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Copidesque
Marina Vargas
Editoração Eletrônica
DTPhoenix Editorial
Revisão Gráfica
Marília Pinto de Oliveira
Marco Antonio Correa
ISBN 978-85-352-1336-2
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem
ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses,
solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos
esclarecer ou encaminhar a questão.
Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou
perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
_________________________________________________________________________
M524 Mercado financeiro: uma abordagem prática dos principais produtos
e serviços / Alexandre Galvão... [et al.]. — Rio de Janeiro: Elsevier,
2006. — 3a reimpressão.
CDD 332.10981
05-3128 CDU 336.76(81)
_________________________________________________________________________
Agradecimentos
Os organizadores
Prefácio
EMERSON DE ALMEIDA
Presidente da Fundação Dom Cabral
Os autores
Caio Radicchi
Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa – UFV.
Professor em Câmbio e Finanças Internacionais para cursos de graduação e
pós-graduação.
e-mail: srbrasil@uai.com.br
Michel J. Fleuriet
Finance Department The Wharton School – University of Pennsylvania
Rita Mundim
Mestranda em Administração pela FEAD
Comentarista Econômica da Rádio Band News e da Rede BandMinas
e-mail: ritamundim@aportebhdtvm.com.br
I
O Setor Financeiro: Caracterização,
Pressupostos e Funções
Objetivos
Quadro 1.1
Diferenças essenciais entre os setores real e financeiro
Características
Diferenciais
considerados
Setor real Setor financeiro
Figura 1.1
Precondições e funções da intermediação financeira
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLDSMITH, R. W. Financial Structure and Development. New Haven: Yale University Press, 1969.
GURLEY, J. C.; SHAW, E. S. Money in a Theory of Finance. Washington: Brookings Instituition, 1960.
Capítulo
II
Sistema Financeiro Nacional
Objetivos
A INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA
Os agentes econômicos nem sempre (ou, para ser mais realista, quase
nunca) auferem um montante de renda, num dado período, exatamente igual
às suas necessidades de consumo e investimento. Daí verifica-se que, para um
dado período de tempo considerado, coexistirão agentes econômicos cujo
fluxo de renda será superior às suas necessidades de consumo e investimento
– os chamados agentes superavitários – e agentes econômicos cujo fluxo de
renda será inferior às suas necessidades de consumo e investimento – os cha-
mados agentes deficitários. Há possibilidade de interação direta entre os agen-
12 Mercado Financeiro
Figura 2.1
Intermediação financeira
O MERCADO FINANCEIRO
O mercado financeiro pode ser entendido como o conjunto de interme-
diários e demais prestadores de serviços financeiros (auxiliares financeiros)
que possibilitam a transferência de recursos dos agentes superavitários para
os agentes deficitários.
Andrezo e Lima1 definem mercado financeiro como “conjunto de insti-
tuições e instrumentos financeiros destinados a possibilitar a transferência de
recursos dos ofertadores para os tomadores, criando condições de liquidez
no mercado”.
O subsistema normativo
O subsistema normativo é representado por órgãos de regulação e fiscali-
zação que detêm as responsabilidades pelo funcionamento do mercado fi-
nanceiro e de suas instituições. Esses órgãos estabelecem as diretrizes, fiscali-
zam e regulamentam as atividades.
Quadro 2.1
A estrutura do Sistema Financeiro Nacional
❒ Objetivos do CMN
A Lei no 4.595/64 estabeleceu como objetivos da política do CMN:
❒ As competências do CMN
A Lei no 4.595/64 estabeleceu como competências do CMN, entre outras:
❒ As competências do BCB
A Lei no 4.595/64, em seu artigo 5o, transformou a antiga Superintendên-
cia da Moeda e do Crédito (Sumoc) no Banco Central do Brasil. No seus
artigos 10o e 11o, a lei estabelece as competências privativas do Banco Central
do Brasil (BCB), entre as quais:
de 2002. Existem, entretanto, títulos emitidos pelo Banco Central antes dessa
data que ainda não venceram e, portanto, circulam no mercado financeiro.
As Instituições que dependem da prévia autorização do Banco Central
do Brasil para o seu funcionamento são:
• Administradoras de consórcios
• Agências de fomento
• Bancos comerciais
• Bancos múltiplos
• Banco cooperativos
• Bancos de desenvolvimento
• Bancos de investimento
• Companhias hipotecárias
• Cooperativas de crédito
• Sociedades corretoras de câmbio
• Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários
• Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários
• Sociedades de arrendamento mercantil (leasing)
• Sociedades de crédito ao microempreendedor
• Sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeira)
• Sociedades de crédito imobiliário
❒ Objetivos da CVM
A Comissão de Valores Mobiliários foi criada pela Lei no 6.385/76, que
estabeleceu como objetivos da sua atuação:
Sistema Financeiro Nacional 25
A lei que criou a CVM (6.385/76) e a Lei das Sociedades por Ações (6.404/
76) disciplinaram o funcionamento do mercado de valores mobiliários e a
atuação de seus protagonistas: as companhias abertas, os intermediários fi-
nanceiros, os investidores e demais participantes.
A CVM tem poderes para disciplinar, normatizar e fiscalizar a atuação dos
diversos integrantes do mercado e seu poder normatizador abrange todas as
matérias referentes ao mercado de valores mobiliários. Cabe à CVM, entre
outras, disciplinar as seguintes matérias:
❒ As competências da CVM
No seu artigo 8o, a Lei no 6.385/76 (modificada pela Lei no 10.303/2002)
estabelece as competências da CVM:
❒ Os objetivos da Susep
A Susep foi instituída pelo Decreto-lei no 73, de 21 de novembro de 1966,
que também instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, do qual fazem
parte o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), o IRB Brasil Ressegu-
ros S.A. (IRB-Brasil Re), as sociedades autorizadas a operar em seguros priva-
dos e capitalização, as entidades de previdência privada aberta e os corretores
habilitados. A Susep é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mer-
cados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. É admi-
nistrada por um Conselho Diretor, composto pelo superintendente e por qua-
tro diretores. O Decreto-lei no 73/66 estabeleceu as atribuições da Susep:
• Sociedades seguradoras
• Sociedades de capitalização
• Entidades de previdência privada aberta
• Sociedades resseguradoras
❒ As competências da SPC
Esse órgão possui como atribuições:
O subsistema operativo
O subsistema operativo é constituído pelas instituições autorizadas pelos
organismos normativos a funcionar no mercado. Essas instituições dedicam-
se à intermediação financeira e/ou à prestação de outros serviços financei-
ros. O subsistema operativo é também conhecido como sistema de
intermediação porque é composto pelas instituições que, ao executarem as
32 Mercado Financeiro
Quadro 2.2
Quantidade de instituições autorizadas a funcionar no SFN
Tipo de Instituição 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Banco múltiplo 205 194 180 174 169 164 153 143 141
Banco comercial 35 38 36 28 25 28 28 23 23
Desenvolvimento 6 6 6 6 5 5 4 4 4
Caixa econômica 2 2 2 2 1 1 1 1 1
Investimento 17 23 22 22 21 19 20 23 21
CFI 43 48 49 44 42 43 42 46 47
Corretora de TVM 227 219 202 194 193 187 177 161 147
Corretora de câmbio 48 39 37 39 39 41 43 42 43
DTVM 333 283 238 210 190 177 159 151 146
Arrendamento mercantil 80 75 80 83 81 78 72 65 58
Crédito imobiliário e APE 23 22 22 21 19 18 18 18 18
Companhia hipotecária - 3 3 4 6 7 7 6 6
Agências de fomento - - - 3 5 7 7 6 6
Cooperativas 908 1.018 1.120 1.198 1.253 1.311 1.379 1.430 1.454
SCM - - - - 4 11 23 37 49
Consórcios 462 446 433 422 406 407 399 376 365
Total 2.461 2.416 2.430 2.450 2.459 2.505 2.534 2.536 2.534
A S INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
As instituições financeiras são os principais agentes econômicos do
subsistema operativo. A Lei no 4.595/64 define, no artigo 17, que são conside-
Sistema Financeiro Nacional 33
Art. 1o Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de
direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumu-
lativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros
de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribui-
ção, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.
Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:
I. A pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitali-
zação ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros.
II. A pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo,
ainda que de forma eventual.
❒ Os bancos múltiplos
Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que
realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições fi-
nanceiras correspondentes às carteiras que detiver. O banco múltiplo deve
ser constituído sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação
social deve constar a palavra “banco”.
O banco múltiplo deverá ser constituído por, no mínimo, duas das seguin-
tes carteiras, sendo uma delas obrigatoriamente comercial ou de investimento:
• Comercial
• De investimento e/ou de desenvolvimento, a última, exclusiva para ban-
cos públicos
• De crédito imobiliário
• De crédito, financiamento e investimento
• De arrendamento mercantil
❒ Os bancos comerciais
Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que
têm como objetivo principal proporcionar o suprimento oportuno e adequado
dos recursos necessários para financiar, a curto e médio prazos, o comércio, a
indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em
geral. A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis por cheque, é
atividade típica do banco comercial. O banco comercial está habilitado a reali-
zar uma série de operações ativas, passivas e acessórias, como descontar títulos,
realizar operações de capital de giro, captar depósitos a prazo, prestar garantias
e administrar fundos de investimento. Deve ser constituído sob a forma de so-
ciedade anônima e na sua denominação social constar a palavra “banco”.
❒ Os bancos cooperativos
Os bancos cooperativos devem ser constituídos sob a forma de banco
comercial ou de banco múltiplo com carteira comercial e devem ter como
Sistema Financeiro Nacional 35
❒ As caixas econômicas
As caixas econômicas são instituições financeiras captadoras de depósitos
à vista e principalmente de poupança, como a mais importante fonte de re-
cursos para intermediação financeira. O principal objetivo é fomentar o setor
de construção civil por meio do financiamento imobiliário.
❒ As cooperativas de crédito
A Lei no 5.764/71 em seu artigo 4o define cooperativa como “sociedade de
pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeita
a falência, constituída para prestar serviços aos associados”.
As cooperativas de crédito são associações civis sem finalidade lucrativa que se
destinam a prestar serviços financeiros e de crédito aos seus associados. A
Resolução no 3.106/2003 do Conselho Monetário Nacional define os seguin-
tes tipos de cooperativas de crédito singulares:
❒ Os bancos de investimento
Os bancos de investimento são definidos pela Resolução no 2.624/99
do Conselho Monetário Nacional como instituições financeiras de nature-
za privada, especializadas em operações de participação societária de cará-
ter temporário, de financiamento da atividade produtiva para suprimento
Sistema Financeiro Nacional 37
❒ Os bancos de desenvolvimento
Os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras públicas não
federais, constituídas sob a forma de sociedade anônima, com sede na capi-
tal do estado da Federação que detiver seu controle acionário. De acordo
com a Resolução no 394/76 do Conselho Monetário Nacional, devem ter em
sua denominação a expressão “banco de desenvolvimento”, seguida do nome
do estado em que tenham sede. O objetivo precípuo dos bancos de desen-
volvimento é proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos
necessários ao financiamento, a médio e longo prazos, de programas e pro-
jetos que visem a promover o desenvolvimento econômico e social dos res-
pectivos estados da Federação onde tenham sede, cabendo-lhes apoiar priori-
tariamente o setor privado. Os bancos de desenvolvimento podem oferecer
empréstimos e financiamentos, conceder garantias, subscrever ações e de-
bêntures e praticar operações de arrendamento mercantil. Podem ainda
captar recursos com a colocação de depósitos a prazo e cédulas hipotecárias.
Excepcionalmente, quando o empreendimento visar a benefícios de inte-
resse comum, o banco pode assistir a programas e projetos desenvolvidos
fora do respectivo estado, devendo a assistência efetivar-se por meio de con-
sórcio com o banco de desenvolvimento local.
É importante destacar que o Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-
nômico e Social (BNDES) e o Banco Regional de Desenvolvimento do Ex-
tremo Sul (BRDE) são entidades distintas.
8. A letra de câmbio é emitida pelo devedor (mutuário do financiamento) e a financeira dá o aceite na letra
emitida. O investidor que compra a letra de câmbio tem uma dupla garantia do devedor e da financeira.
Sistema Financeiro Nacional 39
• Depósitos de poupança.
• Letras hipotecárias.
• Letras imobiliárias.
• Repasses e refinanciamentos contraídos no país, inclusive os provenientes
de fundos nacionais.
• Empréstimos e financiamentos contraídos no exterior, inclusive os prove-
nientes de repasses e refinanciamentos de recursos externos.
• Depósitos interfinanceiros (DI), nos termos da regulamentação em vigor.
9. No caso das operações de crédito por interveniência, a financeira emite a letra de câmbio por conta e
ordem do financiado e a ela mesma dá o aceite.
40 Mercado Financeiro
❒ As companhias hipotecárias
As companhias hipotecárias são instituições regidas pela Resolução no
2.122/94 do Conselho Monetário Nacional, que definiu como seus principais
objetivos:
❒ As agências de fomento
As agências de fomento, de acordo com a Resolução no 2.828/2001 do
Conselho Monetário Nacional, devem ser constituídas sob a forma de socie-
Sistema Financeiro Nacional 43
A UXILIARES FINANCEIROS
São consideradas instituições auxiliares os intermediários financeiros que
não atuam como instituições financeiras, assumindo risco de crédito em ope-
rações financeiras. Esses auxiliares atuam no mercado financeiro como
facilitadores, ou seja, aproximam os poupadores dos tomadores sem correr
os riscos da transação.
❒ As bolsas de valores
As bolsas de valores são associações civis sem fins lucrativos, cujo patrimô-
nios é constituído por títulos patrimoniais adquiridos pelas sociedades corre-
Sistema Financeiro Nacional 45
❒ As sociedades corretoras
São instituições que efetuam a intermediação financeira nos pregões das
bolsas de valores, das quais são associadas mediante a aquisição de um título
patrimonial. Elas podem:
O plano coletivo poderá ser contratado por uma ou várias pessoas jurídi-
cas. É assegurado aos participantes o direito à portabilidade, inclusive para
plano de benefício de entidade fechada, e ao resgate total ou parcial de recur-
sos das reservas técnicas, provisões e fundos.
Conforme dispõe o artigo 36 da Lei Complementar no 109/2001, as enti-
dades abertas devem ser constituídas unicamente sob a forma de sociedades
anônimas e devem ter por objetivo instituir e operar planos de benefícios de
caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou paga-
mento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. É facultativa a utilização de
corretores na venda dos planos de benefícios das entidades abertas.
❒ As sociedades seguradoras
As sociedades seguradoras são instituições que, mediante o recebimento
de um “prêmio”, assumem o risco da ocorrência de determinado evento inde-
sejado por outros agentes econômicos (indivíduos ou empresas). Dos prê-
mios retidos pelas seguradoras, uma parcela deve ser direcionada para a
constituição de reservas técnicas destinadas ao pagamento de indenizações
resultantes da ocorrência dos eventos (sinistros) previstos nos contratos ce-
lebrados com os seus clientes.
O artigo 3o do Decreto-lei no 73/1966 define as operações de seguros pri-
vados como os seguros de objetos, pessoas, bens, responsabilidades, obriga-
ções, direitos e garantias. No seu artigo 28, o Decreto-lei no 73/1966 determi-
na que a aplicação das reservas técnicas das sociedades seguradoras será fei-
ta conforme as diretrizes do Conselho Monetário Nacional. O artigo 73 dis-
põe que as sociedades seguradoras não poderão explorar qualquer outro
ramo de comércio ou indústria.
❒ As sociedades de capitalização
Conforme definido no parágrafo único do artigo 1o do Decreto-lei no 61/
1967, as sociedades de capitalização são aquelas que têm por objetivo forne-
cer ao público, de acordo com planos aprovados pelo governo federal, a cons-
tituição de um capital mínimo perfeitamente determinado em cada plano e
pago em moeda corrente, em um prazo máximo indicado no mesmo plano, à
pessoa que possuir um título de capitalização, segundo cláusulas e regras apro-
vadas e mencionadas no próprio título.
O título de capitalização é uma modalidade de aplicação em que o
subscritor constitui um capital, de acordo com as condições estabelecidas no
próprio título (condições gerais do título), e que será pago em moeda corren-
te até um determinado prazo. Os títulos de capitalização pagam prêmios em
dinheiro mediante sorteio. Esses prêmios são sempre definidos como múlti-
plos do último pagamento efetuado pelo subscritor.
❒ As sociedades resseguradoras
Consideram-se operações de resseguro as cessões de riscos realizadas pe-
los estabelecimentos de seguro para sua própria proteção, podendo tais ces-
Sistema Financeiro Nacional 53
❒ Fundos mútuos
Segundo Fortuna (2002), “os fundos mútuos de investimentos são cons-
tituídos sob a forma de condomínio aberto ou fechado e representam a
reunião de recursos de poupança, destinados à aplicação em carteira
diversificada de títulos e/ou valores mobiliários, com o objetivo de propiciar
aos seus condôminos valorização de cotas, a um custo global mais baixo, ao
mesmo tempo em que tais recursos se constituem em fonte de recursos
para investimento em capital permanente nas empresas.”
❒ Clubes de investimentos
Os clubes de investimentos são formados por investidores que têm por
objetivo constituir uma carteira diversificada de títulos e valores mobiliários,
mediante aplicação de recursos financeiros próprios. O clube deve possuir
um estatuto que reja as políticas de investimento, a definição das cotas, o prazo
do clube e a forma de resgate das cotas. O órgão deliberativo do clube é a
assembleia-geral com todos os membros. A carteira do clube de investimentos
deve ser constituída por pelo menos 51% de títulos e valores mobiliários.
❒ Administradora de consórcios
A Circular no 2.766/97 do Banco Central define consórcio como uma reu-
nião de pessoas físicas e/ou jurídicas em grupo fechado, promovida pela ad-
ministradora com a finalidade de propiciar aos seus integrantes a aquisição
de um determinado bem ou conjunto de bens, ou ainda serviços turísticos,
por meio do autofinanciamento. A administradora de consórcios é a
prestadora de serviços com a função de gestora dos negócios do grupo, nos
termos do contrato celebrado com os consorciados (pessoa física ou jurídica
integrante do grupo que assume a obrigação de contribuir com recursos
para atingir os fins estabelecidos no contrato). O grupo é uma sociedade de
fato constituída pelos consorciados reunidos pela administradora. Cada gru-
po é autônomo em relação aos demais grupos, possuindo patrimônio pró-
prio, que não se confunde com o patrimônio da administradora. Os grupos
de consórcio podem ter como objeto:
• Bens imóveis.
• Serviços turísticos (bilhetes de passagem aérea e pacotes turísticos).
❒ O Banco do Brasil
O Banco do Brasil (BB) é um banco múltiplo de capital misto sob o
controle da União. É o principal agente do governo federal porque, além
de desempenhar as funções típicas de um banco múltiplo com carteira
comercial, o Banco do Brasil exerce as atividades de agente financeiro do
governo federal por meio do recebimento dos tributos e das rendas fede-
rais, da realização de pagamentos constantes no orçamento da União e da
execução do fomento às políticas de produção agropecuárias.
Sistema Financeiro Nacional 57
• BNDES Automático
• Finame – Máquinas e Equipamentos
• Finame Agrícola
• Finame Leasing
• Finame Concorrência Internacional
• Cartão BNDES
• Pré-embarque
• Pré-embarque especial
• Pré-embarque curto prazo
• Pós-embarque
❒ Banco da Amazônia
O Banco da Amazônia foi criado em 1942, com o nome de Banco de
Crédito da Borracha, cuja finalidade era garantir o suprimento de borracha
natural, sendo que mais tarde passou a fomentar o desenvolvimento de no-
vas atividades produtivas na Amazônia. Em 1966, com a ação do governo
visando à integração da Amazônia à economia nacional, o antigo Banco de
Crédito da Borracha passou a ser Banco da Amazônia S.A. (Basa) agregando
a função especial de agente financeiro da política do governo federal para o
desenvolvimento da Amazônia Legal.
RESUMO
A estrutura do Sistema Financeiro Brasileiro foi desenvolvida a partir de
1964 em um arcabouço legal complexo e consolidado. Foram criados dois
subsistemas: normativo e operativo, que estabeleceram os objetivos, as atri-
buições, as características e as funções das principais instituições participantes
do sistema. Os órgãos participantes do subsistema normativo regulam, fiscali-
zam e controlam as instituições do sistema de intermediação. O Conselho
Monetário Nacional é o órgão superior do Sistema Brasileiro. Por sua vez, o
sistema operativo realiza a intermediação financeira, que é o objetivo princi-
pal do sistema financeiro.
62 Mercado Financeiro
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREZO, A. F.; LIMA, I. S. Mercado financeiro: aspectos históricos e conceituais. São Paulo: Pioneira,
1999.
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
BANCO CENTRAL DO BRASIL, www.bc.gov.br
CARDIM, F. J. et al. Economia monetária e financeira. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 15. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
WESTERFIELD, R.; ROSS, S.; JAFFE, J. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2002.
WESTON, J.; BRIGHAM, E. Fundamentos da administração financeira. São Paulo: Makron Books, 2000.
Capítulo
III
Mercado Monetário
Objetivos
MERCADO MONETÁRIO
O mercado monetário pode ser definido como o segmento do mercado
financeiro caracterizado por operações de curto e curtíssimo prazos, no qual
ocorrem o ajuste da liquidez do sistema econômico e a formação das taxas de
juros básicas da economia. O mercado monetário pode ser caracterizado, tam-
bém, pelas operações com reservas bancárias efetuadas pelas instituições fi-
nanceiras. Os principais participantes do mercado monetário, além do Banco
Central, são as instituições captadoras de depósitos à vista (bancos comerci-
ais, bancos múltiplos com carteira comercial e caixas econômicas). As demais
instituições financeiras autorizadas a emitir e/ou adquirir depósitos inter-
financeiros também participam do mercado monetário.
Em decorrência do recolhimento compulsório imposto pelo Banco Cen-
tral sobre os depósitos à vista e a prazo, as instituições detentoras de conta de
reservas bancárias são obrigadas a manter um nível mínimo de recursos nessa
conta. Para atender à exigibilidade do compulsório, as instituições financei-
ras trocam reservas bancárias por meio de operações compromissadas com
títulos públicos federais ou por meio da negociação de depósitos interfinan-
ceiros (DIs). Se por um lado os bancos não podem apresentar saldo na conta
de reservas insuficiente para atender ao recolhimento compulsório, por ou-
66 Mercado Financeiro
Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) foi instituído em 20 de junho
de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e
definir a meta para a taxa básica de juros da nossa economia, a taxa Selic. A
68 Mercado Financeiro
REDESCONTO
O acesso ao redesconto do Banco Central é restrito às instituições finan-
ceiras titulares de conta reservas bancárias. O redesconto do Banco Central
compreende as seguintes modalidades:
• De até 15 dias úteis, podendo ser recontratadas desde que o prazo total
não ultrapasse 45 dias úteis, destinadas a satisfazer necessidades de liquidez
provocadas pelo descasamento de curto prazo no fluxo de caixa de insti-
tuição financeira e que não caracterizem desequilíbrio estrutural.
• De até 90 dias corridos, podendo ser recontratadas desde que o prazo
total não ultrapasse 180 dias corridos, destinadas a viabilizar o ajuste patri-
monial de instituição financeira com desequilíbrio estrutural.
• Depósitos à vista.
• Depósitos de aviso prévio.
• Recursos em trânsito de terceiros.
• Cobrança e arrecadação de tributos e assemelhados.
• Cheques administrativos.
• Contratos de assunção de obrigações – vinculados a operações realizadas
no país.
• Obrigações por prestação de serviços de pagamento.
• Recursos de garantias realizadas.
• Depósitos a Prazo.
• Recursos de Aceites Cambiais.
• Cédulas Pignoratícias de Debêntures.
• Títulos de Emissão Própria.
• Contratos de Assunção de Obrigações – Vinculados a Operações Realiza-
das no Exterior.
AGREGADOS MONETÁRIOS
Os agregados monetários são definidos pelo Banco Central do Brasil da
seguinte forma:
76 Mercado Financeiro
BM&F – Câmbio
A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) opera um sistema de liquida-
ção de operações de câmbio contratadas no mercado interbancário, que en-
trou em funcionamento em 22 de abril de 2002. As obrigações corresponden-
tes são compensadas multilateralmente e a BM&F atua como contraparte cen-
tral. Atualmente são aceitas apenas operações com dólar americano e o prazo
de liquidação é quase sempre D + 2.
O sistema observa o princípio do “pagamento contra pagamento” (a en-
trega da moeda nacional e a entrega da moeda estrangeira são mutuamente
condicionadas), sendo que, para isso, a BM&F monitora e coordena o pro-
cesso de liquidação nas pontas em moeda nacional e em moeda estrangeira.
Mercado Monetário 79
Câmara Tecban
No sistema de compensação e de liquidação operado pela Tecnologia Ban-
cária S.A. (Tecban), que entrou em funcionamento em 22 de abril de 2002, são
processadas transferências de fundos interbancárias relacionadas principalmente
com pagamentos realizados com cartões de débito e saques na rede de atendi-
mento automático de uso compartilhado, denominada Banco24Horas. O siste-
ma utiliza compensação multilateral de obrigações, com a liquidação final dos
resultados apurados sendo feita, por intermédio do Sistema de Transferência
de Reservas (STR), em contas mantidas pelos participantes no Banco Central
do Brasil. Como esse sistema de liquidação, na forma da regulamentação em
vigor, não é considerado sistemicamente importante, a liquidação em contas
mantidas no Banco Central do Brasil decorre de opção da entidade operadora.
Com poucas exceções, a liquidação é garantida pela (Tecbran) e, para
tanto, os participantes depositam garantias e se sujeitam à observação de limi-
tes operacionais.
A liquidação ocorre em D ou D + 1, dependendo do horário em que a
operação que dá origem à transferência de fundos for realizada. Para isso, em
cada dia considerado útil para fins de funcionamento do sistema financeiro o
sistema realiza dois ciclos de liquidação. No primeiro, que se encerra às
10h10min, são liquidadas as transferências de fundos originadas em opera-
ções confirmadas pelos participantes entre 14h e 0h do dia útil anterior, no
caso de operações garantidas, e entre 14h do dia útil anterior e 8h do próprio
dia, no caso de operações não garantidas. No segundo ciclo, que se encerra às
17h10min, são liquidadas as transferências de fundos relativas a operações
confirmadas pelos participantes entre 0h e 14h do próprio dia, no caso de ope-
rações garantidas, e entre 8h e 14h também do próprio dia, no caso de opera-
ções não garantidas.
É utilizada rede de comunicação própria para transmissão de dados entre
os pontos de captura (máquinas de autoatendimento, pontos de venda etc.)
e a Tecban. Todas as confirmações são feitas pela Tecban em tempo real, salvo
nos casos de débitos diretos e créditos diversos.
RESUMO
O mercado monetário pode ser entendido como um segmento do mer-
cado financeiro, caracterizado, sobretudo, por operações de curto e
curtíssimo prazos, nas quais as instituições financeiras, em especial aquelas
que captam depósitos à vista, trocam reservas bancárias entre si e com o
86 Mercado Financeiro
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREZO, A. F.; LIMA, I. S. Mercado financeiro: aspectos históricos e conceituais. São Paulo: Pioneira,
1999.
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
CARDIM, F. J.; PIRES, F. E.; SICSÚ, J.; RODRIGUES, L. F.; STUDART, R. Economia monetária e finan-
ceira. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
LOPES, J. C.; ROSSETTI, J. P. Economia monetária. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
BANCO CENTRAL DO BRASIL, www.bc.gov.br.
— Resolução 3.108/2003 do Conselho Monetário Nacional.
— Resolução 3.210/2004 do Conselho Monetário Nacional.
— Resolução 2.882/2001 do Conselho Monetário Nacional.
— Circular 3.204/2003 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.101/2002 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.100/2002 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.169/2002 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.199/2003 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.091/2001 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.262/2004 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.127/2002 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.144/2002 do Banco Central do Brasil.
Mercado Monetário 87
IV
O Mercado de Crédito
Objetivos
INTRODUÇÃO
O mercado de crédito é uma das quatro subdivisões do mercado financei-
ro, no qual se desenvolve a intermediação financeira. Este capítulo tem o
objetivo de descrever os principais aspectos desse mercado.
90 Mercado Financeiro
PARTE I
O MERCADO DE CRÉDITO
2. A figura jurídica dos bancos múltiplos surgiu pela Resolução no 1.524 de 21 de setembro de 1988 do
Banco Central do Brasil com objetivo de dar maior racionalidade ao sistema financeiro nacional. O
banco múltiplo agrega as carteiras de bancos comercial e de investimento, as sociedades de crédito,
financiamento e investimento e as sociedades de crédito imobiliário.
O Mercado de Crédito 95
Figura 4.1
A gestão de crédito.
Fase 1 – Avaliação de
crédito, concessão e pricing
Fase 2 – Acompanhamento
e recuperação de crédito:
riscos e mitigantes
O Mercado de Crédito 99
❒ Sistema especialista
O sistema especialista é a utilização dos parâmetros da análise clássica
por pessoas destacadas nos bancos como capazes de filtrar as informações
dos clientes, ponderá-las com base na relevância de cada uma e finalmente
decidir a respeito da concessão do crédito.
Os parâmetros iniciais desse método foram os chamados cinco Cs do Cré-
dito:5 caráter, condições, capacidade, capital e colateral.
Caráter é a determinação do devedor em cumprir as obrigações assumidas
com o credor. É uma medida da reputação do devedor.
