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INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 13
REFERENCIAS ....................................................................................................................... 14
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INTRODUÇÃO
Como exemplo disso destacamos sociedades camponesas como tem sido o Brasil em
grande parte de sua História. Para muitos brasileiros, em especial os da região Nordeste,
distingue-se uma forte sensibilidade para os ritmos do tempo e da terra no sentido de perceber
a aproximação das chuvas e as melhores épocas para o preparo da terra, plantio e colheita.
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Alguém que sem sombra de dúvida pode ser colocado nesse segundo grupo foi
Oswaldo Lamartine de Faria, agrônomo e escritor Norte-Rio-Grandense com atuação entre as
décadas de 1950 a 2000. Em toda a sua produção intelectual podemos ver despontado em
grandes quantidades essa atração pelo meio natural. Uma amostra disso se encontra em Sertões
do Seridó (1980) onde ele fala:
Antes de mais nada devemos destacar algumas pesquisas dentro da academia sobre
este personagem, tais trabalhos foram produzidos tanto na área de História quanto na área de
Letras. Em primeiro lugar temos Medeiros Neta (2007) que tratou da Historiografia seridoense
a partir de autores como Manuel Dantas, José Augusto de Medeiros Juvenal Lamartine e próprio
Oswaldo. Esta pesquisa proporcionou pensar em como esses autores ligados por laços de
parentesco puderam construir o espaço do Seridó através de seus textos. Já Peñero (2010)
procurou fazer uma comparação entre os textos Sertões do Seridó (1980) de Lamartine e Grande
Sertão Veredas (2011) de Guimarães Rosa buscando traçar uma comparação entre a construção
do Sertão em Rosa e suas aproximações com o Sertão de Oswaldo. No trabalho mais recente
Castro (2015) nos apresenta um panorama sobre a vida de Oswaldo Lamartine trazendo para
tanto uma grande gama de fontes. Todos esses trabalhos vão investigar de uma forma ou de
outra a relação entre Oswaldo Lamartine e o Seridó, porém quase nenhum deles trata dos outros
espaços onde ele viveu bem como da influência deles na sua visão de mundo.
Com esta motivação tratamos neste trabalho da relação entre Lamartine e o meio nas
diversas espacialidades em que ele irá se encontrar durante a vida tendo sempre em mente sua
profunda ligação com a natureza, com o sertão e com a memória.
Sendo um dos dez filhos do governador deposto, Lamartine se vê sem o pai e sua
família se desmoronado e a partir daí será levado a estudar em colégios internos primeiro no
Recife e posteriormente no Rio de Janeiro. Sua formação superior inclui o curso na Escola
Superior de agronomia de Lavras em Minas Gerais após a conclusão do curso retorna para terras
potiguares e vai ajudar o pai na administração da fazenda Lagoa Nova em São Paulo do Potengi.
Durante sua vida profissional trabalhará como administrador no Núcleo Agrícola de Pium e no
Serviço de Colonização do Ministério da Agricultura em Barra da Corda Maranhão. Deve-se
acrescentar ainda que durante muitos anos foi funcionário do Banco do Nordeste sediado no
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Rio de Janeiro. Mesmo estando tanto tempo afastado ele sempre buscava um jeito de visitar sua
terra natal fazendo isso em seus períodos de férias escolares e de trabalho
Tal contexto social fez surgir nas elites nordestinas um ímpeto de salvaguardar essas
tradições do mundo sertanejo nordestino que segundo sua visão estavam em franco declínio. É
deste modo que se funda o regionalismo nordestino tendo como seu maior líder Gilberto Freyre
e sendo representado no Rio Grande do Norte pela figura de Luiz da Camara Cascudo o grande
folclorista.
