Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Tensões e Divergências
A RENASCENÇA PORTUGUESA
Tensões e Divergências
Coordenação
Paulo Borges
Bruno Béu de Carvalho
FICHA TÉCNICA
COLECÇÃO: ACTA 23
EDITOR: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa – 2014
Este livro ou partes dele não poderão ser reproduzidos sob qualquer forma, mesmo electrónica, sem
explícita autorização do Editor.
CAPA: Arranjo gráfico de fotografias de Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, António Sérgio,
Fernando Pessoa, José Marinho, Raul Leal, Raul Proença, Sant'Anna Dionísio e Delfim Santos.
APOIO:
Paulo Borges
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA”.
TEIXEIRA DE PASCOAES E FERNANDO PESSOA ......................................... 11
Pinharanda Gomes
A LEITURA DE “O CRIACIONISMO” POR QUATRO DISCÍPULOS DE
LEONARDO COIMBRA ................................................................................. 75
João Príncipe
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO DURANTE A
PRIMEIRA REPÚBLICA ............................................................................... 127
8 ÍNDICE
Samuel Dimas
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O
TEÍSMO DA RAZÃO MISTÉRICA À LUZ DA METAFÍSICA CRIACIONISTA
DE LEONARDO COIMBRA .......................................................................... 165
Duarte Braga
O «INQUÉRITO LITERÁRIO» DE 1912: TERMÓMETRO DAS TENSÕES
NA RENASCENÇA PORTUGUESA ............................................................... 197
Daniel Duarte
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE: DOIS
OU TRÊS TIPOS DE VERDADES, DE LITERATURAS E DE PERÍODOS
CIVILIZACIONAIS ....................................................................................... 207
APRESENTAÇÃO
Paulo Borges
Bruno Béu de Carvalho
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA”.
TEIXEIRA DE PASCOAES E FERNANDO PESSOA
Paulo Borges
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Senhora da Noite / Marânus, Obras Completas, III, introdução e aparato crítico por
Jacinto do Prado Coelho, Amadora, Livraria Bertrand, s. d., 2ª edição, p. 31.
10 Como no poema em que, uma vez extinta a “Vida”, quando todas as suas formas
“se fundirem na dorida, / Eterna Essência que animara o mundo”, se anuncia que
ela ressurgirá, simbolizada em Pã, num “novo Génesis glorioso” – Id., “A Sombra de
Pã”, in Ibid., p. 81.
16 PAULO BORGES
17 Marco AURÉLIO, Pensées, VII, 25, in Les Stoïciens, textos traduzidos por Émile
Bréhier, editados sob a direcção de Pierre Maxime Schuhl, Paris, Gallimard, 1987,
p.1193.
18 Ibid., IV, 40, p.1166.
19 Ibid., VI, 38, p.1185.
20 Cf. Paulo BORGES, “O que há nesta simples folha de papel?”, CAIS, nº180
21 The Gospel of Philip, in The Nag Hammadi Library, edição de James M. Robinson,
traduzida e introduzida por membros do The Coptic Gnostic Library Project of the
Institute for Antiquity and Christianity, Nova Iorque, HarperSanFrancisco, 1994, 3ª
edição revista, pp.144-149.
22 The Gospel of Thomas, 51, in Ibid., p.132.
23 Ibid., 5, p.126.
24 Robert BURTON, Anatomy of Melancholy, 1628.
25 Cf. Arthur SCHOPENHAUER, Le Monde comme Volonté et comme Représentation,
tradução francesa de A. Burdeau, nova edição revista e corrigida por Richard Roos,
Paris, PUF, 1989, 12ª edição, pp.1251-1252.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 19
Inspiratrice. Réception de l’Inde en France et Allemagne (XIXe et XXe siècles), estudos reunidos
por Michel Hulin e Christine Maillard, prefácio de Gérard Fussman, Presses
Universitaites de Strasbourg, 1996, pp.129-143.
29 José MARINHO, Verdade, Condição e Destino no Pensamento Português Contemporâneo,
32 “Every effect remains in its cause, proceeds from it, and reverts upon it” –
PROCLUS, The Elements of Theology, prop. 35, texto revisto com tradução,
introdução e comentário por E. R. Dodds, Oxford, Clarendon Press, 1992, p.39.
33 Cf. Teixeira de PASCOAES, Arte de Ser Português, Lisboa, Edições Roger Delraux,
1978, p.130.
34 Cf. Id., “Da Saudade” [1952], in A Saudade e o Saudosismo (dispersos e opúsculos),
pp.233-234.
35 Cf. Id., Os Poetas Lusíadas [1919], Lisboa, Assírio & Alvim, 1987, p.177. Cf. tb. Ibid.,
pp.169 e 176.
36 “Acabamos de estudar as formas que a Saudade adquiriu desde Virgílio a Frei
37 Cf. Id., O génio português na sua expressão filosófica, poética e religiosa, in A Saudade e o
Saudosismo (dispersos e opúsculos) [1913], p.77.
38 Cf. Ibid., pp.77-78; cf. também Arte de Ser Português, p.130.
39 Cf. Id., Marânus, in As Sombras / Senhora da Noite / Marânus, Obras Completas, III,
pp.218-219.
40 Cf. Ibid., p.303.
41 Cf. Id., “Ao Povo Português. A «Renascença Lusitana»” [1911], in A Saudade e o
Saudosismo, p.32.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 23
Ibid., p.172.
46 Cf. Id., “Renascença”, in Ibid., p.35.
24 PAULO BORGES
72 Cf. Id., Sobre Portugal. Introdução ao Problema Nacional, recolha de textos de Maria
Isabel Rocheta e Maria Paula Morão, introdução e organização de Joel Serrão,
Lisboa, Ática, 1979, p.126.
73 Ibid., p.230.
74 Sobre o “transcendentalismo panteísta” vejam-se as múltiplas referências nos
ensaios de 1912 do jovem Pessoa sobre a “nova Poesia Portuguesa” como germe de
uma nova religião e de uma nova civilização – cf. Id., Obras, II, pp.1145-1203.
Cf. Paulo BORGES, Uma Visão Armilar do Mundo. A vocação universal de Portugal em Luís
de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva,
pp. 89-97.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 31
Fernando Pessoa – O último ano, Lisboa, Biblioteca Nacional de Lisboa, 1985 [E3, 17-51,
peça n.º 18 «Anagrama [de] Mensagem»], p. 34. Tem a seguinte descriptagem a
fonte do título Mensagem: «MENS AG|ITAT MOL|EM, primeiro segmento do
v. 727 do Canto VI da Eneida de Virgílio: “mens agitat molem et magno se corpora
miscet”»]. Cf. José Augusto SEABRA e Maria Aliete GALHOZ, “Nota Filológica
Preliminar”, em Fernando PESSOA, Mensagem/Poemas Esotéricos, edição crítica
coordenada por José Augusto Seabra, Madrid, Archivos/Fundação Eng. A. Almeida,
1997, pp. XLI-XLIII.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 33
80 Cf. Miguel REAL, A Morte de Portugal, Porto, Campo das Letras, 2007, e ainda a
“Apresentação” de Id., Nova Teoria do Mal, Alfragide, Publicações Dom Quixote,
2011, pp.11-24.
81 Cf. Fernando PESSOA, Obras, II, p.1154.
82 Sobre os vários sentidos do Quinto Império, cf. Id., Sebastianismo e Quinto Império,
pp.204-207.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 35
todo o outro. É isso que, não como uma missão ou destino externa-
mente conferidos, mas como uma virtualidade interna, os dota da
capacidade plástica de ser tudo: “O povo português é essencialmente
cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi
sempre tudo”100. Daí a definição de “arte portuguesa” como “uma
arte de Portugal que nada tenha de português, por nem sequer imitar
o estrangeiro”, como “aquela em que a Europa – entendendo por
Europa principalmente a Grécia antiga e o universo inteiro – se mire e
se reconheça sem se lembrar do espelho”. Na problemática e já refe-
rida tendência para por vezes nacionalizar o universalismo, ao
considerar que “só duas nações – a Grécia passada e Portugal futuro –
receberam dos deuses a concessão de serem não só elas mas também
todas as outras”, Pessoa considera também que “ser português no
sentido decente da palavra é ser europeu sem a má-criação da nacio-
nalidade” (note-se que “Europa” significa aqui “universo inteiro”).
Nesta perspectiva, “o nacionalismo é antiportuguês”101 e a desnacio-
nalização, que é para “os outros povos” – completamente “eles-pró-
prios”, ou seja, totalmente confinados numa dada identidade – um
“perder-se”, é “para nós, que não somos nacionais, […] o encontrar-
-se”. Nesse sentido, interrogado sobre se estaríamos “em face de uma
renascença espiritual”, Pessoa responde que “estamos tão desnacio-
nalizados que devemos estar renascendo” e que “extraviámo-nos a tal
ponto que devemos estar no bom caminho”102.
O culminar desta visão expressa-se na pergunta e resposta finais,
que agora destacamos:
100 Cf. entrevista dada a António Alves Martins, Revista Portuguesa, nºs 23/24 (Lisboa,
13.10.1923), in Ibid., p.700.
101 Cf. Ibid., p.702.
102 Cf. Ibid., p.701.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 39
105 Cf. Id., “Índias espirituais e Ilusão em Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa ou
de Portugal como centro do descentramento e re-Orientação do Velho Mundo
europeu-ocidental”, Uma Visão Armilar do Mundo. A vocação universal de Portugal em Luís
de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva,
pp.59-87; Id., “«Deus existe, com efeito, para si próprio; mas Deus está enganado»:
a Ilusão de Deus em Fernando Pessoa”, O Jogo do Mundo. Ensaios sobre Teixeira de
Pascoaes e Fernando Pessoa, Lisboa, Portugália Editora, 2008, pp.91-134.
106 Cf. Id., Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, Lisboa,
Âncora Editora, 2006; Uma Visão Armilar do Mundo. A vocação universal de Portugal em
Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva;
Romana Valente PINHO, Religião e Metafísica no Pensar de Agostinho da Silva, Lisboa,
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2006.
107 Cf. Fernando PESSOA, Obras, II, p.1154.
108 Ibid., Obras, III, pp.682-683.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 41
113 Como diz Agostinho da Silva: “[…] o que eu quero, e quero porque o penso
possível, é uma terra povoada de indivíduos livres que livremente se agrupam,
jamais procurando no grupo o auxílio de que precisam, mas a oportunidade de
chegarem com seu contributo criador, e possam ser tudo para os outros sem que
nada percam de si próprios. ¶ Para que nos entendamos, é a isto que eu chamo o
Quinto Império, depois dos outros que apontou Pessoa, o da Grécia, que deu a
Ideia, o de Roma, que deu a Ordem, o da Cristandade, que deu o Amor, o da
Europa, que deu o Poder”, Agostinho da SILVA, “Barca d’Alva. Educação do
Quinto Império”, Dispersos, p.483.
114 Cf. Fernando PESSOA, “O dos Castellos”, Mensagem, p.15.
115 Cf. Roger-Pol DROIT, O que é o Ocidente?, tradução de Inês Dias, Lisboa, Gradiva,
politique [1989], Christian Bourgois Éditeur, 2000; Serge LATOUCHE, L’Âge des
Limites, Paris, Mille et Une Nuits, 2012.
44 PAULO BORGES
117 “Durante muito tempo um ato de fé, a crença num progresso material e moral
destinado a nunca ser interrompido, sofreu assim a sua crise mais grave. A
civilização de tipo ocidental perdeu o modelo que se apresentara a si mesma e já não
ousa oferecer esse modelo às outras. Não convirá assim olhar noutra direção, alargar
os quadros tradicionais, onde se fechavam as nossas reflexões sobre a condição
humana? Não deveríamos integrar aí experiências sociais mais variadas e mais
distintas das nossas, do que aquelas em cujos estreitos horizontes nos confinámos
durante tanto tempo? A partir do momento em que a civilização de tipo ocidental já
não encontra na sua própria base com o que se regenerar e encetar um novo
objetivo, poderá aprender alguma coisa sobre o homem em geral, e sobre ela
própria em particular, nestas sociedades humildes e longamente desprezadas que,
até uma época relativamente recente, tinham escapado à sua influência?” – Claude
LÉVI-STRAUSS, A antropologia face aos problemas do mundo moderno, prólogo de
Maurice Olender, s. l., Temas e Debates / Círculo de Leitores, 2012, pp.19-20.
118 Cf. Paulo BORGES, Uma Visão Armilar do Mundo. A vocação universal de Portugal em
Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva;
“A cultura entre ilusão e des-ilusão – para um nomadismo inter e trans-cultural”,
Cultura ENTRE Culturas, nº1 (Lisboa, 2010), pp.9-16.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 45
119 Agostinho da SILVA, Reflexão à margem da literatura portuguesa [1957], Ensaios sobre
Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira, I, Lisboa, Âncora Editora, 2000, p.65.
120 É o que defendemos na nossa interpretação sistemática e poema a poema da
123 Cf., sem pretensões exaustivas, David BOHM, Wholeness and the Implicate Order
[1980], Londres/Nova Iorque, Routledge Classics, 2002; Fritjof CAPRA, The
Turning Point. Science, Society, and the Rising Culture [1982], Bantam, 1984; The Hidden
Connections. Integrating the biological, cognitive and social dimensions of life into a science of
sustainability, Doubleday, 2002; Ken WILBER, Uma Breve História de Tudo [1996],
Porto, Via Óptima, 2004, 2ª edição; Uma Teoria de Tudo [2001], Estrela Polar, 2005;
Satish KUMAR, Spiritual Compass. The three qualities of life [2007], Foxhole, Green
Books, 2011.
124 Cf. Paulo BORGES, “Por um novo paradigma mental, ético e civilizacional”, AO
– Boletim da Ordem dos Advogados, nºs 79-80 (Lisboa, Junho/Julho de 2011), p.64;
“Colocar-se no lugar do outro”, CAIS, nº170 (Lisboa, Fevereiro de 2012); “Quem é
o meu próximo”, CAIS, nº171 (Lisboa, Março de 2012);
“Quem é o meu próximo? Senciência, empatia e ilimitação”, Philosophica, nº40
(Lisboa, 2012), pp.25-40; “A meditação entre Ocidente e Oriente ou a atual e
urgente redescoberta de um antigo paradigma”, Humanística e Teologia, Tomo
XXXIII, Fasc. 2 (Porto, Dezembro de 2012), Cristianismo e Cultura. Homenagem a
Arnaldo de Pinho, pp.617-634; Quem é o meu próximo? Ensaios e textos de intervenção por uma
consciência e uma ética globais e um novo paradigma cultural e civilizacional, Lisboa, Edições
Mahatma, 2014.
A IDEIA DE RENASCENÇA NA “RENASCENÇA PORTUGUESA” 47
Valete, Fratres
Dezembro de 2012
TEIXEIRA DE PASCOAES: RENASCENÇA PORTUGUESA
E RENASCENÇA UNIVERSAL
Cabe porém dizer que é nos textos desta polémica que melhor
podemos encontrar a expressão prática do que Pascoaes desejava para
o país no quadro da renovação institucional republicana e que nesse
sentido as quatro peças que ele aí publica são essenciais para melhor
esclarecer o que ele pretendeu adiantar nas três conferências públicas
que fez nessa época e sobretudo no manual de instrução cívica de
1915.
Ao mesmo tempo que tinha lugar este transvanse, levando o
autor a transitar da poesia para filosofia, ou do verso para a prosa, a
crítica literária da época, pela mão de Leonardo Coimbra (1883-
-1936), retirava da revolução poética de 1906-07 uma nova termi-
nologia crítica, cuja intertextualidade é reconhecível no trabalho
anterior de Oliveira Martins sobre a poesia de Antero de Quental e
Guerra Junqueiro, que foi depois a nomenclatura que Fernando
Pessoa desenvolveu e fez frutificar nos textos que deu à estampa em
1912 na revista A Águia sobre a nova poesia portuguesa.
O saudosismo surge, na teorização dada a lume entre 1912 e
1919, como uma corrente de ideias enquadrada na esquerda da
época, defendendo a separação do clero português de Roma, que a
República não se atreveu assumir, a reorganização política do país a
partir dum municipalismo de matriz federalista proudhoniana, que a
República também teve dificuldade em tomar para si, e o incentivo à
educação cívica e ilustração popular, num tópico comum ao republi-
canismo e ao próprio António Sérgio, e que foi a primeira razão de ser
da acção da Renascença Portuguesa. A associação, além da admirável
obra editorial que deixou, promoveu 4 universidades populares, todas
a funcionar no Norte do país (Coimbra, Porto, Póvoa de Varzim e
Vila Real). Não espanta pois que Cristiano de Carvalho, que de resto
desenhou a capa da primeira série da revista A Águia (1910-1911),
tenha feito um curso sobre a Comuna de Paris de 1871 na Univer-
sidade Popular do Porto no ano de 1913.
O saudosismo singularizava-se porém na esquerda republicana
da época pela recusa em imitar modelos culturais estrangeiros, como
sugerira a geração de 70 e como continuavam a defender António
Sérgio e Raul Proença – isto sem negar a ideia de abertura da cultura
portuguesa ao universal. Teixeira de Pascoaes via na cópia um sinal de
inferioridade cultural e de menoridade mental, se não de colonização
TEIXEIRA DE PASCOAES: RENASCENÇA PORTUGUESA E RENASCENÇA UNIVERSAL 65
J. Pinharanda Gomes
3 Cf. Jorge Croce Rivera, Prefácio ao Vol. IV das Obras de José Marinho, INCM,
1997, p. 19.
4 Seguimos a ordem cronológica conforme as datas dos escritos dos quatro
escolhidos. Para referência geral, Cf. P. Gomes, A Escola Portuense, Porto, Caixotim,
2005; Actas do Congresso Int. Delfim Santos e a Escola do Porto, Lx.ª, INCM, 2008.
5 Cf. O Primeiro de Janeiro, Ano 68, n.º 4, Porto, 5.1.1936, pp. 1 e 3.
78 J. PINHARANDA GOMES
Porto, Imp. Portuguesa, 1936; L. Coimbra Filho, Considerações sobre o Livro do Dr.
S. Dionísio, Porto, Liv. Tavares Martins, 1936; L.C. Testemunhos dos seus Contemporâneos,
Porto, id., 1950.
8 Porto, Ed. do Autor, 1936, 2.ª ed., Porto, Lello & Irmão, 1983.
9 Contribuição, cit., p. 60.
10 Id., ib., p. 61.
A LEITURA DE “O CRIACIONISMO” POR QUATRO DISCÍPULOS DE LEONARDO COIMBRA 79
chamada conversão.
19 A. Sérgio, Sobre uma Opinião de Raúl Proença, O Diabo, n.º 112, Lx.ª, 16.8.1936.
A LEITURA DE “O CRIACIONISMO” POR QUATRO DISCÍPULOS DE LEONARDO COIMBRA 81
25 Id., id., p. 12, citando O Criacionismo, pp. 212-213, nova ed. pp. 264-265.
26 Id., id., p. 13. Cf. L. Coimbra, Dispersos, Vol. IV, Ed. Verbo, pp. 248-249.
27 S. Dionísio, O Sentido do Uno e do Múltiplo no Pensamento Teodiceico de L. Coimbra (1959),
AA. VV., A Reacção contra o Positivismo e o Movimento da Renascença Portuguesa, Zéfiro Ed.,
84 J. PINHARANDA GOMES
2008, pp. 139-154; Id., Álvaro Ribeiro (1905-1981): A Filosofia como Arte, Nova
Águia, n.º 8, 2011, pp. 117-125.
31 Á. Ribeiro, A Arte de Filosofar, Lx.ª, Portugália, 1955, p. 13.
32 Lx.ª, Ed. Império, 1945.
33 Á. Ribeiro, ob. cit., p. 17.
A LEITURA DE “O CRIACIONISMO” POR QUATRO DISCÍPULOS DE LEONARDO COIMBRA 85
recado para Sant’Anna e alguns outros antigos alunos, que viram com
maus olhos a metanóia leonardina34.
Neste ensaio, o primeiro livro de Leonardo é descrito de modo
brevíssimo, pois o tema excedia-o. Álvaro apresenta a tese como algo
que não procedia de “livre arbitrio”, e se opunha ao materialismo e ao
formalismo, e confiava na “espiritualização crescente da sociedade
humana, e postulava um optimismo trancendente, como garantia da
acção moral”35. Aponta o estilo sintético e os sinais que indicam que à
filosofia portuguesa melhor correspondia a “espontaneidade poética”.
É n’Os Positivistas que Álvaro Ribeiro procede à mais específica
recensão de O Criacionismo depois de um considerável excurso sobre as
relações criticas entre Positivismo e Catolicismo, outro acerca dos
anti-positivistas de natureza espiritualista (v.g. Cunha Seixas) e, por
fim, analisando os casos de Bruno e de Leonardo, de forma qua a
critica do Positivismo por este, constitui o miolo das laudas que Álvaro
lhe dedica.
