Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Parecer nº 29674/2019-REFD
Após o trânsito em julgado, foi ajuizada ação de revisão criminal, que não foi
conhecida. Eis a ementa do julgado:
“PROCESSO PENAL. REVISÃO CRIMINAL. ANÁLISE DE PROVAS.
CONTRARIEDADE A TEXTO EXPRESSO DA LEI PENAL OU À PROVA DOS
AUTOS. INOCORRÊNCIA. NÃO CABIMENTO DA REVISIONAL. 1. A revisão
criminal não serve para reavaliação ampla dos fatos, das provas e do Direito que
levaram à condenação criminal. A segurança jurídica exige a estabilidade da coisa
julgada e os casos não podem ser indefinidamente discutidos. As hipóteses estritas de
cabimento da revisão previstas no art. 621 do Código de Processo Penal devem ser
observadas. 2. Não se admite a revisão criminal para reanálise de provas já
amplamente avaliadas no processo. Hipótese em que não se configura a contrariedade a
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA
texto expresso na lei penal ou à prova dos autos. 3. Revisão criminal não conhecida.”
(e-STJ fl. 354)
II
No que concerne à culpabilidade, tendo foco no crime de latrocínio tentado, tenho que
o crime foi perpetrado mediante substancial planejamento prévio, inclusive com
obtenção de armamento de grosso calibre e utilização de veículos anteriormente
subtraídos. O assalto foi, pois, cuidadosamente preparado, utilizando os
criminosos coletes à prova de bala e roupas que cobriam seus rostos e suas mãos
(Processo 50060739620164047208, evento 73, REL_FINAL_IPL1, págs. 05/06;
Processo 50074362120164047208, evento 133, VÍDEO13; Processo
50074362120164047208, evento 142, VÍDEO1 e VÍDEO2). O fato de o crime haver
sido cuidadosamente planejado evidencia maior culpabilidade, ensejando majoração de
07 meses e 15 dias de reclusão e 02 dias-multa ao mínimo da pena prevista. Em relação
ao crime de resistência, penso que a culpabilidade é normal à espécie delitiva, não
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA
devendo ser tomada nem para aumentar, nem para diminuir o mínimo legal da pena
prevista.
[…]
Passando às circunstâncias do crime, observo que, em duas ocasiões distintas, tanto
na saída da agência da Caixa Econômica Federal assaltada, quanto depois de já
exarada ordem de rendição e em meio ao confronto com a Polícia Militar que precedeu
a captura, foram feitos reféns, um dos quais, inclusive, foi ouvido como testemunha
nos presentes autos (Processo 50060739620164047208, evento 73,
REL_FINAL_IPL1, págs. 05/06; Processo 50074362120164047208, evento 133,
VÍDEO13; Processo 50074362120164047208, evento 142, VÍDEO1 e VÍDEO2). A
resistência dos réus, aliás, pôs em risco a vida dos dois reféns presentes à cena do
confronto final, os quais ficaram sujeitos ao fogo cruzado entre os criminosos e os
agentes policiais. Quanto aos reféns feitos na saída da agência, observo que não foram
eles tomados como reféns no interior da agência, como forma de coagir os prepostos da
vítima a entregar a res furtiva, mas sim no exterior da mesma, em conduta quase que
alheia à subtração em si, como se antevendo possível necessidade de uso dos reféns
como escudo humano, no intuito de tentar garantir a consumação do delito. Nesse
norte, tenho que os delitos perpetrados pelos réus se deram não mediante as
circunstâncias normais associadas aos tipos penais pelos quais estão sendo eles agora
condenados, mas sim de maneira muito mais grave, que deve ensejar a aplicação de
reprimenda mais severa que a usual. Desse modo, acrescento mais 07 meses e 15 dias
de reclusão e 02 dias-multa à condenação pelo crime de latrocínio e mais 01 mês e 11
dias de detenção à condenação pelo crime de resistência. (e-STJ fls. 60/61)
Portanto, é possível que "o magistrado fixe a pena-base no máximo legal, ainda
que tenha valorado tão somente uma circunstância judicial, desde que haja fundamentação
idônea e bastante para tanto" (AgRg no REsp 143.071/AM, Rel. Min. MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJe 06/05/2015).
[...]
DOSIMETRIA. PENA-BASE. CULPABILIDADE. PREMEDITAÇÃO.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
1. Mostra-se válida a exasperação da pena-base tendo em vista a culpabilidade do
acusado, que premeditou a prática delitiva, circunstância que revela grau maior de
reprovabilidade da ação, justificando a necessidade de imposição de uma
reprimenda mais elevada.
[...]
2. Agravo regimental desprovido. Ordem de habeas corpus concedida de ofício para
modificar o regime inicial de cumprimento de pena para o semiaberto. (AgRg no
AREsp 634.353/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
27/02/2018, DJe 09/03/2018)
aos acusados do crime ora em apuração e àqueles que praticaram um roubo majorado sem
envidar os mesmos esforços no preparo do delito.
O fato de os réus terem feito reféns que ficaram “sujeitos ao fogo cruzado entre
os criminosos e os agentes policiais” (visto que houve efetiva troca de tiros), conforme
ressaltado pelo Juízo primevo, também evidencia que o delito cometido é mais reprovável
do que o normal, pois, além da vida dos policiais (cuja proteção já está prevista no tipo
penal do latrocínio), os delinquentes ainda colocaram em risco a integridade física e
psicológica de cidadãos que transitavam pelo local e que eram completamente alheios à
situação delitiva. Outro não é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
4. O Superior Tribunal de Justiça tem decidido que, embora ausente previsão legal
acerca dos percentuais mínimo e máximo de elevação da pena em razão das
agravantes genéricas, o incremento da pena em fração superior a 1/6 deve ser
devidamente fundamentado. (…)
1. Esta Corte Superior de Justiça consagrou a fração de 1/6 (um sexto) como
parâmetro para o aumento da pena-base por cada vetorial considerada negativa, a
qual pode ser superada, desde que a gravidade em concreto do delito assim
recomende.
(g.n., EDcl no AgRg no AREsp 528.420/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma,
DJe 25/4/2018)
Com relação à fração de redução de pena em razão da tentativa, esta foi assim
fundamentada:
“Na terceira fase de aplicação da pena, observo, quanto ao crime de latrocínio tentado,
a causa de especial diminuição de pena prevista no parágrafo único do art. 14 do
Código Penal, já que o delito não se consumou. Como já exposto nesta sentença
anteriormente, entendo que a diminuição não deve ser mínima, já que nem mesmo
lesões corporais leves os réus chegaram a ocasionar aos policiais ou a terceiros, mas
também não deve ser máxima, já que a subtração, nos termos antes expostos, se
consumou, e ocorreu fuga cinematográfica, com três trocas de tiros em locais distintos
e envolvimento de reféns, sendo por isso longo o iter criminis percorrido. Aplicável,
pois, considerando os limites de um e dois terços previstos no parágrafo único do art.
14 do Código Penal, a proporção intermediária de um meio, reduzindo-se a pena do
crime de latrocínio tentado para 10 anos, 11 meses e 07 dias de reclusão e 08 dias-
multa.” (e-STJ fl. 236)
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA