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RESUMO DA 1ª PROVA DE DIREITO CIVIL V

Professor: Marcelo Milagres


Monitor: Luiz Magno Dias Júnior

Unidade I – Conceitos Gerais dos Direitos Reais


Em primeiro lugar, importante destacar a diferença entre BENS e COISAS. Relacionam-se como
gênero e espécie, respectivamente, sendo que os bens se alargam a realidades imateriais, enquanto
as coisas se restringem apenas à realidade corpórea. Assim, importante entender que a
materialidade é o traço que os distingue.
Em seguida, merece relevo a mudança de modelo da situação jurídica real em comparação com a
situação jurídica obrigacional no direito privado.

 Os direitos obrigacionais, como foi estudado nos semestres anteriores, qualifica-se por
ser um vínculo jurídico estabelecido entre duas pessoas, por meio do qual o credor exige
do devedor uma prestação (dar, fazer ou não fazer), de modo que o dever específico
vincula uma pessoa à outra. Nesse sentido, são direitos subjetivos relativos, os quais têm
como objeto da relação uma prestação do obrigado. Geram EFEITOS RELATIVOS
(apenas entre as partes).
 Os direitos reais, por seu turno, estabelecem-se por vínculo jurídico entre o titular do
direito real e a coletividade, a qual tem dever negativo, isto é, não pode prejudicar o titular
do direito real, qualificando-se por um dever de abstenção. O objeto dessa relação é a
coisa sobre a qual se exercitam as faculdades dominiais de usar, dispor e gozar. Geram
EFEITOS ABSOLUTOS (eficácia erga omnes), ou seja, é possível ter em relação a todos,
até mesmo contra o dono da coisa, caso ela esteja em sua posse.
Características fundamentais dos direitos reais:
a) Absolutismo: são poderes que garantem ao titular do direito real dominação sobre o
objeto. Essa dominação é tão importante que ela é oponível erga omnes, já que sujeitam
a coletividade ao dever de abstenção. Se caracterizam pelo verbo TER (um poder sobre
os bens), o que lhes confere maior duração e estabilidade.
a. Interessante pontuar aqui que os direitos reais são exercidos diretamente
sobre a coisa, com o titular satisfazendo suas necessidades econômicas sem
intervenção de terceiros, sendo portanto ius in re. Como contraponto, os
direitos obrigacionais, titular do direito satisfaz suas necessidades
econômicas por meio de conduta cooperativa do devedor, sendo ius ad rem.
b) Sequela: é a mais importante manifestação da situação de submissão do bem ao titular do
direito real, já que ela permite ao titular do direito real a perseguição do bem onde quer
que ele esteja, tendo ação específica para isso. A sequela decorre do absolutismo, pois se
é possível exigir de todos um dever de abstenção, evidente que pode ser retirado o bem
de quem viole este dever geral.
c) Preferência: consequência da sequela, consiste no privilégio do titular de direitos reais
obter pagamento de débito com o valor do bem.
d) Taxatividade: em razão da sua eficácia erga omnes, absoluta, a criação dos direitos reais
depende da vontade do legislador. A sua força é tamanha que não pode ser criado ao
arbítrio das partes, estando os direitos reais elencados no rol taxativo do art. 1.225 do
Código Civil.
a. A título de ilustração, temos que o último direito real incluído no rol taxativo
acima descrito foi o direito de laje, por meio da Lei 13.465/2017, sendo incluída
no inciso XIII, fato que corrobora com a taxatividade dos direitos reais.
e) Tipicidade: apesar da taxatividade dos direitos reais, a tipicidade proporciona espaço para
que a autonomia privada atue, desde que respeite os limites impostos pelo legislador, e
possa inovar e dar sentido aos direitos reais. Diz-se que a tipicidade é elástica, pois
permite modelar o direito real à situação concreta.

Direitos Reais Direitos Obrigacionais


Absoluto (eficácia erga omnes) Relativo (eficácia inter partes)
Ius in re – direito à coisa: Imediatividade Ius ad rem – direito a uma coisa:
Mediatividade
Perpetuidade Transitoriedade
Direito de Sequela Patrimônio do devedor é garantia
Objeto da relação: a coisa Objeto da relação: a prestação
Taxatividade Legislação exemplificativa (atipicidade)
Vínculo entre sujeito e a coisa Relação entre pessoas

Finalmente, deve-se compreender que a propriedade é tida como o direito real originário, a partir
do qual se examina todo o universo de direitos reais. Ela só é a chave para a compreensão dos
demais direitos reais por ter em seu conteúdo interno o domínio, o qual se materializa pela
possibilidade de o titular da coisa exercer poderes (ou faculdades) de uso, gozo e disposição da
coisa, além de poder reavê-la.

 Domínio é o poder realizado sobre a coisa, podendo ele ser desmembrado, de


sorte que uma ou mais de suas faculdades (usar, gozar, dispor e reaver) pode se
descolar das demais temporariamente, sem que o titular deixe de se valer do
poder dominial. Em razão disso, o domínio é dito elástico, eis que é capaz
de se desmembrar por um tempo, podendo o titular do direito real exercê-
lo em sua integralidade (o que configuraria uma propriedade plena), ou
exercendo apenas algumas faculdades. Muito importante entender que o
domínio é uno, um só, não existindo domínios, mas apenas a possibilidade de
as faculdades estarem em poder de pessoas que não aquelas que detinham o
domínio em sua acepção plena. (Ver o art. 1.228 do Código Civil).
o À título de exemplo: locador aluga um apartamento para o locatário,
fazendo deste possuidor, enquanto aquele mantem sua situação de
proprietário. O locatário poderá fazer uso do apartamento e poderá
exercer também o poder de reaver o bem injustamente tomado, porém
não poderá dispor dele. O locador não irá usar o bem, mas irá dele
usufruir, através da percepção do aluguel pago pelo locatário, podendo
dispor (vender) do apartamento (respeitados determinados preceitos,
como o direito de preferência na aquisição do bem), bem como reaver.
 Tão interessante é o tópico do domínio que o desmembramento das suas
faculdades/poderes gera os demais direitos reais sobre as coisas, os quais terão
individuação posteriormente.

