto no momento do louvor, que eu
acho que é um momento de adoração ali a Deus, ali. Então você expressar o que você 'tá
sentindo por Deus é muito importante, porque chegar ali fazer um louvor, todo mundo
cantar bonitinho. Amém e aleluia, acabou. Não. Acho tem que se expressar, tem que
engrandecer o nome do Senhor nesse momento, e eu peço pra cada um 'tá exaltando o nome
do Senhor nesse momento. E depois dali tem a... Depois da mensagem, tem um momento
de reflexão e aí eles colocam dentro das questões que a gente debate ali no momento, ali,
eles colocam a forma de pensar, o que eles acham, se expõe ali. E no momento final tem
um momento de oração, que ali cada um coloca o seu pedido, conversa, fala e depois. Aí a
513

gente tem um tempinho mais livre quando finaliza, a gente tricota um pouquinho, as
mulheres, os homens, aí a gente vai se fazendo essa comunhão.

8p. Entrevistador: Tem uma preocupação de um cuidar do outro no interregno dos


encontros? Como é que funciona isso?
8r. Entrevistada: Como assim?

9p. Entrevistador: Entre um encontro e outro, no cotidiano dos membros da célula


tem uma preocupação de um cuidar do outro, ter algum vínculo com o outro? Como
é que funciona isso?
9r. Entrevistada: Tem. Já aconteceu muitos casos de integrantes ter provas, ter algum
problema na família, falecimento, alguma coisa, ou uma cirurgia. Então a gente sempre 'tá
no decorrer da célula tomando tempo disso pra 'tá ligando, principalmente o líder, porque
os membros às vezes 'tão numa correria, né? Então eu pego o telefone, dou uma ligadinha:
"como é que 'tá? Foi tranquilo?" Ligo a gente faz corrente de oração, de ligar um pro outro:
"olha, nesse momento fulano vai 'tá operando, vamos fazer um momento de oração nesse
momento, vamos estar orando por ela nesses horários." A gente 'tá fazendo essa interação
assim.

10p. Entrevistador: E com as pessoas de fora, da sociedade de um modo geral, o grupo


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tem essa preocupação com as pessoas de fora? O que o grupo tem feito pra contribuir
pra transformar essa realidade que está aí?
10r. Entrevistada: Bom, o meu grupo onde eu coordeno ali, a gente tem essa preocupação
muito grande com as pessoas que estão fora. Então a preocupação, eu falo que a minha
preocupação é da imagem que as pessoas 'tão tendo da célula, de si assim; de você 'tá não
é expondo, botando uma placa: "É, hoje tem célula", "vai na minha célula", não. Mas é de
uma coisa mais lenta, e fazer o discipulado, fazer o evangelismo, que eu acho muito
importante. A gente tem um cronograma de ir na feira, de ir em asilo, de 'tá falando com as
pessoas. Eu ainda acho que tinha que ter mais afinco ainda, que é uma coisa que eu sinto
muita falta na época da igreja pequena lá que eu frequentei, que era o evangelismo de você
ir de casa em casa, ou na rua, entregar um folhetinho e aquela coisa toda. E eu 'to sentindo
muita falta disso e eu vou enfatizar um pouco, acho que um pouco o pessoal pra 'tá fazendo
isso... Eu acho que... Não sei como é que eles vão aceitar isso, porque hoje em dia o pessoal
anda numa rotina corrida, aquela coisa toda. Mas a criançada se anima rapidinho, aí logo
já puxa os pais e a gente vai se socializando.

11p. Entrevistador: Você vê algum perigo da célula, o pequeno grupo, pra igreja de
um modo geral?
11r. Entrevistada: Não.

12p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula traz pro grupão, pra
celebração, pro funcionamento da igreja?
12r. Entrevistada: É eu acho que a célula em si ela ajuda muito, porque o complemento
do culto do domingo é muito bom, porque você 'tá ali interagindo com outras pessoas que
você conhece também, não só da célula, tendo a comunhão com os irmãos, ouvindo a
palavra do pastor também que é direcionada por Deus pra gente e ajuda muito a gente
também na célula também essa mensagem. Então acho que uma coisa vai combinando com
a outra e acho muito importante isso.
514

13p. Entrevistador: Muito bem. Se você tivesse que convencer alguém a fazer parte
de uma célula, alguém que não faz parte de célula, qual o argumento principal que
você usaria?
13r. Entrevistada: Um argumento. Olha que eu sou difícil de argumentar alguma coisa
com alguém. Sou daquela "nem por força, nem por violência". Eu fico quietinha. Eu tive
uma experiência esses dias com uma amiga minha, que a gente se conhece... Nem pra
convidar pra vim pra igreja eu convido. É aquela bem Católica, tal. Eu falei: "não, num vou
ficar naquela coisa: vai na minha igreja,...". Eu falei: "vou deixar quieto". No momento
certo eu vou orar ao Senhor Deus vai falar e ela vai. E um dia eu tava me arrumando, e a
gente tem um grupo no WhatsApp, aí eu falei: "Ah, to me arrumando pra ir pra igreja". Aí
ela falou: "ah! Você vai pra igreja? Eu quero ir com você!". Eu falei: "bom, então vamos".
Chegamos aqui ela sentou no banco, ouviu a mensagem do pastor Joarez, aceitou a Jesus
na hora. Então, assim, é uma coisa que de... Já aconteceu vários casos comigo nesse sentido.
De convencer, acho que quem tem o poder de convencer é o Senhor Jesus Cristo né? A
gente só faz uma pontezinha, de levar até ele. E acho que se fosse pra, se tivesse que
convencer mesmo alguém, eu chamaria no intuito de ter uma socialização, de conhecer
pessoas, não de "vamos no culto"; que acho que você fala no culto a pessoa já fica meio
assim arredia. Mas "vamos lá, vai ter uma comemoração" ou "vai ter um momento gostoso,
vai ser meu aniversário e aí eu vou comemorar com a minha célula", né? E ali a gente faz
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a célula junto e aí a pessoa vê assim, então, acho que seria esse o argumento que eu usaria.

14p. Entrevistador: Mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre a célula?
14r. Entrevistada: Não. A única coisa que eu tenho pra falar é que a célula pra mim é um
presente. Mudou muito a minha vida. As pessoas que já passaram por mim, líderes, me
abençoaram muito. Grandiosamente. Só o Senhor Jesus sabe o que eu já passei, o que eles
me ajudaram em todo momento: dificuldade, hospital meia-noite, duas da manhã, e sempre
'tavam ali próximos. E a gente vai aprendendo isso com eles. Que eu acho que a atitude que
eles tomaram comigo, tem que ser recíproca pras outras pessoas. E assim a gente vai
abençoando a vida dos irmãos.

15p. Entrevistado: Obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
32 anos Jardim Camburi PIBJC 42

1p. Entrevistador: Fala pra mim sobre sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência com a célula é muito positiva, porque é mais do
que um encontro casual que nós temos durante a semana. Na verdade é uma família que
nós formamos. E as últimas... Eu tenho várias experiências, mas as últimas experiências
que eu 'to tendo é em relação à saúde. Como eu faço parte desse ministério também com
os enfermos, eu vejo que tem muitas células que 'tá passando por momentos onde tem
algum ente ou diretamente ligado a um membro da célula ou parente, né? Que 'tá passando
por algum problema de saúde. E como a nossa igreja é muito grande, não teria como dar
uma assistência tão próxima, às vezes nem fica sabendo. E com o pequeno grupo as pessoas
acabam se envolvendo mais, sentindo mais, até mesmo a dor que o próximo ali 'tá passando.
515

E em casos, assim, de acompanhar em hospitais, ir também aos médicos, teve casos também
de óbitos, aonde a pessoa vai pra dar uma força, Pra esse momento de dor mesmo. E tem
também aquele lado positivo. Por exemplo, chega final de ano, nós temos as
confraternizações, os aniversários. Então é realmente uma família, onde nos alegramos com
a alegria do próximo, choramos e também sentimos a dor do nosso irmão. E a gente acaba,
assim que, aprendendo a amar, aprendendo a respeitar a diferença daquele irmão que 'tá ali
conosco. E é um aprendizado, dia-a-dia você aprende a lidar com esse novo membro dessa
família.

2p. Entrevistador: Faz quanto tempo que você tem experimentado a célula?
2r. Entrevistada: Eu participo de célula desde dois mil e nove. E a primeira célula que eu
participava, assim, o perfil não era muito parecido comigo, assim, mas eu participava. Até
que eu cheguei num certo ponto que eu pedi pra minha líder me encaminhar pra outra
célula. E eu não pedi ou essa ou aquela célula, apenas pedi pra me encaminhar pra uma
nova célula. Quando eu cheguei nessa nova célula, eu vi, assim, que era o meu perfil,
entendeu? Então eu vi, assim, até um mover, assim, do Espírito Santo pra me conduzir pra
aquela nova célula. E é assim... São hábitos, gostos, assim, que você vai se conhecendo...
Vendo que... Se espelhando naquilo que parece muito com os seus hábitos, né?

3p. Entrevistador: Então os membros da célula tem liberdade de mudar de célula?


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Como é que funciona isso?


3r. Entrevistada: Então, no meu caso eu cheguei e pedi. Então há sim essa liberdade.
Porque tem a questão também, não é que você não gosta, mas tem aquela questão assim de
afinidade daquelas atividades que você gosta de fazer. A minha célula, tem vez que nós
tiramos só pra orar, interceder por alguma questão. Tem semana que a gente tira pra fazer
uma festa. Tem semana que a gente segue aquele script que a igreja manda. Mas é algo,
assim, muito livre. E tem... Já tem outros tipos de célula que segue a risca todo aquele
roteiro que a igreja envia. Então há muitas diferenças, como a igreja é muito grande é de se
esperar, né? Essa variedade de gostos de pessoas é de se esperar em qualquer grupo grande.

4p. Entrevistador: Quais são os objetivos da célula?


4r. Entrevistada: O objetivo da célula é relacionamento. Ninguém vive numa ilha. Nós
temos que saber relacionar-se, saber 'tá com o coração disponível, aprender a se relacionar
com o próximo. Eu acho que hoje no mundo em que vivemos, assim, o relacionamento é
fundamental, né? Você tem aprender a lidar com o próximo, respeitar o próximo. Então
essa é a chave principal pra mim do objetivo da célula é relacionamento.

5p. Entrevistador: E comunhão? Qual a relação que você vê entre célula e comunhão,
desenvolvimento de comunhão?
5r. Entrevistada: Comunhão.

6p. Entrevistador: Entre os membros da célula.


6r. Entrevistada: Ah! Eu tiro por minha célula hoje. Todo mundo se dá muito bem, nos
preocupamos com o outro. Quando tem algo, assim, que até mesmo que tem que alertar, o
outro não ouve de um jeito agressivo, e sim de uma crítica positiva. Que tem certos
momentos também que tem uma palavra que a gente tem que dar ou senão ouvir. E é um
jeito que eu vejo livre, espontâneo.
516

7p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, algum risco pra igreja, a
existência da célula, do pequeno grupo?
7r. Entrevistada: Não, eu não vejo nenhum risco. Porque o líder da célula, ele é
capacitado. Antes de ele pegar uma liderança, ele passa por um processo de capacitação.
Então ele 'tá preparado caso haja alguma coisa que ele visualize no comportamento que não
é adequado ali pra célula, que tem coisas que a gente ouve que a gente vê que a gente não
pode sair por aí falando porque vai você 'tá difamando a vida de alguém. Então se isso...
Pode vir a acontecer? Pode. Não é normal? Não. Nem deveria. Mas caso isso venha a
acontecer, o líder, ele tem... Ele é capacitado pra identificar, pra chamar a pessoa, né? Falar
que aquilo não deve. Então, no meu ponto de vista é mais positivo do que esses casos que
aprecem. Que, graças a Deus, não passei por isso e espero não passar. Então como qualquer
organização, isso poder vir surgir, mas eu acredito na capacitação dos nossos líderes.

8p. Entrevistador: E impacto positivo. Qual o impacto positivo que a célula tem
trazido pra igreja como um todo?
8r. Entrevistada: Essa questão do relacionamento. Eu cheguei aqui pra igreja em dois mil
e nove, e o meu primeiro contato foi, eu fui encaminhada pra uma célula, e partir dali que
eu fui criando laços, fui criando amizade. Porque senão eu ia passar alguns meses,vindo só
ali, sentando no banco. A amizade, conhecer outras pessoas eu sei que levará... Ia levar um
bom tempo. Mas aqui, a partir do momento em que a pessoa. Tem nos domingos. Que se
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identifica os visitantes, as pessoas que aceitam Jesus, elas já são encaminhadas pra uma
equipe, onde elas vão encaminhar pra uma célula, e a partir dali elas vão se relacionar, vão
saber quem é ela, de onde ela veio. Então, é um processo mais dinâmico. É um processo
mais rápido e até mesmo, assim, pra fortalecer essa pessoa, às vezes ela chega, não sabe
com quem vai conversar. Pode até desanimar em vir outras vezes, não ser mais um, mais
um no meio do povão, mas sim todas fazendo uma parte, uma unidade, no corpo.

9p. Entrevistador: Qual a diferença que você percebe numa igreja que tem célula, ou
pequeno grupo, e uma igreja que não tem?
9r. Entrevistada: Eu já participei de igreja que não tinha célula. Só que era uma igreja
menor, onde todo mundo conhecia todo mundo, todas as coisas que acontecia todo mundo
ficava sabendo. Na nossa igreja hoje, caso não tivesse uma célula, seria muito difícil essa
parte de relacionamento. A forma como lidar com os ministérios entendeu? Essa
dificuldade que eu vejo.

10p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer alguém que não está em célula a
fazer parte de uma célula, qual o principal argumento que você usaria?
10r. Entrevistada: Eu apenas iria convidar pra me dar uma chance, de vim num dia de
célula, porque ele mesmo teria a resposta no dia que ali entrasse num encontro desses de
célula, porque é muito dinâmico, é muito... Um tempo muito gostoso que a gente passa.
Então a pessoa mesmo ia ter a resposta. Eu apenas ia fazer o convite.

11p. Entrevistador: Muito bem. E você gostaria de falar mais alguma coisa sobre
célula?
11r. Entrevistada: Não, acho que é o suficiente.

12p. Entrevistador: Obrigado.


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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
32 anos Jardim Camburi PIBJC 43

1p. Entrevistador: Queria que você falasse um pouquinho sobre a sua experiência
com célula.
1r. Entrevistada: Tem sido muito boa. Porque eu acabo me inserindo mesmo na igreja, eu
me sinto acolhida na igreja porque eu tenho contato direto com as pessoas.

2p. Entrevistador: Faz quanto tempo que você está na igreja, que você passou a fazer
parte da igreja?
2r. Entrevistada: Uns dois anos e pouco.

3p. Entrevistador: Você já veio através de célula? Qual a importância da célula pra
sua chegada pra igreja?
3r. Entrevistada: Foi primordial. Porque eu precisava ter esse contato com as pessoas,
porque senão eu ia me sentir muito sozinha dentro da igreja. A gente... Eu vinha nos cultos
e só... Não tinha como eu conhecer ninguém dentro da igreja, porque a igreja é muito
grande, tem muitas pessoas e não tem como eu ter um contato. E foi por meio da célula que
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eu fui conhecendo as pessoas. Se não fosse a célula eu não estaria envolvida na igreja.

4p. Entrevistador: Você chegou a conhecer alguma igreja evangélica que não tivesse
célula?
4r. Entrevistada: Sim. Eu fui criada numa igreja que não tinha célula.

5p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem célula e
uma que não tem célula?
5r. Entrevistada: É o relacionamento. É superficial. Parece que tem mais, a gente costuma
dizer em questão de panelinha, parece que nessas que não tem célula tem mais panelinha.
Não tem um objetivo. A célula não, ela já tem um objetivo.

6p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


6r. Entrevistada: É! Ganhar mais pessoas. O objetivo, você num 'tá ali na célula só pra
você. É você se ajudar e ajudar outras pessoas. Não é ficar somente naquele grupo, a gente
já tem a ideia de que aquele grupo uma hora, ele vai expandir, e pode ser que eu não esteja
mais inserida naquele grupo, porque eu já vou pra outro grupo. Já formando outros. Então
vai rodando. Não fica só naquelas pessoas.

7p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula e comunhão?


7r. Entrevistada: Muito... Muito. Eu vejo que tem sim. Porque a gente traz a tona todos
os tópicos que são apresentados na igreja no domingo. E aí é de cada um... É... Participa.
Ali então tem um momento de louvor, tem um momento de você falar o que você 'tá
sentindo. Eu vejo dessa forma.

8p. Entrevistador: Como é que a célula promove comunhão?


8r. Entrevistada: Por meio do relacionamento.
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9p. Entrevistador: Como é que acontece isso?


9r. Entrevistada: Olha, nós cantamos. Cada um tem uma função, toda semana cada um
tem uma função, é rotativo. Com o objetivo de levar a música. A pessoa, um fica com o
objetivo de levar a música, o outro de trazer a palavra que foi apresentada no domingo, o
outro de fazer um evangelismo, apresentar uma ideia de como evangelizar as pessoas. E
isso é rotativo, não ficam só aquelas três pessoas toda semana. Então acaba que todo grupo
trabalha. Ninguém fica parado. Uma vez por mês cada um vai ter uma atividade.

10p. Entrevistador: Além dessa responsabilidade de dirigir um momento da célula,


que outra oportunidade o membro da célula tem pra falar dele?
10r. Entrevistada: Sem ser ali?

11p. Entrevistador: É.
11r. Entrevistada: Sem ser a rotatividade?

12p. Entrevistador: É. Isso. Sem ser responsável diretamente por um ponto.


12r. Entrevistada: É aberto. Todo. A gente traz as questões e cada um fala aquilo que
pensa ali dentro. Falou, trouxe o tema e cada um vai falando: "olha, eu acho que vejo dessa
forma". Então todos participam.
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13p. Entrevistador: E entre os encontros tem algum tipo de vínculo que é criado entre
os membros?
13r. Entrevistada: Sim.

14p. Entrevistador: Como é que acontece isso?


14r. Entrevistada: Não fica só ali na quarta-feira, no dia da semana. A gente acaba saindo
com um casal, com uma pessoa que a gente mais se identifica. Uma vez por ano, a gente
programa um encontrão, todo mundo, num final de semana. Não fica só naquele dia. Tem
esse momento de você se vincular. E acaba que quando você desvincula, quando vai
passando pra outra, tem alguns que você ainda continua mantendo contato, porque você
criou aquele vínculo. Não é com todos. Acaba não sendo com todos a afinidade.

15p. Entrevistador: Tem uma preocupação, os membros da célula tem uma


preocupação em cuidar um do outro? Como é que isso acontece?
15r. Entrevistada: Sim. Porque a gente acaba desabafando às vezes, quando a gente 'tá
passando por alguma dificuldade. Então perguntam o que 'tá precisando, e aí a gente entra
em contato durante a semana, não só naquele dia: "e aí, como é que você 'tá?"

16p. Entrevistador: E com pessoas de fora do grupo, fora igreja? Que tipo de
preocupação as pessoas que frequentam a célula, que são membros da célula, têm com
as pessoas de fora? Com a sociedade de um modo geral?
16r. Entrevistada: Sim. Nós oramos, nós buscamos ideias de poder 'tá evangelizando...
Evangelizando. Nós fazemos os atos de compaixão. Essa é a nossa forma de 'tá saindo só
do grupo. Porque o objetivo não é ficar o grupo, o objetivo é trazer pessoas para o grupo.

17p. Entrevistador: Qual o impacto que você percebe da célula na igreja como um
todo?
519

17r. Entrevistada: Muito importante porque as pessoas se envolvem, não ficam só ali na
igreja. Acaba se envolvendo. Inclusive eu não participo só da célula, hoje eu trabalho na
câmera, filmando. Às vezes eu faço o louvor na igreja. E tudo por meio da célula que eu
fui descobrindo que eu poderia 'tá fazendo outros tipos de atividade, eu não fico só atrelada
à célula.

18p. Entrevistador: Você acha que a célula interfere na maneira da igreja adorar a
Deus, cultuar a Deus? Quando a igreja se encontra naquela grande celebração?
18r. Entrevistada: Sim. Porque a pessoa 'tá se sentindo mais a vontade. Tem pessoas ali
que ela conhece e ela se sente mais a vontade.

19p. Entrevistador: Você vê algum perigo, algum risco da célula pra igreja?
19r. Entrevistada: Hoje não. Na nossa igreja, não. Eu já participei de igreja que sim, que
acabou dividindo. Acabou gerando divisão. Mas porque não tiveram sabedoria de como
lidar com isso. Já participei de uma igreja que teve isso. Aqui eu não vejo isso. Aqui 'tá
bem estruturado, já 'tá bem enraizado, já tem um projeto, tudo... Já tem se encaminhado,
já.

20p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer alguém que não faz parte de célula,
pra fazer parte de célula, que argumento você usaria?
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20r. Entrevistada: Que ela tem liberdade dentro da célula, que ela vai encontrar pessoas
que vão poder ajudar ela, de poder 'tá caminhando junto com ela, ajudando no que for
preciso, nós vamos 'tá dando suporte a pessoa.

21p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


21r. Entrevistada: Eu acho que foi a ideia máxima que a gente não percebia dentro da
bíblia, que tava ali na bíblia, mas a gente não tinha essa visão. E essa realmente é uma visão
de crescimento. A gente percebe que as igrejas, que aceitaram essa nova visão tem crescido
e tem dado certo.

22p. Entrevistador: Você acha que elas têm crescido só em número?


22r. Entrevistada: Quantidade. Não somente em número, mas também em conhecimento.
A pessoa quando ela... A célula faz com que a pessoa, ela caminhe firme, ela tenha um
conhecimento, não é só um membro da igreja mais. Ela 'tá enraizada ali, ela sabe o que ela
'tá fazendo ali. Tem todo um conhecimento, não 'tá mais só frequentador da igreja.

23p. Entrevistador: Como é que a célula contribui pro seu crescimento?


23r. Entrevistada: Nossa! Na minha vida espiritual, na minha vida familiar. Como um
todo. Hoje eu não tenho mais aquela religiosidade. Eu acho que até quebrou isso, a questão
da célula pra mim, quebrou essa questão da religiosidade. Não é mais isso. Eu tenho um
relacionamento com as pessoas. Superficial. Antes era superficial. Agora eu tenho
liberdade e eu ligo pras pessoas da célula. Elas ligam... Existe uma confiança, não tem mais
aquela... Acabou aquela 'picuinha' que eu via nas igrejas antes, de fofoca, tem uma
liberdade, a célula cria isso, um vínculo. As pessoas sabem que vão crescer, mas elas... Se
sentem seguras, eu me sinto segura.

24p. Entrevistador: E em sua relação com Deus, em que a célula contribuiu?


520

24r. Entrevistada: Me deu essa questão de segurança mesmo. Também me fez isso, de ter
essa segurança com Deus. De que Deus está ali, Deus está no meio da célula, Deus... Foi
um projeto de Deus, eu consigo ver que isso veio uma coisa de Deus.

25p. Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
29 anos Jardim Camburi PIBJC 44

1p. Entrevistador: Compartilhe um pouquinho sobre a sua experiência com célula.


1r. Entrevistada: Bom, quando eu entrei na igreja, o que me fez ter relacionamento foi
com a célula, porque durante, acho que, dois anos eu frequentei a igreja sem participar de
célula, só pelo meu namorado. Participava porque na verdade eu vim pra igreja por causa
dele. E aí eu não tinha contato nem com as pessoas que ele tinha relacionamento, assim,
não tinha muito contato, não tinha relacionamento. A partir do momento que eu entrei em
célula foi que eu comecei a ter relacionamento com as pessoas da igreja. Então, assim, me
ajudou muito até pra me afastar do mundo. Então, assim, foi uma coisa que eu não senti
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falta porque além da célula a gente sempre tinha encontros sociais, sempre com os nossos
líderes que foram os nossos discipuladores, que sempre chamavam a gente pra tomar café,
ir pra praia, e tal. Então a gente sempre 'tava em contato e eu acabei me afastando do mundo
sem perceber.

2p. Entrevistador: Você chegou a conhecer ou a fazer parte de ma igreja sem o


pequeno grupo, sem a célula? Ou não, já veio pra igreja...
2r. Entrevistada: Eu era da Igreja Católica. Foi a primeira vez que eu frequentei a igreja
evangélica, mas na Igreja Católica a gente tinha o grupo jovem, que era parecido com a
célula.

3p. Entrevistador: Certo. Qual a ligação que você faz entre célula e comunhão?
Comunhão entre os membros da célula.
3r. Entrevistada: Ah! Qual a ligação?

4p. Entrevistador: Você entende que a célula contribui para que as pessoas
desenvolvam comunhão? Como é que acontece isso?
4r. Entrevistada: Sim, com certeza. Porque, igual, assim, como disse, na igreja quando eu
não frequentava célula, não tinha comunhão com as pessoas. Foi a partir da célula que eu
comecei a ter comunhão com as pessoas. Então, realmente eu vejo assim, que a célula é
uma família, a gente vive como irmãos mesmo, um ajudando o outro.

5p. Entrevistador: Tem encontros semanais. E fora dos encontros como é que
acontecem esses relacionamentos?
5r. Entrevistada: Eu tenho a minha parceira, na célula. Aí no caso na nossa célula são
quatro casais. Aí dois casais são parceiros e... Eu e meu marido somos parceiros de outro
casal, que são os nossos auxiliares. E a gente geralmente se encontra toda semana, fim de
semana geralmente a gente almoça junto, marca de ir pra praia, marca alguma coisa junto.
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Ontem a gente fez um churrasco a célula toda, pra convidar oikós também, mas geralmente
a gente tenta manter um relacionamento, tenta encontrar toda semana, mas aí quando a
gente não consegue, a gente sempre se fala por telefone, por mensagem, hoje em dia por
whatsApp.

6p. Entrevistador: Certo. E os encontros em si? Qual o espaço que os membros da


célula têm pra compartilhar as experiências, tirar as dúvidas?
6r. Entrevistada: Ah! Na verdade, geralmente acaba separando o grupinho das meninas e
dos meninos, que aí geralmente a pessoa fica mais a vontade em compartilhar, né? Igual,
ontem mesmo a gente tava com um casal de oikós, aí a gente ficou as meninas e os meninos,
e a gente, assim, nem precisa é... a gente já chegou, a pessoa já chegou e já começou a
compartilhar. Tipo assim, já sentiu bem à vontade em compartilhar, aí depois ela até ficou
sem graça, ela falou assim: "Ah! Já cheguei reclamando, né?" Aí eu falei: "Não, é porque
você já passou... tipo assim, você chegou atrasada, então todo mundo já... Tipo assim, já...
Se abriu né? Já... Falou dos seus problemas e agora você chegou por último contando. Ela:
"Ah! Então tá!" Então na verdade a gente fica ali conversando como se fosse, né? Amigos
mesmo e a pessoa se sente a vontade em compartilhar. Não sei como é que é com os
homens, né? Porque geralmente homem é mais fechado pra se abrir, né? Mulher já fala
mais, já é mais transparente.
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7p. Entrevistador: O grupo, a célula como um grupo, né? De pessoas, tem


preocupação também com pessoas que estão fora da célula? Pessoas lá na sociedade
de um modo geral, os problemas sociais? Ah! A célula... O que que a célula tem feito
pra contribuir pra transformação da sociedade?
7r. Entrevistada: É... A gente, no dia das crianças, que a gente foi numa comuni... Numa
comunidade, fizemos festa das crianças lá com outra igreja pequena, né? É... Que abriu
pra todas as crianças da comunidade. Acho que mês passado a gente foi... É... Entregar
marmita na rua, né? À noite, pros mendigos, né? A gente vê muita... Pessoal drogado, tal.
Tiveram... Teve até um rapaz que pediu uma ajuda, pedindo pra, né?... Pra poder tirar ele
da rua. Porque a gente viu pessoas, assim, que trabalham né? Mas que moram na rua. É...
A gente esse mês, a gente 'tá com a proposta de ir ao hospital. Até teve, acho que no início
do mês também, com o negócio de dia das crianças, a gente não pode porque a gente tava
trabalhando, mas teve uma 'membro' da célula que foi no hospital infantil, que teve a festa
das crianças lá. E a gente tem... Sempre tem colocado a proposta pra nossa célula de uma
vez por mês a gente fazer um trabalho evangelístico na rua. Aí agora no final do ano,
novembro, dezembro, a gente quer fazer um na praia, um evangelismo na praia, abraço
grátis, oração grátis, que foi uma coisa que a gente já fez numa célula há uns dois anos
atrás, que foi bem legal. Então a gente sempre tenta trabalhar com um projeto, tipo um
projeto missionário, né? Fazendo um projeto evangelístico com pessoas que não são da
igreja.

8p. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo da igreja... Da célula pra igreja?
A igreja que tem esse Pequeno Grupo... Representa algum risco, algum perigo pra
igreja como um todo?
8r. Entrevistado: Acredito que não.

9p. Entrevistador: E benefício? Que benefícios o grupo traz pra igreja como um todo?
Ah! Na hora da celebração, na maneira de celebrar, de cultuar, de adorar.
522

9r. Entrevistada: Assim, o... A desvantagem que eu vejo na célula, é porque acaba assim,
como a nossa igreja é muito grande, a gente não consegue conhecer todo mundo. Então,
assim, eu acabo sempre conhecendo as pessoas que foram da nossa célula, né? Quando
multiplica, quando a gente mudava de célula, quando a gente não era líder, que era a partir
desse né? Assim que eu conhecia as pessoas. Então a vantagem de não ter a célula é porque
a gente não conhece outras pessoas, mas eu acho também se não tivesse célula também não
iria conhecer, por a igreja ser muito grande. No entanto, que a gente 'tá fazendo um curso
de... Em outra igreja, que a gente acabou conhecendo pessoas da nossa igreja que a gente
não conhecia né? Por ser um grupo menor também. Mas, igual, a vantagem também, porque
quando não tinha célula, eu chegava, ia pro culto e voltava pra casa sem conversar com
ninguém, sem ter comunhão com ninguém na igreja. E acaba que com a célula, a gente
sempre tenta sentar juntos, né? Pra ter aquele... Realmente aquele vínculo de amizade,
aquela comunhão durante o culto, tal. E acaba que depois na célula a gente compartilha né?
Geralmente o que foi falado no culto, e é a hora que a gente abre o coração mesmo, né? E
fala mesmo. A gente... Na célula a gente até fala, que a gente como líder às vezes a pessoa
espera da liderança não ser muito transparente, né? Como se o líder não tivesse problema,
mas eu e meu marido, a gente é super aberto, a gente pega, fala mesmo, né? Quando a gente
'tá com dificuldade, tal, a gente... A gente abre mesmo, a gente num tem...

10p. Entrevistador: Você falou que sua célula é mais composta de casais.
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10r. Entrevistado: Isso.

11p. Entrevistador: E... Como vocês trabalham a questão dos... Problemas que são
comuns a esta faixa etária, né? Casais, filhos pequenos. Como é que vocês trabalham
isso?
11r. Entrevistada: É... O nosso... A nossa célula não é casais com filhos, são casais jovens,
né? Casais mais recém-casados. Ano que vem que vai ser a célula dos grávidos. E... Na
verdade, igual, é... A gente na célula acaba sendo compartilhado muito a questão de
problemas mesmo de casais, né? Isso... Até por isso quando a gente multiplicou, a gente
tinha a célula... Uma célula mista. A gente fez a multiplicação de células, né? De solteiros
e células de casados, porque a gente via que os solteiros muitas vezes ficavam incomodados
com o assunto que não era uma coisa que eles 'tavam vivendo. Então acaba que é muito
compartilhado, assim, num é, claro, cada coisa particular, mas acaba tendo muito
compartilhamento de coisas relacionadas ao casal. E a parceria, a gente faz no caso é o
casal separado, no caso mulher com mulher, homem com homem. Ou então quando a gente
junta o grupo todo, igual ontem a gente juntou, aí fica o, né? O grupo dos Bolinhas, o grupo
das Luluzinhas, e a gente compartilhando ali e sempre o assunto é casamento,
relacionamento, então sempre rola esse tipo de assunto.

12p. Entrevistador: Até porque são casais que estão se ajustando ainda, né? São
recém-casados.
12r. Entrevistada: Isso. E a nossa supervisão também como, né? Tem muitos casais, né?
Recém-casados, uma vez... Acho que, não sei se é uma vez por mês, ou de dois em dois
meses, o pastor Valter sempre vem dar uma palestra voltada pra alguma coisa do
relacionamento, né?... De casal. E tem o retiro de casais, né? Só que... Mas a gente só foi
uma vez, porque como ele trabalha fim de semana, aí é muito difícil a gente conseguir ir.
523

13p. Entrevistador: Muito bem. Se você fosse argumentar pra uma pessoa que não
está em célula. Ela 'tá frequentando a igreja, mas ela não está em célula. Se você fosse
argumentar pra ela sobre a importância dela ir pra célula, que argumento você
usaria?
13r. Entrevistada: Que a célula não... É um lugar que você consegue conhecer pessoas,
né? Ter intimidade, criar uma amizade, um vínculo realmente, assim, de amizade, de
comunhão, de... E que você consegue conhecer mais as pessoas, né? Porque quando a
pessoa não 'tá em célula, ela acaba ficando isolada na igreja. E a célula é o lugar que ela
pode conhecer né?... Novas pessoas, pessoas que ela vai ter né?... Um vínculo mesmo de
amizade, e um lugar que ela vai se sentir a vontade pra compartilhar, pra se abrir.

14p. Entrevistador: Bem, você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
14r. Entrevistada: Gostaria. Que eu percebi, tem... Eu acho que tem dois anos ou três que
a gente 'tá como líder de célula, e eu percebi esse ano que eu não tenho perfil pra liderança,
né? Então a gente 'tá nessa luta, assim. Porque na verdade a gente nunca, assim, teve o
desejo de ser líder de célula, a gente foi muito de servir, a gente sempre gostou muito de
ajudar. E aí, nisso, a gente logo acabou sendo indicado como líder de célula, a gente na
época conversou com nosso líder que a gente não queria, tal, que a gente não sentia
preparado pra isso, aí ele falou: "Ah! Mas vocês... A gente nunca se sente preparado, que
eu acho que se você tiver um coração disposto, né?... Que você né? 'Tá preparado pra ser
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líder de célula. Basta ter um coração disposto". Eu falei: "tudo bem". Então a gente aceitou
o desafio, tal. Só que, assim, no final do ano passado foi, assim, meio que abriu uma ferida,
assim, pra gente. Porque na multiplicação teve muito problema pra ter a multiplicação.
Então esse ano, assim, tem sido um ano que pra gente, a gente tem ficado, assim, meio
desanimado e que a gente viu que a gente não tem perfil de liderança. Então a gente até já
conversou com nosso supervisor, não expondo esse sentido, né? Expondo que como ano
que vem a gente quer engravidar, e a gente sabe que é um período, né? Que, né? Quando
ganha o neném é um período difícil que a gente vai abrir mão da liderança. E a gente não
argumentou, mas a gente não tem intenção de voltar. Porque a gente viu que a gente
realmente não tem perfil de líder, de liderança. A gente gosta muito da célula, a gente não
tem, assim, vontade de abrir mão da célula, mas como líder, eu não vejo que eu tenho perfil
de liderança.

15p. Entrevistador: Então a liderança passou a ser um peso pra vocês.


15r. Entrevistada: Isso.

16p. Entrevistador: Ok.


16r. Entrevistada: A gente não se sente preparado pra cuidar, na verdade.

17p. Entrevistador: Porque você entende que é mais do que liderar, é cuidar.
17r. Entrevistada: Também. Eu acho... Geralmente o líder, a gente tem uma visão que é
uma pessoa que tem mais experiência, que tem conhecimento da Palavra, igual, assim, eu
sou... Eu tenho pouco tempo na igreja, não conheço muito da Palavra, então às vezes eu
fico assim... Eu vejo: "Nossa, o pessoal conhece mais da Palavra, sabe mais, tipo assim,
tem mais experiência, tem mais relacionamento com Deus do que eu como líder. Então eu
fico assim, eu não me sinto preparada pra célula, pra ser líder, eu sinto mais de ser cuidada
do que liderar.
524

18p. Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado.


18r. Entrevistada: Nada.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
34 anos Jardim Camburi PIBJC 45

1p. Entrevistador: Fala pra mim sobre sua experiência com célula.
1r. Entrevistad : Eu só fiz o terceiro ciclo, de treinamento aqui na igreja Batista. Foi muito
bom porque é algo que eu na época eu tinha poucos, menos de um ano, que eu tinha perdido
a minha mãe e o grupo me ajudou muito. A voltar a ter vínculo, voltar a ter, se sentir no
meio. Porque, com a perda da minha mãe, foi bem difícil pra mim.

2p. Entrevistador: Você já fazia parte da igreja quando você foi pra célula?
2r. Entrevistado: Já.

3p. Entrevistador: Então você chegou a conhecer a igreja sem célula e a igreja com
célula?
3r. Entrevistado: Já.
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4p. Entrevistador: Qual a diferença que você percebe aí?


4r. Entrevistado: Hoje a maior diferença que eu sinto é você poder discutir os assuntos
que são propostos no culto de domingo, porque você não pode levantar a mão e perguntar
ao pastor. No culto de domingo você é tocado, você é sensibilizado com alguma palavra e
em Grupos Pequenos você pode se abrir, se expor sem medo, sem receio. A gente tá com
um grupo bastante, um Grupo Pequeno, de oito pessoas, quatro casais. E a maior finalidade
assim que eu vejo da célula é essa. É de poder se abrir, de poder falar.

5p. Entrevistador: Isso. Isso que eu queria que você falasse um pouquinho mais sobre
os objetivos da célula.
5r. Entrevistado: O objetivo da célula é, o maior objetivo da célula é o evangelismo.
Trazer novos convertidos. Isso tem sido uma grande dificuldade. Ah! Eu 'to' no terceiro
ano de liderança. As células acabam crescendo por líderes que vão saindo e as células vão
ficando inchadas. A grande, o intuito da célula pra mim é esse. Trazer pessoas novas, e ter
no grupo pequeno ali, se sentir a vontade, abertura, e depois ela começar a vir pra igreja de
forma bem natural.

6p. Entrevistador: E qual a dificuldade que você vê para alcançar esse objetivo?
6r. Entrevistado: Hoje é tempo pra relacionamento. As pessoas, elas não querem, tem
medo de se abrir e fica muito difícil. Porque a gente também não pode ser tão invasivo.Você
convida a pessoa, um colega, ou outro, mas você vê que sempre vão se esquivando, vão se
saindo, a gente tem que convidar algumas pessoas, algumas pessoas aceitam, vão uma ou
duas vezes. Mesmo que aquele clima ali bem tranquilo, tem o lanche. Canta duas, três
músicas. Tem o evangelismo, que fala sobre buscar o Senhor, edificação. Depois tem a
Palavra, edificação. É uma coisa que é bem aberta até pros visitante falar. Mas eu vejo a
grande questão é essa, não tem conseguido trazer gente de fora pra dentro.
525

7p. Entrevistador: Que tipo de preocupação o grupo tem com a sociedade de um modo
geral? A célula tem se preocupado em agir, interagir, de tal maneira que cause um
impacto na transformação da sociedade? Como é que funciona isso?
7r. Entrevistado: Olha, a nossa célula esse ano tá.... A célula tem, sem ser esse ciclo
passado, o anterior. A gente fez alguns, alguns eventos né? Abraço... É alguns cartazes ali
em Jardim Camburi. Foi bem impactante pra gente. Há praticamente um mês e meio atrás.
A gente fez... Fizemos vinte e quatro marmitas. No dia de célula, não fizemos praticamente
a célula né? Dentro de casa. Nós se reuníamos meia hora antes, buscamos o direcionamento
do Senhor, oramos, e encomendamos vinte e quatro marmitas e fomos pra rua, né? E
conversar, saber o que... As pessoas 'tavam precisando né? Dá uma palavra de oração.

8p. Entrevistador: E como é que foi essa experiência?


8r. Entrevistado: Foi bacana. A gente 'rodô ali a Praça Costa Pereira. Nós fomos no parque
Moscoso.

9p. Entrevistador: Quê que vocês encontraram lá?


9r. Entrevistado: Muitas pessoas abandonadas. Pessoas com casas, pessoas com famílias,
usuários de droga, viciados em álcool. Pessoas feridas né? Dentro de relacionamento,
dentro de quatro paredes na família. Eu fiquei até surpreso né? Porque a gente achava que
fossem pessoas que viessem de outro estado, pessoas abandonadas. Mas a grande maioria,
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tudo tem casa. Que... Brigou com filho, brigou com a mulher, aconteceu alguma coisa,
alguma coisa ruim. E abandonaram. Eu cheguei, a gente abordou um homem. Na... Vila
Rubim, no parque Moscoso. Um cara com a camisa Jesus te ama, algo nesse sentido. Bem
vestido, barba feita, abordamos ele. Ficamos ali uns quinze, vinte minutos conversando
com ele. Ele falou que saiu de casa porque uma das filhas se tornou homossexual, ele não
conseguiu administrar aquele negócio, ele também já é um alcoólatra, e já frequentou a
igreja muitos anos, e não conseguia administrar. Trabalha durante o dia, tem um emprego.
E dorme na rua, à noite. Foi muito impactante assim pra gente né? E... Pessoas pedindo
ajuda, pra sair daquela situação, e a gente até chegou a procurar... Um dos vereadores de
Vitória né? Porque teve um rapaz que ele falou que era do interior, que ele tem interesse de
abandonar o vício do crack, o vício do álcool, que ele é do interior, que quer voltar pra casa
dele, mas ele quer voltar tratado. Em seguida eu tentei procurar ele né? Fizemos um contato,
ele falou que... Se achasse ele de novo. Mas aí, como eles são meio nômades, né? E às
vezes é até por uma questão de segurança, eles não ficam no mesmo lugar sempre. Eu não
consegui, não consegui vê-lo de novo.

10p. Entrevistador: No encontro da célula propriamente dito. Como é que a célula


promove a comunhão entre os membros da célula?
10r. Entrevistado: Acho que a maior comunhão que deixa é... Você poder ouvir a outra
pessoa né? Você poder ouvir e você fazer uma oração no final e não julgar né? Acho que a
maior comunhão é... Que as pessoas ainda vão se abrir durante aos poucos, durante uns
tempos. Mas também a coisa mais importante na célula é você poder ouvir né? Ouvir que
ela brigou no serviço, ouvir que ela brigou com o marido em casa, com a esposa, com o
filho, ou com um parente. Que ela não 'tá bem. E no final ainda recebe uma oração. Aonde
já aconteceu comigo também. Eu tive, adquiri um novo veículo que eu achei que tivesse
feito um mau negócio, e foi uma experiência muito tremenda pra mim. Têm uns seis meses
isso. E eu nunca, nos meus trinta e... Fiz trinta e quatro agora esse ano, esse mês. Nos meus
trinta e três anos nunca passei uma noite em claro. Eu passei uma noite em claro, bem
526

perturbada assim, eu passei muito mal, com muitas vozes e vi que era uma opressão mesmo
né? Sobre minha mente. E... Fui pra célula, e... Compartilhei o que eu 'tava sentindo, chorei
bastante, e o grupo orou por mim. E aquela noite consegui ter uma de sono maravilhosa e
dormi bem, e vencer essa preocupação né? A gente tem uma escala de oração né? Toda a
célula as pessoas tem uma lista que né? Que a gente tem uma facilidade no watsApp a gente
posta aquela lista ali. Aquela pessoa fica responsável pelo motivo de orar por aquela lista.
Então pra mim é mais ou menos isso que tem acontecido assim a célula.

11p. Entrevistador: Então, há uma preocupação de um cuidar do outro, um estar


atento às necessidades do outro também fora dos encontros?
11r. Entrevistado: Isso, sim.

12p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja, a existência da célula, do Pequeno
Grupo? Algum perigo pra igreja, ou não?
12r. Entrevistado: Eu acho que não.

13p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula traz pra igreja como um
todo?
13r. Entrevistado: Eu acho que o grande dificuldade da, dos membros né? Nesses últimos,
nesses dez anos que 'tá aqui. É... As pessoas ela... Elas, a.... As células elas não têm crescido
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de forma exponencial né? Eu acho que ela tem crescido, muito... Devagar. Porque ainda as
pessoas, elas se preocupam muito com os interesses próprios né? Com... O "eu" né? Sempre
com o "eu". Eu acho que o grande... Percalço é... Das células são esses. Mas, pra igreja em
si, eu acho que os grupos ela.... Não é que forma panelas, mas elas trazem bastante unidade
né? Conflitos né? A gente acaba sempre tendo né? Dificuldade de relacionamento né? São
pessoas sempre diferentes. Mas a gente tenta contornar da melhor forma possível né? A
gente teve um problema no ciclo passado. Uma pessoa que ela é juntada, e tem filho e...
Começou a trazer muitos transtornos pra célula. E eu não consegui, a gente não, tava com,
era um casal, que acompanhava né? Que um casal que chegou de fora. Veio primeiro essa
mulher, depois veio um rapaz que era o companheiro dela. E eles começaram a
acompanhar. Durante a semana né? Porque a gente faz, a gente prioriza muito as parcerias
no nosso grupo. E funciona. Tem funcionado muito bem. Eles começaram a acompanhar,
esse casal ficou muito sobrecarregado, veio um segundo casal. Daqui a pouco já 'tava um
terceiro casal. Daqui a pouco já 'tava eu também, eu e minha esposa, daqui a pouco já 'tava
a célula inteira, tentando contornar uma situação de um casal. E eu fui buscar ao Senhor e
tive o direcionamento que eu não eu não tinha... Suporte para suportar aquilo, não tinha
experiência né? E aí que mulher tem um filho com outro rapaz. Então assim, aí procurei a
liderança da igreja. Procurei meu supervisor, do meu supervisor vamos supor, vou procurar
o pastor, procurou a... Grupo de família. E nós direcionamos. Porque, se a gente fica ali, a
gente acaba morrendo junto, né? E graças a Deus hoje a gente acabou se multiplicando né?
A nossa célula multiplicou ano passado. Ela continuou na célula. No início assim, a gente
teve muito cuidado né? De expor pra ela isso. Eu falei pra ela, falei... Com ela, eu não...
Sei lidar com isso. Porque eu nunca vivi isso. Eu falei pra ela, eu não posso... Orientar um
casal com filho, porque eu não tenho filho. Os que, o que você 'tá vivendo eu nunca vivi.
Então vocês precisam buscar ou uma terapia de casal, ou vocês precisam procurar um...
Grupo... Umas pessoas mais maduras, casais com mais vivência pra... Tentar orientar
vocês. Eu acho que a célula, a gente conseguiu, controlar muito bem né? A situação. Hoje
a pessoa não tem mágoa nenhuma. Ela faz terapia de casal, 'ta na célula. Acho que a maior
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finalidade da célula, acho que é esse. Porque a demanda né? Acho que, é... Acaba mesmo
com os quatro pastores aqui da igreja, a demanda é muito grande né? A gente acaba
contornando ali sem o pastor de verdade. Administrando a vida delas, as nossas vidas. Não
sendo tão invasivo, mas a própria célula acaba administrando os problemas ali em oração,
em busca, em telefonema né? Durante a semana, mas acho que perigo eu não vejo. Eu acho
que é uma coisa boa para a expansão do Reino.

14p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


14r. Entrevistado: Passando por transição né? Passando por transição. As pessoas bem
instruídas. Pessoas bem capacitadas. Mas pessoas ainda que se preocupam muito com o
interesse próprio.

15p. Entrevistador: Se você fosse usar algum adjetivo pra descrever sua igreja, você
usaria que adjetivos?
15r. Entrevistado: Pra mim uma casa de benção.

16p. Entrevistador: E se você tivesse que argumentar pra um colega seu, que 'tá na
igreja e não é membro de célula, pra que ele viesse pra uma célula. O você usaria
como argumento?
16r. Entrevistado: Maior argumento é ser cuidado por outra pessoa.
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17p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
17r. Entrevistado: Eu acho que é um processo né? Que a gente 'tá passando. Eu acho que
a gente tem muito que aprender ainda, né? A gente já pensou várias vezes em entregar a
liderança. A gente tem passado, passa por muitos conflitos. O grande problema de ser líder
hoje de célula é que a dificuldade da gente lidar com pessoas. A gente não é treinado pra
isso. Eu acho que é o grande gargalo hoje. A igreja precisa se preocupar mais com isso.
Acho que é o grande risco hoje pra uma igreja em célula...

18p. Entrevistador: Você vê uma lacuna aí na capacitação com relação a capacitar os


líderes e a como aconselhar?
18r. Entrevistado: É como uma empresa mesmo, às vezes a gente vê na empresa uma...
Pessoa fazendo algo equivocado. Aí você pergunta pra aquela pessoa se ela teve
treinamento? Não, ela chegou ali, assinou a carteira e 'tá ali. Ela foi durante o, foi
aprendendo com a vivência. Eu acho que falta mais treinamento. Eu acho que uma palavra
que eu queria deixar assim, que se a igreja buscasse mais treinamento. Buscar mais
treinamento com os líderes porque isso acaba desmotivando. A gente vê isso como um
ministério, mas é um pouco pesado.

19p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


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FUNÇÃO: Líder e SEXO: Masculino DATA: 13/10/2014


Supervisor
IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
72 anos Jardim Camburi PIBJC 46

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre a sua experiência com célula.


1r. Entrevistado: Células? Nós começamos em célula aqui em dois mil. Antes um pouco
a gente já estava visitando alguns lugares com o pastor Juarez, para o estudo sobre células.
Fomos a Belo Horizonte, Venda Nova, algumas vezes, umas três ou quatro vezes e depois
alguns módulos vieram pra aqui. Eu não sei até se o irmão participou da... Dos módulos
aqui na igreja. Fomos também ao Ibes, a Praia do Canto, etc. Mas é... Célula é muito bom.
Quando nós começamos células nossa igreja era pequena, em números. Que hoje ela
continua sendo pequena em tamanho, mas é que... Quando começamos as primeiras...
Células, nós temos cerca de cento e poucas células hoje, e nós acompanhamos, chegamos
a ser líderes de... Supervisores de nove, dez células. Hoje nós estamos com quatro.

2p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem células e
uma igreja que não tem?
2r. Entrevistado: A igreja que não tem célula é uma igreja de programa. Então programa-
se isso, programa-se aquilo, e a gente... Eu, por exemplo, vivi em Colatina minha vida
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quase toda e fui presidente... Vice-presidente de igreja, fui diácono, fui tudo que se pensar
eu passei. Então era... Aqueles programas que, por exemplo, convidava uma pessoa pra
fazer uma série de conferências, isso o irmão deve lembrar, e fazia-se aquela semana de
séries, quando chegava o final de semana tinha aqueles... Bastante pessoas decididas, mas
só o pastor que acompanhava aquelas pessoas, quando podia né? Quando podia. Então...
É... Não é como hoje. A diferença é que a igreja em células ela... A célula acompanha
semanalmente aquele grupo. O pastor quando pede um encontro com a gente, ele quer saber
de fulano, beltrano, cicrano, como é que estão e se continuam em células, entendeu? E
geralmente as pessoas vêm pra ficar. Ontem mesmo eu... Ontem à noite, na hora do apelo,
eu fui à frente com um senhor que é dono de uma... De um restaurante aqui perto, e ele
estava sozinho. Muita gente lá na frente e ele tava sozinho. Eu cheguei, abracei ele, ele me
abraçou, chorou um pouco, e tal. Aí ele falou assim: "Mensagem que eu precisava"... (Eu
falei): "Eu estou disposto a fazer um estudo com você". Ele deve ser da minha idade, mais
novo um pouco. E... Então eu acho que célula é o caminho certo para o crescimento da
igreja. Porque a gente faz... Lá não tem célula, a sua igreja? Não tem. Tem? (Então)...
Célula, ela... Acompanha as pessoas e convida as pessoas e é uma igreja... É uma igreja
que está... É... Vários... Grupos que estão reunidos durante a semana, no mesmo horário.
As vezes 'tá num prédio aqui, cantando, o outro... 'Tá cantando ali pertinho, o outro 'tá
cantando lá em cima. Então é uma beleza célula. Quem não gostar de célula, eu acho que
não está bem de saúde.

3p. Entrevistador: Quais são os objetivos da célula?


3r. Entrevistado: O objetivo da célula, eu acho que é ganhar vidas. Porque Jesus falou lá
em... Mateus, né? Vinte e oito... É que nós temos que ir, pregar, ensinar e batizar. E eu
acrescentaria, e acompanhar. Então o objetivo é... Colocar maturidade nas pessoas,
espiritualmente falando.
529

4p. Entrevistador: Como... Qual a ligação que você vê entre célula e comunhão?
Comunhão entre os membros da célula.
4r. Entrevistado: Sim... É... A célula é... Um meio de comunhão... Haja vista que muitas
pessoas pensam, chegam a falar que... Célula é... Uma panelinha. Mas é porque não
conhecem direito, então essa panelinha faz com que cada um saiba das dificuldades do
outro. Eu já levantei meia noite, madrugada, pra atender pessoas da minha célula. Estavam
com problemas. Problemas e mais problemas, como acontece geralmente, né? Então é um
acompanhamento. A célula acompanha as pessoas da célula.

5p. Entrevistador: Há um... Cuidado...


5r. Entrevistado: Há um cuidado pastorear... Pastoreio.

6p. Entrevistador: Além... Além do encontro?


6r. Entrevistado: Além do encontro. Porque não é só aquele encontro semanal, é a semana
toda. É o tempo todo, nós estamos ligados uns aos outros. Ah! Telefone: "Fulano 'tá
passando mal e tal. Vai ter que ir pro médico, num sei o que, tal... Quem é... Que é o líder
dele?" -- "Ah, é fulano... Beltrano... tal". "Supervisor dele?" Tal. Então casamentos que a
gente tem... Provocado, pessoas que chegam, que 'tão... 'Juntos há muito tempo, e num
casam e tal. Então a gente dá um jeito, vai trabalhar isso tudo. Essa semana mesmo nós
casamos um sábado. Um casal já vivido há muito tempo, que casaram no cartório, nós
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fomos lá fizemos uma festa lá, o pastor deu uma palavra, pregou, a juíza deu a palavra pra
ele. Então foi uma beleza.

7p. Entrevistador: Mas no encontro da célula também vocês, as pessoas tem a


oportunidade de compartilhar as experiências.
7r. Entrevistado: Sim... É dada oportunidade as pessoas que querem é... Se abrir, dá...
Testemunho, mas mais importante é o... O discipulado. Na célula que não tem discipulado
ela não tende a crescer, não. Agora quando há o discipulado eu cuido de você. Aí você
passa a ser meu parceiro, né? A gente estuda os livros, aqueles livros na verdade é o estudo
na Bíblia, né? Porque aquilo ali é orientação pra estudar a Bíblia. Então eu já peguei várias
pessoas como discípulo, que eles chegaram... Hoje eles são líderes... Muitos são líderes e
eles agradecem a gente porque a gente é um pai espiritual pra eles, e... Vieram de... Lugares
diferentes, religiões diferentes e costumes diferentes. Hoje 'tão aí com a gente trabalhando.

8p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, um risco pra igreja a existência
do pequeno grupo, da célula?
8r. Entrevistado: Não... Aliás, não vejo... Se o líder da igreja, como fez o nosso pastor,
começar com um Grupo Pequeno, e... Apanhando a... Vamos dizer a... Confiança das
pessoas pra formarem esse grupo. Porque não são todos que querem ser de células. Porque
é... No discipulado as pessoas se abrem... Então por exemplo, duas, três... Dois, três
encontros que o irmão tiver com um... Discípulo, é... Ele pode estar ruim, mas ruim mesmo.
Ele vai começar a se abrir com o irmão... Vai começar a se abrir. "Ah! porque tal, eu tenho
isso, tenho aquilo, tal. Aconteceu isso assim comigo, tal. 'Tá acontecendo e eu quero
resolver". Então essas coisas acontecem. Então não vejo perigo.

9p. Entrevistador: E benefício? Que impacto que a célula trouxe pra igreja?
9r. Entrevistado: Grande. Nossa igreja, Jardim Camburi, hoje ela é uma referência em
Vitória. Não sei se o irmão tem uma... Noção disso, lá na Serra, né?
530

10p. Entrevistador: Sim.


10r. Entrevistado: Então, já fui na sua igreja. Num velório até. Mas é... Causa um impacto
muito grande... Muito grande. A... Ponto de as pessoas dizerem assim: "Ah! Aquela igreja
que é em célula, né? Ah...". A gente convida e tal... É assim: "Aquela igreja que é em célula.
E eu gostaria de ir numa célula e tal".

11p. Entrevistador: E o que trouxe de mudança pra igreja? A célula.


11r. Entrevistado: Eu acho que trouxe aproximação, primeiro com Deus, intimidade com
Deus, como Jó. Antes eu ouvia falar de você, hoje eu sinto você. Então a... Diferença... É...
O benefício, né? O benefício...

12p. Entrevistador: Mudança, impacto?


12r. Entrevistado: Mudança, impacto. Eu acho que houve uma mudança... É... De cento e
oitenta graus. Muito... Geralmente o irmão que é pastor, quando... O pastor prega, é claro,
se o irmão já está em célula sente isso. Antes era aquela pregação, tal, do pastor, tal, "até
domingo" ou "até quinta-feira". Hoje não, é "até amanhã", "até depois". Todos os dias tem
células reunidas na nossa igreja.

13p. Entrevistador: E na maneira de funcionar a igreja? Causou alguma diferença,


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trouxe alguma diferença, alguma mudança na forma da igreja funcionar?


13r. Entrevistado: Ah! Os ministérios?

14p. Entrevistador: Ministérios, a configuração da igreja.


14r. Entrevistado: Sim... Inclusive quando há batismo, por exemplo, é... A célula toda está
presente ali naqueles batismos porque há... Pessoas das células ali. Então se manifesta, solta
bolas e... Faz aquela festa... Mesmo quando há batismo. E quando as pessoas chegam pra
célula é... Também é uma festa. Porque é... Não sei se o irmão já viu em alguma igreja, e
aqui também acontece, pessoas que se decidem é... Eles, os pastores, geralmente, os
pregadores assim: "vou contar até tanto e vou mandar você olhar pra trás e ver a sua igreja".
A igreja 'tá toda batendo palma, e abraçando e, né? E... E colocando faixas e (muito bem).

15p. Entrevistador: Se você fosse argumentar pra uma pessoa que não 'tá em célula
pra que ela fosse pra uma célula. Qual o argumento principal que você usaria?
15r. Entrevistado: Seria chamá-lo pra um relacionamento, porque a célula, o discipulado
existe para o relacionamento. Então se eu não tenho relacionamento com você, dificilmente
você vai vir numa célula que eu te convidar. A pessoa só vem porque há um relacionamento
com alguém na célula. Então esse alguém deve ser aquele alguém que vai discipular essa
pessoa, e já vem com aquele conhecimento. Já o caso que... Semana passada mesmo houve
um caso que a célula era... Seria numa casa, que há a célula fixa e a célula móvel, seria
numa casa e não foi avisado que seria em outra. Houve lá um problema de liderança, né?
E seria até lá em casa. Aí nós esperamos, esperamos: "Oh, não vai ser na sua casa, não. Vai
ser...". Já 'tava com lanche, tudo preparado. "Não, vai ser na casa de fulano". Nós pegamos
o que tínhamos e levamos pra lá, fizemos a célula. E a pessoa que estava... Falou que não
ia ser na minha casa veio pra ir lá em casa. Do meu relacionamento. Mas nós fomos juntos
lá pra área da célula.

16p. Entrevistador: Se você fosse descrever a sua igreja hoje, descreveria ela como?
531

16r. Entrevistado: Igreja Batista em Jardim Camburi. Primeiro: uma igreja em células,
que ela tem alguma coisa que poderia dizer pra gente, compartilhando o amor de Cristo e
renovando a visão. Então é a igreja que 'tá sempre renovando. Nós tínhamos, o astor Juarez
mesmo acho que a gente sente. E Deus já falou. Ele não consegue pegar o boletim da nossa
igreja conseguir saber o nome de todas as pessoas de cor. Hoje ele não consegue. Dado ao
crescimento que nós estamos com mil e tantos membros hoje, né? Quando eu cheguei aqui
em noventa e seis, nós estávamos com trezentos e cinquenta, parece. Entendeu? Então esses
nomes aqui ó, tudo quase... Tudo nome no... Novos, que é... Eu ia há pouco tempo ah!
Tirando aqueles membros que eu conhecia e hoje às vezes... Às vezes eu tirava quase todos.
Hoje eu num consigo localizar cinquenta por cento. Então há um crescimento, graças a
Deus, enorme. E nós estamos. Pra começar não sei se o irmão 'tá sabendo, pra começar um
novo templo ali na Norte-Sul707, pra três mil pessoas. Já vamos começar essa semana.

17p. Entrevistador: Muito bem. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
17r. Entrevistado: Célula é tudo de bom na igreja. A igreja sem célula... E agora não
adianta, como eu disse, não adianta ser só aquele... Encontro de... Um dia na semana. Tem
que haver aquele acompanhamento, aquele pastoreio. Eu e minha esposa estamos com
quase cem pessoas em quatro células. Então de vez em quando ela multiplica. Aí chora,
porque fica e tal, e já acostumou com aquela e no nosso caso não é acostumar aquele grupo,
é multiplicar. Crescer. Porque esse grupo que vai multiplicar ele vai ganhar mais almas, o
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de cá também vai ganhar mais. ('Tá aí) o crescimento.

18p. Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 13/10/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
50 anos Jardim Camburi PIBJC 47

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho pra mim sobre a sua experiência com célula,
com pequeno grupo.
1r. Entrevistado: Pastor, o pequeno grupo é uma forma de nós cumprirmos o ide de Jesus.
É uma coisa teórica, mas que na verdade nos preenche, quando a gente faz de todo coração.
Minha área, que eu trabalhava com adolescentes, com jovens e adolescentes. Eu me sinto
assim, muito realizado, porque são vidas que 'tão se formando e você mentoreia essas
pessoas. Muitos deles vêm de lá desajustados. De casas onde os pais cristãos, alguns
diáconos, outros líderes, não cumpriram, não foram eficazes, ou algum momento se
converteram no meio do caminho, ou seja, um lar desajustado onde a gente pode ajudá-los,
não sendo pai, não sendo mãe, mas paternizando eles na célula. E isso tem ajudado muito.
A gente tem ajudado essa liderança de jovens e de adolescentes estão hoje na nossa igreja,
por causa da célula.

2p. Entrevistador: Você conhecia a igreja ou conhece igrejas que não tem célula?
2r. Entrevistado: Sim.

707
Nome de uma Avenida que ladeia o bairro em toda a sua extensão e conta com grande fluxo de
veículos pois liga o Município da Serra com Vitória. Um dos espaços mais cobiçados de Vitória.
532

3p. Entrevistador: E agora está vivenciando essa experiência de célula aqui. Qual a
diferença que você vê numa igreja com célula e noutra igreja que não tem célula?
3r. Entrevistado: Antes de estar aqui. Eu sou membro dessa igreja a trinta anos atrás. Mas
antes de estar aqui, pela segunda vez, eu era da Assembléia de Deus. Eu passei um tempo
na Assembléia de Deus e na Assembléia de Deus não tinha célula. E... Existe uma coisa
chamada religiosidade. A pessoa, ela conhece ritos, ela... É adestrada desde pequena, ela
dá o dízimo, ela senta no banco, ela luta pelos direitos do templo, daquele grupo religioso,
mas ela não entende o que é o reino de Deus. A vida com Deus. A prática da aplicação da
própria Palavra. Ela sai do culto, e ela esquece que ela é cristã. Que ela é discípula de Jesus.
Ela vive aquelas coisas e lá fora ela é outra pessoa. E quando você 'tá na célula, voltando a
pergunta né? Só, focalizar na pergunta. É... Quando você 'tá na... Nesse grupo, você... É...
Focaliza isso. E quando você 'tá na igreja tradicional. Seja ela pentecostal, seja ela Batista.
Que é uma igreja antiga, tradicional. É a mesma coisa. A pessoa, ela foca, é... Na religião.
Domingo, quando saem da igreja. Poucos são aqueles que vivem. Que praticam. Então, isso
só muda o endereço. Batista, Assembleiano, Presbiteriano. É... Não interessa. Há muitos
poucos. Agora, no grupo, no pequeno grupo não. No pequeno grupo você... É... Coloca o
grupo, um orar pelos outros. A gente tem intimidade com doze, dez, cinco pessoas. Que
choram, que se comovem, que passam por sito, situações difíceis. Ah! Eu tive uma
experiência muito grande com a minha esposa. Ela... Não sei se ela falou pro irmão. Ela
teve câncer. E o nosso grupo de jovens e adolescentes oraram. Colocaram um lenço na
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cabeça quando a gente 'tava fazendo quimioterapia. E... Choraram, e clamaram a Deus. E
tiveram uma experiência. Hoje eles são, é líderes de louvor, alguns, outros. Minha filha
mesmo está na, no Centro de Treinamento Diante do Trono. 'Tá a ser louvorista da igreja
aqui. E... Nós incentivamos a formação de líderes. Na célula. É uma forma muito boa de
você transmitir aquilo que você aprendeu né? Com outros líderes que.... Se esforçaram pra
falar de Cristo.

4p. Entrevistador: Que associação você faz entre pequeno grupo e comunhão?
4r. Entrevistado: Pequeno grupo, é... E a comunhão é... Tá, estão interligado. É... Quando
você vê uma pessoa que não tem comunhão no Pequeno Grupo, normalmente ela, ela tem
algum problema de relação entre Cristo e ela, ou ela não entendeu isso. Como é o caso de
pessoas que são, é... Viveram muitos anos numa igreja tradicional, seja ela de qual for,
pentecostal, ou mesmo nós, batistas. E... Ela... Não consegue achar, é... Como é que se diz?
Comunhão, intimidade, abrir o seu coração, falar dos seus problemas no pequeno grupo.
Porque ela... É desconfiada, ela acha que aquilo não produz resultado. Ela não entende. Ela
foi bitolada numa... Vida limitada. E... Ela não consegue entender. E quando você 'tá no
Pequeno Grupo, você convive com essa situação. Você expõe os seus problemas, suas
dúvidas, os problemas de preocupações com seus filhos, problemas de preocupações que
você teve como filho. Onde você pode ensinar, como é meu caso né? Adolescentes, jovens.
Dos problemas que você viveu. Pra que eles possam entender que... Eu também vivi esse
mesmo problema, então por isso. E muitos deles se abrem e colocam o problema da sua
casa. E... Tem intimidade, tem comunhão. Nós choramos e andamos juntos.

5p. Entrevistador: Isso que eu iria perguntar. Como é que você faz, como é que você
trabalha com um grupo de adolescentes e jovens, é... Pra que eles consigam se soltar,
se abrir. Como é que... É feito esse trabalho?
5r. Entrevistado: Sendo nós. Sendo o que nós aprendemos ser. Sendo o que, é... O que
nós vivemos né? A palavra certa é essa. O que vivemos. O que sofremos. Aquilo que nós,
533

é isso que nós passamos. Não tem como nos esconder no Pequeno Grupo. Numa igreja
tradicional, é pentecostal, é neo-pentecostal. Tem como se esconder num grande grupo
onde ninguém te conhece. Só vai domingo lá e dá o dízimo. Mas no Pequeno Grupo as
pessoas te conhecem já no quarto encontro, no terceiro encontro. Porque você não tem
como. É questionado, é falado, as pessoas falam de si. E quando você não fala de si, você
fica, acaba, depois de um tempo, sendo observado. E... Eles perguntam porque que você
não se abre? Porque que você não, se fala? Então, é simplesmente você viver aquilo que
você, você pratica todos os dias.

6p. Entrevistador: Qual o maior desafio na liderança de uma célula de jovens e


adolescentes?
6r. Entrevistado: Depender de Deus. E fazê-los entender a dependência de Deus. Esse é
o maior desafio. O maior desafio é que eles possam entender. Porque quando eles chegam
na universidade, na faculdade, as filosofias mudando o mundo. Os prazeres naquele
momento são terríveis, arrasadores. E muitos são teóricos da religião. Muitos são filhos de
crentes teóricos. Que a.... Deus não tem netos, (risos) tem filhos. Aí, quando eles se
deparam com a... Com os prazeres, com as meninas lindas, com os rapazes de carro bonito
de classe média alta, com as filosofias marxistas e... bom... Eles não... Perseveram. Por isso
eles precisam depender de Deus agora. Como nós né? Como nós mais velhos né? Esse é,
essa é a visão.
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7p. Entrevistador: E como é que a célula ajuda esses jovens e adolescentes diante
desses desafios aí que você mencionou?
7r. Entrevistado: Orando. Partilhando. É... Como é que se diz? é... Ensinando eles é...
Propondo a eles, é... A depender de Deus. A ter experiência com Deus vivo, entendeu? A
depender, e orar, e buscar e colocar entre o grupo a oração entre nós. Nós temos, nós temos
watsapp. Nós temos, nós usamos um grupo no watsapp da célula. Nós usamos, é... O
Facebook, um grupo da célula. É... A ideia é que nós possamos, é nos interagir. Pra que
possamos um saber do problema do outro e orar pelos outros. É assim nós temos feito já há
alguns anos.

8p. Entrevistador: Você vê algum a, algum perigo, algum risco da célula, o pequeno
grupo, pra igreja de um modo geral?
8r. Entrevistado: A.... A célula ela torna assim um... Um risco, quando é... Você não tem
líderes sobre líderes. Quando não acontece o que... É... O sogro de Moisés falou (risos).
Quando você não tem um líder sobre um líder é um risco. E quando você não tem uma, um
ponto de contato único como o nosso pastor Juarez faz. E quando você tem uma célula
muito livre, ela corre o risco realmente, de livres se acharem mais do que... Eles são. Isso
é um risco. Isso já aconteceu em outras igrejas. Isso já aconteceu lá no início. Lá na Coréia
quando Paul Young Chu, acho que, acho que era esse nome, que começou esse movimento
né? Em mil novecentos e sessenta. É... Onde grupos, se separaram porque, assim... não
tinham um ponto de contato.

9p. Entrevistador: E benefícios. Que benefícios a célula traz pra igreja como um todo?
9r. Entrevistado: Unidade. Um entendimento que somos miseráveis. Homens que
precisamos de Deus e que precisamos uns dos outros. Nós precisamos de um
relacionamento, um entendimento que precisamos de um relacionamento é... Vertical e
horizontal. Parece palavra treinada né? Mas não é. Mas é verdade, não tem como. Quando
534

você entende que nós somos todos iguais, que precisamos uns dos outros. Como... Igreja
de Deus. Que Deus fala no meio daquele Pequeno Grupo, no meio de um grande grupo. E
que nós precisamos de Deus no relacionamento íntimo entre cada dia com Deus. Nós
conseguimos vencer e fazer e formarmos a igreja de Cristo.

10p. Entrevistador: Como é que a célula funciona, influencia no modo de funcionar


da igreja. Estrutura, filosofia de ministério, como é que influencia?
10r. Entrevistado: Nesse campo nós, Igreja Batista estamos, na minha percepção, posso
estar errado, estamos ainda amadurecendo. Porque já é um estágio, é... De médio pra...
Mais avançado. Como nós não temos tantos anos assim, apesar de que, na visão do homem,
é.... Não influencia, é... Na... diferença entre você ter comunhão com a igreja e com o
Pequeno Grupo, entre você ser a estrela. Uma pessoa separada, que consegue fazer as coisas
e não tem compromisso com... O seu semelhante. É... Esse é o meu entendimento. Nós
ainda estamos amadurecendo nesse campo. Mas, é... Quando você entende que nós somos
iguais, que nós somos uma igreja, é... Mais fácil você não ser o... Poderoso homem de Deus.
Moisés lá liderando um grupo de louvor, ou você pregando e entendendo que você é mais
do que as pessoas. Porque você não entendeu que você é igreja. Que você tem unidade com
pequeno, com Pequeno Grupo, com... Grande grupo e que você é só um homem.

11p. Entrevistador: É... No encontro da célula. Como é que é, qual a dinâmica, qual é
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a participação dos jovens e dos adolescentes nos encontros da célula?


11r. Entrevistado: É... Nós temos como jovens e adolescentes eles são muito energizados
pela própria idade. É.... A tendência deles é... Sempre querer o imediato, né? Vamos fazer
um piquenique, vamos subir, é... Vamos fazer uma trilha, é... Vamos fazer isso, vamos
fazer aquilo. É... Eu sempre foco tanto nisso quanto no espiritual. Então, com o tempo eles
já estão pensando... Vamos orar, vamos buscar, vamos santificar, vamos jejuar, vamos ter
um tempo, não importa onde, buscando a Deus pro problema de fulano pelo beltrano. E...
Isso é... Vai movendo o grupo. Vai... Cimentando, entendendo que nós precisamos de, uns
dos outros, e, precisamos de Deus pra crescer.

12p. Entrevistador: E, nos... Nos encontros propriamente dito. Que acontece nas
casas...
12r. Entrevistado: sim

13p. Entrevistador: E... Semanalmente...


13r. Entrevistado: Sim

14p. Entrevistador: Nesses encontros, é... Os jovens falam, eles tem espaço pra falar,
pra compartilhar as experiências deles, como é que funciona isso?
14r. Entrevistado: Eu treino dois líderes, é... Um tem vinte e três anos e o outro tem vinte
e um anos. Na verdade eu sou líder de nome. Mas eu... Eu os mentoreio pra que eles possam
ser líderes não somente de, adolescentes e de jovens. O que Deus colocar. E eles, 'tão sendo
treinados pra isso. Eles, e... Eu simplesmente, eu ajudo, a fazer a edificação, as partes de
uma célula né? Tem, é... Adoração, e eles fazem e... É uma coisa tremenda. Muito
tremenda. Até porque tem um treinamento antes, de auxiliar de célula né? Que eles fazem,
vão fazendo. E eles mesmos estão empenhados e... Dedicados nisso. Muitas vezes eles
choram, e o Espírito Santo age, e eles, eles incentivam os outros mais jovens a... buscar. E
meu entendimento é só incentivá-los, é... Só tenho que... Mentoreá-los pra que possam ser...
535

eu amanhã e eu quero ser Cristo, e... Pastor Juarez em mim (risos). E assim, é uma cadeia
né?

15p. Entrevistador: 'Tá ok. E, ao longo desse tempo que você tem liderado células de
jovens e adolescentes, tem havido muitas perdas?

15r. Entrevistado: Sim, é normal... Aquilo que Jesus falou né? Uns produzem frutos de
sessenta. Outros de cem. Outros de trinta. É uma verdade. Muita vezes nós perdemos. Nós
perdemos momentaneamente. Nós perdemos por um ano, por dois anos. E... Mais
antigamente a gente houve dizer, na maioria né? Houve...que eles 'tavam em alguma igreja.
Que eles, 'tão se reconciliando. Porque nós sempre oramos por eles. Nós... Lembramos
deles com carinho. Nós perdemos sim. É verdade. Mas, nós temos colocado eles diante de
Deus. É essa a nossa vida.

16p. Entrevistador: E... Qual a preocupação do grupo com aqueles que estão fora?
Fora da igreja, 'tão ali na sociedade. Com a sociedade de um modo geral. Qual a
preocupação? O grupo tem uma preocupação também em... Contribuir pra.. Que
haja uma transformação dessa sociedade que 'tá aí? Como é que funciona isso?
16r. Entrevistado: É... Isso é a aplicação do cristianismo em si. Do ide de Jesus. Isso nós
temos logo no início da célula. Antes ou depois do louvor, dependendo né? A... Do grupo
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que 'tá fazendo, que 'tá direcionando a célula. Se é o líder tal, ou o outro líder tal. 'Ta em
treinamento. É... Tem uma parte chamada evangelismo. Que é uma parte onde que a pessoa
pensa. E... É colocado palavras pra que ela possa meditar né? No, no, no, naquilo que Jesus
Cristo chamou. Pra alcançar os povos. Alcançar, o colega de sala. Pra resistir às filosofias
do mundo. Pra resistir às filosofias dos prazeres, né? É lógico que... Não tem como alcançar
essas coisas sem perseverança. Não tem como. Você precisa perseverar. E é isso que eu sei
falar, pra eles.

17p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer um jovem, um adolescente pra fazer
parte de uma célula. Quais argumentos que você usaria?
17r. Entrevistado: Sim. Eu usaria que... É... Como o próprio Jesus andava em grupo, você
precisa de um... Grupo de amigos. De alguém pra te ajudar. De um grupo de amigos que
orem por você. Que são iguais a você. Que você vai ver as mermas necessidades. Às vezes
até ali num curso superior que 'ta fazendo. Ou, mesmo num ano do segundo grau. Então,
venha com a gente. A gente vai orar por você. A gente vai chorar por você. Você vai chorar
pelos outros. Você vai ver que a gente joga bola igual. Que a gente é ruim de bola. Que a
gente não sobe as montanhas. Que a gente tem namorada. Que a gente briga com a
namorada. Que a namorada deixa a gente e que a gente é igual cara. Que a gente precisa
uns dos outros. É muito melhor do que ficar aí usando cocaína (risos). Usando, maconha
né? É isso o... A forma que a gente age.

18p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
18r. Entrevistado: Eu não conhecia célula até chegar nessa igreja pela segunda vez. Mas,
ouvia dizer. É... Tinha dúvida né? Porque tinha um tal de G12 antes que era um negócio
assim, descomunal né? (risos) E... Quando eu vi que a célula, a igreja aqui era em pequenos
grupos, e comecei a entender e comecei a fazer treinamentos. É... Abriu o entendimento,
que... É uma técnica. E uma forma, uma estratégia pra ser mais exato. Uma estratégia de
como alcançar hoje a sociedade. É uma forma de você usar o marketing, de você usar... É...
536

Uns aos outros. De você usar de... Perspicácia e alcançar as pessoas de várias classes
sociais. Tanto no nível mais pobre, menos culto, quanto no nível mais alto, mais, é... Mais
culto. Nós temos hoje aqui na nossa igreja até doutores. Que são professores de engenharia
na UFES, até... Empregadas domésticas. Então nós temos todo o nível de pessoas, nós
precisamos alcançá-las é... E... Ser usados por Cristo né? Igreja de Deus é isso. É isso que
nós somos.

19p. Entrevistador: Esses níveis diferenciados de pessoas, eles fazem parte às vezes na
mesma célula, ou tem células específicas?
19r. Entrevistado: Normalmente. O fato que, com o tempo, esses grupos se separam por
similaridade, eles acabam se estratificando. Por exemplo, nós estamos focando em grupos.
Jovens liderando adolescentes. Isso é estratégia que deu um tempo a gente entender. Por
quê? Porque o adolescente, ele via no jovem, o ideal dele de ser. Então, como o jovem, ele
é cristão. Então, a vida de frutos ele pode influenciar. Da mesma forma que eu, como irmão,
influencio pessoas com menos idade, até pelo fato de eu ser _______ e ser cristão. Isso já
é uma coisa que é complicada. Ser formado na área de exatas uma forma de alcançá-los.
Nós não somos burros. Não somos ignorantes. Então, não é o que a mídia fala. Então nós
pensamos, então logo que pensamos, nós cremos. Cremos, mostramos que Cristo é real.
Foi assim que eu entendi a célula. É uma forma, é uma estratégia de como alcançar as
pessoas nessa, nesse século.
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20p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 01/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
20 anos Jardim Camburi PIBJC 48

1p. Entrevistador: Nós vamos falar um pouquinho sobre célula, então eu queria que
você começasse falando pra mim sobre o que célula representa pra você.
1r. Entrevistada: Pra mim é um grupo, é como se fosse um grupo de apoio, assim. Como
na igreja, essa pelo menos aqui, que eu sou membro, ela é muito grande e tal, às vezes você
não consegue ter uma assistência específica pra você, assim. Mesmo, ah, se... Se tiver tendo
algum problema ou se 'cê quer compartilhar alguma coisa boa que 'tá acontecendo assim
na sua vida, 'cê precisa de... De alguém pra te ajudar, às vezes na própria caminhada com
Cristo mesmo precisa de um auxílio. A minha igreja é muito grande então a célula é como
se eu tivesse uma mini-igreja lá que me apoiasse sempre que eu precisasse, e que me
ajudasse a ser edificada, sempre que eu precisasse.

