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Sociedade:. Ecumênica:. do Triângulo: e da Rosa:. Dourada:.

Fraternidade:. Espiritualista:. do Cruzeiro:. do Sul:.


Templo Xangô Quatro Luas:.

Núcleo de Estudos Espirituais

Fundamentos da Umbanda – Apt. II

O conhecimento relativo às ervas I - Introdução

Ìbá Òsónyìn. Ìbá onì ewé. Kó si akobà ewé. Àsé.


“Saúdo Ossaím, o Senhor das folhas. Eu
elogio e rendo graças ao dono das folhas.
Axé.

Ko si ewè, ko si Orixá, “sem folha, sem Orixá”. Esse conceito místico estabelecido ao interno da estrutura dos
cultos de matrizes africanas e pertencente à Ossaím resume a abrangência de seu poder de ação e a dimensão do
conceito “culto-planta” verificado em relação a todos os Orixás e seus Fundamentos ritualísticos, afirmando a
delicada relação existente entre ser e planta.
O universo magístico espiritual das plantas sagradas revela os diferentes mistérios da regeneração vegetal,
estabelecendo um aspecto cíclico. Seja como Iniciado, adepto ou simpatizante, o sagrado que permeia as
manifestações relativas às ervas não lhes é de certa forma desconhecido, cada qual lidando com seu grau afim de
conhecimento. Seja como um Iniciado que compreende segredos mais profundos no que tange ao cerimonial das
folhas ou na preparação de um simples banho de ervas com diferentes intuitos por pessoas menos conhecedoras
do culto, todos, de certa forma, manipulam e conjuram as diferentes forças que comungam com a natureza das
plantas litúrgicas.
Esse é um conhecimento muito extenso. Aqui esbarramos em ritos, em conceitos sobre a regeneração cíclica,
no poder encerrado nos atos de plantio e colheita, nas oferendas, nas personificações míticas que esbarram nas
plantas mais importantes para o culto, no plano das Divindades consideradas agrárias e até mesmo nos aspectos
de sexualidade, vida, morte e renascimento como veremos nos apontamentos que se seguirão a esse.
Na Umbanda, os diferentes grupos das ervas tidos como “sagradas” (uma vez que nem todas são assim
consideradas) exercem um papel fundamental ao interno da estrutura litúrgica e ritualística. Esse rico conjunto de

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informações, sejam essas teóricas, magísticas ou iniciáticas, faz com que o conhecimento relativo às plantas e sua
manipulação se posicione como um de seus maiores Fundamentos. Soma-se a esse aspecto a capacidade de ser um
Fundamento que se apresenta como determinante dos segredos de ativação e sustentação de outros tantos,
fazendo com que as ervas ocupem uma posição essencial junto à liturgia do sagrado, tornando-se indispensáveis.
Em sua estrutura espiritual, a Umbanda constitui uma Doutrina que professa e manipula a todo momento o
sagrado e o segredo. O primeiro, valendo-se das relações que estabelecemos com o inteiro conjunto de símbolos e
correspondências, se desponta em todas as suas manifestações, sobretudo aquelas que lidam com a vastidão de seu
conteúdo magístico. O segredo, por sua vez, sustenta essas mesmas manifestações, custodiando os aspectos mais
“finos” e que não devem tomar parte das manifestações ditas profanas ou abertas a todos os seus adeptos. Dessa
forma o segredo que de fato existe ao interno das principais manifestações da Umbanda sustenta o sagrado, numa
relação harmônica entre dois segmentos: o iniciático e o mediativo.
Dando vozes ao espírito de seus adeptos e Guias, a Umbanda procura unir diferentes estruturas
fragmentadas através das relações ancestrais que estabelece. Assim, possibilita uma série de interações que
procuram enfatizar as relações diretas entre os diferentes planos em que se descortinam a existência, seja essa
terrena ou espiritual, sem que necessariamente ocorra a necessidade de dividi-los ou dissociá-los dentro de uma
linha que não permita outras tantas diferentes interpenetrações.
Ao lidar com a Umbanda é importante conhecer as suas práticas, desenvolvendo pouco a pouco pela
experiência e pela vivência mística o axé de manipulação reconhecido no poder de transmissão. Assumindo
características fundamentalmente espirituais e consolidando-se como estruturas magísticas, no sentido das
manipulações que envolvem, os Terreiros se apresentam como os focos onde esse poder de transmissão ocorre de
maneira gradual e direta, não apenas no sentido de conhecimento teórico (o qual pode ser alcançado externamente
por qualquer um), mas naquele da vivência e da imersão nas diferentes faces do sagrado e em suas variadas formas
de manifestação.
A transmissão empurra para a experiência, ou seja, o conhecimento adquirido gradualmente deve também ser
experimentado de maneira coerente, de modo a permitir a penetração e a criação dos vínculos necessários não
somente para a compreensão daquilo que realmente revelam em essência, mas também das inter-relações que
estabelecem. É preciso saber o que fazer com o conhecimento que se adquire ao interno da Umbanda. Acumulá-
lo apenas não significa nada, partindo das diferentes razões pelos quais existem e foram consolidados. É como
uma escola onde se aprende como manipular os conhecimentos aprendidos e não apenas a manter teorias e
especular sobre as mesmas. Da mesma forma que adquirir o conhecimento externo denota tempo, aquele
espiritual requer mais tempo ainda, uma vez que não pode ser apenas acumulativo.
A totalidade do universo místico da Umbanda que trata das ervas, e cujos aspectos mais elaborados
distanciam-se dos olhares e atitudes profanas, estabelece sua base na essência ou tônica espiritual de diferentes
grupos reunidos e distintos de plantas. As potencialidades ocultas desses mesmos grupos podem ser despertadas
em seus diferentes níveis ou modulações por meio do conhecimento de suas particularidades e das relações
existentes entre um grupo de ervas e outro. Essas variantes podem tender para o aspecto positivo ou negativo,
sempre de acordo com o direcionamento estabelecido por intermédio da sintonia delicada entre o operador e as
propriedades magísticas encerradas na natureza de cada planta considerada sagrada.

