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1) Os seres humanos são naturalmente iguais em habilidades físicas e mentais, mas competem pelos mesmos recursos, o que gera desconfiança e conflitos;
2) Na ausência de um poder comum, os humanos vivem em um estado de guerra constante uns contra os outros onde a força e o engano são as únicas virtudes;
3) A lei natural primária é buscar a paz, e a segunda lei natural é estar disposto a renunciar ao direito natural a todas as coisas para obter a paz
1) Os seres humanos são naturalmente iguais em habilidades físicas e mentais, mas competem pelos mesmos recursos, o que gera desconfiança e conflitos;
2) Na ausência de um poder comum, os humanos vivem em um estado de guerra constante uns contra os outros onde a força e o engano são as únicas virtudes;
3) A lei natural primária é buscar a paz, e a segunda lei natural é estar disposto a renunciar ao direito natural a todas as coisas para obter a paz
1) Os seres humanos são naturalmente iguais em habilidades físicas e mentais, mas competem pelos mesmos recursos, o que gera desconfiança e conflitos;
2) Na ausência de um poder comum, os humanos vivem em um estado de guerra constante uns contra os outros onde a força e o engano são as únicas virtudes;
3) A lei natural primária é buscar a paz, e a segunda lei natural é estar disposto a renunciar ao direito natural a todas as coisas para obter a paz
DA CONDIÇÃO NATURAL DA HUMANIDADE NO QUE CONCERNE À SUA
FELICIDADE E MISÉRIA
A natureza fez os homens tão iguais, nas faculdades do corpo e da mente,
que, embora às vezes possa ser encontrado um homem manifestamente mais forte de corpo, de uma mente mais viva do que outro, todavia, quando tudo é calculado em conjunto, a diferença entre um homem e outro não é tão considerável a ponto de um homem, em vista disso, reivindicar para si mesmo qualquer benefício a que um outro não possa pretender tanto quanto ele. Ora, no que tange à força do corpo, o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, seja por uma maquinação secreta, seja por uma aliança com outros que se encontram no mesmo perigo que ele próprio. E quanto às faculdades da mente (deixando de lado as artes baseadas em palavras e especialmente aquela habilidade de proceder segundo regras gerais e infalíveis, chamada de ciência, a qual muito poucos têm, e isso senão em poucas coisas, uma vez que não é uma faculdade nativa, nascida conosco...), encontro uma igualdade ainda maior entre os homens do que aquela relativa à força. Ora, a prudência não é senão a experiência, a qual um tempo igual igualmente confere a todos os homens, naquelas coisas a que eles igualmente se dedicam. (...) A partir dessa igualdade de habilidade, surge a igualdade de esperança na atingência dos nossos fins. E, portanto, se quaisquer dois homens desejam a mesma coisa, de que, no entanto, não podem ambos gozar, eles se tomam inimigos e, no caminho rumo ao seu fim (que é, acima de tudo, a sua própria conservação e, às vezes, é somente o seu prazer), tentam destruir ou subjugar um ao outro. E a partir disso, pois, vem a acontecer que, onde um invasor não tem mais nada a temer do que o poder individual de um outro homem, se alguém planta, semeia, constrói ou possui um assento conveniente, pode-se provavelmente esperar que outros venham preparados, com forças tinidas, para desapossá-lo e destituí-Io não apenas do fruto do seu trabalho, mas também da sua vida ou liberdade. E o invasor, por sua vez, encontra-se no mesmo perigo com relação a outros. E a partir dessa difidência de uns com relação aos outros, não há nenhum modo de um homem dar segurança para si mesmo, de forma tão razoável, quanto a antecipação, isto é, dominar, pela força ou pela astúcia, as pessoas de todos os homens que puder, por tanto tempo até que não veja nenhum outro poder grande o suficiente para ameaçá-lo. Isso não é mais do que a sua própria conservação requer e é geralmente permitido. Também porque há alguns que, tendo prazer em contemplar o seu próprio poder nos atos de conquista, buscam para mais além do que a sua segurança exige; se os outros, que de resto estariam contentes em ficar tranquilos dentro de limites modestos, não aumentassem por invasão o seu poder, eles não seriam capazes de subsistir por muito tempo, ficando somente em sua defesa. Por conseguinte, tal aumento de domínio sobre os