Recorda que, tendo sido “doutrinador anarquista”, tinha de ser
adversário do Positivismo. Leonardo fora mais acrático do que anar-
quista e recusava, com outros, a sociocracia, admitindo a intervenção
do direito divino na condução dos povos36. A algum pessimismo na
ordem política, Leonardo apõe o optimismo na ordem religiosa. A
influência de Bruno na formulação do anti-positivismo leonardino está
fora de dúvida, mas Álvaro entende que a Evolução Criatriz de Bergson
deveio o farol para esse anti-Positivismo.
Proclamada a República, transformado o Curso Superior de
Letras de Lisboa em Faculdade de Letras, e não em Faculdade de
Sociologia como era vontade de Teófilo Braga, e tendo sido aberto
concurso para o lugar de professor assistente de Filosofia, Leonardo
decidiu concorrer, sujeitando-se a facilmente previsíveis vexames ou,
Homem Legal” (1907). Cf. L. Coimbra, Dispersos, Vol. V, Ed. Verbo, 1994, pp. 21-
-24.
86 J. PINHARANDA GOMES
Lx.ª, INCM, pp. 579-592. Deste volume consta também o Prefácio que A. Ribeiro
redigiu para a tradução do ensaio de Comte, pp. 269-282, onde Leonardo aparece
como fonte recorrente.
88 J. PINHARANDA GOMES
48 Textos preparatórios para esta obra foram revelados por Jorge Croce Rivera, in
Obras de José Marinho, Vol. IV. O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra e Outros Textos,
Lx.ª, INCM, 2001, pp. 35-119.
49 Delfim Santos, Obras Completas. Vol. IV. Correspondência, Lx.ª, FCG, 1998, Carta
51 Cf. Obras de José Marinho, Vol. IV, Apresentação de J.C. Rivera, p. 19.
52 O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra, ed. cit., p. 151.
A LEITURA DE “O CRIACIONISMO” POR QUATRO DISCÍPULOS DE LEONARDO COIMBRA 91
61 Id., ib.
62 Id., p. 202.
63 Cf. L. Coimbra. Testemunhos dos seus Contemporâneos, Porto, Liv. Tavares Martins,
1950, pp. 259-267. Compilado in Obras de J. M., Vol. IV, pp. 579-581. Neste volume,
Jorge Rivera registou as diversas tentativas do autor até à redacção do texto final.
64 José Marinho, Verdade, Condição e Destino do Pensamento Português Contemporâneo. Porto,
66 Delfim Santos, Obras Completas, Vol. IV. Correspondência. Lx.ª, FCG, 1998; Álvaro
Ribeiro, Cartas para Delfim Santos (1931-1956). Org. int. e notas de Joaquim
Domingues, pref. de A. B. Teixeira, Lx.ª, Fund. Lusíada, 2001.
67 Estudo incluído no volume Portugal, Lx.ª, S.P.N., 1946, pp. 251-275. Compilado
nas Obras Completas, (OC), Vol. I, Lx.ª, FCG, 1982, pp. 438-454 (Leonardo, pp. 453-
-454).
96 J. PINHARANDA GOMES
99 Id., id., p. 264. No artigo sobre Leonardo Da Vinci nas Obras Completas, Vol. II, pp.
145-147, Delfim, ao tratar do valor da experiência em Da Vinci (maestra vera), como
que retrata o nosso Leonardo...
100 Id., id., p. 265.
101 Id., id., p. 266.
102 D. Santos, Obras Completas, Vol. II, p. 229.
103 Id., id., p. 230.
104 Id., id., p. 234.
A LEITURA DE “O CRIACIONISMO” POR QUATRO DISCÍPULOS DE LEONARDO COIMBRA 105
***
chegar à idade de se cumprir tal praxe. Porque praxe foi essa que me cumpria seguir.
Minha família era, com efeito, de fidalgos cavaleiros da casa real; meu Pai, desde
108 ROMANA VALENTE PINHO
muitos anos, ajudante de campo honorário de El-rei; meu Avô fora, pelos meados
do século, perceptor militar de El-rei D. Luís. Mas declarei a meu Pai que não
seguiria a praxe: e ele (a pessoa de mais encanto que jamais conheci, o homem mais
liberal, mais sorridente e bondoso, de gentileza aristocrática em todas as circuns-
tâncias da vida) conformou-se imediatamente com o meu desejo. «És republicano;
estás no teu direito»: assim comentou. «Nem republicano nem monárquico», expli-
quei eu logo; «desagrada-me a ideia de entrar na Corte»”.
3 Idem. Correspondência para Raul Proença. Organização e introdução de José Carlos
5 A criação da revista Seara Nova, em 1921, tinha como principais objectivos, tal
como Raul Sangreman Proença alertou logo no primeiro número, chamar a
atenção dos republicanos para o avanço desmesurado do partido integralista sob as
cabeças dos mais jovens e conceder à sociedade portuguesa uma acção doutrinal e
crítica: “Como os senhores estão cegos! Pois não viram ainda que o facto que mais
compromete a existência da República é o alastramento das ideias monárquico-inte-
gralistas entre a mocidade das escolas, e que esse facto se deve à absoluta inanidade
mental do regime?! A juventude escolar apega-se à ideologia monárquica porque
não encontra, no terreno dos factos, senão uma República monstruosa, e no terreno
dos princípios a completa ausência duma ideologia republicana de reconstrução e
revolução. Os integralistas têm vivido, pura e simplesmente, da inanição mental
do regime. Não é a força política das suas doutrinas ou a importância real dos seus
homens que explicam o triunfo do snobismo azul-e-branco” (PROENÇA, Raul.
“A Seara Nova e certos republicanos”. Seara Nova. Lisboa, n.° 1, 15 de Outubro de
1921, p. 6).
6 SÉRGIO, António, Cartas de António Sérgio a Álvaro Pinto (1911-1919), pp. 80-81:
“Pediu-me o Álvaro Pinto que fizesse aqui [Rio de Janeiro] uma conferência em
benefício da Renascença. Apesar da minha relutância em falar em público acedi por
consideração ao fim que se tinha em vista, e pus-me a pensar qual devia ser o tema
da palestra. Pareceu-me que o benefício da Sociedade num meio que totalmente a
desconhece indica, sem a menor hesitação, a explicação dos objectivos dessa
sociedade, para a qual se pede dinheiro. É uma explicação devida e uma justificação.
Ora o objectivo da Renascença, segundo os Estatutos, é a cultura do povo português;
portanto, o meu tema devia ser a cultura do povo português. (...) Note que eu não
poderia apresentar a Renascença como uma sociedade de literatos: 1.º, porque não
está isso nos Estatutos, que se vão distribuir; 2.º, porque não é verdade; 3.º, porque
se não justificaria em tal caso a entrada na sociedade das muitas pessoas não literatas
110 ROMANA VALENTE PINHO
que se pretende aliciar para ela; 4.º, porque se não justificaria então o pedido de
dinheiro, o benefício: «meus senhores, dêem esmola a este plumitivos da minha
terra!»; 5.º, porque falando de obra literária eu teria que citar nomes, o que traria os
seguintes disparates (...). Pois bem, como resposta ao meu plano recebo ontem o
bilhete incluso do Álvaro Pinto. Roga-me que «faça tudo o que possa para não
esquecer o movimento literário!!! Por intermédio do Álvaro Pinto, os colegas
plumitivos pedem-me a esmola de decantar os seus nomes às brasileiras multidões!!”
7 Ibidem, p. 16.
ANTÓNIO SÉRGIO E OS CONFLITOS CULTURAIS COM TEIXEIRA DE PASCOAES E ÁLVARO PINTO 111
com as dos meus inimigos (...) As acusações que faço à Águia são as
seguintes: o exclusivismo de igrejinha; a inconsistência e a autolatria
pascoalesca; o elogio mútuo”8.
É claro que isso não significa só isso. Porque se significasse, Sérgio
não se teria enredado num dos maiores conflitos culturais da moderna
intelectualidade portuguesa.
Inúmeras foram as polémicas que o ensaísta travou ao longo da
sua vida (de Abel Salazar, a António José Saraiva, a António Sar-
dinha, a Bento de Jesus Caraça, a Carlos Malheiro Dias, a J. Preto
Pacheco, a Jaime Cortesão, a João Gaspar Simões, a Jofre Amaral
Nogueira, a José Marinho, a José Sant’Anna Dionísio, a Luís Cabral
de Moncada, a Manuel Múrias e a Martinho Nobre de Melo) mas
nenhuma delas foi tão relevante quanto aquela que protagonizou com
o poeta Teixeira de Pascoaes durante os anos de 1913 e 1914. É que
essa não discutiu apenas pontos de vista, filosofias preferidas, escritores
de eleição e posicionamentos sócio-políticos. Constitui-se num apelo à
modernidade, num brado de natureza civilizacional, num sacudi-
mento no grupo da Renascença Portuguesa e numa antecipação da sua
postura seareira. Nessa polémica, Sérgio revela-se por inteiro. Se, por
um lado, apresenta as suas propostas progressistas, discute a nova
metodologia educativa e disserta acerca da política, da sociedade, da
história e da filosofia, por outro, demonstra igualmente as suas fragi-
lidades. De todo modo, a polémica é essencialmente um manifesto,
um grito em prol do mobilismo.
As cartas trocadas entre Sérgio e Pascoaes, datadas de Outubro
de 1913 a Julho de 1914, anunciam, no fim de contas, um confronto
entre um ensaísta moderno e um poeta anti-moderno, ou pré-
-moderno como se lhe preferir chamar. A amizade que nutriam entre
si ficará alquebrada para o resto das suas vidas, embora o respeito
intelectual pareça ter-se mantido impoluto, tal como demonstra o
testemunho que o ensaísta insere, em 1951, no volume de home-
nagem que a Universidade de Coimbra faz ao autor de O Regresso ao
Paraíso: “Creio que não tenho competência alguma para falar do
Teixeira de Pascoaes: e se acudo agora com estas linhas rápidas, cuja
valia é zero, é só para não faltar nesta homenagem tão justa,
8 Ibidem, p. 17.
112 ROMANA VALENTE PINHO
16 Ibidem, p. 99.
17 Ibidem, p. 99.
18 PASCOAES, Teixeira de. “Os meus comentários às duas cartas de António
Sérgio”. A Águia. Porto, 2.ª série , vol. IV, n.º 22, Outubro de 1913, p. 104.
19 Ibidem, p. 104: “Quanto à opinião dos estrangeiros citados, de que em outras
Rovira, Miguel de Unamuno, etc. De resto, eu sei lá o sentido íntimo dessas palavras
arrevesadas, doru, sknad, savn, saknaor, etc.!!! Eu não sei, nem o meu caro amigo!
George Marsh gostou da Saudade e quis presentear com ela os seus irmãos do
norte...”
20 Ibidem, p. 109.
21 SÉRGIO, António. “Regeneração e tradição, moral e economia”. A Águia. 2.ª
série, vol. V, 1914, pp. 1-9: “Já sabia, meu amigo, que era infinita a distância entre
um poeta amabilíssimo (divino salgueiro que se debruça nas águas lentas do puro
sonho) e um voluntarista-intelectualista, esculpido à custa de machadada num
tronco já seco da antiga Helénia; entre um romântico e um clássico; entre um
elegíaco lusitano da escola de Bernardim, que vai encher um cântaro puro à bica
cantante do Amor-Saudade, e um aluno de Albion e da Germânia, admirador de
Antero e de Herculano, todo atascado, como bem crê, no carvão de pedra da suja
Europa; entre um sedentário, finalmente, que se tornou bardo dum cantinho da
doce terra portuguesa, e uma alma bronca de cosmopolita, de vida arquejante e por
vezes ríspida, operário de uma faina que com dor se eleva, pioneiro forçado da larga
Terra, marujo do oceano que não tem fim... ¶ Mas a diferença (o seu artigo mo
demonstra) é maior e mais profunda. Não somos dois homens muito diferentes:
somos substâncias incomunicáveis; somos, pelo menos, duas espécies diversíssimas;
somos como um Rouxinol e como um Peixe. – V. é o rouxinol e eu o peixe”.
22 PASCOAES, Teixeira de. “Mais palavras ao Homem da Espada de Pau”. A Águia.
Porto. Vol. VI, 2.ª série, n.º 31, Julho de 1914: “Mais que para discutir, eu nasci
para afirmar. Nem as grandes verdades se discutem: afirmam-se! ¶ Aqui, tem, meu
amigo, a atitude de um ignorante ao pé de um sábio. É nessa atitude que eu desejo
conservar-me, assim como desejo vê-lo a si, na sua mesa de trabalho, bloqueado de
calhamaços, olhando gravemente por cima dos óculos... ¶ Eu não sou o rouxinol
nem o arcanjo de que fala, o seu sorriso... amável. Mas o meu caro amigo é, com
certeza, o mocho, o mocho da ciência”.
116 ROMANA VALENTE PINHO
23 Idem. “Resposta a António Sérgio”. A Águia. Vol. V, 2.ª série, n.º 26, Fevereiro de
1914, p. 37.
24 Ibidem, p. 38.
25 Ibidem, p. 35.
ANTÓNIO SÉRGIO E OS CONFLITOS CULTURAIS COM TEIXEIRA DE PASCOAES E ÁLVARO PINTO 117
26Ibidem, p. 38.
27SÉRGIO, António. “Despedida de Julieta”. A Águia. Vol. 5, 2.ª série, n.º 28, Abril
de 1914, p. 109.
118 ROMANA VALENTE PINHO
28 Ibidem, p. 109.
ANTÓNIO SÉRGIO E OS CONFLITOS CULTURAIS COM TEIXEIRA DE PASCOAES E ÁLVARO PINTO 119
34 SÉRGIO, António, António Sérgio num brilhante depoimento afirma que «Presença» é um
factor importante da literatura do futuro, p. 7: “Quando de todo se libertarem da moda
efémera, dar-nos-ão provas de maior amplidão um Sant’Anna Dionísio, um
Marinho, um Régio (que também é crítico), um Casais Monteiro, um Gaspar
Simões, um Delfim Santos. Duas palestrazinhas com José Marinho deixaram-me as
mais gratas das impressões...”. Contudo, quem ele mais plenamente elogia é José
Régio, Agostinho da Silva, Castelo Branco Chaves e José Rodrigues Miguéis:
“[Castelo Branco Chaves] salienta-se por um belo equilíbrio, pela solidez do espírito,
pela segurança do juízo no acentuar o básico, o essencial. Agostinho da Silva tem
uma prosa perfeita, luminosa, harmónica, onde se aliam de maneira esplêndida o
saber robusto e a imaginação, a inteligência lúcida e a paixão contida. Rodrigues
Miguéis é um espírito rico, variado, insinuante, fino, e o mais admirável dos
oradores que jamais ouvi na nossa língua...” (Ibidem, p. 7).
35Ibidem, p. 7.
ANTÓNIO SÉRGIO E OS CONFLITOS CULTURAIS COM TEIXEIRA DE PASCOAES E ÁLVARO PINTO 123
editora”. Seara Nova. Lisboa. N.º 443, ano XIV, 11 de Julho de 1935, p. 174 (trecho
citado de Álvaro Pinto).
124 ROMANA VALENTE PINHO
39 A revista Pela Grei, dirigida por António Sérgio, entre 1918 e 1919, era o órgão da
Liga de Acção Nacional (que tinha sido fundada em Fevereiro de 1918) e tinha
como subtítulo “Revista para o Ressurgimento Nacional pela Formação e Inter-
venção de uma Política Consciente”. Os principais articulistas eram: António Sérgio,
Ezequiel de Campos, Francisco Reis Santos, Raul Proença, A. Reis Machado (este
era também o secretário da revista), Pedro José da Cunha, Francisco da Silva Teles
e Constantino José dos Santos. No primeiro número da revista, Sérgio escrevia
assim: “Pela Grei, quer dizer: pela Nação, pelo Povo, pela Comunidade portuguesa;
a Grei não é só a colecção, ou uma colecção de indivíduos que falam a nossa língua
e vivem sob o governo do Estado português, na metrópole e fora dela, desde Macau
ao Brasil e desde Timor às Sandwich; a Grei é sobretudo essa grande família
quando considerada no aspecto moral que faz dela um todo, com sentimentos,
ideias e aspirações comuns; é até a consciência social de cada um dos seus indivíduos,
na medida em que ele sente o bem e o mal da comunidade, se regozija com as suas
venturas, se indigna contra os vícios e contra os erros causadores das suas desgraças,
e é um representante e um porta-voz sincero dessas ideias, desejos, sentimentos,
aspirações. (...) Trabalhar pois pela Grei é trabalhar pela consciência de comunidade
e pelo interesse da comunidade, e, subsidiariamente, contra todos os sentimentos e
acções que traem o interesse da comunidade; trabalhar pela Grei é trabalhar por
nós próprios, visto que as ideias, os desejos e os sentimentos sociais são uma parte
integrante da consciência do indivíduo, e que a sua vida está dependente, no
material e no moral, de todas as manifestações e alternativas da grei a que pertence;
trabalhar pela Grei é trabalhar pelo Povo, na acepção espiritual e compreensiva
desta palavra, em que nos incluímos todos nós” (SÉRGIO, António. Do intuito e
natureza desta Revista. Pela Grei. Revista para o Ressurgimento Nacional pela
Formação e Intervenção de uma Política Consciente. N.º 1, Lisboa: Oficina do
Anuário Comercial, 1918, pp. 1-2).
40 SÉRGIO, António, Cartas de António Sérgio a Álvaro Pinto (1911-1919), p. 32.
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO
DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA
João Príncipe
UNIVERSIDADE DE ÉVORA – CEHFCI
0. Introdução
1. Filosofia
se pode sustentar seriamente que a história seja governada por leis inelutáveis. Este
ponto de vista é também o de Guyau: ‘o génio, diz ele, modifica portanto o meio
social e intelectual pré-existente. Ele não é pura e simplesmente produto desse
meio’”, BOUTHOUL, GASTON (1946) Traité de Sociologie, Paris: Payot, p. 65.
5 Palavras de Fouillée, citado de BEAUCOUDRAY, ELISABETH GANNE DE
(1936) La psychologie et la métaphysique des idées-forces chez Alfred Fouillée, Paris : Vrin, p. 83.
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA 131
8AS (1909) nota XLIV (última das Notas), p. 185-186. A passagem em itálico é
aquela que AS dará posteriormente como exemplo da sua fidelidade a uma intuição
primitiva.
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA 133
9 Ver BLAU, JOSEPH L. (1960) “John Dewey’s theory of history”, The Journal of
Philosophy, Vol. 57, Nº 3, p. 89-100, p. 93, PRÍNCIPE (2012) p. 60-69.
10 KOOPMAN, COLIN (2010) “Historicism in pragmatism: Lessons in
ser dada dos preceitos éticos e adere a uma moral voluntarista, tendo
escrito em 1917: “[a] linhagem dos filósofos do moralismo, da decisão
voluntária... vai de Pascal a Renouvier, a William James, ao pragma-
tismo de hoje”.16
2. Ideologia e História
24 AS (2008) p. 200, 206 (AS propõe aí que os eleitores se organizem por profissões –
proposta de algo como uma câmara corporativa, o que vem no contexto da criação
de um Conselho Económico Nacional). Em carta a Proença, de 1913, lê-se: “Creio
que um socialista... me admitiria entre os seus, e isto não de hoje nem de ontem,
mas de há já muitos anos. Das teorias socialistas só não aceito o que é demasiada
restrição à liberdade”, AS (1987) carta nº 21, p. 60; comparar, no entanto, com
ibidem, p. 140, onde parafraseia Herculano. Sobre tirania ver ibidem, p. 99; ver
PRÍNCIPE, JOÃO (2013) “Raízes do pensamento político de António Sérgio”,
Vértice, II Série, Nº 167, 5-18.
25 AS (1917b) “A Educação Cívica, a liberdade e o patriotismo antigos e modernos
NOLAND, AARON (1967) “Proudhon and Rousseau”, Journal of the History of Ideas,
Vol. 28, Nº 1, p. 33-54. Beaulavon nota as censuras de Proudhon a Rousseau; AS
terá lido também a obra de Paul Janet sobre a História da Ciência Política (2ª edição
de 1872), onde se refere a influência de Rousseau sobre Kant e a analogia entre a
moral individual regida pelo imperativo categórico e a Vontade Geral que deve ser
o princípio da soberania; esta analogia surge em AS (1917b): “Transposto da nação
para o indivíduo, o conceito qualitativo da vontade geral leva ao imperativo
categórico de Kant”.
26 NOLAND (1967) p. 39-42, 49, 50 que remete para as obras de PROUDHON:
(1924) Idée générale de la revolution au XIXe siècle, Paris (p. 76, 169, 187-9, 193, 238) e
(1952) Contradictions Politiques, Paris, (p. 206-7, 211, 236-239).
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA 145
e em AS (2008) p. 55-122.
