Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Relatório
Indícios de Irregularidades na
Segunda Revisão Tarifária
Periódica da Concessionária de
Distribuição de Energia Elétrica em
Mato Grosso: Centrais Elétricas
Matogrossense S.A. – Período
2008/2012, conduzida pela Agência
Nacional de Energia Elétrica
Março – 2008
1
Sumário
I. Introdução..............................................................................................03
SRE/ANEEL............................................................................................10
2
I. Introdução
1
As atribuições da ANEEL especificadas na Lei 9.427 podem ser obtidas no seguinte endereço
eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9427cons.htm.
2
CEMAT, Relatório de Administração – Exercício de 2007. Endereço eletrônico:
http://www.b2i.cc/Document/1592/CEMAT_2007.pdf
3
Grosso compraram da CEMAT 4.347 GWh 3 de eletricidade pagando, sem
contabilizar ICMS; PIS e CONFINS, a importância de R$ 1.227.799.000,00 4 .
Esta quantia significa que o preço médio da eletricidade vendida aos
consumidores cativos no ano de 2007 pela CEMAT, alcançou a cifra de R$
282,45/MWh 5 .
A CEMAT, enquanto empresa sobre o controle do Grupo Rede, tem um
Contrato de Concessão 6 , assinado em 11 de Dezembro de 1997, que lhe
assegura a exploração deste serviço por um período de 30 anos (até 2027),
sendo que após este período, o atual detentor da concessão poderá prorrogá-
la por mais 30 anos (até 2057) através de solicitação ao Poder Concedente. O
terceiro e o quarto termo aditivo do contrato tem a finalidade de colocá-lo, em
consonância com as alterações regulamentares na comercialização de energia
elétrica no Brasil – Lei n° 10.848, de 15 de março de 2004. No contrato e no
termo aditivo n° 4 estão estabelecidas às cláusulas que regem os critérios que
dirigem o processo de alterações nas tarifas de eletricidade e de fiscalização
dos serviços pelo Poder Concedente, que o exerce, através da ANEEL.
As tarifas atualmente cobradas pela CEMAT é resultado das tarifas
praticadas na época do leilão de privatização (28 de Novembro de 1997)
combinadas com as regras de reajuste e revisão definidas em contrato.
Segundo o contrato de concessão o Concessionário deve ter uma
receita pelo serviço prestado capaz de proporcionar a “adequada prestação do
3
A unidade da energia elétrica é Watt-hora (Wh). A energia elétrica (ou eletricidade) é expressa através
de seus múltiplos em função da escala de uso ou produção. O consumo residencial, por exemplo, tem a
quantidade de energia expressa em Quilo Watt-hora (1KWh = 1.000Wh) Para materializar o que
representa a quantidade 1.000 Wh ou 1 KWh, suponha uma lâmpada de potência elétrica de 100W (cabe
esclarecer que a potência elétrica, cuja unidade é o Watt, é uma noção que expressa a capacidade que
um certo equipamento tem para transformar energia elétrica em alguma outra forma de energia: calor,
mecânica, luz, etc.) funcionando por 10 horas, isto significa, que a lâmpada de 100 W deve consumir em
10h (100W x 10 h) 1.000 Wh ou 1 KWh de energia elétrica. Assim, a energia elétrica consumida ou
produzida pode também ser expressa através dos múltiplos em: Mega Watt-hora (1MWh = 1.000.000Wh);
ou Giga Watt-hora(1GWh = 1.000.000.000Wh; ou ainda Tera Watt-hora (1TWh= 1.000.000.000.000Wh).
4
Fonte: idem nota 1. Valor quantificado em DVA – Demonstrações dos Valores Adicionados, página 2 do
Relatório.
5
De um modo geral a energia elétrica tem o seu preço expresso pela unidade monetária considerada por
MWh, isto é, no caso brasileiro em R$/MWh. O preço especificado no texto decorreu da divisão R$
1.227.799.000,00 por 4.347.000 MWh = R$ 282,45/MWh.
6
O referido Contrato de Concessão e seus respectivos aditivos são encontrados no seguinte endereço
eletrônico: http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=43&idPerfil=2, e acessando a barra: Contratos de
Distribuição (D), número do documento: 003/1997, no qual, estão localizados 5 arquivos, sendo um o
contrato de concessão e mais 4 são termos aditivos.
4
serviço concedido e a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro 7 ” da
Empresa. Por isso, conforme estabelece o contrato, a receita da Empresa é
dividida em duas parcelas, as quais são utilizadas em acordos com as regras
de reajuste e revisão para a determinação da receita requerida.
A divisão em parcelas é feita segundo o princípio de que os custos
podem ser divididos em duas contas que integram a totalidade das despesas
da Empresa. Uma conta compreende as despesas não gerenciáveis pela
Empresa – Parcela A –. Esta diz respeito aos custos relacionados: a compra
de energia elétrica para ser vendida; ao pagamento pela transmissão; e aos
encargos setoriais. A outra conta – Parcela B – relaciona-se as despesas
gerenciáveis pela Empresa, que se referem aos custos: operacionais; a quota
de reintegração; e a remuneração do capital.
Compete destacar o papel da ANEEL como agente fiscalizador dos
serviços realizados pelas empresas distribuidoras. Esta Agência tem a
finalidade de determinar a Receita Requerida através da definição adequada
das duas contas de despesas compostas pelas Parcelas A e B. Este destaque
é aqui realizado para deixar evidente – como pode ser verificado nos contratos
de concessão – que os processos de revisão e reajuste realizados pela ANEEL
não tem nenhum vinculo com os procedimentos de definição dos impostos
(PIS, CONFINS e ICMS). Isto é, o papel da ANEEL, como agente de Estado,
está restrito à determinação das tarifas de eletricidade das distribuidoras sem
os impostos.
No contrato de concessão da CEMAT, referenciado nestas duas contas
de despesas, estão previstos três mecanismos de atualização da chamada
Receita Requerida: Reajuste Tarifário; Revisão Tarifária; e a Revisão Tarifária
Extraordinária.
O Reajuste Tarifário acontece anualmente, no dia e mês do início do
contrato de concessão, com exceção do ano que se realiza a Revisão Tarifária.