Unidade II - Posse
Conceituação: A posse é um fato, bem como um direito real, apesar de não estar prevista no rol
do artigo 1225. A posse pode ser considerada um direito subjetivo patrimonial, sendo avaliável
economicamente e produzindo efeitos também dessa ordem. Por outro lado, satisfaz também
necessidades extrapatrimoniais.

Teorias da Posse

1. Teoria Subjetiva de Savigny


Para o autor, seria a posse um poder imediato que a pessoa tem sobre uma coisa, com a intenção
de tê-la para si ou em protege-la perante terceiros, podendo, inclusive, dela dispor.
Apresenta dois elementos constitutivos:
a) Corpus: controle material sobre a coisa (apreensão da coisa, não apenas o mero contato,
mas com a disponibilidade para agir sobre a coisa e afastar dela a ação de terceiros);
b) Animus: é o elemento da vontade, sendo a intenção do possuidor de exercer o direito
como se proprietário fosse.
Os dois elementos se agregam como em uma fórmula matemática: P (posse) = C (corpus) + A
(animus). Seria um fato na origem e um direito nas consequências, já que o poder de fato é tutelado
contra esbulhos (nome popular: invasão) e turbações (nome popular: perturbações). Existem
algumas situações referentes à detenção para essa teoria, o que será tratado em tópico separado.
Importante ressaltar, desde já, que será mero detentor aquele que não tiver o animus domini, mas
apenas tiver o controle material sobre a coisa.
Crítica à teoria: o papel da autonomia da vontade é muito exacerbado em razão do elemento do
animus domini, não estabelecendo critérios objetivos.
Importância da teoria: Savigny foi o primeiro autor a projetar a autonomia da posse, explicando
que o uso dos bens adquire relevância jurídica fora da estrutura apartada da propriedade. Faz com
que a posse seja uma situação fática merecedora de tutela, a fim de proteger a pessoa e as relações
jurídicas.
2. Teoria Objetiva de Ihering
Consagrada pelo ordenamento jurídico brasileiro, no art. 1.196, essa teoria é de suma importância
para entender muitos quesitos da posse.
Parte da propriedade para explicar o que é a posse, explicitando que esta, em verdade, é mero
exercício daquela. A posse seria um poder de fato exercido sobre a coisa. Para ele, a posse não
seria modelo jurídico autônomo, entendendo que o possuidor é quem dá destinação econômica à
coisa (*), dando visibilidade ao domínio. A posse seria meio para conduzir à propriedade, sendo
exteriorização e complemento necessário à proteção da propriedade – isto é, a tutela da posse
decorreria da tutela da propriedade – toma forma pela famosa frase de que a posse seria mera
chave para abrir o cadeado que seria a propriedade.
(*) Por esta destinação econômica, pensem na finalidade para a qual a coisa
serve. O autor dá o exemplo de um terceiro ter encontrado em uma casa em
construção saco de cimento e um cachimbo deixado sobre uma mesa,
explicando que o cimento está à disposição do seu possuidor, cumprindo sua
destinação econômica, enquanto o cachimbo não estaria. Nesse sentido,
poder-se-ia entender que haveria poder de fato sobre cimento, enquanto não
haveria sobre o cachimbo.
Importante ressaltar a destinação econômica da coisa porque é isso que qualifica a posse, haja
vista que o poder fático sobre a coisa se exterioriza conforme a destinação a que serve a coisa.
Em contraponto à teoria subjetiva, a teoria objetiva engloba os meros possuidores acima citados,
pois não haveria necessidade de animus, mas de exteriorização do poder, ou seja, valendo da
mesma ideia matemática, aqui teríamos: P (posse) = C (corpus – desde que se compreenda que
este corpus é qualificado não pela apreensão da coisa, mas pela exteriorização do domínio). Desta
forma, a posse poderia ser direta (quando o possuidor exerce a apreensão da coisa) e indireta
(também possuidores, mas que não exterioriza os poderes ínsitos do domínio).
Assim como feito no tópico acima, em rápida explicação, a detenção para Ihering seria distinguida
da posse pelo ordenamento jurídico, quando escolhesse o legislador que não seria conferida tutela
jurídica a algumas situações, em razão da maneira como as pessoas iniciaram a exteriorização dos
poderes sobre a coisa. Posse seria regra, detenção seria a privação do direito de tutela.
Críticas à teoria: apesar de trazer várias inovações que até hoje são marco teórico para o nosso
entendimento, Ihering não consegue explicar a posse sem a propriedade. É como se o instituto da
posse fosse subordinado da propriedade, não tendo a necessária autonomia ante esta. Assim, não
pode prosperar a ideia de que a posse seja mera decorrência da propriedade.
Importância da teoria: consegue traçar e delinear o instituto conforme o conhecemos hoje.
Consegue estabelecer que a posse é o poder de fato exercido sobre a coisa, sendo efetivamente
exteriorizado e de acordo com a destinação econômica da coisa.
MUITO IMPORTANTE (Professor gosta muito de cobrar isso em provas): QUEM PODE
SER POSSUIDOR DA COISA? Aquele que pode, naturalmente, exercer a posse. Não necessita,
assim, de capacidade intelectiva, volitiva ou capacidade de direito (absolutamente incapazes ou
relativamente incapazes também poderiam, nesse sentido, ser possuidores). Atenção ao fato de
que também não precisa ser um ente dotado de personalidade: Art. 1.196. "Considera-se possuidor
todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade." (ex.: condomínio). Importante ressaltar que a causa da posse não necessariamente
precisa ser lícita, não pressupondo uma conduta em conformidade com o direito.

3. Teoria Eclética
Usa muito da teoria de Ihering, por óbvio. Apenas se aparta dela para dar à posse autonomia
necessária.
Natureza da Posse
Professor entende que a posse tem natureza jurídica de direito real, já que tem a coisa como objeto
da relação jurídica, sujeição direta e imediata da coisa ao titular do direito, eficácia erga omnes.
Portanto, cumpriria os requisitos ensejadores dos direitos reais.