EXPERIÊNCIAS DA INFÂNCIA
Quando Lamartine nasceu seu pai ocupava o cargo de deputado tendo portanto uma
condição de vida bem elevada para a época. Ele não nasceu no Seridó, no interior nordestino,
mas no seu oposto, o litoral em Natal. Seus primeiros anos de vida foram quase todos passados
na cidade com pequenas visitas ao Seridó a terra de seus pais e avós. Sobre essas visitas ele
recorda:
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Esse saudosismo lhe acompanhará durante todo o seu percurso como escritor. Assim
como Cassimiro que vivendo em Portugal escreve seu livro As primaveras (1859) tendo em
mente o Brasil, Oswaldo se via como uma espécie de exilado no Rio de Janeiro que escreveu
seus livros com o pensamento focado no Sertão.
Por falar em Sertão é interessante notar como ele constrói esse espaço. Ao contrário
das descrições convencionais que definem a paisagem sertaneja com pinceladas de sofrimento
e dor, a abordagem de Lamartine é a de um Seridó leitoso e hídrico. Suas brincadeiras são quase
todas na água. Água boa e limpa dos açudes que vai venerar em seu ensaio Os Açudes dos
Sertões do Seridó (1978). Isso se deve talvez pela posição ocupada por seu pai dentro da
hierarquia social daquela época uma vez que além de político, Juvenal Lamartine também era
proprietário rural e pecuarista. A visão sobre o Seridó seco, pedregoso vai aparecer
posteriormente em suas obras.
Com relação a sua infância urbana vivida no número 431 da avenida Rodrigues Alves
esquina com a rua Trairi Lamartine esboça o cenário da seguinte forma:
Quando em natal, manhazinha, apanhar frutas no sitio da casa; caçar com baladeira;
empinar papagaios (raias, bandejas e relógios) de cauda armadas de rocegas (lascas
de fundo de garrafa Cinzano presas por taliscas; Futebol de botão (ai da visita em dia
de chuva que pendurasse capa no cabide lá de casa); peladas de bola – de – meia na
Rua Potengi e de borracha e couro no campo do Triangulo (onde hoje é o Ateneu).
Ali se amagotavam os meninos que vinham apanhar água em latas, galões e roladeiras
(barris tracionados pelo eixo) e, seduzidos pela bola, esqueciam da obrigação. A pisa
era grande quando voltavam para casa. Éramos moleques de calça-curta e felizes.
Lembro de Zé Tamaru, João Calango, Baíca, Nazareno, Antônio Scipião e tantos
outros humildes meninos da Solidão... (LAMARTINE DE FARIA, 2001.p. 16).
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Essa infância urbana narrada por Lamartine apresenta uma cidade que ainda apresenta
traços do mundo rural entre eles os sítios onde se pode recolher frutas. Era uma época em que
não existiam tantos muros, onde as crianças tinham plena liberdade de vivenciar vários espaços
desbravando os bairros em diversos tipos de brincadeiras coletivas que ele cita em múltiplos
exemplos.
A partir deste momento, munido de sua formação em Agronomia passa a ajudar seu
pai, recém chegado do exílio na Europa nos afazeres da Fazenda Lagoa Nova, município de
São Paulo do Potengi. Lá ele trabalhará entre 1941 a 1948 e neste período convive com Pedro
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Ourives, Zé Lourenço, Chico Julião, Bonato Liberato Dantas e Olinto Ignácio todos eles
grandes mestres de ofício que serviram de professores para o jovem Lamartine nas artes da
pesca, caça, encouramento, entre outras. Para ilustrar essa relação citemos Lamartine:
Vivi sob as mesmas telhas com Bonato Liberato Dantas (1897-1955) quando ele fazia
uma tarrafa – veterano pescador de açude que foi. Espiava, perguntava, rabiscava
figuras e anotações. Daí o A.B.C da pescaria de açudes. A mesma coisa com Pedro
Américo de Oliveira, vulgo Pedro Ourives (1878-1964) seu filho Francisco Lins
(1916-1990), um remontando uma sela roladeira e o outro costurando um
encouramento. Resultante – Encouramento e arreios do Vaqueiro. A caça nos Sertões
consequência de momentos vividos, ouvidos e lidos. (LAMARTINE DE FARIA,
2001.p. 62).
