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OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Identificar o significado e os fundamentos da área de Currículo.
•• Conhecer a trajetória histórica do currículo nas instituições escolares.
•• Analisar criticamente as diferentes concepções de currículo.
PLANO DE ESTUDO
CURRÍCULO:
ETIMOLOGIA E
FUNDAMENTOS
Na atualidade, o vocábulo currículo tem sido uma constante em nossas vidas. A
começar pela procura de um novo emprego, pois na maioria das vezes, somos sele-
cionados por meio do curriculum – documento no qual descrevemos nossa trajetória
pessoal, formação acadêmica, experiência profissional e, algumas vezes, até mencio-
namos a nossa pretensão salarial. Na educação, então, nem se fale! É o currículo que
determina o caminho a ser percorrido pela escola.
reflita
Pelo exposto, já deu para você perceber o quão é valiosa essa palavra currí-
culo, não é? Então, se é assim importante, qual é o seu significado?
Vamos recorrer ao dicionário para conhecer a sua etimologia. De acordo com Houaiss
([2018], on-line)1, currículo é uma palavra de origem latina: curriculum. Deriva do
verbo currĕre e significa “corrida, carreira, lugar onde se corre, campo, liça, hipódro-
mo, picadeiro”. Isto indica que o currículo significa um caminho a ser percorrido, um
percurso, uma trajetória.
É importante ressaltarmos que o vocábulo currículo se utiliza de várias acepções.
Por exemplo, no entendimento do pesquisador espanhol Gimeno Sacristán (2000), a
palavra currículo refere-se à carreira enquanto um percurso a ser atingido. Para o refe-
rido autor, enquanto a escolaridade é um caminho/decurso, o currículo é considerado
seu recheio, seu conteúdo e guia que leva ao progresso do sujeito pela escolaridade.
10 Pós-Universo
Forquin (1999, p. 22), busca explicação para a palavra currículo na língua inglesa,
enaltecendo a riqueza semântica do termo e mencionando que seu significado vai
além de designar apenas uma “categoria específica de objetos pertencentes à esfera
educativa”.
Desse modo, percebemos que, na organização do currículo, devemos considerar
todos os fenômenos que compõem o universo educativo, perpassando pela questão
dos conteúdos e a maneira como estes se organizam nos cursos. Daí a importância
de que a escola adote uma política curricular consistente, visto que ela é
““
[...] a expressão de uma legitimidade e de um poder relacionados com tomadas
de decisões sobre seleção, organização e avaliação de conteúdos de apren-
dizagem, que são a face visível da realidade escolar, e ainda com o papel
desempenhado por cada ator educativo na construção do projeto formati-
vo do aluno (MARTINS, 1993, p. 40).
““
[...] um percurso educacional, um conjunto contínuo de situações de aprendi-
zagem (“learning experiences”) às quais um indivíduo vê-se exposto ao longo
de um dado período, no contexto de uma instituição de educação formal.
Por extensão, a noção designará menos um percurso efetivamente cumpri-
do ou seguido por alguém do que um percurso prescrito para alguém, um
programa ou um conjunto de programas de aprendizagem organizados em
cursos (FORQUIN, 1999, p. 22).
““
[...] currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagógicos desen-
volvidos com intenções educativas. Por esse motivo, a palavra tem sido usada
para todo e qualquer espaço organizado para afetar e educar pessoas, o que
explica o uso de expressões como o currículo da mídia, o currículo da prisão etc.
atenção
ASPECTOS HISTÓRICOS
DO CURRÍCULO
Não se tem muitos dados na literatura sobre a origem do curriculum. Hamilton (1992)
atribui o mérito ao Oxford English Dictionary, pois foi nessa fonte bibliográfica, datada
de 1633, da Universidade de Glasgow que o referido pesquisador encontrou o termo
“curriculum”. De acordo com o autor,
““
[...] a palavra aparece num atestado concedido a um mestre quando de sua
graduação; e está vazada numa forma que, assim o afirma a reimpressão feita
no século XIX, tinha sido promulgada ‘logo após’ que Universidade tinha sido
reformada pelos protestantes em 1577 (HAMILTON, 1992a, p. 41).
Anos mais tarde, em 1582, a palavra “curriculum” é citada nos registros de uma insti-
tuição fundada pelos Calvinistas – a Universidade de Leiden.
