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EDITOR CHEFE
Arno Alcântara

REDAÇÃO E CONCEPÇÃO
Marcela Saint Martin

DIREÇÃO DE CRIAÇÃO
Matheus Bazzo

ILLUSTRAÇÃO DA CAPA
André Martins

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO
Jonatas Olimpio

Material exclusivo para assinantes do


Guerrilha Way.

Transcrição das lives realizadas no


Instagram do Dr. Italo Marsili dos dias
14/01/2019 a 21/01/2019

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A apostila que você tem em mãos é uma pequena jóia
-- um booklet para ser guardado em sua biblioteca. E,
como os livros de uma biblioteca, você não precisa
lê-lo de capa a capa, mas mantê-lo à mão para futuras
consultas.

Aqui você vai encontrar um resumo das lives de


semana e a transcrição integral de cada uma delas.

Cada página foi pensada para tornar a utilização desse


material o mais simples e agradável possível. Caso
não queira imprimir a versão colorida, pode imprimir
a versão preto e branco. E, caso não deseje imprimir,
pode simplesmente arquivá-lo em sua biblioteca virtual,
consultando o PDF sempre que necessário.

Faça bom proveito!

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RESUMOS DA SEMANA

POR QUE VOCÊ ESTÁ


SOFRENDO DE SOLIDÃO

MARKETING MULTINÍVEL NÃO VAI


DEIXAR VOCÊ MILIONÁRIO, MAS…

POR QUE VOCÊ PRECISA SABER


SOBRE TEMPERAMENTOS

NOSSA PRIMEIRA REUNIÃO DE FEEDBACK

CALMA AÍ, VOCÊ NÃO É TÃO ESPERTO ASSIM

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LIVE NOTURNA DE SEGUNDA-FEIRA
(INSTAGRAM)
POR QUE VOCÊ ESTÁ SOFRENDO DE SOLIDÃO
A queixa de solidão aparece, em regra, em pessoas ex-
tremamente egoístas, que se recusam a ceder em suas
idéias, seus planos, seus programas -- que se recusam
a servir.

LIVE #16
MARKETING MULTINÍVEL NÃO VAI
DEIXAR VOCÊ MILIONÁRIO, MAS…
O marketing multinível não vai tornar ninguém mi-
lionário, mas pode ser uma solução para que o sujeito
saia da 4a camada, entrando no mundo trabalho, do
serviço, das relações humanas reais.

LIVE #17
POR QUE VOCÊ PRECISA SABER
SOBRE TEMPERAMENTOS
O conhecimento dos temperamentos é uma ferra-
menta extremamente útil para melhorar os relacio-
namentos humanos, aumentando a sua compreensão
sobre si próprio e sobre o outro.

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LIVE #18
NOSSA PRIMEIRA REUNIÃO DE FEEDBACK
Ninguém mais aguenta ser tratado como criancinha.
As pessoas querem amadurecer, querem entrar intei-
ros na vida adulta, e nesta semana tivemos uma clara
demonstração dos efeitos da Terapia de Guerrilha.

LIVE #19
CALMA AÍ, VOCÊ NÃO É TÃO ESPERTO ASSIM
Na conversação humana, frear a ânsia de “rotular” o
que o outro está dizendo é uma habilidade indispen-
sável para que você possa acessar o seu mundo inte-
rior e relacionar-se com ela de maneira mais inteli-
gente.

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Live Noturna de Segunda-Feira (Instagram)
POR QUE VOCÊ ESTÁ SOFRENDO DE SOLIDÃO

Salvo os casos dramáticos de abandono, especialmente


de incapazes, a dor de solidão é, em regra, uma dor que
aparece nas pessoas extremamente egoístas.

Em regra, reclama de solidão aquele sujeito que só acei-


ta que os seus programas sejam executados, que as suas
idéias prevaleçam. É a pessoa que não aceita entrar no
mundo do outro, não aceita ceder nos seus caprichos.

Essa dor de solidão é uma dor de quarta camada, porque


o que dói não é o sentir-se sozinho, mas o fato de que o
mundo se recusa a validar o que a pessoa quer, as suas
preferências, os seus planos. A solução para essa dor é o
serviço, o estar disponível para o outro.

Live #16
MARKETING MULTINÍVEL NÃO VAI DEIXAR VOCÊ
MILIONÁRIO, MAS…

Chega um momento da vida em que é fundamental ga-


nhar o seu próprio dinheiro, e é neste ponto que muita
gente fica paralisada porque, apesar de ter uma formação
acadêmica, não consegue emprego “na área”. Para essas
pessoas, o marketing multinível pode ser uma solução.

Entretanto, o MM não tornará ninguém um milionário --


como, aliás, trabalho nenhum, porque tornar-se milioná-

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rio requer uma série de habilidades que não se resumem
a uma única atividade profissional. O que torna alguém
milionário é algo que está para além do trabalho especí-
fico que ela realiza.

Muitas vezes, o trabalho, seja ele qual for, serve apenas


para que você mude de camada. O MM pode, assim, ser a
chave para sair da 4a camada, lançando você no mundo
trabalho, do serviço, das relações humanas concretas, do
empreendedorismo, e ainda botar um dinheiro no seu
bolso. Basta não ter ilusões e alimentar as expectativas
corretas.

Live #17
POR QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE
TEMPERAMENTOS

Parte da trajetória de amadurecimento passa por conhe-


cer melhor o modo como funcionamos e aprender a li-
dar com o funcionamento das outras pessoas. Uma fer-
ramenta muitíssimo útil para isso é o conhecimento dos
temperamentos.

Os relacionamentos melhoram muito quando você com-


preende que, diante de um mesmo fenômeno, as pessoas
não são igualmente impactadas e não reagem do mesmo
modo. Eliminar essa expectativa já é um grande adianto
para estabelecermos relacionamentos mais maduros e
evitar conflitos desnecessários.

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Além disso, é preciso entender que o temperamento não
determinada os atos da pessoa. Ele é a estrutura mineral
do ser humano -- é um ponto de partida, não de chegada.
Quanto mais uma pessoa amadurece, menos ela sofre a
influência do seu temperamento; já uma pessoa imatura
será bastante determinada por ele.

Live #18
NOSSA PRIMEIRA REUNIÃO DE FEEDBACK

Em novembro do ano passado, tivemos uma infeliz ex-


periência de alguns milhares de pessoas que, devido a
problemas técnicos, não conseguiram assistir ao nosso
aulão ao vivo intitulado “Aula obrigatória para homens e
mulheres”. Frustradas, começaram imediatamente a dis-
parar incontáveis xingamentos contra mim, numa exas-
peração afetiva absolutamente incontrolável.

Na última quarta-feira, apesar de todos os nossos esfor-


ços e preparativos junto ao servidor, houve também um
problema técnico, e o aulão não pôde ser transmitido ao
vivo. A diferença, agora, é que não havia uns poucos mi-
lhares de pessoas, mas 21 mil alunos e seguidores frustra-
dos em sua justa expectativa de assistir à aula ao vivo. E a
diferença, agora, é que, num contraste total com a situa-
ção de novembro passado, ninguém reclamou. O pessoal
deu seu jeito: foi fazer outra coisa, ver o filme indicado
pelo GW, confiante de que daríamos um jeito de fazer a
aula chegar até eles.

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Quando decidimos travar essa guerrilha contra a ima-
turidade, tínhamos a certeza de que era isso que muita
gente desejava. Ninguém mais aguenta a falsidade do
coitadismo, ninguém mais quer ser afagado como um
bebezinho do alto dos seus vinte, trinta anos. As pessoas
querem amadurecer, querem ser tratadas como adultos,
estão cansadas de viver abaixo do potencial humano, in-
finitamente protegidas contra a realidade. Essa foi a nos-
sa aposta, e o episódio de quarta-feira veio confirmar que
estamos no caminho certo. Então, para não dizerem que
eu só dou bronca, fica aqui o meu feedback positivo para
todos vocês que entraram nessa jornada conosco. Não
vamos parar até que todos se tornem GENTE, e gente de
alto nível.

Live #19
CALMA AÍ, VOCÊ NÃO É TÃO ESPERTO ASSIM

Existe em muitas pessoas um desejo quase irreprimível


de fazer associações simplistas, de reduzir tudo o que ou-
vem a uma única sentença, a rótulos que “expliquem” de
onde aquilo veio. A pessoa não consegue calar o “falatório
mental” e se abrir para ouvir com calma, porque a pressa
em “sacar” o que o outro tem a dizer fala mais alto.

Por isso, nos relacionamentos humanos, uma precaução


que você deve ter é sempre se perguntar se o seu horizon-
te de consciência é maior do que o daquela pessoa que
está lhe apresentando algo. Somente um horizonte de
consciência mais amplo pode identificar a origem preci-

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sa daquilo que está no horizonte de consciência de outra
pessoa.

Desarmar-se dessa pressa de “sacar” o outro, de rotular


o que ele diz, é fundamental para que você se abra para
a experiência profunda do mundo interior da outra pes-
soa, relacionando-se de maneira mais inteligente e mais
humana.

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LIVE NOTURNA DE SEGUNDA-FEIRA (INSTAGRAM)

POR QUE VOCÊ ESTÁ


SOFRENDO DE SOLIDÃO
É incrível procurar uns temas nas obras de certos de
filósofos, certos autores, e não encontrar o autor fa-
lando sobre o tema. Às vezes você procura na própria
religião, como na religião cristã, e você se pergunta,
por exemplo, o que Cristo estava fazendo ali naquela
época dos doze aos trinta anos. E aí você não encon-
tra literatura sobre o assunto. Ou então você vai na
obra de algum filósofo, e pergunta sobre o tema da
solidão, e não vê muito o pessoal falando sobre isso.
Você tem que entender uma coisa: não falar sobre o
assunto às vezes é exatamente o tratamento correto
da questão. Por exemplo, quando as religiões cristãs
não falam sobre aqueles anos ocultos da vida de Cris-
to, é porque tem de ser assim mesmo; aquilo ali você
não precisa saber, não é para ficar cutucando, ima-
ginando, porque a partir do ocultamento, a partir da
não informação, você vai tirar um símbolo poderoso.

A solidão também é um desses temas, que sequer


aparecem em toda a vastidão da obra de alguns filó-
sofos. Às vezes há filósofos com uma obra muitíssi-
mo extensa, muitíssimo importante, e você não con-
segue encontrar ali referência sobre esse assunto da
solidão. Se você fizer uma busca sobre o assunto da

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solidão, uma grande parte de filósofos importantes,
pensadores importantes, não trata do assunto da so-
lidão. E se você pegar as minhas duzentas e setenta
lives gravadas – nem sei quantas são – também não
me verá falando sobre o assunto da solidão, apesar de
ser um assunto que me pedem a todo instante para
falar. A todo momento pedem para falar sobre esse
assunto da solidão. Então, vamos abordar esse tema
– é claro que não será uma abordagem sistemática e
definitiva sobre o tema.

