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Conceito - Cultura e história
Dra. Adriane Luisa Rodolpho *

Você tem cultura? é o título de um artigo de Roberto Da Matta, antropólogo brasileiro


Afonso Lima/Novolhar que estuda o carnaval, as festas religiosas e cívicas e o futebol, entre outros aspectos
da “cultura brasileira”, uma vez que a palavra cultura aqui não é compreendida apenas
como um termo, mas como um conceito.

A construção dos conceitos é historicamente datada e, seguindo esse percurso,


percebe-se como a antropologia se apropria do conceito de cultura como viés
privilegiado em sua interpretação científica sobre os diferentes grupos sociais. O título
do artigo é provocativo. Afinal, é impossível alguém não ter cultura.
CAPOEIRA: Uma
Entretanto, a palavra cultura pode ter vários sentidos, assim como o conceito com o
generalização referente às
culturas dos povos qual a antropologia trabalhou também variou bastante com o passar do tempo. Da
classificava os brasileiros
como alegres apesar dos
Matta comenta que um dos entendimentos de cultura seria referente ao caráter ou
problemas. personalidade de um determinado grupo. Nesse sentido, conhecemos as generalizações
dos brasileiros como um povo alegre apesar dos problemas, dos alemães como sisudos
porém trabalhadores sérios, dos franceses como elegantes ou grosseiros (ou ambos, o que seria um paradoxo) e
dos norte-americanos como empreendedores apesar de um tanto superficiais.

A lista dos estereótipos culturais é imensa e possui inúmeras variações. Um estereótipo é um modelo, um padrão
generalizado, aplicado a situações culturais que geralmente diferem umas das outras: é o chamado colocar todos
os gatos no mesmo saco. Um dos mais célebres diz respeito ao caráter indolente dos povos do hemisfério sul e
seu oposto setentrional, de caráter ativo e diligente.

O autor dessa “teoria dos climas” foi Montesquieu, que de forma científica para os padrões do século XVIII
demonstrou seu argumento citando, entre outros fatores, a oposição entre o ar frio nórdico, que contrai as fibras,
e o ar quente mediterrâneo, que as relaxa. Dessa forma, clima e humores variados eram arrolados para formar
um “caráter”.

Pierre Bourdieu, sociólogo do século XX, demonstrou que essa teoria dos climas de Montesquieu é, na verdade, a
construção de uma mitologia científica, assim como existem muitas em nossa sociedade. Afinal, com a devida
transformação em seu oposto hemisférico, repetimos que os nordestinos são um tanto lerdos enquanto os
sulistas são mais ativos. Repetimos, em nosso senso comum cotidiano, idéias e noções bastante antigas como
essa do determinismo geográfico, tão em voga no século XIX.

Entretanto, os primeiros olhares sobre o outro remontam há séculos. Alguns autores costumam iniciar a
aproximação ao tema da cultura a partir da percepção da existência de seres e grupos diferentes ao do
observador. Nesse sentido, a história dos contatos entre os diferentes grupos levar-nos-ia aos tempos de
Homero, na Antiguidade Clássica, descrevendo os hábitos e costumes dos povos. Homero viajou bastante e
descreveu os persas e egípcios, entre outros, observando pormenores que para outros seriam triviais ou
pitorescos, mas que constituem, na verdade, importantes informações sobre as diversidades culturais
vivenciadas pelo autor.

Os relatos de viagens fascinam leitores há muito tempo, e as aventuras de Marco Pólo mostram-nos a sua
dificuldade de se fazer entender a seus contemporâneos europeus medievais sobre o estilo de vida dos povos
orientais. É aqui que a análise das imagens de época (desenhos e pinturas) pode ser bastante útil na
compreensão de diferentes visões sobre o outro, como bem demonstra o historiador Peter Burke. A construção
de estereótipos – positivos, mas na maioria das vezes negativos – decorre do encontro entre diferentes culturas,
resultando numa imagem ou modelo sobre os quais construímos nossas representações.

A ciência do século XIX legou-nos a teoria evolucionista de Darwin, e essa floresceu tanto na biologia como nas
humanidades: a crença na evolução unilinear e no progresso foram o pano de fundo característico da maneira
pela qual os “civilizados” olharam para os “primitivos”. Nesse sentido, um conceito de cultura específico foi
compreendido e utilizado enquanto critério de comparação entre os diferentes grupos sociais. A Europa como um
todo e a Inglaterra vitoriana especificamente seriam os pontos “de chegada” nessa linha evolutiva, com seus
modelos particulares de organização e de valores.

