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Sumário

EDITORIAL 4
ESPAÇO INOVAÇÃO A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM 5
REVISTA PEDAGÓGICA Viviane Souza Ávila
Publicação da ASSERS DISCUTINDO AS DIFERENTES CORRENTES
Associação dos Supervisores EPISTEMOLÓGICAS DO CONHECIMENTO 7
de Educação do Estado do Mari Regina Cabreira Rocha
Rio Grande do Sul O ESPORTE E O LAZER COMO INSTRUMENTO DE
Nº 9 / junho / 2012 INCLUSÃO SOCIAL DE PESSOAS PORTADORES DE
ISSN 1807-0647 DEFICIÊNCIAS 10
Direção Geral: Estela R. Mello Ortolan
Yolanda Pereira Morel EDUCAÇÃO COM POESIA 14
Inez Ramos Crespo
Diretoras Executivas:
Lúcia Elena Müller Ebling
MEDO E OUSADIA: O COTIDIANO DO PROFESSOR 15
Maria José Machado de Lima Lúcia Elena Müller Ebling e Maria José Camargo Gomes
RESILIÊNCIA: A RESPONSABILIDADE DA EQUIPE
Conselho Editorial: EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO 17
Vanderlete Neves da Silva Marlos Tadeu Bezerra de Mello
Valdemira de Freitas Carpenedo
Leci Teresinha da Costa PROJETO: NOSSO CORPO 20
Cristiane Ferreira Abaide, Taís Mello dos Santos e Valquíria Colcet
Colaboradores: DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA 23
Viviane Souza Ávila Nara Rosane dos Santos
Mari Regina Cabreira Rocha
Estela R. Mello Ortolan INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES
Inez Ramos Crespo EDUCATIVAS ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Lúcia Elena Müller Ebling - UMA VISÃO DE GESTÃO 24
Maria José Camargo Gomes Rejane Jardim Fraga
Marlos Tadeu Bezerra de Mello
Cristiane Ferreira Abaide
HISTÓRIAS INESQUECÍVEIS 30
Taís Mello dos Santos RETRATANDO POETAS 31
Valquíria Colcet Yolanda Pereira Morel
Nara Rosane dos Santos
Rejane Jardim Fraga
CATALOGAÇÃO NAFONTE
Revisão:
Lúcia Elena Müller Ebling
E77 Espaço Inovação: Revista Pedagógica [recurso eletrônico] / Associação
Luciana Santos Machado
Maria José Machado de Lima dos Supervisores de Educação do Estado do Rio Grande do Sul.
Yolanda Pereira Morel Ano 1, n. 1 (ago.2004) - Ano5, n.9 (jun.2012). Porto Alegre :
ASSERS, 2012- . v. : il.
Projeto Gráfico e Editoração:
marcon.brasil Comunicação Direta Último fascículo publicado: ano 4, n.8 (dez.2007).
(51) 3221.7878 Os demais fascículos foram publicados em forma impressa.
ISSN : 1807-0647
Endereço para correspondência:
Av. Borges de Medeiros, 308 sala 106 – 10º andar 1. Educação - Periódicos. I. Associação dos Supervisores de
CEP 90020020 – Bairro Centro – POA – RS Educação do Estado do Rio Grande do Sul.
Fones/fax (51) 3228.3498 – 3286.7634
CDD 370
Endereço eletrônico:
www.assers.org.br Bibliotecária Responsável
assers@assers.org.br Ginamara Lima Jacques Pinto - CRB 10/1204
Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 3
Editorial
Ao pensar num editorial para consequentemente, elevando o nível
o 9º número da Revista Espaço dos serviços prestados.
Inovação, e o 1º número desta gestão, Sabemos que desde o começo
a maior preocupação foi a de da humanidade o homem procura
combinar a informação a uma leitura facilitar sua vida. E tal processo é
prazerosa, capaz de fazer com que a chamado de tecnologia e, este, ganha
mesma seja útil e interessante, não cada vez mais espaço na sociedade
somente aos associados, mas e na vida das pessoas.
também, a todos que buscam Temos consciência que somos
atualização e conhecimento na área inacabados, que nossa existência nos
educacional, nas asas da Internet. posiciona sempre às mudanças.
A revolução bate à nossa porta. Cabe, a nós, a tarefa de sermos
Computador e Internet deixaram de criativos e utilizarmos tecnologias que
serem artigos de luxo e passaram a melhor atendam as necessidades não
fazer parte do dia a dia da sociedade só de nossos associados, mas do expectativa da diretoria desta
mundial facilitando a comunicação público em geral, não se restringindo associação é que esta revista
e encurtando as distâncias entre o eu em apenas um tipo e, sim, utilizar contribua para o melhoramento da
e o outro, entre o eu e a informação, diversificadas tecnologias a fim de ação educativa e que nos cheguem
entre o eu e o conhecimento. Neste que o processo de informação e sugestões de qualificação dos
cenário a associação está lançando atualização dos profissionais da serviços prestados pela instituição.
mão dos benefícios da tecnologia educação de um modo geral aconteça
para chegar mais longe em menos de forma rápida e significativa. Em Uma boa leitura à tod@s.
tempo, ultrapassando os limites fim, a tecnologia quando bem Zezé
territoriais e divulgando seu utilizada, traz benefícios para todos.
pensamento para o mundo e, Dentro deste pensamento, a

Fazendo História
A Revista Espaço Inovação é uma publicação da ASSERS, que chega ao mercado para socializar temas relacionados à educação.
Portanto contamos com suas ideias, seus trabalhos e suas experiências para compartilhar com outros educadores, da história que juntos
estamos construindo. Para organização das colaborações, é necessário observar:

- A Revista recebe artigos, trabalhos científicos, relatos de resolução 250 DPIs. O trabalho deve iniciar com o título, o nome do
pesquisas relativas à área educacional de relevância para o contexto autor, resumo em português (resumo em inglês ou espanhol ao final),
atual; citações com autoria especificada (inclusive página e ano) e
- Os materiais enviados serão analisados de acordo com a referências bibliográficas após o texto, de acordo com as normas da
demanda dos temas centrais da Revista; ABNT, encerrando com os dados do autor. Junto ao trabalho, também
- Após análise do material recebido e aceito para publicação, o/a poderão ser enviados frases, ideias ou parágrafos que desejam que
colaborador/a deve assinar a autorização dos direitos autorais em estejam em destaque na Revista;
nome da ASSERS, responsabilizando-se pelo trabalho publicado; - A Revista não se responsabiliza por opiniões expressas nos
- Os trabalhos deverão ser enviados por e-mail, em editor de texto artigos assinados.
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Importante: solicitamos que todos/as autores/as revisem, cuidadosamente, as normas da ABNT para construção de artigos!

4 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM
Viviane Souza Ávila*
RESUMO
Este trabalho apresenta como principal foco de estudo a motivação e a criatividade do professor e do aluno, pois as
mesmas são fatores importantes para que seja realizado um bom trabalho. Especialmente o professor estando
motivado fará aulas criativas que desperte o interesse do educando. Com este estudo, se vê a importância de ambas
andarem juntas, pois quando há o interesse de uma pessoa em ter mais conhecimento, ela não encontra barreiras,
procura saciar a necessidade e chegar ao objetivo desejado: a aprendizagem.
Palavras-chave: Motivação. Criatividade. Aprendizagem

A educação, processo Quantas escolas possuem


de desenvolvimento essencial atividades destinadas a
ao ser humano, não é estática provocar e exercitar a
porque acompanha a criatividade em seus alunos?
evolução e, portanto, é Muitas escolas renomadas são
dinâmica e se adapta a cada consideradas de primeira linha
novo tempo que chega. Dentro apenas porque seus alunos
dessa evolução surgem novos apresentam um grau de
desafios para quem deseja informações acima da média,
construir métodos e estratégias entretanto, isso ocorre porque
educacionais de forma os alunos são massacrados
refinada, levando em conta a com volumes de informações
evolução pela qual trafegam que devem ser absorvidas,
mestres e alunos sem deixar decoradas, sem a chance de
de esquecer um aspecto questionar o porquê das
fundamental à educação: a coisas, muitas vezes sem
motivação. Não se pode análise crítica e sem reflexão.
esquecer que os mais poderosos e autênticos levar em conta vários aspectos norteadores Apenas o acúmulo de informações revela
"recursos" da aprendizagem continuam do processo de ensino aprendizagem como, uma triste realidade: a escola só serve para
sendo o professor e o aluno que, conjunta e por exemplo: considerar a situação dos alunos obter notas e não traz nada mais relevante
dialeticamente, poderão descobrir novos (seu ambiente comum, seus horários de para vida, o que é evidenciado por Wechsler
caminhos para a aquisição do saber. estudo, idade, responsabilidades familiares, (2002, p.189), quando afirma que "[...] é,
A experiência tem demonstrado que etc.), observar sua bagagem de portanto, função da escola fazer os estudantes
a busca pela informação deve ser sempre de conhecimento, nunca desconsiderar o decorarem certos ensinamentos por uma
despertar interesse desde muito cedo na conhecimento prévio do aluno, etc. motivação externa, ou seja, notas altas? Ou
criança, para que desenvolva no aluno um Sobre motivação, Weshsler cita seria função da escola despertar a motivação
senso de pesquisa em relação aos dados já Cunha (1979) e Magalhães (1972) para para aprender, a motivação para saber ou a
adquiridos como um esforço desprendido, explicar que: motivação interna"?
sem perder de vista a qualidade de ensino e a A motivação para aprender é um Usando a criatividade em sala de aula
adequação do conteúdo à realidade em elemento essencial para a produção criativa. o professor desperta maior interesse nos
permanente evolução. Este efeito pode ser conseguido através de educandos pela aprendizagem. - Você é
O educador, enquanto mediador do exercícios de criatividade que estimulem não capaz! - Vamos tentar? Com esta afirmação
saber precisa buscar novas alternativas, como só as características cognitivas relacionadas e indagação acompanhada de apoio o
realização de atividades lúdicas, incluindo com a criatividade, mas a atitude que permite educador estará constantemente apostando
sempre atrativos capazes de motivar o o aparecimento de tais características em seus educandos.
educando. Conforme ideia de Tapia e Fita (WESHSLER, 2000, p.216). Quando um aluno perguntar, não e a
(1999, p.75/76): "É evidente que no momento Quanto mais cedo na vida das mesma coisa dar - lhe imediatamente a
de programar as metas, definir os objetivos, crianças houver estímulos com exercícios solução de seus problemas, dizer - lhe
será imprescindível ter presente qual é a criativos, mais capacidade criativa terá. O simplesmente que se esforce ou, uma vez
motivação dos alunos e como podemos problema inicial é que a educação não dá analisada sua dificuldade, dar - lhe pistas que
melhorá-la". Não se pode esquecer-se de toda atenção que a criatividade merece. o ajudem a supera - lá, como por exemplo:

Professora na Rede Municipal de Ensino, nos municípios de Piratini e Pinheiro Machado, com Pós-Graduação em Educação Básica e
Prática Docente pela URCAMP, extensão Piratini/RS, em agosto de 2006. E-mail: vivisouzaavila@hotmail.com

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 5


"Você se lembra dos passos que assimilamos propondo para os educandos situações que juntos e são fundamentais a todos os
na aula? Repasse um por um, que talvez o façam com que eles busquem respostas para educadores que primam pela realização de
ajude" (TAPIA e FITA, 2001, p.52). Então, é suas dúvidas construindo seu conhecimento uma boa aula. Acima de tudo o professor deve
importante que o professor questione seu de forma criativa e motivadora. O professor fazer o que gosta, assim estará motivado e
aluno, não dê as respostas prontas, isso não prepara aula para ele, e sim para seus preparará aulas criativas que interessem o
enriquece seu "eu", assim, estarão motivados alunos, ao contrário da realidade que prepara aluno de acordo com sua realidade, fazendo
internamente para seguir em frente. aulas de acordo com seu interesse. com que os mesmos se mobilizem a buscar
Segundo Moustakas (1967, p.38): Como pode ser observado, o professor respostas para suas inquietações, chegando
A educação e a socialização devem não apenas de diferentes culturas preferem mais os assim à aprendizagem. Sabe-se que a
ajudar o indivíduo a se tornar mais informado, estudantes obedientes, conformistas e motivação vem do "eu", e depende do
mais seguro, mais efetivo socialmente, mas sociáveis do que aqueles que são professor estimular e provocar o aluno a se
devem também habituá-lo a desenvolver o seu questionadores, independentes e intuitivos, ou interessar pelo assunto estudado,
self - individual, atualizar os seus talentos seja, comportamentos que caracterizam o enriquecendo seus conhecimentos e criando
particulares e a viver de uma forma autêntica e indivíduo criativo não são valorizados na sala novas ideias, melhorando assim sua vida em
crítica. de aula, mas sim, são indesejados ou punidos. sociedade, tornando-se cidadão crítico,
Para desenvolver a criatividade em É mais fácil lidar com estudantes que não podendo dar sua parcela de contribuição para
seus alunos, o professor deve ser criativo, questiona do que com aquele que quer melhorar o mundo.
mas para isto, ele deve estar motivado, assim sempre ir além. Dessa maneira, podemos ver
destaco a importância de valorizar o ofício que o comportamento criativo - ou a atitude REFERÊNCIAS
de professor. O governo, as escolas e os criativa - é pouco tolerado na sala de aula de ALENCAR, E.M.L. Psicologia da
próprios professores devem considerar isso diferentes países (WECHSLER, 2002, p.193/ Criatividade. São Paulo: Artes Médicas,
o objetivo primordial. Caso contrário, 194). 1986.
encontraremos professores cada vez mais Com este estudo evidência - se que CUNHA, R. M. M (1979). Programa de
desmotivados que não serão os grandes têm que ter amor por duas coisas treinamento experimental para o
desenvolvimento das habilidades
psicologicamente capazes sequer de abordar importantes em comum: pelo ensino e por criadoras. Tese de mestrado Pontifícia
o problema da motivação de seus alunos. aqueles a quem ensinam. O aprendizado é Universidade Católica do Rio de Janeiro.
(TAPIA & FITA, 2001, p.90) In WESHSLER, S. M. Criatividade:
parte de o seu próprio ser, então o verdadeiro Descobrindo e Encorajando. São Paulo:
Acredita - se que o educador que adota docente tem, como palavra chave do ensino, Livro Pleno, 2002.
em sua metodologia um instrumento crítico o poder de ascender e despertar o amor. HAIDT, R. C. C. Curso de Didática Geral.
para desenvolver os seus conteúdos estará Somente quando o amor pela aprendizagem São Paulo: Ática, 2003.
criando, automaticamente, um agente arder em seu coração, ele poderá ascender MAGALHÃES, R. H. O desenvol-
motivador que fará com que a aprendizagem esse amor nos corações dos outros. Este é o vimento do pensamento criativo
através do treinamento pedagógico.
seja conduzida e encantada como uma meta verdadeiro educador. Tese de mestrado, Pontifícia Universidade
a ser conquistada na busca de um prêmio, o Para concluir, Haidt (2003, p.79) Católica do Rio de Janeiro. In
aprendizado. afirma que: "[...] um professor que gosta do MOUSTAKAS, C. Creativty and
Conforme observações de Tapia e que faz e demonstra seu entusiasmo e conformity. N. York: D. Van Nortrand,
Fita (2001, p.90): 1967. IN: ALENCAR, E. M. L. S. de.
interesse pelo que ensina, tende a ter mais Psicologia da Criatividade. São Paulo:
Os processos de ensino - aprendizagem são facilidade para incentivar seus alunos a Artes Médicas, 1986.
satisfatórios quando se estabelece uma conexão, aprender aquele conteúdo e a se interessar TAPIA, Jesús Alonso& FITA, Enrique
uma sintonia entre o professor e os alunos, uma por ele". Destaco então que só se aprende a Caturla. A Motivação em Sala de Aula:
cumplicidade. Isso só determinado professores fazer fazendo, mas sem ter um motivo o o que é, como se faz. São Paulo: Loyola,
1999.
- artistas são capazes de fazer. Como nos meios indivíduo não entra em atividade, ou melhor,
de comunicação audiovisual, alguns WESHSLER, S. M. Criatividade:
não se aprende se não estiver motivado. Descobrindo e Encorajando. São Paulo:
profissionais comunicam mais que outros. Então, percebe-se que a motivação e Livro Pleno, 2002.
O docente deve planejar as aulas a criatividade são dois aspectos que andam

ABSTRACT
This work presents as main focus of study the motivation and the creativity of both teacher and student since they are
considered to be very important factors in order to do a good job. The teacher being motivated will certainly give creative
lessons that will arouse the interest of the student. This study shows the importance of both (motivation and creativity)
coming along because when a person is interested in something finds no barriers but instead tries to fulfill the need
and get straight to the aim: the learning.
Words-keys: Motivation. Creativity. Learning.