homens, sendo necessário à conservação de um homem, deveria ser-lhe permitido. Além disso, os homens não têm nenhum prazer (antes, pelo contrário, grande quantidade de pesar) em permanecer na companhia de outros quando não há nenhum poder capaz de atemorizar a todos. Cada um cuida para que o seu companheiro o valorize na mesma medida em que ele se atribui valor, e em todos os sinais de desprezo ou subestimação ele naturalmente procura, na medida em que ousa (o que, entre aqueles que não têm nenhum poder comum de mantê-los em silêncio, vai longe o bastante para fazer com que eles se destruam mutuamente), extrair uma maior atribuição de valor dos seus opositores por causar-lhes dano; de outros, tenta pelo exemplo. Desse modo, na natureza do homem, encontramos três causas principais de querela. Primeiro, a competição; segundo, a difidência; terceiro, a glória. A primeira faz com que um homem invada por causa do lucro; a segunda, por causa da segurança; a terceira, por causa da reputação. Os primeiros usam a violência para que se tomem senhores das pessoas de outros homens, esposas, filhos e rebanho; os segundos para defendê-los; os terceiros por bagatelas, como uma palavra, um sorriso, uma opinião diferente e qualquer outro sinal de subestimação, seja diretamente em suas pessoas, seja indiretamente em seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou o seu nome. A partir disso, fica manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum para mantê-los todos em respeitoso temor, eles estão naquela condição que é chamada de guerra, e uma guerra tal que é de todos os homens contra todos os homens. A guerra não consiste na batalha somente, ou no ato de lutar, mas em um período de tempo em que a vontade de ter contenda, por meio de batalha, é suficientemente conhecida. (...) Portanto, não importa o que seja concernente a um período de tempo em que todos os homens são inimigos de todos os homens, o mesmo é concernente com relação ao tempo em que os homens vivem sem outra segurança que aquilo que a sua própria força e a sua própria invenção possam fornecer-lhes. Em tal condição, não há nenhum lugar para o trabalho, porque o fruto vindo dele é incerto; consequentemente, não há nenhum cultivo da terra, nenhuma navegação, nenhum uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar, nenhuma construção confortável, nenhum instrumento para mover e remover as coisas que exigem muita força, nenhum conhecimento da face da Terra, nenhum cômputo de tempo, nenhuma arte, nenhuma literatura, nenhuma sociedade e, o que é pior de tudo, um medo contínuo e um perigo de morte violenta, e a vida do homem é solitária pobre, sórdida, embrutecida e breve. Para essa guerra de todo homem contra todo homem, isto também é uma consequência: nada pode ser injusto. As noções de certo e errado, justiça e injustiça não têm ali nenhum lugar. Onde não há nenhum poder comum, não há nenhuma lei; onde não há nenhuma lei, não há nenhuma injustiça. A força e a fraude são, na guerra, as duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não são nenhuma das faculdades do corpo ou da mente. Se elas o fossem, poderiam existir em um homem que estivesse sozinho no mundo, assim como os seus sentidos e as suas paixões. Elas são qualidades relativas aos homens em sociedade, não em isolamento. É uma consequência, portanto, da mesma condição que não haja nenhuma propriedade, nenhum domínio, nenhum meu e teu distintos, mas somente o fato de que é de cada homem aquilo que ele consegue obter e enquanto for capaz de conservá-lo. E essa é a condição ruim em que muitos, pela mera natureza, em realidade se encontram, ainda que com uma possibilidade de escapar dela, que consiste parcialmente nas paixões, parcialmente na razão. As paixões que inclinam os homens à paz são o medo da morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para uma vida cômoda e uma esperança de obtê-las por seu trabalho. E a razão sugere termos de paz convenientes, em tomo dos quais os homens podem ser levados à concordância. DA PRIMEIRA E DA SEGUNDA LEIS NATURAIS E DOS CONTRATOS
O DIREITO DE NATUREZA, que os autores comumente chamam de jus