Nesta oportunidade, a ANEEL afere/atualiza os custos que compõem a Parcela
A e corrige os custos da parcela B, por meio do IGP-M (mecanismo de
correção dos preços definido em contrato) e do Fator X (mecanismo da
7
Contrato de Concessão N° 03/ 97 – ANEEL celabrado entre União e CEMAT. Fonte:
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/Contrato/Documentos_Aplicacao/CD9703CEMAT.pdf
5
metodologia empregada pela ANEEL, cuja finalidade é incentivar e distribuir os
resultados do aumento da produtividade da Empresa, sendo este definido na
Revisão Tarifária e utilizado nos reajustes.). Assim, a Receita Requerida
determinada pela ANEEL no Reajuste Tarifário pode ser representada na
seguinte expressão:
8
“CLÁUSULA OITAVA - FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO - A exploração do serviço objeto deste Contrato
será acompanhada, fiscalizada, e controlada pelo PODER CONCEDENTE por intermédio da Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL.” Fonte: veja nota 3.
6
percentuais concedidos nas tarifas 9 da CEMAT desde sua Concessão ao
Grupo Rede.
1. 28/11/1997; Grupo Rede compra a CEMAT; o Grupo reconhece que as
tarifas resultantes do contrato de concessão são suficientes para a
manutenção do equilíbrio econômico financeiro.
2. 08/04/1998; início do primeiro ciclo tarifário da CEMAT; ANEEL
estabelece aumento 5,5% nas tarifas.
3. 08/04/1999; primeiro reajuste de tarifas do primeiro ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL define aumento de 10,79% nas tarifas. Ainda neste ano
é realizada a primeira revisão extraordinária para a CEMAT e as tarifas
são aumentadas de 8,19%.
4. 08/04/2000; segundo reajuste de tarifas do primeiro ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL determina aumento de 10,22%. Também, neste ano,
acontece revisão extraordinária elevando as tarifas da CEMAT em 1%.
5. 08/04/2001; terceiro reajuste de tarifas do primeiro ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL define aumento de 16,24% nas tarifas.
6. 08/04/2002; quarto reajuste de tarifas do primeiro ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL estabelece aumento de 16,24% nas tarifas.
7. 08/04/2003; primeira revisão tarifária e início do segundo ciclo tarifário
da CEMAT; ANEEL estipula aumento de 29,48% nas tarifas.
8. 08/04/2004; primeiro reajuste de tarifas do segundo ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL define aumento de 7,74% nas tarifas.
9. 08/04/2005; segundo reajuste de tarifas do segundo ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL determina aumento de 5,93% nas tarifas.
10. 08/04/2006; terceiro reajuste de tarifas do segundo ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL define aumento de 1,88% nas tarifas.
11. 08/04/2007; quarto reajuste de tarifas do segundo ciclo tarifário da
CEMAT; ANEEL estabelece aumento de 2, 75% nas tarifas.
9
Estas informações foram obtidas nas seguintes fontes: (1) Nota Técnica n.º 042/2003-SRE/ANEEL,
página 6. e (2) Folha 5 da Nota Técnica no 040/2008-SRE/ANEEL, localizados nos seguintes endereços
eletrônicos: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/Audiencia_Publica/audiencia_proton/audi2003.htm e
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/dspListaDetalhe.cfm?attAnoAud=2008&attIdeFasAud=280&i
d_area=13&attAnoFasAud=2008 , respectivamente.
7
12. 08/04/2008 (atualmente em curso); segunda revisão tarifária e início do
terceiro ciclo tarifário da CEMAT; a ANEEL está propondo a diminuição
de 3,22% nas tarifas.
Compete observar que a CEMAT foi comprada em 28 de novembro de
1997. Nesta ocasião, o grupo comprador assinou o contrato de concessão
concordando que os preços vigentes das tarifas eram suficientes para lhe
garantir o equilíbrio econômico financeiro nas atividades da concessão, e,
desde então, ao longo dos últimos 10 anos (1998-2007) as tarifas da CEMAT
acumularam um aumento de 182,1%, enquanto, o aumento acumulado do IGP-
M e do IPCA, neste mesmo período (1998-2007), alcançaram 157,4% e
90,59%, respectivamente, como se evidencia no gráfico-tabela a seguir.
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
aumento % acumulado na tarifa 5,5 26,45 40,75 63,61 82,36 136,12 154,39 169,48 174,55 182,1
aumento % acumulado no IGP-M 1,78 22,24 34,4 48,34 85,87 102,02 127,11 129,84 138,67 157,14
aumento % acumulado no IPCA 1,66 10,75 17,36 26,36 42,19 55,42 67,23 76,75 82,3 90,59
Elaboração própria com dados a partir das seguintes fontes: Nota Técnica n.º 042/2003-SRE/ANEEL,
Nota Técnica no 040/2008-SRE/ANEEL, FGV e IBGE.
8
variações de preços consideradas no IGP-DI/FGV, ou seja, o Índice de Preços
por Atacado (IPA), que tem peso de 60% do índice, o Índice de Preços ao
Consumidor (IPC), que tem peso de 30% e o Índice Nacional de Custo de
Construção (INCC), representando 10% do IGP-M. Trata-se, então, de um
índice, sobretudo influenciado pelas variações do mercado financeiro,
assumindo relativa proporção da variação cambial 10 . O segundo, o IPCA, é um
indexador elaborado pelo IBGE que verifica as variações dos custos com os
gastos das pessoas que ganham de um a quarenta salários mínimos nas
regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto
Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Goiânia e Distrito Federal.
A ponderação das despesas das pessoas para verificar a variação dos custos é
definida a partir de uma cesta de bens e serviços compreendendo:
alimentação; transportes e comunicação; despesas pessoais; vestuário;
habitação; saúde e cuidados pessoais; e artigos de residência 11 .
