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Inconsciente Coletivo
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As informações e opiniões formadas neste blog são de responsabilidade


única do autor.

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Existe vida depois da


Lava Jato
Morris Kachani
29 de outubro de 2019 | 12h47

Inconsciente Coletivo visita o reluzente apartamento de Nelma


Kodama, “a dama da Lava Jato”

Pessoalmente, a doleira Nelma Kodama, 53 anos, ex-namorada de


Alberto Youssef, também conhecida como “a dama do mercado”,
prisioneira ilustre da Lava Jato, condenada por lavagem de dinheiro,
organização criminosa, evasão de divisas e corrupção ativa, é uma
simpatia. Aquele tipo de pessoa falante, dotada de traquejo social, e
cheia de histórias da vida pra contar.

Sempre achei que naquela foto que postou no seu insta, a do Chanel
com tornozeleira, e as rachaduras no pé, meu Deus, que imagem
icônica, que nela haveria de ter uma resposta, uma narrativa, sobre o
que foi a Lava Jato, sobre os valores e sobre um jeito de pensar, que
bem ou mal, estariam enraizados no inconsciente coletivo do
brasileiro.

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Esta pois foi a investigação a que me lancei. Tivemos três longos


encontros, e também li seu livro, “A Imperatriz da Lava Jato”, em
depoimento ao jornalista Bruno Chiarioni, que foi lançado na semana
passada. A capa do livro estampa a tal foto icônica, desta vez com o pé
tratado pelas magias do Photoshop.

O que já é um indicativo – Nelma não só parece se orgulhar da foto,


como também já divulgou um tutorial sobre como se retira uma
tornozeleira eletrônica. Afinal, o quanto de ultraje, ou de provocação,
ou de ironia, de demonstração de poder ou simplesmente de self
contentamento e vaidade, tudo isso carrega? Eis a questão. Chanel e
tornozeleira eletrônica andando juntos. (E aqui a imagem original,
para quem tiver a curiosidade de comparar os pés…)

Chiarioni fez um ótimo trabalho na organização dos assuntos do livro,


mas não dá pra dizer que se trate de uma obra-prima, até porque
muitas páginas são gastas para Nelma contar a sua versão dos fatos.
Ela insiste por exemplo, que os 200 mil euros que levava para Milão
quando foi apreendida em Cumbica, em 2014, estavam no seu bolso e
não na calcinha (“até mesmo por uma questão higiênica”, brincou),
como saiu divulgado na ocasião em vários meios de comunicação.

Mais interessante é conhecer como foram os “loucos anos” em que


levava milhões de dólares de avião para o Paraguai. 400 mil por dia,
chegou a me dizer. Saindo de São Paulo, com escala no Rio de Janeiro,
rumo à fronteira, tudo na mesma noite. Este afinal era o trabalho dela.
Comprar e vender dólares. Lavar dinheiro, não importando de onde
viesse ou para onde fosse.

Ah, os “loucos anos”. Trabalhando duro, 16 horas por dia, para passar
o feriado em Paris, sem levar mala, e voltando com o limite de
bagagem estourado de Chanel, Louis Vuitton, Gucci e outras grifes do
tipo crème de la crème. Hotéis, refeições, mimos… como comentou,
“consegui ter tudo que o dinheiro consegue comprar”.
Nelma insiste que seu crime foi fiscal, e não exatamente de corrupção
com dinheiro público, embora tenha assumido 91 operações de câmbio
contratadas por Youssef. Muitos artigos já foram escritos a esse
respeito. E, para dizer a verdade, indo um pouco além da discussão
sobre o estatuto jurídico e político de sua atividade, já tão explorado
na mídia, decidi focar esta reportagem em um aspecto que consta da
sentença do então juiz Sérgio Moro, que a condenou a quase 15 anos
de prisão – a atribuição de um perfil de “personalidade criminosa” a
Nelma.

A pergunta que me faço, é se ela se arrepende ou não do que fez, e se


está regenerada, depois de dois anos e meio na prisão e uns três de
tornozeleira – ela se livrou do aparato há 3 meses, com o indulto
concedido pelo presidente Michel Temer. Usar a tornozeleira, conta
ela, é igual a cinta de cirurgia plástica – incomoda no início, mas
depois parece que faz parte do corpo.

Não há dúvidas de que todo este período lhe deixou sequelas, inclusive
no âmbito das relações sociais e familiares. Nelma diz que “tudo que
eu tinha para sofrer, eu sofri”, e que ao mesmo tempo, nunca foi tão
feliz como no presente momento.

Seu apartamento, com mais de 450 metros quadrados no Campo Belo,


em SP, parece realmente com a loja Daslu dos bons tempos. Não
apenas por conta do inacreditável closet como também pelo uso
exagerado do branco inclusive no piso para realçar todo o mobiliário.
Por exemplo, temos um detalhe em azul turquesa do copo de vidro de
Murano que desenhou, guardado na cristaleira, concebido assim para
combinar com o veludo da poltrona de mesma cor; a réplica de um
leão, a uber banheira em destaque no quarto, o console de TV que ela
própria também desenhou representando ondas e que deve ter
custado os olhos da cara.
Ser uma mulher de bom gosto custa caro ela me comentou, embora
hoje diga que se contenta com muito menos. As marcas do tempo e
dos acontecimentos também se projetam sobre as paredes do apê. Os
quadros de Di Cavalcanti e Portinari, foram parar no Museu Niemeyer
de Curitiba. Hoje estão os quadros pintados pela mãe de Nelma o que
afinal, talvez tenha mais valor emocional para ela.