Entende-se por condições todos os aspectos econômicos que influenciam os
devedores a honrar seus compromissos. Condições são também chamadas de
ciclos decorrentes do estado da economia, do setor e do negócio. Entre os
principais aspectos podemos destacar a inflação, os planos econômicos e os
aspectos do mercado externo.
Capacidade é a geração de recursos e caixa por parte do devedor, pessoa
física e jurídica, respectivamente, para liquidar suas obrigações. Esse parâmetro
busca avaliar a volatilidade da geração de recursos.
O capital é constituído pelos bens e a liquidez das pessoas físicas e jurídicas
devedoras que podem ser usados para saldar suas obrigações contratuais. Pode
ser entendido também como a participação do capital próprio no total do
investimento.
Colaterais são todas as garantias envolvidas nas operações de crédito entre
devedores e credores. A colateralidade dependerá da garantia ser real ou pes-
soal e da capacidade de execução da garantia.
Na prática, os especialistas em crédito dos bancos, com base nesses
parâmetros, elaboram pareceres para cada crédito e, individualmente ou em
conjunto, por meio de comitês, decidem sobre a concessão do crédito. Eles
tratam da definição de valores, prazos, modalidades de operações e garantias.
Os especialistas podem buscar informações com os próprios tomadores; in-
formações públicas, como relatórios contábeis de empresas de auditoria; da-
dos próprios, como histórico de performance do cliente; e informações com
agentes especializados em cadastro e verificação de dados, para balizar seus
julgamentos em relação à concessão de crédito para seus clientes.
6. Ebitda, sigla que corresponde a “Earnigs Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization”,
significa lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, e indica a capacidade de geração
de caixa com a operação. Esse conceito foi desenvolvido para avaliar o resultado dos negócios das
empresas, e rapidamente passou a ser utilizado largamente no mercado de crédito para avaliar a capa-
cidade de alavancagem das empresas, e em finanças corporativas como geração operacional, fluxo de
caixa e até mesmo como método de avaliação de empresas.
104 Mercado Financeiro
14. Para Caouette et al. (1999, p. 113),“os credores que concedem empréstimos garantidos por ativos
acumulam um enorme cabedal de conhecimento sobre acúmulos sazonais; ciclo de negociação e
caixa; capital de giro e razões de estoque; padrões de produção cíclica; e evolução das perdas e da
diluição nos diversos setores. Da mesma forma, os tomadores aprenderam a organizar seus negócios
de modo a poder obter maiores empréstimos em troca da garantia de seus bens”.
O Mercado de Crédito 107
15. Financeiras são sociedades de crédito, financiamento e investimento cuja função é financiar bens de
consumo duráveis e não duráveis por meio do crédito direto ao consumidor.
108 Mercado Financeiro
16. As empresas de fomento mercantil ou factoring são instituições não financeiras que atuam no merca-
do por meio da compra de duplicatas e cheques, e onde a transferência definitiva do título de crédi-
to altera o risco de crédito para o cliente da empresa que negocia os seus títulos, caracterizando a
transação como comercial.
17. Empréstimos sindicalizados são transações das quais várias instituições financeiras participam, com-
partilhando o risco de crédito. A formalização da operação é comum aos participantes e os aspectos
relevantes contratuais foram objeto de análise de todas as instituições financeiras, reforçando o as-
pecto jurídico. O empréstimo sindicalizado vem crescendo no mercado de crédito em função dos
grandes volumes envolvidos em uma mesma transação e devido ao risco conjugado.
O Mercado de Crédito 109
18. Os principais modelos de Credit Scoring foram detalhados por Caouette, Altman e Narayanan (1998)
e Saunders (1997).
110 Mercado Financeiro
As agências de rating
A utilização de rating teve início nos Estados Unidos com o objetivo de
fornecer informações mais detalhadas e seguras a investidores interessados
em negócios com companhias de estradas de ferro. O bem-sucedido processo
inicial foi amplamente disseminado, principalmente para as transações no
mercado de capitais, criando uma metodologia padronizada para os agentes
econômicos em suas transações.
Os principais tipos de ratings definidos por agências internacionais refe-
rem-se ao risco soberano19 ou risco-país, ao risco de emissões de títulos de
curto e longo prazo e à capacidade financeira.
19. Risco soberano ou sovereign risk é a capacidade de um país de honrar suas obrigações com os agentes
econômicos internacionais. A metodologia para avaliação do risco soberano leva em consideração o
levantamento histórico dos indicadores de um país, como o produto nacional bruto, indicadores de
O Mercado de Crédito 113
24. A agência de rating Moody’s Investors Service foi fundada em 1900 por John Moody e lançou os
primeiros ratings de classificação de obrigações de empresas ferroviárias dos Estados Unidos. A agên-
cia Moody’s avalia mais de 80 ratings soberanos e mais de cinco mil títulos de dívida. Os modelos de
avaliação dessa agência priorizam o valor do negócio, a capacidade financeira, a qualidade do negó-
cio, o ambiente operacional e o suporte externo.
25. A agência de rating Standard & Poor’s foi fundada em 1860 por Henry Varnum Poor e avalia princi-
palmente rating de dívidas em moeda local e estrangeira, de emissões de curto e longo prazo para
empresas e governos.
26. A agência de rating Fitch IBCA foi fundada em 1913 e prioriza a força do tomador, a probabilidade de
default e o suporte externo.
27. A agência de rating Duff & Phelps Credit Rating Co. foi fundada em 1932 e avalia principalmente
títulos de curto e longo prazo. Considera fundamentalmente os aspectos de garantia.
O Mercado de Crédito 115
Quadro 4.1
Resumo dos ratings de crédito de longo prazo das agências de classificação
Grau de títulos B1 B+ B+ B+
especulativos B2 B B B
B3 B- B- B-
Caa1 CCC+ CCC+ CCC
Caa2 CCC CCC DD
Caa3 CCC- CCC- DP
Ca CC CC
C C C
Default SD DDD
D DD
Fontes: Moody’s Investors Service, Sandard & Poor’s, Fitch IBCA e Duff & Phelps.
28. O Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (Basle Committee on Banking Supervision) é repre-
sentado pelo Bank for International Settlement.(BIS).
118 Mercado Financeiro
Quadro 4.2
Matriz de transição de rating
Quadro 4.3
Curvas de taxas de juros a termos de um ano para cada categoria de rating (% a.a.)
Quadro 4.4
Possíveis valores ao fim de um ano do
título BBB mais cupom de 6% a.a
AAA 109,37
AA 109,19
A 108,66
BBB 107,55
BB 102,2
B 98,1
CCC 83,64
Inadimplência 51,13
Quadro 4.5
Situação atual no ano 1
Quadro 4.6
Situação com a nova tomada de recursos de terceiros no ano 2
σPL = g (VPL; σ; K; i)
μ e –μ
P (n inadimplências) =
n!
Onde:
29. A adoção da distribuição de Poisson, segundo Crouhy, Galai e Mark (2000), provoca um erro no
valor do desvio padrão por rating devido aos ciclos econômicos, mas esses mesmos autores conside-
ram que essa distribuição representa de forma adequada o comportamento descrito no modelo,
desde que seja feito um ajuste ao considerar que a taxa média de inadimplência seja uma variável
estocástica com média e desvio padrão.
128 Mercado Financeiro
33 × (2,71828)3
Prob. (3 inadimplências) =
3!
38 × (2,71828)8
Prob. (8 inadimplências) =
8!
Quadro 4.7
Probabilidade de inadimplência
Probabilidade
N Probabilidade acumulada
0 4,9787% 4,9787%
1 14,9361% 19,9148%
2 22,4042% 42,3190%
3 22,4042% 64,7232%
4 16,8031% 81,5263%
5 10,0819% 91,6082%
6 5,0409% 96,6491%
7 2,1604% 98,8095%
8 0,8102% 99,6197%
9 0,2701% 99,8898%
10 0,0810% 99,9708%
Nota: μ = 3%.
1
Pt =
(1 + e –Yt)
130 Mercado Financeiro
Yt = g(Xt, …, Vt)
Onde: Xt, ..., Vt são variáveis macroeconômicas como taxa de juros, cresci-
mento do produto interno bruto e níveis de desemprego sensibilizados por
meio de dados históricos. A definição das variáveis macroeconômicas relevan-
tes para o modelo é feita considerando as especificidades de cada país e a
influência setorial.
A partir dessas simulações é analisada a diferença entre as probabilidades
de migração nas matrizes e os ratings divulgados pelas principais agências de
classificação com o objetivo de apurar o erro no valor esperado do VAR de
crédito do emissor. Saunders (2000) apresenta um exemplo no qual um
emissor de rating C com probabilidade (Pt*) de 35% na matriz condicional e
30% de probabilidade (Pt) na matriz não condicional das agências de rating.
Nesse caso, a probabilidade de ter sido subestimado o VAR de empréstimos
de uma carteira de empréstimo é definida pela razão:
Pt* 0,35
Rt = = = 1,16
Pt 0,30
Quadro 4.8
Comparativo das novas abordagens de crédito
Direcionador de risco Valor dos ativos Valor dos ativos Fatores macro Nível de perda
Fonte: SAUNDERS, Anthony. Medindo o risco de crédito – novas abordagens para value at risk e outros paradigmas. Rio de
Janeiro: Qualitmark, 2000.
Quadro 4.9
Quantidade de instituições autorizadas a funcionar no SFN
Tipo de instituição 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Bancos múltiplos 206 210 205 194 180 174 169 164 153 143 141
Bancos comerciais 35 34 35 38 36 28 25 28 28 23 23
Desenvolvimento 7 6 6 6 6 6 5 5 4 4 4
Caixas econômicas 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1
Bancos de investimento 17 17 17 23 22 22 21 19 20 23 21
CFI 41 41 43 48 49 44 42 43 42 46 47
SCCTVM* 285 280 275 258 239 233 232 228 220 203 190
SDTVM 378 367 333 281 235 210 190 177 159 151 146
Arrendamento 67 72 80 75 80 83 81 78 72 65 58
Crédito imobiliário/APE 27 27 23 22 22 21 19 18 18 18 18
Companhias - - - 3 3 4 6 7 7 6 6
hipotecárias - - - - - 3 5 7 7 6 6
Agências de fomento 877 946 980 1.018 1.120 1.198 1.253 1.311 1.379 1.430 1.454
Cooperativas - - - - - - 4 11 23 37 49
SCMs 485 490 462 446 433 422 406 407 399 376 365
Consórcios 2.427 2.492 2.461 2.416 2.430 2450 2.459 2.505 2.534 2.536 2.534
Total
* Inclui as Sociedades Corretoras de Câmbio.
Fonte: Cadinf-Deorf/Copec – Banco Central do Brasil.
30. O Conselho Monetário Nacional editou as Resoluções no 2.197, de 31 de agosto de 1995, e no 2.211,
de 16 de novembro de 1995, que garantiam a proteção incondicional à poupança da sociedade.
31. O governo federal editou as Medidas Provisórias no 1.179, de 3 de novembro de 1995, e no 1.182, de
17 de novembro de 1995, que garantiam ao Banco Central do Brasil poderes para sanear o sistema
financeiro nacional, por meio da manutenção da sua saúde, liquidez e solidez. A Medida Provisória
no 1.182 estabeleceu o conceito de responsabilidade solidária dos controladores das instituições
financeiras submetidas aos regimes de intervenção ou liquidação extrajudicial e definiu a
indisponibilidade das ações dos controladores das instituições para efeito de privatização posterior,
bem como dos bens pessoais, que passaram a ser considerados inalienáveis. Essa medida definiu
também a capitalização da instituição financeira, transferência de controle, fusão ou incorporação.
32. O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (Proer) foi
instituído por meio da Medida Provisória no 1.179 e da Resolução no 2.208, ambas de 3 de novembro
de 1995.
33. O Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária foi criado com
base na Resolução no 2.365, de 28 de fevereiro de 1997. Outras medidas com a mesma natureza
tinham sido editadas pelo governo federal, como a Medida Provisória no 1.556, de 19 de dezembro
de 1996 (atualizada pela 1.773, de 14 de dezembro de 1998), que delegava poderes ao Conselho
Monetário Nacional para baixar normas com o objetivo de reestruturar as instituições financeiras
estaduais por meio de privatizações e extinções.
34. O Fundo Garantidor de Créditos foi constituído a partir da Resolução no 2.211, de 16 de novembro
de 1996, conforme previsto na Constituição Federal pelo artigo 192.
136 Mercado Financeiro
Quadro 4.10
Operações de crédito em relação ao Produto Interno Bruto por país
Japão 175%
Reino Unido 143%
Estados Unidos 141%
China 137%
Alemanha 119%
Itália 57%
Índia 33%
Brasil 26%
Peru 23%
México 13%
Fonte: FMI.
35. A diretoria do Banco Central do Brasil criou e definiu a estrutura e as normas de funcionamento da
Central de Risco de Crédito em março de 2002, com base na Resolução no 2.724, de 31 de março de
2000, do Conselho Monetário Nacional, e na Resolução no 2.798, de 30 de novembro de 2000, e
tendo em vista o disposto nos artigos 2o da Resolução no 2.686, de 26 de janeiro de 2000, e da Reso-
lução no 2.907, de 29 de novembro de 2001 e pela Circular no 3.098 e Carta-Circular no 3.043.
O Mercado de Crédito 137
36. O Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução no 2.682, de 21 de dezembro de 1999,
determinou que todas as operações de crédito das instituições financeiras fossem classificadas em
determinados níveis de risco.
138 Mercado Financeiro
Quadro 4.11
Sistema de classificação de risco de crédito e provisão para devedores duvidosos
I AA 0%
II A 0,5%
III B 1%
IV C 3%
V D 10%
VI E 30%
VII F 50%
VIII G 70%
IX H 100%
* O porcentual incide sobre o valor das operações em relação a sua classificação e as provisões devem ser constituídas
mensalmente e não podem ter valor inferior ao somatório decorrente da aplicação dos percentuais mencionados.
Fonte: Resolução no 2.682 do Banco Central do Brasil.
O Mercado de Crédito 139
PARTE II
PRODUTOS ATIVOS
É o conjunto de operações de crédito dos bancos independente de pra-
zos e destinação. O mercado financeiro brasileiro é um dos mais criativos do
mundo e rapidamente desenvolve produtos para atender as demandas exis-
tentes. Apesar do grande número de produtos, apenas 25% do PIB é aplicado
em operações ativas pelas instituições financeiras contra mais de 40% do PIB
nos países desenvolvidos. Distribuímos os produtos ativos em produtos
commodities, trade finance, para inversões e agribusiness.
Produtos Commodities
É o conjunto de operações de crédito dos bancos, independente de pra-
zos, e destinadas a empresas de diferentes portes para atender as necessidades
do dia a dia, como descasamentos nos fluxos de caixa, investimentos opera-
cionais em giro e empréstimos ponte para investimentos.
• Capital de giro
• Conta garantida
O Mercado de Crédito 143
• Cheque especial
• Vendor
• Compror
• Crédito Direto ao Consumidor com Interveniência (CDC-I)
• Fiança
• Crédito rural
• Repasse de recursos externos – Resolução no 2.770
• Repasse de recursos externos – Resolução no 4.131
Capital de Giro
Conceito Empréstimo, sem direcionamento específico, por meio do
qual o cliente capta recursos para cobrir descasamentos em
seu fluxo de caixa.
Público-alvo Empresas com eventuais descasamentos no fluxo de caixa.
Vantagens e Não tem vinculação direta e facilidade operacional.
desvantagens
Indexador Pós-fixado (CDI, TR ou IGPM) ou prefixado.
Tributação IOF: 1,5% a.a. ou (0,0041% a.d.) e CPMF de 0,38%.
Garantias Aval, duplicatas, fiança, penhor mercantil e alienação
fiduciária.
Prazo No mínimo de 15 dias e sem prazo máximo.
Contratação Contrato de empréstimo, contrato de garantia e nota
promissória.
144 Mercado Financeiro
Conta garantida
Conceito Limite rotativo de crédito, no qual o cliente pode tomar um
empréstimo de capital de giro a curto prazo por meio de abertura
de crédito em conta-corrente de livre movimento. O cliente utiliza
o recurso toda vez que a conta-corrente fica devedora.
Público-alvo Empresas com fluxo de caixa instável ao longo de um curto
período de tempo.
Vantagens e Empresa paga juros apenas sobre os valores utilizados.
desvantagens
Indexador Pós-fixado em CDI.
Tributação IOF de 1,5% a.a. (0,0041% a. d.) e CPMF de 0,38%.
Garantias Aval, duplicatas, penhor mercantil e alienação fiduciária
Prazo No mínimo um dia e no máximo 360 dias.
Contratação Contrato de abertura de limite de crédito, contrato de
garantia, aditivos de constituição de garantias.
O Mercado de Crédito 145
Cheque especial
Conceito Empréstimo de capital de giro a curto prazo por meio de
abertura de crédito em conta-corrente. O cliente utiliza o
recurso toda vez que a conta-corrente fica devedora.
Público-alvo Pessoas físicas com fluxo de caixa instável ao longo de um
curto período de tempo.
Vantagens e Pessoas físicas pagam juros apenas sobre os valores utilizados.
desvantagens
Indexador Pós-fixado em CDI.
Tributação IOF de 1,5% a.a. e CPMF de 0,38%.
Garantias Não há.
Prazo No mínimo 1 dia e no máximo 360 dias.
Contratação Contrato de abertura de limite de crédito.
Vendor
Conceito Financiamento a vendas no qual a empresa utiliza seu
crédito para incrementar o prazo de cliente sem utilizar
caixa. O fato gerador é a nota fiscal ou recibo de venda à
vista. O fornecedor é interveniente pela dívida da empresa.
Público-alvo Empresas que vendem a prazo mas precisam receber à vista.
Vantagens e Aumento do prazo de financiamento sem utilização do caixa,
desvantagens benefício fiscal pela redução no preço da mercadoria.
146 Mercado Financeiro
Impacto:
Compror
Conceito Financiamento para o pagamento de insumos ou serviços à
vista. O banco liquida as faturas do cliente. O fato gerador da
operação são as notas fiscais e a quitação da duplicata é
obrigatória para caracterizar uma venda à vista. Não existe
direito de regresso contra o fornecedor.
Público-alvo Clientes que compram à vista e conseguem descontos
interessantes de seus fornecedores.
Vantagens e Benefício fiscal (economia de CPMF e ICMS sobre venda à
desvantagens vista). Aumento de liquidez para o fornecedor e prazo para
o cliente.
Indexador Pré e pós-fixado (CDI, IGPM) ou cambial (Resolução no
2.770)
Garantias Geralmente é clean.
Prazo Mínimo de 30 dias.
Contratação Contrato de convênio e carta de adesão.
Fiança
Conceito Prestação de garantia dada pela instituição financeira de
uma obrigação específica contraída pelo cliente junto a
terceiros. A fiança precisa refletir as condições acordadas
entre o cliente e seu fornecedor.
Público-alvo Empresas que tenham necessidade de prestar garantias a
terceiros como: fornecedores, governos, Poder Judiciário,
performance, leilões e instituições financeiras.
Vantagens e Liberação de recursos que possam garantir terceiros.
desvantagens
O Mercado de Crédito 149
Crédito Rural
Conceito Financiamento destinado à produção de rural.
Público-alvo Produtores rurais e empresas consumidoras de insumos
agrícolas.
Vantagens e Os custos das operações são subsidiados.
desvantagens
Indexador Não há.
150 Mercado Financeiro
Produtos de Investimentos
Produtos de investimentos são operações destinadas à ampliação e à moder-
nização do parque produtivo. A principal fonte de recursos advém do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que atua direta-
mente ou por meio do mercado financeiro como agente repassador. Outras
fontes são a Caixa Econômica Federal, os bancos de fomento, como Banco do
Nordeste e Basa, e os recursos externos de agências multilaterais e bancos es-
trangeiros por meio de linhas de financiamento, importação e empréstimos.
• Finame
• BNDES automático
• Finem
• Leasing financeiro
• Leasing operacional
• Sale and lease back
• Leasing Finame
• Vendor leasing
Finame
Conceito Financiamento de longo prazo para investimentos em
aquisição de máquinas e equipamentos nacionais novos
destinados ao incremento da produção.
Público-alvo Empresas nacionais e estrangeiras com sede no país.
Vantagens e Financiamento subsidiado, isento de tributação, e prazos
desvantagens longos.
Indexador Taxa de Juros de Longo Prazo(TJLP), calculada pelo Banco
Central. Taxa anual com variação trimestral.
Tributação Não há.
Garantias Alienação fiduciária do equipamento adquirido.
Prazo Entre 18 e 60 meses.
Contratação Orçamento do equipamento conforme modelo Finame,
CND do INSS, CRS do FGTS, documentos societários da
empresa, quadro de composição acionária e três últimos
O Mercado de Crédito 153
BNDES Automático
Conceito Financiamentos de até R$10 MM para investimentos que
busquem melhoria de qualidade, aumento de produtividade
e expansão da capacidade, com o objetivo de desenvolver
uma economia mais competitiva.
Públic-alvo Empresa cujo controle do capital pode ser nacional ou
estrangeiro desde que sediada no país.
Vantagens e Longo prazo isento de tributação, custo subsidiado.
desvantagens
Indexador TJLP.
Tributação Não há.
Garantias Hipoteca, alienação fiduciária e fiança.
Prazo Geralmente 60 meses.
Contratação Projeto de viabilidade econômica do investimento, CND do
INSS, CRS do FGTS, documentos societários da empresa,
quadro de composição acionária, três últimos balanços e
declaração em conformidade com órgãos do meio ambiente.
Os bancos atuam como agentes repassadores de recursos do
BNDES.
Finem
Conceito Financiamentos superiores a R$10 MM para investimentos
que busquem melhoria de qualidade, aumento de
produtividade e expansão da capacidade com o objetivo de
desenvolver uma economia mais competitiva.
Público-alvo Empresa cujo controle do capital pode ser nacional ou
estrangeiro desde que sediado no país.
Vantagens e Longo prazo isento de tributação, custo subsidiado.
desvantagens
154 Mercado Financeiro
Indexador TJLP.
Leasing Financeiro
Conceito Leasing ou arrendamento mercantil é uma operação na qual
o cliente ou arrendatário aluga um bem de uma empresa de
leasing ou arrendadora, por um prazo determinado e inferior
à vida útil do bem, e se compromete a mantê-lo em perfeito
funcionamento. Esse arrendador tem ainda a opção de
comprar o bem por um valor residual garantido, devolvê-lo
ou renovar o contrato.
Público-alvo Empresas interessadas em utilizar um bem sem adquiri-lo no
início, visando à liberação de capital de giro.
Vantagens e Economia de IR pela não imobilização no balanço e pela
desvantagens dedução de despesas com aluguéis. Aceleração de
depreciação gerando eficiência fiscal; melhoria no balanço
porque não aparece como dívida. Custo geralmente mais
elevado do que as operações do BNDES.
Indexador IGP-M, CDI e dólar.
Tributação ISS.
Garantias O bem e aval.
Prazo Mínimo 24 meses.
Contratação Contrato de arrendamento.
O Mercado de Crédito 155
Leasing Operacional
Conceito Leasing operacional é uma operação na qual o cliente ou
arrendatário aluga um bem de uma empresa de leasing ou
arrendadora, por um prazo determinado e inferior à vida útil
do bem, podendo rescindir o contrato a qualquer tempo, e
se compromete a mantê-lo em perfeito funcionamento.
Esse arrendador não tem a opção de comprar o bem. Para
comprá-lo, terá que negociar com a empresa de leasing.
Público-alvo Empresas interessadas em utilizar um bem sem adquiri-lo,
visando à liberação de capital de giro.
Vantagens e Economia de IR pela não imobilização no balanço e pela
desvantagens dedução de despesas com aluguéis. Aceleração de
depreciação gerando eficiência fiscal; melhoria no balanço
porque não aparece como dívida. Custo geralmente mais
elevado do que operações do BNDES.
Indexador IGP-M, CDI e dólar.
Tributação ISS.
Garantias O bem e aval.
Prazo Mínimo 90 dias.
Contratação Contrato de arrendamento.
Leasing Finame
Conceito Leasing ou arrendamento mercantil é uma operação na qual o
cliente ou arrendatário aluga um bem de uma empresa de
leasing ou arrendadora, por um prazo determinado e inferior à
vida útil do bem, e se compromete a mantê-lo em perfeito
funcionamento. Esse arrendador tem ainda a opção de comprar
o bem por um valor residual garantido, devolvê-lo ou renovar o
contrato. A empresa de leasing utiliza funding do BNDES.
Público-alvo Empresas que precisam de liberação de capital de giro.
Vantagens e Economia de IR pela não imobilização no balanço e pela
desvantagens dedução de despesas com aluguéis. Aceleração de
depreciação gerando eficiência fiscal, melhoria no balanço
porque não aparece como dívida. Custo mais baixo.
Indexador TJPL.
Tributação ISS.
Garantias O bem e aval.
Prazo 24 a 60 meses.
Contratação Contrato de arrendamento e contrato de repasses do
BNDES (Finame).
Vendor Leasing
Conceito Acordo entre uma empresa fabricante ou vendedora de
equipamentos e uma empresa de leasing para incrementar
O Mercado de Crédito 157
Agribusiness
É o conjunto de operações de crédito dos bancos destinado ao setor
agropecuário. Os diversos produtos de crédito rural nasceram como instru-
mentos de apoio à produção e à comercialização agrícola. O Banco Central
do Brasil obriga os bancos comerciais a destinar um percentual dos depósitos
à vista para o setor agrícola com custo subsidiado. O crédito rural destina-se
geralmente aos principais players desse setor. Paralelamente, o BNDES possui
linhas de crédito específicas destinadas ao incremento da produção agrícola.
• Crédito de financiamento
• Resolução no 2.148
EGF
Conceito Empréstimo do Governo Federal é um mecanismo de
financiamento voltado para a estocagem da produção
agrícola e matéria-prima para produção industrial. Esse
produto permite ao produtor esperar uma melhor época
para a venda da produção.
Público-alvo Produtores de grãos e sementes (individual ou via
cooperativa), beneficiadores e industriais que estocam
matéria-prima para a produção industrial.
Vantagens e Custo subsidiado.
desvantagens
Indexador 8,75% a.a. prefixado.
Tributação Não há.
Garantias Aval, penhor mercantil, warrant.
Limites 100% da capacidade de industrialização no período do EGF.
Prazos 180 a 240 dias.
Contratação Após a colheita da safra.
Produtos Algodão, milho, arroz, sorgo, trigo, triticale, cevada, aveia,
amparados alho, amendoim, mandioca, castanha de caju etc.
Compra de CPR
Conceito Cédula de Produto Rural é um título de crédito emitido
por produtores e suas associações que constituiu uma
promessa de entrega de produtos (venda antecipada). A
CPR é endossável e exigível pela quantidade do produto
nela prevista e o produtor antecipa a venda da produção
por meio da negociação nas bolsas. Os bancos concedem
aval ou compram CPRs dos emitentes.
O Mercado de Crédito 159
Desconto de NPR
Conceito Desconto de Nota Promissória Rural é um título de crédito
rural emitido geralmente por uma agroindústria ou
beneficiador com o objetivo de comprar produtos agrícolas.
Esse título transforma-se em uma promessa de pagamento de
um determinado produto objeto da comercialização.
Funciona como uma venda a prazo.
Público-alvo O produtor desconta a NPR baseado na capacidade de
crédito da agroindústria que comprou a prazo e emitiu o
título.
Vantagens e Custo subsidiado.
desvantagens
Indexador 8,75% a.a. prefixado.
Tributação Não há.
Garantias Aval.
160 Mercado Financeiro
Duplicata Rural
Conceito Duplicata Rural é um título de crédito rural emitido
geralmente por uma cooperativa, beneficiador de semente
ou produtor com o objetivo de vender produtos agrícolas.
Esse título transforma-se em uma promessa de recebimento
de um determinado recurso de uma indústria, mediante
entrega de produtos.
Público-alvo O produtor vende a DR para bancos baseado na capacidade
de crédito da agroindústria que prometeu pagar o título.
Vantagens e Custo subsidiado.
desvantagens
Indexador 8,75% a.a. prefixado.
Tributação Não há.
Garantias Aval, penhor mercantil, warrant.
Limites Até 5% da exigibilidade dos bancos.
Prazos Até 120 dias para qualquer produto agrícola ou pecuário.
Contratação Projetos de aquisição, DRs, instrumentos de garantias e
notas com comprovação da venda.
Produtos Produtos in natura ou industrializados.
amparados
O Mercado de Crédito 161
Parceria
Conceito Parceria na suinocultura e na avicultura de corte é voltada
para as indústrias desses dois setores.
Público-alvo Indústrias que exploram a atividade no regime de integração
com produtores rurais, como Sadia, Frangosul e Perdigão.
Vantagens e Custo subsidiado.
desvantagens
Indexador 8,75% a.a. prefixado.
Tributação Não há.
Garantias Aval, penhor mercantil, warrant.
Limites Até R$15 mil/integrado para avicultura e R$22.500,00/
integrado na criação de suínos e perus.
Prazos De 91 a 360 dias, especialmente para leite, com limite de
20% da capacidade de recepção ou industrialização.
Contratação Projetos de aquisição, instrumentos de garantias e notas com
comprovação dos gastos.
Produtos Suínos e aves.
amparados
Crédito a Cooperativas
Conceito Trata-se de recursos para adiantamento exclusivamente aos
cooperados de leite, por meio do qual a cooperativa recebe a
produção e adianta os pagamentos aos cooperados.