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Existe uma grande quantidade de ervas com as quais podemos lidar ao interno da Umbanda e dentro das
mais variadas formas. Contudo, o termo “sagrado”, usado de modo genérico para se referir ao universo herbário,
em realidade alude a conjuntos bastante específicos e distintos de plantas, as quais passam a ser consideradas
litúrgicas ou ritualísticas em concordância com o simbolismo, as potencialidades medicinais, magísticas ou rituais
que agregam.
A importância desse conceito litúrgico aumenta ou diminui na proporção da “estima” que determinada erva
possui ao interno do cerimonial herbário ou então segundo as ponderações e atribuições que lhe são dirigidas,
assim como ao papel que desempenha ao interno do culto, sobretudo da estrutura iniciática e magística. Essa
estrutura como se verá adiante, encobre propositalmente o sagrado de modo a se preservar seus argumentos mais
delicados.
Dessa forma, iniciaticamente se dispensa um tempo bastante extenso na consideração dos aspectos
ritualísticos, simbólicos e magísticos de uma grande quantidade de ervas. Esses, por sua vez, se diferenciam em
suas particularidades segundo sua natureza puramente magística e aquela que define a capacidade de determinada
erva em atrair, descarregar, imantar, rechaçar, potencializar, assentar e particularizar diferentes energias por meio
das relações estabelecidas entre ser e planta.
Não há como discorrer sobre a natureza magístico das plantas sagradas sem mencionar as relações diretas
com o contexto iniciático. Antes, de certo modo, é esse quem oferece uma grande carga de informações àquele
conhecido pelos adeptos e praticantes da Umbanda, de modo a complementar o conhecimento já existente,
sobretudo no que se refere aos Orixás. O aspecto iniciático estabelece relações minuciosas entre Orixás, mitos,
poder de transmissão e natureza magística, uma vez que ao “cantar as folhas” no decurso do Rito de Òsànyìn, os
Iniciados não somente revivem o mito sagrado, afirmando suas particularidades, como também narram a história
das principais ervas litúrgicas e estabelecem contatos espirituais poderosos por intermédio de um rito de
regeneração.
O ato ritual estabelece uma afinidade incontestável e muito particular entre os diferentes aspectos do
universo místico e magístico que as permeiam, por meio da participação em um ritual muito reservado, cujos
aspectos essenciais se repetirão em cada uma das iniciações secundárias e cuja custódia se encontra sob a
responsabilidade direta do Balòssànyìn ou Jísí, o Sacerdote responsável pela colheita, maceração e libertação dos
poderes magísticos atribuídos às plantas litúrgicas e empregados no extenso ritual iniciático.
Contudo, ao penetrar no aspecto litúrgico das ervas, independente se pela porta iniciática ou do adeptado, é
preciso compreender um aspecto dessa relação com as plantas; aquele que nem toda erva é considerada litúrgica,
embora o epíteto de “sagrada” lhes sejam atribuídos naturalmente. De fato, é da se considerar que todas as plantas
possuem particularidades que definem suas potencialidades medicinais e magísticas, donde podemos por conta
própria considerá-las sagradas. Todavia, essa classificação é bastante particular ao interno do culto, diferenciando-
se inclusive no que se refere a sua aplicação ritual e iniciática.
Esse conjunto de relações implica em responsabilidades particulares, cuja importância e observação devem
ser levadas em consideração. Ervas usadas potencialmente para descarregar, por exemplo, não podem, sob
nenhum aspecto, serem empregadas para “assentar” um Orixá no decurso de um rito iniciático. Por isso existem
três “abòs” (banhos litúrgicos específicos) diferentes que particularizam cada ato e sequência ritual. Ervas quentes
não se harmonizam com ervas frias, seja em que composição for, anulando quando misturadas, os efeitos de um
grupo ou de outro. Ervas da água “apagam” os efeitos daquelas de fogo. Ervas ditas “de guerra” (gún), por

