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VIRGÍNIA CAVALCANTI

PARA MIM, APENAS O MELHOR


(Uma apologia do prazer sem culpa)
— um livro sobre canalização, cristais, energização. E vida.
Editora OBJETIVA
© 1991 Virgínia Cavalcanti
Direitos em língua portuguesa adquiridos
pela Editora Objetiva Ltda. — Rua Jardim Botânico n? 114
CEP 22461 - Tels. 266-4389/0154 - Rio de Janeiro - Brasil.
Capa
Adriana Moreno
e
Luciana Mello
Ilustração José Roberto
Revisão
Cristina Possidente
e
João Henrique Machado
FOTO DA CAPA - © AG. KEYSTONE-TPS

Para
Pingo de Luz — minha luz — que, como ninguém, sabe viver.
Meu carinho para Rô e Guido, por tantas pizzas, por tantos papos.
Meus agradecimentos a Therezinha e sua turma pela hora do recreio à máquina de café expresso.
Aos Mestres do Astral, pela parceria
***

O amanhecer explodiu mansamente sobre a lagoa. Deslumbrante. Categórico, inegável. Belo.


Era um destes momentos completamente perfeitos. Daqueles em que a gente
deseja apenas poder parar o tempo. Orgasmo. Êxtase.
Foi quando a voz do homem que compunha o significado daquele momento disse, ao meu lado:
"Para você, apenas o melhor". Silêncio calando fundo. Instante de absorção
da plenitude. "O melhor amanhecer, o melhor vinho, a melhor comida, a melhor música", ele
prosseguiu. "O melhor tudo. Para você, apenas o melhor. Só lamento não
poder estar incluído neste melhor."
De acordo com o que conhecia de mim mesma, neste momento meu universo deveria ter
desabado. Por uma razão muito simples: como sempre, eu havia depositado todas as
minhas expectativas de ter, não o melhor,-mas qualquer coisa, em algo ou alguém fora de mim.
No caso, aquele homem, que acabara de, polidamente, bater a porta na
minha cara.
No entanto meu coração, inteiro, respondeu: "Para mim, apenas o melhor — e por que não?" E a
partir daquele momento, entendi que ser feliz não só era possível, mas,
também, pode ser um gesto muito simples.
Digo um gesto porque decididamente ser feliz depende da sua escolha. E a escolha é um gesto,
um gesto que ninguém pode fazer por você. Ser feliz é escolher, sempre,
por deliberação própria e consciente, o melhor para mim. E, sob quaisquer circunstâncias, ser
capaz de estende^ a mão para tocar e conhecer e possuir o que há de
mais enriquecedor
para nossa energia, para nossa qualidade humana, dentro daquilo que nos é dado viver.
Assim aprendi a ser feliz. Me impregnei da beleza, da totalidade. Da simplicidade daquele
momento. E comecei o aprendizado de. ser feliz.
Assim, este é hoje um livro sobre ser feliz. Um livro de quem perdeu o medo e a vergonha de ser
tachado de piegas e assumiu, de peito aberto e sem fronteiras, que
a lição mais importante é a da verdade das emoções. Somente a emoção, a sinceridade do
mergulho na emoção pode garantir a felicidade. Sem exageros, nem desequilíbrio.
O fruir, o fluir nos sentimentos como quem desliza para dentro de um lago tranqüilo, o corpo e a
alma nus em tarde de absoluto verão.
O que eu aprendi são truques simples, pequenos, do dia-a-dia. Dicas eficazes para tornar mais
evidente o tal do jogo de cintura. Fácil? Nem sempre. Possível, porém,
sempre.
É, na verdade, uma mera questão de ponto de vista. De mudar o ângulo. E isto começa por eu me
compreender "merecedor" do que é bom. E não me sentir culpado pelo
prazer — como me ensinaram todo o tempo que deveria ser.
Nesta trajetória me ajudaram os cristais. Os exercícios de energização, as cores. Instrumentos
sem nenhuma dificuldade para usar, que começamos a apresentar de maneira
indicativa em nosso livro O Equilíbrio da Energia está no Salto do Tigre, e em cuja trilha vimos
nos aprofundando desde então, faz alguns anos. Cada vez as coisas
ficam mais simples. Mais ao alcance da mão. E do coração.
Não é exatamente como Pollyana, que tapava o sol com a peneira, fazia de conta que não via,
chamava de bom o que de fato não o era. Trata-se aqui de realmente vivenciar
o que há de bom no exato momento em que ocorre, mesmo se o que vivemos é ruim (mais
adiante, neste livro, explicaremos esta idéia com exemplos). Trata-se de buscar
a alimentação energética que o prazer, o bem-estar, pode nos oferecer con-cretamente em cada
mínima parcela que absorvamos dele.
O pulo do gato é o encontro total e sem medo do eu. É a alegria. É o orgulho justo de si. É o
amar-se (e amar). É a ausência de qualquer carência afetiva. Tão simples
e confortável como apenas ser. Poder existir sem máscaras, como se é.
A felicidade está no ser. Que nos permite atuarmos como o estímulo para abrir nossas próprias
picadas, e o colo que acolhe e perdoa os nossos próprios erros. Vivenciar
o res-
peito próprio, alcançado através da compreensão do que somos, e pela certeza de estarmos
inteiros no que fazemos.
Só é possível amar-se a partir da verdade. Só é possível amar através da verdade. A verdade é o
único elo que estabelece correntes dentro do real, em todas as dimensões.
E a verdade não brota da cabeça, mas de um calor ou frio que nos pega no peito, na boca do
estômago e diz o que há, de fato.
Todo este discurso que passeia no limite do ridículo — como sempre acontece quando se ousa
falar do amor naturalmente — não nasceu do nada. Nem chegou a este ponto
de não temer se expor sem antes passar por muitas dúvidas, e chuvas. E momentos de sol claro, é
óbvio. Experiências minhas e dos outros, muitos, que me cercam e,
graças a Deus, se atrelam de forma crescente neste caminho de luz e paz, são as âncoras deste
salto seguro no espaço infinito da liberdade de ser. Do ser em liberdade.
Portanto, vamos falar um pouco neste nosso livro de uma miscelânea. De dicas práticas, de
percepções sutis e profundas, de histórias vividas. De tudo um pouco dentro
do que foi aprendido, esperando que possa servir para o uso concreto na melhora da qualidade de
vida de quem nos lê. Sem pretensão de ditar regras de conduta ou
parecer dono de alguma verdade. Mas sim com a segurança —- e a esperança — de quem
acredita naquilo que se busca e se encontra sem mentiras.
Como diz Fréderic, o Amigo, Mestre do Astral que me acompanha, a sabedoria consiste em
conseguir concretizar nossos desejos. Os reais desejos. Que nos indicam o
que é de melhor para nós, inegavelmente.
Esperamos, leitor, sinceramente, que você saia deste livro não apenas se sentindo mais
confortável (e confortado) com a vida, mas também, contando com alguns pontos
de apoio concretos, que lhe permitam virar o leme na direção do seu horizonte mais amplo. E
alcançável.
Para você, para mim, apenas o melhor. E por que não? Azar de quem perdeu este bonde.

***
CANALIZAÇÃO — O MÁGICO MISTÉRIO
CANALIZAÇÃO é o processo através do qual nos integramos ao Universo em todas as suas
dimensões. Esta integração se traduz palpavelmente para nós na vivência de uma
indizível plenitude. E aquilo a que costumamos nos referir como "estado de graça". O peito
parece que vai explodir, de tanto sentir. A paz interna, a alegria, nos
parecem absurdas. É tão absurdo e ao mesmo tempo tão bom. Como se fôssemos, inteiros,
emoção, uma emoção que é tão forte, tão total, e tão serena. A beleza toma
conta de nós, nos envolve, nos cerca até onde a vista e a percepção alcançam. No peito, uma
doce e segura presença do aconchego, um calor gostoso, uma ternura pela
vida, um sentimento de gratidão por estarmos vivos. O tempo parece que vai parar, que por
instantes deixou de existir — compreendemos a eternidade e sua força num
momento. Não há palavras em que caiba tudo isto que se sente.
É assim quando estamos realmente apaixonados, vivendo um encontro profundo de amor.
Quando contemplamos um espetáculo extasiante da natureza. Quando experimentamos
uma comunicação profunda com o nosso próprio eu, ou a realização de um sonho muito caro e
verdadeiro. Quando criamos. Ou contemplamos um filho. Quem já não teve
a chance de passar por isto? Todos nós já pudemos, algum dia, experimentar esta felicidade
plena, este ser feliz sem dúvidas, mesmo que durasse apenas um átimo do
tempo.
Nestes momentos, a nossa sensação de harmonia é absoluta. E é exatamente esta harmonia que
denuncia a comunhão integral com as dimensões do Universo que, no estado
"normal", nossa percepção não alcança porque fica presa nos vários limites da forma, próprios à
natureza do Campo da Matéria em que existimos.
O que nos faz não encontrar palavras ou formas para falar desta sensação única, para traduzi-la, é
exatamente por que ela
10se deve ao fato de que, neste encontro, ultrapassamos as fronteiras da matéria. Assim, fica
impossível colocar em qualquer tipo de forma por nós conhecida o que
ultrapassa, está além, de qualquer forma — imagem, palavra, o que seja. O interessante é que a
única maneira de partilhar esta singular emoção é justamente numa
comunicação muda, cúmplice, de íntimo para íntimo, com alguém que esteja sentindo na mesma
intensidade e sintonia. Os que dividem uma vivência de tal nível sabem
com certeza que sentiram, o que ou o quanto sentiram, e que o parceiro sentiu do mesmo jeito.
Mas não conseguem falar. Quando muito, transbordam este estado de graça
numa confirmação redundante da própria sensação, através de gestos, olhares, afagos, de um
silêncio que, nesta hora, é o único capaz de tudo dizer.
Quando nos encontramos neste estado, uma satisfação inequívoca e feliz, tranqüila, inabalável,
nos preenchendo o peito, a alma, a vida, estamos vivenciando o processo
que se chama de canalização. Em outras palavras, estamos com nosso canal aberto para o contato
com nossas mais amplas dimensões, aquelas das quais fomos afastados
pela nossa educação, pelos condicionamentos a que somos submetidos desde o primeiro instante
em que acordamos para a realidade da vida enquanto seres humanos.
Em um dado momento da trajetória da onda energética da qual cada um de nós é parte, há um
instante de contração tão forte que impõe limites físicos, densos, que
nos fazem perder a Memória Cósmica, ou seja, a consciência da nossa real amplitude enquanto
parte do Cosmos. Passamos a raciocinar e o raciocínio é justamente um
instrumento que nos é dado para nos entendermos com os novos limites impostos pela existência
no campo material, e aprendemos a nos mexer dentro dele. Passamos todo
o tempo de nossas vidas "pensando" a própria vida, muitas vezes, substituindo mesmo a vida
pelo pensamento.
Não nos damos conta, a não ser nestes raros momentos que não conseguimos traduzir, do quanto
existe além do campo que nos é conhecido nesta passagem pela densidade
material. É como se, de repente, entrássemos num quarto e perdêssemos inteiramente a noção de
que há coisas vitais ali dentro que, na verdade, vêm de muito além
das paredes que nos limitam, como o ar que respiramos, ou a energia que nos dá luz e calor.
Na realidade, cometemos uma inversão básica: é o coração que irriga o cérebro, não ao contrário.
Portanto, quem nos
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diz — ou deveria dizer — o que viver, o que é nosso, é o sentimento, a emoção. Aquela coisa
que chega no peito, dizendo com veemência sim ou não, através da intuição,
das indicações da angústia ou do bem-estar. O verdadeiro papel da cabeça é de" elaborar o como
vamos conseguir driblar as circunstâncias, as limitações, para realizar
o caminho que o sentimento nos indicou. Quanto mais realizamos concretamente os desejos do
sentimento, maior a sensação de preenchimento e plenitude, de ter sentido
e significado nesta existência. Mais tempo permanecemos nesta vivência da felicidade, que só é
possível quando estamos o mais próximos possível do nosso próprio
eu, da verdade do que somos. Cada vez que nos afastamos desta verdade e, por algum motivo,
nos obrigamos (porque, na realidade, ninguém mais pode nos obrigar a isto)
a ser o que não somos, vestir máscaras, a presença da angústia e do sofrimento é uma constante.
Por que, então, escolher o sofrimento, quando podemos optar pela
felicidade?
Talvez seja difícil para nós compreendermos na cabeça apenas uma realidade simples, mas que,
certamente, contraria tudo que os outdoors e neons da nossa educação
inculcaram em nós: quando somos sinceros com os nossos sentimentos, quando fechamos com a
nossa verdade de ser e não abrimos mão dela por nada, nos sentirmos inevitavelmente
felizes, confortados, consolados e preenchidos, mesmo que as circunstâncias sejam
desfavoráveis. Porque a força básica da alegria, a gratificação diante do que quer
que aconteça, vem sempre deste encontro com o eu, da certeza de que, mesmo que tudo em torno
desabe e nos contrarie momentaneamente, externamente, não nos perdemos
nem perdemos o rumo, porque não nos traímos, não nos abandonamos, não nos mentimos. Tudo
poderá desaparecer, mas existiremos cada vez mais fortes na segurança que
só o exercício pleno do eu pode conseguir. Pelo contrário, é comum conhecermos o esforço
desgastante e a sensação de profundo vazio e desencontro quando nos lançamos
em metas e objetivos que não têm realmente nada a ver com o que somos e desejamos. Podemos
até alcançar, mas nos perguntamos: "E daí? Pra que tanto esforço? Valeu
a pena? E agora, o que vou fazer com isso?". Afinal, que cabeça tem a Vitória quando não
refletimos sua expressão nos nossos desejos mais profundos, mais íntimos?
De que vale a luta se o troféu não nos diz nada, se o prêmio não nos serve?
Do momento em que fui tocada por esta compreensão, passei a perseguir uma maneira de estar o
mais tempo possível no
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estado de felicidade, ou seja, vivendo o meu melhor, da forma mais honesta com meus
sentimentos. Naturalmente, isto me custou bater de frente, entrar em choque,
com meio mundo, com a maioria das pessoas que me cercavam. Porque ninguém está
acostumado com a sinceridade. Muito menos com a confissão e a apresentação sincera
dos sentimentos, a revelação sem pudor das emoções e dos desejos. Quem faz isto é desprezado,
tachado de fraco, de ingênuo, de inconveniente etc. Rompe as regras
do jogo. Na verdade, deixa desnorteados os que se acostumaram a conviver com a própria
mentira e infelicidade. Assusta, por acenar com a possibilidade de ser feliz,
que é simplesmente aterradora: afinal, fomos todos educados para sermos perdedores. Já
entramos em tudo contando que não vai dar certo. E nos habituamos à idéia
de que é melhor que seja assim, porque se der certo, se a gente for feliz, seria insuportável ter
que perder. Então fica mais fácil "escolher" o que é menor, o que
é medíocre, o que já contém o micróbio certo do fim antes mesmo do começo. Aceitamos,
concretamente, pelas nossas atitudes esta condenação à infelicidade, ao desperdício
da única vida que possuímos nesta passagem pela matéria. E carregamos a frustração constante,
aquele desesperado e inconfessável desejo que tudo pudesse ser diferente.
Sem perceber que só depende de nós romper as amarras, escolher a felicidade real. Ser o que
somos, e não o que nos impomos.
Canalização é uma palavra-chave. É um contato-chave. É uma atitude-chave. Possível para todos
nós, em maior ou menor grau, à maneira própria de cada um. Quando canalizamos,
quando estabelecemos esta ligação com alguma coisa que parece estar sempre nos
acompanhando, como um amigo secreto, invisível, que dá as dicas do caminho, tudo fica
permanentemente mais fácil. Fluido.
Podemos perceber a canalização de diversas formas, perceber o contato com outras dimensões da
nossa energia de maneiras várias, já que é uma necessidade nossa "dar
nome aos bois", ou seja, dar forma a tudo, pois é com nomes e formas que conseguimos, no
Campo Material em que existimos, estabelecer nossa comunicação. O que nos
dá porém a certeza de que estabelecemos o contato, de que abrimos o canal para outras
dimensões universais, é justamente esta sensação que não cabe em nenhuma tradução
conhecida. Assim, na verdade, as "formas" de canalização que possamos experimentar
"oficialmente" são, na realidade, menores do que qualquer coisa que possamos sentir
através deste contato com a qualidade de ener-
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gia que poderíamos chamar por exemplo de nosso Eu Superior ou nosso Mestre. E todas estas
formas nos levarão, com certeza, a vivenciar as sensações que não caberão
nelas mesmas, e ficaremos sempre com a percepção de estar sentindo algo muito maior do que
nós poderemos jamais dizer a alguém. Mas este algo que sentimos vai ampliando
gradativamente a nossa qualidade como seres humanos, vai modificando nosso ponto de vista a
respeito do mundo, e será percebido pelos outros de forma nítida, ainda
que indizível. Este é um "fenômeno" que faz parte do depoimento de todos aqueles que passam a
experimentar o processo da canalização conscientemente.
O primeiro relato de todos que abrem seus canais, é de uma imediata sensação de segurança,
proteção e bem-estar, uma tranqüilidade, uma diminuição da ansiedade inexplicável,
mesmo quando a agitação que nos cerca é grande. E mesmo quando a nossa cabeça, como é
natural, se debate na tentativa de "entender" esta vivência não classificada
por nenhum tipo de raciocínio ou arquivo mental, e que é capaz de nos trazer, de estalo,
respostas profundas e satisfatórias para muito do que a busca da mente não
alcançou em anos de questionamento racional. E não sabemos encontrar palavras para dizer. A
canalização, este encontro profundo e absoluto com o próprio eu em todas
as suas dimensões, é uma experiência de fato pessoal e intransferível. Assim como
inevitavelmente contaminadora. O que as pessoas não entendem racionalmente, percebem
numa mudança de atitude, num brilho no olho permanente, no estranho fato de que, de repente,
estamos sempre bem, mesmo quando as coisas vão mal. Cutucam, rejeitam.
Mas na maioria das vezes, acabam por querer chegar à fonte do que percebem em nós como
bem-estar, felicidade. E que é, afinal, o que todos querem mesmo.
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PERCEBENDO O INEXPLICÁVEL
BUSCAR uma forma de explicar a canalização seria o mesmo que tentar colocar a água de uma
cachoeira num dedal. Missão impossível — dentro do nosso limitado mundo
físico não há nada capaz de conter numa explicação tudo aquilo que lhe é, por natureza,
transcendente, o que existe além dos nossos conhecimentos imediatos. Além
do que, caso conseguíssemos efetuar esta redução, isto significaria um empobrecimento total do
muito que podemos alcançar se, ao contrário, também nós encontrarmos
uma maneira de ultrapassar as barreiras da matéria.
Não há como explicar de forma alguma o que está fora do campo físico, pela simples razão de
que o que existe fora deste plano das formas não tem forma. É uma pretensão
insolente do ser humano, uma arrogância, achar que sua mente racional pode alcançar a razão e a
lógica de todas as verdades universais, do funcionamento cósmico.
Podemos, sim, atingir tal compreensão, mas apenas através da sensação, da emoção, da
percepção sensitiva e sensorial — instrumentos que ultrapassam a limitação da
mente, que é produto da nossa existência no campo material. Quando deixamos de existir como
corpo físico, a mente racional, tal como a conhecemos aqui, simplesmente
deixa de existir, e nos integramos à forma de compreensão de todos os outros elementos do
universo, que buscam constantemente o equilíbrio através da interação harmônica
de suas vibrações energéticas. Estas vibrações e suas alterações constantes estão presentes em
nós, humanos, exatamente no que ultrapassa a nossa cabeça, no que
não conseguimos "entender" — isto é, as emoções. Quando estamos bem ou mal, quando
mudamos nosso estado de espírito (que teria como conseqüência a mudança do "estado
de matéria"), não é porque a cabeça nos disse que estamos deste ou daquele jeito. Mas sim,
porque nos sentimos de tal modo. Ou não é?
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Todo mundo busca na vida o equilíbrio emocional. Se você está de bem com o mundo, se está
apaixonado, por exemplo, ou profundamente satisfeito com alguma realização,
o nível material fica imediatamente em segundo plano. Você não vai se aborrecer com a torneira
que pinga, vai achar boa qualquer coisa que coma, nem vai notar em
que cama está dormindo. Certamente, enfrentará com humor muito melhor dificuldades
financeiras. Porque suas emoções o preenchem, enchem sua existência de significado,
você se sente internamente satisfeito e pára de buscar pseudo-satisfações, compensações externas
que tapem o buraco da carência afetiva (entendemos como afetivo
o gostar de si mesmo e, como conseqüência, o amar e ser amado pelo outro). Pelo contrário, de
que adianta obter ganhos e ganhos que não nos trazem nenhum tipo de
sensação de encontro, de preenchimento? Quantas vezes paramos para nos perguntar de que
adiantam todas as nossas "conquistas" quando nos sentimos roídos pela solidão,
pelo vazio, pela sensação de inutilidade? E aí, a torneira que pinga vira um monstro que
atormenta, a comida pesa no estômago, o travesseiro incomoda. O dinheiro
nunca chega. E a nossa tendência é de partir para buscar mais e mais conquistas e compensações
externas, que só acentuam a sensação de esforço, de inadequação à
vida.
Este "buraco interno" é a conseqüência inevitável do distanciamento do eu. Quando buscamos
nos adaptar aos valores e tarefas que a sociedade, que o contexto, que
a nossa educação nos impõe desde que nascemos, sem questionar se é de fato o que corresponde
ao nosso desejo, vivemos uma permanente situação de inadaptação e estranhamento.
Carregamos uma constante, crescente sensação de frustração e incompetência, porque por mais
que façamos, e por mais até, que se alcance dentro do que nos disseram
que deveria ser alcançado, nos sentimos sempre como se não tivéssemos chegado a lugar
nenhum. Não é verdade?
No entanto, fazer aquilo que realmente desejamos, mesmo quando isto contraria tudo que nos
cerca e tudo que nos foi dito, traz, inequivocamente, a sensação de paz,
de alegria, de satisfação. De que a vida faz sentido. O equilíbrio. Esta harmonia estabelecida
entre o que somos e o que vivenciamos quer dizer, exatamente, que
estamos perfeitamente sintonizados com todas as outras camadas cósmicas a que somos ligados,
que estamos cumprindo o exato papel que nos cabe dentro da engrenagem
das Forças Cósmicas, da qual fazemos parte.
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Cada ser, cada elemento no Universo ocupa o espaço que lhe é devido e tem a função de
interagir, de uma maneira imediata, com o campo energético que o cerca, porém
consciente de que esta harmonia ou desarmonia do contexto mais próximo tem conseqüências
seqüenciais em todas as outras dimensões do universo, dentro da qual nada
existe isoladamente, nada. Assim, cada pequena partícula da energia, cada ser, cada movimento
feito, tem a responsabilidade de alterar positiva ou negativamente
(quer dizer, de forma equilibradora ou desequi-libradora), camadas infinitas da estrutura
universal. Toda energia emitida por um gesto, uma escolha, uma decisão,
uma omissão — toda energia gerada por qualquer fonte — seguirá deixando as marcas de sua
positividade ou negatividade até que seja definitivamente absorvida ou modificada
por outras energias emitidas de outros níveis de geração. Mas sempre, qualquer movimento
emitido por qualquer elemento do Universo, terá conseqüências concretas.
Inclusive os nossos.
Como podemos ser tão pretensiosos a ponto de querer açambarcar na nossa "compreensão
racional" a certeza das verdades universais, e, ao mesmo tempo, sequer nos darmos
conta da nossa importância e papel, da nossa responsabilidade dentro desta mesma engrenagem?
Numa ocasião, durante uma saudável discussão entre um senhor, espírita de tradição, e Fréderic,
o Mestre do Astral que me orienta, quando Fréderic expunha seu ponto
de vista a respeito da flexibilidade total do campo energético como um todo e, partindo do
princípio de que a única verdade que existe é que tudo é movimento — portanto,
tudo é constantemente mo-dificável — seu oponente afirmava que era um absurdo tal
posicionamento, pois a ciência já havia comprovado diversas idéias do espiritismo
a esse respeito, inclusive, a que coloca o ser humano e sua mente racional como a última e mais
alta escala de sua evolução energética. (Esta discussão está registrada
no livro de Fréderic Dicas e Truques para Ser Feliz).
A resposta de Fréderic foi, como sempre, de uma simplicidade contundente, que é, infelizmente,
onde o raciocínio sempre nos dificulta chegar. Em primeiro lugar,
lembrou aos presentes que quando afirmamos que "a ciência já provou", estamos na verdade,
contrariando o próprio processo desta mesma ciência, que vive de provar
e "desprovar" ininterruptamente suas teses, caso contrário, não cresceria, permaneceria
estacionada. E tal processo de desenvolvimento científico vem provar, isto
sim, mais uma vez, que tudo é movimento e tudo está
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em constante modificação. Sugeriu Fréderic em seguida que fizéssemos um exercício singelo de
reflexão, nos colocando sob um céu estrelado numa noite clara e, olhando
o que é dado a nossa vista alcançar do Universo, nos déssemos conta da nossa ínfima dimensão e
nos perguntássemos, afinal, o que é o tamanho e a capacidade da mente
humana diante de tudo isto, para que tenhamos a pretensão de, através dela, abranger tanto. Um
simples e necessário exercício de humildade. Além do que, de que nos
adianta compreendermos verdades tão amplas, tão "cósmicas", se não pudermos nos entender
com o nosso dia-a-dia? Não é "lá" que vivemos, afinal.
Todo trabalho "espiritual" que prega o desligamento ou o prejuízo, o castigo, a anulação da
matéria de alguma maneira, está equivocado na base. Não existe "espírito"
sem matéria. Aquilo que chamamos espírito nada mais é do que uma camada menos densa, mais
rarefeita, da onda energética a que cada um de nós está integrado, e que,
neste momento mais abstrato, atinge o ponto máximo de expansão. Isto é apenas parte do
movimento contração/expansão que permite às ondas energéticas caminharem autonomamente
pelo ar, cada vez que são emitidas oor algum tipo de motor ou fonte. Ao alcançarem o ponto de
contração seqüencial dentro deste movimento espontâneo, adquirem o
estado de densidade que identificamos como matéria. Não existe, no entanto, nenhum tipo de
desligamento entre os campos mais ou menos densos, e sim, uma continuidade
em que as influências passadas na ininterrupta interação são fundamentais para a permanência do
equilíbrio do todo desta onda, de modo que todas as partes funcionem
bem individualmente e, simultaneamente, provoquem a manutenção do equilíbrio da totalidade a
que pertencem.
Portanto, se até aonde nossa consciência alcança, estamos, neste momento, vivenciando uma
realidade dentro do campo material, é aqui que temos, cada um de nós, que
cumprir corretamente a nossa parte. Isto significa estabelecer, sim, um contato o mais amplo que
consigamos com nossas dimensões fora do campo material, porém sempre,
indubitavelmente, com o objetivo de absorver e aproveitar deste contato tudo que possa servir
para elaborar do melhor jeito possível, com a máxima plenitude, nossa
existência enquanto seres materiais, em todos os níveis (afetivo, de saúde, financeiro,
profissional, etc). Pois é esta vida que nos cabe viver da maneira mais perfeita
para que, efetivando o melhor de tudo no trecho da onda em que estamos, automaticamente,
estejamos emitindo as mais harmônicas in-
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fluências para o restante do nosso corpo energético universal e para o Universo como um todo.
Não é de estranhar, pois, que os Mestres do Astral não gostem nem um pouco da mania que o ser
humano tem de jogar a responsabilidade pelo que lhes acontece "para
cima". Ao mesmo tempo que pretendemos ter o domínio do conhecimento universal, na hora de
agir, atribuímos a todo o tipo de seres que "não compreendemos" (os espíritos,
entidades, extraterrenos, santos, orixás, etc.) a tarefa de consertar o que quer que não esteja
andando bem. Atribuímos a estes "seres" ou energias que percebemos
ou acreditamos existir fora da matéria o poder exclusivo de alterar e pôr em ordem o que
acontece aqui. Também esperamos deles que controlem fatalidades como o Apocalipse
e outros desastres de menor porte. E nós, onde ficamos? Para que existimos se não somos
capazes de nada além de uma total passividade diante de tudo?
Basta olhar a natureza para verificar a mentira que existe nesta nossa atitude omissa, nesta nossa
crença de incapacidade diante do Cosmos: em perfeita harmonia,
as forças da natureza exercem um movimento constante. Cada elemento impulsiona o outro,
modificando ininterruptamente o contexto que o envolve. Cada coisa em seu
limite correto, sem invadir ou ser anulada por nenhum outro elemento que a atinge. Há uma
coordenação precisa — embora não estática — que mantém o equilíbrio universal
funcionando em todos os seus níveis. Muitas vezes observamos, extasiados, a beleza e perfeição
destes espetáculos da natureza, sem nos darmos conta de sua importância
enquanto funcionamento de uma engrenagem que vai muito, muito além de onde a vista e a
imaginação humanas alcançam. Acompanhamos os ciclos dos animais que se alimentam
uns dos outros, dos vegetais que viram flor e fruto e adubo, do mar que não engole a areia, do rio
que não ultrapassa seu leito, do sol que cede lugar à lua que
cede lugar ao sol, e assim por diante, sem que ninguém fira ninguém, sem violen-tações.
Quando algum desrespeito a este ritmo acontece, chamamos isto de desastre. A palavra desastre
significa "estar em desacordo com os astros", ou seja, em desarmonia
com o Universo. Por que então a utilizamos para designar esta situação em que alguma coisa sai
dos seus limites e o desequilíbrio acontece, e por que tal situação
nos assusta tanto? Justamente porque nada existe no Universo para ser desarmônico, pelo
contrário, todo elemento aqui colocado busca o seu funcionamento mais
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pleno, perfeito e harmônico, e a harmonia é sinônimo de Felicidade. Em outras palavras, todo


ser, possuidor ou não de uma inteligência racional, existe para ser
feliz, e isto corresponde a uma perfeita integração consigo mesmo e com tudo que o cerca. Isto
significa, em qualquer nível da natureza universal, existir de acordo
com o que se é, simplesmente, sem modificações mentirosas ou falseadas. Quanto mais pura a
verdade com que qualquer coisa existe, mais suave, fluida e sem erros
será sua aco-plagem com toda esta infinita engrenagem.
Os seres não racionais, os elementos não "inteligentes" (mas certamente possuidores de uma
consciência perceptiva), são capazes de alcançar uma funcionalidade de
ótimo grau, cujo desempenho, para ser realmente alterado, precisa sofrer uma grande pressão
positiva ou negativa, uma enorme tensão ou de-fasagem, esvaziamento.
No entanto, a tendência, via de regra, é de que o "instinto da sobrevivência" destes elementos,
sua ininterrupta busca de equilíbrio, façam com que se realoquem
de imediato após grandes ou pequenos desastres, encontrando rapidamente uma nova posição de
harmonia dentro do todo e em relação a si mesmos.
Interessantemente, o único ser neste mundo a contrariar esta regra geral é o ser humano. Graças à
mente racional e ao código de valores sociais e pessoais por ela
estabelecido, ao invés de organizarmos, desorganizamos nossa vida a cada passo, nos
distanciamos da real e única estrutura do nosso ser. Desde que nascemos, somos
mergulhados numa série interminável a respeito daquilo que deve ser. Ora, o que deve ser já não
é mais o ser em si mesmo, mas uma proposta de modificação em função
de circunstâncias externas às quais "precisamos" nos adaptar o tempo todo. Na realidade, o que
se é, é o que se é. Não tem "deve" nem porquê. Qualquer coisa é porque
é. Somos cada um, aquilo que somos, porque fomos formados assim, e é com os elementos que
viemos a este mundo que deveremos existir nele, pois estas foram as "armas"
que nos foram dadas para, a partir delas, nos melhorarmos e conquistarmos nosso espaço
enquanto dentro da circunstância material. Fora disto, é tudo mentira em relação
ao nosso ser. Tudo que é aposto ao ser, simplesmente não é mais o ser. Exigir de alguém que
deixe de ser o que é para adotar um comportamento "mais conveniente",
"mais adequado" — porém falso, incabível para aquela pessoa, é algo assim como querer obrigar
alguém que tem um pé tamanho 40 a usar sapatos de número 35. É possível?
O que "deve" ser não veste ninguém bem, confortavelmente.
20