Detenção

Para Savigny, seria a situação em que não há animus domini. Para Ihering, a regulamentação do
direito objetivo, sendo o detentor aquele que perdeu a proteção possessória em razão de óbice
legal. Em razão do nosso sistema ter consagrado a teoria objetiva de Ihering estabelecendo a
regulamentação do obstáculo legal. Assim, a detenção é a posse degradada, juridicamente
desqualificada pelo ordenamento, sendo as hipóteses:
a) Os servidores da posse (fâmulos da posse) – Art. 1.198
São os fâmulos da posse aqueles que exercem poder de fato sobre a coisa em nome de outrem
(real possuidor), sob sua ordem.
 Podemos compreender que esta modalidade depende de relação subordinativa entre os
sujeitos, sendo que o real possuidor dá ordens que o detentor cumpre, isto é, é uma
atuação sem autonomia do detentor. O detentor, além disso, tem o dever de conservar a
coisa, podendo ser restituído das despesas de conservação, e o dever de informação de
eventual moléstia à posse.
 Nos termos do enunciado 493 do Conselho de Justiça Federal, apesar de não ter tutela
judicial da posse, pode o detentor exercer o desforço imediato ou a legitima defesa da
posse – desde que o faça em nome e em proveito do possuidor.
 Exemplo: o professor Marcelo faz uso de uma caneta na sala de aula. Essa caneta não lhe
pertence, tampouco está em sua posse, apesar dele exercer atos de posse. Ele é detentor
da coisa, que pertence, na realidade, à UFMG, autarquia a qual ele é subordinado.

b) Atos de permissão ou tolerância – Art. 1.208 (primeira parte)


Os atos de permissão ou tolerância não induzem a posse.

 Permissão é a autorização expressa do possuidor para que o terceiro use a coisa, ou seja,
é um ato POSITIVO e PRÉVIO do possuidor.
o Ex.: é o empréstimo de caneta em sala de aula, em que há pedido prévio de um
colega ao outro.
 Tolerância é o consentimento tácito do uso da coisa, sendo este uso transitório e podendo
ser suprimido. Portanto, é ato NEGATIVO.
o Ex.: ainda usando do “empréstimo”, quando um colega usa do computador de
outro sem prévio aviso, sendo que aquele ao notar a situação a franqueia pelo
período do intervalo.

c) Atos de violência ou clandestinidade – art. 1.208 (parte final)


Enquanto existentes os atos de violência ou clandestinidade, é impedida a aquisição da posse por
quem deles se aproveita. Quando superados estes atos, surgirá nova posse.

 Atos de violência são aqueles atos de uma pessoa em relação à outra.


 Atos de clandestinidade são aqueles sorrateiros, escusos que são feitos em
desfavor do possuidor.
 A posse nova inaugurada após atos de violência ou clandestinidade será,
necessariamente, injusta.

d) Atuação em bens públicos de uso comum do povo ou de uso especial – art. 100 do CC
Opção legislativa de proteger o bem público, evitando que o particular possa possuir aquilo que
seria público. Grande discussão existe em razão de qual bem público seria esse, se tudo aquilo
que for público ou apenas os bens que cumprissem a função de prestação de serviços públicos.
Discussão é de direito administrativo, mas a doutrina tende ao bem público que é utilizado com
essa finalidade pública, que efetivamente cumpra a finalidade a que o Estado se presta.
EFEITOS DA DETENÇÃO:

 O detentor não tem legitimidade para as ações possessórias (tutela jurisdicional). Apesar
disso, ele poderá exercer o direito de sequela contemporâneo à agressão (mediante
autotutela), desde que em nome e proveito do possuidor, mas não poderá, por vias
judiciais, reaver o bem que lhe foi injustamente tomado.
 Interversão dos atos de posse: inércia no tempo (critério objetivo) + crença de agir em
nome próprio (critério subjetivo). Quando o detentor passa a exercer os atos de posse não
mais em nome de outrem, mas em nome próprio, deixando de ser um fâmulo da posse,
por exemplo. Exemplo disso é o do empregado que passa a agir em nome próprio, após a
inércia do dono do terreno. Nesse ponto, começará a correr o tempo para efeitos de
usucapião (usucapião = posse + tempo) e a propriedade poderá ser invertida.
o Interversão pode ser unilateral (como no exemplo), de acordo com o enunciado
237 aprovado na III Jornada de Direito Civil.
o Pode ser bilateral, como o exemplo do contrato de compra e venda entre o
detentor e o possuidor.