2p. Entrevistador: Faz quanto tempo que você faz parte de uma célula?
2r. Entrevistada: Desde de dois mil e cinco, dois mil e seis, mais ou menos.

3p. Entrevistador: Antes de... De a igreja ter célula, você vê alguma diferença?
3r. Entrevistada: Vejo.

4p. Entrevistador: Que que mudou na igreja depois que entraram as células?
4r. Entrevistada: Eu acho que todo mundo, é... Começou a ficar mais próximo. Porque
todo mundo se conhecia muito superficialmente, sabe? Ah, muito, por exemplo, eu
537

participei muitos anos do louvor da minha igreja, então todo mundo olhava pra mim e
falava: "ah, não, a _____ ela toca lá na frente". Mas depois que começou a ter as células,
eu comecei a... Sim, nos diferentes grupos, eu comecei a conhecer muita gente, a crescer
com muita gente. E eu vi que isso num aconteceu só comigo, isso aconteceu com todo
mundo. Então acho que ajudou a integrar a minha igreja.

5p. Entrevistador: Como é que é o encontro da célula? Ela se encontra uma vez por
semana? Como é que é?
5r. Entrevistada: Uma vez por semana.

6p. Entrevistador: E o que acontece lá naqueles encontros?


6r. Entrevistada: Ah, a gente... Ah, a gente 'tá lá assim pra... Pra aprender um pouco mais
assim, acho que acima de tudo, como é célula aprender, é... Ser edificada com a experiência
do outro. Então a gente chega, a gente tem o nosso momento de louvor, é... A gente
conversa. Mas pelo menos nessa célula que eu 'to agora esse ano, o que predomina mesmo
é a parte que a gente chama de edificação, que é o que a gente... A gente segue uma
orientação do pastor com a carta, e lá é muito informal. Como eu participo de uma célula
de jovens, todo mundo, dentro do contexto que nos foi dado, o contexto bíblico, a gente
consegue discutir sobre um monte de coisa. É... Sobre a nossa vida na faculdade ou no
trabalho, é... Às vezes com nossos relacionamentos também, dentro e fora da igreja. Então
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é assim que funciona, a gente discute bastante, conversa, tira dúvida assim com a gente na
medida do possível, e assim que vai.

7p. Entrevistador: Os participantes tem liberdade de compartilhar experiências,


como é que é?
7r. Entrevistada: Sim. Sim, todo mundo tenta, é... Proporcionar um ambiente assim que
todo mundo tem... Se sinta a vontade mesmo pra compartilhar o que precisar, assim.
Principalmente porque às vezes, é... Tem... Tem algumas pessoas na nossa célula que
entraram agora assim, são novos convertidos e tal. E... E às vezes eles tiram dúvidas, às
vezes falam... ah, contam uma experiência, e querem aprender ou querem crescer com isso.
Então a gente deixa bem à vontade.

8p. Entrevistador: Durante a semana, fora os encontros da célula, os membros da


célula também tem e criam algum vínculo? Como que eles se relacionam?
8r. Entrevistada: Ah, a gente tem as parcerias, que chamamos. Tem os discipulados
também. Só que aí são só assim, ah, duplas dentro da célula mesmo. Mas o que... O que a
gente tem assim que, por incrível que pareça, é muito forte, a tecnologia ajudou, é um grupo
que a gente fez no celular mesmo, naquele aplicativo 'whatsapp', é um grupo da nossa
célula. Então todo dia alguém fala alguma coisa. Ah, viu uma... Alguma coisa interessante
na internet ou vai ter uma programação na igreja, ou pergunta a opinião sobre alguma coisa.
E a gente conversa nesse grupo, todo mundo participa mesmo não 'tando perto, todo dia a
gente se fala. E... E a gente tenta lá se relacionar, lá mesmo, até chegar o dia de ter o
encontro físico.

9p. Entrevistador: E com as pessoas de fora da igreja, de fora da célula? A célula tem
alguma preocupação com a sociedade de um modo geral, assim, é... Em termos de
contribuir pra transformação da sociedade?
538

9r. Entrevistado: Sim, não só nessa de agora, mas as outras células que eu participei
também, é... Tinha muito isso. A gente tinha os nossos encontros, mas a gente se
preocupava com isso de "ah, eu 'to crescendo, mas e quem 'tá lá fora?". Então a gente
sempre, é... Sempre que pode se, é... Se reúne e combina: "ah, vamo' em tal instituição do...
Do meu bairro? Vamo' fazer uma programação lá? Um dia de louvor ou vamo' fazer uma
doação? Vamo' fazer um dia de visita numa casa de idosos?". Sempre acontece alguma
coisa assim, é... Pra gente poder sair um pouco assim da... Das quatro paredes aqui da igreja
pra poder alcançar nosso bairro e... E até mais longe, assim. Acontece, isso é mais raro,
mas acontece até da gente visitar algumas outras cidades que são mais longe um pouquinho,
põe todo mundo num ônibus e a gente vai pra fazer essa tarde de louvor, assim, pra ver se
gera alguma diferença mesmo.

10p. Entrevistador: Muito bem. E com relação a... Você vê algum perigo pra igreja a
existência da célula? Algum risco, algum perigo?
10r. Entrevistada: Eu... Num se... Se existir algum, assim, o que eu vejo é que... Assim,
que eu já percebi, é que do mesmo jeito que a célula ajuda a integrar, eu acho que isso tem
que ser feito de... Tem que ter sabedoria pra fazer isso, porque já vi muitos grupos, até já
par... Já... Já fiz parte de... De grupos que todo mundo se identificava um com o outro e na
hora de... De separar ou de multiplicar a célula, eles não queriam. Eles queriam ficar
fechados, "porque eu me identifico com essas pessoas e só elas", e as pessoas... Algumas
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pessoas criam na mente que elas só teriam liberdade com aquele grupo, só confia naquele
grupo e acaba se fechando. Então eu acho que são os extremos, assim. Do mesmo jeito que
agrega, às vezes de... Algumas pessoas se fecham depois. Então eu acho que isso é um
risco, tem que ser feito com sabedoria.

11p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula traz pra igreja?


11r. Entrevistada: Deixa eu pensar! São muitos, assim. É... Eu acho que ajuda em muita
coisa, assim. Ah... Eu vejo... Uma coisa que me chama muito a atenção é que eu tenho
muitos amigos que às vezes, de fora mesmo, que não são daqui da igreja, às vezes eu quero
chamar, quero que eles participem de alguma coisa, assim, convidando pra ter o contato
com... Com a igreja mesmo, mas se você chama eles pra: "ah, vem num culto de domingo,
assim". Como é uma coisa muito maior eles se sentem um pouco intimidados, não se
sentem a vontade. Mas quando eu falo: "ah, tem um grupo meu de jovens, que a gente se
reúne, ah, pra conversar, pra fazer isso, aquilo", eles já se sentem muito mais a vontade e...
E a recepção é muito melhor da parte deles, assim. A gente... Eu consigo trazer, por
exemplo, três pessoas pra célula, às vezes não consigo trazer nenhuma pro culto de
domingo, assim. Então me ajuda... A... A célula me ajuda a alcançar quem eu preciso de
fora, me ajuda a conhecer pessoas dentro da minha igreja que num conhecia, é... E me
ajuda... Me ajuda a me abrir mais. Tem muita coisa às vezes, tem um pedido de oração, que
às vezes eu num me sinto muito a vontade pra ir lá na frente, quando o pastor chama, por
causa de determinado motivo. Às vezes num me sinto a vontade, mas dentro da minha
célula eu posso falar: "oh, 'tá acontecendo isso na minha família" ou hum... Ou sei lá, no
trabalho, lá na escola. E... E como é um grupo menor ali eu me si... Eu me sinto mais a
vontade, onde vão orar por mim. E acima de tudo, é... Tem um acompanhamento, assim,
na célula. Eu vou pedir... por exemplo, eu faço um pedido hoje, na se... Na outra semana
eles ainda 'tão orando, ainda 'tão perguntando, insistindo naquilo, então eu sinto que... não
que eu não tenha na... Na... No... Na igreja de forma geral, mas a gente sente um cuidado
menor assim, como se fosse uma outra família que tivesse.
539

12p. Entrevistador: Você vê alguma relação entre igreja, a célula e comunhão?


12r. Entrevistada: Total. Total. Num sei se eu vou saber explicar assim... Mas... Mas é...
É uma forma, a célula é uma forma que eu tenho pra... De me relacionar com as pessoas,
assim, com Deus acima de tudo, mas também com as pessoas. Eu conheço pessoas novas
lá, às vezes quebro paradigmas na célula, olho uma pessoa que às vezes eu nunca conversei
e de... De repente em três semanas eu 'to lá, 'to orando com essa pessoa, 'to louvando com
essa pessoa. Então eu acho que... Que é fundamental, assim, ajuda a gerar comunhão.

13p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje? Usando adjetivos,
como é que você descreve a sua igreja hoje?
13r. Entrevistada: Eu acho que é uma igreja, é... forte. É uma igreja determinada. É... No
momento agora, assim, como... Como a gente 'tá tendo uma série de desafios pela frente, é
uma igreja que... Que tem fé. É... Assim, demonstra fé mesmo em tudo o que tem pra fazer,
assim, é uma igreja que... que busca a orientação de Deus, é..., acima de tudo, num... Num
faz o que... por exemplo, não se juntam os líderes e fala: "ah, agora nosso passo é esse",
não. É uma igreja que busca acima de tudo a orientação de Deus, é... É uma igreja alegre.
É... É uma igreja que atrai acho que todas as faixas etárias. Então assim, é pra... É pra todo
mundo, cá... É... Cabe todo mundo, assim, lá dentro. Eu vo... Nos cultos eu vou ter... Eu
vou ter... Tem uma série de momentos em que todo mundo se identifica, então acho que é
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uma igreja que é aberta pra qualquer faixa etária. E é isso.

14p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar pra um jovem da igreja que não
está em célula, pra que ele vá pra uma célula. Que tipo de argumentação você usaria?
14r. Entrevistada: Eu falo por mim mesmo, porque eu já tive um tempo que eu não estava
em célula, é... Muito, assim, por estudos mesmo, estudava todos os dias da semana e não
tinha nenhum dia que... E também não abria mão de... De um tempo pra estar em célula e
eu acabei me acomodando. Acabou que quando eu... Eu realmente arranjei um tempo eu
decidi não... Não voltar mais, é... pra célula. Mas não por causa da célula, na época foi por
causa de... De questões pessoais mesmo, assim. É... Mas o que me fez, é... Chegar e falar:
"não, agora eu... Eu tenho que voltar a ser parte mesmo", foi que... é... Eu... Eu cheguei à
conclusão de que ninguém cresce sozinho, sabe? É... Eu posso fazer o meu quarto de escuta,
eu posso... Sabe? Posso louvar a Deus, não que isso... Não que isso não vá ser de coração,
mas Deus fala pra gente, sabe? Que dois é melhor do que um. Então quando eu 'to com as
pessoas da célula, se quando eu 'to em célula eu posso crescer mais, sabe? E mesmo que...
Que eu não tenha nada pra, assim... Mesmo que eu acredite que eu não tenha nada pra
oferecer pro outro, as vezes uma simples fala minha, pode ajudar uma outra pessoa que 'tá
lá dentro, sabe? Isso é... Eu acho que esse... Essa questão de estar em célula vai algo que é
muito além de mim, entendeu? Não é só por mim, "ah, se eu não me sentir bem". Eu 'to lá,
eu tenho certeza que... que vou ter pessoas que vão cuidar de mim, que vão se importar
comigo, e que vão 'tá ali por mim, que for o que aconteça assim comigo. Então eu acho que
é isso, acho que é uma pessoa que... Que 'tá buscando mesmo crescer com Deus assim...
Eu acho que é muito válido ela 'tá em grupo.

15p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
15r. Entrevistada: Não sei, acho que é isso.
540

16p. Entrevistador: Obrigado.


16r. Entrevistado: De nada.

FUNÇÃO: Líder auxiliar SEXO: Masculino DATA: 01/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
21 anos Jardim Camburi PIBJC 49

1p. Entrevistador: Nós vamos falar um pouquinho sobre células, sobre pequenos
grupos. Então eu queria que você começasse falando sobre a sua experiência com
célula, com pequeno grupo.
1r. Entrevistado: Bom. Minha experiência com célula começou com resistência. Que eu
ouvia falar nisso, o que eu pensava era que eles estavam querendo me controlar. ‘Tão’
querendo me colocar dentro de uma caixinha. Saber o que eu ‘tô’ fazendo. Eu tive uma
criação meio ilha, o meu pai é meio doido. E sempre que eu ouvia falar em célula eu dava
um jeito de correr. Mas a partir de um momento num retiro. Eu ‘tava’ num grupo tipo
devocional. E eu tive a oportunidade de me abrir lá diante de outros irmãos. Um dos
pastores da igreja ‘tava’ nesse grupo. Ele conversou comigo. Falou: Ah! Esse tipo de coisa
é que você vai encarar na célula. Vai ser uma oportunidade de viver como igreja, de
compartilhar as suas dificuldades. Compartilhar as suas lutas diárias. Aquelas feridas que
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você carrega desde antigamente, você vai ter oportunidade de ser curado. Depois desse,
dessa experiência eu comecei a me abrir um pouco mais. Eu aceitei um convite de um irmão
pra ir. Na verdade, eu decidi que ‘ía’ na célula. Não sabia qual eu ‘ía’ no dia, tinha duas
acontecendo. E eu orei a Deus. Falei, poxa Deus, me mostra pra onde é que eu tenho que
ir. E nesse dia eu encontrei um, ‘tava’ decidido a ir a uma, nesse dia andando assim na rua,
eu encontrei um membro dessa outra célula que eu resolvi fazer parte. Ele me convidou e
eu disse poxa, acho que é um sinal de Deus. Vou nessa célula. E encontrei nela, foi nela
que fui totalmente tratado. Acho que antes de falar sobre célula, eu teria que falar sobre
mim. Eu cresci na igreja, me afastei durante um tempo. Foi um tempo terrível pra mim. E
eu trouxe várias feridas desse tempo. Senti Deus me chamando de volta. Voltei pro
convívio com... Com a igreja. Só que ainda ‘tava’ meio incompleto. Ainda tinha muita
coisa que eu tinha pra cuidar. Muita coisa. E aí eu não tinha noção do quanto. Mas só a
partir do momento que eu me abri pra célula e comecei a frequentar esse grupo que... Que
eu vi como Deus podia agir na minha vida ainda, como tinha coisa pra ser consertada. Aí
desde então, eu tenho feito... Feito parte de uma célula, desde sempre, desde aquele tempo.
Tem uns dois, três anos. E logo no começo, por causa do meu jeito de ser, um cara que
gosta de sobressarir no jeito de falar. Meus líderes têm o hábito de tentar me empurrar
liderança de célula. E eu sempre corri disso. Porque eu sempre, eu tenho essa de, por causa
de ter falhado também no passado com o grupo que ‘tava’ comigo. Eu tinha carregado esse
medo, e eu sentia que não ‘tava’ na hora... Na hora de assumir liderança. Que eu sempre
fui um membro muito ativo, um membro que sempre participava de tudo, mas eu sempre
corri de liderança, por não sentir que era o momento. Por saber que... Que eu ‘tava’... Que
liderar era muito sério. Que liderar eu ‘vo ta’ carregando pessoas comigo. Eu tenho que, eu
tenho minha firmeza para fazer isso? E, uns dois meses atrás foi que realmente eu senti.
‘Tá’ na hora. Não foi alguém que veio e falou que ‘tá’ na hora. Foi uma experiência que
tive, senti de Deus e falei: “agora eu vou assumir”. Liguei pro meu antigo líder. Porque
agora, como eu falei com você mais cedo, eu ‘tava’, ‘tô’ na célula em outra célula. Liguei
pro meu antigo líder e falei. Vou, eu quero ‘tá’ com você, porque a gente, que eu quero
541

virar líder de célula de adolescente. Foi no retiro de adolescente que eu senti isso. E agora
eu ‘tô’ aí nessa nova caminhada, participando de duas células ao mesmo tempo. A minha,
naquela que sou o auxiliar, e naquela que eu sou só um membro que participa bastante. E,
tem sido uma experiência bem gratificante pra mim.

2p. Entrevistador: O que mudou na sua vida além desse tratamento que você já
mencionou, que a célula possibilitou a você? O que mais mudou na sua vida,
depois que você começou a participar da célula em relação à Deus, em relação à
igreja?
2r. Entrevistado: O que mudou? Bom, acho que eu consegui ter uma, consciente, assim
uma consciência mais forte de, de ministério, de saber que, que eu ‘tá’ servindo não é só
eu ‘tá’ cantando, não é só eu ‘tá’ varrendo. Eu, eu gosto de trabalho físico. Não só chegar
mais cedo também, mas eu ‘tá’ participando junto às pessoas e compartilhando vida. E acho
que o principal seria isso. Essa visão diferente que eu tenho do Reino a partir do momento
que eu entrei em célula. ‘Tá’? O que... Que realmente o modelo estimula, pelo menos o que
a gente adota aqui. Que é do doutor Ralph Neighbour. E... E a ideia é justamente estimular
isso. Que cada cristão, cada membro da igreja, tenha a visão de ministério. Que veja que
ele faz parte do Reino, que ele não vai ser um crente de banco. Hoje na, nessa célula que
eu ‘tô’ fazendo parte eu não sou líder. Mas eu tenho a noção de que cada encontro é algo
que, é uma oportunidade que eu tenho de estar servindo. De ‘tá’ estimulando os meus
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irmãos. De estar sendo estimulado também. E dou também segurança, porque eu sei que
quando eu enfrentar luta eu tenho alguém pra ‘mim’ contar. Acho que... Que amadureci
demais fazendo parte de célula. Como cristão, foi algo extremamente importante no meu
processo de amadurecimento. E ‘tá’ sendo ainda né? Agora que ‘tô’ encarando coisas
novas.

3p. Entrevistador: E na igreja. O que mudou na igreja, depois que a igreja adotou o
sistema de células?
3r. Entrevistado: Essa igreja eu não conhecia não. Quando eu cheguei aqui já era célula.
Mas, da minha igreja antiga. Que eu vejo que... Que é bem diferente é exatamente essa
noção de... De cada membro como ministério. E, como falei, aquela resistência que eu tinha
no começo era por causa do controle. A célula acaba criando um controle meio grande.
Pra... Pra maioria das pessoas hoje em dia. É muito difícil aceitar a ideia de submissão.
Mesmo sendo coisa bíblica. É...(risos), as pessoas, você fala em ser submissa, as pessoas
ficam com raiva, e...E acho que o modelo de célula ajuda as pessoas a experimentar isso
no dia a dia. Você se submeter ao seu líder. Que... Que não é um pastor, não é um cara
formado. É simplesmente alguém que se dispôs a se colocar na brecha. É algo diferente, a
gente aprende bastante sobre isso na célula. E a minha anti, igreja antiga eu não via tanto
isso. Eu senti que a gente vai... Vai no domingo, faz uma atividade assim no grupo de
adolescentes, mas, quem experimenta mesmo vida em igreja, quem experimenta ali a
submissão, são os dois ou três, mais pra frente como eu era. O cara que corria atrás das
coisas, que queria participar. Mas a grande maioria fica fechada. Vai no domingo, não se
abre, não experimenta o que ela podia 'tá' experimentando, e só... E só consegue
experimentar a cura mesmo, quando de repente o Espírito Santo resolve agir. Aqui eu sinto
que as coisas ficaram mais fáceis de acontecer. Tudo bem. Outra coisa. As coisas ficaram
bem mais controladas no sentido de você não pode fazer parte de algum outro ministério,
sendo que você não está em célula. Isso no começo, quando eu cheguei, eu fiquei com raiva
disso. Falei, como assim? Aqui é tudo célula. Fazia até piada. Pobre Paulo, vai pro inferno
542

porque não fez parte de célula. Na verdade eu sempre fui meio rebeldezinho (riso). E,
vivendo isso eu pude ver que, faz parte do amadurecimento você ter isso. E que com a
gente, como instituição, eu acho que não é certo a gente botar um cara pra 'tá' lá na frente
cantando, sendo que ninguém anda com ele. A gente não sabe como o cara 'tá'. Por isso eu
acho que a célula, (riso), é até estranho eu dizer isso, mas essa função de controle da célula
é algo bom.

4p. Entrevistador: Você falou em controle e submissão. Fale um pouquinho mais


sobre isso.
4r. Entrevistado: Controle e submissão?

5p. Entrevistador: É, que tipo de controle acontece na célula que você falou?
5r. Entrevistado: Ó, por exemplo, quando um membro para de frequentar um pouco a
célula, depois de algum tempo. Isso é comunicado aos, o líder comunica os supervisores,
que por sua vez contatam os líderes de ministério logo da igreja. Essa pessoa tem que ser
cortada. Pelas nossas regras, pelo menos. Volta e meia acontece de algum ou outro que
fica, mas, a gente tem como visão que, que o principal ministério da igreja é o ministério
de célula. E alguém que, que 'tá' fora dele, não 'tá' sendo submisso a autoridade do pastor.
Não por uma questão de concordar ou não concordar com a célula. Mas simplesmente de
se submeter à autoridade dele. No começo quando eu entrei, eu não concordava muito.
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Hoje, hoje eu virei fã, mas ainda assim por, por uma questão de submissão eu aceitei. E
isso é algo que a gente experimenta também com, questão do discipulado que é uma parte
importante da célula. A... A liderança escolheu um material e é um material que muita gente
não gosta, mas a gente tem a oportunidade de trabalhar usando esse material e mostrar
também pra quem 'tá' com a gente o... A questão da submissão. Tipo, eu não sou fã desse
material, não acho ele muito bom, mas é o que... O que o meu líder disse que é pra eu usar.
Então, eu creio que Deus pode usar. E são pequenas experiências assim em cada área que
a gente consegue ver. A... A questão da submissão do... Do controle. Realmente existe um
controle de frequência, e, algo que eu só consegui perceber agora também, depois que eu
virei auxiliar. Os supervisores realmente olham a lista de frequência que você manda pra
eles. Perguntam, é... Você tem como auxiliar? Você tem que prestar conta de... De cada
membro que 'tá' fazendo parte lá, às vezes de um membro que veio de outra célula, que...
Que a gente não, estimula né? Um membro a ficar trocando de célula. Salvo casos especiais.
E aconteceu isso algumas vezes na minha nova célula. E, minha supervisora sentou comigo
e conversou. Perguntou, o que 'tá' acontecendo? Porque que aconteceu? Tive que prestar
conta de membro por membro. Esse 'tá' aqui por causa disso, esse 'tá' por causa disso, esse
'tá' por causa disso, 'tá' por causa disso. E... Aí que eu pude perceber que... Que a
preocupação da igreja em ter o controle é bem maior do que eu esperava.

6p. Entrevistador: Seria um controle mais, visando o cuidado, que um tem do outro,
que a liderança tem dos membros, que o discipulador tem do discípulo, seria mais
nesse sentido? Você entende mais nesse sentido? por ver que esse controle é uma coisa
positiva, seria mais por conta disso?
6r. Entrevistado: Eu diria que é por conta disso, mas exatamente porque eu experimentei.
Quando eu ouvia falar, não posso dizer que eu ficava tranquilo com isso. Eu ficava irritado.
Poxa, 'tão' querendo me controlar. Quem são eles pra me controlar? Mas depois de
experimentar, depois de viver, depois de ser tratado pra caramba por Deus. Hoje eu consigo
ver que... Que esse controle é simplesmente expressão de amor também, expressão de
543

cuidado. Porque a nossa igreja tem, acho que uns dois mil membros. Como é que... Que
um pastor consegue ter noção de tudo que 'tá' acontecendo com cada membro? É
impossível... Por isso que... Que a gente tem esses grupos. Um líder, quinze pessoas,
passou um pouco disso já fica difícil de você fazer exatamente ter esse controle, ter um
cuidado especial, conhecer cada pessoa pelo nome, saber das lutas que ela 'tá' passando.
Por isso hoje eu diria que eu considero esse controle uma coisa positiva.

7p. Entrevistador: Que relação você vê? Você vê algum tipo de relação entre célula e
comunhão? Desenvolvimento de comunhão na igreja?
7r. Entrevistado: Bom, eu vejo que célula é uma ferramenta muito útil pra isso, depende
do estado espiritual de quem 'tá' entrando, de quem vai 'tá' querendo encontrar comunhão.
Uma pessoa que 'tá' buscando comunhão, vai encontrar na célula. Mas da mesma forma a
pessoa que 'tá' lá pra cumprir uma ordem que vem de cima, que 'tá' com essa mentalidade,
dificilmente vai encontrar. Varia muito de pessoa pra pessoa. Mas eu conheço poucos casos
de gente que chegou e não conseguiu encontrar comunhão e que tentou se abrir com a
célula. Acho que, faz uma parte incrível que, na célula você tem aquele momento como da
edificação que você, não simplesmente fica repetindo texto bíblico, você fala das lutas que
você 'tá' vivendo. Você compartilha isso. E isso acaba estreitando laços, é outro, é um
momento que, talvez eu não teria de forma alguma com um irmão. Um ou outro que tivesse
no mesmo ministério que eu, talvez a gente tivesse essa oportunidade, mas e por exemplo,
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com os irmãos do louvor? Eu não sou um cara que não toca nada. Provavelmente eu não
teria contato nenhum com eles. É uma oportunidade que... Que a gente realmente tem de
desenvolver realmente o espírito de comunhão de, essa noção de corpo.

8p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, a existência da célula?


8r. Entrevistado: Vejo. Porque atualmente a nossa igreja tem essa visão de multiplicar,
multiplicar e multiplicar. É até uma coisa que eu pensei logo que cheguei na igreja. Quando
uma célula 'tá'... 'Tá' se multiplicando sem... Sem controle nenhum. Que é isso? Isso é um
câncer. E às vezes a gente tem essa vontade, não, eu como líder, eu tenho que entregar até
o próximo ano, multiplicar. E o líder acaba botando alguém que não 'tá' preparado. Alguém
que foi convencido de fazer aquela tarefa. Essa é a noção que eu tinha, quando eu cheguei,
de não assumir uma liderança de célula, a menos que eu sentisse que é de Deus, porque eu
já experimentei uma falha nesse sentido, eu já falhei com um grupo. Mas a maioria das
pessoas às vezes, por causa de pressão, eu acho que... "não, acho que 'tá na hora mesmo,
né?". Assume uma liderança, mas num... Ainda não tem uma postura condizente com isso.
Ou às vezes não aguenta a pressão. Como aconteceu na... Na minha última multiplicação.
É um risco porque às vezes a gente acaba botando pessoas debaixo de gente que num 'tá
preparada. Por causa de um... De uma visão, da determinação que vem de cima.

9p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula traz pra igreja?


9r. Entrevistado: Bom, por fora que é esse que a gente já falou, eu diria que é na hora de
fazer alguma obra. É como você já tem um controle, 'cê tem um líder que conhece cada
membro, conhece as afinidades, as capacidades de cada um, conhece as habilidades de cada
um, fica muito mais fácil na hora de organizar um evento grande, como a nossa igreja
costuma fazer. O serviço que a gente passa, cada supervisão vocês vão cuidar de
determinado assunto, cada supervisor passa pros seus líderes que ele conhece a célula de
cada líder de célula que 'tá debaixo dele. Ah... A organização fica muito mais organizada.
Fica muito mais articulada pra fazer qualquer tipo de coisa.
544

10p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


10r. Entrevistado: A minha igreja?

11p. Entrevistador: É. Usando adjeitvos, como é que você... A minha igreja é o que?
É uma igreja...
11r. Entrevistado: Grande. É uma igreja que tem visão de crescimento. Hum... deixa eu
ver que mais adjetivo pra minha igreja... Ah, acho que diria que é uma igreja em transição,
num sei se faz parte do assunto, mas 'tá vindo esse momento, a transição do templo. A
igreja 'tá em transformação nesse momento também que... Acho que o pastor deve 'tá bem
perto de se aposentar, pelo que ando conversando. A gente não sabe quem vai se achegar
ainda. É, diria que é uma igreja fraca em termo de estudo bíblico. Porque exatamente o
encontro de célula não é um encontro visto com esse sentido de ter o estudo bíblico.
Acontece, mas não é o foco. Acho que a igreja focou muito em célula e acaba deixando a
EBD meio de lado. Impressão que eu passo. É a determinação: todo membro tem fazer
parte de célula. Mas já com... Com a questão da... Do estudo bíblico num tem essa
preocupação tão grande.

12p. Entrevistador: Mas acontece através do discipulado também acontece o estudo


bíblico.
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12r. Entrevistado: Acontece, mas quando acontece o discipulado legal. Muitas vezes o
discipulado é simplesmente alguém que pega o livrinho, faz as lições, fecho, acabou o
discipulado. Isso é o estudo bíblico. Eu acho que ainda falta um incentivo maior da... Num
sei, da parte da liderança pra que as pessoas procurem a bíblia. Talvez usando a célula pra
isso. Mas a... Pelo menos a experiência... Da minha experiência pessoal com célula ainda
não vi isso acontecer dum jeito forte, do jeito ótimo, que seria.

13p. Entrevistador: Muito bem. É, você falou que resistiu célula no começo.
13r. Entrevistado: Sim.

14p. Entrevistador: Se hoje você tivesse que, é, convencer um jovem da igreja que não
está em célula, a ir pra célula, que tipo de argumentação você usaria?
14r. Entrevistado: Tenho me perguntado direto agora. 'To virando auxiliar. Eu acho que
eu ia simplesmente virar pra pessoa e perguntar o que ela 'tá procurando. Porque eu sei o
que... Pela minha experiência eu sei o que uma célula pode oferecer. Mas eu sei também
como é que eu sou cabeça dura, eu sei que se eu não quisesse aquilo eu não teria encontrado.
Eu num vou chegar tentando forçar célula pra todo... Adolescente a minha área no
momento, eu num vou chegar a todo adolescente que eu vejo: "não, você tem que ir pra
célula...". Não, eu posso falar, mas num vou me dedicar tanto aqueles que eu não vejo que
não querem. Ah, se eu conseguir começar a argumentar de verdade, se eu sentasse,
encontrasse alguém, o cara 'tá querendo buscar? Aí eu ia... Como argumento eu teria que
dizer da minha vida. Mostrar o que eu passei, contar a minha história um pouco. Contar
sobre como a célula me formou, um lugar onde eu fui curado, onde eu aprendi a ter coragem
de falar de novo. Aprendi a encarar meus medos, a encarar minhas falhas do passado. E
usaria como argumentos também os textos bíblicos que eles sempre usam falando sobre
união. Ah, a clássica oração de Jesus de João dezessete, que eu gosto demais: "Pai, que eles
possam ser um, assim como nós somos um". Mas eu ia ser sincero. Nossa igreja adota
célula, não significa que isso pode... Só pode acontecer dessa forma. Acho que eu tinha
545

essa resistência no começo porque eu tinha a impressão que todo mundo que falava comigo,
falava de célula com a mente fechada, tipo: célula, não, só poder ser célula, só vai ser célula.
Acho que eu não teria coragem de fazer isso. Eu falaria: é o jeito que a gente adota,
funcionou pra mim, funciona pra várias pessoas; 'cê 'tá querendo buscar? Eu vou 'tá com
você, vamos buscar junto. Mas eu não posso te forçar e num posso dizer que isso vai ser
ótimo, que esse é o único jeito. Porque como é que vou limitar meu Deus a uma experiência
de célula, experiência da nossa igreja? 'Tá funcionando aqui? Glória a Deus. Não significa
que é a última e única forma.

15p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


15r. Entrevistado: Não, acho que não.

16p. Entrevistador: Obrigado então.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 01/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
20 anos Jardim Camburi PIBJC 50

1p. Entrevistador: Nós vamos falar um pouco sobre pequenos grupos, célula. E queria
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que você começasse falando sobre a sua experiência com pequeno grupo, com a célula.
1r. Entrevistada: Eu gosto muito da célula porque na igreja a gente tem uma visão ampla
das coisas. A gente vem ao culto e a gente louva e tem a pregação, mas na célula a gente
pode colocar a nossa opinião, de repente se ocorrer alguma divergência, ou se tiver alguma
coisa que realmente tenha falado mais profundamente ao nosso coração, é na célula que a
gente pode realmente 'tá abrindo isso e principalmente com pessoas que você entende que
vão te respeitar, que vão receber a sua opinião, que vão discutir com você, que são pessoas
que se tornam mais próximas. Inicialmente se você entra numa célula nova, às vezes no
início você não conhece as pessoas, não se sente a vontade, mas ao longo do tempo é
inevitável. Por você estar em contato com aquelas pessoas toda semana, você vai criando
um vínculo, uma confiança. Então eu acho que é importante pro crescimento espiritual da
gente. E eu gosto. É um lugar onde a gente tem uma coisa mais particular mesmo, assim.

2p. Entrevistador: Faz quanto tempo que você está frequentando célula?
2r. Entrevistada: Faz mais ou menos uns doze anos. Porque, na verdade, aqui na PIBJC
eu 'to há doze anos, e eu não me lembro de 'tá aqui e não estar em célula, então eu acho que
é mais ou menos esse tempo.

3p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de uma outra igreja que não tivesse
célula?
3r. Entrevistada: Sim. A Primeira Batista de_________.

4p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tenha célula e
uma igreja que não tenha célula?
4r. Entrevistada: Eu acho que uma igreja que tem célula, ela pode ter vínculos maiores.
Mas vínculos assim, saudáveis. Porque se você 'tá numa igreja que não 'tá em célula, você
involuntariamente tem as panelinhas. Então se você é um jovem, um adolescente, você vai
com a galera, você vai com a panela, você vai com o que é mais conveniente pra você. Mas
546

se você 'tá em célula mesmo que sejam pessoas que não sejam da sua faixa etária, ou
pessoas que você não convive, você tem que 'tá em contato com outras pessoas. Então você
vai criando vínculos com outras pessoas, mas não é aquela coisa de sair e ir pra outros
lugares. Não, vocês tem um objetivo em comum. Então você conhece outras pessoas pra
'tá aprendendo mais de Deus. Então de certa forma isso cria novos relacionamentos e
relacionamentos mais saudáveis. Porque ao mesmo tempo que você 'tá com as pessoas em
contato, elas vão te ensinar alguma coisa, então realmente eu acho que essa é a diferença.

5p. Entrevistador: Você vê alguma relação entre célula e comunhão, na igreja?


5r. Entrevistada: Sim. Mas a célula e comunhão com a igreja ou a comunhão na célula
fazendo a diferença na igreja?

6p. Entrevistador: As duas coisas.


6r. Entrevistada: Eu acho que comunhão na igreja é mais complicado que a comunhão na
célula. Porque a minha igreja tem muita gente... Então não tem como, por exemplo, eu
chegar no domingo e falar com todas as pessoas do culto. Ou falar com cem pessoas ali,
não tem como. Então eu acho que a comunhão da célula é uma coisa que te faz sentir mais
valorizado. Ou você chega no domingo, você já encontra aquelas pessoas: "ah, ele é da
minha célula...". Então você já fala com algumas pessoas, e a própria célula
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estrategicamente pode falar com outras pessoas pra convidar pra vir pra célula mesmo.
Então você acaba falando com os visitantes e isso cria uma comunhão. Então eu, por
exemplo, já abordei pessoas que eu não tinha visto, eu falava: "nunca vi essa pessoa aqui
na igreja". E aí eu convidava: "oh, você é novo aqui? Num te vi. ‘Po’ vem pra minha célula
se você gostou do culto, e tal, quiser conhecer algumas pessoas novas". E aí acaba que você
tem essa interação, você expande você começa a comunhão na célula e você expande no
domingo, no culto.

7p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje? Usando, assim,
adjetivos.
7r. Entrevistada: Adjetivos? Cheia. É uma igreja saudável, forte, capacitada, mas é difícil
pegar só uma palavra, estruturada. Acho que é basicamente isso.

8p. Entrevistador: E qual a influência das células na igreja como um todo?


8r. Entrevistada: Bom, considerando que a igreja hoje, em teoria, a minha, é feita de
pequenas células, eu acho que todas as células formam o corpo da igreja. Então pra você
ter um corpo saudável você precisa de células saudáveis. E o crescimento da igreja hoje,
eu, pelo menos no meu ver, depende também do crescimento das células. Porque se você
tem células que multiplicam, isso involuntariamente vai gerando mais membros pra igreja.
E, principalmente, se você tem células que multiplicam de uma forma saudável, elas vão
gerar outras células saudáveis e você vai criando uma igreja saudável.

9p. Entrevistador: O que seria uma célula saudável?


9r. Entrevistada: Uma célula que tem uma vida espiritual ativa. Não uma célula que
simplesmente se encontra pra ler e debater o que o pastor falou através de temas, mas uma
célula que realmente se importa com a pessoa que 'tá do seu lado, que 'tá orando toda
semana, que compra os problemas do irmão da célula, que separa tempo na semana pra 'tá
orando por um pessoa, que investe nas parcerias, no discipulado.
547

10p. Entrevistador: A célula tem alguma preocupação também com as pessoas de


fora, que não estão na célula, que não estão na igreja? Sociedade de um modo geral?
10r. Entrevistada: Sim. A minha célula, por exemplo, a gente sempre conversa sobre
programações que a gente pode 'tá fazendo fora das quatro paredes pras outras pessoas
realmente conseguirem enxergar isso. Então pra sociedade é importante porque a célula se
ela tem aquela questão, aquela animação, sabe? De sempre 'tá: "ah, vamos fazer um louvor
numa praça" ou "vamos visitar um asilo" ou "vamos visitar um orfanato", alguma coisa que
saia das quatro paredes... O que 'tá do lado de fora das quatro paredes vai enxergar a gente
de uma forma diferente, e vai enxergar também a igreja de uma forma diferente, de pessoas
que 'tão lá realmente pra servir, pra 'tá mostrando que estão a disposição e através da nossa
vida eles possam ver que tem um Deus por trás disso e que nos move e que capacita.

11p. Entrevistador: Muito bem. Você vê algum risco pra igreja a existência da célula,
algum perigo?
11r. Entrevistada: A princípio não. Porque a célula, ela diferentemente da panelinha, ela
não exclui, ela agrega. Eu vejo risco pra igreja, panelinhas. Mas pra célula, pela minha
experiência em célula, do que eu tenho visto, do crescimento de muitas pessoas. Eu vi
pessoas que foram que conheceram a Jesus através da célula. De você chamar um amigo
ou outro e chegar a ir, eles vão, e ouvem a Palavra. Da minha experiência em célula eu não
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vi nenhum risco, eu só vi que realmente abençoa bastante.

12p. Entrevistador: E benefício? Que benefícios a célula produz pra igreja?


12r. Entrevistada: Eu acho que vida espiritual individual, realmente tem um crescimento
maior porque uma vez que você compartilha os seus problemas, as suas emoções, aquela
questão, confessar os seus pecados uns aos outros. Você, a partir do momento que você
divide o seu fardo com outra pessoa, você automaticamente tem um vida espiritual mais
saudável. Porque uma coisa é você carregar o problema sozinho, outra coisa é você saber
que tem uma pessoa que 'tá lá pra carregar com você também. E aí na célula você dividindo
esse fardo e também as bênçãos contribui, porque além de você não carregar sozinho os
problemas, quando você traz bênçãos, quando você tem coisas boas, você leva isso, e você
também profetiza isso sobre a vida das pessoas que 'tão com você. E saber que tem pessoas
orando e você orar pela vida de outras pessoas, isso traz muito crescimento e traz paz pro
coração mesmo, de saber que você pertence a algum lugar e que tem pessoas que gostam
de você mesmo.

13p. Entrevistador: Como é que a célula influencia a maneira da igreja funcionar?


Como instituição, como estrutura funcional da igreja.
13r. Entrevistada: Bom, eu acho que é uma decisão grande, porque existe uma diferença
total entre uma igreja que funciona em células e uma igreja que não funciona em células.
Questões de estrutura que, a partir do momento que você 'tá em célula, você precisa
capacitar todas elas, independente da quantidade. célula com líderes fracos, não consegue
ter um, não consegue realmente andar. Então: "ah, temos células. Então vamos lá. Vamos
começar pelos líderes". A igreja precisa fornecer cursos pra capacitar esses líderes, não só
curso, acompanhamentos. Porque líderes precisam ser acompanhados porque eles são
pessoas como qualquer outra pessoa na célula. Pessoas que 'tão entrando na célula, sejam
pessoas que aceitaram a Jesus ou de outras igrejas, aí precisa ter um curso de integração,
aqui na igreja é o ABC da célula. E aí a pessoa vai 'tá mesmo tendo aquela ambientalização.
548

O que é a célula, como funciona. E pra isso acontecer dentro da igreja precisam ter
membros se voluntariando pra 'tá trabalhando, dando esse curso, dando esse
acompanhamento, contribuindo com ideias, com liderança. Então a própria estrutura
organizacional de funcionamento da igreja muda, porque se você não tem a célula, você
tem: "ah, temos departamento tal, funcionando coisa tal, tantas pessoas trabalhando". Se
você tem uma igreja em célula, você precisa ter algumas coisas extras. Mais pessoas
trabalhando e uma forma diferente de planejamento, porque o objetivo muda de forma
geral.Porque uma

14p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


14r. Entrevistada: Eu acho que cuidar das pessoas de uma forma mais próxima, mais
individual. De 'tá captando o que um domingo a noite não consegue captar, o que passa
batido. De 'tá cuidando, de 'tá fortalecendo tanto a vida quanto os vínculos de
relacionamento e 'tá gerando novas vidas através da célula. De 'tá capacitando mesmo
trabalhadores, obreiros num grupo pequeno pra que eles tenham a força de ir e alcançar
outras pessoas. Sejam das quatro paredes pra fora, ou seja, tão dentro da igreja e ainda não
se encontraram de fato dentro da igreja.

15p. Entrevistador: Isso. Se você fosse convencer ou se você fosse argumentar pra
uma pessoa que 'tá na igreja, mas num 'tá em célula... Argumentar pra que ela fosse
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pra uma célula ou pra sua célula, que tipo de argumentação você usaria pra essa
pessoa?
15r. Entrevistada: Seria sincera com ela e falaria que funciona pra mim. Tem coisas que
só funcionam na célula. Existem problemas na minha vida, coisas que eu passo que chegar
no domingo e ouvir uma pregação realmente me edifica. Mas existe um lugar onde eu
realmente posso 'tá falando sobre aquilo e alguém vai 'tá me dando um retorno. Eu não só
vou falar sobre aquilo, não vou falar só o meu problema, aquela questão, mas alguma
pessoa vai 'tá orando ou alguma pessoa vai na minha casa, ou alguma pessoa vai sentar
comigo, falando: "não, a gente vai orar em relação a isso" ou "a gente vai fazer um estudo
bíblico em relação a isso". E existem pessoas que às vezes nem vão à igreja, só vão à célula
porque essa célula realmente cria uma intimidade e uma confiança de forma diferenciada.
É uma coisa mais pessoal.

16p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
16r. Entrevistada: Eu gosto muito da célula. Eu realmente gosto porque as amizades que
a gente cria na célula costumam ficar. Por mais que você mude de célula ou tenha uma
reengenharia ou sua célula multiplique e você a priori você tem aquela sensação "perdi
meus vínculos", porque aquela pessoa não é mais da minha célula, na verdade é que isso
tudo multiplica, isso agrega valor. Então eu conheço pessoas desde a minha primeira célula
que são pessoas que me viram crescer, que olham pra mim na igreja hoje e lembram: "nossa,
quando você era da minha célula você era tão pequenininha, você já falava disso e olha
onde você chegou". Então são pessoas que elas não te, elas não deixam de te acompanhar,
elas continuam te acompanhando mas de uma perspectiva diferente ou de uma lugar
diferente, de uma célula diferente. Então a gente sente mais a questão da igreja, sabe? De
um corpo em Cristo e de saber que as vezes que você vai 'tá num lugar sentado na igreja,
você vai olhar pro outro lado da igreja e falar: "eu conheço a vida daquela pessoa", e
conhece aquela pessoa mais de perto e vira amigo. Então, mesmo fora do ambiente da igreja
'tá sempre marcando de ir na casa um do outro. Então são amizades que ficam realmente e
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pessoas que eram da minha célula antigamente, hoje discipulam, são minhas
discipuladoras. E hoje eu também consigo discipular outras pessoas, então realmente, se
funciona da forma certa, vai capacitando e vai multiplicando.

17p. Entrevistador: Muito obrigado.


17r. Entrevistada: De nada.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 01/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
21 anos Jardim Camburi PIBJC 51

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos, sobre célula. Então eu
queria que você falasse um pouquinho sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: De tudo, desde o início? Porque essa não é minha primeira célula. Então,
quando eu me converti eu me converti em célula. Eu era católica e me trouxeram pra uma
célula, que era uma célula de pessoas casadas e mais velhas. Não foi uma experiência muito
marcante, porque eu me sentia um pouco fora do eixo. Me sentia diferente. E na segunda
célula que eu fui, foi quando eu me converti, era uma célula de jovens. E isso foi bem
importante pra mim, foi lá que eu fiz classe de batismo, eu tive discipulado, e eu me batizei,
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foi bem intenso. Foi menos de um ano que eu fiquei nessa célula, foi em dois mil e doze, e
foi muito importante pra mim. E a minha experiência com célula é tipo, eu me converti, eu
nasci disso. Porque se não fosse a célula talvez eu nunca tivesse entrado na igreja, por certo
preconceito talvez que eu tinha, mas eu acho bem importante essa questão do
relacionamento, porque como é uma igreja de dois mil membros, é muito difícil você
conhecer todo mundo, eu não conheço nem cem pessoas da igreja, eu to aqui tem três anos.
Então, eu acho bem importante, porque você tem um contato que é tipo o que a Bíblia quer.
É relacionamento. E você tem o contato direto com a pessoa, e você pode chegar na célula,
você pode chorar, você pode rir, você pode falar seus problemas, você pode brigar com
alguém, porque as pessoas estão lá pra se relacionar. E eu acho que é interessante que com
o tempo, não sei se é isso, ou se eu estou fugindo da pergunta, mas com o tempo a gente
vai adquirindo certa intimidade com as pessoas e num é nem criar só uma amizade, assim,
você cria um elo, uma ligação espiritual. Porque as pessoas, você está lá toda semana, a
pessoa conhece, sabe seus problemas, sabe o que você está passando, você pode ligar e
falar assim: "nossa, eu 'to ruim, eu preciso de oração. Eu, tipo, você pode me ajudar?".
Então está todo mundo lá. E essa célula que eu estou agora, que é a célula do ______, que
ele é meu amigo, ele é um dos meus melhores amigos. E assim eu acho bem interessante
porque são só jovens, a outra que eu tinha era de jovens mais velhos, eu era a mais nova. E
achava que eu tinha mais a aprender do que a acrescentar. E como agora eu estou numa
célula, porque eram pessoas bem mais experientes na vida cristã. E agora que eu estou
numa célula de pessoas da minha idade, assim, de dezoito a vinte e cinco anos, a gente, eu
tenho alguém pra desabafar que a pessoa tem a mesma realidade que eu. Ela está passando
pelos mesmos problemas de ter na faculdade, morar sozinho e são problemas que às vezes
essas pessoas mais velhas, por exemplo, nessa primeira célula que tive, eu acho que eu era
a única com menos de quarenta anos lá. Então eu acho interessante. Essa é minha
experiência. Bastante interessante em relação à célula.
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2p. Entrevistador: Você entende que a célula contribui pra que haja comunhão entre
os membros?
2r. Entrevistada: Sim, com certeza, porque é isso que a Bíblia quer. A Bíblia não quer que
você chegue na igreja e você venha, assista o culto e vá embora. Isso não é uma igreja. A
igreja na verdade a igreja é a gente... Então, eu acho que isso é bem importante, porque
você as vezes chega, tem muita gente que chega na igreja, tem uma igreja grande, chega
senta no cantinho e você nunca vai ouvir falar dessa pessoa, nunca. E a pessoa, você nunca
vai saber o que passa na vida dessa pessoa, porque que essa pessoa 'tá triste, 'tá feliz, qual
o nome da pessoa. E eu acho que essa é a importância da célula, entendeu?

3p. Entrevistador: Seria esse um dos objetivos da célula? Quais seriam os objetivos
da célula?
3r. Entrevistada: Olha, na minha opinião é o relacionamento próximo entre pessoas,
comunhão e não sei! Acho que é isso. Eu perdi a palavra certa, mas é aprofundamento das
relações na igreja. Porque são muito superficiais na maioria das vezes.

4p. Entrevistador: Qual o perigo pra igreja a existência da célula?


4r. Entrevistada: Eu acho que às vezes uma célula pode 'tá tão arraigada, assim, aquelas
pessoas, eu só, tipo, você se identifica tanto com essas pessoas que você deixa de procurar
as outras. Isso não é legal, entendeu? Esse que é o problema, esse é o perigo, porque a igreja
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é a igreja toda. Não é pequeno, só pequenos grupos e não são só aquelas pessoas, não é
exclusivo, entendeu? Tem que saber dividir a ponto de, assim, essa é minha célula, são as
pessoas que eu me identifico, que eu estou com elas o tempo todo, mas a minha igreja é
todo mundo, eu tenho que buscar relacionar com essas pessoas. Isso é um problema, já vi
muitas vezes isso ser um problema, questão de células tendo, passando por crises por causa
disso, por pessoas serem muito próximas estarem desligadas das outras.

5p. Entrevistador: E quais seriam os benefícios que você, que as células trazem pra
igreja como um todo?
5r. Entrevistada: Eu acho que a nossa igreja, pelo menos é o que eu percebo, cada dia
chegam muitos membros. E chegam muitos membros porque a maioria das pessoas, ela
vem porque elas estão num, tipo, 'tá tendo célula na casa de alguém, ela 'tá ouvindo, aí o
vizinho chama: "vem pra cá, vem, tipo, vem assistir a célula, vão no culto". Eu acho que
esse é o benefício, porque traz muitas pessoas pra Deus, pessoas de fora, não só as pessoas
da célula. Os benefícios pras pessoas da célula são evidentes, mas pras pessoas de fora e
pra igreja, eu acho que esse que é interessante.

6p. Entrevistador: Pensando nas pessoas de fora, qual a preocupação que a célula tem
com as pessoas de fora mesmo, que não estão na igreja? Sociedade de um modo geral.
6r. Entrevistada: Então, sim, essa célula de agora, a gente tem feito alguns trabalhos, tipo,
fez alguns trabalhos sociais de arrecadar cestas básicas, distribuir cestas básicas, em
hospital, não, o hospital foi na outra, desculpa. Não. Na célula antiga a gente fazia
evangelização em São Torquato, a gente ia no Hospital Infantil, e eu acho que é interessante
porque o Reino de Deus não tem que 'tá incluso só na gente. A gente tem que transmitir
isso pras outras pessoas. Nós como um grupo, nós temos um grupo, uma pessoa só não ia.
Você não caminha sozinho, você precisa de outras pessoas. E eu acho que quando têm
outras pessoas isso torna mais forte pra você ir e ajudar o outro. E eu acho isso muito legal.
Essa minha célula antiga a gente fazia muito disso. Era, tipo, todo mês tinha alguma coisa,
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a gente passava, juntava um monte de coisa, alimento, e ia pra uma igreja, ia ajudar em
construção de alguma coisa, e isso eu achava muito legal.

7p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


7r. Entrevistada: Cara, a minha igreja é assim, eu vou ser bem sincera, eu não conheço
muito bem essa igreja. Eu estou aqui há um tempo já, eu trabalho em ministério, mas eu
tenho a minha célula e eu trabalho no ministério de jovens, eu conheço muito bem o
ministério de jovens, as pessoas que trabalham na liderança, de banda. Só que a igreja, às
vezes eu acho que eu não me esforço pra conhecer. Às vezes eu chego, se é pra ser bem
sincera, às vezes eu chego no culto e eu vejo o pastor falando algumas coisas e eu sei que
ele 'tá, tipo, ele 'tá. Deus 'tá usando ele, mas às vezes eu não consigo me concentrar, porque
aquilo ali é tão fora, às vezes, da realidade de assim botar em prática. Mas é uma igreja que
assim me acolheu muitíssimo bem, isso eu nunca posso reclamar, ela não é uma igreja que
eu quero sair, não. Tipo, enquanto eu 'tiver morando em Vitória, até terminar a faculdade e
mestrado, eu pretendo ficar aqui. Porque é a igreja que eu conheci, pessoas ótimas. Mas eu
me esforço pouco pra conhecer ela, então eu não sei se eu sou muito qualificada pra
responder isso, mas eu acho que é uma igreja que, das Igrejas Batistas, ela é muitíssimo
aberta a pessoas diferentes. Porque eu conheço algumas pessoas de Igrejas Batistas, eu não
sei se você é Batista, mas eu conheço algumas pessoas de Igrejas Batistas, que quando vem
aqui falam: "meu Deus, vocês tem uma banda que toca guitarra. O cara que toca tem um
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alargador, uma tatuagem, assim". E eles acham isso uma coisa assim "meu Deus!". Isso é
extraordinário. Isso é uma igreja que ela acolhe pessoas, não importa quem são, não importa
se ela tem tatuagem, se ela não tem, se ela, a gente, tipo, isso eu percebo. Claro que tem
exceções, sempre tem exceções, mas eu acho que é uma igreja que ela não faz, eu não
lembro a palavra, ela não faz diferenciação de pessoas. Isso eu acho legal.

8p. Entrevistador: Se você tivesse que incentivar alguém pra fazer parte de uma
célula, que argumentos você usaria?
8r. Entrevistada: Cara, eu já fiz isso há um mês eu consegui trazer uma pessoa pra célula.
E a forma que, ela é mais recém-convertida, e a forma que eu convenci ela foi aos poucos.
Não uma coisa que a pessoa às vezes 'tá desanimada: "vamos na minha célula". "Ah,
vamos!". Às vezes é um trabalho que você tem que fazer toda semana, falando: "vamos na
minha célula"? Às vezes a pessoa não vai, daqui a seis meses ela vai. E eu acho que assim,
uma forma de convencer é falar tipo assim: "poxa, a gente 'tá aqui pra te ajudar, você está
com um problema e a gente está aqui pra orar por você, a gente está do seu lado. Por mais
que a gente só tenha a nossa oração e a nossa companhia, a gente está aqui por você". E eu
acho que essa é a forma que eu consegui trazer, mas eu as vezes, uma vez trouxe também
uma pessoa, mas ela foi embora, saiu da igreja, mas foi por, tipo assim, nós somos jovens.
"Vem na minha célula, porque minha célula é legal, porque a gente é todo mundo da sua
idade. As pessoas passam pelas mesmas coisas, eu acho que você vai gostar, são pessoas
interessantes". Eu acho que é isso que chama às vezes. Quando você percebe que tem
alguém parecido com você lá e que tem a sua mesma idade, às vezes até o estilo. Porque
querendo ou não, isso é uma coisa que atrai uma pessoa pra ir num grupo. Eu acho que é
desse jeito.

9p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


9r. Entrevistada: Não, acho que eu já falei muito.
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10p. Entrevistador: Obrigado.


10r. Entrevistada: Nada.

FUNÇÃO: Líder/Supervisora SEXO: Feminino DATA: 12/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
29 anos Jardim Camburi PIBJC 52

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos prupos, sobre célula. Então
começa falando pra mim sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência com célula é muito boa. Eu já participo de célula
há mais de dez anos. Tive um período sem participar porque eu morava fora, a igreja que
eu estava não tinha, e sentia muita falta. Então experiência muito boa. É algo que 'tá sempre
presente no meu estilo de vida.

2p. Entrevistador: Você já fez parte da igreja antes de ter célula?


2r. Entrevistada: Sim.

3p. Entrevistador: E agora faz parte da igreja com célula?


3r. Entrevistada: Sim
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4p. Entrevistador: Que diferença você vê na sua caminhada e na própria igreja com
relação a célula?
4r. Entrevistada: Na minha caminhada pessoal, maior diferença é a prestação de contas,
né? Ali eu tenho pessoas que me conhecem, sabem se eu 'to bem ou se eu estou mal. Não
consigo nem esconder. Então, é... Sabem da... Realmente da minha vida. Então isso faz
com que eu me policie pra sempre andar corretamente, me ajuda, né? Essa prestação de
contas. Então foi muito importante pra mim na... No desenvolvimento do quarto de escuta,
né? Do meu tempo com Deus todos os dias, porque tinha pessoas que me perguntavam: "e
aí, essa semana, você fez? Leu sua Bíblia?" Né? E eu tinha que responder. Então isso, essa
cobrança me ajudava realmente a fazer. Então na minha vida pessoal, é... Teve essa grande
mudança. Na igreja como um todo, principalmente no nosso contexto aqui que é uma igreja
grande, é no sentido das pessoas se conhecerem. Por mais que você 'teja ali com mais de
mil pessoas que são da sua igreja, você tem aquele grupo que sabe quem você é, sabe seu
nome, sabe sua vida, a sua personalidade. Então você se permite ser uma igreja de verdade
mesmo com um número tão grande. Número tão grande é difícil, né? As pessoas se
conhecerem mesmo.

5p. Entrevistador: Então, como é que você relaciona célula com comunhão?
5r. Entrevistada: Célula com comunhão?

6p. Entrevistador: Comunhão entre os membros.


6r. Entrevistada: Aham. Relaciono totalmente.

7p. Entrevistador: Na própria célula e na igreja como um todo.


7r. Entrevistada: Na própria célula eu posso dar o exemplo da minha própria célula, a
gente 'tá junto o tempo todo, né? É um grupo que são jovens casais que 'tão vivendo a
mesma fase da vida praticamente. Posso dizer que pelo menos três vezes por mês a gente
553

'tá almoçando junto, jantando junto, fazendo alguma coisa junto. Além do tempo com Deus,
né? Isso fazendo coisas no social. Então a gente realmente vive a vida junto. Completa
comunhão. É claro que tem seus problemas, quando qualquer ser humano que se expõe,
né? Vai ter seus problemas, mas a gente consegue realmente lidar com esses problemas.
Então eu acredito que a célula, o Grupo Pequeno, ela facilita essa comunhão. Ela faz a
comunhão realmente acontecer.

8p. Entrevistador: E como é que isso repercute na igreja como um todo?


8r. Entrevistada: Na igreja como um todo. Como é que repercute. Cada grupo tendo a sua
comunhão? Acho que reflete sim na igreja como um todo, porque a forma que a pessoa 'tá
vivendo a vida com Deus. A questão de... Dos ministérios, de trabalhar na igreja, né? Você
é motivado a fazer isso, né? Então isso na igreja como um todo influencia. Se você 'tá em
comunhão com o seu grupo, né? Que a gente tem, é... Eventos, "atos de compaixão", cada
célula tem que fazer algo de compaixão pra comunidade. Você 'tá em comunhão com seu
grupo você vai participar junto, então você vai 'tá participando desse evento com a igreja.
Faz sentido?

9p. Entrevistador: Fala um pouquinha mais sobre essa ação da célula na comunidade.
9r. Entrevistada: Bom, uma vez por ano cada célula precisa fazer um evento de "atos de
compaixão". Cada célula decide né? Esse ano a nossa célula foi num asilo. A gente fez lá
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um café da manhã e um culto com eles. Ano passado a gente foi na Cristolândia. Fizemos
uma vigília de oração lá, levamos o lanche também. Porque a gente tenta envolver todo
mundo. Sempre tem arrecadação, né? De coisas pra doação. E é algo que a gente se envolve.
No ano anterior a gente foi no orfanato lá de Aribiri. Então a gente sempre faz algo
diferente.

10p. Entrevistador: Como a célula influencia a igreja no que diz respeito ao culto, a
celebração de um modo geral?
10r. Entrevistada: Bom, disso eu posso falar da minha experiência pessoal. A gente
sempre combina de ir junto ao... Aos cultos, né? Por exemplo, como eu disse, minha célula
é de jovens casais, mas nem todos têm o seu cônjuge participando da célula. Então às vezes
no culto, é interessante, pra alguns, do meu caso pessoal, eles aceitam mais ir a igreja do
que à célula, né? Porque ali é só sentar e ouvir. Então a gente combina de ir juntos, a gente
sempre sai pra lanchar depois do culto e dessa forma, gera comunhão com essa pessoa que
não é da célula, né? Então, é... A gente sempre 'tá junto ali no... Culto da igreja.

11p. Entrevistador: E como é que o Pequeno Grupo, a Célula, influencia na maneira


da igreja funcionar? Em termos institucionais, em termos de
organização da igreja.
11r. Entrevistada: Hoje em dia praticamente tudo é através de célula. Então se a igreja vai
montar um evento, precisa de equipe de decoração. Ah, vai ser a célula tal... Então as
células que se mobilizam, né? Qualquer evento hoje aqui na igreja é feito através dessas
células, né? Teve o cultão agora há pouco tempo, que foi o evento grande que a igreja fez.
A minha célula ficou com a praça de alimentação. Então é assim que eles mobilizam, né?
A gente tem que se mobilizar dentro da célula pra trabalhar lá praça de alimentação.

12p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, algum risco pra igreja, a
existência da Célula, o Pequeno Grupo?
554

12r. Entrevistada: Um risco pra igreja? Eu acho que o risco é um... Bom, no sentido de
que ali as pessoas sabem realmente quem você é. Você não tem como fingir ser um cristão,
se você realmente participa da célula ativamente. Porque são questões pessoais que são
compartilhadas, as máscaras caem de verdade, né? Então o risco é nesse sentido, acontecem
brigas, acontecem conflitos, né? Então aí entra a presença do líder e como que ele vai lidar
com esses conflitos, porque isso gera mesmo. Às vezes as pessoas até deixam, né? A igreja,
por causa de conflitos dessa forma. Mas se a pessoa tem essa atitude é porque ela realmente
não quer resolver aquilo ali, né? Aquele problema ali de caráter ou personalidade.

13p. Entrevistador: Você falou em líder. Como é que surgem essas lideranças pra
célula?
13r. Entrevistada: Deus chama. É... Eu sou uma pessoa de natureza dominadora, né?
Então, assim, é meio que automático: "vou ser líder". Agora dentro do meu grupo a gente
sempre vê aquelas pessoas mais comprometidas, é... Que não faltam, comprometidas com
a visão. A gente vê a questão do discipulado, pessoas que foram discipuladas. E a gente
começa a orar a respeito disso. Começa a dar tarefas pra essas pessoas antes de convidá-las
a serem líderes. Então aquela pessoa já dirige, é... Faz a escala da célula ou organiza um
evento, então a gente dá tarefas, tarefas e até que chega o momento e a gente pergunta a
pessoa, né? "E aí, você já tem... Você já é um líder. Que tal colocar esse nome?" Né? Então
a gente tenta fazer da forma mais natural possível.
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14p. Entrevistador: Então a liderança surge de dentro da própria célula?


14r. Entrevistada: De dentro da própria célula.

15p. Entrevistador: E como é que ela é preparada em temos, assim, de capacitação?


15r. Entrevistada: Primeiro é andar do lado do líder. Antes de você ser líder da célula,
você é auxiliar da célula. Então hoje eu... Lidero uma célula com dezoito pessoas, mas nós
temos o auxiliar. Então tudo que eu faço, geralmente a gente conversa. A gente conversa
com muita frequência, troca mensagens. Então, é... Já praticamente estão liderando junto
comigo. Antes de ir sozinho, né? Quando a gente divide o grupo e eles assumem um novo
grupo. Então essa é a primeira capacitação. Segunda: a própria igreja oferece cursos, né?
Que tem o livro que você precisa ler e participar de um curso de treinamento.

16p. Entrevistador: Certo. E os encontros da célula? Os encontros propriamente ditos


da célula, como é que eles acontecem?
16r. Entrevistada: Cada semana na casa de uma pessoa, né? A gente faz uma escala. É...
Ele é dividido em três momentos. O primeiro momento é de exaltação, que é o tempo que
a gente canta louvores, lê um versículo da Bíblia, só de exaltação a Deus. Depois tem o
tempo de edificação, que é a discussão sobre a mensagem que foi no domingo anterior.
Depois tem o tempo de evangelismo, que cada um compartilha o que tem feito pra
evangelizar as pessoas ao seu redor. Cada momento é liderado por uma pessoa diferente,
então a gente tem a escala, né? Por exemplo, a minha célula vai ser amanhã, na quinta-feira
à noite. Já tem a pessoa que vai fazer a exaltação, a pessoa que vai fazer a edificação, o
evangelismo e também ficar com as crianças, que nós temos três crianças na célula. Elas
são levadas pra outro ambiente e tem a própria revista, o material que é trabalhado com
elas. Então tem escala pra esses quatro momentos. Toda reunião tem quatro pessoas que
vão 'tá mais a frente.
555

17p. Entrevistador: Então tem uma participação rotativa.


17r. Entrevistada: Tem uma participação rotativa, sim.

18p. Entrevistador: E nessa parte do encontro dos adultos, que espaço as pessoas tem
pra se expressar?
18r. Entrevistada: Passos?

19p. Entrevistador: É, espaço?


19r. Entrevistada: Ah, espaço. É, as perguntas que são feitas na edificação são perguntas
de cunho pessoal, né? Então, por exemplo, se na mensagem de domingo foi falado sobre
perdão. As perguntas daquela semana vão ser no sentido: você já viveu uma experiência
que precisou perdoar alguém? Quando a coisa é pessoal demais e a célula 'tá muito grande
a gente divide em pequenos... Menores ainda, né? Então divide em trios, pra ter um
compartilhamento pra se expressar. Mas geralmente é feita uma pergunta solta, quem quiser
responder, responde. A pessoa que está liderando, ela meio que administra isso, né? Pra um
não falar demais, de menos, e tal, e tenta administrar. Agora existem pessoas que numa
determinada semana não falam nada na reunião, e isso é aceito. Isso é bem aceito e é
respeitado dessa forma.

20p. Entrevistador: Mas quem quiser falar tem a oportunidade.


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20r. Entrevistada: Quem quiser falar tem a oportunidade. É incentivado a falar.

21p. Entrevistador: E como é que acontece o cuidado na célula?


21r. Entrevistada: Nós temos, é... O discipulado, né? Então no caso eu e meu marido a
gente discipula dois outros casais. Então além do encontro na quinta-feira à noite, a gente
encontra com esse casal num outro horário. Tem um material bíblico que a gente estuda,
mas, além disso, é um compartilhamento pessoal, é um cuidado que é feito, né? Perguntas
mais pessoais, como a vida realmente anda pra eles, né? Então o ideal é que dentro da célula
cada um tenha essa parceria. Às vezes não acontece porque é um compromisso de tempo,
né? Então, por exemplo, na minha célula hoje eu tenho dois ou três casais que não tem
parceria com ninguém. Então eu, como líder, eu tento fazer esse cuidado maior, né? Pelo
menos dar uma ligada por semana pra ver como está. É esse tipo de coisa. Mas o ideal é
que tenha... Você tenha uma parceria dentro da célula, né? Um discípulo.

22p. Entrevistador: Então ao longo da semana existe esse contato.


22r. Entrevistada: Existe esse contato.

23p. Entrevistador: Essa interatividade entre os membros.


23r. Entrevistada: Sim. E hoje a tecnologia facilita muito, né? Tem o whatsapp. A gente
tem o grupo da célula no whatsapp. Todos os dias existe mensagem ali. Então algum
contato, um pedido de oração, ou uma piadinha, uma coisa engraçada, algo que aconteceu.
Você manda ali e todos da célula recebem. Então isso funciona muito. Todos... Todos os
dias tem contato entre a célula.

24p. Entrevistador: Se você fosse argumentar pra alguém que está na igreja que não
está em célula. Se fosse argumentar pra ele em favor de uma célula, o que você usaria
como argumento?
556

24r. Entrevistada: Eu convidaria pra vir ver. Porque só vivendo mesmo que você
consegue entender realmente o que é, né? Então eu convidaria: "vem uma semana participar
da nossa célula. Você vai ver ali a intimidade entre as pessoas, né? O carinho, o amor, é...
Que acontece. A aceitação". Aceitação.

25p. Entrevistador: E como é que classificaria a sua igreja hoje?


25r. Entrevistada: Em nota? Em número? Em como?

26p. Entrevistador : Não, com adjetivos.


26r. Entrevistada: Com adjetivos.

27p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja?


27r. Entrevistada: Como é que eu caracterizaria... A minha família. A minha família
mesmo. É... Pensando na minha célula... Inclusive da minha célula já vieram
multiplicações, então a gente tem um grupo de quatro, cinco células que a gente 'tá com
frequência juntos. É a minha família. São aqueles que eu recorro quando eu 'to triste,
quando eu 'to feliz, quando eu quero contar uma vitória. Então eu classificaria dessa forma.
Onde eu gosto de estar, onde eu tenho prazer em estar.

28p. Entrevistador: E pensando na igreja como um todo, ela é uma igreja grande? Ela
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é uma igreja... Que mais?


28r. Entrevistada: Tem espaço pra todo mundo. É uma igreja grande, sim, em alcance,
mas em que você consegue ser você mesmo, você vai se... Tem um espaço pra você. Tem
um grupo que 'tá pronto pra te cuidar, né? Hoje na igreja se você... É uma igreja grande,
então se às vezes você visita e vai, não é notado. Agora se você se expressar: "olha, eu
quero", vai ter um grupo que vai te receber de braços abertos, é... E vai te mostrar, né? O
que essa igreja mesmo, a igreja ali da Bíblia, né? Onde o irmão divide o que tem, é... Vive
junto sempre, compartilha.

29p. Entrevistador: Uma coisa negativa da célula?


29r. Entrevistada: Uma coisa negativa da célula é tempo. Requer tempo... Tá? Então, é,
por exemplo, como eu disse, até te falei, as noites são difíceis pra mim, porque eu discipulo
duas pessoas, eu trabalho o dia inteiro. Uma noite é da célula. Quando é na minha casa eu
tenho que arrumar a casa, fazer lanche, então leva... Dá... Você precisa investir tempo.
Investir tempo.

30p. Entrevistador: É...


30r. Entrevistada: Mas eu acho que a vantagem é maior do que... Vale a pena investir esse
tempo. Mas realmente requer o tempo, né?

31p. Entrevistador: Ok. Mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre célula?
31r. Entrevistada: Não, acredito que não. É isso.

32p. Entrevistador: Muito obrigado.


32r. Entrevistada: Muito de nada
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FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 12/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
35 anos Jardim Camburi PIBJC 53

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. E eu
queria que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Certo. Eu moro aqui em Vitória desde dois mil e um. Eu vim do interior,
de _________, é... E fui criado dentro da igreja evangélica ________. É uma igreja que
tinha em média sessenta, setenta membros. Oscilava muito pouco além disso. E como eu
cresci na igreja eu tinha uma... Experiência de muita proximidade entre os irmãos da igreja.
E quando eu vim aqui pra Vitória eu senti muita dificuldade em me ambientalizar, porque
'cê tinha... 'Cê ia em igreja com oitocentos, mil membros. E 'cê chegava num dia, 'cê saia,
ninguém te conhecia. 'Cê chegava no dia se... Encontro seguinte, 'cê não conhecia ninguém
que você tinha visto no... Domingo anterior. Então eu tive uma dificuldade muito grande
de ambientalização, isso em três ou quatro igrejas que eu fui. Até que um dia eu estive aqui,
nessa igreja, visitando, é... Fui abordado por alguns irmãos, que imediatamente já me
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apresentaram o sistema de célula, me convidaram pra uns encontros. E... Era muito
gratificante, num primeiro momento, que a pessoa não te conhecia e te propiciava o
ambiente familiar. O que já demonstra extrema confiança. Porque é muito fácil você
convidar uma pessoa pra vim no culto. Você convidar uma pessoa pra ir pra dentro da sua
casa, num encontro, é... Religioso, você não sabe quem é aquela pessoa, qual a formação,
que tipo de depoimento, de declaração que ela possa dar. Então achei muito gratificante
isso, fiquei muito sensibilizado. Mas no primeiro momento acabei não indo. É, só no
segunda visita que eu tive, que eu fui convidado, e aí eu comecei a visitar. E, assim, tem
sido uma... Experiência muito importante na... Minha vida, porque eu consegui
compatibilizar aquela sensibilidade inicial de ter um grupo com proximidade maior, onde
você conhece todas as velhinhas da igreja, você conhece todas as crianças que nascem, todo
mundo é tio, todo mundo é avó, todo mundo é irmão de verdade, como se fosse uma família,
né? Nós conseguimos refletir isso na célula, né? E... Com o passar dos encontros, é,
permitiu que a gente criasse com o grupo menor uma intimidade onde as pessoas ficavam
mais a vontade para o compartilhamento das coisas exitosas que acontecem na vida cristã
delas. E também uma liberdade, um clima à vontade pra que elas pudessem também colocar
na... No encontro de célula os seus problemas, os seus desafios, quer seja espiritual, quer
seja familiar, financeiro, profissional. Coisas que não teriam momento disso acontecer no...
Em grupos maiores. Então eu vejo o seguinte, eu consigo compatibilizar essa necessidade
de... Se inserir em grupos menores, até mesmo pra refletir o meu crescimento dentro da
igreja, como que foi feito lá atrás, e esse clima mais propicio ao compartilhamento, uma
coisa menos formal, uma coisa com clima mais familiar, um clima mais doméstico, com
todo mundo mais a vontade. Então eu acho assim, que a experiência de célula tem sido para
o meu crescimento e para aquelas pessoas que eu tenho a oportunidade de conversar, pelo
menos no nosso ambiente de célula, um momento formidável. Formidável.

2p. Entrevistador: Muito bem. Você falou que frequentou algumas igrejas aqui na
capital, que são igrejas maiores. Que diferença você vê numa igreja que tem o
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Pequeno Grupo e numa igreja que não tem o Pequeno Grupo, além dessas que você
já mencionou?
2r. Entrevistado: Eu entendo o seguinte: que pela experiência, eu acho que a igreja antes
de ser um ambiente de formação espiritual, é um ambiente de relação interpessoal.
Independente de que tipo de relação interpessoal que vá se construir. E assim, quando você
tem uma formação, é... Muito mais ampla, a relação começa a ficar fria. Começa a ficar
fria. Se eu não conheço o irmão eu não tenho como orar pelas necessidades dele. Se ele não
me conhece, ele não tem como orar diretamente pela minha necessidade. Então as... Igrejas
que eu vivenciei, que eu frequentei nesse período que não são de célula, o encontro ficava
muito, é, restrito ao momento do culto. Era o culto, você entrava, cultuava, agradecia,
louvava, ouvia a mensagem, saía dali e ia embora. Então parece que a igreja não saía de
dentro do templo. Né? O movimento espiritual parece que só acontecia ali, você só se
tratava ali naquele momento, você só louvava ali naquele momento. E fora da... Do
ambiente do templo parece que não existia culto. E... Acho que a célula permite muito isso
e é um movimento coordenado. Não é simplesmente eu ligar pra uma ou duas pessoas e
falar o seguinte: "olha, vamo' lá em casa hoje. Vão fazer um socialzinho". Não é isso. Isso
'cê pode fazer em qualquer situação, com seu amigo do trabalho, com... com seu pessoal
do clube, mas é um algo mais porque é um movimento coordenado, acho que isso também
é essencial pro sucesso do movimento. Porque você tem células que tem o... Os
componentes que estão ali, ninguém 'tá ali por acaso, ninguém 'tá ali porque simplesmente
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quis ir, ele 'tá ali por indicação, por encaminhamento ou por convite de alguém. Então não
há acaso na formação da célula. Você tem uma supervisão que 'tá coordenando ali cinco,
seis, sete células, que participa daquele movimento, e estão ali, a... Os supervisores,
trabalhando também no desenvolvimento e na dificuldade de cada um dos líderes. E acima
dos supervisores ainda tem a rede. Então é um processo coordenado. Nada acontece por
acaso, num é um grupo ali, "toma vocês se viram", "façam o que tem que fazer". Então
quando você pega o movimento de culto de templo, de semanalmente, que é o que noventa
por cento acontece, e você vai fracionando ele pra redes, pra supervisão e pra célula, você
permite um movimento controlado de crescimento contínuo, espiritualmente, um
movimento de cuidado, um movimento de intimidade, e acho que é isso que nós precisamos
hoje em dia. O mundo, ele 'tá muito globalizado. Hoje, em tempos de... Whatsapp, de e-
mail, um telefone, pra uma ligação é uma prova de amor muito grande. Você imagina ainda
mais você encontrar com a pessoa periodicamente, muitas vezes até mais de uma vez por
semana, fora do templo, pra falar de você, pra falar da sua relação com Cristo. Isso eu acho
uma coisa fantástica.

3p. Entrevistador: Fala um pouquinho mais sobre esses encontros. Tanto o encontro
da célula, como o encontro além da célula.
3r. Entrevistado: Além da célula. Bom, os encontros de célula, em célula, que... Nós
fazemos, a experiência que eu tenho, já participei de duas... De três células diferentes é...
E na primeira célula era um grupo muito heterogêneo. 'Cê tinha desde jovens com treze,
catorze anos, em idade pré-vestibular, até pessoas noivas, pensando em casamento. Então
'cê tinha líderes diferentes. No meu segundo ano eu fui... Eu fui encaminhado pra uma
célula de jovens casais. E eu acho que a unificação, a padronização do perfil, eu acho que
ajuda muito na interação. Porque quando você tem uma célula de jovens casais e você fala:
problemas de casamento, todo mundo 'tá vivendo aquilo dali. Quando você tem uma célula
que é a realidade de alguns casais com filhos, quando você compartilha o relacionamento
entre marido e mulher, você tem que inserir naquele diálogo a situação do filho. E todo
559

mundo vai 'tá vivendo aquele mesmo ambiente. Então os encontros, são encontros assim,
que na nossa célula a gente começa geralmente dezenove e trinta, com o quebra-gelo
acompanhado de um lanche, de um alimento, porque muitas pessoas saem do trabalho e
vão diretamente pra célula, e o último alimento que ele teve foi a refeição meio dia e meio,
uma hora. Então até ter o momento de quebra-gelo a gente propicia essa meia hora pra
pessoa chegar, relaxar, bater papo sobre qualquer coisa e lanchar. E depois desse primeiro
momento a gente abre com... Todo mundo chegou aí nós já com o coração mais aliviado,
mais relaxado do dia a dia, a gente começa o momento de louvor e adoração. Geralmente
nós fazemos de dois a três hinos ou com o acompanhamento de um irmão com o violão, ou
com projeção de slide, ou só com áudio, algum celular, ou às vezes até mesmo a capela. E
depois desse primeiro momento nós passamos pro evangelismo e edificação. Só que assim,
como nossa célula é formada por jovens casais, nós temos inovado em alguns momentos,
não trabalhando a carta da célula. Porque muitas vezes os irmãos tiveram, é... No culto
domingo, então ouviram a mensagem do pastor, a gente até comenta alguma coisa, mas a
gente foca em temas específicos, como a aliança, como... Né... Ontem mesmo nós
trabalhamos sobre a questão da bebida. Se o crente pode beber ou não, né? Nos... Já temos
uma pauta definida pros próximos encontros pra falar sobre batismo, sobre salvação. Então
assim, a gente tenta inovar e muitas vezes é... O assunto que é discutido na célula é um
assunto que a liderança, é, com seus auxiliares discutem de problemas vivenciados pelos
próprios membros da célula. Então a gente trabalha a temática muitas vezes de acordo com
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a necessidade do nosso público. Ou seja, nós 'tamos com conflito interno nos casamentos
onde o grande problema é: a função ou atribuição do marido e da esposa dentro da
casamento. Então a gente ousa em abandonar a orientação da carta da célula pra trabalhar
aquilo que os nossos membros precisam de ouvir ou precisam de debater, precisam discutir
naquele momento.