Assim, de um lado, o grupo detentor da concessão dos serviços públicos
de eletricidade de Mato Grosso tem aumento acumulado na tarifa média de
eletricidade (considerado os anos 1998-2007) 25% acima do valor da variação
acumulada do IGP-M no período, indexador que foi criado como um indicador
confiável para as operações financeiras. E, do outro lado, a grande maioria dos
consumidores de eletricidade, os quais têm suas receitas pessoais – quando
conseguem – variando com o IPCA, tiveram um aumento acumulado nas
tarifas de eletricidade (no período considerado 1998-2007) que ultrapassa a
91% a variação acumulada do IPCA. Deste modo, tendo como referência as
metodologias de levantamento do IGP-M e a do IPCA verifica-se que o gráfico-
tabela – Aumento acumulado (%) nas tarifas da CEMAT, no IGP-M e no IPCA –
mostra que o procedimento empregado pela ANEEL para a definição das
tarifas da CEMAT, atua, em primeiro lugar, proporcionando benefícios
econômicos para o grupo empresarial que possui a concessão, na medida em
que, corrige as tarifas para valores superiores aos indexadores que orientam o
sistema financeiro, e, em segundo lugar, em detrimento da grande maioria dos
consumidores de eletricidade do Estado de Mato Grosso que compram energia
no Ambiente de Contração Regulado, ao determinar tarifas de eletricidade 91%
10
Fonte: http://www.fgvdados.fgv.br/
11
Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/default.shtm
9
acima do valor do indexador que baliza as receitas e despesas dos
consumidores.
Assim, referenciado neste contexto, este relatório tem por objeto apontar
alguns indícios de irregularidades que estão acontecendo no atual processo
conduzido pela ANEEL que objetiva concretizar a Segunda Revisão Tarifária
da CEMAT. Estes indícios estão localizados nas duas principais etapas de
trabalhos da revisão tarifária, que acontecem sob a responsabilidade exclusiva
da Agencia Nacional de Energia Elétrica. A primeira etapa, diz respeito direto a
determinados conteúdos da Nota Técnica N° 040/2008-SRE/ANEEL destinada
a estabelecer a Receita Requerida que irá balizar o terceiro ciclo tarifário da
CEMAT, cujo início, dar-se-á, a partir de 08/04/2008. A segunda Etapa, trata-se
da preparação e da condução da Audiência Pública destinada a “obter
subsídios e informações adicionais para o aprimoramento da segunda revisão
tarifária periódica da Centrais Elétricas Matogrossenses S.A. - CEMAT.” feita
pela ANEEL. Portanto, os indícios de irregularidades que ocorreram nestas
etapas são os temas a seguir abordados.
10
serviço regulado pela ANEEL, estabelecendo a Receita Líquida necessária a
Empresa. A tabela a seguir traz a composição da Receita Requerida
estabelecida para a CEMAT pela Nota Técnica, segundo as contas (Parcela A
e B) e conforme os custos principais em cada conta.
Parcela – A Parcela – B
(Custos não-gerenciáveis pela CEMAT) (Custos gerenciáveis pela CEMAT)
* Mercado Estimado = Energia Requerida (5.581.915 MWh) – Perdas Totais (1.114.255 MWh) = 4.467.660 MWh
Tabela montada a partir dos dados contidos na Nota Técnica – 040/2008-SRE/ANEEL.
11
regulatório para as perdas de energia elétrica”. Já que as Empresas, mesmo
não possuindo um completo controle sobre os custos que compõem a Parcela
A, têm, além da relativa capacidade de controle dos “preços de compra de
energia elétrica”, o direto controle das perdas de eletricidade, cuja quantia,
interfere diretamente no dimensionamento da Parcela A.
Neste sentido, cabe recuperar o significado das perdas. Estas
acontecem no transporte/controle da eletricidade nas instalações de
transmissão, distribuição, transformação e comando da eletricidade,
constituindo as denominadas “perdas técnicas”. Outro tipo de perda é a
chamada “perda não técnica”, cuja determinação é resultado da diferença da
perda total com a perda técnica, sua quantia depende da chamada gestão
comercial da empresa. Assim, as perdas de eletricidade são constituídas pela
adição das perdas técnicas com as perdas não técnicas. Isto mostra que as
perdas são um componente da Parcela –A em que o controle é exclusivo da
Empresa, já que, as perdas técnicas vinculam-se a qualidade das instalações e
as perdas não técnicas a gestão comercial. Isto é, as perdas dependem de dois
componentes diretamente subordinados ao controle do Concessionário.
Assim, declarando consciente desta peculiaridade das perdas, a ANEEL
anuncia os princípios que orientam o cálculo das quantias de energia a ser
comprada pela concessionária para suprir suas perdas. “O Regulador
determina, para cada ano de um período tarifário, o nível máximo de perdas a
serem admitidas sobre as quantidades de energia elétrica que a concessionária
distribuidora prevê vender para atender seu mercado.” E, acrescenta que a
quantia a ser determinada para as perdas poder ser feita de duas maneiras:
1. “mediante a fixação de um valor único para todo o período tarifário”
2. “ou mediante a definição de uma “trajetória” ou curva decrescente.” 12
Assim, ao indagar sobre os encaminhamentos propostos pela ANEEL na
NT-040 / 2008 / SRE / ANEEL, para a definição das perdas para o terceiro ciclo
tarifário da CEMAT, constata-se que.
a) A ANEEL tem conhecimento de que durante o segundo ciclo tarifário “as
perdas na distribuição, quando considerado o percentual sobre a energia
12
Fonte: Nota Técnica 040/SRE/ANEEL/2008
12
injetada, tiveram um aumento significativo, de cerca de 2%, ao longo de 5
anos.”
b) A ANEEL sabe através de “informações apresentadas pela concessionária”,
que as perdas técnicas aumentaram enquanto as perdas não técnicas
diminuíram.
c) A ANEEL declara ser sua atribuição em “cada novo ciclo tarifário, definir
limites para o repasse das perdas para a Parcela A”. Fato que compete a esta
Instituição estabelecer “uma meta regulatória para as perdas globais” que seja
orientada para uma solução de compromisso entre a busca da modicidade
tarifária e o correto incentivo para que as concessionárias reduzam suas
perdas além do nível regulatório, uma vez que poderiam se apropriar dos
ganhos advindos de tal situação.”
d) A ANEEL, apesar de saber que as chamadas perdas não técnicas estão
diminuindo e as perdas técnicas estão aumentando, como mostra figura a
seguir retirada da folha 13 da NT-040 / 2008 / SRE / ANEEL, no entanto, sua
análise sobre as perdas técnicas tem um teor generalista sem a profundidade
requerida pelo tema.