Também as portas de correr das sapateiras estão danificadas. Não dá


pra puxar com tanta força, se não arrebentam. É que o pessoal da
perícia da Polícia Federal mexeu nelas com a mão pesada.

Mas então, quando estas portas se abrem, caramba. São fileiras e


fileiras. O mesmo valendo para qualquer peça de vestir ou acessório.
Há uma coleção de lenços. Outra de chapéus. E por aí vai.

Nelma já me comentou que tem roupa para usar até o fim da vida.
Muitas delas nunca usou. Estão todas em um notável bom estado de
conservação. Recentemente, divulgou que fará um bazar, para
arrecadar algum dinheiro que lhe ajudasse a pagar as contas.

Lembrando que Nelma tem direito a morar neste apartamento até


2022. Depois haverá um leilão, e a prioridade de compra será dela.
Hoje ela diz viver do aluguel de 5 unidades de um hotel (seria este seu
patrimônio), e de sua atividade como consultora em assuntos
relacionados ao mundo das finanças e decoração.

Acabou de comemorar seu aniversário em uma viagem à Europa com


seu namorado, o lobista Rowles Magalhães. Surgiu a notícia de que o
MP quer saber quem bancou a viagem.

Não me causaria impressão se um dia desses Nelma aparecesse com


um programa de variedades em um destes canais populares de TV
aberta, com dicas de decoração, moda e gestão financeira. Será que ela
tem potencial para se tornar celebridade artística? Conta ela que
nunca foi hostilizada em público – pelo contrário, o povo lhe pede
autógrafo nas ruas.

Vamos começar falando sobre a foto. Qual é a história dela?

Essa foto foi tirada em 2016. Estava nos arquivos da Veja. Postei ela
em junho deste ano, porque eu e minhas amigas decidimos fazer um
bazar. Tentei provocar minhas amigas postando essa foto, e virou hit.
Com a maioria das pessoas criticando, “onde já se viu uma pessoa que
está presa, usando Chanel?”.

Como vê essas críticas?

Eu acho que a maioria das pessoas são desinformadas, desconhecem


minha história. Elas não sabem que conquistei tudo isso com meu
trabalho. Nunca roubei ninguém. Eu era doleira, comprava e vendia
dólar, nunca fiz negócio com político e com empreiteiro. Na verdade
eu nem sou da Lava Jato. Há um grande equívoco nisso.

Mas pera aí, contravenção não é crime?

Concordo com isso. Mas eu era como uma taxista, apenas comprava
dólar que eu não sabia de onde vinha, e revendia.

Vamos colocar as coisas em outros termos. Quando as pessoas saem


para viajar e precisam de dólar, muitas vezes elas não compram tudo
em um banco. Elas procuram o doleiro. Quando um médico encerra
sua consulta, é comum perguntar se o pagamento será mediante
apresentação de recibo ou sem. O mesmo com os advogados. O
próprio presidente Bolsonaro já declarou que já sonegou.

E também tem as taxas altas de impostos. Elas forçam a sonegação.


Isso é um vício que todo mundo tem – quem não sonega?

Você se arrepende da foto?

Não, aliás não me arrependo de nada que fiz na vida. Não apagaria
nada da minha experiência. Tenho cicatrizes que nunca vão se fechar,
mas isso é algo que tenho que aprender a conviver e administrar.

Você já disse que conseguiu tudo que o dinheiro pode


comprar.

Cada um com sua ambição. Dentro da minha, eu comprei e tive tudo


aquilo que o dinheiro pode comprar. Todas as roupas que quis,
sapatos, bolsas, viagens, todas as pessoas que quis direta ou
indiretamente ajudar. Quando vim de Lins, no interior, para São
Paulo, com 700 dólares no bolso e um diploma de odontologia, meu
sonho era mais modesto. Queria ganhar uns 5 mil dólares, comprar
um apartamento com dois quartos, ter um carro importado, e só.

Qual é seu objetivo na vida?

Meu objetivo era parar de trabalhar aos 50 anos. Construí este


apartamento com este pensamento. Levei dois anos reformando ele.
Queria ter dinheiro para viver até os 80 anos. Como uma renda, sabe.
Porque tinha uma vida muito agitada, trabalhava 16 horas por dia.
Agora que tirei a tornozeleira, estou tentando recomeçar minha vida.

Quando olhei aquela foto pela primeira vez, achei-a muito


icônica. Não tem provocação nessa foto?

Depende de quem olha. Você teve esse sentimento. Mas teve uma
outra pessoa, que por causa dessa foto me procurou, e hoje estou me
relacionando com ela. Ele olhou para essa foto e pensou, “puxa vida
essa é uma mulher de coragem, para colocar uma foto dessa em uma
situação dessa, então eu vou conhecer essa mulher”.

Quem é esse cara?

Um pecuarista do Mato Grosso.

Voltando à foto, teve gente que falou de seu pé.

Isso, que estava rachado e cascudo, mas eles não sabem que durante
esse tempo, onde eu estava, não tinha manicure nem pedicure. Fazia
apenas dois ou três dias que eu tinha saído da prisão, quando esta foto
foi feita.

Como é a vida com tornozeleira? Tenho a impressão de que


viver em domiciliar pode acabar sendo uma punição muito
branda. Ou estou enganado?

Em Dubai eles cortam as mãos…

Bem, primeiro, é melhor usar tonozeleira do que estar em um presídio


confinada em 1 por 2. Sem dúvida. Segundo, no meu caso cumpri meu
regime fechado e obtive o benefício de estar em domiciliar com
tornozeleira, até tirá-la.