Público-alvo Empresas que utilizam os produtos como matéria-prima para
beneficiamento e produção industrial.
Vantagens e Custo subsidiado.
desvantagens
Indexador 8,75% a.a. prefixado.
Tributação Não há.
Garantias Aval, penhor mercantil, warrant.
162 Mercado Financeiro
Crédito de Custeio
Conceito Trata-se de financiamento para o plantio.
Público-alvo Produtores e cooperativas na forma de repasses a
cooperados.
Vantagens e Custo subsidiado.
desvantagens
Indexador 8,75% a.a. prefixado.
Tributação Não há.
Garantias Aval.
Limites São não cumulativos, respeitando os limites por produto e
estabelecendo o maior valor.
Prazos Um ano para custeio pecuário e dois anos para custeio agrícola.
Contratação Projetos de aquisição, instrumentos de garantias e notas
com comprovação dos gastos. Período de contratação no
início da safra.
Produtos Café, soja, amendoim, arroz, feijão, fruticultura, mandioca,
amparadoss orgo, trigo, algodão e milho.
Crédito de Financiamento
Conceito Trata-se de crédito para financiar os bens de produção,
como tratores e colheitadeiras, implementos e melhorias na
propriedade.
O Mercado de Crédito 163
Resolução no 2.148
Conceito Repasse de recursos externos com aplicação em agribusiness.
Público-alvo Empresas agrícolas, produtores rurais e cooperativas para
custeio, estocagem, investimentos na comercialização e
compra de insumos.
Vantagens e Custos externos mais baixos e isenção de tributos.
desvantagens
Indexador Variação cambial.
Tributação Isento.
Garantias Penhor mercantil, aval e hipoteca.
Prazos Entre 180 e 360 dias.
Contratação Contrato de repasse externo e cédula rural.
164 Mercado Financeiro
• Serviços
• Exportação
• Importação
• Garantias internacionais
Serviços
• Contrato de câmbio – exportação/importação
• Exportação – cobrança à vista
• Exportação – cobrança a prazo
• Pagamento antecipado
❒ Contrato de Câmbio
É o principal instrumento que expressa as relações comercias de compra
(C) e venda (V) de moeda estrangeira.
Quaisquer relações comerciais entre pessoas físicas e jurídicas com o ex-
terior devem ser reguladas em contratos de câmbio e por meio de um ban-
co. É uma formalização da operação como mecanismo para controlar a saída
e a entrada de divisas no país.
Legista do contrato de câmbio → acontece com o crédito da moeda es-
trangeira em contato com banco brasileiro no exterior.
O Mercado de Crédito 165
EXPORTAÇÃO
IMPORTAÇÃO
166 Mercado Financeiro
❒ Pagamento Antecipado
Exportação
• Adiantamento sobre Contratos de Câmbio de Exportação (ACC).
• Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE).
• Trava cambial.
• Pré-pagamento de exportação.
• Forfaiting – Desconto de saque de exportação.
• BNDES Exim pré-embarque de exportação.
• BNDES Exim pós-embarque de exportação.
• Securitização de exportação.
O Mercado de Crédito 169
BASE LEGAL
• Circular no 2.567, de 27 de abril de 1995.
• Circular no 2.639, de 22 de novembro de 1995.
• Circular no 2.615, de 14 de setembro de 1995.
• Circular no 2.919, de 18 de agosto de 1999.
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 5.
RISCOS DO BANCO
Riscos de Crédito do exportador
• Associados à capacidade de produção e ao efetivo embarque da mercadoria.
• Inadimplência do importador: não é feito o pagamento da obrigação na
data de vencimento.
172 Mercado Financeiro
Ricos operacionais
• Registro incorreto ou incompleto no Sisbacen.
• Ausência de algum documento, no dossiê da operação, exigido para a
contratação ou liquidação da operação de câmbio.
• Não liquidação da operação de câmbio quando devida, caso a forma
pactuada entre as partes coloque em risco o cliente perante o BCB e o
mercado.
• Falta de vinculação no contrato de câmbio dos documentos ou registros
informatizados relativos à exportação.
PENALIDADES
Pelo não embarque
• Cancelamento do contrato de câmbio junto ao Sisbacen solicitado pelo
exportador ao banco com:
– Ingresso automático na PCAM 415.
– Devolução do valor principal ao banco, pelo exportador, com as devi-
das correções de variação cambial e/ou deságio/juros.
– Cobrança do IOF pela descaracterização do ACC.
– Cobrança de encargos financeiros correspondentes à diferença entre
os ganhos de uma aplicação de recursos recebidos a maior taxa oficial e
o valor do deságio/juros cobrados pelo Banco. Essa cobrança é a multa
pela operação não realizada.
• Baixa do contrato de câmbio e ação judicial contra o exportador, poden-
do esta variar de banco para banco.
BASE LEGAL
• Circular no 2.567, de 27 de abril de 1995.
• Circular no 2.639, de 22 de novembro de 1995.
• Circular no 2.615, de 14 de setembro de 1995.
• Circular no 2.919, de 18 de agosto de 1999.
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 5.
Trava Cambial
Conceito A trava cambial é uma contratação de câmbio na qual o
exportador não recebe o adiantamento em moeda nacional
equivalente a moeda estrangeira, correspondente ao valor da
exportação. Na trava, o exportador recebe um prêmio ao
final do prazo contratado. A trava pode ser contratada antes
ou após o embarque das mercadorias.
Público-alvo Empresas exportadoras que não precisam de caixa e podem
usar essa performance para receber um prêmio.
Vantagens e Recebimento de prêmio.
desvantagens
Indexador Variação cambial.
Tributação Não há.
Garantias Performance de exportação.
Prazos Até 360 dias.
Contratação Contrato de câmbio registrado no Sisbacen, registro de
exportação (RE), instrumento de garantias.
174 Mercado Financeiro
BASE LEGAL
• Circular no 2.567, de 27 de abril de 1995.
• Circular no 2.639, de 22 de novembro de 1995.
• Circular no 2.615, de 14 de setembro de 1995.
• Circular no 2.919, de 18 de agosto de 1999.
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 5.
• Circular no 2.941, de 11 de outubro de 1999.
O Mercado de Crédito 175
Pré-Pagamento de Exportação
Conceito O pré-pagamento de exportação é um financiamento
realizado por um banco no exterior para uma empresa
exportadora no Brasil mediante garantia de um banco no
Brasil (stand by). Essa operação depende da performance da
empresa e a liquidação é feita quando o importador realiza
o pagamento quando da entrega da mercadoria.
Público-alvo Empresas exportadoras que precisam de caixa para
produzir e fabricar seus produtos e possuem performance
de exportação garantida.
Vantagens e Custos reduzidos.
desvantagens
Indexador Variação cambial.
Tributação Não há.
Garantias Performance de exportação.
Prazo Até 360 dias para qualquer produto e superior a 360 dias
mediante apresentação de Registro de Operações Financeiras
(ROF) junto ao Banco Central.
Contratação Contrato de antecipação de pagamento de exportação, nota
promissória e instrumento de garantias.
176 Mercado Financeiro
BASE LEGAL
• Circular no 2.567, de 27 de abril de 1995.
• Circular no 2.639, de 22 de novembro de 1995.
• Cartas Circulares nos 2.624 e 2.625, de 14 de fevereiro de 1996.
• Circular no 2.919, de 18 de agosto de 1999.
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 5, Título 12.
Forfaiting
Conceito Trata-se de uma operação na qual o exportador brasileiro
desconta o saque a prazo emitido contra um importador no
exterior, com aval de um banco estrangeiro, junto a um
banco no Brasil. Nessa operação, um exportador recebe à
vista uma operação comercial realizada a prazo. O banco no
exterior assume o risco de crédito do importador e transfere
O Mercado de Crédito 177
BASE LEGAL
Essa é uma operação comum no mercado internacional e não é regula-
mentada pelo Banco Central do Brasil.
BASE LEGAL
• Portaria no 369, de 29 de novembro de 1994, do MICT (financiamento
exportação – prazo superior a 180 dias).
O Mercado de Crédito 179
BASE LEGAL
• Portaria no 369, de 29 de novembro de 1996, do MICT (financiamento
exportação – prazo superior 180 dias).
• Dirin/Proex no 5, de 1o de fevereiro de 1996, (sistema de equalização de
taxas).
• Circular no 164/98, de 4 de setembro de 1998, do BNDES/Finame (fixa
critérios do programa).
• Carta/Circular no 9/98, de 4 de setembro de 1998, do BNDES/Finame
(procedimentos operacionais).
• Portaria no 374, de 21 de dezembro de 1999, do MICT (relação de produ-
tos elegíveis).
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 5 – Título 18.
• Circular no 2.825, de 24 de junho de 1998 (consolida normas para ex-
portações financiadas e institui encadeamento de contratos de câmbio
de exportação).
• Circular no 2.982, de 10 de maio de 2000 (operações de CCR).
Securitização de Exportação
Conceito É a emissão de um título de dívida no mercado externo
lastreado em um fluxo de recebíveis de exportação
segregado em uma SPC. Os clientes designados pagam
diretamente na conta da SPC num trustee, que utiliza os
recursos para pagar os investidores.
Público-alvo Empresas com bom histórico de exportação para clientes de
primeira linha.
Vantagens e Elimina o risco-país tornando a operação com risco
desvantagens investment grade.
Tributação IR, remessa de juros e despesas.
Garantias Fluxo de exportação.
Prazo No mínimo cinco anos.
Contratação Contratos de venda de produtos entre a empresa no Brasil e
trading e contratos de venda e prestação de serviços com a
SPC, notas ou certificados de securitização, private placement
agreement, rating para operação, contrato de collection account
com trustee e contrato de prestação de garantias.
O Mercado de Crédito 181
Importação
• Carta de crédito.
• Stand by letter.
• Financiamento importação de banco no Brasil.
• Financiamento importação de banco no exterior.
• Desconto de saque.
Carta de Crédito
Conceito Carta de crédito de importação é uma garantia financeira
emitida por um banco que se obriga a efetuar o pagamento
ao exportador. Geralmente, o exportador exige uma
confirmação de um banco no exterior de pagar em nome do
banco no Brasil. O banco no exterior paga o exportador e
recebe do banco no Brasil.
Público-alvo Empresas importadoras que precisam de garantias do
exportador.
Vantagens e Preço.
desvantagens
Indexador Variação cambial.
Tributação IR sem custos externos.
Garantias Aval.
Prazo O exportador recebe os recursos mediante apresentação de
documentos em “boa ordem”. A prazo – o exportador
entrega os documentos e recebe no vencimento do saque
(aspecto negocial).
Contratação Original da fatura ou contrato mercantil, LI, ROF (se
superior a 360 dias), NCM da mercadoria, CI, vinculação da
DI e contrato de câmbio.
O Mercado de Crédito 183
BASE LEGAL
• Brochura 500 e Publicação 525, da Câmara de Comércio Internacional.
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 6 – Importação.
• Resolução no 2.342, de 13 de dezembro de 1996 (dispõe sobre o pagamen-
to das importações).
• Carta Circular no 2.730, de 13 de dezembro de 1996 (regulamenta a im-
portação). Circular no 2.731, de 13 de dezembro de 1996 (institui o ROF –
importação acima de 360 dias).
• Carta Circular no 2.710, de 31 de dezembro de 1996 (sobre prazo de vali-
dade de CR).
• Circular no 2.747, de 23 de março de 1997 (altera regulamento – impor-
tação até 360 dias, e institui multa).
• Circular no 2.753, de 30 de abril de 1997 (importação acima de 360 dias –
câmbio antecipado).
• Circular no 2.876, de 17 de março de 1999 (altera o prazo para contratação
de câmbio – para 2o mês da DI).
• Circular no 2.749, de 3 de abril de 1997, e Circular no 2.898, de 23 de
junho de 1999 (operações com o Mercosul).
• Circular no 2.948, de 28 de outubro de 1999 (elimina a exigência de
contratação prévia de câmbio).
• Circular no 2.982, de 10 de maio de 2000 (operações com CCR e Mercosul).
Garantias Aval.
Prazo À vista – o exportador recebe os recursos mediante
apresentação de documentos. A prazo – no ato da stand by o
exportador recebe, contra apresentação dos documentos.
Contratação Original da fatura ou contrato mercantil, LI, ROF (se
superior a 360 dias), NCM da mercadoria, CI, vinculação da
DI e contrato de câmbio.
BASE LEGAL
• Brochura no 500 e Publicação no 525, da Câmara de Comércio Inter-
nacional.
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 6 – Importação.
• Resolução no 2.342, de 13 de dezembro de 1996 (dispõe sobre o pagamen-
to das importações).
• Carta Circular no 2.730, de 13 de dezembro de 1996 (regulamenta a im-
portação). Circular no 2.731, de 13 de dezembro de 1996 (institui o ROF –
importação acima de 360 dias).
• Carta Circular no 2.710, de 31 de dezembro de 1996 (sobre prazo de
validade de CR).
• Circular no 2.747, de 23 de março de 1997 (altera regulamento de impor-
tação até 360 dias, e institui multa).
• Circular no 2.753, de 30 de abril de 1997 (importação acima de 360 dias
– câmbio antecipado).
• Circular no 2.876, de 17 de março de 1999 (altera o prazo para contratação
de câmbio – para o 2o mês da DI).
• Circular no 2.749, de 3 de abril de 1997, e Circular no 2.898, de 23 de
junho de 1999 (operações com o Mercosul).
• Circular no 2.948, de 28 de outubro de 1999 (elimina a exigência de
contratação prévia de câmbio).
• Circular no 2.982, de 10 de maio de 2000 (operações com CCR e Mercosul).
BASE LEGAL
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 6 – Importação.
• Resolução no 2.342, de 13 de dezembro de 1996.
• Consolidação Decex nos 1 e 2, de 22 e 23 de janeiro de 1997.
• Circular no 2.730, de 13 de dezembro de 1996.
• Circular no 2.731, de 13 de dezembro de 1996.
• Circular no 2.710, de 31 de dezembro de 1996.
• Circular no 2.823, de 18 de junho de 1998.
• Circular no 2.948, de 28 de outubro de 1999.
BASE LEGAL
• Brochuras nos 325, 485, 500.
• Consolidação das Normas Cambiais – Capítulo 6 – Importação.
• Resolução no 2.342, de 13 de dezembro de 1996.
• Circular no 2.730, de 13 de dezembro de 1996.
• Circular no 2.731, de 13 de dezembro de 1996.
• Carta Circular no 2.710, de 31 de dezembro de 1996.
• Circular no 2.747, de 23 de março de 1997.
• Circular no 2753, de 30 de abril de 1997.
• Circular no 2.876, de 17 de março de 1999.
• Circular no 2.749, de 3 de março de 1997.
• Circular no 2.864, de 24 de fevereiro de 1999.
• Circular no 2.948, de 28 de outubro de 1999.
• Circular no 2.982, de 10 de maio de 2000.
Desconto de Saque
Conceito O exportador emite um saque a prazo em moeda estrangeira
contra o importador, embutindo no preço da mercadoria um
custo financeiro pactuado entre o banco e o importador. O
banco compra esse saque, com um desconto (diferença
entre preço à vista e a prazo), do exportador que recebe o
recurso e concede um prazo para o importador.
Público-alvo Empresas importadoras que necessitam de prazo para
pagamento.
Vantagens e Por tratar-se de operação comercial, não há IR – é registrado
desvantagens no balanço como operação comercial.
Indexador Variação cambial.
Tributação Não há.
Garantias Aval, PM e AF.
Prazo Até 360 dias.
Contratação Original do saque emitido pelo exportador e endossado
pelo importador.
190 Mercado Financeiro
Garantias Internacionais
• Bid bond
• Performance bond
O Mercado de Crédito 191
Bid Bond
Conceito É uma garantia em moeda estrangeira emitida por um
banco com o objetivo de assegurar a participação de uma
empresa brasileira em uma concorrência internacional. O
bid bond cobre (em dinheiro) riscos não cumpridos em
edital por parte da empresa participante da concorrência.
Público-alvo Empresas brasileiras que participam de concorrências.
Vantagens e Se a empresa abandonar ou descumprir a concorrência o
desvantagens banco terá que honrar o compromisso em dinheiro.
Tributação Não há.
Garantias Aval.
Prazo Geralmente de 30 a 180 dias (prazo entre a entrega e a
abertura das propostas com anúncio do vencedor).
Contratação Contrato de prestação de garantia fidejussória e respectiva
nota promissória, e instrumentos de garantias.
BASE LEGAL
• Brochura no 325
• Brochura no 458
Performance Bond
Conceito É uma garantia em moeda estrangeira emitida por um
banco com o objetivo de assegurar o cumprimento de
obrigações de uma empresa brasileira quanto ao
fornecimento de produtos ou execução de obras para um
beneficiário no exterior.
Público-alvo Empresas brasileiras que venceram concorrências no
exterior e precisam cumprir exigências definidas em edital.
Vantagens e O descumprimento determina que o banco pague em
desvantagens dinheiro.
Tributação Não há.
Garantias Aval.
Prazo Equivalente ao cumprimento da obrigação de fornecimento
de produtos ou conclusão de obras.
Contratação Contrato de prestação de garantia fidejussória e respectiva
nota promissória, e instrumentos de garantias.
O Mercado de Crédito 193
BASE LEGAL
• Brochura no 325
• Brochura no 458
• Plano empresário
• Debêntures
• Securitizações
• Commercial papers
• Empréstimos sindicalizados
• Project finance
Plano Empresário
Conceito São recursos da caderneta de poupança destinados à
construção de imóveis.
Público-alvo Construtoras e incorporadoras de imóveis.
Vantagens e Destinação específica, prazos e indexadores utilizados pelo
desvantagens setor.
Indexador TR.
Tributação Não há.
194 Mercado Financeiro
Debêntures
Conceito São títulos de crédito representados por frações de
empréstimos a longo prazo contraídos por uma sociedade de
ações, ou seja, são direitos contra a empresa emitente nas
condições da escritura de uma emissão.
Público-alvo Empresas S.A. que precisam de recursos de longo prazo.
Vantagens e Não tem destinação específica, prazos mais longos e
desvantagens indexador à escolha.
Tributação Caso a caso.
Garantias Hipotecas, caução de direitos creditórios e fianças.
Prazo Geralmente superior a 360 dias.
Contratação Registro e distribuição junto à CVM, escritura, autorizações
sobre a emissão da Assembleia-geral Extraordinária,
Conselho de Administração e diretoria da empresa.
Securitização
Conceito É a emissão de um instrumento de dívida doméstico ou
internacional lastreado por um ativo. Esse ativo fica
segregado em uma SPC, que gera fluxos de caixa previsíveis
para liquidação de principal e juros dos títulos ou bonds
emitidos.
Público-alvo Empresas que possuam recebíveis com fluxos previsíveis e de
boa qualidade de crédito.
Vantagens e Destinação específica, prazos mais longos e casamento dos
desvantagens indexadores.
O Mercado de Crédito 195
Indexador Diversos.
Tributação Caso a caso.
Garantias Recebíveis.
Prazo Compatível com o fluxo de caixa dos recebíveis.
Contratação Criação de uma SPC, segregação de créditos, auditorias que
atestem a qualidade dos recebíveis, contratos específicos por
produtos, classificação de risco ou rating para a empresa e
para a operação, e constituição de garantias.
Commercial Paper
Conceito São títulos de crédito emitidos por uma sociedade de ações
conforme deliberação do Conselho Administrativo.
Público-alvo Empresas S.A. que precisam de empréstimo-ponte.
Vantagens e Não têm destinação específica, prazos mais longos e
desvantagens indexador à escolha.
Indexador Prefixado sob a forma de desconto no ato da colocação.
Tributação Não há.
Garantias Somente aval.
Prazo Mínimo de 30 dias e máximo 180 dias (S.A. fechada) e 360
dias (S.A. aberta).
Contratação Previsão estatutária para emissão, prospecto de acordo com
Andib, autorizações sobre a emissão da Assembleia-geral
Extraordinária, Conselho de Administração e diretoria da
empresa, termo de compromisso na Cetip.
Empréstimos Sindicalizados
Conceito São mecanismos de concessão de crédito nos quais um pool
de credores constitui um sindicato para prover a empresa de
recursos mediante um único contrato, o mesmo mecanismo
196 Mercado Financeiro
Project Finance
Conceito Project finance ou financiamento de projetos é um conjunto
de operações estruturadas no qual uma instituição financeira
estuda e desenvolve um investimento em conjunto com a
empresa inversora baseada na otimização de estrutura de
capital e no fluxo de caixa do projeto. O project finance
geralmente envolve a criação de uma special purpose company e
sindicalização.
Público-alvo Empresas na fase de investimentos que precisam de melhor
estrutura de capital para viabilizar um projeto.
Vantagens e Pulverização do risco, destinação específica, prazos longos e
desvantagens indexador ligado ao projeto.
Indexador Depende do projeto.
Tributação Depende do funding.
Garantia Fluxo de caixa do projeto.
Prazo Compatível com o fluxo de caixa do projeto.
Contratação Contrato de repasse com o BNDES e organismos
multilaterais, contratos de seguros e garantias.
O Mercado de Crédito 197
PRODUTOS PASSIVOS
Produtos bancários ligados às poupanças dos indivíduos e empresas que
abrangem a maior parte das oportunidades de investimentos realizados por
pessoas físicas e jurídicas na aquisição de títulos públicos e privados.
• Fundos de investimentos
• Títulos privados
• Títulos públicos
Fundos de Investimentos
Conceito Aplicações em carteiras específicas dos bancos ou asset
management segundo o perfil do investidor. Os fundos são
compostos de diferentes papéis, como títulos públicos, títulos
privados (debêntures de empresas), ações e papéis do Banco
Central. A diferença entre os fundos advém da composição
desses papéis em sua carteira.
Público-alvo Pessoas físicas e jurídicas aplicadoras.
Argumento Segurança e rentabilidade.
de venda
Indexador Acompanham o perfil dos papéis da carteira do fundo. A
maioria é pós-fixada em CDI. Podem estar em IGP-M e,
quando tiverem ações, variar conforme o desempenho das
ações na carteira.
Tributação Imposto de renda regressivo (até seis meses alíquota de
22,5%, de 6 a 12 meses de 20%, de 12 a 24 meses de 17,5% e
acima de 24 meses de 15%).
Taxas Os bancos cobram taxas de administração que variam de
0,5% a 2% ao ano.
Prazo Mínimo de 30 dias e máximo dependendo de cada
instituição financeira.
198 Mercado Financeiro
Títulos Privados
Conceito São títulos emitidos por instituições financeiras privadas,
como cadernetas de poupança, certificados de depósitos
bancários e recibos de depósitos bancários com taxas
prefixadas e pós-fixadas. A principal diferença entre o CDB e
o RDB é que o primeiro é transferível.
Público-alvo Pessoas físicas e jurídicas que possuam recursos disponíveis.
Argumento Diferentemente dos fundos de investimentos e das ações, o
de venda valor de resgate do título é aquele pactuado no início da
operação, ou seja, principal mais juros.
Indexador O CDB e o RDB podem ser prefixados ou pós-fixados, neste
caso indexado ao CDI – certificado de depósito
interbancário.
Tributação Imposto de renda regressivo (até seis meses alíquota de
22,5%, de 6 a 12 meses de 20%, de 12 a 24 meses de 17,5% e
acima de 24 meses de 15%). IOF no caso de saque antes do
30o dia, e CPMF.
Prazo De 1 a 1.080 dias.
Títulos Públicos
Conceito São títulos de emissão do governo com taxas prefixadas e
pós-fixadas. Esses títulos têm a garantia do risco soberano.
Público-alvo Pessoas físicas e jurídicas que possuam recursos disponíveis.
Argumento Diferentemente dos fundos de investimentos e das ações,
de venda o valor de resgate do título é aquele pactuado no início da
operação, ou seja, principal mais juros.
Indexador Os títulos públicos são geralmente pós-fixados e indexados
ao CDI, IGP-M e dólar.
Tributação Imposto de renda regressivo (até seis meses alíquota de
22,5%, de 6 a 12 meses de 20%, de 12 a 24 meses de 17,5% e
acima de 24 meses de 15%). IOF, no caso de saque antes do
30o dia e CPMF.
O Mercado de Crédito 199
RESUMO
O objetivo deste capítulo é apresentar uma reflexão a respeito do merca-
do de crédito, e dos produtos e serviços bancários e os principais elementos
condicionantes. A evolução do mercado de crédito está baseada em novos
mecanismos de avaliação do risco de crédito, após o esgotamento dos mode-
los tradicionais. O Brasil precisa rapidamente incorporar as novas aborda-
gens, vis-à-vis a sensível expansão dos ativos de crédito, sob pena de sofrer um
retrocesso importante no caso do crescimento da inadimplência. Com rela-
ção aos principais instrumentos de intermediação, o Brasil possui uma varie-
dade de produtos e serviços bancários extremamente eficientes e adaptados
ao cenário internacional.
ANEXO
CPMF
I. Definição
Tributo que incide sobre os débitos em conta-corrente.
IV. Alíquota
A alíquota é de 0,38% sobre o valor a ser pago pela liquidação do empréstimo.
IOF
I. Definição
Imposto sobre operações financeiras.
IV. Alíquota
Capital de giro: 0,0041% ao dia sobre o valor do principal, na liberação dos
recursos. Valor limitado a 1,5%, independentemente do prazo da operação.
O Mercado de Crédito 201
Observações:
Conclui-se, portanto, que as operações de longo prazo não devem ser
revestidas na forma de crédito rotativo.
As operações de empréstimos entre empresas não financeiras (intercom-
pany loans) também estão sujeitas à incidência do IOF.
ISS
Definição
Imposto sobre serviço.
ITBI
Definição
Imposto sobre transferência de bens e imóveis.
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202 Mercado Financeiro
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WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Management Finance. Nova York: Rinhart & Winston, 1975.
Capítulo
V
O Mercado de Capitais –
A Convergência Empresa –
Mercado Financeiro
Objetivos
AS ÂNCORAS DO CAPITAL
Os primeiros a captar dinheiro no mercado em larga escala foram os Esta-
dos endividados. Somente depois, as empresas passaram a desempenhar esse
papel, enquanto o capitalismo tomava forma, especialmente com o desenvol-
vimento do comércio marítimo de longa distância, no Renascimento.
204 Mercado Financeiro
E foi apenas durante a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, que
o surgimento das sociedades por ações propiciou o marco legal que permitiu
sua expansão em grande escala. Atualmente, a empresa brasileira pode emitir
vários tipos de títulos para abertura do capital: ações, bônus de subscrição,
debêntures, partes beneficiárias e notas promissórias. Mas não o fazem ou
fazem muito pouco.
Um dos primeiros casos de emissão de ações para venda ao público pode
ter sido o de uma empresa londrina com o sonoro nome de The Mysterie and
Compagnie of the Merchant Adventurers for the Discoverie of Regions,
Dominions, Islands and Places Unknown, em 1553. O projeto empresarial era
a busca de um caminho marítimo para a Rússia. Não há exemplos anteriores
de uma “privatização” desse tipo.
Até então, a exploração era um serviço público oferecido pelos marinhei-
ros portugueses sob a égide do rei D. Henrique, o Navegador, cujo objetivo
era descobrir uma passagem para a Índia contornando a costa africana. D.
Henrique de Portugal estimulava a busca de novas rotas marítimas para o
Oriente. Foi na cidade portuguesa de Sagres que ele fundou uma escola de
navegação e de lá enviou expedições de reconhecimento da costa oeste da
África em busca do caminho que levaria ao extremo Oriente.
Em 1492, os reis da Espanha “terceirizaram” essas atividades para ninguém
menos do que Cristóvão Colombo. Dessa forma, a descoberta da América
também foi financiada pelo tesouro real, e não por investidores privados. O
projeto “Rússia”, financiado por um consórcio de mercadores londrinos, aca-
bou com notável sucesso: uma das três embarcações conseguiu alcançar a
corte de Ivã, o Terrível, e voltou a Londres com um tratado que garantiria à
Inglaterra o direito de comerciar com aquele país. A empresa (The Mysterie
and Compagnie) alterou seu nome para Muscovy Company e teve grande
sucesso no mercado de ações.
Cabe recordar também o papel essencial desempenhado pela Vereenigde
Oostindische Compagnie (Companhia Unida das Índias Orientais), fundada
em Amsterdã em 1602, cujo capital acionário foi amplamente negociado no
mercado de ações no início do século XVII. Enquanto no Oriente os holande-
ses suplantavam os portugueses, os ingleses mostravam interesse especial pela
Índia. Em 1609, James I, rei da Inglaterra, dava nova carta de privilégio à
Companhia das Índias Orientais e lhe concedia o monopólio do comércio
inglês com o Oriente. As ações dessa empresa eram cotadas na Bolsa de Valo-
res de Londres.
O Mercado de Capitais – A Convergência Empresa – Mercado Financeiro
205
207
sua fome, ele preferiu oito. Miller acrescentou, “se o leitor achar isso engraça-
do, então entendeu o teorema de Modigliani”. O número de porções não
modifica o tamanho da pizza assim como a maneira como os passivos se divi-
dem não altera o valor da empresa. O quociente entre o nível de
endividamento e o capital próprio não influencia este último. Tudo o que ele
influencia é a distribuição do lucro econômico entre credores e acionistas.
Fundamentalmente, ninguém cria valor combinando ativos ou
gerenciando os passivos da empresa. Então, para que servem os financistas?
O valor da empresa não depende da maneira como se financia, o que signi-
fica que não se modifica o custo do capital apenas porque os financiamentos
são reestruturados. Uma empresa endividada não vale menos (nem mais)
do que outra sem dívidas. Se o custo da dívida for inferior ao custo do capi-
tal próprio, pode-se pensar que o custo médio cai quando há endividamento.
