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Sociedade:. Ecumênica:. do Triângulo: e da Rosa:. Dourada:.

Fraternidade:. Espiritualista:. do Cruzeiro:. do Sul:.


Templo Xangô Quatro Luas:.

Núcleo de Estudos Espirituais

Orixás – Aspectos Teogônicos - I

Ògún - I

Ògún pèlé o! Ògún alákáyé, Osìn imole, pèlé o!

Ògún, eu te saúdo ! Ògún, senhor do universo,


Príncipe dos Orixás, eu te saúdo!

Teogonia, do grego Θεογονία, theos, deus e gonia, nascimento, refere-se no campo dos apontamentos de
natureza esotérica, ao conjunto de ensinamentos que se encarrega de estudar os Deuses, suas naturezas e
surgimento, estando estreitamente ligada à cosmogonia, que por sua vez estuda o surgimento do Cosmos.
Divindade proto-histórica pertencente aos primórdios da criação, Ògún é reconhecido como Alákàiyé Osìnmolè, o
“Senhor do mundo e líder dos Orixás”. Dono da cabaça sagrada de èédú, o carvão, a qual representa seu domínio
sobre o Princípio Dudu do Negro, do sangue, da forja e da manipulação dos metais, Ògún se manifesta como a
energia impulsionadora da Vontade, o determinante, a razão de ser de todas as formas de existência nos
múltiplos planos em que essa se manifesta. É o núcleo férreo e pulsante do planeta. A energia que molda a vida,
que doa forma ao todo, que infunde sentido na criação, que atrai para baixo e prende.
Essa relação com o carvão representa o fogo que se encontra escondido, uma energia que se oculta; a força
do Sol roubada pela terra e enterrada em seu seio. Assim, quando em brasa o carvão representa a força material
ou espiritual contida, que aquece e ilumina sem chama e sem explosão, numa imagem do autodomínio de um ser
do fogo. Quando negro e frio, por sua vez, representa apenas virtualidades: necessita de uma centelha, de um
contato com o fogo para revelar sua verdadeira natureza, realizando a transmutação do negro em vermelho. É a
advertência de uma existência que se deixa extinguir caso se recuse a se deixar acender e continuar frio e negro.
Ògún pertence à categoria das Divindades arcaicas cultuadas pelas primeiras sociedades agrárias, tendo o
seu culto evoluído em concordância com as mudanças que acompanharam cada uma das idades. Originalmente
vinculado à caça, à floresta, ao cultivo da terra e à utilização de armas e utensílios de pedra, Ògún caracterizava
os primeiros homens que haviam se reunido em tribos e iniciado um processo de civilização, sendo sob esse
aspecto reconhecido como Àkórò, “O Primeiro”.1

1 Não confundir com Aláàkòró, o “invencível que veio primeiro”, sendo esse um dos títulos de poder conferidos ao Orixá.
1
Caçador que habita ao interno das matas em companhia de Oxóssi, também seu irmão mítico com quem
possui profundos fundamentos, admite-se que Ògún é um dos Deuses mais antigos venerados na antiga África,
muito provavelmente desde o início, quando os homens primitivos conceberam a ideia das Divindades como
regentes e reguladores da vida e dos diferentes aspectos associados ao desenvolvimento. Registros precisos
apontam que seu culto já existia cerca de 5000 a.C e que pode chegar muito mais longe no tempo do que isso
seguramente, em razão do seu posicionamento como Divindade agrária arcaica.
Vinculado estreitamente a Ògún, mas também a Èxú, Oxóssi aproxima-se dos princípios de natureza ígnea
reguladores dos aspectos geradores e transformadores de todas as formas existentes e à reintegração de seus
princípios na regeneração e aperfeiçoamento de outras formas de vida, possuindo as três Divindades a função de
Condutores místicos da humanidade e preservadores das ciências sagradas necessárias ao aprimoramento
evolucional do próprio homem.
Com o advento da idade do ferro, Ògún se converte no Deus dos ferreiros, da forja e dos trabalhos com
metais, mantendo, contudo, profundas relações com os processos de natureza essencialmente agrários.
Permanece então como “Aquele que intervém diretamente sobre a Terra”, outrora com utensílios de madeira ou
pedra e ora com arados e ferramentas fabricadas em ferro, chamando sempre para si as prerrogativas sobre o
progresso e os processos de desenvolvimento pelo uso consciente da inteligência.
Seja como for, Ògún em seu complexo simbolismo expressa o momento na evolução em que o homem
passa a usar de maneira racional sua consciência, impulsionando o aprimoramento das raças, aspecto esse
representado pelo fogo de sua forja e pelo seu aspecto belicoso, cuja guerra fala não das revoltas entre os
homens, mas sim do desejo do espírito em se libertar de seu estado de animalidade por intermédio da
inteligência.
Ògún faz parte do panteão dos Deuses da Guerra, como o romano Marte, o egípcio Montú, o grego Ares, o
nórdico Thor, o hindu Escanda e tantas outras Divindades associadas às batalhas e aos diferentes significados da
guerra. Aqui é interessante mencionar, que embora a guerra esteja natural ou aparentemente associada ao
contexto masculino da energia, o número de Deusas da guerra na antiguidade e em diferentes civilizações é bem
interessante. E elas são muitas, sendo que esse aspecto divino contrasta com aquele habitual com que as
mulheres eram tratadas e consideradas em relação aos diferentes povos antigos. As gregas Hera, Atena e Ártemis,
as romanas Minerva, Diana e Bellona. Sekmeth, poderosa e perigosa Deusa leoa entre os egípcios, a persa Anaíta,
a céltica Andarta, as babilonesas Ishtar e Astarte, a semita Anat, a fenícia Tanit, a nórdica Freia, e tantas outras.
Quase todas elas, além de serem reconhecidas como Senhoras da guerra e das batalhas, absorvem para si, em
muitos dos casos, os atributos de fertilidade (quando passam a se associar também com a Lua) sendo ainda
protetoras da família e das instituições, mas nem sempre progenitoras.
Esotericamente, a guerra de que nos falam Orixás como Ògún, Obá, Xangô, Oxagiàn e Yansã, se afirma
dentro da realidade cósmica como o combate evolucional entre as Forças de Luz e Escuridão, entre a matéria
caótica e aquela espiritual, entre a razão e a sensação, ainda que todos os aspectos tidos como negativos, sejam
considerados apenas como expressões polarizadas daquele positivo e não um princípio antagônico que se
manifesta como uma realidade diametralmente oposta e ao de fora de uma mesma natureza compartilhada.
Ògún se encontra essencialmente ligado ao Princípio expansivo e redistribuidor do Negro Dudu, o qual,
esotericamente, aproxima-se daquele do Branco em valores, o que o caracteriza como um Princípio portador do
axé de descendência e realização. Ctoniano, o Negro se encontra associado ao interior da Terra, o ventre onde a
Natureza opera todas as transformações de sua obra. Quando em concordância com o Branco fecundador e o
Vermelho gerador, se converte no roxo que equilibra misticamente as relações entre o Ayé e o Orún, mas que
também evoca a transição cíclica entre o vermelho ctoniano essencialmente material e o branco celeste e
espiritual.