Mas temos que começar a pensar no seguinte: Que


diabos é a solidão? De que diabos é feita a solidão? De
que diabos esse sentimento é feito? O que é isso? O
que é esse sentimento da solidão? E a primeira coisa
em que podemos pensar são certos modelos de vida
que só funcionam na solidão, funcionam melhor na
solidão, quando o sujeito está sozinho, quando não
tem ninguém perturbando, enchendo o saco e de-
mandando. Há modelos de vida que funcionam me-
lhor quando o sujeito está sozinho e quieto no can-
to dele, quando não tem ninguém enchendo o saco
dele, quando não tem ninguém atrapalhando. Exis-
tem alguns modelos de vida, como, por exemplo, os
modelos de vida dedicada à vida intelectual, ou al-
guns modelos de vida religiosa, que se perfazem na
solidão, e você não verá ninguém reclamando disso;
pelo contrário, o sujeito que tem uma aptidão inte-
lectual está rezando para ter um momento de soli-

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dão, para os outros pararem de encher o saco, para
não ter ninguém do lado dele, para não ter ninguém
por perto perturbando a cabeça dele. A partir dessa
análise já começamos a ver o seguinte: a solidão, em
si, talvez não seja um problema. Então qual seria o
problema dessa dita solidão, que tantas vezes afeta
as pessoas, e com a qual as pessoas não querem se
defrontar? Muitas vezes a pessoa está sofrendo, e diz
que sofre porque está só, porque tem solidão. De fato,
existem solidões dramáticas, sobretudo aquelas
solidões que implicam o abandono de necessida-
des físicas triviais. Não estou falando dessas, mas
da solidão do sujeito saudável e normal, que fica
reclamando que está sozinho. Do que será que ele
está reclamando de verdade? Em regra, esse sujei-
to que está reclamando da solidão é um sujeito ex-
tremamente egoísta.

Outro dia eu vi um meme na internet que achei per-


feito – mas não lembro onde o vi. Mas era uma meni-
ninha reclamando: “Ninguém me chama para nada”,
e a tirinha embaixo era a fala de uma amiga ligando,
e dizendo: “Vamos sair hoje?” E ela responde: “Ah…
hoje não dá”. Então, a maior parte das pessoas que
está reclamando de solidão é extremamente cha-
ta, gente que só está olhando para seu próprio um-
bigo, que só quer que os seus programas sejam exe-
cutados, que as suas ideias estejam na roda; é uma
pessoa que não tem certa flexibilidade biográfica

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para poder ceder nas suas ideias. Então ela não
está reclamando de solidão, mas está reclamando
porque o mundo não a aceita do jeitinho que ela é.

No curso de psicólogos nesse final de semana, uma


das coisas que falamos é isto:

o olhar do outro sobre mim me


determina, e deve me determinar.

Alguém que vem com esse papinho: “Não… eu sou eu,


independente do que o outro está achando de mim;
independe do outro, independente da expectativa do
outro”… Mas que ideia é essa? Uma grande função da
maturidade humana é ser mais você quando aten-
de a expectativa do outro. Pense nisso. Vou repetir
porque isso vai no sentido oposto de tudo o que cos-
tumamos ouvir: quando você é um sujeito maduro,
você é mais você quando atende a expectativa do ou-
tro. E isso não é o doutor Ítalo falando sozinho; exis-
te toda uma linha psicológica que trata justamente
dessa relação do indivíduo com a comunidade. Prati-
camente toda a teoria de Alfred Adler é isso, a psico-
logia da comunidade. Segundo ela, o sujeito se torna
mais ele quando se põe diante da sua comunida-
de, diante do marido, diante dos filhos, isto é, ele se
torna mais ele na medida em que serve e cumpre o
seu dever. Isso abre um grande panorama para nós.

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“Mas, Ítalo, quer dizer que quando eu estou na fren-
te de alguém e abandono certos planos e projetos
meus, eu não me anulo?” Não é essa a pergunta todo
mundo sempre faz? “Ah, se fizer isso o tempo todo,
eu vou me anular”. Eu vou dizer o que isso vai anu-
lar: vai anular o seu defeito, vai anular aquele amor
próprio desordenado, vai anular aquela soberba
enorme de achar que todo mundo tem de servi-lo
o tempo todo. Isso tudo com certeza vai ser anula-
do. Pare para imaginar uma vida assim: que mara-
vilha ela é.

Estamos falando aqui de maturidade. Uma pessoa


que rejeita esse fato ainda é imaturo. Simples assim;
não há problema nenhum, porque todos têm direito
de ser imaturos. Mas ninguém tem direito de querer
continuar sendo imaturo. Então quer dizer que a psi-
cologia da comunidade é superior à psicologia do in-
divíduo, que só fala dos movimentos interiores? Mas
é claro! Que bobeira achar que diante do seu marido,
da sua esposa, de seus filhos, atendendo a demanda
do outro, a pessoa vai ser inferior. Na verdade, você
está exercendo uma função superior do espírito. Que
função é essa? É a função de quem é útil e sabe fa-
zer as coisas no mundo. E justamente porque é útil e
sabe fazer as coisas no mundo, o outro olha para ele
e espera algo dele. E esse esperar encontra justamen-
te a entrega. Olha que coisa bonita!

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Veja se não há beleza nesta cena: um médico com
fome indo jantar, e chega-lhe um pai de família com
a barriga aberta porque se envolveu num acidente.
É óbvio que esse médico vai botar sua fomezinha no
bolso, vai pegar esse pai de família e vai correndo
com ele para o centro cirúrgico para resolver aque-
le problema. Não é obviamente isso que você espe-
ra do médico-cirurgião? Quem não concordará com
isso? “Não, porque o desejo de se alimentar é supe-
rior, porque é dele”… Que ideia de jerico. Mas por que,
neste exemplo, fica claro o que o médico tem que fa-
zer isso? “Ah…, porque ele é médico”. Não é isso não.
É porque esse sujeito tem uma série de expertises, e
sabe fazer algo que ninguém mais sabe, e aquela pe-
quena comunidade – mãe, filha e pai de família es-
faqueado – depende do saber daquele médico. Então
ele colocará a fome, o desejo interior dele, no bolso, e
não vai pensar nele; vai se determinar pela expectati-
va do outro. Não é óbvio que é isso que você espera de
um médico nessa situação? Todo mundo espera isso,
pois estamos diante de alguém maduro.

Então, por que diabos nos permitimos não ser


maduros, quando existe uma expectativa da co-
munidade, uma expectativa do outro? Sabe o que
acontecerá se você continuar assim? Jamais vai
amadurecer, porque vai abrir mão de ser útil no
mundo. Olha só que coisa terrível. Vi esses dias o post
de um sacerdote famoso, dizendo: “Cuidado com o

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olhar do outro; não se determine pelo olhar do ou-
tro”. Como assim? Que absurdo!

Em geral esses movimentos de solidão


aparecem justamente porque você está
acostumado a uma vida vazia, de não
serviço, de não utilidade; a uma vida
que não se determina pelo olhar do outro.
Essa dor de solidão, saiba, é uma dor de quarta ca-
mada. O sujeito que não está mais na quarta camada
não sente dor quando está sozinho; pelo contrário,
ele aproveita esses momentos de solidão, os momen-
tos de viagem, ou quando as pessoas não estão em
casa, para para descansar, para estudar alguma coi-
sa, para aprender alguma coisa. Assim, como é que a
solidão vai doer? Não dói.

A solidão do homem maduro não dói desse jeito. A


questão sequer aparece. Quando você fala assim:
“Nossa… a solidão está doendo”, saiba que existe ain-
da um lugar de imaturidade muito profunda na sua
atuação, e você tem que olhar para si e falar o seguin-
te: “Acho que é justamente esse pensamento de au-
tossuficiência afetiva que está me levando a sentir
essa dor, porque o outro não está me validando”. É
isso.

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Não é complicado, preste atenção: quando o sujei-
to está acostumado a ser determinado pela expec-
tativa do outro, ele está na vida. A sua motivação
na vida é dar conta de atender a expectativa do ou-
tro, porque ele sabe fazer, só ele pode fazer aquilo,
como no exemplo do médico. Ora, se o médico não
botar a fomezinha dele no bolso, e for ao centro ci-
rúrgico abordar aquele abdômen eviscerado, quem
vai fazer? Você acha que o médico, ao sair das 4 horas
cirurgia, não sai mais ele? Cansado, com fome, talvez
até um pouco puto, mas íntegro. É ele ali, porque, se
não fosse ele, seria quem? Este é o tesão da vida: re-
colher algumas faculdades, potências e expertises, e
atender o outro.

Se você é mãe de família, que cuide da casa; se é pai


de família, que honre seus filhos; se é médico, que
alivie o sofrimento dos outros; se é comerciante,
que gere lucro para sua empresa e seja digno com
seus funcionários. Que mais você quer? O tempo
de jogar confete no ego acabou. Isso é coisa de gen-
te imatura. Se você tem mais de 12 anos, não dá mais
para ser imaturo, porque se não esse seu sofrimento
será um sofrimento sem substância. Você vai ficar
sofrendo com essa solidão porque quer que fiquem
jogando confete no seu ego. Só que você é um bosti-
nha – talvez você seja até um cara legal, uma menina
simpática, mas não serve para nada. É claro que vai
ficar sozinho. Por que alguém quereria a companhia

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de alguém que não serve para nada, que só serve para
ficar demandando atenção, demandando validação?
Não dá! As pessoas não vão contar com você, e você
vai se sentir sozinho mesmo, porque estará de fato
sozinho.

Nesse mundo, companhia é serviço.


É você que deve fazer companhia aos
outros. Ninguém te deve nada,
nem mesmo companhia.

Saber disso é libertador: a companhia nesse mundo


é você quem dá aos outros. É só isso que é possível
nesse mundo. Busque outra coisa para ver o que lhe
acontece. “Ah, Ítalo, e a companhia de Deus? Porque
Deus está sempre presente”. Se você não tem religião,
não vai sentir a companhia de Deus nunca. É óbvio
que Ele está presente, mas você não abre a presença
para Ele... e vai continuar se sentindo sozinho.