Isso é apenas uma ilusão: o que a empresa ganha endividando-se a um
custo mais baixo é perdido quando seu capital próprio encarece. Quanto mais
a empresa se endivida, maiores são seus riscos financeiros, e mais elevada a
taxa de retorno exigida pelos acionistas sobre seu patrimônio. O efeito de
alavancagem do endividamento aumenta os lucros do acionista, mas também
aumenta sua volatilidade, o que significa que os riscos do acionista também
sobem. Normalmente, um desses efeitos contrabalança o outro; eles se anu-
lam mutuamente. O mecanismo não altera o custo médio do capital.
Infelizmente, isso só é verdadeiro em um mercado de capitais ideal. Esse
mundo não é, de forma alguma, perfeito; de qualquer modo, naquele mundo
ideal não existiriam (a morte) e os impostos. Uma versão posterior do teorema
de Modigliani-Miller levou na devida conta as duras realidades da tributação.
Os dividendos são distribuições de lucros sobre os quais a empresa pagou o
imposto relativo à pessoa jurídica, enquanto o juro pago é deduzido dos lu-
cros tributáveis. Ao levantar capital, a empresa sofre um prejuízo fiscal. Ao
aumentar sua dívida, registra um ganho. Nesse tipo de situação, todo finan-
ciamento deveria ser feito por meio de endividamento.
Mas há sempre um limite a respeitar: o patamar além do qual o endivida-
mento gera o risco de a empresa ser incapaz de arcar com os juros de sua
dívida. Esse é o risco avaliado pelas agências de classificação de títulos e valo-
res mobiliários e explica por que as empresas mais endividadas ou com pior
classificação pagam taxas de juros mais altas. As empresas mais lucrativas, aque-
las que geram fluxo de caixa e contam com ativos sólidos ano após ano, po-
dem se permitir um endividamento maior do que as demais. As empresas
menos lucrativas – ou aquelas que operam nos ramos mais voláteis – deve-
208 Mercado Financeiro
riam, pelo contrário, arcar com dívidas menos pesadas. Dentre elas estão as
empresas de alta tecnologia, cujos produtos podem sair da moda, e as em-
presas da indústria pesada com ciclos de produção, como as siderúrgicas e as
do ramo automotivo. O ramo em que a empresa opera pode justificar um
maior ou menor grau de endividamento. Contudo, vejamos as coisas mais
de perto. Se esse fosse o caso, as empresas apresentariam riscos quase homo-
gêneos: as que operam nos setores de maior risco deveriam mostrar um
risco pouco maior por conta de seu menor endividamento; e aquelas que
atuassem em atividades de menor risco aumentariam seu risco geral ao au-
mentar seu endividamento, mas não é isso o que ocorre.
Na realidade, apesar da elegância do raciocínio de Modigliani e Miler, o
comportamento das empresas está mais próximo da arte do que das finanças.
As empresas são avessas a emitir novas ações, mesmo se seu custo marginal
difere pouco daquele do capital próprio existente. Por que elas recorrem a
esse mecanismo apenas em última instância?
Na década de 1960, Gordon Donaldson explicou que as empresas se fi-
nanciam em primeiro lugar recorrendo aos fluxos de caixa internos, depois
ao endividamento (de curto prazo, se possível, e então de longo prazo) e
subsequentemente à emissão de novas ações. Elas optam primeiro por finan-
ciar seus investimentos com lucros retidos; de acordo com os resultados, elas
financiam seus planos de negócios recorrendo a suas tesourarias; se mais tar-
de precisarem recorrer a financiamento externo, as linhas de crédito bancá-
rias serão preferíveis. Se tudo isso for insuficiente, elas emitem títulos de dívi-
da começando pelos menos arriscados e avançando na escala; a partir de en-
tão apenas aumentam as despesas de capital quando as coisas se complicam.
Isso é conhecido como “hierarquização das fontes de financiamento”.
Uma perspectiva histórica de longo prazo mostra que essa teoria está em
melhor posição do que as finanças modernas para elucidar o comportamento
das empresas (mesmo no século XVII e mesmo no Brasil). Reconhecido isso,
a teoria é ainda um pouco vaga e confusa: pode explicar como as empresas
tendem a se comportar, mas não ajuda a entender o porquê. Mais precisa-
mente, não oferece qualquer indicação relativa ao nível de endividamento
“correto”. Não ajuda o capitão a corrigir a rota. É, como digo, arte.
TÍTULOS DA DÍVIDA
O leitor talvez já tenha ouvido a frase “minha palavra é minha obriga-
ção”. Dictum meum pactum, era o dito da Bolsa de Londres desde 1801. Seme-
O Mercado de Capitais – A Convergência Empresa – Mercado Financeiro
209
JUROS E ALUGUEL
A taxa de juros representa o preço que deve ser pago para dispor do
privilégio de usar o dinheiro de outra pessoa. Ao alugar um carro, dispomos
dele pelo período contratado. As sociedades por ações empregam e apli-
cam os mesmos princípios básicos. Elas solicitam uma espécie de aluguel,
conhecido como juro, para conceder um empréstimo por determinado
período, sendo todas as características definidas na escritura de emissão. O
210 Mercado Financeiro
211
de títulos. Ao fazer essa segunda escolha, a empresa depende menos dos ban-
cos. Qualquer pessoa pode adquirir debêntures no mercado de títulos – rece-
berá cupons (o equivalente aos dividendos, para os títulos de dívida) repre-
sentando o juro do título. Os títulos emitidos por empresas não são de forma
alguma livres de risco, já que, diferentemente do Estado, as empresas podem
quebrar. Nesse caso, o emitente não pagará os juros sobre seus empréstimos e,
na pior das hipóteses, não os reembolsará na data do vencimento.
O valor de uma debênture tende a diminuir se a empresa se mostra menos
capaz de cumprir seus compromissos. Simétrica e proporcionalmente, a taxa
de juros sobre o título cresce, o que é explicado pelo aumento do prêmio de
risco de inadimplência que o investidor exige para comprar um título emitido
por uma empresa de maior risco. O risco de crédito, o risco de que uma
contraparte não liquide uma obrigação por seu valor completo, é às vezes deno-
minado de “risco de assinatura” e justifica o aumento do prêmio de risco.
Os títulos podem ser emitidos com taxas de juros fixas ou variáveis. Dife-
rentemente dos empréstimos a taxas fixas, a remuneração variável evolui em
função das condições de mercado. As taxas flutuantes utilizadas em debêntu-
res devem ser regularmente calculadas e de conhecimento público. O índice
de preços deve ter série regularmente calculada e ser de conhecimento públi-
co. A maior vantagem desses títulos está na proteção ao capital que propi-
ciam, aliado a retornos bastante respeitáveis. No Brasil, os títulos públicos de
renda fixa podem ser prefixados ou pós-fixados. Títulos prefixados são aque-
les que têm taxa de remuneração (ou seja, os juros que incidem sobre o títu-
lo) definida no momento da compra. Um título prefixado tem a sua rentabi-
lidade conhecida no momento da operação e a rentabilidade de um título
pós-fixado é vinculada a algum tipo de indexador. Não há debênture com
taxa prefixada. Títulos pós-fixados têm sua remuneração relacionada a um
índice, que é, em geral, o de inflação. (Como exemplo, as Notas do Tesouro
Nacional – séries B e C –, que têm a correção monetária medida pelo Índice
de Preços de Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV),
ou a taxa básica de juros da economia (Selic).
As debêntures rendem juros, prêmios e outros rendimentos fixos ou va-
riáveis, sendo todas essas características definidas na escritura de emissão. A
família das taxas de juros tem vários integrantes. Convém distinguir as taxas
de juros nominais das reais. A taxa de juros real é a diferença entre a taxa de
juros nominal e a taxa de inflação, isto é, a taxa de juros após o desconto dos
efeitos da inflação. Todos os demais fatores permanecendo constantes, quan-
to maior a taxa de inflação, mais alta a taxa de juros nominal. Os emprestadores
212 Mercado Financeiro
muitas vezes usam uma projeção da taxa de inflação para calcular a taxa de
juros real, projetada a partir de determinada taxa nominal.
O mais comum é que as debêntures tenham prazo determinado, mas
também podem ser emitidas por tempo indeterminado. Sejam nominais ou
reais, as taxas de juros podem ser de curto, médio ou longo prazos. As taxas
de juros de curto prazo se aplicam a empréstimos concedidos por um perí-
odo de três anos ou menos e as taxas de juros de longo prazo são relevantes
para empréstimos que vencem em pelo menos dez anos; assim, as taxas de
juros de médio prazo se aplicam a empréstimos com prazo intermediário
(de três a dez anos). Como regra prática, as taxas de juros de longo prazo
são mais altas do que as de curto prazo – é natural que os emprestadores
exijam retornos mais lucrativos para imobilizar seus fundos por um período
mais longo. A solvência do tomador e o risco percebido da aplicação tam-
bém são fatores fundamentais a ser levados em conta.
Finalmente, é preciso distinguir uma taxa de juros simples de outra com-
posta. Esta última é o juro auferido que se soma ao principal, incluindo o juro
auferido em período anterior. A uma taxa de juros composta anual de 10%,
um depósito (ou empréstimo) deverá dobrar de valor em cerca de sete anos,
desde que não sejam feitas retiradas (ou amortizações). Como se comportam
todos esses membros da família da taxa de juros?
As taxas de juros e demais remunerações oscilam conforme o mercado
financeiro, guardando correlação com as taxas de captação de bancos. Numa
dada economia, vários fatores afetam o nível das taxas de juros: a oferta e a
demanda de fundos, a oferta de moeda, as taxas de inflação vigentes e
projetadas e a política monetária dos bancos centrais. Por exemplo, se o nú-
mero de tomadores de empréstimo for maior do que o número de investido-
res (o que rarefaz o dinheiro disponível para empréstimos), os empréstimos
encarecem e aumenta a taxa de juros. Por outro lado, os investidores vão
emprestar mais para aproveitar os juros elevados. E quando o número de
investidores passa a superar o de tomadores de empréstimos, as taxas de juros
estão prontas para cair!
A combinação de política monetária e seu impacto nas taxas de juros de
curto prazo, de um lado, com as expectativas dos investidores sobre as próxi-
mas intervenções do Banco Central, outro lado, pode explicar o nível das
várias taxas. As taxas de juros de curto prazo dependem da política adotada
pelo Banco Central. E esta, por sua vez, está sujeita a fatores econômicos de
ordem geral e à estratégia que eles determinam. O combate à inflação é
uma prioridade? As taxas de câmbio são um dos principais objetos de preo-
O Mercado de Capitais – A Convergência Empresa – Mercado Financeiro
213
O PROCESSO DE UNDERWRITING
O que é uma companhia aberta? Uma companhia é considerada aberta
quando promove a colocação de valores mobiliários em bolsas de valores ou
no mercado de balcão. São considerados valores mobiliários: ações, bônus de
subscrição, debêntures e notas promissórias para distribuição pública. Não há
como negar a importância dos primeiros passos da abertura de capital. O
lançamento das ações de uma empresa pode ser a condição preliminar básica
para o registro e a negociação em bolsa de uma ação. Para a empresa, isso
representa muitas vezes a única maneira de crescer. Projetos, como o lança-
mento de novas linhas de produtos ou a venda dos existentes em um novo
mercado externo, podem ser financiados por meio de uma nova emissão de
ações oferecidas na bolsa de valores. As cotações das ações também podem
ser a solução para a saída do fundador de uma companhia. A solução de ques-
tões relativas à reestruturação societária, decorrentes de estratégia empresa-
rial, partilha de heranças, processo sucessório ou saída de acionistas, pode ser
equacionada pela abertura de capital. Uma vez que as ações têm um preço,
elas se tornam um meio de pagamento similar ao dinheiro. A empresa pode
emitir ações novas para pagar a aquisição de uma outra empresa. Com a aber-
tura de capital, desperta-se a atenção dos intermediários financeiros e da mídia,
e as informações divulgadas melhoram a imagem da empresa. A emissão obri-
ga a empresa a divulgar sua estratégia ao público e aos futuros acionistas.
Graças às cotações de mercado e à concessão de opções de ações (stock options),
a empresa pode aumentar a motivação de seus funcionários, reforçando sua
fidelidade. Executivos podem acompanhar os preços diariamente e se benefi-
ciar da possibilidade de venda desses derivativos, assim como de sua liquidez
a qualquer momento.
O Mercado de Capitais – A Convergência Empresa – Mercado Financeiro
215
buição”) foi fixado em R$ 36,50 por ação, com base na faixa de preço
indicada no prospecto preliminar. A faixa de preço de distribuição por
ação indicada no prospecto preliminar é estabelecida tendo em vista:
• a avaliação da companhia elaborada pelas instituições intermediárias com
base no método de fluxo de caixa descontado e na comparação por múlti-
plos, a partir de informações obtidas junto à companhia, e;
• os relatórios independentes produzidos pelas equipes de mercado de ca-
pitais das instituições intermediárias. A empresa e o coordenador não têm
a obrigação de informar os resultados projetados, mas devem propiciar
todas as condições para que terceiros possam calculá-los.
Procedimentos jurídicos
• O lançamento de novos valores mobiliários precisa ser autorizado pelos
atuais acionistas em Assembleia-geral Extraordinária (AGE). No caso da
distribuição secundária de ações, não existe necessidade de assembleias
ou reuniões deliberativas do Conselho de Administração, uma vez que se
trata de operação na qual os acionistas dispõem de ações já existentes.
Mas, para negociação das referidas ações em bolsa, a empresa precisará
requerer os registros na CVM e na(s) bolsa(s) de valores. A colocação de
valores mobiliários para o público exige o registro na CVM. A comissão
tem prazo de 30 dias para analisar a emissão, podendo pedir informações
adicionais, recomeçando a contagem do prazo quando o material for re-
cebido. Quando se tratar de empresas ingressantes no mercado, além do
Registro da Emissão Pública, a CVM deve conceder o registro da compa-
nhia para negociação em bolsa ou para o mercado de balcão.
217
O AUMENTO DE CAPITAL
O que é subscrição? A subscrição é um aumento de capital deliberado
por uma empresa, com o lançamento de novas ações, para obtenção de re-
cursos. A emissão de novas ações aumenta o potencial da empresa de finan-
ciar seu desenvolvimento sem ter de recorrer ao crédito – a empresa emite
novas ações para conseguir dinheiro novo. Por se tratar de uma distribuição
pública primária, haverá diluição das participações acionárias dos atuais aci-
onistas da companhia em decorrência dessa oferta.
Em alguns países (Inglaterra, França e Brasil), quando esses papéis são
postos à venda, os acionistas existentes têm direito de preferência na compra
dessas novas ações emitidas pela companhia, na proporção que lhe couber,
pelo preço e no prazo preestabelecidos pela empresa. Em geral é oferecido
um bônus de subscrição proporcional ao número de ações que detêm antes
da emissão. O direito de subscrição é um ativo negociado no pregão da Bovespa
de modo que o acionista terá suficientes ações para pelo menos subscrever
uma ação de nova emissão. Em outros países (destacadamente nos Estados
Unidos), as novas ações estão abertas a qualquer pessoa.
A teoria não explica por que um desses métodos pode ser preferível ao
outro. O método do direito de preferência privilegia os acionistas existentes.
Mesmo quando a emissão é feita a preços de mercado, os acionistas se benefi-
ciam da prioridade na subscrição das novas ações. Gostaria de convencer o
leitor de que o método europeu desequilibra o mercado de novas ações. Come-
218 Mercado Financeiro
Quadro 5.1
Cronograma da oferta
Período Eventos
219
Quadro 5.2
O processo de distribuição
A INEFICIÊNCIA DE MERCADO
No Brasil, os mercados domésticos servem para financiar a dívida pública
e as empresas privadas não encontram neles o financiamento necessário ao
seu crescimento. Os bancos são cúmplices de um status quo por meio do qual
ganham dinheiro sem risco, emprestando ao governo com taxas excessivas
com os fundos que poderiam financiar a economia brasileira. O governo não
poderia direcionar os bancos a retomar a dupla função que nunca deveriam
ter abandonado – emprestar às empresas privadas e desenvolver novas ativida-
des nos mercados financeiros? Da resposta a essa questão depende o desen-
volvimento da economia nacional, ou seja, os empregos de amanhã. O governo
é o maior concorrente do setor privado e deveria inovar com novos produtos
financeiros para financiamento em longo prazo, com vantagens fiscais para
quem aplicar em 10 ou 15 anos. Houve apenas 20 operações de lançamento de
debêntures até 30 de junho de 2004, sendo de R$15 bilhões a expectativa para
2004, tendo ocorrido apenas R$14 bilhões em 2002 e R$5 bilhões em 2003!
Comparemos com o exemplo do México, onde ocorreram emissões de de-
bêntures de 6,25 bilhões de pesos em 1999 e 79,6 bilhões em 2003, ou seja, 10
vezes mais em 4 anos!
As fontes de financiamento de longo prazo no Brasil são apenas o BNDES
e os mercados externos. O problema é desenvolver o mercado interno de
crédito de longo prazo, e criar um verdadeiro mercado de crédito doméstico.
As companhias brasileiras podem emitir debêntures no exterior desde que
com prévia autorização do Banco Central. Essas debêntures podem ter o seu
valor nominal expresso em moeda nacional ou estrangeira. Por que compa-
nhias brasileiras captam a longo prazo em Nova York e não o conseguem no
mercado doméstico? É preciso dar ao poupador, ou seja, ao detentor do título
de crédito, as mesmas garantias aqui que teriam em Nova York.
O papel dos bancos de investimento é a criação de novos produtos para
ajustar a oferta de valores mobiliários demandados. Faltam bancos para ven-
der papéis adaptados ao apetite dos investidores. O retorno esperado tem
que coincidir como risco assumido. Esse ajuste tem que ser feito em termos
O Mercado de Capitais – A Convergência Empresa – Mercado Financeiro
221
Quadro 5.3
Crédito bancário nos quatro maiores países emergentes – Posição no ranking de 80 países
Banking spread 80 16 11 72
Investimentos/PNB 68 1 35 65
PNB crescimento 59 3 24 6
Poupança interna (%) 69 2 6 6
RESUMO
As sociedades por ações surgiram e se expandiram entre os séculos XVIII
e XIX, sendo que um dos primeiros projetos financiados com recursos oriun-
dos de uma sociedade por ações foi ligado às expedições marítimas. Em 1811,
as sociedades por ações produziram uma regulamentação na forma de um
estatuto independente do governo. A preocupação central na caracterização
das sociedades por ações sempre foi a questão da liquidez, ou seja, a proprie-
dade das ações ser considerada livremente negociável no mercado.
A composição das fontes de financiamento das empresas, na forma de
recursos de terceiros e próprios, não altera o valor da firma. Porém, a emissão
de ações não é uma decisão primaz na empresa quando da necessidade de
fontes de financiamento de projetos. A abertura de capital acontece com o
lançamento de ações e permite que a ação de uma empresa seja negociada
em bolsa. No mercado primário são negociadas ações e obrigações permitin-
do a capitalização da empresa.
Ao longo dos anos, o mercado de capitais evoluiu sensivelmente e está
muito bem estruturado para apoiar as empresas quando da decisão pela aber-
tura de capital. Por meio dos intermediários financeiros são realizadas cota-
ções de valores mobiliários em bolsa e no mercado de balcão, são encaminha-
das as etapas de um processo de underwriting, bem como são definidos os
preços de uma oferta pública, considerando procedimentos conhecidos nesse
mercado.
O Mercado de Capitais – A Convergência Empresa – Mercado Financeiro
223
ANEXO
1. Anúncio de início de distribuição pública e subscrição das ações. A dis-
tribuição pública começa com o aviso ao mercado e a publicação do prospec-
to, o que permite o início do roadshow. Durante o processo de registro, a CVM
permite que circule entre os intermediários financeiros um prospecto preli-
minar. Com o prospecto preliminar, as instituições intermediárias (os bancos)
começam a procurar potenciais investidores. O chamado roadshow é um tipo de
marketing para atingir os investidores potenciais com promoção de reuniões
com a Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec).
O processo começa com uma espécie de turnê, uma apresentação dos diri-
gentes e da empresa aos investidores de várias localidades, de acordo com o
plano de distribuição. O objetivo de uma abertura de capital é criar uma
base diversificada de acionistas, formada por investidores institucionais e,
dependendo da empresa, uma boa base de investidores pessoas físicas. O
plano de distribuição das ações leva em conta as relações com clientes e
outras considerações de natureza comercial ou estratégica das instituições
intermediárias, dos acionistas vendedores e da companhia, observado que
as instituições intermediárias devem assegurar a adequação do investimento
ao perfil de risco de seus clientes, bem como o tratamento justo e equitativo
aos investidores.
224 Mercado Financeiro
225
227
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DONALDSON, G. Corporate Debt Capacity. [s.l.]: Harvard University Press, 1961.
MODIGLIANI, F.; MILLER, M. “The cost of capital, corporation finance, and the theory of investment”.
American Economic Review, jun. 1958.
MYERS, S. “Capital structure puzzle”. Journal of Finance, jul. 1984.
Capítulo
VI
A Estrutura do Mercado de Capitais
Objetivos
UM POUCO DE HISTÓRIA
Até 1964, as políticas de administração do governo brasileiro eram
marcadas pela falta de planejamento e de dimensionamento das reais
potencialidades da economia e seus gargalos, o que trazia como consequên-
cia a descontinuidade das políticas públicas e dos investimentos privados. A
inflação superava os 12% ao ano. Com base no Direito Canônico, a Lei de
Usura limitava o juro a 12% ao ano, impedindo o aparecimento e o funciona-
mento de uma estrutura financeira coerente com as necessidades de finan-
ciamento para o desenvolvimento do país. Não existia nem mesmo um banco
central no Brasil. Na época, a Superintendência da Moeda e do Crédito
(Sumoc), ligada ao Ministério da Fazenda, supria a ausência da autoridade
monetária.
Empresas e indivíduos tomavam e aplicavam seus recursos em prazos mui-
to curtos e o próprio governo não conseguia se financiar via emissão de títu-
los públicos pelos mesmos motivos. Quanto maior era a inflação, menor era a
correspondência entre os valores registrados nos balanços e a realidade eco-
1. www.bovespa.com.br.
A Estrutura do Mercado de Capitais 231
Gráfico 6.1
Ibovespa versus CDI em 5 anos
200
180
160
140
120
100
80
60
Fonte: Economatica.
234 Mercado Financeiro
Figura 6.1
Sistema Financeiro Nacional
• Regulação • Intermediação
• Fiscalização • Suporte operacional
• Administração
BOLSAS DE VALORES
As bolsas de valores são associações civis, sem fins lucrativos e com funções
de interesse público que possuem autonomia financeira, patrimonial e admi-
nistrativa, e estão sujeitas à supervisão da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), obedecendo as diretrizes e políticas emanadas do Conselho Monetá-
rio Nacional (CMN).
Principais atribuições:
SOCIEDADES CORRETORAS
As sociedades corretoras são instituições financeiras membros das bolsas
de valores, devidamente credenciadas pelo Banco Central do Brasil, pela CVM
e pelas próprias bolsas, e estão habilitadas a negociar valores mobiliários em
pregão.2 As corretoras podem ser definidas como intermediárias especializadas
na execução de ordens de compra e venda de ações e demais valores mobiliá-
rios por conta própria e de terceiros.
2. www.ancor.com.br
236 Mercado Financeiro
Principais atribuições:
SOCIEDADES DISTRIBUIDORAS
As sociedades distribuidoras são também instituições intermediadoras na
compra e na venda de títulos e valores mobiliários, cujos objetivos básicos se
assemelham bastante aos das corretoras.3 Entretanto, suas atividades têm uma
faixa operacional mais restrita do que a das corretoras, já que elas não têm
acesso direto aos pregões das bolsas de valores.
Principais atribuições:
AGENTES AUTÔNOMOS
Os agentes autônomos são pessoas físicas credenciadas pelas instituições fi-
nanceiras intermediadoras (corretoras, distribuidoras, bancos e financeiras) para
atuar na colocação de títulos, valores e serviços financeiros junto ao público. Es-
ses profissionais são fiscalizados pelo Banco Central e pela Comissão de Valo-
res Mobiliários.
3. www.andima.com.br
A Estrutura do Mercado de Capitais 237
BANCOS DE INVESTIMENTOS
Os bancos de investimentos são os grandes provedores de crédito de
médio e longo prazo para as empresas. Atuam no mercado primário e se-
cundário, geralmente, em operações de maior escala, por meio de repasses
de recursos oficias de crédito, de recursos captados no exterior, operações
de subscrição pública de valores mobiliários (ações e debêntures), lease-back
e securitização de recebíveis, além de prestarem serviços de custódia de
títulos, administração de carteiras, fianças, avais etc.
Principais atribuições:
A BOVESPA
A Bovespa foi fundada em 23 de agosto de 1890. Até meados da década de
1960, as bolsas de valores brasileiras eram entidades oficiais corporativas, vin-
culadas às secretarias de finanças dos governos estaduais e compostas por cor-
retores nomeados pelo poder público, em um regime muito semelhante ao
dos cartórios.5
4. www.cvm.gov.br
5. www.bovespa.com.br
238 Mercado Financeiro
Figura 6.2
Escopo de atuação da CVM
®
Instituições finaceiras
do mercado
Companhias
CVM ®
de capital aberto
Investidores
Títulos Negociados
Na Bovespa, são regularmente negociadas ações de companhias abertas,
opções sobre ações, direitos e recibos de subscrição, bônus de subscrição e co-
tas de fundos, debêntures e notas promissórias. Além disso, também são nego-
ciados na Bovespa os BDRs (Brazilian Depository Receipts), certificados represen-
tativos de valores mobiliários de emissão de companhia aberta ou assemelhada
com sede no exterior, emitidos por instituição depositária no Brasil.
Mercados da Bovespa
• Mercado à vista6
• Mercado de opções
• Mercado a termo
• Mercado futuro
Mercado à vista
No mercado à vista são negociados os títulos e valores mobiliários cuja
liquidação física (transferência de titularidade) e financeira (transferência de
recursos) deverá ocorrer até o terceiro dia útil após o pregão de negociação,
ou, no jargão do mercado, em D + 3, onde D é o dia do pregão em que foi
efetuada a transação de compra ou venda.
D – Dia do pregão
D + 1 –“Dia do perdão”, as sociedades corretoras podem até às 17h
reespecificar comitentes, isto é, corrigir se houver erro operacional na
identificação do cliente.
D + 2 – Liquidação física (troca de titularidade)
D + 3 – Liquidação financeira
❒ Recompra
O vendedor das ações tem até o quinto dia útil para efetivar a liquidação
física; se isso não acontecer, a bolsa recompra a valor de mercado os papéis,
debitando ou creditando a diferença, se houver, ao vendedor, liquidando a
operação.
Mercado a termo
No mercado a termo, como o próprio nome indica, são feitos termos
financeiros envolvendo o empréstimo de dinheiro para a compra de ações
com liquidação futura. Existe a figura do doador e do tomador de recursos,
que sempre serão usados na compra de ações a termo e remunerados por
juros acertados no mercado. A bolsa funciona como o banco garantidor da
operação e as ações objeto do termo funcionam como uma primeira garan-
tia. A bolsa pede ainda garantias adicionais, que são as chamadas margens de
garantia. Essas margens são calculadas periodicamente e estabelecidas pelo
conselho da Bovespa, que analisa a liquidez e a volatilidade de cada papel
para estabelecer o percentual da margem. Quanto mais líquido e menos
volátil menor o risco e menor a margem, e vice-versa.
O conceito de liquidez está ligado à facilidade da venda do papel nos pre-
gões diários. O prazo mínimo de um termo é de 16 dias úteis e o máximo de
999 dias corridos. O valor da margem de garantia deve ser suficiente para
cobrir pelo menos a oscilação de um dia de pregão. A bolsa é sempre conser-
vadora no cálculo das margens. Outras ações negociadas na Bovespa, assim
como outros ativos como títulos públicos, CDBs de bancos aceitos pelo siste-
ma de garantias da Bovespa, ouro etc., podem ser usados como margem de
acordo com critérios estabelecidos e revistos periodicamente pela Bovespa.
Em D + 3 são pagos a corretagem e os juros acertados na operação; o restante
será liquidado no prazo acertado no termo. Nessas operações, os contratos
são firmados e compradores e vendedores identificados e conhecidos (o
tomador dos recursos pagará ao doador a quantia acertada até a data marcada;
se o tomador resolver abrir o termo antecipadamente, os recursos serão re-
passados ao doador sem que a taxa seja pró-rateada). No mercado de opções e
no mercado futuro, a zeragem das operações é feita no mercado. No mercado
a termo, tomadores e doadores são conhecidos e identificados em contrato.
Mercado de opções
No mercado de opções, o que se negocia é o direito de compra ou venda de
uma ação ou de qualquer ativo até uma determinada data a um preço predefinido
pela bolsa. O vendedor da opção é chamado titular e pode exercer o seu direto
de compra ou venda; o vendedor da opção é chamado lançador, e tem a obriga-
ção de vender ou comprar a ação pelo preço determinado. O valor do direito
de comprar ou vender (preço da opção) é formado no mercado e recebe o
A Estrutura do Mercado de Capitais 241
O mercado futuro
Nos mercados futuros são negociados contratos padronizados de commo-
dities agrícolas, pecuárias, avícolas, metálicas e financeiras. As commodities
242 Mercado Financeiro
Participantes do mercado
Hedgers: buscam eliminar riscos de perdas decorrentes das variações de
preços; são os produtores de commodities agrícolas, as instituições financeiras
(no caso de commodities financeiras). O Hedger transfere o risco para o espe-
culador.