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exemplo, não podem ser usadas em banhos para pessoas agitadas, uma vez que potencializam os seus efeitos,
sendo que o termo gun, empregado para diferenciá-las, não faz qualquer referência à Ògún, ou seja, não
necessariamente são ervas pertencentes ao conjunto litúrgico desse Orixá.1
Nem toda erva dita “calmante” pode ser utilizada por todas as pessoas. Iniciados, por exemplo, possuem um
conjunto de ervas que lhes são restritas e das quais não podem fazer uso por uma série de particularidades
associadas ao seu Orixá. A babosa (Ipòlerin), por exemplo, possui natureza fria e noturna. É atribuída a Oxalá de
noite e a Ògún e Omolu durante o dia. É Telúrica e seu gênero é masculino. Acalma quando colhida à noite e cura
quando colhida de dia. Quando aberta, sua baba é atribuída aos poderes de Oxalá pelas relações com o igbín, o
caracol. Da mesma forma, seu amargor a predispõe a ser atribuída aos poderes curativos abarcados por Omolu.
Com sua casca, no entanto, é domínio de Ògún e empregada em circunstâncias diferentes. É um interdito sério
dos filhos de Oxum (Iniciados), que dela não podem fazer uso, a não ser em caso de enfermidade, sendo ainda
usada nas Firmezas para erguer aqueles que por meio de feitiçaria se encontram à beira da morte, neutralizando
certos efeitos.
Assim, por meio de correlações, mitos, particularidades e observações, o universo iniciático de fato estabelece
uma distinção bastante clara no modo e nas considerações sobre as quais cada planta dita sagrada é utilizada em
seu contexto particular. Esse conhecimento, infelizmente ou felizmente, em seus aspectos mais reservados é
custodiado de fato em segredo. Assim, existe um “limite” até onde se divulgam as informações referentes às ervas
litúrgicas e outro que não se ultrapassa, não sendo necessário explicar as diferentes razões que impelem a se agir
dessa forma. Nenhum Sacerdote sério, seja da Umbanda, do Candomblé ou de que vertente for, se permite
ultrapassar essas barreiras, ainda mais no que diz respeito ao conhecimento herbário. Logo, tudo aquilo que se
apresenta exposto é tão somente o que pode ser exposto. Como nos revela um ditado sagrado: “gato não come
gato e arroz só se come depois de extraída a casca”.
Assim, nem todas as ervas participam do contexto ritualístico, existindo inclusive ervas de emprego litúrgico
que são usadas na Umbanda e não consideradas pelo Candomblé em seus efeitos e vice versa. Também temos
folhas que são interditos no Candomblé e outras vertentes e que possuem larga utilização na Umbanda em
diferentes manifestações. Dessa forma, faz-se clara distinção entre “erva de emprego comum” e “erva de emprego
litúrgico”. As primeiras podem ser reconhecidas numa grande quantidade de ervas utilizadas para os mais diversos
fins, sobretudo medicinais, mas que tomam parte no aspecto ritualístico, inclusive quando falamos de banhos e
defumações, uma vez que sendo Fundamentos, banhos de ervas e defumações se enquadram no contexto
litúrgico.
As ervas de emprego litúrgico, por sua vez, determinam diferentes conjuntos de plantas que se agrupam pelas
suas particularidades e afinidades energéticas e magísticas. As ervas litúrgicas chegam inclusive a constituir grupos
diferentes: aquele das ervas empregadas nas atividades comuns ao culto sagrado como chás, banhos, defumações e
Firmezas, e outro muito particular, de acesso restrito que é aquele que estabelece as relações com os Orixás e o
modus operandi pelo qual determinadas composições são concebidas, estruturadas e manipuladas ritualisticamente,
abarcando um nível que exige certa observação e cuidado em relação aos aspectos mais particulares que encerram.
Esses grupos de ervas litúrgicas são estruturados de modo muito particular e meticuloso, sendo as ervas
classificadas sob os mais diferentes aspectos. Cada Orixá se relaciona com um conjunto particular de ervas e essas,
por sua vez, determinam entrecruzamentos com outros grupos afins com suas particularidades. Cada Orixá possui

1 Não confundir gún, guerra, com ògun, remédio ou Ògún, o Orixá.

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suas ervas de Terra, Água, Fogo e Ar, as quais se tem o cuidado de não misturar desnecessariamente, de modo que
uma não interfira na ação energética ou magística da outra. Essa relação é verídica, uma vez que sabemos que
pelas simpatias e antipatias naturais determinadas ervas abominam outras, se aproximam ou se rechaçam pelas
suas afinidades. Assim, além das ervas de Terra, Água, Fogo e Ar, os Orixás possuem suas ervas diurnas e
noturnas; suas ervas clamantes e excitantes; suas cascas, raízes e frutos específicos, os quais nem sempre
pertencem a uma mesma planta. Também possuem as ervas empregadas nos rituais e Firmezas de vida e de morte;
as ervas que clareiam ou obscurecem; aquelas empregadas para o bem ou para o mal. Além disso, a rígida estrutura
ritual determina horários, fases da Lua, formas de maceração e o mais importante, os “encantamentos” (òfós) que
despertam seus efeitos magísticos.
Esse é um conhecimento minucioso que requer muito tempo, experiência e vivência direta para ser
aprendido de maneira adequada, projetando-se além de livros e artigos. Como sabem os Iniciados, tudo conta.
Algumas ervas, por exemplo, só podem ser colhidas de manhã bem cedo e você deve perguntar a ela como ela
acordou ou mesmo chamá-la pelo nome sagrado antes de as despertar. Creia-me, embora o ato pareça
supersticioso e até ingênuo, ele é fundamental diante das necessidades que se apresentam no momento do ato
ritual.
Algumas ervas sagradas exigem que se joguem Búzios aos seus pés para saber se aceitam ser colhidas e outras
exigem Oferendas, como no caso da Imbaúba (Àgbaó) por exemplo. Há folhas que se arrancam de cima para baixo
e outras que não se podem arrancar muitas de um mesmo galho. Plantas que não se colhem à luz do dia e outras
que só são colhidas à noite. Há plantas para as quais pedimos maleme (perdão) e outras que cumprimos preceitos
por arrancá-las. Plantas que são cobertas de branco após a colheita e plantas que devem ser “ofendidas”
verbalmente no momento de se lhe arrancar as folhas. Árvores que não ousamos tocar e outras para as quais
fazemos obrigações rituais após retirar suas folhas, cascas ou raízes.
Nesse processo, os sinais, juntamente com suas particularidades simbólicas estão por toda parte. É uma
borboleta, uma serpente, pássaros, vento que sacode determinada planta e não outras; folhas que caem sozinhas se
entregando ao ato litúrgico por vontade própria, pequenos animais que surgem repentinamente, cantos de aves
que expressam bons ou maus agouros e assim por diante. No universo iniciático no qual nos encontramos
envolvidos, tudo se afirma como manifestação de um sagrado que aprendemos a reconhecer e a lidar
vagarosamente. Para nós, tudo envolve uma parcela de sagrado e de segredo. Esse é o universo dos Iniciados.
As diferenças entre os dois universos, iniciático e profano (aqui não no sentido pejorativo, mas de comum ao
culto) são bastante evidentes e muitas vezes se misturam beneficamente de fato. Um ditado diz: “Todo
conhecimento é acessível. Mas nem sempre o está para quem o quer”. Essa frase repetida no Rito das Folhas,
revela que na medida do que se busca, é preciso adentrar ao sagrado por outras portas que não aquelas habituais,
despender tempo e paciência, para se aprender por meio da vivência e da experiência do sagrado em suas
diferentes faces.
De certa forma e de fato, podemos dizer que existem então duas estruturas de conhecimento que se
complementam, mas que nem sempre se tocam no que diz respeito aos fundamentos e preceitos que abarcam.
Independente disso, visto que mesmo os Iniciados aguardam por um longo período para terem acesso ao que
esperam, o conhecimento disponível sobre as ervas em relação aos adeptos, praticantes e simpatizantes da