Portanto, tenha uma função no mundo, sirva, seja


útil, e saiba que ninguém lhe deve nada. Fazendo
isso, você sairá da quarta camada, e essa dor de so-
lidão não aparecerá mais. Tente outro caminho: se
conseguir, me conte. Mas não tem outro caminho.
Então, aproveite os momentos de solidão para des-
cansar, recuperar as baterias, ler algo que tinha de
ser lido, aprender algo que tinha que ter aprendido.
Assim, você volta mais forte, para servir mais, para

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ser mais útil, para estar diante da sua comunidade
exercendo uma função, sendo útil. A vida então co-
meça a ter sentido. Até esse momento, você é uma
criancinha.

O complexo central para o Alfred Adler não é o com-


plexo de Édipo, como era para o Freud (desejo de in-
cesto, matar o pai, transar com a mãe); não é isso. Ele
diz que há um complexo de inferioridade que nos
puxa para baixo.

Simplificando, o medo de ser


inferior é o que nos trava.

“Ah, mas se eu servir o meu marido, se servir o meu


filhinho, se servir o meu patrão, vou me anular,
vou ficar inferior”. Ora, é contra esse complexo que
você tem que lutar, e isso só se vence às custas de
serviço. Não é paradoxo; é a realidade da vida. Faça
isso, para ver o que acontece. Sirva um café para sua
secretária, sirva um café para seu chefe; vai se tornar
inferior por isso? É o inverso! É o serviço que o tira
desse lugar inferior, que dá sentido à sua vida. Que
dificuldade é essa? É medo; é o complexo de inferio-
ridade puxando para baixo.

Estou aqui justamente para jogar na sua cara e dizer


o seguinte: não é complexo de inferioridade; é infe-
rioridade mesmo; você é inferior! Quando você não

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serve e é narcisista, você é inferior mesmo. Você é
inferior porque não sabe fazer nada e não serve
para nada. É o que todo mundo me pergunta: “Como
é que aumento minha auto-estima?” Sendo estimá-
vel! Como quer que alguém o estime, o ame, se você
não é amável, é um pé no saco? Não é complexo de
inferioridade; é inferioridade mesmo. E todo mun-
do sabe disso desde que o mundo é mundo; é que as
pessoas se esquecem dessas coisas. É o que sempre
ouvimos: “Aquele que serve é o maior”; “os últimos
serão os primeiros”. Não estou trazendo aqui nenhu-
ma novidade. Não temos novidade, mas um esqueci-
mento vital. Isso é tão velho quanto o mundo; é uma
tecnologia de 2000 anos. Mas se nos esquecemos
disso, aparece esse papinho de solidão, começa essa
neurose coletiva, essa histeria coletiva. O que estou
falando é óbvio: quando você aparece numa comuni-
dade, e a serve, você é mais você, e não menos você.
Essa verdade é tão velha quanto andar para frente.

Esse medo de se diminuir quando você


serve, é um medo enxertado, porque a
realidade jamais demonstrou isso.

Só pode servir quem é forte, uma vez que quem


serve, sabe fazer, sabe o que faz, já estudou aqui-
lo, já trabalhou naquilo. Então é claro que não vai
aparecer fraqueza; só aparece força. Lembre-se dis-
to sempre: o complexo de inferioridade do Adler só

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se vence às custas de serviço. Lembre-se: ninguém
te deve nada; a companhia nesse mundo é a compa-
nhia de quem serve – o sujeito que serve está sem-
pre acompanhado e nunca tem solidão. O sujeito que
está sentado na sua poltrona, ‘com a boca escancara-
da, cheia de dentes, esperando a morte chegar’, espe-
rando que todos o sirvam, este sim está sozinho. Ele
é inútil, porque não serve.

Quando falo em servir, não estou falando de grandes


voos, não estou falando de você pegar um avião e ir
para a África, ou recolher centenas de milhares de
reais e montar uma campanha para ajudar o pessoal
da cidade mineira que está soterrada; não estou fa-
lando disso. Se pode fazer isso, faça. Mas se não pode,
porque sua função social não lhe permite nada, sai-
ba que o serviço está aberto a todos, desde o mendigo
da rua até o imperador do mundo; todos têm que ser-
vir. Esse é o único caminho para a felicidade e para a
companhia nesse mundo. Só assim você dá adeus à
solidão.

Portanto, você que está se sentindo sozinho há algum


tempo, reconheça com sinceridade: você é meio inú-
til, não serve para grande coisa; e quando você faz al-
guma coisa pelo outro, espera que o outro jogue con-
fete e purpurina em você. É ou não é assim? Quer que
a solidão vá embora? Esqueça de você, desse caralho
chamado “você”. A expectativa do outro tem que me

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determinar; se não me determina, eu sou um ‘quar-
ta-camadinha’ de merda. Se a expectativa do outro
ainda não me determina, ainda não alcancei a esta-
tura da maturidade da vida humana.

Ortega y Gasset disse uma coisa para nós há anos:


“Eu sou eu e minhas circunstâncias”. Parte das cir-
cunstâncias é a expectativa do outro, da comunida-
de. Eu sou também aquilo que a comunidade espe-
ra de mim; do contrário, eu não sou eu, sou ainda
um bobão, sou feito de geleia, pó ou purpurina. Que
triste uma vida assim, vazia e instável, com picos
de euforia e vales de tristeza. O que estabiliza isso?
O serviço, ser alguém que atende a expectativa da
comunidade, da mulher, do filho, da noiva. Que be-
leza uma vida digna, uma vida útil, cheia de sen-
tido, maravilhosa, determinada pela expectativa
do outro. Não fuja disso. Aproveite os momentos de
solidão, e reveja essas coisas. Por que está doendo?
Porque você está numa semana de merda, querendo
purpurina por tudo quanto é lado, querendo confe-
te por tudo quanto é lado. Vá ver se alguém que está
servindo a sua comunidade há meses tem solidão.
Não tem, porque não há lugar para solidão.

Portanto, não tenha medo do complexo de inferiori-


dade, porque você é inferior mesmo. Você vai vencer
isso aí às custas de servir. Isso nos dá um tesão vital,
que nos acompanhará sempre. É uma maravilha.

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LIVE #16

MARKETING MULTINÍVEL NÃO


VAI DEIXAR VOCÊ MILIONÁRIO,
MAS…
O tema de hoje é muito importante para mim, por
um motivo. Vocês sabem que um dos assuntos sobre
os quais falamos se refere às 12 camadas da personali-
dade humana, no esteio da teoria do professor Olavo
de Carvalho; e um ponto importante, uma camada
decisiva da maturidade é a sexta camada, a camada
da utilidade. Não importa se você não sabe, ou se já
ouviu sobre o assunto, você conseguirá acompanhar
do mesmo jeito a live de hoje. Não tem por que não
estar aqui, porque dá para entender o que vou falar.

Num certo momento da vida do homem, na vida da


mulher, é importante ganhar o próprio dinheiro, ser
útil, servir para alguma coisa; não ficar só sendo um
encosto, sendo um peso na vida dos outros. E você
vai falar para mim o seguinte: “Italo, eu sei, eu tento
fazer isso, mas o problema é que eu fiz a minha facul-
dade de contabilidade, eu fiz a minha faculdade de
desenho industrial, e não há emprego; eu até queria,
só que não consigo emprego, não consigo emprego
na minha área”.

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Trata-se de uma realidade conhecida. Já abordamos
esse assunto do ponto de vista histórico. Em primei-
ro lugar, é claro que não haverá postos de trabalho
em contabilidade que consigam absorver todos os
contadores que são formados; não haverá postos
de trabalho de advocacia que consigam absorver
todos os advogados.

O fetiche da classe média é pensar que


freqüentar uma faculdade vai habilitar
o sujeito a trabalhar naquilo.

Em primeiro lugar, você tem de saber o que está fa-


zendo lá; em segundo lugar, tem de haver alguém
que queira contratá-lo.

Então você vai vir com este papo: “Italo, eu tenho um


problema aqui e acho que estou entendendo por que
estou preso naquela porcaria da quarta camada; eu
sei que estou preso nessa coisinha de que tudo é um
problema, tudo dói, em tudo acho que estão falando
mal de mim... Será que não é porque eu não tenho
um emprego, não sou útil, porque acho que eu es-
tou desempenhando meu trabalho de um modo um
pouco inadequado, será que não é isso?”.

Aí é que entra o nosso assunto, um assunto curioso –


vocês talvez fiquem espantados com o tema de hoje
–, que é o marketing multinível. Todo mundo me

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pergunta o tempo todo “Italo, o que você acha de
marketing multinível?”, “O que você acha da Hino-
de, da Jeunesse, da Mary Kay, qual é a sua opinião
sobre o assunto?”. Para começar, não tenho opinião
nenhuma. Ressalto aqui que isso não é pirâmide, e
não estou ganhando nada – essas empresas nem sa-
bem que eu existo. Estou falando isso aqui porque é
uma demanda de vocês: sei que várias pessoas são
chamadas para reunião de empreendedores, e lá o
pessoal fala: “Acho que você tem o perfil para nos-
sa empresa”. E chamam para uma reunião na casa
do sujeito, e o sujeito vai lhe vender o negócio. Não
tenho nada contra isso; ao contrário, acho que é um
caminho interessante de empreendimento. O pesso-
al fala que eu acho furada. Mas o ponto central não
é esse; é o seguinte: o erro, como tudo na vida, é a
pessoa achar que vai ficar milionária só porque en-
trou em tal sistema. Ora, nenhum trabalho é assim.
Se está achando que trabalhar com marketing digi-
tal, marketing multinível, vai tirar você do zero e dei-
xá-lo milionário, você está enganado. Não acontece
assim em lugar nenhum. Se você acha, por exemplo,
que ao entrar no marketing multinível já consegui-
rá conquistar uma Mercedes, um triplex, saiba que é
bobeira. Isso não vai acontecer. Você precisa ser ma-
duro: isso não existe em lugar nenhum do mundo! É
claro que você não vai ficar milionário.

Agora, se você quer botar ali mais R$ 4.500 no seu

28
bolso por mês, talvez a coisa funcione; porque se tra-
ta de um trabalho não especializado, é um trabalho
de venda, e existe uma demanda realmente infini-
ta porque algumas dessas empresas têm produtos
bons. Então, um vendedor de produtos bons sem es-
pecialização vai tirar quantos reais por mês? Mais ou
menos isso. Você quer tirar quanto? R$ 500.000 por
mês? Não vai tirar. Mas R$ 3.500, R$ 4.000 você con-
segue, porque isso é o que o mercado consegue com-
portar. Não existe receita mágica para a maior parte
das coisas no mundo. No caso do marketing multiní-
vel, você tem de olhar para a questão com objetivida-
de, de modo direto, de modo claro.