Classificações da posse

1. Posse Justa x Posse Injusta – art. 1.200


A posse justa é aquela não repugnante ao direito, isenta de qualquer vício que a macule na origem,
ou seja, é justa toda posse que não for injusta, um critério de exclusão. Por isso, faz-se importante
conceituar a posse injusta.
Posse injusta está descrita em três subcategorias explicitadas pelo art. 1.200, quais sejam:
a) Posse Violenta: é a adquirida por uso de força ou ameaça direta a terceira pessoa. Ela é
um vicio originário e relativo, que surge no momento de tomada da própria posse. O
contrário seria a posse que é pacífica, pública e estável;
b) Posse clandestina: adquirida ocultamente, mediante ardil, sem publicidade ou
ostensividade ao possuidor, tendo que ser explicitada ao resto da coletividade. Caracteriza
vício originário Ex.: possui uma casa de praia que o possuidor não mantém vigilância
constante.
c) Posse precária: é o abuso de confiança do possuidor que perpetua sua posse por período
superior ao que gerou seu direito de possuir. Para isso, necessita de uma posse justa
inicial. Caracteriza vício absoluto. Ex.: contrato de locação finalizado no termo final sem
que o locatário restitua a posse ao locador.
A posse injusta não mantém esse caráter erga omnes, mas apenas entre o ex-possuidor e o novo,
sendo que este terá a seu favor a tutela possessória para reaver a coisa de terceiros estranhos à
relação. Importante dizer que a posse justa não é a posse lícita. A violência, bem como a
clandestinidade, são vícios relativos e originários, que poderão não contaminar toda a posse, como
ocorre no caso da posse precária, que é vicio absoluto. O artigo 2.208, em sua segunda parte,
postula que a posse se consumará após cessada a violência. Entretanto, a doutrina majoritária
entende que a violência contra pessoa contamina a posse, ainda que cesse a tal violência. A
doutrina minoritária, adotando interpretação literal do artigo 1.208, CC, entende que cessando a
violência a posse será mansa e pacífica ainda que a causa seja ilícita e violenta.
2. Com justo título x Sem justo título
O título é a causa (origem, fundamento) da posse, não um documento. A posse com justo título é
aquela que tem aparência de ter adequação ao sistema jurídico e que enseja, por sua vez, a
proteção do ordenamento, por ser legítima. A posse com justo título é composta por um elemento
subjetivo, a presunção da boa fé. Atenção ao fato de que a posse justa não necessariamente é uma
posse com justo título. Exemplo: colega de sala pede um livro emprestado e não o devolve quando
solicitado. Assim, entende-se que a posse tem justo título (surgiu de um contrato verbal de
comodato), porém não é posse justa, caracterizando a posse precária.
A posse sem justo título é exatamente aquela que não tem fundamento algum, sendo
completamente inadequada ao ordenamento jurídico. Exemplo: furta de coisa alheia.
3. Posse de boa-fé x posse de má-fé
Inicialmente, importante mencionar a existência da boa-fé subjetiva e objetiva. A segunda é
relacionada ao direito obrigacional e contratual, estabelecendo o padrão de comportamentos,
enquanto na presente disciplina, destaca-se mais a boa-fé subjetiva, caracterizada por elementos
internos, baseados na crença individual. Assim, a posse de boa-fé é subjetiva, levando-se em conta
a condição psicológica do indivíduo, que tem a convicção de que sua posse a ninguém prejudica,
isto é, é concebida de modo negativo, em que o possuidor ignora vício ou obstáculo à aquisição
da coisa. Toda posse de justo título é uma posse de boa-fé, porém o contrário não é verídico.
Por outro lado, a posse de má fé ocorre quando a pessoa sabe que existe vício ou o obstáculo que
impede a aquisição da coisa. Essa classificação está disposta pelo artigo 1.201.

 Atenção ao fato de que a boa-fé não está sujeita a toda e qualquer atividade ou relação.
Exemplo disso é o artigo 1268, que restringe a proteção da boa-fé apenas para quando a
coisa for oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial. Isso não significa,
lado outro, que não restará caracterizada a posse de boa-fé, que ensejará certas garantias,
como, por exemplo, o possuidor de boa-fé não será acusado de receptação, bem como
poderá fazer jus ao valor pago, por meio da restituição. Um problema que surge é com
relação à compra de bens imóveis, adquiridos de boa-fé, sob a falsa aparência do registro,
vendida por um não proprietário. Nessa seara, destaca-se o artigo 1247, que traz o direito
do proprietário real do imóvel a reivindicá-lo, independente da boa-fé. Uma exceção é a
do artigo 1242, que é uma modalidade de usucapião, a ser tratada posteriormente.

4. Posse Exclusiva x Posse Compartilhada


O exercício dos atos possessórios é normalmente realizado por um indivíduo. Todavia, como
exceção à essa exclusividade, tem-se a chamada composse ou condomínio (ressalvando que o
condomínio não se restringe às coisas imóveis, apenas, podendo também ser relativa à coisas
móveis, que tem posse compartilhada), ou seja, o exercício da posse por uma pluralidade de
sujeitos.
A composse tem dois elementos: a pluralidade subjetiva (dois ou mais sujeitos exercendo atos de
posse) e a indivisibilidade funcional, física, judicial ou voluntária da coisa. Exemplo: uma mulher
deixa para seus doze filhos uma fazenda e, em seu testamento, estabelece que o imóvel não poderá
ser dividido, ou seja, os doze proprietários estão vinculados pela composse. Isso também acontece
no casamento instituído sob o regime da comunhão parcial de bens, vez que o artigo 1199 do CC,
trata da composse propriamente dita, ou pura. Outra modalidade de composse é a composse pro-
diviso, na qual a posse é juridicamente de todos – já que ainda não realizada a partilha -, mas do
ponto de vista fático, existem posses exclusivas. Uma interpretação gramatical e restritiva do
artigo traz a impossibilidade dessa modalidade de composse. Porém, a interpretação ampliativa
autoriza a composse pro-diviso, mediante concordância entre todos os co-possuidores.
5. Posse Nova x Posse Velha
Estabelecida em razão de critérios políticos pelo legislador, a posse nova é aquela exercida a
menos de ano e um dia, enquanto a posse velha se caracterizará após decorrido um ano e um dia.
Dessa classificação decorrem dois efeitos, sendo o mais importante deles procedimental. O efeito
procedimental dessa classificação se encontra no artigo 558 do CPC/15, o qual dispõe que aquele
que teve a posse esbulhada poderá retomá-la por meio de procedimento especial, para a qual cabe
a liminar possessória, no âmbito da tutela de evidência, apenas no caso de posse nova. Caso a
posse já seja velha não haverá essa possibilidade, devendo ser requerida por meio de ação de
reintegração de posse. Outro efeito é a possibilidade de caracterização de certas modalidades de
usucapião.
6. Posse Ad interdicta x Posse Ad usucapionem
A posse ad interdicta não constitui usucapião, enquanto a posse ad usucapionem é aquela que traz
possibilidade de ser reivindicada pela usucapião, contendo seus requisitos.
A posse ad interdicta é a que se pode amparar pelos interditos caso ela seja ameaçada ou
esbulhada, por exemplo. Toda a posse é ad interdicta, o que irá variar é a extensão dessa
possibilidade de defesa da posse. Não são opostas, como as outras classificações.
7. Jus posidendi X Jus possessonis:
O jus possessonis é a posse fundado meramente no fato (situação fática), lado outro, a jus
posidendi é aquela cuja causa é o próprio exercício do direito da propriedade.