4p. Entrevistador: Muito bom. Mas a liderança acima, os supervisores, eles tem
conhecimento dessa mudança de pauta?
4r. Entrevistado: Tem. Eles têm conhecimento. O nosso supervisor tem conhecimento e
muitas vezes ele acompanha, ele prestigia, alguma célula ele não consegue ir porque muitas
vezes coincide com a célula que ele também é líder. E ele também sabe, muitas vezes a
gente compartilha até textos bíblicos, artigos, vídeos de pastores falando sobre o tema pra
direcionar.

5p. Entrevistador: E os membros da célula? Eles também participam nessa definição


da pauta?
5r. Entrevistado: Participam. Nós pegamos assim, é, oito temas sugerido por eles através
de email, nós temos um grupo onde eles compartilham essas ideias. É... E aí dentre esses
oito temas sugeridos, nós dividimos esses temas ao longo das... Próximas semanas. E fora
o encontro da célula a gente sempre faz algum almoço, entendeu? Alguma confraternização
de aniversário de um ou outro. A gente faz questão de também aproveitar esse ambiente, é,
da relação que nós temos com os irmãos formados durante a célula para também elevar
esse... Esse tipo de relacionamento só além dos encontros.

6p. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo pra igreja a existência dos
pequenos grupos?
6r. Entrevistado: Olha, hoje particularmente pelas células que eu tenho conhecimento eu
não vejo. Nós conhecemos muitas igrejas que são formadas, algumas começam com
560

algumas congregações, são formadas a partir de pequenos grupos. Mas não são grupos
contrários a igreja. São grupos contrários a outro templo, né? Acho que a igreja é uma só.
Então eu não vejo um risco, eu acho que a igreja cresce e ganha muito com essa formação.

7p. Entrevistador: Isso que eu queria que você falasse: benefícios que o pequeno grupo
traz?
7r. Entrevistado: É. Eu acho que a igreja tem um sustentáculo muito grande na célula, por
quê? Porque o sistema de célula permite o pastoreio, é... Em irmãos que o pastor muitas
vezes não conseguiria alcançar. Hoje, nossa igreja, são centenas de membros. Então se você
pega aí cinco, seis, sete, oito pastores, você não consegue chegar no momento da
necessidade, no momento do problema na... Membro. E eu entendo que o sistema de célula,
ele trabalha por delegação. E ele tem sempre um feedback. E isso é importante, é, registrar
que muitas vezes a célula não consegue absorver todos os problemas que os irmãos
possuem. Mas se tem o nível de problema que o Espírito Santo através dos membros da
célula consegue tratar ali em célula. De forma que acontece um filtro, onde, nem todos os
problemas chegam num nível de supervisão ou num nível de... Pastorado. Nós já tivemos
caso assim. Tivemos problemas, nós não conseguimos tratar dentro da célula, que era um
problema que tava até, é, dificultando, é, o... Trabalhar outros temas, que tava tendo uma
demanda muito... Outros problemas, que tava tendo uma demanda muito grande. E nós
chegamos a sentar com a supervisão e com a direção da rede justamente pra repassar esse
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problema para um ministério específico da igreja. E isso aconteceu.

8p. Entrevistador: Muito bem. É, gostaria que você ainda me dissesse o seguinte: se
você fosse argumentar com uma pessoa que não está em célula, a favor da célula, que
argumentos você usaria?
8r. Entrevistado : É, eu acho que assim, os pontos principais de estar em célula. Eu acho
que uma ambiência muito boa, uma ambiência estruturada num clima familiar, é, que
permite uma troca de experiência que o cultuar no templo não permite. Permite que você
tenha uma aproximação que o cultuar no templo não permite. E você cria uma relação de
cuidados. Porque, é, o pastor ou responsável da rede pode 'tá orando por todos os membros,
mas só os membros da célula oram por você especificamente pra tratar o seu problema e
você tem ali realmente uma extensão da sua família. Uma extensão da sua família. Nós
temos muitos, é, membros que vieram a compor a nossa célula que veio a esposa primeiro,
gostou, chamou o marido, ele resistiu, hoje ele está muito participante, atuante. Nós temos
visitas que vão uma vez e querem voltar, querem saber como que faz pra continuar. Então,
assim, é um clima que permite essa troca de experiência, permite esse compartilhar muito
mais levemente, muito mais naturalmente, sem o peso, sem julgamento. Isso é importante
destacar, ninguém ali 'tá julgando o problema do outro, porque, é, a partir dos... A começar
pelos líderes, todo mundo tem problema. A começar pelos líderes todos são pecadores.
Então ninguém olha pro outro como indiferente. E como você conhece as pessoas
intimamente, você tem a liberdade de crescer junto. Então eu acho que é um momento, uma
situação propícia pra isso. O cultuar permanece; nós não dispensamos o culto de domingo,
nós não dispensamos os eventos da igreja, retiros, congressos, seminários, curso, mas nós
valorizamos muito mais e cada dia mais o movimento do nosso encontro através de célula.

9p. Entrevistador: Queria que você falasse ainda, pra finalizar, como é que você
caracterizaria a sua igreja hoje?
561

9r. Entrevistado: Olha, eu caracterizaria a minha igreja como... A nossa igreja como uma
igreja voltada para os servos. Voltada para os servos. O cuidado que a igreja tem para com
os membros é uma coisa que eu não consegui enxergar em nenhuma outra igreja. É, desde
o ministério de ensino que tem uma variedade e uma permanência de cursos muito grande.
Eu posso ser exemplo disso, eu já fiz... Antes de casar eu já fiz "Aliança", depois de casar
eu fiz "Homem ao máximo", nós fizemos "Casados para sempre", hoje 'tamo fazendo
"Educando filhos", e nós sabemos que esse curso tem todo ano, várias vezes ao ano. E você
tem obras de ministérios específicos pra cada grupo. Criança, jovens, adolescentes,
casados, né? Liderança, a igreja trabalha muito a liderança com a igreja periódica... Com
encontros periódicos. Então eu entendo que é uma igreja voltada para os seus membros, e
que ela entende que na figura dos membros, na... No conjunto dos membros, no grupo dos
membros está a força da igreja. Lá a base, lá no individual. Se o membro 'tá bem, se o
membro 'tá sendo tratado, a igreja toda 'tá bem, a igreja toda 'tá sendo tratada.

10p. Entrevistador: Muito obrigado.


10r. Entrevistado: Bom

FUNÇÃO: Líder Auxiliar SEXO: Feminino DATA: 12/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
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29 anos Jardim Camburi PIBJC 54

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos, então eu quero solicitar a
você que fale inicialmente sobre a sua experiência com pequeno grupo, com célula.
1r. Entrevistada: Sim. Minha experiência com Pequenos Grupos aconteceu em dois mil e
doze, eu acredito. Foi quando, ainda solteira, eu fui direcionada a uma célula de jovens e
jovens solteiros, e jovens que estavam noivos e enfim. E nessa célula me identifiquei. Antes
frequentava a igreja, mas via que realmente a célula era um ambiente que aproximava mais
as pessoas em razão da quantidade de membros que a igreja possui. Frequentei a célula
durante uns seis meses quando, é, fiquei noiva e aí passei a frequentar a célula de jovens
casais, sem filhos. Então a partir daí eu fiquei um ano em dois mil e treze, nessa célula. Em
dois mil e catorze eu virei auxiliar de célula, e desde então a gente tem desenvolvido um
trabalho muito satisfatório, assim. A gente tem alcançado vidas por meio da célula, a gente
tem a possibilidade de levar convidados, de levar pessoas que não... é, as vezes entram na
igreja... Às vezes a gente tem sorte, né? É, tem muitas pessoas que entram na igreja,
conhecem a Palavra, tem a fé, e saem da igreja, saem alimentadas. Às vezes não. Às vezes
tem pessoas que entram e ainda precisam de um algo mais. Então essas pessoas que
precisam de algo mais, a gente: "ah, já fui naquela igreja", "ah, eu sou de uma célula. Você
quer ir?". Então acaba acontecendo esses encontros. A pessoa se identifica com a igreja e
encontra uma célula. Então aí acaba acontecendo a combinação do... Interesse da pessoa e
da necessidade de uma aproximação, que a gente entende, claro, é muito difícil hoje
pastorear uma igreja com tantos membros. E hoje a célula possibilita muito isso, sabe?
Possibilita, é, nós nos reportarmos aos nossos supervisores, aí os nossos supervisores ao
pastor e aí, a partir de então, eles vão tomando conhecimento de qualquer tipo de problema
que tem na célula, porque não deixa de ter, claro, a gente é, enfrenta batalhas, como
qualquer cristão. E a gente tem essa, a gente respeita muito bem essa hierarquia com relação
a igreja, de que não... De não tentar resolver o problema do irmão sozinho. Eu acredito...
Num momento de... Aflição, momento de batalha espiritual, a igreja participa ativamente
562

nos ministérios de intercessão, enfim. Então esse... O trabalho em célula hoje, a gente serve
a Deus por meio da célula, ele é um trabalho de... É um trabalho que é cansativo às vezes,
porque muitas vezes você está cansado, você tem... Passa por milhares de tribulações
durante o dia, mas você vai à célula porque você é auxiliar, porque você tem que motivar
muitas pessoas, porque as pessoas dependem do seu... Ânimo, do seu testemunho, então a
gente vai à célula. E lá a gente sai renovado.

2p. Entrevistado : Que que mudou na sua vida depois que você passou a frequentar
o Pequeno Grupo?
2r. Entrevistada: O Pequeno Grupo... Ah, depois que a gente passa a... Frequentar a célula,
a gente passa a ter uma... Sempre uma família muito... A todo momento.... A gente precisa
de alguma coisa, lá estão eles. A gente junta em algum lugar vai todo mundo junto. Então,
não que a gente deixe de conviver com as pessoas do mundo, não que a gente deixe de
conviver com a nossa família, mas a gente passa a ter uma nova família. E uma família
muito próxima porque convive toda semana.

3p. Entrevistador: E no seu relacionamento com Deus, mudou alguma coisa?


3r. Entrevistada: No meu relacionamento com Deus muda no sentido de amar ao próximo,
é... Independente de qualquer coisa. De qualquer coisa. Meu relacionamento com Deus me
aproxima mais quando a gente é... Tem que estudar alguns temas, quando a gente é voltado
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a Palavra de Deus. Muito mais, porque a nossa célula, a gente divide os... As partes, né?
Que a gente esta... Que a igreja estabelece na carta. Então quando tem louvor, uma pessoa
escolhe o louvor. Quando tem edificação, a pessoa é responsável por tratar do texto. Então
isso permite a pessoa vir ao culto, ouvir, mas não ficar só em ouvir, e sim buscar mais e
trazer pras pessoas pra compartilhar.

4p. Entrevistador: Pra igreja, o que célula, qual foi a influência da célula na igreja
como um todo?
4r. Entrevistada: Hoje os grupos em célula, eles já se interagem, né? É... Por meio da
supervisão, a gente quando reúne uma supervisão e todas as suas células, eles interagem, e
parece que todos falam a mesma língua. Então eu acredito que na igreja, é... A célula ela
permite isso. A igreja por meio da carta da célula, ela, é, passa todos os informativos, todas
as de... As... É... Os... Compromissos assumidos pela igreja, ah, as propostas que a igreja
tem com relação a campanhas e etc. E a linguagem também muda. A gente consegue falar
com um irmão, é, de uma outra célula como se fosse nossa, mesmo sem tanta intimidade.
Então eu vejo que uma igreja em célula hoje ela ta... Ela traz pra gente uma uniformidade,
sabe? Dentro da casa de Deus. E permite que mesmo com idades diferentes, que a gente
convive com jovens, mas eles vivem... Eles também possuem um trabalho da mesma
Palavra, em cartas diferentes.

5p. Entrevistador: E na celebração tem, a célula tem alguma influência na celebração


de um modo geral? Aquela celebração do domingo?
5r. Entrevistada: É... Na celebração do domingo, é, a gente acaba sendo motivado a vir,
porque a gente participa da... A gente é responsável pela, é... A célula em si, né? Todos os
membros, a gente, eles tem uma escala, então todos tem que vir pra receber e pra poder
participar do encontro que vai acontecer. E da celebração a gente acaba tirando um pouco
mais porque, é, de vez em quando tem um lá desesperado porque, é, sempre aprofunda
563

alguma coisa. E vez ou outra a gente senta no mesmo banco, a gente acaba criando uma
intimidade que... Vai além dos encontros semanais. Acaba sendo assim.

6p. Entrevistador: Além dos encontros semanais que você mencionou...


6r. Entrevistada: Ah.

7p. Entrevistador: Que tipo de cuidado existe entre os membros?


7r. Entrevistada: É hoje existe parceria, é, entre... Os membros. Ah, na última célula, ano
passado, eu participei... A gente teve... Conseguiu dividir, é, precisamente as parcerias,
cada um tinha um parceiro. E aí eles se encontravam independente disso e compartilhavam
o... Momento em que viviam e oravam juntos e enfim. Hoje na nossa célula, é, nós temos
muito recém convertidos. Muitas pessoas que são sedentos de receber e ainda de... Que não
estão tão fortes para cuidar. Então, é, nós em... Concordância com nosso supervisor e
pastor, é, decidimos esse ano em tratar, em... Auxiliar as pessoas no caminho pra... Poderem
ser futuros parceiros daqueles que vi... Que virão. E que já estão chegando, né? Porque
agora a gente 'tá em novembro, chegaram ontem dois membros na célula. Eles foram na
semana retrasada, é... Ela orava muito pro marido ir, e aí o marido foi e ele identificou com
a célula e agora eles são membros da célula. Então esse tipo de coisa assim motiva muito a
gente, porque, é... Nossa, a gente 'tá sendo alvo mesmo, né? Assim, aquele grupinho
pequeno, às vezes dá um desânimo quando alguém falta? Sim, porque todo mundo tem
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compromisso, todo mundo tem suas dificuldades, e a gente acaba ficando um pouco
desanimado quando alguém falta. Mas depois quando junta todo mundo, quando vê esses
resultados das pessoas, é, quererem 'tá junto, de vir pessoas porque se identificam com a
nossa célula, é... Excelente, é trabalho de Deus mesmo.

8p. Entrevistador: Como é que você classificaria a sua igreja hoje?


8r. Entrevistada: A minha igreja hoje eu classifico ela como atuante. Atuante com relação
a todos os... Membros, porque mesmo sendo tão grande e sendo composta de tantas pessoas
eu consigo sentar, se eu agendar com meu pastor ou com qualquer um dos pastores, ele da
minha rede ou com o pastor Juarez, que é o titular, ele sabe aonde eu estou, em que célula
eu estou, em que momento eu estou. Então é uma... É uma igreja que participa diretamente
da vida de seus membros, que ora por eles, né? Então eu vejo que ela tem buscado ser
bastante atuante. E avivada. Avivada.

9p. Entrevistador: Que argumento você usaria pra uma pessoa que não 'tá em célula
pra ela ir pra célula?
9r. Entrevistada: Hoje a gente tem... Orado muito por muitas pessoas que em razão de
alguns cursos, a gente encontra muitas pessoas que não estão em célula. A gente tenta não
ser chato, mas dá testemunho de como é bom viver em célula. "Ah, porque na célula eu fui
e aconteceu isso". "Ah, porque um dia a gente saiu, eu encontrei célula". Porque as pessoas
acham que, é, existe um compromisso muito grande, uma cobrança, 'ta bom só ir no
domingo. Então a gente tenta trazer com um testemunho de... Do dia a dia de que viver em
célula não é nada daquilo que as pessoas constroem. Que é muito mais prazeroso do que se
imagina, né? Porque a ideia de ter um dia da semana, hoje em dia que as pessoas têm um
tempo tão cheio, comprometido com a célula, porque é um compromisso, é... Dá mais um...
Parece que dá um... Passo atrás. Então a gente tenta ir nesse lado. "Ah, porque aconteceu
com a célula, porque foi na célula. Ah, minha amiga da célula". Então isso acaba
despertando as pessoas a visitarem a célula. Com testemunho pessoal.
564

10p. Entrevistador: Que ligação você faz, que relação você faz entre célula e
comunhão?
10r. Entrevistada: Célula e comunhão. A célula permite hoje é... Estarmos é... dividindo
a... Como eu digo? Nós tivemos uma experiência recentemente. A gente 'tá há quatro
semanas pra acabar os encontros em célula, em razão do recesso, permitido pela igreja. E
por conta das festas, né? E aí a gente fez um desafio entre os irmãos e estipulamos temas
pra serem discutidos a cada encontro, nesses próximos quatro. Ontem aconteceu um deles.
Então a gente foi muito abençoado. Tinha irmãos que, é... Não sabiam como... O nosso
objetivo mesmo era trazer os recém convertidos e aqueles que não estão, é, a questão da...
Do posicionamento do cristão, do evangélico diante de vários temas que eles podem ser
abordados pelo mundo. Um deles era bebida alcoólica, se deve ou não ingerir. Então a
gente entra num... Estado de... De discussão saudável, no sentido de "pode isso?" "não
pode aquilo", não. A gente entra numa situação... Numa comunhão de que baseada na
Palavra. A gente discute com base na Palavra. E um em Provérbios, e aí todos estudaram o
texto antes, sobre o... Sobre o que seria falado, e vem... Vieram com preconceitos, mas
saíram com novos conceitos. Frutos do nosso trabalho de... Discussão, de... comunhão na
célula também.

11p. Entrevistador: Ok. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
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11r. Entrevistada: É, eu... Gostaria de falar que eu também via a célula como... Algo que
sobrepesasse. Eu via como um compromisso a mais num mundo que a gente dá tanta...
Perde tanto tempo com tantas coisas, a gente. Eu via como algo que poderia me trazer mais
um compromisso. Mas, é... A célula hoje ela serve como um canal de benção, a gente...
Fala que é mais um ministério, é, paralelo que a gente... Que as pessoas não vêem, mas é
um canal de benção pra muitas pessoas. Na célula a gente ora por milhares de pessoas que
nem imaginam. Na célula a gente se quebranta, a gente ajoelha, a gente comemora
aniversário, a gente celebra vitórias e também chora pelas derrotas. Então viver em célula
acaba sendo um... Como é que se? Um... Algo a mais... Um complemento à vida em... Na
igreja. Um complemento. Exatamente isso.
12p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Líder/Supervisora SEXO: Feminino DATA: 12/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
36 anos Jardim Camburi PIBJC 55

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Então
queria que você começasse falando sobre a sua experiência com Pequenos Grupos,
com Célula.
1r. Entrevistada: Então, quando eu vim pra Jardim Camburi eu não conhecia o Pequeno
Grupo. Eu era solteira ainda e minha primeira célula foi uma célula de jovens. E aí nessa
célula, a primeira sensação que eu tive foi de acolhimento, de novidade, de como
funcionava a dinâmica da célula, os caminhos, as etapas que tinham da célula: o quebra-
gelo, a edificação, a exaltação, o evangelismo. Então era um pouco novo, mas a sensação
de acolhimento.
565

2p. Entrevistador: E você chegou a fazer parte da igreja, ou de uma igreja ou dessa
igreja, sem o Pequeno Grupo?
2r. Entrevistada: Sim.

3p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o Pequeno
Grupo, que tem a Célula, e uma igreja que não tem?
3r. Entrevistada: Então, uma igreja que não tem, apesar de que assim, era uma igreja
pequena, então eu tinha contato, eu tinha pessoas que eu compartilhava a minha vida, eu
tinha relacionamentos próximos de comunhão. Então, é... Na célula você tem muito isso,
você tem a proximidade, você tem o acompanhamento, você tem pessoas que conhecem da
sua vida, que intercedem por você e você por elas. Há uma comunhão mais vivida, se a
gente pode falar assim. Experimentada do que uma igreja que não tem. Mesmo que fosse
uma igreja pequena, porque na célula tem momentos que tem a parceria. Então é uma
pessoa que se torna muito próxima a você, que na outra igreja que não tem célula isso
dificilmente aconteceu, assim.

4p. Entrevistador: Você falou a palavra comunhão.


4r. Entrevistada: Aham.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula e comunhão?


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5r. Entrevistada: A célula, ela favorece, é um meio que favorece uma comunhão mais
experimentada, mais sentida, uma comunhão mais íntima. Uma comunhão, é... Isso mesmo,
mais íntima, muito mais próxima. Eu vejo que a célula é um meio. Ela favorece isso.

6p. Entrevistador: Além de comunhão, de desenvolver comunhão, quais seriam os


outros objetivos da célula?
6r. Entrevistada: Crescimento pessoal, espiritual, é... Amadurecimento como líder, né?
É... Amadurecimento é... De entender o corpo de Cristo, da responsabilidade, do...
Privilégio. Parece que às vezes entender um pouquinho que o pastor as vezes passa, né?
Diante de estar com pessoas, ser responsável por aquelas pessoas. Moldar o crescimento.
Crescimento.

7p. Entrevistador: Qual o impacto da célula, o pequeno grupo, na sua própria vida?
No seu relacionamento com Deus, no seu crescimento?
7r. Entrevistada: Da célula? Então, a célula, ela pra mim ela gera essa proximidade, essa
comunhão. E isso ela meio que gera em mim uma necessidade de ter maior relacionamento
com Deus no meu particular, no meu... Como se gerasse em mim uma necessidade de
estreitar o meu relacionamento com Deus. Que na célula a gente compartilha, a gente ouve
um irmão compartilhar, você compartilha, e aquilo vai gerando em você uma busca por
mais intimidade com o Senhor. Acho que a palavra seria intimidade.

8p. Entrevistador: Como é que acontece o cuidado numa célula? Cuidado mútuo.
8r. Entrevistada: Mútuo? Tem os líderes da célula, dentro das células tem as parcerias, os
discipulados. Então nas parcerias e nos discipulados, é, esse cuidado mútuo fica mais
estreito. Na célula, os momentos da célula. Momentos de compartilhar, o momento de orar
junto, momento, principalmente no final da célula, geralmente quando a gente faz algum
pedido tem a 'cadeira da benção', né? Então ali você... Algum irmão compartilha algo, as
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vezes que a família 'tá passando, ou que ele 'tá passando. Então isso vai gerando em nós
um... "to junto com você".

9p. Entrevistador: Tem espaço no encontro da célula pras pessoas se expressarem


livremente? Como é que funciona isso?
9r. Entrevistada: Tem. Os momentos da... Tem o quebra-gelo, né? Tem a edificação. Na
edificação geralmente a gente fala do assunto que o pastor falou na igreja. Na edificação é
um momento que às vezes as pessoas mais falam delas, né? Esse momento que... Uns falam
mais, outros falam menos. Uns às vezes não falam, mas isso com o tempo acaba falando.
E no final também da célula, quando a gente vai fazer o momento de finalização, de oração,
pedido de oração, momento que a pessoa fala, ora.

10p. Entrevistador: E com as pessoas de fora? Qual a preocupação que a célula tem
com as pessoas de fora da célula, de fora da igreja, com a sociedade de um modo geral?
10r. Entrevistada: Que não são convertidos? Então, a célula às vezes cria ou faz é...
Atividades evangelísticas ou atividades que a gente fala "atos de compaixão" é...
Atividades fora da célula com o objetivo evangelístico, com o objetivo às vezes social. Na
célula a gente tem os oikós, que são pessoas que a gente ora, né? Que são as pessoas que
não são convertidas, então nós oramos por essas pessoas. E quando essa pessoa vem à
célula a gente tenta ao máximo criar meios de relacionamento pra alcançar essa pessoa.
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Aconteceu isso na nossa célula recentemente. Uma colega de trabalho de uma irmã da
célula, a gente já tava orando por ela, ela visitou a nossa célula, o esposo ia afastado, a
gente promoveu um almoço juntos, o esposo foi, e a gente 'tá tentando envolver esse casal
na célula, né? Então oração e atividades sociais. Almoço é... Atividades fora da célula.

11p. Entrevistador: Você vê algum perigo da célula pra igreja?


11r. Entrevistada: Não. Não sei viver sem célula hoje. Não sei. Não sei viver sem célula.

12p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar pra uma pessoa que não tem
célula, a favor dela ir pra célula, que argumentos você utilizaria?
12r. Entrevistada: A célula é um meio pelo qual eu entendo que favorece tudo isso que
eu falei. É... Eu ia compartilhar com essa pessoa o quanto eu cresci, o quanto eu aprendi a
quebrar paradigmas, porque quando eu entrei na célula eu ficava: "não, agora é isso. Agora
é aquilo. Mas por que é isso? Por que é aquilo?". E se eu estava disposta a participar daquele
momento e eu entendia que aquela era a direção pra mim, eu precisava quebrar alguns
paradigmas e entender a direção de Deus pra mim, é... Frequentar aquele lugar. Então eu
falaria que quebrar paradigmas nos possibilita experimentar algo novo de Deus pra nós.

13p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


13r. Entrevistada: Minha igreja? Uma igreja nova. Uma igreja que não tem medo de
experimentar coisas novas. Uma igreja acolhedora, que foi a primeira palavra que eu senti
quando eu comecei a... Vir e me tornar membro. É uma igreja que não tem medo de coisas
novas, é isso. Minha igreja.

14p. Entrevistador: Fala mais um pouquinho sobre essa coragem de experimentar


coisas novas.
14r. Entrevistada: Uma igreja que... Uma igreja que ela busca ouvir a direção de Deus pro
povo que se reúne aqui. Sem medo de às vezes modificar uma coisa que há muito tempo
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era feita, um sofisma as vezes que era, e uma igreja que está disposta com muita cautela,
com muito equilíbrio a entender a direção de Deus. E quando houve essa direção, não há
receio nenhum de obedecer essa direção, né? Então, é uma igreja que parece que está
constantemente querendo entender o algo novo de Deus pra nós, assim. Eu sinto nos
pastores essa busca, essa... Parece que eles 'tão antenados, assim, com o Senhor, no sentido
de "Senhor, qual é a direção pro teu povo?". E diante dessa direção, com muita... Você vê
que os pastores eles passam, assim, depois que eles ouviram, oraram, é, conversaram. Aí
depois eles passam pra gente essa direção. Então, uma disposição, um desprendimento, né?
De entender a direção de Deus pro povo que se reúne aqui. Acho que é isso.

15p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
15r. Entrevistada: Célula pra mim é... Foi um meio, como eu falei, que Deus usou pra
despertar no meu coração coisas que eu não conhecia do Senhor e coisas que eu não
conhecia na profundidade do que é viver em corpo. O que é viver o corpo de Cristo na
profundidade. Eu tinha um, né? Acho que todo mundo que vive em... Corpo e igreja tem
um pouco a sensação do que é viver em corpo. Mas de uma forma profunda, assim, de uma
forma sentida mesmo, vi experimentada, como o pão, né? Que a gente come e água que a
gente bebe mesmo. É isso.

16p. Entrevistador: Muito obrigado.


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FUNÇÃO: Supervisor de célula SEXO: Masculino DATA: 12/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
33 anos Jardim Camburi PIBJC 56

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Então
quero que você fale um pouquinho sobre a sua experiência com os pequenos grupos,
com a célula.
1r. Entrevistado: Eu vim pra Jardim Camburi no final de dois mil e sete. Eu me reunia
numa igreja chamada Igreja em Vitória, na qual eu me converti e lá nós tínhamos a questão
dos pequenos grupos trabalhando através de grupos familiares. E quando eu vim pra Jardim
Camburi em dois mil e sete, eu vim com a mentalidade de que eu já sabia e já conheci e a
primeira experiência que eu tive, né? Foi uma célula com perfil de jovens, né? Jovens
solteiros, né? No qual eu estava inserido, o perfil, né? De... Das pessoas que se reuniam ali.
E basicamente o que eu tive foi um choque, né? Porque a realidade era completamente
diferente, né? Principalmente no aspecto de relacionamentos, né? De profundidade de
relacionamentos, de... De caminhada individual. É... Ia muito além de um estudo bíblico,
ia mais além do que um estudo bíblico, do que um... Um encontro de oração, né? Era além
disso, né? Além da palavra, além de oração. Era realmente um grupo que caminhava junto
no sentido de vida, no sentido de partilhar vida.

2p. Entrevistador: Como isso impactou a sua vida?


2r. Entrevistado: Foi radical. Foi radical porque eu, né? Já... Já era convertido há muito
tempo, caminhava na igreja e já tinha uma experiência em grupos pequenos. Mas foi radical
porque era... Era... Foi muito gritante, ah, essa diferenciação. Hoje eu dou um exemplo e
eu falo que esse perfil de... De célula, ele também favoreceu muito pra isso. Porque eram
basicamente jovens, né? De alguma... De certa forma independentes, é... E grande parte
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deles a família não tava na igreja. E grande percentual ainda desse número a família não
morava na cidade. Então eles... Era um perfil de jovens que a família não convivia, então a
célula era... Era a família. A célula era realmente... Era realmente a família. Então assim,
pra minha vida espiritual, pra minha vida pessoal foi um divisor de águas. Foi um divisor
de águas.

3p. Entrevistador: Como isso influenciou no seu relacionamento com Deus?


3r. Entrevistado: Influenciou muito. Porque você via a forma das pessoas se relacionarem
com Deus, né? E aí o fato de você conviver com essas pessoas, você percebia que era um
estilo de vida e num era somente uma prática, é... Dos encontros, né? Ler a bíblia e orar,
temor a Deus, testemunho, né? A própria... Próprio estilo de vida da pessoa. Não era... Não
era... Se fosse algo que fosse somente dos encontros cairia muito rápido, né? E aí
caminhando com as pessoas, isso... Isso impactou muito a minha vida, meu estilo de vida,
em relação ao relacionamento com Deus, em relação à forma mesmo de caminhar com o
Senhor.

4p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula e comunhão?


4r. Entrevistado: Total. Hoje pra mim, é... Eu vejo que, né? É... É um mecanismo, é uma
ferramenta utilizada pra comunhão. Então hoje inserido em Jardim Camburi, né? E esse
sendo o nosso modelo de... De comunhão, eu vejo que ela é a melhor forma. Porque eu me
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lembro do primeiro domingo que eu cheguei aqui em Jardim Camburi, convidado por um
amigo, e eu vi uma igreja grande que se reunia em três cultos. E nesses três cultos com
pessoas diferentes, né? Então a rotatividade de pessoas. E a primeira pergunta que 'cê faz...
Que eu fazia era a seguinte: você... Eu particularmente crente já, mas vindo de um outro
contexto, de uma igreja lá de quatrocentos, quinhentos membros, de um culto apenas, onde
você conhece grande maioria das pessoas. Você falou bem assim: "poxa, eu nunca vou ser
inserido nesse contexto", né? "Eu nunca vou conseguir me encaixar assim", né? Você lança
aquele pensamento. E a célula é um caminho muito rápido de você chegar num local e
mesmo que você não conheça as mil e seiscentas pessoas, as duas mil pessoas, você sabe
que quinze pessoas te conhecem, que quinze pessoas de alguma forma vão se preocupar
com você, de alguma forma vão caminhar com você. Então isso pra mim foi... Foi muito
importante. É muito importante no sentido de comunhão porque por mais que eu não
conhecesse todo o restante da igreja, aquelas pessoas ali elas eram fundamentais.

5p. Entrevistador: Como acontece o cuidado entre os membros da célula?


5r. Entrevistado: Então, hoje nós 'tamos passando num... Num período que foi... Um
período pós-multiplicação, né? Nós tivemos a célula, a célula multiplicou e agora a gente
'tá iniciando um novo ciclo. Nesse novo ciclo, esse primeiro momento é um momento
bem... É um momento bem de conhecimento, né? Um momento bem de namoro, onde as
pessoas vão se conhecer, vão se identificar, vão criar afinidades e vão criar algum tipo de
relacionamento. Mas ah, ah, o cuidado a gente diz que ele... Ele não pode ser espontâneo.
Ele tem que ser direcionado, né? Então de forma alguma a gente pode deixar por muito
tempo que as pessoas se identifiquem, ou... Ou se... Ou criem afinidades espontaneamente.
"Ah, vou ver se fulano...". Não. Então isso precisa ser muito intencional. A gente percebe
isso. Principalmente pra questão do cuidado com o novo convertido, né? Porque acaba que
fica com aquela visão de que todo mundo 'tá cuidando e ninguém 'tá cuidando. Então esse
direcionamento, né? Por exemplo, hoje nós 'tamos fazendo um metodologia que é: o fato
de ser um grupo novo onde as pessoas não se conhecem ainda, talvez estabelecer encontros
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de discipulado, né? Pra duplas, que pessoas que não se conhecem podem gerar um choque.
Então a gente inicia a princípio com grupos maiores, né? Então grupo... Um grupo de
discipulado de homens e de mulheres. Pra que as pessoas ali, né? Saindo desse grupo...
Do... Do grupo da célula, a gente possa ter outro momento, de orar, de compartilhar algo
mais profundo, né? De um tema mais específico, voltado pra homens e voltado pra
mulheres. E ali desenvolver relacionamentos, né? É... Então a gente 'tá trabalhando nisso
daí, entendendo que precisa ser intencional e direcionado. Precisa ser intencional, né? "Oh,
vai ser tal dia, é... E vai ser com esse propósito". É isso que a gente entende pra... Pra que
possa ter esse cuidado.

6p. Entrevistador: No encontro da célula, que tipo de oportunidade, de espaço tem


as pessoas pra fala, pra compartilhar as experiências?
6r. Entrevistado: Então, a gente gosta de deixar muito claro que a célula, o encontro da
célula num é um culto, né? Por mais que hoje a dinâmica da igreja, ela... Ela acaba trazendo
como palavra, né? Como estudo, né? Pra desenvolver durante a semana a mesma palavra,
né? De uma forma mais detalhada, aprofundada e prática, né? De aplicação na vida, a
palavra do domingo, num é pegar a mesma palavra e fazer um outro sermão e pregar
novamente. E a dinâmica mesmo, ela é de que as pessoas possam interagir, que elas possam
participar, que elas possam realmente se sentir parte de tudo aquilo que 'tá acontecendo,
né? Então a própria escala, ela favorece muito isso, né? É... Da pessoa que vai fazer a
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exaltação, né? Ela trazer uma... Uma música que possa falar daquela palavra ou não, algo
que falou ao coração dela. É... A pessoa que vai fazer o evangelismo, né? Que é o foco de
incentivar as pessoas da célula a evangelizarem outras. Se houver um novo convertido no
ambiente, né? Lançar uma palavra pra aquela pessoa. A pessoa que vai compartilhar a
palavra, né? Que naquela noite não é o pregador, e nem sempre é o líder, né? Mas aquela
noite não é o pregador, ele é um facilitador, né? A ideia mesmo é de que ele possa favorecer
as pessoas a compartilharem. E até mesmo a pessoa que vai fazer... Nós temos uma
edificação de crianças, né? Porque nós temos crianças e a gente sabe que elas também
precisam ser edificadas. A pessoa que vai 'tá fazendo a edificação com as crianças, né?
Naquele momento ali. Então existe essa oportunidade entre várias pessoas aí, pelo menos
quatro pessoas, né? Mas na verdade a ideia é de que todos...

7p. Entrevistador: Tenham espaço pra compartilhar.


7r. Entrevistado: Tenham espaço pra compartilhar.

8p. Entrevistador: As experiências, as dificuldades, não é?


8r. Entrevistado: É. Assim, sempre a gente gosta muito de dizer que num é um... É... Ele
não pode ser um momento monopolizado, né? De alguém querer ali, né? Falar, né? E por
isso que a gente percebe que... A importância do discipulado. Porque se existe uma pessoa
que tem uma necessidade muito grande, e nós tivemos experiências nesse sentido, a pessoa
tem muita necessidade de compartilhar, ela começa a ver aquilo ali como um grupo
terapêutico, né? E aí ela tem a necessidade de compartilhar, ela vai ficar falando, falando,
falando, falando, falando, e aquilo ali às vezes se torna muito desgastante. Muito pesado,
porque a pessoa vai ficar falando ali dez, vinte, trinta minutos, e tal. Então a ideia é de que
ninguém monopolize, todo mundo possa de alguma forma interagir, participar.
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9p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja a existência do pequeno grupo?
9r. Entrevistado: Pastor, eu digo perigo... Num sei se perigo. Mas eu vejo um alerta, é a
formação da liderança. Eu vejo isso que é muito importante. É... Talvez a nesse... Eu vejo
que é algo que é urgente, né? Porque as células elas... Elas têm uma tendência a crescerem,
e a gente sabe que o movimento de crescimento da liderança nem sempre acompanha. Na
maioria das vezes não acompanha. Então você... Nós passamos por um período assim, de
ter uma célula grande, mas de não conseguir, é... Levantar liderança naquele momento, né?
Os líderes, as pessoas que a gente procurou, não demonstraram interesse, tal. Então assim,
eu vejo, um alerta é: de que sempre a... A formação dessa liderança dos auxiliares eles
possam trazer o DNA mesmo da célula, né? Porque se você leva, né? Um DNA de um...
Um líder leva um DNA, por exemplo, é... Diferente da visão, ele pode começar a reproduzir
aquilo que na verdade não é... Não é mais, né? Então eu digo que isso... Isso é muito
importante.

10p. Entrevistador: E que benefícios o pequeno grupo traz pra igreja como um todo?
Pro funcionamento da igreja, pras celebrações, pra organização da igreja?
10r. Entrevistado: Ah, eu acho que hoje, é... E pricipal... Eu não... Não somente numa
igreja pequena, mas assim, vivendo numa igreja, é... Maior, a dinâmica de cuidado das
pessoas, né? Então de poder viver as angústias, de poder viver os problemas menores, de
poder pastorear as pequenas demandas, né? E os pastores, é lógico, também terem
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conhecimento, mas de... De não precisarem trabalhar tanto no... No varejo, né? Sobre...
Sobre essas questões. E a possibilidade do serviço. A possibilidade do incentivo ao serviço,
né? Então você tem condições de oferecer e de treinar as pessoas pra que elas possam, é...
Servir no corpo. Elas possam servir no corpo. Então as pessoas, elas tem a possibilidade de
praticar na célula, né? Talvez ali num grupo onde ela já (é) mais intimidade, treinar, e... E
aí depois pra um grupo maior poderem... A gente tem experiência assim, de líderes, de
pessoas que... Que estão com a gente, caminharam um tempo, muito tempo, não se
identificaram como líderes, mas são excelentes professores de EBD. Eles não são líderes
de célula, mas na célula eles entenderam que eles são professores de EBD. E servem de
uma forma assim, é... E essa identificação surgiu dentro da célula.

11p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


11r. Entrevistado: Eu diria que a Igreja Batista de Jardim Camburi é uma igreja que está,
é... No processo de crescimento em relação à célula, e de aprendizado, é... E aí eu acho que
é... Que é o mais importante. É... Que em diversas áreas, né? Da célula já amadureceu
muito, mas em algumas outras precisa amadurecer muito, principalmente no aspecto de
discipulado. Hoje discipulado é algo que... Que é muito difícil, é muito trabalhoso, é muito,
é... não entrou na mentalidade das pessoas. E a gente percebe que diversas necessidades
que surgem na célula, diversos problemas mesmo que surgem na célula, são por falta de...
De disicpulado. Pessoas que de alguma forma não foram acompanhadas, não foram
discipuladas, e aí continuam de alguma forma, né? Não que o discipulado vai eliminar, né?
Mas normalmente quando a gente percebe e a gente consegue avaliar o histórico, a gente
vê, poxa, é alguém que não tem nenhuma referência, alguém que não foi discipulado. Então
eu vejo que na dinâmica de célula, na dinâmica de alcance, na dinâmica de crescimento,
é... Na dinâmica mesmo da... Da... Das rotinas da célula a Igreja Batista... A Igreja Batista
já conseguiu avançar. É... E tem mesmo a visão da célula como a principal ferramenta. A
principal ferramenta de alcançar pessoas, né? E de expandir o reino de Deus. Eu vejo.
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12p. Entrevistador: Você gostaria de falar um pouquinho mais sobre célula? Alguma
outra coisa?
12r. Entrevistado: Não. Acho que a única coisa que eu falaria, assim, que, é... É
importante, né? É a gente entender a importância da célula. Entender a importância da
célula. Entender que nem todas as pessoas vão... Vão, é... Aderir à célula, né? E isso não
pode ser motivo de frustração. No começo isso pra mim era. Muitas pessoas vão entrar na
célula e não vão se identificar, e vão simplesmente... E nem por isso eu vejo isso como
indicador de sucesso ou de fracasso, né? Indicador de sucesso ou de fracasso. Porque além
de... Além da... Da possibilidade da pessoa retornar, o que a gente percebe muito, né? As
pessoas que vem, caminham e de alguma forma ficam de fora observando. E aí começam
a observar as pessoas que continuaram, né? Os frutos que dão, né? No casamento e outras
áreas. Essa pessoas voltam, né? Arrependidas do tempo que perderam, e isso pra gente é
o... É o mais... Claro, né? Desde dois mil e oito caminhando, então a gente percebe algumas
pessoas que lá atrás, em dois mil e oito falaram: "poxa, não, tal. Eu to trabalhando, eu num
quero". E aí hoje voltam e falam: "poxa, quanto tempo eu perdi. Se eu tivesse aqui eu não
teria vivido isso no meu casamento, não teria vivido isso, e tal". E aí começam a enxergar
a célula não como um compromisso semanal, não como peso, não como... Então essa...
essa é sempre a palavra que eu deixo, né? De que nem todo mundo vai aderir, mas se isso
'tá no coração, se isso 'tá com um propósito, continuar caminhando na visão.
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13p. Entrevistador: Muito obrigado.


13r. Entrevistado: Nada.

FUNÇÃO: Supervisora SEXO: Feminino DATA: 13/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
59 anos Jardim Camburi PIBJC 57

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre Pequenos Grupos. Queria que você
falasse sobre a sua experiência com Célula, com Pequeno Grupo.
1r. Entrevistada: A minha experiência já vai pra uns quinze anos, quando a igreja propôs
caminhar desta forma. Então fomos a... Fizemos todo o treinamento desde o início e temos
caminhado já fui supervisora, hoje sou supervisora. Já fui líder de célula. E o que eu posso
dizer é que eu tenho uma vida nova. A partir do momento que eu comecei a conviver, já
passei por várias células, já tive experiência com muitas pessoas, centenas de pessoas, eu
posso dizer. E houve um crescimento espiritual muito grande, né? Um envolvimento maior
com as pessoas. É, fica mensurável a questão do ajudar, do servir. Porque uma coisa que a
gente... Que me deixava muito frustrada em relação à igreja é a questão de: como servir?
Como ajudar as pessoas? No Pequeno Grupo você conhece, porque é... Encontrando com
a pessoa toda semana, mesmo que exista máscara, elas vão por terra. Mesmo que a pessoa
não consiga ver isso, mas a gente que... Está junto, convivendo toda semana, a gente tem
oportunidade de perceber o que realmente está acontecendo com aquela pessoa, né? E a
ajuda ali é mútua. Não é... Sou eu que vou ajudar. O grupo se une pra ajudar. Porque a
gente se torna uma família. Nove meses é o período de convivência, né? A proposta é esta,
a gente começa com cinco pessoas e convivemos ali entre nove meses, um ano. Depois é
preciso multiplicar. Se não houver um líder pra multiplicar, a gente precisa fazer uma
reengenharia. Porque senão começa a virar um... Grupinho assim sem objetivo, sabe? Aí a
gente começa a trazer pra aquele grupo as nossas manias de novo.
572

2p. Entrevistador: Muito bem. E na igreja? Você fez parte da igreja sem o pequeno
grupo, sem a célula?
2r. Entrevistada: Sim.

3p. Entrevistador: E agora faz parte da igreja com as células?


3r. Entrevistada: Sim.

4p. Entrevistador: O que mudou na igreja depois da célula?


4r. Entrevistada: Intimidade. Intimidade e a questão de realmente poder servir, ajudar, se
envolver, poder acompanhar. Conhecer intimamente a pessoa, porque a gente se
encontrava, isso aí, nossa. Eu tinha muitos conhecidos na igreja, mas eu não tinha amigos.
No pequeno grupo você faz amigos. Pessoas que muitas vezes você percebe que são
impossíveis de se... Conviver, porque são chatas, porque são pessoas que estão sempre
malhando mesmo o ferro da reclamação, da falta de perseverança, do "eu não posso". Sabe
aquelas coisas difíceis de carregar? Murmuração. Você aprende a conhecer essa pessoa.
Você aprende a amar essa pessoa e você vê que Deus te dá instrumento e autoridade pra
falar com aquela pessoa, coisa que no todo da igreja eu as vezes não tinha coragem. Eu
percebia o que estava acontecendo com você, mas eu não tinha coragem de dizer a você o
que eu percebia a seu respeito. Eu não tinha ambiente. Eu não tinha nem autoridade, eu não
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tinha intimidade pra isso. No pequeno grupo não. No pequeno grupo é um mês, dois meses,
três meses, chega um dia que a gente fala e há apoio. Eu sou apoiada no que eu falo, porque
todo mundo percebeu também. Então aquela pessoa, ela não se sente intimidada. Ela
percebe que ela está sendo ajudada.

5p. Entrevistador: E qual a repercussão disso na igreja propriamente dita?


5r. Entrevistada: Eu vejo que é muito difícil. As pessoas são individualistas, as pessoas
muitas vezes, elas querem que você resolva os problemas delas, mas elas não querem se
envolver pra resolver, né? Então é um trabalho a conta gotas. É um trabalho demorado.
Mas ele é perene. Ele causa transformação. Não só mudança, mas transformação na vida
da pessoa.

6p. Entrevistador: E essas mudanças, essas transformações, elas são sentidas no


âmbito, por exemplo, da celebração, na estrutura da igreja? Como é que a igreja, qual
o impacto que as células trouxeram pro modo de ser igreja? Como funciona a igreja,
em termos estruturais?
6r. Entrevistada: Primeiro que eu vejo uma grande mudança na questão de levantar
liderança, né? Eu sei que nós estamos muito aquém daquilo que poderíamos, mas a gente
vê que o que a gente conquistou até agora são coisas que é... São... Serão permanentes, né?
Então o impacto maior que eu vejo é a quantidade de pastores que nós temos hoje na igreja,
né? Pessoas que são respeitadas, pessoas que aprendem... Que aprenderam a tomar
decisões, pessoas que, é... Que cuidam. Não só aqueles pastores que tem título, né? Hoje
nós temos muito mais do que cem... Uns cento e vinte, cento e cinquenta líderes na igreja,
que são pastores. Aqui na nossa igreja, no dia do pastor, segundo domingo de junho 708, num

708
No segundo domingo do mês de Junho as Igrejas Batistas do Brasil inteiro celebram o “dia do
pastor”. Neste dia os pastores são homenageados, recebem presentes e são reconhecidos como
liderança relevante na comunidade. A Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi incluiu os líderes
573

são só os pastores nominais que são homenageados. Mas os líderes de célula, os


supervisores, eles são contados como pastores, eles são pastores.

7p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja a existência do pequeno grupo?
7r. Entrevistada: Não. Eu não consigo perceber. Eu creio que se precisa ter muita
coragem. Porque você não pode estar presente em todos os grupos ao mesmo tempo. Você
não tem como controlar muitas coisas. Você precisa, é, ensinar, né? Você precisa doutrinar
a igreja e dar a ela liberdade de ser igreja. E isso é um risco. Um risco que a gente precisa
correr se a gente quiser ver a igreja amadurecer, crescer.

8p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula trouxe pra igreja?


8r. Entrevistada: Eu penso, pastor, que um dos maiores benefícios é o cuidado que cada
pessoa tem. Que às vezes um pastor, dois, três, quatro, não teria condições de dar. Hoje as
pessoas adoecem, quem faz parte de uma célula, se ela adoecer, ela vai ser cuidada, ela vai
receber visita. Se ela precisa de apoio financeiro, ela vai ter esse apoio financeiro. E às
vezes o pastor nem sabe disso. E ela não sente falta do pastor. Porque ela... O que ela precisa
ela 'tá recebendo. Então o benefício que eu vejo é que as pessoas são cuidadas na
necessidade dela, né?

9p. Entrevistador: Como você relaciona célula com comunhão?


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9r. Entrevistada: Célula com comunhão? Comunhão que o senhor fala, é o que? Quando
o senhor me fala sobre comunhão.

10p. Entrevistador: Comunhão entre as pessoas no próprio pequeno grupo e


comunhão em termos de igreja.
10r. Entrevistada: Eu vejo um avanço na nossa igreja muito grande. Até no que diz
respeito à participação na celebração. As nossas celebrações são muito mais vivas,
aconchegantes. Por quê? Porque a maioria das pessoas ali, elas não estão sozinhas. Elas
têm alguém que elas conhecem. Então quando elas estão ali adorando a Deus, elas não
estão adorando a Deus sozinhas, elas tem alguém do lado. Então é um corpo. A gente vê
que a nossa comunhão é uma comunhão de corpo mesmo. Porque nós temos, e nós somos
identificados e identificamos as pessoas. E isso eu vejo que é o que nós precisamos como
pessoas. É perceber que a gente faz parte, que alguém me conhece, alguém sabe o que
acontece na minha casa. Eu posso aqui 'tá adorando a Deus, mas tem gente aqui que sabe
quem eu realmente sou, as minhas dificuldades, os meus problemas, as minhas limitações,
as minha lutas, mas estamos aqui hoje, agora, nesse momento pra adorar a Deus, e eu tenho
liberdade pra isso. Porque eu não estou escondendo as coisas, alguém ali, algumas pessoas
me conhecem.

11p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


11r. Entrevistada: Como eu descreveria? Antes eu tinha muita dificuldade de cantar
aquele cântico que nós cantamos domingo passado, que fala justamente sobre a comunhão.
É... "Você, meu amigo".... Agora eu não estou me lembrando, mas foi algo que aconteceu
no domingo passado. Um cântico que fala justamente sobre isso. Eu perceber que nós
somos irmãos, que nós somos amigos. Cantar aquilo pra mim era muito difícil. Porque eu

de célula nestas homenagens, reconhecendo a dimensão pastoral do seu trabalho enquanto líderes
de células.
574

olhava pro lado e via muita gente que eu conhecia, mas eu não tinha intimidade com elas.
Hoje eu vejo que nós cantamos isso verdadeiramente, né? Estamos ainda, sabe pastor? Nós
não... Alcançamos ainda o objetivo, assim, perene, né? Aquilo que realmente é o ideal, mas
estamos indo, nós estamos no caminho.

12p. Entrevistador: Ok.


12r. Entrevistada: Eu vejo uma igreja, assim, muito, é, calorosa, amiga. Uma igreja que
tem liberdade de expressar, né? Uma igreja viva. Uma igreja viva. E é interessante que
amigos nossos que são de outras igrejas, que vem aqui, depois a gente... Visitantes, né? A
gente, depois, conversando e tal, eles conseguem perceber isso. E eu percebo isso quando
eu visito outras igrejas. Falta isso. Falta isso, né? Aquela... Essa intimidade, essa... Não sei,
esse calor.

13p. Entrevistador: Você entende então que a célula, o pequeno grupo contribuiu...
13r. Entrevistada: Contribui, com certeza.

14p. Entrevistador: Pra se chegar a esse ambiente aqui na igreja?


14r. Entrevistada: É. Até aprender a recepcionar os outros, né? Porque se você não
aprende a... Se... A ter intimidade não... Em algum lugar daquele corpo, quando chega
alguém você fica meio travado pra chegar, cumprimentar, né? Acolher. Então eu vejo que
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o pequeno grupo está nos dando isso também, essa mais... Essa leveza, né? Pra acolher os
novos.

15p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar pra uma pessoa que não 'tá em
célula, pra que ela fosse pra célula, o que que você diria pra ela?
15r. Entrevistada: Eu diria pra ela... Bom, eu diria pra ela que se ela quiser crescer, se ela
quiser conhecer e ser conhecida, se ela quiser ser amada, se ela quiser ter, é, intimidade
com outras pessoas, se ela quiser aprender a fazer o que Jesus nos orientou fazer, em termos
de mutualidade, né? Uns aos outros. O pequeno grupo é o melhor lugar pra ela desenvolver
isso. O pequeno grupo é que vai dar a ela essa liberdade de florescer. A gente percebe que
tem pessoas que não conseguem tocar um instrumento lá na frente, mas elas fazem isso
muito bem e se sentem gratificadas no pequeno grupo. Se sentem apoiadas, né? É... Ela não
consegue orar num grupo maior, mas ali ela ora com tranquilidade, né? Ela... Consegue
edificar, receber a edificação, né? A exortação. Então eu vejo que é o melhor lugar pra você
desenvolver a sua vida espiritual.

16p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


16r. Entrevistada: Eu quero... Eu penso, pastor, é que não é fácil. É... É um grande desafio.
Mas eu não consigo me ver fora disso. Eu vejo o quanto que isso tem sido importante pros
meus filhos, né? O quanto que isso tem sido importante pra nós como família, e eu teria
dificuldade em participar de uma outra igreja. Mas se eu tiver um dia que sair daqui pra ir
pra um outro lugar e frequentar uma outra igreja, eu iria conversar com meu pastor pra eu
começar um pequeno grupo na minha casa. Eu pediria a ele pra eu convidar os meus
vizinhos. Eu num ia querer que fossem pessoas crentes já. Não. Eu ia começar a convidar
os meus vizinhos, que é o que hoje a gente tem sido incentivado a fazer, né? Convidar os
meus vizinhos de pré... Do prédio pra orar lá em casa. E aí as necessidades nossas são
colocadas na mesa e a gente ora, fala com Deus aquilo que é a nossa necessidade. Não tem
coisa melhor do que isso.
575

17p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 13/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
33 anos Jardim Camburi PIBJC 58

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Queria
que você falasse pra mim sobre a sua experiência com pequeno grupo, com a célula.
1r. Entrevistada: Bem, quando eu vim pra cá a primeira vez, pra Igreja Batista de Jardim
Camburi, foi em dois mil e dez. E aí no primeiro dia na verdade que eu consegui assisti o
culto, eu preenchi o cartãozinho, e na segunda-feira alguém fez contato comigo, né? Que
hoje é a minha supervisora, na época a líder da célula. E aí ela me convidou pra ir à célula.
Eu prontamente aceitei o convite. E aquilo passou ser algo tão necessário na minha vida,
que eu cresci muito espiritualmente através da célula. Então eu acho a célula fundamental.
Porque essa história de só igreja dia de domingo. Até porque eu sei que isso não torna
ninguém mais cristão, né? O fato de você ir só a igreja no domingo. Então a célula foi um
divisor de águas na minha vida, e eu cresci muito, porque você... É o momento de você,
não somente interagir com os demais irmãos, onde você cresce, onde é um espaço onde
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você pode despojar, você pode falar, você tem duvidas você consegue ouvir, porque durante
a igreja, a igreja é grande, o pastor ministra somente e nós somos só ouvintes naquele
momento, né? Diferente do ambiente da célula, onde as pessoas interagem.

2p. Entrevistador: O que mudou na sua vida depois de célula?


2r. Entrevistada: Olha! Espiritualmente tudo. Porque eu comecei a construir um
relacionamento com Deus, né? Quando a gente o adora e a gente casa com ele
verdadeiramente, né? Então a minha vida não dá pra ler a Bíblia de vez em quando, pra
orar quando tem vontade, é um com... É um relacionamento que você constrói. Então a
célula, por isso que eu digo que foi um divisor, porque me ajudou a construir esse
relacionamento que outrora eu não tinha com Deus, entendeu?

3p. Entrevistador: E na igreja, o que você viu de mudança na igreja depois de célula?
3r. Entrevistada: Bem, quando eu vim pra cá a igreja já funcionava em célula, então eu
não consigo te dizer como era anterior.

4p. Entrevistador: Mas você fez parte de uma outra igreja, antes de vim pra cá?
4r. Entrevistada: Eu, assim, na verdade eu frequentava uma igreja em _____, aí eu vim
estudar em Vitória em dois mil e seis. Aí nesse meio tempo eu me batizei lá, só que eu
ficava assim, eu não tinha um... Uma igreja fixa que eu frequentava, e nem eu tinha um
compromisso na verdade, né? Eu era convencida e não convertida. Como muitos estão por
aí. Então eu não tinha um relacionamento com Deus, não tinha um compromisso. E aí
quando eu vim pra cá, pra Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi, foi quando realmente,
né? Eu comecei a...

5p. Entrevistador: Mas lá na igreja onde você se batizou tinha células?


5r. Entrevistada: Lá teve o grupo pequeno, que é chamado de grupo pequeno.
576

6p. Entrevistador: É.
6r. Entrevistada: Mas lá eu não participava de nenhum grupo. Porque no período que eu
me batizei eu já estava morando aqui, estudando aqui.

7p. Entrevistador: Como você relaciona pequeno grupo com comunhão?


7r. Entrevistada: Tudo. Porque, é como a Palavra de Deus fala no Salmo cento e trinta e
três, né? "Quão bom e quão suave que os irmãos vivam em união". Então aquele momento
ali há unidade, porque ninguém é mais que ninguém, nós estamos ali pra edificar uns aos
outros e pra crescermos juntos, né? E a ponto de outras pessoas falarem: "como você
cresceu, né? Você chegou na célula aqui totalmente perdida", assim porque eu não sabia
qual era o propósito, aí eu fiz tudo... Todo os pré-requisitos fiz o ABC 709 da célula, né? E
não faltava nenhum encontro, somente em casos extremos de trabalho, porque pra mim era
vital na minha vida, fazia parte da minha... Dos meus compromissos. Exceto quando eu
comecei estudar quinzenalmente, fazia pós, que aí eu já não ia toda semana, mas é isso.

8p. Entrevistador: Como é que o grupo cuida um do outro? Como é que as pessoas,
como é que acontece o cuidado dentro da célula?
8r. Entrevistada: Bem, o cuidado tem a questão de afinidade como a gente sabe, de um
modo geral na sociedade como existe, e a questão do discipulado. Então na verdade a célula
que eu fui tinha mais pessoas mais velhas e casais. Pessoas mais de idade mesmo, né? Já
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vovôs e vovós. Mas eu como sempre me adaptei a qualquer grupo de qualquer idade, e...
Eu fui discipulada por uma senhora já de... Né? E nós tínhamos um vínculo muito forte,
né? Temos até hoje, né? Então essa... Comunhão, esse cuidado foi muito importante pra
minha vida, essa... Questão de... Eu lembro que eu chegava pro discipulado e ela tava me
esperando com café, com bolinho, então assim, era... Um cuidado mesmo, entendeu? Que
ela sabia que eu vinha do trabalho, então a preocupação não era somente com o alimento
espiritual, mas ela tinha essa preocupação de mãe, esse cuidado mesmo, né? Então isso aí
eu...

9p. Entrevistador : A célula, o grupo, se preocupa com a sociedade lá fora, as pessoas


que não estão na célula, que não estão na igreja? Tem alguma preocupação nesse
sentido?
9r. Entrevistada: Sim. Temos. Porque pra isso que nós temos os oikós, que nós chamamos,
que são aquelas pessoas que nós queremos ganhar pra Cristo, que nós... Mesmo não estando
na igreja, sendo pessoas do nosso relacionamento, que nós conhecemos, que nós oramos e
intercedemos por elas pra que um dia elas sejam alcançadas, né? Porque não
necessariamente vai ser através de nós, mas como diz a Palavra: "uns plantam, outros
colhem", né? Uns regam e outros colhem.

10p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja a existência do pequeno grupo?
10r. Entrevistada: De modo algum. Eu vejo uma contribuição positiva.

11p. Entrevistador: Que contribuição?

709
Trata-se de um curso de preparação para pessoas que já fazem parte de uma Igreja Evangélica
para irem para uma célula. A PIBJC entende que este curso de preparação é fundamental para que
a pessoa possa entender melhor o que é uma célula, seus propósitos, dinâmica, valores, etc.
577

11r. Entrevistada: A unidade e o crescimento espiritual. A mutualidade, né? Porque as


pessoas não ficam é... Imagine que você, como já aconteceu no meu caso, de você ir numa
igreja, e você entrar e você sair e ninguém nem te conhecer. Você já ir e se sentir assim...
Não se sentir acolhido. Então a célula, ela tem esse papel de acolher, porque uma coisa é
você aceitar a Jesus, e você num ter um acompanhamento. E a célula existe justamente pra
isso, né? Porque dúvida vai ter, como eu já tive, e aí você vai crescendo, você vai
aprendendo, você vai buscando também, porque tem que ter o interesse da parte daquela
pessoa que tem... Que quer crescer, né? E quando ela tem alguém pra ajudar, isso é
extremamente fundamental.

12p. Entrevistador : Se você tivesse que argumentar com uma pessoa que está na
igreja mas não está em célula. Se tivesse que argumentar pra ela com relação à célula,
que argumento você usaria?
12r. Entrevistada: Bem, que a célula é lugar de comunhão, mas o foco da célula é Jesus.
Jesus é o centro da célula. A célula não é lugar de entretenimento, não é lugar que a gente
vai se ver, enfim. O centro da célula é Jesus. E através dele que a gente cresce, somente
através dele que a nossa vida vai mudar. Sem ele...

13p. Entrevistador: Como é que você descreveria sua igreja hoje?


13r. Entrevistada: A minha igreja, a igreja que eu congrego?
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14p. Entrevistador: Isso.


14r. Entrevistada: É, uma igreja acolhedora. Que cuida, que discipula e que Deus tem
feito grandes coisas e eu creio que ainda vai fazer muito mais. E eu amo essa igreja.

15p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
15r. Entrevistada: Bem, só acrescentar que é, hoje, por exemplo, não... Falar do meu
grupo. O que eu sempre tenho orado pra Deus é que as pessoas é... Tenham esse
despertamento. E eu tenho visto o crescimento das pessoas, que chegam de um jeito, e na
medida em que a gente vai orando, que você vê que as pessoas vão crescendo, você vai
atribuindo no tempo certo tarefa pra elas e elas vão criando responsabilidade, e elas vão
buscando mais e aí você de repente a pessoa conduzindo um momento de evangelismo é...
Com tanta naturalidade, que aquilo, você fala: é Deus trabalhando mesmo. Então como
dizer que a célula não é importante? Se a pessoa... Inclusive na minha vida. Eu mesmo que
fiz jornalismo, eu tinha muita dificuldade em falar. E a célula foi assim, algo que veio, é...
Mudar minha vida nesse sentido, que eu tinha muita dificuldade de falar em público, de me
expressar assim num grupo, né? De um modo geral, se eu tivesse que contextualizar alguma
coisa. E hoje eu pego, só passo o olho no que tiver que falar e é a coisa mais natural pra
mim. E Deus foi trabalhando isso em mim também, então sem dúvida isso ajuda muito
também as pessoas.

16p. Entrevistador: Muito obrigado.


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FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 14/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
51 anos Jardim Camburi PIBJC 59

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Eu
queria que você falasse um pouquinho sobre a sua experiência com célula, a sua
experiência com pequeno grupo.
1r. Entrevistada: A minha experiência com pequeno grupo tem sido, assim, maravilhosa,
né? Eu venho de _______eu sou de ________eu era de uma igreja lá,________________.
E lá não era igreja em célula, mas era uma igreja abençoada. Muito... Na época pastor
_______, depois pastor _______. E quando eu vim pra Vitória, né? Por conta da vida
profissional, mas tudo que eu tenho passado na célula, eu vejo que não foi só
profissionalmente que Deus quis me trazer. Ele quis, ah... Na minha vida, usar minha vida
pra muitas coisas, eu estou à disposição dele. E eu vim pra igreja, fui de uma célula, e gostei
muito da experiência, né? E quando eu fui chamada, tocada pelo Espírito Santo de Deus
pra assumir uma célula, eu fiquei meio assustada, por que... Não porque eu não gostaria,
nem nada, mas eu tinha uma... Vida muito corrida, né? Porque eu sou gerente de uma
instituição, viajo, essas coisas todas. E pedi a Deus que me... orientasse e Deus falou
comigo, né? Bem lindo assim, "pode aceitar", e aceitei. E ele tirou todas as viagens imensas,
então a minha experiência em célula tem sido... Tá... Tem sido, assim, um... Modo de ver
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minha vida muito especial. Posso dizer que hoje eu acho que eu não me adaptaria a uma
igreja que não fosse em célula, né?

2p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre um a igreja que tenha o
pequeno grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
2r. Entrevistada: Ah, eu acho que o cuidado, a... O entrosamento, aquele alvoroço santo,
né? A minha... A célula que Deus me deu, né? Porque eu sou líder de célula e ele que é o
dono da célula, ela já multiplicou, nós estamos há quatro anos, né? Eu acho que eu sou líder
de célula acho que a um tempo desse... Ela já multiplicou... Vai multiplicar agora a terceira
vez, né? E ela... A... a primeira célula que multiplicou nossa, já multiplicou. Então quer
dizer, a gente fala que a célula _________ já tem até netos, né? Eu acho assim, que o
cuidado, o amar, o cuidar, e a gente tem, assim, é, depende de cada líder. O meu jeito de
liderar é um jeito em amor, de cuidado e de... Sabe? De todas essas coisas. Temos muito
direcionamentos da igreja. É, a gente pode dizer que, é... As células também dão certo
quando a igreja é uma igreja que está junto com a gente, que nos orienta, que faz questão
do aperfeiçoamento dos seus líderes. Do... Não só dos líderes, mas tudo que eles vêm
fazendo na igreja para também os liderados, então eu falo sempre que não evolui na
presença do Senhor, espiritualmente, quem não quer, quem não se entrega. Pra mim é uma
experiência assim abençoadora na minha vida.

3p. Entrevistador: O que mudou na sua visão de igreja, seu relacionamento com
Deus, a partir da célula?
3r. Entrevistada: Intimidade, muito mais intimidade. E, assim, eu sempre, lá atrás, eu
sempre. Eu sou __________ antes eu queria fazer _______. Só que a minha tia não deixou,
que falou que eu ia chorar muito. Porque eu sempre gostei de cuidar de pessoas, né? E lá
quando... Porque eu sou convertida há dez anos... Dez, onze anos e lá atrás, quando eu
579

ainda eu era da Igreja Católica, eu já falava com Deus assim: "Senhor...". Sem entender
esse Deus, que eu não conhecia esse Deus maravilhoso, mas eu falava assim: "eu quero
alguma coisa na igreja de cuidar". E a gente sabe que tudo é momento, propósito de Deus.
Então nesse momento eu estou a frente da célula e eu... Mudou... Tudo assim. Eu acho que
o... Existe uma canção que fala que "o Senhor é o meu respirar". A célula pra mim, o Senhor
é isso.

4p. Entrevistador: Como acontece esse cuidado na célula?


4r. Entrevistada: Oh, assim... Eu vou contar a minha experiência, né? Eu... A gente tem
muito... A célula acontece às... A nossa às quartas-feiras. A nossa célula é uma célula de
muita oração e de muita social também, então a gente 'tá muito junto, e é... Ouve um irmão
ou mesmo quando você não ouve, você sente, né? Porque Deus te mostra. Pedi muito a
direção de Deus: "Senhor, me mostra o que a célula 'tá precisando". E se despojar. Eu tenho
uma vida muito, muito corrida. Trabalho o dia todo, muita coisa... Mas em primeiro lugar
está o cuidado com o irmão. Então assim, às vezes até um abraço. Hoje pela manhã mesmo
eu recebi um torpedo de uma irmão... Uma irmã daqui da célula, angustiada pelos pesadelos
que ela 'tá tendo. Aí nós oramos. Oramos por telefone. E logo em seguida o irmão dela, é,
passou um texto pra ela que foi a confirmação de que, ela batizou agora, então ela, né? O
inimigo fica furioso, mas ela vai firme porque Deus já falou ao meu coração e creio que no
coração dela também, grandiosas coisas que vai fazer através da vida dela. Então, assim, o
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cuidar, né? É se importar, é o abraço. Às vezes você saber que aquele irmão ali 'tá sorrindo,
mas ele precisa de cuidado. Então... E não só o cuidado... Nós... É interessante a célula, que
eu acho assim, nós líderes precisamos cuidar dos liderados. Mas os liderados cuidam de...
Da gente. Eu... Não tenho nenhum problema em chegar à célula e falar assim: "hoje eu não
estou bem, eu preciso do cuidado dos irmãos". Além desse cuidado, eu tenho uma
experiência muito interessante. Eu fiz cinquenta anos ano passado e resolvi fazer uma
reuniãozinha para a... Assim, dá meu testemunho de vida, porque eu tenho muitos
testemunhos de vida pra dar, o que Deus tem feito na minha vida, na minha família. E eu
quis fazer uma coisa pequenininha. Mas quando a gente fala: "Senhor, tudo é pro Senhor",
né? E a gente se despoja e Deus me fez fazer uma coisa grandiosa. E eu via os meus os
meus irmãos da célula, o cuidado comigo, o carinho. Então isso também faz muita
diferença. Eu acho que a igreja em célula é... Todas as igrejas pra mim precisavam ser em
célula. Porque o pastor não dá conta de todo mundo, né? E às vezes um irmão, alguma
coisa, fica na igreja triste porque o pastor não falou direito com ele. São muitas pessoas.
Então eu acho assim que a célula é primordial pro coração da igreja. O Senhor, junto com
a célula, eu acho que essa ideia é muito boa.

5p. Entrevistador: Que espaço os membros da célula tem nos encontros, por exemplo,
pra compartilhar a vida deles?
5r. Entrevistado: É, a gente tem um espaço interessante, por quê? Porque nós nos
tornamos um, né? Somos um. E nós temos, assim, a nossa confiança um no outro de
realmente abrir o coração. Então na célula ______nós não temos esse... Não temos esse
problema de 'vai sair daqui'. Existe o pacto da célula, né? Mas pra falar a verdade esse ano,
dois mil e catorze, nós nem fizemos o pacto da célula. O pacto é com Deus, nós sabemos
as coisas que podemos ali compartilhar, e existe... Aí a gente fica muito a vontade. Em
contrapartida disso existem os discipulados, né? Então quando a célula 'tá sendo um
discipulando o outro, e 'tá tudo correndo bem, então existe aquela parceria, o que eu acho
também muito importante, porque quando a igreja não é em célula fica uma coisa muito
580

ampla. Tem a parte da... Escola bíblica, ok. Mas tem coisas que você quer compartilhar. E
às vezes no discipulado que são os livrinhos, na nossa igreja é assim. Naquele dia às vezes
você nem usa o livrinho, mas você compartilha com o irmão. Você ora, você chora, você...
Então assim, é uma experiência... Eu vou falar a verdade que cada dia mais eu me
surpreendo, né? Nossa célula vai multiplicar agora esse ano, e é tão legal vê assim, já líder
pronto, um líder pronto pra agora essa célula, mas Deus já tinha me dado visão e aí eu
preparei um outro líder. Então as células vão com dois líderes, já visualizando um líder pra
ficar comigo pra dois mil e quinze. Então assim, é um alvoroço santo que vale a pena viver.

6p. Entrevistador: Como é que surgem essas lideranças?


6r. Entrevistada: É eu vou... Minha experiência foi toque do Senhor, né? Eu me... Nunca,
né? Às vezes, não sei... Tem pessoas que querem por que: "oh, eu sou líder", e tal. Na minha
vida foi, é, com muita simplicidade, porque eu sempre falo que a célula é do Senhor, eu
tenho muita humildade no meu coração, não quero nunca ser mais que nada. A minha...
Como surgiu a liderança foi: eu estava em célula e aí eu fiquei mais ou menos assim, uma
semana me sentindo muito... Tendo sonhos, mas eu não... Eu fiquei até meio atordoada
porque eu, né? E foi um apelo dum pastor missionário uma vez fez aqui, mas eu ainda não
tava pensando... E no apelo eu fui à frente. Fui a única da igreja que fui. E eu falei: "meu
Deus, fico envergonhada", sei lá, que a gente fica meio sem graça. E aí nesse dia em que
foi feito o apelo de quem gostaria... Entregando sua vida na liderança de célula, eu não fui
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eu que levantei. Acho que o Espírito Santo de Deus me levantou. Mas eu lembro que
naquela noite eu já cheguei muito tocada. E qualquer coisa que falavam comigo naquela
noite, coisas... Eu me emocionava, eu não entendia. Então comigo foi assim. Eu tenho... Eu
creio que na vida, assim, na minha experiência foi o toque do Espírito Santo de Deus.

7p. Entrevistador: E essas outras lideranças, elas surgem dentro da própria célula?
Como é que elas são treinadas?
7r. Entrevistada: Ah, sim. Dentro da própria célula, né? Ali... Tem um grupo e aí em
oração, o líder em oração, né? Deus vai mostrando o potencial de cada um. Todo mundo,
cada um tem um dom. E aí você começa a orar, né? E verificar e conversar com a pessoa e
às vezes a pessoa... Quase sempre assim, né? Eu, né? E aí vamos orar, vamos... Pra Deus
confirmar. A liderança surge de dentro da célula mesmo.

8p. Entrevistador: Não vem de cima pra baixo, mas surge na própria célula.
8r. Entrevistada: Não, na própria célula.

9p. Entrevistador: E aí ela é capacitada.


9r. Entrevistada: Ela é capacitada, a igreja... Tem... Nós temos o curso de liderança. Nós
temos também as reuniões mensais. Nós temos depois reunião com supervisor. Nós todos
temos o amparo que precisa, não há problema nenhum. Agora as lideranças surgem dentro
das células. E a gente ora muito, né? Todo tempo, começa o ano a gente já 'tá orando pra
que os irmãos deixem o Senhor tocar. E também, muito interessante que eu acho na célula
e do líder, é mostrar que não é fardo ser líder. Não é fardo nenhum. É privilégio estar na
obra do Senhor. Privilégio com humildade.

10p. Entrevistador: A célula também se preocupa com a sociedade de um modo geral?


As pessoas que estão fora da igreja, fora da célula?
581

10r. Entrevistada: É. É o foco, né? O foco ir buscar, né? Ide. O ide do Senhor é muito
forte nas células. A gente precisa realmente buscar, porque é fácil conviver com uns, né?
Os que... Vamos dizer assim, os que são iguais, né? Entre aspa. Mas é... Buscar. E é muito
interessante que Deus às vezes, né? Ele coloca a pessoa na sua frente. Eu, semana passada,
experiência... Essa... Semana quase tive duas experiências. Uma com uma pessoa visitante
dentro da igreja, que até eu vou acompanhá-la amanhã numa conversa com o pastor, que
ela me pediu, está chegando na célula. E a outra com uma menina, uma jovem, que é colega
da minha prima, né? Muito amiga. E ela domingo passando aqui na igreja, ela ouviu um
louvor do Anderson Freire até. E: "Tia, que música... Que louvor é esse? Ai, eu passo
aquilo, eu tenho vontade de entrar cada coisa tão linda". Então assim, é o Espírito Santo de
Deus tocando. Aí cabe a nós, líderança e liderados, ter o discernimento pra acolher, né?
Então assim, um primeiro momento, nada disso. Você vai acolher, ouvir a pessoa, mostrar
pra ela o que é, e amar, e cuidar. Hoje em dia eu penso que 'tá todo mundo precisando de
amor e de cuidado. Então, às vezes uma li... Um telefonema, né? Às vezes, eu uso muito...
Eu passo muito torpedo. Eu tenho a página da nossa célula no face, mas a nossa página é
só pra ser benção. Então ali só se posta coisas pra abençoar. Às vezes no quarto de escuta
Deus falou pra gente, a gente vai... Eu tenho muita mania de fazer isso. Aí o 'Presente
Diário' também às vezes algumas, né? Algumas passagens que tem ali que cabe direitinho
pra aquilo, às vezes a célula 'tá precisando, e é muito joelho.
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11p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja, algum perigo pra igreja, a
existência da célula?
11r. Entrevistada: Não, eu acho que é prosperidade. Eu, na minha opinião, é prosperidade.

12p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula traz pra igreja?


12r. Entrevistada: Eu penso que o que ela traz pra igreja são pessoas que estão no mundo,
ou mesmo que já conhecem o Senhor, mas estão frias, ela está retornando aos braços do
pai. Eu tenho uma experiência mesmo com meu filho. Meu filho é um rapaz abençoado, já
ganhou muitas vidas pro Senhor e de um tempo pra cá ele foi se afastando. Não totalmente.
E aí ele foi se afastando, ficando meio frio e tudo, eu orava, mas ele mesmo falava que não
tava conseguindo orar. E ele foi agora pro retiro de jovens, né? Ele e o... A... Palavra foi
até do filho pródigo, né? Que 'tá voltando. E ele se... Ele se, como diz o pastor, ele voltou
aos braços do Pai. Então eu acho que benefícios pra igreja é muito grande.

13p. Entrevistador: E qual o impacto que você vê que a célula causa na celebração,
no funcionamento da igreja de um modo geral?
13r. Entrevistada: Eu acho que é todo... Assim, aqui a gente deixa... O pastor deixa bem
claro pra gente, eu acho que isso correto, a nossa igreja é uma igreja em célula. Então a
prioridade são as células. Você vai... Pode trabalhar em outro departamento, alguma coisa,
desde que não te prejudique na célula, né? Então é... As pessoas que não conhecem ou que
estão chegando vêem aquele movimento. Então elas ficam querendo saber o que é e se
aproximam. E vêem o cuidado. Eu moro num condomínio fechado e tem uma moça lá, que
eu... no inicio do ano, ela me perguntou: "o que é esse negócio que acontece dia de quarta-
feira?" E eu assim, lá no meu condomínio, é... Quando nós chegamos aqui, eu sou de
_______ né? Então nós chegamos aqui meu filho falou assim: "mãe, vamos ganhar esse
condomínio todo pra Jesus?". Vamos ganhar. E aí lá dentro tem várias... Famílias que já
foram da nossa célula e multiplicaram, estão em outras agora, né? E tem muitas... Eu acho
que nesse momento tem seis ou sete que são do nosso condomínio. Então é aquele alvoroço,
582

porque a célula cada dia na casa de um, né? O pastor agora 'tá pedindo que seja fixa. Então
ela quis saber. Então são esses impactos: que acontece ali? Porque que esse povo é tão
feliz? Né? Porque mesmo com todos os problemas que a gente tem, somos felizes, né?
Então, assim, o impacto é muito grande e é uma... Um caminho pras pessoas entenderem o
que é o Senhor, né? O cuidado do Senhor. Eu não tava no domingo à noite, mas eu fui, vim
no culto de domingo de manhã. Mas parece que o pastor pregou domingo à noite, mais de
vinte pessoas se converteram, né? Agora eu penso que, assim, o pilar é o Senhor, e o... A
célula... Eu acho que se não tem célula...

14p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


14r. Entrevistada: Ai... é a minha igreja? Benção do Senhor. Benção do Senhor. Eu sou
muito feliz aqui. Os pastores são benção, a gente nota a direção de Deus em cada um.
Quando a gente ora com o pastor Juarez, aquele jeitinho dele, aquela simplicidade dele. E
você chega chorando perto dele e ele... A sabedoria que ele tem, né? Pastor Carlos Marcelo,
pastor Esdras, pastor Andrielly, pastor Aederson, né? Que é esse missionário aí, que
quando prega, você olha assim. Então assim, Deus, ele vai trabalhando, e eu acho que é
benção do Senhor, a igreja. Nesse bairro penso que a igreja vai fazer muito... Né? E precisa
da gente, né?

15p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer alguém da igreja que não está em
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célula, em ir pra célula. Qual argumento que você usaria?