naturale, é a liberdade que cada homem tem de usar o seu próprio poder, como ele mesmo quiser, para a preservação da sua própria natureza, ou seja, da sua própria vida, e consequentemente de fazer qualquer coisa que, no seu próprio juízo e razão, ele conceba como sendo os meios mais aptos para tanto. ••• UMA LEI DA NATUREZA (lex naturalis) é um preceito, ou uma regra geral, descoberta pela razão, pela qual um homem está proibido de fazer aquilo que pode destruir a sua vida ou tirar os meios para preservá-la, e de omitir aquilo por meio do que ele pensa que ela pode ser preservada da melhor maneira. (...) E porque a condição do homem (como foi declarado no capítulo anterior) é uma condição de guerra de todos contra todos, caso em que todos são governados por sua própria razão, e não há nada de que ele possa fazer uso que não possa ser um auxílio para preservar a sua vida contra os seus inimigos, segue--se que, em tal condição, todo homem tem um direito a todas as coisas, mesmo aos corpos uns dos outros. E, portanto, enquanto durar esse direito natural de todo homem a todas as coisas, não pode haver nenhuma segurança para homem qualquer (não importa o quão forte ou sábio ele seja) de viver pelo tempo que a natureza normalmente permite aos homens viver. E, por conseguinte, é um preceito, ou uma regra geral da razão, que todo homem deva buscar atingir a paz enquanto tiver esperança de obtê-la e, quando não puder obtê-la, que ele possa buscar e fazer uso de todas as ajudas e vantagens da guerra. A primeira parte dessa regra contém a primeira e fundamental lei da natureza, qual seja, buscar a paz e segui-la. A segunda, a suma do direito de natureza, consiste em defender a nós mesmos por todos os meios que pudermos. Dessa lei fundamental da natureza, pela qual se ordena que os homens se esforcem pela paz, é derivada a segunda lei, a de que um homem esteja disposto, quando os outros assim estão também, na medida em que ele considere necessário tanto para a paz quanto para a defesa de si mesmo, a abandonar esse direito a todas as coisas e contentar-se com tanta liberdade com relação aos outros homens quanto ele permitiria que outros homens tivessem com relação a ele. Enquanto todos os homens mantiverem esse direito, de fazer qualquer coisa que lhes aprouver, por tanto tempo estarão todos os homens na condição de guerra. Porém, se os outros homens não abandonarem esse direito, bem como ele próprio, então não haverá razão nenhuma para que alguém prive a si mesmo do seu; afinal, isso equivaleria a expor-se como presa (coisa a que nenhum homem é obrigado), em vez de dispor-se à paz. (...) Sempre que um homem transfere o seu direito ou renuncia a ele, isso é feito ou em consideração a algum direito que lhe foi reciprocamente transferido ou por algum outro bem que ele daí espera, pois trata-se de um ato voluntário, e objeto dos atos voluntários de todos os homens é algum bem para si mesmo. (...) A transferência mútua de direito é aquela que os homens chamam de CONTRATO. (...) um dos contratantes pode entregar a coisa contratada de sua parte e deixar que o outro realize a sua parte em algum momento posterior determinado, recebendo confiança nesse meio tempo. De sua parte, então, o contrato é chamado de PACTO, ou de ALIANÇA; ou então ambas as partes podem entrar em contrato agora para realizar doravante. (...) Se um pacto for feito, em que nenhuma das partes realiza o seu presentemente, mas ambas confiam uma na outra na condição de mera natureza (que é uma condição de guerra de todos os homens contra todos os homens), sob qualquer suspeita razoável ele se anula; porém, se houver um poder comum, posto acima de ambas, com direito e força suficientes para forçar a realização, ele não é nulo. Afinal, aquele que cumpre primeiramente não tem nenhuma segurança de que o outro cumprirá depois, porque os laços das palavras são fracos demais para conter a ambição, a avareza, a cólera e as outras paixões dos homens, sem o medo de algum poder coercitivo; e esse, na condição da mera natureza, em que todos os homens são iguais e juízes do acerto dos seu próprios medos, não pode ser suposto. E, portanto, aquele que cumpre primeiramente nada faz senão entregar a si mesmo ao seu inimigo, contrariamente ao direito (que ele jamais pode abandonar) de defender a sua vida e os meios de viver. Contudo, em um estado civil no qual há um poder estabelecido para coagir aqueles que de outro modo violariam a sua fé, esse medo não é mais razoável, e por esse motivo aquele que, pelo pacto, deve cumpri-lo primeiramente está obrigado a assim proceder.