Estou usando o exemplo do marketing multinível


porque vocês me perguntam isso toda hora. “Marke-
ting multinível é a solução dos seus problemas...” Sei
lá qual é o seu problema. Em primeiro lugar, você
também não sabe; em segundo lugar, não caia no
conto da cigarra mágica. Se você trabalhar duro, se
vender produto também – e não só ficar botando
gente embaixo de você –, claro que vai ganhar al-
gum dinheiro. E a pessoa fala que não tem susten-
tabilidade. Não tem sustentabilidade se você não
vender produto; se você vender produto, tem! Aqui
está o ponto central: se você só põe gente embaixo
e ninguém está vendendo produto, então realmente
não vai ter sustentabilidade; porém, se você entende
que aquilo é um trabalho de venda, e num trabalho

29
de venda você precisa vender, e não só criar rede,
a coisa funciona. O problema da sustentabilidade é
este: se você só quer criar rede, realmente o negócio
não se sustenta. Agora, se você entende que se trata
de um trabalho, e você vende, vende produtos bons,
é claro que isso será uma solução para muitas pes-
soas. Conforme você vai vendendo, vai se animando
com a venda e vai colocando gente embaixo de você;
simples assim.

Alguém pode falar: “Mas isso não é para mim”. Lógi-


co que marketing multinível não é para todo mun-
do, assim como medicina e direito não são para todo
mundo. Tem de ver se é a sua praia. Você consegue
vender? Ou está iludido com a coisa? São as pergun-
tas que você precisa fazer. Não tem muito mistério
nesse negócio. O marketing multinível pode ser
uma opção, uma solução para muitas pessoas que
estão presas na quarta camada, porque você tem
de ir à venda, botar a vergonha no bolso, fazer pro-
paganda, convencer os outros a comprar. Há mui-
tas habilidades interessantes que você vai ter de
recrutar e construir em você, para que as pessoas
consumam o seu produto.

Então, o que é marketing multinível? É um sistema


de venda com kit pronto, produto pronto, é só você
aderir e vender. É mais fácil do que você inventar de
vender brownie. Porém, caso você tenha habilidade

30
de fazer brownie, vá vender brownie. A chance de
você ficar milionário vendendo brownie é igual à de
ficar milionário vendendo kit da Hinode; é a mesma!
Para ficar milionário, você precisa de um gênio,
precisa de um talento, precisa de uns elementos
de sorte, precisa de uns elementos de dedicação, os
quais, se você tiver, vão render um milhão até mes-
mo vendendo brownie. Não é a Hinode que vai dei-
xá-lo milionário; é sua dedicação, seu esforço e uma
série de outros elementos que estão ao redor. Nesse
sentido tanto faz: se tem talento para fazer brownie,
faça brownie; se não tem talento, compre um kit que
já está pronto. É só isso.

Então não coloque a


culpa em outras pessoas.
Se você não se dedicou, se não quer ser vendedor,
se entrou no negócio achando que sem esforço ga-
nharia um milhão, desculpe-me, mas o palhaço é
você, que acreditou num outro que quis vender com
um pouco mais de energia e entusiasmo, exageran-
do um pouco – ou porque era mau caráter mesmo –,
não importa; mas você que é um palhaço, que já está
velho e realmente achou que fosse ficar milionário
sem nenhum esforço, achou que ia ficar milionário
vendendo sem capacidade de venda. Aí você está
querendo demais: sem dedicação, sem talento, sem
esforço, você quer ficar milionário? Desculpe-me,
mas você é um tremendo de um ingênuo, um bo-

31
balhão, não sabe como a vida funciona.

Porém, se você entendeu que está desempregado,


está sem futuro no trabalho, e quer se esforçar, en-
tendeu que você precisa se esforçar, entendeu que
as coisas não vão cair do céu para você, o marke-
ting multinível pode ser uma opção, assim como
trabalhar no Uber pode ser uma opção, assim como
os trabalhos que não precisam de muita especiali-
zação para exercê-los. Esse é o ponto. Por que Uber
é bom para algumas pessoas? Bem, se você ficar ro-
dando de carro 14 horas por dia, vai ter 14 horas de
cliente por dia; ele é bom nesse sentido, pois sem-
pre haverá alguém querendo consumir. Mas não seja
bobo: você sabe qual o valor do consumo. Você não
vai ficar milionário dirigindo Uber. No entanto, caso
você seja esperto, pode ficar milionário, comprando
outro carro, alugando-o e montando uma frota de
Uber. Porém preste atenção: ficar milionário nunca
depende só do trabalho, mas sempre duma habilida-
de que está fora do trabalho. Você não fica milionário
fazendo só o que aquele trabalho exige; você precisa
de outras capacidades. Dá para ficar milionário sen-
do motorista de Uber? Claro que dá: mas não sendo
só motorista de Uber. Se você é só motorista de Uber,
não vai ficar milionário. Se você é esperto, entende-
rá que aquilo é uma demanda, que algumas pessoas
querem ser motoristas mas não podem, e não podem
porque não têm carro, mas se tivessem carro traba-

32
lhariam e ganhariam. Então você vai comprar vários
carros, investir naquilo, alugar e pronto. É a mesma
coisa com Herbalife, Hinode, Jeunesse, essas empre-
sas de multinível. Você pode ficar milionário? Pode,
mas precisa ter uma habilidade extraordinária de
botar pessoas por baixo e de motivá-las a vender.

Ficar milionário não é assim fácil. Que idéia maluca é


essa? Quantas pessoas ficam milionárias? Só aquelas
pessoas que conseguem juntar um monte de habili-
dades e ainda têm um produto que cabe no milhão
– porque há produtos que não cabem no milhão, há
coisas que jamais o tornarão um milionário, porque
não cabem no milhão. Uma pessoa me disse: “Já fui
da Hinode, e isso me ajudou muito pois completava a
renda com a venda dos produtos”. Beleza, completar
renda você vai completar, porque aquilo ali é o que
cabe, aquilo ali é o padrão, o standard do negócio.

Então, vamos parar com certas ilusões da vida. Peguei


o assunto do marketing multinível por ser recorren-
te: todo mundo fala desse negócio o tempo todo para
mim, perguntando um monte de coisa. Acho que va-
leu a pena falar disso.

Portanto, em primeiro lugar, mate a ilusão imbe-


cil de que você vai ficar milionário fazendo o que
todo mundo faz, sem esforço. É óbvio que não. Em
segundo lugar, entenda que trabalho às vezes fun-

33
ciona só para amadurecê-lo, só para tirá-lo de uma
camada. Se você vai lá e não sabe vender mas tem
de vender, porque o trabalho é bom para completar
a sua renda, você vai receber um treinamento deles
e você vai ganhar uma habilidade a mais. Que ma-
ravilha! Então pare de ficar demonizando marketing
multinível. Sabe quem demoniza o marketing mul-
tinível? O preguiçoso, o vagabundo que achou que
ficaria milionário sem trabalhar; ou aquele cara que
não sabe nem o que é, achando que é pirâmide e fala
mal do negócio. Também não é para ficar santifican-
do marketing multinível: “É só entrar aqui que vai fi-
car milionário.” Não vai! Dá até para ficar milionário,
mas só se trabalhar duro, tiver uma boa rede de rela-
cionamento e conseguir motivar a equipe a vender.
Assim a coisa terá sustentabilidade, e você vai cres-
cer. Ora, é essa habilidade que vai fazê-lo ganhar di-
nheiro em qualquer lugar da vida. Se você faz uma
equipe de vendas e não vende, como vai dar certo?
Não vai.

Se você é um cara que só tem lábia, aquela lábia ani-


madinha – “ah, entra, entra” –, é claro que a coisa não
vai funcionar. Você tem de fazer o cara entrar e fazê-
-lo vender. Precisa ser do marketing multinível para
entender isso? Não. Trata-se da estrutura de qualquer
negócio de venda. Se você tem um negócio de venda
que não vende, não vai ganhar dinheiro! Ah, que di-
ficuldade! E se você tem um negócio que vende, vai

34
ganhar um dinheiro proporcional a esse negócio. En-
tão pare de ficar falando mal dos caras; deixe os caras
trabalharem em paz. Se a sua prima, seu primo quer
entrar para marketing multinível, deixe entrar, mas
faça-os entenderem: “Tem de vender”; “Você não vai
ganhar dinheiro dormindo na cama, deitadinho no
sofá”.

Alguém me falou: “Todos os Hinodes que conheço


são pura farsa”. E eu conheço uns que não são, e aí?
Quem ganhou? Você conhece uns que são farsas e eu
conheço os que não são farsas. O produto não existe?
Existe. O produto não é útil? Alguns são, outros não
são. Mas vai demonizar os caras para quê? E mais
uma vez: não seja bobo, tonto. Você não vai entrar lá
e sair andando de Mercedes no quinto mês. Não vai!
Mas é uma boa ferramenta para tirá-lo da quarta ca-
mada.

Isso aqui é só para perder algumas ilusões sobre o


mercado de trabalho. A primeira ilusão é a do di-
ploma.

O diploma não lhe dará uma posição de


trabalho; o que dá posição de trabalho
é a necessidade do contratante.

Se o contratante tem tal necessidade, pode ser que


você se encaixe. Ter diploma não o habilita a nada;

35
só certifica que alguém tentou educá-lo; é só isso
que o diploma confere. Todo mundo sabe que as pes-
soas passam na faculdade colando, fazendo tramóia,
trambique; é só pagar e passa. Qualquer empregador
sabe que diploma não serve para nada. O diploma só
indica que você freqüentou um instituto de ensino
onde alguém estava tentando educá-lo; se você foi
educado ou não, é outra questão; se você entendeu o
que estavam falando ou não, é outra questão. O que
faculdade tem a ver com habilidade técnica no mun-
do real do trabalho? Nada. Fica um pessoal aí nervoso
e reclamando: “Ah... mas eu tenho doutorado e estou
desempregado”. Você tem doutorado mas não sabe
fazer nada. Vão contratá-lo para quê? “Eu tenho mes-
trado, doutorado, PhD em Cambridge.” E daí? “Quero
alguém que saiba lidar com gente, quero alguém que
saiba vender, quero alguém que sabe fazer um sof-
tware.” PhD só significa que alguém tentou educá-lo
num nível alto. Quem que não entende que faculda-
de é isso? Diploma é só isso. Algumas carreiras pre-
cisam disso para autorizar que você as exerça, como
medicina, que exige um diploma; sem diploma você
sequer consegue entrar na sua carreira. Mas ele por
si só não garante nada também.