Pegue o caso do Marcelo (Odebrecht). Independente dele estar na sua


casa ou na superintendência da Polícia Federal, nunca mais será a
mesma pessoa. Por que? Por tudo isso que ele passou. Na família, com
a esposa e as filhas, sempre fica aquela marca. Não vai ser igual, nada
é igual. E outra, a pessoa perde o poder. E perde a liberdade. Isso é
pior que tudo.

Perde reconhecimento.

Perde. Perde o respeito por si própria. Como se aquilo fosse uma lepra.
Isso aí já é uma grande punição. A pessoa nunca vai se recuperar. Ela
precisa ser muito forte, ter coragem, pra vida ser um pouco mais
normal.

Você é muito hostilizada nas ruas?

Pelo contrário, as pessoas param, querem tirar fotografia. Pedem


autógrafo.

Nunca fui hostilizada. Saio na rua normal, ninguém me barra ou xinga.


Hostilizada eu fui apenas no insta, quando postei a foto.

Mas alguns presos tiveram problemas. Eu lembro que o Nestor


(Cerveró), quando viajou de volta para casa no avião, foi incomodado.
Muito chato.

Qual sua opinião sobre a Lava Jato?

Hoje tenho uma visão diferente da que eu tinha. Conforme as coisas


foram acontecendo, fui entendendo. No início pensei que era uma
operação para acabar com a corrupção e endireitar esse país. Hoje vejo
que não aconteceu isso. A corrupção continua, ela é sistêmica. As
pessoas foram punidas, o próprio Intercept mostrou que foi uma
operação conduzida, ao que me parece, para colocar uma pessoa na
cadeia.

O Brasil sofreu muito com isso, o Brasil parou, a credibilidade está


muito afetada. Há uma crise econômica mundial, mas a Lava jato
piorou as coisas. Veja muitos profissionais que acabaram se
transformando em motoristas de uber. Médicos, engenheiros, eles
foram perdendo espaço, isso é muito triste. Quando voltei a São Paulo
depois da prisão, a cidade não tinha nada a ver com aquela que
conhecia. As pessoas estão tristes, castigadas, sofridas, preocupadas.
Quanto se gastou com a Lava Jato, e quanto ela recuperou? Quantas
pessoas perderam o emprego por conta disso? Isso tudo mexe com a
economia de um país. O Brasil retrocedeu quantos anos? 50?

Tem méritos a operação?

Eu critico a operação pelos métodos. Não foi respeitada a presunção


de inocência. Por outro lado, foi muito legal a Lava Jato ter colocado
gente graúda na prisão. Esse povo tem que pagar. Foi brilhante o que
foi feito. Pela primeira vez não virou pizza. Os responsáveis foram
presos. Só que tem muito mais gente que precisa ser presa.

Que dizer sobre os métodos da Lava Jato?

Tudo isso foi conduzido, está aí, para quem quiser ver. Fui julgada por
ter uma mente criminosa, uma personalidade criminosa. Mas o que
me diz de um ex-procurador que vai matar o outro, isso não é produto
de uma mente criminosa? E por que ele não será julgado?

No mínimo é uma falta de respeito, educação e controle emocional.


Imagina essa pessoa te julgando, como ela tem condição de julgar? E
ganhando bem, com tudo pago. Auxílio-moradia, escola, segura de
saúde, aposentadoria. Eu não tenho nada disso.

Eu te pergunto: e os bancos? Fizera, grandes transações envolvendo


propina – o mesmo trabalho de taxista que eu fazia, praticamente. Por
que não foram presos? Por que fui presa? Por que não se investiga
isso? Se houve movimentação bancária de pagamento de propina e
desvio de dinheiro, passou por onde? Antes de passarem por mim,
devem passar pelas normas do Banco Central. Quem que audita isso,
sou eu o Banco Central?

Mas você lavava dinheiro. Podia ser dinheiro de tráfico de


drogas, de armas, do que fosse…

Dinheiro sem procedência. Eu comprava e vendia. Por exemplo, você


me dava ou dinheiro aqui e eu te depositava lá fora.

Eu não sei. Dinheiro não tem origem. Eu era uma intermediária. Uma
coisa é o fiscal, a outra é a origem do dinheiro. Eu era a agência que
intermediava, eu ganhava o spread entre isso aí. Não sou uma
instituição financeira.

E o Alberto Youssef?

Com ele considero que fui casada pessoalmente e comercialmente.


Alberto fazia negócios com empreiteiros, que por sua vez faziam
negócios com políticos. E ele fazia comigo. Eu fiz a intermediação da
compra e venda, apenas isso. Eu só intermediei e ganhava um spread
entre a compra e a venda. Não sou obrigada de saber a origem do
dinheiro, não sou o Coaf, não sou o Banco Central, não sou os bancos.

Que acha que poderia ser feito para melhorar a corrupção?

Muito difícil corrigir isso. Não sei responder. Uma coisa que deveria
ser feita é uma revisão fiscal, pois a carga de imposto é altíssima, uma
das maiores do mundo. Fora isso você paga IPTU, IPVA, seguro
obrigatório, tudo que você compra tem ICMS. Você paga por aquilo
que não recebe. As ruas têm buraco. Não tem saúde, segurança,
escolas. Você tem alegria de pagar isso? Voce não tem. Na Europa
sim, você tem a alegria do seu filho estudar em escola pública, porque
são instituições capacitadas.

Se fosse dar aula de corrupção para a polícia, o que falaria?

Bem, primeiro que a corrupção já está dentro da polícia. Começa por


aí. A base de um país está na educação, falta esse compromisso com a
sociedade.

A delação é uma coisa boa?