Não importa qual é a sua verdade. Importa é ater-se a ela. Tal fidelidade é a única coisa que nos
permitirá (como acontece com todos os outros seres que não são
induzidos a trair-se porque não tem uma mente racional que os empurre nisto enganosamente)
não desabaremos, não perderemos o rumo por completo jamais. Evidentemente
ser fiel à sua verdade e exercê-la sob qualquer hipótese não quer dizer passar por cima do outro
feito um trator. Não é nada disto, pois o reconhecimento dos próprios
limites, o respeito à conjugação dos espaços de cada um é regra fundamental no exercício da
harmonia. Serão muitas as situações em que teremos que abrir mão de alguma
vontade do momento exatamente para não ferir a necessidade da boa convivência. Não seria esta,
então, uma forma também de ir contra a nossa verdade? Não, não seria,
pois o que mantém presente o elemento da verdade é a escolha consciente de cada pequeno ou
grande gesto. Diante de cada situação é preciso parar (aquela "paradinha
antes de chutar o pênalti", sabe como é?) e se perguntar se aquilo é o que realmente queremos, se
estamos escolhendo de fato ou apenas, mais uma vez, reagindo automaticamente
ao que foi posto à nossa frente. Esta "paradinha" faz toda a diferença, pois é ela que nos permite
perceber a nossa verdade a cada instante, fazendo com que estejamos
sempre de acordo com o nosso ser, evitando os desvios, por menores que eles sejam.
Se alguém nos chama para ir ao cinema, por exemplo, e não estamos com vontade de ir, mas
vamos assim mesmo só para não "perder" o outro de alguma forma, isto vai
deflagrar uma seqüência de acontecimentos negativos, do tipo: o trânsito vai estar engarrafado, o
guardador vai encher o saco, vai ser difícil achar vaga, a pipoca
vai estar ruim e, provavelmente, não vamos gostar do filme. Isto é a conseqüência típica de uma
atitude inconsciente, de uma resposta automática e não escolhida,
não decidida, mesmo que a situação possa parecer desim-portante ou banal. É a isto que
chamamos um "desvio", ou seja, alguma coisa que durante algum tempo vai nos
manter afastados da sensação de bem-estar e conforto, e que vai nos exigir sempre um esforço
para retomar a tranqüilidade interna. Um desvio pode durar minutos ou
anos em nossa vida, conforme se vá repetindo as atitudes inconscientes. A maneira mais simples
de evitar o desvio é, de fato, dar a paradinha antes do pênalti e
tomar consciência do que estamos fazendo. E quando notamos que estamos entrando num destes
desvios, embura-cando por uma trilha que não tem nada a ver com o que
real-
21
mente queremos, é preciso respeitar esta percepção e retomar o rumo correto o mais rápido
possível — uma coisa difícil, geralmente, para nós, que fomos educados
para insistir no erro até o fim, para não dar o braço a torcer, não voltar atrás.
A tomada de consciência necessariamente levará a uma seqüência positiva. Ao ser convidado
para ir ao cinema, eu posso parar um segundo e sentir, entender que, apesar
de não ser exatamente aquela a minha vontade, posso ir e não me violentar com isto. Neste caso,
não estou abrindo mão da minha verdade nem fazendo uma concessão.
Uma concessão jamais deve ser feita, pois implica em dar algo que não tenho, em "arrancar um
pedaço" meu que vou cobrar do outro em algum momento seguinte, de alguma
forma, e certamente dar o que não possuo vai me desestruturar de algum jeito. Ao escolher abrir
mão conscientemente de uma opção minha preferencial para embarcar
na do outro sem que esteja me violentando, significa que estou fazendo uma doação, o que é
completamente diferente, pois neste caso, estou dando por escolha algo
que não vai me arrancar pedaço. Portanto, não cobrarei de ninguém nem me desequilibrarei.
Portanto, se decido ir ao cinema por escolha, mesmo não tendo sido este
o meu impulso inicial, minha verdade passa a ser a de que posso aceitar a proposta do outro sem
me fazer mal. Neste momento, exerci o controle da minha decisão e
certamente deflagrei uma seqüência positiva que provavelmente vai me deixar agradavelmente
surpreso: o trânsito vai estar ótimo, vai ser fácil achar vaga, a pipoca
estará uma delícia, e vou gostar do filme. Se, por outro lado, eu resolver que de fato não desejo ir
ao cinema e me ativer à minha verdade, possivelmente também
vou me surpreender com o fato de que o outro não vai, no final das contas, se aborrecer comigo.
Não haverá nenhuma "perda".
É nestas pequenas coisas do cotidiano que devemos treinar a nossa acuidade de escolha. O
processo energético se alastra em ondas crescentes, sempre do menor para
o maior. Portanto, a coisa realmente esperta consiste em não tentar comer pelas bordas, tentando
resolver sempre as grandes questões, mas sim, tratar corretamente
das pequenas primeiro. No âmbito menor nos sentiremos mais seguros e teremos mais
condescendência com os nossos próprios erros, mais paciência com a experimentação
da nossa percepção. Enfrentaremos melhor a análise e resolução dos nossos pequenos medos
cotidianos do que dos grandes pânicos existenciais. Se nos preocuparmos
em pisar bem cada simples passo, um por um, de repente perceberemos que
22
cumprimos todo o longo caminho sem nem nos darmos conta de que possa ter custado qualquer
esforço. Em outras palavras, se nos reeducarmos no sentido de escolher
conscientemente o que fazer, como fazer em cada momento do dia-a-dia, respeitando a
percepção da verdade do nosso sentimento, poderemos verificar o resultado imediato
e concreto de tal atitude, principalmente na sensação de força e bem-estar que a coerência nos
traz. E isto nos levará, tranqüilamente, a não hesitar, quando diante
das grandes escolhas da vida, em decidir de acordo com esta mesma verdade do sentimento,
porque ela já terá comprovado de sobra sua eficácia.
23
AFINAL, DO QUE ESTAMOS FALANDO?
ESTAMOS falando de channeling, canalização. Da abertura de um canal que nos permita o
contato com nosso nível mais alto de qualidade energética. Mas o que é isto?
Vamos raciocinar em termos de emissão de energia, considerando que toda matéria é o resultado
de uma condensação de partículas energéticas. Nós, seres humanos, também
nos materializamos desta maneira. Fazemos parte de uma onda de energia, necessariamente
emitida por uma fonte ou motor, que, em dado momento de sua caminhada pelo
ar, atingiu um estágio de concentração de partículas tão denso que criou limites físicos, capazes
de delinear uma forma concretamente perceptível.
Esta onda de energia na qual estamos incluídos atravessa todas as instâncias do Universo. O fato
de existirmos, ou melhor, de nos percebermos existindo neste mundo
apenas se torna facilmente compreensível quando fazemos a analogia com qualquer outro
processo energético que seja inteligível dentro do nosso conhecimento racional.
Por exemplo: uma onda de rádio, ou tevê, é lançada no ar pela fonte emissora. Atravessa o
espaço de maneira invisível para nossos olhos. Até que é captada por uma
aparelhagem específica. Neste momento, esta onda até então espalhada pelo ar sem nenhum
formato aparente assume a forma concreta do som captado no aparelho. Esta
forma concreta só existe durante o tempo em que o aparelho estiver ligado, e só existe em
relação àquele aparelho específico. Ana-logicamente, somos do mesmo jeito
emitidos por uma Fonte, atravessamos o ar, Universo afora, até que entramos num adensamento
de partículas que vai ser captado por um "aparelho" que seria o Planeta
Terra, ou este mundo, que nada mais é do que uma área do espaço universal com um tipo de
magnetismo capaz de atrair ondas do ar e mantê-las juntas em equilíbrio
nas diversas maneiras como existem neste campo, mate-
24rializadas — da mesmíssima maneira que o aparelho de rádio capta várias ondas e as
transforma em sons diversos no seu dial.
É interessante observar que, ao mesmo tempo que parece deter-se em um único aparelho de som,
a onda de energia, na verdade, não apenas mantém seu movimento pelo
ar, como também está sendo captada e materializada em sons por incontáveis outros aparelhos.
Mas não temos consciência disto. Nem da multiplicidade nem da simultaneidade
de existência das possibilidades de materialização desta onda. Assim como, ao nos sabermos
existindo neste mundo, nesta vida, perdemos inteiramente a noção de que,
de fato, estamos existindo simultaneamente em outras instâncias, enquanto energia que somos.
Entrar neste mundo seria, para nós, como quando estamos numa sala fechada e nos tornamos
inconscientes momentaneamente em relação a tudo que não se encontra dentro
do limite físico em torno. Parece não haver nada para lá das paredes que nos limitam. Se
acendemos uma lâmpada, por exemplo, é como se, naquele momento, ela fosse
capaz de existir por si mesma. Não a percebemos como algo ligado a toda uma corrente que
igualmente a nós teve início numa fonte motora. Outra observação curiosa,
é de que só vamos procurar e nos preocupar com as possíveis conexões com esta fonte
justamente quando acontece uma desconexão qualquer, um defeito que, quanto mais
grave e complicado nos pareça, mais profundamente nos levará a pesquisar o funcionamento do
circuito de origem e transmissão. Da mesma forma que, geralmente, só
começamos a nos preocupar com nossas conexões com outros níveis da nossa dimensão
energética, e até mesmo nos darmos conta de que eles existem, quando somos atingidos
por algum tipo de desequilíbrio grave. Tão grave que entendemos que não é possível resolvê-lo
no nível da lâmpada ou do interruptor que visivelmente alcançamos dentro
dos limites da sala. Mais raramente, este "transbordamento" da percepção pode acontecer através
da alegria, das sensações transcendentes de felicidade e realização.
Mas, infelizmente, fomos decididamente treinados para nos elaborarmos a partir do sofrimento e
não das coisas boas.
O que interessa, portanto, é que possamos, aqui e agora, da maneira mais simples e sem ter que
passar por trancos e barrancos, compreender a realidade explícita
deste circuito energético universal do qual fazemos parte e, sem mais delongas,
operacionalizarmos a melhor sintonia com a fonte geradora, de modo que nosso estágio
de materialização possa ocorrer den-
25
tro do uso de nossa potencialidade máxima, em todos os níveis. Somente cada um, pessoalmente,
pode, de fato, atuar como seu próprio botão sintonizador. Pela simples
razão de que ninguém vive a vida de ninguém. Por mais íntimo que se seja de um outro, por
melhor que o conheçamos, só a própria pessoa é capaz de realmente saber
o que é a sua coisa. Podemos buscar conselho, orientação, dicas — tudo isto é válido e faz parte
do processo de interação da natureza. Porém a decisão, a escolha,
o desejo, a vontade, são realidades inteiramente particulares. Logo, quanto mais rápido
assumirmos este fato e a responsabilidade a respeito daquilo que nos ocorre
— que não é e jamais será de mais ninguém — maior será nossa firmeza, mais inabalável o
equilíbrio, mais freqüentes os ganhos.
Na vida, é muito comum que se ouça as queixas generalizadas de tudo que nos fizeram, ou que
fizeram de nós, desde que nascemos, a começar pela atuação do pai e mãe
sobre a nossa personalidade e formação. Raramente ouvimos alguém dizer que lhe aconteceu isto
ou aquilo, que chegou a este ou àquele resultado por sua própria causa,
porque escolheu e provocou tal situação e rumo.
Claro, é uma mera questão de opção: ficar apanhando passivamente das circunstâncias, ser
moldado sempre pelo que vem de fora e geralmente não tem nada a ver com
a gente, ou tomar as rédeas da própria existência e construir o seu caminho, evitar a sensação do
desperdício de vida. Pior do que estar vivendo uma situação com
a nítida certeza de que não é nada daquilo que queremos para nós, é chegar a uma idade
avançada, olhar para trás e perceber que jogamos a vida fora, sacar aqui e
ali, no passado, quantas foram as esquinas em que nos perdemos de nós mesmos porque não
fomos capazes de abocanhar o que de fato queríamos. Tem coisa pior? Então,
melhor evitar que se chegue a este ponto sem retorno. Batalhar, ir à luta de si mesmo — esta é a
única maneira de viver bem, este é o modo de pegar o nosso próprio
botãozinho sintonizador e eliminar categoricamente o máximo possível das interferências
externas que nos derrubam, nos atrasam, nos impedem de ser feliz. Esta é
a forma de cumprir plenamente e expandir o máximo possível as capacidades que a energia da
Fonte Superior nos proporciona.
Batalhe seu sonho. Brigue por você mesmo. Goste de si. Diga não àquilo que te faz mal. Pode
parecer difícil na medida em que contraria toda a nossa educação. Mas
não é. Quando começamos a exercer esta outra linha de atitude, fica fácil perceber que isto é que
é o natural, o normal, o sem dramas. O
26
egoísmo nos faz passar por cima dos outros sem notar, prejudicando o equilíbrio universal. Mas
o egocentrismo, a emissão da nossa vida e das nossas relações a partir
do exercício do eu, é fundamental (no sentido de fundamento) para a manutenção deste mesmo
equilíbrio. Cada um de nós, necessariamente, é o sol do seu próprio universo,
o gerador de sua própria verdade. Sempre que tentamos nos estabelecer vindo "de lá para cá",
partindo do ponto de vista alheio, saímos do nosso eixo e nos desestruturamos,
como se estivéssemos caminhando com um sapato sem salto. Mancamos, não encontramos a
sensação de segurança, por não estarmos utilizando o único ponto de apoio cujas
possibilidades e limitações corretas de fato conhecemos, e que é o que está em nós, jamais no
outro, ou em qualquer coisa fora de nós. Somos, em qualquer circunstância,
a nossa própria baliza. E quanto maior a clareza com que nos exercemos na vida a cada minuto,
mais fluido e fácil fica tudo, melhor nos relacionamos com o outro,
mais verdadeiras, descom-plicadas e seguras se tornam nossas relações.
É claro, não há garantias de "vitória", de conseguirmos todas as vezes o que queremos, porque
obviamente estamos inseridos em contextos cuja força de influência
interage todo o tempo com a nossa. Mas o que importa de fato, o que vai nos trazer a confiança e
eliminar a sensação de frustração é a consciência comprovada da
nossa própria capacidade de tomar posições e acionar o rumo. Se o caminho a que nos dirigimos
inicialmente se fechar por algum motivo, tudo bem: não nos de-teremos,
apodrecendo entre lamentações, porque já sabemos que de nós, exclusivamente de nós, depende
simplesmente engrenarmos a marcha em outra direção. Sempre é possível
escolher o que fazer de nós, mesmo diante de uma circunstância que se apresenta como
"incontrolável", conforme veremos mais adiante neste livro. A cada segundo,
ainda que omissos, estamos decidindo a nossa vida.
Muito bem: como sabemos, tudo aquilo que existe no ma-crocosmo se repete no microcosmo.
Ou, como se diz popular-mente, por exemplo, "o homem é feito à imagem e semelhança
de Deus". Tudo isto quer dizer que, salvo no caso de ocorrerem interferências realmente
mutiladoras, arrasadoras, se as coisas correrem naturalmente, aquilo que
ocorre no ponto de recepção de uma onda energética reproduz integralmente o que é enviado
pela fonte emissora. Ninguém, é claro, vai negar a afirmação de que o que
recebemos e ouvimos no nosso aparelho de rádio, por exemplo, é e tem que ser exatamente igual
ao que
27
foi mandado pela emissora. Uma reprodução fiel, e se assim não for, não nos serve. Por que
então nos é tão difícil e complicado aplicar esta verdade simples, singela,
mas de força total? Por que não conseguimos ser como qualquer outro resultado de uma onda de
energia qualquer, que chega e acontece no seu campo de existência concreta
exatamente como veio para ser? Por que nos empenhamos sempre em consertar, corrigir todas as
interferências em todas as ondas de energia que nos cercam, mas, na
nossa própria, é tão tumultuado deixar que a essência transpareça e brilhe?
Bem, do que estamos falando, afinal, é desta conexão com a Fonte que nos gera, de como
atravessar do melhor modo possível, de como manter constante a ligação através
deste fio condutor, deste canal aparentemente tão imperceptível para nós. Mas é uma questão
mesmo de extrapolar as tentativas da razão e alcançar as amplitudes sem
limites da pura percepção. Um treino, como outro qualquer. Um exercício de soltar-se e apenas
sentir, sentir, sentir, fluir, flutuar. Como um astronauta solto no
espaço. Como o som do trinado perfeito, redondo, macio, de um passarinho, no ar.
Como então, estabelecer e manter esta conexão? Simples: basta ligar o botão, acender o
interruptor. O aparelho pode ser o mais fantástico possível, fazer um monte
de gracinhas espantosas, ter o maior potencial. Mas se não ligar, nada vai acontecer, com certeza.
Portanto, para estabelecer a ligação concreta com a Fonte, temos
que 'ligar" o nosso próprio botão, e manter o aparelho ligado. (É proposital aqui a repetição da
palavra ligar. Não é à toa que quando queremos dizer que estamos
"acesos", funcionando a todo vapor, com pique total, usamos a expressão "estou ligado", e até,
'ligadão", que significa também nos sentirmos conectados com algo
ou alguém cuja relação nos faz sentir assim, "acesos", motivados, funcionando.)
Pois então: 'ligar" nosso botão significa apenas chamar pela energia que nos protege. Tomar
consciência de que ela existe. Pensar nela, conversar com ela. Não há
aí muitos mistérios, fórmulas mágicas ou rituais expressos. A comunicação se estabelece sempre
que nos referimos ou nos dirigimos ao objeto dela, ao objeto desejado.
Se eu chamo uma pessoa que está passando ela se vira e estabelece uma comunicação comigo.
Se eu precisar de um contato com alguém distante, basta telefonar ou escrever.
Se eu, porém, não acionar de alguma forma este contato chamando pela pessoa do outro lado, ela
jamais saberá que desejo alguma coisa dela.
28
A mesma coisa se da "na vertical", isto é, quando queremos nos comunicar com os nossos níveis
de energia em dimensões fora da matéria: temos que chamá-los, para
permitir que cheguem a nós. Temos, pelo menos, que abrir a porta. Ninguém entrará se a
mantivermos fechada ou se ignorarmos os "sinais" — batidas às vezes insistentes
de quem tem alguma coisa para nos oferecer, para trocar.
Automaticamente, instintivamente, chamamos por essa Energia Protetora quando nos sentimos
em perigo, quando estamos no "sufoco". Gritamos internamente por qualquer
nome que nos pareça confiável e seguro: pode ser o nome de um santo, de um parente que
morreu, ou algo mais genérico que simbolize proteção, como "mamãe". Na verdade,
não importa o nome que damos: quando emitimos este chamado, ele atingirá o grau mais elevado
da nossa camada energética, aquele que é responsável por estabelecer
nossa conexão mais íntima com a Fonte Geradora e, assim, restabelecer e manter o perfeito
funcionamento do nosso eixo, ou do nosso circuito como um todo. O nome
não importa porque nomes e formas são necessidades de quem vive no mundo material. Somos
nós, seres humanos, que precisamos dar nome e forma às coisas para podermos
estabelecer a comunicação inteligível (para nós) com elas. Mas fora do nível da matéria tudo
existe essencialmente, tudo existe no seu real significado, e não na
sua aparência. É através da qualidade, deste significado essencial, verdadeiro e real, que os
diversos níveis e camadas do Universo se comunicam. A comunicação de
fato se estabelece, acontece, através do movimento das vibrações, da conjugação magnética de
atrações e repulsões, que nós, humanos, percebemos como emparia, como
movimentos de simpatia ou antipatia, de identificação ou não com o objeto na outra ponta do
"fio".
Por isso, quando chamamos esta Energia Protetora, não importa mesmo o nome que estamos lhe
dando, até porque ele não existe fora do nosso campo de matéria. Estamos,
isto sim, buscando alguma coisa que seja tão forte a ponto de ultrapassar e vencer nossos
problemas de imediato e criar em torno de nós um halo protetor, algumacoisa
capaz de evitar o nosso sofrimento. Estamos chamando por um significado, por aquilo que para
nós representa esta proteção máxima — não importa o nome que lhe demos.
É correto esperar desta Energia que nos proteja de tal maneira, que nos envolva com sua
"invulnerabilidade" — pois esta é exatamente a proposta dos "De Cima", é
o que tem a nos
29
oferecer como colaboração dentro do processo do Universo. Se é do interesse comum, cada um
que cumpra a sua parte. Se "eles" — os que chamamos de "mestres", "guias",
"anjos", etc. — se encontram em relação a nós numa posição que permite um ponto de vista mais
amplo, mais abrangente, é natural pois que nos passem as informações
que não estão ao nosso alcance, para propiciar que erremos menos, e assim, evitemos um
desequilíbrio maior no Cosmos. Esta é a sua função.
Ê comum que os Mestres do Astral (uma das formas de nomearmos esta Força), ao se
apresentarem a nós, digam que devemos nos sentir "envolvidos no seu Abraço Protetor".
Poderíamos imaginar as dimensões da energia como uma pedri-nha que se joga no lago e forma
vários círculos concêniricos. Nós, o nosso nível, seria o ponto mais de
dentro. O dos Mestres do Astral, o mais abrangente, o mais de fora. Assim, estamos literalmente
envolvidos no abraço das dimensões energéticas que não conhecem os
limites físicos. São necessariamente mais amplas do que nós.
Quando esta energia nos toca, estabelece algum tipo de contato, sentimos imediatamente a
sensação da proteção: um bem estar inexplicável, um sossego interno, um
aconchego dentro do peito. Ao mesmo tempo, não nos sentimos tolhidos, pelo contrário, é uma
vivência inédita da liberdade. Como se alguém estivesse nos dando permissão
para simplesmente ser, ser como somos, o que somos, sem cobranças, julgamentos ou exigências
descabidas. Sem concessões que nos toldem a visão ou nos paralisem a
ação. Uma crítica construtiva, um apoio preciso, é o que a nossa Energia Protetora nos oferece.
Nos sentimos amados, porque somos vistos e aceitos como de fato somos,
sem bajulações e sem derrubações. E esta; para os Mestres do Astral, é a característica básica do
Amor: a Compreensão. Que significa exatamente perceber, entender
o outro como ele é. A partir disto oferecer-lhe sempre tudo que possa ajudá-lo a melhorar dentro
do que ele é. Nunca, tentar transformá-lo no que não é— pois isto
contrariaria basicamente esta característica da compreensão. Todo ser pode sempre expandir o
seu melhor. Todo ser se tornará falso e anulará sua existência se adotar
para si ou tentar adaptar-se a um "melhor" em que não está contida a sua Verdade. O abraço
simboliza fisicamente a ação e o significado de compreender alguma coisa
dentro de si, do seu espaço possível e total. Por isto os Mestres, ao traduzirem a expressão do seu
amor, dizem que estão nos envolvendo no Seu Abraço Protetor.
Por tudo isto é que, todas as vezes que
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se fala em estabelecer uma conexão de amplitude menos mesquinha, falamos em nome do amor.
Só que, infelizmente, a apropriação indevida desta palavra tornou sua presença
sinônimo de pieguice. É preciso retomarmos a visão correta de que amor nada tem a ver com
fraqueza, anulação do eu, sacrifícios que serão fatalmente cobrados do
outro, etc. Amor, pelo contrário, como acabamos de ver, só pode acontecer quando existe a
correta avaliação do objeto amado, com tudo que ele contém (é), Amar é
Compreender. Amar não altera o outro. Apenas, torna-o mais pleno.
Para termos uma noção mais clara desta Energia Protetora que estamos chamando, imaginemos
um eclipse do sol. A parte que aparece encoberta, o próprio corpo do sol,
seria o que denominamos aqui a Fonte Geradora (ou Deus, se quisermos atribuir o cunho
religioso). Logo em torno desta parte escura, deste corpo sólido, há um halo
de luz de formato irregular, como uma faixa de luz que envolve a fonte. É uma luz una, sem
divisões, a que denominamos Energia Cósmica ou Energia Crística. Não se
trata de uma qualificação hierárquica, mas sim da designação de uma qualidade energética
intermediária entre a fonte original, formada pelo mais alto nível de abstração,
e os já níveis de materialização, que se tornam perceptíveis logo a partir deste halo da Energia
Cósmica, quando as vibrações emitidas já se transformam em raios
que se multiplicam, se subdividem.
Esta energia de qualidade Cósmica é o que chamamos de "Porteiro", e tem duas funções básicas:
a de fazer o contato entre o abstrato e o não-abstrato, entre o denso
e o não-denso, entre o palpável e o impalpável. Entre o Criador e suas criaturas. Entre a Fonte e a
Matéria. A outra função do Porteiro é de ser o guardião da entrada
do canal, impedindo que forças estranhas atinjam nosso eixo essencial. Portanto, quando
estabelecemos e mantemos um contato com nossa Energia Protetora, muito mais
do que pedir socorro, estamos entrando em conexão direta com a Fonte e suas indicações de
caminho para nossa existência, e, ao mesmo tempo, fortalecendo todo o nosso
campo magnético contra os possíveis "invasores".
Uma vez quando eu estava conversando com Jarbas Maciel, um filósofo de Pernambuco, rolou o
seguinte diálogo:
— O que é o Absoluto?
— O Absoluto é a Fonte.
— E o que é a Essência?
Então os Mestres entraram na conversa e responderam:
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— A Essência é a partícula do Absoluto que existe em cada Ser.
E é por isto que a maneira mais simples e correta de atingirmos a Fonte é consultando e
exercendo a nossa essência. Mas disto falaremos um pouco mais adiante. Importante
é compreender que o que chamamos de essência é uma vibração básica que atravessa todos os
níveis do Universo, como se fosse um "alinhavo". É o que permite a conexão
entre todos os seres, tal o fio que conduz a eletricidade levando-a a vários pontos de luz numa
mesma casa. Quanto mais próximos da essência, quanto mais despidos
de tudo que nos é supérfluo, mais nítido o recebimento das mensagens vindas da fonte — ou
canalização — mais fácil decodificar seus sinais, mais fluido o nosso caminhar
a favor da corrente cujo rumo compreendemos mais e mais.
Ao solicitarmos a presença aqui e agora do nosso mais alto nível de energia, estamos abrindo
nossos canais essenciais, estimulando o que somos de mais puro. Esta
Energia Cósmica é portanto nossa dimensão mais elevada, e ocupa um espaço imediatamente
após a Fonte. Nós a conhecemos por vários nomes, como por exemplo, Jesus,
o Cristo, também chamado filho de Deus, exatamente por ser a energia imediatamente gerada
pela Fonte/Deus. Ou Buda. Ou qualquer outro nome que a História dos Homens
possa ter registrado por reconhecer nesta Terra a presença inexplicável de criaturas com um
comportamento muito além dos parâmetros "normais".
Na realidade, qualquer que seja o nome pelo qual chamamos esta energia, estamos, na verdade,
chamando por toda esta camada que se encontra logo após a Fonte. Já
explico: em primeiro lugar, como já dissemos, nome é uma atribuição da nossa necessidade de
comunicação enquanto seres materiais. Em segundo lugar, esta Energia
não é, como as criaturas do nosso nível, dividida e individualizada, mas sim, um Todo. É uma
espécie de vibração inteiramente unificada, ligada a todos os raios
que a partir dela se subdividem.
Imaginemos então que eu, Virgínia, sou parte de um destes infinitos raios que se espalham pelo
Universo a partir da Fonte. Quando chamo pela minha Energia Protetora,
aplico o nome Fréderic. Na realidade este meu chamado atrai a atuação de toda a camada
conhecida como Energia Cósmica. Se você, Maria, que está incluída em outro
raio destes, chamar por Jesus, o mesmo vai acontecer — você estará invocando e atingindo como
um todo a camada mais elevada de qualidade energética à qual se ligam
todos os seres. Mas se você, João, ao correr
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para quem te protege, atribuir a este protetor o nome de Xangô, ou a imagem do seu avô
Candinho que morreu, não tenha dúvida: seu chamado chegará igualmente ao mesmo
nível que ao do que chamou Jesus ou Fréderic, porque todos chamaram de fato foi por uma
qualidade de Energia. O nome utilizado é apenas um instrumento de ligação.
Por isto é comum que haja uma "apropriação" coletiva dos nomes que as pessoas reconhecem
como representando energias de proteção, tal como Jesus.. Por isto, por
exemplo, mesmo gente que não me conhece, ao ler os livros por mim canalizados, passa a
chamar pelo "meu" Mestre Fréderic com intimidade e confiança. É porque, quaisquer
que sejam os nomes que lhe demos, esta Energia Cósmica não pertence a ninguém em particular,
está disponível, por característica básica de função, para ser alcançada
por Todos no Universo.
A imagem que os Mestres me passaram desta Camada Energética Superior — ou seja, deles
mesmos —, é bastante curiosa e bonita: eles me mostram uma imagem como nós
humanos costumamos atribuir que sejam os "mestres" — alguma coisa assim meio solene, um
olhar translúcido, uma barbicha ou cavanhaque, talvez uma expressão suave
e sábia. Esta "figura" se encontra de pé sobre uma espécie de "fronteira" entre o nível abstrato da
Energia e aquele onde já se iniciam as contrações de levam à
densidade material. Exatamente o limite entre o halo de energia única e os primeiros raios
emitidos. Só que, o dado interessante, é que, do lado que está voltado
para o nível material, ou seja, a frente da figura, é nitidamente visível e palpável, porque precisa
ser assim para alcançar o objetivo de se comunicar, se tornar
inteligível para os seres materiais. Enquanto que a outra parte, por trás desta "fachada", não tem
forma alguma, é apenas a presença de uma luz intensa, quase mesmo
ofuscante, tão mais intensa quanto mais próxima da Fonte para a qual está voltada. Acho que
esta imagem simbólica define bem toda nossa relação com os Mestres do
Astral e a sua função no Campo Magnético Universal.
33
COMO CHEGAR LÁ
PARA estabelecer então o contato com a Fonte Superior através da nossa Energia Protetora é
preciso chegarmos cada vez mais próximos da nossa essência, do nosso eixo,
do canal que se abre do nosso íntimo até as mais altas dimensões, permitindo a fluência das
"informações" que orientam nosso percurso no Campo da Matéria. A este
canal chamamos Canal da Intuição, porque ela é a principal linguagem utilizada pelas Forças do
Astral para nos atingir, nos alcançar com seus recados. Por quê? Porque
emoção (sentimento, feeling) é o componente básico da estrutura astral. Intuição não significa
unia indicação de acontencimentos futuros mas, sim, a percepção de
que estamos vivendo corretamente o momento presente que nos levará a este futuro.
Energeticamente falando, aquilo que denominamos emoção representa, traduz, um tipo x ou y de
vibração, de intensidade de freqüência vibratória, que causará este
ou aquele resultado ao atingir um ou mais objetos em sua trajetória. Percebemos a emoção como
algo "inexplicável" que nos "faz vibrar" positiva ou negativamente.
Sentimos (e jamais pensamos) a emoção como um preenchimento ou um vazio dentro do peito,
que vai nos 'levantar" ou "derrubar", conforme seja boa ou ruim. Do centro
do peito, justo na altura do coração, esta sensação agradável ou pesada, que varia de acordo com
o tipo de sentimento envolvido, se espalha pelo corpo e, por vezes,
envolve todo um tempo na nossa vida, como elemento dominante — e até determinante — das
situações, sem que possamos nunca controlá-la, mesmo que a nossa mente e
todos os nossos condicionamentos tentem fazê-lo. Todos sabemos que a emoção é mais forte do
que qualquer argumento da cabeça. Por mais que a gente queira disfarçar,
esconder, abafar, ela está lá, presente, inequívoca. É só vai embora realmente quando se esgota,
da mesma forma inexpli-
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cável que chegou em nós. São coisas que parecem óbvias. Só que todo mundo sabe mas faz de
conta que não sabe.
Por que é tão difícil para nós lidar e com a emoção? Porque, se a seguimos livremente, ela nos
levará sempre a direções desconhecidas, imprevistas, nos trazendo
uma surpresa a cada passo. E nós simplesmente não suportamos isto, já que fomos treinados para
exercer o "controle" da nossa caminhada na vida, o que é feito (ou
tentado), naturalmente, através da cabeça, que, no entanto, não está nos dizendo sobre o ser, mas
sim, sobre o que deve ser, que é inteiramente diferente e pode
ser totalmente falso. Então exercemos as falsas escolhas, sempre em nome disto que deve ser
feito. E lá vamos nós, nos empenhando em ganhar o prêmio de "bom comportamento"
social, fazendo tudo "certinho", nos conformes, de acordo absoluto com a expectativa que
acreditamos ser a dos outros a nosso respeito, e, de repente, pumba! — chegamos
a lugar nenhum. É como se armássemos uma estrutura, tijolo por tijolo, obedecendo todas as
regras de um manual engolido desde que nascemos, mas, volta e meia, esta
estrutura rui, despenca. Porquê? Porque está manca, sem base. Está construída em cima do que
nos parece ser o mais correto, de acordo com o que nos foi ensinado,
nos foi dito, nos foi colocado por agentes externos. Mas, e o nosso desejo? Onde está? E o nosso
sentimento, para onde aponta? E a eterna briga entre a cabeça e
o sentimento, em que sempre insistimos em dar toda a força para o que a cabeça diz?
Só que simplesmente não adianta. Chega sempre, inevitavelmente, o momento em que somos
"traídos pelas emoções": ou por algo que é tão bom que nos envolve na "loucura"
e nos faz desobedecer todas as regras da cabeça, ir contra tudo o que "deve" ser e assumir os
comportamentos mais estapafúrdios (como quando somos "tomados de assalto"
por uma paixão e suas "loucuras", por exemplo). Ou porque batalhamos por um objetivo externo,
alcançamos, e somos invadidos por uma grande e "injustificada" depressão
— fruto evidente de termos conquistado algo que apenas não nos diz nada, foi uma conquista
apenas para mostrar ao mundo, para "provar" do quanto somos "capazes".
Ou outra situação similar. Por que dizemos "traídos" pela emoção? Porque esta é a sensação —
que na verdade nos compraz — que ela nos passa com sua esperteza. Emoção
é simbolizada por água — ela escorrega por baixo das portas que lhe fechamos. Ela é, realmente,
incontrolável diante dos nossos "desejos" racionais, se rebela, se
impõe, atravessa. A emoção é sempre soberana. Então, melhor acompanhá-la do que bater de
fren-
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te com ela. É mais sábio. E tanto sabemos disto, que, quando assumimos que quem manda é a
emoção, e nos deixamos levar, dizemos que estamos "ao sabor" das emoções.
Ora, porque usaríamos a palavra sabor, de conotação intrinsecamente rica, se a presença e ação
da emoção pudessem nos fazer algum mal? Evidentemente, falamos aqui
da emoção na sua medida natural e espontânea — e não das distorções que nós mesmos
acabamos por provocar com nosso esforço de contenção. Tendemos a achar que a emoção
nos desequilibra, sem ver que, na verdade, se não permitimos que ela flua naturalmente na hora
certa, é como represar indefinidamente a água de um rio, que acabará
transbordando à nossa revelia. E aí, a possível violência ou nível de destruição não terá sido
culpa da emoção em si, mas do fato de a termos impedido de fluir serenamente.
É fácil perceber isto no cotidiano: se sentimos uma pequena raiva ou desagrado a respeito do que
alguém nos fez, por exemplo, mas não expressamos isto na hora, dizendo
num tom suportável para todos que aquilo nos desagradou, esta sensação vai ficar presa dentro
de nós, e irá num crescendo que vai contaminar quase tudo que aquela
pessoa fizer dali por diante, até o momento em que explodiremos por uma bobagem, de uma
forma totalmente desproporcional, que poderá até mesmo significar o fim de
uma relação. Mas a nossa "educação" nos disse que "não se deve" ter raiva, não é mesmo? Mais
ainda, nos disse que "não se deve", mostrar as emoções. É uma espécie
de fraqueza, de flanco aberto. E passamos a vida inteira ardendo por dentro num desejo de que
alguém, pelo amor de Deus, perceba o que estamos sentindo. E cobramos
todo o tempo de quem nos é importante que não seja capaz de perceber e entender o que
sentimos — mas como adivinhar o que não só não é mostrado, como, pelo contrário,
é o mais disfarçado e contido possível? Bem, é uma questão de opção, viver assim, de frustração
em frustração, de solidão em solidão, ou ser feliz. Permanecer no
silêncio das emoções, na sua não vivenciação, é aquilo que os Mestres chamam de Aids
Emocional e que, segundo eles, é o pior mal de nossa época. É o Apocalipse individual.
Se as nossas atitudes forem a expressão, na medida certa das nossas emoções, estaremos
simplesmente coordenados com o movimento da corrente vibratória emitida pelos
campos mais altos do Universo. Estaremos realizando — no sentido de tornar real, concretizar
— a seqüência natural da onda de energia da qual fazemos parte. Como
se estivéssemos acendendo a lâm-
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pada (nós, as nossas situações) que, de acordo com esta nossa permissão de recepção, passará
então a transmitir todo o calor, luz e força enviados pela fonte geradora
para exercer sua função dentro do campo em que existimos.
Voltando, portanto, à intuição, podemos entender que ela ' é-a linguagem que as forças do
Campo Astral utilizam para se comunicar conosco se notarmos a maneira como
falamos dela. Ao nos referirmos a uma intuição, utilizamos justamente o verbo sentir. Dizemos:
"sinto que vai ser assim", ou "eu senti que isto ia acontecer". Fazemos
isto instintivamente. A intuição sempre se apresenta como algo inexplicável, um sentimento, um
feeling, uma sensação difusa dentro do peito, que parece querer nos
dizer alguma coisa, nos indicar um caminho. E é assim mesmo, para isto ela serve, para nos
direcionar. Tanto que outra expressão comum de ouvirmos é "siga sua intuição"
ou "eu devia ter seguido a minha intuição". É ou não é? Como podemos verificar, somos
realmente mestres na arte de utilizar palavras e expressões sem nos darmos
a menor conta do que nós mesmos estamos dizendo.
A maneira mais correta de estabelecer o contato com os planos superiores é, pois, estar atento à
intuição. "Ouvir" a intuição, que se apresenta como uma voz sem
som, falando coisas dentro de nós. É o que chamamos de "ouvir a nossa Voz Interior". Isto quer
dizer relaxar, "mergulhar no seu íntimo", provocar um silêncio interno
que nos permita perceber o que estamos sentindo. Apenas sentir. Sem que a cabeça interfira e
"decida" o que é o "sentimento" mais conveniente naquele momento. Não
há decisão de sentimento — há sentimento para decidir, isto sim.
É um mero exercício de atenção, este aguçar da percepção. É parar uma fração de segundos e
sacar o que esta sensação dentro do peito está querendo nos dizer. Lembrem-se
sempre de que o que queremos é colocado pelo coração, pelo sentimento. O como fazer para
alcançar o que queremos, isto é a função da cabeça. A mente racional é uma
espécie de arquivo onde guardamos um monte de informações que, em algum momento,
sacaremos para lidar com as situações que se apresentem em nossa vida neste plano.
É um armazenamento de referências e códigos que instrumentalizam aqui e ali como vamos
atravessar tal coisa. A mente racional, como parte do nosso corpo físico,
é uma criação do campo material, e não extrapola os limites da matéria. Se assim fosse, seria não
apenas fácil, mas também natural que conseguíssemos alcançar com
nossas explicações
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de raciocínio todas estas verdades do Universo cuja compreensão buscamos ininterruptamente
desde que o mundo é mundo. Não conseguimos simplesmente porque a mente
está subordinada aos limites da matéria que é. Ela foi criada como instrumento poderoso para
nos ajudar a organizar a melhor maneira de nos acionarmos na nossa realidade
concreta sem ficarmos esbarrando em regras que esta realidade estabelece, ou sem conhecermos
estas regras o suficiente para saber como fazer nosso mplejo, nosso
jogo de cintura entre elas — o que nos deixaria perdidos e sem rumo. Existimos neste mundo,
portanto precisamos das informações de seu funcionamento básico que nos
permitam manejar dentro dele nossa existência, da melhor forma. Estas informações, sua
absorção, arquivamento e emissão na hora correta são a função que cabe à cabeça.
Para isto ela existe. Porém a atuação da mente é necessariamente, logicamente, subordinada ao
sentimento, que, por sua própria natureza, extrapola a nossa compreensão
racional, é mais ampla do que qualquer coisa que a cabeça consiga conter. Passemos, pois, a
utilizar nossa cabeça para organizar, concretizar os nossos sentimentos,
e não, para tentar substituí-los e "explicá-los", justificá-los, como geralmente fazemos.
Sentimento não tem porquê. Apenas é.
Assim, quando você se. atem à verdade do seu sentimento, você está seguindo a intuição. Está
fortalecendo seu eixo, seu processo de canalização. Bem, mas aí você
vai dizer: "Eu segui meu sentimento, obedeci ao desejo, e não consegui o que queria". Isto
acontece? Claro que sim. Mas vamos analisar o que é que você "queria"
e o que é que não foi de fato alcançado. Quando você "fecha" a qualquer preço com a sua
verdade, você está determinando inevitavelmente que vai ter o melhor para
você. Por uma razão muito simples: porque ao agir de acordo com o que realmente quer, seja o
que for que você receba, será a única coisa que é sua dentro daquela
situação, porque é a verdade, a sua verdade. A verdade dos fatos, conforme você a vivência, tem
que ser uma conseqüência direta da sua verdade pessoal. Como diz
Fréderic, a coisa é simples: ou é de verdade, ou não existe. É óbvio, não é? Porém mais uma vez,
não chegamos nem longe de perceber o óbvio. E apanhamos por causa
disto.
Basta raciocinar, verificar em nossas vivências passadas: uma coisa se apresenta para ser vivida
por mim. Uma relação afetiva, por exemplo. Imediatamente, o condicionamento
da minha "educação" (deveríamos chamá-la de "deseducação"?) me
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leva a assumir comportamentos que me parecem os mais "corretos", os que melhor vão
"funcionar" para que eu consiga conquistar e estabelecer esta tal relação. Isto,
certamente, inclui pôr um limite nas minhas emoções e jamais demonstrar espontaneamente
aquilo que eu sou e que pode, quem sabe, "desagradar" ou "assustar" o outro.
Começo então a desenvolver a relação a partir de um personagem de mim mesmo, preocupado
todo o tempo em apresentar uma imagem não apenas sem erros, mas que corresponda
ao que eu suponho que é a expectativa do outro a meu respeito e a respeito do que faz o sucesso
de uma relação. Está errado por princípio. Foi neste momento que
comecei a erguer minha estrutura manca, sem o tijolo da base, e que fatalmente vai ruir. O
equívoco contamina a estrutura, como uma incontrolável erva daninha: se
não sou o que sou e não expresso o que sinto nesta relação, na realidade ela não existe, ela é
falsa. Fico vivendo todo o tempo em função do que poderia ser a relação,
do que eu desejaria que ela fosse, mas não do que de fato é. Muito provavelmente a pessoa do
outro lado está praticando o mesmo jogo, porque aprendeu igual, foi
tão deseducada para mentir o seu eu como todo mundo. Inevitavelmente chegarei ao momento de
reconhecer a solidão. Da frustração. Do estar sozinho embora acompanhado.
Por quê? Porque o outro não me vê. Não sabe quem sou eu. Não me percebe e não me atinge,
não me alcança. E é claro que só pode ser deste jeito: como ele vai me achar,
me ver, me entender, se eu mesmo me escondi, vendi uma falsa imagem com a qual ele convive,
em cima da qual foi feito o elo da "relação"? Só que eu também não me
dou conta de tal fato e seu encaminhamento conseqüente. E cobro do outro. Que provavelmente
estará cobrando a mesmíssima coisa de mim. Não existe comunicação, portanto
não existe relação. Como se houvesse um muro de pedra entre os dois lados. Só que este muro
começou a ser construído no primeiro instante, quando, em nome de agradar
e conquistar, engoli uma coisa que era minha, disfarcei ou distorci minha verdade, para
apresentar o que achei que ia ser "melhor" e não "perder" o outro. Encontrei,
é claro, a maneira mais certa de perder tudo, inclusive, meu tempo de vida.
Quem de nós ainda não viveu esta experiência? Se existem, serão poucos, com certeza. Portanto,
vamos ser mais inteligentes, como gostamos de nos saber e de ser vistos:
se desta forma nunca deu certo, que tal tentar a outra? Que tal expressar exatamente a verdade do
que sou e sinto, para variar? Quem sabe funciona? Basta, de novo,
atinar com o óbvio. E segui-lo:
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ou é verdade ou não existe. So posso estabelecer uma relação verdadeira com qualquer coisa ou
pessoa, se partir da minha verdade, se acionar, emitir a ação que vai
estabelecer a relação sem falseamentos. Caso contrário, não estou estabelecendo coisa alguma, a
não ser mais uma mentira, mais um desvio em minha vida. E esta é
a única perda real.
Se eu atirar meus cartuchos, por exemplo, na direção de uma pessoa, de acordo com aquilo que
sou e quero, sem me trair nem um segundo, e não "conseguir" a pessoa
(ou qualquer outro objetivo), não estarei perdendo nada, muito pelo contrário; estarei, no
mínimo, ganhando meu tempo de vida. Porque, quanto mais rápido eu puder
checar se alguma coisa é realmente minha ou não, melhor. E a única maneira de saber se a coisa
é minha, se deve ser vivida por mim, é checando-a com a minha verdade.
Se houver uma resposta clara, igualmente verdadeira, um acasalamento natural, ótimo, é meu. Se
houver uma recusa, uma rejeição, simplesmente não era meu. Posso até
ficar contrariado por um momento, porque de alguma forma me parecia interessante poder ter
vivido aquilo, em função de qualquer tipo de idealização colocada pelo
meu contexto. Mas logo, rapidamente, vou entender que teria sido um desperdício, um empenho
inútil para me adaptar a uma coisa que não tinha a ver comigo e não me
deixaria à vontade. E vou entender que mantive o caminho livre para atrair e receber o que
realmente me pertence, o que me trará a imediata sensação do ganho.
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IDENTIFICANDO A INTUIÇÃO