Então, a primeira coisa é o fetiche do diploma. Ma-


te-o. A segunda coisa é o fetiche de que você vai
ficar milionário sem fazer esforço. Mate-o. E a ter-
ceira é: se você faz o que todo mundo faz sempre,

36
já está bom, mas você não vai ficar milionário. E
saiba disso, porque ficar milionário, ter sucesso fi-
nanceiro em alguma carreira sempre vai recrutar
faculdades, elementos, disposições, capacidades
que estão para fora da carreira. São outras questões
que estão em jogo. Então pare de ficar demonizando
o pessoal do marketing multinível. Isso é bobeira, é
coisa de bobo. Marketing multinível não é pirâmide.
Quer completar sua renda? Vá lá e pronto. Quer ficar
milionário? Aí tanto faz o que você fizer, pois, para
ficar milionário, você depende de vários elementos
que transcendem aquela atividade em si.

37
LIVE #17

POR QUE VOCÊ PRECISA SABER


SOBRE TEMPERAMENTOS
Há dois assuntos sobre os quais gostaria de falar hoje,
mas vou escolher um deles. Vai ser o assunto dos tem-
peramentos. Eu prefiro falar desse tema porque al-
gumas pessoas aqui assistiram ao meu curso, outras
não, algumas compraram o meu livro, outras não. De
todo modo, é sempre bom voltar a falar sobre tempe-
ramentos.

A primeira informação que é preciso saber sobre


temperamento: o temperamento não muda ao longo
da nossa vida. Outra questão que eu queria falar com
vocês diz respeito a uma pergunta constante que re-
cebo aqui: “O temperamento tem a ver com as 12 ca-
madas?”.

Bom, o temperamento tem a ver com tudo. O tempe-


ramento é a estrutura mineral da sua pessoa. Então,
é claro que uma pessoa que vai evoluindo nas cama-
das vai evoluir de certa maneira conforme seu tem-
peramento. O temperamento não muda. O tempe-
ramento não determina sua evolução em relação às
camadas. Algumas pessoas um pouco mais místicas,
esotéricas, ficam me perguntando: “Italo, o tempera-
mento tem a ver com o signo?”.

38
Olha só. Existe na astrologia tradicional uma coisa
chamada cálculo da mentalidade, que algumas pes-
soas associam ao temperamento. Não é a mesma re-
alidade antropológica. O cálculo da mentalidade ao
qual os astrólogos se referem não é o mesmo siste-
ma de “diagnóstico” do temperamento. O sistema
de diagnóstico do temperamento é fenomenológico,
observacional. Você vai olhar para alguém e observar
como essa pessoa se comporta, como reage, como se
apresenta no mundo. Por exemplo, uma pessoa que
está em uma festa e tem necessidade de falar, de inte-
ragir. Eu digo necessidade. Não digo que a pessoa na-
turalmente interaja. Não é isso. Há pessoas que têm
necessidade interior de interagir, de falar, de partici-
par das conversas, mas não conseguem por serem tí-
midas, por possuírem um elemento de timidez. Essa
pessoa tem um componente quente no seu tempera-
mento. Uma das qualidades que regem o seu tempe-
ramento é a quentura, o calor, a expansão, por assim
dizer. O cálculo da mentalidade do qual os astrólo-
gos falam não é fenomenológico, não é “encontrado”
pela observação do comportamento do indivíduo.
Trata-se de um cálculo que leva em consideração al-
guns elementos do mapa natal da pessoa. Então, são
realidades distintas, ainda que tenham certa origem
em comum, certa base.

Outra questão que quero esclarecer. “Italo, você é o


dono dos temperamentos?” Mas claro que não. Ouvi

39
algumas pessoas falando “Não, Italo, você copiou isso
de não sei quem, achando que existe um dono”. O
temperamento é tão antigo quanto a vida. Então, isso
não é cópia de ninguém. O temperamento é uma re-
alidade que existe, pelo menos descrita desse modo
como descrevo, desde Hipócrates. Mais velho que an-
dar para frente. Então, não possui um dono. Não vou
me arrogar o “dono”. Isso é ridículo. Isso demonstra
um desconhecimento completo da matéria, do as-
sunto. Já ouvi outra pessoa achando que é o dono do
temperamento. Isso mostra que é um bobão que não
tem idéia do que está falando.

Temperamento é tão antigo quanto a própria es-


trutura do mundo.

Aristóteles, em sua física, ele fala:


“O universo é formado de quatro
qualidades fundamentais – quente,
frio, umidade e secura.

E é da composição dessas qualidades que aparecem


os entes materiais”. É daí que tiramos e deriva toda
a teoria dos temperamentos.

O meu livro é uma exposição dos temperamentos,


uma aplicação prática da ciência dos temperamen-
tos e uma tentativa de reconstrução simbólica que
está por trás disso. É claro que isso não tem um dono.

40
Não seja bobo. Não tem nada a ver com isso.

Uma pessoa, esses dias, veio me falar: “Tem um fula-


no que está bravo contigo, porque você roubou dele o
negócio do temperamento”. Bom, se o fulano for o Hi-
pócrates, eu dou razão. O cara ressuscitou da tumba,
em 2.400 anos, então tudo bem, vou dar razão para
ele. Se não for o Hipócrates que está falando isso, en-
tão é bobeira. A pessoa está querendo implicar.

O temperamento é uma ferramenta muito útil,


muito prática, muito forte para que possamos in-
teragir com os demais, para que possamos, às ve-
zes, tocar uma equipe de vendas, para conviver
com nosso marido, esposa, com nossos filhos.

Há algumas relações que se frustram só porque as


pessoas não conhecem como funcionam as reações
humanas. Então, uma parte dessas reações é explica-
da pelo temperamento. Imagine que você tenha um
filho mais disperso, mais avoado, que não se concen-
tra tanto. Pode realmente ser uma doença, o TDAH
(transtorno de déficit de atenção e hiperatividade),
no entanto pode ser também uma questão de tem-
peramento. O sujeito tem o temperamento sangüí-
neo, por exemplo, tem o componente úmido e quen-
te. Ele vai ter certa característica de ar. É mais aéreo,
mais avoado, como o próprio nome diz. Ou você tem
um marido melancólico. Ele vai ter uma tendência a

41
guardar mais as coisas, por mais tempo. As palavras
para ele não voam como o vento, as coisas que você
disse vão permanecer, vão continuar. Às vezes, ele vai
trazer aquilo de volta, ele vai precisar de tempo para
reelaborar a coisa dentro de si.

Veja, a ferramenta dos temperamentos é funda-


mental no convívio humano. Infelizmente, é uma
pena que tenha se perdido. E é uma pena maior
ainda alguém achar que é dono desse negócio. Não
tem dono. Tem de fazer esse negócio e divulgar, di-
vulgar e divulgar. Essa é a questão.

Cada autor vai escolher um tipo de literatura, um ca-


minho para tratar do assunto. Existe uma literatura
que pega o temperamento da questão religiosa, abor-
dando o temperamento dos grandes personagens da
Bíblia. Interessante. Vá lá, leia. Vai trazer alguns insi-
ghts importantes. Há uma vertente que fala dos tem-
peramentos aplicados na educação dos filhos. Ape-
sar de o título do meu livro ser Os 4 temperamentos
na educação dos filhos, não é bem isso que ele traz.
No livro eu abordo o temperamento de uma forma
mais simbólica, dando ao leitor recursos simbóli-
cos para identificar, para se reconhecer. O último
capítulo do meu livro é sobre o temperamento apli-
cado na prática ascética. Ou seja, como conhecer o
temperamento ajuda a vivenciar melhor a sua reli-
gião, por exemplo.

42
Para não causar confusão: o temperamento não
tem a ver com a personalidade.

O temperamento não determina a


personalidade e não tem a ver com ela.

Personalidade é um componente histórico. Preci-


sa de história. Personalidade é aquilo que você vai
desenvolvendo ao longo da sua vida e que vai dan-
do os limites da sua história particular, da sua his-
tória individual.

Outra pergunta que sempre me fazem: “Italo, eu pos-


so ter mais de um temperamento?”. Não, não pode.
Você tem um temperamento só, e não tem dois, nem
três, nem quatro. O que eu indico no meu livro, no
meu curso sobre temperamento, é o chamamos de
aporte. Um sujeito pode ter o temperamento sangüí-
neo (quente e úmido) com um aporte seco. Então, al-
guns sangüíneos possuem um elemento de secura
no seu temperamento. Ou seja, ele tem todo o jeitão
de sangüíneo, ele é um sangüíneo, porém ele tem
também um componente seco, o qual, às vezes, faz
com que ele guarde um rancor, por exemplo, uma
mágoa, uma idéia. O componente dos aportes é fun-
damental para entender algumas nuanças, algumas
matizes que existem dentro do seu temperamento.
Isso está no meu livro e no meu curso também. Pa-
rece-me que o assunto dos aportes meio que encer-

43
ra a questão de “eu sou sangüíneo, mas às vezes me
comporto de tal jeito”. O aporte é, justamente, o que
dá essa nuança, essa matiz, e a coisa fica mais inteli-
gível. Essa é a idéia. Vale a pena, realmente, estudar.

Esse é um assunto que não deve passar batido para


o sujeito que está buscando o autoconhecimento
ou para o sujeito que está querendo se relacionar
melhor com os demais, que tem uma equipe, filho,
marido, esposa. Para qualquer pessoa que se rela-
cione com gente, eu acho que vale a pena conhe-
cer, ter esse ferramental na mão.

Embora o meu livro se chame Os 4 temperamentos


na educação dos filhos, não serve só para filho e fi-
lha. Há um capítulo que é uma análise prática da re-
lação de temperamento com temperamento, e eu
trago como exemplo: como um pai colérico se com-
porta, por exemplo, com um filho sangüíneo? Quais
são as características? Você pode transpor isso para
qualquer outra regulação que também vai funcionar.
É um livro que, embora seja fininho, não é fácil de
ler. Não é fácil por alguns motivos. O assunto aborda-
do ali não está à mão. Fazemos uma abordagem sim-
bólica, profunda. Também é um livro que não traz
referência bibliográfica, isso porque ele foi feito de
uma parte de uma transcrição. Foi feita a transcrição
do meu curso e, depois, foi realizada uma editoração,
uma diagramação em cima da transcrição; e não deu

44
tempo de colocar as referências bibliográficas, o que
é uma pena. Em alguma edição futura, não prometo
quando isso vai acontecer, vou colocar as referências
bibliográficas e expandir o conteúdo do livro. Mas
não estou trabalhando nisso agora.

Existe uma série de perguntas que vocês fazem que


são muito pertinentes e que não estão no livro, por-
que não se trata de uma obra extensiva. Não é um li-
vro que aborda grandemente o assunto. Ele foi elabo-
rado para ser lido rapidamente por pais ou por quem
está querendo usar o assunto dos temperamentos
como ferramenta. Ressalto aqui que a ferramenta
dos temperamentos é muito boa. Não vale deixar de
fora do seu cabedal de abordagem às pessoas.