13
e) A ANEEL, de forma ardilosa, retira o foco da questão das perdas técnicas 13
associando-as as perdas não técnicas, como se verifica na Nota Técnica 040,
página 14, quando afirma que “o adequado combate às perdas não técnicas
tem como reflexo imediato a redução das perdas técnicas de energia e
demanda. Isto porque o consumidor em situação irregular tem forte incentivo
ao consumo irresponsável de energia elétrica. Como as redes e
transformadores são projetados considerando-se os perfis de consumo de
clientes regulares, a fraude faz com que os equipamentos de distribuição
tenham carregamentos distintos daqueles que foram projetados para operar.
Após a regularização a tendência natural é a redução do consumo de energia
elétrica e, conseqüentemente, se traz de volta o perfil de consumo para
próximo daquele para o qual a rede foi projetada para atender, aliviando-se o
carregamento dos alimentadores e transformadores e, portanto, condizendo-os
de volta a níveis economicamente adequados de carregamento.” Com esta
argumentação o Agente Regulador, manifesta-se, retirando a responsabilidade
da Empresa sobre o crescente aumento nas perdas técnicas e transfere a
culpabilidade destas perdas aos consumidores que fazem uso das ligações
denominadas clandestinas.
f) A ANEEL declara que nas perdas técnicas “informadas pela CEMAT”, foi
apurado discrepâncias em relação à análise preliminar feita pela
Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição – SRD.” No
entanto, não presta qualquer esclarecimento sobre as referidas “discrepâncias”
entre as informações da Concessionária e a posição “preliminar” da SRD sobre
as perdas.
g) A ANEEL, finaliza a questão das perdas, definindo para este terceiro ciclo
tarifário da CEMAT – no ano teste (abril/2008 a março/2009) –, a meta de
16,52 % de perdas na distribuição (991.425 MWh), quantia que “é compatível
com o atual nível observado na área de concessão”. Quanto aos anos
subseqüentes do ciclo tarifário, declara que estabelecerá “uma trajetória de
perdas para o restante do período compreendido até a próxima revisão tarifária
periódica.”
13
As perdas técnicas estão ligadas necessariamente com a qualidade dos serviços prestados pela
Empresa. Estas para serem diminuídas requerem investimentos adequados em equipamentos e força de
trabalho tecnicamente preparada. Medidas que, em geral, são sempre adiadas frente as estratégias
empresariais de permanente busca de diminuição de custos como forma de aumentar a lucratividade.
14
O que se pode constatar é que o atual modus operandi da ANEEL na
NT-040, em relação às perdas é análogo ao procedimento realizado na
primeira Revisão Tarifária da CEMAT no ano de 2003. As perdas são definidas
sem estar referenciadas em qualquer critério técnico, para evidenciar esta
afirmação a seguir transcreve-se todo o texto referente ao “Tratamento
Regulatório” dado pela ANEEL na primeira Revisão Tarifária no ano de 2003.
15
(2003 – perdas 16,18%; 2008 – perdas de 16,52%). Estes números, quando
separados em perdas técnicas e perdas não técnicas e considerado o recente
quadro de evolução em que as perdas técnicas cresceram, enquanto as perdas
não técnicas decresceram, são reveladores da estratégia da empresa para o
aumento de sua lucratividade no quesito perdas. Pois, de um lado, com poucos
recursos reduz as perdas não técnicas aumentando sua receita, e de outro
lado, adia investimentos em equipamentos e força de trabalho tecnicamente
habilitada, proporcionando aumento nas perdas técnicas e deteriorando a
qualidade dos serviços prestados, já que tem as perdas técnicas contabilizadas
nas contas dos consumidores.
Isto acontece, com a conivência da ANEEL, já que ao recorrer aos
Relatórios de Administração da CEMAT, verifica-se que as perdas
reconhecidas estão abaixo dos valores que a ANEEL tem atribuído para a
Empresa. Cabe observar que a figura a seguir – Evolução das Perdas da
CEMAT –, montada a partir de dados veiculados pela CEMAT, são
percentualmente calculados a partir do mercado faturado e não sobre o total da
energia distribuída (inclusive perdas) como calcula a ANEEL em suas Notas
Técnicas.
18,00% 16,30%
15,60%
14,90%
16,00% 13,30% 14,30% 14,20%
14,00%
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Elaboração própria a partir de dados dos Relatórios de Administração da CEMAT dos exercícios
2005 e 2007. Fonte: http://www.b2i.cc/Document/1592/BP_2005_Cemat.pdf e
http://www.b2i.cc/Document/1592/CEMAT_2007.pdf
16
Para materializarmos o significado desta forma de fiscalização da
ANEEL, considere o ano de 2003. Neste ano, segundo a NT-042/2003 foi
atribuído um índice de perdas (técnicas e não técnicas) de 16,18%, valor que
correspondia em 2003 a 783.759 MWh. No entanto, ao recorrer ao Relatório de
Administração citado, as perdas em 2003 foram 13,3% em relação a 3.665
GWh faturados, isto é, 487,445 GWh ou 487.445 MWh. Logo, como a ANEEL
estimou as perdas da CEMAT em 783.759 MWh, e, segundo o Relatório da
CEMAT estas foram de 487.445 MWh. Esta diferença (783.759 MWh - 487.445
MWh = 296.314 MWh) proporcionou à CEMAT o recebimento de 296.314
MWh ao preço médio de R$ 79,51/MWh no ano de 2003. Ou seja, só as perdas
atribuídas pela ANEEL proporcionaram a transferência de R$ 23.559.926,14
dos consumidores de Mato Grosso à CEMAT, sem nada receberem em troca,
pois considerada a regras atuais estes 296.314 MWh de perdas que não
existiram, foram contabilizadas na Receita Requerida da Empresa no ano de
2003.