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DISCUTINDO AS DIFERENTES
CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS DO
CONHECIMENTO
Mari Regina Cabreira Rocha*

RESUMO
Na conjuntura atual, estima-se que a sociedade pós-moderna tenha a
convicção que o conhecimento se dá nas interações sociais através de
experiências, informações, vivências que os indivíduos estabelecem com o
meio. O conhecimento neste cenário não é linear, não há certezas e
verdades absolutas, ele é provisório e imprescindível, o que hoje se tem
como verdade amanhã pode não ser, isto se dá pelos avanços cientifico-
tecnológicos à medida que a sociedade se torna mais complexa. Em
diferentes contextos o conceito de conhecimento é defendido por diferentes
correntes epistemológicas como o racionalismo, empirismo e o
construtivismo. Cabe salientar, que o intuito do presente artigo é discutir
Descartes
sobre as divergentes visões de conhecimento estabelecendo conexões
com a atual realidade.
Palavras-chaves: Conhecimento. Sujeito. Objeto. Aprendizagem.

Se recorrermos ao dicionário Luft relação que se estabelece entre o sujeito que


(2003) quanto ao conceito de conhecimento conhece e o objeto a ser conhecido".
encontraremos: "1. Ação ou efeito de O conhecimento não significa apenas
conhecer. 2. Ciência; informação; notícia.3. conhecer, parafraseando Aranha ninguém
Experiência; vivência". É a maneira conhece de uma forma virgem, ou seja, o
simplificada de compreendermos a questão conhecimento pode ser um produto
do conhecimento, de forma que todas as acumulado de várias gerações. A cultura é
pessoas tenham acesso, mas o referido um exemplo explícito do conhecimento como
conceito não expressa o cerne do que produto, na medida em que o homem
denominamos conhecimento, as múltiplas conhece, ele pode transformar a realidade
relações que o compõe. O conhecimento não na qual está inserido
se dá somente com base em informações, O homem precisa de crenças e
mas por meio das experiências vivenciadas opiniões prontas (nas formas de mito ou senso
com o mundo físico e social. comum), a fim de apaziguar a aflição diante Locke
Outro conceito mais aprimorado, do caos e adquirir segurança para agir...
dentro de uma visão pedagógica sobre o criticando as verdades sedimentadas, abrindo
assunto é o que Celso Antunes (2001) aborda fissuras e fendas no "já conhecido", de modo
em seu livro Glossário para Educadores: a alcançar novas interpretações da realidade
"conhecimento é o ato pelo qual alguém (ARANHA, 2002. p.21)
assimila um novo conceito. É um ato O homem precisa partir do senso
intelectual que pode conduzir o individuo a comum, após buscar todas as possibilidades
novas formas de agir sobre o ambiente externo de conhecer e ter novas interpretações da
ou mesmo sobre o próprio pensamento [...]". realidade. O conhecimento deve estar em
O conhecimento é o entendimento da constante reflexão e acompanhando a
realidade, através da interação que o indivíduo realidade.
estabelece com o meio, esta interação que Se revisitarmos a história veremos
possibilita o sujeito agir sobre sua realidade que o conhecimento começa a ser entendido
como expressa Aranha (2002) "o -através da filosofia- pela necessidade do
conhecimento é o pensamento que resulta da homem em explicar sua realidade. Na Grécia

* Mari Regina Cabreira Rocha, pedagoga pela UCPEL, professora de séries iniciais da
rede municipal de Piratini e pós - graduanda em Psicopedagogia Institucional pela
URCAMP.
Piaget

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N 9, junho, 2 0 12


o
7
Antiga, Sócrates (429 -399 a.C.) através de Moderna, a principal característica do obras de Descartes escolhendo outro
seu método (fazer perguntas a quem se pensamento moderno é o método, desta forma caminho, o da Psicologia, distinguindo duas
julgava ter um bom entendimento sobre se procura evitar o erro (na ciência medieval). fontes de nossas ideias: a sensação e a
determinado assunto) possibilitava a O racionalismo prioriza o sujeito, não o objeto reflexão
reconstrução de saberes reformulando no processo do conhecimento. A sensação é o resultado da
conceitos, pois, "[...] a sabedoria começa pelo O pensamento racionalista restringe modificação feita na mente através dos
reconhecimento da própria ignorância. "Só o homem à esfera da própria razão. sentidos. A reflexão é a percepção que a alma
sei que nada sei" é, para Sócrates, o princípio O conhecimento verdadeiro só é tem daquilo que nela ocorre. Portanto, a
da sabedoria, atitude que se assume a tarefa possível na intuição intelectual que se dá no reflexão se reduz apenas à experiência interna
da verdadeiramente filosófica de superar o ato de reflexão, ou seja, no momento em que do resultado da experiência produzida pela
enganoso saber baseado nas ideias o sujeito pensante apreende seu próprio ato sensação (ARANHA, 2002, p.107).
preconcebidas" (ARANHA, 1996. p.44). de pensar. É nesse momento que se tem a A citação apresentada, deixa explícito
Platão discípulo de Sócrates via o evidência racional, único critério capaz de o modo de como o empirismo trata a questão
conhecimento além de seu tempo. Em sua garantir a certeza do conhecimento do processo de conhecimento através dos
obra O Mito da Caverna esclarece melhor (SEVERINO, 1993, p.62) sentidos (método de experimentação). Locke
sua teoria. Analisando este mito em uma visão O principal pensador do racionalismo criticava o inatismo de Descartes, para ele a
epistemológica Platão faz uma analogia do é René Descartes (1596-1650), considerado fonte principal do conhecimento era a
homem acorrentado ao homem comum. O o "pai da filosofia moderna" seus textos percepção.
homem acorrentado é aquele preso aos evidenciam a preocupação com o Locke criticava as ideias inatas de
sentidos, que tem uma ideia imperfeita da conhecimento. Diz Aranha (2002): "o ponto Descartes, afirmando que a alma é como uma
realidade. Já o homem que se liberta de seus de partida é à busca de uma verdade primeira tábula rasa (uma tábula que não há
grilhões (relacionado com mito) é aquele que que não possa ser posta em duvida. Por isso, inscrições), como uma cera onde não
pensa sobre sua condição no mundo, ou seja, converte a dúvida em método". O ponto houvesse qualquer impressão, o
é o filósofo que atinge o verdadeiro fundamental do pensamento de Descartes é conhecimento só começa após a experiência
conhecimento transpondo de uma opinião a frase: "Cogito, ergo sum", "Penso, logo sensível (ARANHA, 2002.p.107).
para a ciência. existo" sendo a principal evidência da
Na Idade Média o pensamento valorização do sujeito. 1.3 CONSTRUTIVISMO
centra-se em Deus, a partir do Renascimento Jean Piaget (1896-1980), foi quem
o homem começa a se opor ao dogmatismo 1.2 EMPIRISMO formulou a teoria da Epistemologia Genética.
religioso "as verdades incontestáveis", Ao contrário do racionalismo, o A epistemologia genética se diferencia de
começa a por em dúvida a figura da Igreja. empirismo tem em seu polo a valorização do outras epistemologias (empirismo e
Neste processo o homem transpõe o objeto. O empirismo nega as ideias racionalismo) devidas, ao fato, que Piaget
teocentrismo para o antropocentrismo espontâneas ou pensamentos a priori , seu estudou como nasce à inteligência, a origem
(centrado no homem) e resgata o ser humano fundamento é todo embasado na experiência do conhecimento (gênese). Piaget ao estudar
em todos os aspectos. O principal objetivo é através dos sentidos, no processo de o processo de conhecimento, não partiu de
compreender o sujeito do conhecimento. Na conhecimento como ressalta Severino estudos com adultos, mas foi investigar na
busca de compreender o problema do (1993):"o único conhecimento possível e criança como se dá o desenvolvimento
conhecimento, surgem diferentes correntes válido é aquele que se tem por intermédio de cognitivo.
epistemológicas que explicam a questão do ideias formadas a partir das impressões Piaget derruba a ideia de um universo
conhecimento sobre diferentes visões como: sensíveis". Nesta concepção epistemológica de conhecimento dado, seja na bagagem
racionalismo, empirismo e construtivismo. o sujeito ao invés de ser ativo, pensante, hereditária (apriorismo), seja no meio
Epistemologia significa, evidenciado no racionalismo, ele torna-se (empirismo) físico ou social. Criou a ideia de
etimologicamente, estudo da verdade passivo, recebendo do objeto todo o conteúdo conhecimento-construção, expressando,
("ephisteme" = verdade; logos = a ser conhecido. Os principais pensadores do nesta área específica, o movimento do
conhecimento; ia = arte de). Hoje se concebe empirismo foram John Locke, Francis pensamento humano em cada indivíduo em
a Epistemologia como uma área do Bacon. particular, e apontou como se daria na
conhecimento humano que estuda os critérios Francis Bacon (1561-1626) realça o humanidade como um todo. (BECKER, 2001,
de verdades das ciências. (FRANCO,1995, papel que a ciência poderia desempenhar p.71).
p.17). A epistemologia é a sustentação do para humanidade. Seu lema "saber é poder", O construtivismo é a corrente
conhecimento que vai desencadear todo o nos mostra um saber instrumental de epistemológica, que explica o conhecimento
processo ou ação, seja no campo social ou dominação da natureza. Ele também de forma diferente das outras duas visões
natural da vida humana. desenvolve estudos e realça a necessidade epistemológicas apresentadas. O
da experiência, com métodos precisos. John construtivismo não dá ênfase ao sujeito, nem
1.1 RACIONALISMO Locke (1632-1704) desenvolve sua reflexão ao objeto, mas mostra que o conhecimento
O racionalismo surge na Idade sobre o conhecimento a partir da leitura das se constrói na interação do sujeito com o
8 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12
objeto. O centro desta interação é o próprio dado, em nenhuma instância, como algo sim abertas ao novo, a romper com o
conhecimento. O conhecimento a partir de terminado- é sempre um leque de ultrapassado.
uma visão construtivista é fruto da relação possibilidades que podem ou não ser O papel do professor neste patamar,
entre o sujeito que conhece e o objeto a ser realizadas. É constituído pela interação do é ser o mediador da construção do
conhecido. Assim é o conhecimento. Ele só individuo com o meio social e físico, com o conhecimento, ser ensinante e aprendente na
acontece na medida em que "o sujeito age simbolismo humano, com o mundo das relação que se estabelecem com os alunos,
sobre o objeto de conhecimento (que pode relações sociais; e se constitui por força de como expressa Freire (1996): "ensinar não é
ser uma coisa , uma ideia ou uma pessoa) e sua ação e não por qualquer dotação prévia, transferir conhecimento , mas criar as
sofre uma ação deste objeto, ação esta que na bagagem hereditária ou no meio possibilidades para a sua própria produção
pode ser na forma de uma resistência do objeto (BECKER,2001, p.72). ou a sua construção", ensinar e além de
à ação do sujeito" (FRANCO,1995.p.28). Cabe salientar, que na atualidade se passar uma teoria mas expô-la na prática,
O construtivismo revela que a discute sobre as diferentes correntes pois só aprendemos quando vivenciamos algo.
realidade não é estática, algo imutável e que epistemológicas de conhecimento, mas o que
não há verdades absolutas. Ele representa o de fato se deve fazer para chegar ao REFERÊNCIAS
avanço da ciência e da filosofia destes últimos conhecimento? Qual o papel da escola e ANTUNES, Celso. Glossário para
séculos, e coloca o sujeito capaz de fazer consequentemente do professor para educadores (as).2 ed. Petrópolis: Vozes,
parte da história e de construir sua própria encaminhar os discentes na construção do 2001.
história. O construtivismo, assim como o conhecimento? Considerando a conjuntura ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História
empirismo e o racionalismo, é pensado em atual estima-se que a sociedade à medida da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna,
1996.
uma visão filosófica. Segundo Franco (1995): que evolui se torna mais complexa e neste
ARANHA, Maria Lúcia & MARTINS, Maria
"a visão filosófica que embasa o contexto de diferentes teorias Helena. Filosofando: introdução à filosofia.
construtivismo é a dialética", movimento epistemológicas, se acredita que para um São Paulo: Moderna, 2002.
simultâneo entre os dois polos (sujeito e objeto) novo paradigma a escola deve repensar seu BECKER, Fernando (coord.).
construindo uma nova realidade. modo de organização, seja nos conteúdos, Aprendizagem & conhecimento escolar.
Pelotas: EDUCAT, 2002.
Só posso entender que o na metodologia, na avaliação proposta, pois
conhecimento se constrói e provoca o próprio a maneira de organização do currículo escolar BECKER, Fernando. Educação e
construção do conhecimento. Porto
desenvolvimento a partir da interação do não contempla a realidade na qual estamos alegre: Artmed, 2001.
sujeito com seu meio (físico e social) se penso inseridos. Se pensarmos como a escola
FRANCO, Sérgio Roberto K. O
dialeticamente. A própria ideia de interação concebe a construção de conhecimento, logo construtivismo e a educação. 4 ed. Porto
é essencialmente dialética. (FRANCO,1995, nos vem ao pensamento a velha cômoda com Alegre: Mediação, 1995.
p.27). O conhecimento não é dado pronto, várias gavetas (sendo uma gaveta para cada FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia:
como algo acabado, bastando o indivíduo disciplina). Baseado em estudos sobre saberes necessários a pratica
docente.26 ed. São Paulo: paz e
assimilar as informações, o conhecimento vai conhecimento , concluímos que o Terra,1996.
além, ele deve ser vivenciado no cotidiano, construtivismo é a visão de conhecimento que LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da
exigindo uma apropriação da realidade após consegue explicar a construção do Educação. São Paulo: Cortez, 1994.
uma interiorização. conhecimento a contento. Notamos que a LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20
Construtivismo significa: a ideia de teoria e a prática não estão caminhando juntas, ed. São Paulo: Ática, 2000.
que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de pois se de fato estivessem, não estaríamos SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia.
que, especificamente, o conhecimento não é com praticas pedagógicas ultrapassadas, e São Paulo: Cortez, 1993.

ABSTRACT
In the current conjuncture, they is esteem that the after-modern society has the certainty that the knowledge if of the one
in the social interactions through experiences, information, experiences that the individuals establish with the way. The
knowledge in this scene is not linear, does not have absolute certezas and truths, it is provisory and essential, what
today it is had as truth tomorrow can not be, this if of the one for the technological advances scientific to the measure
that the society if becomes complex more. In different contexts the knowledge concept is defended by different
epistemológicas chains as the rationalism, empirismo and the construtivismo. It fits to point out, that the intention of the
present article is to argue on the divergent visões of knowledge being established connections with the current reality.
Word-keys: Knowledge. Citizen. Object. Learning.

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O ESPORTE E O LAZER COMO INSTRUMENTO DE
INCLUSÃO SOCIAL DE PESSOAS PORTADORES DE
DEFICIÊNCIAS
Estela R. Mello Ortolan*

RESUMO
Nos dias de hoje não se discute a importância do esporte e do lazer no contexto global da educação de pessoas
sejam elas deficientes ou não. A busca da qualidade de vida, de saúde e momentos de prazer estão cada vez mais
presentes no cotidiano das pessoas. Proporcionar atividades para facilitar a vida de pessoas portadoras de
deficiências através de atividades físicas, recreativas, danças e momentos de descontração, com certeza é um
caminho para a inclusão social de PPD's (Pessoas portadoras de deficiências). O esporte e o lazer não se restringem
apenas em aspectos motores, cognitivos e fisiológicos, mas sim, aos aspectos afetivos, que envolvam o ser humano
em suas relações interpessoais e ambientais, promovendo as relações de cooperação, solidariedade, integração,
inclusão, amizade, autonomia e criatividade. A questão da inclusão social das pessoas portadoras de deficiências no
esporte e no lazer, tem sido um dos temas mais urgentes da nossa educação atual. Portanto é necessário
abordarmos este tema tão significativo para a nossa sociedade.
Palavras-chaves: Esporte. Lazer. Inclusão social. Pessoas portadoras de deficiências.