Especuladores: não têm interesse comercial na commodity. Entram e saem
do mercado rapidamente, buscam distorções nos preços e geralmente não
ficam até o vencimento do contrato.
Arbitradores: buscam tirar proveito da diferença entre o preço de dois
ativos ou dois mercados.
Funções
Hedger: proteção ao preço.
Especulador: liquidez.
Arbitrador: formação justa de preços.
A Estrutura do Mercado de Capitais 243
D + 0 – dia da operação;
D + 1 – prazo para os intermediários financeiros especificarem as opera-
ções por eles executadas na bolsa;
D + 2 – entrega e bloqueio dos títulos para liquidação física da operação,
caso ainda não estejam na custódia da CBLC;
D + 3 – liquidação física e financeira da operação.
Quadro 6.1
Liquidação financeira em operações bursáteis
Quadro 6.2
Volume de negócios na Bovespa – abril/maio de 2005
* Direitos e recibos, fundos e certificados de privatização, exercício de opções de compra/venda, leilões, fracionário, obrigações,
debêntures e bônus.
Fonte: Bovespa.
244 Mercado Financeiro
MERCADO PRIMÁRIO
Principal objetivo: Capitalização do emissor.
MERCADO SECUNDÁRIO
Principal objetivo: Liquidez.
INVESTIDORES DO MERCADO
Pessoas Físicas
Tem crescido a participação no mercado de capitais das pessoas físicas. A
estabilidade da moeda e a queda dos juros são os fatores que mais influen-
ciam o aumento da participação das pessoas físicas no mercado de renda
variável. Nos últimos anos, a Bovespa vem fazendo um trabalho muito impor-
tante na área educacional com palestras e visitas de técnicos a empresas, clu-
bes de lazer, feiras, eventos, e outros locais de maior aglomeração, incentivan-
do a formação de clubes de investimentos e a participação das pessoas físicas
no mercado de renda variável. A iniciativa do governo Fernando Henrique
Quadro 6.3
Participação de investidores na Bovespa
Clubes de investimentos
Associação de pessoas, geralmente com algum tipo de afinidade, para in-
vestimento em ações. Os clubes de investimento existem no Brasil há mais de
20 anos, mas a instabilidade econômica das últimas décadas impedia a conso-
lidação dessa modalidade de investimento, que, por meio da poupança cole-
tiva, dilui riscos e custos no mercado de renda variável.
OS INVESTIDORES INSTITUCIONAIS
O investimento coletivo é a forma mais democrática de associar capitais.
Os fundos de pensão, as entidades de previdência complementar, os fundos
de investimentos, as companhias de seguros e capitalização e as companhias
de investimentos são, na economia moderna, os chamados investidores
institucionais, que já fizeram história com a Companhia das Índias, que nada
mais era do que a associação de capitais nobres e burgueses para o financia-
mento de expedições visando a fomentar a expansão dos negócios. As ten-
dências mundiais mostram que, no futuro, os fundos de pensão serão os maio-
res provedores de recursos para investimentos em todo o mundo.
Gráfico 6.2
Participação dos investidores no mercado Bovespa – 1o semestre de 2005
Pessoas
físicas
25,3%
Institucionais
27,6%
Fonte: Bovespa.
248 Mercado Financeiro
Importância
Em geral, visam ao retorno ao investimento no longo prazo, podendo
assim financiar investimentos em projetos de longa maturação ou mesmo pro-
jetos em fase inicial.
O SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO
Para que o dinheiro saia do bolso do investidor para o caixa das empresas
(capitalização do emissor, mercado primário) e para que o investidor consiga
trocar os papéis adquiridos no mercado primário por dinheiro (liquidez) é
necessário que exista todo um sistema de intermediação financeira, que, no
caso do mercado de capitais, é composto pelos bancos de investimento, pelas
sociedades corretoras, pelas sociedades distribuidoras e pelos agentes autô-
nomos de investimento sob a supervisão da CVM. A CVM que exerce o papel
de xerife do mercado, exigindo e fiscalizando a qualidade das informações
prestadas pelas empresas emissoras que balizam os investidores na tomada de
decisão de compra ou venda nos mercados primário e secundário.
No mercado primário as instituições atuam na adequação da empresa para
abertura de capital, papel geralmente exercido pelos bancos de investimento,
e, posteriormente, na montagem do pool de distribuição, ou seja, na coloca-
ção dos papéis junto ao público em geral.
No mercado secundário, as sociedades corretoras membros da bolsa têm
o privilégio de acesso ao pregão. Assim, as ordens de compra e venda de ações
no mercado secundário organizado, as bolsas de valores, passam obrigatoria-
mente por uma corretora membro. As sociedades distribuidoras e os agentes
autônomos credenciados podem captar ordens de compra e venda, que
serão executadas por meio de uma corretora membro.
Ações
Títulos de renda variável, emitidos por sociedades anônimas, que repre-
sentam a menor fração do capital da empresa emitente. Podem ser escriturais
A Estrutura do Mercado de Capitais 249
A ÇÕES ORDINÁRIAS
Ação que confere ao titular participação nos resultados da companhia e
direito de voto nas assembleias de acionistas. A cada ação ordinária
corresponde um voto nas deliberações da assembleia. O detentor de uma
ação ordinária, por meio do voto, pode influenciar o destino da empresa.
A assembleia dos acionistas é a maior autoridade em uma companhia, uma
S.A. A assembleia é quem define sua atividade, o destino dos lucros, as contas
patrimoniais, elege os diretores e faz as alterações estatutárias.
A ÇÕES PREFERENCIAIS
As ações preferenciais não asseguram ao seu proprietário o direito a voto,
mas garantem ao acionista preferencialista a prioridade na distribuição de
resultados e no reembolso de capital, no caso de dissolução da sociedade.
Para o detentor de ações preferenciais, o lucro é mais importante do que o
controle. A Lei no 9.457, de 5 de maio de 1997, alterou a Lei no 6.404 – chama-
da de Lei das S.A. – atribuindo um dividendo no mínimo 10% maior do que o
pago para as ações ordinárias se as ações preferenciais não tiverem garantido
por estatuto o direito a dividendos fixos ou mínimos. A maioria das empresas
brasileiras paga o dividendo mínimo previsto em lei de 25% do lucro líquido.
Quadro 6.4
A administração das companhias abertas e seus impactos nos mercados.
Fonte: Bovespa.
250 Mercado Financeiro
Quadro 6.5
Grau de Interesse por ações preferenciais
Fonte: Bovespa.
A ÇÕES ESCRITURAIS
Não são representadas por cautelas ou certificados. Registro eletrônico
de compra e venda (débito e ou crédito) dos acionistas. Não existe movi-
mentação física de documentos. São escrituradas por um banco, que é fiel
depositário das ações da companhia e que processa os pagamentos de direi-
tos e resultados e as transferências de propriedade na forma da lei, compro-
vando as movimentações via extratos. Ultimamente, é a forma mais usada.
Valor Contábil
Valor lançado no estatuto e nos livros da companhia, podendo ser explíci-
to (valor nominal) ou indiscriminado (sem valor nominal). No Brasil, o pro-
cesso inflacionário das últimas décadas fez com que as emissões feitas pela
maioria das companhias fosse sem valor nominal.
252 Mercado Financeiro
VALOR DE MERCADO
Valor de negociação de uma ação no mercado secundário organizado (bol-
sas de valores), ou no mercado de balcão, é o valor de negociação da transfe-
rência de propriedade de uma ação e varia de acordo com as expectativas em
relação ao desempenho da companhia, vis-à-vis a situação geral do mercado
como um todo.
VALOR PATRIMONIAL
VALOR ECONÔMICO
É um valor apurado por peritos e que considera expectativas de rentabili-
dade e geração de caixa, além de eventuais ajustes nos valores contábeis. Ge-
ralmente apurado em casos de transferência ou alienação de controle.
Quadro 6.6
Valor de mercado dos índices da Bovespa
Fonte: Bovespa.
A Estrutura do Mercado de Capitais 253
V ALOR INTRÍNSECO
VALOR DE LIQUIDAÇÃO
Valor estimado para o caso de encerramento das atividades da companhia.
Emissões em ADR
Operações em Bolsa
Sistemas de negociação
Na Bovespa existem duas formas alternativas de negociação com ações:
Horários de negociação
Pregão eletrônico – Sessão contínua das 10h às 17h, para todas as empresas
listadas, nos mercados à vista, a termo, de opções e futuro de ações, sendo:
Pregão Viva voz – Das 10h às 17h, com interrupção entre as 13h e 14h. No
horário de verão, das 11 às 18h, com interrupção de 13h30min às 14h30min.
Processos de negociação
Negociação comum: realizada entre dois representantes, no viva voz, menci-
ona-se a intenção de comprar ou vender, o título, suas características, quan-
tidade e preço unitário. A transação é concluída mediante a palavra “fecha-
do”. No Megabolsa (pregão eletrônico), comprador e vendedor se acertam
mediante a digitação da ordem, que também contempla o título, suas carac-
terísticas, quantidade e preço unitário.
Negociação por leilão: se uma ação fica mais de cinco pregões consecutivos
sem ser negociada, a bolsa estipula um prazo, a seu critério, para que o negó-
cio seja fechado. O mesmo procedimento ocorrerá se a quantidade envolvida
estiver acima da média de negociação do papel ou ainda se a oscilação de
preço em relação ao último negócio for superior a 2%. Além desses critéri-
258 Mercado Financeiro
os, a bolsa pode realizar leilões sempre que achar conveniente para a me-
lhor formação e transparência no preço de uma ação.
Conta margem
Uma compra em margem consiste na aquisição de ações no mercado à
vista com recursos financiados por uma sociedade corretora. Uma venda mar-
gem representa a operação de empréstimo de ações em uma sociedade
corretora, para sua venda subsequente pelo investidor.
Remuneração do Acionista
Dividendos
O acionista tem direito de receber como dividendo obrigatório, em cada
exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto (mínimo 25%), ou,
se este for omisso, metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acres-
cido dos seguintes valores:
Bonificação
Emissão de novas ações, proveniente de aumento de capital por incorpo-
ração de reservas, que é distribuída, gratuitamente, aos acionistas, na propor-
ção das originalmente possuídas. Eventualmente, a empresa pode optar por
distribuir essas reservas, ou parte delas, em dinheiro, gerando o que se deno-
mina bonificação em dinheiro.
Quadro 6.7
Taxas de corretagem por intervalos de transação
Limite % Complemento
Fonte: Bovespa.
260 Mercado Financeiro
Quadro 6.8
Emolumentos, taxas de registro e outros custos de transação
Bovespa CBLC
I. Mercado à vista
Finais 0,03% - 0,01% - 0,04%
Day-trade 0,02% - 0,01% - 0,03%
Quadro 6.9
Mercado à vista
Base de cálculo Resultados positivos entre o valor de alienação do ativo e o seu custo de
aquisição, calculado pela média ponderada dos custos unitários, auferidos nas
operações realizadas em cada mês.
Alíquota 15%
Retenção de Apurado em períodos mensais e pago até o último dia útil do mês subsequente
recolhimento (Código Darf n o 6.015).
Responsibilidade Do contribuinte
de recolhimento No caso de estrangeiro: representante legal.
Compensação Para fins de apuração e pagamento do imposto mensal sobre os ganhos líquidos,
as perdas incorridas poderão ser compensadas com os ganhos líquidos
auferidos, no próprio mês ou nos meses subsequentes, em outras operações
realizadas nos demais mercados de bolsa, exceto no caso de perdas em
operações de day-trade , que somente serão compensadas com ganhos auferidos
em operações da mesma espécie.
Fonte: Bovespa.
Prazo: as debêntures são papéis de médio e longo prazos, sendo que as datas
de emissão e vencimento delas devem constar da escritura de emissão e do
certificado (quando for o caso). A debênture poderá ter prazo determinado
ou indeterminado (debênture perpétua), sendo que, neste último caso, o ven-
cimento fica condicionado às situações de inadimplemento de pagamento de
juros, dissolução da companhia e demais eventos especiais expressos na escri-
tura de emissão. Considerando os custos de toda operação que envolve a
emissão da debênture, não é economicamente viável uma emissão com prazo
inferior a um ano.
Quadro 6.10
Limites de emissão por espécie/garantia
Tipos Limites
Real Até 80% do valor dos bens gravados da emissora ou de terceiros, quando o valor de
emissão ultrapassar o do capital social.
Flutuante Até 70% do valor contábil do ativo da emissora, líquido de suas dívidas garantidas
por direitos reais sobre bens de sua propriedade.
Quirografária Não pode ultrapassar o valor do capital social da companhia.
Subordinada Não possui limite para emissão.
Quadro 6.11
Percentual de participação por indexador dos ativos emitidos
Tipos de debêntures
As debêntures podem ser de dois tipos: simples e conversíveis.
• Créditos trabalhistas
• Créditos fiscais
• Encargos e dívidas da massa falida
• Créditos com garantia real (debênture com garantia real)
• Créditos com privilégio especial
• Créditos com privilégio geral (debênture com garantia flutuante)
• Créditos quirografários (debênture com garantia quirografária)
268 Mercado Financeiro
Formas de debêntures
As debêntures podem ser nominativas ou escriturais.
Figura 6.3
Fluxograma de registro e custódia de títulos no SND
Custódia
Investidor/
participante
®
Deposita* Relatório
®
SND
Empresa Cadastro • Registra o título
®
emissora do título • Libera para negociação
• Ajusta posição
• Exerce direitos
®
Banco mandatário
* Apenas para debêntures que não foram lançadas no SDT e transferidas para o SND.
Fonte: SND.
272 Mercado Financeiro
Alíquotas: como as debêntures, em geral, são títulos emitidos com prazos mais
longos, e que podem prover rendimentos periódicos e/ou pagamento de ju-
ros, a definição do valor do imposto requer a observação da alíquota vigente
na data do crédito ou pagamento. Desta forma, muitas vezes, ao longo da vida
útil do papel, seus rendimentos ficam sujeitos a diferentes regras de tributa-
ção, que devem ser consideradas no momento do resgate, no caso de ganhos
ou rendimentos ainda não tributados.
É importante ressaltar que existem duas exceções à regra geral de tri-
butação:
Quadro 6.12
Tributação sobre rendimentos em debêntures
• 20%, para juros ou rendimentos referentes a períodos a partir de 1998 até Lei no 9.532/97, art. 35
31/12/2004 e para ganhos auferidos no período;
• 15%, para juros ou rendimentos referentes a 1996 e 1997, e para ganhos Lei no 9.249/95, art. 11
auferidos no período;
• 10%, para juros ou rendimentos referentes a 1995, e para ganho auferidos Lei no 8.981/95, art. 65
no período;
• 30% sobre ganhos ou rendimentos reais, que superarem a variação da Ufir Lei no 8.383/91, art. 20,
no período, auferidos até 1994, e sobre o valor dos juros, observada a modificada pela Lei no
sistemática prevista na primeira parte do quadro anterior. 9.065/95
Fonte: www.debentures.com.br.
Quadro 6.13
Base de tributação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)
Figura 6.4
Outros recolhimentos tributários
Pagamento de amortização Diferença entre o valor amortizado, tomando por base o principal
original, e o efetivamente pago (até 1994, somente a diferença
superior à variação da Ufir).
Nota: Base legal – Lei no 8.961/95, art. 65; Lei no 8.383/91, art. 20; e Instrução Normativa no 64/98, art. 13.
Fonte: Andima.
A Estrutura do Mercado de Capitais 275
Figura 6.5
Retenção de impostos por situação/contribuinte
Fonte: SDN.
276 Mercado Financeiro
Governança Corporativa
Conceito
Em 27 de novembro de 1995, foi fundado o Instituto Brasileiro de
Governança Corporativa (IBGC), uma sociedade civil sem fins lucrativos cujo
o propósito é ser a principal referência nacional em governança corporativa,
desenvolvendo e difundindo os melhores conceitos e práticas no Brasil, con-
tribuindo para o melhor desempenho das organizações e, consequentemente,
para uma sociedade mais justa, responsável e transparente. Segundo o IBGC:
“Governança Corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e
monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Con-
selho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fis-
cal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumen-
tar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua
perenidade.”
Em 1999, foi lançado o Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa no Brasil, que tem sido revisto e discutido, tendo inclusive passa-
do por um processo de audiência pública com sugestões de entidades e pro-
fissionais de mercado e associações de classe.
TRANSPARÊNCIA
A administração deve cultivar e incentivar o desejo de informação. A
boa comunicação interna e externa, particularmente quando espontânea,
franca e rápida, gera um clima de confiança tanto internamente, quanto
nas relações da empresa com terceiros. A comunicação não deve se res-
tringir ao desempenho econômico-financeiro, mas contemplar todos os
fatores (inclusive os intangíveis) que norteiam a ação empresarial e con-
duzem à criação de valor.
EQUIDADE
Tratamento justo e igualitário a todos os grupos minoritários, sejam do
capital (shareholders) ou das demais partes interessadas (stakeholders), como
colaboradores, clientes, fornecedores e credores. Atitudes ou políticas discri-
minatórias, sob qualquer pretexto, são inaceitáveis.
A Estrutura do Mercado de Capitais 277
R ESPONSABILIDADE CORPORATIVA
Conselheiros e executivos devem zelar pela perenidade das organizações
(visão de longo prazo e sustentabilidade) e, portanto, devem incorporar con-
siderações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e opera-
ções. Responsabilidade Corporativa é uma visão mais ampla da estratégia
empresarial, contemplando todos os relacionamentos com a comunidade
em que a empresa atua. Sua função social deve incluir a criação de riquezas
e de oportunidades de emprego, qualificação e diversidade da força de tra-
balho, estímulo ao desenvolvimento científico por intermédio de tecnologia,
e melhoria da qualidade de vida por meio de ações educativas, culturais,
assistenciais e de defesa do meio ambiente. Está incluída nesse princípio a
contratação preferencial de recursos (trabalho e insumos) oferecidos pela
própria comunidade.
Objetivos
A adoção de práticas de boa governança corporativa visa:
A companhia deve manter um free float de 25% das ações, ou seja, no míni-
mo 25% do total das ações emitidas devem estar em circulação no mercado.
A Estrutura do Mercado de Capitais 281
As empresas que estão abrindo o capital podem ser listadas no Novo Mer-
cado mediante uma distribuição pública mínima de R$10 milhões.
282 Mercado Financeiro
RESUMO
Este capítulo mostrou a evolução do mercado de capitais do Brasil e as
dificuldades no uso desse canal tão importante no processo de desenvolvi-
mento do país. Após uma contextualização histórica, foram apresentadas as
instituições participantes desse mercado, as características de seus investido-
res, assim como os títulos e instrumentos negociados na Bovespa, principal
bolsa de valores do Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Básica:
ANDIMA: www.cetip.com.br
APOSTILAS Bovespa.(www.bovespa.com.br/publicaçoesgratuitas).
FLEURIET, Michel. A Arte e a Ciência das Finanças. Rio de Janeiro: Editora Campus/Elsevier,2004.
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Complementar:
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Webliografia:
www.economatica.com.br
www.bovespa.com.br
www.bmf.com.br
www.bcb.gov.br
Capítulo
VII
Mercado Cambial &
Finanças Corporativas Internacionais
Objetivos
INTRODUÇÃO
O presente capítulo apresenta os mercados de câmbio e as pressões que
impulsionam as variações das taxas de câmbio. Além de avaliar teorias sobre
a oscilação das taxas de câmbio, as finanças multinacionais preocupam-se com
os riscos relacionados com a manutenção de ativos e passivos denominados
em moeda estrangeira. É evidente que o valor em moeda nacional de tais
ativos e passivos varia de acordo com a flutuação das taxas de câmbio; e a
exposição a tais flutuações cria o risco cambial. Nossa preocupação não é
286 Mercado Financeiro
O Padrão-ouro
O padrão-ouro foi um pilar central na teoria econômica clássica de equilí-
brio no comércio internacional. No padrão-ouro, a moeda dos países era livre-
mente conversível em ouro, o que fixava taxas de câmbio e permitia que toda
a liquidação internacional de débitos fosse feita em ouro. Um superávit no
balanço de pagamentos causava um influxo de ouro no banco central, o que
permitia que expandisse sua oferta interna de moeda, sem o temor de não
ter ouro suficiente para quitar suas obrigações. O aumento da oferta de moe-
288 Mercado Financeiro
A Crise de 1931
A crise de 1931 teve início com a insolvência de uma instituição bancária
da Áustria, denominada Kredit-Anstalt. Sua derrocada criou uma falta de con-
fiança inteiramente desproporcional à projeção do banco, causando, inicial-
mente, uma retirada de recursos da Áustria, ao que se seguiu uma evasão de
capitais da Alemanha, já que os bancos alemães tinham grandes depósitos em
bancos austríacos. Talvez os bancos da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Fran-
ça, atuando em conjunto, pudessem ter concedido empréstimos à Áustria e
impedido que o pânico se espalhasse. Os bancos franceses, contudo, recusa-
ram-se a cooperar no auxílio à Áustria, devido à união alfandegária deste país
com a Alemanha, ex-inimiga da França.
Devido ao temor de que as pressões do início dos anos 30 fossem
desestabilizar o sistema bancário, teve início a fuga de recursos da Grã-
Mercado Cambial & Finanças Corporativas Internacionais 289
Bretanha, e a libra ficou sob forte pressão. A Grã-Bretanha decidiu que não
mais poderia manter o valor da libra. Isso culminou no abandono do padrão-
ouro e na substituição do mesmo por um sistema no qual a libra não tinha
valor fixo em relação ao ouro ou ao dólar. Desaparecia, assim, uma de suas
maiores vantagens como ativo de reserva internacional.
Figura 7.1
As equações básicas das taxas de câmbio
paridade entre suas moedas. É uma espécie de lei do preço único, por meio
da qual as relações de produção, comerciais e de mercado refletissem seu
valor comparativo em suas taxas de câmbio. Mudanças esperadas para o futu-
ro só ocorreriam com a depreciação das moedas, dada pela diferença entre as
inflações esperadas internas e externas no futuro1 se houvesse ganhos de
competitividade nessas economias, como em fatores de produção e tecnologia,
que alterassem essa relação. Por uma visão inercial, o modelo enfatizaria que
o grau de depreciação dos ativos e fluxos econômicos esperados deveria se
refletir continuamente nas paridades de câmbio. O mercado seria eficiente
no presente ao avaliar essa cesta de produtos representativos de uma econo-
mia. Duas cestas de produtos e serviços idênticos devem ter o mesmo valor em
uma moeda. Um exemplo simplificado da PPP, e dessa cesta, é o Padrão
1. A diferença entre inflação esperada interna e externa pode ser representada pela equação ps – pC ,
sendo: ps a inflação esperada dos preços locais, em reais, por exemplo; e pC a inflação 1 + pC
esperada externa, dada pelo mercado europeu.
294 Mercado Financeiro
S 1 – So
So
i = r + πe
Sendo:
i = Taxa nominal de juros
r = Taxa real de juros
πe = Inflação esperada
Mercado Cambial & Finanças Corporativas Internacionais 295
O equilíbrio nas taxas de câmbio entre duas economias seria dado, en-
tão, por:
1+ is
1 + ic
Tabela 7.1
BigMac em moedas locais
The
O padrão-hambúrguer (baseado nos preços do BigMac em 16 de dezembro de 2004)
Economist
O BALANÇO DE PAGAMENTOS
O balanço de pagamentos resume as transações de uma economia com o
resto do mundo. Assim, a produção de bens exportados ou importados gera
créditos e débitos, que são contabilizados no balanço de pagamentos. Da
mesma maneira, os serviços contratados no exterior e os lucros recebidos de
filiais brasileiras no mercado externo são valores para pagamento ou recebi-
mento, respectivamente. De uma forma simplificada, os fluxos apresentados
nesse balanço são similares às demonstrações de resultados nas empresas, ca-
racterizando créditos e débitos de residentes, empresas ou instituições gover-
namentais locais transacionando com participantes, de características simila-
res às apresentadas, no exterior.
O balanço de pagamentos pode ser dividido em dois grandes grupos: as
Transações Correntes e a Conta Capital e Financeira. Suas subdivisões se es-
tendem, primeiramente, à Balança Comercial, de Serviços (Serviços e Ren-
das), que somadas às Transferências Unilaterais Correntes geram o saldo em
Transações Correntes. Por último, têm-se, ainda, a Conta Capital e Financei-
ra. Essa classificação corresponde à estrutura do Manual do Balanço de Paga-
mentos editada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em 1993.
A balança comercial reporta o saldo de exportações e importações de pro-
dutos em um determinado período. Um saldo positivo nessa balança indica-
ria grosseiramente que o país tem mais excedentes do que déficits de produ-
ção. Uma política voltada para exportação, no entanto, poderia gerar saldos
positivos em determinados períodos sem um desenvolvimento real da econo-
mia. A pauta de exportação e importação está diretamente ligada a uma polí-
tica de desenvolvimento. Conceitos como a exportabilidade, representada pelo
grau de abertura de uma economia – média das exportações somada às im-
portações em relação ao PIB –, são indícios mais relevantes, em uma análise
qualitativa, como argumento para o crescimento econômico. Importações de
determinados bens podem favorecer o desenvolvimento de uma produção
interna complementar da cadeia produtiva.
298 Mercado Financeiro
Tabela 7.2
Balanço de pagamentos do Brasil – período 1964-2004
DISCRIMINAÇÃO 1964 1974 1984 1994 2000 2004
Exposição Econômica
O conceito de exposição econômica é aplicado aos fluxos de caixa
operacionais a serem gerados pelas operações da empresa no exterior, ou
mesmo em seu próprio país, e ao modo pelo qual o valor corrente dessas
operações se modifica em resultado de variações nas taxas de câmbio. O valor
304 Mercado Financeiro
de uma operação no exterior pode ser expresso como o valor atual dos flu-
xos de caixa operacionais futuros, incrementais à atividade no exterior, des-
contados à taxa apropriada.
Assim, para nos aprofundarmos na questão da exposição econômica, é
preciso analisar os efeitos dos movimentos nas taxas de câmbio sobre vendas
externas e domésticas, no custo de insumos importados e de insumos domés-
ticos, no capital de giro no capital fixo.
Netting
A técnica de netting envolve empresas associadas que efetuam operações
comerciais entre si. As empresas do grupo fazem a liquidação de dívidas entre
afiliadas pelo valor líquido devido. Basicamente, essa técnica reduz a quanti-
dade de pagamentos e recebimentos entre empresas. O principal problema,
no netting bilateral, é, em geral, a decisão sobre a moeda a ser utilizada para
liquidação.
O netting multilateral é mais complicado, porém, em princípio, em nada
difere do netting bilateral. Envolve débito entre mais de duas empresas asso-
ciadas de um grupo e, quase sempre, envolve os serviços da tesouraria do
grupo, a qual atua como centro de operações de netting.
A técnica de netting reduz os custos bancários e aumenta o controle cen-
tral das liquidações entre empresas. A redução do número e do valor dos
pagamentos permite economias em termos de spreads nos mercados forward e
à vista (spot), além de redução dos encargos bancários.
Matching
Embora os termos netting e matching sejam frequentemente utilizados
como sinônimos há diferenças entre eles. O termo netting é aplicado aos
fluxos potenciais dentro de um grupo de empresas, enquanto que o matching
pode ocorrer tanto dentro como fora do grupo.
306 Mercado Financeiro
Leading e lagging
A expressão leading e lagging refere-se ao ajuste dos prazos de carência
entre empresas. A técnica é mais comumente aplicada aos pagamentos entre
empresas associadas, pertencentes a um mesmo grupo. Leading significa pa-
gar uma obrigação antes de sua data de vencimento. Lagging significa efetuar
o pagamento de uma obrigação em data posterior à do vencimento. As técni-
cas de leading e lagging são táticas agressivas de gestão cambial, cujo objetivo é
tirar proveito da expectativa de desvalorização e revalorização de moedas.
Técnicas externas
As técnicas externas de gestão da exposição ao risco cambial recorrem a
relações contratuais externas ao grupo de empresas, visando a reduzir o risco
de perdas cambiais. Entre tais técnicas, incluem-se o contrato de câmbio
forward, a tomada de empréstimos de curto prazo, contratos financeiros de
futuros, opções de compra de moeda, desconto de contas a receber, factoring
de contas a receber, overdrafts de moeda, swap de moeda e garantias governa-
mentais contra risco cambial.
Políticas Pós-Desapropriação
A desapropriação não acontece de repente. De modo geral, há pistas e
sinais que a precedem. O reconhecimento dessas pistas e sinais dá à empresa
multinacional a oportunidade de estabelecer discussões com o governo do
país anfitrião. A empresa pode negociar com o governo, na tentativa de per-
suadi-lo a reconsiderar. Concessões mútuas podem ser sugeridas, permitindo
que a empresa continue com suas operações. De acordo com Buckley (1986),
tais concessões podem ser:
®
®
®
Departamento do Comércio
Secretaria da Receita Federal
Exterior (Decex)
®
®
Bancos e corretores
Instituições financeiras
Importadores e exportadores
Arbitragens diretas: permuta de uma moeda por outra com troca direta de
recursos entre as partes. Exemplo: conversão em Tóquio de ien japonês
(JPY) por dólar norte-americano (USD).