2
Misticamente, o negro passa a ser considerada a cor original da matéria anterior ao estado de diferenciação,
remetendo às águas obscuras e profundas de onde emanam todas as possibilidades de existência. Segredo do
interior da Terra, associado profundamente ao ferro, Ògún se afirma como o poder de transmutação de toda
matéria inerte, mas também aquele de modelação e restituição simbolizado pela fusão e transformação dos
metais.
Esse é um Orixá muito amado e ao meso tempo muito complexo no que se refere aos seus aspectos
teogônicos. Orixá Olodé (externo, do lado de fora), pertencente originalmente às matas, sendo sempre cultuado
ao aberto. Seu nome Ò-gún, se traduz por “o que faz a guerra”, manifestando-se o Orixá ao de lá de seu aspecto
guerreiro e sanguinário (relacionado com as conquistas e as guerras entre as civilizações), como o impulso
defensivo da própria vida. Impelindo o estabelecimento dos propósitos ascensionais, Ògún se caracteriza como
grande Asiwajù ou “Aquele que vai à frente abrindo todos os caminhos”.
A energia essencial desse Orixá se manifesta para cima, abaixo, à esquerda e à direita. Se Èxú é a
encruzilhada e representante direto do seu centro, Ògún se manifesta como o prolongamento dessa energia que
partindo de um ponto se expande em diferentes direções. No campo das manifestações Elementais, Ògún se
encontra associado diretamente com o núcleo férreo do planeta e com a produção do seu campo magnético. É
essencialmente mineral e Ígneo, associando-se a tudo aquilo que se encontra fundido, mas também àquilo que se
manifesta sob extrema pressão, oferecendo grande poder de resistência. Por isso é um Orixá associado ao
progresso e ao desenvolvimento racional da humanidade.
Teogonicamente Ògún se manifesta como um aspecto masculino da Divindade, sendo reconhecido como
Olónà olà, o “Senhor dos caminhos da prosperidade”. Reflexo primordial emanado diretamente da mente de
Oxalá, seu pai divino, nasce imediatamente após Èxú, razão que aproxima as duas Divindades como irmãos, a
ponto de serem considerados quase gêmeos.
Do ponto de vista dos atributos e das forças colocadas em movimento, Ògún de fato se manifesta como o
“produto” direto da energia de Èxú. O “ordenador” da mesma, aquele que a consolida e que tenta colocar fim ao
caos. Esotericamente é correto afirmar que Ògún e Èxú podem ser compreendidos como a mesma energia
polarizada em forças distintas, porém muito similares. Se a força de Èxú como princípio é livre, Ògún aprisiona e
doa sentido de ser a essa energia. Èxú, como se verá mais adiante, é força livre, dinâmica, que se individualiza em
cada Orixá de uma maneira diferente. Por isso a questão dos “filhos de Èxú” não ser bem compreendida, uma
vez que esse poder é múltiplo e se diferencia a partir dos próprios Orixás que representam “parcelas” manifestas
desse mesmo poder.
Esotericamente, se Èxú se manifesta como o “Primogênito do Universo”, Ògún se afirma como o
“Primogênito da humanidade” ou a Imagem da Divindade refletida no plano da matéria, sendo esse seu aspecto
mais imediato e divino. O lado material da criação, da mesma forma que Oxaguiàn expressa aquele espiritual.
Èxú é assim, ao revelar-se como Divindade possuidora de culto e estrutura mística complexa, rico em símbolos,
representações e associações. Aquele que se impõe perante os outros Deuses como síntese essencial, o que lhe
vale o epíteto de Primogênito da Criação ou a primeira manifestação diferenciada.
Desdobrando-se em inúmeros aspectos transcendentes, Èxú enquanto Orixá, se converte em unidade e
pluralidade. O reflexo divino da Alma do Mundo. O Condutor interno, o intelecto, veículo da vida, que confere
individualidade permanente a cada criatura. A Força misteriosa que media entre os seres e o Criador. Oníbodè
Òrun, o “Porteiro do Òrun”, intercomunicador divino que rege, regula e equilibra as próprias manifestações da
matéria por meio da assimilação de sua essência espiritual, sem, contudo, mergulhar apenas no estado de
corporeidade, transcendendo-o.
Divindade que une o intelecto às sensações, em Èxú, multiplicidade que transcende toda limitação e que
ainda assim permanece Ele mesmo, todas as suas partes se apresentam esotericamente unidas e distintas uma das
outras ao mesmo tempo. Mediando entre a ideação divina e a sua corporificação na matéria, o Orixá, como a
3
sensibilidade da imaginação superior, aquele que infunde a vontade de viver através das imagens e do raciocínio,
é aquele que une a luz da forma com as sensações da matéria em seus elementos. É o conhecimento da realidade
que se manifesta ao de fora da diferenciação. O desdobramento progressivo dos elementos. Aquele que ao se
manifestar como o ponto, desdobra-se no raio, permitindo a separatividade. O tom inicial e transformador da
criação que se projeta em uma espiral ascendente de luz. A Sabedoria codificada no ser.
Ògún caracteriza o homem Ancestral ou Primordial, o início da evolução das espécies e o sentido de
aperfeiçoamento das raças, sendo quem, de fato, representa e expressa a energia de Exu, permitindo sua
assimilação como impulso direcionado ou a energia criativa na Natureza. Suas saudações: Ògún ye, “O Senhor da
guerra me faz vivo” e Pàtak´ori Ògún, “Ògún, aquele que é importante”, nos mostram as relações vitais do Orixá
com o sentido de sustentação e aprimoramento da existência.
Ògún se manifesta como um dos primeiros Orixás a terem surgido quando os observamos segundo as
conceituações Elementais que envolvem esses Deuses arcaicos. Sua energia é ferro, seja esse em estado sólido ou
líquido, estando diretamente relacionado com o núcleo da Terra e os efeitos gerados pelo campo magnético do
planeta, gerado pelo movimento do ferro líquido que envolve o núcleo sólido. Assim, em qualquer direção que se
olhe, Ògún está sempre associado aos conceitos de resistência, pressão extrema, suportação e atração.
Princípio dinâmico do Universo que simboliza a força de propagação, Èxú como o procriado, expressa o
poder diferenciador da existência, sendo Ògún um desdobramento de sua energia cósmica, o aspecto violento e
incontrolável de todas as forças fundamentais que se manifestam como mobilização, propulsão, atração,
comunicação e direcionamento, o que lhe vale a denominação de Aláàkòró ou o “Invencível”.2
Relacionado com o sentido de manifestação da vontade no plano das formas, a transição da ideação para a
realização, o desejo ou impulso de existir e construir, Ògún é èdún olú ìrín, o Senhor do ferro, o ejé ou sangue
negro da Terra, possuindo estreitas relações com o poder gerador e sustentador da existência, onde se aproxima
do sentido de matéria individualizada e, por conseguinte, à Oxalá.
Como Olúparùn, o “Destruidor”, o executor da Justiça, Ògún se apresenta como agente necessário na
estruturação harmônica da Lei de Ação e Reação. Senhor dos caminhos dos homens e de suas escolhas, Ògún é
o represente direto de Oxalá, a Unidade radical no Plano da matéria, o que se dá por meio de suas estreitas
relações com Oxaguiàn. Propagador do Princípio Dinâmico da expansão, a energia de Ògún se encontra
transbordante em todas as formas, uma vez que deve ser reconhecida na vitalização de cada estrutura viva, no
impulso em se fazer presente e na necessidade em sobreviver.
Orixá da Lei, seu campo de atuação se reconhece na linha divisória entre a razão e a emoção, aspecto esse
que gera dois dos seus pólos de equilíbrio reconhecidos em Yansã e Oxum, respectivamente sua harmonia na
“esquerda” e na “direita”, ou seja, referentes aos aspectos ajustadores e compensadores da Lei. Pelas relações
estabelecidas com Yansã, Ògún se aproxima do padrão ressonante Eólico e Ígneo. Com Oxum, por sua vez,
tende ao morno e se relaciona com Oxum. Assim, a atividade está para Yansã e a passividade para Oxum quando
lidamos com as energias essenciais desse Orixá. Os fatores mais “ativos” se complementam com Yansã, ao passo
que aqueles mais “aquietados” se comprometem com Oxum. Yansã então se projeta como o aspecto “maleável”
da energia de Ògún ao se afirmar como um dos seus pólos de equilíbrio, uma vez que fala essencialmente ao
emocional quando ao lado do Orixá.
Dotados de natureza ordenadora, tanto Ògún quanto Yansã são ordenadores da Lei e seus aplicadores
diretos. Todos os Guias diretamente ligados à Vibração de Ògún são aplicadores diretos da Lei, seja ajustatória
ou compensatória. Por isso sabemos que aqueles que possuem Entidades diretamente ligadas a essa Vibração se
encontram sob o olhar vigilante da Lei, sendo debitores dessa ou de outras existências por desvios de conduta. A
guarda dos Terreiros de Umbanda geralmente é concedida aos Emissários da Linha de Ògún e os Guias