é de corpos que estão fora dos "padrões da


INTRODUÇÃO esporte e do lazer, é não perceber a limitação
normalidade" (física, fisiológica,
Atualmente vivemos em uma nem a desvantagem, e sim suas capacidades,
comportamental e social), e que necessitam
sociedade rotuladora e preconceituosa, onde possibilidades e potencialidades, ou seja, a
de superação e compreensão dos ditos
muitas pessoas com deficiências não sua essência.
"normais" para serem aceitos. Porém, se não
conseguem inserir-se socialmente, pois, não Pessoas com deficiências que são
houver informação e um processo educativo
possuem oportunidades e nem variedades encaminhadas apenas para as atividades de
eficaz, onde as atitudes relacionadas ao
sociais. Ainda hoje temos diversos tipos de habilitação e reabilitação, ligadas
preconceito e à discriminação sejam
lazer e esportes oportunizando assim, várias principalmente ou exclusivamente à sua
dissipadas, fica difícil visualizar o processo
formas de integrar-se em um convívio social deficiência, tornam-se pessoas estressadas
de inclusão. Ele passa Ele passa antes de
bem diversificado, porém os deficientes têm e desgastadas por uma rotina imposta voltada
tudo, por mudanças de atitudes, que não são
limitações, dificuldades, mas mesmo assim, somente para suas limitações.
determinadas por decretos ou leis, mas sim
a cada dia, vão superando os seus próprios Para muitos autores, o esporte é uma
por um processo de conscientização e
limites. E é essa determinação, essa prática social dentro de uma diversidade de
aceitação das diferenças.
superação, que faz eles serem especiais. manifestações, onde pessoas se expressam
Podemos entender que o problema
Vários segmentos sociais lutam pelos através de diferentes movimentos e ações.
central da humanidade nesta era de
seus direitos de inclusão na sociedade. Qualquer pessoa é capaz de
incertezas, é encontrar o "sentido da vida".
Embora não tenham conseguido plenamente, progresso quando colocado em interação
Isso parece totalmente perdido quando
muitos já avançaram, leis têm sido criadas com um ambiente sócio afetivo, livre de
constatamos que em sociedades como a
para a garantia desses direitos, o que já é um tensões e rico em oportunidades que
nossa, cujos traços característicos e
grande passo. Porém, percebemos que nós favoreçam a autoconstrução de sentimentos
oportunidades culturais, raramente
excluímos as pessoas que consideramos e comportamentos sociais. Durante uma
conseguem penetrar em todas as camadas
diferentes. Precisamos portanto, conhecer e brincadeira em um ambiente livre de
sociais.
reconhecer essas pessoas que vivem a nossa cobrança e de desempenho, o ser humano
Para alguns autores, inclusão social -
volta, excluídas por nossa própria ação. tem mais espaço para arriscar sem medo de
é o processo de tornar participantes do
Participar de um processo inclusivo errar e de agir sem medo de perder. Portanto,
ambiente social total (a sociedade humana
é estar disposto a considerar e a respeitar as o esporte e o lazer precisam estar presentes
vista como um todo, incluindo todos os
diferenças individuais, criando a possibilidade no cotidiano dessas pessoas, por ser tão
aspectos e dimensões da vida - o econômico,
de aprender sobre si mesmo e sobre cada um importante quanto qualquer outra terapia no
o cultural, o político, o religioso e todos os
dos outros em uma situação de diversidade processo de inclusão.
demais, além do ambiental) todos aqueles
de ideias, sentimentos e ações. Olhar para as Buscar o mundo inclusivo significa
que se encontram, por razões de qualquer
pessoas que apresentam diferentes enfrentar desafios permanentes. Quando
ordem, excluídos.
peculiaridades e condições para a prática do falamos em inclusão, o que estamos falando
"Conceitua-se a inclusão social como

*Graduada em Psicologia/PUC/RS. Profissional de Educação física adaptada, professora da rede municipal de ensino em Viamão.
Especialista em Psicopedagogia Institucional ESEF-UFRGS.

10 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


o processo pelo qual a sociedade se adapta e que busca o que todo ser humano deseja, ou em 1913, quando um grupo de lesionados da
para poder incluir, em seus sistemas sociais seja, ser feliz e aceito por todos. Primeira Grande Guerra, na Alemanha,
gerais, pessoas com necessidades especiais A inclusão de pessoas com reúne-se para praticar esporte. Em 1918,
e, simultaneamente, estas se preparam para deficiências em nossa sociedade, ainda surge na Inglaterra a Associação de Golfistas
assumir seus papéis na sociedade" precisa ser aceita, pois todos têm direitos aos de um só Braço, que não consegue efetivar a
(SASSAKI, 1997, p. 41). Assim, a pessoa mesmos benefícios que pessoas sem pratica dessa modalidade, em virtude da
com necessidades especiais restauração física de seus
deve encontrar, na sociedade, associados (COMITÊ
caminho propício para o seu OLÍMPICO ESPANHOL, 1994).
desenvolvimento através de sua O surgimento do
educação e qualificação para o esporte, para PPD'S, deve-se
trabalho. Estando ele já inserido quase ao mesmo, nos EUA, com
no processo, a sociedade se Benjamim Lipton e, na Inglaterra,
adapta as suas limitações. Em com Ludwig Guttman. Contudo,
relação a esta questão Sassaki foi preciso que a sociedade
(1997, p. 42) diz: sentisse a necessidade de
A inclusão social, portanto, é um reabilitar os indivíduos
processo que contribui para a traumatizados vertebromedulares
construção de um novo tipo de advindos da grandes Guerras
sociedade através de transformações, Mundiais, para reconhecer o
pequenas e grandes, nos ambiente papel da atividade física no
físicos (espaços interno e externo, equipamentos, deficiências possuem. auxílio à reabilitação e para que o esporte
aparelho e utensílio, mobiliário e meios de Segundo Foucault (1999) mais para deficientes se tornasse uma realidade.
transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, importante que buscar a cultura, a ciência, as Ludwig Guttman introduziu então, as
portanto do próprio portador de necessidades ideias de um tempo ou determinada atividades esportivas como parte essencial
especiais. sociedade, o mais relevante é "buscar o que do tratamento médico para recuperação das
Não existe alguém completamente em uma sociedade é rejeitado e excluído. incapacidades geradas por lesões medulares.
incluído ou completamente excluído (PINTO, Quais as ideias ou os comportamentos ou Depois de estudar exaustivamente o gesto
1999, p. 33-55), o que há são jogos de poder quais são as condutas ou os princípios esportivo, como forma terapêutica e de
em que, dependendo da situação, da jurídicos ou morais que não são aceitos?" (p. integração social, iniciou o que se tornaria o
localização e da representação alguns são 75), sendo para ele o louco e o prisioneiro os desencadeador da prática da atividade física
enquadrados e outros não. principais modelos de exclusão. ao processo de reabilitação em seus pacientes
Conforme muitos relatos, a exclusão Sassaki (1997, p. 34), considera que (VARELA, 1991, p. 32).
de pessoas com deficiências já vem de muito a integração de PPD'S na sociedade inclusiva: O papel do esporte e do lazer hoje,
tempo, desde a Idade Antiga. Na Grécia e [...] tem consistido no esforço de inserir na como fator que leva seus praticantes
em Roma, essas pessoas com deficiência, sociedade pessoas com deficiência que portadores de deficiência à integração social
eram jogadas em rios ou deixadas em alcançaram um nível de competência compatível é destacado desta forma por Rezende:
montanhas, mostrando assim, a dificuldade com os padrões sociais vigentes. (...) desde que Toda criança que demonstra possuir vigor físico
de aceitar socialmente esses indivíduos que ele esteja de alguma forma capacitado a superar e habilidade suficiente para jogar (características
para a sociedade era um símbolo de ameaça as barreiras físicas, programáticas e atitudinais imprescindíveis não só para brincar mas para
à vida humana. nela existentes. aprender a defender-se) costuma ser não só aceita
Segundo o pensamento de Vygotsky A integração social não toma a como solicitada a estar presente nas brincadeiras
(apud RABELO, 1999, p. 20): sociedade como a principal responsável neste [...]
Uma criança portadora de um defeito não é processo, pois é o portador da deficiência que O sentido de espetáculo presente no esporte e na
simplesmente uma criança menos desenvolvida deverá adequar-se à estrutura oferecida, ou sua máxima de superação dos limites do homem
que as demais, apenas se desenvolve de forma seja, deverá moldar-se aos mais diversos vem despertando a atenção da sociedade para
diferente. A criança em sua essência é a mesma, procedimentos e papéis sociais que lhe forem pessoas portadoras de deficiência, permitindo,
precisa do outro para se socializar e crescer como exigidos, para que possa ser aceito. por meio de uma situação informal, que se tome
pessoa e ser humano. Construir seu conhecimento do seu potencial, muitas vezes
conhecimento através de sua interação com os ESPORTE E O LAZER PARA subestimado, para o aprendizado e
demais fará do P.N.E. um ser capaz como os desenvolvimento, desfaça-se a imagem
outros, não da mesma forma, mas com suas
PESSOAS PORTADORAS DE preconceituosa em relação ao portador de
limitações, seus desejos, suas frustrações, seus DEFICIÊNCIAS (PPD'S) deficiência (REZENDE, 1997, p. 306).
sonhos e sua vontade de ser respeitado como O inicio do esporte para pessoas Souza (1994) enfatiza que o esporte
gente que pensa, sofre, ama, sorri, se decepciona portadoras de deficiências (PPD'S), começa e o lazer deve ser considerado como uma

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 11


alternativa lúdica e mais prazerosa, sendo suas capacidades físicas ou mentais. deficiente.
este, parte do processo de reabilitação das Segundo Carmo (1989, p. 83): "O É preciso que haja ainda uma
pessoas portadoras de deficiências. Desta termo "deficiente" atribuído, via de regra, aos mudança na mentalidade da sociedade, que
maneira, o esporte passaria a desempenhar membros de uma sociedade que representam parem de ver esses indivíduos especiais como
uma ou várias funções na sociedade e seria alguma forma de anormalidade ou "coitadinhos" e passem a vê-los como seres
um elemento de reprodução desta realidade diferenciação perante os demais, quer no humanos que são. As pessoas portadoras de
com a ajuda da teoria multidisciplinar das domínio cognitivo quer no afetivo ou motor, deficiências, possuem um grande potencial
emoções que Elias e Dunning se propõe a tem sido objeto de criticas e discussões". que necessita ser despertado e acreditado,
contribuir para uma teoria mais geral do Dentro uma linha de raciocínio, pode- estas precisam conviver em sociedade para
esporte. Incluindo o esporte nas atividades se considerar que as pessoas com deficiências desfrutar dos benefícios que o bem social
de lazer atuais, reconhecem-no como uma têm direito a pratica da educação física e dos proporciona. Só com o amor pode-se ajudar
atividade que proporciona tensões desportos, na medida idêntica ao direito que a um deficiente, criando condições para que
controladas e agradáveis, necessárias para a possuem as pessoas então consideradas ele supere a sua fraqueza e consiga ser
manutenção da saúde mental. "normais". O Esporte e o Lazer para pessoas reintegrado, para tornar-se um indivíduo capaz
Correia (1990, p. 23) nos fala: "A portadoras de deficiência, significa a de ver a si próprio e ser visto pelos outros
defesa da educação dos "anormais" passava oportunidade de testar suas possibilidades, como um ser digno e respeitado. Entende-se
pela questão de economia aos cofres públicos prevenir contra deficiências secundárias e nesse contexto, que a ação inclusiva deve
e dos bolsos dos participantes, evitando, por promover a inclusão total do indivíduo ser integral e integrada, portanto, deve-se
um lado, a construção e manutenção de (consigo mesmo e com a sociedade). considerar os aspectos relacionados aos
manicômios, asilos, e, por outro, a O processo de inclusão vem sendo sentimentos, às emoções, às motivações
incorporação deste ao trabalho". Vários aplicado em cada sistema social. Assim, positivas e negativas, criando condições
fatores sociais acabam por influenciar o existe a inclusão da educação, no lazer, no psicológicas que possam favorecer um
processo de desenvolvimento esporte e quando isso acontece, podemos resultado positivo, pois as pessoas portadoras
psicossociomotor do sujeito que tem algum falar em educação inclusiva, no lazer de deficiências também necessitam
tipo de deficiência, para refletirmos um pouco inclusivo, no esporte inclusivo. Outra forma compartilhar suas alegrias e frustrações, seja
sobre a estigmatização e suas consequências, de referência consiste em dizermos, por nas tentativas de superação de seus limites,
relembramos, com Ribas (1985, p. 135), "que exemplo, educação para todos, lazer para na conquista ou frustração dos resultados
a palavra Deficiente tem significado muito todos, esporte para todos. buscados. As ações interligadas entre várias
forte em oposição à palavra eficiente. Assim, A inclusão sócia, portanto, é um áreas do saber, do sentir e do fazer,
muitas vezes, assumir as limitações pode ter, processo que contribui para a construção de possibilitam uma situação mais próxima do
para muitos, o sentido de incapacidade, de um novo tipo de sociedade através de viver com bem-estar físico, emocional, social
não ser eficiente". transformações, pequenas e grandes, nos e mental.
A atividade física é hoje um dos ambientes físicos (espaços internos e Assim, o esporte e o lazer fazem
principais elementos na busca da qualidade externos, equipamentos, aparelhos e parte integrante do sistema educacional, pois
de vida. Sua prática leva desde a melhora utensílios, mobiliário e meios de transporte) tem a premissa básica de atender o individuo
das capacidades físicas de seu praticante, até e na mentalidade de todas as pessoas, também de maneira global em suas capacidades,
uma melhor interação nas relações sociais. da própria pessoa com deficiência. potencialidades, dificuldades e limitações de
A pessoa com deficiência pode ser Nos últimos tempos, tem valorizado- ordem físico-motora, e mental.
considerada deficiente em função das suas se muito este contexto, devido à Enfim, para que a inclusão ocorra (de
capacidades e habilidades motoras, em complexidade e urgência do assunto, e mais forma sadia) é preciso que sejam trabalhadas
função das desvantagens caracterizadas pela recentemente, o esporte e o lazer. a tolerância e a aceitação de maneira
influência do ambiente que a cerca Concluindo, ao longo da história do consistente, pois todos os indivíduos sejam
(oportunidades, cultura etc.) e não homem sobre a terra, as deficiências sempre eles deficientes ou não, tem a mesma
essencialmente por causa da deficiência existiram e a rejeição ao deficiente vem capacidade de aprender e ao dar-se condições
(perda ou anormalidade de estrutura ou sendo muito constante. Vive-se num mundo necessárias aos mesmos, estes conseguirão
função) ou da incapacidade (restrição de onde não mais se admite o deficiente, fato atingir seu ponto máximo, que é o direito de
atividades em decorrência de uma este que vem ampliando ase às fontes de incluir-se socialmente através do esporte e
deficiência) responsáveis por uma estudo e os métodos para sua completa do lazer na sociedade em geral.
anormalidade. reintegração social. Só modernamente com O esporte como um todo, visto em
O termo - "pessoa deficiente" - o "Boom" científico que dominou o mundo, a suas generalidades, é bom para todas as
refere-se a qualquer pessoa incapaz de partir das duas guerras mundiais, surge então, pessoas, independente de idade, sexo, cor,
assegurar por si mesma, total ou o esporte e o lazer, que tem demonstrado sua religião ou possível limitação física ou
parcialmente, as necessidades de uma vida eficiência como um dos métodos a serem intelectual.
individual ou social normal, em decorrência utilizados no arsenal terapêutico desta
de uma deficiência, congênita ou não, em recuperação, ou seja, na reinserção social do
12 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12
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Resumen
Hoy en día no se discute la importancia del deporte y el ocio en el contexto global de la educación de las personas
sean o no discapacitados. La búsqueda de la calidad de vida, la salud y momentos de placer son cada vez más
presente en la vida cotidiana. Proporcionar actividades para facilitar la vida de las personas con discapacidad a través
de actividades físicas, recreativas, baile y momentos de relajación, sin duda es un camino hacia la inclusión social de
PPD (personas con discapacidades). Deporte y ocio no tienen restricciones en los aspectos motores, cognitivos y
fisiológicos, sino más bien los seres humanos de los estudiantes que involucran en sus relaciones interpersonales y
los problemas ambientales, la promoción de relaciones de cooperación, la solidaridad, la integración, la inclusión, la
amistad, la autonomía y la creatividad. El tema de la inclusión social de las personas con discapacidad en el deporte y
el ocio, ha sido uno de los problemas más acuciantes de nuestra educación actual. Por lo tanto, es necesario abordar
este tema tan importante para nuestra sociedad.
Palabras clave: deporte, el ocio, la inclusión social, las personas con discapacidad.
Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 13
EDUCAÇÃO COM POESIA
Inez Ramos Crespo*
Tenho acompanhado e lido alguns Como na Grécia antiga, a poesia se desfiguradores); educa a imaginação (contra
projetos de poesia em sala de aula, são bons vincula à oralidade através de uma a manipulação do imaginário, principalmente
e acredito devem dar bons resultados, pois é performance corporal, contribuindo num tempo como o nosso, de multiplicação
aí que aparecem poetas a mão cheia, como essencialmente na aprendizagem da leitura diluidora das imagens, cada vez mais
diria Fernando Pessoa. Mas estas são e da escrita. Desde o maternal podemos estereotipadas); educação a razão (contra o
tentativas soltas de alguns corajosos trabalhar poesia com as crianças, amesquinhamento da racionalidade, tanto no
professores que não se deixam levar pelos evidenciando o ritmo, a percepção das sentido de sua redução à linearidade lógica,
centenários currículos escolares. Não os paradas, a sonoridade, a memória, a timidez, quanto no de sua instrumentalização). A
condeno, o desinteresse pela poesia tem uma a autoconfiança, descobrindo o mundo poesia muda a vida, transforma o mundo
explicação secular: Platão baniu os poetas através da fantasia e principalmente não (2007).
em detrimento da filosofia, estes ocupavam perdendo a capacidade de sonha. "A poiesis** E pode transformar a educação, não
um lugar de destaque extraordinário, pois a é uma função lúdica... Ela está para além da com a pretensão de revolucionar, mas de
poesia entre os gregos era uma atividade seriedade, naquele plano mais primitivo e abrir portas para um aluno mais crítico,
pública e o poeta era uma espécie de originário a que pertencem a criança, o criativo, sonhador, com um vocabulário
computador dos acontecimentos históricos, animal, o selvagem e o visionário, na região maior e mais apurado, que lê, escreve e
dos costumes, e de todos os seus preceitos. do sonho, do encantamento, do êxtase, do escreve melhor.
Detinham o saber acumulado transmitido riso" (Johan Huizinga, citado por
oralmente para uma população analfabeta de Mermeistein). Todos necessitamos do
REFERÊNCIAS
conhecimento e sensibilidade. Ora, os poetas lúdico, dos sonhos, e a poesia nos remete a
eram grandes concorrentes da filosofia FRONCKOWIAK, Ângela. RICHTER,
isso. De tivermos contato com a poesia Sandra. A dimensão poética da
platônica de uma sociedade perfeita, e ele sempre, partindo da infância, desaparecerá aprendizagem na infância. Reflexão e
não poderia admitir que a educação não se esta dificuldade de trabalhar com poesia. É ação. Santa Cruz do Sul, vol.13, nº1, p.91-
104, jan/jun.2005.
desse através dele. Assim baniu os poetas, e uma questão de mudança de paradigma.
o fez tão fortemente, que estes só MERMELSTEIN, Miriam. A poesia em
Segundo Mermeistein. sala de aula. Temas pedagógicos/
reapareceram 25 séculos depois com A poesia - enquanto poesia, forma literatura e Leitura. Disponível em http://
Fernando pessoa e, desde então viemos específica de criação de cultura - representa www.crmariocovas.sp.gov.br em 23/09/
engatinhando na conquista daquele espaço 2007 às 19horas.
um trabalho de humanização: educa os
surripiado por Platão. sentidos (contra a miséria da percepção, tanto
Mas se a educação era feita pela no sentido do esmagamento, como no da
poesia, onde fica a dificuldade em fazê-la saturação alienadora); educa as emoções
hoje? Por que precisamos criar espaços para (contra a neutralização dos afetos, tanto no
a poesia dentro da escola? Um dos espaços sentido dos encouraça mentos repressivos,
da poesia é a escola! como no dos direcionamentos **Palavra grega, significa "produzir, fazer".