Mais tarde, na década de 1950, Lamartine irá trabalhar como administrador de duas
colônias agrícolas. A primeira foi no município de Pium – RN e a outra em Barra da Corda no
Maranhão. Esta foi outra oportunidade para vivenciar atividades junto a terra algo que muito o
agradava. Nesta ocasião esteve em contato com os índios Kraô que assim como os mestres de
oficio foram grandes professores de percepção espacial nas caçadas que faziam juntos. Ele
conta que quando um desses formidáveis caçadores se colocava no rastro de um bicho “podia
botar a panela no fogo” tamanha era a sua capacidade de rastrear, o que revela é claro, um
grande conhecimento do território bem como dos hábitos dos animais da região.
Da mesma forma como o Sertão do Seridó será um espaço importante por ser um foco
de reminiscências da infância, essas fazendas e os núcleos coloniais serão relevantes por
proporcionarem ricas experiências sensoriais em um contato direto com a terra e com a natureza
circundante. Isto é identificado por Tuan como o segundo e o terceiro estágio da topofilia onde
o espaço começa a ser verdadeiramente percebido para além da mera visualidade. Aqui ele
ganha significados e desperta fortes sentimentos.
político como foi Juvenal Lamartine qual teria sido o destino de Oswaldo caso sua família não
tivesse sido tão afetada pelos eventos de 1930? Fica a questão.
Mas voltando para nosso tema. Os anos que passa como bancário serão muito
importantes para definir em muitos aspectos a sua personalidade saudosista. Vejamos o que
Lamartine fala sobre esse período.
Estando tanto tempo afastado do seu Sertão, Lamartine nunca o tirou da memória e
ainda mais se esforçou para que através do conhecimento, das leituras realizadas em sebos do
Rio de Janeiro, pudesse se manter em contato com os temas relacionados a esse espaço. Este
será o período em que ele escreve a maioria de seus ensaios o que nos leva a pensar que o
afastamento da sua terra natal pode ter sido um grande catalizador para a sua escrita. Todas
aquelas experiências adquiridas nos dias passados nas fazendas agora poderiam ser transmitidas
para o papel tendo “em tudo certa preocupação de guardar para não ver se perder – usura sem
cifrão, a tudo engavetar – cacoete do pássaro casaca – de – couro que tudo carrega para o
desarrumado ninho” (LAMARTINE DE FARIA, 2001.p.63).
Além da leitura e escrita sobre a cultura e o espaço sertanejo outra forma pela qual
Oswaldo se mantinha entretido era o trabalho em um pequeno pedaço de terra em Itaipava no
Rio de Janeiro. Lá ele podia calejar as mãos e se sujar de terra. A principal atividade nesse chão
era plantar arvores em homenagem a seus entes queridos falecidos ele explica:
E uma forma de orar para quem não sabe rezar com palavras. Veja que a gente fica de
joelhos para plantar. Em Itaipava/ RJ, onde tive um lenço de chão, plantei árvores em
homenagem aos meus mortos. E ainda hoje daqui dessas lonjuras, sou capaz de
identificar cada uma. Sei onde está o pé – de – sibipiruna de meu pai, os angicos de
minha mãe e Terezinha (minha babá), o ipê amarelo de Hélio Galvão. Arsênio
Pimentel e Erica filha dele, Isadora e Lucy em araucária. Zila Mamede, Luís Tavares,
Leonardo, Zé Gonçalves e Armando Viana, pinus elioti e thaeda. Guilherme Azevedo
em bordão – de – velho, José Braz em piquiá o Cego Lula (Luiz Maranhão Filho) em
pinho de Riga além dos irmãos e tantos outros amigos que, nas minhas insônias, ainda
daqui os cultivo. (LAMARTINE DE FARIA, 2001.p. 40)
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Sabemos que as arvores tem sido símbolos muito fecundos ao longo do tempo em
variadas culturas. Shama (1996) salienta seu uso como representantes de uma identidade
nacional e cita o caso das sequoias americanas que através de sua longevidade e grande porte
estariam ali desde muito antes do Mayflower a anunciar o destino manifesto do povo
estadunidense, tais plantas serviram de tema para muitos de seus grandes paisagistas. Mais além
de identidades nacionais, arvores tem sido usada em muitas religiões como no Cristianismo
com sua arvore da vida e arvore do conhecimento. Dentro da iconografia cristã abundam
imagens de arvores significando a ressurreição de cristo como a oliveira.