2 Também uma das saudações do Orixá: Ògún Aláàkòró, “o invencível Senhor da guerra”.
4
responsáveis por avaliarem seja a conduta dos médiuns e dos próprios Guias incorporados no decurso dos
trabalhos são representantes dessa Vibração.3
Miticamente o Orixá é considerado o irmão inseparável de Oxóssi, o que revela aqui o entendimento que
anima a matéria. É força ígnea que atua na aniquilação de tudo o que é paralisado e que já cumpriu o seu tempo
na Natureza. É o agente que impede a perpetuação, mas que movimenta todas as coisas em seu plano evolutivo.
Ògún é o impulsionador essencial de Oxóssi e sem a sua ação, toda a criação estaria sujeita a se prender na
rigidez.
É Ògún Ònirá, associado ao barro e as águas primordiais, assim como Òyá. Divindade que expressa o ponto
em que culmina a criação terrestre, elevando o homem ao primeiro plano na Natureza, Ògún, assim como
Obaluaiê, deve ser considerado o primeiro engendrado, o ferro nascido diretamente da Terra e que simboliza o
princípio ou a energia original que transmuta toda substância permitindo o seu desenvolvimento e
aprimoramento evolucional. Como o núcleo de ferro do planeta, Ògún tende para o centro, criando resistência e
determinando o movimento de diferentes forças.
Em watan, O se traduz por “Causa” ou “Luz”, o que evidencia o caráter celeste e ígneo atribuído ao Orixá.
Gun por sua vez significa “movimento agressivo, transformação”, convindo recordar que un constituíam também
signos ou hieróglifos sagrados cujo significado se traduz por “elevado” ou “acima”. Assim sendo, seguindo o
sentido espiritual expressado pela Umbanda e o significado impresso em sua linguagem esotérica, o nome Ògún
se traduz como o “Movimento impetuoso que transforma todas as coisas existentes”. O “Fogo ou a Luz
essencial da vida”. A exaltação do poder criador. O Princípio divino que assegura o dinamismo e o
aperfeiçoamento da existência por meio da Vontade convertida em ação, aspecto esse expressado pelo seu
vermelho incandescente, mas também pela sua porção de azul.
Temos aqui quatro letras associadas respectivamente com Touro/Oxóssi (Vav - O), Mercúro/Oxóssi
(Gimel - G), Sagitário/Xangô (Ayin - U) e com o Sol/Oxalá (Num - N). 129 é o valor gemátrico extraído do
nome do Orixá, o que nos revela alguns pontos esotéricos interessantes que se encontram ocultados. A Unidade
reconhecida em Èxú (1) que se complementa com as Águas de Yemanjá (2) e se harmoniza em Yansã (9). A
somatória é doze, o que evidencia um ciclo, mas também as relações entre a Justiça e Xangô, além dos atributos
de que se faz portador enquanto Divindade essencialmente associada aos princípios kármicos.
Temos nesse doze o aspecto contrastante e interativo desse Orixá com o conjunto das forças duais que por
obrigação, consequência e necessidade, tendem a se complementar mesmo no caos que aparentemente projetam.
Por essa significação, Ògún expressa duas forças opostas que entram em confronto, determinando ora o
domínio de uma, ora o de outra, expressando ainda o sentido de interatividade e certa interdependência uma da
outra, o que evoca o sentido ajustador e compensador da Lei. Esse aspecto deveria nos ensinar que se
conseguíssemos encarar as situações adversas do ponto de vista daquilo que representam, sem tentar colidir
diretamente com sua energia ou seguir o fluxo contrário ao da corrente, aprendendo a encontrar a tranquilidade
na turbulência, todos nós certamente alcançaríamos melhores resultados.
Ògún de fato fala muito disso. Revela que as situações carregadas já estão instaladas pela implacabilidade da
Lei Reacionária e que os embates podem ser evitados quando você consegue alcançar o estado de imersão no
problema. Esse Orixá traz uma lição a ser vivenciada por qualquer indivíduo em qualquer caminho: aquela de
que somente se tornando parte do problema, porém com tranquilidade, pode-se evitar ser arrastado para baixo.
Fala de aprender a vivenciar todos os aspectos de uma situação negativa sem a necessidade de sofrimentos que
tendem a arrastar o indivíduo e todas as partes envolvidas cada vez mais para baixo. O que está feito, já está