MUITO bem: convencidos de que é necessário aprender a ouvir a intuição, a pergunta seguinte
é: como? E a resposta é: não existem fórmulas. Esta é uma experiência
realmente impossível de passar para qualquer pessoa. É uma vivência absolutamente pessoal e
intraduzível. Por mais que se conte casos para ilustrar, somente aquele
que sente saberá distinguir a atuação da intuição de maneira inequívoca, ou perto disto. No
entanto, há alguns pequenos "truques" que podemos utilizar neste exercício
de desenvolvimento da percepção intuitiva. Naturalmente, como tudo na vida, quanto mais
exercitarmos, mais fácil ficará de conviver com a clareza destas sensações
a princípio inexplicáveis.
A primeira questão colocada sempre é: como é que eu posso saber se estou realmente tendo uma
intuição, ou se é um delírio puro da minha cabeça, uma invenção? Bem,
antes de mais nada, é necessário saber que temos que decida- encarar este treinamento, o que
quer dizer o seguinte: como já vimos, toda energia é movida por um motor.
Há vários. Um deles, é a intenção. Então, quando eu intenciono alguma coisa, estou deflagrando
uma seqüência energética. Assim, quando eu intencionar que vou testar
minha intuição, coisas vão começar a acontecer dentro do movimento que minha decisão
deflagrou, coisas que provavelmente vou chamar de "coincidências-" (do papel
das coincidências falaremos mais adiante). E, basicamente, só há uma maneira de firmar esta
confiança na clareza do que possa ser intuição verdadeira ou não: é verificando.
Se eu achar que alguma coisa me está sendo indicada pela intuição, só tenho duas alternativas:
sigo a indicação ou não sigo a indicação. E verifico o que acontece.
À medida que for acumulamdo estas verificações, irei tendo mais e mais certeza do jeito como a
minha intuição se apresenta para mim. No entanto, há alguns pequenos
"truques" que podem me ajudar nessa distinção: antes
41de mais nada, a intuição é a primeira coisa que bate, e isto leva apenas uma fração de
segundos, às vezes, para ser confundido pela cabeça. Funciona da seguinte
forma: por exemplo — estou num lugar qualquer, quando entra uma pessoa que, de imediato, eu
sinto que vai ser ruim para mim de algum modo. Mas assim que dirijo a
ela meu segundo olhar, vejo que está usando um tipo de roupa que faz o meu gênero, e aí, uma
emoção positiva, agradável, gerada pela minha escala de valores a nível
do campo material, do contexto social, interfere no meu primeiríssimo feeling, e começa a
confundi-lo. Na fração de segundos que se segue, esta pessoa se apresenta
como sendo enviada por alguém de quem eu gosto muito, e lá vai mais uma emoção da
horizontal (O Campo da Matéria) embotar a mensagem que recebi da vertical (O Campo
Astral). E então esta pessoa me propõe um trabalho que acho bastante interessante por algum
motivo que também nada tem a ver com o sentimento inicial que ela me
trouxe, e, neste momento, minha intuição já está completamente soterrada. Aí eu entro no
trabalho com ela, e dois meses depois, levo uma rasteira. E a primeira coisa
de que me lembro é daquela intuição, daquele primeiríssimo feeling desagradável, e digo: 'Ah, eu
devia ter ouvido a minha intuição, eu sabia que isto ia acontecer...".
Sabia como, se todos os indicativos da cabeça, dos valores calcados na "realidade" montada em
torno de mim, me disseram que deveria ir em frente? Sabia, porque recebi
uma informação sensitiva, vinda de uma realidade muito mais abrangente, tão mais ampla que é
capaz de superar e atravessar as distorções existentes nos valores da
Matéria para me indicar como superar e driblar as próprias armadilhas desta mesma Matéria e
viver dentro dela do mesmo modo. Só conseguimos muitas vezes saber de
fato alguma coisa quando conseguimos nos distanciar dos descaminhos inte-resseiros com que o
contexto nos envolve, o que pode ser realmente difícil de fazer quando
estamos naturalmente envolvidos com este jogo de emoções do campo horizontal onde nos
encontramos. E é nestas ocasiões que uma dimensão mais ampliada dá nossa própria
energia, localizada já fora desta confusão, nos envia sinais que nos ajudam a entender melhor o
que se passa aqui.
Recapitulando, então: o primeiro passo é estar sempre atento ao sentimento inicial. Mesmo
assim, tenderemos a nos confundir. E teremos que escolher que caminho seguir,
para poder verificar na prática se era ou não uma intuição. Aqui vão, pois, duas dicas para ajudar
a confirmar a distinção: a primeira é:
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se for uma intuição, deflagará uma seqüência fluida, que pode ser curta, se fechar em questão de
minutos, ou longa, do tipo que um ano depois a gente vai olhar para
trás e entender porque naquela hora fez isto e não aquilo, tudo vai fazer sentido e a gente vai
saber. Esta sensação de fluência é sempre nítida, como se todas as
portas se abrissem à nossa frente, ou como quando entramos numa avenida e todos os sinais
estão verdes. Ruir significa que estamos caminhando a favor da corrente,
ou seja, literalmente seguindo õ fluxo da nossa onda de energia cósmica, em harmonia com o
plano superior, ou com o plano de Deus, como dizemos. Quando fluímos é
porque o eixo central, o canal, está perfeitamente conectado.
Vou lhes dar um exemplo de urna seqüência curta que me aconteceu, em que a intuição foi
colmprovada pela fluidez: eu tinha uma reunião de trabalho marcada,.e precisava
também pagar uma conta no banco. Era o último dia para pagar a conta sem multa, mas acabei
me atrasando tanto, que sabia que não daria tempo de ir ao banco — cuja
agência no meu bairro estava sempre lotada — fazer o pagamento. Quando estava saindo para a
reunião, "bateu" aquela coisa dentro de mim, dizendo: "Põe a conta na
bolsa". Evidentemente a cabeça reagiu na hora. Achei que era um delírio absoluto, que era um
absurdo eu pensar que ia receber uma intuição a respeito de uma coisa
tão boba (o que é tolice achar, pois a intuição é um precioso auxiliar justo para driblar as
dificuldades cotidianas, e é assim para fortalecer o nosso treinamento
antes que tropecemos nas grandes questões). No meu arquivo mental não havia nenhuma chance
de que a conta pudesse ser paga, nenhuma razão que me justificasse pôr
a conta na bolsa, conforme alguma vozinha interior havia soprado que eu deveria fazer. Mas...
como nesta altura já aprendi a confiar mais na intuição, mesmo quando
parece improvável, do que na cabeça, coloquei a conta na bolsa e saí. Quando cheguei no prédio
onde seria a reunião — e que era um local que eu não conhecia — dei
de cara com uma agência do mesmo banco onde a minha conta deveria ser paga, inteiramente
vazia. Suspirei aliviada, por poder dizer, ao contrário do que costuma acontecer:
"Ainda bem que eu ouvi a minha intuição". Subi para a reunião e avisei às pessoas que precisaria
descer quinze minutos antes do banco fechar para pagar a conta.
Então o dono da empresa disse: "Não será preciso, podemos pedir a alguém que faça isso". O
que confirmou com fecho de ouro a fluidez de uma pequena seqüência iniciada
pela intuição.
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Outra dica é a seguinte: tudo aquilo que for indicado pela intuição resultará numa sensação de
satisfação interior, de bem-estar — ainda que a cabeça diga o contrário.
Outro pequeno exemplo que me aconteceu: eu havia me desentendido com uma pessoa, cujo
comportamento indignou os meus princípios. Minha cabeça imediatamente me ordenou
que eu "deveria" me afastar, pois, pela lógica, uma pessoa capaz de tal comportamento só
poderia me fazer mal. Isolei o telefone por mais de dois meses, deixando
a secretária eletrônica ligada direto. Um belo dia, distraidamente, desliguei a secretária enquanto
relaxava por alguns minutos vendo televisão, antes de ir para
uma aula. De repente, o telefone tocou e era exatamente aquela pessoa. Atendi ao telefone e,
apanhada de surpresa, não tive nem como cortar. Definitivamente "traída"
pela emoção, me deixei levar "ao sabor" dela e, à revelia da minha disposição racional, a
conversa foi ótima. Desliguei o telefone e, no caminho para o curso, plantei
dentro de mim uma verdadeira guerra: no peito, um bem-estar incontestável, incontrolável, uma
sensação inteiramente agradável. Na cabeça, uma cobrança total contra
o absurdo de não só eu ter atendido àquela pessoa, mas, pior ainda, como podia estar me
sentindo tão bem com isso? Ao entrar na aula, o primeiro aluno que abriu
a boca, antes mesmo que eu começasse, perguntou exatamente como é que a gente podia saber
que tinha seguido a posição correta. Tive que rir, agradecendo este lembrete
dos Mestres para minha própria situação, ao responder para o aluno que uma das formas era
exatamente esta inequívoca sensação de bem-estar, que indicava a harmonia
com o acontecimento vivido. Ainda que a cabeça diga outra coisa. Evidente que seria uma tolice
imaginar que o fato de algo nos trazer bem-estar num dado momento
signifique que os acontecimentos vão tomar tal ou tal rumo. Eu poderia, por exemplo, nunca
mais ver ou falar com aquela pessoa do telefonema. Porém, naquele instante
da minha vida, por algum motivo, foi melhor para mim ter aquela conversa, do que teria sido se
eu não a tivesse. E o fato reconhecido como o que deve ser vivido
no momento não nos diz qual o rumo que seguiremos a partir dali, mas nos diz com certeza que
estamos no rumo certo. Cada vez que pisamos no chão do nosso caminho
vivenciamos esta sensação de inteireza, de integração harmônica com o feeling daquele instante,
de estar, ainda que por segundos, de bem com a vida. Quando tudo
é vivido integralmente, ainda que dure instantes, não fica nada para amargar nas lamentações e
arrependimentos inúteis.
44
O exercício da intuição sempre nos levará de volta ao eixo e à sensação de harmonização.
Podemos utilizar mais alguns pequenos truques para observar e corrigir quando
estamos começando a entrar num desvio. São eles:
A FORÇA DE RESISTÊNCIA: a presença de qualquer força de resistência insistente significa
que estamos atravessando uma parede qualquer que derruba o nosso ponto-limite.
Quer dizer, estamos saindo do nosso trilho, da nossa zona de fluên-cia, e ingressando naquela
área onde começamos a nadar contra a corrente. Ou seja, no que não
nos pertence. Portanto, atenção quando começar a sentir que está tendo que enfrentar alguma
resistência, por menor que pareça. Lembre-se que toda energia se expande
do menor para o maior, e a tendência é sempre que a força de resistência cresça. O que acontece
é que mais uma vez, aqui, fomos treinados, deseducados, para "enfrentar
a barra", topar todas, brigar até o fim, jamais dar o braço a torcer, e etc, que possa significar uma
"demonstração de fraqueza". E é justamente nesta que "dançamos".
Bater de frente com uma força de resistência qualquer é a maneira mais rápida de desestruturar.
No mínimo de desgastar. "Enfrentando" podemos até vencer — mas estaremos
tão exaustos que nem conseguiremos sentir o gosto desta vitória. Mais esperto e sensato é usar o
jogo de cintura. A recuada estratégica. Ao sentir que acontece algum
tipo de resistência, faça um movimento para não bater de frente. Mesmo que o seu movimento
seja o não-mover-se, que lhe permitirá estar atento ao fluxo ininterrupto
de tudo mais em volta e sacar qual é o momento preciso de tornar a mover-se você mesmo. É o
salto do tigre: apoiar-se na posição de cócoras para não ser abatido
pelo golpe exposto do inimigo e ficar pronto para pôr-se de pé rapidamente no momento exato,
apanhando-o com o elemento surpresa. ."Fazer um movimento" significa
decidir, escolher. Conscientemente. O movimento escolhido pode ser, inclusive, o não-se mover.
Trocando em miúdos cotidianos, uma força de resistência é, por exemplo, quando eu saio de casa
e noto que o sapato está me machucando. Tome uma providência imediata,
a não ser que queira sofrer as inevitáveis conseqüências. Volte e troque o sapato, tire-o do pé,
ponha um curativo — qualquer coisa. Só não pode é permitir que a
força continue atuando contra o estado de fluidez do seu pé, pois no final do primeiro quarteirão
certamente terá uma bolha que vai encher o seu saco pelo menos
por uma semana. É sempre assim: toda vez que insistimos em seguir adiante enfrentando a força
de resistência desta ma-
45
neira ingênua, deflagramos uma seqüência negativa, cuja dificuldade de recuperação e retorno ao
rumo correto será tão mais difícil quanto maior a intensidade desta
força e o nosso tempo de permanência no embate com ela.
A função real da força de resistência é nos indicar que estamos nos distanciando do que é nosso,
do que somos. Se você dá de cara com uma parede e acha que ali é
o fim da linha, era a única saída, certamente vai entrar em desespero e se atirar contra ela,
machucando-se fatalmente. Mas se você entender que esta parede subitamente
armada à sua frente pode apenas estar querendo lhe dizer que o caminho não é por ali, será capaz
de tranqüilamente voltar e procurar outra direção, sem ter que pagar
nenhum preço por isto. Pelo menos, nada que o danifique tanto quanto a tentativa de derrubar
tijolos com os próprios ombros. Cada vez que conseguimos entender isto
e retomar o rumo, recuperamos o estado de harmonia, o fluir, e a conexão, portanto, com o
canal*
BATEU BEM, BATEU MAL - O EXERCÍCIO DO PRAZER: quando as coisas estão fluindo,
tudo em seu lugar, tudo na mais perfeita ordem, temos a sensação de harmonia. Esta
sensação é traduzida por uma palpável certeza de bem-estar. De prazer, no sentido mais
completo. De plenitude, de aproveitamento total do eu na vida, no momento
vivido. Nenhuma inutilidade, nenhum desperdício. Quando surge alguma coisa em nossa vida
que nos traz de imediato esta sensação de harmonia, dizemos que "bateu bem".
Se, porém, entrar algo que venha como elemento desarmonizador, dizemos que "bateu mal",
como se tivesse nos dado um "empurrão" que nos tira do eixo, do fluxo. Portanto,
esta é outra dica importantíssima: assumir e viver tudo que nos "bate bem". Rejeitar sem
vacilações tudo que nos "bate mal".
Por outro lado, podemos — e por que não? (lá vem de novo a tal da deseducação, que nos
encheu de uma inenarrável culpa dê prazer!...) buscar sempre, todo o tempo,
o máximo possível, tudo aquilo que nos traga o bem-estar, as vivências agradáveis e prazerosas.
Aí, disse um aluno num curso: "Mas tomar porre todo dia não é prazer!"
Evidente que não é. Ou pode até ser, se você se sentir bem fazendo isto. O que determina o
prazer é exatamente a ausência de qualquer tipo de violen-
* Obs: evidentemente, quando nos referimos à força de resistência, não estamos falando da
primeira dificuldade que surge, mas de algo que realmente nos violenta,
nos impede. É preciso, num primeiro momento, testar o obstáculo aparente para verificar.
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tação, de forçação de barra, de exigências além ou aquém dos limites da nossa plenitude. O
prazer está contido exatamente nos limites do que somos — ele acontece
quando utilizamos ao máximo nosso potencial positivo, usufruindo do que somos capazes de
oferecer a nós mesmos, de extrair de bom da vida para existir melhor. Quando
não somos forçados a nos desequilibrar dando mais do que contemos, ou menos que desejamos e
podemos. Esta é a medida do prazer. Que deve ser procurado sempre, cotidianamente.
É claro, no mundo da matéria o prazer é apreendido basicamente através dos sentidos. Gosto,
cheiro, tato, visuais e sons são instrumentos que nos foram presenteados
pelas energias superiores para que possamos experimentar, experienciar aqui, no mundo da
forma onde estamos neste momento da nossa onda, todos os níveis de prazer
e felicidade que o contexto físico seja capaz de nos proporcionar. Se não fosse assim, se não
pudéssemos estabelecer um contato de puro prazer com o mundo em que
vivemos e sentir com certeza quanto podemos ser felizes concretamente, que sentido teria este
nosso "estágio" na realidade material? A infelicidade obrigatória neste
campo desmentiria toda a necessidade de harmonia do Universo. Portanto, antes de mais nada, é
preciso entender com profundidade que viemos aqui — como iremos aos
outros estados vibracio-nais — para experimentar a perfeição (que é o completo equilíbrio dos
contrários, o casamento do positivo e do negativo). E é válido e natural
usar todos os recursos para o aproveitamento e a realização máximos desta felicidade. Está na
hora, então, de pararmos de sentir esta famosa culpa pelas mínimas
situações de prazer cotidiano, pois este é o que de fato deve ser o nosso estado natural e
permanente. Quantos de nós são capazes de se deter realmente para ouvir
um bom disco, por exemplo, sem ficar se cobrando e interferindo na sensação prazerosa e
relaxante, pensando que deveria estar fazendo isto ou aquilo, lembrando-se
das tantas obrigações que "abandonou" para poder ficar ali? Quantos anos de "treinamento" são
necessários para que a gente consiga se disciplinar à entrega de um
prazer tão singelo quanto este?
Pois trata-se agora de adquirir nova postura no dia-a-dia. Trata-se de escolher o que possa nos
dar mais prazer em cada pequena coisa. Trata-se tomar consciência
do tanto de prazer que estamos recebendo de cada menor ato em nosso dia. Ou seja: acordo e
entro no chuveiro, como sempre, correndo. O banho tornou-se um gesto automático.
"Tomar consciência" sig-
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nifica que, mesmo apressado, eu vou perceber a temperatura da água no corpo, vou usar um
sabonete cujo cheiro me agrade etc. Se vou tomar o café da manhã, em vez
de engolir qualquer coisa de qualquer jeito, vou decidir o que comer que não me caia mal no
estômago, que seja saboroso. E assim por diante, a cada coisa que faço,
vou prestando atenção no jeito mais prazeroso de absorver aquele momento e o que ele me dá.
Por outro lado, é preciso aprender a buscar propositadamente, provocar
mesmo as situações de prazer. Assim, se eu gosto do sorvete de pistache de uma certa sorveteria,
não devo hesitar em organizar minhas coisas de modo a poder dar
uma escapulida durante a tarde e usufruir do meu sorvete favorito. Se minha disposição for de
comer dez sorvetes, que eu coma, sem culpa. Mas se na terceira lambida
achar que chega, é preciso respeitar este limite (como veremos no exercício a seguir). Se me dá
prazer olhar revistas de fotografia, tenho que arranjar um jeito
de ter volta e meia um tempo para me deter no jornaleiro e ficar curtindo esse prazer. Etc, etc,
etc. O que vai acontecer é que este exercício cotidiano que aparentemente
pode soar como uma besteira, na realidade vai causar uma inversão importantíssima, com
conseqüências as melhores. Ou seja: acostumando-me a buscar as coisas boas
todo o tempo, a primeira coisa que vai ocorrer é que vou aguçar os meus sentidos, aprender a
utilizá-los com mais freqüência e acuidade. A segunda coisa que vai
acontecer é que, ao chegar ao fim do dia, terei tido pelo menos setenta por cento de
acontecimentos agradáveis, e trinta de coisas chatas — isto é, troquei as proporções
que normalmente vinha vivendo até então. A conseqüência óbvia é que, de cara, meu humor e
meu estado de espírito vão melhorar. E este meu estado de bem-estar e satisfação
transbordará, atraindo as pessoas e tendendo a colocá-las no mesmo clima (o que faz uma brutal
diferença, já que nosso comportamento normal é atrair as pessoas porque
estamos com problemas, é ou não é?).
Concluindo: não só não existe o menor sentido em se ter culpa do prazer, como, muito pelo
contrário, quanto mais eu for capaz de provocar para mim mesmo, a toda
hora, abundantemente, as sensações de bem-estar, mais vou estar bem e mais vou transmitir isto
para quem me cerca, para quem conviver comigo ao longo do dia. Estarei
provocando uma reação positiva em cadeia. Sendo o sol do meu universo — aceso, emitindo a
luz a partir de si mesmo para manter o equilíbrio em torno. Não há outra
maneira de proporcionar qualquer tipo de equilíbrio ou apoio de fato a outras pessoas, a não ser
partindo do
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meu próprio equilíbrio, da segurança do que sou e do quanto posso dar, do reconhecimento
sincero das minhas condições de envolvimento e doação a cada momento. Por
isso, não há nada mais irreal do que afirmar que devemos nos anular pelo outro. Precisamos, isto
sim, estar cada vez mais egocentrados, no sentido de nos conhecermos
cada vez melhor para nos manejarmos cada vez com mais clareza e melhor aproveitamento.
Aliás, já dizia a Bíblia: "Amar ao próximo como a si mesmo"...
O EXERCÍCIO DO LIMITE: a questão dos limites é de fundamentalimportância. Por uma razão
muito simples: a harmonia só acontece quando tudo existe dentro dos seus
limites — ninguém anula ninguém, ninguém invade ninguém. Cada um é o que é, em sua
plenitude própria. Há influências mas não há interferências. Os Mestres nos mandam
uma imagem muito engraçada a respeito da maneira como os elementos do Universo ocupam seu
espaço no campo magnético. Segundo eles, é como se fôssemos vários ovos
numa frigideira, com as claras se acomodando. Quer dizer: temos um espaço de expansão
necessariamente limitado pela capacidade do nosso próprio potencial individual,
mas podemos expandir-nos até um ponto máximo dentro deste campo pessoal. O quanto o
faremos vai depender da nossa disposição e firmeza, mas também de uma maleabilidade
nas fronteiras, onde o que vem do outro estabelece a relação entre corpos, e modifica em algum
grau a nossa posição, até que "a clara endureça" — isto é, até que
nos firmemos definitivamente num posicionamento dentro do momento, do contexto ou da
questão. Só que este processo do "acomodamento dos ovos na frigideira" acontece
de momento a momento na nossa vida, a cada novo passo em que os elementos com que nos
relacionamos são sempre novos, são sempre outros. Portanto, se quiser se sentir
realmente estável, procure os limites.
Acontece que a nossa famosa deseducação nos deixou um péssimo hábito: o de atribuir aos
outros a colocação dos nossos limites (o que, evidentemente, será cobrado
depois, devidamente). Mas é sempre assim: estou em casa, por exemplo, e quero ir ao cinema.
Meu marido não chegou. Começo então a elucubrar em cima da questão, colocando
para mim mesma o que acho que são os limites que ele colocaria. É um saco sem fundo. Dou o
chute inicial pensando que ele não vai gostar de chegar em casa e não
me encontrar. Que vai reclamar porque fui ver o filme sem ele. Estabeleço inúmeros diálogos
mentais em que ele me acusa, eu me defendo. De repente, numa destas
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viagens da minha imaginação, ele me surpreende com a possibilidade de não ficar zangado. Mas
neste momento entra em cena a minha própria culpa: e o jantar? Quem
vai fazer o jantar para o marido, para os filhos? Aí entro num outro "surto" de "diálogos"
mentais: me digo que tenho direito a um momento meu, que eles podem se
virar uma vez na vida, mas ao mesmo tempo fico mal por "abandoná-los", enfim: o tempo passa,
me perco nestas elucubrações, perco a hora do cinema, vou para a cozinha
arrumar o jantar com a maior má vontade e, quando marido e filhos chegam sem sequer suspeitar
do que aconteceu comigo, estou nervosa, irritada e acabo recebendo-os
com gritos, cobranças e um inevitável mau humor. Que ninguém, é claro, consegue entender.
Tudo isto porque me senti presa nos limites onde supus, imaginei que o
outro me poria. Esta é uma situação muito freqüente, que povoa os nossos relacionamentos de
todos os níveis, e muito comumente, acaba com eles. Anos depois, nos
damos conta do chamado "mal-entendido". Embu-racamos por caminhos de cobranças e
destruição por que algo, num dado momento, não foi entendido. Não foi entendido
porque não foi sequer exposto, comunicado.
É interessante notar que costumamos ter este tipo de atitude não só em relação a pessoas, mas
também a situações, colocando ininterruptos obstáculos para nós mesmos.
Comigo, por exemplo, aconteceu um episódio engraçado: meu filho estuda piano. Numa certa
altura, seus estudos se intensificaram, e chegamos à conclusão de que o
piano não deveria mais continuar na sala, onde o excesso de movimento atrapalhava sua
concentração. Decidimos transferi-lo para o escritório. Durante meses, olhávamos
para a porta do escritório e dizíamos: "Não vai dar. Não vai passar". Imaginamos todos os jeitos
de passar o piano pela porta — de pé, deitado, desmontado. Mas nada
parecia que ia funcionar. Resolvemos então que a melhor solução seria vender o apartamento.
Chamamos uma corretora, o apartamento foi anunciado, e durante meses
aguardamos em vão o comprador que não apareceu. E o piano na sala.
Um belo dia, meu filho acordou, pegou o catálogo, ligou para uma loja especializada em pianos e
perguntou se sabiam de alguém que fizesse transporte de pianos dentro
de casa. Chamou a transportadora e, literalmente em cinco minutos, os homens colocaram o
piano no escritório. E nós tínhamos ficado mais de um ano pensando "no que
seria se fosse", enquanto nada acontecia de fato pela simples razão de que não experimentamos a
realidade, apenas elucubramos, como no exemplo anterior.
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Como diz Fréderic, não escolha sem viver. Só tem um jeito de saber que gosto tem: é provando.
Só tem um jeito de viver — é vivendo. Na dúvida, quando as coisas parecem
"entaladas", faça um movimento. Mesmo que o movimento seja não se mover. Quando você faz
um movimento, aciona e realoca todo o campo energético. É por isto que,
quando nos sentimos "encurralados", instintivamente caminhamos de um lado para o outro,
abrimos e fechamos a geladeira várias vezes, comemos muito, fumamos muito
etc. O cinema nos mostra dois bons exemplos da força e poder de um movimento: o primeiro, no
filme Sociedade dos Poetas Mortos, em que o movimento de subir na mesa
para ampliar, modificar um ponto de vista acaba representando todo o significado contido no
filme, uma postura dos personagens diante da vida. O outro é no Indiana
Jones e a Ultima Cruzada, quando o herói chega diante do obstáculo final, após atravessar mil
peripécias fantásticas, e se vê diante de um abismo colocado entre
ele e o alvo desejado. A princípio não compreende a ausência de qualquer ponto. Mas de repen-
de percebe que tudo depende dele, e decide mover-se para a frente —
e neste momento a ponte surge sob seus pés. Se você ficar paralisado, certamente nada vai
acontecer na sua vida. É bom lembrar que ficar paralisado não tem nada
a ver com escolher momentaneamente o não se mover, porque isto é uma decisão consciente, que
corresponde a uma recuada estratégica, muitas vezes necessária.
O que nos dificulta acionar os movimentos é, mais uma vez, uma distorção de educação. Não sei
porque nos ensinaram que, uma vez que dizemos ou fazemos alguma coisa,
isto sempre soa como palavra final, como atitude sem retorno. Essencialmente esta é uma
afirmação errônea, pois se tudo é movimento, para começo de conversa, nada
é realmente definitivo, tudo se modifica a todo instante. Nós é que nos agarramos ao momento
como se cada coisa que acontece fosse durar para sempre. E ficamos presos
naquela miragem, naquela ilusão de ótica, enquanto a vida passa, enquanto tudo continua
acontecendo. Quando "acordamos", emergimos da inércia e nos damos conta de
quanta água rolou embaixo da ponte enquanto nos colocamos por escolha no estado de
dormência.
Na verdade, como o movimento da energia é sempre circular, todo acontecimento, toda
concretização de decisão se compõe de três etapas: na primeira, eu expresso o
que desejo, por palavra ou gesto, me posiciono. Na segunda, recebo concreta-mente a reação dos
outros, a posição do contexto. Na terceira
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então é que vou me decidir, escolher o que "definitivamente" vou fazer. "Definitivamente" entre
aspas porque inevitavelmente aquela chegada será o ponto de partida
para novo movimento em minha vida. Em outras palavras, primeiro eu lanço o que seriam os
meus limites ideais (como a clara do ovo ao estourar na frigideira), em
seguida, ou a partir disto, permito e percebo a colocação dos limites do outro (é quando os outros
ovos igualmente arranjam suas claras no mesmo espaço) e finalmente
defino os limites reais da harmonia, quando ninguém fere ninguém e todos saem ganhando na
medida do possível, porque todos estão lidando com a verdade, com uma situação
sem ilusões inventadas pelo pensamento que não se expressa, pelo desejo que não sai da cabeça,
fica retido nas armadilhas do raciocínio. Se eu não der o kick-off,
se eu não fizer o movimento inicial, sempre vou perder a partida de saída — simplesmente
porque jamais a comecei.
Então vamos ver na prática como isto acontece — é mais um exemplo "bobo" que nos mostra,
cotidianamente, como a cada segundo, a cada pequeno acontecimento, tropeçamos
neste equívoco de não chegar a lugar nenhum porque estamos sempre na expectativa de que o
outro nos coloque nossos próprios limites — como se estivéssemos sempre
naquela brincadeira de criança em que a gente pergunta para poder mover-se "Mamãe posso ir?
Quantos passos? De que bicho?"
O exemplo é conhecido nos nossos cursos como "a história da batata frita". Refere-se à seguinte
situação: eu sento na mesa e penso: "Hoje estou com vontade de comer
toda a batata frita". Mas em vez de expressar isto claramente, começo imediatamente o processo
de elucubração mental, imaginando as possíveis reações dos outros
comensais. Imagino: "Se eu pegar a batata toda Fulano vai brigar, Beltrano vai dizer que tudo
bem, ele não gosta de batata. Mas o Cicrano, poxa, ele vai ficar magoado,
porque ele adora batata frita e eu não quero magoar o Cicrano, gosto tanto dele. Ah, mas eu
queria tanto comer a batata toda, e até que seria bom deixar o Fulano
irritado, ele é tão chato... Mas aí, se eu comer tudo, alguém pode mandar fazer mais, e a
empregada vai ficar furiosa comigo" etc, etc, etc. num torvelinho sem fim.
Enquanto eu penso, todos comem, e quando eu vou ver, a batata já está fria, ou nem sobrou mais
batata — até porque demorei tanto para me decidir, que todo mundo
pensou que eu nem queria batata, e acabaram com ela. Aí eu tenho um ataque de mau humor,
porque nem de longe o meu desejo foi cumprido. Ou despejo essa irritação
em cima
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dos outros, que não vão entender nada, porque não tinham a menor idéia do que estava
acontecendo na minha cabeça, ou vou arrastar fatalmente esta leve irritação
pelo meu dia afora. Tudo isto porque, na minha cabeça, eu estava certo de que quando eu
expressasse que queria toda a batata, isto seria uma atitude irreversível,
com conseqüências definidas que eu fiquei tentando "prever", para saber se valia a pena mesmo
correr o risco. E não é bem assim.
A forma correta de proceder seria: primeiro eu comunico que desejo comer toda a batata,
falando, ou simplesmente me apossando do prato sem deixar dúvidas. No segundo
momento, percebo a reação concreta de cada um: alguém vai dizer que tudo bem, outro vai
agarrar o prato do outro lado, um terceiro manda fazer mais, e assim por
diante. Aí então — e só aí — é que eu vou realmente poder decidir, tomar uma atitude definitiva,
já que não estou baseado mais apenas no que imaginei, mas sim, numa
resposta palpável de todos. Posso então com clareza e tranqüilidade, sem perdas de tempo e
sabendo onde estou pisando, quais são as conseqüências verdadeiras para
cada um, inclusive eu, resolver se vou mesmo comer tudo, ou não, e qual a melhor maneira de
fazer isto. Não é mais simples?
Em qualquer situação, como já foi dito, é soberano respeitar a verdade do sentimento. E, muitas
vezes, o sentimento é a própria confusão de sentimentos. Que deve
ser respeitada assim, vivenciada como tal, até que se defina de algum modo. Não adianta eu
querer decidir na cabeça uma situação que não está decidida na minha emoção
e muito menos, na própria marcha dos acontecimentos. Posso escolher, é claro, vivê-la ou não
vivê-la, mas isto não implica necessariamente numa definição interna
nem de fatos concretos.
Situação típica em que isto ocorre: amo uma pessoa de quem não gosto. Isto é: estou apaixonado,
mas esta pessoa tem uma série de comportamentos que me desagradam.
Muito bem: passo todo o tempo tentando "me livrar" da coisa, e a sensação é de que me enrolo
cada vez mais — ora "decido definitivamente" que não vou mais fazer
nenhum contato com a pessoa, e aí chega uma hora em que eu não agüento mais, capitulo, e
acabo "me arrependendo", ficando com ódio de mim mesmo porque não agüentei
manter o meu propósito de afastamento, e acabo tendo mais raiva da pessoa e brigando com ela
quando a raiva é de mim por não conseguir deixar de me sentir atraído
—ora "decido" que é isso mesmo, que não tenho condições de viver sem ela, que vou agüentar
mesmo, porque afinal, já dizia
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nossa avó que "ruim com ele, pior sem ele" e etc. E aí eu embarco de cabeça na relação pela
milésima vez, tento fazer de conta que está bem, mas de repente, todas
as coisas que não me agradam se tornam de novo insuportáveis, e eu salto de novo, como se
pisasse numa mola todo o tempo, para a atitude oposta, ou seja, o "afastamento",
em que aquela pessoa não sai de dentro de mim até que eu não resista e volte de novo aos seus
braços, no que parece um infindável círculo vicioso. Mas então, como
sair disto se as "decisões" tomadas pela cabeça, pela lógica racional, não são capazes de se
sustentar diante da prática?
É simples: vamos assumir conscientemente esta oscilação. Em vez de grandes tentativas
desgastantes de afastamento ou reatamento, trata-se de vivenciar a coisa passo
a passo, de acordo com o lado para o qual oscile a nossa confusão naquele exato momento. Quer
dizer: se agora estou com vontade de estar com a pessoa, fico com ela.
Se daqui a cinco minutos encho o saco, percebo que vou começar a me irritar, vou embora, saio
de perto,, me enfio num cinema, pelo menos. Se chego na esquina e me
dá saudade, faço meia-volta. Isto, da maneira mais literal possível — quanto menos tempo eu
permanecer na situação invertida, ou seja, estiver longe querendo estar
perto e vice-versa — mais dentro da verdade da situação estarei e mais breve chegarei a uma
definição. Porque chega uma hora em que a confusão se define por si mesma,
ou eu acabo por sentir com clareza o meu desejo dentro daquela situação. Então fatalmente vai
ter um momento em que algo dentro de mim vai dizer: "Chega! Eu não
mereço isto. Eu não quero isto para mim". E isto vai ser dito sinceramente. Profundamente. Nem
que seja como conseqüência de um processo de exaustão. E aí eu vou
poder virar as costas e seguir na minha vida sem deixar "rabos", de posse de mim mesmo e dos
meus sentimentos, inteiro para a vivência que vier a seguir. Ou então,
a água mole do afeto vai furar a pedra dura do desentendimento, e a relação vai encontrar um
caminho viável, que só a convivência é capaz de mostrar, como nunca
a adivinhação ou a intenção de perfeição sozinhas conseguiriam.
Não tem nada mais desgastante do que esta tentativa de suposição do que aconteceria quando
estamos emocionalmen-te envolvidos com alguém. "Mas e se eu telefonar
e ele me receber mal?" Bem, você só vai saber mesmo o que aconteceria se tirar a prova,
telefonando. Aí você liga, e o cara bate o telefone na sua cara. Aí você
desliga e fica pensando tudo outra vez: "Pois é, mas acho que eu não falei como devia, esqueci
de di-
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zer tal coisa, quem sabe se eu ligar de novo consigo me fazer entender". E fica de novo na maior
dúvida, imaginando a reação provável do lado de lá. Este tipo de
coisa arruina nossa vida, do momento em que estar pisando nesta areia movediça das dúvidas e
suposições se transforma numa erva daninha que contamina todo o resto
dos acontecimentos do-nosso dia-a-dia. Melhor, então, definir em cima do concreto: ou seja,
ligar uma, duas, vinte vezes. A realidade põe o limite, lidar com ela
traz a definição. Das duas, uma: se a pessoa estiver a fim de você, tiver a ver com você, e for
razoavelmente equilibrada e sensata, vai saber te receber, vai mesmo
ter o desejo de te ouvir vinte vezes, ou vai poder te dizer com jeito que prefere que você não
ligue tanto. Ou então, vai ser ríspida, grosseira, ficar irritada,
e vai chegar uma hora que você vai se cansar de levar patada. Vai estender a mão para o telefone
e dirá: "Não, não vou ligar porque não quero ser rejeitada, não
preciso disto, não mereço isto". E neste momento vai partir em busca de coisa melhor, que é o
que deve ser feito em qualquer circunstância. Se até aquela hora o
melhor para você era estar "apanhando" daquela pessoa, era onde você de fato estava se sentindo
mais abrigada — como criança que apanha da mãe e corre para chorar
no colo dessa própria mãe — de repente a qualidade da situação vivida muda este significado, e,
conseqüentemente, determina com clareza uma nova atitude e situação.
O que há é que nunca estamos dispostos a "correr o risco", porque nos parece mais "seguro" não
fazê-lo. Ora, mais uma vez, estamos utilizando da maneira equivocada
o que quer dizer uma expressão. "Correr o risco" quer dizer exatamente fazer correr um risco
sobre um pano ou papel que pretendemos cortar ou bordar. Se não "corrermos
o risco", perderemos o traçado e o rumo. Não chegaremos, com certeza, ou com pouquíssimas
probabilidades, a lugar nenhum. Ficaremos parados no mesmo lugar, apodrecendo
o chão sob os nossos pés, e provavelmente afundaremos ou, no mínimo, nos sentiremos atolados
diante das coisas que não se desenrolam, que não se desenvolvem. Não
se desenrolam, é claro, porque não fomos capazes de lançar as possibilidades deste seu
desenvolvimento, fazendo "correr o risco" sobre o qual queremos tecer o bordado
da nossa própria vida.
Tudo ficaria mais fácil, correria mais fluido, portanto, se conseguíssemos conhecer todo o tempo,
ou no máximo possível deste nosso tempo, os limites dentro dos
quais podemos e queremos realmente funcionar e existir. O EXERCÍCIO DO
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LIMITE, além de incluir todo este treinamento para ampliar a percepção da realidade dos
campos envolvidos em qualquer situação vivida, pode e deve ser fortalecido
por uma ginástica simples, aplicável, como deve ser de hábito, ao cotidiano: consiste em eu
esquecer mesmo esta história de tentar captar o que possa ser a expectativa
do outro a respeito dos limites, a serem colocados, e partir para desenvolver a percepção dos
meus próprios limites e respeitá-los, em cada pequena coisa. Assim,
por exemplo: se estou bebendo, e percebo que cheguei no meu limite, que o próximo gole é o
que vai me fazer mal, paro. Ou prossi-go, e verifico que realmente passar
do limite quando o percebo é algo que me desequilibra — ultrapassar faz parte do aprendizado,
do processo de erro-e-correção, que acontece, até que a gente ganhe
segurança e não precise mais errar. Se, por exemplo, acordo cedo num feriado e digo para mim
"imagine, por que vou levantar tão cedo, se não tenho nada para fazer
nem horário para cumprir", e viro para o canto e forço o sono de novo, provavelmente quando
acordar horas depois vou me sentir "pesado", com uma sensação de "bode"
o dia inteiro. Por quê? Porque não respeitei o limite do meu sono quando ele se esgotou. E assim
por diante. Se eu estiver numa conversa, por exemplo, e sentir que
"emperrou", ou que não tenho mais nada a dizer, ou que simplesmente perdi a vontade de falar
naquilo, me calo. Ou mudo de assunto. Se insistir, provavelmente vou
acabar desembocando num mal-entendido ou numa sensação de perda de tempo.
Traduzindo: quanto mais eu conseguir, dentro da maior simplicidade, da mais completa ausência
de complicações desnecessárias, conhecer e respeitar o que é o campo
dos meus pequenos limites ao longo de um pequeno dia, mais simples e menos complicado
ficará lidar com os outros, me relacionar com pessoas e situações. Harmonicamente,
me habituarei a atuar na ordem correta: expressão do desejo/percepção do
contexto/posicionamento. E transferirei com confiança esta postura, que já terá se comprovado
a melhor em inúmeras situações aparentemente sem importância, para as "grandes" situações,
diante das quais não vacilarei, seguro de como agir, sempre. E tudo vai
acontecer na mais perfeita e tranqüila ordem.
PS: Nos cursos, sempre as pessoas me perguntam "qual é o cristal que se usa para emagrecer".
Ou para parar de fumar. Muito bem: gostaria de esclarecer que, do ponto
de vista do grupo de Mestres do Astral que trabalham através de mim, não existe nenhum
problema, nenhum inconveniente em fumar,
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beber, comer carne e outras coisas geralmente condenadas pela sociedade. Tudo é válido, desde
que não te violente. Tudo é permitido, desde que não te faça mal. E
isto significa exatamente ser capaz de levar cada coisa dentro dos limites dela em relação a nós.
Muitas vezes, por exemplo, ficamos dizendo que temos que fazer
algo só porque nos sentimps coagidos a isto, pressionados, mas não porque de fato o desejemos.
Evidentemente não conseguiremos nenhum "resultado" — o que corresponde
ao nosso real desejo. Nada em si faz mal ou "está errado". O que causa o desequilíbrio é a
distorção, por excesso ou falta. Podem ficar certos de que, se formos
capazes de respeitar os limites do nosso organismo, respeitar mesmo, comendo quando temos
fome e o quanto esta fome solicite, sem dúvida, não existe regime melhor
do que este.
***
PARA MIM, APENAS O MELHOR: Este é, sem dúvida, ao lado do "Truque do Terceiro
Andar" (veremos mais adiante), o meu favorito. É para ser utilizado em qualquer ocasião,
é claro, mas, principalmente, oferece inesperadas e certeiras saídas nas chamadas situações
adversas ou "fatalidades". Para mim apenas o melhor consiste em procurar,
em cada situação, aquilo que pode ser o melhor para nós. Geralmente a indicação do uso deste
truque surge exatamente quando alguém pergunta: "Mas, e quando acontece
aquela situação que você não pode controlar, quando rola uma fatalidade?"
Bem, em primeiro lugar é preciso examinar o conceito de "fatalidade": é evidente que há
situações em que nos vemos envolvidos sem ter como evitar, uma vez que não
existimos isoladamente nesta vida, muito pelo contrário. Mas me parece que são de fato muito
poucas aquelas pelas quais de fato não optamos algum dia, de algum modo.
Mesmo que o momento em que determinamos o direcionamento de um caminho que agora está
se concluindo de alguma forma nos tenha passado despercebido quando ocorreu,
ou já esteja muito distante. Não importa: é sempre de fundamental importância tentar localizar a
causa real do desvio, para não incorrermos de novo no mesmo tipo
de erro. Porém o mais importante é saber como lidar com o que se apresenta aqui e agora.
No exame de busca das origens da "fatalidade" é preciso ser absolutamente honesto. Eis aqui
uma situação padrão de "fatalidade" provocada pela nossa própria opção:
uma mulher,
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quarenta anos, se desespera porque o marido, subitamente, parece ter enlouquecido, após um
"casamento" de tantos anos e a largou por uma amante qualquer. Ela se
esquece que, há muito tempo, quando tinha poucos meses de casada, ele chegou em casa um dia
de madrugada, sem sequer avisar que não vinha jantar. A mulher preferiu
fazer de conta que não viu. Dali pra frente, aqui e ali, esta relação foi marcada por uma sucessão
de justificativas para os escorregões do marido, sempre tapando
o sol com a peneira. Belo dia, o que estava podre ruiu. E claro.
Toda decisão que "engolimos", por menor que seja, terá um efeito de retorno "bombástico", por
força da acumulação, de não ter se escoado espontaneamente na hora
e na medida certas. É como quando prendemos a respiração: vamos ficando sem ar
gradativamente, até que chega a um ponto em que não dá mais para sustentar e soltamos
todo o ar repentinamente, de qualquer jeito. O mesmo se dá quando "retemos" o fluxo natural de
nossa onda energética, nos omitindo diante de uma decisão: enquanto
não assumimos o controle consciente, o direcionamento da força vibratória deste
encaminhamento energético que estamos fazendo de conta que não vemos (ou de fato
não percebendo) esta vibração vai seguindo seu caminho sem a nossa participação direta, os
acontecimentos se sucedem, um provocando o outro automaticamente, numa
sucessão de equívocos deflagrada pelo primeiro, aquele que cometemos ao não tomarmos uma
decisão necessária na hora certa. Chega a um ponto em que a onda energética
emitida, em seu movimento circular, "esbarra" no limite do próprio campo magnético que a
contém, e retorna. Sempre podemos tomar consciência do encaminhamento de
qualquer questão e assumir seu direcionamento antes que se chegue a este ponto-limite. Mas, se
não interferirmos, o retorno tenderá a ser "inesperado", brusco e
contundente. Como se os acontecimentos "desabassem" sobre a nossa cabeça. Isto é a explosão
natural e inevitável de qualquer componente energético que não se escoa
normalmente.
Como diz Fréderic num dos textos de seu livro O Aprendizado da Alegria, não se pode evitar a
vida, mas deve-se escolhê-la. Supondo então que nos encontramos diante
de uma situação inevitavelmente ruim, desagradável por natureza — independente de a termos
deflagrado em algum lugar do passado ou de estar mesmo acontecendo à nossa
total revelia — qual é a saída?
A saída precisa é escolher mesmo como vamos vivê-la. É providenciar uma alimentação
energética imediata e constante,
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acionando o truque do para mim apenas o melhor. Isto quer dizer: buscar, em cada circunstância,
o que pode me trazer alguma coisa de bom, seja o que for, por menor
que pareça. Toda sensação boa, com certeza, qualquer detalhe que me traga um mínimo instante
de bem-estar, vai servir para equilibrar a minha energia, manter de
pé a minha força e ajudar a que eu não me desestruture.
Isto inclui basicamente duas coisas: uma, é a capacidade de não afundar no negativismo e nem
na culpa de poder sentir algo bom quando tudo está mal, e assim poder
sacar o que há de positivo em qualquer coisa e que possa ajudar a atravessar uma dificuldade.
Outra, é uma espécie de preparo permanente, de cuidado constante, de
armazenamento de recursos que possam ser utilizados numa emergência. Este armazenamento
consiste na escolha adequada e sempre, sempre consciente, de tudo que faz
parte da minha vida. Ainda que pareça uma besteira, como por exemplo, a compra de um sapato.
Mas devo comprar o sapato pensando em todos os níveis de prazer e satisfação
que ele possa me trazer — deve ser bonito de olhar, confortável, trazer uma sensação agradável
ao pé que veste, combinar de forma interessante com as roupas, arrancar
dos outros elogios que me agradarão. No momento em que você estiver num sufoco, tipo uma
discussão "braba", pesada, seu olhar vai bater de repente neste sapato e,
por instantes, todas as coisas boas que você sabe que ele significa virão à tona — será uma
fração de segundo agradável no meio do bombardeio. E quando você "voltar"
à discussão, certamente virá retemperado por esta rápida mas eficaz alimentação energética.
Pode parecer bobagem, mas é assim mesmo que reabastecemos nossa estrutura
energética nos momentos de crise: juntando todos os detalhes benfazejos que estejam ao nosso
alcance, por mais mínimos que sejam. De grão em grão a galinha enche
o papo, não é não? É válido que a gente se apoie em todos os recursos para sair o mais inteiro
possível dos abalos. Vale qualquer ajuda neste sentido, inclusive,
a de se refugiar numa recordação agradável. Buscar a energia num momento anterior em que nos
sentimos fortes e queridos. Ou num sonho, válvula de escape.
Afora as coisas que possivelmente possamos ter "armazenado" para uma emergência eventual, o
mais importante mesmo é aprender a sacar o que há de disponível quando
é necessário. Durante um tempo, meu pai esteve internado num CTI cardiológico. Esta é uma
situação de "sofrimento oficial", daquelas em que tudo e todos cobram da
gente que estejamos nos
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sentindo embaixo, cercados e mergulhados nas coisas ruins, nos sentimentos desagradáveis.
Tudo parece concorrer para piorar ainda mais o pesadelo que a situação
por si só já seria capaz de formar numa hora destas. Até as condições de infra-estrutura do
hospital, para quem acompanha o doente, são as mais mas-sacrantes, o
desconforto é total. E o principal é que você tem que arranjar forças para se segurar e segurar a
pessoa que está vivenciando a doença. Como fazer?
Pois é justo numa hora como essa que o truque mais funciona. Antes de mais nada, é preciso dar
um "clic" na cabeça e mudar um condicionamento de vida inteira que
nos ensina a idéia de que é proibido, absolutamente proibido, sentir qualquer coisa de bom
quando alguém de nossas relações próximas está passando por um sofrimento.
Ora, isto é a afirmação mais incorreta possível: primeiro, porque se estamos realmente
afetivamente envolvidos com a pessoa, será inevitável que partilhemos seu
sofrimento — embora nunca, ninguém possa de fato viver a dor do outro. Mas a maior
incorreção existente nisto é justamente porque, nesta hora, cabe a nós, que não
estamos dentro desta dor, mas sim, do lado de fora, no papel essencial de suporte, de apoio, nos
portarmos da melhor maneira ao nosso alcance, para beneficiar quem
está fragilizado. Ora, se mergulharmos completamente nos aspectos negativos, se assumirmos
uma postura derrotista, a quem estaremos auxiliando? Isto só servirá para
nos debilitar e, a cada vez que chegarmos perto da pessoa atingida com aquele ar compungido,
tudo que conseguiremos passar para ela é a impressão de que não há mais
esperanças, ou, no mínimo, de que o que ela tem é pior do que lhe disseram. Além disto, o fato
de não nos apoiarmos a nós mesmos, de gastarmos nossas forças sem
nos reabastecermos, só nos prejudicará se a situação se"agravar e precisarmos segurar uma barra
pesada. Mais do que nunca, então, é preciso exercitar o "para mim
apenas o melhor".
Nesta ocasião da internação de meu pai, por exemplo, todos os parâmetros desapareceram, até
mesmo os das hipóteses. Tudo pode acontecer a qualquer segundo, não dá
para prever o que o próximo instante vai trazer. Todas as pessoas no hospital estão diante d©
úma ininterrupta situação-limite. Sempre gente morrendo, sempre novos
enfartados chegando, com suas famílias em desespero. E a única conversa que parece estar
presente é aquela que lembra casos semelhantes, tragédias passadas e alheias.
Claro, isto só piora as coisas, mantendo um aprisionamento dentro da angústia. É preciso quebrar
esta cor-
60
rente buscando — por que não? — o prazer viável, os sutis e utilíssimos recursos do bem-estar,
mais do que nunca transformados em estratégias de sobrevivência.
Há os recursos que são evidentes e que a gente se refugia neles instintivamente: os parentes na
sala de espera acabam formando uma inevitável corrente solidária,
que informa principalmente aos recém-chegados ainda tontos qual é o banheiro mais limpo, onde
fica a garrafa com um café razoável durante a noite, qual a padaria
mais próxima que oferece o sanduíche comível etc. Mas há os recursos que cada um tem que
procurar para si mesmo, ainda mais quando a estada se prolonga indefinidamente,
como foi o meu caso. Então, por exemplo, quando chegava a madrugada, eu ligava para um
restaurante próximo, pedia uma comida de que gostasse muito, me instalava
na me-sinha do pátio, e fazia de conta que estava num restaurante ao ar livre. "Mas como é
possível ter fome numa hora destas?" Claro, não se trata de matar a fome,
mas de buscar o sabor. Eu levava um pequeno gravador com minhas fitas favoritas, conversava
com os gatos, moradores do pátio: um faz-de-conta com tudo a que tinha
direito, para voltar, minutos depois, a enfrentar o clima desgastante da sala de espera.
Invariavelmente, procurava me vestir com uma roupa de que gostasse, usar
um sapato confortável, detalhes fundamentais, capazes de assumir inesperada importância dentro
das circunstâncias. Quantas vezes não ouvi o indignado comentário:
"Mas como é que pode, o seu pai neste estado e você vestida deste jeito, preocupada com a
roupa?" Não tenham dúvida de que, no horário das visitas, quando eu tinha
que de fato encarar o tranco, levar as difíceis conversas com alguém que está na fronteira entre a
morte e a vida, estes esforços para não me abandonar à derrota
e manter de alguma forma presente a certeza de que há sempre um lado bom acontecendo na
vida, tudo isto me ajudou a transmitir uma energia positiva para o meu pai,
sem nenhuma falsidade. Na medida em que consegui não me desestruturar por completo, pude
servir como um apoio firme.
Nestas horas, há um recurso extremo que não falha: é uma espécie de "subtruque dentro do
truque" — é o "truque do cho-colatinho". Quer dizer: mantenha sempre à mão
um chocolate (ou similar), que, numa emergência, pode ser tirado do bolso e saboreado.
Atenção: não se trata de comer compulsivamen-te, buscando uma compensação.
Trata-se de concentrar no sabor do chocolate quando ele é a única saída para a gente se lembrar
das coisas boas que ainda existem quando o panorama
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escurece. Muitas vezes, no hospital, sorvi devagar o gosto do chocolate quando as pessoas,
parentes dos doentes, faziam uma rodinha — esta sim, compulsiva, catártica
— para contar uma desgraça atrás da outra e fazer conjurações as piores, como se naquele
momento só fossem capazes de falar disto. Ah, bendito chocolate!... Me salvou
de escorregar naquele passo a um milímetro do desespero e me ajudou a suportar muitas
conversas insuportáveis, sem dúvida. Se você acha que é besteira, experimente.
Não precisamos, porém, sair do cotidiano para estar em situações inevitavelmente desagradáveis.
Pelo contrário, elas são freqüentes, e por isto mesmo temos que aprender
a enfrentá-las sem que nos pesem. Se eu tenho, por exemplo, uma reunião de trabalho que sei
que vai ser chatíssima, o truque é tratar de almoçar muito bem antes,
num restaurante que eu curto, comendo uma comida saborosa. Escolher uma roupa que me
agrade, um sapato predileto, e me sentar, é lógico, numa cadeira a mais confortável,
e, se der, numa posição que me permita até dar uma "escapulida" da reunião por instantes,
"viajando" numa visão agradável, como uma paisagem na janela ou um quadro
na parede. Num momento de especial sufoco ou chatice, não esquecer o chocolatinho... Evidente
que levarei muito melhor a reunião desta forma do que se chegar lá
com fome, ou com uma comida engolida de qualquer jeito que me pesa no estômago, um terno
qualquer, uma gravata apertada, um sapato de que não gosto etc, etc, etc.
E ou não é?
Mas o grande truque mesmo consiste em estar sempre treinado para obter o melhor. Em qualquer
ocasião, todo o tempo. Isto corresponde a um contra-ataque maciço àquela
parte da nossa deseducação que nos faz baixar a cabeça para os prêmios da vida, não estender a
mão para o gozo porque "não somos merecedores". Se não somos merecedores,
por que as coisas são postas ao alcance da nossa mão? Por que nos é tão difícil, complicado,
custoso estender a mão e tocar, apanhar, tomar posse dos componentes
de felicidade que nos pertencem pelo assim chamado direito divino?
Se estou bem comigo, estou de bem com a vida, estarei bem com aquilo e aqueles que me
cercam, com grandes chances de que esta boa relação perdure mais do que geralmente
estamos acostumados a ver. E tudo tenderá a fluir na mais perfeita harmonia. Observando com
leveza a fidelidade às dicas de todos estes pequenos "truques" da energia,
certamente estarei me ligando ao meu próprio eixo, e auxiliando as pessoas
62
a acharem também seu rumo próprio, sem que seja preciso forçar nada, nem cobrar, nem muito
menos "fazer a cabeça de ninguém". Todos poderão ser felizes sem culpa.
Não é ótimo? Simplesmente você não vai invejar o outro, porque você também é feliz. Não
acham que vale a pena tentar? Afinal, para nós, apenas o melhor... E por
que não?
63
OS "ESTADOS DE ESCURO
TODA vez que efetuamos uma passagem para fora do Campo Material em busca de qualquer
tipo de luz, atravessamos um "estado de escuro". O estado de escuro seria exatamente
o túnel antes da luz. É o meio do caminho, sempre. Sua função é justamente nos proporcionar
um desligamento da matéria, de modo que possamos ultrapassá-la.
Assim, entendemos por estado de escuro todo aquele que apaga a nossa realidade. O sono, por
exemplo, é um estado de escuro pelo qual todo mundo passa e que, curiosamente,
acompanha um estado de escuro da própria natureza, que é a noite. Faz parte dos ciclos: é
preciso "apagar" para acender, é a obediência ao princípio dos opostos,
sem o qual não haverá equilíbrio: só é possível conhecer a clareza após saber o que é a escuridão.
Uma leva à outra. Portanto, não há nada que temer quando nos sentimos
longe da luz — estamos apenas caminhando para ela.
Um estado de escuro é produzido naturalmente pelos ciclos revitalizadores da nossa energia para
se retemperar. Neste momento, providenciamos uma maneira de tornar
esta realidade pouco perceptível, porque, de alguma forma, ela está nos pesando, ou atrapalhando
nosso desenvolvimento. Há vários tipos de estado de escuro, que
exercemos consciente ou inconscientemente, naturalmente ou distorcidamente. Quando
fechamos os olhos, simplesmente, para nos concentrar, num exercício de meditação,
por exemplo, ou tentando estabelecer um contato mais profundo com o nosso próprio eu
(=nossas dimensões fora deste campo) estamos de jeito suave e imediato nos desligando
do que nos cerca. O mesmo ocorre quando apenas apagamos a luz, para ouvir um som que nos
"tira daqui" ou para trabalhar, quem sabe, numa sessão espírita — o fato
de retirarmos as vibrações intensas da luminosidade em seu estado mais denso de matéria,
permite que vibrações mais sustis, existentes em outros campos, se aproximem
deste sem barreiras.
64
Dormir é um estado de escuro natural, espontâneo, que nos permite revigorar o corpo e as
emoções. Mas há outros: ficando doente — mesmo quando é uma simples gripe
— bebendo, tomando drogas, entrando em depressão — de todas estas formas estamos
"apagando" a realidade que se tornou por algum motivo insuportável, e, mergulhando
no túnel, buscamos instintivamente a luz.
O que ocorre, porém, é que não temos a menor idéia do que está nos acontecendo quando nos
empurramos (ou somos "puxados" por uma energia protetora, sem aviso algum)
para um estado destes. É como se estivéssemos distraidamente na janela da vida (ou, às vezes,
atentamente em busca de que alguém passe para nos socorrer) e, de repente,
um cara surge voando do lado de fora e nos puxa, nos leva com ele. Até eu entender que aquele
cara é o Super-Homem, que veio me buscar para um agradável passeio
entre as estrelas, terei a sensação de pânico e vou achar que estou caindo no vácuo a qualquer
momento.
Esta reação é absolutamente natural em qualquer estado de escuro, porque, simplesmente, ao
vivenciá-los, perdemos literalmente nossos pontos de apoio na matéria,
nossos referenciais conhecidos, já que eles estão apagados. Ficamos "sem chão". Mesmo. Nos
sentimos "no ar" — e é isto que está de fato ocorrendo. Ainda que seja
um estado de escuro escolhido ou espontâneo, como o sono, o medo pode nos assaltar se alguma
coisa perturbar o seu fluxo natural, nos trazendo uma súbita consciência
do distanciamento do referencial da matéria em que nos encontramos. Podemos sentir medo se o
sono for perturbado por um pesadelo, ou se acordarmos de repente no
meio da noite. Assim como, num qualquer exercício de meditação, ou prática espiritual,
podemos ser assaltados por um receio da entrada de "energias negativas". Tudo
isto é normal quando entramos num território desconhecido, quando penetramos no novo.
Em primeiro lugar, gostaríamos de falar um pouco sobre a função do medo. O
medo " como tudo na vida, tem uma função correta e uma distorção desta função. Quando
ele surge, surge com a intenção de nos pedir cautela. A presença do medo significa um sinal
amarelo — quer dizer: nem é para ficar paralisado diante do que nos assusta,
nem é para se atirar de qualquer jeito, seguir em frente atabalhoadamente. O que ocorre é que,
via de regra, nos apavoramos. Ficamos com medo do medo. Em vez de
entender que ele simplesmente veio para nos
65
fazer prestar atenção aonde estamos pisando, e nos permitir construir uma estrutura mais segura,
mais consciente. Na hora em que entramos em pânico, nos agarramos
às paredes do túnel. E vamos contra o fluxo natural que nos levaria à saída — pelo menos o
retardamos — como se estivéssemos andando na direção contrária de uma
esteira ou escada rolante.
Todo mundo vai ter, vez ou outra durante a vida, movimentos de "entrada no poço". É preciso
aprender a respeitá-los, não brigar contra eles, o que só nos atrasa.
Subir e descer faz parte do movimento natural da onda.
Então, quando percebemos que estamos à beira do poço, não adianta tentar se agarrar nas bordas
para não descer — seremos de qualquer maneira puxados pelo magnetismo
deste movimento natural de subir e descer, necessário ao equilíbrio dos contrários. E cairemos de
mau jeito, nos arranhando nas paredes, podendo torcer ou quebrar
um pé ao bater no chão, o que nos dificultaria o retorno. Então^uando você perceber que está na
beirada do poço, a melhor maneira de lidar com isto é a seguinte:
não resista. Jamais se deve resistir a um estado de escuro. Mais uma vez, a solução inteligente é
procurarmos a melhor maneira de lidar com a situação sem tentar
falseá-la, tapar o sol com a peneira, negar. Portanto, arme-se com tudo que tem direito para
enfrentar a descida: leve seu analista, seu melhor amigo, seu saco de
dormir, seu walkman, uma caixa de bom-bons, e tudo mais que possa amaciar a permanência no
lado desagradável. Pegue uma escadinha e desça. Enquanto estiver lá embaixo,
use todos os recursos disponíveis de acolchoamen-to e conforto. Sem as tradicionais culpas de
não estar sendo forte ou de estar abusando da paciência dos outros
— nesta hora você pode tudo, desde que não se torne um simples uso, um oportunismo dentro da
situação, é claro. Vai chegar um momento em que você vai encher o saco
— quer dizer, sua energia, dentro deste movimento natural, vai esgotar a vivência do escuro, do
embaixo. E iniciar a volta, a subida, o retorno a tudo que é claro.
Se não tivermos resistido à descida, se tivermos nos consolado da melhor forma possível,
certamente estaremos bastante inteiros. E aí pegaremos aquela escadinha
e voltaremos sem esforço, talvez com alguns arranhões, porém sem pedaços arrancados.
Em outras palavras, quando nos percebemos subitamente numa situação desconhecida — que
conotamos logo como "adversa" — porque é contrária ao que conhecemos, ou "difícil"
— porque não sabemos com certeza quais os elementos que a
66
compõem, nestas horas, a tendência é que entremos em pânico. E como se eu estivesse num
lugar qualquer, numa sala, por exemplo, e, subitamente, a luz se apagasse.
Se eu me apavorar, vou começar a tropeçar nas coisas, vou me machucar, quebrar objetos, não
acho mais o rumo. Mas se eu mantiver a calma, a serenidade, aos poucos
vou acostumando a vista ao escuro, vou desenvolvendo outros recursos de senso de percepção
como o tato, o olfato, o senso instintivo de direção. Aos poucos, começarei
a "enxergar no escuro". Pisarei com cautela e segurança. E não serei tomado pelo desequilíbrio.
No caso de uma depressão, não há que lutar contra ela. Nem ignorar. Não adianta dizer "eu vou
sair, vou me levantar da cama, vou pro bar, pra festa", como se nada
estivesse acontecendo. Se for, fatalmente vai chegar uma hora em que a sensação de solidão e
isolamento no meio de todos ficará insuportável. E o retorno para o
"buraco" é pior. Nem adianta dizer "não vou sair, não quero ver ninguém, vou ficar embaixo da
cama". Acontece que os períodos de depressão são por natureza oscilantes:
tem horas em que dá vontade de sair e ver gente, tem horas que dá vontade de sumir do mapa.
Então o que temos que fazer para atravessar o mais rapidamente possível
esta situação não é radicalizar numa ou na outra ponta, e sim, seguir o mais à risca possível estas
oscilações. Ou seja: se me dá vontade de ter gente perto, me
arrumo e saio. Se quero me atordoar, vou para o bar. Mas se cinco minutos depois me der
vontade de me trancar no escuro, volto e me tranco. Respeitando milimetricamente
o que estou sentindo, a confusão de sentimentos. Vai chegar um momento em que a coisa se
resolverá sozinha, e eu vou encher o saco de ficar mal, e vou estar cicatrizado,
pronto para enfrentar o mundo de novo. O que nos mata durante um estado de escuro tipo
depressão (e outros) é que, mais uma vez aqui, fomos treinados para não fraquejar.
Ora, isto é apenas impossível, totalmente inverídico. Conforme a nossa deseducação, e a
exigência social, ninguém tem o direito de afundar, de ficar mal, quando
na realidade, estas fases de "baixo" fazem parte do movimento natural da vida. Então, quando
nos percebemos fragilizados, acabamos piorando este afundamento porque
nos cobramos isto, e as pessoas, com a melhor das intenções, ficam dizendo todo o tempo: "Você
tem que sair desta, pára com isto" — como se tivéssemos o controle
da coisa. Não existe esta possibilidade: nada se esgota pela nossa decisão racional. Podemos
abortar vivências, cortar situações pelo meio, mas elas permanecerão
dentro de nós, "penduradas",
67
mal resolvidas, até que as emoções a elas correspondentes desapareçam dentro de nós, por si.
Ninguém mata realmente uma emoção. E não adianta fazer de conta que
não está acontecendo.
Quantas coisas carregamos assim, ao longo da vida, incomodando internamente, como uma
pedrinha no sapato da alma? A depressão é uma situação-limite. Se resistirmos
a ela, na tentativa inútil de sermos "fortes", vamos arrastar aquele "rabo" de down por muitos
anos, caindo volta e meia no buraco. Como também, não adianta dizer
"eu seguro a minha barra" e aparentar estar bem para não incomodar os outros. Não adianta —
há momentos na vida em que precisamos, sim, de ajuda, e quanto mais cedo
aprendermos a pedi-la, entendendo que um dia é de pedir, outro de dar, mais rapidamente nos
levantaremos. Bengalas foram feitas para serem usadas nas convalescenças,
nas inseguranças. Não adianta também nos rendermos por completo, desistindo como se um
mero baque fosse o fim da linha. Isto é somente uma maneira inversa, distorcida,
de buscar a ajuda que não nos sentimos no direito de pedir mas, se nos encontramos
"inteiramente sem forças", não temos alternativa senão receber, só que justificando
as culpas de estar apoiado no outro.
O grande truque da depressão é tratar dela com carinho, ou melhor tratar de si mesmo com
carinho. Dar-se o colo. Procurar numa hora destas toda e qualquer coisa,
mais do que nunca, que possa representar um conforto para nós. Acolchoar o tranco. Isto vai
desde escolher um lençol macio, bonito, para deitar a cabeça do jeito
mais aconchegante, até encher o saco dos amigos. É a hora de fazer tudo que a gente gosta, como
se fosse férias. Abusar das coisas que nos dão prazer, quando parece
tão distante que a vida possa ser prazerosa. Colo mesmo. O resultado concreto e observável desta
atitude é, de imediato, uma redução do nível de desgaste na situação.
E, depois, a percepção de que, a cada vez que nos sentimos deprimidos, isto dura menos para
passar.
Toda esta história de culpas e cobranças tende a se agravar quando o estado de escuro utilizado
envolve drogas e bebida. Ou mesmo "surtos" em que a mente "sai do
ar" porque ficou de fato insuportável enquadrar-se em tantos comportamentos exigidos. O que
acaba ocorrendo quando se toma um destes caminhos mais fora das normas,
mais marginalizados, é que a pressão tende a ser grande demais. Acontece que todo estado de
escuro é uma coisa delicada, porque nos põe numa área fronteiriça entre
o que reconhecemos como real e que nos dá
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segurança, e as áreas onde não temos referenciais. Então, se entramos em qualquer processo que
nos leve a este desconhecido por dentro do nosso próprio canal, ou
seja, alcançando dimensões novas mas que nos pertencem, em algum ponto vamos encontrar a
sensação do conhecido, do familiar, porque, mesmo nos pontos da onda localizados
fora do nosso contexto imediato, por força de sermos uma continuidade dentro desta onda,
haverá sempre aquilo que reconheceremos como nosso. Por isto, não há o que
temer quando embarcamos num processo de escuro em que, respeitando essencialmente os
limites do que estamos vivendo — mesmo que possa ser chamado de "distúrbio"
— não nos desequilibraremos, pois acabaremos por encontrar a nós mesmos, assim como às
nossas respostas, naturalmente. E naturalmente empreenderemos o "retorno"
ao mundo que vemos como real, aqui e agora. É como se saíssemos para dar uma voltinha e
esfriar a cabeça. Como o movimento da energia é sempre circular, tudo que
vai, volta. Pode até acontecer de alguém que entrou num estado de escuro demorar a voltar, por
ter dificuldade de suportar a realidade. Mas se o ritmo for respeitado,
acabará voltando espontaneamente.
Por que então há tantos casos em que a pessoa parece ir num buraco sem fundo, parece não
voltar nunca mais? Exatamente porque não se seguiu o caminho espontâneo,
em algum momento desta trajetória houve uma interferência. A interferência pode ser causada
pelas pressões de cobrança da própria pessoa, que fica tentando voltar
a qualquer preço ou, pelo contrário, se recusa a voltar a qualquer preço — muitas vezes para
atingir alguém que não conseguiu atingir de outro modo (muito comum
isto no tipo de pessoa que vive ameaçando — e às vezes concretiza — se matar, ou, num nível
menor, entra nos surtos de desequilíbrio mental bebida ou droga, o que
significa meramente "pelo amor de Deus alguém preste atenção em mim". É um desejo de ser
visto, e não de desaparecer. Muito raro mesmo que a vida fique tão insuportável
ao ponto de alguém optar serenamente por sair dela. Geralmente esta atitude é provocada
justamente pela idéia de que não conseguimos entrar nela).
A interferência pode ser também causada por um agente externo, seja um profissional tentando
resolver a questão, seja uma pessoa amiga cheia de boa vontade tentando
levantar a pessoa antes dela estar pronta. É comum ouvirmos o relato de profissionais, terapeutas
de corpo ou da psique, que são surpreendidos por regressões, crises
histéricas, "apagadas" dos pacientes, ou cujos clientes de repente parecem ter ficado "travados"
69
num processo de depressão ou droga, ou similar, e não sair mais daquilo. Bem: o papel do agente
externo numa situação limite de escuro é importante, sem dúvida,
embora todo mundo possa sobreviver sem ele. O agente externo, amigo ou profissional que lida
com a coisa, não precisa realmente fazer coisa alguma — deve funcionar
apenas como uma espécie de baliza, um tipo de orientador, onde o outro vai bater e voltar caso
esteja saindo realmente do rumo. Jamais quem está lidando com alguém
envolvido num estado de escuro deve interferir dando direções.
A interferência que pretende ser determinante durante um estado de escuro pode causar dois
tipos de "acidente" energético: um deles, é a pessoa ser "empurrada" por
esta interferência para fora do seu canal — isto é, para fora da proteção do seu próprio campo
energético, ao ser colocada na busca ou no uso de recursos que não
lhe pertencem, que não são os que utilizaria normalmente, ou naquela hora. E neste caso, esta
pessoa fica exposta a ser atingida e aí, sim, realmente desestrutu-rada
por qualquer tipo de energia que se encontra solta entre os campos magnéticos fechados que
envolvem cada ser vivo. Estas energias soltas vivem em busca de um lugar
qualquer onde possam se atrelar, e uma pessoa vulnerável, com seus flancos abertos, é alvo
certo. Quem está vulnerável vai receber com certeza qualquer vibração
negativa, por menor que seja, que lhe seja enviada por outros.
O outro tipo de acidente possível e freqüente é que a interferência alheia, mesmo se vinda de
quem está tentando ajudar, "cristalize" a pessoa num certo ponto, entalando-a
no meio do túnel, o que a faz permanecer indefinidamente no estado de escuro. Isto acontece
porque a pessoa está seguindo seu processo espontâneo, mas não tem consciência
das suas próprias possibilidades de achar a saída. Alguém "mais autorizado" a resolver o
problema é colocado para tratar dela, e começa a forçar outra direção, diferente,
diversa, da que seria a sua direção natural. Mas a pessoa fragilizada, e já anteriormente
condicionada a não duvidar de um profissional, não tem a menor chance de
discernir o equívoco, que por sua vez está sendo cometido também sem a menor consciência. E
acha que tem que aceitar e seguir a receita de cura. Só que não consegue.
Simplesmente porque não éo seu caminho. E no momento do escuro, só conseguimos atravessar
se nos ativermos, mais do que nunca, ao nosso próprio fluxo. O máximo que
um agente externo pode fazer é ficar atento para perceber o ritmo e o rumo de nosso movimento
de saída, e nos dar toques que nos mostrem estas
70
soluções que nós mesmos geramos, facilitando e até, quem sabe, abreviando um pouco o
encontro da saída. Esta "entalada" pode também acontecer porque estamos sendo
cuidados afli-tamente por alguém com quem temos um envolvimento afetivo e quer nos ver bem
a qualquer custo. Nos sentimos incompetentes e fracassados, culpados por
não conseguirmos atingir os resultados de tudo que vem sendo tentado por nós, para nós, por
aquele que nos quer bem. Nos sentimos como se estivéssemos "decepcionando"
a pessoa, que por sua vez, se exaspera do lado de lá, porque nada que ela faz está conseguindo
nos atingir. É como se houvesse um vidro entre os dois. Mas é claro,
não atinge porque, mais uma vez, são sugestões que parecem ótimas porém perdem qualquer
eficácia quando simplesmente não se aplicam, não são as nossas, e sim, as
que alguma coisa ou alguém supõe que seja a solução ideal. Seja qual for a origem, esta situação
de "entalamento" pode se prolongar eternamente, porque vai gerando
uma angústia, um desespero, uma exasperação, um pânico que cega todos os envolvidos dentro
da sensação de incompetência.
Se mexer com a energia dos outros, com as suas emoções, já é, sempre, uma coisa extremamente
delicada, mais ainda, quando a pessoa se encontra numa situação de exceção,
de difícil compreensão. Todo cuidado é pouco. E se, para não nos desestruturarmos na vida,
normalmente, é preciso nos atermos com fidelidade absoluta à nossa verdade,
mais ainda isto se aplica aos momentos em que não enxergamos nada em torno, porém ainda
estamos conosco e nós, apenas nós, somos, sempre, a ponta do fio da meada,
mesmo quando aparentemente perdido. Sobretudo; é necessário não esquecer: o escuro é sempre
o meio de um inevitável caminho ao encontro da clareza.