*Poeta, professora especialista em Matemática pela FUNDASUL, presidente da Fundação Barbosa Lessa e integrante da ASSERS
(associação dos supervisores do RGS).

14 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


MEDO E OUSADIA: O COTIDIANO DO PROFESSOR
Lúcia Elena Müller Ebling*
Maria José Camargo Gomes**

RESUMO
O presente artigo pretende discutir o papel da supervisão no cenário educacional, visando garantir o
desenvolvimento de um fazer pedagógico pautado em uma ação reflexiva e transformadora por parte dos
educadores. A reflexão é inspirada nas ideias apresentadas por Paulo Freire e Ir Shor em "Medo e Ousadia", onde de
uma forma clara, objetiva e corajosa os autores abordam questões fundamentais da vida dos educadores,
sugerindo práticas e apresentando novas ações possíveis dentro de uma pedagogia dialógica.
Palavras-chaves: Supervisão Educacional. Educação. Democracia.

INTRODUÇÃO conscientização e de politização. Destacou- político, sendo assim, nunca é neutra. Através
se por sua atuação junto a movimentos sociais da proposta pedagógica da escola e do
Escolher uma obra de Paulo Freire
e educação de adultos, dentro e fora do país. trabalho realizado pelo professor o processo
para essa reflexão não foi tarefa fácil, devido
Suas ideias se espalharam pelo mundo e de aprendizagem pode iluminar a realidade
à importância que creditamos a todo seu
continuam tendo muita influência até os dias do aluno ou oculta-la, tornando obscura.
trabalho, seus pensamentos e todos os
de hoje. Propôs uma educação Obscurece quando reproduz a realidade
ensinamentos que nos deixou, mostrando,
emancipatória, onde o que vale não é uma como um produto pronto, fixo, padronizado,
através de sua prática, uma postura crítica,
simples transmissão de conhecimento ou através de uma transferência oral de
sem perder a esperança na educação, onde o
acumulação de fatos e informações, mas ser conhecimento do professor para os alunos,
sonho é possível, a utopia pode ser realizável
capaz de constituir-se como sujeito no mundo onde somente a linguagem do professor é
e todos são capazes de aprender, pois para
em que vivemos, agindo a fim de transformá- considerada idioma válido na sala de aula.
ele o ato de ensinar consiste em uma
lo. Acreditava que as escolhas que fazemos Ilumina quando propõe uma ação criativa e
verdadeira aventura criadora.
enquanto educadores têm implicações coletiva, onde o professor possa reinventar o
Optamos por "Medo e ousadia" por
sociais, podendo fazer perpetuar a exclusão conhecimento de maneira crítica, junto com
tratar de forma clara, objetiva e corajosa
e a injustiça ou apoiando na construção de seus alunos, a partir daquilo que eles trazem
questões fundamentais da vida dos
condições para uma verdadeira para a sala de aula. Nas palavras dos autores
educadores, sugerindo práticas e
transformação social. uma "Pedagogia Situada", desenvolvida nas
apresentando novas relações possíveis dentro
Segundo Gadotti, o que torna Paulo condições reais de cada grupo.
de uma pedagogia dialógica.
Freire um educador insubstituível é o fato de Sendo assim, é importante que os
Os autores propõem uma reflexão
ele ter despertado nas pessoas a crença de professores tenham bem claro que tipo de
sobre como exercer, no dia-a-dia da sala de
que é possível transformar o mundo e que educação pretendem oferecer a seus alunos,
aula, uma educação libertadora, que leve à
um dos caminhos para alcançar essa ou seja, "a favor de quê" e "contra quê" estão
construção e reconstrução do conhecimento
transformação é a educação dentro de uma construindo e propondo sua ação pedagógica.
dentro de uma perspectiva crítica, sobre a
perspectiva libertadora, emancipatória, onde Nessa perspectiva a escola deveria ser um
escola e a sociedade, voltada para a
possa acontecer uma relação pedagógica espaço onde pudéssemos vivenciar uma
transformação social, dentro e fora da sala
generosa e solidária entre as pessoas. De educação integradora, onde educadores e
de aula.
outro lado Ira Shor, educador americano, um educandos realizassem um movimento de
De um lado Paulo Freire, educador
estudioso e crítico que sempre esteve criação e recriação do conhecimento, uma
brasileiro conhecido e reconhecido
preocupado com os rumos que tomavam a experiência compartilhada em que todos têm
internacionalmente pelo seu trabalho com
educação em seu país. São explorados pelos muito a aprender uns com os outros.
teoria e prática na educação. Ainda que seu
autores, através de um diálogo que apresenta Conforme nos diz Freire em Pedagogia da
trabalho tenha sofrido muitas críticas, é
"certo estilo dançante" (1986, p.13), temas Autonomia, que aquele que ensina aprenda
indispensável considerar a fecunda
pertinentes que muitas vezes geram angústias ao ensinar, e aquele que aprende ensine ao
contribuição que trouxe à educação popular.
e temores nos professores que buscam uma aprender.
O educador parte do princípio de que vivemos
melhoria no seu fazer pedagógico. A concepção de educação oferecida
em uma sociedade dividida em classes, onde
As ações propostas se fundamentam pelos autores não se limita à sala de aula, ao
para que haja um movimento de libertação,
na ideia chave de que a educação é um ato contrário, propõe uma pedagogia libertadora
precisamos partir de um trabalho de

*Lucia Elena Muller Ebling: Pedagoga, Pós-graduada em Informática pela FEEVALE. Pós-graduanda em Supervisão Escolar pela
ASSERS/PORTAL e Mestranda em Políticas Públicas Educacionais pela UNTREF/Buenos Aires. luciaebling@hotmail.com
**Maria José Camargo Gomes: Pedagoga, Especialista em Educação Infantil pela PUC/RS, Especialista em Supervisão Educacional pela
ASSERS/PORTAL. Cursando Especialização em Psicopedagogia. majogomes@terra.com.br

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 15


onde o contexto transformador envolve outros a oferecer um espaço onde os alunos podem REFERÊNCIAS
espaços e outros personagens. Nesse cenário crescer de forma crítica, visando transformar FREIRE, Paulo e SHOR, Ira. Medo e
destaca-se o papel do supervisor educacional, a si e o meio social onde vivem. Ousadia: o cotidiano do professor.
10ª Ed. Rio de Janeiro: paz e Terra, 1986.
como profissional que transita em todos os Só assim a escola vai proporcionar à
segmentos da escola, podendo assim comunidade escolar uma proposta de trabalho FREIRE, Paulo. Pedagogia da
Autonomia: saberes necessários à
estabelecer as pontes necessárias ao rigorosa, um Projeto Político Pedagógico prática educativa. 34ª Ed. São Paulo:
desenvolvimento de um fazer pedagógico construído com horizontes bem definidos, Paz e Terra, 1996.
pautado em uma ação reflexiva e levando sempre em consideração o contexto PALMER, Joy A, 50 Grandes
transformadora. onde esta está inserida e buscando o Educadores Modernos: de Piaget a
Paulo Freire. Tradução Mirna Pinsky. São
Nosso olhar vai focar o trabalho do desenvolvimento de ações democráticas. Paulo: Contexto, 2006.
supervisor educacional, que ao invés da Concluindo, queremos colocar que o
tradicional e temida função de controlar os educador que desempenha a função de
diversos setores da escola, passa a exercer Supervisor Educacional precisa ter bem claro
uma posição social de acompanhar, como a dimensão de seu papel e sua
líder, orientador e coordenador, as ações do responsabilidade frente à educação, pois é
grupo de professores, visando à qualidade do ele que vai exercer a tarefa de coordenador
ensino. das práticas diárias da escola, dentro e fora
Sabemos os valores de uma ação da sala de aula, e para que possa realizá-la
democrática, uma ação que dá ao grupo a com sucesso, ou pelo menos com a certeza
oportunidade de crescimento, de criatividade, de ter tentado o melhor, é importante que,
de liberdade de expressão, de diálogo, de além de todos os saberes que necessita,
liberdade em discordar e de participar das exerça uma atitude de coerência entre o seu
decisões sem obstáculos e sem medo de errar. fazer pedagógico e o seu ser, que seu discurso
Frente a essa nova postura, o Supervisor seja testemunhado por seu exemplo, que suas
Educacional, juntamente com o corpo práticas não venham desdizer aquilo que diz
diretivo e de docentes da escola, precisam acreditar, pois como nos ensina Paulo Freire
acreditar e exercer os princípios da educação "pensar certo é fazer certo". (1996, p. 34)
libertadora, pois dessa forma, a escola passa

RESUMEN
En este artículo se discute el papel de la supervisión en el ámbito educativo con el fin de garantizar el
desarrollo de una práctica pedagógica gobernado por un acto reflejo y la transformación de parte de los educadores.
La reflexión se inspira en las ideas presentadas por Paulo Freire y Shor Saltar en "El miedo y la audacia", donde en un
discurso a los autores claro, objetivo y valiente a las preguntas fundamentales de la vida para los educadores, la
introducción de nuevas prácticas y sugerir posibles acciones dentro de una pedagogía dialógica.
PALABRAS CLAVE: supervisión educativa. Educación. Democracia.

16 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


RESILIÊNCIA: A RESPONSABILIDADE DA EQUIPE
EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO
Marlos Tadeu Bezerra de Mello*

RESUMO
Neste trabalho, pretende-se relatar a importância de uma experiência integrada entre a atuação do psicólogo e do
supervisor escolar na formação dos sujeitos; a partir de revisão bibliográfica a respeito da resiliência e das
transformações pessoais em que os alunos de Ensino Fundamental estão envolvidos, perfazendo os espaços de
interesse destes estudantes e buscando junto a seus familiares resposta a relação pais e filhos. Este texto pretende,
sem esgotar o tema, representar o papel das famílias junto a escola, bem como da relação escola/família e de como
estas atuam perante o estudante.
Palavras-chave: Resiliência. Educação. Visitas domiciliares.

INTRODUÇÃO vida irá seguir. Já a partir da pré-adolescência a pouca participação dos pais nas reuniões
Este artigo tem o objetivo elucidar onde o corpo da criança começa a tomar outra eram as atividades que exerciam no serviço
uma experiência de trabalho desenvolvida a forma e também ela começa a perceber em que realizavam, ou a correria do dia a dia,
partir do engajamento entre uma supervisora si as primeiras mudanças, seus pensamentos etc. Essa hipótese, aos poucos foi sendo
escolar, uma professora do Curso de e comportamentos começam a ter outros deixada de lado, pois foi percebido que até o
Psicologia (psicóloga) e um grupo de rumos que muitas vezes são o de insatisfação momento em que foram visitadas mais de
estagiários do Curso de Psicologia da e receio em primeiro momento e muitas vezes vinte (20) famílias, destas apenas duas (02)
Universidade da Região da Campanha/ comportamentos de transgressão às regras não se encontravam em casa ou mudaram
URCAMP - Bagé. A partir do ano de 2006, o são apresentadas. (PAPALIA & OLDS, de endereço e não comunicaram a escola.
Curso de Psicologia/URCAMP, começou a 2000). Nas visitas foram encontradas
ter um novo papel na vida de estudantes da O trabalho iniciou na formação de pessoas desmotivadas, com autoestima
Escola de Ensino Fundamental e Médio Prof. equipes constituídas de alunos da escola e bastante afetada, insólitas talvez com a vida
Waldemar Amoretty Machado, a convite da acadêmicos de Psicologia, supervisionados e com as dificuldades enfrentadas. As
supervisora da referida escola. Oferecendo pela professora de psicologia e respostas com relação aos seus filhos
um espaço para os acadêmicos acompanhados pela supervisora escolar. No estiveram em 50% dos casos de forma
desenvolverem um trabalho na mesma, ano de 2007, buscou-se desenvolver um bastante vaga, apenas respondendo em
proporcionou a congregação de estagiários e trabalho junto aos pais dos alunos e para que, formas monossilábicas e arraigadas de
a formação de uma equipe de trabalho através de diversos contatos, houvesse a dúvidas e temores.
interessada em desenvolver atividades junto participação dos mesmos. Infelizmente, Uma das questões que mais chamou
aos estudantes de algumas turmas da escola. poucos participaram e as reuniões acabaram à atenção na pesquisa realizada, está
Tendo em vista que hoje em dia mais do que por não acontecer da forma que era esperada. relacionada a não saberem quem são os
nunca as equipes educacionais e No ano de 2008, com estratégias amigos de seus filhos ou com quais pessoas
principalmente a sociedade encontra-se renovadas, novamente busca-se o relacionam-se além da família. Outra questão
preocupada com as diversas situações com engajamento dos pais no trabalho, através de interessante é o fato das famílias não
que professores estão enfrentando no visitas domiciliares a participação dos acreditarem em um bom futuro para seus
momento que chegam as salas de aula para mesmos, primeiramente preenchendo um filhos. A desconfiança e a falta de alternativas
o trabalho pedagógico, torna-se evidente a questionário com questões referentes a apresentadas colocam evidente a baixa
necessidade da união de forças com o relação pais e filhos, e também constituído autoestima das famílias visitadas.
objetivo de ao mesmo tempo dar suporte aos de perguntas a respeito dos aspectos positivos Segundo Tavares (2002, p. 52), não
professores e também trabalhar, junto às e negativos da escola. Assim, iniciou uma há dúvida de que o desenvolvimento de
turmas de estudantes, os diversos anseios que jornada em busca de contato com as famílias capacidades de resiliência nos sujeitos passa
decorrem em suas vidas. dos alunos de uma das turmas de 6º série da através da mobilização e ativação das suas
Conforme estudos da organização Escola de Ensino Fundamental e Médio Prof. capacidades de ser, de estar, de ter, de poder
mundial de saúde, a adolescência é um Waldemar Amoretty Machado. A média de e de querer, ou seja, pela sua capacidade de
processo de evidentes transformações onde idades dos alunos desta turma é de 13 à 16 auto regulação e autoestima como rasgo
não apenas começam as surgir dúvidas do anos. E um primeiro momento, o objetivo era essencial da personalidade. As pessoas,
adolescente sobre si mesmo como também obter resposta a uma das questões que sempre mesmos aquelas que têm carências e
do mundo e principalmente do rumo que sua aludiu o trabalho: a suposição central de que necessidades especiais, são imensamente