Além de escassa, a literatura sobre a história do curriculum é controversa.
““
Existe a possibilidade de que o termo educacional “curriculum” tenha origina-
do, não em Genebra, mas no discurso latino de suas congregações derivadas,
do final do século XVI”. “Um ‘portador’ da idéia de curriculum (se não o termo)
pode ter sido o escocês Andrew Melville”, professor na Academia de Genebra
de 1569-1574 (HAMILTON, 1992b, p. 46).
Hamilton (1992b, p. 47) questiona: “seria o caso de que o ‘curriculum’ tenha trazido
para a prática educacional calvinista o mesmo tipo de ordem que ‘disciplina’ tinha
trazido para a prática social calvinista?”.
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““
[...] emergiu na confluência de vários movimentos sociais e ideológicos.
Primeiro, sob a influência das revisões de Ramus, o ensino de dialética ofereceu
uma pedagogia geral que podia ser aplicada a todas as áreas de aprendi-
zagem. Segundo, as visões de Ramus sobre a organização do ensino e da
aprendizagem tornou-se consoante com as aspirações disciplinares do cal-
vinismo. E, terceiro, o gosto calvinista pelo uso figurado de “vitae curriculum”
– uma frase que remonta a Cícero (morte: 43 a.C.) – foi ampliado para englo-
bar as novas características de ordem e de seqüência da escolarização do
século XVI (HAMILTON, 1992b, p. 47).
saiba mais
““
[...] o protótipo de currículo da modernidade pedagógica tem suas raízes na
concepção de paidéia ateniense que era elitista, porque a formação era para
a classe dominante. Depois incorporou o legado do humanismo renascen-
tista, igualmente minoritário, destruído mais tarde pela orientação realista,
própria do desenvolvimento da ciência moderna, iniciada nos séculos XVII
e XVIII. [...] Com os ideais da Revolução Francesa e, mais tarde, com os mo-
vimentos revolucionários dos séculos XIX e XX, há uma incorporação das
dimensões moral e democrática, segundo as quais a educação redime os
homens, cultiva-os para o sucesso de uma nova sociedade e forma-os como
cidadãos; por isso, deve estar à disposição de todos e tornar-se universal.
(GIMENO SACRISTÁN, 1998, p. 205)
Moreira e Candau (2007) também concordam que a palavra currículo está asso-
ciada a diversas concepções derivadas da forma de como a educação foi concebida
historicamente e das influências teóricas que a afetam e se fazem hegemônicas em
um determinado período. Além disso, acreditam que vários fatores políticos, socioe-
conômicos e culturais contribuíram para que o currículo seja entendido como:
““
a) os conteúdos a serem ensinados e aprendidos;
““
[...] a partir dos anos 90, os estudos culturais, o pós-modernismo, o pós-estru-
turalismo, os estudos de gênero, os estudos de raça, os estudos ambientais
dentre outros, passaram a fornecer a referência para a compreensão dos pro-
blemas e das questões envolvidas no campo do currículo em geral.
Pós-Universo 17
reflita
Você sabe quando foi que se iniciaram os estudos sobre currículo no Brasil?
Pense um pouco a respeito!
saiba mais
Fonte: a autora.
Moreira (2002) esclarece que a reforma educacional, promovida na Bahia, foi realiza-
da por Anísio Teixeira e propunha um currículo harmonioso, centrado em disciplinas
escolares que tinham por objetivo capacitar os indivíduos para viver em sociedade.
Em Minas Gerais, a reforma realizada por Francisco Campos também serviu como
instrumento de reconstrução social da escola elementar. A cada escola foi solicitado
que se transformasse em uma mini sociedade, mas alertava-se para o fato de que
as crianças tinham seus interesses e não eram adultos em miniaturas e, que, dessa
maneira, precisavam ser respeitadas nos seus aspectos cognitivos e intelectuais.