Instituições de Apoio
O Banco Central, como gestor do mercado de câmbio, está atento às
necessidades de oferecer transparência, segurança e liquidez às operações
diárias desse mercado. Vejamos, a seguir, os principais parceiros e mecanis-
Mercado Cambial & Finanças Corporativas Internacionais 317
Os dealers
Bancos operantes em câmbio, instituições previamente selecionadas pelo
Banco Central para que a autoridade monetária possa acionar quando da
realização dos chamados “leilões de moeda estrangeira”, ou seja, compra e
venda de dólar norte-americano para atender demandas de mercado, con-
soante sua política para o setor. Para identificar um dealer, o Banco Central
estabelece um ranqueamento dos melhores bancos operantes em câmbio em
termos de volume de operações, atribuindo pesos a cada tipo de operação
que cada banco realiza. As operações mais pontuadas são: exportações, im-
portações e operações financeiras como pagamento de juros e financiamentos.
Operações com títulos cambiais e volume de informações de mercado que
cada banco concede ao Banco Central, auxiliando-o em processos decisórios,
vêm logo a seguir em termos de importância. Compra e venda de moeda es-
trangeira entre bancos (mercado interbancário) é a operação de menor peso.
• É uma forma legal dos bancos para regular liquidez entre si de reais e
moeda estrangeira.
• É um mecanismo que permite ao banco captar e aplicar recursos em reais,
principalmente em momentos de alta interna de juros.
• Serve de suporte para que bancos possam alavancar operações de impor-
tação e exportação.
Essas operações podem ser celebradas tanto para liquidação pronta quan-
to futura (prazos médios até 180 dias), sendo atualmente permitido o prazo
máximo de até 360 dias. Não existem limites de valores nessas operações.
Usualmente, elas são efetuadas mediante registro direto via Sisbacen, com
compensação de valores também dentro do sistema.
Os custos operacionais variam conforme a oferta e a procura da moeda
estrangeira, prazos, custo da linha externa, entre outros aspectos. É permitida
a cobrança pelo banco vendedor da moeda de um prêmio (juros) em opera-
ções com liquidação futura. O Banco Central faculta ainda a realização de
operações interbancárias a termo de câmbio na qual a própria taxa de câm-
bio deve embutir esses custos, não sendo permitida a cobrança de prêmios
além da conversão entre moedas.
Se vendida:
1. Comprar dólares no mercado primário (de exportadores, captadores de
recursos em moeda estrangeira (M/E).
2. Comprar dólares no mercado interbancário.
3. Obter cobertura do Banco Central (nem sempre disponível).
320 Mercado Financeiro
Se comprada:
1. Vender dólares no mercado primário (a importadores e devedores de
M/E no exterior).
2. Vender dólares no mercado interbancário.
3. Repassar os dólares excedentes ao Banco Central.
Euribor (Euro Interbank Offer Rate) – taxa referencial usada na zona de influên-
cia do euro e administrada pela Federação Bancária da União Europeia jun-
tamente com a Associação de Mercado Financeiro da Região de Operacio-
nalização do Euro. É uma taxa média resultante do custo de oferta de em-
préstimo para prazos diversos, apresentada por 57 bancos da região.
R ESUMO
A principal preocupação deste capítulo é dar uma visão geral das finanças
internacionais, abordando alguns temas curiosos como a criação do eurodólar,
o mercado de câmbio, o sistema monetário internacional e algumas metodo-
logias de conversão e projeção de taxas de câmbio. Além de avaliar teorias
sobre a oscilação das taxas de câmbio, as finanças multinacionais preocupam-
se com os riscos relacionados com a manutenção de ativos em moeda estran-
geira. O valor em moeda nacional de tais ativos e passivos varia de acordo com
a flutuação das taxas de câmbio. A exposição a tais flutuações cria o que se
chama de risco cambial. Finanças multinacionais, contudo, não têm a ver uni-
camente com o risco cambial, mas englobam, também, o risco político, ou
seja, o nível de estabilidade do ambiente político local, levando em considera-
ção mudanças de governo, níveis de violência no país e conflitos internos e
externos, que influenciam nas tomadas de decisão de investimentos.
322 Mercado Financeiro
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ZINI JR., Álvaro Antônio. Taxa de câmbio e política cambial no Brasil. São Paulo: Edusp/BM&F, 1993.
Capítulo
VIII
Derivativos
Objetivos
CONCEITUANDO OS DERIVATIVOS
A primeira definição de um derivativo associa esse instrumento a um con-
trato estabelecido para o futuro. Assim, são acordados termos para um deter-
minado ativo na economia com hipóteses futuras de compra ou venda para
esse ativo, traduzidos em direitos e obrigações entre as partes. A origem da
palavra derivativo vem do inglês, derivative, ou melhor, traduzindo, é algo de-
rivado, derivado de um ativo. Qualquer contrato entre duas partes, no qual se
façam acordos de um preço para o futuro de um determinado ativo, caracte-
rizando direitos e obrigações de compra e venda, é um contrato derivativo.
Os ativos referenciados podem ser físicos, como commodities (arroba do boi,
barril do petróleo, sacas de milho etc.), ou financeiros (preço de uma ação,
de cotações de moeda e de taxas de juro, entre inúmeros outros).
324 Mercado Financeiro
Figura 8.1
O mercado financeiro e o fluxo de transações na economia
ECONOMIA EXTERNA
Corporações
Mercado
monetário
Produtos Taxa de
bancários juros
CDB
“Hot Money”
Equilíbrio e
DERIVATIVOS
Mercado eficiência do Mercado
Investidores de mercado cambial Consumidor
crédito
Bonds
Debêntures Dólar
Commercial comercial
papers
Mercado de
capitais
Governo
Derivativos 325
Figura 8.2
Proposições e participantes nos mercados futuros
Compra de mercadorias no
EXEMPLO Garantindo preço de Compra de contratos mercado à vista e venda no
insumos em seus futuros de barril de mercado futuro ou venda
COMPRADOR
produtos. petróleo, devido a uma dessas mercadorias no
expectativa de alta em seus mercado à vista e compra
preços. no futuro, quando houver
distorções entre os preços.
Venda de contratos futuros Devem ser consideradas
EXEMPLO Garantindo o preço de de sacas de milho, remunerações em função da
VENDEDOR venda de suas apostando na queda do taxa livre de risco e demais
mercadorias. preço. custos de transação.
Derivativos 329
Hedging de compra
Alguns pecuaristas se protegem da instabilidade do preço do milho, espe-
cialmente em períodos de entressafra, pois pode provocar o aumento do cus-
to de engorda do boi em confinamento. O Quadro 8.1 apresenta uma possí-
vel comparação de posições cobertas e descobertas em hedging para uma em-
presa rural, considerando-se um aumento em seus custos diretos de 30%, de-
vido a alterações no preço da saca de milho.
Observe que a proteção, por meio da compra de contratos futuros de
milho, no período de baixa (R$20,00 a saca), beneficiaria o produtor (posi-
ção com hedging), pois geraria um ganho financeiro nos contratos com a alta
da mercadoria, atingindo os resultados inicialmente estimados. Já a posição
produtiva, demonstrada pelo Custo da Mercadoria Vendida (CMV), ficaria
Quadro 8.1
Posição de pecuaristas em relação ao hedge
PREMISSAS
Custo da saca da milho no período de confinamento: R$30,00
Quantidade demandada de produção: 5.000 sacas
Custo dos contratos futuros de milho no período das chuvas: R$20,00
Custo estimado de produção (CMV): R$100.000,00
Resultado esperado (Er) = R$750.000,00
Quadro 8.2
Hedging de venda
PREMISSAS:
Produção anual em sacas de milho 10.000,00
Custos estimados de produção –150.000,00
Despesas operacionais/administrativas –35.000,00
PREMISSAS:
Produção anual em sacas de milho 10.000,00
Custos estimados de produção –150.000,00
Despesas operacionais/administrativas –35.000,00
Preço hedging de venda R$30,00
Hedging de venda
Um produtor de milho, dados os movimentos de alta dessa mercadoria,
poderia também garantir suas margens de ganho, antes da realização da co-
lheita, prefixando os preços de seus contratos. Considerando-se um exemplo
no qual os custos e as despesas operacionais de produção sejam fixos, segun-
do as cotações informadas no momento do hedging, esse produtor obteria um
resultado como apresentado no Quadro 8.2. Supondo-se a oscilação dos pre-
ços da saca de milho no futuro, podem ser comparados os resultados espera-
dos, com e sem hedging, para esse produtor.
Na posição protegida, o resultado seria sempre um valor prefixado. Neste
caso, R$165.000,00, o que garantiria um preço unitário líquido de R$16,50 a
saca. A posição sem hedging pode tanto trazer benefícios quanto grandes per-
das, dada a variabilidade dos preços do ativo. A proteção garantiria maior
estabilidade dos resultados, portanto, maiores chances de longevidade do
negócio.
ressaltar que, embora inicialmente todo contrato seja realizado por duas
partes, uma compradora e outra vendedora, ao final, as bolsas passam a exer-
cer, sempre, a contraparte contratual nas operações, já que essas instituições
garantem a segurança do sistema. Tal fato proporciona a nulidade do risco
de crédito entre os participantes desse mercado.
Em termos de formalização, independentemente do derivativo abordado,
as características dos contratos não mudam muito, variando apenas quanto à
especificidade de cada tipo de produto.
Onde:
Figura 8.3
Transações no Mercado Futuro Brasileiro
Derivativos 333
100 110
Quadro 8.3
Transação a termo no vencimento (comprador versus vendedor)
Preço a termo
Figura 8.4
Posição comprador e vendedor
Lucro Lucro
®
®
®
K
® K
®
St (preço na
entrega)
Figura 8.5
Risco de base
Período Período
situação é mais clara nos ativos financeiros, quando fica evidenciado um pre-
ço de financiamento para uma transação futura desse ativo – uma taxa de
juros implícita. Nos dois casos, no entanto, espera-se a convergência de pre-
ços. A diferença desses preços é dada como base e pode ser definida como F
– S(base) e sua variação de preços, para contratos de hedging, como risco de
base, ou seja, o risco que seus participantes, hedgers, correriam ao se
posicionarem nesses contratos, dada suas posições em ativos reais. Assim, o
desembolso de uma posição de hedging de venda poderia ser dado como:
Hv = St + F - Ft
Hc = - St + (Ft - F)
i = (Ks )1/∆t - 1
ε(r ) = ε(ST ) - 1
K
(ST - K)
f =
(1 + rf )∆f
Figura 8.6
Projeções de curvas a termo
Preço à vista
Preço a termo
Derivativos 339
Importadora Exportadora
Antes Antes
R$ US$ US$ R$
Depois Depois
US$ US$ R$ R$
13% a 15% do valor do contrato. Os preços de ajuste são baseados na média das
cotações dos últimos negócios de cada pregão e a quantidade mínima de nego-
ciação é de cinco contratos. Existem ainda os minicontratos, negociados de for-
ma eletrônica com valor de US$5,000.00 cada um. Esses parâmetros são
atualizados com frequência pelas bolsas, dado o dinamismo do mercado.
Todas as imposições – como margem, ajustes, oscilações – são imprescin-
díveis para maior segurança e transparência do mercado. Todavia, há que se
ter certo cuidado para que esses valores não retirem a liquidez do mercado,
inviabilizando transações, de forma a torná-lo menos competitivo e eficiente.
A BM&F, no Brasil, exerce esse papel regulador e de controle, sendo respon-
sável tecnicamente pelos cálculos e pelo acompanhamento da liquidez. Já a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é encarregada do papel de fiscaliza-
ção, regulamentação e auditoria dos processos dispostos pela BM&F.
As margens de garantia dos contratos futuros podem ser dadas, também,
em ativos como títulos públicos, ações e outros, sendo o que geralmente ocor-
re, principalmente nas transações realizadas por instituições financeiras. Es-
sas variações estão de acordo com especificações em contrato.
Antes de dar início a exemplos práticos dos futuros de dólar comercial,
convém propor um detalhamento do cálculo dos ajustes diários para melhor
compreensão do fluxo dessas transações. Há, em síntese, dois tipos de ajuste.
O ajuste do dia da transação e os ajustes diários posteriores. O investidor que
compra esses contratos a um preço P0, teria o seguinte ajuste nesse dia:
Ad = (Pt – P0 ) . M. n
Ad = (P0 – Pt ) . M. n
M = US$50 mil
Vejamos:
Quadro 8.4
Fluxo do importador em exemplo
Garantia (450.000,00)
Exercícios Resolvidos
Especulação
1) No dia 27 de agosto de 2003 um investidor compra dez contratos de
dólar futuro com vencimento para 1o de outubro de 2003, DOLF2 Out./03.
Este mesmo investidor encerra, vende a posição, antes de seu vencimento
previsto, no dia 28 de agosto de 2003.
Foram realizadas as seguintes cotações nessa transação:
Preço de compra dolf 27/8/2003: R$3,02
Preço de venda dolf 28/8/2003: R$3,05
Ajuste: 27/8/2003: R$3,01
Margem de garantia 15% valor da transação
Valor de cada contrato US$50.000,00
mento após sua aquisição, não sendo necessário esperar por seu vencimen-
to, se assim desejar. Essa dinâmica é de ocorrência muito comum em estra-
tégias de especulação, havendo, frequentemente, operações de day trade
nessas transações (compra e venda no mesmo dia).
Hedging
2) Uma empresa exportadora deseja fechar câmbio de US$1.000.000,00
em 27/8/2003. Dados, nesse dia, o câmbio à vista a R$2,98 e o dólar futuro,
com vencimento para setembro, a R$3,05. Apurar os resultados teóricos para
a empresa e no contrato de hedging, segundo as seguintes cotações no venci-
mento do contrato, caso realizasse a transação em 27/8/2003:
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
Premissas:
Valor negociado: US$100.000,00
Hedging de venda (exportador)
Contratos futuros: R$3,05
Def. de Def. de
margem margem
ST ST
Hedging Exposição
de venda cambial
Exportador Importador
R$ _______________________________
® 100
2 fluxos
______________________________ US$
100 ® contrários
FV
F = Se (iR$∆t1 - iUS$∆t2) + et
Sendo F o valor teórico para uma moeda futura, o dólar, nesse exemplo;
S, o valor presente dessa moeda, dólar comercial; i, a taxa interna doméstica
(CDI, por exemplo); e ie a taxa de remuneração externa na moeda estrangei-
ra, Libor,3 por exemplo.
O que representa exatamente o ganho em um mercado descontado os
ganhos esperados do outro. Esse é o primeiro pressuposto teórico da forma-
ção dos preços futuros de moedas. Essa equação pressupõe uma relação per-
feita entre os mercados e é denominada Paridade Coberta da Taxa de Juros.
Exemplo numérico
Apenas para ilustrar essa dinâmica, considere as seguintes variáveis, cota-
das pelo mercado no dia 6/4/2004:
3. London Inter Bank Offered Rate – taxa média interbancária praticada no mercado londrino.
348 Mercado Financeiro
Exemplificando a Arbitragem
Exemplificando a teoria de arbitragem com moedas futuras, tomem-se
dois exemplos: um com dólar futuro subavaliado e o outro, superavaliado,
perante o modelo da paridade coberta da taxa de juros.
No primeiro exemplo, dadas as premissas assumidas pelo modelo, demons-
tradas em fluxograma a seguir, pode ser proposta a seguinte cotação teórica:
Exemplo 1 – Premissas
Entrada
Captação de de US$ Banco doméstico Compra de
Fechamento Aplicação de
recursos no ® ® ® ® contratos de dólar
Bacen de câmbio (R$) recursos (DI)
exterior (1) futuro (US$)
®
Remuneração
prevista em US$
FLUXO DE SAÍDA (B) X% a.a.
Fecha-
Quitação de mento de Venda de Resgata a
Apuração final juros referentes Remessa de câmbio contratos de Aplicação
® ® ® ® ®
do resultado ao empréstimo divisas dólar futuro remunerada ao
(US$) Bacen (US$) fator (1+i)∆t
Fluxo de Caixa da Empresa Arbitradora
Ex.: US$10.500.000,00
Ganho arbitragem R$.525.000,00
Ganho arbitragem
(spread ) R$0,05
Dólar futuro subavaliado
Remuneração
prevista em reais
FLUXO DE SAÍDA (B) x%
Fecha-
mento de
câmbio
Apuração Final Compra de Banco Doméstico (venda) Remessa Resgate da ®
® contrato de dólar ® ® ®
do Resultado (R$) de recursos Aplicação
futuro (US$) Bacen
Fluxo de Caixa da Empresa Arbitradora
Ex.: US$10.000.000,00
Ganho arbitragem R$525.000,00
Ganho arbitragem
(spread ) R$0,05
354 Mercado Financeiro
DERIVATIVOS DE JUROS
A taxa de juros no Brasil talvez seja uma das mais importantes referên-
cias para a economia brasileira, sendo base para o regime de metas de infla-
ção, iniciado em 1999. Possui funções, ainda, na política monetária e, de
certo modo, no desenvolvimento da economia. Embora essa visão esteja
cercada de bons fundamentos, o capitalismo nas economias atuais tem de-
monstrado que os agentes reguladores e promotores dessa política, os ban-
cos centrais dos países, estão cada vez mais limitados no uso de ferramentas
como políticas de contingenciamento ou expansão da economia doméstica,
salvo se houver excedente produtivo e de investimento, poupança, suficien-
tes para modificar essas relações de equilíbrio. É bem verdade que na mídia
ou ainda entre muitos economistas, políticos e cidadãos de forma geral. É
supervalorizada essa ferramenta monetária dados os constantes movimen-
tos de altas e baixas nas taxas de juros brasileiras, de tempos em tempos, ou
mesmo devido à influência da atuação intervencionista do FED,4 na queda
dos juros para a retomada do crescimento. No fim, todavia, o que se quer
evidenciar é que essa política monetária com seus reflexos expansionistas
havendo uma baixa dos juros, e retracionistas – havendo uma alta – busca, em
última análise, um equilíbrio da economia, estando limitada em seus resulta-
dos, caso não haja razões de produção ou investimento para contrabalançar
esses movimentos, fatalmente haverá distorções na inflação e na renda.
Essas relações, no entanto, fazem parte de um contexto macroeconômico,
objetivo final dessa análise. A eficiência na execução desses mercados, crian-
do proximidade e liquidez entre seus participantes e melhores mecanismos
para suas necessidades, pode ser reforçada pelo uso dos derivativos. No Brasil,
o ativo mais comum para referência das taxas de juros praticadas pelo merca-
do é o Depósito Interfinanceiro (DI), que gera as taxas referenciadas como
CDI, que na verdade compõem as taxas médias interbancárias dia a dia,
divulgadas em percentuais ao ano. Os contratos futuros dessas transações são
os derivativos de juros mais líquidos do mercado, representando um volume
em torno de 75% do total negociado na BM&F. Formam, também, um impor-
tante benchmark para outras transações na economia. A seguir, serão destaca-
dos os fundamentos, cálculos e objetivos finais dos contratos DI – 1 dia, que
proporcionarão uma melhor compreensão da dinâmica e da estrutura do
Quadro 8.5
Volume médio de transação em contratos derivativos – Período 2000/2004
mercado de juros futuros, bem como maior clareza das necessidades de seus
participantes. Esses contratos, isoladamente, movimentam quase 50% do vo-
lume total em derivativos no Brasil.
R$100.000,00 (FV)
n
®
R$83.333,33 (PV)
PU = 100.000/(1 + i)n/252
se obtém é uma aposta na variação dessa taxa no período entre a data de sua
negociação e seu vencimento, ou seja, não há remuneração de recursos na
forma de um aplicador e de um tomador. Melhor dizendo, só ocorreriam
diferenças de pagamento ou recebimento nos resultados finais dos contratos
se a variação do período real na economia fosse inferior ou superior ao
percentual negociado para esse período. Dispondo isso em números, supo-
nha que a taxa DI real, divulgada pela Câmara de Custódia e Liquidação
(Cetip), responsável pela liquidação financeira desses títulos, tenha sido, no
mesmo período do exemplo anterior, de 2%.
A apuração da diferença tem como referência a base negociada:
Quadro 8.6
Estratégias de hedging nos contratos DI futuros
Situação contábil SITUAÇÃO: Empresa possui uma dívida ou passivo corrigido a uma taxa pós-
da empresa fixada e teme que os juros subam.
Baixa Alta
Simulação de Taxas no Vencimento 10% a.a. Variação anual do DI 30% a.a. Variação anual do DI
A: Resultado no DI futuro 10% – 20% = 10% 30% – 20% = 10% a.a.
B: Pagamento PASSIVO 10% a.a. 30% a.a.
Resultado final do hedge (A+B): (10%) + (10%) = (20% a.a.) 10% + (30%) = (20% a.a.)
Situação contábil SITUAÇÃO: Empresa possui uma aplicação ou ativo corrigido a uma taxa pós-
da empresa fixada e teme que os juros caiam.
Baixa Alta
Simulação de Taxas no Vencimento 10% a.a. Variação anual do DI 30% a.a. Variação anual do DI
A: Resultado no DI futuro 20% – 10% = 10% 20% – 30% = 10% a.a.
B: Recebimento ATIVO 10% a.a. 30% a.a.
Resultado final do hedge (A+B): 10% + 10% = 20% a.a. (10%) + 30% = 20% a.a.
Situação contábil SITUAÇÃO: Empresa possui uma dívida ou passivo corrigido a uma taxa
da empresa prefixada e teme que os juros caiam.
Situação contábil SITUAÇÃO: Empresa possui aplicação ou ativos corrigidos a uma taxa prefixada e
da empresa teme que os juros subam.
Quadro 8.7
Expectativa de alta nas taxas de juros com passivo em taxa pós-fixada (CDI)
Baixa Alta
Simulação de Taxas no Vencimento 10% a.a. Variação anual do DI 30% a.a. Variação anual do DI
Resultado final do hedge (A+B): (10%) + (10%) = (20% a.a.) 10% + (30%) = (20% a.a.)
98.424,05 – 1
Assim, o valor projetado para o mês de outubro seria = 1,66%
98.816,50
Ou, ainda,
Taxa projetada = (1 + 0,22)41/252/(1 + 0,21)21/252 – 1 = 1,66%
Figura 8.7
Fluxograma de projeção da taxa de juros
Vencimento nov./2003
(41 dias úteis)
Ou ainda:
Onde:
ii = taxa interpolada entre duas taxas futuras de juros;
du1 = dias úteis entre a data do contrato mais curto e a data avaliada;
du2 = dias úteis entre a data do contrato mais longo e a data avaliada;
n = data avaliada e da interpolação.
Figura 8.8
Curva de juros futuros por interpolação
O Cupom Cambial
Outra importante referência de derivativo no mercado de juros é o cu-
pom cambial. Cupom cambial significa o percentual de taxa de juros ofereci-
do ao mercado, divulgado geralmente em percentuais ao ano, livre da varia-
ção cambial ocorrida. Assim, representaria quanto os títulos domésticos, re-
presentados pelo CDI, por exemplo, estariam remunerando o mercado ao
ano, descontando-se a variação cambial projetada.
Sua expressão poderia ser assim escrita:
Então, Dolf representa a cotação dos contratos de dólar futuro; PU, o pre-
ço unitário dos contratos futuros de taxa de juros e n, o número de dias corri-
dos do período entre a data da cotação e o vencimento dos contratos.
Analisando-se a equação acima, no numerador tem-se a representação
da taxa de juros doméstica projetada pelo mercado, no período, calculada
em valores PU. Tal valor poderia ser substituído simplesmente pelo fator de
juros no período (1 + i a.p.). No denominador temos a variação cambial
prevista, ou a possível fixação da mesma por meio do mercado, que pode ser
efetuada pela razão entre o dólar futuro e o câmbio à vista (dólar comerci-
al), utilizando-se como parâmetros as taxas de mesmo vencimento em todos
os contratos futuros referenciados. Dividindo uma equação pela outra che-
366 Mercado Financeiro
Onde:
100.000,00
= – 1 = 0,4167%
99.585,06
(0,9% - 0,416%)
× 100.000 = US$481,32
(1 + 0,4167%)
Derivativos 367
Sendo ∆C variação cambial que pode ser fixada nos mercados futuros pela
razão F/S, representando o dólar futuro na data de transação dividido pelo
câmbio à vista nessa mesma data.
Reordenando os termos, chega-se à fórmula teórica da paridade coberta
da taxa de juros:
Onde:
CC(DDI) = ie
S WAPS
Para Jorion (1997), swaps são acordos firmados entre duas partes para a
troca de fluxos de caixa no futuro. Para Hull(2003), esses acordos podem
ser considerados ainda carteiras de contratos a termo, constituindo-se sua
análise uma extensão natural do estudo de contratos futuro e a termo.
Muitos são os motivos para se buscar um contrato de swap. Esses produ-
tos, assim como os outros derivativos, terão sempre em sua dinâmica a ideia
implícita de sua transação por um hedger, especulador ou arbitrador. Dentre
as razões que poderiam motivar sua realização, podem ser destacadas: a prote-
ção de passivos, ocorrendo em financiamentos ou importações, por exem-
plo; a realização de ativos de natureza distinta à da empresa; a constituição
de estratégias e arbitragens; ou apenas uma aposta. O swap pode ocorrer
ainda por divergências de captação das empresas de diferentes mercados,
evidenciada pela teoria das vantagens comparativas, referência de sua
estruturação. O pressuposto é que haja necessidades distintas entre as par-
tes para que ocorra a troca.
Os swaps mais comuns são de trocas de taxas de juros, Plain Vanilla, ou de
moedas, mas podem ser personalizados, caso a caso, e com qualquer ativo
financeiro e/ou promessa futura. Os swaps podem ser com caixa, quando se
estabelece o pagamento dos seus fluxos antecipadamente, ou sem caixa, quan-
do há simplesmente o resultado líquido ao final. Os mais comuns são os sem
caixa, solicitando-se, no entanto, alguma garantia dos participantes para não
ocorrência de riscos de crédito ou liquidez.
Exemplificado um contrato de swap, suponha duas empresas. A empresa
A toma recursos no mercado com taxas pós-fixadas, CDI, por exemplo – taxas
que terão sua variação de acordo com o que o mercado praticar no futuro.
Sua política de vendas, no entanto, é a prazo, estabelecendo uma pequena
margem nessas vendas para sua proteção. A empresa B possui recursos aplica-
dos no CDI, mas gostaria de garantir uma taxa prefixada para o seu investi-
mento, temendo que as taxas de juros diminuam, expectativa contrária à da
empresa A.
370 Mercado Financeiro
Figura 8.9
Fluxograma de um swap de taxa de juros
PRÉ
®
EMPRESA A EMPRESA B
®
PÓS (CDI)
Figura 8.10
500 maiores empresas mundiais que utilizam derivativos – pelo tipo de risco
Um exemplo numérico
Uma empresa, temendo uma alta na taxa de juros, procura uma instituição
financeira em busca de proteção para um passivo no valor de R$1.000.000,00.
Essa instituição, um banco no caso, lhe propõe um swap de 180 dias em que
pagaria à empresa 100% do valor do CDI, taxa pós, em troca de uma remune-
ração de 20% a.a. – taxa prefixada a ser paga pela empresa. Ao final do pe-
ríodo do contrato, o valor do CDI é de 19% a.a. Considerando-se, ainda, 125
dias úteis nesse período, apenas nos termos do swap, quem realizou o preju-
ízo e de qual montante?
As convenções são de 252 dias úteis e 360 dias corridos.
Fluxos (A/IF)
R$1.000.000 . 1,2(125/252) = R$1.094.652,85
® INSTITUIÇÃO
EMPRESA A
® FINANCEIRA
PÓS (CDI)
CDI taxa
pós-fixada
®
A BCO CDI
® (Taxa pós)
Taxa prefixada
Swap de Moedas
O swap de moedas geralmente envolve uma troca de passivos para o fu-
turo, de uma moeda por outra. Obviamente, ele poderia se encaixar tam-
bém nas diversas situações entre ativos demonstradas anteriormente.
Deve-se relevar nesse contrato futuro, desconsiderando-se o risco dos ati-
vos, a taxa de câmbio das moedas e a taxa de juros obtida nas mesmas.
O swap de moedas mais comum no Brasil refere-se à troca de reais por
dólares, taxa-pré em reais por dólar ou DI (taxa pós) × US$.
Assim, como o dólar futuro e o cupom cambial, os swaps servem para co-
bertura de variações cambiais, pressupondo ainda uma remuneração líquida
entre uma moeda e outra.
Exemplo:
R$ +
Taxa doméstica
®
A BCO
® US$
US$ +
Taxa externa
Empresa nacional
374 Mercado Financeiro
Exemplo resolvido
Uma empresa importadora cota um valor de US$ 100.000,00 para transa-
ção de um swap, em que deseja proteger passivos já contraídos em suas impor-
tações. A instituição financeira lhe apresenta a seguinte proposta. Fornecerá
o valor do dólar mais a variação cambial e ainda um percentual de 2% a.a.
Em contrapartida, cobrará o valor em reais, convertidos na data de transa-
ção, acrescentado-se 20% a.a., uma taxa prefixada. O prazo do contrato,
segundo as necessidades da empresa, é de 60 dias, sendo 43 dias úteis, e a
cotação do câmbio à vista igual a R$3,00. O fluxograma desta operação pode
ser estruturado da seguinte forma:
Fluxos (A/BCO)
US$100.000,00 × R$3,00 × 1,2(41/252) = R$309.032,33 Importadora paga
®
A BCO
®
Fluxo 2 (BCO/A)
Banco paga
US$100.000,00 × (R$3,00 × (1 + variação cambial %) (1 + 2% (60/360)) = (?)