Depende pra quem faz e pra quem recebe. No meu caso, não foi. Saí
sem nada. E outra coisa, o delator deve ter protegida sua identidade. E
não foi nosso caso. Todos dias estávamos expostos nos jornais, em
livros ou no cinema.

Tinha tortura?

Depende do que chama de tortura. Só fato de você estar preso já é


tortura. Sua liberdade é tolhida. E muita pressão psicológica: por
exemplo, quando seu advogado te diz que não adianta entrar com
habeas corpus, que a primeira e a segunda instância já estão
casadinhas, que então será preciso recorrer aos órgãos acima. Primeiro
você é preso para depois se defender. Muita gente foi presa sem prova.
A Carta Magna foi rasgada.

Você concorda com a prisão em segunda instância?

Não pode. Está na Carta Magna, tem que ter transitado em julgado.

Por outro lado, quem tiver uma boa assessoria jurídica se


safa.

É um direito, não fui que escrevi a Carta Magna. Uma coisa é uma
coisa, outra coisa é outra coisa. Estou falando de um direito que está
na Constituição. Vamos ver o outro lado de uma pessoa que é
inocente? Ela tem que esperar até a última instância?

Qual sua impressão pessoal sobre o Moro?


Se ele fosse bem intencionado, não me julgaria pela minha
personalidade. Me julgaria pelos meus crimes.

Ele conduziu o Banestado, ele condenou o Youssef, homologou sua


delação. E depois na Lava Jato de novo estava ele e outros delegados e
alguns procuradores. É no mínimo estranho.

Por que?

Deixa só esse ponto de interrogação. Os mesmos personagens de


novo?

Como se isso não bastasse, depois veio à tona essa troca de mensagens.
Você imagina divulgar meu advogado trocando mensagem com o
Moro, como ia ser repercutido?

Moro não deveria ter aceito o Ministério da Justiça. Deveria continuar


a carreira como juiz.

Você tem personalidade criminosa?

Todos têm personalidade criminosa. O médico tem. O advogado


também. Na padaria, quando não te dão a nota fiscal, também. Eu
acho que todo mundo tem a personalidade criminosa. Mas quando
você assume papel de juiz, ou deputado eleito pelo povo, você não
pode exercê-la. Por isso que não tem receita para acabar com a
corrupção e nem manual. Você teria que ser um santo, e acho que não
existe santo.

Nunca matei ou roubei, só comprava e vendia dólar. Nunca fui


ministra ou procuradora, ou qualquer coisa ligada a órgãos públicos.
Eu era apenas uma doleira que saiu de uma cidade no interior, e foi
atrás de seus sonhos.
E sobre o Deltan, qual sua impressão?

Não tenho impressão nenhuma, porque quando o conheci, estava


assustada, presa, passando fome e frio, sendo humilhada e maltratada.
Não tenho condição nenhuma de formular um juízo a respeito de um
homem jovem, arrogante e sem conhecimento da vida.

A Polícia Federal e o Ministério Público; qual sua medida de


confiança nestas instituições?

Existem pessoas sérias, sim. Mas outras que deveriam ser investigadas
profundamente. Diante de um país tão grande e com tantos
problemas, só uma minoria é que é séria e comprometida.

Homens e mulheres são diferentes na prisão?

Homem e mulher é diferente. Aliás convivi muito com homens no


trabalho, porque minha profissão é masculina. O homem chora porque
perdeu tudo aquilo que achou que ele era. Acho que a mulher chora
mais à vontade.

Na prisão convivi com homens poderosos: políticos empresários, e


também traficante e assaltante de caixa de banco. E vou te falar,
traficantes e assaltantes eram mais corajosos – choravam menos.

Os poderosos chegavam perturbados achando que com o poder que


tinham, com sua influência política e econômica, chegavam achando
que iam sair ilesos, que era só uma questão de tempo. Mas na hora que
você vê que não vai sair, que ou faz um acordo ou apodrece, nessa hora
quem não tem fé vira até macumbeiro.

Que acha do Bolsonaro?

Acho que ele é muito radical, fala algumas coisas que um presidente
não deveria falar.

Teria votado em quem, se pudesse votar?

Em ninguém. Porque meu candidato não estava lá. Tomara que ele
ressurja.

Lula?

Acho que uma pessoa sair de onde ele saiu, vinda de família humilde e
sem estudo, chegar onde chegou, tem um grande valor. Em sua época
como governante, as pessoas estavam mais felizes, havia mais
empregos. Havia mais oportunidade, especialmente para a classe mais
pobre.

Considera injusta sua prisão?

Se considerar que ele está preso por conta de segunda instância e sem
prova alguma, sim, acho que é injusto sim.

Gostaria que traçasse um perfil sobre alguns dos presos


famosos com quem conviveu.

Convivi muito tempo com vários empresários e alguns políticos, e era


muito engraçado porque quando caía ali dentro ,não era mais o
político e o empresário; você era uma pessoa comum. Então ali você
via realmente como a pessoa era, na sua dificuldade, na sua falta de
liberdade.

Nestor me marcou muito porque era uma pessoa muito educada,


muito inteligente e tudo nele era “íssimo”, – excelentíssimo,
lindíssimo, queridíssimo. Ele tinha tiradas muito engraçadas. Teve um
dia que ele foi na CPI, estava tão nervoso que ele pegou o Glade e usou
como desodorante…
Vaccari era uma pessoa muito disciplinada. Dormia sentado depois do
Jornal Nacional, como se estivesse meditando, super regrado.

André Vargas também tinha tiradas incríveis. Era engraçado, ou a


gente ria ou a gente chorava.

E o Marcelo?