As arvores plantadas pelas mãos de Lamartine podem ser neste caso símbolos de
memória daqueles que se foram ou até mesmo uma forma de unir essa memória a terra e torna-
la fisicamente permanente, literalmente enraizada na terra.
O Sertão é, antes de tudo, um estado d’alma. Que nem o tempo nem o exílio podem
destruir. A trajetória do escritor potiguar Oswaldo Lamartine de Faria mostra isso. O
Sertão o habita, portanto não faz diferença que more em Natal ou Rio de Janeiro; numa
casa de muros altos ou num apartamento. Porque o Sertão é onipresente. (COSTA,
2005.p. 8).
E de fato tudo o que vimos até agora nos mostra isso, a força dessa ligação com a terra
natal e o poder das lembranças. Tuan salienta isto como um dos estados mais avançados da
topofilia quando homem personifica seu lugar especial tanto pela força das lembranças quanto
pelas marcas deixadas em seu corpo.
Restava, diante dele, o caminho da volta. Não mais para os sertões do Seridó, a
Fazenda Ingá, o país da infância. Mas Lagoa Nova, na Ribeira do Camaragibe, a
fazenda do seu pai. Um mundo sem fim de dez mil hectares e onde viveria de 1941 a
1947. Para retornar, cinquenta anos depois, e envelhecer, silencioso e sábio, olhando
do seu lenço de terra os longes do sertão, ou, como ele gosta de dizer, até bater com
os olhos nas paredes do céu. (SEREJO, 2005.p. 13).
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CONCLUSÃO
Tomando esta premissa seguimos para a infância de Lamartine metade urbana metade
rural e vislumbramos como as relações espaciais que ele teve quando pequeno lhes
proporcionou um forte apego ao espaço do Seridó enquanto terra de suas origens familiares.
Por fim tivemos sua longa estada no Rio de Janeiro, anos de muita saudade da terra
natal que ajudaram a moldar sua personalidade e estilo. Tempo também de muitas leituras em
horas e horas passadas entre os livros dos sebos cariocas reunindo se alimentando das palavras
de grandes escritores. E no final o retorno ao chão natal machucado pela perda.
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REFERENCIAS
ALBUQUERQUE JR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. 4ª ed.
Recife: FJN; Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2009.
COSTA, Tácito. Oswaldo Lamartine de Faria: Sob o peso das lembranças. Preá: Revista de
cultura, Natal, v. 1, n. 15, p.8-11, nov. 2005. Bimestral.
CASTRO, Marize Lima de. Areia sob os pés da alma: uma leitura da vida e obra de
Oswaldo Lamartine de Faria. 2015. 171 f. Tese (Doutorado) - Curso de Letras, Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,
2015.
FARIA. Oswaldo Lamartine de. Sertões do Seridó. Brasília: Senado federal centro Gráfico,
1980.
NETA, Olivia Morais Medeiros. Ser (tão) Seridó: Em suas cartografias espaciais. 2007. 111
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007
SHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
SEREJO, Vicente. Oswaldo Lamartine de Faria: o doutor de Acauã. Preá, Natal, v. 1, n. 15,
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TUAN, Yi-Fu. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São
Paulo: DIFEL, 1980.