146 JOÃO PRÍNCIPE
Fichte, traduzida para francês em 1940, foi referida por diversos autores com ideias
socialistas; esta passagem não é menos ‘severa’ que a ‘governação excepcional’
proposta em 1922 na SN. Ver, p. ex.: – BOUGLÉ, CÉLESTIN (1911) La Sociologie
de Proudhon, Paris: Armand Colin, p. 111, 209; SOLARI, STEFANO (2010)
“Institutions in Proudhon: the Way not Taken by European Economic Thought”, in
XIII Colloque international de l’Association Charles Gide – Les institutions dans la pensée
économique, Paris, 27 au 29 Mai 2010. Solari estabelece a ligação Fichte – Proudhon –
doctrina ideo-realista –pragmatismo – JD; AS ligou o seu anti-estatismo ao pensar
de Fichte – ver E. VII (1954) § 20 do “Relanços de Doutrina Democrática”; ver
também: NAKHIMOVSKI, ISAAK (2011) The Closed Commercial State: Perpetual Peace
and Commercial Society from Rousseau to Fichte, Princeton University Press,
PERRINJAQUET, ALAIN (1997) “Fichte, Proudhon et la propriété” in Fichte et la
France, Vol. 1, editado por Ives Radrizzani, Paris: Beauchesne ed., p. 141-182.
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA 147
pour objet essentiel de démêler les facteurs permanents qui interviennent dans l’histoire, de préciser
leur nature et leurs rapports. Il ne faut donc pas confondre l’établissement de formules
qui ne sont que de larges constatations avec la recherche des causes explicatives” in
“Le Ve Congrès International des Sciences Historiques” Rev. Synthèse historique 1923
Vol. 35, p. 11.
35 AS, no prefácio à 2ª edição de E. II, nota que a Política de Transporte não deve
ela, desde o tempo de D. João III, em parte desde o Infante, pelo que
toca às ideias económicas.” Mouzinho da Silveira mostrou “nos seus
decretos, quais eram as condições normais da economia social, e como
a riqueza estava em casa, na libertação e trabalho da própria terra”.
(p.41)
Como nota Vítor de Sá, “O manifesto de Sérgio, consubs-
tanciado nesta conferência sobre O Problema da Cultura, é assim, ao
mesmo tempo que um primeiro ensaio de interpretação sociológica da
História nacional, uma tentativa programática, um enunciado de
reformas pedagógicas e económico-sociais a introduzir no país”.38
Nas Considerações histórico-pedagógicas (terminadas em 24.XI.915)
AS vai inscrever a nossa fundação e expansão na História económica
Universal:
38 SÁ (1979) p. 29.
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA 153
Knowledge: John Dewey on the Nature of Historical Inquiry”, The American Historical
Review, Vol. 64, Nº 4, p. 878-890, p. 884; PRÍNCIPE (2012) p. 60-69. Sobre as
semelhanças profundas entre o pensamento de JD e de Marx, primeiro notadas
Sidney Hook, que estudou com JD, no seu Toward the understanding of Karl Marx de
1933, ver: HOOK, SIDNEY(2008) John Dewey: A intellectual portrait, New York:
Cosimo, Inc. (1ª ed. de 1939) e CORK (1949).
156 JOÃO PRÍNCIPE
que, como notará em Logic: The theory of enquiry (1938), implica uma
constante reconstrução da história a partir da própria variação da
cultura com as gerações sucessivas. Para JD o análogo do uso tecno-
lógico da ciência, a engenharia, será para a história uma engenharia
social como método de aperfeiçoamento social, processo de eminente
experimentalismo.45
3. Epílogo
45 Ver CARNEIRO (2002) p. 145, 146, WILKINS (1959) p. 886-887. BLAU (1960)
P. 95-99; sobre ‘engenharia social’ ver CORK (1949) p. 445-6; em carta de JD a
Cork lê-se: “If I were permitted to define ‘socialism’ and ‘socialist’ I would so classify
myself today…[mas] probably my experimentalism goes deeper than any other
‘ism”, CORK (1949) p. 450-1. A proximidade de JD com o socialismo democrático
assinalada por CORK é mais uma convergência entre JD e AS, e bem feliz; o
socialismo de JD seria certamente um socialismo democrático ou uma democracia
socializante, não-estatista, sem ser fanaticamente anti-estatista, favorecendo especial-
mente as associações voluntárias, como as cooperativas.
46 E. II p. 27. O experimentalismo e a crítica (política) à lógica aristotélica encontra-
-se em JD (1920) Reconstruction in philosophy, New York: Henry Holt, capítulo VIII
“Reconstruction as affecting social philosophy”; ver KOOPMAN (2010) p. 700.
SOBRE A UNIDADE DO PENSAMENTO SERGIANO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA 159
Chicago: University of Chicago Press; (2010) How modern science came into the world Four
civilizations, one 17th-century breakthrough, Amsterdam: Amsterdam University Press.
160 JOÃO PRÍNCIPE
49 KOYRÉ, ALEXANDRE (1943) “Galileo and Plato”, Journal of the History of Ideas,
Vol. 4, Nº 4, p. 400-428. ZILSEL, EDGAR (1942) “The sociological roots of
science”, originalmente em The American journal of sociology, Vol. 47, p. 542-62;
republicado em Social Studies of Science, Vol. 30, Nº 6 (2000), p. 935-949 e nos Boston
Studies in the philosophy of science, Nº 200, 2003, com prefácio de Joseph Needham.
50 Sobre as ideias de Olshki ver COHEN (1994), § 5.2. Cohen nota que a tese de
51In E. II, p. 30-32. Nota de Hermínio Martins: “Um livro relativamente recente,
de Alfred W. Crosby The measure of reality documenta extensamente as múltiplas
práticas de mensuração muito difundidas na Itália do Norte, o que sugere que os
hábitos de pensar quantitativos se tinham estabelecido amplamente na vida quoti-
diana, e não só na aritmética comercial e na arquitectura: sem falar da contabilidade
de dupla entrada inventada pelo italiano Paccioli, geralmente reconhecida como
decisiva para a racionalização do capitalismo comercial já por autores como
Sombart (que até exagerou muito a sua importância), Simmel e Max Weber (devida-
mente notada, como não podia deixar de ser, por Zilsel). É verdade que, mesmo que
se tenha constituido um certo habitus quantitativista difuso nessas sociedades, as
cidades-estados comerciais do Norte da Itália, isso não determinou por si só o
quantitativismo na ciência, que se relaciona crucialmente com instrumentos
desenhados para a observação e a experimentação física, tal como, respectivamente,
162 JOÃO PRÍNCIPE
Samuel Dimas
CENTRO DE ESTUDOS DE FILOSOFIA
DA FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
filosófica e científica, José Marinho diz que o mito não pertence ao domínio
positivista do facto, mas sim ao insondável e implícito do ser: «O mito é o sinal do
que estava implícito ao ser e ao saber tais como os outros homens os conceberam,
ele é a advertência do que permanece implícito. Ele diz: prestai atenção, homens
operosos e razoáveis, àquilo mesmo a que é difícil atender!» (José Marinho,
«Mitologia e Filomitia em Oliveira Martins», in Obras de José Marinho, volume VII,
INCM, 2006, pp. 335-336.)
8 «[…] chamar-lhe-emos então filomitia, amor do mito, relação de dinâmica simpatia
Teixeira de Pascoaes e em que estão presentes, para além de Jaime Cortesão, que
tomara a iniciativa de constituir um programa para a Associação, também Álvaro
Pinto que já dirigira a 1.ª série, Leonardo Coimbra, Augusto Casimiro, Augusto
Martins, Teixeira de Pascoaes e Luís Filipe, é constituído um manifesto em que
caracteriza o espírito lusitano, definindo os princípios essenciais a partir dos quais
deverá ser erguida a obra de uma nova civilização, a saber: beleza, justiça e bondade.
Cf. Teixeira de Pascoaes, «Para a história da Renascença Portuguesa» in A Vida
Portuguesa, Ano I, n.º 22 (10 de Fevereiro de 1914), pp. 10-12.
14 O grupo de Lisboa, de que faziam parte, entre outros, Raul Proença e António
16 Cf. Leonardo Coimbra, O Criacionismo: Esboço dum Sistema Filosófico, Porto, Renas-
cença Portuguesa, 1912, in Obras Completas, vol. I, tomo II, Lisboa, 2004, p. 61 [43].
17 Cf. ibidem, p. 49 [32].
18 Cf. ibidem, p. 45[28-29].
19 Cf. Idem, «O mistério», in Obras Completas, vol. I, tomo I., Lisboa, INCM, 2004, p. 181.
172 SAMUEL DIMAS
Portuguesa, 1923, in Obras Completas, vol. V, tomo II, Lisboa, INCM, 2009, p. 22
[21-22].
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O TEÍSMO DA RAZÃO ... 173
23 Cf. Émile Boutroux, De la Contingence des Lois de la Nature, p. 150; 151; 156.
24 Cf. ibidem, p.136; 151.
25 Cf. ibidem, p. 131; 150.
26 Cf. ibidem, p. 157.
27 Cf. ibidem, p. 159.
28 Cf. ibidem, p. 160.
29 Cf. ibidem, p. 151.
174 SAMUEL DIMAS
portuense, p.98
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O TEÍSMO DA RAZÃO ... 175
p. 161 [196].
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O TEÍSMO DA RAZÃO ... 177
42 Cf. Bertrand Russell, Mysticism and Logic, London, Penguin Books, 1954, pp. 15-16.
43 Cf. Leonardo Coimbra, A Razão Experimental: Lógica e Metafísica, in Obras Completas,
vol. V, tomo II, p. 61 [74].
44 Cf. ibidem, pp. 36-37 [40-41].
45 Cf. ibidem, p. 58 [69].
178 SAMUEL DIMAS
II, p. 281 [228]. Cf. idem, A Razão Experimental: Lógica e Metafísica, in Obras Completas,
vol. V, tomo II p. 47-48 [54-56].
180 SAMUEL DIMAS
53 Cf. José Marinho, «Análise de Misticismo e Lógica – III», in Obras de José Marinho,
vol. VII, INCM, 2006, p. 61.
54 Cf. Friedrich Wilhelm Joseph Schelling, Einleitung in die Philosophie der Mythologie, in
55 Cf. Leonardo Coimbra, A Alegria, a Dor e a Graça, in Obras Completas, vol. III, p. 145
[171].
56 Cf. ibidem, p. 66-67 [43-45].
57 Cf. Bertrand Russell, Mysticism and Logic, p. 35.
58 Cf. ibidem, p. 36.
182 SAMUEL DIMAS
1921, p. 148.
62 Cf. ibidem, p. 157.
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O TEÍSMO DA RAZÃO ... 183
69 Idem, A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre, Porto, Livraria Tavares Martins, 1935,
in Obras Completas, vol. VII, Lisboa, INCM, 2012, p. 52 [57].
70 Cf. Idem, O Criacionismo: Esboço dum Sistema Filosófico, in Obras Completas, vol I, tomo
81 Cf. Xavier Zubiri, El problema Teologal del Hombre: Cristianismo, Madrid, Alianza
Editorial e Fundación Xavier Zubiri, 1997, pp. 46-48.
82 Cf. ibidem, p. 48.
83 Cf. Idem, El Problema Filosofico de la Historia de las Religiones, Madrid, Alianza
Deus apenas como origem e fim de todas as coisas: «Dios no está fuera de las cosas,
ni por encima ni por debajo de ellas, ni al comienzo ni al fin de ellas, sino que lleva
fontanalmente implicadas a todas ellas ens u propria realidade en cuanto tal.»
(Xavier Zubiri, Acerca del Mundo, p. 220).
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O TEÍSMO DA RAZÃO ... 189
95 Cf. Raul Proença, Vida Portuguesa, ano I, n.º 22 (10 de Fevereiro de 1914), p. 13.
96 Cf. António Sérgio, «Epístolas aos Saudosistas», in A Águia, n.º 22, 2.ª série,
(Outubro de 1913), p.99.
97 Cf. Idem, «Despedida de Julieta», in A Águia, 2.ª série, n.º 28, 2.ª série (Abril de
1914), p.109.
192 SAMUEL DIMAS
pp. 196.
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O TEÍSMO DA RAZÃO ... 193
102 A verdadeira força dos seres é mental e não mecânica. De acordo com esta
metafísica, no movimento dos seres a ideia apresenta-se como uma forma de movi-
mento cerebral e, ao mesmo tempo, como uma forma de consciência, de sentimento,
de pensamento e volição. Cf. Alfred Foulliée, L’Avenir de la Métaphysique fundée sur
l’expérience, pp. 300-301.
103 «O Ser perfeito deve tirar de si tanta invenção amorosa que, ao encerrar de um
abraço, terá de o abrir de novo para o ampliar mais, pois, por virtude do próprio
gesto inicial, as realidades aumentaram a grandeza do seu convívio.» (Leonardo
Coimbra, «Comemorações das Constituintes de 1820», in Obras Completas, vol. IV,
p. 197.)
104 Cf. Idem, O Pensamento Criacionista, Porto, Renascença Portuguesa, 1915, in Obras
106 Cf. Bernard Lonergan, Collected Works of Bernard Lonergan, n.º 3 – Insight: A Study of
Human Understanding, Edited by Frederick E. Crowe and Robert M. Doran, Toronto,
University of Toronto Press, 1997, p. 470.
107 Cf. ibidem, pp. 466-467.
108 Cf. ibidem, pp. 471.
A DIVERGÊNCIA ENTRE O PANTEÍSMO DA RAZÃO MÍTICA E O TEÍSMO DA RAZÃO ... 195
1. Introdução
1Uma versão deste texto encontra-se no volume Proença, Cortesão, Sérgio e o Grupo Seara
Nova. Organização de Amon Pinho, António Pedro Mesquita e Romana Valente
Pinho. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2014.
198 DUARTE BRAGA
2. O Inquérito Literário
4 Sobre estas questões ver Mota, Nuno. «Dois Inquéritos Literários (1912, 1920)». In:
Curto, Diogo Ramada (Org.). Estudos de Sociologia da Leitura em Portugal no Século XX.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2006, pp. 761-788.
5 Cf. Real, Miguel. «O pensamento racionalista português na segunda metade do
século XIX: Teófilo Braga, Júlio de Matos e Miguel Bombarda». Vértice, Lisboa, v.
122, 2ª série.
200 DUARTE BRAGA
6 Matos, Júlio de. «O Sr. Dr. Júlio de Matos não acredita que atravessemos um
período de renascimento literário». Op. Cit., p. 17. «O Sr. Augusto Casimiro
responde aos Srs. Júlio de Matos e Gomes Leal». Op. Cit., pp. 151-155.
7 Matos. Op. Cit., p. 18.
8 O filósofo depõe no jornal A Montanha, em Setembro de 1912. Cf. Coimbra,
Pereira, José Carlos Seabra (org.). Obras de Manuel Laranjeira, vol. II. Lisboa: Edições
Asa, 1993, p. 120, n. 35.
11 “«The joy of grief», como dizem os ingleses”. Vasconcelos, Carolina M. A Saudade
Matos e Gomes Leal, Inquérito Literário, pp. 151-155. Não deixe de se lembrar que a
Renascença Portuguesa dinamizará, em 1913, uma subscrição pública para tirar
Gomes Leal da miséria.
14 Brandão, Júlio. «O Sr. Júlio Brandão diz não ver correntes literárias que não se
18 Mendonça, Henrique Lopes de. O Sr. Lopes de Mendonça diz não existir uma
forte corrente literária…, Inquérito Literário, p. 24.
19 Cortesão. Op. Cit., pp. 164-5.
20 Idem. Ibidem, p. 164.
21 Id.. Ibid., p.167.
22 Id.. Ibid., p. 167.
O «INQUÉRITO LITERÁRIO» DE 1912: TERMÓMETRO DAS TENSÕES ... 203
31 É certo que esta noção de ‘criação’ deve ser entendida no sentido de ‘revelação’,
seguindo a proposta pascoalina de identificação entre criação e revelação de um
novo mundo espiritual através da Saudade.
32 Id.. Ibid., p. 21.
33 Coelho, Adolfo. «O Sr. Dr. Adolfo Coelho diz que não temos direito a saudar a
-150.
O «INQUÉRITO LITERÁRIO» DE 1912: TERMÓMETRO DAS TENSÕES ... 205
Conclusões
Pessoa II, Lisboa, Verbo, 1971: “[...]”, in p. 155 in “6. Documentos inéditos”;
cf. PIZARRO, Jerónimo, “A representação da Alemanha na obra de Fernando
Pessoa”, in ed. Teresa Amado et Fernando Guerreiro et João Dionísio et Cristina
Serôdio, Românica 15, Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa /
Edições Colibri, 2006, pp. 95-108: “[...]”, in p. 96; cf. DIX, Steffen, “Nietzsche,
Friedrich”, in coord. Fernando Cabral Martins, Dicionário de Fernando Pessoa | e do
modernismo português, Lisboa, Editorial Caminho, 2008, pp. 530-533: “[...]”, in p. 531;
cf. PESSOA, Fernando, s.t., s.d. (cca. 1913?) in [BNP\E3 48-54, in] PÉREZ López,
Pablo Javier, “Un insólito nietzscheano. Notas sobre el nietzscheanismo explícito e
implícito de Fernando Pessoa”, in org. Paulo Borges, Olhares europeus sobre Fernando
Pessoa, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2011, pp. 157-229:
“[...]”, in p. 159; cf. NIETZSCHE, Friedrich, in tr. Pedro González-Blanco, Así hablaba
Zaratustra, Valencia, F. Sempere Y Comp.ª Editores, s.d. [1906 et ss.]; cf. BURGUETE,
Ricardo, Así hablaba Zorrapastro, Valencia, F. Sempere Y Comp.ª Editores, [1899 /
1900 et ss.]; cf. SOBEJANO, Gonzalo, Nietzsche en España | (1890-1970), Madrid,
Editorial Gredos, II ed. “corregida y ampliada” 2004: “[...]”, in p. 79 in “b)
Traducciones españolas de Nietzsche durante el período 1900-1910” in “I | | La
crítica española en torno a Nietzsche hasta 1910” in “Parte I | | Nietzsche y la
generación de 1898”, et “[...]”, in p. 440 in “3. El noventa y ocho” in “III | | Influjo
de Nietzsche en la generación de 1898” in loc.cit.. Etc. [; cf. DUARTE, “O ideal
ascético e a ceifeira”, 2012\I\26, in org. Paulo Borges et Nuno Ribeiro et Cláudia
Souza, Ciclo internacional de conferências Pessoa na Actualidade, Lisboa, Casa Fernando
Pessoa, 2011\XII et 2012\I; cf. id., “¿Pessoa lector de Nietzsche?”, 2012\X\9, in
org. Elena Losada et Isabel Soler et Miguel Candel et Paulo Borges et Daniel
Moreira Duarte et Diego Giménez Celano et Pablo Javier Pérez López, Coloquio
Internacional Fernando Pessoa en Barcelona, Barcelona, Facultat de Filologia de la
Universitat de Barcelona et Facultat de Filosofia de la Universitat de Barcelona,
2012\X\8 et 2012\X\9;] cf. LANCASTRE, Maria José de, Fernando Pessoa | Uma
Fotobiografia, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1981: “[...]”, in p. 114; cf.
REIS, António, “Introdução”, in PROENÇA, Raul, in ed. António Reis, O eterno retorno
I, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1987: “[...]”, in p. 10; cf. LIND, Georg Rudolf,
“Nietzsche em Pessoa”, in Um século de Pessoa | Encontro Internacional do Centenário de
Fernando Pessoa, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura, 1988, pp. 283-286: “[...]”,
in pp. 285-286; cf. MONTEIRO, Américo Enes, A recepção da obra de Friedrich Nietzsche
na vida intelectual portuguesa | (1892-1939), Porto, Universidade do Porto, 1997, in org.
Departamento para a Universidade Digital da Universidade do Porto, Repositório
Aberto da Universidade do Porto, http://repositorio-aberto.up.pt/[...] (2012\I\5),
Universidade do Porto, 2007 et ss.: “[...]”, in pp. 331-430 in “Capítulo V | O
modernismo literário português”; cf. DIX, “Pessoa e Nietzsche: deuses gregos,
pluralidade moderna e pensamento europeu no princípio do século XX”, in dir.
João Medina, Clio II 11, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa,
2004, pp. 139-174: “[...]”, in pp. 141-142.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 209
Monteiro, Reencontro com Nietzsche, Porto, Granito Editores e Livreiros, 2001, pp. 29-
-35: “[...] Nietzsche [...], instaurando arbitrária e imprudentemente um cego
voluntarismo cujos equívocos e contradições se condensam na máxima ‘ousa tornar-
-te naquilo que és!’, expressão fulgurante de um suposto imperativo de autenticidade
que [...] assim construída se converte tão só na expressão espontânea, mas a-crítica
da personalidade, evidenciando as suas convicções, mas descuidando as suas conse-
quências no âmbito da acção humana. Pensamos que só quando a autenticidade
aparece como tarefa moral da pessoa e, assim, surge como autenticidade moral, se
concretiza a dimensão ética daquele imperativo, senão [sic] não passa de mera
fidelidade à estrutura bio-psicológica de cada indivíduo [...], resultante do descrédito
de critérios de índole ética susceptíveis de alicerçarem uma fundamentação racional
da moral.” et “[...] que o superhumanismo que Nietzsche propõe pela voz de
Zaratustra se situa no abismo da irracionalidade [...]. De facto, para Nietzsche o
Bem é a vontade do mais forte, do guerreiro, [...] e não a expressão de alguém
integralmente generoso.”, in pp. 31-32, et passim; cf. n. 42. Cf. NIETZSCHE in tr.