O assunto da formação de líderes, por exemplo. Um


líder que não conhece os temperamentos humanos
é um sujeito que, ou tem muita intuição, ou vai fa-
lhar miseravelmente quando tiver de lidar com uma
equipe cujas pessoas sejam diferentes entre si. En-
tão, esse é um ponto que precisamos ter sempre na
cabeça.

Às vezes, temos uma dificuldade grande de lidar


com um filho, de lidar com uma parte do nosso
time, porque, às vezes, não conhecemos, não para-
mos para pensar que nem todo mundo reage como
nós, nem todo mundo pensa como nós. As pesso-

45
as têm reações inatas que são muito diferentes das
nossas. Isso não está errado. Às vezes, é só o jeitão da
pessoa mesmo. “Tá, Italo, então temperamento de-
termina tudo?” Lógico que não. Afinal de contas, o
temperamento não determina quase nada, na ver-
dade.

Ele é uma matriz mineral, um ponto de


partida; não é um ponto de chegada.

No meu curso para psicólogos, eu falei disso rapida-


mente. Eu falei: “Olha, quanto mais uma pessoa vai
evoluindo, quanto mais uma pessoa vai amadure-
cendo, menos ela é determinada pelo temperamen-
to. Por quê? Porque ela vai tendo vários outros recur-
sos históricos da sua personalidade, que entram na
dianteira da sua conduta humana”. O temperamento
passa a ser um elemento interessante de você conhe-
cer, de você lidar, mas não determina quase nada. Po-
rém uma pessoa imatura vai ser muito determinada
pelo seu temperamento.

É bom termos tudo isso na cabeça. Acho que vale a


pena nós falarmos disso rapidamente porque se tra-
ta de um assunto que tenho falado pouco. Apesar de
ter o livro escrito, o curso gravado sobre o assunto,
acho que vale sempre retomar, porque é muita gente
nova entrando todo dia aqui na nossa comunidade.
É impressionante. Vinte mil pessoas por semana en-

46
tram aqui, no mínimo. Então, há muitas pessoas que
jamais ouviram falar sobre temperamentos.

Alguns comentaram: “Italo, você escreveu um livro?”.


Sim, tenho um livro escrito sobre os quatro tempera-
mentos. Virou best-seller. É o livro mais vendido na
categoria de psicologia da educação, ficou no topo da
Amazon durante muito tempo, entre os quatro mais
vendidos da Amazon durante muito tempo. Então,
se você tem interesse no tema, existe uma literatu-
ra de entrada, e eu recomendo a minha. Foi eu que
escrevi e acho que ficou bom. Eu abordo o assunto
por alguns ângulos, vale a pena você dar uma olha-
da. Chama-se Os 4 temperamentos na educação dos
filhos. Não é uma propaganda do meu livro. Mencio-
nei aqui só porque o pessoal pergunta muito sobre o
tema. Então, acho que vale a pena esclarecer alguns
pontos.

47
LIVE #18

NOSSA PRIMEIRA REUNIÃO


DE FEEDBACK
No mundo corporativo, das empresas, há uma coi-
sa chamada reunião de feedback. Não é algo feito de
qualquer modo, não é simples fazer uma reunião de
feedback; ela tem lá seus critérios para que seja efi-
ciente. Há quem brinque falando que a reunião não
é de feedback, mas de “fodeback”, a pessoa vai ferrar
você fingindo que está falando umas coisas boas.

Hoje eu queria fazer uma reunião de feedback com


vocês, dar um retorno para o meu público, meus
amigos, alunos e seguidores. Algumas questões fo-
ram percebidas por mim aqui ao longo dos meses,
no período em que estamos juntos, e me deixam
muito contente e feliz, na verdade.

Ontem, como alguns dos senhores sabem, nós pro-


metemos o nosso aulão pago de R$ 49,00 sobre a
quarta camada da personalidade. O pessoal do Guer-
rilha Way teria acesso gratuito a ele, muita gente
pagou para estar lá, meus seguidores pagaram para
estar lá. O pessoal do Guerrilha Way estava especial-
mente ansioso, porque muitos só decidiram assinar
o GW pela aula. “Ah, vou ter acesso a um aulão por
R$ 49,00? Então é claro que prefiro pagar R$ 29,00

48
por mês e ter acesso a todas as aulas.”

O pessoal assinou, criou-se aquela atmosfera de ex-


pectativa, muitas pessoas me escrevendo ao longo
do dia perguntando como seria, como não seria...
Até eu estava com uma baita expectativa para a aula
“Como sair da quarta camada em apenas um dia”,
que é uma aula muito importante. É um marco, na
verdade. Sair da quarta camada da personalidade é
uma coisa importantíssima para todos nós que que-
remos amadurecer.

Eu comecei lá, abri o meu notebook, minha irmã na


minha frente gravando, luzes, câmera, ação... Come-
cei a gravar o negócio e fiquei 34 minutos falando,
quando então nos demos conta de que não havia nin-
guém na sala de aula. Estávamos na dúvida se havia
alguém ou não, e de fato não havia ninguém.

Nós ficamos a semana inteira falando com o servi-


dor, avisando “Olha, vai dar muito acesso, hein!”. Nós
nos precavemos, ensaiamos o acesso ao longo de
toda a tarde de ontem. Começamos às 17 horas, às
17h30 estávamos ensaiando, ficamos a tarde inteira
baixando programas, testando a internet, indo à as-
sistência técnica específica da internet que eu pago
aqui, um link dedicado, tudo ok, o máximo, internet
100%, servidor avisado, link enviado aos alunos, tudo
bonitinho lá... E pim! Não foi.

49
Aqui está o assunto fundamental de hoje, que é o do
feedback: há alguns meses eu dei uma aula também,
“Aula obrigatória para homens e mulheres”, e lá deu
um problema parecido. A internet não estava muito
preparada para receber esse tipo de coisa. Entramos
no ar, e o que aconteceu? Não entraram.

Naquela ocasião, nós recebemos, sem brincadeira,


mais de mil mensagens me xingando de tudo o que
você pode imaginar. “Charlatão”, “aproveitador”,
uma caçamba de coisa, xingando e xingando e xin-
gando, uma exasperação afetiva de todo o mundo,
que não é fora do comum.

É o vemos mesmo, normalmente: a pessoa se sente


no direito de alguma coisa. Às vezes ela de fato tem
direito àquilo, ou às vezes ela simplesmente acha que
tem, e uma exasperação afetiva sem fim.

Lá na “Aula obrigatória para homens e mulheres”, a


pessoa via que eu estava dando a aula ao vivo e co-
meçava a fazer solicitações e mais solicitações, uma
atrás da outra, e não via que era impossível eu estar
vendo a solicitação dela, porque eu estava DANDO
UMA AULA!

A pessoa não consegue se colocar minimamente no


lugar do outro, nós fazemos isso na vida várias vezes.
A gente faz uma demanda, uma solicitação, porque

50
está olhando só para si. Eu fui o primeiro a falar, na-
quela aula obrigatória, que você tem todo o direito
de solicitar, de “reclamar”. Você pagou por um pro-
duto, é óbvio que vai ter de receber.

Lá atrás, naquela aula, realmente houve um erro meu


e da minha equipe, por assim dizer. Então, o que nós
fizemos? Nós não apenas entregamos a aula para to-
dos, em full HD (ou seja, fizemos o que prometemos),
mas eu ainda dei, para quem tinha ficado de fora
(porque, realmente, a culpa era nossa), um curso que
custava R$ 297,00. Pronto. E não acho que tenha sido
mais do que a minha obrigação, nós fizemos o que
tínhamos de fazer.

Ali ficou muito claro para mim uma coisa: eu não


posso parar de fazer o que estou fazendo. Não pos-
so mesmo, não com aquelas reclamações, aquela
exasperação afetiva, aquela sensação de a pessoa
ter se sentido maximamente defraudada a ponto
de chegar a me xingar.

Imagine só: lá estou eu, dando conteúdo gratuito para


toda a minha audiência há mais de um ano (naquela
altura já tinha mais de um ano), conteúdo gratuito,
de qualidade, de modo generoso, para todo o mun-
do, e aí pensei: “Vamos testar outro modelo. Eu vou
fazer uma aula aqui. Para não precisar cobrar os tu-
bos como todos esses gurus aí cobram, ou seja, para

51
não precisar cobrar 4, 5 mil reais por um conteúdo
que pode ser transmitido por R$ 49,00 em duas ho-
ras, para não precisar fazer isso, deixe-me criar outro
modelo de produto. Vou pegar um volume enorme
de gente, com um preço pequenininho, e ver o que
acontece”. E ia ser bom para quem tivesse compra-
do aquela aula, mas não passa pela cabeça da pessoa
que é isso o que está acontecendo, ela só olha para
dentro de si.

Eu entendo o que aconteceu lá atrás naquela aula de


novembro, eu entendo mesmo. A pessoa tinha uma
baita expectativa, tratava-se da “Aula obrigatória
para homens e mulheres”. Eu sei que as pessoas de-
positam uma grande expectativa nos outros e sei que
sou um desses outros, eu entendo isso perfeitamen-
te, não me esquivo de tal posição em nenhum minu-
to da minha vida. Estou aqui para assumir compro-
missos e responsabilidades, mas não é isso que estou
dizendo.

Estou dizendo o seguinte: a exasperação afetiva de


todas aquelas mais de mil pessoas, que só faltaram
rasgar suas próprias entranhas e vísceras, dizendo
“seu charlatão”, “seu aproveitador” foi uma coisa
absurda. Eu pensei: “Não posso parar um segun-
do”. Isso aqui me dá muito material, me dá energia
e motivação para trabalhar dobrado, para amadu-
recer essas pessoas, porque era um monte de crian-

52
ças ali reclamando.

O problema não é reclamar: é natural cobrar pelo


que se pagou. E mesmo assim, até aí, você ainda teria
de parar e pensar um pouquinho: “Caramba, olha o
histórico do cara. Ele está aqui me dando coisas gra-
tuitamente há mais de um ano, todos os dias. Acha
mesmo que ele não vai dar um jeito de resolver esse
problema? É claro que ele vai”.

Mas eu entendo. As pessoas estão mesmo muito


desconfiadas, a noção da Verdade de fato foi perdi-
da, e aí a gente entende os relativismos. As pessoas
não conseguem entender, compreender que exis-
te algo chamado confiança, que há pessoas neste
mundo que são mesmo confiáveis, que entregam
mesmo o que prometem. A dificuldade para perce-
ber isso é um sintoma, e bem grave, que para mim
aparece como uma responsabilidade:

“Não posso deixar meus seguidores, meus


amigos, meus alunos nessa situação. Não
posso, tenho de trabalhar dobrado para
que essas pessoas saiam desse estado”.