Interversão da Posse
Não obstante a regra do art. 1.203 estabelecer que a posse manterá caráter de sua aquisição,
existem situações que podem mudar este caráter da posse. A mudança de comportamento de quem
detém a coisa é fundamental para transformar a detenção em posse injusta, mas não para
transformar posse injusta em posse justa. Todavia, em algumas situações, pode haver a mudança
da causa possessionis:
a) Fato de natureza jurídica
São sanados os vícios de origem da posse por meio de relação jurídica real ou obrigacional,
transformando a posse injusta em justa. Necessariamente BILATERAL.
Exemplo: o possuidor injusto, após certo tempo, decide celebrar um contrato de compra e venda
com o possuidor antigo, sanando o vício que contaminava sua posse.
b) Fato de natureza material
São atos exteriores e prolongados do possuidor de inequívoca intenção de privar o proprietário
do poder de disposição sobre a coisa. A mudança é considerada não porque há uma vontade do
possuidor, mas uma desídia do proprietário, que não exerce seu direito de sequela, de modo que
sua reiterada omissão gera uma expectativa de direito tal no possuidor que este passa a ter animus
domini.
O Enunciado 237 da Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal estabelece ser
cabível a interversão na hipótese em que o possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco
de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeitos a caracterização do animus domini.
Aquisição da Posse
O art. 1.204 estabelece qual o momento em que será considerada a aquisição da posse: Adquire-
se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer
dos poderes inerentes à propriedade.
Importante ressaltar que a relação contratual é a mais comum forma de aquisição da posse, mas
que ela, por si só, não transfere posse. É necessária a tradição da coisa para que haja efetivo
exercício dos poderes.
Modos de Aquisição da Posse:
1. Originária (posse natural): não pressupõe relação intersubjetiva, mas quando pessoa
pratica, de forma pública e reiterada, atos que demonstram a sujeição do bem ao seu
titular. Exemplo: sujeito adquire o objeto mediante roubo ou quando uma pessoa encontra
um livro perdido na rua. Não se cogita vícios anteriores que maculem essa posse.
2. Derivada (posse civil): surge a partir de uma relação intersubjetiva, pressupondo a
existência de uma posse anterior, a qual será transmitida ao novo possuidor. Como a posse
deriva de outra, pode ser ela contaminada pelos vícios genéticos da posse anterior.
3. Singular: a aquisição singular ocorre quando é possível determinar o objeto da aquisição.
Exemplo: aquisição exclusiva sobre um telefone celular.
4. Universal: ocorre quando não se pode determinar ou especificar o objeto da posse.
Exemplo: doação transfere 30% dos bens de certo indivíduo a uma entidade, de modo
que não há individualização da coisa, mas apenas a universalidade de seu acervo
patrimonial.
5. Inter vivos: pressupõe relação intersubjetiva com declarações de vontade. Exemplo:
contrato bilateral de compra e venda.
6. Causa mortis: fato decorrente da morte, pode ser gerada também a posse, como a herança,
como postula o artigo 1784 do CC. É o direito de saisine.
Quem pode adquirir?
Os menores de 18 anos e portador de transtornos mentais que apreendam o bem e pratiquem atos
possessórios. Em razão disso, têm direito à tutela possessória judicial, por meio de representação
ou assistência em juízo.
Posse pode ser adquirida por representante do possuidor (aquele que tem mandato ou não – caso
do caseiro, o qual tem um contrato de trabalho que não é, em si, mandato), por terceiro sem
mandato, dependendo de ratificação e, por fim, por entes despersonalizados.
União de posses
É a continuação da posse pela soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores,
como se diferentes posses se reduzissem a uma só. Em razão disso, o art. 1.206 estabelece que a
posse causa mortis é transmitida com os mesmos caracteres. O art. 1.207 explicita que o sucessor
universal continua a posse do sucessor, enquanto ao sucessor singular é facultado unir sua posse
à do antecessor, para efeitos legais. Assim, importante diferenciar a sucessão da acessão.
a) Sucessão (sucessio possessionis): não há aquisição da posse, mas passagem da posse por
inteiro, sem se destacar da posse antiga. Isso faz com que não sejam afetadas as
qualidades da posse, isto é, se ela é injusta, de má-fé, sem justo título, mantendo o caráter
que tinha anteriormente.
b) Acessão (accessio possessionis): sempre se verifica por ato inter vivos, por meio de
relação jurídica. Cria-se a possibilidade do novo possuidor de unir sua posse à do
antecessor, cujas qualidades serão mantidas. A posse nova, desligada da anterior, tem
vantagem de ter justo título, o que permitiria usucapião especial, mas a contagem do
tempo será do início dos exercícios dominiais. Assim, se houver qualquer vício na posse
anterior, ele será mantido, tendo o novo possuidor apenas a faculdade de separar a sua
posse da anterior.
Efeitos da Posse
I) Efeitos Econômicos
1. Direito aos Frutos
Os frutos são as utilidades econômicas que as coisas periodicamente produzem, cuja percepção
não gera perda ou fim da coisa. São explicitados em três categorias:

 Frutos Naturais: provenientes diretamente da coisa, em razão de sua força orgânica,


renovando-se periodicamente por força da natureza.
 Frutos industriais: produção decorre da atuação do engenho humano sobre a natureza
(produção de uma fábrica)
 Frutos civis: rendas periódicas provenientes do uso e gozo de uma coisa frutífera por
outra pessoa que não é proprietário (juros e alugueis).
Os produtos também são utilidades, porém, diferentemente, implicam em perda periódica da
coisa, isto é, a cada vez que lhe são retirados, a coisa perde um pouco de sua substância (ex.:
petróleo).
Impende destacar que frutos e produtos são equiparáveis, mesmo que o código apenas cite os
frutos (art. 1214 CC). Como são bens acessórios, pertencerão os frutos ao titular da coisa ao tempo
em que forem colhidos. Nesse sentido, o possuidor de boa-fé tem direito à percepção dos frutos e
produtos enquanto sua posse continuar com esta qualidade. A aquisição dos frutos está
condicionada a duas situações: que os frutos tenham sido devidamente separados; que a percepção
dos frutos tenha ocorrido antes de cessar a boa-fé.
Enquanto não forem separados, fazem parte da coisa. Importante, portanto, entender quando
foram percebidos os frutos:

 Frutos percebidos: aqueles que já foram colhidos e não necessariamente consumidos;