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Umbanda é bastante abrangente, permitindo a manipulação daquilo que deve ser tratado por vezes de modo
corriqueiro e natural.2
Pela regra, todas as ervas consideradas litúrgicas desempenham um papel significativo junto ao contexto
sagrado de um Templo de Umbanda, umas mais, outras menos, permeando-se de um valor simbólico, estrutural,
curativo e magístico. Quando evocando para si o contexto iniciático, as ervas sagradas encerram parte de sua
mística nos ditos òfós (encantamentos), os quais “rezam” não somente as propriedades ocultas das ervas, mas
também sua relação mítica com os Orixás por meio de seus mitos arcaicos. Os òfós são como rezas cujo intento é
aquele de saudar e cantar as propriedades das folhas ditas sagradas. Como se verá em outros apontamentos, duas
categorias de òfós podem ser reconhecidas: aqueles velados, estritamente iniciáticos e de cunho ritualístico muito
reservado, e outro que não deixando de ser sagrado e revestindo-se também por importância, se encontra ao
alcance dos adeptos abertamente.
Todavia, pela natureza do universo que nos cerca, como Iniciados somos profundamente reservados no que
tange à revelação dos segredos que devem ser passados de Iniciado para Iniciado. Em nenhum momento
apresentamos ou revelamos aquilo que deve ser mantido em reserva. Todos nos olham e nos circundam, mas não
sabem das nossas práticas litúrgicas ou dos mistérios que celebramos em nossos rituais. Cientes das
responsabilidades assumidas com o sagrado e o segredo, descerramos parte do sagrado moderadamente,
consentindo aos adeptos ao de fora da estrutura iniciática e até mesmo de outros cultos, conhecerem alguns
fundamentos, dando-lhes a possibilidade de aproximação com essa outra face do sagrado dos Orixás de uma
maneira salutar, mantendo ainda o segredo do sagrado.
Concordo plenamente quando Mãe Stella de Oxóssi, Íyalorixá falecida do Axé Opò Afonjá diz: “quando um
saber importante é banalizado ele perde a força, perde o àse”. Sendo eu mesmo um defensor acirrado do conceito que as
faces mais “finas” do sagrado devem permanecer em segredo dentro dos limites que lhe competem, restringindo
certos conhecimentos ao contexto iniciático como sempre aprendi ao longo dos anos, tenho também que
concordar com o fato de que certas expressões do conhecimento relativo aos Fundamentos da Umbanda
necessitam ser passados aos seus adeptos com uma carga maior de informações (quando essas permitem), embora
muitos não lhes deem o devido valor ou sequer saibam como empregá-lo devidamente.
A ânsia de muitos mediadores em aprender e aprender, esquecendo-se da necessidade do aprendizado pela
vivência e pela experiência direta com o sagrado, e mais ainda, com as responsabilidades e o modo como tais
conhecimentos devem ser empregados, ainda se apresenta como fator que impõe a limitação para que certos
argumentos sejam tratados abertamente.3

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A força do argumento (ervas) nos obriga a tratarmos os aspectos iniciático e profano de modo diferenciado ao longo de
todos os apontamentos, sendo que sempre tendo a arrastar muitas informações do primeiro e adicioná-las para conhecimento
dos mediadores de modo a somar para os mesmos.
3
Pai Marcos de Xangô, que foi professor de yorubá meu, de Rafael e dos mais antigos, falava a mesma coisa e defendia o
mesmo ponto de vista, como a maioria. Um aspecto interessante do sagrado visto do ponto de vista dos Iniciados é a forma
como os mesmos se apresentam perante os outros mediadores. Eles sabem muita coisa; estudaram muita coisa do Orixá.
Possuem vivência de muitos anos. Estão familiarizados com termos, rituais, condutas, litanias e segredos. Ainda assim,
conseguem se manter numa posição onde não tentam “se aparecer”, embora tragam suas personalidades como todos os
outros que os julgam. Aprenderam com Pai Miguel quando esse lhes ensina: “sonsos como peixes”. O Corpo Iniciático, quer
muitos gostem ou não, aprendeu o sentido verdadeiro de “corrente” visto de outro ângulo, sem desmerecer o corpo
mediativo, claro. Quem os conhece de “dentro dos ritos verdadeiros”, não desses ritos profanos que realizamos na presença
de todos, sabem o que estou dizendo. Não posso usar o termo “ainda que não concordem”, porque aqueles que estão de fora