DAS CAUSAS, DA GERAÇÃO E DA DEFINIÇÃO DE UM ESTADO
A causa final, o fim ou o desígnio dos homens (que naturalmente amam a
liberdade e o domínio sobre os outros), com a introdução daquela restrição sobre si mesmos (em que nós os vemos viverem em estados), é a previsão da sua própria preservação e de uma vida mais satisfatória a partir daí; isso significa apontar a perspectiva de conseguirem sair da condição miserável de guerra, que é uma consequência necessária (como foi mostrado) das paixões naturais dos homens, quando não há nenhum poder visível para mantê-los em temor e forçá- los, pelo medo de punição, ao cumprimento dos seus pactos e à observação daquelas leis da natureza estabelecidas [anteriormente]. Ora, as leis da natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a misericórdia e [em suma] fazer aos outros como se faria a nós) de si mesmas, sem o terror de algum poder que faça com que sejam observadas, são contrárias às nossas paixões naturais, que nos conduzem à parcialidade, ao orgulho, à vingança e a coisas semelhantes. E os pactos, sem a espada, nada são senão palavras e não têm nenhuma força para oferecer qualquer se2uranca a um homem. (...) Tampouco é a união de um pequeno número de homens que lhes oferece essa segurança, porque, quando são pequenos os números, pequenas adições de um lado ou de outro tornam a vantagem de força tão grande quanto é suficiente para conduzir à vitória, sendo isso, portanto, um encorajamento à invasão. (...) Tampouco é o bastante para obter a segurança, coisa que os homens desejam que durasse todo o tempo de sua vida, que sejam governados e dirigidos por um critério durante um período de tempo limitado, tal como em uma batalha ou em uma guerra. Embora obtenham uma vitória por seu esforço unânime contra um inimigo estrangeiro, posteriormente, quando ou não têm mais nenhum inimigo comum, ou quando aquele que, por uma pane, é tido como inimigo, é tido por outra parte como amigo, eles devem necessariamente, devido à diferença de seus interesses, dissolver-se e entrar novamente em guerra entre si. O único modo de instituir esse poder comum, para que possa ser capaz de defendê-los da invasão de estrangeiros e das injúrias uns dos outros, e portanto dar-lhes segurança de tal sorte, mediante o seu próprio esforço, e pelos frutos da terra possam alimentar-se e viver de forma satisfatória, é conferir todo o seu poder e a sua força a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir todas as suas vontades, pela pluralidade de vozes, a uma vontade; e isso equivale a dizer apontar um homem, ou uma assembleia de homens, para representar a sua pessoa, e até mesmo que alguém reconheça a si mesmo como sendo o autor de toda e qualquer coisa que aquele que assim representa a sua pessoa vier a fazer ou levar a que seja feito, naquelas coisas que dizem respeito à paz e à segurança comum, e nisso mesmo submetendo as suas vontades, a todos à sua vontade, e os seus juízos ao juízo dele. Isso é mais do que consentimento ou concórdia; trata-se de uma unidade real deles todos, em uma e na mesma pessoa, feita pelo pacto de todo homem com todo homem, de modo que, se todos os homens fossem dizer a todos os homens Eu autorizo e abro mão do meu direito de governar a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, nesta condição, de que desistas do teu direito em favor dele e autorizes todas as suas ações por semelhante modo. Feito isso, a multidão assim unida em uma pessoa é chamada de um ESTADO. (...) Essa é a geração daquele grande LEVIATÃ, ou então (para falar de modo mais reverente) daquele deus mortal ao qual devemos, abaixo do Deus imortal, a nossa paz e a nossa defesa. Através dessa autoridade, dada a ele por cada homem particular no estado, ele tem o uso de tanto poder e de tanta força conferida a ele que, pelo terror daqui tirado ele está capacitado a formar as vontades deles todos para a paz interna e a ajuda mútua contra os seus inimigos no estrangeiro. E nele consiste a essência do estado, a qual (para defini-la) é uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, por mútuos pactos uns com os outros, fizeram a si mesmos, todos, o autor, com o fim de que ela possa usar a força e os recursos de todos eles, tal como ela considerar oportuno para a sua paz e defesa comum. E aquele que detém essa pessoa é chamado de SOBERANO, e dele se diz que tem poder soberano; e todos os outros além dele são chamados de seus SÚDITOS. A obtenção desse poder soberano ocorre de duas maneiras. Uma delas é pela força natural, tal como quando um homem faz com que os seus filhos se submetam e com que os filhos deles se submetam ao seu governo, dado que é capaz de destruí-los caso eles se recusem; ou então quando pela guerra submete os seus inimigos à sua vontade, concedendo-lhes a sua vida sob essa condição. A outra é quando os homens concordam entre si a submeter-se a um homem, ou a uma assembleia de homens, voluntariamente, na confiança de serem protegidos por ele contra todos os outros. Esse último pode ser chamado de um estado político, ou um estado por instituição, e o primeiro pode ser chamado de um estado por aquisição. (...)
*Trechos do Leviatã (Hobbes) retirado de: BONJOUR. Laurence; BAKER, Ann.
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