15r. Entrevistada: Domingo aconteceu mais ou menos isso. Uma moça que estava em
célula, mas ela tava muito... Porque assim, a célula precisa multiplicar, a célula precisa ter
vida, nós somos tudo um povo alvoroçado, feliz, aquela coisa toda. E esse negócio todo faz
muita diferença. Quando a célula 'tá muito parada corre o risco daquele, né? Irmão se
acostumar, porque a célula não é um encontro semanal, um encontro social. Nós temos o
social, mas não é um encontro social, ali Deus tem propósito na vida de cada um, né? Se
cada um trouxer um pra célula, imagina, né? Assim... e aí, é, ela... Eu falei: "você não...
Como é que vai a célula? Não sei que...". Aí ela falou assim: "ah, eu saí da célula". "Mas
por que você saiu?" "Ah, dei um tempo de mim!", "mas aí... Tempo de você, por quê? Deus
não dá tempo pra gente". Então o meu jeito seria de convencer assim: Mas por que você
não gosta? E ali ir argumentando, né? Em amor com a pessoa e mostrando pra ela e dando
meu testemunho de vida. Eu acho que testemunho é uma coisa muito forte, testemunho de
vida é uma coisa muito forte, né? E aí seria assim o meu... O meu jeito, a menina do
domingo a noite que veio falar que os louvores são bonitos, foi o testemunho de vida minha,
que eu fui conversando com ela e fazendo.

16p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
16r. Entrevistada: Ah é... Isso, né? A célula é vida, né? É vida, é realmente necessário. A
gente agora tem um recesso e a gente fica... Né? Com saudade demais. Então assim, faz
parte da minha vida a célula. Faz parte da minha vida. Eu, no meu trabalho, eu organizo a
minha agenda de reuniões e tudo de acordo com as coisas da igreja e da célula. Quando eu
comecei em célula eu não fazia isso, não deixava de fazer nada, mas aí então agora Deus
me deu essa oportunidade, né? De trabalhar, de fazer tudo correto, e ter essa
disponibilidade. Que Deus é lindo, né? Então ele faz. Tanto que eu disse: Oh, Senhor, eu
quero tanto 'tá em tudo, mas as coisas que são conduzidas porque eu quero... Eu quero ser
uma líder perfeita para o Senhor. Porque assim, por mais que a gente ame e faça tudo, eu
não faço pra homens. Eu faço pra Deus, né? Então, já tive experiência de uma menina, ela
583

até saiu da célula, mas ela não queria nada, mas que ela estava simplesmente... Ela tava
vindo na célula, aí de repente desvirtuou a cabeça, começou a beber, aquelas coisas todas.
E eu fiz um... Confrontei ela em amor. Na época ela não gostou, depois ela voltou, falou:
"não, eu não entendi bem". Mas ela não queria mesmo. Então aquela pessoa que a gente
tem orar muito, porque às vezes não somos nós que vamos colher o fruto, outra igreja vai
colher, né? Mas eu, pra mim, é essencial a célula. Eu sou muito feliz com a célula.

17p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
33 anos Jardim Camburi PIBJC 60

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos. Eu queria que você
me falasse sobre a sua experiência com pequenos grupos.
1r. Entrevistado: Desde quando eu comecei a participar da membresia da igreja, eu venho
frequentando os pequenos grupos.

2p. Entrevistador: Isso faz muito tempo?


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2r. Entrevistado: Isso faz uns cinco ou seis anos.

3p. Entrevistador: Qual a importância do pequeno grupo pra você?


3r. Entrevistado: Eu acho que é os laços que a gente forma. A gente se identifica... No
meu caso, eu me identifico com algumas pessoas então, pessoas próximas, que tem essa
semelhança. Então forma laços que... Amizades que a gente carrega, mesmo não estando
no pequeno grupo. Mesmo mudando de pequeno grupo a gente carrega esses laços. Eu
tenho amizades de pessoas que realmente eu tenho, é... mais prezo que irmãos... Que irmão.
Que é por causa do contato muito próximo, né?

4p. Entrevistador: Como é que acontecem esses contatos?


4r. Entrevistado: A parceria. A parceria que a gente desenvolve. É... Dentro da própria
célula, ou uma vez por semana fora da célula tem a parceria que a gente... Que a gente faz.

5p. Entrevistador: E nos encontros? Como que acontecem os encontros?


5r. Entrevistado: Os encontros, a nossa célula hoje nós estamos fazendo um pouco
diferente, é... Do que nós fizemos algumas células diferentes do que é... O script definido,
né? Normalmente tem o que? Que é um quebra-gelo, aí tem o louvor, tem a edificação, tem
o evangelismo. Nós fizemos o que? Tiramos um dia da semana pra servir ma... É... Oferecer
marmita em alguns pontos com algumas pessoas que dependem de química ou dá uma
palavra mesmo. Então a gente procura fazer algo diferente.

6p. Entrevistador: Mas isso acontece além do encontro da célula ou substituiu o


encontro da célula?
6r. Entrevistado: Nas últimas vezes nós substituímos o encontro da célula, na semana.
Porque senão ia ficar muito pesado pras pessoas. Nem todo mundo tem condição de dois
dias da semana, tem gente que estuda, tem gente que trabalha a noite.
584

7p. Entrevistador: Quais seriam os propósitos da célula?


7r. Entrevistado: Eu acho que é comunhão e... Pregar a Palavra. Porque você traz um
convidado, você traz uma pessoa conhecida, né? Acho que é realmente a edificação.

8p. Entrevistador: E como é que é desenvolvida a comunhão dentro do grupo?


8r. Entrevistado: Compartilhamento. É... A gente faz a parceria, tá? Tem a questão do
companheirismo, né? A pessoa 'tá passando por um problema, a pessoa se abre, a gente 'tá
lá acolhendo, e o que é mais importante também, a gente mantém a preservação do que foi
falado na célula. Coisa que é pra gente, pelo menos no meu ver é muito sério. O que se fala
ali, o que a pessoa fala, fica ali, não sai. Então a pessoa tem uma liberdade pra poder
expressar o sentimento dela ou a dificuldade que ela 'tá passando. Até mesmo compartilhar
com o irmão, que o irmão às vezes: "pô, já passei pela dificuldade semelhante, eu tive essa
atitude, eu busquei isso aqui". Entendeu? Traz uma palavra também pro... Pra poder 'tá
apoiando.

9p. Entrevistador: Qual é o perfil da sua célula?


9r. Entrevistado: O perfil da minha célula são jovens casados. Não vão falar assim, tão
jovens casados, mas casais jovens sem filhos. Que agora a gente está grávido, mas até
então eram casais jovens sem filhos.
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10p. Entrevistador: E quais são os maiores desafios da célula?


10r. Entrevistado: É... Desafio é trazer, captar pessoas. E expandir a célula.

11p. Entrevistador: E você vê algum perigo, algum risco da célula para a igreja?
11r. Entrevistado: Hum. Da célula pra igreja, não. Eu vejo o risco da célula cair numa
rotina e começar a desmotivar as pessoas, por ser muito automático. Então tem a quebra-
gelo, tem o louvor, tem o evangelismo, a edificação, então às vezes fica muito automático.
A pessoa: "pô, semana que vem...". Então a gente tenta fazer algo diferente, né? Além de
servir a marmita pra outras pessoas a gente procura ir no hospital, ajudar uma pessoa. Tem
uma pessoa carente, nós fomos, é... Na penúltima visita que nós fizemos foi pra uma menina
que é deficiente, que vai fazer uma cirurgia, que trabalhava como empregada pra uma
membro da célula. "Ah, ela está precisando". Fomos lá todo mundo levou um pacote de
fralda, fez uma doação em dinheiro, está compartilhando com essa pessoa. A pessoa vai
abrir o que ela 'tá passando, a gente ora junto, acho que essa é a diferença. A gente subiu o
morro lá, foi lá em ______, está presente.

12p. Entrevistador: Então a célula também tem preocupação com o social, com as
pessoas que estão de fora da célula?
12r. Entrevistado: Sim, a nossa célula sim. Porque realmente é o que eu te falei, às vezes
toda semana, isso aí não dá aquela: ah, qual a diferença que eu to fazendo? Então a gente
quer fazer a diferença. E às vezes ficar só ali em comunhão é pouco. A gente sente vontade
de 'tá transmitindo isso pras outras pessoas.

13p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria sua igreja hoje?


13r. Entrevistado: Como célula ou como igreja?
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14p. Entrevistador: Não. Como igreja. Ah, seria... Na verdade seriam duas perguntas.
Uma seria: qual a influência da célula sobre a igreja? Que impacto que a célula causa
na igreja? E como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?
14r. Entrevistado: Eu acho que a célula, ela bem trabalhada, ela causa um impacto
positivo na igreja. Porque você não tem condição de conhecer cada um, de criar laços de
amizade com cada um da igreja, são quase dois mil membros. Então você não tem condição
de fazer isso. Dentro do pequeno grupo você já consegue criar laços. Por mais que você
saia do pequeno grupo e vai pro outro, quando você volta pra igreja você conversa com a
pessoa, você encontra a pessoa, já criou um laço de amizade, né? Eu acho que essa que é a
vantagem do pequeno grupo dentro da igreja.

15p. Entrevistador: E como que você... E como é que a célula repercute.... Como é que
isso repercute nas celebrações, por exemplo, ou na maneira da igreja funcionar como
igreja?
15r. Entrevistado: Eu acho que deixa a igreja mais unida. Porque se não tivesse pequeno
grupo, né? Seria só domingo a pessoa frequentando a igreja. Então seria bem superficial o
relacionamento. Muito superficial, tá? Não dá tempo de você num culto conversar com a
pessoa, até mesmo depois do culto, criar uma amizade. Não dá. É muito difícil isso.

16p. Entrevistador: E em termo de estrutura da igreja? Estrutura funcional. Qual o


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impacto que a célula causa na estrutura da igreja?


16r. Entrevistado: Estrutura funcional? É... São desafios que eu acho que a igreja tem que
nem eu te falei, tem que mover, cativar e motivar as pessoas a participarem da célula.
Porque como é o propósito da igreja as pessoas tem que 'tá empenhada nisso. É uma
dificuldade, acho que é um grande desafio.

17p. Entrevistador: E como é que você caracteriza a igreja hoje, a sua igreja? Pode
usar adjetivos se você quiser.
17r. Entrevistado: Ah, eu considero a igreja está em fase bem madura, mas ainda tem
muito que... Acho que dentro dos membros, né? Ainda tem muitos membros novos, então
ainda tem uma fase de amadurecimento de algumas pessoas. Mas é bem madura, é uma
empresa... É uma igreja bem firme, né? Os pilares, não foge ali ao que foi definido como
visão, como é... Como visão da... Do que o pastor tem pra igreja. Então ela não foge, ela é
bem firme ali no propósito dela.

18p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar pra alguém da igreja que não
estão em célula, a favor da célula ou contra a célula, o que você usaria?
18r. Entrevistado: Usaria que é um... Uma oportunidade de você está crescendo
espiritualmente e você está fazendo uma parceria com outras pessoas. Um lugar que você
pode se abrir, um lugar que você pode realmente ser abençoado, tá? É um lugar com um
grupo menor, com menos pessoas, que você pode ficar tranquilo, se sentir em casa.

19p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
19r. Entrevistado: Não, acho que já falei, acho, bastante.

20p. Entrevistado: Obrigado.


20r. Entrevistado: Nada.
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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
32 anos Jardim Camburi PIBJC 61

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre células, sobre pequeno grupo, né?
Queria que você, então, falasse sobre a sua experiência com pequeno grupo, com a
célula.
1r. Entrevistada: Bem, eu vivo em célula desde dois mil e cinco. Quando eu vim pra
Jardim Camburi, pra congregar aqui. Antes, eu congregava numa igreja que não trabalhava
com pequeno grupo. E assim, o que eu posso dizer é que mudou bastante a minha vida, eu
já era casada nessa época. Casei e vim pra cá. E nós tivemos várias experiências positivas
na célula. Tivemos um crescimento como família, como casal, isso eu e meu esposo.
Tivemos um crescimento individual também, porque quando você consegue ver as suas
falhas nas outras pessoas, isso te traz um pouco de conforto e te dá motivação pra tratar.
Porque você, primeiro identifica nas outras pessoas que aquilo é algo que é do ser humano.
E também consegue ver pessoas que superaram coisas muito piores do que o que você 'tá
passando. Então, você tem motivação pra mudar. E isso é muito bom. Além de ter o apoio
daquelas pessoas que já passaram por aquilo e podem te guiar direitinho quando você tem
dificuldade naquilo que você 'tá tentando melhorar. Então, pra gente é muito bom, pra mim
é muito bom.
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2p. Entrevistador: Você disse que fez parte de uma igreja que não tinha o pequeno
grupo?
2r. Entrevistada: Sim.

3p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o pequeno
grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
3r. Entrevistada: Então, aí eu preciso falar de duas coisas diferentes. De uma igreja
pequena sem pequenos grupos e de uma igreja grande sem pequenos grupos. Então, numa
igreja pequena sem os pequenos grupos, você trabalha bastante, conhece todo mundo, mas
convive com poucas pessoas. Numa igreja grande, você não conhece quase ninguém,
trabalha menos e convive com quase zero pessoas. Se você tiver algum amigo que já
congrega ali, você consegue ter um dinamismo relacional. Agora, se você não conhece, pra
você se introduzir naquele meio é um pouco difícil. E isso não é uma coisa complicada pra
mim, eu sou uma pessoa que tem uma tranquilidade muito grande em se relacionar, eu
tenho muita facilidade em... Criar oportunidades de relacionamento e de conhecimento de
pessoas e mesmo assim eu tive essa dificuldade numa igreja grande sem pequenos grupos.
Então, quando eu cheguei em Jardim Camburi e ainda não estava num pequeno grupo,
durante os, sei lá, seis primeiros meses, eu não conhecia ninguém e dificilmente você tinha
contato com pessoas. Só a partir dos pequenos grupos é que todo o ano eu fazia um círculo
de amizades diferente. Hoje, depois desses nove anos, eu consigo chegar na igreja e
cumprimentar as pessoas. E olha que ainda falta muita gente, mas o meu sentimento já é de
casa. Que eu acho que a pior coisa é você chegar na igreja e se sentir um estranho. Hoje eu
já me sinto na casa do meu pai com os meus irmãos. O sentimento é esse hoje. Mas é... Foi
através do pequeno grupo.

4p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos de um pequeno grupo?


587

4r. Entrevistada: Pra mim o principal é tratar. Porque, eu acredito que, em grande grupo,
numa igreja durante os cultos, você não consegue ser tratado. Nem na escola dominical,
que é um lugar de aprendizagem, você consegue aprofundamento no tratamento. E o
acompanhamento de perto, que acontece quando você tem uma parceria e tem um
discipulado. Então, isso te faz crescer no relacionamento. A oportunidade de convidar
pessoas, que realmente é muito mais fácil você convidar alguém pra ir na sua casa, tomar
um lanche e ouvir da Palavra de Deus, do que você convidar para o culto. É claro que
quando o Espírito Santo quer agir, independente do que seja Ele vai agir. Seja um convite
pro culto ou pra célula. Mas no normal, no dia a dia da gente é muito mais fácil você
convidar pra célula. E as multiplicações e subdivisões que te proporcionam conhecimentos
diferentes, amizades diferentes ao longo dos anos e te obriga a conhecer pessoas novas, te
proporciona isso. Então, eu acho que os objetivos da célula são esses. Criar famílias e
proporcionar relacionamentos.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre a célula, o pequeno grupo e
comunhão?
5r. Entrevistada: Então, isso vai depender muito da disponibilidade das pessoas, mas que
ele possibilita isso, ele possibilita. Ele te traz um ambiente. Se você está disposto, você tem
tudo o que você precisa pra ter comunhão. Se você não está disposto, você consegue passar
por ali sem ser tocado, sem ser... Como eu posso dizer? Você consegue ficar alheio se você
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quiser. Mas, oportunidade você tem.

6p. Entrevistador: O que a célula faz, ou o pequeno grupo faz para desenvolver
comunhão?
6r. Entrevistada: Então, a gente proporciona os encontros. Então você vai estar com as
pessoas. Você dá liberdade para que as pessoas se expressem. Então isso gera comunhão.
As pessoas podem se expressar e elas acabam escutando de você, então acabam se
aproximando. Tem a parte da parceria, que é você com outra pessoa apenas. Então isso gera
uma comunhão. Mesmo que não seja com o grupo por inteiro, mas com uma pessoa só.
Isso é muito legal. Eu acho que é o mais profundo da comunhão, o patamar mais alto. Você
tem a igreja, você tem o pequeno grupo e você tem a parceria. A parceria é o mais profundo
da intimidade. Claro, se você estiver aberto. Você pode não falar se não quiser.

7p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja a existência do pequeno grupo?
7r. Entrevistada: Não.

8p. Entrevistador: Algum risco?


8r. Entrevistada: Não vejo risco. Porque eu não consigo enxergar. Mas também nunca
procurei estudar isso. O que eu posso te dizer é que nesses nove anos que eu vivi pequeno
grupo, eu não me senti em risco. Então, eu acho que isso é o... A avaliação mais clara que
eu posso te dizer. Nunca me senti em risco. Em hipótese alguma. Nem como pessoa, nem
como igreja. O fato de estar em pequeno grupo nunca me deu vontade de sair da igreja e
nunca me deu vontade de mudar o meu jeito de ser cristã. A não ser que fosse pra me
parecer mais com aquilo que o Senhor pede na Bíblia. Até hoje, foi assim que eu me senti.
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9p. Entrevistador: E quais os benefícios que o pequeno grupo proporciona pra igreja,
como um todo?
9r. Entrevistada: Então, eu acho que a igreja é um corpo. E quando a mão cresce o corpo
cresce. Quando o coração funciona direito o corpo funciona bem. Então, eu acredito que o
pequeno grupo é um local de tratamento e crescimento e proteção. Quando você tem as
pessoas juntas, as pessoas coesas, com o mesmo propósito, elas se sentem, elas ficam mais
protegidas do que o mundo 'tá proporcionando. Então, eles têm mais contato com Cristo,
mais contato com aquilo que fala do amor de Cristo. Elas conseguem se tratar. Então, eu
acho que isso é uma forma de proteção pra igreja. Isso ajuda a igreja. O corpo, que os
membros crescem, o corpo cresce e a igreja cresce. E cresce porque a gente leva pessoas
pra igreja. É uma porta de entrada de novos membros. Então eu acho que é isso.

10p. Entrevistador: E isso repercute na adoração, na celebração da igreja, na maneira


da igreja funcionar, por exemplo? Em termos funcionais, como é que é isso
realmente?
10r. Entrevistada: Então, eu enxergo essa divisão. E aqui, pelo menos na nossa igreja eu
enxergo muito bem, porque quando a gente precisa promover um grande evento você
consegue ter os supervisores, os pastores, e subdividir isso 'pras equipes de células. É muito
mais difícil você pegar uma igreja dispersa, e o pastor sozinho, que não tem pessoas à sua,
ao seu lado, pra agrupar essas equipes. Falar assim, gente eu preciso de ajuda pra montar
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um teatro ou pra poder organizar uma grande celebração. É onde nós temos níveis, de uma
pirâmide praticamente, de hierarquia, entre aspas. Você tem o pastor, o supervisor de célula
e os líderes e aí os liderados. Você direciona praqueles grupos o que você precisa que seja
feito, e cada subgrupo vai fazer uma etapa. Então, mesmo que nem todos se envolvam, mas
a grande maioria se envolve. Então, em termos organizacionais pra igreja, também é um
benefício.

11p. Entrevistador: Porque você disse hierarquia entre aspas?


11r. Entrevistada: Porque tem muitas pessoas que quando escutam falar de hierarquia
dentro da igreja tem uma dificuldade. Pra mim não tem, porque eu entendo isso como algo
que o Senhor definiu, mas eu não sei como isso vai ser tratado na sua tese, então eu preferi
colocar um, entre aspas, pra que as pessoas possam entender que isso é do coração de cada
um. Pra mim é uma hierarquia. Tem um pastor. Tem um Deus, tem um pastor, tem um
líder, supervisor, um líder de célula e eu vou me reportando de acordo com a minha
necessidade. Eu sigo isso, mas nem todo mundo se sente bem assim. E como Deus nos deu
a liberdade para ir ao Pai, porque não nos daria pra ir ao pastor? Eles têm essa liberdade,
podem seguir e usar como achar melhor, mas aí é de cada um.

12p. Entrevistador: Você então não vê a hierarquia como uma coisa negativa, mas
como uma coisa mais funcional?
12r. Entrevistada: É... Não vejo. Como eu trabalho, sempre trabalhei numa grande
empresa e sempre vi isso funcionar muito bem lá. Eu não vejo nada de negativo em uma
organização na casa do Senhor. Até porque Deus fez essa organização. Lá com Moisés,
quando ele subdividiu os grupos, quando ele colocou um líder pra cada cem, um líder pra
cada cinquenta, então entendo que isso é de Deus. Então, pra mim eu vejo com muita
naturalidade. Como serva vejo com muita naturalidade.

13p. Entrevistador: Você recomenda a célula pra todos os membros da igreja?


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13r. Entrevistada: Olha só, é muito difícil pra mim, recomendar pra todos quando eu tenho
o entendimento que existem pessoas diferentes. A célula pra mim é um mundo
maravilhoso. Tem suas falhas, tem suas dificuldades, precisa ser olhada com carinho. Ser
tratada pra crescer e melhorar a cada dia. Mas é perfeito. Agora eu também entendo que
como tem pessoas que não se enquadram na Igreja Batista de Jardim Camburi, ou não se
enquadram na Assembléia, ou não se enquadram na Maranata, não se enquadrariam em
célula. Eu, com uma visão periférica, acho que pra noventa e nove por cento dos membros
ela é a melhor opção, mas acredito que possa não ser pra um.

14p. Entrevistador: E se você fosse usar um argumento pra trazer mais pessoas pra
célula. Pessoas que não estão em célula, talvez um pouco dispersas no contexto da
igreja. Que argumentos você usaria pra que ele viesse pra célula?
14r. Entrevistada: Então, a primeira pergunta que eu faria pra pessoa seria se ela se sente
bem sozinha. Se o desejo no coração dela é viver só. E se ela consegue sozinha resolver
todos os seus problemas e suas dificuldades e se ela vai conseguir se enxergar como ela é.
Essa é a primeira pergunta. E depois eu, o que eu faria é. Olha, a aminha experiência com
célula é essa. Eu me sinto assim, eu vivo assim, eu cresci assim e aconteceu assim. Eu
acredito que seria uma ótima oportunidade pra você. E estou à sua disposição pra fazer com
você o que fizeram comigo. Se isso for bom. Agora, mais do que isso eu acredito que, não
caberia a mim. Aí já é uma experiência.
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15p. Entrevistador: E o que fizeram com você?


15r. Entrevistada: Então. O que fizeram comigo é que, quando a gente, eu era recém
casada. Então, a gente, o ___ veio de uma igreja ____ e eu cristã desde pequena. Então,
nós tínhamos muitas divergências entre nós como pessoa. Primeiro, pela criação. Segundo,
pelos ambientes que vivíamos. Eu, num patamar diferente do ____. Então a gente tinha
uma dificuldade muito grande. E a gente começou a conviver com casais. A célula que a
gente foi era uma célula direcionada, uma célula de jovens casais recém casados, com
alguns que tinham mais experiência. Então a gente foi tratado naquilo que a gente tinha
mais dificuldade. Que é esse primeiro ano do casamento. Então a gente supriu as nossas
necessidades. Então, o que fizeram comigo foi isso. Foi me tratar naquilo que eu precisava.
Foi me proporcionar experiências naquilo que eu tinha mais dificuldade. Então, é o que eu
poderia oferecer pra essa pessoa.

16p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


16r. Entrevistada: Hoje, uma igreja muito grande, que tem uma estratégia bem definida.
Que tem uma visão muito linda daquilo que o Senhor tem pra nós como igreja. Mas que,
como toda grande organização, e é assim que eu enxergo a nossa igreja, uma grande
organização, tem suas falhas. Tanto administrativas, como acredito eu, não sei se eu posso
usar o termo, espirituais. Porque é de cada pessoa. Que precisa melhorar em muitas coisas.
Porque muitas coisas são nossas, de ser humano. Eu acho que todos nós precisamos tratar.
Têm muitas coisas, eu acredito que precisam ser olhadas com olhos espirituais. Por mais
que nós sejamos organização, e eu acredito nesse modelo implementado, a gente precisa
ter o conhecimento de Deus, de que algumas coisas não podem ser tratadas como
corporativos. Precisam ser tratados como espirituais. Então, eu entendo que esse processo
é muito difícil. Dentro de uma organização, ela é extremamente organização, você não tem
dificuldade. Quando você 'tá dentro de uma igreja que você traz o organizacional aqui pra
dentro. Aquilo se mistura com o espiritual, e aí a gente começa a ter algumas falhas nisso,
590

por que Cristo organizou, mas ele sempre foi amor. Então, assim, eu acho que, a gente vai
se adaptar. Isso é uma questão de tempo, mas que a gente ainda precisa tomar um pouco de
cuidado com essa questão delicada. De não sobrepor o organizacional sobre o espiritual.
Deus quer fazer, a liberdade é Dele. Então, a gente precisa 'tá sempre com isso em foco por
causa dos organizacionais a gente não pode impedir o agir de Deus não.

17p. Entrevistador: Mais alguma coisa sobre célula?


17r. Entrevistada: Não.

18p. Entrevistador: Muito obrigado.


18r. Entrevistada: De nada.

FUNÇÃO: Líder de célula SEXO: Feminino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
52 anos Jardim Camburi PIBJC 62

1p. Entrevistador: Vamos falar sobre célula, sobre pequeno grupo. Queria que você
começasse me dizendo: qual a sua experiência com célula?
1r. Entrevistada: Experiência... Como assim você quer dizer? Minha experiência? Eu
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tenho experiências boas. Acho um grupo bom, é como um aprendizado a cada dia, pessoas
novas chegando que você aprende com cada um, principalmente na hora da edificação. É
uma participação como um todo. Então a minha experiência é uma experiência boa.

2p. Entrevistador: Faz muito tempo que você está em célula?


2r. Entrevistada: Têm uns cinco anos a seis. Desde que eu to na igreja, eu entrei na igreja
em célula.

3p. Entrevistador: Você veio pra igreja através da célula?


3r. Entrevistada: Não. Eu vim visitar a igreja e fui convidada pra uma célula. Fui a
primeira vez e gostei.

4p. Entrevistador: Qual o impacto ou quais os benefícios que a célula trouxe pra você?
4r. Entrevistada: Pra mim? Eu aprendo muito na célula hoje, porque cada opinião, cada
opinião de uma pessoa, por exemplo, porque a nossa célula, a gente, a nossa igreja ela
estuda aquilo que foi a pregação do pastor. Cada um falando aquilo que ele percebeu do
que o pastor falou, quer dizer, eu aprendo. A minha... Qual foi a sua pergunta?

5p. Entrevistador: E sobre os benefícios?


5r. Entrevistada: Os benefícios...

6p. Entrevistador: Que as células trouxeram pra você?


6r. Entrevistada: O aprendizado. Não. Os benefícios pra mim eu acho uma grande família.
Pra mim. Eu vejo assim, eu vejo a célula como uma grande família. Uma segunda família.
Sim, eu não conceberia uma igreja que não tivesse célula. Porque eu amo célula, eu amo
estar em célula.

7p. Entrevistador: Como é que acontecem os encontros da célula?


591

7r. Entrevistada: Uma vez por semana, sendo que uma vez, é como acontece, assim, o
que acontece dentro da célula?

8p. Entrevistador: Isso, lá dentro da célula, como é que as coisas funcionam?


8r. Entrevistada: Funciona? A gente tem um... A gente segue a carta do pastor, sendo que
a carta do pastor você não precisa ser engessado, é o que pastor sempre deixa isso bem
claro. Então quer dizer, você segue aquilo que o pastor escreve na carta, sendo que é um
louvor, começa com um louvor. Esse louvor você... Umas pessoas oram, pelo menos na
nossa célula é assim. Tem um momento de oração. Aí o primeiro momento depois vem do
que é o evangelismo. Depois vem a edificação. E sempre no final é o agradecimento.

9p. Entrevistador: E as pessoas tem a oportunidade de falar, de falar das vidas delas
na célula? Como é que funciona isso?
9r. Entrevistada: De partilhar... Tem. Assim, minha opinião é que as pessoas tem a
oportunidade de falar da vida delas dentro da célula, sendo que você tem que ter o cuidado
se tiver uma pessoa de fora como visitante, conforme for o problema você tem que ter o
cuidado de você não expor muito. Porque a gente não sabe, porque o que é falado em célula
é pra ficar em célula. Isso é o pacto da célula. É você falar o que você escutar, o que você
presenciar, é pra ficar em célula. Então, muitas pessoas tem essa sensibilidade. Vamos
supor, já aconteceu na nossa célula da gente ter... Tá com um programa da célula todo e
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teve uma pessoa que tava com problema e aí a gente voltou só pro problema dela. Então a
gente... Não fizemos aquilo que era pra ser a proposta. Porque a proposta não era essa, a
proposta era a pessoa. Porque eu acho que proposta da célula é cuidar um do outro. Cuidado
um do outro quer dizer que você tem que, mesmo que você fez um estudo todinho sobre o
que você vai fazer, mas se tem um irmão que 'tá com um problema, você tem que esquecer
aquele estudo, você vai ter que cuidar dele.

10p. Entrevistador: E o que a célula faz pra promover comunhão dentro da célula?
10r. Entrevistada: Comunhão? Bem, eu acho que a célula desde o início que você chega,
pra mim, já é uma comunhão. Porque se você 'tá junto com uma pessoa já é uma comunhão.
Então se você já 'tá junto é uma comunhão, na hora que você já chega pra mim já é uma
festa. Então é uma festa, na hora do louvor, já é uma comunhão, na hora da edificação, pra
mim, já é uma comunhão, porque você 'tá falando aquilo que o pastor, por exemplo: nós
temos umas pergunta'. Às vezes as perguntas... Muitas vezes tem muitas pessoas que nem
usa todas. Por quê? Porque 'ta mais importante a gente ouvir o que o irmão falou sobre o
que ele entendeu da célula, que aí vai edificar muito mais outra pessoa. Por exemplo, eu
aprendo muito mais com uma edificação de uma pessoa 'ta falando lá, a visão dela do que
o pastor falou foi totalmente diferente da minha. Aí eu falo assim: "nossa, mas eu não tinha
prestado atenção nisso". Então quer dizer, a comunhão pra mim é o encontro. Tudo pra
mim é a comunhão e no final é um lanche.

11p. Entrevistador: E como é que as pessoas desenvolvem os laços? Tanto no


encontro, como fora do encontro.
11r. Entrevistada: Fora do encontro...

12p. Entrevistador: É. Entre os encontros.


12r. Entrevistada: Entre os encontros nós temos o discipulado. Então esse discipulado é
uma vez por semana. Tem pessoas que não fazem uma vez por semana, fazem de quinze
592

em quinze dias. Fora do encontro nós temos um grupo. Hoje nós temos o grupo do telefone,
nós temos WhatsApp, a gente passa... Então quer dizer, telefone. Tem as pessoas que se
encontram semanalmente mesmo. Então essa é a comunhão. De ir uma vez por mês, a cada
três meses, a gente faz um encontro de comunhão, que é um almoço, que é uma saída pra
tomar um açaí, que a função é uma pessoa levar um convidado não convertido pra conhecer
o que é o nosso grupo. Então essa é a comunhão, de estar todo dia, pelo menos tentar ligar,
muito embora que tem pessoas que não ligam, mas isso aí... Não somos iguais.

13p. Entrevistador: Qual o perigo da célula, você vê algum perigo pra igreja a
existência da célula?
13r. Entrevistada: Eu não. Só vejo benefício.

14p. Entrevistador: E quais seriam esses benefícios?


14r. Entrevistada: Eu acho que uma igreja com célula, principalmente uma igreja grande,
as pessoas estão mais juntas. As pessoas estão mais próximas as pessoas conhecem mais
os problemas do outro, porque a célula na hora de partilhar, você pode 'ta ajudando uma
pessoa, quer dizer, então pra mim é o momento que você vai conhecer mais o irmão, porque
você ficar num grupo ou na EBD, você está ali pra aprender, saiu dali, acabou. Célula não,
você 'ta junto uma vez por semana, nessa comunhão que você faz você aprende.
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15p. Entrevistador: E como é que surgem as lideranças da célula?


15r. Entrevistada: Como surgem as liderança da célula? Como surge? Você foca, você
observa as pessoas que você dá uma tarefa. Essas pessoas começam, fazem a tarefa sempre
muito bem. Por exemplo, você pede pra pessoa pra fazer um louvor, a pessoa faz. As
pessoas tem interesse. Tem interesse e gosta de servir. Quem gosta de servir e tem interesse
e tem amor pelo próximo, em querer ajudar e 'tá junto, eu vejo assim, essa é a liderança que
tem muito interesse em ajudar, em 'tá junto, em fazer tudo aquilo que você pede pra fazer,
não te liga em cima da hora falando assim: "oh, não deu pra fazer não"... "Vou fazer".

16p. Entrevistador: Então elas surgem de dentro da própria célula.


16r. Entrevistada: Dentro da própria célula...

17p. Entrevistador: E a célula tem alguma preocupação com os de fora, com as


pessoas que estão no mundo, na sociedade?
17r. Entrevistada: Mas essa... É isso aí. O que é a célula? Célula nos nossos sociais
geralmente a gente convida as pessoas que não conhecem a Jesus pra trazer. Então esses
são os dias de você 'tá convidando uma pessoa, por exemplo, na hora das células, se tem o
momento do evangelismo pra você 'tá orando, você tem um caderno na célula com os
nomes das pessoas que você 'tá orando pra convidar pra célula. Então essas pessoas que
'tão lá fora, 'tão fora da igreja, que não conhecem a Palavra de Deus, ou muitas vezes
conhecem a Palavra de Deus, mas não 'tão na igreja.

18p. Entrevistador: E há alguma ação desenvolvida pra ajudar socialmente essas


pessoas?
18r. Entrevistada: Tem. A ação pra ajudar as pessoas que não conhecem a Jesus? Ação?
Geralmente é convite pra ir, mas se por um acaso, se você conhecer uma pessoa que ela 'tá
593

precisando, nós já fizemos uma célula na casa de uma pessoa que queria uma célula na casa
dela. Entendeu? Nós saímos do que a gente estava, fomos. Então essa é a ação. Ação de ir
ao encontro, de orar, de 'tá junto, de ligar se a pessoa tiver precisando de alguma coisa, tipo,
sei lá... Às vezes as pessoas ligam. Precisam de uma fralda, alguma coisa, a gente faz.

19p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


19r. Entrevistada: Minha igreja hoje? Caracterizar? Como assim? Em que sentido?

20p. Entrevistador: É... Minha igreja é uma igreja grande, pequena, feia, bonita...
20r. Entrevistada: Minha igreja é uma igreja grande, boa, que tem uns pastores muito
bons. Pra mim é uma igreja... Eu não tenho, hoje, eu num tenho o que reclamar. É uma
igreja que 'tá evoluindo, que 'tá procurando desenvolver um trabalho bom pra alcançar
pessoas. Então, quer dizer, eu acho que assim, uma igreja que se preocupa em alcançar
vidas que estão perdidas, pra mim é o importante na igreja, que dá muitos frutos na nossa
igreja.

21p. Entrevistador: E qual o impacto, a influência da célula na igreja como um todo?


21r. Entrevistada: Como um todo? Pacto?

22p. Entrevistador: Impacto.


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22r. Entrevistada: Impacto?

23p. Entrevistador: É. Influência da célula sobre a igreja, nas celebrações, na maneira


da igreja funcionar como igreja.
23r. Entrevistada: Bem. Na maneira, assim, nos cultos, você 'tá querendo dizer?

24p. Entrevistador: Isso.


24r. Entrevistada: Eu não vejo assim. Aí eu não vejo. Porque na hora da celebração já tem
as coisas estipuladas, vamos supor quem vai fazer o louvor. Então, quer dizer, eu não sei...
Eu vou falar aquilo que eu não sei, então eu não posso falar por fora, eu não vejo o que a
célula faz nisso aí. Eu acho que...

25p. Entrevistador: Mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre a célula?
25r. Entrevistada: Não. Só isso.

26p. Entrevistador: Muito obrigado.


26r. Entrevistada: Tá ótimo.

FUNÇÃO: Auxiliar de líder SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
34 anos Jardim Camburi PIBJC 63

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequeno grupo, sobre célula. Eu queria
que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Bem, a minha experiência com célula, quando eu comecei a frequentar
a célula, tem sete anos atrás, eu vim através de um amigo do meu irmão e eu me converti
no ano seguinte dessa frequência de célula. Eu vim do mundo e quando eu conheci a célula
594

eu achei assim um ambiente muito agradável, porque eu estava precisando de um lugar


agradável pra me sentir mais curado, porque eu já tava vindo d'um processo de cura. E
quando eu entrei na célula, eu me senti assim, numa família aonde as mãos não se soltam.
A não ser que você solte a mão do seu irmão. E é um amor, assim, incompreensível, sabe?
Incomparável, quer dizer. Um amor incomparável. Com qualquer situação que você passe
no dia de hoje ninguém te abandona. A célula é um lugar aonde as pessoas amam
verdadeiramente. Hoje eu falo isso porque a célula que eu estou hoje, a gente multiplicou
mês passado e a célula que eu 'to hoje, o amor que a gente tem um pelo outro vai madrugada
adentro. E assim, eu vejo a célula um lugar de comunhão, de compartilhar, de experiências
de Deus, do agir de Deus, do poder maravilhoso de Deus. E eu fico muito feliz de 'tá
participando de uma.

2p. Entrevistador: O que a célula faz ou como que ela age pra desenvolver comunhão?
2r. Entrevistado: A nossa célula, ela age primeiramente a gente compartilhando em célula
os nossos desejos, nossas vontades, nossos problemas, nossas dificuldades, e daí pra frente.
A gente conhece um pouco o irmão pra como lidar com essa pessoa, porque é fácil você
chegar numa célula e falar tudo, mas não saber do problema do outro e não ajudar o
problema do outro. Então a nossa comunhão dentro, a gente trabalha dessa forma para
ajudar pessoas fora da célula, o que a gente faz? A gente busca informações, pra ter essa
comunhão, não só dentro da célula, mas fora da célula também. Então a gente procura
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informações lá fora, traz pra dentro da célula, compartilha com todos e analisa um ponto
de vista pra melhorar naquela situação, seja da pessoa, de uma entidade que precisa de
ajuda, até mesmo das nossas igrejas filhas, que a gente tem aqui. Que a gente tem lá em
Carapebus, a gente 'tá ajudando também a supervisão do meu líder. Então é nesse ponto
que a gente faz essa comunhão crescer cada vez mais

3p. Entrevistador: Como é que a célula contribuiu pra ajudar você a conhecer a Deus?
3r. Entrevistado: Nossa! Através dos irmãos. Eles não desistiram de mim. Eu moro em
_____. Lá na última etapa. Dá quase uma hora e meia de ônibus daqui. E eu venho, se
deixar, todo dia. Por isso que meu futuro bairro é perto da minha igreja. Então eles não me
abandonaram. Eles saiam, eles iam lá, orar apenas comigo e voltavam. Então isso é um
amor tremendo pela minha vida, porque Deus tem uma obra na minha vida, e eles viram
isso. Coisa que eu não estava vendo. Então tem, eu digo que as vendas nos olhos.

4p. Entrevistador: E o que mudou na sua vida depois que você passou a frequentar
célula e teve essa experiência com Deus?
4r. Entrevistado: O que mudou na minha vida é um sorriso que eu não paro de fazer. É
um sorriso que eu não paro de dar. Através deles, é maravilhoso, a felicidade que eu tenho
de ajudar pessoas, de vim pra igreja, de praticar o bem, de ajudar a quem precisa. E assim,
eu não cobro de nada, não cobro de ninguém. Às vezes a gente fica, porque nós somos seres
humanos com pecados do início ao fim, a gente entende isso. Mas, assim, eu vejo que eu
não posso cobrar isso de ninguém. Então, eu vejo isso como uma alegria infinita através do
que eles me deram.

5p. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo pra célula a existência da... Pra
igreja a existência da célula?
5r. Entrevistado: Não, eu não vejo. Pelo contrário, eu vejo que a gente pode ajudar muitas
pessoas, como me ajudaram também. Porque eu não conhecia célula, não conhecia uma
595

igreja assim, eu era _____. E a gente não tinha isso, apenas tem encontro de sexta-feira, de
novena, coisas de________. Mas não vejo nada contra também, porque eu não frequentava
e eu não sei dizer como que era. Mas eu vejo que agrega cada vez mais o bairro, as pessoas
que conhecem. Então eu vejo que agrega, não atrapalha, não.

6p. Entrevistador: E qual impacto que a célula causa na igreja como um... Como um
todo? Nas celebrações, qual a influência da célula na igreja como um todo.
6r. Entrevistado: Oh! A influência que a célula pode causar na igreja é de conhecer
pessoas que não são membros, porque a célula, a gente se reúne toda quarta-feira e
domingo. O culto das dezesseis e das dezoito. Mas a gente encontra sempre no culto das
vinte, é onde que tem mais jovens. Só que os novatos quando não são da igreja, da
membresia, eles vêm no culto das dezesseis. E eu com minha namorada, nós frequentamos
o culto das dezesseis, e vemos cada vez mais pessoas que se levantam, que não são da igreja
no culto das dezesseis, quando o pastor fala quem não é da igreja. Então nesse momento é
onde que a nossa célula entra. A gente tem um irmão na célula, o _____, que é um pescador
de almas. _________ e ________, eles são casados, e são pescadores de vidas. Eles já
receberam pessoas... A gente já recebeu pessoas na célula, a maioria da nossa célula são
de, como diz, de pescaria deles, no culto das dezesseis. Então a célula é um lugar dentro da
igreja que vê pessoas que precisam de ajuda, como nós precisamos antigamente, há um
tempo atrás, e restaura e capta essas pessoas.
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7p. Entrevistador: E como é que acontece essa pescaria que você falou?
7r. Entrevistado: O pastor fala uma palavra lá frente: "Quem não é membro da igreja, a
gente gostaria de lhe dar as boas vindas, agradecer pela sua visita e orar pela sua vida e a
gente gostaria de conhecer vocês". As pessoas se levantam, o pastor pede, por gentileza.
Lógico que não é obrigatório. E assim que ela levanta a gente grava quem é essa pessoa, e
assim que chega o final do culto, nós vamos de encontro a essa pessoa, nos apresentamos.
Damos informações, as boas vindas, e aí pega um telefonezinho, um email, pra manter
contato. E participa da vida da pessoa daí pra frente.

8p. Entrevistador: Como é que as pessoas cuidam umas das outras na célula?
8r. Entrevistado: Nossa! É um amor tremendo. Se eu falar aqui cara, o que 'tá rolando no
Whatsapp aqui até agora, é um amor tremendo. Três horas da manhã um orando pela vida
do outro, às vezes a pessoa 'tá acordada. Eu mesmo essa madrugada, eu fiquei fazendo um
vídeo de celebração de uma irmã que teve câncer, três horas da manhã eu falei: "vamos
orar". Uns quatro, cinco responderam: “to aqui". É assim. O cuidado é tremendo, o cuidado
é de Deus, é maravilhoso, é muito bom o cuidado de todo mundo.

9p. Entrevistador: Isso independente do encontro, então além dos encontros.


9r. Entrevistado: Além dos encontros. Coisa que domingo a gente não tem encontro, então
a gente 'tá ali, é um motivo de se encontrar. O Whatsapp, é um bate papo.

10p. Entrevistador: E nos encontros presenciais da célula, que espaço as pessoas tem
pra se expressar, pra falar de si mesmas?
10r. Entrevistado: Os espaços que nós temos são os quatro E's, que é o quebra-gelo,
evangelizar, perdão, o louvor, que é a edificação... Não. Ai gente, como que é?

11p. Entrevistador: Não tem problema.


596

11r. Entrevistado: São os quatro E's. Edificação, evangelizar e exaltar. Isso mesmo. E aí
nesse momento de edificação, evangelização e exaltação, as pessoas conversam
abertamente ali, no momento que dá o espaço. Então nesse momento que a gente entra em
bate-papo, a gente fala da Palavra, fala dos nossos problemas. Despejamos problemas pra
Deus conhecer a gente interiormente.

12p. Entrevistador: Você recomenda a célula pra todo mundo da igreja?


12r. Entrevistado: Pra quem não é da igreja eu recomendo. Pra quem não conhece eu a
recomendo plenamente.

13p. Entrevistador: E se você tivesse que usar um argumento pra uma pessoa que não
está em célula ainda, mesmo que ela esteja na igreja ou não, independente disso. Se
você for usar um argumento a favor, pra que ela viesse pra célula, que argumento
você usaria?
13r. Entrevistado: Eu argumentaria o meu testemunho, porque eu já tive a ponto de
morrer, eu já tive ao ponto de subir no morro e não conseguir sair. Do morro porque eu
tava devendo duzentos reais. Meu cunhado foi lá e pagou. O meu pai não lembro, entendeu?
Então a memória às vezes, ela me deixa não lembrar de certas coisas, mas eu recomendaria
o meu testemunho de vida, de restauração, de cura, de libertação pra essa pessoa, porque
eu vejo que o testemunho é a maior prova pra você mostrar pra uma pessoa que Deus cura,
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Deus restaura, Deus limpa, Deus age, Deus 'tá do nosso lado o tempo inteiro.

14p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


14r. Entrevistado: Célula é maravilhosa, pastor. Eu diria que quem não conhece, eu só
gostaria de apresentar a ela um dia da semana, que conhecesse um dia da semana essa
célula, que vai ver como que é gostoso conhecer. E você não precisa deixar o mundo, como
diz, não precisa sair com seus amigos pra um barzinho, lógico, você não vai beber, você
não vai fumar, você não vai fazer horários extravagantes, mas você não deixa de fazer nada.
Lógico que você faz tudo na medida que Deus 'tá te mostrando com pessoas agradáveis e
momentos agradáveis, que não te tire o distúrbio da vida. Então eu recomendo um dia de
célula.

15p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


15r. Entrevistado: Nada.
597

FUNÇÃO: Auxiliar de líder SEXO: Feminino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
31 anos Jardim Camburi PIBJC 64

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Então
eu queria que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência com célula é assim, uma forma da gente conseguir
ter uma, como é que fala, uma convivência, assim, com pessoas saudáveis. Que
normalmente falam, compartilham da mesma, do mesmo pensamento, do mesmo, dos
mesmos sonhos, assim, no sentido de, futuramente estar, como que diz! Instáveis. A
família, um lar, filhos, maridos, no caso de pessoas solteiras. E que compartilham também
da sua vida. A sua experiência, tanto profissional, quanto pessoal, familiar. Eu acho que
isso é algo assim, tudo muito saudável, muito sem nenhuma... Eu posso dizer até sem
nenhuma falsidade. Que o mundo às vezes nos trata dessa forma, assim, então pra mim isso
é viver em células, em pequenos grupos.

2p. Entrevistador: Faz quanto tempo que você faz parte de um pequeno grupo?
2r. Entrevistada: De frequentar mesmo, eu já visitei algumas, mas de frequentar mesmo
faz dois anos.
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3p. Entrevistador: E como é que você foi parar no pequeno grupo?


3r. Entrevistada: Convite mesmo de amigos. Igual eu falei, a princípio, há anos atrás eu
visitava, mas eu ainda... É como se eu não tivesse me encaixado direito. Hoje eu estou com,
já estou na segunda célula, passando pela segunda, e são pessoas que a gente tem tido uma
convivência bem legal, assim.

4p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de alguma igreja que não tem o pequeno
grupo?
4r. Entrevistada: Sim.

5p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem o pequeno
grupo e uma igreja que não tem o pequeno grupo?
5r. Entrevistada: Então... É basicamente isso, é a convivência maior que a gente tem com
as pessoas, assim, e isso evita de você às vezes procurar outras pessoas. Que às vezes não
são cristãs, que não estão no seu ciclo ali de amigos e você vai formando cada vez mais
amigos mesmo. Relacionamento.

6p. Entrevistador: E o que a célula faz pra intensificar ou aprofundar essa convivência
ou esses relacionamentos que você mencionou?
6r. Entrevistada: Momentos sociais mesmo. Um passeio, um churrasco. Hoje mesmo a
gente vai ter um churrasco da supervisão toda. Então a gente vai reunir todos da nossa
supervisão, então vai ser bem bacana, a gente vai encontrar com pessoas que a gente já não
encontrava há muito tempo, com pessoas que a gente tava na célula passada e já estamos
com saudade, então, é um cinema, um jantar, um evento social assim que é.

7p. Entrevistador: E os encontros da célula, como é que eles acontecem?


7r. Entrevistada: Semanalmente. Uma vez na semana a gente se encontra. A gente se
reúne na casa de um, a gente faz as escalas, cada um é escalado pra ser na casa dele, outro
598

na execução do evangelismo, da parte de louvor e na edificação também. Então, é


basicamente isso assim.

8p. Entrevistador: E quem controla?


8r. Entrevistada: A gente deixa no controle mesmo também. Às vezes a gente fica até no
compartilhamento, só, assim, dependendo do andamento da célula.

9p. Entrevistador: As pessoas tem liberdade de falar delas mesmas, como é que isso
funciona?
9r. Entrevistada: Sim, tem sim. A gente deixa bem a vontade, a princípio assim, quando
a gente recebe um convidado pela primeira vez, a gente deixa a pessoa bem a vontade. E
assim como a gente compartilha coisas que se passam na nossa vida também, acaba
acontecendo que a pessoa fica a vontade pra compartilhar também e vê que ali é um
momento mais informal. Num é tão formal como um culto.

10p. Entrevistador: E como é que as pessoas cuidam umas das outras?


10r. Entrevistada: É muito bacana. Agora hoje em dia com essa tecnologia nossa aí, a
gente está com... A gente forma os grupos no whatsapp, então a gente já tem o grupo da
nossa célula. E a gente se fala todos os dias. É "bom dia", "tá tudo bem?", um fala: "não tá
legal, ora por mim", a gente já entra num momento de oração e a pessoa... Outro vem:
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"gente, tá bom demais e to indo pra uma entrevista agora, ora por mim" e fica muito legal,
assim. A gente tá um orando pelo outro, um torcendo pelo outro e se preocupando também.
"Tá precisando de alguma coisa? To indo aí". Aí é muito legal.

11p. Entrevistador: E pras pessoas de fora da célula, tem alguma preocupação com
as pessoas de fora, com a sociedade de modo geral, a transformação da sociedade,
ajudar as pessoas?
11r. Entrevistada: Sim. A gente faz também o momento de evangelismo. Na célula
passada a gente fez... A gente foi pra Barra do Riacho, lá a gente ficou o dia todo, formamos
pequenos grupos e fomos pras ruas pra fazer evangelismo. E a noite nós que preparamos o
culto na igreja de lá. Aí a noite tinha visitantes, as pessoas que foram evangelizadas. Então
isso é o nosso alvo mesmo.

12p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja como um todo a existência da
célula?
12r. Entrevistada: Não.

13p. Entrevistador: E benefícios? Algum benefício? Que benefícios a célula


proporciona pra igreja como um todo?

13r. Entrevistada: Tem muitos. Porque é um ambiente ali fora do culto da igreja, que as
vezes algumas pessoas olham a igreja como algo, assim, eu posso dizer algo bitolado, algo
mais sério, mais... Então assim, é algo que a gente, ali a gente primeiro a gente forma um
relacionamento com a pessoa e depois com o agir mesmo de Deus. Com o transformar
mesmo, ele vai transformando a vida da pessoa e a pessoa vai vendo que igreja é um
ambiente saudável, um ambiente também onde as pessoas sofrem, onde as pessoas passam
por problemas, mas passam por problemas com a cabeça erguida e confiando. Em Deus,
assim. Então é sim muito importante a célula.
599

14p. Entrevistador: Se você tivesse que usar um argumento pra alguém que não está
em célula, pra ir pra célula, que argumento você usaria?
14r. Entrevistada: Eu usaria que a célula transformou a minha vida assim como pode
transformar a vida da pessoa também. Que a gente precisa de pessoas, a gente precisa de
amigos, a gente precisa de estar em comunhão com as pessoas que isso é pra nossa vida.
Isso é necessário, é primordial, assim. Então eu usaria esse argumento.

15p. Entrevistador: E como é que a célula transformou a sua vida?


15r. Entrevistada: Transformou no sentido de realmente assim eu ver que eu estava... Não
estava tão assim assídua na igreja, então transformou a minha vida no sentido de olhar com
outros olhos, ver que eu podia somar. Assim, no sentido de me doar mesmo, de ver qual
era o meu dom, de como é que fala? Que mais que posso falar?

16p. Entrevistador: Como é que a célula contribuiu pra você no seu conhecimento de
Deus?
16r. Entrevistada: Então, a gente começa a se interessar mais. A ler mais a Bíblia. Eu
passei a fazer muito mais cursos na igreja, a me interessar mais em aprender, em contribuir
também. A gente está aí a disposição sempre pra ajudar no que for preciso, então isso abriu
meu coração mesmo pra esse sentido. De querer estar mais ligado ao que se diz respeito a
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igreja mesmo.

17p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


17r. Entrevistada: A igreja, ela... Eu vejo... Eu posso ver assim, como quando uma pessoa,
por exemplo, eu vou te dar o exemplo de alguém que está passando por alguma dificuldade
na saúde. Está no hospital. É muito lindo ver assim o mover da igreja, assim, no sentido de
'vamos orar por fulano’, 'tá passando por um problema, a igreja toda se movimenta e jejua
e oração e vamos fazer isso'. A gente passou por um momento de nossa líder na célula
passada, quando descobriu o câncer, e a gente, assim, se mobilizou de uma forma, assim,
que a igreja toda ficou como se fosse a família dela. A gente trata a pessoa como da família
mesmo, a gente tem tanta... Tanto amor, tanta convivência que a gente começa a se mover
e enquanto a gente não vê ali aquela restauração, aquela melhora ali, a gente 'tá em oração,
a gente 'tá... Então eu acho isso maravilhoso assim, esse cuidado que a igreja tem com a
gente, essa importância que ela dá pra gente. E eu acho bacana os pastores ligarem no dia
do aniversário. Dar os parabéns. Eu vi algumas igrejas assim, que o pastor manda um email,
assim. Às vezes parece que é até alguma coisa meio que automática, assim. Agora você
ouvir uma palavra do pastor, ligar pra você e dizer que você é importante. Então dentro de
um número tão grande da nossa igreja isso é muito importante pra gente, assim, saber que
a gente é tratado como se fosse um membro da família mesmo.

18p. Entrevistador: Mais alguma coisa sobre célula?


18r. Entrevistada: Não.

19p. Entrevistador: Obrigado.


19r. Entrevistada: Só isso?
600

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
44 anos Jardim Camburi PIBJC 65

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos, sobre célula. Queria que
você compartilhasse a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Eu vejo a célula como uma forma de um acompanhamento, um
desenvolvimento de um relacionamento, que isso ajuda a gente a se manter firme na
presença de Deus, a sempre 'tá procurando melhorar a cada dia. Às vezes a gente 'tá com
dificuldade, procura o irmão, o irmão logo vai chamar a gente pra conversar um momento
a sós e assim a gente pode, é, compartilhar as nossas lutas, dividir as nossas lutas com os
outros. E crescer.

2p. Entrevistador: Quanto tempo faz que você faz parte da célula?
2r. Entrevistado: Desde agosto de dois mil e dez.

3p. Entrevistador: Quando... Você chegou a fazer parte da igreja sem estar em célula?
3r. Entrevistado: Não. A outra igreja que eu participava antes, que é um pouco distante
daqui, eu já participava de célula. E quando eu vim pra cá, eu já conhecia célula, já fui logo
me informar e procurar uma célula pra participar.
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4p. Entrevistador: Ok. Quais os benefícios da célula pra você, pra sua vida, pro seu
relacionamento com Deus?
4r. Entrevistado: Na constância, uma forma de sempre de 'tá lembrando que a gente
precisa buscar a Deus diariamente. E na célula isso é despertado na gente.

5p. Entrevistador: Como é que a célula é... Quais... Como é que acontecem os
encontros da célula?
5r. Entrevistado: A célula que eu participo os encontros são semanais, na quarta-feira à
noite as vinte... Das vinte as vinte e uma e trinta. E às vezes tem algum social, um churrasco,
um café da manhã, um passeio que a gente organiza também.

6p. Entrevistador: Como é que a célula... Nos encontros da célula, como é que acontece
a participação dos membros da célula?
6r. Entrevistado: É bem democrático, vamos dizer assim. Que onde todos são
incentivados a compartilhar, a participar, estar orando, falando de alguma benção que
recebeu, ou pedindo uma oração. Todos são incentivados a participar, a falar.

7p. Entrevistador: E como é que essas pessoas cuidam umas das outras?
7r. Entrevistado: Eu vejo muito... Muita atenção, muito carinho. E se uma pessoa falta
uma reunião os outros procuram saber o que aconteceu, o porquê, se precisa de alguma
ajuda. Tem esse apoio.

8p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre a célula e comunhão?


8r. Entrevistado: Célula e comunhão. Eu vejo que a célula facilita muito a comunhão entre
os membros, porque é uma igreja grande. Muitos membros, muitas pessoas a gente nem
601

conhece e na célula a gente pode desenvolver o relacionamento, ter aproximação e a célula


facilita isso.

9p. Entrevistador: Qual é a preocupação da célula com as pessoas que estão fora, que
não estão na igreja, que não estão na célula?
9r. Entrevistado: Baseando a experiência na nossa célula, eu vejo que é uma preocupação
de abrir espaço pra essas pessoas se achegarem e também buscarem a Deus junto com a
gente. E se as pessoas tem alguma luta, alguma dificuldade, a célula procura também dar
apoio a essas pessoas.

10p. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo pra igreja como um todo, a
existência da célula?
10r. Entrevistado: De modo nenhum. Só vantagens mesmo, só coisa boa.

11p. Entrevistador: E que vantagens são essas? Que vantagens a célula traz pra igreja
como um todo?
11r. Entrevistado: Eu vejo como uma forma de manter a pessoa próxima da igreja, como
corpo, e a pessoa próxima, se ela tiver passando dificuldade, alguém vai perceber e vai
poder ajudar. Se a pessoa ficar afastada, não tiver participando de célula, dificilmente
alguém vai perceber que ela 'tá passando dificuldade e é o risco da pessoa se afastar da
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igreja, se desviar de Cristo, e ninguém nem saber disso. Então na célula as coisas são mais
fáceis de ser percebidas e é até mais fácil de dar esse apoio quando a pessoa precisa.

12p. Entrevistador: E a célula traz alguma contribuição também pra... Celebração?


12r. Entrevistado: Sim. A célula traz contribuição para a celebração porque a pessoa acaba
se tornando mais desinibida ao participar da célula, e quando chega na celebração, eu
acredito que isso contribui, a pessoa se sente mais a vontade, se sente em casa, vamos dizer.

13p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos da célula?


13r. Entrevistado: É o crescimento, como corpo de Cristo, como igreja. É o ensinamento,
entre as pessoas, e de cada pessoa com Deus.

14p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


14r. Entrevistado: A igreja hoje, eu vejo como a instituição baseada nos princípios de
Deus, nos princípios bíblicos. E bem estruturada, bem organizada, que sempre está
buscando aproximar as pessoas mais de Cristo. E essa igreja eu vejo como, assim, pela
estrutura pela organização que tem, se a pessoa quiser crescer, ele tem espaço. Crescer,
como dizer, na presença de Deus e na busca de ter uma vida melhor com Deus.

15p. Entrevistador: Se você tivesse que usar algum argumento pra alguém que não
está em célula, pra ela vir pra célula, o que você diria pra ela?

15r. Entrevistado: Primeira coisa: não é bom a pessoa ficar sozinha. Sozinha é difícil levar
a vida. Então em relacionamento com pessoas, e um relacionamento saudável, na busca
pelas coisas de Deus, pela vontade de Deus, as coisas vão se tornar mais fáceis. Se a pessoa
passar por uma dificuldade, uma luta fora da igreja e fora da célula vai ser difícil superar.
Agora se for na célula, a pessoa já vai ter um ânimo a mais por causa desse convívio, desse
relacionamento. E isso motiva mais a pessoa.
602

16p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?

16r. Entrevistado: No momento é o que eu tinha pra dizer é só isso mesmo, que é
relacionamento com Deus e comunhão com os irmãos.

17p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Supervisor SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
47 anos Jardim Camburi PIBJC 66

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula.
1r. Entrevistado: Ok.

2p. Entrevistador: Queria que você começasse falando sobre sua experiência com
pequenos grupos.
2r. Entrevistado: Pois é, eu tive, eu entrei em contato com a igreja de Jardim Camburi, no
ano de dois mil e um. E aqui, em dois mil e dois, eu já comecei a entender o que era,
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realmente essa, os grupos pequenos. Quando eles me chamaram pra fazer o tal do ABC de
células. Então, dali pra frente estudando através das apostilas eu tive a compreensão de que
eu entendi que aquilo era realmente o caminho. Um caminho até de resgatar um pouco
aquilo que estava falando lá em Atos, a respeito dos grupos que se reuniam nas casa e
também no templo. Então eu absorvi pra mim, pra minha família. A família entendeu, então
assim nós começamos a andar e a caminhar em grupos pequenos.

3p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de alguma igreja que não tivesse o grupo
pequeno?
3r. Entrevistado: Não cheguei. Essa foi a primeira igreja que eu participei.

4p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos do pequeno grupo?


4r. Entrevistado: Eu entendo que o principal objetivo no grupo, depois que a gente faz a
questão da adoração em grupos pequenos é a comunhão e a mutualidade. Eu me senti
melhor cuidado, quando eu consegui me expor num grupo menor. E eu pude também ajudar
mais pessoas depois da compreensão dos pequenos grupos, sabe? Antigamente a gente
ajudava no atacado. Agora a gente passou a ser mais objetivo, mais no varejo com o irmão,
próximo da necessidade dele. Ou também próximo da alegria dele também, vivendo,
vivenciando mais isso, essa questão da individualidade.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você estabelece entre pequeno grupo e
comunhão?
5r. Entrevistado: A relação olha, ela é quase que total. Sabe por quê? Eu diria o seguinte,
você pode haver uma reunião sem comunhão, é verdade, pode haver. Eu até acredito que
sim. Pessoas que talvez com dificuldade de relacionamento. Existe muita gente diferente
mesmo. Mas quando mesmo assim ela deixa transparecer o que ela é. E a partir do momento
que ela não consegue se comunicar comigo, no estado de comunhão, eu já começo a
entendê-la. Então nesse sentido que a comunicação é feita, sendo ou não, feita a parte de
603

comunhão. Como a gente entende que ele também quer servir uns aos outros. Eu acho que
ela passa a ser até mais entendida de uma melhor maneira. Então, eu acho que isso seria o
que é importante.

6p. Entrevistador: Qual o espaço que as pessoas têm pra conversar, pra compartilhar
suas experiências nos encontros da célula?
6r. Entrevistado: O principal espaço que eu vejo lá hoje é o que eu chamo de parceria.
Nas parcerias a gente tem condições de abrir o coração. A gente trabalha com discipulado.
Eu pelo menos, na minha supervisão, a gente incentiva bastante o cuidado, o ensino da
vida. Mas é na parceria que a gente desenvolve realmente essa questão, na parceria. Nas
parcerias rolam homem com homem, geralmente na mesma idade, com os mesmos perfis,
ou próximos disso. Parcerias um pouquinho mais velhas, senhores tentando caminhar com
mais jovens. Parceria com objetivos a fins. Parceria na área esportiva. Parceria na área da
igreja. Servindo ministérios próximos. Então essas visitas, esses encontros com os
parceiros elas nos remetem a isso.

7p. Entrevistador: E como é que as pessoas cuidam umas das outras?


7r. Entrevistado: Eu tenho uma experiência linda pra falar sobre cuidado. Eu, quando,
logo quando entrei em célula, em dois mil e dois. Como eu falei em dois mil e um pra
igreja, em dois mil e dois já estava bem aclimatado aqui. Eu sofri o que a gente chama de
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desemprego. Foi uma experiência. Eu sempre trabalhei no mercado de trabalho normal.


Um mercado competitivo. Então, houve o desligamento da empresa. E por aí eu fui pra
célula, avisei normalmente. Olha, a gente vai procurar se recolocar no mercado. Uns quinze
dias depois eu recebi a visita de dois colegas da célula em casa, sem avisar, e qual foi a
minha surpresa? Eles sentaram na mesa e estenderam o talão de cheque, perguntando
quanto era o aluguel. Eu achei aquilo um absurdo no começo. Porque eu falei, mas eu sou
digno de intromissão. Aí eles, e um deles era o meu líder. Não, isso pra nós é extremamente
tranquilo de fazer, a gente só veio ajudar você. Foi uma experiência muito gratificante. Eu
na época não precisava, realmente, estava muito cedo ainda pra necessitar. Quinze dias,
vinte de desemprego. Mas aquilo me deixou assim, uma possibilidade muito grande de
analisar o tão, o quanto que a gente pode ajudar. Não só em oração, não só servindo. E
também financeiramente. Então aquilo me deixou até constrangido no começo, mas depois,
com o passar do tempo, eu vi que isso é uma coisa muito natural pra quem está vivendo em
célula. Então, esse foi o principal argumento que eu tenho de ajudar, de servir, de levar uma
pessoa. Eu mesmo já fui buscar exame de umas pessoas que não podiam. Fui atender casais,
ás vezes com problemas, às vezes vai eu e minha esposa. Fomos orar juntos. Já tive até esse
atendimento. Pessoas que se preocupam com a perda de alguém, ou então, são os primeiros
a serem socorridos. Falece algum parente da família. Outros num momento de casamento.
Apresentação de bebês. Sempre tem alguém junto. Fazer compra junto no supermercado.
São atividades totalmente voltadas para isso. Isso que me aproximou muito dessa relação.

8p. Entrevistador: A célula também tem alguma preocupação com a sociedade de um


modo geral, com as pessoas de fora?
8r. Entrevistado: Tem, bastante. Nós temos vários movimentos, não são... Não é o
objetivo final da célula. Nós temos vários movimentos que focam a sociedade. Pelo menos
quase todos os anos as nossas células, da minha supervisão pelo menos, fazem
atendimentos na área social. Seja no próprio organismo que nós temos na igreja. Sejam em
outras da sociedade. No caso nosso, nós nos concentramos na sociedade. É muito comum
604

nós enxergarmos os orfanatos. Nós enxergarmos os asilos. E as casas de recuperação de


pessoas com dependência química. Então nós reunimos. Eu lembro da última parceria
nossa, várias células foram à um... Assistir um filme e levar mantimentos para pessoas com
problemas de drogadição. Outras levaram mantimentos para um orfanato, seguidos de
presentes de natal e outra equipe, foi reformar uma casa de dependentes químicos. Levaram
tinta, passaram o dia lavando, uma forma de contribuir com a sociedade nesse sentido. Mas
tem aquela contribuição que você dá quando alguém entra na célula, com um tipo de
dependência dessas. Um órfão, um dependente que eu estou tratando, num caso desses
dizer. Tratando que eu digo, assim, vivendo com uma pessoa dessas. Que tem na igreja,
acompanhada comigo e com meu líder da célula. Sobre a dificuldade que ele está tendo de
largar o vício do cigarro, por exemplo. Então, nós andamos com ele, então nós mostramos
pra ele. Então essa é uma forma de ajudar a sociedade a extrair de lá as pessoas com esses
problemas.

9p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja, a existência do pequeno grupo?
9r. Entrevistado: Vejo. Vejo longe, mas eu vejo. Vai depender de o que a gente chama de
infiltrações. O que eu posso dizer! Por exemplo. Uma célula madura. Uma célula forte,
com todos os valores, com todos os princípios, com evangelismo, com comunhão, onde há
uma boa edificação, ela corre muito pouco tempo o risco de se tornar uma autônoma, e
querer se tornar independente. Porque a célula tem como premissa multiplicar. Se essa
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visão esta bem declarada dentro dela, o líder já forma o auxiliar e ele então já tende a visão
de multiplicar isso, então não há nenhum risco. Nem para a igreja, nem nada. Às vezes há
um risco de uma pessoa que não foi bem treinada, não entendeu a concepção de célula. Que
às vezes está enxergando naquele grupo que pode chegar a trinta, quarenta pessoas e não
conseguiu multiplicar, uma forma de sair para abrir uma congregação, por exemplo, ou um
trabalho de pregação. Esse pode ser um risco. Não tenho visto isso aqui nesses anos. Aliás,
nos últimos doze, treze anos não. Mas eu penso também como teólogo 710, que isso pode
acontecer. Que a gente tem visto um paralelo. Algumas coisas parecidas. Em nosso
contexto eu não tenho observado. Mas eu acho que é um risco, um risco sim.

10p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula proporciona pra igreja


como um todo?
10r. Entrevistado: Olha, eu entendo que as pessoas são mais, saudáveis. Eu que, como te
disse, é a primeira experiência com grupos pequenos, antes disso eu sempre conheci igrejas
sem o grupo pequeno. Mas eu vejo uma diferença na saúde das pessoas. Saúde espiritual,
comprometimento. Ela traz muito benefício. Na hora de você precisar agregar pessoas para
alguma atividade, atividades extras da igreja, como cultos fora, como grandes celebrações,
como grandes atividades evangelísticas, como peças de natal, como atividades em favor da
denominação, nas campanhas que a denominação como um todo faz. A célula consegue,
ela otimiza essa comunicação. Ela otimiza. Então, quer dizer, a igreja fala no todo, mas a
célula às vezes esmiúça essa informação, então ali entendo que é mais fácil eu me aceitar
a fazer parte de um determinado grupo maior, para com o objetivo final. Isso é uma questão.
A outra questão, é que ali, eu tenho um discipulado direto de alguém maduro, de alguém
firme na fé. O que a gente acaba amadurecendo também espiritualmente. Então, o que às
vezes nós conseguimos, é com a igreja, com as classes, com as EBD's. Nós conseguimos
melhorar ainda muito mais, com o aprendizado um a um, dentro da célula. E no grupo ali

710
O entrevistado tem Graduação em Teologia.
605

você pode expor, por exemplo, uma dificuldade que você tem em um determinado assunto.
Teológico, ou batismo, ou ceia, ou dízimo. Ou alguma questão nesse sentido. E aí a gente
pega e faz o estudo melhor. O entendimento, eu acho que é melhor. Então, a célula ajuda a
igreja.

11p. Entrevistador: E com relação às questões funcionais da igreja, o funcionamento


da igreja como estrutura funcional da igreja?
11r. Entrevistado: Sim. Ela pode melhorar. Ela pode melhorar a estrutura da igreja.
Talvez, se ela for usada corretamente. A igreja tem vários ministérios. Se isso for focado
para as células... Pode ser que ajude os ministérios. É, por exemplo, a mobilização dos
ministérios. Nós vamos fazer agora um culto, com a rede ou com a supervisão de (N.).
Então, mais fácil eu contatar aquelas questões ali e ajudar no ministério. No funcionamento
ajuda, porque como eu te disse, na área de serviço, que a igreja também não pode abrir mão
de voluntários, dos ministros. Eles têm de tempo integral, mas tem as pessoas que ajudam.
O movimento celular, ele ajuda demais a igreja nesse sentido. Nossa igreja aqui, ela vive
com atividades, mas você não percebe, porque a grande maioria está dentro, está intrínseca
dentro das redes e das supervisões. Então eu acho que ela acaba ajudando no
funcionamento. Nas recepções dos cultos, nos cantos dos coros, isso tudo vem
influenciando bem.
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12p. Entrevistador: Você recomenda a célula para todos os membros da igreja?


12r. Entrevistado: Recomendo. Sou taxativo. Acho que eles deveriam estar em célula.

13p. Entrevistador: E se você tivesse que argumentar, pra um desses membros que
não estão em célula, pra que ele venha pra célula, qual o argumento que você usaria?
13r. Entrevistado: Eu falo sempre o seguinte, meu irmão, o irmão não está sozinho. Eu
falo com o irmão que não está em célula. O irmão não está sozinho. Em hipótese nenhuma.
A célula não é um modelo final. O irmão não está sozinho. Mas o irmão pode andar com
muito mais pessoas ao seu lado, todos os dias. Esse é o argumento que eu uso. O irmão não
está sozinho, o irmão tem vindo aos cultos de domingo, às vezes até é um corista. Ok tem
o seu grupo de relacionamento. Mas o irmão em célula, o irmão vai estar muito mais
encaminhado. Tanto no ponto de vista da ajuda mútua, como no ponto de vista de abrir seu
coração. De externar ali seus agradecimentos, de fazer os seus pedidos. Então, eu acho que
ali ele, eu falo sempre, eu tenho um caso assim. Ele será muito melhor cuidado. E eu tenho
visto algumas pessoas que já realmente agradeceram essa insistência que a gente tem, delas
não estarem em células. Poxa vida, se eu soubesse tinha vindo antes. Que aqui, poxa, eu
consigo ser eu mesmo, essa é a verdade.

14p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


14r. Entrevistado: A minha igreja, puxa vida! Falar de nós mesmos é difícil. A nossa
igreja, ou a minha igreja hoje, é uma igreja... Acolhedora. Eu, embora não pareça, porque
é muito grande. Mas, é acolhedora. É uma igreja, como eu disse, que a gente não quer que
ninguém se sinta só. Mas ela é muito grande, pra poder, todos se conhecerem, então a gente
acaba se conhecendo nos grupos menores. Então, é muito comum hoje a gente ver uma
pessoa do nosso lado e perguntar: “você é daqui?”. “Eu sou há pouco tempo, cinco anos”.
“Poxa, rapaz eu também sou, sou há doze anos”. Então, é normal isso. Mas isso não quer
dizer que ela não é minha irmã em Cristo. Aí eu pergunto: “você está em qual célula?”
“Célula de fulano, que cujo líder é ciclano”. “Que joia!” Tão gente boa, que legal”. Então
606

a nossa igreja é muito, eu entendo que a minha igreja é acolhedora, ela é uma igreja onde
tem as pessoas, como eu disse, eu uso o termo saudáveis espiritualmente. Que as que a... É
uma unidade de informação. Mesmo em células, em cento e vinte células, nós temos uma
unidade de informação. Ou seja, todo conhecimento, toda comunicação, todo o saber, é
difundido igualmente por todas às células. Então, a gente não cabe... Aqui: “Eu não estava
presente no culto”, ou “eu deixei de vir uma semana”, isso tudo está bem sabatinado entre
os grupos. Então eu acho que o principal na minha igreja, é uma igreja acolhedora,
entendeu?

15p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


15r. Entrevistado: Não... Está tranquilo. Eu acho que já falei bem.

16p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Líder Auxiliar SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
24 anos Jardim Camburi PIBJC 67

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Eu
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queria que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Bem, a minha experiência com célula começou no ano de dois mil e três
pro ano de dois mil e quatro, quando eu vim de uma igreja, eu vim da ____________ pra
igreja Batista. E essa transição pra mim foi difícil, eu tinha mais ou menos, assim treze,
catorze anos, um adolescente. Cheguei no retiro, eu não conhecia ninguém, e célula pra
mim era um bicho de sete cabeças, eu não sabia o que era. Só ouvia as pessoas falando:
"ah, célula... ", mas até então não sabia. E nesse retiro eu conheci algumas pessoas, um
amigo meu. Hoje a gente 'tá assim meio afastado, até porque ele 'tá pra casar. Mas foram
muitos anos aí. Mas eu gosto muito dele e ele me chamou pra célula dele e durante esse
período ele me acompanhou, e isso pra mim foi fundamental aqui na igreja hoje. Se eu 'to
aqui hoje foi porque essas pessoas elas me acolheram, assim, me abraçaram. Eu tinha, eu
era novo, mas era numa célula de rapazes de dezessete até vinte e dois anos, mas eu me
senti o irmão mais novo ali. Me senti em casa. Aí consegui identificar essa igreja aqui como
a minha igreja.

2p. Entrevistador: Muito bem. E o que você mais gosta, desde o começo até agora, o
que você mais aprecia na célula?
2r. Entrevistado: A diversidade de pessoas. São cabeças diferentes, principalmente minha
célula hoje são pessoas muito diferentes, de culturas muito diferentes, estilo diferentes, mas
que quando a gente 'tá junto é como se a gente fosse o corpo. A gente consegue ter essa
harmonia, essa comunhão, falando da Palavra de Deus, numa só direção, num só
pensamento. Muitas vezes alguns tem uma opinião diferente, lógico, mas a base é sempre
a mesma.

3p. Entrevistador: Os encontros acontecem semanalmente? Como é que funciona?


3r. Entrevistado: Os encontros acontecem aos sábados. No nosso caso, lá da minha célula,
cinco horas da tarde, gente que estuda, faz faculdade, e isso acontece na igreja,
semanalmente. Todo sábado.
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4p. Entrevistador: Quais são os maiores desafios numa célula?


4r. Entrevistado: Constância. Principalmente por uma célula ser uma célula de jovens,
principalmente por ser uma célula no sábado. E a juventude hoje, ela vive essa coisa de
constância, essa coisa de moralidade mínima, até onde eu posso ir, se eu passar daqui eu
não sou cristão, mas até aqui eu sou cristão. E isso as pessoas acabam dando privilégio a
outras coisas no sábado, seja um churrasco da faculdade, uma festa. E com esse afastamento
você acaba perdendo esse costume de célula, perdendo essa vontade de 'tá junto
compartilhando a Palavra de Deus.

5p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


5r. Entrevistado: Objetivo da célula, pra mim o maior objetivo é o feijão com arroz. É a
pessoa ter uma base, sabe? De aquilo gerar amor, gerar o princípio do conhecimento ali,
gerar conhecimento... Igual, pra mim, eu acredito que o conhecimento gera amor, o amor,
ele gera a obediência. E a célula é um princípio disso.

6p. Entrevistador: Como é que as pessoas cuidam umas das outras no contexto da
célula?
6r. Entrevistado: A gente trabalha com parcerias. Parcerias e discipulado. Parceria é
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quando duas pessoas já vêm caminhando há algum tempo. Pensando assim, dez, quinze
anos, ou nasceram num lar cristão, e elas precisam dessa vivência, de parceria, de 'tá
partilhando e confessando pecado, cria um amigo mais próximo. Você pode conversar com
ele, orar com ele. Já o discipulado é aquela pessoa que ela chega, aquela pessoa que ela
ainda precisa do leitinho ali, do bê-á-bá da Bíblia, das primeiras direções assim, o que é, o
que não é, o que eu posso fazer, o que eu não devo fazer. Se mostrar o caminho.

7p. Entrevistador: Mas no encontro da célula vocês tem a oportunidade de falar de


vocês também?
7r. Entrevistado: Sim, a gente tem a oportunidade e geralmente toda célula. A gente acaba
falando sempre da nossa vida, do nosso dia a dia. Uma coisa, uma benção da célula eu acho
que é isso: é você conseguir ver a sua dificuldade também na vida de outra pessoa. E muitas
vezes ver o testemunho do que você vive hoje. Uma pessoa conseguiu superar isso, com a
graça de Deus.

8p. Entrevistador: Como é que você relaciona célula com comunhão?


8r. Entrevistado: A união das pessoas. De estar ali dividindo a sua vida, falando outras
vezes de coisas particulares, desabafando; chorar com os que choram e se alegrar com os
que se alegram.

9p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja a existência do pequeno grupo?
9r. Entrevistado: Sim. A igreja precisa tomar cuidado pra célula não virar um gueto. Um
grupo de pessoas que são só essas pessoas, que tudo gira em torno dessas pessoas, e essas
pessoas só vivem pra essas pessoas. A célula, o objetivo dela é cuidar de quem está lá
conosco e alcançar os que estão fora. E de maneira alguma se fechar.
608

10p. Entrevistador: Pensando nos que estão fora, como é que a célula vê a questão da
sua missão na sociedade de um modo geral? O que a célula... Como é que a célula age
pra alcançar essas pessoas?
10r. Entrevistado: A gente trabalha assim... Muita gente trabalha de maneira pessoal, por
exemplo, eu tenho um amigo e ele é um cara bem na dele, assim, que chega na igreja há
três anos, quatro anos, mas ele vai se apresentar e o pessoal fala: "ah, nunca te vi aqui".
Então você tem uma oportunidade de chegar, conversar com ele e o primeiro passo é trazer
ele pra célula, pra ele conhecer pessoas e se sentir a vontade.