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Ocorre que na Umbanda o profano e o sagrado se misturaram em muitos de seus argumentos ao ponto de se
achar que tudo, segredo e profano são uma só coisa. O conhecimento dos raizeiros se somou àquele dos índios,
dos Juremeiros e dos africanos. Cada vertente agregou parte de sua ancestralidade e de seus conhecimentos na
formação do que hoje temos em matéria de conhecimento herbário. Todavia, os aspectos mais reservados
continuam resguardados. E por mais que a junção desses diferentes saberes tenha somado e cooperado para a
exposição desse conhecimento, as partes faltantes também se apresentam marcantes, assim como os excessos, e
claro, os inúmeros erros, frutos naturais de todo processo de agregação em que diferentes aspectos de diferentes
segmentos se unificam.
Na Umbanda, se firmou o péssimo hábito corriqueiro dos seus mediadores em creditarem toda
responsabilidade dos fatos e muitas vezes dos atos aos seus Guias, esquecendo-se da própria falibilidade das
incorporações incoerentes. Esse aspecto é ressaltado ainda mais pelos médiuns que desprezam a necessidade do
aprendizado, que menosprezam o conhecimento alheio ou mesmo dos que pensam conhecer muito pelo acúmulo
de livros que leram, desprezando a importância da vivência e da experiência (eles próprios experimentadores do
que apenas leram).
É assim que temos a constatação de tantas receitas de banhos e defumações confusas, com ervas que não
possuem aplicação litúrgica, de folhas que anulam umas os efeitos das outras, que potencializam a ação energética
contrária ou quando não, de plantas venenosas indicadas em chás ou banhos de maneira indevida ou que não
imprimem qualquer fundamento naquilo que estão prescrevendo.
É como se o simples fato de prescrever um banho de ervas, não importando quais, bastasse para alcançar os
efeitos esperados. Como se todas fossem iguais e se prestassem aos mesmos efeitos. É como se apenas ler
bastasse para tudo. É como se na Umbanda, uma boa parcela de seus mediadores quisessem ser médicos sem a
necessidade de passar pela Faculdade de Medicina. Poucos querem esperar, vivenciar e aprender pela experiência,
porque tais aspectos denotam muito tempo, impõem regras que nem sempre mediadores querem seguir, esbarram
em hierarquia, antiguidade e compromissos aos quais alguns não querem se sujeitar. Muitos mediadores querem
tudo para hoje, para agora, para ontem. Tomados pelas suas próprias convicções, encontram alegações na
tentativa de desconstruir as argumentações que apelam para o tempo correto de aprendizado, assim como para a
vivência e a experiência. São fieis defensores que aos Guias tudo tocam e querem ser autoditadas em matéria de
sagrado, desconsiderando qualquer transmissão. Não faz mal. A própria energia infundida em cada Fundamento e
que dirige o curso invisível de todo esse mecanismo se ocupa do resultado.
As ervas sagradas trazem impressas nelas próprias o sentido de sua existência. Símbolos, mitos e expressões
definem a estrutura do sagrado e o nível de sagrado ao qual estarão vinculadas. As plantas falam e falam muito.
São caprichosas, prolongado-se esse aspecto cada vez mais na medida em que a planta reconhece que aquele que a
ela se dirige conhece seus mistérios. Por vezes as relações estabelecidas são tamanhas, a ponto de ocorrer uma
interelação energética entre ser, planta e Elementais que a regem. Sendo a Alma das plantas sensível ao plano das
emoções, essas são capazes de perceber nossa verdadeira natureza.
Adentrando ao contexto magístico das ervas ritualísticas, por exemplo, os Fundamentos prescrevem que
existem quatro ervas denominadas “Ativas”, conhecidas em virtude de sua aplicação maléfica: o Iná (Ingá), a
Aaragbá (Malva), o Esisì (Cipó-de-leite) e a Olóym (Erva de bruxa); e outras quatro consideradas “Passivas”, as

não sabem o que se passa dentro, e por essa razão não se encontram em condições de opinar sobre o que não lhes é
conhecido de fato, sendo que à especulações nem sempre devemos dar muito crédito.