Assim, neste início do terceiro ciclo tarifário, a ANEEL propõe 991.425
MWh (esta quantia equivale a produção anual daquelas que são as maiores
hidrelétricas de Mato Grosso: Guaporé e Jauru) para as perdas de distribuição
da CEMAT sem apresentar qualquer relação com a trajetória de perdas
definidas na primeira Revisão Tarifária, se é que estas existiram. A Nota
Técnica nº 042 / 2003 – SRE / ANEEL da primeira Revisão Tarifária, cujo
conteúdo sobre o “Tratamento Regulatório das Perdas de Energia Elétrica na
Parcela –A”, aqui transcrita, que deveria estar referenciando a segunda
Revisão Tarifária no quesito perdas, sequer é citada. Não existe qualquer
referência sobre a evolução das perdas e as metas estabelecidas pela ANEEL
para o segundo ciclo tarifário que ora se completa. Por isso, a quantia para as
perdas proposta pela ANEEL de 991.425 MWh, considerado o que até aqui foi
exposto e o que aconteceu em 2003, permitem afirmar a existência de
irregularidades, pois o Agente Regulador, assim procedendo, acaba
privilegiando o concessionário em detrimento dos consumidores de eletricidade
de Mato Grosso, que transferem parte de suas receitas pagando a Empresa
Distribuidora de Eletricidade por perdas de eletricidade que não se
concretizam.
17
Energia comprada de empresas relacionadas – Lajeado
A compra de energia elétrica, como já exposto, integra a conta da
Parcela – A. Conta que é sempre atualizada pela ANEEL visando “garantir o
equilíbrio econômico financeiro da empresa”, transferindo toda e qualquer
mudança dos valores que compõem esta conta para as tarifas dos
consumidores cativos. Esta conta (Parcela – A) tem o seu valor sob
fiscalização e controle da ANEEL, sendo de sua competência a determinação e
controle: das perdas, dos encargos setoriais, dos leilões de compra de energia
e outras formas de compras de eletricidade previstas na lei 10.848 14 , e ainda, o
controle e a fiscalização dos contratos bilaterais (com partes relacionadas ou
não) realizados, entre as empresas distribuidoras e empresas vendedoras de
eletricidade, antes da lei 10.848.
Deste contexto, considerando a atribuição da ANEEL de fiscalização e
controle dos contratos de compra de energia anteriores à lei 10.848, um outro
indício de irregularidade pode ser apontado no conteúdo da Nota Técnica nº
040/2008, elaborada pela ANEEL. Este se refere ao preço da eletricidade
estabelecido para a compra de energia elétrica da UHE de Lajeado.
Neste quesito, compete esclarecer que Lajeado é uma hidrelétrica com
energia assegurada de 4.616.016 MWh por ano, sob o regime de produção
independente, sendo que os resultados na energia produzida é proporcional a
participação percentual de cada um dos participantes do Consórcio
Concessionário de Lajeado. No contrato de concessão desta hidrelétrica 15
verifica-se, quais são as Empresas que se uniram na formação do Consórcio e
suas respectivas participações. A INVESTCO S.A. detém a 1,000% de
participação; Paulista Lajeado Energia S.A. possui 6,930%; CEB LAJEADO
S.A. é proprietária de 19,800 %; EDP Lajeado Energia S.A. detém 27,375%; e
a Rede Lajeado Energia S.A. possui a participação de 44,895%. Deste modo
esta última empresa, integrante do Grupo Rede, tem o domínio de pelo menos
2.072.360,4 MWh da energia gerada por ano da hidrelétrica de Lajeado.
Assim, ao rever a Nota Técnica Nº 156/2003–SRE/ANEEL,
Complementar à Nota Técnica Nº 042/2003–SRE/ANEEL (primeira Revisão
14
Esta lei estabelece as regras para a comercialização de eletricidade nos ambientes de contratação
regulada e livre. Fonte: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.848.htm
15
As informações sobre o contrato de concessão e os termos aditivos da uhe de lajeado são encontradas
no seguinte endereço eletrônico: http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=43&idPerfil=2
18
Tarifária da CEMAT) verifica-se na Tabela I, localizada na pagina 3, a relação
de toda as despesas de compra de eletricidade da CEMAT em 2003. Nesta
tabela, Lajeado está colocada como um contrato de compra de energia da
CEMAT com uma Empresa Relacionada. O montante da compra corresponde
a R$ 62.217.336,23 ao preço por unidade de energia de R$ 65,28/MWh, que
em termos de quantia de eletricidade comprada equivalem 953.084,19 MWh
para o ano de 2003. Esta compra de eletricidade de Lajeado continua existindo,
como mostra a tabela 5 localizada à página 18 da Nota Técnica nº 040/2008-
SRE/ANEEL (segunda Revisão Tarifária da CEMAT). Na tabela estão listadas
todas as despesas de compra de eletricidade da CEMAT. Nela, Lajeado
aparece vendendo 1.070.266 MWh ao preço por unidade de R$ 123,41/MWh,
totalizando uma conta de R$ 132.084.320,00 por ano. Destas informações,
tem-se aqui um outro indício de irregularidade, pois a eletricidade comprada
pela CEMAT de Lajeado (empresas relacionadas) em 2003 correspondia a R$
65,28/MWh e agora, a partir de 8 de abril de 2008, está sendo aumentada para
R$ 123,41/MWh, um crescimento de 89% de abril de 2003 a abril de 2008.
A seguir, procura-se demonstrar que este aumento de 89%, determinado
pela ANEEL na NT 040/2008 no preço da eletricidade vendida por Lajeado à
CEMAT, não tem sustentação na realidade econômica e normativa nacional.
Para auxiliar a explicação foi construída uma tabela, na qual, estão indicados
(entre os principais) os seguintes dados: os preços em R$/MWh estabelecidos
pelas Notas Técnicas números 156/2003 e 040/2008 da ANEEL; os preços da
eletricidade em R$/MWh calculados a partir das informações contidas nos
Relatórios de Administração da CEMAT nos anos 2003, 2004, 2005, 2006 e
2007; e ainda, o índice IGP-M, com seus respectivos valores acumulado por
ano, no período de 2003 a 2007.
Assim, a partir do exame dos preços de eletricidade pagos pela CEMAT
à Lajeado, por meio dos dados obtidos junto aos relatórios de administração da
CEMAT, pode se verificar, quando associados às hipóteses de que os preços
tivessem sido corrigidos pela IGP-M, que os aumentos realizados no valor da
energia comprada pela CEMAT de Lajeado variaram em torno de valores
muitos próximos aos alcançados com a correção dos preços indexadas ao IGP-
M. Fato que, permite inferir que o contrato de compra de energia entre CEMAT
(compradora) e Lajeado (vendedora) deve ter preço da eletricidade reajustada
19
pelo IGP-M ou um outro indexador que captura variações na economia
brasileira semelhante ao IGP-M.