Andrés Sánchez Pascual, Así habló Zaratustra | Un libro para todos y para nadie [, 1883-
-1885], Madrid, Alianza Editorial, ed. “revisada” 1997 imp. 2009: “[...] a menudo
no se quiere, con el amor, más que saltar por encima de la envidia.” et “¿No quieres
llevar vestido alguno delante de tu amigo? ¿Debe ser un honor para tu amigo el que
te ofrezcas a él tal como eres? ¡Pero él te mandará al diablo por esto! | El que no se
recata provoca indignación: ¡tanta razón tenéis para temer la desnudez! ¡Sí, si fueseis
dioses, entonces os sería lícito avergonzaros de vuestros vestidos! | Nunca te
adornarás bastante bien para tu amigo: pues debes ser para él una flecha y un
anhelo hacia el superhombre. | ¿Has visto ya dormir a tu amigo – para conocer cuál
es su aspecto? ¿Pues qué es, por lo demás, el rostro de tu amigo? Es tu propio rostro,
en un espejo grosero e imperfecto. | ¿Has visto ya dormir a tu amigo? ¿No te
horrorizaste de que tu amigo tuviese tal aspecto? Oh, amigo mío, el hombre es algo
que tiene que ser superado. | En el adivinar y en el permanecer callado debe ser
maestro el amigo: tú no tienes que querer ver todo. Tu sueño debe descubrirte lo
210 DANIEL MOREIRA DUARTE
que tu amigo hace en la vigilia. | Un adivinar sea tu compasión: para que sepas
primero si tu amigo quiere compasión. Tal vez él ame en ti los ojos firmes y la
mirada de la eternidad. | Ocúltese bajo una dura cáscara la compasión por el
amigo, debes dejarte un diente en ésta. Así tendrá la delicadeza y la dulzura que le
corresponden.”, in pp. 96-97 in “Del amigo” in “Los discursos de Zaratustra”, et
“En verdad, yo os adivino, discípulos míos: vosostros aspiráis, como yo, a la virtud
que hace regalos. ¿Qué tendríeis vosotros en común con gatos y lobos? | Ésta es
vuestra sed, el llegar vosotros mismos a ser ofrendas y regalos: y por ello tenéis sed
de acumular todas las riquezas en vuestra alma. | Insaciable anhela vuestra alma
tesoros y joyas, porque vuestra virtud es insaciable en su voluntad de hacer regalos.
| Forzáis a todas las cosas a acudir a vosotros y a entrar en vosotros, para que
vuelvan a fluir de vuestro manantial como los dones de vuestro amor. | En verdad,
semejante amor que hace regalos tiene que convertirse en ladrón de todos los
valores; pero yo llamo sano y sagrado a ese egoísmo. | Existe otro egoísmo, dema-
siado pobre, un egoísmo hambriento que siempre quiere hurtar, el egoísmo de los
enfermos, el egoísmo enfermo. | Con ojos de ladrón mira ese egoísmo todo lo que
brilla; con la avidez del hambre mira hacia quien tiene de comer en abundancia; y
siempre se desliza a hurtadillas en torno a la mesa de quienes hacen regalos.”, in p.
123 in “De la virtud que hace regalos” in loc.cit.. Etc..
4 Etc.; cf. DUARTE, “La escritura de la verdad: apuntes hacia una propedéutica
| Ein Buch für Alle und Keinen. IV, Leipzig, E. W. Fritzsch, 1885, in ed. Paolo D’Iorio,
Digitale Kritische Gesamtausgabe | Werke und Briefe (“auf der Grundlage der Kritischen
Gesamtausgabe Werke, herausgegeben von Giorgio Colli und Mazzino Montinari,
Berlin/New York, Walter de Gruyter, 1967ff. und Nietzsche Briefwechsel Kritische
Gesamtausgabe, Berlin/New York, Walter de Gruyter, 1975ff. [...]”),
http://www.nietzschesource.org/#eKGWB/[...], Nietzsche Source, 2009 et ss.,
[...]/#eKGWB/Za-IV: “[...] höheren Menschen [...]” et “[...] Übermensch [...]” et
“[...]”, in [...]/#eKGWB/Za-IV-Menschen-1 et ss.; cf. id. in tr.cit., op.cit.: “[...]”, in
pp. 389-401 in “ Del hombre superior” in “ Cuarta y última parte | de | Así habló
Zaratustra” . Cf. n. 3 et n. 57.
7 Cf. n. 2 et n. 42.
8 Cf. MONTEIRO, op.cit., in org.cit.: “O título da revista sugeriu-o o poema de Jaime
movimento9: verdade seja dita, aliás, melhor destino não parece ter
tido a obra nietzschiana em meios não portugueses da época, como
entre os eugenistas britânicos10 ou mesmo entre os pensadores anar-
quistas e os anti-anarquistas pensadores espanhóis11, para dar apenas
um par de exemplos. O que desta feita pretendo, porém, é dar conta
de certas analogias que é possível estabelecer entre os pensamentos
dos próprios Nietzsche e Pessoa, mormente entre certos pensamentos
seus de juventude, a respeito da questão da Verdade e do seu Devir
cultural: e não obstante, se a não ser em uma nota mais à frente12 não
mais aqui explicitamente me debruçarei sobre todas as semelhanças e
diferenças que entre recepções pessoanas e de Pessoa e entre
recepções renascentistas e aguilistas da filosofia nietzschiana caberia
apreciar, darei conta sim de algumas outras poucas tensões e diver-
gências do aguilista sujeito pessoano com Nietzsche e com outras
facetas de Pessoa, assim mesmo explicitando também, sobretudo ao
intelectual”, como tal fue recibido por algunos de los primeros españoles que con su
obra entraron en contacto, provocando en unos horror y en otros entusiasmo.”, in p.
33 in “Introducción” in loc.cit., et “[...]”, in pp. 48 et ss., in “a) La crítica hasta 1900”
in loc.cit..
12 Cf. n. 42.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 213
13 Cf. MOREY, Miguel, el orden de los acontecimientos | sobre el saber narrativo, Barcelona,
Ediciones Península, 1988: “Si nos detuviéramos en el primitivo significado del
término “verdad” en la Grecia arcaica comprobaríamos que, originariamente,
alétheia no se opone a pseudós, como lo verdadero a lo falso – sino a lethé, que significa
olvido.”, in p. 29 in “Palabras de la tribu”, et “Por su parte, es apseudés quien se opone
a pseudós [...]”, in p. 30 in “Pequeña historia de la verdad”.
214 DANIEL MOREIRA DUARTE
14 Cf. id., ibid.: “Esa verdad que es la alétheia arcaica pertenece, en primer lugar, a
las Musas – y si ellas inspiran al poeta aquella “locura divina”, la theía manía de la
que Platón hablaba, entonces sus palabras revelan la verdad.”, in p. 29 in “Palabras
de la tribu” [; cf. Platão, Fedro; cf. id., Íon].
15 Cf. MOREY, op.cit.: “Marcel Detienne [...] caracteriza [...]: «[…]. Una “Verdad”
16 Cf. MOREY, op.cit.: “[...] originariamente [...]” et “Y esa verdad que dice el poeta
destaca, antes que por cualquier otra cosa, por ser un ejercicio de memoria – por su
voluntad de rescatar a los hombres de la amenaza de disolverse en el olvido.”, in p.
29 in loc.cit., et “La verdad es, pues, literatura – ejercicio de la palabra memorable.”,
in p. 30 in loc.cit..
17 Cf. PÉREZ, op.cit.: “Hubo un tiempo alegre en que [...]” et “Filósofos y Poetas no
tenían dueños ni esclavos, no eran desterrados ni perseguidos por los ejércitos ni los
defensores de la moral [...]”, in p. 29 in “1. La Antigua y eterna disputa entre
Filosofía y Poesía. | El pensamiento poético.”. Cf. NIETZSCHE in tr. Genoveva
Dieterich, Aurora | Reflexiones sobre los prejuicios morales [, 1887], Barcelona, Random
House Mondadori, 2009: “En tiempos primitivos, cuando los juicios pesimistas
reinan sobre el hombre y el mundo, el individuo consciente de su plena fuerza
procura actuar según esos criterios, es decir, trasladar a la acción esas ideas, a través
de la caza, la rapiña, el saqueo, la violencia y el asesinato; incluyendo las variaciones
más pálidas de estas acciones, que son las únicas que la comunidad tolera. Pero
cuando su fuerza disminuye, cuando se siente cansado o enfermo o triste y, en
consecuencia, pasajeramente libre de deseos y ambiciones, es un ser humano
relativamente mejor, es decir menos dañino, y sus ideas pesimistas se descargan
únicamente en palabras y pensamientos, por ejemplo, sobre el valor de sus
compañeros o de su mujer o de su vida o de sus dioses, – sus juicios serán juicios
negativos. En este estado se convierte en pensador y profeta, o sigue especulando
creativamente sobre su superstición e imagina nuevas costumbres, o se burla de sus
enemigos –: pero invente lo que invente, todos los productos (de su espíritu) reflejan
su estado, es decir, el aumento del miedo y del cansancio, la disminución de su
aprecio de la acción y el placer; el contenido de estos productos ha de corresponder
al contenido de estos estados de ánimo poéticos, filosóficos o sacerdotales; en ellos ha
de regir el juicio negativo. Más tarde se llamó a todos los que continuamente hacían
lo que antaño hacía el individuo en ese estado, es decir a los que juzgaban
malévolamente, vivían melancólicos e inactivos, poetas o pensadores o curanderos –:
de buena gana se hubiera despreciado y expulsado de la comunidad a estas personas,
porque no actuaban suficientemente; pero había en eso un peligro, – ellas habían
investigado la superstición y la huella de las fuerzas divinas y nadie dudaba de que
216 DANIEL MOREIRA DUARTE
1887], Madrid, Alianza Editorial, ed. “revisada” 1997 imp. 2009: “El temor al
antepasado y a su poder, la conciencia de tener deudas con él crece por necesidad,
según esta especie de lógica, en la exacta medida en que crece el poder de la estirpe
misma, en la exacta medida en que ésta es cada vez más victoriosa, más indepen-
diente, más venerada, más temida.” et “Imaginemos que esta tosca especie de lógica
ha llegado hasta su final: entonces los antepasados de las estirpes más poderosas tienen
que acabar asumiendo necesariamente, gracias a la fantasía propia del creciente
temor, proporciones gigantescas y replegarse hasta la oscuridad de una temerosidad
e irrepresentabilidad divinas: – el antepasado acaba necesariamente por ser transfi-
gurado en un dios. ¡Tal vez esté aquí incluso el origen de los dioses, es decir, un
origen por temor!... Y si a alguien le pareciese necesario añadir: «¡pero también por
piedad!», difícilmente podría tener razón en lo que respecta al período más largo de
la especie humana, a su época primigenia. En cambio, tanto más la tendría, sin
duda, con respecto a la época media, en la que se forman las estirpes nobles: – éstas,
de hecho, han reintegrado a sus fundadores, a los antepasados (héroes, dioses), con
sus intereses correspondientes, todas las cualidades que entre tanto se habían
manifestado en ellas mismas, las cualidades nobles.”, in p. 115 in “19” in “Tratado
Segundo | «Culpa», «mala conciencia» y similares”.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 217
19 Cf. MOREY, op.cit.: “La verdad que dice el poeta tiene que ver con una narración
que tutela esa fama a la que aspiran los hombres, esa fama que es presentada por los
poetas a los hombres como lo auténticamente deseable – y que no es sino un
precipitado literario de la moira (destino o botín) que buscan con sus actos.” et “Y ese
ejercicio se orientará según una polaridad básica: la alabanza (épainos) que es la
palabra que conserva la memoria y canta la fama de los héroes; y la censura, la
injuria o el reproche (mómfos) que equivale a olvido, destierro, oscuridad y silencio. |
Marcel Detienne nos caracteriza de este modo la figura del poeta arcaico: «Funcio-
nario de la soberanía o elogiador de la nobleza guerrera, el poeta es siempre un
"Maestro de la Verdad". Su "Verdad" es una "Verdad" asertórica: nadie la discute,
nadie la demuestra.»”, in p. 30 in loc.cit. [; cf. DETIENNE, op.cit.].
20 Cf. NIETZSCHE in tr. Cristóbal Macías Villalobos, Teognis de Mégara [, 1864], in ed.
Diego Sánchez Meca, Obras completas II Escritos filológicos, Madrid, Editorial Tecnos,
2013, pp. 89-124: “[...] la nobleza que se corrompía poco a poco y [...] la plebe que
florecía, también sucedió entre los megarenses tras la tiranía de Teágenes. Nada
provocó más daño a los nobles que la propia tiranía de éste, que, nacido de un linaje
ilustre, por algún tiempo se comportó como un plebeyo y consiguió el poder con el
apoyo de la plebe.”, in p. 121 in “16.” (“¿Se mantiene firme Teognis en sus
218 DANIEL MOREIRA DUARTE
“[...] que el «Estado» más antiguo apareció [...] como una horrible tiranía, como
una maquinaria trituradora y desconsiderada, y continuó trabajando de ese modo
hasta que aquella materia bruta hecha de pueblo y de semianimal no sólo acabó por
quedar amasada y maleable, sino por tener también una forma. He utilizado la
palabra «Estado»: ya se entiende a quién me refiero – una horda cualquiera de
rubios animales de presa, una raza de conquistadores y de señores, que organizados
para la guerra, y dotados de la fuerza de organizar, coloca sin escrúpulo alguno sus
terribles zarpas sobre una población tal vez tremendamente superior en número,
pero todavía informe, todavía errabunda. Así es como, en efecto, se inicia en la
tierra el «Estado»: yo pienso que así queda refutada aquella fantasía que le hacía
comenzar con un «contrato».”, in p. 111 in “17” in loc.cit., et “[...] que algo
existente, algo que de algún modo ha llegado a realizarse, es interpretado una y otra
vez, por un poder superior a ello, en dirección a nuevos propósitos, es apropriado de
un modo nuevo, es transformado y adaptado a una nueva utilidad; que todo
acontecer en el mundo orgánico es un subyugar, un enseñorarse, y que, a su vez,
todo subyugar y enseñorarse es un reinterpretar, un reajustar, en los que, por necesidad,
el «sentido» anterior y la «finalidad» anterior tienen que quedar oscurecidos o
incluso totalmente borrados.”, in pp. 99-100 in “12” in loc.cit.; cf. n. 20 et n. 29.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 219
periodo em que a França nada creou para a civilização, visto que creou apenas a sua
propria grandeza e a correspondente hegemonia social européa [...]. O segundo
periodo é aquelle que, precipitando-se na prematura Revolução Franceza, se vae
realisando só depois, nas almas, de 1848 a 1870, pouco mais ou menos, e é neste
periodo que a França cria para a civilização a idéa de democracia republicana. Não
a cria, é claro, tão creadoramente como a Inglaterra de Cromwell, que a origina no
mundo moderno; torna-a porém mais intensa e nitida, desenvolve-a – o que é
tambem, ainda que secundariamente, uma creação. Finalmente, no terceiro periodo,
o de 1870 para cá, a França nada cria para a civilização, nem mesmo a sua propria
grandeza cria, visto que decahe em valor européo: vae vivendo, como a Inglaterra
no segundo periodo, e realisando, apathica- e despiciendamente, o principio de
democracia republicana que em anterior periodo creára. | [...] é evidente a
analogia, quanto a valor civilizacional, e, portanto, a vitalidade nacional, entre o
primeiro periodo francez e o terceiro inglez, entre o segundo periodo francez e o
primeiro inglez, e entre o terceiro periodo francez e o segundo da Inglaterra. Tão
perfeita é a analogia social e civilizacional como a analogia litteraria. A litteratura
ingleza atinge o seu auge no primeiro, a franceza no segundo, periodo. São relati-
vamente ricas, a ingleza no terceiro periodo, a franceza no primeiro. E a ingleza no
seu periodo segundo e a franceza no terceiro seu estão no mesmo nivel de abati-
mento litterario perante os outros periodos.”, in pp. 103-104 in “III”.
23 Cf. id., ibid.: “[...] trez periodos distinctos, ainda que subdivisiveis em sub-
vimos, a corrente litteraria vem depois da corrente politica que lhe corresponde;
como em França se vê pelo apparecimento dos movimentos symbolistas, realista e
outros, claramente, nos annos que succedem áquelles em que se consolidou a
republica; e em Inglaterra pelo facto de Pope, em quem a corrente litteraria culmina
(Dryden, talvez maior, é um poeta de transição, pertencente em parte ainda ao
periodo anterior), sêr da geração seguinte á dos consolidadores da nova formula,
caracteristica da época [sic], a de monarchia constitucional.” et “As correntes
litterarias do segundo periodo inglez e o terceiro francez – aquelles periodos em que
essas nações nada criaram, nem para os outros nem para si [...]”, in p. 105 in loc.cit..
26 Cf. id., ibid.: “[...] o valor dos creadores litterarios corresponde ao valor creador
das épocas [sic] a que correspondem de modo que a litteratura não só traduz as
idéas da sua época [sic] mas – e é isto que importa que fixemos – o valor da
litteratura, perante a historia litteraria, corresponde ao valor da epoca, perante a
historia da civilização.”, in p. 104 in loc.cit.. Cf. id., “Reincidindo...”, in dir.cit. et
ed.cit.: “Vejamos a que especie de periodo social succedem as grandes epocas literarias
[sic] ingleza e franceza. Esse periodo é, em Inglaterra, o periodo pre-Tudor; em
França, é o fim do reinado de Luiz XV, e todo o de Luiz XVI. Que teem, de
analogo, estes dois periodos sociaes? São ambos periodos de apagada e esteril vida
politica, de despotismo facil, de agitação nulla e como que servil, se agitação chega a
haver – periodos onde se parece ter ficado n’uma estagnação social, paz ou guerra
que haja.”, in p. 139 in “III”, et “[...] o caso do isabel[l]ianismo [...], sobre ser o
maximo periodo da literatura ingleza é [...] o primeiro, no tempo, não tendo,
portanto, epoca literaria anterior [...]”, in p. 142 in “V”. Cf. n. 22.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 223
27 Cf. id., “Reincidindo...”, in dir.cit. et ed.cit.: “[...]”, in loc.cit.; cf. n. 63. Cf. id., “A
Nova Poesia Portugueza Sociologicamente Considerada”, in dir.cit. et ed.cit.:
“Examinemos agora quaes os caracteristicos interiores d’estas correntes litterarias.
[...] offerecem como mais importante facto espiritual a desnacionalisação da litteratura;
visto que a litteratura ingleza do seculo dezoito é vazada em moldes francezes e a
litteratura franceza de 1880 para cá é tudo menos franceza de espirito. Assim, para
dar o unico exemplo que o espaço pode admittir, o simbolismo, essencialmente
confuso, lyrico e religioso é absolutamente contrario ao espirito lucido, rhetorico e
sceptico do povo francez.”, in p. 105 in loc.cit.. Cf. n. 22.
224 DANIEL MOREIRA DUARTE
talvez também por isso mesmo ele considere ser inferior ao maxi-
mamente criador período da sua história da Inglaterra, cabendo-nos a
nós para mais pensar que segundo Pessoa o sujeito colectivo francês
seria intrinsecamente mais objectivista do que subjectivista, no seu
objectivismo se realizando maximamente e no subjectivismo alheio da
poesia simbolista degenerando, ao passo que à menos criadora das
poesias inglesas corresponderia pelo contrário a influência externa
sobre um seu intrínseco subjectivismo de algum excessivo objectivismo
externo, nomeadamente o francês, como a propósito da hegemonia da
França de Luís XIV ainda agora admitíamos28.
O jovem Nietzsche: em uma obra já do período dito da sua
madurez mas muito provavelmente a partir das suas anteriores invésti-
gações enquanto filólogo e enquanto estudante de Filologia Nietzsche
dir-nos-á que em várias línguas as palavras e raízes correspondentes à
designação de bom não nos remetem para o sentido moral que actual-
mente lhe vamos pretendendo dar mas sim para os juízos de distinta
forma morais que originariamente os dominadores fariam de si
mesmos e imporiam aos demais, aos que considerariam como uma
colectividade ou mesmo uma raça aparte, chamando-se e fazendo-se
ser chamados esses dominadores a si mesmos então através de nomes
que significariam tão simplesmente essa mesma superioridade de
poder sua, esse seu serem os poderosos, os senhores, os que mandam,
ou então através de nomes significativos do signo mais visível de tal
superioridade, como o seu serem os ricos ou o seu serem os proprie-
tários, mas começando a certa altura a chamar-se e a fazer-se ser
chamados através de nomes significativos de traços típicos do seu
carácter, começando nomeadamente, justamente por alturas do
apogeu da aristocracia na Grécia antiga, a chamar-se e a fazer-se ser
chamados através do nome grego que podemos traduzir por “nobre”
mas que etimologicamente se referirá a alguém tido por ser verdadeiro,
não tanto no sentido de ser veraz, de se tratar de alguém que diz a
verdade, mas sim no mais originário sentido de se tratar de alguém
28Cf. id., “Reincidindo...”, in dir.cit. et ed.cit.: “[...] das magnas epocas [...], estas
correntes interpretam completamente a alma nacional [...]”, in p. 142 in “V”. Cf. n.