11p. Entrevistador: Mas a célula também vai a essas pessoas lá de fora. As pessoas
que vivem problemas na sociedade...
11r. Entrevistado: Sim.

12p. Entrevistador: Pensando na transformação da sociedade, impactar a sociedade.


12r. Entrevistado: Sim.

13p. Entrevistador: A célula faz que tipo de ações nesse sentido?


13r. Entrevistado: A célula, muitas células fazem ações em orfanatos, até em casas de
tratamento de pessoas que tem dependência de entorpecentes. Muita coisa, tem célula que
tem programa que você chama as crianças do orfanato pra passar o natal na sua casa. Coisas
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que...

14p. Entrevistador: E pra igreja? Que benefícios a célula proporciona pra igreja como
um todo?
14r. Entrevistado: Eu acho que a igreja consegue caminhar como um corpo a partir do
momento que as células, elas tem uma visão de igreja, e o pastor, ele nos dá essa direção,
a célula pode caminhar numa só direção. Sem dividir, sem as pessoas estarem pensando
"x" e "y" no mesmo caminho.

15p. Entrevistador: Como é que a célula impacta a questão da estrutura da igreja, da


maneira da igreja funcionar como igreja?
15r. Entrevistado: Na maneira da igreja funcionar como igreja?

16p. Entrevistador: Nas questões mais administrativas, questões mais funcionais, né?
Estrutura.
16r. Entrevistado: Eu acho que dá a oportunidade da pessoa 'tá mais próxima do que
acontece, do que realmente é igreja. Se você tiver na célula do pastor, você pode 'tá mais
próximo desse pastor. Se você é um músico, e ninguém sabe que você é músico, na célula
eles sabem que você é músico, então isso já é uma coisa pra você ter uma oportunidade de
'ta tocando, fazendo alguma coisa que é o seu prazer.

17p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


17r. Entrevistado: Uma igreja que caminha, muitas vezes a passos lentos, mas a passos
firmes. Ela não esta indo depressa. Ela está indo a passos firmes, na direção certa.

18p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar pra uma pessoa que não está em
célula, pra que ela venha pra célula, que argumento você usaria?
609

18r. Entrevistado: Usaria o argumento que uma mão fora de um corpo é uma mão morta.
Ela não se move, ela num tem uma cabeça pra dar uma direção pra ela, ela num tem um
braço pra dar força pra ela. É uma pessoa que ela 'tá ali, mas é uma ferramenta sem uso.

19p. Entrevistador: Gostaria de falar um pouquinho mais sobre a célula?


19r. Entrevistado: A célula me abençoa muito. Nesses anos eu saí da célula de jovens,
como eu falei no início, e fui pra célula da minha mãe, uma célula de adultos, e na célula
de adultos você começa a ter uma visão de outras coisas. Eles compartilham muita coisa de
como é a vida a dois, no casamento. E depois eu passei pra uma célula de adolescentes, e
hoje eu to numa célula de jovens, ajudando as pessoas que chegaram assim como eu
cheguei. Então eu me vejo em cada pessoa que entra na porta da casa que eu 'to, da sala
que eu 'to, pela primeira vez. A pessoa chega como eu cheguei, meio assustada, com medo,
sem saber o que ela pode esperar ali, e o mínimo que eu posso fazer além disso é lhe dar
um abraço, conversar com a pessoa, e fazer o que fizeram comigo, me acolher.

20p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder e SEXO: Feminino DATA: 30/11/2014


Supervisora
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO


56 anos Jardim Camburi PIBJC 68

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos. Queria que você
começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência é crescimento. Questão de crescimento espiritual,
crescimento na vida também com relação à amizade e espiritual principalmente, eu vejo
isso.

2p. Entrevistador: Faz tempo que você está em célula?


2r. Entrevistada: Tem bastante tempo.

3p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de uma igreja sem célula?
3r. Entrevistada: Sim.

4p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja com célula e uma
igreja sem célula?
4r. Entrevistada: Eu vejo uma liberdade maior de expressão entre as pessoas. Não tem
máscaras. A gente percebe que quando vai aumentando a nossa, o nosso relacionamento
em célula, as máscaras caem. Aquelas pessoas que não se abriam, passam a falar dos seus
problemas e ali começa a oração, e ali tem cura, tem libertação e muito mais amor mesmo
a obra do Senhor também.

5p. Entrevistador: A célula se encontra nas casas?


5r. Entrevistada: Sim.

6p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre o encontro da célula.


610

6r. Entrevistada: O encontro da nossa célula, ele é bem assim, as pessoas tem prazer
mesmo de vir. E é assim um tempo de muita alegria, de... É um tempo de encontro onde a
gente sabe que a gente está vindo ali por causa de Deus, não é por causa de simplesmente
pessoas, porque senão não viriam. É pra adoração... Adorar mesmo a Deus. Eu vejo isso.
As pessoas tem necessidade disso. Então é um tempo muito precioso.

7p. Entrevistador: A relação que você faz entre célula e comunhão entre os membros.
7r. Entrevistada: A célula, eu vejo assim, pra multiplicação. Onde tem a visão de
multiplicar, e a comunhão com os irmãos é onde a gente tem essa... Uma aproximação
maior com amor entre irmãos, um conhecimento maior das necessidades uns dos outros.
Isso é muito importante.

8p. Entrevistador: Como é que as pessoas cuidam umas das outras na célula?
8r. Entrevistada: Como cuidam? É telefonando, procurando saber como estão, é estar
presente na hora de necessidade dos irmãos, é sabendo ouvir, sabendo ajudar também uns
aos outros.

9p. Entrevistador: Entre os encontros da célula, o que acontece? Há algum contato,


há algum vínculo que as pessoas criam? Como é que funciona isso?
9r. Entrevistada: Como assim?
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10p. Entrevistador: Entre os encontros. Você tem um encontro por semana?


10r. Entrevistada: Sim.

11p. Entrevistador: E os outros seis dias? Há algum tipo de vínculo, algum tipo de...
11r. Entrevistada: Só mesmo hoje pela... Mais pelo whatsapp que a gente pode estar
conversando pelo whatsapp. Ou às vezes uma mensagem pela internet, ou às vezes, quando
a gente sabe que está enfrentando alguma necessidade aí, entra em contato por telefone. Ou
então se é aniversário, se é... Festejando, celebrando. Então é dando uma atenção. Então
isso tudo acontece.

12p. Entrevistador: A célula tem alguma preocupação com as pessoas de fora? Com
a sociedade de um modo geral?
12r. Entrevistada: A maior preocupação nossa é essa. É de atingir essas pessoas. E o amor
mesmo que a gente busca levar é esse amor, essa paixão pelas almas perdidas.

13p. Entrevistador: E como é que a célula faz isso?


13r. Entrevistada: Bem, a gente tem buscado. O que? Levar com que as pessoas estejam
tendo encontro com pessoas pra fazer discipulado e convidando pra vir à célula. Agora
mesmo a gente vai ter a confraternização da célula. Então eu pedi. Fiz com que a célula,
assim, tivesse essa busca de estar convidando pessoas pra essa nossa confraternização. O
intuito é quando a gente puder estar continuando trazendo essas pessoas pra célula.

14p. Entrevistador: E a célula vai lá também onde as pessoas estão? Por exemplo,
pessoas que estão enfrentando dificuldades lá fora.
14r. Entrevistada: Sim, quando eu... A pessoa está com depressão, a pessoa está com
algum problema, alguém vem e fala e a gente vai. Então existe a oração, existe também o
compromisso de estar indo lá com essas pessoas pra levantar, pra ajudar. Então tem isso.
611

15p. Entrevistador: Você vê algum perigo, algum risco pra igreja a existência do
pequeno grupo?
15r. Entrevistada: Nenhum. Não vejo nenhum problema. Muito pelo contrário, vejo sim
uma igreja com visão mesmo de alcançar vidas pra Cristo, e a melhor forma é essa, onde a
gente está na nossa casa, onde a gente pode estar convidando os vizinhos, os vizinhos vendo
também toda a nossa forma de agir a cada dia e isso daí vai fazendo crescer realmente. Não
vejo motivo de preocupação.

16p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula traz pra igreja como um
todo?
16r. Entrevistada: Eu vejo que tem mais pastores pra cuidar, pra ajudar os nossos pastores.
Então, a gente está pastoreando, a gente está ajudando e levando os irmãos a ter esse
mesmo pensamento de também, da mesma forma uns pelos outros. Se preocuparem uns
com os outros. Então não fica só para o líder de célula, mas na verdade, existe, assim, uma
unidade, onde as pessoas devem se preocupar uns com os outros.

17p. Entrevistador: E na celebração em si, há alguma influência da célula quando a


igreja toda se encontra? Você percebe alguma diferença hoje na igreja depois da
célula?
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17r. Entrevistada: Eu vejo que há um crescimento espiritual maior sim. Eu vejo que há
um crescimento, porque entendem melhor. Antes era aquele encontro na quinta-feira, de
oração, por exemplo. Eram aquelas poucas pessoas. Na célula não. São pessoas que toda
semana estão ali, raramente não estão todos na célula. Quem falta é porque tem alguma
situação, mas fora isso, não. Então eu vejo que há um crescimento realmente.

18p. Entrevistador: Na maneira da igreja funcionar, em termos de estrutura, o


funcionamento da igreja. Como que a célula impacta isso? Como que a célula
influencia isso?
18r. Entrevistada: Porque todo mundo realmente passa, assim, a se comprometer mais. E
aí quando tem qualquer uma atividade extra na igreja, ou mesmo naturalmente, as pessoas
estão ou no estacionamento, ou aqui no trânsito, ou estão ali na frente, ou estão cuidando.
Então as pessoas se integram mais, participam mais.

19p. Entrevistador: Tem mais oportunidade?


19r. Entrevistada: Mais oportunidade de participar. E elas gostam quando tem aqui a 'Casa
do Julgamento'. Todas outras atividades que a igreja tem então você vê que as pessoas
realmente se integram mais.

20p. Entrevistador: E as lideranças? Como é que surgem as lideranças na célula?


20r. Entrevistada: As lideranças? Motivo de oração. A gente vai orando, vai vendo a
pessoa amadurecendo também, vendo que a pessoa está comprometida com a obra do
Senhor, então. E mesmo pra convidar a gente pede a Deus que... Realmente que ele
confirme isso no nosso coração.

21p. Entrevistador: Com relação à intercessão, cura, como é que acontece isso na
célula?
612

21r. Entrevistada: A intercessão, a gente ora bastante mesmo. Leva as pessoas a orar, a
clamar a Deus sabendo que ele é Pai. Que ele realmente opera. E na nossa célula nós temos
muitos, alguns milagres que já aconteceram. E as pessoas podem ver mesmo o agir de Deus,
seja milagre em saúde, seja restauração de família. Então, pessoas que estão na depressão
e se levanta, depois de um longo período. E eles veem esse manifestar de Deus, e quando
as pessoas veem, não pelo que falam, mas quando vê operando, realmente.

22p. Entrevistador: Nos encontros da célula as pessoas tem liberdade se expressar,


compartilhar experiências?
22r. Entrevistada: Tem. Completamente. Se abrem, falam do seu... Pode ser assim, uma
profissão da mais alta... A pessoa nesse momento na célula ela se abre, fala, entendeu? E
ali a gente se compadece, ali a gente clama, a gente ora ao Senhor.

23p. Entrevistador: Quais são os critérios pra organizar a célula?


23r. Entrevistada: Os critérios?

24p. Entrevistador: São vínculos, residência, localização?


24r. Entrevistada: Localização de preferência, mas isso também não impede se tem
alguém um pouco... O ideal é a localização, mais próximo realmente fica mais fácil da
gente estar congregando. E mesmo que a igreja tenha... Começou a adotar a questão da
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célula fixa, nós ainda adotamos ainda nas casas, pra pode justamente estar alcançando os
vizinhos dessas pessoas.

25p. Entrevistador: Mas aí são faixas etárias diferentes?


25r. Entrevistada: Não. A nossa célula, ela era faixas etárias diferentes. Porém nós já
multiplicamos uma célula de jovens. Apesar de que temos pessoas solteiras e separadas na
nossa célula, mas os mais jovens nós fizemos... Já temos uma célula de jovem lá no nosso
bairro.

26p. Entrevistador: Mas e as classes sociais, econômicas?


26r. Entrevistada: De jeito nenhum.

27p. Entrevistador: Não leva isso em consideração?


27r. EntrevistadA: Não, de jeito nenhum. Muito pelo contrário.

28p. Entrevistador : Se você tivesse que argumentar com uma pessoa que não está em
célula, pra ela ir pra uma célula, qual o argumento que você usaria?
28r. Entrevistada: Bem, o argumento é convidar pra receber o que o Senhor tem pra ela,
porque ali Deus fala e ali é um lugar de oração, ali é onde ela vai receber uma Palavra de
vida, pra vida dela. Então, argumentação não existe maior do que essa.

29p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


29r. Entrevistada: É uma igreja de visão, uma igreja, sabe? Que é apaixonada pelas
pessoas, pelas almas perdidas. É uma igreja realmente... Você vê, hoje tem programa de
cura interior, com pessoas de tantas outras denominações. E a gente vê, assim, o agir de
Deus com pessoas jovens, pessoas de idade média e mais idosos e você vê, assim, Deus
operando, fazendo maravilhas. Então é uma igreja que está tendo uma visão ampla. Ela não
está se retendo só a algumas...
613

30p. Entrevistador: Como é que acontece esse ministério de cura interior?


30r. Entrevistada: Como que ele acontece? Nós temos um programa da Igreja Bálsamo
de Gileade, pastor Jucimar Ramos. E ele então, ele... A gente tem a orientação dele, com
apostilas, baseadas tudo na Palavra de Deus. E ali nós já fizemos o curso de cura interior,
de libertação. Mas necessariamente a pessoa não tem que ter passado por lá. Porque na
verdade a gente teve uma visão, então quem está hoje... Nós começamos por aí. E fomos
participar do programa de cura. Foi muito bom pra nós, fizemos por dois anos e nós vimos
o agir de Deus na nossa vida, a mudança que fez em nós, e a partir daí a gente quis então
ser facilitador. E aí a gente está sendo facilitador na vida das pessoas e vendo muitas
mudanças.

31. Entrevistador: Mas isso acontece através dos pequenos grupos ou independente?
31. Entrevistada: Independente de pequenos grupos.

32. Entrevistador: Ok. Gostaria de falar um pouco mais sobre pequenos grupos?
32. Entrevistado: Pequenos grupos eu vejo assim que é aquilo que Jesus mesmo ensinou.
É de casa em casa. É falando uns aos outros, é edificando uns aos outros. Não é nada assim
formal, é algo muito simples. As pessoas é que dificultam, e as pessoas que... Então a
linguagem simples, ela alcança mais as pessoas.
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33. Entrevistador: Muito bem, muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder e SEXO: Feminino DATA: 30/11/2014


Sueprvisora
IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
64 anos Jardim Camburi PIBJC 69

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre célula, sobre pequeno grupo, queria
que você começasse falando sobre a sua experiência com pequenos grupos.
1r. Entrevistada: Olha, quando eu vim, a nossa igreja não era igreja em célula. Eu hoje,
eu tenho o hábito de falar assim: depois que a nossa igreja passou a ser igreja em célula eu
não vivo mais em igreja sem célula. Porque eu acho que a célula é um meio de você ter um
relacionamento mais íntimo com as pessoas. Porque aquilo que as pessoas não têm lá fora,
ou mesmo o grupão, ele não estão aqui com a gente. Então quando a gente se aproxima
daquela pessoa, uma célula, é porque eles estão carentes. A carência é tão grande,
entendeu? Carência familiar, carência financeira. E a célula é um meio de você se
aproximar daquela pessoa, levar uma palavra de amor, levar uma palavra de conforto,
entendeu? Uma palavra de ânimo.

2p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem pequeno
grupo, tem a célula, e uma igreja que não tem?
2r. Entrevistada: A diferença pra mim é grande. Porque é a igreja, como eu disse, a igreja
em célula é a igreja em relacionamento. É uma igreja... A diferença é o seguinte: se você
vai numa igreja, uma igreja grande, se for uma igreja que eu frequento, eu vou assim sempre
quando eu estou em ______, a _____. A igreja ____.Não tem problema eu falar o nome,
porque a minha filha ali, eu também quando eu estou na casa dela eu vou nessa igreja. É
614

uma igreja que você entra e sai e não é a mesma coisa. Então ela é multidões de pessoas.
Você não conhece ninguém. Você não conhece o perfil de cada um. As pessoas chegam
pra você: "boa noite", mas não é o bastante. E já a igreja em célula é diferente. Eu chego
pra você e falo assim: "boa noite, seu nome?". Aí a pessoa vai falar, "Manoel", "Pedro" ou
"Rosana" -- "Tudo bem com você?" "Tudo bem. E aí como é que 'tá? Você 'tá...". Aí a
pessoa já começa a se soltar. Nisso que a pessoa começa a conversar com você, você já vai
sentindo a necessidade daquela pessoa. E uma igreja grande, ela não tem esse perfil.

3p. Entrevistador: Na sua vida, o que mudou a partir do momento que você
experimentou esta vida em pequenos grupos?
3r. Entrevistada: Tudo... Eu vim de uma igreja _____. Me converti aqui nessa igreja. E
quando a igreja era uma igreja pequena, não era a igreja em célula ainda, vez do pastor
Juarez. Aí depois que essa igreja entrou em célula, eu conheci mais, entendeu? Eu cresci
mais espiritualmente, aprendi mais ler a Palavra do Senhor e saber pra mim o que é uma
Bíblia, o que eu leio, o que eu... Às vezes eu levanto pela manhã, e aquilo me faz falta,
coisa que eu não tinha. Eu não tinha esse hábito. Então a célula, ela me ensinou isso, me
ensinou a ter um relacionamento maior com as pessoas.

4p. Entrevistador: E na igreja? O que mudou na igreja a partir do momento que


adotou o sistema de células?
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4r. Entrevistada: A mudança no relacionamento. O carisma.

5p. Entrevistador: Nos encontros da célula, qual o espaço que as pessoas têm pra
compartilhar da sua dificuldade, dos seus problemas, das suas vitórias?
5r. Entrevistada: A célula, não sei se você conhece os passos da célula. Eu acho assim,
aquele momento que a gente tem o evangelismo, pras pessoas 'tá compartilhando dentro
daquele texto, que aquelas perguntas vão muitas vezes, as pessoas se inibem de falar. E
você como líder, olhando pra aquela pessoa você sabe, você sente a necessidade daquela
pessoa que a pessoa precisa falar. Ou ela começa a chorar, ou ela fala assim: "não, eu não
vou falar isso agora". Tudo bem. Aí o que o líder faz, depois, quando todo mundo sair, peço
a ele: "vamos ficar aqui um pouquinho pra gente orar". Eu passo a orar com aquela pessoa,
e aquela pessoa vai falando aquilo que está sentindo no coração.

6p. Entrevistador: Como é que as pessoas cuidam umas das outras na célula?
6r. Entrevistada: Através de discipulado. O discipulado é muito importante. O discipulado
você conhece mais a pessoa e a pessoa te conhece, aí você vai ter mais assim... Aproximar
mais dessa pessoa, porque a carência é muito grande lá fora, do amor de Cristo. Muito
grande. Aí a gente só vai conhecer a pessoa realmente se ela... Porque, se ela necessita ou
não do amor de Cristo, ou mesmo nosso amor, humano, pra elas, quando você conversa,
quando você chega pra ela e fala.

7p. Entrevistador: Como é que você relaciona célula com comunhão entre os irmãos?
7r. Entrevistada: Amor. Vejo o amor.

8p. Entrevistada: E o que a célula faz pra promover essa comunhão?


8r. Entrevistado: Nós fazemos, assim, um filme, nós passamos filmes, fazemos momentos
de confraternização, fazemos momento... Hoje eles vão... Vamos orar só pela nossa família,
vamos orar, cada um orar por sua família. Então a gente vai fazendo aquele meio ali, não
615

só a célula, é sim focar em crescer a célula, é discipulado, é falar em... Os relacionamentos


naquele momento, não. Aí a gente procura saber com eles assim, essa forma pra poder a
gente se aproximar, num churrasquinho, num café da manhã, pra ir ao shopping. "Ah, hoje
vamos ao shopping comigo?", hoje mesmo convidei uma pessoa pra vim na igreja. Ela:
"ah, mas não tava com vontade", "mas eu estou tão sozinha, vamos comigo!". Aí
conversando com ela no caminho, ela veio colocando pra mim o que ela precisava: "então
vamos orar". Parei o carro, orei com aquela pessoa. Ela está comigo na igreja. "Ah, você
vai ficar nos dois cultos?", aí eu falei: "não, eu pego o pedacinho de um culto, depois eu
pego o outro, não tem necessidade de estar no culto das vinte. Mas é muito bom, você vai
ver como é que é bom". Aí deixei ela lá um pouquinho e subi pra tomar uma água.

9p. Entrevistador: Ok. As pessoas que são de fora, qual a preocupação da célula com
as pessoas que estão de fora? Com a sociedade de modo geral?
9r. Entrevistada: Buscar, trazer essas pessoas pra dentro da igreja.

10p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


10r. Entrevistada: De modo geral?

11p. Entrevistador: Isso. Sua igreja como um todo?


11r. Entrevistada: Como um todo. Igreja de relacionamento. Igreja que prega o amor, a
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

igreja que se preocupa com as pessoas. Eu considero a igreja um hospital. Ali que as
pessoas vão, pra isso... Eu vejo a igreja, hoje, nesse perfil.

12p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja o pequeno grupo?


12r. Entrevistada: Não.

13p. Entrevistador: E benefícios?


13r. Entrevistada: Sim.

14p. Entrevistador: Que tipo de benefício?


14r. Entrevistada: Crescimento espiritual.

15p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar pra uma pessoa que não está em
célula, pra ela vir pra célula, que argumento você usaria?
15r. Entrevistada: Como eu chegaria a abordar essa pessoa pra perguntar a ela se ela não
estaria em célula?

16p. Entrevistador: Sim.


16r. Entrevistada: Eu me apresentaria. Me apresento pra ela. Primeira coisa a
cumprimento. Aí ela vai dar a mãozinha dela, e vai: "e aí, tudo bem com você? Você que é
da nossa igreja..."? aí ela: "não, estou vindo pela primeira vez". Eu falei... Aí eu: "seja bem-
vindo". Aí eu pergunto pra ela, conversando: "você tem interesse de conhecer mais a
Bíblia? Você tem interesse da gente 'tá orando com você?". Aí se a pessoa falar sim, aí eu
convido ela pra vim a igreja: "vamos pra igreja, tal. Vou passar lá e te pego". Aí a pessoa
vem pra igreja, recebe o convite pra ir pra célula. "Fulano de tal, você já esteve em uma
célula?", ela: "nunca, nem sei o que é isso". "Então eu vou te levar pra você ver".
616

17p. Entrevistador: E se a pessoa já está na igreja, mas não está na célula. Que
argumento você usaria pra incentivá-la a ir pra célula?
17r. Entrevistada: Justamente falando isso. Quando a pessoa como tem muitos aqui, que
está na igreja, membro da igreja, não estão na célula. "Irmão, você tem que 'tá na célula,
tem que me ajudar, 'to precisando de você na minha célula. Nossa você tem um
potencial...". Então a gente joga aquele charme de amor por aquela pessoa. A pessoa
também... E convidando. Não pode desistir. Tem que ser persistente.

18p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
18r. Entrevistada: Não. Acho que não. Acho que a célula é tudo.

19p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
48 anos Jardim Camburi PIBJC 70

1p. Entrevistador: Vamos conversar sobre célula, sobre pequeno grupo. Fala pra mim
um pouquinho sobre a sua experiência com célula.
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1r. Entrevistado: Bom, eu vim de uma igreja tradicional. Então quando eu cheguei aqui
na igreja que tinha essa visão, eu gostei da ideia, eu achei que era um método de trabalho
mais eficiente do que você deixar tudo por conta de um pastor só. Pra tomar conta d'um
rebanho inteiro o tempo todo. Então achei um método mais eficiente e gostei do método.

2p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja, como você disse,
tradicional, que não tenha célula, e uma igreja que tem o pequeno grupo, que tem a
célula?
2r. Entrevistado: Eu posso falar porque eu desde que me converti aos catorze anos, eu sou
membro de uma igreja tradicional. O que eu vejo é exatamente isso: não tem como
acompanhar mais de perto crescimento, o engajamento, o processo de santificação, tão de
perto quanto na célula. Na célula a gente 'tá mais próximo. Na igreja tradicional você fica...
Aquela história: eu não fiz porque fulano vai fazer, ou, achava que é tarefa do pastor e
acaba que não acontece porque o pastor não dá conta de fazer tudo.

3p. Entrevistador: E lá na célula, como é que acontece esse acompanhamento, esse


cuidado mútuo?
3r. Entrevistado: Isso a gente... Quando o irmão dá liberdade, igual também, só vai
acontecer se o irmão se abrir. Então quando ele acha esse ambiente que ele confia, ele se
abre, ele expõe os problemas, dessa forma a gente pode, com a experiência que a gente
adquiriu, com o suporte dos supervisores, pastores, a gente pode ajudar esse irmão,
mostrando pra ele como agir de acordo com a Bíblia em cada situação. Mostrando que
quem deve dominar é o Espírito Santo.

4p. Entrevistador: No encontro da célula, há espaço pro compartilhamento das


experiências? Como é que funciona isso?
4r. Entrevistado: Sim, há espaço. A gente sempre dá esse espaço. Se for uma coisa muito
particular a gente então tem a oportunidade de, se o irmão quiser, num outro momento a
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sós, dele se abrir, dele, num outro momento que não pôde... Não pôde ser aquele, ele então...
A gente então consegue naquele outro momento caminhar um pouco mais, apontar
soluções. Não soluções, mas caminhos onde ele vai buscar solução, jamais substituindo ali
um psicólogo, ou um pastor, mas a gente sempre: "oh, nesse seu problema você precisa
buscar uma ajuda de um profissional ou um pastor". Então, assim, cada situação a gente
tem essa oportunidade.

5p. Entrevistador: E como é que um cuida do outro? Como é que acontece esse
cuidado?
5r. Entrevistado: Isso é uma meta, mas isso efetivamente, não acontece. Assim, do jeito
que a gente gostaria. Acontece quando o irmão dá espaço a gente então acompanha, se abre,
conversa, chora junto, ora uns pelos outros. Mas eu acho que tinha que ser mais. Mas não
acontece, eu acho... Eu não sei ainda o que... A nossa mania de se fechar e a gente não quer
se expor, não quer mostrar o quanto eu sou fraco, o quanto eu sou falho. E acaba que esse
cuidado, no geral, como deveria, como eu almejava pra nós não acontece. Por quê? Por
causa disso, os irmãos, nós mesmos, a nossa... A gente... Eu, particularmente, homem e
vindo de uma igreja tradicional, então você acaba se fechando, você acha que se você falar
que você tem uma falha ou que você tem uma dificuldade que isso vá te fazer ficar menor,
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mais fraco, ou com menos autoridade.

6p. Entrevistador: E com as pessoas que estão de fora? Qual a preocupação da célula
com a sociedade de um modo geral?
6r. Entrevistado: A gente esbarra sempre na questão do tempo. Ultimamente a gente tem
é... Quando a gente fala: "oh, irmãos, e o evangelismo? Como você 'tá fazendo?" Então ele
não acontece efetivamente, cem por cento do tempo, não acontece mais forte do que a gente
gostaria. Então acontece... A gente sempre incentiva chamar os vizinhos, chamar os colegas
de trabalho, são aquelas pessoas que 'tão próximas. Então funciona assim. E tem
funcionado, eu acho que dá pra gente funcionar melhor, mas tem funcionado assim. Cada
encontro tem um vizinho, tem um amigo, isso eu acho que deveria ser mais, mas
infelizmente não está no nosso controle.

7p. Entrevistador: Você algum perigo pra igreja, algum risco pra igreja, a existência
dos pequenos grupos?
7r. Entrevistado: Olha, o que a gente percebe é o seguinte: se pegar uma pessoa mal
intencionada, ele consegue dividir, ele consegue, nem que seja só aquele grupo, tirar, nem
que seja e fazer uma outra igreja, mas isso é um risco que não tem como você...

8p. Entrevistador: Já aconteceu alguma vez aqui?


8r. Entrevistado: Não, aqui não. Aqui é porque desde que eu cheguei aqui em dois mil e
seis, os problemas de quando começou o processo de célula foram anteriores, algumas
pessoas não gostaram e saíram, mas esse fato de um líder ou um supervisor, algum pastor
de rede criar sua própria igreja, não aconteceu não.

9p. Entrevistador: E benefícios? Que benefícios a célula traz pra igreja como um
todo?
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9r. Entrevistado: Bom, traz esse benefício de acompanhar mais de perto o discipulado.
Acompanhar mais de perto o irmão que 'tá chegando, um irmão que 'tá passando por um
problema conjugal ou trabalho ou saúde. Então a célula está mais próxima.

10p. Entrevistador: E na celebração? Qual o impacto que a célula causa na


celebração?
10r. Entrevistado: É isso. A gente não chegou nesse estágio, de por exemplo, a nossa
célula vai sentar junto e nós vamos celebrar junto. A gente...

11p. Entrevistador: Não, mas mesmo que a célula não esteja junta. Qual a diferença
que houve na maneira como a igreja celebra ao Senhor, depois que a igreja adotou
esse sistema de célula?
11r. Entrevistado: Eu não tenho daqui o paralelo, o comparativo. Eu não tenho. Mas o
meu comparativo com a minha igreja parece que é mais vivo, porque você não fica na
igreja, você não vem na igreja só no domingo, e durante a semana você esquece e põe a
Bíblia lá. Você tem durante a semana o encontro onde você incentiva diariamente a leitura,
incentiva diariamente a comunhão com Deus. Então o domingo é uma continuidade daquilo
que já aconteceu durante a semana.
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12p. Entrevistador: Muito bem. Como é que você relaciona célula com comunhão?
12r. Entrevistado: Célula com comunhão. Pois é aquilo que eu falei no início, o ideal fosse
que a gente, nossa comunhão fosse total, mas é bem mais do que eu já tive na minha igreja
anterior, embora fosse uma igreja amorosa, embora gostássemos um do outro, mas fica
muito superficial. Com a célula fica menos superficial, a gente aprofunda um pouco mais,
e a gente consegue que a comunhão seja um pouco mais profunda, que seja mais real. A
gente sabe as dificuldades dos irmãos, os irmãos sabem das nossas dificuldades, a gente
ora uns pelos outros. Então a gente sempre, em cada encontro, a gente expõe isso, vamos
orar pelas dificuldades, a gente... Os irmãos que querem, eles explicitam as suas
dificuldade, e a gente acaba entrando nessa comunhão, a gente acaba comungando os
problemas, as alegrias também.

13p. Entrevistador: Como é que você descreve a sua igreja hoje?


13r. Entrevistado: A minha igreja? É uma igreja de transformação. Eu percebo que a igreja
'tá sempre buscando formas da gente chegar num modelo ideal de igreja. E isso me agrada.
Porque a gente já 'tava com célula, podia falar: "não, cheguei, já temos cento e tantas
células, a igreja nem cabe mais gente, vamos ficar tranquilo". Não, mas o nosso ideal é
crescer tanto em quantidade, quanto em qualidade. Então o que eu vejo na minha igreja é
essa busca de achar um... De caminhar pra uma igreja ideal. Sabemos que não vamos chegar
aqui na terra, mas pelo menos a gente vai, as novas gerações vão já entrando nessa direção,
e eu creio que daqui a alguns anos será uma igreja bem melhor do que hoje.

14p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar com uma pessoa que não está em
célula, pra ela ir pra célula, qual o principal argumento?
14r. Entrevistado: É, qual o principal argumento? Vai ter um grupo que cuida de você.
Vai ter um pequeno grupo que vai orar por você, vai estar com você nas suas necessidades,
nas alegrias, nas tristezas. A gente sempre que convida alguém a gente fala: "não é o
melhor, não é um paraíso, céu, mas é um grupo que a gente pode contar”. A gente 'tá
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sempre... Nosso pequeno grupo 'tá sempre fazendo coisas juntos, além dos encontros a
gente já chegou num nível que é gostoso 'tá junto, e isso é legal.

15p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
15r. Entrevistado: Não, sobre célula é isso. Eu acho que é um método, é uma estratégia
eficaz pra não só crescer uma igreja, mas também manter essa igreja na santidade, e não é
o melhor dos mundos, tem problemas, tem dificuldades, mas é bem melhor com célula,
com pequeno grupo, onde você 'tá perto, 'tá junto, compartilha as alegrias, as tristezas.

16p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
75 anos Jardim Camburi PIBJC 71

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos e queria que, você, é,
falasse um pouquinho sobre sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Bom. Com célula a minha experiência tem sido assim, muito
gratificante. E vem desde quando igreja começou o trabalho em células. Eu acabei saindo,
porque eu fui... Pra um outro. Deus me levou pra um outro campo. E onde estava também
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começando. Eu comecei numa outra igreja. E lá, nós criamos, entramos no trabalho já
liderando célula. E num tempo em que foi ímpar, porque ali no interior a necessidade de
gente era maior ainda. Eu consegui fazer, aí eu e minha esposa dividimos em que... Um dia
eu estava pregando na igreja e ela noutra igreja e, ela estava na igreja, porque a gente
liderava juntos e nós lideramos juntos a célula até hoje. E depois a gente fazia a troca. É lá
tivemos o privilégio de.... Duas multiplicações e onde uma... Um líder que está liderando
célula até hoje. Já tem uma multiplicação também. É uma pessoa que saiu da liderança da
Igreja Católica e veio pra nosso meio através da célula, através de nosso relacionamento. E
outras pessoas que a gente conseguiu ganhar que foi assim, foi muito gratificante.

2p. Entrevistador: Você conheceu bem a igreja sem a célula e agora conhece a igreja
com a célula. Qual a diferença que você vê aí?
2r. Entrevistado: Eu vejo a diferença que, pra mim, hoje a minha consciência é a seguinte.
A igreja, ela fica... A igreja que não está em célula, ela é tendente a ficar nas quatro paredes
e ter uma muralha, e ela... Enfrenta outras dificuldades. Quer dizer, ela não consegue ter a
visão. Que a gente só vai ter a visão quando a gente começa a trabalhar em célula, que é o
relacionamento com pessoas, acaba a igreja ficando dinâmica. Ela não fica presa aos cultos,
ela não fica presa ao templo, ela não fica presa àquele sistema meio engessado. Ela fica
desingessada em... A gente trabalha com pessoas, trabalha com vizinhos, trabalha com
pessoas que a gente encontra no ônibus, que a gente encontra em qualquer lugar e convida
aquelas pessoas. Às vezes começam, e ela vai chegar na igreja três, quatro meses depois
que ela já está, com a gente. Aí ela chega na igreja, chega familiarizada com a célula, com
o pequeno grupo, com relacionamento no pequeno grupo. Então ela já está ligada sem se
ligar. Outros já vêm, já vem pela igreja. Então, penso que, o pequeno grupo. A célula é o
jeito dinâmico da igreja se relacionar na sociedade.
620

3p. Entrevistador: Você já tinha uma boa caminhada com Deus, quando conheceu o
sistema de célula. O que mudou na sua vida, na sua visão de igreja, de Deus, de mundo,
a partir do momento que começou esse sistema de célula?
3r. Entrevistado: No início, quando começou, até penso que o pastor deve ter visto,
acompanhado como ficou. Teve algumas igrejas resistentes de... Eu até cheguei a ser
membro de uma igreja meio resistente ao pequeno grupo. Mas só que eu quis saber mais.
Embora a minha, no caso, idade. A minha cabeça foi formada daquele jeito, mas eu não
estava feliz. Porque quando eu abri a Bíblia e vi que Pedro, numa mensagem, converteu
três mil. E que a Bíblia me dizia e a cada dia acrescentava um, àqueles que seriam salvos.
E eu ficava pensando. E o que nós estamos fazendo? E eu era muito, eu sou muito
incomodado com a construção de um templo em que a gente reunia, reúne no domingo
duas vezes. Reúne na quarta ou na quinta-feira e o templo fica fechado. A gente gasta um
milhão ou mais e aí fica fechado o templo. Eu sonhava com uma igreja aberta. E hoje eu
sou membro de uma igreja aberta. Que ela está aí tem cento e vinte células. Ela está aberta.
Aqui funciona direto. A igreja fica aberta o dia todo. E também as células se reúnem todos
os dias da semana. Tem dia que a gente tem que mudar o dia do nosso encontro, porque,
eu tenho reunião com, de liderança aqui na igreja também. Então, tem que mudar pra poder
organizar. A igreja está viva. De domingo a domingo. Ela está reunindo de domingo à
domingo, ela está é... Isso a gente, se fizer uma média, ela deve se reunir na faixa, hoje nós
estamos com em torno de mil e oitocentos e alguns membros. Ela deve reunir, todo dia,
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mais de quinhentas pessoas. Por quê? Por causa das células que se reúnem. Então a igreja
está reunida.

4p. Entrevistador: Então a célula trouxe uma reconfiguração na igreja?


4r. Entrevistado: Sim. E também atendeu o meu anseio e, assim, respondeu o meu
questionamento, quando eu lia a Bíblia. O meu questionamento que eu ficava muito
preocupado com isso. Que é que nós estamos fazendo? Como é que nós vamos atingir o
mundo? Como é que nós vamos atingir a nossa cidade? O nosso país? Se eu tenho a cada
seis meses um batismo de dez pessoas, de oito pessoas. E um bairro grande, que a minha
igreja tem que evangelizar. Então, isso mudou a minha ... Satisfez a minha,... O meu
questionamento. E realmente enquadrou a minha visão de igreja, com a igreja em célula.

5p. Entrevistador: E qual a relação que você estabelece entre célula e comunhão?
Comunhão entre os membros.
5r. Entrevistado: A relação que eu posso estabelecer de célula e comunhão entre os
membros é que, eles é... Na comunhão. Da... Entre os membros eu me relaciono com a
igreja toda. Se eu ficar só na minha célula, e ferir só na minha célula, eu vou perder essa
comunhão que eu acho muito importante. E penso que, tanto o líder, quanto os liderados,
eles precisam estar na célula e eles devem se sentir falta da igreja. Porque se ele não sente
falta da igreja, aí ele acaba não crescendo espiritualmente. Não convivendo na alegria de
estar todos juntos. E a experiência também que nessa visão que eu tenho... De comunhão
de célula, que ela precisa estar tendo uma visão conjunta, porque, se isso não acontecer a
célula também não recebe a bênção do crescimento.

6p. Entrevistador: Agora, dentro do contexto da célula há um aprofundamento de


comunhão entre os membros?
6r. Entrevistado: Sim.
621

7p. Entrevistador: E como é que acontece isso, o que a célula faz pra produzir essa
comunhão?
7r. Entrevistado: Na minha célula a gente tem uma comunhão constante, porque a gente
tem, hoje, esse processo de comunicação através do watsapp, então, acontece alguma coisa
com algum, todos sabem na mesma hora, tem um programa de orações que nós oramos de,
começamos às seis horas da manhã e terminamos às vinte, vinte e três. Orando pela igreja,
orando por aquelas pessoas da igreja, orando pelas famílias, orando pela célula, orando
pelos nossos oikós. Então a gente começa às seis horas da manhã a gente começa. E quando
termina, às vinte e três. Eu termino, aí eu mando um recadinho pro pessoal que estou
terminando o dia, que desejo uma boa noite, que durma em paz. Quem já está dormindo
vai ver no dia seguinte, que ela está dormindo e vai ainda acordar. Quando eu termino e
mando aquele recadinho, daí a pouquinho, um está (risos), eu estou, quatro, cinco, da
manhã, naquela mesma noite.

8p. Entrevistador: E como que as pessoas cuidam umas das outras?


8r. Entrevistado: Através desse modelo a gente ficou mais fácil de cuidar. Porque, quando
eu preciso, se eu estiver longe, eu recebo um recadinho, eu já peço alguém perto pra estar
fazendo um contato, onde eu tento trabalhar, estando cuidando e pastoreando mesmo o meu
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grupo, através desse meio de comunicação. Facilitou bem. Foi esse meio de comunicação.

9p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja a existência do pequeno grupo?
Algum risco?
9r. Entrevistado: Não. Eu não vejo risco. O que vejo é o seguinte. A igreja não pode, ela
não pode estabelecer, penso que, se ela estabeleceu o primeiro grupo sem uma preparação,
sem crescer realmente na nossa visão, mas estamos precisando de liderança que tenha
crescido nessa visão. Ela pode sofrer um colapso de chegar um momento em que, ela não
tem líder, aí fica... A célula é mal liderada, não porque o líder é ruim não, porque ele não
tem conhecimento dessa... Visão de relacionamento, de cuidado com as pessoas, porque eu
sou cuidado pelos meus liderados, da mesma forma hoje, que eu fui deles. É uma... Existe
uma recíproca. Então, vejo que a igreja tinha que fazer... Amanhã vai ser, domingo que
vem, vai ser uma igreja em célula. Não vai não, ela vai, é perigoso. Ela tem que ter a visão,
ela tem que formar primeiro a liderança, tem que ir formando aí, cria a célula protótipo,
cria uma. Aquela multiplica. Aí, então, vai crescendo com suade.

10p. Entrevistador: E os benefícios que a célula traz pra igreja como um todo?
10r. Entrevistado: Eu vejo que os benefícios... É realmente o relacionamento bem íntimo.
É o benefício maior. E esse relacionamento traz uma alegria, alegria que a gente vê alegria
dentro da igreja no culto, nas famílias, a base de Cristo ela fica mais visível quando as
células estão funcionando bem. Problemas têm... Mas só que, alguém fica sabendo
rapidinho e alguém começa a orar rapidinho pelo problema, alguém começa a interceder e
a solução, Deus já vai dando, eu acho, penso que é mais rápido.

11p. Entrevistador: Como é que você descreveria sua igreja hoje?


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11r. Entrevistado: A minha igreja hoje é uma igreja, como disse, uma igreja dinâmica,
uma igreja com problemas, com soluções, e com uma visão de... Com meta, com missão,
com a visão de realmente de expandir o Reino de Deus, e essa visão tem sido, tenho visto
o cumprimento dela a cada domingo, a cada mês, é uma igreja que cresce, está crescendo,
na proporção de domingo á domingo.

12p. Entrevistador: Você recomenda a célula pra todas as pessoas, da igreja?


12r. Entrevistado: Sim.

13p. Entrevistador: E se tivesse que usar um argumento pra convencer alguém que
não está em célula pra ir pra célula. Que argumento você usaria?
13r. Entrevistado: Eu trataria primeiro de mostrar pra ele a alegria que eu tenho de estar
numa célula. Pra depois eu... Penso que esse convencimento ele tem que ser visto pela
pessoa. Se eu ficar tentando pra ele, dizer pra ele que a célula é boa, mas eu não mostrar
uma alegria de dentro de mim, olhando no olho da pessoa, com gesto, com abraço, com
abraço amigo, com esse afago natural, que Jesus dava ao discípulo, que dava às pessoas,
eu não consigo fazer que ela, que uma pessoa que não conheça uma célula, mude o seu
pensamento se eu não mostrar com a minha vida.

14p. Entrevistador: Gostaria de falar alguma coisa a mais sobre célula?


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14r. Entrevistado: De célula, falar da... Sim, sobre a questão de crescimento, eu penso é
minha visão hoje é de que a igreja em célula tem um crescimento que ela pode se comparar,
a gente pode trabalhar com meta, pra três meses, meta pra seis meses, meta para um ano,
enquanto a igreja que não está em célula, ela fica difícil trabalhar com essas metas. Ela, eu
penso, hoje eu acho, penso que eu não ficaria muito feliz se fosse membro de uma igreja
que não estivesse em célula e eu votaria praquele, pra trabalho, aqueles que tem ansiedade
por vidas, tentava estabelecer, mas não conseguia ter uma meta, então quando a gente sai e
não sabe pra onde vai, qualquer lugar que chegar está bom.

15p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 30/11/2014


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
39 anos Jardim Camburi PIBJC 72

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre sua experiência com célula.


1r. Entrevistado: Eu tenho aproximadamente cinco anos de Igreja Batista, aqui em Jardim
Camburi. No terceiro ano que já estou participando de um... Da segunda célula. Porque
teve uma multiplicação eu e minha esposa passamos a ser auxiliares de célula. Fizemos
toda aquela etapa de preparação e há uma ano atrás... Dois anos atrás a gente assumiu a
direção de uma célula. No início não foi assim nada fácil, porque a nossa célula, ela
começou muito pequena. E as pessoas que participavam da célula eram pessoas que tinham
problemas diversos. Casal separando, casal com problemas de conciliar o trabalho com a
igreja, até mesmo com os encontros da célula. Então a gente teve muita dificuldade com
relação a isso, e também em conseguir mais pessoas pra célula. A gente participava dos
cultos, ficava de olho naquelas pessoas que estavam vindo, que não tinham célula. A gente
chegou a fazer vários convites, Essas pessoas, muitas delas iam ao encontro, ia uma, ia
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duas, mas depois num tinha aquele compromisso de permanecer. E a gente precisava de
mais gente pra integrar a célula pra ela continuar. E a gente continuou nessa luta de buscar
pessoas, fazer convite, contato com os nossos pastores, supervisores. Eles também
indicavam umas pessoas, mas a maioria das pessoas, elas... Na verdade elas não queriam
assumir aquele compromisso de toda semana reunir. Então esse foi um dos motivos que fez
com que a nossa célula esse ano, ela... A gente teve que se juntar a outra célula pra poder
não perder esse fato importante em que a gente também está em pequenos grupos, para o
nosso crescimento espiritual.

2p. Entrevistador: A coisa mais importante que você vê na célula?


2r. Entrevistado: É a gente poder compartilhar e contar um com o outro m qualquer...
Problema, em qualquer situação. Às vezes eu tava mal, assim, com alguma situação e na
pessoa que eu fazia a parceria, ou então em algum integrante da célula, eu encontrava ali
mais às vezes até que um irmão de sangue pra conversar e ter orientação.

3p. Entrevistador: Como é que acontece o cuidado entre as pessoas que pertencem à
célula? Como é que eles cuidam uns dos outros?
3r. Entrevistado: Então, primeiro a gente tem uma das coisas, assim, principais é a gente
identificar aquelas situalções... por exemplo, o casal lá que eu mencionei, que tava com
problema de relacionamento, aqui eles já eram um foco nosso. Eles sabiam que a gente
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tinha problema e que tinha que ter um trabalho urgente e constante com eles. Nesse caso
aí, por exemplo, eu fiquei, eu fazia o discipulado com o homem e a minha esposa fazia com
a mulher. Então o importante disso aí é a gente manter o contato sempre. Estar ligando,
hoje em dia é o whatsapp, qualquer situação que precise de oração, colocam lá: "ó, to com
uma situação assim, assado". Minha esposa mesmo está passando por um problema aí da
tia dela que está internada. Precisou de sangue lá, de doador de sangue, colocou, aí o pessoal
da célula já começa a correr atrás de parentes. É um ajudando o outro. É um carregando...
Ajudando a carregar o fardo pesado do outro.

4p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos da célula?


4r. Entrevistado: O principal é a gente multiplicar, mas não é multiplicar de qualquer
maneira, até assim dividir. É multiplicar em conhecimento. Começa o pequeno grupo, as
pessoas vão amadurecendo, e a partir do momento que elas vão amadurecendo, elas tendem
a se destacar. E ali se destaca uma pessoa que a gente vai identificar pra ser um
multiplicador daquilo que foi aprendido naquele grupo. Então o objetivo principal é esse,
a gente multiplicar o conhecimento sobre a Palavra de Deus, pra que a gente consiga chegar
a outras pessoas.

5p. Entrevistador: Você vê algum perigo, algum risco pra igreja a existência do
pequeno grupo?
5r. Entrevistado: Não. Eu só vejo coisas boas. Eu só vejo...

6p. Entrevistador: E quais seriam essas coisas boas, esses benefícios da célula pra
igreja?
6r. Entrevistado: Por exemplo, a nossa igreja tem aproximadamente mil e oitocentos
membros. Eu não conheço nem... (eu acho), nem cem, creio assim, nem cem pessoas.
Conhecer assim, de saber o nome, de conversar com ela. É no pequeno grupo que eu
conheço, que a gente conhece as pessoas e que a gente passa a ter um relacionamento
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melhor com elas. Agora mesmo minha esposa está com um casal que é da célula numa
pizzaria. Quando que eu sei lá, eu chegaria no culto lá e olharia pra qualquer pessoa: "ah,
vamos na pizzaria". Não tem... A gente não tem diálogo, a gente não tem uma intimidade,
E é nesses pequenos grupos que a gente consegue essa intimidade, esse relacionamento.
Até a questão da preocupação. Fica uma coisa assim bem... A pessoa olha pra você, ela:
"você num 'tá bem hoje. O que 'tá acontecendo?". Porque ela já te conhece. Ela sabe quando
você não está bem, quando você está precisando.

7p. Entrevistador: Então você, como é que você estabelece a relação entre célula e
comunhão? Desenvolvimento de comunhão entre os membros.
7r. Entrevistado: Da célula?

8p. Entrevistador: Igreja. Da célula e aí levando pra igreja.


8r. Entrevistado: Então na célula a gente conhece melhor as pessoas. E a célula não é
isolada, mas é um conjunto de células. Por exemplo, tem uma supervisão de um conjunto
de células. Há momentos que essa célula dessa supervisão elas se encontram. Aí você tem
a oportunidade de conhecer outras pessoas, de expandir o seu relacionamento. E há
momentos também de encontro, de um número maior de células de outras supervisões que
é quando você consegue atingir mais gente. E também os momentos que você multiplica a
célula, vem outras pessoas. E você vai disseminando aquela missão da igreja, as coisas que
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são importantes, as coisas direciona a nossa conduta como cristão.

9p. Entrevistador: E qual o impacto da célula pra igreja como um todo, na celebração,
na maneira de funcionar como igreja?
9r. Entrevistado: Como assim?

10p. Entrevistador: Qual a influência que a célula produz sobre a vida da igreja em
termos de celebração, por exemplo? Você vê que a célula contribui ou não pra que
haja uma celebração mais participativa?
10r. Entrevistado: Contribui sim. Eu lembrei agora da cerimônia de batismos. Toda vez
que tem um batismo, por exemplo, a pessoa que está lá sendo... Se batizando, ela é membro
de alguma célula. Então tem um grupo... Ali médio, às vezes grande de pessoas que tão ali
comemorando, batendo palmas.

11p. Entrevistador: Ah!


11r. Entrevistado: E se fosse uma situação de repente de não... Da gente não trabalhar em
célula, de repente aquela pessoa ia passar por lá, num momento tão especial da vida dela,
e não ia ter aquela comemoração. A celebração merece uma comemoração.

12p. Entrevistador: Se você tivesse que argumentar pra uma pessoa que não está em
célula na igreja, pra que ela viesse pra célula, pra que fizesse parte de uma célula,
qual argumento principal que você usaria?
12r. Entrevistado: A nossa igreja é uma igreja em células. A pessoa que está numa igreja...
Eu penso assim, que a igreja é um lugar da gente se tratar. A pessoa que está na igreja, ela
quer se tratar, ela quer se manter naquilo que ela definiu como o que ela quer pra vida dela,
que ela quer seguir a fé no que... Em Jesus Cristo, seu Salvador, que ela precisa agir de
determinadas maneiras. E na célula é que a gente fortalece essa comunhão com Deus. Onde
a gente pode conversar melhor, tirar dúvidas e chegar até o nível de parceria. Um a um. De
625

eu conversar com você e eu fazer perguntas que eu sei que vão ficar só entre nós. Às vezes
é alguma dúvida, alguma coisa que você fica até com vergonha de perguntar, que você acha
que deveria saber, mas não sabe.

13p. Entrevistador: Muito bem. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
13r. Entrevistado: Quando eu comecei a participar de célula, eu via assim como sem
problema a questão assim de geralmente na célula participar a família. O marido, a esposa
e os filhos, se tiver. E hoje em dia eu percebo assim que os filhos, eles não ficam às vezes
muito a vontade quando uma célula ela é composta de pessoas mais adultas. E eu tenho
visto que tem mudado isso. Hoje em dia a gente tem células só de adolescentes. Mas me
parece que a gente também tem célula de juniores. Isso é uma... Eu creio que seja uma
evolução dessa intenção da nossa igreja, de manter... Da gente continuar a ser uma igreja
em célula. Que talvez se tiver algum risco de... Na célula, que você me perguntou antes, o
risco seria da gente não olhar essas questões e não tomar nenhuma atitude com relação a
dar mais vida pra célula.

14p. Entrevistador: Como é que você descreve a sua igreja hoje?


14r. Entrevistado: Uma igreja em célula, onde a gente tem acesso aos nossos pastores.
Eles não são figuras distantes. Eles são figuras amigas também. Eu como membro não
tenho nenhuma inibição de chegar pra um pastor meu e conversar, e eu já tive em outras
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igrejas, já visitei outras igrejas e em algumas outras igrejas às vezes eu sentia dificuldade
assim de me aproximar das lideranças da igreja. É um ambiente muito familiar apesar de
mil e oitocentos aproximadamente.

15p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 07/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
70 anos Jardim Camburi PIBJC 73

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos aqui na nossa entrevista.
Queria que o senhor falasse um pouquinho sobre sua experiência com, com célula.
1r. Entrevistado: É. Célula pra mim foi uma boa experiência. Porque ela dá oportunidade
da gente conhecer as pessoas, da gente se conhecer também. É a célula que ajuda a gente a
ter um norte na nossa vida cristã. Modo de ser, modo de viver, relacionamento uns com os
outros. A finalidade da célula mesmo é o relacionamento. É você aprofundar seu
relacionamento e, a partir daí, você trazer as pessoas pra igreja. E também o discipulado.
O mais importante da célula é o discipulado. É você ter uma pessoa pra você acompanhar
ele, até ele. Então, a pessoa, a célula que não é discipulada, então ela não funciona. Eu creio
que a nossa experiência sempre vai bater nessa tecla. Tem que haver discipulado.

2p. Entrevistador: Você fazia parte da igreja quando a igreja iniciou o trabalho de
célula?
2r. Entrevistado: Não. Depois de uns dois anos. E dois anos após nós começamos na
célula. Porque teve até a célula protótipo. Embrião. Aí depois é que começou mesmo as
pessoas.
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3p. Entrevistador: O que mudou na igreja, à partir do momento que se iniciou o


trabalho com células?
3r. Entrevistado: Olha a igreja mudou muito. Mudou, a ótica de evangelismo, de alcançar
às pessoas. O relacionamento entre as pessoas também. E também o pastoreio, eu creio que
ficou muito melhor também. Porque o líder de célula, ele é um pastor. Como fosse um
pastor auxiliar do pequeno grupo. Então ali ele tem a oportunidade de se envolver e
acompanhar as pessoas. Então, se há algum problema, a gente procura resolver ali. Quando
não tem jeito, então leva pro pastor. Então, eu creio que depois disso a administração e o
crescimento da igreja foi muito melhor do que os outros tempos. Tem sido uma experiência
muito boa.

4p. Entrevistador: Qual é o envolvimento dos membros da célula entre eles?


4r. Entrevistado: O envolvimento do membro na célula, primeiro, a gente fala muito em
transparência. Compartilhamento entre uma e outra. Os membros da célula sempre tem que
ter a parceria. Um com o outro. E o companheirismo também, que aí é mais fácil você saber
como vai a situação da pessoa ou não. Porque no grupão assim você, ela até vem e não fala.
E na célula você tem mais chance de você auxiliar ou não, o seu auxiliar talvez tenha algum
problema, você compartilha com seu parceiro. Então, eu creio que esse sistema de um
ajudar o outro. A célula é a coisa mais importante que tem na igreja. É isso.
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5p. Entrevistador: Tem alguma relação entre o pequeno grupo e comunhão entre os
grupos da célula?
5r. Entrevistado: Tem. Tem que ter. Se não houver um relacionamento, uma comunhão
dentro dela não funciona.

6p. Entrevistador: A célula contribui para que haja uma comunhão mais
aprofundada, ou não contribui?
6r. Entrevistado: Contribui sim. É o que eu estava falando. Que quando na célula, como
é a comunhão. Eu entendo que é você conhecer a pessoa. É você passar tempo com ela.
Você passar ai uns seis meses, um ano, compartilhando, depois passa com outro. Então, dá
um tempo de vocês se conhecerem e aí compartilharem as coisas né? É a comunhão entre
os membros.

7p. Entrevistador: A célula se encontra uma vez por semana?


7r. Entrevistado: Sim.

8p. Entrevistador: E durante os encontros, durante a semana, entre os encontros. Um


encontro e outro. Que tipo de relacionamento os membros da célula desenvolvem,
entre si?
8r. Entrevistado: Desenvolvem o estudo dos livros. A parceria. Que a célula é como se
fosse um grupão geral, só que é um grupo menor. Agora, a parceria mesmo é feita fora do
encontro.

9p. Entrevistador: Qual é a preocupação da célula com a sociedade de um modo


geral? As pessoas que estão fora do grupo, fora da igreja?
9r. Entrevistado: A preocupação da célula é alcançar. E a gente faz de várias maneiras.
Às vezes é visitando uma entidade, um trabalho com criança ou outra coisa parecida que a
gente possa contribuir.
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10p. Entrevistador: Qual a influência da célula pra transformação da sociedade?


10r. Entrevistado: É o relacionamento. Você falar com as pessoas. O relacionamento é
uma coisa assim. Às vezes tem pessoas que é mais fácil de fazer amizade, essas coisas
assim, mas o objetivo da célula na sociedade é através do nosso relacionamento com as
pessoas, onde nós lidamos com gente mais próxima. É levar a eles a Palavra de Deus. E a
partir daí você alcançar as pessoas pra Cristo.

11p. Entrevistador: E qual o impacto que a célula trouxe para a igreja, no que diz
respeito ao funcionamento da igreja, a estrutura da igreja?
11r. Entrevistado: Eu creio que o impacto maior que trouxe pra igreja é no envolvimento.
Porque a igreja é envolvida com uma causa. Porque a gente vê que a célula é todos, vamos
supor. No domingo nós estamos na igreja. Todo mundo junto. E no meio da semana a igreja
reúne todinha. Hoje nós estamos mais ou menos quantas? Na supervisão, vinte e poucas
células. Hoje estamos com mais de cem. Cento e alguma coisa. É isso aí que faz a igreja
ficar motivada.

12p. Entrevistador: Certo. E na celebração. Que influência a célula trouxe pras


celebrações? Quando as células se encontram pra celebrar juntas.
12r. Entrevistado: Quando as células se encontra todo mundo junto. A gente vê o objetivo
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das pessoas, de compartilhar Jesus. Muitas vezes a gente vê e encontra também. No


encontro do grupo todo na igreja. A gente vê e ouve das pessoas, porque? Geralmente a
gente chega na igreja e senta e o grupo de célula, geralmente senta tudo junto. E isso aí já
demonstra que aquele carinho, aquele apego que você tem às pessoas. Então, isso aí passa
pras outras pessoas. Você vê que a célula, a tendência da célula é passar pras pessoas, de
dentro da igreja. Que há uma comunhão entre todos.

13p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja a existência dos pequenos grupos?
13r. Entrevistado: Não, eu só vejo benefício. A não ser que a igreja não estiver preparada
pra estar funcionando em célula. Por que tem que partir do pastor e os membros também
estarem empenhados nisso aí. No nosso caso hoje, tá todo mundo empenhado que a igreja
cresça em função das células. Por quê? A multiplicação. Hoje seria, partimos com quinze
células e nós estamos com e geralmente a gente vê na reunião do grupão na igreja, quando
a célula se multiplica, é aquela alegria nas pessoas. Nós tínhamos uma pessoa que, eu
estudava a Bíblia. Chegou ao ponto dele se batizar, mas nós notamos que ele não estava
preparado. Mas passou um tempo, eles ficaram fora e hoje eles voltaram pra igreja e estão
em célula outra vez. E a gente vê que o trabalho não é em vão. Eu até comentei...

14p. Entrevistador: E como você classificaria a igreja hoje, a sua igreja hoje?
Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi. Como é que o senhor classificaria essa
igreja, em termos de adjetivos?
14r. Entrevistado: Eu quero uma igreja que está caminhando para o melhor, pra melhor.
Que o nosso objetivo nós aqui já alcançamos. Nós temos um alvo. Então, eu creio que
nossos alvos estão sendo alcançados gradativamente. Então é a maneira que a gente vê, de
motivar a gente a continuar. Porque os alvos, os objetivos estão sendo alcançados. E hoje
tem muito mais facilidade do que era antigamente. Esse é o sinal.
628

15p. Entrevistador: Muito bem. Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre
célula?
15r. Entrevistado: Eu creio que célula hoje é a maneira mais prática de pastorear uma
igreja. É fácil pro pastor. Fácil assim, no modo de dizer. Baseado lá em Jetro, que veio falar
com Moisés, sobre não vai carregar essa carga sozinho. Então é uma situação que eu vejo,
todos estão empenhados em ajudar. Então a igreja tem um trabalho muito honesto, todos
estão no mesmo objetivo. Eu creio que essa é a idéia do futuro. É a igreja que a gente
almeja. É baseado naquele lá do que vem das casas, no começo. Voltar as origens. Porque,
a igreja caiu na graça do povo porque eles viram relacionamento com as pessoas assim, eu
creio que, eu espero que funcione de hoje em diante. Porque não adianta você fazer um
culto na praça, a pessoa espera um evangelismo, aquele de impacto assim. Mas se você não
cuidar da pessoa, igual um bebê quando nasce, se não tiver ninguém que cuide dele, ele
vai morrer de inanição. E a célula veio pra isso. Porque, pra que a pessoa nasça e tem que
ter alguém pra acompanhar, pra fazer crescer junto. Pra dar o leite ali desde o início, depois
dá comida sólida. E aprender junto ali. Essa é a função.

16p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


16r. Entrevistado: De nada.
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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 07/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
68 anos Jardim Camburi PIBJC 74

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar aqui sobre pequenos grupos, sobre célula.
Queria que você começasse me falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência com célula foi a melhor experiência que eu tive na
minha vida. Porque eu era acostumada a atender pessoas, que eu era cabeleireira, eu sou
cabeleireira, eu ainda atendo cabeleireira e eu conversava muito com as pessoas. Então, a
célula me fortaleceu ara que eu tivesse objetivo no assunto, muito maravilhoso, para
compartilhar com as pessoas. Individual. Então a experiência foi assim, uma das melhores
experiências.

2p. Entrevistador: O que mudou na sua vida depois que, você começou a fazer parte
de uma célula?
2r. Entrevistada: Mudou porque a gente trabalha muito na edificação, sabe? Nos nossos
encontros tem um 'E', são quatros 'Es'. Então tem um da edificação, que a gente mexe com
a nossa estrutura. Então ás vezes nisso a gente vai mudando, porque vai construindo a nossa
vida cristã. E muitas coisas mudam. Então foi muito bom pra mim, nesse tempo.

3p. Entrevistador: O que mudou na sua visão de igreja, a partir do momento que você
começou a participar de célula?
3r. Entrevistada: Mudou. Mudou porque uma igreja, nós ficamos dois anos aqui sem
célula. Nós ficávamos falando isso pro pastor: “pastor” (porque nós viemos da igreja lá de
_____), então falamos com o pastor: “pastor, não tem núcleos de estudo bíblico?” Que nós
éramos também, grupo de estudo bíblico fazíamos em _____. E com, aqui nesses dois anos
aí o pastor: “Espera um pouco”. Então, a gente percebe que a igreja que não está em célula,
ela é uma igreja, dá a impressão que ela não tem a motivação pra crescer. Pras pessoas
629

virem pra igreja em célula é diferente. A célula, por isso que a célula se multiplica e tem
que multiplicar, porque senão a célula morre. E a diferença é essa. Que a igreja sem célula
é uma igreja estagnada. Não cresce. E uma igreja em célula, ela se multiplica. E cada vez
vai multiplicando.

4p. Entrevistador: E ela cresce em que sentido, a igreja que está em célula cresce em
que direção, em que sentido?
4r. Entrevistada: Olha, ela cresce em números, em primeiro lugar. Segundo lugar, ela tem
que crescer, porque a gente não sabe a situação das outras, cada célula é uma família, mas
ela cresce também em conteúdo espiritual. Tem que crescer porque a gente estuda pra isso.
E os livros, material que nós usamos, ele leva a gente a crescer na Palavra. Estuda a Bíblia,
estuda, ás vezes as pessoas que tem muito tempo que ta na igreja, não participou de célula,
eles são meio resistente. Há uma diferença também, porque a pessoa que está em célula, a
gente fala, vamos abrir lá em Atos, tal. Num instante, rapidinho a pessoa acha, sabe? E uma
pessoa que está há muito tempo sem célula. Ela, às vezes ela custa. Porque não, custa abrir
a Palavra pra poder estar manuseando.

5p. Entrevistador: Como é que os membros da célula participam? Dos encontros, da


vida da célula, da vida da igreja?
5r. Entrevistada: Eles participam, cada um tem sua tarefa. São quatro 'Es'. Encontro, que
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é o quebra gelo. Depois tem edificação. O louvor, que é a exaltação, que é o outro 'E'. E
evangelismo. Então, tem esses quatro 'Es'. Cada membro está é responsável por um. Pra
fazer.

6p. Entrevistador: E o líder, faz o que?


6r. Entrevistada: O líder, ele tem que agir de uma maneira que ninguém quase observa
que ele é líder. Por isso que tem que distribuir os 'Es'. Às vezes só um sinal pra pessoa,
bem, pra ninguém perceber e ele só distribui as tarefas. E não tem como o líder falar
sozinho. Se o líder fala sozinho, não é célula. É uma pregação. E a pregação, a mensagem,
nós já tivemos na igreja. No grupo grande. No grupo maior, que é a igreja. E na célula não.
Na célula a gente vai refletir sobre o que o pastor falou, no culto.

7p. Entrevistador: Se não é o líder que fala. Quem é que fala?


7r. Entrevistada: Todas as pessoas tem o direito de falar. O líder só distribui e faz as
perguntas. No finalzinho da carta do pastor. Tem a carta do pastor, dando as informações.
No finalzinho tem as perguntas relacionadas à edificação. Por isso que a edificação é o 'E'
mais, o evangelismo também, todos os 'Es' são importante, mas a edificação, ela mexe com
a gente.

8p. Entrevistador: O membro da célula fala sobre o que?


8r. Entrevistada: O membro da célula, ele responde as perguntas. Se ele está em
dificuldade, naquele, ou naquela hora ali há choro, entendeu? Porque as pessoas falam de
suas dificuldades. Eles têm liberdade pra falar.

9p. Entrevistador: Falar deles?


9r. Entrevistada: Deles.

10p. Entrevistador: Experiências pessoais?


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10r. Entrevistada: Experiência pessoal. Sim. O líder tem que ter um controle pro assunto
não se desviar. Isso ele tem que ter. Porque se deixar, aí um fala um assunto. Aí daqui a
pouquinho, o assunto não tem nada a ver com o que nós estamos tratando. Mas todos eles
tem o direito de falar e é bom que eles falem.

11p. Entrevistador: Algum, você vê algum perigo da, existência do pequeno grupo pra
igreja como um todo?
11r. Entrevistada: Um perigo é você sabe que o pastor da igreja, como o pastor Juarez.
Às vezes a gente até ora por isso. Como a igreja vai crescendo muito, então isso tem que
estar sempre atento. Porque, pode minar alguma coisa. Igual o ano passado mesmo.
Minaram algumas coisinhas, que não tem nada a ver. Invenção. Que não tem nada a ver
com a Palavra. A gente pensa, eu, particularmente, acho que esse é o maior perigo. O desvio
de doutrina.

12p. Entrevistador: Aconteceu alguma experiência assim já na igreja, depois da


célula?
12r. Entrevistado: Não. Pelo que a gente sabe não aconteceu. Ninguém foi chamado à
atenção.

13p. Entrevistador: E qual o impacto que a célula trouxe pra igreja como um todo?
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13r. Entrevistada: Olha pastor. O impacto foi grande. Um dia o pastor até falou com a
gente. Porque a gente ora muito pelas pessoas que estão enfermas, daí a pouquinho ás
pessoas estão na igreja. Aí num encontro de líderes, o pastor me pediu, pra que não falasse
muito das coisas é, com exagero. Das coisas que acontecem. Por exemplo. Nós oramos por
fulano, oramos, a igreja orou, eu orei, ele foi curado, entendeu? É o impacto é esse. É que
as pessoas viam que a gente estava realmente no caminha certo. E até hoje muitas pessoas
ainda, a gente está na igreja. A hora que nós começamos célula na igreja. E todos os dias,
pastor, tem gente diferente. Às vezes eu chego pra pessoa, aí eu pergunto: 'você já é
membro?'. Já pergunto logo se é membro, sabe? Aí eu dizia assim: “você está visitando?”
Assim eu estou discipulando pela terceira vez, pela segunda vez. Então, a gente percebe
que houve um impacto, para as pessoas de fora.

14p. Entrevistador: E como é que a célula contribui nessa acolhida de pessoas novas
pra igreja?
14r. Entrevistada: Como é que a célula contribui?

15p. Entrevistador: Pra receber essas pessoas que vem de fora.


15r. Entrevistada: Olha, primeiro a gente tem que ser muito assim, receptivo. A gente tem
que. Houve época na igreja, que uma pessoa chegava e ia duas ou três pessoas pegar. Sabe?
Tipo, chamar pra célula. É, existe um desejo imenso de a pessoa vir pra célula. Às vezes
eu converso com as pessoas e falo assim: “Você já está participando de célula?” Aí ela fala:
“Já estou”. “Ah! porque se não tivesse eu convidar pra aminha célula”. Tudo bem. Está em
outra célula, fica lá. Não tem esse negocio de. Então, é com muito carinho, sabe?

16p. Entrevistador: Como é que você descreve a sua igreja hoje?


16r. Entrevistada: Uma igreja forte. Que contribui. E que ela atende um chamado do
pastor. Por isso nós estamos construindo, em nome de Jesus, um templo grande, pra três
mil pessoas, duas a três mil pessoas. Porque nós temos três cultos e cansa os pastores.
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17p. Entrevistador: Gostaria de falar um pouquinho mais sobre célula?


17r. Entrevistada: Olha, a célula é um lugar em que a gente deseja, tem fome de discipular.
Pelo menos estou falando a minha parte. Eu tenho fome de discipular. E ele também.

18p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 07/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
39 anos Jardim Camburi PIBJC 75

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre, pequenos grupos, sobre célula. Queria
que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Bom, a minha experiência com célula começa em dois mil e três. Eu
vinha freqüentando a igreja antes de casar. E num processo de conhecer a igreja. Minha
esposa já era membro da igreja, só que nessa época a gente não era membro de células. E
eu comecei o meu discipulado, um estudo bíblico na verdade, com o pastor _________.
Casei em dois mil e dois e estava convencido do evangelho, mas não convertido. Em dois
mil e três, no estudo bíblico, houve um momento que eu me converti e me batizei. E aí eu
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passei a participar da célula, como membro de célula. E aí nós fomos logo depois, no ano
de dois mil e três. A minha esposa já tinha muitos anos de igreja, ela assumiu a liderança
de uma célula e eu acompanhei ela. E nós começamos desde dois mil e três, a gente
começou a liderar. A gente já liderou bastante gente. E a gente foi multiplicando a
liderança. E aí, agora, nós fomos supervisores. Estamos supervisores. Já treinamos muita
gente, lideramos. E praticamente assim, agora não, mas teve um momento que na nossa
supervisão, praticamente todo mundo a gente tinha liderado de alguma forma, a gente ia
liderando e multiplicando a liderança. Acompanhando as pessoas. E eu sou discípulo do
pastor ______, então, durante o tempo que eu liderava, eu também recebia. O discipulado,
o acompanhamento é permanente assim. Eu, sou discipulado ainda por ele.

2p. Entrevistador: O que mudou na igreja depois das células?


2r. Entrevistado: Olha pastor. Eu já me converti, eu participava, vinha aos cultos, mas eu
acho que assim, a comunhão, ela é bem melhor. Porque, quando há uma igreja pequena, é
muito tranqüilo. Você conviver com um grupo menor, um grupo de cinqüenta, cem
pessoas, talvez até duzentas pessoas, as pessoas conseguem se conectar ainda. Mas começa
a crescer ampliar a quantidade de pessoas, você não consegue ter conexão, então, a célula
promove essa conexão. Você se compromete, por livre e espontaneamente vontade, que
ninguém é obrigado, a estar em célula. Então você entende que aquilo é bom pra você. E
você se compromete a participar de um grupo de célula. Então você participa do culto,
presta o culto no domingo, durante a semana você está ali e tem uma direção pastoral. A
liderança recebe uma carta, da direção pastoral, onde vai ser compartilhado o tema daquela
pregação. Então, tem uma direção onde é compartilhado ali aquela porção. Vamos dizer
assim, da Palavra de Deus. E isso proporciona uma comunhão no encontro. O encontro não
é só compartilhar da Palavra. O encontro ele é mais, ele tem uma parte de louvor, de
adoração. Tem uma parte que se fala de evangelismo, onde a gente, mesmo que a pessoa
esteja, não esteja com alguém olhando, mas ela, de certa forma ela olha pra fora. Então, na
célula há uma comunhão do corpo de Cristo. Há um propósito também que ela, a igreja,
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ela recebe essa direção, olha. Quem que você ‘ta’ orando? Quem é a pessoa com quem você
pretende, ou quem você ‘tá’ discipulando? Quem você ‘tá’ oferecendo estudo bíblico?
Então, mesmo que a pessoa não esteja fazendo, ela esteja acomodad, ela, de certa forma,
ela é desafiada a fazer. Ou deveria ser. Pode ser que tenha algum grupo disfuncional, mas
o propósito seria esse. Então, a comunhão, ela, vai além da célula. Porque aí, você tem a
convivência com aquela pessoa. Você passa a ir na casa da pessoa que, a célula as vezes é
numa casa fixa. Hoje a igreja ‘tá’ adotando essa estratégia, de estar numa casa fixa. Mas
não obrigatoriamente. Então ela pode ser em várias casas. Então você, quando você recebe
as pessoas na sua casa, você tem essa intimidade e depois você pode voltar, pode ligar. E
proporciona muito a comunhão. Isso nos dias de hoje é raro. Porque, dificilmente eu iria na
casa de alguém que não me convidasse. E aí eu, estando lá, a gente conversa. Na maioria
das vezes a minha célula é no dia de sábado. Então, acaba, aí tem ou teve o lanche antes ou
vai ter depois. Aí a gente conversa. Então se estende. Não é uma coisa estática.

3p. Entrevistador: E como é que as pessoas se relacionam entre sí, no interregno dos
encontros?
3r. Entrevistado: Aí depende muito pastor. Tem pessoas, aí vou falar da minha
experiência. Vão ter pessoas que vão ter muitas dificuldades. Pessoas que, por conta, talvez,
da história de vida delas, ou de, do jeito delas. Elas tem dificuldades mesmo. Mas, a célula,
o propósito é que haja parcerias ou discipulado. Então existe, de certa forma um encontro,
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além da célula. Mas não com o grupo todo, mais individualizado. Isso não impede também,
que as pessoas façam atividades. Igual, hoje, meu relacionamento com o pastor _______ é
de amigo. A gente já, a gente sai pra comer junto, bate papo, vai no supermercado, anda na
praia, senta e chora. A gente vive junto. É já teve tempo que a gente já viveu mais próximo.
Hoje a gente não ‘tá’ nem tão próximo assim, mas ainda continua tendo relacionamento.
Ele não é da minha célula, já tem muito tempo. Eu tenho relacionamento com ele. Eu tenho
relacionamento com as pessoas da minha célula. Eu tenho, eu e minha esposa temos casais
que a gente discipula e eu tenho um parceiro de oração, que também a minha esposa é
parceira de oração da esposa dele. Então, não é uma coisa estática. A gente, como eu como
sendo líder, eu acabo, me envolvendo muito mais talvez do que as outras pessoas. Eu me
obrigo a ligar. Assim, tenho essa disciplina. Eu sei que eu preciso ligar. Porque muitas
vezes a pessoa chegou agora, ela não tem esse costume. Então eu ligo, eu mando um
watsApp. Agora a gente usa muito o watsApp, porque antes era um torpedo. Mas a gente
manda mensagem. Usa tecnologia pra poder conectar. E tem que ter disponibilidade de
tempo. Mas isso eu faço com maior amor. Porque eu vejo que isso é uma graça de Deus.
Eu fui muito tratado, cuidado. Então, pra mim, falar de célula é muito positivo, eu não
consigo ver coisas negativas. Aspectos negativos.

4p. Entrevistador: E qual a preocupação da célula com os que estão fora da célula, ou
fora da igreja? Com a sociedade de um modo geral.
4r. Entrevistado: Olha, a célula, como eu falei pro pastor, ela tem essa forma. Como é
pouca gente, o grupo. Às vezes tem grupos que crescem mais. Mas geralmente um grupo
de doze pessoas, dez pessoas, ela é muito rápida em agir. Então, na minha experiência. Já
faz dez anos que eu ‘tô’, a gente já conseguiu fazer muitas coisas. Exemplo: Um irmão da
igreja, que ‘tava’ com câncer, o ____. Então, a gente na reunião de célula começamos a
falar. Vamos fazer uma cantina pra poder ajudá-lo? Eles ‘tão’ precisando. Fizemos uma
cantina. Doamos o dinheiro. A gente se reúne em supervisões. Então se junta, faz grupos e
faz uma ação, por exemplo. Uma da minha supervisão, o ano passado, eles conseguiram
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fazer uma ação com um grupo de meninos carentes que tem um time de futebol. Então, eles
compraram todos os uniformes e bancaram uma viagem para eles irem em outro lugar, e
eles não são da igreja. Eles não são pessoas da igreja, da nossa igreja. Então, a célula tem
essa mobilidade. Volta e meia algumas células fazem um café da manhã pro pessoal da
feira, aqui do bairro. Fazem visitas a asilos aqui do bairro. Então, a gente se mobiliza e
consegue, em um grupo pequeno, fazer uma ação que faz às vezes, uma diferença. Então
isso a gente também é direcionado pelos pastores, porque tem momentos da célula hoje,
que a gente tem estações. Estação adorar, estação edificar. Então onde é direcionado. Aí
tem uma estação que a gente faz atos de compaixão. E que não impede de em outros
momentos, cada um ‘tá’ fazendo também. E, como eu falei, a célula tem um propósito de
evangelizar, de levar a Palavra de Deus. Então, praticamente em todos os encontros se fala
sobre evangelismo, sobre levar a Palavra pra alguém que não conhece. Então se você não
tem alguém que você ‘tá’ fazendo um estudo bíblico, você tem alguém que você ‘tá’ pelo
menos orando. E isso faz diferença? Faz. Porque às vezes é uma bíblia que você doa, às
vezes você vai ao encontro da pessoa, às vezes, alguém, por exemplo, você ‘tá’ orando por
alguém, você sabe que a pessoa não é da igreja. Ah, faleceu alguém. Então, aquele grupo
vai, ás vezes, ao enterro de um parente que não é crente, que não é convertido. Isso faz
diferença. Porque às vezes o enterro ‘tá’ vazio, então a pessoa ‘tá’ num momento, que
precisa de ter um apoio social ali. Aquele emocional e tantas coisas. A questão da ação
social e também o resgate assim de pessoas que chegam a igreja. A gente recebe pessoas.
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E as vezes pessoas com problema de drogadição, às vezes pessoas com problema de


estarem vivendo momento de divórcio. O momento da perda de alguém. Então, a célula
como sendo um grupo pequeno é muito mais fácil daquelas pessoas se organizarem e
suprirem uma demanda, não só de oração, mas também de botar a mão as vezes até no
bolso mesmo, pagar uma conta, fazer algo diferente, assim, que não faria em outro meio.

