Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
DIRETRIZES PARA
FORMULAÇÃO DE
SORVETE
apresentados. No entanto, os valores mos-
trados são orientações úteis para as relações
de composição envolvidas na formulação. As
informações a seguir consideram os fatores
que afetam a variabilidade de cada um dos
LÁCTEO
componentes mostrados na referida tabela.
Gordura do leite
Os intervalos mostrados refletem os requi-
sitos regulamentares nos Estados Unidos,
onde os produtos com 10% de gordura ou
mais podem ser designados simplesmente
Introdução como “sorvete” e são conhecidos como sor-
vetes integrais (full fat). Em outros lugares,
As diretrizes para a formulação de sorve- os regulamentos podem ser diferentes.
te lácteo a serem discutidos neste artigo são Maiores níveis de gordura produzem aumen-
apresentadas globalmente, na tabela “Dire- to da percepção de riqueza, cremosidade e sua-
trizes para Formulação de Sorvete”, sob a vidade. No entanto, também estão associados
forma de faixas de composição do sorvete. com um maior grau de aglomeração de gordura
Devido ao fato das composições de sorvete que, se não controlado, pode ser responsável por
serem geralmente dependentes do nível de defeitos, tais como textura gordurosa, corpo
gordura, a referida tabela é organizada de fraco e tendência ao encolhimento/contração.
forma a mostrar as respectivas faixas para Na faixa com menor teor de gordura, as per-
cada componente/ingrediente em níveis cepções de sabor mudam significativamente à
crescentes de gordura, divididos em produ- medida que diminui a gordura e desempenham
tos com baixo teor de gordura e produtos um papel menor na liberação de componentes
integrais (full fat), entendendo-se por isto aromáticos solúveis em gordura.
produtos com menos de 10% e mais de 10% Produtos com teor de gordura superior
de gordura, respectivamente. As faixas para a 20% são raros, mas existem. No entanto,
cada ingrediente representam a variação esses produtos são geralmente considerados
que ocorre entre o menor e o maior nível enjoativos e possuem atrativo limitado para
de gordura. Por exemplo, no caso de MSNF os consumidores.
(Milk Solid No Fat), ou seja, dos sólidos não
gordurosos do leite (SNGL), o intervalo MSNF ou SNGL
de 14% a 10% indicado para o sorvete de
baixo teor de gordura significa que o nível (Sólidos do leite não
de SNGL poderia ser tão alto quanto 14% gordurosos)
SORVETES & CASQUINHAS
22
BRUCE THARP’S
sólidos do soro de leite usado tam- que geralmente é afetado pelos parâ- enquanto altos níveis de inclusões
bém é limitado pelo aparecimento metros de custo e pelos efeitos técni- podem exigir menos.
potencial de um aroma de soro, com cos pretendidos para o ingrediente
as características peculiares da fonte específico envolvido. Como muitos Sacarose
de onde foi extraído. desses materiais têm funcionalidades
específicas, a orientação para sua A funcionalidade da sacarose no
Outros materiais utilização deve ser procurada junto sorvete se limita a fornecer doçura
ao fornecedor. e contribuir nos sólidos totais. O
lácteos seu nível depende se é usada como a
Há uma crescente utilização de Nível de doçura única fonte de doçura ou, então, do
vários ingredientes lácteos modi- grau em que é parte de um sistema
SORVETES & CASQUINHAS
ficados, tais como concentrados e O nível de doçura do sorvete é multi-ingrediente de doçura com ou-
isolados do sistema global de pro- expresso em termos de equivalência tros edulcorantes, geralmente sólidos
teínas lácteas e proteína de soro de de doçura a sacarose. O nível-alvo de de glicose e, quando usado, xarope
leite. Estes são usados como fontes doçura do sorvete varia de acordo de milho de alta frutose (HFCS). As
mais econômicas de sólidos de leite com as preferências locais e com as proporções em tais sistemas variam
ou devido a uma funcionalidade es- exigências de um sabor em particu- de acordo com restrições de custo e
pecífica relacionada à imobilização lar. Por exemplo, chocolate e alguns com parâmetros relativos à relação
da água. O nível de utilização de tais sabores de frutas requerem uma custo vs. qualidade, como sabor e
materiais abrange um vasto leque, maior suavidade do que a baunilha, sensação na boca (mouthfeel).