67 et n. 69. Cf. n. 67 et n. 100.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 225
que é real, que tem realidade, que é29. Claro está, não cabe pensar
que de facto os demais que assim seriam dominados não tivessem
29 Cf. NIETZSCHE in tr.cit., op.cit.: “¡[...] esos historiadores de la moral! [...]. Como
es ya viejo uso de los filósofos, todos ellos piensan de una manera esencialmente a-
-histórica [...]. «Originariamente – decretan – acciones no egoístas fueron alabadas y
llamadas buenas por aquellos a quienes se tributaban, esto es, por aquellos a quienes
resultaban útiles; más tarde ese origen de la alabanza se olvidó, y las acciones no
egoístas, por el simple motivo de que, de acuerdo con el hábito, habían sido alabadas
siempre como buenas, fueron sentidas también como buenas – como si fueran en sí
algo bueno.» Se ve en seguida que esta derivación contiene ya todos los rasgos
típicos de la idiosincrasia de los psicólogos ingleses [...]... Para mí es evidente [...]
que esta teoría busca y sitúa en un lugar falso el auténtico hogar nativo del concepto
«bueno»: ¡el juicio «bueno» no procede de aquellos a quienes se dispensa «bondad»!
Antes bien, fueron «los buenos» mismos, es decir, los nobles, los poderosos, los
hombres de posición superior y elevados sentimientos quienes se sintieron y se
valoraron a sí mismos y a su obrar como buenos, o sea como algo de primer rango,
en contraposición a todo lo bajo, abyecto, vulgar y plebeyo. Partiendo de este pathos
de la distancia es como se arrogaron el derecho de crear valores, de acuñar nombres
de valores: ¡qué les importaba a ellos la utilidad!”, in pp. 36-37 in “2” in “Tratado
Primero | «Bueno y malvado», «bueno y malo»”, et “[...] que en las palabras y
raíces que designan «bueno» se transparenta» todavía, de muchas formas, el matiz
básico en razón del cual los nobles se sentían precisamente hombres de rango
superior. Es cierto que, quizá en la mayoría de los casos, éstos se apoyan, para darse
nombre, sencillamente en su superioridad de poder (se llaman «los poderosos», los
«señores», «los que mandan»), o en el signo más visible de tal superioridad, y se
llaman por ejemplo, «los ricos», «los propietarios» (éste es el sentido que tiene arya;
y lo mismo ocurre en el iranio y en el eslavo). Pero también se apoyan, para darse
nombre, en un rasgo típico de su carácter: y este [sic] es el caso que aquí nos interesa. Se
llaman, por exemplo, «los veraces»: la primera en hacerlo es la aristocracia griega,
cuyo portavoz fue el poeta megarense Teognis. La palabra acuñada a este fin,
ἐσϑλος [noble], significa etimológicamente alguien que es, que tiene realidad, que es
real, que es verdadero [...]”, in p. 41 in “5” in loc.cit.. Cf. id. in tr. Cristóbal Macías
Villalobos, Teognis de Mégara, in ed.cit.: “[...] como la autoridad de la nobleza, con la
cual se mantenía sumisa y obediente a la plebe, estuviera basada en la fama de su
antiguo linaje, en el conocimiento de la administración militar y política, en la
dirección de los asuntos religiosos, en el ornato y esplendor de las riquezas y de la
vida, y en el conocimiento de las artes liberales, ¿por qué ha de sorprender que
Teognis, cuando advirtió la gran diferencia que existía entre los nobles y la plebe,
dijera que el hombre noble debía evitar a toda costa el trato con la plebe?” et “Nos
encontramos, pues, con esa soberbia convicción de la nobleza doria, cuyas opiniones
nadie negará que se encuentran en Teognis, aunque puede dudarse de si éste se
mantuvo siempre en las mismas [...]”, in pp. 120-121 in “<15>” (“¿En qué se
226 DANIEL MOREIRA DUARTE
estamos pela transcendência cristã. Em resumo, sob a sua forma passada, o conceito
era aquilo que ainda não existia. Nós, hoje, temos os conceitos, mas os Gregos não
os tinham ainda; tinham o plano que nós deixámos de ter. Por isso é que os Gregos
de Platão contemplam o conceito, como qualquer coisa que está por cima e muito
longe ainda, ao passo que nós, nós temos o conceito, temo-lo no espírito de uma
maneira inata, basta reflectir.”, in pp. 90-91 in “4 | Geofilosofia”.
32 Cf. n. 44.
33 Cf. NIETZSCHE in tr. Luis Enrique de Santiago Guervós (et Joan B. Llinares et
Diego Sánchez Meca), Sobre verdad y mentira | en sentido extramoral [, 1873], in ed.
Diego Sánchez Meca, Obras completas I Escritos de juventud, pp. 609-619: “Sólo
mediante el olvido de ese primitivo mundo de metáforas, sólo mediante el endure-
cimiento y la petrificación de una masa de imágenes que brota originariamente en
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 229
36 Cf. id. in tr. Andrés Sánchez Pascual, op.cit.: “«Yo sufro: alguien tiene que ser
culpable de esto» – así piensa toda oveja enfermiza. Pero su pastor, el sacerdote
ascético, le dice: «¡Está bien, oveja mía!, alguien tiene que ser culpable de esto: pero
tú misma eres la única culpable de esto, – ¡tú misma eres la única culpable de ti!...» Esto es
bastante audaz, bastante falso: pero con ello se ha conseguido al menos una cosa,
con ello la dirección del resentimiento [...] queda cambiada.”, in p. 165 in “15” in
“Tratado Tercero | ¿Qué significan los ideales ascéticos?”.
37 Cf. id. in tr. Joan B. Llinares (et Diego Sánchez Meca et Luis E. de Santiago
39 Cf. id. in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “[...] se dan épocas que no saben discernir entre
un pasado monumental y una ficción mítica [...]” et “[...] cuando la consideración
monumental de lo pasado impera sobre los otros modos de consideración, esto es, el
anticuario y el crítico, sale perjudicado el pasado mismo: grandes partes de él se
olvidan, se desprecian, siendo como una ininterrumpida corriente gris donde sólo
facta aislados, embellecidos, se destacan cual islootes: en las contadas personas que
en general se hacen perceptibles llama la atención algo innatural y prodigioso [...]”
et “[...] la historia monumental [...]: siempre tenderá a la aproximación, la genera-
lización y, por último, la equiparación de lo desigual, siempre atenuará la diferencia
de los motivos y los móviles, para presentar los effectus en forma monumental, vale
decir, ejemplar y digna de emulación, a expensas de las causae: de suerte que, dada
su propensión a prescindir en lo posible de las causas, sin mucha exageración se la
podría llamar una colección de «efectos en sí», esto es, de acontecimientos que en
todos los tiempos surtirían efecto.”, in p. 705 in “2”, et “La historia monumental
engaña mediante analogías: con seductoras similitudes tienta al valiente a la
temeridad y al entusiasta al fanatismo, y si se imagina esta historia hasta en las
manos y mentes de los egoístas con talento y de los malhechores exaltados, se
destruyen reinos, se da muerte a príncipes, se instigan guerras y revoluciones y se
aumenta aún más el número de «efectos en sí» históricos [geschichtlichen], esto es, de
efectos sin causas suficientes.”, in p. 706 in loc.cit..
234 DANIEL MOREIRA DUARTE
40 Cf. id. in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “Esto, para recordar los daños que la historia
monumental puede ocasionar entre los poderosos y los activos, ya sean buenos o
malos: ¡y no digamos cuando se apoderan y se valen de ella los impotentes y los
inactivos! | Veamos el caso más simple y frecuente. Imaginemos a los humanos de
naturaleza no artística o poco artística armados y revestidos por la historia
monumental al modo de los artistas: ¡contra quién dirigirán sus armas! Contra sus
enemigos mortales, los espíritus de portentoso temperamento artístico, es decir,
contra aquellos que son los únicos capaces de aprender verdaderamente de esta
historia, esto es, de aprender para la vida y de traducir lo aprendido en una práctica
más elevada. [...]. Pues no quieren que surja lo grande; su recurso es decir: «¡Mirad,
lo grande ya está ahí!». En verdad lo grande que ya está ahí les importa tan poco
como lo grande que surge: como lo atestigua su vida. La historia monumental es el
disfraz bajo el cual su odio a los poderosos y grandes de su época pretende hacerse
pasar por admiración plena de los poderosos y grandes de épocas pasadas, disfraz en
el que invierten el sentido propiamente dicho de ese modo de considerar la historia;
tengan o no clara conciencia de su proceder, lo cierto es que actúan como si su lema
fuese: «Haced que los muertos entierren a los vivos».”, in loc.cit., et “Pertenece la
Historia ante todo al individuo activo y poderoso, a aquel que sostiene una magna
lucha, necesita modelos, maestros, confortadores, y no puede encontrarlos entre sus
compañeros ni en el presente. [...]. Con referencia al individuo activo, Polibio, por
ejemplo, define la historia política como la correcta preparación para el gobierno de
un Estado y como la maestra más extraordinaria que haciéndonos recordar las
calamidades ajenas exhorta a soportar con entereza las vicisitudes de la fortuna.”, in
p. 703 in loc.cit. [; cf. POLÍBIO, Historiae: “[...]”, in I 1 4].
41 Cf. id. in tr.cit., El nacimiento de la tragedia, in ed.cit.: “Homero, [...] el tipo de artista
peuple, cette société et ces individus puissent se définir des formes recevables et
acceptables de leur existence ou de la société politique. C'est pourquoi j'insiste plutôt
sur les pratiques de liberté que sur les processus de libération, qui, encore une fois,
ont leur place, mais ne me paraissent pas pouvoir, à eux seuls, définir toutes les
formes pratiques de liberté. Il s'agit là du problème que j'ai rencontré très
précisément à propos de la sexualité : est-ce que cela a un sens de dire «libérons
notre sexualité» ? Est-ce que le problème n'est pas plutôt d'essayer de définir les
pratiques de liberté par lesquelles on pourrait définir ce qu'est le plaisir sexuel, les
rapports érotiques, amoureux, passionnels avec les autres ? Ce problème éthique de
la définition des pratiques de liberté est, me semble-t-il, beaucoup plus important
que l'affirmation, un peu répétitive, qu'il faut libérer la sexualité ou le désir.”, in
http://1libertaire.free.fr/MFoucault212.html (2014\IV\29).
44 Cf. NIETZSCHE in tr. Luis Enrique de Santiago Guervós (et Joan B. Llinares et
Diego Sánchez Meca), Sobre verdad y mentira | en sentido extramoral, in ed.cit.: “Ese
impulso hacia la formación de metáforas, ese impulso fundamental del ser humano,
que en ningún momento se puede eliminar porque con ello se eliminaría al ser
humano mismo, no está en verdad dominado ni apenas domado por el hecho que
con sus evanescentes productos, los conceptos, se construya un mundo nuevo,
regular y rígido, que es como una fortaleza para él. Dicho impulso se busca para su
actividad un campo nuevo y un cauce distinto y los encuentra en el mito y, de modo
general, en el arte.”, in pp. 617-618 in “2”, “Aquel gigantesco entramado y
andamiaje de los conceptos, aferrándose al cual el ser humano indigente va salvando
la vida, es, para el intelecto liberado, solamente un armazón y un juguete para sus
más temerarias obras de arte: y cuando lo destruye, lo arroja sin orden ni concierto,
o con ironía lo vuelve a componer, uniendo lo más diverso y separando lo más afín,
entonces revela que no necesita de aquellos auxilios extremos de la indigencia y que
ahora no se guía por conceptos sino por intuiciones. Ningún camino regular
240 DANIEL MOREIRA DUARTE
Pessoa, Lisboa, Editorial Presença, II ed. 1988: “O poeta é um fingidor, | Finge tão
completamente | Que chega a fingir que é dor | A dor que deveras sente.”, in p.
108 in “De «Poesias» de Fernando Pessoa” [; cf. id., op.cit., in dir. João Gaspar
Simões et José Régio, Presença 36, Coimbra, 1932]. Cf. NIETZSCHE, “Die Bösen
liebend”, 1884, in ed. Laureano Pérez Latorre, Friedrich Nietzsche | Poesía completa
(1869-1888), Madrid, Editorial Trotta, III ed. 2008: “Der Dichter, der lügen kann |
wissentlich, willentlich | Der kann allein Wahrheit reden” in p. 146 in “Poesía
póstuma” in “Poesías sueltas”. Cf. SENA, Jorge de, “«O poeta é um fingidor» |
(Nietzsche, Pessoa e outras coisas mais)”, 1959, in ed. Mécia de Sena, Fernando Pessoa
& Cª heterónima | Estudos coligidos 1940-1978, Lisboa, Edições 70 (et Mécia de Sena),
III ed. 2000, pp. 97-117. Cf. PESSOA, s.t., 1914?, in [ed. Georg Rudolf Lind et
Jacinto do Prado Coelho, Páginas de Estética e de Teoria Literárias, Lisboa, Editorial
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 241
Dits et écrits IV, Paris, Éditions Gallimard, 1994: “Il n’y a pas d’action morale
particulière qui ne se réfère à l’unité d’une conduite morale ; pas de conduite morale
qui n’appelle la constitution de soi-même comme sujet moral ; et pas de constitution
du sujet moral sans des ”modes de subjectivation” et sans une ”ascétique” ou
des ”pratiques de soi” qui les appuient.”, in p. 558 [; cf. id., op.cit., in dir. Pierre
Nora, Le Débat 27, Paris, Éditions Gallimard, 1983\XI, pp. 46-72]. Cf. DELEUZE et
GUATTARI in tr.cit., op.cit.: “[...] as personagens conceptuais (e também as figuras
estéticas) são irredutíveis a tipos psico-sociais [...]”, in p. 62 in “3 | As personagens
conceptuais”, et “As grandes figuras estéticas do pensamento e do romance, mas
também da pintura, da escultura e da música, produzem afectos que excedem as
242 DANIEL MOREIRA DUARTE
vivência da Verdade com efeito não seria bem consciente, isso é o que
já em “Para a genealogia da moral” nos dirá Nietzsche a propósito
dos primeiros filósofos, escritores tantas vezes ainda de poemas, que
tendo começado a aparecer em épocas terríveis como seria o primitivo
47 Cf. id. in tr. Luis Enrique de Santiago Guervós (et Joan B. Llinares et Diego
Sánchez Meca), La filosofía en la época trágica de los griegos [, 1873], in ed. Diego
Sánchez Meca, Obras completas I Escritos de juventud, pp. 571-607: “El camino hacia los
orígenes nos lleva siempre a la barbarie [...]” et “[...] Tales, Anaximandro, Heráclito,
Parménides, Anaxágoras, Empédocles, Demócrito y Sócrates. [...]. No son nada
convencionales, porque en aquellos tiempos no existía un estamento de filósofos y
doctos. Todos ellos se encontraron inmersos en una grandiosa soledad, puesto que
son los únicos que en aquella época vivían sólo para el conocimiento.”, in p. 575 in
“1”, et “La filosofía es peligrosa, cuando no tiene pleno derecho a existir [...]”, in p.
573 in loc.cit., et “Existe una necesidad férrea que encadena al filósofo a una
verdadera cultura: ¿pero cómo cuando esa cultura no existe? En tal caso el filósofo
es un cometa imprevisible y que por eso infunde miedo [...]”, in p. 576 in loc.cit.. Cf.
n. 17.
48 Cf. id. in tr. Andrés Sánchez Pascual, La genealogía de la moral | Un escrito polémico:
49 Cf. id. in tr. Luis Enrique de Santiago Guervós (et Joan B. Llinares et Diego
Sánchez Meca), La filosofía en la época trágica de los griegos, in ed.cit.: “Los griegos, por el
contrario, han sabido comenzar a filosofar a su debido tiempo y nos han enseñado,
con una claridad que ningún otro pueblo ha igualado, cuándo se tiene que
comenzar a filosofar. No ciertamente en la adversidad: algo que creen algunos, los
que derivan la filosofía del mal humor. Sino en la época feliz, en una pubertad
madura, brotando de la fogosa alegría de una victoriosa y valiente edad viril. [...]. Si
los griegos de entonces hubiesen sido aquellos hombres sobrios y sabihondos,
prácticos y serenos, como se los imagina el filisteo docto de nuestros días, o si
hubiesen vivido sólo de manera orgiástica, entre fluctuaciones y sonidos, entre
anhelos y sentimientos violentos, como les gusta pensar en ellos a los soñadores
ignorantes, entonces la fuente de la filosofía no habría brotado en Grecia.”, in p. 574
in loc.cit., et “Por eso los griegos justifican al filósofo, porque solamente entre ellos
no es un cometa.”, in p. 576 in loc.cit.. Cf. n. 17.
50 Cf. id. in tr. Joan B. Llinares (et Diego Sánchez Meca et Luis E. de Santiago
hizo esta resistencia cuando desde la raíz más honda de lo helénico se abrieron paso
finalmente pulsiones similares: ahora la actuación del dios délfico se limitó a quitar
de las manos de su poderoso adversario, mediante una reconciliación concertada a
246 DANIEL MOREIRA DUARTE
que de forma nenhuma quer dizer que então teriam os gregos perdido
a sua soberania: pelo contrário, segundo o jovem Nietzsche não por
uma simples importação qualquer mas sim justamente por uma tal
absorção de culturas estrangeiras, por uma tal subjectivação colectiva,
teriam os gregos podido desenvolver em si mesmos uma cultura
superior e fazer crescer a partir do seu solo natural até a própria
Filosofia52. Enfim, do que em tudo isto se trata é de uma terceira
dimensão de toda a Vivência da História, ou da Memória, de uma
terceira dimensão da Alethéia, afinal, à qual não obstante já não
corresponderá uma mera conservação das verdades tradicionais senão
o que o jovem Nietzsche diz ser uma história crítica, através da qual se
investigaria e consequentemente por um lapso de tempo se destruiria
o esquecimento para que já apontei da originariamente metafórica e
logo enquanto absolutizada falsa natureza da própria memória
conservada, assim se pondo em evidência a injustiça da existência de
castas, dinastias e demais prerrogativas, pelo que então se julgaria e
condenaria a tradição, não estando isento também esse processo
crítico de perigos cognitivos e morais, pois assim julgaria não uma
qualquer Justiça em si mas apenas a subjectiva vítima de alguma
opressão, quando não meros eruditos não tendo para tanto qualquer
vital razão, e não estando o mesmo processo isento também de perigos
vitais, mais ainda do que esse de ser posto em marcha sem uma
efectiva necessidade, pois não obstante a sua originariamente forjada
arbitrariedade a verdade entretanto tornada tradicional assim mesmo
Sánchez Meca), La filosofía en la época trágica de los griegos, in ed.cit.: “Sin duda, se ha
hecho hincapié en todo lo que los griegos pudieron aprender y encontrar en los
países extranjeros de Oriente, y en todas las cosas que ellos han sacado de allí. [...]
nos dejaríamos cautivar por esta idea en su conjunto, si no se nos importunara con
el argumento de que en Grecia la filosofía ha sido simplemente importada y no ha
crecido de su natural suelo natal, y que como algo extraño esa filosofía en lugar de
hacer progresar a los griegos, les ha llevado a la ruina. No hay cosa más estúpida
que atribuir a los griegos una cultura autóctona; ellos absorbieron más bien toda
cultura de otros pueblos que fuese viva, por eso han llegado tan lejos, precisamente
porque han sabido lanzar la jabalina más lejos, recogiéndola allí donde otros
pueblos la habían abandonado.”, in p. 574 in loc.cit..
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 247
53 Cf. id. in tr. Joan B. Llinares (et Diego Sánchez Meca et Luis E. de Santiago
Guervós), Consideraciones intempestivas II | De la utilidad y los inconvenientes de la historia
para la vida, in ed.cit.: “[...] únicamente aquel al que un apremio actual oprime el
pecho y que ansia sacarse de encima esta carga, cueste lo que cueste, tiene una
necesidad de historia crítica, esto es, la necesidad de una historia que juzgue y que
condene.”, in p. 707 in “2”, et “Es preciso que, para poder vivir tenga la fuerza y la
emplee de tanto en tanto, de quebrar y disolver un pasado: para cuyo fin abre juicio
sobre él, lo hace objeto de una estricta investigación y, por último, lo condena; pero
todo pasado merece ser condenado – pues en las cosas humanas siempre han
privado la violencia y la debilidad humanas. No es la justicia lo que aquí juzga [...].