* Marlos Tadeu Bezerra de Mello - Acadêmico do Curso de Psicologia / URCAMP/Bagé, junho, 2008.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 17


ricas, dispõem de enormes recursos, são (1990, p. 14): e compreende-se que a batalha de
sujeitos de poder e de querer, de vontades A juventude, embora esmagada nas relações professores e psicólogos não é na forma do
imensuráveis. econômicas dominantes que lhe conferem um educar ou nos métodos didáticos, embora
Sabendo dessa afirmação do autor e lugar cada vez mais precário, e mentalmente estes também sejam palco de grandes
também da própria formação no curso de manipulado pela produção de subjetividade entraves na educação, mas algo maior e
Psicologia compreende-se e questiona-se coletiva da mídia, nem por isso deixa de astuto que corrobora pelo não pensar, e
como os professores irão desenvolver um desenvolver suas próprias distâncias de principalmente assolando verdades absolutas
bom processo de aprendizagem com os singularização com relação à subjetividade de que a felicidade está distante das famílias
alunos e, como os alunos irão apreender, normalizada. e cada vez mais presente nas novelas e nos
sabendo que muitas vezes suas famílias estão A partir desta afirmação de Guattari, sonhos dos seus espectadores. O
dizimadas emocionalmente, fragmentadas de que a juventude é continuamente e comportamento adotado pelas famílias é o
em meio aos problemas da vida, e violentamente manipulada e pressionada mesmo da criança ou jovem na escola, é pelo
principalmente desmotivadas, não confiando pelos meios de comunicação social, e grito de liberdade, que muitas vezes urge
em si mesmas e na possibilidade de uma vida principalmente coagida pelas relações dentro de si mesma, mas cala-se e consente
melhor. Todo o sujeito tem os recursos do ser econômicas que diariamente assolam e logo em seguida quando plugada aos meios
e o poder do querer, abastecidos a partir do devastam a subjetividade dos estudantes, cabe de comunicação, acomodando-se em sua
desejo e da coragem. a estes não deixar de lado o direito de pensar insegurança e no medo de reagir. Diante a
Outra questão levantada por Guattari e principalmente de refletir e agir contra a possibilidade da libertação prende-se ao
massificação do indivíduo continuamente contexto em que está exaurida e colocada.
bombardeado por concepções e crenças que Ainda segundo Guattari (1990, p. 17):
carregadas de afirmações midiáticas tomam O sujeito não é evidente: não basta pensar para
conta da vida dos jovens. Assim, percebe-se ser, como o proclamava Descartes, já que
inúmeras outras maneiras de existir se instauram
fora da consciência, ao passo que o sujeito advém
no momento em que o pensamento se obstina
em apreender a si mesmo, e se põe a girar como
um pião enlouquecido, sem enganchar em nada
dos territórios reais da existência, os quais por
sua vez derivam uns em relação aos outros, como
placas tectônicas sob a superfície dos
continentes.
O sujeito para aprender, em primeiro
momento precisa voltar a si mesmo, pensar
em si mesmo, tomar consciência da sua

18 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


existência e da força que carrega em si, e pelos fantasmas da vitória e da derrota, e otimização da nova sociedade que tende, cada
desse advento brota a possibilidade, até sendo o professor, muitas vezes, uma figura vez mais, a dimensionar-se à medida do
encontrar o seu papel o sujeito não para de desvalorizada pelas autoridades e planeta e dos enormes problemas e
procurar, embora extasiado, muitas vezes principalmente acorrentada as políticas preocupações das gentes que o habitam.
petrificado, este só encontrará no outro, ou sociais de desatenção a educação, este se Concluindo-se, buscou-se através
seja, no professor a vontade de aprender, torna uma figura de baixa autoestima que não deste trabalho, refletir sobre a importância
quando a sua existência estiver presente a percebe o poder que o seu querer tem, que de uma atuação articulada enquanto equipe
uma razão concreta, e quando não mais não consegue enxergar em si mesmo a educacional, envolvendo o/a professor/a,
estiver exaurido em meio às inseguranças e possibilidade da mudança e muitas vezes supervisor/a escolar e psicólogo/a escolar,
frequentes devastações e emboscadas alguém que se considera inútil. onde mediando e corroborando junto nas
calcadas pelos meios de comunicação social. Chega-se ao século XXI, marcados questões que tanto permeiam a educação dos
Para Yunes e Szymanski, apud por invenções e interpretações dias atuais, percebe-se que não mais os
Tavares (2002, p. 30): revolucionárias, tem-se respostas para tudo problemas estão distantes da escola. Ela não
Numa visão subjetiva do fenômeno, pode-se e para todos, calcam-se caminhos que antes é uma ilha que em meio ao mundo fica
dizer que, dependendo da percepção que o eram desconhecidos, mas muitas vezes as exaurida dos problemas e preocupações dos
individuo tem da situação, da sua interpretação famílias não conhecem as pessoas que seres humanos, a escola é uma instituição de
do evento estressor e do sentido a ele atribuído, frequentam as suas casas, que fazem parte encontro é a porta e a possibilidade para
teremos ou não a condição de estresse. Por de suas famílias. Fala-se com o mundo todo, muitos discutirem e colocarem seus anseios,
exemplo, a mesma situação de vida pode ser várias línguas, mas não se consegue entender é o caminho e muitas vezes a solução para
experienciada por um individuo como perigo, o que os familiares, filhos, colegas e alunos os embates do dia a dia. Sabendo dessa
enquanto outro a percebe como um grande querem dizer. Que aprendizagem deseja-se possibilidade de formar resiliência e de
desafio. implantar? Que educação é esperada para desenvolver formas e habilidades de enfrentar
Essa condição ou habilidade de os próximos anos? Que profissionais estão e buscar soluções os professores e alunos
perceber as situações de diversos prismas e sendo formandos? Que sujeitos estão sendo são instrumentos, são poderes de querer e de
de vivificar a possibilidade de vencer a partir valorizados na sociedade atual? Estas são ser, de fazer a diferença, de fazer valer a
de um desafio que é a própria condição de questões que frequentemente são pena. E essa transformação só é possível
vida torna o indivíduo um vencedor, diante a apresentadas para a educação, mas os meios quando não mais a escola colocar-se distante
sociedade do ganhar e do perder, mas diante de comunicação social têm respostas prontas das preocupações diárias, quando não mais
das vivências experienciadas e do que já foi para elas, onde os mundos das novelas e dos for observada como uma escola afugentada
apresentado, percebe-se este como alguém telejornais estão todos os dias preenchendo e e escondida diante as necessidades dos
que aprendeu a ver em si mesmo a nutrindo os indivíduos com respostas. sujeitos que fazem parte dela, sendo estes,
possibilidade de calcar outros rumos além Assim, ressalta-se a fala de Tavares professores, alunos, pais e/ou especialistas
dos predestinados pela mídia, e de forma (2002, p. 49), que de forma clara provoca- de outras áreas e que podem colaborar no
natural e própria constrói caminhos e formas nos a uma reflexão e a uma revolução desenvolvimento de um processo de
espontâneas de seguir. O professor que educacional, não mais com planos educação integral.
consegue mostrar aos seus alunos e permitir demagógicos e bastante complexos, mas a
a estes enxergarem a frente, além do que os partir da simplificação e da vontade, a
meios de comunicação social mostram, é mudança: REFERÊNCIAS
aquele que leva o aluno não ao conhecido e Só uma formação musculada, real,
GUATTARI, Félix. As Três Ecologias.
já rotulado, mas faz este sentir que é possível ajudará a dar respostas a essas perguntas que, Tradução Maria Cristina Bittencourt -
trilhar caminhos diferentes dos conhecidos e com certeza, irão continuar a colocar-se. Campinas, São Paulo: Papirus, 1990.
principalmente inventar e montar formas de Urge, pois, implementar e desenvolver na PAPALIA & OLDS. Desenvolvimento
viver que não a do ganhar e perder. formação estruturas, processos e atitudes que Humano. 7ª ed. São Paulo: Pioneira, 2000.
A maioria das escolas e também a ajudem os alunos e os professores a serem TAVARES, José (org). Resiliência e
que foi trabalhada, está vivificada aos Educação. 3 ed. - São Paulo: Cortez,
mais resilientes para poderem tornar-se 2002.
modelos de atenção e educação elucidados elementos ativos na transformação e

Abstract
In this paper, is intended to show the importance of an integrated experience between the psychologist's and school
supervisor's performance in the formation of subjects; from the bibliographical revision due respectto the resiliency and
the personal transformations in which gym students are involved, to complete the spaces of interest of these students
searching with their relatives answers to the father/ children. This text intend to, without exhausting the theme, represent
the role of the families within the school, as well as the relationship school/family and how these work regarding the
student.
Keywords: Resiliency. Education. Domiciliar Visits.
Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 19
PROJETO: NOSSO CORPO
Cristiane Ferreira Abaide*
Taís Mello dos Santos**
Valquíria Colcet***

RESUMO
Esse relato que segue é referente a uma experiência desenvolvida em uma turma de maternal com crianças de idade
entre dois e três anos em uma Escola Municipal de Educação Infantil no Município de Santo Ângelo. O trabalho foi
realizado por duas professoras juntamente com a coordenação pedagógica da escola.
Palavras-chave: Educação Infantil. Rotina. Corpo Humano

INTRODUÇÃO bum bum bum/ Tchike bum bum bum/ Não era pensar se o pinto da galinha da história é o
sapo/ Nem a oncinha/ Era as meninas/ Só de pinto em que o menino faz xixi. A partir dessa
O projeto nosso corpo surgiu a partir
calcinha/ Tchike bum bum bum/ Tchike bum história perguntou-se as crianças: mas por
de comentários e hipóteses das crianças
bum bum. onde o menino e a menina fazem xixi? Neste
quando estávamos cantando na rodinha.
Depois da música a professora momento, os alunos ficaram realmente
Momento esse, em que as crianças se
Valquíria perguntou para cada criança se era refletindo sobre os questionamentos e
dispõem em círculo, sentadas no tapete,
menino ou menina. Foi então que surgiu respostas.
depois do café e escovação para conversar
algumas falas tais como: "Sou menino porque Na rodinha perguntamos aos alunos
sobre o planejamento do dia, sobre o
uso cueca e tenho pinto". "Menina faz xixi do que eles achavam em pesquisarmos sobre
calendário, recados. Posterior a essas
pela xexeca." "Que menina tem perereca". o nome do xixi da menina e o nome do xixi do
conversas pede-se aos alunos e alunas que
Diante dessa discussão e conclusões dos menino. Primeiramente fez-se um bilhete
escolham uma música para cantarmos, com
alunos, a professora Taís pegou um livrinho para ser enviado aos pais explicando sobre o
a intenção de ampliar a linguagem oral, de
de história do baú da leitura: a Galinha começo do estudo do projeto que chamamos
saber suas escolhas e preferências, bem como
Carolina, onde falava sobre os pintinhos que de NOSSO CORPO, para a descoberta
auxiliar na sua desinibição.
são "filhos da galinha" para depois questioná- através da pesquisa sobre as diferenças entre
De acordo com o Referencial
los sobre o pinto que disseram que o menino menino e menina e o nome científico das
Curricular Nacional de Educação Infantil "A
faz xixi. partes do corpo que os diferenciam.
linguagem oral possibilita comunicar ideias,
Neste contexto observou-se que A partir da música: BORBOLETÃO
pensamentos e intenções de diversas
quando os alunos iam ao banheiro diziam (Borboletão, Tá no fogão, Fazendo macarrão,
naturezas, influenciar o outro e estabelecer
fazer xixi pelo pinto, que o menino tem pinto, Mamãe me disse, que é pecado, subir no
relações interpessoais. Seu aprendizado
percebeu-se a importância de fazer telhado, e cair pelado), começou-se a
acontece dentro de um contexto. As palavras
provocações às crianças quanto aos nomes questionar sobre: O que é pelado? Quando
só têm sentido em enunciados e textos que
científicos da parte do corpo do menino e da podemos ficar assim sem roupa? Para fazer
significam e são significados por situações.
menina, oportunidade de pesquisa, xixi o menino tem o que? E amenina? Qual a
A linguagem não é um vocabulário, lista de
exploração e descobertas relacionadas ao seu diferença da menina e do menino?
palavras ou sentenças. É por meio do diálogo
próprio corpo. Foram ouvidas e registradas diversas
que a comunicação acontece" (BRASIL, v.1,
De acordo com Lilian Katz (apud respostas como: Só podemos tomar banho
1998, p 120-121). Quando um deles sugeriu
Edwards), quando os adultos comunicam um sem roupa; A menina usa calcinha e o menino
que cantássemos a música do sapo, que é
sincero e sério interesse pelas ideias das usa cueca; O menino tem pinto, a menina
assim:
crianças em suas tentativas de se tem perereca; O menino tem passarinho; Na
Eu vi um sapo/ Na beira do rio/ De camisa branca/
expressarem, um trabalho rico e complexo calça não pode fazer xixi, só no vaso; Mas o
De calça lim/ Tchike bum bum bum/ Tchike bum
pode ocorrer, mesmo entre crianças muito pinto é o filhote da galinha.
bum bum/ Não era sapo/ Nem perereca/ Era os
pequenas (1999, p.49). Planejou-se para o dia Depois dessa conversa e escuta das
meninos/ Só de cueca/ Tchike bum bum bum/
seguinte contar a história da Dona Ricota vai ideias e hipóteses das crianças pediu-se que
Tchike bum bum bum. Eu vi um sapo/ Na beira
do rio/ De camisa branca/ De calça lim/ Tchike
a praça, com a intenção de provocá-los a eles fizessem uma representação através do

* CRISTIANE FERREIRA ABAIDE, Pedagoga. Especialista em Supervisão Escolar. Mestranda em Políticas e Administração da
Educação pela UNTREF/Buenos Aires/Argentina. Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil, Professora da Rede Estadual do Rio
Grande do Sul. Professora Tutora UNINTESE/UCB. Integrante da comissão organizadora do 2º Encontro do Fórum de Educação Infantil
das Missões. Diretora da 14ª CRASSES/Santo Ângelo.
** TAIS MELLO DOS SANTOS, Pedagoga. Especialista em Educação Infantil. Professora Municipal de Educação Infantil.
*** VALQUIRIA COLCET, Especialista em Supervisão Escolar e Orientação Educacional. Professora de Educação Infantil.