5p. Entrevistador: Na celebração, qual o impacto que a célula causou nas celebrações
da igreja? Quando o grupão se encontra?
5r. Entrevistado: Eu acho que um impacto é o crescimento, mas uma coisa, que eu vejo
que mudou bastante é a alegria ao celebrar, por exemplo, um batismo. Eu já participei do
batismo em outras igrejas e aqui na nossa igreja, hoje tem uma, é uma alegria mesmo, é
uma celebração. Então isso é muito impactante. Quando vem a família de alguém que 'tá
se batizando e vê a alegria, que a gente louva a Deus mesmo. É algo que foge daqueles
padrões, não é só um batismo, é uma celebração, uma festa, porque houve então isso faz
uma diferença. No culto geralmente as pessoas tão juntas também. Existe também essa
questão como a gente é desafiado pela igreja. Por ser uma igreja grande, a gente se policia
pra não ficar frio, pra não ficar estático. Por que? Porque às vezes chegou alguém ali, você
não conhece todo mundo, mas pergunta. A pessoa que 'tá do seu lado: "você é da igreja?".
Então isso facilita. Por exemplo, na hora em que a pessoa se converte, 'tá lá na frente,
ninguém levantou, alguém levanta pra estar lá, então recebe essa pessoa. A pessoa aceitou
a Jesus, foi lá na frente no apelo, vai pra sala orar, alguém já anotou um nome, se não é da
célula, se ninguém tem acompanhado, então, já propõe. Ah, você quer participar de uma
célula? Você quer participar do grupo? A gente vai se reunir na minha casa. Você pode ir
lá. Entendeu? Eu posso te discipular. Isso faz muita diferença pra quem 'tá chegando na
igreja.

6p. Entrevistador: E na configuração da igreja. O que a célula mudou?


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6r. Entrevistado: Igreja como instituição? Eu creio que a igreja tem mudado. A igreja está
em movimento. Eu acho que isso é uma, uma constante. Ela coloca os jogadores onde 'tá
mais fraco. Então, por exemplo, no final do ano teve o culto da virada. A minha supervisão
foi mobilizada pra poder atender as crianças. Então nós não estávamos. Muitos de nós, não
estávamos no culto da virada. A gente 'tava no culto com as crianças. Então, teve uma
ministração para as crianças, mas todo o apoio dos tios que levam e que trazem, então, isso
causa um impacto, porque tem pessoas celebrando mas tem, as células se organizaram para
servir. Então, essa organização, essa mobilidade, isso causa um impacto. A gente se
organiza, por exemplo, vamos fazer... É mais fácil de identificar, por exemplo, chegou um
novo membro na célula, a pessoa veio de uma outra igreja, ou está chegando, você 'tá, é
sempre perguntado. Você tem interesse em alguma área no serviço da igreja? Ah eu
gostaria de ficar com as crianças. Então, isso facilita, porque o líder liga pra pessoa líder
do ministério da igreja e fala. Ah eu tenho um voluntário aqui. A gente tem um,
dois líderes de célula que lideram adolescentes. Aí nós vamos fazer uma ação, aí o líder me
perguntou. Vocês pensaram nos juniores? Ai eu falei bem assim. Olha eu pensei, mas como
você acha que eles podem servir? Ela conversou com eles. Eles vão servir na cantina,
servindo os alimentos. Então, isso facilita a integração da igreja. Isso causa impacto na
igreja instituição, mas a igreja tem os seus ministérios, tem as pessoas, realmente, que são,
vamos dizer assim que são, não seria o nome adequado, voluntário. Elas são remuneradas
praquilo. Existem os ministérios. Existe a parte das crianças, há uma pessoa que cuida.
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Existe, e a igreja acaba crescendo mais. Porque ela acaba, sendo cuidada, mas não sei se
essa seria a melhor palavra, assim, se cuida. A gente consegue dividir o fardo. Então, por
exemplo, o pastor. Se acontece algo. É mais fácil você descobrir que a pessoa 'tá com um
problema, porque talvez ele, pra ele se comunicar com cem pessoas, cento e cinqüenta,
agora a nossa igreja 'tá com mais de mil membros, seria muito complexo. Mesmo cinco
pastores igual tem a igreja. Seria muito complexo. Mas, por exemplo, se alguém morre,
talvez em uma ou duas horas no máximo o pastor já 'tá sabendo. Porque já ligou, aquela
pessoa já ligou pro líder. O líder já passou um torpedo pro pastor na mesma hora, entendeu?
Então, isso é muito positivo. Alguém se acidentou, se adoentou, é muito rápida a
comunicação. Isso é bom, isso é positivo.

7p. Entrevistador: Como você classificaria sua igreja hoje?


7r. Entrevistado: (risos), mas como assim? Que tipo de classificação?

8p. Entrevistador: Usando adjetivos.


8r. Entrevistado: Ah ta! Eu acho que é uma igreja que, uma igreja que 'tá viva, que 'tá
sendo desafiada no sentido de, sendo, assim, a igreja ela...é desafiada a não ficar sentada
apenas recebendo. Então, eu acho que é uma igreja viva, alegre. Uma igreja amorosa, uma
igreja que serve mais, que existem mais frentes de trabalho. Então, as pessoas têm prazer
de servir. É uma igreja que cura. Porque eu, quando eu cheguei, eu 'tava, eu conheço alguns,
também, irmãos, que chegaram assim bem. E a igreja, a gente tem esse privilégio, essa
alegria de estar juntos se tratando. Então isso é muito positivo. É uma igreja muito, eu sou
apaixonado pela igreja. Não tem nem como, todos, eu olho pros irmãos da igreja, como se
eles fossem, muitas vezes, Cristo pra mim. Então isso é, pra mim, está em alto grau de
qualidade. São muitas qualidades. É até, não tem nem tantas, eu não consigo adjetivar, mas
são todos. (risos) Não tem defeitos assim. Não que a igreja não tenha problemas, não é isso.
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Mas que ela é uma igreja muito viva, é muito voltada pro evangelho. Apesar das
dificuldades pessoais. Mas a gente se preocupa em cumprir o evangelho. Acho que isso é
um ponto muito positivo. Ser fiel ao evangelho. É uma qualidade. Pra mim é uma qualidade
essencial.

9p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


9r. Entrevistado: Eu gostaria de falar que célula é só um método, humano. Mas, que dentro
desse método, há o agir de Deus, há o agir de Deus. Não por causa do método. O mérito
não 'tá nesse método. É só uma estratégia que Deus usa nesse momento pra nossa igreja,
pra poder a gente ser a igreja, esse corpo. Pra gente conseguir, ter essa unidade. É ligar pra
alguém e saber. Ah, poxa, eu tenho alguém com quem eu possa ligar. Eu tenho um irmão,
que eu sei que ele, ele morreria por mim agora. Então, eu acho que isso não pode deixar de
ser falado. Que não é esse nome, a célula. Mas é a, é o corpo de Cristo mesmo. Então esses
pequenos grupos, eles proporcionam algo que a gente talvez não conseguiria ter de outra
forma. Como se fosse um resgate mesmo, do ideal da igreja que Deus, que Jesus plantou,
que Ele deixou pra gente. Então assim, é uma tentativa, da gente 'tá em comunhão. É uma
tentativa. Existem dificuldades. Eu acho também que seria errado não falar das
dificuldades. Então eu acho que essas dificuldades têm que ser pontuadas. Porque nem
sempre é um mar de rosas. O que acontece com a célula? Ao mesmo tempo que 'tá tudo
bem, não está, porque eu me aproximo da pessoa, eu vejo que ela 'tá ferida, eu vejo que ela
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'tá com problema, então, algumas pessoas falam assim. Nossa! A célula é horrível, eu tenho
que ser transparente, eu tenho que falar da minha vida, eu tenho que abrir a minha casa. E,
na verdade, é isso que Deus quer, Deus quer a comunhão. Eu acho que ele trabalha na
comunhão do corpo. E aí a gente recebe o cuidado pastoral, a gente recebe o apoio. E não
é fácil. Apesar de ser maravilhoso. A gente olha pro panorama. Por exemplo, eu olho pra
minha vida. Eu fui extremamente transformado por esse tempo que eu estive na igreja. Não
quer dizer que se eu tivesse em outra igreja, de outra forma, eu não seria também. Porque
haveria o poder de Deus. Mas hoje eu não consigo, talvez eu não conseguiria viver em uma
igreja que eu não pudesse ter uma comunhão de, mesmo que fosse de amigos, mas eu teria
que ter. Então, eu aprendi a ter amigos. Que eu não sabia fazer antes. Então, é uma forma
de você fazer amigos, de você ser corpo de Cristo, de você ter um propósito na amizade. E
que não exclui os problemas do dia a dia, mas que colabora pra que eles sejam resolvidos
de forma acertiva, de forma dinâmica, positiva. Isso.

10p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 28/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
49 anos Jardim Camburi PIBJC 76

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre célula.


1r. Entrevistado: Aham.

2p. Entrevistador: Eu gostaria que você começasse falando sobre a sua experiência
com célula.
2r. Entrevistado: É pra responder? Essa é o décimo terceiro ciclo que eu frequento. Como
líder de célula é a sétima que eu tenho frequentado. Então é o sétimo ciclo que eu tenho
636

frequentado como líder de célula, e vejo que atualmente há um descomprometimento muito


grande das pessoas. Entendeu? As pessoas, elas não querem se envolver. 'Tá entendendo?
Não querem participar. Então isso tem frustrado a minha liderança, tá entendendo? Porque
você quer fazer tudo que vem, então você tem que dividir o bolo. Então as pessoas, elas
querem a coisa pronta. Então isso daí você está criando expectativas e como você não
consegue atingir o objetivo, que é ganhar almas para Cristo, levar pessoas, multiplicação,
aquilo vai desgastando você, entendeu? Então é isso!

3p. Entrevistador: Como é que foi a sua entrada? Você já pertencia à igreja quando
começou a frequentar célula ou você veio através da célula?
3r. Entrevistado: Não, eu frequentava a igreja, que era uma igreja de ______ e aí a minha
namorada frequentava aqui. Aí eu comecei vir aqui, e comecei a entrar na célula dela. Aí,
daí em diante, foi. A gente namorou, noivou, casou e demos continuidade, 'tá entendendo?

4p. Entrevistador: Qual a diferença que você identifica numa igreja que tem célula,
ou pequeno grupo, e a igreja que não tem?
4r. Entrevistado: Não, na realidade, a célula é interessante porque você... É um meio,
assim, de você 'tá conhecendo mais o grupo, interagindo com o grupo, 'tá entendendo?
Você pode abrir seu coração. Vamos supor assim, as pessoas possam 'tá te ouvindo, orando
por você. O grupo pequeno é um grupo onde você, não precisa, como é que eu vou dizer?
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Colocar as máscaras, você pode se abrir pro grupo, orar. Enquanto com a igreja grande fica
muito disperso, você tem contato com as pessoas muito superficialmente. Você tem contato
só na saída do culto, ou na chegada do culto, mas aí você tem aquele grupo pequenininho,
tem aquelas panelinhas. Aí quando termina você conversa só com aquelas mesmas pessoas.
Em contrapartida na célula, você sai de uma célula, depois entra outra, quer dizer, então
você vai conhecendo gente. E foi a partir da célula que eu conheci bastante gente,
entendendo? Aqui na igreja, 'tá entendendo? Então a célula, além de você conhecer aquele
grupo que você frequenta você passa, com a mudança do ciclo, você passa a conhecer um
outro grupo. Essa dinâmica é muito interessante. E aí você sabe da vida, assim, íntima.
Não é que você conhece a pessoa tão superficialmente. Então, quem é fulano de tal? Fulano
de tal é esse, trabalha em tal lugar, é casado com fulano de tal, tem dois filhos, etc. Então
você conhece a história da pessoa, cocê não sabe só o nome dela ou o apelido dela,
entendeu?

5p. Entrevistador: Qual a ligação que você faz entre o pequeno grupo, a célula, e
comunhão na igreja?
5r. Entrevistado: Bem, na realidade, a igreja a gente vem pra adorar a Deus. Primeiro a
gente vem pra ouvir a mensagem de Deus, através do pastor. Então a gente congrega aqui
com os irmãos, com a finalidade de 'tá adorando a Deus no grupo maior, no caso. A célula,
eu vejo assim, como uma forma, assim, de 'tá colhendo experiências de um do outro,
entendeu? Então, por exemplo, o pastor deu uma mensagem, aí em cima daquela mensagem
a gente vai 'tá colocando em prática. O que é aquilo na nossa vida. Então a célula seria a
coisa, uma experiência, uma coisa mais prática, onde a gente vai 'tá colhendo experiências
no dia a dia, na vida alheia da gente. Então acho que a célula tem esse foco, 'tá entendendo?

6p. Entrevistador: Qual o impacto que você vê que a célula tenha produzido na
celebração como um todo?
637

6r. Entrevistado: Um impacto? É o envolvimento. Eu acho que maior, eu acho que as


pessoas, elas vão na igreja, assim, com o objetivo de ouvir a Palavra de Deus. E exceder
também, porque a célula seria um complemento. Tem o culto, no caso, que é o culto que
acontece domingo, e a célula seria o complemento daquilo, daquele culto, entendendo?
Então seria o complemento, entendendo?

7p. Entrevistador: Qual o espaço nesses encontros da célula que a pessoa tem pra se
expressar?
7r. Entrevistado: O espaço? Seja mais específico.

8p. Entrevistador: Nesses encontros semanais que a célula tem, qual a possibilidade
do indivíduo se abrir, compartilhar, falar?
8r. Entrevistado: Bem, na realidade, na célula eu acho que as pessoas, elas são, tem
tarefas, no caso, entendendo? Então um fica com evangelismo, outro fica com edificação,
outro fica com quebra-gelo, outro fica, com... Então ali a cada tema, as pessoas, elas dão a
opinião delas. Participam, falam o que elas acham. Então, é um grupo onde que 'tá aberto.
Logicamente, que no meu caso, na minha célula, é que eu tive uma, algum problema. Teve
algumas pessoas que frequentam a minha célula que são muito tímidas, então não falam,
tem uns que não se abrem muito, o coração. Se fecham um pouquinho, não se expressam,
'tá entendendo? Mas tem oportunidade pra todo mundo, todo mundo pode 'tá falando, pode
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'tá participando, dá opinião.

9p. Entrevistador: Que tipo de preocupação há um com o outro, nos membros da


célula, no interregno dos encontros, durante a semana, entre os encontros?
9r. Entrevistado: Repete a pergunta. Não entendi.

10p. Entrevistador: Há alguma preocupação, algum cuidado, de um para com o outro


entre os encontros?
10r. Entrevistado: A gente, eu como líder, a gente liga. Tratar as pessoas. E mando email,
whatsapp, perguntando, mandando algumas mensagens, perguntando como é que o grupo
está.

11p. Entrevistador: E os membros entre si? Eles fazem isso também?


11r. Entrevistado: Olha só, não com muita frequência. Tá entendendo? Então, deveria
fazer, mas eu não vou te enganar, eu vou ser sincero, não existe muito essa.

12p. Entrevistador: E com as pessoas que são de fora? Qual a preocupação que os
membros da célula têm com a sociedade, com as pessoas que não são da igreja, que
não são parte do grupo?

12r. Entrevistado: Pois é, isso aí foi o que foi a primeira fala que eu falei com você,
entendendo? Foi um motivo assim que gerou um stress, que gerou... É porque, na realidade,
a finalidade é essa, não é só o grupo. A gente tem que ir pra comunidade toda. Então muitas
vezes a gente vê, assim, a falta de participação das pessoas. As pessoas, elas não querem
compromisso, entendendo? Quer olhar só pra dentro de si, para os interesses pessoais. E
esquece, no caso, da finalidade que é ganhar almas para Cristo.
638

13p. Entrevistador: Certo. Além de ganhar almas para Cristo, qual a preocupação da
célula com os problemas sociais? Que tipo de ações a célula desenvolve pra
transformação da sociedade?
13r. Entrevistado: Pois é, a gente frequentou, visitou orfanato, entendendo? Pra 'tá, assim,
fazendo... Primeiro tem o culto, no orfanato. Mas foram poucas vezes, foi só uma vez só,
tá entendendo? Muito pouco. Isso daí também é uma coisa que pode 'tá sendo praticada,
também, muito mais.

14p. Entrevistador: Você vê algum risco... A célula representa algum risco pra igreja
como um todo?
14r. Entrevistado: Não. Eu acho que a célula, ela não representa risco, não. Acho que seria
um complemento. Porque foi o que eu falei com você, as pessoas, elas, às vezes, ouvem a
mensagem. E toca o coração dela e aquilo dali de repente pode 'tá... Ela quer ouvir uma
palavra, assim, de encorajamento. 'Tá entendendo? Uma palavra, assim, que edifica a vida
dela. Dentro do grupo pequeno seria um complemento, não seria risco, não.

15p. Entrevistador: 'Tá. E qual o impacto que a célula trouxe pra organização da
igreja, pra estrutura, pra configuração da igreja?
15r. Entrevistado: Eu acho que a célula, ela veio, assim, com o objetivo de solidificar
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mesmo a igreja. Veio com o objetivo, ela trouxe mais união pro grupo, participação,
envolvimento. Não ficar só entre quatro paredes. Entendendo? Então a gente fica ali, você
assiste o culto e depois dali a gente faz um debate, um complemento, a gente coloca em
prática aquilo que a gente ouviu na mensagem.

16p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


16r. Entrevistado: Mas em que aspecto você está dizendo?

17p. Entrevistador: Como é que... Que adjetivos você usaria pra descrever a sua igreja
hoje?
17r. Entrevistado: Adjetivo? Uma igreja que traz, que se compromete com o próximo.
Uma igreja que quer a participação dos membros, ela investe no membro. Dá cursos, pra
família, principalmente cursos pra famílias. Investe na pessoa, investe no social. É uma
igreja que traz... Eu tinha que pensar um pouquinho na pergunta antes de dá resposta. Agora
vou falar do jeito que... Ela traz segurança pra gente, entendendo? Né? O pastor, com a
mensagem, toca o nosso coração. É isso.

18p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


18r. Entrevistado: Não especialmente.

19p. Entrevistador: Obrigado.


639

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 28/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
43 anos Jardim Camburi PIBJC 77

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar aqui sobre células, sobre pequeno grupo. Eu
queria que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência com célula. Eu, na verdade, estava vindo pra igreja,
já tinha um ano e pouco, só que eu tinha outro problema com relação ao meu filho, pra
trazer o meu filho. Meu filho tinha, acho que sete anos de idade. Quando ele vinha pra
igreja, ele não ficava na salinha, e sempre falava: "mãe, quero ir embora...". A partir do
momento que eu fui pra célula, ele começou a ter, acho que ter uma visão diferente e, com
a ajuda dos meus líderes, com os amigos da célula, ele começou também a vir na igreja.
Ele tinha vergonha de orar. Nem quando 'tava' só eu e ele em casa ele não orava, que ele
tinha vergonha. Com isso ele começou a orar e depois ele deixava, assim, todo mundo
chorava, porque as orações dele, não muito tempo depois que a gente estava na célula, que
ele começou a orar. Já era, assim, me emocionava muito e me ajudou muito com relação...
A célula também me ajudou muito com relação à minha recuperação com o meu divórcio.
Foi muito doloroso o meu processo de divórcio e os amigos de célula me ajudaram muito
com relação a isso.
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2p. Entrevistador: Você chegou a conhecer a igreja, então, antes dos pequenos grupos,
da célula?
2r. Entrevistada: Uhum.

3p. Entrevistador: Que mudanças você consegue identificar na igreja, a partir da


implantação das células?
3r. Entrevistada: Que mudança que eu consigo visualizar na igreja?

4p. Entrevistador: Na igreja.


4r. Entrevistada: Depois que eu comecei a frequentar? Eu achei assim mais, parece que,
eu não sei se foi eu ou se parece que a igreja me abraçou mais. O convívio, eu comecei.
Não sei se é porque eu comecei a interagir mais, sabe? Porque antes de frequentar a igreja,
a célula, eu vinha, ia embora e acabou. Depois que eu comecei a frequentar a célula não.
Eu chegava aqui na igreja, eu tinha amigos, que aí eles me apresentavam a mais amigos, e
hoje o meu grupo já é bem maior. Então, foi com relação a isso. Ao convívio com as pessoas
da célula. Da igreja.

5p. Entrevistador: Que impacto você entende que a célula produziu na celebração?
5r. Entrevistada: Na igreja? Ai eu acho que eles me ajudaram, estou falando de mim, eu
acho que eles me ajudaram mais com relação a essa questão de orientação, da importância,
até então eu não tinha, eu não via a importância de ler uma bíblia, de quanto é importante
a gente ler a bíblia. Então, eles abriram muito a minha mente com relação, eu visualizei
mais isso. Da importância de ler mais a bíblia. Eu acho que foi isso.

6p. Entrevistador: Trouxe alguma mudança também na maneira da igreja funcionar?


Na configuração da igreja, a célula?
640

6r. Entrevistada: Eu acho que não. Eu acho que a mudança foi mesmo minha. Que eu
consegui enxergar e visualizar outras coisas que quando eu não ia na célula eu não
enxergava.

7p. Entrevistador: Como é que a célula, os membros da célula, interagem no encontro


e entre os encontros?
7r. Entrevistada: Olha a gente é uma família. Mesmo sem a gente 'tá' junto, hoje com essa
questão de facilitação, de internet, de grupo de watsapp, a gente tem contato diário. Todos
os dias a gente passa mensagem pro grupo. A gente 'tá' se falando. Se alguém da nossa
célula 'tá' com algum problema de saúde, todo mundo ora por ela. A sua pergunta foi?

8p. Entrevistador: Seria mais ou menos nessa direção. Que tipo de interação existe
entre os membros, no encontro e entre os encontros? Você 'tá' me falando entre os
encontros. E no encontro? Como é que, qual a participação dos membros da célula?
8r. Entrevistada: Eu me sinto como se eu tivesse na minha família mesmo. Porque a minha
família é tudo do interior, então quando eu chego, eu sinto o carinho, sabe? De todo mundo.
Do meu grupo, eu sinto carinho de todo mundo. Tanto comigo, quanto meu filho. Os meus
líderes me ajudaram muito com relação ao meu filho. Tanto que, quando a gente chega pela
igreja, às vezes o meu líder e os nossos outros amigos, com o meu filho se identifica mais
com o líder, não sei por quê. Mas não tem espaço no banco onde eles estão, mas o meu
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filho fica lá com eles.

9p. Entrevistador: Hoje o seu filho continua com esse mesmo, essa mesma empolgação
com a célula? Desejo de participar da igreja? Ele 'tá' com, com que idade agora?
9r. Entrevistada: Nove anos.

10p. Entrevistador: Nove anos.


10r. Entrevistada: Esse ano, por exemplo, ele vai pro retiro, vai pro acampafora711. Tá
super animado. Ele nunca tinha ido, porque eu achava ele muito novinho. E até porque ele
nem tinha essa empolgação. Agora não. Ele mesmo que pede pra ir.

11p. Entrevistador: Qual a preocupação do grupo, da célula, com a sociedade de um


modo geral? O que a célula tem feito pra mudança desse quadro que está aí na
sociedade hoje?
11r. Entrevistada: Olha! Eu vou falar da última experiência que nós tivemos. Nós fomos
fazer um café da manhã num abrigo, lá da Serra. Do lado da Igreja Batista de lá. E assim.
Principalmente 'pras' crianças da nossa célula, foi muito importante. Porque elas
visualizaram, elas enxergaram, e puderam ver a situação das crianças lá. Que não tinha pai,
que não tinha mãe, entendeu? E ajudou muito as nossas crianças da célula com relação à
isso. Sempre que tem algum, que alguém... Semana passada, uma amiga da célula ficou
sabendo. Tinha alguns leites pra crianças alérgicas, aí passou pro grupo, pra ver quem é
que precisava desse leite, ou então se a gente conhecia alguma pessoa carente. Então a
gente também 'tá' sempre se preocupando, não só com os membros do grupo, mas a gente
tenta, também, sempre que possível, a gente se preocupa com pessoas de fora também.

12p. Entrevistador: Qual a ligação que você faz entre a célula e a comunhão?

711
Um acampamento que a igreja com os juniores num espaço fora das dependências da Igreja.
641

12r. Entrevistada: Sim senhor, é muito importante. O senhor 'tá' falando em comunhão
com Deus?

13p. Entrevistador: Com Deus, entre as pessoas da célula, e entre a célula e a igreja
como um todo.
13r. Entrevistado: Aí é maravilhoso. Quando a gente não tem célula, a gente sente muita
falta. Eu acho, assim, essencial.

14p. Entrevistador: O que mudou na sua comunhão com Deus a partir da célula?
14r. Entrevistada: Eu comecei a enxergar coisas que eu não enxergava. Que eu não tinha
conhecimento, que eu não tinha. Eu acho que era isso mesmo, conhecimento. Que eu não
tinha essa preocupação. Uma coisa que eu fiquei sabendo, porque eu fui criada na Igreja
Católica, então a gente nunca teve, meus pais nunca me ensinaram a abrir uma bíblia e
estudar a bíblia, nunca tivemos isso. E na célula aprendi uma coisa muito importante com
relação ao dízimo e com relação à oferta. Então eu tive essa preocupação, essa visualização
dessa diferença e dessa importância foi na célula.

15p. Entrevistador: E, qual a... Como é que acontece esse ensino na célula, esse
discipulado?
15r. Entrevistada: O nosso líder, toda semana um tem uma, tem uma responsabilidade. O
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meu líder tem uma tabelinha que aí, todo início de semana, ele passa pra gente. A _____
vai ficar com a evangelização, a outra pessoa vai ficar com o estudo bíblico, a outra pessoa
vai fazer a evangelização das crianças, a outra pessoa vai ficar responsável pelo louvor,
então, tem uma divisão de responsabilidade. Não fica só em cima do líder não. Então, cada
semana a gente 'tá' revezando. Todo mundo tem a oportunidade de participar e de... É isso
mesmo, de participar.

16p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, algum risco pra igreja a
existência da célula?
16r. Entrevistada: Não, pelo contrário (risos). Ajuda muito. Nossa! Traz mais a gente, faz
a gente, a célula faz a gente fortalecer mais na igreja. Foi isso que aconteceu comigo. Eu
fiquei mais fortalecida na igreja mediante a célula.

17p. Entrevistador: Como é que você descreveria sua igreja hoje?


17r. Entrevistada: Ai! Maravilhosa (risos). Principalmente depois que eu... Eu acho que
a mudança tem que vir da gente. Principalmente depois que eu comecei a participar mais.
Hoje eu ajudo os professores com as crianças de três a quatro anos. A minha supervisora
está me preparando pra liderar juniores. Então assim. Eu acho que a diferença e a mudança
foi muito pra minha vida. Eu participar mais da vida da igreja.

18p. Entrevistador: E se você fosse usar adjetivos 'pra' caracterizar a sua igreja hoje?
18r. Entrevistada: Ai! Nossa! Maravilhosa. Uma família. É a minha família. Porque a
minha família é toda do interior. É a família. Eu me sinto muito amada aqui, pelos
membros. Eu acho que é isso.

19p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
642

19r. Entrevistada: Ai! Meu líder maravilhoso, minha líder maravilhosa. Amo essa vida
de célula. Gosto muito.

20p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 28/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
46 anos Jardim Camburi PIBJC 78

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos, sobre células. Então eu
queria que você falasse sobre a sua experiência com células.
1r. Entrevistado: A minha experiência com célula começou antes da minha conversão. A
minha esposa já era convertida e eu posso dizer que não foi o primeiro contato meu com a
igreja não, mas foi a minha aproximação. Porque eu comecei, logo que eu namorava com
a minha esposa, eu era Espírita. E ela, eu ia de vez em quando na igreja com ela, mas houve
um momento, devido alguns problemas que teve, que eu me afastei, afastei mesmo. E, com
as células que ela, apesar de eu não ir, e tudo, a célula tinha célula na minha casa e aí eu
acabava nem que fosse na hora do lanche, eu participava. Eu não participava da célula, mas
participava durante o processo de lanche, aí eu conheci as pessoas e fiquei amigo das
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pessoas, essas pessoas da célula que passaram a frequentar a minha casa em festas de
aniversário. Acabei ficando amigo deles, as pessoas, e acredito que foi o que me levou,
facilitou a minha conversão, porque aí eu comecei a aceitar o crente, que na verdade eu
tinha até aversão a algumas coisas de crente na época. Então eu brinco que eu descobri que
crente é gente na célula. Então, aí, esse foi o meu primeiro contato com a célula. Hoje em
dia, como a gente, eu tenho um relacionamento muito forte dentro da igreja, é natural que
a gente ajuda nalgumas áreas da igreja. Mas o momento mesmo que, hoje que eu vejo que
eu sou tratado e onde eu consigo, realmente, absorver um pouco mais as ideias da bíblia, é
dentro da célula. Porque, eu dei muita sorte. Desde a minha primeira célula, eu tenho sido
cuidado por pessoas muito boas. A primeira célula minha era um pastor da igreja, que eu,
lá em______. Que, coincidentemente foi meu padrinho de casamento antes de eu me
converter. E depois quando eu vim pra cá, o pastor _____, que hoje eu 'tô no grupo que é o
Emerson, não sei se você conhece. Então pessoas, que me ajudam muito na minha
caminhada espiritual e pessoal. Então são pessoas onde eu posso, realmente, se eu 'tô com
necessidades, eu tenho, posso buscar quem me orienta, que 'tão comigo e me ajudam. E eu
também posso ajudar dentro do que eu posso.

2r. Entrevistador: Qual a coisa mais importante que você vê na célula, pra igreja?
3p. Entrevistado: A coisa mais importante que eu vejo na célula, pra igreja, é justamente
essa questão do tratamento individual. Uma igreja igual a nossa, mil e quinhentos pra dois
mil membros, não tem pastor que vai dar conta de cuidar desse grupo todo. É humanamente
impossível que tenha um tratamento individualizado. E na célula isso é possível, e a pessoa,
a liderança da célula, consegue absorver aquela necessidade e quando percebe a
necessidade, ela passa pro pastor, e o pastor ajuda individualmente a pessoa que 'tá mais
precisando. Então eu acho que é importante essa questão do grupo pequeno é mais fácil
você lidar né? Ter uma liderança bem orientada.
643

3r. Entrevistador: Como é que acontece esse cuidado mútuo entre os membros da
célula?
4p. Entrevistado: Nós temos uma lista de num encontro normal na célula a gente tem. E
toda situação de necessidade, a gente 'tá ligando e mesmo quando não é necessidade. Você
está, às vezes, em casa, e lembra e liga e ás vezes faz uma oração com a pessoa, ou liga só
pra perguntar pra pessoa. 'Como é que você 'tá? Você tá bem hoje? Como é que foi seu dia?
E ainda agora tem esse watsapp, que aí facilitou mais ainda, que você já manda mensagem,
já manda pro grupo todo e é uma comunicação mútua. Acaba sendo, assim, a sua família.
Eu que moro fora, eu não sou daqui. A nossa família é o grupo nosso de célula. E o mais
interessante é que como todo ano muda a célula, sempre 'tá mudando a célula como em
movimento, você 'tá sempre conhecendo novas pessoas. Você vai conhecendo, vai chegar
o momento em que todos os mil e quinhentos membros vão se conhecer. Porque, você vai
sempre trocando de célula e conhecendo pessoas. Então, é assim.

4r. Entrevistador: Qual o impacto que você vê da célula na igreja como um todo?
5p. Entrevistado: Impacto da célula na igreja. O que eu entendo do impacto hoje da célula
na igreja é justamente essa maneira de que como os membros conseguem na célula ter um
grupo pequeno, falar mais, e conversa um com outro. A gente consegue. É mais fácil a
gente levar a ideia pra uma igreja, que a gente tem de necessidade e das coisas pra igreja,
porque a gente tem alguém pra falar que vai ouvir e que tenha a mensagem da igreja mais
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próxima. Que 'tá sempre em reunião com os pastores. Então, através da célula a gente tem
um contato mais próximo da igreja. É isso que eu acho.

5r. Entrevistador: E nas celebrações da igreja? Fez alguma diferença a presença da


célula?
6p. Entrevistado: Olha, aqui na Igreja Batista de Jardim Camburi existe momentos que a
célula participa nas celebrações. Então tem, por exemplo, um batismo de algum membro,
toda célula vai participar. Então vai o grupo todo dar um apoio. Às vezes existe, existem
situações, por exemplo, algum evento especial que as célula são orientadas a participar num
momento, por exemplo, cuidar de criança, se tem um evento especial. Então, quer dizer,
essa semana, nós estamos construindo um templo novo aqui em Jardim Camburi. Essa
semana a minha célula foi lá, nós fizemos um café da manhã pros trabalhadores, então quer
dizer, a célula participa sim como célula de eventos da igreja.

6r. Entrevistador: E para as pessoas que estão fora da igreja, fora da célula, qual a
preocupação que a célula tem com a sociedade?
7p. Entrevistado: A preocupação que a célula tem com a sociedade. A primeira
preocupação com a célula, apesar da gente até ter conversado essa semana, que a gente
falha muito nisso. A primeira preocupação é levar Cristo pras outras pessoas. Então, é trazer
pessoas da comunidade que não conhecem a Jesus, ou mesmo que conhecem, conhecem
de uma forma divergente do que a gente entende, pra célula, pra conhecer o mesmo Deus
que a gente conhece. Então o primeiro impacto é esse. E um segundo impacto que eu
entendo é que, se a gente 'tá em célula, a gente 'tá inserido na comunidade e a gente pode
ajudar. Então a gente faz visita a pessoas necessitadas, a gente 'tá sempre buscando ajudar
na comunidade.

7r. Entrevistador: Existem muitos problemas na sociedade. Qual a preocupação da


célula na solução desses problemas?
644

8p. Entrevistado: Olha, a preocupação maior da célula é social. A gente não tem uma
participação na parte política, esse tipo de coisa não. Então é no social. É ir num asilo, é ir
ver se tem, se a gente sente que teve alguma situação, por exemplo, alguma enchente,
alguma coisa. É juntar comida, juntar roupa, a gente tem essa participação mais social.
Cristã. A gente não tem uma preocupação política. Trabalho a gente tem. Por exemplo, às
vezes em célula a gente sabe de alguém que 'tá precisando de trabalho, no grupo a gente
olha alguém que pode ajudar. Então, isso aí vai de acordo com cada momento. A gente atua
na necessidade que 'tá acontecendo.

8r. Entrevistador: Como é que acontece o ensino na célula?


9p. Entrevistado: O ensino?

9r. Entrevistador: Da Palavra.


10p. Entrevistado: Não, na célula a gente tem a carta da célula. Essa carta da célula, ela
segue a linha da última pregação. Então pega-se a última pregação e vem... No início a
gente faz um louvor, conforme é no culto mesmo. Tem o louvor, a gente, uma das pessoas
é direcionada pra preparar esse louvor, por exemplo, essa semana foi a minha filha de onze
anos. Então ela já 'tá começando o processo de aprendizado já. Tem a parte de evangelismo
e tem perguntas relacionadas ao trecho lido, que foi lido no culto pra pregação, e perguntas
referentes àquilo ali, onde cada um tem a oportunidade, caso queira, lógico, não é nada
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obrigatório, de falar o que que entendeu, o que sente daquilo e, principalmente, expor como
se sentiu daquilo pra gente poder dar, se caso necessário, o grupo ajudar.

10r. Entrevistador: Você vê algum risco, algum perigo pra igreja a existência do
pequeno grupo?
11p. Entrevistado: Não. Pra igreja, de forma alguma. Não.

11r. Entrevistador: E que benefícios a célula traz pra igreja?


12p. Entrevistado: Eu entendo que os benefícios da célula que traz pra igreja é justamente
na questão de aproximar as pessoas da igreja e fazer com que essas pessoas participem mais
da igreja. Porque o quê que ocorre. Por exemplo, vou dar o exemplo do meu caso. Eu
cheguei na igreja tem, aqui tem seis anos. Através da minha liderança, e o meu líder, me
leva a fazer coisa pra apoiar a igreja. Coisas às vezes, que se depender do pastor, sozinho,
pra fazer com mil e quinhentas pessoas, ele não vai conseguir. Então, ele, esse, o meu líder,
os meus líderes, é que me chamou pra ir fazer, por exemplo, esse café da manhã. É a minha
liderança que me colocou pra ajudar na equipe de ministério de ensino. Então, no domingo
tem. Então, através da célula, é mais fácil, o pastor passa pra supervisão, a supervisão passa
pras lideranças e as lideranças levam às pessoas aquilo ali. É como se fosse, eu vou falar
de uma forma (risos). Pensa no exército, se tivesse só o general e os outros todos soldados.
Funcionaria bem mais complicado. É lógico que a gente não 'tá falando em guerra, a gente
'tá falando em trabalho. Mas toda, eu entendo que todo movimento tem, precisa de uma
certa organização e uma divisão de tarefas, senão seria mais complicado.

12r. Entrevistado: Como é que você descreveria sua igreja hoje?


13p. Entrevistador: Nossa! Descrever é meio duro. Nós estamos no processo. A Igreja de
Jardim Camburi está num processo de mudança. Nós temos uma liderança forte. Nós temos
o pastor Juarez, é um líder fantástico. Mas percebo que 'tá num processo de mudança,
inclusive porque, por causa da idade do pastor Juarez, eu tenho assim, um sentimento.
645

Ninguém nunca me falou isso não, que não deve demorar a haver uma troca de liderança.
Estamos trocando, inclusive de templo. Então nós estamos num momento de busca de
crescimento, dentro da comunidade. Existe dentro da igreja, o que eu percebo, divergências
como tem em qualquer ambiente. Então assim, o templo novo, ouvi falar que tem gente que
é contra. Eu, comigo nunca ninguém falou não. Tem gente que é contra, eu respeito a ideia
das pessoas, mas eu entendo que, 'tá focado na ideia de Deus, tem feito as coisas de acordo
com que a maioria aprova, não é uma coisa de qualquer forma, assim, feito na marra. A
gente tem a oportunidade de participar e de opinar. Eu sou suspeito de dizer, porque eu sou
muito próximo do pastor Marcelo. Eu tenho liberdade de ligar pra ele num domingo de
manhã. Eu tomo café, pelo menos uma vez, no sábado de manhã, eu tomo café com ele. A
gente sai pra tomar um café, pra discutir, onde eu posso me abrir com ele. Mas o que eu
percebo é que a igreja 'tá num processo de mudança e de crescimento. E que também é um
processo que tem que tomar cuidado. Porque às vezes essa mudança pode trazer problemas.
É uma igreja em crescimento e em evolução constante. Eu vejo.

13r. Entrevistado: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
14p. Entrevistador: Não. O que eu acho que eu posso falar pra você sobre célula, que, aí
eu vou falar a minha visão assim, é que é o melhor caminho pra conversão de pessoas,
assim, não que, eu entendo que pessoas vão se converter na igreja. Mas o que vai fazer essa
pessoa, na minha visão hoje, se manter, é a célula. Porque se a pessoa se converte hoje e
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fica na igreja, ela só vai na igreja ter o contato básico, de domingo á domingo, e essa pessoa
não vai participar, e em célula, ela não, ela vai ter uma pessoa cuidando dela, aproximando
dela, vendo a necessidade, falando de Deus pra ela, a linguagem que se fala na célula é
diferente do que se fala no templo, onde você vai falar pra mil e quinhentas pessoas. Você
não vai, você vai ser mais generalista, você, agora ali você pode falar específico. Porque
que a pessoa 'tá com problema, a situação que a pessoa 'tá vivendo. Então eu, hoje entendo,
que célula ou pequeno grupo hoje, é o melhor caminho assim, pra manter um novo
convertido.

14r. Entrevistado: Muito bem. Muito obrigado.


15p. Entrevistador: De nada.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
51 anos Jardim Camburi PIBJC 79

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre célula, sobre pequenos grupos. Então,
eu queria que você começasse falando a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Eu posso dizer que a minha experiência com célula, eu falava a respeito
de maneira natural, de Deus, do plano de salvação, numa boa. Mas nunca tive assim,
diretamente, alguém que se aproximasse de mim e me visse como pai espiritual. Então eu
posso dizer hoje que, e falar nomes, de algumas pessoas, duas, três pessoas que eu tenho
como filhos na fé. Que eu discipulei, e que no período que eu estava discipulando, uma
coisa que eu achei muito interessante que aconteceu, isso eu só vim tomar conhecimento
depois de alguns anos, que a pessoa que eu estava discipulando me achava chato. Por quê?
Porque a gente marca sempre um encontro, em um dia da semana, pra fazer os estudo
bíblico. Então, durante o dia, eu liguei pra pessoa que eu estava discipulando e disse:
646

“fulano, hoje é nosso dia de encontro”. Ele disse: 'sim ____, hoje é nosso dia, mas o dia 'ta
muito corrido e quando for a noite, que eu chegar, eu te ligo”. O nosso horário era às vinte
horas, aí quando foi às vinte e uma horas ele me ligou. _____ estou chegando agora, estou
cansado e com fome, eu acho que hoje não vai dar pra ir em tua casa. Porque sempre uma
semana eu ia na casa dele e a outra ele vinha na minha. Eu disse: “não, fica tranquilo, eu
não tenho carro, mas eu vou pegar o ônibus e vou aí em tua casa. Fica tranquilo, é o tempo
que você toma banho e janta”. Então, mais ou menos uns oito anos depois, ele me falou.
“_____, eu vou te falar uma coisa, eu te achava chato. Eu ligava pra você, dizendo que não
ia dar e você dizia pra mim que ia vim em minha casa. Mas olha, eu quero te dizer que,
aquela sua insistência, vindo sempre à minha casa, depois se tornava agradável o encontro
e foi muito bom e hoje eu estou aonde estou, porque Deus teve te usando”. Aí eu fiquei
sabendo que Deus não me deixou saber que ele me achava chato, me dava a disposição de
fazer esse trabalho de discipulado, sem deixar falhas na semana, porque senão era uma
brecha pra o inimigo trabalhar e trazer o desânimo.

2p. Entrevistador: Muito bem. Você fazia parte da igreja já quando a igreja
implantou o sistema de célula?
2r. Entrevistado: Sim.

3p. Entrevistador: E qual a mudança que você consegue perceber da igreja a partir
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do momento da implantação das células?


3r. Entrevistado: Eu digo que seria uma mudança de você estar usando ferramentas além
do que, da que eram usadas. Abre uma visão maior, pra você ficar usando ferramentas, pra
você atingir o objetivo, o alvo principal que são as pessoas. Que é conforme a bíblia diz
que vale mais que o mundo inteiro, uma vida. Então, essa é uma mudança. Como por
exemplo, quando o pastor fez um apelo na igreja e um rapaz levantou a mão, mas ele não
chamou lá na frente. E aí depois, eu procurei me aproximar da pessoa. Eu 'tava do lado
esquerdo, do outro lado, e ele do lado direito, num banco atrás. Então eu saí, e depois
quando começaram os estudos de discipulado, ele até brincava e falava comigo, que eu
cheguei no banco e abordei a pessoa errada, que eu tinha abordado. E assim nós começamos
nos aproximando, começamos a fazer o estudo bíblico. Então, essa é a importância de estar
atento às pessoas que estão dentro do templo.

4p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


4r. Entrevistado: Eu vejo que é estreitar relacionamentos. É criar realmente um parceiro,
conforme até em Eclesiastes fala que, cordão de três dobras é difícil de se romper, pra
quando a gente 'tiver nas nossas lutas, nas nossas caminhadas, a gente poder realmente
contar com alguém, em oração, com um desabafo, como companheiro. E como até, quando
eu estiver discipulando, pra dizer pro meu parceiro: “Olha, hoje é o dia do meu encontro
com aquele rapaz que eu estou discipulando, e naquele período o meu parceiro, não está só
orando por mim, mas orando pela pessoa que eu vou 'tá discipulando.

5p. Entrevistador: Como acontece esse cuidado mútuo, essa ajuda, parceria como
você menciona? Como é que isso acontece?
5r. Entrevistado: Eu vejo isso de uma maneira natural, mas há alguns anos, que vem se
seguindo aí, que eu passei dois anos _____ e depois cheguei aqui em dois mil e nove. De
dois mil e nove pra cá, eu fui embora em dois mil e sete, fui pra ____. De dois mil e nove
pra cá, eu posso dizer que eu não tive e não estou tendo um parceiro, né? O único parceiro
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que eu tive que foi muito legal, que foi um líder. Membro da igreja, um líder. Então, eu não
tenho essa parceria. A minha parceria principal maior é o meu momento a sós com Deus
todos os dias. Hoje eu não tenho parceiro e o que tem também me incomodado, que eu não
estou discipulando ninguém. Mas, eu coloquei como objetivo, que nesse ano eu quero
voltar a fazer esse discipulado, e já tive contatando duas pessoas, que as esposas são
membros da igreja, me colocando à disposição, se eles tiverem o interesse em estudar a
bíblia, estreitar relacionamento, vontade, mas não me deram resposta. Eu só coloquei e
deixei livre.

6p. Entrevistador: Dentro da dinâmica de uma célula, qual a relação que você vê entre
célula e comunhão?
6r. Entrevistado: Célula e comunhão, dentro de uma? Como é que você falou?

7p. Entrevistador: Até que ponto a célula contribui, ou não, para que, a comunhão
seja aprofundada entre os membros do próprio grupo e a igreja como um todo?
7r. Entrevistado: Eu vejo, quando por exemplo, você fala no amor, e realmente você vai
mostrar esse amor em prática. 'Tá, é isso. Porque, como eu já disse até, em uma célula que
eu participei, que chegou ao fim do ano, e um membro da célula disse que a célula que não
multiplica, não é célula. E então, também eu aproveitei aquela oportunidade e disse:
"Olha”. Ele disse que foi um certo pastor que tinha dito isso, mas não foi pastor aqui da
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igreja. E eu disse: “olha fulano, eu não sei quem é o pastor, mas eu vou de encontro à sua
palavra, por exemplo, a célula que não multiplica, você dizer que não é célula, é célula. O
que a gente tem que observar é o seguinte: o que, durante o ano, que Deus teve tratando na
célula? Que podemos dizer que, Jesus teve sua célula. De imediato, não houve
multiplicação, mas teve vidas sendo tratadas. Então, talvez, Deus está querendo tratar
alguma coisa pra nós não cometermos o erro, de chegar aqui um visitante, e ouvir a gente
falando em amor, e por exemplo, esse amor não ser demonstrado na prática. Porque a igreja
primitiva diz que, a bíblia fala que eles dividiam tudo em comum. E as vezes as pessoas,
os membros na célula, tem uma certa dificuldade até de dividir uma carona, de dar uma
carona, de fazer um sacrifício de passar na casa de alguém, o que essa é uma coisa que
quebra o falar pela prática.

8p. Entrevistador: Qual o impacto que a célula produziu na igreja em termos de


celebração? Você vê algum impacto causado pelas células nas celebrações?
8r. Entrevistado: Eu vejo o impacto de uma comunhão maior. Não está assim, tão no
nível, vamos dizer assim, ótimo, mas houve uma melhora. Das pessoas se aproximarem
umas das outras, desse interesse e preocupação com os visitantes. Quando uma pessoa se
levanta, a outra se aproxima dela, dando um certo apoio pra ela não se sentir tão só em pé,
quando toma decisão. Então, eu vejo esse ponto positivo, para aqueles também que ficam
atentos. Atentos à essas questões de comunhão e aproximação.

9p. Entrevistador: E o que a célula mudou na maneira da igreja funcionar?


Estrutura? A configuração da igreja.
9r. Entrevistado: Eu, dentro da igreja, a célula eu vejo, tem mudado por exemplo, o
número de assuntos dentro da EBD. A EBD não acabou. A EBD existe. E existem diversos
assuntos pra que os membros da célula também possam escolher um assunto e poder 'tá
crescendo junto. Não só ali com as atividades da célula, mas também com as atividades
que são oferecidas aos domingos, na EBD.
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10p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja, a existência da célula?


10r. Entrevistado: Não. Nenhum perigo. Não vejo. Eu vejo, eu creio que há uma melhora.
Se realmente o membro entender qual é o compromisso dele, a responsabilidade dele que
começa todos os dias com quarto de escuta. Como ouvir, como falar com o Pai. Com a
parceria que deve realmente existir como melhor atividade e com o discipulado.

11p. Entrevistador: E qual a preocupação da célula com a sociedade de um modo


geral? Os problemas sociais. Qual o compromisso da célula em mudar esse quadro
que está aí na sociedade hoje?
11r. Entrevistado: Na nossa célula, por exemplo, é formada de muitos juniores. Que eu
'tava falando de casais. Então eu vejo uma certa preocupação com relação até ao que a gente
ás vezes, é um pouco fora do assunto, da pregação que se trata. Mas a preocupação com
relação aos filhos. De estarmos não nós atentos, porque a gente, nós conversamos, mas
estarmos na preocupação de estarmos, ou lendo, ou incentivando a ler a bíblia, instruindo.
Como teve mostrando isso. E, por exemplo, sexta-feira agora por, uma das membro da
célula, ela teve reunindo os juniores, e ali passando um filme. Eu estava trabalhando, não
sei qual foi os acontecimentos lá. Mas eu sei que o título do filme era, “cartas para Deus”.
Então eu vejo a célula nessa preocupação de prepararem aqueles pequeninos para
enfrentarem melhor aquilo que 'tá acontecendo ai fora no mundo.
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12p. Entrevistador: Como é que você classificaria a sua igreja hoje, caracterizaria a
sua igreja hoje?
12r. Entrevistado: Eu colocaria no nível de médio. Pra gente não ficar, não pensar que
estamos bons. A gente sempre precisa melhorar. Eu falo pro meu filho: “filho, cuidado
quando alguém vem falar alguma coisa pra você, e se, e logo no início da conversa você
achar que você já sabe aquele assunto. Então, não interrompa a pessoa, deixa ela falar.
Porque às vezes vai ter um detalhe que vai acrescentar ao que você já sabe. Porque o que
nos impede de aprender é o saber”. Então, eu creio que essa classificação a gente pode dizer
que está bom, mas precisa melhorar. E muito. Que nós precisamos aprender a não ficar
trabalhando pra Deus, mas sim, trabalhar com Deus. Caminhando com Ele. Assim eu
consigo melhorar.

13p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
13r. Entrevistado: O que eu tenho a falar realmente talvez assim, que seja pra célula, seria
o cuidado que normalmente agora, posso dizer que dois mil e nove até aqui, porque eu
lembro que na época eu fiz o curso de auxiliar de célula, o que foi passado lá, pelo que eu
vejo, às vezes eu não vejo aquele cuidado facilitador, que é o líder da célula, o facilitador.
E eu, quando eu fiz o curso, eu lembro do pastor Juarez até fazendo essa recomendação, e
ele sempre falando em alguns encontros. “Procure manter contato com seu membro, ligar,
ser um pequeno pastor” Então, falta, pelas células que eu passei, de dois mil e nove pra cá,
pode se dizer que foram dois líderes. Então, esse cuidado de estar ligando, de numa data de
aniversário você estar ligando, Esse cuidado é muito grande, porque, se você não estiver
com seus olhos em Cristo, aí afeta você. E é por isso que a gente vê às vezes membros de
célula saindo e tal, mas é uma questão, a gente tem que ver que você não vai encontrar
igreja perfeita. Então, o que 'tá por traz é o ser humano. Então, é uma crítica construtiva
pra que, eu sei que, eu sei que os pastores falam isso, talvez nos cursos, mas que os líderes
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devem estar atentos, na correria deles, mas eles têm que ter esse cuidado de pastoreio
daquele pequeno grupo.

14p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
47 anos Jardim Camburi PIBJC 80

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. E eu
queria que você me falasse sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: É uma oportunidade que o membro da igreja tem de compartilhar
individualidades, que geralmente você não consegue fazer isso num grupo, principalmente
esse como nós temos aqui na PIBJC, com quase dois mil membros. Então a experiência em
célula, ela é única. Ela é única porque permite essa customização na relação. Algo que
dificilmente seria possível se o modelo em célula não fosse aplicado aqui na igreja.

2p. Entrevistador: Você fazia parte da igreja antes das células?


2r. Entrevistado: Sim, aqui nessa igreja, na Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi,
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eu já estou há oito anos. Mas eu nasci no evangelho, eu já era de outra denominação.

3p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que adota o pequeno
grupo, a célula, e a igreja que não adota?
3r. Entrevistado: É basicamente isso que eu mencionei na primeira fala, de que há uma
sobrecarga do pastor titular da igreja quando você não tem essa delegação. Quando você
não tem líderes, não tem supervisores, então você tem muita dificuldade, as pessoas não
recebem a devida assistência para aquele problema, ou até mesmo pra orar juntos. É uma
dificuldade muito grande que o pastor encontra, eu observei isso por outras igrejas por onde
eu passei que não adotava esse modelo de células, que esse era um problema nas
congregações.

4p. Entrevistador: Quais seriam os principais objetivos então da célula?


4r. Entrevistado: A célula tem, a meu ver, o objetivo de tratar o indivíduo. De trazer novas
pessoas pra igreja, de evangelizar, de servir, principalmente de servir. Então isso tem sido
uma experiência bastante gratificante e eu tenho tido vários exemplos, pelo menos na minha
célula, ou nas células por onde eu passei, que é muito gostoso você servir. E a célula te dá
esse recurso, te condiciona a isso. Então, eu queria citar como principal objetivo o servir.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula e comunhão?


5r. Entrevistado: A célula, ela te quebranta. Você, nas reuniões do grupo, trata de assuntos
que te, no meu entender, que levam em profunda comunhão com Deus. Acho que célula e
comunhão tem tudo a ver.

6p. Entrevistador: Qual o impacto que a célula produziu na igreja como um todo?
6r. Entrevistado: Acho que um crescimento saudável. A igreja vem crescendo
expressivamente desde a sua fundação, em mil novecentos e oitenta e quatro, vinte e nove
de setembro, esse foi o ano de fundação da igreja. Então eu acho que você produz uma
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membresia, um corpo saudável, talvez seja esse o maior legado de uma célula ou das
células.

7p. Entrevistador: E na maneira da igreja funcionar, na configuração da igreja, na


estrutura da igreja, qual o impacto que a célula trouxe?
7r. Entrevistado: Permite você trabalhar de forma mais organizacional. Através dos
relatórios das células. Porque as igrejas hoje, mais do que nunca, são empresas. E isso
permite ações mais adequadas aos frequentadores. Então hoje você trabalha, você tem os
líderes, os supervisores, os pastores de rede, e o pastor titular recebe essas informações, e
aí dá o devido tratamento a cada um dos indivíduos ou dos grupos.

8p. Entrevistador: Qual a preocupação da célula com a sociedade? Os que estão fora
da célula, fora da igreja.
8r. Entrevistado: É bacana, porque eu acho que uma célula precisa primeiro tratar os
próprios integrantes. Uma igreja é feita de pessoas doentes. Nós somos, nós cristãos,
precisamos desse tratamento. Eu acho que o primeiro quesito a ser trabalhado dentro da
célula é a saúde da própria membresia. E uma célula saudável vai produzir frutos saudáveis,
então acho que esse é o propósito.

9p. Entrevistador: E com a questão dos problemas sociais? Há alguma ação no sentido
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de transformação da sociedade por parte da célula?


9r. Entrevistado: É um desafio. Transformar a sociedade já é um desafio bastante grande,
quase que desanimador. Mas é o nosso propósito, enquanto cristãos, a gente orar pelas
nossas autoridades. Nós trabalharmos em parceria com os nossos colegas, membros, para
que Deus toque no coração e nos dê sabedoria pra aceitar aquilo que a gente não consegue
mudar e inteligência pra poder trabalhar por mudanças na sociedade.

10p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja a existência da célula? Ela
representa algum risco pra igreja?
10r. Entrevistado: Não, pelo contrário, eu acho que é uma experiência extremamente
positiva. O perigo é um crescimento exacerbado, e a gente depois ter que procurar espaços
ainda maiores do que esse que nós estamos mudando lá pra Norte-Sul, um templo com
capacidade pra até três mil pessoas. Então eu acho que não há nenhum perigo em se
trabalhar com células nas igrejas.

11p. Entrevistador: E benefícios pra igreja?


11r. Entrevistado: Muitos. Como eu já citei aqui nas resposta anteriores, eu acho que os
benefícios são incontáveis. Benefícios sociais, benefícios profissionais, benefícios
pessoais, principalmente.

12p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


12r. Entrevistado: Bom, eu acho que é a igreja que faz jus ao slogan que se aplica nas
mídias que a gente trabalha. É uma igreja que investe em relacionamento. O popular
'network', no mercado, essa igreja tem focado bastante nesse trabalho que é investir nesses
relacionamentos, porque é através deles que vamos conseguir, com abordagens adequadas,
trazer novas pessoas pra Cristo.

13p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


651

13r. Entrevistado: Olha, eu acho que é um modelo bastante interessante que as igrejas
deveriam avaliar melhor, acho que, no meu entender, deveriam usar esse método. Tem
várias outras denominações que utilizam até com outros nomes, com rede, com grupos,
mas eu acho que devemos aplicar é a lei de, o ensinamento, o conselho de Jetro que foi
dado pra Moisés. Que você precisa trabalhar esses pequenos grupos, aí o nome você decide
se vai ser célula, se vai ser grupo, qualquer que seja. Mas acho que precisa tirar esse, essa
responsabilidade que muitas igrejas delegam ao pastor titular e, naturalmente, as pessoas
começam a reclamar porque o pastor não tem, é um ser humano. Que é passível das nossas
orações também, e não tem o tempo pra se dedicar como ele gostaria pra cada pessoa. Então
eu acho que deveriam todas as denominações, aplicar esse modelo em células.

14p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
41 anos Jardim Camburi PIBJC 81

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos, sobre células. Queria que
você começasse falando então sobre a sua experiência com célula.
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1r. Entrevistada: Eu comecei a ter essa experiência quando eu vim aqui pra igreja. Antes
mesmo de ser batizada eu participava dos grupos e eu achava assim, interessante porque eu
não conhecia quase ninguém. Conhecia só uma pessoa e a partir daí eu tive esse contato
com outras pessoas também. E eu achei interessante porque além desse contato, desse
relacionamento com as pessoas, a gente também tinha o foco de conversar a respeito de
conhecimentos bíblicos, de experiências, assim, pessoais mesmo. Acho que era uma
oportunidade que a gente tinha de conhecer aos outros e a nós mesmos.

2p. Entrevistador: Na sua experiência com célula, qual a coisa mais importante da
célula pra vida da igreja?
2r. Entrevistada: Eu vejo dois pontos que eu tô, desde o início eu achava interessante e
depois eu fui conhecendo mais. O fato de nós podermos conversar a respeito de Jesus
mesmo, assim, de situações da Bíblia colocadas no nosso dia a dia. E depois com o tempo
eu fui percebendo que também é importante levar esse nosso conhecimento, essa nossa
experiência, pra outras pessoas. Então, acho assim, que a parte da edificação e do
evangelismo se tornaram muito importantes na minha vida. E que eu queria mostrar,
compartilhar isso com as pessoas.

3p. Entrevistador: Na experiência de grupo, qual a ligação que você faz entre a célula
e comunhão?
3r. Entrevistada: A comunhão me leva, vamos dizer assim, a ideia de que você
compartilha algo com outras pessoas. Dentro de um culto, por exemplo, eu acho que tá todo
mundo ali com o mesmo foco. Pelo menos é o que a gente espera. Só que, ao mesmo tempo
em que tá todo mundo ali, nem todo mundo tem um relacionamento próximo. E, às vezes,
a gente senta do lado de alguém na igreja, por exemplo, que você nunca viu na igreja já é
membro também há muito tempo. E assim, como a gente não sabe o que se passa na cabeça
das pessoas, a gente as vezes nem cumprimenta. Fala um oi assim mei afastado, então, tem
aquela comunhão que eu acho que não é superficial, mas é direcionada a Deus, a Jesus, a
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Palavra, o que a gente vai receber, o que a gente tem pra oferecer e tal. Só que a comunhão
dentro da célula, já acho ela mais próxima, porque você já tem um ciclo assim, de maior
intimidade com as pessoas, você já conhece os nossos problemas, as nossas experiências,
e a gente tem como compartilhar. Então a comunhão eu acho que é o fato de você poder
transmitir alguma coisa, alguma ajuda, alguma informação, conhecimento e também
receber experiências de outras pessoas também. Que até mesmo dentro de uma palavra da
Bíblia, a gente às vezes, na nossa leitura, a gente interpreta de uma forma e as pessoas
vivendo outro contexto interpretam de outra forma e as duas estão corretas, então acho que
essa comunhão faz a gente analisar bem.

4p. Entrevistador: Então, dentro da realidade da célula, as pessoas tem a


oportunidade de se expressar, de compartilhar suas experiências?
4r. Entrevistada: Sim.

5p. Entrevistador: Isso nos encontros ou fora dos encontros?


5r. Entrevistada: Nos encontros eu acho que é mais direcionado. Porque a gente tem uma
carta direcionada pelo pastor que a gente vai avaliar. A gente vai conversar sobre aquele
tema e tal. E quando a gente encontra essas pessoas que a gente tá ali, toda semana
encontrando, aí quando a gente encontra essa pessoa em outro contexto não tem como a
gente também fugir dessa realidade de célula também porque faz parte eu acho que do
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nosso dia a dia. A gente tá lá no culto no domingo ai a nossa célula lá na casa quarta-feira,
a gente se reúne toda quarta-feira, mas aí no corre corre-corre do dia a dia, trabalho, escola,
a gente não se encontra sempre, mas quando a gente se encontra não tem como a gente
pergunta outras coisas mas assim, não tem como fugir desse relacionamento que a gente
criou, esse vínculo que a gente criou com a igreja.

6p. Entrevistador: Qual a preocupação que a célula tem com as pessoas de fora?
6r. Entrevistada: Eu percebo que a maioria das pessoas tem essa, tem necessidade de
colocar, por exemplo, a gente coloca sempre nomes em oração de pessoas que, algumas
que já foram, que já participaram. De alguma igreja, mas estão afastadas, outras que
realmente não tem muito conhecimento ou então uma visão é diferente da nossa, então, a
gente tem tentado mostrar através da nossa experiência, dos nossos momentos a gente tem
chamado em algumas situações, pessoas novas e graças a Deus mesmo, os nossos
convidados, eles tem sido bastante receptivos. Até se oferecendo pra convidar de novo
então, acho que tem uma preocupação sim, de uma forma geral em mostrar pra essas
pessoas a importância da gente ter Jesus como centro.

7p. Entrevistador: E os problemas sociais, a realidade da sociedade que a gente vive?


Como que a célula encara isso?
7r. Entrevistada: São situações que a gente até, na célula passada mesmo, a gente tava
falando exatamente sobre algumas situações que eu até tinha escutado na rádio, falando a
respeito de brasileiros que estavam se envolvendo com o grupo extremista. Então a gente
falou assim que esse problema, mesmo que a gente participa, ele tá dentro da nossa
sociedade. Então assim, primeira coisa que nós podemos fazer é o quê? É nós, em oração,
clamar mesmo a Deus por alguma coisa que a gente possa fazer. Que Deus possa nos usar
de alguma forma. E também assim, nós temos nossos filhos, nossas crianças e nossos, as
pessoas próximas. Então o que a gente pode, a gente pede orientação pra Deus pra ver o
que a gente pode fazer em relação a essas situações com o nosso próximo. Há um tempo,
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um problema assim, foi mostrando a questão da água também, então a questão de política.
A gente não tem como desvincular tudo o que tá acontecendo. Então nós comentamos e eu
acho que o ponto comum, que todo mundo tem, é que a mudança tem que começar por
mim. Começando por mim, aí eu posso tentar fazer com os outros também. Então há essa
necessidade, que às vezes a pessoa diz: “O fulano faz e eu, depois eu faço”.

8p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria sua igreja hoje?


8r. Entrevistada: Caracterizaria em que sentido?

9p. Entrevistador: Usando adjetivos, a sua igreja é o quê?


9r. Entrevistada: Eu acho que é assim, eu vejo a igreja como um porto seguro também,
porque eu acho que Deus levantou aquele local pra atuar em comunhão de várias formas, é
um lugar aberto onde recebe pessoas de qualquer denominação, de qualquer nível social e
eu vejo assim, o ponto principal seria um porto seguro, mas não como: “Ah! Estou com
algum problema eu vou lá”, mas é um porto seguro para os problemas, mas também para
compartilhar o amor. Eu estou bem, então eu preciso agradecer. É dessa forma.

10p. Entrevistador: E a sua igreja especificamente, Primeira Igreja Batista de Jardim


Camburi, ela é uma igreja como?
10r. Entrevistada: Como assim, como que eu vejo...
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11p. Entrevistador: Quais seriam as características desta igreja?


11r. Entrevistada: Eu acredito que é uma igreja missionária, acredito que é uma igreja que
se preocupa com o próximo, é uma igreja que tenta respeitar os limites das pessoas, não é
uma igreja que impõe regras, ela aceita o que as pessoas fazem e são, mas mostrando o que
é certo e o que é errado. Então eu acredito que se preocupa muito com os que estão dentro
e os que estão fora, pra mostrar a realidade de Deus.

12p. Entrevistador: Muito bem. Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre
célula?
12r. Entrevistada: Não. Eu estou feliz com o grupo.

13p. Entrevistador: Ok. Obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
45 anos Jardim Camburi PIBJC 82

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre os pequenos grupos, sobre células e eu
gostaria que você começasse falando sobre a sua experiência com os pequenos grupos,
com as células.
1r. Entrevistado: Ok. Na verdade, eu me converti em noventa e cinco. Eu fui membro da
_________________. E lá, eles estavam iniciando um programa com pequenos grupos,
então, quer dizer, quando se fala em pequenos grupos ou célula, eu já fui, desde o berço,
inserido no contexto de pequeno grupo. Então, pra mim, é difícil imaginar uma questão da
igreja, de comunhão, de mutualidade, sem imaginar o pequeno grupo, sabe, eu já tive
muitas experiências tanto consolidação da Palavra de Deus, de oração, de parcerias, de
654

prestação de contas, que passa pelo pequeno grupo. De comunhão, de tratamento, então
assim, pra mim o pequeno grupo, realmente é o que há de mais próximo a uma comunhão
mais aprofundada. Sabe, na minha opinião, isso é fundamental.

2p. Entrevistador: Qual o impacto que você vê que o pequeno grupo causa na igreja
como um todo?
2r. Entrevistado: Uma das coisas que acontece é, de cara, o tratamento das pessoas.
Porque, como há uma proximidade maior, é mais fácil acompanhar as pessoas, o que tá
acontecendo na vida. Embora isso aconteça em grupos, separadamente as pessoas acabam
sendo mais tratadas, pastoreadas. Eu acho muito complicado numa igreja, quando você
tem, como a nossa igreja mil e quinhentos, mil e oitocentos membros, um acompanhamento
de perto da vida da pessoa. Então, isso já, de cara, um pequeno grupo pra mim acontece.
Outra coisa também é, eu amo muito a questão de discipulado, tem a ver com essa questão
também do pastoreio. Na verdade é uma, o pequeno grupo pra mim tem sido uma forma
também de localizar pessoas em que eu possa estar também acompanhando, pastoreando,
cuidando. Então, eu acho que, eu vejo a questão de dons também. No pequeno grupo, por
causa do conhecimento das pessoas, você consegue detectar dons, as pessoas se manifestam
mais, até na, eu sou do grupo da ______, que estava aqui, e ela até colocou “olha, onde
você aqui, em termos de dons, se sente melhor dentro da edificação, da exaltação, do
evangelismo, qual é o seu lugar aqui dentro da célula?” E aí a gente pode falar de dons, de
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habilidades, isso eu acho bem legal.

3p. Entrevistador: Então há uma participação dos membros na dinâmica da célula?


Como é que funciona isso?
3r. Entrevistado: Sim. Uma participação ativa. Porque é, vamos dizer assim, existe uma
escala que é feita. A cada reunião, então o líder passa: _____ nessa célula você vai ficar na
edificação. Ou a minha esposa, por exemplo, vai ficar com a exaltação. Então existe uma
dinâmica bem ativa na célula, na atividade.

4p. Entrevistador: E o cuidado mútuo, como é que ele acontece?


4r. Entrevistado: Esse cuidado mútuo é uma coisa que vai além daquele tempo da célula.
Por exemplo, eu e minha esposa, vou dar um exemplo, tivemos a oportunidade de
acompanhar um casal que estava em crise, por fidelidade, e coisas assim e a gente pôde,
durante três anos, isso daí já é um tempo fora da célula em que a gente teve junto desse
casal, chorando junto, rindo junto, orando junto. E, então, isso daí já é um tempo extra, mas
que partiu da célula. Esse conhecimento, porque houve um momento de quebrantamento,
de confissão, eles viram na gente pessoas que eles sentiram mais à vontade, se
identificavam mais, chegavam até nós e relatavam. Então, a gente pôde acompanhar bem.
Foi, tá sendo bem edificante.

5p. Entrevistador: E qual o impacto que a célula causa na estrutura da igreja? Na


configuração da igreja?
5r. Entrevistado: Olha, na estrutura, na configuração em si, eu acho que principalmente
em relação a dons. Além da comunhão, mas é dons. Eu acho que é o lugar em que as pessoas
têm a oportunidade de se localizar melhor em relação ao corpo de Cristo. Por exemplo,
quando eu estava na ______, eu trabalhava com música. E à medida que a gente foi
trabalhando na célula, eu fui, assim, eu sempre tive uma paixão, de uma certa forma, pela
655

Palavra de Deus. Não que a Bíblia não inclua a Palavra de Deus, mas com o ensino, fui
descobrindo o dom de ensino, essa minha capacidade que Deus me deu. E ali eu pude me
localizar melhor dentro da igreja. Então, pude trabalhar com o ensino na igreja, algumas
vezes pude pregar. Eu me desloquei da situação que eu estava, eu antes mexia com música,
mas falei: “bom, legal, a música, mas o meu lugar no corpo de Cristo principal é com o
ensino”. Pode ser até através da música, mas é aquele ensino mais metodológico. Então eu
vejo que em relação a dons é um impacto muito forte. Pelo menos na minha vida eu vejo e
vejo na vida de outras pessoas.

6p. Entrevistador: E você entende que a célula facilita o membro a fazer a sua,
desenvolver a sua função dentro do corpo?
6r. Entrevistado: Acredito piamente. Acredito.

7p. Entrevistado : E qual a preocupação da célula com a sociedade que a gente vive
aí? Os problemas sociais...
7r. Entrevistado: Sim! De fato, eu vejo como o evangelismo e o discipulado, é um dos
fundamentos da célula. Nem sempre a gente vive isso na integralidade do jeito que deveria.
Eu não tô falando que também existe uma perfeição. Eu entendo que é num todo, o objetivo
é que as pessoas sejam alcançadas. Então, de cara isso pra mim já é um impacto. Ter como
finalidade alcançar outras pessoas e convidar pra uma vida de trevas para uma vida de luz.
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Agora, existem ações sociais, a gente também já participou em determinadas regiões, de


ações sociais. Na outra igreja que eu participei, eu trabalhava também como _______ 712 em
programas, em projetos, de fazer trabalho em campo, mas ainda eu acho que isso é muito
insipiente. Eu acredito que isso pode ser aprofundado. Eu acho que nós, como igreja, eu
digo também, eu sinto que essa questão social ainda é muito precária.

8p. Entrevistador: Poderia ser talvez um segundo momento na célula?


8r. Entrevistado: Sim.

9p. Entrevistador: Uma vez estabelecida as células avançar nesse sentido?


9r. Entrevistado: Com certeza!

10p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja, a existência da célula?


10r. Entrevistado: Olha só, eu vou dizer uma coisa, embora o meu berço tenha sido o
pequeno grupo ou a célula, eu entendo. I Pedro 4:10 diz: “servindo uns aos outros conforme
o dom que cada um recebeu, conforme a multiforme graça de Deus”. Eu gosto dessa
palavra, desse termo “multiforme graça de Deus” porque eu entendo que Deus pode
trabalhar num determinado grupo social, eu consigo entender que há pessoas que podem se
enquadrar muito bem num projeto de células, numa estrutura de células. E existem pessoas
com coração sincero, com desejo de buscar e servir a Deus que pode se enquadrar numa
outra forma sem célula. Eu acredito que esse é um motivo de muita confusão. Muitas vezes
pessoas que se enquadram muito bem num projeto de pequenos grupos, acham que aquilo
é um padrão que deve ser aplicado pra todo mundo. Eu acredito que existe essa multiforme
graça de Deus que enquadra pessoas em situações diferentes. Então, isso é o que talvez seja
o motivo de confusão. Há alguns que falam em relação a doutrinamento, doutrinas, como

712
Aqui o entrevistado menciona sua profissão. Evitou-se o registro para que a pessoa
não seja identificada.
656

o G12 que uma época foi uma confusão, mas ali é um isso pode acontecer numa igreja,
numa instituição? Ok. Pode acontecer também numa estrutura convencional. Com uma
liderança séria, porque eu vejo que aqui, é o caso da nossa igreja, eu acredito que a
tendência é minimizar os problemas que aconteceram, até mesmo pela questão do
pastoreio, do cuidado mútuo, da prestação de contas, essas coisas serem... Problema vai
haver em todo lugar, sem dúvida.

11p. Entrevistador: Muito bem. E como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?
11r. Entrevistado: Uma igreja que realmente respira a questão do pequeno grupo, das
pessoas, que prioriza pessoas. Isto pra mim é uma coisa muito clara. Ter vindo pra cá, isso
pesou muito na escolha minha, da minha família. De ser uma igreja que visa pessoas. E o
pequeno grupo pra mim, isso tem a sua importância.

12p. Entrevistador: Vocês residem no bairro?


12r. Entrevistado: Não. Nós somos do centro de Vitória. Nós atravessamos a cidade, o
senhor é daqui? O senhor conhece esse... Então nós saímos do centro pra estar aqui. E nós
priorizamos por isso, por ser uma igreja que prioriza pessoas. E que eu vejo uma liderança
que é uniforme, que é coerente com essa visão. Isto, essa é a palavra, coerência.

13p. Entrevistador: Muito bem. Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre
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célula?
13r. Entrevistado: Não, acho que as suas perguntas foram bem próprias.

14p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
43 anos Jardim Camburi PIBJC 83

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre célula, sobre pequeno grupo. Queria
que você compartilhasse a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: Ok. A minha experiência com célula é uma experiência positiva, porque
a célula veio de uma forma muito significativa pra minha família no sentido de edificação
e de formação também. Quando a gente iniciou a célula minha filha, ela tinha um ano e
pouco. Então ela cresceu em célula. E como a célula tem uma atividade pros adultos e
também ao mesmo tempo, com as crianças, muita coisas da pessoa de Jesus ela aprende
também na célula. Claro que nossa responsabilidade é em casa de passar isso pra ela, mas
a célula reforça muitos valores de Cristo. Não só a questão dos valores, mas também sempre
está trabalhando com a criança a forma como Deus nos ensina a estar compartilhando a
Palavra dele, a salvação com outras pessoas. Então ela vai crescendo entendendo isso.

2p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte de uma igreja que não tinha célula ou
pequeno grupo?
2r. Entrevistada: Sim, já.

3p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem e uma que
não tem o pequeno grupo?
657

3r. Entrevistado: Eu vejo que, quando a igreja é muito grande às vezes você não tem
condições de conhecer com a intimidade maior os membros dessa igreja. Você conhece
numa superficialidade. Então, muitas vezes não te dá a oportunidade de estar
compartilhando a vida mesmo, o que você tá passando, as suas necessidades, as suas
alegrias, a sua necessidade da Palavra também. Então você não tem essa oportunidade. E
quando você está em célula, como a célula de tempo em tempo multiplica, então você
conhece mais pessoas e por um período, às vezes chega a ser um ano, um ano e meio
dependendo de como a célula tá desenvolvendo, você consegue fazer parte da vida daquela
pessoa. Então você tem a oportunidade de ouvir a Palavra que já foi ministrada no domingo,
no caso, ela é reforçada naquele dia da célula e com as perguntinhas que tem. Às vezes por
uma, pela direção da carta pastoral ou até mesmo dentro de uma necessidade que tá
acontecendo na hora, você acaba conhecendo mais as pessoas que estão ali. Então você
partilha da vida delas. E da mesma forma que eu também posso partilhar minha vida elas
também podem contribuir. Às vezes é uma necessidade emocional. Às vezes é algo
espiritual, que vem junto daquele momento ali e elas vão agregando de Deus na minha vida
e eu na vida delas.

4p. Entrevistador: Qual a relação que você faz entre célula e comunhão?
4r. Entrevistada: Eu vejo que a célula, vamos colocar assim, ela tem o mesmo princípio
da mente de Cristo, de quem é a pessoa de Jesus. Eu vejo que isso é o ponto comum. É ali
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que a gente, vamos colocar assim, comunga desse mesmo pensamento, dessa mesma
pessoa.

5p. Entrevistador: E a célula contribui pra que as... Até que ponto a célula contribui
pra que as pessoas desenvolvam comunhão entre si e também com Deus, tanto na
célula como na igreja como um todo?
5r. Entrevistada: Bom, eu vejo assim, em relação a Deus, porque a presença da Palavra
tem que tá ali. Porque senão você compartilha outras coisas que não seja a pessoa de Jesus.
O objetivo é você trazer Cristo pra sua vida, você ser edificado pela Palavra de Deus. Então,
por exemplo, quando você, muitas vezes a pessoa ela vai na intenção, as vezes, de buscar
do outro um aconselhamento, vamos colocar, acho que a necessidade dela vai ser suprida
no outro. Só que o objetivo é levar essa pessoa a um relacionamento com Cristo e buscar
essas respostas dela não no outro, mas dentro do que Jesus tem pra dar pra ela. Então, eu
vejo essa questão assim, da presença de Deus na vida, na minha vida e na vida, vamos falar
assim, dessas pessoas. Você vê que você não vai encontrar isso no outro, vai encontrar na
pessoa de Cristo. Então você é direcionado dentro de tudo que a gente tá estudando,
conversando, a estar buscando mais a Deus. Porque às vezes você tá longe. Deus está ali e
você está longe. E às vezes se você se aproxima de Deus, se você tem um encontro com ele
ali, e você diz assim, poxa, realmente eu passo por isso porque eu não estou me
relacionando com Deus. Tô dando prioridade a outras coisas, mas não estou dando
prioridade pra Deus. E isso, como a célula é constituição de um corpo, isso traz pra dentro
da igreja. A igreja, cada célula. Tipo assim, eu tenho a minha célula, cada um tem a sua
célula. Vamos colocar assim, eu acho que já são mais de cem células, então traz esse
benefício pro corpo. O corpo fica mais saudável.

6p. Entrevistador: Como é que acontece o compartilhar na célula, tem espaço também
para o compartilhamento de experiência, as experiências de cada membro do grupo.
Como é que acontece isso dentro do encontro?
658

6r. Entrevistada: Ok. Nós temos o culto no domingo, como eu até mencionei, e tem a
Palavra, que o pastor dá, nesse domingo. Quando nós vamos pra célula, a edificação ela
acontece dentro desse, dessa palavra do pastor. Não é uma nova pregação e nem, e a pessoa
não está pregando de novo não. Ressalta os pontos que mais te chamou a atenção daquela
pregação. Porque naquele período, se espera que quando você sai da igreja, você vai buscar
por em prática aquilo ali que tá acontecendo. Não é simplesmente acabou domingo, então
agora segunda-feira eu tenho outro tipo de vida e no próximo domingo eu volto pra igreja
pra ouvir de novo. Não! Você vai levar aquilo que está sendo dito no domingo pra sua vida,
vai sendo construída durante a semana. E, por favor, repete a pergunta.

7p. Entrevistador: É. Aí, no caso o encontro da célula.