3No Templo, em relação à sua Cúpula, temos a presença de Pai Cipriano da Senzala, o qual atua pela Vibração de Ogun,
bem como dos Caboclos Ogun de Lei, Ogun Yara e Pena Azul, assim como o Sr. Exu das Sete Noites, um dos Guardiões
do Altar e atuante junto à lei ajustatória da esquerda.
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feito. O próximo passo só pode ser a mudança e a solução, sendo que o desespero e a impulsividade por vezes
podem ser desnecessários. “Viva hoje, lute amanhã”, já ensinavam os antigos egípcios.
Ògún representa a “Espada da Lei”, a ordem que deve ser restaurada e a Justiça em ação, onde temos então
a aproximação com a energia de Ògún Sóròkè (do yorubá sóro, falar, e kè, mais alto). Possuidor de Fundamentos,
ritualística e significados muito complexos, é o aspecto do Orixá que mais se aproxima de Èxú, sendo
reconhecido como o “Senhor da noite e das Encruzilhadas”, o “Juiz dos Caminhos dos homens”. Denominado
o “Vingador do Firmamento”, esse Ògún atua em concordância direta com os Princípios reguladores da Lei de
Ação e Reação, estando encarregado de reprimir todo excesso e de manter o homem dentro dos limites da
natureza e da Justiça, sob o impacto de severas sanções e punições.
Também conhecido como “O Inevitável”, uma vez que faz estreita referência a tudo aquilo que não pode ser
desviado ou mudado em decorrência dos aspectos diretos da Lei de Ação e Reação, Ògún Sóròkè representa o
efeito imutável das causas criadas e postas em movimento. É justo e imparcial, posicionando-se ao “centro da
encruzilhada” tal como Èxú e reservando sua cólera para aqueles cuja inteligência encontra-se chafurdada no
orgulho, no egoísmo, na falsidade e na arrogância.
Esse aspecto de “cólera” atribuída a um Orixá não deve causar espanto se recordarmos dos aspectos
reconhecidos nas diferenciações ou níveis frequenciais que se projetam acima e abaixo em relação a energia dos
mesmos. Todos os fatores ascensionais sobem em frequência e aqueles descensionais projetam-se para baixo,
acumulando peso e estabelecendo aspectos mais densos em relação aos princípios estabelecidos pela cadeia de
necessidades e consequências. Falar que Orixá é só “amor” é desconhecer os mecanismos operantes de suas
frequências, embora seja possível reconhecer na punição um aspecto compensador e misericordioso da lei
ajustatória.
Ògún Sóròkè é representado simbolicamente como possuindo dois lados, vestindo-se metade de vermelho
(lado esquerdo) e a outra metade de azul (lado direito), o que de imediato evoca o sentido de sentenciação e
execução a que se encontra vinculado. Em razão das energias que movimenta, é Orixá perigoso para ser
assentado em um Orí, necessitando que seus Fundamentos sejam realizados ao aberto, preferencialmente em
uma encruzilhada e sendo tudo duplo, inclusive o kélé, o Assentamento, as Guias, as oferendas, o Bará e os
próprios ritos que se repetem.
Contudo, é um grupo especial de Orixás denominados Ajàs e que se aproximam de Ògún e ressaltam ainda
mais as relações desse Orixá com o sentido de ordem e execução da Justiça Divina. Ajà (Aqueles que lutam) é a
contração do termo Ajàgun (Os que fazem a guerra), considerados os “Guerreiros Brancos” reconhecidos em
algumas Divindades temidas e fortemente associadas ao Karma e sua execução direta.4
Aguerridos, ordenadores do Caos, equilibradores de todo desequilíbrio, são denominados “Aqueles que
executam todas as sentenças”, revidando toda violação das regras, desobediência e falta de compromisso dos
seres por meio dos Princípios da ética e da moral quando perturbada a harmonia, sendo, em relação aos
Iniciados, os seus “sentenciadores” diante das ações positivas e negativas que esses venham a cometer ou
desencadear dentro do plano reacionário.
Os Ajàguns são os responsáveis diretos por envolverem os seres humanos na complexa teia de
acontecimentos reacionários negativos, gerados imediatamente pelo peso das causas que abarcam Princípios
como a ética e a estrutura da coletividade. São “Aqueles que pesam” na Balança da Lei, o cunho das ações
humanas e a influência direta das mesmas sobre o todo, desencadeando um complexo sistema harmonizador, o
qual requer que o equilíbrio seja alcançado pela dor, pela experimentação daquilo que é bom e ruim por meio da
aquisição e da privação, pela diferenciação e pela conscientização coletiva. Em outros termos: atuam sobre a