Marcelo era muito disciplinado, acordava às 6h e ficava até às 13h


fazendo exercício, incansável. Tinha alimentação muito regrada. Ali
dentro também era o comandante das coisas.

E o Dirceu?

Dirceu era bem diferente. Ele tinha uma particularidade. Foi um cara
que teve muito poder. Falava que era ele quem tinha criado o Lula e a
Dilma. Lembro quando teve a votação do impeachment – a gente
assistindo na TV, ele ficou enlouquecido, dizendo que tínhamos que
pegar nas armas e ir para ruas.

Como está seu momento atual?

Tenho uma vida normal, acordo, tomo meu café, tenho tempo pra
mim mesma, vou ao shopping, faço meu trabalho de consultoria,
tenho minhas amigas e tempo pra desfrutar minha liberdade.

Consultoria do que?

Tenho credibilidade e conheço muitas pessoas. Por conta disso elas me


procuram pedindo conselhos sobre finanças, moda, decoração.

E o livro?
O livro eu comecei a escrever na carceragem, desde o primeiro dia. Era
como se eu estivesse conversando comigo mesma. Tínhamos direito a
5 folhas de sulfite por dia. Imaginei que quando saísse pudesse um dia
publicar. Contar um pouco de mim para que as pessoas pudessem
conhecer esse outro lado, não aquele lado que julgam saber o que sou,
o que eu fiz. O livro tem um mix de tudo, narra minha infância, época
de faculdade quando cheguei em São Paulo, algumas coisas da minha
profissão, da minha vida, e algumas partes do diário que escrevi na
prisão.
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A possível morte por
asfixia da Ancine
Morris Kachani
16 de outubro de 2019 | 09h09
Entrevista com Débora Ivanov

“O impacto é muito grande e nós estamos sentindo apenas o começo


dele. Porque ele vem a médio prazo. Essa crise começa esse ano, mas
ano que vem vai ser bem pior”.

Com centenas de empregos evaporando e várias produtoras,


especialmente as de menor porte e fora do eixo Rio – São Paulo,
fechando suas portas, a indústria do audiovisual brasileira vive um de
seus momentos mais delicados.

À parte a produção de filmes, outros segmentos também sofrem. A


Mostra Internacional de Cinema, que começa nesta semana, deixa de
contar com apoio das estatais e será reduzida. O Festival do Rio, idem.

Enquanto isso, serviços de streaming como Netflix e Amazon Prime,


seguem em atividade plena, ‘livres, leves e soltos’, sem contarem com
uma regulação específica ou cota de exibição para produções
nacionais, como acontece em outros países.

A asfixia da Ancine, que conta atualmente com apenas um diretor em


atividade, Alex Braga, talvez seja o retrato mais bem acabado da
situação de impasse. Em seu estatuto, a agência governamental
deveria contar com 4 diretores colegiados. Um deles, Christian de
Castro, que ocupava a presidência, foi afastado em agosto por uma
série de denúncias e brigas políticas internas.

Como mencionado neste artigo, Christian e seu grupo teriam tentado


macular com fake news a imagem de outros diretores (Débora Ivanov
e Alex Braga) que concorriam à presidência da Ancine, abrindo
margem para que ele próprio fosse eleito.

Mas seu afastamento foi apenas o último lance de uma sequência


infeliz de notícias, que vão de uma sindicância conduzida pelo
Tribunal das Contas da União suspendendo o repasse de recursos
públicos para o audiovisual, em março, ao posicionamento do
presidente Bolsonaro, que mês passado afirmou que pretendia
extinguir a agência caso não pudesse implantar um “filtro de
conteúdo”.

Todo esse imbróglio tem um número: R$ 700 milhões em incentivos


fiscais do Fundo Setorial aprovados para este ano, mas represados.

Débora Ivanov, ex-sócia da Gullane Filmes, realizadora de mais de 50


obras audiovisuais, ex-diretora do sindicato da indústria do
audiovisual de São Paulo, e ex-diretora da Ancine – seu mandato de 4
anos expirou há duas semanas -, tendo assumido interinamente a
presidência da agência em 2017, recebeu este blog na semana passada.
Topou conceder entrevista desde que o afastamento de Christian de
Castro não fosse tratado na conversa. De fato, a pauta do audiovisual é
bem mais abrangente.

“Levamos anos para profissionalizar o mercado, para criar mão de


obra especializada, gerar o interesse dos jovens e das universidades
nessa atividade, despertar o interesse internacional na nossa
produção. Tudo isso está sendo abalado com a descontinuidade das
políticas públicas neste momento”.

“Nos últimos 4 anos, o país passou por 3 presidentes da República.


Nós tivemos 7 ministros da cultura, 7 secretários do audiovisual. 8
diretores diferentes, e 4 presidentes diferentes na Ancine. Isso se
reflete em tudo, em interrupções, em descontinuidade de políticas que
estavam em curso, períodos de muita instabilidade”.

“Muitas produções pararam no meio, outras estão parando, e as


produtoras recebendo muitos pedidos de profissionais que precisam
de trabalho. A palavra é… um sentimento de desespero”.

“Me parte o coração as produtoras ligando para mim como diretora


da agência, pedindo ‘pelo amor de Deus’, não para, a gente vai
quebrar, a gente tá despedindo’. É de chorar… e eu já chorei várias
vezes”.

“Há fantasias de que não sabemos fazer filme, de que fazemos filmes
demais, de que os recursos deveriam ser utilizados para outras ações
prioritárias… outra fantasia que se tem, é de que o cinema só existe
para o entretenimento. Sabe quantos filmes produzem nos Estados
Unidos por ano? 800. Quantos são blockbusters? Pouquíssimos. A
Argentina, produziu 220, em 2018. França, mais de 300. Qual é o
problema do Brasil ter feito 170 filmes no ano passado? É natural que
poucos conquistem grande bilheteria”.