Acabaram de me lembrar aqui nos comentários que


havia gente falando “Acho que caí em um golpe”. Ca-
ramba, a pessoa não tem idéia de o que eu sou. Sério
que eu vou dar um golpe de 29 reais?! Poxa, eu sou um

53
pouco mais inteligente do que isso! Se fosse para dar
um golpe, eu estaria lá com o El Profesor, do seriado
La Casa de Papel, e daria um golpe na Casa da Moeda,
isso é o que eu faria. Um golpe de 29 reais realmen-
te está fora das minhas possibilidades. Se fosse para
ser um criminoso, eu seria um criminoso classe A,
não seria um estelionatário que fica dando golpe de
29 reais. Tomamos esse tipo de golpe de pessoas que
não possuem endereço físico, que não se mostram.
Eu sou um médico, com seis filhos, com família, com
endereço fixo... Trata-se de um absurdo.

Chega a ser engraçado, a pessoa não consegue imagi-


nar por um minuto: “Não, espera aí, o cara é um mé-
dico, tem CRM, atende e tem um consultório com en-
dereço ali na Avenida Armando Lombardi, n.º 1.000,
bloco 02, sala 222, Rio de Janeiro. Como é um homem
que tem endereço fixo e está todo dia atendendo pes-
soas vai dar todo dia esse tipo de golpe?”. Não é assim
que se dá golpe! Eu disse ao pessoal da minha equipe
que não consegui ficar nem um minuto triste ou in-
comodado. O que eu falei foi “Não, espera aí, preciso
trabalhar dobrado para amadurecer essa galera aí”.

E veja o que aconteceu ontem, aconteceu algo muito


semelhante. Nós íamos entrar, uma baita expectativa
– até maior que a anterior –, pelo menos 21 mil pesso-
as certamente teriam acesso à aula (essa é a quanti-
dade de pessoas que estão no Guerrilha Way), fora as

54
que não estão no GW e compraram a aula de ontem.
E o que aconteceu? Não entramos mais uma vez.

Ali nós entendemos que, caramba, não sabíamos


como resolver o problema. Alguém me contou que
uma querida, Nathalia Arcuri, do canal “Me Poupe!”,
contratou o Google (!) para dar conta da transmissão
dela, e o Google não deu conta também! No entanto
nós vamos arranjar soluções aí para vocês, fiquem
tranqüilos, isso é problema meu e vamos resolver.

Enfim, o que aconteceu ontem? A mesma porcaria,


eu fiquei 34 minutos falando sozinho para a câmera,
não deu certo. Depois entrei em uma live com vocês
e mais de 5 mil pessoas estavam ao vivo no Instagram
comigo, nós conversamos sobre tudo na live (que não
foi a aula, foi outro assunto, entramos para ficarmos
juntos). Sabe quantas pessoas reclamaram ontem?
Nenhuma. Nem sequer uma. Eu falei: “Caramba,
está dando certo! Parabéns! Os meus alunos e se-
guidores finalmente estão amadurecendo. Obriga-
do, Deus, a coisa está funcionando”. Foi com alegria.

É claro que havia um elemento de frustração, de


cansaço, mas o que prevaleceu foi uma alegria, eu
pensei “Tenho de dar esse feedback para a galera
amanhã, talvez nem eles tenham notado o que está
acontecendo”. Há uma mudança que está ocorren-
do mesmo: pessoas mais íntegras, que têm maior

55
centralidade, que arranjam soluções rápidas para
seus problemas.

O retorno que eu tive de algumas pessoas foi o se-


guinte: “Ah, já reparei que não ia dar certo e fui ver o
filme que você recomendou, que eu ainda não tinha
assistido”. Olha só que maravilha: “Em vez de ficar re-
clamando, vou fazer algo útil, porque já entendi que
ele vai dar uma solução em algum momento, ele está
aqui para isso. Vou ficar aqui só botando para fora
aquilo que estou sentindo de ruim? Não, vou trans-
formar isso em algo bom. Vou ficar aqui esperando?”.

Cris Felix escreveu: “Estou aqui assistindo a sua live


tomando um vinho”; outra mencionou: “Vou ficar
aqui assistindo ao filme, depois assisto à aula na gra-
vação”. É isso que pessoas maduras fazem. Parabéns.

Esse é o feedback. Isso é para não falarem que só bri-


go e dou bronca. Não dou bronca quando tem de elo-
giar. É como diz a minha mãe: “Quando tem de elo-
giar, a gente elogia também”. Muito bom.

Não estou falando que vocês saíram da quarta cama-


da ainda; vocês ainda estão lá. Não vai também come-
çar a ficar muito felizinho, não, mas estamos vendo
uma progressão real. Caramba! Uma progressão real!
Parabéns, é isso aí!

56
Algo que eu falei na aula de ontem – ou ia começar
a falar, não sei, preciso rever a gravação para poder
filmar a segunda parte, já que não sei onde parei –
é o seguinte: um dos motivos pelos quais o cidadão
brasileiro está preso na quarta camada é que ele não
tem mesmo a noção da Confiança e da Verdade. En-
tão, quando ele conhece alguém em quem pode con-
fiar, naturalmente ele acaba saindo daquela quarta
camada. Ele começa a confiar, a esperar uma esta-
bilidade nas relações, o que é muito bom, temos de
estar abertos a isso.

Estou vendo os meus alunos, os meus seguidores,


o pessoal que está aqui realmente progredindo. Pa-
rabéns, é isso aí, estamos aqui para fazer isso, ama-
durecê-los. Ontem eu vi mais de 21 mil pessoas na
minha frente frustradas (obviamente), e o que
apareceu não foi aquela exasperação afetiva de no-
vembro do ano passado, quando só faltou o pesso-
al pegar foice e tocha e vir aqui me queimar vivo.
Não. Ontem o que eu vi foi o seguinte: “É, que dro-
ga, hein? Queria tanto saber como sair da quarta
camada...”. Parabéns, muito bom, estamos aqui para
fazer isso. Estamos aqui hoje em uma live um pouco
diferente, é uma live de reunião de feedback, estou
querendo falar para vocês que estou feliz e satisfeito
com o que vi ontem. Mesmo. Claro, estou triste, con-
trariado também, bravo, porque queria ter lhes dado
a aula.

57
Não estou reclamando, lógico que era melhor ter
dado a aula, era melhor 25 mil pessoas (se todos esti-
vessem presentes) estarem presentes na aula para eu
poder transmitir o conteúdo, mas não foi assim que
aconteceu. Paciência. Dessa vez não teve nada a ver
com a gente, mesmo.

Vou explicar o que vamos fazer. Para quem pagou só a


aula e quiser o dinheiro de volta, nós vamos devolver,
é óbvio que vamos. Mas não faça isso. Para o seu bem,
acho que você tem de esperar e assistir a essa aula na
gravação, que é o que vamos dar. É isso, é a vida real,
é assim que as coisas funcionam.

Fantástico, muito bom. Até falei sobre isso com o meu


sócio, Arno Alcântara: “Você reparou? Ninguém re-
clamou. Estamos amadurecendo essa galera, o
pessoal está mesmo querendo amadurecer, esse é
o meu palpite desde o início”. Existe uma deman-
da por amadurecimento, ninguém agüenta mais ser
tratado como um café com leite, criancinha, deten-
tor de todos os direitos.

Ninguém mais agüenta isso. A pessoa sabe, no fun-


do, que tem consciência moral e sabe que não está
legal, que não está bem, sabe que há um elemento
de falsidade quando estão passando a mão na sua
cabecinha. Veja bem: não há prova maior de amor
do que não passar a mão na cabeça do outro. Quando

58
você não passa a mão, sabe o que acontece com você
e comigo? Nós ficamos abertos para a rejeição.

Você acha que estou ligando para isso? Eu quero o


seu bem. Se você vai gostar de mim ou não, o proble-
ma é seu, não é meu. Eu espero que você goste, é me-
lhor para você, porque eu sei que eu gosto de você,
então para mim não vai mudar nada. Não vou pas-
sar a mão na sua cabeça para que você fique falando
“Ah, Italo, como é bonzinho”. Não é ser bonzinho, eu
quero seu bem. O que eu vi ontem foi isso: as pessoas
estão amadurecendo.

Foram quase 30 mil pessoas e ninguém reclamou.


Ninguém. Falei “Caramba, estou diante de 30 mil pes-
soas maduras. Há quanto tempo não vejo isso. Muito,
muito bom”. E estamos só começando. O país não vai
parar. Isso é só o primeiro passo, sair da quarta ca-
mada é só o primeiro passo, não é o fim da jornada.
Trata-se do início.

Estão perguntando aqui: “Frustração é coisa de quar-


ta camada?”. Não, algumas pessoas que estão na dé-
cima primeira camada vão enfrentar frustração, isso
não é elemento de quarta camada.

Não tem problema você ficar frustrado,


o que importa é o modo como você
vivencia a frustração.

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Imagine um sujeito cuja motivação seja ganhar di-
nheiro para sustentar a família. Se ele não ganha, é
claro que ele vai ficar frustrado, mas a motivação dele
é o que importa.

Excelente. O amadurecimento está acontecendo. Isso


é bom para vocês verem que a coisa aqui está funcio-
nando. Eu sei que a maior parte das pessoas da aula
não se pegou com aquele movimento. A coisa está
progredindo. Cole em nós, cole em mim que você vai
ver o que vai acontecer com você daqui a um, dois
anos. Vai colando.

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LIVE #19

CALMA AÍ, VOCÊ NÃO É


TÃO ESPERTO ASSIM
Hoje eu queria fazer com vocês um pequeno comen-
tário, só para nos livrar de um cacoete mental que
acaba atrapalhando nosso raciocínio.

O pessoal fala assim: “Italo, o que resume isso tudo


aí que você está falando é...” Já viram isso? O pessoal
fala toda hora.

“Italo, o que resume isso tudo aí que você está falan-


do é o Salmo 51”, “O que resume é o livro do Rafael
não sei das quantas”, “É o que está no Bauman...” Vo-
cês já repararam nesse negócio? É uma mania que
as pessoas têm de querer sintetizar o que os outros
estão falando para ver se cabe dentro da cabecinha
delas, mas o que eu estou fazendo aqui é justamente
o inverso disso.

Se fosse para resumir, eu teria dado o caminho das


pedras para você. Não dá para resumir o que eu estou
falando aqui, como em regra não dá para resumir o
que as pessoas estejam falando.

