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Inconsciente Coletivo
Vozes de nosso tempo
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Sempre achei que naquela foto que postou no seu insta, a do Chanel
com tornozeleira, e as rachaduras no pé, meu Deus, que imagem
icônica, que nela haveria de ter uma resposta, uma narrativa, sobre o
que foi a Lava Jato, sobre os valores e sobre um jeito de pensar, que
bem ou mal, estariam enraizados no inconsciente coletivo do
brasileiro.
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Ah, os “loucos anos”. Trabalhando duro, 16 horas por dia, para passar
o feriado em Paris, sem levar mala, e voltando com o limite de
bagagem estourado de Chanel, Louis Vuitton, Gucci e outras grifes do
tipo crème de la crème. Hotéis, refeições, mimos… como comentou,
“consegui ter tudo que o dinheiro consegue comprar”.
Nelma insiste que seu crime foi fiscal, e não exatamente de corrupção
com dinheiro público, embora tenha assumido 91 operações de câmbio
contratadas por Youssef. Muitos artigos já foram escritos a esse
respeito. E, para dizer a verdade, indo um pouco além da discussão
sobre o estatuto jurídico e político de sua atividade, já tão explorado
na mídia, decidi focar esta reportagem em um aspecto que consta da
sentença do então juiz Sérgio Moro, que a condenou a quase 15 anos
de prisão – a atribuição de um perfil de “personalidade criminosa” a
Nelma.
Não há dúvidas de que todo este período lhe deixou sequelas, inclusive
no âmbito das relações sociais e familiares. Nelma diz que “tudo que
eu tinha para sofrer, eu sofri”, e que ao mesmo tempo, nunca foi tão
feliz como no presente momento.
Nelma já me comentou que tem roupa para usar até o fim da vida.
Muitas delas nunca usou. Estão todas em um notável bom estado de
conservação. Recentemente, divulgou que fará um bazar, para
arrecadar algum dinheiro que lhe ajudasse a pagar as contas.
Essa foto foi tirada em 2016. Estava nos arquivos da Veja. Postei ela
em junho deste ano, porque eu e minhas amigas decidimos fazer um
bazar. Tentei provocar minhas amigas postando essa foto, e virou hit.
Com a maioria das pessoas criticando, “onde já se viu uma pessoa que
está presa, usando Chanel?”.
Concordo com isso. Mas eu era como uma taxista, apenas comprava
dólar que eu não sabia de onde vinha, e revendia.
Não, aliás não me arrependo de nada que fiz na vida. Não apagaria
nada da minha experiência. Tenho cicatrizes que nunca vão se fechar,
mas isso é algo que tenho que aprender a conviver e administrar.
Depende de quem olha. Você teve esse sentimento. Mas teve uma
outra pessoa, que por causa dessa foto me procurou, e hoje estou me
relacionando com ela. Ele olhou para essa foto e pensou, “puxa vida
essa é uma mulher de coragem, para colocar uma foto dessa em uma
situação dessa, então eu vou conhecer essa mulher”.
Isso, que estava rachado e cascudo, mas eles não sabem que durante
esse tempo, onde eu estava, não tinha manicure nem pedicure. Fazia
apenas dois ou três dias que eu tinha saído da prisão, quando esta foto
foi feita.
Perde reconhecimento.
Perde. Perde o respeito por si própria. Como se aquilo fosse uma lepra.
Isso aí já é uma grande punição. A pessoa nunca vai se recuperar. Ela
precisa ser muito forte, ter coragem, pra vida ser um pouco mais
normal.
Tudo isso foi conduzido, está aí, para quem quiser ver. Fui julgada por
ter uma mente criminosa, uma personalidade criminosa. Mas o que
me diz de um ex-procurador que vai matar o outro, isso não é produto
de uma mente criminosa? E por que ele não será julgado?
Eu não sei. Dinheiro não tem origem. Eu era uma intermediária. Uma
coisa é o fiscal, a outra é a origem do dinheiro. Eu era a agência que
intermediava, eu ganhava o spread entre isso aí. Não sou uma
instituição financeira.
E o Alberto Youssef?
Muito difícil corrigir isso. Não sei responder. Uma coisa que deveria
ser feita é uma revisão fiscal, pois a carga de imposto é altíssima, uma
das maiores do mundo. Fora isso você paga IPTU, IPVA, seguro
obrigatório, tudo que você compra tem ICMS. Você paga por aquilo
que não recebe. As ruas têm buraco. Não tem saúde, segurança,
escolas. Você tem alegria de pagar isso? Voce não tem. Na Europa
sim, você tem a alegria do seu filho estudar em escola pública, porque
são instituições capacitadas.
Depende pra quem faz e pra quem recebe. No meu caso, não foi. Saí
sem nada. E outra coisa, o delator deve ter protegida sua identidade. E
não foi nosso caso. Todos dias estávamos expostos nos jornais, em
livros ou no cinema.
Tinha tortura?
Não pode. Está na Carta Magna, tem que ter transitado em julgado.
É um direito, não fui que escrevi a Carta Magna. Uma coisa é uma
coisa, outra coisa é outra coisa. Estou falando de um direito que está
na Constituição. Vamos ver o outro lado de uma pessoa que é
inocente? Ela tem que esperar até a última instância?
Por que?
Como se isso não bastasse, depois veio à tona essa troca de mensagens.
Você imagina divulgar meu advogado trocando mensagem com o
Moro, como ia ser repercutido?