“Censura não pode existir. Como o governo pretende restringir


alguns temas, como isso poderá ser possível, não sabemos”.

O que está acontecendo com a Ancine?

Na Ancine a gente está vivendo um período muito excepcional, nunca


tivemos uma situação como essa, em que a agência fica apenas com
um diretor. Para dizer a verdade, não vejo situação semelhante em
qualquer outra agência do governo. Então é um período de muita
fragilidade.

Nesta minha saída no final de meu mandato, me preocupei de


entender o que aconteceu nos últimos quatro anos. Acho que o período
em termos de mudanças políticas foi o mais radical. O país passou por
3 presidentes da República. Nós tivemos 7 ministros da cultura, 7
secretários do audiovisual. 8 diretores diferentes, e 4 presidentes
diferentes na Ancine. E tivemos 2 períodos com apenas 2 diretores, em
uma situação de bastante dificuldade, porque nesses casos você só
pode agir ad referendum, em um escopo de ação bem mais limitado.

E agora vamos entrar em um período com um só diretor, que é o Alex


Braga. Então só com essa visão panorâmica de números, dá para
entender totalmente a fragilidade e inconstância que vivemos nos
últimos 4 anos. Isso se reflete em tudo, em interrupções, em
descontinuidade de políticas que estavam em curso, períodos de muita
instabilidade.

Nós conseguimos todo amparo jurídico para delegar as competências


da diretoria para este único diretor que fica. Para que a agência não
pare. Isso não é uma construção simples porque nunca aconteceu. Um
órgão não pode parar por conta de uma situação excepcional, é preciso
haver continuidade. Diante da urgência de continuar com as ações da
agência, conseguimos construir uma solução para delegar essas
competências para um único diretor. Ela é restrita? É, porque sozinho
ou em dois, uma série de decisões não podem ser tomadas.

Por que está acontecendo isso?

Estávamos em 3 na diretoria, com uma vaga aberta com a saída de


Mariana Ribas. E aguardando a indicação de um novo diretor para seu
lugar. Mas no final de agosto houve afastamento do diretor presidente,
então ficamos só em dois, e agora terminou meu mandato. Havia uma
grande expectativa de que o presidente da República já indicasse
novos nomes, pois quem ratifica os nomes para serem sabatinados
pelo Senado, é ele.

Nada disso está acontecendo.

Por enquanto não. A gente tem a notícia de que tem um nome na Casa
Civil, aguardando aprovação. Um bom nome, Paula Alves, diplomata
de carreira e responsável pelas ações de cultura no Itamaraty. Este é
um nome que eu espero que esteja chegando. Outros nomes a gente
não tem.

Você acha que tem uma má vontade do governo com a


indústria audiovisual?

Acho que o novo governo ainda não se apropriou, não compreendeu o


grande potencial do setor audiovisual, em termos de impacto
econômico, de geração de emprego e renda, de projetar a imagem do
país para o resto do mundo. Acho que o presidente está em um
momento de compreender isso tudo, e acho que ele vai indicar estes
novos nomes.

Você acredita mesmo?

Assim como todo o setor aguarda a indicação de novos diretores,


aguardamos também a nomeação do Conselho Superior de Cinema. É
ele quem dá as diretrizes da política pública para o setor e é ele quem
indica nomes para a gestão do Fundo Setorial. E é ele, o Fundo, que é a
maior alavanca de crescimento da atividade. Nós temos de
arrecadação destinada para o fundo no ano passado, mais de 700
milhões de reais que seriam investidos este ano. E as decisões sobre as
linhas de financiamento precisam obrigatoriamente ser aprovadas por
esse comitê.

O que está acontecendo hoje é que por não ter conselho e por não ter
ainda comitê gestor, estes recursos estão represados, e a gente tem
visto muitas empresas quebrarem, está havendo desemprego no
mercado. O impacto é muito grande e nós estamos sentindo apenas o
começo dele. Porque ele vem a médio prazo. Muitas empresas ainda
sobrevivem com recursos captados anteriormente, mas estão se
fragilizando, daqui a pouco não terão recursos para continuar.

Principalmente as empresas mais jovens e menores, que a política


pública tanto estimulou. E muitas delas estão fora do eixo Rio – São
Paulo. O Fundo Setorial por lei, destina 40% destes recursos para estas
regiões.

Você tem hoje uma situação histórica em que o conteúdo brasileiro


distribuído nos canais vem de todos os cantos do país. Conseguimos
fazer isso acontecer. E eu temo por essas empresas que com certeza
serão as mais atingidas.

Você tem ouvido estas empresas? O que pessoal tem falado?

Muitas produções pararam no meio, outras estão parando, e as


produtoras recebendo muitos pedidos de profissionais que precisam
de trabalho, muitos pequenos produtores com receio de não entregar
as obras, porque faltava uma parte dos recursos e tudo parou… a
palavra é: um sentimento de desespero. Então as empresas maiores
estão enxugando suas estruturas, já se prevenindo do que vem pela
frente. Essa crise começa esse ano, mas ano que vem vai ser bem pior.

Antes de entrar na Ancine, eu fui diretora do sindicato da indústria


audiovisual, que é filiado à Fiesp. Eu fazia muito essa interlocução com
a agência, em nome dos produtores. E lembro que uma das coisas que
a gente mais pleiteava era estabilidade e previsão. De se preservar os
mesmos editais, os mesmos perfis, para que você pudesse estruturar
sua empresa e se planejar. Era o pleito mais relevante na época. E nós
conseguimos! Mudavam-se um pouco as regras dos editais mas você
tinha as linhas que garantiam o planejamento do setor.