Se requiere mucha fuerza para poder vivir y para olvidar hasta qué punto vivir y ser
injusto es una y la misma cosa. [...]. Pero a veces la misma vida que necesita del
olvido pide la destrucción por un lapso de tiempo de ese olvido; precisamente
entonces ha de ponerse en evidencia la injusticia inherente a la existencia de tal o
cual cosa, de tal o cual prerrogativa, casta o dinastía, y hasta qué punto esa cosa
merece desaparecer. [...]. Es siempre un proceso peligroso, peligroso para la vida
misma: y los seres humanos o las épocas que sirven a la vida juzgando y destruyendo
un pasado siempre son individuos y épocas peligrosos y expuestos a peligros. Pues
siendo como somos los resultados de generaciones anteriores, somos también los
resultados de sus yerros, pasiones y extravíos, y aun de sus crímenes; no es posible
desligarse del todo de esta cadena. No por condenar esos extravíos y considerarnos
emancipados de ellos deja de ser un hecho que provenimos de ellos. Llegamos,
cuando más, a un choque entre la naturaleza ingénita y heredada y nuestro
conocimiento, acaso también a la lucha de una disciplina nueva y severa contra lo
desde antiguo heredado e inculcado, plantamos una costumbre nueva, un instinto
nuevo, una segunda naturaleza, y de esa forma se atrofía la primera. Se trata, en
248 DANIEL MOREIRA DUARTE
cierto modo, de una tentativa de darse a posteriori un pasado del que se quisiera
provenir, en contraposición a aquel del que se proviene – tentativa siempre
peligrosa, por ser muy difícil dar con un límite en la negación de lo pasado y porque
las segundas naturalezas suelen ser más débiles que las primeras. [...]. Pero aquí y
allá se obtiene la victoria, y hasta hay para los luchadores, para los que hacen de la
historia crítica un instrumento suyo al servivio de la vida, un consuelo singular: saber
que también esa primera naturaleza fue una vez segunda y que toda segunda
naturaleza triunfante se convierte en primera.”, in p. 710 in “3”.
54 Cf. n. 40. Cf. id. in tr. Pedro González-Blanco et Luciano de Mantua, La Gaya
Ciencia [, 1887 (I ed. 1882)], Palma de Mallorca, José J. de Olañeta, III ed. 2003:
“Sólo como creadores. – Hay una cosa que ha producido la mayor confusión y sigue
causándomela: es advertir cómo es infinitamente más importante conocer el nombre
de las cosas que saber lo que son. La fama, el nombre, el aspecto, la importancia, la
ordinaria medida y [sic] peso de una cosa fueron en su origen las más veces un
error, una calificación caprichosa puesta sobre las cosas como una vestidura y
completamente ajena a su manera de ser y hasta a su apariencia superficial; pero
por la fe que se les otorga, por su desenvolvimiento de generación en generación,
poco a poco se van adhiriendo a la cosa y con ella se identifican y a ella se
incorporan. Así la apariencia primitiva acaba casi por volverse esencia y semeja ser
tal esencia. Loco sería quien se figurase que basta indicar este origen y esta nebulosa
envoltura de la ilusión para destruir ese mundo tenido por esencial, mundo que
llamamos realidad. Mas no olvidemos tampoco esto: basta inventar nuevos
nombres, apreciaciones y probabilidades nuevas para crear poco a poco cosas
nuevas.”, in p. 78 in “58.” in “Libro Segundo”.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 249
como apseudés son términos negativos – la presencia de la alfa privativa lo señala así
de modo inequívoco. Es razonable suponer entonces que tuvo que ser necesaria, sin
duda, una notable torsión de sus contenidos semánticos para que, una vez consti-
tuida la polaridad filosófica alethéia [/] pseudós, esta relación acabara por invertirse:
siendo «verdad» utilizado como término positivo, mientras que pseudós era
identificado como negativo.”, in p. 31 in loc.cit., et “Con este gesto de Hesíodo, se
sientan las condiciones de posibilidad para el desplazamiento de los términos
arcaicos de la polaridad, al establecerse en el seno del logos, del lenguaje, como
oposición mayor, alétheia / pseudós – que no debe traducirse todavía como verdad /
falsedad, sino por «mantener la memoria de la verdad» frente a «mentir».”, in pp.
31-32 in loc.cit..
250 DANIEL MOREIRA DUARTE
1887 – Enero 1889, Madrid, Editorial Trotta, 2012: “¡Ariadna, te amo! Dioniso” in p.
372. Cf. id. in tr.cit., in litt. Umberto I, 1889\I\cca.4, in ed.cit.: “□ A mi amado hijo
Umberto | ¡Que mi paz sea contigo! Iré el martes a Roma y quiero verte junto a su
santidad el papa. | □ El Crucificado”, in p. 376. Etc.; cf. DELEUZE, op.cit.: “[...]”, in
pp. 9-11 in “4) Contre la dialectique” in “Le tragique”, et “[...]”, in pp. 16-19 in “7)
Dionysos et le Christ” in loc.cit..
58 MOREY, op.cit.: “Es esta oposición la que recogerán los primeros filósofos – y se
más proclive a dejarse trocar por el par mentir / desmentir, antes que por cualquier
otro. La voluntad de alethéia que constituye el eje de tensión de nuestra lucidez sería
entonces, antes que cualquier otra cosa y en su faz arcaica, voluntad de inquisición
de la mentira – una sed despobladora de opiniones, fascinada por el desierto.”, in p.
31 in loc.cit..
59 Cf. PESSOA, “A Nova Poesia Portugueza no seu aspecto Psychologico | |
ed.cit.: “O primeiro facto que se nota é que a actual corrente litteraria portugueza é
absolutamente nacional, e não só nacional com a inevitabilidade bruta de um canto
popular, mas nacional com idéas especiaes, sentimentos especiaes, modos de expressão
especiaes e distinctivos de um movimento litterario completamente portuguez; e, de
resto, se fosse menos, não seria um movimento litterario, mas uma especie de traje
psychico nacional, relegavel da categoria de arte para a, para este caso sociologico
nulla, de um mero costume caracteristico.”, in pp. 105-106 in “IV”, et “O segundo
facto a notar é que o movimento poetico portuguez contém individualidades de
vincado valor: não são Miltons nem Shakespeares, mas são gente que se extrema,
além de pelo tom, que é da corrente, pelo valor mesmo [...]” et “O terceiro e ultimo
facto que se impõe é que este movimento poetico dá-se coincidentemente com um
periodo de pobre e deprimida vida social, de mesquinha politica, de difficuldades e
obstaculos de toda a especie á mais quotidiana paz individual e social [...]”, in p. 106
in loc.cit., et “Porque a corrente litteraria, como vimos, precede sempre a corrente
social nas épocas sublimes de uma nação. Que admira que não vejamos signal de
renascença na vida politica, se a analogia nos manda que o vejamos apenas uma,
duas ou trez gerações depois do auge da corrente litteraria?” et “Ousemos concluir
isto, onde o raciocinio excede o sonho: que a actual corrente litteraria portugueza é
completa- e absolutamente o principio de uma grande corrente litteraria, das que
precedem as grandes épocas [sic] creadoras das grandes nações de quem a civilização é filha.”, in p.
107 in loc.cit..
66 Cf. id., “A Nova Poesia Portugueza no seu aspecto Psychologico”, in dir.cit. et
67 Cf. id., ibid., in dir.cit. et ed.cit.: “A primeira constatação analytica que o racio-
cinio faz ante a nossa poesia de hoje é que o seu arcabouço espiritual é composto
dos trez elementos – vago, subtileza, e complexidade. São vagas, subtis, e complexas as
expressões caracteristicas do seu verso, e a sua ideação é, portanto, do mesmo triplo
caracter.” et “Ideação vaga é cousa que é escusado definir, de exhaustivamente
explicante que é de per si o mero adjectivo; urge, ainda assim, que se observe que
ideação vaga não implica necessariamente ideação confusa, ou confusamente expressa (o
que aliás redunda, feita uma funda analyse psychologica, precisamente no mesmo).
Implica simplesmente uma ideação que tem o que é vago ou indefinido por
constante objecto e assumpto, ainda que nitidamente o exprima ou definidamente o
trate [...]. Uma ideação obscura é, pelo contrario, apenas uma ideação ou fraca ou
doentia. Vaga sem ser obscura é a ideação da nossa actual poesia; vaga e frequen-
temente – quasi caracteristicamente – obscura é a do symbolismo francez [...]”, in p.
90 in loc.cit., et “Por ideação subtil entendemos aquella que traduz uma sensação
simples por uma expressão que a torna vívida, minuciosa, detalhada – mas deta-
lhada não em elementos exteriores, de contornos ou outros, mas em elementos
interiores, sensações –, sem comtudo lhe acrescentar elemento que se não encontre
na directa sensação inicial. [...]. [...] nos versos de Mario Beirão | | □ Charcos onde
um torpor, vitreo torpor, se esquece, | □ Nuvens roçando a areia, os longes baços...
| □ Paizagem como alguem que, ermo de amor, se desse, | □ Corpo que estagna
frio a beijos ou a abraços, | | ha simplesmente um desdobrar, como em leque, de
uma sensação crepuscular, que cada termo maravilhosamente intensifica, mas não
alarga.”, in pp. 90-91 in loc.cit., et “[...] entendemos por ideação complexa a que
traduz uma impressão ou sensação simples por uma expressão que a complica
acrescentando-lhe um elemento explicativo, que, extrahido d’ella, lhe dá um novo
sentido. A expressão subtil intensifica, torna mais nitido; a expressão complexa dilata,
torna maior. A ideação subtil involve ou uma directa intellectualização de uma idéa,
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 259
primeiro logar citados, de Mario Beirão [,] que a uma objectividade (plasticidade)
perfeita unem uma perfeita subjectividade (subtileza). [...] prova que a nossa actual
poesia possue egualmente o segundo elemento caracteristico da poesia objectiva;
elemento esse que é mais um a equilibrar-lhe a profunda espiritualidade.” et “[...]
imaginação [...]. A este maximo grau de objectividade não subiu ainda a nova poesia
portugueza: prova-o ao ouvido o seu movimento geralmente lento [...]”, in p. 93 in
loc.cit. [; cf. BEIRÃO, Mario, “Coimbra, ao ritmo da saudade”; cf. id., “O Sonho”;
cf. PASCOAES, “Elegia (Vida Etherea)”].
68 Cf. PESSOA, op.cit., in dir.cit. et ed.cit.: “Resultam [...] trez cousas. A primeira é o
já-citado equilíbrio [...]. A segunda é que, sendo ao mesmo tempo, e com quasi egual
intensidade, poesia subjectiva e objectiva, poesia da alma e da natureza, cada um
d’estes elementos penetra o outro; de modo que produz essa extranha e nitida
originalidade da nossa actual poesia – a espiritualização da Natureza e, ao mesmo tempo,
a materialização do Espírito, a sua comunhão humilde no Todo, comunhão que é, já
não puramente pantheista, mas, por essa citada espiritualização da Natureza, super-
-pantheista, dispersão do ser n’um exterior que não é Natureza, mas Alma. Decorre de
aqui uma terceira cousa. Esta interpretação das duas almas da sua alma una obriga
a nova poesia portugueza a ser puramente e absorvidamente metaphysica [...]”, in
pp. 93-94 in loc.cit., et “[...] de ser a nossa nova poesia absorventemente meta-
physica ha uma conclusão a tirar. Poesia metaphysica implica emoção metaphysica;
emoção metaphysica é simplesmente synonymo de religiosidade. A actual poesia
portugueza é pois uma poesia religiosa. [...]. – Ha mais: a religiosidade da nossa
actual poesia é uma religiosidade nova, que não se parece com a de nenhuma outra
poesia, nem com a de qualquer religião, antiga ou moderna. Contraste-se n’isto com
o symbolismo, que não tem religiosidade propria; e não a tem porque a que tem é
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 261
de pag. 94)”, in dir.cit. et ed.cit.: “Só na Renascença nos apparece uma figura
culminante, Shakespeare, que accusa sobre Homero alguma – não importa quanta
superioridade. – Isto indica que a Renascença marca uma evolução real do espirito
humano, o attingir de um grau já super-grego de poder creador. Como, desde a
Renascença, ninguem ainda appareceu de quem se possa pretender que é superior,
ou mesmo egual, a Shakespeare, forçoso é que se conclúa que a humanidade, se
entrou já em periodo de verdadeiro avanço espiritual sobre a Renascença, não
chegou ainda á culminancia d’esse periodo.”, in p. 156 in “V”, et “Estabeleçamos
agora o valôr relativo da Renascença e do Romantismo. [...] notamos sem hesitação
que a Ronascença [sic] é superior ao Romantismo. [...]. Visto que o seu valôr é
inferior, elle só pode ser uma de trez cousas: ou uma decadencia da Renascença, ou
uma reacção contra a Renascença, ou o principio de uma Nova Renascença, que
em sua culminância será superior, mas que pode não o ser em seu inicio, como
Dante, o maior poeta do inicio da Renascença, é inferior a Homero. [...] o
262 DANIEL MOREIRA DUARTE
71 Cf. id., ibid., in dir.cit. et ed.cit.: “O espirito humano, por sua propria natureza de
duplamente – interiormente e exteriormente – percipiente, nunca pode pensar senão
em termos de um dualismo qualquér; mesmo que se esforce por chegar, e até certo
ponto chegue, a uma concepção altamente monistica, dentro d’essa concepção
monistica há um dualismo. Mesmo que dos dois elementos constitutivos da Expe-
riencia – materia e espirito – se negue a realidade a um, não se lhe nega a existencia
como irrealidade, como apparencia – o que transforma o dualismo espirito-materia em
dualismo realidade-apparencia; mas realidade-apparencia é, para o espirito, um
dualismo. | O genero de dualismo, porém, depende de, é condicionado por, o que
se considera a Realidade Absoluta, a realidade realmente real; e é a procura d’essa
realidade que é o fim da especulação metaphysica. O espirito não pode admitir duas
realidades: a idéa de realidade absoluta involve a idéa de unidade. Mesmo, portanto,
que o espirito admitta, como em alguns sistemas – e flagrantemente no espiritua-
lismo classico – acontece, dois principios, com egual objectividade reaes, é forçado a
admittir que o genero de realidade de um d’esses principios é superior ao da do
outro. | Temos, pois, que todo o systema philosophico involve um dualismo e um
monismo. A constituição do espirito impõe-lhe, por mais que elle lhe queira fugir,
que pense dualisticamente; a noção de realidade obriga-o a pensar monisticamente.
O espirito não pode construir um systema pura e integralmente monistico; e um
sistema puramente dualistico não seria um systema philosophico. | Todo o systema
philosophico sendo, portanto, a tentativa para reduzir a um monismo o dualismo
essencial do nosso espirito, é de subentender que represente uma systematisação de
elementos da Experiencia em torno áquella parte da Experiencia – materia ou
espirito – que o philosopho, por causas que, em sua essencia, são de temperamento,
considera a Realidade. Temos, pois, que, consoante para o philosopho o espirito ou
a materia se apresenta como a realidade essencial, um de dois sistemas pode
directamente surgir – o espiritualismo ou o materialismo. – Para o materialista a
fórma essencial de realidade, seja ela especialisadamente qual for no seu especial
systema, é sempre uma realidade de que forma parte inalienavelmente um elemento
ou espacial, ou, pelo menos, de inconsciencia. – Para o espiritualista, atravez das varias
formas que pode tomar o espiritualismo, ha sempre de central e essencial um
elemento, o elemento consciencia, que é o que o espirito immediatamente concebe
como sua base propria. D’aqui partem todas as theorias caracteristicas do espiritua-
lismo – a immortalidade da alma (concebida impossibilidade de anular a cons-
ciencia), o livre-arbitrio (concebida superioridade do consciente sobre o incons-
ciente) e a existência de um Deus clara- ou obscuramente tido como pessoal, isto é,
como consciente. | A ideação metaphysica pode, porém, tentar monismo de outro
modo mais queridamente absoluto. Não ha, é certo, outros elementos da Expe-
riencia que não a materia e o espirito; o pensamento, porém, de certo modo tenta
266 DANIEL MOREIRA DUARTE
supprimir este dualismo. E de trez modos o pode fazer: 1.° Negando toda a realidade
objectiva a um dos elementos da Experiencia, isto é (consoante já passim vimos),
reduzindo o dualismo ao minimamente dualistico (ainda que impossivelmente de
todo monistico) dualismo de realidade-apparencia. Conforme é o espirito ou a
materia o elemento eliminado, temos o materialismo absoluto ou o espiritualismo
absoluto. – 2.° Admitindo a realidade egual de ambos os elementos da Experiencia;
ora, como isto resulta num absurdo de systema – dado que a existencia de duas,
eguais, realidades é impensável – fatalmente essa dupla realidade tira o seu caracter
de realidade de ser, basilarmente, a dupla manifestação de qualquer cousa em sua
essencia tida por nem matéria nem espirito, ainda que somente existente e real
naquelas suas manifestações. Se essa substancia as transcendesse, isto é, fosse outra
cousa, existisse substancialmente àparte da sua manifestação atravez de materia e
espirito, estariamos então peorados para trez realidades. – 3.° Negando a realidade
a ambos elementos da Experiencia, considerando-os apenas como a manifestação,
não real mas illusoria, de uma transcendente e verdadeira e só realidade. – Temos
assim, além dos citados materialismo e espiritualismo absolutos, no segundo systema
citado o pantheismo, e no terceiro o transcendentalismo. | O leitor reparou que no
primeiro genero de systemas acima expostos ha duas formas – uma materialista,
outra espiritualista. O mesmo acontece ao pantheismo e ao transcendentalismo. É
que, por mais que abstractamente ideêmos, realmente não temos outros modelos
por onde idear senão espirito e materia. Mesmo, portanto, que concebamos um
Transcendente, inconscientemente e involuntariamente o teremos de conceber
como feito á imagem da matéria [sic] ou á semelhança do espirito. Assim, temos um
pantheismo materialista e um pantheismo espiritualista. O primeiro – o de Spinoza
– é o que encerra o que Spinoza, não se sabe porquê, chama Deus, nos seus
attributos. Estes, são como que o corpo de Deus; mas para além desse corpo, Deus
não é nada. É só o corpo de si proprio. Vê-se que o modelo é materialista; tanto
quanto um pantheismo pode ser materialista, é-o o systema de Spinoza. – O
pantheismo espiritualista admitte Deus substancia de tudo, mas permanecendo Deus
e diverso atravez da sua manifestação por seus attributos. Faça-se uma distincção
subtil, que tem de ser subtilmente compreendida: para o pantheista materialista tudo
é Deus; para o pantheista espiritualista Deus é tudo. Se houvesse sido pensado
coherentemente, e despidamente de influencias de estreita theologia, teria sido este o
systema de Malebranche. | Com o transcendentalismo acontece o mesmo. Importa
fixar bem a differença entre o pantheismo e o transcendentalismo, tanto mais que
estabelecemos nós estes termos independentemente de como tenham sido usados
antes, assim como, de resto, fazemos esta classificação de modo absolutamente
original. – Para o pantheismo de qualquér das duas especies, materia e espirito são
manifestações reaes de Deus, exista ele (pantheismo espiritualista) ou não (pantheismo
materialista) como Deus além das suas duas manifestações. Para o transcenden-
talista, materia e espirito são manifestações irreaes de Deus, ou, antes, para não
errarmos, do Transcendente, o Transcendente manifestando-se como a illusão, o
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 267
72 Cf. id., ibid., in dir.cit. et ed.cit.: “Feito assim o esboço psychologico da nossa
actual poesia no que respeita á sua esthetica e á sua metaphysica, resta concluir
approximadamente qual deva ser a resultante social das forças da Raça cujo primeiro
assomo á tona da realidade ora e apenas se está fazendo, n’essa, citada, poesia.” et
“Só muito informemente, por razões que já expusémos, essa creação social, em seu
genero e especialidade, é antevisivel.” et “Sendo o transcendentalismo pantheista
um systema essencialmente envolvedor de uma fusão de elementos absolutamente
oppostos, segue-se que a creação resultante da nova alma lusitana deverá envolver,
em seu resultado definitivo e ultimo, o estabelecimento de qualquér nova formula
social onde uma fusão d’essas se dê. [...] a futura creação social da Raça portugueza
será qualquér cousa que seja ao mesmo tempo religiosa e politica, ao mesmo tempo
democratica e aristocratica, ao mesmo tempo ligada á actual formula da civilisação e
a outra cousa nova. [...] inutil deve ser notar quanto essa futura formula deve distar
do christianismo, e especialmente do catholicismo, em materia religiosa; da
democracia moderna, em todas as suas formas, em materia politica; do comer-
cialismo e materialismo radicaes na vida moderna, em materia civilizacional [sic]
geral. E, finalmente, é da mesma inutilidade acrescentar, accentuando e especia-
lisando a sua divergencia da democracia, que as formas extremas ou perturbadas
d’esta – anarchismo, socialismo, etc. – serão varridas para fóra da realidade, mesmo
do sonho nacional; os humanitarismos morrerão ante essa nova formula social, de
portugueza origem, mais alta, provavelmente, em sentimento religioso do que outra
qualquér que tenha havido, mais rude e cruel talvez em pratica social do que o mais
rude militarismo commercialista.”, in p. 192 in “VIII”. Cf. id., “Reincidindo...”, in
dir.cit. et ed.cit.: “[...] periodo politico que as grandes épocas [sic] literarias [sic]
precedem – não offerece, é claro, interesse analogico, dado que não passámos ainda do
principio do segundo estadio do periodo literario [sic].”, in p. 140 in “III”.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 269
75 Cf. n. 22.
272 DANIEL MOREIRA DUARTE
78 Cf. id. in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “Aquí cobra vida en nosotros la sensación de
que el nacimiento de una edad trágica no ha de significar para el espíritu alemán
sino un retorno a sí mismo, un dichoso reencontrarse, después de que poderes
enormes, que lo habían estado invadiendo desde fuera durante mucho tiempo, a él,
que vegetaba en una desamparada barbarie de la forma, lo habían obligado a vivir
en una servidumbre sometida a la forma que ellos le imponían.”, in p. 418 in “19”,
et “Nosotros tenemos en tanta estima el núcleo puro y enérgico del ser alemán, que
precisamente de él nos atrevemos a esperar aquella expulsión de elementos extran-
jeros injertados con violencia, y consideramos posible que el espíritu alemán vuelva
a acordarse de sí mismo.”, in p. 433 in “23”.