7r. Entrevistado: Isso

8p. Entrevistador: Como é que o encontro da célula contribui pra que essa mensagem
saia do púlpito somente e vá pra sua vida?
8r. Entrevistada: Isso. Aí você até recebe uma carta pastoral que tem umas perguntas
chaves que a igreja entende ser importantes daquela, o membro estar refletindo sobre aquilo
que foi pregado. Então aquilo se lê na célula e as pessoas vão compartilhando dentro
daquela Palavra o que foi importante pra você, o que Deus tocou. Às vezes aborda
relacionamento com Deus, relacionamento família, evangelismo. Como é a sua visão
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daqueles que ainda não conhecem a Cristo. Então, ali você vai, vai falando.

9p. Entrevistador: Sim. E qual a preocupação da célula com a sociedade, com os


problemas sociais, com a sociedade de um modo geral?
9r. Entrevistada: Acho que dentro dessa questão, aborda mais quando você toca na parte
do evangelismo. Que aquela pessoa às vezes no ambiente de trabalho. No meu caso, como
eu não estou trabalhando, eu tenho pela, como eu vou, como é que fala? Conduzindo a
minha filha a escola essas coisas, então eu tô no grupo de pais, então eu trabalho com os
pais. Então, você não vai influenciar, às vezes, uma grande gama da sociedade. Às vezes
Deus vai te trazer uma pessoa. Dentro daquilo que você ouviu, que você entende, que você
tem que tá falando de Jesus pra essas pessoas. Eu tenho uma pessoa, eu trabalho com ela
há um ano e meio. E é uma pessoa que não é crente, não é evangélica e numa circunstância
que Deus me deu pra socorrê-la, eu coloquei, levei-a pra casa, coloquei o plano de salvação
pra ela, ela já tinha ouvido antes falar de Deus e ali começou o nosso contato, a nossa
caminhada e até hoje eu caminho com ela. Então eu vejo que tipo assim, eu vou colocando
na vida dela, dentro do nosso relacionamento do dia a dia, a Palavra de Deus, através de
um aconselhamento. Então, o que Deus faz? Ele vai estreitando os relacionamentos. Às
vezes você olha assim e fala assim, gente, não seria uma pessoa que fosse assim, a minha
escolha de estar junto com ela, não é muito o meu perfil, vamos colocar. Mas Deus, ele não
olha perfil. Ele olha necessidade que a pessoa tem de Cristo. E naquele momento é você,
então, o que ele faz? Ele te atrai, ele é a pessoa que atrai, como se fosse o imã. Ele te atrai
para aquela pessoa, você leva a Palavra dele aos pouquinhos, que vai penetrando no coração
daquela pessoa ali, e em alguns pontos você já começa a se identificar com a pessoa que
antes você achava que não tinha nada a ver, você já começa a se identificar. E na caminhada
que você tem você vê que a pessoa já começa a refletir de um ponto diferente de como ela
pensava antes. E aí acontece uma amizade, há um entrelaçamento. Então, vejo que essa é a
contribuição social. É a forma, tipo assim, como que Deus contribuiria pra sociedade.
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10p. Entrevistador: Como é que os grupos se organizam? Quais são os critérios pra
se formar um grupo? Leva-se em consideração a localização geográfica, a vínculos,
como é que funciona isso?
10r. Entrevistada: O grupo de célula? Não! Não é por geográfico não, senão estaria fora.
Eu não moro em Jardim Camburi, moro no centro de Vitória.

11p. Entrevistador: E o que trouxe você, o que atraiu você pra vir fazer parte dessa
igreja, vindo lá do centro de Vitória?
11r. Entrevistada: Justamente esse trabalho com os pequenos grupos. Eu vim quando eu
nasci espiritualmente, vamos colocar assim, Deus me colocou numa igreja que estava
saindo de um processo mais, na verdade não estava saindo do processo, estava trabalhando
os dois processos, estava caminhando junto, com o discipulado. E o discipulado, ele traz
essa necessidade dos pequenos grupos. E eu comecei a perceber essa necessidade de estar
numa igreja justamente por ser uma igreja muito grande de você tá trabalhando em
pequenos grupos. E na ocasião a igreja não trabalhava com isso, não tinha esse trabalho e
nem tinha outro tipo de trabalho. E o discipulado também começou a ter outra forma de se
trabalhar. E Deus começou a colocar no nosso coração, nesse processo, nem aqui tinha
pequenos grupos na época. E num determinado ponto a gente conheceu a igreja e Deus
começou a colocar essa necessidade no meu coração, no caso. Como família, de estar
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inserido com uma necessidade dentro do que eu estava precisando. Mas isso não foi fácil
não, por causa das raízes que a gente cria. Foram cinco anos até a gente chegar realmente
a essa decisão. Foi até um processo, não foi fácil.

12p. Entrevistador: E você está, vocês estão felizes agora aqui?


12r. Entrevistada: Sim. A gente entende tipo assim, que esse, esse, o, no caso de você
estar em célula, ele te alimenta. Por exemplo, a minha célula é na quarta. Então você recebe
o alimento na quarta-feira, que te mantém mais ativo, então você chega no domingo você
tem um outro alimento. E isso te faz tá na busca ou te coloca na busca. Às vezes quando,
até mesmo quando você tem uma, vamos colocar assim, se distancia um pouco de Deus,
você sente que você não está muito dentro do que Deus está planejando pra sua vida, que
Deus te incomoda em relação a isso, a célula vem e te anima te coloca no caminho,
entendeu? Te mostra a Palavra que você já ouviu várias vezes e aquilo começa a fazer mais
parte da sua vida. Então são coisas que pra gente foi fundamental assim eu vejo.

13p. Entrevistador: Como que você caracteriza a sua igreja hoje?


13r. Entrevistada: Olha, eu vejo a minha igreja como uma unidade de pensamento. Eu
vejo que os pastores pensam, tem a mesma visão, que passa pra sua liderança e a liderança
passa pra gente, que a gente tá caminhando junto. Então, tipo assim, eu não percebo essa
questão de você, uns tão caminhando pra um lado e outros estão caminhando pro outro. Eu
não vejo isso. Eu vejo a questão, tipo assim, muita seriedade que eles levam isso e é muito
dentro da submissão de Deus, dentro da orientação de Deus, e isso me traz um conforto de
saber que eu estou sendo liderada por pessoas que submetem realmente à vontade de Deus.
Até mesmo porque, tipo assim, nós temos o pastor Juarez, o pastor Carlos Marcelo, o pastor
Andrieli, tem o pastor Aederson, você vê que são pessoas de gerações diferentes, com
cabeças diferentes, perfil diferente, então tinha tudo pra dar diferente. Cada um na sua
direção, dentro do seu perfil. Mas só que Cristo, ele traz essa unidade. Então eu imagino,
nunca participei de reunião com eles não, mas eu imagino isso. Eles colocando as suas
660

ideias, tudo dentro do que Deus mostra no coração deles, eles orando a Deus, buscando o
direcionamento de Deus. E quando a Palavra vem, no coração de cada um vem aquela
certeza, convicção de Deus e então é isso que a gente vai, que nós vamos caminhar com a
igreja. Eu imagino assim, entendeu? Tanto que você vê no corpo a reação, as coisas como
vão acontecendo.

14p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
38 anos Jardim Camburi PIBJC 84

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos, sobre células. Queria que
você começasse falando pra mim sobre a sua experiência com célula
1r. Entrevistada: Eu comecei a participar de uma célula há mais ou menos um ano.
Quando nós viemos aqui pra Igreja de Jardim Camburi foi a primeira vez que eu participei
de uma igreja em células. E pra mim foi uma experiência muito rica. Muito! A minha
primeira experiência em igreja, uma igreja muito grande. Depois nós tivemos uma
experiência numa igreja muito pequena que seria quase o equivalente a célula que eu
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participo hoje. Então, foi um conforto no meio de uma igreja tão grande que é a igreja de
Jardim Camburi, encontrar um grupo que se identifica um grupo que cuida, um grupo que
convive mais intimamente.

2p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem pequeno
grupo, que tem a célula, e uma igreja que não tem a célula?
2r. Entrevistada: Eu acho que é a impessoalidade. Acho que uma igreja muito grande ela
foca nas atividades, nas escolas dominicais, nos corais, naquilo que é o tradicional na nossa
denominação, mas às vezes perde um pouco o foco na pessoa. Então quando você deixa de
estar em alguma atividade, você deixa de fazer parte daquele grupo de pessoas. E aí o
relacionamento se perde, muitas vezes. Na célula, há um nível de intimidade, de cuidado,
de proximidade muito maior. Eu não viveria hoje mais fora do registro de célula.

3p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula e comunhão?


3r. Entrevistada: Eu acho que é enorme. Acho que é muito grande porque, por exemplo,
nós chegamos aqui com duas crianças. Nós chegamos pra morar no bairro, numa nova
igreja. E a célula nos ajudou intensamente a integrar os nossos filhos. Hoje eles têm
referência de amizades dentro da célula. É o grupo de pertencimento deles na igreja. Então,
o cuidado, o carinho, se alguém tá doente, se alguém está passando alguma necessidade
financeira, o orar pelos outros, muitas vezes é pro nosso grupo de célula, o primeiro contato
que a gente faz numa situação de maior necessidade. Então eu acho que o grupo de célula,
e eu acho que eu sou muito privilegiada pela minha célula. É diretamente relacionado à
comunhão na igreja. Os outros membros são um acréscimo, é uma delícia, faz você se sentir
pertencente a um grupo que cuida, que sente sua falta, com quem você pode falar da ação
do Espírito, mas também falar das suas dificuldades carnais. Acho que célula hoje, pra
mim, é sinônimo de comunhão.

4p. Entrevistador: E qual impacto que a célula produz na igreja como um todo?
661

4r. Entrevistada: Pois é, eu acho que há uma união. É uma parte de um todo. Eu acho que
proporciona que seus membros sejam frequentadores mais assíduos e participativos na
igreja, porque as pessoas se sentem pertencentes a um grupo que faz parte de um todo.
Acho que proporciona maior interação também em algumas atividades. Quando nós somos
responsáveis por uma atividade, há uma ideia de que é a nossa célula que está sendo
representada também naquela atividade. Acho que a multiplicação, uma vez que a célula
consegue atrair pessoas pelo relacionamento e algumas dessas pessoas venham a se tornar
membros da igreja. Então, eu acho que a célula é mesmo aquela função de abrilhantar esse
todo. É o sentimento que eu tenho.

5p. Entrevistador: E na celebração?


5r. Entrevistada: Na celebração. Nós temos hoje uma célula em que as pessoas vêm nos
diferentes horários de culto. Mas há também aquele momento em que todos querem se
sentar perto uns dos outros, todos refletem esse carinho, esse aproximar outros. Eu acho
que como atividade, como por exemplo, eu acho que a célula motiva o desejo de liderança
nos diferentes ministérios da igreja. Eu acho que é mais isso, assim.

6p. Entrevistador: E o intercâmbio entre os membros de uma célula com os membros


de outra célula, existe este intercâmbio, existe essa troca?
6r. Entrevistada: Olha, na minha experiência aqui, que é uma experiência curta, nós temos
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tido maior interação, nossa célula foi multiplicada o ano passado, então nós temos ainda
muita interação com os membros da nossa, das pessoas que eram originárias da primeira
célula. Há um carinho, há atividades em conjunto. Não tem havido muito interação com as
outras células. Mas isso é da minha experiência de um ano pra cá. Provavelmente já houve,
mas eu acho que é muito favorável que haja encontros com outras células, que haja retiros
com outras células, pra que a gente não sinta aquela coisa do, nós somos um grupo muito
fechadinho que não pode abrir pra mais ninguém.

7p. Entrevistador: Muito bem. E na maneira da igreja funcionar como igreja, assim,
a configuração da igreja, qual a mudança que a célula trouxe pra igreja funcionar
como um todo?
7r. Entrevistada: Pois é, pra mim, essa análise é um pouco mais difícil porque quando eu
vim, a igreja já estava funcionando em células.

8p. Entrevistador: Mas você fez parte de uma igreja que não tinha células?
8r. Entrevistada: Fiz parte. Na minha realidade anterior, eu creio que é realmente esse
sentimento de pertencer a um grupo. Tira do pastor o foco de que é o pastor que tem que
cuidar de todas as ovelhas. E há um cuidado partilhado. Então fácil de você ter uma
liderança que responda na supervisão, que responde um pastor responsável, isso distribui o
cuidado e faz com que as pessoas se sintam mais responsáveis por cuidarem umas das
outras. Não é só o foco no pastor. Na minha experiência anterior havia muito isto. Então se
o pastor estivesse numa fase mais difícil, muito da membresia sentia ou se sentia
abandonada. Que era às vezes o que acontecia mais. Porque, no universo de dois mil
membros, como é que um pastor consegue tomar conta de todos sozinho?
662

9p. Entrevistador: Você mencionou dividir cuidado. Você entende também que há
uma divisão de poder, de participação, de possibilidade de tomar decisões?
9r. Entrevistada: Eu acho que as pessoas podem se sentir mais ouvidas. Uma vez que os
líderes, eles transmitem isso às supervisões e transmitam isso aos pastores. Eu acho que
partilha responsabilidade, cuidado e zelo. Eu acho que é muito favorável a célula.

10p. Entrevistador: E você vê algum perigo pra igreja a existência da célula, do


pequeno grupo?
10r. Entrevistada: Acho que sim. Eu acho que há no sentido se alguém, se um líder, estiver
sendo mal orientado ou pode correr o risco de uma célula entender que ela em algum
momento já não liga muito pra aquele corpo e ela querer se afastar.

11p. Entrevistador: Mas, você tem notícias de que tenha acontecido isso?
11r. Entrevistada: Não tenho. Felizmente eu acho que não é a realidade aqui. Porque eu
acho que a conexão de líder, supervisão, pastor e tal, me parece, no meu olhar como
membro, que está funcionando bem.

12p. Entrevistador: E qual foi, qual a preocupação das células com a sociedade que tá
aí, os problemas sociais, qual, que ações a célula tem desenvolvido pra transformar
essa sociedade?
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12r. Entrevistada: A nossa célula, ela também na minha experiência de curto tempo, nós
temos por exemplo, houve uma situação de uma pessoa aqui de nossa igreja que passou por
um processo de adoecimento. E isso impactou na vida financeira da família, sobre as suas
necessidades básicas. Um dos membros das nossas células sentiu o desejo de motivar os
outros a fazer, a proporcionar o apoio a essa família. Todas as pessoas, poxa, que legal, já
tinha pensado nisso ou, vamos fazer essa ação. Quando eu cheguei eles detectaram uma
família num dos bairros que uma das congregações da nossa igreja atua que estava com as
suas necessidades também muito precária. A célula decidiu também tomar uma atitude e
financeiramente ajudar a adquirir alguns bens que seria de prioridade pra sua família.
Também já participaram de visitações e uma série de outras coisas em instituições. Foi o
que eu consegui visualizar na minha célula neste momento. Mas há também um cuidado
de quando vêm pessoas, familiares que não são crentes, há o cuidado que, a primeira ação
é você conviver com os da sua comunidade. Trazer para o convívio. E de maneira muito
tranquila. E depois que a pessoas manifestar uma intenção de ir pra igreja, a gente faz esse
apanhado, mas eu sinto que é uma célula que tem essa preocupação. Até porque tem muita
gente ainda na ativa, são famílias. Então, preocupar com as famílias, em receber as crianças,
em orientar, eu sinto que é uma preocupação. Não é uma célula, a minha experiência de
célula, não é uma célula virada só pra dentro. É uma célula que tem um olhar mais alargado.

13p. Entrevistador: Muito bem. É como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?
13r. Entrevistada: Como uma igreja que agrega, como uma igreja que partilha
responsabilidade e que não está centrada numa figura única de um pastor. Mas que esse
próprio pastor tem o zelo e o cuidado de dividir responsabilidade com outros pastores e de
cuidar deles. Como uma igreja que tenta preservar os seus, que forma, mas que não se
importa também em permitir que esses formados vão abençoar outros ambientes. É uma
igreja que tem uma visão do Reino de Deus. Eu sinto muito mais do que as quatro paredes
ou de quem já tá aqui dentro. Uma igreja que pretende crescer numa visão muito cuidadosa
e muito racional. E principalmente, uma igreja que tem manifestado uma preocupação com
663

as pessoas. Eu acho que a célula demonstra isso e uma igreja em célula reflete uma
liderança madura, justamente, que não teme o risco desse, de que alguma célula possa
querer criar um núcleo separado e, e gerar outras igrejas. E de uma igreja que também, que
a partir da experiência com células, quer evoluir para o cuidado individual uns dos outros.
Então, pra mim, é uma igreja que tá buscando cumprir os propósitos de Deus aqui na terra.

14p. Entrevistador: Gostaria de falar alguma coisa a mais sobre célula?


14r. Entrevistada: Eu acho que realmente essa experiência de que hoje eu não me vejo
mais fora de uma célula. Porque a célula foi, apesar de nós já conhecermos muitas pessoas
aqui na igreja, quando nós chegamos essa célula, ela me deu a sensação de pertencimento.
Faz quase uma interligação entre o grupo pequeno e o grupo maior que é a igreja como um
todo. Eu me sinto muito cuidada na minha célula. E já tô pensando assim, não sofrendo,
mas o que vai gerar a multiplicação dessa célula? Porque a gente realmente cria amor e
relacionamento. Mas do mesmo jeito que a nossa chegada e a de outros proporcionou a
multiplicação, que a chegada de outros também proporcione a multiplicação de uma
maneira muito saudável. Mas é um cuidado muito grande. Eu me sinto muito amada pela
minha célula.

15p. Entrevistador: Obrigado.


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FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
49 anos Jardim Camburi PIBJC 85

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequeno grupo, sobre célula. Então eu
queria que você começasse falando sobre qual a sua experiência com a célula.
1r. Entrevistado: Minha experiência passa pelo retorno nosso pro Brasil. Nós tínhamos
um envolvimento lá fora com o pequenos grupos mas não no intuito de célula. Porque nós
tínhamos recebido o material daqui da igreja quando estávamos lá pra uma leitura e de
repente verificarmos se isso é, realmente se encaixaria naquilo, no trabalho que estávamos
fazendo lá fora do país. E quando voltamos agora, voltamos pra aqui, pra igreja da qual eu
fui batizado e a gente se inseriu num grupo buscando ali também estar num grupo onde
tivesse crianças por causa dos nossos filhos. Pra que pudesse trazer aí alguns princípios,
formação de um caráter mais cristão nas crianças. Nós temos dois filhos, um de sete e outro
de quatro.

2p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte da igreja antes do pequeno grupo?
2r. Entrevistado: Fiz parte da igreja antes da criação dos pequenos grupos.

3p. Entrevistador: E você vê alguma diferença? Que diferença você vê entre a igreja
de antes de implantar o pequeno grupo, a célula, e a igreja depois da célula?

3r. Entrevistado: Eu vejo que na altura, antes da implantação dos pequenos grupos, a
célula, no caso, no meu caso, pelo fato de participar muito das atividades da igreja, eu
sempre tive envolvimento com todas as pessoas. _______ mais com os juniores,
adolescentes e jovens. Então, não deu pra poder perceber tanto, porque quando retornamos
começamos a participar de um pequeno grupo que nos sentimos acolhidos e tudo mais.
664

Pelo fato de ter uma maneira muito extrovertida de lidar com as pessoas. Então, a diferença
pra mim foi quase nenhuma. Mas, há claro, uma diferença na questão de que uma igreja
hoje, com o porte da PIBJC é claro que não dá pra ter um acompanhamento tão de perto,
dos líderes da igreja. Com os pequenos grupos, há uma um acompanhamento mais próximo,
de uma transferência de conhecimento entre as pessoas que estão no grupo e nós
conseguimos aí passar algumas coisas pros nossos líderes que automaticamente isso vai
chegar ao topo da pirâmide.

4p. Entrevistador: Qual a relação que você estabelece entre pequeno grupo, célula e
comunhão?
4r. Entrevistado: Bom, é claro que a comunhão ela é bem particular, bem própria de cada
um. E o pequeno grupo é a comunhão entre todos do qual cada um partilha da sua
comunhão no corpo. É pra que cada um de nós tenhamos aí uma interação entre todos pra,
até mesmo de ajuda, uns com os outros.

5p. Entrevistador: Como é que acontece esse cuidado entre os membros do grupo,
nos encontros, entre os encontros. Como é que acontece esse relacionamento entre os
membros do grupo?
5r. Entrevistado: No caso do nosso grupo é um relacionamento muito próximo. É um
relacionamento de um cuidado bem particular com cada um. Que cada um tem seus
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problemas, diferente uns dos outros, e a gente acaba tratando isso com a possibilidade de
carinho, de confiança e acima de tudo, aquilo que nós chamamos de, união entre todos, e
cumplicidade também entre todos. Então na nossa célula a gente trata isso com muito
carinho, com muita transparência, frontalidade, muito na horizontal mesmo pra que todos
nós nos sintamos acolhidos e que nos sintamos seguros também, que é mais importante.

6p. Entrevistador: Quando essas células, esses grupos vão para o grupão, para a igreja
como um todo, qual o impacto que isso causa na igreja?
6r. Entrevistado: Eu creio que é um impacto muito positivo porque a igreja em si tem
muitos membros e muitas ideias diferentes, diferentes uns dos outros. Então, no nosso
grupo até, a gente é muito participativo. A nossa célula em si, a igreja é muito participativa.
Hoje eu vejo que nós participamos muito das atividades. Desde as dos juniores até mesmo
com os casais. Então a gente aí causa um impacto nos outros. Que os outros veem aquilo
que a gente tá fazendo e essas outras pessoas por automaticamente elas vão absorver aquilo
que é bom.

7p. Entrevistador: E na configuração da igreja, a maneira da igreja funcionar, qual a


influência que a célula causa na maneira da igreja ser igreja, funcionar, na
configuração da igreja?
7r. Entrevistado: Eu creio que isso causa um impacto muito grande até mesmo pra uma
questão de pesquisa, de tentar analisar uma série de outras questões daquilo que pode ser,
aquilo que é melhor e uma avaliação de melhorias até mesmo pra própria estrutura da igreja.
Da igreja buscar aquilo que os outros tão necessitando pra poder suprir essa necessidade.
É claro que nunca vai suprir tudo, mas causa realmente um impacto muito diferenciado.

8p. Entrevistador: Abre espaço pra participação da Membresia?


8r. Entrevistado: Abre...
665

9p. Entrevistador: Na própria igreja, na vida da igreja?


9r. Entrevistado: Abre um grande espaço pra participação de todos. Porque, é claro que
tem alguns pelo fato do perfil de temperamento de cada um, alguns se sentem um pouco
mais excluídos. Mas na verdade é uma questão toda de temperamento de cada um que a
gente tem que saber e a igreja acaba emitindo tudo isso.

10p. Entrevistador: E pra fora? Qual a preocupação da célula pra fora? Da sociedade,
com os problemas sociais?

10r. Entrevistado: Pra fora, eu creio que a célula também acaba causando alguns impactos
porque, eu diria, os nossos vizinhos, os nossos colegas de trabalho, os nossos parentes.
Aqueles que não conhecem Jesus da forma que nós conhecemos. Então, causa um impacto
grandioso. Porque eles veem uma diferença, eles veem uma mudança em tudo que acontece
à nossa volta, o relacionamento familiar, o relacionamento com nossos filhos, a maneira de
nossos filhos se portar. Porque às vezes até os nossos filhos tem alguma, há uma exigência
maior deles por causa de passar pra fora aquilo que nós vivemos. Mas com a célula, não.
A coisa é muito tranquila, muito light, muito serena. Então as pessoas veem isso e eles têm
curiosidade de saber o que se passa. Na nossa célula, por exemplo, nós costumamos ter
muitos visitantes. Principalmente visitantes que tem famílias que tem filhos pequenos.
Porque na nossa faixa etária, na nossa célula nós temos a faixa etária que vai desde, nesse
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momento, desde os três meses até os dez anos.

11p. Entrevistador: E como é que a célula trabalha com as crianças?


11r. Entrevistado: Com as crianças é um trabalho muito interessante. Bacana, porque
nesse momento cada um de nós dividimos pra poder estar com elas. Principalmente os
homens. Porque a gente acha que a gente tem que deixar uma marca mesmo, daquilo que
o homem, qual é o papel do homem na família, como provedor ou como uma série de outras
questões. Então, cada um de nós nos dividimos. Tem uma escala que é criada por nós. Os
nossos líderes criam uma escala que cada um de nós durante um mês passamos pela sala
das crianças e vamos levar a lição daquela semana, vamos transmitir aquilo que também
acontece durante o culto e aquilo que acontece com cada um de nós. Das problemáticas que
existe durante a semana.

12p. Entrevistador: Há uma participação dos pais das crianças lá no encontro da


célula só ou aqui também quando acontecem os encontros aqui no âmbito da igreja
maior?
12r. Entrevistado: O encontro lá e aqui. Todos os pais hoje, da nossa célula, sabem da
responsabilidade que eles têm. Falo muito por mim nesse momento, da responsabilidade
que cada um de nós tem diante de nossos filhos. Daquilo que nós queremos que nossos
filhos sejam amanhã. Daquilo, da marca que eles podem deixar à volta deles.

13p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


13r. Entrevistado: Eu caracterizaria a nossa igreja hoje com um poder tremendo de
alcance. Começando por aí. A nossa igreja hoje tem no bairro hoje, que é o maior bairro
hoje da Grande Vitória, nesse momento. Tanto em população quanto em poder aquisitivo.
Que as pessoas tão melhorando isso, as pessoas tão, estão crescendo, estão causando um
impacto muito grande na comunidade. Hoje, a comunidade hoje sabe quem é a Igreja
Batista em Jardim Camburi. Ela sabe daquilo que a igreja faz porque cada um de nós
666

sabemos dessa, da seriedade que é este trabalho. Então, a sociedade hoje a nossa volta, aqui
na comunidade, entende isso hoje. E a gente tem aí um líder que realmente sabe se colocar,
tem postura e tem olhos pra, e tem visto isso daí, tem levado esse viver nosso a perceber
isso.

14p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
14r. Entrevistado: Não. Acho que por si só, aquilo tudo que tem acontecido aqui na igreja
tem falado sozinho, por tudo que tem acontecido. Tudo que tem acontecido, por todas as
células na igreja hoje, independente das diferenças que há entre elas e as pessoas que tem
dentro de cada célula, tem falado por si só. Tem havido um crescimento tanto pessoal, com
todos, e espiritual. Eu acho que isso aí tudo já fala sozinho.

15p. Entrevistador: Muito obrigado

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
12 anos Jardim Camburi PIBJC 86

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho pra mim sobre o que a célula representa pra
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você.
1r. Entrevistado: É um lugar onde reúne um grupo menor de pessoas de uma igreja pra se
conhecerem mais, porque na igreja as vezes grande você não conhece muito as pessoas,
não interage.

2p. Entrevistador: O que você mais gosta na célula?


2r. Entrevistado: Acho que encontrar todo mundo.

3p. Entrevistador: E o que você menos gosta na célula? Que você acha mais chato?
3r. Entrevistado: Acho que o tempo é pequeno.

4p. Entrevistador: Você acha pouco tempo pra se encontrar?


4r. Entrevistado: Isso.

5p. Entrevistador: Em que a célula contribui pra que você conheça a Deus?
5r. Entrevistado: Não. Acho que ela complementa assim opiniões, porque às vezes eu não
vou no culto, aí ela pergunta algumas coisas. E também repassam várias coisas que passam
no culto.

6p. Entrevistador: E como você acha que a célula contribui para a igreja como um
todo?
6r. Entrevistado: Para a igreja?

7p. Entrevistador: Tem alguma influência? A célula tem alguma influência sobre a
igreja?
7r. Entrevistado: Acho que tem. Acho até que motivar as pessoas a vir pra igreja, ajudar
elas a ter mais conhecimento.
667

8p. Entrevistador: Na sua célula, tem mais juniores ou é só você que é de junior lá?
8r. Entrevistado: É célula de juniores.

9p. Entrevistador: Tem mais juniores?


9r. Entrevistado: Não, célula de juniores.

10p. Entrevistador: Ah, é uma célula de juniores.


10r. Entrevistado: É.

11p. Entrevistador: Ok.


11r. Entrevistado: É que dividiram.

12p. Entrevistador: E quantos adultos tem lá?


12r. Entrevistado: Dois.

13p. Entrevistador: Dois adultos.


13r. Entrevistado: Isso.

14p. Entrevistador: E quantos juniores?


14r. Entrevistado: Um, dois, três... 'Pera aí. Cinco, seis, sete... Nove.
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15p. Entrevistador: Como é que funciona o encontro de vocês?


15r. Entrevistado: Primeiro a gente chega, aí espera as outras pessoas chegarem, os
primeiros que chegam. Aí ficam conversando, ou brincando. Aí quando começa a gente faz
o quebra-gelo, que sempre na próxima célula escolhe alguém pra fazer o quebra-gelo, aí
depois faz o louvor. E aí falam de Deus, que quem fala são adultos.

16p. Entrevistador: E só os adultos que falam ou os juniores também tem a


oportunidade de falar?
16r. Entrevistado: Ah, a gente fala. Mas quem prepara são os adultos.

17p. Entrevistador: E vocês falam como? Vocês falam da experiência de vocês,


respondem só as perguntas? Como é que funciona isso?
17r. Entrevistado: As vezes a gente só responde a pergunta, as vezes a gente fala de
experiência, de acontecimentos.

18p. Entrevistador: E como é que acontece o relacionamento entre vocês, juniores?


Tem algum tipo de amizade, vocês se encontram fora do encontro da célula? Como é
que é?
18r. Entrevistado: A gente se encontra em aniversário de outras pessoas ou faz tipo uma
confraternização. Tem uma vez que a gente foi na sorveteria. É.

19p. Entrevistador: Como é que a célula incentiva você a ler e estudar a bíblia?
19r. Entrevistado: Normalmente existe até um texto assim pra ler. E lembra, ajuda a
lembrar. E no final do ano passado até perguntaram o que eu estava lendo.

20p. Entrevistador: E qual a ligação que você vê entre a sua célula e a sua vida
cotidiana? A sua escola, etc. Em que sentido a célula ajuda você no seu cotidiano?
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20r. Entrevistado: Acho que me ajuda a lembrar de Deus. Porque as vezes, assim, as
pessoas não falam muito. Até muitas pessoas vão pra igreja, só que não seguem a religião
também.

21p. Entrevistador: Muito bom. E com relação a sua família, em que sentido a célula
ajuda você? Na sua família.
21r. Entrevistado: Antes, quando tinha separado, aí é mais, as família inteiras ficam com
outras famílias, mas aí agora foi só a célula de juniores. Eu acho que não tem tanta assim
influência.

22p. Entrevistador: Tá. E você preferia como era antes, quando você estava junto com
seus pais, junto com outras famílias, ou você prefere agora que é uma célula específica
de juniores?
22r. Entrevistado: Na verdade eu não sei muito bem. Mas eu acho que antes era muito
mais firme.

23p. Entrevistador: Mas são características diferentes, por conta da configuração da


célula. As células, agora só de juniores, naturalmente as conversas, os assuntos, são
tratados de uma forma mais compatível com a idade dos juniores, não é? Vocês fazem
também acampamento, alguma outra atividade além do encontro da célula?
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23r. Entrevistado: Essa pergunta já aconteceu?

24p. Entrevistador: Não.


24r. Entrevistado: Não?

25p. Entrevistador: Se faz algum tipo de evento fora do encontro da célula.


25r. Entrevistado: Ah. É que eu acho que já falei que às vezes vou em aniversários.

26p. Entrevistador: Mas não são, assim, promovidos diretamente pela célula, né?
26r. Entrevistado: Não, teve na sorveteria foi direto pela célula.

27p. Entrevistador: Ok.


27r. Entrevistado: E também quando fomos ver o batismo de duas pessoas da célula.

28p. Entrevistador: E também a célula tem alguma, faz algum serviço, assim, na
sociedade, presta algum serviço na sociedade? Assim, tentando ajudar aqueles que
estão precisando? Como é que funciona isso?
28r. Entrevistado: Acho que toda célula, os líderes, falam pra trazer alguém. Convidar.

29p. Entrevistador: Vocês levam também os amigos pra célula?


29r. Entrevistado: Às vezes. Normalmente. Acho que quem a gente leva, fica.

30p. Entrevistador: Ok. E assim, participar de algum projeto social, pra ajudar as
pessoas. Vocês tem participado também de algum projeto ou não?
30r. Entrevistado: Acho que não.

31p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
31r. Entrevistado: Não, acho que não.
669

32p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


32r. Entrevistado: A minha igreja? É uma igreja boa, que tem várias estações pra idade,
tem eventos. Não perde, às vezes a gente esquece a palavra. Não perde o caminho, assim,
para Deus.

33p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer um coleguinha seu pra ir pra célula,
qual argumento que você usaria?
33r. Entrevistado: Qual argumento? Eu acho que eu usei argumento de que é um lugar
legal.
34p. Entrevistador: Um lugar legal. Ok. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
33 anos Jardim Camburi PIBJC 87

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre, células, sobre pequenos grupos, então
gostaria que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: A minha experiência com célula é algo muito gratificante. Eu descobri
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que o meu ministério tem a ver com família, cuidado com essa instituição que é tão
importante pra igreja. Então, nesse sentido, a vida em célula é a realização desse ministério.
A gente tem a oportunidade de cuidar de pessoas. Tem a oportunidade de sofrer juntos. Ter
alegrias juntos. E isso é, eu creio, que é o que Jesus fez quando esteve aqui com os doze.
Então, eu entendo que é a vontade do Senhor. Que eu estou cumprindo a vontade do Senhor
em célula.

2p. Entrevistador: Você chegou a fazer parte da igreja de uma igreja sem células?
2r. Entrevistada: Sim, mas é uma igreja pequena, então eu tinha, de certa forma, um
relacionamento mais próximo com as pessoas, e isso facilitava esse cuidado que a célula
hoje, numa igreja grande acaba sendo obrigada a proporcionar.

3p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


3r. Entrevistada: Eu entendo a célula como um lugar de ensino, de cuidado, de
crescimento. São essas três coisas que tenho experimentado.

4p. Entrevistador: Qual é a dinâmica da célula? Se encontram uma vez por semana?
Como é que é esse encontro?
4r. Entrevistada: Nós nos encontramos, existe um roteiro pré definido de assuntos a
discutir, que normalmente 'tá de acordo com o que a igreja está trabalhando. Se propôs a
trabalhar num determinado período, mas a gente louva ao Senhor, a gente conta
experiências, a gente abre o coração, ora uns pelos outros. Sempre tem alguém precisando
de oração e o Senhor tem respondido essas orações que a gente faz em célula.

5p. Entrevistador: Nos encontros da célula vocês tem, os membros das células, as
pessoas que participam do encontro, elas tem espaço pra poder participar, pra poder
falar, pra poder compartilhar?
670

5r. Entrevistada: Sim. É tem um momento específico que a gente pergunta sobre, faz
pergunta sobre os temas que são abordados. E também tem o momento de pedidos de
oração. Então, nesses momentos, as pessoas costumam falar do que está se passando na
vida delas.

6p. Entrevistador: Como é que acontece o cuidado entre os membros da célula entre
os encontros?
6r. Entrevistada: Entre os encontros? No decorrer da semana?

7p. Entrevistador: Perfeito.


7r. Entrevista: Bom, a gente estimula a parceria, que é normalmente uma pessoa
acompanhando outra, ou uma pessoa acompanhando duas. E então a gente se encontra
durante a semana, ou liga, pergunta como está e sempre 'tá junto fazendo alguma coisa, e
isso acaba proporcionando uma amizade. E esse cuidado, naturalmente, com a amizade,
fica bem mais fácil.

8p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula e comunhão?


8r. Entrevistada: Total. Porque eu não consigo ver numa igreja grande como a nossa, uma
vida sem célula. Eu creio, e já participei de várias células. Eu creio que é possível e é
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necessário que esse convívio aconteça e ele vai gerar essa comunhão. Eu conheço, eu tenho
amigos de outras células das quais eu participei, então eu acabo tendo essa ligação. Porque
essas pessoas me ajudaram na caminhada. Acaba tendo essa comunhão com a igreja, por
causa da célula.

9p. Entrevistador: E na igreja? Qual o impacto que a célula causa na igreja, por
exemplo, na celebração?
9r. Entrevistada: Na celebração eu vejo um impacto menor. E quando a gente 'tá numa
mobilização pra grande celebração, eu vejo um impacto maior. Na mobilização. Porque as
pessoas são convocadas. Cada líder precisa convocar pessoas pra ajudar. Então eu vejo um
impacto maior na celebração. No dia a dia, eu creio que fica mais a cargo do ministério
mesmo, pastoral. Eu vejo pouca essa relação.

10p. Entrevistador: E qual o impacto na estrutura da igreja? Na configuração da


igreja?
10r. Entrevistada: Bom. Nós acabamos, através das reuniões de líderes, recebendo
algumas orientações sobre o que 'tá acontecendo, sobre pra onde a igreja 'ta caminhando.
Quais são os sonhos que o Senhor colocou no coração dos pastores. E eles dividem isso
com a gente. E nas reuniões nós procuramos dividir com os membros também. Então, um
exemplo disso seria a construção do novo templo. É algo que a gente aborda e aí a célula
acaba contribuindo não só com orações, mas também na campanha em si.

11p. Entrevistador: E vocês tem espaço pra poder opinar, pra poder participar das
decisões?
11r. Entrevistada: Através das reuniões de liderança sim. E até no dia a dia, quando nós
precisamos falar com os supervisores ou pastores, nós temos esse espaço.

12p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja, a existência dos pequenos grupos?
671

12r. Entrevistada: Não.

13p. Entrevistador: E benefícios?


13r. Entrevistada: Benefícios eu vejo vários. Como eu contei, eu vejo que o cuidado é
algo que acontece de forma muito natural. Não consigo pensar hoje, uma igreja de quase
dois mil membros, como a nossa, e pastores pra cuidar dessa gente toda que 'tá chegando,
e nós queremos também chegar a mais. Então essa estrutura de mini pastores acaba
auxiliando isso. Não vejo outra forma.

14p. Entrevistador: E qual a preocupação da célula com a sociedade de um modo


geral, com os problemas sociais?
14r. Entrevistada: Bom. Inicialmente a nossa preocupação tem a ver com o testemunho
que os cristãos estão passando pra essas pessoas. Porque se, o mundo ou a sociedade vêem
em nós, pessoas que não tem exemplo algum pra dar. Que convivência elas vão querer ter,
com as pessoas da igreja? E eu creio que as pessoas são trazidas, claro, pelo Senhor, mas
também são atraídas por um bom testemunho.

15p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


15r. Entrevistada: Eu vejo uma igreja em crescimento. Não só de tamanho mas também
espiritual. Tenho experimentado algumas situações bem felizes nessa igreja. Creio que foi
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uma coisa que Deus mesmo colocou na minha vida. Esse investimento em relacionamentos.
De fato, eu vivo isso aqui. Isso pra mim é algo muito importante.

16p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
16r. Entrevistada: Eu creio que, como até foi dito, é algo que Jesus nos ensinou com os
doze. Então, é necessário, é bom pra convivência, auxilia as pessoas que 'tão chegando, que
eu acho que é a maior dificuldade. Seria isso.

17p. Entrevistador: Muito bem. Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
42 anos Jardim Camburi PIBJC 88

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre célula, sobre pequenos grupos. E eu gostaria
que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: A minha experiência com célula é maravilhosa. Antes que, eu sempre
tive, a minha família é grande, mas a gentenão tem ou nunca compartilhamos e nunca
vivemos da forma que a gente veio pra célula, os pequenos grupos. Então hoje a minha
família realmente é a que 'tá na célula. Eu tenho a minha família de irmãos, que não tenho
tanto contato, não tenho tanta intimidade, não tenho tanta abertura, quanto as que eu tenho
na célula hoje.

2p. Entrevistador: Você teve alguma experiência de vivência em igreja sem célula?
2r. Entrevistado: Não. Na verdade quando eu conheci a Cristo, eu vim pra essa igreja e
essa igreja, ela já tinha as células já, não estava consolidado. Tava no início ainda, mas a
gente já tinha célula.
672

3p. Entrevistador: E qual o impacto que você vê que a célula produz na igreja?
3r. Entrevistado: Eu acho que é uma forma, a vida em célula é uma forma da gente praticar
as questões, os mandamentos de Jesus e a igreja assistir isso, porque você imagina hoje
tem, nossa igreja 'tá perto de dois mil membros, nós temos quatro pastores. Como que esses
quatro pastores estariam nos assessorando, estariam conosco, se não fossem as células.

4p. Entrevistador: E como é que acontece esse cuidado entre os membros da célula?
4r. Entrevistado: Na verdade o que acontece? Acho que é melhor, uma característica mais
adequada, ou a que mais reflete na célula, é que lá não existem máscaras. Então a gente
tem, nós estamos no meio de pessoas que somos nós mesmos, não tem máscara, somos
quem somos sem medo e sem... E isso faz com que as pessoas acabam se aproximando
mais, serem mais verdadeiras uma com a outra. E você exercitando isso na célula, te dá
mais coragem, mais habilidade pra tratar com isso fora da célula.

5p. Entrevistador: Como isso repercute no seu relacionamento com Deus?


5r. Entrevistado: Nossa. O meu relacionamento com Deus independe da célula. Mas é o
mandamento. O que Deus manda é a gente pregar o evangelho e na célula fica muito mais
fácil. A gente consegue, na verdade, seguir, obedecer esse mandamento com muito mais
facilidade na célula.
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6p. Entrevistador: E como é que... Qual a relação que você vê entre a célula e
comunhão?
6r. Entrevistado: Célula e comunhão? Eu acho que o símbolo da comunhão seria a célula.
Não que a gente não tenha outras formas de estar em comunhão, outros métodos de estar
em comunhão, mas o que eu conheço é a célula. E acho que é o melhor. Eu não frequentei
outras igrejas sem células, mas eu tenho amigos que frequentam. E a gente vê a diferença
do povo de Deus que vive em célula. A gente vê, as coisas são mais disciplinadas, a gente
tem uma oportunidade maior de conseguir obedecer a Cristo sem tanta dificuldade, sem
tanta... Porque os seus irmãos 'tão ali do lado te apoiando, seus irmãos 'tão ali do lado te
fortalecendo.

7p. Entrevistador: E existe um contato entre os encontros, durante a semana? Entre


os membros da célula?
7r. Entrevistado: A célula, a gente tem um dia que é o que a gente escolheu pra estar
juntos, e fazer o que é recomendado pela igreja e tudo mais. Mas independente disso a
gente se encontra, não todo mundo, mas cada hora, cada... Depende de cada ocasião, a
gente sempre 'tá junto. Quando não é juntos, unidos, estamos em oração, temos o telefone.
Então assim, é um grupo fecha... É um grupo aberto. Eu ia falar uma grupo fechado, mas é
fechado entre os membros, mas ele é aberto pra todos aqueles que queiram participar. E
esse grupo nosso já 'tá aí há dois anos e meio, quase três anos, então assim, é muita união.
A gente já se conhece, nós já passamos por todas as etapas da célula, já brigamos, já...

8p. Entrevistador: Esse grupo não corre o risco de se isolar dos outros membros da
igreja, das outras células?
8r. Entrevistado: Não, eu acho que não. Não por dois motivos. Primeiro porque o que
você exercita na célula, na verdade é direcionado a outras pessoas. O nosso... O sucesso da
célula é quando ela aumenta, quando ela se multiplica. Então isso é muito bem colocado
673

pelos pastores e por nós. Nós sentimos isso, então assim, a tendência é cada vez mais
pessoas de fora participarem, multiplicarem, entrarem nessa comunhão. E em segundo é
que a Palavra de Deus não volta vazia. E o que a gente fala e pratica na célula é a palavra
de Deus. Então não tem como a gente não...

9p. Entrevistador: E qual a preocupação da célula com a sociedade de um modo geral,


os problemas sociais? Que tipo de ações a célula desenvolve pra contribuir pra
transformação da sociedade?
9r. Entrevistado: Então. Nossa igreja, ela pratica as quatro estações. E as células estão
diretamente ligadas a essas estações. E cada estação tem um objetivo em comum, em
relação às questões sociais. Tem uma das estações que é 'ide'. A célula, cada célula, ela
procura uma forma de externar isso. Então, com orfanatos, locais onde ficam os idosos.
Isso são coisas específicas e especiais que a igreja coloca. Agora, independente disso, tudo
que a gente vive na célula a gente quer viver nos outros lugares. Então aquelas questões
que você consegue desenvolver bem na célula, espirituais, você acaba levando pro seu
trabalho, você acaba levando pra escola, pra família onde você está. Tudo gira em torno do
exemplo, da forma com que você vive. E isso que é o motivo da célula.

10p. Entrevistador: E você vê algum risco pra igreja a existência da célula?


10r. Entrevistado: Risco? Não. Não vejo.
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11p. Entrevistador: E benefícios?


11r. Entrevistado: Benefícios muitos. Assim, é impressionante, porque existe o método,
mas a forma com que Deus atua nesse sistema de células é muito... Eu tenho uma intimidade
com o nosso pastor Juarez. Conheço ele de perto e eu não tenho convivência com ele. E
porque que isso acontece? Porque os líderes comentam, as coisas chegam até ele, ele vem
até os membros conversar, e de uma forma natural, num é algo premeditado. A forma com
que ela funciona mesmo proporciona isso.

12p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


12r. Entrevistado: Uma igreja de benção, uma igreja abençoada. A gente ainda não... Nós
ainda não temos todos os membros em célula. Ainda existe certa resistência por alguns
membros. A igreja já tem muitos anos, são vinte e cinco anos. Trinta anos na verdade.
Então aqueles primeiros membros, que não vieram com uma forma tradicional, hoje eles
tem um pouco de resistência. Mas eu posso te dizer o seguinte, depois que se firmaram as
células, depois que a gente decidiu realmente trabalhar em células e que elas começaram a
ser produzidas, nós temos outra visão de igreja, nós temos uma outra comunhão como
membros de igreja. Mudou.

13p. Entrevistador: Se você tivesse que convidar alguém que não está em célula, pra
ir pra célula, qual argumento que você usaria?
13r. Entrevistado: Nenhum. Convidaria. É o que a gente faz. Muitas vezes as pessoas
acabam despertando o interesse pelo testemunho. A gente fala: "Ah, olha, na quarta-feira a
gente se reuniu essa semana, a gente comentou sobre isso, e aí aconteceu isso e isso". E
isso vai despertando o interesse das pessoas, e a gente convida, participa. A primeira vez
que participa quer voltar, não quer deixar de vir mais, porque o grupo, ele é contagiante. O
grupo é... Quem entra se sente diferente, se sente num ambiente diferente, onde Deus está.
É assim.
674

14p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


14r. Entrevistado: Não. Se eu pudesse falar é que, assim, uma das orações que eu faço a
Deus é que todas as igrejas, sem exceção, implante esse sistema de células. Porque como
estaria diferente. Como estaríamos. Como Cristo estaria em nosso meio, agindo de forma
diferente se todas as igrejas estivessem essas mesmas experiências que nós estamos
passando hoje.

15p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder e SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


Supervisor
IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
57anos Jardim Camburi PIBJC 89

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre pequenos grupos, sobre célula. Gostaria que
você falasse a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Olha, eu digo sempre que eu sou meio suspeito pra falar de célula. Mas
ao mesmo tempo falo sobre as bênçãos que Deus tem feito na minha vida, não só na minha
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vida como na vida da minha família. Porque eu e minha esposa, nós somos filhos de célula.
Nós nos convertemos em célula. Então pra mim, hoje, eu não me vejo em igrejas, ou em
outra igreja, se eu tiver que sair daqui de Jardim Camburi, se Deus me levar pra outro lugar,
mas não seja uma igreja que não fosse em célula. Porque o crescimento nosso e a facilidade
que nós temos pra levar pessoas. É muito mais fácil a gente convidar uma pessoa pra ir
numa... Na célula, na nossa casa do que convidar pra vim no culto, às vezes. Porque há
resistência. Então pra mim célula é um divisor de água das igrejas.

2p. Entrevistador: Qual o impacto que o senhor, que você vê da célula sobre a igreja?
2r. Entrevistado: Olha, as células pra mim, é a sustentação da igreja. Porque uma igreja
grande como a nossa, por exemplo, o pastor não tem condições de cuidar de todos. E nós
como líderes e supervisores, nas células a gente consegue dar esse apoio.

3p. Entrevistador: E como é que acontece esse cuidado?


3r. Entrevistado: Esse cuidado acontece com os encontros que nós temos durante a
semana, os discipulados, que a gente trabalha com parcerias. Um edificando o outro. E
também nas colheitas a gente consegue ter o relacionamento em festas, nessas ocasiões.

4p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


4r. Entrevistado: Objetivo? Adorar a Deus. É adoração, a exaltação e o evangelismo.
Como que funciona isso? A gente pega o culto de hoje, por exemplo, e trabalha ele na
célula, levando as pessoas a falar o que Deus falou ao seu coração nessa Palavra de
domingo. Então, às vezes a pessoa não tem como compartilhar, e na célula quem 'tá
facilitando naquele dia vai levar os irmãos a compartilhar o que Deus falou através daquela
palavra no culto de domingo.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre a célula e comunhão?


675

5r. Entrevistado: Nos grupos pequenos a gente começa a conviver e chega, assim, um
certo período da célula que vira uma família. E onde, se faltar um na célula, num dia da
semana, que é do encontro da célula, a gente sente falta como se fosse duma pessoa da
nossa família que tivesse faltando. Então há relacionamento por serem grupos pequenos. A
gente consegue ter relacionamento, fazer relacionamento. E essas pessoas já passam a ser
como da família mesmo da gente. De a gente sentir falta ali, ligar um pro outro, entendeu?
Então quando não vai no encontro no outro dia ligar pra saber que que aconteceu.

6p. Entrevistador: E quando a célula participa do culto, qual a interação da célula


com a igreja como um todo?
6r. Entrevistado: No culto as células, elas participam quando é um culto específico pra
participação das células. Como funciona isso? Às vezes tem um congresso. Então as redes,
porque as células são dividida por redes, que os pastores tomam conta de certa quantidade
de célula. Então naquele... naquele período, quer dizer, teve um congresso esses dias. O
congresso do Araçá. Então cada dia foi uma rede que participou pra esse culto.

7p. Entrevistador: E há uma interação entre uma célula e outra?


7r. Entrevistado: Quando há reuniões específicas, sim. Entendeu? Às vezes dá, não só
uma rede Vamos dizer, eu sou da rede do pastor Carlos Marcelo. Então às vezes há eventos
que são preparados pra rede toda. Então aí há interação de todas as células. Exemplo, um
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café das mulheres que teve esse mês. Então aí todas as... Essa rede toda que se moveu pra
organizar esse café.

8p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja a existência da célula?


8r. Entrevistado: Nenhum.

9p. Entrevistador: E benefícios?


9r. Entrevistado: Muitos benefícios. Porque, é como eu falei, o pastor hoje, ele não tem
condições de cuidar e saber se tem uma pessoa doente na família, de certas famílias. Às
vezes é uma família que nem é da igreja ainda, mas frequenta. Então o pastor não tem esse
relacionamento. Ele não tem condições de fazer isso. E pelas células ele fica sabendo tudo
que acontece, por conta dos relatórios que são feitos. Porque a partir do encontro que nós
temos, vamos dizer que a célula é na quarta-feira. Terminou a célula, a gente manda o
relatório pro pastor, quem estava na célula, a quantidade de crianças. Esse relatório chega
aqui pra ele, ele sabe durante a semana quantas pessoas que frequentaram, quantas faltaram.
Entendeu? Então isso é muito... Ajuda muito a igreja.

10p. Entrevistador: E com as pessoas de fora, com a sociedade de um modo geral, os


problemas sociais. Que tipo de preocupação a célula tem e que ações a célula
desenvolve pra mudar esse quadro que 'tá aí?
10r. Entrevistado: As células tem eventos que elas preparam pra ir em casas de crianças,
casa de idosos, levar um café, levar uma palavra. É assim que a célula desenvolve. Às vezes
em igrejas pequenas, entendeu? Dia das crianças, por exemplo, a nossa rede com a rede da
célula da minha sogra, com a rede dela. Nós preparamos um evento pras crianças de André
Carloni. Então é esse movimento que a célula faz. É independente da igreja.
676

11p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


11r. Entrevistado: Eu vejo que isso não é invenção do pastor Juarez, pastor Carlos
Marcelo. Principalmente o pastor Juarez que Deus... Eu louvo a Deus pela vida dele, que
Deus colocou isso no coração dele. Por quê? Através das células a gente pode fazer com
que a igreja cresça. Ajudá-los. E a gente tem condições, como eu falei, de ganhar muito
mais pessoas para Cristo, pela resistência que às vezes as pessoas têm de vir à igreja. Às
vezes você convida uma pessoa pra ir na igreja, ela "ah, não, porque eu sou Católico, eu
sou de outra denominação" e as vezes não é nada. E eu sei que eu era assim. Apesar de ter
irmão pastor, eu vim me converter já com a idade avançada. Já com quarenta e poucos
anos. Então, eu era assim, eu era convidado, o pastor Juarez me convidava pra vir a igreja,
eu sempre arrumava uma desculpa. Mas na célula, nas casas é mais fácil. Então você não
precisa falar que é reunião de igreja. "Ó, vai ter uma reunião lá em casa", "vou reunir um
grupo lá que nós vamos louvar". As pessoas vão. Principalmente hoje que as pessoas, o
povo 'tá muito carente de muita coisa. Não é só financeira, mas de atenção, de
relacionamento. Então nas células é benção por isso.

12p. Entrevistador: Obrigado.

FUNÇÃO: Supervisora SEXO: Feminino DATA: 29/03/2015


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IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO


57anos Jardim Camburi PIBJC 90

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Então
vamos começar. Vou solicitar a você que fale sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: Bom, a minha experiência com célula, já fazem, desde que a igreja
começou. E nós participamos da célula protótipo, essa que foi pra uma experiência. E aí
nós começamos a liderar uma célula e multiplicamos e o pastor nos convidou pra
supervisão, pra supervisionar aqueles grupos. E a minha experiência hoje com célula é que
eu não gostaria de participar mais de uma igreja que não houvesse célula, pequenos grupos.

2p. Entrevistador: Por quê?


2r. Entrevistada: Por quê? O pequeno grupo eu posso acompanhar melhor uma pessoa,
dar mais, prestar mais uma assistência, conhecer, estar mais de perto dos pequenos grupos.
E eu posso também convidar pessoas e estar acompanhando de forma assim mais precisa
com aquela pessoa.

3p. Entrevistador: Você fez parte da igreja antes dela ter a célula.
3r. Entrevistada: Fiz parte.

4p. Entrevistador: E agora faz parte da igreja com a célula. Qual a diferença?
4r. Entrevistada: A diferença antes da célula é que terminando o culto a gente ia pra casa.
E nós tínhamos na época, eu era diaconisa, eu tinha um grupo de vinte pessoas, vinte
famílias que eu acompanhava também. Mas era uma visita mais superficial, eu não tinha
mais tanta proximidade das famílias. Eu só queria saber como eles estavam pra passar pro
nosso pastor uma notícia das famílias. Eu não 'tava tão envolvida assim com elas. A célula
não. O meu pequeno grupo, eu estou envolvida com meu pequeno grupo. Hoje, por
677

exemplo, eu cheguei aqui um pouco atrasada exatamente porque eu estou envolvida com
meu pequeno grupo.

5p. Entrevistador: Como é que acontece esse pastoreio?


5r. Entrevistada: Esse pastoreio acontece através do discipulado ou acompanhamento
mesmo de visita, de uma ligação, de 'tá toda semana estarem juntos ali na célula.

6p. Entrevistador: Qual a relação que você faz entre a célula e comunhão?
6r. Entrevistada: Na célula acontece de tudo. Ela tem a comunhão, tem o pastoreio e tem
o discipulado, que é o pastoreio. Mas esta relação que não pode existir uma, um pastoreio
sem comunhão. Acho que Jesus deixou isso bem claro pra gente na questão dos discípulos
juntos com ele ali, comendo juntos e comungando juntos e ao mesmo tempo ensinando.

7p. Entrevistador: E qual o impacto que a célula produz na igreja como um todo?
7r. Entrevistada: Esse impacto gera na questão de saber que não tem uma ovelha isolada.
Ela 'tá sempre ligada a um grupo. Então isso gera também uma tranquilidade aos nossos
pastores. Porque os nossos pastores, eles precisam saber disso, que tem uma ovelha que
está sendo cuidada por alguém. E aquela ovelha, ela pode ter uma receptividade, um
feedback, porque ela sabe que o pastor também pergunta por ela, ela sabe disso.
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8p. Entrevistador: E no culto, na celebração, qual o impacto que a célula causa no


púlpito, no culto, na celebração?
8r. Entrevistada: O envolvimento. Porque se ele tem uma comunhão, se ele foi
discipulado, ou se ele teve um relacionamento durante a semana, ele não chegou aqui no
culto vazio. Ele teve um acompanhamento durante a semana, ele está aqui numa unidade.
E a unidade é que gera esse fortalecimento do corpo. Através da célula.

9p. Entrevistador: Como é que a célula se relaciona entre os encontros, durante a


semana?
9r. Entrevistada: As células, entre os encontros?

10p. Entrevistador: É. Os membros da célula.


10r. Entrevistada: Através de telefone, através de encontros pra convidar, whatsapp, uma
ligadinha. Assim a gente se relaciona. Ou visita. Por exemplo, eu tenho vizinhas, aí eu dou
um pulinho, eu vejo como é que 'tá, chegou do hospital. E vamos orar juntos por isso,
oramos por telefone.

11p. Entrevistador: Quais são os critérios pra organizar uma célula? Pra compor essa
célula? É a localização geográfica, é vínculo, é idade, como é que é?
11r. Entrevistada: Bom, localização geográfica é importante, mas não é tudo. Eu vejo que
o critério maior é o amor. Quando temos amor, quando você ama um grupo, quando você
ama seu próximo, você não vê distância. Eu já, nós já discipulamos pessoas lá em Viana,
morando aqui em Jardim Camburi. Ela foi nossa líder de célula depois. Ela veio, ela mudou
pra cá, ela vinha pra cá, a filha dela aceitou a Jesus, nós discipulamos eles lá em Viana.
Então, eu vejo que o critério maior pra uma célula se permanecer e fortalecer é através do
amor. Não tem outro critério. Aí você relaciona com idosos, você relaciona com criança,
você relaciona com jovens, adolescentes.
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12p. Entrevistador: E...


12r. Entrevistada: E não vê tanta distância geográfica.

13p. Entrevistador: E qual a preocupação da célula com a sociedade, com os


problemas sociais aí, que estão aí fora?
13r. Entrevistadoa: Bom, nós temos nossos pastores, que também nos dão até um apoio
nisso. Na questão, agora vamos ter 'Atos de compaixão', que a gente faz. E quando nós, eu
trabalhei numa casa, numa casa de apoio HIV AIDS, e a minha célula é que fornecia a
carne. Durante um tempo foi fornecida a carne pra esta casa. Ou seja, a gente envolvia com
este, com esta ONG. Por quê? Era um grupo. E elas viam essa necessidade. Então hoje, nós
nos unimos pra fazer esses atos de compaixão, que é olhando essas necessidades das
organizações sociais.

14p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja a existência da célula?


14r. Entrevistada: Pelo contrário. Eu só vejo fortalecimento pra igreja.

15p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


15r. Entrevistado: Ai! Um grande coro no céu. Com tantos defeitos, com tantos pecados
perdoados por Jesus. E eu descreveria que quando eu chegar lá no céu, quando eu vejo a
igreja aqui hoje cantando, eu fico imaginando lá no céu como é que nós vamos estar juntos.
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16p. Entrevistador: E essa igreja aqui na terra, bem concreta, como é que você
descreveria?
16r. Entrevistada: Eu a descreveria hoje, aqui, num só corpo. Entendeu? Uma só fé, um
só Senhor. Através de células. Porque tem dificuldades, mas essas dificuldades, elas são
superadas. Entende?

17p. Entrevistador: Se você quisesse argumentar pra uma pessoa que não está em
célula, pra ela ir pra uma célula.
17r. Entrevistada: É.

18p. Entrevistador: Que argumento você usaria?


18r. Entrevistada: Frequente uma célula. Porque uma célula, ela é, ela te dá um norte. Ela
te dá apoio, você não fica isolada, você não fica sozinha no meio da multidão. Fique numa
célula, permaneça frequentando, os seus irmãos ali. Dê apoio. Porque você vai estar
acompanhada também.

19p. Entrevistador: Muito bem. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
19r. Entrevistada: Eu quero dizer que eu não conseguiria mais viver sem uma célula. Eu
sou apaixonada por uma igreja que funciona em célula.

20p. Entrevistador: Obrigado.


20r. Entrevistada: Amém.
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FUNÇÃO: Supervisor SEXO: Masculino DATA: 29/03/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
61 anos Jardim Camburi PIBJC 91

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos, sobre célula. Então
gostaria que você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Bem, eu comecei a conhecer célula em dois mil, quando aqui a igreja
também iniciou o assunto célula. E fui aprendendo, fui estudando um pouco a respeito, me
tornei membro de célula. Depois de um tempo de aprendizado e de convivência com o
grupo, pequeno grupo, eu me tornei auxiliar da célula. Estava auxiliando o líder, auxiliar
de líder de célula. Depois eu me tornei líder de célula, liderei célula durante um tempo. À
medida que nós multiplicamos a célula, chegamos a acho que três células na época. Aí pra
o meu supervisor já ficava muita coisa, então dividi a supervisão com ele, me tornei
supervisor. E sempre estudando, em paralelo a essas graduações eu tava estudando bem,
fiz cursos... Curso pra auxiliar... De líder auxiliar, pra líder, depois pra auxiliar de
supervisor, supervisor e assim. Aí a gente 'tá na supervisão já tem aí em torno de uns oito
anos mais ou menos. Sete anos, por aí.

2p. Entrevistador: Muito bem. Você experimentou, fazia parte da igreja antes da
célula.
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2r. Entrevistado: Sim, quando a igreja era...

3p. Entrevistador: E participou de todo o processo de implantação de célula. Que


mudanças, que impacto, que diferença você vê na igreja de hoje com a igreja de antes
de célula?
3r. Entrevistado: Bom, o que eu vejo é que antes, quando a gente vivia na igreja de
programas, que era chamada, a gente era um simples expectador. A gente chegava na igreja
no horário do culto, sentava ali, ouvia o pastor, as vezes via uma pessoa ou outra, "oi
fulano", "oi ciclano". Antes até tinha aquela... Antes do culto tinha aquela escola de
treinamento que a gente participava também. Mas era um negócio muito mecanizado, muito
engessado. Terminou aquilo ali, o culto, você ia pra casa. "Tudo bem?", "tudo bem!" Via
uma pessoa: "Oi, tudo bem?", "tudo bem!" Tudo bem e pronto. Você só ia ver esse pessoal
novamente no domingo seguinte. Então faltava um compromisso nosso, entre nós, entre os
irmãos. E o que eu percebi de diferença na célula, no grupo pequeno, foi exatamente isso,
a gente começa a interagir com as pessoas, a gente começa a se preocupar com as pessoas,
a gente começa a tratar as pessoas. Na nossa supervisão hoje a gente sabe exatamente o que
que cada pessoa da nossa supervisão está... O que está acontecendo com elas. A gente tem
controle de tudo isso, em média aí, minha supervisão tem em média cinquenta, cinquenta
e cinco pessoas. Então essas cinquenta e cinco pessoas, eu as conheço, eu sei, assim, pelo
menos relativamente o que está acontecendo em cada grupo, em cada célula. E essa visão,
ela é compartilhada ao pastor. Tempos em tempos a gente tem uma reunião com o pastor e
a gente passa pra ele a situação, inclusive o mapa da célula, como é que 'tá, como é que 'tá
distribuído o pessoal, o povo. Então a gente viu que a diferença é que antes era uma vida
muito vazia, vamos dizer assim e hoje não, hoje nós temos compromisso com as pessoas,
nós interagimos com as pessoas. Além de assistir o culto, além de participar do culto com
o pastor, com a pregação e tudo mais, nós temos, durante a semana, a gente tem um
envolvimento com as pessoas. É essa a diferença significativa que eu...
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4p. Entrevistador: Qual impacto que isso produziu na sua vida em relação com seu
relacionamento com Deus?
4r. Entrevistado: Ah, bastante impacto. Eu vejo que eu me tornei uma pessoa mais...
Entendi melhor o ide de Jesus Cristo. Eu entendi melhor, porque que eu to aqui na terra,
não é simplesmente pra eu receber, eu tenho que servir também. Jesus veio aqui por isso,
por esse motivo. Então isso ficou bem claro, bem evidente na minha vida depois que eu
comecei a viver em célula. E muitas outras coisas foram aguçando, foram sendo
interiorizadas por mim.

5p. Entrevistador: E qual impacto que as células produziram na igreja como um todo?
5r. Entrevistado: Na igreja o que produziu foi um crescimento maior, foi uma interação
maior do povo em si, povo em célula. A gente sente que o povo fica mais a vontade pra se
expressar. Até a forma de ser, de se portar dentro da igreja, que era um negócio muito
engessado. Hoje não, hoje o povo se sente a vontade, se sente livre pra se expressar, pra
adorar a Deus. Bem diferente do que era antes.

6p. Entrevistador: Nível de participação da membresia nas decisões que igreja toma,
nas decisões de rumo que a igreja anda, na configuração da igreja?
6r. Entrevistado: Olha, na configuração a gente ainda 'tá num processo que acho assim,
nesse ponto ainda não chegamos aonde que nós queríamos chegar. Algumas coisas a gente
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

ainda acha que, a gente ainda 'tá no modelo antigo. Modelo que era... Que é aquela questão
da assembléia, ela precisa acontecer. Mas eu acho que algumas coisas por exemplo
poderiam ser, assim, discutidas melhor, tanto por parte do povo, para os pastores quanto ao
contrário. E eu acho que ali, a nossa igreja, ela já chegou várias vezes assim a quase chegar
num ponto de dizer: "Oh, nós vamos mudar o nosso...". Mas isso não aconteceu ainda. Até
porque a igreja, ela não é totalmente, toda em célula. Nós estamos no processo ainda, e esse
processo é lento. Muita gente ainda não aceitou ainda estar em célula.

7p. Entrevistador: Seria porque essa resistência?


7r. Entrevistado: Isso eu penso que é normal, na época que nós começamos a transição, o
pastor Roberto Lay, a pessoa que primeiro veio nos ajudar, ele falava isso. Falava que vai
ter pessoas que não vão aceitar mesmo, vão inclusive mudar de igreja. E aconteceu alguns
casos. Algumas pessoas saíram, foram embora, outras não, conseguiram conviver, estão
convivendo ainda, mas assim, faltou eu não sei o que... Mas a gente não consegue. Porque
isso não é uma coisa forçada, é uma coisa de a pessoa entender. Se não... Alguma
preocupação, então procurar o pastor, procurar uma pessoa. Eu mesmo tenho bastante
informação pra esses casos, pra explicar pra pessoa. Mas tem gente que acha "não, tá bom
assim. Sabe aquela? Tem muita gente.

8p. Entrevistador: E se você tivesse que usar um argumento pra que a pessoa viesse
pra célula, qual argumento que você usaria?
8r. Entrevistado: O que eu usaria é exatamente isso que eu falei, da questão de você ser
mais participativo, de você, estar interagindo com o grupo e você não ser um simples
expectador. Eu acho que o pessoal que 'tá naquela... Naquele modelo antigo, ele é muito
expectador, aquela pessoa que num quer compromisso, num quer nada com nada. Só vem
a igreja por vir e 'tá bom, 'tá bom desse jeito.

9p. Entrevistador: Se você tivesse que caracterizar a sua igreja hoje.


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9r. Entrevistado: Ah, eu diria que a minha igreja hoje, ela está muito, assim, muito melhor.
Acho que nós vivemos hoje uma vida que Jesus Cristo deixou pra que fosse vivida, na
questão de tratar as pessoas. Eu penso que a minha igreja, ela 'tá... Não 'tá ainda no ponto,
mas ela 'tá caminhando pra isso. Então eu acho que eu diria que é por aí mesmo. Barreiras
sempre vão existir, vão acontecer em todos os níveis. Mas nós estamos no caminho certo.

10p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?

10r. Entrevistado: Não. Acho que o que eu falei 'tá bem... Senão eu vou ficar muito
repetitivo.

11p. Entrevistador: Ok. Obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 04/04/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
64 anos Jardim Camburi PIBJC 92

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre célula, sobre pequeno grupo. Gostaria que
você começasse falando sobre a sua experiência com célula.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

1r. Entrevistada: Bom, eu já sou líder de célula há mais ou menos um uns oito anos. E
tenho tido assim, experiências maravilhosas com este ministério. Porque eu acho que célula
é um ministério pastoral. Pequeno, mas pastoral. Porque a gente tem que acompanhar as
pessoas, tem que lidar com as diferenças, a gente tem que lidar com as dificuldades das
pessoas e estar ajudando. Aquela troca. Porque eu falo que o líder de célula se torna pai e
mãe. Lá em casa nós somos chamados de vovô por todas as crianças, porque a gente dá um
tratamento. Se você 'tá com uma criança doente, a gente que leva pro hospital. Se o marido
fica doente, a gente leva e eu fico dando apoio à mulher. Então, nós temos trabalhado dessa
forma. Com aquela mutualidade. E, graças a Deus, a gente nunca precisou incomodá-los,
mas a gente fala, fala com eles que a gente faz questão de ser incomodado. Porque esse é o
nosso, é a nossa função. Foi pra isso que nós fomos chamados. E, com relação às pessoas,
eu falo assim com a minha supervisora, que eu tenho sido muito abençoada. Porque Deus
tem me dado assim, o filé. Porque não é questão também de que as pessoas não tenham
problemas e nem defeitos, claro que tem. Mas nós somos muito cautelosos em estar
invadindo a privacidade da pessoa. Se não quer falar a gente não fala. A gente ora. A gente,
como eu falei, faz aquele papel de pai, de amigo, de irmão. Que não julga, que a gente, se
a pessoa afasta, a gente respeita um pouco. Aí quando demora muito a voltar, aí a gente vai
atrás pra ver o que 'tá acontecendo. Porque a gente também não pode desistir das pessoas.
Mas também não pode obrigar a pessoa a estar com a gente. 'Tô vivendo uma situação
dessas, desse jeito agora. Mas eu 'tô dando um tempinho. Que eu acho que todo mundo tem
hora que precisa de um tempinho. Menos a gente. (risos).

2p. Entrevistador: Ok. Você fazia parte da igreja já, quando a igreja adotou célula?
2r. Entrevistada: Não. Cheguei depois e fui logo inserida, logo não, depois de uns dois
anos. Fui pra uma célula e logo em seguida, meu marido nem era da igreja ainda. Já me
convidaram pra ser, pra liderar um pequeno grupo. E aí ele veio e entrou comigo também,
e nós estamos nessa caminhada aí, já há um tempinho.
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3p. Entrevistador: Quais os benefícios que a senhora vê que a célula produz pra
igreja?
3r. Entrevistada: Pra igreja? Integração. Principal fatura é a integração. Que às vezes a
pessoa não vem à igreja, mas ela vai à célula. E a pessoa, talvez, já é evangélica, mas 'tá
chegando à igreja, ela chega aqui, ela fica perdida no meio dessas mais de mil pessoas. Três
cultos. É aquela coisa, de olhar pra trás, pra cabeça da pessoa e vai embora. E a célula, ela
proporciona isso. Porque a gente como líder, a gente tem que 'tá sempre atento à alguém
que você vê que 'tá meio perdido e tal. Você chega você conversa. Na hora da oração você
não procura o irmão que você conhece você praquela pessoa. Eu acho que o nosso papel é
esse. É resgatar aquele que 'tá perdido no meio da igreja. Porque quando a igreja é muito
grande, é difícil você se integrar se não for através de uma célula.

4p. Entrevistador: E risco? Você vê algum risco pra igreja a existência da célula?
4r. Entrevistada: Não. Eu acho que é só benefício. É uma experiência que a gente tem
vivido já há quase quinze anos eu creio que a igreja 'tá vivendo esse processo. E nós temos
assim, sido muito abençoados. É claro que, nem todo mundo aceita, as células. Existem
pessoas resistentes até hoje. Mas a gente respeita a opinião das pessoas. Mas a gente sabe
que a célula é um canal de integração.

5p. Entrevistador: E quais seriam os objetivos da célula?


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1212776/CA

5r. Entrevistada: A célula tem a questão da integração, que é o primeiro passo. Tem o
estudo bíblico, que é o crescimento espiritual que a gente faz quando a pessoa vem pra
célula. A gente acompanha. Se tiver gente de outra igreja a gente aconselha vir procurar o
pastor da nossa rede pra poder 'tá se apresentando. Porque já é membro de outra igreja, vem
pra cá. Precisa de uma referência, saber que 'tá aqui. E a célula tem, faz esse papel de, essa
ponte, Vem a pessoa, eu 'tô com um casal lá de _____se não me engano. Eles estavam aqui
na igreja perdidinhos, foram morar embaixo do meu apartamento. Daí encontrei. “A gente
esá vindo de __________, mas a gente 'tá achando tão difícil e não sei o que”. Aí eu falei:
“ah, então vem pra minha célula”. Aí, já comuniquei imediatamente a minha supervisão
que eles, que eu ia tentar trazê-los e eles agora já estão fazendo até cursos pra poder se
tornar membro. Fazer um 'ABC' de célula. Estão na escola bíblica. Então eu acho que a
célula tem um fator fundamental dentro da igreja.

6p. Entrevistador: Nesses casos, quando a pessoa vem de outra igreja evangélica, qual
é o processo pra eles se tornarem membros, eles tem que fazer algum curso, como é
que funciona?
6r. Entrevistada: Tem. No caso, se ele não vem de uma igreja em célula. Ele vai fazer o
'ABC' de célula. Pra saber o que é uma célula. Porque tem muita gente que acha que a
célula é um clube. Porque a gente faz aquilo tudo e depois a gente vai lanchar. Mas não é.
O objetivo da célula não é só esse. Como o pastor Juarez fala. Você tem cinco 'Es'. O último
é o engorda, tudo bem, a gente tem que ter, é a comunhão. Tem a parte do pão e aquelas
coisas todas. Mas quando eles vem tem que saber o que é célula. Como que funciona a
célula. Porque tem gente que chega e fala assim: “agora vamos fazer a exaltação”. Não. A
célula tem um processo que não precisa haver quebra nos 'Es'. As coisas acontecem
naturalmente, naquela sequência que ninguém ao ver, que 'tá chegando de fora, não percebe
que existe o passo a passo pra célula acontecer.
683

7p. Entrevistador: Qual é a dinâmica da célula em relação à cuidado mútuo. As células


se encontram uma vez por semana?
7r. Entrevistada: É. Uma vez por semana. Nós temo o pacto da célula, que toda pessoa
que chega. Quando começa a surgirem pessoas novas, a gente dá uma repassada. Que são
dez passos, biblicamente falando sobre a mutualidade, sobre o compromisso, sobre a
transparência. Então a gente procura trabalhar esses dez itens do pacto. Eu nem gosto de
falar de pacto, porque tem gente que associa pacto a outra coisa. É uma, são regras de como
funciona a célula. Como a transparência, socorrer aquele que 'tá precisando, então a gente
faz tudo, explica como é que funciona. Pega a Bíblia, mostra o que é bíblico. Não é nada
inventado pelo homem. E daí a gente faz a coisa acontecer. Quando alguém 'tá muito
isolado, vivendo um problema sozinho. Eu falo: '”Epa!. O que é isso? Você não faz parte
da minha célula? Então eu preciso saber o que que 'tá acontecendo com você”. Quando a
pessoa é muito fechada. E tem pessoas que já se abrem naturalmente, e a gente fica sabendo
e a gente procura ajudar, dentro das possibilidades e necessidades também. Então a gente
trabalha dessa forma. Quando 'tá enfermo a gente acompanha. Se 'tá numa festa a gente vai
na festa. Se 'ta passando um problema conjugal a gente, eu e o meu marido, a gente vai
atrás, vai conversar. Então, e acho que a célula é aprendizado pra, em todas as áreas. Todos
os lados. Problema financeiro, agora nós estamos lidando com uma situação muito linda.
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Que Deus está fazendo uma obra assim, tremenda, talvez não sei se meu marido vai tocar.
Que a gente 'tá, ajudando um casal já, mais velho do que nós a botar a vida financeira em
ordem. Então eu acho que a célula é tudo isso. A célula é uma igreja na verdade. Só, que
pequena. E eu acho que a função do líder é essa. De acompanhar como se fosse um pastor.
Orientar, até exortar se for necessário a gente faz. Mas tudo dentro da Palavra e com amor.
Isso a gente não pode fugir.

8p. Entrevistador: E qual a preocupação da célula com a sociedade, com os problemas


sociais?
8r. Entrevistada: A gente pastor. O que a gente faz é orar. Eu oriento muito as minhas,
meus meninos, que nós não podemos entrar nessa, nessas manifestações, porque a Palavra
de Deus é muito clara quando diz que nós devemos orar pelas nossas autoridades e tê-las
como pessoas colocadas ali por Deus. Então não vamos nos rebelar contra isso. Se fomos
nós que votamos ou não. Vamos entregar nas mãos do nosso Deus. Então eu sempre
oriento. “Gente, eu não quero saber”. Outro dia eu vi no 'face' uma pessoa lá, falando essas
coisas. Aí eu falei: “menos hein”. Menos porque nós não podemos ir contra as nossas
autoridades. O que a gente tem que fazer? Orar por eles, orar pela nossa nação, mas não
nos envolver como as pessoas estão se envolvendo. Isso aí eu não faço e sou criteriosa
mesmo quando vejo alguém querendo fazer.

9p. Entrevistador: E a questão da participação da célula pra transformar a sociedade,


pra melhorar a situação das pessoas?
9r. Entrevistada: É aquele caso. Você está sempre olhando pra fora, olhando pra
necessidade, olhando pras dificuldades. A célula não tem que olhar pra dentro assim como
a igreja não. Nós temos sempre 'tá com nossos olhos voltados lá pras pessoas que não
conhecem a Cristo. Porque Cristo é a solução. Então nós temos que voltar os nossos olhos
pra fora. Porque entre nós está muito bom. Vamos armar uma tendinha aqui e vamos ficar
aqui 'tá bom demais. Mas a nossa preocupação é essa. Até lançamos um desafio. Pelo
684

menos, durante um, todo mês eu quero ver se a gente leva dois visitantes, pelo menos. Pra
não ficar naquela coisa.

10p. Entrevistador: E pode levar visitantes assim, quanto quiser?


10r. Entrevistada: Pode. A gente dá um jeito. A gente fecha a porta e bota todo mundo lá
dentro. Se chegarem quatro ou cinco de uma vez, não tem problema.

11p. Entrevistador: Como é que você classificaria sua igreja hoje? Como é que você
caracterizaria a sua igreja hoje?
11r. Entrevistada: Eu vejo a minha igreja. Esses dias eu 'tava falando com meu marido,
não sei se eu vou conseguir me expressar. Que a gente recebe aqui. Nós sempre, nós
chegamos aqui e encontramos um banquete pronto. Eu falo que nós temos recebido o
melhor de Deus. Por isso que eu incentivo as pessoas. Escola bíblica. Culto de manhã.
Culto à noite. Só com quem é certo que não pode vir. Porque a Palavra, ela é
transformadora. Depois que ela disse a célula. Eu falei: “Gente, não façam da célula uma
igreja. Nós somos uma igreja, porque estamos aqui reunidos em torno de Cristo”. Mas a
igreja, como comunhão de todos é, sem sombra de dúvidas, o melhor lugar para nós
estarmos. Então eu digo que nós temos recebido o melhor de Deus aqui na igreja. Eu falo :
“meu Deus, eu já passei por três igrejas, mas eu, quando eu entro aqui, eu sei que vou sair
daqui saciada”.
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12p. Entrevistador: E qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem célula e
uma que não tem célula?
12r. Entrevistada: Não sei pastor, porque eu nunca, eu vim de uma igreja muito pequena.
Que tinha aqueles cultos nos lares. Que iam a cem membros, e uns dez gatinho pingado lá.
As pessoas não tinham aquele compromisso de ir. Já a igreja em célula, as pessoas tem
aquele compromisso. Se eles não vão, eles dão uma ligadinha, 'ah fulano, hoje eu não vou,
porque por isso e por aquilo, entendeu? Porque a gente fala: “gente, oh, viagem, doença,
trabalho. Preguiça, não tem lugar”. Então, eu creio que a igreja tem sido abençoada por
isso. Porque a gente tem provado o que nós aprendemos para passar pros nossos liderados.