É claro que o que você vai me ouvir falando aqui está


no Salmo 51, e também no livro do Freud, no livro do

61
Rafael não sei das quantas, e no Bauman. Está, sabe
por quê? Porque eu li essa porcaria toda de trás para
frente, estou fazendo isso há vinte anos, desde no-
vinho. Eu comecei a ler sobre o assunto de religião
comparada novinho mesmo. É claro que no início eu
não entendi nada, mas alguma coisa ficava na minha
cabeça.

O primeiro livro que li consistentemente foi o livro


de autoajuda do Lair Ribeiro. Você acha que é isso o
que estou fazendo aqui? Eu estou fazendo o contrá-
rio da autoajuda, mas, se a pessoa entra meio desa-
visada, não está muito a fim de ouvir, ela vai achar
que estou fazendo autoajuda, religião, astrologia... E
é isso aí, não tem problema.

O problema está em você querer


resumir o pensamento de alguém
em uma linha, uma sentença.

Isso é o quê? Preguiça. É preguiça de você querer


entender o que o outro está falando.

É um sistema de fechamento, você está se fechan-


do para a realidade em vez de se abrir para ela.
Quando você vai conversar com alguém na mesa
de bar e fica falando toda hora “Ah, eu já sei de
onde ele tirou isso”, “Ah, eu já sei”, quando você
vem com esse seu “Já sei”, o que você está dizendo

62
é: “O que você tem para me dizer não importa, só
importa o que está na minha cabeça, eu já colo-
quei um rótulo na sua testa e pronto, para mim,
basta.”

Isso é mortal nos relacionamentos humanos. Até


você poder dizer sobre alguém “Já sei o que fula-
no está fazendo ou pensando”, você tem que ter
certeza de que o seu horizonte de consciência é
maior, transcende o dele, que a sua cultura trans-
cende a do outro, que a sua benevolência e a sua
boa intenção são maiores que as do outro. Quan-
do isso acontece, aí, sim, você vai poder dizer “Ah,
sim, entendi, entendi o que ele está pensando e
falando”. E quando você atinge isso, sobretudo você
não vai querer rotular e afundar a pessoa, vai querer
ajudá-la para que ela expanda o horizonte de cons-
ciência dela.

Não estou dando bronca, só estou falando que quan-


do o sujeito vem aqui e fala “Ah, Italo, isso aí que
você está falando está tudo resumido no Salmo não
sei quantos, em Apóstolos não sei quantos, no livro
lá do sicrano”, Olha, não, não está, porque o meu
trabalho é o inverso, não estou resumindo, estou ex-
pandindo.

Não é que eu esteja complicando, eu estou simplifi-


cando. Mas a gente nem sempre simplifica à custa

63
de um resumo. Às vezes a gente simplifica tendo de
explicar para a pessoa. Explicar, em primeiro lugar,
o que ela deveria estar vendo, e em segundo lugar e
mais importante (talvez seja esse o nosso trabalho
aqui), explicar para a pessoa que ela tem de fazer
um trabalho de limpeza das porcarias mentais que
estão dentro da cabeça dela.

Há um monte de porcaria bloqueando a nossa


cabeça de pensar direito e a gente não consegue
nem saber a razão de isso estar acontecendo, por-
que não conseguimos perceber a realidade com a
acuidade necessária, já que estamos cheios de ca-
coetes mentais. Um deles é esse: alguém falar al-
guma coisa e pum! Você tenta resumir, tenta rotu-
lar. Sabe para que serve o rótulo? Para você colocar
no pote de orégano, de cominho, de coentro. Se não
tiver rótulo, dá trabalho abordar aquilo.

Imagine que você tem uma prateleira cheia de tem-


peros. Se, a cada vez que você fosse ter de usar a
porcaria do tempero, você tivesse de abrir um por
um, cheirar, experimentar e ver o que está saindo
ali de dentro, ia dar um trabalho do caramba. Então
é para isso que serve: você enfia um rótulo lá para
que, quando precise do orégano, fique fácil de ir lá e
pegar o orégano. Quando precisar do cominho, você
vai lá pegar o cominho, se precisa do coentro, você
vai lá e pega o coentro. Mas a vida humana não é as-

64
sim, as pessoas têm as suas características expandi-
das, têm um universo interior pleno, profundo.

Não dá para chegar e enfiar um rótulo em uma pes-


soa, e muito menos enfiar um rótulo em uma pessoa
que está ali para te ajudar a entender certas coisas.
Então calma: não vai dar resumir o que eu estou fa-
lando com um livro. Isso serve para várias pessoas.

Chega a ser engraçado. A pessoa leu um livro na vida,


por acaso foi um livro que eu li também, aí de vez
em quando a pessoa fala assim “Ah, já sei de onde
você tira essas coisas, você tira do livro do Jordan
Peterson”, “Ah, já sei, é do livro do Lavelle”. Quer sa-
ber? Eu tiro de tudo isso e de muito mais, de coisas
que você nunca nem ouviu falar. É daí que eu tiro.

De vez em quando, realmente, você vai poder falar


“Ah, você tira essas coisas do livro do Lair Ribeiro”.
É, há coisas que vou falar aqui que, se você leu o li-
vro do Lair Ribeiro, você vai falar “É, realmente, veio
de lá”, se você leu Jordan Peterson, vai falar “Ah, veio
de lá”, se leu Machado de Assis, vai falar “Ah, veio de
lá”. Então não tente rotular, não vai funcionar, não
funciona para ninguém e não vai funcionar aqui
também.
Quando você olhar para a cara
de uma pessoa, tente tirar esses
rótulos que já tem dela.

65
Isso é uma coisa mortal. Há um grupo com quem
eu convivo e que eu conheço, e esse grupo sempre
tenta rotular as pessoas, pôr um rótulo na testa de-
las: “Esse fulano de tal é o alegre”. Isso é mortal, não
ajam assim, isso mata as relações humanas. Quando
você for entrar em um grupo, em uma comunidade,
faça o seguinte: desarme-se desses rótulos.

Isso vai trazer um benefício monstruoso para a


sua alma.

Quando você tira o rótulo, você se


abre para a experiência profunda que
é conviver com o ser humano, se abre
para a experiência profunda que é o
universo interior do outro.
Não diga “Ah, este fulano é o chato”. Pode ser que
ele de fato seja muito chato e que você não queira
conviver com ele, você tem todo o direito de fazer
isso. Eu só estou te fazendo um convite, que é de, de
repente, experimentar tirar esse rótulo. Você vai ver
que não é só de chatice que esse sujeito vive, ele tem
um universo interior interessante também. Esse é
um exercício de humanidade que eu acho que con-
vém que você faça: tentar tirar esses rótulos da testa
das pessoas.

Abordar crianças com rótulos é mortal. Aos pais,

66
mães e professores que rotulam uma criança: isso
é mortal. É claro que se criança está um colégio, em
geral o professor vai precisar rotular, porque são vin-
te crianças em uma mesma sala, é mais fácil de ele
acessar as crianças através de rótulos. Mas isso es-
traga o desenvolvimento infantil, porque se tem
uma fase na vida em que não é para você colocar
rótulos, é a infância. A criança tem ali um con-
junto de possibilidades que podem ser exercidas,
trabalhadas. Se você já enfia um rótulo nela, você
mata as possibilidades de desenvolvimento que
estão fora desse rótulo. “Matar”, não mata, mas di-
ficulta.

Professores do meu coração: não rotulem seus alu-


nos. Não existe “aluno-problema” e “aluno-prodígio”,
existem questões que você tem de trabalhar, ques-
tões que você tem de limitar, é isso o que existe. Se
você aborda uma criança com isso de “garoto-pro-
blema”, aborda um filho como “meu filho-proble-
ma”, você só olha para aquela porcaria e não vê todo
o resto que está o redor (isso vale para os dois lados).

“Ah, o garoto problema.” Certo, mas e as coisas que


ele poderia estar fazendo bem, que ele poderia estar
desenvolvendo? Você não está olhando porque há
um rótulo ali, é que nem coentro. Se tem um rótulo
“COENTRO” no vaso de tempero, meu amigo, você
vai achar que ali tem coentro por muito tempo. E

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pode ser que, na verdade, tenha orégano lá dentro.
Até você perceber, o que aconteceu? Você deixou de
usar o maldito do tempero porque tinha uma porca-
ria de um rótulo que você colocou lá.

E a mesma coisa serve também para quando você


rotula uma criança de “garoto-prodígio”. Às vezes há
um abismo moral dentro do moleque, às vezes ele
tem medo de competir, às vezes há um monte de
coisas ruins que você não está vendo porque acha
que aquele garoto é a última bolacha do pacote.

Quando você rotula uma criança de garoto-prodí-


gio, ela fica com medo de competir, porque ela sabe
que não é um prodígio, então ela fica com medo
de frustrar, de falhar, e acaba se retraindo na vida.
Esse é um fenômeno muito comum que acontece,
as crianças que eram muito boas no colégio acabam
não rendendo nada na vida adulta, porque ficam
com medo de se colocar à prova, ficam com medo
de competir. É claro: estão acostumadas com aque-
le rótulo de “garoto-prodígio”, então não querem fa-
lhar, não querem perder o rótulo que você enfiou
nelas.

Isso é um problema. É um problema na infância, é


um problema na juventude e é um problema na vida
madura: querer enfiar um rótulo nos outros. O que
acontece então? Você acaba não conseguindo se

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relacionar com o ser humano, mas somente com
uma idéia que está na sua cabeça. É o contrário do
que eu estou falando para vocês fazerem aqui.

Sempre que estiverem pensando “Ah, já sei de onde


o Italo tirou isso”, cuidado, porque eu vou te dar
uma rasteira na curva seguinte. Realmente, eu es-
tou fazendo isso a sério há muito tempo. Há um
conjunto de referências aqui que, para muitos, foge
completamente, e há um conjunto de experiências
também; eu estou há dez anos vende gente, vendo
drama humano, vendo sofrimento humano. Então
não precisa rotular. Não tem razão fazer isso.

Fazer isso com crianças é péssimo e fica muito cla-


ro o porquê de ser péssimo. Pois bem: com adultos
também é ruim (não tão péssimo quanto com crian-
ças). Existe um preconceito que é necessário para a
manutenção da vida adulta, mas quando você não
está em uma posição de ser afetado por aquela pes-
soa negativamente, quando a pessoa não pode to-
mar seu dinheiro, tomar seu carro, aí você vai lá e
se livra desses rótulos. Isso faz bem para você, so-
bretudo para você. Ganha-se um olhar mais agudo
e mais amplo diante da realidade. Só vai te trazer
benefícios.

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@italomarsili
italomarsili.com.br

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