 Frutos percipiendos: aqueles que completaram seu ciclo de formação, poderiam ter sido
colhidos mas ainda não foram;
 Frutos pendentes: aqueles que não completaram seu ciclo de formação e ainda não podem
ser separados da coisa. (ex.: aluguel antes do dia do vencimento);
 Frutos colhidos com antecipação: percebidos prematuramente, enquanto ainda eram
pendentes.
Os frutos naturais se consideram colhidos desde o momento em que foram produzidos e
separados, podendo ser efetivamente singularizados. Os frutos civis se adquirem desde sua
percepção que ocorre dia a dia, com repartição proporcional aos dias em que se encontrava de
boa-fé. No momento em que cessa a boa-fé (ajuizada ação em desfavor dele), terá direito aos
frutos obtidos e separados tempestivamente, abrangendo os colhidos e os percebidos. Se o
possuidor anterior tiver realizado contrato negociando os frutos, afasta-se a aplicação do art.
1.214.
É vedado o enriquecimento sem causa, pois o trabalho do possuidor de boa-fé não pode levar ao
enriquecimento do proprietário que nada fez para dar causa a esse fruto. Nesse sentido, o art.
1.216 explicita que o “possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos,
bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu
de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.” Esta parte final foi consagrada também
no art. 2.216, acordando com a vedação ao enriquecimento ilícito (critica-se esse artigo, pois ele
atribui direitos a um comportamento ilícito do possuidor de má-fé).
2. Benfeitorias e Pertenças
Inicialmente, qualifica-se benfeitoria (art. 96 do CC). São bens acessórios, os quais se incorporam
permanentemente à coisa, consistindo em obras ou despesas efetuadas para conservação,
melhoramento ou embelezamento. Benfeitorias não são coisas, mas ações que originam despesas
e bens. (Ponto importante: nunca definam se é necessária, útil ou necessária por conceito rígido,
mas sempre diante do caso concreto, recorrendo à essencialidade daquela ação – custos de
conservação, tributos, processos demarcatórios ou divisórios, adubação de terreno, ração para
animais, fugindo ao que disse anteriormente, são sempre benfeitorias necessárias).

 Necessárias: indispensáveis à manutenção da coisa


 Úteis: melhoramentos que facilitam o uso da coisa
 Voluptuárias: situações que aumentam o valor da coisa
As pertenças, por seu turno, são aqueles bens acessórios que não se incorporam à coisa, cuja
finalidade é o aformoseamento de outro bem, sendo passíveis de remoção e alienação destacada.
Caso o imóvel seja alienado, as pertenças não o acompanham, salvo se houver imposição legal
ou se as partes assim pactuarem.
Situação havida entre o possuidor em desfavor do proprietário: é sabido que as benfeitorias feitas
possuidor incorporam-se ao patrimônio do proprietário, de modo que faz diferença se aquele
estava de boa-fé ou de má-fé na posse da coisa. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização
sobre as benfeitorias necessárias e pelas úteis, podendo se valer do direito de retenção*
(possibilidade de não deixar de possuir a coisa até que a outra parte cumpra a obrigação de dar
quantia certa) até que seja ressarcido por elas. Quanto às benfeitorias voluptuárias, inexiste
obrigatoriedade de pagamento pelo proprietário, embora o possuidor possa fazer este pedido,
sendo que no caso de não ressarcimento pode ser levantada (mesmo que isso possa danificar a
coisa, de forma que, se o fizer, deverá ressarcir o proprietário).
*: direito de retenção nasce da exceptio non adimpleti contractus, consistindo
em meio de defesa outorgado ao possuidor de boa-fé para continuar a deter
coisa alheia, mantendo-a em seu poder até que seu crédito seja quitado, em
razão da realização de benfeitorias ou de acessões por ele feitas. É meio
coercitivo de pagamento.
A contrário sensu, no caso do possuidor de má-fé, deverão ser restituídas apenas as benfeitorias
necessárias, em consagração do princípio da vedação ao enriquecimento ilícito. Da mesma forma,
a este possuidor é vedado levantar as benfeitorias voluptuárias, bem como exercer o direito de
retenção. O art. 1.222, ainda, define diferenciação no valor da indenização das benfeitorias
necessárias, de sorte que o proprietário pode optar se paga o valor atual da benfeitoria ou o valor
ao tempo em que foi realizada. Esta faculdade não existe quanto ao possuidor de boa-fé, já que
este deverá ser ressarcido pelo valor efetivamente gasto no período da realização da ação.
Há a possibilidade de compensação das benfeitorias com os danos, segundo o art. 1.221. São
considerados danos os prejuízos que possam ser atribuídos ao possuidor no decurso de sua posse.
Como sempre, há diferenciação quanto à existência dos danos quando for o possuidor de boa ou
má-fé: quando de boa-fé, o dano deve ser comprovado com a necessidade de ter tido culpa do
possuidor (figura da responsabilidade civil subjetiva); quando de má-fé, será dano indenizável a
depreciação da coisa, ainda que acidental (figura da responsabilidade civil objetiva).

II) Efeitos Protetivos

1. Autotutela (art. 1.210, §1º, CC):


A turbação é composta por atos concretos que prejudicam o exercício legítimo de atos de posse,
não pressupondo a tomada da coisa, mas bastando a perturbação. Já o esbulho é a tomada da
posse, não necessariamente com violência moral ou física. Nesse sentido, artigo autoriza a
autotutela contemporânea à agressão, atendidos os critérios da proporcionalidade e da
racionalidade. É a única possibilidade de o possuidor utilizar das suas próprias forças para repelir
a ação de terceiro.