4 Ajà, do yorubá: a, aqueles e jà, cobatem. Ajàgun: de a, aqueles; jàgun, fazem a guerra. Apenas por curiosidade, a palavra
“jagunço” utilizado para expressar um “capanga”, “matador”, deriva do termo jàgun.
6
humanidade como os verdadeiros Senhores do Karma em sua contraparte reacionária negativa, sendo, por isso,
considerados Ordenadores diretos da Lei na Esquerda.5
Rompido o equilíbrio, os Ajàs instauram imediatamente a desordem e a perturbação como reação direta,
desencadeando um turbilhão de acontecimentos nefastos, até que, por meio de lições bastante árduas, dolorosas
e que por vezes requerem muito tempo, a ordem e a harmonia sejam novamente restauradas. Um dos mitos mais
belos referentes à Òrúnmilà deixa entrever o aspecto agressivo e reacionário de que se reveste Ògún, donde
podemos esboçar o sentido de justiça divina de que se revestem os Ajàgúns.
O mito narra, que estando Òrúnmilà em contenda com Èxú, tomado pela soberba e pela arrogância em ser
o detentor do conhecimento acerca dos destinados dos homens e das criaturas divinas, esse fora severamente
punido, tendo-lhe Èxú roubado todos os seus poderes e os aprisionado em uma cabaça. Irado, incontido em seu
orgulho e pleno de si, Òrúnmilà afronta Èxú, o qual debocha e gargalha incontidamente de seu comportamento
e de seu ego inflado, enquanto balança no ar a cabaça de um lado para o outro e retruca com ironia: “Devo
lembrar-te, que se hoje és detentor de tal conhecimento, deves a mim esse privilégio. Por acaso, Òrúnmilà, que
hoje se acha tão grande a ponto de não caber mais em si, já se esqueceu da forma como todos os seus poderes
foram adquiridos? Saber demais te fez esquecer o caminho de quem outrora nada sabia? Senta que eu vou
refrescar a sua cabeça!” Questionou Èxú com ares de deboche.
Mais calmo, aceitando a meia cabaça com água que o Orixá lhe estendeu, Òrúnmilà sentou-se sobre uma
esteira enquanto Èxú lhe narrava os acontecimentos desde o início. Quando jovem, ansiando por todo o
conhecimento que pudesse acumular, Òrúnmilà saiu em uma viagem que durou muitos anos. Certa vez, perdido
ao interno de uma mata, deparou-se com um mendigo que, caído aos pés de uma árvore, estendeu-lhe a mão,
pedindo um pouco de comida.
Òrúnmilà sentou-se de bom grado e de seu embornal retirou um pouco de farinha de inhame, a qual
misturou azeite de dendê e repartiu com o mendigo, que após se alimentar e sem revelar o seu nome, ofereceu ao
jovem um bastão de marfim entalhado em sinal de agradecimento.6 O mendigo (que em realidade era Èxú
disfarçado) ensinou a Òrúnmilà o caminho que esse deveria ser percorrido, até que fosse alcançado um imenso
palácio com dezesseis salões, dezesseis pátios e dezesseis portas, sendo ali o local em que se encontravam os
dezesseis Maiores Guerreiros.
Para prosseguir, Òrúnmilà teria que decifrar um enigma específico para cada uma das portas e sair vitorioso
das provas que cada pátio reservava. Se resolvesse os dezesseis enigmas e enfrentasse as dezesseis provas
terríveis, cada uma das divisões do palácio se abriria e os Guardiões de cada uma delas (os Odùs) dariam a
Òrúnmilà todo o conhecimento que esse desejava obter sobre o Ayé e o Òrún, fazendo-o sentar no trono que se
encontrava ao centro, coroando-o “Senhor dos Destinos”.
O mito prossegue. Òrúnmilà atravessa porta por porta e passa por cada uma das provas. Em algumas alas
demora meses; em outras se detém por anos na tentativa de resolver o enigma e superar as dificuldades que lhe
impunham os Guerreiros. Chegando diante da nona porta que dava acesso ao nono pátio, Èxú, que se fazia
presente como intermediário direto lhe diz: “Ao bateres com o bastão de marfim nessa porta, irás se deparar
com Ògúndá Mejì, ali lhe espera seu irmão Ògún. Dentro conhecerás a corrupção e a decadência que podem
levar o ser humano aos mais baixos níveis de sua existência. Verás os homens que se debatem no orgulho e na
presunção, inflados pelas ilusões transitórias de seus egos acostumados a toda sorte de adulação. Nesse salão
verás todos os vícios que assolam os homens e que os escravizam às correntes inquebrantáveis do Destino