Texto retirado do livro:


Para mim, apenas o melhor

Virgínia Cavalcante
OS FLASHES
QUANDO os Mestres sinalizam para nós, eles têm dois objetivos principais: um, é o de nos
chamar a atenção em relação aos desvios, nos fazer voltar ao eixo, nos devolver
à essência. Outro, é nos pôr em movimento, para que não incorramos no erro freqüente ao ser
humano de ficar paralisado pensando no que poderia acontecer, imaginando
o que aconteceria, enquanto na verdade tudo está acontecendo o tempo todo.
Uma das formas comuns que eles utilizam para sinalizar para nós é aquilo que podemos chamar
de "flashes". São flashes porque são coisas que "espoucam" à nossa frente,
de repente, sem aviso, e sem que a nossa compreensão racional possa entender. Os flashes são
como um farol no meio do mar, nos indicando um caminho, nos orientando.
Não os compreendemos pelo raciocínio porque, assim como a intuição, eles pertencem a um
campo mais amplo, não compreensível pela matéria, e, portanto, pela nossa
mente, que é matéria.
São flashes: pressentimentos, premonições, impulsos, paixões, "previsões", inspirações, sonhos
(tanto no sentido do desejo quanto no do sonho ao dormir), objetivos,
alvos e tudo o mais que a gente possa perceber que não se encaixa dentro do que o racional
explica. O flash serve basicamente para nos pôr em movimento, e também,
para nos fazer questionar a verdade de uma determinada situação, ou a partir dela. O perigo é
fazermos uma interpretação mal apropriada desta função. Como é que
isto ocorre?
Em primeiro lugar, gostaríamos de esclarecer o seguinte: não existe previsão. E impossível,
segundo a própria física já demonstrou e colocou em suas leis, prever
o movimento das energias. O máximo de que podemos falar é de uma disponibilidade, de uma
possibilidade de encaminhamento. Que pode ser modificada numa fração de
segundo, simplesmente porque o campo energético como um todo é uma bagunça abso-
72
luta, no sentido de que há sempre, ininterruptamente, incontáveis tipos de energia se abalroando
no espaço, e interferindo umas nas outras. Quando olhamos para o
"ar", temos a impressão de calma, de "nada", de que é uma espécie de vazio total. No entanto,
quando olhamos este mesmo ar num dia de tempestade, podemos observar,
a olho nu, o que seria uma ínfima parcela deste ininterrupto jogo de energias, através de raios e
relâmpagos que literalmente enxergamos com suas formas, forças
e comprimentos diversos, como se estivessem dançando fre-neticamente, ou brigando
ferozmente no céu, atacando-se uns aos outros. Ou atacando corpos físicos densos
que não percebemos como energia pura, mas que na realidade o são. Apenas aquelas que vemos
como um corpo físico qualquer está dentro de um campo magnético fechado
— pelo menos em princípio — e as outras, que saracoteiam, estão soltas, "procurando" onde se
agarrar, ou sendo puxadas pela própria vulnerabilidade do campo.
Assim, quando uma cartomante, ou qualquer outra pessoa, nos faz uma "previsão", na verdade,
captou no nosso canal a disponibilidade de encaminhamento das nossas
energias. Antes de mais nada, é preciso esclarecer que qualquer um pode ter este tipo de
captação do canal do outro. Claro, como qualquer outra coisa que exercemos
na vida, ninguém vai fazer na mesma proporção nem do mesmo jeito. É uma questão de talento,
de treino. Uns têm mais, outros têm menos. Mas todos têm. Esta capacidade
fica clara — embora não tenhamos consciência disto — quando "estranhamente" pensamos em
alguém e esta pessoa aparece ou telefona, como se a tivéssemos atraído. Pois
foi exatamente isto que se deu.
O processo de captação do canal do outro — que pode acontecer sob a forma de uma "previsão",
ou de sacar o que o outro está sentindo, ou até mesmo, sem explicação,
de descrevermos pessoas e lugares referentes ao outro e que nunca vimos, se dá da seguinte
maneira: duas ondas de energia estão no ar, no nível além da matéria —
a minha e a do outro. O movimento destas ondas é, obviamente, ondular, fazendo curvas
constantes. A manutenção do equilíbrio de todas as ondas energéticas dentro
da estrutura universal só ocorre graças ao magnetismo, ou seja, aos movimentos de atração e
repulsão entre estas ondas.
73
Atração
Onda magnética do Emissor
^ c£ Repulsão
Ond^f magnética do Receptor
Por outro lado, todo processo de comunicação exige, para se completar, a atuação de um emissor
de um receptor. Portanto, se eu me disponho a captar algo que outra
pessoa — seja de uma forma consciente, porque resolvi fazer uma 'leitura", estabelecer
"previsões", ou seja de uma forma inconsciente, simplesmente porque o fato
de estar afetivamente envolvido com aquela pessoa me mantém sempre voltado para ela num
nível mais profundo de contato, ou ainda, porque numa situação de emergência
por alguma razão cabe a mim dizer algo que a pessoa, mesmo desconhecida, precisa ouvir e
então eu capto dela — em qualquer um destes casos, eu me transformo num
receptor. Se a pessoa em questão está aberta inteiramente para mim, seja porque tem uma
confiança afetiva, ou porque me vê como um profissional capaz de responder
às suas questões, ou porque ao passar por mim, mesmo não me conhecendo, algo dentro dela
"sinalizou" que eu poderia ajudar — então esta pessoa se transforma num
emissor, e vai enviar para mim qualquer coisa que eu vou receber e colocar em palavras para ela,
como se estivesse traduzindo ou revelando algo que ela, por si só,
não estava conseguindo alcançar naquele momento.
No entanto, se um dos dois estiver fechado, o receptor ou o emissor, nenhuma comunicação se
estabelecerá. Da mesma forma que acontece o contrário, ou seja, uma captação
espontânea em qualquer situação, quando ninguém estava aparente-
74
mente pensando naquilo. É que esta comunicação na realidade ocorre num campo fora da nossa
percepção imediata. O que está acontecendo nesta hora além dos nossos
olhos é apenas isto: quando eu me abro para outro e vice-versa, as nossas duas ondas se atraem
magneticamente e se cruzam, se tocam. E um "vê" dentro do outro. (Muito
comum, por exemplo, entre casais apaixonados, pais e filhos com uma identificação muito forte.
É uma "conversa" de íntimo para íntimo.) Imediatamente esta captação
é enviada ao nível racional e eu a coloco em palavras, sem explicar como ocorreu. A explicação,
como já vimos, é simples — só que acontece fora do alcance dos meus
olhos.
Se não houver, pois, uma abertura mútua para a comunicação, nada vai rolar. São aqueles casos
em que você vai a um pai-de-santo que "acerta tudo" com os outros,
e com você erra tudo. Ou a um terapeuta que consertou um monte de gente e não faz o menor
efeito para você. Tudo isto se deve apenas ao fato de que, mesmo que sua
cabeça diga ao contrário, internamente você não se abriu para aquela pessoa, por não confiar nela
ou por não estar preparada, ou não querer ouvir o que ela teria
a dizer. E às vezes acontece o oposto, de alguém de repente chegar para você no meio da rua, te
despejar no ouvido um monte de coisas que só você poderia saber,
e sumir de novo da sua vida para sempre. Quando um dos canais está fechado, nem adianta
insistir — é como quando você se direciona para atingir ou envolver alguém
de algum modo, "faz de tudo", todo mundo "jura" que vai funcionar, e a pessoa permanece
inatingível. Apenas porque não estava aberta para você (e até para qualquer
outra pessoa) num nível profundo. Isto pode, inclusive, ocorrer dentro de uma relação já
estabelecida, em que as duas pessoas estão juntas, mas existe uma ausência
de intimidade, causada pela falta de entrega.
Bem, agora que já entendemos o processo de captação através da canalização e já sabemos que é
acessível a qualquer um, voltemos à questão da "previsão". Pois muito
bem: a cartomante, então, chega para você e diz: "O emprego vai ser seu". Na verdade, antes de
mais nada, deveria dizer: "O emprego vai ser seu se nada interferir
— se o prédio não pegar fogo, se a firma não falir, se você não desistir na última hora etc." Do
momento em que a previsão foi colocada até que ela aconteça, tudo
pode modificar o campo energético radicalmente, a cada passo.
Para que serve, então, a previsão? Serve exatamente para que você se detenha diante do que foi
dito e se pergunte: "E se o emprego for realmente meu, o que vai acontecer
com a
75
minha vida? Será que é isto realmente o que eu quero?" A previsão, antes de qualquer coisa, é
um instrumento para nos fazer tomar consciência da escolha dos nossos
rumos. Conforme a resposta que eu mesmo vou me dar a respeito, então, inicio um movimento
para realmente batalhar, ir em direção ao que foi previsto ou, ao contrário,
me desviar daquilo, evitar que ocorra, se de fato não desejo tal coisa para mim. Para isto servem
as "previsões". Não para que a gente fique absolutamente paralisado
diante delas, esperando que cheguem, sem assumirmos nenhuma responsabilidade diante do que
é nosso na vida e, muito pelo contrário, culpando forças deste mundo ou
de fora dele, por tudo que nos chega, e cobrando destas mesmas forças pelo que não nos chega,
pelo que não conseguimos.
A única "garantia" que temos de que vamos chegar a algum alvo, é centrarmos nosso esforço na
plenitude (= perfeição) da emissão. Isto é um outro aspecto do movimento
energético: se o emissor estiver funcionando na mais completa ordem, na sua potencialidade
total, emitirá da forma mais forte e mais correta, e suas chances de chegar
ao receptor, atravessando o espaço entre eles onde se dão as interferências, é maior, porque a
onda emitida estará mais fortalecida. Naturalmente, quanto mais próximo
se encontrar este objetivo (ou, o receptor), também são maiores as chances de alcançá-lo. Isto
quer dizer, traduzindo para nossa vida, o seguinte: cada momento que
eu vivo é o emissor do que vem a seguir — portanto, quanto melhor e mais plenamente eu viver
o aqui e agora, sem ficar pendurado no antes ou no depois, maior a minha
garantia de que vou chegar ao meu objetivo, ao alvo, ao receptor. Por outro lado, quanto mais
este alvo estiver próximo do momento de agora, mais forte a possibilidade
de que eu o consiga. Em outras palavras, mesmo quando eu tenho um objetivo de longo alcance
— como por exemplo, "vou passar no vestibular" — a melhor maneira de
garantir sua conquista é trabalhar com os objetivos de médio e curto prazos que estão colocados
entre o momento em que eu articulo este objetivo e a chegada nele.
Então, ao mesmo tempo em que estou me direcionando para o vestibular que acontecerá daqui a
meses, estou me estruturando, passo a passo, para chegar lá, lidando
o melhor possível com cada momento: se hoje estou cansado, vou dormir, para amanhã estudar
com clareza. Se amanhã quero ir a uma festa, vou me divertir e reabastecer
as energias. Se agora estou disposto a meter a cara, vou virar a noite estudando. E assim por
diante, vivenciando cada situação quando e como ela acontece.
76
Se eu estiver cansado e quiser estudar, certamente vou fazê-lo mal. Se estiver de saco cheio não
adianta a responsabilidade me prender em casa, enquanto eu não relaxar
não vou ficar bem
etc.
Lidar exatamente, ou mais perto disto, com o que está acontecendo aqui e agora é a maneira mais
certeira de eliminar a ansiedade, que é, sem dúvida, a pior inimiga
quando queremos ser bem sucedidos. Ela nos deixa surdos, cegos e atrapalhados. Mas se eu tiver
segurança em cada pequeno passo que dou no meu caminho, farei tudo
com calma e nitidez. Se eu quiser chegar ao topo de uma montanha com o olhar fixado lá em
cima, sem ver o chão onde piso, é muito possível que escorregue numa casca
de banana que está na frente do meu pé, ou que eu torça o pé num buraco que não vi.
Se eu não chegar até aquele objetivo inicial, isto não terá importância: o fato de viver
atentamente cada momento presente traz, de cara, uma sensação de plenitude,
dada pelo aproveitamento máximo do que a vida está nos oferecendo de imediato, de alcançável.
Traz uma segurança, uma autoconfiança, provocada pelo simples lidar
com a realidade, pelo não fugir de coisas boas ou problemáticas que se apresentem. Cada
momento bem vivido, consciente, escolhido significa o preenchimento de um
elo na corrente que é o nosso caminho. O esgotar das vivências atuais não deixa dívidas nem
dúvidas quando eu passo adiante: o que ficou para trás está resolvido
porque não foi negado. Então, estou sempre pronto para a maleabilidade, para entender a
seqüência natural de tudo que é proposto pela vida. E mudo meu rumo sem traumas,
se for o caso. Ou chego aonde havia planejado inicialmente, da maneira mais segura. Portanto,
não interessa realmente se conseguiremos ou não acertar o alvo que
pretendíamos a princípio — na verdade, o caminho faz o objetivo. E o resultado de ter percebido
isto será sempre o mais positivo, ou seja: se eu der todos os meus
passos da melhor maneira, venha o que vier eu saberei manejar, chegue aonde chegar, será o
mais adequado, o melhor para mim, o fruto da seqüência verdadeira e minha.
Vamos dar uma olhada em outro tipo de flash: o sonho, o desejo. Vamos examinar sua atuação:
suponhamos que o meu sonho é ser lavador de pratos num restaurante em
Paris. Conseguirei? Obviamente só vou saber se tentar. Para que serve o sonho? Para me
mobilizar em sua direção. Decido então que vou trabalhar no que quero. Começo
a me mobilizar para arranjar uma passagem, algum dinheiro. A primeira coisa que vai acon-
77
tecer, inevitavelmente, é que eu vou me valorizar por me saber capaz de ir à luta do que é
importante para mim. Isto vai me lançar na vida, no caminho, com outra
segurança. Daí para frente, tudo pode acontecer: posso encontrar o amor da minha vida, posso
ser chamado para um trabalho genial, posso simplesmente mudar de idéia.
Como posso acabar chegando mesmo no tal restaurante em Paris. Não importa o que aconteça:
importa é que aquele sonho me acionou para conquistar o meu rumo, ir ao
encontro do que é meu — e esta era a sua função.
Vejamos agora: se eu tenho, por exemplo, um pressentimento, o que acontece? Digamos que eu
entre num avião e tenha um "pressentimento" de que aquele avião vai cair.
Imediatamente vou começar a fazer uma revisão de tudo que está emperrado ou distorcido na
minha existência. E juro para mim mesmo que, se escapar daquela, vou mudar
tudo: não vou brigar tanto com meus filhos, não vou ser tão exigente com a empregada, vou tirar
da gaveta aquele projeto que está lá há anos, vou me dar aquele presente
que tanto desejo etc. e tal. Para que serviu o pressentimento? Como toda situação-limite
(geralmente representadas por um medo ou ameaça de morte, nossa própria
ou de alguma pessoa que mexe com a gente), sacode tudo que está empedernido, levanta um
questionamento radical e traz à tona todas as coisas que estamos fazendo
de conta que não vemos. É como se nós mesmos tivéssemos chegado a um ponto em que fica
impossível suportar o incômodo destas coisas mal vividas, não resolvidas.
E acionamos um mecanismo inconsciente que surge sob a forma de uma pressão violenta —
como uma situação de pânico — e que nos obriga a não mais disfarçar nada, a
encarar a nossa verdade nua e crua, de um jeito que há muito não conseguíamos mais fazer, de
tal modo nos encontrávamos enredados nos disfarces e nas automentiras.
Bem, o único problema é realmente, depois que atravessarmos a situação em que o medo nos
cutuca, em que o "pressentimento" nos aflige e nos empurra, mantermos na
prática a disposição de modificar para valer o que enxergamos com clareza durante a "pane".
78
O PAPEL DAS COINCIDÊNCIAS
AS coincidências são, sem dúvida, uma coisa altamente intrigante. E instigante. Dos sinais que
recebemos de outros campos, elas constituem, talvez, aqueles que nos
passam como os mais nítidos ou, pelo menos, como os mais fortes.
Jung, na sua indiscutível sabedoria, escreveu brilhantemente a respeito deste mistério no livro
intitulado "Sincronicida-de". Ele classificava como acontecimentos
sincrônicos esta série de coisas inexplicáveis que costumam acontecer em certos momentos da
nossa passagem por este mundo, e que nos levam forçosamente a reconhecer
que alguma coisa tinha ou tem que ser vivida, "por força das coincidências" inegáveis que nos
indicam esta necessidade com total clareza. Ainda que não possamos,
mais uma vez, decodificar isto racionalmente, mais uma vez, por ser uma linguagem além da
nossa mente.
O que ocorreu comigo em relação às coincidências foi, de fato, uma seqüência bastante
interessante e, ao fim e ao cabo, inteiramente elucidativa. Sem nenhuma pretensão,
eu diria que se Jung fosse vivo, esta seqüência que atravessei completaria sua investigação a
respeito da sincronicidade. Em seu trabalho, ele estabelece para nós
claramente a existência inegável destes acontecimentos sincrônicos como um fato. Mas deixa no
ar a pergunta sobre a origem, a formação, a razão deles existirem,
virem a nós. O que me ocorreu — por uma coincidência, exatamente após eu ter lido o trabalho
de Jung... — sem dúvida, completa a sua investigação, respondendo a
esta sua dúvida final que ficou em aberto.
Foi o seguinte: eu havia me envolvido profundamente com um homem, me apaixonado até a raiz
dos cabelos. Do lado de lá, houve também uma mexida forte, mas as circunstâncias
das nossas vidas nos levaram, a ambos, num dado momento, a decidirmos pelo afastamento
radical. É importante notar que esta tal relação já nasceu sob o signo das
coincidências, fortemente
79
marcada por uma série de "casualidades" que nos jogaram na direção um do outro sem que
pudéssemos ter controle da situação.
Pois bem: numa certa altura, então, optamos ambos por um corte radical — ele sumiu para o seu
lado, e eu para o meu. A partir deste momento, comecei a ser literalmente
perseguida pelas coincidências ininterruptas, as mais inacreditáveis e absurdas, que, nas
situações mais inesperadas, me traziam de volta o homem que eu tentava
esquecer a qualquer preço, tornando esta tarefa um esforço gigantesco — e na verdade, inútil.
Mas eu não queria dar o braço a torcer. Se tropeços freqüentes no acaso
não apenas mantinham sua figura presente todo o tempo, como também repetiam a idéia de que
aquela relação tinha uma alta qualidade e merecia ser vivida, a minha
cabeça ia ter-minantemente na direção contrária.
Já havia dois meses que não nos encontrávamos, nem nos falávamos. E as coincidências rolando,
sem parar. Para piorar um pouco a situação, amigos em comum, espantados
com o que estavam vendo acontecer comigo, me relatavam seu maior espanto ainda ao afirmar
que o mesmo — a mesma sucessão de coincidências — estava acontecendo "do
lado de lá", não permitindo que o cara me tirasse da cabeça. Evidentemente, eu preferia não
acreditar nesta história, fazer de conta que não estava vendo. Mas a
coisa era mesmo insistente, e eu fui sendo tomada por uma profunda irritação diante do fato de
que não conseguia me desligar daquela pessoa, porque a toda hora alguma
coisa me lembrava dele, e sempre de uma maneira boa.
Durante o carnaval, eu estava fora com uns amigos, num lugar da serra, isolado, de muito pouco
movimento. Ele estava em outra cidade. E as coincidências ali, firmes,
se sucedendo ininterruptamente. Um belo dia, me vi subitamente andando pela sala de um lado
para o outro, fazendo um discurso indignado para "os De Cima" (os Mestres),
reclamando da "surra" que estavam me dando sem nenhuma explicação plausível, e alegando que
eles não tinham o direito de interferir na minha escolha de afastamento,
me impedindo de esquecer com aquela chuva torrencial de coisas que me mantinham ligada ao
fulano, contra a minha vontade. Falei um bom tempo, irritada mesmo, diante
dos meus amigos, que estavam tão intrigados quanto eu com a razão daquela sucessão
evidentemente exagerada de fatos coincidentes.
Depois de falar bastante, resolvi desligar a cabeça do assunto, e decidi mergulhar no trabalho.
Nesta altura eu estava
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revisando os textos da trilogia de Fréderic (O Aprendizado da Calma, O Aprendizado da Força e
O Aprendizado da Alegria) para entregar à editora. Peguei a pilha de
papéis e puxei "casualmente" uma folha. Bati o olho na primeira frase que me saltou aos olhos, e
estava escrito: "Não pense que neste momento seu companheiro não
está voltado para você". E, mais adiante: "Estejam com Deus e amem-se muito, mesmo na
pretensão desta ausência que, em verdade, não se realiza um instante sequer
dentro de você nem dele. E esta é a incomparável beleza da força única que se chama Amor".
Minha irritação chegou ao máximo com aquela "brincadeira". Joguei longe
os papéis e me dirigi para a janela, querendo ar, querendo respirar, sair do sufoco daquela
"perseguição". Pois acreditem vocês: quando abri a janela e botei olho
do lado de fora, naquele vale isolado onde raramente surge alguém, exatamente embaixo da
minha janela estava parado um carro igualzinho ao dele!
Não pude acreditar no nível da surra. Voltei para dentro, rendida, pedi "autos" e fiz uma trégua
com os De Cima para podermos conversar e chegar num acordo. Ainda
bem que os amigos estavam presentes para poder atestar que eu não estava pirando, pois todos
estavam há meses acompanhando tudo e tão surpresos quanto eu. Sentamos
e resolvi receber um texto (que se encontra hoje publicado no Aprendizado da Alegria), como
resposta ao meu pedido de explicação.
Este texto é um dos que considero mais belos dentre os que já recebi. As Energias do Astral se
apresentaram para falar tomadas de uma funda emoção, que envolveu
a todos os presentes. "Com a voz embargada" chegaram nos pedindo desculpas. Me pediam
desculpas por aquilo que consideravam um "equívoco", um erro na maneira que
haviam utilizado para se comunicar. Diziam que, para elas, era tão explícita, tão óbvia a
qualidade do encontro energético meu com aquele homem, que simplesmente
não podiam compreender a nossa recusa em viver aquela relação, jogar fora aquela oportunidade.
Então, no início, jogaram as coincidências com força, para que nós
dois pudéssemos enxergar claramente o que tínhamos à nossa disposição para viver. Mas quando
nos viram virar as costas um para o outro, não puderam entender nossa
atitude, e aí passaram a mandar as coincidências com mais força ainda, na tentativa de nos
mostrar o que, do seu ponto de vista no campo astral, fora das interferências
de educação, decepções afetivas anteriores e outras do nosso campo que haviam nos colocado
numa posição defensiva, parecia aos Mestres óbvio que devia ser vi-
81
vido. Do seu ponto de vista Hes enxergaram a coisa em sua qualidade essencial, e isto para eles
era o bastante. Não levaram em conta que uma coisa tão rara pudesser
ser recusada em função das nossas marcas e cicatrizes, que as porradas anteriores pudessem ser
mais fortes do que o presente da felicidade possível.
E então Eles disseram: "A única linguagem que conhecemos é a das Emoções, por isso é que
algumas vezes, no afã de tentar manter as possibilidades em aberto, derramamos
ininterruptamente sinais e coincidências que provocam e mantêm a emoção intensa, para que, se
não pela certeza epela confiança, pelo menos pela perplexidade e pelo
questionamento vocês se atenham ao rumo." E prosseguem, após esta explicação: "No entanto,
isto não é o que resolve, o que soluciona. São apenas indicações. A concretude
da escolha, o direcionamento, o pisar dos passos pertence a vocês que estão sobre o chão e nele
não desejam cair nem afundar."
Portanto; há que respeitar com carinho, há que estar muito atento aos recados da linguagem das
coincidências.
82
A CONFUSÃO DOS SINAIS
TEMOS o péssimo hábito de atribuir às Forças do Astral todo tipo de capacidades mágicas,
como se elas tudo pudessem, independente de qualquer coisa. Mas não é verdade.
Aqueles a quem chamamos de Mestres são, de fato, um tipo de energia menos condicionada do
que nós, mas, nem por isso, são independentes da inter-relação de todos
os seres do Universo. Muitas vezes é difícil para nós compreender os sinais que recebemos
destas energias mais amplas, e compreendemos menos ainda porque não conseguimos
decifrá-los.
A primeira coisa que temos que ter nítida é que, da mesma maneira que é tão difícil para nós nos
abstrairmos da matéria, sairmos dos limites da forma em busca das
dimensões maiores, é igualmente complicado para estas energias do nível abstrato entrar nestes
mesmos limites da forma. Elas se comunicam através de vibrações magnéticas
(o que nós conhecemos como emoções). Nós nos comunicamos com palavras e imagens, nomes.
Elas apreendem pela percepção. Nós precisamos traduzir tudo que sentimos
racionalmente, elaborar as sensações em raciocínios para que elas nos pareçam claras.
Então, a conseqüência inicial deste fato é que estas energias algumas vezes ficam sujeitas a
interferências de comunicação. Usam as palavras e têm atitudes baseadas
no significado essencial — e nós temos dificuldade em captar suas mensagens porque vestimos a
essência com incontáveis distorções. São interferências naturais, próprias
do nosso campo, causadas por agentes distorcedores como educação, inseguranças, história de
vida etc. — que nos levam a interpretar tudo do modo mais conveniente.
Ou mais suportável.
Outra coisa que pode acontecer, é que a "confusão de tráfego aéreo", isto é, o tumulto causado
pela quantidade de energias existentes em todos os campos que a mensagem
atravesse, nos leva, algumas vezes, a captar sinais que não nos pertencem.
83
Também podemos estar confusos, embotados, ou preferir mesmo não ver o que está na nossa
cara — e aí não entendemos os sinais. Por outro lado, nem todos eles chegam
para serem decifrados. Os Mestres são como uma parte, um desdobramento da nossa própria
energia, algo como se fosse um outro "eu" colocado no alto de um prédio (conforme
explicamos mais detalhadamente em nosso livro O Equilíbrio da Energia Está no Salto do Tigre),
que de lá fica mandando os avisos, os sinais, para a outra parte deste
"eu" — quer dizer, nós mesmos, que se encontra no rés-do-chão, ou seja, neste mundo. Eles (os
Mestres) nos falam, então, de muitas coisas que alcançam do seu ponto
de vista, mas que, para o nosso, são invisíveis, imperceptíveis. Eles nos falam do que estão
vendo com esta dificuldade natural de colocar a mensagem numa forma
que, para eles, é reduzida em relação ao que percebem. Como se estivessem entrando num funil
para poder chegar até nós. E aí nos enviam tudo numa espécie de código,
que é a linguagem simbólica através da qual se apresentam e nos contactam. Chegam a nós
através de uma imagem, ou de uma frase, passada através de qualquer um dos
processos de canalização que já citamos. Será uma única ou várias comunicações seguidas a
respeito do mesmo assunto, que nos chegará através de um mesmo ou de diferentes
signos, sinais em código. Como receptores, "sacamos" que aquilo não apareceu por acaso, e
entramos no processo natural de querer decodificar, compreender com clareza
o que está sendo passado. Coisa que muitas vezes não conseguimos. E por que razão não
conseguimos?
E simples: imagine que este Mestre que se encontra na cobertura do prédio tem um raio de visão
que alcança, por exemplo, três quarteirões em torno. Ele vai enviar,
dentro da sua freqüência normal, todas as informações que, naquele seu momento de captação,
lhe pareçam interessantes para nós por algum motivo. Vai falar do engarrafamento
de trânsito que começa ou termina no quarteirão seguinte, da chuva que se aproxima, do pivete
que nos aguarda na tocaia da esquina etc, etc, etc Vai dizendo tudo
aquilo que possa nos servir de orientação, ou de uso concreto. De repente ele fala "pipoqueiro".
Isto significa que está enxergando um pipoqueiro colocado no final
do terceiro quarteirão, começando a fazer uma pipoca que estará saindo quentinha, deliciosa,
quando chegarmos lá. E aí começamos a receber este sinal de "pipoqueiro"
— sonhamos com pipoca, lembramos cenas da infância com pipoca, sentimos cheiro de pipoca
no ar subitamente, vindo do nada, notamos várias pes-
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soas comendo pipoca, assim como fotos de jornais e revista que incluem pipoqueiros — e por aí
vai, sempre com o tema em óbvia e inegável evidência. Mas não conseguimos
decifrar o que quer dizer aquela presença insistente. Temos certeza de que todas as evidências
estão ali querendo nos indicar alguma coisa, porém não conseguimos,
atinar com o que possa ser. Não atinamos simplesmente porque ainda não alcançamos um raio de
visão ou percepção que inclua elementos capazes de nos fazer tomar conhecimento
da possibilidade do cruzamento do nosso caminho com um pipoqueiro.
Das duas uma: ou seguimos nosso rumo sem alterações e, um belo dia, ao nos aproximarmos da
posição do aconteci-mento/"pipoqueiro" nos tornamos capazes de compreender
aquele insistente sinal anterior, ou, se virarmos a esquina antes de chegar neste ponto, ou ainda,
se o tal pipoqueiro se retirar dois segundos antes que o vejamos,
isto significa que nunca, enquanto neste plano, neste mundo, compreenderemos de fato aquele
sinal enviado.
O que queremos dizer é o seguinte: não se deve "enlouquecer" na tentativa de decifrar estas
mensagens de outros campos — muitas vezes isto não nos será mesmo possível,
nem mesmo necessário. É preferível encarar por outro ângulo: o de que aquilo que for realmente
importante será compreendido, e o que não for, cairá pelo caminho,
como fruta madura que não foi comida. Na realidade, os sinais são importantes, mas não são o
fator mais importante: eles formam uma linha auxiliar de orientação
enviada pelas nossas Energias Protetoras, mas o mais importante para que nos atenhamos ao
nosso rumo, ao nosso fluxo, é sempre o nosso autoconhecimento e a nossa
clareza e consciência diante das escolhas. Todos os recursos são válidos para nos remeter a uma
sempre maior nitidez de atitudes e decisões — porém nada, jamais,
ocupará o espaço do nosso próprio íntimo, da consulta à essência como o principal orientador do
caminho.
Em qualquer ocasião, no entanto, em que pedirmos uma resposta, ela nos será dada — além
destes sinais espontâneos que já nos são normalmente enviados. É preciso,
nestas horas, ficar atento não só aos vários tipos de sinais do gênero sonhos, intuições etc, mas,
principalmente, à chamada linguagem do cotidiano, pois é nela
que mais freqüentemente encontramos a resposta pedida. Mando para Os De Cima uma questão,
e o retorno pode estar numa frase que ouço de um personagem da novela,
numa manchete de jornal, numa música, numa con-
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versa ouvida na rua, num objeto que cai à minha frente, ou em qualquer outra coisa que atravesse
no meu dia-a-dia. Não tenham dúvidas: pediu, a resposta vem. Mas
é preciso saber detectá-la.
Outro ponto importante é a maneira como colocamos a questão, e, mais ainda, a maneira como
"interpretamos" a resposta dada. Isto porque nossa tendência é cobrarmos
— quando a resposta não nos agrada ou não nos parece correta — sem, muitas vezes,
percebermos que não enviamos a pergunta com precisão. Assim como tendemos a distorcer
o significado da resposta conforme a nossa conveniência de momento.
Uma amiga estava andando na rua, na maior dúvida sobre se deveria ou não telefonar para o ex-
marido. Resolveu lançar a pergunta "para cima", e fez mais: determinou
que, se fosse para ela ligar, queria que a resposta fosse clara e exata, ou seja, que ela encontrasse
alguém que fosse conhecido dela e do ex-marido. Colocou assim,
de uma forma bem fechada, para não haver dúvidas possíveis. Considerando que era meio-dia,
um horário em que é difícil as pessoas andarem no calça-dão da praia em
dia que não é de verão, a tarefa ficou mais difícil ainda. Pois bem: minutos depois ela encontrou
uma mulher que não via há tempos, a qual com o marido formava um
casal com quem convivia enquanto casada. Parou para conversar e perguntou pelo marido da
amiga. Que lhe respondeu que ele estava naquele momento jogando tênis —
justamente com quem? — com o ex-marido em questão. (Esta foi uma típica seqüência fluida
confirmando a intuição.) Não havia dúvidas possíveis. Porém, atenção: a
pergunta feita foi se ela deveria ou não ligar para o ex. Não foi nada a respeito do
encaminhamento da relação, nem havia nenhum tipo de garantia de que o telefonema
fosse ter este ou aquele resultado. Portanto, seria pura tolice, num caso destes, se ela telefonasse,
por exemplo, e fosse mal recebida, atribuir a culpa à resposta
que lhe indicou apenas que deveria telefonar — talvez até mesmo para que parasse de ficar na
expectativa de como seria a reação dele.
Quanto mais exata a maneira de perguntar e quanto mais isenta, mais honesta a análise da
resposta, melhor o nosso aproveitamento da orientação recebida. Não vale
trapacear, é um atraso.
Um dos motores mais potentes na emissão da energia são os pedidos. Quando comecei a receber
o contato de Fréderic, e que eu não acreditava em nada e muito menos
entendia o que estava me acontecendo, ele sempre me dizia: "Peça, mesmo não
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acreditando e mesmo não sabendo a quem". Isto vale para todos: não importa mesmo se você
acredita ou não acredita na existência de alguma Força maior, o que importa
é que chame, quando quiser, quanto quiser, por sei lá o quê, mas chame. Cada vez que a gente
faz um pedido, está fortalecendo a ligação do canal, a sintonia com
a Fonte. Está permitindo que as Forças do Astral executem seu trabalho, chegando até nós com
maior facilidade. Eles, os Mestres, se intitulam "energias-de-resposta".
Isto quer dizer — inclusive pelo fato de que o respeito ao nosso livre-arbítrio impede que nos
invadam, que entrem em nossa vida sem permissão — que quanto mais
emitirmos daqui para Eles, mais retornos teremos, mais possibilitaremos a sua chegada, já que o
movimento da energia é circular.
Portanto, nada mais errado do que, de novo, este conceito que enfiaram na nossa cabeça desde
cedo, de que não podemos pedir — porque "não temos o direito", porque
"não somos merecedores", para "não incomodar" as entidades superiores, ou até mesmo porque
se pedirmos muito, vamos "gastar os cartuchos", e, na hora em que realmente
precisarmos, não conseguiremos nada. Grande mentira. O que acontece é exatamente o contrário:
quanto mais se pede, mais se recebe. Se eu pedir mil por cento e receber
cem, está ótimo. Mas se eu pedir dez por cento, as chances são de que receba um por cento, ou
até nada. Por isso, é preciso pedir tudo o que quisermos, quando quisermos.
Pedir não ofende ninguém, não desvaloriza ninguém, não cria "dívidas" com o Astral. Muito
pelo contrário —
fortalece a relação.
Como diz Fréderic, não é nem importante, sequer, que você tenha clareza do que deseja pedir.
Ele fala: "Se você não sabe o que deseja para o café da manhã, peça
o café completo a que você tem direito, e depois você escolhe o que vai comer. Vocês pagam
uma diária muito cara nesta vida, têm direito de pedir
o café completo".
Mas existe aqui um "truque do pedido". Ele consiste basicamente numa sapiência simples, a de
não fechar o pedido, direcionando-o. Quanto mais em aberto, mais facilitamos
a correta entrada da turma do Astral. Então é assim: quando eu fizer o pedido, uso esta
formulazinha: "Me dá o que é meu". E acrescento: "E me faz entender porque
que é meu". Por que isto? Porque quando estamos fazendo um pedido específico, certamente
estaremos pedindo em função de desejos gerados pelo que está nos acontecendo
e nos envolvendo dentro do campo imediato, do nosso momento de vida na matéria. É natural
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que isto aconteça. Mas como já sabemos, o contexto material elabora muitos enganos, e faz parte
da nossa caminhada por aqui estar o tempo inteiro esbarrando neles
e nos livrando deles. Estes enganos ocorrem justamente quando vou ao encontro de uma coisa
que me parece boa para mim, mas, na verdade, não tinha nada a ver. E cada
ida e volta destas representa com certeza um nível de sofrimento.
Quando eu dirijo meu pedido para cima, para além deste contexto enganoso, dizendo "me dá o
que é meu", na realidade estou conectando com o eixo no seu direcionamento
mais preciso, estou pedindo para ser guiada na direção do que realmente me pertence, do que é
de fato o meu caminho. Só que isto, muitas vezes, pode me levar por
rumos e acontecimentos que, quando eu recebo, não vou compreender porque me foi trazido para
viver. Então é importante pedir também para que eu entenda por que razão
aquilo que me está sendo trazido é que é o passo a ser cumprido para que eu realize minhas
metas.
Um exemplo corriqueiro: eu lanço o pedido — "Me dá o que é meu". Neste momento, no fundo
da minha cabeça, articulei que, se estou pedindo a uma Força Superior que
me dê o que é meu, e estou desejando, por exemplo, namorar uma pessoa, com certeza Eles
"captaram" o subtexto e vão me dar aquela pessoa, embora eu não tenha direcionado
explicitamente o pedido. Aí o que acontece? O cara começa a namorar outra. E eu não consigo
entender. Dali a dois meses, fico sabendo que ele aprontou a maior sujeira
com a namorada. E neste momento consigo entender claramente porque é que o "meu" tinha sido
não ter o cara em meu caminho.
Pedir, geralmente, é a maneira mais simples de obter. Na vida, tendemos a nos prender por