 Legítima defesa da posse: reação proporcional para evitar turbação, semelhante à do


direito penal.
 Desforço imediato: reação contemporânea à turbação ou esbulho.
Se não forem respeitados esses preceitos, incorrerá o sujeito no artigo 345 do Código Penal,
exercício arbitrário das próprias razões.
2. Ações Possessórias e Petitórias:
As ações possessórias são procedimentos processuais cuja causa de pedir e o pedido se limitam à
tutela da posse. Atenção ao fato de que, até mesmo um mandado de segurança ou o embargo de
terceiros, por exemplo, poderão ser ações possessórias, mas que serão, porém, atípicas.
As ações petitórias são as que visam a proteção da propriedade, cuja causa de pedir é a tutela de
propriedade, mas o pedido poderá ser a tutela da posse.
O ordenamento jurídico brasileiro define total separação entre os dois tipos de ação. Por isso, no
âmbito de uma ação possessória típica (manutenção, reintegração e interdito proibitório), é vedada
a discussão relativa à propriedade, podendo apenas discutir-se quem tem a melhor posse. Exemplo
de ação petitória é a ação reivindicatória, na qual a busca-se comprovar a posse através do título
de propriedade.
Existe grande diferença quanto ao procedimento cabível às ações possessórias e as ações
petitórias. Esta só poderá ser ajuizada por procedimento comum, enquanto a possessória poderá
ser tanto pelo procedimento comum quanto pelo especial, sendo que o último comporta a
possibilidade de liminar possessória de cunho satisfativo, no âmbito da tutela de evidência, de
acordo com o artigo 558 do CPC/15, desde que seja de força nova.
3. Aquisitivos:
Forma aquisitiva originária de direitos reais, não somente propriedade, em razão da conjunção da
posse mansa, pacífica e continuada, com animus domini e tempo, observados os requisitos legais
de cada espécie de usucapião.
Importantes aqui são os institutos da acessão e sucessão possessórias, analisados no tópico da
união de posses, porque o tempo é atributo importantíssimo para a usucapião.
Ações Possessórias Típicas
1. Procedimento
a. Comum: utilizado nos casos de posse de força velha (mais de um dia e um ano),
conforme o parágrafo único do art. 558 do CPC/15.
b. Especial: utilizada quando for ação possessória de força nova (menos de ano e
dia), nos termos do caput do art. 558.
c. Sumaríssimo: julgada no juizado especial (Lei 9.099/95), quando adequarem-se
às restrições da lei.
2. Características
Há uma natureza relativa da injustiça da posse, pois só pode ser alegada por quem perdeu uma
posse anterior.
a) Natureza Dúplice das Possessórias: de acordo com o art. 556 do CPC/15, pode o réu, em
sede de contestação, alegar que foi ofendido em sua posse, demandar a proteção
possessória e indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho sofrido.
Há possibilidade de que quem se encontra no polo passivo da ação não apenas resista à
pretensão vazada na inicial, mas que também possa oferecer pretensão, sendo chamado
tecnicamente de pedido contraposto. É um contra-ataque processual sem demandar os
formalismos necessários à reconvenção. Assim, a natureza dúplice permite que o objeto
litigioso seja ampliado por pedido contraposto na contestação, com expedição do
mandado de reintegração de posse com a segurança jurídica da coisa julgada formal.
b) Fungibilidade: de acordo com o art. 554 do CPC/15, excepciona o princípio da adstrição
processual, autorizando a conversão de uma ação possessória em outra quando a petição
inicial descrever erradamente qual a agressão sofrida na posse ou quando a agressão
originária se intensificar. Apenas se verifica entre as três ações possessórias (reintegração,
manutenção e interdito proibitório).
c) Cumulação de Pedidos: o pedido da ação possessória é sempre a tutela da posse, mas
conjuntamente a ele, podem ser realizados pedidos que não se referem à defesa da posse,
conforme o art. 555 do CPC/15. Pode o autor requerer a condenação em perdas e danos,
indenização dos frutos, requerimento de medida necessária e adequada para evitar nova
turbação ou esbulho à posse e a possibilidade de cominação de multa astreinte de eficácia
inibitória ou outro mecanismo de tutela provisória, afim de resguardar a efetividade da
tutela definitiva. A cumulação é sucessiva, eis que o acolhimento de um pedido depende
do acolhimento de outro.
d) A inicial da possessória típica deve ser instruída conforme o disposto pelo artigo 561
(CPC/15), narrando tudo aquilo que os incisos exigem. Não atendidos os incisos, deverá
ser emendada a inicial.
e) Jurisdição: poderá ser federal ou estadual, sendo a última via de regra.
f) Competência: é territorial e absoluta quando se tratar de imóvel; é relativa e no domicílio
do réu quando for bem móvel.
g) Legitimidade: o autor é aquele cuja posse foi violada, sendo tanto o possuidor direto
quanto indireto. Atenção ao fato de que o detentor (possuidor precário) não tem
legitimidade para propor as ações possessórias. A legitimidade passiva será do autor da
ameaça à posse.
h) Multiplicidade de agentes: nesse aspecto, é essencial ressaltar a questão dos conflitos
multitudinários. O art. 554, §1º, do NCPC, possibilita a citação por Edital daqueles que
não estão no local. Além disso deverá ocorrer intimação do MP, pois, nos casos de
conflitos multitudinários há presunção de interesse público (atenção: essa disposição deve
ser interpretada à luz do art. 127, caput, da CRFB). No caso do conflito envolver
indivíduos hipossuficientes, o que quase sempre ocorre nesse tipo de conflito, deverá
também ser intimada a defensoria pública.
i) Tutela de evidência, previstas no art. 562 c/c art. 311, inciso II do CPC: deve haver prova
cabal da posse. Lembrando que, diferente das tutelas de urgência do processo civil, nesse
caso não é necessário provar o periculum in mora, apenas o fumus boni iuris. O juiz
poderá negar ou conceder a tutela ex officio, sem oitiva da parte contrária. Contudo, se
restar dúvida ao magistrado, ele deverá designar audiência de justificação, objetivando
inclusive a autocomposição, com a oitiva de testemunhas. O prazo para contestação
iniciará da ocorrência da audiência. Atenção ao artigo 562, parágrafo único, pois
condiciona o deferimento de liminar contra poder público à realização audiência de
justificação.
j) O art. 565 e a aparente incoerência com o sistema: parece haver incoerência nesse artigo,
pois trata de concessão de liminar para posse velha, o que é vedado pela interpretação do
artigo 558 CPC. No entanto, elucida-se que ele apenas cabe caso a pretensão seja
formulada dentro de ano e dia (posse de força nova), e tendo ela se tornado velha em
momento posterior, por lentidão da justiça. O que o artigo postula é que é obrigatório que
o juiz marque audiência de conciliação antes de apreciar a liminar nesses casos em que a
posse se tornou velha, também de acordo com o artigo 3º, parágrafo 3º do CPC, que visa
sempre a estimular a conciliação entre os sujeitos processuais. Para a audiência de
conciliação/mediação deve haver intimação do MP, no caso de haver interesse público.
A falta de intimação (e não de manifestação) poderá gerar nulidade processual, haja vista
o artigo 279, CPC/15.
k) Artigo 557 do CPC/15: o autor que é proprietário deve ter cautela ao escolher uma ação
possessória típica (na qual se discute apenas a posse), pois só poderá usar a ação
possessória atípica, que discute também a propriedade, após o trânsito em julgado da
possessória típica, o que pode demorar vários anos. Ou seja, a ação possessória típica faz
com que seja a possessória atípica suspensa.
3. Ações Possessórias Típicas (art. 1.210 do CC)
a. Reintegração de Posse
Restitui a posse a quem a tenha perdido em razão de esbulho, restituindo o possuidor à situação
pregressa à da exclusão da posse.
Necessário que a agressão provoque a perda da possibilidade de controle e atuação material no
bem antes possuído.
O esbulho pode ser total ou parcial. Para tanto, basta que o possuidor perca parcela de seu poder
de fato sobre a coisa (ex.: sobre 10 metros quadrados de 50 que possui em uma sala). Há também
esbulho quando uma pessoa arreda as divisas de imóvel, tomando parte do imóvel do possuidor
anterior. Da mesma forma, cabe a reintegração conta aquele que não restitui a coisa ao possuidor
indireto, quando sua posse é injusta por precariedade.
O possuidor que foi esbulhado deve demonstrar a atualidade da sua posse ao tempo do esbulho.
b. Manutenção de Posse
Mantem na posse aquele que está sendo perturbado ou severamente incomodado no exercício da
posse, sem que tal agressão seja intensa o suficiente para excluí-lo do poder físico sobre o bem.
Pretende interromper os atos de turbação, impondo ao causador da moléstia que se abstenha de
fazê-los. Deve provar a posse atual.
Deve a lesão ser atual, concreta e efetiva, criando incômodos e dificuldades ao exercício da posse
e tolhendo a atividade do possuidor. Exemplo: em duas propriedades rurais que extremam, o
possuidor de um terreno retira a cerca que os separa, deixando com que seus animais pastem por
período determinado no local reservado ao outro; posteriormente, ingressa no terreno deste e corta
árvores; depois realiza obra que dificulta o acesso ao local.
Inicio do prazo para ajuizamento da ação quando são vários atos: se os atos forem de natureza
homogênea (cortar árvores por vários dias seguidos), conta-se a partir do primeiro dos atos; se os
atos forem heterogêneos, conta-se a partir de cada um dos atos; se forem atos que necessitaram
de preparação, será contado a partir da efetivação da turbação.
c. Interdito Proibitório
É a defesa preventiva da posse, diante da ameaça de iminentes atos de turbação ou esbulho,
objetivando impedir a consumação do ato de violência temido, de acordo com o art. 567 do CPC.
Pleiteia-se liminar que obrigue o réu de concretizar a agressão, mediante preceito proibitório, com
a cominação de pena pecuniária, as astreintes (cujo valor é dado dia a dia, com limitação a um
quantum máximo).
Deve provar a posse atual, pleiteando a cessação de uma ameaça que é temida, mas que ainda não
tenha sido efetivada.