Variação anual do IGP-M (Fonte: GFV) 8,69 12,42 1,2 3,84 7,74
20
Art. 21. Os atuais contratos de comercialização de energia elétrica celebrados
pelas concessionárias, permissionárias e autorizadas de distribuição já
registrados, homologados ou aprovados pela ANEEL não poderão ser objeto de
aditamento para prorrogação de prazo ou aumento das quantidades ou preços
contratados após a publicação desta Lei, ressalvado o disposto no art. 27 da Lei
no 10.438, de 26 de abril de 2002.
16
O destaque em relação ao reduzido valor de energia comprada é por que este valor, equivale a energia
produzida por uma pequena hidrelétrica capaz de produzir 27,3 MWmédios. Instalação que, dependendo
do local do aproveitamento, requereria em torno de 35 MW de potência Instalada. Ou seja, uma pequena
Hidrelétrica de 35 MW com um fluxo de caixa anual de R$ 54,6 milhões. Isto, certamente, significa uma
taxa de retorno que não tem paradigma no mercado mundial.
21
ANEEL “pelo preço médio dos CCEAR de Energia Existente, apurado em R$
86,45 /MWh.”
Aqui, mais uma contradição naquela que é a conta gerenciada pela
ANEEL, pois assim procedendo, em primeiro lugar, a ANEEL autoriza a
CEMAT a comprar 241.997 MWh ao custo de R$ 225,86/MWh, perfazendo um
total de R$ 54.657.414,00, para depois, em segundo lugar, vender a energia
(em face de que ela não precisava ter comprado) comprada de geração
distribuída (241.997 MWh x R$ 86,45 /MWh) pela soma de 20.920.640,65.
Como explicar estas transações da CEMAT determinadas pela ANEEL?
Certamente, que não se tratam de medidas tomadas para evitar a falta de
energia comprada para o atendimento do mercado da CEMAT. Pois, mesmo
não comprando a energia que está determinando esta operação econômica a
sobra de energia, totalizaria, ainda, 246.553 MWh. E, este valor corresponde
4,4% do mercado estimado para a CEMAT.
Para mostrar que não houve erro por parte da ANEEL na definição desta
operação é feita a seguir a descrição de um conjunto de fatos que podem
subsidiar o entendimento desta decisão da ANEEL que determina esta
transação econômica, aparentemente absurda, em que a CEMAT compra
energia – sem que necessite – por 54,65 milhões de Reais para vendê-la por
20,92 milhões de Reais, isto é, “perdendo” 33,73 milhões de Reais.
17
Fonte: http://www.aneel.gov.br/cedoc/rea2005309.pdf
22
Para as seguintes empresas concessionárias destacadas na terceira coluna do
quadro abaixo:
Cabe observar que estas hidrelétricas sempre tiveram sua energia produzida
vendida pela CEMAT.
23
otimizar a totalidade das instalações existentes com possibilidades de contribuir
no conjunto da geração aumentando a capacidade total de oferta de energia ao
sistema de consumo. Assim, da inclusão deste conceito na legislação coube a
ANEEL a regulamentação da contratação de energia distribuída. E, em 10 de
outubro de 2005, a ANEEL expede a Resolução Normativa N° 167 18 ,
estabelecendo os critérios para a contratação de energia distribuída. A seguir
são destacados alguns destes critérios da resolução citada.
18
Fonte: http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2005167.pdf
19
Documento encontrado na internet no seguinte endereço eletrônico:
http://www.gruporede.com.br/arquivos/chamadas/05%20-%20Proposta%20de%20Venda%20-
%20CEMAT%20.pdf
20
Fonte: http://www.aneel.gov.br/cedoc/dsp2006525.pdf
24
Fiscalização Econômica da ANEEL (Romeu Donizete Rufino 21 ) aprova a
contratação da energia das hidrelétricas (há muito tempo amortizadas) como
geração distribuída estipulando o preço da energia em R$ 222,41/MWh,
corrigido anualmente pelo IGP-M e com prazo de validade de 1º de novembro
de 2005 a 10 de dezembro de 2027.
Neste item, cabe destacar que o Superintendente de Fiscalização
Econômica a ANEEL (Romeu Donizete Rufino) no afã de atender os interesses
econômicos do Grupo Rede, simplesmente desconsiderou a legislação vigente.
A letra a), inciso II, parágrafo 8°, do artigo 2°, da Lei 10.848 que é muito clara
quando afirma que para a contratação da totalidade da energia necessária ao
atendimento do mercado da concessionária deverá ser considerada a energia
“II - proveniente de: a) geração distribuída, observados os limites de
contratação e de repasse às tarifas, baseados no valor de referência do
mercado regulado e nas respectivas condições técnicas;”.
Assim, o Superintendente de Fiscalização Econômica da ANEEL (Romeu
Donizete Rufino) não respeitou as condições técnicas de pequenas centrais
hidrelétricas (completamente amortizadas) e aprovou um contrato de compra
para o ACR ao preço de R$ 222,41/MWh. Como o Dirigente da ANEEL explica
sua decisão se no primeiro leilão de energia de fontes alternativas, realizado no
final de maio de 2007, o edital 22 elaborado pela ANEEL, definiu como preço
teto para as pequenas centrais hidrelétricas o valor de R$ 135,00/MWh.
21
Atualmente, integra a diretoria colegiada da ANEEL composta por 5 diretores, e como Diretor da
ANEEL foi o Presidente da Audiência Pública de apresentação da NT040/SRE/ANEEL/2008, em Cuiabá-
MT, no dia 14 de março de 2008.