orgulhos, constrangimentos, vergonhas, medo de ser visto como fracos —
e acabamos, muitas vezes, não obtendo porque não expressamos o desejo de obter. E mais uma
vez, esperamos que o outro "adivinhe" nosso desejo secreto, e cobramos
que não tenha atravessado as paredes que nós mesmos colocamos. Se eu estiver numa aula, não
entender o que foi dito e não pedir que a explicação seja repetida, certamente
vou sair tropeçando na compreensão da matéria dali por diante. O mesmo ocorre em relação aos
ensinamentos que vêm "de cima". Por isso, sempre que eu não compreender
algo que me parece ser uma mensagem, devo pedir uma explicação mais clara, uma confirmação.
Se não receber, pode ser por três motivos: ou porque eu "delirei", e
não havia mensagem nenhuma (o que é comum de acontecer, já que sempre
88
nos é mais fácil ficar esperando que qualquer mágica externa nos socorra e resolva nossos
problemas), ou porque é algo que veio justo para nos intrigar e, assim,
nos instigar a agir, ou então, é porque faz parte daquele bolo de coisas que não tinha mesmo uma
importância primordial, embora possa ter parecido, ou até ter sido
e deixado de ser porque as coisas mudaram desde o instante em que os Mestres mandaram a
mensagem até aquele em que nós pedimos a explicação de sua razão de ser.
Mas geralmente, as coisas que realmente temos que saber nos chegam claras. É mais fácil
acontecer de nós estarmos fazendo de conta que não estamos entendendo para
evitar que nos seja exigida alguma mudança, do que os sinais serem de fato mal enviados.
89
O TRUQUE DO TERCEIRO ANDAR
O QUE chamamos, dentro da nossa linha de trabalho, de meditação ou canalização, consiste em
desenvolver a capacidade de funcionar simultaneamente na horizontal e
na vertical, ou seja, no campo material e fora dele ao mesmo tempo. Se não podemos chegar à
cobertura por enquanto, como os nossos Mestres, podemos, com certeza,
alcançar pelo menos o "terceiro andar", isto é, um ponto de vista mais amplo do que a visão
imediata à minha frente. Traduzindo para o cotidiano, o contato constante
com o canal ocorre quando eu estou vivendo uma situação, estou fazendo tudo que me cabe
numa cena qualquer mas, ao mesmo tempo, sou um observador desta cena. O que
quer dizer que eu posso viver tudo integralmente, mas não ficar contaminado pela emoção do
momento de modo que isto me atrapalhe quando naturalmente eu tiver que
seguir adiante.
Para poder ir em frente sem ficar com o pé preso no passado, duas coisas são fundamentais: uma,
sobre a qual já discorremos, é esgotar toda a vivência da situação
presente, de modo a resolver o que deve ser resolvido na hora em que acontece. A outra é ser
capaz de também compreender cada momento presente, cada acontecimento
de agora, dentro de sua real posição de relatividade, ou seja, ter claro sempre que cada momento
e cada situação são na verdade parte de uma grande cadeia que é
a nossa vida. Nada é um ponto final, portanto não há porque ficarmos paralisados ou enredados.
Como diz Fré-deric: 'Tudo é apenas, sempre, um meio do caminho".
Um exercício simples para nos ajudar a desenvolver a canalização dentro do dia-a-dia é o que
chamamos de truque do terceiro andar. É fácil, e até divertido: quando
eu estiver numa situação que me pareça difícil de transpor, em que esteja em-bananado, saio do
primeiro andar e vou para o terceiro. Se eu me sinto num labirinto
e dou de cara com a parede, vou achar que ali é o fim da linha, caso mantenha a minha visão no
pon-
90
to de vista horizontal. Mas se eu "subir para o terceiro andar" e olhar de cima, verei nitidamente
que há várias possibilidades de saída, e que o fato de ter dado
de cara com a parede significa apenas que o caminho não era por ali. Sem dramas, dou meia
volta e engreno outro rumo.
Se eu estiver num engarrafamento de trânsito, por exemplo, a tendência é que eu me irrite
profundamente, me desgaste, me aborreça. (O "engarrafamento" simboliza
aqui qualquer episódio da minha vida em que me sinta "embrulhado", travado.) Esta emoção de
irritação, raiva, desânimo, impotência — tudo misturado — me contamina
e eu tendo, inevitavelmente, a perder a noção de que tudo é passageiro, nada permanece igual
para sempre. Quando estou envolvido com o engarrafamento, nem sequer
me ocorre que ele não vai durar eternamente. E eu me deixo levar pelo desgaste. Quando
finalmente ele cede, e os caminhos ficam livres à minha frente como é natural
que aconteça, provavelmente, vou estar tão cansado, tão cheio daquela irritação, que sequer vou
conseguir usufruir da agradável sensação de alívio que o fluir livre
traz após um entupi-mento de trânsito. Então, quando eu me encontrar, de repente, num
engarrafamento, uso o truque do terceiro andar: "subo", e tomo a consciência
de que o impedimento não é, não foi e nunca será eterno.
Do terceiro andar eu posso ver claramente que o trânsito estará livre daqui a dois quarteirões.
Quem sabe, posso até identificar a causa do tumulto. A consciência
de que aquela dificuldade se dissolverá logo ali na frente, fatalmente, me faz mudar
completamente a relação com o momento em que ela está me acontecendo. Sei que
a dissolução do problema é apenas uma questão de tempo. E de não deter o movimento, indo ao
encontro do instante em que o alívio chegará. Com esta compreensão, meu
nível de ansiedade cede, podendo até desaparecer por completo. E a serenidade me permite ter
clareza para lidar com a situação presente da maneira menos desgastante
e dolorosa, da maneira menos complicada. Então eu vou sentir a chateação, o aborrecimento
inerente a uma situação em que fico preso num engarrafamento de trânsito,
mas isto não vai me invadir, me dominar. E eu vou, quem sabe, ligar o rádio do carro e cantar, ou
observar as pessoas em volta e até rir de suas reações, ficar atento
para não ser vítima daqueles que tentam ultrapassar de qualquer jeito etc. e tal. E, quando a
estrada ficar livre novamente, aí sim, serei inundado pelo prazer nesta
nova situação, da sensação aliviante de novamente poder seguir o
91
meu caminho em liberdade e sem tropeços, porque terei vivido no momento anterior a emoção
que a ele pertencia na medida correta — sem negar nem exagerar, e isto
me preparou para receber a emoção do momento seguinte sem desequilíbrios.
Para subir ao terceiro andar durante um acontecimento difícil da sua vida, tudo que você tem a
fazer é projetar algum acontecimento que provavelmente ocorrerá daí
a algum tempo. Não importa, é claro, se o que você projetou naquele momento vai acontecer
mesmo ou não: naquele momento, esta projeção é um artifício de cálculo
que você está usando para poder realizar o truque, para poder aliviar sua barra pesada. Um dia,
por exemplo, eu me encontrava numa reunião de trabalho, quando explodiu
uma discussão violenta, e, como um rastilho incon-trolável de pólvora que pega fogo, todos os
presentes começaram a ser contaminados por uma agressividade violenta.
Foi uma loucura. Todo mundo falava alto, ninguém se entendia, o dono da empresa levantou,
agarrou o diretor pela gola xingando, o outro não podia reagir como queria,
começou a ficar roxo, as veias saltando de raiva no pescoço, enfim, um caos absoluto, uma
baixaria só. Eu estava também participando da briga, atacando e sendo atacada,
quando, de repente, pensei: "Daqui a meia hora vai estar todo mundo no bar lá embaixo
comentando a briga que está ocorrendo aqui agora". Esta projeção me jogou imediatamente
no terceiro andar, e eu fui tomada pela calma.
Continuei, é claro, participando da discussão, mas já sem me sentir tonta, cega pelo nível de
descontrole das pessoas. Casualmente eu trazia um cristal no bolso,
que coloquei suavemente na nuca do diretor atacado para que ele se acalmasse (ele nem viu).
Enquanto continuava discutindo, pedi aos De Cima que fizessem "baixar"
uma nuvem cor-de-rosa imaginária no ambiente, para acalmar os ânimos. E pude,
principalmente, evitar que a minha emoção distorcida me traísse, me impedindo de enxergar
os ataques e encontrar os argumentos corretos. Evitei que a cegueira do caos reinante provocasse
um desastre real e indesejado, como a perda do emprego. Na verdade
projetei ainda mais longe para me sentir com segurança no terceiro andar: o trabalho em questão
era uma novela de tevê. Na hora que a briga eclodiu, as ameaças eram
do nível: "Vamos tirar do ar já, demitir todo mundo". E as pessoas embarcaram nesta ameaça,
criando a confusão a partir daí. Só que no terceiro andar, dava para
ver que, passado aquele momento — que era o quarteirão onde o engarrafamento estava
acontecendo — obviamente ninguém ia
92
fear a novela do ar de repente, pois havia o público e vários ¦KTocinadores envolvidos, havia a
necessidade concreta de ¦eencher o horário com outro programa e,
mesmo que fossem tenitidos, os profissionais ali presente representavam uma mão-K-obra
especializada e experiente, que não sobra no mercado e trabalho, e não ficariam
desempregados por muito tempo. Ese raciocínio — ou esta percepção — imediatamente colocou
Eraele episódio no seu devido lugar de "tempestade em copo rigua", e foi
muito mais fácil atravessá-lo.
Outros pequenos exemplos de como acionar o truque do fcsceiro andar: numa ocasião fui
acompanhar uns amigos até bra local que não conhecia. Era de noite, eu estava
dirigindo um carro que tinha vários problemas e não me dava a menor Segurança. Chovia, e
ainda pintou uma neblina. Entrei por uma ladeira que nem sei como subi,
mas não dava para parar. Ao chaegar lá em cima, fui tomada de uma tensão horrorosa, de um
beeeio brabo mesmo de que não conseguiria descer, de que o prro ia escorregar,
sei lá o quê. E a tensão começou a me do-banar. Então eu saquei, é óbvio, que havia mesmo um
risco real -as circunstâncias, mas que o meu quase-pânico não só era
desprroporcional à situação concreta, como se virasse mesmo um pânico, com certeza ia me
provocar um acidente. E aí usei o
truque: projetei: "Daqui a no máximo
quarenta minutos vou estar em casa, confortavelmente, ouvindo um som, tomando um
café e pensando no que será que me deu que me fez sentir esta pensão despropositada
que quase me faz não enxergar mesmo o caminho e quase me leva a não conseguir dominar o
carro, logo eu que já passei tanto sufoco na direção e sei que tenho sndições
de atravessar uma situação destas". E esta projeção me deu a calma necessária para relaxar,
aproveitar o papo e,
na hora de descer, me cercar dos cuidados necessários
e tudo sair da melhor maneira.
De outra vez eu ia no avião com uma conhecida, para uma cidade onde, assim que descesse do
avião, deveria
fazer uma palestra para um auditório com mais de
quinhentas pessoas e, nos dois dias seguintes, ministrar um curso de
cristais. Só que eu estava com faringite, laringite, trinta e nove graus
de febre, completamente
afônica, a voz não saía de jeito nenhum. Evidente que eu estava indo porque a minha disponibi-
idade interna era total, a vontade de dar o curso era real.
minha
acompanhante estava apavorada e me perguntou como é que eu ia fazer para resolver o
problema, se não era melhor desistir. Escrevi um bilhetinho para ela: "Não sei
o que vai acon-
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tecer. Mas com certeza, daqui a três dias estaremos no avião de volta, comentando qual a solução
que foi dada". (Eu já sabia, por outro lado, que, se fosse para
não ir, o alarme interno teria soado, brecando a minha disponibilidade emocional — o que não
aconteceu, apesar do aparente obstáculo da doença). E, de fato, uma
solução inesperada foi dada: o rapaz que operava o som do auditório estava pessoalmente
interessado no assunto. Empenhou-se então em dar um jeito. E foi possível,
então, transformar os meus sussurros em palavras audíveis para o público, graças ao seu trabalho
na mesa de som. Acabou que, além do planejado, dei um curso extra
no horário da tarde.
Numa outra vez, estava sentada com meu pai na sala de sua casa vendo televisão, enquanto
aguardávamos a hora em que ele deveria ir ao médico fazer um exame que poderia
ser especialmente doloroso. A espera pela dor, naturalmente, o deixava inteiramente tenso e
ansioso, o que só piorava, pois faria a dor ainda mais perceptível. Então
eu disse a ele: "De fato, o exame é chato. Mas daqui a duas horas, no máximo, nós vamos estar
de novo aqui, assistindo a novela que você gosta (o que chamou uma
possibilidade agradável) e você vai estar contando como foi o exame que já passou". E ele
relaxou bastante a ansiedade.
A subida ao terceiro andar tem um efeito imediato e palpável, e, quanto mais a praticamos, mais
ela nos permite aprender a não sofrer mais do que o necessário, nem
ficar cegos numa falsa euforia. Esta clareza sem dúvida traz um nível de equilíbrio maior, mais
permanente, e diminui o risco das perdas que nos são tão difíceis,
porque tendemos a não pisar tanto em falso, a tropeçar menos, se temos mais clareza do que cada
trecho do caminho nos pede.
Os exercícios de meditação (=canalização) em que paramos um pouco, abrimos um pequeno
parênteses no ruído do dia-a-dia para, através do silêncio interior, alcançar
um contato mais nítido com as profundidades da nossa essência e seu eixo, estes exercícios
também constituem um aprendizado poderoso para chegarmos a funcionar no
terceiro e no primeiro andar simultaneamente, na horizontal e na vertical sempre que necessário.
Devem ser praticados como uma abertura deste canal, e um fortalecimento
das estruturas de contato com as forças maiores que já foram conquistadas. Porém jamais devem
ser colocados e praticados como fator de alienação, de desligamento
da nossa vida real. Muito pelo contrário, todo este treinamento tem por objetivo inalienável nos
fazer existir aqui e
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agora, dentro do que somos e queremos, da maneira mais plena, mais rica, mais cheia de
gratificações e recompensas.
Existem hoje em dia inúmeras sugestões, em toda parte, de exercícios deste tipo. Além, é claro,
de todos aqueles que nós mesmos podemos criar, qualquer ritual através
do qual nos sintamos fluir para além da matéria é válido. No entanto, vamos pôr na cabeça uma
verdade simples e eficiente: não adianta acumular informações só por
acumular. Não adianta saber inúmeros exercícios, ler quinhentos livros, fazer um curso atrás do
outro, e não utilizar realmente nada. É preferível saber apenas um
exercício, com o qual nos sintamos bem, e realmente praticá-lo.
Alguns dos exercícios sugeridos pelos Mestres com quem trabalho estão descritos no nosso livro
O Equilíbrio da Energia Está no Salto do Tigre. Outros virão sugeridos
no final deste livro que você está lendo. Se lhe bater bem, se sua intuição assim indicar, escolha
os que quiser e faça deles o melhor uso para sua vida.
95
O CONCEITO DE CURA
O OBJETIVO de todo este trabalho é alcançar aquilo que chamamos de equilíbrio de energia, ou
seja, o ponto em que você consegue vivenciar tanto as coisas boas quanto
as ruins, sem ser por elas desestruturado. A imagem que os Mestres mostram para simbolizar o
que é a conquista deste ponto de equilíbrio é bastante interessante:
é a imagem do surfista que sobe em sua prancha e vai seguindo os movimentos da onda — ele
sobe, desce, vira, mergulha. Mas não cai. E esta permanência no ponto de
equilíbrio se deve a um sutil jogo de atenção entre o mover-se e o não mover-se. Voltamos a
frisar: estar equilibrado não significa a ausência de problemas em sua
vida, mas sim, que você vai saber lidar com eles.
A palavra "cura" não nos é muito bem-vinda por vários motivos: ela vem sendo muito mal
apropriada ultimamente, principalmente quando se refere às práticas alternativas
ou esotéricas — nestes casos, já surge carregada de possibilidades "mágicas" que, na verdade,
não existem. Além disto, é empregada sempre num sentido muito restrito,
referente apenas ao conserto dos males físicos. É muito mais do que isto. Cura significa,
realmente, a conquista ou o resgate do equilíbrio total, sob todos os pontos
de vista. Isto porque não há desligamento entre as partes da energia que nos compõe: físico,
emocional e mental são três corpos contínuos e entrelaçados, e o que
ocorre com um afeta necessariamente o outro.
Isto quer dizer, por um lado, que tudo que aparece de errado no aspecto físico, que é o mais
aparente e mais externo, é, na realidade, conseqüência de um desequilíbrio
mais profundo, de alguma interferência que atingiu o eixo central e veio se alastrando até se
evidenciar no físico. Por outro lado, isto significa também que, embora
todo trabalho de cura — ou de recuperação do equilíbrio — vise, na verdade, fortalecer o eixo,
ele pode ser acionado, elaborado a partir de qualquer uma das
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partes da nossa energia — emocional, físico ou espiritual, porque estará sempre atingindo o todo.
O que é preciso, se começamos pelo lado físico, é ter o cuidado
de perceber que a eliminação do sintoma aparente é apenas a limpeza da superfície, e ter atenção
para não interromper qualquer processo de "tratamento" enquanto
não sentirmos firmeza na reabilitação a nível mais profundo. Caso contrário, podemos
experimentar um constante ritmo de "recaídas" que, na realidade, são provocadas
por uma limpeza que não atingiu o chamado cerne da questão, literalmente.
O processo de formação daquilo que chamamos de doença se dá da seguinte maneira: alguma
coisa está acontecendo na minha vida com a qual não estou conseguindo lidar.
Jogo então o problema no corpo e passo, com uma justificativa plausível, sem culpas, a me
ocupar com este quadro, já que todo mundo sabe que "a saúde vem em primeiro
lugar". Isto é uma defesa natural de todo ser humano, ou melhor, de todo ser que possui uma
representação física neste mundo, como as plantas e os animais. Muito
bem: se este processo ocorrer normalmente, enquanto eu me ocupo da "doença" os outros lados
da minha energia ficam livres da tensão provocada por uma atenção permanente,
pela expectativa da resolução, e elaboram o problema que provocou aquela "fuga". No momento
em que o problema se resolve, em que a situação de vida se soluciona,
a tendência é de que o mal do meu corpo físico também se re-pere espontaneamente. Mas se eu
não conseguir resolver o broblema que está na origem da história toda,
então o que vai acontecer é que o distúrbio físico permanece, se cronifica, e vi- aquilo que
realmente podemos chamar de doença.
Por isto mesmo é que uma das formas mais fáceis de fazer "diagnóstico" é localizando qual era a
situação de vida que
nela a pessoa estava tendo no momento em que a
doença surjiu, ou qual é a situação de vida na qual ela permanece e que
faz com que a doença igualmente não se vá. Este tipo de detexão não exige nenhuma
complicação, muito
pelo contrário: via regra, é algo bastante linear, literal, do tipo: se é uma
situação que eu não quero encarar, ou prefiro fazer de conta que não
sinto ou não suporto
olhar, vou fazer um problema na vista, ou rosto. Se é algo que eu não consigo articular, vai
atingir
alguma articulação do corpo. Se é uma dificuldade de elaborar
emoções afetivas, expressar o afeto, vai atingir o coração, a circulação. E assim por diante.
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Esta defesa através do corpo se faz como parte integrante dos processos da natureza. Não há
nada de errado com isto. E geralmente, quando conseguimos localizar o
problema da vida que levou a pessoa a se proteger no quadro de desequilíbrio corporal, ela pode
chegar a um ponto de equilíbrio até mesmo permanecendo com a própria
doença. Isto porque o fato de entender o processo de formação e atinar com a causa faz com que
a relação doente/doença se modifique completamente. A pessoa passa
a não se sentir mais impotente, incompetente diante daquele mal que a assalta, e entende que a
doença não é uma coisa imposta, que ocorreu à sua revelia, mas sim,
uma espécie de recurso que ela está utilizando, uma coisa postiça, que não pertence a ela, mas foi
como que emprestada para ajudar a suportar uma situação. Como
uma bengala mesmo — coisa de que algum dia na vida todo mundo precisa.
O segundo passo importante quando estamos nos dispondo a curar alguém, é justamente
compreender que ninguém cura ninguém. Como disse uma homeopata amiga minha, Cláudia,
"no máximo você pode despertar o curador que existe dentro do outro". Esta visão está
corretíssima. O máximo que você pode fazer é trocar a lâmpada. Se tudo estiver
acontecendo no nível da lâmpada, ótimo. Mas o mais provável é que haja alguma coisa no
circuito interno, no fio oculto na parede, que não está ao seu alcance consertar.
Naturalmente isto não significa que se deva cruzar os braços diante de situação alguma. Muito
pelo contrário, se temos algum instrumento para utilizar, nem que seja
uma palavra ou um abraço, devemos lançá-lo para auxiliar a pessoa. Se alguém está afundando e
você tem uma
bóia, jogue. Dependerá sempre da pessoa o gesto, a disponibilidade
de estender a mão e agarrar o socorro. Dependerá até da capacidade de fôlego que lhe reste. Mas
se ninguém jogar a bóia, com certeza ela vai se afogar. Todo mundo
pode escolher não se salvar. Porém não há nada pior do que sucumbir por falta de chances.
Portanto, é muito importante aprender a pedir o socorro quando precisamos,
e a atirá-lo para quem necessita, mesmo que pareça um caso sem esperança ou que a pessoa se
mostre impermeável.
O que esta premissa de que ninguém cura ninguém significa, por outro lado, é que não devemos
nos desesperar quando usamos todos os recursos e nada resolve, nem muito
menos entrar numa de que vamos curar de qualquer jeito só porque aprendemos a utilizar um
instrumento qualquer, e já sabemos que qualquer um pode provocar uma cura
em si mesmo
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ou no outro. Nenhuma destas duas atitudes corresponde à realidade. A realidade é a de que,
novamente aí, vamos encontrar o princípio básico da comunicação: para
que ela se estabeleça, é preciso que emissor e receptor estejam abertos. Não basta eu querer curar
— é preciso que o receptor da cura esteja querendo de fato recebê-la.
Se não for assim, nada vai acontecer mesmo. Do mesmo jeito que nada vai rolar se eu fizer todo
o meu teatro, usar mil regras e rituais, mas não estiver internamente
a fim de elaborar a cura. Na verdade, quando existe um acordo interno mútuo entre curador e
curado, tudo se torna possível, e os instrumentos são indispensáveis,
pois eles são, na verdade, apenas representantes da nossa vontade. Para que uma cura ocorra,
basta, num nível profundo, total, verdadeiro, acionar a vontade numa
determinada direção. E aí veremos os milagres como os de Jesus quando dizia apenas: "Levanta-
te e anda" e tudo obedecia. Mas, para isto, precisaríamos ter a firmeza
de emissão e manutenção da vibração desta vontade, desta energia de modificação, que
geralmente não temos.
Nossas inseguranças nos traem. Vacilamos. Quando se trata de alcançar uma coisa boa, de
vivenciar um sucesso de qualquer tipo, a dúvida nos ataca pela base, e logo
colocamos um "se" na história, enfraquecendo a emissão de energia. É por isto que temos a
impressão de que as chamadas "Forças do Mal" conseguem ser mais bem sucedidas
— é porque elas não vacilam na busca de seus objetivos. Se eu me proponho a conquistar algo
que é bom para mim, seja uma casa nova, uma relação afetiva ou uma cura,
imediatamente começo a me questionar, a duvidar de que realmente consiga, a não me achar
merecedor, e ainda por cima, a ter medo de conseguir e ficar vivendo na
apreensão da possível perda. Mas se o objetivo de alguém é destruir, fazer o mal, a tendência é
que esta pessoa parta com total convicção para atingir seu objetivo,
sem nem sequer parar para pensar. E então ela alcança com mais facilidade o que queria,
simplesmente porque não hesitou. É claro que haverá sempre um retorno. Mas
isto já é outra história.
Pois como íamos dizendo, é preciso então, para que a cura opere, que exista este "acordo"
interno entre quem a faz e Quem a recebe. Isto ultrapassa, sem dúvida,
o nível do raciocínio. É alguma coisa bem mais profunda e bem mais complexa
eo que a cabeça que vai determinar se aquela pessoa quer ser curada, se ela pode ser curada,
se ela consegue realmente dispor daquela defesa, jogar fora a bengala. Este buraco é
muito mais profundo do que a compreensão aparente dos fatos. Por
99
esta razão é que acontecem coisas para as quais não encontramos uma explicação, como quando
alguém diz o tempo todo — mantém um discurso — de que quer a cura, e
tudo se faz, mas nada adianta. Isto significa que o discurso não corresponde à verdade do eixo.
Ou, ao contrário: quando é aquela situação em que o doente não acredita
em nada, às vezes, até, um caso muito complicado, e, subitamente, a cura acontece. É justo
porque dentro daquela pessoa alguma coisa havia aberto o espaço para a
resolução.
Não tenham dúvida, porém, de que tudo deve ser sempre tentado, se a intuição assim o indicar.
Trabalhar os instrumentos de cura, sejam quais forem, é sempre uma
forma de emitir para a pessoa uma energia que vai mexer com ela no sentido de provocar que sua
estrutura se modifique na direção do equilíbrio, não fique paralisada.
E, de repente, pode dar um "clique", até mesmo permitindo uma cura inesperada e "milagrosa".
No mínimo, a intenção de ajuda traz um conforto, dentro do possível
e também aí, do nível de aceitação de quem recebe. Há pessoas que são totalmente fechadas para
o alívio do sofrimento, até mesmo por precisarem utilizá-lo para aliviar
a carência chamando a atenção dos outros, ou para se manterem escondidas atrás dele por se
sentirem fracassadas e incompetentes dentro da vida.
Nada vai ser posto na sua frente para curar, nenhum caso, com o qual você não possa lidar. Se o
seu sinal interno for verde, siga em frente, mesmo que "não saiba"
o que fazer. Faça o que lhe der na telha, qualquer coisa, e entregue aos De Cima a solução,
porque, nesta hora, você é apenas o veículo do trabalho deles. Você pode
se embananar por achar que o caso foge à sua competência, por se sentir pequeno diante da
situação, por achar que o seu cansaço físico ou o seu envolvimento emocional
não lhe permitirão saber como agir. Não importa: se alguma coisa dentro de você estiver dizendo
"faça", então faça. Entregue aos Mestres e prossiga, seja como for.
Não é de sua responsabilidade o resultado, e mal não vai fazer. Mas será de sua responsabilidade
omitir-se quando for chamado internamente. Pelo contrário, seja
qual for a situação que se apresente, se você, por dentro, não estiver sentindo mesmo,
claramente, que
deve se meter com aquilo, pode virar as costas tranqüilamente,
porque aquela questão não era para ser resolvida por você, seja o que for.
Não ultrapasse jamais os seus limites para cuidar de ninguém, senão, ambos vão capotar, você e
a pessoa. Nem muito
100
menos se meta a gastar energia com outra pessoa se não estiver você mesmo energizado. É muito
comum a gente ouvir de terapeutas, tanto os de corpo quanto os psicoterapeutas,
que, ao fim de um dia de trabalho, se sentem completamente exauridos. É claro: passaram todo o
dia dando energia sem se reabastecer jamais. Outra coisa comum de
acontecer é encontrarmos aquele tipo de pessoa que faz um trabalho de caridade qualquer, tipo
trabalha num centro espírita, ou faz um trabalho de cura que todo mundo
considera formidável e admira pela abnegação, e, de repente, esta pessoa, que no conceito
tradicional de caridade mereceria o céu, começa a sofrer todos os tipos
de desequilíbrio. Lógico: deu tudo que tinha sem se alimentar e "esvaziou", abriu os flancos, se
enfraqueceu energeticamen-te. Muitas vezes, quando estamos tratando
de uma pessoa, é comum sentirmos o que ela está sentindo. Se ela tem uma determinada dor, nós
a sentimos, se tem angústia, parece ter passado para nós etc. Isto
acontece como uma forma de ficar nítido para nós que o ponto que devemos tratar é aquele
mesmo, nossa abordagem está correta. Se estivermos com a nossa estrutura
bem firmada, protegida, estes sintomas captados se diluirão naturalmente ao deixarmos a pessoa.
Mas se estivermos vulneráveis, de alguma forma o desequilíbrio da
energia do outro vai nos atingir. E vai acumulando, acumulando sem que a gente se dê conta, até
que nos derruba "inexplicavelmente". Por isto recomendamos expressamente
que não se mexa com a energia dos outros sem antes alimentar a nossa, ou, pelo menos, se for o
caso de uma emergência, devemos nos energizar imediatamente após lidar
com o outro. O ideal, é claro, é manter-se permanentemente protegido, trabalhando o
fortalecimento do canal. Esta proteção para ser facilmente conseguida pela convivência
constante, de qualquer modo que se prefira, com os cristais. Ou, melhor ainda, com a prática de
qualquer exercício de energização, inclusive os sugeridos no livro
Salto do Tigre ou no final deste.
Pode ocorrer que a pessoa que está sendo tratada sofra um processo de descarga, uma espécie de
catarse. Na verdade, isto pode acontecer não só durante uma cura,
mas quando se estabelece contato com qualquer coisa que acione as Energias do canal, porque
este contato já é, em si, um processo de cura, mesmo que não esteja sendo
acionado conscientemente, através de instrumentos ou de gestos rituais. Estas descargas são
absolutamente normais, e não significam que a pessoa está "passando mal",
embora possa parecer. É preciso saber, primeiro, que
101
este tipo de descarga so ocorre quando alguma coisa "lá em cima" nos dá o sinal verde, o que
quer dizer que podemos soltar a carga naquela hora e local, porque teremos
respaldo, podemos contar com algum tipo de apoio para nos ajudar a elaborar. É por isto que, às
vezes, alguém "despenca" sem aviso na nossa frente, ou nós despencamos
inesperadamente na mão de alguém que às vezes não conhecemos: é porque alguém "lá em
cima" "soprou" dentro de nós: "Pode ir que vai dar para segurar. Esta é a hora".
Na verdade, sempre que acontece uma coisa destas — que pode se apresentar sob várias formas,
como uma dor forte, vômitos, um acesso de choro, medo, angústia etc.
— nós vamos entrar e sair da coisa sozinhos, é sempre um movimento circular. É apenas a
explosão de uma necessidade de limpeza que já estava latente dentro de nós
há muito tempo. Depois que "descarregamos", vem o alívio, e podemos resolver o problema
melhor.
É como quando a gente tem um enjôo muito forte. Aí você vomita, e
vem o alívio. E então você relaxa e se cuida direito. Só que, na maioria das vezes, nos sentimos
inseguros, temos a compreensível necessidade de um apoio externo
para podermos soltar, sem limitações, tudo que precisamos. E nos sentimos mais seguros se
houver alguém que nos passe confiança por perto. É como se quiséssemos
alguém para pôr a mão na nossa testa enquanto vomitamos. Na verdade, isto não está alterando
nada, nós mesmos é que estamos pondo tudo para fora na proporção e intensidade
em que precisamos, até alcançar o alívio total. Mas aquela mão na testa nos dá segurança para
soltarmos tudo sem nos preocuparmos com possíveis atropelos, e ir até
o fim mesmo. O apoio é apenas um apoio, o processo é nosso.
Portanto, se alguém de repente passar por uma descarga destas perto de você, ou se acontecer
com você, nem se preocupe — isto só acontece quando há um respaldo,
e acontece justamente para que seja posto à nossa frente o que nos aflige, de maneira
contundente, e a gente possa olhar e ver que não há razão para se assustar.
E seguir em frente, sem mais medos. É uma 'limpeza de área", estamos tirando o lixo acumulado
de algum modo. Não se espantem, pois, se, ao utilizar um instrumento
de alívio qualquer, houver um acirramento, uma intensificação do sintoma antes que ele
desapareça: é assim mesmo, pode ocorrer, embora não seja regra. Se eu uso
um cristal para tirar uma dor, ela pode aumentar antes de ceder. Se estou fazendo um exercício
de canalização, posso "ver coisas horríveis"
102
antes de me sentir em paz. Se estou fazendo o tratamento do cristal cor-de-rosa (ver o Salto do
Tigre), posso ter angústias ou lembranças doloridas. Ou qualquer
outra coisa do gênero. Tudo isto vai passar, necessariamente. Se estiver suportável, prossiga e
encontrará logo o alívio. Se estiver incomodando muito, pare, dê
um tempo, e retome o tratamento quando quiser — provavelmente você não sentirá mais uma
descarga tão forte, porque aquele estágio já foi ultrapassado.
É preciso também estar atento quando utilizamos um cristal ou outro "puxador" de energia, para
não deixarmos que permaneça num ponto sobre o corpo indefinidamente.
Lembrem-se de que estamos lidando com os mesmos circuitos que alimentam, por exemplo, um
aparelho elétrico: se ficar ligado ininterruptamente, vai aquecer demais
e pode até estragar. É comum que você pregue um cristal em qualquer parte do corpo e esqueça.
Dali a um tempo vai sentir uma dor no local, uma tensão, ou até mesmo
uma queimadura. É só porque houve um acúmulo excessivo de energia naquele ponto específico.
Basta retirar o cristal e a coisa
se dissolve.
No tratamento com o cristal ou com a energização, o tempo de recuperação é sempre
relativamente proporcional ao tempo que aquele mal levou para se formar. E, mesmo
quando o equilíbrio for restaurado, aquele ponto permanecerá mais vulnerável do que outros. Isto
quer dizer que às vezes curamos, por exemplo, uma enxaqueca ou uma
asma. Mas quando tivermos uma pressão muito forte na vida, a tendência é que estes sejam os
pontos de defesa atingidos, e que a gente volte a sentir, temporariamente,
os antigos sintomas. E se você tiver uma lesão do tipo considerado irreversível, que tenha uma
indicação, por exemplo, cirúrgica, não se preocupe: a cirurgia correrá
da forma mais suave e acertada para você.
Não se esqueçam, sobretudo, que cristal não é aspirina. Ele pode até fazer este papel de remédio,
geralmente é bem sucedido quando o utilizamos para aliviar algum
sintoma, mas se não operar um alívio imediato, não se surpreenda, porque esta não é a verdadeira
função do cristal. Sua verdadeira função é corrigir, ao longo do
tempo, a causa do desequilíbrio aparente, e nos levar de volta ao nosso fluxo estrutural. Portanto,
se você estiver sentindo uma dor e o uso do cristal não resolver
de imediato, não vacile, tome um comprimido. Assim como, se for um caso mais complicado,
não tenha dúvida de que, na incapacidade de resolver ele mesmo o problema,
o cristal vai levá-lo com toda certeza até alguém que resolva. Já temos visto inúmeras
situações assim.
103
Gostaríamos de lembrar ainda que qualquer trabalho de "cura" = energização = busca do
equilíbrio, pode ser opera-cionalizado em nós mesmos, em outra pessoa, ou à
distância, através do uso do nosso próprio corpo como veículo, intencionado para surtir efeito na
pessoa em quem pensamos, ou sobre um nome escrito num papel, uma
foto, ou qualquer coisa que represente a pessoa. Mas não se esqueça de que jamais você deve
fazer através de você uma energização à distância sem antes ter se energizado.
O uso dos cristais, assim como a prática de qualquer dos exercícios de energização indicados
neste livro e no O Equilíbrio da Energia Está no Salto do Tigre tem,
com toda certeza, um efeito curador, dentro do conceito que acabamos de explicar. Ou seja:
levarão o praticante ao encontro incontestável do seu ponto de equilíbrio,
da sua capacidade de lidar com sua vida, haja o que houver, sem realmente se desestruturar.
104
E O TAL DO CHAKRA?
CHAKRA é um assunto que a gente estuda, estuda, ouve falar, mas fica sempre meio confuso a
respeito. Afinal, em que nos ajuda conhecê-lo?
Pois bem: os chakras são pequenos exaustores, colocados entre a nossa camada física e a não-
física, e têm por função, exatamente como um exaustor, puxar a energia
de um lado e jogar para o outro. Em outras palavras, eles são responsáveis pela entrada e saída
da energia em nosso corpo e em nossa vida concreta como um todo,
introduzindo na matéria as vibrações vindas do campo astral. Uma explicação mais detalhada
dos chakras principais pôde ser encontrada no Salto do Tigre. São a porta,
o "turning poiht" entre a matéria e a anti-matéria. Os chakras não são uma coisa achatadinha
conforme a gente vê nas ilustrações via de regra. Assemelham-se mais
a bolas espelhadas, como estas que a gente vê nos shows, provocando um cruzamento de luzes
em diversas direções. Os chakras também realizam um cruzamento das nossas
energias em vários sentidos. Podemos utilizá-los e acioná-los de muitas formas. Os Mestres do
Astral com quem trabalho utilizam os sete chakras principais (que formam
a espinha dorsal energética), os chakras dos pés (chakras de base) e os das mãos — estes para
acionar a energização. Cada um destes chakras rege a faixa do corpo
físico em que se localiza, com tudo aí incluído. E cada um deles faz a conexão de um tipo de
vibração cósmica com a questão a ela correspondente dentro da nossa
vida enquanto seres materiais. Eles operam constantemente a reciclagem de energias necessária à
manutenção desta conexão entre o físico e o astral. Veremos aqui
uma rápida, sintética classificação destes chakras principais e o que eles representam em nossa
vida cotidiana, assim como apresentaremos alguns exercícios para
sua melhor utilização e desenvolvimento.