5Aqui, “esquerda” assume o sentido de reação negativa, equilíbrio e retificação e não aquele de associação ao Princípio
Feminino.
6O Irofá de Òrúnmilà. Ainda hoje, é costume ter um pedaço de marfim proveniente de uma presa de elefante ou de javali
como instrumento de evocação direta ao Deus, onde, para tanto, bate-se com a ponta do mesmo sobre o Òpón.
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escrito por cada um deles. Aí dentro o assassinato, a ganância, a traição, a violência, a covardia, a miséria, a
guerra, a discórdia, a luxúria, a soberba e o egoísmo, se divertem dia e noite de mãos dadas com todos os
infelizes que de uma forma ou de outra se tornaram seus seguidores.”
É possível perceber por meio dessa narrativa, os aspectos obscurecidos e contrários, engendradores das
cadeias de Causa e Efeito à que se sujeitam todos os seres por participação própria e das quais não se pode
escapar em razão dos Princípios impressos na Lei de Ação e Reação que se encontra em estreita relação com as
Divindades kármicas reconhecidas nos Orixás Ajàguns e dos quais Ògún se manifesta como um dos mais
particulares.
Se é dito que existe uma personalidade Ajàgun para cada Orixá. Uma de suas diferenciações referentes ao
aspecto ajustatório e compensador da Lei. No entanto, três Divindades principais encabeçam esse grupo de
Deuses. O “Triângulo de prata” constituído por Ògúnjá, “O condutor da guerra” (o Ògún que se veste
inteiramente de Branco); Obaluaiê Jàgun, “O Guerreiro”, manifestação particularmente bela, muito jovem e
belicosa do Orixá, cujo Filá e demais paramentas se apresentam inteiramente brancos; e Ajágunã, “Que
surpreende na batalha”, o líder do panteão dos Oxaguiàns, dono do pilão de prata.
Na sequência destacam-se sete Deuses kármicos: Ayrá Ajáossí, o “Guerreiro da Esquerda”, eterno
“companheiro” de Oxaguiàn; Yemanjá Ogunté, “Aquela que reúne na batalha”; Oxum Ajagurá, “A Guerreira que
acaba com a guerra”; Obá Gideò, “Que caça com persistência”; Oyá Furé, “Que surge repentinamente”, portando
uma foice e se cobrindo com um Filá de palha da costa; Xangô Ajaká, “O Guerreiro que ceifa”, e o próprio
Oxaguiàn, o “Comedor de inhame pilado”, todos, particularmente relacionados com o sentido de manutenção da
Ordem, da harmonia e da Justiça, através de privações, punições e da instauração do caos desencadeado pelas
correntes acionárias contrárias.
Evidenciando as forças agressivas que controlam a existência e que se colocam como ordenadoras contínuas
do caos, Ògún é Òniré, o grande Rei conquistador, chefe supremo dos exércitos do Orún (o Plano Espiritual),
que assumindo para si a titulatura de Jagún, aspecto do Guerreiro mítico, converte-se no senhor da guerra, de
todos os instintos e impulsos violentos que caracterizam a luta entre as Forças de Luz e Escuridão e o
estabelecimento da ordem e da justiça, assumindo o papel de harmonizador tanto no Orún quanto no Ayé.
Em relação ao cosmos, Ògún se manifesta como Jòbi, a Força propulsora das primeiras origens que deram
início às galáxias e aos sistemas, assim como Èxú se manifesta como o Princípio da expansão universal. Juntos,
Ògún, Èxú e Oxóssi, os quais se apresentam nos mitos como irmãos inseparáveis a ponto de se confundirem em
suas naturezas, expressam a inteira atividade evolucional inicial. O momento caótico da formação dos mundos,
da absorção e união da matéria, das galáxias e micro planetas que colidem entre si dando geração a novos
sistemas, ou seja, o caos necessário para a manifestação e afirmação da existência.
A nível cósmico, Ògún associa-se a Terra quando essa ainda se apresentava como um gigantesco globo
incandescente golpeado incessantemente por inúmeros corpos celestes que estabeleceram uma verdadeira batalha
cósmica, necessária para a formação de nosso mundo e a manifestação da vida. É o guerreiro vermelho que se
lava inteiramente com o sangue ígneo e incandescente simbolizado pelo magma. Os cataclismos iniciais, a força
de resistência da vida. É Ògún Soroquê, o “Organizador do caos”, o guerreiro nascido diretamente do fogo lançado
do interior da Terra.
Onà iwó oòrùn ou o “Senhor dos caminhos do Oeste”, a região do mistério que afirma toda regeneração pelo
sangue e pela água, Ògún expressa o conflito interminável que impulsiona a harmonia e o desenvolvimento,
estabelecendo-se esse conflito em todos os aspectos da Natureza, sobretudo naquele humano, onde atua através
da mente e das diversas expressões do desejo. É o Orixá que empunhando sua espada sagrada, corta, divide,
partilha, multiplica, diferencia e recria em todas as direções, permitindo a descendência e certificando a
continuidade. É Ògún àládá méjì, o “proprietário de dois facões”.