20 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


explorada na pesquisa.
Um dos alunos encontrou uma página
do livro que teria fotos da evolução do gênero
masculino e feminino, ou seja, as etapas do
desenvolvimento desde quando criança até a
fase adulta e chamou-nos para ver o que teria
descoberto. Sugeriu-se que mostrasse sobre
o que teria encontrado aos seus colegas ao
seu lado. Assim fez explicando aos colegas
sobre o que teria achado. Questionou-se sobre
quem é do sexo masculino, o homem e quem
é do sexo feminino, a mulher. Respondeu
demonstrando seu conhecimento para cada
gênero.
Depois dessa exploração dos livros
de pesquisas, orientou-se os alunos a sentar
na rodinha para conversar um pouco sobre
as descobertas. Foi então que se apresentou
a eles o xerox da figura ampliada de um livro
e lhes explicamos que os meninos e as
meninas fazem xixi não pelo pinto, e não pela
perereca. Mas sim os nomes científicos
"verdadeiros", o xixi do menino que é o pênis
e da menina que é a vagina. Cada um teve a
oportunidade de ver o xerox da figura e aos
poucos foram introduzindo em seus
vocabulários: "o menino faz xixi pelo pênis e
a menina faz xixi pela vagina".
Oportunizou-se às crianças o contato
desenho com giz de cera, por onde cada um e exploração de dois bonecos, um existente se a história dos contos clássicos: JOÃO E
faz xixi. Após a representação, buscou-se um em sala de aula, outro trazido pelas MARIA, com a intenção de explorar o menino
pinto (ave) para mostrar aos alunos e alunas professoras que apareciam seus órgãos e a menina que apareceria na história, ou
na rodinha novamente. Com a observação e genitais. Com o objetivo das crianças olharem seja, o gênero masculino e feminino. Ainda,
exploração do pinto questionou-se: Os e classificarem qual é menino e a qual é com o filme Shereck, observou-se que as
meninos têm um pinto assim para fazer xixi? menina. crianças questionaram, indagaram quando o
E ele come ração como esse pinto? Tem Planejou-se para o dia seguinte em burro chama o dragão do filme, em dragão
pena? Pia desse jeito? As meninas disseram fazer uma teia do projeto, um planejamento, fêmea, a partir daí conseguiu-se como as
que tem perereca. Perguntou-se: O que é um encaminhamento da pesquisa (por onde crianças analisar todos os personagens do
perereca? Ela pula? A de vocês também pula? começar, o que fazer, quem faz o quê). Para filme e classificá-los como masculino e
É um bicho? Grita? tanto, usa-se a Planificação em teia como feminino.
As professoras perguntaram as forma de Plano para as principais ações do Fez-se um circuito motor com o
crianças: - "E agora, como vamos resolver projeto. Segundo Katz e Chard (apud objetivo dos alunos e alunas explorarem seu
isso?" Sugeriram perguntar para o vaso. Mas MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE próprio corpo em diversas situações como:
o vaso não fala, explicou a professora. Propôs- LISBOA, 1998), o educador pode ajudar as andar em cima da corda, pular dentro dos
se de pesquisarmos nos livros sobre como é crianças a elaborar uma "teia" ou uma "rede" bambolês, passar em zig-zag nos obstáculos
o nome do "xixi" do menino e do "xixi" da de ideias sobre o que já sabem ou o que já (garrafas de plástico), passar em baixo da
menina. desejam saber (mapa conceitual). Estas mesa.
As professoras separaram alguns questões revelam a que níveis a criança De acordo com o Referencial
livros de pesquisa sobre o corpo humano para necessita produzir o seu saber. Curricular Nacional para a Educação Infantil
oferecer como pesquisa aos alunos e alunas A teia de pesquisa ficou organizada no que refere ao movimento. O movimento
no dia seguinte, com a intenção de que eles dessa maneira: depois de construída a teia para a criança pequena significa muito mais
encontrassem figuras sobre as partes do conversou-se novamente com os alunos e do que mexer partes do corpo ou se deslocar-
corpo. Também foi ampliada a figura de um alunas sobre qual o nome do xixi do menino e se no espaço. A criança se expressa e se
livro, de um menino e uma menina onde da menina. Aos poucos eles foram se comunica por meio dos gestos e das mímicas
apareceriam os seus órgãos genitais para ser apropriando dos nomes científicos. Contou- faciais e interage utilizando fortemente o
Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 21
apoio do corpo. A dimensão corporal integra- DE PAU, BONECA DE LATA, BONECO REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
se ao conjunto da atividade da criança. O ato DE MOLA, RODA CUTIA, dentre outras de BRASIL. Ministério de Educação e do
Desporto. Referencial curricular nacional
motor faz-se presente em suas funções expressão do próprio corpo. Contou-se a
para educação infantil. Brasília, DF: MEC,
expressiva, instrumental ou de sustentação história: UM REDONDO PODE SER 1998.
às posturas e aos gestos (1998, p.18). QUADRADO, de Canini, com o objetivo de EDWARDS, Carolyn. As cem linguagens
Foi realizado o desenho do contorno explorar as figuras geométricas, questionando da criança: a abordagem de Reggio Emília
do corpo de cada uma das crianças num papel as crianças sobre qual parte do corpo se iguala na educação da primeira infância /
Carolyns Edwards, Lella Gandini e George
pardo para que levassem para casa com o a um redondo. Contou-se a história: "O rei Forman; trad. Dayse Batista. - Porto
objetivo de envolver a família nesse projeto, bigodeira e sua banheira", para a exploração Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda.,
1999.
sendo que cada família deveria caracterizar e construção dos hábitos de higiene, como
o desenho recebido acrescentando detalhes também se explorou os órgãos do sentido SEBER, Maria da Glória. A escrita infantil:
o caminho da construção / Maria da Glória
(olhos, nariz, boca, relógio), características e através de circuitos, brincadeiras de adivinhar Seber. - São Paulo: Scipione, 1997.
suas vestimentas. Sendo um momento muito o que é do cheiro e gosto. Bem como o poema:
rico e particular de expressão de cada criança, NOME DA GENTE, de Pedro Bandeira, com
pois cada desenho tinha sua particularidade. a intenção de cada aluno e aluna contar sobre
A medida que os trabalhos retornavam para seu nome, sua identidade. Quem escolheu
a escola oportunizou-se um momento para seu nome, se gosta dele, se sabe a história de
que cada criança relatasse como foi realizado seu nome.
esse trabalho juntamente com seus familiares. De acordo com Seber (1997), o ler e
Contemplou-se também nesse projeto o escrever devem evoluir como linguagem,
a exploração das músicas MEU BONECO por isso é essencial a participação da criança.
À medida que os contatos com situações de
escrita se intensificam, o material gráfico se
transforma em algo que desperta sua atenção,
e o resultado é a formulação de ideias a
respeito desse objeto social.
Podemos dizer que a realização desse
projeto fez com que a escola, crianças,
professoras, coordenação pudessem se
envolver buscando, planejando, analisando e
comprometendo-se com a busca de
conhecimentos. O trabalho desenvolvido foi
de grande valia, pois contamos com a
colaboração dos pais, que se envolveram na
realização das atividades propostas,
auxiliando na construção de painéis e demais
situações do cotidiano, pois tiveram a
oportunidade de expor em diversas ocasiões
os relatos das crianças e a satisfação dos
mesmos em estarem aprendendo
corretamente dos nomes científicos das
partes de seu corpo.

RESUMEN
Este informe que sigue se refiere a una experiencia desarrollada en una clase de la guardería a niños de
entre dos y tres años en una Escuela Municipal de Educación Infantil en la Ciudad de San Ángelo. El estudio fue
realizado por dos profesores con la coordinación pedagógica de la escuela.
Palabras clave: educación preescolar. De rutina. Cuerpo Humano

22 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA
Nara Rosane dos Santos

RESUMO
Este trabalho é uma reflexão sobre a importância da participação e colaboração da família e de toda comunidade
escolar na construção de uma escola democrática, onde os valores, a ética, o respeito e a educação como um todo,
são base na construção da cidadania.
Palavras-chave: Democracia. Família. Escola. Conscientização. Participação.

INTRODUÇÃO talvez pelo desconhecimento dos seus direitos


Sabemos que uma escola só será e deveres, o que os torna indiferentes ao poder
democrática a partir do momento em que a que têm como comunidade escolar. Quando
comunidade escolar representada pelos são realizadas Assembleias Gerais de pais
professores, funcionários, alunos e pais, para prestar contas, fazer combinações de
tomarem consciência da importância do seu como se dará o ano letivo, explicar
papel na construção dessa democracia. metodologia usada pelos professores, etc.
A participação da comunidade Poucos pais compareceram e se mostraram
escolar deve ser ativa nas ações e decisões, dispostos a participar e auxiliar, a questão do
neste caminho de parceria de atuação "tempo" é significativa, muitos alegam ser
teremos a escola que desejamos com alunos muito atarefados, estarem sempre correndo
preparados para a cidadania. Para tanto é de contra o tempo, sem perceber que, o
suma importância a participação e momento de "estar" com o filho e "participar"
colaboração da equipe pedagógica, da vida do filho é agora e não é perda de
diante destas posturas dos filhos e transferem
professores, funcionários, alunos, pais, tempo e sim manifestação de amor e
para a escola a responsabilidade de "uma
conselho escolar, CPM, na reflexão dos preocupação com o futuro deles. A
boa formação para os filhos". A família deve
rumos, identidade e necessidades da escola. comunidade encontra-se despreparada para
conscientizar-se de seu papel como
Democracia conquista-se, realiza-se e se inteirar-se e opinar sobre os assuntos da
educadora e formadora do caráter das
efetua por ações e relações que se dão na escola, porque é necessário um aprendizado
crianças e empregue o máximo de esforço
realidade concreta. político e organizacional que só acontecerá
nesta formação. O apoio familiar gera base
na participação de reuniões, fiscalização do
sólida para a convivência escolar que se vê
cumprimento de combinações e decisões
TRABALHO EM EQUIPE amparada nas relações familiares,
tomadas nessas assembleias.
A educação é responsabilidade da produzindo boa convivência social.
Diante dessa realidade é preciso fazer
família e da escola, pois tudo que se relaciona Uma escola democrática busca uma
um estudo minucioso de como motivar os
com os filhos tem a ver de algum modo com educação que valorize o conhecimento do
pais a participarem da vida escolar dos filhos,
os pais e vice-versa, portanto a participação aluno, autonomia, valores morais, cultura e
através de ações, estratégias, projetos que
deve ser constante, consciente, pois a vida os professores devem estar dispostos a
despertem um desejo coletivo, uma mudança
familiar e a vida escolar são simultâneas e desenvolver ações democráticas na sala de
de postura em relação a escola e esta seja
complementares. aula tornando o ambiente verdadeiramente
vista não apenas como um lugar de alunos e
O que se percebe ultimamente é que democrático, onde os alunos aprendem a
professores, mas de toda família que os pais
os pais fazem todas as vontades dos filhos, conviver com as outras pessoas, respeitando
queiram participar e fazer a diferença na vida
sem aplicarem regras, limites, como diz as diferenças, discutam valores éticos e
a escolar do seu filho.
Cury: "Antigamente os pais eram autoritários, morais, e o professor seja modelo a ser
hoje são os filhos. Antigamente, os seguido pelos alunos.
professores eram os heróis dos alunos, hoje Na realidade a verdadeira Escola REFERÊNCIAS

são vítimas deles. Os jovens não sabem ser Democrática ainda está em construção. Há CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes,
professores fascinantes. Rio de Janeiro:
contrariados. Nunca na história assistimos a dificuldades em se construir essas parcerias, Sextante,2003. http://
crianças e jovens dominando tanto os adultos" a participação dos pais é restrita, demonstrada www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/
(2003). pelo pouco interesse e comparecimento nas pde/arquivos/1171-4.pdf> Acesso em: 05
de junho de 2012. Às 20 horas.
Os pais não sabem como se portarem Assembleias de Pais, entrega de boletins,

Resumen
Este trabajo es una reflexión sobre la importancia de la participación y la colaboración de la familia y toda la
comunidad escolar en la construcción de una escuela democrática, donde los valores, la ética, el respeto y la
educación en su conjunto se basa en la construcción de la ciudadanía.
Palabras clave: democracia, de la familia, la escuela, la sensibilización, la participación.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 23


INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES
EDUCATIVAS ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
UMA VISÃO DE GESTÃO
Rejane Jardim Fraga*

Resumo
Este trabalho vai identificar a importância da Gestão na Inclusão de crianças com necessidades educativas especiais
na Escola de Educação Infantil, estabelecendo ligação com a Equipe Docente, que possibilitará a Implementação
gradual do Projeto de Educação Inclusiva. Buscará conhecer o papel do Projeto Político Pedagógico e a importância
da Formação Continuada.
Palavras-chave: Educação Infantil. Educação Inclusiva. Projeto Político Pedagógico. Formação Continuada.