Quando estamos trabalhando os chakras no nosso próprio corpo, fazemos isto dentro do que se
chama de microcircuito
105
(ver O Salto do Tigre), que é justamente o circuito energético formado pelo entrelaçamento dos
chakras em nós, e em relação às nossas questões imediatas, concretas.
Trabalhamos desta forma porque, obviamente, fica mais fácil para nós percebermos e
corrigirmos os distúrbios no campo que nos é visível e palpável. Na verdade, cada
vez que tocamos um chakra, vamos muito além, tocando o macrocircuito, ou seja, os fios que
nos ligam ao Cosmos, ao Universo todo. Como acontece isto?
Ao elaborar o trabalho com os chakras, utilizamos geralmente as cores, ou temos em mente que
elas traduzem o que é cada um deles. Por quê? Porque as cores, na realidade,
só existem aos nossos olhos. Elas são, na verdade, uma impressão óptica que sentimos quando
nosso olho percebe um tipo x ou y de vibração energética. De acordo com
a ordem do arco-íris, quanto menos densa a vibração da energia, mais a perceberemos perto do
branco. Quanto mais densa, mais chegaremos ao negro.
Todas as vibrações que ocorrem no Campo Astral, ao atingirem o Campo Material,
necessariamente se transformam em matéria. Queremos esclarecer que quando usamos a
palavra matéria, estamos nos referindo a todos os componentes necessários à vida neste campo
— emoções, saúde, dinheiro, afeto, relações familiares e tudo mais.
Portanto, cada faixa de vibração cósmica do astral, ao tocar o campo físico, vai se materializar
em algum tipo de questão da nossa vida. Quando estamos chamando
as cores, utilizando-as para elaborar nosso equilíbrio vital, portanto, estamos, de fato, puxando as
vibrações cósmicas que elas representam, ou as vibrações energéticas
que percebemos como esta ou aquela cor, para beneficiar a sua própria projeção, a questão
através da qual acontece nesta vida material.
Onde entram nisto os cristais? É simples: eles são a cristalização das energias cósmicas,
exatamente. Ou seja: existe na terra um minério de tipo x, com a capacidade
magnética de atrair energias, captá-las. Pelo ar, vem uma onda digamos, de vibração média, do
tipo que meu olho identifica como azul. Esta onda é atraída pelo minério,
penetra nele e fica ali impregnada, contida, transformando-se numa pedra que, então, vai ser
percebida pelo olho humano como uma pedra de cor azul. Aquela pedra,
com sua capacidade magnética de atrair e emitir a energia, vai passar então a captar e enviar a
vibração do tipo que identificamos como azul, que terá toda uma atuação
e influência em relação àquilo que atingir.
106
Quer dizer o seguinte: a cada faixa de cor do Universo — ou, a cada faixa de vibração
energética, mais ou menos intensa, corresponderá uma série de situações do
campo físico. No corpo humano, estas vibrações penetrarão através dos chakras, cada um ligado
a uma destas questões, e representadas pelas escala de cores principais.
Na verdade, nosso corpo é como se fosse um arco-íris em terra, dividido em faixas de cores, em
capacidades vibratórias diversas, que se concretizam em cada coisa
que vivemos. Em outras palavras, estamos ligados, parte por parte do que somos e fazemos, a
uma faixa cósmica de energia, como se fossem grandes anéis coloridos
ligando nossa vida ao universo — para que não nos percamos do movimento global. Como se
fosse uma espiral de cores, o grande arco-íris cósmico e sua tradução concreta
— o pequeno arco-íris que somos cada um de nós. Peças da Grande Engrenagem. Um circuito
energético integrado, que precisa funcionar sem enganos, como o de qualquer
outro aparelho.
.DENTRO
DACONEXÃO
CONSCIENTIZAÇÃO
(captação) BRANCO.DOURADO
COMPREENSÃO
(decodificação/ racionalização) VIOLETA
COMUNICAÇÃO
(transmissão) AZUL
HARMONIZAÇÃO
(assimilação) VERDE E/OU ROSA
REALIZAÇÃO
(estimulação ou iniciação) AMARELO
ELABORAÇÃO
(transformação ou criação) LARANJA
ATIVAÇÃO
(geração/ expulsão ou impulsionamento) VERMELHO
CONCRETIZAÇÃO
(fixação) PRETO,MARROM
107
Pois bem (veremos adiante, sinteticamente, a questão representada por cada chakra): vamos
supor que a minha faixa azul, por algum motivo, sofre uma interferência
que perturba a sua perfeita conexão com a faixa azul do cosmos, o que, fatalmente, vai atrapalhar
a projeção, a boa realização da questão, ou das questões traduzidas
pelo azul na minha vida. O que faço, então, para consertar este circuito perturbado, para refazer
esta sintonia, esta comunicação com as minhas forças de origem,
com a Fonte Geradora? Utilizo, é claro, um sintonizador. Existem vários, desde os simples
exercícios de meditação, o relaxamento, até outros mais sofisticados como
a acupuntura. Consideramos o cristal como um dos instrumentos sintonizadores mais poderosos,
porque esta é a sua função física precisa, comprovada ante a sempre
dúvida racional dos humanos tantas vezes, através de sua atuação nos aparelhos que conhecemos
e usamos, desde o relógio de quartzo até o computador. Nestes aparelhos,
o cristal equilibra o circuito energético, captando e emitindo energias, "regulando" as vibrações
do circuito. É a mes-míssima coisa o que vai fazer com o aparelho
que somos nós, quando este se encontra desregulado: o uso, a convivência com o cristal, com a
pedra de cor azul vai consertar, equilibrar, refazer a sintonia do
meu circuito vibracional em relação a tudo que o azul representa. Cada pedra, de cada cor, fará o
mesmo papel se a sua faixa estiver desregulada.
Vale notar que o cristal é um equilibrador por excelência, portanto, não fará mal jamais. Pode
não ter uma atuação correta, se usarmos a cor fora da faixa, mas,
ainda assim, terá uma atuação que provoque equilíbrio. Todo cristal vai equilibrar a estrutura
como um todo. Se não tivermos todos à mão, podemos nos valer de um
só, qualquer um — ele vai refazer a sintonia geral, começando a agir pela faixa à qual pertence.
Se utilizarmos todos juntos, um não interferirá no outro, cada um
atua dentro do seu campo de vibração. Podemos, quando muito, acoplar seus efeitos,
enriquecendo o trabalho. É desta forma que se dá a atuação dos cristais, é por
isto que seu uso é tão eficaz. Se na eletrônica eles são talhados para fazer a captação de tal ou
qual quantidade de vibração energética necessária para manter o
funcionamento do circuito de um determinado aparelho, no ser humano, este acoplamento, este
acasalamento vai ser determinado pela nossa intuição, que indicará, pela
percepção, qual o cristal que emite a vibração necessária para o aparelho que somos nós, naquele
momento e naquela situação. Não importa que o cristal seja bruto,
lapidado, polido, incrustado numa jóia, talhado num cinzeiro —
108
vai cumprir sua função, fazer seu efeito do mesmo jeito. Só não pode ter sido derretido pelo fogo
para virar, por exemplo,
bibelô, pois assim terá perdido suas funções.
No mais, é só energizar e usar. E aguardar com otimismo os resultados certeiros.
Começando de cima para baixo, vamos ver aqui, resumidamente, quais são as funções dos
chakras:
SÉTIMO CHAKRA — localizado no topo da cabeça. É o chakra, da CONSCIENTIZAÇÃO. Da
clarividência ou vidência clara, da Iluminação. Cores: branco e dourado, podendo-se
usar também o violeta.
SEXTO CHAKRA — Fica entre as sobrancelhas. É o chakra da COMPREENSÃO. Da clareza
mental e espiritual. É a porta de entrada do canal, onde vamos desenvolver principalmente
os processos de visualização e a percepção como forma de canalização. Cores: violeta, azul.
QUINTO CHAKRA — Na garganta. É o chakra da comunicação. Do dar e receber. Cor: azul.
São próprios também deste chakra os cristais biterminados (de duas pontas) de
qualquer cor.
QUARTO CHAKRA — Entre os mamilos, no meio do peito, na altura do coração. É o chakra da
HARMONIZAÇÃO. Rege as questões afetivas — auto-estima, relações afetivas
e harmonia de ambiente. Cores: rosa e verde.
TERCEIRO CHAKRA — Na boca do estômago. É o chakra de REALIZAÇÃO, que, segundo
Fréderic, é o encontro da alma com a vida. Literalmente, é onde se dá o encontro da
vertical com a horizontal, onde fazemos o "L", passando a emitir para nossa vida concreta todas
as informações de orientação que recebemos da Fonte. É onde estabelecemos
nossa parceria com os Mestres. É o chakra da SABEDORIA, que consiste em conseguir realizar
nossos desejos. É o chakra do SER FELIZ, a partir da consciência do que
somos e da escolha clara do que fazemos, o que, em termos práticos, nos levará a produzir bem e
ganhar dinheiro, entre outras coisas. É neste chakra, portanto, que
devem ser trabalhadas as questões de dinheiro (eventualmente, envolvendo algum outro, como o
da concretização). Cor: amarelo.
109
SEGUNDO CHAKRA — Exatamente no umbigo. É o chakra da ELABORAÇÃO. É onde vou
elaborar a melhor maneira de me relacionar com todas as questões do meu dia-a-dia. Cor:
laranja.
PRIMEIRO CHAKRA — Em cima dos órgãos genitais. É o chakra de ATRAÇÃO. Onde vou,
pela frente, parir, aproveitar, o que quero manter em minha vida. Por trás, eliminar
o que não serve. É onde seleciono o que vai ser realmente concretizado para mim. É o chakra da
escolha. Cor: vermelho.
CHAKRA DE BASE- Na sola dos pés. É o chakra da CONCRETIZAÇÃO. Onde ponho os pés
no chão, me enraízo na minha realidade e aprendo a caminhar dentro dela. Cores: marrom,
preto.
CHAKRA DA MÃO — Este chakra tem um papel à parte. Fica nas palmas das mãos e tem a
mesma característica do cristal branco: aciona ou desativa a energia. Para carregar
este chakra com a energia cósmica, da mesma forma que carregamos o cristal, basta esfregar as
palmas das mãos uma na outra. Este é o gesto básico, primeiro, de qualquer
trabalho de energização. No momento em que fazemos isto, sentimos um calor ou um for-
migamento onde esfregamos. Isto significa que captamos as partículas de energia
do ar, aglutinando-as e transformando-as numa onda, como um raio laser. É o mesmo que
acontece quando se esfrega dois pauzinhos para obter uma chama. O calor na
mão representa o elemento fogo, que, por presença ou por ausência, transforma os outros.
Funciona como um maçarico, moldando tudo que lhe ordenarmos, da forma como
ordenarmos. O chakra da mão é um veículo direto através do qual as Forças do Astral operam.
Interferimos apenas para intuir e acionar a ordem que deve ser dada em
cada caso.
Uma vez carregada a mão (durante uma energização, devemos carregá-la quantas vezes
acharmos necessário), vamos usá-la de inúmeras maneiras, conforme a necessidade
do momento. O passe magnético ou massagem energética pode ser aplicado nas mais variadas
situações: posso passar sobre o corpo de uma pessoa, para captar seus circuitos
bloqueados e desbloqueá-los (ver Salto do Tigre). Posso esfregá-las e jogar uma energia de
ativação ou desativação, pedindo, por exemplo, a cor verde, sobre alguém
que esteja com febre. Posso jogar uma energia no ambiente. Posso utilizar este gesto simples de
esfregar as mãos para captar energia para meu próprio alimento, ou
para, através de mim, alimentar outra pessoa. A mão é um ins-
110
trumento polivalente. Toda vez que a utilizo para direcionar uma energia, trabalhar uma energia,
estou diretamente puxando a força cósmica e utilizando-a para carregar
o equilíbrio do objeto do trabalho, seja qual for. Sempre que carrego a mão e a coloco ou
direciono sobre algo ou alguém com a intenção de equilibrar, isto vai acontecer
imediatamente. Tanto posso usar este gesto de uma maneira generalizada, buscando o bem-estar
do outro, ou meu próprio, como um todo, como posso especificar o uso,
tipo, por exemplo, para tirar uma dor, aliviar uma angústia, fazer um pedido. Neste caso, basta
acoplar ao gesto de energização uma ordem mental, a que me ocorrer,
que parecer a mais indicada. Virá intuitivamente, podendo, às vezes, ser até uma conversa
mental com quem está sendo trabalhado.
É importante notar que sempre que estamos trabalhando a energia de alguém, isto significa que
estamos contactando diretamente o seu canal. Se de repente começarem
a vir coisas na sua cabeça para dizer, diga, mesmo que possa parecer incoerente e sem sentido —
certamente fará sentido para o outro. Diga, ainda que possa ter receio
de ser mal recebido por quem ouve, o que pode ocorrer no momento, mas será certamente
modificado logo adiante, quando a pessoa perceber que foi, afinal, um benefício
para ela ouvir o que naquele momento preferia não ter ouvido. Tudo que nos ocorre para ser dito
ou feito quando nos colocamos em'disponibilidade interna para trabalhar
o equilíbrio de outra pessoa, é uma espécie de ordem ou de informação passada diretamente das
forças que a protegem para nós. É uma captação direta do canal da pessoa,
não é nada nossa
Outra coisa que pode ocorrer é que, se estamos trabalhando um sintoma tipo dor ou desequilíbrio
emocional do gênero crise de angústia, o sintoma não necessariamente
vai desaparecer na hora. Mas não tenha a menor dúvida de que, no instante em que você
começou a mexer no outro com a intenção de desfazer aquele nó, o bloqueio estará
sendo dissolvido. Isto pode ser um processo de efeito imediato ou não. Mas é de efeito certo,
sempre. Muitas vezes, você vai mexer na pessoa e ela só vai relaxar
a ponto de desaparecer completamente o sintoma que incomoda depois que ela dormir, relaxar
profundamente. Portanto, mais uma vez, siga sua intuição e jamais perca
sua segurança: trabalhe o ponto indicado até o momento em que sua percepção sentir que o
trabalho está pronto. A partir daí, mesmo que a pessoa mantenha a queixa
de dor, ou outra coisa, pode liberá-la com confiança. Lembre-se de que nunca estamos
111
trabalhando no nível das aparências, embora operemos muitas vezes através delas.
Bem, voltando aos chakras, vamos deixar aqui algumas sugestões práticas de como trabalhá-los
para melhorar nossa vida:
Para acionar alguma coisa, podemos "fazer um jogo", montando as palavras-chaves que definem
cada chakra para elaborar o que necessitamos, utilizando instrumentos
como pedras e cores, ou somente a energia pura. Funciona assim: se eu quero, por exemplo,
ativar minha comunicação, vou trabalhar o primeiro e o quinto chakras,
vou usar vermelho e azul. Se quero concretizar o que conscientizei, base e primeiro chakra são
os alvos, branco e preto. Se quero realizar o que compreendi, terceiro
e sexto chakras, violeta e amarelo. E assim por diante.
Posso também consertar o desequilíbrio através dos centros:
CENTRO DE ELABORAÇÃO: formado pelo primeiro e pelo segundo chakras. Trabalha-se
neste chakra a pessoa que tem dificuldades de elaborar concretamente suas questões,
de fazer sua vida acontecer, não consegue nunca tomar uma atitude clara e permanente.
CENTRO VITAL: formado pelo terceiro e quarto chakras. Nesta área se encontram nossas
funções básicas: respiração, alimentação e circulação. Trabalha-se neste centro
a pessoa que não consegue nem "começar a conversar", que tem dificuldades básicas de entrar na
vida, tipo falta de identidade ou insegurança emocional profunda.
CENTRO DE COMUNICAÇÃO OU CENTRO DE RECEPÇÃO E EXPRESSÃO: formado
pelo quinto e sexto chakras. Nesta área estão contidos todos os nossos sentidos — visão,
audição,
olfa-to, paladar e tato, além do sexto sentido, que é a percepção. Trabalha-se neste centro a
pessoa que tem dificuldades de se entender claramente consigo mesma
e com os outros, a pessoa que tem dificuldade de dar e/ou receber.
CENTRO DE CONEXÃO: formado pelo chakra de base, o sétimo. Através da base, nos
conectamos com a realidade concreta, cotidiana. Através da cabeça, com a Realidade
Maior, com a consciência mais ampla que nos guia. Trabalha-se neste centro a pessoa que está
perdida, sem rumo, incapaz de captar e realizar o que veio fazer neste
mundo.
112
Outra maneira ainda de trabalhar os chakras é através da atividade realizada por cada um, a partir
de sua função essencial contida nas palavras-chaves que acabamos
de ver. É o seguinte:
No sétimo chakra fazemos a CAPTAÇÃO do que é posso, através da tomada de consciência, que
vem como uma percepção, uma sensação. Este chakra funciona como um radar,
uma antena parabólica supersensível, que justamente capta do cosmos as indicações para nossa
vida.
Então eu trago esta sensação captada para o sexto chakra, onde faço a DECODIFICAÇÃO, a
RACIONALIZAÇÃO, que me permitirá compreender claramente aquilo que percebi.
Levo então o que já está contido na minha clareza mental para o quinto chakra, onde vou operar
a TRANSMISSÃO desta informação, comunicando-a. Comunicando a quem?
A mim mesmo. Tudo aquilo que não é expresso, não é comunicado, tem mínimas chances de
concluir um trajeto até a concretização. E a primeira pessoa a ser informada
das minhas intenções deve ser sempre eu mesmo. Atravesso a área de comunicação e levo esta
transmissão de informação até o quarto chakra, onde se dá a ASSIMILAÇÃO.
O que é assimilação? A assimilação é onde vou compreender se aquela coisa que captei do
cosmos é realmente minha ou trata-se de um equívoco, de uma mensagem truncada.
O que me dá esta clareza é quando deixo aquele desejo, aquela intenção entrar no meu peito e
percebo o sentimento da harmonia ou desarmonia, de satisfação ou insatisfação.
Se eu me sentir preenchido por aquela idéia, assimilo que tal coisa me pertence, deve estar no
meu caminho sim. E sigo adiante. Se, pelo contrário, eu sentir um
desconforto, um certo incômodo, um mal-estar, simplesmente abandono aquela informação,
aquele projeto, porque não é meu, não tem nada a ver comigo. Este é o ponto
crucial para evitar os enganos, os desvios.
Se a assimilação foi feita e confirma que estou no caminho certo, levo a questão para o terceiro
chakra, onde vou começar o processo de realização concreta. Ali
dou o chute inicial desta concretização, o sinal verde para que as coisas aconteçam, o que é a
ESTIMULAÇÃO ou INICIAÇÃO.
No terceiro chakra, então, vou elaborar a melhor maneira de me relacionar com aquela situação,
a maneira mais tranqüila e menos perturbadora de inseri-la na minha
vida. Isto é a etapa de CRIAÇÃO ou de TRANSFORMAÇÃO do que até aqui era apenas uma
idéia, na sua possível forma concreta. Ao primeiro chakra cabe a GERAÇÃO ou EXPULSÃO
do que elabo-
113
rei, tirando aquilo do meu circuito interno e jogando no mundo, acionando, ativando na prática o
meu desejo.
E, finalmente, chegando ao chakra de base, aquilo que eu captei, compreendi, recebi, assimilei,
estimulei, elaborei e gerei, alcança a etapa da FIXAÇÃO, acontecendo
concretamente na minha existência.
Este é um trabalho de burilamento do bom funcionamento do nosso eixo, ou de abertura maior
do canal, ou de fortalecimento da espinha dorsal energética. Pode ser
feito de uma maneira geral, simplesmente para aprofundar e melhorar estas coisas, ou pode ser
dirigido a uma questão específica, quando queremos aplicar as funções
de cada chakra para resolvê-la corretamente. Isto quer dizer que eu posso apenas ir "chamando"
mentalmente estas funções, pedindo que elas sejam exercidas com clareza
no funcionamento de meu circuito energético, ou então, posso fazer o ritual de um exercício
específico. No caso de optar pelo exercício, posso simplesmente ir "puxando"
a energia do Cosmos para melhorar a atuação das funções, como posso ir decupando em cada
etapa uma questão específica que queira elucidar no momento.
O exercício funciona assim: dou uma respirada de leve para entrar em conexão com o Cosmos
(explicaremos mais adiante a função desta respirada) e "puxo" uma energia
da Fonte, a qual, se quiser, posso imaginar como um sol. Inicio o processo de ir jogando esta
energia nos vários pontos do eixo, isto é, nos chakras, para abrir
sua potencialidade máxima. Suponhamos então que eu esteja trabalhando para resolver uma
questão bem concreta do tipo: tenho um dinheiro para aplicar e não sei o
que fazer.
Muito bem: há várias possibilidades no ar. Posso abrir uma poupança, comprar um carro, aplicar
no mercado financeiro, fazer uma viagem etc. Puxo a energia da Fonte.
Trago para o topo da cabeça, no sétimo chakra, pedindo a clareza de captar aquilo que possa ser
a melhor indicação para minha vida dentro desta questão. Tenho então
a nítida sensação de que o melhor é comprar um carro, digamos. Trago esta sensação para o
sexto chakra ("trago" pode ser feito literalmente, colocando a mão ou mesmo
cristais, sobre o chakra. Ou apenas percorro o caminho mentalmente), onde vou argumentar
racionalmente, colocando prós e contras desta escolha. Vistos todos os lados
da questão, trago-a para mim, quer dizer: vou comunicar estes prós e contras, vantagens e
desvantagens, para aquilo que eu sou, que é a minha realidade, e assimilar
se a situação propos-
114
ta tem a ver mesmo comigo ou não, me serve ou não me serve, me dará uma satisfação de fato
ou não. Atravesso o quinto chakra com aquela idéia e chego ao quarto,
deixando que ela flua, solta, dentro de mini, como se estivesse me imaginando já com o carro e
vivenciando todas as conseqüências e implicações de tê-lo adquirido.
Dou asas à imaginação, liberdade ao sentimento.
Se a idéia me bater mal, interrompo o exercício por aí e parto em busca de outra solução para a
aplicação do meu dinheiro. Se me bater bem, vou em frente, e trago
o que era antes uma possibilidade que poderia pertencer a qualquer um para o nível do desejo,
daquilo que eu quero possuir concretamente porque me dará felicidade.
Escolho, decido e parto para concretizar este desejo com convicção — este é o trabalho do
terceiro chakra. Jogo este desejo no segundo chakra, e articulo, crio,
elaboro toda a ginástica concreta pela qual vou precisar passar para comprar mesmo o carro. No
primeiro chakra, saio de casa para fazer a compra. Aciono, tomo a
atitude, com segurança. Nos mínimos detalhes, descartando tudo que possa me atrapalhar, como
por exemplo, ir a qualquer agência ou utilizar um horário corrido, em
que não terei calma para negociar. E, finalmente, no chakra de base, concretizo a compra. O que
desejei é concretamente parte da minha vida, é meu neste mundo, aqui
e agora, acontecendo de verdade.
Durante o exercício, é claro, estarei trabalhando todas estas etapas na minha imaginação. O
objetivo é reverter o que elaborei no trabalho energético para ações
práticas, resultados concretos. É como se eu impregnasse os chakras de uma certeza, de uma
clareza do que deve ser feito, para que eles possam emitir isto para a
minha vida. Como o chakra é um ponto centralizador e redistribuidor de energias, como já
dissemos, nós utilizamos o próprio chakra para apreender do cosmos a indicação
mais fluida de ação, que será depois transformada no concreto.
115
ALGUNS EXERCÍCIOS PARA MELHORAR O EQUILÍBRIO
LEMBRANDO: os exercícios que vamos sugerir a seguir podem todos ser feitos para nós
mesmos, para outra pessoa, ou à distância, sobre algo que represente a pessoa,
como um nome escrito num papel, ou utilizando nosso próprio corpo, enquanto pensamos na
pessoa — mas em hipótese alguma trabalhe a energia de outra pessoa, presente
ou longe, sem antes ter se energizado. A não ser que seja uma emergência, caso em que você
deverá fazer qualquer um dos exercícios de energiza-ção para si mesmo
logo em seguida, assim que for possível. Todos estes exercícios têm por objetivo abrir a
canalização em todos os níveis, e, como conseqüência, operam a cura, tanto
no sentido físico quanto naquele mais amplo, de alcançar o equilíbrio da energia.
Sempre que for iniciar qualquer energização, não se esqueça de "ligar a respiração". Significa dar
uma leve respirada, uma espécie de "fungada", e tomar consciência:
"Estou respirando". Isto estabelece um contato imediato com as forças Cósmicas, pois a energia
é levada pelo espaço através do ar, que a faz circular. Quando você
'liga" a respiração, é como ligar uma tomada: você está dizendo: "Sim, eu faço parte da corrente
universal. E peço sua ajuda neste momento". Não importa a maneira
como você dá esta respirada, interessa é tomar consciência da respiração. Nem é necessário
permanecer respirando durante o exercício, ou conhecer técnicas de exercícios
respiratórios. Quando você sentir que deve utilizar a respiração como instrumento durante um
trabalho qualquer, saberá como usá-la de forma espontânea, intuitivamente.
Jamais peça à pessoa que você estiver tratando, em nenhuma circunstância, que ela respire — a
não ser que sua intuição dê uma categórica ordem para fazer isto. Más
via de regra não se faz isto, primeiro, porque não é necessário: se você achar que precisa usar a
respiração de uma forma específica para o caso em questão, use
a sua própria e o efeito
116
será levado à pessoa. Inclusive, é muito importante que não haja nenhum tipo de ritmo forçado
do lado de quem recebe, porque você perceberá que seu trabalho alcançou
o objetivo, ou seja, que a pessoa sintonizou com sua ordem ou intenção de equilíbrio, justamente
quando ela, espontaneamente, entrar num compasso nitidamente tranqüilo
de respirar — e que não pode ser camuflado por uma sugestão anterior de quem orienta o
exercício, pedindo que ela dirija a respiração deste ou daquele jeito. Não
é sempre que o sinal de sintonia é dado através do ritmo respiratório do receptor, mas é em
grande parte das ocasiões. Por outro lado, se você pedir à pessoa que
faça desta ou daquela forma, ela não conseguirá relaxar, porque vai ficar preocupada com a
respiração. E se for num caso em que ela esteja tendo um tipo de crise
mais complicado, como uma crise de angústia com choro, falta de ar ou gemidos, por exemplo,
aí mesmo é que não se manda a pessoa respirar, pois uma súbita entrada
do ar pode causar um atravancamento, um acidente no circuito que de fato a sufoque e até
provoque descontrole cardíaco ou desespero. Acima de tudo, trabalhar com
os outros exige serenidade e firmeza. Se não se sentir assim, melhor não fazer.
Embora todos os exercícios aqui apresentados façam igualmente a abertura do canal e a
alimentação energética, há aqueles em que vamos tentar especificamente captar
algum tipo de mensagem (mas a mensagem pode vir em qualquer um, repito, ou mesmo fora dos
exercícios). Mas quando você entra numa meditação com este objetivo específico,
o procedimento sempre deve ser o mesmo. Ou seja: se você tiver uma questão a ser respondida,
coloque, peça. Se não tiver, deixe em aberto para receber aquilo que
deve saber no momento. Relaxe para desconcentrar o raciocínio, desligar a cabeça e permitir que
o sentimento flua. Alguns exercícios levam a isto espontaneamente,
outros utilizam instrumentos auxiliares. Não importa: importa é que você se deixe levar para um
estado de "flutuação", algo parecido com aquele estágio entre o sono
e o estar acordado. Ou como quando nos embalamos numa música, só ouvindo, só sentindo, sem
notar mais ou tentar coordenar o pensamento.
À medida que você vai relaxando, o canal vai sendo ativado. A partir daí, tudo pode acontecer: a
primeira coisa que pode ocorrer, é justamente que nada aconteça.
E se nada acontecer, ainda assim, tudo estará acontecendo. Quer dizer: ao entrar num exercício
destes, você está criando um músculo energético. Da mesma forma que
quando você cria um músculo
117
no físico, isso exige tempo e perseverança. Se inconscientemente sua energia estiver com o
músculo quase pronto, você poderá ter um tipo de canalização "oficial"
imediato, como uma psico-grafia ou visualizações. Mas se não tiver, não se aborreça: primeiro,
porque de qualquer modo trabalhou o canal e, no mínimo, vai ficar
com a intuição mais apurada. Segundo, porque estas formas nítidas, concretas de receber
mensagens são, na verdade, o meio de um caminho, o treino antes do jogo,
já que a canalização no sentido mais profundo e essencial se dá exatamente na sensação e na
certeza que não conseguimos por em palavras e formatos conhecidos, ok?
Mesmo quando continuamos utilizando nomes e imagens para descrever as sensações deste
contato, sabemos que tudo que logramos expressar é muito menos, está muito
além daquilo que sentimos.
Não se preocupe com a possibilidade de "delirar" — as dúvidas são perfeitamente naturais. Nem
se preocupe com a possibilidade de "sair do ar", entrar numa viagem
astral, apagar ou qualquer coisa assim. Primeiro porque, quando estamos trabalhando o nosso
próprio canal, automaticamente fazemos um chamado para a nossa Energia
Maior de Proteção, e ela impedirá a entrada de elementos estranhos. Depois, porque ainda que
ocorra alguma coisa assim, que nos dê a sensação de estarmos nos desligando
da matéria, não tem nada demais: literalmente estamos subindo pelo canal em direção a
dimensões fora daqui, o que explica a sensação. Mas como o movimento da energia
é circular, não tenha dúvida de que tudo que vai, volta. Sozinho, espontaneamente. O máximo
que pode acontecer é você de fato dormir e acordar depois. Mas neste
caso, como no caso de uma descarga energética trazer alguma coisa que lhe incomode, se não
estiver se sentindo confortável, simplesmente interrompa o exercício,
mude de assunto, ligue a televisão, sei lá — corte a corrente de alguma forma, até se sentir de
novo preparado para tentar, em outra ocasião. Se se sentir inseguro,
utilize como "fio terra" uma vela para chamar o anjo da guarda, um cristal preto ou fume por
perto, ou um exercício que inclua o enraizamento — qualquer destes elementos
vai mantê-lo "no chão".
É comum que em qualquer trabalho de energização as pessoas sintam — tanto quem faz quanto
quem recebe — sensações físicas como conseqüência da energia que está sendo
mexida. Podem ser bocejos, sono profundo, suores quentes ou frios, tremores, taquicardias,
formigamentos etc. Não há nada demais aqui também — são resultados absolutamente
naturais de quan
118
do se mexe com a energia de qualquer modo. Sentimos algo semelhante quando fazemos um
exercício físico depois de muito tempo parados. Mas não nos espantamos porque,
neste caso, nos parece que estamos lidando com uma situação conhecida e, portanto, sem razão
para receios. Mas também sentiremos calor e suor se ficarmos, por exemplo,
debaixo de uma lâmpada forte que emite energia. As sensações de desmaios, apaga-mentos,
sono, frio, tremores são facilmente explicáveis e costumam ocorrer mais quando
não estamos habituados a mexer com a energia, ou nos casos em que puxamos uma dose mais
des-gastante para poder tratar do assunto. Quando estabelecemos um contato
com nível mais alto do canal (e isto pode ocorrer sem que tenhamos consciência, quando vamos
a uma cartomante, por exemplo, a uma reunião religiosa qualquer, ou
quando estamos ouvindo uma conversa sobre o assunto, ou quando utilizamos um tratamento
energético como o cristal ou a acupuntura etc), o que está literalmente ocorrendo
é que estamos mesmo indo além da matéria. Quando não se tem o hábito de fazer isto e a energia
é solicitada a dar este passo, é como quando abrimos um vidro ou pacote
com vácuo, e o ar é subitamente "chupado" para fora. Quando mexemos na porta do canal, de
repente, nossa energia é "chupada" para fora da matéria/que apresenta os
sintomas deste deslocamento, nos deixando sem os efeitos da presença física da energia, que são
justamente o pique, o calor etc. — isto é, perdemos momentaneamente
a sensação de estar "aceso" e "funcionando".
Bem, no caso de recebermos alguma mensagem explícita, é recomendável anotar. Nem sempre a
resposta será clara no momento da recepção, mas a tendência é que, mais
tarde, consigamos entender seu sentido completo, e notar que ela faz parte de uma seqüência de
informações. Outra coisa é que, como as mensagens enviadas pelos Mestres
geralmente vêm numa linguagem simbólica, temos que nos acostumar a "conversar" com elas,
buscando interpretar seu significado, compreender que relação apresentam
com os fatos da nossa vida. Sempre com cuidado para não distorcer a interpretação de acordo
com a nossa conveniência ou para obedecer ao desejo ardente do momento.
Não se esqueça de que, quando se recebe uma canalização com forma inteligível, isto vai variar
de pessoa para pessoa: assim como há aqueles que desenham ou escrevem,
ou visualizam, qualquer outra coisa pode ocorrer. Conheço uma moça, por exemplo, que, ao
entrar nos exercícios de canalização, sente uma irresistível vontade de
dançar. E é dançando que
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suas respostas chegam. Há um senhor que começa o exercício e abre o I Ching, onde encontra
tudo que quer saber. E assim por diante — como sempre, não há regras.
Falando em regras, sinta-se sempre confortável para modificar ou inventar regras e rituais. A
única coisa que não pode acontecer é você adotar uma regra ou ritual
só porque alguém lhe disse que deve ser assim. Isto simplesmente não existe. Regras e rituais
têm uma função conhecida como eficácia simbólica — ou seja, são símbolos
que utilizamos para chamar um significado. Só que somos nós mesmos que atribuímos àquele
símbolo a capacidade de ativar este ou aquele significado. Pode, é claro,
ocorrer de várias pessoas acreditarem que um certo ritual leve a um efeito x. Mas com toda
certeza, se você aplicar qualquer regra ou ritual cujo simbolismo seja
vazio para você, não lhe diga coisa alguma, seja apenas uma mera repetição do que aprendeu ou
ouviu em algum lugar, simplesmente não vai funcionar. Portanto, tudo
que você ler ou escutar neste sentido
irias tudo mesmo, inclusive o que está sugerido neste livro —, use, teste, se lhe parecer razoável,
e verifique se faz algum efeito para você. Se fizer, adote.
Se não fizer, esqueça, e invente o seu. Será melhor.
Uma última observação: para as pessoas que no caso muito comum ter dificuldade de "desligar"
o pensamento para se concentrar. Passam horas mergulhadas num
exercício de meditação pensando: "Preciso parar de pensar, preciso parar de pensar, preciso parar
de pensar" — e não param, pelo contrário, ficam cada vez mais tensas.
E frustradas. Bem, isto é apenas mais um equívoco da imposição de regras e rituais
indiscriminada, como se os seres fossem uma massa uniforme e adaptável igualmente
a qualquer circunstância. Não pode dar certo. Não dá certo, nunca, qualquer coisa que me faça ir
contra o que eu sou, que me violente. Não há disciplina que alcance
o sucesso se contrariar minha disponibilidade interna, minha verdade de ser. Portanto, se você é
do tipo que "não consegue parar de pensar" para concentrar, não
pare: utilize seu próprio recurso, sua própria maneira de ser — é sempre o melhor caminho —
para alcançar o objetivo.
Em vez de tentar se livrar do raciocínio, utilize-o para "viajar". É simples: deixe correr solto,
como criança que conta história, sem se preocupar com uma ordem
lógica." Pegue a carona" do seu próprio pensamento, como se ele fosse um
foguete,
ou fossem vários foguetes, passando à sua frente, e você se agarrasse ao rabo dele. Como a
criança que vai falando sem
120
censura e sem limites: "E aí, a formiguinha tropeçou na pedra, que não era pedra, era a pata do
elefante, e o elefante sentou na nuvem e caiu na terra e afundou
o mundo...", e vai embora, sem se preocupar com qualquer direcionamento ou julgamento. É o
que você tem que fazer para desconcentrar a cabeça: sentou para fazer
o exercício e imediatamente, em vez de desligar, ligou: "Ih, preciso botar gasolina no carro!".
Em vez de reagir de imediato: Tenho que parar de pensar nisto agora,
senão não consigo me concentrar", prossiga. Vá fundo, solte tudo. Pegue o fio e vá atrás do
pensamento, sem nenhuma ordenação ou preocupação:" Ih, preciso botar
gasolina no carro!... Mas a gasolina tá tão cara...será que vai subir? Mas o álcool também tá
faltando...como é que será que faz para a cana-de-açúcar virar álcool
de automóvel? Será que é fácil? Será que dá dinheiro? Se eu fosse rico acho que ia ter uma
fazenda...humm, bicho de pé é tão gostoso..." e por aí vai. Entenderam?
Não tem que forçar barra nenhuma, siga o que lhe é natural, e, num dado momento, estará tão
distraído e desligado, que as mensagens chegarão, com a mesma eficácia
do que se você for capaz de mergulhar o pensamento no silêncio e se desconcentrar através de
qualquer outro método. Que tenha a ver com a sua natureza, é claro.
Para finalizar estes lembretes, não se esqueça de que não há hora, número de vezes ou qualquer
outra condição para executar qualquer exercício. Faça como e quando
se sentir melhor e acreditar que daquele jeito funciona. Funcionará. Mesmo que para outro seja
diferente, para você funcionará do jeito e na hora em que você se
sentir bem fazendo. O tempo de terminar o exercício é o tempo em que você encheu o saco,
começou a se sentir desconfortável, incomodado por qualquer motivo. Pare
nesta hora. Sugerimos apenas que, se você utilizou uma vela para chamar qualquer energia, deixe
que apague naturalmente, mesmo que você se retire do ambiente. Afinal,
sevocê chamou alguém para te proteger, não tem sentido mandar embora de repente, não acha?
Deixe que vá quando quiser. (Se a vela apagar subitamente antes de acabar,
pelo amor de Deus, não invente um pânico. Isto acontece, pode ser vento, defeito do pavio — a
possibilidade mais remota é de corresponder à presença de uma misteriosa
força negativa, tá certo? Se isto ocorrer, pois, faça como achar melhor: acenda a vela de novo, ou
deixe apagada. Mesmo que a vela insista em apagar várias vezes
sem motivo aparente, o mais provável é que não haja nenhuma razão estranha para isto. Se
houvesse, ficaria clara através de outros sinais.)
121
A CHUVEIRADA