4. Ações Possessórias Atípicas: são mecanismos que não foram pensados exclusivamente
para tutelar a posse, mas o fazem, incidentalmente.
a. Reivindicatória: a causa de pedir é a propriedade, mas pode ter como objeto a
tutela da posse. Deverá ser apresentado o registro imobiliário registrado no
cartório de registro de imóveis. Desvantagem: processada pelo procedimento
comum, fazendo com que a satisfação do direito possa ser mais lenta, ainda que
seja possível a antecipação da tutela jurisdicional, de acordo com o art. 300 do
CPC. Assemelha-se à reintegração de posse, mas a causa de pedir é diferente.
b. Imissão na posse: ação pela qual o novo proprietário quer ter a posse, contudo
jamais a teve, buscando por essa ação ter posse pela primeira vez.
c. Nunciação de obra nova: ação pautada no direito de vizinhança, nos casos de
construção, concluída ou não, que tem potencial ou já tenha causado dano.
Objetiva resguardar a incolumidade pública ou dos imóveis de vizinhos. Não
necessariamente haverá a desconstrução da obra, mas a sua regularização.
d. Ação demolitória: ação que visa a desconstrução de obra ainda não concluída,
porquanto afeta o imóvel do autor da demanda.
e. Ação de dano infecto: obra já concluída, em péssimo estado de conservação. A
ação visa a desconstrução da obra.
f. Embargos de terceiro: é a ação que tem o terceiro, que não é parte da relação
processual, mas sofre com seus efeitos. É regulado pelo artigo 674, CPC/15.
Perda da Posse
A posse é perdida quando se deixa de exercer de fato o domínio.
Segundo o art. 1.223 do CC, a perda da posse exercida sobre alguma coisa irá ocorrer quanto o
possuidor deixar de exercer o poder fático-dominial sobre a coisa, ainda que contra a sua
vontade.
Por seu turno, o art. 1.224 estabelece que se considera perdida a posse para quem não presenciou
o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.
Assim, são as formas de perda da posse:
1. Abandono: é a renúncia à posse de alguma coisa em razão da
manifestação, da intenção de deixar ou largar aquilo que lhe pertence.
Torna-se res derelicta (coisa abandonada).
2. Tradição: é o ato de entregar coisa móvel. A partir da entrega, perde-se a
posse.
3. Perda da posse: dá-se por acontecimento involuntário, contra vontade do
possuidor. Aquele que encontra a coisa tem o dever legal de devolvê-la ou
entregar à autoridade competente.
4. Destruição da coisa: é o perecimento total do objeto. Em a coisa deixando
de existir, impossível se faz o exercício de poderes fático-dominiais sobre
ela.
5. Pela posse de outrem: dá-se por meio do esbulho.
6. Pela apreensão ou sequestro da coisa: dá-se por determinação policial ou
judicial que retira a coisa da posse de alguém.

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