22
Fonte: http://www.ccee.org.br/cceeinterdsm/v/index.jsp?qryARQUIVO-CD-CATEGORIA-
ARQUIVO=6d17d6a274c5b010VgnVCM1000005e01010a____&contentType=ARQUIVO&vgnextoid=efc4f
87495bd1110VgnVCM1000005e01010aRCRD&x=15&y=3
23
Fonte: http://www.aneel.gov.br/cedoc/dsp2006542.pdf
25
empresas são relacionadas ao Grupo Rede). Para constatar que estas
empresas foram também desmembradas da CELTINS basta recorrer a leitura
da Resolução Autorizativa n° 309, de 5 de setembro de 2005. Contudo, o
despacho de Romeu Donizete Rufino, um dia após ter contratado energia de
usinas hidrelétricas R$ 222,41/MWh, inexplicavelmente, autoriza que a
CELTINS compre energia de usinas hidrelétricas das empresas citadas ao
preço R$ 176,23 MWh. Ainda um preço muito elevado, porém, 20% menor que
a comprada no dia anterior. O IGP-M anual é assegurado nos contratos e os
prazos de vigências são um pouco menor que os estabelecidos com a CEMAT.
Em síntese, o modus operandi na CELTINS para a compra de energia
distribuída repete o empregado na CEMAT.
26
sua subsidiária Enel Latin America, segue em busca de sua estratégia global de
desenvolver recursos de energia renovável assim como continua no mercado de
energia brasileiro, de crescimento mais rápido na América do Sul.
Em nota, a companhia italiana lembrou que o grupo Rede é um operador integrado no
Brasil e atende a cerca de 3 milhões de consumidores. (Juliana Cardoso | Valor
Online)
27
II Modelo Regulatório para Determinação da Parcela – B
28
Portanto, segundo a ANEEL, o acompanhamento e controle dos serviços
de distribuição de eletricidade, em relação a parte que corresponde ao valor
adicionado pela empresa, é feita através de modelos teóricos que dimensionam
as três principais contas constitutivas da Parcela – B: 1. os custos operacionais
da Empresa Referência; 2. os custos da quota de reintegração da Empresa
Referência; e 3. a remuneração da capital investido na Empresa Referência.
29
2) Estabelecimento do custo eficiente associado a cada um dos processos e atividades,
adotando-se como referência preços de mercado. Para isso, calcula-se o custo eficiente com
base na definição das principais tarefas que compõem a atividade e, para cada tarefa, a
quantidade de recursos humanos e materiais necessários e seus respectivos valores de
mercado. Considera-se o custo para cada um dos recursos necessários à tarefa; e
24
Fonte: Anexo I da Resolução Normativa 234-ANEEL/2006 obtida no endereço eletrônico:
http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2006234.pdf
25
Fonte: Anexo I a Nota Técnica 040/SRE/ANEEL-2008.
30
compartilhamento entre concessionários e consumidores), expõe-se a seguir a
organização empresarial da “Rede S.A.”. O Grupo Rede é uma empresa
constituída por três holdings (QMRA; REDE POWER; e TOCANTINS
ENERGIA) que controlam diretamente e indiretamente: quatro empresas de
geração (TANGARÁ; JURUENA; LAJEADO; e INVESTCO), uma empresa
prestadora de serviços (REDESERV), uma empresa comercializadora
(REDECOM) e oito empresas distribuidoras de energia elétrica (CEMAT;
CELPA; CELTINS; EDEVP; CAIUÁ; CFLO; EEB;e CNEE).
Fonte: http://www.b2i.cc/Document/1592/PG_02a13_REDEbal2008a.pdf
31
ANEEL, adota um modelo que considera a CEMAT uma unidade empresarial
isolada que tem seu custo operacional definido ao competir contra os custos
operacionais da Empresa de Referencia. Esta metodologia não tem nenhuma
ligação com a realidade (o mesmo ocorre para a maioria das distribuidoras do
Brasil), sobretudo, porque os maiores índices de produtividade da CEMAT
decorrem de inúmeros processos sinérgicos que a estrutura empresarial do
Grupo Rede permite tirar partido econômico, os quais a metodologia Empresa
de Referência é incapaz de detectá-los.
32
Fonte: Diário Oficial da União – Seção 1; N° 186, quarta-feira, 27 de Setembro de 2006
http://pesquisa.in.gov.br/in/pesquisa/pesquisaresultadocompleto.jsp
33
na Nota Técnica nº 040/2008-SRE/ANEEL. O Despacho 2.207 da ANEEL
contempla parte das contas de gestão e de administração, isto é, as “atividades
comuns de gerência e direção” estão contidas, nas duas empresas
consideradas, na soma R$ 273.928.867,72. Esta medida, mesmo se admitidas
em apenas duas empresas, já cria enorme margem para que as Empresas
(CEMAT e CELPA) ampliem sua produtividade, ou melhor, sua lucratividade,
sem que a metodologia EMPRESA DE REFERÊNCIA da ANEEL seja capaz de
detectá-las, como evidencia a tabela abaixo. Neste contexto, cabe indagar
sobre os ganhos de lucratividade que o Grupo Rede está obtendo
considerando o Despacho da ANEEL que autoriza a ação conjunta entre várias
empresas, enquanto estas têm seus custos operacionais determinados a partir
da metodologia EMPRESA DE REFERÊNCIA.
Total (B)+(C) da
CEMAT+ CELPA 273.928.867,72
Tabela elaborada a partir das seguintes fontes: documento n°8 da 1ª fase da Audiência 011/2008
chamado de – Reposicionamento tarifário (CEMAT)
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/dspListaDetalhe.cfm?attAnoAud=2008&attIdeFasAud=280&i
d_area=13&attAnoFasAud=2008
e documento n° 8 da 1ª fase da Audiência 026/2007 denominado Calculo do Fator X (CELPA)
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/dspListaDetalhe.cfm?attAnoAud=2007&attIdeFasAud=239&i
d_area=13&attAnoFasAud=2007
34
fiscalização discutindo, divulgando, aperfeiçoando e regulamentando a
metodologia EMPRESA DE REFERÊNCIA, que, considerada a realidade que
pretende representar (identificar ganhos de produtividade e compartilhá-los
entre consumidores e concessionários) não atende aos critérios técnicos -
científicos. Em segundo lugar, mesmo conhecendo profundamente a
organização empresarial da indústria de eletricidade brasileira, defende e aplica
um modelo de fiscalização engendrado sob a falsa premissa de que os maiores
índices de produtividade decorrem da competição que uma empresa real pode
estabelecer com a EMPRESA DE REFERÊNCIA. E, em terceiro lugar, autoriza
processos sinérgicos, ciente de que os maiores índices de ganhos de
produtividade são resultantes da estrutura empresarial articulada pelos grupos
econômicos do setor, porém, executa uma fiscalização que acoberta os
ganhos, de maneira que, praticamente, sua totalidade é transformada em
lucros para os agentes concessionários.