18 Pós-Universo
““
[...] as reformas elaboradas pelos pioneiros representaram um importante rom-
pimento com a escola tradicional, por sua ênfase na natureza social do processo
escolar, por sua preocupação em renovar o currículo, por sua tentativa de mo-
dernizar os métodos e estratégias de ensino e de avaliação e, ainda, por sua
insistência na democratização da sala de aula e da relação professor-aluno.
fatos e dados
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP) foi criado, por lei, no dia 13 de janeiro de 1937 e iniciou seus trabalhos
a partir da promulgação do Decreto-Lei nº 580/1938, com a finalidade de
“organizar a documentação referente à história e ao estado atual das doutri-
nas e técnicas pedagógicas; manter intercâmbio com instituições do País e
do estrangeiro; promover inquéritos e pesquisas; prestar assistência técnica
aos serviços estaduais, municipais e particulares de educação, ministrando-
-lhes, mediante consulta ou independentemente dela, esclarecimentos e
soluções sobre problemas pedagógicos; divulgar os seus trabalhos”.
Fonte: adaptado de INEP (2017, on-line)2.
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““
[...] prevista na Constituição para o ensino fundamental e ampliada, no Plano
Nacional de Educação, para o ensino médio, é a base para a renovação e o
aprimoramento da educação básica como um todo. E, como se tornou mais
ou menos consensual que sem um forte investimento na educação básica
o País não atenderá aos desafios de formação pessoal, profissional e cidadã
de seus jovens, a Base Nacional Comum assume um forte sentido estratégi-
co nas ações de todos os educadores, bem como gestores de educação, do
Brasil (BRASIL, 2014).
““
[...] dois rumos importantes serão abertos pela BNC: primeiro, a formação tanto
inicial quanto continuada dos nossos professores mudará de figura; segundo,
o material didático deverá passar por mudanças significativas, tanto pela in-
corporação de elementos audiovisuais (e também apenas áudio, ou apenas
visuais) quanto pela presença dos conteúdos específicos que as redes autô-
nomas de educação agregarão (BRASIL, 2014).
atenção
CONCEPÇÕES DE
CURRÍCULO
O currículo é um processo dinâmico e acompanha as mudanças que ocorrem na
sociedade, sejam elas políticas, sociais, culturais ou econômicas, as quais, em contra-
partida, influenciam e interferem no processo ensino e aprendizagem.
Em decorrência de o currículo ser mutável, várias concepções surgiram no decorrer
dos tempos, contudo, podemos considerar duas vertentes: a primeira se preocupou
em construir modelos de desenvolvimento curricular e a segunda buscou compreen-
der o currículo como espaço de conflitos de interesses e de diversas culturas.
Para iniciar nosso diálogo, surge um questionamento: você sabe qual o significa-
do do vocábulo “concepções”?
De acordo com Houaiss (on-line)1, significa “faculdade ou ato de apreender uma
ideia ou questão, ou de compreender algo”. Desse modo, várias são as formas que se
têm para perceber o currículo. Algumas o entendem como resultado, outras como
princípios.
Dentre os estudiosos que o entendem como resultados, temos a concepção de
Johnson, para quem o currículo é uma “série estruturada de resultados buscados na
aprendizagem” (PEDRA, 2001, p. 31).
Pedra (2001) apresenta concepções de alguns autores que concebem o currícu-
lo como experiência, dentre eles estão Caswell e Campbell (1935) e Kearney e Cook
(1969). Para eles, o currículo resulta das experiências vivenciadas pelos alunos, sob
a orientação da escola.
Dentre os pesquisadores brasileiros que concebem o currículo como experiên-
cia, temos Antonio Flavio Moreira (1997, p. 11), para quem
““
[...] o currículo constitui significativo instrumento utilizado por diferentes so-
ciedades tanto para desenvolver os processos de conservação, transformação
e renovação dos conhecimentos historicamente acumulados como para so-
cializar as crianças e os jovens segundo valores tidos como desejáveis.
22 Pós-Universo
reflita
Há várias outras concepções sobre currículo. Uma que merece ser conhecida por nós
é a do educador espanhol Gimeno Sacristán. Vejamos.
Para o autor, o currículo pode ser concebido como um fenômeno prático com-
plexo; práxis; construção social; construção da cultura; campo de investigação; guia
de experiência; definidor de conteúdos e conjunto e conhecimento. Pois bem,
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““
[...] o currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um
modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das
crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explícita do projeto
de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função so-
cializadora e cultural que determinada instituição tem, que reagrupa em
torno dele uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se
encontra a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares que
comumente chamamos ensino. É uma prática que se expressa em compor-
tamentos práticos diversos. O currículo, como projeto baseado num plano
construído, ordenado, relaciona a conexão entre determinados princípios e
uma realização dos mesmos, algo que se há de comprovar e que nessa ex-
pressão prática concretiza seu valor. É uma prática na qual se estabelece um
diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos que
reagem frente a ele, professores que o modelam etc (GIMENO SÀCRISTAN,
1998, p. 15-16).