79 Cf. id. in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “[...] Apolo supera aquí el sufrimiento del
80 Cf. id. in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “En el arte dionisíaco y en su simbolismo trágico
la naturaleza misma nos dirige la palabra con su voz verdadera, no cambiada: «¡Sed
lo que soy! ¡Bajo el cambio incesante de los fenómenos, la madre primordial
eternamente creadora, la madre primordial que eternamente apremia hacia la
existencia y que eternamente encuentra en este cambio de los fenómenos su propia
satisfacción!»”, in loc.cit.. Cf. id. in tr.cit., in ed.cit.: “El mito trágico sólo se ha de
comprender como una configuración plástica de la sabiduría dionisíaca por medios
artísticos apolíneos; él lleva el mundo del fenómeno a los limites en los que éste se
niega a sí mismo e intenta refugiarse de nuevo en el seno de la verdadera y única
realidad [...]”, in p. 427 in “22”, et “[...] para servirnos de la terminología de Platón,
se tendría que hablar de las figuras trágicas del escenario helénico poco más o menos
de este modo: el único Dioniso verdaderamente real se manifiesta en una pluralidad
de figuras, con la máscara de un heróe que lucha, y, por así decirlo, prisionero en la
red de la voluntad individual.”, in p. 374 in “10”. Cf. CASTILLA Cerezo, Antonio,
“Giorgio Colli: por una lectura crítica de Nietzsche”, in coord. Antonio Castilla
Cerezo, Nietzsche o el espíritu de ligereza, México DF / Madrid, Plaza y Valdés, 2007,
pp. 121-137: “Dado que la expresión [...] consta siempre de dos polos, el fondo
oculto inagotable y las concreciones y objetos del mundo, se entiende que de todos
los dioses griegos Nietzsche se quedara con dos, Dioniso y Apolo, que representan
respectivamente esas dos tendencias. Colli localiza en este punto el nervio central
que recorre la totalidad de la obra de Nietzsche, pero también su más profundo
error. Apolo sería, según este modelo, el dios de lo concreto, de la representación, en
tanto que Diónisos sería su contrario, el dios de la embriaguez, del caos y de la
pérdida del principio de individuación. Pero encarnar la pérdida de la individuación
en una figura concreta, ¿no es lo mismo que individuarla? Dioniso, como señala
Colli, es también una representación, un concepto, y por lo tanto una derivación de
Apolo, en lugar de ser ontológicamente anterior a él, como sostuviera Nietzsche.
Entender que el pensador alemán planteó el problema de la expresión en nuevos
términos implica, según Colli, percatarse también de que tales términos no son
todavía los adecuados. Nietzsche liberó a la filosofía, dice Colli, de una confusión, la
que identificaba el fondo último de la expresión con un Dios único, y por ello no
podemos dejar de remitirnos a él para hacer filosofía en nuestros días, pero se
entregó a otra, a la equiparación de ese mismo fondo con la figura de Dionisos [...]”,
in pp. 125-126; cf. COLLI, Giorgio, in tr. Carmen Artal, Después de Nietzsche,
Barcelona, Editorial Anagrama, 1978 [; cf. id., Dopo Nietzsche, Milano, Adelphi
Edizioni, 1974].
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 275
81 Cf. NIETZSCHE in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “¡[...] ahora uno debe no ocultarse lo
que está escondido en el seno de esa cultura socrática! ¡Un optimismo que se cree
que no tiene límites ni barreras! ¡Ahora uno debe no asustarse si los frutos de ese
optimismo maduran, si la sociedad, agriada hasta en sus capas más bajas por
semejante cultura, se estremece paulatinamente bajo efervescencias y apetencias
exuberantes, si la fe en la felicidad terrenal de todos, si la fe en la posibilidad de
semejante cultura universal del saber se transmuta paulatinamente en la amena-
zadora exigencia de semejante felicidad terrenal alejandrina [...]”, in p. 409 in “18”.
82 Cf. id. in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “Es un fenómeno eterno: la ávida voluntad
cultura helénica, o bien una cultura budista. | Todo nuestro mundo moderno está
preso en la red de la cultura alejandrina y conoce como ideal el ser humano teórico,
equipado con las fuerzas cognoscitivas supremas, que trabaja al servicio de la ciencia
[...]”, in p. 409 in loc.cit..
83 Cf. id. in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “Pongamos ahora junto a esto el ser humano
pasados, y cavando y revolviendo busca raíces, aun cuando tenga que buscarlas
excavando en las más remotas Antigüedades. ¿A qué remite la enorme necesidad
histórica de la insatisfecha cultura moderna, el coleccionar alrededor de sí
innumerables culturas distintas, el voraz querer conocer, sino a la pérdida del mito,
a la pérdida de la patria mítica, del seno materno mítico? Preguntémonos si el febril
y tan siniestro agitarse de esta cultura es otra cosa que el ávido echar mano y tratar
de atrapar alimento que son propios del hambriento – ¿y quién querría dar todavía
algo a semejante cultura, que no puede saciarse con todo lo que zampa, y a cuyo
contacto el alimento más vigoroso y más saludable suele transformarse en «historia y
crítica»?”, in pp. 431-432 in “23”. Cf. id. in tr.cit., Consideraciones intempestivas II | De
la utilidad y los inconvenientes de la historia para la vida, in ed.cit.: “[...] no como una
cohorte de pensadores puros que se limitan al papel de observadores de la vida, no
como individuos ávidos de saber a quienes únicamente el saber puede satisfacer y
para los cuales el aumento de conocimiento es la meta en sí misma, sino siempre tan
sólo para los fines de la vida y, por lo tanto, bajo el señorío y la dirección suprema
de estos fines. Que tal es la relación natural de cualquier época, cultura y pueblo con
la historia [...], que el conocimiento del pasado se desea en todos los tiempos
exclusivamente al servicio del futuro y del presente, y no para debilitar el presente,
ni para arrancar las raíces de un futuro pletórico de vitalidad [...]”, in p. 711 in “4”,
et “El saber histórico, proveniente de fuentes inagotables, afluye y se introduce
siempre de nuevo, lo extraño e inconexo se acumula, la memoria abre todas sus
puertas y, sin embargo, no está abierta lo suficiente, la naturaleza hace todo lo
posible por recibir, ordenar y honrar a estos huéspedes extraños, pero éstos están
trabados en luchas entre sí y parece necesario contenerlos y dominarlos a todos para
no sucumbir en su combate. La habituación a tan desordenada, tumultuosa y bélica
vida doméstica se convierte paulatinamente en una segunda naturaleza, aun cuando
es indiscutible que esta segunda naturaleza es mucho más débil e inquieta y de todo
punto más malsana que la primera. Concluye el ser humano moderno por arrastrar
consigo una cantidad tremenda de indigestas piedras de saber, que en ocasiones
entrechocan en su panza, como refiere el cuento. Por este entrechocar se pone de
manifiesto el rasgo más característico de este ser humano moderno: el singular
contraste entre un interior al que no corresponde ningún exterior y un exterior al
que no corresponde ningún interior, contraste que los pueblos antiguos no
conocieron. El saber, absorvido en demasía, sin hambre, más aún, contrariando la
necesidad, ahora ya no obra como motivo transformador que tiende hacia afuera,
sino que permanece oculto en cierto caótico mundo interior que el ser humano
moderno señala con extraño orgullo como la «interioridad» que le es peculiar y
propia. Se dice entonces que se tiene el contenido y que sólo falta la forma; pero en
toda cosa viva es éste un contraste de todo punto improcedente.”, in pp. 711-712 in
loc cit..
278 DANIEL MOREIRA DUARTE
84 Cf. id. in tr. Luis Enrique de Santiago Guervós (et Joan B. Llinares et Diego
Sánchez Meca), Sobre verdad y mentira | en sentido extramoral, in ed.cit., “Pensemos un
poco más en la formación de los conceptos: toda palabra se convierte de manera
inmediata en concepto cuando deja de servirle a la vivencia originaria, única y por
completo individualizada, gracias a la cual se generó, por ejemplo, como recuerdo, y
tiene que pasar a adaptarse a innumerables vivencias más o menos similares, esto es,
hablando con rigor, nunca idénticas; es decir, tiene que valer al mismo tiempo para
casos claramente diferentes. Todo concepto se genera igualando lo no-igual.”, in p.
612 in “1”. Cf. n. 33 et n. 44.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 279
85 Cf. id. in tr. Joan B. Llinares (et Diego Sánchez Meca et Luis E. de Santiago
Guervós), Consideraciones intempestivas II | De la utilidad y los inconvenientes de la historia
para la vida, in ed.cit.: “[...] el concepto griego de la cultura – en contraposición al
latino [romanisch] –, a saber, que la cultura es una physis nueva y perfeccionada, sin
interior ni exterior, sin [...] convencionalismo [...]”, in p. 748 in “10”. Cf. DELEUZE
et GUATTARI in tr.cit., op.cit.: “Criar conceitos sempre novos é o objectivo da
filosofia. É porque o conceito tem de ser criado que remete para o filósofo como
aquele que o tem em potência, ou que dele tem a potência e a competência. Não se
pode objectar que a criação se diz sobretudo do sensível e das artes, de tal modo a
arte faz existir entidades espirituais e de tal modo os conceitos filosóficos são
também «sensibilia». A falar verdade, as ciências, as artes, as filosofias são igual-
mente criadoras, embora só à filosofia caiba criar conceitos em sentido restrito.”, in
p. 12 in “Introdução | Assim pois a questão...”, et “[...] as personagens conceptuais
280 DANIEL MOREIRA DUARTE
Alejandro Martín et Diego Sánchez Meca et Juan Luis Vermal), [, 1872?], Descripción
de la retórica antigua, in ed. Diego Sánchez Meca, Obras completas II Escritos filológicos, pp.
823-883: “Los artificios más importantes de la retórica son los tropos, las designa-
ciones impropias. Pero todas las palabras son en sí y desde el principio, en cuanto a
su significación, tropos. En vez de aquello que tiene lugar verdaderamente, pre-
sentan una imagen sonora que se evanece con el tiempo: el lenguaje nunca expresa
algo de modo completo, sino que exhibe solamente una señal que le parece deter-
minante. Cuando el retórico dice «vela» en vez de «barco», «ola» en lugar de «mar»
– a esto se llama sinécdoque –, se introduce una «coimplicación» [Mitumfassem] [...]. –
La segunda forma del tropus es la metáfora. Ésta no produce nuevas palabras, pero les
da un nuevo significado. Por ejemplo, para una montaña se habla de cima, pie,
espalda, gargantas, picos, vetas [...]. [...] la metáfora se muestra en [...] una
transposición [Übertragung] [...]. – Una tercera figura es la metonimia, la sustitución de
la causa y del efecto; por ejemplo, cuando el retórico dice «sudor» por «trabajo»,
«lengua» [Zunge] por «lenguaje» [Sprache]. Nosotros decimos «la pócima está
amarga» en vez de «excita en nosotros una sensación particular de esa clase»; «la
piedra es dura» como si «duro» fuese algo distinto de un juicio nuestro. [...]. – In
summa: los tropos no se añaden ocasionalmente a las palabras, sino que constituyen
su naturaleza más propia. No se puede hablar en absoluto de una «significación
propia», que es transpuesta a otra cosa sólo en determinados casos.”, in pp. 831-832
in “§ 3. Relación de la retórica con el lenguaje”.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 281
87 Cf. id. in tr. Luis Enrique de Santiago Guervós (et Joan B. Llinares et Diego
Sánchez Meca), Sobre verdad y mentira | en sentido extramoral, in ed.cit.: “¿Qué es una
palabra? La reproducción en sonidos articulados de un estímulo nervioso. Pero,
partiendo del estímulo nervioso, inferir además una causa existente fuera de
nosotros, eso ya es el resultado de un uso falso e injustificado del principio de razón.
Si la verdad fuese lo único decisivo en la génesis del lenguaje, si el punto de vista de
la certeza fuese asimismo lo único decisivo a la hora de fijar las designaciones, ¡cómo
íbamos a poder decir «la piedra es dura», como si conociéramos lo «duro» de otra
manera y no únicamente en cuanto excitación del todo subjetiva! [...]. La «cosa en
sí» (eso sería la verdad pura y sin consecuencias) es [...] totalmente inaprehensible y
no resulta en absoluto deseable para el creador de lenguaje. Éste designa tan sólo las
relaciones de las cosas con los seres humanos y para su expresión recurre a las
metáforas más atrevidas. ¡Un estímulo nervioso extrapolado en primer lugar en una
imagen! Primera metáfora. ¡La imagen transformada a su vez en un sonido
articulado! Segunda metáfora. Y en cada caso, un salto de esferas, adentrándose en
otra completamente distinta y nueva.”, in p. 611 in loc.cit..
282 DANIEL MOREIRA DUARTE
88 Cf. NIETZSCHE in tr. Joan B. Llinares (et Diego Sánchez Meca et Luis E. de
Santiago Guervós), El nacimiento de la tragedia, in ed.cit.: “La persona que filosofa tiene
[...] el presentimiento de que [...] debajo de esta realidad en la que vivimos y somos
está oculta una segunda realidad completamente diferente, esto es, que la primera
[...] es una apariencia; y al don que permite que los seres humanos y todas las cosas
se presenten en determinadas ocasiones como meros fantasmas o imágenes onírica,
Schopenhauer lo califica claramente como la señal distintiva de la aptitud
filosófica.”, in p. 339 in “1”, et “[...] habría que decir de Apolo que en él han
alcanzado su más sublime expresión la confianza imperturbable en ese principium y el
tranquilo estar ahí de todo el que se encuentra atrapado en él, e incluso se podría
designar a Apolo como la magnífica imagen divina del principium individuationis, con
cuyos gestos y miradas nos hablarían todo el placer y toda la sabiduría de la
«apariencia», en compañía de su belleza.”, in p. 340 in loc.cit., et “Esta divinización
de la individuación, cuando es pensada en general como si fuera imperativa e
impusiera prescripciones, sólo conoce una única ley, el individuo, es decir, el
mantenimiento de los límites del individuo, la mesura en sentido helénico. Apolo, en
cuanto divinidad ética, exige de los suyos la mesura y, para poder mantenerla,
conocimiento de sí mismo.”, in p. 349 in “4”, et “El individuo, con todos sus limites
y medidas, se hundió aquí en ese olvido de sí de los estados dionisíacos, y olvidó los
preceptos apolíneos. La desmesura se reveló como verdad, la contradicción, la delicia
nacida de los dolores hablaron de ellas mismas desde el corazón de la naturaleza. Y
de este modo, en todos los lugares donde penetró lo dionisíaco quedó superado y
aniquilado lo apolíneo.”, in p. 350 in loc cit., et “[...] fenómeno dionisíaco, el cual
vuelve una y otra vez a revelarnos, como emanación de un placer primordial, la
lúdica construcción y destrucción del mundo individual [...]”, in p. 436 in “24”, et
“En efecto, cuanto más advierto en la naturaleza aquellas pulsiones artísticas
omnipotentes, y, en ellas, un ferviente anhelo de apariencia, de ser redimidos
mediante la apariencia, tanto más me siento obligado a la hipótesis metafísica de
que el Ente-verdadero y Uno-primordial, en cuanto es lo eternamente sufriente y
lleno de contradicción, necesita a la vez, para su permanente redención, la visión
extasiante, la apariencia placentera: nosotros, que estamos completamente presos en
esa apariencia y que consistimos en ella, nos vemos forzados a sentirla como el
noente-verdadero, es decir, como un continuo devenir en el tiempo, el espacio y la
causalidad, dicho con otras palabras, como la realidad empírica.”, in p. 348 in “4”,
[; cf. SCHOPENHAUER, Arthur, Parerga e Paralipomena: “[...]”, in 61-67].
284 DANIEL MOREIRA DUARTE
«hybrique», ils pensent que les dieux ont rendu fous les hommes : l’existence est
coupable, mais ce sont les dieux qui prennent sur eux la responsabilité de la faute.”, in p. 25 in
loc.cit.. Cf. n. 42.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 287
90 Cf. NIETZSCHE in tr.cit., op.cit., in ed.cit.: “En medio de esta noche mística, que
había envuelto el problema del devenir de Anaximandro, apareció Heráclito de Éfeso,
y la iluminó con un relámpago divino. «Contemplo el devenir [...]. ¿Y qué es lo que
veo? Regularidades, certezas infalibles, siempre las mismas vías de la justicia [...] no
[...] el castigo de lo que ha devenido, sino la justificación del devenir. [...] donde sólo
rige la ley y la hija de Zeus, Diké, como en este mundo, ¿cómo podría existir la
esfera de la culpa, de la expiación, de la condena y, por decirlo así, el patíbulo de
todos los condenados[?]»”, in pp. 584-585 in “5”, et “[...] Heráclito ya no establece
la separación entre un mundo físico y otro metafísico, entre un reino de las
cualidades determinadas y un reino de la indeterminación indefinible. Ahora,
después de este primer paso, ya no podía detenerse ante una negación bastante más
audaz: negó el ser en general. Pues este único mundo que él conservaba – protegido
por leyes eternas no escritas, fluyendo y refluyendo al compás férreo del ritmo – no
revela por ninguna parte una permanencia, una indestructibilidad, una barrera que
detenga la corriente. Con mayor fuerza que Anaximandro exclama Heráclito: «Lo
único que veo es devenir. ¡No os dejéis engañar! Depende de vuestra miopía y no de
la esencia de las cosas, el que creáis ver tierra firme en algún lugar del mar del
devenir y del perecer. Usáis los nombres de las cosas, como si tuviesen una duración
constante: pero incluso el río en el que os bañáis por segunda vez ya no es el mismo
río en el que lo hicisteis la primera».”, in p. 585 in loc.cit., et “De la lucha entre los
opuestos surge todo devenir: las cualidades determinadas que se nos presentan como
duraderas, no expresan más que el momento de supremacía de uno de los
combatientes, pero la guerra no se termina con esto, la lucha continúa por toda la
eternidad. Todo sucede según esta contienda y justamente esta contienda revela la
justicia eterna. Se trata de una idea maravillosa, que emana de la fuente más pura
del helenismo, que considera la contienda como el gobierno continuo de una justicia
unitaria y rigurosa ligada a leyes eternas. [...]. Cada griego lucha como si él fuese el
único que tiene razón, en cada instante hay un juez que juzga con un criterio
infinitamente seguro, hacia qué lado se inclina la victoria, y del mismo modo las
cualidades luchan entre sí, siguiendo leyes y criterios inviolables e inmanentes a la
lucha.”, in pp. 586-587 in loc.cit., et “[...] ya no pudo considerar por separado las
parejas de los contendientes e los jueces, incluso parecía que los jueces luchaban y
los mismos contendientes parecía que se juzgaban a sí mismos – y puesto que en el
fondo percibía solamente el dominio eterno de una sola justicia, se atrevió a
exclamar: «¡la lucha de la pluralidad constituye ella misma la única justicia! Y, en
general: la unidad es la pluralidad. [...]»”, in pp. 587-588 in “6”, et “El mundo es el
juego de Zeus o, expresado físicamente, es el juego del fuego consigo mismo, sólo en
este sentido lo uno es al mismo tiempo lo múltiple.”, in p. 588 in loc.cit., et “Esa
peligrosa palabra, hybris, es en realidad la piedra de toque para todo seguidor de
Heráclito [...]. ¿Existen en este mundo la culpa, la injusticia, la contradicción, el
288 DANIEL MOREIRA DUARTE
dolor? | Sí, exclama Heráclito, pero sólo para los hombres limitados que
contemplan las cosas separadamente y no en su unidad, no para el dios que intuye el
todo: para este último todos los contrarios fluyen juntos en una armonía [...]. Un
devenir y un perecer, un construir y un destruir, sin ninguna atribución moral y en
una inocencia eternamente igual, se dan sólo en este mundo en el juego del artista y
del niño. Y así como juegan el niño y el artista, juega el fuego eternamente vivo,
construye y destruye inocentemente – y éste es el juego del «eón» que juega consigo
mismo.”, in p. 590 in “7” [; cf. HERÁCLITO: “[...]”, in 91 et 12 et 49ª et 80 et 53 et
90 et 66 et 64 et 118 et 102 et 51 et 8 et 54 et 52; cf. DIÓGENES LAERCIO: “[...]”, in
8 in IX]. Cf. DELEUZE, op.cit.: “[...] Nietzsche s’apercevra [...]. Quand on pose
l’existence coupable, il s’en faut d’un pas pour la rendre responsable [...]. Qu’un
dieu prenne sur lui la responsabilité de la folie qu’il inspire aux hommes, ou que les
hommes soient responsables de la folie d’un Dieu qui se met en croix, les deux
solutions ne sont pas encore assez différentes, bien que la première soit
incomparablement plus belle. En vérité, la question n’est pas : l’existence coupable
est-elle responsable ou non ? Mais l’existence est-elle coupable... ou innocente ? Alors
Dionysos a trouvé sa vérité multiple : l’innocence, l’innocence de la pluralité,
l’innocence du devenir et de tout ce qui est.”, in p. 25 in loc.cit., et “Héraclite est le
penseur tragique. Le problème de la justice traverse son œuvre. Héraclite est celui
pour qui la vie est radicalement innocente et juste. Il comprend l’existence à partir
d’un instinct de jeu, il fait de l’existence un phénomène esthétique, non pas un phénomène
moral ou religieux. Aussi Nietzsche l’oppose-t-il point par point à Anaximandre,
comme Nietzsche lui-même s’oppose à Schopenhauer. – Héraclite a nié la dualité
des mondes, «il a nié l’être lui-même». Bien plus : il a fait du devenir une affirmation. [...].