Para a gente ter uma ideia, qual é a dimensão desse


problema?

Mais de R$ 700 milhões que a gente deixou de investir este ano. Claro
que ele estão represados ou seja, assim que assumir um comitê gestor
novo, a gente vai ter os chances de aplicar estes recursos adiante. Mas
o fato de você ter um vácuo durante um ano quebra o planejamento de
qualquer empresa. E, com relação aos novos recursos que estão vindo,
os cortes serão maiores. Não virá R$ 700 milhões no ano que vem.
Virá muito menos, a gente já teve sinalização do Ministério da
Economia. É um corte muito grande. Em torno de R$ 450 milhões.

De onde vem esse dinheiro?

Qualquer obra que é veiculada comercialmente, inclusive publicidade,


paga uma taxa de Condecine. Só isso gera em torno de R$ 90 milhões.
E temos também o recolhimento da Condecine das empresas de
telecomunicação, só com ele se arrecada em torno de R$ 1 bilhão.
Após contingenciamento da União, em torno de 70% tem sido
destinado ao setor.

A gente vê muitos segmentos da sociedade falando que é muito


dinheiro para os cineastas, como se esse recurso estivesse deixando de
ser gasto com saúde, educação etc. Mas este dinheiro é uma verba
vinculada. Ele só pode ser destinado para investimento no setor.
É possível fazer cinema sem dinheiro público?

Em quase todo o mundo, o cinema conta com incentivos fiscais.


Inclusive o cinema americano, sobre o qual a gente tem aquela ideia
fantasiosa de que eles fazem tudo com dinheiro privado. Não é
verdade. Nos Estados Unidos os incentivos fiscais são diferentes
daqui. Ali tem um mecanismo em que o valor que você investe em
determinado município ou Estado, você o recebe de volta.

Países europeus, latino-americanos e muitos outros, se valem sim do


recurso público desta indústria, há décadas e décadas. Fazer cinema
sem o recurso público, ele é possível, mas para muitos poucos. Não se
constrói uma cinematografia assim, é preciso exercitar, azeitar o
mercado.

Uma outra fantasia que se tem, comparando-se com o mercado


americano, é que eles sabem fazer grandes bilheterias, e a gente não.
Sabe quantos filmes produzem nos Estados Unidos por ano? 800.
Quantos são blockbusters? Pouquíssimos.

A Argentina, produziu 220, em 2018. França, mais de 300. Qual é o


problema do Brasil ter feito 170 filmes no ano passado? É natural que
poucos conquistem grande bilheteria.

Ainda mais no Brasil onde o mercado é brutalmente competitivo.


Aqui, os filmes estrangeiros ficam com algo em torno de 85% das
receitas de bilheteria. Eu fiz um levantamento das 10 maiores
bilheterias do ano passado, dos top 10. Só um filme brasileiro figurou
entre eles, que foi “Nada a Perder”. Uma obra cara para os nossos
padrões, de R$ 16 milhões, feita com recurso privado. Ela competiu
com 9 obras americanas, que custaram mais de 130 milhões de
dólares, cada uma.
Como competir? Em 2019, por exemplo, nós tivemos o lançamento do
filme “De Pernas para o Ar 3”, um filme de orçamento médio para
nossos padrões, em torno de R$ 8 milhões, que foi retirado de 600
salas do dia para a noite com a chegada dos Vingadores, que ocupou
95% do parque exibidor.

Quando nos cobram que a gente tem que ter market share, que a
gente tem que ser popular, como conseguir nessas circunstâncias?
Cota de tela a gente tinha desde 1932. Porém este foi o primeiro ano
sem cota de tela.

É mesmo?

O governo anterior, no final do ano passado, não renovou a cota de


telas nos cinemas, pela primeira vez na história.

Voltando às fantasias.

Há fantasias de que não sabemos fazer filme, de que fazemos filmes


demais, de que os recursos deveriam ser utilizados para outras ações
prioritárias… outra fantasia que se tem, é de que o cinema só existe
para o entretenimento. Mas o cinema e o audiovisual é importante
também para o registro e a reflexão de nossos tempos. O cinema é
importante também para pequenos nichos, pequenos públicos.

E não há de falar só em cinema, o setor produz também muitas obras


para veiculação nos canais de TV. Ano passado, foram mais de 2000
obras de programação independente na TV.

Dá para dizer que o desmonte começou no governo passado?

Eu não vou usar o termo desmonte. A fragilidade do setor se iniciou no


governo passado. A gente teve muita troca de ministros, de secretários
do audiovisual, de diretores da agência, isso por si só já fragiliza a
continuidade de políticas públicas. Também no governo anterior nós
tivemos dificuldade de levar adiante o debate sobre a regulação do
VOD (video on demand; streaming).

Tivemos inclusive no final do ano, quando encerrou o mandato dos


membros do Conselho Superior do Cinema, a indicação feita pelo
governo anterior para a nova composição. Ela tinha muitos
representantes de empresas estrangeiras globais, que teriam assento,
voz e voto para definirem as políticas nacionais.

Que haja debate com os grandes players estrangeiros, isso é natural.


Mas que tenham assento em conselhos que definem as diretrizes da
política do nosso país, é de se estranhar.

Nesse ínterim, o mercado nacional fez muitos apelos para que fosse
alterada essa composição.

E conseguiu?

Está conseguindo. Este governo, atendendo ao apelo e vendo isso, se


propôs a revisitar essa composição. Os novos nomes indicados pelo
governo anterior não foram aprovados por este governo.