23
BRUCE THARP’S
entanto, o seu nível é limitado pelo nesse aplicativo. os níveis daqueles com ingredientes
seu efeito de depressão do ponto de passivos caem na parte superior dos
congelamento (cerca de duas vezes Adoçantes de intervalos, dependendo do nível das
superior ao da sacarose). Isso tem gomas ativas que a mistura possui.
um efeito potencialmente negativo alta intensidade Em ambos os casos, os níveis de
sobre a rigidez do sorvete no freezer e Os níveis de uso dessas fontes de utilização variam de acordo com os
firmeza na temperatura de consumo, doçura variam de acordo com o tipo e parâmetros de qualidade/custo.
bem como sobre a vida útil da textura necessidade de se aumentar os níveis A não utilização de estabilizante
24
BRUCE THARP’S
produz uma textura mais grossa, com ficante em sorvetes com nível de que diz respeita à medição das
cristais de gelo, e apresenta corpo gordura acima de aproximadamen- pequenas quantidades necessárias.
fraco e quebradiço, porém com boa te 15%. Os fatores que afetam os ní- Portanto, eles são mais comumente
liberação aromática. Níveis elevados veis de utilização de emulsionantes acrescentados ao sorvete junto com
demais podem produzir efeitos de es- específicos são discutidos adiante. mono-diglicerídeos (20% no caso do
tabilização excessiva, como mascarar polissorbato 80, e 30% no caso do
o sabor e gerar um corpo gomoso, Emulsificante polissorbato 65) formando assim
dependendo da goma utilizada e da misturas de fluxo livre. O polissor-
presença de outros fatores de imo- (monoglicerídeos bato 80 também é disponível, em
bilização da água. Para misturas, as e mono- algumas áreas, em concentração de
orientações de uso mais confiáveis 70%, misturado em propilenoglicol.
são dadas pelo fornecedor de produ-
diglicerídeos)
tos específicos. O nível de utilização eficaz de Blends de
monoglicerídeos e mono-diglicerí-
deos, independentemente do grau estabilizante/
Estabilizante
de saturação, varia de acordo com emulsificante
(sistemas com seu conteúdo de monoglicerídeo. Os
celulose intervalos apresentados referem-se Estabilizantes e emulsificantes
ao nível de monoglicerídeo. são freqüentemente adicionados
microcristalina) como misturas, contendo ambos os
As maiores faixas de utilização Emulsificante tipos de ingredientes. Como cada
indicadas para sistemas com celulose um desses sistemas possui uma fun-
microcristalina (MCC) é baseada no (polissorbato) cionalidade específica, a orientação
fato de que para ser funcional a MCC Nos Estados Unidos, dois tipos sobre o nível de utilização de um
exige níveis de uso mais elevados do de polissorbatos são aceitos como determinado blend deve partir do seu
que os estabilizantes convencionais. aditivos alimentares em sorvetes: fornecedor.
Na formulação de sistemas com o polissorbato 80 e o polissorbato
celulose microcristalina, deve-se 65. Eles podem ou não ser aceitos Sólidos totais
lembrar que nos sistemas em que a em outros países. A funcionalidade
MCC fornece a funcionalidade do- maior do polissorbato 80 o torna A evolução do sorvete foi tal
minante, pode ser usada em níveis mais comumente usado nos Esta- que a qualidade palatável aceitável
mais elevados, sem produzir efeitos dos Unidos. Seu nível de utilização geralmente está associada a produ-
de estabilização excessiva. é limitado ao máximo de 0,06%, tos em que o nível de sólidos totais
devido a sua contribuição poten- (soma de todos os componentes,
Emulsificantes cial para um off-flavor parecido exceto água) está na faixa mostrada
ao oxidado e seu efeito intenso. na tabela, para cada categoria de
(comentários O polissorbato 65, com menor nível de gordura. Além dos fatores
gerais) potencial de contribuição para que afetam os níveis de ingredientes
um sabor estranho, e uma menor individuais dentro da faixa mos-
A principal funcionalidade de funcionalidade do que o polissor- trada para cada um, um aspecto
ingredientes emulsificantes está bato 80, poderia ser utilizado em fundamental na formulação envolve
focada no controle do grau de aglo- níveis superiores. manter os sólidos totais dentro dos
meração de gordura desejado, de- limites indicados para cada catego-
sempenhando papel complementar Emulsificante ria de nível de gordura.
no chicoteamento/agitabilidade e O teor de sólidos totais incide
na força das células de ar. Seu nível (misturas diretamente na percepção das
de utilização varia de acordo com de mono- características afetadas pela na-
SORVETES & CASQUINHAS
25
BRUCE THARP’S
ser alcançados sem efeitos negativos te ligado ao mundo sorveteiro. Há 25 anos é palestrante do
sobre a qualidade da palatividade, curso de sorvetes da Penn State University, ministra cursos nas
manipulando as condições de con- universidades de Wisconsin, de Maryland, da Califórnia e na
gelamento e os tipos e quantidades Politécnica da Califórnia, em Rudgers, no Utah, etc. Finalmente,
de estabilizantes/emulsificantes. é co-organizador e apresentador do curso comercial “Tharp
Em níveis mais elevados de overrun, & Young: On Ice Cream”, junto com o Dr. Steven Young, da
existe um potencial crescente para o Steven Young Worldwide. O Dr. Bruce Tharp é presidente da
encolhimento e para a percepção de Tharp’s Food Technology.
um corpo leve, fofo ou aerado.
26