R$309.032,33
= R$3,080056 (Taxa de equilíbrio)
US$100.000,00 × (1 + 2% × (60/360))
Derivativos 375
Ou seja, essa é a taxa futura que neutraliza os fluxos para os dois participantes.
A variação cambial seria R$3,080056/R$3,00 – 1 = 2,6667% no período,
que é também igual à divisão do fluxo futuro pelo presente, incluídos os juros.
R$309.032,33
– 1 = 2,6667%
US$100.000,00 × R$ 3,00 × (1 + 2% × (60/360))
O banco, por sua vez, também deve possuir outro acordo contrário que
tenha lhe dado condições de estabelecer o swap.
As taxas de swap são importantes referências de mercado para análise do
comportamento dos juros domésticos, bem como da percepção do risco-país.
Vejamos um exemplo.
Uma instituição financeira propõe a um investidor a escolha de um swap
no valor de US$10.000.000,00, supondo que ambos os períodos fossem acei-
táveis para sua necessidade, com as seguintes composições:
Oferta 1 (OF1): US$10.000.000,00 com remuneração de 6,3% a.a. para
um período de três meses contra o recebimento da Libor.
Oferta 2 (OF2): US$10.000.000,00 com taxa de 6,8% a.a. para um perío-
do de 12 meses contra o recebimento da Libor.
A taxa Libor cotada no mercado para 3 e 12 meses é, respectivamente,
6 /16 % e 6 5/8 %. Qual seria, então, a melhor oferta?
1
C0 = C1.dft
Sendo:
Quadro 8.8
Resultados
Quadro 8.9
Taxas de mercado
US$ Euro
Empresa A 7% 8,70%
Empresa B 8% 9%
SM – Sm =0,70%
(8% – 7%) (9% – 8,7%)
378 Mercado Financeiro
Figura 8.11
Fluxograma vantagem comparativa
Compreendendo o fluxo:
Resultados:
Pontos e Contrapontos
Há alguns pontos relevantes na análise do swap. Destaca-se o papel do
intermediário financeiro, como já comentado. A responsabilidade pela capta-
ção e pela análise de crédito e a garantia do risco fazem com que este agente
tenha um papel preponderante na realização do acordo, por conhecer me-
lhor o mercado e os riscos inerentes à operação, bem como a facilidade em
centralizar essas captações. Outrossim, o intermediário possui expertise para
melhor compreensão dos mecanismos de hedging no mercado financeiro,
viabilizando os contratos mesmo antes de se encontrar uma contraparte da
operação. Essa situação é chamada de câmara de swap, já que, não são realiza-
dos dois swaps compensatórios simultaneamente. Realiza-se um swap e faz-se o
hedging de seu risco até se encontrar a contraparte, encerrando-se a partir
daí os contratos de hedging.
Para grandes empresas que possuam transações contínuas e em gran-
des montantes é recomendável, todavia, um maior investimento em seus
departamentos de análise de risco, já que uma intermediação desses valo-
380 Mercado Financeiro
A Precificação de Swaps
Os swaps podem ser apreçados de duas maneiras: pela diferença do va-
lor entre seus fluxos de caixa ou por meio da análise de contratos a termo
sob as vias correspondentes na troca do swap, Jorion(1997).
Em síntese, apreçar um contrato de swap significa, em um determinado
momento do contrato, estabelecer um valor presente dos termos acordados,
passíveis de negociação, dado o vencimento do contrato e incorporando pos-
síveis parcelas dos juros. Esse contrato possuirá, ainda, direitos e obrigações,
que geram valores de fluxos de caixa, os quais devem ser trazidos a valor pre-
sente – resultado líquido do swap.
Em um swap de moedas o valor do contrato seria a variação da taxa de
câmbio das moedas, considerando-se, ainda, o fluxo da taxa de juros paga
para cada moeda.
Aspectos legais
Os primeiros contratos de swap no Brasil ocorreram em 1989. Como não
existia uma regulamentação adequada no país e devido ao crescente volume
de negociações, o Banco Central do Brasil, em 30 de abril de 1992, por meio
de circular e resolução específica, autorizou a utilização do produto pelas
empresas. A regulamentação, tanto contratual quanto operacional, segue os
mesmos moldes das normas internacionais estabelecidas pela International Swaps
& Derivatives Association (ISDA). Embora, aparentemente, a utilização de deri-
vativos no Brasil e sua respectiva regulamentação pareçam recentes, nos Esta-
dos Unidos elas ocorreram com apenas uma década de antecedência, o que
demonstra a atualidade do tema. Posteriormente, outras leis provisórias e cir-
culares foram editadas com o intuito de aperfeiçoar essas operações.
O swap pode ser de balcão, arbitrado por instituições financeiras e
registrados no Cetip, ou bursártil, realizado nas bolsas de futuros. Os contra-
tos de balcão também podem, ser registrados em bolsa, caso atendam as especi-
ficações exigidas nesses mercados.
Derivativos 381
Quadro 8.10
Variáveis em um swap
O PÇÕES
As opções conceituam direitos para seu comprador, seja de compra ou
de venda, e obrigações para seu vendedor. São, em resumo, contratos futu-
ros entre as partes, com a definição de direitos e obrigações. Um exemplo
bem simples de opções na vida real seria a aquisição de um seguro, que dá
ao comprador o direito de exercer determinado valor caso haja sinistro;
nesse caso, uma opção de compra. Há opções de compra também para aqui-
sições de imóveis, representadas por um sinal, bem como por outras aplica-
ções na avaliação de ativos ou projetos, definidas como opções reais.
As opções de compra dão a seu titular o direito de comprar um ativo em
uma data futura a um preço pré-acordado. Esse preço é denominado preço
de exercício. Já o vendedor terá a obrigação de vender esse ativo conforme
avençado em contrato.
Para uma opção de venda, o direito do comprador é o de vender esse
ativo a determinado preço em uma data futura. Esses direitos, obviamente,
terão certo valor, já que, assim como o seguro, dão a garantia a seu titular de
exercer o seu direito a um determinado preço, preço de exercício.
O Quadro 8.11 demonstra as relações básicas entre comprador e vende-
dor para opções de compra e venda.
Quadro 8.11
Direitos e obrigações do titular e do lançador de uma opção
Exercício Call (2) ST < K Não exerce o contrato Não há dedução sobre o prêmio
Exercício Put (1) ST > K Não exerce o contrato Não há dedução sobre o prêmio
Todo direito, seja de compra ou de venda, terá um valor. Não faz nenhum
sentido a negociação de um direito que gere um passivo para seu adquirente.
Seria como imaginar o recebimento de um prêmio para se fazer um seguro
sem demais contrapartidas ou convenções entre as partes acordadas. Portan-
to, esses valores não podem ser inferiores a zero.
Na Bovespa e na BM&F, as séries autorizadas para negociação pressupõem
direitos de ações, índices ou moedas.
O Exercício da Opção
O exercício de uma opção é a operação pela qual seu comprador uti-
liza seu direito de adquirir o ativo, para opções de compra, e de vendê-
lo para opções de venda. A execução, exercício do contrato, geralmente
ocorre no vencimento desses contratos, mas pode acontecer antes dessa
data se a opção for do tipo americano (permite o exercício antes do ven-
cimento contratual).
384 Mercado Financeiro
A Opção de Compra
Exemplo no mercado acionário:
O investidor que acredita que a bolsa vai subir adquire uma opção de
compra das ações da Telemar a um preço de R$2,00. O preço de exercício
dessa opção é definido em R$30,00. Assim, esse comprador passa a possuir o
direito de comprar o ativo, ações da Telemar, por R$30,00 na data de venci-
mento do contrato, data de exercício.
Analisando-se alguns possíveis preços do ativo no vencimento para esse
investidor, ocorreriam os seguintes resultados:
Quadro 8.12
Resultado esperado para o comprador da call (k = 30)
Valor pago pela opção(I) (-2) (-2) (-2) (-2) (-2) (-2) (-2)
Preço de exercício 30
Figura 8.12
Posição esperada da call para o comprador
®
Lucro
K
®
St (Preço no vencimento)
(0) ®
K+I
I
Derivativos 385
Figura 8.13
Posição esperada da call para o vendedor
®
Lucro
St (Preço no vencimento)
(0) ®
K K+I
®
A Opção de Venda
A opção de venda representa para seu comprador o direito de vender
determinado ativo a um determinado preço em uma data futura. Já o vende-
dor dessa opção terá a obrigação de comprar esse ativo pelo preço acordado
em contrato.
386 Mercado Financeiro
Figura 8.14
Posição esperada da put para comprador e vendedor
K-I
I
K-I
K-I ®
®
I ®
K-I
Quadro 8.13
Contratos futuros × contratos de opções – especificações, direitos e obrigações*
A Operação de financiamento
As opções, assim como os contratos futuros e a termo, são derivativos usa-
dos também para remuneração de capital, busca de taxa de juros e alavancagem
(geração de recursos). Muitas dessas estratégias nos auxiliam a compreender
a potencialidade e a aplicação desses produtos no mercado de crédito.
Uma dessas estratégias, a operação de financiamento, consiste em uma es-
trutura esperada de remuneração de um investimento a uma taxa de juros. A
transação consiste na compra de um ativo e na venda de uma opção de compra
desse ativo, na mesma quantidade, a um preço de exercício determinado.
Exemplificando, considere um ativo no valor de R$100,00 que possua
uma opção de compra no valor de R$2,00 e um preço de exercício também
a R$100,00 (K). O fluxo de investimentos para esse financiador seria:
C (R$100,00) Ativo
V R$2,00 Opção de compra
I = R$100,00 – R$2,00 = R$98,00 (Investimento)
(100/98) – 1 ou 2,04%
K(FV)
n
InV.(PV)
®
(100/98)21/36 – 1 ou (K/I)DUC/DUP – 1
sendo:
Figura 8.15
Estratégia de financiamento e caixa
I®
I I®
® ®
K
®
K
I
390 Mercado Financeiro
A operação caixa
Do mesmo modo que se busca a remuneração de recursos via investi-
mento de capital, uma operação de financiamento, a estratégia inversa a
esse investimento gera uma captação de recursos, ou seja, uma operação de
caixa. Invertendo-se os fluxos, a estruturação dessa estratégia seria:
• V: ativo descoberto
• C: opção na mesma quantidade
• V: R$100,00 Ativo
• C: R$2,00 Opção
• P: R$0,50 Custos operacionais
• R: R$97,50 Montante recebido
Figura 8.16
Spreads de alta e baixa
®
®
Lucro Lucro
K>
® K<+I
K<
®
®
® R ST
K<+I
® ®
® ST
®
I K>
®
K<
Quadro 8.14
Fluxo esperado em uma trava de alta
TRAVA DE ALTA
Preços vencimento ( ST ) 39,00 39,70 40,40 41,10 41,80 42,50 43,20 43,90 44,60 45,30
Call 40 (C)
(Max, ST – K; 0) 0,00 0,00 0,40 1,10 1,80 3,00 3,20 3,90 4,60 5,30
Call 44 (V)
(-Max (ST – K; 0) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,60 -1,30
Investimento -2,12 -2,12 -2,12 -2,12 -2,12 -2,12 -2,12 -2,12 -2,12 -2,12
Resultado -2,12 -2,12 -1,72 -1,02 -0,32 0,38 1,08 1,78 1,88 1,88
Dados Ult
Ações PN (TNLP4) Telemar Participações 41,79
Call 40 3,05
TNLPJ42 1,75
Call 44 0,93
Derivativos 393
Quadro 8.15
Fluxo esperado em um butterfly
C Call 42 Max (ST - K; 0) 0,00 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 5,00
V(2) Call 44 -Max 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 -1,00 -2,00 -3,00 -4,00 -5,00
(ST - K; 0) x 2
C Call 46 Max (ST - K; 0) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,50
Investimento -0,32 -0,32 -0,32 -0,32 -0,32 -0,32 -0,32 -0,32 -0,32 -0,32 -0,32
Resultado -0,32 -0,32 0,18 0,68 1,18 1,68 1,18 0,68 0,18 -0,32 -0,32
Dados: Cotações
TNLP4 41,8
Call 40 3,05
TNLPJ42 1,75
Call 42 1,75
Call 44 0,93
Figura 8.17
Spread butterfly
®
Lucro
K<+I K>–I
®
®
ST
®
K
I Intermediário
®
K< K>
Derivativos 395
• V: Ativo a descoberto
• C: Opção na mesma quantidade
Figura 8.18
Put sintética
®
I (R)
I (R)
®
®
K-I
396 Mercado Financeiro
TIPO ST
Call 34 C
Call 36 V
Put 36 C
Put 34 V
Quadro 8.16
Fluxo esperado para uma operação de box fechado sintética
TNLP4 35,70
CALL 34 & 36 2,85 1,62 32,85 OPERAÇÃO CAIXA
K (CALL 34 & 36) 34,00 36,00
K (PUT SINTÉTICA) 34,00 36,00
f (S, K, i, n, σ)
tempo. Percebeu-se, ainda, que no longo prazo o MBG obedece uma distri-
buição normal com média e desvio padrão dependentes somente de um
tempo passado.
Assim, o retorno de uma ação atual em relação a um futuro retorno, ∆t,
seria normalmente distribuído. A distribuição da média seria dada por
(μ - σ2/2) ∆t, e o desvio padrão poderia ser obtido por σ√∆t. A explicação
para subtração de parte da variância se dá pelo pressuposto de que, dada a
mesma probabilidade de alta e baixa no preço de um ativo, o impacto
percentual negativo incidiria com maior intensidade na base do ativo, ou seja,
partindo de um valor unitário, a incidência de cada ponto percentual negati-
vo necessitaria de mais que um ponto percentual positivo no movimento pos-
terior para que se atinja a base inicial. A divisão por dois deve-se ao fato desse
aspecto ocorrer em dois movimentos.
Esse processo também é chamado de Weiner, que é um processo específi-
co de Markov, ou seja, apenas o valor atual de uma variável exerce influência
sobre o seu futuro, dada uma média e uma volatilidade estimadas.
Apenas recordando conceitos, uma distribuição normal, na verdade, pos-
sui valores distribuídos em torno de uma média, dado um intervalo de con-
fiança. Para se ter, então, 99,73% de certeza, por exemplo, da ocorrência de
certo valor, sua média deverá estar entre um intervalo de três desvios pa-
drão, para baixo ou para cima, da média esperada.
A condição de normalidade de uma distribuição não precisa estar condi-
cionada a valores exatos. Por parcimônia, o cálculo da probabilidade de ocor-
rência de determinado valor nessa distribuição pode ser realizado por meio
de estatísticas existentes de padronização da normalidade, disponibilizadas
pelas fórmulas de transformação dessas variáveis. Assim, caso se queira saber a
probabilidade de ocorrência de um certo valor normal, primeiro se encontra
seu valor em desvios da média da distribuição, assumindo-se uma normal
padronizada.
Então:
X-μ
z=
σ
X - μ = (42 – 40)
z= =2
σ 1
X – (μ – σ2/2)
Z=
σ√∆t
Sendo:
μ + σ /2
(α - μσ∆t
– σ /2
2 2
N= (-α -σ∆t ) e N= )
400 Mercado Financeiro
dx = adt + bεdz
dS = μdt + σdz
Sendo:
Conceituando a arbitragem
O conceito da arbitragem por trás da fórmula de Black & Scholes é simi-
lar a um processo estocástico ou a um jogo, no qual, conhecendo-se as esta-
tísticas, não se limitando o valor da aposta nem a disponibilidade do jogador,
consequentemente, pode-se obter, sempre, resultados favoráveis, se as pro-
babilidades estiverem a favor.
É claro que esses conceitos na prática possuem inúmeras limitações. O
importante, no entanto, é perceber a dinâmica de arbitragem presente nesses
argumentos.
Figura 8.19
Simulação de um movimento browniano bursátil
402 Mercado Financeiro
C = ∆tST – e -r (T – t)Bt
O valor de K como Bt
Para entender melhor esse conceito, examina-se primeiramente o valor
de uma opção na data de exercício, onde:
C t = ST – K
Bt = {K, 0}
–r (T – t)
Ct = N(d1) ST – e KN(d2)
Note-se que, tanto em d1 como d2, o valor que se quer testar (X) é dado
por Ln(ST/k), ou seja, o retorno esperado contínuo, dado pelo preço no
vencimento (ST ) sobre o preço de exercício (K). Uma maior ou menor pro-
babilidade do exercício ocorrer é a premissa inicial para o valor da opção. O
valor de (T – t) (r + σ2/2) em d1 representa a média esperada do movimento
browniano, onde r poderia ser representado pela taxa livre de risco no perí-
odo, e σ√ T – t, o desvio da distribuição. O que se deseja, então, é encontrar
a probabilidade acumulada da distribuição padrão do movimento, dado X =
Ln(ST/K).
Para uma opção de venda o raciocínio é análogo, bastando a inversão de
maximização Put [Max (K – S; 0)], já que o exercício da opção se dá pela
venda, quando ST < K.
404 Mercado Financeiro
A violação de uma das premissas acima não invalida o modelo e sim re-
quer que sejam incorporados às equações os ajustes necessários às possíveis
distorções.
A fórmula de Black & Scholes demonstra que uma opção de compra é
função do preço do ativo-objeto S; do preço de exercício, K; do prazo para a
maturidade, T; da volatilidade, σ e da taxa livre de risco, r.
C = f (S, σ, r, T, k)
Sendo:
Figura 8.20
Uma distribuição log – normal
Quadro 8.17
Impactos nos contratos de opções diante de um aumento
das variáveis do Modelo Black & Scholes
St Aumento Diminuição
K Diminuição Aumento
i (taxa de juros) Aumento Diminuição
n (tempo) Aumento Aumento
v (volatilidade) Aumento Aumento
Derivativos 407
A Relevância da Volatilidade
Na prática, o pressuposto da volatilidade constante não é correto. Ao
contrário, é a variável preponderante na determinação do preço do modelo
de Black & Scholes, partindo-se do conceito exemplificado da arbitragem
inerente à equação.
Volatilidade é uma forma de se exprimir a frequência e intensidade da
flutuação dos preços, daí definir a variabilidade de um ativo no futuro, ou
sua variância. Muitas são, dessa forma, as tentativas e métodos preditivos
para se chegar a resultados condizentes com o ocorrido no mercado. O mais
comum deles, pelo cálculo das variâncias passadas, volatilidade histórica.
Constatam-se, ainda, outros conceitos, como a volatilidade condicionada e
a volatilidade implícita. Os resultados encontrados, todavia, são divergentes
e de difícil predição.
Há que se considerar, não obstante, suas características intrínsecas para
melhor compreender e estimar todo o processo.
Inúmeras são as evidências encontradas sobre o comportamento da vola-
tilidade. A persistência, seu movimento em blocos, tem sido uma delas. Man-
delbrot (1963) e Fama (1965) reportaram evidências de que grandes mudan-
ças na volatilidade de um ativo são acompanhadas pela continuidade desse
movimento, também altamente volátil; ocorrendo o oposto nas pequenas
variações. Em síntese, significa dizer que a volatilidade no presente influen-
cia a expectativa da volatilidade futura. Grandes variações geram novas ele-
vadas variações, e uma menor volatilidade gera maior estabilidade dos ativos.
Outros estudos destacam, ainda, que uma maior volatilidade no mercado de
ações, comumente, está associada a fatores como alavancagem das empre-
sas, recessão, oferta monetária, PIB e volume transacionado.
Volatilidade Implícita
A volatilidade do preço da ação é o único parâmetro da fórmula de apre-
çamento de Black & Scholes que não pode ser observado diretamente. Em
geral, utilizam-se dados históricos para estimá-la. Uma alternativa é utilizar
como parâmetro o preço de uma opção verificado no mercado, e, a partir daí,
substituir esse preço na fórmula de Black & Scholes, tendo como incógnita a
volatilidade, chamada assim implícita, σ. Por limitações matemáticas, infeliz-
mente, não é possível inverter a equação para se chegar ao resultado, depen-
dendo, dessa forma, de um procedimento de tentativa e erro para se encon-
trar a σ implícita. Inúmeras pesquisas têm avaliado a aplicabilidade e a efi-
ciência dessa forma de cálculo no modelo B&S. Apesar de sua simplificação,
tem se constatado, a cada dia, a superioridade desse método no apreçamento
do modelo.
Delta
O delta de uma opção é representado pela razão da variação no prêmio da
opção sobre a variação de seu ativo-objeto ou quanto uma variação em S gera
impacto na opção (C). Sendo assim, pode-se demonstrar que variações
infinitesimais do delta são dadas por sua primeira derivada sendo:
∆t = ∂C/∂S
Derivativos 409
Figura 8.21
Principais conceitos
®
∆C = (∂C/∂S) ∆S
Gama
Uma alternativa para se analisar a aceleração no movimento de uma op-
ção se dá pelo gama, que mede a razão do delta em relação a seu ativo-objeto
ou quanto uma variação em S afeta delta. Significa dizer que o gama represen-
ta a velocidade da opção de se modificar, identificando movimentos bruscos
em seus preços, dados pela curvatura de preços C × S.
Pode-se definir gama, matematicamente, como a segunda derivada em
relação ao ativo-objeto, dada por:
γ = ∂2C/∂S2
Teta
Mede o impacto da variação do tempo (prazo) até o preço de exercício
da opção. Sua fórmula pode ser representada como:
θ = ∂C/∂n
Rô
A premissa inicial da fórmula de B&S assume uma taxa de juros constante.
Na realidade, esse fator também se altera, gerando distorções no hedging. Sendo
assim, pode-se entender também essa relação como a derivada parcial do
preço da opção em relação à taxa de juros, sendo:
ρ = ∂C/∂i
Vega
O vega busca medir o impacto da volatilidade em relação à opção. Assim,
do mesmo modo, é dado por:
Λ = ∂C/∂σ
A expansão de Taylor
Conforme mencionado, as variáveis que alteram a fórmula e o hedging de
B&S podem ser descritas como uma função:
C = f(S,K, σ,n,i)
Derivativos 411
RESUMO
Os derivativos são importantes instrumentos para geração de equilíbrio
e eficiência dos mercados. Esses instrumentos proporcionam maior liquidez
aos ativos e estimulam, consequentemente, a estruturação de novos produ-
tos a cada dia.
A negociação dos contratos derivativos possui motivação especulativa, de
hedging ou de arbitragem. Os derivativos podem ser divididos em quatro tipos
básicos: mercado a termo, contratos futuros, swaps e opções.
Os mercados a termo se diferenciam mais dos mercados futuros quanto a
aspectos operacionais e ao grau de flexibilidade existente nos parâmetros para
negociação desses contratos.
Pelo princípio da arbitragem, os preços nos mercados futuro e a termo
pressupõem, em relação aos mercados à vista, uma taxa de remuneração de
juros para o período dos contratos negociados.
Os preços dos contratos de moeda futura podem ser avaliados por mode-
los de taxas de juros, considerando-se que o ganho de juros em uma moeda é
perdido na outra, que se tem como paridade.
412 Mercado Financeiro
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Capítulo
IX
Valor de Títulos de Dívida e Ações
Objetivos
INTRODUÇÃO
As empresas têm os seus ativos financiados por capitais de terceiros e capi-
tais próprios, representados, respectivamente, por títulos de dívida e ações
preferenciais e ordinárias.
Títulos de dívida são documentos de crédito que indicam que um tomador
deve uma certa quantia a um credor e que se compromete a pagá-la segundo
um fluxo de caixa pactuado, formado pelos juros e pelo principal da dívida.
Se o emissor for uma empresa, esse fluxo de caixa vinculado ao título nada
mais é que parte do fluxo de caixa operacional a ser gerado pela empresa. As
418 Mercado Financeiro
ações são títulos que asseguram ao seu detentor direito a voto na gestão do
negócio, cabendo-lhe como recompensa pela renúncia ao seu capital o direi-
to sobre a sobra do fluxo de caixa operacional da empresa, após dedução do
fluxo de caixa da dívida e dos impostos sobre a renda.
Ambos, credores e acionistas da empresa, esperam que a parte que lhes
cabe do fluxo de caixa operacional gerado pela empresa seja suficiente para
premiá-los pela postergação do consumo de suas poupanças, bem como pelo
risco associado ao investimento. Essa remuneração é denominada taxa
requerida de retorno (K).
TÍTULOS DE DÍVIDA
O valor de um título de dívida é o valor presente do seu fluxo de caixa,
descontada a taxa requerida de retorno, definida pelo mercado, tendo em
vista a sua percepção de risco acerca do título.
As empresas e o mercado financeiro são muito criativos na edificação de
títulos, o que faz com que sempre estejam surgindo títulos com novos formatos
e características, voltados para as necessidades dos seus emissores (devedores) e
tomadores (credores). Contudo, esses ativos financeiros possuem alguns aspec-
tos comuns fundamentais que nos permitem tratá-los neste livro. São eles:
• Títulos públicos.
• Títulos privados.
Data da
liquidação
Data do
resgate
®
Valor do
título
F
valor =
(1 + Kd)n
Onde:
R$1.000
Valor = = R$956,32
(1 + 0,015)3
F
®
C C C C C C
.........................................................................
®
®
Data do
resgate
Valor do
título
C C C F
Valor = + + ... + +
(1 + Kd) (1 + Kd)2 (1 + Kd)n (1 + Kd)n
Valor de Títulos de Dívida e Ações 421
Onde:
C = cupom
F = valor de face do título, valor nominal ou valor de resgate
Kd = taxa requerida de retorno compatível com o risco do título
n = período de capitalização dos juros.
Valor = R$964,72
422 Mercado Financeiro
Títulos com prazos mais longos estão expostos a um maior risco da taxa
de juros, fazendo com que o mercado imponha taxas maiores requeridas.
Essa é a justificativa para que os empréstimos de longo prazo contratados
pelas empresas sejam normalmente mais caros que os de menor prazo.
C C C F
Preço = + +...+ +
(1 + y) (1 + y)2 (1 + y)n (1 + yd)n
R$29,50 R$1.029,50
R$972,80 = +
(1 + y) (1 + y)2
Títulos Prefixados
Os títulos são tradicionalmente prefixados, ou seja, os seus fluxos de caixa
esperados são conhecidos previamente. Sendo assim, a taxa esperada de re-
torno, y, obtida do confronto entre o fluxo de caixa esperado e o preço de
mercado, é uma taxa nominal ou aparente, definida como sendo a taxa for-
mada por um componente real e um componente inflacionário.
Títulos Pós-fixados
Os títulos pós-fixados são comuns em economias com histórico inflacioná-
rio elevado. Esses títulos são caracterizados por uma atualização no valor no-
minal do título, baseado em um indexador inflacionário ou em uma taxa
nominal de juros (exemplo: taxa de juros DI). Além disso, há uma remunera-
ção real previamente definida pelo cupom ou pela negociação do papel com
deságio sobre o seu valor de face.
Valor de Títulos de Dívida e Ações 425
(1 + ia) = (1 + idu)252
Onde:
Assim,
idu = (1 + ia)1/252 – 1
VN
Preço =
(1 + Kd)DU/252
Onde:
Exemplo: qual o preço a ser pago por uma LTN no dia 6 de agosto de
2004, considerando-se uma taxa anual de juros 17,50% e vencimento em 1o
de abril de 2005?
R$1.000
Preço = = R$900,94
(1 +0,175)163/252
Preço = 1.000 ×
[ (1,10)0,5 – 1
(1 + Kd)DU1/252
+
(1,10)0,5 – 1
(1 + Kd)DU2/252
+...+
(1,10)0,5
(1 + Kd)DUn/252 ]
1. Nesse caso, não há diferença entre a taxa requerida e a esperada (yield to maturity), pois estamos
assumindo que o mercado de títulos do governo é eficiente, o que faz com que o preço do título seja
igual ao seu valor.
428 Mercado Financeiro
Onde:
Exemplo: qual o valor de uma NTN-F no dia 6 de agosto de 2004, com ven-
cimento em 1o de janeiro de 2008, e que oferece uma yield to maturity de
19,84%?
Cupom (em Valor Nominal Fluxo de Caixa Dias Fator Valor Fluxo de
unidades) (em unidade) Unitário Úteis Atual Caixa Atual
2. Esse cálculo baseia-se em fator de acumulação diária da taxa Selic efetiva dia. Conforme expressão a
seguir:
Fator da taxa Selic = (1+i1) . (1+i2) + ... + (1+in)
Onde:
i1 = taxa Selic do dia 1o de julho de 2000
in = taxa Selic do dia atual
Esse fator da taxa Selic encontra-se disponível no site do Banco Central (www.bcb.gov.br).
430 Mercado Financeiro
1
PU =
(1 + Kd)DU/252
Onde:
Preço = PU × VNA
Onde:
VNA = valor nominal atualizado pelo fator Selic entre a data-base (1o de
julho de 2000) e a data de liquidação da compra.
Exemplo: qual o preço de uma LFT em 12 de agosto de 2004 e que vence
em 17 de janeiro de 2007, considerando-se que nesse dia está oferecendo
uma taxa real de juros de 0,29% ao ano?
1
PU = = 0,9930
(1 + 0,0029)609/502
Este PU indica que a LFT está sendo vendida com um deságio de 0,007 ou
0,7%.
Calculado o PU, basta atualizar o valor nominal da LFT para 12 de agosto
e sobre ele aplicar o PU para se obter o preço da LFT.