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Alguns mitos antigos afirmam que o Orixá nasceu de um pedaço de ferro caído do Orún; já outros alegam
que teria nascido durante a erupção de um vulcão como lava e que seu corpo teria se solidificado em contato
com a água. Seja qual for o direcionamento mítico em relação ao seu nascimento, fato é que Ògún se manifesta
como elemento primordial e essencial associado à primeira manifestação do homem no plano da matéria,
representando como bem se pode averiguar, não apenas um ser, mas antropogenesicamente, toda uma raça e
seus períodos intermediários.
Grande Asiwajú ou “Aquele que precede”, titulatura concedida ao Orixá após esse ter mostrado aos Deuses
Funfuns o caminho que conduzia ao Opó-Orun-oún-Ayé, o pilar que unia o Orún ao Ayé quando da criação do
mundo, Ògún se converte na ideação divina que assume forma, exaltando-se como o impulso primordial da
vontade em se projetar, o sentido ou a energia dinâmica de manifestação do homem. Aquele que vai à frente
abrindo todos os caminhos e que, originalmente, se afirma como “macho-fêmea”, sendo essa energia
essencialmente feminina reconhecida em Obá, seu par cósmico.
Convertendo-se no fogo multiplicador de todas as coisas criadas, Ògún e Obá se manifestam como a energia
direcionadora das Forças Fundamentais ou na extensão da Causa Primeira saída do líquido amniótico original no
intento de criar, permitindo a ação desse mesmo fogo duplo, a manifestação dos poderes criadores que doam
impulso e direcionamento ao espírito contribuindo para a sua materialização no plano das formas.
Se Ògún se manifesta como a matéria ou substância original, Obá se afirma como o reflexo direto e imediato
da energia do Amor Universal que, pelo impulso natural, converte a energia de Ògún na energia criativa que doa
sentido e razão de ser a todas as coisas criadas, exaltando-se o par divino como a própria Luz da vida. Assim é
que Ògún, segundo os mitos, toma Obá à força (o poder da criatividade e da inteligência manifesta que deve
habitar a matéria), após tê-la feito escorregar em uma pasta de quiabos lançada ao solo, símbolo espermático por
excelência, associado aos princípios de fecundidade e descendência.
Divindade arcaica cuja antiguidade não é possível precisar, os Mestres espirituais reconhecem em Ògún a
figura de Ésha, o Deus do Fogo Primordial venerado pelas civilizações arcaicas anteriores a nossa era e que doara
ao homem seu princípio inteligente, ensinando-lhes a utilização desse elemento e sua aplicação no processo de
desenvolvimento das raças. Civilizador da humanidade, Ògún se manifesta como o senhor do fogo que molda,
que ilumina, que permite a manutenção da existência e o desenvolvimento da civilização, convertendo-se como
Exu, Xangô, Yansã e Obá em Divindade fundamental, necessária aos processos de evolução da inteira
humanidade.
Purificador, regenerador, destruidor e reorganizador, Ògún encarna todos os aspectos do fogo como
elemento imprescindível à manutenção e retificação da existência. Esse é o fogo vermelho sangue, princípio que
preenche com seu poder e sua força todos os reinos da Natureza. Os mitos apresentam Ògún como Òlomí nilè fi
ejé wé, o “Guerreiro que tendo água se lava com sangue”, símbolo de seu domínio sobre todas as forças atratoras
e impulsionadoras das energias violentas em plena atividade, Ògún caracteriza o vermelho diurno, ativo,
centrífugo, excitante e masculino, relacionado com o poder fecundador e, por conseguinte com a ação e o
impulso em agir. É esse o vermelho dos campos de batalha, das insígnias e dos estandartes de guerra. O
vermelho inflamado associado ao fogo que evidencia a força, o domínio, a ordem, a justiça e a vitória. Evocando
o sangue, esse vermelho caracteriza a batalha entre as forças diurnas e aquelas noturnas ou o equilíbrio entre a
ordem e o caos.
Ao encobrir-se inteiramente de vermelho, Ògún, assim como Xangô, caracteriza o poder real e absoluto
que acompanha as Divindades guerreiras civilizadoras da humanidade. É o vermelho símbolo da força, do
controle das leis, que manifesta o perigo, o silêncio, o receio e que impulsiona à manifestação da ordem.
Misticamente, se Exu, Xangô, Obá e Yansã se relacionam com izô, o Fogo divino e com os aspectos do
elemento que não podem ser controlados pelos mortais, os quais se apresentam como manifestações das forças
da Natureza tal como a lava dos vulcões, no Sol, na eletricidade e nos raios, fortalecendo o aspecto destruidor e
regenerador cíclico da existência, Ògún caracteriza-se como aquele que, aprendendo os segredos do fogo,
controla suas manifestações utilizando-o em benefício da inteira humanidade. É iná, o Fogo domesticado que
ilumina, que permite o preparo dos alimentos, que incentiva o desenvolvimento e impulsiona a mente, colocando