A"CHUVEIRADA" de energia, na verdade, não é exatamente um exercício, mas uma


alimentação rápida. Um truque para a gente se limpar e enraizar numa emergência, do
tipo quando tiver que segurar uma barra inesperada e ficar na dúvida se está suficientemente
alimentado ou não. É assim:
Puxe uma energia da Fonte. (Quando falamos "puxe uma energia", você pode sempre imaginar a
Fonte como um sol que derrama sua força e você, mentalmente ou com as
mãos, com a respiração, vai até lá e "puxa" esta energia na direção desejada, seja você mesmo ou
outro objeto. É importante que você men-talize esta energia solicitada
como algo que jamais se desconec-ta da Fonte, do momento em que você a pediu em diante. Vá
para onde for que você a direcionar, será sempre movimento de desdobramento
contínuo a partir da fonte geradora.) Rapidamente, em segundos, imagine esta energia se
derramando sobre você, por dentro e por fora simultaneamente, e atravessando
seu corpo. Quando chegar com ela nos pés, jogue a partir deles para dentro da terra enormes
raízes que agarram a terra por dentro, fixando você à realidade, ao mesmo
tempo em que está conectado com o sol lá em cima, com a fonte. E como se você entrasse
embaixo de uma ducha, rapidamente, para refazer as energias, cortar as impurezas,
compreende? E aí você está pronto para agüentar o tranco.