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quais funcionam como neutralizadoras dos efeitos negativos das primeiras: o Odundún (Folha-da-Costa – Saião), a
Tetè (Bredo), o Rinrin (Alfaviquinha) e o Akokò.
No contexto litúrgico, os Orixás sintetizam as relações sutis com a natureza vista como um todo sagrado,
existindo uma relação estreita entre cada planta em seu próprio magnetismo, associada à energia primordial de
uma Força Cósmica de relação. Embora cada Divindade esteja vinculada a um grupo especial de folhas, é Òsànyìn
quem de fato, ao interno da liturgia, detém o “poder”, o axé de sustentação que desperta suas potencialidades.
Esta é a razão pela qual deve ser o Orixá saudado em qualquer manipulação com ervas, independente do Orixá de
relação com a folha que está sendo utilizada.
Misticamente, as folhas estão dispostas segundo suas relações com a própria Natureza e, por conseguinte,
com os Orixás de associação com cada elemento sagrado. Partindo desse princípio, existem as Ewé Afefé (Folhas
do Ar); as Ewé Inón (Folhas do Fogo); Ewé Omi (Folhas da Água); e as Ewé Igbó (Folhas da Terra). Todos os Orixás
possuem suas folhas para cada grupo distinto, expressando particularidades e cruzamentos.
As determinações místicas afirmam que as folhas possuidoras de formato “fálico” e alongado são
consideradas “masculinas”, sendo aquelas arredondadas ou “achatadas” consideradas femininas, existindo
exceções para a regra. Segundo os Fundamentos, afirmam-se como Eró (Folhas Calmas) e Gún (Folhas Agitadas),
sendo essa classificação utilizada no decurso das Iniciações, levando em conta a essência ou natureza” do Eledá
em concordância com seu aparelho físico. Assim, Erós (Folhas frias), são aquelas que abrandam e apaziguam tanto
a cabeça quanto as situações que se encontram em desequilíbrio. As denominadas Gún (Folhas quentes), por sua
vez, ativam o plano das energias estagnadas, sendo consideradas excitantes da energia dos Orixás, atuando no
processo de posse do Eledá, por exemplo. Os Fundamentos ainda prescrevem denominações especiais para as
plantas segundo algumas características peculiares como sua textura, sua forma ou o sumo que produzem.

 Ekún ede, “Língua de leopardo” é a denominação dada às folhas de superfície áspera como a mirra, o açoita
cavalo e a melissa.
 “Tintadas” (Bujé), são aquelas que podem ser usadas como tintura, como no caso do Urucum, do Yerossún,
do açafrão, do jenipapo e da amora.
 “Folha da Morte” (Ewé Ikú), são aquelas possuidoras de veneno ou dotadas de capacidades alucinógenas
como a beladona, a comigo-ninguém-pode, a buxinha e a arruda.
 “Pára-Guerra” (Dagunró), são as folhas possuidoras de espinhos como a Jurema, o acanto, a espinheira-santa,
o carrapicho e a barriguda.
 “Grudentas” (Eemó), são aquelas que produzem visgo colante como o cardo, a espinheira-de-São Jorge, o
jenipapo, a mangueira e o pinhão roxo.
 “Urticantes” (Esisí), as cobertas por pelos e que podem causar lesões ou queimaduras como a urtiga e a
guaxima. “Pega-Vento” (Ewé Afefé), são as plantas que se desprendem facilmente sob a ação dos ventos
como o dente-de-leão e a paineira.
 “Folha de Fel” (Ewúro), são aquelas de sabor amargo como o boldo, a losna e a marcelinha.
 “Viscosas” (Ilasá), aquelas que produzem baba como o quiabo e a babosa.
 “Adormecidas” (Patonmó), são as plantas que se fecham ao serem tocadas às suas folhas como a dormideira, a
Jurema e a unha-de-gato.

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 “Sininho” (Saworo), são as plantas cujas flores “balançam” como o brinco-de-princesa, a ensacadinha, o
sabugueiro e a beladona.
 “Sangrentas” (Amujé), são aquelas que produzem resina como a mirra, a sucupira, o pinheiro, o jatobá, a
copaíba, e assim por diante.

No contexto do sagrado que nos concerne, as plantas estão diretamente associadas aos Orixás e aos
diferentes aspectos que permeiam a mística de seus cultos e de sua própria natureza sagrada. Exemplo claro dessa
significação pode ser verificado no Amúnimúyè (Balainho-de-velho). Considerada uma planta oculta, seu nome se
traduz por “Aquela que se apossa da inteligência de outra pessoa”, sendo utilizada nas iniciações para provocar o
transe profundo no iniciando, quando necessário. Segundo o mito sagrado, essa teria sido a planta dada de beber a
Oxóssi por Òsànyìn (lê-se Ossãin, com n anasalado no final), a qual o fez perder completamente a razão,
encerrando-se ao interno da floresta de onde nunca mais saiu, e permanecendo em companhia do Orixá. A planta
é empregada em trabalhos de amarração e dominação, sendo que seu ofó evoca precisamente a frase mítica que
teria sido dita por Òsànyìn ao enfeitiçar Oxóssi.
Outro exemplo pode ser visto no “Ogbó” (Cipó-de-leite), utilizada em conjunto com mais duas ervas
igualmente para provocar a inconsciência nos ìyawòs no decurso da Iniciação. Narra um mito bem conhecido, que
no princípio somente Òsànyìn possuía o domínio sobre a totalidade das folhas, estando todos os outros Orixás
submetidos à sua vontade no manuseio das ervas. Òyá (Yansã), a pedido de Xangô que com ela fora se queixar,
fez soprar uma forte ventania ao interno da mata no momento em que passava Òsànyìn, derrubando seu “Agué”4
e espalhando todas as folhas pelo chão. Desesperado diante do ocorrido, o Orixá começou a gritar “ewé o, ewé o”
(lê-se tudo junto: eueo – oh, as Folhas!), ao passo que cada Divindade pôs-se rapidamente a recolher quantas
folhas lhe couberam pegar.5 Segundo a significação sagrada, o cipó-de-leite teria sido a primeira planta a escapar
do Agué, sendo recolhida imediatamente por Oxóssi que dela fez uma de suas ervas mais misteriosas.
Atordoado com o ocorrido, Òsànyìn foi queixar-se com Olódùmarè, o qual então decidiu deixar as folhas
com os Orixás, mas determinou que somente Òsànyìn detivesse o poder absoluto sobre seus axés, obrigando-os a
se submeterem da mesma forma ao Deus. Olódùmarè desde então, em recordação ao ocorrido, determinou que
daquele dia em diante a saudação mítica de Ossaím fosse ewé o.
Na Iniciação esse mito é revivido pelos Iniciados no Rito de Òsànyìn, um dos mais expressivos e belos de
todo o processo iniciático e que ocorre logo em seguido ao Ritual de “cantar as folhas”, realizado pela manhã bem
cedo. Nessa noite, seja pelos efeitos das ervas, pelo contexto hipnótico ou pelo mistério que o ritual envolve, a
certa altura, já madrugada adentro, é questionado aos Ìyawòs o que conseguem ver flutuando em pleno ar acima
do círculo, ao que a resposta comum sempre é: o Agué! A cabaça com sete lanças encravadas e ao centro da qual
se encontra pousado o misterioso pássaro Ayè, símbolo da multiplicação, da descendência e do mistério.
Essa afirmação do “Ato Mítico” passa então a ser legitimada ao interno do culto por intermédio dos rituais
sagrados de relação, despertando então o axé ou força essencial encerrada em cada folha, cuja totalidade das forças
pertence à Òsànyìn. Como na esfera do magístico a linguagem não possui conotações verbais com o profano,
escapando às concepções de espaço e tempo como as concebemos, convertem-se as folhas em instrumentos de
uma vontade superior, permeadas pelo mais puro magnetismo astral.

