Do visível ao inapresentável: apontamentos sobre a nova fotografia brasileira

Prof. Osmar Gonçalves dos Reis Filho

Em 2013, nós demos início ao projeto de pesquisa Incontinências do Visual: a reinvenção

da fotografia na prática contemporânea, dedicado a investigar as mutações estéticas e
políticas trazidas por um nova geração de fotógrafos brasileiros – a chamada geração 00
– cujos trabalhos estabeleciam um novo regime de visualidade, novos modos de ver e de
pensar o meio fotográfico. Inicialmente pensado para durar dois anos, o projeto foi
interrompido em julho de 2014, em razão de meu afastamento para realização de pós-
doutorado na Université Sorbonne Nouvelle (Paris 3). O objetivo do atual projeto é dar
continuidade à pesquisa iniciada em 2013, focando agora nas ideias da mestiçagem, do
invisível e do lúdico como figuras estéticas centrais dessa nova geração. Produzidos por
fotógrafos-artistas como João Castilho, Pedro David, Alexandre Sequeira e Eustáquio
Neves, os trabalhos atuais não desejam mais evocar a nostalgia da bela aparência,
restaurar uma beleza aurática e inacessível – uma concepção da fotografia como imagem-
relíquia, imagem-rastro, suposta emanação do real no coração da técnica. Eles tendem a
se oferecer antes como uma espécie de bricolagem, um exercício coletivo, uma prática
lúdica cuja principal função é produzir encontros imprevistos e improváveis. De fato,
mais do que um objeto, o que se apresenta aqui são acontecimentos, dispositivos,
experiências mais ligadas às noções de experimentação e jogo do que aos arcaicos
conceitos de representação, beleza e contemplação.

Nossa intenção aqui é fazer uma análise aprofundada de um conjunto de obras

fotográficas contemporâneas, dentre elas, os trabalhos de Eustáquio Neves, Alexandre
Sequeira, João Castilho, Antonio Saggese, Miguel Rio Branco e Breno Rotatori,
procurando identificar o modo como operam, os procedimentos técnicos e estilísticos que
inventam, a maneira como se aproximam criando uma estética singular e radical no
cenário da produção visual contemporânea. A ideia é estudar cada uma das obras em sua
singularidade (as questões que levantam, aquilo que inventam e trazem de novo), mas
procurando, ao mesmo tempo, enxergá-las numa perspectiva mais comparativa, em
conjunto ou em bloco, de modo a identificar a forma como elas reinventam a linguagem
fotográfica, colocando em discussão nova formas de escrita, novos conceitos estéticos,
distantes das noções de documento, espelho e/ou registro. A partir de um levantamento
bibliográfico extenso, pretendemos também discutir e problematizar a fundo as noções
de fotografia-expressão e de documentário imaginário. Trata-se de saber em que medida
a força poética e disruptiva do imaginário pode renovar a linguagem do documentário. E
como a potência da expressão se sobrepõe hoje à lógica do documento.

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