O EXERCÍCIO DO "PAPELZINHO"

Este exercício ficou conhecido nos meus cursos por ter sido aquele que utilizei primeiro, e que
abriu meu canal para o contato com Fréderic, meu Mestre. Funciona
assim:
Você pega um papel quadrado, de preferência, e escreve no meio, na horizontal: Anjo da guarda
de Fulano". Depois repete esta mesma coisa na vertical, de modo a fazer
uma cruz no meio
122
do papel. "Fulano", no caso, é você mesmo. Escreva como quiser: só o primeiro nome,
sobrenome, apelido — qualquer jeito que ache parecido com você na hora de escrever.
Coloque o papel sobre uma mesa, com uma vela acesa em cima (sobre um pires ou castiçal,
naturalmente). Em frente, coloque um copo
d'água posicionando-o de jeito que a chama da vela reflita na água. Você deve estar sentado da
maneira mais confortável possível. Coloque perto papel e lápis para
anotar o que aconteça e que lhe pareça importante. Olhe para o reflexo da chama na água, e
projete ali uma paisagem, como se fosse uma tela de cinema. O exercício
de relaxamento é exatamente você ir se concentrando em ver cada vez mais detalhes da
paisagem, seja ela real ou imaginária. Quanto mais "vejo" a paisagem, mais desligo
o pensamento. E aí o procedimento é sempre o mesmo de qualquer exercício, conforme
descrevemos no início deste capítulo: se tiver uma questão coloque, se não tiver
deixe em aberto, e espere o que vai rolar ou não. Se não conseguir parar de pensar, use o
pensamento para relaxar. Na hora em que ficar desconfortável, termine o
exercício. Deixe a vela acabar de queimar, jogue a água fora em qualquer lugar, e o papelzinho
você pode guardar ou jogar fora.
Por que usamos vela, água, e o papel chamando o anjo da guarda escrito em forma de cruz? E o
seguinte: a chama da vela, chama. E o anjo da guarda, guarda. Por isso,
usamos a
123
vela para chamar o anjo da guarda. A água catalisa a energia, atrai as vibrações. A cruz, é um
símbolo de passagem fechada. Quando queremos, por exemplo, indicar
que uma janela quebrada não oferece passagem, colocamos uma tábua em cruz. O mesmo se faz
quando há um tapume de obra quebrado. Fazemos o sinal da cruz e usamos
crucifixos em cima do centro vital. As ordens esotéricas cruzam as mãos sobre o centro vital.
Expulsamos o vampiro com a cruz. Ao fechar o corpo na umbanda, são
feitas várias cruzes no braço. Se vamos a um lugar onde se faça leituras esotéricas, tipo uma
cartomante, ela vai nos mandar descruzar a perna ou o braço, porque,
se não for muito boa, não entra no nosso canal. E assim por diante. Portanto, quando utilizamos o
papelzinho com o nome do nosso anjo da guarda em cruz, e a vela,
estamos chamando nossa energia protetora mais imediata (o anjo da
guarda é uma espécie de "acolchoamento" nosso, um "leão-de-chácara") para proteger-nos contra
a
possibilidade de chegada de qualquer energia estranha.
Esta conjugação do papelzinho, vela e copo dágua ou cristal, pode ser utilizada em
circunstâncias diversas, como protetor.
124
EXERCÍCIOS DE ENERGIZAÇÃO PESSOAL

SÃO três os exercícios da energização pessoal: vitalização, canalização e limpeza e


enraizamento. No primeiro, pedimos tudo aquilo que desejarmos para equilibrar
a nossa vida aqui e agora. Podemos pedir também para quem gostamos, e não devemos esquecer
de agradecer o que já recebemos. No segundo exercício, nos conectamos
com a fonte, abrindo o canal e acionando nossa existência concreta sob sua orientação direta, ao
mesmo tempo que elaboramos a outra "mão" desta parceria, fazendo
aqui o que os De Cima necessitam de nós enquanto veículos que somos. No terceiro, limpamos
nosso campo energético como um todo e, em seguida, nos enraizámos neste
campo e entramos completamente na onda de energia do universo da qual fazemos parte, em
todas as suas dimensões. Estes exercícios já foram descritos no Salto do
Tigre. No final deste livro, porém, serão reapresentados de maneira descritiva, de modo que
possam ser gravados numa fita que acompanhe a sua execução.
PUXAR O SOL
Este exercício constitui um excelente antidepressivo, é ótimo para recuperar estafa e carregar as
energias de um modo geral. Pode ser feito em qualquer lugar, mas
se for de frente para o sol, reforça seu efeito simbólico. Trata-se de "puxar" a energia do sol,
fazendo-a penetrar em nós através do nosso sol, isto é, do terceiro
chakra, na boca do estômago. Vamos puxando, só na imaginação, com a respiração, ou até
mesmo com as mãos, e pedindo para o sol tudo que ele pode nos dar. Mentalmente,
conversamos com ele enquanto o absorvemos, pensando: "Eu quero tudo que você é: seu brilho,
sua luz, seu calor, sua sabedoria, seu magnetismo, sua força etc, etc,
etc". Até nos sentirmos preenchidos.
125
Encoste-se numa parede (pode ser também um tronco de árvore), mas repousando nela somente
os ombros e parte das costas, mais ou menos um palmo, até a altura das
omoplatas. O resto do tronco para baixo, mantenha afastado da parede. Solte-se bem, relaxando a
parte que está encostada, largando-a com confiança no apoio da parede.
Geralmente, é preciso repetir algumas vezes o exercício até conseguir realmente soltar-se,
deixar-se encostar com entrega real. Preste atenção para manter os pés
afastados apenas a distância suficiente
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e não longe demais, senão, perderá o equilíbrio. A distância ideal entre os pés e a parede é de uns
vinte centímetros (mais ou menos um palmo). Recapitulando: encoste
a parte de cima das costas na parede, até sentir que realmente soltou seu peso neste apoio. Então
venha voltando devagar, trazendo parte por parte do corpo, a partir
dos quadris (pode até, se quiser maior equilíbrio, segurá-los). Vá ficando em pé, na posição
ereta, de baixo para cima, ou seja: trazendo primeiro os quadris, depois
a cintura, o tronco e, finalmente, os ombros e a cabeça — ao realizar este movimento, você
redistribui na direção das pernas e dos pés tudo que estava energeticamente
bloqueado na parte superior. Tome cuidado para não trazer o corpo de volta puxando primeiro os
ombros e a cabeça, pois neste caso, a redis-tribuição não será feita.
Depois de algumas tentativas, o movimento fica fácil, automaticamente correto. Deve ser
repetido até que você se sinta totalmente relaxado.
O EXERCÍCIO DO BRILHO
O objetivo deste exercício é colocar a pessoa na potencialidade máxima de suas vibrações
energéticas. No seu brilho máximo. Ao contrário da energização com as mãos,
quando puxamos uma energia de fora da pessoa para alimentá-la, neste exercício, utilizamos a
energia do seu próprio canal. Vamos aqui explicar como se faz a aplicação
em alguém. Logo a seguir descreveremos o exercício de modo que você possa gravar uma fita e
colocá-la para se auto-orientar quando quiser fazer com você mesmo, trabalhando
o fortalecimento máximo do seu próprio canal.
Coloque a pessoa sentada em uma cadeira, numa posição bem relaxada. Como sempre, é preciso
que ela esteja bem confortável — você vai levá-la a uma "viagem" para
dentro do canal. A primeira coisa a fazer é ligar a respiração e esfregar as mãos para carregá-las.
A seguir, puxe da Fonte da própria pessoa a luz branca, com a
qual será efetuada a limpeza inicial do campo energético dela. Imagine que suas mãos estão se
encharcando desta luz, que passará a jorrar dos seus chakras das mãos
como se fossem torneiras abertas. A partir do chakra da cabeça (sétimo), vá passando a mão em
torno do rosto, do cabelo, da nuca, encostando ou não, como queira,
e imaginando que está enchendo a pessoa com a luz branca que jorra de suas mãos, e que vai
limpando-a. Quando chegar nos ombros, repouse suavemente as mãos sobre
eles, e deixe que jorre a luz branca atra
127
vés do corpo todo do receptor, até que chegue aos pés. Agora, ele está pronto para ser colorido,
ou seja, para que você puxe a vibração máxima de cada uma de suas
faixas de cor, colocando cor na cor, chakra por chakra.
Ponha sua mão na direção do primeiro chakra (órgãos ge-nitais). Não importa se sua mão está na
frente, atrás, ou os dois, se as costas da cadeira estão no meio —
a energia passará de qualquer jeito. Concentre-se pedindo a cor vermelha. Neste momento, você
está partindo do chakra de ativação da própria pessoa, para acionar
a energia dela. Percebe o vermelho com calma. (Sempre que se trabalha com cores, não é
necessário ver a cor — basta dizer que quer aquela cor e senti-la, perceber
sua presença.) Puxe então a energia, colocando vermelho no vermelho, até sentir que toda aquela
faixa do corpo da pessoa está vibrando em vermelho.
Durante este exercício, é possível que você, ao tentar sentir a cor num chakra, perceba a presença
de outra cor. Isto quer dizer que há uma questão do chakra cuja
cor você está notando como interferência impedindo o pleno funcionamento daquele que você
está trabalhando. Por exemplo: você está pedindo vermelho e entra, digamos,
azul. Significa que há um obstáculo qualquer da área azul perturbando a área vermelha. Pode ser
de qualquer tipo, como o excesso de preocupação diminuindo a atuação
sexual, ou a pessoa está pensando muito e não toma atitudes, ou o excesso de trabalho espiritual
ou intelectual está desgastando sua energia física — enfim, qualquer
coisa que lhe bata na hora deve ser a interpretação correta. Pode acontecer que você perceba, em
vez de outra cor, uma imagem. Igualmente significará um obstáculo,
um impedimento ao funcionamento perfeito do chakra que está em foco. Durante este exercício,
porém, não devemos comentar nada com a pessoa, para não atrapalhar seu
relaxamento. Se quiser, comente depois o que possa ter visto e a interpretação que lhe ocorreu.
Mas isto não é o mais importante neste exercício: o mais importante
é que você dissolva qualquer obstáculo existente e recupere a cor para sua área apropriada. Para
conseguir isto basta dar uma ordem mental para que a interferência
se dissolva e pedir que a cor entre. Trabalhe esta ordem até que sua percepção lhe diga que está
no ponto desejado.
Muito bem: colocado vermelho no vermelho, o chakra está preparado para ativar o circuito
energético da pessoa. Agora é preciso enraizá-la nesta realidade para que
não sofra nenhuma insegurança ou abalo no trabalho de abertura do canal. Desça
128
então com as mãos pelas coxas da pessoa, puxando a cor vermelha até os joelhos. Segure os
joelhos, firmando-os. É muito importante dar firmeza aos joelhos, porque
eles representam as nossas encruzilhadas na vida, os momentos em que temos que decidir por
onde ir. Introduza então, ainda nos joelhos, a cor marrom. Desça com ela
até os pés. Segure os pés da pessoa e projete a partir deles as raízes, plantando-as dentro da terra.
Pare por alguns segundos, percebendo o estado real das raízes.
Quanto mais você fizer o exercício, maior a facilidade com que perceberá as raízes. Você as verá
frágeis, fortes, moles, enroladas etc. Trabalhe então as raízes
na sua imaginação, até que lhe pareçam firmes e seguras. Agora a pessoa está pronta para iniciar
a alimentação energética: puxe então da terra onde as raízes estão
plantadas, a seiva. Suba com a seiva por dentro das raízes, alimentando cor por cor: ponha
marrom no marrom, suba com as mãos até os joelhos, firme-os de novo. Chame
o vermelho, e alimente-o até ficar na sua vibração máxima. Pelo caminho, não se esqueça de ir
dissolvendo os obstáculos, se os encontrar. Vá até o primeiro chakra.
Quando sentir o vermelho bem intenso, prossiga até o umbigo (segundo chakra), pedindo laranja.
E vá em frente, repetindo o processo: ponha amarelo no amarelo (boca
do estômago — terceiro chakra), verde e/ou rosa na altura do coração (quarto chakra), azul na
área do pescoço (quinto chakra), violeta na altura do olho.
Agora, suba novamente para o chakra no topo da cabeça. Volte à Fonte da pessoa e peça a cor
dourado. Mais do que nunca, você deve estar fora de qualquer possível
interferência, é apenas um veículo. Sugerimos que adote, então, a seguinte posição: coloque uma
das mãos (qualquer uma) de leve sobre o chakra da pessoa, e a outra,
mantenha com a palma voltada para cima, recebendo a energia do ar. Traga então o dourado,
com o qual vai pintar a pessoa, encharcando-a com seu brilho total. Venha
descendo com a cor dourada, sempre conectada à Fonte, por fora da pessoa. Você não precisa,
sair da posição: imagine a cor descendo por fora da pessoa, deixando-a
fulgurante, inteiramente brilhante. Leve a cor até a ponta da raiz que você viu, e então entre com
o dourado pelas pontas da raiz, e venha subindo com ela por dentro
da pessoa, impregnando de dourado cada uma das cores que você pintou, como se estivesse
jogando nelas uma purpurina. Portanto: ponha dourado no marrom da ponta da
raiz até os joelhos, a partir daí até os quadris ponha dourado no vermelho, e vá subindo: dourado
no laranja, dourado no amarelo, dourado no verde
129
e/ou rosa, dourado no azul, dourado no violeta. Quando chegar novamente ao topo da cabeça,
complete a conexão com a Fonte, devolvendo-lhe o dourado.
Neste momento a pessoa estará no seu brilho máximo, na potencialidade máxima de sua vibração
energética. E, certamente, terá atingido um relaxamento profundo. Toque
de leve seu ombro, dizendo que quando quiser "volte" devagar, espregui-çando.
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tronco... o abdome... e eu vou me sentindo inteiramente brilhante por fora... e o dourado pinta as
minhas pernas, os pés... e eu desço com o dourado até a ponta
da raiz que eu plantei... e eu chego com o dourado na ponta da raiz, e estou inteiramente
brilhante por fora, conectado com a fonte... e então eu entro com o dourado
por dentro da raiz, e venho subindo com a cor dourada, colocando todas as outras cores no seu
brilho máximo, na sua potencialidade máxima de vibração energética,
e eu me pinto de dourado por dentro, jogando o dourado sobre cada cor como uma purpurina até
que eu fique inteiramente impregnado de dourado... e eu venho subindo
com o dourado por dentro das raízes e eu ponho dourado no marrom, subindo pelos pés até os
joelhos e eu ponho dourado no vermelho pelas coxas, até os quadris, e
eu ponho dourado no laranja na altura do umbigo, e eu ponho dourado no amarelo na região do
estômago, e eu ponho dourado no rosa e verde na altura do coração, e
eu ponho dourado no azul na altura do pescoço, e eu ponho dourado no violeta sobre os olhos, e
quando chego ao topo da cabeça, eu fecho o círculo de conexão entre
a Fonte e a Vida, devolvendo de novo para a fonte esta cor dourada, intensa, total, que me
envolve inteiramente, que me impregna, e eu estou inteira, mente impregnado
de dourado, como uma grande estrela fulgurante, e eu não tenho mais dúvidas da minha força, do
poder que emana da minha consciência de ser, e sei, que de tudo sou
capaz e nada me impedirá aquilo que eu quero, e eu me detenho por alguns segundos para
aprofundar esta sensação de plenitude e de bem estar... (pausa) ... e não
tenho mais dúvida alguma de que sou o melhor e que, para mim, apenas o melhor, e nada menos
do que isto... e é assim, porque sou o melhor e porque para mim, apenas
o melhor, que eu vou sair deste exercício, exercendo na vida com segurança este melhor que eu
sou, e tocando tudo aquilo e todos aqueles por que eu passar com o
melhor que de mim emana... para mim, apenas o melhor... e que eu seja, cada vez mais, capaz de
transbordar para o que me cerca este melhor... e que Deus nos ensine
a suportar a Felicidade... E eu vou permanecer mergulhado nesta sensação do meu brilho
máximo o tempo que eu quiser, e quando eu quiser voltar, vou voltar devagar,
espreguiçando...
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GRAVE SUA FITA E FAÇA BOM USO!
COMO já dissemos, os exercícios de energização são instrumentos poderosos de "cura",
relaxamento de tensão e equilíbrio da vida como um todo. Para que você possa
fazê-los em casa, sozinho ou em grupo, vamos aqui escrever as palavras que utilizamos para
orientar estes exercícios durante nossos cursos. Deste modo, você mesmo
poderá gravar uma fita e colocá-la, acompanhando a orientação, até o ponto em que tenha
assimilado as etapas e não precise mais dela.
Ao gravar sua fita, leia as palavras pausadamente, com calma. Entre parênteses, colocaremos
observações referentes aos gestos que eventualmente acompanham esta ou
aquela frase. Se quiser, acrescente um fundo musical de sua preferência. E sinta os efeitos
imediatos e concretos do fluxo correto das energias.
Lembre-se: quanto mais fizer, melhor vai se sentir. Vamos lá:
EXERCÍCIO DE VITALIZAÇÃO:
Poderá ser feito de pé ou sentado. Achamos mais interessante a posição de pé, principalmente
quando se faz a seqüência completa dos três exercícios de energização
pessoal, pois a tendência da pessoa, quando conecta com a sua onda, é balançar o corpo
suavemente, num movimento ondular que lhe dá a exata noção de inclusão no
movimento mais amplo de sua onda, e permite que sinta com clareza, no último exercício, a
firmeza do enraizamento.
Grave estas palavras:
Primeiro exercício... vitalização
Esfregando as mãos (esfregue a palma das mãos uma contra a outra)... Ligando a respiração
(tome consciência de que está respirando, sinta sua respiração)...
131
E quando eu sentir que a minha mão está quente, eu ponho as mãos para o lado, na altura dos
ombros... E eu vou imaginar que esta energia que sinto na palma da minha
mão, como um calor ou um formigamento, está entrando pelos meus braços e vem até o meu
coração, que é o meu centro vital, de onde vai se espalhar automaticamente
por todos os pontos da minha vida neste campo... E, neste momento, eu vou pedir às Forças que
me protegem, tudo aquilo que eu quiser, que eu achar necessário para
o meu equilíbrio aqui e agora, seja o que for — saúde, um carro novo, paz de espírito, o que eu
quiser... (pausa para os pedidos, que são feitos mentalmente).
E eu vou pedir também para todo mundo que eu quiser... e vou agradecer aquilo que eu já
tenho...(pausa). E quando eu termino, coloco as mãos sobre o coração, fazendo
uma energização direta de chakra para chakra (coloque as duas mãos, uma sobre a outra,
suavemente, sobre o coração).
OBS: este exercício pode ser repetido diversas vezes seguidas, até que você se sinta bem
relaxado. Se quiser, acompanhe este e todos os outros, com uma respiração
tranqüila, ritmada, mas sem preocupação com a maneira de respirar.
132
EXERCÍCIO DE CANALIZAÇÃO:
Grave estas palavras:
Segundo exercício... canalização ou centralização Esfregando as mãos... ligando a respiração... E
quando eu sentir que a minha mão está quente, eu ponho as mãos
para o lado, na altura dos ombros... E eu vou imaginar uma faixa de luz que vem da Fonte
Superior (imagine a Fonte como um sol, e a energia que dela sai nunca se
desliga, vem sempre se desdobrando), entra pela minha cabeça e vem até a boca do estômago,
onde é o meu sol... E neste momento, eu tomo consciência da minha parceria
com as Forças do Astral que me protegem, e eu abro meu canal de conexão com a Fonte
Superior, derramando na minha própria vida tudo aquilo que eu recebo destas forças
superiores... E eu vou imaginando o meu sol (na boca do estômago) cada vez mais forte, mais
brilhante, mais pujante, mais poderoso, mais sábio, mais capaz — sempre
alimentado pela fonte... E neste momento, eu peço às Forças que me protegem, que não me
deixem perder a consciência de que não é meu o poder, mas minha é a força
de exercê-lo aqui e agora-, e que eu possa existir sempre no ponto de equilíbrio necessário entre
o orgulho e a humildade, emitindo cada vez melhor a minha própria
vida e exercendo com precisão o trabalho das Forças do Astral das quais eu sou veículo...
E quando eu termino, ponho as mãos sobre o lugar onde eu imaginei o sol, fazendo uma
energização direta.
133
EXERCÍCIO DE LIMPEZA E ENRAIZAMENTO:
Grave estas palavras:
Terceiro exercício, limpeza e enraizamento... Esfregando as mãos... ligando a respiração... E
quando eu sentir que a minha mão está quente, eu ponho as mãos para
o lado, na altura dos ombros... E eu vou imaginar uma energia que sai da Fonte Superior, sem
nunca se desligar dela, e vem se desdobrando. E eu vou imaginar esta
energia como eu quiser — como uma água, uma fita, um neon — como eu quiser — e esta
energia vem se desdobrando, entra pela minha cabeça, limpa minha testa... os
olhos... o cérebro... o nariz... os ouvidos... o rosto todo... enche a minha boca... desce pelo
pescoço, limpa a garganta... solta a tensão da nuca, solta a tensão
dos ombros... desce pelos braços, enche bem as minhas mãos com as quais eu vou trabalhar...
sem nunca se desligar da Fonte Superior, vai se desdobrando, enche o
meu peito, limpa o coração... os pulmões... o estômago. .. vai descendo pelo aparelho digestivo,
limpa a vesícula, o fígado, entra no abdome, limpa os intestinos...
os rins... os órgãos genitais... desce pelas coxas... sem nunca se desligar da Fonte Superior...
firma bem os meus joelhos, desce pelas pernas... enche bem os meu
pés... sai dos pés... sempre ligada na Fonte Superior... atravessa o chão da casa, atravessa o chão
da rua, entra pela terra e se transforma em enormes raízes que
agarram a terra por dentro, com total firmeza e tranqüilidade... E neste momento, eu tenho a
consciência plena, da onda de energia do Universo da qual eu faço parte,...
e é nesta onda — me sentindo perfeitamente enraizado na minha realidade concreta e, ao mesmo
tempo, atingindo o mais alto grau da minha consciência — que eu vou
viajar o tempo que eu quiser, com total confiança.. . e é nesta onda que eu vou jogar tudo aquilo
que eu quiser: meus medos, meus fantasmas, minhas dúvidas, meus
desejos, meus sonhos, minhas questões — tudo que eu quiser...
134
E eu vou viajar nesta onda com tranqüilidade absoluta o tempo que eu quiser, e quando eu achar
que está na hora de voltar vou voltar devagar, espreguiçando, aterrissando
suavemente...
OBS.: a partir daqui, flutue na onda o tempo que desejar e volte espreguiçando.
Se você quiser pode pedir, na limpeza, a cor que lhe pareça estar precisando. Como você já sabe,
não precisa ver a cor — peça, e sua vibração estará lá. Pode acontecer
também de você perceber espontaneamente uma cor — use-a, pois está sendo mandada por
algum motivo.
E comum também que neste exercício se veja imagens, ou se receba intuições, pois são
exercícios de abertura de canal. Não se espante se tiver taquicardia, suor quente
ou frio, sono, formigamento, dormência ou qualquer outra coisa que representa apenas o
resultado de uma mexida no campo energético. Tudo isso é normal.
135
EXERCÍCIO DO BRILHO: (O EQUILÍBRIO PELAS CORES)
OBS.: este exercício deve ser feito na posição sentado da forma mais relaxada possível, pois ele
nos coloca numa viagem intensa dentro do canal, isto é, num relaxamento
profundo. Se possível, com os pés pousados no chão, para facilitar o enraizamento.
Grave estas palavras:
O objetivo deste exercício é me colocar no meu brilho máximo, no potencial máximo de
vibração das minhas energias... Sentado, numa posição bem relaxada, esfrego
as mãos e ligo a respiração, soltando bem o corpo...
Primeiro, vou fazer a limpeza do meu campo energético, puxando da minha própria fonte a cor
branca, a Luz Branca Cura-dora, com a qual vou eliminar todas as interferências,
todos os obstáculos existentes no meu campo energético, antes que eu comece a colori-lo,
puxando de cada cor a sua vibração máxima... E eu vou imaginar esta luz
branca como uma grande e doce cachoeira emitida pela Fonte, que se derrama calmamente sobre
mim, me encharcando lentamente a partir da cabeça, me enchendo de branco...
e eu sinto esta luz branca jorrando por dentro e por fora de mim, e ela entra pela minha cabeça...
enche a cabeça... vai descendo... encharca os ombros... enche
o peito, o abdome... encharca as coxas, as pernas, os pés. E agora, eu estou inteiramente branco,
limpo de qualquer interferência, pronto para ser colorido, para
trabalhar a vibração da minha energia através das cores...
E então, eu vou começar a trabalhar a minha energia, puxando do meu próprio chakra de
ativação, na altura dos órgãos geni-tais, na faixa dos quadris, a cor vermelha...
e eu sinto a .vibração do vermelho nesta área, percebo o vermelho nitidamente... e se eu notar
alguma interferência de qualquer outra cor ou imagem, eu mando que
se dissolva, e chamo a cor vermelha até
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perceber somente o vermelho, vibrando plenamente... e eu desço com o vermelho pelas coxas até
os joelhos, encho os joelhos de vermelho, puxo a cor marrom, encho
de marrom os joelhos, desço com o marrom pelas pernas, encho os pés com o marrom, e projeto
esta cor através do chão para dentro da terra, jogando as minhas raízes...
e por um instante, eu vou parar para perceber o estado real das minhas raízes (pausa). Agora, eu
vou começar, na minha imaginação, a trabalhar estas raízes, até
que elas se firmem, poderosas, tranqüilas, explícitas, prontas para exercer sua função de puxar da
terra o alimento para minha energia... e eu vou trabalhando as
minhas raízes até que as sinto completamente firmes, e eu estou inteiramente confiante nelas...
E então, eu puxo da Mãe Terra a seiva, através das raízes, e começo a alimentar minha energia,
puxando cada cor até o seu ponto de vibração máximo, colocando cor
na cor... E eu ponho marrom no marrom... e subo com o marrom pelas raízes, e eu encho os pés
de marrom, sentindo plenamente a minha capacidade de pisar na minha
realidade, de pôr os pés no chão e construir concretamente o meu caminho, e é com esta certeza
e segurança que eu subo com o marrom pelas pernas e encho de marrom
os meus joelhos, que representam as minhas encruzilhadas, e eu tenho a certeza de saber,
sentindo o marrom vibrar na sua potencialidade máxima, que eu sou capaz
de encaminhar tudo aquilo que decidi nas minhas encruzilhadas...
E eu puxo então a cor vermelha, e encho com ela os meus joelhos, me sabendo capaz de decidir
diante das minhas encruzilhadas, e com esta certeza a respeito da minha
capacidade de decisão, de tomar atitudes, eu subo com a cor vermelha até a região dos quadris,
sentindo o vermelho na sua vibração máxima, e eu sei que sou capaz
de criar e escolher a minha vida, de ativar o que desejo e de exercer com prazer a minha
sexualidade, e é assim, na consciência plena da minha capacidade de agir,
de fazer minha vida acontecer, sentindo o vermelho na sua potencialidade máxima de vibração,
que eu subo para a faixa do umbigo, puxando a cor laranja, dissolvendo
qualquer obstáculo que eu possa encontrar, colocando laranja no laranja até sua vibração
máxima, e, neste momento, eu tenho a certeza de que posso me relacionar
sem confusões com todas as situações do meu cotidiano, e é sentindo o equilíbrio do meu
emocional dentro do meu dia-a-dia que eu vejo o laranja vibrando inteiramente
e eu subo para a área do estômago... e eu puxo a cor
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amarela para alimentar o meu sol, coloco amarelo no amarelo até sua vibração máxima e a
sensação de realização pessoal me inunda como uma certeza plena, inabalável,
e eu sei quem eu sou e emito meus desejos com clareza, e eu me sei produtivo, capaz de ganhar
dinheiro e ter sucesso, repleto de alegria e felicidade, eu sou feliz,
porque realizo plenamente tudo que sou, a partir da consciência... e eu sinto o amarelo em sua
vibração máxima, e, completamente de posse de mim mesmo, eu subo para
a área do coração, onde sou inundado pela aconchegante certeza do afeto, através do rosa e
verde, e eu encho meu peito de rosa e verde, até que atinjam sua vibração
máxima, e eu gosto de mim, porque sou o que sou e me mostro sem medo, e me realizo, e sei que
posso ser amado e amar, porque gosto de mim e sou o que sou... e eu
ponho o verde e o rosa no verde e rosa até que não haja mais nenhuma sombra na minha questão
afetiva e eu subo então para a região dos ombros e do pescoço, puxando
a cor azul, colocando azul no azul até sua vibração máxima, e eu sou capaz de me expressar com
clareza, de pôr para fora tudo que quiser sem dúvidas, porque sei
o que sou e gosto de quem sou, e eu me abro sem medo para dar e receber, sou capaz da troca,
sou capaz de me expor, me comunicar, e é com esta clareza que eu subo
para a região dos olhos, onde puxo a cor violeta, e dissolvendo sempre qualquer possível
obstáculo, eu ponho violeta no violeta, até que atinja o seu ponto de vibração
máxima, e eu tenho a certeza da lucidez da minha mente, do meu raciocínio, e também, da
nitidez das minhas percepções, que eu capto através desta porta do canal
que é o violeta, e é assim, com a total tranqüilidade e confiança na minha clareza mental e de
percepção, que eu subo novamente até o topo da cabeça...
E neste momento, eu me reconecto com a Fonte Superior, sentindo todas as instâncias da minha
energia vibrando no seu ponto máximo, a minha potencialidade se exercendo
totalmente na vida, e eu puxo da Fonte a cor dourada, que representa o meu brilho máximo...
E eu abro mais que nunca este meu canal de conexão com a Fonte, através do dourado que ela
derrama sobre mim, como uma grande lata de tinta dourada, uma cachoeira
dourada que vai me pintando por fora, devagar, e eu me sinto como uma grande estrela
fulgurante, como um sol, e eu sou a fonte e a fonte sou eu e eu e a fonte somos
um em nosso brilho máximo, e eu vou me sentindo este dourado me pintar por fora, se
derramando sobre a minha cabeça... os ombros... os braços... o
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tronco... o abdome... e eu vou me sentindo inteiramente brilhante por fora... e o dourado pinta as
minhas pernas, os pés... e eu desço com o dourado até a ponta
da raiz que eu plantei... e eu chego com o dourado na ponta da raiz, e estou inteiramente
brilhante por fora, conectado com a fonte... e então eu entro com o dourado
por dentro da raiz, e venho subindo com a cor dourada, colocando todas as outras cores no seu
brilho máximo, na sua potencialidade máxima de vibração energética,
e eu me pinto de dourado por dentro, jogando o dourado sobre cada cor como uma purpurina até
que eu fique inteiramente impregnado de dourado... e eu venho subindo
com o dourado por dentro das raízes e eu ponho dourado no marrom, subindo pelos pés até os
joelhos e eu ponho dourado no vermelho pelas coxas, até os quadris, e
eu ponho dourado no laranja na altura do umbigo, e eu ponho dourado no amarelo na região do
estômago, e eu ponho dourado no rosa e verde na altura do coração, e
eu ponho dourado no azul na altura do pescoço, e eu ponho dourado no violeta sobre os olhos, e
quando chego ao topo da cabeça, eu fecho o círculo de conexão entre
a Fonte e a Vida, devolvendo de novo para a fonte esta cor dourada, intensa, total, que me
envolve inteiramente, que me impregna, e eu estou inteira, mente impregnado
de dourado, como uma grande estrela fulgurante, e eu não tenho mais dúvidas da minha força, do
poder que emana da minha consciência de ser, e sei, que de tudo sou
capaz e nada me impedirá aquilo que eu quero, e eu me detenho por alguns segundos para
aprofundar esta sensação de plenitude e de bem estar... (pausa) ... e não
tenho mais dúvida alguma de que sou o melhor e que, para mim, apenas o melhor, e nada menos
do que isto... e é assim, porque sou o melhor e porque para mim, apenas
o melhor, que eu vou sair deste exercício, exercendo na vida com segurança este melhor que eu
sou, e tocando tudo aquilo e todos aqueles por que eu passar com o
melhor que de mim emana... para mim, apenas o melhor... e que eu seja, cada vez mais, capaz de
transbordar para o que me cerca este melhor... e que Deus nos ensine
a suportar a Felicidade... E eu vou permanecer mergulhado nesta sensação do meu brilho
máximo o tempo que eu quiser, e quando eu quiser vohar, vou voltar devagar,
espreguiçando...
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Impresso nas oficinas gráficas da IMAGO EDITORA
Rua Santos Rodrigues, 201-A Rio de Janeiro — RJ

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