4 A cabaça sagrada onde o orixá guarda os segredos ou axé das plantas.


5 Ver o vídeo “Òsànyìn” – Minissérie Mãe de Santo – Youtube.

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Em sua associação com o sagrado, as ervas determinam segundo suas relações com as Divindades o campo
de ação ritualística vinculado à sua aplicação magística. Por serem essencialmente espirituais, as plantas podem
representar as Divindades e seus atributos divinos segundo as potencialidades que encerram. Compondo em
essência um dos maiores Fundamentos de natureza litúrgica e ritualística ao interno do culto, o conhecimento e a
manipulação das ervas também se apresentam como ocultos, velados e manifestos, sendo essa uma classificação
habitual para todos os Fundamentos. Como ocorre com os ritos de Iniciação, mesmo na esfera do habitual toda
uma série de preceitos ritualísticos envolve o manusear correto das ervas, dando geração à esfera do sagrado ao
interno da liturgia da Umbanda, sendo essa uma área bastante acessível desde que não infringidos os seus limites.
As ervas sintetizam por meio de sua ação a própria harmonia da Umbanda, cuja observância detalhada do
rito de manipulação (aqui independente se iniciático ou não), induz ao equilíbrio e às expressões magísticas
daquilo que se queira alcançar, seja em banhos, defumações, Firmezas, oferendas ou processos de natureza
curativa. Portadoras de um axé específico, individualizado e muito particular, podendo-se alcançar o seu estado
mais elevado, suas potencialidades foram extraídas diretamente dos reinos naturais através de uma série de
confluências magnéticas entre os próprios elementos considerados como um todo uníssono e harmônico em sua
essência.
Como o axé, a manipulação das ervas representa um “ato mágico” em toda a sua extensão, ressaltando assim
os princípios de equilíbrio que devem advir de sua utilização quando em sintonia com o plano das manifestações
espirituais. Em seu campo de ação, afirmado junto à estrutura ritualística da Umbanda, ao de lá de suas influências
curativas, as ervas podem ser empregadas nas seguintes circunstâncias:

 Nas inúmeras prescrições de banhos litúrgicos e ritualísticos para os mais diferentes fins, sejam bons ou maus.
 Nos Amacís ou lavagens de cabeça.
 No decurso das cerimônias de Iniciação.
 Na fixação da energia essencial dos Orixás por sobre a cabeça dos Iniciados.
 Nos banhos ritualísticos (Abô, Amassí, Ariaxé).
 Nas Defumações (dissipação e imantação) e fumigações (evocações).
 Na lavagem e imantação das pedras sagradas (òtás) consagradas aos dos Orixás e que representam seus pés
(quando o Assentamento se ergue sobre a pedra) ou seu coração (quando dentro da panela de barro sobre os
Assentamentos).
 Na lavagem e execução dos Assentamentos dos Orixás.
 Na preparação, lavagem e consagração das Guias rituais.
 Na purificação e exaltação dos Pontos de Força de um Templo.
 No decurso das Oferendas.
 Na execução dos Ebós e demais movimentações magísticas.
 Na preparação e consagração dos instrumentos ritualísticos.
 Nos ritos de purificação e exaltação da inteira estrutura da Umbanda.
 Nos rituais que expressam natureza curativa.
 Em todas as movimentações de cunho magístico, sejam para o bem ou para o mal.
 Na cura das enfermidades de natureza física, emocional, mental e espiritual.