Existem pessoas sérias, sim. Mas outras que deveriam ser investigadas
profundamente. Diante de um país tão grande e com tantos
problemas, só uma minoria é que é séria e comprometida.
Acho que ele é muito radical, fala algumas coisas que um presidente
não deveria falar.
Em ninguém. Porque meu candidato não estava lá. Tomara que ele
ressurja.
Lula?
Acho que uma pessoa sair de onde ele saiu, vinda de família humilde e
sem estudo, chegar onde chegou, tem um grande valor. Em sua época
como governante, as pessoas estavam mais felizes, havia mais
empregos. Havia mais oportunidade, especialmente para a classe mais
pobre.
Se considerar que ele está preso por conta de segunda instância e sem
prova alguma, sim, acho que é injusto sim.
E o Marcelo?
E o Dirceu?
Dirceu era bem diferente. Ele tinha uma particularidade. Foi um cara
que teve muito poder. Falava que era ele quem tinha criado o Lula e a
Dilma. Lembro quando teve a votação do impeachment – a gente
assistindo na TV, ele ficou enlouquecido, dizendo que tínhamos que
pegar nas armas e ir para ruas.
Tenho uma vida normal, acordo, tomo meu café, tenho tempo pra
mim mesma, vou ao shopping, faço meu trabalho de consultoria,
tenho minhas amigas e tempo pra desfrutar minha liberdade.
Consultoria do que?
E o livro?
O livro eu comecei a escrever na carceragem, desde o primeiro dia. Era
como se eu estivesse conversando comigo mesma. Tínhamos direito a
5 folhas de sulfite por dia. Imaginei que quando saísse pudesse um dia
publicar. Contar um pouco de mim para que as pessoas pudessem
conhecer esse outro lado, não aquele lado que julgam saber o que sou,
o que eu fiz. O livro tem um mix de tudo, narra minha infância, época
de faculdade quando cheguei em São Paulo, algumas coisas da minha
profissão, da minha vida, e algumas partes do diário que escrevi na
prisão.
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“Há fantasias de que não sabemos fazer filme, de que fazemos filmes
demais, de que os recursos deveriam ser utilizados para outras ações
prioritárias… outra fantasia que se tem, é de que o cinema só existe
para o entretenimento. Sabe quantos filmes produzem nos Estados
Unidos por ano? 800. Quantos são blockbusters? Pouquíssimos. A
Argentina, produziu 220, em 2018. França, mais de 300. Qual é o
problema do Brasil ter feito 170 filmes no ano passado? É natural que
poucos conquistem grande bilheteria”.
Por enquanto não. A gente tem a notícia de que tem um nome na Casa
Civil, aguardando aprovação. Um bom nome, Paula Alves, diplomata
de carreira e responsável pelas ações de cultura no Itamaraty. Este é
um nome que eu espero que esteja chegando. Outros nomes a gente
não tem.
O que está acontecendo hoje é que por não ter conselho e por não ter
ainda comitê gestor, estes recursos estão represados, e a gente tem
visto muitas empresas quebrarem, está havendo desemprego no
mercado. O impacto é muito grande e nós estamos sentindo apenas o
começo dele. Porque ele vem a médio prazo. Muitas empresas ainda
sobrevivem com recursos captados anteriormente, mas estão se
fragilizando, daqui a pouco não terão recursos para continuar.
Mais de R$ 700 milhões que a gente deixou de investir este ano. Claro
que ele estão represados ou seja, assim que assumir um comitê gestor
novo, a gente vai ter os chances de aplicar estes recursos adiante. Mas
o fato de você ter um vácuo durante um ano quebra o planejamento de
qualquer empresa. E, com relação aos novos recursos que estão vindo,
os cortes serão maiores. Não virá R$ 700 milhões no ano que vem.
Virá muito menos, a gente já teve sinalização do Ministério da
Economia. É um corte muito grande. Em torno de R$ 450 milhões.
Quando nos cobram que a gente tem que ter market share, que a
gente tem que ser popular, como conseguir nessas circunstâncias?
Cota de tela a gente tinha desde 1932. Porém este foi o primeiro ano
sem cota de tela.
É mesmo?
Voltando às fantasias.
Nesse ínterim, o mercado nacional fez muitos apelos para que fosse
alterada essa composição.
E conseguiu?
Não sei dizer exatamente agora, é bem variado. Mas por exemplo aqui,
temos uma lei que estabelece uma cota de 2,8% de produção brasileira
na TV por assinatura dos canais a cabo. Sabe de quanto é a cota de
conteúdo local na Comunidade Europeia? 50%. Nos Estados Unidos,
durante cinco décadas, a cota era de 100%. Os canais só podiam
produzir conteúdo jornalístico e cobertura de eventos como esporte.
Bem, este filme foi realizado com incentivos fiscais dos canais de TV e
são eles quem definem o conteúdo a ser realizado. Quanto ao tipo de
conteúdo, é para isso que existe classificação indicativa. Não é
ponderável haver cerceamento ao uso desses recursos.
Ao se rever essa política das estatais, de uma hora para outra, trouxe
um impacto muito grande na atividade. Os festivais são uma
importante vitrine para curadores de todo mundo, geram um volume
enorme de negócios. A Mostra vai conseguir fazer de forma reduzida, e
o Festival do Rio, também.
Parece um pesadelo.
Em 2011, com a aprovação da lei das cotas nos canais que ao mesmo
tempo ampliou o alcance do fundo setorial de uma forma histórica,
isso fez com que as responsabilidades da agência triplicassem.
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