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o homem acima de todas as outras criaturas. Iná é a palavra usada para designar o Fogo, sendo traduzido por “o
que veio primeiro”, sendo um dos atributos conferidos à Èxú como harmonizador, um aspecto benéfico e
potente da força do Orixá. Por essa razão cantamos Iná, Iná mojubá, ou seja, Iná (Èxú como o Fogo que permite
o desenvolvimento da civilização), nós lhe apresentamos nossos respeitos. Isso em agradecimento ao Fogo que
aquece, que permitiu a evolução e que domesticado se torna brando.
Estabelecendo o controle da Natureza por meio do domínio do fogo, Ògún demarca o período essencial
da evolução em que o homem se afasta gradualmente de sua animalidade original, permitindo o desenvolvimento
da consciência e da razão, convertendo-se então no civilizador mítico ou no libertador. Também se encontra
diretamente associado com a capacidade dos homens primitivos em criarem armas e utensílios de pedra e
madeira, sendo o “civilizador” em todas as direções que se olhe. Esse aspecto, ao lado de Oxóssi, confere à
Ògún uma posição muito respeitada em relação à gênese humana e seu desenvolvimento. por essa razão se diz
que “Ògún é o verdadeiro Senhor da humanidade e que sem o seu apoio o caminho se torna difícil” - Mòn gbé
Ògún aráayé, àigbè Ògún sòro. Món gbé, mòn gbé Ògún soro.
Esse Orixá é teogonicamente considerado como o Princípio da Evolução que doara ao homem sua
inteligência, sentido esse também expressado no mito em que o Orixá comprime as duas cabeças de Oxagiàn e
que permitira seu desenvolvimento intelectual. É Ògún Onìlé, o “Senhor da Terra”, representação do primeiro ser
que utilizou a inteligência de maneira consciente, o primeiro lavrador, caçador e explorador dos recursos
ofertados pela inteira Natureza.
Síntese das próprias Forças da Natureza animadas segundo sua essência particular, Ògún, na qualidade de
Orixá caçador vinculado às matas, relaciona-se profundamente com o mistério das grandes árvores, as quais
simbolizam a matéria original individualizada ou a expressão do homem ideal, cujos pés encontram-se cravados
no Ayé e sua cabeça voltada para o Orún na direção do macrocosmo superior. Dessa forma, manifesta-se como
Ògúnja, o “Guerreiro Branco”, síntese das Forças primordiais que se afirmam no plano da matéria e que
permitem o sentido de descendência e continuidade simbolizadas pelas folhas desfiadas do mariwò, a palmeira de
dendê.
Ògún revela a presença da Divindade nos seres humanos e a manifestação de sua Inteligência reconhecida
no impulso que doa movimento a todas as coisas. O mistério do Um que se converte em sete, passando a ser
denominado Megê. Verbo divino reconhecido na iluminação da consciência e que se manifesta pelo Fogo
espiritual, Ògún é aquele que afirma toda energia ou matéria condensada em sua forma, sendo reconhecido
como a vontade de ser de toda criatura. Aquele que ao entrar no contexto da humanidade, em virtude de sua
agressividade inicial, se disfarça misticamente com as folhas verdes e desfiadas de mariwò.
Profundamente ligado ao mistério das árvores, o que o acosta a Oxalá e aos Orixás Funfuns, o
Assentamento de Ògún se encontra do lado de fora, aos pés do Igí-uyèuè, a cajazeira, cujos frutos representam
seus testículos e as folhas “seus filhos descendentes”, estando a mesma rodeada por uma cerca de peregún. De
igual modo, em virtude de sua ligação com as folhas de mariwò, sua representação mais simbólica, Ògún se
associa ao Igí-òpé, a palmeira de dendezeiro.
Mariwò é a vestimenta de Ògún, as folhas frescas e verdes que aplacam a sua energia violenta. A palha que
toma emprestada a voz de Yansã reconhecida nos ventos e que se converte em poderoso instrumento magístico
carregado por inúmeras virtudes de defesa e proteção. Um dito sagrado expressa: Àkórò ko l´àxò màrìwò l´àxò
Ògún o, ou seja, “Aquele que é invencível não possui roupas. É o màrìwò quem veste Ògún”.

Continua

Flávio Juliano:.
Dirigente

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