Dessa forma, uma lista de critérios, tais como tipo de casamento e organização familiar (monogamia, poligamia),
economia (propriedade comunal ou privada), tecnologia e política, entre outros, estabelecia o estágio de
desenvolvimento de cada cultura. À época da partilha colonial no continente africano, não é difícil perceber qual
pólo primitivo seria designado como objeto da empresa civilizatória... Por outro lado, a escolha dos critérios de
comparação é determinante: no futebol, não somos os maiores do mundo?

O objetivo desses eruditos europeus não era nada modesto: produzir um corpus etnográfico da humanidade. Isso
parecia possível devido ao enorme volume de informações, provenientes de todas as partes do mundo. Durante
anos, as cartas, documentos de viagens e narrativas de aventureiros e missionários eram a fonte de material
referente aos costumes “exóticos”; com a empresa colonial, a organização sistemática de documentos sobre os
povos dominados foi acrescida pelas informações dos funcionários da metrópole, muitos deles agora vivendo nas
colônias e não apenas de passagem. Nesse sentido, a procura de leis gerais para explicar essa diversidade de
ritos, instituições e costumes encontra na teoria evolucionista a resposta para o complexo processo civilizatório.

Durante todo o século XX, a antropologia discutiu sobre o conceito de cultura sob diferentes abordagens e
perspectivas: as escolas antropológicas, tais como o culturalismo, funcionalismo, estruturalismo – para citar
algumas –, bem o demonstra. Atualmente o debate continua em aberto, uma vez que o valor heurístico desse
conceito é fundamental nos estudos da disciplina. Conceitos correlatos, como etnocentrismo, alteridade,
identidade – entre tantos outros –, são úteis em nosso cotidiano, nos pequenos choques culturais com o
diferente em nossas sociedades pluralizadas de diferentes formas: religiosas, étnicas, identitárias, enfim. O
grupo do “nós” geralmente é valorizado em sua positividade, enquanto o grupo do “outro” é objeto de críticas.

O conceito de etnocentrismo é comum aos grupos sociais, significando essa tendência (ou
postura) depreciativa frente ao outro. Entretanto, há diferentes formas de lidar com o Cledes
etnocentrismo: do totalitarismo à curiosidade, do enfrentamento ao reconhecimento de Markus/arquivo
COMIN
semelhanças e diferenças... A experiência do estranhamento frente ao outro é fundamental para
que possamos, numa análise posterior, reconhecer traços familiares naquele estranho “outro” –
costume, idéia, crença, hábito – e reconhecer-nos, assim, nessa alteridade.

A antropologia, para o recentemente falecido Clifford Geertz, é a ciência responsável pela


interpretação dos significados. Numa perspectiva da cultura enquanto conceito semiótico de uma
“teia de significados tecidos pelo homem”, esse autor operacionaliza seu trabalho a partir da
noção de descrição densa. Sendo que o comportamento dos seres humanos é organizado em
grupos concebidos enquanto ação simbólica, a preocupação de Geertz com a interpretação desse O
desempenho perpassa duas questões principais, a saber: a forma pela qual os atores percebem e estranhamento
definem seus sistemas culturais e, ainda, como os agentes sociais manipulam os diferentes frente ao outro
é fundamental
sistemas sociais. Geertz procura, portanto, a compreensão do contexto cultural enquanto sistema para
entrelaçado de símbolos. reconhecer
traços
familiares nessa
Assim, um breve apanhado histórico pelo entendimento do conceito de cultura e seus sentidos alteridade.
durante o tempo é útil quando analisamos uma dada realidade. Longe de serem “entidades
abstratas”, conceitos são como ferramentas, um arcabouço de utensílios para nos aproximarmos da realidade
social, sobretudo na análise da cultura vivenciada cotidianamente. A construção de identidades – sociais e
individuais –, as variadas formas organizacionais de grupos dentro dos territórios nacionais – rurais ou urbanos –
, a constituição de espaços simbólicos de práticas e de crenças, enfim, uma variada gama de aspectos recebe
desse modo uma forma de interpretação e elucidação da realidade.

* A autora é doutora em Antropologia Social e Etnologia e docente da UFRGS, em Porto Alegre (RS)

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