INTRODUÇÃO sociais. Com o objetivo de analisar e melhor


A inclusão é um trabalho efetivo e compreender o universo da Inclusão na
O artigo em questão busca Identificar
deve ser realizado em grupo, em equipe, Escola de educação infantil, procurarei nesse
a importância da Gestão na Inclusão de
devendo haver um envolvimento entre pais, trabalho, conhecer a Importância da
crianças com necessidades educativas
educadores, colegas, direção e educação infantil, assim como da educação
especiais na escola de Educação Infantil,
coordenadores. Não há como agir com a inclusiva. Revisitaremos a gestão na
estabelecendo ligação com a Equipe
criança pequena sem considerar suas educação infantil, abordando sua importância
Docente, que possibilitará a implementação
necessidades, seus medos e seus sentimentos. e como essa gestão fará a diferença no
gradual do Projeto de Educação Inclusiva
A inclusão das crianças com necessidades universo da inclusão, sendo ela uma gestão
dentro do Projeto Político Pedagógico. Outro
especiais geram ansiedade na criança, na democrática, afetiva e participativa.
fator fundamental para que a inclusão
família e nas pessoas da escola, que devem Para isso, inicialmente, relatarei sobre
realmente aconteça é a conscientização dos
estar preparadas para enfrentar esse desafio. a educação infantil; sua legislação e
professores. Com a formação continuada é
Cabe assinalar que, de acordo com a importância, procurarei definir o que se
possível estabelecer caminhos para
Lei de Diretrizes e Bases da Educação entende por inclusão e em que preceitos
promover a inclusão.
Nacional (LDB: Lei 9.394/96) em seu Artigo legais ela se apoia. Em seguida farei um relato
A inclusão de crianças com
11, é competência dos Municípios: Oferecer da importância da gestão, como organizar e
necessidades educativas especiais é um
a Educação Infantil em creches e pré-escolas implantar a Formação Continuada dos
movimento que vem ganhando cada vez mais
e, com prioridade, o ensino fundamental, professores, onde o assunto central é a
força, principalmente na última década, com
permitida a atuação em outros níveis de inclusão e a importância de um Projeto Político
muitas pesquisas sobre o assunto. Um marco
ensino somente quando estiverem Pedagógico que norteia e dá embasamento
histórico foi a Declaração de Salamanca
plenamente atingidas as necessidades de sua ao trabalho com crianças com necessidades
(UNESCO, 1994) que entre outros aspectos
área de competência e com recursos acima educativas especiais.
aponta:
[...] as crianças e jovens com necessidades dos percentuais mínimos vinculados pela
educativas especiais devem ter acesso às escolas Constituição Federal à manutenção e 2 EDUCAÇÃO INFANTIL E A
regulares, que a elas devem se adequar através de desenvolvimento do ensino. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
uma pedagogia centrada na criança, capaz de ir A educação infantil, durante muitos Verifica-se que, até meados do final
ao encontro destas necessidades. [...] adotar como anos, foi vista como um depósito de crianças. dos anos setenta, pouco se fez em termos de
matéria de lei ou como política o princípio da Essa visão não vinha só dos pais, mas também legislação que garantisse a oferta desse nível
educação inclusiva, admitindo todas as crianças dos donos dos estabelecimentos, dos de ensino. Já na década de oitenta, diferentes
nas escolas regulares, a não ser que haja razões governos e até dos próprios professores. Com setores da sociedade, como organizações
que obriguem a proceder de outro modo (p.2). o passar do tempo, as escolas de educação não-governamentais, pesquisadores na área
A escola de educação infantil hoje, infantil foram tomando um caráter da infância, educadores e outros, uniram
além de uma necessidade é um direito de pedagógico com grande preocupação forças com o objetivo de sensibilizar a
toda e qualquer criança, independente de também com a socialização dessas crianças. sociedade sobre o direito da criança a uma
classe, gênero, cor ou sexo. O trabalho dos Hoje em dia alarga-se o acesso à educação de qualidade desde o nascimento.
educadores da escola de educação infantil educação infantil e a inclusão acontece todo Foi com a Carta Constitucional de 1988 que
corresponde à assistência e a educação dia, sendo assim a Gestão da Escola deve esse direito foi efetivamente reconhecido. De
oferecendo um atendimento comprometido orientar, supervisionar e trabalhar com a acordo com Bittar (2003, p. 30), o esforço
com o desenvolvimento da criança em seus equipe de professores no estudo e busca do coletivo dos diversos segmentos visava
aspectos físico, emocionais, cognitivos e conhecimento sobre o universo inclusivo.
24 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12
assegurar na Constituição, "[...] os princípios criança: uma criança com direito de ser definir suas Propostas Pedagógicas deverão
e as obrigações do Estado com as crianças." criança. Direito ao afeto, direito de brincar, explicitar o reconhecimento da importância
Foi feita a inclusão das creches e pré- direito de querer, direito de não querer, direito da identidade pessoal de alunos, suas famílias,
escolas no sistema educativo ao inserir na de conhecer, direito de sonhar. Isso quer dizer professores e outros profissionais, e a
Constituição Federal de 1988 em seu artigo que são atores do próprio desenvolvimento. identidade de cada Unidade Educacional, nos
208, o inciso IV: O dever do estado com a Além da Constituição Federal de vários contextos em que se situem.
educação será efetivado mediante a garantia 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente, III - As Instituições de Educação Infantil
de educação infantil, em creche e pré-escola, destaca-se a Lei de Diretrizes e Bases da devem promover em suas Propostas
às crianças até cinco anos de idade; (redação Educação Nacional de 1996, que em seu artigo Pedagógicas, práticas de educação e
dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 29 fala que a educação infantil, primeira etapa cuidados, que possibilitem a integração entre
2006). da educação básica, tem como finalidade o os aspectos físicos, emocionais, afetivos,
A partir dessa Lei, as creches, desenvolvimento integral da criança até seis cognitivo/linguísticos e sociais da criança,
anteriormente vinculadas à área da anos de idade, em seus aspectos físico, entendendo que ela é um ser completo, total
assistência social, passaram a ser de psicológico, intelectual e social, e indivisível.
responsabilidade da educação. A orientação complementando a ação da família e da IV - As Propostas Pedagógicas das
passou a ser de que as instituições não apenas comunidade. Instituições de Educação Infantil, ao
cuidam das crianças, mas devem, sim, Cabe destacar a importância das reconhecer as crianças como seres íntegros,
desenvolver um trabalho educacional e Diretrizes Curriculares Nacionais para a que aprendem a ser e conviver consigo
pedagógico. Educação Infantil em sua Resolução CEB nº próprios, com os demais e o próprio ambiente
Dois anos após a aprovação da 1, de 7 de abril de 1999. de maneira articulada e gradual, devem
Constituição Federal de 1988, foi aprovado o I - As Propostas Pedagógicas das buscar a partir de atividades intencionais, em
Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei Instituições de Educação Infantil, devem momentos de ações, ora estruturadas, ora
8.069/90, que ao regulamentar o artigo 227 respeitar os seguintes Fundamentos espontâneas e livres, a interação entre as
da Constituição Federal, inseriu as crianças Norteadores: diversas áreas de conhecimento e aspectos
no mundo dos direitos humanos. Segundo a) Princípios Éticos da Autonomia, da da vida cidadã, contribuindo assim com o
Ferreira (2000, p.184), essa Lei é mais do Responsabilidade, da Solidariedade e do provimento de conteúdos básicos para a
que um simples instrumento jurídico, porque Respeito ao Bem Comum; constituição de conhecimentos e valores.
inseriu as crianças e adolescentes no mundo b) Princípios Políticos dos Direitos e V - As Propostas Pedagógicas para a
dos direitos humanos. O ECA estabeleceu Deveres de Cidadania, do Exercício da Educação Infantil devem organizar suas
um sistema de elaboração e fiscalização de Criticidade e do Respeito à Ordem estratégias de avaliação, através do
políticas publicas voltadas para a infância, Democrática; acompanhamento e dos registros de etapas
tentando com isso impedir desmandos, c) Princípios Estéticos da Sensibilidade, da alcançadas nos cuidados e na educação para
desvios de verbas e violações dos direitos Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade crianças de 0 a 6 anos, "sem o objetivo de
das crianças. Serviu ainda como base para a de Manifestações Artísticas e Culturais. promoção, mesmo para o acesso ao ensino
construção de uma nova forma de olhar a II - As Instituições de Educação Infantil ao fundamental".

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 25


VI - As Propostas Pedagógicas das necessariamente, promover o convívio com a Apesar de a inclusão de crianças
Instituições de Educação Infantil devem ser diversidade, que é marca da vida social brasileira. com necessidades educacionais especiais na
criadas, coordenadas, supervisionadas e Essa diversidade inclui não somente as diversas rede regular de ensino ser um direito garantido
avaliadas por educadores, com, pelo menos, culturas, os hábitos, os costumes, mas também pela Constituição Federal, isso não é suficiente
o diploma de Curso de Formação de as competências, as particularidades de cada um. para garantir a construção e o
Professores, mesmo que da equipe de Aprender a conviver e relacionar-se com pessoas desenvolvimento de um sistema educacional
Profissionais participem outros das áreas de que possuem habilidades e competências inclusivo. Para tanto, é necessário que a
Ciências Humanas, Sociais e Exatas, assim diferentes, que possuem expressões culturais e comunidade escolar se disponha a aceitar e
como familiares das crianças. Da direção das marcas sociais próprias, é condição necessária a participar desse processo, que é mais
instituições de Educação Infantil deve para o desenvolvimento de valores éticos, como complexo do que somente inserir a criança
participar, necessariamente, um educador a dignidade do ser humano, o respeito ao outro, com deficiência, fisicamente, numa sala de
com, no mínimo, o Curso de Formação de a igualdade e a equidade e a solidariedade. A aula comum (Aranha, 2004).
Professores. criança que conviver com a diversidade nas Diante do novo paradigma
VII - O ambiente de gestão democrática instituições educativas, poderá aprender muito educacional, que traz novos personagens para
por parte dos educadores, a partir de liderança com ela. Pelo lado das crianças que apresentam a escola, com suas individualidades, saberes
responsável e de qualidade, deve garantir necessidades especiais, o convívio com as outras e bagagens a serem desvendadas, é muito
direitos básicos de crianças e suas famílias à crianças se torna benéfico na medida em que importante que a formação dos professores
educação e cuidados, num contexto de representa uma inserção de fato no universo dê conta de atividades e alternativas que
atenção multidisciplinar com profissionais social e favorece o desenvolvimento e a facilitará as crianças a superar suas
necessários para o atendimento. aprendizagem, permitindo a formação de dificuldades, sua aprendizagem e com isso
VIII - As Propostas Pedagógicas e os vínculos estimuladores, o confronto com a criar hábitos e atitudes saudáveis.
regimentos das Instituições de Educação diferença e o trabalho com a própria dificuldade. No ano de 1996, a LDB, Lei nº 9394
Infantil devem, em clima de cooperação, A LDB, no capítulo V, Da educação ajusta-se à Legislação Federal, apontando
proporcionar condições de funcionamento especial, parágrafo 3o, determina que: "A que, aos portadores de necessidades
das estratégias educacionais, do uso do oferta de educação especial, dever especiais, deve dar-se a preferência na rede
espaço físico, do horário e do calendário constitucional do Estado, tem início na faixa regular de ensino. Nos artigos 58, 59 e 60
escolar, que possibilitem a adoção, execução, etária de zero a seis anos, durante a educação ressaltam, orienta e assegura a inclusão do
avaliação e o aperfeiçoamento das diretrizes. infantil" e mais, "para que o processo de educando na rede regular de ensino. Após
Ainda para consolidar o trabalho na integração dessas crianças possa acontecer vários estudos e atendendo aos Referenciais
Educação Infantil foi criado o Referencial de fato, há que se envolver toda a para a Educação Especial, fica elaborado o
Curricular Nacional para a Educação Infantil, comunidade, de forma a que o trabalho texto próprio para a edição em 2001, das
em 1998, com o objetivo de contribuir para a desenvolvido tenha sustentação. É preciso Diretrizes Nacionais para a Educação
implementação de práticas educativas de considerar este trabalho como parte do projeto Especial na Educação Básica em dois temas:
qualidade no interior das Escolas de educativo da instituição". a organização dos sistemas de ensino para o
Educação Infantil. Esse documento ressalta A inclusão de crianças com atendimento ao aluno que apresenta
que as crianças devem: necessidades educativas especiais é um necessidades educacionais e a formação do
movimento que vem ganhando cada vez mais professor.
força, principalmente na última década, com
3 EDUCAÇÃO INCLUSIVA muitas pesquisas sobre o assunto. A partir de
Refletir e respeitar, possibilitando a
O desafio da Escola de Educação inclusão é que foi sendo incorporado na
1994 com a Declaração de Salamanca muito história da educação inclusiva. Para Sassaki:
Infantil em relação à Inclusão é preparar-se foi feito e organizado buscando atender e
para receber crianças com necessidades A integração social, afinal de contas, tem
incluir as pessoas com necessidades consistido no esforço de inserir na sociedade
especiais através de estudo sobre a especiais.
convivência com elas, favorecendo a sua pessoas com deficiência que alcançaram um
A escola deve atender aos alunos com nível de competência compatível com os padrões
inserção no contexto educativo. necessidades educativas especiais, sociais vigentes. A integração tinha e tem o
É necessário acreditar em uma respeitando sua cultura, de modo a favorecer mérito de inserir o portador de deficiência na
Pedagogia centrada na criança, nas suas o resgate da cidadania; a promoção de suas sociedade, sim, mas desde que ele esteja de
diferenças e potencialidades, sendo elas ditas potencialidades; o despertar para o alguma forma capacitado a superar essas barreiras
"normais" ou não. Na construção da proposta compromisso comunitário e a vivência físicas, programáticas e atitudinais nela
pedagógica a escola busca referencia no solidária participativa, solidificando desta existentes. Sob a ótica dos dias de hoje, a
Referencial Curricular Nacional para a forma, seu papel social e possibilitando às integração constitui um esforço unilateral tão
Educação Infantil que nos esclarece: crianças uma educação de qualidade, somente da pessoa com deficiência e seus aliados
Uma ação educativa comprometida com a
preservando seu bem-estar físico, e (a família, a instituição especializada e algumas
cidadania e com a formação de uma sociedade
estimulando seus aspectos cognitivo, pessoas da comunidade que abracem a causa da
democrática e não excludente deve,
emocional e social. inserção social), sendo que estes tentam torná-la

26 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12


mais aceitável nos seio da sociedade." (1997, p. a visão dos professores, a inclusão toma um do currículo para os alunos com necessidades
34). espaço, um lugar diferenciado e significativo, educativas especiais numa base comum aos
Na visão do autor, é necessária a como nos diz Drago (p.148). Ao se demais alunos, já que o princípio da educação
autonomia das pessoas com necessidades ressignificar a escola, a sala de aula, a gestão inclusiva é não alijar ninguém das
especiais, para que assim haja integração da escola, os princípios avaliativos, o acesso condições gerais de progressão escolar. O
social. e a permanência do aluno, a ação docente e currículo não sofre alteração fundamental,
O objetivo da inclusão é abrir pedagógica, dentre outros fatores, pode-se porém as características de aprendizagem
caminhos para uma nova mudança, é vislumbrar possibilidades de implementação dos alunos com necessidades especiais são
consolidar a prática da integração respeitando de princípios inclusivistas que contribuirão sem dúvida, levadas em conta (Beyer, p. 69).
as necessidades educativas especiais, pois para que o aluno com deficiência se aproprie E essa tarefa passa basicamente pela
com isso pode ocorrer a aprendizagem dos conhecimentos de acordo com suas gestão da escola que deve estar atenta e
desejada, conquistando o espaço necessário potencialidades e particularidades. participativa nesse processo. A direção de
na escola e na sociedade. Para uma das uma escola tem um papel fundamental na
defensoras da educação inclusiva no Brasil, 4 PROJETO POLÍTICO condução da prática educacional, tendo por
Maria Tereza Égler Mantoan, a inclusão, horizonte os princípios, objetivos e metas
É a nossa capacidade de entender e
PEDAGÓGICO
estabelecidos no projeto político-pedagógico.
Uma escola que pretende ser
reconhecer o outro e assim, ter o privilegio A ela cabe promover a mobilização dos
inclusiva tem que passar por inúmeras
de conviver e compartilhar com pessoas professores e funcionários e a constituição
adaptações para que consiga englobar o maior
diferentes de nós. A Educação inclusiva do grupo enquanto uma equipe que trabalhe
número de indivíduos no seu ambiente. Essas
acolhe todas as pessoas sem exceção. É para cooperativa e eficientemente. A direção de
adaptações passam pela forma de pensar,
o estudante com deficiência física, para os uma escola precisa ser dinâmica,
pela gestão da escola, pela proposta
que têm comprometimento mental, para os comprometida e motivadora para a
pedagógica, pela avaliação e pela formação
superdotados, para todas as minorias e para participação de todos os atores sociais. Ela
dos professores.
a criança que é discriminada por qualquer necessita saber delegar poderes e estimular
A primeira condição para a educação
outro motivo. Costumo dizer que estar junto é a autonomia, valorizando a atuação e a
inclusiva não custa dinheiro: ela exige uma
se aglomerar no cinema, no ônibus e até produção de cada um (Aranha, 2004).
nova forma de pensar. Precisamos entender
mesmo na sala de aula com pessoas que não O diretor tem o papel mais
que as crianças são diferentes entre si. Elas
conhecemos. Já a inclusão é estar com, é importante, pois fica com a missão de
são únicas em sua forma de pensar e
interagir com o outro (2005, p. 24). identificar e mobilizar os diferentes talentos
aprender. Todas as crianças, não apenas as
Quem vive a Inclusão sabe que está para que as metas sejam cumpridas. E,
que apresentam alguma limitação ou
participando de algo inovador, revolucionário principalmente conscientizar toda a equipe
deficiência são especiais. Por isto, também é
e que exige do educador estudo, da escola da importância da contribuição
errado exigir de diferentes crianças o mesmo
planejamento, avaliação e olhar crítico e individual para a qualidade da educação. Ela
desempenho e lidar com elas de maneira
afetivo sobre as crianças que estão sob sua precisa ser uma figura presente, ponto de
uniforme. O ensino deve ser organizado de
tutela. É necessário que o professor se inclua referência da personalidade e missão da
forma que contemple as crianças em suas
nesse processo, onde colabora para a escola. Precisa, também, ser respeitosa nas
distintas capacidades. A individualização dos
formação de pessoas solidárias e que relações interpessoais, inclusive nas ocasiões
alvos, da didática e da avaliação (Beyer, p.
respeitam os outros. A escola precisa buscar em que tem que promover ajuste no percurso
29).
técnicas, recursos e formação para receber de cada agente (Aranha, 2004).
Nesse ponto entram as adaptações
essas crianças incluindo-a em seus Nessa nova realidade, cabe a ele
curriculares que não vão tratar de como essa
momentos pedagógicos, como preconiza o desenvolver algumas competências, como
criança vai chegar à escola, e sim de como
Referencial Curricular Nacional para a aprender a buscar parcerias, trabalhar com
ela vai permanecer e de como vai se
Educação Infantil (BRASIL, p. 36). as diferenças e mediar conflitos, ter coragem
desenvolver o trabalho pedagógico, visando
O principal desafio da Escola para buscar soluções alternativas, estar em
atingir um processo pleno de ensino
Inclusiva é desenvolver uma Pedagogia sintonia com as mudanças e não perder de
aprendizagem.
centrada na criança, capaz de educar a todas, vista as metas educacionais. Deve também
Só com um currículo adaptado para
sem discriminação, respeitando suas criar vínculos com as famílias tornando a
a faixa etária da educação infantil e flexível
diferenças; uma escola que dê conta da entrada das crianças na escola um fator
é que a escola poderá atender às
diversidade das crianças e ofereça respostas positivo. Outro papel importante da direção é
necessidades específicas de aprendizagem
adequadas às suas características e exercer liderança na comunidade. Trazer as
de cada aluno para com isso contemplar em
necessidades, solicitando apoio de instituições famílias e demais setores da comunidade para
seu universo um número cada vez maior de
e especialistas quando isso se faz necessário. dentro da escola promove, em todo o sentido
alunos. Pode-se pensar, assim, na formulação
Ressignificando os espaços, a escola, da responsabilidade e do cuidado de um bem