Sans doute est-ce dire, en premier lieu : il n’y a que le devenir. Sans doute est-ce
affirmer le devenir. Mais on affirme aussi l’être du devenir, on dit que le devenir
affirme l’être ou que l’être s’affirme dans le devenir. Héraclite a deux pensées, qui
sont comme des chiffres : l’une selon laquelle l’être n’est pas, tout est en devenir ;
l’autre selon laquelle l’être est l’être du devenir en tant que tel. [...]. Ces deux
pensées ne sont pas séparables, étant la pensée d’un même élément, comme Feu et
comme Dike [...]. Car il n’y a pas d’être au-delà du devenir, pas d’un au-delà du
multiple ; ni le multiple ni le devenir ne sont des apparences ou des illusions. Mais il
n’y a pas non plus de réalités multiples et éternelles qui seraient, à leur tour, comme
des essences au-delà de l’apparence. Le multiple est la manifestation inséparable, la
métamorphose essentielle, le symptôme constant de l’unique. Le multiple est
l’affirmation de l’un, le devenir, l’affirmation de l’être. L’affirmation du devenir est
elle-même l’être, l’affirmation du multiple est elle-même l’un, l’affirmation multiple
est la manière dont l’un s’affirme.” in p. 27 in “Existence et innocence” in loc.cit., et
“Héraclite a regardé profondément : il n’a vu aucun châtiment du multiple, aucune
expiation du devenir, aucune culpabilité de l’existence. Il n’a rien vu de négatif dans
le devenir, il a vu tout le contraire : la double affirmation du devenir et de l’être du
devenir, bref la justification de l’être.”, in p. 28 in loc.cit.. Cf. n. 42.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 289
interpreta a imanência como imanente a Algo, podemos ter a certeza de que esse
Algo reintroduz o transcendente. | A partir de Descartes, e com Kant e Husserl, o
cogito torna possível tratar o plano de imanência como um campo de consciência. É
que a imanência é suposta ser imanente a uma consciência pura, a um sujeito pen-
sante. A esse sujeito chamará Kant transcendental e não transcendente, precisa-
mente porque é o sujeito do campo de imanência de toda a experiência possível ao
qual nada escapa, tanto o exterior como o interior. Kant recusa qualquer uso trans-
cendente da síntese, mas relaciona a imanência com o sujeito da síntese como nova
unidade, unidade subjectiva. Pode até dar-se ao luxo de denunciar as ideias trans-
cendentes para fazer delas o “horizonte” do campo imanente ao sujeito. Mas, ao
fazer isto, Kant descobre a maneira moderna de salvar a transcendência: não é já a
transcendência de um Algo ou de um Uno superior a todas as coisas (contemplação),
mas a de um Sujeito ao qual o campo de imanência não é atribuído sem pertencer a
um eu que necessariamente se representa a si próprio esse sujeito (reflexão). O
mundo grego que não pertencia a ninguém torna-se cada vez mais propriedade de
uma consciência cristã.”, in pp. 44-45 in “Exemplo III” in “2 | O plano de
imanência”.
92 Cf. DELEUZE, op.cit.: “Le «oui» de Nietzsche s’oppose au «non» dialectique ;
de ceci : que la puissance y est conçue, non pas comme volonté de puissance, mais
comme représentation de la puissance, comme représentation de la supériorité,
comme reconnaissance par «l’un» de la supériorité de «l’autre». Ce que les volontés
veulent chez Hegel, c’est faire reconnaître leur puissance, représenter leur puissance. Or,
selon Nietzsche, il y a là une conception totalement erronée de la volonté de
puissance et de sa nature. Une telle conception est celle de l’esclave, elle est l’image
que l’homme du ressentiment se fait de la puissance. C’est l’esclave qui ne conçoit la
puissance que comme objet d’une recognition, matière d’une représentation, enjeu d’une compétition, et
donc qui la fait dépendre, à l’issue d’un combat, d’une simple attribution de valeurs établies. Si la
relation du maître et de l’esclave emprunte aisément la forme dialectique, au point
d’être devenue comme un archétype ou une figure d’école pour tout jeune hégélien,
c’est parce que le portrait que Hegel nous propose du maître est, dès le début, un
portrait fait par l’esclave, un portrait qui représente l’esclave, au moins tel qu’il se
rêve, tout au plus un esclave arrivé. Sous l’image hégélienne du maître, c’est toujours
l’esclave qui perce.”, in p. 11 in loc.cit..
93 Cf. NIETZSCHE in tr. Andrés Sánchez Pascual, Ecce homo | Cómo se llega a ser lo que
se es [, 1888], Madrid, Alianza Editorial, ed. “revisada” 1998 imp. 2005: “[...] El
nacimiento de la tragedia [...] desprende un repugnante olor hegeliano [...]”, in p. 76 in
“1” in “El nacimiento de la tragedia”.
94 Cf. n. 71.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 293
oposição ao seu passado: para um puro lusitano, um japonês não é gente; mas nada
me impede de perguntar: e antes das pátrias terem séculos? Como se formaram
pátrias novas sem as energias necessárias de um passado inexistente?” et “Pois eu
pretendo realmente eliminar Camões? Dir-se-ia que fui eu quem lhe previu o
caimento – para breve (muito breve!) –, quando aparecesse o Superdito, matema-
ticamente anunciado. Qual de nós todos será ele, bom amigo, qual será? Eu cá não
sou: palavra de honra que não sou! | | Passemos à materialidade com que me
emblema [...]. | O meu amigo pretende primeiro o progresso espiritual; obtido ele,
«o resto nos será dado em excesso». Ora a minha tese é que o progresso moral de um povo está
dependente do seu progresso económico.”, in p. 54 in “Capítulo II | Polémica sobre o
saudosismo”. Cf. n. 83. Cf. n. 63. Cf. PROENÇA, Raul, “A Renascença Portuguesa”,
in dir. Jaime Cortesão, A Vida Portuguesa 22, Porto, Renascença Portuguesa,
1914\X\10, pp. 11-12: “Que fazer então? Pôr a sociedade portuguêsa em contacto
com o mundo moderno, fazê-la interessar pelo que interessa os homens lá de fóra,
dar-lhe o espirito actual, a cultura actual, sem perder nunca de vista, já se sabe, o
ponto de vista nacional e as condições, os recursos e os fins nacionaes. Temos de
aplicar a nós mesmos, por nossa conta, esse espirito do nosso tempo, de que temos
estado tão absolutamente alheados.”, in p. 12. Cf. PASCOAES, “Os meus comen-
tários às duas cartas de António Sérgio”, in [dir. Teixeira de Pascoaes et António
Carneiro et José de Magalhães et ed. Álvaro Pinto, A Águia II 25, Porto, A
Renascença Portuguesa, 1914\I, in] ed. Marieta Dá Mesquita, A Águia: “[...] a
saudade é a grande criadora do futuro, mas não tira o futuro do nada, não se
consegue um futuro de geração espontânea ou caído miraculosamente das estrelas. |
Ela constrói o futuro com a matéria do passado. O meu querido camarada parece
querer eliminar o passado. É apenas um belo gesto quixotesco... O passado é
indestrutível, nele murmura a fonte onde bebemos as novas energias. Ai de nós se
não tivéramos passado!”, in p. 52 in loc.cit.. Etc.; cf. MESQUITA, Marieta Dá,
“Prefácio”, in ed. Marieta Dá Mesquita, A Águia, pp. 11-21: “[...]”, in p. 14, et
“[...]”, in pp. 17-19; cf. id., “Índice”, in ed.cit., pp. 5-10: “[...]”, in p. 6. Cf. DUARTE,
“O nacionalismo fundamental de Pessoa e o seu objectivo cosmopolitismo como um
exemplo da sua estratégia cognitiva e moral”, in org. Paulo Borges, Olhares europeus
sobre Fernando Pessoa, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2010,
pp. 72-97.
296 DANIEL MOREIRA DUARTE
98 Cf. PESSOA, s.t. (“A. C. – Artigo para A Águia”), s.d., in [ed. Teresa Rita Lopes,
Pessoa por Conhecer | Textos para um Novo Mapa, Lisboa, Estampa, 1990, in] dir. Leonor
Areal, Arquivo Pessoa, http://arquivopessoa.net/textos/287 (2014\III\26): “Se nos
houvessem dito que era de um materialista que havia de emanar a mais original e
mais límpida poesia, a poesia mais puramente poesia, de hoje, não nos levaríeis a
mal que duvidássemos. Se nos falassem num místico materialista, mas um místico
com todas as qualidades de requinte espiritual do místico, e ao mesmo tempo o mais
absoluto e radical dos materialistas, nem nos daríamos ao trabalho de virar as costas
ao grosseiro paradoxo. Se alguém nos dissesse que haveria um poeta de hoje que
apareceria com uma poesia inteiramente nova, o total contrário da poesia – encolheria
talvez os ombros, quem não (...). Alberto Caeiro realiza estas contradições todas. |
Saudamos nele o mais original dos poetas modernos, um dos maiores poetas de
todos os tempos…”.
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 297
ser uma ideia e que para se tornar artística, ou seja para se converter
em uma sensação outra, a sensação relativamente primeira não
poderia deixar de ser intelectualizada, acabando até por confessar que
só aparentemente seriam vindas do exterior ou vindas do interior as
sensações, ou as ideias 99 . Na verdade, mais importante do que o
dualismo entre sensação e ideia, ou entre matéria e espírito, mais
importante do que o que ainda jovem Pessoa diz também que seriam
o complexo contemplar e o subtil contemplar-se em que consistiriam
os sentimentos estáticos da dita Natureza e do dito Espírito, bem assim
até como mais importante do que a respectiva síntese, talvez seja a
natureza dinâmica e orgânica que logo a vinte e dois de Janeiro de mil
novecentos e treze Pessoa descreve a Jaime Cortesão como sendo a
99 Cf. id., “Sensationism:”, s.d., in [BNP\E3 20-103r et 20-104r, in] coord. Ivo
Castro et ed. Jerónimo Pizarro, Edição crítica de Fernando Pessoa | Série Maior X
Sensacionismo e outros ismos, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2009:
“There is nothing, no reality, but sensation. Ideas are sensations, but of things not
placed in space and sometimes not even in time. Logic, the place of ideas, is another
kind of space.” et “The end of art is simply to increase human self-consciousness.”,
in p. 153. Cf. id., “Some Manifest. | Principios”, s.d., in [BNP\E3 20-94r, in] coord.
Ivo Castro et ed. Jerónimo Pizarro, Edição crítica de Fernando Pessoa | Série Maior X
Sensacionismo e outros ismos: “1. Todo o objecto é uma sensação nossa. | 2. Toda a arte
é a conversão d’uma sensação em objecto. | 3. Portanto, toda a arte é a conversão
d’uma sensação n’uma outra sensação.”, in p. 145. Cf. id., s.t., s.d., in [BNP\E3 88-
-15r, in] coord. Ivo Castro et ed. Jerónimo Pizarro, Edição crítica de Fernando Pessoa |
Série Maior X Sensacionismo e outros ismos: “Toda a tendencia da arte tem sido
intellectualizar a sensação ou o sentimento. Propomo-nos inverter este processo, e
sensacionar a intelligencia.”, in p. 181. Cf. id., s.t., s.d., in [BNP\E3 88-3r et 88-3ar,
in] coord. Ivo Castro et ed. Jerónimo Pizarro, Edição crítica de Fernando Pessoa | Série
Maior X Sensacionismo e outros ismos: “Mesmo a sensação não passa de uma idéa nossa
[...]”, in p. 150. Cf. id., s.t., s.d., in [BNP\E3 20-107r, in] coord. Ivo Castro et ed.
Jerónimo Pizarro, Edição crítica de Fernando Pessoa | Série Maior X Sensacionismo e outros
ismos: “1. A base de toda a arte é a sensação. | 2. Para passar de mera emoção sem
sentido á emoção artistica, ou susceptivel de se tornar artistica, essa sensação tem de
ser intellectualisada.”, in pp. 174-175. Cf. id., s.t., s.d., in [BNP\E3 20-106r, in]
coord. Ivo Castro et ed. Jerónimo Pizarro, Edição crítica de Fernando Pessoa | Série Maior
X Sensacionismo e outros ismos: “[...] o sensacionismo nota as duas especies de sensações
que podemos ter – as sensações apparentemente vindas do exterior, e as sensações
apparentemente vindas do interior. E constata que ha uma terceira ordem de
sensações resultantes do trabalho mental – as sensações do abstracto.”, in pp. 171-
-172.
298 DANIEL MOREIRA DUARTE
chamar a organicidade de um poema, aquilo que nos dá, ao lê-lo, a impressão que ele
é um todo vivo, um todo composto de partes, e não simplesmente partes compondo um todo. –
Ora de onde vem a construção? – isto é, de que qualidades nasce? | Eu mostrei que
quer a poesia subjectiva, quer a poesia objectiva dá, sendo só ou subjectiva ou
objectiva, uma falta, muitas vezes de equilíbrio, e sempre de fôlego. Possuídas em
grau igual estas duas formas ideativas, resulta equilíbrio com certeza, mas fôlego não
resulta. É que, quer o sentimento do Exterior, por intenso e complexo que seja (e
quanto mais intenso ou mais complexo pior) como o sentimento do espírito, por
subtil que seja (e tanto mais quanto mais subtil), são, quanto no caso é possível, de
sua natureza estáticos; e da sua combinação, como é de ver, nada resulta que não
estático. – Ora construir implica esforço, quer este esforço seja consciente ou
inconsciente, rápido ou demorado. À base da construção, poética ou outra, sendo pois
de sua natureza um dinamismo, logo se compreende como os sentimentos estáticos
que são o da Natureza (que é apenas um complexo contemplar) e o do Espírito (que é
somente um subtil contemplar-se) conduzam à falência construtiva. (É de notar,
naturalmente, que o carácter estático do sentimento da Natureza do da Alma é
relativo; puramente estático, quedava-se sem gestos de expressão dentro de si
próprio, e nunca dali resultaria arte). | Posto isto, que a construtividade poética
parte de uma faculdade qualquer, dinâmica de essência, com só mais um passo
atingiremos a compreensão de quais são essas faculdades. O dinamismo pode ser de
três espécies, evidentemente. Ou é dinamismo do Espírito para o Mundo Externo,
ou do Mundo Externo para o Espírito, ou uma síntese destes dois dinamismos
especiais. Temos pois que os poetas capazes de construir têm uma de três faculdades.
Ou têm aquilo a que chamarei o impulso heróico, que é o dinamismo de dentro para
fora, a ânsia de dominar as coisas, de sobrepor à Natureza a individualidade própria.
– Ou tem aquilo a que chamarei o impulso religioso, que é o dinamismo de fora para
dentro (e que é bom não confundir com o outro sentimento religioso, que é a mais
alta manifestação do sentimento da Natureza, mas a que falta o impulso, por ser de
mais subjectivo, meditativo apenas), e que vem a ser ânsia, contrária à outra, de se
submeter, sem se abandonar (como o místico) a um Deus – impulso de outro modo
heróico também, porque essa submissão traz consigo o sentimento contrário ante a
Natureza e os homens. – Ou, finalmente, têm o impulso construtivo puro, que,
sempre com certo grau de consciência, ainda que inspiradamente, ajusta o interior
ao exterior, o detalhe ao todo. Este, que é realmente sintético dos outros, é de
espécie e origem diversa. | Os homens da Renascença – que foram, na época
moderna, os grandes construtivos, tao [sic] superiores nisto aos Românticos, por
maiores que fossem estes em sentir a Natureza e o Espírito – tinham um ou outro
daqueles dinamismos. Os épicos de género guerreiro tinham o primeiro: é mesmo a
intensidade do «dinamismo heróico» que aguenta e vivifica Os Lusíadas, e os salva de
serem vítimas das pequenas faculdades puramente-críticas de Camões. Milton tem o
segundo género de dinamismo. O terceiro parece-me que o encontro em
Shakespeare, onde, por exemplo no caso das várias edições do Hamlet, nas
300 DANIEL MOREIRA DUARTE
Prado Coelho, Páginas de Estética e de Teoria Literárias, in] dir. Leonor Areal, Arquivo Pessoa,
O PESSOA DE “A ÁGUIA”, O JOVEM NIETZSCHE E A VERDADE... 301
102 Cf. id. \ MORA, Antonio, s.t., 1914?, in [ed. António de Pina Coelho, Textos
Filosóficos I., Lisboa, Ática, 1968 imp. 1993, in] dir. Leonor Areal, Arquivo Pessoa,
http://arquivopessoa.net/textos/3863 (2014\III\26): “A metafísica, na sua essência, isto é,
no que de ao mesmo tempo mais lato e mais simples comporta o seu conceito, assenta em
uma distinção, possível só a conscientes desenvolvidos, entre o conhecimento e a vida, ou, com
precisão mais verbal, entre conhecer e viver. Só uma longa experiência humana,
acumulada e transmitida, pôde criar um tipo de homem primeiro inactivo, por quaisquer
circunstâncias que atenuassem o estado de guerra inevitavelmente primitivo (primordial)
entre os humanos, e depois, por apuramento especializado desses inactivos, o tipo já
propriamente especulativo.”. Cf. id. \ id., s.t., 1912?, in [ed. António de Pina Coelho, Textos
Filosóficos I, in] dir cit., http://arquivopessoa.net/textos/4253 (2014\III\26): “As ideias
abstractas são apenas elementos de que uma individualidade com um sistema nervoso
superior carece para poder viver. Erigir essas ideias em coisas (como faz Platão) é transformar
um elemento pragmático em uma entidade concreta.”. Cf. NIETZSCHE in tr. Luis Enrique
de Santiago Guervós (et Joan B. Llinares et Diego Sánchez Meca), Sobre verdad y mentira | en
sentido extramoral, in ed.cit.: “En un apartado rincón del universo, que centellea desperdigado
en innumerables sistemas solares, hubo una vez un astro en el que unos animales astutos
inventaron el conocer.” et “Es curioso que esto lo haga precisamente el intelecto, que no es
más que un recurso añadido a los seres más desdichados, delicados y efímeros para
retenerlos un minuto en la existencia [...]”, in p. 609 in loc.cit.. Cf. id. in tr.cit., Cinco prólogos
| para | cinco libros no escritos [, 1872], in ed. Diego Sánchez Meca, Obras completas I Escritos de
juventud, pp. 543-568: “Cuando se habla de humanidad, se da por sentada la idea de que se
trata de aquello que separa y distingue al hombre de la naturaleza. Pero en realidad tal
separación no existe: las propiedades «naturales» y las llamadas realmente «humanas»
están indisolublemente entrelazadas. El hombre, en sus más altas y nobles fuerzas, es
completamente naturaleza y lleva en sí mismo el inquietante doble carácter de la misma.
Sus aptitudes más terribles, que se consideran como inhumanas, son acaso el único terreno
fértil en el que puede crecer toda humanidad en emociones, hechos y obras.”, in p. 562 in
“5 | El certamen de Homero”.