Valor de Títulos de Dívida e Ações 431
Onde:
Além das variações do IGPM e dos cupons semestrais, esses títulos ofere-
cem juros reais adicionais decorrentes do deságio ou ágio sobre o valor de
compra, conforme cálculo do PU abaixo:
PU =
[ (1,06)0,5 – 1
(1 + Kd)DU1/252
+
(1,06)0,5 – 1
(1 + Kd)DU2/252
+... +
(1,06)0,5
(1 + Kd)DUn/252 ]
Onde:
Preço = VNA × PU
O último fator representa uma indexação pro rate tempori para os dias já
decorridos do mês de agosto. Assim:
0,5
Cupom = VNA × (1,06 – 1)
Debêntures
As debêntures são títulos de dívida de longo prazo, constituindo-se numa
importante fonte de financiamento para as empresas privadas brasileiras. Há
inúmeras formas de debêntures: com participação no lucro; conversíveis em
ações; com cláusula de repactuação; bullet; com cupom etc. Em função das
434 Mercado Financeiro
1a Série
Data da emissão: 1o janeiro de 2004;
Característica: Título com cupom semestral (6 cupons);
Prazo = 3 anos (vencimento em 1o de janeiro de 2007);
Valor nominal de R$10.000,00 (valor de resgate);
Cupom = juros remuneratórios + sobretaxa;
Juros remuneratórios = taxa Cetip DI;
Sobretaxa = 0,9% a.a. (taxa efetiva).
Onde:
3. Fonte: “Escritura da Segunda Emissão de Debêntures, não Conversíveis em Ações da Emissora, da Espécie
Subordinada, da Lojas Americanas” (site do Sistema Nacional de Debêntures: www.debentures.com.br).
4. Esse cálculo baseia-se em fator de acumulação diário da taxa Cetip DI efetiva dia. Conforme expressão
a seguir:
Fator da taxa DI = (1+i1) . (1+i2) + ... + (1+in)
Onde:
i1 = taxa DI do primeiro dia útil do semestre;
in = taxa DI do último dia útil do semestre;
n = número de dias úteis contidos no semestre (período de capitalização).
Esse fator da taxa Cetip DI encontra-se disponível no site da Cetip (www.cetip.com.br).
Valor de Títulos de Dívida e Ações 435
Considerando-se que este título não foi lançado por meio de oferta pú-
blica, mas sim pelo do processo de bookbuilding,5 essa debênture foi vendida
pelo seu valor de face (ao par). Assim, a taxa de juros adicional foi arbitrada
e adicionada à taxa DI. No caso de título público, essa taxa adicional decorre
do ágio sobre o valor nominal do título. Outra diferença em relação aos
títulos públicos apresentados anteriormente é que a variação nominal da de-
bênture, baseada na taxa DI, é paga semestralmente, juntamente com a taxa
semestral equivalente a 0,9% a.a. Diante disso, o valor nominal da emissão é
igual ao valor de resgate na data de vencimento do título (R$10 mil).
2a Série
Data da emissão: 1o de janeiro de 2004
Característica: Título com cupom anual (5 cupons)
Prazo = 5 anos (vencimento em 1o de janeiro de 2009)
Valor nominal de R$10 mil (atualizado pelo IGPM-FGV)
Cupom = juros remuneratórios
Juros remuneratórios = taxa Cetip DI
Sobretaxa = 9,9% a.a. (taxa efetiva)
Onde:
AÇÕES
Quando um investidor compra uma ação, ele o faz na expectativa de obter
um ganho futuro que o recompense pela renúncia à possibilidade de consumo
atual. Esse ganho é representado pelo fluxo de caixa esperado de dividendos e
pelo preço de venda da ação em um instante qualquer no futuro.
Assim, o valor de uma ação qualquer é representado pelo valor presente
do seu fluxo de caixa esperado, descontado a uma taxa requerida de retorno
(Ke) que reflete o risco da ação, conforme a expressão seguinte:
Div1 Div2 Pn
Valor = + 2
+ ...+
(1 + Ke) (1 + Ke) (1 + Ke)n
Onde:
Divn+1 Divn+2 P∞
Pn = + + ...+
(1 + Ke) (1 + Ke)2 (1 + Ke)n
6. GORDON, Myron. The Investment, Financing and Valuation of the Corporation. Irwin, Homewood, III,
1962.
Valor de Títulos de Dívida e Ações 437
Div∞
Div1
g
0 1 ∞
Assim, o valor presente (P0 ) do fluxo de caixa acima será dado pela se-
guinte expressão:
P0
[ (1+ Ke)
(1+ g) ]
– 1 = D0
P0
[(1+ Ke) –(1 + g)
(1+ g) ] = D0
P0 (Ke – g) = D0 (1 + g)
438 Mercado Financeiro
D1
P0 =
(Ke – g)
R$20,00
P0 = = R$200,00
(0,12 – 0,02)
P0 = R$ 213,89
Estimativa de g
Com base na expressão do modelo de Gordon apresentada anteriormen-
te, percebemos que quanto maior o g, mais elevado será o valor da ação. Para
ações de empresas na mesma classe de risco e com dividendos correntes iguais,
aquela que tiver o g mais elevado valerá mais. Mas quais são os fatores que
determinam a taxa de crescimento g do fluxo de dividendos? Dado que os
dividendos dependem do lucro gerado pela empresa, o seu crescimento está
condicionado ao crescimento dos lucros futuros. Supondo um nível ótimo de
produtividade da empresa, a única forma do lucro por ação crescer autono-
mamente é por meio da retenção do lucro e do seu investimento em projetos
que produzam rentabilidade, conforme expressão a seguir:
Onde:
L1 = lucro do ano 1;
440 Mercado Financeiro
L 1 = L0 Lucro retido
+ × ROE
L0 L0 L0
LPA DPA
P0 = =
Ke Ke
Onde:
LPA
P0 = + VPOC
Ke
C
VPL = – 1 +
Ke
VPL1
VPOC =
Ke – g
Exemplo: uma empresa espera gerar um lucro por ação de R$20,00 daqui
a um ano. O seu coeficiente de retenção é de 70%, sendo que o ROE sobre o
lucro retido é de 15% e a taxa requerida de retorno de 12%. Qual o valor de
suas ações e qual o valor presente das oportunidades de crescimento contido
no valor das ações?
Nesse caso, para calcular o valor da ação dessa empresa utilizando-se do
modelo de crescimento de dividendos, é preciso calcular o dividendo do pri-
meiro ano e o seu g de crescimento.
R$6,00
P0 = = R$400,00
0,12 – 0,105
R$2,10
VPL1 = R$14,00 + = R$3,50
0,12
R$2,32
VPL2 = R$15,47 + = R$3,87
0,12
VPL1
VPOC =
Ke – g
R$3,50
VPOC = = R$233,33
0,12 – 0,105
RESUMO
Este capítulo procurou identificar e quantificar os títulos das dívidas one-
rosas que as empresas utilizam para financiar os seus investimentos. As dívidas
onerosas são representadas pelo capital de terceiros e pelo capital dos acionis-
tas. A gestão do financiamento constitui-se uma das funções estratégicas da
área financeira, juntamente com a gestão dos investimentos e dos dividendos.
O custo médio ponderado desses recursos, capital de terceiros e capital pró-
prio, deve ser menor do que o retorno dos investimentos feitos pela empresa
para que haja geração de valor ou de riqueza. Foram trabalhados os principais
títulos das dívidas como títulos pré e pós-fixados, o cálculo dos juros e as debên-
tures. Em relação ao capital próprio, foi apresentado o modelo de Gordon,
que trabalha com uma expectativa “g” de crescimento dos dividendos.
Valor de Títulos de Dívida e Ações 447
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANCO CENTRAL DO BRASIL, www.bcb.gov.br.
BREALEY, Richard A.; MYERS, Stewart C. Principles of Corporate Finance. 3. ed. Nova York: McGraw
Hill, Finance Series.
CETIP – www.cetip.com.br.
DEBÊNTURES – www.debentures.com.br
FATOR CORRETORA. Perspectivas e Estratégia – Análise de Investimento, ano 5, jan. 2004.
GORDON, Myron. The Investment, Financing and Valuation of the Corporation, Homenwood (IL): [s.n.].
1962.
VAN HORNE, James C. Financial Management and Policy. 8. ed. New Jersey: 1989.
Capítulo
X
Risco e Incerteza
Objetivos
RISCO E INCERTEZA
As decisões financeiras podem ser categorizadas em três áreas que se
completam relacionadas a: a) alocação de recursos, que são as decisões de
investimento; b) financiamento desses investimentos, o que define a estru-
tura de capital; c) parte do caixa, decorrente do investimento, que deve ser
reinvestida ou retirada do negócio, ou seja, as decisões de dividendos. Essas
decisões estão sempre permeadas pelo risco e pela incerteza, que podem,
independentemente da vontade dos tomadores de decisão, afetar os resulta-
dos esperados dos projetos.
450 Mercado Financeiro
ceitos de retorno e risco. O risco, todavia, assumiu sua justa posição de desta-
que apenas mais recentemente, seguindo-se a escândalos internacionais com
os do Barings Bank, Procter&Gamble, Bankers Trust, Gibson Greetings,
Orange County, Metallgesellschaft etc. Na maioria desses casos, o conceito
de risco esteve ligado a derivativos de forma propositalmente tendenciosa.
A verdade é que derivativos podem ser usados tanto para fins de alavancagem
(aumentando o risco), quanto para fins de hedge (diminuindo o risco).
Risco é um conceito “multidimensional” que, segundo Duarte (1993), cobre
pelo menos quatro grandes grupos que serão descritos a seguir:
• Risco de mercado.
• Risco operacional.
• Risco de crédito.
• Risco legal.
Risco de Mercado
O risco de mercado está associado ao comportamento do preço do ativo
diante das condições de mercado. Segundo Securato,2 “os riscos de mercado
surgem pelo fato de as empresas sistematicamente manterem posições ativas
e passivas não completamente coincidentes em termos de vencimento e moe-
das ou indexadores, tornando-as sensíveis a vários preços de ativos reais, como
as commodities, ou financeiros, como a taxa de câmbio, podendo levar a pesa-
das perdas em casos de flutuações desfavoráveis destes preços”.
É importante identificar e quantificar o mais corretamente possível as
volatilidades e correlações dos fatores que impactam a dinâmica do preço do
ativo. Para facilitar a análise, o risco de mercado, segundo Duarte(1993), pode
ser dividido em quatro grandes áreas:
Risco Operacional
O risco operacional está relacionado a possíveis perdas oriundas de siste-
mas e controles inadequados, falhas de gerenciamento e erros humanos. Se-
gundo Duarte (1993), o risco operacional pode ser dividido em três grandes
áreas: organizacional, de operações e pessoal.
Risco de Crédito
O risco de crédito está relacionado a possíveis perdas quando um dos
contratantes não honra seus compromissos. O risco de crédito também pode
ser dividido em três grupos:
Risco Legal
Finalmente, o risco legal está relacionado a possíveis perdas quando um
contrato não pode ser legalmente amparado. Nesse tipo de risco pode-se in-
cluir: riscos de perdas por documentação insuficiente, insolvência, falta de
representatividade e autoridade por parte de um negociador.
Nem sempre é fácil diferenciar qual o tipo de risco presente em determi-
nada situação. O tipo de risco pode variar dependendo da óptica sob a qual o
problema é observado. A seguir é dado um exemplo.
Seja o “Banco X” que tenha sofrido perdas substanciais no mercado
acionário por dois riscos assumidos nas decisões:
Devido a essas perdas, o Banco X não é mais capaz de honrar seus com-
promissos com o Banco Y. O Banco Y passa a enfrentar risco de crédito devido
ao possível não pagamento de compromissos assumidos pelo Banco X. Para
o Banco X é risco de mercado e risco operacional, para o Banco Y é risco de
crédito.
454 Mercado Financeiro
Risco acionário
Risco de câmbio
Risco de mercado
Risco de juros
Risco de commodities
Risco organizacional
Risco operacional Risco de operações
Risco de pessoas
Risco-país
Risco de crédito Risco político
Risco de pagamento
Risco de documentação
Risco legal Risco de insolvência
Risco de representatividade
Quantificação do Risco
Admitindo-se que sucessos e fracassos constituem os resultados possíveis
das decisões e partindo do conceito de que risco é a probabilidade de fracas-
so, podemos dizer que:
P(F) + P(S) = 1
Onde:
P(F) = probabilidade de fracasso
P(S) = probabilidade de sucesso
Risco e Incerteza 455
ou
Risco = 1 – P(S)
Quadro 10.1
Concessão de crédito
∑(xi - x )2
Variância = σ2 =
∑fi
Onde:
σ2 = variância
xi = valores de cada ocorrência i
x = média
∑fi = somatório das frequências
456 Mercado Financeiro
∑(xi - x)2
Desvio padrão = σ =
n
onde:
σ = desvio padrão
n = ∑ fi
Quadro 10.2
Probabilidade de retorno
Coroa-coroa 1 1 1
ganha 30% com a probabilidade de x x = 25%
15%-15% 2 2 4
Coroa-cara 1 1 1
ganha 5% com a probabilidade de x x = 25%
15%-10% 2 2 4
Cara-coroa 1 1 1
ganha 5% com a probabilidade de x x = 25%
10% -15% 2 2 4
Cara-cara 1 1 1
perde 20% com a probabilidade de x x = 25%
10% -10% 2 2 4
Nesse ponto, podemos usar essa matriz de decisão, mas listar todos os
possíveis resultados na vida real é muito trabalhoso e muitas vezes impossível.
Assim, ferramentas de estatística como o valor esperado, a variância e o des-
vio padrão servem a um propósito útil por capturarem uma grande quanti-
Risco e Incerteza 457
Quadro 10.3
Probabilidade de retorno, e variância
INTRODUÇÃO AO CAPM
Nesse ponto, vamos excluir os riscos comerciais próprios de cada empresa
em particular e enfatizar os riscos que emanam do ambiente macroeconômico
que tendem a afetar todas as empresas, em graus e de modos diferentes. Nes-
se contexto, o risco específico é peculiar a uma determinada empresa ou pro-
jeto, e o risco de mercado que emana de uma variação geral dos mercados,
afeta todos que neles estão inseridos. O risco específico está relacionado à
competência interna de cada empresa, mas, como é esperado, competências
distintas reagem de modo distinto aos desafios do ambiente interno. Onde
não há competência, mesmo sem desafios externos, não há muita esperança.
Se, por exemplo, a flutuação da taxa de câmbio fosse a única fonte de
risco e as empresas e os indivíduos pudessem escolher contratos em diferen-
tes moedas, o risco de mercado seria devido aos fatores que influenciam as
taxas de câmbio, ao passo que o risco específico se refere a como cada em-
458 Mercado Financeiro
X1 50 20 50%
X2 80 50 50%
Onde:
xi = proporção investida na ação i;
σ2i = variância do retorno da ação i;
ρ1,2 = correlação entre os retornos das ações i e j.
Gráfico 10.1
Correlações entre ativos
Correlação –1 Correlação 1
460 Mercado Financeiro
para (0,99 × 50 + 0,01 × 80) = 49,50 + 0,08 = 50,3. Portanto, notamos que
o retorno do portfólio aumenta em 0,6% (0,3 em 50) e a variância aumen-
ta em 2,032% quando o ativo 2 substitui 1% do portfólio original que tinha
somente o ativo 1.
Na precificação de riscos de ativos específicos, o que se espera é que os
investidores avaliem o aumento na variância (ou desvio padrão) do portfólio
a partir de uma mudança marginal no portfólio, como a apresentada no exem-
plo anterior, em vez de avaliar a variância relativa de ativos individuais. Nesse
sentido, é irrelevante para o investidor que a variância do ativo 2 seja “x” vezes
a variância do ativo 1, uma vez que esses valores não indicam o aumento na
variância do portfólio. Para uma mudança marginal na composição do
portfólio, o aumento no seu risco ao se adicionar o ativo 2 é na verdade pro-
porcional a (σ1 × σ2 × ρ1,2)/σ21, isto é, a covariância relativa entre o novo ativo
e o portfólio original. Na equação 2, que representa o aumento na variância
resultante da substituição de 1% do portfólio, podemos observar que a ex-
pressão é aproximadamente igual a (2 × 0,99 × 0,01 × σ2 × ρ1,2)/σ21, uma vez
que (0,99)2 está próximo de 1 e (0,01)2, próximo de 0.
O conceito mais importante a ser entendido nesse ponto é de que, sob a
perspectiva de um investidor, o risco marginal de um ativo é o crescimento
marginal na variância de um portfólio a partir do crescimento marginal da
proporção deste ativo em relação a este mesmo portfólio.
Markowitz (1991), na construção de portfólios eficientes, trabalhou com
um número definido de ativos, cada um com o seu retorno esperado e des-
vio padrão. O autor combinou esses ativos em diferentes proporções até
encontrar a fronteira ótima, mostrada na Figura 10.1 a seguir, na qual para
cada nível de risco se tem o máximo de retorno. Se tomássemos como refe-
rência as ações negociadas na Bovespa e as combinássemos em diferentes
proporções (ex.: 5% Petrobras, 2% Vale, 3% Embraer, ou 4% Embraer, 3%
Petrobras, 3% Vale, e assim por diante), encontraríamos uma fronteira óti-
ma na qual estariam todos os portfólios eficientes. Abaixo da fronteira ótima
os portfólio não são eficientes porque, para um dado nível de risco, é possí-
vel montar um portfólio com retorno maior ou para um determinado retor-
no é possível construir um portfólio de menor risco. Não é possível construir
portfólio, cuja combinação risco-retorno fique acima da fronteira eficiente
ou ótima. A curva conectando os pontos não é linear em função da covariância
entre ativos. A escolha do portfólio dependerá da atitude em relação ao risco
do investidor ou daqueles que o investidor estiver representando.
462 Mercado Financeiro
Figura 10.1
Portfólios eficientes
n n
Variância do portfólio = ∑x2i × σ 21 + ∑xi × xj ρ1,2 × σ1 × σj (10.4)
i =1 i =1
Gráfico 10.2
Portfólios eficientes com tomada/empréstimo de recursos à taxa livre de risco
Onde:
Rf = taxa livre de risco;
RM = taxa média de retorno do portfólio de mercado;
βZ = risco sistêmico ou de mercado de um título.
Para exemplificar, vamos supor uma taxa livre de risco de 12%, uma taxa
média de retorno esperado do mercado de 18% e um beta de 1,2. Com esses
dados, o retorno esperado do ativo vai ser de:
Gráfico 10.3
Representação do Modelo CAPM
[
wacc = Kd × (1 – t) ×
D
][
(D + E )
+ Ke ×
E
(D + E ) ]
Onde:
Kd = custo da dívida (capital de terceiros);
Ke = custo do capital próprio, sendo que Ke pode ser dado por Ke = Rf + (Rm –
Rf) × β;
(Rm – Rf) = prêmio de risco de mercado.
Damodaran5 sugere ainda que o Prêmio de Risco do País deveria ser adap-
tado para refletir o fato de que algumas companhias podem estar menos ex-
postas ao risco-país do que outras. Companhias que exportam e obtêm uma
porção substancial de suas receitas no exterior e em moeda “forte” (conversí-
vel) são exemplos.
É importante enfatizar o fato de que ajustar a taxa de desconto em vez dos
fluxos de caixa implica uma série de problemas conceituais. Embora contan-
do com o apoio de firmas de consultoria na análise das muitas variáveis de um
fluxo de caixa, não se tem um conhecimento suficiente que permita um ajus-
te nos fluxos de caixa apresentado pelos acionistas originais e que poderia ser
considerado seguro. Em termos práticos, é uma premissa aceitável admitir
que o que os investidores podem fazer na maior parte do tempo é ajustar a
taxa de desconto usando o Prêmio de Risco do País como uma aproximação.
São sugeridas três metodologias para calcular o Prêmio de Risco do País.
5. Idem, p. 16-17.
Risco e Incerteza 469
de risco. Ele tem a vantagem de ser simples, mas tem duas desvantagens:
ratings soberanos não refletem a expectativa corrente sobre o risco de um
país uma vez que não são revisitados muito frequentemente e a utilização do
spread soberano como referência implica que capital e dívida são equivalen-
tes. Embora altamente correlacionados, é razoável esperar que spreads sobre
capital sejam mais altos do que aqueles de dívidas.
Quadro 10.4
Global 27 Bond Stripped Yield
Quadro 10.5
Retorno médio de títulos do governo norte-americano
Quadro 10.6
Prêmio de risco-país
A taxa livre de risco para o ano 5 é dada por 6,29 + 6,21 = 12,50, que mostra
que, quando a proposição 1 é válida, o custo do capital próprio é uma função
linear crescente do índice dívida/capital próprio. O conceito de se alavancar e
desalavancar betas é consistente com a segunda proposição de Modigliani e
Miller (1958). Sua aplicação, como discutido anteriormente, requer, entretan-
to, cuidado e um entendimento correto do contexto sob análise.
O próximo passo é a definição do custo da dívida, da estrutura alvo de
capital e dos níveis de inflação. Comecemos pela inflação:
Risco e Incerteza 471
Quadro 10.7
Inflação nos Estados Unidos e no Brasil
Quadro 10.8
Cálculo do custo do capital próprio e do WACC
[1] Custo de capital para o risco do negócio = L7 = taxa livre de risco + prêmio de risco do país + prêmio de risco de mercado
x beta desalavancado = 6,21% + 6,29% + 0,51 x 6% = 12,5% + 3,1% = 15,6%
[2] Custo da dívida depois do imposto = custo da dívida antes do imposto x (1- taxa do imposto) = 10% x (1 - 0,34) = 6,6%
[3] Custo do capital próprio = custo de capital para risco do negócio + (custo de capital para risco do negócio - custo da dívida
antes do imposto) x (1- taxa do imposto) x (dívida/capital próprio) = 15,6% + (15,6% - 10%) x (1-0,34) x 0,4/0,6 = 15,6%
+ 2,464 = 18,064%
[
[4] wacc = Kd x (1 – t ) ×
D
][ + K ×
(D + E ) e
E
] = 10% x (1 - 0,34) x 0,4 + 18,064% x 0,6 = 2,64 + 10,86 = 13,5%
(D + E )
472 Mercado Financeiro
INCERTEZA
Conceitos Básicos
Nesse item vamos rever alguns conceitos básicos subjacentes a uma área
importante de gerenciamento de riscos e incertezas que é a dos derivativos
financeiros.
Processos Estocásticos
É essencial entender os conceitos básicos subjacentes do comportamen-
to das variáveis estocásticas ao longo do tempo. Essa seção é baseada em um
Risco e Incerteza 473
sumário da fundamentação matemática que está por trás de alguns dos de-
senvolvimentos teóricos sobre as opções reais, conforme apresentado por
Dixit e Pindyck.6 Para entender o processo estocástico é necessário compre-
ender o processo de Wiener.
Um processo estocástico é uma variável que se desenvolve no tempo de
uma maneira que é, pelo menos parcialmente, aleatória e imprevisível. De
uma maneira mais formal, um processo estocástico é definido por uma lei de
probabilidade para a evolução de uma variável “x” durante um tempo “t”. Por
exemplo, a ação da IBM flutua aleatoriamente, mas ao longo do percurso tem
uma taxa de crescimento esperado positiva que compensa investidores pelo
risco de manter a ação.
O Processo de Wiener
Os modelos desenvolvidos para explicar a movimentação dos ativos são
descritos como um processo de Wiener. Um processo de Wiener é um caso
particular de um Processo Estocástico de Markov. Ele foi muito utilizado na
física para descrever o movimento de uma partícula que é sujeita a um grande
número de pequenos choques moleculares, conhecido como movimento
browniano.
O processo de Wiener é um processo estocástico de tempo contínuo, com
três importantes propriedades. A primeira refere-se ao processo Markov, que
diz que a distribuição de probabilidade para todos os valores futuros do pro-
cesso depende somente de seu valor corrente, não sofrendo qualquer in-
fluência dos dados passados ou de outras informações correntes. O valor
presente do processo é tudo o que se precisa para fazer a melhor previsão
de seu valor futuro.
A segunda propriedade é que o processo Wiener diz que a distribuição
de probabilidade da variação do processo ao longo de qualquer intervalo de
tempo é independente de qualquer outro intervalo de tempo, ou seja, os
incrementos são independentes.
A terceira propriedade do processo de Wiener assume que variações no
processo dentro de um intervalo finito seguem uma distribuição normal,
com uma variância que aumenta linearmente com o intervalo de tempo.
O Lema de Ito
O Lema de Ito estabelece uma expressão matemática que possibilita a
obtenção do diferencial total de uma função cujas variáveis seguem um pro-
cesso de Wiener. O Lema de Ito pode ser mais facilmente entendido como
uma expansão da série de Taylor. Vejamos as três figuras a seguir, referentes à
expansão de Taylor, para entendermos melhor o Lema de Ito.
Supondo a curva descrita pela equação Y = e x, vemos que ela é aproximada
sucessivamente pelas equações:
Y=1+X
Y = 1 + X + ½ × X2
Y = 1 + X + ½ × X 2 + 1/3 × X 3
∂F ∂F
dF = dx + dt
∂x ∂t
dF =
[ ∂F
∂t
+ a (x,t)
∂F + 1 2
∂x 2
∂F
b (x,t) 2 dt + b (x,t)
∂x
∂F
∂x
dz
]
Esse lema é a base de muitos métodos de precificação de derivativos, pois
F(x,t) pode ser o preço de um contrato de futuro de índices Bovespa, ou o
preço de uma opção de compra de ação da Eletrobrás.
Incerteza em Derivativos
Esta seção pretende proporcionar apenas uma visão geral dos conceitos
teóricos básicos em preços de opções. Muitos conceitos matemáticos mais avan-
çados são utilizados, mas, nesse momento, o mais importante é conhecer e
entender a lógica das metodologias. Os mais interessados no assunto pode-
rão aprofundar os conhecimentos por meio das leituras sugeridas no texto.
® uS
q
(1-q) ®
dS
S+
u≡ = 1 + R+
S
S+ –
d≡ = 1+R
S
C+ – C –
N=
(u – d)S
dC + –uC –
B=
(u – d) (1 + r)
pC + + (1 – p)C – (1 + r) – d
C= e p=
1+r u–d
Onde:
C = valor do resgate;
Risco e Incerteza 477
E
C = SΦ[m;n, p1] – Φ [m; n, p]
(1 + r )n
p’ ≡ ( u ) p e
1+ r
478 Mercado Financeiro
C=NxS–B
Onde:
C = valor de um call;
N = número de unidades do ativo subjacente;
S = preço do ativo subjacente;
B = dinheiro emprestado à taxa livre de risco.
Sendo que, no limite, N = ∂C/∂S.
∂C ∂C 1 ∂ 2C 2 2 ∂C
+ dt + ds + σ S dt = dS – dB
∂t ∂S 2 ∂S 2
∂S
ou
dB = – (∂C∂t + 12 ∂1C
∂S
σ S ) dt
2
2 2
1 2 2
σ S Css + rSCs – Cτ – rC = 0
2
C (0, τ; E) = e,
Onde:
(XS ) + (r + 2σ ) × (T – t)
2
In
d1 =
σ√ T – t
(XS) + (r – σ2 ) × (T – t) =
2
In
d2 = d1 – σ√ T – t;
σ√ T – t
Onde E = X
B = Ee-rt N(d2)
482 Mercado Financeiro
Pt = Pt-1 + E[r] + εt
Onde:
Pt = preços de ativos no presente;
Pt-1 = preços passados;
E [r] = retorno esperado para o ativo; e
εt = erro aleatório.
Risco e Incerteza 483
os anos e não podem ser descartados. McKinnon (1979) argumenta que para
as commodities negociáveis individualmente no curto e médio prazos pode ha-
ver desvios notáveis daquilo que a teoria seria capaz de prever, porém consta-
tou que a mesma se dá bem no longo prazo para as moedas conversíveis.
Mas a taxa de câmbio real segue ou não um random walk? Importantes
investigações feitas por Adler e Lehmann (1983), por Pigott e Sweeney (1985),
e por Hakkio (1986) não foram capazes de rejeitar a hipótese de que as taxas
de câmbio real não seguem um random walk. Examinando o efeito de taxas de
câmbio voláteis sobre a entrada, saída e opções reais de capacidade de um
monopolista exportador, Bell (1995) chega à mesma conclusão que numero-
sos estudos de variabilidade de taxa cambial acharam difícil rejeitar a hipóte-
se nula de que a taxa de câmbio real segue uma random walk.
Buckley8 observa que “nem todos os testes de random walk foram contrários
à paridade do poder aquisitivo”. Esses testes encontraram alguma evidência de
que as taxas de câmbio foram “um tanto” previsíveis, porém indicam que ten-
dências de reversão médias foram estatisticamente insignificantes. Reconhece-
se que alguns anos são necessários para caracterizar uma reversão.
Como visto anteriormente, não há nada de conclusivo quando se trata de
previsão de comportamento. O desenvolvimento de técnicas alicerçadas em
modelos matemáticos contribuiu muito para o desenvolvimento de modelos
preditivos, mas muito ainda precisa ser feito.
R ESUMO
Este capítulo procurou analisar basicamente o risco e a incerteza. Pelo
fato de o risco ser definido como aquilo que pode ser qualificado em uma
distribuição probabilística, o que torna a sua mensuração facilitada. O risco
pode ser dado pela medida estatística de desvio padrão e o risco pode ser
classificado em quatro grandes grupos: de mercado, operacionais, de crédito
e legal. Este capítulo focou principalmente os riscos de mercado e operacionais.
Para reduzir o risco é preciso diversificar. Diversificar significa colocar na car-
teira ativos com correlação negativa entre si. O risco impacta em quase todas
as decisões das empresas e também na precificação dos ativos, inclusive no
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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