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Mas toda essa estrutura mística que envolve o manuseio magístico e ritualístico das ervas, seja nas ocasiões
mais simples ou naquelas mais elaboradas, prescreve um detalhado sistema de relações e combinações, existindo
ao interno desse sistema mágico cinco “Princípios Divinos”, expressões ou Manifestações Espirituais que se
afirmam em Èlà, Èxú Òsànyìn, Ìròkò e Ònílé.
Consideradas Divindades Essenciais, aquelas que se relacionam como Princípios Cósmicos além do plano da
criação, ditam, segundo os conceitos estabelecidos para cada uma, a mística que circunda o movimentar sagrado
das ervas em uma esfera de puro magnetismo espiritual quando tratamos de seus aspectos mais elevados e dentro
de uma esfera ritual mais elaborada.
Orixá masculino pertencente ao primeiro plano, ou seja, aquele das Divindades Originais que se fazem
representar pelo Princípio Funfun do Branco, Èlà, conhecido como “ki bà igi òkò ro” (Aquele que descansa junto
das árvores), sintetiza o “Princípio da Ordem e do Equilíbrio”. Conhecido como Olójú òní, “Senhor do dia”, é o
Orixá da calma e da tranquilidade. Segundo os mitos, sendo amigo inseparável de Òrúnmilà, quase seu
companheiro, Èlà fora enviado pelo próprio Olódùmarè para consertar o mundo. É o oposto absoluto de Èxú,
tanto que jamais uma oferenda de Èlà será realizada na frente de Èxú e o mesmo para o contrário. Pertence quase
que exclusivamente ao universo das manifestações iniciáticas, sendo seus preceitos muito reservados. É saudado
logo no início da Iniciação, ainda antes do Sol nascer, no mesmo dia em que ocorrerá o Rito do Mercado de Èxú.
A espada que consagra os Iniciados pertence e está consagrada à Èlà, evocando Justiça, Verdade, Ordem e
Disciplina.
Na escala do divino, precede Òsànyìn, seguidamente à Òrúnmilà, ambos se fazendo acompanhar por Èxú.
Miticamente, manifestou-se desde o início juntamente com Èxú, “um ao romper do dia e o outro no romper da
noite”, como narram os mitos, correspondendo ambos, no entanto, aos mesmos atributos: ordem, disciplina,
justiça e verdade, fazendo parte do contexto das “Divindades Primordiais”, aquelas que surgiram com o “romper
da criação”. Força oculta que mantém a harmonia entre todas as coisas, vincula-se aos princípios encerrados na
“Lei das Correspondências Harmônicas”.
Segundo os princípios dessa lei, todas as coisas no Universo se encontram interligadas umas às outras,
existindo um vínculo ou “elo místico” de relação entre as mesmas, tendo sido seus sistemas de relação gerados
desde o início quando somente a Natureza havia se manifestado. É por intermédio da Lei de Correspondências,
também denominada “Princípio Simpático da Natureza”, o qual regula as cadeias de Necessidades e
Consequências, que os elementos utilizados nas operações magísticas podem ser agrupados segundo a simpatia ou
afinidade existente entre os mesmos, encontrando-se tal ligação muito acima dos estados convencionais da matéria
e das simples afinidades entre espécies.
No campo da Umbanda, tais afinidades foram precisamente diferenciadas e harmonizadas segundo as
freqüências energéticas em que vibram os Orixás e suas Linhas, concebidos então como egrégoras ou núcleos
colossais de energia cósmica manifestada em diversos planos de existência. Como Èxú, e ao mesmo tempo oposto
a ele, Èlà é o Princípio Ordenador do Caos; a Força Dinâmica que impede a instauração do desequilíbrio. Mas
enquanto Èxú ordena o caos pela instauração do caos, Èlà promove essa ordenação pela aceitação tranquila da
ordem sem que seja necessária a aplicação da Justiça ajustatória.
Èlà encarna substancialmente os mesmos atributos que a Deusa egípcia Maat, Senhora da Justiça e Verdade.
Atuando como Força essencial que se exalta no macrocosmo e reflete seu campo de ação na estrutura
microcósmica, Èlà adentraria em nossa compreensão espiritual como o princípio da felicidade e do bem-estar

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provocados pela harmonia e o equilíbrio das diversas estruturas compositoras de nossa vida cotidiana. Valendo-se
da mesma lógica centrada no axé como equilibrador e ordenador espiritual, o qual pode ser utilizado de maneira a
modificar as estruturas negativas produzindo a inversão do aspecto sombrio, Èlà também se afirma como força de
inversão dos padrões e influências contrárias, acionado de maneira a produzir o reequilíbrio do sistema que se
encontra vibrando em desarmonia.
Os antigos ensinamentos definem Èlà como “preservador da felicidade e retificador dos destinos infelizes”.
Exatamente essa relação que aproxima o Orixá do poder encerrado nas plantas e mais ainda, da própria ritualística
que o permeia. Para os antigos as plantas detinham o poder absoluto sobre todos os atributos que controlariam a
existência. Tudo poderia ser alcançado pela utilização, conhecimento e manipulação correta das ervas. dessa
maneira, assim como Èlà, as plantas eram consideradas como preservadoras da felicidade e retificadoras dos
destinos infelizes. Estando as plantas estreitamente associadas ao culto de Òsànyìn e àquele de Òrúnmilà através
das suas relações com o Oráculo dos Búzios, passando por Èxú como causador e ao mesmo tempo ordenador de
toda desordem, Èlà se inseriu como peça fundamental no cenário mítico dos Orixás que lidam diretamente com o
poder e a natureza oculta encerrada na essência e no mistério das folhas, sendo o representante da infinita
capacidade das folhas em estabelecer a harmonia, o equilíbrio e proporcionar a felicidade.

Continua

Flávio Juliano:.
Dirigente

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