““
[...] transforma o conteúdo do currículo de acordo com suas próprias
concepções epistemológicas e também o elabora em ‘conhecimento peda-
gogicamente elaborado’ de algum tipo e nível de formalização enquanto a
formação estritamente pedagógica lhe faça organizar e acondicionar os con-
teúdos da matéria, adequando-os para os alunos.
II. Currículo é um termo complexo e, portanto, não tem uma única definição.
IV. Significa curso, rota, caminho da vida ou das atividades de uma pessoa ou grupo
de pessoas.
a) 2, 1, 2, 2, 3.
b) 3, 1, 2, 1, 2.
c) 1, 3, 2, 1, 1.
d) 3, 3, 1, 1, 1.
e) 2, 3, 1, 2, 3.
atividades de estudo
Neste capítulo, refletimos sobre a etimologia do vocábulo “curriculum”, constatamos que é deri-
vado do latim, que não há uma única conotação e que, de forma abrangente, indica um caminho
a ser percorrido ou uma trajetória a ser seguida.
Quanto à história da palavra, ou seja, a primeira vez em que foi mencionada, pudemos perceber
que a literatura é bastante escassa e que há controvérsias entre os pesquisadores. É fato inegável
que o currículo é um importante instrumento, pois serve de guia ao processo ensino-aprendiza-
gem e vem se manifestando e evoluindo ao longo do espaço-tempo histórico.
Elencamos conceitos de alguns estudiosos sobre o assunto e percebemos que eles estão dire-
cionados para diferentes aspectos: aos resultados escolares observáveis e pretendidos, à práxis,
ao aluno e suas experiências, ao que é expresso e visível e ao que está na linguagem e é invisí-
vel, nexo ou veículo de comunicação entre professor-aluno e escola-sociedade, representação
cultural, dentre outros.
Vimos, também, um pouco da história sobre o currículo e de como ele é pensado pelos educado-
res brasileiros. Apresentamos as bases legais nas quais estão assentadas as propostas curriculares
do país e concluímos que a complexidade das dimensões do currículo exige que se pense nas
metas a serem atingidas; nos conteúdos que propiciarão os fins desejados; na importância e res-
ponsabilidade sobre o que está sendo ensinado e para quem está sendo direcionado o ensino; nos
modos de se chegar ao conhecimento requerido; nos recursos materiais, financeiros e humanos;
nas decisões necessárias à sua concretização prática; nos modos de transmissão da cultura ne-
cessária para formação técnica e humana do sujeito; na reflexão de tempo-lugar histórico em
que ele se realiza, além de outros aspectos. Inserido na escola, o aluno transcorre por um longo
caminho escolar e, nesse ínterim, está o currículo, repleto de conteúdos culturais que norteiam
as ações que levam ao progresso e evolução do sujeito pela escolaridade.
material complementar
Ano: 2000
Editora: Papirus
Ano: 2001
NA WEB
Você pode adquirir ainda mais conhecimento acerca do significado de currículo assistindo ao
vídeo que trata sobre os diferentes tipos de conceitos de currículo, disponível em: <http://www.
youtube.com/watch?v=WzBcE9QsW1g&feature=related>.
referências bibliográficas
______. Introdução: currículo e cultura. In: ______. Escola e cultura: as bases sociais e epistemo-
lógicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
GIMENO SACRISTÁN, J. Aproximação ao conceito de currículo. In: ______. O currículo: uma re-
flexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 1998.
______. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
GIMENO SACRISTÁN; J PÉREZ G., A. I. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2000.
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Educação. Porto Alegre: Pannonica, n. 6, p. 33-52, jul. 1992a.
LOPES, A. R. C.; MACEDO, E. F. de. Currículo: debates contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002.
MARTINS, P. L. O. Didática teórica/didática prática: além do confronto. São Paulo: Loyola, 1993.
MOREIRA, A. F.B. Currículo e programas no Brasil. 7. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.
______. (Org.). Currículo, utopia e pós-modernidade. In: ______. Currículo: questões atuais.
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REFERÊNCIAS ON-LINE
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