1
Alijar - lançar fora da embarcação, desembaraçar, arremessar.
Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 27
que é de todos. Contar com a participação da necessidades educativas especiais, em um ambiente acolhedor, integrador e
família e da comunidade fortalece a respeitando sua cultura, de modo a favorecer lúdico.
segurança e faz com que a escola caminhe o resgate da cidadania; a promoção de suas A classe inclusiva precisa ser pré-
na direção de cumprir com sua missão e potencialidades; o despertar para o planejada. Aspectos importantes são: a
persiga nos seus diferentes objetivos (Aranha, compromisso comunitário e a vivência formação de relacionamentos, um ambiente
2004). solidária participativa, solidificando desta afetuoso e generoso, a igualdade, a
É preciso levar em conta o Projeto forma, seu papel social e possibilitando às possibilidade de apoio permanente, e altas
Político Pedagógico, as adaptações referentes crianças uma educação de qualidade, expectativas em relação a necessidades
às atividades e as adaptações individuais para preservando seu bem-estar físico, e múltiplas. As estratégias valorizadas são o
o atendimento a cada aluno. No caso do estimulando seus aspectos cognitivo, trabalho em equipe de professores e alunos,
Projeto Político Pedagógico, ele tem que ser emocional e social. a aprendizagem cooperativa, a intensificação
pensado de forma a atender todos os alunos, das relações sociais, as adaptações de
focando a organização escolar e seus 5 FORMAÇÃO CONTINUADA equipamentos e a gestão curricular.
serviços de apoio, garantindo que todos No Projeto Político Pedagógico da (Pacheco, p. 115). Diante do novo paradigma
possam alcançar um mesmo objetivo dentro escola deve estar contemplado um tema educacional, que traz novos personagens para
da sala de aula. fundamental para a organização curricular a escola, com suas individualidades, saberes
O Projeto Político Pedagógico de que é a Formação Continuada dos e bagagens a serem desvendadas, é muito
uma escola é o instrumento teórico professores. Esses encontros onde os diálogos importante que a formação dos professores
metodológico, definidor das relações da educacionais são à base do trabalho dê conta de atividades e alternativas que
escola com a comunidade a quem vai atender, pedagógico na escola, devem acontecer facilitarão às crianças a superarem suas
explicita o que se vai fazer, porque se vai através de reuniões, de maneira tranquila e dificuldades, para sua aprendizagem e com
fazer, para que se vai fazer, para quem se com muito embasamento. É nessa isso criar hábitos e atitudes saudavéis.
vai fazer e como se vai fazer. É nele que se perspectiva que a escola deve promover Como se considera o professor uma
estabelece a ponte entre a política educacional cursos, formações e reuniões de equipe com referência para o aluno e não apenas um mero
do município e a população, por meio da temas variados que vão desde a legislação, instrutor, a formação enfatiza a importância
definição dos princípios, dos objetivos aprendizagem, nutrição, adaptação, de seu papel tanto na construção do
educacionais, do método de ação e das desenvolvimento infantil, afetividade, conhecimento, como na formação de atitudes
práticas que serão adotadas para favorecer o socialização. Esses estudos contribuem para e valores do cidadão. Assim sendo, a
processo de desenvolvimento e de aumentar o conhecimento teórico e prático formação vai além dos aspectos instrumentais
aprendizagem das crianças e adolescentes dos profissionais da educação sobre as do ensino (Mantoan, p. 49).
da comunidade (Aranha, 2004). necessidades educativas especiais, em Criar um espaço da prática de valores
No Projeto Político Pedagógico que é relação ao processo de aprendizagem com o essenciais à vida com dignidade, onde estão
uma proposta flexível a ser concretizada nos objetivo de mudar atitudes e comportamentos. presentes: o respeito, a solidariedade, a
projetos educacionais deve estar contida a Apesar de a inclusão de crianças compreensão mútua, o diálogo e o senso de
organização de propostas e projetos de com necessidades educacionais especiais na justiça é responsabilidade da escola que
inclusão, onde ao receber todas as crianças a rede regular de ensino ser um direito garantido contribui para transformar a realidade atual.
instituição seja parceira e comprometida com pela Constituição Federal, isso não é suficiente A inclusão é uma opção ética e afetiva.
a caminhada de inserção no ambiente escolar. para garantir a construção e o A afetividade depende muito do
Seu desenvolvimento requer desenvolvimento de um sistema educacional professor, porque, se ele acolher a criança
reflexão, organização de ações e a inclusivo. Para tanto, é necessário que a com necessidades educativas especiais, o
participação de todos - professores, comunidade escolar se disponha a aceitar e grupo de trabalho em que ela participa terá
funcionários, pais e alunos, num processo a participar desse processo, que é mais grandes chances de acolhê-la bem. A maneira
coletivo de construção. Sua sistematização complexo do que somente inserir a criança como o professor se relaciona com o aluno
nunca é definitiva, o que exige um com deficiência, fisicamente, numa sala de dito especial reflete nos demais, servindo
planejamento participativo, que se aperfeiçoa aula comum (Aranha, 2004). como modelo. O professor é um modelo de
constantemente durante a caminhada. A atuação do professor fará toda a identidade para a turma. Assim, seu papel
Nenhuma escola poderá alcançar objetivos diferença no desenvolvimento da como motivador de relações afetivas é
significativos, para os alunos e para a aprendizagem da criança com necessidades preponderante. Afetividade é importante,
comunidade na qual se encontra inseridos, educativas especiais, que procurará integrar tanto para crianças, quanto para adultos, e
se não tiver um projeto que norteie e dê e montar planos de aulas que não dividam a assim se incluem os professores, que
suporte para a ação de cada um de seus turma e sim possibilite a cooperação, o também precisam de afeto, também
agentes (Aranha, 2004). diálogo. Respeitar as diferenças e a precisam se sentir bem. Os professores, neste
Ao implementar um Projeto Político individualidade de cada criança processo de educação escolar inclusiva,
Pedagógico a escola deve atender às transformando o ambiente da sala de aula também precisam ser "incluídos", uma vez
necessidades educacionais dos alunos com que o sucesso deste também depende deles
28 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12
(Selau, p. 84). responsáveis pela inclusão de alunos que vem Brasília: Ministério da Educação e do
Desporto - Brasília: 1998.
Nesse contexto o professor deve se sendo excluídos do sistema de ensino. "A
__________. Referencial curricular
organizar para dar conta das múltiplas inclusão, então, aparece como propulsora de
nacional para a educação infantil:
questões educacionais, revendo sua prática, uma nova visão da escola. Agora sob a estratégias e orientações para a
sua metodologia e tornando-se o grande narrativa do respeito às diferenças, educação de crianças com necessidades
educacionais especiais. Ministério da
mediador do processo de adaptação, ensino- oportuniza-se a educação diferente para Educação - Brasília: MEC, 2000.
aprendizagem e inclusão efetiva das crianças compensar as diferenças sociais." (p. 407).
__________. Programa educação
com necessidades educativas especiais, A inclusão é um desafio! Isto é um Inclusiva - Direito à adversidade - Brasília:
buscando parceria com a família e sendo fato que está transformando a educação e o Ministério da Educação - Secretaria De
Educação Especial, 2004.
agente efetivo do que acontece dentro da papel da escola como um sistema integrado
escola. Facion (2008) esclarece: "Nesse é fundamental. Tal desafio implica a ação de DECLARAÇÃO DE SALAMANCA e linha
de ação sobre necessidades
contexto, o professor vem extrapolando sujeitos que se encontram conectados, os educacionais e especiais, Brasília. Editora
progressivamente o seu caráter de mediador quais não podem prescindir de sua Corde, 1994.
do processo de conhecimento do aluno, responsabilidade para que esta escola DRAGO, Rogério. Inclusão na Educação
ampliando a sua missão para além da sala de inclusiva se torne possível. Esta Infantil. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
aula, a fim de garantir uma articulação entre responsabilidade conjugada engloba os FACION, Jose Raimundo. Inclusão
a escola e a comunidade" (p.145). próprios alunos, as famílias, os professores, escolar e suas implicações. Curitiba:
IBPEX, 2008.
A proposta de formação deve se as equipes diretivas e pedagógicas, os
FERREIRA, Maria Clotilde Rosseti (org.)
basear em princípios educacionais efetivos, funcionários, e, finalmente, os gestores do Os fazeres na educação Infantil. São
onde podemos reconhecer à cooperação, a projeto político pedagógico (Beyer, p.62). Paulo. Cortez. 2000.
autonomia intelectual e social, a Lei de Diretrizes e Bases da
aprendizagem significativa e o Educação Nacional (LDBN). Lei nº 9394/
reconhecimento do papel de mediador do 96. Disponível em pt.wikipedia.org/wiki/
Lei_de_Diretrizes_e_Bases_da_
professor na sala de aula, no contato direto Educa%C3%A7%C3%A3o_Nacional
com as crianças. Nesse contexto o professor MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão
é uma referência para o aluno e não apenas REFERÊNCIAS Escolar: O que é? Por quê? Como fazer?
um mero instrutor, pois enfatiza a importância São Paulo: editora Moderna, 2006.
BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação
de seu papel tanto na construção do na escola de alunos com __________, Maria Teresa Egler. A
necessidades educacionais integração de pessoas com
conhecimento, como na formação de atitudes especiais. Porto Alegre: Mediação, 2010. deficiência. Contribuições para uma
e valores do futuro cidadão. Assim sendo, a reflexão sobre o tema. São Paulo:
BITTAR, M: Silva, J; Mota, M.A.C.
formação continuada vai além dos aspectos Memnon, 2005.
Formulação e implementação da política
instrumentais de ensino. Portanto, a formação de educação infantil no Brasil. In: MICHELS, Maria Helena. Gestão,
RUSSEFF, Ivan; BITTAR, Mariluce. Formação Docente e Inclusão: Eixos
continuada deve adotar uma metodologia de Educação infantil, política, formação de reforma Educacional Brasileira que
busca da identidade da equipe, onde enfatiza e prática docente. Campo Grande, M S: atribuem contornos à Organização
os saberes, os conhecimentos, as crenças, as UCDB, 2003. escolar. Rio de Janeiro. 2006
experiências e as maneiras de trabalhar de BRASIL. A Educação Especial na ROCHA, Ruth. Minidicionário. São
cada professor. Perspectiva da Inclusão Escolar: A Paulo: Editora Scipione, 1996.
Escola Comum Inclusiva. Brasília:
Para Michels (2006) a gestão e a Ministério da Educação, Secretaria de PACHECO, José. Caminhos para a
inclusão: um guia para o
educação inclusiva, juntamente com a Educação Especial, 2004. Disponível em
aprimoramento da equipe escolar.
www.mec.gov.br.
formação de professores, são eixos Porto Alegre: Artmed, 2001.
articulados que atribuem à escola, desde a __________. Diretrizes nacionais para
a educação especial na educação SASSAKI, Romeu. K. Inclusão -
década de 90, uma nova organização. A partir básica. Brasília: Secretaria de Educação construindo uma sociedade para
desse pressuposto, a autora afirma que todos Especial - MEC; SEESP, 2001. todos. Rio de Janeiro: WVA. 1997, p.34.

os professores são gestores da educação e __________. Referencial curricular SELAU, Bento. InCLUSÃO na sala de
nacional para a educação infantil. aula. Editora Evangraf. Porto Alegre,
da escola, sendo que esses profissionais são 2007.

Resumen
Este trabajo será identificar la importancia de la gestión en la inclusión de niños con necesidades educativas
especiales en la Escuela de Educación Infantil, el enlace con la enseñanza en equipo, lo que permitirá la aplicación
gradual del Proyecto de Educación Inclusiva. Tratar de entender el papel del Proyecto Político Pedagógico y la
importancia de la educación continua.
Palabras clave: Educación Infantil, Educación Inclusiva, Proyecto Político Pedagógico, Educación Continua

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 29


Histórias Inesquecíveis
Nesta seção da Revista, você pode encaminhar histórias da sua vida,
aquelas que marcaram de algum modo as vivências na trajetória educacional.

Certo dia, ao participar de um virei de costas para o restaurante e "terminei o 1º grau, fiz o 2º grau e
evento da Associação dos de repente ouvi uma linda voz atrás estou trabalhando neste restaurante
Orientadores Educacionais do Rio de mim dizendo: "Professora como chefe de cozinha. Venci na vida
Grande do Sul, no Clube do Yolanda!?" Virei-me e dei de cara por sua culpa, pois se não fosse a sua
Comércio, sito à Praça da Alfândega, com um belo exemplar masculino que persistência, o seu bom exemplo,
em Porto Alegre, após o almoço, eu parecida da família do "Adônis" ou talvez eu nem estivesse neste mundo".
e minha amiga e parceira de trabalho "Apolo". Um negro muito lindo. Aliás, Meus olhos se encheram de lágrimas
Angelita Vargas Brazil, fomos a raça negra é muito linda, diga-se pois é emocionante ouvir algo deste
passear pela Rua dos Andradas (Rua de passagem!!! Orgulho-me de ser tipo de alguém que saiu vencedor do
da Praia) para passar o tempo até às descendente desta raça, ainda Campo da Tuca (uma das vilas com
14 horas (horário que recomeçava o misturada com índio paraguaio. maior periculosidade de Porto
evento). Olhamos as vitrinas, Depois do primeiro impacto, disse- Alegre), pois, normalmente se tem
conversamos bastante sobre diversas lhe que se me chamou de professora, notícias daquela clientela pelos
coisas e pouso antes da Casa de deveria ter sido meu aluno. Ele jornais nas páginas policiais ou no
Cultura Mario Quintana, paramos um confirmou, havia sido meu aluno na obituário. Esta é a gratificação que
pouco. Chamei a atenção da Angelita 3ª série do 1º Grau na Escola Estadual se pode esperar quando se é
para a faixada de um restaurante de 1º grau Incompleto Jerônimo de professor. O reconhecimento de que
novo, chamado Qualytá onde foi Albuquerque. Fiquei feliz em ser fiz a diferença nesta vida e na vida
preservada a estrutura antiga e foi reconhecida por um aluno que passou de alguém. Não há dinheiro que
pintada de um rosa muito suave pelas minhas mãos. Mais feliz ainda pague isso!
pendendo para o salmão. Enquanto e emocionada quando ele me disse,
estávamos admirando e comentando quando perguntei o que teria feito da Yolanda Pereira Morel
sobre a fachada do estabelecimento, sua vida depois daquele tempo: Presidente da ASSERS

Em 1963, eu tinha a minha rescindido o contrato). Vinha também, eu era burra ou não era alfabetizada.
primeira turma de alunos (foi quando um modelito da prova para o que se não fosse, que deveria cursar
comecei no magistério). Naquela professor dar uma olhada. Uma das o MOBRAL. eu fiquei tão apavorada
época, as avaliações eram feitas questões trazia o desenho de um com tudo que eu não consegui olhar
somente através de provas que ancinho e pedia que a criança nos olhos a tal fiscal e só enxergava o
vinham, da SMED do município, completasse a palavra que tinha falta colar de bolas que ela trazia colado
prontas e lacradas como se fossem de algumas letras (atividade de no pescoço. Fiquei tão traumatizada
para um vestibular ou concurso. Era lacunas). Quando li esta questão, me que até hoje, quando vejo alguém com
um dia de festa para as famílias. Junto apavorei pois sabia que naquela região um colar de bolas, eu não consigo
com as provas vinha dois fiscais da não se falava em "ancinho" e sim olhar nos olhos da mesma. Hoje,
SMED para aplicar, o instrumento "rastilho ou rastel" e a criançada não quando conto esta história, dou muita
junto, com a professora da sala. Se acertaria. Muito humildemente me risada, mas naquela época foi triste.
no resultado final não houvesse 50% aproximei de uma das fiscais e
mais um de aprovados na turma, a comentei o possível erro na prova. A Maria José Machado de Lima
professora era despedida (era fiscal me encarou e me perguntou se Vice-Presidente da ASSERS
30 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12
Retratando Poetas

Conhecimento vai Pode ser?


Conhecimento vem
E as pessoas também
A imaginação voa
Vá saber! Yolanda Pereira Morel
Para além dos horizontes
Como uma asa delta
Livre, leve e solta
Como se quisesse dizer
Aos quatro ventos
Que ninguém o prende
Que é preciso socializar
Para crescer
É preciso coragem para seguir à diante
Enfrentando todos os desafios e obstáculos
É pura adrenalina
Um vôo livre
Como a do condor
Que se atreveu a sair do ninho
E testar o que a vida tinha para lhe dar
Coragem é a palavra
Aventura
Incerteza
Amor
Vida!
Pode ser?
Vá saber, não é?

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - No 9, junho, 2 0 12 31


XXI Encontro Estadual de Supervisores

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