13p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


13r. Entrevistada: Não. Só agradecer a Deus por tudo que Ele tem me dado. Minha célula
tem se multiplicado com muita frequência. E eu creio que a honra e glória é do Senhor.
Porque todo mundo quer é isso. A gente quer ser instrumento de bênção.

14p. Entrevistador: Amém.


14r. Entrevistada: Não importa se tem trinta, se tem dez, se tem cinco. O importante é que
a gente 'tá ali a serviço do Mestre.

15p. Entrevistador: ok.


685

FUNÇÃO: Líder SEXO: Masculino DATA: 04/04/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
69 anos Jardim Camburi PIBJC 93

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre célula, sobre pequenos grupos. Então,
gostaria que você começasse falando sobre sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: Olha, não só a minha, mas a minha e da minha família. Ela, existe desde
que nós nos convertemos. Embora nós não conhecêssemos a palavra célula. Mas, como
éramos igrejas pequenas, nós tínhamos o nome de encontro nos lares. Ou seja, isto era feito
semanalmente. Então é uma coisa que nós, desde a nossa conversão, ela existiu pra nós. Só
que aqui, de uma forma um pouco diferente. Célula é como se fosse um pastoreio. Ou seja,
você é responsável por pequenos grupos. Então, isso tem sido ao longo desses dez anos,
que nós estamos aqui, uma experiência muito grande, muito importante pra nossa vida.

2p. Entrevistador: Qual o impacto que a célula tem produzido na vida de vocês?
2r. Entrevistado: Principalmente na minha vida. Porque quando eu vim pra cá eu não
entendia a liderança de pequenos grupos como pastoreio. Então pra nós foi, é uma mudança
muito grande. Porque nós passamos a ser responsáveis diretos por pessoas. E isso causa um
impacto muito grande na nossa vida.
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3p. Entrevistador: E na igreja? Qual o impacto que a célula causa na igreja?


3r. Entrevistado: Olha, na igreja o impacto é maior. Porque quando a célula é uma célula
sadia, uma célula saudável, as pessoas se integram com facilidade. Porque nas igrejas
grandes, as pessoas não tem, assim, relacionamentos diretos. Conhecimentos diretos. E a
partir do momento que na célula, elas começam a se identificar, a gente começa a orientar
as pessoas, que elas devem se envolver, e não procurar ser envolvidas. Já vai fazer muita
diferença na vida delas.

4p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


4r. Entrevistado: Olha. Eu sempre entendi como objetivo da célula exatamente um corpo
saudável. Porque se um pequeno corpo, ele é saudável, o corpo maior, a tendência dele
também é ser saudável. Mesmo diante de problemas, dificuldades, situações que a
sociedade nos obriga a passar. Mas a gente pelo menos sabe que existem parceiros ao nosso
redor, que nos ajudam a vencer as situações e as dificuldades.

5p. Entrevistador: Qual o tipo de participação os membros da célula tem, tanto nos
encontros, como também no interregno, entre os encontros?
5r. Entrevistado: A participação maior que a gente entende, é o envolvimento e a
liberdade. E isso, nós como líderes, temos proporcionado. E às vezes, até certo ponto é
cobrado dos nossos liderados. Porque a gente sempre aprendeu que as coisas não podem
ficar soltas. E que as coisas de Deus elas tem que ser feitas com responsabilidade. E quando
nós transmitimos isso para os nossos liderados. Fica mais fácil das coisas acontecerem.

6p. Entrevistador: Eles têm espaço, por exemplo, nos encontros para compartilhar
sobre as suas vidas, seus problemas, suas realizações? Como é que funciona isso?
6r. Entrevistado: A liberdade é total. Inclusive, no ano passado, nós tivemos um casal,
que eles ficaram surpresos e admirados com a forma que nós, que eles viram o
envolvimento e a liberdade e o compromisso e o comprometimento dos membros da célula.
686

Porque eles disseram pra nós que eles nunca tinham visto coisa igual. Ou seja, as pessoas
com liberdade pra poder contar, abrir as suas vidas, e eles disseram, que é provável que
eles tivessem aquela confiabilidade. E realmente, se afastaram, se ausentaram. Ficaram
pouco tempo com a célula. Porque eles acharam que aquilo era coisa que não existia. (risos)

7p. Entrevistador: E com as pessoas de fora. Qual a preocupação da célula com os


problemas que a sociedade enfrenta? O que a célula tem feito pra transformar essa
sociedade?
7r. Entrevistado: Olha. Eu e _____, principalmente como líderes, nós temos dito pras
pessoas que o importante é nós estarmos envolvidos e conhecendo. Porque se nós
estivermos conhecendo a situação, fica muito mais fácil de nós vencermos as dificuldades.
Porque as pessoas que vivem alienadas, diante da situação do país. Essas pessoas são mais
fáceis de ser levadas por qualquer doutrina, por qualquer ensinamento. E aí se envolvem
com tantas coisas que termina chegando no outro extremo. Então a gente procura orientar
que nós somos parte de um corpo e que este corpo tem que, às vezes, sofrer influência da
sociedade, do mundo, do governo, mas que o nosso comportamento não pode ser igual.
Tem que ser um comportamento diferente.

8p. Entrevistador: E, com relação à igreja de um modo geral. Você vê algum perigo,
a existência da célula representa algum perigo pra igreja?
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8r. Entrevistado: Eu, particularmente, não vejo como um perigo. Embora a gente saiba
que existe muitas pessoas que usam esta liberdade, para transformar em situações de perigo.
Mas eu, particularmente, não vejo dessa forma. Nunca vi dessa forma. Porque o mundo diz
que nós somos produtos do meio. Mas nós é quem formamos, na minha opinião, no meu
conceito, nós é quem formamos o meio em que nós queremos estar. Porque se ele não for
agradável e se não for bom, como é a vontade de Deus. Ali não é um bom lugar.

9p. Entrevistador: Qual seria a maneira que você classificaria ou caracterizaria a sua
igreja hoje?
9r. Entrevistado: A minha opinião sobre a minha igreja, sobre a nossa igreja é a melhor
possível. Porque as igrejas por onde eu passei, nós praticamente ajudamos a construir essas
igrejas desde a sua base, desde a sua fundação, até onde elas se encontram hoje. E aqui não,
aqui nós já encontramos um prato feito. É totalmente diferente quando você encontra um
prato feito e você passa a ser um integrante para melhorar aquele prato pras outras pessoas
que chegam. É muito diferente de você ter que começar do nada, do zero, que é como foi a
nossa história.

10p. Entrevistador: E como é que as células interferem no funcionamento da igreja,


na configuração da igreja?
10r. Entrevistado: Essa semana aconteceu um fato interessante. Uma das nossas, uma
família da nossa célula que mora lá em ______ e que nós estamos preparando pra ser nossos
futuros líderes, de outros grupos, né? Eles são, assim, pessoas comprometidas ao máximo.
Então nós estávamos assistindo a fita, ao vídeo, que foi o que aconteceu essa semana, e o
pastor Marcelo que é o nosso pastor de rede, ele foi fazer uma visita. Então a esposa desse
rapaz, a _____, ela falou assim: "Eu já cumprimentei todos os pastores da nossa igreja. O
pastor Juarez, o pastor Aederson, o pastor Andriele. Esse pastor aqui eu não tive a
oportunidade". Aí eu cheguei perto do pastor Carlos Marcelo e falei assim: "Pastor Carlos
Marcelo, a sua ovelha quer lhe dar um abraço". Quando eu falei que ela queria dar um
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abraço nele, você precisava ver. Ela ficou assim, quando as pessoas ficam admiradas e
ficam surpresas, ou seja, ela mudou completamente. E aí ele disse: "Então 'tá bom". Aí ele
tava fazendo o alimento junto com a gente. Ela deu um abraço nele, parece que a mulher
mudou completamente a partir daquele instante, que deu um simples abraço no pastor.
Então são estas coisas tão pequenas que para nós tem valor e um significado muito grande,
ou seja, o entrosamento, o amor, o relacionamento, igreja, pastor, ovelhas, é essencial para
que as coisas fluam da melhor forma possível.

11p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
11r. Entrevistado: Não. A única coisa que eu gostaria de falar sobre célula, e sobre
qualquer coisa que nós fizermos para Deus, é que a gente precisa aprender a fazer as coisas
principalmente no temor de Deus, porque se nós tivermos temor, daquilo que nós estamos
fazendo, o Senhor vai nos abençoar e nós seremos sempre bem sucedidos.

12p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 21/04/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
67 anos Jardim Camburi PIBJC 94
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1p. Entrevistador: Vamos falar sobre pequenos grupos. E gostaria que você falasse
sobre sua experiência com pequenos grupos.
1r. Entrevistado: Eu considero a forma mais fantástica que a igreja pensou ou buscou
dentro da Palavra, porque desde o início do cristianismo, ele foi feito em pequenos grupos,
pra aplicar na igreja. Porque eu tenho uma... Eu falo isso inclusive com as pessoas com as
quais eu falo sobre Cristo, que a nossa igreja é em células porque os grupos fazem com que
você possa conversar discutir o sermão do final de semana principalmente, que você não
tem como discutir com o pastor que 'tá lá na frente falando. Porque ele, nem sempre ele
fala alguma coisa que você entende ou que você alcança o que ele quer dizer. Então você
teria que falar: "Pastor, um minutinho. O senhor pode dizer por que é isso assim, assim e
assim?". Então você não tem essa liberdade num culto, numa missa, o que for, de falar.
Então o que esse grupo faz? Ele possibilita que os irmãos tirem as suas dúvidas, esclareçam,
e um orienta o outro, ajuda o outro. Isso no lado espiritual, no lado de Deus. Fora o lado
que você deixa de ser mais um dentro da igreja. Você passa a fazer efetivamente parte do
corpo, porque você se identifica um com o outro, você procura sentar perto do irmão na
igreja, nos cultos, você 'tá sempre em contato, procurando 'tá em contato com o irmão, há
um congraçamento muito grande, você acaba se envolvendo com o outro irmão de uma
forma mais emocional.

2p. Entrevistador: Você fazia parte da igreja antes da igreja começar com os pequenos
grupos?
2r. Entrevistado: Não. Eu nasci num lar cristão. Quando eu nasci meu pai era presbítero
da _____. Pastor _____. E meu pai morreu presbítero. Só que eu aos dezoito anos me
afastei, o que acontece muito. E aí vim voltar aos cinquenta e poucos anos, depois de muita
cabeçada. Não fiz nada de errado, assim, que pudesse manchar o nome, mas é o mundo, o
jogo, a bebida, Frequentando lugares às vezes até meretrício. Então quer dizer, você... O
que você como cristão realmente, como consta das responsabilidades nos passos de Cristo,
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você não pode fazer. Mas a minha mãe era... É uma santa, porque 'tá lá em cima, tenho
certeza, e ela 'tá vibrando porque ela orou a vida inteira pela minha vida.

3p. Entrevistador: Você acompanhou, de qualquer maneira, igrejas que não tinham
pequeno grupo.
3r. Entrevistado: Sempre. Sim.

4p. Entrevistador: E agora está acompanhando a igreja aqui.


4r. Entrevistado: Uma diferença brutal.

5p. Entrevistador: Qual seria essa diferença?


5r. Entrevistado: É aquilo que eu falei. Você se identifica mais com os membros, você
passa a participar mais efetivamente da membresia da igreja. Você passa a conhecer mais
gente, não só de olhar, não só de falar "boa noite". Não, você vai e abraça o irmão. Você
faz: "ei". Você chega na igreja, você faz... Você tem um que foi da sua célula anterior, você
tem a turma da sua célula que 'tá ali, você vai lá abraça, um vem te abraça, então há um
congraçamento muito maior. E aquilo que eu falei, a diferença é que você realmente passa,
se você principalmente quiser você passa a estudar a Bíblia muito mais quando é feito em
grupo. Porque você toda semana, além dos cultos que você vai, dos cursos que você
frequenta na igreja, você tem como... Agora mesmo tem reunião da célula. Eu 'to levando
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aqui o que nós conversamos do culto, o resumo do culto pra poder conversar com os irmãos
lá, na hora que alguém for falar que eu não sei quem vai falar hoje, pra gente poder discutir
os pontos que eu achei que valeriam a pena. Então a gente... Há um envolvimento maior
nas coisas de Cristo, da igreja.

6p. Entrevistador: Qual a relação...


6r. Entrevistado: Não sei se eu 'to sendo longo.

7p. Entrevistador: Não, tudo bem. Qual a relação que você vê entre o pequeno grupo,
entre a célula, e a comunhão entre os irmãos?
7r. Entrevistado: Olha, eu acho que a relação é muito maior do que quando não se tem os
pequenos grupos.

8p. Entrevistador: Sim


8r. Entrevistado: Porque você, aquilo que eu falei, você há um congraçamento, um
entrelaçamento de ideias, de emoções, de pessoas que se gostam e que às vezes você não
tendo, não participando dos pequenos grupos, você não tem condições de estar com esses
irmãos no dia a dia, mais amiúde.

9p. Entrevistador: Como é que os membros do pequeno grupo, os membros da célula


se relacionam entre os encontros, entre um encontro e outro? Qual o tipo de vínculo
que é criado aí entre os membros do grupo?
9r. Entrevistado: A gente se... Normalmente cada um do grupo tem um parceiro que você
se encontra durante o outro dia da semana. E a gente tem, você realmente tem contatos,
você procura fazer contatos. O seu irmão... Se você percebeu que o irmão 'tá triste no dia
da célula ou no culto, você liga pra ele: "Oh, irmão, o que houve? Eu senti você preocupado,
vamos orar". Há uma preocupação em ajudar o irmão a se encontrar, a se...
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10p. Entrevistador: E qual a preocupação do grupo com relação à sociedade de um


modo geral? Os problemas sociais, qual a preocupação que o grupo tem?
10r. Entrevistado: Se discute. Como se discute na igreja, como se discute em outras... Em
outras áreas. E isso por enquanto não é motivo de decisões, de atitudes, que o grupo toma
em função das outras áreas sociais. A gente se fecha mais na parte espiritual, na parte do
congraçamento da própria igreja, e as pessoas que você vai trazer. A preocupação do ide,
uma das funções da célula é trazer mais membros. Então, eu tinha feito até uma proposta
na última célula, que nós deveríamos ter como se fosse uma obrigação e um castigo, que
cada membro tem a obrigação de trazer, por mês, um novo convidado pra célula. Se não
pode ser nessa célula, tem célula toda semana, é na próxima. Você tem a obrigação de
trabalhar pra trazer um. Se não trouxer, você não... Ninguém vai te castigar, mas você tem
essa obrigação, essa preocupação em trazer. Porque essa é a nossa função. E eu acho que é
uma das funções da célula também.

11p. Entrevistador: E qual a influência que o pequeno grupo casou na igreja, tanto
na celebração como também da maneira da igreja funcionar como igreja?
11r. Entrevistado: Impacto total. A mudança radical. Eu participei de cultos na minha
infância e adolescência, e a gente conhecia porque meu pai era ativo dentro da igreja, a
gente era criança e tal, conhece todo mundo e tal, e adolescente, fazia parte da liga juvenil,
mocidade, coro. Eu cantei em coro da igreja, canto. E a gente... Mas você sente que é
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diferente, a célula. Você fala pequeno grupo, eu falo célula, mas os pequenos grupos, eles
ajudam a... Eu acho que o próprio avivamento da igreja tem melhorado. Porque a gente,
você vai encontrando a pessoa que pensa diferente, uma que é um pouco mais avivado.
Você encontrar um irmão mais avivado num grupo de quinhentos, você, muitas vezes você
passa dez anos e não consegue tirar dele alguma coisa do avivamento dele. Mas num grupo
de cinco, de seis, de sete, de oito, automaticamente você vai sentir o que ele... O que ele
pensa, o que que ele faz, o que ele pode transmitir pra você. Então isso tem ajudado muito.

12p. Entrevistador: Como é que você classificaria a sua igreja hoje? Ou como é que
você descreveria a sua igreja hoje?
12r. Entrevistado: Em ascensão enorme, em busca de um avivamento. Eu acho que o
pastor 'tá com a visão de a igreja mais avivada, inclusive o culto dessa semana foi sobre
avivamento, a célula hoje é sobre avivamento, nós vamos falar sobre avivamento. Porque
sem ele a igreja murcha. E nós... Eu lembro de um hino pequeno que a gente cantava muito
na nossa igreja, que não faz parte do culto. Eu sempre canto em casa com a minha mulher,
venho no carro, é: "vem visita a tua igreja, oh bendito salvador. Sem tua graça ela murcha,
ficará sem vigor. Vem visita". Então, o avivamento faz com que o Senhor visite mais a
igreja, porque você chama mais ele pra ficar junto. Então nossa igreja 'tá partindo pra esse
caminho, eu 'to muito feliz. Porque eu não sou pentecostal, não tenho ideia pentecostal,
mas eu tenho a ideia do avivamento. Eu acho que a gente tem que ser mais firme, ser mais
intrépido, ter mais intrepidez. Porque eu busco isso no meu ambiente de trabalho, que é
conturbadíssimo e eu 'to sempre falando de Cristo.

13p. Entrevistador: Muito bom. Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
13r. Entrevistado: Gostaria de dizer que minha célula é uma benção na minha vida e da
minha família. Meus filhos não são, infelizmente no período que passei fora da igreja, eu
passei... Meus filhos nasceram. Então eles nasceram no mundo e nós não nos preocupamos
em dizer pra eles sobre Cristo, eles cresceram fora. Quando nós aceitamos, eles não
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aceitaram. Mas nós temos consciência de que tem a promessa de que aceitando Cristo como
Salvador, sua família estará salva. Então nós aceitamos a promessa, cremos nela e
reivindicamos do Senhor essa... O cumprimento dessa promessa pra nossa família. E a
célula do meu neto, esse jovenzinho aí, ele hoje, o pai e a mãe 'tão lá no... Em farra e tal,
ele 'tá aqui, veio pra cá, porque ele faz questão de ir à célula. Então, quer dizer já 'tá... E aí
já 'tá sendo colocado nele a sementinha pra falar: "mamãe, vem pra célula". Ele já falou
assim: "quero fazer uma reunião de célula lá em casa". Então olha como é que são as coisas.
Então a célula realmente é uma benção na nossa vida.

14p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 21/04/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
64 anos Jardim Camburi PIBJC 95

1p. Entrevistador: Nós vamos falar sobre célula, sobre pequenos grupos. Eu queria
que você falasse um pouquinho sobre a sua experiência com os pequenos grupos.
1r. Entrevistada: Eu acho, assim, que a célula é muito importante pra vida de cada uma
das pessoas que participam. Eu sempre fui uma pessoa muito introspectiva e com muito
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poucos relacionamentos na minha vida até me converter. E me converti na igreja ____, lá


em ______. Lá também já participávamos de célula. Mas verdadeiramente aqui na célula
da Igreja Batista eu continuei a fazer o discipulado, é que entendi realmente assim o sentido.
Na célula você, além de crescer espiritualmente, porque você, a cada vez que você vai na
célula, você se alimenta com a Palavra, você se edifica e edifica o irmão. E você se sente
muito bem. Porque na célula você tem pessoas em quem você pode confiar. Como nós
falamos: com quem você pode chorar e com quem você pode sorrir.

2p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


2r. Entrevistada: A célula, o objetivo não é apenas o de se reunir. Nosso principal objetivo
é, além de orarmos uns pelos outros, ajudarmos uns aos outros, o principal é o ide. É você
sair, conseguir novas pessoas pra levar à célula. Depois acompanhar essa pessoa pra levá-
la ao batismo. Levá-la a conhecer a Jesus. Esse é o principal motivo da célula.

3p. Entrevistador: E como é que vocês fazem esse trabalho de buscar novas pessoas?
3r. Entrevistada: Olha, nós temos a liderança. No caso a liderança é ___. O pessoal chama
ele de ____ Nós não temos da nossa célula um, vamos dizer assim, um traçado, um sistema
que você segue, indicado pela liderança, não. É muito conversado dentro da célula que é
importante, que você tem que se relacionar com as pessoas, procurar se relacionar com seus
vizinhos, aonde você estiver, no seu trabalho, nas escolas, onde as pessoas estudam. E fazer
essa aproximação, conquistar a confiança, mostrar que você faz alguma diferença, dá o seu
testemunho de vida, como você se comporta no dia a dia, e demonstrar a essa pessoa como
Jesus é importante na sua vida, como ele transforma a vida das pessoas. Então praticamente
é dentro desse contexto aí que nós procuramos funcionar e agir.

4p. Entrevistador: E qual a relação que você entre a célula e comunhão? Entre os
membros.
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4r. Entrevistada: Entre os membros? Eu acho que total, porque nesse encontro você tem
a oportunidade justamente de conversar, de dividir, tudo que você tem que você passa
durante a semana, você tem a oportunidade da comunhão espiritual, que é mais importante
ainda. E nós temos, por ser um número menor de pessoas, essa oportunidade. Numa igreja
grande como a nossa, como talvez até a do senhor que já tem mais membros, você não
consegue conversar, você num consegue se aproximar muito das pessoas, de ter intimidade,
de se relacionar. E na célula você consegue isso.

5p. Entrevistador: Você disse que célula também... Na célula também uns cuidam dos
outros. Como é que acontece isso?
5r. Entrevistada: A liderança sempre deixa em aberto e fala pra todas as pessoas que
participam que nós temos esse cuidado um com os outros. Que você sentindo algum... Se
você tem algum determinado tipo de dificuldade, você leva pra célula, você vai à liderança,
você conversa e aí é conversado com as pessoas, e o que for necessário vai ser feito.

6p. Entrevistador: Que tipo de contato existe entre os membros da célula ao longo da
semana, entre os encontros?
6r. Entrevistada: Se eu falar que é muito contato... Não é. Não existe um contato, uma
aproximação muito grande durante a semana. O contato que nós temos é na igreja, na célula
e através de telefone.
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7p. Entrevistador: Mas há uma preocupação uns com os outros.


7r. Entrevistada: Há uma preocupação. Se você tiver necessidade, você liga pra liderança,
a liderança pro outro. E fazemos também alguns encontros fora a célula, que são os
encontros pra você realmente haver essa comunhão, aí se tornaria mais um encontro social.
Apesar de haver uma oração, de você normalmente as conversas giram em torno disso, mas
tem as reuniões que são mais sociais. Mas não são assim, constantes, não.

8p. Entrevistador: E qual a preocupação do grupo com a sociedade de um modo


geral? Com os problemas que essa sociedade enfrenta?
8r. Entrevistada: Vou ver como eu vou colocar. Nós sabemos que no mundo, de modo
geral, está muito difícil. Sempre que possível, dentro do contexto, até mesmo nas
mensagens que são pregadas no domingo, que são levadas pra célula, nós procuramos
colocar isso pra célula. Mostrando as dificuldades que estão existindo. E que o nosso
comportamento deve ser de acordo com a Palavra de Deus, pra enfrentar essas situações.
Nós não podemos nos envolver com esses problemas da maneira normal que o mundo se
comporta.

9p. Entrevistador: Qual a influência que a célula tem trazido pra igreja?
9r. Entrevistada: Pra igreja de modo geral?

10p. Entrevistador: É. Na maneira de adorar a Deus, na maneira de funcionar como


igreja.
10r. Entrevistada: Eu acho que há uma consciência mais real de que Deus é um Deus
mais... É um Deus presente. Que hoje nós temos condição de estar perto de Deus, podendo
nos achegar a ele, sabendo que Jesus nos deu essa aproximação. E a célula fala muito nisso.
Nos traz muito essa consciência e isso é levado pra igreja também.
692

11p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


11r. Entrevistada: A nossa igreja? Oh, a nossa igreja é uma igreja que ela está buscando
cada vez mais ter uma proximidade com a comunidade. É uma igreja aberta pra
comunidade. Porque nós sempre temos visto e a mensagem do nosso pastor pra nós que
participamos, somos ovelha, somos o rebanho, nós não devemos ficar presos entre quatro
paredes. Devemos participar sim, lá fora. A igreja tem que ser voltada pra parte externa,
que é onde estão as pessoas que precisam de nós. É uma igreja que está sempre procurando
ir pra esse caminho através de missões, através de pessoas, grupos, da célula mesmo que
se organizam. Pra ir em busca dessas pessoas que estão fora da igreja. É uma igreja que se
preocupa muito com isso.

12p. Entrevistador: Muito bem. Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre
célula?
12r. Entrevistada: Eu acho que célula é muito importante. Todas as igrejas deveriam optar
por célula, justamente por isso. Porque traz comunhão, traz integração, traz um
fortalecimento entre os grupos. E que isso não pode acontecer na igreja, só aos domingos,
ou só nas escolas bíblicas. Fortalece muito. Faz com que você conheça mais os seus irmãos.
E se você tiver necessidade, você pode procurar esses irmãos antes de você ir até o pastor.
Você tem a quem recorrer. Se não tiver jeito, aí vamos ao nosso pastor. Mas nós temos a
célula que nos dá esse suporte, que nos fortalece e que nos ajuda.
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13p. Entrevistador: Muito obrigado.

FUNÇÃO: Líder SEXO: Feminino DATA: 25/04/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
54 anos Jardim Camburi PIBJC 96

1p. Entrevistador: Nós vamos conversar sobre pequenos grupos e eu queria que você
começasse falando sobre a sua experiência com pequeno grupo, com célula.
1r. Entrevistada: Com pequeno grupo. Quando a gente chegou aqui em Jardim Camburi
tinha os núcleos de estudo bíblicos. Nós participávamos e tudo, nós chegamos aqui em
noventa e dois. Agora, desde dois mil e dois que a gente 'ta, dois mil e um, dois mil e dois,
se não falha a memória, que a gente 'tá trabalhando com células. Então, eu fiz o treinamento
que passou da primeira turma, que fez o treinamento lá em Belo Horizonte, no ano da
transição. Liderei uma célula no início, depois eu fui supervisora, e atualmente eu sou líder
de célula de novo.

2p. Entrevistador: O que mudou, na sua vida, a partir do momento que você passou
a experimentar célula?
2r. Entrevistada: É interessante que célula é uma metodologia. Mas é uma metodologia
que trabalha muito com os valores. E, a minha, o meu relacionamento com Deus, a minha
vida espiritual, a minha área devocional foi muito melhorada. A minha visão de que
evangelismo, do evangelismo relacional, de você trabalhar com relacionamentos.
Evangelizar pelo relacionamento. Isso também mudou muito a mina visão. Por ser formada
em ______ e ser ______ a gente tem muito aquela visão de que você tem que trabalhar na
igreja... E, esse valor de evangelismo no relacionamento foi uma coisa assim que abriu a
minha visão, pra trabalhar forte na questão de intencionalmente falar de Deus pras pessoas
693

do meu trabalho, inclusive. Então eu foco nessas duas áreas. A questão de evangelização
por relacionamento, por amizade, e a questão da minha vida devocional, que melhorou, não
digo cem pro cento, porque a gente sempre tem que melhorar, mas deu uma boa guinada.
E outra coisa também, outro valor, assim muito importante é a questão do relacionamento
na igreja. Dessa questão de que as pessoas são mais importantes do que as atividades, do
que a estrutura. Então, isso também, mexeu comigo.

3p. Entrevistador: E na igreja? Que tipo de impacto a célula produziu na vida da


igreja?
3r. Entrevistada: Hoje eu sinto que a igreja é muito mais amorosa. Preocupa muito mais
com as pessoas, eu 'tava até, fui fazer uma visita hoje e a irmã falou, que num momento
difícil ela sentou no banco, ela andando no calçadão, ela sentou no banco e ligou pra
companheira dela, dizendo: “eu não estou aguentando, ora por mim”. Então uma senhora
que já 'tá há muito tempo na igreja e que, numa estrutura que não fosse de relacionamento,
ela não teria liberdade pra falar isso, pra ligar pra companheira dela e falar isso. Então, eu
acho que a igreja, ela 'tá muito mais unida, no sentido de, sabe que tem alguém que pode
contar, que pode orar por ela. Então, eu acho que a principal preocupação das pessoas hoje
é realmente com relacionamento. Melhorar os relacionamentos, e sabe que tem o apoio no
grupo pequeno. Então, tem sido assim, muito legal isso, ver a igreja trabalhar nisso.
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4p. Entrevistador: Como é que você percebe a influência da célula, na configuração


da igreja? No funcionamento da igreja em termos mais estruturais?
4r. Entrevistada: A gente ainda, a nossa igreja, a gente ainda tem alguns problemas
principalmente com a questão de cultura. Mas ainda temos pessoas que vão pra célula e
acham que lá é um mini culto. Então trabalham como se fossem fazer uma pregação, uma
formalidade. Então, ainda há uma certa dificuldade das pessoas perceberem que a estrutura,
que o grupo pequeno, não é um grupo de estudo bíblico. É um grupo de relacionamento pra
aplicar a Bíblia. Então, eu acho que isso ainda não 'tá sendo muito bem trabalhado. E
estrutura da igreja, a igreja 'tá passando por uma reformulação pra que o que existe, por
exemplo, a escola dominical, seja pra atender às necessidades das pessoas. Então, há essa
preocupação, tem-se feito esse trabalho, mas ainda estamos a passos lentos. Da estrutura
atender às células. Porque, nosso sonho é ser uma igreja em célula e não com células. E a
gente diz, a gente é uma igreja em células, mas ainda faltam algumas questões na estrutura
pra isso. Mas é devagar, é gradativa essa mudança. E, porque ainda há muito assim, o coro
é o coro, então, tem as atividades do coro. E aí assim: '”Ah! Mas eu tenho célula”, mas aí
as pessoas ainda não sabem que o coro é pra atender às células. E aí, há ainda uma
competição em algumas atividades, com as atividades da célula e da estrutura da igreja.
Mas eu sinto que a igreja, ela 'tá caminhando pra uma, pra essa reestruturação aos
pouquinhos, gradativo. Mas a ideia é a estrutura da igreja atender às necessidades das
pessoas na célula através dos grupos pequenos. Então, tudo o que se for feito na igreja, tem
que ser através dos grupos. E ainda há certa sobreposição e aos pouquinhos a gente vai
trabalhando.

5p. Entrevistador: Qual é a relação que você vê entre o pequeno grupo, entre a célula
e comunhão?
5r. Entrevistada: Nós temos muitas células que o forte é a comunhão. E a célula ajuda
muito nisso. A minha filha, ela é supervisora de células. Ela começou com uma célula, hoje
ela supervisiona cinco células. Que saiu dessa célula. E eu vejo que há uma comunhão
694

muito grande entre eles. Eles têm atividades, se deixar é todo dia. Eu disse: “Ai que pique.
Eu já não tenho mais esse pique”. Mas, há grupos, pela idade, pela faixa etária, que eles,
essa comunhão é muito forte. Há uma relação muito forte nisso, porque a ênfase é nas
pessoas. E as células, por exemplo, a minha célula, nós temos um grupo, no watsapp, que
a gente troca motivos de oração. A gente usa o email e tudo. Mas não há tanto essa
comunhão assim, de ficar sempre fazendo atividades extras e tudo mais. Mas quando a
gente se encontra, há aquele relacionamento mais estreito, mais íntimo. Então, eu acho que
célula e comunhão tem tudo a ver.

6p. Entrevistador: Além de comunhão, quais seriam os outros objetivos de célula? De


uma célula, ou da existência da célula?
6r. Entrevistada: A célula hoje, ela, a célula, existe pra fortalecer a comunhão, para a
questão de trabalhar os relacionamentos, para evangelização. Relacionamento intencional.
E, comunhão não apenas com as pessoas com Deus. Porque a gente às vezes enfatiza muito
a vida devocional, quarto de escuta. Então é a comunhão com Deus, o relacionamento com
as pessoas, comunhão com as pessoas, a questão do evangelismo por relacionamento e a
questão também de treinamento do serviço. Pra você descobrir o seu dom, a sua área de
você servir ao outro. Não apenas na igreja, mas no dia a dia. Então é você servir ao seu
vizinho, ao seu colega de trabalho. Então a gente trabalha, procura através da aplicação da
Palavra de Deus na vida, do que foi conversado no culto, trabalhar com as pessoa pra que
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elas cresçam nessas áreas. Do relacionamento que a gente diz que é pra cima,
relacionamento com Deus. Pra fora, é relacionamento com as outras pessoas. Pra dentro é
edificação, no quarto de escuta, devocional. Pra dentro é relacionamento com os irmãos.
Comunhão. E também pra frente, que é no sentido de liderança. Então, há esse objetivo
também de que as pessoas, elas dirijam louvor, dirijam a edificação e tem o caderno de
oração, as crianças. Então a gente distribui as tarefas na forma de estar treinando as pessoas
para o serviço.

7p. Entrevistador: Quando você diz pra fora, qual a preocupação que a célula tem,
com a sociedade de um modo geral, nos problemas sociais. Que tipo de iniciativa as
células tem tido para contribuir com a transformação da sociedade?
7r. Entrevistada: A gente, aqui na igreja nós temos a estação alcançar. Então, durante essa
estação alcançar, a gente faz visitas à orfanatos, à asilos, às vezes a gente faz campanha de
roupas, doação de roupas e tudo. Mas a nossa atuação não é só durante a estação alcançar.
Que são três meses no ano, ou quatro. Três, quatro. Acho que são quatro meses no ano. Há
uma, aquela preocupação com você apoiar as pessoas relacionadas à célula. Por exemplo.
Se tiver alguém no hospital, a célula se reveza pra fazer, a visita, pra ficar acompanhando.
Há casos assim de você ajudar financeiramente. É uma conta de luz. Já tivemos histórias
disso, de quando a pessoa 'tá desempregada. Então, há aquela preocupação em ajudar quem
está na célula e as pessoas envolvidas na célula. Mas há essa preocupação também de fazer
essa visita aos asilos, essas atividades que a gente chama... Atos de compaixão. Que a gente
é incentivado a fazer isso e a célula sempre faz. E nós tivemos até um grupo que foi na
antiga casa da esperança. E depois ficou contribuindo durante o ano todinho com leite, com
doações assim. Então, é uma...ação mais organizada, mais estruturada a partir do pequeno
grupo.

8p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja, a existência da célula?


695

8r. Entrevistada: Risco. (risos). Há sempre. Você mexe com pessoas, sempre há risco em
tudo. Nós temos o risco da liderança. Se a liderança não é bem treinada, bem trabalhada,
bem acompanhada, ela pode formar o próprio grupinho. As células podem se tornar
grupinhos fechados. Então, a maneira, o cuidado que a supervisão, de acompanhamento,
pra que isso não ocorra. Mas, isso pode ocorrer. As pessoas podem decepcionar. As pessoas
podem tomar outro rumo. Mas graças a Deus, aqui na igreja, a gente, bem poucas, bem
poucos problemas, desvios, vamos falar assim. Mas que existe, existe se você mexe com
gente. Mas, se o acompanhamento é feito, porque nós temos a reunião de liderança todo
mês, a idéia é que os supervisores se reúnam com os seus líderes quinzenalmente, não só
em grupo, mas individualmente. Então, há aquela ideia de você 'tá junto, de caminhar junto.
E muitas vezes nós temos alguns líderes que se sentem sozinhos, porque nem todo
supervisor faz esse acompanhamento, e há uma sobrecarga também. Um outro risco muito
grande é o da sobrecarga. Porque acontece isso também. Nós temos, de vez em quando
aparece aqueles líderes dizendo: “a gente quer uma folga, porque, já tem dez anos que a
gente 'tá liderando e a gente 'tá querendo sair um pouquinho”. Mas o legal é ver que eles
voltam. Nós já tivemos casos de líderes que deram um tempo, mas sentiram falta do liderar,
de estar junto. Então, risco eu acho que são minimizados. Agora uma coisa que eu tenho
percebido logo no início do processo. Começou a acontecer assim, surgirem, problemas.
Casais se separando, problemas, aí minha filha disse assim: “poxa, mas esse negócio de
célula só trouxe problema”. Não é que trouxe problema. É que agora as pessoas estavam
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tirando as máscaras. Então, os problemas sempre surgiram, sempre estavam ali. Mas com
a convivência, com a comunhão, o estar junto, com o acompanhamento, não teve mais
como a pessoa usar máscara. Então por isso é que, surgiram os problemas. Então, há o risco
disso também da coisa ficar escancarada. Mas é pra cura, é pra edificação, eu acho que nós
tivemos casos de pessoas que se afastaram, mas foi, acho que o benefício foi bem maior.

9p. Entrevistador: Que espaço o membro da célula tem pra abrir a vida dele, pra
compartilhar?
9r. Entrevistada: Nós temos a parceria. Então, ele tem o espaço de fazer como o que a
gente chama de dupla de oração. Como é que é? Companheiro de julgo, ou parceiro de
oração. Então ali é onde ele, a ideia é que eles tenham um encontro pra oração, regular,
semanalmente, mas em qualquer momento eles podem estar em contato. Temos, durante o
encontro da célula, muitas vezes a gente faz em duplas um momento de oração, na aplicação
das palavras, das perguntas, da aplicação da mensagem. Há também o que a gente chama
de oportunidade de treinamento, então nós temos alguns cursos, que as pessoas participam,
que tem a oportunidade de falar, os cursos de cura interior e tudo. Mas, na célula, eu vejo
muito a parceria e vejo muito no momento da edificação, no momento de oração. Quando
divide em duplas, há um contato com o líder também, porque o líder, a gente orienta os
líderes a fazerem contato quando alguém falta. E a gente trabalha, que essa questão de abrir
o coração, nem todo mundo vai abrir. Mas é um trabalho de convivência. Então, você
procurar que o grupo da célula esteja convivendo o mais possível, não apenas naquele
encontro semanal. A célula é um estilo de vida. Não é um encontro. Então, esse valor que
as pessoas precisam mudar. Muita gente acha que a célula é só o encontro lá na quarta feira
à noite e acabou. Mas não, célula é você, é estilo de vida. Você 'tá sempre fazendo contato,
telefonando. Então, as pessoas, muitas não querem. E por isso até se afastam da célula,
porque não querem abrir o coração. Mas a célula dá essa oportunidade por causa da
convivência, do relacionamento, da intimidade. Você conhecer mais o outro.
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10p. Entrevistador: Se você tivesse que convencer alguém pra fazer parte de uma
célula, qual argumento principal que você usaria?
10r. Entrevistada: Eu tenho uma colega de trabalho que eu 'tô tentando convencer ela a
trazer pra célula. (risos). Mas, na minha vida, a célula fez uma diferença muito grande nessa
questão de eu não me sentir sozinha. E, ser uma família realmente, alguém que se importa
com o outro. Então eu tenho procurado falar pra essa minha amiga, que o grupo da célula
é um grupo de amigos, que você pode se apoiar, pra você rir junto, chorar junto e é o modelo
que Jesus usou. Então, o principal argumento, ou um dos argumentos que eu uso, que se
você ler a Bíblia, você vê o que Jesus fez. Ele trabalhou com pequeno grupo. Ele convivia
com pequeno grupo dele. E, se eu quero seguir o exemplo de Jesus eu vou procurar viver
em célula pra que eu possa ser realmente aquilo. É muito difícil a gente realmente buscar
seguir, ser igual a Jesus. Sozinho então, a gente não vai conseguir. Mas a gente precisa de
um grupo, de um apoio, de 'tá junto, compartilhar. A idéia é compartilhar.

11p. Entrevistador: Como é que você caracteriza a sua igreja hoje?


11r. Entrevistada: Eu caracterizo uma igreja em pequenos grupos, em células, que está
buscando ser uma igreja grande, mas que se importa com cada um, através dos pequenos
grupos. Então, essa busca do novo espaço a gente, então, é uma igreja que tem buscado ao
Senhor, com mais intensidade, que tem buscado, no relacionamento, uma maior intimidade
com as pessoas, e nisso, crescendo com qualidade.
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12p. Entrevistador: Mais alguma coisa sobre célula?


12r. Entrevistada: Uma das preocupações que eu tenho como crente há muito tempo é a
questão do conhecimento bíblico. Eu acho que nós ainda não achamos o equilíbrio
necessário sobre isso. A gente tem incentivado a escola bíblica, mas a gente ainda não
alcançou isso. E o estudo bíblico que, na célula não é estudo bíblico, e o discipulado que
seria esse estudo bíblico, ainda não 'tá, então, uma das coisas que eu acho que a gente
precisa melhorar muito ainda, é essa questão do aprofundamento bíblico, da base bíblica,
do conhecimento bíblico, porque ainda não chegamos no ponto das pessoas virem pra
escola bíblica. Então a gente precisa, melhorar isso aí, porque, você não tem, na célula,
propriamente dito, oportunidade de aprofundamento bíblico, então você precisa dar essa
oportunidade pras pessoas. Mas as pessoas ainda não, "ah, só vou na célula e já 'ta bom,
não precisa ir na EBD". Então essa é uma das coisas a gente, que eu tenho estado
preocupada, a falta de embasamento, de aprofundamento bíblico das pessoas que 'tão
chegando pra igreja.

13p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


13r. Entrevistada: De nada.
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FUNÇÃO: Supervisora SEXO: Feminino DATA: 03/05/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
37anos Jardim Camburi PIBJC 97

1p. Entrevistador: Gostaria que você falasse sobre a sua experiência com pequenos
grupos.
1r. Entrevistada: Eu comecei no pequeno grupo em dois mil e um. Entrei no pequeno
grupo alguns meses, antes disso, porque a gente tem esse hábito, de fazer um discipulado
antes de levar pra célula. Antes disso eu participei de um discipulado. Aí depois, entrei na
célula, em dois mil e um, mas como eu já tinha uma experiência de conversão e de liderança
dentro da igreja, que eu acabei me afastando depois de uns anos. Um ano depois, o pastor
me chamou pra liderar uma célula. Então, desde então, desde dois mil e dois que eu 'tô
liderando célula.

2p. Entrevistador: Você conheceu igreja antes?


2r. Entrevistada: Antes da célula?

3p. Entrevistador: Da célula. E agora está vivenciando diretamente, igreja hoje depois
da célula. Qual mudança que você vê na igreja a partir da célula?
3r. Entrevistada: O cristão. Nós queremos muito ser parecidos com Jesus. E eu vejo que
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a gente quer, mas a gente encontra muitas dificuldades pra isso. E o meio, esse meio que a
gente vivia cristão sem as células, antigamente, era muito fácil se perder. Era muito fácil
você desgarrar. Não que hoje não aconteça. Acontece ainda. Mas o que acontecia naquela
época? Você passava a não vir aos cultos no domingo. Depois de algumas semanas, alguns
meses, um diácono entrava em contato com você, mas era um diácono que você não
conhecia, na maioria das vezes, uma pessoa que você só, normalmente, igual ao meu caso.
Que na época que eu era adolescente, jovem, uma pessoa bem mais velha que eu, não tinha
contato nenhum. Então, hoje não. Hoje na célula, o que acontece? Você convive toda
semana. Então, além de encontrar no domingo, você encontra toda semana com aquele
grupo. Um grupo ali de dez pessoas, doze pessoas. Um grupo próximo. Então, você 'tá
doente, você passa mal, você 'tá com um problema? Então, pra eles que você, é neles que
você vai encontrar o apoio e tal. Acontece de se afastar, de acontecer de brigar? Acontece,
porque onde tem gente, tem, mas diminuiu muito, eu acho o número de pessoas que se
afastam. Fora que você conhece muito mais a pessoa. Eu vejo por exemplo. Eu trabalho
com EBD. Então eu vejo muitos professores que dão aula no domingo. As pessoas olham
pro professor: “Ah, nossa gente, que vida, que!”, mas você vai ver, quem se conhece mesmo
a vida dele é a célula dele. E às vezes no domingo ele 'tá aqui falando um monte de coisa,
mas que ele não consegue viver no dia a dia dele. E aí as vezes ele acaba deixando porque?
No próprio grupo, ele vai percebendo que não 'tá legal. Que ele precisa de um ajuste e tudo
mais. E antigamente não era assim. A pessoa era uma no domingo. Não porque não
aconteça, porque acontecer sempre acontece. Mas hoje é mais difícil. A pessoa vive uma
realidade no domingo e outra realidade durante a semana.

4p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


4r. Entrevistada: Bom, o principal objetivo da célula é ser um, uma ferramenta, de ganhar
pessoas. Esse é o, acho que é o principal objetivo. Por quê? Pessoas que não aceitam a vir
na igreja tem algum tipo de preconceito, ou: “Ah! Não, eu já tenho a minha igreja, não
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quero ir à sua igreja”. Mas aceita o convite de ir na minha casa. E ali elas conhecem, elas
tem uma experiência ali, as vezes, com Cristo. Às vezes já são trabalhadas durante um bom
tempo, com alguém. Com uma pessoa que 'tá dentro da célula. E aquele amo que a pessoa
ali cativou é que faz estar ali. Então começa, às vezes, pela pessoa. O amor de pessoa, de
um para com o outro. Amor pessoal. E aí, depois, é chegando Jesus na história.

5p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula, pequeno grupo, e
comunhão?
5r. Entrevistada: É também, muito grande. Então, um segundo objetivo seria primeiro
ganhar pessoas. Segundo, comunhão e crescimento daqueles que já estão dentro da célula,
daqueles que fazem parte. Então, é pessoas novas, uma igreja grande como a nossa, por
exemplo, e outras também, não tão grandes. Você às vezes conhece ali, um grupinho, bem
pequeno, e na célula você vai conhecendo. E não conhecendo só superficialmente, você vai
conhecendo mais profundamente, de ir na casa, de comer junto, de fazer um churrasco
junto. De ir num parque junto. Então, você tem uma comunhão muito maior.

6p. Entrevistador: Como é que acontece o discipulado na célula?


6r. Entrevistada: Normalmente a gente divide duplas ou trios. Fazem juntos, ou um,
alguém faz com outra pessoa. Às vezes com uma maturidade um pouco maior faz com
outro que 'tá chegando.
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7p. Entrevistador: Qual o espaço de participação do membro da célula nos encontros


da célula?
7r. Entrevistada: Toda célula, nós temos momentos de adoração, momentos de leitura da
Palavra, momento de oração pelos perdidos, que a gente chama de evangelismo. E há, em
todas as células, uma escala, onde o membro da célula participa dessas atividades. Então
cada semana uma pessoa lidera um momento. Desde que ela tenha aceitado a Jesus ela 'tá
apta a fazer alguns desses momentos. E com as crianças também. Porque as crianças
também são envolvidas na célula.

8p. Entrevistador: Você vê algum risco pra igreja a existência da célula?


8r. Entrevistada: Olha, até hoje não vi pastor. Eu creio que, talvez haja quando a igreja
não 'tá bem estruturada. A liderança não é bem acompanhada. Aí, talvez sim haja algum
risco. Mas no caso de uma igreja onde a liderança 'tá sempre em contato com o pastor, você
tem o pastor, os supervisores e os líderes. Há um encontro permanente, um encontro
sistemático. Há um compartilhamento, porque você tem dos encontros, você tem um
encontro geral, com toda a liderança. Você como líder, tem o encontro pessoal com o seu
supervisor. Você tem uma célula de líderes, que a gente chama, que o supervisor reúne
todos os líderes que ele supervisiona, numa célula. Onde o líder ali pode abrir seu coração
e compartilhar. E você tem, às vezes encontros, do pastor individualmente com o líder,
quando necessário. Além disso, o pastor se encontra com todos os seus supervisores numa
célula e o pastor se encontra individualmente com seu supervisor. Então eu não vejo risco.
Como as pessoas falam que há o risco de rachar a igreja e tudo mais. Eu não vejo esses
riscos.

9p. Entrevistador: Essa célula de líderes, ela tem a mesma dinâmica da célula comum?
9r. Entrevistada: Sim. A única diferença é que o momento de edificação normalmente é
diferente do momento que as células estão fazendo naquela semana. Porque as nossas
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células, elas recebem uma carta com direcionamento do texto bíblico e o que vai ser
trabalhado ali na célula, de palavras, de perguntas, de questionamentos. E essas células de
líderes e supervisores normalmente recebem uma indicação e tal do que fazer. Mas
diferente daquilo que foi trabalhado durante a semana. Normalmente os pastores passam
para os supervisores.

10p. Entrevistador: Qual o impacto que a célula produziu na igreja, por exemplo, na
celebração?
10r. Entrevistada: Além do crescimento que a célula realmente produziu, no alcance
maior de pessoas, o envolvimento maior. As pessoas vão conhecendo mais pessoas. Porque
conforme as células vão multiplicando o grupo vai mudando. Então, cada ciclo de célula
você conhece duas, quatro, seis pessoas novas. E muda também a mentalidade do crente.
Porque ele não vai mais pra igreja pensando: “Ah! Vou mandar meu amigo conversar com
o pastor”. Ele leva o seu amigo pro culto. Ele leva os eu amigo pra célula. Ele 'tá no culto,
ele vê alguém diferente, ele convida pra sua célula. Então ele deixa de ser uma mero
espectador, pra passar a ser um ministro.

11p. Entrevistador: E na configuração da igreja? Pro funcionamento da igreja?


11r. Entrevistada: Como assim?
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12p. Entrevistador: Na maneira da igreja funcionar como igreja.


12r. Entrevistada: Mais saudável. Eu creio. Muito mais saudável.

13p. Entrevistador: Como é que você. Saudável em que sentido?


13r. Entrevistada: No sentido de atuação, de serviço, de entender o seu lugar no corpo.
Entender que você não é um espectador. Que você é um membro atuante. Entender o seu
papel de buscar outros, de ser um resgatador dentro do reino. Porque você não 'tá aqui:
“Ah! Eu recebi a salvação, ganhei um presente, é meu e pronto, e acabou”.

14p. Entrevistador: Como é que você caracterizaria a sua igreja hoje?


14r. Entrevistada: Muitos desafios ainda faltam, mas eu vejo que hoje a gente consegue
enxergar o modelo que a gente tinha antigamente. Eu acho que a gente não via o quão
doente a igreja estava. Então, ainda falta muito pra percorrer. Esse é o nosso ideal. Essa é
a nossa meta. Muitos já praticam, outros ainda não. Outros andaram um pedaço e ainda
falta um pouco mais, mas eu imagino que a gente esteja no caminho certo.

15p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


15r. Entrevistada: Eu gosto muito de ressaltar também pastor, a importância do
envolvimento das crianças e juniores na célula. A gente hoje não, a gente continua
trabalhando com coro infantil, coro de juniores, EBD, nada disso se perdeu. A EBD
acontece. Às vezes a EB, a gente faz um grupo de EBD da própria célula. Um grupo que já
se conhece monta um grupo de EBD. Nada disso se perdeu. A gente continua fazendo todas
essas coisas. Mas as próprias crianças, hoje se veem como evangelistas dentro da escola.
Se veem como parte do corpo. As crianças antes se sentiam fora do corpo. E hoje as crianças
atuam dentro da célula. A gente tem um momento que a gente chama de quebra gelo, que
as crianças podem participar. Então, as crianças fazem os quebra gelos, elas lideram. Elas
se sentem parte integrante importante. Há um momento familiar importante. Você não vê
só os adultos querendo ir pra igreja, querendo ir pra célula. Você vê toda a família querendo
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se envolver na célula. Então você vê a célula impactando famílias. Famílias impactando a


célula. E vice e versa. E assim também, por consequência, a igreja. Então isso é muito bom.

16p. Entrevistador: Qual a visão que a célula tem com relação a agir pra fora, pra
sociedade, na solução dos problemas sociais?
16r. Entrevistada: Também. As células se organizam, a gente trabalha dentro de todas as
células o exercício dos dons. E alguns desses dons dentro da célula, e outros são exercitados
fora das células, então, através de projetos sociais, através de ajuda, através de ajuda aos
próprios membros da célula. Porque às vezes nós temos famílias que 'tão passando por
dificuldade. Uma situação muito difícil. Antigamente a igreja tinha que atender. Hoje a
própria célula já se mobiliza pra ajudar essa família. Seja com emprego, conseguindo um
emprego. Seja indicando pra alguém. Seja consumindo algo que ela vende. De 'n' maneiras,
ou seja, indo pra fora também. Através de projetos, a gente chama de, fugiu a palavra agora,
numa época. Que a gente faz atendimento, projetos e tal. A gente incentiva as células a se
organizarem nesses projetos de alcance de pessoas da sociedade, do próprio bairro.

17p. Entrevistador: Ok. Muito obrigado.


17r. Entrevistada: Nada pastor.
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FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 03/05/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
40 anos Jardim Camburi PIBJC 98

1p. Entrevistador: Fala um pouquinho sobre a sua experiência com célula.


1r. Entrevistada: Eu participei das primeiras células que a igreja formou. Eu tive as
melhores experiências. O grupo de célula foi assim, experiência muito aconchegante pro
meu coração, pra vida da nossa família. Essa questão que é a nossa visão, a igreja é muito
grande, e o pequeno grupo, ele vem pra dar esse aconchego, essa segurança de você poder
compartilhar, você poder aprender com o outro, com as experiências dos outros. E todas as
células que eu participei, com os seus problemas, e enfim, que todas as células são pessoas,
mas todas elas eu tirei muito proveito. De cada uma delas.

2p. Entrevistador: O que mudou na igreja a partir da célula?


2r. Entrevistada: Eu vejo hoje a igreja uma igreja mais amiga. Amiga no sentido de você
conhecer mesmo. Cuidado com as pessoas. E não só dentro de uma célula. Aquela célula
cuida daquelas pessoas, não. Como você tem uma visão de que cada um cuida do outro,
então você acaba saindo das pessoas da sua célula pra ajudar a pessoa que é de outra célula.
Não necessariamente. A gente foge desse padrão de se achegar. Amizade. O cuidar, estar
perto, assim, um do outro.

3p. Entrevistador: Qual a relação que você vê entre célula e comunhão?


3r. Entrevistada: Célula e comunhão. Eu penso o seguinte: eu acho que cada indivíduo da
célula precisa estar em comunhão com Deus. Porque senão a célula, ela não funciona.
Somos pessoas, imperfeitas que somos diante de Deus, e essa questão de se aceitar e aceitar
o outro com seus defeitos, isso eu acho que só a comunhão de Deus pra trazer essa visão.
701

4p. Entrevistador: E como é que a célula contribui pra comunhão entre os próprios
membros?
4r. Entrevistada: Nós temos trabalhos dentro da célula. Nós fazemos visitas juntos, a gente
faz o que nós chamamos de social, que é uma coisa intra célula, que você pode também 'tá
compartilhando, levando alguém que não é da célula pra participar dessa reunião social. E
tem também o discipulado, que é uma oportunidade de você estar encontrando com o outro,
ou na casa dela, ou na minha casa, ou em outro lugar. E isso ajuda, contribui pra comunhão
da célula.

5p. Entrevistador: Você vê algum perigo pra igreja a existência da célula?


5r. Entrevistada: Não vejo. Não consigo ver perigo.

6p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


6r. Entrevistada: O objetivo da célula é estreitar em pequeno grupo a comunhão com
Deus. É assim que eu vejo.

7p. Entrevistador: E qual o impacto que você vê que a célula produziu na igreja?
7r. Entrevistada: Olha, eu vejo que a gente começou bem devagarinho. E eu vejo que
ainda existem pessoas hoje que não gostam dessa questão de célula. Mas também vejo que
desde que nós começamos com a visão de célula, outras pessoas também quiseram
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participar. Então eu vejo assim, que foi um impacto, a princípio foi uma coisa, assim,
pequena que foi crescendo, mas que hoje, assim, eu consigo ver que impacta a todas as
pessoas. Umas não gostam, umas gostam, mas não querem participar por “n” motivos, mas
tem sido impactante na vida de muitas pessoas.

8p. Entrevistador: Na maneira...


8r. Entrevistada: Principalmente nas pessoas que não são da igreja e que estão sendo
impactadas pela visão de célula por pessoas membros da nossa igreja.

9p. Entrevistador: E na celebração? Na maneira da igreja adorar a Deus, mudou


alguma coisa?
9r. Entrevistada: Mudou. Mudou pra melhor. A gente era uma igreja mais tradicional.
Então hoje a gente consegue, eu vejo que a gente consegue deixar o Espírito Santo de Deus
agir mais no meio dos louvores, no meio do culto. Isso tem sido maravilhoso.

10p. Entrevistador: E na maneira da igreja funcionar, enquanto igreja, assim,


estrutura, funcionamento da igreja, o que mudou?
10r. Entrevistada: Olha, são muitas pessoas trabalhando em prol de todos. E eu creio que
isso também foi bom pra nossa igreja porque cada um em determinada situação. Casa do
Julgamento, cada célula fica responsável por uma organização. Antigamente você
chamava, hoje também é assim, você chama a igreja pra participar das coisas da igreja, dos
acontecimentos e tudo, mas eu vejo que isso é de uma maneira muito mais estreitada, assim,
mais específica. E isso consegue... a gente consegue se organizar melhor.

11p. Entrevistador: Há uma participação maior.


11r. Entrevistada: Há uma participação maior das pessoas. Acho que toda uma visão
mudou. O compromisso com Deus em primeiro lugar, o compromisso com a igreja, com o
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trabalho da igreja, com a obra de Deus. Nós temos sido muito abençoados com a igreja de
célula.

12p. Entrevistador: Como é que você caracteriza a sua igreja hoje?


12r. Entrevistada: A minha igreja hoje eu vejo que ela está em transição. Ela tem mudado
a cada dia, assim, na visão de célula e buscando, eu acho que buscando melhorar mesmo.
Naquilo que Deus tem pra igreja e tudo mais.

13p. Entrevistador: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?
13r. Entrevistada: Eu gosto muito de célula. A célula tem me ajudado e cada família tem
ajudado outras famílias dentro da célula. Eu vejo que tem muitas famílias, as famílias hoje
estão com muitos problemas. E eu vejo que às vezes problemas que a família mesmo
arruma pra dentro da família. E no compartilhar de cada família edifica o coração do outro.
Isso tem sido muito maravilhoso, assim, na nossa vida.

14p. Entrevistador: Muito obrigado.


14r. Entrevistada: Obrigada a você

FUNÇÃO: Membro SEXO: Feminino DATA: 31/05/2015


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IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO


30 anos Jardim Camburi PIBJC 99

1p. Entrevistador: Vamos falar um pouco sobre pequenos grupos, sobre célula. Então
eu queria que você falasse sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistada: Eu conheci a célula quando eu cheguei aqui na Igreja de Jardim
Camburi. Antes eu era da Igreja Batista e lá não tinha célula. Aí eu fiz o ABC da célula,
com o Osvaldino. Aí ele falou como a célula funciona e tal. Aí eu fui pra uma célula. Eles
me indicaram uma célula. Aí eu cheguei lá e achei bem diferente do que a gente tinha
estudado no ABC. Não gostei muito. A gente tentou se adaptar nela. E aí não deu muito
certo. Aí a gente pegou e procuramos outra célula. Uma que tivesse criança. Porque a gente
tem dois filhos e tal. E a gente encontrou essa célula que a gente 'tá agora. E a gente se
adaptou muito bem e eu gosto muito dessa célula que a gente 'tá agora.

2p. Entrevistador: E naquele primeiro momento, naquela primeira célula, você foi
indicada pra ir pra lá? Ou você mesmo escolheu pra que célula ia?
2r. Entrevistada: Não. A gente aqui a igreja indica uma célula pra gente ir. A gente foi
indicado pra ir pra essa célula e a gente foi. Aí, na segunda vez, eles indicaram uma célula
pra gente, e a gente conheceu uma amiga que é dessa célula que eu sou. Aí eu fui na
indicação e fui na que a amiga indicou. Aí eu gostei da que a amiga indicou e fiquei.

3p. Entrevistador: E você teve a liberdade de escolher a célula?


3r. Entrevistado: Sim. Eu tive, fui duas vezes em cada uma. E depois escolhi em qual
ficar.

4p. Entrevistador: Qual, qual o critério pra definir qual a célula?


703

4r. Entrevistada: No meu caso foi assim. Eu olhei pros filhos. Eu tenho dois filhos. Eles
se adaptaram melhor. Eles gostaram e que a gente também gostasse. E deu que essa célula
foi boa pras crianças e pra gente. Então, encaixou pra família toda.

5p. Entrevistador: Você disse que fez parte de outra igreja Batista que não tinha
célula.
5r. Entrevistada: Sim.

6p. Entrevistador: Qual a diferença que você vê entre uma igreja que tem a célula e
uma igreja que não tem a célula?
6r. Entrevistada: A outra igreja que não tinha célula era um grupo menor. Era mais ou
menos trinta e cinco membros. Então a gente tinha uma comunhão por ser menos gente.
Quando a gente chegou aqui, como a igreja muito grande, então, não tinha como ter aquela
coisa que a gente tinha com a igreja menor. Então a célula passou a ser a nossa pequena
igreja, que a gente tem contato. Tem relacionamento.

7p. Entrevistador: E o que trouxe vocês a fazer parte dessa igreja aqui em Jardim
Camburi?
7r. Entrevistada: Na verdade, a gente teve a outra igreja que a gente 'tava no fim de tantos
problemas. Chegou praticamente ao fim e a gente começou a orar. E uma líder da JOCUM,
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dos jovens com missão chamou a gente pra conversar. A gente 'tava orando. Pra mim foi
uma resposta de oração. E ela nos aconselhou a abrir nossos horizontes. Porque essa igreja
fica um pouco longe da nossa casa. A gente mora em Cariacica. E eu já tinha vindo aqui
uma vez visitar. E a gente começou a vim visitar. E a gente gostou e acabou ficando.

8p. Entrevistador: O que você acha mais interessante aqui nessa igreja?
8r. Entrevistada: Eu gosto muito da célula. O mais interessante pra mim de novo nessa
igreja é a célula.

9p. Entrevistador: Quais seriam os objetivos da célula?


9r. Entrevistada: Eu acho que é relacionamento íntimo, próximo. São pessoas que você
pode contar. Que você pode ligar, entendeu? É um líder sobre você direto, onde você,
quando tem problemas, tem dúvidas, ele 'tá sempre pronto pra ajudar. Meio que ajuda a
carregar o fardo, que às vezes a gente carrega sozinho sem saber. E tendo um líder tão
próximo.

10p. Entrevistador: Como acontece essa ajuda na célula?


10r. Entrevistada: Eu mesmo tenho uma experiência. Eu tive um irmão meu que morreu,
foi assassinado e tal. E, na última semana de vida dele, ele passou comigo, na minha casa,
trabalhando na minha casa. E assim, eu tinha falado de Deus pra ele e tal. Mas naquele
momento vem aquela culpa, bateu. Que eu podia ter feito mais e tal. Então fui pro meu
líder. Ele conversou, me ajudou a tratar, falou que a culpa não era minha. Foi me
explicando, e aí aquele peso saiu das costas. E várias outras coisas que vai acontecendo a
gente sempre pode recorrer ao líder e ele 'tá sempre lá pra, ajudar e em oração também.

11p. Entrevistador: Você disse que mora longe aqui do bairro onde a igreja está
localizada.
11r. Entrevistada: Sim.
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12p. Entrevistador: Os demais membros da célula também moram longe ou a maioria


mora aqui por perto?
12r. Entrevistada: A maioria mora aqui perto.

13p. Entrevistador: E como é o contato de vocês entre os encontros? Entre um


encontro e outro, uma vez que vocês moram tão longe?
13r. Entrevistada: É marcado nas casas e o encontro acontece sempre na terça feira. Só
que eles marcam na minha casa e aí é no sábado. Aí eles vão e passam a tarde lá.
Normalmente a gente marca um almoço, um churrasco e depois faz a célula na parte da
tarde.

14p. Entrevistador: Aí o grupo fica mais tempo junto.


14r. Entrevistada: Fica. Porque aí chega lá em casa meio dia e vai embora cinco, cinco e
meia. A gente fica mais tempo junto. Porque aí tem o almoço, tem a célula. E aí acontece.

15p. Entrevistador: Qual a ligação que você vê entre a célula e comunhão entre os
membros?
15r. Entrevistada: Eu acho muito boa. É uma ligação boa. A gente se tornou amigos. Na
célula a gente, são amigos. Tem alguns, algumas coisas que acontecem que um não
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concorda com o outro. Mas há respeito, conversa, e tudo bem organizadinho. Assim.

16p. Entrevistador: Então você entende que a célula contribui para que haja uma
comunhão mais profunda entre os membros da célula?
16r. Entrevistada: Sim. Um relacionamento. Uma amizade.

17p. Entrevistador: Qual o risco que você vê? Você vê algum risco pra igreja a
existência da célula?
17r. Entrevistada: Não. Eu acho que ajuda a igreja. Porque dali o líder pode ver outros
líderes. E ver o que cada um é bom. Em que área ele pode servir.

18p. Entrevistador: Isso que eu ia perguntar. Qual o impacto que a célula causa sobre
a igreja como um todo?
18r. Entrevistada: Eu acho que ajuda. Porque você, igual, na célula tem, o líder vê lá quem
tem o jeito com criança. E coloca pra trabalhar com criança. Aí a pessoa começa a
desenvolver dentro da célula e depois a pessoa pode vir trabalhar na igreja mesmo, com as
crianças. E várias outras coisas. Lá você desenvolve a fala, a edificação, você vai se
soltando, aí depois você pode contribuir melhor na igreja.

19p. Entrevistador: E qual a preocupação. Há alguma preocupação da célula, do


pequeno grupo, com a sociedade do lado de fora? Com quem não está na célula, quem
não está na igreja?
19r. Entrevistada: Sim. Há uma preocupação muito grande. E a gente ora pelos familiares,
pelos vizinhos, pelos amigos. E a gente ora muito pelas pessoas lá de fora. É assim, a célula
toca o tempo todo nesse assunto, na evangelização. Porque nós estamos aqui. O que nós
devemos fazer. Ela é bem específica.
705

20p. Entrevistador: E com relação aos problemas da sociedade? Como que a célula vê
isso? O que a célula tem feito pra transformação da sociedade?
20r. Entrevista: Lá na célula a gente conversa muito igual, em ralação a globo mesmo. A
gente foi orientado a não ficar assistindo e não deixar os filhos assistir. E várias outras
coisas que a gente pode ir fazendo em relação à sociedade, porque, 'tá ficando difícil,
preocupante. E o que a gente tiver ao nosso alcance, a gente tem que tentar colocar em
prática.

21p. Entrevistador: Como é que você descreveria a sua igreja hoje?


21r. Entrevistada: Eu vejo essa igreja como uma igreja muito abençoada. A gente tem
quatro pastores, eles são muito sábios. São usados por Deus mesmo. E eles falam pra gente
numa linguagem muito clara, muito aberta, muito específica. Não tem como não entender,
entendeu? São diretos. Um ensinamento muito bom. Eu gosto muito. Eu vejo essa igreja
como uma igreja abençoada. Porque não se vê pastores, ensinamentos por aí, tão claros,
como é aqui.

22p. Entrevistador: E, se você tivesse que convencer uma pessoa que não está em
célula pra que ela entre em célula. Qual seria o seu argumento principal?
22r. Entrevistada: Primeiro eu chamaria essa pessoa. Crente ou não crente?
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23p. Entrevistador: Tanto faz. Pode ser crente, pode ser não crente.
23r. Entrevistada: Eu tenho uma cunhada. Eu 'tô tentando levar ela pra célula. E eu falo
com ela. O grupo é um grupo de oração, de relacionamento, de estudo da Palavra de Deus.
Aí eu falo com ela: “Você vai conhecer mais a Palavra. Você vai ter relacionamento com
pessoas que vão se importar com você. E vamos orar juntos. A gente canta”. Eu 'tô tentando
levar ela, ela 'tá meio tímida ainda, mas eu creio que futuramente ela vai. Se Deus quiser.

24p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


24r. Entrevistada: Não. Tranquilo.

25p. Entrevistador: Muito obrigado.


25r. Entrevistada: De nada.

FUNÇÃO: Membro SEXO: Masculino DATA: 31/05/2015


IDADE IGREJA IDENTIFICAÇÃO
36anos Jardim Camburi PIBJC 100

1p. Entrevistador: Vamos falar sobre célula, sobre pequeno grupo. E pra começar
queria que você falasse um pouquinho sobre a sua experiência com célula.
1r. Entrevistado: A primeira experiência que eu tive com célula foi, na verdade a segunda
agora, foi nessa igreja, a primeira. Nós estamos na segunda célula. A gente 'tá gostando
muito. A _____ deve ter falado, a gente veio de uma igreja pequena, que não tinha célula.
Mas a igreja toda é como se fosse uma célula só. Acabavam os cultos e a gente ficava um
bom tempo depois do culto na porta da igreja conversando. E a gente tinha um
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relacionamento muito bom porque a igreja era pequena. E numa igreja desse porte, a célula
eu acho que é imprescindível. Porque é a possibilidade de você ter um relacionamento mais
íntimo com as pessoas. Então a gente 'tá gostando muito. É oportunidade inclusive de voltar
aos temas trabalhados no domingo. Então, até de a gente rever, aprofundar um pouco mais
naquele tema que foi fruto da pregação do domingo.

2p. Entrevistador: O que você achou de mais interessante na célula?


2r. Entrevistado: Comunhão.

3p. Entrevistador: Como é que essa comunhão é cultivada no contexto da célula?


3r. Entrevistado: Na verdade, nesse mundo globalizado, muito dinâmico que agente vive,
a gente não tem essa oportunidade de ter aquele relacionamento como a gente queria, e
como deveria. 'Tá ligando sempre, 'tá sempre em contato. Mas na célula a gente consegue
assim, talvez não como deveria, ou como a gente queria, mas a gente consegue ter esse
relacionamento. A gente consegue se aprofundar ou talvez não aprofundar tanto, mas
conhecer um pouco dos problemas dos outros, inclusive agora recente, tem até um amigo
que a gente 'tá com um problema semelhante, e a gente 'tá, até já tirou um tempo pra gente
compartilhar sobre isso. Eu 'tô orando por ele, acredito que ele também está orando por
mim, porque a gente 'tá com uma situação semelhante. E a célula é essa possibilidade de
você ter esse convívio mais próximo. Porque na igreja como essa aqui, com quase dois mil
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membros, se você não fosse a dinâmica de células, você praticamente nem conhecia outros
membros.

4p. Entrevistador: Como é, qual a diferença você vê entre uma igreja que tem célula
e uma que não tem célula?
4r. Entrevistado: Como eu te disse, eu vim de uma igreja pequena. Então a igreja toda é
como se fosse uma célula. E eu nunca fui membro de uma igreja grande, até porque não
era o nosso objetivo ser membro de uma igreja grande. Então assim, eu acho que uma
grande com célula e sem célula faz toda diferença. Porque o convívio e a comunhão, no
meio do grupo muito grande, é praticamente impossível. E a célula propicia esse convívio
mais íntimo entre os membros.

5p. Entrevistador: E qual a preocupação da célula além dos membros com, com
relação à sociedade de um modo geral?
5r. Entrevistado: É bem grande. A gente vê o planejamento de várias, inclusive, o nosso
líder, ele participa de um projeto agora, qual o nome? Aquele da ação social que é aqui da
igreja mesmo. Esqueci o nome agora, mas outras pessoas tem um certo planejamento.
Como eu te disse. A sociedade 'tá muito corrida hoje. Então assim, não tem como as pessoas
ter aquele engajamento muito grande. Mas você vê que tem uma preocupação social bem
marcante e até nas nossas reuniões a gente às vezes fala as coisas que estão acontecendo na
atualidade e isso permeia as nossas reuniões.

6p. Entrevistador: Como é, qual o impacto você vê que a célula causa na igreja como
um todo?
6r. Entrevistado: Eu acho que é um impacto muito grande. Inclusive até no crescimento
da igreja. Às vezes as pessoas vão pra célula via igreja. Que foi o nosso caso, nós viemos
pra igreja e fomos pra célula. Mas às vezes acontece o caminho inverso também, as pessoas
vão pra célula e de lá eles se tornam membros da igreja. Então é assim, uma possibilidade
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de, inclusive de ganhar vidas. Porque a gente é desafiado, às vezes, a convidar outras
pessoas. E essas pessoas quando vão na célula, normalmente elas gostam. A gente até
brinca às vezes. Às vezes tem alguns familiares de membros das células que não são
membros da igreja, às vezes não são convertidos, que a gente até brinca: “Não vem na
célula não, porque se você vier, você vai gostar e vai querer vir outras vezes”. E a pessoa
que está na célula ele é encaminhado pra igreja. Ele não é nem encaminhado, ele sente a
necessidade de vir pra igreja. Porque ele houve aquela palhinha lá e pensa: “Poxa, se aqui
'tá legal assim, eu vou querer buscar isso também”.

7p. Entrevistador: E como é que você vê a célula, como é que a célula influencia a
organização da igreja? A configuração da igreja?
7r. Entrevistado: Na verdade, como eu sou só membro, eu não tenho nenhuma função na
célula. Eu tenho até participado de algumas reuniões de liderança a convite do nosso líder.
Eu não sei se eu saberia te responder essa pergunta bem não. Mas assim. A própria estrutura
que tem lá, um líder de célula, tem depois o pastor de rede, que tem um pastor geral, isso
eu acho que facilita até a hierarquização das informações, a forma, inclusive até da
administração. É bom pro pastor, o presidente, ele pode, ele fala diretamente com os
pastores de rede, que falam com as lideranças, que levam informação até às células, e o
caminho contrário também. A gente pode falar alguma coisa com o nosso líder, que ele vai
levar pro pastor. Eu acho que ajuda na administração.
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8p. Entrevistador: E você como membro da célula, você tem espaço de participação?
8r. Entrevistado: Sim. Não só eu. Todos os membros da célula. Exceto aqueles que não
querem mesmo. Que demonstram abertamente que não querem. Todos tem atuação. É
dividido as tarefas. O líder faz o cronograma. Desde o roreiro das casas pra receber a célula,
até as pessoas que vão fazer cada atividade. Até as crianças são envolvidas. Às vezes
quando é menorzinho, faz um quebra gelo ou faz outra atividade, mas sempre tem a
participação de todos. É humano, a participação na nossa mesmo, não tem nenhuma pessoa
que não participa. Todos participam.

9p. Entrevistador: E no encontro em si. Há espaço pra que o membro da célula, a


pessoa que 'tá participando da célula possa compartilhar a sua vida, as suas
experiências?
9r. Entrevistado: Não só tem espaço, como até é incitado que a gente faça isso. E isso é
uma das coisas também que me atraem na célula, porque às vezes na igreja, você fica
naquela posição só de receptor. E você não interage com a pregação. E na célula não. Na
célula a gente tem essa interação muito grande e a maioria absoluta das pessoas fazem as
tarefas da célula. Até mesmo as pessoas que são mais tímidas, por ser um grupo pequeno,
e um grupo de pessoas que já se conhecem, um tempo considerável. Ela tem uma certa
facilidade de falar. De interagir, de questionar, de fazer suas colocações.

10p. Entrevistador: E você entende que a célula, de alguma forma, contribui para que
a igreja cumpra seus objetivos, seus propósitos?
10r. Entrevistado: Plenamente. Eu acho que é de suma importância. Porque, como eu te
disse, a própria comunhão é propagação do evangelho. Ela se torna mais fácil através de
uma célula. Porque os pequenos membros com orientação, como eu te disse, do líder, do
pastor de rede, ela consegue fazer o trabalho. Tem trabalho que às vezes faz, tira um dia
pra visitar algumas instituições. Então assim, a célula consegue levar a mensagem onde
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talvez a igreja não consegue. Ela consegue tirar a mensagem de dentro das quatro paredes
do templo e levar pra casas diferentes, às vezes tem pessoas que 'tão na casa, que são
familiares que não são convertidos, ou que são vizinhos daquelas pessoas que recebem a
célula. E elas 'tão ali e acabam ouvindo. Na minha casa mesmo sempre que vai lá, a gente
chama alguns vizinhos e às vezes até algum vizinho que nunca iria na igreja ouvir uma
mensagem, mas lá na célula ele tem aquela oportunidade.

11p. Entrevistador: E você vê algum perigo pra igreja, algum risco, a existência da
célula?
11r. Entrevistado: Como eu te disse, eu tenho pouco conhecimento de célula. Participei
de duas células. Eu acho que se não for bem feito, pode haver algum risco sim. Porque você
'tá indo na casa das pessoas. Você 'tá indo na intimidade das pessoas. E se não tiver alguns
critérios pode haver alguns riscos. Mas da forma como a célula que eu participo hoje e a
outra que eu participei também, ela foi diferente assim, a forma como era conduzido. Eu
não vejo perigo nenhum. Agora, se não houver uma boa condução, uma boa coordenação,
pode haver um certo perigo. Porque você 'tá indo na intimidade da pessoa. Você vai lá,
você ouve coisas que a pessoa não falaria na igreja, por exemplo. E se a pessoa não respeitar
o pacto de sigilo, de confidencialidade que a gente faz? Sempre no começo é falado. Tudo
o que é compartilhado ali é pra ficar ali. Não pode, você depois, passar aquilo de uma forma
negativa. E se não houver esse pacto, se não tiver o respeito desse pacto, pode parecer até
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fofoca. Mas assim, eu não tenho notícias da célula que participo ou outras que eu conheço,
de nada desse jeito. Porque há uma condução.

12p. Entrevistador: O que levou você a vir pra esta igreja?


12r. Entrevistado: Eu diria que foi Deus. Porque como eu te disse, numa resposta anterior.
A gente não tinha a ideia de ir pra uma igreja grande. A gente não tinha ideia de ir pra igreja
longe. Essa igreja fica mais ou menos vinte e dois quilômetros da minha casa. Mas a gente
'tava num período meio de transição na igreja que a gente participava e a gente não estava
se sentido bem, e, por um acaso mesmo a gente veio parar aqui. Eu acho que, se fosse
elencar as possibilidades aqui seria, ou melhor, nem estaria nas nossas possibilidades e se
estivesse seriam as ultimas. E a gente veio e acabou se adaptando e hoje a gente não, no
momento a gente não se vê em outra igreja.

13p. Entrevistador: Como é que você descreve a sua igreja hoje?


13r. Entrevistado: É uma igreja em que ela, vou falar pelo meu ponto de vista, que preza
muito pelo ensino. Preza muito pela qualidade do ensino. É uma igreja que tem uma
dedicação muito grande com as crianças, com os juniores, e também com os adultos. Tem
muitos cursos. Tem muitas possibilidades de crescimento. A pessoa que 'tá nessa igreja, de
Jardim Camburi e ele não crescer, é porque ele não quer. Porque tem a qualidade das
pregações nos cultos que é muito boa. E os cursos que são oferecidos nas escolas
dominicais temáticas são muito bons, então assim, se a pessoa tiver interesse em se
desenvolver, ele tem ferramentas que te auxiliem a isso.

14p. Entrevistador: Gostaria de falar mais alguma coisa sobre célula?


14r. Entrevistado: Não, eu acho que a gente falou bastante. É só dizer que, numa igreja
de grande porte, a célula bem conduzida, eu acho que é essencial. Porque o convívio, a
comunhão, como eu falei, num grupo de quase duas mil pessoas, é muito difícil. Ainda
mais na nossa igreja que tem o problema de limitação de espaço. O encontro tem esse
709

problema. Até a inauguração do novo templo, ele divide os cultos e tudo isso, e a gente não
conseguem ter uma comunhão. Então assim, a célula é muito importante.

15p. Entrevistador: Muito obrigado.


15r. Entrevistado: Por nada.
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