Sobre essa questão de regulação do VOD no Brasil, como


estamos?

Hoje o consumo está migrando para as plataformas, então a tendência


em poucos anos é que a programação linear também vá para o
streaming. Portanto a regulação desse mercado se faz urgente. Por
enquanto não existe.

Como não? A Netflix já está no Brasil há vários anos. Em


outros países existe essa regulamentação?
Claro, por exemplo a Comunidade Europeia já está na segunda onda
regulatória. O principal ponto é a garantia de conteúdo nacional nas
plataformas. E uma contribuição para o desenvolvimento da indústria
local.

Qual o tamanho da cota por lá?

Não sei dizer exatamente agora, é bem variado. Mas por exemplo aqui,
temos uma lei que estabelece uma cota de 2,8% de produção brasileira
na TV por assinatura dos canais a cabo. Sabe de quanto é a cota de
conteúdo local na Comunidade Europeia? 50%. Nos Estados Unidos,
durante cinco décadas, a cota era de 100%. Os canais só podiam
produzir conteúdo jornalístico e cobertura de eventos como esporte.

Existe alguma semelhança entre Lei Rouanet e do


Audiviosual?

A Rouanet não tem prazo para expirar. Já a audiovisual, que é similar,


expira neste final de ano. É uma preocupação gigante, pois ela foi “o”
pilar da retomada do cinema nacional, em 93, depois que o Collor
acabou com tudo.

Que acha que vai acontecer?

Acho que nós vamos conseguir superar essa crise, conseguir


demonstrar a importância social e econômica da atividade, e vamos
conseguir fortalecer a agência. Acho que vamos passar por um período
de muita dificuldade ainda, mas com grande capacidade de
recuperação a médio prazo.

É ideológico isso tudo? Bolsonaro falou em Bruna


Surfistinha…

Bem, este filme foi realizado com incentivos fiscais dos canais de TV e
são eles quem definem o conteúdo a ser realizado. Quanto ao tipo de
conteúdo, é para isso que existe classificação indicativa. Não é
ponderável haver cerceamento ao uso desses recursos.

Esse debate com certeza será levado ao Conselho Superior de Cinema,


porque censura não pode existir. Como o governo pretende restringir
alguns temas, como isso poderá ser possível, não sabemos.

E o patrocínio das estatais?

Sobre o patrocínio das estatais, o governo tomou a decisão de rever


todos os investimentos. Projetos tradicionais que constam no
calendário nacional como por exemplo a Mostra Internacional de
Cinema, que já tem mais de 40 anos, ou o Festival Internacional de
Cinema do Rio de Janeiro, sempre contaram com a parceria das
estatais, porque são eventos de grande visibilidade e impacto cultural e
econômico para o país.

Ao se rever essa política das estatais, de uma hora para outra, trouxe
um impacto muito grande na atividade. Os festivais são uma
importante vitrine para curadores de todo mundo, geram um volume
enorme de negócios. A Mostra vai conseguir fazer de forma reduzida, e
o Festival do Rio, também.

Parece um pesadelo.

Eu que sou da produção, sou muito sensível aos pequenos, eu fui


pequena, tive uma produtora, que levou muitos anos para crescer. Fiz
curtas e médias metragens, a gente sabe a dificuldade que é você
alavancar uma empresa. Então me parte o coração as produtoras
ligando para mim como diretora da agência, pedindo ‘pelo amor de
Deus, não para, a gente vai quebrar, a gente tá despedindo’. É de
chorar… e eu já chorei várias vezes. São famílias inteiras que
dependem da continuidade do setor.

Levamos anos para profissionalizar o mercado, para criar mão de obra


especializada, gerar o interesse dos jovens e das universidades nessa
atividade, despertar o interesse internacional na nossa produção. Tudo
isso está sendo abalado com a descontinuidade das políticas públicas
neste momento.

Acredito firmemente que o novo governo se sensibilizará com a


situação dos empresários nacionais que estão enfrentando essa crise
com o volume de desemprego e o impacto na geração de renda. E irá
rapidamente constituir o Conselho Superior de Cinema e indicar novos
diretores para que a Ancine possa restabelecer sua normalidade.

Por outro lado, muitos problemas de gestão interna da


Ancine vieram à tona com essa crise. Por exemplo, a
proposta de analisar prestação de contas por amostragem.

O que dá pra dizer a esse respeito é que a Ancine foi constituída em


2001, passou a operar em 2002 sem um computador, sem uma mesa,
sem uma sala, sem um endereço. E já recebendo um passivo de
prestação de contas do Ministério da Cultura. O número de servidores
que foi aprovado por lei só foi completado em 2014 – 364
funcionários, para dar conta da missão para a qual a agência foi
constituída.

Em 2011, com a aprovação da lei das cotas nos canais que ao mesmo
tempo ampliou o alcance do fundo setorial de uma forma histórica,
isso fez com que as responsabilidades da agência triplicassem.

Porque com a lei veio também a obrigação de monitorar todos os


canais pelo cumprimento das cotas. Então o volume de
responsabilidades e o volume de projetos a serem fomentados, cresceu
significativamente. E a agência não tinha estrutura suficiente naquele
momento para dar conta dessa nova responsabilidade.

Naquele momento se desenhou uma proposta de análise de prestação


de contas por amostragem, como é feito em outras instituições. Para
isso se valeu de um decreto assinado pela Presidência da República, e
a proposta foi desenvolvida conjuntamente com a Controladoria Geral
da União. Em 2018 o TCU questionou esta metodologia. Iniciamos um
novo debate sobre a capacidade operacional da agência.
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