35
Remuneração é a Resolução Normativa n° 234/ANEEL/2006. No entanto,
decorridos mais de um ano do estabelecimento da norma, observa, em defesa
dos concessionários, que “no momento atual, as concessionárias de
distribuição encontram-se em processo de cumprimento da avaliação dos
ativos estabelecida na Resolução no 234/2006.” Fato que, não inviabiliza a
determinação da Base Remuneração, pois independente das informações da
Empresa compete a ANEEL arbitrar o valor “na presente revisão, a título
provisório.”.
Assim, aqui está outro indício de irregularidade. Sem as informações da
Empresa e a análise destas, a ANEEL, admite utilizar de informações
defasadas obtidas junto a sua Superintendência de Fiscalização Econômica, já
que, a Empresa até então não havia fornecido as informações estabelecidas
pela Resolução Normativa n° 234/ANEEL/2006, decide, deste modo, arbitrar
em “caráter provisório” a base de Remuneração Regulatória. Decisão
inadmissível para um agente regulador, dada a significância que se constitui
este quesito na definição do valor da Parcela – B.
No caso específico da CEMAT, a ANEEL arbitrou provisoriamente a
quantia de R$ 1.592.123.851,06 (um bilhão quinhentos e noventa dois milhões
e cento e vinte três mil e oitocentos e cinqüenta um reais e seis centavos)
como Base de Remuneração Bruta. E, é este valor provisório multiplicado pela
taxa de depreciação de 4,04% o valor que define a quota de reintegração, aqui
denominado Custos de Depreciação da Empresa Referência, totalizando para
a CEMAT o valor de R$ 64.321.803,58.
36
de que as taxas de juros e o risco país de 2003 sequer guardam qualquer
semelhança com os valores atuais. Para materializar, vale destacar que a Taxa
SELIC (taxa média de Juros, anualizada com base em 252 dias) era em
meados de março de 2003 de 26,32% 26 , enquanto hoje, esta mesma taxa está
em 11,18% 27 , já o risco país EMBI feito pela J.P. Morgan Chase, atribuía ao
Brasil o valor em torno de 1500 pontos 28 , em março de 2003, e agora, esta
mesma agência indica o risco para o Brasil em torno de 160 pontos 29 . Assim,
registra-se aqui, que no período entre a primeira revisão tarifária (2003) e de
hoje (2008), a Taxa SELIC reduziu de 15,14% e o risco reduziu em torno de
1300 pontos, valor que equivale à diminuição de 13% nas taxas de juros.
Contudo, apesar desta mudança radical nos fundamentos da economia
brasileira, em termos de segurança aos investidores, entre 2003 e 2008, a
ANEEL, especifica uma diminuição de apenas 1,21% na taxa de remuneração
média do capital quando cotejado o valor do custo médio ponderado do capital
em 2003 ao de 2008.
Mas, o indício de irregularidade na conta Custos de Remuneração do
Capital, não é neste documento imputado à taxa média de remuneração do
capital, mas sim, ao valor da Base de Remuneração Líquida. Este valor é
resultante da base de remuneração bruta, que como foi demonstrado trata-se
de valor provisório arbitrado sem considerar a própria regra estabelecida pela
ANEEL. A gravidade desta situação pode ser evidenciada quando se verifica o
montante encontrado para a Base de Remuneração Líquida, colocadas e
calculadas nas respectivas expressões que determinam os custos de
Remuneração do Capital.
26
Fonte: http://www.bcb.gov.br/Pec/Copom/Port/taxaSelic.asp#notas
27
Fonte: http://www.bcb.gov.br/
28
Fonte: http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/port/focus/FAQ09-Risco-Pa%C3%ADs.pdf
29
Fonte: matéria jornalística Folha Online obtida no seguinte endereço eletrônico:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u115937.shtml
37
Base de remuneração Líquida = R$ 919.915.748,48
Custo médio ponderado do capital = 9,95%
Remuneração Líquida do capital = 0,0995 x R$ 919.915.748,48 =
R$ 91.531.616,97
Alíquota de imposto = 34%
Remuneração Bruta do Capital = R$ 91.531.616,97 / (1- 0,34) =
R$ 138.684.268,14
38
III. Indícios de irregularidades relacionados à audiência pública de
apresentação da Nota técnica NT040 / 2008 / SRE / ANEEL
39
de certo modo está relacionada à Revisão Tarifária, refere-se apresentação
feita por um cidadão mostrando como tem sido utilizado o encargo referente à
Pesquisa e Desenvolvimento Energético (P&D), resultante de cobrança nas
tarifas e determinado pela Lei nº. 9.991, de 24 de julho de 2000, que
estabelece as concessionárias à obrigação de aplicar anualmente o montante
de, no mínimo, 0,75% de sua receita operacional líquida em pesquisa e
desenvolvimento do setor elétrico e, no mínimo, 0,25% em programas de
eficiência energética no uso final. Os dados apresentados por este cidadão
seguem anexos a este documento, sendo desnecessário qualquer comentário,
já que, por si mesmos explicitam muitas irregularidades, inclusive, permitem
entender pelo menos duas manifestações carregadas de elogios aos serviços
da CEMAT feitas por representantes de entidades que foram beneficiadas com
aplicação deste recurso, que aconteceram durante a audiência.
___________________________
Dorival Gonçalves Junior
40
Programa Anual de Combate ao Desperdício de
Energia Elétrica – CEMAT
Apresentação de Vinicius Machado Pereira do Santos (Professor da UFMT)
na audiência pública sobre a Segunda Revisão Tarifária da CEMAT
Senhor Procurador,
Atenciosamente,
_____________________________
Dorival Gonçalves Junior
Professor da UFMT
Ao Imo. Sr.
Gustavo Nogami
Procurador da República
Ministério Público Federal
Procuradoria da República em Mato Grosso – 2° Ofício
Rua Osório Duque Estrada, n° 107, 5° andar, Edifício Capital, Araés, Cuiabá/MT